SUNG J M SILVA J C Conversando Sobre Etica e Sociedade Etica e Relacoes de Genero p 95 107 (1)

8
8/18/2019 SUNG J M SILVA J C Conversando Sobre Etica e Sociedade Etica e Relacoes de Genero p 95 107 (1) http://slidepdf.com/reader/full/sung-j-m-silva-j-c-conversando-sobre-etica-e-sociedade-etica-e-relacoes-de 1/8 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Sung, Jung Mo, 1958- Conv e rs a ndo sobr tica e socied, a de / Jun g Mo Sung e Josué ndido d a Silva . - Petrópolis, RJ : Voz es , 1995. ISBN 85-326-1546-5 1. Étic a 2. Éti ca so c ial 3. Sociedad e I. Silva, Josué Cândido da. 11 Título. 95-2034 CDD  177 Índices para catálogo sistemático: 1. Ética so c i a l 177  72 5957c  32 24 10ed. eX.4 JUNGMO SUNG e JOSUÉ ÂNDIDO D SILV CONVERS NDO SO RE ÉTIC E SOCIED DE 1 Edição \ EDITORA Y VOZES Petrópolis  

Transcript of SUNG J M SILVA J C Conversando Sobre Etica e Sociedade Etica e Relacoes de Genero p 95 107 (1)

Page 1: SUNG J M SILVA J C Conversando Sobre Etica e Sociedade Etica e Relacoes de Genero p 95 107 (1)

8/18/2019 SUNG J M SILVA J C Conversando Sobre Etica e Sociedade Etica e Relacoes de Genero p 95 107 (1)

http://slidepdf.com/reader/full/sung-j-m-silva-j-c-conversando-sobre-etica-e-sociedade-etica-e-relacoes-de 1/8

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(Câmara Brasileira do Livro, SP,Brasil)

Sung, Jung Mo, 1958-

Conversando sobre ética e socied,ade / Jung Mo

Sung eJosué Cândido da Silva. - Petrópolis, RJ: Vozes,

1995.

ISBN85-326-1546-5

1.Ética 2. Ética social 3. Sociedade I. Silva,

Josué Cândido da.

11

Título.

95-2034

CDD 177

Índices para catálogo sistemático:

1.

Ética social

177

 7 2

5957c

 32 24

10ed.

eX.4

JUNGMO SUNG

e

JOSUÉ ÂNDIDOD SILV

CONVERS NDO

SO RE

ÉTIC E SOCIED DE

1 Edição

\

• ED ITORA

Y VOZES

Petrópolis

 

Page 2: SUNG J M SILVA J C Conversando Sobre Etica e Sociedade Etica e Relacoes de Genero p 95 107 (1)

8/18/2019 SUNG J M SILVA J C Conversando Sobre Etica e Sociedade Etica e Relacoes de Genero p 95 107 (1)

http://slidepdf.com/reader/full/sung-j-m-silva-j-c-conversando-sobre-etica-e-sociedade-etica-e-relacoes-de 2/8

7

Page 3: SUNG J M SILVA J C Conversando Sobre Etica e Sociedade Etica e Relacoes de Genero p 95 107 (1)

8/18/2019 SUNG J M SILVA J C Conversando Sobre Etica e Sociedade Etica e Relacoes de Genero p 95 107 (1)

http://slidepdf.com/reader/full/sung-j-m-silva-j-c-conversando-sobre-etica-e-sociedade-etica-e-relacoes-de 3/8

lheres. Oumelhor dito, devarões sobre as mulhe-

res.

rões emulheres são socialmente construídas, enão

determinadas biologicamente.

A relação de gênero que vivemos hoje ê uma

relação de desigualdade social e pessoal baseada

na diferença entre os sexos e legitimada em nome

deumdeterminismo biológicoda superioridade de

um dos sexos, omasculino, ede uma determinada

forma de viver a sexualidade, a heterossexual.

Como sempre se busca legitimar a desigualdade

socialmente construída em nome de ciências da

natureza, que, nesses casos, não são nada mais

que ideologias travestidas depseudocientificidade.

Esta desigualdade social está articulada com ou-

tras formas de desigualdades, distâncias e hierar-

quias sociais.

Anossa língua está tão marcada pela domina-

ção masculina que encontramos até dificuldades

lingüísticas para falarmos sobre este assunto. Es-

tamos acostumados a utilizar o termo homem

tanto para nos referirmos ao varão quanto para o

ser humano, no sentido universal. Todosaprende-

mos desde cedo na escola que para nos referirmos

a um grupo composto de um homem (varão) e de

muitas mulheres. oplural deveestar nomasculino.

Este éumpequeno exemplodecomoanossa língua

e toda a nossa cultura estão marcadas por esta

relação de dominação.

Dizer que não se nasce mulher ou homem-va-

rão, mas que se torna mulher e homem-varão é

desmascarar a identificação feita entre o sexo (a

identidade natural) e o gênero. Como vimos nos

dois primeiros capítulos deste livro, os seres hu-

manos constroem um mundo humano para po-

derem se relacionar entre si e com a natureza. A

identidade sexual, a sexualidade e as relações

entre sexos diferentes também são construídas

socialmente e são interpretadas a partir da cul-

tura. Ninguém tem acesso

à

sua sexualidade e

à

do(a) outro(a), nem aos seus instintos sexuais, de.

uma forma direta e pura . É sempre mediado

pela cultura; são com os óculos de uma deter-

minada cultura que vemos a nossa identidade

sexual, a nossa sexualidade e a de outros(as), e

tomamos contato com os nossos instintos.

Patriarcalismo nas sociedades antigas

Nas sociedades da Antiguidade a família se

preocupava, emprimeiro lugar, pela produção eco-

nômica para a qual as mulheres e escravos de

ambos os sexos erama forçade trabalho. Osistema

patriarcal não se referia simplesmente a um siste-

ma de relações sociais, econômicas, culturais e

legais entre o varão - chefe de família - e outros

grupos (mulheres, meninos emeninas, escravos e

escravas) e coma propriedade deterras e animais.

o gênero é o sexo socialmente construído. As

relações de gênero. as relações entre homens-va-

Nestes sistemas patriarcais da Antiguidade,

como os de hoje, o status das mulheres variava

segundo sua classe social. Asmulheres declasses

dominantes desfrutavam de certos privilégios e

comodidades que as servas e escravas não pos-

suíam. Entretanto, apesar dessas diferenças, to-

 

97

Page 4: SUNG J M SILVA J C Conversando Sobre Etica e Sociedade Etica e Relacoes de Genero p 95 107 (1)

8/18/2019 SUNG J M SILVA J C Conversando Sobre Etica e Sociedade Etica e Relacoes de Genero p 95 107 (1)

http://slidepdf.com/reader/full/sung-j-m-silva-j-c-conversando-sobre-etica-e-sociedade-etica-e-relacoes-de 4/8

, . . .

f

l · ' , '

I ,

I I

II

  I

teorias filosóficas. O grande pensador Aristóteles.

por exemplo. dizia que havia pessoas destinadas

por natureza a serem escravas e que a mulher

representava a passividade. enquanto que o ho-

mem. a força ativa. Na reprodução. o sêmen de

homem tinha a forma plena do filho. e a mulher só

tinha um papel passivo. Somente um filho varão

era considerado comotendo a forma perfeita doser

humano. Uma filha era vista comoresultado deum

processo incompleto na formação do sêmen. Logo.

a mulher era essencialmente defeituosa. não pos-

suindo a natureza completa do ser humano. Sua

mente. sua vontade e seu corpo são débeis e,

portanto, ela não podia ter autonomia, devia estar

sujeita à soberania do varão.

das compartilhavam da situação de minoridade e

opressão comum a todas as mulheres.

Oprimeiro papel das mulheres nestas socieda-

des era o trabalho doméstico. Naeconomia pré-ín-

dustrial, este papel era muito extenso. Amulher,

mãe de família, não somente procriava e cuidava

das crianças, preparava comidas, lavava roupas e

limpava a casa, mas produzia também alimentos.

cultivando a horta, o pomar e remédios naturais.

Além disso, fiava, tecia e costurava roupas, fazia

velas, sabão emuitos outros utensílios domésticos.

Nas famílias ricas a esposa, mãe de família, se

dedicava principalmente a dirigir este trabalho,

que era realizado por serventes e escravos.

Todas estas duras condições seaplícavam tam-

bém às escravas, mas de maneira mais intensa.

Além da opressão no trabalho, elas não tinham

direito algum sobre seu corpo ou vida. Realizavam

oduro trabalho doméstico sob adireção dasenhora

da casa e além disso podiam ser violentadas, as-

sassinadas ou vendidas a qualquer momento pelo

chefe de família ou seus filhos.

Esta situação das mulheres nas sociedades

patriarcais

pré-modernas

foimodificada nas socie-

dades industriais contemporâneas. Como resulta-

do da transferência dos meios de produção da

família patriarcal aos donos da fábrica, as mulhe-

res e os escravos passaram a ser desnecessários

para a produção doméstica. Poucoa pouco a escra-

vidão foi abolida, e as mulheres, com muita luta,

foram conquistando os direitos civis.

n

'ii

,   i i :

I . ., '

; ; : j

l i ' l '

i . I :

u

:

i l

,

I

Mesmo que as mulheres produzissem muitos

dos produtos de consumo da família, não tinham

direito de usá-los como quisessem. Esses produ-

tos, as mulheres e escravos pertenciam ao varão-

chefedefamília.Amulher comoesposa oufilhanão

tinha o direito de controlar seu próprio corpo ou

sua própria vida. Seu corpo era propriedade do

marido para seu desfrute e procriação de filhos.

Nas sociedades modernas

98

99

Essa realidade social tão chocante para nós era

assimilada pelos seus contemporâneos como a

realidade e legitimado pelosmitos religiososepelas

É importante destacar que os principais movi-

mentos libertários e emancipatórios dos séculos

XIX e XX - sejam no campo capitalista ou no

socialista - sempre deram

ênfase

quase que exclu-

siva à transformação econômica e política. Rele-

gando para segundo plano, ouaté mesmo negando,

a questão da mulher.

 oiJj

Page 5: SUNG J M SILVA J C Conversando Sobre Etica e Sociedade Etica e Relacoes de Genero p 95 107 (1)

8/18/2019 SUNG J M SILVA J C Conversando Sobre Etica e Sociedade Etica e Relacoes de Genero p 95 107 (1)

http://slidepdf.com/reader/full/sung-j-m-silva-j-c-conversando-sobre-etica-e-sociedade-etica-e-relacoes-de 5/8

~

l

i ' ~ 1 1 1

As mudanças nas sociedades modernas não

i

significaram de maneira alguma o fimdo patríar- ,1 1 11

calismo ou da dominação de varões sobre as mu-

1

1

1 I   '

lheres. Houveuma melhora, mas nãouma mudan- 1 1  ,1,

ça radical. ,

, ,

,11

I'

i i ; : : ; r

' 1'

, 1 , 1 :

1 , 1

1 1 _ 1 1

' I ,

l i l l

i ' I ' I II :,' :

  : I ' I

1 I I I I I j ,:

 I

I ~

I   ~

1

; 11 1

1 11

1

' 1

I l i :

I I I'

I

I I

II

'i ;

i l

I , i

1 1 1

l l l l

1 1 1

1' , 1 1 1 , 11

, 1 11 '

li , l~

I 1

1

1

,

I 1 , , ' , ' 1

I ,' [I

jJ

Os líderes da Revolução Russa de 1917, por

exemplo, escreveram leis que garantiam os mes-

mos direitos civis às mulheres e aos homens.

Porém, ao mesmo tempo, denunciaram os movi-

mentos feministas como sendo somente um mo-

vimento demulheres da burguesia que buscavam

osmesmos privilégios dos homens de sua própria

classe. Para estas lideranças comunistas, o femi-

nismo não era necessário para as mulheres ope-

rárias. Nenhuma crítica de gênero seria neces-

sária para a emancipação das mulheres operá-

rias. A igualdade no ãmbito da produção seria

suficiente para a plena emancipação das mulhe-

res trabalhadoras.

Diversas faces do patriarcalismo

Nomundo ocidental- mesmo nos países que

se orgulham da sua defesa dos direitos universais

dohomem eda democracia universal- as mulhe-

res só passaram a ter direito a voto, isto é, serem

consideradas como cidadãs, depois de muitos

anos de luta. A luta pelo voto das mulheres co-

meçou na segunda metade do século XIX,e só no

final da década de 1910 e no início dos anos 20

começa a obter algumas vitórias. Nos Estados

Unidos, por exemplo, a emenda constitucional

que proibiu a discriminação política combase no

sexo só foi introduzida em 1920. A partir dessa

emenda as mulheres começaram a adquirir o

direito a voto. NoBrasil, a Constituição de 1934

estabeleceu o sufrágio universal para homens e

mulheres alfabetizados a partir de 18 anos. A

condição alfabetizados , numa época em que o

país tinha um alto índice de analfabetismo -

principalmente entre as mulheres - mostra que o

sufrágio universal não era tão universal assim.

Aviolência contra as mulheres por parte dos

seus companheiros ou pais infelizmente ainda é

bastante comum, para acreditarmos que osproble-

mas nas relações de gênero foram resolvidos com

a industrialização e a modernização da economia.

Asrecentes epoucas delegacias demulheres mos-

tram como o machismo ainda impera em nossa

sociedade, eoespancamento eestupro continuam

fazendo parte do cotidiano da nossa cultura ma-

chista.

Mesmo no campo da economia e da política

percebemos a pouca presença das mulheres nos

postos de comando ou de decisão, além do fatode

que elas continuam, emgeral, ganhando menos do

que homens para fazer o mesmo serviço. Sem

contarmos a sobrecarga de trabalho de muitas

dessas mulheres. que ao voltarem às suas casas

têm que dar conta dos serviços domésticos, como

lavar, cozinhar, cuidar das crianças etc., e, se foro

caso, ainda dar atenção ao seu companheiro. A

dupla ou tripla jornada é a dificil realidade da

maioria das mulheres trabalhadoras pobres.

opatriarcalismo prevalece também nas igrejas

e nos movimentos religiosos, onde as mulheres

constituem a maior parte dos seus membros, e

somente uma pequena parcela delas tem acesso

\ ,

100

101

Page 6: SUNG J M SILVA J C Conversando Sobre Etica e Sociedade Etica e Relacoes de Genero p 95 107 (1)

8/18/2019 SUNG J M SILVA J C Conversando Sobre Etica e Sociedade Etica e Relacoes de Genero p 95 107 (1)

http://slidepdf.com/reader/full/sung-j-m-silva-j-c-conversando-sobre-etica-e-sociedade-etica-e-relacoes-de 6/8

 

i

l

'

. aos escalões médios ou SUP.ríores. São poucas as A luta das mulheres e a ética :..',

Igrejas cristãs que ordenam mulheres para funções 1 . ' 1

'1

deP,astora (ouequivalentes). Éconhecida aposição Aquestão dogêner~ ~stá ligada: portanto, àq~i- 'I

ii

 

da, Igre

J

 a catóh, c,a,que emnome da Tradiçã,o,e,de 10 q~~sechamou de.c~Ihca~opatnarcad~, ouseja,   ' , . I

Deus, não permite oacesso das mulheres ao sacer- a ~nt~c~do.pre?OmmIOda fI.guramasculina como

1,1

dócio. Esta situação de subordinação das mulhe- pnncipio dírecíonador e onentador das grandes   I

res não é muito diferente em outras religiões. decisões econôrnícas, sociais, políticas e culturais. i  1 1 1

. . . . Alémda afirmação de que a identidade sexual não

'I i

Apropna ImagemdeDeus esta fortemente mar- está dissociada da identidade social, política, reli- I'

~a?~ pela figura. masculina, As religiões, que no gíosa etc. Na compreensão dos processos sociais   j , '

ImcIOda humamdade adorava~ ~eusas e d~uses, acrescenta-se a variante do gênero à da situação

r l l r

co~ o.passar dotempo foramehmI~ando as fIgu~as de classe e de raça. Afinal, uma mulher negra e J I I I

femínínas e se concentrando na figura masculína pobre é muito mais oprimida e marginalizada do 11 '  

e patriarcal. Mesmo em religiões que se referem a que um homem branco e pobre.   , I ' l i

Deus no gênero neutro (oque não temos na gramá- I I I I

tica portuguesa), acaba prevalecendo a visão pa- O declínio dopatriarcalismo que vemos na nos- . ll

triarcal. Por isso, muitas teólogas, antropólogas, sa civilização, apesar de sua persistência, é frutolll ji:

sociólogas e historiadoras feministas estão resga- das lutas das mulheres. Nãoé uma simples evolu- ,.

tando os mitos e a história das deusas e propondo ção da natureza ou uma concessão dos homens.

< ; : , 1

uma imagem menos patriarcal, apresentando Deus Ess~ luta ~o cons:qüente ~eclínio da nossa civili- f . i'

como Pai-Mãe ou comoMãe-Pai. zaçao patnarcal sao sem duvida uma das marcas I r

I

donosso tempo.

  1:

Essa releítura do passado não se esgota so- i 1 1 1

mente na área religiosa. A própria história, como Omovimento feminista não se restringe aocam- Il i I

tantas outras ciências, está influenciada pelo pa- po das relações sociais. Questiona também todo o 1 1 . l

i

~riarcalisI?o. Há umdito famoso que e~pre,ssa bem paradígma (modelo)de conhecimento ocidental mo-

· 111 . 11

ISSO:

Atrás

de todo grande homem esta uma gran- derno baseado somente na razão quantitativa e que

' l

demulher . Àsmulheres sobrou a condição subal- exclui outras dimensões do conhecimento, como a

I l i l i

terna eestereotipada de ficarem na retaguarda dos memória, a intuição e imaginação. Aperspectiva do · , ~ I

grandes hom~ns. E as grandes mulheres, qu~.fo- gênerointroduz u~a dimensão inclusiva também no tl

ram protagomstas no seu tempo. foram sendo es- campo do conhecímento. l i ,

quecídas pelas ciências oficiais e desaparecendo L i  

dos livros sagrados das religiões ou dos livros de Uma das maneiras em que se pretende desca-

: I I I ,

história. racterizar o movimento feminista é transformar a II i

causa feminista em uma disputa entre homens- e r l l

mulheres para ver quem tem mais poder, muito a ' . I

gosto dos meios de comunicação social. Aluta das I1 I

r

 

102

103

 

Page 7: SUNG J M SILVA J C Conversando Sobre Etica e Sociedade Etica e Relacoes de Genero p 95 107 (1)

8/18/2019 SUNG J M SILVA J C Conversando Sobre Etica e Sociedade Etica e Relacoes de Genero p 95 107 (1)

http://slidepdf.com/reader/full/sung-j-m-silva-j-c-conversando-sobre-etica-e-sociedade-etica-e-relacoes-de 7/8

de dominada, foireduzida, junto coma sexualida-

de, amercadoria oua objetode desejoque promove

outras mercadorias como carros, cigarros etc.

Opatriarcalismo interiorizado impede também

muitos varões de usufruírem dosmuitos aspectos

humanizantes da vida, comoa emotividade, a sen-

sibilidade, a expressão da afetividade, a intuição e

o perdão.

Não se pode pretender acabar completamente,

de uma hora para outra, com um tipo de relação

que já perdura milhares de anos. Porém, não se

pode aceitar e ser conivente com a sua manuten-

ção, em nome destes mesmos milhares de anos. A

duração no tempo não transforma o que é no que

deveria ser.

A exigência de ética que vimos no campo da

eeonomia, da política e da ecologiatambém se faz

presente nas relações de gênero. O que significa

que as mudanças exígídas não se reduzem ao

campo social e público, mas também chegam ao

ãmbito privado das relações interpessoais e da

família.

Odilema entre mudanças pessoais ou estrutu-

rais não tem mais sentido. As lutas das mulheres

mostraram que a vida é um feixede relações com-

plexas, onde as relações de dominação e lutas

emancipatórias perpassam desde as relações ínter-

pessoais até as macroestruturais. O que significa

que devemos atuar, ao mesmo tempo, nos dois

campos. Buscando as revoluções moleculares

que se articulam com os grandes processos de

mudanças sociais.

mulheres não é contra os homens, mas simcontra

as relações sociais patriarcais, das quais os ho-

mens também são vítimas. É uma luta que inclui

também homens insatisfeitos com a dominação

machista patriarcal. Pois, numa relação degênero

opressiva não são só as mulheres que sofrem as

conseqüências negativas, mas também oshomens.

Se é verdade que as mulheres sofrem mais,

também é verdade que os homens não podem se

realizar plenamente na sua humanidade manten-

do-se ousendo coniventes comeste tipoderelação.

Pois, elenão consegue encontrar companheira que

o complemente, mas somente subalterna. Compa-

nheirismo só pode ocorrer numa relação onde os

diferentes se reconhecem como diferentes, mas

não estabelecem hierarquias. Emoutras palavras,

companheirismo só é possível numa relação de

igualdade entre os diferentes.

Homens e mulheres buscam companheiros e

companheiras porque querem se realizar como se-

res humanos superando osolipsismo ou a solidão.

Infelizmente a interiorização de uma cultura ma-

chista e patriarcal impele muitos a certa busca

impossível de relação de companheirismo, que

deve ser, ao mesmo tempo, de subordinação ou de

dominação.

Ainteriorização desse tipo dedominação é coe-

rente com outras formas de dominação emoutros

tipos de relações sociais que interiorizamos. Por

isso, fortalece a lógica da dominação e dificulta a

transformação da nossa sociedade capitalista. Não

foio capitalismo que criou a desigualdade na rela-

ção de gênero, mas foi, sem dúvida, o capitalismo

o que melhor proveito tirou disso. Amulher, além

104

105

I I I I I

Il i

I I

' 1 1 1 1

II

I1

, 1 , 1 1 '

II

I

1 1

'11

r ll

li

I

II

I

1

1

1

,

II ' I

U I

Page 8: SUNG J M SILVA J C Conversando Sobre Etica e Sociedade Etica e Relacoes de Genero p 95 107 (1)

8/18/2019 SUNG J M SILVA J C Conversando Sobre Etica e Sociedade Etica e Relacoes de Genero p 95 107 (1)

http://slidepdf.com/reader/full/sung-j-m-silva-j-c-conversando-sobre-etica-e-sociedade-etica-e-relacoes-de 8/8

o

grito abafado, silenciado e calado das mulhe-

res oprimidas por serem mulheres, emuitas delas

oprimidas ainda mais por serem também negras

ou índias e pobres, começa a ser ouvido cada vez

mais forte no nosso mundo.

damos também um artigo da Maria Ríta Kehl,   A

mulher e a lei , que faz parte do livro

Ética

Ed.

Companhia das Letras, organizado por Adauto No-

vaes.

 Mi nha mãe teve 19 filhos, eu já estou no quinto. Uma

barriga atrás da outra, até a gente agüentar ou até os homens

se desinteressarem ... Será que vai ser amesma coisa quando

minhas filhas forem mulheres? Só agora que participo do

grupo de mulheres que começo a entender que omundo tem

que mudar por minha e por causa delas (Noemia, dona-de-

casa, Camaragíbe, PEj.

  Meu nome é Tereza. Tenho 3 filhos. Sou aluna desta

escola. Nemminha avó, nem minha mãe aprenderam a ler. Eu

comecei este ano. Ontem meu sogro foi em casa reclamar

porque soube que eu estava na escola. Disse:  Onde já se viu

mulher depois de velha, depois de parideira inventar de estu-

dar . Eu disse:   euAntonio, o s tempos mudaram. Hojeemdia

as mulheres têm seus direitos. Acabou otempo de só se viver

no fogão  (Tereza, 22 anos, dona-de-casa, Cabo, PEj.

Abrir os olhos é deixar a luz penetrar no corpo todo, é

transfigurá-Ia situando-o diferentemente. As mulheres de

olhos abertos começam a ir contra o destino demulher para

entrar na história da mulher, pessoa de direitos e deveres

sociais reconhecidos .

Ivone Gebara.

Letxznm-te e   nd

São Paulo, Paulinas, 1989, p. 14.

sugestões de leitura

AEditora Rosa dos Tempos tem uma coletânea

de artigos organizada por Cristina

Bruschíní

e O.

Albertina, Uma questão do gênero e uma outra

organizada por Seyla Benhabib eDrucilla Cornell,

Feminismo comocrítica da modernídade  Recomen-

106

107

I li l

l i

I

1

I I

1 1

l l [ , 1

. 1,1

 i

I.

i l i

, I  

, I :

~ I

~

~

1

, 1

~ r

1 1

1 1

' I ,

~

  I I

r

  ~

~

I

~

~

~

  l i

1 ~ I

, 1

I

~ I  

d

~i

~

l i '

 

I 1 1

I

I

~

I

  i '

~

~I