SUNG J M SILVA J C Conversando Sobre Etica e Sociedade Etica e Relacoes de Genero p 95 107 (1)
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP,Brasil)
Sung, Jung Mo, 1958-
Conversando sobre ética e socied,ade / Jung Mo
Sung eJosué Cândido da Silva. - Petrópolis, RJ: Vozes,
1995.
ISBN85-326-1546-5
1.Ética 2. Ética social 3. Sociedade I. Silva,
Josué Cândido da.
11
Título.
95-2034
CDD 177
Índices para catálogo sistemático:
1.
Ética social
177
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5957c
32 24
10ed.
eX.4
JUNGMO SUNG
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ÉTIC E SOCIED DE
1 Edição
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• ED ITORA
Y VOZES
Petrópolis
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lheres. Oumelhor dito, devarões sobre as mulhe-
res.
rões emulheres são socialmente construídas, enão
determinadas biologicamente.
A relação de gênero que vivemos hoje ê uma
relação de desigualdade social e pessoal baseada
na diferença entre os sexos e legitimada em nome
deumdeterminismo biológicoda superioridade de
um dos sexos, omasculino, ede uma determinada
forma de viver a sexualidade, a heterossexual.
Como sempre se busca legitimar a desigualdade
socialmente construída em nome de ciências da
natureza, que, nesses casos, não são nada mais
que ideologias travestidas depseudocientificidade.
Esta desigualdade social está articulada com ou-
tras formas de desigualdades, distâncias e hierar-
quias sociais.
Anossa língua está tão marcada pela domina-
ção masculina que encontramos até dificuldades
lingüísticas para falarmos sobre este assunto. Es-
tamos acostumados a utilizar o termo homem
tanto para nos referirmos ao varão quanto para o
ser humano, no sentido universal. Todosaprende-
mos desde cedo na escola que para nos referirmos
a um grupo composto de um homem (varão) e de
muitas mulheres. oplural deveestar nomasculino.
Este éumpequeno exemplodecomoanossa língua
e toda a nossa cultura estão marcadas por esta
relação de dominação.
Dizer que não se nasce mulher ou homem-va-
rão, mas que se torna mulher e homem-varão é
desmascarar a identificação feita entre o sexo (a
identidade natural) e o gênero. Como vimos nos
dois primeiros capítulos deste livro, os seres hu-
manos constroem um mundo humano para po-
derem se relacionar entre si e com a natureza. A
identidade sexual, a sexualidade e as relações
entre sexos diferentes também são construídas
socialmente e são interpretadas a partir da cul-
tura. Ninguém tem acesso
à
sua sexualidade e
à
do(a) outro(a), nem aos seus instintos sexuais, de.
uma forma direta e pura . É sempre mediado
pela cultura; são com os óculos de uma deter-
minada cultura que vemos a nossa identidade
sexual, a nossa sexualidade e a de outros(as), e
tomamos contato com os nossos instintos.
Patriarcalismo nas sociedades antigas
Nas sociedades da Antiguidade a família se
preocupava, emprimeiro lugar, pela produção eco-
nômica para a qual as mulheres e escravos de
ambos os sexos erama forçade trabalho. Osistema
patriarcal não se referia simplesmente a um siste-
ma de relações sociais, econômicas, culturais e
legais entre o varão - chefe de família - e outros
grupos (mulheres, meninos emeninas, escravos e
escravas) e coma propriedade deterras e animais.
o gênero é o sexo socialmente construído. As
relações de gênero. as relações entre homens-va-
Nestes sistemas patriarcais da Antiguidade,
como os de hoje, o status das mulheres variava
segundo sua classe social. Asmulheres declasses
dominantes desfrutavam de certos privilégios e
comodidades que as servas e escravas não pos-
suíam. Entretanto, apesar dessas diferenças, to-
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teorias filosóficas. O grande pensador Aristóteles.
por exemplo. dizia que havia pessoas destinadas
por natureza a serem escravas e que a mulher
representava a passividade. enquanto que o ho-
mem. a força ativa. Na reprodução. o sêmen de
homem tinha a forma plena do filho. e a mulher só
tinha um papel passivo. Somente um filho varão
era considerado comotendo a forma perfeita doser
humano. Uma filha era vista comoresultado deum
processo incompleto na formação do sêmen. Logo.
a mulher era essencialmente defeituosa. não pos-
suindo a natureza completa do ser humano. Sua
mente. sua vontade e seu corpo são débeis e,
portanto, ela não podia ter autonomia, devia estar
sujeita à soberania do varão.
das compartilhavam da situação de minoridade e
opressão comum a todas as mulheres.
Oprimeiro papel das mulheres nestas socieda-
des era o trabalho doméstico. Naeconomia pré-ín-
dustrial, este papel era muito extenso. Amulher,
mãe de família, não somente procriava e cuidava
das crianças, preparava comidas, lavava roupas e
limpava a casa, mas produzia também alimentos.
cultivando a horta, o pomar e remédios naturais.
Além disso, fiava, tecia e costurava roupas, fazia
velas, sabão emuitos outros utensílios domésticos.
Nas famílias ricas a esposa, mãe de família, se
dedicava principalmente a dirigir este trabalho,
que era realizado por serventes e escravos.
Todas estas duras condições seaplícavam tam-
bém às escravas, mas de maneira mais intensa.
Além da opressão no trabalho, elas não tinham
direito algum sobre seu corpo ou vida. Realizavam
oduro trabalho doméstico sob adireção dasenhora
da casa e além disso podiam ser violentadas, as-
sassinadas ou vendidas a qualquer momento pelo
chefe de família ou seus filhos.
Esta situação das mulheres nas sociedades
patriarcais
pré-modernas
foimodificada nas socie-
dades industriais contemporâneas. Como resulta-
do da transferência dos meios de produção da
família patriarcal aos donos da fábrica, as mulhe-
res e os escravos passaram a ser desnecessários
para a produção doméstica. Poucoa pouco a escra-
vidão foi abolida, e as mulheres, com muita luta,
foram conquistando os direitos civis.
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Mesmo que as mulheres produzissem muitos
dos produtos de consumo da família, não tinham
direito de usá-los como quisessem. Esses produ-
tos, as mulheres e escravos pertenciam ao varão-
chefedefamília.Amulher comoesposa oufilhanão
tinha o direito de controlar seu próprio corpo ou
sua própria vida. Seu corpo era propriedade do
marido para seu desfrute e procriação de filhos.
Nas sociedades modernas
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99
Essa realidade social tão chocante para nós era
assimilada pelos seus contemporâneos como a
realidade e legitimado pelosmitos religiososepelas
É importante destacar que os principais movi-
mentos libertários e emancipatórios dos séculos
XIX e XX - sejam no campo capitalista ou no
socialista - sempre deram
ênfase
quase que exclu-
siva à transformação econômica e política. Rele-
gando para segundo plano, ouaté mesmo negando,
a questão da mulher.
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As mudanças nas sociedades modernas não
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significaram de maneira alguma o fimdo patríar- ,1 1 11
calismo ou da dominação de varões sobre as mu-
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lheres. Houveuma melhora, mas nãouma mudan- 1 1 ,1,
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Os líderes da Revolução Russa de 1917, por
exemplo, escreveram leis que garantiam os mes-
mos direitos civis às mulheres e aos homens.
Porém, ao mesmo tempo, denunciaram os movi-
mentos feministas como sendo somente um mo-
vimento demulheres da burguesia que buscavam
osmesmos privilégios dos homens de sua própria
classe. Para estas lideranças comunistas, o femi-
nismo não era necessário para as mulheres ope-
rárias. Nenhuma crítica de gênero seria neces-
sária para a emancipação das mulheres operá-
rias. A igualdade no ãmbito da produção seria
suficiente para a plena emancipação das mulhe-
res trabalhadoras.
Diversas faces do patriarcalismo
Nomundo ocidental- mesmo nos países que
se orgulham da sua defesa dos direitos universais
dohomem eda democracia universal- as mulhe-
res só passaram a ter direito a voto, isto é, serem
consideradas como cidadãs, depois de muitos
anos de luta. A luta pelo voto das mulheres co-
meçou na segunda metade do século XIX,e só no
final da década de 1910 e no início dos anos 20
começa a obter algumas vitórias. Nos Estados
Unidos, por exemplo, a emenda constitucional
que proibiu a discriminação política combase no
sexo só foi introduzida em 1920. A partir dessa
emenda as mulheres começaram a adquirir o
direito a voto. NoBrasil, a Constituição de 1934
estabeleceu o sufrágio universal para homens e
mulheres alfabetizados a partir de 18 anos. A
condição alfabetizados , numa época em que o
país tinha um alto índice de analfabetismo -
principalmente entre as mulheres - mostra que o
sufrágio universal não era tão universal assim.
Aviolência contra as mulheres por parte dos
seus companheiros ou pais infelizmente ainda é
bastante comum, para acreditarmos que osproble-
mas nas relações de gênero foram resolvidos com
a industrialização e a modernização da economia.
Asrecentes epoucas delegacias demulheres mos-
tram como o machismo ainda impera em nossa
sociedade, eoespancamento eestupro continuam
fazendo parte do cotidiano da nossa cultura ma-
chista.
Mesmo no campo da economia e da política
percebemos a pouca presença das mulheres nos
postos de comando ou de decisão, além do fatode
que elas continuam, emgeral, ganhando menos do
que homens para fazer o mesmo serviço. Sem
contarmos a sobrecarga de trabalho de muitas
dessas mulheres. que ao voltarem às suas casas
têm que dar conta dos serviços domésticos, como
lavar, cozinhar, cuidar das crianças etc., e, se foro
caso, ainda dar atenção ao seu companheiro. A
dupla ou tripla jornada é a dificil realidade da
maioria das mulheres trabalhadoras pobres.
opatriarcalismo prevalece também nas igrejas
e nos movimentos religiosos, onde as mulheres
constituem a maior parte dos seus membros, e
somente uma pequena parcela delas tem acesso
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. aos escalões médios ou SUP.ríores. São poucas as A luta das mulheres e a ética :..',
Igrejas cristãs que ordenam mulheres para funções 1 . ' 1
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deP,astora (ouequivalentes). Éconhecida aposição Aquestão dogêner~ ~stá ligada: portanto, àq~i- 'I
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a catóh, c,a,que emnome da Tradiçã,o,e,de 10 q~~sechamou de.c~Ihca~opatnarcad~, ouseja, ' , . I
Deus, não permite oacesso das mulheres ao sacer- a ~nt~c~do.pre?OmmIOda fI.guramasculina como
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dócio. Esta situação de subordinação das mulhe- pnncipio dírecíonador e onentador das grandes I
res não é muito diferente em outras religiões. decisões econôrnícas, sociais, políticas e culturais. i 1 1 1
. . . . Alémda afirmação de que a identidade sexual não
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Apropna ImagemdeDeus esta fortemente mar- está dissociada da identidade social, política, reli- I'
~a?~ pela figura. masculina, As religiões, que no gíosa etc. Na compreensão dos processos sociais j , '
ImcIOda humamdade adorava~ ~eusas e d~uses, acrescenta-se a variante do gênero à da situação
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co~ o.passar dotempo foramehmI~ando as fIgu~as de classe e de raça. Afinal, uma mulher negra e J I I I
femínínas e se concentrando na figura masculína pobre é muito mais oprimida e marginalizada do 11 '
e patriarcal. Mesmo em religiões que se referem a que um homem branco e pobre. , I ' l i
Deus no gênero neutro (oque não temos na gramá- I I I I
tica portuguesa), acaba prevalecendo a visão pa- O declínio dopatriarcalismo que vemos na nos- . ll
triarcal. Por isso, muitas teólogas, antropólogas, sa civilização, apesar de sua persistência, é frutolll ji:
sociólogas e historiadoras feministas estão resga- das lutas das mulheres. Nãoé uma simples evolu- ,.
tando os mitos e a história das deusas e propondo ção da natureza ou uma concessão dos homens.
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uma imagem menos patriarcal, apresentando Deus Ess~ luta ~o cons:qüente ~eclínio da nossa civili- f . i'
como Pai-Mãe ou comoMãe-Pai. zaçao patnarcal sao sem duvida uma das marcas I r
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donosso tempo.
1:
Essa releítura do passado não se esgota so- i 1 1 1
mente na área religiosa. A própria história, como Omovimento feminista não se restringe aocam- Il i I
tantas outras ciências, está influenciada pelo pa- po das relações sociais. Questiona também todo o 1 1 . l
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~riarcalisI?o. Há umdito famoso que e~pre,ssa bem paradígma (modelo)de conhecimento ocidental mo-
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ISSO:
Atrás
de todo grande homem esta uma gran- derno baseado somente na razão quantitativa e que
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demulher . Àsmulheres sobrou a condição subal- exclui outras dimensões do conhecimento, como a
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terna eestereotipada de ficarem na retaguarda dos memória, a intuição e imaginação. Aperspectiva do · , ~ I
grandes hom~ns. E as grandes mulheres, qu~.fo- gênerointroduz u~a dimensão inclusiva também no tl
ram protagomstas no seu tempo. foram sendo es- campo do conhecímento. l i ,
quecídas pelas ciências oficiais e desaparecendo L i
dos livros sagrados das religiões ou dos livros de Uma das maneiras em que se pretende desca-
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história. racterizar o movimento feminista é transformar a II i
causa feminista em uma disputa entre homens- e r l l
mulheres para ver quem tem mais poder, muito a ' . I
gosto dos meios de comunicação social. Aluta das I1 I
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de dominada, foireduzida, junto coma sexualida-
de, amercadoria oua objetode desejoque promove
outras mercadorias como carros, cigarros etc.
Opatriarcalismo interiorizado impede também
muitos varões de usufruírem dosmuitos aspectos
humanizantes da vida, comoa emotividade, a sen-
sibilidade, a expressão da afetividade, a intuição e
o perdão.
Não se pode pretender acabar completamente,
de uma hora para outra, com um tipo de relação
que já perdura milhares de anos. Porém, não se
pode aceitar e ser conivente com a sua manuten-
ção, em nome destes mesmos milhares de anos. A
duração no tempo não transforma o que é no que
deveria ser.
A exigência de ética que vimos no campo da
eeonomia, da política e da ecologiatambém se faz
presente nas relações de gênero. O que significa
que as mudanças exígídas não se reduzem ao
campo social e público, mas também chegam ao
ãmbito privado das relações interpessoais e da
família.
Odilema entre mudanças pessoais ou estrutu-
rais não tem mais sentido. As lutas das mulheres
mostraram que a vida é um feixede relações com-
plexas, onde as relações de dominação e lutas
emancipatórias perpassam desde as relações ínter-
pessoais até as macroestruturais. O que significa
que devemos atuar, ao mesmo tempo, nos dois
campos. Buscando as revoluções moleculares
que se articulam com os grandes processos de
mudanças sociais.
mulheres não é contra os homens, mas simcontra
as relações sociais patriarcais, das quais os ho-
mens também são vítimas. É uma luta que inclui
também homens insatisfeitos com a dominação
machista patriarcal. Pois, numa relação degênero
opressiva não são só as mulheres que sofrem as
conseqüências negativas, mas também oshomens.
Se é verdade que as mulheres sofrem mais,
também é verdade que os homens não podem se
realizar plenamente na sua humanidade manten-
do-se ousendo coniventes comeste tipoderelação.
Pois, elenão consegue encontrar companheira que
o complemente, mas somente subalterna. Compa-
nheirismo só pode ocorrer numa relação onde os
diferentes se reconhecem como diferentes, mas
não estabelecem hierarquias. Emoutras palavras,
companheirismo só é possível numa relação de
igualdade entre os diferentes.
Homens e mulheres buscam companheiros e
companheiras porque querem se realizar como se-
res humanos superando osolipsismo ou a solidão.
Infelizmente a interiorização de uma cultura ma-
chista e patriarcal impele muitos a certa busca
impossível de relação de companheirismo, que
deve ser, ao mesmo tempo, de subordinação ou de
dominação.
Ainteriorização desse tipo dedominação é coe-
rente com outras formas de dominação emoutros
tipos de relações sociais que interiorizamos. Por
isso, fortalece a lógica da dominação e dificulta a
transformação da nossa sociedade capitalista. Não
foio capitalismo que criou a desigualdade na rela-
ção de gênero, mas foi, sem dúvida, o capitalismo
o que melhor proveito tirou disso. Amulher, além
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o
grito abafado, silenciado e calado das mulhe-
res oprimidas por serem mulheres, emuitas delas
oprimidas ainda mais por serem também negras
ou índias e pobres, começa a ser ouvido cada vez
mais forte no nosso mundo.
damos também um artigo da Maria Ríta Kehl, A
mulher e a lei , que faz parte do livro
Ética
Ed.
Companhia das Letras, organizado por Adauto No-
vaes.
Mi nha mãe teve 19 filhos, eu já estou no quinto. Uma
barriga atrás da outra, até a gente agüentar ou até os homens
se desinteressarem ... Será que vai ser amesma coisa quando
minhas filhas forem mulheres? Só agora que participo do
grupo de mulheres que começo a entender que omundo tem
que mudar por minha e por causa delas (Noemia, dona-de-
casa, Camaragíbe, PEj.
Meu nome é Tereza. Tenho 3 filhos. Sou aluna desta
escola. Nemminha avó, nem minha mãe aprenderam a ler. Eu
comecei este ano. Ontem meu sogro foi em casa reclamar
porque soube que eu estava na escola. Disse: Onde já se viu
mulher depois de velha, depois de parideira inventar de estu-
dar . Eu disse: euAntonio, o s tempos mudaram. Hojeemdia
as mulheres têm seus direitos. Acabou otempo de só se viver
no fogão (Tereza, 22 anos, dona-de-casa, Cabo, PEj.
Abrir os olhos é deixar a luz penetrar no corpo todo, é
transfigurá-Ia situando-o diferentemente. As mulheres de
olhos abertos começam a ir contra o destino demulher para
entrar na história da mulher, pessoa de direitos e deveres
sociais reconhecidos .
Ivone Gebara.
Letxznm-te e nd
São Paulo, Paulinas, 1989, p. 14.
sugestões de leitura
AEditora Rosa dos Tempos tem uma coletânea
de artigos organizada por Cristina
Bruschíní
e O.
Albertina, Uma questão do gênero e uma outra
organizada por Seyla Benhabib eDrucilla Cornell,
Feminismo comocrítica da modernídade Recomen-
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