Superando limitaçõesta em média 800 atendimentos ao mês. Cleci, que aos sete anos de idade...

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DISTRIBUIÇÃO GRATUITA BENTO GONÇALVES | SETEMBRO 2019 | EDIÇÃO 218 | ANO 18 Reprodução/Montagem Web Superando limitações

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Reprodução/Montagem Web

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HISTÓRIAS DE SUPERAÇÃO JORNAL INTEGRAÇÃO DA SERRA | Setembro 20192

Por Rodrigo De MarcoEdição Kátia Bortolini

Empresa Jornalística Integração da Serra Ltda. Rua Refatti, 101 - Maria Goretti - Bento Gonçalves - RS | Fone: (54) 3454.2018 | 3451.2500 | E-mail: [email protected] | www.integracaodaserra.com.br

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Colunistas: Aldacir Pancotto, Carina Furlanetto, Cesar Anderle, Elvis Pletsch, João Paulo Mileski, Melissa Maxwell Bock, Rogério Gava, Thompsson Didoné

Exemplos

data de 21 de setembro é lembrada no Brasil como o Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência. O Dia foi oficializado em 2005 pela Lei Nº 11.133, entre-

tanto, já era comemorado desde o ano de 1982. O dia foi esco-lhido por estar próximo ao início do ciclo da primavera, estação que a cada ano renova a natureza.

A reportagem de capa do Jornal Integração da Serra ressalta a data entrevistando moradores de Bento Gonçalves, exemplos de superação de limitações. Eles venceram batalhas driblando o preconceito e a desconfiança. Seguiram em frente, almejando realizar sonhos e traçando metas de vida. Nas pági-nas seguintes vocês serão apresentados a diferentes gerações de vencedores e que, em comum, carregam o amor pela vida, renovado a cada amanhecer.

Foto: Rodrigo De Marco

O sorriso da vida

Cleci Fracalossi

de superação

Reprodução Web

Um sorriso largo no rosto, a alegria brilhando no olhar e a autoestima de quem não enxerga li-mitações, mas energia para fazer a diferença. Essa é Cleci Fracalossi, 59 anos. Uma das mentoras, há 32 anos, da Associação dos Deficientes Físicos de Bento Gonçalves (Adef ), entidade que hoje pres-ta em média 800 atendimentos ao mês. Cleci, que aos sete anos de idade perdeu a perna após um acidente de trânsito, carrega consigo superação e alegria.

INtEgRação: Conte sobre como lidou com as di-ficuldades impostas pela deficiência.

CLECI: Aos sete anos de idade fui atropelada por um caminhão e perdi a perna. Eu não lembro do que aconteceu, apagou tudo. Isso foi no interior, em São Valentim. Posso dizer que minha vida foi normal, mi-nha mãe me criou normal. Éramos três irmãos, prati-camente todos da mesma idade. Ela me levava para a escola e, quando eu não podia ir, as professoras iam me buscar. A minha mãe sempre me fez levar a vida como uma criança normal. Nunca nada foi empeci-lho para mim.

INtEgRação: Você carrega uma alegria imensa no olhar. a deficiência nunca foi empecilho para que realizasse suas atividades diárias?

CLECI: Eu não me vejo deficiente. Sempre fui in-dependente, viajo sozinha. Não adianta, temos que ir à luta. Tu tens uma deficiência, mas não pode esperar

pelos outros sempre. Eu vou atrás, vou em busca. Se a vida te dá maneiras de viver melhor, vamos à luta, não vamos desistir. O problema é que as pessoas, às vezes, se colocam muito para baixo. E a família é muito importante para dar esse suporte e ajudar nos momentos difíceis. Não podemos desistir.

INtEgRação: Fale sobre como foi a criação da adef e como funciona o trabalho de vocês?

CLECI: Tudo começou no início dos anos de 1980. Sentíamos a necessidade de criar algo em Bento Gonçalves porque não tinha nada. Pessoas deficientes são normais, iguais aos outros. Foi aí que começamos, mas não foi fácil. Nunca perde-mos a esperança, primeiro começamos na casa da Rosângela Dalcin (uma das criadoras), às vezes na do Itacir Giacomello. Naquela época não tínhamos um local próprio. Fazíamos um rodízio, que termi-nou quando a comerciante Maria Valentini nos ce-deu espaço em sua loja, ocupado durante 10 anos, até a inauguração da sede própria.

INtEgRação: Que mensagem você deixaria para quem passa por uma situação de dificulda-de?

CLECI: As pessoas, independente da deficiên-cia, não devem desistir de lutar, porque a vida é tão linda e maravilhosa. Não é porque tem uma defici-ência que vai deixar de sair e aproveitar. Não vamos ficar em casa, vamos viver a vida, ajudar os outros. Vai fazer um trabalho voluntário que vai te fazer bem. E vida que segue.

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Medalhista no esporte e na vida

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INtEgRação: Conte sua história e como ficou paraplégica.

RoSâNgELa: No dia 26 de agos-to de 1985, meu marido e eu sofremos um acidente de trânsito, na Rota do Sol, no perímetro da cidade de Caxias do Sul. Caímos de uma ponte de apro-ximadamente 80 metros de altura. Fomos levados ao Hospital Saúde, em Caxias do Sul, em estado gravíssimo. Meu marido faleceu depois de três dias. Eu, grávida de sete meses, perdi o bebê. Devido às fraturas nas vértebras C6 e C7, fiquei paraplégica (paralisia nos membros inferiores). Isso ocorreu, segundo médicos, pela maneira como fui transportada ao hospital, por po-pulares.

INtEgRação: Quais foram os prin-cipais desafios enfrentados no iní-cio e de que forma superou o trau-ma?

RoSâNgELa: Em primeiro lugar é a autoaceitação, não aceitava meu estado físico. Durante vários anos permaneci inerte, tentando enten-der o que havia acontecido comigo e querendo saber o porquê aquilo havia acontecido comigo. Um dia per-cebi que a vida continuava e que, se eu não fizesse alguma coisa por mim mesma, o tempo passaria e eu iria fi-car paralisada não só das pernas, mas também da mente. O grande segredo é a aceitação. As coisas ficam mais fá-ceis quando isso acontece. Aceitando--nos, as pessoas ao nosso redor tam-bém nos aceitam e deixamos de ser a vítima, a coitadinha... passamos a ter uma identidade, a ser a Rosângela, o João, a Maria. A autoaceitação leva à valorização pessoal e aumenta a auto-estima. Com a ajuda, apoio e o amor incondicional da minha família, com destaque para a minha mãe, que até hoje é o meu porto seguro, fui à luta.

Rosângela Dalcin, 55 anos, teve a rota da sua vida modificada aos 21 anos de idade, quando ficou paraplégica após sofrer um acidente de carro junto com o seu marido. Ele morreu três dias depois do acidente. Rosângela, uma das criadoras da Associação dos Deficientes Físicos de Bento Gonçalves (Adef ), superou o trauma jogando tênis de mesa, es-porte que a consagrou campeã e que a fez vestir o uniforme da Seleção Brasileira.

INtEgRação: Como foi lidar com o preconceito?

RoSâNgELa: As pessoas falavam com minha mãe e não comigo. Não existe a identidade da pessoa e sim do cadeirante. Por várias vezes recebi es-molas e isso me irritava muito. Percebi que me aceitava quando comecei a fazer piada com a minha própria de-ficiência. Tanto é que a última esmola que me deram era de R$ 10,00. Minha vontade era de dizer que só aceitaria se fosse acima de R$ 50,00 (risos). Foi aí que percebi que os olhares de pena e as esmolas não me constrangiam mais. E as barreiras arquitetônicas, os locais não estão preparados para nos receber. Claro que hoje mudou muito. Há 34 anos era bem diferente. A falta de acessibilidade nos restringe ao iso-lamento social.

INtEgRação: o esporte foi funda-mental para superar as dificulda-des?

RoSâNgELa: O esporte foi im-prescindível em minha vida, pois me ensinou a superar limites, resgatar a autoestima, a promover valores, res-peitar as diversidades, entre tantos outros benefícios. O esporte tira a pessoa da condição de vítima e co-loca o deficiente de igual para igual com qualquer outro atleta. Graças ao esporte, tive oportunidade de fazer parte do Revezamento da Tocha Olím-pica em Bento Gonçalves no dia 09 de junho de 2016. Os 200 metros mais emocionantes da minha vida.

INtEgRação: Você é uma super-campeã no tênis de mesa e um exemplo para esportistas e as pes-soas de uma forma geral. Quando começou a jogar tênis de mesa e quais foram as influências nesse es-porte?

RoSâNgELa: No ano de 1996 conheci o esporte paralímpico. Até então, não imaginava que uma pes-soa portadora de deficiência pudesse ser atleta. A partir daí, ninguém mais me segurou. Descobri que, além de trabalhar e estudar, também poderia ser atleta e atleta de ponta. Durante vários anos fiz parte da Seleção Brasi-leira de Tênis de Mesa e, por mais de 10 anos, fui a 1ª no Ranking Nacional na Classe 3, 1ª das Américas e também a 13ª do mundo. Graças ao esporte tive oportunidade de participar de vários campeonatos nacionais e inter-nacionais e conhecer diversos países. Durante todos esses anos conquistei diversos títulos, mais de 100 medalhas e alguns troféus. Eu participei de apro-ximadamente 70 campeonatos.

INtEgRação: Quais são os mo-mentos mais marcantes na sua tra-jetória no esporte?

RoSâNgELa: Todos os campe-onatos que participei têm um signi-ficado e uma importância única, mas o Parapan do Rio 2007, onde a minha

companheira e eu conquistamos a medalha de bronze em equipe, foi uns dos mais importantes. Uma pelo fato de estarmos jogando no Brasil, na nossa terra, nossa casa, a torcida gri-tando “SOU BRASILEIRO COM MUITO ORGULHO, COM MUITO AMOR”. Tí-nhamos que ganhar e, com certeza, a torcida brasileira nos ajudou e muito. Esse, entre outros campeonatos, é de uma importância ímpar, quando lem-bro ainda me emociono. É impossível mensurar uma vitória, um ponto ga-nho ou um ponto perdido, são segun-dos que nunca mais voltam. Mas tudo fica na memória e, esse jogo, tenho certeza que jamais vou esquecer.

INtEgRação: Que mensagem po-derias deixar para quem passou por um trauma físico e ainda busca for-ças para superar os desafios?

RoSâNgELa: Existe uma frase que sempre carrego comigo e, quan-do penso que algo pode não dar certo, repito várias e várias vezes: “O impos-sível reside nas mãos inertes daqueles que não tentam.”

Foto: Arquivo Pessoal

Rosângela Dalcin carregando a Tocha Olímpica

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Exercício físico e superação

Pela luz dos olhosde um poeta

Mauro Larentis, 63 anos, perdeu a visão há 18 anos. En-tão com 45 anos, Larentis sofreu um acidente de caminhão, episódio que culminou na cegueira e no adeus às estradas. O impacto inicial fez com que ficasse quase dois anos enclausu-rado em casa, como ele mesmo lembra. Aos poucos, ganhou coragem e começou a ter novas perspectivas. Foi na Associa-ção dos Deficientes Visuais de Bento Gonçalves (ADVBG) que sua nova história começaria a ser contada através das pala-vras. Há oito anos ele participa do projeto ‘Pela Luz dos Meus Olhos”, coordenado por Cristiane Ramos, com a participação de Márcio De Bortoli e Luciano Salerno. O projeto enfatiza a literatura, a poesia e a música.

INtEgRação: Conte sobre como lidou com as dificuldades impostas pela de-ficiência.

LéLIo: Eu me acidentei em 1980, ti-nha 19 anos na época. Era jovem e não foi fácil. Eu tive que me adaptar a essa nova realidade. Tive que cortar a perna após so-frer um acidente de carro aqui em Bento. Com 19 anos, a maneira de pensar e ver a vida é diferente de agora. Os planos mu-dam, mas como eu tinha uma base, con-segui ter uma visão diferente da situação. A fé me ajudou muito. Em 1981, eu conse-gui um emprego e fui tocando a vida.

INtEgRação: Você superou as dificul-dades com alegria e muita dedicação. a deficiência nunca foi um empecilho para que realizasse suas atividades di-árias?

LéLIo: Eu me acidentei no dia 23 e, no dia 26, amputei a perna. Lembro que eu brincava muito no hospital. Dois me-ses depois eu já estava na rua de muleta. As pessoas que não sabiam do fato e me viam andando de muleta se chocavam. Na época, participava de um movimento de jovens, o que me proporcionou uma visão diferente dos fatos. Eu posso dizer que tive bastante apoio da comunidade.

INtEgRação: Você e a Cleci Fracalos-si foram os precursores da criação da adef de Bento gonçalves. Como surgiu a ideia?

LéLIo: Participando de um retiro de três dias em Caxias do Sul voltado só para

A deficiência física pode ser considerada um obstáculo para quem, de forma repen-tina, tem a vida modificada após um acidente ou algum tipo de trauma. Lélio Ferreira da Silva, 58 anos, poderia estar na lista dessas pessoas, porém sua história foi escrita de outra forma. Ele teve a perna amputada após sofrer um acidente automobilístico quan-do tinha 19 anos, e no lugar da angústia e do medo, optou pela superação e a felicidade de continuar os planos com vigor e alegria.

Foto: Arquivo Pessoal

deficientes físicos convidados. O evento, organizado pela Adef de Caxias, reuniu pessoas com vários tipos de deficiências físicas, com as quais interagimos bastan-te. Voltamos com a ideia de criar a Asso-ciação aqui em Bento. Contatamos outros moradores da cidade com deficiência físi-ca, que prontamente aderiram à causa.

INtEgRação: o que foi mais marcan-te em sua atuação como voluntário da associação?

LéLIo: No início das atividades da as-sociação, o preconceito era maior, até por parte dos próprios deficientes. Buscamos muitos em casa para apresentar a entida-de. Lembro do caso de uma pessoa aci-dentada que não queria mais sair de casa. Só ficava deitada na cama. A Cleci e eu fomos conversar com a pessoa. Até xin-gamos um pouco (risos). Nós podíamos cobrar dela e foi dessa forma que tiramos a pessoa de dentro de casa.

INtEgRação: a atividade física por in-dicação médica é uma das formas que você encontra para manter uma saúde física e mental em dia. Qual é seu ritmo de atividades?

LéLIo: Gosto de malhar. Tenho que fazer exercícios diários porque há 39 anos uso prótese, com algumas sequelas. Se eu não malhar, travo, não consigo nem caminhar mais. Todos os dias faço exercí-cio para ter mais qualidade de vida. É a mesma coisa que fazer fisioterapia diaria-mente.

Foto: Rodrigo De Marco

Lélio Ferreira da Silva

Mauro Larentis

Mauro encontrou apoio na Associação dos Deficientes Visuais

Foto: Arquivo Pessoal

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A luta diária de Luciano

INtEgRação: Como foi a infância e a adolescência do Luciano?

aNIta: Ele não frequentou escola regular. Até os 12 anos frequentou a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) e paralelo a isso teve atendimento com uma psicóloga. Depois disso abrimos a Associação Gota D’ água e diria que o atendimento diário melho-rou a vida dele e de outros na mesma situação, porque todos os dias tinha uma rotina de atividades. Muitos que frequentaram a Associação apresentaram melho-rias para a socialização.

INtEgRação: Na sua opinião, o que falta para o au-tista em Bento gonçalves?

aNIta: Os jovens autistas não estão bem ampa-rados. O que precisa em Bento é um centro especiali-zados que tenha todos esses profissionais. Me refiro a fonoaudiólogas, psicólogos, terapia ocupacional, con-vivência. Tudo num único lugar, e que atenda a crian-ça desde que é diagnosticada, porque tem que ter um atendimento precoce. Tendo esse atendimento o jovem desenvolve muito. Aqui o problema é que até conseguir uma consulta de neurologista pelo Sistema Único de Saúde (SUS) é demorado, e para eles (autistas) o acompanhamento médico é bem importante.

INtEgRação: Quais foram os primeiros sintomas do Luciano e como foi que descobriram que o filho de vocês era uma criança autista?

INtEgRação: Sua vida melhorou após conhecer a aDVBg?

Larentis: Melhorou muito por-que antes eu não tinha algo para me apegar. Só ficava esperando passar o tempo, sempre no mesmo ritmo, sem ânimo para fazer as coisas. Aí o Pedro Junior da Fontoura foi nos visitar na Associação e falou sobre poesia, des-pertando meu interesse. Já peguei com ele umas poesias e segui nessa direção.

INtEgRação: Você sempre teve fa-cilidade na memorização?

LaRENtIS: Na verdade, sempre tive boa memória. No tempo das via-gens de caminhão, não tinha dificul-dade em me situar em novas locali-dades. Só pedia uma vez, o cara me explicava e ia direto.

INtEgRação: Qual é seu estilo pre-ferido de poesia?

LaRENtIS: Trabalho mais com poesias gauchescas de Pedro Junior e do Jaime Caitano Braun. O jeito que eles escrevem facilita para mim. Às vezes recebemos convite para apre-sentações em colégios. O evento que convidar, a gente vai. No último mês de agosto fomos no Lar do Ancião e os residentes se emocionaram bastan-te.

INtEgRação: Quais são os princi-pais obstáculos em espaços comu-nitários de Bento gonçalves para um deficiente visual?

LaRENtIS: As calçadas. No cen-tro não está tão ruim, mas nos bairros é complicado. O atitude do cidadão mudou bastante. O povo começou a enxergar as coisas de uma maneira diferente. Quando notam que está vindo o cego procuram ajudar e favo-recer a pessoa. No dia que tivermos calçadas em que o idoso, o deficiente visual e o cadeirante andem em se-gurança, todos estarão sendo melhor atendidos.

INtEgRação: Que mensagem po-derias deixar para outros deficien-tes?

LaRENtIS: Quando eu enxerga-va tinha um sistema de vida, que de-pois mudou. É como ser uma criança recém-nascida, tem quem se adaptar, recomeçar. Só com o tempo se con-segue filtrar as ideias. O pessoal do projeto me ajudou bastante. A pri-meira coisa é a pessoa procurar ajuda, porque sozinho não se consegue ir a lugar nenhum. Também é importante ter o apoio de um psicólogo e o em-penho da família no processo de rea-daptação.

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um problema psiquiátrico que costuma ser identificado na infân-cia, entre 1 ano e meio e 3 anos, embora os sinais iniciais, às vezes, apareçam já nos primeiros meses de vida. O distúrbio afeta a comunicação e capacidade de aprendizado e adaptação da criança. Em alguns casos o au-tista tem grande dificuldade de ter uma vida social e em locais públicos pode ficar agitado. O jovem Luciano Smalti, de 27 anos, foi diagnosticado com Autismo aos 3 anos, e desde então a mãe Anita Smalti tem dedicado bastante tempo ao filho. Em 2002, ela fundou a Associação Gota D’água - Centro de Apoio ao Autista, em ati-vidade até meados de 2014.

aNIta: O Luciano tinha uma rotina normal até os 3 anos e meio, era uma criança comum. Foi nessa idade que ele começou a se isolar, só brincava com os mesmos brinquedos, era sempre a mesma música, se isolava no quarto e o que ele falava não dava para en-tender. Somente aos 5 anos conseguimos colocá-lo na Apae e nesse meio tempo fomos pagando os atendi-mentos, mas não se notou muita melhora. Foi quan-do ele começou a ter um atendimento diário que teve uma melhora significativa.

INtEgRação: Você sente que o preconceito é ain-da muito grande aqui na cidade?

aNIta: O preconceito é muito forte e isso é geral. Agora até saiu uma lei exigindo que o autista seja iden-tificado como tal, com uma placa, porque a aparência deles não mostra a deficiência. Às vezes, quando pre-cisamos passar na frente, as pessoas pedem para es-perar. Não se dão conta que o atendimento a eles é preferencial, por vários motivos.

INtEgRação: o que o Luciano representa na vida de vocês?

aNIta: O Luciano é a pessoa que mudou a nossa vida. Ele é um exemplo de luta e está desafiando tudo, as convulsões, o autismo, o câncer que está enfrentan-do. Ele está nos surpreendendo cada vez mais. A mãe de filho autista deve logo procurar ajuda especializa-da, lutar por ele, e não desistir.

Foto: Rodrigo De Marco

Luciano com os pais José Antônio e Anita Smalti

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“Melhor servir do que ser servido”

INtEgRação: ao longo da vida como foi li-dar com as limitações físicas?

gIaCoMELLo: Desde o meu nascimento, até os meus 15 anos, sempre foi uma incógnita. Foi quando notei que tinha que tocar o barco mesmo diante da minha situação física. Nunca tive a intenção e nem o objetivo de culpar al-guém pela minha situação física. Encarei a rea-lidade de que eu era assim e tinha que vencer. Nunca culpei pai, mãe e, inclusive, tive uma fa-mília muito unida em torno do meu caso. Sem-pre tive apoio, e esse apoio se transferiu para a sociedade. Eu coloquei na cabeça que era me-lhor servir do que ser servido.

INtEgRação: o senhor atuou em importan-tes veículos de comunicação do Estado. Qual o significado da escrita na sua vida?

gIaCoMELLo: Em 1958 já era correspon-dente do Diário de Notícias e, desde aquela época, não parei nunca de escrever. É um dom difícil até de dimensionar, mas é uma coisa que está no sangue. A vontade de escrever se tornou uma constante na minha vida.

INtEgRação: Quando pensa sobre a sua im-portância na cidade, qual o sentimento que aflora?

gIaCoMELLo: Eu sempre procurei fazer para a sociedade aquilo que estava ao meu al-cance e, de qualquer forma, conseguimos ven-cer todos os obstáculos. Tive três legislaturas como Vereador e minha maior alegria foi a fun-dação da Associação dos Deficientes Físicos de Bento Gonçalves. Isso aconteceu entre 1987 e 1988. Como Vereador, em 1988, elaborei proje-to de lei, aprovado pelo Executivo, delimitando espaços prioritários para os deficientes físicos em calçadas, rampas e transporte coletivo. Até hoje a lei está em vigor. A inclusão social vem avançando de uma forma gradativa e positiva. Sempre procuro servir a sociedade da melhor forma, porque a comunidade me aceitou do jei-to que sou.

Um dos nomes mais respeitados pela comunidade de Bento Gonçalves é o de Itacyr Luiz giacomello, de 80 anos. Giacomello nasceu com uma deficiência nos membros inferiores, tendo as pernas mais curtas. Mes-mo com a limitação física, não poupou esforços para cravar seu nome na história do município, integrando a Diretoria da primeira edição da Festa Nacional do Vinho (Fenavinho) em 1967, além de ter trabalhado em pelo menos outras nove edições da festa. Trabalhou por oito anos na Vinícola Riograndense e 32 anos na Cooperativa Vinícola Aurora. Atuou como Vereador em três legislatu-ras. Formado em Contabilidade, Giacomello também se apaixonou pelas palavras, seguindo pelos caminhos da escrita. Foi correspondente do extinto Diário de Notícias, de Porto Alegre, por 11 anos. Também representou no município o Jornal Correio do Povo e o Jornal do Comér-cio. Em Bento Gonçalves atuou ainda no extinto Jornal Gazeta da Serra. Atualmente, é colunista do Jornal Sema-nário. Pode-se dizer que esse senhor de 80 anos tenha pautado sua vida em três pilares: trabalho comunitário, família e amor.

INtEgRação: Qual foi a inspiração para criar a associação?

gIaCoMELLo: Foi uma inspiração divina, faltava isso na cidade. Convidamos as pessoas deficientes, na época, para participar da associa-ção. Penso que as pessoas com deficiência física têm que se mostrar para a sociedade, não po-dem ficar enclausuradas. Não podemos negar o óbvio. Tem que aceitar as coisas, acreditar em Deus e tocar o barco.

INtEgRação: o que poderia melhorar na ci-dade para que os deficientes físicos se sentis-sem mais bem amparados?

gIaCoMELLo: O poder público deveria disponibilizar mais rampas de acesso, embora o município tenha já avançado nesse aspecto. Mas se pode fazer muito mais, porque a cidade e os bairros estão crescendo.

INtEgRação: além de uma pessoa ávida pelo trabalho, você é também um apaixona-do pela vida e pela sua esposa (em memória) Neide teresinha Scarton giacomello. o que ela representa para sua vida?

gIaCoMELLo: Ela foi exemplo de mulher batalhadora. Conseguimos construir um lar, com dois filhos e também netos. Foi um con-junto de fatores que nos levou a construir uma família, além de muito amor, que foi o que nos uniu para sempre. Infelizmente ela partiu, mas a vida continua. E posso salientar ainda que a família continua sendo o alicerce da sociedade, isso é inegável.

INtEgRação: Qual a mensagem que o se-nhor deixa para quem está lendo essa entre-vista?

gIaCoMELLo: O ideal na vida deve ser construído com amor e com determinação, pro-curando vencer os obstáculos e colocando na cabeça de cada um que é possível vencer. A vida me ensinou muitas coisas. Entre elas, que a vi-vência em sociedade é fruto daquilo que você semeia hoje e colhe amanhã.

ITACYR LUIZ GIACOMELLOFoto: Rodrigo De Marco

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JORNAL INTEGRAÇÃO DA SERRA | Setembro 2019 7SAÚDE

Bento GonçalvesRua Dr. José Mário Mônaco, 227 - Sala 905, CentroFones: (54) 3702.4113(54) 99970.4113

GuaporéClinical Center - Av. Silvio Sansom, 1435 - 2° AndarFones: (54) 3443.6543(54) 99912.6543

Foto: Eduardo Benini

Felipe de David,Cirurgião Plástico

uitas pessoas procuram o consultório de cirurgia plástica em busca de pro-

cedimentos que possam corrigir caracterís-ticas que lhes incomodem no próprio corpo. Os pacientes costumam apontar insatisfa-ções dos mais variados tipos – grande parte delas solucionadas pelo conjunto de técni-cas de contorno corporal. Nesses tipos de cirurgias são retiradas gorduras em excesso e flacidez da pele, melhorando a forma e o tônus dos tecidos nas regiões abdominal, glúteos, virilhas e coxas. Como resultado, o paciente apresenta tonificação e contornos mais suaves – além de aparência corporal mais jovem e delineada.

Procedimentos como abdominoplastia, torsoplastia (retirada do excesso de pele na região dos flancos e prolongando-se até as costas), lipoaspiração, lipoescultura (re-moção de gordura de algumas regiões do corpo), gluteoplastia (aumento do volume das nádegas), cirurgia pós-grande perda de peso, braquioplastia (lifting de braço), cruroplastia (diminuição do excesso de pele na região das coxas) e implantes de pantur-rilha são os mais requisitados por homens e mulheres que visam um maior bem-estar

Procedimentos de contorno corporal

são aliados de quem busca definição

consigo mesmo.É sempre importante destacar alguns

pontos antes de realizar sua cirurgia: bus-que indicação de amigos da sua confiança, priorizando um profissional especializado e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Seja franco em relação às suas ex-pectativas e converse com o cirurgião para encontrar o procedimento mais adequado às suas necessidades.

Também é válido ressaltar que o perío-do que antecede o verão é mais propício à realização dessas cirurgias, pois costumam apresentar recuperação um pouco mais lon-ga – que, em alguns casos, podem precisar de seis meses para apresentar o resultado final desejado. Além disso, as temperaturas amenas são excelentes para uma reabilita-ção tranquila até a próxima temporada de calor.

Já no pós-operatório, siga as instruções passadas pelo profissional para que sua re-cuperação ocorra de forma saudável. Por fim, entenda que a manutenção do resulta-do requer que você mantenha um peso es-tável, pratique atividades físicas e valorize a alimentação saudável.

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JORNAL INTEGRAÇÃO DA SERRA | Setembro 2019SOCIAL8

Diretoria da CDL-BG, com Francine Bergamo, Gustavo Ceccon, Cristiane Marin, Ari Fachinetto, Joel Rasera e presidente Marcos Carbone

Comemorando os 50 anos da CDL-BG, o prefeito Guilherme Pasin e o presidente da entidade, Marcos Carbone

Entrega da Medalha Don Charles Bird ao presidente da Cooperativa Santa Clara, Rogerio Bruno Sauthier, na abertura da ExpoAgas 2019

Hermínio Ficagna, Sérgio Moret e Sílvio Santos, no estande da Cooperativa Vinícola Aurora na ExpoAgas 2019

Cátia Dalcin e Alexandre Guerra, no estande da Cooperativa Santa Clara na ExpoAgas 2019

Maria Valentini e Ivo Siviero prestigiando o jantar dos 50 anos da CDL-BG

Equipe da Vaccaro Vinhos e Espumantes comemorando os 65 anos da empresa, com a presença de lideranças políticas de Garibaldi

Participantes do grupo Degli Amici comemorando os 15 anos de parceriacom a Vaccaro Vinhos e Espumantes

Foto: Cesar Silvestro | Vagão Filmes

Foto: Cesar Silvestro | Vagão Filmes

Foto: Kátia BortoliniFoto: Kátia Bortolini

Foto: Divulgação

Foto: Divulgação

Foto: Divulgação Foto: Divulgação

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JORNAL INTEGRAÇÃO DA SERRA | Setembro 2019 9EDUCAÇÃO

Quase 600 alunos já abandonaram os bancosescolares de Bento Gonçalves em 2019

A evasão escolar atinge números preocupantes em Bento Gonçalves. De acordo com o conselheiro tutelar, Leonides Lavinicki, a média de alunos fora da escola é praticamente a mes-ma entre 2018 e 2019. No último ano, segundo ele, de janeiro a agosto, 575 estudantes pararam de frequentar os bancos da escola. Já neste ano 599 alu-nos já deixaram de ir para escola entre janeiro e agosto. Os números são da Fi-cha Comunicação de Aluno Infrequen-te (FICAI). Os motivos são variados, e o problema fica ainda mais preocupante no ensino médio. Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesqui-sas Educacionais (Inep), o Rio Grande do Sul tem a maior taxa de reprovação no ensino Médio, no Brasil. Segundo uma pesquisa divulgada em maio des-te ano pelo órgão, o índice é de 20,1%, indicando que, em média, um em cada cinco estudantes não passaram de ano em 2018 no Estado. Para o conselhei-ro tutelar, os números são mais uma mostra de que o aluno, ao chegar no ensino médio se depara com dificulda-des maiores e não atingindo o êxito na escola acaba desistindo dos estudos.

“Os pais costumam dizer que o filho não quer mais ir para a escola. Eu acho que a qualidade do que ele aprende é insuficiente. Quando che-ga as primeiras provas que ele sente que não foi bem ele percebe que não adianta mais ir e desiste dos estudos. A aprendizagem é um dos fatores princi-pais para a infrequência e evasão esco-lar”, explica.

O Conselho Tutelar realiza men-salmente aproximadamente 50 visitas em famílias com problemas de evasão escolar. Nas palavras de Lavinicki, o ór-gão municipal está fazendo a sua par-te tentando alertar os pais e também o Ministério Público. Ele reforça, no en-tanto, que uma ação mais enfática por parte do poder executivo poderia fa-zer grande diferença no combate aos números referentes a evasão.

“Faz parte das políticas públicas o conselho orientar o poder executivo nas ações que têm que tomar, assim como enviar os dados para o ministé-rio público para tomarem as medidas cabíveis. Como conselheiro tutelar vejo que não houve políticas públicas do executivo para a educação. Deve-

Números de evasão escolar são considerados elevados e mantêm a média de 2018

riam investir mais na qualificação dos professores e também no financeiro deles para que se sintam bem para trabalhar. Se o professor ganhar mal ele não vai para a sala de aula feliz e não vai dar uma boa aula. O conselho tutelar faz a sua parte. Estimamos que 1/3 dos alunos retornam à escola atra-vés do trabalho do conselho tutelar, mas infelizmente, 2/3 dos alunos in-frequentes não retornam aos estudos”, lamenta.

Ainda segundo Lavinicki é a pró-pria escola que faz os primeiros alertas de que o aluno está faltando em de-masia.

“A ficha de infrequência escolar de primeiro momento é a escola que faz. Quando o aluno tem cinco faltas con-secutivas no mês, a escola abre e se in-

forma com a família e se a criança não retornar o caso chega ao conselho tu-telar. E se configura evasão quando o jovem não voltar mais à escola. A partir deste momento o conselho tutelar faz a notificação aos pais ou responsáveis. Damos a advertência, e se não retornar encaminhamos a ficha para o Ministé-rio Público, que pode ajuizar uma ação contra o pai e a mãe do estudante”, sa-lienta.

Futuro incerto O conselheiro tutelar acrescenta

ainda que a falta de investimento na educação pode ser um agravante na segurança pública da cidade, quando for considerado que os alunos, hoje in-frequentes no ambiente escolar, pode-rão ingressar na criminalidade.

aluno resistenteos motivos que fazem

com que o aluno desista de frequentar a escola são variados, porém, um dos principais fatores, segundo o FICaI, é a resistência que o jovem apresenta, seguida pela suspeita de negligên-cia (do Estado, em caso da falta de vaga ou do familiar responsável) e distorção de idade/série. outros fatores que também são elenca-dos por Lavinicki e que são confirmados pelos números apresentados pela FICaI são relacionados a falta de transporte escolar, suspeita de envolvimento com dro-gas e gravidez na adoles-cência.

Evasão escolar é o que ocorre quando

um aluno deixa de frequen-tar a escola e fica caracteri-zado o abandono escolar, e historicamente é um dos tópicos que faz parte dos debates e análises sobre a educação pública.

Infrequência escolarQuando o aluno deixa

de ir em algumas aulas de forma consecutiva, mas que volta à escola. Ele acaba ten-do uma média alta de faltas, caracterizando como um aluno infrequente.

Reprodução Web

Foto: Rodrigo De Marco

Conselheiro Tutelar, Leonides Lavinicki

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JORNAL INTEGRAÇÃO DA SERRA | Setembro 2019SEMANA FARROUPILHA10

Festejos Farroupilha seguem até dia 29

A Chama Crioula chegou na ABC-TG, em Bento Gonçalves no sába-do, dia 7 de setembro. Neste ano, o evento tem como tradicionalista ho-menageado Omair Trindade e como tema “Vida e obra de Paixão Côrtes”. A programação dos Festejos que come-çou no dia 7 vai seguir até o dia 29 de setembro e compreende atividades como peças teatrais, oficinas, encon-tro de gaiteiros, invernadas, tertúlia, jogos campeiros, bailes, shows, entre outras atrações.

O tradicionalista homenagea-do Omair Trindade “é uma data mais do especial, pois nossa cidade tem o nome do maior Centauro da Pampa Meridional que é Bento Gonçalves. E a Chama Crioula que acendeu nossos Festejos Farroupilhas evoca a fraterni-dade, o amor e o carinho pelo nosso estado”.

Entre as atrações estão: peça te-atral “Encontro na Praça”, com Roger Castro e o grupo Vivandeiros da Ale-gria; peça teatral “Um quero-quero me contou”, com o grupo Artistas no Palco; peça teatral “Entrevero Farrou-pilha”, com Grupo Luz & Cena; oficinas de vivências campeiras; atividade lite-rária Lendas do Sul com a obra “Sepé Tiaraju: Um herói da pátria”, com o escritor Luiz Alfredo Borges; encontro de gaiteiros e de invernadas; apresen-

14 - Sábado12h: Almoço. 14h: Jogos Campeiros modalidade TETARFE (Jogo do Osso, Tejo, Argola e Ferradura). Evento aberto ao público. 20h: Jantar. 21h30: Show com Grupo Gahu-Chê. 22h: Fandango com Grupo Estância.

15 - Domingo12h: Almoço. 08h30: Festival Farroupilha. Inscrições para as modalidades de Danças Tra-dicionais Gaúchas (Categorias: Mirim, Juvenil e Adulta), Danças Gaúchas de Salão (Cate-goria: Adulta) e Chula (Categorias: Mirim, Juvenil e Adulta). 19h: Fandango com Grupo Compasso do Sul.

16 - Segunda-feira8h: Quiz: Jogo de Perguntas e Respostas - 1ª Fase. 17 - terça-feira8h30 e 14h: Atividade Literária: “Lendas do Sul”. Participação do Escritor Luiz Alfredo Borges com a Obra “Sepé Tiaraju: Um Herói da Pátria”.

18 - Quarta-feira8h30 e 14h: Atividade “Oficinas de Vivências Campeiras”. Oficinas de Vaca Parada, Chi-marrão, Danças e Indumentária Gaúcha. 19h30: Sessão de Cinema no SESC - Filme: “Net-to e o Domador de Cavalos”, de Tabajara Ruas. 21h: Jantar.

19 - Quinta-Feira9h e 14h: Peça Teatral “Um Quero-Quero me contou…” Grupo Teatral Artistas no Palco. 21h: Fandango com Walther Morais e Os Campeiros do Rio Grande.

20 - Sexta-Feira9h30: Cavalgada Cristo Rei, saída da Igreja Cristo Rei. 11h: Celebração da Missa Crioula com o Padre Gilmar Marchesini, na ABCTG. 11h30: Entrega de placa ao Tradicionalista Homenageado dos Festejos Farroupilhas 2019. 12h: Churrasco Campeiro. 14h: 4º Encon-tro de Gaiteiros da Região. 15h30: Mateada e Encontro de Invernadas Artísticas. 20h30: Show com Grupo Gahu-Chê. 21h30: Fandango com Tropilha Gaviona.

21 - Sábado12h: Almoço. 13h: Apresentações dos grupos de danças das Escolas. Participação da Equipe Campeã da Tertúlia da E.E.E.M. Mestre Santa Bárbara. 15h: Circuito de Atividades e Brincadeiras de Resgate. 20h: Jantar. 21h30: Show com Lisandro Amaral. 23h: Fandan-go com Roger Morais e Pátria Gaúcha.

22 - Domingo12h: Almoço. 14h30: Jogos Campeiros - Modalidade Bocha Rolada. 16h: Jogos Campei-ros - Modalidade Bocha 48 (8 metros). 19h: Fandango com Grupo Recordação Gaúcha.

23 - Segunda-Feira19h: Quiz: Jogo de Perguntas e Respostas - Fase Final. 24 - terça-Feira19h30: Contação de Causos.

25 - Quarta-Feira14h: Peça Teatral: “Entrevero Farroupilha”. Grupo Teatral Luz & Cena. 26 - Quinta-Feira19h30: Sessão de Cinema na ABCTG. Filme: “Netto Perde Sua Alma”, de Tabajara Ruas. 21h: Jantar.

27 - Sexta-Feira14h: Baile da 3ª Idade com Grupo Família Gaúcha. 20h: Jantar. 21h: Show com Jorge Guedes & Família. 22h: Fandango com Moises Oliveira e Grupo Vozes do Campo.

28 - Sábado12h: Almoço. 20h: Jantar da Mulher Gaúcha. Entrega de Homenagens e Honrarias às Mulheres Tradicionalistas e Destaques. 22h: Fandango com Grupo Tchê Barbaridade.

29 - Domingo9h: Futebol de Bombacha. 12h Almoço de Confraternização com as Escolas e CTG’s. 14h: Divulgação do Resultado da III Gincana Cultural da ABCTG. 18h: Fandango com Grupo Tamoeiro. Após, encerramento com Fandango Surpresa.

tação de escolas; III Gincana Cultura da ABCTG; tertúlias; Tertúlia da Esco-la Mestre; contação de causos; jogos campeiros; sessões de cinema; bailes da 3ª idade; Feira do Livro gaúcho em parceria com a Dom Quixote Livraria & Cafeteria; jantares e almoços com aquisição de ingressos antecipada-mente; cavalgada de abertura; caval-gada Cristo Rei.

Entre os shows: Grupo Compasso do Sul, Grupo Tropilha Gaviona, Os Ti-ranos, Família Gaúcha, Lisandro Ama-ral, Machado e Marcelo do Tchê, Moi-sés Oliveira & Grupo Vozes do Campo, Paloma e Miqüi, Paullo Costa & Grupo Tá Agarrado, Recordação Gaúcha, Ro-ger Morais & Grupo Pátria Gaúcha, Tchê Barbaridade, Grupo Estância, Grupo Gacuhê e Grupo Tamoeiro.

Os Festejos Farroupilhas deste ano homenageiam a “Vida e obra de Paixão Côrtes”. Natural de Santana do Livramento, o compositor, folcloris-ta, radialista e pesquisador da cultu-ra gaúcha João Carlos D’Ávila Paixão Côrtes resgatou a cultura gaúcha e os símbolos do gauchismo, como a Chama Crioula, o Desfile dos Cavala-rianos, a Ronda Crioula, e o primeiro Centro de Tradições Gaúchas, criado em 1948, por Côrtes, Barbosa Lessa, Glauco Saraiva e Hélio José Moro. Fa-leceu em 27 de agosto de 2018.

Foto: Divulgação

PROGRAMAÇÃO

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JORNAL INTEGRAÇÃO DA SERRA | Setembro 2019 11ESPECIAL

BG Materiais de Construção completa25 anos de destaque em Bento Gonçalves

Qual é a sua exigência no mo-mento da compra de materiais para construção ou reforma de sua casa? A BG Materiais de Construção, uma das lojas mais conceituadas do ramo, tem essa resposta na sua vasta variedade de produtos. No próximo dia 27 a loja completa 25 anos de conquistas junto ao público bento-gonçalvense e da região. Com mais de seis mil itens em estoque, a BG Materiais de Construção é referência para quem busca requin-te e preços acessíveis.

Os proprietários Volnei Massolini e Olinto Rizzi recordam o início do em-preendimento e os desafios enfrenta-dos. “Começamos em 27 de setembro de 1994, na época que iniciava o cha-mado Plano Real. Começamos com pouco capital de giro, quase nada, eu diria. Posso dizer que, já no início, foi bom. Éramos em dois e o Plano Real deu sustentação para os negócios. Começamos com uns 100 itens na loja e hoje são mais de seis mil itens. Era basicamente o bruto: tijolo, cimento e areia. Agora tem tudo para a casa, diversos materiais”, afirma Volnei Mas-solini.

Produtos de qualidade com pagamento flexívelMassolini lembra que, no quesito

material de construção, a loja é uma das mais lembradas pelo público. “Te-mos uma grande variedade de pro-dutos. Quando falar em materiais de construção, nós somos um dos mais lembrados. Além de termos um am-plo estoque e de trabalharmos com pronta entrega, temos uma variedade de modelos dos produtos. Nós temos uma média de 200 modelos de pisos e

É muito bom compartilhar nosso dia a dia com pessoas que inspiram as nossas conquistas.

Parabéns BG Materiais de Construçãopelos 25 anos de sucesso.

Joana Guindani Tonello, 83 - B. LicorsulBento Gonçalves - RS54 3454 6381 | www.grifmetais.com.br

Inaugurada em 27 de setembro de 1994, loja tem mais de seis mil itens em estoque e é referência no setor de materiais de construção

azulejos em estoque. Alto estoque de material e preços competitivos. A li-nha de ferragens também é bem com-pleta. Trabalhamos com mais de 2.200 cores das tintas Predial, uma grande variedade de cores, além de linhas de forro de PVC”, afirma.

As condições de pagamento também são flexíveis e ajustadas de acordo com as necessidades de cada cliente. “Possuímos linha de crediário próprio. Não é algo específico. Con-forme o caso e o valor, podemos ne-gociar. Reforço também que o aten-dimento é feito pelos proprietários, além da equipe de vendas. Temos que ser bem flexíveis com os clientes, por-que é isso que faz com que tenhamos credibilidade e fidelidade”, diz.

a Bg Materiais de Construção está localizada na rua Florianópolis, 569, bairro Botafogo.

telefone para contato: (54) 3453.2922

Com um perfil dinâmico e comu-nicativo, Massolini esbanja simpatia com os clientes. O estilo brincalhão e amigo reforça ainda mais um dos dife-renciais da BG, que é a fidelidade com os clientes conquistados.

“Desde criança eu sempre me sen-ti bem à vontade com o público e eu gosto de conversar com os clientes. Tenho uma boa memória fotográfica. Se a pessoa entrar aqui depois de 25 anos, eu vou lembrar dela e chamar

Fotos: Divulgação

Sede da BG Materiais de Construção, no bairro Botafogo Os proprietários Olinto Rizzi e Volnei Massolini

Equipe da BG Materiais de Construção

Uma loja para fazer amigos pelo nome. Eu trabalho com amor e prazer. sou bem ativo e isso ajuda bas-tante nos negócios”, salienta.

Para quem ainda não conhece a BG Materiais de Construção haverá uma grande oportunidade no pró-ximo dia 28, quando uma rádio local fará a apresentação de um programa ao vivo diretamente da loja. Haverá sorteios de brindes e uma variedade de produtos em promoção. O progra-ma será das 9h às 11 da manhã.

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JORNAL INTEGRAÇÃO DA SERRA | Setembro 2019ESPUMANTES12

Cooperativa Vinícola Garibaldi lança espumante para beber com gelo

Fãs de espumantes acabam de ganhar uma nova forma de apreciar a saborosa bebida borbu-lhante: a Cooperativa Vinícola Garibaldi lança sua linha Ice. O primeiro rótulo que chega ao mercado é o Espumante Garibaldi Ice na variedade Prosecco.

Seu consumo é simples e descomplicado: algu-mas pedrinhas de gelo no copo e o produto está pronto para beber, trazendo todo seu frescor e le-veza. A opção é ideal, também, para compor drinks refrescantes – nas mais ousadas combinações que a criatividade sugerir. O Espumante Garibaldi Ice combina com momentos descontraídos: é uma óti-ma pedida para curtir na beira da praia ou piscina, bem como para aqueles que não abrem mão da so-fisticação no happy hour ou na balada.

Diferentemente dos espumantes convencio-nais, o Ice é uma bebida de acidez mais elevada, de perfil aromático intenso e maior concentração de açúcar. O Espumante Garibaldi Ice é elaborado utilizando um maior percentual de uva Prosecco, porém com uma mescla de vinho Moscato. Essa fórmula permite combinar o frescor do Prosecco à intensidade aromática e doçura do Moscato.

Sua elaboração ocorre pelo Método Charmat. O residual de açúcar da categoria Demi-sec é preser-vado para agregar frescor e intensidade à bebida final mesmo depois da adição de gelo ou mistura com outros ingredientes nos drinks. A graduação alcoólica é a habitual para um Espumante Demi-sec – porém, como o consumo recomendado prevê a

Foto: Nilce Silvaadição de gelo, esse percentual tende a se diluir, pro-porcionando mais leveza à mistura final.

O Espumante Garibaldi Ice está disponível em garrafas de 750 ml e chega ao mercado gaúcho com preço médio de R$ 33,00. Nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, a partir de R$ 39,00.

Novos consumidores na miraO lançamento vem para conquistar espaço jun-

to a um novo perfil de consumidores: a geração dos Millenials, entre 23 e 36 anos. Sua proposta descom-plicada busca estabelecer uma conexão entre a be-bida e as situações do dia a dia – festas, celebrações, encontros com amigos, combinando com situações espontâneas, rompendo os protocolos de consumo.

Evidenciando a aposta da Cooperativa Vinícola Garibaldi de consolidar cada vez mais os espuman-tes como carro-chefe do portfólio, a linha Ice é um dos movimentos que a marca aplica para manter a curva ascendente no desempenho comercial. A ven-da de espumantes da marca cresceu em torno de 50% no primeiro semestre de 2019, no comparativo com o mesmo período do ano passado, e a expec-tativa é de que continue em expansão. Até o fim de 2019, a Cooperativa Vinícola Garibaldi deve produ-zir cerca de 18 milhões de litros, entre espumantes, sucos e vinhos, volume 20% maior que a produção registrada no ano anterior. Neste ano, os espuman-tes responderão por 20% do volume e 38% do fatu-ramento da marca.

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Caderno de Cultura e Arte |

Jornal Integração da Serra | Nº 71 |

Setembro 2019

Foto: Sandro Vaccaro

Os encantos daRegião Amazônica

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2 | Mosaico | Jornal Integração da Serra | Setembro 2019

Rogériogava

[email protected]

O Caminho do Meio

á se disse que toda virtude é um ápice entre dois vícios. Um cume entre dois vales. Espécie de média entre dois extremos. O respeito, por

exemplo, é um bom termo entre a negligência e o medo exagerado. Um aluno diante de um teste: se ele der de ombros e achar que já sabe tudo, estará sendo negligente, e com certeza se dará mal. Mas se ficar petrificado diante do desafio, tremendo de medo de ser reprovado, possivelmente terá o mes-mo destino. Encarando o exame com o respeito que a situação pede – o que pressupõe que se preparará com afinco –, com certeza terá maiores chances de sucesso.

Veja o caso da humildade: ela é o justo balan-ço entre a arrogância, de um lado, e a submissão, de outro. Ser humilde não é depreciar-se. Tampouco carecer de autoestima. E nem de longe deixar-se hu-milhar. A humildade é o ponto “ótimo” entre achar--se “o gás da Coca-Cola” e um “João Ninguém”. Ser humilde é sabermo-nos “filhos da terra”, do humus, donde justamente deriva o termo. Pó somos e ao pó voltaremos. Tudo o que a soberba – esse extremo equivocado – esquece.

A simplicidade é outro bom modelo do que es-tamos falando. Ser simples é estar equidistante da presunção e da ingenuidade. Aliás, é bom que se saiba: ser simples não significa ser “simplório”. A verdadeira simplicidade não pressupõe a tolice, ou a falta de sabedoria. O homem simples, ao contrário, é aquele que não se envaidece de sua própria inte-ligência, daquilo que julga saber. Ele reconhece que tudo o que sabe não é nada, diante do outro tanto que ignora. Simplicidade é essa leveza de espírito, a boa meia medida entre um ego esvaziado ou inflado demais.

Me parece que tudo na vida, ao final, pede o equilíbrio. Como se diz: nem tanto ao céu, nem tanto à terra. O prazer é um terreno fértil para testar esse princípio. Me diga o leitor com sinceridade: não é muito mais fácil abdicar totalmente de comer doces, do que provar o primeiro brigadeiro e parar por aí?

Me parece que tudo na vida, ao final, pede o equilíbrio. Como se diz: nem tanto ao céu, nem tanto à terra.

Quem nunca fez regime que atire a primeira pedra. E já disse o poeta Fernando Pessoa: é mais fácil ab-dicar totalmente de um vício do que tentar moderá--lo.

O “caminho do meio” não é uma lógica nova. Buda já o ensinava. Conta a lenda que o mestre, tendo desmaiado de fome após severo jejum, e re-cuperado a consciência somente após comer uma tigela de mingau, teve uma iluminação. Ele percebeu então que os extremos – mesmo em causa nobre – nunca são a melhor pedida. A partir daí, passou a pregar aos discípulos as virtudes do meio-termo para o refinamento do espírito.

A essência do meio-termo repousa sobre o equilíbrio, essa difícil arte. Ler é bom; passar os dias lendo é alienação. Sexo é saudável; só pensar em sexo é perversão. Trabalhar para viver é necessário; viver para trabalhar é loucura. E por aí vai. Como ensinava Aristóteles – outro sábio que apreciava a ideia da justa medida –, a falta e o excesso são os dois grandes vilões de nossa felicidade. Dizia ele, por exemplo, que tanto a prática excessiva de exer-cícios, quanto seu inverso – a indolência do corpo –, eram prejudiciais (atualíssimo nosso bom filósofo, nestes tempos de “neurose fitness”).

Aristóteles, aliás, nos legou algo fundamental sobre toda essa questão: cada qual deve descobrir qual é o seu “meio-termo” particular. Ele nos ensina que o caminho do meio não é questão de pura ma-temática, assim como seis é a média aritmética en-tre dez e dois. É o que o mestre chamava de “meio--termo em relação a nós”. Haverá vezes em que nos inclinaremos mais para o excesso; noutras, para a falta. Cada um bem sabe onde lhe apera o sapato...

Acima de tudo, o meio-termo está aí para nos lembrar: se a escuridão nos impede de ver, a clari-dade excessiva nos cega. Nenhuma das situações é boa; pelo simples fato de serem exageros. O ca-minho do meio mostra que, entre o escuro e o claro, habitam muitas nuances. Basta procurá-las. E que cada um saiba alcançar a sua “justa medida”.

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Mosaico | Jornal Integração da Serra | Setembro 2019 | 3

Os jornalistas Carina Furlanetto e João Paulo Mileski estão rodando a América do Sul de carro com o projeto “Crônicas na Bagagem”, em uma expedição que deve durar até dois anos. Eles já passaram pelo Uruguai, Argentina, Chile e Bolívia e agora estão no Peru, escrevendo sobresuas experiências nas redes sociais: instagram: @cronicasnabagagem,facebook.com/cronicasnabagagem, site www.cronicasnabagagem.com e nas páginas do Integração da Serra.

Foto: Arquivo Pessoal

Só basta acreditar

Por Carina Furlanetto

Fique Informado!Entretenimento, promoções,

músicas e muita notícia.

Foto

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uivo

Pes

soal

alar em religião é polêmico, mas às vezes ouso meter-me em al-

guns vespeiros. Não quero aqui dis-cutir suas crenças, até mesmo por-que, quando se acredita em algo, as justificativas não são necessárias - o coração sente e ponto final.

Venho de família muito religiosa, estudei em escola católica e fui cria-da com valores bíblicos muito sóli-dos. No meio disso tudo, desenvolvi a minha própria forma de ligar-me a algo superior, sem a necessidade de praticar rituais há anos eternizados e transmitidos por gerações. Antes desta viagem, sentia algo a me pro-teger dos perigos e acreditava que até mesmo as situações mais ca-

beludas deveriam ter um propósito - aquele lance de não ganhar uma cruz maior do que a que podemos carregar. Mas até por piloto automá-tico, em alguns apuros, rezava um par de “pai-nossos” ou “ave-ma-rias”, como uma espécie de mantra para me acalmar.

Minha relação com Deus ou com o que quer que seja que há de supe-rior a nós - o nome pouco importa - mudou desde que saí de casa há seis meses. Em silêncio, diante de uma paisagem estonteante, sempre fecho os olhos por alguns segundos e recito mentalmente um “obrigada”. Quando as adversidades tomam conta do dia, repito em pensamento

os mesmos mantras de antes e, às vezes, quase que instantaneamente, uma solução aparece - como quan-do, no meio de uma trilha puxada, em um dia de sol escaldante, várias nuvens surgem no céu acompanha-das de uma brisa, refrescando o clima e permitindo seguir em frente. Pode ser apenas coincidência, mas há momentos em que a providência divina parece ser a única explicação plausível para as benesses que nos ocorrem.

Claro que nem sempre tudo acontece como gostaríamos. Se pu-desse escolher, preferia sempre ter uma casa para ficar do que dormir nos bancos de um carro. Mas quem

foi que disse que o melhor para a gente é sempre realizar os nossos desejos? Há um porquê, mesmo que só o entendamos às vésperas de partir dessa vida. Há quem acre-dite - e tendo a também ir por essa via, mesmo desconhecendo expli-cações plausíveis - que de alguma forma escolhemos de antemão os caminhos que trilharemos e as pes-soas com as quais compartilhare-mos nossa jornada. Mesmo sem sa-ber onde chegarei, sigo caminhando com a certeza de que há algo de bom reservado para nós.

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4 | Mosaico | Jornal Integração da Serra | Setembro 2019

Césaranderle

Diretor da Anderle Transportes

Viva

Os pequenos momentos e as pequenas delicadezas reforçam a cumplicidade entre o casal e a própria família.

m um encontro recente do qual estive pre-sente, o referido palestrante me acobertou

com palavras confortantes, animadoras e de estí-mulo para o saber viver, tendo sempre em mente os prazeres e as dificuldades da vida, uma vez que não podemos alterar os fatos ocorridos, mas sim podemos e temos todo direito de, através de nossos atos, aumentar ou diminuir a nossa felici-dade pela nossa resposta daquele fato.

Saber aproveitar a vida é ver ela da melhor maneira possível. Um dia de chuva pode ser visto como um dia monótono, sem graça, sem moti-vação, com um ar de não poder fazer nada, mas se olharmos por outro lado podemos vislumbrar a chuva caindo, a dádiva de Deus nos dando um dos elementos de sobrevivência e da continua-ção da vida vegetal e animal. Num dia chuvoso pode-se arrumar as nossas coisas pessoais, po-de-se ler, pode-se descansar num sofá, pode-se espreguiçar-se, refletir..., ficar no silêncio ouvindo e admirando o barulhinho da chuva caindo sobre o telhado, o barulho da água caindo da calha so-bre a terra ou sobre a calçada. Que coisa boa, contemplar e apreciar momentos de conforto es-piritual, momentos de paz.

Assim também é com a nossa esposa, mari-do, amigos, enfim, as pessoas que escolhemos conviver juntos, apreciar momentos de amor, fé, admiração, de alegria, descontração, momentos de felicidade ou de dor.

Não podemos nos deixar influenciar pelas crises, pelas injustiças da vida, pelo mau humor das pessoas, precisamos resgatar o bem-estar de nossa família, nos sentir bem com a nossa es-posa, com o nosso marido, com os nossos filhos e parentes, necessitamos disso. Deus torce por

cada um de nós. Ele quer nos ver felizes e reali-zados com o que temos. Ele nos ensina a querer bem aos que nos rodeiam. O principal ensina-mento que alguém pode nos passar é justamen-te esse, amar as outras pessoas. Jesus Cristo nos ensinou, através de seu testemunho, preci-samos colocar em prática este ensinamento.

O saber aproveitar a vida também passa por este mandamento, pois querendo bem a todos, estaremos nos vacinando contra o mal. Pode-mos até ser injustiçados, mas a paz de espírito do dever cumprido, isso ninguém nos tirará, são momentos que ficarão eternizados na alma e no coração e é dessas ações que buscaremos forças quando as coisas não acontecem como gostaríamos.

O saber aproveitar a vida sempre passa pelo companheirismo que temos com a nossa famí-lia. Viemos de um lugar e valorizar a nossa ori-gem é o mínimo que devemos fazer.

Quando namoramos tudo é muito lindo e maravilhoso, depois de alguns anos de convi-vência, principalmente após o casamento, pa-rece que a rotina desgasta o relacionamento, não é mesmo? Mas devemos ter o cuidado para que isso não se torne uma rotina. É necessário, para o bem da família, que cultivemos este sen-timento do amor. Os pequenos momentos e as pequenas delicadezas reforçam a cumplicidade entre o casal e a própria família. Não podemos deixar o romantismo de lado e perder o elo que uniu o casal. Aquele encantamento de quando nos conhecemos deve permanecer até o fim de nossas vidas, só assim seremos felizes para sempre e com a certeza de que, o que fizemos, fizemos bem feito.

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Mosaico | Jornal Integração da Serra | Setembro 2019 | 5

Bailarina, que começou no projeto Coração Cidadão, faz parte do elenco do Natal Luz 2019

Programe-se

Quais os limites de uma jovem bailarina de 20 anos? Talvez a dife-rença esteja na ponta da sapatilha, na dança que faz Andreza Borges voar entre a nova geração de dan-çarinos brasileiros. Atualmente resi-dindo em Capão da Canoa, a jovem nasceu em Uruguaiana, mas foi em Bento Gonçalves que morou com a família. A bailarina que aos 12 anos estudou na escola de ballet Bolshoi, em Santa Catarina, aos 17 conquis-tou a formação profissional na insti-tuição e já ministrou aulas de ballet na Coreia do Sul, agora está com novos desafios para a carreira. A jo-vem fará parte da equipe de bailari-nos do Natal Luz 2019. Andreza não esconde o entusiasmo e expectativa pela oportunidade.

“Sempre tive o sonho de partici-par do elenco de bailarinos do Natal Luz. Quando fiquei sabendo da au-dição que aconteceria, não pensei duas vezes, me inscrevi. Minha for-mação ajudou muito, pois a escola Bolshoi é bastante valorizada nesse meio. Farei parte do espetáculo do Show do Lago, composto por cerca de 24 bailarinos. É um sonho fazer parte disso tudo, pois no Natal Luz todo mundo sai emocionado e im-

Andreza Borgesno Natal Luz

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soal

pactado de lá. Poder levar essa ma-gia às pessoas não tem preço”.

Com os novos desafios, a jovem intensificou os treinamentos. “Me dedico cerca de seis horas por dia, entre dar aulas e fazer meus treinos também. Para o Natal Luz acrescen-tei à minha rotina de academia, um treino funcional para dar resistência, pois os espetáculos começarão em outubro e vão até janeiro de 2020. Estou muito feliz e animada em fazer parte disso tudo. Como bailarina é uma oportunidade única de levar a beleza da dança, somada à magia do Natal”, acrescenta.

A história de AndrezaAndreza começou a fazer au-

las de ballet aos sete anos no Pro-jeto Coração Cidadão, em Bento Gonçalves, que tem o objetivo de proporcionar aulas gratuitas para crianças e adolescentes que se in-teressam por dança e arte em geral.

“Aos meus 11 anos, através de um concurso de dança no Estado, ganhei a indicação para fazer o teste da Escola Bolshoi, uma escola russa muito renomada, com sede da única filial fora da Rússia em Joinville, San-ta Catarina. E foi assim, aos 12 anos iniciei meu curso na Escola Bolshoi, tendo que me mudar para Joinville muito nova (são oito anos de curso para sairmos bailarinos profissio-nais, eu cursei sete, pois fui aprova-da para a segunda série)”, conta.

A experiência vivida na Coreia do Sul, em 2018, proporcionou uma vivência ainda maior de Andreza com o mundo da dança. “No ano de 2018, recebi um convite para mi-nistrar aulas de ballet na Coreia do Sul, e lá fui eu. Fiquei seis meses lá e

posso dizer que foi uma experiência incrível. Desde nova sempre gostei do ballet, mas eu comecei a dançar porque me encantei com o que a dança consegue levar às pessoas, através de movimentos podemos to-car o coração de alguém. Foi aí que escolhi a minha profissão”, salienta.

A adaptação na CoreiaA pouca idade da jovem que

aceitou o desafio de se aventurar na Ásia não impediu que os sonhos pudessem florescer ainda mais. Mo-rando com o diretor da escola onde ensina ballet, Andreza descobriu um estilo de vida totalmente distinto na Coréia, porém, conforme ela mesmo diz, de muito aprendizado.

“Morar na Coreia foi uma aventu-ra e tanto, dia a dia descobrindo coi-sas novas, comidas diferentes, cul-tura diferente. Mas lá eles são muito disciplinados e respeitosos com os mais velhos. O fuso horário é de 12 horas em relação ao Brasil, então falar com a família e amigos às ve-zes era complicado, mas eu sempre dava um jeito. Aprendi o coreano, mas ministrei as aulas no inglês com uma mescla de coreano, então foi bem engraçado”, se diverte.

“Se eu pudesse dar um conse-lho para alguém, eu diria que jamais desista daquilo que enche seu co-ração de alegria. Dificuldades no caminho irão existir, mas use delas para lhe manter mais forte e maduro. Quando a gente menos espera con-quista coisas grandiosas, basta ter esperança de que todo o sonho vale a pena ser sonhado; é como uma sementinha, dia a pós dia sendo re-gada e uma hora estará pronta para colher”.

4ª Mostra deCapoeira Angola e Saberes Populares

No domingo, 15, a 4ª Mostra de Capoeira Angola e Saberes Populares aporta na Rua Coberta, a partir das 15h30, trazendo arte, cultura, música, cultura popular e agroecologia.

ExposiçãoNas Ondas do Rádio

O Museu do Imigrante apre-senta a exposição “Nas Ondas do Rádio”, composta por peças da coleção de aparelhos da ins-tituição, datadas das décadas de 50 e 60, com visitação até 30 de setembro.

Cine Sesc especial LGBT

No mês de setembro, o Sesc de Bento Gonçalves apresenta filmes com a temática LGBT. Nas duas primeiras semanas do mês foram exibidos “Corpo Elétrico” e “Divinas Divas”. No dia 17 é a vez do longa-metragem chileno “A Mulher Fantástica”. No dia 24 será exibido o filme norte-ameri-cano “Tangerine”. Todos os filmes são exibidos nas terças-feiras e a entrada é gratuita.

Festival Promessas

Bento Gonçalves sedia pela segunda vez consecutiva o Fes-tival Promessas – um dos maio-res eventos de música gospel. A atração está marcada para ocor-rer no dia 20 de outubro, na Rua Coberta, às 14h, paralelo à Festa da Música.

O espetáculo traz grandes no-mes da música gospel nacional. Já estão confirmados: a dupla André e Felipe, Camila Campos, Clóvis (Preto no Branco), Fabinho Vargas, Isadora Pompeo, Midian Lima, Ministério Aliança no Ta-bernáculo, PG (ex-vocalista do Oficina G3) e Willy Gregory. Além deles, haverá a participação de bandas das igrejas evangélicas locais, que irão se apresentar an-tes das atrações principais.

A entrada será um quilo de alimento não perecível, que será destinada a entidades socioas-sistenciais do Município. Durante a edição passada, foram recolhi-dos 500 kg.

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Em agosto deste ano, em viagem de férias com a família, conheci um pouco do modus vivendi da região Norte do Brasil, na chamada Ama-zônia Legal, que representa 61% do território nacional, abrangendo os estados do Acre, Amapá, Amazo-nas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins, mais parte do Maranhão.

A experiência, vivida nos arre-dores de Santarém, estado do Pará, superou as expectativas. Voltei con-victa de que todos os brasileiros de-veriam visitar a região Amazônica, riquíssima em vários aspectos, para compreender o real valor dessa por-ção do território nacional.

Como exemplo, a Bacia Ama-zônica produz imensas massas de ar carregadas de vapor de água a partir da evapotranspiração das árvores, os chamados “rios voado-res”, responsáveis por boa parte da umidade que atinge as regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Bra-sil. Essas regiões, sem a influência da floresta amazônica teriam um clima muito mais seco. O fenômeno também influencia na incidência de chuvas na Bolívia, no Paraguai, na Argentina, no Uruguai e no extremo sul do Chile.

“A pérola do Tapajós”O roteiro começou pela cidade

de Santarém, conhecida como “a Pérola do Tapajós”. O município, com mais de 300 mil habitantes, fica situado às margens do encon-tro dos rios Amazonas e Tapajós e tem sua economia liderada por co-

PartiuRegião AmazônicaUm pouco do modus vivendi da região Norte do Brasil

Por KátiaBortolini

mércio e serviços. A cidade de San-tarém, fundada em 22 de junho de 1661 pelo padre Jesuíta João Felipe Bettendorff, é uma das mais anti-gas da região Amazônica. O turismo ainda é incipiente, apesar de haver inúmeros atrativos naturais, como os mais de cem quilômetros de praias de água doce e a majestosa floresta amazônica, entre outros.

A primeira providência, após a acomodação em um hotel que pertencia a Companhia Vale do Rio Doce, foi experimentar a gastrono-mia local. Por indicação do hotel fomos almoçar na Peixaria Raiana, situada nas imediações. Aprovamos tanto o cardápio, a base de peixes dos rios Amazonas e Tapajós, como o simpático atendimento. Na ida ao restaurante e na volta ao hotel anda-mos por ruas de chão batido, com esgotos correndo a céu aberto, sob calor úmido de mais de 30 graus. A volta foi mais fácil, será porquê?

O sol forte do meio-dia é evitado pela população local. Nesse horário as ruas ficam quase vazias. Muitas mulheres, de várias idades, usam sombrinha para se protegerem do sol.

Boto cor-de-rosa e Mercadão 2000Sob calor úmido e intenso per-

corremos a pé cerca de cinco quilô-metros entre o hotel e a primeira pa-rada, no Mercado do Peixe Porto dos Milagres. Fiquei surpreendida com o tamanho das espécies de peixes da bacia Amazônica ofertadas no local. Atração à parte são botos cor-de-ro-

sa nadando nas imediações. Num primeiro momento, ao ser chamada para ver um boto cor-de-rosa, fiquei desconfiada por pensar que a espé-cie nessa cor só existia no imaginá-rio popular das lendas amazônicas. O boto realmente era rosado.

Após, fomos visitar o Mercadão 2000, principal centro de abasteci-mento do Baixo Amazonas em pes-cado, frutas regionais, verduras e artesanato, além de plantas medici-nais e outras medicações fitoterápi-cas produzidas a partir de espécies nativas com poder de cura empi-ricamente comprovado. Entre os produtos comercializados nos 385 boxes do Mercadão 2000, chamou a minha atenção a gama de oferta de fitoterápicos e as belas e suculentas castanhas do Pará. A utilização da flora da floresta no combate a do-enças faz parte da cultura do povo da Amazônia. A forma de coleta e manipulação de plantas medicinais, entre outros fármacos da floresta, é repassada oralmente de geração para geração. Concluímos a visita com umas comprinhas básicas de fármacos e castanha, e retornamos à piscina e ao ar condicionado do hotel.

Os museus e os índios tapajós Na manhã seguinte visitamos a

Catedral de Nossa Senhora da Con-ceição, também conhecida como Igreja Matriz de Santarém, o Mu-seu de História e Artes Sacras e o Centro Cultural João Fona. O pré-dio da igreja, construído entre 1761

e 1819, é um dos mais antigos da cidade. Conta a lenda que o prédio foi erguido sobre um cemitério de ín-dios da tribo Tupaiu. No interior do templo salta aos olhos a qualidade da madeira da floresta amazônica, utilizada nos acabamentos, banca-das e esculturas sacras. O museu de artes sacras, situado ao lado da igreja, guarda um acervo importante sobre a evolução católica na cidade e região.

Caminhando e perguntando a populares, chegamos ao Centro Cultural João Fona, que estava fe-chado. Era sábado, por volta das 11 horas. Ficamos na frente do prédio com cara de “hah... não vale”, mas em seguida apareceu um funcioná-rio que atua como vigia e guia, que se propôs a nos receber para um tour no também chamado Museu de Santarém. O prédio, de 1868, se-diou os poderes municipais Execu-tivo e Legislativo, o fórum de Justiça e o presídio.

No local, há centenas de peças arqueológicas, como fósseis de pei-xes e de uma baleia que subiu o rio Amazonas, peças e fragmentos de cerâmicas, coleção de moedas anti-gas, imagens sacras esculpidas em madeira nobre e peças de cerâmica tapajônica, produzidas por uma das mais importantes nações indígenas do Pará: os índios Tapajós.

Também abriga um importante acervo que conta parte da história da cidade por meio da galeria de prefeitos, de mobiliário e de docu-mentos da Câmara de Santarém do século passado.

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“Chopinho”Nessa viagem, ao contrário de

anteriores, não locamos veículo no destino. Seria completamente des-necessário numa região com pre-dominância de transporte fluvial, de motocicletas e bicicletas. Em San-tarém os percursos maiores foram feitos de taxi, como o translado do aeroporto e a volta ao hotel no pri-meiro dia na cidade, após na ida ter-mos caminhado vários quilômetros sob um sol escaldante. Sorte que as ruas planas do trajeto estavam repletas, para nós, de novidades vi-suais e de bares, com cerveja bem gelada. Nas proximidades da área central um vendedor ambulante ofe-receu “chopinho”. Perguntei a ele: tem teor alcoólico? Não: respondeu e mostrou um produto parecido com “sacolé”, feito com sucos de fru-tas típicas da região. “O chopinho” se mostrou delicioso e refrescante, adorei!

Próximos destinos...Alter do Chão

O distrito Alter do Chão, de Santarém, situado há cerca de 37 quilômetros da cidade, foi o nosso próximo destino, com hospedagem indicada e pré-agendada no Alber-gue da Floresta, situado a cerca de 50 metros do Rio Tapajós. Fomos re-cebidos pelo casal Sâmia e Ângelo e acomodados numa das cabanas mais ao alto, de dois pisos, inseri-da na floresta. Na cabana ao lado estava um holandês que frequenta a região duas vezes por ano para, segundo ele, “registrar o corte clan-destino de árvores nativas da re-gião”.

Após a acomodação da baga-gem na pousada fomos a pé conhe-cer a área central de Alter, situada há cerca de meio quilômetro. Ao che-gar ao centro da vila, fundada no dia 6 de março de 1626 pelo português Pedro Teixeira, observamos uma in-fraestrutura turística simples mas efi-ciente, em torno da praça e da igreja matriz Nossa Senhora da Saúde,

Na manhã seguinte, partimos de barco rumo a Unidade de Conserva-ção (UC) Floresta Nacional (Flona) do Tapajós, para duas pernoites na comunidade ribeirinha São Domin-gos. A Unidade, criada pelo Decreto Federal n° 73.684, de 19 de feverei-ro de 1974, abrange uma área de 527.319 hectares, gerida pelo Insti-tuto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio),órgão púbico vinculado ao Ibama, e tam-bém responsável pela gestão de mais 323 Unidades de Conservação Federais existentes no Brasil, que ao todo representam cerca de 10% do território nacional.

escolhida como padroeira da loca-lidade, que durante os séculos XVII e XVIII recebeu diversas missões re-ligiosas comandadas pelos jesuítas da ordem franciscana para evange-lização das comunidades indígenas Boraris residentes no local.

No início do século XX, Alter do Chão foi uma das rotas de transpor-te do látex extraído dos seringais de Belterra e Fordlândia. A partir da dé-cada de 1950, com a decadência do extrativismo amazônico, a vila entrou em decadência financeira, retoman-do seu crescimento com o turismo a partir da década de 90. O destino, agora conhecido como o “Caribe da Amazônia”, tem sido muito procu-rado por turistas estrangeiros, com predominância dos franceses. No segundo dia em Alter fomos nave-gar pelo Igarapé Encantado onde, segundo a lenda, índio que tivesse ofendido a natureza não poderia pescar sob o risco de não retornar mais à tribo.

Flona dos TapajósA criação da Floresta Nacional

do Tapajós possibilitou aos cerca de quatro mil moradores da Unida-de a promoção e o acesso ao uso sustentável dos recursos naturais, através do extrativismo de plantas nativas, a comercialização de frutas in natura (açaí) e a exploração do tu-rismo de base comunitária.

A Unidade reúne mais de 160 quilômetros de praias de água doce, lagos, alagados, morros, planaltos, floresta, campos e açaizais. Essas belezas naturais, aliadas a trilhas entre a mata guiadas pela popula-ção tradicional, avistando grandes árvores como a sumaúma vovó, tem potencializado o turismo na Flona.

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No percurso de volta da Flona para mais três noites em Alter do Chão, vimos um barco suspei-to carregado com toras de madeira nativa anco-rado às margens do rio. Suspeito porque, confor-me nos foi descrito, estaria esperando escurecer para então cruzar pela cidade de Santarém.

Em Alter, “voltamos à civilização”, prestigian-do uma apresentação do canto e da dança de roda Carimbó, retomados na comunidade como atração turística. A festa, promovida ao ar livre na vila nas noites de quinta-feira, tem hora para terminar. As músicas, com letras que remetem a cultura popular das regiões Norte e Nordeste, cadenciadas ao ritmo de tambores, são conta-giantes. Ainda mais contagiante é a dança do Ca-rimbó, que reúne meninas, jovens e mulheres da comunidade com saias compridas, coloridas e rodadas, sensualmente utilizadas na coreografia.

Alter do Chão pode ser visitada o ano intei-ro. A época escolhida vai depender do que você quer ver ou de quando você pode ir. A paisagem muda completamente dependendo da estação. Na cheia, a Ilha do Amor fica totalmente enco-

Comunidade São DomingosO trajeto feito de barco com motor de popa

desde Alter do Chão levou cerca de três horas, e foi marcado por apreciação do cenário e pela expectativa em relação a proposta de turismo de experiência, que seria vivenciado em conjunto com Marivaldo e seus familiares nessa etapa da viagem, incluindo duas pernoites em redário e tri-lha na mata amazônica, de 15 quilômetros, entre ida e volta.

Já na comunidade, após as apresentações e a acomodação da bagagem no redário existente na casa de Marivaldo, quis logo “explorar o local”. Em companhia do Lorenzo, segui a estrada geral de terra rumo ao posto do ICMBio para efetuar o cadastramento obrigatório de entrada na Unida-de. De um lado do caminho, as areias claras das praias doces do rio Tapajós recém começando a ressurgir sob as águas da última cheia. De outro, casas de alvenaria simples e esparsas e crianças brincando em campos de futebol e na água. Fi-quei feliz pela qualidade de vida dessas crianças. Quando soube que o acesso aos ensinos Fun-damental e Médio é garantido a elas na própria

A trilha na mata também foi uma experiência e tanto. Acompanhados por Marilene, irmã de Marivaldo, tivemos uma aula sobre a flora amazonense. Segundo percebe-mos, os ensinamentos sobre a mata são repassados de geração em geração. Andar na trilha é fácil porque as árvores antigas e altas deixam o piso florestal relativamen-te limpo, mas o calor é mesmo tropical. “Em mato, ande como mateiro”, e lá fui eu de calça, tênis, camiseta e cami-sa de manga comprida. Quase derreti no caminho de tan-to suar, mas faria de novo para mais uma vez presenciar as arvores centenárias, os pássaros e as palmeiras, há, as palmeiras...lindíssimas! Andando na floresta, ouvindo a Marilene falar sobre as várias benesses farmacológicas e de utilidade do grande acervo botânico ali presente, re-lembro o quanto a natureza é pródiga.

Ademais, Marivaldo, Marilene e outras duas irmãs, de

Solo raso e arenosoA região Amazônica, além dos minérios, da

madeira, dos recursos hídricos e da rica farma-copeia, visados por muitos larápios, tanto bra-sileiros como estrangeiros, é rica em belezas naturais e culturais, com excelente potencial para o turismo, “a indústria sem chaminé”. As riquezas da Amazônia, que são muitas, se bem geridas dariam fôlego para o Brasil se tornar um país de primeiro mundo.

O gerenciamento deveria começar pela flo-resta, que está sendo destruída para dar lugar à soja e pastagens. No geral, o solo da floresta é arenoso e apresenta uma camada orgânica inferior a meio metro, indicando que nem soja e nem pastagens vão ser produtivas por muito tempo. A sociedade civil brasileira precisa des-pertar para o valor da floresta em pé. Se ficar a cargo de políticos, ao Deus dará, como agora, estaremos sendo muito injustos com o futuro das próximas gerações de brasileiros, pelo con-sentimento calado à continuidade da pilhagem a qual o país é exposto desde a sua primeira ocupação oficial, pelas naus do navegador por-tuguês Pedro Alvarez Cabral, no ano de 1500.

Unidade, fiquei mais feliz ainda. No posto do Ins-tituto, que funciona também como casa, vi apenas um militar, que foi o que nos recebeu para efetuar o registro de visitantes.

A estada na comunidade, que trabalha de for-ma cooperativada sob orientação do ICMBio, foi plena em experiências e superações de zonas de conforto, a começar por dormir duas noites em re-des “no andar de cima”. Duas noites realmente é o máximo que conseguiria. Mas, dormir bem eu durmo em casa! Com esse pensamento, não deu outra, foram duas noites inesquecíveis por estar dormindo a céu aberto na floresta amazônica, ao som de pássaros, macacos e de um galo desre-gulado que cantava com mais frequência que o necessário. Na madrugada da segunda noite res-tava eu acordada quando o “galo desregulado” resolveu cantar...ete...mas logo comecei também a ouvir um barulho forte e cadenciado emitidos por macacos...emocionante...até porque o galo se aquietou e fiquei entregue a escutar algo tão di-ferente e que não durou muito tempo. Já o galo... xinguei ele no dia seguinte.

Trilha na mataforma cooperativada, extraem óleo de copaíba e de an-diroba, que são vendidos para empresas como a Natura.

O resultado sócio financeiro positivo do trabalho co-operativado também foi visível nas duas comunidades vizinhas a São Domingos, ainda no interior da Flona, incluídas no nosso roteiro de visitas. Essas comunida-des, além do turismo, trabalham também com extração de látex e sementes nativas para a confecção de bolsas, calçados, colares e brincos, entre outros produtos co-mercializados no Brasil e no exterior. A atividade envolve as famílias e os jovens, mantendo-os na Unidade.

Foi magnífica a convivência com a família do Ma-rivaldo, nas refeições servidas na área da casa dele à base de peixe assado na brasa, arroz e salada, com ou-tros hóspedes do redário, como um casal de turistas da Guiana Francesa e com moradores da comunidade.

A cultura popularberta e na seca as praias aparecem. A temperatura não muda, faz calor o ano inteiro, independente se é inverno ou verão.

As praias e suas infraestruturas, aparecem no verão amazônico, de agosto a dezembro, na baixa do rio. Nessa nossa estada, em agosto, o rio estava começando a vazar, deixando transparecer copas de árvores e telhados de barzinhos. Ficava imagi-nando o quanto bom deve ser veranear na sombra de árvores centenárias, a beira daquele manso e imenso rio, que na época, mesmo estando cheio, refrescou nossos corpos e encantou nossos espí-ritos. Em um ambiente em que se sua parado na sombra, banhos de rio e de chuveiro são impres-cindíveis. Mas, sentir o cheiro da mata, ouvir seus ruídos peculiares e ver o pôr do sol às margens do rio Tapajós compensam os dissabores da adapta-ção do corpo ao clima tropical. Em tempo: não tem mosquitos. Em Bento fecho as janelas da casa ao anoitecer para evitar a entrada de mosquitos. Lá, não precisou. De insetos, tem ninhos de formiga no solo arenoso que não devem ser pisados, como os daqui.

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A casa centenária que sediava a subprefeitura de Tuiuty, distrito de Bento Gonçalves, ainda aguarda o tão sonhado restauro. Em 2015, na primeira gestão do atual prefeito Guilherme Pasin, o Instituto de Pes-quisa e Planejamento Urbano de Bento Gonçalves (IPURB) elaborou um projeto de restauro para o casa-rão, orçado em R$ 580.696,57, para ser executado em quatro meses. O projeto passou em duas etapas pelo Conselho Municipal do Patrimônio Histórico Cultural (COMPAHC). A primeira etapa, aprovada em feve-reiro de 2015, visava a conservação, restauração e reforma da edificação, sob a responsabilidade do arquiteto Dangle Júlio Marini. Já a segunda, aprovada em setembro de 2015, pre-via reparos no interior da edificação, incluindo um novo layout. No mesmo período, Eliana Romagna assumiu como arquiteta responsável pela obra. Ainda em 2015, teria surgido uma tratativa entre o município e em-presas do distrito para destinação de impostos à restauração, que acabou não vingando.

De acordo com o Secretário de Cultura, Evandro Soares, a espera deve estar próxima do fim e, ao que tudo indica, nas palavras do secretá-rio, até o final do ano as obras devem ser iniciadas. O valor da obra está or-çado em R$ 898.948,82 e foi captado com verbas estaduais, oriundas da Lei de Incentivo à Cultura (LIC RS). O local deve ser transformado num centro cultural.

“A previsão é que a obra de Re-abilitação do Prédio da Antiga Sub-prefeitura de Tuiuty tenha duração de pelo menos seis meses para ficar pronta. Todavia, isso é uma estima-tiva e pode variar de acordo com as condições climáticas e burocráticas. Ainda não temos previsão de início, por outro lado estamos trabalhando para que isso aconteça até o fim do ano. Com a reabilitação do prédio da antiga Sub-prefeitura de Tuiuty, teremos o Centro Cultural Tuiuty, que

A história do casarãoA residência já foi frigorífico, açougue, casa comercial e ferraria,

antes de se tornar patrimônio público e sede administrativa do distrito, por meio de uma permuta entre Pompermayer e a prefeitura, em1979, na administração de Fortunato Janir Rizzardo (PDT).

Como subprefeitura, abrigou correio, central telefônica e posto de saúde. Também foi residência do subprefeito de Tuiuty, em 1994. O ad-ministrativo da subprefeitura de Tuiuty trocou de endereço na gestão de Alcindo Gabrielli (PMDB), exercida de 2005 a 2008, mediante a preca-riedade do casarão.

O prédio, de três pavimentos, totalizando 454,49 metros quadrados de área construída com pedra, tijolo e madeira, foi inventariado como patrimônio histórico da imigração italiana em 1994, em levantamento do patrimônio cultural do Rio Grande do Sul, realizado em conjunto entre o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (IPHAE) e o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

Casarão de Tuiuty: Foto

: Rod

rigo

De

Mar

co

obras de restauro devem iniciar até final do ano

prevê espaço para biblioteca, ofici-nas, auditório, e salas multiuso”, ex-plica o secretário.

Soares, que ao longo dos últimos anos tem desempenhado um papel importante na função de secretário de Cultura, não esconde o entusias-mo com o início da obra, tão aguar-dada pelos moradores de Tuiuty e região.

“Essa obra é importante por di-versos fatores, como por exemplo, reabilitar um prédio histórico e por consequência valorizar o nosso pa-trimônio cultural, devolver à comu-nidade suas origens e o sentimento de pertencimento. Além disso, a fi-nalidade de transformar o prédio em Centro Cultural trata-se uma ação de vanguarda, pois estamos levando cultura para uma região periférica e descentralizando-a em nosso muni-cípio. O espaço também irá servir de resgate da memória da comunidade local e, ainda, como centro de quali-ficação para diversas áreas ligadas à Cultura e à Economia Criativa”, co-memora.

Em 2017, o Integração da Serra havia abordado a situação do casarão, mostrando a necessidade de um restauro imediato. Na explica-ção do secretário de Cultura, houve-ram diversos fatores que impediram o início da obra. Mas, segundo ele, está tudo encaminhado para que o restauro comece, de fato, ainda em 2019.

“Houveram diversas ações para que a reabilitação do prédio aconte-cesse, porém acabaram não dando certo. Com isso, diversas modifica-ções de planejamento e, inclusive, de projeto tiveram que ser realiza-das. Todavia, agora estamos com o projeto já aprovado para captação de recursos via Lei de Incentivo à Cultura do Estado. E já estamos em fase de elaboração da licitação para contratação da empresa que irá re-alizar a obra. Estamos captando os recursos necessários para viabilizar a obra o quanto antes”, garante.

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História Social

Curso encerra com mostra de trabalhos realizados pelos alunos, com mostra no Sesc, entre os dias 23 e 30 de setembro

O curso História Social da Arte: conceitos, práticas e visualidades, desenvolvido pela professora Dr.ª Cristine Tedesco, entre os meses de março e setembro deste ano terá como atividade de encerramento uma mostra de trabalhos, que será realizada no SESC, em Bento Gon-çalves. O evento ocorre entre os dias 23 e 30 de setembro, o acesso é gra-tuito e aberto ao público.

Tendo como questão introdutória a discussão dos conceitos funda-mentais da história da arte, o curso contemplou nuances da arte rupes-tre, das civilizações egípcia e greco--romana, bem como a produção imagética do Ocidente Medieval e dos períodos conhecidos como Re-nascimento, Barroco, chegando a movimentos mais contemporâneos, como a Arte Moderna, o Impressio-nismo e a Pop-Art.

As aulas do bloco teórico do cur-so foram ministradas pela professo-ra Cristine que possui graduação em História pela Universidade de Caxias do Sul (2011), mestrado em História pela Universidade Federal de Pelotas (2013) e doutorado em História pela Universidade Federal do Rio Grande

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da Artedo Sul (2018), com um período de 12 meses de estudos na Università Ca’Foscari de Veneza. Desde 2011, a ênfase de suas pesquisas têm sido temas como história da arte, história das mulheres artistas dos períodos Renascentista e Barroco e cultura visual. Tal experiência, juntamente com a realização de visitas guiadas e análises de imagens em acervos de importantes museus do mundo, em países como Itália, França, Alema-nha, Espanha, Holanda, Inglaterra, Grécia, entre outros, trouxe contribui-ções relevantes para as aulas.

As aulas práticasPara a parte prática foram con-

vidados artistas e professores de Bento Gonçalves e Caxias do Sul. No transcorrer das aulas foram abor-dadas distintas técnicas de produ-ção artística e seus usos ao longo do tempo: Rafael Henrique Dambros, professor de desenho artístico e edu-cação artística, em Caxias do Sul, desenvolveu uma aula de desenho com modelo vivo a partir dos temas da arte greco-romana.

Celso Bordignon, que possui doutorado pelo Pontifício Instituto de

Arqueologia Cris-tã de Roma, atuou como professor de desenho na Universidade de Caxias do Sul e atualmente traba-lha com restau-ração de obras de arte em geral, desenvolveu duas aulas a respeito de técnicas uti-lizadas desde o período medieval, têmpera a ovo sobre madeira e encáustica sobre madeira.

Micael Biasin, professor de de-senho avançado e diferentes téc-nicas artísticas, em Bento Gonçalves, ministrou uma aula sobre a técnica da sanguínea, amplamente praticada no Renasci-mento, abordando noções de claro--escuro em papel kraft.

Juliane Cescon, que possui dou-torado em Memória Social e Bens Culturais pela Universidade La Salle, é professora de estética, técnicas e materias pictóricos, desenvolveu uma aula sobre uma técnica utilizada no período Barroco, a pintura a óleo sobre tela, além de noções sobre a criação de luzes e sombras. Vildete Pessutto e Eliane Averbuck, artistas plásticas atuantes em Bento Gonçal-ves, ministraram duas aulas a partir da técnica de pintura em tela com acrílico.

As artistas priorizaram represen-tações do feminino na vida cotidiana, no trabalho, nos espaços de criação artística e na obra da pintora Tarsila do Amaral. Geison Ranzi, ilustrador tradicional e digital em Bento Gon-çalves, com experiência em criação e tratamento de imagens, ofereceu uma aula sobre os usos e técnicas da aquarela, presente desde o medievo em cidades como Veneza e Florença e praticadíssima nos dias atuais; Por

fim, a professora e curadora Neiva Poletto, ministrou uma aula discutin-do a Pop-Art, movimento artístico da segunda metade do século XX.

Financiamento do FMCO projeto do curso foi financiado

pelo Fundo Municipal de Cultura de Bento Gonçalves e teve como ob-jetivo promover o acesso à arte e à cultura, disponibilizando conheci-mentos produzidos por especialistas nas áreas abordadas, valorizando e difundindo o trabalho de professores e artistas da cidade e da região. Foi idealizado de forma a criar condições para pensar a arte em seus aspectos conceituais e práticos.

Conforme a historiadora, “educar o olhar para analisar uma imagem, entendendo suas múltiplas facetas e interpretações prováveis, pode ser um exercício de percepção acerca da própria existência e dos cami-nhos e possibilidades que o sujeito possui para transformar e modificar sua vida”. Além disso, destaca que “conhecer e respeitar a arte e a cultu-ra do outro não apenas potencializa as experiências estéticas, mas sensi-biliza para a empatia”.

Fotos: Divulgação

Page 23: Superando limitaçõesta em média 800 atendimentos ao mês. Cleci, que aos sete anos de idade perdeu a perna após um acidente de trânsito, carrega consigo superação e alegria.

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Pela primeira vez, os céus de Bento Gonçalves terão um colorido diferente. Com uma parceria for-mada entre Secretaria Municipal de Turismo, Federação Gaúcha de Ba-lonismo e Confederação Brasileira de Balonismo, o município recebe o Festival de Balonismo, que começa na quinta-feira, dia 12, e segue até o domingo,15 de setembro.

O festival, inédito na Serra, deve movimentar a economia em um perí-odo de baixa temporada. Conforme o secretário de Turismo, Rodrigo Pa-risotto, o mês de setembro é estra-tégico, não só pela entressafra, mas

A fundadora da comunidade Zen Budista Zendo Brasil, Monja Coen Roshi palestrará em Bento Gonçalves pelo projeto Conexão de Ideias, promovido pelo Sistema Fecomércio-RS/Sesc/Senac, em parceria com o Sindilojas de Bento Gonçalves e Sirecom Vinhedos.

No dia 8 de outubro, a missionária oficial da tradição Soto Shu do Zen Budismo estará no Fundaparque (Alameda Fenavinho, 481). A atividade inicia às 19h30 e os ingressos estão disponíveis no site www.sesc-rs.com.br/conexaodeideias ou no Sesc Bento Gonçalves (Rua Cândido Costa, 88) por R$ 30,00 para categorias Comércio e Serviços e Empresários do Cartão Sesc/Senac, associados ao Sindilojas Bento Gonçalves e Sirecom Vinhedos, idosos e estudantes e R$ 60,00 para o público em geral.

Festival deBalonismo em BentoEvento inédito na cidade terá programação recheada de atrações

também porque o calendário é mais flexível para transferir o evento em caso de mau tempo. São esperados entre dez e doze balões, com partida do gramado da Fundaparque.

Além de colorir os céus, o balo-nismo é um esporte e, nesta edição, serão seis voos competitivos, que contarão com a participação de doze pilotos de vários lugares do país.

Os ingressos serão vendidos no local por R$ 15 por dia (menores de 12 anos não pagam) e estacio-namento por R$10. O ingresso dá acesso ao Nightglow, shows e estru-tura de foodtrucks.

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Projeto Conexão de Ideias traz Monja Coen a Bento Gonçalves

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Data mais esperada do ano pe-los pequenos, o Dia das Crianças é um momento de abrir presentes em um dia totalmente dedicado a eles. Primeiro hotel no Vale dos Vinhe-dos, o Villa Michelon é também uma opção de estabelecimento Family--friendly no roteiro. Ou seja: conta com estrutura voltada aos pequenos hóspedes, proporcionando, além de diversão e conforto em família, tran-quilidade aos pais.

O Complexo Turístico conta com Parquinho Infantil interno e externo, piscina adequada também para as

Villa Michelon é destino no Dia das CriançasCom estrutura adequada, Complexo Turístico contempla os hóspedes mirins com opções de lazer

crianças, Mini Fazenda e uma área verde segura e extensa para brinca-deiras. Além disso, a recreação in-fantil funciona aos finais de semana e feriados, dando oportunidade aos pequenos de explorar a propriedade do Villa Michelon e garantir que o dia seja também hora de gastar energia!

Estrutura Sempre que se viaja com crian-

ças, junto às malas, os pais carre-gam preocupações: precisa levar

berço? Será que tem comida para crianças? O apartamento é seguro? Eles terão opções de entretenimen-to? No Villa Michelon, das quatro categorias de apartamentos, três são adequadas e confortáveis para famílias com filhos. Standard, Super Luxo e Suíte Especial acomodam perfeitamente os pequenos hóspe-des, com a utilização de berços ou camas extras, que são cobrados na diária, independente ou não do uso. “Nós procuramos ofertar uma expe-

riência completa a todos. Sempre afirmamos que em um hotel, a diária inclui, além de leito, uma estrutura completa para melhor aproveitamen-to. Por isso realizamos a cobrança, de maneira a garantir que tudo esteja em perfeitas condições para receber as famílias”, explica Elaine Michelon, diretora geral do Complexo Turístico.

PacotesTodos os pacotes de hospeda-

gem do Villa Michelon – à exceção daqueles voltados para casais – in-cluem, em sua tarifa, a recreação infantil. “As atividades incluem brin-cadeiras no átrio, no playground in-terno e também passeios pelo hotel e a oportunidade de explorar a pro-priedade quando o clima é favorável. Tudo isso coordenado por recrea-cionista”, explica Elaine, que com-plementa: “É importante lembrar, no entanto, que não temos um serviço de baby sitter. Queremos promover a integração entre pais e filhos e o que proporcionamos é diversão aos pe-quenos, deixando os cuidados aos responsáveis”.

As reservas podem ser feitas por: WhatsApp: (54) 98112.5443Fone: [email protected]

Foto: Rita Michelin

Até o dia 30 de setembro, a Casa das Arte recebe a exposição “Arco-íris”, de Lauren Fantin. Tendo como referência a artista visual finlandesa Heikala, que produz obras em aquarela e nanquim, Lauren evoca retratos de momentos im-buídos de tristeza, de solidão, mas tam-bém de esperança.

A exposição também se inspira em cada pessoa ser diferente e ter suas pró-prias características, suas qualidades e defeitos, sua singularidade. Assim, cada quadro também possui uma cor dife-rente, que se complementam e formam um arco-íris, mostrando como cada uma das co-res é essencial e impor-tante, apesar de terem suas diferenças.

Desde criança afeita ao desenho, Lauren tem 17 anos e já possui um traço personalíssimo e quer seguir por esse ca-minho: “pretendo fazer fa-culdade de Artes Visuais quando terminar o Ensino

Fotos: Divulgação

Casa das Artes sedia exposição “Arco-Íris”

Médio para aperfeiçoar mais a minha arte, e tentar começar a fazer disso um trabalho”.

Lauren já participou de mostras coletivas, foi a terceira classificada no concurso do Ilustra’s Stock e tem duas ilustrações na coletânea de contos “A Casa Fantástica”, organizada por Lucas de Lucca. Lauren também foi aluna dos professores Micael Biasin e Douglas Garcia Dias.

A visitação é das 8h às 11h45 e das 13h30 às 22h, com entrada gratuita.