Suplemento Cultural - Novembro de 2005

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Este caderno é parte integrante da Revista da APM – Coordenação Coordenação Coordenação Coordenação Coordenação: Guido Arturo Palomba – Novembro 2005 Nº 164 Novembro 2005 Nº 164 Novembro 2005 Nº 164 Novembro 2005 Nº 164 Novembro 2005 Nº 164 SUPLEMENTO Certidão de Nascimento da APM p. 2 As sedes p. 6-7 Caciporé Torres Artista plástico convidado para o aniversário da APM p. 4-5

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75 Anos de Associação Paulista de Medicina

Transcript of Suplemento Cultural - Novembro de 2005

Este caderno é parte integrante da Revista da APM – CoordenaçãoCoordenaçãoCoordenaçãoCoordenaçãoCoordenação: Guido Arturo Palomba – Novembro 2005 Nº 164 Novembro 2005 Nº 164 Novembro 2005 Nº 164 Novembro 2005 Nº 164 Novembro 2005 Nº 164

SUPLEMENTO

Certidão deNascimento

da APMp. 2

As sedesp. 6-7

Caciporé TorresArtista plástico

convidado para oaniversário da APM

p. 4-5

2 SUPLEMENTO CULTURAL

Associação Paulista de Medicinacertidão de nascimento

Guido Arturo Palomba

Introdução

A primeira instituição médica paulis-ta, Sociedade de Medicina e Cirurgiade São Paulo, foi fundada em 7 demarço de 1895, por 43 médicos, li-derados por Luiz Pereira Barreto(em 1954, dadas as suas característi-cas, passou a chamar-se Academiade Medicina de São Paulo). Eramapenas 50 cadeiras. Decorridos maisde 30 anos, a cidade de São Paulocontava apenas com esta Sociedadede Medicina, mais a Associação dosAntigos Alunos da Faculdade de Medi-cina e o Sindicato Médico Paulista.

A Sociedade de Medicina continuava mui-to fechada, pois seus portões só se abriam nocaso de falecimento de um de seus 50 mem-bros; a Associação dos Antigos Alunos so-mente admitia os que haviam se formado naFaculdade de Medicina de São Paulo, e o Sin-dicato Médico Paulista (fundado em fevereirode 1929, só oficialmente reconhecido em 29de maio de 1941) não conseguia reunir emseu seio a maioria dos médicos.

Ressalte-se que a cidade de São Paulo, nofinal da década de 1920, era uma metrópolefantástica, moderna, com iluminação elétri-ca, chaminés de fábricas, grandes magazines,automóveis cujas buzinas eram símbolos desua grandeza. Havia teatros e cinemas, as ar-tes plásticas em avant-garde. A cidade atingiraa cifra de um milhão de habitantes.

A importância de Alberto Nupieri eRubião Meira

Nesse ambiente de acelerado crescimentosociocultural e populacional, destacava-se a fi-gura do médico Alberto Nupieri, que defla-grou uma verdadeira peregrinação, de consul-tório em consultório, para que outros esculá-pios se juntassem à cruzada para a fundaçãode uma entidade “sem qualquer restrição aonúmero de titulares, a não ser moral”. Nupie-ri, em suas intérminas andanças, saiu-se vi-torioso e logo conseguiu obter a colaboraçãoprimordial de renomados médicos: OscarMonteiro de Barros, Potiguar de Medeiros,

Cesário Matias, Felipe Figliolini, BarbosaCorrêa, Jaime Pereira, Felício Cintra do Prado,José Medina, F. A. Delape, Marcos Linden-berg e Domingos Rubião Alves Meira. Esteúltimo foi quem convocou a Assembléia deFundação, presidindo-a, o que ocorreu em29 de novembro de 1930.

Do nascimento e do nome

Às 21 horas do dia 29 de novembro de1930, 140 médicos reuniram-se no anfiteatroda Faculdade de Medicina de São Paulo, naRua Brigadeiro Tobias, 42, para a sessão defundação de uma nova Entidade Médica. Napresidência estava Domingos Rubião AlvesMeira.

Na Ata Inaugural registra-se que, logo noinício dos trabalhos, foi apresentada e apro-vada uma proposta, assinada pelos doutoresBarbosa Corrêa, Alberto Nupieri e NestorReis. Lida por Nupieri, continha as seguintesproposições: “Os fins da sociedade serãomanter um departamento científico, organi-zar congressos, promover concursos, distri-buir prêmios, publicar um jornal, manter umabiblioteca médica, manter um clube médico”.A seguir, o presidente Rubião Meira convi-dou os presentes a darem sugestões para adenominação da nova entidade. Doutor Ma-rinho sugeriu: Centro Médico de São Paulo;

doutor Genésio da Silva: Silogeu Médico;doutor Felício Cintra do Prado: Associ-

ação Médica Paulista; doutor Ferraz Al-vim: Associação Paulista de Medici-

na; doutor Antonio Leão Bueno:Associação Médico-Cirúrgica de SãoPaulo. Encerrados os debates, aspropostas foram submetidas à vo-tação, tendo o seguinte resultado:Centro Médico de São Paulo, 35votos; Silogeu Médico, três votos;Associação Médico-Cirúrgica de São

Paulo, um voto; Associação Paulistade Medicina, 39 votos.Consagrado o resultado, vários pre-

sentes manifestaram-se. Doutor Paiva Ra-mos disse: “A Associação Paulista de Medici-na está talhada a ser a defensora da classe”.Doutor Ribeiro da Luz: “... será muito im-portante para a defesa dos doentes e do povode São Paulo a nova Sociedade deve sobretu-do objetivar fins altruístas”. Doutor Belfortde Mattos lembrou a conveniência da criação“da Casa do Médico”. Doutot Jairo Ramosenfatizou que “deve ficar patente a necessida-de de só se admitirem no seio da Associaçãomédicos de idoneidade moral e intelectualsatisfatória”.

Doutor Rubião Meira, antes de encerrar asessão, tornou patente a imensa satisfaçãoque o estava dominando ao ver no recintoum grande número de seus ex-alunos. Paraele, era esse o prestígio que o cercava e oencorajava na luta pela vida e pela nova As-sociação. Prometeu envidar todos os esfor-ços e dedicar toda a sua energia em prol danova Associação e contribuir para que ela setornasse, o mais breve possível, “um centrode atividades e de trabalho eficientes” (AtaInaugural).

Hoje, 75 anos depois, os sonhos de seuscriadores tornaram-se realidade.

Parabéns, Associação Paulista de Medicina.

Guido Arturo PalombaDiretor Cultural da Associação Paulista

de Medicina

O nosso presidente, doutor José LuizGomes do Amaral, surpreendeu-me comum telefonema, dizendo que eu seria ho-menageado no dia 18, Dia do Médico, oca-sião em que a APM premia médicos porserviços prestados à classe. Seríamos oitocolegas ao todo, um deles, o doutor AlbertZeitouni, in memoriam. São tantos que a me-recem! Haja placas de prata!

Eu, com meus botões, sinto que a home-nagem vem para mim em demasia. Agradeçoa honra de fazer parte do grupo escolhido.Estou gratificado e envaidecido. Isto tudoporque trouxe a muda do plátano de Hipó-crates da Ilha de Cós para a Faculdade de Me-dicina, fato que já é de conhecimento de quasetodos os senhores. O plátano tem dado tantosdividendos que parece ação da Vale do RioDoce!

Havia estado na Ilha de Cós em 1975, numasegunda viagem de núpcias, com a mesmamulher, fazendo turismo e com a finalidadeespecífica de conhecer a famosa árvore de 2.500anos ou mais. Já naquela época, imaginei esonhei com a possibilidade de conseguir umamuda do plátano para o jardim da minhaEscola.

O tempo passou e, em 1994, retornamosà ilha, já decididos a conseguir a muda com aMunicipalidade. O prefeito de então, senhorConstantinos Kaiserlis, foi muito atenciosoe ofertou a planta oficialmente, com toda adocumentação encaminhada em nome doprofessor Carlos Lacaz, diretor vitalício doMuseu Histórico da Faculdade de Medicina.As conversações foram mediadas por gregosda família Lengos, senhor Michelis e senhoraque tinham parentes em São Paulo. Ficamosamigos desde a primeira viagem à ilha.

O SONHO estava acontecendo! Lembran-do Chaplin: “Sonho que se sonha só é sóum sonho, sonho que se sonha junto é rea-lidade!” Foi aqui que minha mulher entrouna história, decididamente solidária, prestan-do cuidados quase maternais à planta, na via-gem de volta.

Chegando a São Paulo, entreguei a mudaao professor Lacaz. Foi ela tratada em vivei-ro da Faculdade até ficar em condições de irpara o campo. Finalmente, em 5 de junhode 1997, aniversário da morte de Arnaldo,ela foi plantada solenemente no jardim daFaculdade. Cresceu e lá está com belo porte,mas precisa ainda de cuidados continuados,que serão seguramente oferecidos pelo pro-fessor doutor Giovanni Cerri.

Homenagem aos MédicosPetrônio Stamato Reiff

Lembro-me de meu pronunciamento naoportunidade, quando disse que o plantiooficial foi o “final feliz” de uma história dedois amores: um pela Faculdade de Medici-na, a minha Escola, a “anima mater”; e ooutro pela atração que sempre tive por árvo-res, em especial aquelas famosas, majestosas,lendárias. O sonho se realizou. Quis, como plantio do plátano, homenagear tambémos meus colegas de turma – 1951 –, numero-sos já falecidos.

O plátano está ligado a Hipócrates e aoseu juramento famoso, de todos conhecido.Em interessante artigo veiculado pela Folha

de S. Paulo, creio que em 8 de fevereiro de2004, doutor Dráuzio Varela, eminente co-lega e escritor consagrado, questionou o as-pecto sacerdotal do juramento de Hipócra-tes, repetido pelos médicos ano após ano.Lembrou ele que a medicina é uma profis-são como outra qualquer e é respeitável maispelo compromisso diuturno com os doen-tes que os procuram e pelo esforço em me-lhorar a saúde das comunidades em que atua-mos. Fez comentários sobre a necessidadede salários dignos para perdermos exercersatisfatoriamente a nossa profissão, exerci-tá-la com proficiência e acompanhar seusprogressos. Terminou escrevendo que CU-RAR é finalidade secundária da medicina; oobjetivo maior é ALIVIAR o sofrimentohumano. E eu lembro que medicina, se nãocura, sempre suaviza, tranqüiliza e ajuda a“espichar” a vida, no dizer de Josué Monte-llo. E isto é uma grande verdade: num belodia nascemos, noutro iremos morrer. Masse isto for prorrogado com delicadeza e semsofrimento, já é “meio caminho andado” ...

Gostei do artigo, concordo com quasetudo o que ele escreveu, mas não abro mãodo juramento – é uma tradição que enfeitao início da vida do formando.

Todos nós precisamos de um NORTE,uma ESTRELA-GUIA, enquanto cami-nhamos vida afora.

Para os médicos, o Juramento de Hipó-crates parece ter vindo de encomenda, comos princípios éticos elaborados, mais com otom de apelo do que de obrigação e com ummodelo de conduta que podemos aceitar.

Além disso, a promessa de exercer a pro-fissão com honestidade, caridade e amor àciência. O professor Luiz Decourt, discur-sando para formandos em medicina, disse:“A HONESTIDADE, a CARIDADE e a

CULTURA CIENTÍFICA devem formaro núcleo indeformável da personalidade domédico”.

Tenho um postal do Esculapium, ruínasdo Hospital de Hipócrates, em Cós. Nele,vêem-se pedras que limitavam um antigoaposento, sobra de uma casa velha, milenar,quase destruída. Eu as vi no local. Segundoo guia, correspondiam à antiga caixa fortede Hipócrates, que necessitava juntar eco-nomias, pois “não era de ferro” e tinha fa-mília para cuidar.

Ainda com espírito jocoso, o mesmo guiaacrescentou que, no tempo de Hipócrates, apopulação da Ilha de Cós era de 150 mil habi-tantes e, atualmente, é de apenas 15 mil.Indagado sobre o motivo desta discrepân-cia, respondeu-me que “naquele tempo osmédicos eram melhores!”.

Comemoramos hoje o dia de São Lucas.Dizem que era grego e o único dos apósto-los que não tinha origem judaica. Foi autordo Terceiro Evangelho e dos Atos dos Após-tolos. No Terceiro Evangelho, são men-cionadas muitas técnicas de escolas médicasgregas. Era companheiro de São Paulo echamado, na Epístola aos Colossenses de“o Bem Amado Doutor”. Pouco se sabesobre sua vida. Conforme a tradição, eraMÉDICO e PINTOR.

Quero cumprimentar os doutores GiovanniGuido Cerri e José Luiz Gomes do Amaral,que fecundaram o plátano e conseguiram re-bentos que estão sendo ofertados às escolasmédicas do Estado. Fico feliz com isso. Aosoutros homenageados, doutores AbrahimDabus, Hans Wolfgang Halbe, Manoel ReisGonçalves Salvador, Spartaco Vizzotto, fami-liares do doutor Albert Zeitouni, meus cum-primentos pela homenagem.

Termino rendendo um preito a todos osmédicos que labutam neste nosso sofridoBrasil, repetindo o último terceto do poe-ma de Álvaro de Albuquerque: Ao Médico.

“Mas, se esse poema, acaso te enternece,

Ama teu médico, através da vida!

Lembra-te dele, ao menos numa prece!”

Petrônio Stamato ReiffMédico cirurgião em Bebedouro

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CACIPORÉTORRES

Intuição e Razão

Guido Arturo Palomba

ques – apresentam mais um atributo: integração com oespaço arquitetônico, com o qual interagem.

Não há escola de arte que possa defini-lo. É um artistaabsolutamente único, com linguagem própria, que usa aço(sua principal matéria-prima) e solda para espelhar a própriaalma e ser fiel aos aspectos que a tocam. Puro e genuíno,daqueles que vêm ao mundo tocados pela genialidade, pro-duz por necessidade vital de produzir. As obras nascem ini-cialmente da intuição, altamente aguçada, passam pela disci-plinadora razão (elaboração de croquis), para atingir o pontomáximo na execução do trabalho, que deverá ter harmonia,equilíbrio e integração.

Ao atingir esse clímax, Caciporé dá a construção por termi-nada e realiza-se esteticamente: “Cada trabalho é como se fos-se o meu primeiro trabalho: vem a inicial inquietação criativa,algo que tem que ser feito, realizado, e a realização é chegaronde quero”, a lembrar os gregos, que diziam que a musafecunda o gênio, deixa-o prenhe, e então terá de dar à luz ofilho; enquanto não o fizer, não há sossego possível: é a inqui-

etação criativa dos artis-tas, prazerosa e orgástica,de que “sofrem” os ver-dadeiros poetas, mú-sicos, escritores, pintores,escultores quando che-gam aonde querem.

Ah!... os pinos, os in-trigantes pinos, semprepresentes em suas escul-turas: “São elementosdo equilíbrio, composi-tivos, que se integramintimamente”.

À esquerda (escultura, anoe localização).À direita (escultura, ano elocalização).

Caciporé de Sá Coutinho De Lamare Torres, o grandeCaciporé das esculturas maravilhosas, chocantes e intrigantesobras de arte, com refinadíssimo senso estético. Obras que,ao serem contempladas, causam, de imediato, impacto pelaforma, pelo acabamento escolhido, pela cor (a vermelha éespecial), pelo equilíbrio formal do conjunto.

As que têm grandes dimensões – existem cerca de 80localizadas em logradouros públicos de diversas cidadesdo Brasil, como estações de metrô, praças, museus, par-

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Guido Arturo PalombaDiretor Cultural da Associação Paulista de Medicina

Nome da escultura ano e localização

Nome da escultura ano e localização

Nome da escultura ano e localização

Nome da obra, ano e local de exposição

Nome da obra, ano e local de exposição

Desde criança a arte manifesta-se em sua fecunda vida e,hoje, maduro, tem um pesado currículo, com exposiçõesnas Bienais de São Paulo e de Veneza, e Quadrienal deRoma, bem como exposições na Suíça, no Iraque, na Ve-nezuela, nos Estados Unidos, no Paraguai, na Austrália.

Caciporé Torres participou de importantes mostras noMAM, Masp, Mube, MAC, em cujos museus se encon-tram, no acervo permanente, obras suas.

Seus trabalhos são muito valorizados nos mercados deartes (nos Estados Unidos são comercializados pela galeriaDurban Segnini, em Miami), em face da procura constantedos colecionadores, que os disputam em concorridos leilões.

Agora, médicos, distintos familiares e convidados, po-demos apreciar as geniais obras de Caciporé Torres – naAssociação Paulista de Medicina, que as expõe em sua sede–, artista plástico especialmente convidado para abrilhantaro aniversário de 75 anos da APM.

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Suas sedes

Na Rua Brigadeiro Tobias, 42, noanfiteatro da Faculdade de Medicinade São Paulo, no dia 29 de novembro de1930, às 21h, 140 médicos fundarama Associação Paulista de Medicina

DE ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINAGuido Arturo Palomba

(APM). Desta data até setembro de 1931,as sessões ocorreram no endereço noqual se dera a fundação.

Decorriam os dias, crescia o entusias-mo pela nova Associação, e o quadrosocial dilatava-se. Era preciso, pois,

cuidar da sede. O novo local escolhi-do não podia ser mais feliz: PrédioMartinelli, na Rua São Bento, 51.

O endereço era importante, pois oprédio, construído entre 1922 e 1930,com 25 andares e 100 metros de altura,todo de concreto armado, era a ima-gem do vigor de São Paulo.

O andar escolhido, 13º, ainda nãoestava terminado e o seu proprietárioprontificou-se a realizar adaptações edivisões, cuja planta fora traçada pelogrande arquiteto modernista GregoryWarchavtchik. Os mínimos detalhesforam objeto de estudos. Nenhumaaberração artística: “A harmonia doconjunto foi observada com uma feli-cidade invulgar e cada dependência dasede se apresenta uma harmonia pró-pria consoante o fim a que se destina.Ao penetrar nela, a vista mergulha nomais suave e no mais artístico dos am-bientes. A fina pintura do teto, o dese-nho dos pisos, a cor das ricas e mo-dernas cortinas, o original atraente dostapetes, tudo se casa na mais feliz dascombinações. O estilo do mobiliárioobedeceu ao mesmo padrão e suas co-res acompanham também as mesmasexigências artísticas”, como vem descri-to no primeiro número da Revista daAssociação Paulista de Medicina, lançadaem janeiro de 1932, tendo por redato-res Barbosa Corrêa, Santos Abreu eDurval Marcondes.

No entanto, com o correr dos anos,o espaço físico da sede tornou-se peque-no em face do número de associados.Em 26 de maio de 1943, a AssociaçãoPaulista de Medicina tinha 1.200 sóciose reclamava uma sede maior.

Então, em fevereiro de 1944, mu-dou-se para a Avenida Brigadeiro LuísAntônio, 393, 1º andar, edifício JuliaBaldassarri, vizinho do antigo Cine Pa-ramont, hoje Teatro Abril. Urgia cons-truir a sede própria.Prédio da APM em 1951 (ano de sua inauguração).

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Aquisição do terrenoda sede própria

O impulso prático inicial para estedesiderato foi dado durante o biênio1943-1944, sob a presidência do pro-fessor Oscar Monteiro de Barros. Nesteperíodo, além do excelente trabalhoadministrativo que elevou as disponibilida-des pecuniárias da Associação, foi con-seguida, do Governo do Estado, umasubvenção no valor de Cr$ 2 milhões.

Na reunião de Diretoria de 19 de se-tembro de 1945, agora sob a presidênciade Jairo de Almeida Ramos, noticiou-sea aquisição de um terreno próprio paraas novas e definitivas instações da sede,cuja conquista foi possibilitada “pela con-tribuição do Governo Estadual, com adoação recente da importância de Cr$2.500.000,00 (dois milhões e quinhentosmil cruzeiros)”.

Eregimento do prédio-sede

Em 7 de agosto de 1947, os sóciosda APM reuniram-se em AssembléiaGeral Extraordinária, na BibliotecaMunicipal de São Paulo, na Rua da Con-solação, 90, para debater os meios ne-cessários para construir a sede da Asso-ciação. Concluíram, que em parte, seriacom verba própria, em parte, com fi-naciamento da Caixa Econômica Fede-ral, que oferecia a quantia de Cr$ 6,877milhões, com juros de 9% ao ano, pa-gáveis em 15 anos. A proposta foi pron-tamente aprovada, dadas as condiçõesfavoráveis à empreitada.

Em 21 de fevereiro de 1948, às 17h 30,ocorreu o lançamento da pedra fun-damental do edifício-sede, na AvenidaBrigadeiro Luís Antônio, 274 (depois,renumerado 278). Nesse mesmo dia,foi batida a primeira estaca para con-solidação do terreno.

A previsão era de que o prédio fi-casse pronto em janeiro de 1950, deacordo com o contrato assinado coma companhia construtora Camargo eMesquita, tendo por arquiteto Eduar-do Kneese de Melo. No entanto, houveuma certa dificuldade orçamentária definanciamento, e o cronograma inicial

foi reprogramado para que a obrafosse concluída em janeiro de 1951,quando ocorreria, nas novas depen-dências, o III Congresso da AssociaçãoPaulista de Medicina.

Inauguração da sede própria

O marco inaugural da sede coincidecom a realização, em suas dependên-cias, na Avenida Brigadeiro Luís An-tônio, 274 (renumerada 278), do IIICongresso da Associação Paulista deMedicina, que ocorreu entre os dias 22e 28 de janeiro de 1951. Foi um grandesucesso. Planejado com esmero, cons-tituiu, sem dúvida, acontecimento mar-cante para a classe médica de São Pauloe do Brasil. Foi também um sucessomédico-social, reunindo 2.680 parti-cipantes.

Aspectos da APM própria, em desenho.

Novembro de 2005, passados 75anos da fundação da APM, é possíveldizer que o sonho de seus criadoresconcretizou-se e esplendeu muito, poissonharam uma associação que fossepadrão de glória para São Paulo, e hojeé, sim, padrão para o Estado, mas tam-bém para todo o Brasil.

Parabéns, APM!

Guido Arturo PalombaDiretor Cultural da Associação

Paulista de Medicina

Coordenação: Guido Arturo PalombaNovembro de 2005SUPLEMENTO CULTURAL8

DEPARTAMENTO CULTURALDiretor: Guido Arturo Palomba – Diretor Adjunto: Alfredo de Freitas Santos Filho

Conselho Cultural: Duílio Crispim Farina [presidente (in memoriam)] / Carlos Alberto Salvatore /Antônio Valdemar Tosi / Marisa Campos M. Amato / Rui Telles Pereira / Yvonne Capuano / João Marques Teixeira

Cinemateca: Wimer Botura Júnior – Pinacoteca: Aldir Mendes de SouzaMuseu de História da Medicina: Jorge Michalany – Coordenação Musical: Dartiu Xavier da Silveira

O Suplemento Cultural somente publica matérias assinadas, as quais não são de responsabilidade da Associação Paulista de Medicina.

Uma das perguntas mais difíceis que já ouvi foi feita logono início do primeiro ano, quando tudo era muito novo ea Faculdade se resumia, para nós, ao prédio da Morfolo-gia, o prédio dos calouros, praticamente inaugurado com anossa turma, a XXXII da Faculdade de Medicina do ABC.

Era uma aula de Psicologia Médica e o professor pergun-tou quais eram as quatro coisas mais tristes da vida. A salaconcordou que deveriam ser a doença, o sofrimento, a dor ea morte. Em seguida, o professor questionou: “E por quevocês decidiram passar a vida tão próximos delas?”

Venho pensando sobre isto desde então.Nesses anos, fizemos inúmeros colegas, muitos amigos,

alguns irmãos. E o que nos une é um conjunto de emoçõesextremamente diverso.

É claro que foram inesquecíveis – e fundamentais – to-dos os churrascos da sala, as “choppadas”, os ensaios dabateria; desde o início de nossa história, quando os meni-nos usavam o cabelo cortado ao meio e pintado de ver-melho, até os dias de hoje. A fanática e incansável torcida eas grandes vitórias (muito bem comemoradas) nas seis In-termeds, os pagodes com o Sorriso, as fotos, as festas, osLelos. Compor o hino da sala e cantá-lo em todas estasocasiões; fazer um trabalho e comemorá-lo na Festa doCongresso, e mais uma infinidade de ótimas recordaçõesque não caberiam em uma única noite.

Mas provavelmente o que mais nos une são as experiên-cias que só um estudante de Medicina pode conhecer.

Aquelas que se iniciam com o estudo dos ossos (e a des-coberta de que aquele buraco que parece aleatório tem umnome e por ali passa uma estrutura importante), o costumecom o desagradável cheiro de formol, o primeiro contatocom o cadáver, com o laboratório, com a técnica cirúrgica.A estranha sensação de aprender a conviver com o ladomais frágil do ser humano em uma fase tão precoce denossas vidas. E, então, a maturidade que se impõe quandose inicia o real contato com os doentes.

Como esquecer o primeiro plantão, a sensação de vagarsozinho de madrugada no corredor vazio do hospital, àprocura de um carimbo. Ou a estarrecedora impotência aonão saber absolutamente como agir diante de uma parada.E a dificuldade em lidar com a morte, ali, escancarada.

Como explicar, ao mesmo tempo, a emoção do primeiroparto, de descobrir e exclamar “como é liso!”, e ser a pri-meira pessoa a olhar e a encostar em alguém no momentodo seu nascimento.

Aprendemos a ser éticosHomenagem aos doutorandos da 32ª turma da Faculdade de Medicina do ABC

Luciana Cardozo de Mello Tomanik Tucunduva

E a realização ao receber a gratidão dos pacientes, pessoassimples e sinceras que, com um presente ou com algumaspalavras, transformam dias difíceis em momentos marcantes.

Por falar neles, aproveito para agradecer a todos os pacien-tes, verdadeiros cúmplices de nossa inexperiência, e abso-lutamente fundamentais em nosso aprendizado.

Agradeço também, como não poderia deixar de ser, anossos pais, irmãos e amigos, que souberam ser compreen-sivos e nos ajudaram no momento em que nos questiona-mos se a Medicina tinha sido mesmo a escolha certa.

Nosso muito obrigado a todos os professores, um pouco“pais”, e aos residentes, nossos veteranos que muito nosauxiliaram a lidar com as dificuldades de ser um “interno”.E, é claro, à Faculdade de Medicina do ABC, nossa queridaMED ABC.

Temos muito orgulho de compor a turma que partici-pou ativamente de importantes mudanças e do visível cres-cimento de nossa Faculdade, desde a ampliação da Atléticae da construção da tão sonhada quadra até a reforma curri-cular e a reestruturação do internato.

Neste momento, que não deixa de ser uma despedida, saí-mos com a certeza de ter nesta Faculdade uma verdadeiracasa, onde foram construídos os alicerces de nossa difícil pro-fissão. Foi aqui que aprendemos a raciocinar e a nos comportarcomo médicos, a nos despir de preconceitos e valores indivi-duais para enxergar o doente como um ser humano que nãopode, em absoluto, ser julgado, mas, sim, amparado.

Aprendemos a questionar, a examinar e a medicar. Des-cobrimos a importância da Medicina Baseada em Evidên-cias, sem esquecer, entretanto, que, em meio a tanta tecnolo-gia e ao crescimento da literatura científica, nada substitui ocontato e a relação médico-paciente.

Aprendemos a ser éticos.Enfim, após seis anos, tenho a impressão de ter a resposta

para aquela intrigante questão: escolhemos conviver com situa-ções extremas como a doença, o sofrimento, a dor e a mortepela esperança de a nossa arte poder modificá-las; não com apretensão de deuses, mas, sim, com a intenção de quem ama aMedicina e nasceu com fascínio pelo ser humano.

Luciana Cardozo de Mello Tomanik TucunduvaMédica formada em 10 de novembro de 2005

pela Faculdade de Medicina do ABC