Surf, Psicologia, Deficiência, Surf Adaptado, Psicologia do Esporte

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Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro Departamento de Psicologia Monografia II ASPECTOS PSICOSSOCIAIS DO SURF ADAPTADO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA Fernanda Rego Tolomei 0811618 Novembro de 2012 Rio de Janeiro

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Aspectos Psicossociais do Surf Adaptado para Pessoas com Deficiência

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Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

Departamento de Psicologia

Monografia II

ASPECTOS PSICOSSOCIAIS DO SURF ADAPTADO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

Fernanda Rego Tolomei

0811618

Novembro de 2012

Rio de Janeiro

Orientadora: Eva Gertrudes Jonathan

Dedicatória:

Dedico este trabalho aos meus pais Sérgio e Regina, fonte de inspiração e exemplos de

esforço e dedicação. Ao meu irmão Felipe, pela cumplicidade e carinho. Aos meus

amigos, pela compreensão e apoio incondicional. Aos mestres, pelo incentivo,

disposição e alegria. Enfim, a todos que de alguma forma contribuíram para realização

deste trabalho.

“O esporte tem o poder de mudar o mundo.”

(Nelson Mandela)

Resumo:

O presente trabalho procura esclarecer e analisar os aspectos psicossociais envolvidos na prática do surf adaptado por pessoas com deficiência. Após o estudo do tema surgiram dúvidas sobre os benefícios e as dificuldades encontradas no esporte. Será que todos aqueles benefícios creditados ao surf adaptado acontecem na prática? A partir desta pergunta e do estudo bibliográfico foi elaborado um roteiro de entrevistas para os atletas que praticam o surf. Com os dados obtidos na pesquisa de campo, foi possível fazer uma análise de discurso comparando com a reflexão dos autores pesquisados. Após esta análise percebe-se o valor incontestável dos benefícios psicossociais do surf adaptado para pessoas com deficiência, confirmando a literatura pertinente ao tema com depoimentos de pessoas praticantes do esporte.

Palavras Chave: Esporte, Psicologia do Esporte, Surf Adaptado, Deficiência

Sumário:

1. Introdução..............................................................................................01

2. Psicologia do Esporte............................................................................03

2.1 Apontamentos Históricos..........................................................................................03

2.1.1 A Psicologia do Esporte no Brasil.......................................................................04

2.2 Áreas de Atuação: modalidades de esporte e formas de prática psicológica............05

2.3 Preparação Psicológica..............................................................................................07

3. Esporte Adaptado..................................................................................12

3.1 O Esporte Adaptado no Brasil e no Mundo...............................................................12

3.2 Aspectos Psicossociais do Esporte Adaptado............................................................14

3.2.1 Inclusão Social..............................................................................................15

3.2.2 Auto-Confiança.............................................................................................16

3.2.3 Concentração.................................................................................................17

3.2.4 Auto-Estima..................................................................................................19

3.2.5 Motivação......................................................................................................20

3.2.6 Emoção..........................................................................................................22

3.2.7 Ansiedade......................................................................................................23

3.2.8 Estresse..........................................................................................................24

3.3 Surf Adaptado............................................................................................................26

4. Estudo de Campo...................................................................................29

4.1 Amostra e Estratégias................................................................................................29

4.2 Instrumentos e Procedimentos...................................................................................29

4.3 Resultados e Discussão..............................................................................................29

5. Conclusão...............................................................................................36

6. Referências.............................................................................................37

7. Anexos.....................................................................................................40

1. Introdução

Esse trabalho versa sobre a prática do surf adaptado para pessoas com

deficiência, uma vez que se observa, cada vez, mais a procura de esportes adaptados que

estimulem as potencialidades e possibilidades do sujeito. Segundo estimativas da

Organização Mundial de Saúde (OMS), no mundo cerca de 610 milhões de pessoas têm

deficiência, das quais 386 milhões fazem parte da população economicamente ativa.

Avalia-se que 80% do total de pessoas com deficiência vive nos países em

desenvolvimento. No Brasil, segundo censo realizado em 2000 pelo Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatística (IBGE), 14,5% da população apresenta alguma deficiência

física, mental ou dificuldade visual, de audição ou locomoção (ADAPTSURF, 2012).

O início do desporto para pessoas com deficiência, segundo a literatura, ocorreu

em 1918, após a Primeira Grande Guerra, quando um grupo de soldados com

deficiência reuniu-se na Alemanha para praticar esporte. No Brasil, o esporte adaptado

surgiu em 1958, no Rio de Janeiro e em São Paulo (NOBRE, 2012).

O contato com a praia, com o mar e com outras pessoas torna o surf, além de um

fator determinante para a qualidade de vida, um importante instrumento na inclusão

social, permitindo que a sociedade reveja conceitos e perceba a pessoa com deficiência

com naturalidade, sem estigmatizá-la (ADAPTSURF, 2012). A relevância do surf

encontra-se na possibilidade de sua adaptação para diversas deficiências físicas e

intelectuais; desta forma, cada caso específico pode ser analisado e sua prática pode

variar de acordo com a deficiência.

Sendo assim, o objetivo geral do presente trabalho é esclarecer e analisar os

aspectos psicossociais envolvidos na prática do surf por pessoas com deficiência. Os

objetivos específicos são examinar os benefícios e as dificuldades encontradas na

prática do esporte e na inclusão social de pessoas com deficiência, assim como, analisar

as alterações comportamentais que tal prática promove.

A escolha do tema de investigação vem ao encontro de uma construção do

conhecimento acerca da questão, tendo em vista a escassez em literatura a respeito do

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surf adaptado. A importância do presente projeto para a Psicologia encontra-se em

aprofundar a compreensão dos ganhos psicológicos e sociais da prática do surf adaptado

e, de forma ampla, de seus impactos para a saúde mental de pessoas com deficiência.

Por outro lado, este trabalho pode contribuir para que outros profissionais

tenham acesso a uma literatura detalhada em Psicologia do Esporte com um foco maior

no surf adaptado. Ademais, profissionais que lidam com o surf, tais como

fisioterapeutas e professores de educação física poderão se beneficiar do conhecimento

aqui produzido para melhor instrumentalização do trabalho desenvolvido para pessoas

com deficiência. Não menos importante, dado o tema inovador, o projeto poderá

oferecer aos familiares e à sociedade um olhar aberto à qualidade de vida e a novas

possibilidades para as pessoas com deficiência.

Nesse contexto, descrito acima, examinaremos a psicologia do esporte e o

esporte adaptado através de uma abordagem histórico-social, permeando os principais

aspectos envolvidos através de uma revisão bibliográfica. A problemática central desde

trabalho está em levantar e aprofundar os aspectos psicossociais do surf adaptado para

pessoas com deficiência através de uma pesquisa de campo.

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2. Psicologia do Esporte

2.1 Apontamentos Históricos

A Psicologia do Esporte tem sido considerada um ramo emergente da

Psicologia. Segundo Epiphanio (1999), o surgimento de reflexões envolvendo

psicologia e atividade física se deu a partir de uma demanda do meio esportivo. Em

função do alto índice de aperfeiçoamento técnico dos atletas, percebeu-se que haviam

condições psicológicas que favoreciam alguns atletas, o que motivou o início das

investigações dos fenômenos psicológicos relacionados à prática esportiva.

Segundo autores como Salmela (1984), Wiggins (1984) e Willians e Straub

(1991), citados por Rubio (2000), o surgimento da Psicologia do Esporte data do final

do século XIX e início do século XX. A autora, em sua análise, atribui o papel de

precursor da psicologia esportiva a Coleman Griffith, reconhecido pela publicação de

dois livros -”Psicologia de Técnicos” (1926) e “Psicologia de Atletas” (1928) - e por ter

fundado o primeiro laboratório de Psicologia do Esporte na Universidade de Illinois nos

Estados Unidos, em 1925, onde iniciou o primeiro curso na área. 

É interessante observar, também, que, nos anos 50, cientistas investigaram com

sucesso a possibilidade do uso da ioga no controle de processos psicofisiológicos de

austronautas; esse programa acabou tendo grande validade para atletas, vindo a se tornar

um importante conjunto de procedimentos da Psicologia do Esporte, nas décadas 80 e

90.

A década de 60 foi caracterizada por estudos sobre personalidade, nos quais se

buscava desenvolver instrumentos de investigação fidedignos e compatíveis com o

método cientifico que vinha ganhando espaço na psicologia de então. Em 1965, a

Sociedade Internacional de Psicologia do Esporte (ISSP) foi formada, e essa criação

facilitou a organização da área também nos Estados Unidos.

Assim, em 1968, foi criada a Sociedade Americana para a Psicologia do Esporte

e Atividade Física; foi nessa época, também, que surgiu a Sociedade Canadense de

Aprendizagem Psicomotora e Psicologia do Esporte (CSPLS). É importante sinalizar

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ainda, que a década de 70 foi marcada pelo reconhecimento da Psicologia do Esporte

enquanto uma disciplina em si mesma, dentro das ciências do esporte (RUBIO, 2000).

No final de 1985, foi criada a Associação para o Progresso da Psicologia do

Esporte que em muito ajudou na divulgação de trabalhos existentes em organizações

que tratavam da Psicologia do Esporte. Tal Associação também se constituiu como um

marco de referência dirigido especificamente a aspectos aplicados da Psicologia do

Esporte, como a promoção da investigação e o estudo de aspectos profissionais, entre os

quais cabe destacar os critérios éticos norteadores da atividade profissional, as

características para tornar-se psicólogo do esporte e a certificação oficial (WILLIAMS;

STRAUB, 1991 apud RUBIO, 2000).

2.1.1 – A psicologia do esporte no Brasil

O marco inicial da Psicologia do Esporte brasileira foi dado pela atuação e

estudos de João Carvalhaes, um profissional com grande experiência em psicometria,

chamado a atuar junto ao São Paulo Futebol Clube, sediado na capital paulista, onde

permaneceu por cerca de 20 anos. O reconhecimento da importância da profissão

também se deve ao fato de ter ele estado presente na comissão técnica da seleção

brasileira que foi à Copa do Mundo de Futebol de 1958 e conquistado o primeiro título

mundial para o país, na Suécia (MACHADO, 1996 apud RUBIO, 2000).

Rubio (2000) afirma que, no Brasil, a Psicologia do Esporte segue os passos,

avanços e recuos tanto da psicologia como do esporte, o que representa, por um lado, o

compromisso com a construção rigorosa da teoria que fundamente uma prática em

desenvolvimento e, por outro, a instabilidade das instituições esportivas que dizem desejar o

rigor da profissionalização, mas que ainda convivem com o amadorismo no gerenciamento

dos clubes e de grande parte da federações e confederações esportivas. Isso tem dificultado

o planejamento da atuação do psicólogo junto a atletas e equipes esportivas, uma vez que

esse trabalho psicológico específico requer tempo e disponibilidade para sua realização,

posto que toda intervenção em psicologia, em qualquer área de aplicação, é realizado a

médio e longo prazos.

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Até o início dos anos 90, os temas recorrentes de pesquisa eram o

psicodiagnóstico esportivo e a construção de perfis de atletas, a partir dos dados obtidos

por esse procedimento. Hoje, grande parte dos estudos preocupa-se em descrever e

analisar quando e como utilizar determinadas técnicas, ampliando os temas da

Psicologia do Esporte Aplicada. Se no início do século XX nos deparamos com o

começo da Psicologia do Esporte, é possível afirmar que no início do século XXI a

Psicologia do Esporte no Brasil já se firma como especialidade, como área de

conhecimento específico e como campo profissional (RUBIO, 2000).

2.2 – Áreas de atuação

Em 1998 Lesyk mostra que, em 1983, o Centro Olímpico Americano indicou

três possibilidades de atuação para os psicólogos voltados para a área do esporte: como

clínico, o profissional deve estar capacitado para atuar com atletas e/ou equipes

esportivas, em clubes ou seleções, cuja preparação específica envolve conhecimentos da

área de Psicologia e do Esporte, não bastando apenas a formação em Psicologia ou em

Educação Física; como pesquisador, seu objetivo é estudar ou desenvolver um

determinado conhecimento na Psicologia do Esporte sem que haja uma intervenção

direta sobre o atleta ou equipe esportiva; como educador que desenvolve a disciplina

Psicologia do Esporte na área acadêmica, seja na Psicologia, seja na Educação Física.

Em ambos os casos não se exige formação específica do profissional (RUBIO, 2003).

Por sua vez, Singer (1988 apud Rubio, 2003) aponta para outros desdobramentos

no campo de atuação profissional do psicólogo do esporte, fornecendo os seguintes

modelos: o especialista em psicodiagnóstico - faz uso de instrumentos para avaliar o

potencial e as deficiências em atletas; o conselheiro - profissional que atua apoiando e

intervindo junto a atletas e comissão técnica, no sentido de lidar com questões coletivas

ou individuais do grupo; o consultor - busca avaliar estratégias e programas

estabelecidos, otimizando o rendimento; o cientista - produz e transmite o conhecimento

da e para a área; o analista - avalia as condições do treinamento esportivo, fazendo a

intermediação entre atletas e comissão técnica; o otimizador - com base numa avaliação

do evento esportivo, busca organizar programas que aumentem o potencial de

performance.

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Porém, é importante observar que, embora a Psicologia do Esporte tenha surgido

a partir da demanda do esporte de alto rendimento, atualmente observa-se uma grande

ampliação do enfoque dos estudos e da atuação nesta área (EPIPHANIO, 1997). Dessa

forma, o que, a princípio, eram investigações para o meio esportivo, visando a

performance de atletas em competições, estendeu-se para investigações e aplicações

relacionadas a atividades físicas cotidianas. No entanto, o psicólogo que atua junto a

equipes esportivas, ou com atletas individualmente, se ocupa, especificamente, com os

conflitos que possam prejudicar o rendimento do atleta, proporcionando com isto uma

reelaboração de vida. Ademais, no contexto do esporte de alto nível, o psicólogo

também atua como assessor e orientador de pessoas que vivenciam fenômenos

psicológicos.

Já os autores Samulski, Anjos e Parreiras esclarecem que

na busca do processo de autoconhecimento, a Psicologia, enquanto campo de

conhecimento, procura, através da compreensão do comportamento humano,

identificar situações, como ansiedade, estresse e alterações de humor, que

possam de alguma forma interferir no processo de desempenho esportivo e

equilíbrio emocional de atletas. Dessa forma, um atleta consegue adquirir

maior confiança em si mesmo para alcançar seus objetivos. (SAMULSKI;

ANJOS; PARREIRAS, 2006, p.139)

Refletindo acerca da capacitação profissional do psicólogo do esporte, Samulski

(1992) argumenta ser necessário que o psicólogo que atua na área dos esportes tenha uma

formação especializada e, ao destacar a necessidade de que tal formação seja abrangente,

aponta o esporte de rendimento, o esporte escolar, o esporte recreativo e o esporte de

reabilitação como os campos de aplicação da Psicologia do Esporte. Dessa maneira,

encontramos as seguintes caracterizações das diversas áreas de atuação do psicólogo do

esporte:

O esporte de rendimento que busca a otimização da performance numa

estrutura formal e institucionalizada. Nessa estrutura o psicólogo atua

analisando e transformando os determinantes psíquicos que interferem no

rendimento do atleta e/ou grupo esportivo.

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O esporte escolar que tem por objetivo a formação, norteada por princípios

sócio-educativos, preparando seus praticantes para a cidadania e para o lazer.

Neste caso, o psicólogo busca compreender e analisar os processos de ensino,

educação e socialização inerentes ao esporte e seu reflexo no processo de

formação e desenvolvimento da criança, jovem ou adulto praticante.

Já o esporte recreativo visa o bem-estar para todas as pessoas. É praticado

voluntariamente e com conexões com os movimentos de educação permanente

e com a saúde. O psicólogo, nesse caso, atua na primeira linha de análise do

comportamento recreativo de diferentes faixas etárias, classes - sócio

econômicas e atuações profissionais em relação a diferentes motivos, interesses

e atitudes.

Por fim o esporte de reabilitação desenvolve um trabalho voltado para a

prevenção e intervenção em pessoas portadoras de algum tipo de lesão

decorrente da prática esportiva, ou não, e também com pessoas portadoras de

deficiência física e mental. (RUBIO, 1999, p.62)

A literatura sugere que o Brasil tem avançado nos estudos e aplicações

em psicologia do esporte, muito embora em um ritmo lento, comparado a outros países

que são considerados de ponta no mundo esportivo. Nessa perspectiva analisaremos a

seguir de que forma o psicólogo do esporte pode atuar no desenvolvimento psíquico dos

atletas.

2.3 – Preparação Psicológica e o Psicólogo do Esporte

A preparação psicológica segundo Judadov (1974 apud Goulart, p.2, 2012) é

definida como “o nível de desenvolvimento do conjunto de qualidades e propriedades

psíquicas do esportista das quais depende a realização perfeita e confiável da atividade

esportiva nas condições extremas dos treinamentos e das competições.” Concebida

assim, ela é uma parte integrante da preparação geral do atleta. Por muito tempo deu-se

ênfase a outros tipos de preparação, como a técnica, a tática e a física, mas, em situações

competitivas nas quais se deve obter o máximo do potencial atlético, as preparações

psicológica e nutricional são indispensáveis e devem ser incluídas. A preparação

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psicológica é um processo objetivo que se promove em determinado grau na prática

esportiva. Ela não deve ser feita de modo acidental ou fortuito e, sim, por meio de

intervenções sistemáticas, realizadas dentro de uma programação que acompanhe e

considere a sucessão de acontecimentos esportivos.

A preparação psicológica para o esportista, ainda de acordo com Judadov

(1974), consiste em:

Contribuir para o aperfeiçoamento de processos psíquicos: percepções

especializadas, representações, atenção, memória, pensamento e outros; formar

qualidades psíquicas da personalidade do esportista que exerçam influência

sobre a manifestação estável dos processos psíquicos mencionados, sobre a

conservação e a elevação do nível da capacidade de trabalho e da efetividade

das ações motoras nas condições difíceis do treinamento e das competições;

criar os estados psíquicos ótimos durante o processo do treinamento e das

competições; desenvolver a habilidade de controlar os estados psíquicos nas

condições extremas da atividade; contribuir para o desenvolvimento de

conhecimentos acerca das competições que se irão realizar; criar uma

“atmosfera psicológica” positiva. (JUDADOV, 1974 apud GOULART, 2012,

p.3)

Elliot e Mester (1998, apud Rubio, 2000) apontaram três importantes grupos de

aspectos psicológicos, que interagem para produzir o máximo no desempenho de um

atleta: i) O perfil psicológico/personalidade do indivíduo: em relação a esse aspecto,

deparamo-nos com o limitado conhecimento do papel da personalidade e da falta de

conhecimento sobre a identificação da personalidade do atleta superior, porém

características pessoais podem ser consideradas como, por exemplo, traço de

autoconfiança e traço de ansiedade; ii) Estratégias para o máximo na atuação: trata-se

de identificar as mais importantes habilidades psicológicas da “performance” máxima a

serem ensinadas aos atletas. Entretanto, o seu uso não irá assegurar o sucesso da

preparação psicológica, senão aumentar a probabilidade de êxito; iii) Estratégias

psicológicas para adaptar-se às adversidades: envolvem técnicas de gerenciamento do

estresse e de mecanismos de suporte social. (RUBIO, 2000)

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Constata-se, então, que os programas de preparação psicológica podem abordar

diferentes tópicos, como motivação, ansiedade, coesão do grupo, estabelecimento de

objetivos gerais e específicos de “performance”, concentração e atenção, auto-regulação

psicológica, etc. Dessa forma, para poder desenvolver o seu trabalho psicológico, o

especialista em psicologia do esporte deverá antes compreender quais são as vias de

obtenção de informação e de influência psicológica pertinentes à situação a ser

trabalhada. Portanto, o psicólogo do esporte, em uma perspectiva mais ampla, toma

parte do processo de preparação geral do atleta, criando programas de treinamento

psicológico e adotando medidas de intervenção psicológica, como o aconselhamento

psicológico (“counselling”) e o acompanhamento psicológico (“coaching”).

Adicionalmente, o psicólogo do esporte aplica conhecimentos da psicologia em outras

áreas interligadas ao trabalho de preparação geral do atleta, como, por exemplo, na

aprendizagem de habilidades táticas. O aconselhamento psicológico (counselling) tem

como meta ajudar os técnicos e desportistas a entender e solucionar, da melhor maneira

possível, os seus problemas psicológicos e sociais. Uma tarefa específica do psicólogo é

ajudar emocionalmente as pessoas nas fases de insegurança, a fim de que elas possam

encontrar rapidamente a sua segurança e autoconfiança (SAMULSKI, 2001 apud

GOULART, 2012).

Segundo Gabler (1979 apud Goulart, 2012), a meta principal do

acompanhamento psicológico (coaching) é “influenciar atletas como indivíduos e

equipes, como grupos sociais de tal forma que possam realizar suas possibilidades

máximas de rendimento na competição. Nesse contexto, as metas específicas do

rendimento esportivo devem orientar e direcionar a regulação psíquica na

competição”. (GOULART, 2012).

A preparação psicológica, em condições próximas às ideais, deve acompanhar o

ciclo de treinamento anual do atleta. Sua estruturação evidencia algumas fases distintas:

preparação psicológica geral, pré-competitiva, especial e de trânsito (que na preparação

física corresponde ao período de transição). Todas essas fases preparatórias deverão ter

uma descrição detalhada, consequentemente composta por vários itens detalhados sobre

os objetivos específicos, conteúdos psicológicos, tarefas do especialista em Psicologia

do Esporte, meios e procedimentos, e métodos de treinamento.

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De acordo com Goulart (2012), o psicólogo do esporte tem, portanto, muitas

tarefas a cumprir, que basicamente comportam o tratamento, o assessoramento e as

questões educacionais e preventivas da comunidade esportista. Principalmente, no que

tange ao atleta, este deve ser preparado psicologicamente nos seus diversos níveis de

operação psicológica, que compreendem o nível personológico, o social e o

psicofisiológico. Após a conclusão de uma determinada etapa ou finalização do

programa de preparação psicológica, este deve ser avaliado, procurando-se evidenciar

os conteúdos e os efeitos da intervenção psicológica. Dessa forma, é possível constatar,

por exemplo, situações problemáticas que possam estar afetando ou impedindo a

eficiência do programa e procurar solucioná-las com a maior brevidade possível.

A resistência de alguns técnicos ao trabalho de preparação psicológica pode estar

ligada às experiências de fracasso no emprego de algumas técnicas psicológicas

realizadas por eles próprios ou por profissionais mal preparados, e, ainda, por uma falta

de investimento pessoal ou de tempo maior na execução destas. Outros técnicos

resistem ao trabalho de preparação psicológica simplesmente porque não sabem como

implementá-lo. Existem ainda aqueles treinadores que, presos a uma imagem da

sociedade, que os vê como super seres humanos que devem dar conta de todos os

problemas do time e dos atletas, acabam não permitindo a entrada de outros

profissionais em colaboração aos seus trabalhos. (GOULART, 2012).

Ao realizar uma pesquisa sobre a preparação psicológica de atletas

paraolímpicos brasileiros, Samulski e Noce (2002), constataram que a intervenção in

loco do psicólogo do esporte auxilia a observação e determinação de metodologias mais

apropriadas ao contexto do desporto paraolímpico. Baseados nas experiências

adquiridas durante o trabalho com os atletas paraolímpicos brasileiros e na convivência

com os técnicos, os autores apresentaram recomendações para ações futuras na área do

esporte para pessoas com deficiência, tais como: formar núcleos de treinamento

psicológico em diferentes regiões do Brasil; criar uma comissão interdisciplinar

permanente de avaliação e acompanhamento científico; oferecer cursos de capacitação

para os técnicos na área de psicologia do esporte e ampliar a oferta de testes

psicológicos.

Portanto, os esportes para pessoas com deficiência evidenciam a necessidade de

melhoria das condições de treinamento e também de melhor suporte para o atleta

10

dedicar-se às atividades esportivas. Nesse contexto, a preparação psicológica aparece

como mais uma ferramenta de auxílio ao atleta com deficiência. (SAMULSKI;NOCE,

2002).

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3. Esporte Adaptado

O esporte adaptado tem o significado de competição do atleta contra si, contra

sua deficiência, contra a vida e contra os outros. Existe uma diferença na atitude em

torno da competição entre pessoas com deficiência e sem. No primeiro caso, a

competição associa-se à superação da deficiência e, no segundo, associa-se à motivação

externa provocada pelo adversário ou requerimento da prova atlética. (BRAZUNA;

CASTRO, 2001).

De acordo com os autores Brazuna e Castro:

Para alguns atletas, o esporte, embora exponha a diversidade das habilidades—

comparativamente com os atletas não deficientes—, permite a consagração de

um corpo habilidoso. Por exemplo, a sensação de movimento e a percepção da

habilidade na água é a mesma que as dos atletas nos esportes regulares. O

atleta embora possa ver a estética de seu corpo, sente que ela é imperceptível

na água por conta do desempenho. Alguns atletas não se percebem com uma

deficiência, e sua cadeirade-rodas é uma ferramenta ou extensão de sua

habilidade. Muitos demonstram sua competência desafiando seus pares não

deficientes nos esportes integrados que utilizam a cadeira-de-rodas.

(BRAZUNA; CASTRO, 2001, p.118)

3.1 O Esporte Adaptado no Brasil e no Mundo

A oportunidade da prática esportiva para pessoas com deficiência é de extrema

eficácia para a promoção da qualidade de vida das mesmas. Segundo Melo e López

(2002 apud Cardoso, 2011), é a oportunidade para testar seus limites e potencialidades,

prevenir as enfermidades secundárias a sua deficiência e promover a integração social

do indivíduo. O esporte adaptado surgiu como um importante meio na reabilitação

física, psicológica e social para pessoas com deficiência, e consiste na introdução de

adaptações e modificações nas regras, bem como nos materiais e locais para as

atividades esportivas (DUARTE; WERNER, 1995 apud CARDOSO, 2011).  

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O esporte adaptado para deficientes surgiu no começo do século XX, com

atividades esportivas para jovens com deficiências auditivas, especialmente em

modalidades coletivas. Em 1920, iniciaram-se atividades como natação e atletismo para

deficientes visuais, porém, o esporte adaptado para pessoas com deficiências físicas só

começou a ser utilizado após a Segunda Guerra Mundial, quando soldados voltaram

para os seus países de origem com mutilações e outras deficiências físicas. As primeiras

destas modalidades esportivas tiveram origem na Inglaterra e nos Estados Unidos. Nos

Estados Unidos, surgiram as primeiras competições de Basquete em Cadeira de Rodas,

de Atletismo e de Natação, por iniciativa da Paralyzed Veterans of America.

Na Inglaterra, em 1944, o neurologista e neurocirurgião alemão Ludwig

Guttmann inaugurou um centro de traumas medulares dentro do Hospital de Stoke

Mandeville, onde a prática de jogos esportivos era fornecida como uma alternativa de

tratamento aos indivíduos que sofreram traumas medulares ou amputações de membros

inferiores durante a Segunda Guerra. Em 1948, Guttmann decidiu organizar

competições esportivas envolvendo os veteranos da Segunda Guerra; é nesse momento

da História que o desenvolvimento e fomento do esporte paraolímpico ganharia força;

eram os primeiros jogos para atletas com deficiência física.

Em 1958, quando a Itália se preparava para sediar as XVII Olimpíadas de Verão,

Antonio Maglia, diretor do Centro de Lesionados Medulares de Ostia, propôs que os

Jogos de Mandeville do ano de 1960 se realizassem em Roma, após as Olimpíadas.

Aconteceram então os primeiros Jogos Paraolímpicos, as Paraolimpíadas. No Brasil, o

esporte adaptado surgiu em 1958 com a fundação de dois clubes esportivos (um no Rio

e outro em São Paulo). Atualmente, o Esporte Adaptado no Brasil é administrado por 6

grandes instituições: a ABDC (Associação Brasileira de Desporto para Cegos), que

cuida dos deficientes visuais; a ANDE (Associação Nacional de Desporto para

Excepcionais), que cuida dos paralisados cerebrais e dos lesautres; a ABRADECAR

(Associação Brasileira de Desportos em Cadeira de Rodas), que administra as

modalidades em cadeira de rodas; a ABDA (Associação Brasileira de Desportos para

Amputados), que cuida dos amputados; a ABDEM (Associação Brasileira de Desportos

para Deficientes Mentais), que administra os esportes para deficientes mentais e a

CBDS (Confederação Brasileira de Desportos para Surdos), que cuida dos deficientes

auditivos e não está vinculada ao Comitê Paraolímpico Brasileiro (ADD, 2012).

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   3.2 Aspectos psicossociais do esporte adaptado

A adesão às práticas esportivas regulares traz uma série de benefícios para as

pessoas com deficiência, tais como: melhora na locomoção, equilíbrio, percepção

espacial, conscientização corporal, agilidade e amplitude dos movimentos em geral;

assim como ajuda a vencer limitações impostas pela deficiência e também pela

sociedade. (HEIL, 2008).

O desempenho atlético é associado com ganhos significativos não só na

capacidade física e manutenção de independência, mas também para a saúde mental,

incluindo a percepção de competência e identidade pessoal. (BRAZUNA, CASTRO,

2001). Observa-se que o esporte ajuda na reabilitação da pessoa com deficiência, ele

proporciona bem-estar físico e psicológico, tornando-a mais autoconfiante, com melhor

auto-estima, mais otimista e segura, capaz de alcançar seus objetivos (ADD, 2012).

Por sua vez, Brazuna e Castro (2001), esclarece que o indivíduo portador de

deficiência é encorajado a engajar-se no esporte tanto por causa das necessidades

terapêuticas quanto por consequências sociais positivas. De forma semelhante, Pedroso

(2011), também argumenta que a saúde do corpo não é a única a receber benefícios da

prática esportiva. Neste sentido, a autora descreve efeitos psicológicos relevantes do

surf adaptado:

A integração que essas atividades proporcionam representa a aceitação e o fim da

exclusão, dessa forma, a pessoa com deficiência passa a se sentir igual,

respeitada e compreendida pelo o outro. O surf assim como a prática de qualquer

atividade esportiva, representa para essas pessoas a oportunidade de ser visto

como um ser completo e digno. O esporte é um dos maiores responsáveis por

melhorar a auto-estima da pessoa com deficiência, o sentimento de pertença,

geralmente proporcionado pelas atividades realizadas em conjunto contribuem

para que a pessoa com deficiência se dedique cada vez mais à prática de

atividades físicas (PEDROSO, 2011, p.59-60)

É importante destacar que os processos psicológicos não são só observados na

prática de qualquer esporte, mas no esporte adaptado são de maior relevância. No

14

desenvolvimento desse trabalho iremos examinar cada aspecto psicossocial

complementando a discussão feita anteriormente.

3.2.1 Inclusão Social

O princípio da inclusão consiste na integração de pessoas que se encontram fora

dos padrões de normalidade (física, fisiológica, comportamental, social) estipulados por

determinado grupo social, e que necessitam de superação e compreensão daqueles

inseridos nos padrões de normalidade, para serem aceitos. O movimento de inclusão é

uma forma elaborada que procura, através de ações articuladas, adaptar a pessoa com

deficiência à sociedade e vice-versa (DUARTE; SANTOS, 2003).

Maciel (2000) afirma que a estrututura das sociedades sempre inabilitou as

pessoas com deficiência, marginalizando-os e privando-os de liberdade; a literatura

clássica e a história do homem refletem o pensar discriminatório, uma vez que

enfatizam as limitações e, com isso, inibem os potenciais e capacidades dessas pessoas.

No Brasil, a autora mostra que:

Nos estados e municípios, não existe uma política efetiva de inclusão que

viabilize planos integrados de urbanização, de acessibilidade, de saúde,

educação, esporte, cultura, com metas e ações convergindo para a obtenção de

um mesmo objetivo: resguardar o direito dos portadores de deficiência. As

dificuldades são imensas para sensibilizar executivos de empresas privadas,

técnicos de órgãos públicos e educadores sobre essa questão. Um sentimento de

omissão aparece, consciente ou inconscientemente, em técnicos, executivos e

burocratas, quando necessitam decidir sobre o atendimento às necessidades dos

portadores de deficiência. (MACIEL, 2000, p. 51-55)

A autora sustenta, ainda, que o princípio fundamental da sociedade inclusiva é o

de que todas as pessoas com deficiências devem ter suas necessidades especiais

atendidas e conclui que:

A prática da desmarginalização de portadores de deficiência deve ser parte

integrante de planos nacionais de educação, que objetivem atingir educação para

todos. A inclusão social traz no seu bojo a equiparação de oportunidades, a

mútua interação de pessoas com e sem deficiência e o pleno acesso aos recursos

15

da sociedade. Cabe lembrar que uma sociedade inclusiva tem o compromisso

com as minorias e não apenas com as pessoas portadoras de deficiência.

(MACIEL, 2000, p.51-55)

É importante observar que segundo Dutra (2008), a proposta de inclusão impõe

atitudes que vão além do conceito de integração, pois nessa perspectiva, é necessário

que haja mudanças no contexto educacional e consequentemente aumentem as

condições de acesso e a formação de profissionais da educação para que se alcance um

atendimento educacional especializado. Por sua vez, Heil (2008) aponta que a

integração social na sociedade, embora tenha melhorado está longe de ser inclusiva.

Porém, a autora verifica que o esporte adaptado promove uma grande contribuição para

a inclusão social, uma vez que se ajusta para atender as necessidades da pessoa com

deficiência.

Pode-se observar, portanto, que um ponto de interseção entre os autores

encontra-se na instatisfação com o panorama atual de inclusão social. Por outro lado, há

consenso no reconhecimento da promoção da atividade esportiva enquanto importante

ferramenta de inclusão social e qualidade de vida para pessoas com deficiência.

3.2.2 Auto-Confiança

Santos (2008) afirma que a auto-confiança revela nossa consciência e preparação

para realizar algo. Segundo o autor, quanto mais baixa a auto-confiança do atleta mais

importante se torna o sucesso e maior é a importância de determinar metas alcançáveis.

A auto-confiança ajuda o indivíduo a se tornar um atleta melhor, uma vez que, emerge

como característica essencial dos atletas para se proteger de disfunções, de pensamentos

e de sentimentos negativos. O autor observa que:

A boa forma física e a técnica de jovens reflete-se nos bons níveis de

autoconfiança que se adquirem com o empenho nas tarefas e atividades. Num

desempenho com sucesso numa tarefa orientada para a mestria espera-se um

aumento da autoconfiança porque os indivíduos vão percebendo que as suas

habilidades se vão reforçando e melhorando. (SANTOS, 2008)

16

Por outro lado, de acordo com Oppermann (2004 apud Pelegrin, 2009), se o

atleta possui um baixo nível de autoconfiança, o mesmo poderá desenvolver um maior

número de falhas e, então, a ansiedade não diminuirá, pois a preocupação irá aumentar,

causando uma menor concentração. Saber direcionar a crença em si mesmo é a melhor

maneira de administrar uma ansiedade pré-competitiva.

Heil (2008), constatou através de um estudo com quatorze atletas com

deficiência visual que o esporte adaptado ajuda as pessoas com deficiência visual a

vencer barreiras e limitações impostas pela deficiência e pela sociedade, contribuindo

para o aumento da auto-confiança, auto-estima, motivação, autonomia e independência.

3.2.3 Concentração

Segundo Weinberg e Gould (2001 apud Junior, Miranda e Gattas, 2003), a

definição de concentração no contexto esportivo contém três partes: foco em sinais

relevantes no ambiente, manutenção do foco todo o tempo e consciência da situação.

Concentração é um aspecto psicológico relevante não só no momento da

competição ou instantes antes, mas também no treinamento (por exemplo, na

aprendizagem de novas táticas). Os técnicos também precisam estar concentrados, a fim

de analisar a conduta tática de sua equipe, bem como da equipe adversária. Ou seja, eles

devem dirigir a atenção para os acontecimentos atuais do jogo. (SAMULSKI, 2002

apud JÚNIOR, MIRANDA e GATTAS, 2003).

Sabe-se que diferentes situações esportivas, exigências de treinamento e padrões

de movimento requerem rápidas mudanças na concentração dos atletas (capacidade de

focalizar a atenção em um objeto ou ação esportiva). Isso significa que a performance e

a excelência esportiva não dependem apenas da habilidade dos atletas em desenvolver

altos níveis de concentração, mas de sua capacidade em alternar o seu foco atencional

em função das exigências e dos contextos esportivos (NIDEFFER, 1991; SAMULSKI,

2002 apud STEFANELLO, 2007).

17

Stefanello (2007) aponta as circunstâncias esportivas onde as constantes

variações nas condições ambientais e nas estratégias de ações requerem rápidas

mudanças sobre a concentração dos atletas. Neste sentido o autor afirma:

Algumas situações esportivas exigem que o atleta seja sensível a vários sinais

presentes no ambiente (ampla capacidade de atenção), enquanto outras

requerem que o atleta dirija a sua atenção a um aspecto específico da situação

(atenção mais restrita e focalizada). Há, ainda, momentos em que o atleta

precisa concentrar-se nos próprios sentimentos e/ou pensamentos para

conseguir o autocontrole necessário a uma atuação eficaz (atenção dirigida a

fatores internos). Em outras circunstâncias, o atleta deve focalizar sua atenção

ao que está acontecendo externamente no ambiente (atenção dirigida a fatores

externos) e reagir adequadamente a esses estímulos. Mesmo a execução de uma

única tarefa obriga o atleta a realizar uma seqüência particular de focos

atencionais (avaliar a situação, analisar a estratégia de ação mais adequada,

preparar-se mentalmente para a ação e executar a ação programada).

(STEFANELLO, 2007)

Ainda segundo a autora, estar concentrado é condição fundamental para que o

atleta tenha uma ótima performance. Manter o foco em sinais relevantes durante a

competição e estar consciente da situação proporcionam-lhe um envolvimento tal com a

tarefa, que irá perceber elementos importantes. Além disso, inúmeros fatores (internos e

externos) podem afetar a capacidade de concentração dos atletas (capacidade de

focalizar sua atenção) durante as competições. É importante considerar também que a

determinação da influência desses fatores sobre a performance esportiva pode auxiliar

atletas, treinadores e profissionais envolvidos no processo de treinamento a

desenvolverem estratégias psicológicas que ajudem os esportistas a alcançar respostas

mais eficazes e consistentes diante das inúmeras exigências competitivas que ocorrem

durante as partidas. Esse conhecimento pode beneficiar não apenas praticantes de alto

rendimento, mas também equipes em formação, pois favorece a aprendizagem de

competências psicológicas que ajudarão os esportistas a aprimorar o autocontrole e a

atuação esportiva. (STEFANELLO, 2007).

18

3.2.4 Auto-Estima

A auto-estima é um juízo de valor que se expressa mediante as atitudes que o

indivíduo mantém em face de si mesmo. É uma experiência subjetiva que o indivíduo

expõe aos outros por relatos verbais e expressões públicas de comportamentos.

(COOPERSMITH, 1967). Fundamentado em sua análise da literatura, Oliveira (2001)

esclarece que a auto-estima tem revelado ser a variável psicológica mais capaz de

traduzir os benefícios psicológicos da prática de exercício físico.

É relevante observar que, de acordo com Brazuna e Castro (2001), para a

maioria dos atletas com deficiência o envolvimento e o sucesso da participação no

esporte estão associados com a auto-estima positiva e a melhora da imagem corporal, já

que o esporte e a superação no mesmo renovam a percepção do individuo. Assim, a

auto-estima está relacionada com a busca pelo desempenho máximo: o atleta torna-se

hábil para competir no mundo, aprende a derrotar seu oponente com respeito e aprende

a perder com dignidade. As autoras afirmam, ainda, que o ambiente esportivo permite

ao atleta criar um senso de responsabilidade política e que o atleta com deficiência

aprende a ajudar outros competidores a superar a deficiência e a baixa auto-estima.

No entanto, Martin (2010) afirma que pessoas com deficiência podem ter baixa

auto-estima porque a deficiência pode limitar a capacidade desses indivíduos de

experenciar o sucesso. Refletindo sobre a questão da baixa auto-estima no contexto da

auto-atualização, Brazuna e Castro (2001) salientam que:

Auto-atualização é um termo, segundo Ridgway e Boyd (1994) que tem muitos

significados, mas, fundamentalmente inclui: aceitação e expressão dos

conteúdos íntimos de um indivíduo, ou seja, constante atualização das

capacidades e potencialidades, “funcionamento” pleno, disponibilidade da

essência humana e pessoal; o termo também refere-se a presença mínima de

doenças, neuroses. Segundo estes autores, é uma visão otimista sobre a

natureza dos seres humanos estudada na psicologia humanista representada por

Abraham Maslow.

Ridgway e Boyd (1994) estudaram as características de auto-atualização entre

atletas portadores de deficiência e observaram que indivíduos que usavam o

19

esporte apenas como meio recreacional experimentavam mais dificuldades de

relacionamento pessoal e de desenvolvimento de relações íntimas com os

colegas do que os atletas de alto nível. Tal como atletas e não-atletas não

portadores de deficiências, os atletas portadores de deficiência de alto nível

aparentemente já haviam resolvido tais conflitos. (BRAZUNA; CASTRO,

2011, p.119).

Por sua vez, segundo Heil (2008), para se ter alta auto-estima é necessário

conhecer os própios sentimentos e opiniões, o que para a pessoa com deficiência é uma

dificuldade devido a super-proteção de suas famílias, amigos e sociedade. Distanciada

da superproteção, a descoberta do esporte adaptado possibilita o aumento da auto-

estima, uma vez que a pessoa com deficiência começa a se descobrir, a sentir-se

autoconfiante e com capacidade para conquistar seus desejos.

3.2.5 Motivação

Segundo Vygotsky (1996 apud Lima, 2012), a motivação, ou o motivo, é aquilo

que move uma pessoa ou que a põe em ação, ou a faz mudar o curso; a motivação é um

processo que se dá no interior do sujeito, estando, entretanto, intimamente ligado às

relações de troca que o mesmo estabelece com o meio, principalmente, seus professores

e colegas.

Ainda de acordo com Vygotsky, existem dois tipos claros de motivação: a

motivação intrínseca e a motivação extrínseca. A primeira é chamada também de

pessoal ou inconsciente e representa o desejo interior de atingir algum objetivo ou

satisfazer determinada necessidade; é a força psíquica que todos nós possuímos. A

motivação extrínseca é a motivação caracterizada por fatores predominantemente

externos; é também conhecida como motivação ambiental ou consciente. A motivação

intrínseca é fundamental porque dela depende todo o processo de aprendizagem.

Portanto, como observa Lima (2008), o atleta precisa estar motivado a aprender, embora

nem sempre os motivos sejam o aprender em si (Vygotsky, 1991 apud Lima, 2012).

Nessa mesma perspectiva, Lima salienta que:

20

Fomos acostumados a preencher as expectativas criadas por nossas famílias,

escolas, e meio ambiente. Às vezes lutamos e alcançamos algo que era o desejo

dos nossos pais e demais familiares. Os motivos pessoais nascem e mantêm-se

por meio de incentivos, ou seja, são os estímulos externos que provocam e

mantêm os motivos. Estas são as justificativas que uma pessoa tem para atuar,

para agir (MASLOW, 1908-1970 apud LIMA, 2012, p.6).

O indivíduo motivado tende a consagrar mais tempo e cuidado para a atividade

pela qual está motivado, melhorando o seu desempenho. A motivação é uma variável

interveniente porque não pode ser vista, ouvida ou tocada: somente pode ser inferida por

meio do comportamento. Em outras palavras, somente podemos julgar quão motivada

está uma pessoa mediante a observação do seu comportamento. Não podemos medir

diretamente a motivação, uma vez que ela não é passível de observação. (Bock, 1999

apud Lima, 2012).

Diversos autores enfatizam a importancia da motivação na prática dos esportes.

Samulski (2002, apud Santos, 2008), por exemplo, aponta que a motivação para a

prática esportiva depende da interação entre a personalidade (expectativas, motivos,

necessidades, interesses) e fatores do meio ambiente, como facilidades, tarefas

atraentes, desafios e influências sociais. Por sua vez, Santos (2008) afirma que o estudo

da motivação tem um papel determinante no conhecimento da formação e da educação

dos jovens para a prática desportiva, já que conduzem a determinados comportamentos

para atingir certos objetivos.

No contexto do esporte adaptado, Heil (2008), verifica que este desempenha um

importante papel na motivação, já que os atletas se realizam por ações internas, que é a

vontade de praticar o esporte e participar das competições, que são desafios; a partir

dessas realizações, eles encontram incentivos externos, pois conquistam medalhas em

competições e são reconhecidos como pessoas capazes e com distintas potencialidades.

21

3.2.6 Emoção

Os processos emocionais possuem uma função atuante sobre o comportamento

ao lado dos processos cognitivos. O termo “emoção” é usado pela maioria dos

psicólogos para denominar todos aqueles fenômenos caracterizados na vida cotidiana

como: afetividade (estado de excitação extrema que, muitas vezes, impede um controle

racional do desenrolar da ação), excitação (dimensão psicofísica), sentimento (sendo o

aspecto fenomenológico concreto de um estado de excitação), e disposição (estado de

sentimento de duração mais prolongada). (THOMAS, 1983.)

O autor aponta o efeito regulador sobre o comportamento que a emoção provoca,

esclarecendo que, elevadas tensões emocionais podem induzir um comportamento que

não é indicado para o individuo enfrentar de forma racional seu meio ambiente, mas que

preenche nele uma função reguladora de seu estado de equilíbrio íntimo. Deve-se levar

em conta que os processos emocionais só ocorrem em situações que haja interações

entre várias pessoas, cujo comportamento pode influenciar a situação.

Considerando-se as expressões da emoção na prática dos esportes, podem-se

distinguir três formas diferentes, a saber: a forma de vivência emocional (o atleta

vivencia a alegria da vitória ou a decepção da derrota); a forma do comportamento

emocional (o atleta comete uma agressão ao adversário ou abraça o companheiro por ter

acertado o gol); e a forma de transformação fisiológica no corpo (o atleta treme de

medo da prova ou das consequências do fracasso). Ao lado dessas três formas que

exprimem os processos emocionais, podem-se distinguir quatro dimensões dos efeitos

da ação e vivência da emoção, como: a intensidade (o atleta está satisfeito com o

resultado esperado - fator de pouca intensidade, ou então está contente pelo sucesso

inesperado – fator de bastante intensidade); a tensão (quando o resultado do

desempenho no movimento ou na ação iniciada é incalculável, a tensão e o consequente

impulso para a ação ficam especialmente grandes); a nuança de prazer ou desprazer

(sentimentos de alegria, orgulho, satisfação ou sentimentos de medo, vergonha, raiva,

dor); a complexidade (quadro de diversos estados emocionais, onde estes se alternam ou

se anulam reciprocamente).

22

O medo é uma emoção que ocorre com frequência no esporte e podem-se

distinguir vários tipos: o medo do fracasso no desempenho desportivo; medo de

contusões; medo do vexame social; medo das consequências do fracasso no

desempenho; e o medo de movimentos estranhos e a sua vivência incomum. Outros

processos emocionais correlacionados ao esporte são: dor, sentimentos de sucesso ou

fracasso, orgulho, vergonha, auto-segurança, atração e recusa sociais, sentimentos

estéticos e múltiplas formas de disposição.

O autor conclui que os processos emocionais podem acompanhar regular e

apoiar a ação desportiva, mas também podem perturbá-la ou até impedi-la. Por isso,

deu-se grande atenção às influencias inibidoras dos processos emocionais sobre a

performance, especialmente no esporte de competição de alto nível. Reconhece-se

ainda que, no esporte, as emoções alcançam, muitas vezes, uma intensidade como é raro

acontecer na vida comum.

3.2.7 Ansiedade

Um dos campos mais abordados pela Psicologia do Esporte é a ansiedade e as

suas relações com o rendimento. A experiência de estresse e ansiedade na competição

desportiva constitui um problema usual e preocupante para todos aqueles que, direta ou

indiretamente, se encontram envolvidos no desporto (CRUZ, 1996 apud PELEGRIN,

2009).

A ansiedade é uma expressão da personalidade de um indivíduo. A extensão na

qual a ansiedade se manifesta em uma situação particular deve ser considerada em

relação à pressão imposta, ao nível de habilidade do atleta e à natureza da atividade. A

autora ressalta que a ansiedade vivenciada pelo atleta - a sua intensidade - depende de

sua personalidade no que se refere ao modo de encarar diversas situações, bem como de

seu preparo psicológico. Além disso, o entrosamento, o rendimento e a atuação da

equipe no campeonato também são fatores que estão relacionados com a ansiedade e

dos quais depende o bom desempenho do atleta em quadra/campo. (FABIANI, 2009)

23

Pelegrin (2009) mostra que:

A ansiedade é um sentimento característico do ser humano que se manifesta

quando o sistema nervoso central recebe excessiva agitação perante situações

de perigo, medo, tensão e outras. Do ponto de vista normal, a ansiedade surge

de forma espontânea e provoca mal-estar epigástrico, inquietação, palpitações,

sudorese, aperto no tórax, fadiga, falta de ar, boca seca, tremores, necessidades

em urinar, formigamento nas mãos e pés e outros (HERNANDEZ; GOMES,

2002 apud PELEGRIN, 2009).

No mundo desportivo, são facilmente observados os “clássicos” dois tipos de

ansiedade: ansiedade-traço e ansiedade-estado. A ansiedade-traço é uma característica

relativamente estável do indivíduo. Singer (1977 apud Fabiani, 2009) explica que a

ansiedade-estado, “refere-se a uma reação ou resposta emocional que é evocada em um

indivíduo que percebe uma situação particular como pessoalmente perigosa ou

ameaçadora.” Fabiani (2009) salienta, ainda, que:

3.2.8 Estresse

De acordo com Battison (1998 apud Fabiani, 2009), “’estresse’ é um termo

muito usado para descrever os sintomas produzidos pelo organismo, em resposta à

tensão crescente”. Tem-se, portanto, que certo nível de estresse é normal e serve como

meio facilitador para enfrentar os desafios da vida. Contudo, muito estresse faz com que

o corpo reaja de forma desagradável.

Cobra (2003 apud Fabiani, 2009) ressalta também a dimensão natural e benéfica

do estresse, ao afirmar que:

O estresse que costuma ser visto como grande vilão de nossas vidas, nada

mais é que a pressão imposta a cada um de nós no dia-a-dia. Em si, ele é

altamente positivo. É a mola que nos impele a fazer o que é necessário e nos

coloca no melhor de nosso desempenho nos momentos em que somos

exigidos. Esse estresse é natural ao organismo. É ele que nos faz agir diante de

determinada situação, derramando estimulantes em nossa corrente sanguínea.

Esse processo de fabricação de hormônios estimulantes, que nos deixa de

24

repente eufóricos ou capazes de não sentir dores em uma hora de risco, é

altamente benéfico. Por certo, pouco antes da competição, o esportista se

encontra em um estado de intensa carga psíquica (estresse psíquico), que para

alguns autores tem sido denominado como “estado pré-competitivo”.

E Samulski (1995 apud Fabiani, 2009) complementa:

Esse estado se caracteriza, sob o ponto de vista psicológico, pela antecipação

da competição, e conseqüentemente da antecipação das oportunidades, riscos e

conseqüências. Nesta fase intervêm freqüentemente medo e temor. Estes

temores não só se manifestam em processos cognitivos, mas também podem

produzir reações vegetativas, motoras e emocionais.

Spielberger (1989 apud Pelegrin, 2009) amplia a nossa compreensão do estresse,

ao argumentar que este remete a um processo psicobiológico complexo que consiste

numa sequência de eventos ordenados temporalmente: estressores, percepções ou

avaliações de perigo (ameaças) e reações emocionais. Segundo o autor, o processo de

stress geralmente é iniciado com um evento externo ou por estímulos internos

percebidos, interpretados ou avaliados como perigosos, potencialmente prejudiciais ou

frustrantes. Se um estressor é percebido como perigoso ou ameaçador,

independentemente da presença de um perigo concreto, é evocada uma reação

emocional (ansiedade).

Ao falar em qualidade de vida, é necessário falar em lazer e esporte, sendo

assim, não se pode deixar de mencionar o surf, que além de ser um esporte completo, é

um estilo de vida que proporciona ao praticante uma vida harmoniosa entre homem e

natureza, interagindo de maneira consciente e prazerosa. O contato com a praia, com o

mar e com outras pessoas torna o surf, além de um fator determinante para a qualidade

de vida, um importante instrumento na inclusão social, permitindo que a sociedade

reveja conceitos e perceba a pessoa com deficiência com naturalidade, sem estigmatizá-

la. (ADAPTSURF, 2012)

Tendo feito essa análise podemos concluir que a consequência desses fatores

psicossociais é uma melhora na qualidade de vida das pessoas com deficiência que

25

praticam o esporte adaptado. Contudo, analisaremos a seguir o surf adaptado para

melhor compreensão do esporte em questão.

   3.3 Surf Adaptado

O surf adaptado começa a ser praticado no Brasil em 1987, desenvolvido

inicialmente por Alcino Neto, um surfista que aos 14 anos, após sofrer um acidente de

moto teve a sua perna esquerda amputada, e foi obrigado a criar estilo e técnicas própias

para se adaptar a uma nova modalidade de surf, enquanto esporte adaptado. Alcino

Pirata tornou-se o primeiro campeão mundial de surf adaptado.

Atualmente no Brasil, o surf adaptado é representado por surfistas adaptados

considerados referencias no esporte: Alcino Pirata, Robson Careca, Pauê e Henrique

Saraiva. Robson Careca é um grande incentivador do surf adaptado no Brasil, tendo

sido o primeiro surfista adaptado a surfar deitado. Ele é fundador do clube Mão na

Borda que proporciona atividades de surf adaptado. Por sua vez, Pauê Aagaard, é o

primeiro surfista bi-amputado do mundo: é triatleta e realiza palestras incentivadoras em

eventos sociais. Henrique Saraiva adaptou-se ao surf com uma prancha de Kneeboard,

surfa de joelhos em ondas por todo o Brasil e é referencia no surf adaptado do Rio de

Janeiro. Já Fabinho Anão é considerado o menor surfista do mundo, demonstrando sua

habilidade em ondas grandes no Hawaii.

São também conhecidos mundialmente, Jesse Billauer, tetraplégico fundador da

Life Rolls On e Bethany Hamilton, surfista profissional que teve braço amputado em

ataque de tubarão. No que diz respeito às organizações que desenvolvem o surf

adaptado, no Brasil, encontram-se: Escolinha de surf do Pirata (SP), Projeto Surf

Especial do Robson Careca (SP) e ADAPTSURF (RJ). Internacionalmente, podemos

citar: Life Rolls On (EUA), Accessurf Hawaii e DSA (Austrália) (ADAPTSURF,

2012).

A primeira competição no Rio de Janeiro que contou com a categoria de surf

adaptado foi o Arraial Long Festival realizado em 2010. A competição de longboard foi

realizada em Arraial do Cabo no Rio de Janeiro. O evento foi promovido pela Secretaria

26

Municipal de Esporte e Lazer, Associação de Surf de Arraial do Cabo (ASAC) e Dody

Surf. O campeonato tonornou-se um marco na história do surf brasileiro, onde surfistas

com diferentes tipos de deficiência se enfrentaram em baterias julgadas oficialmente sob

os mesmos critérios e formato das categorias tradicionais de surf, em que os juízes

credenciados pela Federação de Surf do Estado do Rio de Janeiro (FESERJ) avaliaram

as ondas surfadas pelos competidores. No cenário mundial, o único circuito de surf

adaptado para pessoas com deficiência é o Circuito ADAPTSURF, sua primeira etapa

ocorreu em maio de 2010 no Rio de Janeiro, atualmente o circuito está na sua terceira

edição e conta com a participação de atletas de todo o Brasil (ADAPTSURF, 2012).

Em 2011, duas produtoras americanas do grupo Sony Pictures, resolveram

roteirizar a trajetória de Bethany Hamilton, o resultado foi o filme “Soul Surfer“, o

longa-metragem retrata o início de carreira de Bethany, o ataque de tubarão que a

deixou deficiente e a luta da atleta para voltar ao mar. No Brasil, foi lançado um

documentário sobre o surf adaptado chamado “Aloha“, o filme conta com depoimentos

e imagens de surfistas adaptados que falam sobre os desafios do esporte (PEDROSO,

2011). Recentemente, no cenário do surf brasileiro, o surfista adaptado “Andrézinho

Carioca“ surfou as ondas da pororoca, fenômeno natural produzido pelo encontro de

águas fluviais com águas oceânicas, tornando-se o primeiro surfista adaptado do mundo

a encarar este desafio (ACESSAR, 2012).

Apresentamos um breve histórico sobre o surf adaptado no Brasil, porém, é

importante compreender as mudanças estruturais necessárias para que o esporte

adaptado em questão possa ser praticado. Neste sentido, são fundamentais para

desenvolver o esporte, o uso de instrumentos e materiais específicos, tais como: rampas

de acesso à faixa de areia, esteiras para circulação, cadeira de rodas anfíbia, equipe

especializada e infra-extrutura adequada. A prática do surf adaptado deve ser feita com

o apoio de uma equipe especializada em atividades de praia e treinada para o manuseio

dos equipamentos, permitindo a segurança dos frequentadores da praia acessível.

Ademais, para promover a acessibilidade da orla, devem existir faixa de

pedestres com sinal sonoro, vagas de estacionamento, sinalização adequada, piso tátil,

guias rebaixadas e rampas de acesso. A orla da praia também deve contar com postos de

27

salvamento equipados com chuveiros e banheiros adaptados. Por outro lado, existem

praias onde o desnível entre o calçadão e a faixa de areia é acentuado, sendo necessária

a construção de rampas com inclinação, permitindo o acesso seguro de pessoas com

deficiência à areia. As esteiras para circulação formam passarelas, facilitando a

locomoção e melhorando o trânsito das pessoas ao chegar e sair da praia, e podem ser

utilizadas tanto por pessoas com deficiência, quanto por crianças, grávidas e idosos. Por

sua vez, a cadeira de rodas anfibia é especialmente desenvolvida para entrar na água: é

feita de materiais resistentes e possui rodas infláveis, que flutuam dentro do mar,

podendo ser utilizadas por surfistas adaptados e por pessoas com deficiência para a

circulação na areia e mergulho no mar (ADAPTSURF, 2012).

28

4. Estudo de Campo

4.1 Amostra e estratégias

Foi realizada uma pesquisa qualitativa com atletas de surf adaptado com os quais eu já

mantinha um relacionamento. A amostra de conveniência foi composta por 8 sujeitos

entre homens e mulheres com deficiência, que se encontravam no Rio de Janeiro.

4.2 Instrumentos e procedimentos

Primeiramente, foi feito um contato inicial com os atletas pedindo colaboração para

participação na pesquisa, seguindo a orientação do Consentimento Livre e Esclarecido

(Anexo 1), feito isso, a partir da estratégia principal de pesquisa da observação

participante, o procedimento que utilizei foi uma entrevista semi-estruturada (Anexo 2),

cujo roteiro foi construído com base na literatura analisada previamente. As entrevistas

foram realizadas e gravadas, com o consentimento dos participantes.

4.3. Resultados e Discussão

Para investigar os aspectos psicossociais do surf adaptado para pessoas com

deficiência, fiz uso do “Método de Explicitação do Discurso Subjacente” (MEDS),

desenvolvido por Nicolaci-da-Costa (1988). O MEDS visa identificar diferentes pontos

de vista, reações, sentimentos e conflitos subjetivos em contexto, priorizando, ainda, a

expressão livre e espontânea dos sujeitos em ambientes de investigação que lhes sejam

familiares. Por essas características, tal método de análise do discurso foi escolhido para

trabalhar todas as entrevistas através do exame transversal e vertical das respostas dos

participantes, a fim de detectar as principais categorias recorrentes no seu discurso.

De acordo com a análise dos resultados das entrevistas realizadas foi possível

obter o registro sobre as experiências vivenciadas pelas pessoas com deficiência no que

diz respeito à prática do surf adaptado. As categorias relativas aos aspectos

psicossociais envolvidos na prática do surf emergiram a partir da manifestação dos

29

entrevistados e seguem descritas logo abaixo. Para facilitar a compreensão, os temas do

discurso estão grafados em negrito e as categorias estão sublinhadas.

A primeira questão apresentou como tema a busca pelo esporte. As categorias

que emergiram foram à empatia com o esporte radical e a influência social. De maneira

menos enfática, surgiu ainda, a categoria de prática anterior do esporte. As categorias

são ilustradas, respectivamente, pelas falas dos participantes:

“[...] sempre gostei de esporte radical mas nunca tive a oportunidade e quando eu vi o

surf eu vi que poderia estar praticando um esporte radical.”

“Sempre tive vontade de surfar, pelo convite de um amigo conheci o surf e gostei.”

“Sempre pratiquei muitos esportes, inclusive surf, [...] mas não me apeguei a nenhum,

até que um amigo surfista me incentivou a surfar [...].”

Observamos, ainda, que as razões para continuar praticando o surf adaptado

se caracterizavam por sentimentos de pertencimento e auto-realização, indicando uma

sensação de acolhimento e superação, confirmadas nos trechos a seguir:

“Além da adrenalina que o surf propõe, o surf é um esporte diferente, a maneira de eu

sentir o surf é diferente de todas as outras (práticas esportivas). Sem falar da reunião

das pessoas que pra mim é como se fosse uma família.”

“Eu me sinto livre quando estou no mar, não tenho palavras para te explicar, ao

mesmo tempo é desafiador, [...] é a mesma coisa que eu pegar um gancho pra minha

vida e falar [...] se eu consigo fazer no mar eu consigo aqui (a superação).”

Assim, confirmando Pedroso (2011), O surf assim representa para essas pessoas

a oportunidade de ser visto como um ser completo e digno. O esporte é um dos maiores

responsáveis por melhorar a auto-estima da pessoa com deficiência, o sentimento de

pertença, geralmente proporcionado pelas atividades realizadas em conjunto contribuem

para que a pessoa com deficiência se dedique cada vez mais à prática de atividades

físicas.

30

Questionados sobre os benefícios de praticar o surf adaptado, em todas as

entrevistas apreciadas notamos que surgiram as categorias relacionadas ao bem-estar

psicológico, destacando-se a concentração, melhora na auto-estima, maior controle das

emoções, confiança elevada, visão prospectiva e o sentimento de transcendência e paz.

Assim como, foram observados categorias vinculadas ao bem-estar físico, podendo-se

salientar a coordenação motora e o equilíbrio. Estas considerações foram possibilitadas

através dos seguintes trechos:

- Concentração:

“Sem falar da atividade física o mental principalmente, o surf é muito mental. Saber a

hora certa de entrar na onda, respeitar o mar, é muita concentração. Pra mim o

principal é a parte mental.”

- Auto-estima:

“O surf melhorou minha auto-estima, pois além de me ajudar a socializar, me faz sentir

menos as limitações.”

- Controle das emoções:

“Eu me sinto mais solta, uma serenidade maior, consigo manter minha calma em

momentos de raiva e de altas emoções [...].”

- Confiança:

“Melhorar a auto-estima, a confiança e outros ganhos pessoais também.”

- Visão prospectiva:

“[...] eu geralmente falava sempre as mesmas coisas no passado, e agora eu falo que

faço surf, [...] você passa a ter coisas pra contar.”

31

- Transcendência:

“Enquanto estou na água surfando é um momento em que gosto de ficar sozinho e

consigo pensar nas coisas de forma mais clara, durante e depois das sessões de surf.

Quando estou surfando uma onda, naqueles poucos segundos, é quase um momento de

meditação, pois é tudo tão intenso que não penso em absolutamente nada [...].”

- Coordenação motora:

“O surf melhorou meu andar, minha coordenação motora, e melhoro cada vez mais.”

- Equilíbrio:

“Melhorou o equilíbrio, me deu mais segurança.”

Os resultados confirmam que o surf adaptado tem se mostrado um importante

aliado na reabilitação de pessoas com deficiência, além de seus benefícios físicos e

mentais é capaz de proporcionar momentos de conquistas e desafios como ilustram as

falas acima. Neste sentido, de acordo com ADAPTSURF (2012), a participação no

esporte adaptado confere ao indivíduo a oportunidade de desenvolver seu

condicionamento físico, de se dedicar a atividades de lazer, de se tornar mais ativo, de

aprender habilidades para se ocupar nas horas vagas e de colher experiências positivas

no grupo e no ambiente social. Por sua vez, Heil (2008) afirma que as práticas

esportivas regulares trazem uma série de benefícios para as pessoas com deficiência,

argumentando que além dos benefícios físicos o esporte ajuda a vencer limitações

impostas pela deficiência e pela sociedade, argumentando que o esporte contribui para o

aumento de auto-confiança, auto-estima, motivação, autonomia e independência.

Observamos, também, que o fator confiança, apontado pelas entrevistas, e

corroborado por ADD (2012), que afirma que o esporte ajuda na reabilitação da pessoa

com deficiência, proporcionando bem estar físico e psicológico, tornando-a mais

autoconfiante, com melhor auto-estima, mais otimista e segura, capaz de alcançar seus

objetivos. Os resultados obtidos confirmam o estudo de Stefanello (2007), que indicam

que estar concentrado é condição fundamental para que o atleta tenha uma ótima

32

performance, favorecendo a aprendizagem de competências psicológicas que o ajudarão

a aprimorar o autocontrole e a atuação esportiva. Thomas (1983), reconhece, ainda, que

no esporte, as emoções alcançam uma intensidade como é raro acontecer na vida

comum.

Por outro lado, observamos, ainda, que as dificuldades do surf adaptado se

caracterizaram por um sentimento de frustração em relação a condições desfavoráveis

no ambiente para o surf, como o mar agitado e eventos climáticos. Observamos ainda

que a acessibilidade das praias é imprescindível para a prática do surf adaptado, uma

vez que é necessária uma infraestrutura adequada à prática do esporte por pessoas com

mobilidade reduzida. Isso foi evidenciado nos estudos da ADAPTSURF (2012), em que

a prática do surf adaptado deve ser feita com o uso de materiais específicos, equipe

especializada e infraestrutura adequada, confirmadas nos trechos a seguir:

“Na hora que o mar está grande, eu não consigo fazer o que eu sonho fora dele. Teve

uma situação [...] em que o mar estava grande e eu não consegui continuar depois a

pegar ondas, eu tive que sair e fiquei muito tensa esse dia.”

“[...] você se sente chateado em pedir ao bombeiro pra te colocar na água por que ele

olha e vê que eu vou dar trabalho, a estrutura é muito ruim.”

Em relação às mudanças comportamentais as categorias englobam aspectos

antes vistos nos benefícios do surf adaptado tais como bem estar físico e psicológico.

Nesse contexto há evidências de uma mudança positiva corroborada na fala de 100%

dos entrevistados, onde as pessoas com deficiência passam a se ver e serem vistas em

um papel pró-ativo, sendo protagonistas de suas ações. Dessa forma a liberdade de ser, e

a integração social se fazem presentes no discurso dos entrevistados. Heil (2008), afirma

que o esporte adaptado promove uma grande contribuição para a inclusão social, uma

vez que se ajusta para atender as necessidades da pessoa com deficiência. Essas

considerações foram evidenciadas nos seguintes relatos:

“O surf mudou a minha auto-estima, a minha comunicação, agora eu não tenho

vergonha de me expor, de dizer o que eu penso, o que eu acho. O surf me deu uma nova

vida, uma nova liberdade.”

33

“Fiz novos amigos, estou em contato com a natureza, minha concentração melhorou, a

auto-estima também e o meu bem estar físico e psicológico como um todo.”

Foi interessante observar que em relação à prática de outros esportes, 90% dos

entrevistados realizavam outras atividades esportivas, muitas demonstrando uma

empatia com os esportes radicais. Essa assertiva fica explícita neste relato:

“Natação, judô e parapente, o surf me deu coragem pra essa nova aventura acho que

eu não faria isso (parapente) antes de conhecer o surf.”

Questionados sobre o relacionamento com os colegas de equipe, as categorias

que emergiram foram à identificação, parceria e troca. Por outro lado, chama a atenção

que 65% dos entrevistados não realiza atividades com os colegas de equipe fora do local

de treinamento. Sendo assim, podemos salientar que este tópico seria um recorte

interessante para pesquisas futuras na área. Os seguintes trechos são ilustrativos:

“É uma relação de confiança, de carinho, de troca. [...].”

“Muito boa, todos são meus amigos e eles me dão dicas pra sempre evoluir no surf.”

“É como se fosse uma família, eles passaram a fazer parte da minha vida, a gente sabe

um pouco da história do outro, os problemas, as dificuldades.”

Em relação à questão da parceria com os colegas de equipe, Brazuna e Castro

(2001), afirmam, ainda, que o ambiente esportivo permite ao atleta criar um senso de

responsabilidade política e que o atleta com deficiência aprende a ajudar outros

competidores a superar a deficiência e a baixa auto-estima.

Em relação à progressão no esporte, as categorias que emergiram foram o

reconhecimento das dificuldades, a adaptação, e a superação como fatores importantes

na evolução da performance no surf adaptado. Isto fica explícito no seguinte trecho:

34

“No começo eu tinha medo, mas depois da primeira onda que eu peguei me senti muito

a vontade, o esporte me conquistou de uma maneira diferente dos outros por que eu

nunca esperava praticar e quando eu consegui foi uma experiência incrível.”

“Muito boa, foi uma maneira de eu me redescobrir e readaptar minhas condições.”

“Antes eu tinha medo do mar, de entrar no mar, tinha medo de me afogar, agora eu

entro não tenho medo, confio mais em mim e evolui muito. Eu tinha medo de entrar,

comecei a fazer manobra e hoje já consigo ficar de joelho”.

A partir desses resultados, vai se delineando uma perspectiva otimista para o

futuro dessas pessoas com deficiência que praticam o surf adaptado. Notamos que as

projeções para o futuro englobam um sentimento de auto-realização dentro e fora do

esporte, ocasionando, portanto, uma melhora na qualidade de vida das pessoas com

deficiência, confirmando a literatura.

“Uma grande experiência no surf adaptado. Me vejo pegando onda sozinha, com uma

boa qualidade de vida.”

“Eu pretendo continuar (no esporte) e evoluir ao máximo na minha modalidade. E com

certeza vencer uma competição de surf adaptado.”

O resultado obtido vem de encontro com Heil (2008), que verifica que o esporte

adaptado desempenha um importante papel na motivação, já que os atletas se realizam

por ações internas, que é a vontade de praticar o esporte e participar de competições,

que são desafios, a autora afirma que a partir dessas realizações, as pessoas com

deficiência encontram incentivos externos, pois conquistam medalhas em competições e

são reconhecidos como pessoas capazes e com distintas potencialidades.

35

5. Conclusão

O surf adaptado é uma modalidade esportiva não olímpica com um número

crescente de adeptos, praticado por pessoas com diversas deficiências físicas e

intelectuais. Pela análise aqui realizada, o surf adaptado promove um ambiente

favorável para o desenvolvimento de novas possibilidades e potencialidades da pessoa

com deficiência, tornando-se um elemento imprescindível na qualidade de vida

daqueles que praticam o esporte.

A presente investigação evidencia o valor incontestável dos benefícios

psicossociais do surf adaptado para pessoas com deficiência, confirmando a literatura

pertinente ao tema com depoimentos de pessoas praticantes do esporte. Observamos

também as importantes mudanças comportamentais que o surf adaptado promove, bem

como a melhoria da auto-estima, confiança, concentração e controle emocional. O

ambiente esportivo do surf adaptado estimula um equilíbrio entre a mente e o corpo,

fundamentais para uma vida melhor. O contato com a natureza e a integração social de

pessoas com deficiência na prática do surf adaptado possibilitam a liberdade do ser,

portanto, a pessoa com deficiência passa a ocupar um papel de protagonista e a ter uma

narrativa com novas experiências, temas e interações.

A prática do surf adaptado é viabilizada por Organizações Não-Governamentais,

portanto, cabe destacar, as carências e a necessidade de capacitação profissional em

políticas públicas de saúde voltadas para qualidade de vida da pessoa com deficiência.

Desse modo, podemos propor a participação multidisciplinar na área da saúde,

objetivando um número maior de pessoas beneficiadas pela prática esportiva,

proporcionando, também, o crescimento e reconhecimento do surf adaptado, com ênfase

na mudança do estilo de vida das pessoas com deficiência, em especial sua integração

social.

Por fim, essa pesquisa fomentou reflexões fundamentais acerca da temática

proposta, muito embora saibamos que ainda existe a urgente necessidade de novas

discussões sobre o assunto, haja vista a escassez de literatura sobre o tema. Sendo

assim, sugere-se que sejam realizadas mais pesquisas na área do surf adaptado para

maior compreensão do tema.

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6. Referências 

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THOMAS, A. Esporte. Introdução à Psicologia. Ed. Ao Livro Técnico AS. Rio de Janeiro. 1983.

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7. Anexos

Anexo 1 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu, ___________________________________________________________abaixo assinado(a), concordo em participar, como sujeito de entrevistas, do projeto de pesquisa intitulado – Aspectos psicossociais do surf adaptado para pessoas com deficiência¹ –, supervisionado pela professora Eva Gertrudes Jonathan. Fui devidamente informado(a) pela pesquisadora ________________________________________ sobre os procedimentos de pesquisa aos quais serei submetido(a) e de que posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem justificar a minha decisão e sem que isso implique em qualquer penalidade. Estou ciente de que não terei despesas e não serei remunerado(a) por participar da pesquisa. Garanto que a minha participação é voluntária, concordo com a gravação da entrevista e estou ciente de que meu nome e demais dados pessoais serão mantidos em sigilo, que as informações coletadas serão usadas exclusivamente para fins de pesquisa, e que as conclusões do trabalho serão de domínio público visando o desenvolvimento científico.

Rio de Janeiro, de de 2012.

Participante

_______________________¹O título da pesquisa poderá sofrer alterações

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Anexo 2 – Entrevista

Sexo: ( ) Masculino ( ) FemininoIdade: Deficiência:

1. O que a levou a praticar o surf adaptado?

2. Há quanto tempo você prática?

3. Quais são as razões para continuar praticando?

4. Para você, quais são os benefícios do surf adaptado?

5. Para você, quais são as dificuldades do surf adaptado?

6. Você percebeu alguma mudança na sua vida, após a prática do surf adaptado? (mudanças comportamentais nas áreas familiar/social/escolar/trabalho/...)

7. Além do surf adaptado, você pratica outros esportes?

8. Como é sua relação com seus colegas que praticam o surf adaptado (de equipe)?

9. Você costuma realizar atividades com eles fora do local de treinamento?

10.Como foi a sua progressão no esporte?

11.Como visualiza seu futuro? / Como você se vê daqui a 10 anos?

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