Susan

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SUSAN SONTAG LEITORA DE WALTER BENJAMIN por: Karl Schurster 1 & Diego Fabião Gomes Leitão 2 É a entrada de um mercado de pulgas. Não se paga ingresso. É grátis. Gente mal-ajambrada. Vulpinos, brincalhões. Por que entar? O que você espera ver? Estou vendo. Estou constatando o que há no mundo. O que sobrou. O que foi descartado. O que não se quer mais. O que teve de ser sacrificado. O que alguém pensou que poderia interessar a outro alguém. Mas é lixo. Se existe algo aqui ou ali, já foi peneirado. Mas lá pode haver algo valioso. Não exatamente valioso. Mas algo que eu que eu poderia querer. Querer resgatar. Algo que me fale. Que fale aos meus anseios. Que fale com alguém, fale de algo. Ah... Susan Sontag. O Amante do Vulcão. Entender os caminhos trilhados por um autor através de sua produção é uma tarefa por excelência árdua. Entrar no mundo particular é estar dentro de um labirinto com uma única certeza: a de que nos perderemos. Estar perdido é a melhor forma de se encontrar e reencontrar. Estar perdido trás implícito em si uma sensação de medo, angústia e incerteza, mas ao mesmo tempo, uma sensação de novidade, redescoberta através da procura incessante de uma saída. Contudo, são as experiências vividas nestas veredas, e, em especial nos caminhos sem saída, que constituem a parte integrante do processo de construção das múltiplas identidades de um autor. Este texto, que mais se aproxima de um ensaio do que um artigo científico, tem como objetivo percorrer os caminhos da escritora e filósofa norte-americana Susan Sontag através do seu contato com a filosofia alemã e em especial com os trabalhos do frankfurtiano Walter Benjamin, mostrando como a mesma se apropriou de várias chaves de compreensão do real benjaminiano para entender sua própria temporalidade, seu próprio tempo presente. Muito

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SUSANSONTAG LEITORA DE WALTER BENJAMINpor: Karl Schurster1& Diego Fabio Gomes Leito2

a entrada de um mercado de pulgas. No se paga ingresso. grtis. Gente mal-ajambrada. Vulpinos, brincalhes. Por que entar? O que voc espera ver? Estou vendo. Estou constatando o que h no mundo. O que sobrou. O que foi descartado. O que no se quer mais. O que teve de ser sacrificado. O que algum pensou que poderia interessar a outro algum. Mas lixo. Se existe algo aqui ou ali, j foi peneirado. Mas l pode haver algo valioso. No exatamente valioso. Mas algo que eu que eu poderia querer. Querer resgatar. Algo que me fale. Que fale aos meus anseios. Que fale com algum, fale de algo. Ah...Susan Sontag. O Amante do Vulco.Entender os caminhos trilhados por um autor atravs de sua produo uma tarefa por excelncia rdua. Entrar no mundo particular estar dentro de um labirinto com uma nica certeza: a de que nos perderemos. Estar perdido a melhor forma de se encontrar e reencontrar. Estar perdido trs implcito em si uma sensao de medo, angstia e incerteza, mas ao mesmo tempo, uma sensao de novidade, redescoberta atravs da procura incessante de uma sada. Contudo, so as experincias vividas nestas veredas, e, em especial nos caminhos sem sada, que constituem a parte integrante do processo de construo das mltiplas identidades de um autor.Este texto, que mais se aproxima de um ensaio do que um artigo cientfico, tem como objetivo percorrer os caminhos da escritora e filsofa norte-americana Susan Sontag atravs do seu contato com a filosofia alem e em especial com os trabalhos do frankfurtiano Walter Benjamin, mostrando como a mesma se apropriou de vrias chaves de compreenso do real benjaminiano para entender sua prpria temporalidade, seu prprio tempo presente. Muito dificilmente poderemos ter certeza da profundidade e da importncia efetiva da obra de Walter Benjamin nos escritos de Sontag, mas neg-la seria esquecer o ponto central do pensamento destes autores: a alegoria e a metfora, respectivamente.

1.0 Um mundo de vastas emoes e pensamentos imperfeitos: O encontro com a filosofia, com a literatura, com o cinema e o teatro.

Nascida em New York em 1933, filha de uma famlia judia, Susan Sontag ou para muitos apenas Sue, era uma mulher de temperamento forte desde a juventude e por muito tempo marcado por sentimento muito prximo ao do filsofo alemo Walter Benjamin: melancolia, tristeza. Sempre acreditou que as idias perturbam a regularidade da vida3. Sontag acreditava que pensar interpretar e no se pode pensar sem interpretar, mesmo tendo a obrigao, em certas ocasies, de colocar interdies nestas interpretaes para que estes constantes deslocamentos de sentido no acabem estando a servio das relaes de fora e poder e com isso reproduzindo um status quo de represso e excluso.A preocupao com a lngua, que depois derivar em ensaios onde discutira a prpria linguagem e sua natureza (Contra a Interpretao), foi, desde muito cedo, uma preocupao latente para ela. Estudou francs desde tenros tempos e ingressou nesta literatura, uma de suas paixes, com as obras de Victor Hugo, sendo Os Miserveis um dos livros mais importantes da sua infncia. Suas paixes pela literatura e pelo cinema a acompanham durante toda a vida. No auge de sua produo Susan dirigiu dois filmes Duets for Cannibals (1970) e Brother Carl (1974), alm de ter escrito seis romances The Benefector (1963), Death Kit (1967), I Etcetera (1977), The Way We Live Now (1991), The Volcano Lover (1992) e In America (2000)4.A entrada na North Hollywood High School e depois a passagem pela Universidade de Chicago foram fundamentais para o aprofundamento nos seus conhecimentos de lngua francesa e sobre a literatura europia e norte-americana. Neste momento Sontag se debruava sobre as obras de Herman Hesse, Ernest Hemingway e Thomas Mann. Os dois primeiros passaram a ser leituras obrigatrias devido aos cursos que faziam na Universidade. J Mann ter uma influncia mais que notria em sua obra. A autora sempre declarou a importncia do livro a Montanha Mgica na sua vida e em conseqncia na sua produo. O seu principal romance, O Amante do Vulco, ser bastante influenciado por Thomas Mann, mesmo que sempre tenha dito que A Montanha Mgica mais do que Mann imaginava e a interpretao do autor da sua prpria obra era deveras decepcionante para ela.Ainda na Universidade Susan conhece P. Rieff. Casa-se com ele e deste relacionamento nasce, David Rieff seu nico filho. Este fora um casamento bastante conturbado devido prpria Susan acreditar que o relacionamento a sufocava e ainda porque a mesma decide assumir sua homossexualidade. Sua opo sexual passa a ser, ento, uma das bandeiras desta intelectual, tendo se relacionado com figuras ilustres como a danarina Lucinda Childs e a fotografa Annie Leibovitz. Durante o perodo em que foi casada com Rief, Sontag manteve dilogos com algumas pessoas que muito influenciaram sua forma de interpretao da sociedade. Um deles E. H. Carr, historiador e terico das Relaes Internacionais e o outro foi o marxista frankfurtiano Hebert Marcuse. Sua relao com este, que no foi muito profunda, f-la adentrar nos estudos de filosofia da Histria e tambm de filosofia alem. A partir da Susan comea uma empreitada nas obras de Theodor Adorno e apenas na segunda metade da dcada de 1960 comea as leituras de Walter Benjamin.Com o processo de separao Sontag decide morar na Frana e continuar seus estudos em Paris. Nesse momento amplia suas leituras da obra de Jean Paul Sartre que trar uma influncia bastante perceptvel em alguns de seus ensaios como, por exemplo, A Aids e suas Metforas e a novela Assim vivemos agora em especial no que tange a questo da experincia que no pode ser transfervel nem ensinada, mas apenas vivida individualmente5. Sontag sempre sentiu uma grande admirao pelo existencialismo e pela obra de Sartre. Isto sempre a influenciou a pensar e refletir sobre a arte como pontap inicial para a modificao de uma realidade sempre permevel de transformaes: A nusea, disse certa vez a ensasta, uma metfora dessa angstia da coerncia ante um entorno revulsivo, vcuo, frente superficialidade das coisas e dos valores morais.6Para ela Albert Camus, Georg Lukcs, Sartre, Artaud, Becket e Lvi-Strauss, constituem as figuras intelectuais mais relevantes de sua formao.Walter Benjamin disse certa vez que Paris ensinou-o a arte de perder-se e podemos dizer o mesmo com Sontag. Paris representou uma grande transformao, mudanas no s pessoais, mas acima de tudo no que ouvia, via e lia. O contato com outras artes, com outras peras, com outro cinema e com outra literatura. A presena de Paris foi to forte em sua vida que Susan foi enterrada no Cemitrio de Montparnasse. Paris representou, mesmo que involuntariamente a primeira aproximao, o primeiro contato com Benjamin. Em 1963 comea sua carreira de escritora com o livro O Benfeitor. Livro pouco badalado e repleto de subjetividades e idiossincrasias de uma personagem complexa como Hiplito (narrador do romance). No romance Hiplito tenta viver atravs de seus sonhos, que em geral so pesadelos, e onde ele dominado e torturado:Seus sonhos so a arte que ele faz da sua vida, e seu desejo fazer sua vida se conformar ao imediatismo e sensualidade de sonhos. Assim como a idia de arte de Sontag, os sonhos de Hiplito so auto-suficientes, o que significa que, como Sontag, fantasia ser, ele mesmo, auto-inventado. No quer esgotar a explicao do prazer e da dor de seus sonhos, mas se tornar mais consciente deles7.Esse um romance mental e intelectual. Como ela mesma afirma em 1963 durante a escrita do romance: minha escrita de fico sempre sobre dissociao eu e isso.8No ano de 1966 Sontag organiza vrios de seus ensaios numa coletnea intitulada Contra a Interpretao (que s foi publicado no Brasil na dcada de 1980). Esse seria um dos mais famosos livros da autora onde tece consideraes sobre a sua idia de arte e de interpretao. Sontag aponta para a assertiva de que para sua gerao a interpretao um projeto em grande parte reacionrio. Segundo Susan:

Nossa tarefa no descobrir o maior contedo possvel numa obra de arte, muito menos extrair de uma obra de arte um contedo maior do que j possui. Nossa tarefa reduzir o contedo para que possamos ver a coisa em si (...) A funo crtica deveria ser mostrar como que , at mesmo que que , e no mostrar o que significa.9

nesse livro que a autora rene famosos ensaios sobre Artaud, Sartre, Camus, Lukcs e as comentadas Notas sobre Camp10.Em 1967 Susan Sontag volta a escrever romance e publica seu primeiro romance traduzido em portugus: Morte em questo, pautado por uma forte influncia surrealista e at identificado, em seu estilo, como neobarroco. Mais uma vez Sue se mostra uma escritora bastante influenciada pela filosofia e uma preocupao em analisar criticamente a sociedade a qual est inserida. Diddy, o narrador de Death Kit, habita seus prprios sonhos. Os acontecimentos marcados no livro so alucinaes no final da vida do prprio Diddy que narra o livro em terceira pessoa. Sontag o apresenta como um romancista fracassado, que perde o manuscrito de sua fico sobre um Menino-Lobo, uma narrao na primeira pessoa a respeito de uma criatura hirsuta que se esquiva da sociedade, mas anseia por companhia humana aps saber que descendente de macacos. Diddy comea a recuperar a histria atravs de seus sonhos. Segundo Rollyson e Paddock:

a histria obviamente um comentrio sobre a prpria alienao de Diddy em relao sociedade e a sua natureza animal, seu instinto de sobrevivncia. O sonho de morte de Diddy uma tentativa de repetir sua vida e acert-la na segunda vez. Sua tragdia, como a nossa, no haver uma segunda chance11.

Em 1969 apresenta seu primeiro livro de relato jornalstico, escrito em forma de dirio, Viagem a Hani que ter certa continuidade com a publicao em 1969 de Vontade Radical. Sontag tinha sido convidada pelo governo do Vietn do Norte a fazer uma viagem ao pas a fim de analisar e compreender a conjuntura daquela sociedade. Esse um ensaio pautado por uma grande influncia das obras de G. Lukcs e conseqentemente Hegel, partindo da idia de que o problema da histria ainda um problema da conscincia. Assim, Sontag vai tecendo dia por dia uma anlise de como uma sociedade se comporta mediante contnuas, sucessivas guerras por liberdade. A temtica da guerra aprece pela primeira vez em seus escritos e jamais abandonar sua literatura. At prximo da morte em 2004, Susan j tinha deixado escritos sobre a Guerra no Iraque e as torturas na priso de Abu Ghraib. Efetivamente o tema da guerra permeava seus escritos e estava intimamente ligado a dois eixos que norteavam suas reflexes: a metfora e a dor.Em Vontade Radical, uma reunio de ensaios, assim como Contra a Interpretao, Susan retomar suas discusses de esttica e continuara apresentando aos leitores autores e cineastas que marcaram sua forma de interpretar o real.A dcada de 1970 marca a estria de Sontag no cinema como diretora, atravs das pelculas Duets for cannibals e Brother Carl. O prximo trabalho da autora, escrito em 1977, Sobre Fotografia, ser um dos mais importantes de toda sua carreira. atravs desse trabalho que Susan passa a ser conhecida e reconhecida internacionalmente. Esse trabalho que serviu de base para um relevante texto escrito pelo importante terico francs e amigo da escritora, Roland Barthes, A Cmara Clara, retrata que seus estudos sobre interpretao, camp e indstria cultural, no tinham se esgotado em Contra a Interpretao e que agora seus olhos estavam voltados para outro tipo de arte: a fotografia. Sontag afirmava que as fotografias chocam na proporo em que mostram algo novo12e que isso aconteceu com ela pela primeira vez em 1945 em Santa Mnica, numa livraria quando topou com as imagens de dois campos de concentrao nazistas de Bergen-Belsen e Dachau. A partir da a fotografia se torna uma preocupao decorrente incluindo ai anlises de imagens e quadros sobre guerra. Cresce sua admirao pelas obras do pintor espanhol Francisco Goya e seu interesse em aprofundar estudos sobre imagem. Ainda no ano de 1977 escreve o texto mais relevante de sua carreira como ensasta: A doena como metfora. Tanto esse livro como A Aids e suas metforas, escrito dez anos aps o primeiro, tem como principal caracterstica apontar o uso da doena como um smbolo, como uma metfora. Como a mesma diz na nota de introduo a edio de 1988: Meu tema no a doena fsica em si, mas os usos da doena como figura ou metfora.13Sua inteno foi mostrar como o Cncer, a Tuberculose, a Lepra e a Aids se tornaram doenas historicamente metaforizadas e como este tratamento social personificava e personifica, no caso do Cncer e da Aids as pessoas vitimadas uma a uma. Estes so textos que em muito esto expressos na prpria biografia da autora que passou mais de trs vezes pelo cncer, um deles responsvel pela sua morte.O prximo livro de Sontag ser I Etcetera. Esta uma coletnea de contos em homenagem a Alfred Chester. Em seguida rene mais ensaios que daro base ao livro Sob o Signo de Saturno (1980), onde a autora escreveu ensaios fortes, impactantes, sobre os mais variados temas. Desde a esttica nazista at Walter Benjamin, esse, considerado por muitos, seu melhor ensaio.14Neste texto encontramos uma forte discusso sobre os filmes de Leni Riefenstahl e uma critica a uma mulher que primeiro tinha sido uma artista de cinema e depois se transformou numa propagandista do Terceiro Reich. Alm desse ensaio, O Fascinante Fascismo, encontramos uma leitura da obra de Elias Canetti, Paul Goodman, Artaud, Barthes e Syberberg.Uma novela sobre amor, amizade e solidariedade no mundo contemporneo de Nova York. Essa a histria de Assim vivemos agora publicado em 1991 e foi provavelmente uma das primeiras obras de fico sobre AIDS. Essa novela, com aparncia de ser escrita a um s flego, trata da metfora social dos ltimos momentos da vida de um portador do HIV. Sua anlise esta repleta de um inquietante medo, de uma agonia e melancolia profunda. O problema em si para Susan no estava apenas no vrus, mas no tratamento que a sociedade dava aos seus portadores, julgando os mesmos culpados por contrair o vrus.No seu terceiro romance, O Amante do vulco (1992), Sontag nos coloca num grande mercado de pulgas como a mesma diz no prlogo. No sabemos onde vamos entrar, mas sabemos que este lugar misterioso e marcado pela pergunta central do por que entrar? O que queremos ver? O que estamos procurando? Sua narrativa realista pautada por personagens na fase histrica do romantismo no final do sculo XVII. Passado em Npoles, prximo a fantasiosa paisagem marcada pelo vulco Vesvio, a histria conta com dilogos ricos e envolventes como um dialogo entre a personagem do livro Hamilton e o escritor alemo Goethe, uma das inmeras influncias dela que tambm a aproxima a Benjamin. Duas caractersticas tambm marcam esta obra. Os personagens principais do romance narram suas mortes em flashback avaliando elas mesmas suas vidas, seus atos, suas aes durante a vida. A outra est remetida pessoalidade que a autora impe ao texto chegando a ponto de se incluir formalmente no texto em suas ltimas linhas quando fala da que as mulheres se enganam mentindo para si sobre a dificuldade de ser mulher. Esse um romance onde a autora no est pensando apenas na dissociao do eu e isso, como em seu primeiro romance, mas est voltada para uma complexidade de uma vida real de personagens que mais que sonham; vivem. Fazer as personagens narrarem sua prpria vida quando de suas mortes sair do eu e isso para entrar num mundo do eu fui isso. Esse romance ser uma grande inspirao para a produo ensastica e desperta em Susan quase que uma obrigao de continuar a escrever romances. Em 2000 lana Na Amrica, inspirado na atriz polonesa Helena Modjeska que emigra para os Estados Unidos para fundar uma comunidade nos moldes do socialismo utpico. Esse um texto que trata da dualidade de uma imagem da Amrica versus uma realidade da Amrica. Sem perder suas influncias Susan nos trs para o mundo dos palcos do teatro do fim do sculo XIX. um romance escrito com a imagem de variados ensaios onde as tessituras dos captulos nos revelam mundos particulares. Questo de nfase (2001) uma reunio de textos escritos durante as ltimas duas dcadas do sculo XX15. O livro foi pensado pela autora em trs partes: ler, ver e l e aqui. Na primeira, ela d continuidade a um hbito que escrever sobre livros e autores. Nessa parte encontramos ensaios sobre Machado de Assis, cujo Sontag tinha feito na dcada de 1960 o prefcio de um dos seus livros prediletos, Memrias Pstumas de Brs Cubas, Juan Rulfo e seu brilhante texto Pedro Pramo, Roland Barthes e Jorge Luis Borges. Na segunda parte, ver, Susan trs ensaios sobre cinema, sobre o clssico filme de Fassbinder, Berlin Alexanderplatz e continua seu ensaio sobre a interpretao e sentido da fotografia. Na ltima parte, Susan escreve sobre a experincia de suas viagens e da experincia de ter dirigido uma verso em teatro de Esperando Godot, de Samuel Becket em Sarajevo com a cidade em runas pelo desastre da guerra.Nos idos de 1810-20, o pintor espanhol Francisco de Goya lana a coleo As Desgraas da Guerra, uma forma de resistir luta contra os franceses. O nmero 36 intitulado Tampouco16mostra um soldado em uniforme, recostado e at descontrado contemplando um homem que acaba de perder a vida. Com essa gravura Goya questiona o sentido de matar que ser um dos temas do livro Diante da dor dos outros (2003) em que Sontag rene ensaios sobre os atentados de 11 de setembro nos Estados Unidos, as metforas construdas pela imprensa sobre o atentado e a relao de estar diante da dor dos outros sem reconhec-las e banaliz-las atravs de um cotidiano saturado de imagens que distanciam e tornam a dor indiferente a quem est vendo os acontecimentos pela mdia. Diante da dor dos outros representa uma crtica a sociedade burguesa que se senta com seu jornal para tomar caf-da-manh com uma enxurrada de horrores do mundo a sua frente. Sontag nos aponta o poder das palavras e a fora das imagens em ensaios onde consegue transitar pela interpretao de fotografias representando uma continuao de suas idias apresentadas em sobre fotografia (agora ampliada devido sua relao com a fotgrafa Annie Leibovitz) e suas anlises de guerra iniciadas desde sua viagem ao Vietn na dcada de 1960. Quando ocorre o 11 de setembro Susan estava em Berlim e de l teceu seus comentrios sobre o atentado mostrando a importncia de chorar a dor com as vtimas e familiares norte-americanos, mas que no podiam pensar que o ocorrido no tinha sido fruto de uma poltica externa agressiva que s pensava em seus prprios interesses17. Por isso, foi duramente criticada e passou a fazer parte do grupo de pessoas no gratas do governo George Bush (filho).Nos ltimos anos de vida, Sontag vinha organizando mais uma srie de ensaios que ainda no tinham data certa para publicao. Organizado postumamente por seu filho, David Rieff, que concluiu e corrigiu alguns dos textos, Ao mesmo Tempo, uma reunio de textos sobre literatura, fotografia e discursos da autora em premiaes internacionais. Sem perder o carter analtico de sua prpria condio de intelectual numa sociedade que no aceitava e escrevia como uma forma de resistir. Susan foi uma das mais destacadas crticas do governo Bush e das invases do Afeganisto e Iraque e nesses ensaios reafirma a idia de que literatura liberdade da coragem e resistncia que deve estar atrelada ao ofcio de escritor e do rtulo de intelectual. No primeiro ensaio, intitulado Uma discusso sobre a beleza, Sontag faz uma anlise sobre o que o interessante e o que nos chama a ateno:

O que interessante? Sobretudo aquilo que, previamente, no foi tido como belo (ou bom). Os doentes so interessantes, como Nietzsche assinala. Os cruis tambm. Chamar algo de interessante implica desafiar antigas normas de elogio; tais julgamentos desejam ser insolentes ou pelo menos engenhosos. Especialistas no interessante cujo antnimo o chato gostam de estardalhao, no de harmonia. O liberalismo chato, declara Carl Schmitt em O conceito do poltico, escrito em 1935. (No ano seguinte, aderiu ao partido nazista) Uma poltica guiada por princpios liberais carece de drama, tempero, conflito, ao passo que uma poltica autocrata forte e a guerra interessante18.

Essa anlise de algo subjetivo e indeterminante como o interessante ns remete a obra da prpria autora, to simplesmente tratadas aqui neste tpico. Se o dualismo presente entre o julgamento inevitvel de uma obra, de uma produo, de um (a) autor (a) est presente neste texto ento preferimos apontar os escritos de Susan Sontag como pensamentos interessantes que transitam por espaos e labirintos onde nos perdemos-nos mais variados caminhos e com a certeza de que a nica resposta encontrada a dvida deixada por esta autora to plurvoca e multifacetada.19Nesta parte do texto nossa inteno foi mapear a bio-bibliografia da autora apontando para suas mais diversas influncias e como se deu produo dos seus escritos, se no a todos, ao menos o que conseguimos catalogar at ento nesta difcil arte de colecionar. Como a mesma apontou no romance O Amante do vulco, uma coleo completa uma coleo morta20e definitivamente esta uma coleo que comea e terminar incompleta.Na prxima parte entraremos numa discusso sobre a leitura que a autora faz de Walter Benjamin atravs de uma anlise do texto Sob o Signo de Saturno e faremos uma abordagem sobre o conceito benjaminiano de alegoria para melhor entender a idia de metfora em Sontag mostrando com isso influenciou no s seus textos sobre doena, mas, tambm sua prpria idia de arte, fotografia e guerra.

2.0 Entre alegorias e metforas: sob o signo de saturno benjaminiano

Nasci sob o signo de Saturno o astro de revoluo mais lenta, o planeta dos desvios e das dilaes (...)21, assim dizia Walter Benjamin em um de seus textos. Esta era a definio encontrada por Benjamin para si mesmo e a forma de como Susan o interpretar. Para ela, Benjamin era um indivduo num eterno exlio, parafraseando Todorov, um homem desenraizado, um frankfurtiano parisiense, um homem numa constante procura de um eu encontrado nas artes de andar de conhecer e reconhecer as cidades e as pessoas que encontrava. Sob o Signo de Saturno, ensaio que d ttulo ao livro, foi escrito e publicado em 1978 e at hoje considerado o texto mais significativo de Sontag sobre um escritor. Com uma caracterstica muito prpria de um ensaio, Susan vinha h bastante tempo estudando os pensadores da Escola de Frankfurt e nos ltimos anos da dcada de 1960 comea a se aprofundar nas obras de Walter Benjamin (1892-1940), em especial a Origem do Drama Barroco Alemo, sua tese de livre docncia. Como de costumes em seus ensaios sobre grandes escritores como Benjamin, Canetti, Artaud, Barthes, Susan, que adorava biografias, mesmo nunca autorizando uma biografia sua (a nica que existe no autorizada), sempre procurava ligar o contexto da vida dos autores a suas respectivas produes dando sempre um carter mais pessoal possvel s obras. Outra caracterstica importante na forma dos ensaios de Susan, em que ela apresenta autores a apropriao que ela faz das teorias do mesmo. Sontag, mais do que fazer exaustivas citaes e notas, ela se apropriava dos atores transformando o texto num grande dilogo-monlogo, em que dava voz e falava com os autores. Mais do que um ensaio sobre Walter Benjamin, Sob o Signo de Saturno a forma como Susan se enxergava em Benjamin, a forma de como se lia nele. Mais do que ler um autor, ela acreditava que era possvel se ler num autor e foi por isso que fez tanta questo de escrever sobre variados autores durante sua carreira.Sontag afirmava que A Origem do Drama Barroco Alemo (1928) e Paris, a capital do sculo XIX, so obras que s podem ser plenamente entendidas desde que se compreenda at que ponto se baseiam na teoria da melancolia. E esta melancolia atrelada a Benjamin ser um dos pontos importantes e destacada em sua obra, mesmo pessoalmente ter tido uma concepo de vida diferente de Benjamin no que tange a vida, salvaguardando que ambos viveram contextos e tempos com conjunturas diversas.Para ela, Benjamim se projetava em todos os seus principais temas com seu temperamento determinando sua escolha. E isso no foi diferente com ela. Susan tambm se identificava por seus escritos. Acreditava que a cincia era uma forma de alienao da sensibilidade e por isso preferia os ensaios aos escritos acadmicos. Afirmava em seu dirio que a mente uma prostituta que se vende ao pensamento e a interpretao.22Deixou claro que a linguagem era o nexo entre a sensao e o mundo e isto consistia num ato de resistncia e liberdade23. A forma que Susan e Benjamin encontraram de transformar a melancolia em experincia foi escrita, muitas vezes aproximada de um surrealismo do qual ela foi se afastando ao longo dos tempos.Outra ligao importante entre eles est no romantismo e nas obras do escritor alemo J. W. Goethe, o qual a expresso da melancolia que os unia. Susan dizia que chorou muito ao ler Os sofrimentos do jovem Werther e que a considerava uma das principais obras de todo o sculo XVIII. to latente a importncia de Goethe em sua formao que O Amante do Vulco, o romntico alemo aparece como personagem com dilogos feitos pela prpria autora atravs de uma vasta pesquisa sobre o autor. Susan afirmava que No se pode interpretar a obra a partir da vida. Mas, pode-se, a partir da obra, interpretar a vida.24E isso serviria tanto para Goethe como para Benjamin. Ela considerava Rua de mo nica o livro de cunho discretamente autobiogrfico de W. Benjamin.O autor alemo tinha na viso de Sontag, uma relao especial com as cidades. Segundo ela, era uma espcie de sensibilidade fantasmagrica. Depois dos estudos de alegorias presentes no Origens do Drama Barroco Alemo, as cidades foram sua principal metfora, sua principal alegoria: As metforas recorrentes de mapas e diagramas, memrias e sonhos, labirintos e passeios cobertos, vistas e panoramas, evocam certa viso de cidades, bem como certo tipo de vida. Paris, escreve Benjamin, ensinou-me a arte de me perder.25E foi assim que Paris representou para ambos o refugio de um exlio para Benjamin26e da liberdade para Susan. Se um labirinto onde as pessoas se perdem, Paris representou o lugar onde Benjamin e Susan se perderam diversas vezes.Tanto Benjamin quanto Sontag tinham uma maneira analtica de interpretar o passado. Para Susan o trabalho da memria faz o tempo desmoronar e para Benjamin a histria o que renasce deste desmoronamento para mostrar um passado no tal qual foi, mas que poderia ter sido. O passado como um sonho de possibilidades. A filsofa e ensasta americana nos remete idia de que a memria, encenao do passado, transforma o fluxo dos eventos em quadros. Benjamin no pretende recuperar seu passado, mas compreend-lo: condens-lo em suas formas espaciais, suas estruturas premonitrias.27Ela afirmava que na obra de Benjamin as idia e as experincias s podiam ser vistas como runas.Compreender alguma coisa compreender sua topografia, saber como mape-la. E saber como se perder.28Assim era a viso de interpretao de Susan e foi desta forma que construiu a maioria de seus textos. Sempre fazia uma grande pesquisa biogrfica para mapear o autor que estudava tentando entender seus caminhos e se perdendo em suas idias e chaves de compreenso. Para ela o eu era um texto que necessitava de decifrao e a melhor forma de faz-lo era buscando no outro o entendimento de si. Por isso a escrita sobre o outro representava a escrita de si.Quando Sontag aponta para a idia de que Benjamin tinha a tendncia de ir contra a interpretao corrente se aplica veementemente prpria. Ambos foram pensadores marcados pela singularidade de seus pensamentos e pela escrita ensastica sobre outros autores, inclusive em comum como o exemplo de Kafka. Para ambos o conhecimento humano sempre assume a forma de interpretao, para Benjamim atravs da alegoria e para Susan atravs da metfora. Se ela mostra que uma das influncias do surrealismo na obra de Benjamin a predileo pelo pequeno fazendo com que os objetos sejam apreensveis e transformando Paris num mundo pequeno, para ela no foi diferente. Enquanto Benjamin tentava tornar o mundo porttil, visto que representava a forma ideal de um nmade refugiado em possuir as coisas, Susan transformava-lo num mundo de sentidos metafricos onde sua preocupao era mais mostrar que que do que o que significa. Num de seus famosos contos, inclusive utilizado por Sontag, Wilhelm Meister, Goethe reduz o mundo a um objeto colecionvel mostrando que sempre estamos juntando runas que no se completam e este talvez seja o sentido dado histria por Benjamin e assimilado por Sontag. Ela acreditava que como a caixa do conto de Goethe, um livro no apenas um fragmento do mundo, ele prprio um pequeno mundo. O livro uma miniaturizao do mundo, que o leitor habita.29E durante algum tempo foi nas Passagens de Benjamin que Susan habitou. Ambos acreditavam que pensar era uma forma de colecionar em outro estgio. Da a idia de que o passado estava se tornando obsoleto em seu tempo implicando na assertiva de que o presente estava produzindo antiguidades instantneas e isso seria um convite aos colecionadores30. O mundo seria como um livro: um espao no qual se pode caminhar sem pretenses apenas no ato de observar, ou nas palavras do prprio Benjamin, perambular. Tanto Sontag como Benjamin se constituram como argutos pensadores dos seus respectivos tempos presentes. Viam a realidade social e poltica em que viveram se aproximando na distncia, reunindo em forma de fragmentos, runas as imagens, os dados para interpretaes dos acontecimentos relevantes as suas temporalidades: compreender o mundo v-lo fora dos sentimentos prprios da pessoa. Essa a diferena natural entre compreender e agir (...).31Se para Susan estamos sempre atrasados em relao a ns mesmos ento devemos perceber que o que est errado no somos ns e sim a busca incessante de nos adiantarmos ao nosso tempo: No tempo, somos apenas o que somos: o que sempre fomos. No espao, podemos ser outra coisa.32Da a importncia dada por ela e Benjamin s cidades que transitavam, parafraseando o prprio, as passagens que marcaram suas vidas e obras.Para aprofundar o estudo sobre a leitura de um autor por outro, sempre difcil e perigosa, necessitamos ampliar as discusses sobre os conceitos de alegoria e metfora identificando os campos de aproximao entre eles e o tratamento dado tanto por Benjamin quanto por Susan aos respectivos conceitos.

2.1 Walter Benjamim e a alegoria

O conceito de alegoria trabalhado pela primeira vez por Walter Benjamin na sua Tese de livre docncia intitulada de: Origem do drama Barroco Alemo. Os objetos de estudo de Benjamin nesse profundo trabalho so peas escritas por autores alemes, muito pouco conhecidos do sculo XVII. Seus objetivos consistiam em revisar o conceito de barroco, retirar o foco de poca de decadncia em relao ao sculo XVII e salvar o conceito de alegoria das perverses efetuadas pelos romnticos.Refletir sobre o conceito de barroco significava romper com a dicotomia realizada pela crtica esttica que vigorava na academia alem no perodo de Benjamin: a oposio entre tragdia clssica e drama barroco. Era quase consenso, que ambos compunham universos distintos. A tragdia agia por meio da piedade e do terror, efetuando por meio dessas aes a chamada catarse purificadora. O drama barroco, por sua vez, encenado em um palco, em que se configura, por meio do jogo dialtico entre platia e atores, como um espao interno de sentimentos. Essa dialtica ocorre devido aos traos caractersticos da platia, homens inseguros e condenados a uma reflexo eterna sobre os insolveis problemas do Cosmo. Estes antagonismos paradoxais, como salvao e condenao, luz e trevas, morte e vida, dignificam as leituras que a platia realiza sobre o que est ocorrendo no palco, que no passa de uma imagem espelho do que ocorre no subjetivo de cada espectador. A forma como encenada a pea ento uma tentativa de correspondncia das expectativas queles seres tristes e melanclicos. A fugacidade de mundo, a impossibilidade dos seres agirem frente irreversibilidade da histria, a morte e a degenerescncia dos grandes valores, outrora tidos como absolutos; so essas as caractersticas que configuram esse negativismo frente ao mundo. Tal trao do Barroco pautado na melancolia, na tristeza perene, na presso do universal sobre o particular que a gentica barroca que se apresenta viva e atual aos olhos de Benjamin.Os conflitos barrocos so presentes e fortes na sociedade burguesa do sculo XX devido opresso do capital dignificando a fora do universal sobre o particular. Aqui reside a atualidade do Barroco, nesse universalismo, em que retratado o individuo como uma incapacidade de curar-se das continuas retalhaes referentes organizao da sociedade de massa. A representao de mundo turva e difusa, tal como no Barroco, apesar das foras em questo serem diferentes. Assim, diz Benjamin acerca dessa realidade; cada pessoa, cada coisa, cada relao pode significar outra coisa33. Nesse mundo plural e de difcil apreenso, os indivduos se apequenam frente realidade histrica34que se ergue sobre eles; um sentimento de extrema fragilidade que toma seus corpos e espritos. Sentimentos dilacerantes e dialticos, pois a fragilidade associa-se culpa. O sentir-se frgil um pesar, uma culpa que o ser carrega em sua alma atormentada. Nesse turbilho de sombras e vultos, Benjamin denota que aquela harmonia de outrora do classicismo, ausente de contradio, bem elucidada no smbolo no capaz de objetivar a interioridade do indivduo na realidade, tampouco alter-la. Para podermos nos expressar, recorremos alegoria. Dizemos uma coisa sabendo que ela significa outra. Remetemos-nos com freqncia a outros nveis de significao distintos daquele em que situamos35.A alegoria36surge nesse cenrio, como a melhor forma que o indivduo tem para se expressar devido ao seu potencial negativo melanclico. O empreendimento de Benjamin de efetuar o pensamento mediante alegorias diretamente influenciado pelas alegorias de Baudelaire as quais, por abrirem-se com a possibilidade de imagens dialticas, sero marcantes para o pensamento crtico daquele. Tais imagens carregam dentro de si os desejos na forma onrica e, assim, denotam que o pensamento alegrico de Baudelaire no se restringe a um modelo temporal, abrindo margem inclusive a um elemento espacial. Essa potencialidade de acesso aos sonhos bem teorizada nas Passagens em uma parte referente ao flneur, dentre outras.Para pensarmos a verdade, a alegoria mostra-se ento como a melhor forma de nos expressarmos, pois ela exprime uma dialtica de certa forma ambgua sobre as contradies de mundo permitindo acesso inclusive ao mundo dos sonhos (coisificado e reificado) de forma fragmentada. Sendo assim, pelo desfecho histrico das foras produtivas e o aprofundamento da ordem burguesa, resta-nos, segundo Benjamin, recorrer ao ruinoso, ao antidiscurso, ao opaco como ao de resistncia onipotncia do capital e da reificao, salvando o particular das garras do universal. Contudo, Benjamin precisa antes resgatar a alegoria das concepes romnticas.Goethe, o mais destacado escritor do romantismo alemo, figura que captava de forma estrelar a admirao e apreo de Benjamin, defendia de forma categrica a superioridade do smbolo em detrimento da alegoria. Qual seria o motivo dessa postura de Goethe? Para o poeta o smbolo , acima de tudo, uma representao superior, pois possvel percorrer do particular em direo ao universal de forma clara, bela e plstica, o que confirma seu carter divino. A alegoria pobre, pois segue o caminho inverso, tornando-se obscura e de difcil leitura. Benjamin, porm, compreende que essa argumentao de Goethe datada temporalmente. A fuso smbolo-alegoria, que os romnticos efetuaram tende historicamente a sua dissociao que ocorre devido hegemonia da classe burguesa no sculo XIX. A Tcnica e a mercantilizao da vida reivindicam seu espao como as responsveis historicamente pela imposio dissociativa. O recurso de utilizao da alegoria em detrimento do smbolo reflexo direto das mudanas sociais que se imputaram do sculo XIX e permanecem at os dias de hoje, entendendo-se a uma reificao da vida humana, uma fantasmagorizao das relaes e uma fetichizao acerca da mercadoria. Essas questes que tornam a dor e a sangria da vida constante.O que fica bem delineado, todavia, acerca da Histria por meio das alegorias, que se configura no como processo de uma vida eterna, mas de uma decadncia inevitvel37. Essa breve passagem j demonstra que Benjamin detinha um repudio imenso aos postulados historicistas e hegelianos, de progresso infinito. O drama barroco traz exatamente isso: a corruptibilidade, a finitude e o sofrimento embutidos no processo histrico.

2.2 Alegoria e imagens dialticas

Pela alegoria, tal como Benjamin a trabalha, entendemos o representar das experincias de sofrimento humano como linguagem por meio de distintos nveis de expresso, explicitando as contradies de mundo. Esse potencial da alegoria se desdobra em Benjamin assim como em Baudelaire no conceito de imagem dialtica que consiste nos momentos breves de tempo, em que o ocorrido e o agora se encontram. So fenmenos por sua vez associados conscincia. A imagem dialtica e a alegoria so, assim, faces distintas de uma mesma moeda. Ambas se caracterizam como vitais forma como o pensamento de Benjamin se realiza, livre das amarras limitantes de uma forma de conhecimento representacionista. o meio em que Benjamin encontrou para reorganizar suas constelaes, dando um novo poder de navegao csmica. Ver as estrelas claramente evitando qualquer nebulosidade, possibilitando um olhar agudo em direo s partes mais negras da galxia. Dessa forma, Benjamin organiza suas estrelas (fatos) a partir de uma montagem empreendida pelas alegorias e imagens dialticas.Tal como uma paisagem surrealista, a alegoria e as imagens dialticas formam um verdadeiro panorama histrico, possibilitando a Benjamin acessar o lado da Histria no mostrado pela fbula historicista do era uma vez. por meio de fragmentos representados de um lado na esttica como as imagens dialticas, ou do outro no plano histrico como alegorias, que Benjamin forma seu mural da Histria. Olgria Mattos chama a ateno para esse objetivo comum desses dois conceitos:

O Barroco trabalha com o acidental, o efmero, o indeterminado o no redimido. Assim a imagem dialtica que, no Barroco e no Surrealismo, aproxima-se da esttica, protesta contra o terrorismo intelectual da objetividade caracterizante ou da continuidade histrica38.

Essa tcnica de montagem39que foi o eixo do trabalho mais profundo de Benjamin - as Passagens. Nesse trabalho que visava analisar os ambientes populares de consumo do sculo XIX, cujo nome d o titulo do livro, Benjamin queria evocar a histria em ordem de despertar40os leitores para isso41. Abordar uma histria coletiva que se esqueceu na narrativa histrica, mas que na imagem das passagens possvel acessar. Esses ambientes de consumo representam aos olhos de Benjamin a replica da conscincia interna do coletivo entendido em seus sonhos. Alm desse aspecto, as passagens eram elementos centrais de estudo, pois era possvel encontrar nelas todas as falhas e chagas da sociedade burguesa, como o comodismo, o fetichismo, a reificao, a moda, prostituio e os jogos.Com esse magno trabalho, Benjamin desejava desmontar a idia mtica de que a histria caminhava rumo ao progresso infinito. A crtica de Benjamin a uma histria linear e progressista abre margem a uma viso de histria e de tempo fragmentados, em que o papel das alegorias e das imagens dialticas como runas essencial. Para a introduo das Passagens, Benjamin trabalhara na escrita de uma srie de Teses sobre o conceito de Histria. Esse escrito tido por muitos como a jia prima do sculo XX, fica bem evidente como imagens dialticas e alegorias agem em plena harmonia a fim de construir um quadro alarmante sobre a lgica da Histria, reordenando as estrelas da galxia histrica. A idia de histria como construo fica bem explcito em sua primeira tese:

Como se sabe, deve ter havido um autmato, construdo de tal maneira que, a cada jogada de um enxadrista, ele respondia com uma contrajogada que lhe assegurava a vitria da partida. Diante do tabuleiro, que repousava sobre uma ampla mesa, sentava-se um boneco em trajes turcos, com um narguil boca. Um sistema de espelhos despertava a iluso de que essa mesa de todos os lados era transparente. Na verdade, um ano corcunda, mestre no jogo de xadrez, estava sentado dentro dela e conduzia, por fios, a mo do boneco. Pode-se imaginar na filosofia uma contrapartida dessa aparelhagem. O boneco chamado Materialismo histrico deve ganhar sempre. Ele pode medir-se, sem mais, com qualquer adversrio, desde que tome a seu servio a teologia, que hoje, sabidamente, pequena e feia e que, de toda maneira, no deve se deixar ver42.

A retratao alegrica como imagem, na passagem acima, rica em um sentido de chamar a ateno para o pequeno como parte essencial da formulao histrica. A alegoria do ano corcunda, permite uma pluralidade imensa de significados. A expresso alcana uma srie de sentidos. O ano como a teologia, deve ser imperceptvel, contudo, o que d vida e funcionalidade a todo o aparato. A prpria representao da teologia, como pequena e feia muito bem construda em torno da figura do ano. A deformidade do ano nos chama a ateno para a prpria lgica da histria, o do esquecimento dos vencidos pelos vencedores e tambm evoca mente a questo do homem moderno, que carrega sobre suas costas o peso do capital. A alegoria por meio da imagem dialtica capta a dor e o sofrimento do processo histrico de uma forma dramtica e potica. Em uma outra imagem, na tese IX, Benjamin ope ao ano a figura do Anjo da Histria, aprofundado nessa investigao sobre a Histria:

Existe um quadro de Klee intitulado ngelus Novus. Nele est representado um anjo que parece estar a ponto de afastar-se de algo em que crava o seu olhar. Seus olhos esto arregalados, sua boca est aberta e suas asas esto estiradas. O anjo da Histria tem de parecer assim. Ele tem seu rosto voltado para o passado. Onde uma cadeia de eventos aparece diante de ns, ele enxerga uma nica catstrofe, que sem cessar amontoa escombros sobre escombros e os arremessa a seus ps. Ele bem que gostaria de demorar-se, de despertar os mortos e juntar os destroos. Mas do paraso sopra uma tempestade que se emaranhou em suas asas e to forte que o anjo no pode mais fecha-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, para o qual d as costas, enquanto o amontoado de escombros diante dele cresce at o cu. O que nos chamamos de progresso essa tempestade43.

Nessa tese, talvez a passagem mais conhecida de Benjamin, podemos visualizar de forma citilar a viso que ele tem acerca do processo histrico. Catstrofe como a ordem da Histria, em que um nico evento repetitivo, cclico prende a ateno do anjo: Histria como runa. Aqui reside a atualidade do barroco na forma de sofrimento daqueles que tombaram expresso na alegoria dos escombros que crescem aos ps do anjo, levando-o diretamente ao futuro. A histria , portanto, na imagem retratada, a eterna vitria dos opressores sobre os oprimidos. Para romper esse continuum, as imagens e as alegorias clamam um lugar especial.Por meio dessas ferramentas, o esforo crtico deve direcionar-se ao passado a fim de reordenar as constelaes, re-iluminar o presente e salvar definitivamente o passado, mediante a redeno:O passado leva consigo um ndice secreto pelo qual ele remetido redeno. No nos afaga, pois, levemente um sopro de ar que envolveu os que nos precederam? No ressoa nas vozes a que damos ouvido um eco das que esto, agora, caladas? E as mulheres que cotejamos no tm irms que jamais conheceram? Se assim , um encontro secreto est marcado entre as geraes passadas e a nossa. Ento fomos esperados sobre a Terra. Ento nos foi dada, assim como a cada gerao que nos precedeu, uma fraca fora messinica, qual o passado tem pretenso. Essa pretenso no pode ser descartada sem custo44.

Redimir o passado significa cumprir as suas necessidades. Em uma histria que catstrofe, runa, a necessidade que se apresentava ao passado e que no foi respondida de fato a liberdade. Para realizar tal ao, o destino mtico que se apresenta como causalidade repetitiva, o retorno do sempre idntico, por causa do desenvolvimento das foras produtivas, deve ser explodido a partir de um instante no presente. o momento quando o contnuum histrico encontra o instante, o tempo presente, ou tempo de agora [Jetztzeit], o passado impregnado de presente. Nessa temporalidade que abarca passado-presente-futuro, as experincias so recolhidas frente ao passado mtico mediante as imagens e as alegorias e decodificadas como fora messinica revolucionria. tal como vimos acima, histria como construo (montagem) recolhendo dessa forma as imagens dos oprimidos, o salto do tigre em direo ao passado, como temporalidade passado-presente.No instante do Jetztzeit, a problemtica entorno do mito deve ser conciliada para assim libert-lo. Para tratar, no entanto, com o mito necessrio retornar ao seu momento inicial, ao pr-histrico. Habermas elucida bem essa questo:A transformao do moderno no pr-moderno tem em Benjamin, um duplo sentido. Pr Histricos so o mito assim como o contedo das imagens extradas do mito, e que precisam ser renovadas criticamente num outro presente, por assim dizer antecipado, e tornadas legveis, para que possam ser preservadas para o verdadeiro progresso, sob a forma de tradio45A concepo histrica antievolucionista de Benjamin, segundo o qual o agora (Jetztzeit) se cruza com o continuum da Histria, no inteiramente cega com relao aos progressos na emancipao do gnero humano46.O pr-histrico o desenvolvimento do iluminismo [Aufklrung], momento em que se confeccionou a viso de que a histria consiste no progresso irrefrevel. Essa construo burguesa ocasionou na exploso do relgio histrico, j que no existe possibilidade de mudana devido posio final da burguesia. Voltar a essa pr-histria retornar ao instante em que o mito tornou-se a ordem histrica. Para libertar o mito necessrio reconcili-lo no presente em questo e transform-lo em tradio, ou seja, resgatando os sonhos fossilizados e necessidades dos oprimidos, formando uma fora messinica poderosa. Recolher, portanto, as imagens e suas experincias possibilitam no presente impregnado de passado, juntar o material explosivo para acabar com o continuum histrico. Cabe, assim, prpria humanidade o papel messinico da transformao; somente os homens podem mudar sua prpria sorte e felicidade [Glck]. Portanto, rememorar o passado, sem distino entre o pequeno e o grande e redimir o presente partindo ento para o passado, so as aes necessrias no breve instante passvel de mudana que se abre. Ao redimir o passado, cumprindo as suas necessidades, se possibilita humanidade uma nova etapa. Certamente s a humanidade redimida cabe o passado em sua inteireza. Isso quer dizer: s a humanidade redimida o seu passado tornou-se citvel em cada um dos seus instantes47. A histria como construo, mediante alegorias e imagens dialticas tem como intuito de Benjamin a abertura da histria, a possibilidade de mudana.

2.3 Breve comentrio sobre as metforas do cotidiano sob a tica de Susan Sontag e algumas consideraes finais

George Lakoff e Mark Johnson, no livro Metforas de la Vida Cotidiana,expressam a idia de que La metfora es principalmente una manera de conceber una cosa en trminos de otra, y su funcin primaria es la comprensin.48Apresentam as configuraes das metforas atravs da modificao do cotidiano, entendem-na como algo alm da imaginao potica. Assim, metfora no estaria meramente nas palavras que usamos, mas em nossos conceitos e discusses. A linguagem da discusso no seria potica, imaginativa ou retrica e sim literal. Quando falamos ou tratamos de qualquer tipo de discusses seria porque as concebemos dessa maneira e atuamos segundo a forma em que percebemos as coisas.49Expressam a opinio de que nossos conceitos estruturam o que percebemos, como nos movemos no mundo, a maneira em que nos relacionamos com outras pessoas. Assim, nosso sistema conceitual desempenha um papel central na definio das nossas realidades cotidianas, tornando-se base fundamental de nossa interpretao para afirmar que as formulaes de sistemas conceituais so por excelncia criadora de realidades cotidianas. Partimos da premissa que as idias so objetos que derivam em expresses lingsticas formando uma comunicao que um envio de mensagem que pode agir ou no de forma metafrica. nesse sentido, que expresses lingsticas so entendidas como um recipiente para significados.Outro ponto basilar, para entendimento do conceito de metfora est ligado importncia do lugar de fala e de quem fala. O significado no est na orao mesma tem muita importncia quem est dizendo ou exaltado sentena e quais so suas atitudes polticas e sociais. Por isso as falas no podem estar fora de um contexto em que as identifiquem e que tornem possvel a sua compreenso, deve se respeitar sua condio de produo e analisar suas possibilidades de sentidos. Por isso atos que poderiam ser considerados naturais se transformam em metforas.Essas idias, expostas acima, nos auxiliam uma compreenso mais globalizante do que vem a ser a concepo de metfora em Sontag e como a mesma tece suas aplicaes. Sontag parte da premissa bsica tratada no livro A Petica, de Aristteles de que as metforas consistem em dar a uma coisa o nome de outra, um deslocamento de sentido. Essa ser a idia central em A doena como metfora e AIDS e suas metforas. Nesses livros Susan mostrar o tratamento social dado a essa doena e vrus e aos portadores de ambas, deslocando sentidos e transformando-as em metforas sociais. Esse deslocamento, que envolve relaes de fora e poder, expostas primeiramente no mdico que diagnostica o paciente e em seguida pelos familiares e amigos, acaba por representar um dos primeiros passos para que algum que contraia o vrus HIV seja tratado como aidtico metaforizando a sndrome culpablizando o indivduo transformando-o em culpado pelo seu prprio estado de sade. O cncer tambm sofre este processo de metaforizao o tratamento social dado ao paciente que possui cncer transforma-o em vtima dessa proliferao anrquica celular que invade os tecidos se espalhando por vrios pontos do corpo. Essa dualidade referida entre o tratamento dado aos pacientes, que etimologicamente significa sofredor, que possuem ou contraem estas doenas transformam a doena numa metfora social onde o outro, jamais pode ser entendido como parte de um eu ainda mais se este eu for coletivizado.Nos textos de Sontag podemos entender que as metforas representam um conceito transistrico, atemporal e sua aplicabilidade est pautada pelo prprio ato constitutivo de pensar:Sem dvida, impossvel pensar sem metforas. Mas isso no impede que haja algumas metforas que seria bom evitar, ou tentar retirar de circulao. Do mesmo modo, no h dvida de que pensar sempre interpretar. O que no impede que s vezes devamos ser contra a interpretao.50

nesse aspecto que a metfora, na obra de Susan, transpassa o mbito da doena para permear o campo das artes, do cinema, teatro, da guerra, das imagens, da imprensa. Sontag mostra que o que faz de um acontecimento uma metfora no apenas sua condio de existncia, mas sua condio de inteligibilidade, de se tornar dizvel atravs de interpretaes sociais que modificam o cotidiano trazendo o evento ou o prprio pensamento expresso em interpretao e conseqentemente em metfora para o dia-a-dia. A preocupao com o seu tempo presente e a forma peculiar de interpretar a sociedade em que viviam atravs de detalhes, das artes, do teatro, da literatura, fazem Benjamin e Sontag estarem muito prximos intelectualmente. Eles acreditavam na fora libertadora da literatura e como as metforas inseridas em cada obra poderiam servir politicamente como resistncia ao cerceamento das liberdades individuais e coletivas. Por isso, compreender a complexidade do real assumindo sua natureza alegrica, ou metafrica entender que por mais que o busquemos, ele se afasta de ns, mas nossa tarefa busc-lo incessantemente, para que essas alegorias-metforas no banalizem o cotidiano transformando o real em algo natural, dado, acabado. Pensar e escrever so fundamentalmente questes de resistncia.51Walter Benjamin pesquisou e escreveu A Origem do Drama Barroco Alemo em dois anos e parte da obra foi escrita em longas noitadas, sentado num bar, ao lado de uma banda de jazz. Sontag escrevia boa parte de seus textos em seu escritrio ao lado de suas anotaes, seus cadernos/dirios e sua biblioteca. Estavam ligados pela arte de observar. Um bom observador aquele que se preocupa com os detalhes. aquele em que o macro j est definido em sua mente. A historiadora norte-americana Brbara Tuchman no livro A prtica da histria, nos fala da importncia do detalhe corroborativo. Tuchman diz que um bom escritor aquele que toma para si as informaes e os detalhes referentes ao objeto que est se dedicando e transforma-os em perceptveis em seus textos. Tanto Benjamin quanto Susan o fizeram em sua obra. Ele quando de suas Passagens, cobertos de detalhes de um rico observador e ela atravs de seus romances e ensaios sobre autores que marcaram sua obra. Observadores e colecionadores. Assim podemos definir Benjamin e Sontag. Para ela a tarefa tica do escritor moderno no ser um criador, mas um destruidor um destruidor da interiorizao superficial, a idia consoladora do universalmente humano, da criatividade diletantstica e das frases vazias.52Um escritor seria um problematizador, um provocador, algum que incomoda que trs o caos ao invs da ordem.Neste texto, tentamos apresentar e problematizar algumas leituras e influncias da obra de Walter Benjamin nos escritos de Susan Sontag. Longe de terminar a discusso, este artigo se props a comear um debate sobre a plurivocidade de autores que formam um autor e como essencial conhecer suas fontes para adentrar no perigoso mundo do pensamento e da arte de interpretar. Tanto para Benjamin quanto para Sontag, no reino do pensamento, as alegorias so o que as runas so no reino das coisas , elas so destruidoras de idias, mas, tambm, criadoras e desafiadoras. As alegorias-metforas deixam em runas o campo do pensamento e nos delegam a tarefa de, como no angelus novus benjaminiano, recriar, repensar as possibilidades de nossos prprios objetos, de nosso passado e presente.

Bibliografia Consultada

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Pesquisador do Laboratrio de Estudos do Tempo Presente/UFRJ e mestrando em Histria Comparada pela UFRJ.3. SONTAG, Susan. Dirios (1947-1963). So Paulo. Companhia das Letras. 2009. p. 18.4. Os filmes nunca foram distribudos no Brasil. J os romances foram todos publicados no Brasil. O interesse pela obra de Sontag no Brasil aumenta depois da publicao em 1992 do Amante do Vulco, obra de maior destaque literrio da autora e tambm a predileta da mesma. Vide bibliografia.5. A Aids e suas metforas uma releitura feita por Susan 10 anos aps o lanamento da Doena como Metfora e, como mostraremos mais adiante, est claro que a maior influncia para escrita da obra do conceito de Metfora de Aristteles e de Alegoria de Benjamin que a prpria autora tambm intitulava de metfora. Ainda assim, ressaltamos a importncia de Sartre em seus ensaios.6. ABDALA, Vernica. Susan Sontag y el ofcio de pensar. Madrid. Campo de Ideas. 2004. p.44.7. ROLLYSON, Carl; PADDOCK, Lisa. Susan Sontag: a construo de um cone. So Paulo. Globo. 2002. p.898. SONATG, Susan. Op. Cit. p.3359. SONTAG, Susan. Contra a Interpretao. Porto Alegre. L&PM. 1987. p.23.10. Camp um conceito cunhado por Sontag num dos ensaios do livro Contra a Interpretao. A autora utiliza o conceito para referir-se a uma esttica ou sensibilidade associada. com este conceito que rompe as barreiras entre a alta e a baixa cultura que foi durante muito tempo o marco de uma definio particular de arte. A esttica camp aposta na capacidade de encontrar o duplo sentido abaixo das aparncias das coisas. O sentido camp est preocupado em perceber um sentido pblico e uma experincia privada na interpretao dos objetos e na forma de entender a arte. Ver: ABDALA, Vernica. Op. Cit. p. 119 e SONTAG, Susan. Contra a Interpretao. Op. Cit.11. ROLLYSON, Carl; PADDOCK, Lisa. Op. Cit. p. 144.12. SONTAG, Susan. Sobre Fotografia. So Paulo. Companhia das Letras. 2004. p. 30.13. SONTAG, Susan. A doena como metfora & Aids e suas metforas. So Paulo. Companhia das Letras. 2007. p. 11.14. No nos deteremos neste livro nesta parte, pois, o tpico que vem a seguir ser baseado especificamente sobre a leitura que Susan faz de Benjamin neste livro.15. Vale salientar que a edio no Brasil s foi publicada postumamente em 2005 pela Companhia das Letras. Vide bibliografia.16. Tambm encontramos esta gravura feita com gua forte e aquatina com o nome de Aqui tambm no. Ver: MARIE, Rose; HAGEN, Rainer. Goya. Madrid. Taschen. 2003 p. 59.17. Essas e outras declaraes de Sontag no jornal Washington Post serviu de fonte para vrios textos e livros de especialistas no atentado ao Word Trade Center. Para mais informaes ver: SCOWEN, Peter. O livro negro dos Estados Unidos. Rio de Janeiro. Record. 2003.18. SONTAG, Susan. Ao mesmo tempo. Org. RIEFF, David. So Paulo. Companhia das Letras. 2008. p. 25.19. Depois de sua morte em 2004 a Universidade da Califrnia ficou de posse de sua biblioteca, bem como de seus dirios que contabilizam mais de cem (100) cadernos. Em 2009 seu filho aceitou o convite, mesmo que a priori a contragosto, de organiz-los em trs volumes cujo primeiro j foi lanado tanto nos Estados Unidos como no Brasil. Vide bibliografia. 20. SONTAG, Susan. Op. Cit. p. 78.21. Apud: SONTAG, Susan. Sob o signo de Saturno. Porto Alegre. L&PM. 1986. p. 86.22. SONTAG, Susan. Op. Cit. p. 298. Essa relao de Sontag curiosamente bem prxima d estabelecida por Benjamin em um de seus aforismos em Rua de mo nica, apesar de suas implicaes serem distintas, digno de nota: Livros e putas podem ser levados para cama (...) os livros e as putas - as notas de p de pgina so para uns o que as notas de dinheiro, guardadas na meia so para as outras Konder exemplifica que, nesse trecho de rua de mo nica , diga-se de passagem, Benjamin estabelece outra afinidade entre os livros e as prostitutas, quando compara polemicamente os crticos aos gigols, dizendo que os livros e as putas tem sempre homens de certa espcie que vivem custa deles: no caso dos livros especificamente os crticos KONDER,L:Walter Benjamin: o marxismo da melancolia.3ed.Rio de Janeiro:Civilizao brasileira,1999.p 24.23. Idem, p. 154.24. SONTAG, Op. Cit. p.87.25. SONTAG, Susan. Op. Cit. p. 88.26. Benjamin viveu como exilado desde 1933 at 1940 quando comete suicdio numa cidadezinha catal de Portbou.27. SONTAG, Susan. Op. Cit. p.90.28. Idem, p. 90.29. Ibdem, p.97.30. Ibdem, p.93.31. SONTAG, Susan. Dirios. Op. Cit. p. 189.32. SONTAG, Susan. Sob o Signo de Saturno. Op. Cit. p. 9033. BENJAMIN,W Apud KONDER,L:Walter Benjamin: o marxismo da melancolia.3ed.Rio de Janeiro:Civilizao brasileira,1999.p 35.34. A filosofia da histria de Hegel talvez a mais emblemtica em relao a essa questo: Histria universal tribunal universal A idia de que a histria julga seus atores desvenda toda a ingerncia que o ser humano tem no processo histrico.35. BENJAMIN,W Apud KONDER,L:Walter Benjamin: o marxismo da melancolia.3ed.Rio de Janeiro:Civilizao brasileira,1999.p 35.36. Benjamin tem uma passagem que expressa bem os efeitos da Alegoria, diz ele: As alegorias so, no reino do pensamento, o que as runas so no reino das coisas BENJAMIN,W Apud KONDER,L: Walter Benjamin: o marxismo da melancolia. 3ed .Rio de Janeiro:Civilizao brasileira,1999.p 36.37. BENJAMIN,W: Alegoria e drama barroco In ________ :Documentos de cultura Documentos de Barbrie (escritos escolhidos). Seleo e apresentao BOLLE,W. Traduo SOUZA,C,H,M,R.So Paulo, Editora Cultrix, 1977. p 31.38. MATTOS,Olgria: Walter Benjamin os usos do tempoIn JINKINGS,I; PESCHANSKI,J: As utopias de Michael Lwy: reflexes de um marxista insubordinado.So Paulo: Boitempo editorial,2007. p 82.39. Benjamin gostava de comparar o seu trabalho com a Torre Eiffel. A tcnica da montagem era capaz de, assim como a torre, por meio de minsculos parafusos, milhares deles, formar uma grande estrutura. As imagens como alegricas possibilitam o mesmo efeito, libertando as foras do passado e lanando uma nova luz sobre o prprio presente.40. Essa expresso despertar, como apresentado anteriormente,demonstra a preocupao de Benjamin com o no idntico, assim como suas influncias sofridas pelos Surrealistas. Nas Passagens diz Benjamin acerca dessa relao de despertar e conscincia: Delimitao da tendncia deste trabalho em relao a Aragon: enquanto Aragon persiste no domnio do sonho, deve ser encontrada aqui a constelao do despertar. Enquanto em Aragon permanece um elemento impressionista a mitologia- e a esse impressionismo se devem os muitos filosofemas vagos do livro trata-se aqui da dissoluo da mitologia no espao da histria, Isso, de fato, s pode acontecer atravs do despertar de um saber ainda no consciente do ocorrido BENJAMIN,Walter: Teoria do Progresso e Teoria do conhecimento. In________ : Passagens.Belo Horizonte:UFMG,2006.p 500.41. MORSS,B,Susan:The Dialectics of seeing: Walter Benjamin and the arcades project.Cambridge,Massachusetts: The mit press,1991.p 34.42. BENJAMIN,W. Apud LWY,M : Walter Benjamin:Aviso de incndio uma leitura das Teses Sobre o conceito de Histria. Traduo das Teses Jeanne Marie Gagnebin e Marcos Lutz Muller. So Paulo: Boitempo editorial,2005.p 41.43. BENJAMIN,W. Apud LWY,M : Walter Benjamin:Aviso de incndio uma leitura das Teses Sobre o conceito de Histria. Traduo das Teses Jeanne Marie Gagnebin e Marcos Lutz Muller. So Paulo: Boitempo editorial,2005.p 87.44. BENJAMIN,W. Apud LWY,M : Walter Benjamin:Aviso de incndio uma leitura das Teses Sobre o conceito de Histria. Traduo das Teses Jeanne Marie Gagnebin e Marcos Lutz Muller. So Paulo: Boitempo editorial,2005.p 48.45. Com efeito, esse tornar-se legvel constitui um ponto crtico determinado em seu interior( das imagens dialticas). Cada presente determinado por aquelas imagens que lhe so sincrnicas: cada agora o agora de uma determinada cognoscibilidade. Nesse agora, a verdade est sobrecarregada com a dimenso temporal at o limiar da rupturaBENJAMIN,W Apud HABERMAS,J: Crtica conscientizante ou salvadora-A atualidade de Walter Benjamin, FREITAG,B; ROUANET,P,S(org), Habermas: sociologia.So Paulo: editora tica,1993. p 169-206. 46. BENJAMIN,W Apud HABERMAS,J: Crtica conscientizante ou salvadora-A atualidade de Walter Benjamin, FREITAG,B; ROUANET,P,S(org), Habermas: sociologia.So Paulo: editora tica,1993. p 169-206.47. BENJAMIN,W. Apud LWY,M : Walter Benjamin:Aviso de incndio uma leitura das Teses Sobre o conceito de Histria. Traduo das Teses Jeanne Marie Gagnebin e Marcos Lutz Muller. So Paulo: Boitempo editorial,2005.p 54.48. LAKOFF, George; JOHNSON, Marky. Metforas de la vida cotidiana. Madrid. Ctedra, Coleo Teorema. 2006. p.74.49. Idem, p.42.50. SONTAG, Susan. AIDS e suas Metforas. Op. Cit. p. 09.51. SONTAG, Susan. Sob o Signo de Saturno. Op. Cit. p. 10152. Idem, p. 101.53. Ibdem, p.93.LEITO, Diego Fabio Gomes & SCHURSTER, Karl.Susan Sontag leitora de Walter Benjamin.Revista Eletrnica Boletim do TEMPO, Ano 6, N5, Rio, 2011 [ISSN 1981-3384]