SUSCEPTIBILIDADE À EROSÃO DAS TERRAS NA REGIÃO...

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Comunicado 10 Técnico SUSCEPTIBILIDADE À EROSÃO DAS TERRAS NA REGIÃO OESTE DO ESTADO DA BAHIA Gustavo Souza Valladares 1 Marcelo Guimarães 2 Mateus Batistella 3 1 Pesquisador, Mestre em Agronomia, Embrapa Monitoramento por Satélite, Av. Dr. Júlio Soares de Arruda, 803, Pq. São Quirino, CEP 13088-300, Campinas-SP, [email protected] 2 Pesquisador, Mestre em Ecologia, Embrapa Monitoramento por Satélite, Av. Dr. Júlio Soares de Arruda, 803, Pq. São Quirino, CEP 13088-300, Campinas-SP, [email protected] 3 Pesquisador, PhD em Ciências Ambientais, Embrapa Monitoramento por Satélite, Av. Dr. Júlio Soares de Arruda, 803, Pq. São Quirino, CEP 13088-300, Campinas-SP, [email protected] Elementos para o mapeamento da susceptibilidade à erosão A região Oeste do Estado da Bahia, tradicionalmente ocupada pela pecuária extensiva, conheceu um desenvolvimento da atividade agrícola sem precedentes nas últimas duas décadas. Com base em financiamentos e/ou recursos próprios, produtores rurais investiram na expansão da produção de grãos (soja e milho, principalmente), café e pecuária. Trata-se de uma agricultura tecnificada, mecanizada e com uso relativamente alto de insumos (BNDES, 2002). Essa mudança rápida e intensa no uso das terras tem produzido impactos ambientais significativos: erradicação e degradação da vegetação nativa, erosão hídrica e eólica, perda de habitats, alterações em povoamentos e populações faunísticas, diminuição na vazão dos rios que drenam a região, assoreamento, aumento das queimadas, erosão genética e redução da biodiversidade, entre outros. A questão da conservação dos solos e da água, em qualidade e quantidade, torna-se cada vez mais aguda. A Embrapa Monitoramento por Satélite, atendendo a demanda do Banco Nacional para o Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), executou mapeamentos do uso e cobertura das terras para os anos de 1985 e 2000 (BNDES, 2002; BATISTELLA et al., 2002). Com objetivo de avaliar a expansão agropecuária na região Oeste do Estado da Bahia, foi estruturado um sistema de monitoramento baseado em técnicas de sensoriamento remoto e geoprocessamento. Em 1985, 85% do Oeste baiano apresentava cobertura vegetal nativa, representando mais de 90.000 km 2 . Com a intensificação agropecuária, a extensão das formações vegetais nativas foi reduzida a 73% ou 78.646 km 2 (BATISTELLA et al., 2002). Com a intensificação do uso do solo, o potencial erosivo tende a se agravar, como consequência da erradicação de cobertura vegetal (GUERRA, 1999). ISSN 1415-2118 Dezembro, 2002 Campinas-SP

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Comunicado 10Técnico

SSUUSSCCEEPPTTIIBBIILLIIDDAADDEE ÀÀ EROSÃO DAS TERRASNA REGIÃO OESTE DO ESTADO DA BAHIA

Gustavo Souza Valladares1

Marcelo Guimarães2

Mateus Batistella3

1 Pesquisador, Mestre em Agronomia, Embrapa Monitoramento por Satélite, Av. Dr. Júlio Soares de Arruda, 803, Pq. São

Quirino, CEP 13088-300, Campinas-SP, [email protected] Pesquisador, Mestre em Ecologia, Embrapa Monitoramento por Satélite, Av. Dr. Júlio Soares de Arruda, 803, Pq. São Quirino,

CEP 13088-300, Campinas-SP, [email protected] Pesquisador, PhD em Ciências Ambientais, Embrapa Monitoramento por Satélite, Av. Dr. Júlio Soares de Arruda, 803, Pq. São

Quirino, CEP 13088-300, Campinas-SP, [email protected]

EElleemmeennttooss ppaarraa oo mmaappeeaammeennttooddaa ssuusscceeppttiibbiilliiddaaddee àà eerroossããoo

A região Oeste do Estado da Bahia,tradicionalmente ocupada pela pecuáriaextensiva, conheceu um desenvolvimentoda atividade agrícola sem precedentes nasúltimas duas décadas. Com base emfinanciamentos e/ou recursos próprios,produtores rurais investiram na expansão daprodução de grãos (soja e milho,principalmente), café e pecuária. Trata-sede uma agricultura tecnificada, mecanizadae com uso relativamente alto de insumos(BNDES, 2002).

Essa mudança rápida e intensa no uso dasterras tem produzido impactos ambientaissignificativos: erradicação e degradação davegetação nativa, erosão hídrica e eólica,perda de habitats, alterações empovoamentos e populações faunísticas,diminuição na vazão dos rios que drenam aregião, assoreamento, aumento dasqueimadas, erosão genética e redução dabiodiversidade, entre outros. A questão da

conservação dos solos e da água, emqualidade e quantidade, torna-se cada vezmais aguda.

A Embrapa Monitoramento por Satélite,atendendo a demanda do Banco Nacionalpara o Desenvolvimento Econômico e Social(BNDES), executou mapeamentos do uso ecobertura das terras para os anos de 1985e 2000 (BNDES, 2002; BATISTELLA et al.,2002). Com objetivo de avaliar a expansãoagropecuária na região Oeste do Estado daBahia, foi estruturado um sistema demonitoramento baseado em técnicas desensoriamento remoto e geoprocessamento.

Em 1985, 85% do Oeste baianoapresentava cobertura vegetal nativa,representando mais de 90.000 km2. Com aintensificação agropecuária, a extensão dasformações vegetais nativas foi reduzida a73% ou 78.646 km2 (BATISTELLA et al.,2002). Com a intensificação do uso dosolo, o potencial erosivo tende a se agravar,como consequência da erradicação decobertura vegetal (GUERRA, 1999).

ISSN 1415-2118Dezembro, 2002Campinas-SP

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Os processos erosivos identificados noCerrado brasileiro são reflexos daerradicação da vegetação nativa nasdiferentes posições da paisagem,principalmente onde não houve preservaçãode nascentes, encostas ou veredas, levandoà diminuição da produtividade agrícola e daspastagens. Nesse contexto, é cada vezmaior o uso de corretivos, fertilizantes eagrotóxicos. Atrelado ao processo erosivo,ocorre o rebaixamento do lençol freáticonas nascentes e a contaminação dosmananciais, além de impactos sobre a florae a fauna (BACCARO, 1999).

Em clima tropical, há maiores valores deprecipitação pluviométrica, além daconcentração do período chuvoso emdeterminada época do ano. A região Oesteda Bahia apresenta tais característicasclimáticas e nas últimas duas décadas tevegrande aumento da exploração de suasterras com agricultura intensiva,principalmente na região do PlanaltoOcidental (JACOMINE et al., 1976),indicando a necessidade de estudos sobreprocessos erosivos.

Além dos fatores chuva e cobertura vegetal,Bertoni e Lombardi Neto (1985) atentampara a importância da topografia,representada pela declividade e pelocomprimento das pendentes, que exerceacentuada influência sobre a erosão. Otamanho e a quantidade do material emsuspensão arrastado pela água dependemda velocidade de escoamento, que éresultante do comprimento da pendente edo grau de declive do terreno.

A infiltração é o movimento da água dentroda superfície do solo. Quanto maior suavelocidade, menor a intensidade de águaescoando superficialmente e, consequentemente, a redução dos processos erosivos.O movimento da água através do solo érealizado pelas forças de gravidade e decapilaridade. Em solo saturado, essemovimento ocorre fundamentalmente pelagravidade nos macroporos e em solo nãosaturado, pela capilaridade (BERTONI;LOMBARDI NETO, 1985). A velocidademáxima de infiltração de um solo ocorrequando o mesmo está seco, pois aí ocorrem

as duas forças, gravidade e capilaridade.Durante uma chuva, a velocidade deinfiltração da água no solo diminui deacordo com o umidecimento do mesmo, atésua completa saturação, onde ocorrem asmenores taxas de infiltração.

Quando há uma cobertura vegetal, queprotege o solo dos impactos diretos dasgotas de chuva, o processo erosivo émenor. Os impactos diretos das gotas dechuva são conhecidos em português por´salpicamento` ou em inglês por splash(GUERRA, 1999). O salpicamento possuiação direta sobre o material do solocausando erosão, ou exerce ação nadesagregação do solo, destruindo suasunidades estruturais, individualizando aspartículas e favorecendo seu transportepelas águas da chuva. A dispersão dessaspartículas e a selagem dos poros dos solosdiminuem as taxas de infiltração eaumentam o escoamento superficial daágua. O salpicamento pode levar o solo àformação de crostas, que tambémdiminuem o potencial de infiltração (ROTH,1997).

O tipo de solo tem grande influência sobresua erodibilidade. Por exemplo, umArgissolo com mudança textural abruptatende a apresentar maior erodibilidade doque um Nitossolo, devido ao grandegradiente textural do primeiro. De formaanáloga, um Latossolo com textura média eestrutura fraca apresenta maiorerodibilidade do que um Latossolo argiloso eestrutura forte. Solos com textura arenosaou média, com elevados teores de areiafina, também são mais sujeitos à erosão doque solos com areia grossa, pois a energiacinética da água carreia a fração areia finacom mais facilidade do que a fração areiagrossa.

O objetivo do presente trabalho foiclassificar as terras da região Oeste daBahia quanto à susceptibilidade à erosão,em escala exploratória de 1:1.000.000,fornecendo informações básicas aoplanejamento regional e à conservação dosolo e dos recursos hídricos.

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MMaatteerriiaall ee MMééttooddooss

Área de Estudo

A área de estudo localiza-se na região Oestedo Estado da Bahia, entre as coordenadasgeográficas a 11º S 46º 30´ W e 14º S 43º30´ W, incluindo as bacias dos RiosGrande, Corrente e Carinhanha, afluentesdo São Francisco, e abranje cerca de98.000 km2 (Figura 1).

Esta região possui duas estações climáticasbem definidas: a estação seca e comtemperaturas mais amenas que vai de maioa setembro, e a estação chuvosa e quenteque vai de outubro a abril. Sua posiçãogeográfica assegura temperaturas elevadasdurante boa parte do ano, devido à forteradiação solar. As temperaturas médiasmáximas e mínimas variam em torno de 26e 20ºC, respectivamente. A pluviosidadevaria no sentido leste-oeste de 800 mm a1.600 mm por ano, concentrando-se nosmeses de novembro a março. A médiaanual da umidade relativa do ar é de 70%,sendo a máxima de 80% em dezembro e amínima de 50% em agosto (BARREIRAS,s.d.).

Fig. 1 – Localização da área de estudo na região Oeste do Estado daBahia.

A geologia da área apresenta formações doHoloceno, composta por sedimentosrecentes; Quaternário - Formação Vazantes-sedimentos de natureza variada, às vezesconglomeráticos; Cretácio Superior -Formação Urucuia ou Itapecuru - estaformação abrange a maior parte da áreaestudada, é constituída por arenito decimento argiloso ou silicoso, por vezes comestratificação cruzada; EO-CambrianoSuperior - Grupo Bambuí – nesse Grupopodem ser encontrados calcários oumateriais clásticos (JACOMINE et al.,1976).

Com base nas variedades estruturais ediversidades de formas topográficas, foramdistintas as seguintes unidadesgeomorfológicas na área de estudo:Terraços Aluviais - são trechos às margensdos rios, com terrenos planos onde podemocorrer microrrelevos possuindo 350 a400m de variação altimétrica; PlanaltoOcidental - constitui um grande planalto queocupa praticamente a metade de toda aárea estudada, podendo atingir 900m dealtitude; Planície Oriental - é uma grandesuperfície aplainada, compreendida entre afrente oriental do Planalto Ocidental e o RioSão Francisco, com variação altimétrica de400 aos 600m; Planícies e PediplanosSetentrionais - área estreita que se estendepara o norte, abrangendo uma planícieirregular intermontana com setorespediplanados, situando-se entre as serrasque limitam a Planície Oriental e os limitesda área de estudo; Serras e Incelbergs -constituem os maciços residuais elevados(JACOMINE et al., 1976).

No Planalto Ocidental predominamLatossolos Amarelos e Vermelho-Amarelosde textura média e NeossolosQuartzarênicos (Areias Quartzosas). Nosvales dos rios e veredas, são encontradosprincipalmente Gleissolos e Organossolos.Esses solos apresentam baixa fertilidadenatural, tendo o relevo plano como principalvantagem ao uso agrícola. Nas planícies sãoencontrados Latossolos, Argissolos,Neossolos Quartzarênicos e, com menosfreqüência, Luvissolos e Planossolos. Agrande variação de solos nessa região se

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deve à variação do material geológicooriginal. Nessa região são encontrados soloscom alta e com baixa fertilidade natural.Nas serras e incelbergs predominam osNeossolos Litólicos (Solos Litólicos), quesão solos rasos e muito susceptíveis àerosão (JACOMINE et al., 1976;VALLADARES, 2002).

A Região Oeste da Bahia está localizada emum gradiente latitudinal, longitudinal ealtimétrico. As formações vegetaisacompanham estes gradientes e estãoassociadas a fatores físicos como clima,solos e relevo. No Planalto Ocidental, oCerrado é a fisionomia dominante e, emgeral, correlacionado ao relevo plano e solosdo tipo Latossolo Vermelho-Amarelo eNeossolo Quartzarênico. A mancha maisrepresentativa de Floresta Estacional estána parte centro-ocidental, onde dominamrochas calcárias, sendo que as demaismanchas encontram-se em sua maioria emaltitudes mais elevadas ao norte do PlanaltoOcidental e ao centro-oeste sobre rochascarbonáticas e pelíticas. Grande parte dadepressão do vale do Rio São Francisco e aregião à nordeste estão recobertas poráreas de Transição Ecológica, relacionadasa Latossolos Vermelho-Amarelos. Ao longodos rios e córregos bem como sobre osSolos Aluviais sujeitos às inundaçõesperiódicas, observam-se as FormaçõesCiliares (BNDES, 2002).

Entre os anos de 1985 e 2000 houvegrande expansão agropecuária na regiãoOeste da Bahia, principalmente agriculturade sequeiro, equivalente a, aproximadamente, 1 milhão de hectares(BATISTELLA et al., 2002).

Mapeamento do uso e cobertura dasterras

O mapeamento do uso e cobertura dasterras da região Oeste da Bahia foiexecutado a partir da interpretaçãoanalógica de imagens orbitais do satéliteLandsat-ETM 7 do ano 2000 e deverificações em campo (escala 1:250.000).O tema foi gerado conforme uma legendaconsolidada por aproximações sucessivas,

hierarquizando as classes de cobertura e osprocessos de ocupação da terra nasseguintes categorias (BATISTELLA et al.,2002):

• Floresta Estacional;• Vegetação Ciliar;• Cerrado;• Campo Cerrado;• Transição Caatinga / Floresta Estacional /

Cerrado;• Transição Caatinga / Floresta Estacional /

Cerrado / Campos Úmidos;• Agropecuária Tradicional;• Agropecuária Moderna;• Áreas Irrigadas;• Áreas Urbanizadas;• Reflorestamento;• Corpos d'Água.

Atualização da legenda do mapa desolos

Através da digitalização do mapaexploratório-reconhecimento de solos doOeste da Bahia na escala 1:1.000.000(JACOMINE et al., 1976) e atualização dalegenda (VALLADARES, 2002) ao SistemaBrasileiro de Classificação de Solos(EMBRAPA, 1999), foi gerado o respectivotema com 38 unidades de mapeamento. Omapa de solos constitui um plano deinformações no sistema de informaçõesgeográficas.

O mapa de solos em conjunto com seurelatório traz informações da geologia. Nasfases de mapeamento foram considerados orelevo e a vegetação nativa, além dascaracterísticas relativas à erodibilidade dopróprio solo.

Mapeamento da susceptibilidade àerosão

A cobertura das terras com vegetaçãoprotege o solo da erosão. Esse efeito é maiseficiente onde a vegetação apresenta maiordensidade e recobre melhor o solo. Porexemplo, áreas cultivadas com agriculturade sequeiro submetidas a aração egradagem anualmente sofrem maior

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impacto sobre os processos erosivos do queoutras com pastagens ou reflorestamentos.Áreas urbanizadas também apresentamforte pressão sobre estes processos, pois asestradas e os cortes de barranco paraconstrução civil aceleram o transporte dematerial e, consequentemente, aumentam aerosão.

Neste contexto, a partir da hierarquização ereclassificação das classes de solos e deuso e cobertura das terras considerandoseus respectivos potenciais de erodibilidade,esses planos de informação foram cruzadosespacialmente resultando no tema desusceptibilidade à erosão (Figura 2). Omapa resultante apresentou 5 classes deerodibilidade, assim divididas: muito alta,alta, moderada, baixa e muito baixa.

Fig. 2 – Principais etapas metodológicas para a elaboração do mapade susceptibilidade à erosão da região Oeste da Bahia.

RReessuullttaaddoossA análise quantitativa do cruzamento dosmapas de uso e cobertura das terras e dostipos de solo para a geração do mapa desusceptibilidade à erosão está apresentadana Tabela 1, e o mapa na Figura 3.

Tabela 1. Área (km2), frequência relativa(FR) e acumulada (FA) das classes desusceptibilidade à erosão na região Oestedo Estado da Bahia.

Classes deSuscetibilidade à

Erosão

Área(km2)

FR(%) FA(%)

Muito baixa 8274,4 8,4 8,4Baixa 44334,0 45,1 53,5Moderada 37168,9 37,8 91,3Alta 2827,8 2,9 94,2Muito alta 5608,0 5,7 99,9Corpos d´água 114,8 0,1 100,0Área Total 98327,9 100 -

A Tabela 1 indica que cerca de 53% doOeste da Bahia apresenta-se poucosuscetível à erosão (classes muito baixa ebaixa). A classe moderada ocupa cerca de38% do total. As áreas mais susceptíveis(alta a muito alta) ocupam 9% da regiãoestudada. A Figura 3 apresenta umareprodução do mapeamento desusceptibilidade à erosão.

DDiissccuussssããooUma discussão sucinta sobre essas classesassim como suas respectivas distribuiçõesespaciais é apresentada a seguir.

Muito baixa susceptibilidade à erosãoEsta classe tem predomínio na porção lestee nordeste da área de estudo, em relevoplano associado a vegetações ciliares,florestas estacionais ou transições entreessas classes de vegetação. O maior porteda vegetação leva à diminuição dosprocessos erosivos. Estas áreas apresentambaixa densidade de drenagem e altapermeabilidade dos solos.

Na porção oeste da área de estudo ocorremmanchas menores desta classe,relacionadas a algumas áreas de veredas,associadas a Organossolos, em áreas deacumulação de material orgânico.

Baixa susceptibilidade à erosãoEsta classe também distribui-se por toda aárea de estudo, estando associada a regiõescom vegetação nativa e relevo plano ousuave ondulado. O desmatamento e

Reunião de dados

Pedologia

Cruzamento entre os temas

Reclassificação

Susceptibilidade àerosão

Uso e cobertura dasterras

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intensificação agropecuária dessas áreascertamente aumentará os processoserosivos, fazendo com que elas mudem declassificação. A vegetação dessas áreaspode ser cerrado, florestas estacionais outransições entre essas classes devegetação, em menor proporção caatingaou transições dessas classes. Estas áreasapresentam baixa densidade de drenagem ealta permeabilidade dos solos.

Moderada susceptibilidade à erosãoEsta classe está uniformemente distribuídapela área de estudo, estando relacionadaaos usos da terra com agropecuáriatradicional ou moderna. Na chapada, ocorresobre arenitos e Latossolos com texturamédia e predomínio de areia fina e comestrutura fraca, indicando que naturalmentesão áreas susceptíveis à erosão. Nasplanícies está associada à agropecuária, emáreas planas ou de relevo suave onduladosobre solos e sedimentos susceptíveis àerosão; ou a solos profundos, menossusceptíveis à erosão, porém em relevoondulado com agropecuária.

São áreas que carecem de estudos maisdetalhados sobre erosão e o manejo dossolos deve favorecer a conservação. A faltade adoção de práticas conservacionistaspode comprometer a sustentabilidade doprocesso produtivo.

Alta susceptibilidade à erosãoEsta classe ocorre em toda a área deestudo, mas principalmente na porçãosudeste. Está relacionada a usos da terramais intensivos, como agropecuáriatradicional em solos de relevo ondulado ouagricultura irrigada por aspersão, maisespecificamente pivôs centrais. Em áreascom solos de textura média tendendo aarenosa ou arenosa, predomínio de areiafina e estrutura fraca do solo, sobrearenitos, em região de relevo suaveondulado ou até mesmo plano. Estão nestaclasse, principalmente pelo uso da terra ourelevo, pois são solos predominantementepermeáveis e profundos.

O uso agropecuário seja pelo pisoteio dogado ou mecanização, aumenta os

processos erosivos destes solos. São áreasque merecem grande atenção do ponto devista agronômico, pois técnicas deconservação do solo e da água sãorecomendadas. Essas áreas carecem deestudos mais detalhados com respeito àerosão do solo, para recomendações de usomais corretas. Falta de cuidado com aerosão nestas áreas podem levar àformação de sulcos, ravinas ou até mesmovoçorocamentos. A falta de adoção depráticas conservacionistas podemcomprometer a sustentabilidade doprocesso produtivo e levar à degradação dosolo de difícil recuperação.

Muito alta susceptibilidade à erosãoEsta classe está associada principalmenteàs unidades de solo que apresentam comoprincipal componente da associação osNeossolos Litólicos. Ocorre principalmentena porção nordeste da área de estudo nasserras do Boqueirão, Moquém, Contagem eLimeira. Mais ao centro nas serras doCarvalho, Maurés, Cana-brava, Branca,Brejo Grande, Sucesso, do Riachão,do Mimo, do Correia e da Mamona. Sãoáreas caracterizadas por relevomovimentado, com solos rasos de baixapermeabilidade, alta densidade de drenageme escoamento rápido. Essas áreas seestendem por cerca de 5.600 km2 na áreade estudo, estando normalmente emalinhamento em diferentes direções. Asdireções podem ser tanto E-W como N-S. Amaior parte dessas áreas apresentavegetação nativa, porém com potencialerosivo muito alto. Qualquer alteraçãoantrópica pode acelerar o processo erosivo,resultando em deslizamentos e quedas deblocos.

Nas áreas de planície localizadas mais aleste da área de estudo e no topo dachapada na porção oeste, esta classe é demenor expressão, sendo de difícilmapeamento na escala deste trabalho.Porém, em mapeamentos mais detalhadospodem ocorrer, como por exemplo na regiãoda cachoeira do Acaba-vidas no Rio deJaneiro e em algumas Serras ou incelbergsremanescentes na região das planícies.

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Fig. 3 – Mapa de suscetibilidade à erosão na região Oeste do Estado da Bahia.

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CCoonncclluussõõeessSão necessários estudos em escalasmaiores do que 1:1.000.000 nas classes demaior susceptibilidade à erosão, visandoajustar o uso das terras com suacapacidade de uso.

O trabalho permite indicar áreas compotencial para preservação ambiental, comopor exemplo as serras com elevadasdeclividades e solos rasos.

As áreas irrigadas e mecanizadas carecemde estudos, visando a quantificação dosprocessos erosivos, para que dessa maneirapossam ser indicadas práticasconservacionistas, tais como, o plantiodireto, potencializando e viabilizando oagronegócio na região.

O presente trabalho fornece subsídios aoplanejamento regional, indicando áreas quenecessitam de maior cuidado no manejo,como também estudos mais detalhados.

LLiitteerraattuurraa CCiittaaddaa

BACCARO, C.A.D. Processos erosivos nodomínio do Cerrado. In: GUERRA, A.J.T.;SILVA, A.S.; BOTELHO, R.G.M. Erosão econservação dos solos: conceitos, temas eaplicações. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,1999. 340p.

BAHIA. Secretaria da Agricultura, Irrigaçãoe Reforma Agrária. Superintendência dePolítica do Agronegócio. Diretoria dePolítica e Economia Agrícola. Oeste daBahia: a região da prosperidade. Salvador:SEAGRI, 2001. 24p.

BARREIRAS: a capital do Oeste daBahia/Barreiras: Bahia’s West Capital City.Barreiras: Prefeitura Municipal de Barreiras,[200-?]. 29p., 11 fl. encarte.

BATISTELLA, M. et. al. Monitoramento daexpansão agropecuária na Região Oeste daBahia. Campinas: Embrapa Monitoramentopor Satélite, 2002. (no prelo).

BERTONI, J.; LOMBARDI Neto, F.Conservação do solo. Piracicaba:Livroceres, 1985. 368p.

BNDES; EMBRAPA Monitoramento porSatélite. Monitoramento de expansão dasáreas irrigadas na região Oeste da Bahia.Disponível em: <http://www.bndes.cnpm.embrapa.br/>. Acesso em: 10dez. 2002. (no prelo).

EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa deSolos. Sistema brasileiro de classificação desolos. Brasília: Embrapa Produção deInformação; Rio de Janeiro: Embrapa Solos,1999. 412p.

GUERRA, A.J.T. O início do processoerosivo. In: GUERRA, A.J.T.; SILVA, A.S.;BOTELHO, R.G.M. Erosão e conservaçãodos solos: conceitos, temas e aplicações.Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999. 340p.

JACOMINE, P.K.T et al. Levantamentoexploratório-reconhecimento de solos damargem esquerda do rio São Francisco,estado da Bahia. Recife, Embrapa ServiçoNacional de Levantamento e Conservaçãode Solos, 1976. 404p. (Embrapa. ServiçoNacional de Levantamento e Conservaçãode Solos. Boletim Técnico, 38; SUDENE.DRN. Divisão de Recursos Renováveis, 7).

ROTH, C.H. Bulk density of surface crusts:depth function and relationships to texture.Catena, Cremlingen-Dested, v.29, p.223-237, 1997.

VALLADARES, G.S. Caracterização dossolos e classes de terra para irrigação doOeste da Bahia. Campinas: EmbrapaMonitoramento por Satélite, 2002.(Embrapa Monitoramento por Satélite,Documentos, 19). 42p.

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ComunicadoTécnico, 10

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA,PECUÁRIA E ABASTECIMENTO

Exemplares desta edição podem ser adquiridosna:

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Fone: (19) 3256-6030Fax: (19) 3254-1100

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1ª edição, 1ª impressão (2002)Tiragem: 10 exemplaresFotografias: Arquivo do Centro

Comitêde

Publicações

Expediente

Presidente: Ivo Pierozzi Jr.

Secretária: Shirley Soares da Silva

Membros: Ana Lúcia Filardi, Graziella Galinari,Luciane Dourado, Maria de CleófasFaggion Alencar, Mateus Batistella

Supervisor editorial: Mateus BatistellaRevisão de texto: Eliane Gonçalves Gomes

Normalização bibliográfica: Maria de CleófasFaggion Alencar

Diagramação e editoração eletrônica: Shirley S. daSilva, Gustavo Souza Valladares