Swami Prabuphada - Volta Ao Supremo 2005

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ISKCON - Sociedade Internacional para a Conscincia de Krsna

Artigos de capa das revistas

Back to Godheaddo ano de 2005, em portugus

Revista fundada no ano de 1944 por Sua Divina Graa A. C. Bhaktivedanta Svami Prabhupada Fundador-acarya da ISKCON e BBT.

Artigos de capa das revistas Back to Godhead do ano de 2005, em portugus

Back to Godhead 2005 BBT Los Angeles Todos os direitos reservados.

1 Edio

Articulistas: Sua Divina Graa A. C. Bhaktivedanta Svami Prabhupada, Arcana Siddhi Devi Dasi, Adbhuta Hari Dasa, Bhranti Devi Dasi, Devahotra Dasa, Indradyumna Svami, Jahundvipa Dasa, Karuna Dharini Devi Dasi, Krsna Kanta Dasi, Murari Gupta Dasa, Navin Jani, Nitya Kisori Devi Dasi, Parthasarathi Dasa, Satyaraja Dasa,Urmila Devi Dasi. Traduo: Bhagavan dasa (DvS) Reviso: Bhaktin Flvia Reis (DvS) Fundador-acarya: A.C. Bhaktivedanta Svami Prabhupada

Visite-nos na internet: www.harekrishna.com.br e-mail: [email protected].

Dedicado a Sua Santidade Dhanvantari Svami, Avyakta Rupa Prabhu, Giridhari Prabhu, Lilananda Prabhu e a todos os demais Prabhupadanugas, que sempre sentem prazer ouvindo as glrias do Senhor e de Seus devotos.

APRESENTAOPor sua biografia autorizada, o Srila Prabhupada Lilamrta, tomamos conhecimento dos feitos sobre-humanos de Srila Prabhupada para cumprir a ordem de seu mestre espiritual, Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati, de apresentar a filosofia da conscincia de Krsna em lngua inglesa. Dentre seus diversos empenhos para tal, est a revista Back to Godhead, na qual Srila Prabhupada criticava os hbitos das pessoas modernas e propunha o servio devocional a Krsna como a soluo de todos os problemas. A primeira publicao da revista data do ano de 1944, quando Prabhupada, pessoalmente, escreveu os artigos, custeou a publicao e distribuiu as revistas, uma a uma, pelas movimentadas ruas de Calcut. Posteriormente, Prabhupada realizaria que o capital aplicado nessas publicaes descartveis poderia ser melhor valorizado na edio e publicao de livros, uma vez que esses, ao contrrio dos peridicos, tinham vida longa. Todavia, as dificuldades financeiras de Prabhupada do comeo, que lhe obrigavam a escolher entre os livros ou a revista, deixariam de existir. Assim, passou-se a distribuir tanto livros quanto peridicos, uma vez que os livros no substituem a revista, tampouco a revista substitui os livros. Hoje, a revista continua circulando pelos Estados Unidos e ndia, mantida por discpulos e seguidores de Srila Prabhupada. Os artigos so de excelente qualidade, e de temas variando de depoimentos devocionais a temas profundamente filosficos. por essa trajetria que este pode hoje estar em suas mos. Desejando-lhe excelente leitura e realizaes, Bhagavan dasa (DvS)

SUMRIOJaneiro/Fevereiro Somos Todos Ladres? Converso Harmoniosa Acordando do Sonho Maro/Abril Soldado de Krsna Retratos do Meu Ano Favorito Irmos de Sangue Maio/Junho Certamente Voc Vir a Mim Entre a Matria e o Esprito Procura-se Deus Julho/Agosto Apreo pelos Escritos Sagrados Quando o Conhecimento Ignorncia Maharaja Prataparudra: Um Servo Humilde em Vestes Reais Setembro/Outubro A Dana do Amor Divino O que Faz a Mulher Hare Krsna? Hampi: A Coroa de um Imprio Glorioso Novembro/Dezembro O Bom Filho a Casa Torna Uma Chuva de Misericrdia: A Vida Exemplar de Bhakti-tirtha Svami O Humor de Rendio 57 62 68 48 52 54 37 41 44 29 32 35 17 20 24 6 9 14

Somos Todos Ladres?Are We All Thieves? por Arcana Siddhi Devi Dasi Quase todos j experimentamos o desprazer de perder algo de valor. Algumas vezes, conclumos que colocamos em algum lugar que no podemos lembrar ou que perdemos o objeto. Embora seja uma sensao de desprazer, tal sensao muito pequena perto daquela de descobrirmos que o objeto no foi colocado em algum lugar errado, mas que foi roubado pior ainda se foi roubado por algum que conhecemos. H alguns anos, quando abri minha carteira, dei falta de cem dlares. Eu tinha certeza de que esse dinheiro estava ali no dia anterior. Aps alguma investigao, descobri que um dos amigos do meu irmo havia pegado o dinheiro. Eu fiquei revoltada, e me senti violentada e machucada. Quando trabalhava como psicoterapeuta em uma clnica de sade mental da periferia de minha cidade, eu atendia freqentemente crianas que haviam tido algum histrico de roubo. Algumas vezes eram pegos com pequenos objetos como CDs de lojas de msica, por exemplo, e outras vezes roubando carros estacionados na rua. Eu me esforcei muito para induzi-los a imaginarem como as vtimas de seus crimes se sentiam saindo de casa pela manh para ir ao trabalho, e no encontrando seu carro. Mas a maioria daquelas crianas no tinha capacidade para imaginar os sentimentos da pessoa roubada. No s no podiam entender, como pareciam no se importar. A falta de conscincia social deles levava a um prognstico muito negativo. Como potenciais vtimas de seus crimes, tentamos proteger nossas propriedades com sofisticados sistemas de alarme, comunidades muradas e ces de guarda. Apesar de tais protees, somos assolados por crimes insidiosos, como ladres de identidade, que roubam diretamente de nossas contas ou fazem uma cpia falsa de nosso carto de crdito. Cortadores de papel se tornaram um eletrodomstico essencial em muitas casas, e temos que regularmente checar a fatura do cheque e do carto de crdito para ver se no h nenhuma atividade desautorizada. Os elaborados crimes dos colarinhos-brancos crescem a cada ano, roubando milhes de pessoas. A que se atribui esse crescimento descontrolado de diversas categorias de roubo em nossa sociedade? De uma perspectiva psicolgica, poderamos ver isso como produto da ausncia de responsabilidade social que cresce junto com o crescimento do senso de alienao. Alguns fatores que contribuem para esse senso de despersonalizao so a ruptura da estrutura familiar, falta de comunidade, e o papel da igreja cada vez mais apagado. Algumas pessoas pensam que as desigualdades sociais e econmicas tornam o ato de roubar lcito. Outros fatores externos, como pobreza e dependncia de drogas, exacerbam essa dinmica psicolgica. Mas, para entender a causa primria, busco a perspectiva espiritual dos atemporais comentrios Vdicos. Eles dizem que estamos vivendo na mais degradada era, a Era de Ferro, caracterizada pela trapaa e pela hipocrisia. Todos os pilares da vida tica, moral e religiosa que incluem austeridade, limpeza, misericrdia e veracidade praticamente desapareceram com a entrada desta era. O roubo apenas um sintoma do declnio desses princpios. Os princpios religiosos se tornam proeminentes quando as pessoas entendem que tudo pertence e controlado por Deus. Em essncia, nada nosso. Ns fomos apenas incumbidos com uma cota da propriedade de Deus, o que nos torna responsveis por usarmos tal posse temporria de forma que d prazer ao seu dono. Mesmo as ddivas da natureza gua, luz solar, madeira, minerais, pedras preciosas so fornecidas para que as usemos no servio ao Senhor e a Seus devotos. O Senhor criou o mundo material para sanar nosso desejo de desfrutar em separado dEle. Ele abundou esse mundo com todos os ingredientes que precisamos para vivermos de forma feliz e avanarmos espiritualmente. Se no reconhecemos quem o verdadeiro dono, e usamos para o nosso prazer os recursos disponveis, ento tambm somos ladres, e teremos que sofrer as conseqncias de nossos atos. Durante uma caminhada matinal na ndia, Srila Prabhupada conversava com um empresrio muito -6-

rico e perguntou para ele qual era a natureza de seus negcios. Quando o homem respondeu que tinha uma fbrica de vidro, Prabhupada lhe perguntou como o vidro era feito. O homem disse que o vidro produzido a partir da areia. E quem o dono da areia?, Prabhupada perguntou. Bhagavan, Deus, o dono. Oh, ento voc est roubando de Bhagavan?, Prabhupada desafiou. Tentando se livrar daquela situao, o homem disse que dava muito dinheiro em caridade. Ah, ento voc um ladro de pequeno porte, Prabhupada disse sorrindo. Ao mesmo tempo em que Prabhupada encorajava seus discpulos e a congregao a trabalharem em empresas honestas, ele tambm nos lembrava que Krsna o dono de nossa empresa e que deveria ser dado de volta a Ele o mximo possvel dos frutos do trabalho. Usando nosso tempo e dinheiro no servio ao Senhor e a Seus devotos, lucramos de diversas maneiras. Oferecer o resultado ao Senhor purifica nosso trabalho e nos liberta tanto das boas quanto das ms reaes de nosso trabalho. De outra forma, tomando para ns o que no legitimamente nosso, enredamo-nos ainda mais no samsara, o ciclo de nascimentos e mortes.

Nossa CotaIsso levanta a questo de como determinar a cota que nos foi cedida pelo Senhor Supremo. Como diversos aspectos da vida espiritual, a resposta necessita de introspeco honesta e sincera. Temos, cada um, diferentes necessidades, mas devemos nos permitir ser guiados e iluminados pelas escrituras. O Sri Isopanisad e o Bhagavad-gita, por exemplo, sugerem que sejamos moderados quanto satisfao de nossas necessidades corpreas. No devemos trabalhar arduamente para obter posses ordinrias ou para conseguir coisas que sejam muito difceis de serem obtidas. Ns tambm devemos aceitar a orientao de devotos avanados que conheam nossa natureza psicolgica e possam nos ajudar a discernir quanto a qual padro de vida mais benfico no suporte a nossas prticas espirituais. Quando Prabhupada estava arquitetando o local de residncia dos devotos em seu projeto de templo na ndia, ele incluiu confortos modernos, como vasos sanitrios com descarga e chuveiros, coisas que no eram muito comuns na ndia naquele tempo. Ele entendia a estrutura psquica particular de seus discpulos ocidentais e era cuidadoso em provir um padro de vida que fosse condizente com a natureza deles. Mesmo dentro da cultura ocidental, h uma vasta variedade de indivduos. O que pode parecer excessivo para uma pessoa, talvez no parea o bastante para outra. Nossa cota fornecida por Krsna talvez tambm varie de acordo com nosso servio especfico a Ele, nosso nvel de avano espiritual, e nossa habilidade em administrar bens materiais. Krsna deu muito a Prabhupada, e Prabhupada no usou sequer uma moeda para a gratificao de seus sentidos.

Yukta-vairagyaEnquanto que os discpulos de Caitanya Mahaprabhu freqentemente demonstravam avano atravs de austeras renncias, Srila Prabhupada exibia o princpio de yukta-vairagya o uso de recursos materiais para o servio a Krsna. Certa vez, um homem mencionou a Prabhupada um yogi famoso que se recusava a aceitar dinheiro. Em resposta, Prabhupada fez um movimento com a mo como se estivesse pegando dinheiro, dizendo que usaria todo aquele dinheiro para o servio a Krsna. Prabhupada visionava usar toda quantia de dinheiro que tivesse para imprimir livros sobre a conscincia de Krsna e para construir belos templos para o benefcio de todo o planeta. A perfeio de nossa inteligncia aceitar os presentes de Deus e oferec-los de volta a Ele na forma do servio devocional amoroso. A compreenso superior de renncia de Prabhupada fazia com que ele sempre procurasse uma oportunidade de ocupar outros no servio a Krsna. H a famosa histria do homem bbado que invadiu o primeiro templo de Nova Iorque enquanto Prabhupada palestrava. O bbado passou por -7-

toda a audincia e colocou alguns rolos de papel higinico no banheiro e foi embora sem falar nenhuma palavra. Prabhupada disse que o homem no estava sbrio, mas que havia comeado sua prtica do servio devocional. Ento, qualquer coisa que ofereamos ser bom para ns - nunca samos perdendo ao servir o Senhor. Quando uma criana compra uma lembrana para seu pai com o dinheiro que foi dado por seu pai, o pai sente-se querido e sua afeio pelo filho cresce. Da mesma forma, Krsna sente-Se mais atrado por ns quando oferecemos de volta a Ele os recursos que Ele nos d. assim que convertemos nossa mentalidade de ladro para a mentalidade de devoto. Quando vimos para o mundo material, esquecemos nossa posio como servos eternos do Senhor. Assim, tentamos imitar o desfrutador supremo explorando a natureza material para o prazer de nossos sentidos. Ignoramos o Senhor e tentamos ser felizes independentes dEle. O Senhor to doce que, mesmo com nossa relutncia em voltar para Ele, Ele est sempre conosco. Ele Se senta em nosso corao e testemunha todas as nossas atividades. Ele nos v quando estamos doando, e Ele nos v quando estamos roubando. Ele envia Seus representantes, as almas puras, para nos ajudarem a entender como devemos viver nossas vidas. Ele envia Seu santo nome para purificar nossos desejos e para nos ajudar a viver em harmonia com os princpios divinos. Aqueles que recebem Sua misericrdia tm a obrigao de ajudar outros que esto agonizando neste mundo. Quando ajudamos na distribuio do santo nome e da conscincia de Krsna, mais e mais pessoas se transformam em servos amorosos do Senhor. Assim, esta Era de Ferro pode ter todas as qualidades da Era de Ouro, na qual as pessoas entendem a divindade do Senhor e a relao que tm com Ele, como Seus servos eternos. Esse o verdadeiro antdoto para as aflies da sociedade.

O Ladro de ManteigaPara ajudar as almas rebeldes a sarem do emaranhamento material e se reconectarem a Ele, o Senhor aparece pessoalmente neste mundo e exibe Seus passatempos para atrair nossas mente e corao para o Seu servio. Alguns dos passatempos mais famosos consistem no Senhor roubando de Seus devotos. Krsna desfruta transcendentalmente ao roubar manteiga e iogurte das vaqueiras de Vrndavana. Tambm sente imenso prazer roubando as vestes das jovens camponesas. Tudo tem sua origem no Senhor. As qualidades negativas que encontramos aqui neste mundo so simplesmente reflexos pervertidos do comportamento puro do Senhor. Quando roubamos uns aos outros no mundo material, criamos o sentimento de hostilidade e cultivamos o desejo de vingana que se opem ao amor e preocupao com o bem dos outros. Mas quando Krsna rouba de Seus devotos, eles sentem exultante felicidade. E o sentimento de amor entre o devoto e o Senhor cresce imensamente. Trata-se de uma grande celebrao, um festival de sentimentos amorosos. Por outro lado, como Deus pode roubar algo uma vez que tudo pertence a Ele? Seus roubos so parte de Sua pea divina, que inspirada pelo Seu amor por Seus devotos. Somos apenas pequenas centelhas da energia do Senhor, e tudo que possumos est apenas emprestado a ns durante esta vida. No h, assim, razo para tentarmos imitar as atividades do Senhor, mas, ao contrrio, devemos orar ao Senhor pedindo que roube nossos coraes deste mundo ilusrio e nos permita novamente fazer parte de Seus passatempos eternos.

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Converso HarmoniosaHarmonic Conversion por Satyaraja Dasa No se trata de converso do Cristianismo para o Hindusmo. A converso acontece no sentido de levarmos a classe de homens atestas a aceitarem a conscincia de Deus. (Carta de Srila Prabhupada de 26 de junho de 1976) Em uma reunio de famlia, h algum tempo atrs, eu comecei a falar sobre a conscincia de Krsna e seu valor em minha vida. Para minha famlia mais prxima pais e irmos esse tipo de conversa algo com o que j esto acostumados. Mas para parentes que vejo com menor freqncia, tal conversa os conduz a um passado longnquo, no tempo da minha converso, como eles dizem. Aparentemente, meu tio Sidney tomou como uma afronta pessoal a maior parte do que eu dizia. Voc est tentando nos converter?, ele disse como se h muito tempo estivesse se segurando - ele sorria, mas seus lbios estavam plidos de raiva. Convert-lo? Eu no sabia que voc tinha religio. Eu sou Judeu!, ele disse incrdulo, como se aquela resposta solucionasse todas as questes. Certo, eu no acredito em Deus, mas eu sou Judeu. Silncio constrangedor. Bom, ao menos eu nasci Judeu, e voc tambm. Eu tambm nasci beb, eu contestei, tentando levar um pouco de humor para a discusso. Mas isso mudou, no? S porque voc nasceu em uma religio no faz de voc um praticante. E...? Por isso, eu falar com entusiasmo sobre a tradio religiosa que adotei, a conscincia de Krsna, no desafia de forma alguma a relao que voc tem com a religio de seu nascimento. Ns deixamos aquele assunto para l; mas quando eu voltei para casa aquela noite, eu fiquei pensando sobre a perspectiva de meu tio. Por que ele se considera Judeu, mesmo no praticando a religio? Por que minha converso para a conscincia de Krsna era desconfortvel para ele? E ser que eu estava mesmo tentando convert-lo? Como eu poderia explicar para ele que minha converso, como ele via, no se tratava de um movimento horizontal do ocidente para o oriente, mas, sim, um movimento vertical, da terra firme para o caminho da transcendncia?

Exclusivismo ReligiosoA tenso de meu tio em relao conscincia de Krsna se baseia no exclusivismo religioso, a viso que separa as religies de acordo com o fundador, as escrituras e as diferenas histricogeogrficas. Por causa dessas diferenas, os adeptos de algumas religies acreditam que apenas o seu processo efetivo, com todos os outros apresentando algum grau de debilidade. Assim, muitas religies, especialmente aquelas originadas no ocidente, tm enraizadas a noo de serem a religio verdadeira. Acreditam que apenas eles esto trilhando o exclusivo caminho para Deus e a salvao. Mas o mundo moderno vem refutando tal viso. Pela primeira vez na histria registrada, estamos nos tornando rapidamente uma comunidade global, o que naturalmente nos conduz ao pluralismo religioso compreenso verdadeira das religies de nossos vizinhos e como elas se relacionam com nossa gama pessoal de crenas. A viso pluralista se torna algo mais logicamente plausvel quando reconhecemos que todas as tradies religiosas genunas acreditam em uma verdade transcendental (freqentemente chamada de Deus) e em nossa obrigao de agirmos em harmonia com essa verdade. Mas o exclusivismo persiste. De onde ele vem? Qual sua origem? Psicologicamente, sua origem -9-

pode ser facilmente traada a partir do desejo de ser considerado especial dentro do cosmo, a necessidade de se situar em algo exclusivo. Em relao s religies originadas no Oriente Mdio, acadmicos atribuem a origem da idia do exclusivismo ao exlio dos Judeus para a Babilnia, quando se voltaram pela primeira vez ao monotesmo e desenvolveram a tradio de no se misturarem a outras naes. Mas no diga isso ao meu tio. As leis Mosaicas so vistas como a nica revelao, e associam os Judeus a Deus de forma que nenhuma outra pessoa teria relao com Ele. Isso faz deles o povo escolhido. A crena dos Judeus em um Deus exclusivo se estendeu a seu pupilo, o cristianismo, com o Jesus o nico filho de Deus. Tendo nascido do frtil solo exclusivista do Judasmo, a tradio crist clama que s se pode alcanar o Supremo atravs de Jesus, crena que inspira as atividades missionrias da igreja por todo o mundo. Mas se pensarmos sobre isso profundamente, realizaremos que todos somos partes do mesmo organismo Deus e nossa exclusividade se baseia exatamente em como, de acordo com nossa maquiagem psicolgica individual, iremos servir a Ele para que desenvolvamos nosso amor por Ele. Como criaturas finitas, quem somos ns para limitarmos o amor de Deus, dizendo que Ele aceita o amor daqueles em um processo e no aceita o daqueles em outro? Movimentos Judeus que compreenderam esse ponto assumiram a postura pioneira de reconhecerem a legitimidade de outros caminhos para se chegar a Deus, e o Conselho do Vaticano de 1965 diz que os Cristos devem buscar apreciar o que h de bom e verdadeiro nas demais fs. Isso no tem por fim dizer que as diferenas entre as tradies religiosas so meramente semnticas, ou que todos os caminhos so igualmente efetivos em conduzir-nos para o destino supremo. No movimento Hare Krsna, balanceamos nossa abertura s vrias tradies religiosas do mundo com afiados questionamentos acerca do contedo de determinadas tradies. preciso haver um critrio base para se discernir verdades religiosas, mesmo que todas as principais tradies sejam aceitas em essncia.

O que Religio?Em uma palestra pblica no ano de 1972, Srila Prabhupada, de forma muito sensata, define a natureza da religio verdadeira: Na sociedade humana, h sempre algum tipo de instituio religiosa. Isso se chama dharma, f. Como j foi explicado, dharma o dever constitucional e funcional de cada indivduo. A essncia da verdadeira religio a prestao de servio a Deus. Ns, todavia, manufaturamos diferentes religies na sociedade de acordo com o pas ou as circunstncias. [...] Pode-se praticar qualquer tipo de princpio religioso, mas o resultado deve ser a aquisio da perfeio. Talvez uma pessoa diga que est seguindo perfeitamente os princpios de sua religio, que so trazidos na Bblia, no Coro, etc., e isso muito bom, mas qual o resultado? O resultado deve ser que a pessoa deseje cada vez mais ouvir sobre Deus. Enquanto conversava com meu tio Sidney, tais idias norteavam meus pensamentos. Estando ciente de sua descendncia Judaica (e da minha tambm), eu tentava trazer algo mais profundo. Eu estava falando sobre a prtica de princpios espirituais. Eu no estava nem um pouco preocupado se chamamos tais princpios de Judasmo, Cristianismo ou Hindusmo. No ensinamento de Prabhupada, chamado de Vaisnavismo, essa essncia espiritual se chama sanatana-dharma, ou a eterna funo da alma. Essa tradio incentiva seus adeptos a se focarem no cerne da busca religiosa: amor por Deus. Ela enfatiza a qualidade da devoo, e no o rtulo de um caminho particular, como disse Prabhupada em uma conversa em Gnova em junho de 1974: Primeiramente, o que qualidade? A qualidade do cristo percebida por sua obedincia ou no dos Dez Mandamentos. Se ele no os cumpre, onde est sua Cristandade? Assim declarado gunakarma: pela qualidade e trabalho, a pessoa se torna Crist, Hindu ou Muulmana. preciso que exista a qualidade. E quando a espiritualidade se desenvolve, seja atravs do Cristianismo, do Hindusmo ou do Islamismo isso no importa a est a qualidade desejada... Portanto, nosso movimento existe para criar pessoas que amam a Deus, e isso declarado no Bhagavatam: a - 10 -

religio de primeira classe aquela que transforma seus seguidores em pessoas que amam a Deus. De acordo com Prabhupada, o caminho supremo aquele que nos permite desenvolver amor por Deus. Se a pessoa no desenvolve esse amor, ento a instituio religiosa no nada seno uma distrao meta ltima da vida. Prabhupada baseia essa idia no verso 1.2.6 do SrimadBhagavatam, possivelmente a mais profunda de todas as escrituras religiosas: O dever supremo (dharma) de toda a humanidade aquele pelo qual as pessoas podem obter o servio devocional amoroso ao Senhor transcendental. Tal servio devocional deve ser desmotivado e ininterrupto para a completa satisfao do Eu. Em outras palavras, h o que se chamaria de dharma externo (dever, religiosidade) e de dharma interno, e se o primeiro no conduz ao segundo, o primeiro deve ser descartado. Isso pode ser entendido pelo cuidadoso estudo do Bhagavad-gita: Krsna inicialmente instrui a humanidade a aceitar completamente o dharma. Ele diz que com o objetivo de se estabelecer o dharma que Ele pessoalmente descende (Bg. 4.8) mas, at ento, Krsna se refere ao dharma externo. Quando o Gita comea a se aproximar de seu fim, Krsna finalmente sugere que abandonemos o dharma externo e tomemos refgio nEle. (Bg. 18.66) Esse o dharma interno. Como exemplifica o comportamento do meu tio, enquanto se calcula como praticar sua religio, muito freqente deixar Deus de fora da equao. Assim, o Senhor Krsna diz de forma definitiva que seguir as tradies religiosas importante, mas que o mais importante se ater essncia da religio.

O que , Definitivamente, Dharma?O movimento Hare Krsna respeita e pratica o dharma como ele enunciado nos antigos textos Vdicos, mas enfatizamos a essncia do dharma: amor por Deus. Em ltima instncia, isso que todas as religies ensinam adeso ao dharma externo, mas com a conscincia de que esse mero subserviente do dharma interno. Tal percepo deve ser adquirida para a compreenso do verdadeiro significado da busca religiosa. Em Snscrito, a palavra mais freqentemente usada para designar religio , mais uma vez, dharma. Todavia, dharma denota mais do que uma doutrina que algum se afilia para a expresso de determinada f religiosa. Dentre suas diversas definies, dharma literalmente significa a essncia de uma coisa. O dharma do acar a doura; o dharma do fogo o calor; o dharma das entidades vivas conhecer e amar a Deus. Em outras palavras, dharma aquilo do qual um ser ou coisa no pode ser separado. Voc pode mudar sua f, a forma com que expressa sua religiosidade um Judeu pode se tornar Muulmano, que pode se tornar Cristo, que pode se tornar Hindu mas voc sempre servo de Deus. Esse seu verdadeiro dharma. Talvez algum proteste: Eu no sou servo de Deus. Eu sou dono de mim mesmo. Eu no sirvo ningum. Se examinarmos cuidadosamente nossa vida, todavia, veremos claramente que somos sempre servos. Podemos servir Deus e, por extenso, a humanidade ou podemos servir nossa famlia ou nossos sentidos pessoais mas somos servos por natureza. No estado condicionado da existncia material, as entidades vivas servem o Senhor de forma indireta e desfavorvel, enquanto que no estado liberado as entidades vivas servem o Senhor de forma direta e favorvel. Para exemplificar, todos no Estado servem o Estado. Alguns servem de forma direta e favorvel, como os policiais, soldados, polticos, os cidados que pagam seus impostos etc., enquanto que outros servem de forma indireta e desfavorvel, como os prisioneiros. Presos na priso da natureza material, sob a superviso de Durgadevi (a personificao da energia material), as almas condicionadas so foradas a servir maya, ou iluso, e, em troca de seus servios prestados, elas so s vezes chutadas pelas cruis leis da natureza e s vezes afagadas pelo seu carinho inconstante. As almas liberadas, que vivem na morada suprema do Senhor (o reino de Deus, nosso lar original), em contraponto, servem o Senhor diretamente em diversas variedades de rasas espirituais, ou relacionamentos transcendentais, e desfrutam de uma vida eterna, plena de conhecimento e de bemaventurana na companhia da Suprema Personalidade de Deus, o reservatrio de todo o prazer.

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A Importncia do No-SectarismoUma vez que Deus um, a religio tambm deve ser uma. Essa religio comum, que recebe diversos nomes, conhecida pelos indianos (e pelos devotos Hare Krsna) como sanatana-dharma, e isso que eles se esforam em praticar. Assim, sanatana-dharma, a religio do movimento Hare Krsna, no um conceito sectrio que tenta artificialmente rebaixar outras religies e estabelecer sua supremacia com base nos conceitos mundanos de superioridade e inferioridade; seno que a natural busca da alma espiritual pelo servio e amor a Deus. a essncia o dharma interno de toda entidade viva. O movimento Hare Krsna prega que as entidades vivas no so Crists, Judias, Hindus ou Muulmanas, porque esses ttulos so designaes corpreas. E, se isso estivesse claro na conversa que tive com meu tio, no teria havido nenhum desentendimento. As pessoas no so o corpo, mas sim a alma espiritual. Contudo, muitos acham que so cristos, por exemplo, simplesmente porque nasceram em uma famlia crist. Eles no consideram que na prxima vida ou mais tarde na mesma podem se tornar Budistas, Siques ou adeptos de qualquer outra religio. Novamente, um Cristo pode se converter em Judeu, ou um Hindu em Muulmano so todas designaes temporrias do corpo e de crenas pessoais, designaes que mudam, que tm comeo e fim. Portanto, no so sanatana-dharma, a verdadeira religio eterna de todos. Mas se uma pessoa encontra os princpios do sanatana-dharma nos ensinamentos do Cristianismo, do Islamismo, ou em qualquer outro lugar, ela deve aceit-los sem considerar o rtulo ou o local de origem. Enfim, a religio Hare Krsna ensina o verdadeiro no-sectarismo, como estabelecido anteriormente, encorajando que as pessoas aceitem qualquer processo genuno que as conecte com Deus, como afirma Prabhupada: Pode-se compreender nossa relao com Deus atravs de qualquer processo atravs do Cristianismo, atravs da literatura Vdica, ou atravs do Coro mas tal assunto deve ser compreendido. O propsito deste movimento da conscincia de Krsna no transformar Cristos em Hindus ou Hindus em Cristos, mas informar a todos que o dever do ser humano entender sua relao com Deus. A compreenso da existncia de um dharma eterno, uma religio universal, to clara para Prabhupada que o conceito de sectarismo lhe parece absurdo: O que sectarismo? Em todas as seitas a criana dependente dos pais. O que se quer dizer com sectarismo? Quer-se dizer que a criana Hindu no dependente de seus pais? A criana muulmana no depende de seus pais? Todos dependem dos pais. Se ela uma criana Hindu, uma criana Crist ou uma criana Muulmana, isso no importa. Essa a natureza da criana. De forma similar, talvez voc seja Hindu ou Muulmano, mas voc depende de Deus. Isso um fato. Ento, onde est o sectarismo? O Muulmano pode dizer No, no. No somos dependentes de Deus? Os Cristos podem declarar isso? Temos que pegar a condio geral: todos so dependentes de Deus. Onde est a questo do sectarismo? como uma nuvem: todos esto esperando por chuva. Isso no significa que se espere por chuva Muulmana ou chuva Hindu ou chuva Crist. Toda chuva dependente das nuvens. Isso tudo. Hindu, Muulmano, Cristo somos dependentes da nuvem. Por que declarar-se independente de Deus?. Prabhupada grifou a importncia de se buscar a verdadeira religio em qualquer lugar que se possa encontr-la, embora ele claramente expressasse sua f pessoal na tradio Vdica, a qual atribua os predicados de a mais abrangente e clara e os mais antigos textos conhecidos pela humanidade: Se uma pessoa sria quanto a buscar por Deus, ela no deve pensar eu sou Crist, eu sou Hindu ou eu sou Muulmana. [Seno que] deve considerar qual processo o mais prtico. No deve pensar: Por que eu deveria seguir o Hindusmo e as escrituras Vdicas?. O propsito de se seguir as escrituras Vdicas desenvolver amor por Deus. Quando estudantes vm para a Amrica em busca de educao superior, eles no se preocupam se os professores sero americanos, alemes ou de outra nacionalidade. Se querem educao superior, simplesmente vm para a Amrica. De forma similar, se h um processo efetivo para se compreender e se aproximar de Deus, como esse - 12 -

processo da conscincia de Krsna, deve-se tirar o mximo de proveito.

Converter em Qu?Citaes como a acima pedem reflexo: Prabhupada est recomendando alguma espcie de converso? Ele v sua tradio como sendo melhor do que outras? Se pegarmos essa ltima citao juntamente com as demais, veremos que Prabhupada no est recomendando que pulemos de uma religio para a outra, mas que olhemos a fundo a verdade religiosa e vivamos nossas vidas de acordo. Claramente ele v a tradio Vaisnava como mais inclusiva, e as escrituras Vdicas como mais claras e objetivas; e ele certamente iria recomendar a uma pessoa se ela se demonstrasse inclinada a aceitar essas escrituras e tradio. Mas para que fim? Esse o ponto crucial. No para aumentar o nmero de Hindustas ou de adeptos de qualquer outra seita. Prabhupada est apenas pedindo para que as pessoas procurem um processo cientfico que culmine no amor por Deus. Se podem fazer isso atravs de alguma tradio sectarista, ento que faam; mas ele recomenda o Vaisnavismo, pois sabe que ele funciona. Prabhupada diz: Sim, eu no digo que Cristos devam se tornar Hindus. Eu apenas digo: Por favor, obedeam aos mandamentos. Eu quero fazer dos Cristos melhores Cristos. Essa minha misso. Eu no digo: Deus no est na sua tradio; Deus est apenas na nossa. Eu simplesmente digo: Obedea a Deu. Eu no digo: Voc tem que aceitar que o nico nome de Deus Krsna. No, eu digo: Por favor, obedea a Deus. Por favor, tente amar a Deus. Assim, se os ensinamentos de Prabhupada falam sobre algum tipo de converso, falam sobre converter pessoas do materialismo para o espiritualismo e isso tudo. Sua preocupao que as pessoas pratiquem suas religies de forma sincera e com entusiasmo. E como ele era pessoalmente praticante do dharma Vaisnava, ele estava confiante de que poderia ensinar a outros a fazerem o mesmo. Prabhupada no aceita as idias de uma revelao exclusiva, de um povo escolhido, ou de um nico salvador; por isso no pensa em termos de converso. Ao contrrio, afirma que Deus aparece em vrias formas, tempos e locais para falar a lngua da religio para todas as culturas e, assim, estabelecer os vrios aspectos de Sua lei e de Seu amor. De acordo com Prabhupada, o amor de Deus pela humanidade algo muito poderoso para ser restrito a um tempo, local ou cultura. Mesmo destacando o prestgio da tradio Vaisnava, os ensinamentos de Prabhupada so nosectrios. Ele no estava interessado em converses, embora estivesse interessado em compartilhar a cincia Vaisnava de como desenvolver amor por Deus. S desejo que meu tio Sidney possa entender isso.

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Acordando do SonhoWaking from the Dream por Jahundvipa Dasa Ns, almas que habitamos o mundo material, estamos sob a influncia da potncia ilusria de Krsna, Maya Devi. Assim como uma pessoa esquece sua vida enquanto sonha durante a noite, ns que vivemos no mundo material vivemos em ignorncia de nossa identidade verdadeira, e por isso se diz que estamos dormindo. A realidade a qual estamos to acostumados apenas um sonho. Nossa existncia espiritual, aquela da qual nos esquecemos nossa existncia eterna no reino espiritual a realidade. Como podemos distinguir entre realidade e iluso? Em um sonho, tudo parece mais ou menos real. Ns experimentamos os mesmos registros de emoes e impresses de quando estamos acordados. Sonhos parecem bastante reais. O que, ento, faz do sonho irreal? No Bhagavad-gita, o Senhor Krsna responde dizendo que realidade aquilo que existe sem cessao, que existe de forma contnua e eterna. Um sonho, portanto, uma vez que tem comeo e fim, no pode ser real. A existncia real contnua. Aqueles que so videntes da verdade concluram que no h continuidade para o inexistente [o corpo material] e que no h interrupo para o existente [a alma]. Eles concluram isto estudando a natureza de ambos. (Bhagavad-gita 2.16) Quando o Senhor Krsna se refere ao corpo material como inexistente, Ele est dizendo que ele temporrio; sua existncia no um fato permanente. Inexistente no quer dizer que o corpo e o mundo material simplesmente no estejam aqui, ou que so falsos, como afirmam alguns impersonalistas. Em contraste com a existncia eterna, nossa atual existncia efmera e insubstancial apenas um breve momento, como um sonho. Por mais longa que seja a vida dentro deste sonho, ela encontrar fim, e, no reino da eternidade, nossa durao de vida de sessenta ou oitenta anos no mais do que um piscar de olhos na vastido da eternidade, que sequer registra esse tempo. Essa verdade se aplica tambm ao computador que estou usando agora para escrever. Mesmo que eu fosse embora e deixasse o computador aqui sozinho, sem nunca mais tocar nele, o tempo iria destru-lo, e sua identidade, ou forma, deixaria de existir. Para ns, mil ou um milho de anos pode parecer uma quantia de tempo considervel, mas, do ponto de vista, digamos, do Senhor Brahma, o primeiro ser vivo criado no universo (que vive inimaginveis 311.040 trilhes de anos), certamente o meu computador, a mesa que sustenta meu computador, bem como a casa que abriga a mesa, no podem ser tidas como existentes. Antes que o Senhor Brahma tenha terminado sua higiene matinal, ns teremos nascido e morrido milhares de vezes. A vida do Senhor Brahma dura tanto quanto o universo no qual estamos vivendo. Ou seja, ele vive enquanto o universo existe. Ento, em relao percepo de tempo do Senhor Brahma, nossas vidas so to curtas e insignificantes que, para todos os fins, elas praticamente no existem. De forma similar, no tempo eterno do reino espiritual, o Senhor Brahma e o universo no qual vivemos so to insignificantes e inexistentes quanto ns somos em relao ao universo. Krsna explica isso no Bhagavad-gita (8.17-20): Pelo clculo humano, quando se soma um total de mil eras, obtm-se a durao de um dia de Brahma. E esta tambm a durao de sua noite. No incio do dia de Brahma, todos os seres vivos se manifestam a partir do estado imanifesto, e depois, quando cai a noite, voltam a fundir-se no imanifesto. Repetidas vezes, quando chega o dia de Brahma, todos os seres vivos passam a existir, e, com a chegada da noite, so desamparadamente aniquilados. - 14 -

Entretanto, h uma outra natureza imanifesta, que eterna e transcendental a esta matria manifesta e imanifesta. Ela suprema e jamais aniquilada. Quando todo este mundo aniquilado, aquela regio permanece inalterada.

Outro PlanoKrsna diz existir um reino eterno, transcendental a este mundo temporrio e manifesto. Aqui neste plano todas as nossas experincias e atividades so similares as de um sonho porque, com o tempo, so reduzidas a uma lembrana vaga, e, ento, perdem-se completamente como se nunca tivessem existido. E, por fim, dormimos na morte. Mas, no plano espiritual, desfrutamos de uma experincia contnua de eternidade tendo acordado para a nossa vida real. Por isso, nossa presente existncia em um corpo que muda da infncia para a juventude e em seguida para a velhice irreal e semelhante a um sonho. Nossa vida neste determinado corpo tem comeo e fim, logo se trata de um sonho. Nossa vida no irreal no sentido de que no tenha seu papel e posio. claro que tem. Se eu bater minha cabea contra a parede, ela vai doer, e essa dor bastante real. Portanto, o fator de irrealidade do corpo que ele acaba e que ele nunca poder cumprir sua promessa de nos dar a felicidade que tanto ansiamos. Essa a verdadeira iluso do mundo material. Uma pessoa talvez considere o desfrute no mundo material como algo substancial. O que h de errado em se desfrutar? O que h de errado em se buscar felicidade? A resposta que o prazer da vida sempre acaba. isso que h de errado. Tal prazer jamais poder satisfazer o eu, porque o eu eterno e, portanto, anseia por prazer eterno. Uma pessoa inteligente no se envolve com as fontes de misria, que se devem ao contato com os sentidos materiais. filho de Kunti, tais prazeres tm comeo e fim, e, portanto, o sbio no busca prazer neles. (Bhagavad-gita 5.22) Como podemos ver pelas palavras de Krsna acima, no s no podemos encontrar satisfao nos prazeres temporrios, mas os mesmos objetos de prazer nos trazem sofrimento. A misria sempre acompanha a felicidade material. Sendo a alma eterna por constituio, no podemos encontrar satisfao no temporrio. A vida no mundo material nunca ir nos satisfazer, no importa o quanto de gratificao sensorial consigamos. exatamente como um sonho. Podemos experimentar alguma felicidade sensorial enquanto nos envolvemos com atividades prazerosas, mas sempre temos que acordar para a realidade cheia de misria e lamentao. De um sonho, acordamos para a nossa vida diria; e de nossa vida, acordamos para doenas, velhice, morte e outras calamidades.

Lembranas que se ApagamNa vida, as atividades a que nos dedicamos se tornam memrias, e essas memrias se tornam sonhos. Todas as experincias que tivemos, boas e ruins, so apenas memrias agora fracas e sem substncia como um sonho que tivemos. Ns as esquecemos como se, de fato, nunca tivessem existido. Em essncia, no h diferena entre um sonho que tivemos e as experincias que de fato aconteceram conosco. Quando um homem velho senta-se na praa e fica contemplando as jovens que passam apressadas, no lhe muito agradvel lembrar de todo o prazer que sentiu quando tinha a companhia de mulheres. Algumas pessoas, s vezes, dizem que viveram plenamente, que tm boas lembranas para se apoiarem. Mas, de fato, as memrias do passado no so suficientes para nos satisfazer. As lembranas de momentos de desfrute que tivemos no passado ou a esperana de t-los no futuro no podem satisfazer a profunda carncia que existe em nossos coraes. Nossos sentidos e nossa mente podem encontrar algum alvio em relacionamentos, ou mesmo em posses, mas por pouco tempo. Mesmo que amemos fielmente a mesma pessoa por toda a nossa vida e aquela pessoa reciproque nosso amor, a felicidade no ser eterna obrigatoriamente haver separao, e a misria tomar espao novamente. No h maneira de evitar isto: a vida material um poo de lamentaes. Krsna diz: Partindo do planeta mais elevando do mundo material e descendo ao mais baixo, todos so lugares de misria, onde ocorrem repetidos nascimentos e mortes. Mas quem alcana a Minha morada, filho de Kunti, jamais volta a nascer. (Bhagavad-gita 8.16) - 15 -

Agora, se no houvesse alternativa para a vida material, a existncia seria algo realmente sombrio. Muitas pessoas que no tm conhecimento da alternativa positiva da conscincia de Krsna acham a verdade acerca do mundo material algo muito deprimente. Mas, da mesma forma que um sonho denota algo real, nossa vida material temporria no nada mais do que um reflexo distorcido de nossa vida real e eterna. O vu de nossa percepo material cobre, atualmente, nossa conscincia e nossa mentalidade. isso que faz com que acreditemos ser possvel encontrar felicidade no mundo material atravs do corpo temporrio. A alma deixa seu meio original e eterno e entra no mundo temporrio da matria. Srila Prabhupada compara tal posio com a de um peixe fora dgua. Fora de seu meio natural, o peixe no pode desfrutar, e logo morre. No importa quanto prazer seja oferecido ao peixe: ele no poder desfrutar estando fora de seu meio natural. De forma similar, temos que morrer repetidas vezes, debatendo-nos por poucos momentos inconseqentes na praia do tempo. Esse ciclo s encontra fim quando acordamos para nossa existncia real. Ns viemos ao mundo material porque desejamos imitar a posio de Krsna como o supremo desfrutador e controlador. Como jamais poderemos usurpar a posio de Krsna, Ele bondosamente nos coloca para dormir na vida material para que possamos sonhar que somos os desfrutadores e controladores. O processo espiritual genuno da conscincia de Krsna ajuda a alma que dorme no colo de Maya a acordar para a realidade a realidade da vida espiritual. Em realidade, somos eternamente plenos de conhecimento e bem-aventurana. Mas, dormindo, no podemos realizar isso, seno que tentamos encontrar felicidade em nossos sonhos sejam eles a busca pelo amor, a famlia, o sucesso, a riqueza ou qualquer outra soluo dentre diversas solues temporrias. Procuramos a felicidade fora de ns, sendo que ela est o tempo todo dentro de ns. Somos como um cervo que ignora o riacho prximo e corre para o deserto em busca de gua. Os sbios nos informam que a soluo para essa lastimvel condio, a maneira de se livrar dessa ignorncia existencial, o cantar do mantra Hare Krsna. Por isso, os membros do movimento Hare Krsna anseiam em ver todos cantando Hare Krsna, Hare Krsna, Krsna Krsna, Hare Hare / Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare. O Kali-santarana Upanisad diz sobre o cantar do maha-mantra: Essa a nica maneira de se combater os males de Kali-yuga. Mesmo que se busque por todos os Vedas, no se encontrar uma forma de religio mais sublime.

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Soldado de KrsnaSoldier for Krsna por Parthasarathi Dasa Sentado, contemplando o rifle de um soldado morto, do qual se dependurava sua corrente de identificao, eu s conseguia pensar em tudo o que passei para estar hoje onde estou. O caminho que percorri nos ltimos vinte e oito anos no foi fcil. Eu parti de uma criana criada nas ruas do Brooklyn, em Nova Iorque, tornei-me um soldado americano e, ento, um pregador espiritual. Dentre minhas lembranas, h boas e ruins, h vida e morte. Agora estou na segunda temporada de minha misso em Baghdad, a cidade que bombardeou minha sade e tomou para si a vida de vrios amigos que tive. Mas, ao invs de ficar triste por ter de retomar essa posio, eu me esforo e vejo isso de uma perspectiva consciente de Krsna. Eu me iniciei na vida militar aos dezessete anos, no por patriotismo ou glria, mas como uma oportunidade de sair do Brooklyn. Eu me esforcei muito para desenvolver as habilidades e valores de algum dedicado proteo de seu pas. Mas, apesar de ter crescido rapidamente dentro da carreira militar, eu sentia que ainda me faltava algo. O exrcito me levou para diversos campos de batalha. Em junho de 1999, fui enviado para Kosovo para auxiliar no ataque areo. Essa experincia mudaria minha vida para sempre. Eu testemunhei pela primeira vez os horrores da guerra. Um dia, fazendo a patrulha, encontramos duas crianas que foram mortas ao pegarem uma bomba que no havia explodido. Aquilo foi um divisor de guas na minha vida. Aquela viso me levou de uma vida com metas materiais, para uma vida de compaixo e misericrdia. Naquele mesmo dia, eu recebi em meu e-mail um livro que trazia uma entrevista com uma banda Hare Krsna. Eu achei a filosofia deles muito interessante, e decidi que procuraria um templo depois que deixasse Kosovo. To logo retornei para a Alemanha, meu irmo morreu de cncer. Eu fui totalmente tomado pela a aflio. Ento, em um glido dia de inverno, eu comecei minha busca pelos devotos de Krsna. Quando eu j estava prestes a desistir, eu finalmente os encontrei. Eu logo realizei que a conscincia de Krsna era o que eu buscava. Eu queria ajudar as pessoas, e dar Krsna a elas era a melhor forma de ajud-las. Eu comecei a freqentar regularmente o templo de Nurenberg, e s vezes eu saa com os devotos para distribuir os livros de Srila Prabhupada. Eu recebi iniciao espiritual em setembro de 2001.

No Kuwait com a Companhia do Meu GitaPelos anos seguintes, eu estava bem em minha carreira militar. Eu fui promovido dentro do posto de sargento e recebi trinta e cinco soldados para cuidar, motivar, instruir e auxiliar em seus desenvolvimentos individuais. No dia primeiro de fevereiro de 2003, recebemos ordens para partimos em direo ao Kuwait devido possvel invaso de tropas iraquianas. Eu no acreditava que eu teria de ir. Como Krsna podia fazer isso comigo? Mas, depois de conversar com meu mestre espiritual, eu me senti melhor. Eu entendi que aquele era meu dever. Eu era um soldado, e o dever de um soldado lutar. Eu fui para o Kuwait armado com um rifle, uma japa e o meu Bhagavad Como Ele . Eu era um soldado do exrcito do Senhor Caitanya. Era uma situao incomum para tal, mas eu estava determinado a tentar pregar a mensagem do Senhor Krsna. Todo lugar aonde eu ia, eu cantava. Eu vestia meu colete e meu capacete e carregava minha arma, mas, pendurado no meu pescoo, sempre estava meu saco de contas. No Iraque, era um constante desafio manter a conscincia espiritual. Eu no podia cantar minha japa porque eu tinha que segurar meu rifle o tempo todo. Eu tentava manter minha mente ocupada com oraes, e tinha grande f que o Senhor, em Sua forma de Nrsimhadeva, estava me protegendo. - 17 -

Minha alimentao estava muito longe da ideal, e os padres de limpeza tambm no eram Vaisnavas. Mas eu estava seguindo minha natureza e fazendo aquele servio para o meu pas e para os soldados sob o meu comando. Eu tentava manter minha conscincia de Krsna, mas era difcil. A melhor forma para isso, que encontrei, era cantar o tempo todo. Uma vez, quando eu e minha tropa estvamos sendo emboscados, eu gritei: Krsna!. Ali eu descobri quo poderoso Seu nome. Ao longo dos dias, enquanto eu cantava, eu sentia minha ansiedade indo embora, e eu ganhava nova disposio para lutar. Eu pude deixar meus pensamentos de lado e simplesmente fazer o que eu tinha que fazer. Eu apenas esperava que Krsna fosse meu guia. Quando voltamos para o acampamento, todos me perguntaram como eu podia estar to calmo. Eu aproveitei a oportunidade para falar sobre a conscincia de Krsna para eles. Aqueles soldados tinham fome de Krsna. Enquanto eu lia o Bhagavad-gita, eu vi brilho e vida em seus olhos: o semblante de medo e morte havia ido embora. Por um minuto, aqueles soldados esqueceram a guerra, esqueceram as balas que voavam prximas s suas cabeas. Eles se concentraram na Verdade Absoluta. Eu expliquei a eles que todos j estamos mortos pelo arranjo de Krsna. Qual era ento a razo para temer nossa situao? Na hora da morte, simplesmente devemos nos lembrar de Deus. Os soldados estavam muito gratos por aquele conhecimento. Alguns perguntaram se poderamos ter uma aula semanalmente. Sentado em minha cama-beliche, refletindo sobre o dia, eu me dei conta de que Krsna havia me enviado para a guerra como um arranjo para que eu pudesse falar sobre Ele para outras pessoas ali. Eu pude entender que a alma espiritual eternamente serva de Krsna, e que aqueles soldados puderam se lembrar disso por um instante ao ouvirem o Bhagavad-gita. A partir daquele dia, antes de sairmos em misso, tnhamos uma breve aula do Bhagavad-gita. Eu espirrava um pouco de gua do Ganges neles. Era uma cena engraada todos aqueles soldados srios, focados em suas misses, e eu andando em volta deles espirando gua em suas cabeas. Eles adoravam aquilo. Como almas no mundo material, estamos sujeitos a nascimento, doena, velhice e morte. Durante a guerra no Iraque, alguns amigos meus morreram, um deles em meus braos. Aqueles soldados ouviram os passatempos de Krsna e o maha-mantra. Alguns at mesmo me traziam comida para que eu oferecesse a Krsna. Eles se atraram por Krsna. Quanto mais ouviam sobre Ele, mais Lhe ofereciam suas vidas. Eles eram devotos de acordo com a definio de devoto do Senhor Caitanya, que aquele que disse o nome de Krsna ao menos uma vez. Pela misericrdia do Senhor, eles disseram Seu nome em suas breves vidas.

Cura Material e EspiritualMeu passeio pelo Iraque terminou de forma inesperada. Eu fui ferido pela exploso de uma granada que atingiu meu caminho. O abalo da exploso fez com que eu perdesse por um instante a conscincia de onde estava. Eu olhei para baixo para ver se eu ainda tinha minhas pernas. Eu ouvi meus passageiros gritando, ento eu atirei para cima com meu rifle para lhes passar confiana. Meus ferimentos no representavam perigo de vida, mas, trs semanas depois, colocaram-me em um vo de volta para a Alemanha porque meu pulmo estava secretando sangue. Eu fiquei no hospital por duas semanas. Eu recebi alta no Janmashtami, ento fui ao templo de Berlim. Era maravilhoso ver a Deidade de Krsna aps tudo o que eu havia passado. Aquele dia foi como um sonho. Eu vi meu mestre e irmos espirituais. Minha conscincia estava pesada por eu ter participado da guerra. Eu estava confuso e pensava ter cometido muitos pecados no Iraque. Aps meu mestre espiritual confortar minha mente com conhecimento transcendental, eu comecei a me readaptar vida normal. Eu me casei e comecei a fazer planos para o futuro. Tudo estava indo bem.

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De Volta ao IraqueEnto eu recebi uma nota oficial me informando que eu iria retornar ao Iraque. Como se as coisas no pudessem piorar eu estava indo para uma base militar que era constantemente atacada por tropas e canhes. Agora, para a minha segunda excurso pelo Iraque, eu deixei para trs minha famlia espiritual e minha esposa. Mas, desta vez, eu estou aqui para pregar o nome de Krsna neste pas ferido pela guerra. Estou mais preparado desta vez. Eu aprendi muito no ano anterior. Eu aprendi que no podemos entender os arranjos de Krsna. Achamos que a vida espiritual boa na mesma proporo que tudo ao nosso redor est bom. Mas eu tive que entender que temos que manter nossa perspectiva espiritual em todas as circunstncias. Eu entendo que meu karma me colocou em uma situao em que no posso comer de forma apropriada, em que no tenho a associao dos devotos e em que sou alvo de diversos fuzis. Eu reflito sobre minha breve estadia na Alemanha na companhia da Deidade de Krsna e de Seus devotos. Eu me sinto mais consciente da dependncia que tenho dEle. A guerra no Iraque uma das melhores situaes nas quais j estive. Eu posso usar essa situao em que estou inserido para apresentar Krsna para diversas pessoas. um fato que, durante certo ponto da guerra, todo soldado se volta para Deus em busca de abrigo. Algumas vezes, uma prece pedindo perdo. Alguns oram por uma morte rpida. Eu oro para que Krsna se manifeste no corao de cada soldado e que faa com que eles se lembrem que so Seus servos eternos. Agora mesmo, h muitos se lembrando de suas posies como servos de Krsna. Venho falando da conscincia de Krsna mesmo para oficiais de patentes superiores minha. Os resultados tm sido incrveis. Prabhupada queria devotos em todos os setores da sociedade. Eu estou tentando fazer este servio como uma oferenda a Krsna. A guerra no Iraque no uma guerra religiosa. No me importa por que eu estou aqui. Eu estou aqui para pregar a conscincia de Krsna. O Iraque no um pas consciente de Krsna, mas a semente de bhakti foi plantada em sua terra. Oremos para que ela crie razes, porque Prabhupada ensinou que a verdadeira paz s vir quando todos forem conscientes de Krsna.

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Retratos do Meu Ano FavoritoThe Album of My Festive Year por Nitya Kisori Devi Dasi Foliando um lbum de retratos com as lembranas de meus dez meses na Bhaktivedanta College [Faculdade Bhaktivedanta], de 2002 a 2003, eu parei me aproximando do fim e lembrei dos sentimentos confusos que experimentei no dia 28 de junho, quando caminhvamos por um bosque de Radhadesh, Blgica. Ns ramos a primeira turma a se formar. Tocvamos tambores e karatalas e cantvamos os nomes de Krsna enquanto amos em direo ao gramado onde teramos nosso ltimo encontro. Os meses que passamos juntos foram a melhor poca da minha vida. Eu me sentia feliz, inspirada e iluminada pela vivncia, e eu estava triste por tudo aquilo estar acabando. E eu teria de abruptamente deixar meus colegas de curso no dia seguinte para visitar minha famlia e os devotos em Israel. Sentados juntos na grama compartilhando pensamentos, trocando palavras de despedida, olhando para o futuro refletamos nas vrias experincias que havamos tido ao longo do ano. Aqueles dez meses foram como um enorme corredor, e as vrias disciplinas, como portas abertas ao longo dele. De acordo com nossas inclinaes individuais, escolhemos diferentes objetivos para perseguir aps a formatura. Bram recebeu iniciao (como Vasudeva Dasa) e retornou para sua casa na Holanda, onde se tornou o novo presidente do templo de Amsterdam por um ano. Krsna Candra, nossa colega mais jovem (seus pais so discpulos de Srila Prabhupada), entrou para uma universidade no Canad, seu pas de origem. Rabin, um Holands com descendncia indiana, muito nos inspirou com suas meditaes acerca do Senhor Caitanya. Ele props ficar por mais dois anos na Bhaktivedanta College integrando seu quadro de funcionrios. Depois de visitar Israel, eu aceitei o convite de lecionar na Vaisnava Academy for Girls, de Alachua, Flrida, onde estou hoje [junho de 2005]. Em meu servio aqui, uso o conhecimento, habilidades e valores que adquiri durante meus estudos. Muitas vezes uso os recursos que aprendi no teacher training [disciplina de metodologia] e, algumas vezes, fao menes aos meus livros-texto. Ainda mantenho contato com meus amigos da Bhaktivedanta, que me inspiram cada vez mais. Aps a formatura de nossa primeira turma, a Bhaktivedanta College formou parceria com a Universidade de Wales, Lampeter - Reino Unido. O Programa de Estudos Religiosos e Aprendizado Aberto de Teologia [Open Learning Theology and Religious Studies Program] da Universidade permite Bhaktivedanta College oferecer diferentes nveis de cursos reconhecidos nacional e internacionalmente, cada um com um certificado ou diploma da Universidade de Wales correspondente aos estudos optados por cada aluno. Atualmente, a Bhaktivedanta College tem em andamento o terceiro ano de seu curso, com quinze alunos. Em setembro de 2005, ser oferecido o segundo ano de estudos reconhecidos pelo programa da Wales, e j h devotos buscando informaes para a turma de 2006. Os administradores e patrocinadores esto planejando uma nova construo para a Bhaktivedanta College e discutem tambm como o sucesso do programa da Blgica poderia ser multiplicado em Mayapur e Mumbai.

Mil ExpectativasMeu contato com a Bhaktivedanta College teve incio no fim de 2001, quando dois de seus organizadores, Braja Bihari Dasa e Shaunaka Rishi Dasa, palestraram no templo de Radhadesh sobre a estrutura que teria o ano acadmico inaugural, que teria incio no ano seguinte. Eles disseram que, por muitos anos, um curso sistemtico voltado para os adultos foi o sonho de muitos devotos. Um curso consciente de Krsna, eles disseram, incluiria estudos acadmicos, habilidades vocacionais e desenvolvimento introspectivo-devocional. Ao que descreviam o curso, meu entusiasmo aumentava. Os professores seriam devotos seniores, alguns com os quais sempre aspirei - 20 -

estudar, e os estudantes tambm seriam devotos. Eu pensei em quo favorvel nossa localizao silenciosa e rural seria para tais estudos. O que mais eu poderia querer? Era tudo o que eu sonhava desde que entrara para a ISKCON. Naquele tempo, eu era professora da escola infantil de Radhadesh. Depois de dois anos ali, o templo de Radhadesh se tornara minha casa, e sua comunidade, minha famlia. Radhadesh se situa em meio a enormes montanhas verdes. A propriedade da ISKCON muito bem mantida, e o projeto est em constante desenvolvimento. Casais criam seus filhos, e o programa para os visitantes traz milhares de pessoas. Uma vez que gosto muito de estudar, senti-me muito atrada a ficar ali para os estudos do primeiro ano letivo da Bhaktivedanta College. Ali seria oferecido tudo o que eu buscava: eu poderia me aprofundar nos livros de Srila Prabhupada sob a guia de devotos avanados e receberia instrues relacionadas a como aplicar o conhecimento espiritual para o objetivo de me tornar consciente de Krsna; expandiria meu conhecimento acerca de outras filosofias, religies e teorias tico-sociais, e avaliaria cada uma luz do conhecimento espiritual; tornar-me-ia instrumentalizada com conhecimento e metodologia para transmitir posteriormente aquele conhecimento, dentro e fora da ISKCON; aprofundaria minha f, aumentaria minha atrao por ouvir e cantar o nome de Krsna, e me aproximaria da desejada rendio aos ps de ltus do Senhor. Um dos organizadores da Bhaktivedanta College e o patrocinador da biblioteca, Mahaprabhu Dasa, ento, ofereceram-me uma bolsa escolar de cem porcento de desconto. Como eu poderia recusar? Eu estava muito ansiosa para comear, minhas expectativas eram enormes. Aps o ano, no me desapontei com nada; de fato, a experincia superou minhas expectativas.

Apreenso Diante do DesconhecidoEnquanto o comeo do ano letivo se aproximava, todavia, algumas dvidas comearam a inquietar minha mente: Saberia eu, uma devota jovem de Israel, escrever redaes acadmicas e devocionais em ingls? Ser que eu conseguiria me enturmar com um grupo de estudantes que eu nunca vira antes? Aquele ia ser o primeiro ano do curso - e ns ramos as cobaias , ento, ningum sabia o que poderia dar errado. Mas logo minhas dvidas se dissiparam. Vrios devotos seniores participaram da cerimnia de abertura na primeira semana de setembro de 2002, e ofereceram suas bnos e auxlio. A instituio, como um beb recm nascido, recebeu votos de sucesso de diversos bem-querentes, da mesma forma que os pais e outros parentes alimentam e acariciam o filho com amor. Todos os Vaisnavas reunidos (e mesmo muitos que no estavam l) haviam empreendido grandes esforos para o desenvolvimento e, por fim, a concretizao da instituio. Aps alguns anos de gravidez, por assim dizer, o parto foi bem sucedido. Finalmente, a Bhaktivedanta College se tornara uma realidade e, muito em breve, com o auxlio e bnos de inmeros, daria seus primeiros passos com grande segurana e sucesso. Durante a primeira semana, chamada de semana de orientaes, recebemos um excelente treinamento para as habilidades necessrias de leitura dinmica, anotaes e fichamentos, e de produo de textos. Sita Rama Dasa e Anuradha Dasi (ambos membros do departamento de educao da ISKCON do Reino Unido) conduziram-nos atravs de algumas dinmicas muito teis e divertidas que dissiparam completamente nossas dvidas referentes parte social e tambm parte acadmica do curso que se seguiria. Embora, a princpio, ns estudantes parecssemos muito heterogneos; sem perdermos nossas individualidades, logo comeamos a trabalhar como uma verdadeira equipe. A cada dia que o sol se punha, minha apreciao por meus colegas crescia mais.

Estudantes com Objetivos Bem TraadosO membro mais velho de nossa turma era Jaya Bhadra Devi Dasi, discpula de Srila Prabhupada. Aps trinta anos oferecendo os mais diversos servios ISKCON com grande determinao, ela tomou por metas aprofundar-se nos livros de Srila Prabhupada atravs do estudo sistemtico e desenvolver novas habilidades para melhor servir. Ela levou seus estudos muito a srio, e compartilhou muitas de suas experincias conosco. Agora, ela leciona no curso Bhakti Shastri de - 21 -

quatro meses uma modalidade de curso alternativa tambm oferecida pela Bhaktivedanta College. Ela tambm viaja para a Espanha para promover a conscincia de Krsna. Jaya Govinda Dasa veio com o objetivo de se aprofundar na conscincia de Krsna e para aprimorar posteriormente seu servio ISKCON Itlia. Suas contribuies foram numerosas de mais para serem mencionadas aqui, mas eu espero poder ter sempre comigo as diversas lies que aprendi com ele sobre o bom comportamento de um Vaisnava. Minha querida colega de quarto (na bela casa de hspedes de Radhadesh) foi Vrnda Devi Dasi, da Sua, que tenho agora como uma irm. Ns cuidamos uma da outra com grande carinho, e nossa relao constante fez com que nossos coraes se purificassem. Aps nossa graduao, ela permaneceu na Bhaktivedanta para servir turma seguinte. Daniel voltou para a Inglaterra e hoje um realizado estudante de Psicologia na Universidade de Brookes, Oxford. Claire, dos Estados Unidos, recebeu mais tarde iniciao espiritual (como Kumari-priya Devi Dasi) e serviu Bhaktivedanta por algum tempo; ento, ela entrou para a Universidade de Oxford, onde seu pai estudara.

Especialistas VaisnavasAps a semana de orientaes, cada semana ou quinzena se conectava a outra de forma muito lgica. Desfrutvamos de cada seminrio como se desfrutssemos das deliciosas preparaes de um banquete. Eu me senti muito privilegiada por receber treinamento pessoal de professores que no eram apenas especialistas em suas reas (comunicao, estudo interreligioso, administrao, religies do mundo, filosofia, etc.), mas eram tambm Vaisnavas exemplares e fiis seguidores de Srila Prabhupada. Tivemos um excelente seminrio sobre as seis filosofias da ndia ministrado por Pranava Dasa, um devoto da Sucia. Recebemos cuidadoso treinamento metodolgico em dois seminrios. S para citar alguns facilitadores, tivemos o professor dos professores Rasamandala Dasa (diretor de comunicao da ISKCON), Krsna Ksetra Dasa (que estava trabalhando em seu doutorado na Universidade de Oxford), e Shesha Dasa (ministro da educao da ISKCON), que compartilharam seus conhecimentos e tambm seus coraes com cada um de ns. Toda vez que um curso terminava e um professor tinha que ir embora, era-me motivo de lamentao, pois eu ficava muito apegada associao daqueles grandes professores. Cada um deles se importava conosco e dava o seu melhor para nosso sucesso e aprendizado. Alguns participavam de nossos encontros estudantis semanais e trocavam lembrancinhas conosco ou nos convidavam para um festival de pizza na lanchonete. Entre nossos professores, havia dois devotos da segunda gerao que invocavam grande admirao de nossa parte. Radhika Ramana Dasa e Kartamasa Dasa so ambos graduados academicamente (em snscrito e sociologia, respectivamente), mas o que os faz verdadeiramente exaltados so suas qualidades Vaisnavas, como, por exemplo, o grande respeito com que tratam todos que se aproximam deles. Uma misericrdia especial veio para ns na forma de dois cursos ministrados por Sacinandana Svami, um sobre os santos nomes e o outro sobre os processos da rendio devocional. A produo de redaes, embora difcil em alguns momentos, tornou-se um dos meus hobbies, e era muito bom contar com o manual como lapidar seu texto, oferecido por Tattvavit Dasa, cujo principal servio ISKCON tem sido basicamente o de edio e reviso. Nosso professor residente e diretor da Bhaktivedanta College, Yadunandana Dasa, com sua infalvel e devotada ateno a todos ns em todos os nveis, foi nosso principal guia e abrigo. Seu curso sobre os dois primeiros cantos do Srimad-Bhagavatam duraram todo o ano letivo. Durante o ano, tambm participamos das atividades do templo. Alguns de ns serviram Sri Sri Radha-Gopinatha cozinhando ou fazendo guirlandas, outros, cozinhando para os devotos. Alguns deram aulas no templo, alguns palestraram em diferentes programas, e alguns organizaram eventos - 22 -

culturais e peas teatrais para a apreciao da comunidade de Radhadesh. Ns participvamos assiduamente da programao matinal do templo. A Bhaktivedanta College se integrou harmoniosamente comunidade, graas a todos os envolvidos. O ano passou para mim como se fosse um longo e prazeroso festival de domingo. Meus colegas eram como minha famlia; nossas aulas e encontros, minha fonte de prazer. Eu ganhei grande confiana e entusiasmo em relao minha prtica devocional futura.

Faa Parte desta HistriaA aproximao do final de nosso ano letivo foi motivo de grande ansiedade e lamentao. Mas havamos todos aprendido a sermos Vaisnavas melhores, e era a hora de colocar a teoria em prtica. Eu estava triste por ter de ir embora, triste por ter acabado, mas feliz por toda aquela experincia e pronta para seguir em frente, e, ao invs de perder meu entusiasmo, estava pronta para pass-lo adiante. O Senhor Caitanya nos instruiu a falar sobre Krsna para todas as pessoas em todos os lugares. Por isso estou falando sobre a Bhaktivedanta College aqui. O que nos motiva a falar sobre a conscincia de Krsna, seno nosso amor por ela? No assim que expressamos gratido pelo presente inigualvel que recebemos? Por isso, por esse profundo sentimento de gratido, escrevo sobre minhas experincias na Bhaktivedanta College. E, no, meu lbum ainda no est fechado. Eu o deixo aberto. Minha relao com a Bhaktivedanta College ainda no encontrou fim. Talvez voc me encontre por l algum dia.

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Irmos de SangueBlood Brothers por Indradyumna Svami Aps trs dias com a congregao de cem devotos, incluindo devotos residentes e externos, do templo de Vladivostok, eu fui para Krasnoyarsk, no extremo oeste da Sibria, para o ltimo destino desta minha turn de um ms. De todos os locais que programei visitar na Rssia dessa vez, Krasnoyarsk era o que eu estava mais ansioso para rever. J tinham se passado quase trs anos desde a ltima vez que estive l, e eu queria muito ver uma comunidade de ciganos na qual eu tinha feito um programa na minha ltima visita. Eu estava curioso se as pessoas daquela comunidade tinham aceitado a conscincia de Krsna. Quando fiz minha visita, os devotos duvidavam que eles teriam algum interesse. Enquanto pegvamos nossas malas aps o vo, eu vi um grupo de devotos nos esperando do lado de fora. Um homem em particular chamou minha ateno. Ele tinha a pele escura, cabelos negros e usava bigode; tambm vestia um grosso casaco escuro, tpico dos ciganos. Eu me lembrei dele. Seu nome era Alexander, um dos ciganos mais interessados na aula que ministrei. Ao sairmos do terminal, ele se aproximou e pegou minhas malas. Trocamos cumprimentos, e ento ele me levou para seu carro. Eu serei seu motorista enquanto o senhor estiver em Krasnoyarsk, ele disse com um sorriso de satisfao. Ah!, eu disse, muito bom. Enquanto dirigamos para a cidade, eu perguntei para ele sobre os demais ciganos que tinham ido ao programa. Ele ficou em silncio por um instante. Alguns esto mortos, ele respondeu, e a maior parte dos outros esto presos. Jananivasa Dasa, um discpulo Russo que estava viajando comigo, virou-se para mim. Drogas e atividades criminais, ele disse com a voz abafada. uma pena, no?, eu disse. Alexander sorriu. Mas nosso lder est bem e muito ansioso para encontrar com o senhor, ele disse. Ele ainda mantm consigo a guirlanda que o senhor lhe deu trs anos atrs. Ah, que bom! Isso maravilhoso, eu disse. Por favor, mande lembranas minhas para ele. O senhor pode fazer isso pessoalmente amanh, Alexander disse. Ns organizamos outro programa para o senhor palestrar na vila cigana, disse meu discpulo Guru Vrata Dasa, o presidente do templo de Krasnoyarsk. Tudo bem?. Tudo bem? Tudo timo!, eu respondi. Foi exatamente o que pedi para Krsna. Mas quando lembrei da dvida expressada pelos devotos locais sobre o primeiro programa que fizemos com os ciganos, eu fiquei pensando se valeria a pena voltar vila deles. Ento perguntei a Alexander. Alexander, eu perguntei, voc est cantando Hare Krsna?. Ele me deu um outro enorme sorriso. Dezesseis voltas diariamente, Guru-maharaja, ele respondeu.

Uma Nova Casa- 24 -

No dia seguinte, dirigimos ao redor das colinas de Krasnoyarsk em direo vila cigana. Eu pude notar que no se tratava de uma cidade russa normal. As ruas eram sujas e repletas de buracos, e a maioria das casas precisava de reparos. As crianas brincavam por toda a parte, mas, quando viam nosso carro, elas corriam para dentro de suas casas, como faziam da ltima vez que visitei a cidade. Elas olhavam para ns com desconfiana atravs das janelas. O programa seria na mesma casa da ltima vez. Ao sairmos do carro, eu me lembrei da atmosfera melanclica do interior daquela casa uma sala escura e densa, tapetes sujos, antigos quadros ciganos, e uma fita velha tocando msica cigana. Eu fechei meus olhos e cantei baixinho, preparando-me mentalmente para tolerar o ambiente de escurido e ignorncia. Mas o Senhor Caitanya reservava uma surpresa para mim. Guru-marahaja, Alexander disse, bem vindo a minha casa. Oh, eu disse. No sabia que essa casa era sua. Alexander abriu a porta, e imediatamente seus membros familiares e outros ciganos comearam um melodioso kirtana, acompanhado de mrdangas e karatalas. Eu olhei ao redor. Era uma nova casa. As paredes foram pintadas com um branco muito suave, os tapetes tinham sido removidos, e o cho de madeira lixado e envernizado. A sala era bem iluminada, e suas paredes traziam belos quadros com os passatempos de Krsna. Eu senti como estivesse entrando em Vaikuntha. O empolgado grupo de devotos ciganos me levou para o andar de cima, onde havia um belo altar com um quadro do Panca-tattva (O Senhor Caitanya e Seus quatro associados principiais). Ao entrarmos na sala, todos se atiraram de imediato ao cho oferecendo reverncias. Quanta devoo!, eu pensei enquanto me curvava lentamente vendo melhor a sala, agora que todos estavam no cho. Eles me conduziram, ento, para um luxuoso acento e me presentearam com uma guirlanda. Em seguida, o grupo de kirtana se sentou perto de mim. Empolgado, eu no tinha visto um grupo de dez ou doze ciganos mais velhos, provavelmente os ancios da vila, sentados em um canto da sala, olhando-me com desconfiana. Quando dois deles sorriram discretamente, eu me lembrei deles de minha ltima visita. Os outros, todavia, ainda estavam para ser convencidos de que eu tinha vindo por uma boa razo. Alexander me anunciou: com grande prazer que recebemos Guru-maharaja em nossa casa, ele disse. Embora ele seja muito ocupado, tendo compromissos ao redor de todo o mundo, ele afetuosamente aceitou visitar nossa vila novamente. Pois !, gritou um dos ancios. E foi voc que o convidou! Voc a ovelha negra dos ciganos!. O clima era tenso. Ento, outro ancio tomou a palavra: A sua mensagem mais apreciada em um lugar do que no outro?, ele perguntou. Eu no sabia se sua pergunta era sarcstica ou no, mas eu lhe respondi de qualquer forma. Geralmente, eu disse, eu percebo que nossa mensagem mais apreciada onde as pessoas tm muitas dificuldades. Em tais condies, elas no se iludem achando que podem encontrar felicidade nesta natureza material e, portanto, esto vidas para ouvirem sobre Deus. Voc aceito em todo o lugar que vai?, um homem maneta, vestindo uma jaqueta preta, perguntou. Nem sempre, eu respondi. As pessoas costumam temer o que no conhecem. Como acontece com vocs ciganos. Vocs costumam ser mal compreendidos pelas pessoas em geral. Aquilo quebrou o gelo. Todos eles balanaram a cabea concordando. Agora tnhamos algo em comum. - 25 -

Como o senhor lida com esse preconceito?, perguntou um outro homem, com mais respeito. Ns no temos vergonha de deixar as pessoas saberem quem ns somos, eu disse. Ficamos felizes por compartilhar nossa dana, nosso cantar e nossa comida. Um homem com ar de desconfiana dirigiu suas palavras a mim. Voc teria interesse de ver nossa dana e nossa msica?, ele perguntou. Ou isto aqui s um programa Hare Krsna?. Todos os olhares se voltaram para mim. Eu sou um convidado em sua vila, eu disse. Seria um prazer conhecer a sua cultura.

A Chegada do LderDe repente, ouviu-se um grito. Vyacheslav chegou!, algum anunciou, e o lder dos ciganos entrou na sala. Todos, imediatamente, levantaram-se em respeito. Seu status de lder fez-se ainda mais aparente devido sua alta estatura e ao seu proeminente bigode negro. O ambiente tornou-se tenso novamente, e ningum parecia saber ao certo o que fazer. Eu sorri e me aproximei de Vyacheslav com meus braos abertos. Ele tambm sorriu e abriu seus braos. Abraamo-nos por um bom tempo. Ento, contemplamos-nos com as duas mos dadas. Eu ainda tenho a guirlanda que voc me deu h trs anos, ele disse. Sim, eu disse. Seus seguidores me contaram. Ela brilha com o carinho de sua visita, ele adicionou. Pelo canto dos meus olhos, eu vi a surpresa no rosto dos ancios que no me conheciam da outra visita. Por favor, ele disse, volte a se sentar. No, eu disse, o senhor primeiro. Segurando sua mo, eu lhe sentei respeitosamente em um assento ao lado do meu. As pessoas no costumam nos tratar com todo esse respeito, disse um dos ancios. Porque vocs so ladres!, Vyacheslav disse com uma grande gargalhada. Todos riram junto com ele. Krsna tambm era ladro, eu disse. Os ancios ergueram suas sobrancelhas. Mas o roubo de vocs traz aflio para os outros. Quando Krsna rouba manteiga, ele traz alegria para seus devotos, que gostam de ver Suas travessuras infantis. Eles riram mais uma vez. Pessoalmente, eu disse, eu prefiro focar apenas em suas boas qualidades. Agora o gelo fora completamente derretido. Voc v boas qualidades em ns?, um deles perguntou. Sim, claro, eu disse. Vocs, por exemplo, convidaram-me novamente para sua vila e me receberam muito bem. E como todos em todo o mundo, no fundo de seus coraes, vocs so todos devotos de Deus. s vezes essa posio esquecida, mas continuamos sendo servos de Deus. Ningum discordou. - 26 -

Ento ns vamos lhe mostrar nossa cultura cigana, um homem disse. timo, eu disse, eu quero ver.

Msica Cigana e KirtanaMuitos dos homens mandaram um garoto ir para o centro. O garoto parecia ter sado do nada e, no centro da sala, comeou uma dana cigana. Ele era talentoso, e prendeu a ateno de todos, inclusive a minha. Quando terminou, os outros ciganos pediram para que ele cantasse, ao que ele comeou uma cano. Eu acho que eu nunca tinha ouvido uma voz to doce e adorvel em toda a minha vida. Quando ele terminou, eu pedi para que ele cantasse novamente. Os ancios me olharam satisfeitos pelo meu pedido, e um deles levantou o polegar para mim. Aps a segunda cano, o garoto sentou-se perto dos ancios, que bateram em suas costas mostrando estarem orgulhosos. De repente, um outro garoto, um pouco mais jovem, virou-se para o primeiro garoto: Voc canta muito bem, ele disse com convico, mas se voc cantasse Hare Krsna, a sim seu cantar seria perfeito. Silncio. Todos sentados - pasmados. Ento, o segundo garoto fechou seus olhos e comeou a cantar Hare Krsna, tambm com uma belssima voz. Seu cantar encheu a sala e todos foram tocados, mesmo os ancios. Quando terminou, ele abriu seus olhos e olhou para o primeiro garoto. Viu?, ele disse. Agora tente voc. O primeiro garoto hesitou. Cante!, disse o mais jovem. Cante comigo!. O mais jovem comeou a cantar Hare Krsna novamente e, ento, o garoto prodgio comeou a cantar com ele. Os ancios sorriam enquanto ouviam o dueto. Ao fim, o primeiro garoto se virou para mim. Voc pode, por favor, me dar um nome espiritual?, ele pediu. Eu olhei para os ancios. Eles aprovaram com a cabea. Eu pensei por um instante. J sei, eu disse, voc se chama Gandharva Dasa, o anjo cuja voz doce como o mel. Todos aplaudiram. Ento, eu abri meu harmnio e comecei a cantar Hare Krsna. Vrios devotos pegaram instrumentos e me acompanharam, e, algum tempo depois, os ancios comearam a bater palmas. Alguns at cantaram. Vyacheslav permaneceu sentado ao meu lado - com um grande sorriso no rosto.

Crculo de AmizadeAps finalizar o kirtana, convidei todos a tomarem prasadam. Como devemos nos sentar?, perguntei ao nosso anfitrio. Sentamos todos em um crculo, respondeu Alexander. Esse o nosso costume. E o nosso tambm, eu disse. - 27 -

Enquanto a prasadam era servida, eu disse para os devotos no comearem a comer at que Vyacheslav tivesse dado sua primeira mordida. Os ancios olharam para mim e apreciaram a recomendao. Aps discutir a filosofia da conscincia de Krsna com eles por mais de uma hora, eu me levantei para ir embora. Todos, respeitosamente, levantaram-se comigo. Eu fui at o banheiro e, aps lavar minhas mos, voltei sala. Vyacheslav, rodeado pelos demais ancios, deu-me um forte abrao. Ento, agarrou meus ombros. Somos irmos, ele disse. Irmos de sangue, eu adicionei. Ele sorriu. Sim, ele disse, irmos de sangue. Ele, ento, colocou a mo em seu bolso, tirou um mao de dinheiro e fez com que eu o pegasse. Obrigado por tudo o que fez por ns, ele disse ao me presentear. Ele se virou para Alexander, ento, o ovelha negra, e segurou ambas as suas mos num costume cigano para demonstrar confiana mtua. Obrigado por convid-los, ele disse. Vyacheslav e os outros ancios me acompanharam at meu carro. Quando eu estava prestes a entrar, Vyacheslav pediu para que um devoto tirasse uma foto de todos ns juntos. Para nos lembrarmos de voc, ele me disse. Eu entrei no carro e fomos embora. Quando olhei para trs para dar uma ltima olhada em meus amigos ciganos, vi Vyacheslav e os ancios ainda de p, de mos dadas, em sinal de respeito. Eu fechei meus olhos e orei silenciosamente: Meu querido Senhor Caitanya, por favor, s misericordioso e d Sua misericrdia a essas almas cadas. Tendo expandido Sua misericrdia para com as entidades vivas para alm de todos os limites, como jamais fizera anteriormente, Gaura Hari, o nico Senhor e refgio dos aflitos, orou com grande compaixo: Krsna, oceano de misericrdia, por favor, proteja essas pessoas. Meu mestre, elas esto queimando no fogo ardente do nascimento e da morte. oceano de misericrdia, s bondoso e conceda-lhes Seu servio devocional amoroso. - Srila Sarvabhauma Bhattacharya, Sushloka-Shatakam 63

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Certamente Voc Vir a MimAs Promessas Divinas e Eternas do SenhorSurely You Will Come to Me: The Divine, Eternal Promises of the Lord por Bhranti Devi Dasi No vero do ano 2000, aconteceu algo que iria mudar drasticamente minha vida e a de minha famlia. Tambm testaria nossa f em Krsna e nos faria ver a vida considerando com mais seriedade um certo fator - o fator morte. Ns estvamos viajando pela Amrica quando, numa estrada de terra sem nenhum movimento, o pneu traseiro de nossa minivan se rasgou em uma pedra afiada. O carro ficou totalmente desgovernado e capotamos vrias vezes at que a van parou de cabea para baixo. Um de meus filhos, Kesava Kumara, sofreu um ferimento na cabea que tiraria sua vida no dia seguinte. Ele tinha apenas doze anos. Fizemos tudo o que pudemos para que sua sada do corpo fosse a mais auspiciosa possvel. Ele deixou esse mundo com as marcas de tilaka, gua do Yamuna e poeira de Vrndavana sobre seu corpo, e com suas mos sobre os livros de Srila Prabhupada. O tempo parecia no fazer sentido: um dia estvamos de frias com a famlia, no outro dia no hospital, e no seguinte no crematrio. Quando o mdico nos informou que ele no sobreviveria ao ferimento, meu primeiro pensamento foi: Esta vida est acabada para mim. A bolha de sabo da vida feliz neste mundo estourara diante dos meus olhos. Eu nunca havia me sentido to perdida. Como aquilo era possvel? Sete meses atrs, ns tnhamos visitado Vrndavana-dhama e tnhamos planos para retornar ao dhama sagrado aps o vero. Aquilo parecia ser um pesadelo que simplesmente no podia ser real. Ao lado da cama de Kesava, ns desesperadamente tentvamos buscar abrigo nos versos do Segundo Captulo do Bhagavad-gita, que descrevem a imortalidade da alma. Acredito que a dor da perda repentina de uma pessoa amada a pior e mais desorientadora de todas. Eu precisei de meses para comear a acreditar no que havia acontecido. O sofrimento muito intenso faz voc querer ficar sozinho, pois raro encontrar algum que possa entender quo tamanha sua dor. Posteriormente, relendo o Gita e orando para que Srila Prabhupada me ajudasse a superar tudo aquilo, eu percebi que muitos dos versos falados pelo Senhor estavam em forma de promessas, divinas e eternas. Krsna declara que somos eternamente ligados a Ele. Ele traz palavras de amor e confiana, que brilham como um archote na escurido. Dicionrios definem uma promessa como um compromisso verbal, um pacto, fundamento para esperanas e expectativas. Toda promessa preciosa, mas ela ainda mais preciosa quando vem diretamente do corao de Deus e eterna. Sendo Ele onipotente, no h nenhuma possibilidade de que Ele no possa cumprir Suas promessas, enquanto que talvez um ser humano comum, por mais sincero que seja, no consiga fazer valer sua palavra. Eu entendi que uma promessa um presente um presente falado. Eu me dei a essas promessas do Senhor de todo o corao, e recebi grande consolo e conforto. Eu pensei: Se eu sou eternamente ligada ao Senhor Supremo, igualmente est meu filho e todos esto ligados a Ele. Toda e cada entidade vida tem uma relao intrnseca e eterna com Krsna. No Bhagavad-gita, o Senhor fala para Arjuna o conhecimento atemporal, e esse se aplica a todas as entidades vivas em qualquer tempo e lugar. Eu gostaria de compartilhar com vocs leitores algumas das promessas de Krsna; seis para ser exata. Eu espero que encontrem grande encorajamento nessas eternas juras de amor, faladas pessoalmente pelo Senhor Supremo a todas as almas.

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Seis Promessas do Senhor KrsnaSri Krsna promete: Portanto, Arjuna, voc deve sempre pensar em Mim na forma de Krsna e ao mesmo tempo cumprir com seu dever prescrito de lutar. Com suas atividades dedicadas a Mim e sua mente e inteligncia fixas em Mim, no h dvida de que voc Me alcanar (8.7). Esse verso no se trata de uma promessa vaga, mas de uma declarao concreta e clara. O Primeiro Canto do Srimad-Bhagavatam apresenta uma afirmao similar, tambm muito clara, acerca do resultado de se ouvir as glrias do Senhor: O servio amoroso Personalidade de Deus obtido como um fato irrevogvel. Irrevogvel: permanente, que no pode ser anulado. Qualquer servio que faamos para Krsna nesta vida permanente, e seu resultado permanecer conosco mesmo aps abandonarmos este corpo e esta vida temporria. Sri Krsna promete: Ocupe sua mente a pensar sempre em Mim, torne-se Meu devoto, oferea-Me reverncias e Me adore. Estando absorto por completo em Mim, certamente voc vir a Mim (9.34). Essa promessa belssima. Srila Prabhupada afirma em seu significado a esse verso que ns devemos pensar em Krsna de forma amorosa e continuamente cultivar conhecimento acerca dEle. Essa nossa parte nesse relacionamento recproco to real com a pessoa suprema. Escrevendo sobre a relao recproca entre o Senhor e o devoto, Srila Prabhupada invoca uma imagem mental muito bonita em seu significado ao verso 9.29: O Senhor e a entidade viva brilham eternamente, e ao inclinar-se para o servio ao Senhor Supremo, a entidade viva parece ouro. O Senhor um diamante, e essa combinao muito bonita. Sri Krsna promete: Para aqueles que esto constantemente devotados a Me servir com amor, Eu dou a compreenso pela qual eles podem vir a Mim (10.10). As palavras usadas aqui so constantemente devotadas, que indicam uma devoo sem cessao ou pausa, mas contnua. Muitas pessoas adoram Deus a fim de conseguirem benefcios materiais, e isso piedoso, uma vez que se submetem a Ele atravs de oraes. Mas, neste verso, Krsna est falando sobre as pessoas que no desejam nada alm dEle. Ns no somos capazes de ir at Krsna atravs de nossos prprios esforos. Se Ele est satisfeito conosco, Ele nos permite ir at Ele. Desde o comeo da criao, os Vedas esto disponveis como um guia, e, ao longo das eras, o Senhor envia regularmente encarnaes e pessoas santas trazendo conhecimento transcendental para as almas jivas. Tomar refgio em um mestre espiritual autntico, completamente devotado ao Senhor, um ponto muito importante, e no deve ser subestimado. O momento em que Arjuna aceita Krsna como seu mestre um divisor de guas dentro do Bhagavad-gita. Aps exibir aparentes aflio, lamentao e confuso, Arjuna diz: Sou uma alma rendida a Voc. Por favor, instrua-me (2.7). Nossa sociedade moderna d grande nfase para as credenciais e diplomas dos profissionais em geral, mas as pessoas tendem a aceitar orientao sobre assuntos espirituais de qualquer um que escreva um livro interessante sobre o tema. A vida temporria, e nossa conexo com Deus a rea mais importante de estudo. Ns temos que selecionar um professor com muito cuidado, assim como somos muito cautelosos escolhendo um mdico. Ns no confiaramos nossa cirurgia a um mdico que no tivesse nenhuma outra qualificao seno ser um bom contador de histrias. Sri Krsna promete: Meu querido Arjuna, aquele que se ocupa em Meu servio devocional puro, livre das contaminaes das atividades fruitivas e da especulao mental, que trabalha para Mim e faz de Mim a meta suprema de sua vida, sendo amigo de todos os seres vivos com certeza vir a Mim (11.55). Srila Prabhupada diz em seu significado a este verso que todo aquele que deseja estar intimamente conectado com Krsna deve acatar a frmula apresentada por Krsna ali. Ele ainda afirma que tal verso a essncia do Bhagavad-gita. O Senhor Krsna descreve o devoto aqui como algum que amigo de todas as entidades vivas. Em uma cano em glorificao aos seis Gosvamis de - 30 -

Vrndavana, Srinivasa Acarya diz que eles so populares tanto entre os cavalheiros quanto entre os grosseiros, pois eles no invejavam ningum. Como podemos demonstrar verdadeira preocupao e amizade pelos outros? Pregando essa frmula apresentada por Krsna; assim as pessoas no perdero a valiosssima oportunidade da forma de vida humana, seno que podero livrar-se de todas as misrias deste mundo. Podemos at mesmo beneficiar as almas que no esto atualmente em corpos humanos, cantando alto o santo nome ou dando para elas prasadam, alimento oferecido ao Senhor Supremo. Sri Krsna promete: Fixe sua mente em Mim, a Suprema Personalidade de Deus, e ocupe toda a sua inteligncia em Mim. Assim, no h dvida alguma de que voc viver sempre em Mim (12.8). Como no verso 8.7, o Senhor novamente enfatiza sua promessa com no h dvida. Em seu significado, Srila Prabhupada afirma: Algum que est ocupado no servio devocional ao Senhor Krsna se relaciona diretamente com o Senhor Supremo, ento, no h dvida de que sua posio transcendental desde o incio. O devoto no vive no plano material ele vive em Krsna. Sri Krsna promete: Pense sempre em Mim e torne-se Meu devoto. Adore-Me e oferea-Me homenagens. Agindo assim, voc vir a Mim impreterivelmente. Eu lhe prometo isso porque voc Meu amigo muito querido (18.65). Eu escolhi esse verso para uma placa que seria colocada na ltima escola que Kesava estudou em Alachua, Flrida - como forma de homenage-lo. Eu achei essa promessa do Senhor Supremo muito confortante e pessoal Ele realmente conhece cada um de ns, e Ele realmente quer que voltemos para Ele. No significado, Srila Prabhupada se refere a essa mensagem de Krsna em particular como uma promessa. uma promessa trazida com muita intimidade: Porque voc meu amigo muito querido porque voc est conectado a Mim em uma relao devocional Eu estou lhe revelando esses segredos. O conhecimento mais confidencial o de como restabelecermos nossa relao original com Deus. Esse o mais secreto de todos os segredos. Em sua obra Vrndavana Mahimamrta, Srila Prabodhananda Sarasvati escreve: Eu anseio pelo humor mais elevado [o de amor por Deus], que um segredo at para os Vedas. Srila Prabhupada tambm diz em seu significado que devemos concentrar nossa mente na forma de Krsna tal qual descrita no Brahma-samhita: um garoto de dois braos e de tez enegrecida com um belo rosto semelhante ao ltus, uma pena de pavo em Sua coroa e uma flauta em Sua cintura. Essa a forma de Syamasundara, uma forma to atrativa que atrai a mente e o corao de todos. A dor resultante de se perder um filho coloca sua sanidade em teste. Arjuna experimentou essa dor simplesmente por imaginar a perda de seus membros familiares, e realizou tal dor ao perder um de seus filhos no campo de batalha. A perda de meu filho fez meu mundo ficar de cabea para baixo. Mas as promessas de Krsna so-me palavras rejuvenescedoras, nas quais acredito. Elas me protegeram diversas vezes contra o desespero. Eu oro diariamente porque quero ser qualificada o suficiente para fazer minha parte nessa divina reciprocidade com o Senhor, e para que eu tenha f inabalvel que Suas eternas promessas sero certamente cumpridas, com toda a glria que lhes cabe. Voc vir a Mim impreterivelmente. Eu lhe prometo isso porque voc Meu amigo muito querido (18.65).

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Entre a Matria e o EspritoBetween Matter and Spirit por Navin Jani Como universitrio, percebo que um tanto difcil encontrar uma disciplina sobre fantasmas na grade de disciplinas de algum curso ou entre as disciplinas facultativas. Igualmente raro so cursos com ttulos do tipo Poderes Psquicos II ou Formas Aliengenas de Vida. De fato, parece no ser incentivado nenhum tipo de estudo acerca de qualquer fenmeno paranor