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Sylene Del Carlo
Distribuição espacial de recursos florais e efeitos
de agentes antagonistas e mutualistas no sucesso
reprodutivo de Eriotheca gracilipes (Malvaceae):
uma espécie de Cerrado
USP – Instituto de Biociências
São Paulo 2007
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Sylene Del Carlo
Distribuição espacial de recursos florais e efeitos
de agentes antagonistas e mutualistas no sucesso
reprodutivo de Eriotheca gracilipes (Malvaceae):
uma espécie de Cerrado
São Paulo
2007
Tese apresentada ao Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, para a obtenção do Título de Doutor em Ciências, na Área de Ecologia Orientadora: Silvana Buzato
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Ficha Catalográfica
Comissão Julgadora:
___________________ ____________________ Prof (a). Dr (a). Prof (a). Dr (a).
___________________ ____________________ Prof (a). Dr (a). Prof (a). Dr (a).
___________________
Profa. Dra. Silvana Buzato Orientadora
Del Carlo, Sylene
Distribuição espacial de recursos florais e efeitos de antagonistas e mutualistas no sucesso reprodutivo de Eriotheca gracilipes (Malvaceae): uma espécie de Cerrado. 109 páginas
Tese (Doutorado) – Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo. Departamento de Ecologia.
1. Polinização 2. Néctar 3. Florivoria I. Universidade de São Paulo. Instituto de Biociências. Departamento de Ecologia.
4
Dedico este trabalho à meu filho Pedro, meu maior presente.
5
Agradecimentos
À Silvana Buzato, agradeço imensamente a amizade, orientação, motivação,
amor e fascínio pelas interações biológicas.
Ao Célio e Pedro, pelas visitas no Cerrado, pelo amor e compreensão infinita.
À meu pai, agradeço por ter me acompanhado e ajudado muito nas viagens ao
campo e pelo entusiasmo contagiante pela pesquisa.
À meus pais, Lindaura e Ualfrido, pelo amor e apoio em todos os momentos,
sem os quais esta etapa teria sido muito difícil.
À meus irmãos, Sandra e Junior, à Gabriela, Silmara, Célio, Nilza por me
apoiarem sempre.
À Maria Carolina Checcia da Inês, à Klécia Gili Massi e Luciano Elsinor
Lopes, agradeço imensamente a amizade e os momentos divertidos que
compartilhamos.
Ao Luciano Elsinor Lopes agradeço a paciência e ajuda nas análises
estatísticas.
À Juliana Narita, Simone Bazarian, Maria Rosa Darrigo e Hipólito Paulino
pela amizade.
À Fabiana Takagi, Katiê Ricciluca, Alessandro Marques Tozetti e pela ajuda
no trabalho de campo.
Ao Programa de Pós-graduação em Ecologia do Instituto de Biociências da
Universidade de São Paulo e à Astrid de Matos Peixoto Kleinert, pelo apoio em todos
os momentos.
Aos funcionários, professores e colegas do Departamento de Ecologia da
Universidade de São Paulo.
Ao Paulo Cesar Fernandes, Maurício Perine e Patrícia Gabriela M. Cesário
pelo auxílio no trabalho de campo e no laboratório.
Ao Sérgio Antônio Vanin, pela identificação dos besouros e à Isabel Aves dos
Santos, pela identificação das abelhas.
À Denise Zancheta, ao Gilson e ao Instituto Florestal de São Paulo, pelo apoio
à pesquisa de campo.
Ao CNPq pela concessão da bolsa, possibilitando o desenvolvimento da
pesquisa.
6
Índice
Resumo 07
Abstract 08
Capítulo 1:
Introdução Geral 09
Capítulo 2:
Distribuição espacial do néctar floral de Eriotheca gracilipes (Malvaceae) e sua interpretação perante a teoria de seleção sexual 18 Capítulo 3:
Distribuição espacial de flores coespecíficas, conseqüências para a atividade de abelhas e sucesso reprodutivo de Eriotheca gracilipes (Malvaceae) 21 Capítulo 4:
Incidência de florivoria e conseqüências para o sucesso reprodutivo de Eriotheca gracilipes (Malvaceae) 24 Capítulo 5:
Discussão Geral 27
Anexo 1: (Capítulo 2, manuscrito) 32 Anexo 2: (Capítulo 3, manuscrito) 57 Anexo 3: (Capítulo 4, manuscrito) 85
7
Resumo
Neste estudo, avaliamos a distribuição espacial de recursos florais de
Eriotheca gracilipes e suas conseqüências para a atividade de abelhas e
florívoros no sucesso reprodutivo desta espécie de Cerrado. A distribuição de
flores de Eriotheca gracilipes revelou que a disponibilidade destes recursos
variou espacial e temporalmente. No ano em que a floração foi mais expressiva
no cerrado, estas variações afetaram de modo distinto as abelhas grandes que
visitam as flores de E. gracilipes à procura de néctar e pólen, quando estas
abelhas responderam positivamente ao aumento na disponibilidade de flores,
tanto na escala do indivíduo, como na escala da vizinhança. Independente da fase
sexual das flores de E. gracilipes, a maior parte da variação na produção de
energia do néctar é determinada pela variação entre flores e esta variação é
determinada pela variação na produção de energia das flores na fase masculina.
A maior produção de néctar na fase masculina das flores de Eriotheca gracilipes
pode ser resultado de pressões seletivas distintas entre as funções sexuais. A
incidência de florivoria em E. gracilipes diferiu entre os agentes e as fisionomias.
As maiores taxas de sobrevivência das estruturas reprodutivas no cerrado e a
correlação positiva entre o número de botões produzidos e o número de frutos
formados nesta fisionomia reforçam a hipótese de que variações espaciais nas
interações entre species, sejam elas mutualistas ou antagonistas, poderiam afetar
diferentemente a reprodução sexuada de E. gracilipes, de acordo com as espécies
antagonistas envolvidas.
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Abstract
In this study we evaluated the spatial distribution of Eriotheca gracilipes
floral resources and its consequences for the bee foraging behavior, florivores
and the reproductive output of this Cerrado species. Spatial and temporal
variations were detected for Eriotheca gracilipes flower availability. At the
cerrado physiognomy in 2005, this variation affected differently the large bees
that visit E. gracilipes flowers, looking for pollen and nectar. Under this situation,
we detected positive pollinator responses to the floral display of focal plants and
also to its neighborhood. The greatest variation in energy production was
explained by variation among flowers in male phase. The higher nectar
production in male flowers indicated that distinct selective pressures might be
occurring at each sexual function. The incidence of florivores reduced E.
gracilipes flower availability and their action were different between agents and
physionomies. Trigona spinipes had a major impact on buds and flowers of E.
gracilipes at the campo cerrado. Our data indicate that spatial and temporal
variation between plant-pollinator and plant-florivores occured even under low
and almost homogeneous flower availability, affecting differently E. gracilipes
reproductive success.
9
Capítulo 1
I - Introdução Geral
Os recursos são freqüentemente distribuídos de forma não uniforme no espaço
e no tempo (Wiens 1976, Pleasants & Zimmerman 1979). A influência que esta
heterogeneidade dos sistemas naturais exerce na distribuição dos organismos, suas
interações e adaptações (Wiens 1976) tem sido reconhecida a muito tempo na área de
ecologia (Talley 2007). Tentativas para predizer o modo como estas manchas
heterogêneas de recurso são utilizadas pelas populações de organismos, têm
aumentado nos últimos anos, e têm sido abordadas de diversas formas (Kolasa &
Picket 1991, Talley 2007). Dentre estas abordagens, o modelo hierárquico de
estrutura de manchas em múltiplas escalas tem se destacado. A idéia central desta
abordagem considera que uma mancha (agregação espacial de uma espécie ou
condições) observada em determinada escala espacial, tem uma estrutura interna que é
reflexo da agregação de manchas menores em escalas mais detalhadas (Kotliar &
Wiens 1990, Allen & Hoekstra 1991). A identificação do padrão espacial das espécies
ou condições pode dar indicações das escalas onde importantes processos ocorrem e
de como os processos mudam com as escalas (Talley 2007).
Variações na interação planta-polinizador relacionadas à várias escalas
espaciais são pouco compreendidas, existindo alguma informação disponível para
pequenas escalas espaciais (Schulke & Waser 2001). Estudos têm mostrado que
variações na disponibilidade de recursos florais produzem alterações evidentes no
comportamento dos polinizadores (Grindeland et al. 2005). A relação entre a
freqüência de visitas às flores e o número de flores por planta e em sua vizinhança
10
pode apresentar três tipos de resposta: 1. positiva, quando o número de visitas
aumenta com o aumento no número de flores (Feinsinger et al. 1991, Kunin 1993,
Roll et al. 1997, Thompson 2001), 2. negativa, quando o número de visitas diminui
com o aumento no número de flores (Murawski 1987, Kunin 1993), e 3. ausência de
relação, quando o número de visitas não aumenta ou diminui com o aumento no
número de flores.
Normalmente, há uma variação considerável na disponibilidade de flores entre
indivíduos coespecíficos, assim como variações na disponibilidade de flores ao redor
das plantas, que podem ser ocasionadas por variações na densidade (Grindeland et al.
2005). Desta forma, a distribuição espacial das populações de plantas representa uma
estratégia que pode influenciar seu sucesso reprodutivo através das respostas dos
polinizadores à densidade e ao número de flores de indivíduos coespecíficos
(Feinsinger et al. 1991, Kunin 1993, 1997, Mustajärvi et al. 2001). Para entender a
relação entre a aptidão da planta e o número de flores disponível, é preciso conhecer a
relação entre o número de flores disponível em diferentes escalas espaciais e as
respostas dos polinizadores (Ohashi & Yahara 2001). Espécies de plantas auto-
incompatíveis, ou seja, que dependem da transferência de pólen entre indivíduos
coespecíficos, devem ser mais afetadas pela distribuição espacial de indivíduos
coespecíficos do que espécies auto-compatíveis (Feinsinger et al. 1991).
Para a interação planta-polinizador, podemos considerar que a menor escala
espacial possível para para avaliar a distribuição de recursos florais seria a flor. Nesta
unidade espacial, a dinâmica de produção de néctar desempenha um papel crucial
para o resultado da interação entre plantas e seus polinizadores (Leiss & Klinkhamer
2005), sendo que o número de visitas dos polinizadores exibe relação positiva com a
produção de néctar (Pleasants 1981, Real & Rathcke 1991). A produção deste recurso
11
poderia determinar a aptidão das funções femininas e masculinas em flores
hermafroditas. É reconhecido que o fitness da função feminina é limitado por recursos
e que o fitness da função masculina é limitado pelo acesso aos estigmas coespecíficos
(Wilson et al. 1994). Conseqüentemente, características como longevidade floral,
volume e qualidade do néctar, que aumentam as chances de acesso aos estigmas
devem ser favorecidas (Klinkhamer & de Jong 1990). O padrão de alocação de
recursos para as funções sexuais também pode representar uma estratégia
desenvolvida pelas plantas para otimizar o desempenho das funções masculina e
feminina e assegurar a reprodução sexuada ou regular os níveis de autopolinização, de
forma que, a proporção de recursos alocados para cada função sexual reflete a função
que está sendo enfatizada (Devlin & Stephenson 1985). Variações espaço-temporais
na produção de néctar em espécies com flores hermafroditas podem reduzir
interferências entre as estruturas masculinas e femininas de uma mesma flor e,
portanto, a auto-fertilização. A importância em desvendar estes padrões de alocação
de recursos, traduzida pela alocação do néctar, reside no fato de que o desempenho
das funções sexuais pode ser sensível à produção de néctar em cada sexo e também ao
número de indivíduos coespecíficos em sua vizinhança (Lovett Doust & Lovett Doust
1988, Feinsinger et al. 1991).
Os insetos que visitam as flores à procura de recursos florais oferecidos pelas
plantas são freqüentemente citados como exemplos de mutualistas (Thompson 1994).
Entretanto, na maioria das espécies de plantas, estes visitantes florais representam
grupos ecologicamente heterogêneos, formados por espécies que incluem desde
espécies estritamente consumidoras de pólen ou parasitas (Baker & Cruden 1971) até
espécies de polinizadores altamente efetivos (Burquez et al. 1987). Além disto, as
plantas interagem com muitos visitantes que consomem uma variedade de tecidos.
12
Enquanto os efeitos da herbivoria foliar no fitness e biomassa das plantas são bem
documentados, os efeitos da florivoria têm sido menos estudados (McCall & Irwin
2006). A florivoria, que inclui o consumo de botões florais imaturos até o consumo de
flores, antes do desenvolvimento das sementes (McCall & Irwin 2006), pode ter
impacto significativo na reprodução das plantas. Ela pode afetar a aptidão do
indivíduo diretamente através do consumo de toda a flor, ou parte das flores, ou
indiretamente, modificando a qualidade e quantidade de atributos florais importantes
em outras interações entre espécies (Krupnick & Weiss 1999, Mothershead &
Marquis 2000, Leavitt & Robertson 2006, Sánchez-Lafuente 2007). Assim, uma das
causas da redução na polinização pode estar relacionada com a redução na dispersão
de pólen associada aos florívoros através do consumo de estruturas florais, alterando o
display floral e atração de visitantes florais, ou da coleta de pólen das anteras antes
que estes sejam transportados aos estigmas coespecíficos. Este fato pode contribuir
para a ocorrência de limitação polínica, um mecanismo ecológico muito freqüente que
limita a reprodução das plantas (Larson & Barrett 2000, Knight et al. 2005, Wilcock
& Neiland 2002).
II – Objetivos
O objetivo geral do presente trabalho é reunir informações sobre a reprodução
sexuada de uma espécie arbórea de Cerrado, Eriotheca gracilipes (Malvaceae), desde
a emissão de botões florais até a formação de frutos e sementes, a fim de compreender
os fatores que determinam seu sucesso reprodutivo nas fisionomias de Cerrado na
região de Itirapina (SP) nas quais ela ela é uma espécie abundante, o cerrado sensu
stricto e o campo cerrado. Serão apresentados resultados de produção de néctar das
13
flores de E. gracilipes nas fases masculina e feminina, investigando a ocorrência de
possíveis padrões espaciais de produção de energia oriunda do néctar entre plantas e
entre agrupamentos de plantas. Serão apresentados os efeitos das variações na
disponibilidade de flores de E. gracilipes em escalas espaciais locais nas freqüências
de visitas às flores de E. gracilipes, bem como as relações entre a disponibilidade de
flores nas escalas espaciais locais e o sucesso reprodutivo de E. gracilipes. Também
serão apresentadas as incidências de danos ocasionados por agentes bióticos e
abióticos nos botões e flores de E. gracilipes e as conseqüências para o sucesso
reprodutivo da espécie estudada. As conclusões do presente estudo enfatizam a
importância do entendimento de como o sucesso reprodutivo das plantas pode estar
relacionado com a distribuição espacial de recursos florais e, portanto, do
entendimento das interações mutualistas e antagonistas que mediam o resultado das
relações planta – animal (Del-Claro 2004), e que por sua vez, estão diretamente
relacionadas à manutenção da diversidade das espécies nos sistemas naturais.
A tese está organizada em quatro capítulos. O primeiro capítulo apresenta o
contexto teórico no qual o trablho foi desenvolvido e as perguntas centrais do projeto.
O segundo capítulo versa sobre distribuição da energia do néctar das flores
protândricas de E. gracilipes em diferentes escalas espaciais, interpretando os dados
de produção de néctar pela teoria de seleção sexual. No terceiro capítulo são
analisadas como variações espaciais na disponibilidade de flores de E. gracilipes
afetam a resposta de duas classes de visitantes florais, abelhas de pólen e abelhas de
néctar. O quarto capítulo versa sobre os danos ocasionados por agentes antagonistas
nos botões florais e o sucesso reprodutivo de E. gracilipes. O quinto capítulo encerra
a tese, com uma síntese das discussões e conclusões gerais. Os manuscritos estão
14
apresentados como anexos (1 a 3), detalhando métodos, análises, resultados e
discussões dos Capítulos 2 a 4.
III – Referências Bibliográficas
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18
Capítulo 2
Distribuição espacial do néctar floral de Eriotheca gracilipes (Malvaceae)
e sua interpretação perante a teoria de seleção sexual
Manuscrito em fase final de preparação
(ver texto completo no Anexo 1)
19
Resultados e discussões detalhados do presente capítulo estão apresentados no
Anexo 1, na forma de manuscrito a ser submetido para publicação.
Nas plantas hermafroditas, os recursos alocados para a reprodução são
particionados entre as funções masculina e feminina, de forma que, a proporção de
recursos alocados para cada sexo indica a função que está sendo enfatizada. Nas
espécies dicogâmicas, ou seja, cujas flores apresentam separação temporal entre as
funções masculina e feminina, é comum a ocorrência de diferenças intersexuais no
investimento de energia para a produção de néctar, tornando possível avaliar sua
contribuição para o sucesso de cada uma das funções sexuais, uma vez que o néctar
pode servir a uma ou ambas funções. A importância em desvendar padrões na
alocação de recursos e caracterizar sua variação dentro de populações, reside no fato
de que o desempenho das funções sexuais pode ser sensível à produção de néctar em
cada sexo e também ao número de indivíduos coespecíficos em sua vizinhança. A
idéia de que a seleção de caracteres de atração floral se dá, principalmente, através da
função masculina, é baseada na premissa de que ganhos maiores na fecundidade são
mais prováveis de ocorrer através da função masculina, uma vez que existem
diferenças entre o número de grãos de pólen e óvulos, e também porque, a polinização
é em grande parte determinada pelo contexto ecológico, ou seja, ela também é
causada por variações espaço-temporais na intensidade da polinização. Assim, o
entendimento das adaptações florais busca identificar em qual função sexual a seleção
tem maior oportunidade de agir.
No presente capítulo são apresentados os resultados do estudo detalhado da
produção de néctar das flores de uma espécie arbórea, em duas áreas protegidas de
Cerrado do Estado de São Paulo. O objetivo foi investigar a produção de energia
20
oriunda do néctar das flores de Eriotheca gracilipes nas duas fases sexuais, em
diferentes escalas espaciais. O estudo foi conduzido em dois fragmentos, sendo um de
266 ha, onde foram amostradas 12 plantas no cerrado sensu strito; e outro fragmento
de 2300 ha, onde foram amostradas 12 plantas no campo cerrado. Nestas plantas
foram realizadas medidas de volume e concentração de açúcares do néctar, nas flores
de 1º (fase masculina) e 2º (fase feminina) dia, através das quais foram obtidas
medidas de produção de energia. As plantas foram amostradas considerando três
escalas espaciais: flores dentro de plantas, plantas dentro de blocos (três plantas focais
que distavam de 40 a 120 m entre si) e blocos (distavam de 300 m a 3 km entre si). Os
dados foram analisados por meio de análise de variância hierárquica e análise dos
componentes da variância.
A produção de energia do néctar é maior na fase masculina, fase em que foram
detectadas diferenças entre plantas na produção de energia. Independente da fase
sexual da flor, a maior fonte de variação na produção de energia por flor ocorre ao
nível de flores. Esta variação parece ser determinada pela variação na produção de
energia das flores na fase masculina, uma vez que esta excede a variação das flores na
fase feminina. É provável que a maior produção de néctar na fase masculina aumente
a exportação e recepção de pólen, influenciando o desempenho desta função e
corroborando a hipótese de que esta característica floral secundária seja o resultado de
seleção através da função masculina.
21
Capítulo 3
Distribuição espacial de flores coespecíficas, conseqüências
para a atividade de abelhas e sucesso reprodutivo de
Eriotheca gracilipes (Malvaceae)
Manuscrito em fase final de preparação
(ver texto completo no Anexo 2)
22
Resultados e discussões detalhados do presente capítulo estão apresentados no
Anexo 2, na forma de manuscrito a ser submetido para publicação.
Na natureza, existe uma grande heterogeneidade no número de flores abertas
por planta. Esta variação ocasiona respostas distintas dos polinizadores, que podem
influenciar a dispersão de pólen. A relação entre disponibilidade de recursos florais e
a freqüência de visitas pode ser positiva, quando há um incremento na freqüência de
visitas proporcional ao aumento na disponibilidade de recursos; pode ser negativa, ou
pode ainda não apresentar uma relação. Dentre muitos fatores que incidem sobre o
sucesso reprodutivo de espécies vegetais, a relação entre o número de flores
disponível e a freqüência de visitas tem sido muito estudada. A distribuição agrupada
de muitas espécies de plantas faz com que a distribuição de recursos florais na
vizinhança dos indivíduos influencie a atividade dos polinizadores, bem como o
sucesso reprodutivo.
No presente capítulo descrevemos a distribuição espacial de flores de
Eriotheca gracilipes em duas fisionomias de Cerrado do Estado de São Paulo e tem
como objetivo compreender as relações entre freqüências de visitas e disponibilidade
de flores para abelhas de pólen e abelhas de néctar em dois anos consecutivos. Foi
investigada a relação entre o número de flores na planta focal e nas escalas da
vizinhança com a atividade das abelhas e o sucesso reprodutivo da planta focal.
A produção de botões, flores e frutos de E. gracilipes em cada uma das
fisionomias foi quantificada em censos fenológicos nas floradas de 2005 e 2006, onde
12 plantas por fisionomia foram amostradas. Ao redor das plantas focais foram
estabelecidas parcelas circulares de 5, 10 e 15m de raio a partir da planta focal para
caracterizar a relação entre a disponibilidade de flores e freqüência de visitas às
23
flores. No mesmo dia do censo de visitantes foi quantificado o número de flores na
planta focal e nos demais indivíduos de E. gracilipes situados nos raios de 5m, 10m e
15m. Um agrupamento de três parcelas circulares constitui um bloco, havendo quatro
blocos no cerrado e cinco blocos no campo cerrado. As distâncias entre as parcelas
circulares de um mesmo bloco foram de 40 a 120 m, e as distâncias entre blocos de
uma mesma fisionomia de 300 m a 3 km.
Nossos resultados indicaram que o número de flores disponível depende do
ano e da fisionomia. A disponibilidade de flores não apresentou variações à medida
que aumentamos a escala espacial ao redor da planta focal, nas duas fisionomias. A
ausência de variação espacial na disponibilidade de flores de E. gracilipes,
provavelmente é conseqüência da perda de estruturas reprodutivas por Trigona
spinipes. Houve diferenças nas freqüências de visita entre as abelhas de pólen e as
abelhas de néctar, sendo que as primeiras foram as mais freqüentes. Houve diferenças
entre blocos e entre plantas na freqüência de abelhas de néctar e diferenças entre
plantas na freqüência de abelhas de pólen. No entanto, para ambos os grupos de
abelhas, diferenças entre flores foram responsáveis pela maior parte da variação
encontrada na freqüência de visitas. Não foi detectada relação entre a freqüência de
visitas e a disponibilidade de flores de E. gracilipes nas escalas da vizinhança,
entretanto, foram detectados indícios de que as abelhas de néctar responderam
positivamente à disponibilidade de flores em 2005, no cerrado. As regressões entre o
número de estruturas reprodutivas produzidas por planta e o número máximo de frutos
formados em 2005 não foram significativas, exceto entre o número total de flores e o
número máximo de frutos formados no cerrado, onde foi detectada relação positiva
significativa.
24
Capítulo 4
Incidência de florivoria conseqüências para o sucesso reprodutivo de
Eriotheca gracilipes (Malvaceae)
Manuscrito em fase final de preparação
(ver texto completo no Anexo 3)
25
Resultados e discussões detalhadas do presente capítulo estão apresentadas no
Anexo 3, na forma de manuscrito a ser submetido para publicação.
A herbivoria é considerada um importante fator que afeta as plantas do
Cerrado, sendo que particularmente a florivoria afeta diretamente as funções
masculina e feminina através do consumo das flores, ou indiretamente alterando
atributos florais importantes para a ocorrência de interações interespecíficas. Como
resultado da florivoria, a ocorrência de limitação polínica na população pode ser
intensificada, reduzindo a produção de frutos e sementes. No presente capítulo
quantificamos a incidência de danos provocados por diferentes agentes, nos botões
florais de Eriotheca gracilipes, visando investigar como os agentes antagônicos
limitam o sucesso reprodutivo desta espécie de planta nas áreas estudadas.
Foram marcados e monitorados botões florais de Eriotheca gracilipes em 24
plantas focais, sendo 12 no cerrado sensu stricto e 12 no campo cerrado até a fase de
frutificação. A partir destes dados foram obtidas: as curvas de sobrevivência das
estruturas reprodutivas, as incidências de dano causadas por diferentes agentes e as
incidências de classes de danos ocasionados por Trigona spinipes em cada fisionomia
ao longo do período de monitoramento. Experimentos de polinização manual foram
realizados para investigar a ocorrência de limitação polínica.
A incidência de dano depende da fisionomia e do agente, sendo que o mesmo
resultado foi obtido para a incidência das classes de dano ocasionadas por Trigona
spinipes. As maiores taxas de sobrevivência das estruturas reprodutivas no cerrado
sensu stricto e a correlação positiva entre o número de botões produzidos e o número
de frutos formados nesta fisionomia, corroboram as evidências de que no campo
cerrado a incidência de dano total ocasionado por Trigona spinipes impediu a
26
formação de frutos e sementes. Estes resultados reforçam a hipótese de que variações
espaciais nas interações entre species poderiam afetar diferentemente a reprodução
sexuada, de acordo com as espécies envolvidas.
27
Capítulo 5
Discussão Geral
28
I. Discussão Geral
O estudo da distribuição de flores de Eriotheca gracilipes revela que a
disponibilidade destes recursos varia espacial e temporalmente. Os dados
fenológicos indicam que o evento reprodutivo expressivo em 2005 no cerrado, foi
seguido por um evento menos expressivo no ano seguinte; sendo que a situação
contrária foi observada no campo cerrado. No ano em que a floração foi mais
expressiva no cerrado, estas variações afetaram de modo distinto as abelhas
grandes que visitam as flores de E. gracilipes à procura de néctar e pólen. Apenas
nesta situação, estas abelhas responderam positivamente ao aumento na
disponibilidade de flores, tanto na escala do indivíduo, como na escala da
vizinhança. No presente estudo, variações entre flores foram responsáveis pela
maior parte da variação encontrada nas freqüências de visitas. Para as abelhas de
néctar, a grande variação entre flores, observada para a produção da energia do
néctar, poderia explicar o padrão de variação nas freqüências de visitas. Variações
evidentes entre anos na intensidade de floração de Heterophragma quadriloculare
(Bignoniaceae) não foram acompanhadas por respostas distintas na atividade da
abelha Xylocopa tenuiscapa (Somanathan et al. 2004).
Na interação planta-polinizador, a menor escala espacial possível para avaliar
a distribuição de recursos florais seria a flor. Nesta unidade espacial, a dinâmica
de produção de néctar desempenha um papel crucial para o resultado da interação
entre plantas e seus polinizadores (Leiss & Klinkhamer 2005). Independente da
fase sexual das flores de E. gracilipes, variações entre flores foram responsáveis
pela maior parte da variação encontrada na produção de energia do néctar e esta
variação é determinada pela variação na produção de energia das flores na fase
29
masculina. A correspondência entre o padrão de variação na distribuição de
energia do néctar e o padrão de variação das visitas das abelhas de néctar na
escala espacial que considera as distâncias entre plantas e entre blocos, indica a
possibilidade de que estas abelhas grandes percebem as variações na
disponibilidade de recursos nas duas escalas espaciais, e que provavelmente, estas
distâncias não devem exceder os limites de percepção destes recursos pelos
polinizadores. A grande proporção de flores de E. gracilipes com baixas taxas de
produção de néctar pode ser uma estratégia para reduzir os custos de produção
deste recurso. Esta estratégia, aliada à produção de muitas flores, poderia
aumentar a atratividade e reduzir a perda de pólen através do comportamento de
aversão ao risco dos polinizadores, uma vez que os polinizadores que exibem este
comportamento, não visitam a totalidade das flores (Biernaskie et al. 2002,
Biernaskie & Cartar 2004).
Características como longevidade floral, volume e qualidade do néctar, que
aumentam as chances de acesso aos estigmas devem ser favorecidas (Klinkhamer
& de Jong 1990). Deste modo, o padrão de alocação de recursos para as funções
sexuais também pode representar uma estratégia desenvolvida pelas plantas para
otimizar o desempenho das funções masculina e feminina (Devlin & Stephenson
1985). É provável que as abelhas de néctar visitem com maior freqüência as flores
na fase masculina, pela morfologia distinta, corroborando a hipótese de que o
padrão de produção de néctar em Eriotheca gracilipes seja oriundo de pressões
seletivas distintas entre as funções masculina e feminina.
De modo geral, a incidência de florivoria em E. gracilipes foi semelhante nas
duas fisionomias, entretanto, quando consideramos tanto os tipos de danos
causados pelos agentes antagonistas, como a extensão do dano de Trigona
30
spinipes, verificamos que as incidências de dano dependem do agente e da
fisionomia. No cerrado, danos ocasionados por Trigona spinipes e a presença de
agregações de hemípteros nos botões foram mais evidentes, entretanto, muitas
estruturas atacadas por T. spinipes sofreram dano superficial. No campo cerrado,
além da perda ocasionada por oviposição e pela ocorrência de geadas, muitas
estruturas reprodutivas foram totalmente atacadas por T. spinipes. A perda de
estruturas reprodutivas de E. gracilipes na fase de botões imaturos reduz
drasticamente a disponibilidade de recursos florais para os polinizadores, e
contribui para a predominância de uma paisagem com poucas flores na estação
seca no Cerrado. Efeitos indiretos da ação de florívoros na interação planta-
polinizador têm sido quantificados (Sánchez-Lafuente 2007). No entanto, os
efeitos diretos dos florívoros no consumo e maturação dos gametas predominam
em E. gracilipes e reduzem seu sucesso reprodutivo, sendo por sua vez, uma das
principais causas da limitação polínica detectada nas duas populações estudadas.
As maiores taxas de sobrevivência das estruturas reprodutivas no cerrado e a
correlação positiva entre o número de botões produzidos e o número de frutos
formados nesta fisionomia, corroboram as evidências de que no campo cerrado as
altas incidências destes agentes e do dano total ocasionado por Trigona spinipes
impediu a formação de frutos e sementes. Estes resultados reforçam a hipótese de
que variações espaciais nas interações entre species, sejam elas mutualistas ou
antagonistas, poderiam afetar diferentemente a reprodução sexuada de E.
gracilipes, de acordo com as espécies antagonistas envolvidas.
31
II. Referências
BIERNASKIE, J.M., CARTAR, R.V. & HURLY, T.A. 2002. Risk-averse
inflorescence departure in hummingbirds and bumblebees: could plants benefit
from variable nectar volumes? Oikos 98: 98-104.
BIERNASKIE, J.M. & CARTAR, R.V. 2004. Variation in rate of nectar production
depends on floral display size: a pollinator manipulation hypothesis.
Functional Ecology 18: 125-129.
DEVLIN, B & STEPHENSON, A.G. 1985. Sex differential floral longevity, nectar
secretion, and pollinator foraging in a protandrous species. American Journal
of Botany 72: 303-310.
KLINKHAMER, P.G.L. & DE JONG, T.J. 1990. Effects of plant size, plant density
and sex differential nectar reward on pollinator visitation in the protandrous
Echium vulgare (Boraginaceae). Oikos 57: 399-405.
LEISS, K.A. & KLINKHAMER, P.G.L. 2005. Spatial distribution of nectar
production in a natural Echium vulgare population: Implications for pollinator
behaviour. Basic and Applied Ecology 6: 317-324.
SANCHEZ-LAFUENTE, A.M. 2007. Corolla herbivory, pollination success and fruit
predation in complex flowers: an experimental study with Linaria lilacina
(Scrophulariaceae). Annals of Botany 99: 355-364.
SOMANATHAN, H., BORGES, R.M. & CHAKRAVARTHY, V.S. 2006. Does
neiborhood floral display matter? Fruit set in carpenter bee-pollinated
Heterophragma quadriloculare and beetle-pollinated Lasiosiphon
eriocephalus. Biotropica 36: 139-147.
32
Anexo 1
Distribuição espacial do néctar floral de Eriotheca gracilipes (Malvaceae) e sua
interpretação perante a teoria de seleção sexual
SYLENE DEL CARLO 1 E SILVANA BUZATO 1
1. Departamento de Ecologia, Instituto de Biociências, Universidade de São
Paulo, Rua do Matão, travessa 14, 321, 05508-900, São Paulo, SP, Brasil.
Anexo do Capítulo 2
33
ABSTRACT – (Nectar energy production of Eriotheca gracilipes
(Malvaceae) flowers in multiple spatial scales in the context of sexual selection).
Nectar is the principal floral visitor reward offered by plants and the volume and
sugar concentration determine its energetic value. We report how nectar secretion and
sugar concentration determine energy variation content for Eriotheca gracilipes on
male and female phase flowers under two Cerrado physiognomies (cerrado and
campo cerrado). We found great variation for both sugar concentration and nectar
production rate on E. gracilipes flowers and nectar production rate is the best
predictor of energy content on flowers. Independently of the sexual phase, the greatest
variation in energy production rate occurs within the individuals. Variation in energy
production rate in male phase overrides the variation in female phase, and it is more
likely to influence pollinator behavior. Energy production per flower differed among
individuals for male phase, and could encourage bees to select more rewarding
individuals within patches. The higher nectar secretion during male phase could
match the number of Anthophoridae bee visits required to fulfill male function,
because E. gracilipes pollen:ovule ratio is high.
Key words – Anthophoridae, Brazilian savanna, nectar production, male and female
functions, plant-pollinator interaction
34
Introdução
Nas plantas hermafroditas, os recursos alocados para a reprodução são
particionados entre as funções masculina e feminina (Willson 1979). A alocação de
recursos para as funções sexuais recebeu muita atenção por sua relevância em estudos
teóricos sobre evolução e custos da reprodução sexuada, e no entendimento do papel
da seleção sexual nas espécies hermafroditas (Devlin & Stephenson 1985). A
alocação de recursos deve otimizar o desempenho das funções masculina e feminina e
assegurar a reprodução sexuada ou regular os níveis de autopolinização, de forma que,
a proporção de recursos alocados para cada função sexual reflete a função que está
sendo enfatizada (Devlin & Stephenson 1985). Várias das estratégias sexuais das
plantas, que têm como base diferenças intersexuais nos atributos florais (Bell 1985,
Devlin & Stephenson 1987, Delph & Ashman 2006), têm sido explicadas pela teoria
de seleção sexual. Apesar da ocorrência destas diferenças, a alocação de recursos
deve ocorrer de modo a equilibrar a aptidão das funções masculina e feminina (Lovett
Doust & Lovett Doust 1988, Delph & Ashmann 2006).
Nas plantas com flores perfeitas, enquanto os atributos sexuais primários
(grãos de pólen ou óvulos) dizem respeito à expressão de uma das funções sexuais, os
atributos sexuais secundários, como a produção de néctar, podem servir à uma ou
ambas funções (Lovett Doust & Lovett Doust 1988, Wilson et al. 1994, Carlson &
Harms 2006). Nas espécies dicogâmicas é possível distinguir a produção de néctar em
cada uma das fases sexuais, uma vez que suas flores apresentam separação temporal
entre as funções masculinas e femininas. Nestas espécies, é comum a ocorrência de
diferenças intersexuais no investimento de energia para a produção de néctar (Aizen
& Basílio 1998), tornando possível avaliar sua contribuição para o sucesso de cada
uma das funções sexuais (Aizen & Basilio 1998, Carlson & Harms 2006).
35
Considerando que a produção de néctar pode comprometer recursos para a
produção de sementes (Pyke 1991), a ocorrência de flores com quantidades diminutas
de néctar poderia representar uma estratégia para economizar recursos do indivíduo,
além de influenciar as decisões dos visitantes florais quanto às escolhas das flores ou
de agrupamentos florais (Rathcke 1992, Leiss & Klinkhamer 2005). Deste modo,
variações espaço-temporais na produção de néctar em espécies com flores
hermafroditas também podem reduzir interferências entre as estruturas masculinas e
femininas de uma mesma flor e, portanto, a auto-fertilização. Padrões na alocação de
recursos dentro e entre flores, e que poderiam ser avaliados pela produção de néctar,
bem como medidas da distribuição da variação dentro de populações (Aizen & Basílio
1998, Klinkhamer et al. 2001), ainda são escassos. A importância em desvendar estes
padrões de alocação de recursos, traduzida pela alocação do néctar, reside no fato de
que o desempenho das funções sexuais pode ser sensível à produção de néctar em
cada sexo e também ao número de indivíduos coespecíficos em sua vizinhança
(Lovett Doust & Lovett Doust 1988, Feinsinger et al. 1991).
O objetivo do presente estudo é descrever, em duas fisionomias de Cerrado,
como os atributos do néctar das flores protândricas de Eriotheca gracilipes
(Malvaceae), i.e., flores que mudam temporariamente da fase estaminada para a fase
pistilada, determinam as variações de energia nestas fases. Além disto, em cada fase
sexual serão quantificadas as variações na disponibilidade de energia oriunda do
néctar em escalas locais (entre flores, plantas e agrupamentos de plantas).
Considerando que o desempenho da função masculina exibe maior variação que o
desempenho da feminina (Lovett Doust & Lovett Doust 1988), seria esperado maior
investimento na produção de néctar da função masculina a fim de reduzir incertezas
em seu desempenho e, portanto, equilibrar o desempenho das funções.
36
Material e métodos
Área de estudo - O presente estudo foi desenvolvido em 2005 em populações
de Eriotheca gracilipes em dois remanescentes de Cerrado, pertencentes ao Instituto
Arruda Botelho (Fazenda Conquista - 22˚ 01’S e 43˚ 57’W; 266 ha) e ao Instituto
Florestal (Estação Ecológica de Itirapina - 22º11’S e 47º56’W; 2.300 ha), situados
nos municípios de Itirapina e Brotas, SP. Estes dois remanescentes possuem um
mosaico de fisionomias de Cerrado. No remanescente da Fazenda Conquista
predomina o cerrado sensu stricto, enquanto na Estação Ecológica de Itirapina
predominam fisionomias mais abertas de Cerrado, como o campo cerrado (W.
Mantovani, com. pess., Durigan et al. 2002). Estes remanescentes distam ca. 3 Km
entre si e estão localizados a 730 m de altitude. A precipitação total para o ano de
2005 foi de 837 mm, com uma estação seca entre Abril e Novembro e uma estação
úmida entre Dezembro e Março. As temperaturas médias mensais oscilaram de 16,7 a
23,3o C na estação seca, e de 21,4 a 24,0o C na estação úmida (Fonte: CRHEA EESC-
USP).
Sistema de estudo - Eriotheca gracilipes (K. Sch.) Robyns (Malvaceae) é uma
espécie arbórea de até 15 m de altura que ocorre em áreas de Cerrado, sendo mais
comum nos Cerrados do Sudeste do Brasil (Silberbauer-Gottsberger & Eiten 1987,
Oliveira et al. 1992, Durigan et al. 2002). Em uma área de Cerrado contígua à Estação
Ecológica de Itirapina (CRHEA EESC-USP), E. gracilipes apresenta distribuição
agregada, com densidade absoluta de 88 indivíduos.ha-1 (Durigan et al. 2002). Porém,
a ausência de plântulas e juvenis desta espécie neste fragmento, indica que alterações
nos processos de reprodução e/ou recrutamento da espécie possam estar ocorrendo.
Este fato nos motivou a selecionar este sistema para investigar alguns processos
37
associados à reprodução sexuada da espécie e que poderiam causar alterações na
estrutura da população. Eriotheca gracilipes floresce de Maio a Agosto. As flores
permanecem abertas e receptivas por dois ou três dias, sendo auto-incompatíveis e
dependentes de abelhas grandes (Anthophoridae) para a polinização (Oliveira et al.
1992). Há diferenças temporais quanto à expressão das funções femininas e
masculinas nas flores de E. gracilipes, sendo que as flores de primeiro dia são
funcionalmente masculinas, apresentando estames frescos e pólen disponível, e as
flores de segundo e terceiro dia são funcionalmente femininas, apresentando estigma
exposto e estames secos e sem pólen (Oliveira et al. 1992). Os frutos são formados
concomitantemente à florada e as sementes são dispersas pelo vento em Novembro,
no final da estação seca.
Produção de energia do néctar – Em Julho e Agosto de 2005, a quantidade de
néctar produzida por indivíduo foi estimada através da produção de néctar por flor
(Kearns & Inouye 1993). Botões florais de E. gracilipes em pré-antese foram
ensacados para obtenção de medidas de volume e concentração de açúcares no néctar.
Foram utilizadas 24 plantas focais, sendo amostradas 12 plantas focais no cerrado
sensu stricto pertencente ao Instituto Arruda Botelho e 12 no campo cerrado
pertencente ao Instituto Florestal de São Paulo. As plantas focais foram agrupadas em
blocos, cada bloco era formado por três plantas focais que distavam ca. 50 a 130 m
entre si, e as distâncias entre blocos de uma mesma fisionomia variaram de 300 m a 3
Km. Tanto no cerrado sensu stricto, que neste estudo será denominado cerrado, como
no campo cerrado, foram estabelecidos quatro blocos de três plantas focais cada um.
As medidas de néctar foram realizadas em duas a seis flores, em dois períodos do dia:
manhã e tarde, com intervalos de ca. 6 horas, tanto para flores na fase masculina (1o
dia) como para as flores na fase feminina (2o dia), em cada planta focal. Cada flor foi
38
acompanhada até a 2a medida da flor de 2o dia, uma vez que, as mensurações das
flores do 3o dia indicaram não haver mais produção de néctar (0 µl) (Oliveira et al.
1992). O volume e a concentração de açúcares (% BRIX) no néctar foi obtido com a
utilização de micro-seringas calibradas e refratômetro portátil, respectivamente. A
concentração foi obtida apenas para amostras com volumes maiores ou iguais a 1 µl
(quantidade mínima necessária para a leitura do refratômetro). Para a obtenção da
quantidade de energia disponível, a concentração, convertida em gramas de açúcar
por litro de solução, foi multiplicada pelo volume em Litros e convertida em Joules
(Kearns & Inouye 1993). Para a obtenção do intervalo de tempo entre o início da
produção de néctar e a primeira medida efetuada nas flores na fase masculina, o
horário estabelecido para o início da produção de néctar foi às 06:00 horas da manhã.
Os dados de concentração de açúcares, produção de néctar e produção de energia
foram analisados tanto para flores de 1o dia (♂), como para flores de 2o dia (♀). Para
as flores de 1o dia, a produção de energia (Joule.flor-1.hora-1) foi obtida através da
soma das quantidades de energia produzida nos dois períodos do mesmo dia, dividida
pelo tempo total decorrido entre as 06:00 horas e o horário da 2a medida. Para as
flores de 2o dia, o tempo total considerou o período entre a 2a medida do 1o dia até a
2a medida do 2o dia. Os dados de produção de néctar (µl.flor-1.hora-1) utilizaram os
mesmos intervalos de tempo considerados para a obtenção dos dados de produção de
energia do néctar (Joule.flor-1.hora-1).
Análise dos dados – Diferenças na produção e concentração de açúcares do
néctar entre flores nas fases masculina e feminina foram analisadas pelo Teste de
Wilcoxon. Flores que não produziram néctar na 1ª e 2ª medida das fases masculinas
ou femininas da flor foram excluídas da análise para verificar se existem diferenças na
concentração de açúcares do néctar entre flores na fase masculina e flores na fase
39
feminina. As relações entre produção de energia e concentração de açúcares e entre
produção de energia e produção de néctar foram analisadas por regressão não
paramétrica (Conover 1999) com correção de Bonferroni, uma vez que, em cada
fisionomia e em cada fase sexual da flor, foram feitas duas regressões para a mesma
variável resposta (produção de energia). Para estas análises foram utilizados os
valores médios por planta. A distribuição dos dados e dos resíduos foi verificada por
inspeção gráfica. Os dados de produção de energia do néctar foram analisados por
meio de ANOVA hierárquica (Zar 1999) considerando-se os seguintes níveis:
fisionomias, blocos dentro de fisionomias, indivíduos dentro de blocos, e flores dentro
de indivíduos. A magnitude do efeito (ω2), que indica a proporção da variação
explicada pelos diferentes níveis, foi estimada por meio de análise de componentes da
variância segundo Graham & Edwards (2001) para os fatores aleatórios (bloco,
indivíduo e flor). A ANOVA hierárquica e a análise de componentes da variância,
foram utilizadas para cada uma das fases sexuais florais (fase ♂ e fase ♀,
separadamente) e também para as flores nas fases masculina e feminina agrupadas
(fases ♂ e ♀), uma vez que, flores nas fases masculina e feminina ocorrem
simultaneamente nos indivíduos de E. gracilipes. A análise da produção de energia do
néctar para os diferentes níveis hierárquicos considerou os dados de oito blocos,
sendo quatro blocos por fisionomia.
Resultados
A concentração média de açúcares do néctar entre as flores na fase masculina
de E. gracilipes variou de 6,0 a 42,5 % (média ± DP: 23,0 ± 10,4 %; N = 41) no
cerrado, e de 6,0 a 31,5 % (19,0 ± 6,3 %; N = 29), no campo cerrado. Entre as flores
na fase feminina, a concentração média variou de 5,0 a 35,2 % (17,2 ± 6,5 %; N = 41)
40
no cerrado, e de 8,0 a 23,5 % (15,1 ± 5,4 %; N = 29) no campo cerrado (Figura 1A).
A taxa de produção de néctar das flores na fase masculina variou de 0 a 12,64 µl.flor-
1.hora-1 (1,93 ± 2,51 µl.flor-1.hora-1; N = 47 flores) no cerrado e de 0 a 7,27 µl.flor-
1.hora-1 (2,39 ± 2,15 µl.flor-1.hora-1; N = 40 flores) no campo cerrado. Para as flores
na fase feminina, o volume total variou de 0 a 2,69 µl.flor-1.hora-1 (0,58 ± 0,56 µl.flor-
1.hora-1; N = 47 flores) no cerrado, e de 0 a 3,39 µl.flor-1.hora-1 (0,85 ± 0,83 µl.flor-
1.hora-1; N = 40 flores) no campo cerrado (Figura 1B).
Foram detectadas diferenças na concentração de açúcares e na produção de
néctar entre flores na fase masculina e flores na fase feminina, em ambas fisionomias
de Cerrado (Testes de Wilcoxon, produção de néctar: Zcerrado = 2,51; P = 0,01; N = 46;
Zcampo cerrado = 2,37; P = 0,02; N = 40; concentração de açúcares: Zcerrado = 2,69; P =
0,007; N = 40; Figuras 1A e 1B). A exceção ocorreu para a concentração de açúcares
entre as flores do campo cerrado, nas quais não foram detectadas diferenças entre
flores na fase masculina e flores na fase feminina (Zcampo cerrado = 1,11; P = 0,26; N =
29; Figura 1A). Considerendo que as plantas de E. gracilipes apresentam
concomitantemente flores na fase masculina e flores na fase feminina, Nas duas
fisionomias, a maioria das flores apresentou baixa produção de néctar, ou seja, entre 0
e 1,00 µl.flor-1.hora-1 (Figuras 2A-2D). No entanto, os respectivos valores de mediana
e desvio padrão das flores na fase masculina e das flores na fase feminina para a
produção de néctar, indicam que a maior variação ocorreu nas flores na fase
masculina (Figuras 2B e 2D). A taxa de produção de néctar apresentou relação
positiva significativa com a disponibilidade de energia oriunda do néctar das flores de
E. gracilipes, enquanto que a concentração de açúcares não apresentou tal relação
com a disponibilidade de energia (Tabela 1, Figuras 3A e 3B). Assim, tanto no
41
cerrado como no campo cerrado, as taxas de produção de energia aumentaram à
medida que aumentaram as taxas de produção de néctar (Tabela 1, Figura 3A).
A análise de variância hierárquica revelou, para as flores na fase masculina,
que não existem diferenças na produção de energia como resultado das fisionomias e
dos blocos; entretanto, foram detectadas diferenças entre as plantas amostradas
(Tabela 2; Figura 4A). A análise da magnitude do efeito dos diferentes fatores
avaliados para a produção de energia evidenciou que diferenças entre flores de uma
mesma planta são responsáveis pela maior parte da variação encontrada (Tabela 2;
Figura 4A). Para as flores na fase feminina, a análise de variância hierárquica revelou
ausência de diferenças na produção de energia como resultado das fisionomias e das
plantas; entretanto, foram detectadas diferenças entre os blocos amostrados (Tabela 2;
Figura 4B). A análise da magnitude do efeito dos diferentes fatores avaliados para a
produção de energia também evidenciou que diferenças entre flores de uma mesma
planta são responsáveis pela maior parte da variação encontrada (Tabela 2; Figura
4B). Considerando a produção de energia oriunda do néctar tanto de flores na fase
masculina como de flores na fase feminina, a mesma análise de variância revelou
ausência de diferenças entre fisionomias e entre blocos, entretanto, foram detectadas
diferenças entre plantas. A análise da magnitude do efeito dos diferentes fatores
avaliados para a produção de energia, considerando as flores independente da fase
sexual, também evidenciou que diferenças entre flores de uma mesma planta são
responsáveis pela maior parte da variação encontrada (Tabela 2; Figura 4C).
Discussão
As flores de Eriotheca gracilipes exibem grande variação no volume de
néctar, bem como na concentração de açúcares, sendo que a taxa de produção do
néctar foi o melhor descritor da disponibilidade de energia das flores. Este fato
42
explica e reforça evidências de que a variância na concentração de açúcares do néctar
não é o principal fator que determina o comportamento de alguns grupos de abelhas
(Waddington 1995, 2001). Alguns estudos verificam a ocorrência de distribuições não
normais nos volumes de néctar (Feinsinger 1978, Marden 1984, Zimmerman & Pyke
1986), indicando que as plantas exibem uma estratégia mista, ou seja, produzem alta
proporção de flores sem néctar e baixa proporção de flores com muito néctar para
escapar dos custos de produção deste recurso (Bell 1986, Pyke 1991). É possível que
a grande proporção de flores de E. gracilipes com baixas taxas de produção de néctar
também seja uma estratégia para reduzir os custos de produção deste recurso, uma vez
que, o investimento na produção de flores nesta espécie é alto, devido ao grande
número de botões produzidos (Capítulos 2 e 3). Além disto, estudos têm mostrado que
plantas com muitas flores maximizam a aptidão da função masculina, através do
aumento da atratividade e redução da perda de pólen através do comportamento de
aversão ao risco dos polinizadores, uma vez que os polinizadores que exibem este
comportamento, não visitam a totalidade das flores (Biernaskie et al. 2002, Biernaskie
& Cartar 2004). Em plantas hermafroditas, esta grande variação na taxa de produção
de néctar dentro do indivíduo tem sido reconhecida como uma característica
adaptativa que reduz o número de flores visitadas por planta e conseqüentemente,
reduz o tempo de permanência do visitante floral na planta e a deposição de pólen
entre flores do mesmo indivíduo (Pleasants 1983, Biernaskie et al. 2002).
Diferenças na taxa de produção de néctar entre flores podem ser conseqüência
da idade e do sexo da população de flores (Gilbert et al. 1991). Como em outras
espécies de plantas que exibem protandria (Klinkhamer & de Jong 1990, Aizen &
Basílio 1998, Carlson & Harms 2006), a produção de néctar das flores de E.
gracilipes foi maior na fase masculina do que na fase feminina. As taxas de secreção
43
foram 3,3 e 2,8 vezes maiores na fase masculina, no cerrado e no campo cerrado,
respectivamente. A expressão diferenciada do néctar para as funções sexuais nas
flores hermafroditas provavelmente indica uma história de seleção sexual em muitas
espécies (Carlson & Harms 2006). As contribuições da função masculina e feminina
para a aptidão de uma flor hermafrodita são igualadas quando ocorrem visitas
suficientes para remover todo o pólen das anteras e depositar pólen suficiente nos
estigmas para que seja obtida a maior produção possível de sementes. Nestes casos, o
padrão de produção de néctar pode ser moldado por pressões seletivas de diferentes
intensidades em cada uma das funções sexuais. Isto pode ocorrer quando o número
mínimo de visitas necessário para saturar cada uma das funções é diferente, ou
quando os polinizadores respondem às diferenças relacionadas ao sexo na produção
de néctar (Devlin & Stephenson 1985, Aizen & Basílio 1998). A proporção
aproximada de 3:1 para a produção de néctar das fases masculina e feminina,
respectivamente, poderia ser resultado da necessidade de haver maior número de
visitas de abelhas para remover todo o pólen de uma flor na fase masculina em
relação ao número necessário de visitas para depositar pólen suficiente para fertilizar
todos os óvulos presentes numa dada flor, visto que a razão pólen-óvulo em E.
gracilipes é alta, ou seja, 3,69 x 104 (Oliveira et al. 1992).
Não descartamos a hipótese de que variações marcantes na produção de
energia entre indivíduos para as flores masculinas, e entre agrupamentos de
indivíduos para as flores femininas, possam ocasionar ajustes comportamentais das
abelhas Anthophoridae em diferentes escalas espaciais para flores na fase masculina e
flores na fase feminina, uma vez que estas abelhas apresentaram diferenças nas
freqüências de visitas tanto na escala do indivíduo como na escala dos agrupamentos
de plantas (Capítulo 2). No entanto, independente da expressão das funções sexuais
44
das flores de E. gracilipes, a maior fonte de variação na produção de energia do néctar
por flor ocorre dentro do indivíduo. Além disto, esta variação parece ser determinada
pela variação na produção de energia das flores na fase masculina, uma vez que esta
excede a variação das flores na fase feminina. É provável que as abelhas
Anthophoridae visitem com maior freqüência as flores na fase masculina, pela
morfologia distinta, corroborando a hipótese de que o padrão de produção de néctar
em Eriotheca gracilipes seja oriundo de pressões seletivas distintas entre as funções
masculina e feminina.
Nas espécies auto-incompatíveis, como é o caso de E. gracilipes, pode haver
oportunidade para a seleção sexual, uma vez que as variâncias das funções sexuais são
distintas (Lovett Doust & Lovett Doust 1988); entretanto, nossos resultados indicam
que a produção de frutos é limitada por polinização, e não por recursos (Capítulo 3).
Além disto, não foi investigado se existem evidências de preferências dos
polinizadores por determinada fase sexual, bem como a relação entre o sucesso de
cada uma das funções e a fecundidade de E. gracilipes.
Agradecimentos – À Isabel Alves dos Santos (IB-USP), pela identificação de
abelhas; ao Luciano Elsinor Lopes, pelo auxílio nas análises estatísticas. Ao CNPq
(Processo141472/2003), pela bolsa concedida à primeira autora; ao Instituto Florestal
e Instituto Arruda Botelho, pelo apoio logístico. Ao Ualfrido Del Carlo, Maria
Carolina Checchia da Inês, Klécia Gili Massi, Katiê Riciluca e Luciano Elsinor
Lopes, pela valiosa contribuição no trabalho de campo.
45
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48
Tabela 1. Intervalos de confiança de β (P = 0,99; correspondente a α = 0,01) e valores
de b (mediana de todas as inclinações possíveis entre dois pontos) das regressões não
paramétricas entre produção de energia (Joule.flor-1.hora-1) e produção de néctar
(µl.flor-1.hora-1) e entre produção de energia (Joule.flor-1.hora-1) e concentração de
açúcares do néctar (%) das plantas focais de Eriotheca gracilipes, para as flores na
fase masculina (♂) e feminina (♀), nas duas fisionomias.
Fase ♂ Fase ♀ Produção de néctar Concentração Produção de néctar Concentração
(4,15 ≤ β ≤ 7,37) (-0,14 ≤ β ≤ 2,63) (3,09 ≤ β ≤ 5,27) (-0,09 ≤ β ≤ 0,46)cerrado b = 5,49 b = 0,62 b = 4,38 b = 0,16
N = 12 N = 12 N = 12 N = 12 (3,92 ≤ β ≤ 5,78) (0,18 ≤ β ≤ 2,84) (2,38 ≤ β ≤ 4,85) (-0,14 ≤ β ≤ 0,70)campo cerrado
b = 4,86 b = 0,95 b = 3,84 b = 0,34 N = 12 N = 12 N = 11 N = 11
49
Tabela 2. Análise de variância hierárquica e análise dos componentes da variação para
os fatores aleatórios (bloco, planta e flores) para energia disponível (Joule.flor-1.hora-
1) nas flores de Eriotheca gracilipes na fase masculina (♂), flores na fase feminina
(♀) e flores nas fases masculina e feminina agrupadas (♂ e ♀).
Fontes de variação GL SQ MQ F P ω2 Fase ♂
Fisionomia 1 59,33 59,33 0,12 0,74 Bloco 6 3052,55 508,76 1,57 0,22 0,10 Planta 16 5294,24 330,89 3,8 0,0001 0,39 Resíduos 63 5490,08 87,14 0,51
Fase ♀ Fisionomia 1 9,32 9,32 0,60 0,46 Bloco 6 93,49 15,58 3,19 0,03 0,12 Planta 16 77,12 4,82 0,64 0,84 0,00 Resíduos 63 472,85 7,51 0,88
Fases ♂ e ♀ Fisionomia 1 10,81 10,81 0,04 0,84 Bloco 6 1475,08 245,85 1,46 0,25 0,02 Planta 16 2721,75 170,11 1,88 0,02 0,11 Resíduos 150 13545,22 90,30 0,87
50
Con
cent
raçã
o de
açu
care
s (%
)
Median 25%-75% Min-Max
cerrado
1o dia 2o dia
5
10
15
20
25
30
35
40
45
campo cerrado
1o dia 2o dia
Prod
ução
de
néct
ar (
µl.fl
or-1
.hor
a -1
)
Median 25%-75% Min-Max
cerrado
1o dia 2o dia
0
2
4
6
8
10
12
14
campo cerrado
1o dia 2o dia
Figura 1
A
B
51
A
B
52
Figura 2
C
D
53
Produção de néctar ( µl.flor-1.hora-1)
Prod
ução
de
ener
gia
(Jou
le.fl
or-1
.hor
a-1)
1o dia
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
cerrado
2o dia
0 1 2 3 4 5 6 7 80
5
10
15
20
25
30
35
40
45
campo cerrado
0 1 2 3 4 5 6 7 8
Concentração de açúcares (%)
Prod
ução
de
ener
gia
(Jou
le.fl
or-1
.hor
a-1)
1o dia
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
cerrado
2o dia
5 10 15 20 25 30 35 40
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
campo cerrado
5 10 15 20 25 30 35 40
Figura 3
B
A
54
0
10
20
30
40
50
60
70
Ener
gia
(Jou
le.fl
or-1
.hor
a-1)
Plantas
0
2
4
6
8
10
12
14
16
Ener
gia
(Jou
le.fl
or-1
.hor
a-1)
♂
♀
55
Plantas
0
10
20
30
40
50
60
70
Ener
gia
(Jou
le.fl
or-1
.hor
a-1)
Figura 4
♂ e ♀
56
Legendas das figuras:
Figura 1 – Atributos do néctar para as flores de Eriotheca gracilipes na fase
masculina (♂) e na fase feminina (♀) nas duas fisionomias de Cerrado: (A)
Concentração de açúcares (%) e (B) Produção de néctar (µl.flor-1. hora-1).
Figura 2 – Distribuição de freqüência da produção de néctar (µl.flor-1.hora-1) das
flores de Eriotheca gracilipes: no cerrado, considerando (A) flores nas fases
masculina e feminina agrupadas (N = 94 flores) e (B) flores nas fases masculina e
feminina
(N = 47 flores em cada uma das fases sexuais); e no campo cerrado, considerando (C)
flores nas fases masculina e feminina agrupadas (N = 80 flores) e (D) flores nas fases
masculina e feminina (N = 40 flores em cada uma das fases sexuais). Os limites das
classes são incrementos de 1 µl.flor-1.hora-1, p.e., classe I: 0 – 1,00 µl.flor-1.hora-1,
classe II: 1,01 - 2,00 µl.flor-1.hora-1; M = mediana e DP = desvio padrão, em
µl.flor-1.hora-1.
Figura 3 – Relação entre produção de energia (Joule.flor-1.hora-1) e produção de
néctar
(µl.flor-1.hora-1) (A); e relação entre produção de energia (Joule.flor-1.hora-1) e
concentração (%) (B), para flores nas fases masculina e feminina nas duas fisionomias
de Cerrado (N = 12 plantas para cada relação, exceto para as análises das flores na
fase feminina no campo cerrado, onde N = 11 plantas).
Figura 4 – Produção de energia (Joule.flor-1.hora-1) nas flores das plantas focais de
Eriotheca gracilipes para: (♂) flores na fase masculina, (♀) flores na fase feminina e
(♂ e ♀) flores nas fases masculina e feminina agrupadas. Em cada figura, cada grupo
de três plantas focais forma um bloco, os quatro primeiros blocos pertencem ao
cerrado e os demais, ao campo cerrado. Os pontos representam as flores (N cerrado =
47 e N campo cerrado = 40, tanto para flores na fase masculina como para flores na fase
feminina; N cerrado = 94 e N campo cerrado = 80, considerando flores nas fases masculina e
feminina agrupadas).
57
58
Anexo 2
Distribuição espacial de flores coespecíficas, conseqüências para a atividade de
abelhas e sucesso reprodutivo de Eriotheca gracilipes (Malvaceae)
SYLENE DEL CARLO 1 E SILVANA BUZATO 1
1. Departamento de Ecologia, Instituto de Biociências, Universidade de São
Paulo, Rua do Matão, travessa 14, 321, 05508-900, São Paulo, SP, Brasil.
Anexo do Capítulo 3
59
ABSTRACT – (Spatial distribution of cospecific flowers: consequences for bee
foraging behavior and reproductive output of Eriotheca gracilipes, Malvaceae).
Resource availability can potentially modulate biological interactions. This study
describes floral resource distribution of Eriotheca gracilipes under two Cerrado
physiognomies: the cerrado and the campo cerrado. Also, we report the relationship
between flower visitation rates and floral display size for two bee classes: “pollen
collecting bees” and “nectar collecting bees”. We found that floral resource
distribution was not different between Cerrado physiognomies, neither among patches
or individuals, but we detected differences in flowering intensity when considering
two consecutive years for both Cerrado physiognomies. Observations under the two
physiognomies in 2005 showed diferences in flower visitation rates between patches
and plants for nectar collecting bees and diferences in flower visitation rates between
plants for pollen collecting bees. In both cases differences among flowers in
frequency of visits contributed to the majority of variation. We found no relationship
between flower visitation rate and display size for focal plants and for neighborhood,
for years, physiognomies and bee classes. These results might be the consequence of a
homogeneous landscape for flower availability. Only in 2005 for cerrado
physiognomy, we considered a possible influence of large floral availability on
frequency of visits of nectar collecting bees.
Key words – bees, Brazilian savanna, flower visitation rate, plant-pollinator
interaction, floral resource distribution.
60
Introdução
A distribuição dos indivíduos nas populações é geralmente agrupada,
ocasionando heterogeneidade ambiental, e como o resultado das interações biológicas
e da dinâmica populacional difere espacialmente, a caracterização da estrutura
espacial passa a ser de extrema relevância na interpretação de tais resultados (Wiens
1976, Gunton & Kunin 2007). A heterogeneidade espacial e suas conseqüências têm
sido estudadas nos últimos anos, e incorporada nas perguntas ecológicas por meio de
diversas abordagens (Kolasa & Picket 1991, Talley 2007). Dentre estas abordagens, a
que propõe um modelo hierárquico de estrutura de manchas em múltiplas escalas tem
se destacado. A idéia central desta abordagem é de que uma mancha (agregação
espacial de uma espécie ou condições) observada em determinada escala tem uma
estrutura interna que é um reflexo da agregação de manchas menores em escalas mais
detalhadas (Kotliar & Wiens 1990, Allen & Hoekstra 1991).
Agrupamentos de recursos florais que variam quanto à abundância de flores no
indivíduo e em sua vizinhança influenciam a atração dos visitantes florais, os níveis
de polinização e o sucesso reprodutivo das espécies de plantas (Feinsinger et al. 1991,
Aizen 1997, Mustajärvi et al. 2001). A atividade dos polinizadores apresenta padrões
dependentes da distribuição de recursos florais, tanto no que se refere às freqüências
de visita como à constância floral (Rathcke 1983, Waser 1986, Kunin & Iwasa 1996).
A relação entre a freqüência de visitas às flores e o número de flores por planta e em
sua vizinhança pode apresentar três tipos de resposta: 1. positiva, quando o número de
visitas aumenta com o aumento no número de flores (Feinsinger et al. 1991, Kunin
1993, Roll et al. 1997, Thompson 2001), 2. negativa, quando o número de visitas
diminui com o aumento no número de flores (Murawski 1987, Kunin 1993), e 3.
61
ausência de relação, quando o número de visitas não aumenta ou diminui com o
aumento no número de flores.
Dentre os vários fatores que condicionam o sucesso reprodutivo de espécies
vegetais (Sutherland 1986, Campbell & Halama 1993, Asikainen & Mutikainen
2005), as questões que envolvem a relação entre atividade de polinizadores e
limitação polínica têm sido tema central na área. A limitação polínica geralmente é
determinada experimentalmente através de suplementação manual de pólen nos
estigmas das flores (Larson & Barrett 2000, Knight et al. 2005). Quando flores
polinizadas manualmente produzem maior quantidade de frutos do que flores
deixadas ao livre acesso dos visitantes florais, há evidências de limitação polínica.
Esta pode ocorrer devido à escassez de polinizadores (baixa freqüência de visitas) ou
à quantidade e qualidade insuficientes de grãos de pólen transportados (Knight et al.
2005).
Dentro deste contexto, o objetivo deste trabalho é verificar se variações na
disponibilidade de recursos florais oferecidos por Eriotheca gracilipes em duas
fisionomias de Cerrado determinam a atividade dos visitantes florais e o sucesso
reprodutivo da planta, abordando as seguintes questões: 1. Como varia a
disponibilidade de recursos florais de E. gracilipes na planta focal e em sua
vizinhança?; 2. Qual a relação entre a atividade das abelhas de pólen e de néctar, com
a disponibilidade de recursos florais de E. gracilipes, na planta focal e na vizinhança?
e 3. O sucesso reprodutivo de E. gracilipes depende da disponibilidade de recursos
florais e da freqüência de visitas das abelhas de pólen e abelhas de néctar?
62
Material e métodos
Área de estudo – O presente estudo foi desenvolvido no período de 2005-2006
em populações de E. gracilipes, em dois remanescentes de Cerrado pertencentes ao
Instituto Arruda Botelho (22˚ 01’S e 43˚ 57’W; 266 ha) e à Estação Ecológica de
Itirapina, Instituto Florestal (22º11’S e 47º56’W; 2.300 ha), situadas nos municípios
de Itirapina e Brotas, SP. Estas áreas possuem um mosaico de fitofisionomias de
Cerrado. O cerrado sensu stricto, que neste estudo foi denominado como cerrado,
predomina no remanescente do Instituto Arruda Botelho; e o campo cerrado, na
Estação Ecológica do Instituto Florestal (W. Mantovani, com. pess.; Durigan et al.
2002). Estes remanescentes distam ca. 2.000 m entre si e estão localizados a 730 m de
altitude. A precipitação total para o ano de 2005 foi de 837 mm, com uma estação
seca entre Abril e Novembro e uma estação úmida entre Dezembro e Março. As
temperaturas médias mensais oscilaram de 16,7 a 23,3 ºC na estação seca, e de 21,4 a
24,0 ºC na estação úmida (Fonte: CRHEA, EESC-USP).
Sistema de estudo – Eriotheca gracilipes (K. Sch.) Robyns (Malvaceae) é uma
espécie arbórea de até 15 m de altura que ocorre em áreas de Cerrado, sendo, porém
mais comum nos Cerrados do sudeste do Brasil (Silberbauer-Gottsberger & Eiten
1987, Oliveira et al. 1992, Durigan et al. 2002). Eriotheca gracilipes apresenta
distribuição agregada e sua densidade pode variar de 39 a 88 indivíduos.ha-1em áreas
do Estado de São Paulo (Silberbauer-Gottsberger 2001, Durigan et al. 2002). Porém, a
ausência de plântulas e juvenis desta espécie na área de estudo (Durigan et al. 2002,
obs. pess.), poderia indicar que alterações nos processos de reprodução e/ou
recrutamento da espécie estejam ocorrendo. Este fato nos motivou a selecionar este
sistema para investigar alguns processos que poderiam causar alterações no sucesso
63
reprodutivo dos indivíduos, tal como a disponibilidade de recursos florais e a
interação planta-polinizador. Eriotheca gracilipes floresce de Maio a Agosto
(Silberbauer-Gottsberger 2001). As flores permanecem abertas e receptivas por dois
ou três dias, sendo auto-incompatíveis e dependentes de abelhas grandes
(Anthophoridae) para a polinização (Oliveira et al. 1992). Os frutos são formados
concomitantemente à florada e as sementes são dispersas pelo vento em Novembro,
no final da estação seca.
Produção de botões, flores e frutos – A produção de botões, flores novas e
senescentes e frutos de E. gracilipes em cada uma das fisionomias foi quantificada em
censos fenológicos entre Maio e Novembro de 2005 e entre Julho e Novembro de
2006 (N = 12 plantas por fisionomia).
Disponibilidade de flores na planta focal e vizinhança e freqüência de visitas -
Foram marcadas 27 plantas de E. gracilipes (12 indivíduos no cerrado e 15
indivíduos no campo cerrado) para caracterizar a relação entre o número de flores e a
freqüência de visitas às flores na planta focal. Para investigar a relação entre o número
de flores na vizinhança e a freqüência de visitas às flores na planta focal, foram
estabelecidas parcelas circulares concêntricas de 5, 10 e 15 m de raio, ao redor de
cada planta. A avaliação da disponibilidade de flores em cada uma das três escalas da
vizinhança (5, 10 e 15 m) inclui o número de flores na planta focal.
A fim de investigarmos a ocorrência de padrões em escalas espaciais maiores
do que as da vizinhança, as parcelas circulares foram estabelecidas considerando o
seguinte delineamento: três parcelas circulares distantes entre si de 40 a 120 m,
constituem um bloco. Os blocos foram estabelecidos no cerrado (N = 4) e no campo
cerrado (N = 5) à distâncias de 300 m a 3 km entre si dentro de uma mesma
fisionomia. Houve necessidade de deslocamento de algumas parcelas circulares,
64
devido à ausência de flores na planta focal. Porém, esta substituição manteve a
estrutura espacial hierárquica mantendo as distâncias entre parcelas e entre blocos
estabelecidas no delineamento do estudo.
Freqüência de visitas - Durante a florada foram realizados censos de visitantes
florais nas flores das plantas focais no cerrado (N = 11 em 2005 e 2006) e campo
cerrado (N = 14 em 2005, N = 12 em 2006). As observações dos visitantes foram
efetuadas entre 08:00 e 16:00 horas. Os censos tiveram duração de 30 min, sendo
feitas três amostragens por dia no mesmo indivíduo focal. Duas a doze flores por
planta focal foram marcadas para a observação dos visitantes florais. A freqüência de
visitas (visitas.flor-1.hora-1) foi obtida pelo número total de visitas às flores marcadas
dividido pelo número de flores observadas no tempo total de observação (1,5 horas).
As abelhas foram classificadas em duas categorias, segundo o principal recurso floral
utilizado em E. gracilipes: “abelhas de pólen” e “abelhas de néctar”. Na primeira
categoria estão as abelhas Trigona spinipes, Apis mellifera e Augochloropsis sp., que
visitam as flores de E. gracilipes à procura de pólen, uma vez que não conseguem
sugar o néctar de forma legítima. Na segunda categoria, estão as abelhas Centris
tarsata, duas outras espécies de Centris e Xylocopa sp., que visitam as flores de E.
gracilipes à procura de pólen e néctar. As observações foram feitas em cinco dias em
2005 e dois dias em 2006, sendo que estes períodos corresponderam ao pico de
florada da população. No mesmo dia do censo de visitantes florais foram realizadas,
contagens do número de flores na planta focal e nos demais indivíduos de E.
gracilipes situados nos raios de 5, 10 e 15 m.
Limitação polínica – Botões não danificados foram ensacados para impedir o
acesso dos visitantes florais. Polinizações manuais cruzadas foram realizadas nas
flores de 2o dia (fase feminina). Estas flores receberam pólen coletado de flores de um
65
doador, distante no mínimo 50 m da planta receptora. Flores sob condições naturais
de polinização foram marcadas e ensacadas. A ocorrência de limitação polínica é
detectada quando as taxas de frutificação oriundas das polinizações manuais são
maiores do que as taxas de frutificação oriundas das flores sob condições naturais
(Wilcock & Neiland 2002; Knight et al. 2005). Foram utilizadas 20 plantas, 10 em
cada fisionomia, sendo que cada planta recebeu os dois tratamentos. As taxas de
frutificação foram obtidas para cada planta através da soma do número de frutos
produzidos dividido pelo número de flores utilizadas em cada tratamento.
Análise dos dados – Os dados de disponibilidade de flores novas nas duas
fisionomias, em 2005 e 2006, foram analisados pela ANOVA de dois fatores para
dados rankeados (Scheirer-Ray-Hare, Sokal & Rolf 1995). Foram utilizados os dados
de dois censos de fenologia reprodutiva por planta no período de grande
disponibilidade de flores de E. gracilipes, ou seja, entre a 2ª quinzena de Julho e a 1ª
quinzena de Agosto dos dois anos estudados. Relações entre freqüência de visitas às
flores e número de frutos formados foram analisadas nas duas fisionomias, nos dois
anos amostrados e para as duas classes de abelhas. Também foram analisadas as
relações entre o número de flores e o número de frutos formados na planta focal e nas
escalas dos 5, 10 e 15 m. Para as regressões entre flores e frutos registrados em 2005,
foram considerados o número total de flores novas e senescentes registrado nos
censos fenológicos e o número máximo de frutos formados por planta. Nestes casos,
foram utilizadas regressões não paramétricas (Conover 1999) com correção de
Bonferroni (Zar 1999), sendo que o valor de alfa foi corrigido pela divisão do valor
crítico de 0,05 pelo número de comparações feitas para uma mesma variável resposta.
Os dados de freqüência de visitas às flores de 2005 foram analisados por meio de
ANOVA hieráquica, considerando os seguintes níveis: fisionomias, blocos dentro de
66
fisionomias, indivíduos dentro de blocos, e flores dentro de indivíduos (Zar 1999). A
magnitude do efeito (ω2), que indica a proporção da variação explicada pelos
diferentes níveis hierárquicos, foi estimada por meio de análise de componentes da
variância segundo Graham & Edwards (2001) para os fatores aleatórios (bloco,
indivíduo e flor). Em 2005, foram utilizados os dados de três blocos por fisionomia
devido à ausência de flores em uma planta focal no cerrado. Em 2006, esta análise
não foi utilizada, pois três plantas focais no cerrado, apresentaram apenas uma flor
por planta. A relação entre freqüências de visitas às flores e disponibilidade de flores,
na planta focal e nas escalas da vizinhança (5, 10 e 15 m), foi analisada por regressão
linear paramétrica para a obtenção dos valores de r2. Nestes dois casos, foram
utilizadas as freqüências médias de visitas às flores (visitas.flor-1, hora-1). A fim de
avaliar em que escala há maior relação entre freqüência de visitas e disponibilidade de
recursos florais, optamos por não realizar inferência estatística e apresentar junto aos
gráficos os valores de r2 obtidos por meio de regressões paramétricas, como
estatísticas das amostras (Gunton & Kunin 2007). Como as parcelas onde o recurso
foi quantificado são concêntricas, ou seja, as escalas maiores incluem as menores,
não há independência entre elas, inviabilizando a realização de regressões múltiplas.
Resultados
Distribuição espacial de flores e visitantes florais – O número de flores
disponível depende do ano e da fisionomia, pois, apesar de não terem sido detectadas
diferenças no número de flores entre anos e entre fisionomias, foi detectada interação
significativa entre estes dois fatores (ANOVA dois fatores para dados rankeados: Hano
(1; 0,05) = 0,46; Hfisionomia (1; 0,05) = 0,29; Hinteração (1; 0,05) = 12,95; χ2crítico (1; 0,05) = 3,84;
Figura 1). Dentre as espécies de visitantes florais registradas nas flores de E.
67
gracilipes, Trigona spinipes e Apis mellifera foram as mais freqüentes nas duas
fisionomias e nos dois anos amostrados (Figura 2). Estas abelhas coletavam todo o
pólen das flores e dos botões em pré-antese em poucos minutos, mas não retiravam o
néctar. As demais espécies foram menos freqüentes, incluindo Centris spp.e Xylocopa
sp. Entretanto, estas abelhas de grande porte foram observadas nos dois anos e nas
duas fisionomias estudadas (Figura 2) e visitam as flores de E. gracilipes de forma
legítima, tocando os estigmas e as anteras ao acessarem a câmara nectarífera.
O número de flores variou em pequenas escalas (0 - 15 m) para a maioria das
parcelas nas duas fisionomias e nos dois anos estudados (Tabela 1). Para as duas
categorias de visitantes florais, abelhas de pólen e de néctar, nos dois anos amostrados
e nas duas fisionomias, os valores de r2 obtidos para a relação entre freqüência de
visitas e disponibilidade de flores de E. gracilipes na planta focal e nas escalas da
vizinhança variaram de zero a 0,20, com a exceção das abelhas de néctar em 2005 no
cerrado, cujos valores obtidos variaram de 0,45 a 0,65 (Figura 3).
Houve diferenças nas freqüências de visita às flores entre abelhas de pólen e
abelhas de néctar (Wilcoxon: Z = 3,88; P = 0,0001; N = 17), porém as freqüências de
ambos os grupos foram semelhantes nas duas fisionomias (Figura 4, Tabela 2). As
freqüência de visitas de abelhas de néctar diferiram entre blocos e entre plantas
(Figura 4A, Tabela 2). As freqüências de visitas de abelhas de pólen diferiram apenas
entre plantas (Figura 4B, Tabela 2). A análise da magnitude do efeito dos fatores
evidenciou que tanto para as abelhas de pólen como para as abelhas de néctar
diferenças entre flores na freqüência de visitas explicou a maior parte da variação
encontrada (Tabela 2).
Visitantes florais e sucesso reprodutivo – As regressões entre freqüências
médias de visitas às flores de E. gracilipes e número de frutos formados não foram
68
significativas, nos dois anos amostrados, nas duas fisionomias e para as duas classes
de abelhas. As regressões entre o número de flores disponível (planta focal e nas
escalas da vizinhança) e o número de frutos formados nas plantas focais também não
foram significativas, indicando que o número de frutos não apresentou relação de
dependência com o número de flores registrado nas plantas focais e nas escalas da
vizinhança. Em 2005, a regressão entre o número total de flores produzidas por planta
e o número máximo de frutos formados foi positiva e significativa somente no
cerrado (Regressões não paramétricas: b cerrado = 0,23 e 0,080 ≤ β ≤ 0,410 para N =
12 plantas; b campo cerrado = 0 e -0,043 ≤ β ≤ 0,167 para N = 9 plantas; Figura 5).
As taxas de frutificação foram maiores nas flores polinizadas manualmente do
que nas flores sob condições naturais de polinização (Testes de Wilcoxon: Zcerrado =
2.67, P = 0.008, N = 10; Zcampo cerrado = 2.27, P = 0.02, N = 10), indicando a ocorrência
de limitação polínica nas duas fisionomias de Cerrado. A frutificação nas flores sob
condições naturais de polinização foi 6,2% (Nfrutos/Nflores = 5/81) no cerrado, e 9,0%
(Nfrutos/Nflores = 7/78) no campo cerrado; enquanto nas flores polinizadas
manualmente, a frutificação foi 23,0% (Nfrutos/Nflores = 17/74) no cerrado, e 31,9%
(Nfrutos/Nflores = 30/94) no campo cerrado.
Discussão
A distribuição espacial e temporal de recursos e as condições ambientais
heterogêneas determinam padrões ambientais que influenciam a distribuição das
espécies e de suas interações (Wiens 1976, Addicott et al. 1987, Gunton & Kunin
2007). A heterogeneidade ambiental no Cerrado está associada a um mosaico de
condições abióticas que determinam variações na distribuição das espécies (Oliveira
1998, Ribeiro & Tabarelli 2002). Estudos que comparam a disponibilidade de
69
recursos florais entre fisionomias de Cerrado indicam que há diferenças na
distribuição destes (Oliveira 1998, Fonseca et al. 2005). Neste estudo registramos
variações na disponibilidade de flores de E. gracilipes, sendo que estas variações
dependem da fisionomia e do ano, quando consideramos escalas espaciais maiores do
que as da vizinhança. Apesar de ser esperado que espécies lenhosas não sejam
afetadas severamente pela escassez de chuvas, durante a estação seca no Cerrado, a
ocorrência de poucas espécies em flor (Oliveira 1998, Silberbauer-Gottsberger 2001),
torna mais evidente a ausência de diferenças entre as fisionomias. Este cenário
determina, nesta estação, a ocorrência de uma paisagem mais homogênea, em termos
de recursos florais.
Dentre as espécies de visitantes registradas nas flores de E. gracilipes, as
espécies de Centris e Xylocopa sp. foram consideradas as mais importantes pela
adequação morfológica, comportamento de forrageio e constância floral, apesar de
terem sido pouco freqüentes. No presente estudo, as abelhas de pólen (Trigona
spinipes e Apis mellifera) foram os visitantes mais comuns nas flores de E. gracilipes,
diferente do que foi observado por Oliveira et al. (1992) nos Cerrados de Uberlândia
(SP) e Brasília (DF). A freqüência de visitas às flores das abelhas de pólen apresentou
diferenças entre plantas, porém estas diferenças não estão relacionadas à
disponibilidade de recursos florais, uma vez que plantas com poucas flores receberam
muitas visitas. Aparentemente, fatores relacionados à área de forrageio próxima aos
ninhos poderia explicar tais diferenças (Nieuwstadt & Iraheta 1996). Neste estudo,
este fato foi observado em uma ocasião para Trigona spinipes, entretanto, seriam
necessários dados das distâncias entre os ninhos desta espécie e as plantas focais de E.
gracilipes para verificar esta relação. No caso de Apis mellifera, tais diferenças
poderiam estar associadas à exploração por estas abelhas de fontes de pólen e néctar
70
mais abundantes. Para as abelhas de néctar diferenças entre plantas e entre blocos nas
freqüências de visitas poderiam ser condicionadas por variações na quantidade de
néctar oferecidas pelas flores na fase masculina, uma vez que estas flores secretam ca.
três vezes mais néctar do que as flores femininas (Capítulo 2). Alguns estudos que
detectam diferenças na produção de néctar entre as fases sexuais, evidenciam que os
polinizadores respondem a estas diferenças (Devlin & Stephenson 1985, Galen &
Plowright 1985, Klinkhamer & de Jong 1990, Aizen & Basílio 1998).
De modo geral, variações nas freqüências de visitas às flores tanto para as
abelhas de pólen como para as de néctar não apresentaram relações de dependência
com o número de flores disponível na planta focal e nas escalas da vizinhança. Este
fato poderia ser explicado pela presença de parcelas circulares com reduzido número
de flores (1-10 flores até os 15 m). Nestes casos, os altos coeficientes de variação têm
pouco significado, diante de uma situação de escassez de recurso floral. Em Eriotheca
gracilipes o reduzido número de flores está associado à perda destas estruturas
reprodutivas devido à ação de Trigona spinipes (Capítulo 4, Oliveira et al. 1992).
Adicionalmente, parcelas com alta disponibilidade de flores não apresentaram
variação entre as escalas. Podemos considerar que tanto o baixo número de flores,
como a baixa variação no número de flores entre as escalas nas poucas parcelas com
maior número de flores favorecem a ocorrência de um cenário de baixa
heterogeneidade na distribuição de recursos florais de Eriotheca gracilipes. A
exceção a este cenário ocorreu no cerrado em 2005, onde a influência do número de
flores na atração das abelhas de néctar foi evidente. Neste ano e, nesta fisionomia, as
parcelas apresentaram maior disponibilidade de flores tanto na planta focal, bem
como esta disponibilidade de recursos aumentou à medida que aumentamos as
escalas na vizinhança. As variações observadas na disponibilidade de recursos no
71
cerrado em 2005, foram mais semelhantes às variações reportadas nos estudos que
detectaram relação positiva entre o número de flores disponível e a atividade dos
polinizadores (Ohashi & Yahara 1999, 2001; Grindeland et al. 2005; Leiss &
Klinkhamer 2005).
Apesar de nesta época do ano existirem outros recursos florais disponíveis no
Cerrado (Ouratea spectabilis, Byrsonima sp e Campomanesia pubescens, Silberbauer-
Gottsberger 2001), a baixa relação entre a disponibilidade de recursos florais de E.
gracilipes e a atividade das abelhas indica que esta espécie não está sendo beneficiada
pela presença de outras espécies vegetais em flor (Laverty 1992). Provavelmente, a
baixa abundância destas outras espécies não foi suficiente para reverter o cenário de
escassez de recursos e promover um incremento na atração dos visitantes florais. O
registro de limitação polínica na população de E. gracilipes reforça a insuficiência no
transporte de pólen feito pelas abelhas. Adicionalmente, o único momento em que
encontramos relação entre o número de flores e o sucesso reprodutivo, coincidiu com
a alta relação entre disponibilidade de recursos de E. gracilipes e a atividade das
abelhas de néctar em 2005 no cerrado, cujos valores de r2 obtidos variaram de 0,45 a
0,65. Apesar de considerarmos que todos os visitantes podem transportar pólen entre
flores de E. gracilipes por tocarem os estigmas e as anteras ao visitarem as flores, as
abelhas Anthophoridae, provavelmente são os vetores de pólen mais importantes para
a frutificação de E. gracilipes. Estas abelhas visitam tanto flores de 1o, como de 2o
dia, ou seja, tanto flores na fase masculina como feminina, e percorrem grandes
distâncias em curto espaço de tempo (Somanathan & Borges 2004).
72
Agradecimentos – À Isabel Alves dos Santos (IB-USP), pela identificação de
abelhas; ao Luciano Elsinor Lopes, pelo auxílio nas análises estatísticas. Ao CNPq
(Processo141472/2003), pela bolsa concedida à primeira autora; ao Instituto Florestal
e Instituto Arruda Botelho, pelo apoio logístico. Ao Ualfrido Del Carlo, Maria
Carolina Checchia da Inês, Klécia Gili Massi, Katiê Riciluca e Luciano Elsinor
Lopes, pela valiosa contribuição no trabalho de campo.
73
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Tabela 1. Número de flores de Eriotheca gracilipes na planta focal e na vizinhança
(5, 10 e 15 m de raio) em cada parcela circular.
2005
2006
Parcela focal 5 m 10 m 15 m CV focal 5 m 10 m 15 m CV
1 3 3 3 10 0.74 1 1 1 2 0.40 2 7 9 9 9 0.12 3 3 3 3 0.00 3 33 33 48 70 0.38 1 1 10 11 0.96 4 9 9 28 29 0.60 3 3 21 26 0.91 5 6 15 15 26 0.53 - - - - - 6 - - - - - 5 5 5 10 0.40 7 44 46 46 47 0.03 3 3 3 4 0.15 8 3 3 4 6 0.35 4 4 4 8 0.40 9 37 43 43 57 0.19 2 2 2 12 1.11 10 6 13 13 17 0.37 5 5 30 30 0.82 11 9 9 9 9 0.00 5 5 5 5 0.00
cerr
ado
12 2 2 2 2 0.00 1 1 4 4 0.69
1 4 4 20 28 0.86 4 4 50 64 1.02 2 5 8 11 14 0.41 56 90 107 131 0.33 3 17 18 20 20 0.08 5 26 63 63 0.73 4 1 1 1 3 0.67 5 5 5 12 0.52 5 3 3 7 35 1.29 98 100 100 105 0.03 6 2 3 4 5 0.37 6 7 12 12 0.35 7 2 2 4 9 0.78 1 1 1 2 0.40 8 4 6 8 8 0.29 3 3 3 3 0.00 9 - - - - - 6 7 7 7 0.07 10 105 105 105 105 0.00 123 123 123 123 0.00 11 72 72 72 72 0.00 5 5 5 5 0.00 12 4 7 7 7 0.24 9 13 13 13 0.17 13 10 10 10 10 0.00 - - - - 14 9 9 9 9 0.00 - - - -
cam
po c
erra
do
15 3 3 3 3 0.00 - - - -
79
Tabela 2. Magnitude do efeito (ω2) para as freqüências de visitas de abelhas de néctar
(Fvnéctar) e de pólen (Fvpólen) às flores de Eriotheca gracilipes em 2005, nos
níveis hierárquicos: blocos, plantas focais e flores. A magnitude do efeito (ω2)
representa a proporção da variação total devida a diferenças entre os elementos
de cada um dos níveis. gl – graus de liberdade; MQ – média dos quadrados dos
desvios; F – estatística F.
Fonte de variação
gl MQ F P
ω2
Fisionomia 1 0,45 0,45 0,54
Bloco 4 1,02 3,31 0,04 0,17 Planta 12 0,33 2,02 0,03 0,13
Fvnéctar
Flor 95 0,16 0,70
Fisionomia 1 13,66 1,31 0,31 Bloco 4 10,53 0,62 0,65 0 Planta 12 18,40 3,46 0,0003 0,28
Fvpólen
Flor 95 5,32 0,72
80
Plantas
Núm
ero
de fl
ores
(N)
cerr
ado
0
10
20
30
40
50
60
2005
cam
po c
erra
do
1 2 3 4 5 6 7 8 90
10
20
30
40
50
60
2006
1 2 3 4 5 6 7 8 9
Figura 1
81
Figura 2
Am Ts
C XD A F
Lm
Ts
AmLmTa C
A Mq
VX
L
AmTs
MqC
A
XD
Lm Mq
Ts Am
C Mq
X
AT
Ordem de abundância -
-
-
-
-
-
0.0
campo cerrado
2005
cerrado 2005
cerrado 2006
campo cerrado
2006
82
Figura 3
cerr
ado
P P P
P
N N N
N
-0.1
0.0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
P P
P PN N N N
2005
P P P P
N N NN
0 5 10 15 -0.1
0.0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
2006
PP
P PN
N
N N
0 5 10 15
cam
po c
erra
do
r 2
83
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
Plantas
0.0
0.2
0.4
0.6
0.8
1.0
1.2
1.4
1.6
1.8
2.0
2.2Fr
eqüê
ncia
de
visi
tas (
visi
tant
e.flo
r-1
.hor
a-1)
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18Plantas
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
Freq
üênc
ia d
e vi
sita
s (vi
sita
nte.
flor-1
.hor
a-1)
Figura 4
A
B
84
Número de flores
Núm
ero
de fr
utos
cerrado
020
4060
80100
120140
160180
200220
240
0
10
20
30
40
50
60
70
80
campo cerrado
020
4060
80100
120140
160180
200220
240
Figura 5
85
Legendas das figuras:
Figura 1 – Número de flores de Eriotheca gracilipes por planta em dois censos
fenológicos entre Julho e Agosto de 2005 e 2006, nas fisionomias de Cerrado
(N cerrado = N campo cerrado =9).
Figura 2 – Visitantes registrados nas flores de Eriotheca gracilipes nas fisionomias de
Cerrado, nos dois anos amostrados, rankeados pelas freqüências relativas de visitas
(Log10 Pi). (Ts) Trigona spinipes, (Am) Apis mellifera, (A) Augochloropsis sp., (Mq)
Melipona quadrifasciata, (Ta) Tetragonisca angustula, (Lm) Leurotrigona muelleri,
(Meg) Megachilidae sp., (C) Centris spp., (X) Xylocopa sp., (T) beija-flores
Eupetomena macroura e Chlorostilbon aureoventris, (V) vespas, (D) moscas; (L)
borboletas e (F) formigas. Visitantes florais com freqüências relativas menores do que
1% não foram representados.
Figura 3 – Coeficientes de determinação (r2) para as relações entre freqüência média
de visitas às flores e número de flores de Eriotheca gracilipes na planta focal (0 m) e
nas escalas da vizinhança (5, 10 e 15 m de raio) para as abelhas de pólen (P) e néctar
(N), nas fisionomias de cerrado (N2005 = N2006 = 11) e campo cerrado (N2005 = 14;
N2006 = 12).
Figura 4 – Freqüência de visitas às flores das plantas focais de Eriotheca gracilipes:
(A) abelhas de néctar e (B) abelhas de pólen nas fisionomias de Cerrado em 2005.
Figura 5 – Relação entre número de total de flores (flores novas e senescentes) e
frutos produzidos nas fisionomias de Cerrado em 2005.
86
Anexo 3
Florivory and reproductive output of Eriotheca gracilipes (Malvaceae)
SYLENE DEL CARLO 1 E SILVANA BUZATO 1
1. Departamento de Ecologia, Instituto de Biociências, Universidade de São
Paulo, Rua do Matão, travessa 14, 321, 05508-900, São Paulo, SP, Brasil.
Anexo do Capítulo 4
87
ABSTRACT – (Florivory and reproductive output of Eriotheca gracilipes –
Malvaceae). A growing number of studies recognize that bud damage caused by
biotic and abiotic agents are common and can affect reproductive output of plants.
Besides, the results of plant-animal interactions depend upon resource availability. In
this study, we quantified bud, flower and fruit production in two Brazilian savanna
physiognomies and investigated the effects of floral bud damages made by florivores
and frost on fruit-set of Eriotheca gracilipes. The number of floral buds produced per
plant did not differ between physiognomies, but the number of flowers and fruits were
higher in cerrado than in campo cerrado. Four different damage types or agents were
registered on buds: Trigona spinipes, Aphid, beetle oviposition and frost. There was
no relationship between flower bud production and incidence of bud damage, but bud
survival rate was higher in cerrado. Incidence of damage did not differ significantly
between physiognomies, but it differed significantly among damage types and there
was interaction between damage type and physiognomy, suggesting that the incidence
of damage is dependent upon physiognomy and damage type. The same results were
observed for the incidence of Trigona damage classes (superficial, stamens, pistils,
stamens and pistils, and overall bud). We detected pollen limitation for E. gracilipes
in both studied sites, and this result might be related to the action of florivores. Also,
in cerrado physiognomy, only 7% of buds resulted in fruits, while in campo cerrado
no fruits were produced. Although, we found low reproductive output in both
physiognomies, contrasts at the incidence of florivory per agent and at the incidence
of Trigona damage classes between sites might have constrained differently the
reproductive performance of E. gracilipes.
Key words – floral bud damage, herbivory, neotropical savanna, pollen limitation,
reproductive success
88
Introduction
Plants can serve as host and food to a wide variety of organisms, which
includes species from positive to negative impacts upon them (Bronstein 2001, Morris
et al. 2007). The availability of plant resources has the potential to affect the
distribution of animals that use them (Ohgushi 1992, Marques et al. 2000, Gunton &
Kunin 2007). Considering interactions of organisms with flowers, not all visitors are
equal in their effects on fruit production (Pellmyr & Thompson 1996, Herrera 2000).
While some transfer pollen, others may reduce the amount of pollen transferred or
even damage flowers. Destruction of flowers by herbivores has been reported as an
important cause of low fruit set (Schemske & Horvitz 1988, Cunningham 1995,
Leavitt & Robertson 2006, Sánchez-Lafuente 2007).
Florivores, consumers of developing floral buds to mature flowers before the
development of seed (McCall & Irwin 2006), may have a significant impact on
reproductive ecology of plants. It can directly affect male and female plant fitness by
consuming all or parts of flowers, or it can indirectly modify the quality and quantity
of important floral attributes for other species interactions (Krupnick & Weiss 1999,
Mothershead & Marquis 2000, Leavitt & Robertson 2006, Sánchez-Lafuente 2007).
Additionally, one of the causes of pollination failure is related to pre-dispersal failure
associated to pollen feeders at the anthers before pollen transport. This fact may
contribute to the occurrence of pollen limitation within populations, one of the most
frequent ecological mechanisms that limit the ability of plant reproduction (Larson &
Barrett 2000, Knight et al. 2005, Wilcock & Neiland 2002).
89
Herbivory has been considered an important factor impacting plants of
Brazilian savannas, not only through its influence on plant growth and reproduction,
but also through its potential interacting effects with abiotic factors (Marquis et al.
2002, Fonseca et al. 2005, Ribeiro & Brown 2006). In this Biome, several studies
record the potential that factors related to plant attributes and plant-animal
interactions have in controlling herbivory levels (Oliveira & Leitão-Filho 1987,
Fonseca et al. 2005, Oliveira & Del Claro 2005, Ribeiro & Brown 2006). Also
Brazilian savannas are favorable ecosystems to evaluate the influence of
environmental conditions at plant-herbivore interactions and plant performances,
because they present several intergrading physiognomic forms within their
distribution ranges (Marquis et al. 2002, Oliveira-Filho & Ratter 2002).
In the present study, we investigated the effects of floral bud damages by
biotic and abiotic agents on fruit-set of Eriotheca gracilipes in two Brazilian savanna
physiognomies. This approach evaluates how different antagonist agents could
perform differences on fruit set. We use field observations to quantify the level of
different types of floral bud damage addressing the following questions: (1) Is the
incidence of damage types related to floral bud production? (2) Does the incidence of
floral bud damage differ between physiognomies? (3) Does the incidence of floral bud
damage differ among agents? (4) Are there differences on bud survivor and
reproductive performance of Eriotheca gracilipes between physiognomies?
Considering the physiognomic spatial variation in Brazilian savannas related to soil
nutrient availability (Goodland & Pollard 1973, Miranda et al. 2002), we expected
also to find spatial heterogeneity on bud production of E. gracilipes between
physiognomies that might explain differences found on floral bud damage incidence
90
caused by biotic agents as well as the reproductive performance of the studied
species.
Material and methods
Study site – Fieldwork was carried out from May to November 2005 at two
vegetation physiognomic types of Brazilian savanna, the campo cerrado, an open
scrubland with few trees, and the cerrado sensu stricto, a dense scrub of shrubs and
trees (Eiten 1972; Oliveira-Filho & Ratter 2002). The campo cerrado physiognomy
occurs in a fragment at the Itirapina Ecological Station, one of the southern reserves
of Brazilian savannas administered by the Forest Institute of São Paulo State
(22º11’S, 47º56’W). It covers an area of 2300 ha in the municipality of Brotas and
Itirapina. The cerrado sensu stricto physiognomy, referred here as cerrado, occurs in
a Cerrado fragment owned by the Conquista farm (22˚ 01’S, 43˚ 57’W). It covers an
area of 266 ha, in the municipality of Itirapina and belongs to the Arruda Botelho
Institute. The two cerrado physiognomies grow at mosaics of structural types of
vegetation. The cerrado sensu stricto is predominant at the Fazenda Conquista
Cerrado fragment. The campo cerrado and campo umido physiognomies are
predominant at the Itirapina Ecological Station (Durigan et al. 2002). These areas are
4 Km apart. The climate is mesothermic with a marked dry season from April to
September. Mean annual rainfall is 1190 mm. Average monthly temperatures ranges
from 16.4 to 22.2°C in the dry season, and from 24.2 to 24.8°C in the wet season
(Durigan et al. 2002).
Study species - Eriotheca gracilipes (Malvaceae) is a tree up to 15 m, common
in the southern Brazilian savannas (Silberbauer-Gottsberger & Eiten 1987, Oliveira et
al. 1992, Durigan et al. 2002), which blooms from May to August (Silberbauer-
91
Gottsberger 2001). Usually only large bees (Centris spp. and Xylocopa spp.) are able
to open the flowers to collect nectar in a chamber between the base of the staminal
tube and the petals. The flowers are open and receptive for two or three days, but
pollen is only available a few hours after anthesis (Oliveira et al. 1992). Breeding
system studies of E. gracilipes showed it to be an obligatorily allogamous species
(Oliveira et al. 1992; Martins & Oliveira 2003). Before and during the pollination
stage, antagonists may leave identifiable records of their activities at flower buds and
flowers, thus making it an appropriate species for studies of the role of floral bud
herbivores on fruit set. At the same time, flowers present extra-floral nectaries (EFNs)
at the base of receptacle (Oliveira et al. 1992) that are patrolled by ants. Damages
occurred mainly on floral buds and flowers, with almost no damage in vegetative
structures made by herbivores (S. Del-Carlo, personal observation). Fruits occur at
the same time of flowering and the plumed seeds are dispersed by wind at the end of
the dry season (Silberbauer-Gottsberger 2001). The absence of E. gracilipes seedlings
and young plants close to the studied areas (Durigan et al. 2002) also motivated us to
investigate factors acting on sexual reproduction that could constraint its performance.
Reproductive phenology, floral bud damage and fruit set – The number of
floral buds, flowers and fruits per plant were counted monthly from May to November
2005 for 12 individuals of E. gracilipes at the cerrado and 12 at the campo cerrado,
for June, July and August there were two censuses at each month. At the same 24
focal plants, we recorded the number of reproductive structure damaged (= incidence
damage) for a cohort of 30 floral buds per plant. These thirty immature E. gracilipes
floral buds per plant, with no previous damage, were tagged and monitored for
damage from June to September 2005. The floral bud was recorded as having one of
four different damage types: (T) Trigona spinipes, (H) Hemipteran aggregations, that
92
sometimes precluded flower anthesis due to a glue presence, (B) beetle oviposition by
Tricorynus sp. (Anobiidae) - small dark dots that provoked abscission of buds and (F)
frost – dry buds. When two or three of recognizable damage types occurred at the
same bud or flower, it was labeled as multiple damages (M). When tagged buds were
not found at the plant or at the ground near the plant (radius = 2 m) with its respective
tag, they were considered lost and were not accounted for analysis. For all floral buds
in which there were Trigona spinipes damages associated or not with other types of
damages, we classified them into five categories due to extension of the damage and
type of floral structure affected: (I) superficial damage; (II) stamens damage - anthers
without pollen or cut stamens; (III) pistil damage – cut style and/or ovary eaten; (IV)
both, stamens and pistil damage; and (V) total damage – immature buds almost
entirely eaten. For stamens, pistils and stamens and pistil categories, sometimes we
recorded flowers without petal damages, indicating that they were attacked when
already opened. On the other hand, for these three categories, we frequently found
large chewed holes in the petals of mature buds and flowers.
Data analysis – We performed Mann-Whitney U tests to check for differences
between physiognomies for the maximum number of reproductive structures per plant
recorded along the censuses period. Also, we performed a Kolmogorov-Smirnov
Two-Sample test (Siegel & Castellan 1988) to check for differences between
physiognomies on floral bud survival. We performed two-way ANOVA for ranked
data, named the Scheirer-Ray-Hare extension of the Kruskal-Wallis test (Sokal &
Rohlf 1995) to compare bud damage incidence between physiognomies (cerrado and
campo cerrado) and agents (T, H, B, F and M). The same analysis was performed to
compare the incidence of T. spinipes damage between physiognomies (cerrado and
campo cerrado) and T. spinipes damage categories (I to V). Physiognomy, agent and
93
T. spinipes damage category per plant were fixed factors in the models and the
incidences of damage per plant were the sampling units. To assess for differences
between all combinations of damage types incidence, Dunn tests were used (Zar
1999) pooling data from both physiognomies. The same analysis was performed to
assess for differences between all combinations of Trigona damage categories. For
each physiognomy, we performed non parametric regression analysis (Conover 1999)
with Bonferroni correction (Zar 1999) to verify the relationship between the
maximum number of flower buds and the maximum number of fruits produced per
plant and the relationship between the maximum number of flower buds per plant and
the total incidence of damage by biotic agents (bud lost due to frost damage were
excluded).
Results
The maximum number of E. gracilipes floral buds per plant were not different
between physiognomies (Mann-Whitney U test: N campo cerrado = N cerrado = 12; Z = -
1.04; P = 0.30), however, we detected differences between physiognomies for the
maximum number of flowers (Mann-Whitney U test: N campo cerrado = N cerrado = 12; Z =
2.42; P = 0.02) and fruits (N campo cerrado = N cerrado = 12; Z = 2.68; P = 0.007, Figure 1).
The number of flowers and fruits per plant were greater at cerrado physiognomy.
The number of lost buds that fell to the ground without information was high
at both physiognomies (N cerrado = 166 or 46.1 % and N campo cerrado = 170 or 47.2 %,
Figure 2). Considering floral buds that remained in plants, the amount of reproductive
structures with recognized damages were similar for both physiognomies (N cerrado =
180 and N campo cerrado = 190). At cerrado, only six per cent of buds set fruits and at
campo cerrado, none of them produced fruits (Figures 2 and 3).
94
Mean damage incidence per plant did not exhibit significant variation between
physiognomies (H1,120 = 0.06 < χcrit 2 (0.05; 1) = 3.84). However, mean damage
incidence per plant varied significantly among agents (H4,120 = 29.00 > χcrit 2 (0.05; 4) =
9.49) and there was interaction between physiognomy and agent (H4,120 = 12.86 < χcrit
2 (0.05; 4) = 9.49), indicating that the number of buds damaged is dependent upon
physiognomy and agent (Figure 4). The incidence of damage types differed
significantly between Trigona and Dry buds: Z = 4.45; P < 0.05, Trigona and Aphids:
Z = 3.48; P < 0.05, Aphids and Ovipositor: Z = 3.74; P < 0.05, and between Aphids
and Multiple damages: Z = 3.06, P < 0.05 (Figure 4). Among structures with multiple
damages, sixty-two percent presented Trigona damages and Aphids at cerrado, and
forty-five percent presented dry and perforated (oviposition) buds at campo cerrado.
Among floral buds and flowers with Trigona damages, Trigona damage
incidence not varied significantly between physiognomies (H1,120 = 3.18 < χ 2 (0.05; 1) =
3.84), but it varied significantly among Trigona damage categories (H4,120 = 20.77 < χ
2 (0.05; 4) = 9.49) and for physiognomy by category interactions (H4,120 = 16.20 < χ 2
(0.05; 4) = 9.49), indicating that the number of reproductive structures damaged by
Trigona is dependent upon physiognomy and category (Figure 5). The incidence of
Trigona damage differed significantly between superficial and total damages: Z =
3.42, P < 0.05, between superficial and female damages: Z = 3.79, P < 0.05 and
between superficial and male and female damages: Z = 3.36, P < 0.05) and for campo
cerrado (Kruskal-Wallis test: H4,60 = 14.08, P = 0.007; Dunn tests, between the
incidence of total and female damages: Z = 3.14, P < 0.05 and between total and male
and female damages: Z = 2.97, P < 0.05 (Figure 5).
We detected differences in reproductive structures fate between the cerrado
and campo cerrado (Kolmogorov-Smirnov = 0.045; D = 0.26; 0.05< P < 0.10; D =
95
maximum vertical deviation of the two cumulative distributions for the number of
reproductive structures at cerrado and campo cerrado), and the reproductive
structures survival or bud and flower permanence time at plants were greater at
cerrado (Figure 6). Significant positive relationship between the maximum number of
flower buds per plant and the maximum number of fruits was detected at cerrado
(Spearman correlations: r2 cerrado = 0.71, P = 0.01, N = 12; r2 campo cerrado = 0.11, P =
0.74, N = 12; Figure 7). We did not detect significant relationship between the
maximum number of flower buds per plant and the incidence of damage by biotic
agents in both physiognomies (Spearman correlations: r2 cerrado = -0.47, P = 0.12, N =
12; r2campo cerrado = -0.21, P = 0.50, N = 12; Figure 8).
Discussion
Several studies stress the importance of variation on plant resources
distribution to determine herbivore abundance or herbivory pattern (Ohgushi 1992,
Marques et al. 2000, Gunton & Kunin 2007). In Brazilian savannas, spatial variation
in floral resources distribution was registered among intergrading physiognomies, but
it was less pronounced during the winter (Oliveira 1998). Under this scenario of no
variation on bud production between physiognomies, we should expect that variation
between plants will be important to explain the pattern of florivory. According to the
resource abundance hypothesis, plants that offer more resources should support
greater abundances of insect herbivores (Ohgushi 1992). However, we did not find
significant relationships between bud production and incidence of florivory. Although
variation in bud production within plants exists, it was not enough to account for
differences in bud damage. Apparently, the absence of considerable variation at the
96
incidence of florivory even between plants was related to the low levels of variation
in bud production, in such a way that Brazilian savannas of São Paulo State could be
viewed as poor and homogeneous vegetations in floral resources availability for
florivores during this season. Under this situation all resource available might be used
by florivores.
Bud damage incidence per plant was very high in both physiognomies and it
was associated with multiple agents. Besides, the extension of bud damage provoked
by each agent was different between physiognomies. In the closest physiognomy, bud
lost by frost was negligible, accounting only for two percent, with almost eighty
percent related to the florivores. On the other hand, in the opened physiognomy,
although buds were mostly loose by florivores, abiotic agent was also important,
accounting for about twenty per cent of bud damage. One possible explanation to this
difference is that Brazilian savannas are absent or extremely rare where frosts are
present, and cerrado gives way to campo cerrado under cooler conditions with more
frequent frosts (Eiten 1972). Frosts may also constrain the distribution of Brazilian
savanna species in south and southeastern Brazil (Silberbauer-Gottsberger et al. 1977,
Ribeiro & Walter 1998). Frost effects at E. gracilipes plants were less important in
more closed than in more opened physiognomies of the São Paulo State savannas, and
it could be an important factor determining the higher abundance in more closed than
in more opened physiognomies (Brando & Durigan 2004).
Among biotic agents in cerrado, the majority of bud damage was related to
Trigona spinipes and its damages mainly affected superficially floral buds. In campo
cerrado, T. spinipes and beetle oviposition were the main agents. In this latter
physiognomy, T. spinipes damaged superficially, when looking for E. gracilipes
pollen grains, as well as it damaged totally the buds. Trigona spinipes is well known
97
by its intense pollen harvest activity on flowers (Cortopassi-Laurino & Ramalho
1988), acting more as enemies, due to its negative effects on plants (Roubik 1989).
Also, bud consumption by T. spinipes was very marked for E. gracilipes at two other
sites in different regions of Brazilian savannas (Oliveira et al. 1992), indicating that
this behavior may be common throughout this Biome. Florivory affected bud
survivorship between physiognomies, leading also to differences in flower and fruit
production between physiognomies. Thus, it was evident that florivores affected
directly male and female plant fitness by consuming all or parts of pistils and stamens,
also reducing pollen availability. As Brazilian savanna is a resource-limited
environment, florivores also have direct costs to plants consuming flowers, a plant
resource sink structure. Florivory in E. gracilipes could also affect indirectly male and
female plant fitness by reducing number of flowers available, which can also reduce
plant attractiveness to pollinators (Capítulo 3). It was not unusual the necessity to
prevent flowers from florivores by bagging buds, in order to have flowers to record
frequency of visits by pollinators. These florivores effects may have contributed to the
occurrence of pollen limitation in both physiognomies (Capítulo 3). Our results show
that both physiognomies exhibited high levels of florivory and low fruit production,
but the detected differences between physiognomies among incidence of agent types,
among incidence of Trigona damage categories and differences in fruit set, reinforce
the idea that spatial variation is an important source of variability in relationships
between plants and florivores.
Conclusions - This study provides a picture of bud damage by biotic and
abiotic agents of an obligately out-crossing species involving several connected stages
from bud to fruit production, and suggests that floral bud damage and florivores may
markedly affect patterns of reproductive output in Brazilian savanna species.
98
Furthermore, our study shows that the incidence of floral bud damages varied with
ecological conditions of physiognomies and that possible ant benefits to E. gracilipes
sexual reproduction can depend from site and species involved. Thus, different
extents resulted by the presence of T. spinipes at cerrado and campo cerrado could be
related to factors acting directly and/or indirectly at these herbivore populations.
Acknowledgements
The authors wish to thank CNPq for a doctoral fellowship to Sylene Del Carlo,
Prof. Dr. Sérgio Antônio Vanin, for beetle identification, Instituto Florestal de São
Paulo and Instituto Arruda Botelho for logistical support and Ualfrido Del Carlo,
Maria Carolina Checchia da Inês, Klécia Gilli Massi, Fabiana Takagi and Luciano
Elsinor Lopes, for enthusiastic field support.
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102
Figure 1
Figure 2
104
0.00
0.10
0.20
0.30
0.40
0.50
0.60
0.70
T H B F M
%
Agent
DamageFruit
0.00
0.10
0.20
0.30
0.40
0.50
0.60
0.70
I II III IV V
%
Trigona damage category
Damage
Fruit
A
B
105
0.00
0.10
0.20
0.30
0.40
0.50
0.60
0.70
T H B F M
%
Agent
DamageFruit
0.00
0.10
0.20
0.30
0.40
0.50
0.60
0.70
I II III IV V
%
Trigona damage category
DamageFruit
Figure 3
C
D
106
Inci
denc
e of
dam
age
type
Median 25%-75% Non-Outlier Range
cerrado
T H B F M
0
2
4
6
8
10
12
campo cerrado
T H B F M
Figure 4
Inci
denc
e of
Tri
gona
dam
age
cate
gory
Median 25%-75% Non-Outlier Range
cerrado
I II III IV V
0
1
2
3
4
5
6
7
8
campo cerrado
I II III IV V
Figure 5
107
0
50
100
150
200
250
300
350
400
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Rep
rodu
ctiv
e stru
ctur
es (N
)
Time (days)
campo cerrado
cerrado
Figure 6
108
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900
Floral buds per plant (N)
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Frui
ts p
er p
lant
(N)
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000Floral buds per plant (N)
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Frui
ts p
er p
lant
(N)
Figure 7
A
B
109
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900
Floral buds per plant (N)
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
24
26
28
30
Inci
denc
e of
dam
age
by b
iotic
age
nts
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000Floral buds per plant (N)
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
Inci
denc
e of
dam
age
by b
iotic
age
nts
Figure 8
A
B
110
Figure legends: Figure 1 – Maximum number of floral buds (A), flowers (B) and fruits (C) of
Eriotheca gracilipes plants at cerrado (N = 12) and campo cerrado (N = 12)
physiognomies registered for 2005.
Figure 2 – Fate of the tagged Eriotheca gracilipes floral buds for cerrado (c) and
campo cerrado (cc) of Itirapina, SE Brazil. Black (damaged) and white (undamaged)
rectangles depict floral buds or flowers, and gray rectangles depict fruits.
Figure 3 – Proportions of damaged buds by each agent and fruits produced, and
proportions of Trigona damage categories and fruits produced at each physiognomy:
cerrado (A and B) and campo cerrado (C and D).
Figure 4 – Incidence of damage types: Trigona (T), Aphid (A), Oviposition (O), Dry
(D) and Multiple (M), at floral buds per Eriotheca gracilipes plant for cerrado and
campo cerrado of Itirapina, SE Brazil. Damage types designated by different letters
above bars are significantly different.
Figure 5 – Incidence of Trigona damage categories at floral buds per Eriotheca
gracilipes plant: superficial (s), total (t), male (m), female (f) and male and female
(m&f), for cerrado and campo cerrado of Itirapina, SE Brazil. Trigona damage
categories designated by different letters above bars are significantly different.
Figure 6 – Curves of Eriotheca gracilipes reproductive structure fates at cerrado and
campo cerrado between June and September 2005. Values are the total number of the
tagged reproductive structures alive for 12 plants for each physiognomy, at each
census.
Figure 7 – Relationship between maximum number of buds and maximum number of
fruits per plant at cerrado (A) and campo cerrado (B).
Figure 8 - Relationship between maximum number of buds and incidence of damage
by biotic agents per plant at cerrado (A) and campo cerrado (B).