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Sylvia Maria Campos Teixeira Letras Vernáculas . Módulo 3 . Volume 6 Ilhéus . 2012 PRÁTICA EDUCATIVA III ANÁLISE E PRODUÇÃO DE DISCURSO NA PRÁTICA ESCOLAR LETRAS - MOD 3 - VOL 6 - práticas educativas.indd 1 LETRAS - MOD 3 - VOL 6 - práticas educativas.indd 1 27/03/2012 08:57:30 27/03/2012 08:57:30

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Sylvia Maria Campos Teixeira

Letras Vernáculas . Módulo 3 . Volume 6

Ilhéus . 2012

PRÁTICA EDUCATIVA IIIANÁLISE E PRODUÇÃO DE DISCURSO NA PRÁTICA ESCOLAR

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Universidade Estadual de Santa Cruz

ReitoraProfª. Adélia Maria Carvalho de Melo Pinheiro

Vice-reitorProf. Evandro Sena Freire

Pró-reitor de GraduaçãoProf. Elias Lins Guimarães

Diretor do Departamento de Letras e ArtesProf. Samuel Leandro Oliveira de Mattos

Ministério daEducação

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Ficha Catalográfi ca

1ª edição | Março de 2012 | 462 exemplares Copyright by EAD-UAB/UESC

Projeto Gráfi co e DiagramaçãoJamile Azevedo de Mattos Chagouri Ocké João Luiz Cardeal Craveiro

CapaSheylla Tomás Silva

Impressão e acabamentoJM Gráfi ca e Editora

Todos os direitos reservados à EAD-UAB/UESCObra desenvolvida para os cursos de Educação a Distância da Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC (Ilhéus-BA)

Campus Soane Nazaré de Andrade - Rodovia Ilhéus-Itabuna, Km 16 - CEP 45662-000 - Ilhéus-Bahia.www.nead.uesc.br | [email protected] | (73) 3680.5458

Letras Vernáculas | Módulo 3 | Volume 6 - Prática Educativa III - Análise e produção de discurso na prática escolar

T266 Teixeira, Sylvia Maria Campos. Prática educativa III: análise e produção de discurso na prática escolar / Sylvia Maria Campos Teixeira. – Ilhéus, BA: Editus, 2012. 45p. : il. (Letras Vernáculas - módulo 3 - volume 6 - EAD)

ISBN: 978-85-7455-273-6

1. Literatura – Estudo e ensino. 2. Análise do dis- curso literário. I. Título. II. Série. CDD 807

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Coordenação UAB – UESCProfª. Drª. Maridalva de Souza Penteado

Coordenação Adjunta UAB – UESCProf. Dr. Paulo Eduardo Ambrósio

Coordenação do Curso de Letras Vernáculas (EAD)Profª. Msc Eliuse Sousa Silva

Elaboração de ConteúdoProfª. Msc. Sylvia Maria Campos Teixeira

Instrucional DesignProfª. Msc. Marileide dos Santos de Oliveira

Profª. Msc. Cibele Cristina Barbosa CostaProfª. Msc. Cláudia Celeste Lima Costa Menezes

RevisãoProf. Msc. Roberto Santos de Carvalho

Coordenação Fluxo EditorialMsc. Saul Edgardo Mendez Sanchez Filho

EAD . UAB|UESC

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PARA ORIENTAR SEUS ESTUDOS

PARA CONHECER

Aqui você será apresentado a autores e fontes de pesquisa a fi m de melhor conhecê-los.

SAIBA MAIS

Aqui você terá acesso a informações que complementam seus estudos a respeito do tema abordado. São apresentados trechos de textos ou indicações que contribuem para o apro-fundamento de seus estudos.

VERBETE

Signifi cado ou referência de uma palavra utilizada no texto que seja importante para sua compreensão.

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DISCIPLINAPRÁTICA EDUCATIVA III

Análise e produção de discursona prática escolar

EMENTADesenvolvimento e aplicação de métodos e técnicas de análise e produção discursiva na prática escolar.

Carga Horária: 30 horas

Profª. Msc Sylvia Maria Campos Teixeira

OBJETIVOS

Ao fi nal desta seção, este estudo permitirá ao aluno:• conhecer em que medida a participação nos grandes

debates em sociedade é criadora de formas e obras novas;

• identifi car diferentes formas de engajamento;• analisar os discursos e captar as diferentes maneiras de

exprimir ideias e representar valores;• compreender a parte implícita de um enunciado e levar

em conta as situações de enunciação.

LITERATURA E NAÇÃOUMA PRÁTICA DISCURSIVA

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A AUTORA

Profª. Msc Sylvia Maria Campos Teixeira

Graduada em Direito pela Universidade Federal

Fluminense. Bacharel e Licenciada em Letras (Português-

Francês) pela Universidade Federal Fluminense.

Especialista em Literatura Brasileira pela Pontifícia

Universidade Católica de Minas Gerais (PUC - MG).

Mestre em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal

de Minas Gerais (UFMG - 2000). Desenvolve projeto de

pesquisa, com o apoio da FAPESB. Atua nas seguintes

áreas: Análise do Discurso, Literatura, Estudos Culturais e

de Gêneros, Língua e Literatura Francesa.

E-mail: [email protected]

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APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA

Caro(a) Aluno(a),

O ensino da Literatura, antes fundado na Retórica, hoje,

no Ensino Médio, baseia-se na história literária, com suas grandes

escolas, autores canônicos, características de acordo com a época de

produção. Apesar de parecer uma conquista, bem ao gosto de um

clima sociocultural favorável, os objetivos e as orientações criam novas

restrições. A Literatura não é uma prioridade, mas deve servir, mais

efi cazmente que antes, à formação geral e linguística dos estudantes.

Levando em conta que o Ensino Médio é um preparatório

para a entrada na Universidade, surgem as questões: o que ensinar?

Quais autores? Quais obras? Optou-se pelo ensino dos grandes

autores (Alencar, Machado de Assis, Jorge Amado, Clarice Lispector,

entre outros), de acordo com a escola literária a que pertenciam

(Romantismo, Realismo, Modernismo, Pós-Modernismo). Este ensino

traz alguns problemas: faz prevalecer uma forma ou uma categoria

sobre o objeto literário. Assim, o ensino literário se desloca, passa a

ser um instrumento de aquisições cognitivas e interpretativas, em vez

de visar à apropriação da realidade histórica, cultural e política.

Aqui propomos uma análise discursiva que aborde, em sala de

aula, o escritor e seu papel nos grandes debates da sociedade, isto

é, em que medida ele participa das opiniões e das representações

partilhadas ou controversas em uma determinada sociedade e em

uma determinada época.

Você, como professor, pode discutir com seus alunos como

os estudos literários estão no centro da formação do homem e do

cidadão. Mas como fazê-lo? É isto que vamos mostrar (ou tentar) neste

módulo.

Bom trabalho!

Sylvia Maria C. Teixeira

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SUMÁRIO

LITERATURA E NAÇÃO - UMA PRÁTICA DISCURSIVA

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................15

2 LITERATURA E NAÇÃO .........................................................................15

3 MEMÓRIA DISCURSIVA ........................................................................21

ATIVIDADE ........................................................................................... 26

4 O PAPEL DO ESCRITOR NA DIFUSÃO E CONSTRUÇÃO DE UMA NAÇÃO ..27

5 UMA PROPOSTA DE ANÁLISE SOCIODISCURSIVA ................................32

ATIVIDADE .......................................................................................... 39

RESUMINDO ......................................................................................... 41

ÚLTIMAS PALAVRAS .....................................................................41

REFERÊNCIAS .............................................................................42

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LITERATURA E NAÇÃOUMA PRÁTICA DISCURSIVA

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Literatura e nação - uma prática discursiva

1 INTRODUÇÃO

Quando escrevi, na apresentação, sobre um ensino de Literatura que privilegiasse a apropriação da realidade histórica, cultural e política e, ao mesmo tempo, abordasse o escritor e seu papel nos grandes debates da sociedade, pensei em articular as noções de literatura e nação. E, a partir deste binômio, ler o texto literário sem ancorá-lo em determinado espaço/tempo.

Primeiro vamos recordar alguns destes conceitos, aliando-os à categoria de memória discursiva, tão importante nas análises discursivas de diversos textos.

2 LITERATURA E NAÇÃO

Segundo Hobsbawm (1998), nascida com a burguesia e desenvolvida pelos liberais do século XIX, a ideia de nação propunha a unidade de um povo a partir de três critérios básicos: a associação entre o povo e um Estado relativamente estável, a existência de uma língua escrita usada em textos administrativos e literários e a comprovada capacidade de conquista do povo em questão. Essa concepção, dentro de uma retórica nacionalista, estabeleceu rígidas fronteiras geográficas e culturais entre os povos.

Contudo as últimas décadas presenciaram uma mudança considerável na linguagem – e na realidade – das relações de grupo em todo o mundo. A identificação das pessoas pelo critério de raça, religião, espaço ou classe

Este módulo é fruto de pesquisas feitas duran-te o período de meu Mestrado, em Estudos Linguísticos (Análise do Discurso), realizado na UFMG.

observação

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QUEM É HOBSBAWM?

Eric Hobsbawm nasceu no dia 09 de junho de 1917, na cidade de Alexandria, no Egito, quando este ainda era de domínio britânico. Em 1933, quando Adolf Hitler ascendeu ao poder, Hobsbawm mu-dou-se para Londres, fugindo da perseguição nazista, mas princi-palmente por ter conseguido uma Bolsa de Estudos na Universidade de Cambridge, onde se formou em História.Em 1959, publica Rebeldes Primitivos, o qual trata dos movimentos camponeses de resistência e do protesto anticapitalista. Em 1962, lançou A Era das Revoluções, o primeiro de uma quadrilogia, se-guido por A Era do Capital (1884-1875), A Era dos Impérios (1875-1914) e A Era dos Extremos (1914-1991). Esta série fi cou conheci-da como “Era do Século XX”.

A Era dos Extremos – publicado em 1994, na Inglaterra - tornou-se uma das obras mais lidas e recomendadas para quem deseja es-tudar a recente história da humanidade. O livro faz um estudo dos principais acontecimentos que se desdobram de 1917 – período que engloba o fi m da Primeira Guerra Mundial e a Revolução Russa – até 1991, quando chegaram ao fi m os regimes socialistas da ex-União Soviética e dos países do leste europeu.

Eric Hobsbawm é tido como um dos mais célebres historiadores da atualidade, faz parte da Academia Americana de Artes e Ciências, foi professor de história no Birkbeck College (Universidade de Lon-dres) e, atualmente, é professor da New School for Social Research, de Nova Iorque.

Fonte: <http://www.infoescola.com/escritores/eric-hobsbawm/>.

Figura 1.1 – Eric Hobsbawm. Fonte: <http://top-people.

starmedia.com/humanities/eric-hobsbawm_17644-5.html>.

para conhecer

QUEM É CANCLINI?

Néstor García Canclini nasceu em La Plata, Argentina, em 1939. É um estudioso da globalização e das mudanças culturais na América Latina, seu trabalho é marcado pela análise e as mesclas entre cul-turas, etnias, referências midiáticas, populares e tradicionais.

Desde 1990, é professor da Universidad Autónoma Metropolitana, no México.

Autor de:• Culturas Híbridas: Estratégias para Entrar e Sair da Moderni-

dade (1990).• Consumidores e cidadãos (1995).• A globalização imaginada (2003).• Diferentes, desiguais e desconectados: mapas da intercultura-

lidade (2005).• Leitores, espectadores e internauta (2008).

Fontes: <http://culturadigital.br/jornal2010/2010/12/06/resenha-do-texto-culturas-hibridas-poderes-obliquos-canclini/>.

Figura 1.2 – Néstor G. Canclini.

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Prática Educativa III - análise e produção de discurso na prática escolar

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Literatura e nação - uma prática discursiva

tornou-se menos significativa do que o de encará-la em termos de seus devotamentos étnicos. Há, entretanto, uma perda das identidades tradicionais devido à urbanização, a novas ocupações, à educação de massa, à mídia. Isto faz com que o indivíduo necessite de alguma espécie de identidade – menor do que o Estado e maior que a família – daí o surgimento de novas identidades étnicas. Ora, o apelo a esta identidade toca mais as camadas emocionais da personalidade humana. Toca em coisas fundamentais como: língua e religião, primeiras experiências familiares, autoimagem física.

Acrescentemos, também, que, em consequência de migrações e inter-relacionamentos econômicos, os grupos étnicos são cada vez menos definidos por fronteiras físicas. O mundo, numa reação súbita à guerra e à conquista, tornou-se fortemente apegado aos antigos limites – estabelecidos de qualquer maneira. Assim os Estados estão se tornando multiétnicos, e há um esforço em fazer com que a etnia coincida com o espaço geopolítico.

Portanto a questão da identidade nacional está ligada à ideia de nação e, na maioria dos casos, identificada com território, país, lugar no mundo.

Mas, de acordo com Canclini (1998, p. 166), “hoje a identidade, mesmo em amplos setores populares, é poliglota, multiétnica, migrante, feita com elementos de várias culturas”. É levando em consideração este enunciado, que eu e você temos de pensar como se articula o binômio: literatura e nação.

Também temos de considerar que o Brasil, como país pós-colonial, abriga diversos tipos étnicos e o discurso dominante pretende unificar estas diferenças em um retrato uniforme, re-inventando a nação como um todo essencial e homogêneo. Para tanto postula uma identidade independente de toda e qualquer outra natureza, filiação ou parentesco. Este discurso dominante é enunciado pelo Estado, pois é ele que tem propiciado a solução para a realização do projeto de afirmação da nacionalidade, na busca de uma identidade (REIS, 1995).

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para conhecer

QUEM É BHABHA?

Homi K. Bhabha nasceu na Índia, leciona na Inglaterra e nos Esta-dos Unidos. Desenvolveu a noção de hibridismo nos seus estudos sobre o discurso colonial. Em suas pesquisas, há grande infl uência de Derrida, Foucault, Freud e Fanon.

Para Sabine Mabordi (s/d),

A Ambivalência de Homi Bhabha

O hibridismo de Bhabha parece implicar os dois: uma con-dição e um processo. É uma condição do discurso colonial na sua enunciação, dentro da qual a autoridade colonial/cul-tural é construída em situações de confronto político entre posições de poderes desiguais. É também um processo de negociação cultural (como posteriormente García Canclini de-monstra), ou, no que poderia ser entendido como um lapso foucaultiano e freudiano/lacaniano, ‘um modo de apropriação e de resistência, do pré-determinado ao desejado’ (BHABHA, 1994, p.120).

Autor de:• Nación y narración (s/d).• O local da cultura (1998).• O bazar global e o clube dos cabalheiros (2011).

Fonte: <http://www.ufrgs.br/cdrom/bhabha/comentarios.htm>.

Figura 1.3 Homi Bhabha. Fonte: <http://www.ufrgs.br/cdrom/

bhabha/imagem.htm>.

QUEM É MOTA?

Formado em História pela Universidade de São Paulo, onde se-guiu carreira acadêmica até se tornar professor titular de história contemporânea, Carlos Guilherme Santos Serôa da Mota também leciona História da Cultura, na Faculdade de Arquitetura e Urba-nismo, da Universidade Mackenzie.Carlos Guilherme Mota discute as formas de pensamento e a am-biguidade do povo brasileiro, contrariando a idéia de que o país é manso, de língua única e sem contradições.É autor de dezenas de livros, ensaios e artigos, em que revisita e interpreta a história do Brasil, apresentando novas perspectivas do país como nação.

Autor de:

• Atitudes da Inovação no Brasil (1970).• Idéia de revolução no Brasil: 1789-1801 (1996).• José Bonifácio - Patriarca da Independência: criador da socie-

dade civil nos Trópicos (2006).• A idéia de Revolução no Brasil e outras idéias (2008).• Ideologia da cultura brasileira (1933-1974) (2008).

Fonte: <http://www2.tvcultura.com.br/rodaviva/resultado.asp?programa=1167>.

Figura 1.4 – Carlos Guilherme Mota. Fonte: <http://buscatextual.

cnpq.br/buscatextual/servletrecuperafoto?id=H3873>.

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Literatura e nação - uma prática discursiva

Com esse objetivo, como afirma Hobsbawm (1997), o Estado “inventa tradições” – feriados cívicos, heróis nacionais, bandeiras, hinos e outros símbolos – visando à obediência e lealdade de seus componentes. Projetos sobre memória, monumento, patrimônio são desenvolvidos como uma forma de construir e preservar conhecimentos.

Quando Bhabha (1990) sustenta que as nações são narrativas, isto é, pensa a nação como um discurso, propõe compreendê-la como um lugar teórico que contém “liminares de sentido que devem ser atravessados, rasurados e traduzidos no processo de produção cultural” (MIRANDA, 1994, p. 37). Esses sentidos se estabelecem nas estórias que são contadas sobre a nação, memórias que conectam seu presente com seu passado e imagens que dela são construídas, enfatizando a questão das origens, da continuidade, da tradição e da atemporalidade.

E é neste afã que intelectuais de tradições e correntes políticas distintas movimentaram-se para dar uma cara ao Brasil, articulando coletiva e ideologicamente os signos da brasilidade, ou seja, os enunciados que forneceriam aos brasileiros as categorias de percepção da terra em que viviam. Daí a noção de identidade nacional e/ou cultural brasileira ter surgido historicamente “no discurso ideológico de segmentos altamente elitizados da população, para dissolver as contradições reais da sociedade [...]” (MOTA, 1990, p. 25).

A ideia de identidade nacional, que servia como baluarte político-nacionalista para a sustentação no poder de uma elite, esgarçou-se para um campo cultural mais amplo e global: a LITERATURA.

E aqui é que está o cerne de nosso interesse neste módulo!

Segundo Appiah (1997), identidade, nação e literatura são termos ligados na recente história intelectual do Ocidente, conjugando-se para objetivar a seleção de signos que fundamentem as especificidades de uma nação.

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QUEM É APPIAH?

Kwame Anthony Appiah nasceu em Londres (onde seu pai ganês era estudante de Direito), mas foi para Gana ainda bebê. É fi ló-sofo, novelista. Leciona na Universidade de Princeton.

Autor de:

• Na casa de meu pai (1997).• The dictionary of global culture (1997).• Introdução à fi losofi a contemporânea (2006).

Fonte: <http://appiah.net/biography/>.

para conhecer

Figura 1.5 – Kwame Appiah. Fonte: <http://en.wikipedia.org/wiki/

Kwame_Anthony_Appiah>.

QUEM FOI HALBWACHS?

Maurice Halbwachs (1877-1945) foi um sociólogo francês da es-cola durkheimiana.

A questão central na obra de Maurice Halbwachs con-siste na afi rmação de que a memória individual existe sempre a partir de uma memória coletiva, posto que todas as lembranças são constituídas no interior de um grupo. A origem de várias idéias, refl exões, sentimen-tos, paixões que atribuímos a nós são, na verdade, ins-piradas pelo grupo. A disposição de Halbwachs acerca da memória individual refere-se à existência de uma ‘intuição sensível’ (CARVALHAL, 2006).

Fontes: <http://parasociology.blogspot.com/2010/10/collective-memory-of-maurice-halbwachs.html>.

QUEM É EAGLETON?

Terry Eagleton nasceu na Inglaterra, em 1943. É fi lósofo e crítico literário, identifi cado com o marxismo, e procura integrar os Es-tudos Culturais à teoria literária.

Autor de:

• Teoria da literatura: uma introdução (1997).• Ideologia: uma introdução (1997).• A idéia de cultura (2005).• Depois da teoria (2005).• Marxismo e crítica literária (2011).

Você encontra, para download, o texto Teoria da literatura: uma introdução em <http://pt.pdfebooksn.com/viewtopic.php?f=4&t=832&sid=84bfb8d50a7175080d7c7df37282cf5d>.

Fontes: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Terry_Eagleton>.

Figura 1.6 - Maurice Halbwachs.

Figura 1.7 – Terry Eagleton

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Prática Educativa III - análise e produção de discurso na prática escolar

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Literatura e nação - uma prática discursiva

Lembre-se de que a ideia de nação é um artefato da moderna engenharia social!

A Literatura é a fonte inexaurível para a manifestação e transmissão de correntes de pensamentos e conceitos que circulam pela sociedade, fazendo parte de sua tessitura, assegurando a sua continuidade na memória coletiva (HALBWACHS, 1990). E ainda, de acordo com Eagleton (1997, p. 23),

Os critérios do que se considerava lite-ratura eram, em outras palavras, franca-mente ideológicos: os valores e os ‘gostos’ de uma determinada classe social eram considerados literatura, [...]. Mas no sé-culo XVIII a literatura fazia mais do que ‘encerrar’ certos valores sociais: era um instrumento vital para o maior aprofunda-mento e a mais ampla disseminação destes mesmos valores.

Portanto a minha opção não foi casual: Literatura e Nação – elas se criaram mutuamente, e as literaturas nacionais são narrativas de invenção do passado e fundação de um país.

Antes de passarmos ao papel do escritor nestas narrativas, vamos relembrar o que é memória discursiva.

3 MEMÓRIA DISCURSIVA A categoria memória discursiva se estabelece na

relação com os dois esquecimentos que constituem o sujeito do discurso. Isto se dá através de dois aspectos: do pré-construído e da articulação de enunciados do interdiscurso que atravessam o discurso sob a forma de discurso transverso. O encadeamento do pré-construído e da articulação manifesta-se no intradiscurso, surgindo daí o efeito de evidência: o que todos sabem e podem ver.

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Maingueneau (1984; 1993) afirma que o discurso é recoberto pela memória de outros discursos e uma formação discursiva (FD) se prende a uma dupla memória. A FD se concede uma memória externa que se situa na filiação de FD anteriores e, no decorrer dos tempos, ela cria uma memória interna com os enunciados produzidos no interior da mesma FD. O discurso se apoia, então, sobre uma tradição, mas cria, pouco a pouco, sua própria tradição. Aqui a memória não é psicológica, ela não se faz senão como o modo de existência de uma FD e cada FD tem uma maneira própria de gerar essa memória. Na constituição da memória do discurso, segundo Maingueneau (1993), tem-se uma rede de formulações pertencentes, ao mesmo tempo, a textos diferentes e ao mesmo discurso; trata-se de reformulações de outras formulações pertencentes à rede. Esta “rede” constitui, para Courtine (1981), diferentes formulações possíveis do mesmo enunciado no interdiscurso, dizendo respeito à existência histórica do enunciado, no seio de práticas discursivas reguladas pelos aparelhos ideológicos, capaz de dar origem a atos novos, no sentido de que toda produção discursiva acontece numa conjuntura dada e coloca em movimento formulações anteriores. É justamente essa rede vertical que permite ao interdiscurso ser um processo incessante de reconfiguração. Esta hipótese de um processo de reconfiguração das relações de um discurso com outros discursos pode se dar por meio de processos discursivos de paráfrase (reiteração de um sentido já existente) e de polissemia (possibilidade de o sentido ser outro), numa encenação do já-dito.

Lembramos que a paráfrase, de acordo com Fuchs (1982), situa-se entre a língua e o discurso, ou seja, excede o campo da linguística “não somente pelo nível do sentido onde se pode estabelecer a relação semântica em jogo, mas também pela tensão” (FUCHS, 1982, p. 29) imposta pela constituição do enunciado, enquanto atividade complexa.

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Literatura e nação - uma prática discursiva

Quando o sujeito usa a paráfrase, o sentido de um “discurso-fonte”, cuja identidade é colocada em cena, é reconstruído, isto é, jamais produzido idêntico.

A paráfrase deve ser tomada sempre como um lugar tenso porque o sujeito que parafraseia não fala a partir do mesmo lugar, do mesmo tempo, do mesmo modo e domínio de conhecimento. Quando o sujeito aciona o discurso na memória discursiva do eixo vertical – domínio do interdiscurso – para reinscrevê-lo no eixo horizontal – domínio do intradiscurso – inaugura-se invariavelmente a tensão. Os significados primeiros, os de memória, serão “reajustados”, “reorganizados” no entrecruzamento dos dois eixos, ou seja, na passagem do interdiscurso para o intradiscurso. Esse processo de “reorganização”, que é o que, segundo Pêcheux (1999), permite a formação de uma memória de discurso, se situa entre o social e o linguístico, enquanto processo dialético. Daí podermos dizer que a parafrasagem constitui-se numa instância conflitiva de sentidos, significados, efeitos etc. As significações têm dois caminhos: ou elas se perdem e nem sequer entram na memória do discurso, ou elas entram e permitem a paráfrase que as modifica. O papel da memória nos permite dizer que um acontecimento histórico (descontínuo e exterior) “é suscetível de vir a inscrever-se na continuidade interna, no espaço potencial de coerência próprio a uma memória” (PÊCHEUX, 1999, p. 50).

Nestes termos, a memória é lugar de múltiplas fraturas, pois deve ser compreendida “nos sentidos entrecruzados da memória mítica, da memória social, inscritas no campo das práticas e no da memória construída pelo historiador” (PÊCHEUX, 1999, p. 52). É aqui que podemos falar em relações de poder – a ordem do discurso – dentro da tradição foucaultiana (1971), pois “a ideologia junta as palavras às coisas, produzindo sentidos que passam como sendo a realidade, a coisa em si, uma evidência

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inquestionável” (CARDOSO, 2001).Parece ser um conceito difícil, mas não é. Acompanhe-

me nestes exemplos.

Exemplo 1:

Observe o enunciado “em se plantando tudo dá”, atribuído a Caminha. Na verdade, o que está escrito é: “querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo” – porém o primeiro enunciado foi que entrou na memória histórica.

Este enunciado pertence à formação discursiva de um discurso fundador, vai expandir o lugar da enunciação e ganhar uma atemporalidade, isto é, criar, no presente, um ideário de verdades eternas. Ou seja, é o discurso da fertilidade da nova terra, ele faz parte da memória discursiva do discurso da economia, da ecologia, da agricultura. Quando dizemos: “Brasil, celeiro do mundo”; “Amazônia, pulmões do mundo” etc., estamos ativando na memória o enunciado primeiro, que é parafraseado, isto é, a reiteração de um pré-construído, de um sentido já existente.

Assim:

B

A

A = pré-construído (interdiscurso). B = paráfrase (intradiscurso).

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Exemplo 2:

Retomemos a Carta, de Caminha, quanto à descrição dos índios:

A feição deles é serem pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem-feitos. Andam nus, sem ne-nhuma cobertura. Nem estimam de cobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência como em mostrar o rosto.

Os textos dos viajores se pautam neste mesmo diapasão: descrição favorável sobre o índio. Tais descrições formam o mito edênico do bon sauvage, do paraíso terrestre. Elas surgem também nas descrições românticas de um índio idealizado, protótipo das perfeições.

Há, no entanto, o discurso contra o índio, que encontramos igualmente na literatura dos viajantes do século XVI. Leia no trecho abaixo:

[...] são liberaes, engenhosos, magnanimos, e davidosos, vivem a maneira de feras selvagens montanhesas; nem seguem fé, nem lei, nem rei, pela qual razão faltam na sua lingua F. L. R. (VASCONCELOS, 1663).

Os dois discursos – pró e contra – mantêm-se na memória discursiva da História do Brasil. Ora exaltados, ora desqualificados. Mas são sempre alijados de nossa sociedade, pois, como afirma Souto Maior (2011),

Para saber se um indígena responderá pela prática de crime, se ele é imputável, é ne-cessário averiguar se, de acordo com sua cultura, costume e tradição, ele entendia o caráter ilícito de determinada conduta considerada crime em lei. Não importa o grau de contato que o individuo (sic) per-tencente a um povo indígena mantenha

Os conceitos no in-tradiscurso são vis-tos como fragmentos de um discurso maior, às vezes autoritário, mas convincente para aqueles que o com-partilham, pois existe uma lógica semântica que fortalece o discur-so que os fundamenta.O interdiscurso está articulado ao complexo de formações ideológi-cas: alguma coisa fala antes, em outro lugar, independentemente. Aí está o conceito de memória discursiva!

O mito do bon sau-vage é a idealização do homem vivendo em contato com a nature-za. A ideia de que o bon sauvage vive num pa-raíso, antes do pecado original, desenvolveu-se no século XVII, nos textos dos exploradores renascentistas.

Fonte: <http://fr.wikipedia.org/wiki/

Bon_sauvage>.

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com a sociedade envolvente, mas sim de-terminar se na ocasião da conduta ele tinha entendimento de que ela era considerada ilícita, e portanto, passível de punição, fora da sua cultura, fora do seu direito consue-tudinário.

A não ser que “integrados à sociedade nacional deveriam ser tratados como qualquer cidadão não indígena” (SOUTO MAIOR, 2011). Não são considerados como cidadãos brasileiros, nem aceitam a sua cultura – deixam de ser índios.

Entendeu como funciona a memória discursiva?

ATIVIDADE

Então agora faça o mesmo com o enunciado abaixo, levando em conta o binômio Literatura/Nação.

O europeu e o indígena produziram e con-tinuam a produzir alguns grandes homens que nos honram aqui e na Europa. Se a es-tes dois elementos reunirmos o elemento – africano – a mente pasma à vista dos bri-lhantes resultados da mistura da raça entre nós (QUEIROGA [1871], apud COUTI-NHO, 1974, p. 248).

Qual memória discursiva foi gerada por este enunciado? Houve paráfrase e/ou polissemia?

ATIVIDADEATAATAAATATATAATATAAAAAATATA IVVVVVVVVIVIVVVVVVIVVV

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Literatura e nação - uma prática discursiva

4 O PAPEL DO ESCRITOR NA DIFUSÃO E CONSTRUÇÃO DE UMA NAÇÃO

No Brasil, ao longo do século XIX, forjaram-se múltiplas e dissonantes memórias no projeto de escrever a nação. Tudo isso carregado no cerne dos processos de descolonização e da necessidade de implantar estruturas estáveis que garantissem a formação de um Estado nacional. Nesses moldes, a Literatura, como uma projeção que a sociedade faz de si mesma, forneceu um retrato do Brasil e do brasileiro, tornando-se um veículo da expressão autêntica e espontânea da nacionalidade.

Você está lembrado(a) da época imperial do Brasil!

Foi uma época profundamente marcada pelos conceitos de liberdade e vontade de exercitar a soberania da nação. Neste anseio de afirmação de nacionalidade e construção de uma identidade nacional, criou-se o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1838), com total apoio de D. Pedro II e em torno de Varnhagen, que “desenhará o perfil do Brasil, oferecerá à nova nação um passado, a partir do qual elaborará um futuro” (REIS, 1999, p. 24). Aos ideólogos do nacionalismo em atuação no centro Império, coube a tarefa de dar uma feição à nova nação, melhor dizendo, elaborar discursos, criar memórias de uma nação capaz de se afirmar publicamente no processo mundial de modernização.

UM POUCO DAHISTÓRIA DO BRASIL

Pedro foi nomeado Príncipe Regente do Brasil em 22 de abril de 1821. Pouco tempo depois, ao perceber que já começava no Brasil uma insa-tisfação contra o regime colonial, a corte portuguesa despachou um de-creto ordenando que ele retornasse para a sua terra natal. O pedido pro-vocou uma enorme comoção nacio-nal e D. Pedro resolveu permanecer no Brasil, criando o famoso “Dia do Fico”, ocorrido no dia 9 de janeiro de 1822. “Se é para o bem de todos e felicidade geral da nação, diga ao povo que fi co”, disse o então prín-cipe.

A decisão enfureceu a corte por-tuguesa que, pouco tempo depois, enviou uma carta com uma série de retaliações caso este fato se consu-masse. Assim que recebeu a men-sagem, durante uma viagem entre Santos e a capital paulista, D. Pedro I, às margens do Riacho do Ipiranga, proferiu o famoso grito de “Indepen-dência ou Morte!”, proclamando a Independência Política do Brasil, em 7 de setembro de 1822, rompendo defi nitivamente as relações do Brasil com Portugal. Quando retornou ao Rio de Janeiro, foi consagrado impe-rador e defensor perpétuo do Brasil.

Após a morte de D. João VI, D. Pe-dro I, contrariando a Constituição que aprovara, foi para Lisboa assu-mir o trono de seu pai, tornando-se D. Pedro IV, o 27° rei de Portugal.

A sua popularidade entre os bra-sileiros começou a cair quando D. Pedro I demonstrou indecisão en-tre escolher o Brasil e Portugal para governar. Além disso, os constantes atritos com as forças políticas do Brasil fi zeram com que o imperador abdicasse do trono em 7 de abril de 1831 em nome do fi lho, Pedro de Al-cântara, que se tornou D. Pedro II.

Fonte: <http://educacao.uol.com.br/biografi as/d-pedro-1.jhtm>.

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para conhecer

QUEM FOI VARNHAGEN?

Francisco Adolfo de Varnhagen (1816-1878) é considerado o “pai da História do Brasil”.

Autor de:

• História Geral do Brasil (1854-1857) – em dois volumes.• História das Lutas contra os Holandeses no Brasil desde 1624

a 1654 (1871).• A questão da capital: marítima ou no interior? (1877).• História da Independência do Brasil (1916, póstuma).

Você pode encontrar os dois volumes da História Geral do Brasil, no site da USP (<http://www.brasiliana.usp.br/node/454>).

Fontes: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Adolfo_de_Varnhagen>

QUEM FOI GONÇALVES DE MAGALHÃES?

Domingos José de Magalhães nasceu em 1811, no Rio de Janeiro, e morreu em 1882, em Roma. Em 1832, publicou seu primeiro livro – Poesias – ainda dentro dos moldes do Arcadismo.

Na França, em 1833, entrou em contato com a estética român-tica. Em 1836, fundou a revista Niterói, Revista Brasiliense, e publicou Suspiros Poéticos e Saudades, considerado como marco do início do Romantismo no Brasil.

Autor de:

• Poesias (1832).• Antônio José ou O poeta e a Inquisição (1839).• Olgiato (1841).• Confederação dos Tamoios (1856).• Fatos do espírito humano (1858).• Urânia (1862).• Cânticos fúnebres (1864).• A alma e o cérebro (1876).• Comentários e pensamentos (1880).

Você encontra muito mais sobre Gonçalves de Magalhães no site <http://pt.shvoong.com/books/biography/2200432-biografi a-gon%C3%A7alves-magalh%C3%A3es>

Fontes: <http://www.doutrina.linear.nom.br/cientifi co/Biografi as/Biografi a%20de%20Gon%E7alves%20de%20Magalh%E3es.htm>.

Figura 1.8 - Francisco Adolfo de Varnhagen.

Figura 1.9 - Gonçalves de Magalhães.

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Literatura e nação - uma prática discursiva

O primeiro teorizador das novas ideias foi Gonçalves de Magalhães que, junto com Porto Alegre, Torres Homem e Pereira da Silva, publicou Nitheroy, Revista Brasiliense (1836), considerada como um manifesto do movimento romântico brasileiro (BOSI, 1995), condenando a colonização portuguesa. Nesta revista apareceu o “Discurso sobre a História da Literatura no Brasil”, em que Magalhães lançou as bases da historiografia brasileira: estudo da origem que melhor revelasse a nacionalidade brasileira.

Contudo, num jogo de apropriação de outros discursos, - dialogando com uma ideologia impregnada de eurocentrismo -, o foco continuava na Europa, mais precisamente na França, a partir da qual se configuraram os cânones pelos quais tudo mais foi avaliado.

Assim, se não tínhamos castelos, monumentos, cavaleiros medievais, a pesquisa da origem voltou-se para outros referentes, que poderiam formar a construção discursiva do imaginário nacional: ênfase na cor local e um herói mítico, personificado no índio. Esses índices de nacionalidade – natureza e indígena – foram os diferenciadores e marcaram uma fronteira em relação a Portugal.

A natureza foi buscada nas projeções edênicas da Carta, de Caminha, e dos textos descritivos da Literatura de Informação produzidos pelos estrangeiros que aqui estiveram. Segundo Kothe (1997), uma das funções estratégicas da publicação da Carta foi dar uma visão do país como utopia da liberdade, mimetizada nas forças da natureza, na floresta e no indígena. A isso se soma, como afirma Süssekind (1990, p. 33), que o “Brasil da ficção dos anos 30-40 do século XIX [...] nutre-se abundantemente das descrições dos viajantes [...]”, de onde decorrem os discursos fundacionais brasileiros.

O processo de invenção do Brasil como nação, através do aspecto estético despertado pela natureza, se dá, então, pela memória discursiva do primeiro registro do colonizador sobre o país.

A revista foi publica-da na França e só teve duas edições. Tratava sobre a difusão da cul-tura literária e científi -ca.

Leia mais no site da USP, onde você tam-bém encontra os dois números da revista.

Fonte: <http://www.brasi-liana.usp.br/node/440>.

saiba mais

Figura 1.10 – Nitheroy: Revista Brasiliense

Leia a Carta, de Cami-nha! E você vai ver que muitas das descrições, feitas por ele, fazem parte de nossa memó-ria não só literária como também histórica.

Disponível no site: <http://www.biblio.

com.br/defaultz.asp?link=http://www.

biblio.com.br/conteudo/perovazcaminha/carta.

htm>.

para conhecer

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Esses registros também serviram para fazer do índio a origem pura e idealizada do povo brasileiro. Não é o indígena exterminado pelo colonizador, mas aquele que ainda perambula pelo seio da floresta, motivo de idealização e fonte de inspiração, como afirmava Alencar. Essa construção da etnia será a fundação discursiva de uma origem lendária, em que a História se torna o lugar da enunciação de uma fábula.

Nesse projeto nacionalista, surgiu igualmente a ideia de código cultural e, sobretudo, de cânone com publicações de antologias, bosquejos, florilégios.

Você está vendo que, devido à preocupação com a vontade de ser uma nação, os intelectuais oitocentistas se empenharam em produzir discursos que dessem uma feição ao país, identificando o Brasil para o Brasil e para a Europa.

Isto também vai ocorrer em outros momentos, quando sentimos a necessidade de nos afirmarmos perante as outras nações.

Outro momento importante da narrativa de nação aconteceu com o Modernismo de 1922, considerado como o período da independência cultural brasileira. Cem anos depois da independência política...

Lembre-se de que antes o foco continuava na Europa!

Essa nova vertente da Literatura Brasileira procurou se afastar da influência do texto e do contexto europeus que, em sua supremacia, legislava sobre a estética ocidental.

Dois grandes nomes se destacaram neste período: Oswald de Andrade e Mário de Andrade – na proposta de novos caminhos para a narrativa de nação.

Bosquejos: primeiros traços de uma obra; esboço.Florilégios: coletânea de textos literários; antologia.

Fonte: <http://www.dicio.com.br>.

O Modernismo no Brasil foi di-vidido em três fases:

1ª fase – marcada pela Se-mana de Arte Moderna, de-senvolveu-se no período de 1922 a 1930.Características: nacionalismo crítico, valorização do folclore.Principais autores: Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Cassiano Ricardo, Alcântara Machado, Manuel Bandeira, Menotti Del Picchia.

2ª fase - 1930-1945 – é o pe-ríodo regionalista, quando os autores se voltam, principal-mente para o nordeste.Características: denúncia so-cial, poesia de questionamen-to.Principais autores:Prosa – Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Jorge Ama-do, Érico Veríssimo, Rachel de Queiroz, Dionélio Machado.Poesia – Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Murilo Mendes, Jorge de Lima, Vinicius de Moraes.

3ª fase – após 1945, foi tam-bém chamada de Pós-Moder-nista.Características: refl exão, uni-versalidade temática.Principais autores: Guimarães Rosa, Clarice Lispector, João Cabral de Melo Neto.

Fonte: <http://www.acervoesco-lar.com.br/fases-do-modernismo-brasileiro-caracteristicas/>.

para relembrar

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Literatura e nação - uma prática discursiva

Oswald de Andrade foi o autor de dois textos que lançaram as bases da nova maneira de “imaginar” o Brasil: Manifesto Pau-Brasil (1924) e Manifesto Antropófago (1928).

No primeiro manifesto, ele propôs novos caminhos para a criação nacional, sem romper com o passado brasileiro, mas depurando seus elementos e arranjando-os “dentro de uma visão atualizada e, naturalmente, inventiva, como que dizendo, do alto de onde se encontra: tudo isso é meu país” (SCHWARZ, 1997, p. 22).

Já no segundo – Manifesto Antropófago – procurou desarticular as ideologias que visavam a uma visão hegemônica da realidade nacional, evidenciando o tema da violência, que nega o outro. O. de Andrade reivindicava, assim, o direito de dialogar com as matrizes europeias, sem subserviência. Para ele, era preciso não só copiar, mas também refletir sobre os modelos europeus para fazer a seleção daquilo que poderia servir para expressar a realidade brasileira. Agindo dessa maneira, estar-se-ia procedendo como o índio, que só comia outro homem, quando acreditava que aquela

QUEM FOI OSWALD DE ANDRADE?

José Oswald de Sousa Andrade (1890-1954) foi um dos organizado-res da Semana de Arte Moderna de 22. Iniciou o movimento Pau-Bra-sil, em 1924, juntando o nacionalismo às ideias estéticas da Semana de 22.

É o autor do Manifes-to Antropófago, onde propõe que o Brasil de-vorasse a cultura es-trangeira e criasse uma cultura revolucionária própria.

Autor de:

• Os condenados (1922).• Memórias sentimentais de João Miramar

(1924).• Pau-Brasil (1925).• Primeiro caderno de poesia do aluno

Oswald de Andrade (1927).• Estrela de absinto (1927).• Serafi m Ponte Grande (1933).• O Rei da Vela (1937).• O homem e o cavalo (1943).• Ponta de lança (1945).• A Arcádia e a Inconfi dência (1945).• A crise da fi losofi a messiânica (1950).• Um homem sem profi ssão (1954 – memó-

rias).

Você pode encontrar:

Manifesto Pau-Brasil – disponível no site: <http://www.passeiweb.com/na_ponta_lin-gua/livros/resumos_comentarios/m/manifes-to_pau_brasil>.

Manifesto Antropófago – disponível no site: <http://www.lumiarte.com/luardeoutono/oswald/manifantropof.html>

Fontes: <http://educacao.uol.com.br/biografi as/oswald-de-andrade.jhtm>.

para conhecer

Figura 1.11 – Oswald de Andrade.

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carne pudesse fortalecê-lo espiritualmente (SCHWARZ, 1997)

Repare! Você vê que a metáfora do antropófago não é uma tentativa de restabelecer bases indígenas para o Brasil, mas de mostrar a imitação não digerida e dependente de matrizes importadas.

Mário de Andrade lutou por uma língua brasileira, que estivesse mais próxima do falar do povo. Foi um grande pesquisador do folclore e da música brasileiros e, em sua obra, misturava os mais diferentes traços culturais que influenciaram o homem brasileiro, pretendendo fazer um resumo do nosso modo de ser, uma construção discursiva de nossa identidade.

A visão polifônica marioandradina sobre o Brasil aparece em Macunaíma – o herói sem nenhum caráter (1928). Nessa obra, M. de Andrade retoma o mito das três raças formadoras do Brasil, tentando criar uma alteridade independente. Macunaíma é carnavalizado. Seu refrão – “Ai, que preguiça!” – recupera o “traço ideológico da fala sobre a preguiça inerente à raça, do desperdício, da corrupção natural do brasileiro [...]” (ORLANDI, 1993, p. 14).

Você já deve estar deduzindo que não é suficiente ensinarmos aos nossos alunos que o Romantismo brasileiro tem como características: nacionalismo e indianismo. Ou que no Modernismo, iniciado com a Semana de Arte Moderna, procurou-se refletir sobre a realidade sociopolítica brasileira do início do século XX. Temos de lhes mostrar os motivos, isto é, explicar qual era o contexto histórico, quais discursos foram eleitos para nos identificar e quais foram apagados da História.

5 UMA PROPOSTA DE ANÁLISE SOCIODISCURSIVA

Na proposta de uma análise sociodiscursiva, vou correlacionar o Romantismo e o Modernismo, em sua

CARNAVALIZAÇÃO

Não se pode esque-cer que o Carnaval é o grande momento em que passa a existir uma aparente igualda-de entre os brasileiros. É durante esta festa que o Brasil se com-porta como a pátria da alegria, da tolerância racial.

NACIONALISMOS:DIVERSAS FACETAS

• Nacionalismo ro-mântico – exalta-ção da pátria e do herói nacional (o índio).

• Nacionalismo mo-dernista de 1922 – duas vertentes:

- crítico, de denún-cia da realidade.

- ufanista, utópico.

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32 EADLetras Vernáculas

Prática Educativa III - análise e produção de discurso na prática escolar

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Literatura e nação - uma prática discursiva

IRACEMA

O romance-poema é so-bre a lenda da formação do Ceará e a história dos amores de Iracema e Martim. O enredo é sim-ples. Iracema, “a vir-gem dos lábios de mel”, encontra Martim, um jovem português “cuja tez branca não corta o sangue americano”, an-dando na fl oresta e o leva para a cabana de seu pai, Araquém. Aos poucos a índia se apai-xona pelo português e é correspondida.

Como detentora do se-gredo da jurema, Irace-ma tinha feito um voto de castidade, que que-bra, quando se entrega a Martim. Por isso aban-dona a tribo e o segue. Algum tempo depois, durante a ausência de Martim, dá à luz um fi -lho. Simbolicamente, Moacir representa o ho-mem brasileiro, nascido das raças índia e bran-ca. Seu nome também signifi ca “o fi lho da dor”, “o nascido do meu sofri-mento”. Quando Martim retorna, encontra Irace-ma à morte. Enterra-a ao pé de um coqueiro, toma o fi lho e parte para Portugal; retornando tempos depois: “A mai-ri que Martim erguera à margem do rio, nas praias do Ceará, me-drou. Germinou a pala-vra do Deus verdadeiro na terra selvagem e o bronze sagrado ressoou nos vales onde rugia o maracá”.

para conhecerprimeira fase. Para tanto, escolhi uma obra de José de Alencar – Iracema – e uma poesia de Mário de Andrade – “Cabo Machado”.

XXXICABO MACHADO

Cabo Machado é cor de jamboPequenino que nem todo brasileiro que se preza,Cabo Machado é moço bem bonito.É como si a madrugada andasse na minha frente.Entreabri a boca encarnada num sorriso perpétuoAdonde alumia o Sol de oiro dos dentesObturados com um luxo oriental.Cabo Machado marchandoÉ muito pouco marcialCabo Machado é dansarino, sincopado,Marcha vem-cá-mulata.Cabo Machado traz a cabeça levantadaOlhar dengoso pros lados.Segue todo rico de joias olhares quebradosQue se enrabicharam pelo posto deleE pela cor-de-jambo.Cabo Machado é delicado gentil.Educação francesa mesureira.Cabo Machado é doce que nem melE polido que nem manga-rosa.Cabo Machado é bem o representante duma terraCuja constituição proíbe as guerras de conquistaE recomenda cuidadosamente o arbitramento.Só não bulam com ele!Mais amor menos confi ança!Cabo Machado toma um geito de rasteira...Mas traz unhas bem tratadasMãos transparentes frias,Não rejeita o bon-ton do pó-de-arroz.Se vê que prefere o arbitramento.E tudo acaba em dansa!Por isso Cabo Machado anda maxixe.

Cabo Machado... bandeira nacional!

Fonte: ANDRADE. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2008/01/08/cabo-machado-mario-de-andrade-84018.asp>.

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José de Alencar, quando escreveu Iracema, em 1865, já era sucesso de público. Era um escritor consciente de sua missão: ajudar a construir e formar a jovem nação brasileira.

Dessa forma, o romancista erigiu o índio, ser idealizado, vinculado ao cavaleiro medieval, protótipo das perfeições, exemplo do bon sauvage rousseauniano, como elemento caracterizador da nação que começava a se firmar. Tratava-se de uma estratégia retórica, com uma tendência “alegórica”, característica das ficções indianistas, continuístas do discurso colonizador.

Iracema se compõe de capítulos curtos, plenos de imagens e comparações, que sugerem o nascimento de um novo mundo. A paisagem brasileira descrita é sempre grandiosa, como símbolo de um país recém-independente que se quer grande e pomposo para firmar sua existência como nação.

Analisemos o enunciado que inicia o livro:

Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia nas frondes da carnaú-ba;Verdes mares que brilhais como líquida es-meralda aos raios do Sol nascente, perlon-gando as alvas praias ensombradas de co-queiros (s/d, p. 4).

Quando o Sol descambava sobre a crista dos montes, e a rola desatava do fundo da mata os primeiros arrulhos, eles descobriram no vale a grande taba; e mais longe, pendurada no rochedo, à sombra dos altos juazeiros, a cabana do pajé (s/d. p, 7).

Era o tempo em que o doce aracati chega do mar, e derrama a deliciosa frescura pelo ári-do sertão. A planta respira; um doce arrepio erriça a verde coma da floresta (s/d, p. 13).

Os sentidos deste discurso romântico têm sua memó-ria nos escritos dos primeiros viajantes estrangeiros. Ao vei-

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Prática Educativa III - análise e produção de discurso na prática escolar

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Literatura e nação - uma prática discursiva

cularem a ideia inaugural de Pátria como um paraíso tropical de reminiscências míticas, os discursos dos viajantes entra-ram de modo vitorioso na memória do discurso através de discursos que vieram a ser citados, parafraseados e constitu-ídos, enquanto pré-construídos de muitos discursos trans-versos.

É claro que não se trata do mesmo discurso dos viajantes estrangeiros que, apenas, informavam sobre a terra e o homem, embora, nas descrições, a terra mais parecesse um jardim mitológico, envolto numa primavera perpétua, em que nada se corrompe.

Alencar, na descrição de Iracema, utiliza-se de comparações e imagens tomadas à natureza, à flora e à fauna brasileiras, identificando-a claramente com o Brasil e, por extensão, com a América.

Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de pal-meira.O favo da jati não era doce como seu sor-riso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.Mais rápida que a corça selvagem, a mo-rena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara (s/d, p. 5).

Essa identificação também é estendida aos outros índios, mesmo que, às vezes, depreciativamente.

[...] então seu olhar como o do tigre, afei-to às trevas, [...] (s/d, p. 7).

O irmão de Iracema tem o ouvido sutil que pressente a boicininga entre os rumores da mata; e o olhar do oitibó que vê melhor na treva (s/d, p. 9).

DISCURSOTRANSVERSO:UM EXEMPLO

Um entre muitos dos discursos transversos a respeito da noção de paraíso tropical, há o exemplo dos versos de Gonçalves Dias (1993, p. 26):

Nosso céu tem mais estrelas

Nossas várzeas têm mais fl ores,

Nossos bosques têm mais vida,

Nossa vida mais amores.

Estes versos se trans-formaram em um ver-dadeiro hino de louvor à pátria, pois é cita-do no Hino Nacional: “Nossos bosques têm mais vida/‘Nossa vida’ em teu seio ‘mais amo-res’”.

saiba mais

Módulo 3 I Volume 6 35UESC

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Em Alencar, o índio funcionou como um símbolo que remetia à concepção medieval europeia, subordinada aos ideais de honra, justiça e coragem. E, na união de Iracema com Martim, projetou metaforicamente a futura raça brasileira: produto do cruzamento entre o índio e o elemento português. Além disso, o índio vai funcionar como elemento mediador para explicar nossa cor morena e traços não-europeus.

Então, como você pode ver, a narrativa de Iracema recalcou a violência da colonização, apontando o que deve ficar na memória e o que deve ser esquecido na construção discursiva histórico-literária da nação.

Em toda sua obra, Mário de Andrade lutou por uma língua brasileira, que estivesse mais próxima do falar do povo. Incansável pesquisador de nosso folclore, de nossas modinhas populares, de nossos falares regionais, os “brasileirismos” tiveram a máxima importância para o poeta. Misturava os mais diferentes traços culturais que influenciaram o homem brasileiro, pretendendo fazer um resumo do nosso modo de ser, uma fixação de nossa identidade. Dessa maneira, realizou uma espécie de mapeamento poético-cultural-linguístico-ideológico do Brasil.

No texto “Cabo Machado”, a descrição é feita também identificando homem e terra. Ele tem a “cor de jambo” do brasileiro, lábios grossos e vermelhos escarlates do mestiço (“boca encarnada”), o sorriso é sol, é “dansarino”, mulherengo, sensual (“doce que nem mel”, “manga-rosa”), educado, valente, tanto pode ser baiano (“geito de rasteira”) como carioca (“anda maxixe”). Dessa forma, em um crescendo, o poeta amplia o retrato do personagem até o símbolo maior, final: “Cabo Machado... bandeira nacional”.

A imagem traçada nos esclarece de como o poeta sente o homem brasileiro. Há uma identificação sensual entre o homem e a terra, da empatia que converte o país no prolongamento do corpo, dos gestos, do jeito. Tudo

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Prática Educativa III - análise e produção de discurso na prática escolar

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Literatura e nação - uma prática discursiva

isso reconhece a nacionalidade, imprimindo ao sujeito sua especificidade, sua identidade, que se confunde com a identidade do próprio Brasil.

Como Iracema, Cabo Machado é criado a partir de elementos da natureza tropical. Como Alencar, Mário de Andrade faz uma busca do caráter simbólico brasileiro. Mas também, como Alencar, Andrade mimetiza a cultura francesa – “Cabo Machado é delicado gentil. / Educação francesa mesureira”.

Entretanto o poeta-modernista, ao contrário de Alencar, com os signos gestuais, teatrais, o malabarismo, a dança polissêmica, encena ironicamente o Outro. E bom humor, “blague”, ironia, paródia são exercícios arlequinais. Cabo Machado é o próprio arlequim: hedonista, irreverente, fanfarrão... Como ele é feito de losangos multicores e sabre de pau, engana com mentiras e bazófias.

Assim, quando o poeta procura identificar Cabo Machado com o Brasil, ele o faz de modo imperfeito. A descrição do Cabo Machado – fanfarrão, mentiroso, frívolo (“E tudo acaba em dansa”) – nos remete ao enunciado: “Tudo acaba em pizza”, quando nos referimos a todas as brigas políticas com acusações e escândalos e que, no final, tudo termina bem para eles (os políticos – claro!).

Você percebeu que tanto Alencar quanto Andrade pertencem à mesma formação discursiva que permeia o discurso fundador brasileiro, pois tinham o determinado propósito de suprir lacunas literárias com uma obra que o espelhasse, não deixando dúvidas a respeito de nossas origens. A perspectiva enunciativa é a mesma: ambos são intelectuais e pertencem a uma parcela social privilegiada e seus leitores também são socialmente qualificados.

Entretanto, apesar desta aproximação discursiva, em Alencar a unidade foi conservada pela recusa da ruptura, isto é, a construção de uma identidade nacional brasileira, através da narrativa pedagógica (BHABHA, 1990), oculta a agressão

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QUEM FOI JOSÉ DE ALENCAR?

José Martiniano de Alencar (1829-1877) foi jornalista, advoga-do, político, romancista, dramaturgo. Sua obra traça um perfi l da cultura e dos costumes da sua época, e da História do Brasil. Sua principal preocupação foi a busca de uma identidade nacional tan-to nas descrições da sociedade burguesa quanto nas do índio ou do sertanejo.

Autor de:

• Romances urbanos:Cinco minutos (1860).A viuvinha (1860).Lucíola (1862).Diva (1864).A pata da gazela (1870)Sonhos d’ouro (1872)Senhora (1875).Encarnação (1877).

• Romances indianistas:O Guarani (1857).Iracema (1865).Ubirajara (1874).

Figura 1.12 – José de Alencar. Fonte: <http://f.i.uol.com.br/folha/ilustrada/images/10288571.jpeg>.

para conhecer

• Romances regionalistas:O gaúcho (1870)O tronco do ipê (1871).Til (1872).O sertanejo (1876).

• Romances históricos:As minas de prata (1865).Alfarrábios (1873).A guerra dos mascates (1873).

Fonte: <http://educacao.uol.com.br/biografi as/jose-de-alencar.jhtm>

QUEM FOI MÁRIO DE ANDRADE?

Mário Raul de Morais Andrade (1893-1945) foi um dos criadores do Modernismo no Brasil, e grande pesquisador da música e do folclore brasileiros. Em seu livro Paulicéia desvairada, no prefá-cio – “Prefácio Interessantíssimo” – foram lançadas as bases do Modernismo brasileiro. Esta plataforma teórica será aprofundada em A escrava que não é Isaura.

Autor de muitas obras, dentre elas:

• Há uma gota de sangue em cada poema (1917).• Paulicéia desvairada (1922).• A escrava que não é Isaura (1925).• Losango cáqui (1926).• Primeiro andar (1926).• Amar, verbo intransitivo (1927).• Ensaios sobre a música brasileira (1928).• Macunaíma (1928).• Compêndio da história da música (1929).• Modinhas imperiais (1930).• Remate de males (1930).• Música, doce música (1933).

Fontes: <http://educacao.uol.com.br/biografi as/mario-de-andrade.jhtm>.

Figura 1.13 – Mário de Andrade

Você pode ler muitas das obras de Alencar no site: <http://www.

biblio.com.br/>.

Leia o “Prefácio In-teressantíssimo” no site: <http://www.

mac.usp.br/mac/tem-plates/projetos/jogo/

pauliceia.asp>.

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Prática Educativa III - análise e produção de discurso na prática escolar

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Literatura e nação - uma prática discursiva

e a destruição, a dominação e a submissão que fazem parte de nossa herança histórica. Tais sentidos encontram-se tão bem revelados em Iracema, os quais vinculam o brasileiro com uma natureza selvagem, linda exótica.

Já em Andrade, dá-se o contrário: perturba a memória do primeiro discurso da nossa identidade, isto é, apresenta o Brasil como a terra do samba, da alegria, mas também da violência (“geito de rasteira”).

Você está vendo que, desde o início, as representações sobre o Brasil são baseadas em estereótipos, pré-concepções.

ATIVIDADE

Organize uma aula e/ou oficina para uma turma do Ensino Médio. Explore os níveis de compreensão, o desenvolvimento de estratégias de leitura e a produção de sentidos, e os discursos difundidos pelo escritor e seu papel nos grandes debates da sociedade, sua participação nas opiniões e representações partilhadas ou controversas em uma determinada sociedade e em uma determinada época.

Você pode analisar discursos sobre nacionalidade, amor, feminismo, negritude, masculinidades, religiosidade etc., em quaisquer períodos literários de sua escolha.

Apresento como sugestões:

Nacionalidade: em poemas de Gonçalves de Magalhães; em O Guarani, de José de Alencar; O poço do Visconde, de Monteiro Lobato; Caramuru: poema épico do descobrimento da Bahia, de Santa Rita Durão; Iararana, de Sosígenes Costa; Policarpo Quaresma, de Lima Barreto etc.

Amor: em poemas de Álvares de Azevedo; nas

Pode-se defi nir es-tereótipo como sen-do generalizações, ou pressupostos, que as pessoas fazem sobre as características ou com-portamentos de grupos sociais específi cos ou tipos de indivíduos. O estereótipo é geralmen-te imposto, segundo as características exter-nas, tais como a apa-rência (cabelos, olhos, pele), roupas, condição fi nanceira, comporta-mentos, cultura, sexu-alidade, sendo estas classifi cações (rotula-gens) nem sempre po-sitivas que podem mui-tas vezes causar certos impactos negativos nas pessoas.

Fonte: <http://www.infoescola.com/sociologia/

estereotipo/>

Na Biblio - Biblioteca Virtual <http://www.biblio.com.br/>, você tem acesso a obras em domínio público dos mais importantes au-tores de nossa língua para leitura imediata. Não há resumos ou re-senhas, só textos com-pletos e respeitando a linguagem da época.

ATIVIDADE

para conhecer

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cantigas de amor da época medieval; em sonetos de Camões; Lucíola, de José de Alencar; Amor de perdição, de Camilo Castelo Branco; Gabriela, cravo e canela, de Jorge Amado etc.

Feminismo: Luzia-Homem, de Domingos Olímpio; Dona Guidinha do Poço, de Manuel de Oliveira Paiva; Senhora, de José de Alencar; Memorial de Maria Moura, de Rachel de Queiroz; Ana Terra, de Érico Veríssimo etc.

Negritude: O Mulato, de Aluísio Azevedo; Clara dos Anjos, de Lima Barreto; os poemas de Castro Alves etc.

Masculinidades: As Velhas, de Adonias Filho; Um certo Capitão Rodrigo, de Érico Veríssimo; a representação dos “coronéis do cacau” em Jorge Amado etc.

Religiosidade: o sincretismo em Jorge Amado; O pagador de promessas, de Dias Gomes; Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna etc.

Lembre-se de que a maioria destas obras já está disponível para download na Internet.

Em seguida, discuta com o(a) tutor(a) e seus colegas os pontos que você abordou e quais outros poderiam ter sido estudados.

RESUMINDO

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Prática Educativa III - análise e produção de discurso na prática escolar

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Literatura e nação - uma prática discursiva

Neste módulo, você estudou: A importância de escritores e intelectuais na formação

da identidade nacional brasileira. Apenas um grupo dominante estava autorizado a

enunciar os discursos de nação e de identidade nacional. A articulação entre Literatura e nação. O espaço discursivo dos primeiros românticos, no qual

houve a idealização da terra e seus primeiros habitantes. O discurso modernista que procura superar o idealismo

ufanista romântico.

ÚLTIMAS PALAVRAS

As análises feitas só foram possíveis por causa de uma memória de discurso que registrou seus enunciados. O sentido do que se diz está na relação entre a memória que dá o suporte ao dizer e à atualidade do acontecimento que constitui esse dizer. Entretanto, no discurso, instaura-se um sentido contraditório, pois, à medida que as condições de produção se modificam, há possibilidade do mesmo e do diferente.

Leia com seus alunos não só os textos que mantêm e legitimam uma unidade idealizada, segundo um contrato que faz da Literatura um ritual de identidade nacional; mas também aqueles que denunciam as desigualdades sociais, os preconceitos contra mulheres, homossexuais, judeus, negros, índios e outras minorias étnicas, religiosas e culturais.

Não podemos nos esquecer de que somos herdeiros de outras tradições culturais, ligados à história dos povos que nos constituíram. Essa heterogeneidade étnica e cultural, no Brasil, faz com que convivam, num mesmo espaço, diferentes estágios de desenvolvimento e diversas formas de economia, criando desnivelamentos entre classes, gêneros e etnias.

Bom trabalho!

RESUMINDO

ÚLTIMAS PALAVRAS

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REFERÊNCIAS

ALENCAR, José Martiniano de. Iracema. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/Detalhe ObraForm.do?select_action=&co_obra=2029>.

ANDRADE, Mário de. “Cabo Machado”. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2008/01/08/cabo-machado-mario-de-andrade-84018.asp>.

APPIAH, Kwame Anthony. Na casa de meu pai: A África na filosofia da cultura. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.

BHABHA, Homi K. “DissemiNação: tempo, narrativa e as margens da nação moderna”. Tradução de Maria Luiza Grino Valle. In: Nation and narration. London, New York: Routledge, 1990. p. 291-322.

BOSI, Alfredo. História concisa da Literatura Brasileira. 35. ed. São Paulo: Cultrix, 1995.

CANCLINI, Néstor García. Culturas híbridas; estratégias para entrar e sair da modernidade. 2. ed. Tradução de Ana Regina Lessa; Heloísa Pezza Cintrão. São Paulo: EDUSP, 1998.

CARVALHAL, Juliana Pinto. Maurice Halbwachs e a questão da Memória. In: Revista Espaço Acadêmico, n. 56, jan. 2006. Disponível em: <http://www.espacoacademico.com.br/056/56carvalhal.htm>. Acesso em: 10 fev. 2011.

CAMINHA, Pero Vaz de. Carta. Disponível em: <http://www.biblio.com.br/defaultz.asp?link=http://www.biblio.com.br/conteudo/perovazcaminha/carta.htm>.

REFERÊNCIASREREREREREREREREREREREREREREREREREREEFEFEFEFEFEFEFEEFER

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Literatura e nação - uma prática discursiva

CARDOSO, Sílvia Helena Barbi. “Realidades e sentidos: dos Jecas aos sem terra”. In: II Congresso Internacional da ABRALIN, Fortaleza, mar. 2001. Disponível em: <http://redalyc.uaemex.mx/pdf/410/41030201.pdf>.

COURTINE, Jean-Jacques. “Analyse du discours politique (Le discours communiste adressé aux chrétiens)”. Langages, nº 62, juin, 1981.

EAGLETON, Terry. Teoria da literatura: uma introdução. 3. ed. Tradução de Waltensir Dutra. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

FOUCAULT, Michel. L’ordre du discours – Leçon inaugurale au Collège de France prononcée le 2 décembre 1970. Paris: Gallimard, 1971.

FUCHS, Catherine. “La paraphrase entre la langue et le discours”. Langue Française, nº 53, p. 22-33, 1982.

GONÇALVES DIAS. “Canção do exílio”. In: FACIOLI, Valentim; OLIVIERI, Antonio Carlos. Antologia de poesia brasileira: romantismo. São Paulo: Ática, 1993. p. 22-38.

HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. Tradução de Laurent Léon. São Paulo: Vértice; Revista dos Tribunais, 1990.

HOBSBAWM, Eric J. Nações e nacionalismo desde 1780: programa, mito e realidade. 2. ed. Tradução de Maria Celia Paoli; Anna Maria Quirino. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998.

HOBSBAWM, Eric J. “A produção em massa de tradições”. In: HOBSBAWM, Eric J.; RANGER, Terence (Orgs.). A invenção das tradições. Tradução de Celina Cardim Cavalcante. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. p. 271-316.

Módulo 3 I Volume 6 43UESC

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Suas anotações

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