SZONDI, Peter - Teoria do drama moderno 1880 - 1950.docx

353

Click here to load reader

Transcript of SZONDI, Peter - Teoria do drama moderno 1880 - 1950.docx

Tendo seus limites cronolgicos bastante definidos (1880-1950), este livro poderia ser visto como um daqueles tpicos panoramas histricos do teatro moderno. A anlise em seq ncia da obra de onze dramaturgos e um ence nador, da mesma forma, poderia fazer supor uma investigao encadeada no tempo,porm no necessariamente articulada em seu conjunto. Peter Szondi,nesta Teoria do drama moderno, escapa de ambas as armadilhas.A histria aqui funciona no apenas como fio condutor das anlises. a partir"do terreno historicizado" que Szondi depreende seu estrito con ceito de drama.Uma forma de arte na qual, em ltima instncia, dois as pecto so imprescindveis: o embate intersubjetivo entre os homens e sua relao com a comunidade que os cerca. ,Da,por exemplo, o carter constitutivo que o dilogo desempenha emseu conceito de drama. Suprimidos os prlogos, coros e eplogos, restaria ao dilogo, e somente a ele,a instaurao da textura dramtica. Para ser "relao pura", portanto, e digno de seu nome, o drama deve ser absoluto, desliga do de tudo que lhe externo.O dramat urgo est ausente do ver dadeiro drama,cujas situaes deter minam as "decises"autnomas dos personagens. O espectador est igualmente ausente,pois a fala dram tica diz respeito apenas aos conflitos intersubjetivos dos personagens. Para a passividade puramente contemplativa da platia s h opo na entre ga absoluta aos sentimentos encenados. "A relao espectador-drama co nhece somente a separao e a identidade perfeitas, mas no a invaso do drama pelo espectador ou a interpelao do espectador pelo drama." O ator, por fim, tambm encontra -se ausente do drama, pois sua adeso ao papeldeve ser completa.O drama, ainda segundo Szondi, primrio, em vrios sentidos. Em pri meiro lugar, ele represe nta a si mesmo, e no a uma ao ocorrida ante riormente (da o fato de Szondi negar s peas histricas de Shakespeare, por exemplo, o estatuto de drama). Alm disso, ele sempre presente; sem ser esttico,o drama comporta apenas um tipo de decurso temporal. O presente se realiza e se torna passado, nessa condio deixando de aparece r em cena.Aps conceituar historicamente o drama, tambm do "terreno historicizado" que Szondi extrai a percepo de que "a evoluo da drama turgia moderna se afasta do prprio drama: A partir da,fazendo uso das trs categorias da teoria dos gneros - a pica, a lrica e a dramtica-, o autor aponta rupturas inequvocas no conceito tradicional de drama. Ele identifica a dissoluo das normas internas do drama nas obras de Ibsen, cuja tcnica analtica procura revelar os motivos que esto na origem dos acontecimentos e o tempo que separa uns dos outros, subordin ando assim o presente ao passado; Tchkhov,cujas peas se formam sob a gide da renncia ao presente e comunicao intersubjetiva; Strindberg, em que o embate intersubjetivo substitudo pela "dramaturgia do eu", de car-

ter autobiogrfico; Maeterlink, em cujo drama o homem a anttese do ser autodeterminado, sendo antes visto como um impotente existencial diante da morte; e Hauptmann, autor de "dramas sociais" que, no limite, tipificam dramaticamente personagens e condies poltico-econmicas, caracterizando assim uma ndole pica e no dramtica.Neste ponto, com igual preciso conceitual e objetividade na a nlise das obras, Szondi discute algumas "tentativas de salvamento ", nas quais certas formas dramticas buscam conciliar os novos contedos, por prin cpio antidramticos, com as estruturas formais prprias do drama. Esta a meta final do naturalismo, da pea de conversao, da pea de um ato s, das peas de confinamento, em que o monlogo se torna impos svel e volta-se a recorrer ao dilogo,e'do drama existencial ista.Em seguida, so discutidas as formas dramticas que logram, na me dida do possvel, dissolver as contradies mencionadas. No expressio nismo, por exemplo, o indivduo busca configurar seu caminho por um mundo alienado, o que impossibilita a objetividade plena, substituindo assim as aes intersubjetivas e recusando as exigncias dramticas. Nas montagens do encenador Piscator o elemento cnico elevado ao plano histrico, configurando nitidamente o eu-pico e destruindo a natureza absoluta da forma dramtica. O teatro de Brecht,por sua vez,entroniza uma objetividade pico-cientfica,que penetra todas as camadas da pea teatral e torna o processo que se desenrola sobre o palco o objeto da narrativa. Alm desses, out ros modelos de superao das contradies do drama moderno vm tona nas obras de Ferdinand Bruckner, Pirandello, Eugene O'Neill, Thornton Wilder e Arthur Miller.Todas as anlises de Szondi obtm o mximo resultado de uma dial tica histrico-filosfica das formas de arte, identificando oposies ent re os sistemas formais e as mudanas histricas. Para os que desejam enten der os caminhos da dramaturgia no sculo xx, sua Teoria do drama mo derno uma leitura obrigatria, alm de muito prazerosa.

coleo Cinema, teatro e modernidade Ttulo j lanado

O cinema e a inveno da vida moderna Leo Charney e Vanessa R. Schwartz (org.) Prximo lanamentoEisenstein e o construtivismo russo

Franois Albera Tragdia moderna Raymond Williams

Teoria do drama moderno[1880-1950]

Peter Szondi

....

..JI L lO ECA UNIVERSITRIA

{f+ 361'1 5'1

lllllllllllllllllllll\llllllll\11182170902

NO DANIFIQUE ESTA ETIQUETA

Cosac & Naify

Capa: cena da pera dos trs vintns de Bertold Brecht eKurt Weill em montagem de 1986 pelo Thtre de t: Europe-TMP Luigi Ciminaghi

Suhrkamp Verlag Frankfurt am Main 1965Titulo original:Theorie des modernen Dramas 1880-1950 2001 Cosac & Naify EdiesTodos os direitos reservados

Coleo Cinema, teatro e modernidade Projeto editorial e coordenao lsmail Xavier