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Joana Sofia Pais Ruivo Fitocosmética: aplicação de extratos vegetais em Cosmética e Dermatologia Universidade Fernando Pessoa Faculdade de Ciências da Saúde Porto, 2012

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  • Joana Sofia Pais Ruivo

    Fitocosmtica: aplicao de extratos vegetais em Cosmtica e

    Dermatologia

    Universidade Fernando Pessoa

    Faculdade de Cincias da Sade

    Porto, 2012

  • Joana Sofia Pais Ruivo

    Fitocosmtica: aplicao de extratos vegetais em Cosmtica e

    Dermatologia

    Universidade Fernando Pessoa

    Faculdade de Cincias da Sade

    Porto, 2012

  • Joana Sofia Pais Ruivo

    Fitocosmtica: aplicao de extratos vegetais em Cosmtica e

    Dermatologia

    Porto, 2012

    Monografia apresentada Universidade

    Fernando Pessoa como parte dos requisitos

    para a obteno do grau de Mestre em

    Cincias Farmacuticas.

    Orientadora:

    Professora Doutora Rita Oliveira

  • Resumo

    O presente trabalho de monografia descreve a aplicao de vrios extractos e/ou

    compostos vegetais em preparaes cosmticas e dermatolgicas, com uma breve

    descrio da sua principal utilizao, parte(s) da planta usada(s), as substncias activas

    responsveis pelos efeitos e benefcios pretendidos, e eventuais reaces adversas.

    Adicionalmente procede-se a uma sucinta caracterizao da anatomofisiologia da pele,

    tipos e estados da pele, e fitoqumica dos componentes naturais, para uma melhor

    compreenso do modo de actuao das formulaes cosmticas e dermatolgicas

    contendo ingredientes de origem natural.

    Abstract

    The present monograph work describes the application of some extracts and/or

    vegetable compounds in cosmetic and dermatologic preparations, with a brief

    description of its major use, plant part(s) used, the actives responsible for the effects and

    benefits intended, and eventual adverse reactions.

    Furthermore, it characterizes the anatomophysiology of the skin, types and skin

    conditions, and the phytochemistry of the natural compounds, in order to better

    understand the mode of action of the cosmetic and dermatologic formulations

    containing natural ingredients.

  • Agradecimentos

    com muita satisfao que aqui expresso o meu mais profundo agradecimento a todos

    aqueles que tornaram possvel a realizao deste trabalho.

    Assim, agradeo de forma particular, expressando imensa gratido e reconhecimento:

    Professora Doutora Rita Oliveira, pela competncia com que orientou este trabalho, e

    pelo tempo que generosamente me dedicou, transmitindo-me os melhores e mais teis

    ensinamentos, com pacincia, lucidez e confiana. Pelo acesso que me facilitou a uma

    pesquisa mais alargada e enriquecedora, e pela sua crtica sempre atempada e

    construtiva.

    minha famlia, pais, irmo e av, pela confiana que em mim depositaram, apoio e

    incentivo constantemente demonstrados.

    Ao Joo Rocha, Marta Alves, ao Filipe Barbosa, ao Francisco Dias, Joana Fonte e

    Isa Ferreira pelo carinho, pela inesgotvel pacincia, incentivo, apoio e amizade sempre

    demonstrados, mais ainda ao longo deste trabalho.

    Um sincero e enorme muito obrigado!

  • I - ndice

    Captulo I Introduo .................................................................................................. 1

    1. Constituintes das Plantas com interesse em Cosmtica e Dermatologia ............ 3

    1.1. Fitoqumica .......................................................................................................... 3

    1.1.1. Glcidos ................................................................................................................. 3

    1.1.2. Lpidos ................................................................................................................... 6

    1.1.2.1. Etlidos e Ceras Vegetais ........................................................................... 6

    1.1.2.2. leos Gordos Vegetais ............................................................................... 7

    1.1.3. cidos Orgnicos e steres de cidos Aromticos........................................... 8

    1.1.4. Compostos Fenlicos ......................................................................................... 11

    1.1.4.1. Taninos e Procianidinas Oligomricas ................................................. 11

    1.1.4.2. Compostos Cumarnicos ........................................................................ 13

    1.1.4.3. Flavonoides .............................................................................................. 14

    1.1.4.4. Antociansidos ........................................................................................ 15

    1.1.5. Terpenos e Terpenoides .................................................................................... 16

    1.1.5.1. leos Essenciais ...................................................................................... 16

    1.1.5.2. Iridoides ................................................................................................... 18

    1.1.5.3. Fitoestrognios ........................................................................................ 19

    1.1.5.4. Saponsidos ............................................................................................. 21

    1.1.6. Sais Minerais (Oligoelementos) ........................................................................ 22

    1.1.7. Protenas e Aminocidos ................................................................................... 22

    1.1.8. Vitaminas ............................................................................................................ 24

    2. Noes em Fitocosmtica ...................................................................................... 32

    2.1. Tipos de Extratos ............................................................................................... 33

    2.1.1. Extratos Fluidos ...................................................................................... 34

    2.1.2. Extratos Moles ........................................................................................ 34

    2.1.3. Extratos Secos ......................................................................................... 34

    2.2. Preparao de Extratos ..................................................................................... 35

    2.3. Monografias das plantas mais usadas em preparaes dermocosmticas ... 41

  • 2.3.1. Alecrim (Rosmarinus officinalis) ......................................................................... 42

    2.3.2. Alo (Aloe vera) ................................................................................................... 43

    2.3.3. Arnica (Arnica montana) .................................................................................... 44

    2.3.4. Aveia (Avena sativa) ........................................................................................... 45

    2.3.5. Calndula (Calendula officinalis) ...................................................................... 46

    2.3.6. Camomila (Matricaria recutita) ......................................................................... 47

    2.3.7. Centelha Asitica (Centella asiatica) ................................................................ 48

    2.3.8. Ginkgo (Ginkgo biloba) ...................................................................................... 49

    2.3.9. Ginseng (Panax ginseng) .................................................................................... 50

    2.3.10. Hamamlia (Hamamelis virginiana)........................................................... 51

    2.3.11. Jojoba (Simmondsia chinensis) ................................................................... 52

    2.3.12. Rcino (Ricinus communis) .......................................................................... 53

    2.3.13. Soja (Glycine max)....................................................................................... 54

    Captulo III Controlo de Qualidade ........................................................................ 55

    1. Identificao da Planta ...................................................................................... 55

    2. Macro e Micromorfologia ................................................................................. 55

    3. Espectroscopia UV/VIS e IV de constituintes botnicos ................................ 56

    4. Cromatografia em Camada Fina (CCF), Gasosa (CG) e Lquida (HPLC) . 56

    5. Estabilidade ........................................................................................................ 57

    6. Segurana ........................................................................................................... 58

    Captulo IV Estado da Arte ...................................................................................... 59

    1. Novas Aplicaes ............................................................................................... 59

    a) Alo (Aloe vera) ....................................................................................... 59

    b) Arnica (Arnica montana) ......................................................................... 60

    c) Calndula (Calendula officinalis) ........................................................... 61

    d) Centelha Asitica (Centella asiatica) ..................................................... 62

    e) Ginkgo (Ginkgo biloba) ........................................................................... 63

    f) Ginseng (Panax ginseng) ......................................................................... 64

    Concluso ...................................................................................................................... 66

    Bibliografia .................................................................................................................... 67

  • Anexos ............................................................................................................................ 79

  • II - ndice de Figuras

    Figura 1 Representao esquemtica da pele ................................................................. 2

    Figura 2 Amido ............................................................................................................... 4

    Figura 3 Sacarose ........................................................................................................... 4

    Figura 4 cido algnico .................................................................................................. 5

    Figura 5 cido pctico ................................................................................................... 6

    Figura 6 Estrutura geral de um AHA ............................................................................. 8

    Figura 7 cido mlico .................................................................................................... 8

    Figura 8 cido ctrico ..................................................................................................... 9

    Figura 9 cido saliclico ................................................................................................ 9

    Figura 10 cido cafeico ............................................................................................... 11

    Figura 11 cido clorognico ........................................................................................ 11

    Figura 12 cido rosmarnico ........................................................................................ 11

    Figura 13 Epicatequina ................................................................................................. 12

    Figura 14 Procianidina B-2 .......................................................................................... 12

    Figura 15 cido glhico ............................................................................................... 12

    Figura 16 Cumarina ...................................................................................................... 13

    Figura 17 Flavona ......................................................................................................... 14

    Figura 18 Eriodictiol ..................................................................................................... 14

    Figura 19 Campferol ..................................................................................................... 14

    Figura 20 Frmula estrutural de uma antocianidina ..................................................... 15

    Figura 21 Isopreno ........................................................................................................ 16

    Figura 22 -pineno ....................................................................................................... 17

    Figura 23 Farnesol ........................................................................................................ 17

    Figura 24 Harpagsido ................................................................................................. 19

    Figura 25 Genistena ..................................................................................................... 20

    Figura 26 Sntese de vitamina A................................................................................... 25

    Figura 27 Tocoferis .................................................................................................... 27

    Figura 28 Vitamina F .................................................................................................... 29

    Figura 29 cido ascrbico ............................................................................................ 29

    Figura 30 Tiamina ........................................................................................................ 31

    Figura 31 Riboflavina ................................................................................................... 31

    Figura 32 Nicotinamida ................................................................................................ 31

  • Figura 33 cido pantotnico ........................................................................................ 31

    Figura 34 Piridoxina ..................................................................................................... 32

    Figura 35 Biotina .......................................................................................................... 32

    Figura 36 cido flico .................................................................................................. 32

    Figura 37 Alecrim (Rosmarinus officinalis) ................................................................. 42

    Figura 38 Alo (Aloe vera) ........................................................................................... 43

    Figura 39 Arnica (Arnica montana) ............................................................................. 44

    Figura 40 Aveia (Avena sativa) .................................................................................... 45

    Figura 41 Calndula (Calendula officinalis) ................................................................ 46

    Figura 42 Camomila (Matricaria recutita) .................................................................. 47

    Figura 43 Centelha Asitica (Centella asiatica)........................................................... 48

    Figura 44 Ginkgo (Ginkgo biloba) ............................................................................... 49

    Figura 45 Ginseng (Panax ginseng) ............................................................................. 50

    Figura 46 Hamamlia (Hamamelis virginiana) ............................................................ 51

    Figura 47 Jojoba (Simmondsia chinensis) .................................................................... 52

    Figura 48 Rcino (Ricinus communis) .......................................................................... 53

    Figura 49 Soja (Glycine max) ....................................................................................... 54

    Figura 50 Ratinhos C57BL6 ......................................................................................... 65

    As figuras correspondentes fitoqumica so adaptadas do stio

    . No que respeita s imagens das plantas,

    as ilustraes so adaptadas do stio .

  • III - ndice de Tabelas

    Tabela 1 Percentagem de isolados clnicos recolhidos de infeces cutneas ............. 59

    Tabela 2 Estudo comparativo da folha e gel de A. vera com antibiticos padro contra

    isolados clnicos recolhidos de infeces cutneas ......................................................... 59

    Tabela 3 Efeitos tpicos do extracto de P. ginseng na regenerao do plo em ratinhos

    C57BL6 ........................................................................................................................... 65

    Tabela 4 Tipos e estados de pele e respetivo tratamento esttico ................................ 80

  • IV - ndice de Abreviaturas

    AHA Alpha Hydroxy Acids (Alfa Hidroxicidos)

    BHA Beta Hydroxy Acids (Beta Hidroxicidos)

    DNA Deoxyribonucleic Acid (cido Desoxiribonucleico)

    GRAS Generally Recognized As Safe (Genericamente reconhecido como seguro)

    RNAm Messenger Ribonucleic Acid (cido Ribonucleico Mensageiro)

    ROS Reactive Oxygen Species (Espcies Reativas de Oxignio)

    SNC Sistema Nervoso Central

    TEWL Transepidermal Water Loss (Perda de gua Transepidrmica)

    UV Ultraviolet (Ultra-violeta)

  • Fitocosmtica: aplicao de extratos vegetais em cosmtica e dermatologia.

    1

    Captulo I Introduo

    A contribuio do Reino das Plantas remonta antiguidade, praticamente inserida em

    todas as culturas e civilizaes, como fonte medicinal, nutricional, cultural e esttica, e

    descrita em manuscritos antigos, como a Bblia, nos quais as plantas eram designadas

    como ddivas dos criadores, e vistas com grande respeito e admirao (Hoareau e Da

    Silva, 1999).

    A grande incidncia de plantas aromticas na China e ndia conduziu extrao de

    leos essenciais. Tambm o Egito, e posteriormente a Mesopotmia, se destacaram no

    conhecimento e emprego destes leos e extratos vegetais em preparaes de unguentos

    e blsamos com finalidades cosmticas (DAmelio, 1999).

    Clepatra, conhecida pela sua vaidade, motivou a pesquisa cosmtica e um primeiro

    formulrio Cleopatre Gynoecirium Libri , editado durante o seu reinado, e no qual se

    descreveram cuidados higinicos e tratamentos de diversas afees cutneas, bem como

    formas farmacuticas base de plantas e leos vegetais com finalidade teraputica e

    cosmtica (Teske e Trentini, 2001).

    Do Oriente, a utilizao de produtos naturais difundiu-se para o mundo grego, tendo

    surgido no ano IV o formulrio de Ovdio Os Remdios Para o Rosto Feminino ,

    dedicado cosmtica, e no qual so mencionadas receitas e pomadas da poca base de

    vegetais (Camargos et al., 2009). A partir desta poca, o estudo dos vegetais e a

    aplicao dos seus constituintes, quer na forma de extratos ou substncias ativas

    isoladas, tem ganho cada vez mais espao na indstria cosmtica moderna e atual.

    Em termos anatomofisolgicos, a pele humana, como maior rgo e mais complexo do

    organismo humano, integra vrias camadas, cada uma com uma nica estrutura e

    funo, sendo que o conhecimento acerca do comportamento mecnico dessas camadas

    permite uma maior facilidade na investigao clnica e de cosmticos, como o

    desenvolvimento de produtos de cuidado pessoal e para a compreenso da dinmica de

    certas patologias cutneas (Barata, 2002; Geerligs, 2009).

  • Fitocosmtica: aplicao de extratos vegetais em cosmtica e dermatologia.

    2

    Figura 1 Representao esquemtica da pele (adaptado de Williams, 2003).

    Sumariamente, em termos de funes, a pele representa uma barreira contra o ambiente

    externo hostil, previne a perda excessiva de gua do ambiente aquoso interior, assim

    como a penetrao de microrganismos e qumicos, e proporciona maior resistncia e

    rigidez para resistir carga mecnica (Barata, 2002; Geerligs, 2009).

    As classificaes clssicas do tipo de pele, descritas no anexo 1, para alm dos vrios

    estados da pele, contemplam, essencialmente, o equilbrio existente ao nvel do filme

    hidrolipdico, sendo tambm importante considerar outros parmetros, tanto a nvel

    histolgico, como na vascularizao, pigmentao, secrees, pH cutneo, o grau de

    hidratao, o exame visual, assim como o exame ttil, por forma a obter uma correta

    caracterizao do tipo de pele. Deste modo, poder-se- selecionar o tratamento

    cosmtico mais adequado ao tipo de pele em questo (Cunha et al., 2008; Barata, 2002).

    Os desenvolvimentos cientficos dos ltimos sculos tm permitido o atendimento das

    necessidades bsicas (alimentao, sade e vesturio) de uma grande parte da crescente

    populao humana, pelo que o aumento da qualidade de vida e da longevidade da

    populao faz com que tanto os homens como mulheres dediquem mais tempo, recursos

    e esforos ao cultivo da higiene pessoal e da melhor aparncia possvel ao longo da sua

    vida (Galembeck e Csordas, 2010; Gediya et al., 2011). Adicionalmente, a

    fitocosmtica representa atualmente um setor em ntido crescimento, no s pelo

    avano na investigao cientfica, mas tambm pelas reais vantagens na aplicao de

    produtos vegetais relativamente a alguns produtos sintticos, e pela sociedade que vem

    exigindo a adoo de tecnologias de produo econmicas, ecolgicas e seguras, que

    por sua vez, requerem um enorme esforo por parte dos investigadores na pesquisa de

    compostos distintos, naturais e competitivos (Draelos, 2001; Kole et al., 2005).

  • Fitocosmtica: aplicao de extratos vegetais em cosmtica e dermatologia.

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    Captulo II Caracterizao dos Produtos usados em Fitocosmtica

    1. Constituintes das Plantas com interesse em Cosmtica e Dermatologia

    1.1.Fitoqumica

    Em termos fitoqumicos, os principais constituintes vegetais encontram-se agrupados de

    acordo com o seu componente principal, tendo em conta a sua origem biogentica, com

    descrio das suas caractersticas qumicas e modo de atuao sobre a pele, e com

    interesse em Cosmtica e Dermatologia.

    Deste modo, o captulo incide inicialmente numa descrio concisa dos compostos do

    metabolismo celular primrio, ou seja, pelos glcidos, que incluem, para alm das oses,

    os seus derivados diretos (poli-holsidos homogneos e heterogneos), posteriormente

    os cidos orgnicos e steres de cidos aromticos, lpidos, e finalmente os metabolitos

    secundrios que possuem atividade farmacolgica.

    1.1.1. Glcidos

    Os glcidos constituem macromolculas polimricas orgnicas, abundantes na

    Natureza, resultantes do metabolismo primrio dos vegetais. Nas plantas, apresentam-se

    essencialmente sob a forma de poli-holsidos, tambm designados de polissacridos,

    de elevado peso molecular, resultantes da condensao de um grande nmero de

    molculas de oses (aldoses ou cetoses) ou de seus derivados, com duas grandes

    subdivises: os poli-holsidos homogneos e os poli-holsidos heterogneos (mistos)

    (Cunha, 2005; Cunha et al., 2008; Juez e Gimier, 1995).

    Em cosmtica, os polissacridos desempenham uma vasta gama de funes, entre as

    quais se destacam a sua ao como modificadores reolgicos, agentes suspensores,

    acondicionadores do cabelo e cicatrizantes de feridas, e pelas suas propriedades

    hidratantes, emulsificantes e emolientes (Gruber e Goddard, 1999).

  • Fitocosmtica: aplicao de extratos vegetais em cosmtica e dermatologia.

    4

    Os polissacridos homogneos (poli-holsidos

    homogneos no inicos naturais) originam, por hidrlise, a

    mesma ose, que se repete regularmente, como o caso do

    amido (formado por um grande nmero de molculas de

    glucose) e da maltose (formada por duas molculas de

    glucose) (Cunha, 2005; Gruber e Goddard, 1999).

    Figura 2 Amido

    A sua ao consiste em fixar a gua de forma lenta, e conservar durante muito tempo

    uma estrutura amorfa, substituindo, preferencialmente, as molculas de gua por

    substncias polifenlicas (Cunha et al., 2008).

    Figura 3 - Sacarose

    Por outro lado, os polissacridos heterogneos (poli-

    holsidos heterogneos) possuem dois ou mais resduos

    de oses diferentes, como por exemplo a sacarose (formada

    por glucose e frutose), que podem estar ou no associados

    a cidos urnicos (Cunha, 2005).

    No caso da associao com cidos urnicos, designados de poliurnidos,

    polissacridos aninicos naturais, destacam-se as gomas clssicas, as mucilagens de

    algas e plantas superiores e as substncias pcticas, compostos de relevante interesse

    em cosmtica pela sua enorme capacidade de reteno de gua, teis na hidratao da

    pele (Cunha, 2005; Cunha et al., 2008; Gruber e Goddard, 1999).

    As gomas, de que so exemplos as gomas adraganta, arbica e caraia, provenientes

    de exsudatos vegetais, caracterizam-se por apresentar cidos urnicos resultantes da

    oxidao das oses no seu lcool primrio para alm das oses, sendo parcial ou

    totalmente dispersveis em gua, e insolveis nos solventes orgnicos (Cunha, 2005).

    Exsudam naturalmente ou aps inciso (traumatismo na planta), com possibilidade de

    formar solues coloidais ou geles em contacto com gua, revelando-se atxicas e como

    compostos GRAS para utilizao em cosmtica (Cunha, 2005, Gruber e Goddard, 1999).

    A sua utilidade em cosmtica resulta da sua ao tensioativa, sob a forma de

    tensioativos secundrios, assim como das suas capacidades emoliente e filmognea, que

  • Fitocosmtica: aplicao de extratos vegetais em cosmtica e dermatologia.

    5

    explicam o seu emprego na manuteno do cabelo, como estabilizadoras de espuma e

    emolientes gengivais em dentfricos (Juez e Gimier, 1995).

    As mucilagens so consideradas como constituintes celulares normais localizados em

    clulas ou canais especializados, muitas vezes no tegumento externo das sementes

    (neutras), constitudas por manose e outras oses, como a glucose e galactose (Cunha,

    2005; Cunha et al., 2008; Gruber e Goddard, 1999).

    As mucilagens de algas incluem compostos com grande interesse

    em vrios campos, como o cido algnico e alginatos, gar-gar

    e carrageninas. Salvo raras excees, a matriz celular das algas

    de natureza glucdica e os poli-holsidos que as constituem so

    polmeros capazes de formar geles, pelo facto das plantas

    marinhas necessitarem de maior flexibilidade do que rigidez, em

    relao s plantas terrestres (Cunha, 2005; Gruber e Goddard,

    1999).

    Figura 4 cido Algnico

    As propriedades emoliente e suavizante das mucilagens permitem a sua aplicao

    externa no alvio da secura e tratamento de inflamaes (anti-inflamatrias), ao formar

    um filme calmante sobre a pele, sendo tambm usadas como agentes suspensores em

    cosmtica e na tecnologia farmacutica (Arbujai e Natsheh, 2003; Cunha, 2005).

    As substncias pcticas podem apresentar-se sob a forma solvel, as pectinas, ou

    insolvel, as propectinas. As pectinas constituem polissacridos de suporte celular, mais

    propriamente cidos pcticos metilados, polmeros que tm por base resduos repetidos

    do cido -galacturnico, ocasionalmente interrompidos por unidades de ramnose, e que

    formam geles na presena de acar e outros polilcoois, em meio cido. Localizam-se

    principalmente na camada mdia da parede das clulas vegetais, particularmente

    abundantes em frutos no maduros do gnero Citrus (Cunha, 2005; Cunha et al., 2008;

    Gruber e Goddard, 1999).

  • Fitocosmtica: aplicao de extratos vegetais em cosmtica e dermatologia.

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    Figura 5 cido Pctico

    Na tecnologia farmacutica so usadas como emulsionantes,

    espessantes ou gelificantes em pomadas, cremes e suspenses,

    sendo que a sua elevada capacidade de reter gua, com fcil

    formao de geles, permite a sua aplicao em cosmtica

    exercendo um efeito protector sobre a pele (Cunha et al., 2008).

    1.1.2. Lpidos

    A classificao dos lpidos, compostos orgnicos insolveis em gua, solveis em

    solventes orgnicos apolares e em solues aquosas alcalinas, fundamenta-se no seu

    estado fsico, podendo distinguir-se os leos (lquidos temperatura ambiente) e as

    ceras (de aspeto duro, mas frgil), embora seja mais apropriada e rigorosa a

    classificao determinada pela composio qumica (Cunha, 2005; Griffin e Cunnane,

    2009).

    1.1.2.1. Etlidos e Ceras Vegetais

    Os etlidos derivam da esterificao que envolve hidroxilos substituintes na cadeia de

    cidos gordos de estrutura particular, os cidos gordos -hidroxilados, como o caso

    dos cidos sabnico e juniprico. Ocorrem restritamente em algumas espcies vegetais,

    pertencendo ao revestimento ceroso de folhas e frutos, protegendo-os da desidratao

    (Cunha, 2005; Cunha et al., 2008).

    As ceras vegetais, constitudas predominantemente por cridos, constituem lpidos

    derivados da esterificao de lcoois alifticos de peso molecular mdio e elevado

    (lcoois gordos saturados), de elevado ponto de fuso, e que desempenham funes de

    proteo interna, de revestimento e proteo externa de caules, folhas e sementes

    vegetais, criando uma barreira impermevel gua (Cunha, 2005; Cunha et al., 2008;

    Barata, 2002).

    Pelas suas particularidades, as ceras vegetais so bastante aplicadas na formulao de

    sticks labiais decorativos (batons), ao passo que a obteno de extratos gliclicos de

    ambos os compostos revela interesse pela ao protetora exercida sobre a pele,

    particularmente em peles sensveis ou inflamadas (Barata, 2002; Cunha et al., 2008).

  • Fitocosmtica: aplicao de extratos vegetais em cosmtica e dermatologia.

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    1.1.2.2. leos Gordos Vegetais

    Os leos gordos vegetais so principalmente constitudos por triglicridos de cidos

    gordos saturados e insaturados na forma slida ou lquida, podendo abranger pequenas

    quantidades de outros lpidos como ceras, cidos gordos livres, glicridos parcialmente

    esterificados ou substncias insaponificveis (F.P. 8, 2005; Barata, 2002).

    Este tipo de leos, obtido a partir das sementes, do fruto ou do caroo de diversas

    plantas, por expresso e/ou extrao por meio de solventes, pode eventualmente ser

    sujeito a refinao, descolorao, desodorizao e a tratamentos que reduzam os seus

    ndices de acidez e de perxidos, dada a sua suscetibilidade auto-oxidao (rano), a

    fim de satisfazer as suas caractersticas organolticas (F.P. 8, 2005; Juez e Gimier,

    1995; Barata, 2002).

    Os compostos minoritrios justificam precisamente, em muitos casos, a utilizao

    cosmtica deste tipo de leos, uma vez que, para alm das aes hidrfoba e protetora,

    possuem uma atividade eutrfica que poder melhorar as caractersticas de peles

    alpicas e descamantes ao reduzir o TEWL, formando filmes extremamente oclusivos

    sobre a pele (Cunha, 2005; Aburjai e Natsheh, 2003).

    Na alimentao, a deficincia dos cidos gordos que compem os leos gordos vegetais

    possibilita o desenvolvimento de eczemas a nvel cutneo, podendo alterar a

    composio dos fosfolpidos das membranas celulares, perturbando a sntese de

    eicosanides, metabolitos derivados de cidos gordos poli-insaturados (Cunha, 2005;

    Cunha et al., 2008).

    Com interesse na teraputica cutnea so referidos os leos de sementes de onagra

    (Oenothera biennis), por forma a manter a elasticidade da pele, prevenindo o

    aparecimento de rugas e atuando na dermatite atpica, e o de borragem (Borago

    officinalis) aplicado externamente em afees drmicas como anti-inflamatrio, e em

    cosmtica no rejuvenescimento drmico (Anthony, 2009; Kapoor et al., 2009).

    De acordo com Cunha (2005), o teor em insaponificvel, frao constituda por

    substncias no volteis a 100-105C, no neutralizveis e no hidrolisveis em meio

  • Fitocosmtica: aplicao de extratos vegetais em cosmtica e dermatologia.

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    alcalino, e que por isso no originam sabes, representa um parmetro marcante nos

    leos gordos vegetais pelos fitoestrognios e tocoferis, dada a capacidade destes

    compostos regenerarem o tecido cutneo. Deste modo se reala o interesse em

    cosmtica dos leos obtidos dos grmenes de milho e trigo, particularmente ricos nestes

    compostos (Juez e Gimier, 1995; Cunha, 2005; Cunha et al., 2008).

    1.1.3. cidos Orgnicos e steres de cidos Aromticos

    Um grupo de cidos, os -hidroxicidos (AHA), representa uma

    classe de cidos orgnicos no txicos que, quando aplicados

    topicamente produzem efeitos especficos sobre o estrato crneo,

    epiderme, papilas drmicas e sobre os folculos pilossebceos,

    essencialmente na sua forma no-ionizada, que permite uma

    melhor absoro pelo tecido cutneo (Cunha et al., 2008;

    Draelos e Thaman, 2006; Nardin e Guterres, 1999).

    Figura 6 Estrutura geral de um AHA

    Figura 7 cido Mlico

    Este grupo de cidos orgnicos fracos caracteriza-se pela

    existncia de um grupo hidroxilo confinante funo

    carboxlica na sua estrutura qumica, ligado posio alfa do

    cido (primeiro carbono a seguir ao grupo acdico) (Cunha et

    al., 2008; Ramos-e-Silva et al., 2001).

    Embora se encontrem naturalmente em alimentos como a cana-de-acar (cido

    gliclico), leite fermentado (cido ltico), e frutos (cidos mlico, ctrico e tartrico), os

    -hidroxicidos utilizados em produtos dermatolgicos e cosmticos so normalmente

    produzidos de forma sinttica (Ramos-e-Silva et al., 2001).

    Existem outros cidos orgnicos que, no representando exatamente AHA, se incluem

    neste grupo pela semelhana da sua estrutura, como o caso dos cidos glucnico,

    glicrico, mandlico e benzlico, estes dois ltimos de carcter lipossolvel (Cunha et

    al., 2008; Nardin e Guterres, 1999).

  • Fitocosmtica: aplicao de extratos vegetais em cosmtica e dermatologia.

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    Figura 8 cido Ctrico

    Dos cidos anteriormente referidos, os mais frequentemente

    usados em cosmtica so os cidos ltico e ctrico em particular,

    bastante aplicados a nvel cutneo pelas suas propriedades

    hidratantes e esfoliantes, como agentes de descamao (peeling)

    e emolientes da pele (Cunha et al., 2008; Nardin e Guterres,

    1999).

    No entanto, so atualmente empregues em preparaes cosmticas por forma a inibir os

    processos de envelhecimento cutneo, ao renovar o estrato crneo promovendo a sua

    descamao, controlando o seu desenvolvimento apropriado e inibindo a

    hiperqueratinizao (Cunha et al., 2008; Draelos e Thaman, 2006).

    De uma maneira geral, admite-se que a ao anti-envelhecimento extrnseca e intrnseca

    da pele pelos AHA, a baixas concentraes, se relaciona com a diminuio das foras de

    coeso existentes entre os grupos portadores de carga positiva e de carga negativa

    localizados na camada externa dos queratincitos dos nveis inferiores do estrato

    crneo, facilitando a descamao ou esfoliao nessa camada, processo que poder estar

    relacionado com a interferncia na formao de ligaes inicas (Ramos-e-Silva et al.,

    2001; Cunha et al., 2008).

    Por outro lado, os AHA aumentam a irrigao da camada basal, estimulando a

    renovao celular, o aumento do contedo hdrico e a plasticidade do estrato crneo

    (Cunha et al., 2008; Nardin e Guterres, 1999; Ramos-e-Silva et al., 2001).

    Figura 9 cido

    Saliclico

    Os -hidroxicidos (BHA), como o cido saliclico, representam

    compostos lipossolveis, que penetram na camada mais superficial da

    epiderme e na unidade pilossebcea. O cido saliclico e os seus

    derivados, existentes em diversas espcies do gnero da planta Salix

    (salgueiro) ou nos extratos dessas plantas, predominam

    essencialmente nas folhas frescas, podendo tambm ser encontrados

    sob a forma sinttica (Draelos e Thaman, 2006).

    Tanto os AHA como os BHA reduzem a coeso entre os queratincitos na camada

    crnea, promovendo a esfoliao (Ramos-e-Silva et al., 2001; Draelos e Thaman, 2006).

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    A capacidade de penetrar a unidade pilossebcea permite aos BHA um maior efeito

    comedoltico relativamente aos AHA, sendo por isso bastante usados diretamente em

    cremes de limpeza para peles seborreicas, visando a preveno acneica, podendo ser

    aplicados em solues, loes, cremes e geles (Draelos e Thaman, 2006; Cunha et al.,

    2008; Nardin e Guterres, 1999).

    Deste modo, representam uma nova opo teraputica para uma variedade de afees

    cutneas, incluindo xerose, ictiose, verrugas, melasma, queratoses seborreica, facial e

    actnica, manchas senis, hiperpigmentao, fotoenvelhecimento, pele envelhecida, para

    alm da referida acne (Nardin e Guterres, 1999; Ramos-e-Silva et al., 2001).

    Contudo, existem vrios fatores que influenciam a eficcia de atuao deste grupo de

    cidos, nomeadamente a sua concentrao, o pH do produto, quantidade de cido livre

    presente, tipo de cido, veculo usado, durao da exposio e tipo de pele do paciente

    (Ramos-e-Silva et al., 2001).

    O pH representa um dos fatores mais relevantes, dado que os valores de pH destes

    compostos so demasiadamente baixos para aplicao cutnea, devendo proceder-se

    neutralizao ou tamponamento das formulaes, pela adio de bases orgnicas ou

    inorgnicas, com o objetivo de as aproximar do pH cutneo (pH 5-5,5), ou optar pela

    esterificao do grupo carboxilo com um lcool (Nardin e Guterres, 1999; Ramos-e-

    Silva et al., 2001). No que concerne ao tipo de veculo, dada a frequncia do carcter

    hidroflico dos cidos usados, so frequentemente aplicados em cremes e loes do tipo

    O/A, cuja aplicao depender no destino do produto e do tipo de pele do paciente

    (Ramos-e-Silva et al., 2001).

    Os cidos aromticos e os seus steres, sob a forma livre ou pertencendo aos linhanos,

    so compostos responsveis por numerosos efeitos farmacolgicos, sendo

    representativos deste grupo os cidos cafeico, rosmarnico, clorognico, cumrico e

    fumrico. De um modo geral, estes compostos apresentam ao antioxidante sobre o

    tecido cutneo, sendo ainda referidas as aes antimutagnica, antisstica, e antifngica

    para os cidos cafeico e clorognico (Cunha et al., 2008; Sato et al., 2011).

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    Figura 10 cido Cafeico

    Figura 11 cido Clorognico

    Figura 12 cido Rosmarnico

    1.1.4. Compostos Fenlicos

    So considerados compostos fenlicos, numa definio genrica, as estruturas que

    exibam em comum a estrutura de um fenol, anel aromtico de ncleo benznico,

    acoplado a pelo menos um substituto hidroxilo, livre ou pertencente a steres, teres ou

    hetersidos. Este grupo envolve os taninos e procianidinas oligomricas, as

    cumarinas, os flavonides e os antociansidos, candidatos preveno de estados

    patolgicos como fotoenvelhecimento e cancro da pele, essencialmente pela ao

    antioxidante comum a todos (Cunha, 2005; Svobodov et al., 2003).

    1.1.4.1.Taninos e Procianidinas Oligomricas

    Os taninos representam compostos polifenlicos heterogneos hidrossolveis, de

    elevado peso molecular, com ampla distribuio no reino das plantas, nas quais

    desempenham uma defesa qumica contra predadores e radiao UV em concentraes

    muito variveis (Cunha et al., 2008; Svobodov et al., 2003; Madhan et al., 2002;

    Madhan et al., 2005).

    A anterior definio de taninos proposta por Bate-Smith e Swain perdeu o interesse que

    anteriormente detinha com o desenvolvimento dos mtodos de elucidao estrutural,

    passando atualmente a precisar-se, com exatido, a estrutura destes compostos

    polifenlicos (Cunha, 2005).

    Nas plantas superiores tm-se distinguido, regularmente, dois grupos de taninos

    estruturais e biogeneticamente distintos: os hidrolisveis (polisteres de cidos

    fenlicos, como os galhotaninos e elagitaninos) e os condensados, estes ltimos

    representados pelos taninos catquicos e pelas procianidinas oligomricas, como a

    procianidina B-2, formadas por 2 a 4 monmeros de catequina ou de epicatequina

    (DAmelio, 1999; Cunha et al., 2008; Cunha, 2005; Svobodov et al., 2003).

    Figura 4 cido Cafeico

    Fig.6 cido Rosmarnico

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    Figura 13 Epicatequina

    Figura 14 Procianidina B-2

    Os taninos hidrolisveis representam metabolitos de um poliol aliftico central

    (geralmente a glucose), esterificado por molculas de um cido fenlico (Cunha et al.,

    2008).

    De acordo com a natureza do cido fenlico, os taninos hidrolisveis

    podem ser subdivididos em taninos glhicos ou galhotaninos, em

    que o cido fenlico corresponde ao cido glhico, e em taninos

    elgicos ou elagitaninos, nos quais o elemento estrutural

    corresponde ao cido hexa-hidroxidifnico e/ou os derivados

    resultantes da sua oxidao, sendo que o cido glhico est na gnese

    dos taninos hidrolisveis (Cunha, 2005; Svobodov et al., 2003).

    Figura 15 cido Glhico

    Os taninos condensados apresentam a designao alternativa de proantocianidinas,

    pelo facto destes compostos originarem antocianidinas aps tratamento a quente com

    um cido mineral. Quimicamente constituem derivados polimerizados de flavanis,

    cujos precursores correspondem catequina e epicatequina (Cunha, 2005; Cunha et al.,

    2008; Madhan et al., 2005). Este grupo de taninos evidencia potencial aplicao como

    agentes preventivos e teraputicos contra diversos tipos de neoplasias, entre as quais o

    cancro de pele (Cunha, 2005).

    Os taninos atuam segundo mecanismos relacionados, pelo menos em parte, com as

    caractersticas comuns aos hidrolisveis e condensados, ao exercer uma potente

    atividade antioxidante e sequestradora de radicais livres, assim como a capacidade de

    complexar macromolculas de natureza proteica (como enzimas digestivas, protenas

    fngicas ou virais), nalguns casos de forma irreversvel (Cunha, 2005; Cunha et al.,

    2008; Svobodov et al., 2003).

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    Em cosmtica, a utilizao de partes de plantas compostas por taninos deriva

    essencialmente da sua aplicao tpica como adstringentes, atravs da complexao

    tanino-protena, que permite a sua ligao s camadas mais externas da pele e mucosas,

    impermeabilizando-as. Desta forma, exercem um efeito vasoconstritor sobre os

    capilares superficiais, limitando a perda de fluidos e impedindo as agresses externas,

    favorecendo a regenerao tecidular e, consequentemente, a cicatrizao de feridas,

    queimaduras e inflamaes (Cunha et al., 2008; Cunha, 2005; DAmelio, 1999).

    Alm das aes referidas, permitem a reduo do dimetro dos poros das glndulas

    sebceas, til no caso de peles seborreicas, e possuem, tambm, ao antisstica, ao

    modificar o metabolismo microbiano (atuando sobre as membranas celulares

    microbianas), inibindo as enzimas microbianas e/ou complexando com os substratos

    dessas enzimas, ou provocando um decrscimo de ies essenciais ao metabolismo

    microbiano, impedindo o desenvolvimento microbiano, formando um invlucro protetor

    sobre a pele ou mucosa danificada (Cunha et al., 2008; Cunha, 2005; Pansera et al.,

    2003).

    1.1.4.2.Compostos Cumarnicos

    Os compostos cumarnicos derivam de lactonas dos cidos -

    hidroxicinmicos, bastante abundantes sobretudo nas classes de

    plantas Apiceas e Rutceas, e que ocorrem normalmente nas

    razes, frutos e sementes (Cunha, 2005; Cunha et al., 2008).

    Figura 16 - Cumarina

    Dos compostos cumarnicos mais conhecidos constam, entre outros, a cumarina

    (benzo--pirona), a umbeliferona, a herniarina e o esculetol, e dos hetersidos, o

    esculsido com atividade venotnica e o melilotsido, existente no meliloto (Melilotus

    officinalis) (Cunha, 2005; Cunha et al., 2008).

    A identificao de numerosos compostos cumarnicos nas plantas permite a aplicao

    dos mesmos em cosmtica, pelas suas aes antioxidante, inibidora da agregao

    plaquetria e anti-inflamatria, como estimulantes da circulao venosa (venotnicos) e

    protetores do tecido cutneo (Kostova, 2005; Cunha et al., 2008; Felter et al., 2006).

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    14

    1.1.4.3.Flavonoides

    Figura 17 - Flavona

    Os flavonoides representam polifenis multiativos, de baixo peso

    molecular, presentes em toda a parte area das plantas. A

    estrutura qumica dos flavonoides pertence aos derivados da 1,3-

    difenilpropanona (chalcona), sendo que os compostos cclicos

    mais conhecidos apresentam o sistema fenilcromona, ou seja, a

    estrutura da flavona, benzo--pirona (Cunha, 2005; Cunha et al.,

    2008; Arct e Pytkowska, 2008).

    Num sentido lato, os flavonoides so considerados como os pigmentos dos vegetais,

    uma vez que a sua colorao permite a distino dos vrios existentes. Localizados

    essencialmente na cutcula e clulas epidrmicas das folhas, asseguram a proteo dos

    tecidos contra os efeitos nocivos da radiao UV, e facilitam a polinizao por parte dos

    insectos (Cunha et al., 2008).

    Os hetersidos so geralmente hidroflicos, ao contrrio das formas livres. De acordo

    com o grau de oxigenao, podem distinguir-se trs grandes grupos: flavonas

    (apigenina, luteolina), flavonis (campferol, quercetina) e flavononas (naringenina,

    eriodictiol) (Cunha, 2005; Cunha et al., 2008).

    Figura 18 - Eriodictiol

    Figura 19 - Campferol

    Os flavonoides, especialmente a rutina e seus derivados, destacam-se pelas suas

    propriedades como no aumento da resistncia capilar (ao vitamnica P), fortalecendo

    os capilares de modo a evitar o aparecimento de telangiectasias e petquias provocadas

    pela rutura dos vasos sanguneos. Alm da proteo conferida, so tambm responsveis

    pela preveno da agregao plaquetria e reduo da permeabilidade capilar (Cunha et

    al., 2008; Arct e Pytkowska, 2008).

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    15

    Estes apresentam ainda propriedades antioxidantes, calmantes e anti-radicalares,

    atuando como scavengers de anies superxido, desenvolvendo ao anti-inflamatria,

    o que explica a grande utilidade de plantas e/ou extratos onde predominam em

    cosmtica, como forma de proteger a pele do stress oxidativo, atuando,

    consequentemente, como agentes anti-envelhecimento (Cunha et al., 2008; Svobodov

    et al., 2003; Arct e Pytkowska, 2008).

    1.1.4.4.Antociansidos

    Os antociansidos, pertencentes classe de compostos fenlicos, representam um

    grupo de pigmentos naturais, glucsidos hidrossolveis das antocianidinas, responsveis

    pela maior parte da colorao de flores, frutos, vegetais e plantas (Cunha et al., 2008;

    Kong et al., 2003).

    Figura 20 Frmula estrutural de uma antocianidina

    As geninas (antocianidinas), derivadas do catio bsico

    fenil-2-benzopirlio, geralmente denominado catio

    flavlio, apontam para a sua ligao ao grupo dos

    flavonoides num sentido lato (Cunha et al., 2008; Kong

    et al., 2003).

    Estes compostos, solveis em solventes polares, so normalmente extrados a partir das

    plantas usando acetona, tcnica mais eficiente e reprodutvel, que previne a ocorrncia

    de problemas com pectinas e degradao dos pigmentos antocianidnicos (Kong et al.,

    2003).

    Embora a funo mais significativa das antocianidinas se prenda com os aspetos

    atrativos dos vegetais, as suas aes biolgicas envolvem tambm aes antioxidante e

    antibacteriana, ao intervir na eliminao de ROS, assim como na inibio da

    peroxidao lipdica e agregao plaquetria, o que explica a sua capacidade em reduzir

    a permeabilidade dos capilares e aumentar a sua resistncia (Kong et al., 2003; Cunha et

    al., 2008).

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    16

    Para alm das funes referidas, apresentam ainda ao anti-edematosa, propriedades

    que justificam a sua utilizao no tratamento sintomtico de perturbaes ligadas

    insuficincia venosa e fragilidade capilar do tecido cutneo (Cunha et al., 2008).

    1.1.5. Terpenos e Terpenoides

    Os terpenos representam um conjunto de hidrocarbonetos

    naturais produzidos por uma variedade de plantas, sobretudo nas

    suas resinas. Derivam, biosinteticamente, de unidades de

    isopreno, cuja frmula molecular corresponde a (C5H8)n. O

    termo terpenoides deriva de uma modificao qumica dos

    terpenos (Paduch et al., 2007; Cal et al., 2001; Cal et al., 2006).

    Figura 21 - Isopreno

    Estudos epidemiolgicos sugerem a aplicao de terpenos e terpenoides como agentes

    anti-inflamatrios, antissticos, anticancergenos, rubefacientes e semi-analgsicos,

    assim como promotores da penetrao cutnea. De forma isolada ou presentes nos leos

    essenciais, iridoides, fitoestrognios ou nos saponsidos, os terpenos representam

    molculas interessantes e com potencial cosmtico e dermatolgico (Paduch et al.,

    2007; Cal et al., 2001; Cal et al., 2006).

    1.1.5.1.leos Essenciais

    Os leos essenciais presentes em plantas aromticas, tambm designados de essncias,

    representam misturas complexas de inmeros compostos naturais e volteis, de baixo

    peso molecular, responsveis pelo seu forte odor caracterstico. Revelam reduzida

    solubilidade em gua, boa solubilidade em solventes orgnicos e apolares, e so

    arrastveis pelo vapor de gua (Cunha et al., 2008; Cunha, 2005; Bakkali et al., 2008).

    Extrados de plantas aromticas localizadas em climas temperados e tropicais, os leos

    essenciais predominam em estruturas especializadas, como flores e folhas, normalmente

    j pr-formados, e em menor frequncia nos rizomas ou razes, embora possam tambm

    existir sob a forma de hetersidos, libertando-se, neste caso, aps a respetiva hidrlise

    (Cunha et al., 2008; Bakkali et al., 2008).

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    Em termos de mtodos extrativos, os leos essenciais so geralmente obtidos por vapor

    de gua ou hidrodestilao a alta/baixa presso, assim como pela aplicao de CO2

    lquido e por expresso, selecionados de acordo com o propsito da aplicao.

    Quimicamente, os hidrocarbonetos naturais identificados nos leos essenciais

    pertencem a dois grupos de origem biosinttica distinta: o grupo principal dos terpenos

    e terpenoides, e o grupo dos compostos aromticos e alifticos, ambos caracterizados

    por baixo peso molecular (Bakkali et al., 2008; Cunha, 2005; Aburjai e Natsheh, 2003).

    Os terpenos integram os compostos resultantes da condensao da unidade

    pentacarbonada (isopreno), tambm designados de terpenoides (isoprenoides) na

    presena de uma molcula de oxignio, sendo que nos leos essenciais predominam os

    dmeros e trmeros do isopreno, respetivamente monoterpenos (C10) e sesquiterpenos

    (C15), para alm dos diterpenos (C20), estes ltimos mais abundantes nos leos

    essenciais obtidos por solventes orgnicos (Cunha, 2005; Cunha et al, 2008; Bakkali et

    al., 2008; Aburjai e Natsheh, 2003).

    Figura 22 -pineno

    A diversidade estrutural dos monoterpenos, formados pelo acoplamento

    de duas unidades de isopreno, permite a sua classificao em trs grupos,

    dos quais constam os acclicos (mirceno, ocimeno), monocclicos

    (terpinenos, p-cimeno) e bicclicos (pinenos, canfeno), para alm das

    respetivas molculas funcionais, em particular, lcoois, aldedos, cetonas,

    steres, teres, perxidos e fenis (Cunha, 2005; Bakkali et al., 2008).

    De igual modo, os sesquiterpenos, formados pela associao de trs unidades de

    isopreno, podem classificar-se consoante a sua estrutura: cclica, acclica ou bicclica,

    embora a sua estrutura e funo sejam anlogas

    s dos monoterpenos. Neste grupo so includos

    os no oxigenados, como so exemplos o -

    bisaboleno, o -cariofileno e o logifoleno, e os

    Figura 23 - Farnesol

    oxigenados, como lcoois (farnesol, bisabolol), cetonas (-vetivenona, turmeronas) e

    aldedos (farnesal) (Cunha et al., 2008; Bakkali et al., 2008).

    Os compostos aromticos, derivados do fenilpropano, ocorrem menos frequentemente

    que os terpenos. Neste grupo figuram compostos alilfenlicos e propenilfenlicos,

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    18

    caractersticos dos leos essenciais de Apiceas, Lamiceas e Rutceas, abrangendo

    aldedos (cinamaldedo), lcoois (lcool cinmico), fenis (eugenol), derivados

    metoxilados (anetol, estragol) e compostos de dioximetileno (apiol, safrol) (Cunha et

    al., 2008; Bakkali et al., 2008).

    Determinadas plantas justificam a sua aplicao em cosmtica e dermatologia pelo seu

    contedo em leos essenciais. Com efeito, a sua aplicao deriva essencialmente das

    suas aes antisstica, anti-inflamatria, analgsica, anestsica local e suavizante, assim

    como pela sua fragrncia que, em termos cosmticos, fundamenta a sua utilizao como

    aromatizantes destinados a preparaes de aplicao tpica sobre a pele e mucosas,

    sobretudo em perfumaria e produtos de maquilhagem, e como agentes refrescantes

    (exemplo do leo de eucalipto), que conferem uma sensao refrescante e duradoura

    pele (Cunha et al, 2008; Bakkali et al., 2008; Aburjai e Natsheh, 2003).

    Para alm das aes referidas, os leos essenciais exibem ao antioxidante,

    desempenhada pelos terpenos e terpenoides, que justifica, tambm, as suas aes

    antimutagnica e anticarcinognica, devido sua capacidade de intervir na eliminao

    de radicais livres, atuando como pr-oxidantes (Bakkali et al., 2008; Aburjai e Natsheh,

    2003).

    Contudo, muitos leos essenciais revelam propriedades irritantes sobre a pele,

    diretamente ou aps incidncia de luz (presena de furocumarinas no leo), embora uma

    das grandes vantagens dos mesmos se relacione com a iseno de riscos genotxicos a

    longo prazo (Cunha et al., 2008; Bakkali et al., 2008).

    1.1.5.2.Iridoides

    Genericamente constituem monoterpenos, apresentando, normalmente, dez tomos de

    carbono, e que exibem um ncleo ciclopentanotetra-hidropirnico. A designao de

    iridoide surgiu do facto destes compostos constiturem derivados do iridodial, uma

    molcula isolada das formigas da Austrlia do gnero Iridomyrmex (Cunha, 2005;

    Cunha et al., 2008).

  • Fitocosmtica: aplicao de extratos vegetais em cosmtica e dermatologia.

    19

    O subgrupo mais numeroso dos iridoides constitudo pelos iridoides glucosilados,

    iridoides propriamente ditos, do qual fazem parte a loganina, um dos compostos

    amargos presentes no trevo-de-gua (Menyanthes trifoliata), e o asperulsido, um dos

    iridoides primariamente isolados. Outro subgrupo envolve os iridoides no

    glucosilados, de que so exemplos os valepotriatos existentes em extractos de valeriana,

    e o iridoide napetalactona, isolado de Nepeta cataria, caracterizados pela sua ao

    sedativa (Cunha, 2005).

    Outro sub-grupo, os secoiridoides, formado por abertura do anel ciclopentano,

    aparecendo geralmente sob a forma de glucsidos. Deste grupo so exemplos o

    secologansido e o genciopicrsido, responsvel pelo carcter amargo da Gentiana

    lutea (Cunha, 2005).

    Figura 24 - Harpagsido

    O harpagsido, principal substncia ativa do

    Harpagophytum procumbens, representa um glucsido do

    cinamato de um iridoide hidroxilado, o harpagido. Em

    cosmtica tem sido proposta a aplicao do extrato aquoso

    das razes desta planta rastejante em peles inflamadas, pelas

    suas propriedades anti-inflamatrias (Cunha, 2005; Cunha

    et al., 2008).

    1.1.5.3. Fitoestrognios

    A Food Standards Agency (2003) classifica os fitoestrognios como qualquer

    substncia de origem vegetal ou seu metabolito, que induza uma resposta biolgica nos

    vertebrados, e que mimetize ou module a ao de estrognios endgenos por se ligar ao

    recetor estrognico. Contudo, podem tambm ser considerados fitoestrognios os

    produtos naturais que, aps transformao metablica, originam compostos com

    atividade estrognica (Cunha, 2005).

    Existem duas grandes classes de fitoestrognios, os de natureza flavonoide e no

    flavonoide, sendo que o grupo dos no flavonoides representado pelos linhanos, e o

    dos flavonoides pelas isoflavonas, coumestanos, flavonoides prenilados e pelas

    isoflavanas (Bakker, 2004; Flizikowski e Silva, 2009).

  • Fitocosmtica: aplicao de extratos vegetais em cosmtica e dermatologia.

    20

    As isoflavonas so encontradas em elevadas concentraes

    sobretudo nas Fabceas e em leguminosas como a soja.

    Destacam-se como os constituintes mais representativos

    usados com atividade estrognio-like, dos quais a genistena

    e a daidzena representam agliconas bioativas (Wei et al.,

    2003; Bakker, 2004; Dweck, 2006; Cederroth e Nef, 2009).

    Figura 25 - Genistena

    Ambas envolvem dois pontos estruturais em comum com o 17-estradiol, o estrognio

    endgeno principal: uma estrutura planar rgida e a presena de dois grupos hidroxilo

    nos seus anis, que se encontram a uma distncia muito semelhante dos hidroxilos do

    estradiol. Esta configurao confere-lhes afinidade e capacidade para ativar ambos os

    recetores estrognicos, desenvolvendo uma atividade anloga do estrognio endgeno,

    embora com menor potncia (Cunha, 2005; Arct e Pytkowska, 2008).

    Os fitoestrognios envolvem uma ao biolgica complexa, sendo que a sua ao

    celular final se determina por vrios fatores, incluindo o nvel relativo de recetores

    estrognicos, a mistura de diversos co-ativadores e co-repressores presentes num dado

    tipo de clula, assim como a natureza da resposta com a qual os recetores interagem nos

    genes regulados pelo estrognio (Cassidy, 2003; Flizikowski e Silva, 2009).

    Deste modo, a ao biolgica dos fitoestrognios pode ser dividida em dois grandes

    grupos: interao com os recetores de estrognios e no interao com os recetores

    de estrognios. O primeiro implica a atividade estrognica dos compostos naturais,

    justificada pela sua similaridade com os estrognios endgenos, nomeadamente o

    estradiol, sendo que a presena de fitoestrognios na alimentao e em suplementos

    alimentares pode exceder a concentrao endgena de estradiol, o que conduz a efeitos

    biolgicos in vivo exercidos por parte destes compostos (Clapauch et al., 2002;

    Flizikowski e Silva, 2009).

    Entre os dois tipos de recetores estrognicos existentes, e , os fitoestrognios

    apresentam maior afinidade para os recetores , sendo mnima ou nula a sua afinidade

    para os (Pino et al., 2000; Cederroth e Nef, 2009). Deste modo, os fitoestrognios

    revelam efeitos mais pronunciados em tecidos e rgos em que predominem os

  • Fitocosmtica: aplicao de extratos vegetais em cosmtica e dermatologia.

    21

    recetores , como sejam o SNC, os ossos, a parede vascular e o trato urogenital

    (Clapauch et al., 2002; N.A.M.S., 2011).

    Por outro lado, os fitoestrognios podem atuar atravs de aes no mediadas pelo

    recetor estrognico, como agentes antioxidantes, atuando na inibio de enzimas-chave

    envolvidas no metabolismo estrognico, na inibio de protena-cinases envolvendo

    sinalizao intracelular, promovendo efeitos no transporte da glucose, atuando em

    processos inflamatrios, na proliferao celular (ciclo celular) e na inibio da

    angiognese (Manach et al., 2004; Cederroth e Nef, 2009; Flizikowski e Silva, 2009).

    Em termos de aplicaes dermatolgicas, as isoflavonas exibem resultados satisfatrios

    na preveno do aparecimento de carcinoma da pele, ao inibir a expresso de proto-

    oncogenes e consequente disseminao do cancro, sendo que da sua aplicao tpica

    resulta uma reduo ou inibio dos passos induzidos pela radiao UV-B,

    indispensveis evoluo do carcinoma (Zlli e Prieur, 2003; Darbre, 2006).

    Para alm da ao referida, as isoflavonas, ao exibir ao estrognica, atuam sobre os

    sintomas da pr-menopausa, menopausa e osteoporose, desempenham aes antifngica

    e bactericida, e atuam na preveno de aterosclerose e de alteraes cardiovasculares

    decorrentes de hipercolesterolmia, pelas suas aes antioxidante e anti-hemoltica (Hall

    e Phillips, 2005; Dweck, 2006; Cederroth e Nef, 2009; Flizikowski e Silva, 2009).

    1.1.5.4.Saponsidos

    Quimicamente, os saponsidos representam hetersidos de genina esteroide ou

    triterpnica, tendo como caracterstica comum a propriedade de reduzir a tenso

    superficial da gua, o que explica a sua ao detergente, emulsiva e de formao de

    espuma persistente (Cunha, 2005; Prista et al., 2008; Cunha et al., 2008).

    Alm das propriedades mencionadas, os saponsidos apresentam propriedades

    hemolticas, ao desorganizar a membrana dos eritrcitos, e aes antiviral, antifngica e

    anti-inflamatria, principalmente desempenhadas pelos de ncleo triterpnico, ao

    complexar com os esteroides (Cunha, 2005; Cunha et al., 2008).

  • Fitocosmtica: aplicao de extratos vegetais em cosmtica e dermatologia.

    22

    As plantas ou extratos em que predominam tm sido usados em champs pela sua ao

    tensioativa, sendo, no entanto, irritantes quando aplicados em doses elevadas (Cunha et

    al., 2008).

    1.1.6. Sais Minerais (Oligoelementos)

    Os sais minerais representam compostos inorgnicos indispensveis ao organismo

    humano, necessrios sntese e funcionamento de muitas metaloenzimas, atuando como

    catalisadores em inmeras reaes tambm ao nvel da pele. Destes minerais so de

    destacar o cobre, fundamental na cicatrizao, ao intervir na sntese de elastina e

    colagnio durante a formao de tecido conjuntivo, influenciando a enzima oxidase da

    lisina, e na sntese de melanina, ao influenciar a tirosinase; o mangansio, que melhora a

    hidratao; o zinco, que atua na morfognese, reparao, manuteno, proteco e

    defesa da pele, essencial para funes catalticas, estruturais e reguladoras de protenas;

    e o silcio, que estimula os fibroblastos a produzir fibras colagnicas, importante para a

    manuteno da elasticidade cutnea (Cunha et al., 2008; Strain e Cashman, 2009).

    Certas guas mineralizadas subterrneas, comummente designadas de guas termais,

    enriquecidas em minerais como o sdio, magnsio, zinco, boro e mangans contidos nas

    rochas, atuam na renovao celular, dado que os oligoelementos referidos estimulam a

    migrao dos queratincitos. Deste modo, a sua aplicao resulta em aces hidratante e

    anti-inflamatria leves, tanto na forma pura, como veculo ou substncia ativa de

    formulaes cosmticas, pelo que tm sido indicadas em dermatologia como adjuvantes

    na hidratao da pele, no tratamento do envelhecimento cutneo, acne, roscea e outras

    dermatoses inflamatrias, e no ps-operatrio, no caso de peelings qumicos e cirurgias

    a laser (Cunha et al., 2008; Segura et al., 2010; Emer et al., 2011).

    1.1.7. Protenas e Aminocidos

    A utilizao de protenas vegetais como ingredientes cosmticos adquiriu maior

    repercusso ao longo das ltimas dcadas, em detrimento da utilizao de protenas de

    origem animal, pelo repdio cada vez mais acentuado dos consumidores no que respeita

    a ingredientes de origem animal, e pela crescente e atual recorrncia a recursos naturais

    e ecolgicos (Secchi, 2008; Fukagawa e Yu, 2009).

  • Fitocosmtica: aplicao de extratos vegetais em cosmtica e dermatologia.

    23

    No que respeita s protenas vegetais, podem ser classificadas como protenas

    hidrossolveis, semelhantes s albuminas, cuja ligao a certos ies, caso do sdio, as

    torna solveis, e como protenas lipossolveis, frequentemente associadas ao

    aminocido lisina (Cunha et al., 2008).

    Da variedade de protenas vegetais, a partir da qual so obtidos os ingredientes

    cosmticos, apenas o glten de trigo e a protena de soja apresentam interesse e

    utilizao mais amplos (Secchi, 2008; Fukagawa e Yu, 2009).

    O glten representa uma protena cereal, que na forma hidratada, desenvolve uma

    propriedade elstica, sendo constitudo por gliadina e glutenina, ambas responsveis

    pela propriedade referida (Secchi, 2008; Fukagawa e Yu, 2009).

    O isolado de soja (90% de protena) constitui a principal fonte industrial para a

    transformao da protena de soja em ingredientes cosmticos, sendo os componentes

    classificados de acordo com as suas propriedades de sedimentao, correspondendo

    90% a globulinas de armazenamento, como a glicinina e conglicinina (Secchi, 2008).

    A presena de protenas e de glicoprotenas nos vegetais revela utilidade na manuteno

    do equilbrio do tecido celular, para alm da sua influncia nos processos de hidratao

    da pele e, muito particularmente, na modulao das reaes inflamatrias e imunitrias,

    factos que derivam da sua capacidade de substantividade (geralmente indicativa da

    capacidade de adsoro de substncias qumicas a diversas superfcies), como base da

    sua ligao pele e ao cabelo (Cunha et al., 2008; Secchi, 2008; Barata, 2002).

    O exposto justifica a aplicao de ingredientes proteicos vegetais em produtos

    cosmticos destinados ao cuidado capilar, sobretudo sob a forma de champs e

    acondicionadores, pela amplificao das interaes protena-substrato que permitem a

    extenso da superfcie queratnica do cabelo, e ao conferir elasticidade, que determina

    as suas aes reparadora e protetora do couro cabeludo (Secchi, 2008; Barata, 2002).

    O teor em aminocidos, substncias orgnicas que contm um grupo amina e um grupo

    acdico, determina a diferente caracterizao das protenas, atravs da sequncia de

    aminocidos geneticamente pr-determinada, e que confere especificidade e identidade,

  • Fitocosmtica: aplicao de extratos vegetais em cosmtica e dermatologia.

    24

    sendo tambm responsvel pela organizao tridimensional e atividade biolgica das

    protenas, fator crucial em Biologia e com significante relevncia em cosmtica, com

    presena til em preparaes nutritivas e rejuvenescedoras (Secchi, 2008; Cunha et al.,

    2008; Wu, 2009; Fukagawa e Yu, 2009).

    A capacidade de absoro cutnea de aminocidos induz a um reforo dos aminocidos

    de sinalizao disponveis para que ocorra a sntese dos cidos nucleicos pela pele,

    atravs da sua captao pela camada basal, onde ocorre a sntese de DNA. De salientar

    o interesse da aplicao de aminocidos como substratos na sntese de outras fraes

    proteicas, caso das protenas de suporte ou fibrosas como o colagnio, queratina e

    melanoprotenas, fibras escassas no envelhecimento cutneo (Cunha et al., 2008; Wu,

    2009; Fukagawa e Yu, 2009).

    1.1.8. Vitaminas

    As vitaminas, como substncias indispensveis ao organismo humano, dotam de uma

    importante atividade sobre a pele, no s na preveno, mas tambm no tratamento

    tpico e sistmico do fotoenvelhecimento, envelhecimento cutneo cronolgico, assim

    como na gesto de afees cutneas como a acne vulgaris (Cunha et al., 2008; Manela-

    Azulay e Bagatin, 2009; Lupo, 2001).

    Adicionalmente, a aplicao tpica de vitaminas na pele deriva da sua capacidade de

    suprimir a pigmentao, estimular a sntese de colagnio, modular a queratinizao, e

    pelos efeitos anti-inflamatrios. Deste modo, a incorporao multivitamnica nos

    cosmticos para aplicao tpica poder constituir um passo importante na descoberta

    de novos produtos anti-envelhecimento, que atuem como protetores e possveis

    corretores dos danos provocados pelos radicais livres, molculas altamente reativas e

    principais responsveis pelos danos provocados nos tecidos, biomembranas e ao nvel

    do DNA (Lupo, 2001).

    Da vasta gama de vitaminas sintetizadas pelo prprio organismo ou obtidas pela dieta

    alimentar, as vitaminas A, B, C, D, E, e F representam as de maior interesse cosmtico

    e dermatolgico, pelo que se adequa uma breve descrio das principais aes que cada

    uma desempenha (Manela-Azulay e Bagatin, 2009; Lupo, 2001).

  • Fitocosmtica: aplicao de extratos vegetais em cosmtica e dermatologia.

    25

    As vitaminas lipossolveis, como as vitaminas A, E e F, apresentam, desde sempre,

    uma vasta aplicao na cosmtica, pela sua boa penetrabilidade na pele atravs da via

    folicular. Por outro lado, as vitaminas do grupo D, com interesse na fixao do clcio,

    encontram-se interditas quanto sua aplicao em produtos cosmticos (Cunha et al.,

    2008; Manela-Azulay e Bagatin, 2009; Lupo, 2001).

    A utilizao de vitaminas hidrossolveis nos cosmticos bastante comum, como as

    vitaminas C e do complexo B, tendo estudos recentes confirmado o valor desta

    aplicao para evitar alteraes na pele, fortalecer o couro cabeludo e evitar a quebra

    das unhas (Cunha et al. 2008; Lupo, 2001).

    Vitamina A

    Representa uma vitamina essencial aos processos de regulao do crescimento e

    atividade das clulas epiteliais, no sintetizada pelo organismo, e que exibe um papel

    importante na preveno do envelhecimento prematuro da pele, sendo que em muitos

    leos vegetais se verifica a presena de carotenoides que atuam como pr-vitamina A

    (Cunha et al., 2008; Ramos-e-Silva et al., 2001; Lupo, 2001).

    Tanto a vitamina A como a classe dos

    retinoides, seus derivados, exibem

    propriedades fotoprotetoras, reduzindo a

    peroxidao lipdica na pele mediante a

    radiao UV, o que explica a sua vasta

    aplicao em cosmtica (Lupo, 2001).

    Contudo, das variaes ocorridas na molcula

    de retinol (lcool da vitamina A) resultou a

    criao de trs geraes de retinoides de

    aplicao tpica e sistmica: os no aromticos

    (retinol, tretinona e isotretinona), os

    monoaromticos (etretinato e acitretina) e os

    poliaromticos (arotinoide, adapaleno e

    tarazoteno) (Manela-Azulay e Bagatin, 2009).

    Figura 26 Sntese de Vitamina A

  • Fitocosmtica: aplicao de extratos vegetais em cosmtica e dermatologia.

    26

    Em cosmtica, o principal benefcio da aplicao da vitamina A e dos seus derivados

    deriva essencialmente da sua capacidade normalizadora da queratinizao, sendo que as

    formas mais usadas englobam o retinol, steres da vitamina A como o palmitato e

    acetato de retinilo, aldedo da vitamina A como o retinal, e finalmente a tretinona, em

    diferentes concentraes (Lupo, 2001; Manela-Azulay e Bagatin, 2009).

    A tretinona considerada como o retinoide mais bioativo pela sua capacidade de

    modular a funo cutnea, pelo que da sua aplicao tpica resulta uma reduo da

    hiperqueratinizao, prevenindo e reduzindo a formao de microcomedes, para alm

    de minimizar a formao de leses inflamatrias, correspondentes s leses iniciais da

    acne (Ramos-e-Silva et al., 2001; Manela-Azulay e Bagatin, 2009; Lupo, 2001).

    Primariamente usada no tratamento da acne, a tretinona revelou-se eficaz noutros tipos

    de tratamento relatados por Kligman (1986), como no tratamento tpico de

    fotoenvelhecimento e no envelhecimento intrnseco da pele (Manela-Azulay e Bagatin,

    2009; Ramos-e-Silva et al., 2001; Draelos e Thaman, 2006; Lupo, 2001).

    Ao nvel da epiderme, promove o espessamento do estrato granuloso, colaborando na

    manuteno da elasticidade da pele, reduz a coeso dos desmossomas assim como a

    atividade melanocitria, e deposita uma substncia semelhante aos glucosaminoglicanos

    no espao intercelular e no estrato crneo, que intervm na hidratao cutnea (Cunha et

    al., 2008; Ramos-e-Silva et al., 2001; Manela-Azulay e Bagatin, 2009).

    Na derme, promove o aumento da produo de componentes da matriz extracelular

    como as fibras de colagnio, ao nvel das papilas drmicas, induzido pela expresso

    gnica de pr-colagnio tipo I e III por parte da tretinona, alm de promover a dilatao

    dos vasos sanguneos (Ramos-e-Silva et al., 2001; Manela-Azulay e Bagatin, 2009).

    Estas alteraes especficas contribuem de forma relevante como fatores antirrugas,

    assim como na despigmentao de lentigos e melasma (Draelos e Thaman, 2006; Lupo,

    2001).

    Os steres da vitamina A, no entanto, revelam-se como os menos efetivos da classe dos

    retinoides, uma vez que requerem a sua converso enzimtica in vivo na forma de

    retinol, e posterior converso em tretinona, limitaes que explicam a sua reduzida

  • Fitocosmtica: aplicao de extratos vegetais em cosmtica e dermatologia.

    27

    eficcia comparativamente ao cido retinoico. Contudo, apresentam boa estabilidade

    nas vrias formulaes existentes, ao contrrio das formas mais ativas, facilmente

    deteriorveis pela exposio ao calor, ar atmosfrico e luz (Lupo, 2001; Manela-Azulay

    e Bagatin, 2009).

    A aplicao tpica eficaz de retinoides abrange concentraes de 0,025% a 1%, sendo

    que, no entanto, podero ocorrer reaes secundrias decorrentes da sua utilizao,

    como irritao moderada a severa, descamao, queimaduras, eritema, exacerbao de

    leses pr-existentes e foto-irritao exposio solar, pelo que requerem prescrio

    mdica e acompanhamento mdico (Ramos-e-Silva et al., 2001; Manela-Azulay e

    Bagatin, 2009).

    Vitamina E

    A vitamina E corresponde ao nutriente principal com ao antioxidante lipossolvel

    existente ao nvel da pele, representada por oito formas moleculares, das quais quatro

    tocoferis e quatro tocotrienis relacionados, sendo que dos tocoferis existentes (-, -,

    - e -), o -tocoferol exibe maior atividade e biodisponibilidade (Allemann e

    Baumann, 2009; Manela-Azulay e Bagatin, 2009; Thiele et al., 2005).

    Abunda nos leos vegetais (milho e soja),

    principalmente nos obtidos dos embries dos

    cereais (trigo), sendo que as formas de

    vitamina E tipicamente utilizadas em

    cosmtica se restringem ao -tocoferol,

    vitamina E e/ou steres da vitamina E, como o

    acetato e linoleato de tocoferilo (Cunha et al.,

    2008; Allemann e Baumann, 2009; Thiele et

    al., 2005).

    Relativamente s suas aes, dado tratar-se de

    um potente agente antioxidante, exibe efeitos

    fotoprotetores, ao reduzir os danos induzidos

    Figura 27 Tocoferis (Bender, 2009).

  • Fitocosmtica: aplicao de extratos vegetais em cosmtica e dermatologia.

    28

    pela radiao UV-B, protegendo a membrana celular pela captao dos radicais livres, e

    ao inibir a fotocarcinognese assim como a peroxidao lipdica cutnea, coadjuvando

    na manuteno da elasticidade cutnea, quando aplicada topicamente (Cunha et al.,

    2008; Allemann e Baumann, 2009; Lupo, 2001)

    Alm da ao antioxidante, vrios estudos reportam a aplicao tpica de vitamina E na

    acelerao do processo de cicatrizao de feridas, significativamente evidenciada sobre

    a pele de cobaias diabticas (Allemann e Baumann, 2009; Thiele e Ekanayake-

    Mudiyanselage, 2007).

    Por outro lado, tanto a vitamina E como os seus derivados intervm na microcirculao

    cutnea, de modo a aliviar e acalmar a irritao e inflamao aps a exposio solar,

    pela sua capacidade de reduzir o eritema, edema e queimaduras solares induzidos pela

    radiao UV, o que justifica a sua suplementao, juntamente com outros co-

    antioxidantes ativos como a vitamina C, nos protetores solares, de modo a potenciar as

    suas estratgias fotoprotetoras (Lupo, 2001; Cunha et al., 2008; Manela-Azulay e

    Bagatin, 2009; Thiele e Ekanayake-Mudiyanselage, 2007).

    No que respeita ao envelhecimento cutneo, a associao de vitamina E e seus

    derivados, juntamente com outros antioxidantes e filtros solares em formulaes tpicas

    para despigmentao revela resultados eficazes, promissores e seguros, ao exibir uma

    reduo significativa tanto nas rugas como na formao de tumores cutneos,

    promovendo, tambm, o aumento da hidratao cutnea ao nvel do estrato crneo, o

    que valida a sua ao como agentes rejuvenescedores em cosmtica (Lupo, 2001; Thiele

    e Ekanayake-Mudiyanselage, 2007; Manela-Azulay e Bagatin, 2009).

    A aplicao tpica de -tocoferol abrange concentraes inferiores a 5%, ao passo que

    as concentraes de vitamina E e/ou dos seus derivados rondam os 0,0001% e at

    valores superiores a 20% nas formulaes comuns (Thiele e Ekanayake-Mudiyanselage,

    2007). Em termos de reaes adversas poder ocorrer dermatite de contacto local ou

    generalizada, assim como urticria, eczema e eritema, embora representem episdios

    raros (Allemann e Baumann, 2009; Thiele e Ekanayake-Mudiyanselage, 2007).

  • Fitocosmtica: aplicao de extratos vegetais em cosmtica e dermatologia.

    29

    Vitamina F

    A vitamina F comporta os cidos gordos essenciais insaturados, ricos em -6, existentes

    em vrias gorduras vegetais, entre as quais a borragem, onagra, soja e linho. Dos cidos

    gordos essenciais indispensveis destaca-se o cido linoleico, precursor de uma

    multiplicidade de diferentes substncias responsveis pelos mecanismos vitais de

    reparao e controlo, entre as quais os cidos -linolnico e araquidnico (Cunha et al.,

    2008; Lautenschlger, 2003).

    Em cosmtica, o cido linoleico

    representa o composto com maior

    aplicabilidade, pela sua ao na

    preveno do bom estado do tecido

    cutneo, ao reduzir o TEWL, e ao

    contribuir para o equilbrio

    hidrolipdico celular. Por outro lado,

    intervm na cura de dermatoses,

    queimaduras solares e outro tipo de

    queimaduras, visivelmente atravs de

    Figura 28 Vitamina F

    uma acelerao da regenerao da barreira cutnea, ao pertencer composio da

    ceramida I presente na camada crnea, responsvel pela estruturao da barreira (Cunha

    et al., 2008; Lautenschlger, 2003).

    Vitamina C

    Figura 29 cido Ascrbico

    Constitui uma das vitaminas hidrossolveis com maior

    presena no reino das plantas, particularmente nos citrinos

    e vegetais, recebendo, tambm, a designao de cido

    ascrbico (Lupo, 2001; Farris, 2005; Cunha et al., 2008;

    Manela-Azulay e Bagatin, 2009).

    Em cosmtica, apenas trs formas se encontram disponveis, entre as quais o palmitato

    de ascorbilo, o fosfato de magnsio de ascorbilo e o cido ascrbico (Lupo, 2001;

    Manela-Azulay e Bagatin, 2009).

  • Fitocosmtica: aplicao de extratos vegetais em cosmtica e dermatologia.

    30

    A aplicao tpica de vitamina C representa a nica alternativa de promover um

    aumento da sua concentrao ao nvel da pele (Manela-Azulay e Bagatin, 2009). Revela

    efeitos fotoprotetores quando aplicada topicamente, interferindo na formao de ROS

    induzidas pela radiao UV, ao neutralizar os radicais livres formados, factos que

    explicam a sua aplicao em produtos solares do tipo after-sun, com reduo

    significativa de eritema e tumor cutneo (Farris, 2005; Cunha et al., 2008; Allemann e

    Baumann, 2009; Manela-Azulay e Bagatin, 2009).

    Apresenta forte atividade antioxidante, sendo tambm capaz de amplificar a capacidade

    antioxidante da vitamina E, ao intervir na regenerao da forma reduzida ativa da

    vitamina E (Lupo, 2001; Farris, 2005; Allemann e Baumann, 2009; Manela-Azulay e

    Bagatin, 2009).

    Alm do referido, favorece a microcirculao cutnea, e desempenha um papel

    importante na sntese de colagnio, atuando sob a forma de co-fator enzimtico nas

    reaes de hidroxilao, ou diretamente ativando a transcrio do colagnio e

    estabilizando o RNAm pr-colagnico, o que justifica a sua aplicao como agente anti-

    envelhecimento, tambm pela capacidade de inibir a biossntese de elastina (Farris,

    2005; Lupo, 2001; Draelos e Thaman, 2006; Cunha et al., 2008; Allemann e Baumann,

    2009; Manela-Azulay e Bagatin, 2009).

    Atua, tambm, como agente anti-inflamatrio e despigmentante, inibindo a sntese de

    melanina (Draelos e Thaman, 2006; Cunha et al., 2008; Allemann e Baumann, 2009). A

    aplicao tpica de cremes contendo vitamina C, numa concentrao de 5%, durante um

    perodo de 6 meses, revela timos resultados no que respeita a reduo de rugas,

    manchas senis, hidratao e brilho da pele, o que corrobora o anteriormente referido

    (Allemann e Baumann, 2009).

    Contudo, a formulao de um produto tpico contendo vitamina C enfrenta o problema

    de estabilidade, pela forte sensibilidade radiao solar e oxidao, uma vez que a

    molcula sofre vrias converses, podendo resultar numa forma inativa, o que implica a

    utilizao de embalagens apropriadas ou utilizao de derivados esterificados do cido

    ascrbico nas formulaes (Allemann e Baumann, 2009; Manela-Azulay e Bagatin,

    2009).

  • Fitocosmtica: aplicao de extratos vegetais em cosmtica e dermatologia.

    31

    Vitaminas do Complexo B

    Representa um conjunto de vitaminas hidrossolveis amplamente representado no reino

    das plantas, e cuja associao demonstra uma melhor resposta relativamente ao tecido

    cutneo (pele mais suave e menos rugosa), ao invs da sua utilizao isolada em

    idnticas concentraes (Cunha et al., 2008).

    Vitamina B1 (Tiamina): atua como coenzima no

    metabolismo de carbohidratos, e revela atividade sobre a

    camada celular basal, ao promover a descarboxilao e

    oxidao do cido pirvico, pelo que se usam extratos

    enriquecidos nesta vitamina por forma a melhorar as

    Figura 30 Tiamina

    peles envelhecidas (Cunha et al., 2008; Bender, 2009).

    Figura 31 - Riboflavina

    Vitamina B2 (Riboflavina): apresenta uma funo importante

    no catabolismo de cidos gordos e de aminocidos, ao intervir

    como coenzima em reaes de oxidao-reduo nos tecidos,

    sendo particularmente til na dermatite seborreica (Cunha et

    al., 2008; Bender, 2009).

    Vitamina B3 (Nicotinamida): atua como coenzima nas reaes

    de oxidao-reduo do organismo, tendo boa aplicabilidade em

    afees como a pelagra (dermatite fotossensvel) e roscea.

    bastante til na acne e noutras situaes inflamatrias, intervindo

    nos processos de regenerao celular pelo seu efeito vasodilata-

    Figura 32 -

    Nicotinamida

    dor (Lupo, 2001; Bender, 2009; Manela-Azulay e Bagatin, 2009; Emer et al., 2011).

    Figura 33 cido Pantotnico

    Vitamina B5 (cido Pantotnico): participa no

    metabolismo de cidos gordos, representando um

    componente funcional da coenzima A que intervm em

    reaes de acetilao (Cunha et al., 2008; Bender, 2009).

    O pantenol, lcool precursor do cido pantotnico, apresenta forte aplicao em

    cosmtica, dado que estimula o crescimento celular, inibe a inflamao e formao de

  • Fitocosmtica: aplicao de extratos vegetais em cosmtica e dermatologia.

    32

    rugas na pele. Por outro lado, frequentemente aplicado em produtos de cuidado

    capilar, pelas suas propriedades como humectante, ao nutrir e proporcionar uma

    humidade duradoura, e ao melhorar a elasticidade, e consequentemente a resistncia do

    cabelo, reduzindo, tambm, a formao de pontas quebradias e proporcionando mais

    brilho ao cabelo (Lupo, 2001; Cunha et al., 2008). Pode tambm ser usado no

    tratamento de alopecia, como acelerador da cicatrizao (Cunha et al., 2008).

    Vitamina B6 (Piridoxina): encontra-se sob a forma de lcool

    nas plantas, sendo metabolizada no organismo humano a

    piridoxal fosfato, coenzima ativa que intervm no

    metabolismo de aminocidos, atua como cofator enzimtico

    no msculo e fgado, e na regulao da ao de hormonas

    esteroides. Diminui a atividade das glndulas sebceas,

    Figura 34 - Piridoxina

    principalmente nos problemas cutneos dos jovens (Cunha et al., 2008; Bender, 2009).

    Figura 35 - Biotina

    Vitamina B8 (Biotina): intervm, de um modo geral, no

    metabolismo e controlo do ciclo celular, sendo muito usada no

    tratamento de alopecia e problemas de acne. Em conjunto com

    a piridoxina, estimula a formao de queratina, pelo que

    fortalece o cabelo e unhas (Cunha et al., 2008; Bender, 2009).

    Vitamina B9 (cido Flico): necessria para o metabolismo

    dos aminocidos e sntese de DNA. Apresenta um papel

    importante na multiplicao das clulas cutneas, intervindo

    em numerosas reaes metablicas como coenzima (Cunha et

    al., 2008; Bender, 2009).

    Figura 36 cido Flico

    2. Noes em Fitocosmtica

    A fitocosmtica pode ser definida como o segmento da cosmetologia que se dedica ao

    estudo, assim como aplicao das substncias ativas extradas de materiais vegetais,

    em proveito da higiene, da esttica, da correo e da manuteno do estado normal e

    sadio da pele (Freitas de Arajo et al., 2010).

  • Fitocosmtica: aplicao de extratos vegetais em cosmtica e dermatologia.

    33

    No que concerne ao fitocosmtico, pode ser definido como qualquer preparao

    composta por substncias de origem natural, destinada a ser posta em contacto com as

    diversas partes superficiais do corpo humano, designadamente epiderme, sistemas

    piloso e capilar, unhas, lbios e rgos genitais externos, ou com os dentes e mucosas

    bucais, com a finalidade de, exclusiva ou principalmente, os limpar, perfumar,

    modificar o seu aspeto, proteger, manter em bom estado e/ou corrigir os odores

    corporais (Comisso Europeia, 1993).

    As pomadas e os leos contendo constituintes das plantas representam, possivelmente,

    as formas farmacuticas mais antigas usadas em cosmtica. Contudo, outros tipos de

    preparaes como infusos, cozimentos e macerados obtidos de plantas ocuparam,

    durante muitos anos, um lugar de destaque. Atualmente ainda se utiliza este tipo de

    preparaes diretamente, quer aplicadas em associao com compressas no tratamento

    de certas afees cutneas (Cunha et al., 2008; DAmelio, 1999).

    Atualmente, a aplicao direta das plantas na indstria cosmtica encontra-se cada vez

    mais em desuso, substituda pela aplicao dos seus extratos, o que exige que seja feita

    referncia sobre os tipos e modo de obteno dos mesmos, assim como uma breve

    referncia aos aspetos gerais de preparao de vrias formas galnicas, e s principais

    preparaes cosmticas onde possam ser includos produtos de origem vegetal (Cunha

    et al., 2008; Aburjai e Natsheh, 2003; Allemann e Baumann, 2009).

    As desvantagens da utilizao direta da totalidade da planta derivam essencialmente da

    sua fraca aplicao, atribudas s partculas slidas na fo