TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

167
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, PESQUISA E EXTENSÃO MESTRADO EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS NO INSTITUTO FEDERAL DE MINAS GERAIS Belo Horizonte 2012

Transcript of TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

Page 1: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, PESQUISA E EXTENSÃO

MESTRADO EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E

DESENVOLVIMENTO LOCAL

TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR

INCLUSÃO EDUCACIONAL DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS

NO INSTITUTO FEDERAL DE MINAS GERAIS

Belo Horizonte

2012

Page 2: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR

INCLUSÃO EDUCACIONAL DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS

NO INSTITUTO FEDERAL DE MINAS GERAIS

Dissertação apresentada ao Mestrado em Gestão

Social, Educação e Desenvolvimento Local do

Centro Universitário UNA, como requisito parcial à

obtenção do título de Mestre.

Área de concentração: Inovações Sociais e

Desenvolvimento Local.

Linha de pesquisa: Educação e desenvolvimento

local

Orientadora: Profa. Dra. Lucília Machado

Belo Horizonte

2012

Page 3: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, PESQUISA E EXTENSÃO

MESTRADO EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E

DESENVOLVIMENTO LOCAL

Dissertação intitulada “INCLUSÃO EDUCACIONAL DE PESSOAS COM

DEFICIÊNCIAS NO INSTITUTO FEDERAL DE MINAS GERAIS”, de autoria de

Tânia Maria Neves Waldemar, aprovada pela banca examinadora, constituída pelas

seguintes professoras:

_____________________________________________________

Profa. Dra. Lucília Regina de Souza Machado (Orientadora) – UNA

____________________________________________________

Profa. Dra. Margareth Diniz - UFOP

__________________________________________________

Profa. Dra. Adilene Gonçalves Quaresma – UNA

______________________________________________________

Profa. Dra. Lucília Regina de Souza Machado

Coordenadora do Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local

Belo Horizonte, 21 de dezembro de 2012

Page 4: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

DEDICATÓRIA

À minha mãe, Aparecida, que pelas ladeiras de Ouro Preto me levou a carregar trouxas

e mais trouxas de roupas dos estudantes e, sem ser alfabetizada, na sua simplicidade,

dizia: “eu queria tanto ter um filho estudado como esses”.

Ao meu grande amor, Carlos, pelo incentivo, pela paciência e exemplo de luta. Você é

um presente de Deus para sustentar a minha caminhada.

Aos meus filhos amados, André e Carla, pelo amor incondicional, pelos olhares,

palavras e abraços carinhosos que enchem minha vida de alegria. Amo vocês!

Page 5: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

AGRADECIMENTOS

A Deus, pai amoroso, por me amparar sempre e suprir todas as minhas necessidades.

À minha orientadora, Lucília, pela competência, sensibilidade, humildade, carinho e

apoio em todos os momentos.

Aos componentes da banca examinadora, Margareth Diniz e Adilene Gonçalves

Quaresma, pelas valiosas contribuições.

Aos professores e colegas do Programa de Pós-graduação em Gestão Social, Educação e

Desenvolvimento Local, que tanto contribuíram com a construção dessa pesquisa.

Ao diretor do Campus Ouro Preto, Arthur Versiani, pela oportunidade de estudar a mim

concedida.

Ao meu pai, Antônio, que na sua humildade me ensinou o valor do trabalho.

Aos meus irmãos, José, Sônia, Wantuil, Paulo, Sandra, Sandely, Elaine, Dauberson,

Toninho, Gilmar e Lúcio pelo apoio em todos os momentos.

A todos os amigos que me incentivaram a seguir em frente.

A todos os companheiros da DREC e do Napne que me acolheram e compreenderam

meus momentos difíceis.

À Natália, grande companheira. Sem você tudo seria muito mais difícil.

À Valdete, excelente professora e amiga, por me dizer que eu era capaz.

À Mônica Pondé (in memorian) pela acolhida no IFMG, na casa de seus filhos e em sua

vida.

A todas as pessoas que, direta ou indiretamente, colaboraram para a realização deste

trabalho, especialmente as pessoas com deficiência que tanto me ensinaram. Obrigada.

Sem vocês, eu seria incapaz.

Page 6: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

Se você deixa de ver a pessoa, vendo apenas a deficiência,

quem é o cego?

Se você deixa de ouvir o grito do seu irmão para a justiça,

quem é o surdo?

Se você não pode comunicar-se com sua irmã e a separa,

quem é o mudo?

Se sua mente não permite que seu coração alcance seu

vizinho, quem é o deficiente mental?

Se você não se levanta para defender os direitos de todos,

quem é o aleijado?

A atitude para com as pessoas deficientes pode ser nossa

maior deficiência...

E a sua também.

(Autor desconhecido)

Page 7: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

RESUMO

Esta dissertação analisou o que se faz necessário para que o Instituto Federal de

Educação Profissional, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais, Campus Ouro Preto,

possa efetivamente incluir pessoas com deficiência em suas atividades de ensino,

pesquisa e extensão. Por inclusão educacional de pessoas com deficiências, considerou-

se a entrada, permanência e saída exitosa dessas pessoas nas atividades oferecidas nesse

Campus. O problema que deu origem a esta dissertação decorreu da observação da

necessidade de encontrar soluções para efetivar o princípio norteador da inclusão nas

diversas práticas que caracterizam a atuação do IFMG. Decorreu também da

necessidade de inserir no Projeto Político-Pedagógico do IFMG, em elaboração no

corrente ano, como a inclusão educacional deve se efetivar. Para tanto, foram estudados

textos legais e consultados documentos sobre inclusão de PcD de instituições e

organizações internacionais e nacionais, do IFMG e das instituições que o constituíram.

Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com alunos com e sem deficiência,

professores, pedagogas, pró-reitores e a coordenadora de Políticas Inclusivas do IFMG,

num total de 27 pessoas. Para o tratamento dos dados coletados por meio das

entrevistas, optou-se pela descrição estatística e análise de conteúdo. Esta pesquisa

chegou aos seguintes resultados principais: O IFMG Campus Ouro Preto tem avançado

nas questões de acessibilidade física; apresenta dificuldades de inclusão de PcD nas suas

atividades, sendo que os principais entraves identificados foram a falta de formação

docente em inclusão e de apoio, que deveria ser oferecido pelo Napne. Concluiu-se

também que falta apoio à utilização de recursos tecnológicos, orientação profissional e

acompanhamento pedagógico a esses alunos. Sabe-se que a inclusão educacional,

especialmente na educação profissional, é um grande desafio para todos os envolvidos

nesse processo, família, alunos, professores e gestores. Sabe-se, entretanto, que a

inclusão educacional representa uma possibilidade inovação social, de crescimento para

todos e de desenvolvimento local. Com base nos resultados obtidos, desenvolveu-se

uma contribuição técnica sobre acessibilidade, tendo em vista que esse é um dos

principais entraves que precisam ser transpostos para o ensino e a aprendizagem das

PcD nesse Campus. Espera-se que a produção apresentada nesta dissertação possa

nortear as ações que tornem esse Campus uma referência para as políticas de inclusão

educacional de PcD.

Palavras-chave: Inclusão educacional. Pessoas com deficiências. Institutos Federais de

Educação Profissional, Ciência e Tecnologia. Desenvolvimento local.

Page 8: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

ABSTRACT

This work analyzed what was necessary in order to the Instituto Federal de Educação

Profissional, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (IFMG), Campus Ouro Preto, to be

able to include effectively people with disabilities in teaching, research and extension

activities. The admission, permanence and graduation of these people were considered

because of the educational inclusion program offered on the Campus. The research

problem resulted mainly of the observation of the need of finding solutions to

accomplish the guiding principle of the educational inclusion in the practices that

characterize IFMG’s operation. It also resulted of the need of formulating a proposal of

how the educational inclusion must be implemented. Legal articles and documents

about people with disabilities from national and international institutions, organizations

and IFMG were studied in order to achieve the aims of this work. Semi-structured

interviews with students with and without disabilities, teachers, pedagogues, principals

and the coordinator of IFMG’s inclusive policies – in a total of 27 people – were

conducted. The data from the interviews was processed through description of statistics

and content analysis. This research achieved the main results: IFMG Campus Ouro

Preto has been advanced in physical accessibility issues and the institute shows

difficulties in the inclusion of people with disabilities in its activities – the insufficient

teacher training for educational inclusion that should be offered by Napne is one of the

difficulties. The conclusion therefore is that there is a lack of support for the use of

technological recourses, career guidance and pedagogic supervision to the students. It is

known that educational inclusion, especially in professional education, is a great

challenge for those involved in the process: family, students, teachers and principals.

However, educational inclusion represents a possibility of social innovation, growth

opportunities for all and local development. Based on the results, it was developed a

technical contribution about accessibility, taking into account that this is one of the

main difficulties that need to be transposed to the teaching-learning of people with

disabilities of this Campus. It is expected that the production shown in this work guides

the actions to make the Campus a reference in educational inclusion for people with

disabilities.

Keywords: Educational inclusion. People with disabilities. Institutos Federais de

Educação Profissional, Ciência e Tecnologia. Local development.

Page 9: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

_______________________________________________________________

QUADROS

Quadro 1 - Cursos oferecidos pelo Campus Ouro Preto – 2012........................................... 30

TABELAS

Tabela 1 - Número de alunos com deficiência por campus e no IFMG.............................

Tabela 2 – Principais avanços no ensino..................................................................

41

86

Tabela 3 – Principais avanços na pesquisa............................................................... 87

Tabela 4 – Principais avanços na extensão.............................................................. 88

Tabela 5 – Principais avanços na gestão.................................................................. 89

Tabela 6 – Principais dificuldades no ensino.......................................................... 94

Tabela 7 – Principais dificuldades na pesquisa...................................................... 95

Tabela 8 – Principais dificuldades na extensão....................................................... 96

Tabela 9 – Principais dificuldades na gestão........................................................... 97

Tabela 10 – Principais propostas para forma de ingresso....................................... 100

Tabela 11 – Principais propostas para utilização de recursos tecnológicos............ 105

Tabela 12 – Principais propostas para Libras.......................................................... 106

Tabela 13 – Principais propostas com relação à tecnologia Braille........................ 108

Tabela 14 – Propostas com a utilização de material didático.................................. 109

Tabela 15 – Propostas com relação ao serviço de apoio......................................... 111

Tabela 16 – Propostas com relação ao trabalho e acompanhamento pedagógico.... 113

Tabela 17 – Propostas com relação à flexibilidade curricular................................. 115

Tabela 18 – Propostas para articulação entre AEE e ensino regular....................... 117

Tabela 19 – Propostas para interação entre alunos, professores e servidores......... 118

Page 10: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

Tabela 20 – Propostas para identificação das demandas de alunos com

deficiência................................................................................................................

119

Tabela 21 – Propostas para avaliação da aprendizagem......................................... 121

Tabela 22 – Propostas com relação à inclusão na pesquisa.................................... 122

Tabela 23 – Propostas com relação à inclusão na extensão.................................... 124

Tabela 24 – Propostas com relação à inclusão na gestão........................................ 125

Tabela 25 – Propostas com relação à orientação profissional................................. 125

Tabela 26 – Propostas com relação à inserção sociolaboral................................... 126

Tabela 27 – Propostas com relação ao acesso aos benefícios dos programas

sociais......................................................................................................................

129

Tabela 28 – Propostas com relação ao acompanhamento de egressos.................... 130

Tabela 29 – Propostas com relação à formação de docentes e técnicos.................. 132

Tabela 30– Propostas com relação à contratação de profissionais especializados.. 134

Tabela 31 – Propostas com relação à gestão das atividades de inclusão................ 136

Tabela 32 – Propostas com relação à divulgação da política de inclusão............... 137

Page 11: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

LISTAS DE SIGLAS E ABREVIATURAS

_______________________________________________________________

AAI: Assessoria de Ações Inclusivas

AEE: Atendimento Educacional Especializado

Apae: Associação de Pais e Amigos do Excepcionais

BRH: Banco de Recursos Humanos Acessível

CAP: Centro de Apoio Pedagógico

Cefet: Centro Federal de Educação Tecnológica

CNE: Conselho Nacional de Educação

Cenesp: Centro Nacional de Educação Especial

Conae: Conferência Nacional de Educação

Copeves: Comissão Permanente de Vestibular

DV: Deficiência Visual

EAF: Escola Agrotécnica Federal

Enem: Exame Nacional do Ensino Médio

EPT: Educação Profissional e Tecnológica

EPTI: Educação Profissional e Tecnológica Inclusiva

ETF: Escola Técnica Federal

ETFOP: Escola Técnica Federal de Ouro Preto

EPCT: Educação Profissional Científica e Tecnológica

FIC: Formação Inicial e Continuada

FNDE: Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE)

FIES: Fundo de Financiamento Estudantil

GGTs: Grupos de Trabalho Temáticos

IBC: Instituto Benjamin Constant

IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IF: Educação Profissional, Ciência e Tecnologia

IFBA: Instituto Federal da Bahia

IFES: Instituições Federais de Ensino Superior

Page 12: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

IFMG: Instituto Federal de Minas Gerais

INES: Instituto Nacional de Educação dos Surdos

LDB: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

Libras: Língua Brasileira de Sinais

MCTI: Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação

MEC: Ministério da Educação

Napne: Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Específicas

NAAHs: Núcleos de Atividades das Altas Habilidades/Superdotação

NEAB: Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros

NEABI - Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas

NEs: Necessidades Especiais

OIT: Organização Internacional do Trabalho

ONU: Organização das Nações Unidas

PcD: Pessoas com deficiência

PDI: Plano de Desenvolvimento Institucional

PDI: Plano de Desenvolvimento Individual

PDE: Plano de Desenvolvimento da Escola

PNE: Plano Nacional de Educação

PNE: Pessoas com Necessidades Especiais

PNEE: Pessoas com Necessidades Educacionais Especiais

PNLD: Programa Nacional do Livro Didático

PPP: Projeto Político Pedagógico

Proeja: Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na

Modalidade de Jovens e Adultos

Pronatec: Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego

Renapi: Rede Nacional de Pesquisa e Inovação em Tecnologias Digitais

Reuni: Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais

Secadi: Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão

SEESP: Secretaria de Educação Especial

Semtec: Secretaria de Educação Média e Tecnológica

Setec: Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica

Page 13: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

TA: Tecnologia Assistiva

TADH: Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade

TEC NEP: Tecnologia, Educação, Cidadania e Profissionalização para Pessoas com

Necessidades Específicas

UFOP: Universidade Federal de Ouro Preto

UNED: Unidade de Ensino Descentralizada

UFPR: Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Unesco - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

Page 14: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO................................................................................................... 17

2. O INSTITUTO FEDERAL DE MINAS GERAIS, O CAMPUS OURO

PRETO E A EDUCAÇÃO INCLUSIVA: marcos situacionais.............................

24

2.1 Os Institutos Federais................................................................................................... 24

2.2 O Instituto Federal Minas Gerais.................................................................................. 26

2.3 O Campus Ouro Preto do IFMG................................................................................... 28

2.4 Marco situacional do IFMG com relação à EPTI.......................................................... 31

2.5 Marco situacional do Campus Ouro Preto com relação à EPTI.................................... 35

3. O PROGRAMA TEC NEP DA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO

PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

43

3.1 O Programa TEC NEP................................................................................................. 45

3.2 Doze anos depois.......................................................................................................... 47

3.3 Formação de docentes e técnicos via TEC NEP........................................................... 48

3.4 Um balanço positivo..................................................................................................... 50

4. PESSOAS COM DEFICIÊNCIA: conceitos, direitos e dificuldades................. 51

4.1 Conceitos de deficiência e de pessoas com deficiência................................................ 51

4.2 A institucionalização dos direitos à educação das PcD no Brasil................................. 56

4.3 As dificuldades encontradas pelas PcD......................................................................... 63

5. EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA: normas, políticas de

inclusão educacional e inserção profissional...........................................................

68

5.1 Normas e políticas de inclusão na educação profissional e tecnológica....................... 70

5.2 Normas e políticas de inserção profissional inclusiva................................................... 77

6. AVANÇOS, DIFICULDADES E PROPOSTAS PARA O

DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA NO CAMPUS OURO

PRETO DO IFMG...................................................................................................

79

6.1 Avanços no desenvolvimento da educação inclusiva na percepção dos

entrevistados........................................................................................................................

83

6.1.1 Avanços da educação inclusiva no ensino.................................................................. 83

Page 15: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

6.1.2 Avanços da educação inclusiva na pesquisa............................................................. 86

6.1.3 Avanços da educação inclusiva na extensão.............................................................. 87

6.1.4 Avanços da educação inclusiva na gestão.................................................................. 89

6.2 Dificuldades no desenvolvimento da educação inclusiva na percepção dos

entrevistados........................................................................................................................

89

6.2.1 Dificuldades da educação inclusiva no ensino........................................................... 89

6.2.2 Dificuldades da educação inclusiva na pesquisa........................................................ 95

6.2.3 Dificuldades da educação inclusiva na extensão........................................................ 96

6.2.4 Dificuldades da educação inclusiva na gestão............................................................ 97

6.3. Propostas dos entrevistados para o desenvolvimento da educação inclusiva............... 98

6.3.1 Formas de ingresso..................................................................................................... 98

6.3.2 Acessibilidade física................................................................................................... 101

6.3.3 Utilização de recursos tecnológicos........................................................................... 103

6.3.4 Libras.......................................................................................................................... 106

6.3.5 Braille......................................................................................................................... 107

6.3.6 Material didático......................................................................................................... 108

6.3.7 Serviços de apoio........................................................................................................ 109

6.3.8 Trabalho e acompanhamento pedagógico.................................................................. 111

6.3.9 Flexibilidade curricular.............................................................................................. 113

6.3.10 Articulação entre atendimento educacional especializado e ensino regular............ 116

6.3.11 Interação entre alunos, professores e servidores...................................................... 117

6.3.12 Identificação das demandas de alunos com deficiência........................................... 118

6.3.13 Avaliação da aprendizagem...................................................................................... 120

6.3.14 Inclusão na pesquisa................................................................................................. 121

6.3.15 Inclusão na extensão................................................................................................ 122

6.3.16 Inclusão na gestão.................................................................................................... 124

Page 16: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

6.3.17 Orientação profissional.......................................................................................... 125

6.3.18 Inserção sociolaboral............................................................................................. 125

6.3.19 Acesso aos benefícios dos programas sociais........................................................ 127

6.3.20 Acompanhamento de egressos............................................................................... 129

6.3.21 Formação de docentes e técnicos .......................................................................... 130

6.3.22. Contratação de profissionais especializados......................................................... 132

6.3.23 Gestão das atividades de inclusão.......................................................................... 134

6.3.24 Divulgação da política de inclusão......................................................................... 136

7. CONTRIBUIÇÃO TÉCNICA DA PESQUISA REALIZADA: propostas de

diretrizes de educação inclusiva para a elaboração do projeto político

pedagógico do IFMG...............................................................................................

138

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 148

REFERÊNCIAS....................................................................................................... 150

APÊNDICE I - Termo de consentimento livre e esclarecido.................................. 154

APÊNDICE II - Roteiro para entrevista semi-estruturada....................................... 156

ANEXO I - Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP).................................. 159

ANEXO II – Trajetória dos termos utilizados ao longo da história da atenção às

pessoas com deficiência, no Brasil..........................................................................

162

Page 17: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

17

1. INTRODUÇÃO

Esta dissertação se volta para a análise e proposições do que se faz necessário para que

o Instituto Federal de Minas Gerais, Campus Ouro Preto, possa efetivamente incluir

pessoas com deficiência (PcD) em suas atividades de ensino, pesquisa e extensão. A

motivação para investigar e propor intervenções com tal finalidade tem relação direta

com o trabalho realizado pela autora no Núcleo de Atendimento às Pessoas com

Necessidades Educacionais Específicas (Napne) desse Campus.

O interesse pelo tema surgiu com seu ingresso, em 2008, como Técnica em Assuntos

Educacionais, no Instituto Federal de Educação Profissional, Ciência e Tecnologia

Minas Gerais, Campus Ouro Preto. Nessa nova profissão e local de trabalho, encontrou

a oportunidade de desenvolver atividades no Serviço Social da Instituição, onde passou

a ter contatos com pessoas que tinham as mais diversas necessidades, desde as

econômicas e psicológicas, até as relacionadas à aprendizagem. No trabalho de seleção

e acompanhamento aos alunos bolsistas, de recepção e triagem de pessoas que vinham

solicitar variados tipos de assistência, teve uma maior aproximação com pessoas com

deficiência e, por consequência, com a necessidade de compreender em que consiste a

educação inclusiva.

Apesar de já estar há mais de 15 anos na área da educação, como professora, feito

especialização em educação e em gestão educacional, nunca havia tido contato direto

com o tema ou com alunos que visivelmente apresentassem deficiências. Onde

trabalhou a maior parte desse tempo, na rede particular de ensino, esses alunos entravam

e permaneciam por pouco tempo.

A partir de experiências advindas desses contatos e na expectativa de auxiliar a busca de

soluções para os problemas vivenciados no processo de inclusão educacional nesse

Instituto Federal, sentiu-se instigada a adquirir conhecimentos sobre o tema e a realizar

intervenções que pudessem tornar mais efetiva a política educacional inclusiva tal como

a sociedade brasileira tem cobrado há algumas décadas. Porém, o Napne desse Campus

estava praticamente desativado por falta de professores e funcionários da Instituição que

abraçassem a causa voluntariamente, restando apenas o coordenador, que também

dispunha de pouco tempo para se dedicar a ele, pois gerenciava outro setor dessa escola.

Page 18: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

18

Em 2010, a autora teve a oportunidade de auxiliar na reativação de núcleo e, a partir de

então, foram iniciadas várias ações em prol dos alunos com necessidades especiais,

sendo que para a efetivação delas foi preciso buscar conhecimento em legislações; em

documentos do Programa TEC NEP coordenado pela Secretaria de Educação

Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação, que visa à inserção de pessoas

com tais necessidades na Rede Federal de Educação Profissional, Científica e

Tecnológica; na discussão teórica e em pesquisas disponíveis sobre o assunto.

O anseio por obter conhecimento e respostas para as questões relacionadas à inclusão

educacional, contribuir para o crescimento do Napne, auxiliar as pessoas com

necessidades especiais no processo de inserção, permanência e saída exitosa dos cursos

ofertados pelo Instituto, impulsionou a realização dessa dissertação intitulada “Inclusão

educacional de pessoas com deficiência no Instituto Federal Minas Gerais”, a partir da

realidade encontrada num de seus Campi, o de Ouro Preto.

A pesquisa buscou analisar aspectos relacionados ao desenvolvimento da educação

profissional e tecnológica inclusiva (EPTI) tendo em vista a elaboração de proposições

que possam contribuir para tornar esse Instituto um centro de inovação social na

institucionalização efetiva e plena desse conceito e de fomento ao desenvolvimento

local.

O desdobramento desse objetivo geral em objetivos específicos, as referências teóricas e

o caminho metodológico desta pesquisa foram, então, escolhidos orientados pela

motivação de responder ao problema encontrado na Instituição, acima exposto, com

base na produção de conhecimentos pertinentes, relevantes e aplicáveis ao

desenvolvimento do IFMG e da política pública de educação inclusiva. Em vista da

natureza do objeto, adotou-se o paradigma da metodologia qualitativa, pois foram

focalizados modos de ver, presunções, juízos, sentimentos. Por outro lado, buscou-se

também dar um tratamento estatístico simples, mas o suficiente para analisar

comparativamente as configurações percentuais das respostas obtidas por categorias

investigadas, que foram constituídas a partir da análise de convergências de conteúdos.

Portanto, a pesquisa assumiu característica quali-quantitativa.

A realização das entrevistas foi acompanhada de observação do contexto institucional,

estudos de legislações de abrangência internacional e nacional; de documentos de

política educacional brasileira, incluindo os do próprio IFMG; e da bibliografia de

Page 19: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

19

referência na área, considerando-se tanto o caráter histórico quanto a atualidade das

produções. Em todas essas estratégias de obtenção de informações o sentido foi o

mesmo, o de obter elementos que pudessem indicar os sucessos e as dificuldades que

caracterizam a atuação de instituições educacionais, especialmente as do campo da

educação profissional e tecnológica, na realização da educação inclusiva. Pretendeu-se,

assim, contribuir com diagnósticos e identificação de proposições que possam orientar o

IFMG na elaboração do seu Projeto Político-Pedagógico, previsto para estar concluído

ao final de 2012.

Três objetivos específicos guiaram a realização da investigação. O primeiro deles focou

a análise do histórico e conteúdo das diretrizes e políticas nacionais de educação

inclusiva, com especial atenção aos seus desdobramentos com relação à educação

profissional e tecnológica. O segundo voltou-se à análise dos avanços e dificuldades na

atuação do IFMG com relação à educação inclusiva. O terceiro se dirigiu à análise de

propostas de diretrizes para o projeto político-pedagógico do IFMG, Campus Ouro

Preto com relação à educação inclusiva.

Para iniciar a execução de seu projeto de pesquisa, a autora realizou contatos com a

Direção Geral do Campus Ouro Preto para se inteirar dos procedimentos

administrativos a serem seguidos visando à obtenção de autorização institucional. Uma

vez conseguida, realizou entrevistas com o diretor e amostras de professores, pedagogas

e alunos desse Campus e com pró-reitores do IFMG, sempre precedidas por

apresentação do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e obtenção do aval do

entrevistado.

Simultaneamente, deu continuidade aos seus estudos bibliográficos, ampliando o

material consultado, que foi composto por livros, pesquisas, monografias, dissertações,

teses e artigos. Encontrou escassez de informações específicas sobre a inclusão no

contexto da educação profissional e tecnológica corroborando a necessidade de mais

pesquisas visando à construção de conhecimentos sobre essa temática com esse recorte

educacional. Os elementos encontrados foram, entretanto, suficientes para referenciar a

construção teórica e metodológica da presente pesquisa.

Os documentos estudados referem-se a informações de diferentes ordens sobre inclusão

de PcD na educação profissional e tecnológica e nas instituições da Rede Federal de

Page 20: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

20

Educação Profissional, Científica e Tecnológica. A seleção desses documentos

considerou dois níveis de análise.

O primeiro deles se referiu a documentos emitidos ou postos à circulação por

instituições e organizações internacionais e nacionais, a saber: Organização

Internacional do Trabalho; Organização dos Estados Iberoamericanos; Ministério da

Educação; Ministério do Trabalho e Emprego; Ministério Público Federal; Secretaria de

Direitos Humanos da Presidência da República; Fórum Direitos e Cidadania;

Observatório Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente; Conselho Nacional

dos Direitos da Criança e Adolescente; Conselho Nacional de Educação; Institutos

Federais de Educação Profissional, Científica e Tecnológica e outros organismos que

vêm atuando com destaque na discussão do tema da educação inclusiva na sociedade

brasileira. Foram realizados o levantamento, a localização, a obtenção e a seleção dos

documentos mais relevantes, que avaliados na sua credibilidade e representatividade em

relação aos objetivos da pesquisa, foram estudados considerando-se o contexto de sua

produção, autoria, propostas, finalidades e repercussões para a EPTI.

O segundo nível da análise documental se referiu aos documentos relativos ao IFMG e

das instituições que o constituíram. O pressuposto inicial foi de que os documentos

analisados pudessem oferecer elementos à compreensão do contexto histórico e

sociocultural desse Instituto e das manifestações dos entrevistados. Entre o material

consultado encontram-se documentos escritos, filmes, vídeos, slides, fotografias,

pôsteres, relatórios, reportagens de jornais, revistas, gravações, e-mails e informações

disponíveis nos sítios eletrônicos do MEC (http://www.mec.gov.br), do IFMG

(http://www.ifmg.edu.br) e do Campus Ouro Preto (http://www.cefetop.edu.br). Esses

materiais foram considerados como fontes primárias para a pesquisa, porém não

passaram por tratamento metodológico específico às análises documentais formais, pois

sua utilização pretendeu tão somente a obtenção das referências para a observação direta

e compreensão do contexto institucional e das manifestações dos entrevistados.

Com base nas referências acima relacionadas e no estudo das contribuições acadêmicas,

realizou-se a pesquisa de campo, que consistiu de observações diretas e de entrevistas

programadas.

O roteiro para estas seguiu padrão semiestruturado e foi organizado em quatro blocos. O

primeiro conteve questões relacionadas à identificação dos sujeitos; o segundo foi

Page 21: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

21

composto de perguntas que possibilitassem obter dados que identificassem os principais

avanços do Campus com relação à inclusão de PcD nas atividades de ensino, pesquisa e

extensão; o terceiro se referiu às principais dificuldades apresentadas por essa unidade

com relação à inclusão de PcD nas atividades de ensino, pesquisa e extensão. O quarto,

o mais extenso, constituiu-se de 36 itens sendo que para cada um deles o entrevistado

poderia escolher e apresentar uma proposta de diretriz sobre educação inclusiva, que

pudesse ser incluída no projeto político pedagógico do IFMG.

As entrevistas foram realizadas e gravadas em salas do Campus Ouro Preto e da

Reitoria do IFMG, sediada em Belo Horizonte e o tempo médio gasto em cada uma foi

de uma hora. A transcrição dos seus conteúdos foi feita de forma integral e literal, não

havendo preocupação de fazer correções da língua portuguesa do ponto de vista

semântico e/ou sintático.

Foram selecionadas inicialmente 33 pessoas para serem entrevistadas, assim

distribuídas: a) dez alunos com deficiência matriculados no Campus Ouro Preto; b)

cinco professores e seis pedagogos dessa unidade mais envolvidos com a inclusão

educativa; c) sete representantes do corpo dirigente do IFMG, ou seja: o reitor, a

coordenadora de Políticas Inclusivas, os pró-reitores de Administração; Ensino;

Pesquisa, Inovação e Pós-graduação; Planejamento e Orçamento; Extensão; d) cinco

alunos que não são considerados pessoas com deficiência.

Não foi possível entrevistar todos os alunos selecionados: alguns números de telefones

de estavam incompletos, outros eram de parentes que, aparentemente, não repassavam

os recados, outros não atendiam ou estavam ‘fora da área de cobertura’ mesmo em

horários diferentes e em diversas tentativas. Houve ainda pessoas que marcaram, mas

por vários motivos, desmarcaram posteriormente a entrevista e, ainda, os que diziam

que iriam participar, mas nunca encontravam um horário para responder às questões.

Das 33 pessoas previstas, foram entrevistadas 27 (88,1%):

- Cinco professores, sendo dois homens e três mulheres, na faixa etária dos 45 anos e

com uma média de 15 anos de magistério.

- Seis pedagogos, sendo cinco mulheres e um homem, na faixa de 40 anos e média de

15 anos de profissão.

Page 22: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

22

- Quatro pró-reitores, sendo todos homens na faixa dos 45 anos.

- A coordenadora de Políticas Inclusivas.

- Seis alunos considerados sem deficiência, sendo três homens e três mulheres na faixa

dos 18 anos.

- Seis alunos com deficiência, sendo três homens e três mulheres na faixa dos 30 anos

(alunos do noturno) e dos 18 (alunos do diurno).

O tratamento do material empírico foi feito de modo a permitir a identificação das

categorias de respostas, os agrupamentos delas, a apuração quantitativa e a apresentação

dos dados em tabelas. Esses procedimentos consideraram parâmetros de análise dos

termos utilizados pelo entrevistado, sua frequência, seu modo de disposição no discurso,

a forma como este foi construído, o modo como foi desenvolvido.

Bardin destaca três categorias de métodos em análise de conteúdo, separando-as em:

análise temática, análise formal e análise estrutural. Neste estudo, optou-se pela análise

formal de conteúdo considerando que seria a perspectiva mais apropriada, sobretudo por

possibilitar uma descrição mais objetiva e sistemática do conteúdo manifesto nas

comunicações (BARDIN, 2010).

A operacionalização da de análise formal de conteúdo contemplou as etapas de

ordenação, classificação, tabulação e análise final dos dados.

Foram consideradas as manifestações e expressões utilizadas pelos sujeitos

entrevistados para definir, interpretar e comunicar o que pensam, desejam e sugerem

como diretrizes operacionais de educação inclusiva a serem contempladas no

documento do IFMG, que deverá evidenciar sua identidade com relação à EPTI. Tais

significados procuram dar conta das seguintes dimensões de análise:

1. O diagnóstico sobre o marco situacional em que se encontra atualmente o IFMG

com relação à EPTI;

2. As necessidades e demandas dos contextos sociais e culturais dos territórios

abrangidos pelo IFMG com relação à EPTI, tendo em vista o desenvolvimento

local;

3. As normativas legais e administrativas que precisam ser consideradas;

Page 23: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

23

4. Os conceitos de pessoas com deficiência, pessoas com necessidades

educacionais especiais, educação inclusiva e educação profissional e tecnológica

inclusiva;

5. Os princípios para a definição de perfis de profissionais a serem formados

considerando-se as condições das pessoas com deficiência;

6. As estratégias de inclusão no ensino, na pesquisa, na extensão e na gestão

democrática do IFMG;

7. Os parâmetros de qualidade nas atividades educacionais em EPTI;

8. Os princípios para a avaliação de aprendizagens, orientação profissional e

acompanhamento em EPTI, inclusive dos egressos do IFMG.

Os conteúdos obtidos por meio das entrevistas semi-estruturadas tiveram como base a

singularidade das ideias no âmbito coletivo, e também a observação de pontos

convergentes e divergentes no pensamento dos entrevistados, referências importantes

para a análise do conteúdo.

Foram, então, analisados os resultados e feita a discussão sobre as respostas dadas aos

blocos de questões com seus pontos discordantes e consensuais. Tiveram-se como

referência os argumentos, as propostas e as percepções de cada pessoa entrevistada.

Naturalmente, manifestações podem ser inconsistentes e até não condizer plenamente

com a realidade, mas foram respeitadas. O intuito maior foi permitir que cada

entrevistado desse sua contribuição e se esforçasse para responder aos desafios do

processo de inclusão de PcD no IFMG.

Page 24: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

24

2. O INSTITUTO FEDERAL DE MINAS GERAIS, O CAMPUS OURO PRETO E A

EDUCAÇÃO INCLUSIVA: marcos situacionais

Neste primeiro capítulo serão abordados o conceito, histórico e dados sobre a criação

dos Institutos Federais de Educação Profissional, Ciência e Tecnologia e do Instituto

Federal Minas Gerais, necessários à configuração do marco situacional sobre educação

inclusiva encontrado na realidade pesquisada. Por marco situacional está sendo

entendida a percepção ou visão geral dos traços mais marcantes da realidade do IFMG e

do quadro das diretrizes políticas que informam a criação dos IF que conformam e

condicionam o cotidiano dessas instituições, especialmente do Campus Ouro Preto, com

relação à EPTI.

2.1. Os Institutos Federais

Em 29 de dezembro de 2008 foi aprovada a Lei nº 11.892/08, que instituiu a Rede

Federal de Educação Profissional e Tecnológica e criou os Institutos Federais de

Educação Profissional, Ciência e Tecnologia (IF) a partir da integração de instituições

federais já existentes que atuavam no campo dessa modalidade educacional: Centros

Federais de Educação Tecnológica, Escolas Técnicas, Escolas Agrotécnicas, Unidades

de Ensino Descentralizadas e Escolas Técnicas Vinculadas às Universidades Federais.

Esses Institutos foram criados na perspectiva de ampliar a oferta de educação

profissional e tecnológica em todas as suas modalidades e níveis no país. Conforme

consta no art. 2º da Lei que os criou:

Os Institutos Federais são instituições de educação superior, básica e

profissional, pluricurriculares e multicampi, especializados na oferta de

educação profissional e tecnológica nas diferentes modalidades de

ensino, com base na conjugação de conhecimentos técnicos e

tecnológicos com as suas práticas pedagógicas (BRASIL, 2008).

À Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica também se integram

a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), as Escolas Técnicas

Vinculadas às Universidades Federais e os dois Centros Federais de Educação

Tecnológica (o de Minas Gerais e o do Rio de Janeiro), que não aderiram à proposta de

constituição de Institutos Federais. Os Institutos Federais têm experimentado, desde sua

Page 25: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

25

criação, grande crescimento de matrículas tornando a Rede Federal de Educação

Profissional, Científica e Tecnológica presente em todos os estados e diversos

municípios brasileiros, oferecendo cursos técnicos, superiores de tecnologia,

licenciaturas, mestrados, doutorados e formação inicial e continuada.

Buscando expandir ainda mais a oferta de cursos de educação profissional e

tecnológica, “por meio de programas, projetos e ações de assistência técnica e

financeira” (BRASIL, 2011, P.01), o Governo Federal lançou, em abril de 2011, o

Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) e está

construindo 208 novos campi dos Institutos Federais.

A criação dos IFs como política pública confere um novo desenho para a educação

profissional e tecnológica na perspectiva da construção da cidadania e da transformação

social por meio da oferta de ensino técnico, tecnológico e superior, que gerem

conhecimentos por meio da superação da separação entre ciência e tecnologia e de uma

prática relacionada e em interação com a realidade e, dessa forma, comprometida com o

desenvolvimento local.

...esse novo desenho constituído traz como principal função a

intervenção na realidade, da perspectiva de um país soberano e

inclusivo, tendo como núcleo para irradiação das ações o

desenvolvimento local e regional. O papel que está previsto para os

Institutos Federais é o de garantir a perenidade das ações que visem

incorporar, antes de tudo, setores sociais que historicamente foram

alijados dos processos de desenvolvimento e modernização do Brasil.

Tal desafio legitima e justifica a importância de sua natureza pública e

afirma uma educação profissional e tecnológica como instrumento

realmente vigoroso na construção e no resgate da cidadania e da

transformação social (PACHECO, 2011, p.07).

Segundo o autor supracitado, a perspectiva do Governo Federal com a expansão da

Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica é que tenha ao menos

um Instituto Federal com seus vários campi em cada estado brasileiro para que sejam

oferecidos cursos e formados técnicos e tecnólogos, que conheçam os contextos em que

estão inseridos e em que atuarão e, dessa forma, estejam sintonizados com os arranjos

sociais, culturais e produtivos locais.

Nesse processo de expansão buscou-se ampliar o número de vagas e democratizar o

acesso a cursos técnicos de nível médio em todo o país mediante alguns projetos. Um

Page 26: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

26

deles foi o lançamento, em 2007, o sistema rede e-Tec Brasil como forma de oferecer

cursos de educação profissional na modalidade a distância.

Outro projeto diz respeito ao Programa Nacional de Integração da Educação

Profissional com a Educação Básica na modalidade de Educação de Jovens e Adultos

(Proeja), que visa oferecer àqueles que tiveram seus percursos escolares interrompidos,

cursos de formação profissional e continuada (FIC) e ensino técnico integrados ao

ensino fundamental e médio, considerando-se as características socioculturais desse

segmento.

2.2. O Instituto Federal de Minas Gerais

O IFMG é uma das 38 instituições criadas no país pela Lei nº 11.892, de dezembro de

2008, como um espaço diferenciado e fundamental para intervir em suas respectivas

regiões identificando problemas e buscando solucioná-los mediante a produção de

tecnologia para o desenvolvimento sustentável e a inclusão social na perspectiva do

desenvolvimento local.

O IFMG foi composto inicialmente pela incorporação da Escola Agrotécnica Federal de

São João Evangelista, dos Cefets de Ouro Preto e Bambuí e das UNEDs de Formiga e

Congonhas.

Em consonância com a proposta do governo federal de expansão da rede federal de

educação profissional, científica e tecnológica com vistas a fortalecer o processo de

inclusão social e propiciar a transformação social, o Instituto cresceu consideravelmente

e, em 2012, já conta com doze campi, cinco unidades conveniadas, quatro polos de

ensino a distância e sete parcerias estabelecidas com diversas prefeituras para oferta de

cursos de formação continuada a jovens e adultos.

O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Minas Gerais

(IFMG) é uma autarquia formada pela incorporação da Escola

Agrotécnica Federal de São João Evangelista, dos Cefets de Ouro Preto

e Bambuí e das UNEDs de Formiga e Congonhas. Atualmente é

composto por doze campi vinculados a uma reitoria, que tem sede em

Belo Horizonte: Bambuí, Betim, Congonhas, Formiga, Governador

Valadares, Ibirité (em implantação), Ouro Branco, Ouro Preto, Ribeirão

das Neves, Sabará, Santa Luzia (em implantação) e São João

Evangelista, além das unidades conveniadas de Pompéu, Piumhi,

Page 27: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

27

Oliveira, Bom Despacho, João Monlevade. Também são mantidos pelo

Instituto pólos de Ensino a Distância nos municípios de Alfenas, Betim,

Cachoeira do Campo e Cataguases, além de manter parceria com as

prefeituras para oferta do projeto especial do Proeja FIC nos municípios

de Carandaí, Congonhas, Sabará, Iguatama, Perdões, Pompéu e Santa

Bárbara.1

O IFMG, tal como prescreve a Lei nº 11.892/08, realiza oferta de educação profissional

e tecnológica em consonância com um modelo institucional pluricurricular, de estrutura

multicampi e diferentes níveis educacionais.

Oferece, em média, sessenta cursos de Formação Inicial e Continuada (FIC), Ensino

Técnico (integrado ao Ensino Médio, Concomitante, Subsequente e Educação de Jovens

e Adultos), Ensino Superior (Bacharelado, Licenciatura e Tecnologia) e Pós-Graduação

Lato Sensu. Por meio de parcerias entre com outras instituições de ensino superior,

promove, ainda, programas de Mestrado e Doutorado Interinstitucional (Minter e

Dinter), que visam à formação dos seus corpos docente e técnico.

O princípio da inclusão é um dos que norteiam as ações educacionais e científicas do

Instituto. Em 31 de agosto de 2009, publica-se seu Estatuto, onde consta no artigo 3°

que, em sua atuação, observará, dentre outros, o seguinte princípio norteador: inclusão

de pessoas com deficiências e necessidades educacionais especiais.

Em consonância com essa determinação, insere no item 10 o atendimento às pessoas

com necessidades educacionais especiais (PNE) ou com mobilidade reduzida por meio

de:

10.1 Plano de promoção de acessibilidade e atendimento prioritário,

imediato e diferenciado para a utilização, com segurança e autonomia,

total ou assistida, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das

edificações, dos serviços de transporte, dos dispositivos, sistemas e

meios de comunicação e informação, serviços de tradutor e intérprete da

Língua Brasileira de Sinais – Libras (BRASIL, 2009, p.92).

Atualmente, encontram-se em discussão no âmbito do Instituto as mudanças a serem

efetuadas no seu Plano de Desenvolvimento Institucional a ser construído no corrente

ano.

1 Disponível em: < http://www.ifmg.edu.br >. Acesso em 29 jun. 2012.

Page 28: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

28

2.3. O Campus Ouro Preto do IFMG

O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Minas Gerais - Campus Ouro

Preto teve início como Escola Técnica Federal de Ouro Preto (Etfop), em 1944. Em

instalação anexa à Escola de Minas, na Praça Tiradentes, em Ouro Preto deu início às

suas atividades letivas tendo os cursos de Metalurgia e Mineração como primeiros a

serem ofertados nessa Instituição.

Conforme consta no seu histórico, em “1959 a Etfop foi elevada à condição de

Autarquia Federal, com autonomia didática, financeira e administrativa” e “em 1964, a

Etfop é transferida para as instalações do 10º Batalhão de Caçadores do Exército

Brasileiro, que havia sido desativado e situava-se nas encostas do Morro do Cruzeiro,

em Ouro Preto”. Essa mudança teria sido muito importante para conferir “identidade

própria e novos horizontes de desenvolvimento” à instituição e, desde então, tem

inscrito importantes marcas no ensino técnico profissionalizante e na história da

educação local.2

No ano de 2002, a Etfop tornou-se Centro Federal de Educação Tecnológica de Ouro

Preto (Cefet Ouro Preto) com a finalidade de formar e qualificar profissionais nos vários

níveis e modalidades de ensino, para os diversos setores da economia; realizar pesquisas

e desenvolvimento de novos processos, produtos e serviços, em articulação estreita com

os setores produtivos e a sociedade, oferecendo mecanismos de educação continuada e,

nesse sentido, passou, então, a oferecer cursos superiores de tecnologia.

Em 2007, entra em funcionamento sua primeira Unidade de Ensino Descentralizada

(UNED) na cidade de Congonhas, o que possibilitou a ampliação da área de influência

da Instituição e o desenvolvimento da região, pois passou a atender um número

significativo de alunos por meio da oferta de vários cursos.

Em 29 de dezembro de 2008, o Cefet Ouro Preto passou a fazer parte do Instituto

Federal de Ciência e Tecnologia Minas Gerais e a denominar-se Campus Ouro Preto

(IFMG Campus Ouro Preto). De acordo com informações constantes no Plano de

2 Disponível em < http://ouropreto.ifmg.edu.br/instituicao/historico > Acesso em 02 de dez.

de2012

Page 29: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

29

Desenvolvimento Institucional (PDI) do IFMG, vigência 2009/2013, o Campus Ouro

Preto está:

Localizado a 100 km da capital, Belo Horizonte, onde se situa a

Reitoria. Exerce influência em municípios situados, na maioria,

dentro de um círculo imaginário, com raio de 200 km, tendo

como centro a cidade de Ouro Preto. Este círculo engloba a

Microrregião Metropolitana de Belo Horizonte, onde se

concentra o maior Parque Industrial do Estado, cujas atividades

de indústria, comércio e serviços centralizam a principal

atividade econômica do Estado de Minas Gerais (BRASIL,

2009, p.12).

As demandas e necessidades apresentadas pelo local onde se insere esse Campus e seu

círculo de influência são crescentes e há uma busca constante de parcerias para atender

ao que preconiza o artigo 5° do Estatuto do Instituto Federal de Educação, Ciência e

Tecnologia de Minas Gerais no que concerne às suas atividades, que devem pautar-se

por estimular e apoiar processos educativos que levem à geração de trabalho e renda e à

emancipação do cidadão na perspectiva do desenvolvimento socioeconômico local e

regional.

Tendo em vista atender essa premissa e outras finalidades educativas constantes no

estatuto do IFMG torna-se necessário lembrar que o município de Ouro Preto possui,

segundo dados do IBGE referentes ao Censo 2010, uma população de 69.598 habitantes

e que as principais atividades econômicas locais estão relacionadas ao setor da indústria,

especialmente a metalúrgica e à mineração. Importante ressaltar que por ser cidade

Patrimônio Histórico Mundial da Humanidade, nesse município destaca-se

especialmente o setor de turismo e o crescimento dos serviços a ele relacionados.

Em relação às necessidades apresentadas pelas pessoas com necessidades especiais, o

Plano de Desenvolvimento Institucional do IFMG considera que

[...] faz-se necessário que o Instituto Federal Minas Gerais seja

acessível à comunidade, desde o vestibular até a conclusão do

curso. Este atendimento inclui dificuldades de natureza:

didático-pedagógica, psicológica, de acessibilidade e

atitudinais, proporcionando aos alunos com necessidades

especiais as condições necessárias ao ensino e aprendizagem

[...] (BRASIL, 2009, p.92).

Page 30: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

30

Esse plano enumera no item 10.2 as várias estratégias a serem implementadas para a

garantia da acessibilidade das PNEs nos campi do Instituto. A principal delas vem da

consolidação dos Núcleos de Apoio às Pessoas Com Necessidades Especiais (Napne).

No Campus Ouro Preto esse Núcleo apresenta como suas principais metas:

Promover a inclusão de Pessoas com Necessidades

Educacionais Especiais (PNEEs), seu encaminhamento ao

mercado de trabalho e permanência neste; ampliar parcerias;

capacitar gestores, professores e funcionários; sensibilizar a

comunidade; estimular a participação dos familiares dentro da

escola e dotar a escola de condições físicas, mobiliário e

equipamentos apropriados em atenção ao disposto na Lei

10.098, de 19/12/2000, que estabelece os critérios para a

promoção de acessibilidade a espaços públicos.3

Apresenta-se, no quadro a seguir, a configuração da atual oferta de cursos do Campus

Ouro Preto:

Quadro 01 - Cursos oferecidos pelo Campus Ouro Preto – 2012

Cursos oferecidos pelo Campus Ouro Preto

Nível Modalidade Curso Local

FIC Proeja Alvenaria Congonhas

FIC Proeja Cozinheiro Ouro Preto

FIC Proeja Reparação de eletrodomésticos Santa Bárbara

Técnico Integrado Automação Ouro Preto

Técnico Integrado Edificações Ouro Preto

Técnico Integrado Metalurgia Ouro Preto

Técnico Integrado Mineração Ouro Preto

Técnico Subsequente Edificações Ouro Preto

Técnico Subsequente Metalurgia Ouro Preto

Técnico Subsequente Mineração Ouro Preto

3 Disponível em: < http://ouropreto.ifmg.edu.br/instituicao/napnee>. Acesso em 2 dez. 2012.

Page 31: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

31

Técnico Subsequente Meio Ambiente Ouro Preto

Técnico Subsequente Segurança do Trabalho Ouro Preto

Técnico Proeja Joalheria Ouro Preto

Técnico Proeja

Manutenção e Suporte de

Informática Ouro Preto

Técnico EAD Serviços Públicos Ouro Preto

Técnico EAD

Manutenção e Suporte de

Informática

Técnico EAD Hospedagem

Técnico EAD Eletroeletrônica

Técnico EAD Controle Ambiental

Técnico EAD Automação Industrial

Técnico EAD Edificações

Superior Licenciatura Física Ouro Preto

Superior Licenciatura Geografia Ouro Preto

Superior Tecnólogo Conservação e Restauro Ouro Preto

Superior Tecnólogo Gastronomia Ouro Preto

Superior Tecnólogo Gestão da Qualidade Ouro Preto

2.4. Marco situacional do IFMG com relação à EPTI

Os Institutos Federais foram criados em 28 de dezembro de 2008 e o IFMG teve sua

reitoria instalada em Belo Horizonte em meados de 2009. Em 2010, esse Instituto

passou a integrar em seu organograma uma Secretaria de Políticas Inclusivas, que deu

início à discussão das questões de inclusão de forma multicampi.

Nesse contexto e a partir das orientações do Programa Educação, Tecnologia e

Profissionalização para Pessoas com Necessidades Educacionais Especiais (TEC NEP),

essa Secretaria buscou conhecer os núcleos estabelecidos, implantar outros novos nos

campi, traçar e intermediar as ações entre eles. Em 2010, o IFMG enviou proposta e

recebeu verba do Programa Incluir, que foi utilizada pelos Campi Ouro Preto e São João

Page 32: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

32

Evangelista. Porém, essa Secretaria deixou de integrar a Reitoria em 2011 e os Napnes

ficaram sem ter nenhuma referência interna no Instituto.

Em 2012, o IFMG institui um novo setor para tratar de assuntos relacionados à inclusão

educacional. Denominado Setor de Formulação de Políticas de Ingresso e de Inclusão e

estabelecido na Pró-Reitoria de Ensino, conta com uma coordenação que iniciou os

trabalhos fazendo um levantamento e diagnóstico da situação atual dos Napnes do

Instituto. Feita a coleta e análise dos dados repassados por meio de questionários pelos

coordenadores de Napnes, concluiu-se que dos dez campi do IFMG, oito possuem

Napne implantado, com a devida portaria que designa o Coordenador e seus respectivos

membros, conforme exigido pelo Programa TEC NEP e que os outros dois ainda

precisam constituir e estruturar o núcleo. Segundo a coordenadora do setor responsável

pelas ações de inclusão nesse Instituto, esses últimos estão recebendo orientações sobre

a obrigatoriedade de implementar o núcleo em suas sedes.

De posse do resultado desse diagnóstico, a responsável pelo Setor de Formulação de

Políticas de Ingresso e de Inclusão determinou que se fizesse a primeira reunião dos

coordenadores de Napnes, na Reitoria, para a discussão das políticas inclusivas do

IFMG. Nesse encontro, ficaram estabelecidas algumas ações para reativação das

atividades relativas à inclusão de pessoas com deficiência no âmbito do Instituto.

A primeira ação ocorreu a partir do consenso entre os participantes desse encontro sobre

a efetivação de um trabalho conjunto entre os coordenadores dos núcleos e a

representante do IFMG, atual responsável pelo Setor de Formulação de Políticas de

Ingresso e de Inclusão, na construção do regimento interno dos núcleos de inclusão do

Instituto. Para a construção desse documento, decidiu-se que o regimento do Napne do

Campus Ouro Preto fosse utilizado como modelo e que os outros fariam as adaptações

necessárias com a prerrogativa de adicionar as suas singularidades.

No referido encontro, houve um passo importante para democratização da política de

inclusão de pessoas com deficiência no Instituto. A criação de um grupo de discussões

via meio eletrônico chamado Inclusão IFMG aberto à participação dos membros de

núcleos interessados.

Iniciou-se, então, a discussão do regimento interno dos Napnes do IFMG a partir da

disponibilização do regimento interno do Núcleo do Campus Ouro Preto. Feita a

Page 33: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

33

disponibilização desse regimento para o grupo via meio eletrônico, houve um processo

de discussão aberto aos membros de todos os Napnes por um período aproximado de

quinze dias. O documento foi acessado por coordenadores de alguns campi que

sugeriram algumas mudanças. Findo o período aberto para que os interessados fizessem

considerações, marcou-se uma data para encontro presencial entre os coordenadores dos

núcleos ou um membro indicado por eles, na Reitoria, para conclusão do regimento dos

núcleos do Instituto.

Os participantes desse encontro definiram que haveria, no decorrer do ano, a formação

de multiplicadores como estratégia para fortalecimento dos núcleos e, para isso, se

propuseram a promover palestras, oficinas e encontros para os membros dos diversos

campi. A perspectiva é de que esses multiplicadores funcionem como referência do

Instituto na tarefa de sensibilizar professores, funcionários e alunos sobre a questão da

inclusão educacional. Entretanto não houve nenhum encontro para formação no corrente

ano.

Para satisfação dos participantes desse encontro, reafirmou-se também pela

coordenadora do setor de Formulação de Políticas de Ingresso e de Inclusão, a

existência de uma proposta de um curso de pós-graduação lato sensu intitulado

Educação Especial Inclusiva com Ênfase em Libras, com proposta para início no

segundo semestre de 2012 e capacitação de vinte e cinco servidores do IFMG. Porém,

vale ressaltar que até o final de novembro não se teve mais notícias sobre o assunto.

Como a Educação Inclusiva ainda é uma área pouco explorada no contexto da educação

profissional, há outros IFs que também estão constituindo espaços de formação nessa

área. O IF Brasília oferece, também no segundo semestre de 2012, um curso de

extensão em educação inclusiva por meio do Programa de Educação Inclusiva. Por meio

dele são ofertadas 400 vagas em um curso básico em inclusão, prevendo-se a

participação de um membro de Napne de cada campus do Instituto Federal. Esse curso

de 260 horas, na modalidade à distância, visa inserir os servidores da Rede Federal de

Educação Profissional, Científica e Tecnológica nas atividades de pesquisa, ensino e

extensão por meio de conhecimentos vinculados à temática da inclusão de pessoas com

deficiência e integração de práticas que atendam a quaisquer deficiências.

No âmbito da formação em educação inclusiva, há a motivação de que haja uma

articulação entre as atividades de formação e as ações propostas pelos setores

Page 34: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

34

responsáveis pela política de inclusão dos Institutos Federais em toda a Rede Federal de

Educação Profissional, Científica e Tecnológica. Mediadas pelos seus núcleos de

acessibilidade, as atividades e ações norteiam-se pelas orientações repassadas pelo

Programa TEC NEP por meio do documento intitulado Documento Orientador das

Ações da Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva, que traz os pontos

listados a seguir e que devem ser discutidos nas diversas formas de encontros de

membros de Napnes, gestores institucionais e desse programa e, assim, estão dispostas:4

1) Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Específicas – (Napne – Núcleo

de Acessibilidade) e Assessoria de Ações Inclusivas (AAI)

Gestão e vinculação dos Napnes e das AAIs

Disponibilidade de carga horária

Regimento interno

Normativas

2) Portaria das gestões (Central, Regional e Estadual)

Papel dos gestores

Tempo de validade das portarias

Como são escolhidos os gestores e por quem

Disponibilidade de carga horária

Reconhecimento pelos Reitores e Gestão da SETEC/MEC

3) Principais dificuldades enfrentadas pelos Napnes

4) Estruturação de Napnes novos e manutenção dos atuais

Tecnologia Assistiva (TA)

Sala de recursos multifuncionais

5) Acessibilidade no modelo do desenho universal

Acessibilidade física (quebra de barreiras arquitetônicas)

Acessibilidade virtual (site acessível dos Institutos)

6) Formação de profissionais da educação em educação inclusiva

Capacitação aos membros dos Napnes e AAIs

7) Adaptação curricular, diversidade e aprendizagem

8) Elaboração de material didático

9) Banco de Recursos Humanos Acessível

4 Disponível em <

http://www.ifrs.edu.br/site/midias/arquivos/2011828184431599programacao_-

_documento_orientador_%2837,6_kb%29.pdf> Acesso em 03 de dez de 2012.

Page 35: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

35

Disponibilização do endereço para testes

Definição de estratégias para utilização e implantação do mesmo

10) A profissionalização no Pronatec

11) Atendimento às pessoas com necessidades especiais/específicas, segundo a Política

Nacional da Educação Especial, na perspectiva da Educação Inclusiva

12) Acesso, permanência e saída com sucesso de pessoas com necessidades específicas

13) Cotas para pessoas com necessidades específicas.

2.5. Marco situacional do IFMG- Campus Ouro Preto com relação à EPTI

O Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas

(Napne) do Campus Ouro Preto foi criado por meio da Portaria nº 54 de 20/03/2006, ou

seja, somente seis anos após o início do Programa TEC NEP. Foi criado no contexto

institucional do então Cefet Ouro Preto e manteve-se tal como foi instituído quando

houve a incorporação desse Cefet ao IFMG.

Em 2007, por meio do envio do projeto Cefet Ouro Preto à Luz da Inclusão, o Napne

recebeu verba do Programa Incluir e por meio dela realizou algumas ações para toda a

comunidade interna e externa. Houve a oferta de curso de alfabetização em braille;

oficina de Libras, outra sobre Saberes necessários para o educando cego; a apresentação

da peça teatral “Complexo” e a consecução da I Jornada de Inclusão, que promoveu

palestras cujos temas foram: Inclusão de estudantes com necessidades especiais,

Acessibilidade ao mundo do trabalho - a importância da educação profissional, Inclusão

no trabalho, Banco de recursos humanos para encaminhamento profissional de Pessoas

com necessidades especiais (PNEs) e Condutas típicas.

Em 2008, realizou um curso em Libras, uma palestra sobre educação bilíngue para

surdos, uma oficina do aplicativo DOSVOX e a II Jornada de Inclusão, quando

aconteceram palestras sobre Transtornos de Aprendizagem e Déficit de Atenção; acesso

à educação e ao trabalho e gagueira: um olhar diferenciado. Nesse mesmo ano, por meio

do projeto “Conhecer para Incluir”, foi feito um levantamento de dados junto aos alunos

da Instituição visando diagnosticar necessidades especiais e estabelecer perfis de alunos

com essas necessidades. Esse diagnóstico previa que ao seu final fosse desenvolvida

uma proposta pedagógica inclusiva, mas isso não veio a acontecer e nem foi realizada

sequer uma ação específica para atender às necessidades desses alunos.

Page 36: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

36

Esses dois primeiros anos de funcionamento foram de intensa atividade no Núcleo e

alguns dos seus membros fizeram um curso de especialização em inclusão oferecido

pelo Programa TEC NEP. Porém, seus membros foram dele se afastando em virtude de

vários fatores, entre eles e especialmente, o desgaste provocado pela dupla jornada de

trabalho, pois além das funções nos setores onde estavam lotados também precisavam

cumprir aquelas concernentes ao Napne, o que muitas vezes ficava impraticável.

Entre esses fatores de desmobilização do Núcleo se destaca também a mudança de local

de trabalho de alguns integrantes do Napne, pois com a criação da Unidade de Ensino

Descentralizada (UNED) de Congonhas (atual Campus Congonhas), algumas pessoas

que faziam parte do Núcleo de Ouro Preto foram trabalhar lá. Comprometidos que

estavam com a causa da inclusão educacional, constituíram o Napne nesse local e,

juntamente com outros servidores, fizeram um trabalho expressivo em relação à

inclusão de pessoas com deficiência.

Em 2010, constitui-se novamente o Núcleo com novos membros que apesar da boa

vontade, precisavam aprender tudo sobre inclusão. Assim, por meio de reuniões

quinzenais foram assimilando e inserindo em sua formação conhecimentos sobre o

assunto.

Ainda nesse mesmo ano realizou-se a III Jornada de Inclusão com o tema:

Possibilidades e Desafios na Educação Inclusiva. Foi um evento que contou com a

participação de renomados professores da Universidade Federal de Ouro Preto como

Margareth Diniz e Ubiratan Vieira, que discursaram sobre Inclusão e Diversidade e o de

Francisco de Assis Moura, que discorreu sobre o tema Deficiências e Necessidades

Especiais no contexto escolar: reflexões sobre os conceitos.

Entre as várias ações efetivadas pelo Núcleo, estão o projeto de inclusão digital que

atendeu à comunidade de Ouro Preto e, especialmente, alunos da Educação de Jovens e

Adultos (Proeja); as entrevistas com as famílias e os alunos que se declararam com

Necessidades Especiais (NEs) durante a matrícula no Campus; as reuniões com

professores do referido Campus que têm em suas turmas alunos com NEs; entre outras.

Em 2011, as atividades do Núcleo se iniciaram com um levantamento das pessoas com

deficiência inscritas no vestibular e posterior visita às suas residências para

levantamento das suas necessidades efetivas no momento das provas. Os dados

Page 37: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

37

levantados foram encaminhados à comissão organizadora do vestibular para que

tomasse as devidas providências e ainda assim houve situações embaraçosas. Porém,

após verificar quais alunos passaram no vestibular e se matricularam faltou um

acompanhamento mais efetivo no dia a dia escolar para garantir a permanência e o êxito

desses alunos em seus estudos.

Nesse mesmo ano, 2011, o Napne do Campus Ouro Preto juntamente com a gestora

estadual do Programa TEC NEP, organizou e sediou o II Encontro estadual de Napnes

de Minas Gerais e o I Fórum de Educação Inclusiva. Nesse Encontro, houve reflexão

sobre a dimensão dos Napnes, seus limites e possibilidades com o objetivo de trazer

subsídios e viabilizar elementos estratégicos para a implantação e desenvolvimento

desses núcleos nos diversos campi dos Institutos Federais sediados em Minas Gerais,

Cefet de Belo Horizonte e Escolas Vinculadas às Universidades Federais.

Esse Encontro contou com a participação de pessoas de vários campi do IFMG, do IF

Norte de Minas, do IF do Triângulo Mineiro, do IFSUDESTEMG, do

IFSULDEMINAS, do IFMT, da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), da

Universidade Federal de Uberlândia, da Universidade Federal de Lavras. Contou,

também, com a presença de integrantes da Apae de Ouro Preto, do Centro de Atenção

Psicossocial de Ouro Preto, da 25ª Superintendência Regional de Ensino e da Secretaria

Municipal de Educação de Ouro Preto.

A programação contou com a reunião em Grupos de Trabalhos Temáticos (GTT), de

forma que cada grupo refletisse sobre pontos elencados nas diretrizes apresentadas nas

sugestões do roteiro para a elaboração do documento orientador das ações da educação

especial, na perspectiva da educação inclusiva para a Rede Federal de Educação

Profissional, Científica e Tecnológica. O tema Dimensão dos Napnes: Limites e

possibilidades, orientou a organização do encontro em dois momentos distintos e

interligados, num se discutiram os limites e, no outro, as possibilidades.

Nesses GTTs houve o debate sobre gestão e vinculação dos Napnes, regimento interno,

sala de recursos multifuncionais, acessibilidade/desenho universal, tecnologia assistiva,

currículo, diversidade e aprendizagem, dentre outros. Concluindo: nesse momento de

troca de experiências e novos conhecimentos, cada grupo apresentou o contexto e o

resultado de suas discussões, sistematizando o trabalho que serviu como base para o

documento. Com isso, os Napnes dos Institutos Federais, Cefet e escolas vinculadas de

Page 38: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

38

Minas Gerais puderam levar ao encontro regional realizado no Rio de Janeiro em

outubro desse mesmo ano suas contribuições para as discussões.

Como foi um encontro aberto à comunidade interna e externa, destacou-se a

participação de alunos do Curso de Licenciatura em Geografia do Campus Ouro Preto e

outros do próprio Instituto e da UFOP. Porém, a participação de docentes e servidores

dessa unidade foi como em todos os eventos relativos à inclusão de pessoas com

deficiência até então promovidos, insipiente.

Ressaltou-se nesse evento a participação de profissionais da Associação de Pais e

Alunos excepcionais (Apae). Em consequência, decidiu-se por uma parceria entre essa

associação e o Núcleo de Campus Ouro Preto, a disponibilização de um profissional

para participar das reuniões do Núcleo. Por meio dessa participação, nota-se o quanto

um olhar diferenciado, de quanto e como quem está fora da Instituição pode contribuir

para o fortalecimento do Núcleo.

Entre as palestras ministradas nesse evento, houve a proferida pelo renomado autor de

vários livros sobre inclusão, Romeu Sassaki, com o tema Adequação curricular,

Diversidade e Aprendizagem.

Baseando-se nos resultados das discussões dos GTTs dos encontros estaduais e

regionais, os Napnes do IFMG têm enviado propostas de regulamentação da educação

inclusiva ao conselho superior, órgão máximo do Instituto e que tem caráter consultivo

e deliberativo.

Nesses documentos, solicita-se o empenho para que suas reivindicações sejam

plenamente consideradas e incorporadas ao se construir o regimento da Instituição. O

documento denominado Carta de Salinas, construído coletivamente no I Encontro dos

Napnes de Minas Gerais, ocorrido em 2010 no Instituto Federal do Norte de Minas

Gerais - Campus Salinas, apresenta a preocupação com a estruturação dos núcleos nos

Institutos e suas ações inclusivas. Nesse documento enviado ao conselho superior do

IFMG em outubro de 2010, as reivindicações são as seguintes:

O IFMG criará as condições de acesso, permanência e saída

com sucesso de estudantes com necessidades específicas nos

cursos de formação inicial e continuada, cursos de nível:

técnico, superior, pós-graduação e suas várias modalidades,

incluindo cursos que habilitem ou reabilitem essas pessoas às

Page 39: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

39

atividades laborais, permitindo o acesso ao mundo produtivo e à

sua emancipação econômica mediante:

I – Adotar um Projeto Político Pedagógico que considere as

mobilizações indispensáveis ao atendimento educacional

especializado dos estudantes com necessidades específicas;

II – Propor uma avaliação pedagógica e funcional, no processo

de ensino, que identifique as necessidades específicas dos

estudantes e reoriente tal processo;

III – Identificar prioridades a serem oferecidas aos estudantes

com necessidades específicas em todos os serviços oferecidos

pelo IFMG;

IV – Atuar de forma colaborativa e em equipe, com todos os

setores e profissionais dos Campi do IFMG com a finalidade de

promover a acessibilidade em todas as suas manifestações e

eliminação de barreiras aos estudantes com necessidades

específicas;

V – Assegurar que todos os estudantes com necessidades

específicas do IFMG tenham à sua disposição os serviços

oferecidos pelo Núcleo de Atendimento às Pessoas com

Necessidades Específicas (Napne);

VI – Garantir aos estudantes com necessidades específicas

medidas efetivas, individualizadas e compatíveis com a meta de

inclusão plena;

VII – Os Núcleos de Inclusão (Napne, NEAB, NEABI, Pesca,

etc.) de todos os Campi do IFMG terão como função articular

os diversos setores nas atividades relativas à inclusão, bem

como a função de gerenciar as ações e o desenvolvimento de

atividades de ensino, pesquisa e extensão;

VIII- Os Núcleos de inclusão terão salas específicas com

infraestrutura para o desenvolvimento de suas atividades em

cada Campus;

IX – Os Núcleos de inclusão terão recursos humanos

necessários (funcionários, bolsistas) com vistas a

implementação de suas ações.

Com o mesmo ideal de inclusão e de estruturação dos núcleos, após o II Encontro

Estadual de Napnes de Minas Gerais e o I Fórum de Educação Inclusiva, foi construído

e enviado ao conselho superior do Instituto, em outubro de 2010, documento

denominado Carta de Ouro Preto, a qual sinaliza os anseios e angústias, desejos e

expectativas dos membros de Napnes e norteia as ações futuras na perspectiva de uma

Page 40: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

40

verdadeira Educação Inclusiva. Nele se encontram propostas consideradas pelo grupo

“amadurecidas pela convivência e luta a favor das pessoas com Necessidades

Específicas”.

Em 2012, o Napne do Campus Ouro Preto está vinculado, no organograma institucional,

à direção Geral do Campus e conta com oito membros nomeados, sendo dois docentes

da área de Educação Física e seis técnicos administrativos (uma secretária, uma

pedagoga, uma psicóloga, três técnicas em assuntos educacionais).

Esse Campus apresenta um crescimento do número de alunos com deficiência

matriculados. Considerando-se apenas aqueles que declararam ter deficiência visual,

auditiva e motora são cinco alunos em 2010, sete em 2011 e quinze em 2012. Porém,

por meio do trabalho realizado pelo setor de Pedagogia é possível perceber um número

maior de pessoas com deficiência, pois há alunos com baixa visão, comprovada por

meio de relatório médico, que não declararam essa deficiência, além daqueles com

outras necessidades especiais como déficit de atenção e hiperatividade que não estão

aqui contabilizados.

O resultado da atividade diagnóstica realizada pelo setor de Formulação de Políticas de

Ingresso e de Inclusão em 2012, apresenta o número de alunos com Necessidades

Específicas do Instituto e dos diversos campi. Nele destaca-se que 13 alunos apresentam

Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TADH), oito alunos têm deficiência

visual (baixa visão/cegos), cinco possuem deficiência física e quatro deficiência

auditiva (baixa audição/surdez).

Page 41: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

41

Tabela 1 - Número de alunos com necessidades específicas - IFMG

1º semestre de 2012

Necessidade Bam-

buí Betim

Congo-

nhas Formi-

ga

G.

Valadares

Ouro

Preto

Ouro

Bran-

co

Rib. das

Neves

S. João

Evangelis

-ta

Saba-

rá Total

Altas Habilidades/

Superdotação 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2

Déficit Cognitivo 1 0 1 1 0 0 0 0 0 0 3

Deficiência Física 3 0 1 0 1 3 0 0 0 0 5

Deficiências

Múltiplas 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Def. Auditiva

/Baixa audição 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2

Surdez 0 0 1 0 0 4 1 0 0 0 2

Deficiência

Visual/ Cegos 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 1

Def.Visual/ Baixa

visão 2 0 0 3 2 4 0 0 0 0 7

Transtornos

Globais do

Desenvolvimento

2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2

TADH

(Transtorno do

Déficit de Atenção

com

Hiperatividade)

8 0 0 0 5 4 0 0 0 0 13

Coordenação

motora

(Equilíbrio)/

Mobilidade

Reduzida/

Dificuldade

locomoção

1 0 0 1 0 0 0 0 0 0 2

Fotofobia

(sensação de

sensibilidade ou

Aversão a

qualquer tipo de

luz)

0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1

Distúrbio Bipolar 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

TOTAL 21 0 3 6 8 15 1 0 1 0 55

FONTE: Coordenação de Políticas do IFMG

Page 42: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

42

No capítulo a seguir, o Programa TEC NEP, ação coordenada pela Secretaria de

Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação, será apresentado,

destacando-se seu histórico, finalidades e importância para a consolidação da EPTI na

Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica.

Page 43: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

43

3. O PROGRAMA TEC NEP DA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO

PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

Na primeira década do século XXI, o paradigma da inclusão, após processos de

discussões e debates em que se envolveram instituições, pessoas e governos, foi

institucionalizado, no Brasil, e encontra-se amplamente propagado em todas as

instituições educacionais do país. A inclusão educacional é preconizada em documentos

nacionais e internacionais, como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei

nº 9.394/96, e pela Unesco (1994). Ideias constantes nesses documentos e de autores

tais como Sassaki (1997) e Stainback e Stainback (1999) são frequentemente citadas

como fontes para a elaboração e desenvolvimento da política nacional de inclusão

escolar.

A Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica não poderia deixar

de acolher, nas escolas que a compõem, os princípios sobre a inclusão. Isso vem sendo

feito por meio do Programa Educação, Tecnologia e Profissionalização para Pessoas

com Necessidades Educacionais Especiais (TEC NEP). As escolas dessa rede, que em

sua maioria, constituem atualmente os Institutos Federais de Educação Profissional,

Ciência e Tecnologia, passam a receber orientações no sentido de se adaptarem para

receber pessoas com necessidades especiais nas suas atividades e cursos ofertados.

Porém, ao se pensar em inclusão escolar, é necessário considerar o princípio educativo

do acolhimento das diferenças e a sua concretização é um desafio, pois exige o repensar

sobre crenças e atitudes, mudar valores e concepções sobre o ser humano e suas formas

de ser e se relacionar no meio em que vive. Para as instituições escolares, demanda

alterações em formas de organizar o trabalho pedagógico; dispositivos adequados de

infraestrutura (arquitetura predial, material didático, equipamentos, etc.); profissionais

(corpo docente e técnico) qualificados; transporte escolar especializado; diversidade e

flexibilidade curriculares; práticas educativas correspondentes às necessidades dos

alunos e ambiente escolar favorável às finalidades da inclusão educacional.

Com a criação dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia a partir da

reunião de unidades anteriormente existentes e outras recém-criadas na Rede Federal de

Educação Profissional, Científica e Tecnológica renovaram-se as expectativas de que

Page 44: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

44

estas instituições possam se constituir como referência de inovação social e

desenvolvimento local também no campo da educação inclusiva.

O IFMG é uma das 38 instituições criadas no país pela Lei nº 11.892 de dezembro de

2008 como um espaço diferenciado e fundamental para intervir em suas respectivas

regiões identificando problemas e buscando solucioná-los por meio da produção de

tecnologia para o desenvolvimento sustentável e a inclusão social na perspectiva do

desenvolvimento local. No seu Estatuto, Capítulo II, art. 3º, inciso IV, há a

determinação de se adotar o princípio da inclusão de pessoas com deficiências e

necessidades educacionais especiais em sua atuação profissional, que compreende ações

de ensino, pesquisa e extensão.

Porém, sem a formação de professores e funcionários técnicos em educação especial, a

materialização dessas determinações de ações inclusivas não acontece, tornando-se a

inclusão apenas mais uma palavra ou um rótulo desprovido de sentido.

Considera-se importante ressaltar que as necessidades especiais aqui referenciadas, no

campo da aprendizagem, compreendem as que se originam quer de “deficiência física,

sensorial, mental ou múltipla, quer de características como altas habilidades,

superdotação ou talentos” (BRASIL, 2001, p. 55).

Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96) consta que a

formação inicial de professores deverá se tornar de exclusiva responsabilidade das

universidades ou institutos superiores de educação. Porém, as matrizes curriculares dos

cursos de formação da maioria dos professores, que estão atuando no IFMG, mais

especificamente no Campus Ouro Preto, não contemplaram conhecimentos em

educação especial, o que torna a formação complementar continuada altamente

necessária. É o que também considera Pletsch (2010, p.173), que enfatiza a necessidade

de espaços, como centros de estudos, como uma “alternativa para formação continuada,

especialmente por meio da pesquisa-ação que privilegia a construção de conhecimentos

de forma colaborativa entre professores da escola e da universidade”.

Para fazer frente a essa realidade que não é específica dos Institutos Federais nem da

Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, a Secretaria de

Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação desenvolveu e vem

implementando o Programa TEC NEP.

Page 45: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

45

3.1 O Programa TEC NEP

No final da década de 1990, por iniciativa de duas secretarias do Ministério da

Educação (MEC) – a então Secretaria de Educação Média e Tecnológica (SEMTEC) e a

Secretaria de Educação Especial (SEESP), houve uma pesquisa para levantamento de

dados sobre o acesso das Pessoas com Necessidades Especiais (PNEs) ao ensino técnico

e tecnológico nas escolas da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica. A

análise dos dados obtidos suscitou a necessidade de formulação de uma política pública

que visasse à inserção desse alunado nessas instituições. Iniciaram-se, então, discussões

para a implementação de um programa que atendesse à necessidade de fomentar a

inclusão dessas pessoas nos cursos técnicos e tecnológicos da Rede Federal. Em meados

do ano 2000, iniciou-se o Programa Educação, Tecnologia e Profissionalização para

Pessoas com Necessidades Educacionais Especiais (TEC NEP), trazendo como ideia

seminal o planejamento de ações que favoreçam o acesso e a permanência de PNEs nas

instituições da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica.

Esse Programa foi, então, instituído como uma política pública em junho de 2000, tendo

como propósito maior que as instituições que compõem essa se tornassem referência no

campo da educação profissional inclusiva. Objetivando a inserção e permanência das

pessoas com necessidades educacionais especiais no ensino técnico e tecnológico e com

o intuito de aumentar as condições de acesso dessas pessoas às oportunidades oferecidas

pelo mercado de trabalho, as ações do programa TEC NEP foram direcionadas à rede de

instituições que oferecem ensino técnico e tecnológico profissional em todo o Brasil.

O TEC NEP configura-se como um programa de adesão, mediante o qual as escolas da

rede federal foram, paulatinamente, conhecendo e inserindo seus pressupostos nos

contextos educacionais, por meio de ações de orientações emanadas dos grupos gestores

e dos Núcleos de Apoio às Pessoas com Necessidades Especiais (Napnes).

As atividades do Programa TEC NEP foram planejadas para acontecer em um contexto

de busca de expansão da ideia de inclusão a partir de quatro momentos distintos. Em

primeiro lugar, as atividades desse se voltaram para a sensibilização e a conscientização

das instituições que compõem a Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica.

Para isso, foram realizados quatro seminários regionais, em 2000, dos quais

participaram vários gestores e servidores dessa rede, “dos chamados ‘Serviços’

(SENAC, SENAI, SENAR e SENAT), de representações dos movimentos organizados

Page 46: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

46

das pessoas com deficiência, de outros ministérios e, principalmente, das próprias

pessoas com deficiência” (NASCIMENTO, 2011, p. 05).

A formação dos grupos de gestores centrais, regionais e estaduais, e ainda a

coordenação de Napnes consolidaram a segunda fase de estruturação desse programa.

Em seguida, veio o momento da utilização e desenvolvimento de Tecnologias

Assistivas. O quarto momento foi programado para acontecer a partir do ano de 2011

tendo em vista a realização das ações de Acompanhamento, Avaliação e

Implementação.

Na estruturação do Programa, consolidou-se a formação de três grupos gestores como

estratégia de minimização da distância entre as instituições e os responsáveis pela

gestão do programa, bem como para melhorar o planejamento e o acompanhamento das

ações. Esses grupos gestores foram constituídos por técnicos da então Secretaria de

Educação Média e Tecnológica (SEMTEC) e da SEESP e ficaram organizados da

seguinte forma hierárquica:

GRUPO GESTOR CENTRAL - Assume a coordenação de todo

processo. Dele emanam orientações, confirmações, expedientes e

atividades de implementação da Ação TEC NEP em todo o Brasil.

Trabalha em articulação com os gestores regionais.

GRUPO GESTOR REGIONAL – Em articulação com o Grupo Gestor

Central, assume o mesmo papel na sua respectiva região, repassando

orientações para os gestores estaduais e coordenadores de núcleos

locais. É o agente articulador regional.

GRUPO GESTOR ESTADUAL - Segue orientações da Gestão

Regional na implementação das atividades relativas a essa ação em seu

respectivo estado, ao mesmo tempo em que contata as instituições ou

organizações que atuam no atendimento às pessoas com necessidades

específicas. É o agente articulador estadual (BRASIL, 2000, p. 1).

No âmbito das instituições educacionais, foram criados os Napnes como uma das ações

propostas pelo programa, no sentido de dar suporte às atividades com vistas à inclusão

das pessoas com necessidades especiais e de ser uma referência dentro das instituições

de ensino para a gestão do TEC NEP.

É esse o setor que articula pessoas e setores para o desenvolvimento das

ações de implantação/implementação da Ação TECNEP no âmbito

interno das instituições para atender às especificidades de cada local. Os

Napnes foram institucionalizados tendo como objetivo principal criar

na instituição a cultura da "educação para a convivência", aceitação da

diversidade e, principalmente, buscar a quebra das barreiras

arquitetônicas, educacionais e de comunicação. O Núcleo tem um (a)

Page 47: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

47

coordenador (a) e os outros participantes são denominados membros

(NASCIMENTO, 2011, p. 5).

Os membros desse núcleo são pessoas que se oferecem para auxiliar nas atividades e

são efetivados após publicação de portaria pelo reitor do Instituto no qual está inserido o

núcleo do qual farão parte. Atualmente, alguns núcleos têm regimento interno, outros

não. São os membros do Núcleo de Apoio às Pessoas com Necessidades Especiais, que,

juntamente com o coordenador e responsável pela gestão estadual planejam não

somente as ações internas da Instituição, mas também os encontros estaduais dos

núcleos.

O público-alvo da Educação Profissional Tecnológica Inclusiva (EPTI) são PNEs

advindos do Ensino Fundamental para os cursos técnicos, tecnológicos e, mais

recentemente, para os cursos de graduação, pós-graduação e Formação Inicial e

Continuada (FIC), em conformidade com o artigo VII da Lei 11.892/2008.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sobre o censo brasileiro

de 2000, ano em foi instituído o TEC NEP revelam que de um total de 170 milhões de

habitantes, cerca de 24,6 milhões de pessoas se declararam portadoras de alguma

deficiência, número que corresponde a 14,5% da população do país. Já o resultado do

Censo 2010 aponta que 23,9% da população brasileira possuem algum tipo de

deficiência, cerca de 45 milhões de pessoas. Essa população tem direito à inserção no

contexto social e educacional brasileiro.

3.2. Doze anos depois...

Nesses anos de existência do TEC NEP, o programa esteve presente nos Institutos

Federais, nos Centros Federais de Educação Tecnológica (Cefets), na Universidade

Tecnológica do Paraná e em algumas escolas técnicas vinculadas às universidades

federais. Do total de aproximadamente 400 instituições da Rede Federal, 110 tem

Napnes instituídos, 27,5%, um percentual ainda pequeno face à importância e relevância

social da temática e proposta.

No documento denominado Ação TEC NEP, dez anos depois... Censinho 2011 consta

que em metade das instituições da Rede Federal onde foram implantados os núcleos não

houve dificuldades para atender às solicitações e efetivar as ações do Programa.

Page 48: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

48

Entretanto, 45% delas se queixaram de dificuldades no processo de implantação,

particularmente com relação ao espaço físico acessível para os Napnes.

Outros dados importantes desse Censo são os seguintes:

No tocante à preparação/formação de recursos humanos nas instituições

para atender as demandas relacionadas à inclusão de Pessoas com

Necessidades Educacionais Específicas, 51% das instituições indicam

que as possuem, sendo 45% desses servidores concursados e 11%

terceirizados, que trabalham em diversas áreas que vão desde a

atividade docente à psicologia, ao serviço social, pedagogia, educação

física, educação inclusiva dentre outras (BRASIL 2011, p. 20).

Porém, nesse mesmo documento, conclui-se que só há ações voltadas para a formação

de pessoal para atuar no Programa quando há demanda decorrente do ingresso de

pessoas com alguma necessidade específica.

No que se refere à acessibilidade, relata que ainda existem muitas dificuldades para que

se efetive o processo de inclusão, que vão desde as barreiras arquitetônicas até as

comunicacionais e educacionais. Ressalta, porém, que a maior quebra de barreiras se

deu no nível arquitetônico:

...quanto às barreiras de comunicação, quase não houve preocupação

com a colocação do piso tátil e nem com a identificação tátil, o que traz

dificuldades para que a pessoa com DV possa circular com autonomia

nesses espaços formativos. A pessoa com DV terá dificuldades do

mesmo modo nas instituições que não tem softwares leitores de tela

para utilizar o computador (BRASIL, 2011, p. 23).

Pode-se afirmar, entretanto, que somente com a acessibilidade arquitetônica não é

possível efetivar o processo de inclusão educacional, é preciso muito mais. A

acessibilidade comunicacional é um dos maiores desafios para que se efetive a inclusão

de PNEs nas escolas, pois o processo de ensino e aprendizagem pressupõe interação e

essa não ocorre sem a ação recíproca, sem o diálogo. Então para que haja acessibilidade

comunicacional será preciso uma mudança na prática pedagógica dos professores, uma

mudança de postura daqueles que se predispõem realmente a ensinar e que,

frequentemente, por falta de conhecimento ou de disposição para aprender e ensinar,

acabam contribuindo conscientemente ou não para que os alunos com deficiência se

tornem invisíveis.

3.3. Formação de docentes e técnicos via TEC NEP

Page 49: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

49

No âmbito da formação em educação inclusiva há a expectativa de que haja uma

articulação entre o Programa, as atividades de formação e as ações propostas pelos

setores responsáveis pela política de inclusão dos Institutos Federais em toda a Rede

Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica. Mediadas pelos seus

Núcleos de acessibilidade, as atividades e ações norteiam-se pelas orientações

repassadas pelo TEC NEP.

Nesse período de existência, o Programa ofereceu várias possibilidades de formação aos

docentes e técnicos da Rede Federal. Via núcleos de inclusão, foram ofertados cursos de

extensão, palestras, seminários e fóruns. O maior nível de formação certificada

aconteceu com a formação de uma turma no curso de especialização em educação

inclusiva. Esse curso foi oferecido de 2007 a 2009 aos integrantes da rede, no entanto,

essa modalidade de formação não teve continuidade e acabou atendendo a uma

porcentagem ínfima de servidores.

Dessa forma, verifica-se que ainda há ampla demanda por formação de docentes e

técnicos, porém, em níveis mais elevados, como pós-graduação lato e stricto sensu.

Nota-se que são especificamente esses níveis de formação continuada que geram maior

interesse nos docentes da Rede Federal e se o programa almeja atender a esse público, a

melhor forma de fazê-lo seria essa. Entretanto considera-se que a formação pode e deve

também ocorrer por meio de cursos de extensão, oficinas e palestras, ações que estão

dentre as planejadas e coordenadas pelos Napnes e/ou TEC NEP. Contudo, no

desenvolvimento da presente pesquisa, a autora observou que especificamente no que

concerne ao Campus Ouro Preto, essas ações não têm atingido a maioria dos docentes e

nem alterado de forma consistente a prática pedagógica. Essa observação demonstra

conformidade com as informações que constam em documentação do referido Programa

Quanto à melhoria do processo didático-pedagógico a partir da

implantação da Ação TEC NEP algumas instituições não identificaram

nenhuma mudança com a implementação da Ação TEC NEP. No

entanto, a maioria identificou mudanças tanto no que concerne a infra-

estrutura quanto à formação de recursos humanos, além da alteração na

proposta curricular das instituições (BRASIL, 2011, p. 28).

Considerando-se que a finalidade da inclusão é a inserção, aprendizagem e conclusão

com êxito das PNEs nos cursos por eles escolhidos, melhorar o processo didático-

pedagógico deveria ser a finalidade principal de todo o processo educacional. A

inclusão das PNEs nas escolas demanda adaptações estruturais, na prática e no material

Page 50: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

50

pedagógico. Sem tais intervenções, as possibilidades de aprendizagem são minimizadas

e essas pessoas terão de se esforçarem muito mais para aprenderem sozinhas, fora da

escola ou apesar das condições oferecidas por ela.

3.4. Um balanço positivo

Considera-se que o Programa TEC NEP promoveu uma mudança de concepção de

educação nas instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e

Tecnológica, e por meio de suas ações, propiciou avanços consideráveis no processo de

inclusão. Segundo dados contidos no Censinho 2011, foi possível constatar que,

A partir da implementação da Ação TEC NEP, o procedimento

didático-pedagógico e a práxis docente nas instituições da Rede Federal

de Educação Profissional, Científica e Tecnológica seguem a proposta

da educação inclusiva e a orientação da aceitação da diversidade

(BRASIL, 2011, p.30).

Porém, há muito que se aprender para a efetivação da inclusão nesses Institutos,

especialmente no que concerne à formação de professores. Há que constituir uma

política consistente de formação docente que se baseie nas demandas dos professores;

caso contrário, a inclusão será apenas mais um discurso bem intencionado.

O Programa, por meio das suas ações formativas, promoveu mudanças nas Instituições

de Educação Profissional e Tecnológica da Rede Federal, que corroboraram para o

processo de inclusão de PNEs nos cursos ofertados por elas. Porém, sabe-se que o

caminho da inclusão efetiva não é simples e, mesmo após uma década de existência,

esse período foi apenas o de semear as ideias de inclusão educacional. Muito ainda

precisa ser feito para melhorar a prática docente e para que as condições de acesso e

permanência dessas pessoas sejam realmente consideradas por todos os responsáveis

pelo processo educacional das instituições, que formam a Rede Federal de Educação

Profissional, Científica e Tecnológica no Brasil.

O capítulo que vem a seguir tem a proposta de discutir conceitos de pessoas com

deficiência e de analisar seus direitos e dificuldades para realizar-se humanamente,

processo para o qual a educação profissional e tecnológica pode e deve contribuir de

forma decisiva.

Page 51: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

51

4. PESSOAS COM DEFICIÊNCIA: conceitos, direitos e dificuldades

4.1. Conceitos de deficiência e de pessoas com deficiência

Sassaki (2009) afirma que a utilização da terminologia considerada politicamente

correta é considerada de extrema importância quando os assuntos tratados trazem

enraizados preconceitos, estigmas e estereótipos, como é o caso das deficiências que

aproximadamente 14,5% da população brasileira possuem. Ressalta ainda que a

utilização de uma ou outra terminologia está relacionada ao entendimento que cada

pessoa tem sobre o que é deficiência e aos valores sociais vigentes decorrentes da

maneira como a sociedade se relaciona com essas pessoas em cada local e época.

No Brasil, um dos primeiros termos a serem utilizados para nomear as pessoas com

deficiência foi “inválidos” (portanto, “sem valor”), ou seja, uma pessoa completamente

inútil, especialmente para o mundo do trabalho. “Assim eram consideradas as pessoas

com deficiência desde a Antiguidade até o final da Segunda Guerra Mundial”

(SASSAKI, 2002, p.5).

Posteriormente, na década de 1960, passou-se a utilizar o termo “incapacitados”, o qual

originariamente significava “indivíduos sem capacidade” e, posteriormente, ganhou

interpretação mais abrangente passando a se referir a “indivíduos com capacidade

residual” (ou que subsiste de coisa desaparecida).

Entre 1960 e 1980, os termos mais utilizados eram “defeituosos” - o que significava que

as pessoas tinham alguma deformidade física - e “excepcionais”. Após a criação das

Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais, em 1954, esse foi o termo mais

utilizado para se referir especialmente a indivíduos com deficiência intelectual.

Posteriormente, passou a incluir também pessoas consideradas superdotadas sob o

argumento de que esses também se destoavam dos considerados “normais”. Na

sequência, esse termo foi substituído pelas expressões “pessoas com deficiência mental”

e “pessoas superdotadas”.

Com o surgimento de estudos e práticas educacionais na área de altas

habilidades ou talentos extraordinários nas décadas de 80 e 90, o

termo excepcionais passou a referir-se a pessoas com inteligência

lógica-matemática abaixo da média (pessoas com deficiência mental)

Page 52: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

52

e a pessoas com inteligências múltiplas acima da média (pessoas

superdotadas ou com altas habilidades e gênios) (SASSAKI, 2010,

p.2).

O termo “pessoas deficientes” começou a ser utilizado na década de 1980; porém,

alguns líderes de organizações de pessoas com deficiência contestaram o termo “pessoa

deficiente” alegando que ele sinaliza, impropriamente, que a pessoa inteira é deficiente.

Passou-se a utilizar, então, o termo “pessoas portadoras de deficiência”, que é utilizado

somente em países de língua portuguesa, e que no Brasil foi proposta para substituir o

termo “pessoa deficiente”. Ao ser utilizado pela sociedade, foi abreviado para

“portadores de deficiência”.

A partir do ano de 1990 tem-se utilizado uma variedade de denominações: “pessoas

com necessidades especiais”, “portadores de necessidades especiais”, “pessoas

especiais”, “pessoas com deficiência”, “portadores de direitos especiais”. Sobre a

tendência de considerar esse termo politicamente incorreto e, consequentemente, parar

de dizer e/ou escrever a expressão “portador de deficiência”, expressão ainda muito

utilizada atualmente, Sassaki explica

A condição de ter uma deficiência faz parte da pessoa e esta pessoa

não porta sua deficiência. Ela tem uma deficiência. Tanto o verbo

“portar” como o substantivo ou o adjetivo “portadora” não se aplicam

a uma condição inata ou adquirida que faz parte da pessoa. Por

exemplo, não dizemos e nem escrevemos que certa pessoa é

portadora de olhos verdes ou pele morena. Uma pessoa só porta algo

que ela possa não portar, deliberada ou casualmente. Por exemplo,

uma pessoa pode portar um guarda-chuva se houver necessidade e

deixá-lo em algum lugar por esquecimento ou por assim decidir. Não

se pode fazer isto com uma deficiência, é claro (SASSAKI, 2009.

p.5).

Na década de 1990, surge a expressão “pessoas com necessidades especiais” para

substituir o termo “deficiência”. Mas, esse termo adquire sentido mais amplo e ganha

significado próprio.

A Declaração de Salamanca (Unesco, 1994) confere amplo significado à expressão

“necessidades especiais”, de modo a abranger desde pessoas que apresentam

dificuldades de escolarização decorrentes de condições econômicas e socioculturais até

pessoas com todo tipo de deficiência. A expressão necessidades educacionais especiais

foi adotada pelo Conselho Nacional de Educação (Resolução CNE nº 2, de 11/09/01,

com base no Parecer CNE nº 17/2001, homologado em 15/08/01).

Page 53: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

53

No Decreto nº 5.296/04, que regulamenta as Leis nº 10.048 e nº 10.098, ambas de 2000,

considera-se

I - pessoa “portadora” de deficiência: que possui limitação ou

incapacidade para o desempenho de atividade e se enquadra nas

seguintes categorias: deficiência física: alteração completa ou parcial

de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o

comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de

paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia,

tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia,

amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo,

membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as

deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o

desempenho de funções; deficiência auditiva: perda bilateral, parcial

ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por

audiograma nas frequências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz;

deficiência visual: cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou

menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a

baixa visão, que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor

olho, com a melhor correção óptica; os casos nos quais a somatória

da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor

que 60º; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições

anteriores; deficiência mental: funcionamento intelectual

significativamente inferior à média, com manifestação antes dos

dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de

habilidades adaptativas, tais como: comunicação; cuidado pessoal;

habilidades sociais; utilização dos recursos da comunidade; saúde e

segurança; habilidades acadêmicas; lazer e trabalho; deficiência

múltipla - associação de duas ou mais deficiências.

II - Pessoa com mobilidade reduzida, aquela que, não se enquadrando

no conceito de pessoa portadora de deficiência, tenha, por qualquer

motivo, dificuldade de movimentar-se, permanente ou

temporariamente, gerando redução efetiva da mobilidade,

flexibilidade, coordenação motora e percepção. 2

Na legislação brasileira, é encontrada a conceituação da palavra deficiência subdividida

em deficiência, deficiência permanente e incapacidade, sendo esse último termo

incluído a partir da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, em 2006:

Deficiência – toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função

psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o

desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para

o ser humano; deficiência permanente – aquela que ocorreu ou se

estabilizou durante um período de tempo suficiente para não permitir

recuperação ou ter probabilidade de que se altere, apesar de novos

tratamentos; e incapacidade – uma redução efetiva e acentuada da

Page 54: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

54

capacidade de integração social, com necessidade de equipamentos,

adaptações, meios ou recursos especiais para que a pessoa portadora

de deficiência possa receber ou transmitir informações necessárias ao

seu bem-estar pessoal e ao desempenho de função ou atividade a ser

exercida.5

Portanto, nessa dissertação, utiliza-se o termo “pessoas com deficiência”, afirmado pela

Convenção Sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2006) e constante no artigo

1º do Decreto Legislativo nº 186/2008. Tal se justifica por estar de acordo com a

prerrogativa do Decreto nº 5.296/04 e por não se ter em mente todas as necessidades

especiais existentes no campo educativo.

Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo

prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em

interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação

plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as

demais pessoas. 6

Sobre a afirmação do que se considera nessa Convenção “pessoa com deficiência”,

Sassaki chama a atenção para a utilização dos termos “mental” e “intelectual”.

Observem-se os termos “mental” e “intelectual” citados como duas

naturezas distintas e não como sinônimos. Em outras palavras, os

impedimentos de natureza física geram a deficiência física; os de

natureza mental (ou seja, de saúde mental) geram a deficiência

psicossocial; os de natureza intelectual, a deficiência intelectual; os

de natureza sensorial (visão), a deficiência visual; e os de natureza

sensorial (audição), a deficiência auditiva. Subentende-se aqui a

existência dos impedimentos de natureza mista gerando a deficiência

múltipla (SASSAKI, 2006, p.4).

Quando se tratar de acesso ao mundo do trabalho, utilizar-se-á a definição de pessoa

com deficiência tal como considera a Organização Internacional do Trabalho (OIT):

Pessoa com deficiência é o “indivíduo cujas perspectivas de obter

emprego apropriado, reassumi-lo, mantê-lo e nele progredir são

substancialmente reduzidas em virtude de deficiência física, auditiva,

visual, mental ou múltipla devidamente reconhecida, agravadas pelas

dificuldades locais de inclusão no mundo do trabalho

(SECRETARIA INTERNACIONAL DO TRABALHO, 2006, p. 5).

5 Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3298.htm> Acesso em 20 ago.

2012.

6Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato20042006/2004/decreto/d5296.htm>

Acesso em 09 set. 2012.

Page 55: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

55

As Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica também

auxiliam na escolha do melhor termo a ser utilizado nessa pesquisa, pois nelas consta

que:

Todos os alunos, em determinado momento de sua vida escolar,

podem apresentar necessidades educacionais e seus professores, em

geral, conhecem diferentes estratégias para dar respostas a elas. No

entanto, existem necessidades educacionais que requerem da escola

urna série de recursos e apoios de caráter mais especializado, que

proporcionem ao aluno, meios para acesso ao currículo.

Essas são as chamadas necessidades educacionais especiais. (...),

trata-se de um conceito amplo: Em vez de focalizar a deficiência da

pessoa, enfatiza o ensino e a escola, bem como as formas e condições

de aprendizagem; em vez de procurar, no aluno, a origem de um

problema, define-se pelo tipo de resposta educativa e de recursos e

apoios que a escola deve proporcionar-lhe para que obtenha sucesso

escolar; por fim, em vez de pressupor que o aluno deve ajustar-se a

padrões de "normalidade" para aprender, aponta para a escola o

desafio de ajustar-se para atender à diversidade de seus alunos

(BRASIL, 2001, p. 33).7

Salienta-se ainda que nos Núcleos de Apoio às Pessoas com Necessidades Especiais

(Napnes) utiliza-se o termo necessidades específicas, em concordância com o

argumento do documento-base da Ação TECNEP - Tecnologia, Educação, Cidadania e

Profissionalização para Pessoas com Necessidades Específicas, que considera

que cada pessoa com alguma necessidade física, emocional,

cognitiva, relacionadas ou não há uma deficiência, apresenta uma

necessidade específica, que atende unicamente ao seu caso, e não

uma necessidade especial (BRASIL, 2011, p.05).

O documento-base acima referido ressalta, com isso, que a educação especial não deixa

de existir e que na perspectiva da educação inclusiva,

é definida como uma modalidade de ensino que perpassa todos os

níveis, etapas e modalidades, que disponibiliza recursos e serviços,

realiza o atendimento educacional especializado e orienta quanto a

sua utilização no processo de ensino e aprendizagem nas turmas

comuns do ensino regular (BRASIL, 2008, p. 15).

7 Disponível em < http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/diretrizes.pdf >. Acesso em 02

set. 2012.

Page 56: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

56

Partindo-se dessa perspectiva, justifica-se ainda a opção pela utilização do termo

“pessoas com deficiência” por considerar-se tal como Glat e Blanco (2007, p.26) que “o

conceito de necessidade especial engloba tanto a especificidade do aluno em sua

subjetividade como o contexto histórico-cultural em que ele vive e se constitui”. Por

outro lado, o termo necessidades educacionais especiais sugere “a demanda de um

determinado aluno em relação a uma aprendizagem no contexto em que é vivida” sendo

que sua utilização pressupõe considerar as condições de interação do aluno no ambiente

de aprendizagem. Dessa forma, considerou-se importante evitar a utilização desses

termos nesta dissertação, pois é preciso minimizar vieses de interpretação que possam

surgir, uma vez que tais termos possuem significados amplos demais face ao que se

pretende com a pesquisa que se propôs realizar.

4.2. A institucionalização dos direitos à educação das pessoas com deficiência no

Brasil

A década de 1970 registra um avanço considerável no Brasil na institucionalização de

políticas nacionais de garantia do direito à educação às pessoas com deficiência.

Conforme Mazzotta, o início desse processo de instituição de políticas para acesso de

pessoas com deficiências nas instituições de ensino se dá no final dos anos cinquenta e

início da década de sessenta.

A inclusão da ‘educação de deficientes’, da ‘educação dos

excepcionais’ ou da ‘educação especial’ na política educacional

brasileira vem a ocorrer somente no final dos anos cinquenta e início

da década de sessenta do século XX (MAZZOTTA, 2005, p.27).

A legislação que institucionaliza os direitos das pessoas com deficiência à educação, no

Brasil, tem suas raízes na Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada e

proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948.

Esta lei preconiza a igualdade de direitos para todos e assim estabelece:

Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades

estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie,

seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra

Page 57: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

57

natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer

outra condição8.

Partindo dessa perspectiva de direitos humanos e do pressuposto de igualdade contido

nesse documento, torna-se necessário rever a forma altamente excludente como se dava

a educação de pessoas com deficiência que até a metade do século XX ocorria por meio

de ações isoladas do Estado ou de núcleos assistenciais.

Poder-se-ia considerar a criação do Centro Nacional de Educação Especial (CENESP)

pelo Ministério da Educação (MEC), em 1973, como um marco para essa perspectiva de

atendimento de pessoas com deficiência. Conforme o Art. 1º do Decreto nº 72.425, de 3

de julho de 1973, de sua criação, essa instituição se destinava a “promover, em todo

território Nacional, a expansão e melhoria do atendimento aos excepcionais”9. Por meio

desse centro, várias ações foram desenvolvidas no sentido de integrar pessoas com

deficiência ao processo educacional por meio de escolas especiais.

A Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes, resolução aprovada pela Assembleia

Geral da Organização das Nações Unidas em 09/12/75, apresenta as bases

internacionais do reconhecimento da necessidade de educação para essas pessoas

historicamente excluídas do processo educacional. Esse documento expressa o direito à

educação às pessoas com deficiência com base no conceito de integração ao ambiente,

de acordo com as possibilidades de cada pessoa e não tratava especificamente do

ambiente escolar. Nesse mesmo documento, também se busca a explicitação do que se

compreende por pessoas deficientes:

O termo "pessoas deficientes" refere-se a qualquer pessoa incapaz de

assegurar por si mesma, total ou parcialmente, as necessidades de

uma vida individual ou social normal, em decorrência de uma

deficiência, congênita ou não, em suas capacidades físicas ou

mentais10

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 205, reafirma o direito de todos os

brasileiros à educação (BRASIL, 1988). Antes disso, a Lei de Diretrizes e Bases da

Educação nº 4.024/61 já preconizava, no seu Art. 88, que “a educação de excepcionais,

8 Disponível em: <portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm>. Acesso

em: 28 nov. 2011.

9 Disponível em: <www6.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=186315>.

Acesso em: 28 nov. 2011.

10 Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/dec_def.pdf > Acesso em 05 out.2012.

Page 58: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

58

deve, no que for possível, enquadrar-se no sistema geral de educação, a fim de integrá-

los na comunidade”11

. No seu artigo 206, a Constituição Federal afirma o princípio de

que o ensino será ministrado com base na “igualdade de condições para o acesso e

permanência na escola”, o que abre um maior espaço para a luta pelo direito à educação

das pessoas com deficiência. O teor desses artigos mencionados remete à necessidade

de institucionalizar concretamente o paradigma da inclusão, de modo a promover

alterações radicais nas estruturas do sistema escolar brasileiro, historicamente pautado

na exclusão não só de pessoas com deficiência, mas também a baseada em critérios de

etnia, raça, sexo, condição social etc.

A Constituição Federal determina, no seu Art. 208, o “atendimento educacional

especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de

ensino”. Os alunos com deficiência seriam integrados às escolas regulares tendo um

processo educacional à parte, em salas especiais e com professores especializados no

ensino de pessoas com deficiência. Estes teriam a função de ensinar e não de

complementar, por meio da utilização de outros recursos. Trata-se do paradigma

integracionista do ensino das pessoas com deficiência, que compreende que o aluno é

quem deve se adaptar à escola regular. Sassaki (1997, p. 32) explica que “no modelo

integrativo a sociedade em geral ficava de braços cruzados e aceitava receber os

portadores de deficiência desde que eles fossem capazes de moldar-se aos tipos de

serviços que ela lhes oferecia; isso acontecia inclusive na escola”. Essa mesma

orientação vai ser encontrada também na Política Nacional de Educação Especial, de

1994, que

Orientou o processo de integração instrucional e condicionou o

acesso às classes comuns do ensino regular àqueles que "(...)

possuem condições de acompanhar e desenvolver as atividades

curriculares programadas do ensino comum, no mesmo ritmo que os

alunos ditos normais” (BRASIL, 2007, p.15).

Tal enfoque determina a matrícula de pessoas com deficiência na rede regular de ensino

prescrita também no Art. 55 da Lei nº 8.069/90, que dispõe sobre o Estatuto da Criança

e do Adolescente. Reza este artigo que “Os pais ou responsável têm a obrigação de

matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino”. Esse entendimento de que

o ensino de pessoas com deficiência deve ser na rede regular está em consonância com

11

Disponível em: <http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=102346>.

Acesso em 05 nov. 2011.

Page 59: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

59

os pressupostos que constam de documentos internacionais dessa década, dentre eles, a

Declaração Mundial para Todos, de 1990, e a Declaração de Salamanca datada de 1994.

Mas, o que se observa, nestes documentos internacionais é um apelo a favor da

mudança do paradigma da integração para o da inclusão.

Escolas regulares que possuam tal orientação inclusiva constituem os

meios mais eficazes de combater atitudes discriminatórias criando-se

comunidades acolhedoras, construindo uma sociedade inclusiva e

alcançando educação para todos; além disso, tais escolas provêem

uma educação efetiva à maioria das crianças e aprimoram a eficiência

e, em última instância, o custo da eficácia de todo o sistema

educacional (UNESCO, 1994, p.1).

No mesmo ano em que a Declaração de Salamanca propõe a transição da integração

para a inclusão, ressaltando que o “princípio fundamental da escola inclusiva é o de que

todas as crianças devem aprender juntas, sempre que possível, independentemente de

quaisquer dificuldades ou diferenças que elas possam ter”, no Brasil, é publicada a

Política Nacional de Educação Especial. É importante registrar que esta surge,

contrariamente voltada para a integração e condicionando “o acesso às classes comuns

do ensino regular àqueles que (...) possuem condições de acompanhar e desenvolver as

atividades curriculares programadas do ensino comum, no mesmo ritmo que os alunos

ditos normais”.

Em 1996, o pressuposto da inclusão é assumido pela Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional (LDB), Lei nº 9.394/96, que traz em seu texto a necessidade de

mudança a partir do sistema educacional e não da pessoa com deficiência. Dessa forma,

a LDB, no seu art. 59, enfatiza que “os sistemas de ensino assegurarão aos educandos

com necessidades especiais”:

I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização

específicos, para atender às suas necessidades;

II - terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o

nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de

suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o

programa escolar para os superdotados;

III - professores com especialização adequada em nível médio ou

superior, para atendimento especializado, bem como professores do

ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas

classes comuns;

Page 60: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

60

IV - educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva

integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas para

os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho

competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem

como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas

artística, intelectual ou psicomotora;

V - acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais

suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino regular

(BRASIL, 1998).

Com base nestas determinações, a Portaria nº 1.679/99 do Ministério da Educação

estabelece normas para acessibilidade de pessoas com deficiência como pré-requisito

para autorização, reconhecimento de cursos e credenciamento das instituições. Surge,

também no ano de 1999, o Decreto nº 3.298 para regulamentar a Lei nº 7.853/89, que

dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência e

normas de proteção. A Seção II desse Decreto trata minuciosamente do acesso à

educação, especificamente do tratamento prioritário e adequado a ser dado à matrícula,

da inclusão da educação especial como modalidade da educação escolar, da inserção das

escolas especializadas no sistema educacional, da oferta obrigatória e gratuita pela rede

pública, dos serviços de educação especial em unidades hospitalares e congêneres, dos

benefícios materiais a serem concedidos, do conceito de educação especial, das

condições a serem previstas na oferta. No seu Art. 28, estabelece que

O aluno portador de deficiência matriculado ou egresso do ensino

fundamental ou médio, de instituições públicas ou privadas, terá

acesso à educação profissional, a fim de obter habilitação profissional

que lhe proporcione oportunidades de acesso ao mercado de trabalho

(BRASIL, 1999).

No seu Art. 29, esse Decreto determina que “As escolas e instituições de educação

profissional oferecerão, se necessário, serviços de apoio especializado para atender às

peculiaridades da pessoa portadora de deficiência”. Inclui em tais suportes:

I - adaptação dos recursos instrucionais: material pedagógico,

equipamento e currículo; II - capacitação dos recursos humanos:

professores, instrutores e profissionais especializados; e III -

adequação dos recursos físicos: eliminação de barreiras

arquitetônicas, ambientais e de comunicação (BRASIL, 1999).12

12

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3298.htm>. Acesso em: 05

dez. 2011.

Page 61: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

61

Nota-se, portanto, que a década de 1990 é marcada pela institucionalização normativa

especialmente na perspectiva da inclusão de pessoas com deficiência no ensino regular.

Segundo Mazzotta,

Um dos mais importantes documentos oficiais foi elaborado pela

Secretaria de Educação Especial, é publicado em dezembro de 1993

estabelecendo a Política Nacional de Educação Especial (PNEE) [...]

declara-se que tal política visa a “garantir o atendimento educacional

do alunado portador de necessidades especiais” e que se “espera que,

até o final do século, o número de alunos atendidos cresça em pelo

menos 25%, o que ainda será muito pouco, face à demanda (estimada

em cerca de 10% da população) (MAZZOTTA, 2005, p.116).

Acompanhando esse processo de mudança do paradigma da integração para o da

inclusão tem-se em 2001 o Parecer n° 2 do CNE/CEB que recomenda a constituição e

funcionamento de um setor responsável pela educação especial nos sistemas de ensino e

a Resolução n° 1/2001 do CNE/CEB que define que as instituições de ensino superior

devem prever, em sua organização curricular, formação docente voltada para a atenção

à diversidade e que contemple conhecimentos sobre as especificidades dos alunos com

necessidades educacionais especiais.

Na mesma linha de pensamento há, em 2002, por meio da Lei nº 10.436, o

reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais (Libras) como meio legal de

comunicação e expressão e a determinação da inclusão da disciplina Libras como parte

integrante do currículo dos cursos de formação de professores e de Fonoaudiologia.

Tem-se, em seguida, a Portaria nº 2.678/02 que aprova diretriz e normas para o uso,

ensino e difusão do sistema Braille em todas as modalidades de ensino.

O Programa Educação Inclusiva: Direito à Diversidade é implantado em 2003 visando à

transformação dos sistemas educacionais até então concebidos na perspectiva da

integração em sistemas inclusivos (BRASIL, 2005). Com esta perspectiva surgiram

vários documentos: em 2004, o Ministério Público Federal divulga o documento O

Acesso de Alunos com Deficiência às Escolas e Classes Comuns da Rede Regular

(BRASIL, 2004); o Decreto nº 5.296/04 regulamenta as leis nº 10.048/00 e nº

10.098/00, estabelecendo normas e critérios para a promoção da acessibilidade às

pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida; em 2005, há a implantação dos

Núcleos de Atividade das Altas Habilidades/Superdotação – NAAH/S em todos os

estados e no Distrito Federal; em 2006, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos, o

Page 62: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

62

Ministério da Educação, o Ministério da Justiça e a Unesco lançam o Plano Nacional de

Educação em Direitos Humanos; o Decreto nº 6.094/07 estabelece as diretrizes do

Compromisso Todos pela Educação. No caso deste último,

Trata-se de uma aliança da sociedade civil com iniciativa privada e

organizações sociais, educadores e gestores públicos de educação,

com o intuito de garantir educação básica de qualidade para todos

brasileiros até 2022, bicentenário da Independência do Brasil (REIS,

2010, p.43).

O Decreto nº 6.094/07 reafirma a busca da garantia de acesso e permanência das

pessoas com necessidades educacionais especiais nas classes comuns do ensino regular,

fortalecendo a inclusão educacional nas escolas públicas. No ano seguinte, o

MEC/SEESP apresenta a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da

Educação Inclusiva e define o que compreende por educação especial.

A educação especial é definida como uma modalidade de ensino que

perpassa todos os níveis, etapas e modalidades, que disponibiliza

recursos e serviços, realiza o atendimento educacional especializado e

orienta quanto a sua utilização no processo de ensino e aprendizagem

nas turmas comuns do ensino regular (BRASIL, 2008, p. 15).

Nesse mesmo ano, é promulgado o Decreto nº 6.571/08, que versa sobre o conceito de

atendimento educacional especializado (AEE), concebido como o “conjunto de

atividades, recursos de acessibilidade e pedagógicos organizados institucionalmente,

prestado de forma a complementar ou suplementar a formação dos alunos no ensino

regular”. No seu Art. 3°, esse Decreto estabelece os objetivos desse atendimento:

1. Implantação de sala de recursos multifuncionais;

2. Formação continuada de professores para o atendimento

educacional especializado;

3. Formação de gestores, educadores e demais profissionais da escola

para educação inclusiva;

4. Adequação arquitetônica de prédios escolares para acessibilidade;

5. Elaboração, produção e distribuição de recursos educacionais para

acessibilidade; e

6. Estruturação de núcleos de acessibilidade nas instituições federais

de educação superior (BRASIL, 2008, p. 1).

A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva é o

documento que institui o financiamento da dupla matrícula dos alunos com

necessidades educacionais especiais na turma regular e no AEE. Segundo as diretrizes

Page 63: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

63

dessa política, esse atendimento deve estar integrado ao projeto político pedagógico

(PPP) da escola e ter como local apropriado a sala de recursos multifuncionais.

Admitir-se-á, a partir de 1º de janeiro de 2010, para efeito da

distribuição de recursos do FUNDEB, o cômputo das matrículas dos

alunos da educação regular da rede pública que recebem atendimento

educacional especializado, sem prejuízo do cômputo dessas

matrículas na educação básica regular (BRASIL, 2007, p. 7).

Destaca-se entre a legislação relativa aos direitos das PcD, a Convenção sobre os

direitos da Pessoa com Deficiência, que, no Brasil, foi adotada em 03/12/06 e

promulgada pelo decreto nº 6.949, em 25/08/2009. Essa Convenção declarou a Década

das Américas pelos Direitos e pela Dignidade das Pessoas com Deficiência durante o

período de 2006 a 2016, com o lema Igualdade, Dignidade e Participação e trouxe

importantes mudanças, entre elas aquelas relativas à classificação das deficiências.

A legislação relativa à educação, no Brasil, evidencia, especialmente a partir dos anos

1990, evolução ao contemplar os direitos à educação das pessoas com deficiência, pois

antes as tendências que caracterizavam nacionalmente tais políticas eram de

“centralização do poder de decisão e execução, atuação marcadamente terapêutica e

assistencial ao invés de educacional, ênfase no atendimento segregado realizado por

instituições especializadas particulares” (MAZZOTTA, 2005, p.129).

Constata-se, assim, que houve tanto nos documentos nacionais quanto internacionais,

nos últimos vinte anos, a intenção de garantir o direito a uma educação verdadeiramente

inclusiva, com igualdade de oportunidades no acesso e na permanência de todos no

ambiente escolar.

4.3. As dificuldades encontradas pelas pessoas com deficiência

Várias são as dificuldades encontradas pelas pessoas com deficiência relacionadas à

acessibilidade em todos os setores sociais. Vão desde o preconceito, a discriminação e a

rejeição até às barreiras que impedem a livre circulação da pessoa e o despreparo da

sociedade para lidar com a diversidade de deficiências existentes. Essas barreiras podem

ser naturais, construídas, econômicas e atitudinais. Guedes afirma que a sociedade é,

frequentemente, responsável por muitas barreiras ainda existentes:

Page 64: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

64

[...] a perpetuação das barreiras que reforçam a situação de

dependência e exclusão a que as pessoas com deficiência vêm sendo

frequentemente submetidas é causada pela sociedade quando esta não

busca promover soluções alternativas de acessibilidade a fim de

remover as barreiras que limitam ou impedem a plena atuação dessas

pessoas (GUEDES, 2007. p.31).

A acessibilidade, aqui referida, relaciona-se a barreiras arquitetônicas, que são

consideradas grandes empecilhos para o acesso de pessoas deficientes ou com

mobilidade reduzida aos mais variados locais, conforme definição expressa na Lei nº

10.098/2000 em que acessibilidade está definida como

“qualquer entrave/obstáculo que limite ou impeça o acesso, a

liberdade de movimento e a circulação com segurança das pessoas”,

e podem ser classificadas em “arquitetônicas urbanísticas” (as

existentes nas vias públicas e nos espaços de uso público),

“arquitetônicas na edificação” (as existentes no interior dos edifícios

públicos e privados), “arquitetônicas nos transportes” (as existentes

nos meios de transportes) e “barreiras nas comunicações” (qualquer

entrave/obstáculo que dificulte ou impossibilite a expressão, o

recebimento de mensagens por intermédio dos meios ou sistemas de

comunicação) (BRASIL, 2000, p. 01).

Portanto, a acessibilidade é um termo muito mais amplo e não se resume apenas a

propiciar o acesso ao ambiente, mas também engloba a remoção de barreiras

arquitetônicas, organizacionais e atitudinais que impedem e/ou dificultam o acesso das

pessoas com deficiência aos mais variados locais, entre eles às instituições educacionais

e, consequentemente, ao conhecimento.

A falta de acessibilidade impossibilita que muitas pessoas com deficiência possam

exercer o direito à cidadania, o que ocorre frequentemente não apenas pela limitação

existente em decorrência da sua deficiência, mas especialmente pela ausência de

condições de acesso, como por exemplo, de adaptações possíveis em todos os

ambientes, móveis, programas etc.

Entre as dificuldades enfrentadas pelas pessoas com deficiência que dificultam sua

locomoção e colocam em risco a sua segurança estão a falta ou mau estado de

conservação de calçadas e de rampas de acesso às calçadas, a falta de adaptações ou

inadequação das adaptações no transporte urbano, a falta de acesso aos prédios públicos,

estabelecimentos comerciais, vias públicas e escolas. Em se tratando de propiciar a

Page 65: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

65

acessibilidade no ensino superior, a Portaria do MEC nº 3.284/03 determina que as

instituições de ensino superior devem

Eliminar barreiras arquitetônicas para a circulação do estudante,

permitindo acesso facilitado aos espaços de uso coletivo; reservar

vagas em estacionamentos nas proximidades das unidades de serviço;

construir rampas com corrimãos ou colocação de elevadores,

facilitando a circulação de cadeiras de rodas; colocar barras de apoio

nas paredes dos banheiros; instalar lavabos, bebedouros e telefones

públicos em altura acessível aos usuários de cadeira de rodas

(BRASIL, 2004, p. 295).

Entretanto, pesquisas (Torres, 2002; Oliveira et al., 2005.) alegam que essas barreiras

persistem ainda em várias instituições e que as atitudinais colaboram para que tais

obstáculos não sejam completamente eliminados.

Entre as barreiras atidudinais, a comunicação é uma das maiores a serem transpostas

pelas pessoas com deficiência. Tanto para os deficientes visuais, que tem o sistema

Braille como uma forma de expressão, mas que não tem sido adotado, quanto para os

auditivos que têm a língua de sinais reconhecida na legislação, mas precisam se

comunicar por escrito na língua portuguesa por ser a língua oficial brasileira. A forma

diferente de se comunicar traz limitações e restringe a vida social das pessoas com

deficiência e a escola inclusiva deve se comprometer com a eliminação dessas barreiras

para que essas pessoas tenham acesso ao direito inalienável à educação.

Sassaki (2004) afirma que a eliminação de barreiras comunicacionais é uma

consequência da criação de acessibilidades:

[...] na comunicação interpessoal (face-a-face, língua de sinais,

linguagem corporal, linguagem gestual etc.), na comunicação escrita

(jornal, revista, livro, carta, apostila etc., incluindo textos em braile,

textos com letras ampliadas para quem tem baixa visão, notebook e

outras tecnologias assistivas para comunicar) e na comunicação

virtual (acessibilidade digital) (SASSAKI, 2004. p.41). (grifos

originais)

O concorrido mercado de trabalho, que exige que todo trabalhador esteja qualificado e

que atualize sempre os seus conhecimentos, impõe exigências que já seriam suficientes

para dificultar a entrada de PcD no mundo do trabalho. Romita (1991), em suas

pesquisas concluiu que

...o grande entrave da inserção e manutenção do portador de

deficiência no mercado de trabalho está: na carência de qualidade

profissional, na carência dos sistemas de habilitação e reabilitação; na

Page 66: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

66

falta de estímulos econômicos que facilitam a sua contratação pelas

empresas (ROMITA, 1991, p.5).

Passados mais de 20 anos, apesar de mudanças na legislação e da Lei nº 8.213 de 1991,

conhecida também como Lei de Cotas, que, no Artigo 93, prevê que toda empresa com

100 ou mais funcionários deve destinar, de acordo com o número de funcionários da

empresa, de 2% a 5% dos postos de trabalho a pessoas com alguma deficiência,

persistem, talvez não com a mesma intensidade, as mesmas dificuldades para que as

PcD consigam entrar no mundo do trabalho.

A dificuldade de inserção nos cursos de formação profissional, que, na sua maioria, não

se adequaram ao paradigma da inclusão, aliada à falta e precariedade de formação

profissional - que é um dos maiores argumentos dos empresários para justificar a não

contratação de PcD pela Lei de Cotas - além de ser uma dos maiores problemas

vivenciados pelas PcD, é também o que mais influi negativamente na qualidade de vida

dessas pessoas.

Finalmente, e dependente da eliminação de todas as barreiras anteriormente citadas é

preciso destacar três grandes grupos de entraves. O primeiro se refere ao problema do

acesso caracterizado pela falta de reserva de vagas, cotas e processo seletivo adaptado.

O segundo, à dificuldade de se garantir a permanência, uma vez conseguido o acesso em

razão da falta de adaptações curriculares, tradutores e intérpretes de Libras, apoio

especializado, tecnologia assistiva, provas em Braille e leitores. Por fim o desafio de se

obter a saída exitosa como consequência da falta de apoio para colocação profissional,

para o empreendedorismo e de um banco de recursos humanos, instrumentos

importantes para a retirada dessas pessoas da invisibilidade e facilitação às empresas de

contratação de PcD qualificadas. Nas instituições escolares, a falta de acessibilidade de

uma forma ampla e mais especifica das adaptações curriculares, consideradas por

Oliveira (2008, p..140) como “respostas educativas que devem ser dadas pelo sistema

educacional para favorecer todos os alunos, possibilitando o acesso ao currículo, sua

participação integral e o atendimento às necessidades educacionais especiais” e o

sucesso escolar da PcD.

No entanto, a necessidade de efetuar adequações curriculares para atender às

necessidades especiais do aluno não é nenhuma novidade. Encontra-se fundamentada no

artigo 59 da Lei nº 9394/96, de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, da seguinte

Page 67: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

67

forma: “Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais:

currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para

atender às suas necessidades” (Brasil, 1996). Tal determinação vai de encontro a mais

uma barreira representada pelo despreparo dos profissionais da educação para fazer as

adaptações necessárias com relação ao currículo, planos de ensino e aulas.

Acessibilidade em todos os sentidos é o que está posto na legislação brasileira, é

preciso, então, que haja compromisso de todos os gestores, em todos os níveis de

responsabilidade, em assegurar as condições para que os direitos dessas pessoas sejam

reconhecidos, fazendo com que a educação seja um direito universal e não prerrogativa

de alguns.

Ter gestores sensibilizados e comprometidos com o cumprimento das normas de

acessibilidade é uma das condições necessárias para viabilizar e efetivar o caminho para

a formação profissional e inserção sócio-laboral das PcD.

Pretende-se, a seguir e no próximo capítulo, abordar o tema da educação profissional e

tecnológica, mais especificamente das normas e políticas de inclusão educacional e de

inserção ao mundo do trabalho.

Page 68: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

68

5. EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA: normas e políticas de

inclusão educacional e inserção profissional

A educação profissional como responsabilidade do Estado, no Brasil, iniciou-se no

governo de Nilo Peçanha, em 1909, com a criação, nas capitais dos estados, das Escolas

de Aprendizes Artífices, destinadas a ministrar ensino profissional primário e gratuito.

O Decreto nº 7.566, de 23 de setembro de 1909, que criou esse tipo de ensino expunha,

como motivo da criação dessas escolas, “[...] o aumento constante da população das

cidades [que] exige que se facilitem às classes proletárias os meios de vencer as

dificuldades sempre crescentes da luta pela existência [...]”. Segundo esse Decreto,

[...] para isso se torna necessário, não só habilitar os filhos dos

desfavorecidos da fortuna com o indispensável preparo técnico

e intelectual, como fazê-los adquirir hábitos de trabalho

profícuo, que os afastará da ociosidade ignorante, escola do

vício e do crime...”13

.

Educar os jovens sem condição econômica de forma a retirá-los das ruas e dar-lhes

algumas habilidades que lhes possibilitassem ser úteis à sociedade era o argumento de

fundo moralista, que escondia o caráter de contenção social da política adotada e a

intenção de formação de força de trabalho que o processo de industrialização que se

iniciava passou a demandar.

As Escolas de Aprendizes Artífices são reconhecidas como precursoras da atual Rede

Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica. De 1909 até hoje passaram

pelas seguintes designações: Liceus Industriais, em 1937; Escolas Técnicas, em 1942;

Escolas Técnicas Federais, em 1959; Centros Federais de Educação Tecnológica

(Cefet), a partir 1978 contemplando inicialmente as unidades de Minas Gerais, Paraná e

Rio de Janeiro; Escolas Agrotécnicas Federais, em 1979. No ano de 2008, as

instituições integrantes da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica foram

convidadas a atenderem a uma chamada pública do Ministério da Educação com vistas

à constituição dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia. Em 29 de

dezembro de 2008, por meio da Lei 11.892, tais Institutos foram criados. Nesse

processo de mudança, apenas os Cefets Rio de Janeiro e Minas Gerais não aderiram ao

13

Disponível em: http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf3/decreto_7566_1909.pdf. Acesso

em: 27 nov. 2011.

Page 69: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

69

novo modelo institucional, por desejarem se transformar em Universidade Tecnológica,

tal como o fez o Cefet do Paraná, em 2005, quando deu origem à Universidade

Tecnológica Federal do Paraná.

Em 2011, a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica abrangia

um total de duzentos e quatorze (214) unidades e quatro modelos institucionais: 38

Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IF) compostos de diversos

campi, dois Centros Federais de Educação Tecnológica (o do Rio de Janeiro e o de

Minas Gerais), uma Universidade Tecnológica Federal (a do Paraná) e 25 Escolas

Técnicas Vinculadas a Universidades Federais.

O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (IFMG), que é

o cenário institucional desta investigação e para o qual ela se volta como contribuição

científica, técnica e educacional, tem sua reitoria instalada na capital do estado, Belo

Horizonte, e congrega os campi de Bambuí, Betim, Congonhas, Formiga, Governador

Valadares, Ouro Branco, Ouro Preto, Ribeirão da Neves e São João Evangelista. Dele

ainda faz parte o Núcleo Avançado de Sabará e as Unidades Conveniadas de João

Monlevade, Pompeu, Pimhuí e Oliveira.

Historicamente, o profissional de nível técnico formado nessas escolas é o personagem

que surgiu para estabelecer a ligação entre o trabalho operacional do “chão de fábrica” e

o dos engenheiros, assumindo funções intermediárias de coordenação e de supervisão,

de decodificação de mensagens, ora vinda dos operários, ora vinda do “escalão

superior”. Segundo Ribeiro:

Dentro de uma incipiente organização de ensino, que

rapidamente se estruturava como importante instrumento de

legitimação das novas relações sociais instauradas pelo

movimento do capital, a escola profissional desempenhava a

função de qualificar trabalhadores para ocuparem postos de

trabalhos intermediários no universo fabril, como

contramestres, “condutores de trabalho, supervisores de uma

massa de trabalhadores ‘desqualificados’ que não tiveram como

local de disciplinarização a escola, mas a própria fábrica.

(RIBEIRO, 1986, p.127).

Devido à importância dessa função técnica de mediação, à crescente industrialização e

qualidade pedagógica, as escolas técnicas brasileiras ganharam prestígio nacional.

Passaram a ser consideradas, a partir da década de 1960, como centros de excelência na

formação técnica de nível médio, foram se adaptando às novas exigências sociais e

Page 70: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

70

econômicas e receberam crescente suporte financeiro do Governo Federal. A boa

formação do corpo docente; as condições de remuneração e os equipamentos didáticos e

técnicos de qualidade foram construindo a reputação dessas escolas. Dessa forma, o

acesso aos cursos oferecidos pela rede foi se tornando cada vez mais disputado pelos

alunos oriundos dos estratos sociais médios.

5.1. Normas e políticas de inclusão na educação profissional e tecnológica

Nascida, então, dentro de um contexto onde se propunha o atendimento dos

“desfavorecidos pela fortuna”, há mais de um século atrás, em razão do seu expressivo

crescimento e sucesso, a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e

Tecnológica não pode, agora, estar de fora da luta pela educação inclusiva. Em razão da

legislação que assegura às pessoas com deficiência o direito à matrícula em escolas

regulares, nos últimos vinte anos, cada vez mais, elas têm conquistado espaço na

educação brasileira e passam a concorrer a vagas dos cursos oferecidos pela Rede

Federal.

Quanto à Educação Profissional, não poderia ser diferente. O

art. 59, inciso IV, da Lei Federal nº 9.394/96, e o art. 28, do

Decreto nº 3.298/99, asseguram à pessoa com deficiência o

acesso à educação especial para o trabalho, tanto em instituição

pública quanto privada, que lhe proporcione efetiva integração

na vida em sociedade. As instituições são obrigadas a oferecer

cursos de formação profissional de nível básico, condicionando

a matrícula da pessoa com deficiência à sua capacidade de

aproveitamento e não ao seu nível de escolaridade. Ainda

deverão oferecer serviços de apoio especializados para atender

às peculiaridades do(a) aluno(a), como adaptação de material

pedagógico, equipamento e currículo; capacitação de

professores(as), instrutores(as) e profissionais especializados;

adequação dos recursos físicos, como eliminação de barreiras

ambientais (ROSA, 2011, p. 56).

As pessoas com deficiência, na luta pela educação, estão amparadas por uma ampla

legislação embasada pela Constituição Federal Brasileira de 1988, que preconiza a

igualdade de direitos, entre eles, a igualdade de condições de acesso e permanência de

todos na escola regular. Assim, a Educação Profissional e Tecnológica Inclusiva torna-

se uma necessidade para a inserção dessas pessoas nas escolas pertencentes à Rede

Federal.

Page 71: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

71

Entre os dispositivos legais que asseguram às pessoas com deficiência o acesso ao

sistema geral de ensino, documento de grande relevância é a Lei nº 7.853, de 24 de

outubro de 1989, que no seu artigo 8º, Inciso I, determina ser “crime punível com

reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa”, toda ação que “I - recusar, suspender,

procrastinar, cancelar ou fazer cessar, sem justa causa, a inscrição de aluno em

estabelecimento de ensino de qualquer curso ou grau, público ou privado, por motivos

derivados da deficiência que porta”14

.

Em consonância com a legislação sobre os direitos das pessoas com deficiência e do

processo de inclusão dela decorrente, a Rede Federal de Educação Profissional,

Científica e Tecnológica busca se tornar referência em inclusão educacional. Para tanto,

tem desenvolvido, a partir das orientações da Secretaria de Educação Profissional e

Tecnológica (SETEC) e do Programa Educação, Tecnologia e Profissionalização para

Pessoas com Necessidades Educacionais Especiais (TEC NEP), ações no sentido de

viabilizar o acesso, a permanência e a saída exitosa das pessoas com deficiência nos

diversos cursos ofertados. Essas ações seguem a orientação da aceitação da diversidade

e do respeito às diferenças e tem como eixo os seguintes passos:

1 – Quebra de barreiras;

2 – Formação de Recursos Humanos;

3 – Contratação de Recursos Humanos Especializados;

4 - Democratização do Acesso;

5 – Garantia de Permanência (adequação didático-pedagógica);

6 – Conclusão com êxito;

7 - Inserção sócio-laboral (NASCIMENTO, 2011, p. 6).

O processo de inclusão na educação profissional e tecnológica, em todos seus níveis e

modalidades, passa, então, a ser garantido mediante a legislação que preconiza formas

de acesso diferenciadas e que prevê adaptações necessárias às pessoas com deficiência

durante o processo seletivo. Garante também a adaptação do currículo, a acessibilidade

e todo o apoio necessário para que os alunos tenham sucesso na vida escolar.

Os documentos que fixam as normativas legais e administrativas na perspectiva da

educação inclusiva para a educação profissional se baseiam no direito constitucional à

14

Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7853.htm. Acesso em: 27 nov.

2011.

Page 72: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

72

educação pública e gratuita para todo cidadão e, se necessária, adaptada às suas

necessidades. Dessa forma, a pessoa com deficiência tem direito também à educação

superior em escolas públicas ou privadas e em todas as modalidades, conforme consta

no artigo 44 da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) 9.394/96 e também no artigo 27 do

decreto nº 3.298/99, que posteriormente foi alterado pelo decreto nº 5.296/2004, que

estabelece:

As instituições de ensino superior deverão oferecer adaptações

de provas e os apoios necessários, previamente solicitados pelo

aluno portador de deficiência, inclusive tempo adicional para

realização das provas, conforme as características da

deficiência.15

O mesmo artigo reforça a necessidade da inclusão com os seguintes dizeres “As

disposições deste artigo aplicam-se, também, ao sistema geral do processo seletivo para

ingresso em cursos universitários de instituições de ensino superior”.

Em documentações expedidas para a educação profissional e superior, observa-se a

preocupação em orientar e fixar as normas para a inclusão de pessoas com deficiência

norteando-se pela mesma lei e artigo supracitados, onde consta no § 2º que “O

Ministério da Educação, no âmbito da sua competência, expedirá instruções para que os

programas de educação superior incluam nos seus currículos conteúdos, itens ou

disciplinas relacionados à pessoa portadora de deficiência.”.

O processo de inclusão na educação, em todos seus níveis e modalidades, passa, então,

a ser garantido mediante a legislação que preconiza a obrigatoriedade de atender aos

princípios de acessibilidade estrutural e arquitetônica em todos os ambientes da

instituição e estipula um prazo médio de três anos para que as instituições educacionais

atendam ao que preconiza a legislação.

Art. 24. Os estabelecimentos de ensino de qualquer nível, etapa

ou modalidade, públicos ou privados, proporcionarão condições

de acesso e utilização de todos os seus ambientes ou

compartimentos para pessoas portadoras de deficiência ou com

mobilidade reduzida, inclusive salas de aula, bibliotecas,

auditórios, ginásios e instalações desportivas, laboratórios, áreas

de lazer e sanitários.

§ 2o As edificações de uso público e de uso coletivo referidas

no caput, já existentes, têm, respectivamente, prazo de trinta e

15

Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3298.htm>. Acesso em 17

ago. 2012.

Page 73: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

73

quarenta e oito meses, a contar da data de publicação deste

Decreto, para garantir a acessibilidade de que trata este artigo.

Postas as legislações que prevêem o acesso à educação e à acessibilidade estrutural,

resta cuidar então da acessibilidade comunicacional por meio do reconhecimento da

Língua Brasileira de Sinais (Libras) como segunda língua nacional, a formação de

intérpretes e a inserção de aulas de Libras nos cursos de formação de professores. No

artigo 14 do Decreto n° 5.626/04 que regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril de

2002 consta que

As instituições federais de ensino devem garantir,

obrigatoriamente, às pessoas surdas acesso à comunicação, à

informação e à educação nos processos seletivos, nas atividades

e nos conteúdos curriculares desenvolvidos em todos os níveis,

etapas e modalidades de educação, desde a educação infantil até

à superior. 16

Entretanto, para incluir o aluno surdo na educação, não só na profissional, torna-se

imprescindível que haja comunicação entre professores e alunos, pois é por meio da

interação entre os sujeitos que acontece a aprendizagem. Como ensinam os linguistas

renomados como Saussure, a língua é um instrumento primordial de comunicação e por

meio do sistema de signos linguísticos específicos de cada língua os membros de uma

mesma comunidade estabelecem efetivamente a comunicação (SAUSSURE, 2006).

Sendo assim o ensino de Libras torna-se necessário para facilitar a aprendizagem, uma

vez que propicia maior integração social e cultural dos alunos. Nesse sentido, o artigo 3º

do Decreto nº 5.296/04, acima referido, reafirma a busca da garantia da inserção da

Libras como possibilidade de ampliar as formas de acesso e permanência das pessoas

com necessidades educacionais especiais auditivas nas classes comuns do ensino

regular.

A Libras deve ser inserida como disciplina curricular

obrigatória nos cursos de formação de professores para o

exercício do magistério, em nível médio e superior, e nos cursos

de Fonoaudiologia, de instituições de ensino, públicas e

privadas, do sistema federal de ensino e dos sistemas de ensino

dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

§ 1o Todos os cursos de licenciatura, nas diferentes áreas do

conhecimento, o curso normal de nível médio, o curso normal

superior, o curso de Pedagogia e o curso de Educação Especial

16

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-

2006/2005/decreto/d5626.htm>. Acesso em 3 dez. 2012.

Page 74: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

74

são considerados cursos de formação de professores e

profissionais da educação para o exercício do magistério

§ 2o

A Libras constituir-se-á em disciplina curricular optativa

nos demais cursos de educação superior e na educação

profissional, a partir de um ano da publicação deste Decreto.

Para a viabilização da educação inclusiva referenciada em vários documentos nacionais

e internacionais e prevista na LDB, o Plano Nacional de Educação (2001-2010) fixou os

objetivos e as metas a serem alcançadas para a década considerada “década da

educação” e contribuiu para a construção de políticas públicas e programas visando à

melhoria da educação. Nesse contexto, atentou também para as questões relativas à

inclusão de pessoas com deficiência na educação nacional. Porém, nesse período, o

ensino médio (profissionalizante ou não) e superior, focos da atuação das instituições

federais de educação profissional e tecnológica, viram-se em total situação de descaso,

pois toda a atenção estava voltada para o ensino fundamental. Enquanto esse nível

educacional era priorizado, por meio do Decreto nº 2.208/9717

determinou-se a oferta

independente do ensino técnico em relação ao ensino médio, portanto, a não integrado

entre eles e a não expansão da rede federal de educação profissional. Numa perspectiva

oposta ao que determinou aquele decreto e a política de educação profissional e

tecnológica do governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, o governo federal,

por meio do governo do Presidente Lula, lançou em 2007 o Plano Nacional de

Educação (PNE) que constituiu-se como “um conjunto de programas e ações destinadas

à melhoria da educação”, contemplando todos os níveis e modalidades educacionais.

Ao longo da discussão do PNE, foram realizados vários momentos de reflexão e

avaliação contando com a participação de diversos especialistas na área educacional. O

ponto culminante desse processo avaliativo se deu em 2010 com a Conferência

Nacional de Educação (Conae). Esta foi considerada pelo signatário da carta que

submete à consideração da Presidente da República, Dilma Roussef, o Projeto de Lei

que Aprova o Plano Nacional de Educação para o decênio 2011-2020, “espaço

privilegiado de discussão, avaliação e proposição de políticas”.18

17

Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D2208.htm>. Acesso em 3

dez. 2012. 18

Disponível em: < http://www.camara.gov.br/sileg/integras/831421.pdf>. Acesso em 3 dez.

2012.

Page 75: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

75

Reafirmando a vontade política de ampliar o acesso à educação profissional e melhorar

a qualidade do ensino, em 2005, foi lançado o Plano de Expansão da Rede Federal de

Educação Profissional e Tecnológica prevendo a construção de novas escolas e, em

2007, foi promulgado o Decreto nº 6.094/0719

, dispondo sobre o Plano de Metas

Compromisso Todos pela Educação, que trouxe em seu programa de Infra-Estrutura de

Apoio Educacional, o Programa de Educação Inclusiva “destinado a disseminar a

educação inclusiva em todos os municípios brasileiros”.

Em consonância com a LDB 9.394/96 que passou a incluir a educação profissional

como modalidade da educação básica e superior, em 2009, tem-se a obrigatoriedade do

ensino passando para a faixa etária de 4 a 17 anos, prevista na Emenda Constitucional nº

59/2009, o que propiciou que o ensino médio, profissionalizante ou não, passasse a

compor realmente a educação básica que já estava bem amparada por ampla legislação

referente à inclusão de pessoas com deficiência no ensino regular.

O Plano Nacional de Educação - PNE (2011-2020) surge com uma visão diferenciada

do anterior (2001-2010). Enquanto o primeiro trazia uma visão fragmentada da

educação, esse traz uma visão sistêmica de educação e constitui-se de vinte metas

seguidas de estratégias para concretização das mesmas. Segundo texto do PNE, o

estabelecimento dessas estratégias busca nortear a atuação do poder público e a

mobilização da sociedade civil organizada.

Em relação à educação inclusiva, entre a suas diretrizes, destaca-se a meta 4 e 11

acompanhadas de suas estratégias

Meta 4: Universalizar, para a população de quatro a dezessete

anos, o atendimento escolar aos estudantes com deficiência,

transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou

superdotação na rede regular de ensino.

Estratégias:

4.1) Contabilizar, para fins do repasse do Fundo de Manutenção

e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos

Profissionais da Educação - FUNDEB, as matrículas dos

estudantes da educação regular da rede pública que recebem

atendimento educacional especializado complementar, sem

prejuízo do cômputo dessas matrículas na educação básica

regular.

19

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-

2010/2007/decreto/d6094.htm>. Acesso em 3 dez. 2012.

Page 76: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

76

4.2) Implantar salas de recursos multifuncionais e fomentar a

formação continuada de professores para o atendimento

educacional especializado complementar, nas escolas urbanas e

rurais

4.3) Ampliar a oferta do atendimento educacional especializado

complementar aos estudantes matriculados na rede pública de

ensino regular.

4.4) Manter e aprofundar programa nacional de acessibilidade

nas escolas públicas para adequação arquitetônica, oferta de

transporte acessível, disponibilização de material didático

acessível e recursos de tecnologia assistiva, e oferta da

educação bilíngue em língua portuguesa e Língua Brasileira de

Sinais - LIBRAS.

4.5) Fomentar a educação inclusiva, promovendo a articulação

entre o ensino regular e o atendimento educacional

especializado complementar ofertado em salas de recursos

multifuncionais da própria escola ou em instituições

especializadas.

4.6) Fortalecer o acompanhamento e o monitoramento do

acesso à escola por parte dos beneficiários do benefício de

prestação continuada, de maneira a garantir a ampliação do

atendimento aos estudantes com deficiência na rede pública

regular de ensino.20

No mesmo documento, tem-se ainda a meta 11 e sua primeira estratégia que dispõe

sobre o ensino profissionalizante.

Meta 11: Duplicar as matrículas da educação profissional

técnica de nível médio, assegurando a qualidade da oferta.

Estratégias:

11.1) Expandir as matrículas de educação profissional técnica

de nível médio nos Institutos Federais de Educação, Ciência e

Tecnologia, levando em consideração a responsabilidade dos

Institutos na ordenação territorial, sua vinculação com arranjos

produtivos, sociais e culturais locais e regionais, bem como a

interiorização da educação profissional.

É a concepção de acesso, permanência e saída com êxito almejadas nesse PNE que

sustenta as metas que deverão nortear a educação inclusiva na educação profissional e

tecnológica no período 2011/2021. Certamente que a garantia da oferta de formação

profissional para PNEs é um avanço, porém apenas ter formação não é condição

suficiente para que essas pessoas tenham acesso ao mundo do trabalho.

20

Disponível em: < http://www.camara.gov.br/sileg/integras/831421.pdf>. Acesso em 3 dez.

2012.

Page 77: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

77

5.2. Normas e políticas de inserção profissional inclusiva

Na Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão21

, aprovada pela

Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), em 1948, consta que "todo homem tem

direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de

trabalho e à proteção contra o desemprego", porém pesquisas comprovam que as

pessoas com deficiências sempre foram excluídas também do mundo do trabalho.

Dados da Organização Internacional do Trabalho, revelam que

Cerca de 650 milhões de pessoas, ou seja, 10 por cento da

população mundial, vive com uma deficiência – física ou

mental. As estatísticas indicam que cerca de um quinto

nasceram com uma incapacidade, tendo a maior parte adquirido

a sua incapacidade depois dos 16 anos, principalmente durante

a vida profissional. A grande maioria, ou seja, 80 por cento,

vive em países em desenvolvimento. Cerca de 470 milhões de

pessoas com deficiências estão na idade activa (OIT, 2006,

p.47).

No Brasil, para que houvesse uma parcela desse público inserido nas empresas tornou-

se necessário regulamentar a contratação de funcionários com deficiências por meio da

Lei de Cotas, o que ocorreu em 1999. O Decreto nº 3298, de 20/12/1999, regulamentou

a contratação por empresas privadas e a Lei nº 8.112, de 11/12/1990, no Art. 5º,

Parágrafo 2º, regulamentou a contratação dessas pessoas por instituições públicas. A

partir da instituição dessa legislação, as empresas públicas e privadas passaram a ter um

grande desafio, que é além de contratar, também efetivar a gestão do trabalho de

pessoas com deficiência.

Na Constituição brasileira, estão dispostos vários artigos que se referem à questão da

inserção profissional de pessoas com deficiência. Segundo Romita,

É a seguinte a relação dos dispositivos da Constituição que se

referem aos deficientes: art.7º, XXXI: proibição de qualquer

discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do

trabalhador portador de deficiência; 23, II: competência

federativa comum para cuidar da "proteção e garantia das

pessoas portadoras de deficiência"; 24, XIV: competência

federativa concorrente para legislar sobre "proteção e integração

social das pessoas portadoras de deficiências"; 37, VIII: a lei

reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as

pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios de sua

admissão; 203, IV: é objetivo da assistência social "a

21

Disponível em: http://www.brasil.gov.br/sobre/cidadania/direitos-do-cidadao/declaracao-

universal-dos-direitos-humanos. Acesso em 3 dez. 2012.

Page 78: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

78

habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiências

e a promoção de sua integração à vida comunitária"; 208, III:

garantia, através do Estado, da efetivação de seu dever com a

educação, de "atendimento educacional especializado aos

portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de

ensino"; 227, § 1º, II: promoção, pelo Estado, de programas de

assistência integral à saúde da criança e do adolescente, com a

"criação de programas de prevenção e atendimento

especializado para os portadores de deficiência física, sensorial

ou mental, bem como de integração social do adolescente

portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho

e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços

coletivos com a eliminação de preconceitos e obstáculos

arquitetônicos"; 227, § 2º: previsão de disposição legal sobre

normas de construção dos logradouros e dos edifícios de uso

público e de fabricação de veículos de transporte coletivo, com

garantia de acesso adequado às pessoas portadoras de

deficiência; 244: determina que a lei disponha sobre a

adaptação dos logradouros, dos edifícios de uso público e dos

veículos de transporte coletivo existentes QUE FAZER?em

1988 a fim de garantir acesso adequado às pessoas portadoras

de deficiência.legal sobre normas de construção dos

logradouros e dos edifícios de uso público e de fabricação de

veículos de transporte coletivo, com garantia de acesso

adequado às pessoas portadoras de deficiência; 244: determina

que a lei disponha sobre a adaptação dos logradouros, dos

edifícios de uso público e dos veículos de transporte coletivo

existentes em 1988 a fim de garantir acesso adequado às

pessoas portadoras de deficiência.22

Apesar de o Brasil dispor de ampla legislação que visa proteger e apoiar as pessoas com

deficiência no seu processo de inserção no mundo do trabalho, ainda há inúmeras

barreiras que impedem essa entrada. Dados do Censo 2010 do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE)23

confirmam o quanto as pessoas com deficiência têm

dificuldade para entrar no mercado de trabalho formal. No levantamento feito pelo

IBGE, 23,9% da população brasileira possui algum tipo de deficiência, cerca de 45

milhões de pessoas. Esse Censo revela também que 46,4% das pessoas maiores de 10

anos, que se declararam com deficiência e trabalham, ganham, no máximo um salário

mínimo e possuem o Ensino Fundamental e apenas 6,7% das pessoas com deficiências

possuem curso superior. Esse quadro reforça a necessidade da utilização de mecanismos

como a reserva obrigatória de vagas de emprego para pessoas com deficiência, prevista

no artigo 93 da Lei nº 8.213/91. Nela, consta que a empresa que possui em seu quadro

funcional cem empregados ou mais está obrigada a preencher de 2% a 5% dos seus

22

Disponível em http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/23248-23250-1-PB.pdf Acesso

em 26 nov.2012. 23

Disponível em: < www.censo2010.ibge.gov.br/dados_divulgados/>. Acesso em 17 ago. 2012.

Page 79: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

79

cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas com deficiência, habilitadas, na

seguinte proporção: 2% - até 200 empregados; 3% - de 201 a 500; 4% - de 501 a 1.000

e 5% - de 1.001 em diante.

Sabe-se que somente a legislação que prevê as cotas não é o suficiente para garantir que

pessoas que realmente tenham algum tipo de deficiência tenham acesso às vagas

reservadas, uma vez que no momento da contratação pelas empresas o foco que deveria

ser na capacidade e no profissionalismo da pessoa, recai sobre o quão menos deficiente

ela é ou na menor quantidade de recursos de acessibilidade que ela precisa. Por isso,

torna-se necessária uma maior fiscalização do cumprimento dessa lei de cotas para

verificar se os deficientes contratados realmente o são, o que compete ao Ministério do

Trabalho e Emprego, segundo § 5° do artigo 36 do Decreto 3298 que Regulamenta a Lei

no 7.853, de 24 de outubro de 1989 e dispõe sobre a Política Nacional para a Integração

da Pessoa Portadora de Deficiência.

Em relação às instituições públicas, o artigo 5°, § 2° da Lei nº 8.112/90 preconiza a

reserva de até 20% das vagas em concurso público para pessoas com deficiência.

Em se tratando de direito à formação profissional e ao trabalho, a Lei nº 7.853/89, no

seu artigo 2°, prevê:

a) apoio governamental à formação profissional, à orientação

profissional, e a garantia de acesso aos serviços concernentes,

inclusive aos cursos regulares voltados à formação profissional;

b) o empenho do Poder Público quanto ao surgimento e à

manutenção de empregos, inclusive de tempo parcial,

destinados às pessoas portadoras de deficiência que não tenham

acesso aos empregos comuns;

c) a promoção de ações eficazes que propiciem a inserção, nos

setores público e privado, de pessoas portadoras de deficiência;

d) a adoção de legislação específica que disciplina a reserva de

mercado de trabalho, em favor das pessoas portadoras de

deficiência, nas entidades da Administração Pública e do Setor

Privado, e que regulamente a organização de oficinas e congêneres

integradas ao mercado de trabalho, e a situação, nelas, das

pessoas portadoras de deficiência.24

Várias instituições nacionais e internacionais como a Organização das Nações Unidas

(ONU), a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

24

Disponível em: < www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7853.htm>. Acesso em 17 ago. 2012.

Page 80: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

80

(Unesco) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) se tornaram referência em

apoio às ações inclusivas de profissionalização de pessoas com deficiência.

A OIT é uma dessas organizações que têm lutado a favor da inserção profissional das

pessoas com deficiência e sua estrutura compreende: Conferência Internacional do

Trabalho, Conselho de Administração e Secretaria Internacional do Trabalho. Fundada

em 1919, já aprovou 88 Convenções Internacionais sobre Trabalho e 200

Recomendações sobre diversos temas, entre elas, uma convenção e três recomendações

que tratam especificamente da inserção de pessoas com deficiência no mundo do

trabalho. Primeiramente teve aprovada, em 1955, a Recomendação nº 99 que trata da

adaptação e readaptação profissional de pessoas com deficiência; em 1983, aprovou a

convenção nº 159, que trata da inclusão de pessoas com deficiência, especialmente

sobre reabilitação e emprego dessas pessoas e que no Brasil, foi aprovada no Congresso

Nacional pelo Decreto Legislativo nº 51, de 25 de agosto de 1989, ratificada em 18 de

maio de 1990, promulgada pelo Decreto nº 129, de 22 de maio de 1991, e passou a

vigorar em 18 de maio desse mesmo ano. Ainda em 1983, foi aprovada também a

Recomendação nº 168 pela Conferência Internacional do Trabalho, que trata da

igualdade de oportunidades, acessibilidade e promoção de pessoas com deficiência no

emprego e, em 1984, foi aprovada a Recomendação nº 169 relativa à política de

emprego.

Com quase um século de existência e mais de meio século de representação no Brasil, a

OIT tem participado efetivamente da inserção de medidas protetivas ao trabalho e

destinadas a promover oportunidades de emprego regular para os trabalhadores, sem

deixar de lado as pessoas com deficiência, segundo se encontra no site da própria

Instituição:

No Brasil, a OIT tem mantido representação desde a década de

1950, com programas e atividades que refletem os objetivos da

Organização ao longo de sua história. Além da promoção

permanente das Normas Internacionais do Trabalho, do

emprego, da melhoria das condições de trabalho e da ampliação

da proteção social, a atuação da OIT no Brasil tem se

caracterizado, no período recente, pelo apoio ao esforço

nacional de promoção do trabalho decente em áreas tão

importantes como o combate ao trabalho forçado, ao trabalho

infantil e ao tráfico de pessoas para fins de exploração sexual e

comercial, à promoção da igualdade de oportunidades e

Page 81: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

81

tratamento de gênero e raça no trabalho e à promoção de

trabalho decente para os jovens, entre outras.25

Em 2006, a OIT organizou um documento denominado Repertório de Recomendações

Práticas - Gestão de questões relativas à deficiência no local de trabalho. Esse

documento

... foi concebido com o propósito de orientar empregadores, de

grandes, médias ou pequenas empresas, tanto do setor público

como do privado, de países em desenvolvimento ou altamente

desenvolvidos, para adotar uma estratégia positiva de gestão de

questões relativas a pessoas com deficiência no local de

trabalho [...] o conteúdo deste Repertório baseia-se nos

princípios que respaldam instrumentos e iniciativas

internacionais para promover emprego seguro e saudável para

todas as pessoas com deficiência (OIT, 2006, p.6-7).

Nele há o enfoque na inserção de pessoas com deficiências no mercado de trabalho e do

atendimento aos seguintes objetivos:

(a) assegurar que pessoas com deficiência gozem de igualdades

de oportunidades no local de trabalho;

(b) melhorar as perspectivas de emprego para pessoas com

deficiência facilitando-lhes a contratação, recolocação

profissional, permanência no emprego e aproveitamento de

oportunidades de promoção;

(c) promover um local de trabalho seguro, acessível e saudável;

(d) garantir que seja minimizado o ônus para o empregador

decorrente da existência de pessoas com deficiência entre seus

empregados, inclusive de despesas com assistência médica e,

em alguns casos, pagamento de seguros;

(e) maximizar a contribuição que pessoas com deficiência

podem dar à empresa (OIT, 2006, p.1).

No referido documento consta que as suas disposições “deveriam ser consideradas

elementos básicos para gestão de questões relativas à deficiência no local de trabalho”

(OIT, 2006, p. 3-4), o que é corroborado por Gil que considera que as empresas, ao

contratarem uma pessoa com deficiência, devem considerar também “a perspectiva de

ganhos decorrentes do aumento de prestígio da imagem da organização perante seus

clientes e funcionários” (GIL, 2002, p.19)

A OIT também elabora anualmente um Relatório no qual busca apresentar uma imagem

global e dinâmica de cada uma das categorias de princípios e direitos fundamentais da

Declaração Universal dos Direitos Humanos, de acordo com o observado no período

25

Disponível em: <www.oitbrasil.org.b >. Acesso em 26 jul. 2012.

Page 82: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

82

quadrienal anterior. Já foram elaborados três Relatórios Globais sobre promoção da

igualdade e combate à discriminação no trabalho, sendo o primeiro em 2003, intitulado

A Hora da Igualdade no Trabalho, o segundo em 2007, intitulado Igualdade no

Trabalho: enfrentando os desafios e o 3º em 2011 sob o título de Igualdade no Trabalho:

um desafio contínuo, no qual a OIT denuncia que 80% das pessoas com deficiência nos

países em desenvolvimento estão desempregadas e aponta a discriminação como a

principal razão que impede a maioria dessas pessoas de ter o acesso a oportunidades na

educação, na formação profissional e, consequentemente, no mercado de trabalho.

No capítulo a seguir, serão analisados os avanços e as dificuldades do Campus Ouro

Preto do IFMG no desenvolvimento da educação inclusiva, resultados da pesquisa

realizada junto a alunos, professores e profissionais integrantes daquela unidade e de

pró-reitores desse IF.

Page 83: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

83

6. AVANÇOS, DIFICULDADES E PROPOSTAS PARA O DESENVOLVIMENTO DA

EDUCAÇÃO INCLUSIVA NO CAMPUS OURO PRETO DO IFMG

6.1. Avanços no desenvolvimento da educação inclusiva na percepção dos

entrevistados

6.1.1. Avanços da educação inclusiva no ensino

Os dados obtidos na pesquisa demonstraram que os principais avanços do Campus Ouro

Preto nas atividades de ensino em matéria de educação inclusiva foram relacionados ao

trabalho de técnicos e docentes em prol da inclusão de PcD, com especial destaque para

a contratação de intérpretes de Libras. Vale ressaltar que essa particularidade se justifica

por ser a maioria das PcD que se encontram, atualmente, nesse Campus constituída de

pessoas com impedimento sensorial do tipo surdez ou baixa audição. Isso faz com que

se torne mais evidente a importância da presença de intérpretes e pessoas se

comunicando por meio da linguagem de sinais na sala de aula e em outros espaços da

escola. Também coloca em evidência pessoas que buscam conhecimentos sobre o tema

e que apóiam o processo de inclusão desses alunos, sejam eles professores ou técnicos,

estejam eles na sala de aula ou não.

Outro motivo que faz ressaltar esses dados é a inclusão da disciplina Libras nos cursos

de graduação, atendendo ao preconizado pela Lei nº 10.436/02, e a presença de uma

professora com deficiência sensorial (surdez) que tomou posse nesse ano (2012) para

lecionar essa disciplina.

Sobressaíram-se também na fala dos entrevistados a constituição do Núcleo de Apoio às

Pessoas com Necessidades Especiais (Napne) e a questão dos recursos que precisam ser

utilizados para promover a acessibilidade. Mencionar esses fatos como avanço

demonstra que, de alguma forma, as pessoas têm tomado conhecimento das ações do

Napne, que têm percebido que há um movimento em prol da melhoria da acessibilidade

arquitetônica do Campus. Assim declara um dos entrevistados: “um grande avanço foi a

escola se preparar pra receber esse aluno no sentido de acessibilidade que foi o principal

avanço que aconteceu aqui ... colocar esses adesivos... piso tátil, a escola se preparou

pra receber o aluno com deficiência de uma forma assim física” (E12).

Page 84: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

84

Também foi lembrada a questão da informação multicampi: “o maior avanço

conquistado foi permitir aos funcionários de uma forma geral, multicampi, que a

informação chegasse até eles, digamos, entre aspas, para a aceitação de que é possível

em termos de educação técnica profissional dar acesso para esse público” (E13). A

característica multicampi provém da formação dos Institutos Federais, conforme consta

no artigo 2º do projeto de lei que os cria:

Os Institutos Federais são instituições de educação superior,

básica e profissional, pluricurriculares e multicampi,

especializados na oferta de educação profissional e tecnológica

nas diferentes modalidades de ensino, com base na conjugação

de conhecimentos técnicos e tecnológicos às suas práticas

pedagógicas, nos termos desta Lei (BRASIL, 2008).

Há, portanto, necessidade de que as informações cheguem da mesma forma a todos os

Campi do Instituto e de que haja parcerias internas na troca de informações a respeito da

forma como se resolvem os mais variados problemas relacionados ao tema. Assim se

processando não haveria necessidade de ao receber um aluno com deficiência começar

do marco zero na busca de conhecimentos e maneiras de apoiá-lo. Isso é importante,

pois “o número de alunos com necessidades educacionais especiais matriculados em

classes comuns da rede regular tem aumentado ano após ano, chegando a crescer 640%

entre os anos de 1998 e 2006” (BRASIL, 2008).

Finalmente e não menos importante destaca-se a fala de vários entrevistados com

relação ao recebimento desses alunos:

“o fato do aluno estar aqui é um avanço tanto pra nós quanto

pra eles porque esse ambiente aqui também é um ambiente que

vai proporcionar a ele conhecimento muito maior em outras

questões” (E12).

“Outro avanço acho que pra dar oportunidade mesmo para as

pessoas com deficiência; essas pessoas vão sair daqui com uma

formação pra entrar no mercado de trabalho e o mercado de

trabalho está recrutando mesmo pessoas com deficiência”

(E03).

“eu acho que é um avanço a gente ter esses alunos aqui” (E11).

Esses trechos discursivos mostram o quanto a proposta de educação inclusiva é recente

na história da educação. No Brasil, ganhou força somente a partir da LDB 9394/96, que

apesar de colocar no artigo 58 a expressão “preferencialmente”, dedica o capítulo V a

Page 85: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

85

essa modalidade de ensino, assim a concebendo: “Entende-se por educação especial,

para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida

preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades

especiais”.

A diretriz que propõe que todos possam aprender juntos consta também da Resolução

CNE/CEB nº2 de 2001:

Os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos,

cabendo às escolas organizar-se para o atendimento aos

educandos com necessidades educacionais especiais,

assegurando as condições necessárias para uma educação de

qualidade para todos (BRASIL, 2001).

A norma diz respeito à educação inclusiva de maneira geral, aplicando-se também à

educação de pessoas com deficiência, foco desse trabalho de pesquisa, e pessoas com

dificuldades de aprendizagem decorrentes de outros fatores, como salienta a Declaração

de Salamanca.

O princípio que orienta esta Estrutura é o de que escolas

deveriam acomodar todas as crianças independentemente de

suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais,

lingüísticas [sic] ou outras. Aquelas deveriam incluir crianças

deficientes e super-dotadas [sic], crianças de rua e que

trabalham, crianças de origem remota ou de população nômade,

crianças pertencentes a minorias lingüísticas, étnicas ou

culturais, e crianças de outros grupos desavantajados ou

marginalizados. (Unesco, 1994)

Na análise de Pletsch (2011, p.48) foi a partir da instituição das Diretrizes Nacionais

para Educação Especial na Educação Básica com base na Declaração de Salamanca que,

no Brasil, se oficializou os termos ‘educação inclusiva’ e ‘necessidades educacionais

especiais’.

Portanto, os avanços na perspectiva da inclusão conseguidos no campo do ensino

devem-se muito à legislação:

O art. 59, inciso IV, da Lei Federal nº 9.394/96, e o art. 28, do

Decreto nº 3.298/99, asseguram à pessoa com deficiência o

acesso à educação especial para o trabalho, tanto em instituição

pública quanto privada, que lhe proporcione efetiva integração

na vida em sociedade. As instituições são obrigadas a oferecer

cursos de formação profissional de nível básico, condicionando

Page 86: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

86

a matrícula da pessoa com deficiência à sua capacidade de

aproveitamento e não ao seu nível de escolaridade (ROSA,

2011, p. 56).

Os entrevistados, talvez por desconhecimento da legislação, identificam como avanço

“dar oportunidade” para que esses alunos estejam na educação profissional e

tecnológica e associam isso ao esforço próprio de cada pessoa deficiente. Na realidade e

sem prejuízo do mérito individual de cada uma delas, o avanço se conseguiu mesmo foi

antes com a promulgação da legislação sobre o assunto. Assim é muito positivo

constatar que as pessoas passam a perceber que os alunos com deficiência estão

chegando para estudar no Instituto e que essa vinda pode lhes dar e a toda a comunidade

escolar oportunidades de construir novos e relevantes conhecimentos não só para o

processo de ensino-aprendizagem de todos os alunos, mas especialmente para a vida de

todos.

Tabela 2 - Principais avanços no ensino

Avanços no ensino Nº de indicações %

Mobilização de profissionais 16 21,9

Formação dos Napnes 13 17,8

Vinda de instrutores de Libras 12 16,4

Recursos para acessibilidade 9 12,3

Receber esses alunos 8 10,9

Vinda de professora surda 5 6,9

A busca por conhecimento 5 6,9

A informação multicampi 5 6,9

Total 73 100,0

6.1.2 Avanços da educação inclusiva na pesquisa

O desenvolvimento da educação inclusiva nas atividades de pesquisa ainda é uma

questão não resolvida pelo Instituto, pois, atualmente, os alunos são selecionados para

essa participação apenas por mérito acadêmico. Um dos entrevistados disse: “Pesquisa

envolvendo as pessoas com necessidades especiais? Eu não percebo avanço nenhum em

Page 87: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

87

relação a isso, pelo contrário eu acho que essas pessoas estão alijadas do processo”.

(E06) Esse pensamento foi compartilhado pela maioria das pessoas entrevistadas, que

afirmaram não ter noção de qualquer ação nessa área.

A criação da Diretoria de Pesquisa e Extensão, nesse ano de 2012, foi o que muitos

deles avaliaram como uma possibilidade de avanço. Foram especialmente os gestores

entrevistados que colocaram a parceria efetivada com a Fapemig e o aumento de

recursos financeiros aplicados na pesquisa como avanços, porém não se tem,

atualmente, no Campus nenhum aluno com deficiência envolvido com pesquisa e a

única pesquisa citada foi a dessa pesquisadora que aqui relata. Provavelmente, esse fato

se deve ao pouco tempo de criação dos Institutos Federais. Porém o princípio da

inclusão foi assumido como um dos que norteiam as ações do Instituto em suas

atividades de ensino, pesquisa e extensão, conforme o artigo 3º dos estatutos dessa

instituição, publicados em 31 de agosto de 2009.

Tabela 3 - Principais avanços na pesquisa

Avanços na pesquisa Nº de indicações %

Desconheço 14 51,9

Não sei 4 14,8

Ter servidores pesquisando 4 14,8

Aplicação de recursos na área 2 7,4

Criação do Dep. de Pesquisa 1 3,7

Parceria com a Fapemig 1 3,7

A semana de C&T 1 3,7

Total 27 100,0

6.1.3. Avanços da educação inclusiva na extensão

Ficou bem marcado que a maioria das pessoas entrevistadas não tem nenhum

conhecimento sobre a inclusão de PcD nas atividades de extensão. Apenas alguns dos

gestores se referiram aos projetos existentes, mais precisamente aos ligados diretamente

Page 88: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

88

à Pró-reitoria ou Diretoria de Extensão. Entre os alunos e professores, a única menção

foi feita à oferta do curso de Libras: “Temos um curso que vai começar agora do Napne

que tem a participação de alunos surdos... o curso de Libras que os alunos surdos e a

professora de Libras vão oferecer, então é uma atividade de extensão bacana” (E12).

“Tem um aluno surdo que faz parte de um projeto de extensão” (E14), se referindo a

esse curso de Libras.

Talvez essa falta de conhecimento aconteça devido à configuração nova do Instituto,

pois anteriormente (enquanto Cefet), a escola não propiciava esse tipo de atividade que

passou a ser ofertada a partir da mudança para IFMG. O Instituto prevê em seus

Estatutos publicados em 31 de agosto de 2009, no artigo 3° que observará, entre outros,

o princípio norteador da inclusão de pessoas com deficiências em suas atividades de

ensino, pesquisa e extensão. O Campus Ouro Preto tem, atualmente, dois projetos que

se destacam e possivelmente atendem PcD. São eles o Projeto Timbalê e Bibliotecas

Comunitárias, que serão retomados à frente quando se relatar as propostas dos

entrevistados para inclusão nas atividades de extensão.

Tabela 4 - Principais avanços na extensão

Avanços na extensão Nº de indicações %

Nenhum 13 35,1

Não sei 10 27,0

Início do curso de Libras - O.P. 5 13,6

Projeto Segundo Tempo 2 5,4

Projeto Timbalê 2 5,4

Curso de inclusão digital 1 2,7

Programa Mulheres Mil 1 2,7

Projeto Biblioteca Comunitária 1 2,7

Projeto Instituto Solidário 1 2,7

Oferta de seminários gratuitos 1 2,7

Total 37 100,0

Page 89: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

89

6.1.4. Avanços da educação inclusiva na gestão

Praticamente não foi mencionada a participação de PcD nas atividades de gestão

escolar. Alguns gestores destacaram itens que se consideram aqui do conhecimento

apenas de servidores, tal como destaca um dos entrevistados:

Bom, eu acho que não saberia falar nenhuma ação específica na

questão de participação coletiva voltada especificamente para

quem tem alguma NE, mas a forma como trabalhamos hoje, que

é, por exemplo, na maioria dos campi, eu diria que em todos há

representação estudantil, eles tem voz ativa em praticamente

todas as ações da escola e nós temos também a nossa forma

geral de gestão do Instituto muito permeada ... ainda está longe

de ser o ideal, mas a ideia dos centros de custos, de ter cada

pedacinho do campus representado com voz ativa no

planejamento dos recursos, no planejamento de pessoal, na

tomada de decisões sobre o que será feito e em que ordem será

feito acaba dando voz ativa para todos (E25).

Houve também por parte dos alunos referência à possibilidade de participação via grêmio,

recém-constituído, conforme revela um aluno: “Ultimamente, eu vou muito nas reuniões do

grêmio estudantil e a gente tenta incluir as pessoas. Acho que o grêmio tenta mais (se referindo

à inclusão de PcD) porque o grêmio tenta uma participação ativa com os alunos” (E16).

Tabela 5 - Principais avanços na gestão

Avanços na gestão Nº de indicações %

Não sei 12 54,5

Constituição do grêmio 4 18,2

Planejamento participativo 3 13,7

Direção acessível 2 9,1

NAPNE como Centro de custo 1 4,5

Total 22 100,0

6.2. Dificuldades no desenvolvimento da educação inclusiva na percepção dos

entrevistados

6.2.1. Dificuldades da educação inclusiva no ensino

Page 90: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

90

A falta de conhecimento dos professores sobre educação inclusiva despontou como a

maior de todas as dificuldades na avaliação dos entrevistados. Tal resultado corrobora

conclusões de pesquisadores ao tratarem da questão, dentre eles Ferreira (2007), Glat e

Pletsch (2007) e Fontes (2007).

Apesar de constar no artigo 59 da LDB 9394/96 que “Os sistemas de ensino assegurarão

aos educandos com necessidades especiais... professores com especialização adequada

em nível médio e superior, para atendimento especializado, bem como professores do

ensino regular capacitados para integração desses educandos nas classes comuns”, a

falta de formação docente ainda é a maior barreira apontada para que o processo de

inclusão de PcD realmente se efetive nas atividades de ensino. Houve quem dissesse

que eles não se encontram preparados pedagógica ou psicologicamente para a atividade

de inclusão:

“acho que a primeira e grande dificuldade é até mesmo os

próprios professores, a parte pedagógica ... eles entenderem

quais são as reais necessidades dessas pessoas e fazerem um

planejamento condizente com isso”. (E06)

“Acho que o primeiro ponto é a falta de preparo dos professores

pra lidar com esses alunos, para algumas necessidades

especiais, os nossos professores não estão preparados...” (E23)

“é de quebrar a barreira atitudinal mesmo, porque uma situação

é a lei amparar o deficiente para que ele seja incluso dentro de

uma educação formal, outra coisa é o docente estar preparado

para receber esse aluno, ele precisa ser formado, ele precisa ser

capacitado...” (E13)

De fato, os professores, na sua maioria, não receberam no curso de graduação formação

para ensinar com a perspectiva da inclusão. Talvez essa lacuna na formação possa ser ,

se tornar menor por meio de formação continuada, quando poderiam ser ampliados

conhecimentos sobre fundamentos e práticas de educação inclusiva.

Nunes, Ferreira e Mendes (2003) apontam que várias teses e dissertações na área de

educação inclusiva defendem a inclusão do tema das necessidades especiais nos

currículos de formação dos professores. Outros pesquisadores como Pletsch (2010)

também tem alertado sobre a necessidade e importância da formação inicial dos

professores. Parece, portanto, ser consensual a opinião de que a formação dos

professores não tem atendido aos pressupostos da educação inclusiva, seja a inicial ou a

Page 91: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

91

continuada e em serviço. Como não tem sido prática corrente, mesmo a formação

oferecida também sofre questionamentos sobre os conhecimentos que nela devem ser

considerados.

Tal problema de falta de formação em inclusão de PcD também aparece quando se trata

dos técnicos, não sendo, portanto, algo específico aos docentes: “falta de formação em

educação especial e falta de pessoal treinado” (E08). Se os docentes não tiveram

formação em educação inclusiva, quanto mais os técnicos que, apesar de serem muitos

os graduados, inclusive na área de educação, outros tantos nunca tiveram nenhuma

formação na área de educação.

Barreiras à acessibilidade física foram destacadas por vários entrevistados e para que

essas dificuldades sejam minimizadas torna-se necessário atender ao que preconiza a

NBR 9050 em relação à acessibilidade arquitetônica e urbanística. Para isso é preciso

ter informações mais claras sobre como conseguir recursos financeiros para realizar as

adequações estruturais, fazer as orientações e o acompanhamento das obras. Nesse ano,

2012, o MEC determinou que esse acompanhamento ficasse sob a responsabilidade do

Napne. Porém quem seria esse responsável se nesse núcleo só há voluntários e se eles

precisam cumprir horários de trabalho em outros setores e atividades? Algumas

reformas e adaptações até que são aparentemente simples de serem feitas tais como as

relacionadas à iluminação, cadeiras e carteiras. Eis o que dizem os entrevistados:

“A questão é que o acesso no campus deixa a desejar... tem

muito perigo pra gente andar no campus.... a questão de

iluminação... nem toda área está acessível a todo mundo” (E09).

“eu acho que o acesso aqui é muito difícil, porque não tem

muitas rampas, por exemplo, pra pessoas que usam cadeiras, eu

já reparei isso. Acesso a algumas salas é muito difícil, por

exemplo, o pavilhão da biblioteca nem pensar em ir no segundo

andar, talvez também as carteiras também tem que se adaptar ao

aluno, às vezes as carteiras são muito pequenas, de um braço só

também; às vezes até pra quem é canhoto é difícil porque só

tem cadeira destra.” (E16)

Porém para resolver problemas como esses há muita dificuldade devido à sistemática da

gestão e à burocracia do serviço público.

Os entrevistados relataram diversas outras faltas: de compromisso dos docentes com a

adaptação de materiais pedagógicos, de respeito, de reconhecimento dos direitos, de

Page 92: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

92

comparecimento a reuniões, de metodologias apropriadas de ensino e de avaliação. As

falas selecionadas a seguir evidenciam esses problemas:

“... porque o professor não quer mudar a prática dele. É como se

o aluno fosse invisível. Tem professor que não muda a prática

mesmo e diz que já trabalha há quinze anos com a mesma

metodologia e não vai mudar mesmo pra atender o aluno com

deficiência, mas se esquece de que a função dele é essa: se

adaptar para atender ao aluno que tem (se referindo a

necessidades educacionais especiais), o aluno real. A forma de

avaliar, 80% não mudam. Se o aluno não tiver muita vontade de

correr atrás por ele mesmo ele será reprovado porque o

professor não tá nem aí, não muda a prática ...é como se o aluno

fosse uma cadeira na sala de aula.” (E14)

“... a principal dificuldade é a aceitação principalmente por

parte dos professores, a disponibilização do material pra esses

alunos, a adaptação de material e a garantia da permanência ...

principalmente pelos professores não dar a devida atenção pra

eles ... isso pode propiciar a evasão dos nossos alunos.” (E11)

“A gente nota que a instituição tem que ter cuidado em

determinar qual o professor que vai ta trabalhando com esse

aluno... ver a questão do perfil... porque tem professores que

não se adaptam, não querem porque é mais trabalhoso e ele não

tá afim. Então é fazer uma correlação do perfil do profissional

que vai tá trabalhando com esse aluno e a gente observa que,

por outro lado, há professores que se dedicam e, do outro lado,

há resistência.” (E07)

“Uma das dificuldades é o próprio professor não se sentir

seguro pra trabalhar porque não tem domínio do conteúdo, não

sabe, não tem metodologia adequada pra trabalhar com esse

aluno. Então, ao invés do professor assumir isso, ele recua, age

como se não soubesse da existência desse aluno. O professor

não quer saber de trabalhar com esse aluno, às vezes ele nem

percebe a presença do aluno, ignora a presença do intérprete em

sala de aula, não confia no trabalho da intérprete na sala de aula.

Há resistência do professor em modificar sua metodologia para

atender o aluno com deficiência e eu acho que essa resistência

está muito ligada na falta de confiança que ele tem no trabalho,

por ele não saber como trabalhar com esse aluno. A gente pede

pra fazer o PDI do aluno, o professor não vai à reunião, não

sabe o que é PDI. Então, isso é um dos entraves do ensino. Mas

alguns professores se esforçam, participam, se envolvem.”

(E12)

Page 93: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

93

Alguns sujeitos entrevistados apontaram os docentes como responsáveis pelo fracasso

dos alunos, mas desconsideram o contexto em que a escola está inserida, as condições

de trabalho e os processos de capacitação e gestão da mesma. Percebe-se ainda nesses

excertos que há uma convergência de ideias no que concerne à baixa expectativa em

relação à aprendizagem desses alunos. Fato apontado também por Fontes (2007) ao

relacionar a formação inadequada do professor em se tratando de processos de inclusão

à baixa expectativa que esses profissionais têm sobre o desenvolvimento de PcD.

Pesquisadores como Glat e Pletsh (2008) corroboram essa conclusão ao dizerem que é

comum o descrédito direcionado ao desenvolvimento cognitivo das pessoas com

deficiência mental, o que não deveria acontecer com relação aos alunos com

deficiências sensoriais e físicas. Sobre o preconceito quanto à aprendizagem dos alunos,

Pletsh afirma que “a partir do momento em que o professor toma a dificuldade do aluno

como empecilho para a aprendizagem, ele não busca caminhos alternativos para que o

processo ocorra satisfatoriamente... por considerar o jogo perdido, o professor deixa de

jogar” (2010, p.193).

Em relação a modificar metodologias e fazer adaptações, é inquestionável o dever que o

professor tem de fazê-lo com vistas a atender à legislação vigente que desde a LDB

9394/96, no seu art. 59, enfatiza que “os sistemas de ensino assegurarão aos educandos

com necessidades especiais currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e

organização específicos, para atender às suas necessidades”.

A fala de um dos entrevistados remete à categorização de saberes. O registro a seguir

evidencia esse aspecto e demonstra o que acontece não apenas nessa escola, mas nas

mais diversas instituições de ensino, que é a supervalorização das habilidades

intelectuais em detrimento de outras habilidades.

“Outra dificuldade que eu vejo em relação ao ensino é a questão

da categorização dos saberes. Então, coloca-se para o aluno que

simplesmente ele tem que aprender aquilo de uma forma que

muitas vezes pra ele não faz significado, então é uma coisa

completamente descontextualizada, então não só pro aluno com

deficiência, mas pro grupo como um todo. É outra grande

dificuldade também ... é a questão das inteligências múltiplas

que muitas vezes não são respeitadas. Então fica só na questão

da lógica e cobra-se a lógica e muitas vezes as outras

possibilidades ficam fora do processo”. (E08)

Page 94: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

94

De modo geral, são comuns as representações construídas nas escolas sobre a relevância

dos conteúdos relacionados ao uso da língua e do pensamento lógico-matemático.

Entretanto, o paradigma da educação integral é veiculado como pressuposto nos

projetos político-pedagógicos e, nesse caso, no Projeto de Desenvolvimento

Institucional do IFMG, como ilustrado a seguir;

O IFMG, comprometido com a formação integral de seus

alunos, adotará metodologias e recursos de ensino inovadores e

criativos, num esforço para minimizar a histórica segmentação

entre as áreas do conhecimento, entre teoria e prática, entre

formação geral e profissional, entre o que se prega, se planeja e

o que se realiza, entre o saber fazer e o saber ser26

.

O que se espera é que diferentes conhecimentos sejam igualmente valorizados e que o

ensino vá além dos conteúdos conceituais (aprender a aprender), que os conteúdos

procedimentais (aprender a fazer) e atitudinais (aprender a ser) também tenham espaço

garantido no processo de ensino-aprendizagem dos alunos com deficiência. Cada um

desses conteúdos se apóia e se complementa na relação com os outros. É importante

ressaltar que para educar de maneira integral é preciso mais do que transmitir

conhecimentos, é preciso dar sentido ao conhecimento.

Tabela 6 - Principais dificuldades no ensino

Dificuldades no ensino Nº de indicações %

Falta conhecimento aos Profs. 17 21,0

Falta de acessibilidade física 10 12,4

Falta de aceitação dos alunos 8 9,9

Falta de material didático 5 6,2

Professor ignora o aluno 5 6,2

Professor ignora o intérprete 4 4,9

Falta de pessoal treinado 4 4,9

Falta de significado da matéria 4 4,9

Falta de formação em Educação Especial 4 4,9

Falta de reconhecimento dos direitos 4 4,9

26

Disponível em < http://ouropreto.ifmg.edu.br> Acesso em 19 de out.de 2012.

Page 95: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

95

Falta de recursos 3 3,7

Falta de respeito 3 3,7

Falta metodologia adequada 3 3,7

O professor não vai às reuniões 2 2,5

Falta de adaptação de material 2 2,5

Quebrar a barreira atitudinal 2 2,5

Categorização de saberes 1 1,2

Total 81 100,0

6.2.2. Dificuldades da educação inclusiva na pesquisa

A seguinte fala ilustra o que maioria dos participantes desse estudo identificou como a

maior barreira a ser vencida para que a inclusão de PcD seja feita efetivamente: “Tem

muito preconceito nessa escola em qualquer área” (E16). Tendo isso em conta torna-se

necessário pensar que a inclusão de pessoas com necessidades especiais na educação,

requer pensar processos identitários e na construção de uma sociedade focada na justiça

e na igualdade de direitos, com vistas à conquista da cidadania e isso passa pelo

reconhecimento da identidade, das diferenças e da diversidade. Sem esse

reconhecimento, ser preconceituosa continuará sendo uma das características da

sociedade brasileira.

Os entraves à participação das PcD nas atividades de pesquisa citados são praticamente

os mesmos que emperram a inclusão no ensino. Há que se acrescentar, contudo, a falta

absoluta de política de inclusão nesse setor e a falta de envolvimento da comunidade

escolar. A mudança desse quadro remete à necessidade de efetivação de parcerias e ao

trabalho intersetorial na busca da minimização desses problemas.

Tabela 7 - Principais dificuldades na pesquisa

Dificuldades na pesquisa Nº de indicações %

Preconceito 6 22,2

Falta envolver a comunidade 4 14,8

Faltam instalações apropriadas 4 14,8

Page 96: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

96

Não há dificuldade 4 14,8

A comunicação 3 11,2

Falta de investimento 2 7,4

Não há política de inclusão 2 7,4

Não sei 2 7,4

Total 27 100,0

6.2.3. Dificuldades da educação inclusiva na extensão

Alguns sujeitos disseram não perceber nenhuma dificuldade com respeito à inclusão na

extensão: “não vejo dificuldade de incluí-los, mas não vejo política nenhuma pra que

eles sejam incluídos” (E11). Outros relatam uma quase impossibilidade de PcD

participarem dessas atividades: “na extensão, a dificuldade é maior ainda porque são

contextos difíceis e teria que ter estrutura e acompanhamento. Implica também ter

controle para acompanhamentos e há uma série de ajustes que seria preciso na

comunidade onde será realizada a atividade de extensão” (E26).

Nota-se que há, entre os sujeitos da pesquisa, certo desconhecimento em relação às

atividades de extensão propiciadas nesse campus, pois tanto no Projeto Timbalê como

no Projeto Biblioteca Comunitária há possibilidade de participação de PcD, pois os

espaços onde acontecem não oferecem problema de acessibilidade arquitetônica,

restando porém os problemas relativos à comunicação e à prática pedagógica.

Tabela 8 - Principais dificuldades na extensão

Dificuldades na extensão Nº de indicações %

Falta de acompanhamento 7 23,3

Falta de estrutura 6 20,1

Nenhum 4 13,3

Falta envolver a comunidade 3 10,0

Falta de intérpretes de Libras 3 10,0

Falta de softwares 3 10,0

Page 97: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

97

Falta de política de inclusão 2 6,7

Falta de interesse dos alunos 1 3,3

Falta de equipamentos 1 3,3

Total 30 100,0

6.2.4. Dificuldades da educação inclusiva na gestão

Enquanto a maioria dos entrevistados não soube identificar dificuldades com relação à

inclusão educativa na esfera da gestão institucional alegando não saber como seria

possível aos alunos participarem dessa atividade, outros relataram que os maiores

obstáculos estavam aliados ao preconceito, à falta de abertura e de incentivo à

participação. Excetuando o preconceito que já foi citado nos itens anteriores, considera-

se que os outros dois podem estar ligados à imaturidade organizacional, pois, como

também já foi dito, os IFs têm menos de quatro anos de existência.

Tabela 9 - Principais dificuldades na gestão

Dificuldades na gestão Nº de indicações %

Falta de recursos 6 15,0

Falta de abertura e incentivo 5 12,5

Preconceito 5 12,5

Falta de acompanhamento 4 10,0

Falta de divulgação das ações 3 7,5

Falta de interesse dos alunos 3 7,5

Imaturidade organizacional 3 7,5

Falta de estrutura 3 7,5

A comunicação 3 7,5

A própria cultura 3 7,5

Não sei 2 5,0

Total 40 100,0

Page 98: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

98

6.3. Propostas dos entrevistados para o desenvolvimento da educação inclusiva

6.3.1. Formas de ingresso

A forma de ingresso nesse campus é o vestibular convencional, constituído por provas

objetivas e/ou subjetivas sobre conteúdos do ensino fundamental (para os candidatos

aos cursos técnicos integrados ao ensino médio) e do ensino médio (para os candidatos

aos cursos técnicos subsequentes). Todos os candidatos fazem a mesma prova. A

maioria dos entrevistados se referiu ao sistema de cotas como forma de propiciar às PcD

condições de igualdade na busca por uma vaga nos cursos ofertados pelo IFMG. Cerca

de 15% deles consideraram desnecessária tal medida sob o argumento de que a forma

atual do processo seletivo está perfeita. Para os cursos superiores a nota do Enem é

utilizada para classificação dos candidatos.

O sistema de cotas é a modalidade de ação afirmativa27

mais conhecida e utilizada

atualmente no Brasil, inclusive em algumas escolas da rede federal, como o Instituto

Federal de Educação Profissional, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA) que reserva

5% das vagas para PcD. Esse sistema é reconhecido como “forma de viabilizar a

participação da sociedade civil no debate e elaboração das propostas a serem

implementadas” (BRASIL, 2010, p.100). Para Musse, Silva e Santos (2008), o sistema

de cotas “é um procedimento controverso e não tem apoio legal. A reserva de vagas

prevista na legislação brasileira, conforme Decreto nº 3298/99, para pessoas com

deficiência, refere-se à vaga para trabalho e não para educação”. Controverso sim,

porém necessário em uma sociedade onde a exclusão social é histórica e a luta pela

superação das desigualdades passa necessariamente pela articulação entre a educação e

os direitos humanos.

Em se tratando das políticas públicas que concorram para a justiça social, educação e

trabalho das PcD, considerando a inclusão, a diversidade e a igualdade de direitos, 5%

27

As ações afirmativas são políticas e práticas públicas e privadas que visam à correção de

desigualdades e injustiças históricas que atingem determinados grupos sociais (mulheres,

homossexuais, negros, indígenas, pessoas com deficiência). São políticas emergenciais,

transitórias e passíveis de avaliação sistemática. Ao serem implementadas poderão ser extintas

no futuro, desde que comprovada a superação da desigualdade original. Elas implicam uma

mudança cultural, pedagógica e política. Na educação, dizem respeito ao direito ao acesso e

permanência na instituição escolar aos grupos dela excluídos em todos os níveis e modalidades

de educação.

Page 99: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

99

dos entrevistados se referiram às parcerias como um das propostas para possibilitar o

ingresso de PcD no Instituto. Essa forma de parceria se daria por meio da divulgação

dos cursos oferecidos nas instituições que atendem essas pessoas e também pelo sistema

de cotas como registrado na fala de um dos entrevistados: “Um vínculo da Instituição

com instituições que naturalmente atendem alunos com deficiência. Talvez ter um elo

mais forte, uma parceria com essas instituições pra que esses alunos viessem fazer o

teste de seleção aqui” (E08).

Atualmente o processo de seleção do IFMG está confiado à Comissão Permanente de

Vestibular (Copeves) instituída e locada na Reitoria. Por ser centralizada na reitoria, a

maioria dos entrevistados consideraram que seria necessário ter uma pessoa responsável

pelas ações inclusivas compondo essa comissão, preferencialmente que essa pessoa seja

membro de um dos Napnes. Um dos entrevistados sugere: “Que a comissão, a Copeves,

tenha um articulador lá dentro que pense, que repense as ações, que o processo seletivo

seja dinâmico a ponto de inserir esses alunos no processo seletivo com igualdade. Por

exemplo o INES28

, no RJ, pra deficientes auditivos, eles tem todo um material

pedagógico preparado, que é diferente de uma prova de seleção pra candidatos não

deficientes, a gente teria que fazer um levantamento dessas ações nessas outras

instituições, ações de sucesso e trazer pra nós” (E13).

A legislação é clara em relação a esse direito. As PcD têm direito garantido aos recursos

que garantam a acessibilidade; a adaptações e tempo adicional de prova, quando

previamente solicitado, conforme Art. 27 do Decreto nº 3.298/99 (alterado pelo Decreto

nº 5.296 de 2 de dezembro de 2004) no qual se lê: “As instituições de ensino superior

deverão oferecer adaptações de provas e os apoios necessários, previamente solicitados

pelo aluno portador de deficiência, inclusive, tempo adicional para realização das

provas, conforme as características da deficiência”. A garantia desse direito está

prevista nos editais dos processos seletivos do Instituto.

Quanto à proposta de algumas pessoas no sentido de ter uma correção diferenciada das

provas, especialmente em se tratando de alunos com deficiência sensorial do tipo

surdez, uma professora disse: “A prova tem que ser diferenciada, em alguns momentos

uma prova oral e em outros com mediador de Libras porque se eu for avaliar um aluno

28

INES: Instituto Nacional de Educação de Surdos, órgão do Ministério da Educação, situado

no Rio de Janeiro. www.ines.gov.br.

Page 100: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

100

surdo em Língua Portuguesa, as respostas dele em uma questão aberta talvez ele seja

reprovado, talvez até o entendimento dele de um texto cheio de conectivos que ele não

conhece ficaria atrás das outras pessoas” (E08). Porém, essa correção diferenciada ainda

não acontece nesse campus.

Uma das propostas que foi considerada de extrema importância e urgência seria fazer

um diagnóstico das PcD inscritas. Quando não se sabe com antecedência quais serão as

necessidades apresentadas pelas PcD no dia do processo seletivo, é impossível

providenciar as adaptações e passa-se por uma série de constrangimentos desnecessários

tanto para o aluno quanto para a escola. Esse diagnóstico precisa ser feito assim que se

encerra o período de inscrições. As inscrições de PcD deveriam ser repassadas para o

Napne para que possam verificar todas as informações por telefone ou entrevistando o

candidato, com antecedência e assim organizar tanto a colocação desses alunos na sala

de prova quanto os recursos necessários. É comum que no dia e hora da prova tenha que

trocar aluno de sala, ficar perguntando se precisa de alguma ajuda e esse tipo de conduta

além de refletir amadorismo pode deixar constrangidos alguns candidatos. Considera-se

que seria melhor que tudo fosse bem organizado para que ao chegar à escola o

candidato se sinta realmente acolhido. Ou seja, para otimizar o processo seletivo seria

importante observar premissas para se saber do que necessitam, bastando perguntar às

pessoas com deficiência que adequações seriam necessárias para se garantir igualdade

de oportunidades a elas.

Tabela 10 - Principais propostas para formas de ingresso

Formas de ingresso Nº de indicações %

Por meio de cotas 15 55,6

Dar condição de igualdade 5 18,5

Normal, sem diferença 4 14,8

Não sabe informar 1 3,7

Ter parceria com instituições para PCD 1 3,7

Provas diferenciadas 1 3,7

Total 27 100,0

Page 101: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

101

6.3.2. Acessibilidade física

As propostas relativas à acessibilidade física (rampas, elevadores, banheiros, vagas em

estacionamento, salas de aula, laboratórios, biblioteca e transporte escolar) serão

relacionadas juntas por considerar-se que haja uma interdependência entre elas e por

encontrarem amparo na mesma lei, a NBR9050, também conhecida como Lei da

Acessibilidade, “Norma que estabelece critérios e parâmetros técnicos a serem

observados quando do projeto, construção, instalação e adaptação de edificações,

mobiliário, espaços e equipamentos urbanos às condições de acessibilidade”.

Tem-se ainda o Decreto 5.296/04, Art. 24 onde consta que

“Os estabelecimentos de ensino de qualquer nível, etapa ou

modalidade, públicos ou privados, proporcionarão condições de

acesso e utilização de todos os seus ambientes ou

compartimentos para pessoas portadoras de deficiência ou com

mobilidade reduzida, inclusive salas de aula, bibliotecas,

auditórios, ginásios e instalações desportivas, laboratórios, áreas

de lazer e sanitários (BRASIL, 2004).

Apesar de haver muito que se fazer para melhorar a acessibilidade no Campus Ouro

Preto, alguns avanços são considerados pelos sujeitos da pesquisa como já foram

citados anteriormente. Porém, esse Campus tem a particularidade de estar em um local

de relevo montanhoso e acidentado e a distância entre os prédios é considerável.

Para melhorar as condições de acessibilidade nesse Campus consideraram-se

necessários: a construção de rampas; a colocação de corrimão ou guarda-corpo; a

reforma das rampas e passeios; a retirada de grades e obstáculos que dificultam ou

impedem a passagem de cadeiras de rodas e causam pequenos acidentes aos transeuntes;

a instalação de elevadores ou rampas internas nos prédios verticalizados como a

biblioteca e o ginásio; a construção e/ou adaptação dos banheiros com colocação de

barras de apoio; piso antiderrapante e identificação em Braille; demarcar e sinalizar

vagas para cadeirantes, bem como fazer uma ampla campanha educacional para

conscientização sobre a necessidade de se respeitar essas vagas; aumentar a largura das

portas das salas de aula; mobiliar com cadeiras e carteiras especiais de acordo com a

necessidade; cuidar da iluminação; sinalizar corredores e passeios em Braille e colocar

piso tátil; identificar materiais e locais em Braille; ter prateleiras, bancadas e acervo

acessíveis na biblioteca, inclusive computador com programas do tipo Dosvox; adquirir

Page 102: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

102

transporte com recursos de acessibilidade como espaço e elevador para cadeiras de

rodas e, principalmente, conscientizar, sensibilizar e ensinar a todos os servidores

(incluindo terceirizados) sobre a necessidade de atender ao que determina a NBR9050

para inclusão de todos nas atividades do Campus.

O estudo também demonstrou que, apesar de alguns entrevistados considerarem

desnecessárias as medidas tomadas para permitir uma maior acessibilidade a todos e a

todos os locais do Campus, a maior quebra de barreiras no IFMG Ouro Preto ocorre na

parte arquitetônica onde tem acontecido um envolvimento maior dos gestores, talvez

porque haja uma cobrança intensa por parte do Ministério Público nesse sentido. A

chamada aos membros do Napne para participação da abertura do Seminário sobre

Programa Sistêmico de Acessibilidade para Todos, que aconteceu entre os dias 3 e 5 de

outubro de 2012, é explícita quanto a isso: “O evento, organizado pela Diretoria de

Infraestrutura, está incluído no plano de ações criado pelo IFMG em atenção às

exigências apresentadas pela procuradora da República, Silmara Cristina Goulart”.

No entanto, nos fóruns e discussões dos Napnes sempre se salienta que para que

aconteça o efetivo rompimento das barreiras arquitetônicas será preciso ter verba

específica para adequação arquitetônica e urbanística de forma que se possa realmente

atender ao que preconiza a Lei da Acessibilidade. Além disso, falta também aos

membros do Napne conhecimento acerca de como elaborar projetos e conseguir recurso

financeiro para realizar adequações estruturais e acompanhamento das obras.

Segundo dados do Boletim da Secom, órgão da Presidência da República, nº 1633 de

09/10/12, “a quantidade de matrículas de pessoas com deficiência na educação superior

aumentou 933,6% entre 2000 e 2010”. Devido a esse aumento, o governo federal vai

destinar R$ 11 milhões a universidades federais para adequação de espaços físicos e

material didático a estudantes com deficiência, por meio do Programa de Acessibilidade

na Educação Superior (Incluir)29

.

Diante do exposto, considera-se relevante dizer que os recursos destinados ao Programa

Incluir, até 2010, eram colocados à disposição das universidades por meio de editais e as

universidades que se interessavam em receber esses recursos enviavam seus projetos e

29

Disponível em: http:< //www.secom.gov.br/sobre-a-secom/acoes-e-programas/comunicacao-

publica/em-questao/edicoes-anteriores/outubro-2012/boletim-1633-09.10 >. Acesso em 10 out.

2012.

Page 103: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

103

participavam do processo de seleção. A partir desse ano, o MEC eliminou a seleção e

passou a definir, na proposta orçamentária, a quantia destinada a cada universidade.

6.3.3 Utilização de recursos tecnológicos

Embora a maioria dos entrevistados recomendem a utilização de recursos tecnológicos

para a inclusão de PcD nas atividades do Campus, percebe-se que há necessidade de se

disseminar conhecimentos sobre o assunto. Alguns deles demonstraram ter algum

conhecimento, como é possível depreender dessa fala “Não tenho conhecimento ... acho

que tem um professor desenvolvendo software... tem professor pesquisando tecnologia

pra Libras... mas não sei se tem algum computador que favoreça o aluno” (E12). Houve,

contudo, um grande número de entrevistados que demonstraram não ter nenhum

conhecimento sobre tecnologias assistivas e não foram apenas alunos. Para se conseguir

respostas diferentes de “Não sei”, tornou-se necessário explicar o que mais poderia ser

considerado tecnologia além do uso do computador.

Os gestores consideraram que a compra de recursos tecnológicos deve ser sempre de

acordo com a necessidade como se vê na seguinte fala, representativa do pensamento da

maioria deles:

Eu acho que a proposta seria dentro das necessidades que

aparecem a gente disponibilizar, dentro da limitação financeira

razoável... Disponibilizar a tecnologia, os aparelhos

necessários... Mas de maneira geral eu acho que teriam que ser

levantadas as necessidades reais, porque uma dificuldade que eu

vejo é ter isso preparado antes do aluno chegar, pois se tiver que

preparar para todas as possibilidades de deficiências, seria uma

gama de coisas absurdamente grande, então não saberíamos

nem o que priorizar. Eu acho que teríamos é que ter estratégias

para quando chegar um aluno com determinada necessidade, ele

seja atendido o mais rápido possível tecnologicamente, com

aparelhos, adaptações etc. (E25)

Porém, cabe ressaltar que as compras passam por um planejamento prévio realizado no

ano anterior e só tem sido efetivadas um ano depois ou mais. Durante esse período, o

aluno pode ficar, então, sem as adaptações e os recursos tecnológicos necessários.

Nota-se que a possibilidade de utilização de TA tem sido considerada apenas pelas

pessoas com deficiência, o que não é verdade. Várias tecnologias podem facilitar o

acesso ao conhecimento para todos. Tecnologias para deficientes visuais podem ser

Page 104: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

104

utilizadas por outros que por qualquer motivo necessitem ou queiram utilizá-los e o

mesmo acontece com tecnologias que auxiliem e melhorem a explicação de qualquer

matéria de uma forma mais visual para os deficientes auditivos. Um participante da

pesquisa considera essa possibilidade de utilização de recursos por todos os alunos: “As

invenções que existem hoje no mercado e que não temos, simples como apontadores

para quem não tem um braço....teclados...não precisa nem ser deficiente para usá-los ...

a própria falta de claridade que temos em algumas salas já impede o aluno vidente de ler

o quadro, imagina os outros que têm baixa visão?”. (E08)

Foram consideradas também por uma parcela dos entrevistados (4%) as propostas de

desenvolvimento de pesquisas em TA. O avanço tecnológico e científico tem

possibilitado o surgimento de uma grande variedade de recursos e serviços que buscam

ampliar as habilidades funcionais das pessoas com deficiência, facilitando, assim, o dia

a dia delas. Conhecidas como Tecnologias Assistivas, Ajudas Técnicas, ou Tecnologias

de Apoio, essas tecnologias visam proporcionar maior autonomia e melhoria da

qualidade de vida das PcD.

O desenvolvimento de TA se constitui num campo do conhecimento transdisciplinar,

pois envolve profissionais de várias áreas e especialidades como Arquitetura, do

Design, Ciência da Computação, Engenharias, Ergonomia, entre outras.

Sobre essa proposta dos entrevistados, é relevante ressaltar o propósito do Plano Viver

sem Limite do Governo Federal de fomentar a implantação dos núcleos de TA por meio

da liberação de verba na ordem de R$ 3 milhões de reais. A Secretaria de Educação

Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi), do MEC, abriu edital para

envio de projetos para Apoio a Projetos de Tecnologias Social e Assistiva, do Programa

2012 - Ciência Tecnologia e Inovação, do Plano Plurianual 2012-2015. O Ministério da

Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) pré-selecionou 25 instituições de ensino para

compor a rede de Núcleos de Tecnologia Assistiva que serão “responsáveis pela

elaboração de projetos de pesquisa, desenvolvimento ou inovação voltados à melhoria

da qualidade de vida de pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida” Segundo

Page 105: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

105

o secretário do MCTI, "Os núcleos fazem parte de um esforço para disseminar as

pesquisas de tecnologia assistiva para todo o território nacional"30

Porém, apesar de parecer um grande investimento e várias instituições apresentarem

projetos, somente sete instituições foram contempladas na fase final de avaliação dos

projetos e, destas, somente o Instituto Federal do Amazonas, da Rede Federal, foi

escolhido, apesar de a rede ter várias unidades que têm o Núcleo de Tecnologia

Assistiva e Acessibilidade e já desenvolverem projetos para pessoas com deficiência.

Enfatizam-se esses dados para demonstrar que possibilidades para desenvolvimento de

TA são ofertadas e que o Campus Ouro Preto poderia também investir em pesquisas

nessa área. Poderia se iniciar até mesmo disseminando conhecimentos sobre as TA

existentes e suas possibilidades de utilização, como por exemplos softwares de voz, que

podem ser utilizados por qualquer pessoa, possibilitando maior rapidez na escrita de

textos, já que por meio do reconhecimento da voz do usuário, o programa dispensa para

a pessoa que o usa o trabalho da digitação; enquanto a pessoa fala em um microfone, o

programa digita para ela.

Tabela 11 - Principais propostas para utilização de recursos tecnológicos

Recursos tecnológicos Nº de indicações %

Utilizar softwares acessíveis 6 22,2

Utilizar Tecnologias Assistivas (TA) 5 18,6

Desenvolver TA 4 14,8

Comprar de acordo com a demanda 4 14,8

Não sabe informar 4 14,8

Desenvolver pesquisas em TA 1 3,7

Mobilizar equipe de TI 1 3,7

Desenvolver softwares 1 3,7

Ter computadores com TA nos laboratórios 1 3,7

Total 27 100,0

30

Disponível em <http://www.brasil.gov.br/noticias/arquivos/2012/05/25/ministerio-libera-r-3-

milhoes-para-criacao-de-nucleos-de-tecnologia-assistiva> Acesso em 25 de out. de 2102.

Page 106: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

106

6.3.4 Libras

Propõe-se sobre esse tema, principalmente, a oferta de curso de Libras para todos os

docentes, técnicos (inclusive terceirizados) e alunos para minimizar algumas barreiras

de comunicação que impedem uma plena relação interpessoal. A maioria dos sujeitos da

pesquisa (37,5%) considerou que a oferta dos cursos iniciais e avançados de Libras seria

o meio mais eficaz para se estabelecer uma comunicação efetiva com os alunos e até

professores (recentemente foi contratada uma professora surda) com deficiência

sensorial do tipo surdez. Consideraram também que essa proposta só poderá se

concretizar se houver a contratação de intérpretes e professores efetivos que dominem a

linguagem de sinais, pois quando são apenas contratados, não há continuidade dos

projetos em que estão inseridos, entre eles os cursos de Libras.

No artigo 3º do Decreto 5296/04 tem-se que “A Libras constituir-se-á em disciplina

curricular optativa nos demais cursos de educação superior e na educação profissional, a

partir de um ano da publicação deste Decreto”. Portanto, considera-se positivo refletir

sobre a possibilidade de ter um curso técnico em Libras, ou oferecer cursos semelhantes

de outras formas, como por exemplo, na modalidade de extensão, como está sendo

oferecido, nesse ano de 2012, o curso para iniciantes em Libras.

Tabela 12 - Principais propostas para Libras

Libras Nº de indicações %

Oferecer cursos e oficinas 12 37,5

Oferecer curso de especialização 5 15,7

Ensinar aos professores 4 12,5

Contratar profissionais qualificados 3 9,4

Contratar intérpretes efetivos 3 9,4

Não sabe informar 2 6,2

Ter curso para intérpretes 2 6,2

Ter carga horária de 40h para prof. Libras 1 3,1

Total 32 100,0

Page 107: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

107

6.3.5 Braille

A oferta de cursos para iniciantes em leitura em braille foi a proposta mais considerada

por todos (40,0%). Essas pessoas consideraram que é importante ter um conhecimento

mínimo desse sistema, porém, atualmente, os programas de voz são os mais utilizados

para o ensino e a aprendizagem das pessoas cegas ou com baixa visão. Quanto à

aquisição de impressora Braille, que também foi proposta por 20,0% dos entrevistados,

considera-se que a parceria com a Universidade Federal de Ouro Preto para impressão

de material em Braille seria o suficiente para a demanda, hoje nula, do Campus Ouro

Preto, mas que poderia ser utilizada para imprimir etiquetas de identificação de locais e

materiais em Braille.

Em se tratando de aquisição de material didático e livros de literatura em Braille, o

MEC procura atender essa reivindicação por meio do seu objetivo que é “promover a

acessibilidade, no âmbito do Programa Nacional Livro Didático – PNLD e Programa

Nacional da Biblioteca Escolar, assegurando aos estudantes com deficiência visual

matriculados em escolas públicas da educação básica, livros em formatos acessíveis. “O

programa é implementado por meio de parceria entre SECADI, FNDE, IBC e

Secretarias de Educação, às quais se vinculam os CAP - Centro de Apoio Pedagógico a

Pessoas com Deficiência Visual e os Núcleos Pedagógicos de Produção Braille”31

.

É nessa direção que se considera que deva ser pensada a inclusão de pessoas cegas ou

com baixa visão no Instituto; por meio de parcerias com outras instituições que têm

materiais e conhecimentos sobre como acolher e promover o ensino e a aprendizagem

dessas pessoas, como, por exemplo o Instituto São Rafael em Belo Horizonte e a

Fundação Dorina Novil em São Paulo, sendo que essa última também oferece produtos

e serviços especializados, como impressos em Braille, que propiciam a inclusão de

pessoas cegas não só na escola, mas na sociedade.

Um dos sujeitos da pesquisa revela que “o IFMG adquiriu através de um projeto

encaminhado para o MEC e a SETEC, uma máquina que imprime a versão Braille pra

que tanto o cego possa fazer uso da produção de material como o vidente também”. Ao

31 Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão. Disponível em:

<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=17435&Itemid=81

7> . Acesso em 3 out. 2012.

Page 108: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

108

dar essa informação, disse: “então isso eu acredito que é um recurso fantástico; antes

você tinha uma máquina que fazia a versão Braille do material didático, mas quem não

soubesse Braille não conseguia ler o conteúdo, hoje nós temos uma máquina que faz os

dois simultaneamente e através desse projeto, que o IFMG encaminhou pro MEC nós

conseguimos a compra dessa máquina e nós temos alunos cegos que vão com certeza...

eu acredito... fazer bom uso desse equipamento. Ela iria ser entregue para o campus que

tivesse alunos com essa especificidade”.

De posse dessa informação fica mais fácil conseguir dentro do próprio Instituto material

didático para atender às especificidades dos alunos que necessitam desse tipo de

material e que também pode ter seu conteúdo compreendido pelas pessoas que não têm

esse tipo de necessidade.

Tabela 13 - Principais propostas com relação à tecnologia Braille

Braille Nº de indicações %

Oferecer curso de leitura 14 40,0

Aquisição de impressora 7 20,0

Não sei 5 14,3

Aquisição de material didático 4 11,4

Identificação dos locais em Braille 3 8,5

Contratar profissional que saiba Braille 1 2,9

Adquirir livros de literatura 1 2,9

Total 35 100,0

6.3.6 Material didático

Nesse item também foram lembradas a impressão de material em Braille e a sua

aquisição.

No entanto, ressalta-se aqui a necessidade de sensibilização dos docentes para alterações

e adaptações no material utilizado nas aulas, bem como a entrega desse material com

antecedência para o aluno o que pode ser ilustrado pelas seguintes falas “Aí tem que

sensibilizar os professores pra essa alteração do material e aquisição de material de

Page 109: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

109

Braille, por exemplo, ou aquisição de lupa” (E11). “Eu acredito que o material didático

deveria ser construído de uma forma bem participativa” (E01). “Utilizando a

experiência que alguns professores já têm e disponibilizando o material antes da aula”

(E07).

Com base nas exposições anteriores, pode-se depreender que a falta de compromisso em

disponibilizar o material didático com antecedência para os alunos PcD, e não apenas

para eles, pode ser uma grande barreira para a aprendizagem.

Tabela 14 - Principais propostas com relação utilização de material didático

Material didático Nº de indicações

%

Converter material para Braille 7 26,9

Entregar ao aluno com antecedência 6 23,1

Adquirir material didático acessível 5 19,2

Sensibilizar professores para alterações 5 19,2

Receber material do governo 1 3,8

Construir de forma participativa 1 3,8

Não sei 1 3,8

Total 25 100,0

6.3.7 Serviços de apoio

Entre os maiores problemas apresentados pelos entrevistados em relação ao serviço de

apoio que hoje deve ser oferecido pelo Núcleo de Apoio às pessoas com Necessidades

Específicas (Napne) estão a falta de estruturação, seus integrantes serem voluntários,

não terem treinamento para prestar apoio, a falta de autonomia e a centralidade do

trabalho notada a partir da inexistência de parcerias. Sobre a importância do Núcleo

para apoio das PcD nas atividades do Campus, selecionamos as falas a seguir:

“É Preciso ter maior valorização do Napne, das pessoas que

participam, porque o núcleo deve atender a escola como um

todo e precisa de parceria do ambulatório, da assistência social,

das diretorias e de todos os outros setores. Devido a questões

Page 110: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

110

políticas e pedagógicas aqui tudo que se consegue é muito

brigado, com muita luta, o que acaba desmotivando muita

gente” (E14).

“O Núcleo tem que ter profissionais treinados para que possam

apoiar os estudantes” (E26)

“...ele precisa ser fortalecido, esse atendimento, esse apoio já

existe né, nós temos aí os Napnes que em alguns campi estão

em fase de implementação, outros já tem seu Napne constituído,

mas precisa realmente desse fortalecimento” (E03).

Os trechos acima explicitam a necessidade de rever a estruturação dos núcleos, desde a

sua vinculação (hoje, o Núcleo está vinculado à Diretoria, mas já esteve vinculado a

outras diretorias) e ausência de estrutura física até a sua função dentro do Campus. Falta

clareza sobre o que vem a ser apoio e uma grande discussão acerca das questões: o

Núcleo deve oferecer apoio ou atendimento? Qual a função dos membros dentro do

Núcleo e do Campus? Que capacitação devem receber? Como devem atender aos

docentes, aos PcD e seus familiares? Em qual horário seria feito esse atendimento se os

membros dedicam oito horas aos setores onde estão lotados? Qual a função da sala de

recursos onde funciona também o Napne?

O relato a seguir mostra como se dá as discussões sobre o Napne.

“Eu acho que o Napne tem que se especializar mais... participei

de um congresso com a equipe do Napne e senti que eles

estavam muito preocupados com as questões políticas e menos

importantes de documentação e talvez não correndo tanto atrás

de questões práticas. Eu penso que estão mais interessados em

quem vai ser o coordenador de Napne da regional sudeste do

que o que na escola precisa e como tem que ser feito, mas ainda

assim, apesar dessa queixa, eu penso que o Napne tem bons

professores que o representam e estão à frente do Napne hoje e

que tem tudo pra dar certo, eu acho que o Napne tem avançando

muito e está no caminho certo. (E03)

“acho que a gente tinha que ter um tempo, uma parte da carga

horária para se dedicar ao Napne. Ter o direito respeitado de

estar em determinado local, participando das atividades do

núcleo. Isso deveria ter e é uma dificuldade que a escola tem”

(E12)

Com base na exposição acima, considera-se que as ações mais efetivas de apoio para as

PcD tem deixado a desejar por vários motivos: a falta de capacitação efetiva para

membros do Núcleo, a ausência de um trabalho em rede, a falta de reuniões periódicas

Page 111: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

111

entre os integrantes dos Núcleos do IFMG para troca de informações, orientações e

experiências, a alta rotatividade dos membros, a falta de recursos financeiros e outros já

citados.

Tabela 15 - Propostas com relação aos serviços de apoio

Serviços de apoio Nº de indicações %

Estabelecer parcerias com outros setores 21 33,9

Ter carga horária para os membros 14 22,6

Estruturar e fortalecer os núcleos 13 21,0

Ter profissionais capacitados 11 17,7

O Núcleo ser mais acessível aos alunos 3 4,8

Total 35 100,0

6.3.8 Trabalho e acompanhamento pedagógico

Dentre as propostas sobre como otimizar o trabalho pedagógico, foram recebidas as

seguintes:

“Ter pedagogas com conhecimento dessas questões... de

adaptação... já se especializar nesse trabalho com pessoas com

necessidades especiais” (E09).

“Eu acho que as nossas pedagogas precisam de mais pulso

firme...eu acho que a área pedagógica da escola é fraca, não se

impõem como deveriam se impor em todos os setores, limites

de alunos, posicionamento de professores sem compromisso,

família que não é presente, quando chega na questão do aluno

deficiente também” (E08).

“Nossa aí é o mais difícil, porque depende do professor, do

trabalho com o professor... e é trabalho de aceitação” (E11).

“A organização do trabalho pedagógico deveria ser assim mais

intensificada porque o que a gente percebe, embora o foco aqui

seja os alunos com deficiência a gente percebe que tem muito

aluno que tem necessidades pedagógicas e elas não são

sanadas” (E24).

Page 112: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

112

Esses dados suscitam algumas indagações a respeito do trabalho realizado pelo setor de

pedagogia. Afinal, quais seriam as práticas pedagógicas que poderiam propiciar um

melhor desenvolvimento de alunos com deficiência no contexto da educação

profissional e tecnológica? Qual seria o trabalho a ser realizado pelas pedagogas? Seria

necessário que todos os alunos alcançassem as mesmas metas educacionais para serem

aprovados?

Uma das grandes dificuldades percebidas pela pesquisadora no relato dos entrevistados,

entre eles algumas pedagogas (todas são mulheres), é definir com clareza qual é o

trabalho a ser realizado no processo de inclusão. Relatam grande dificuldade em

viabilizar estratégias de sensibilização dos professores para acolher e atender as

especificidades dos alunos. De fato, sem predisposição para incluir a diversidade de

indivíduos que está matriculada na escola não há um processo efetivo de ensino e

aprendizagem.

Na escola, as pedagogas se desdobram para atender as demandas internas e externas do

setor que tem uma enorme quantidade de tarefas para um contingente pequeno de

pessoas. Atreladas às normas da Instituição, são cobradas no sentido de ter pulso firme

com alguns professores que não se comprometem com as atribuições da função de

professor, porém, a situação de orientar alguns professores, especialmente os efetivos,

que se negam a mudar a prática em prol do desenvolvimento do aluno é estafante para

as pedagogas.

A educação profissional e tecnológica, não apenas nessa escola, tem excluído grande

número de alunos com a justificativa de que não apresentam condições de aprender

devido a vários fatores culturais, sociais, econômicos, etc. e em relação às pessoas com

deficiência percebe-se que é muito baixa a expectativa sobre a aprendizagem dos

mesmos, ou seja, quando entram na escola, se não houver um grande empenho por parte

da pessoa em aprender, pode redundar em fracasso escolar.

Portanto, torna-se necessário que as pedagogas saibam também sobre o tema em

questão para que possam auxiliar alunos com deficiência e seus professores a minimizar

os problemas de ensino e aprendizagem e evitar, dessa forma, os altos níveis de

repetência e evasão. Orientação e assistência é o que se espera do trabalho das

pedagogas para inclusão.

Page 113: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

113

Tabela 16 - Propostas com relação a trabalho e acompanhamento pedagógico

Trabalho e acompanhamento pedagógico Nº de indicações %

Não sabe informar 8 20,5

Estabelecer parcerias 6 15,4

Verificar necessidades 6 15,4

Fazer acompanhamento 5 12,8

Ter conhecimentos sobre inclusão 4 10,3

Conhecer Tecnologias Assistivas 3 7,7

Promover palestras para sensibilização 2 5,1

Ter firmeza nas atitudes e ações 2 5,1

Conscientizar professores 2 5,1

Cobrar dos profs. o PDI dos alunos 1 2,6

Total 39 100,0

6.3.9 Flexibilidade curricular

As questões relativas a adaptações curriculares na perspectiva da educação de PcD têm

sido discutidas por vários autores, entre eles Glat e Plestsh (2007), Oliveira (2008) e

Plestsh (2010). Para Glat, “adaptar um currículo não significa empobrecê-lo, mas rever

estratégias e recursos usados para que o aluno com necessidades especiais possa

participar de todas as atividades da escola” (2007, p.05). Oliveira ressalta que a proposta

de flexibilização curricular possibilitaria aos alunos a “permanência, participação e

convivência na escola, como também o acesso ao conhecimento historicamente

acumulado” (2008, p.131). Plestsh defende “ser necessário implementar alternativas e

/ou mudanças nas práticas curriculares para que os alunos com necessidades especiais

possam participar das atividades escolares” (2010, p.167).

Apesar de suas singularidades na forma de se expressar, todos concordam que as

flexibilizações curriculares são necessárias para o processo de ensino e aprendizagem de

todos, especialmente PcD e as falas de alguns entrevistados, listadas a seguir, vão ao

encontro dessas ideias:

Page 114: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

114

“Acredito que deve ter mesmo essa flexibilidade curricular. Eu

acho que isso é indiscutível” (E06).

“Nessa questão o professor deve pensar que ao criar uma

flexibilidade curricular ele vai ajudar a todos os alunos da sala e

não só o aluno com necessidades especiais. É difícil pra gente

fazer o professor entender que a partir do momento que ele está

modificando a sua metodologia, flexibilizando o currículo ele

está ajudando toda a turma, porque ele acha que ele está

prejudicando a turma pra ajudar uma pessoa” (E12).

“Necessária... temos 50% de reprovação entre os alunos do 1º

ano; é preciso rever o porquê, rever o currículo que é a coluna

vertebral da escola. A escola funciona porque tem um currículo

que tem que ser utilizado e que precisa ser revisto” (E08).

Nota-se que a maioria dos entrevistados se mostrou favorável à flexibilização curricular,

mas apesar disso apontou dificuldades vivenciadas na prática, entre elas a sensibilização

dos professores para mudanças.

Oliveira e Machado (2007) também consideram a flexibilidade curricular necessária e

concordam que as adaptações são necessárias para flexibilizar o currículo:

[...] São as que permitem a eliminação ou a introdução de

objetivos específicos, complementares e/ou alternativos, como

forma de favorecer o desenvolvimento e a aprendizagem dos

alunos com necessidades educacionais específicas. Implicam

modificações no número de alunos que a sala deve comportar, a

definição da sistemática de trabalho cooperativo entre os

professores do Ensino Regular e do Ensino Especial, bem como

em ajustes no tempo de permanência de um aluno em uma

determinada série. Podem, ainda, constituir ajustes na promoção

de um aluno de uma série para outra, ainda que não esgotado o

plano de ensino da classe anterior, prevendo um atendimento de

suplência para apoiá-lo. Em síntese, adaptações curriculares são

modificações realizadas no planejamento, nos objetivos da

escola, nos conteúdos, nas atividades, nas estratégias de

aplicação desse conteúdo e da avaliação no currículo como um

todo ou um aspecto dele. (2007, p. 45).

A Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação explicita o conceito de

adaptações curriculares nos Parâmetros Curriculares Nacionais que nesse documento

são consideradas como:

…estratégias e critérios de atuação docente, admitindo decisões

que oportunizam adequar a ação educativa escolar às maneiras

Page 115: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

115

peculiares de aprendizagem dos alunos, considerando que o

processo de ensino-aprendizagem pressupõe atender à

diversificação de necessidades dos alunos na escola (BRASIL,

1998, p. 15).

Entre as adaptações curriculares necessárias merece destaque a elaboração do Plano de

Desenvolvimento Individual (PDI), que deve conter informações sobre a vida escolar do

aluno e outras informações que auxiliem professores e pedagogos a compreender as

especificidades do processo de aprendizagem desse aluno e buscar suporte quando

necessário, como pode ser compreendido a partir da fala de uma pedagoga entrevistada:

“Seria necessário mesmo fazer o Plano de Desenvolvimento

Individual (PDI) pra flexibilizar o currículo, mas aí a gente

também depende do professor, então acho que esse trabalho de

flexibilização seria conjunto com essa sensibilização do

professor pra que o aluno conseguisse progredir aqui” (E11).

Se a perspectiva da flexibilização curricular é considerada positiva e necessária para a

maioria dos entrevistados, outros insistem em andar na contramão da história da

educação e dizer: “Temos que botar o aluno no mercado, temos que ter gente de

referência, aluno bom, ganhando prêmio pra gente continuar tendo uma credibilidade

legal. Esperar todo mundo chegar ao mesmo nível não dá” (E21). Seria essa fala

resultante de um desconhecimento dos objetivos da educação nacional e do Projeto de

Desenvolvimento Institucional do IFMG que no artigo IV prevê a “Inclusão de pessoas

com deficiências e necessidades educacionais especiais” em todas as atividades do

Instituto? Existem diversos instrumentos legais que apoiam a flexibilização curricular

por meio de adaptações, como a LDB, no seu art. 59, que apresenta claramente a ideia

de que “os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais

currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para

atender às suas necessidades”.

Tabela 17 - Propostas com relação à flexibilidade curricular

Flexibilidade curricular Nº de indicações %

Não sabe informar 8 24,3

Depende da sensibilização do professor 7 21,2

Estabelecer parcerias entre os profs. 6 18,2

Page 116: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

116

Não tem proposta 4 12,1

Desnecessário 2 6,1

Construir PDI 2 6,1

Atendimento em horários vagos 1 3,0

Atendimento em horários diferenciados 1 3,0

Conscientizar professores 1 3,0

Atendimento individualizado na sala 1 3,0

Total 33 100,0

6.3.10 Articulação entre atendimento educacional especializado e ensino regular

As propostas feitas em relação a esse item indicam que primeiramente é necessário

montar uma sala de recursos e oferecer esse serviço que só terá um mínimo de

qualidade se contar com a parceria entre os diversos setores da escola, especialmente

entre Pedagogia, Psicologia, Serviço Social, Napne e docentes. No Campus Ouro Preto

não há um profissional responsável por dar suporte aos professores e o Napne é

responsabilizado pela organização ou desorganização de toda ação de inclusão como

relata um dos sujeitos da pesquisa:

“Eu acho que ele tem que acontecer efetivamente. Por exemplo,

um aluno que é surdo precisa ter um atendimento na sala de

recursos com frequência, com horários garantidos, com projetos

pra ele. Porque um aluno que entrou agora na faculdade e que

desde o início do ano tiver, por exemplo, aula de língua

portuguesa, pra escrever melhor, vai chegar ao final do ensino

superior escrevendo melhor, fazendo boas resenhas, bons

trabalhos escritos e o professor lá na frente vai ter que se

preocupar menos com aquele aluno, ao invés dele ser uma

queixa o tempo inteiro, ele vai ser um projeto pro curso como

algo que foi eficaz. Então, penso que a sala de recurso não deve

esperar, por exemplo, uma proposta de um professor que se

ponha a disposição daquele aluno. Ela tem que articular tudo.

Chegou um aluno na escola com essa deficiência, então, vou

atrás dos professores e vou articular tudo pra que ele seja

assessorado em sua deficiência em totalidade. Acho que falta

isso na sala de recursos.” (E08)

Page 117: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

117

Um aspecto que chama a atenção nesse relato é que a sala de recursos e o Napne são

considerados uma unidade só que deveria se responsabilizar pelo trabalho de inclusão.

Então, em se tratando de inclusão, a conversa será sempre a mesma: não é necessário

uma sala de recursos (de verdade) e o Napne não precisa de profissionais que se

dediquem exclusivamente ao trabalho de inclusão porque há poucas PcD matriculadas

na escola. Não poderia também estar acontecendo o contrário? A escola tem poucas

PcD matriculadas porque não consegue incluí-los efetivamente?

Tabela 18 - Propostas para articulação entre AEE e ensino regular

Articulação AEE/ensino regular Nº de indicações %

Montar sala de recursos 7 21,2

Atendimento em horários vagos 5 15,2

Atendimento em horários diferenciados 5 15,2

Parceria entre Napne e professores 4 12,2

Não tem proposta 4 12,2

Estabelecer parcerias entre os profs. 2 6,0

Conscientizar professores 2 6,0

Não sabe informar 2 6,0

Construir PDI 1 3,0

Atendimento individualizado na sala 1 3,0

Total 33 100,0

6.3.11 Interação entre alunos, professores e servidores

A fala da maioria dos entrevistados diz que a interação entre todos pode acontecer de

maneira espontânea a partir da participação das PcD em todas as atividades da escola,

diferentemente da aprendizagem que precisa de planejamento e sistematização das

atividades.

Apesar de perceber nas falas dos entrevistados uma baixa expectativa em relação à

capacidade de aprender e de expressar conhecimentos desses alunos, muitos relatam que

quando a prática do professor valoriza e respeita as diferenças dos alunos, procura

Page 118: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

118

envolver todos nas atividades da sala de aula e enfatiza mais as possibilidades do que as

dificuldades todos se sentem mais acolhidos e interagem com mais naturalidade.

Para que a interação ocorra nos outros espaços escolares, foi proposta a participação dos

alunos em todos os eventos organizados na escola, como eventos esportivos, culturais,

etc.

Tabela 19 – Propostas para Interação entre alunos, professores e servidores

Interação entre alunos/professores/funcionários Nº de indicações %

Naturalmente 18 36,0

Por meio de encontros e palestras 17 34,0

Não sabe informar 6 12,0

O professor deve incentivar 3 6,0

Participando das atividades da escola 3 6,0

Dar condições iguais de participação 2 6,0

Total 50 100,0

6.3.12 Identificação das demandas de alunos com deficiência

Um número expressivo dos entrevistados (42,6%) propõe que, para identificar as

demandas e necessidades desses alunos, uma das formas mais eficazes seria por meio do

estabelecimento de parcerias com os outros setores da escola e também com as Apaes,

ou seja com pessoas que supostamente já possuem conhecimento sobre as necessidades

apresentadas por pessoas que têm algum tipo de deficiência a partir da experiência em

atendê-los.

Outra parcela também significativa (38,2%) propõe que sejam feitas pesquisas

científicas para conhecer as necessidades gerais de cada tipo de deficiência.

Apesar das diferenças entre as propostas citadas, percebe-se que a pesquisa é citada

como fator preponderante para aprimorar o conhecimento e melhorar o processo de

inclusão de PcD na escola.

Page 119: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

119

O acompanhamento diário do aluno também é considerado fator relevante para se obter

dados consistentes sobre as suas necessidades e apesar de ter sido considerado por uma

parcela menor dos entrevistados, considera-se que essa é a melhor forma de se obter

informações sobre as necessidades verdadeiras das pessoas, pois ainda que tenham o

mesmo tipo de deficiência, as necessidades de cada um são diferentes devido aos

diferentes graus de deficiência, aos apoios que essa pessoa teve ou tem, à sua história de

vida, sem contar que uma mesma pessoa pode ter múltiplas deficiências. Ao falar sobre

esse tema, um dos entrevistados enfatiza:

“Acho que é preciso ter uma ficha de acompanhamento

começando assim que ele for matriculado, tem que ser uma

ficha mais completa e independente se o aluno é maior de idade

ou não, uma entrevista com a família buscando o histórico desse

aluno. Precisamos entender o histórico desse aluno e de um

acompanhamento sistemático por parte do Napne e da área

pedagógica.” (E04).

Novamente é enfatizada a questão de um trabalho intersetorial para obter e registrar

informações consistentes em uma base de dados que possa estar à disposição da

pedagogia e dos docentes no sentido de auxiliar o processo de inclusão de cada aluno

com deficiência. Essas informações viriam de familiares, do próprio aluno, dos

docentes, da Pedagogia, Psicologia, Serviço Social, ou outros que tenham informações

consideradas importantes para o processo de inclusão da pessoa na escola.

Tabela 20 – Propostas para Identificação das demandas de alunos com

deficiência

Identificação das demandas Nº de

indicações

%

Parceria com Apaes e outros setores do Campus 20 42,6

Através de pesquisas 18 38,2

Através de acompanhamento 4 8,5

Entrevistas com as famílias 2 4,3

Diagnóstico feito na matrícula 2 4,3

Informando-se com docentes e intérpretes 1 2,1

Total 47 100,0

Page 120: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

120

6.3.13 Avaliação da aprendizagem

Com base nos registros das respostas dos entrevistados, pode-se afirmar que para

avaliar, não apenas a PcD, é preciso ter conhecimento sobre o que significa tal

procedimento e, para isso, o professor precisa estudar e aprender. Se a única forma de

avaliar consiste em provas e testes que medem “a aprendizagem” dos conteúdos dados

na sala de aula, não é possível dizer que existe avaliação da aprendizagem ou sistema de

avaliação. Diferentemente, uma concepção de avaliação formativa32

propõe que não se

avalie para ranquear alunos melhores ou piores em cada disciplina ou curso.

Sobre a avaliação de alunos com deficiência, a Secretaria de Educação de Minas Gerais

por meio da Orientação SD nº 01/2005 reforça a necessidade da construção do Plano de

Desenvolvimento Individual do aluno (PDI) que ao ser organizado “vem criar para a

escola a oportunidade de ouvir o aluno, a família e, mediante parceria, outros

profissionais que atuam com o aluno, também durante o processo avaliativo”. Uma das

falas de um dos entrevistados veio ao encontro da idéia de flexibilizar o processo de

avaliação a partir do respeito às especificidades das PcD:

“É preciso considerar o direito que os deficientes têm da

avaliação diferenciada e os professores têm muita resistência a

isso, têm muita dificuldade disso. Por exemplo: um aluno que é

surdo, que tem a fala comprometida e o professor que insiste

que ele tem que apresentar seminários... Ele não consegue

perceber que ele pode ser avaliado de outra forma. Ele fica

muito mal na frente, falando pros colegas que não entendem o

que ele fala e o professor insiste que ele tem que ser avaliado

daquela forma porque se ele não apresentar, não ganha nota.

Então ele tem que ir lá na frente e se expor pros colegas.”

(E11).

Como podemos depreender da fala acima há a necessidade de se avaliar pessoas como

essa de uma forma diferente e é desumano expor uma pessoa dessa forma, é desrespeitar

um direito garantido por lei e que consta também no documento “Política Nacional de

32

Conforme Hadji, a avaliação formativa é uma avaliação que precede a ação de formação e

possui, como objetivo, ajustar o conteúdo programático com as reais aprendizagens. Por ser

uma avaliação "informativa" e "reguladora", justifica-se pelo fato de que, ao oferecer

informação aos professores e alunos, permite que estes regulem suas ações. Assim, o professor

faz regulações, no âmbito do desenvolvimento das ações pedagógicas, e o aluno conscientiza-se

de suas dificuldades e busca novas estratégias de aprendizagem. ( HADJI, 2001).

Page 121: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

121

Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva” no qual a avaliação é

proposta da seguinte forma:

A avaliação pedagógica como processo dinâmico considera

tanto o conhecimento prévio e o nível atual de desenvolvimento

do aluno quanto as possibilidades de aprendizagem futura,

configurando uma ação pedagógica processual e formativa que

analisa o desempenho do aluno em relação ao seu progresso

individual, prevalecendo na avaliação os aspectos qualitativos

que indiquem as intervenções pedagógicas do professor. No

processo de avaliação, o professor deve criar estratégias

considerando que alguns alunos podem demandar ampliação do

tempo para a realização dos trabalhos e o uso da língua de

sinais, de textos em Braille, de informática ou de tecnologia

assistiva como uma prática cotidiana (BRASIL, 2007, p. 11).

Em suma, avaliar é um grande desafio da escola que pretenda ser inclusiva. Avaliar a

partir das potencialidades dos alunos e não apenas das suas dificuldades remete ao

trabalho colaborativo entre professores, setor de pedagogia e outros, uma vez que os

problemas de aprendizagem no que se refere a pessoas surdas e cegas podem ser

comparados aos problemas de aprendizagem dos alunos considerados normais.

Tabela 21 - Propostas para Avaliação da aprendizagem

Avaliação da aprendizagem Nº de

indicações

%

Acompanhamento individual sistemático 7 24,1

Qualificando os professores 6 20,7

Fazer avaliação diferenciada 5 17,3

Não sabe informar 3 10,4

Por meio do PDI do aluno 2 6,9

Por meio de parceria entre os professores 2 6,9

Ter pedagogas com esse foco 2 6,9

Ter avaliação feita por profissionais 1 3,4

Parceria entre os diversos setores 1 3,4

Total 29 100,0

6.3.14 Inclusão na pesquisa

Page 122: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

122

O IFMG, com base em seus estatutos, preconiza a indissociabilidade entre ensino,

pesquisa e extensão, o que vai ao encontro das finalidades dos Institutos Federais que

compreendem o desenvolvimento de programas de extensão e de divulgação científica e

tecnológica. Embora essas informações constem nos estatutos do Instituto e na Lei

11.892/08 que cria os Institutos, a maioria dos entrevistados (46%) não soube propor

nenhuma ação que propiciasse a inclusão de PcD na pesquisa.

16,7% dos entrevistados sugeriram que a melhor forma de possibilitar a inclusão dessas

pessoas na pesquisa é a sensibilização dos professores e maior divulgação das vagas

ofertadas, pois, apesar de nos editais de pesquisa a forma de seleção dos alunos-

bolsistas ter como base o mérito acadêmico é preciso dar a todos a oportunidade de ter

conhecimento sobre a existência das vagas e do processo de seleção. Talvez por esse

motivo aparece em 8,3% das propostas a questão da criação de cotas para PcD também

nos editais de pesquisa.

Alguns entrevistados advertem que sem recursos tecnológicos e humanos não é possível

efetivar o processo de inserção de PcD em pesquisa, pois as barreiras arquitetônicas e de

comunicação impediriam o andamento da pesquisa. Advertem também que a maior

parte das pesquisas é realizada fora da escola, em ambientes que não são acessíveis a

essas pessoas.

Tabela 22 – Propostas com relação à inclusão na pesquisa

Inclusão na pesquisa Nº de indicações %

Não sei 12 46,1

Incentivo dos professores 4 15,4

Maior divulgação dos editais 4 15,4

Ampliar recursos pedagógicos 3 11,6

Ter cotas 2 7,7

Projetos específicos para PNEs 1 3,8

Total 26 100,0

6.3.15 Inclusão na extensão

Page 123: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

123

Parte significativa dos entrevistados (47,8%) relatou total desconhecimento das

possibilidades de inserção de PcD nas atividades de extensão. No entanto, o Campus

tem uma Política de Extensão apresentada nos estatutos do IFMG que “visa desenvolver

ações para viabilizar o processo educativo, cultural, esportivo e científico, articulando o

Ensino e a Pesquisa, fomentando a consciência social, ambiental e política na formação

de profissionais cidadãos, numa relação dialógica com a comunidade” e nessa linha tem

vários projetos onde essas pessoas poderiam estar inseridas.

Em prol de alcançar esse objetivo, o Campus Ouro Preto conta, atualmente, com os

seguintes projetos de extensão em andamento: Programa Sociocultural Ponto de Cultura

Timbalê, Curso de Extensão em Educação Ambiental, Conservação e Restauro dos

Chafarizes de Ouro Preto, Pontos de Leitura, Cultura e Ciência (Bibliotecas

Comunitárias), Galeria de Artes, Laboratório de Restauro, Canta Cantos: expandindo

um projeto de divulgação científica e Rádio IFMG. Conta ainda com as oficinas de

Kung Fu Wushu, Piano, Judô e Coral que são abertas à comunidade de Ouro Preto.

Nesse ano (2012), também teve início no Campus o Programa Segundo Tempo - Núcleo

Inclusão Social, Esporte e Cidadania, do qual participam crianças de 12 a 15 anos da

comunidade local e teve uma porcentagem de suas vagas destinadas a PcD.

Entre esses projetos extencionistas, o Pontos de leitura, cultura e ciência: bibliotecas

comunitárias Saramenha de Cima e Morro São Sebastião e também o Programa de

transferência de tecnologias de produção joalheira para os artesãos de Santo Antônio do

Leite, Ouro Preto, Minas Gerais foram aprovados no Proext 2013, programa do MEC

que abrange projetos de extensão e visa estimular o desenvolvimento social e a atuação

profissional pautada na cidadania e na função social da educação superior.

Incentivar e estimular a participação de todos os alunos por meio de maior divulgação

dos projetos de extensão e dos editais para selecionar bolsistas é a proposta da maioria.

Os registros a seguir ilustram o que foi proposto:

“ Proponho que o professor divulgue os editais... incentive e

estimule para que as pessoas com deficiência possam

participar” (E23).

“É preciso ter projetos, divulgar os projetos e inserir também

não só os alunos com deficiência, mas oportunizar que os

alunos com deficiência e os alunos não-deficientes cresçam

Page 124: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

124

juntos, tenham as mesmas oportunidades e experiências, que

não haja essa diferença” (E13).

“É só o professor incentivar a se inscreverem nos projetos”

(E08).

“Deixar que o aluno conheça os projetos e manifestar vontade

de participar e criar condições para ele poder participar” (E15).

As falas destacadas reforçam a necessidade de divulgação dos editais e projetos (à

frente se abordará a divulgação dos mesmos). Reforçam também a questão de incentivar

a participação de todos os alunos e comunidade externa nas ações dos projetos de

extensão.

Nota-se que em relação à participação nos projetos de extensão, os entrevistado não se

lembraram de que esses projetos são abertos a toda a comunidade e que, então, para ter

participação de PcD ou não é preciso divulgar os projetos na comunidade e não apenas

na escola. Na escola teriam que ser divulgados, principalmente porque além das pessoas

matriculadas na Escola poderem participar como alunos, também podem concorrer às

bolsas de monitoria ofertadas para trabalhar nesses projetos.

Tabela 23 – Propostas com relação à inclusão na extensão

Inclusão na extensão Nº de indicações %

Não sei 11 47,8

Incentivar e estimular a participação 7 30,4

Maior divulgação dos projetos e ações 5 21,7

Total 23 100,0

6.3.16 Inclusão na gestão

As sugestões dadas para inclusão de PcD na gestão do Campus Ouro Preto seguiram a

mesma linha das propostas para inclusão na pesquisa e na extensão. Indicaram que é

preciso estimular a participação de todos os alunos nas ações do grêmio e nas

assembleias estudantis. Que eles tenham conhecimento e sejam estimulados a emitir

opiniões e críticas sobre as questões relativas à escola, mas ainda há muito

desconhecimento, de forma geral, das formas de participação de qualquer aluno nas

atividades de gestão.

Page 125: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

125

Tabela 24 – Propostas com relação à inclusão na gestão

Inclusão na gestão Nº de indicações %

Estimular a participação 8 38,1

Maior divulgação das atividades 7 33,3

Não sei 5 23,8

Através da mobilização dos alunos 1 4,8

Total 21 100,0

6.3.17 Orientação profissional

Conforme constata-se na tabela a seguir, os entrevistados deram mais ênfase para a

necessidade de ter mais conhecimento das propostas de contratação de PcD nas

empresas locais e para a divulgação dessas informações como pressupostos para melhor

orientar os alunos sobre as exigências do mercado de trabalho e as possibilidades

ofertadas para cada tipo de deficiência.

De acordo com os dados, propõe-se que esse trabalho seja efetivado por meio de

parceria entre o Napne e outros setores da escola, como a Psicologia, e que aconteça

preferencialmente por meio de palestras.

Tabela 25 – Propostas com relação orientação profissional

Orientação profissional Nº de indicações %

Conhecer as propostas das empresas 5 25,0

Divulgação das propostas das empresas 5 25,0

Não sabe informar 3 15,0

Por meio dos Napnes 3 15,0

Por meio de parceria com setor de Psicologia 3 15,0

Por meio de palestras 1 5,0

Total 20 100,0

6.3.18 Inserção sociolaboral

Page 126: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

126

A maioria das proposições dos entrevistados pressupõe a existência de um setor ou de

um profissional responsável por verificar as ofertas de vagas para PcD nas empresas e

divulgar essas oportunidades na Escola. 16,7% sugerem que esse trabalho seja feito pelo

Napne em parceria com o setor de estágios e empregos. Destacam também que as

visitas técnicas são oportunidades que devem ser oferecidas aos alunos para que

conheçam o dia a dia e os processos das empresas.

A proposta de fazer um cadastro unificado de currículos dos estudantes e diplomados

específico para as PcD, contemplando toda a rede federal, sempre foi um desejo dos

Napnes, dando origem a um Banco de Recursos Humanos Acessível (BRH Acessível).

Essa ideia se concretizou graças à iniciativa da Renapi33

“O BRH Acessível fornece

mecanismos para auxiliar essas pessoas na busca de uma vaga, possibilitando a inserção

de tais sujeitos no mercado de trabalho de forma facilitada e acessível” 34

.

Sugere-se, então que seja feito um banco de dados dos alunos com deficiência no

Campus Ouro Preto e das empresas que oferecem vagas para PcD, para que esses alunos

possam cadastrar seus currículos e as empresas locais possam tanto pesquisar tais

informações quanto divulgar oportunidades de emprego para esse público nos meios de

comunicação do Campus.

Tabela 26 – Propostas com relação à Inserção sociolaboral

Inserção sociolaboral Nº de indicações %

Buscar as vagas das empresas e divulgar 8 33.3

Promover visitas técnicas 5 20,8

Não sabe informar 5 20,8

Através dos Napnes 4 16,7

Governo fazer cadastro unificado 2 8,4

Total 24 100,0

33

Trata-se da Rede Nacional de Pesquisa e Inovação em Tecnologias Digitais, criada pela

Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação, destinada a

alimentar de forma descentralizada e colaborativa o SIEP – Sistema de Informações da

Educação Profissional e Tecnológica. Mais informações: http://www.renapi.gov.br/.

34

Disponível em: < http://brh.renapi.gov.br/>. Acesso em 09 out. 2012.

Page 127: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

127

6.3.19 Acesso aos benefícios dos programas sociais

A esse respeito, os entrevistados propuseram, principalmente, que as PcD dispusessem

de critérios diferenciados para acessar os benefícios dos programas sociais da Escola,

mais no sentido de que a gestão do Serviço Social pudesse verificar as suas

necessidades sem que estivessem atreladas apenas ao questionário socioeconômico.

Consta como categoria de auxílio o Apoio a Estudantes com Necessidades Educacionais

Especiais na Instrução Normativa nº 1/2011, que institui e normatiza o Programa de

Assistência Estudantil do Instituto Federal de Minas Gerais - IFMG35

. Porém, esse

documento especifica apenas que “estão previstas como atividades de apoio a

estudantes com necessidades educacionais especiais que devem ser realizadas por todos

os Campi: Organização de oficinas de pessoas com necessidades especiais; palestras

sobre políticas inclusivas”. Ressalta-se que, essas oficinas, se fossem oferecidas,

poderiam atender a todas as pessoas, inclusive as PcD36

.

16,7% dos entrevistados consideraram que não é necessário ter um critério diferenciado

para análise de questionários de PcD, uma vez que os alunos podem comparecer ao

setor de Serviço Social e agendar uma entrevista com a assistente social para, então,

dizer por quais motivos necessita do auxílio. Mas, 8,4% dos entrevistados consideraram

a necessidade de se estabelecer uma parceria entre o Serviço Social o Setor de

Psicologia para que a assistência não seja pautada apenas em critérios socioeconômicos

e fique condicionada à avaliação de apenas uma pessoa ou de um grupo de pessoas que

não tem nenhum conhecimento sobre as demandas e necessidades desse Campus. Sobre

esse aspecto é importante ressaltar que, atualmente, os questionários socioeconômicos

são preenchidos e enviados eletronicamente e a análise desses documentos é feita, em

conjunto, pelas assistentes sociais do IFMG, que se reúnem na Reitoria. Ou seja, os

questionários de Ouro Preto não são necessariamente analisados pela assistente social

desse campus. As falas descritas a seguir ilustram esse distanciamento que para eles

existe no serviço prestado pelo Serviço Social: “Falta acolhimento no serviço social”

(E04). “Tem muita burocracia pra conseguir bolsa”(E02). “Eu acho que devia avaliar de

35

Disponível em <http://www.ouropreto.ifmg.edu.br/apoio-ao-educando/assistencia-

estudantil/InstruoNormativaAssitnciaEstudantil_n012011_.pdf >. Acesso em 10 out. 2012.

36

Observação: consta a expressão “oficinas de” e não “oficinas com...”.

Page 128: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

128

uma forma diferente, em relação com a dificuldade da pessoa, junto com o

socioeconômico, mas visando o outro lado, que é o lado da sensibilidade” (E05).

Esse atendimento prioritário e desburocratizado que os alunos apresentam como

proposta está previsto no Art. 2º da Lei nº 10.048, de 2000, que estabelece que:

... as repartições públicas, as empresas concessionárias de

serviços públicos e as instituições financeiras estão obrigadas a

dispensar atendimento prioritário, por meio de serviços

individualizados, que assegurem tratamento diferenciado e

atendimento imediato às pessoas portadoras de deficiência

(BRASIL, 2000).

Por outro lado, gestores entrevistados também concordam com a necessidade de

atendimento individualizado para concessão de auxílios desvinculados dos critérios

socioeconômicos e consideram que

“os programas sociais de assistência estudantil dão um peso

considerável para essa questão. Dentre os critérios que tem pra

concessão ou não de auxílios esse é um deles” (E22).

“eu não acho que seria o caso de se ter um benefício específico

pra ele, a menos que seja um caso especial, aí um caso especial

deve ser tratado como uma exceção e avaliado pontualmente”

(E25).

A partir das falas dos entrevistados descritas a seguir é possível depreender que a

divulgação dos editais de concessão de auxílios ainda é um dos pontos que dificulta o

acesso dos alunos aos benefícios.

“Divulgação. Acho que tem gente que nem sabe que tem

programas aqui na escola” (E19).

“Mais divulgação especificamente pra esses alunos” (E14).

“É preciso divulgar em outros meios que não seja o site” (E18).

“Quando a gente fica sabendo do edital, o tempo já acabou”

(E03).

“O tempo pra conseguir os documentos é pouco pra quem mora

em outra cidade (E16).

Com base nesses registros, pode-se afirmar que, especialmente, no caso de alunos

novatos e que se matriculam nas chamadas posteriores à primeira é necessário divulgar

mais, de diferentes formas e por um tempo maior todos os benefícios que a escola

oferece. Talvez alguns alunos deixem de solicitar auxílios realmente por

Page 129: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

129

desconhecimento, por estar em um ambiente novo e em uma escola enorme, onde

levaria tempo para se adaptar e conhecer as possibilidades de inserção em programas e

atividades diferentes daquelas da sala de aula.

Tabela 27 – Propostas com relação ao acesso de PcD aos benefícios dos

programas sociais

Acesso aos benefícios dos programas sociais Nº de

indicações

%

Ter critérios diferenciados 9 25,0

Critério específico é desnecessário 6 16,7

Maior divulgação dos editais 6 16,7

Prazo maior para entregar documentos 5 13,9

Maior tempo de divulgação dos editais 4 11,1

Parceria com a psicologia para análise dos formulários 3 8,4

Não sabe informar 2 5,5

Ter entrevista individual 1 2,7

Total 36 100,0

6.3.20 Acompanhamento de egressos

Sobre esse ponto, grande parte dos sujeitos da pesquisa (35%) considerou que é

necessário atualizar os contatos dos alunos egressos, porém a Escola não conta,

atualmente, com esse tipo de serviço de forma efetiva, apesar de ser uma das propostas

contidas no Plano de Desenvolvimento Institucional do IFMG:

O IFMG tem como proposta desenvolver um Programa de

Acompanhamento dos Egressos que tem por objetivo

acompanhar e avaliar aspectos relacionados à inserção dos ex-

alunos no mercado de trabalho, com o intuito de subsidiar os

órgãos responsáveis pelo ensino no IFMG na reorganização

didático-pedagógica dos cursos, de forma a adequá-los às

necessidades e novas exigências profissionais, além de propor

Page 130: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

130

ações direcionadas a formação continuada e o estabelecimento

de uma relação mais estreita entre os egressos e a Instituição.37

Para criar qualquer política de acompanhamento de egressos é necessário criar

procedimentos para que o acompanhamento seja verdadeiramente feito.

Uma das propostas é para que o acompanhamento de egressos com deficiência seja feito

pelo Napne. Considerando-se o pequeno número de PcD que se formam, o

acompanhamento deles pelo Núcleo seria uma grande possibilidade de fornecer a outros

estabelecimentos de ensino ou empresas informações relevantes sobre essas pessoas.

Tabela 28 – Propostas com relação ao acompanhamento de egressos

Acesso aos benefícios dos programas sociais Nº de

indicações

%

Atualizar contatos 7 35,0

Através de projeto de pesquisa 4 20,0

Não sabe informar 4 20,0

Por meio do Napne 2 10,0

Através do site do IFMG 1 5,0

Através de programa do MEC 1 5,0

Criar política de acompanhamento de egressos 1 5,0

Total 20 100,0

6.3.21 Formação de docentes e técnicos

No que tange à formação de docentes para inclusão, não há dúvida para 45,2% dos

entrevistados de que é preciso contar com professores com conhecimento em inclusão

para que, de fato, a perspectiva de oferecer condições a essas pessoas de acesso ao

conhecimento se concretize. Os outros entrevistados responderam sobre a mesma

necessidade de formação, mas de forma diferente. Propõem que a formação seja do tipo

continuada tanto para docentes quanto para técnicos e se dê por meio de oficinas, cursos

37

Disponível em: < http://ouropreto.ifmg.edu.br/instituicao/legislacao/plano-de-

desenvolvimento-institucional/plano-de-desenvolvimento-institucional >. Acesso em 10 out.

2012.

Page 131: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

131

em todos os níveis e modalidades que tenham como conteúdo políticas públicas de

inclusão de PcD, diversidade, tipos de deficiência, ensino, aprendizagem e avaliação de

PcD, construção de plano de desenvolvimento individual, flexibilidade curricular etc.

Essa formação continuada foi sugerida por todos os entrevistados e vai ao encontro de

pesquisas que a consideram necessária, uma vez que, “de maneira geral, as licenciaturas

não estão preparadas para desempenhar a função de formar professores que saibam lidar

com a heterogeneidade posta pela inclusão” (GLAT; PLETSCH, FONTES, 2007). Essa

proposta também encontra apoio no Plano de Desenvolvimento Institucional do IFMG,

no item 4.4 Políticas de qualificação, plano de carreira e regime de trabalho, no qual se

lê:

As políticas para o plano de carreira e regime de trabalho

obedecem ao disposto na Lei 11.784/08. O IFMG ampliará as

políticas de incentivo à capacitação dos docentes através de

participação em eventos didático-pedagógicos e científicos,

bem como o estímulo e disponibilização do docente para

realização de cursos de pós-graduação.

Porém nota-se que é bem pequena a participação de docentes e técnicos em cursos e

oficinas, especialmente em eventos relacionados ao tema da inclusão (palestras, cursos e

oficinas) realizados no próprio Campus. As palavras dos sujeitos da pesquisa reafirmam

essa constatação.

“Tem que ter boa vontade em aprender, ir ao Napne, se

capacitar...” (E14)

“É preciso que participem de cursos oferecidos nas áreas de

educação especial” (E13)

“... primeiro as pessoas precisam entender, perceber o que é

educação inclusiva. Que se faça a Libras ou Braille, mas que

paralelamente a isso se promova a formação de pessoas para a

educação inclusiva e a pessoa tem que acreditar... Isso poderia

acontecer de maneira simultânea e até de repente através de

módulos oportunizados a todos, desde a pessoa que recebe lá na

portaria até o diretor que vai assinar lá na colação de grau e

deveria ter conhecimento” (E07).

“a gente precisa da força da direção, porque se for por convite

ninguém vai. Então tinha que ter isso assegurado de alguma

forma ou por convocação da direção ou na carga horária deles

deveria ter um tempo pra isso” (E11).

Page 132: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

132

A partir das diferentes formas de se expressar, nota-se que é preciso aprofundar as

discussões sobre educação inclusiva e formação docente, questão que não parece ser

resolvida de forma tão simples como o oferecimento de cursos, palestras e oficinas. Um

dos entrevistados ressaltou: “aqui não tem nenhum programa específico de formação

docente pra isso não, mas o caminho do Napne com as oficinas é uma boa proposta pra

formação inicial e continuada daqueles que se interessam”.

Cabe lembrar que a LDB 9394/96, em seu artigo 59, reconhece que é preciso formar

professores especializados para atender pessoas com necessidades especiais em todas as

modalidades de ensino:

Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com

necessidades especiais:

III - professores com especialização adequada em nível médio

ou superior, para atendimento especializado, bem como

professores do ensino regular capacitados para a integração

desses educandos nas classes comuns.

Diante do que está posto na legislação e das condições sugeridas pelos sujeitos da

pesquisa e oferecidas pela Instituição para profissionalização dos docentes e técnicos

não só para inclusão, mas de forma geral, por meio de treinamentos e de cursos de

capacitação, resta a reflexão sobre até quando serão feitos apenas treinamentos para

atender demandas emergenciais.

Em relação aos docentes e servidores que atuam no Núcleo propõe-se que todos sejam

liberados para participação em eventos que abordem assuntos de interesse do Núcleo, o

que não acontece atualmente.

Tabela 29 – Propostas com relação formação de docentes e técnicos

Formação de docentes e técnicos

Nº de

indicações

%

Oferecer cursos em todos os níveis 14 45,2

Oferecer conhecimentos sobre deficiências 5 16,1

Curso de especialização do IFMG 4 12,9

Conhecimento sobre diversidade 3 9,7

Page 133: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

133

Oficinas oferecidas pelo Napne 2 6,5

Conhecimento sobre inclusão 2 6,4

Curso de construção de PDI 1 3,2

Total 31 100,0

6.3.22. Contratação de profissionais especializados

A contratação de profissionais especializados para atendimento e apoio às PcD é uma

das grandes dificuldades não só do IFMG, mas das Instituições que compõe a Rede

Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica. Sobre esse assunto alguns

entrevistados relataram:

“Não há código de vagas” (E21).

“Acho que não é um ponto só do nosso Instituto, isso deveria

ser uma discussão num nível hierárquico mais acima, MEC... de

como resolver esse problema, porque nós temos nossa limitação

legal e não conseguimos mexer na legislação e se o MEC

tivesse interesse em apresentar uma categoria especial, uma

forma especial de contratação, o MEC tem força para discutir

isso e nós não. Cada Instituto isolado não tem, todos juntos com

o MEC talvez tenham” (E25).

“Temos que ter vagas disponíveis, a esperança que temos é a

aprovação desse projeto de lei que cria muitas vagas pra

intérprete de libras, que o Ministério da Educação disponibilize

essas vagas pra gente, que é a principal demanda que temos”

(E22).

No art. 24 da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência promulgada no

Brasil pelo Decreto Nº. 6.949/2009 assegura-se o direito das pessoas com deficiência a

acessar um sistema educacional inclusivo em todos os níveis e modalidades de ensino.

Ao ratificá-la o Brasil assume o compromisso de assegurar a inclusão das PcD à escola

comum, oferecendo os apoios necessários para a participação de todos os alunos em

igualdade de condições. No entanto, nota-se não tem sido cumprido esse compromisso,

ao menos nesse Campus, onde os intérpretes ainda não têm garantido nem ao menos o

seu salário em datas acertadas e, por isso, alguns entrevistados requerem pagamento

justo e na data certa para os intérpretes, que talvez também por esse motivo, se sintam

desmotivados no seu trabalho.

Page 134: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

134

O registro a seguir relata a indignação de um dos entrevistados com a situação de

contratação de profissional especializado: “os intérpretes ficam meses sem receber e

começam a faltar... quando faltam, não tem outro pra substituir... e o aluno, como

fica?”(E11). Percebe-se que há na Instituição certo desconhecimento dos setores

responsáveis tanto em relação à contratação quanto à forma de se pagar esses

profissionais, o que torna muito difícil a situação dos alunos com deficiência, como se

percebe no relato a seguir;

“Questionei que um aluno surdo não escreve bem, não usa

conectivos e preposições, nada disso... e que eu estava à

disposição pra auxiliar esse aluno nos horários vagos. Eu queria

estar com ele, mas era preciso um intérprete mediando porque

não sei Libras e ele não sabe a língua portuguesa, então pra ele

aprender a língua portuguesa precisa de um mediador. Eu

conversei com a intérprete e a escola negou porque não teria

verba pra pagar. Então isso pra mim foi meio chocante... Eu não

esperava que fosse negado um auxílio que por lei tem condições

de ter” (E08).

Então, nota-se que muito mais que garantir o direito por lei, é preciso dar condições

para que esses alunos possam ter os apoios necessários durante o seu curso, caso

contrário terá apenas uma pseudoinclusão.

Tabela 30 – Propostas com relação Contratação de profissionais

especializados

Contratação de profissionais especializados Nº de

indicações

%

De acordo com a necessidade 6 26,0

Não sabe informar 6 26,0

Abrir código de vaga 5 21,7

Pagando salário justo e em dia 4 17,5

Ter concurso público específico 1 4,4

Mudança na legislação 1 4,4

Total 23 100,0

6.3.23 Gestão das atividades de inclusão

Page 135: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

135

Verifica-se que há um consenso entre os entrevistados de que a gestão das atividades de

inclusão deve ficar sob a responsabilidade do Napne. Referem-se à necessidade, já

colocada anteriormente, de estruturação e fortalecimento dos núcleos (30,2%) por meio

de disponibilidade (requerida pelos membros dos Napnes do IFMG) de carga horária de,

no mínimo 20 horas semanais, para a função de coordenador do núcleo e de seis horas

semanais para os outros membros. Como exemplo têm-se manifestações como esta:

“Precisa ter disponibilidade de carga horária para se dedicar às políticas inclusivas”

(E24).

O regimento interno do Napne do Campus Ouro Preto ainda não foi aprovado, nem o do

IFMG, o que é também uma reivindicação dos membros para dar legitimidade ao

Núcleo e às ações efetivadas.

A proposta de se ter um setor de ações inclusivas com um gestor capacitado para tratar

efetivamente de inclusão em todas as suas formas e especificamente de PcD é uma das

que já foram parcialmente atendidas, pois atualmente, o IFMG tem uma pessoa

encarregada de cuidar de políticas inclusivas. Porém alguns entrevistados relatam que

ainda não se percebe um encadeamento das ações de inclusão entre os diversos campi.

“Eu acredito que é fundamental na Reitoria ter um gestor que

possa ter realmente a capacidade de organizar e planejar a

educação inclusiva no Instituto, porque a gente percebe que a

coisa é muito solta, que cada campus vai e faz da forma que

acha conveniente. Por mais boa intenção que cada campus tenha

não existe nenhuma diretriz do Instituto como um todo para que

a educação inclusiva possa ser realmente implantada e não só

implantada, mas que ela faça um trabalho real de inclusão.”

(E06)

O desejo de que se tenham ações de inclusão idealizadas, articuladas, praticadas e

avaliadas em conjunto, tendo como um elemento norteador um gestor de políticas

inclusivas na Reitoria do IFMG não é apenas do Campus Ouro Preto, como se pode

confirmar em cartas denominadas Carta de Ouro Preto e Carta de Salinas, fruto de

grupos de trabalhos realizados nas cidades de mesmos nomes, e assinadas por

representantes de vários Institutos, como Instituto Federal Norte de Minas Gerais,

Instituto Federal do Triângulo Mineiro, Instituto Federal Sudeste de Minas Gerais,

Instituto Federal Sul de Minas Gerais e contando, ainda, com a co-participação do

Instituto Federal do Mato Grosso, da Universidade Federal de Ouro Preto, Universidade

Page 136: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

136

Federal de Uberlândia, Universidade Federal de Lavras e Universidade Federal do

Triângulo Mineiro.

Para estruturação e fortalecimento do Napne torna-se necessário o estabelecimento de

parcerias com todos os outros setores do campus, e que o Núcleo seja reconhecido como

um órgão consultivo.

Tabela 31 – Propostas com relação à gestão das atividades de inclusão

Gestão das atividades de inclusão Nº de

indicações

%

Fortalecendo os Napnes 13 30,2

Criando mais ações 6 14,0

Tendo gestor capacitado na Reitoria 6 14,0

Responsabilizando os Napnes 5 11,6

Divulgando mais as ações 5 11,6

Criando setor de inclusão na Reitoria 4 9,3

Capacitando membros do Napnes 4 9,3

Total 43 100,0

6.3.24 Divulgação da política de inclusão

28,0% dos entrevistados disseram que para divulgar a política de inclusão é preciso

estruturar o site do Campus. Essa proposta coincide com uma das estratégias a serem

implementadas para garantia da acessibilidade eficaz no Instituto em documento

intitulado Plano de Desenvolvimento Institucional do IFMG (2009-2013) onde consta o

seguinte: “Tornar e manter acessível o sítio eletrônico da instituição, garantindo ao

deficiente visual, o acesso a todas as informações disponíveis”, o que até o momento

ainda não se efetivou.

Os entrevistados (20,0%) também propuseram que o Napne estabeleça uma parceria

com o Setor de Comunicação. São propostas com caráter de urgência, porém a

acessibilidade às informações e a efetivação da parceria entre Napne e Setor de

Comunicação dependem de uma política de inclusão que possa dar conta de resolver os

problemas nessa esfera nesse Campus, pois é preciso que ações aconteçam para que

Page 137: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

137

sejam divulgadas. O registro de um dos entrevistados remete à necessidade de

construção de uma política de inclusão para posterior divulgação de eventos e ações.

“Primeiro a gente teria que ter... estabelecer qual é a nossa

política de educação inclusiva. A gente vai simplesmente tapar

buraco? Na hora que a lei cobrar a gente vai correr atrás ou a

gente vai estabelecer uma real política de educação inclusiva?

Aí sim a gente vai poder pensar em divulgação, mas antes disso

eu acho que a gente precisa primeiro construir” (E08).

Há consenso entre os entrevistados de que é preciso ter eventos sobre inclusão, tais

como palestras, fóruns, oficinas, divulgação de trabalhos científicos etc. Mas considera-

se que para a promoção de eventos há muita dificuldade, que vai desde a contratação de

qualquer palestrante até mesmo à compra de qualquer item necessário para a realização

deles. Entrevistados relataram que em eventos que aconteceram anteriormente nesse

Campus houve grande dificuldade de se pagar pelos serviços contratados, o que gerou

grande desgaste em alguns membros do Núcleo que se responsabilizaram pelas

contratações; tanto que nesse ano (2012) nem se cogitou a possibilidade de realização

de qualquer evento pelo Núcleo, como relatado a seguir: “Não dá pra realizar eventos

sem dinheiro e sem saber como pagar as pessoas” (E27).

Tabela 32 – Propostas com relação à divulgação da política de inclusão

Divulgação da política de inclusão Nº de

indicações

%

Estruturando o site do IFMG 7 28,0

Construindo parceria com a comunicação 5 20,0

Promovendo fóruns sobre inclusão 4 16,0

Promovendo palestras 3 12,0

Através de trabalhos científicos 2 8,0

Construindo a política 2 8,0

Não sei 2 8,0

Total 25 100,0

Page 138: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

138

Tendo como referência a consulta documental, os estudos bibliográficos e os resultados

obtidos com as entrevistas e observação direta da realidade do Campus Ouro Preto no

que concerne ao desenvolvimento da EPTI nesta instituição educacional, será

apresentado a seguir um documento contendo contribuição técnica da investigação

realizada.

Page 139: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

139

7. CONTRIBUIÇÃO TÉCNICA DA PESQUISA REALIZADA: propostas de

diretrizes de educação inclusiva para a elaboração do projeto político pedagógico

do IFMG

Apresentação

As pessoas com deficiência, historicamente, vivenciaram um processo de exclusão

educacional e consequentemente social, processo esse que, atualmente, pretende-se

superar por meio da implementação de políticas públicas e da conscientização da

sociedade acerca das potencialidades desses indivíduos.

Baseando-se no pressuposto de que as pessoas com deficiência têm direitos e deveres

iguais ao de qualquer cidadão, a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e

Tecnológica não poderia deixar de acolher, nas escolas que a compõem, os princípios

sobre a inclusão educacional. Isso vem sendo feito por meio do Programa Educação,

Tecnologia e Profissionalização para Pessoas com Necessidades Educacionais Especiais

(TEC NEP). As escolas dessa rede, que em sua maioria, constituem atualmente os

Institutos Federais de Educação Profissional, Ciência e Tecnologia, passaram a receber

orientações no sentido de se adaptarem para receber pessoas com necessidades especiais

nas suas atividades e cursos ofertados.

A inclusão educacional norteia as ações educacionais e científicas do Instituto. Em 31

de agosto de 2009, publica-se seu Estatuto, onde consta no artigo 3° que, em sua

atuação, observará, dentre outros, o seguinte princípio norteador: inclusão de pessoas

com deficiência e necessidades educacionais especiais.

1. O que é deficiência

Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza

física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras,

podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de

condições com as demais pessoas.38

1.1. Como se referir às Pessoas com Deficiência 38

Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato20042006/2004/decreto/d5296.htm> Acesso em 9

set. 2012.

Page 140: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

140

Atualmente o termo considerado correto para se referir a pessoas que tem impedimentos

de natureza física, mental, intelectual, sensorial ou múltipla é pessoa com deficiência

(PcD). Outros termos foram mais utilizados em épocas diferentes, mas, atualmente, esse

é o termo utilizado para se referir a pessoas que tem deficiências decorrentes desses

impedimentos.

1.2 Terminologia

Pessoas com necessidades especiais: considera-se muito abrangente, pois todas as

pessoas têm em algum momento uma necessidade especial.

Pessoas com necessidades específicas: considera-se que cada pessoa tem uma

necessidade que é diferente de qualquer outra.

Pessoas com necessidades educacionais especiais: considera-se que todos os alunos, em

determinado momento de sua vida escolar, podem apresentar necessidades educacionais

especiais.

Portanto, o termo portador de deficiência não deve ser utilizado nos documentos,

discursos e práticas educacionais no IFMG. “Uma pessoa só porta algo que ela possa

não portar, deliberada ou casualmente. Por exemplo, uma pessoa pode portar um

guarda-chuva se houver necessidade e deixá-lo em algum lugar por esquecimento ou

por assim decidir. Não se pode fazer isto com uma deficiência, é claro (SASSAKI,

2009. p.5).

2. Direitos Educacionais

Garantir o acesso, a permanência e a saída exitosa no sistema educacional é possibilitar

a inclusão social de PcD. Baseada nesse princípio, a Lei nº 9.394/96 traz em seu texto a

necessidade de inovação social a partir do sistema educacional e não da pessoa com

deficiência e, no seu art. 59, enfatiza que “os sistemas de ensino assegurarão aos

educandos com necessidades especiais”:

I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização

específicos, para atender às suas necessidades;

III - professores com especialização adequada em nível médio ou

superior, para atendimento especializado, bem como professores do

Page 141: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

141

ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas

classes comuns;

O Decreto nº 3.298 para regulamentar a Lei nº 7.853/89, que dispõe sobre a Política

Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência e normas de proteção, no

seu Art. 28, estabelece que

O aluno portador de deficiência matriculado ou egresso do ensino

fundamental ou médio, de instituições públicas ou privadas, terá

acesso à educação profissional, a fim de obter habilitação profissional

que lhe proporcione oportunidades de acesso ao mercado de trabalho

(BRASIL, 1999).

No seu Art. 29, esse Decreto determina que “As escolas e instituições de educação

profissional oferecerão, se necessário, serviços de apoio especializado para atender às

peculiaridades da pessoa portadora de deficiência”. Inclui em tais suportes:

I - adaptação dos recursos instrucionais: material pedagógico,

equipamento e currículo; II - capacitação dos recursos humanos:

professores, instrutores e profissionais especializados; e III -

adequação dos recursos físicos: eliminação de barreiras

arquitetônicas, ambientais e de comunicação.39

Sobre o ensino superior, o Decreto nº 5.296/2004 estabelece:

Art. 27. As instituições de ensino superior deverão oferecer

adaptações de provas e os apoios necessários, previamente solicitados

pelo aluno portador de deficiência, inclusive tempo adicional para

realização das provas, conforme as características da deficiência.

A Portaria Ministerial MEC nº. 1.793, de dezembro de 1994, determina que os cursos de

licenciatura, psicologia e pedagogia devem incluir em seus currículos disciplinas que

abordem assuntos ético-político-educacionais relacionados às pessoas com deficiência.

3. Direitos a Atendimento Educacional Especializado

O Decreto nº 6.571/08 versa sobre o conceito de atendimento educacional especializado

(AEE), concebido como o “conjunto de atividades, recursos de acessibilidade e

pedagógicos organizados institucionalmente, prestado de forma a complementar ou

suplementar à formação dos alunos no ensino regular”. No seu Art. 3°, esse Decreto

estabelece os objetivos desse atendimento:

39

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3298.htm>. Acesso em: 05

dez. 2011.

Page 142: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

142

1. Implantação de sala de recursos multifuncionais;

2. Formação continuada de professores para o atendimento

educacional especializado;

3. Formação de gestores, educadores e demais profissionais da

escola para educação inclusiva;

4. Adequação arquitetônica de prédios escolares para

acessibilidade;

5. Elaboração, produção e distribuição de recursos educacionais

para acessibilidade; e

6. Estruturação de núcleos de acessibilidade nas instituições

federais de educação superior (BRASIL, 2008, p. 1).

4. Direitos à Acessibilidade

4.1 O que é acessibilidade

Possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, dos

espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos transportes e dos

sistemas e meios de comunicação, por pessoa portadora de deficiência ou com

mobilidade reduzida (Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000).

4.2 Tipos de barreiras a serem superadas

Físicas: São barreiras arquitetônicas e de mobiliário.

Comunicacionais: Aquelas que impedem ou dificultam a comunicação interpessoal.

Atitudinais: Concepções preconceituosas sobre as PcD.

Principais propostas dos entrevistados para o desenvolvimento da educação

inclusiva no Campus Ouro Preto do IFMG

1. Formas de ingresso

Estabelecer sistema de cotas.

2. Acessibilidade física

As propostas relativas à acessibilidade física (rampas, elevadores, banheiros, vagas em

estacionamento, salas de aula, laboratórios, biblioteca e transporte escolar) serão

relacionadas juntas por considerar-se que haja uma interdependência entre elas e por

encontrarem amparo na mesma lei, a NBR9050, também conhecida como Lei da

Acessibilidade, “Norma que estabelece critérios e parâmetros técnicos a serem

Page 143: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

143

observados quando do projeto, construção, instalação e adaptação de edificações,

mobiliário, espaços e equipamentos urbanos às condições de acessibilidade”.

Para melhorar as condições de acessibilidade nesse Campus consideraram-se

necessários: a construção de rampas; a colocação de corrimão ou guarda-corpo; a

reforma das rampas e passeios; a retirada de grades e obstáculos que dificultam ou

impedem a passagem de cadeiras de rodas e causam pequenos acidentes aos transeuntes;

a instalação de elevadores ou rampas internas nos prédios verticalizados como a

biblioteca e o ginásio; a construção e/ou adaptação dos banheiros com colocação de

barras de apoio; piso antiderrapante e identificação em Braille; demarcar e sinalizar

vagas para cadeirantes, bem como fazer uma ampla campanha educacional para

conscientização sobre a necessidade de se respeitar essas vagas; aumentar a largura das

portas das salas de aula; mobiliar com cadeiras e carteiras especiais de acordo com a

necessidade; cuidar da iluminação; sinalizar corredores e passeios em Braille e colocar

piso tátil; identificar materiais e locais em Braille; ter prateleiras, bancadas e acervo

acessíveis na biblioteca, inclusive computador com programas do tipo Dosvox; adquirir

transporte com recursos de acessibilidade como espaço e elevador para cadeiras de

rodas e, principalmente, conscientizar, sensibilizar e ensinar a todos os servidores

(incluindo terceirizados) sobre a necessidade de atender ao que determina a NBR9050

para inclusão de todos nas atividades do Campus.

3. Utilização de recursos tecnológicos

A utilização de TA, como softwares acessíveis, tem sido considerada apenas para pessoas

com deficiência, mas as tecnologias podem facilitar o acesso ao conhecimento para

todos. Tecnologias para deficientes visuais podem ser utilizadas por outros que por

qualquer motivo necessitem ou queiram utilizá-los e o mesmo acontece com tecnologias

que auxiliem e melhorem a explicação de qualquer matéria de uma forma mais visual

para os deficientes auditivos.

O desenvolvimento de TA se constitui num campo do conhecimento transdisciplinar,

pois envolve profissionais de várias áreas e especialidades. Investir em pesquisas nessa

área.

4. Libras

Page 144: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

144

Propõe-se sobre esse tema, principalmente, a oferta de curso de Libras para todos os

docentes, técnicos (inclusive terceirizados) e alunos com professores efetivos.

Considera-se a oferta dos cursos iniciais e avançados de Libras o meio mais eficaz para

se estabelecer uma comunicação efetiva com os alunos e até professores com

impedimento sensorial do tipo surdez. Outro ponto seria a disseminação de

conhecimentos sobre as tecnologias assistivas existentes e suas possibilidades de

utilização, como por exemplos softwares de voz.

5. Braille

Oferecer cursos para iniciantes em leitura em Braille, identificar locais e materiais em

Braille.

É nessa direção que se considera que deva ser pensada a inclusão de pessoas cegas ou

com baixa visão no Instituto; por meio de parcerias com outras instituições que têm

materiais e conhecimentos sobre como acolher e promover o ensino e a aprendizagem

dessas pessoas, como, por exemplo, o Instituto São Rafael em Belo Horizonte e a

Fundação Dorina Novil em São Paulo, sendo que essa última também oferece produtos

e serviços especializados, como impressos em Braille, que propiciam a inclusão de

pessoas cegas não só na escola, mas na sociedade.

6. Material didático

Ressalta-se a necessidade de sensibilização dos docentes para alterações e adaptações

no material utilizado nas aulas, bem como a entrega desse material com antecedência

para o aluno.

7. Serviços de apoio

Estruturação do Napne. Falta clareza sobre o que vem a ser apoio e uma grande

discussão acerca das questões: o Núcleo deve oferecer apoio ou atendimento? Qual a

função dos membros dentro do Núcleo e do Campus? Que capacitação devem receber?

Como devem atender aos docentes, aos PcD e seus familiares? Em qual horário seria

Page 145: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

145

feito esse atendimento se os membros dedicam oito horas aos setores onde estão

lotados? Qual a função da sala de recursos onde funciona também o Napne?

Organização de um trabalho em rede com os outros setores da escola.

8. Trabalho e acompanhamento pedagógico

Afinal, quais seriam as práticas pedagógicas que poderiam propiciar um melhor

desenvolvimento de alunos com deficiência no contexto da educação profissional e

tecnológica? Qual seria o trabalho a ser realizado pelas pedagogas? Seria necessário que

todos os alunos alcançassem as mesmas metas educacionais para serem aprovados?

Viabilizar estratégias de sensibilização dos professores para acolher e atender as

especificidades dos alunos.

Prestar orientação e assistência é o que se espera do trabalho pedagógico para inclusão.

9. Flexibilidade curricular

Implementar alternativas e /ou mudanças nas práticas curriculares para que os alunos

com deficiência possam participar das atividades.

Elaboração do Plano de Desenvolvimento Individual (PDI).

10. Articulação entre atendimento educacional especializado e ensino regular

Montar uma sala de recursos e oferecer esse serviço com profissionais capacitados.

11. Interação entre alunos, professores e servidores

Participação dos alunos em todos os eventos organizados na escola, como eventos

esportivos, culturais, etc.

12. Identificação das demandas de alunos com deficiência

Estabelecimento de parcerias com os outros setores da escola e também com as Apaes.

Propiciar a realização de pesquisas científicas para conhecer as necessidades gerais de

cada tipo de deficiência.

Page 146: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

146

Fazer o acompanhamento diário do aluno.

Estabelecer um trabalho intersetorial para obter e registrar informações consistentes em

uma base de dados.

13. Avaliação da aprendizagem

Construção do Plano de Desenvolvimento Individual do aluno (PDI) que ao ser

organizado “vem criar para a escola a oportunidade de ouvir o aluno, a família e,

mediante parceria, outros profissionais que atuam com o aluno, também durante o

processo avaliativo”.

Avaliar a partir das potencialidades dos alunos e não apenas das suas dificuldades

remete ao trabalho colaborativo entre professores, setor de pedagogia e outros.

14. Inclusão na pesquisa

A melhor forma de possibilitar a inclusão dessas pessoas na pesquisa é a sensibilização

dos professores e maior divulgação das vagas ofertadas.

Advertem que sem recursos tecnológicos e humanos não é possível efetivar o processo

de inserção de PcD em pesquisa, pois as barreiras arquitetônicas e de comunicação

impediriam o andamento da pesquisa.

15. Inclusão na extensão

Incentivar e estimular a participação de todos os alunos por meio de maior divulgação

dos projetos de extensão e dos editais para selecionar bolsistas é a proposta da maioria.

Reforçam também a questão de incentivar a participação de todos os alunos e

comunidade externa nas ações dos projetos de extensão.

Para ter participação de PcD ou não na extensão é preciso divulgar os projetos na

comunidade e não apenas na escola.

16. Inclusão na gestão

Estimular a participação de todos os alunos nas ações do grêmio e nas assembleias

estudantis. Que eles tenham conhecimento e sejam estimulados a emitir opiniões e

críticas sobre as questões relativas à escola.

Page 147: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

147

17. Orientação profissional

Divulgação de informações para melhor orientar os alunos sobre as exigências do

mercado de trabalho e as possibilidades ofertadas para cada tipo de deficiência,

individualmente e por meio de palestras.

18. Inserção sociolaboral

Verificar as ofertas de vagas para PcD nas empresas e divulgar essas oportunidades na

Escola.

Fazer um cadastro unificado de currículos dos estudantes e diplomados específico para

as PcD,

Construção de banco de dados dos alunos com deficiência no Campus Ouro Preto e das

empresas que oferecem vagas para PcD, para que esses alunos possam cadastrar seus

currículos e as empresas locais possam tanto pesquisar tais informações quanto divulgar

oportunidades de emprego para esse público nos meios de comunicação do Campus.

19. Acesso aos benefícios dos programas sociais

Critérios diferenciados para acessar os benefícios dos programas sociais da Escola, mais

no sentido de que a gestão do Serviço Social pudesse verificar as suas necessidades sem

que estivessem atreladas apenas ao questionário socioeconômico. Parceria entre o

Serviço Social o Setor de Psicologia para que a assistência não seja pautada apenas em

critérios socioeconômicos pelo Serviço Social

Maior tempo e locais de divulgação dos editais de concessão de auxílios.

20. Acompanhamento de egressos

Para criar qualquer política de acompanhamento de egressos é necessário criar

procedimentos para que o acompanhamento seja verdadeiramente feito.

Que o acompanhamento de egressos com deficiência seja feito pelo Napne.

21. Formação de docentes e técnicos

Formação continuada tanto para docentes quanto para técnicos por meio de oficinas,

cursos em todos os níveis e modalidades que tenham como conteúdo políticas públicas

Page 148: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

148

de inclusão de PcD, diversidade, tipos de deficiência, ensino, aprendizagem e avaliação

de PcD, construção de plano de desenvolvimento individual, flexibilidade curricular etc.

Em relação aos docentes e servidores que atuam no Núcleo propõe-se que todos sejam

liberados para participação em eventos que abordem assuntos de interesse do Núcleo.

22. Contratação de profissionais especializados

Contratação de professores e intérpretes efetivos.

23. Gestão das atividades de inclusão

Responsabilidade do Napne.

Carga horária de, no mínimo 20 horas semanais, para a função de coordenador do

núcleo e de seis horas semanais para os outros membros.

Aprovação do regimento interno do Napne.

Estabelecimento de parcerias com todos os outros setores do Campus, e que o Núcleo

seja reconhecido como um órgão consultivo.

24. Divulgação da política de inclusão

Estruturar o site do Campus.

Tornar e manter acessível o site eletrônico da instituição, garantindo ao deficiente

visual, o acesso a todas as informações disponíveis.

Promover eventos sobre inclusão, tais como palestras, fóruns, oficinas, divulgação de

trabalhos científicos etc.

Page 149: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

149

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse estudo revelou a complexidade do processo de inclusão educacional de pessoas

com deficiência. Evidenciou também o compromisso do Campus Ouro Preto do IFMG

com a causa da inclusão educacional de pessoas com deficiência em todas as suas

atividades. Contudo ainda apresenta grandes dificuldades a serem superadas tendo em

vista seus compromissos com o desenvolvimento local. Para tanto, é preciso realizar

inovações sociais de diferentes ordens e domínios.

O Plano de Desenvolvimento Institucional do IFMG, que norteia as atividades desse

Campus, traz o ideal da inclusão educacional e o desejo de cumpri-lo. Nele consta a

preocupação com a acessibilidade em todas as suas formas, desde a entrada até a saída

exitosa do aluno. No entanto, apesar dessa pesquisa reconhecer e apontar os vários

avanços observados para que as PcD se sintam acolhidas nessa escola, aponta também

as várias dificuldades, que, com certeza, são vivenciadas por muitas outras escolas

brasileiras. Porém, para cada entrave, os entrevistados forneceram algumas pistas, sob a

forma de propostas, que podem até parecer simples demais, mas que refletem a

realidade vivenciada por eles na sua individualidade e coletividade. Eles falaram da

vida, da experiência pessoal, de necessidades concretas, de anseios e esperanças.

Não se pretende com esse estudo solucionar todos os problemas relativos ao processo de

inclusão educacional no Campus Ouro Preto, pois como se trata de um processo que

sempre precisará ser incrementado, sempre haverá um aluno com um tipo diferente de

deficiência, que para ele deverão ser pensadas estratégias diferentes para o ensino e a

aprendizagem. No entanto, reconhece-se que a melhor forma de encontrar soluções para

que esses alunos possam estar realmente incluídos nas atividades da escola é ouvir cada

um deles e descobrir quais são as suas necessidades.

O Campus Ouro Preto do IFMG está construindo nesse ano (2012) o seu Projeto

Político Pedagógico (PPP) e, nesse processo de construção, cabem reflexões no sentido

de garantir a articulação da comunidade interna com os aspectos externos do local onde

esse Campus está inserido para que esse não seja apenas mais um documento. Em se

Page 150: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

150

tratando de inclusão de PcD nota-se um desejo de se colocar no PPP estratégias a serem

implementadas para que a inclusão educacional se concretize efetivamente, pois como

essa Instituição oferece educação profissional, considera-se que tanto a falta quanto a

precariedade da formação oferecida são um dos grandes problemas que afetam a

qualidade de vida das pessoas, especialmente das PcD.

Destaca-se, por meio dos dados coletados, que nesse Campus tem havido a preocupação

com a quebra de barreiras, especialmente as arquitetônicas e que há pessoas desejando e

se empenhando para que as PcD tenham êxito educacional e profissional, pontos que

considera-se positivo nesse Campus.

Entretanto, para que haja um crescimento efetivo dessa escola nessa área e ela possa

realmente se tornar referência em inclusão educacional de PcD há um longo caminho a

percorrer. Primeiramente, será preciso cumprir toda a legislação sobre inclusão existente

e empenhar recursos, especialmente em formação de docentes e técnicos. Torna-se

preciso também, ou estruturar os Napnes ou retirar a sua carga de responsabilidade em

relação ao acesso, permanência e êxito acadêmico das PcD; pois falta ao núcleo os

recursos humanos, financeiros e materiais necessários para o apoio a esse público.

Incluir educacionalmente não pode ser considerada função de um setor ou

departamento, é preciso implantar uma cultura de trabalho intersetorial, interdisciplinar

e intercultural na perspectiva de institucionalizar, de fato, a inclusão.

Por último, é preciso lembrar que o apoio às PcD é um direito e uma grande

necessidade. Para que esse apoio se efetive é preciso que haja um trabalho coletivo,

colaborativo e em rede, por meio do qual os setores da Pedagogia, Psicologia,

Assistência Social, Apoio ao Educando, Napne, Pesquisa, Extensão e os diversos

setores da escola e da comunidade possam trabalhar juntos, em prol do sucesso escolar

de cada aluno, seja ele com deficiência ou não.

Page 151: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

151

REFERÊNCIAS

BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. 5 ed. Lisboa: Edições 70, 2010.

BAUTISTA, R. (Coord.). Necessidades educativas especiais. Lisboa: Dinalivro, 1997.

BRASIL. Presidência da República. Lei nº 7853. Brasília, out. 1989.

________. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para assuntos jurídicos –

Fernando Henrique Cardoso – Paulo Renato de Souza. Decreto 2.208, de 17 de abril de

1997. Regulamenta o § 2º do artigo 36 e os artigos 39 a 42 da Lei nº 9.394, de 20 de

dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Educação

Profissional: legislação básica. 2 ed. Brasília: PROEP, 1998.

_______. Ministério da Educação. Programa TEC NEP: educação, profissionalização e

tecnologia para pessoas com necessidades especiais. Brasília, 2000.

_______. Ministério da Educação. Plano Nacional de Educação. PNE / Ministério da

Educação. Brasília: Inep, 2001. 123 p.

_______. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, 1988.

Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, 2004.

_______.Organização Internacional do Trabalho - Brasília: OIT, 2006.Disponível

em:www.oitbrasil.org.b. Acesso em julho de 2012.

_______. Ministério da Educação. Conferência Nacional de Educação Básica:

Documento Base. Brasília: MEC/SETEC, 2007.

__________. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Decreto n.

6.571/2008. Brasília: MEC/SEESP, 2008.

________. Ministério da Educação. Decreto n. 6.949 de 25 de agosto de 2009.

Promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência -

ONU. Diário Oficial da União, Brasília, 2009.

_______. Ministério da Educação. Ação TEC NEP, dez anos depois... Censinho 2011.

MEC/SETEC, jul. 2011.

________. Conferência Nacional de Educação CONAE) 2010,Brasília, DF.

Construindo o Sistema Nacional Articulado de Educação: o Plano Nacional de

Educação, diretrizes e estratégias; Documento Final. Brasília, DF: MEC, 2010.

Disponível em:

http://Conae.mec.gov.br/images/stories/pdf/pdf/doc_base_documento_final.pdf. Acesso

em: outubro de 2012.

_______. LDB. Lei 9394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

Disponível em: www.planalto.gov.br. Acesso em: Julho de 2012.

Page 152: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

152

FERREIRA. Formação de professores. In: Conferência no IV Congresso Brasileiro

multidisciplinar de Educação Especial. Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007.

FONTES, R. de S. O desafio da Educação Inclusiva no município de Niterói: das

propostas oficiais às experiências em sala de aula. 2007.160f (Tese de Doutorado em

Educação)-Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, 2007.

GIL, M. (Org.). O que as empresas podem fazer pela inclusão das pessoas com

deficiência. São Paulo, Instituto Ethos, 2002.

GLAT, R. A integração social dos portadores de deficiências: uma reflexão. Rio de

Janeiro: Sete Letras, 1995.

GLAT, Rosana; BLANCO, Leila de Macedo Varela. Educação Especial no contexto de

uma educação inclusiva. In: GLAT, Rosana. Educação Inclusiva: cultura e cotidiano

escolar. Rio de Janeiro: 7 letras, 2007. p. 15-35.

GLAT E PLETSCH. M. D.; FONTES, R. de S. Educação Inclusiva e Educação

Especial; propostas que se complementam no contexto da escola aberta à diversidade.

In: Revista Educação, v.32, n.2, p.343-355, UFSM, 2007.

GLAT, R.; FERNANDES, E. M. & PLETSCH. M. D. Políticas de Educação Inclusiva

e seus desdobramentos na rede pública de Educação do Estado do Rio de Janeiro. In:

LOPES, A. C. & MACEDO. B. (Orgs.). Currículo: políticas, diferença in inclusão.

Editora Profedições, Porto/Portugal, 2008.

GUEDES, Marta Cardoso. O Fazer Teatral e a Psicomotricidade em Comunidades

Carentes. In: FERREIRA, Carlos Alberto de Mattos (org.) Psicomotricidade educação

especial e inclusão social. Rio de Janeiro, Wak editora, 2007.

HADJI, Charles. Avaliação Desmistificada. Porto Alegre, Artmed, 2001, 136 p.

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais – IFMG. Estatuto.

Disponível em: www.ifmg.edu.br/.../148-estatuto-do-instituto-federal-de-minas-gerais/.

Acesso em julho de 2012.

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais –IFMG.

Disponível em <http://ouropreto.ifmg.edu.br/instituicao/legislacao/plano-de-

desenvolvimento institucional > Acesso em julho de 2012.

MAZZOTTA, Marcos J.S. Educação Especial no Brasil: História e políticas públicas.

5ª Ed. São Paulo, Cortez, 2005.

MUSSE, N. S. O.; SILVA, V. P.; SANTOS,Z. T. S. Formação continuada de

profissionais da educação para a inclusão. 2008. Disponível em:

http://www.redenet.edu.br/ojs/index.php/tecnologia/article/viewFile/34/30. Acesso em

outubro de 2012.

NASCIMENTO, Franclin Costa et al. A ação TEC NEP – tecnologia, educação,

cidadania e profissionalização para pessoas com necessidades específicas como

Page 153: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

153

ferramenta de inclusão nas Instituições Federais de Educação Profissional e

Tecnológica. Inter Science Place, ano 4, n. 18, jul./set. 2011.

NUNES, L.R.O.P.; FERREIRA, J.R.; MENDES, E.G.; (2003). Análise crítica das teses

e dissertações sobre educação especial nas áreas de educação e psicologia.Relatório

Final de Pesquisa. PROCESSO CNPq.

OLIVEIRA, E. e MACHADO, K. S. Adaptações curriculares: caminho para uma

educação inclusiva. IN: GLAT, R. (org). Educação inclusiva: cultura e cotidiano

escolar. Rio de Janeiro, & Letras, 2007.

OLIVEIRA, M. C. de. Avaliação de necessidades educacionais especiais: construindo

uma nova prática educacional. 157f. Dissertação (mestrado em Educação), Universidade

do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), 2008.

PACHECO, Eliezer et al. Institutos Federais:Uma revolução na educação profissional e

tecnológica.São Paulo, Moderna, 2011.

PLETSCH, M.D.Repensando a Inclusão Escolar: diretrizes, políticas, práticas

curriculares e deficiência intelectual. Rio de Janeiro, Nau. Edur, 2010.

REIS, Nivânia Maria de Melo. Política de Inclusão Escolar de Pessoas com

Necessidades Educacionais Especiais no Ensino Superior e as Universidades Federais

Mineiras. 2010. Tese (Mestrado em Educação) - Faculdade de Educação da UFMG,

Belo Horizonte, 2010.

RIBEIRO, M. A. R.; CAETANO, C.; GITAHY, M. L. C. (Orgs.). Trabalhadores

urbanos e o ensino profissional. Campinas: Unicamp, 1986. 307 p.

ROMITA, Arion Sayão. Trabalho do Deficiente. Disponível em:

http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/23248-23250-1-PB.pdf.

Acesso novembro de 2012.

ROSA, Vanderley Flor. Políticas públicas educacionais, direitos sociais e

democratização do acesso à escola: uma visão a partir da implantação da Ação

TECNEP na Rede Federal de Educação Tecnológica. 2011. Tese (Doutorado em

Educação) – Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade Estadual Paulista “Julio

de Mesquita Filho”, Marília, 2011.

SECRETARIA INTERNACIONAL DO TRABALHO. Gestão de questões relativas à

deficiência no local de trabalho: Repertório de recomendações práticas da OIT.

Tradução de Edilson Alkmin Cunha; revisão técnica de João Baptista Cintra Ribas. 1.

ed. rev. Brasília: OIT, 2006.

SASSAKI, Romeu K. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro:

WVA Editora, 1997.

________, Romeu Kazumi. Inclusão: acessibilidade no lazer, trabalho e educação.

Revista Nacional de Reabilitação (Reação), São Paulo, Ano XII, mar./abr.2009,p.10-16.

Page 154: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

154

________, Romeu Kazumi. Terminologia sobre deficiência na era da inclusão. Revista

Nacional de Reabilitação, São Paulo, ano 5, n. 24, jan./fev. 2002- atualizado em 2010.

STAINBACK, S.; STAINBACK, W. Inclusão: um guia para educadores. Porto Alegre:

Artmed Ed., 1999.

SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística geral. São Paulo: Cultrix, 2006.

SECRETARIA INTERNACIONAL DO TRABALHO. Gestão de questões relativas à

deficiência no local de trabalho: Repertório de recomendações práticas da OIT.

Tradução de Edilson Alkmin Cunha; revisão técnica de João Baptista Cintra Ribas. 1.

ed. rev. Brasília: OIT, 2006.

TORRES, E. F. As perspectivas de acesso ao Ensino Superior de jovens e adultos da

Educação Especial. Florianópolis, 2002. 196 f. Tese (Doutorado em Engenharia de

Produção). Pós Graduação, Programa de Engenharia de Produção, UFSC, 2002.

UNESCO. Declaração de Salamanca e Linha de Ação sobre necessidades educativas

especiais. Brasília: CORDE, 1994.

Page 155: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

155

APÊNDICE I

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Título da Pesquisa: “Inclusão de Pessoas com Necessidades Educacionais Especiais no

Instituto Federal de Minas Gerais”.

Nome do Pesquisador Principal ou Orientadora: Lucília Machado

Nome do Pesquisador assistente/aluno: Tânia Maria Neves Waldemar

As informações contidas nesta folha, fornecidas por Lucília Machado e Tânia Maria Neves

Waldemar, têm por objetivo firmar acordo escrito com o voluntário para participação da

pesquisa acima referida, autorizando sua participação com pleno conhecimento da natureza dos

procedimentos a que ele será submetido.

Natureza da pesquisa: o(a) senhor(a) está sendo convidado(a) a participar desta pesquisa que

tem como finalidade analisar o que se faz necessário para que o Instituto Federal de Educação

Profissional, Científica e Tecnológica de Minas Gerais se torne um centro de referência na

institucionalização efetiva do conceito pleno de educação inclusiva.

Participantes da pesquisa: para a realização deste trabalho serão realizadas entrevistas com 33

pessoas, assim distribuídas: a) dez alunos com necessidades especiais dos campi Ouro Preto e

Bambuí do IFMG; b) dez professores e seis pedagogos destes dois campi mais envolvidos com

a inclusão educativa; c) sete representantes do corpo dirigente, ou seja: o reitor, o diretor de

articulação e políticas especiais, os pró-reitores (de Administração; Ensino; Pesquisa, Inovação

e Pós-graduação; Planejamento e Orçamento; Extensão); d) cinco alunos que não são

considerados PNEs.

Envolvimento na pesquisa: ao participar deste estudo o sr.(a) permitirá que as pesquisadoras

Lucília Machado e Tânia Maria Neves Waldemar conheçam os valores considerados relevantes

no processo de inclusão de pessoas com deficiências no IFMG. O sr. (a) tem liberdade de se

recusar a participar e ainda se recusar a continuar participando em qualquer fase da pesquisa,

sem qualquer prejuízo para sua pessoa. Sempre que quiser poderá pedir mais informações sobre

a pesquisa pelo telefone das pesquisadoras do projeto e, se necessário, pelo telefone do Comitê

de Ética em Pesquisa.

Sobre as entrevistas: serão realizadas por meio de roteiro estruturado.

Riscos e desconforto: a participação não traz complicações legais. A pesquisa pode apresentar

desconforto quanto à compreensão, clareza de entendimento e confiança e credibilidade do

usuário nos seus resultados.

Confidencialidade: todas as informações coletadas neste estudo são estritamente confidenciais.

Somente a pesquisadora e a orientadora terão conhecimento dos dados. Os dados serão

analisados e disponibilizados de forma que o nome dos entrevistados não seja identificado.

Benefícios: ao participar desta pesquisa o sr. (a) não terá qualquer benefício direto, porém sua

colaboração contribuirá para a construção de novos paradigmas e, principalmente, para melhor

compreensão do processo de inclusão no âmbito do Instituto Federal de Educação, Ciência e

Tecnologia - Campus Ouro Preto. Dessa forma, o conhecimento que será construído a partir

dessa pesquisa poderá contribuir para promover a inclusão das PNEs nesse Instituto.

A pesquisadora se compromete a divulgar os resultados obtidos em sua dissertação de mestrado

e, possivelmente, em demais publicações científicas.

Pagamento: o senhor não terá tipo algum de despesa para participar desta pesquisa, bem como

nada será pago por sua participação.

Após estes esclarecimentos, solicitamos o seu consentimento de forma livre para participar

desta pesquisa. Portanto preencha, por favor, os itens que se seguem.

Obs: Não assine esse termo se ainda tiver dúvidas a respeito.

Consentimento Livre e Esclarecido Tendo em vista os itens acima apresentados, eu, de forma livre e esclarecida, manifesto meu

consentimento em participar dessa pesquisa. Declaro que recebi cópia deste termo de

Page 156: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

156

consentimento e autorizo a realização da pesquisa e a divulgação dos dados obtidos neste

estudo.

Nome do Participante da Pesquisa:

Assinatura do Participante da Pesquisa:

Assinatura do Pesquisador:

Assinatura do Orientador:

Data:

Pesquisador Principal: Lucília Machado Demais pesquisadores: Tânia Maria Neves Waldemar celular nº (31) 8883-2906 ou pelo

endereço eletrônico [email protected].

Comitê de Ética em Pesquisa: Rua Guajajaras, 175, 4º andar – Belo Horizonte/MG

Telefone do Comitê: 3508-9110

CONSENTIMENTO PÓS-ESCLARECIMENTO

Eu, _________________________________________________________,

fui devidamente esclarecida(o) sobre a pesquisa intitulada “Inclusão de Pessoas com

Necessidades Educacionais Especiais no Instituto Federal de Minas Gerais”. e aceito participar

da mesma, desde que observadas as condições supramencionadas.

_____________________________, ______ de ____________ de 2012

_________________________________________

Assinatura

Page 157: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

157

APÊNDICE II

ROTEIRO PARA ENTREVISTAS

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

Instituto de Educação Continuada, Pesquisa e Extensão

Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local

Pesquisa: Inclusão de pessoas com necessidades educacionais especiais no Instituto Federal de

Minas Gerais

Mestranda: Tânia Maria Neves Waldemar

Orientadora: Profª Lucília Machado

Data da Entrevista: ____/____/____ Duração da Entrevista:

CARACTERIZAÇÃO DO ENTREVISTADO:

1. Tipo de vínculo com o IFMG:

Aluno/a com deficiência

Aluno/a sem deficiência

Professor/a

Pedagogo/a

Reitor

Diretor de articulação e políticas especiais

Pró-reitor de Administração

Pró-reitor de Ensino

Pró-reitor de Pesquisa, Inovação e Pós-graduação

Pró-reitor de Planejamento e Orçamento

Pró-reitor de Extensão

2. Campus:

3. Idade:

4. Sexo:

IDENTIFICAÇÃO DOS PRINCIPAIS AVANÇOS:

1. Quais os três maiores avanços do IFMG na inclusão de PNEs no ensino?

2. Quais os três maiores avanços do IFMG na inclusão de PNEs como participantes ativos

nas atividades de pesquisa?

3. Quais os três maiores avanços do IFMG na inclusão de PNEs como participantes ativos

nas atividades de extensão?

4. Quais os três maiores avanços do IFMG na inclusão de PNEs como participantes ativos

na gestão escolar?

Page 158: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

158

IDENTIFICAÇÃO DAS PRINCIPAIS DIFICULDADES:

1. Quais são as três maiores dificuldades que o IFMG apresenta na inclusão de PNEs no

ensino?

2. Quais são as três maiores dificuldades que o IFMG apresenta na inclusão de PNEs

como participantes ativos nas atividades de pesquisa?

3. Quais são as três maiores dificuldades que o IFMG apresenta na inclusão de PNEs

como participantes ativos nas atividades de extensão?

4. Quais são as três maiores dificuldades que o IFMG apresenta na inclusão de PNEs

como participantes ativos na gestão escolar?

PRINCIPAL PROPOSTA COMO DIRETRIZ PARA SER INCLUÍDA NO PROJETO

POLÍTICO PEDAGÓGICO DO IFMG COM RELAÇÃO A:

Formas de ingresso dos candidatos com deficiência

Organização do processo seletivo

Acessibilidade física (rampas)

Acessibilidade física (elevadores)

Acessibilidade física (banheiros)

Acessibilidade física (vagas em estacionamento)

Acessibilidade física (salas de aula)

Acessibilidade física (laboratórios)

Acessibilidade física (biblioteca)

Transporte escolar

Equipamentos e recursos de tecnologia

Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS)

Sistema Braille

Material didático

Serviços de apoio

Organização do trabalho pedagógico

Page 159: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

159

Flexibilidade curricular

Articulação entre o ensino regular e o atendimento educacional especializado

Interação entre os alunos sem e com deficiência

Interação entre os alunos com deficiência e professores

Interação entre os alunos com deficiência e funcionários

Identificação das demandas e necessidades dos alunos com deficiência

Acompanhamento pedagógico dos alunos com deficiência

Avaliação de aprendizagens dos alunos com deficiência

Inclusão dos alunos com deficiência na pesquisa

Inclusão dos alunos com deficiência na extensão

Inclusão dos alunos com deficiência na gestão do IFMG

Orientação profissional dos alunos com deficiência

Inserção sócio-laboral dos alunos com deficiência

Acesso dos alunos com deficiência aos benefícios dos programas sociais

Acompanhamento dos egressos com deficiência

Formação de profissionais docentes

Formação de profissionais técnicos

Contratação de profissionais especializados

Gestão das atividades de educação inclusiva

Divulgação da política do IFMG de inclusão escolar

Page 160: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

160

ANEXO I – Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa

Page 161: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

161

Page 162: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

162

Page 163: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

163

ANEXO II – Trajetória dos termos utilizados ao longo da história da atenção às

pessoas com deficiência, no Brasil

ÉPOCA TERMOS E

SIGNIFICADOS

VALOR DA PESSOA

No começo da história,

durante séculos.

Romances, nomes de

instituições, leis, mídia e outros

meios mencionavam “os

inválidos”. Exemplos: “A

reabilitação profissional visa a

proporcionar aos beneficiários

inválidos...” (Decreto federal nº

60.501, de 14/3/67, dando nova

redação ao Decreto nº 48.959-

A, de 19/9/60).

“Os inválidos”.

O termo significava

“indivíduos sem valor”. Em

pleno século 20, ainda se

utilizava este termo, embora já

sem nenhum sentido

pejorativo.

Outro exemplo:

“Inválidos insatisfeitos com lei

relativa aos ambulantes”

(Diário Popular, 21/4/76).

Aquele que tinha deficiência

era tido como socialmente

inútil, um peso morto para a

sociedade, um fardo para a

família, alguém sem valor

profissional.

Outros exemplos:

“Servidor inválido pode voltar”

(Folha de S. Paulo, 20/7/82).

“Os cegos e o inválido” (Isto É,

7/7/99).

Século 20 até ± 1960

“Derivativo para incapacitados”

(Shopping News, Coluna

Radioamadorismo, 1973).

“Escolas para crianças

incapazes” (Shopping News,

13/12/64).

Após a I e a II Guerras

Mundiais, a mídia usava o

termo assim: “A guerra

produziu incapacitados”. “Os

incapacitados agora exigem

reabilitação física”.

“Os incapacitados”

O termo significava, de início,

“indivíduos sem capacidade” e,

mais tarde, evoluiu e passou a

significar “indivíduos com

capacidade residual”. Durante

várias décadas, era comum o

uso deste termo para designar

pessoas com deficiência de

qualquer idade. Uma variação

foi o termo “os incapazes”,

que significava “indivíduos que

não são capazes” de fazer

algumas coisas por causa da

deficiência que tinham.

Foi um avanço a sociedade

reconhecer que a pessoa com

deficiência poderia ter

capacidade residual, mesmo

que reduzida.

Mas, ao mesmo tempo,

considerava-se que a

deficiência, qualquer que fosse

o tipo, eliminava ou reduzia a

capacidade da pessoa em todos

os aspectos: físico, psicológico,

social, profissional etc.

De ± 1960 até ± 1980

“Crianças defeituosas na Grã-

Bretanha tem educação

especial” (Shopping News,

31/8/65).

No final da década de 50, foi

fundada a Associação de

Assistência à Criança

Defeituosa – AACD (hoje

denominada Associação de

Assistência à Criança

“Os defeituosos”

O termo significava

“indivíduos com deformidade”

(principalmente física).

“os deficientes”. Este termo

significava “indivíduos com

deficiência” física, intelectual,

auditiva, visual ou múltipla,

que os levava a executar as

funções básicas de vida (andar,

A sociedade passou a utilizar

estes três termos, que focalizam

as deficiências em si sem

reforçarem o que as pessoas

não conseguiam fazer como a

maioria.

Simultaneamente, difundia-se o

movimento em defesa dos

direitos das pessoas

superdotadas (expressão

substituída por “pessoas com

altas habilidades” ou “pessoas

Page 164: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

164

Deficiente).

Na década de 50 surgiram as

primeiras unidades da

Associação de Pais e Amigos

dos Excepcionais - APAE.

sentar-se, correr, escrever,

tomar banho etc.) de uma

forma diferente daquela como

as pessoas sem deficiência

faziam. E isto começou a ser

aceito pela sociedade.

“os excepcionais”. O termo

significava “indivíduos com

deficiência intelectual”.

com indícios de altas

habilidades”). O movimento

mostrou que o termo “os

excepcionais” não poderia

referir-se exclusivamente aos

que tinham deficiência

intelectual, pois as pessoas com

superdotação também são

excepcionais por estarem na

outra ponta da curva da

inteligência humana.

De 1981 até ± 1987

Por pressão das organizações

de pessoas com deficiência, a

ONU deu o nome de “Ano

Internacional das Pessoas

Deficientes” ao ano de 1981.

E o mundo achou difícil

começar a dizer ou escrever

“pessoas deficientes”. O

impacto desta terminologia foi

profundo e ajudou a melhorar a

imagem destas pessoas.

“Pessoas deficientes”

Pela primeira vez em todo o

mundo, o substantivo

“deficientes” (como em “os

deficientes”) passou a ser

utilizado como adjetivo, sendo-

lhe acrescentado o substantivo

“pessoas”.

A partir de 1981, nunca mais se

utilizou a palavra “indivíduos”

para se referir às pessoas com

deficiência.

Foi atribuído o valor “pessoas”

àqueles que tinham deficiência,

igualando-os em direitos e

dignidade à maioria dos

membros de qualquer

sociedade ou país.

A Organização Mundial de

Saúde (OMS) lançou em 1980

a Classificação Internacional

de Impedimentos, Deficiências

e Incapacidades, mostrando

que estas três dimensões

existem simultaneamente em

cada pessoa com deficiência.

De ± 1988 até ± 1993

Alguns líderes de organizações

de pessoas com deficiência

contestaram o termo “pessoa

deficiente” alegando que ele

sinaliza que a pessoa inteira é

deficiente, o que era inaceitável

para eles.

“Pessoas portadoras de

deficiência”

Termo que, utilizado somente

em países de língua

portuguesa, foi proposto para

substituir o termo “pessoas

deficientes”.

Pela lei do menor esforço, logo

reduziram este termo para

“portadores de deficiência”.

O “portar uma deficiência”

passou a ser um valor agregado

à pessoa. A deficiência passou

a ser um detalhe da pessoa. O

termo foi adotado nas

Constituições federal e

estaduais e em todas as leis e

políticas pertinentes ao campo

das deficiências. Conselhos,

coordenadorias e associações

passaram a incluir o termo em

seus nomes oficiais.

De ± 1990 até hoje

O art. 5° da Resolução

CNE/CEB n° 2, de 11/9/01,

explica que as necessidades

especiais decorrem de três

situações, uma das quais

envolvendo dificuldades

vinculadas a deficiências e

dificuldades não-vinculadas a

uma causa orgânica.

“Pessoas com necessidades

especiais”

O termo surgiu primeiramente

para substituir “deficiência”

por “necessidades especiais”,

daí a expressão “portadores

de necessidades especiais”.

Depois, esse termo passou a ter

significado próprio sem

substituir o nome “pessoas com

De início, “necessidades

especiais” representava apenas

um novo termo. Depois, com a

vigência da Resolução n° 2,

“necessidades especiais”

passou a ser um valor agregado

tanto à pessoa com deficiência

quanto a outras pessoas.

Page 165: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

165

deficiência”.

Mesma época acima

Surgiram expressões como

“crianças especiais”, “alunos

especiais”, “pacientes

especiais” e assim por diante

numa tentativa de amenizar a

contundência da palavra

“deficientes”.

“Pessoas especiais”

O termo apareceu como uma

forma reduzida da expressão

“pessoas com necessidades

especiais”, constituindo um

eufemismo dificilmente

aceitável para designar um

segmento populacional.

O adjetivo “especiais”

permanece como uma simples

palavra, sem agregar valor

diferenciado às pessoas com

deficiência. O “especial” não é

qualificativo exclusivo das

pessoas que têm deficiência,

pois ele se aplica a qualquer

pessoa.

Em junho de 1994

A Declaração de Salamanca

preconiza a educação inclusiva

para todos, tenham ou não uma

deficiência.

“Pessoas com deficiência” e

pessoas sem deficiência,

quando tiverem necessidades

educacionais especiais e se

encontrarem segregadas, têm o

direito de fazer parte das

escolas inclusivas e da

sociedade inclusiva.

O valor agregado às pessoas é o

de elas fazerem parte do grande

segmento dos excluídos que,

com o seu poder pessoal,

exigem sua inclusão em todos

os aspectos da vida da

sociedade. Trata-se do

empoderamento.

Maio de 2002

Frei Betto escreveu no jornal O

Estado de S.Paulo um artigo

em que propõe o termo

“portadores de direitos

especiais” e a sigla PODE.

Alega o proponente que o

substantivo “deficientes” e o

adjetivo “deficientes” encerram

o significado de falha ou

imperfeição enquanto que a

sigla PODE exprime

capacidade.

O artigo, ou parte dele, foi

reproduzido em revistas

especializadas em assuntos de

deficiência.

“Portadores de direitos

especiais”

O termo e a sigla apresentam

problemas que inviabilizam a

sua adoção em substituição a

qualquer outro termo para

designar pessoas que têm

deficiência. O termo

“portadores” já vem sendo

questionado por sua alusão a

“carregadores”, pessoas que

“portam” (levam) uma

deficiência. O termo “direitos

especiais” é contraditório

porque as pessoas com

deficiência exigem equiparação

de direitos e não direitos

especiais. E mesmo que

defendessem direitos especiais,

o nome “portadores de direitos

especiais” não poderia ser

exclusivo das pessoas com

deficiência, pois qualquer outro

grupo vulnerável pode

reivindicar direitos especiais.

Não há valor a ser agregado

com a adoção deste termo, por

motivos expostos na coluna ao

lado e nesta.

A sigla PODE, apesar de

lembrar “capacidade”,

apresenta problemas de uso:

1) Imaginem a mídia e outros

autores escrevendo ou falando

assim: “Os Podes de Osasco

terão audiência com o

Prefeito...”, “A Pode Maria de

Souza manifestou-se a favor...”,

“A sugestão de José Maurício,

que é um Pode, pode ser

aprovada hoje...”

2) Pelas normas brasileiras de

ortografia, a sigla PODE

precisa ser grafada “Pode”.

Norma: Toda sigla com mais

de 3 letras pronunciada como

uma palavra deve ser grafada

em caixa baixa com exceção da

letra inicial.

Page 166: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

166

De ± 1990 até hoje e além

A década de 90 e a primeira

década do século 21 e do

Terceiro Milênio estão sendo

marcadas por eventos mundiais,

liderados por organizações de

pessoas com deficiência.

A relação de documentos

produzidos nesses eventos pode

ser vista no final deste artigo.

“Pessoas com deficiência” passa a ser o termo preferido

por um número cada vez maior

de adeptos, boa parte dos quais

é constituída por pessoas com

deficiência que, no maior

evento (“Encontrão”) das

organizações de pessoas com

deficiência, realizado no Recife

em 2000, conclamaram o

público a adotar este termo.

Elas esclareceram que não são

“portadoras de deficiência” e

que não querem ser chamadas

com tal nome.

Os valores agregados às

pessoas com deficiência são:

1) o do empoderamento [uso do

poder pessoal para fazer

escolhas, tomar decisões e

assumir o controle da situação

de cada um] e

2) o da responsabilidade de

contribuir com seus talentos

para mudar a sociedade rumo à

inclusão de todas as pessoas,

com ou sem deficiência.

FONTE: SASSAKI, Romeu Kazumi. Terminologia sobre deficiência na era da inclusão.

Revista Nacional de Reabilitação, São Paulo, ano 5, n. 24, jan./fev. 2002.

Page 167: TÂNIA MARIA NEVES WALDEMAR INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ...

167