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TÂNIA SANTANA BERTOLDO AS POLÍTICAS INCLUSIVAS E AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS ADOTADAS PARA ALUNOS COM DEFICIÊNCIA NA REDE PÚBLICA DO ENSINO REGULAR PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA SÃO PAULO 2008

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TÂNIA SANTANA BERTOLDO

AS POLÍTICAS INCLUSIVAS E AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS

ADOTADAS PARA ALUNOS COM DEFICIÊNCIA

NA REDE PÚBLICA DO ENSINO REGULAR

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA

SÃO PAULO

2008

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TÂNIA SANTANA BERTOLDO

AS POLÍTICAS INCLUSIVAS E AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS

ADOTADAS PARA ALUNOS COM DEFICIÊNCIA

NA REDE PÚBLICA DO ENSINO REGULAR

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA

SÃO PAULO

2008

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para aprovação na Habilitação de Administração Escolar do Curso de Pedagogia da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob a orientação da Profª Drª Helena Machado de Paula Albuquerque e Co-orientação da Profª Drª Vitória Helena Cunha Espósito.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais, Antonio Bertoldo e Maria Helena S.

Bertoldo que sempre estiveram ao meu lado e foram exemplo de humildade e

persistência.

Ao Meu irmão, Artur Calixto Bertoldo que mesmo não estando presente

fisicamente sempre esteve vivo no meu coração e hoje ao terminar esse curso

cumpro com a promessa que um dia lhe fiz.

E a todos os alunos do nosso país que merecem e tem o direito de uma

educação de qualidade.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por ter me dado forças para alcançar os

meus ideais.

Aos meus pais, Antonio Bertoldo e Maria Helena de S. Bertoldo, pela

transmissão de valores.

A todos os meus amigos que de alguma forma contribuíram para a realização

desse sonho, em especial a Cíntia Gomes e a Thaís Lemes que sempre me

incentivaram.

A Daniela Barbosa que me ajudou na finalização deste trabalho.

E a todos os professores que passaram na minha trajetória escolar e

dividiram não só os conteúdos disciplinar, mas também um pouco da experiência de

vida.

Obrigada a todos!

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"O nascimento do pensamento é igual ao nascimento de uma

criança: tudo começa com um ato de amor. Uma semente há

de ser depositada no ventre vazio. E a semente do

pensamento é o sonho. Por isso os educadores, antes de

serem especialistas em ferramentas do saber, deveriam ser

especialistas em amor: intérpretes de sonhos”.

(Rubem Alves)

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RESUMO

O presente trabalho é uma pesquisa sobre a história da inclusão no Brasil para averiguar se as propostas políticas inclusivas voltadas para as pessoas deficientes são realmente implantadas nas escolares regulares públicas e se as práticas pedagógicas refletem tais ações. Trata-se de uma pesquisa teórica por meio de análise documental histórica e principais documentos legais relacionados à educação inclusiva. E também de uma pesquisa empírica, a qual possibilitou uma investigação em dois colégios públicos de São Paulo, um estadual e o outro municipal, onde foram feitas entrevistas com os coordenadores e professores, com a finalidade de mapear as dificuldades que os educadores encontram no processo de inclusão e constatar que as propostas inclusivas não atendem as reais necessidades das escolas. Palavras-Chaves: alunos com Deficiência, inclusão escolar, igualdade.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

1. Escola Municipal de Ensino fundamental Profª Carolina Rennó Ribeiro de Oliveira ......................................................................................................................44 2. Área interna ..........................................................................................................44 3. Área externa .........................................................................................................44 4. Entrada com rampa ..............................................................................................45 5. Banheiro adaptado ...............................................................................................45 6. Área externa com quadra .....................................................................................45 7. Sala de informática ...............................................................................................45 8. Carteira adaptada .................................................................................................47 9. Atividade realizada pelo aluno com deficiência na primeira aula..........................47 10. Materiais específicos para a inclusão .................................................................47 11. Utilização de materiais específicos para a inclusão............................................47 12. Escola Estadual Profº Norberto Alves Rodrigues ...............................................56 13. Estrada do colégio ..............................................................................................57 14. Acesso as salas de aula .....................................................................................57 15. Quadra esportiva ................................................................................................57 16. Pátio ...................................................................................................................57 17. Sala da classe especial.......................................................................................59 18. Sala da classe especial não utilizada..................................................................59 19. Equipamentos da sala especial ..........................................................................59 20. Telefone para pessoas com deficiência auditiva.................................................59 21. Livros específicos para alunos com deficiência auditiva.....................................59

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..........................................................................................................10

1. DEFICIÊNCIA X PRECONCEITO .........................................................................14

2. DEFICIÊNCIA E SUAS TERMINOLOGIAS ...........................................................16

2.1. AS TERMINOLOGIAS USADAS AO LONGO DA HISTÓRIA DO BRASIL .......17

3. A CONSTRUÇÃO DO SISTEMA EDUCACIONAL INCLUSIVO NO BRASIL

....................................................................................................................................20

3.1. O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIAL ................................................20

3.2. AÇÕES INCLUSIVAS NO ÂMBITO NACIONAL ................................................23

3.3. O PROCESSO DE DESINTITUCIONALIZAÇÃO ...............................................24

3.4. A VISÃO DA LDB DE 1961 E 1971 ....................................................................24

3.5. CRIAÇÃO DOS PRINCIPAIS ÓRGÃOS ESPECÍFICOS PARA A EDUCAÇÃO

ESPECIAL .................................................................................................................26

3.6. A CONSTITUIÇÃO DE 1988 ..............................................................................27

3.7. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ...........................................28

3.8. CONFERÊNCIAS INTERNACIONAIS SOBRE EDUCAÇÃO INCLUSIVA.........29

3.9. A LDB DE 1996 .................................................................................................32

4. O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES ESPECIALIZADAS ............................................34

5. AS PROPOSTAS DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO ...........................................36

5.1. AS PROPOSTAS DAS SECRETARIAS EDUCACIONAIS DE SÃO PAULO

PARA EDUCAÇÃO INCLUSIVA ...............................................................................37

6. DIAGNÓSTICO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL .......................................................40

7. GESTÃO ESCOLAR E A INCLUSÃO ...................................................................42

8. METODOLOGIA DA PESQUISA ..........................................................................43

8.1. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS.............................................................44

8.1.1. CARACTERIZAÇÃO DA ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO FUNDAMENTAL

PROFª CAROLINA RENNÓ RIBEIRO DE OLIVEIRA...............................................44

8.1.2. RESPOSTAS DAS ENTREVISTAS COM OS PROFESSORES.................... 48

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8.1.3. RESPOSTAS DA ENTREVISTA COM O COORDENADOR DA ESCOLA

CAROLINA RENNÓ RIBEIRO DE OLIVEIRA............................................................53

8.2.1. CARACTERIZAÇÃO DA ESCOLA ESTADUAL PROFº NORBERTO ALVES

RODRIGUES .............................................................................................................56

8.2.2. RESPOSTAS DAS ENTREVISTAS COM OS PROFESSORES.....................60

8.2.3. ENTREVISTA COM COORDENADOR DA ESCOLA ESTADUAL PROFº

NORBERTO ALVES RODRIGUES............................................................................66

9. ANÁLISE COMPREENSIVA – INTERPRETATIVA DAS ENTREVISTAS.............70

10. ASSESSORIA EDUCACIONAL .........................................................................74

CONCLUSÃO ...........................................................................................................85

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..........................................................................86

APÊNDICES ..............................................................................................................89

APÊNDICE A - Pert....................................................................................................90

APÊNDICE B – Cronograma......................................................................................91

ANEXOS.....................................................................................................................93

ANEXO I - Autorizações.............................................................................................94

ANEXO II - Entrevistas...............................................................................................97

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INTRODUÇÃO

Por meio deste trabalho pesquisei a história da política da inclusão no Brasil,

para assim verificar nas escolas se suas práticas pedagógicas refletem a

intencionalidade destas políticas.

O tema inclusão surgiu a partir de uma experiência voluntária em que tive a

chance de conhecer mais a fundo o universo das pessoas que têm algum tipo de

deficiência. Até a minha adolescência não tive a oportunidade de conviver com

deficientes, apenas visualizava por televisão ou raramente na rua. Quando

encontrava com um deficiente não sabia como me relacionar, tinha medo de me

aproximar e ao mesmo tempo uma curiosidade para saber como seria sua vida, o

porquê de sua deficiência e quais seriam suas limitações. Isso me levou a procurar

uma instituição que atendesse essas pessoas.

Sob a indicação de um amigo conheci uma instituição carente, localizada

próxima a minha residência, a qual desconhecia, que auxilia crianças e adolescentes

com deficiências físicas, sensoriais e mentais.

Ao chegar a instituição fui recepcionada por um garoto que estava em uma

cadeira de rodas e apresentava problemas de atrofias musculares. A princípio fiquei

com certo receio em me aproximar dele, pois não sabia como me relacionar, contudo

no decorrer do dialogo o mesmo ajudou-me a quebrar vários preconceitos, mostrou

que ele é igual a qualquer outra criança, que gosta de brincar, de aprender, de jogar

bola, de ouvir música, contar piadas, porém com algumas limitações.

Na instituição surpreendi-me ao constatar a grande quantidade de crianças,

que lá freqüentam, das quais nunca havia percebido a existência no bairro. Quando

não estão na instituição, as mesmas encontram-se fechadas em seus quartos, por

decorrência de vários fatores dentre eles:

- Falta de condições financeiras dos responsáveis para adquirir aparelhos ou

instrumentos locomotivos e sensoriais.

- Responsáveis sem tempo hábil para exercer a verdadeira atenção e cuidados

úteis as suas necessidades.

- Dificuldade das famílias em aceitar essas crianças com suas limitações; entre

outras variáveis.

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Essas famílias encontram-se sem nenhum amparo do governo para auxiliá-las,

o que é uma conseqüência da deficiência de políticas inclusivas em nosso país.

A maioria das crianças da instituição se encontram fora da escola, embora

muitas tenham condições intelectuais e sociais para freqüentar uma sala de aula.

Infelizmente essa situação retrata a realidade do país. Segundo informações do

IBGE/2000 (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), no Brasil existem

aproximadamente 24.600.256 pessoas com deficiência, isso significa que 14,5% da

população total do nosso país apresentam alguma dificuldade física, sensorial ou

mental. A população de crianças com deficiência em fase escolar 5 a 17 anos é de

2.480.074, mas de acordo com dados do INEP (Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas Educacionais) e do Censo escolar neste mesmo ano de 2000, somente

cerca de 15,4% se encontravam matriculadas em escolas regulares ou

exclusivamente especializadas. (MEC, acesso 07/ 07/2008)

O acesso das pessoas com deficiência à escola, como qualquer outro cidadão,

está assegurado por lei, segundo a Constituição Federal artigo 205º, a educação é

direito de todos e dever do Estado e da família, devendo ser promovida e

incentivada com a colaboração da sociedade, tendo em vista o pleno

desenvolvimento da pessoa e é reafirmada no artigo 5º O acesso ao ensino

fundamental é direito público subjetivo, podendo qualquer cidadão, associação

comunitária, organização sindical, entidade de classe ou outra legalmente

constituída e, ainda, o Ministério Público, acionar o Poder Público para exigi-lo. Para

garantir o cumprimento da obrigatoriedade do ensino, a Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional, no capitulo V enfatiza o direito da educação aos educandos

com necessidades especiais, o que na maioria das vezes não acontece na realidade

Brasileira.

Por conta do contraste da lei com a realidade surgiu o interesse em verificar as

implementações de políticas públicas para a inclusão dos deficientes e a

contribuição para promover o desenvolvimento pessoal desses alunos. As políticas

públicas voltadas para a inclusão existem, mas estariam sendo implantadas?

Sintetizamos as nossas preocupações na seguinte indagação:

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PROBLEMA DE PESQUISA

As práticas pedagógicas executadas no Ensino Público refletem as propostas

de políticas inclusivas para os alunos com deficiência.

HIPÓTESES:

As escolas estão implantando a inclusão somente para cumprir a lei, sem ter

condições de receber os alunos com deficiências.

As práticas pedagógicas estão sendo inadequadas e insuficientes para o

desenvolvimento dos alunos deficientes.

OBJETIVO GERAL:

Contribuir para melhoria das práticas pedagógicas na educação especial.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

Contextualizar historicamente o processo de inclusão no país, buscando melhor

compreensão do modelo político adotado e assim fundamentar quais são as práticas

pedagógicas realmente exercidas no âmbito educacional.

Investigar uma amostra de como está ocorrendo o processo de inclusão de

alunos com deficiência na rede regular de ensino.

Propor uma assessoria educacional especializada na formação de docentes

para inclusão social de aluno com deficiência nas escolas.

PROCEDIMENTOS DE PESQUISA:

A pesquisa será realizada em etapas:

1º Análise documental histórica de artigos, legislações, parâmetros

educacionais e fontes relacionadas ao tema inclusão.

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2º Pesquisa de campo:

a) Visitas em escolas públicas, sendo uma Estadual e outra Municipal, com o

intuito de observar as práticas pedagógicas, com o foco em educação

especial.

b) Realização de entrevistas estruturadas abertas, com equipe de direção e

professores.

c) Visita a uma Assessoria de excelência.

Em seguida será elaborada uma análise das informações relevantes de cada

instrumento pesquisado, para que haja uma organização de dados que permitam o

encaminhamento das possíveis repostas para o problema da pesquisa.

Contudo, a finalização desta pesquisa terá por objetivo, apresentar uma proposta

de intervenção por meio da construção de uma assessoria educacional, que

disponibilizará um curso para formação de educadores, com foco na historicidade da

educação especial, buscando assim, a melhor prática pedagógica a ser adotada.

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1. DEFICIÊNCIA X PRECONCEITO

As pessoas com deficiência têm os mesmos direitos que os demais cidadãos.

Negar o acesso à educação é violentar o processo construtivo da evolução do ser

humano, que visa entre diversos aspectos, aprimorar habilidades e desenvolver a

integração entre o psicológico, o físico e o social.

A educação é um fator existencial. Refere-se ao modo como o homem se

faz homem (por si mesmo e pelas ações exteriores que sofre). A educação

configura o homem em toda sua realidade. Pode-se dizer que é o processo

pelo qual o homem adquire sua essência. (PINTO, 1986, p. 30)

Na trajetória histórica da humanidade o preconceito e a discriminação fizeram

com que a sociedade enxergasse o sujeito fragmentado, focalizando somente a

deficiência e não percebesse a pessoas como um todo. Ignorava suas qualidades,

aptidões, desejos e sua capacidade própria de se estabelecer como cidadão. Essas

idéias também trouxeram implicações ao acesso escolar das pessoas com

deficiência.

Os processos educacionais são determinados pelos interesses sociais os quais

envolvem influências econômicas, políticas e culturais. Segundo Durkheim (1975) a

educação reproduz a sociedade e satisfaz as necessidades sociais, que muda e se

aperfeiçoa com o passar do tempo e com suas conquistas.

Na Roma Antiga, a quarta lei das 12 tábuas, ordenava que sejam mortas às

crianças monstruosas, se referindo as crianças que tivesse qualquer tipo de

deficiência. Essa lei dava total direito para as famílias sacrificarem seus filhos que

não nascessem perfeitos.

Somente no século XVII, quando o homem teve a possibilidade de conhecer

outras fontes cientificas, além das explicações religiosas e com o desenvolvimento

da medicina, a deficiência passa a ser relacionada com a questão de déficit do

organismo humano, investigando formas de tratamento para as deficiências. Nesse

período surgiu às primeiras iniciativas de atendimento em instituições, visando o

confinamento e reclusão dessas pessoas.

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Segundo Mazzotta (2001), mesmo com o avanço da ciência, até o Século XVIII,

a forma que os deficientes eram vistos estava ligada ainda às concepções que a

igreja pregava ao dizer que Deus é o único ser perfeito e que o homem é imagem e

semelhança dele. As pessoas que apresentavam alguma deficiência eram ditas

como imperfeitas e não sendo Filhas de Deus, muitas vezes consideradas um

castigo divino por erros cometidos pelos pais e algumas eram queimadas nas

fogueiras. Outras vezes a imagem do deficiente era encarada como “crianças de

Deus”, sua sobrevivência dependia da caridade das demais pessoas, fazendo

assim, aumentar a demanda de pedintes, idosos e crianças abandonadas na rua.

Depois da segunda guerra mundial criam-se movimentos de caráter sócio-

político e ético visando a eliminação de práticas discriminatórias a favor dos direitos

civis que caminha em direção ao processo de democratização social. Neste

contexto inicia-se também o movimento pela desinstitucionalização, baseado na

ideologia da normalização, que defendia a necessidade de introduzir a pessoa com

deficiência na sociedade. Essas ações contribuíram para que os países membros de

convenções e conferências internacionais redefinissem diretrizes políticas

educacionais inclusivas. Assim, o Brasil a partir do século XX, começa a redefinir

sua política educacional na perspectiva da inclusão das minorias, no âmbito da

educação especial.

A educação especial é uma modalidade oferecida preferencialmente na rede

regular de ensino, contemplam os alunos com necessidades educacionais especiais

no qual disponibiliza diferentes alternativas de atendimentos, recursos educacionais

e estratégias pedagógicas para auxiliar no processo de aprendizagem. Essa

modalidade surgiu como uma possibilidade de inserir as pessoas com deficiência no

meio social, sendo uns dos princípios a freqüência desses alunos em sala de aula

comum.

Esse foi um grande passo para a história da educação do país, pois a

integração da educação especial no sistema escolar surge como um desafio de

rever e interferir essa antiga estrutura do sistema escolar, no qual sempre privilegiou

um determinado grupo social, alijando aqueles com deficiência.

Para que a Educação Especial se concretize e torne-se eficaz é necessário que

a mesma esteja relacionada com a construção de uma sociedade inclusiva, em que

acolha as diferenças de todos os seus cidadãos e garanta o exercício de seus

direitos e deveres para um bem comum.

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2. DEFICIÊNCIA E SUAS TERMINOLOGIAS

Definir uma terminologia correta para nomear as pessoas que possui algum

tipo de deficiência não é uma tarefa muito fácil. Muitas pessoas ficam em dúvida a

esse respeito, pois ao longo da história várias palavras foram usadas para essa

função.

Sassaki (1999, p.12) afirma que Jamais houve ou haverá um único termo

correto, válido definitivamente em todos os tempos e espaços, ou seja, não existe e

nem existirá uma única palavra apropriada que servirá para todos os períodos da

história. O motivo é baseado na época, no qual são usados termos em que seus

conceitos estejam relacionados com os valores vigentes da sociedade.

Utilizar a terminologia mais adequada com a sua respectiva época é importante

especialmente quando se refere a assuntos tradicionalmente carregados de

preconceitos, estigmas e estereótipos. A uso dos termos incorretos se torna reside

em fator de reforço, para perpetuar conceitos arcaicos e idéias equivocadas, além

de favorecer a resistência a mudança de paradigmas no trato de pessoas com

deficiência. Há alguns séculos essas pessoas eram nomeadas de inválidas, a

sociedade as considerava inúteis. Atualmente existe um movimento de tentar

encontrar uma terminologia correta para abordar as pessoas com deficiência, a fim

de desencorajar práticas discriminatórias próprias de uma sociedade que exclui.

Antes de descrever os diversos nomes que foram usados para mencionar as

pessoas com deficiência irei citar a definição do termo Deficiência de acordo com a

Declaração de Guatemala (2001):

Deficiência significa uma restrição física, mental ou sensorial, de natureza

permanente ou transitória, que limita a capacidade de exercer uma ou mais

atividades essenciais da vida diária. (Declaração de Guatemala,

2001)

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As deficiências podem ser adquiridas ou congênitas. No parto, no pós-parto,

genética, doenças, acidentes, medicamentos, etc. As deficiências físicas são de

origem motora: amputações, malformação ou seqüelas de vários tipos, as sensoriais

se dividem em auditiva (surdez total ou parcial) e visual (cegueira também total ou

parcial) e as mentais ( de vários graus).

2.1. AS TERMINOLOGIAS USADAS AO LONGO DA HISTÓRIA DO BRASIL

Ao longo da história do Brasil foram usados termos diversos para nomear as

pessoas que tenham algum tipo de deficiência. Sassaki em seu livro “Inclusão:

construindo uma sociedade para todos“ mencionados alguns, tais como:

• Inválidos

Alguns séculos atrás, as pessoas que tinham deficiência eram consideradas

socialmente inúteis, um peso morto para a sociedade, um fardo para a família.

• Incapacitados

Termo utilizado até ± 1960, significava de início, “indivíduos sem capacidades”,

mais tarde, passou a se dizer “indivíduos com capacidade residual” ou “os

incapazes”, no qual queriam dizer que eram “indivíduos que não são capazes” de

fazer alguma coisa por conseqüência da deficiência. A mídia utilizou esse termo

diversas vezes após a I e II Guerras Mundiais, como por exemplo, “A guerra

produziu incapacitados”.

• Defeituoso, deficiente e excepcional

Essas terminologias sugiram no período de ± 1960 até 1980, ao focar as

deficiências em si sem fortalecer muito a questão da capacidade do deficiente.

O termo “defeituoso” continha o valor de “indivíduos com deformidade”

referiam-se principalmente as pessoas com deficiência física. Nesta ocasião foi

criada uma instituição particular especializada no atendimento a deficientes físicos

não-sensoriais, no qual na época foi data o nome de Associação de Assistência à

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criança Defeituosa (AACD), mas hoje é denominada Associação de Assistência a

Criança Deficiente.

A nomenclatura “deficiente” começou a ser aceito na sociedade como

“indivíduos com deficiência” física, mental, auditiva, visual ou múltipla, que consegue

realizar as funções básicas da vida como andar, escrever, tomar banho, entre outras

atividades.

“Os excepcionais” a princípio referiam-se somente aos indivíduos com

deficiência mental. Foi nesse período que surgiu a APAE (Associação de Pais e

Amigos dos Excepcionais). Depois passou também a designar as pessoas

superdotadas, pois elas foram consideradas excepcionais por estarem na outra

ponta da curva da inteligência humana.

• Pessoas deficientes

Essa expressão foi lançada mundialmente no I artigo da Assembléia Geral da

Organização das Nações Unidas (ONU) em 9 de dezembro de 1975:

O termo pessoas deficientes refere-se a qualquer pessoa incapaz de

assegurar por si mesma, total ou parcialmente, as necessidades de uma

vida individual ou social normal, em decorrência de uma deficiência

congênita ou não, em suas capacidades físicas ou mentais.

Pela primeira vez foi empregado o termo “pessoas” a àqueles que tinham

deficiência. A ONU com esse termo queria tentar igualar os direitos e dignidade do

deficiente como qualquer outra pessoa da sociedade. Porém muitos indivíduos não

concordaram com essa terminologia, pois à palavra se opõe ao adjetivo “eficiente”,

por tanto carrega consigo o significado de ineficiência, de não ser capaz.

• Pessoas portadoras de deficiência.

Por volta de 1988 esse nome surgiu somente nos países de língua portuguesa

para substituir o termo “pessoas deficientes”. Tinha como principal objetivo

demonstrar que a deficiência era apenas um detalha da pessoa. Esse termo foi

adotado por associações, coordenadorias, constituições federais e estaduais, em

todas as leis e políticas referentes ao campo das deficiências.

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Algumas organizações de pessoas com deficiência contestaram essa

terminologia, alegando que a deficiência não é como um objeto que às vezes

portamos e outras vezes não, e sim faz parte do indivíduo.

• Pessoas com necessidades especiais

A expressão “pessoas com necessidades especiais” nasceu a partir de 1990

para substituir a palavra “deficiência” por “necessidades especiais” constituindo o

termo ”portadores de necessidades especiais”. Depois foram reduzidas para as

expressões pessoas especiais, crianças especiais, alunos especiais, pacientes

especiais e assim por diante numa tentativa de amenizar o impacto da palavra

deficiência.

De início o termo “necessidades especiais” representava somente aos alunos

com deficiência, mas depois foi entendido que abrange a todos os alunos que

durante o processo educacional apresentam dificuldades acentuadas de

aprendizagem que podem ser: não vinculadas a uma causa orgânica específica ou

relacionadas a condições, disfunções, limitações ou deficiências, abrangendo

dificuldades de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais alunos, bem

como altas habilidades ou superdotado.

• Pessoas com deficiência

Esse termo surgiu na mesma época que a expressão “pessoas com

necessidades especiais” em 1990, porém passou a ser preferido.

No ano de 2000 em recife ocorreu um grande encontro das pessoas com

deficiência. Vários temas foram discutidos, entre eles estava a questão da

nomenclatura, no qual optaram pelo uso social do termo “Pessoas com deficiência”.

Alguns órgãos mundiais de pessoas com deficiência, incluindo o Brasil, ainda

estudam e debatem o melhor nome para designá-los, isto é necessário e deve

caminhar junto com o desenvolvimento da sociedade. Segundo o texto Convenção

Internacional para Proteção dos Direitos e Dignidade das Pessoas com Deficiência,

neste momento o termo mais apropriado é “pessoa com deficiência”, pois não

esconde ou camufla a deficiência. Mostra com dignidade a realidade do ser

deficiente e valoriza as diferenças e necessidades da deficiência.

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3. A CONSTRUÇÃO DO SISTEMA EDUCACIONAL INCLUSIVO NO BRASIL

Considero importante neste trabalho de pesquisa, contextualizar o processo

histórico dialético da educação Especial no Brasil, para melhor compreender os

mecanismos que se formaram para a realização da educação inclusiva no sistema

escolar. Para tal, tenho como base, as principais leis que contemplam a inclusão de

pessoas com deficiência e os autores Mazzotta e Bueno, especialistas em Educação

Especial, que em seus livros conseguiram aprofundar o histórico desta educação.

A inclusão de deficientes na educação no Brasil iniciou no século XIX, com a

organização de serviços para atendimento a cegos, surdos, deficientes mentais e

deficientes físicos. Essas ações foram inspiradas em experiências realizadas na

Europa e no Estados Unidos da América, países considerados percurso de medidas

inclusivas educacionais, pois foram os primeiros a promover ações para o

atendimento aos deficientes, refletindo mudanças na atitude dos grupos sociais e se

concretizando em medidas educacionais.

3.1. O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIAL

Mazzotta analisa a história da educação especial em duas partes. Primeiro, a

partir de 1854 até 1956, no qual considera as ações dessa educação de caráter

isolado e depois de 1957 a 1993 com iniciativas inclusivas no âmbito nacional.

O Atendimento escolar especial a pessoas com deficiência foi marcado pela

criação do Instituto Imperial dos Meninos Cegos, em 12 de Setembro de 1854, no

Rio de Janeiro por D. Pedro II, quando concretizou a fundação no Decreto Imperial

nº 1.428. Com a mudança de governo, alterou-se o nome do instituto, que passou a

ser Instituto Nacional dos Cegos e, mais tarde, em 24 de janeiro de 1891, alteraram

novamente para IBC (Instituto Benjamim Constant), em homenagem ao seu ilustre e

atuante ex-professor de Matemática e ex-diretor, Benjamin Constant Botelho de

Magalhães.

Ainda no Rio de Janeiro D. Pedro II fundou o INES (Instituto Nacional de

Educação de Surdos), moldado em torno de um modelo literário e profissionalizante,

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em que meninos e meninas, com idade entre 7 e 14 anos tinham oportunidade de

aprender alguns ofícios.

No período Imperial, foram criados em 1874 o Hospital Psiquiátrico da Bahia,

voltadas para o atendimento médico-pedagógico aos deficientes mentais e o

Pavilhão Bournivill, no Hospital D. Pedro II que funcionou somente no início do séc.

XX.

A Criação dessas primeiras instituições especializadas não passou de

iniciativas isoladas, que atendia um pequeno número de deficientes, diferente do

contexto europeu, onde ocorreu uma verdadeira proliferação neste período. Ambos

os institutos foram criados pela intercessão de amigos ou de pessoas

institucionalmente próximas ao imperador, que atendeu às solicitações, dada a

amizade que com eles mantinha.

O fato de se restringirem a umas poucas iniciativas, reflete, também que,

da mesma forma como na educação comum, as escolas especiais não

eram necessárias como produtoras de mão-de-obra, nem como fator de

ideologia numa sociedade rural e escravocrata. (Bueno, 1993, p.87)

Ainda no início do séc. XX foram publicados alguns trabalhos científicos e

técnicos. Em 1900, Dr. Carlos Eiras apresentou no 4º congresso Brasileiro de

Medicina e Cirurgia, no Rio de Janeiro, sua monografia intitulada, “ Da Educação e

Tratamento Médico-Pedagógico dos Idiotas”. No período de 1915, foram publicados

três outros trabalhos sobre a educação de deficientes mentais, do Professor

Clementino Quaglio, de São Paulo, “A educação da Infância Anormal da Inteligência

no Brasil” e duas obras do autor Basílio de Magalhães, do Rio de Janeiro,

“Tratamento e Educação das Crianças Anormais da Inteligência” e a “educação da

Infância Anormal e das Crianças mentalmente Atrasadas na América Latina”.

Após a proclamação da República, a educação especial foi se expandido

devagar. Pouco a pouco, a deficiência mental foi se destacando na educação

especial, passando a ser atendido na escola pública do Rio de Janeiro em 1906 e

adquirindo relação com a área da saúde.

Nesse período, segundo Bueno (1993), a preocupação da medicina com a

saúde escolar do deficiente estava vinculada com a criação de serviços de higiene

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que englobava a inspeção médico-escolar e com a entrada da psicologia como

instrumento fundamental para a elaboração de processos pedagógicos compatíveis

com as “potencialidades individuais”, no qual possibilitou o surgimento dos

Laboratórios de Pedagogia Experimental, em 1906 no Rio de Janeiro, depois em

1912 na Escola Normal de São Paulo, atual Escola Caetano de Campos e por fim

em Minas Gerais, 1929.

Uma grande característica desse primeiro período é o surgimento das

instituições especializadas de caráter filantrópico-assistenciais que cada vez mais

assumiu um papel importante na educação especial por causa da quantidade de

atendimentos. Já à rede pública de ensino foi aos poucos aumentando o

atendimento educacional especializado preocupado mais com a reabilitação e a

segregação do que com a construção do conhecimento. (BUENO, 1993).

De acordo com Mazzotta (2001), até 1950, o poder público mantinha

quarenta estabelecimentos de ensino regular, sendo um federal e os demais

estaduais, que prestavam algum tipo de atendimento escolar especial a deficientes

mentais. Ainda, catorze estabelecimentos de ensino regular, dos quais um federal,

nove estaduais e quatro particulares, atendiam também alunos com outras

deficiências.

Neste período, haviam três instituições especializadas, uma estadual e duas

particulares que atendiam deficientes mentais e mais três instituições estaduais e

cinco particulares dedicavam-se à educação de outros deficientes.

Das onze instituições especializadas e cinqüenta e quatro estabelecimentos de

ensino regular destacam-se: em Santa Catarina, no município de Joinville, o Colégio

dos Santos Anjos, de ensino regular particular fundado em 1909, com atendimento a

deficientes mentais; no Rio de Janeiro, a Escola Rodrigues Alves, estadual e regular

para deficientes físicos e visual, criada em 1905, a Sociedade Pestalozzi do Estado

do Rio de Janeiro, particular especializada, criada em 1948 para atender deficientes

mentais; em Minas Gerais, na capital Belo Horizonte, a Escola Estadual São Rafael,

especializada no ensino de cegos, criada em 1925, e a Escola Estadual Instituto

Pestalozzi, especializada em deficientes auditivos e mentais, criada em 1935 por

influência dos trabalhos da professora Helena Antipoff; na Bahia, criando em

Salvador em 1936, o Instituto de Cegos da Bahia, especializado particular; em

Pernambuco, o Instituto de Cegos criado em 1935, especializado particular, e a

Escola Especial Ulisses Pernambucano, estadual especializada em deficientes

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mentais, instalada em 1941; no Rio Grande do Sul, em Canoas, o Instituto

Pestalozzi criado em 1926, particular, especializado em deficientes mentais, em

Porto Alegre o Grupo Escolar Paula Soares, estadual regular com atendimento a

deficiente mental, criado em 1927, e o Instituto Santa Luzia, particular especializado

em deficientes visuais, criado em 1941; no Paraná, em Curitiba, o Instituto

Paranaense de Cegos, estadual, especializado, criando em 1944; em São Paulo, na

cidade de Taubaté, o instituto São Rafael, particular especializado em deficientes

visuais, criado em 1940, em Lins, a Associação Linense para Cegos, particular

especializada, criada em 1948, na capita, o Instituto Estadual de Educação Padre

Anchieta, estadual regular com atendimento a deficientes auditivos, criado em 1913,

o Instituto Santa Terezinha, particular especializado em deficiente auditivos, criado

em 1929, a Fundação Dona Paulina da Souza Queiroz, particular, especializada em

deficientes mentais, criado em 1936, a instituição especializada particular Lar-Escola

São Francisco, criado em 1943 para atender deficientes físicos, a Fundação para o

Livro do Cego no Brasil, especializada particular criada em 1946, as escolas

estaduais regulares Grupos Escolar Miss Browne e Grupo Escolar Visconde de

Itaúna, com atendimento a deficientes mentais, criados em 1950.

Apesar das redes estatuais terem ampliando o atendimento a educação

especial com a criação de escolas e serviços especializados, essa estrutura não

conseguia atender a todos que necessitavam desse serviço, pois o número de vagas

ainda era muito reduzido. De acordo com Bueno (1993, p. 96), esse é um reflexo “da

pequena importância que a problemática da educação especial possuía dentro das

políticas sociais”.

3.2. AÇÕES INCLUSIVAS NO ÂMBITO NACIONAL

O final da década de 50 foi considerado um momento muito importante, pois

segundo Mazzotta é o período onde o governo começa a ter iniciativas no

atendimento educacional aos deficientes em âmbito nacional, criando campanhas

especificas para sua promoção. Sendo elas: Campanha para a Educação de Surdo

Brasileiro (C.E.S.B) pelo Decreto Federal nº 42.728, de 3 de dezembro de 1957,

tinha como objetivo promover, por todos os meios a seu alcance, as medidas

necessárias á educação e assistência, no mais amplo sentido, em todo o Território

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Nacional (Mazzotta, 2001, p. 49), Campanha Nacional de Educação e Reabilitação

de Deficientes da Visão pelo Decreto Federal Decreto nº 44.236 de 1º de agosto de

1958; Campanha Nacional de Educação de Cegos (CNEC) pelo decreto nº 48.252

de 31 de maio de 1960 e a Campanha Nacional de Educação e Reabilitação de

Deficientes Mentais (CADEME) pelo Decreto nº 48.961, de 22 de setembro de 1960,

com a finalidade de promover, em todo o território nacional, a educação,

treinamento, reabilitação e assistência educacional das crianças “retardadas” e

outros deficientes mentais de qualquer idade ou sexo. (Mazzotta, 2001, p. 52).

3.3. O PROCESSO DE DESINTITUCIONALIZAÇÃO

Nos anos 60 iniciou mundialmente o movimento de desinstitucionalização,

baseado no principio de “normalização”, que significava incentivar as pessoas com

deficiências que estão enclausuradas em instituições residenciais a inserir na

sociedade, procurando ajudá-la a adquirir as condições e os padrões de vida

cotidiana, no nível mais próximo possível do “normal”. Esse princípio chegou

lentamente no Brasil fazendo com que alguns órgãos e associações de deficientes

questiona-se a normalização e a partir dessas reflexões se fortaleceram, levando a

sociedade a reorganizar-se na luta para garantir o acesso à educação, trabalho e

cidadania a todos, reconhecendo e respeitando suas diferenças.

3.4. A VISÃO DA LDB DE 1961 E 1971

Em 1961 a Educação Brasileira teve um grande avanço com a chegada da

primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), essa lei de nº

4.024, define e regulariza o sistema de educação brasileiro tendo como base os

princípios presentes na Constituição. Ela foi promulgada em 20 de Dezembro,

quase trinta anos após ser prevista na Constituição de 1934. As outras Constituição

de 1824 e 1891, nem sequer menciona a palavra educação, demonstrando a falta de

interesse que os governos anteriores tinham com a educação da população.

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Nos artigos 88 e 89 da LDB está presente o compromisso do Poder Público

com a educação especial, propondo o atendimento às pessoas com deficiências

“dentro do possível” na educação regular e o apoio financeiramente às instituições

particulares, segundo critérios dos Conselhos Estaduais de Educação.

Art. 88. A educação de excepcionais, deve, no que for possível,

enquadrar-se no sistema geral de educação, a fim de integrá-los na

comunidade.“

Art. 89. Toda iniciativa privada considerada eficiente pelos conselhos

estaduais de educação, e relativa à educação de excepcionais, receberá

dos poderes públicos tratamento especial mediante bolsas de estudo,

empréstimos e subvenções.

Pode se perceber a influência do movimento de normalização presente no

artigo 88 , no qual vê a educação geral como um caminho para a integração das

pessoas com deficiência.

Entretanto, em 1971 houve a segunda LDB lei 5.692 alterando a LDB anterior,

em seu artigo 9º assegura tratamento especial tanto para os alunos que apresentam

deficiências físicas ou mentais, como para os superdotados e os alunos que estão

em atraso quanto à idade regular de matricula, de acordo com as normas que os

conselhos Estaduais de Educação definem. Segundo Aranha (2005), a LDB de 1971

apresenta uma visão tecnicista para o atendimento aos deficientes no contexto

escolar que se refletiu no Parecer do Conselho Federal de Educação (CFE) nº 848/

72 no qual deixa em evidencia essa visão ao enfatizar a importância da

implementação de técnicas e serviços para o atendimento adequado aos alunos

com deficiência.

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3.5. CRIAÇÃO DOS PRINCIPAIS ÓRGÃOS ESPECÍFICOS PARA A EDUCAÇÃO

ESPECIAL.

Em 1973 pelo Decreto nº 72.425 foi criado o Centro Nacional de Educação

Especial (CENESP), sendo um órgão específico para regularizar e promover em

todo território nacional a expansão e a melhoria do atendimento as pessoas com

deficiência. Esse órgão funcionou até 1986, quando foi transformado na Secretaria

de Educação Especial (SESPE), pelo ministério da Educação e Cultura. Nesse

mesmo período foi criado a Coordenadoria Nacional (CORDE) para a Integração da

Pessoa Portadora de Deficiência, sendo um órgão de Assessoria da Secretaria

Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, responsável pela

gestão de políticas voltadas para integração da pessoa portadora de deficiência,

tendo como eixo focal a defesa de direitos e a promoção da cidadania (MAZOTTA,

2001).

Em 1990, foi reestruturado o Ministério da Educação, ficando extinta a SESPE,

e a Secretaria Nacional de Educação Básica (SENEB) passou a responder pela

Educação especial.

Após a queda do Presidente Fernando Collor de Mello (1992), ocorreu outra

reorganização do Ministério, no novo reordenamento político, a SESPE foi reativada

pelo presidente da República.

A estrutura do poder político interfere diretamente nas ações educacional do

país. Essa instabilidade provocada pela falta de organização sistemática e continua,

refletem negativamente nas ações, programas e planejamentos. E em partícula

demonstra a ausência de políticas efetivas para a Educação especial e seus

processos de transformação.

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3.6. A CONSTITUIÇÃO DE 1988

De acordo com definição de BLACK a Constituição:

É a lei fundamental do Estado, contendo os princípios sobre os quais se

fundamenta o governo, regulando as divisões dos poderes soberanos,

ordenando as pessoas às quais cada um deles deve ser confiado e a

maneira pela qual deve ser exercido. ( Ferreira, 1998, p. 9)

A Constituição da República Federativa do Brasil é a lei máxima que limita

poderes e define os direitos e deveres dos cidadãos brasileiros. Nenhuma outra lei

no país pode entrar em conflito com a Constituição, porém a mesma pode receber

algumas alterações com emendas e reformas, entretanto, elas possuem também as

cláusulas pétreas (conteúdos que não podem ser abolidos).

Desde sua independência, o Brasil já teve sete Constituições, a que está em

vigor até os dias atuais foi elaborada no dia 5 de outubro de 1988. Devido o fim do

Regime Militar em 1985 se fez necessário criar uma nova constituição, pois a

anterior havia sido imposta pela Ditadura Militar 1969. Essa constituição foi

elaborada nos princípios democráticos e liberal, tendo com um dos seus objetivos a

promoção de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer

outras formas de discriminação (art. 3º, inc. IV). Expressando o direito de todos à

Educação, tendo como objetivo o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo

para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (art. 205). Sendo

Dever do Estado com a Educação garantir o acesso aos níveis mais elevados do

ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um e

proporcionar o atendimento educacional especializado aos portadores de

deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino (art. 208). Para assegurar

o acesso aos alunos com deficiência nas escolas e em outros lugares públicos

consta na lei a obrigatoriedade de adaptar os edifícios públicos e os veículos de

transporte (art. 244).

Ao analisar os artigos da constituição, entende-se que há uma preocupação

em proteger o deficiente contra eventual discriminação, buscando integrá-lo

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socialmente. Segundo Araújo, quando a Constituição foi escrita a sociedade

acreditava que seria mais apropriado manter a criança com deficiência em escola

especial da rede de ensino. A partir dos anos 90, essa idéia fundada nos princípios

de assistencialismo foi se alterando e atualmente predomina o conceito de inclusão,

onde a criança com deficiência é integrada no sistema normal da rede regular de

ensino, junto com as outras crianças que não possuem deficiência.

3.7. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA)

O Estatuto da Criança e do Adolescente é um documento resultante de um

movimento social muito importante na história democrática brasileira, baseada nos

princípios da Constituição, entrou em vigor com a Lei de nº 8.069 no dia 13 de Julho

de 1990, tem como objetivo a proteção integral à criança e ao adolescente (art. 1)

visando seus direitos fundamentais.

Em amparo aos direitos da criança e do adolescente, o Estatuto prevê

punição a qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência,

crueldade e opressão, podendo ser provocado por qualquer tipo de ação ou omissão

(art. 5º). Além dos direitos gerais agregados a todas crianças e adolescente, o ECA

abordar alguns pontos específicos importante para as pessoas com deficiência,

entre eles;

Na área da Saúde:

É assegurado a criança e o adolescente portadores de deficiência

atendimento especializado no sistema único de Saúde e incumbe ao poder

público fornecer gratuitamente àqueles que necessitarem os

medicamentos, próteses e outros recursos relativos ao tratamento,

habilitação ou reabilitação. (Art. 11, Parágrafos 1º e 2º)

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Na área Educacional:

É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente atendimento

educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente

na rede regular de ensino. (Art. 54, Incisso III)

3.8. CONFERÊNCIAS INTERNACIONAIS SOBRE EDUCAÇÃO INCLUSIVA

A última década do século XX assume um novo olhar para as pessoas com

deficiência, com base numa política de educação para todos, a partir da Conferência

Mundial de Educação para todos, realizado entre os dias 5 e 9 de março de 1990,

em Jomtien, na Tailândia. Essa conferência gerou uma expectativa universal em

relação à educação escolar para o século seguinte: Reestruturar as escolas de

modo a torná-las abertas às diversidades, sintonizadas com os valores democráticos

e representantes do espaço privilegiado de formação e exercício da cidadania para

todos os seus alunos, sem distinção de natureza alguma.

No documento Educação Para Todos consta-se os seguintes objetivos que

foram traçados:

• Artigo 1 : Satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem

• Artigo 2: Expandir o enfoque

• Artigo 3: Universalizar o acesso à educação e promover a equidade

• Artigo 4: Concentrar a atenção na aprendizagem

• Artigo 5: Ampliar os meios de e o raio de ação da educação básica

• Artigo 6: Propiciar um ambiente adequado à aprendizagem

• Artigo 7: Fortalecer as alianças

• Artigo 8: Desenvolver uma política contextualizada de apoio

• Artigo 9: Mobilizar os recursos

• Artigo 10: Fortalecer a solidariedade internacional

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Entre os pontos principais da discussão na referida Conferência, está

reconhecida a importância de uma atenção especial para com as necessidades

básicas de aprendizagem das pessoas com deficiência por medidas que garantam a

igualdade de acesso à educação para que todos aqueles que tenham qualquer tipo

de deficiência, como parte integrante do sistema educativo.

A partir dessa Declaração, outros encontros internacionais resultaram em

documentos por direitos igualitários ao acesso de bens sociais, culturais e

educacionais. Entre eles se destacam a Declaração de Salamanca e a Declaração

de Guatemala.

Em Junho de 1994, estiveram reunidos 88 países e 25 organizações

internacionais na Conferencia Mundial de Educação Especial que resultou na

aprovação do documento Declaração de Salamanca sobre princípios, políticas e

prática em educação especial.

A Declaração da Salamanca vem reafirma o compromisso com a “Educação

para Todos” e destacar dentro dessa proposta o direito das crianças, jovens e

adultos com necessidades educacionais especiais no sistema regular de ensino.

No que diz respeito ao conceito de necessidades educacionais especiais, a

Declaração afirma que:

(...) durante os últimos 15 ou 20 anos, tem se tornado claro que o conceito

de necessidades educacionais especiais teve que ser ampliado para incluir

todas as crianças que não estejam conseguindo se beneficiar com a

escola, seja por que motivos for.

A Declaração de Salamanca recomenda que a escola:

(... ) Deve acolher todas as crianças indistintamente, independente de suas

condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, lingüísticas ou outras.

Devem acolher crianças com deficiências e crianças bem dotadas, crianças

que vivem nas ruas e que trabalham, crianças de populações distantes ou

nômades, crianças de minorias lingüísticas, étnicas ou culturais e crianças

de outros grupos ou zonas de desfavorecimendos e marginalizados.

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Desta maneira, o conceito de “necessidades educacionais especiais”, passa a

incluir, além das crianças com deficiência, aquelas que estejam com dificuldades

temporárias, ou permanentes na escola, forçadas a trabalhar, as que vivem nas

ruas, as que moram distantes de quaisquer escolas, as que vivem em condições de

extrema pobreza ou que sejam desnutridas, as que sejam vítimas de guerra ou

conflitos armados, as que sofrem de abusos contínuos físicos, emocionais e sexuais,

ou as que simplesmente estão fora da escola, por qualquer motivo que seja.

A Declaração da Salamanca busca uma escola inclusiva onde todas as

crianças devem aprender juntas, sempre que possível, independentemente de

quaisquer dificuldades ou diferenças físicas, intelectuais, sociais, emocionais,

lingüísticas ou outras.

A convenção de Guatemala, ocorreu em outubro de 2001, organizada pelos

Estados Americanos, teve como objetivo prevê a eliminação de todas as formas de

discriminação contra as pessoas com deficiência e o favorecimento de sua

integração na sociedade. Em seu texto encontra-se a definição de “Discriminação

contra as pessoas portadoras de deficiência”:

(...) significa toda diferenciação, exclusão ou restrição baseada em

deficiência, antecedente de deficiência, conseqüência de deficiência

anterior ou percepção de deficiência presente ou passada, que tenha o

efeito ou propósito de impedir ou anular o reconhecimento, gozo ou

exercício por parte das pessoas portadoras de deficiência de seus direitos

humanos e suas liberdades fundamentais.

Essa definição deixa claro que não é permissível fazer qualquer diferenciação

com base na deficiência, ou seja, assim como as demais Conferencia é reconhecido

o lugar do aluno da educação especial na escola regular.

O Brasil por meio dessas Conferencias internacionais começa a redefinir sua

política educacional visando um sistema inclusivo, especificamente no que se refere

à população de alunos com necessidades educacionais especiais, no qual está

incluso os educandos com deficiência.

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3.9. A LDB DE 1996

A nova lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional, lei nº 9.394 que

está em vigor até os dias atuais foi promulgada em 1996, com fortes influencia da

Constituição de 1988 e das Declarações Internacionais. Representam um marco

para a educação dos alunos com deficiência em nosso país. Embora,

constitucionalmente, os direitos a educação especial já tinha sido abordados na LDB

anteiror, na nova LDB a educação especial ganha destaque. A LDB reservou um

capítulo inteiro exclusivamente para tratar da Educação Especial, o Capitulo V .

Segundo SAVIANI (1997):

Não resta dúvida que a educação especial ganha, nesta lei, um lugar mais

destacado, ao se configurar como um capítulo autônomo, em comparação

com a lei 5.692/71 onde o assunto foi regulado em apenas um artigo (artº9)

do capitulo I que trata das disposições comuns ao ensino de primeira e

segundo graus.

A referida lei em seu artigo 58 trata a Educação Especial como uma

modalidade de educação escolar voltado para alunos com necessidades especiais,

o atendimento educacional deve ser oferecido preferencialmente na rede regular de

ensino, podendo ser realizado em classes, escolas ou serviços especializados,

sempre em função das condições especificas dos alunos. No Artigo 59 relata as

garantias didáticas diferenciadas que deverá contemplar o currículo, os métodos, as

técnicas, os recursos e a qualificação dos professores. E por fim no artigo 60 dispõe

que os sistemas de ensino deverão estabelecer critérios para a caracterização das

instituições privadas sem fins lucrativos, que seja especializada atuante na

educação especial.

O conceito de inclusão foi se transformando ao decorrer da história, a princípio

contemplando somente os deficientes, e hoje, após a Declaração de Salamanca

passou a ter uma visão mais ampla, considerando a todos que se sentem à margem

da sociedade. Os documentos aqui citados acreditam que a educação é o caminho

mais eficaz para a construção de uma sociedade democrática e justa.

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A inclusão não se efetuará simplesmente com leis, será necessário que se

avaliem as reais condições para criar ações estruturadas onde seja possível colocar

em prática o que se encontra no papel.

De acordo com Sassaki (1999, p. 167) a inclusão social é o processo pelo qual

a sociedade e o portador de deficiência procuram adaptar-se mutuamente tendo em

vista a equiparação de oportunidade.

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4. O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES ESPECIALIZADAS

Com a proposta de uma Política Nacional de Educação Especial, a qual propõe

uma mesma escola para todos os alunos preferencialmente na rede publica do

ensino, garantindo apoio de serviços especializados sempre que for necessário, se

faz necessário rever o papel das instituições especializadas que ao longo da história

buscou uma educação segregada.

O assunto tem gerado muita discussão, e uma das questões apontadas é o fato

de que nem todas as escolas, públicas e particulares, têm condições de receber

alunos com deficiência e promover um ensino de qualidade que atenda suas

necessidades específicas.

Não se pode negar o trabalho de qualidade que atualmente algumas

instituições especializadas realizam com nossas crianças deficientes, como por

exemplo APAE, AACD e a Pestalozzi.

Neste novo contexto de educação inclusiva como devem ficar as instituições

especializadas?

De acordo com o Ministério da Educação (2007, pg.19) a intenção não é

aniquilar as instituições, e sim, transformá-las em centros de atendimento

educacional especializado para atendimento, produção de materiais de apoio e

formação de docentes.

A intenção dessa proposta de educação é de provocar uma aproximação deste

dois tipos de ensino, o regular e o especial, na medida em que esta nova definição

implica que, potencialmente, todos nós possuímos ou podemos possuir, temporária

ou permanente, necessidades educacionais especiais, por isso não se vê a

necessidade de ter dois sistemas paralelos de ensino, mas sim um sistema único,

que parta do mesmo princípio, otimizando seus esforços e utilizando prática

diferenciadas, sempre que necessário, buscando o desenvolvimento do aluno.

De acordo com Carneiro (2008) as instituições especiais deverão de imediato

providenciar as matrículas das crianças que atende, no ensino fundamental. No

período diferente daquele que forem matriculados no ensino comum, os alunos

poderão continuar a freqüentar a instituição para serviços clínicos e/ou serviços de

atendimentos educacional especializado, visando a complementação da

escolarização, e não substituição.

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As Instituições filantrópicas da APAE e da AACD já vêm se ajustando a essa

nova política de inclusão, ambas desenvolvem trabalhos educacionais com seus

alunos que apresentam necessidades especiais em suas áreas, buscando a

reabilitação e a preparação para integração na escola comum, de acordo com o

desenvolvimento individual do aluno. As instituições oferecem cursos de capacitação

para educadores e assessória para as escolas que trabalham com a inclusão.

Tive a oportunidade de fazer dois cursos de formação básica em deficiência

física para professores da rede regular de ensino, um direcionado para a educação

infantil e outro para a educação fundamental, ambos realizados pela AACD. Com

isso constatei de perto a preocupação que a instituição tem com o processo de

inclusão escolar na rede regular de ensino. É um curso básico que contemplou

informações sobre as principais patologias decorrentes de deficiência física e suas

implicações na aprendizagem. Estimulou a reflexão das práticas pedagógicas dos

docentes no processo da aprendizagem do aluno deficiente e sua interação social.

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5. AS PROPOSTAS DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

O Ministro da Educação para promover um sistema educacional inclusivo

desenvolveu o programa Escola Acessível contemplando diversas ações:

• Distribuição de livros didáticos em braille para o ensino fundamental;

livros em áudio e braille para o ensino médio; livros digitais em língua brasileira de

sinais (Libras) para a alfabetização e anos iniciais do ensino fundamental; dicionário

ilustrado trilíngüe, libras, português e inglês; coleção de literatura infanto-juvenil

digital em libras, Braille e áudio; distribuição dos laptops com sintetizador de voz

para alunos cegos do ensino médio e anos finais do ensino fundamental, esses

materiais começaram a serem disponibilizados a partir do ano de 2007.

• Incentivar o ensino da língua brasileira de sinais, financiando a

implementação de cursos a distância de letras com licenciatura em libras e de

bacharelado em tradução e interpretação, em 30 pólos que abrangem todos os

estados. O Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) e instituições federais

de ensino superior passaram a oferecer o curso bilíngüe de formação de

professores.

• Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), criando o Programa de

Formação Continuada de Professores na Educação Especial, com 20 mil vagas para

docentes em exercício na rede pública. Além disso, o Programa de Implantação de

Salas de Recursos Multifuncionais distribui 4,3 mil salas compostas com

equipamentos de informática, eletroeletrônicos, materiais didáticos e recursos de

acessibilidade. O Programa Escola Acessível destina recursos para adequação de 2

mil prédios escolares e o Programa Benefício de Prestação Continuada (BPC) passa

a acompanhar o acesso e permanência Beneficiários nas instituições de ensino.

(MEC, Assessoria de Comunicação Social, acesso em: 11 de Setembro de 2008).

O atual ministro da Educação, Fernando Haddad apresentou no dia 18 de

setembro de 2008 o decreto de nº 6.571/08 reafirmando diretrizes e ações para

educação especial e com objetivo de destinar recursos do Fundo da Educação

Básica (FUNDEB) ao atendimento de necessidades específicas do segmento. De

acordo com esse decreto a partir de 2010 as escolas públicas de ensino regular que

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oferecem atendimento educacional especializado nas aulas terão financiamento do

FUNDEB. A matrícula de cada aluno da educação especial em escolas públicas

regulares será computada em dobro, com base no censo escolar de 2009,

aumentando o valor per capita repassado à instituição. (Diário da União, seção 1 / nº

181, 18 de setembro de 2008)

5.1. AS PROPOSTAS DAS SECRETARIAS EDUCACIONAIS DE SÃO PAULO

PARA EDUCAÇÃO INCLUSIVA

Para colocar em prática o conceito de educação inclusiva é necessário uma

grande reforma educacional, que envolva transformação de idéias, de atitudes e das

práticas, tanto no âmbito político quanto no pedagógico. Pensando nesse processo

considerei relevante pesquisar quais são as ações que a Secretaria de Educação

Especial e as Secretarias Municipal e Estadual de Educação de São Paulo realizam

para oferecer oportunidades de educação a todos.

De acordo com o site da Secretaria de Educação Especial (SEESP), para

atingir uma educação de qualidade para todos, a SEESP, desenvolveu o Programa

Educação Inclusiva: direito à diversidade, no qual tem como objetivo ampliar a

política de educação inclusiva nos municípios brasileiros e apoiar a formação de

gestores e educadores para o desenvolvimento de práticas educacionais inclusivas

nas salas de aula. O programa realizou parcerias com os dirigentes estaduais e

municipais e se compromete em disponibilizar equipamentos, mobiliários e material

pedagógico para a implantação de salas de recursos nos municípios que aderirão o

programa.

Os serviços de educação especial da Rede Municipal e Estadual de Ensino

atendem crianças, adolescentes, jovens e adultos com deficiência intelectual, visual,

física, auditiva e múltipla, surdocegos, alunos com condutas típicas de quadros

neurológicos, psiquiátricos e psicológicos, com altas habilidades e superdotação

que, no contexto escolar, evidenciam necessidades educacionais especiais e

demandam atendimento educacional especializado.

Para atender a esse público a Secretaria do Estado da Educação de São Paulo

considera importante investir na produção de materiais didáticos específicos, criação

de sala de recursos, adequação do espaço físico, que garanta condições de

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acessibilidade a todos os alunos com deficiência e o acompanhamento do professor

especialista junto ao professor de classe para um desenvolvimento adequado ao

aluno especial.

A Secretaria Municipal de Educação de São Paulo segue a mesma concepção

do Estado, porém comprometeu-se a desenvolver ações mais concretas criando

uma rede de serviço para o processo de inclusão, são elas:

• Centro de Formação e Acompanhamento à Inclusão (CEFAI)

Em funcionamento nas 13 Diretorias Regionais de Educação, tem como

atribuições, o acompanhamento aos alunos com deficiência por meio de visitas

sistemáticas às escolas, avaliação pedagógica, reuniões com professores e

coordenadores pedagógicos, atendimentos a pais, mapeamento dos atendimentos

da região.

• Atuação do Professor de Apoio e Acompanhamento à Inclusão (PAAI)

São professores especializados nas áreas de deficiência física, mental visual e

auditiva, que fazem parte do CEFAI, desenvolvendo ações que abrange a

comunidade escolar (alunos, professores, pais e funcionários).

• Salas de Apoio e Acompanhamento à Inclusão (SAAI)

As Salas de Apoio e Acompanhamento à Inclusão, instaladas nas Unidades

Educacionais da Rede Municipal de Ensino, são destinadas ao atendimento

educacional em caráter complementar, suplementar ou exclusivo aos alunos que

apresentam algum tipo de deficiência.

• Convênios Instituições

São Convênios de instituições de Educação Especial firmados com a

Secretaria Municipal de Educação. Visam os seguintes atendimentos: escolar,

educacional, terapêutico, avaliação e oficinas profissionalizantes. Esses

atendimentos são oferecidos em caráter transitório, na perspectiva de se garantir a

permanência/retorno à classe comum.

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• Escolas Municipais de Educação Especial ( EMEE)

As Escolas Municipais de Educação Especial (EMEE) destinam-se às crianças,

adolescentes, jovens e adultos com deficiência auditiva/surdez, surdocego ou com

outras deficiências, limitações, condições ou disfunções associadas à deficiência

auditiva/surdez.

Além dessa rede de serviço a Secretaria Municipal de Educação definiu

algumas ações para sustentabilidade do processo de inclusão: Ampliação do

número de SAAIs; Ampliação em mais de 100% do número de atendimentos nos

serviços de apoio especializado; Encaminhamento de estagiários para atuar junto ao

professor na sala de aula comum; Oferecer cursos de capacitação no decorrer do

ano; Elaboração e produção do material TOF que contempla as especificidades dos

alunos surdos; Formação continuada dos educadores nos horários coletivos para

implementação dos Referenciais vinculados a Educação Especial; Ampliação do

número de carros adaptados para o transporte dos alunos com deficiência; Reforma

e construção de novas escolas atendendo aos critérios da Lei de Acessibilidade,

entre outras.

Tais propostas acima demonstram que o Ministério da Educação e as

secretarias estão preocupadas em criar meios para transformar a escola tradicional

excludente em um ambiente que acolha a diversidade de todos, promovendo a

interação social e a aprendizagem dos alunos.

Contudo tais ações são suficientes para promover essa transformação?

As propostas estão sendo colocadas em práticas e chegando às salas de aula?

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6. DIAGNÓSTICO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL

Levantamento realizado pela Secretaria de Educação Especial utilizando os

dados do Censo Escolar dos anos de 1998 a 2006, revela que nesse período

ocorreu um grande crescimento significativo da busca do aluno com necessidades

especiais pela escola regular de ensino.

De acordo com os dados do gráfico as matriculas de alunos com

necessidades Educacionais Especiais na rede regular obteve um crescimento de

107,6% entre os anos de 1998 a 2006, já as escolas ou classes especializadas

nesse mesmo período tiveram um pequeno crescimento de 28%. Esses dados

demonstram que a semente do movimento da inclusão de alunos com necessidades

especiais nas escolas regulares já está sendo cultivada, porém ainda falta muito

para atingir a todos. Pois se compararmos os dados mais recente do IBGE (Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística ) que foi no ano de 2000, referente a quantidade

de criança no Brasil com algum tipo de deficiência entre 5 a 17 que era de 2.480.074

Fonte: Censo Escolar (MEC/INEP)

Matrículas em Escolas

375188378074371383358898337897323399300520293403 311354 325136

262243

195370145141

1107048134481695

6934543923

1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Ano

Qu

an

t. M

atr

icu

las

Escolas ExclusivamenteEspecializadas/ClassesEspeciais EscolasRegulares/ClassesComuns

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com a quantidade de matricula de todos os alunos com necessidades especiais,

tanto de escola regular como escola especial, do ano de 2006, que é de 700.324,

chegaremos uma triste realidade, mais de 72% de crianças com Deficiência não tem

acesso a nenhum tipo de educação formal. Lembrando que os dados do IBGE estão

desatualizados, isso significa que a quantidade de crianças com deficiência pode ser

maior.

Um dos vários motivos que dificulta o acesso e a permanência dos alunos

com deficiência em escolas é a parte arquitetônica que não são adaptadas para

esses alunos. De acordo com a reportagem do Jornal Folha de São Paulo do dia 05

de abril de 2008, apenas 21% das escolas Estaduais e 36 % das escolas Municipais

da cidade de São Paulo estão completamente adaptadas. Tanto a prefeitura como o

Estado descumprem a Constituição de 1988 e o Decreto Federal de 2004, nº 5.296,

que determina que os estabelecimento de ensino proporcionem condições de

acesso e utilização de todos os seus ambientes para a pessoa com deficiência. Esse

Decreto previa que os estabelecimentos Públicos tinham 30 meses para se adequar

a partir da publicação desse mesmo decreto. Esse prazo já venceu há muito tempo,

estamos em 2008 é a maioria das escolas não se modificaram.

Muitas escolas apresentam escadas, desnível entre os ambientes, falta de

rampas, banheiros sem barras e usam tais características para negar vagas a

alunos com deficiência ou sugerem á família que procure outras escolas em vez de

se adequarem para receber esses alunos. Negar matricula a aluno com deficiência é

crime, a legislação brasileira garante indistintamente a todos os direitos à escola, e

especialmente na lei nº 7.853/89, prevê como crime recusar, suspender, adiar,

cancelar ou extinguir a matricula de um estudante por causa de sua deficiência, ou

qualquer curso ou nível de ensino, seja ele público ou privado. A pena para o infrator

pode variar de quatro anos de prisão, mais multa.

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7. GESTÃO ESCOLAR E A INCLUSÃO

A escola exerce um papel fundamental na inserção social de pessoas

deficientes. Mesmo com dificuldades, seja por preconceito, despreparo dos

profissionais da educação ou mesmo falta de adaptação arquitetônica, como rampas

de acesso, toaletes especiais, salas espaçosas, etc. É da escola a grande

responsabilidade, para tanto, deve desenvolver em conjunto com os professores,

funcionários, pais e alunos o projeto pedagógico planejando ações que favoreçam o

processo de desenvolvimento e aprendizagem dos alunos levando-se em conta o

atendimento das necessidades educacionais especiais de cada um.

Nesse contexto é importante que as escolas tenham clareza de seus objetivos,

a concepção de educação sempre reflete na forma de gestão, o padrão de gestão

revela as verdadeiras intenções (ALBUQUERQUE, 2005, p. 51), isto é, não adianta

a escola ter um discurso politicamente correto e não promover meios para executá-

lo.

Os conceitos de gestão escolar refletem em diferentes posições políticas,

dentro da definição escolar e da formação humana na sociedade. As escolas que

contém uma gestão excludente e seletiva não é mais adequada ao mundo atual.

A gestão deve ser desenvolvida de maneira democrática. O gestor tem o papel

de conscientizar toda a equipe escolar onde todos são agentes no processo de

inclusão, deverá sempre ser atento a legislações e programas de políticas públicas

educacionais, visando oferecer não somente uma escola de acesso para todos, mas

principalmente com qualidade.

O único paradigma de gestão capaz de instalar um trabalho coletivo e voltado

para o ensino inclusivo com qualidade é o de gestão democrática. Ele estimula a

participação e união de forças em torno da mesma intencionalidade.

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8. METODOLOGIA DA PESQUISA

Tendo como base responder o problema de pesquisa e as hipóteses deste

trabalho, optou-se na primeira parte utilizar uma investigação teórica abordando

análise de acontecimentos históricos e dos principais documentos legais no contexto

da educação inclusiva, no qual foram descritos nos capítulos anteriores. Em seguida

foi realizada uma pesquisa empírica de procedimento qualitativo que pressupõe um

contato direto com a realidade pesquisada, o que torna a pesquisa mais rica.

De acordo com LIEBSCHER (1198):

Os métodos qualitativos são apropriados quando o fenômeno em estudo é

complexo, de natureza social... Normalmente, são usados quando o

entendimento do contexto social e cultural é um elemento importante para

a pesquisa. (p. 668)

Para tal, está pesquisa empírica foi realizada em duas escolas públicas da

cidade de São Paulo. Foi utilizado como critério de escolha sendo uma da rede

Municipal e a outra da rede Estadual de ensino regular, onde ambas tivessem

alunos com deficiência e fossem localizadas na região do Jardim Ângela, extremo

sul da periferia de São Paulo.

Para coletar as informações necessárias foram empregados como

instrumentos de pesquisa, visitas e entrevistas abertas com os professores e as

coordenadoras dos colégios. Assim, com os dados em mãos, serão comparadas as

informações relevantes entre as entrevistas e defrontado os resultados alcançados

com a teoria, com o objetivo de averiguar se as práticas pedagógicas executadas no

Ensino Público refletem as propostas de políticas inclusivas.

Neste trabalho os objetos de estudos são essas duas escolas públicas que

terão os nomes verdadeiros descritos, assim como a reprodução de imagens, pois

foram autorizadas pelos diretores. Também serão usadas imagens de um aluno

cadeirante autorizada pelos pais da mesma. Já os entrevistados optei por usar

letras para identificá-los, a fim de preservar suas identidades.

E finalmente, para a elaboração de uma assessoria educacional que será feita

nos próximos capítulos foi realizada uma visita a uma Assessoria de excelência.

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8.1. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

8.1.1. Caracterização da Escola Municipal de Ensino fundamental Profª Carolina

Rennó Ribeiro de Oliveira.

Figura 1

A Escola Municipal Profª Carolina Rennó Ribeiro de Oliveira foi fundada em

1971. É mantida pelo Poder Público e administrada pela Secretaria Municipal de

Educação. Atende alunos do ensino fundamental regular em dois turnos diurno e no

período noturno ministra aulas para o ensino fundamental de Jovens e Adultos

(EJA).

A infra-estrutura da escola é ampla e plana, possui somente uma escada na

entrada principal do colégio, porém, para melhorar o acesso dos alunos cadeirantes

foi construída na entrada próxima a secretaria do colégio uma pequena rampa. Em

cada banheiro feminino e masculino há um banheiro com barras adaptado para os

alunos que possui limitações em se deslocar.

Figura 2

Área interna Figura 3

Área externa

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Além disso, a escola possui 1 laboratório de informática com 21

computadores, Biblioteca, cozinha, refeitório, sala de direção, sala de coordenação

pedagógica, sala de professores, sala da auxiliar de direção, 2 banheiros para

funcionários e 1 quadra descoberta, 1 televisão, 1 DVD, 1 aparelho de som, 1 data-

show, impressoras, computadores e impressora para a administração, e materiais

pedagógicos básicos.

Figura 4

Entrada com rampa Figura 5

Banheiro adaptado

Figura 6

Área externa com quadra

Figura 7 Sala de informática

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As salas de aulas são arejadas, com cortinas nas janelas e armário em cada

uma delas. Em cada sala existem aproximadamente 38 alunos, essa quantidade não

se reduz quando há presença de alunos com deficiência.

Enquanto visitava a escola tive a oportunidade de assistir um dia de aula em

uma quarta série. Foi possível constatar que na sala de aula tinha um aluno que

possui deficiência física e levemente mental. Além desse aluno com deficiência

percebi a presença de outra aluna que possui alguma patologia, pois ela tem uma

fala mais lenta, dificuldade para se expressar, seu físico tem um desenvolvimento

diferente das crianças da sua idade, pois ela tem 14 anos está na quarta série junto

com alunos de 10 anos, porém não aparenta ser mais velha que os demais alunos,

tem uma postura corporal curva, dificuldade de acompanhar a aula e não é

alfabetizada.

Durante esse período que estive presente na sala de aula acompanhei dois

professores ministrando aula. Assim que entrou o primeiro professor me apresentei,

falei sobre a pesquisa que estava realizando na escola e perguntei quantos alunos

com algum tipo de deficiência tinha naquela sala, me respondeu dois, um cadeirante

e outra aluna no qual sua patologia ainda não foi detectada e não possui laudo, mas

olhando para a aluna é possível perceber que tem algo diferente nela. O professor

deu uma atividade impressa em uma folha de sulfite para todos os alunos, sem fazer

nenhuma distinção explicou coletivamente a atividade, sentou-se na sua cadeira, no

final da aula recolheu a atividade e foi para outra sala.

Em seguida entrou outro professor que direcionou uma atividade do livro para

os alunos, porém para o aluno com cadeira de rodas propôs outra atividade com um

material diferenciado com o objetivo de aprimorar a coordenação fina das mãos.

Esse professor foi um dos quais entrevistei, quando perguntei quantas crianças com

deficiência tinham nesta sala, ele me respondeu somente um, o aluno cadeirante.

Informalmente perguntei sobre a outra aluna que parece ter algum tipo de patologia,

ele disse que não poderia dizer muita coisa porque a mãe não trouxe laudo e por

isso não considerava ela uma aluna especial, pois estaria fazendo um diagnóstico

precipitado. Percebi que este professor tem cuidado para não rotular os alunos, no

entanto, o mesmo está sendo negligente ao perceber a dificuldade da aluna não

diagnosticada e mesmo assim não propõem atividades diferenciadas que coincida

com as necessidades individuais da aluna.

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Figura 8

Carteira adaptada

Figura 9

Atividade realizada pelo aluno com deficiência na primeira aula.

Figura 10

Materiais específicos para a inclusão.

Figura 11

Utilização de materiais específicos para a inclusão.

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8.1.2. RESPOSTAS DAS ENTREVISTAS COM OS PROFESSORES.

O professor A entrevistado leciona aula para as 4º séries e o professor B é

contrato pela prefeitura para realizar um projeto de Educação Ambiental com todos

os alunos da escola.

1 – Qual a sua formação? E em que ano se formou?

Professor A

Professor B

• Formou-se em Pedagogia

na década de 90 e

Psicopedagogia no ano

passado (2007).

• Formou-se em Ciências

Biológicas em 2007

• Leciona Educação Ambiental.

2 – Há quanto tempo trabalha com inclusão de alunos com deficiência?

Professor A

Professor B

• 3 anos. • Esse é o primeiro ano.

3 – Quantas crianças deficientes têm na sala? E quais são as deficiências?

Professor A

Professor B

• 1 aluno.

• Limitações físicas e

mentais.

• Leciona em todas as salas da

escola.

• 1º a 4º série – 2 alunos

cadeirantes.

• 4º a 8º série – 3 alunos

cadeirantes e 1 aluno com

atrofia muscular.

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4 – Você tem ou teve algum contato com profissionais da saúde que acompanha

esse aluno? Como foi? No que ele te orientou?

Professor A

Professor B

• Não • Não

5 - Qual a sua opinião sobre inclusão dos alunos deficientes nas escolas públicas de

São Paulo?

Professor A

Professor B

• No início era contra, pois

tinha medo, mas agora

considero um trabalho

importante.

• Não consigo fazer um

bom trabalho porque tem

muitos alunos na sala de

aula.

• Dentro da escola é uma

exclusão.

• O Sistema de educação não está

apropriado para receber os

alunos deficientes.

6 - Qual o total de alunos na sua sala? Você considera que essa quantidade de

alunos interfere na qualidade de suas aulas e no processo educacional de cada

aluno?

Professor A

Professor B

• 39 alunos.

• Sim, por que não é possível

ter um atendimento

individualizado.

• 35 alunos.

• Sim, por que não é possível ter

um atendimento individualizado.

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• O tempo de aula não é

suficiente para trabalhar com

todas as crianças.

7 – Você se sente preparada para trabalhar com alunos deficientes?

Professor A

Professor B

• Não.

• A formação acadêmica não

contemplou o trabalho com

esses alunos deficientes.

• Não.

• A formação acadêmica não

contemplou o trabalho com

esses alunos deficientes.

8 - Utiliza algum método ou procedimento diferenciado com os alunos deficientes?

Professor A

Professor B

• Sim.

• Materiais diferentes

(concretos)

Exemplo: caderno de madeira,

linhavo, letras em fichas (móveis)

• Trabalhar habilidades

diferentes. Exemplo:

Aprimorar a coordenação fina

das mãos.

• Não.

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9 – Como ocorre a interação dos alunos deficientes com os outros alunos?

Professor A

Professor B

• Os outros alunos gostam de

ajudar o aluno com deficiência.

• Tranqüilo.

• Os outros alunos gostam de

ajudar os deficientes.

10 – Os pais dos alunos deficientes têm interesse em acompanhar o

desenvolvimento escolar do aluno? De que maneira eles fazem isso?

Professor A

Professor B

• Sim, mas acompanham

pouco.

• Estão mais preocupados com

em acomodar a criança

dentro da escola do que com

o aprendizado dela.

• A princípio os pais matriculam

as crianças por conta da

obrigatoriedade, mas depois

percebem o desenvolvimento

de seus filhos dentro da

escola.

• Alguns sim.

• Existe uma avó e uma mãe que

acompanham.

11 - Que apoio você encontra da direção escolar?

Professor A

Professor B

• Mobiliário adequado.

• Atende as solicitações dos

• Mobiliário adequado.

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professores dentro de sua

realidade para materiais

didáticos.

12 - Tem apoio de outros órgãos para trabalhar com a inclusão?

Professor A

Professora B

• Tem conhecimento do

CEFAI, mas não teve

contatos com eles.

• Não.

13 – Participa de alguma formação continuada para professores? Quem oferece?

Professor A

Professor B

• Não. • Não.

14 – Você como professor de aluno com deficiência da prefeitura de São Paulo

conhece e/ou teve acesso aos programas CEFAI - Centro de Formação e

Acompanhamento à Inclusão, PAAI - Atuação do Professor de Apoio e

Acompanhamento à Inclusão e SAAI - Salas de Apoio e Acompanhamento à

Inclusão.

Professor A

Professor B

• Já ouviu falar, mas não teve

contatos com eles.

• Diretamente nunca teve apoio.

• Já ouviu falar.

• No 1° semestre de 2008 existia

uma estagiária do CEFAI que

acompanhava dois cadeirantes,

agora não tem mais.

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15 – O que poderia ser feito para melhorar o processo de inclusão nas escolas?

Professor A

Professor B

• Diminuir a quantidade de

alunos na sala de aula.

• Educação direcionada

• Formação do professor

16 – Existe algo a mais que julga importante registrar nessa entrevista.

Professor A

Professor B

• É importante a inclusão

visando o desenvolvimento

cognitivo e social.

• Todos os alunos e

professores sem deficiência

aprendem a lidar com essa

criança com deficiência.

• O profº poderia ter mais tempo

para dar atenção ao aluno, mas

infelizmente o sistema não

permite, são muitos alunos em

sala e pouco tempo de aula.

8.1.3. RESPOSTAS DA ENTREVISTA COM O COORDENADOR DA ESCOLA

CAROLINA RENNÓ RIBEIRO DE OLIVEIRA.

1 – Qual a sua formação? E em que ano se formou?

• Formou-se em pedagogia com administração escolar e supervisão em 1997

2 – Há quanto tempo trabalha nessa escola como coordenadora?

• 4 anos.

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3 – Qual a sua opinião sobre inclusão dos alunos deficientes nas escolas públicas

de São Paulo?

• Foi um avanço a convivência das crianças deficientes com as que não

possuem deficiência, a questão social ampliou muito.

• Falta um acompanhamento de outra instituição que faça um trabalho mais

individualizado

4 – Quando a escola começou a receber alunos com deficiência?

• Data exata não tem, mas começamos a receber um nº maior de alunos com

deficiência há oito anos.

5 - Atualmente quantas crianças deficientes existem de 1º a 4º série? E quais suas

deficiências?

• 2 alunos cadeirantes com laudos.

6 – Quais os procedimentos que a escola tem com a entrada de alunos deficientes?

Quem acompanha esses alunos junto à classe regular?

• Entrevista com a Família a respeito das dificuldades do aluno.

• Solicitação do Laudo Médico.

7 - Existe na escola algum professor especialista? Tem sala de recurso ou de apoio?

• Na sala de apoio tem uma professora psicopedagogaga.

• Disponível uma sala de apoio pedagógico que trata da questão da

aprendizagem para todos os alunos da escola, mas a maioria não vem por que

é fora do horário de aula e o transporte escolar só traz para o horário de aula

comum.

• Sala de recurso não tem.

8 – Qual é a assistência que o professor com aluno deficiente possui?

• Nesse momento não tem.

• No início do ano teve uma reunião bem rápida para falar um pouco de cada

necessidade especial.

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• Foi disponibilizado um acompanhamento com APAE, mas só para os

professores de 1ª a 4ª séries. Porém os horários eram inviáveis para os professores.

Tentamos fazer um acordo, mas eles não deram resposta.

• Existem alguns cursos que a Secretaria disponibiliza para os professores

fora do horário de trabalho deles, mas eles acabam não participando por que a

maioria tem acúmulos de cargos e não são dispensados do serviço, dentro do

horário não tem mais nenhum curso.

• Existe um aluno pesquisador do CEFAI que acompanha um aluno com

Síndrome de Down.

9 - Como vocês pensam e organizam as questões curriculares / avaliação /

terminalidade para os alunos no processo de inclusão?

• Nunca fizeram nenhum processo de terminalidade.

• O currículo e o mesmo para todas as crianças, mas é adaptado para o

aluno com necessidades especiais.

10 – Vocês têm apoio de algum órgão público para trabalhar com a inclusão?

(secretaria Educacional).

• Tem o CEFAI, mas eles vem uma vez a cada ano para ver as crianças com

necessidade especial, mas não fazem acompanhamento.

11 – Quais as dificuldades que vocês encontram para trabalhar com a inclusão?

• No início os professores se assustavam, tinham medo de lhe dar com algo

que desconhecia, das cobranças das famílias, mas agora isto está mais tranqüilo.

12 – Para a inclusão, quais são as necessidades em relação a: materiais /

equipamentos / formação de professores / adaptações / acessibilidade?

• Material com letras móveis.

• Estamos tentando disponibilizar um computador e uma colméia para um

aluno com paralisia cerebral.

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56

13 – O que poderia ser feito para melhorar o processo de inclusão nas escolas?

• A presença do Poder Público em toda amplitude da vida do aluno com

deficiência, não só na escola.

• Investir na Formação específica dos professores.

14 – Existe algo a mais que julga importante registrar nessa entrevista.

• É interessante perceber que a sociedade está pensando mais na inclusão

escolar e contribuindo para isso.

8.2.1. CARACTERIZAÇÃO DA ESCOLA ESTADUAL PROFº NORBERTO ALVES

RODRIGUES

A Escola Estadual Profº Norberto Alves Rodrigues é mantida pelo Poder

Público e administrada pela Secretaria Estadual da Educação. Atende a alunos do

ensino fundamental regular em dois turnos diurnos e no período noturno ministram

aulas para o ensino médio de Jovens e Adultos (EJA). Além dessas salas regulares

de ensino fundamental que possui alunos com necessidades especiais, na maioria

das vezes mentais, me surpreendi com a existência de uma sala especial de alunos

Auditivos no período da manhã, no qual pensei que não existisse mais esse serviço

oferecido dentro das escolas regulares, por conta da legislação, no qual recomenda

Figura 12

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57

o atendimento ao aluno com deficiência preferencialmente na rede regular de

ensino. (Constituição, 1988, art. 208).

A escola está situada em dois prédios interligados, de dois andares,

possuindo diversas escadas, tanto na parte interna como externa, onde impossibilita

a locomoção de pessoas com cadeiras de rodas, o que justifica a ausência de

alunos cadeirantes.

A escola possui uma quadra externa, banheiro para funcionários, sala da

direção, secretaria escolar, 1 sala para as coordenadoras, onde também fica os

livros que são emprestados para as crianças, pois a escola não possui biblioteca, 1

pátio pequeno e fechado, onde as crianças utilizam como refeitório e espaço para

brincar no horário do intervalo, 1 cantina, 1 cozinha, 2 banheiros para alunos,

sendo um feminino e outro masculino. De acordo com a coordenadora a escola

Figura 13

Estrada do colégio Figura 14

Acesso as salas de aula.

Figura 15

Quadra esportiva Figura 16

Pátio

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58

possui um banheiro adaptado, mas como não tem demanda de alunos com

deficiência física esse banheiro é utilizado para guardar materiais de educação física

e está sempre trancado, sendo o professor de educação física responsável pela

chave.

As salas de aulas regulares são simples, com janelas e um armário em cada

uma delas. Em cada sala existem aproximadamente 38 alunos, essa quantidade

não se reduz quando há presença de alunos com deficiência. Para o atendimento

especial para os alunos com deficiência auditiva, existem duas salas. Entretanto,

nesse momento só está sendo utilizada uma sala, a outra se faz uso quando tem

uma atividade que requer mais espaço. Nesta sala estão matriculadas 10 crianças

de diferentes níveis de deficiência auditiva, sendo uma classe multiseriada. Na sala

onde são lecionadas as aulas especiais há 1 computador com 1 impressora, 2

armários, nas paredes diversos cartazes com a língua de sinais e alguns materiais

didáticos especializados que foram trazidos pela professora e outros foram enviados

pela secretaria educacional. Na outra sala encontra-se 1 televisão com DVD, 1

aparelho de som, 2 armários e 1 espelho do tamanho de uma das paredes. Na

entrada das salas existe um telefone público para surdos.

Considero relevante destacar a diferença de estrutura entre as salas

regulares para a sala especial dentro da mesma escola. Enquanto a primeira tem

uma sala lotada de alunos e o professor tem poucos recursos, basicamente a voz,

lousa e giz. A outra sala especial tem uma realidade totalmente contrária, com uma

quantidade razoável de alunos de acordo com a necessidade da clientela e a

professora possuiu em sua sala de aula equipamentos tecnológicos para lhe

auxiliar.

Se a escola tem a função de desenvolver a todos os alunos sem nenhuma

distinção a capacidade bio-psico-social e cultural, respeitando e considerando as

diferenças e as identidades pessoais e coletivas, buscando o exercício da cidadania

na construção de uma sociedade democrática e não excludente. Como pode dentro

do mesmo sistema educacional, excluir um grupo de alunos em ter acesso a

recursos no qual pode ajudar na qualidade do ensino.

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.

Figura 17

Sala da classe especial

Figura 18

Sala da classe especial não utilizada.

Figura 19

Equipamentos da sala especial.

Figura 20

Telefone para pessoas com deficiência auditiva.

Figura 21

Livros específicos para alunos com deficiência auditiva.

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60

8.2.2. RESPOSTAS DAS ENTREVISTAS COM OS PROFESSORES.

O professor C entrevistada leciona aula para uma 2º série do ensino

fundamental e o professor D é responsável pela sala especial de deficiência

Auditiva, onde são multiseriadas, com alunos Deficientes Auditivos de 1ª a 4ª série

do ensino fundamental estudando juntos na mesma sala e horário.

1 – Qual a sua formação? E em que ano se formou?

Professor C

Professor D

• Formou-se em Pedagogia em

1992.

• Formou-se em Pedagogia com

habilitação em EDAC em 1989.

2 – Há quanto tempo trabalha com inclusão de alunos com deficiência?

Professor C

Professor D

• Mais de 10 anos. • 20 anos em classes especiais.

3 – Quantas crianças deficientes você tem na sala? E quais são as deficiências?

Professor C

Professor D

• 1 aluno com microcefalia.

• 3 não diagnosticados (sem

laudo).

• São 10 alunos.

• Todos eles têm deficiência

auditiva, com graus variados.

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4 – Você tem ou teve algum contato com profissionais da saúde que acompanha

esse aluno? Como foi? No que ele te orientou?

Professor C

Professor D

• Não.

• Nunca teve o interesse em

conversar com os médicos.

• Sim, quando os alunos estão

com acompanhamento de

fonoaudiólogo, por meio do

telefone o professor acompanha

o seu tratamento e passa

informações da situação do

aluno no colégio, trocam

relatórios a respeito do aluno.

• Mas no momento, nenhum está

com acompanhamento de

fonoaudiólogo, pois eles não têm

convênio e no posto não há

vagas ou os pais não têm

interesse em correr atrás da

vaga.

5 - Qual a sua opinião sobre inclusão dos alunos deficientes nas escolas públicas de

São Paulo?

Professor C

Professor D

• A criança com deficiência

será prejudicada, pois a

escola não está preparada

para receber esses alunos.

• Complicada, pois quem faz a lei

não tem noção da realidade, das

necessidades específicas do

aluno D. A.

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• Os professores não têm

formação.

• Não existem matérias para se

trabalhar com essas crianças.

• O aluno D. A tem que ser

integrado a sala comum de

qualquer jeito sem nenhum

preparo para eles e sem eles

estarem preparados.

6 - Qual o total de alunos na sua sala? Você considera que essa quantidade de

alunos interfere na qualidade de suas aulas e no processo educacional de cada

aluno?

Professor C

Professor D

• 38 alunos.

• Sim, por que não é possível

ter um atendimento

individualizado.

• O tempo de aula não é

suficiente para trabalhar com

todas as crianças.

• 10 alunos.

• Considera a classe comum muito

cheia

7 – Você se sente preparada para trabalhar com alunos deficientes?

Professor C

Professor D

• Não.

• A formação acadêmica não

contemplou o trabalho com

esse alunos deficientes.

• Tem dificuldade com o

relacionamento interpessoal e

em se relacionar com eles.

• Sim, pois sua formação e voltada

para esse tipo de atendimento e

tem 20 anos de experiência.

• Mas considera que na sala

comum os professores não tem

formação para trabalhar com a

inclusão.

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8 - Utiliza algum método ou procedimento diferenciado com os alunos deficientes?

Professor C

Professor D

• Sim.

• O material a ser utilizado e o

mesmo para todos os alunos,

mas a exigência dos objetivos

varia de acordo com os

limites de cada criança com

deficiência.

• A professora avalia mais o

aluno com deficiência na

parte social do que na

cognitiva.

• Segue o currículo da escola

comum adaptando com materiais

mais apropriado como livros em

libras.

9 – Como ocorre a interação dos alunos deficientes com os outros alunos?

Professor C

Professor D

• As crianças de prontidão não

aceita o aluno com

deficiência e suas

brincadeiras, mas com a

intervenção do professor eles

acabam aceitando.

• Quando o aluno com

deficiência está agitado a

professora o retira do

convívio com os demais.

• As aulas de artes e educação

física são realizadas juntos com

uma sala de 4º série do PIC

(Projeto Intensivo no Ciclo I).

• A professora especialista sempre

está junto com os alunos nessas

aulas.

• Antes quem lecionava as aulas

de educação física era a própria

professora especialista. Há

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integração positiva, os alunos

conseguem se interagir.

10 – Os pais dos alunos deficientes têm interesse em acompanhar o

desenvolvimento escolar do aluno? De que maneira eles fazem isso?

Professor C

Professor D

• Os pais não. Mas o aluno tem

uma tia que o acompanha na

escola e na APAE.

Diariamente ela faz perguntas

sobre o aluno para a

professora.

• A maioria dos pais trabalham

direto e não tem tempo para

acompanhar o processo de

aprendizagem.

11 - Que apoio você encontra da direção escolar?

Professor C

Professor D

• Nenhum.

• Se sente abandonada pela

escola, tanto na parte

administrativa como

pedagógica.

• Quando solicito algum

material a escola, dentro de

sua realidade providenciam e

solicitam a Secretaria

Educacional.

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12 - Tem apoio de outros órgãos para trabalhar com a inclusão?

Professor C

Professor D

• Nenhum.

• Duas vezes nesse ano foi em

palestras da APAE, por conta

própria.

• Não

13 – Participa de alguma formação continuada para professores? Quem oferece?

Professor C

Professor D

• Não.

• A escola tem uma professora

especialista na sala de alunos

deficientes auditivos, mas

nunca foi oferecido um

espaço para que ela

converse com os professores,

nem na AHPP.

• Pela rede não.

• Por conta própria cursos de

atualização em libras.

14 – O que poderia ser feito para melhorar o processo de inclusão nas escolas?

Professor C

Professor D

• Rever o plano PPP da escola,

pois não contemplam o

atendimento as crianças com

deficiência.

• Formação do professor.

• Melhorar a preparação para o

professor.

• Continuar com as classes

especiais com o objetivo de

preparar a criança para a sala

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comum.

• Apoio de encaminhamento

como fonoaudiólogo e

aparelhos.

15 – Existe algo a mais que julga importante registrar nessa entrevista.

Professor C

Professor D

• Mais apoio na formação do

professor.

• Material específico.

• Considera uma perda o

fechamento das instituições

especializadas, pois

considera que a criança com

deficiência tem que ter um

lugar adequado para elas.

• Não.

8.2.3. ENTREVISTA COM COORDENADOR DA ESCOLA ESTADUAL PROFº

NORBERTO ALVES RODRIGUES.

1 – Qual a sua formação? E em que ano você se formou?

• Formou-se em Comunicação Social, e depois em 1998 em Letras.

2 – Quanto tempo tem que você trabalha nessa escola como coordenadora?

Deste 2001.

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3 - Qual a sua opinião sobre inclusão dos alunos deficientes nas escolas públicas de

São Paulo?

• Necessária, conforme a legislação, a educação é para todos.

• As escolas ainda não têm condições de receber os alunos deficientes,

mas de uns 2 ou 3 anos para cá já melhorou muito a adaptação curricular

4 – Quando a escola começou a receber alunos com deficiência?

• Quando a coordenadora começou a trabalhar na escola já tinha alguns

alunos com deficiência, mas eles não conseguiam permanecer na escola pela falta

de estrutura e professores que não estava preparados em recebê-los.

• Ocorreu uma evolução em receber esses alunos a partir de uns quatro

anos atrás.

5 - Atualmente quantas crianças deficientes existem de 1º a 4º série? E quais suas

deficiências?

• Com laudo mais ou menos de 15 a 20 alunos.

• Existem crianças sem laudo que a escola encaminha para um

especialista, mas a família não leva.

• Déficit cognitivo, dislexia, deficiente mental, auditivo.

• Existe uma aluna que a pouco tempo apareceu com problemas nos ossos

e a mãe tem que levar a filha para a sala de aula nos braços porque há muitas

escadas no colégio.

6 – Quais os procedimentos que a escola tem com a entrada de alunos deficientes?

Quem acompanha esses alunos junto à classe regular?

• Conversa com a família.

• Solicitação do laudo.

• Entrevista a criança.

• Acompanha a criança com um relatório descritivo e individual quanto a

aprendizagem.

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7 - Existe na escola algum professor especialista? Tem sala de recurso ou de apoio?

• Somente a professora da classe especial.

8 – Qual é a assistência que o professor com aluno deficiente possui?

• Diretamente não tem assistência nenhuma.

9 - Como vocês pensam e organizam as questões curriculares / avaliação /

terminalidade para os alunos no processo de inclusão?

• Os professores ainda não estão conseguindo fazer adaptação curricular,

só consideram a socialização do aluno.

• O aluno com deficiência fica a critério do professor se será retido ou

não, porém segue de acordo com a legislação de ciclos, não podendo ser retido

duas vezes na mesma série ou quando o médico recomenda que o aluno fique

mais um ano na mesma série.

• A reprovação é vista como positiva, pois a escola tem mais um ano para

trabalhar com o aluno com deficiência.

10 – Vocês têm apoio de algum órgão público para trabalhar com a inclusão?

(secretaria Educacional).

• CAP (Centro de Apoio Pedagógico para Atendimento às Pessoas com

Deficiência Visual) oferecem cursos para os especialistas e coordenadores, além de

materiais didáticos especiais.

• Existem outros cursos oferecidos, mas são todos cursos dentro do horário

de trabalho dificultando a presença do professor.

11 – Quais as dificuldades que vocês encontram para trabalhar com a inclusão?

• Os postos de saúde próximo da casa, não tem profissionais específicos

para o tratamento.

• Dificuldade de encaminhamento.

• As famílias alegam que o tratamento é muito longe.

• A família não aceita que o aluno seja deficiente.

• Falta de recursos de materiais.

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• Excessivo número de alunos.

• Oferece cursos de capacitação em diversos horários facilitando a

presença do professor.

12 – O que poderia ser feito para melhorar o processo de inclusão nas escolas?

• Dar mais recursos.

13 – Existe algo a mais que julga importante registrar nessa entrevista.

• Divulgar na mídia e nos jornais a inclusão, ir além dos muros da escola.

Conscientizar a sociedade da importância da inclusão.

• E começar na escola esse processo de inclusão.

• Diminuir o número de alunos em sala de aula.

• A formação para professor.

• Grupos que orientem os professores dentro da escola.

• Participação das famílias de todos os alunos.

• Diagnóstico das dificuldades dos professores.

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9. ANÁLISE COMPREENSIVA – INTERPRETATIVA DAS ENTREVISTAS

Durante a pesquisa de campo um dos pontos que me chamou atenção foi a

parte arquitetônica dos colégios. Ao visitar a escola Municipal Profª Carolina Rennó

Ribeiro de Oliveira, constatei uma estrutura plana que favorece o acesso dos alunos

a todos os ambientes, além de transparecer uma preocupação da direção com a

adaptação do espaço físico, ao oferecer banheiros com barras e recentemente ter

construído uma rampa na entrada do colégio.

Já na visita a escola Estadual Profº Norberto Alves Rodrigues foi possível

verificar muitas escadas, deste a entrada do colégio até as salas de aula, tornando

restrita a presença de alunos cadeirantes e assim prejudica a trajetória de alunos

com dificuldade em se locomover, tanto permanente como transitória. É o caso de

uma aluna que está com problema nos ossos, sendo preciso a mãe carregá-la nos

braços até a sala de aula, conforme relato do coordenador desta escola.

A inadequação da estrutura dos prédios escolares fere a Constituição de 1988,

pois consta a obrigatoriedade em adaptar os edifícios públicos a pessoas com

deficiência, e reafirmado no Decreto Federal 5.296/04 que todo estabelecimento de

ensino proporcione condições de acesso e utilização de todos os ambientes

escolares, para as pessoas com deficiência.

Em relação à inclusão, todos os coordenadores e a maioria dos professores

entrevistados reconhecem a necessidade da inclusão na educação regular,

considerando relevante a socialização das crianças com deficiência entre as demais

crianças. Os alunos que não tem deficiência no começo pode até estranhar por não

estarem habituados a se relacionar com crianças especiais, mas com o tempo se

interagem, passam a ajudar e até disputam a atenção dos alunos especiais. Com

essa experiência as crianças trocam saberes e valores, conhecem e confrontam as

diferenças existentes e aprendem a não ter preconceitos.

Os coordenadores mencionaram que nos últimos anos houve uma melhora no

processo de inclusão, aumentou o número de matrículas de alunos com deficiência

nas escolas. Um dos fatores engajadores neste crescimento inclusivo, foram os

movimentos de Conferências Internacionais e a implantação da LDB em 1996,

ambos atentos em priorizar o atendimento educacional especial, preferencialmente

na rede educacional de ensino.

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Apesar deste avanço, todos os coordenadores, professores da sala comum e

professor da classe especial, concordam que a escola não está apropriada em

receber estes alunos. Segundo os professores B e C a estrutura do sistema escolar

hoje, ao invés de incluir, ela exclui estes alunos e prejudica seu desenvolvimento,

pois os docentes não se consideram capacitados, existe um número excessivo de

alunos na classe, no qual afetada a qualidade de ensino impossibilitando um

atendimento direcionado e individualizado e existe também a ausência de materiais

específicos para trabalhar com a inclusão.

De acordo com as entrevistas, constatei que as propostas do Ministério da

Educação e da Secretarias Educacionais de São Paulo não atende as reais

necessidades da escola neste processo de inclusão.

No colégio Municipal os professores têm o conhecimento da existência do

CEFAI, mas não tiveram nenhum apoio e nem contato com a equipe do projeto,

segundo relatos da coordenadora, a escola recebeu um aluno pesquisador enviado

pelo CEFAI para auxiliar unicamente um aluno com Síndrome de Down, no entanto

a escola tem no total seis alunos com deficiência, mas só um tem acompanhamento

do aluno pesquisador.

Outro item importante mencionado pelo coordenador é a burocracia e a demora

das entregas de cadeiras adaptadas aos alunos cadeirantes, que só chegaram no

mês de outubro, próximo ao fim do ano letivo.

No colégio Estadual, a realidade não é muito diferente, os professores

reclamam da falta de apoio, além de se sentirem abandonados. O profº D da sala

especial relatou a ausência de envios de materiais pela Secretaria, pois os que já

possuem estão obsoletos.

Os cursos oferecidos pelas Secretarias são inviáveis para os professores. O

sistema não favorece a participação destes docentes, pois a grande maioria trabalha

em dois turnos ou em duas escolas e não recebem dispensa para realização de tais

cursos por não ter outro docente para substituição.

Um dos problemas evidenciados na sala de aula, foi a quantidade de alunos

que demonstram ter alguma patologia, porém não possuem laudos. As escolas

reclamam por não ter um lugar onde possam encaminhar essas crianças para serem

diagnosticadas e terem um acompanhamento médico. Os postos de saúde próximos

das casas não têm profissionais aptos para esse serviço, muito menos especialistas

para realizar os tratamentos adequados.

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Quando raramente se consegue um tratamento, algumas famílias alegam ser muito

longe e não tem quem leve a criança, pois todos adultos trabalham.

Cinqüenta por cento dos entrevistados concordam com a necessidade dos

alunos especiais terem um acompanhamento em instituições especializadas, onde

acreditam ser possível realizar um trabalho mais individualizado e adequado a esses

alunos. O profº D defende a existência da classe especial com o objetivo de preparar

o aluno para a sala regular, especialmente nos casos de alunos com deficiência

mais graves.

A participação dos pais e responsáveis no desenvolvimento escolar dos alunos,

revelou ser baixa, só ocorre por parte de alguns e a grande maioria apenas se

preocupa em acomodar os filhos no ambiente escolar, deixando de lado a

aprendizagem. O profº A disse que os pais matriculam seus filhos por conta da

obrigatoriedade imposta pela lei, mas com o tempo passam a reconhecer o

desenvolvimento que a criança obtém na escola.

Existem famílias com dificuldades em aceitar o filho com deficiência e suas

limitações, solicitam ao professor que cobre desta criança o mesmo nível de

aprendizagem das demais ou o contrário, que o professor faça tudo pela criança,

não solicite nenhuma atividade e nunca chame a atenção dela, que seja sempre

considerada incapaz de realizar qualquer atividade sozinha.

Essa negação ou super proteção dos pais vem deste o processo da descoberta

de que o filho é deficiente. Sendo esse um momento de luto, da perda do filho

“perfeito”, no qual deixa de existir e no lugar dele há uma criança desconhecida, que

precisa ser “descoberta”. È a hora de despedir-se do filho idealizado e adotar o filho

real. Este período não é nada simples, pois estão envolvidos muitas fantasias de

todos familiares. Se a família não consegue vivenciar esse processo, ela irá sempre

negar ou passar a viver em função da deficiência, deixando de ver a criança que

está ali.

Nessa situação o professor pode ajudar a família sempre que for possível ao

demonstrar o que a criança pode ou não fazer por meio das atividades e

comportamentos na sala de aula, desvendando aos poucos a criança para os pais.

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais para promoção da

inclusão, as práticas pedagógicas deverão ser baseadas no currículo comum, porém

adaptado as limitações dos alunos, promovendo adaptações nos objetivos,

avaliações e materiais de recursos, de forma que os alunos com necessidades

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especiais tenham a oportunidade de participar, envolver, aprender e trabalhar juntos

com seus colegas da sala regular.

Nas escolas visitadas os coordenadores tentam empregar o conceito da

adaptação curricular, mas somente o Profº D tem a facilidade fazê-lo. O Profº A usa

materiais diferenciados como letras móveis e caderno de madeira. Os demais

professores não utilizam nenhum método ou materiais diferentes, as exigências são

de acordo com que eles consideram ser os limites da criança especial. Um dos

comentários do coordenador do colégio Norberto foi que os professores não estão

conseguindo fazer adaptações curriculares, só consideram na avaliação a

socialização do aluno. Essa afirmação foi reafirmada na fala do profº C, ao dizer que

o aluno especial é mais avaliado na parte social do que cognitiva.

As dificuldades encontradas pelos educadores de realizarem a adaptação

curricular, avaliar e outras dificuldades no processo de inclusão é um reflexo da falta

de qualificação dos educadores para essa nova proposta. Todos os professores,

com exceção do Profº formado na habilitação de EDAC, se consideram

despreparados.

O professor tem um papel fundamental na educação inclusiva, pois é ele o

mediador e organizador do processo de ensino aprendizagem, deve identificar as

necessidades de seus alunos e precisa ter domínio de um amplo conhecimento

teórico para utilizar na prática, por isso a formação do educador é essencial.

Esta entrevista permitiu conferir se as propostas educacionais inclusivas estão

sendo implantadas e eficientes nas escolas pesquisadas, possibilitou escutar as

vantagens e dificuldades que os coordenadores e professores encontram no

processo de inclusão e analisar suas práticas pedagógicas.

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10. ASSESSORIA EDUCACIONAL

Justificativa

Perante aos desafios encontrados para promover a inclusão social dos alunos

com deficiência, destaca-se a falta de qualificação dos professores para essa nova

concepção escolar. Pensando nesse cenário surgiu a Assessoria Ciranda do Saber

com o intuído de promover cursos básicos e palestras para orientar, refletir e

aprimora a prática do docente.

Objetivo da Assessoria

A Assessoria Ciranda do Saber tem o objetivo de contribuir para a formação

continuada de educadores e estudantes de licenciatura, voltados para a inclusão

escolar de alunos com deficiência no ensino fundamental.

Serviços oferecidos

• Palestras nas escolas;

• Cursos.

Palestra:

Objetivo

Proporcionar a comunidade escolar um momento de reflexão sobre a inclusão

de deficientes nas escolas regulares e discutir os desafios para a promoção da

proposta inclusiva.

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Metodologia

• Palestra expositiva com abertura de diálogo;

• Apresentação de imagens de vídeos curtos;

• Dinâmica de grupo.

Cursos

Considerando a diversidade existente entre vários tipos de deficiência, no

qual cada uma tem sua particularidade, a Assessoria Ciranda do Saber irá agrupá-

las em três classificações: restrições físicas, mentais e sensoriais. Destina para cada

classificação um curso apropriado.

• Curso: “ Inclusão de Crianças com Deficiência Física”.

• Curso: “ Inclusão de Crianças com Deficiência Mental”.

• Curso: “Inclusão de Crianças com Deficiência Sensorial”.

Objetivo:

Os cursos têm por objetivo contextualizar a realidade de cada deficiência para

que os educadores possam entender as necessidades de cada aluno e assim

poderem ajudá-los a se desenvolverem no âmbito social e cognitivo.

Conteúdo programático:

Os cursos serão em módulos e cada um divide-se em três partes. Para todos

os cursos o 1º módulo será igual, tanto no tema como no conteúdo, em que será

analisado o contexto histórico da educação especial. Os demais módulos terão o

mesmo tema, porém o conteúdo será específico de acordo com cada curso. Por

exemplo, no Curso “A Inclusão de Crianças com Deficiência Sensorial” o tema “as

causas e conseqüências da deficiência” será estudado o que pode provocar as

deficiências sensoriais.

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I – Módulo

� O conceito das pessoas com deficiência ao longo da história;

� História da educação especial no Brasil;

� Iniciativas oficiais e particulares isoladas;

� Iniciativas oficiais de âmbito nacional;

� Política nacional de educação inclusiva;

� Legislação e normas.

II – Módulo

� Causas e conseqüências da deficiência (mental, física ou sensorial);

� A família, a perda e o luto: filho real X filho idealizado;

� Processos de ensino-aprendizagem das crianças com deficiência (mental,

física ou sensorial);

� A escola X A família: a resistência, o medo e a insegurança;

� O ambiente escolar: reação da comunidade escolar, os sentimentos do

educador e o acolhimento da criança.

III- Módulo

� O desenvolvimento da competência comunicativa - comunicação suplementar

e alternativa;

� Adaptações curriculares e recursos e planejamento;

� A função da avaliação pedagógica permanente;

� A organização do tempo didático através de atividades permanentes,

seqüenciais e projetos;

� Jogos e atividades lúdicas;

� Socialização de experiências e estudo de casos.

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Metodologia

• Aulas expositivas;

• Discussões a partir de textos;

• Utilização de recurso como vídeos e pesquisa na internet;

• Dinâmica de grupo;

• Estudo de casos.

Avaliação

Avaliação será continua durante o curso, considerando a participação dos

alunos nas discussões, trabalhos em grupo, individuais e auto-avaliação.

Carga horária dos cursos

Os cursos serão realizados aos sábados, no período da manhã, das 8h às

14h ou no período da tarde das 12h às 18h.

Ao todo serão seis encontros presenciais, totalizando uma carga horária de

36 horas.

Quantidade de matrículas para cada curso:

No máximo 30 alunos.

Corpo docente

1 Pedagoga

1 Psicóloga

1 Terapeuta ocupacional

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Certificado

O certificado será entregue ao aluno que obtiver freqüência de 75% das aulas

e nota mínima de 5.00.

Forma de Pagamento:

Valor do curso:

Avista: 200,00

Parcelado: 1 + 2 de 80,00. Valor total R$: 240,00.

Estrutura da Assessoria

Valores dos Serviços:

A cada 1h 30 de Palestra na escola R$ 300,00

Valor total dos Cursos na Assessoria :

• Inclusão de Crianças com

Deficiência Física. R$ 200,00

• Inclusão de Crianças com

Deficiência Mental. R$ 200,00

• Inclusão de Crianças com

Deficiência Sensorial. R$ 200,00

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Localização

A Assessoria Ciranda do Saber está localizada na Rua Antônio de Macedo

Soares, 1683, Campo Belo - Zona Sul. Segue o mapa:

Este local foi escolhido por estratégia de marketing em relação à concorrência

que não existe próximo e devido a região abrigar um grande número de escolas

públicas e privadas.

A Casa onde está acomodada a assessoria é alugada e possui os seguintes

cômodos: 1 recepção, 2 banheiros simples, 1 cozinha, 1 banheiro adaptado para

pessoas com deficiência, 1 sala para coordenação, 1 sala para direção, 1 biblioteca,

1 sala de estudo, 1 corredor e 1 garagem para 3 carros.

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PLANTA BAIXA

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LAYOUT DA PLANTA

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Custo de Patrimônio

Objeto Quantidade Valor unid. Valor total

Sofá c/ 3 lugares 2 600,00 1.200,00

Cadeira giratória 3 80,00 240,00

Cadeira simples 11 70,00 770,00

Mesa simples 2 160,00 320,00

Suporte de água 3 35,00 105,00

Lixeira 12 10 120,00

Computador 3 1.200,00 3.600,00

Notbook 1 2.500,00 2.500,00

Fixeiro 1 75,00 75,00

Telefone 3 35,00 105,00

Mela em L 2 200,00 400,00

Mesa redonda 3 150,00 450,00

Armário 3 120,00 360,00

Prateleira 2 80,00 160,00

Televisão 29’ 1 649,00 649,00

DVD 1 219,00

Lousa de canetão 60,00 60,00 60,00

Mesa para profº 1 160,00 160,00

Cadeiras p/ alunos 30 40,00 1200,00

Extintores 3 80,00 240,00

Mesa para cozinha 1 320,00 320,00

Fogão de 4 bocas 1 280,00 280,00

Armário 1 350,00 350,00

Frigobar 1 699,00 699,00

Impressora

multifuncional

1 300,00 300,00

Software 1 1.500,00 1.500,00

Copiadora de Xerox 1 600,00 600,00

Cafeteira 1 50,00 50,00

Data show (Projetor 1 1.500,00 1.500,00

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multimídia)

Telão 1 300,00 300,00

Total 18.832,00

Custos Fixos

Custos Fixos Valor

Aluguel 1.800,00

Material de limpeza 40,00

Material de papelaria 120,00

Água 32,00

Luz 90,00

Telefone 100,00

Informática 200,00

Total 2.382,00

Recursos Humanos

Recolhimentos:

• Recolhimento de FGTS: 8,5 % para os funcionários com Carteira assinada.

• Recolhimento da contratação de Autônomos e o valor correspondente a 11%,

a ser aplicado sobre o valor da Nota Fiscal ou recibo emitido pelo autônomo.

Cargo Especialidade Contratação Valor do pagt. do

serviço.

Recolhimento

previdenciário

Diretora Pedagoga Pró-labore 2.500,00 270,00

Coordenação Psicóloga CLT 2.000,00 170,00

Profº Terapia

Ocupacional

Autônoma 1.200,00 132,00

Recepcionista Ensino médio CLT 600,00 51,00

Faxineira Não necessita CLT 480,00 40,80

6.780,00 933,80

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A empresa terá um gasto mensal com os pagamentos de serviços no valor de

R$ 6.780,00 e destinará para pagamento da previdência R$ 933,80, tendo no total

um gasto com a área de recursos humanos de R$ 7713,80.

Projeção

Projeção de Serviços prestados durante o mês.

Serviços Quantidade Total

A cada mês terá dois

cursos.

Serão 60 alunos 12.000,00

8 palestra de 1 h 30 por

mês

8 escolas 2.400,00

Total 14.400,00

Recolhimento de imposto

O Imposto Sobre Serviços (ISS) é recolhido no valor de 5% sobre o valor

total de prestação de serviço que a empresa efetua durante o mês, sendo uma regra

geral no Município de São Paulo.

A nossa assessoria irá pagar R$ 720,00 de ISS por Mês.

Balancente

Capital inicial R$ 30.000,00

Patrimônio R$ 18.832,00

Despesa Receita

• Custo Fixos 2.382,00

• Recursos Humanos 7713,80

• Recolhimento de imposto 720,00

• Serviços prestado 14.400,00

Total da Despesa 10.815,80 Total da Receita 14.400,00

Lucro 3584,20

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CONCLUSÃO

Diante da pesquisa realizada foi possível concluir que o simples fato da

constatação ou aceitação das crianças com deficiência em salas comuns, não

significa que as mesmas estão incluídas. Isto só ocorre quando esses alunos

conseguem ter uma interação social e desenvolvem a aprendizagem cognitiva.

Entretanto, dentro das escolas regulares, os professores não conseguem garantir a

aprendizagem das crianças com deficiência e sim apenas atingir o social.

Para promover a educação inclusiva, existem vários programas por parte do

governo Federal, Estadual e Municipal. Mas infelizmente por meio da pesquisa de

campo realizada, percebe-se que tais programas não atendem as reais

necessidades da escola, na maioria das vezes essas propostas permanecem

somente no papel, não chegam às salas de aula ou ficam segmentadas e

desarticuladas com a realidade escolar.

A situação é uma conseqüência das más condições que as escolas se

encontram para receber os alunos com deficiência, confirmando as hipóteses iniciais

da pesquisa.

É preciso transformar esse cenário com a ajuda da escola, das Políticas

Públicas e da sociedade. As escolas devem cobrar dos governantes a efetivação de

tais propostas para serem realmente colocadas em prática e para que a inclusão

possa ser objeto de reflexão nos currículos de pedagogia e licenciatura. As pessoas

precisam rever seus valores, comportamentos e conceitos perante a diversidade

humana e assim construir uma sociedade com oportunidades iguais para todas as

pessoas, independente da deficiência, raça ou religião.

Além disso, se faz necessário promover campanhas educativas e preventivas,

com atitudes que possam evitar ou amenizar algum tipo de deficiência, como por

exemplo: a importância do pré-natal, do exame do pezinho, os cuidados que os pais

devem ter com as crianças próximas as escadas, em piscinas, janelas sem

proteção, brincadeiras com sacos plásticos, entre outros.

Enfim, o objetivo é pensar em uma sociedade melhor para as pessoas

deficientes e conseqüentemente melhor à todos.

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Educação, Secretaria de Educação Especial, 2005.

ARAUJO, Luiz Alberto David. A proteção constitucional das pessoas portadoras

de deficiência. 3.edição. Brasília: CORDE : Presidência da Republica / Secretaria

Especial dos Direitos Humanos, 2003

BUENO, José Geraldo Silveira. Educação especial brasileira: integração /

segregação do aluno diferente. 1ª ed. Educ, São Paulo, 1993.

CARNEIRO, Moacir Alves. O Acesso de alunos com deficiência às escolas e

classes comuns: Possibilidades e Limitações. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

DIÁRIO DA UNIÃO. Decreto nº 6.571. Seção 1 / nº 181, 18 de setembro de 2008.

DURKHEIM, Émile. Educação e sociologia. 10ª ed. Trad. de Lourenço Filho. São

Paulo, Melhoramentos, 1975.

FERREIRA, Pinto. Curso de Direito Constitucional. 12.ª edição. São Paulo:

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FOLHA DE SÃO PAULO. Apenas 21% das escolas Estaduais e 36 % das

escolas Municipais da cidade de São Paulo estão completamente adaptadas.

05 de abril de 2008.

MAZZOTTA, Marcos José Silveira. Educação Especial no Brasil: História e

políticas públicas. São Paulo: Cortez, 2001

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PINTO, Álvaro Vieira. Sete lições sobre educação de jovens e adultos. 4. edição.

São Paulo: Cortez, 1986.

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Campinas, autores associados, 1997.

SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: construindo uma sociedade para todos.

3.ed. Rio de Janeiro: WVA, 1999.

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL DE SÃO PAULO – MEC. Política

Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília.

20007.

TORRES, Rosa Maria. Educação para todos. A tarefa por fazer. 1 ed. Porto

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FEDERAL, Senado: LDB 1961. Disponível em:

< http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=75529 >

Acesso em: 20 de Setembro de 2008.

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FEDERAL, Senado: LDB 1971. Disponível em:

< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5692.htm >. Acesso em: 20 de Setembro

de 2008.

FEDERAL, Senado: LDB 1996. Disponível em:

< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/l9394.htm >. Acesso em: 20 de Setembro

de 2008.

IBGE. Censo Demográfico – 2000: Característica Geral da População:

Resultados da amostra. Disponível em:

<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2000/populacao/deficienci

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MEC. Assessoria de Comunicação Social. Disponível em:

<http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/programas_edespecial.pdf>. Acesso em: 11 de

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MEC. Declaração de Salamanca. Disponível em:

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outubro de 2008.

MEC. Números da educação especial no Brasil. Disponível em:

< http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/txt/brasil.txt>. Acesso em: 07/ 07/2008.

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL. Dados da Educação Especial.

Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/txt/brasil.txt>. Acesso em: 7

Julho de 2008.

CENTRO DE INFORMAÇÃO RUI BIANCHI. Declaração de Guatemala. Disponível

em:

<http://74.125.95.132/search?q=cache:8hgTEfJIUTEJ:www.centroruibianchi.sp.gov.b

r/usr/share/files/declaracoes/Decl_Guatemala.doc+declara%C3%A7%C3%A3o+de+

guatemala+2001&hl=pt-BR&ct=clnk&cd=3&gl=br&client=firefox-a>. Acesso em: 13

de outubro de 2008.

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APÊNDICES

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APÊNDICE

A. PERT:

Escolha do

tema Maio

Elaboração da

justificativa Agosto

Definição do problema, objetivos e hipóteses

Junho

Marco

Teórico Agosto

Pesquisa de

campo Setembro

Análise de

dados Outubro

Proposta de intervenção

Outubro

Apresentação

27 de Novembro

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APÊNDICE

B. CRONOGRAMA

Atividades Fev Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Orientações Gerais Discussão sobre o processo de orientação

x

Escolha de orientadora

x

Definição provisória do tema Delimitação do problema

x

Leitura bibliográfica e resumo de livros, revistas, tese, artigos.

x

x

x

Entrega da justificativa e marco teórico

x

Entrega do primeiro capitulo História, legislação e órgão públicos voltado para inclusão de deficientes.

x

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Atividades Fev Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Pesquisa de campo e relatório

x

x

Analise de dado

x

Entrega do 2º capitulo Educação Especial na pratica

x

Entrega do 3º capitulo proposta de intervenção

x

x

Últimas revisões e acertos

x

Preparação para apresentação

X

7 novembro

Defesa

27 novembro

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ANEXOS

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ANEXO I – Autorizações

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Anexo II – Entrevistas

Entrevista na Escola Municipal de Ensino Fundamental Profª Carolina Rennó

Ribeiro de Oliveira.

Entrevistado: Coordenador da Escola Municipal Profª Carolina Rennó Ribeiro de

Oliveira

Tânia: Qual é o seu nome?

Coord. Municipal: Coord. Municipal. (nome fictício)

Tânia: Qual a sua função aqui no Colégio Carolina Rennó?

Coord. Municipal: Coordenadora Pedagógica.

Tânia: Sua formação?

Coord. Municipal: Eu Tenho pedagogia com administração escolar e supervisão.

Tânia: Que ano você se formou?

Coord. Municipal: Acho que 97.

Tânia: Qual a sua opinião sobre a inclusão de alunos com deficiência nas escolas

públicas de São Paulo?

Coord. Municipal: Bom, eu acho que foi um avanço as crianças estarem juntos com

os alunos que não são portadores. A questão social amplia muito para eles. O que

acho que dificulta é que às vezes eles não tem o atendimento de uma instituição

que faça a outra parte, um trabalho mais individualizado.

Tânia: Quando a escola começou a receber alunos com deficiência?

Coord. Municipal: Olha! A data exata a gente não tem. Agora eu acho que tem um

auge. E a escola por ser térrea ela facilita a locomoção, então temos vários

cadeirantes, mas a data exata de quando foi a primeira criança, não tenho.

Tânia: Mais ou menos quando foi que começou o aumento na demanda de alunos

com deficiência? Pois quando estudei aqui não tinha nenhum aluno com deficiência.

Coord. Municipal: Assim, sim. Acho que há duas gestões isso está mais ampliado.

Faz uns oito anos que está acontecendo isso, agora nós estamos no auge.

Tânia: Vocês fizeram uma reforma aqui alguns anos atrás. Vocês adaptaram alguma

coisa para deficiente? Vocês tiveram esse cuidado?

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Coord. Municipal: Sim! Inclusive a última coisa que fizemos foi a rampa aqui no

portão da entrada. Antes não tinha, aliás, só era uma parte da rampa o que fazia a

cadeira facilmente virar, até mesmo quando os alunos desciam do transporte escolar

isso dificultava. Já adaptamos os banheiros que tem as barras e as carteiras que

tem vindo diferentes.

Tânia: Eu constatei umas carteiras adaptadas na sala de aula, como vocês

conseguiram?

Coord. Municipal: Da coordenadora de Educação. Nós pedimos, iniciamos um

processo. Solicitamos a presença do pessoal do CEFAI que é o núcleo que cuida

dos alunos portadores, para que eles viessem verificar e medir as cadeiras, por que

muitas das cadeiras comuns não se encaixa com as cadeiras de rodas, então a

criança não consegue, fica totalmente difícil. Então foi medido de todas as escolas

da região, os alunos vieram aqui. O CEFAI constatou as necessidades e mandaram

algumas. Só que tudo isso é um processo muito demorado.

Tânia: Demorou muito?

Coord. Municipal: Bastante. É um processo que depende de licitação. Tudo é muito

difícil e complicado.

Tânia: Quais os procedimentos que a escola tem com a entrada de alunos com

deficiência?

Coord. Municipal: Assim que a gente recebe uma mãe que a secretaria vem e fala,

olha esse aluno a mãe trouxe falando que tem síndrome de down ou é um

cadeirante. A gente chama essa família faz uma pesquisa e conversa, é feita uma

entrevista par ver quais são as dificuldades, o que já tem de laudo e quais os

tratamentos são feitos. O que a criança nos trás para que a gente vai se adaptando

e junto tentar dar atendimento mais adequado.

Tânia: Qual o acompanhamento que esse aluno tem junto a classe regular?

Coord. Municipal: Olha os que têm condições de vir eles podem freqüentar a sala

de apoio pedagógico, o que geralmente não acontece, porque aqueles que têm o

transporte escolar, no qual não são todos com necessidades especiais que tem o

benefício, o transporte escolar só traz no horário da aula normal. Então dificulta

porque não tem quem traga, o acesso da criança é difícil, a mãe já traz com

dificuldade. O que é possível a gente encaminha para a sala de apoio pedagógico

Tânia: Como que é essa sala de apoio pedagógico?

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Coord. Municipal: Funciona com uma professora específica, os alunos têm

atividades diferenciadas de acordo com sua dificuldades, no horário diverso da sala

de aula,

Tânia: Seria uma professora especialista?

Coord. Municipal: No caso ela é. Não é uma função que necessita ser, mas a

nossa é psicopedagoga. Ela tem formação uma vez por mês. O objetivo é para tratar

mais da questão da aprendizagem, não necessariamente para o portador de

necessidades especiais.

Tânia: Tem algum material que utiliza para inclusão, materiais pedagógicos,

didáticos.?

Coord. Municipal: Esse ano nós recebemos um aluno que tem paralisia cerebral. É

o primeiro ano dele na escola regular, ele é aluno do 1º ano do 2º ciclo, antiga 5º

série. Ele tem o cérebro totalmente preservado, mas com problema seriíssimo motor,

ele não registra nada por escrito, uma dificuldade muito grande por conta dos

movimentos involuntários, então a gente tenta disponibilizar, queremos colocar um

computador na sala para que ele possa digitar, comprar aquela colméia. Alguns

materiais por exemplo, a professora do Dênnis construiu um material com letras

móveis, isso facilita, alguma coisa que a gente vai percebendo que irá ajudar, a

gente faz .

Tânia: Qual assistência que um professor que trabalha com um aluno com

deficiência possui?

Coord. Municipal: Nesse momento não tem nenhum, mas foi disponibilizado para a

nossa escola um trabalho com a APAE, porém, nós que tínhamos que nos adequar

com o horário da APAE e não a APAE adequar com o horário dos professores,

acabou não dando certo. Eles viriam no horário do trabalho coletivo do professor,

mas só para os professores de 1ª a 4ª séries. Tentamos entrar em acordo com eles,

mas acabou não dando certo, eles queriam no horário que podiam vir só dois

professores. Mas aí não tivemos nem resposta se somente esses dois podiam

participar ou não. O professor que consegue fora do horário, ainda tem alguns

cursos disponíveis. Mas fora do horário acaba sendo inviável porque as pessoas têm

acúmulos de cargos, dentro do horário não tem mais nenhum curso. Esse ano teve

uma formação muito rápida para falar de cada necessidade especial, de cada

doença, mas nada muito específico. O que a gente tem agora é um aluno do CEFAI,

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aluno pesquisador que vem pelo CEFAI, no qual ele faz um trabalho individualizado

com esse aluno, nós só temos um esse ano.

Tânia: Mas ele está vindo?

Coord. Municipal: Está sim, ele fica para acompanhar o aluno que tem Síndrome

de Down. Mas esse aluno com síndrome não está freqüentando por conta da saúde

da mãe, que alias acabou falecendo. Como era a mãe que vinha trazer e buscar,

fazia tudo. E o pai trabalha. O aluno estava com uma tia que não tinha como trazê-

lo. Agora essa mãe faleceu, estamos aguardando um contato do pai, para ver como

fica a situação do aluno.

Tânia: Essa Criança vinha com o transporte da prefeitura?

Coord. Municipal: Não. O Transporte a princípio veio para todas as criança que

moravam longe, aí mudou, só viria para os portadores de necessidades, mas mesmo

para o portador de necessidades é muito difícil, você tem que provar por A e mais B ,

mais C, mais D e mais Z, que ele precisa. Teve caso que nós tivemos que brigar

para incluir no transporte porque a apesar da aluna ser deficiente ela não era

cadeirante, então para eles a aluna não precisaria desse benefício.

Tânia: Como vocês pensam e organizam as questões curriculares, avaliação e

terminalidade para alunos no processo de inclusão?

Coord. Municipal: Nós ainda não fizemos nenhum processo de terminalidade. Por

que esse processo de terminalidade de estudo a gente entende que é você atestar

que o aluno só pode ir até ali. Eu acho isso muito complicado para a gente que está

dentro da escola, porque as vezes ele tem outras habilidades, e nem sempre dá

para atingir todas essas habilidades. Agora, o que a gente tenta fazer é adaptar. Por

exemplo, o aluno Luiz que comentei que veio para cá esse ano, ele estudou da

primeira a quarta na escola da APAE, ele está completamente alfabético, escreve de

tudo, uma graça. Qual é a dificuldade dele? É a gente pegar o que vamos dar para

os outros alunos adaptado para ele, em nenhum momento é dado para ele o

conteúdo diferente. Então nós fazemos adaptações, como ele tem muita dificuldade

motora a gente amplia xérox para que ele consiga responder a atividade. Depende

de cada situação, os alunos que tem, por exemplo, Síndrome de Down, o aluno já

tem uma dificuldade muito grande, se ele consegue avançar um pouquinho no seu

processo de aprendizagem já ficamos contentes, tentamos sempre adaptar para ele

as questões, as atividades. Então por exemplo, numa produção de texto, um reconto

de história que os alunos tem que fazer por escrito toda história para avaliação, para

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o aluno especial fazemos oral, se ele souber contar uma parte da história para ele é

um grande avanço, no próximo a gente cobra um pouco mais, vamos tentando

adaptar assim, em cima do processo individual desse aluno.

Tânia: Quais as dificuldades que vocês encontram para trabalhar com a inclusão

aqui na escola?

Coord. Municipal: Eu acho que agora está mais tranqüilo, até mesmo como

professora. Eu deixei de acumular cargo no ano passado, eu era coordenadora e

tinha uma sala de aula em outra escola. Eu acho que a gente mais se assusta, é

uma ansiedade muito grande que ficamos na escola e como professora fico me

perguntando como trabalhar com esse aluno, eu não consigo, não tenho formação.

Depois que fomos percebendo que a formação faz parte sem dúvida, mas se

tivermos um olhar mais sensível perante aquele aluno conseguimos fazer grandes

avanços. Falo por que tive a experiência com uma aluna com paralisia cerebral, ela

dava um banho nos outros alunos de capacidade intelectual. E o que eu tinha que

fazer? Adaptar. O que eu cobrava dos outros alunos adaptava para ela. Adaptar com

letras móveis, adaptar a escrita no computador, de outras formas que eu

conseguisse ler o que ela produzia, mas que era assim magnífico. Eu acho que o

grande problema é o medo do diferente, a cobrança que tem e que as pessoas não

tem essa idéia, ou as vezes a mãe vem com a idéia de que o meu filho é diferente,

que tem que cobrar menos ou não faça diferença pra ele. Tem que render tudo

aquilo que o outro rende, e que na verdade como qualquer aluno cada um é

individualmente diferente, cada um vai ter um nível.

Tânia: O que poderia ser feito para melhorar o processo de inclusão nas escolas em

geral.

Coord. Municipal: Aqui na nossa região, a falta do Poder Público, então esses

meninos não tem um atendimento adequado do ponto de vista de um

psicopedagogo, se a mãe não consegue fazer todos os tratamentos que tem que ser

feito fora, o aluno com deficiência acaba ficando pior, por conta da estrutura que se

vive aqui em uma região tão periférica, você não tem uma academia próxima, se tem

é tudo pago e as nossas famílias não têm condições, isso dificulta e entristece mais

a gente, por que se eles tivessem em uma família com maior recurso, com maior

entendimento do que é a dificuldade deles, alguns estaria muito melhor, se tivesse a

presença do Poder Público em toda amplitude da vida desse aluno, não só na

escola. Pois muitos nem chegam à escola. Hoje se chega muito mais, porém há

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ainda aqui na nossa região periférica, esse dificultador que é a condição social da

família. Existem muitos alunos que acreditamos ser de inclusão e que a mãe ainda

não sabe que o filho, por exemplo, tem uma deficiência mental, aqueles que ficam

muito tempo aqui e não aprende.

Tânia: Na sala em que acompanhei eu percebi uma menina um pouco diferente a

Jéssica?

Coord. Municipal: Ela é um caso também. Nós não temos dela nem um laudo,e sim

uma psicopedagoga do posto de saúde que atendeu durante um tempo e mandou

dizer para que ela tinha muita dificuldade e que ela tinha que ficar vários anos na

mesma série.

Se a escola não tem um olhar de avaliar essa aluna, de ver o quanto ela cresceu, a

escola se acomoda com a opinião da psico e deixa-a retida por vários anos. Ela é

um caso que a mãe não tem condição, ela já não faz tratamento nenhum. Nós não

temos para onde encaminhar as crianças, tem alunos que a gente suspeita, por

exemplo, está há três anos aqui na escola, passou pelo primeiro ano e não

aprendeu nem o nome, passou pelo segundo não aprendeu, está no terceiro ano e

não é alfabético ainda, não conhece todas as letras, faz apoio pedagógico e

percebemos que existe alguma coisa. Encaminhamos para a mãe que chega e fala:

“Olha! No posto não tem”. Aí encaminhamos para as universidades. Muitas vezes a

mãe trabalha e fala que não tem condições de levar, eu trabalho por conta, se eu

faltar sou mandada embora ou se eu faltar não recebo o dinheiro daquela faxina e aí

fica. E não é um caso, são vários.

Tânia: Você acha que existe falta de informação?

Coord. Municipal: Também!!! Às vezes você chama a mãe e ela diz, eu percebo

que ela é meia abobada, conversamos com a mãe, orientamos, encaminhamos, mas

ai não existe retorno. Se o Poder Público tivesse mais presente e atuante no posto,

em tudo isso, então a mãe iria ali ao lado já encaminharia, já faria o teste que tem

que ser feito. Antigamente tinha-se um processo que fazíamos via coordenadoria da

educação, que eu pedia e aí registrava, era um processo mesmo, colocava nesse

processo tudo o que já foi feito com a criança e que a escola solicitava uma

avaliação dessa criança, aí a coordenadoria marcava uma data e um local para fazer

testes nessa criança e a escola depois tinha um retorno, um diagnóstico: “fulano tem

isso, fulano não tem nada, será encaminhado para isso”. Hoje não tem mais.

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Tânia: No site da prefeitura eles disponibilizam uma rede de serviços, com apoio,

por exemplo, o CEFAI, isso é utilizado? Chega até a sala de aula?

Coord. Municipal: CEFAI é o centro de referência aqui dá coordenadoria, cada

coordenadoria tem um. E aí o que eles fazem, eles organizam, mas não são

responsáveis para fazer teste, então, por exemplo, eles falam se a escola quiser eles

vem olhar a criança, eles vem e dizem que realmente acham que a criança tem

alguma coisa, mas não fazem nada. Precisamos de um profissional capacitado que

faça essa avaliação e encaminhe para um tratamento.

Tânia: No site eles dizem que disponibilizam uma pessoa para acompanhar e dar

apoio ao professor de sala

Coord. Municipal: Não! Não acontece. Você chama e eles vêm, mas vir uma vez a

cada ano, é complicado!

É um olhar muito diferente. Por que se você não está dentro da escola e não

visualiza as reais necessidades, o que é a rotina da escola. O psicopedagogo fala

sem entrar dentro da sala de aula com o professor, sem estar com os 40 ou 35

alunos ali, é muito diferente.

Então por exemplo, nós tivemos a seguinte situação aqui, o aluno vai ao banheiro

mas não consegue se limpar, um portador de necessidades. Como a gente lida com

isso? Não é a questão de que me recuso a limpar o aluno, não é nada disso. Mas

também é uma situação bastante complicada, pois por a mão no aluno. Até um

funcionário veio e falou: Tudo bem eu limpo e aí? Mas se acontece uma situação lá

fora e a mãe diz que ele levou ao banheiro e passou a mão no meu filho? São

inúmeras situações que podemos nos envolver né!

Em uma dessas visitas, uma pessoa do CEFAI falou: “mas eu trabalhei em uma

escola especial e cansei de limpar aluno!”

Você trabalhou em uma escola especial, a gente não trabalha. Quando você entra

para trabalhar dentro de uma instituição que só atende alunos com necessidades

especiais, você tem outro encaminhamento, todos dessa instituição têm uma outra

vivência e encaminhamento. É diferente aqui. A rotina é muito diferente. Lá você tem

mais funcionários. Aqui se a professora sair para vê o menino que está lá dentro do

banheiro você chama o inspetor correndo, mas se ele tiver ocupado em outra sala.

Todas essas questões precisam ser mais organizadas.

Às vezes você acha que é falta de vontade do professor, mas não é. O professor lida

com mais 35, 40 alunos. Não é que você não vai olhar aquele, mas que dificulta

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dentro do contexto. Quando você lida com aluno que é portador de necessidades

especiais, por exemplo um cadeirante, você dá atividade e vai preparando outros

materiais, isso é uma coisa, agora quando você tem um aluno que em cada dois

minutos tenta furar um outro aluno com lápis, corre, bate e puxa o cabelo de outro

aluno e os pais vem reclamar. E o professor tem que vigiar ele o tempo todo, é muito

difícil isso para administrar. E o professor como fica dentro de uma sala de primeiro

ano com quarenta alunos?

Tânia: O que você acha que o Poder Público poderia fazer para ajudar?

Coord. Municipal: Precisa investir nessa formação, nesse olhar mais próximo para

o professor se sentir mais seguro, pois não temos essa formação específica para

trabalhar. Têm vindo referenciais, chegado alguns materiais nesse sentido, mas não

adianta só chegar esse material físico para você, senão tiver uma troca, um estudo

de caso. Acho que os professores tem feito um trabalho bacana, um olhar

cuidadoso, preocupado em estar acertando. Tem alguns pais que pedem para ficar

aqui na escola assistindo aula com os alunos. A escola é aberta. Tem uma avó que

fica o tempo todo aqui conosco, acaba ficando como se fosse daqui da escola

mesmo, não temos nenhuma restrição. Tem alguns pais que vem na hora do recreio

ajudar a se alimentar.

Tânia: Existe algo a mais que julga importante registrar nessa entrevista.

Coord. Municipal: Acho que é interessante perceber que as pessoas estão

pensando nisso juntos conosco e sempre contribuindo.

Tânia: Obrigada.

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Entrevistado: Profº A

TÂNIA: Qual é o seu nome?

Prof° A : PROF° A (nome fictício)

TÂNIA: Qual é a sua formação?

Prof° A: Psicopedagoga.

TÂNIA: Em que ano a Senhora se formou?

Prof° A: Psicopedagogia ano passado (2007), em pedagogia foi na década de 90.

TÂNIA: Quanto tempo tem que você trabalha com inclusão de alunos com

deficiência?

Prof° A: Esse é o terceiro ano.

TÂNIA: Quantas crianças deficientes você tem na sala?

Prof° A: Nessa sala uma.

TÂNIA: Qual a deficiência que possui?

Prof° A: Mental e física.

TÂNIA: A senhora sabe o que causou a deficiência?

Prof° A: A mãe comentou comigo, mas agora eu não me recordo

TÂNIA: Você tem ou teve algum contato com profissionais da saúde que

acompanha esse aluno?

Prof° A: Não! Nenhum.

TÂNIA: Você considera que o Colégio Carolina tem condição de receber alunos com

deficiência?

Prof° A: Na estrutura tem. A escola conseguiu montar, com mesa, não tem escada.

Fisicamente a escola tem estrutura. Nós professores que apanhamos um pouco.

TÂNIA: Qual a sua opinião sobre inclusão dos alunos deficientes nas escolas

públicas de São Paulo?

Prof° A: A princípio antes de conhecer eu era contra porque, agente tem medo, mas

quando começamos a trabalhar com essas crianças, eu acho que é super valido,

acaba superando o medo. Só que eu ainda não tenho condição, eu não consigo

trabalhar com o deficiente do jeito que eu queria trabalhar.

TÂNIA: Por quê?

Prof° A: É muito aluno na sala e eles precisam de uma atenção mais próxima, ajude

em cada atividade e nem sempre dá tempo. Por causa da quantidade.

TÂNIA: Qual e o total de alunos que você tem na sala?

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Prof° A: Aqui tem 39 .

TÂNIA: Você considera que essa quantidade de alunos interfere na qualidade de

suas aulas e no processo educacional de cada aluno?

Prof° A: influência com certeza. Não dá para dar um atendimento individual, eles

necessitam desse atendimento individual. Teve ano que eu tive sala de pic, que eu

tinha aluno com baixa visão, eu tinha 30 alunos na sala e conseguia atender muito

melhor do que hoje.

TÂNIA: Você se sente preparada para trabalhar com alunos deficientes?

Prof° A: Não! Por causa da formação. Quando fui fazer Psicopedagogia foi nessa

intenção de tentar procurar alguma coisa que possa ajudar esses alunos também.

Mas infelizmente o curso não contemplou, não ajudou muito. Pois a Psicopedagogia

não é essa intenção. E para ajudar os alunos com dificuldade, mas não

necessariamente da inclusão.

TÂNIA: Utiliza algum método ou procedimento diferenciado com os alunos

deficientes?

Prof° A: Sim. Com o Denis nos pegamos materiais diferentes. Ele não é

alfabetizado, só consegue fazer o nome dele. Ele reconhece o nome da mãe e

alguns nomes. Então com ele nós fizemos/pegamos um caderno de madeira,

usamos linhavo, letras em fichas para trabalhar com ele

TÂNIA: ontem eu vi a Senhora trabalhando com o Denis com um matéria diferente.

Era uma tabua furada onde o Denis tinha que passar uma linha de lã no buraco. Que

habilidade a senhora queria trabalhar com ele ali?

Prof° A: Era um linhavo. Ele tem dificuldade na coordenação motora por conta da

deficiência física. Quando eu dou esse alinhavo é para ele ir aprimorando a

coordenação fina que ele não possue. Pois ele tem dificuldade para escrever, para

construir as letras.

TÂNIA: Os pais dos alunos deficientes têm interesse em acompanhar o

desenvolvimento escolar do aluno? De que maneira eles fazem isso?

Prof° A: Eu acho que é pouco. Eles acompanham só que estão mais preocupados

com a condição da criança dentro da escola e não com a aprendizagem realmente

da criança. Eu até entendo isso, por que eles passaram por tantos problemas com

essas crianças, continuam fazendo tratamento na AACD. E os pais consideram que

o desenvolvimento físico mais importante do que a aprendizagem.

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TÂNIA: Você acha que os pais colocaram os filhos deficientes na escola comum por

que a lei manda ou porque os pais consideram importante para o desenvolvimento

de seus filhos eles estarem na escola comum.

Prof° A: Acho que a principio por ser obrigado e depois por que eles vêem a

melhora do filho. Infelizmente a melhora não é como nós professores gostaríamos

que acontecesse. Pois nós preocupamos com a aprendizagem deles, e essa

aprendizagem é muito lenta. Para gente se torna frustrante. Agente gostaria de ter

mais tempo para eles, para que eles pudesse se desenvolver melhor.

TÂNIA: Que apoio você encontra da direção escolar para trabalhar com a inclusão?

Prof° A: Quando agente pede algum material eles procura nos atender. Mas a

formação que eles têm são a mesma que a nossa.

TÂNIA: Esse material que usa com o Denis foi a Senhora que trouxe ou foi a escola

que providenciou?

Prof° A: PROFª: Foi à escola. Agente pede e prontamente a escola procura

providenciar.

TÂNIA: Existe algum apoio de outros órgãos públicos?

Prof° A: Tem o CEFAI da coordenadoria, eles vieram na escola, fizeram alguns

teste com os alunos, mas não deram retorno, Mas não deram nenhum

acompanhamento para o professor e nem para a criança.

TÂNIA: Você participa de alguma formação continuada para professores?

Prof° A: Não. Nos outros anos anteriores eu participei, mas nesse ano não.

TÂNIA: Mas qual o motivo de não participar. Foi porque não ofereceram ou não

houve interesse por sua parte?

Prof° A: Eu tive problemas pessoais.

TÂNIA: Você como professora de aluno deficiente da prefeitura de São Paulo

conhece e/ou teve acesso aos programas CEFAI - Centro de Formação e

Acompanhamento à Inclusão, PAAI - Atuação do Professor de Apoio e

Acompanhamento à Inclusão e SAAI - Salas de Apoio e Acompanhamento à

Inclusão.

Prof° A: Eu sei que existe esse serviço, mas eu diretamente não tive contatos com

eles. Nunca recebi ninguém deles na minha sala.

TÂNIA: O que poderia ser feito para melhorar o processo de inclusão nas escolas?

Prof° A: Eu acho que diminuir o número de alunos é fundamental, para que consiga

pelo menos conversar e entender o aluno e dar mais assistência a eles.

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TÂNIA: Existe algo a mais que julga importa registrar nessa entrevista?

Prof° A: Eu acho muito importante a inclusão, tendo o desenvolvimento, tendo a

inclusão social. Todo mundo ganha, os outros aluno sem deficiência aprende a

como lidar com essa criança com deficiência. As professoras aprendem muito, a

princípio eu tinha muita dificuldade em ajudar o Dênis por que os outros alunos

queriam fazer por ele a atividade. Até que eu tive que brigar muito com outros alunos

para eles não fazerem para o Denis. Por que os alunos acham que fazendo para o

Dênis estão ajudando ele.

TÂNIA: Obrigado professora!

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Entrevistado – Profº B

Tânia: Olá Professora!Qual o seu nome?

Profº B: Profº B (nome fictício)

Tânia: Que matéria que a senhora leciona?

Profº B:: Ciências.

Tânia: Qual sua formação?

Profº B: Ciências Biológicas.

Tânia: Em que ano a Senhora se formou?

Profº B: 2007.

Tânia: Há quanto tempo a Senhora trabalha com alunos de inclusão?

Profº B: Há 3 anos.

Tânia: Você trabalha em todas as series aqui?

Profº B: Isso, 1° á 8° série.

Tânia: Qual e o conteúdo que a senhora leciona nesse colégio?

Profº B: Aqui eu trabalho com Educação Ambiental.

Tânia: Quantas salas você leciona?

Profº B: Em todas as salas do colégio.

Tânia: Sabe mais ou menos quantas crianças deficientes têm que a Senhora da

aula?

Profº B: 6.

Tânia: Qual o tipo de deficiência que eles possuem?

Profº B: São cinco cadeirantes e uma que tem deficiência muscular.

Tânia: Seria atrofia?

Profº B: Isso, atrofia.

Tânia: E eles são das series de 1° a 4° ou de 1° a 8°?

Profº B: De 1° a 8°.

Tânia: E de 1° a 4° quantas teriam?

Profº B: Tem um, na verdade são dois, só que a outra menina quase não vem.

Tânia: Qual sua opinião sobre inclusão de deficientes?

Profº B: Dentro da escola na minha opinião é uma exclusão.

Tânia: Dentro do sistema de São Paulo? Porque Professora?

Profº B: Porque não tem nada focado para eles dentro da Educação, de uma forma

geral e não na escola, isso já vem do sistema de educação.

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Tânia: Você considera que a quantidade de alunos interfere na qualidade de suas

aulas e no processo educacional de cada aluno?

Profº B: Sim, são muitos não da pra ter um atendimento direto.

Tânia: De cada sala quantos alunos têm?

Profº B: A média aqui na sala são 35.

Tânia: Quando tem algum cadeirante a quantidade de alunos na sala diminui?

Profº B: Não. Na sala tem a quantidade normal de aluno, incluindo mais um que

precisa de uma atenção melhor e maior.

Tânia: A senhora se sente preparada para trabalhar com alunos com deficiência?

Profº B:: Não!

Tânia: Por quê?

Profº B: Na minha formação pelo menos, não. Porque eu não tive nada especifico.

Tânia: Você utiliza algum método, procedimento diferenciado para esses alunos?

Profº B:: Não.

Tânia: Qual a dificuldade que a senhora encontra pra ajudar o aluno deficiente no

seu processo de aprendizagem?

Profº B: É o tempo mesmo de poder dar tempo a eles. O tempo que você de

explicar, de explicar pra sala inteira teria que ser diferenciado para eles.

Tânia: Os pais dos alunos têm interesse em acompanhar esse desenvolvimento

deles?

Profº B: Alguns sim. Aqui na escola nos temos uma vó que acompanha e uma mãe

à tarde.

Tânia: Como ocorre esse acompanhamento?

Profº B: Só na parte externa, e não dentro da sala de aula.

Tânia: Que apoio você encontra da direção escolar?

Profº B: Aqui nesta escola eu vejo uma preocupação grande, tanto que o mobiliário

deles é diferenciado, eles tem um atendimento diferenciado.

Tânia: Esse mobiliário a escola que cedeu?

Profº B: A escola que buscou pra que eles tivessem o conforto maior, tivesse a

possibilidade de estar se adaptando melhor ao ambiente inclusive pra ter uma

inclusão dentro da sala de aula.

Tânia: E outros órgãos como Secretaria educacional? Têm outros órgãos que da

apoio pra vocês diretamente?

Profº B: Que eu saiba não.

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Tânia: Você participa de alguma formação continuada?

Profº B: Não.

Tânia: Você como professora de aluno deficiente da prefeitura de São Paulo tem

acesso aos programas do CEFAI, do PAI ou já ouviu falar?

Profº B: Já ouvi falar mais no momento eu que não busquei nada, já entrei no site e

vi que tem algumas coisas.

Tânia: Mais eles não vieram não ofereceram nenhum apoio

Profº B: Não, diretamente não, você que tem que ir atrás.

Tânia: CEFAI eles dizem que disponibilizam uma pessoa pra ir ate a escola.

Profº B: Então aqui até tinha. Até o 1° semestre de 2008 aqui na escola tinha uma

pessoa em uma das salas no período da tarde essa moça ficava em uma sala que

tinha dois cadeirantes.

Tânia: Mas ela era especialista?

Profº B: Ela faz pedagogia e estava como estagiaria. Acompanhava os alunos de

inclusão, tendo um relatório mensal, tinha um acompanhamento mensal sim, ela

chamava os pais frequentemente pra dar uma resposta sobre o trabalho dela, mais

ai acabou o contrato dela e não mandaram mais ninguém.

Tânia: Não tiveram mais acompanhamento?

Profº B: Não.

Tânia: O que poderia ser feito para melhorar o processo de inclusão?

Profº B: Eu acho que uma educação direcionada a eles, além da formação do

professor, um atendimento direcionado a eles.

Tânia: Existe algo a mais que você acha importante registrar?

Profº B: Essa atenção. O professor poderia ter tempo de dar ao aluno mais atenção,

infelizmente o sistema não permite, são muitos alunos, pouco tempo de aula, o

professor ele não dá conta, nem ele tendo formação nem se ele quisesse, é bem

difícil.

Tânia: Professora eu agradeço pela sua entrevista.

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Escola Estadual Profº Norberto Alves Rodrigues

Entrevistado:

Coordenador da Escola Estadual Profº Norberto Alves Rodrigues.

Tânia: Bom Dia!

Coord. Estadual: Bom Dia!

Tânia: Qual o seu nome?

Coord. Estadual: Coordenadora da Escola Norberto (nome fictício)

Tânia: Qual sua função aqui na escola?

Coord. Estadual: Coordenadora do Clico I.

Tânia: Qual sua formação?

Coord. Estadual: Superior Completo.

Tânia: De qual faculdade? Pedagogia?

Coord. Estadual: Comunicação Social, primeiro, e depois Letras.

Tânia: Em que ano você se formou?

Coord. Estadual: A última 1998.

Tânia: Há quanto tempo você trabalha nesta escola como coordenadora?

Coord. Estadual: Há sete anos, deste 2001.

Tânia: Qual sua opinião sobre a inclusão dos alunos deficientes nas escolas

públicas de São Paulo?

Coord. Estadual: Necessária né! Uma vez que conforme a legislação educação

para todos. Então se deixar de fora qualquer que seja a pessoa ou individuo agente

já esta excluído.

Tânia: Mas a senhora acha que as escolas de São Paulo estão prontas para

receber?

Coord. Estadual: Não.

Tânia: Tem condições? De receber esses alunos?

Coord. Estadual: Ainda não, mais eu acredito que já melhorou a questão dos

conceitos quando a adaptação curricular, já melhorou uns 30% de uns 2 ou 3 anos

para cá.

Tânia: Quando começou a funcionar esta escola, a senhora sabe mais ou menos a

época?

Coord. Estadual: Esta escola tem mais ou menos uns 20 anos.

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Tânia: E quando ela começou a receber alunos com deficiência?

Coord. Estadual: Quando eu cheguei aqui há sete anos, nos tínhamos mais eles

não conseguiam permanecer na escola, por N problemas. Por conta da família de

achar que era difícil a convivência com os demais, às vezes o professor que não

estava preparado. Então havia assim uns dois ou três que acabavam saindo, a

escola recebia mais acabava não permanecendo, pela falta de estrutura, ate de

conhecimento de como lidar com esse aluno, ou com o professor, daí foi

melhorando. Foi melhorando com o passar dos tempos, tinham poucos,

pouquíssimos há sete anos.

Tânia: E quando começou mesmo a evolução maior?

Coord. Estadual: Uma preocupação maior, eu acredito com uns quatro anos atrás.

Tânia: Quantas crianças mais ou menos existem aqui na escola que tem alguma

deficiência?

Coord. Estadual: Olha constatada com laudo nos temos uma base de 15 a 20.

Constatada, mas tem aquela que agente encaminha mais a família não vai procurar

um especialista.

Tânia: E de primeira a quarta só mais ou menos tem quantas?

Coord. Estadual: Então é essa quantidade, têm alguns sem laudo que eu sei que

hoje estão na sétima serie. Com o passar do tempo agente passa pro outro

coordenador que agora são três, agente sempre passa os casos gritantes, como que

o professor deve tratar, porque agente já tem conhecimento do aluno dês da

primeira serie, agente vai passando informações do outro ano, passa a ficha do

aluno.

Tânia: Quais são as deficiências que elas têm?

Coordenadora: A maioria que agente percebe é déficit cognitivo, muitas delas

agente vê que não aprende a dislexia, não tem como comprovar, em muitas das

crianças mais o professor quando ele vem ate mim, ele vem, ele já tem assim: a me

ajuda não sei como lidar.

Eu entrevisto a criança, chamo converso com a família, pra ver se é uma fase,

porque as vezes tem problemas familiares que repercutem aqui, então eu chamo a

família, coloco a mãe a par, pergunto como ele tem esse comportamento, como ele

é em casa, se é cobrado as atividades, se não porque, se a criança ou se nega a

fazer, ou ela esquece, no dia seguinte você trabalha com ela individualmente,

trabalha coletivamente, mas não tem retorno do aprendizado. Então você percebe

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que tem alguma coisa errada. Ou o método do professor, os professores me

procurar, eu faço um levantamento, uma ficha do aluno, e em outros momentos com

o fim do 1° bimestre que é aquele momento de adaptação do professor com os

alunos, quando a turma vira, quando vai pra serie seguinte, quando eu conheço os

casos eu já passo pro professor, que pegou a turma naquele ano, no final do 1°

bimestre eles fazem relatórios, relatórios descritivos e individuais quanto a

aprendizagem, e os aspectos, meios de diagnósticos do professor.

E quando agente já sabe que o aluno, tem ou é portador de alguma necessidade

especial, com laudo, agente já chama o professor, já fala olha esse aluno você tem

que tratar assim porque sempre tem dos bimestres a fichinha dele, da evolução dele,

tanto no aprendizado, quando no comportamento a parte social.

Tânia: A maioria são deficientes que tem problemas mentais e outros é aquele

problema de aprendizagem?

Coord. Estadual: É, dislexia, os distúrbios de QI mesmo, déficit de cognitivo, o

auditivo agente já teve, dificuldade visual total, cegos, tinha uma menina

completamente cega, que o pai matriculou, para conseguir recursos do governo,

outras entidades que pudessem tratar da filha, quando é percebida perda total ou

muito acentuada de audição, como nos temos a sala de deficientes auditivos, a

professora já faz a triagem com o aluno, ela já faz o teste e só encaminha, então nos

tivemos dois casos de alunos com grau auditivo bem acentuado que foi

encaminhado pra sala de deficientes auditivos.

Tânia: Cadeirante, vocês não tem nenhum?

Coord. Estadual: Não, porque a escola você viu como fica? Ela tem muita escada,

fica em um declive, bem acentuado,

Tânia: O terreno também meio declínio? Mas vocês já tiveram algum?Alguma mãe

que veio solicitar vaga?

Coord. Estadual: Não, eu acredito que as mães daqui da comunidade ou ate perto,

ela já não trazem pela dificuldade de locomoção, porque fica numa ladeira, aqui

dentro tem muitas escadas. Nós temos um caso de uma menina, que esta com

problema nos ossos, e ela vem no colo da mãe, ela é aluno de 1° serie, e vem no

colo da mãe.

Tânia: Ela sobe as escadas no colo da mãe?

Coord. Estadual: É tanto é que a sala da professora foi mudada pra ca, pra mãe

não ter que subir dois lances de escada.

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Tânia: Pra facilitar?

Coord. Estadual: Isso.

Tânia: Vocês adaptaram o Maximo, para que essa mãe tenha uma facilidade maior.

Coord. Estadual: Isso, mais deu problema agora na menina, ela entrou saudável. E

agora ela não consegue levantar mais, um problema nas pernas, nos ossos.

Tânia: Existe na escola algum professor especialista?

Coord. Estadual: Só do D.A, fora a isso não.

Tânia: Essa professora especialista, ela da alguma ajuda aos outros professores?

Ou não, ela só fica mais centrada nos serviços dela mesmo? Que é a sala especial.

Coordenadora: Não, ela tem capacitações pelo CAF, que é um órgão junto a

secretaria da educação que oferece pra esse pessoal especialista, então todo o tipo

de deficiência, porque eles já são especialista de uma área, e a intenção talvez do

governo era fazer esse grupo itinerante. No ano que vem já vai ser um grupo

itinerante com especialista de quase todas as áreas que vai circular pelas escolas.

Então eles oferecem o curso pra esses especialistas que eles multiplicam em horário

de trabalho coletivo. Inclusive ela faz Educação Física e Arte junto com os outros, no

caso é a professora especialista que tem que oferecer, é o momento que ela faz a

inclusão com os demais alunos, até pra eles saberem a língua de sinais para

apropriarem os alunos, os outros ditos normais, e os alunos surdos/mudos. Eles já

passam a aprender também a leitura labial, isso tem dado muito resultado, porque

antes os alunos tinham medo das crianças, ficavam o mudinho o mudo, achavam

que era diferente.

Tânia: Você acha que a escola ganhou mais com isso?

Coord. Estadual: Ganhou. O preconceito hoje não existe tanto do deficiente mental,

que nos temos deficientes mentais, só não temos mais o cadeirante mesmo.

Tânia: Pela estrutura mesmo do colégio?

Coord. Estadual: Exatamente, não é por causa da recusa que eu ate gostaria, já

tivemos deficiente visual total, ela era completamente cega, então assustou muito

porque nos nunca tínhamos recebidos pra alfabetizar, a professora foi ate fazer

cursos pra atender a menina, não pra se aperfeiçoar era mais pra saber como lidar,

procurou ir às escolas onde ela fazia tratamento fora daqui ela ia conversar com o

professor de lá. Aqui era mais socialização, nas outras escolas era, mas um

tratamento especifico. E esse menino que tinha perda total a adaptação também foi

difícil pra ele, porque ate aquele momento a mãe não sabia que ele não ouvia, por

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isso que ele não aprendia. Ele tinha quase oitos anos e meio, todos os anos nas

outras escolas ela retirava da escola e aqui a professora que percebeu que ele não

ouvia por isso que ele não aprendia, e a Cida fez o teste com ele e realmente deu

positivo, ele não ouvia então ele ficava disperso, ele não fazia as atividades. Eu

acho que o trabalho aqui as crianças se sensibilizam quando essas outras crianças

especiais entram, o deficiente mental que agente tem uns casos gravíssimos, que

ficou na sala da professora Antonia, o Matheus ele fazia coco na roupa, xixi, ele não

tinha controle disso, então foi muito difícil quando ele ingressou na escola ate a

própria professora ela falava: Eu não sei como lidar e ele não parava sentado, então

a questão da socialização foi difícil, a mãe também é depressiva quem cuida é a

avó, o avó faleceu, então tem uma serie de transtornos da família que vem pra

escola e agente que lida com isso, então as crianças passaram a aceitar hoje elas

não tem mais essas restrições.

Tânia: Qual assistência que o professor que recebe um aluno com deficiência possui

da escola?

Coord. Estadual: Assistência, não tem assistência nenhuma, nos casos por

enquanto agente trabalha assim: com contato com a família, e nos temos uma guia,

agente chama a família, prepara os relatórios de comportamento, observa a criança

no recreio, agente faz uma serie de sondagem, entre nos, eu não vejo mais tantos

desesperos, mas antes elas viam muitos desesperadas, e elas falavam ate que eu

achava tudo normal, eu não sei, eu tenho esse conceito, se esta aqui eu não posso

por pra fora, entendeu eu tenho que receber e tentar ver como da pra fazer porque

agente também não tem estrutura, porque não nos oferecem nada.

Tânia: Vocês pontuam o que acontece com o aluno e quem da o diagnostico é o

profissional da saúde?

Coord. Estadual: Isso, porque o que eles alegam que o local do que tratamento é

muito longe e o os postos daqui não tem um profissional específico para tratamento,

até tem um psicólogo para emergência, agente tem muita dificuldade do

encaminhamento e da aceitação das famílias.

Tânia: Por que você acha que tem muita dificuldade na aceitação das famílias?

Coord. Estadual: Tem uma mãe que nos fizemos o diagnostico ela agrediu a

professora aqui, foi uma discussão muito feia e ela falou que ia processar a

professora porque ela estava dizendo que o filho dela não era normal, e ela levou e

realmente foi diagnosticado, e ela veio aqui chorando e a agradecer, quando ela

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estava com o laudo na mão pra ela vim aqui foi um processo demorado, pra ela

aceitar isso demoro quase um ano.

Hoje ela nos avisa, quando sabe de alguma palestra ela traz para nos, para

convidar, ela tem uma preocupação.

Tânia: Você falou que a CAP da uma ajuda, que tipo de ajuda é essa?

Coord. Estadual: Teórica.

Tânia: Ela disponibiliza alguém pra vim aqui?

Coord. Estadual: Não, ela pega só os coordenadores ou especialista de área e da

um curso esporadicamente, porque antes só era oferecido pelos especialistas, ai

abriram há uns dois anos atrás para os coordenadores também, e agora eu to vendo

assim uma estrutura maior de apoio quanto aos materiais, se você tem um aluno

deficiente visual, você liga la e fala que ele não enxerga e o caderno tem que ser

com uma pauta maior, mas grossa a linha mais visível, então consegue conversar

com eles e eles acabam enviando.

Tânia: E demora muito, quanto tempo tem esse processo? É rápido?

Coord. Estadual: Hoje é rápido, antes demorava cerca de uns 6 meses.

Tânia: O aluno estava saindo da série e estava chegando o material.

Coordenadora: Isso, agora essas salas especiais elas recebem constantemente

materiais assim.

Tânia: E a professora utiliza bastante com os alunos?

Coord. Estadual: Sim.

Tânia: Então é um apoio.

Coord. Estadual: Sim, eles têm uma preocupação muito grande em oferecer

materiais exclusivos pra essa turma, mas eles não se deparavam que existem N

outros com múltiplas deficiências nas salas comuns.

Tânia: É eu tive um certo choque, porque eu vi certa assistência, já com o professor

que tem uma sala com 1 aluno com deficiência eu já vi que tem poucos recursos,

dentro do mesmo colégio.

Coord. Estadual: Isso porque as salas especiais já são cadastradas no sistema,

nos tínhamos duas salas de D.A, mas as crianças foi avançando, ela fora

terminando o fundamental, então elas já vão pra outra escola apropriada onde tem o

fundamental II, e nos não temos inclusão com o laudo no ciclo II, vem todo material

restrito, ele tem uma preocupação muito grande para atender essas classes, mas

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são poucas, pra você ver tinham duas classes e uma foi extinta, e só temos uma

agora e são poucos alunos, cadastrados mesmo são uns dez alunos.

Tânia: O que você acha dessa classe especial?

Coord. Estadual: Quando eu entrei aqui era um trabalho muito segregado, tanto é

que as outras crianças tinham medo dos mudinhos segundo eles, a criança surda

muda ela tinha tudo separado, eu mesmo quando eu ia entregar alguma coisa eu

esquecia aquela sala porque ela era sempre fechada, para mim na minha cabeça

era uma sala que não existia, ainda mais que eles não emitem som, com o passar

do tempo com essa inclusão meio forçada as professoras achavam que não ia dar

certo, a professora especialista tentou passar para os outros a língua de sinais, mais

os professores não tinham a noção que ia receber esse nível de alunos, não foi uma

ordem foi uma iniciativa. Hoje eles estão bem respectivos.

Tânia: O que você acha sobre o fechamento dessas classes especiais?

Coord. Estadual: Vai provocar um tumulto uma turbulência na educação.

Tânia: Você acha que quem esta ganhando ou perdendo com isso? O aluno

deficiente.

Coord. Estadual: Eu acho que todo mundo ganha, a sociedade ganha. Porque é

uma troca.

Mais ainda é um processo lento, vai fazer o professor se especializar, eles ate

oferecem cursos, mais são todos dentro do horário de trabalho. O que dificulta.

Tânia: Como você pensa e organiza as questões curriculares?

Coord. Estadual: A questão de avaliação a ultima palestra que eu fui na APAE fala

dessa daptação, adaptação do currículo, adaptação curricular eles ainda não

conseguem fazer com o professor, eles estão na fase de fazer com que o aluno se

socialize.

Eles fazem assim a avaliação, eu sempre falo vocês têm que analisar o progresso

dele com ele mesmo não com os demais alunos, eu não vou comparar.

Antes só existia eu de coordenadora durante o dia e um para a noite, que é o EJA

do ensino médio, então eu pegava o aluno assim na primeira série, ele ia com as

dificuldades e só poderíamos reter na quarta série, quando ele passava para a

quinta série, ele passava assim já com a recomendação, por que eu não posso reter

mais de dois anos na quarta.

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Quando o aluno tem laudo e não consegue acompanhar a série seguinte vai ter

muita dificuldade, o próprio psicólogo, ele encaminha um relatório para a escola que

ele continue na mesma série.

Quando o aluno não tem laudo, ele fica a critério do professor, como a lesgilação

manda prosseguir e só parar na quarta série, na quarta agente retém.

Agora a Lesgilação diz que o ciclo está divido em dois, ele tanto pode ficar retido na

segunda quando na quarta série.

Então pra nós vai ser um bem porque agente pode trabalhar com esse aluno mais

um ano.

Como tinha um coordenador só eu mesmo me encubia de pegar esses relatórios

que eu sempre guardo no prontuário do aluno e manda pro professor do ciclo dois, o

professor do ciclo II ele esta muito mais alheio sobre inclusão do que o professor do

ciclo I.

Mais temos esses casos sim de terminalidade que é solicitado que permaneça, tem

a legislação que eu converso com o professor no conselho final.

Agora temos outro coordenador, então agente já vai passando os casos pro outros

coordenadores.

Tânia: Qual a dificuldade que você encontra pra trabalhar com inclusão?

Coord. Estadual: Essa falta de recursos, número excessivo de alunos, se os cursos

que são oferecidos para esses professores fora do horário de trabalho, teria uma

forma de multiplicar, uma forma melhor de recrutamento de professores,

oferecimento de mais horário de capacitação seria o ideal para agente perder esse

medo.

Tânia: O que poderia ser feito para melhorar esse processo?

Coord. Estadual: Um atendimento diferenciado, conversas com os professores para

saber das dificuldades. O contato com a família dos alunos ate dos outros alunos. A

formação para professor. Especialistas que vem ate a escola, grupos que orientem

os professores dentro da escola.

Uma capacitação bimestral, semestral, um professor pelo menos que

aprenda/estude e passe isso aos demais.

Tânia: Tem mais alguma coisa importante que você acha que seria interessante

para registrar nessa conversa?

Coord. Estadual: Eu acho que veicular mais coisas, como o meio ambiente agora

onde todos escutam sobre preservação do meio ambiente chegou a um estado

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caótico, ser divulgada estratégias em mídias, jornais, sai da escola e ir e mais para a

sociedade, ou ate mesmo começar na escola, porque não aqui né?

Ser veiculado isso que esta acontecendo porque muita gente já tem preconceitos,

que essas crianças deveria ficar segregadas em algum lugar, acho que para eles se

adaptarem agente tem que admitir o novo, admitir a diferença mais que ela é

necessária na sociedade porque a sociedade é pra todo mundo, uma questão de

conscientização, multiplicar não só para o professor mas começar a adaptar as

coisas.

Tânia: Obrigada!

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Entrevistado: Profº C

Tânia: Qual é o seu nome?

Profº C: Professor C (nome fictício)

Tânia: Qual a sua formação?

Profº C: Pedagogia.

Tânia: Em que ano se formou?

Profº C:1992.

Tânia: Quanto tempo tem que você trabalha com inclusão de alunos com

deficiência?

Profº C: Acho que mais de uma década que eu recebo esses alunos.

Tânia: Quantas crianças deficientes você tem na sala?

Profº C: Diagnosticada tem um que faz acompanhamento na APAE e tenho mais

três não diagnosticada.

Tânia: Essa criança que foi Diagnosticada qual é a sua deficiência?

Profº C: Tem microcefalia

Tânia: E as outras crianças que não foram diagnosticadas o que a senhora acha

que elas têm?

Profº C: Tenho um com hiperatividade acompanhado de outro distúrbio não

detectado. Essa hiperatividade já foi detectada mais um outro distúrbio que ainda

não saiu o resultado, pois a mãe ainda não terminou de concluir os testes. Tem uma

que eu suspeito que tenha dislexia por que ela não aprende, não evolui, está sempre

distraída. Tem um outro que eu venho acompanhado, além da parte física ele tem

problema neurológico, ele não consegue escrever corretamente, não consegue

segurar o lápis. Ele começa bem a escrever, mas depois não agüenta com o lápis,

parece que o músculo atrofia. No começo ele não conseguia nem segurar o lápis,

mas ai comecei a fazer alguns exercícios de fisioterapia na mão dele, nesse período

ele não conversava com os outros alunos, não acompanhava as atividade de sala,

era tipo um objeto, tipo uma cadeira que ficava parada no lugar. Eu chamei a mãe e

ela falou que em outras unidades escolares que ele passou as escolas deram

encaminhamento para o medico, mas ela não o levou. Disse que levou ele na AACD,

mas quando chegou lá foi barrada por que o pai era desempregado e não podia

contribuir.

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Tânia: A senhora tem ou teve algum contato com profissionais da saúde que

acompanha esse aluno?

Profº C: Não! Nenhum.

Tânia: Nunca procurou?

Profº C: Nunca recebi nada. Só esse aluno que é diagnosticado que trouxe o laudo,

os outros me trazem atestado medico para abonar as faltas.

Tânia: Nunca despertou o interesse em estar ligando para os médicos que

acompanha

Profº C: Não!

Tânia: Qual a sua opinião sobre inclusão dos alunos deficientes nas escolas

públicas de São Paulo?

Profº C: Eu acho que irá representar uma perda muito grande para a criança,

porque a escola não está preparada, os professores não estão preparados para

receber essa criança. A proposta não é voltada para essa criança. Começa de cima

o erro. Não tem material disponível par atende-lo. Eu como professora não sei como

esse aluno aprende, não sei como é a dificuldade dele que impede dele aprender,

aí fica difícil.

Tânia: Qual o total de alunos na sua sala?

Profº C: 42 matriculados, mas 38 que freqüentam as aulas

Tânia: Você considera que essa quantidade de alunos interfere na qualidade de

suas aulas e no processo educacional de cada aluno?

Profº C: Interfere sim, esses casos de alunos com deficiência se tivesse menos eu

poderia estar dando mais assistência e assim eles poderiam evoluir mais. E assim

eu poderia ter mais tempo para se dedicar a eles. Então eles ficam prejudicados

Tânia: Você se sente preparada para trabalhar com alunos com deficiência?

Profº C: Não! Nenhum pouco. Nem pela minha formação e nem pela parte pessoal.

Tenho dificuldade de me relacionar com eles. Eu sei que esse aluno aprende de

forma diferente mas eu não sei como que é. A minha formação não é voltada para

trabalhar com crianças deficientes. A minha formação é voltada para trabalhar com

criança comum.

tânia: Utiliza algum método ou procedimento diferenciado com os alunos

deficientes?

Profº C: Diferenciado sim, alguma coisa, mas o método e o mesmo que eu uso com

os outros. A exigência do aluno com deficiência e diferente das demais crianças,

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pois tenho que respeitar os limites deles. O material e o mesmo para todo mundo,

quando ocorre algo diferente é uma coisa improvisada, por que o professor vive

improvisando na sala de aula, pois a escola não oferece nada.

Tânia: Como ocorre a interação dos alunos deficientes como os outros alunos?

Profº C: No começo é muito difícil, por que as crianças também não estão

preparadas, as crianças se preparam para receber crianças iguais a eles, então no

começo sofre um impacto, depois eu trabalhei com eles isso, fui falando que ele está

aqui para ser ajudado. Quando ele começa a se soltar eu tiro ele da sala. Falo para

as outras crianças não darem muita atenção para ele, se não ele não vai evoluir.

Toda hora eu tenho que estar falando com as crianças isso. Pois as crianças de

prontidão elas não aceita o deficiente, suas brincadeiras.

Tânia: Como é esse aluno deficiente na sala de aula?

Profº C: Ele é bastante agitado, sem limite. A parte de limite em casa deixa muito a

desejar. Ele não me entende como autoridade.

Tânia: A senhora considera que a falta de limite está ligada a doença dele?

Profº C: Não, e de casa. Ele em casa sempre é desculpado, ele incomoda os

irmãos e é sempre desculpado. Por que é tratado como doente. Aqui na escola

quando ele incomoda alguma criança, ele quer ser desculpado, mas aqui é diferente,

aquela criança que é incomodada por ele e é irritada já parte para agressão.

Tânia: Os pais dos alunos deficientes têm interesse em acompanhar o

desenvolvimento escolar do aluno?

Profº C: Os pais não. Tem uma tia que diariamente ela passa para perguntar. Eu

vejo que ela é uma figura importante para ele, pois quando ele a vê, ele se

transforma, fica calmo, ele obedece. É ela que acompanha ele na APAE

Tânia: Ele mora com quem?

Profº C:: Com os avôs maternos, mãe e a tia.

Tânia: que apoio vc encontra da direção escolar?

Profº C: Nenhum! Da direção pedagógica nenhum apoio. O material que eu tenho

sou eu que improviso. Não tenho apoio nem da parte pedagógica nem

administrativa. Me sinto abandonada.

Tânia: E ajuda de outros órgãos públicos?

Profº C: Nenhum. Apoio que eu tenho, sou eu mesmo que vou buscar. E recebi um

convite de uma palestra da Apae e aí por conta própria eu fui.

Tânia: A senhora já foi então a palestras da Apae?

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Profº C: Já sim, em duas por conta desse aluno deficiente que me trouxe o convite.

Uma foi desenvolvimento humano e a outra foi adaptação do currículo.

Tânia: Essas palestras de ajudaram no dia-a-dia da sala de aula?

Profº C: Tirou o trauma que eu tinha na minha cabeça muito grande para receber

essa criança. Eu já passei a olhar ele mais constante. Eu percebi que a deficiência

não era minha, mas sim na minha formação.

Tânia: O Estado oferece algum curso para ajudar?

Profº C: Que eu saiba não. Eu já fiz telha do saber, mas não abordou a questão de

trabalhar com alunos deficientes. A única coisa que falaram foi que iríamos receber e

que não adiantávamos espernear por que está na lei e tem que ser comprida. O que

realmente me ajudou, me deu um novo rumo foi a palestra da APAE.

Tânia: Você não teve nenhum professor especialista para lhe dar um apoio?

Profº C: A escola tem uma professora especialista da sala de alunos deficientes

auditivos mas nunca foi oferecido um espaço para que ela conversar com agente,

nem na AHPP. Por que no AHPP geralmente e voltado para as questões burocrática

que não há espaço para outras coisas.

Tânia:Tem alguma sala de recurso ou equipamento pra auxiliar?

Profº C: Não!

Tânia: O que poderia ser feito para melhorar o processo de inclusão nas escolas?

Profº C: Acho que a primeira coisa é rever o plano PPP da escola. Por que atual

proposta está voltada para a criança normal. Em nenhum momento no planejamento

se colocou o que o professor vai fazer para está criança deficiente? Qual é o objetivo

com essa criança? Nunca foi comprado nada de mim para com essa criança

deficiente. E cobrado dessa criança a mesma coisa que as demais. Tanto que tem a

prova do Saresp que é igual para todas e a cobrança é a mesma. Na APAE eu fiquei

sabendo que a criança com deficiência pode fazer a prova do Saresp com alguns

recursos para que ela não vá tão mal e não traumatize a criança e isso eu não sabia

antes.

Além da proposta a formação do professor, pois a nossa formação deixa muito a

desejar, na questão do desenvolvimento humano.

Tânia: Como a Senhora vê o processo de socialização?

Profº C: Acho que ele teve um ganho, pois ele se relaciona, participa das

brincadeiras. Ele não está em casa, pois em casa para ele seria um castigo.

Enquanto ele está aqui ele está se divertindo.

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Não é que agente rejeita, mas é o medo de traumatizar uma coisa que já é tão

fragilizada.

Tânia: De que maneira a Senhora avalia esse aluno?

Profº C: Avalio mais a parte se ele evolui oralmente, no relacionamento com os

amigos e na aprendizagem eu não estou avaliando. Por que ele rejeitava as

atividade diferenciada que eu propunha para ele, ele tinha muitas dificuldades, não

conhecia as letras e agora que ele está caminhado um pouquinho, está conhecendo

as letras

Tânia: Ele tem quantos anos?

Profº C: 9 anos e está na primeira série.

Tânia: Existe algo a mais que julga importa registrar nessa entrevista?

Profº C: Eu acho que poderia antes de jogar o aluno na sala oferecer um apoio. Pois

se não houver o preparo do professor essas crianças de inclusão vão voltar a

formar uma sala de PIC com crianças especiais

Tânia: O que a senhora acha do fechamento dessas instituições especializadas?

Profº C: Eu acho uma perda. Se eu tivesse um filho eu gostaria que ele

permanecesse em um lugar adequado para ele, onde tivesse condição dele evoluir.

Eu acho uma perda, principalmente na nossa sociedade onde a mãe e ausente por

causa da questão do trabalho, pois a mãe precisa sair para buscar o sustendo aí

essa criança fica jogada, se a mãe tivesse um lugar com pessoas especializadas a

evolução da criança seria mais rápida.

Tânia: Existe alguma maneira que vc acha possível a inclusão da criança deficiente

na sala regular.

Profº C: Sim, desde que acha muito investimento na questão do professor e na

política. Eu trabalhei o ano inteiro sozinha, sem nenhuma ajudante. Com a cobrança,

com a exigência. Eu também sou mãe tenho três filhos, e meus filhos ficaram mais

abandonados para que eu me dedicasse às crianças. Tudo que eu fui buscar, foi

sozinha, não recebi ajuda de ninguém. Na parte administrativa da escola nunca me

deram uma atividade ou me ofereceram alguma coisa no que seria mais adaptado

para o meu aluno. Pode ser que dê certo com menor numero de aluno, com o

material apropriado, Entregar a criança para mim, livro, papel , lousa e giz para ele é

uma grande perda, pois ele não está preparado para isso. Se os outros aprende com

o lúdico, ele mais ainda. E outra coisa, em casa ele tem a parte tecnológica, ele esta

habituado ao controle remoto, as facilidades da vida moderna e quando chega na

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escola se depara com o caderno, lousa e giz, e complicado. Pois não tem jogos, aí é

complicado...

Tânia: obrigada professora!

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Entrevistado: Professor D

Tânia: Olá Professora!

Profª D: Olá!

Tânia: Qual o seu nome?

Profª D: Profª D (nome fictício)

Tânia: Qual sua formação?

Profª D: Pedagogia com habilitação em EDAC.

Tânia: Em que ano a Senhora se formou?

Profª D: Em 1989.

Tânia: Há quanto tempo a Senhora trabalha com alunos de inclusão?

Profª D: Há 20 anos, quando estava na faculdade já estagiava em uma sala

especial.

Tânia: Quantas crianças você tem na sala? E Todas são deficientes auditivas?

Profª D: Hoje matriculadas são 10 crianças. Sim, Todas têm deficiência auditiva

com graus variados.

Tânia: Você tem ou teve algum contato com profissionais da saúde que acompanha

esses alunos? Como foi? No que ele te orientou?

Profª D: Quando os alunos estão com acompanhamento de fonoaudiólogo eu entro

em contato com o médico por meio do telefone e tento acompanha o tratamento,

trocamos informações, falo da situação do aluno no colégio e o médico me diz como

está o tratamento da criança e sempre que possível trocamos relatórios.

Mas no momento nenhum estão com acompanhamento de fonoaudiólogo, pois eles

não têm convenio e no posto não há vagas ou mesmo os pais não tem interesse em

correr atrás da vaga.

Tânia: Qual a sua opinião sobre inclusão dos alunos deficientes nas escolas

públicas de São Paulo?

Profª D: Complicada! Pois quem faz a lei não tem noção da realidade, das

necessidades especificas do aluno Deficiente Auditivo.

O aluno Deficiente Auditivo tem que ser integrado a sala comum de qualquer jeito

sem nenhum o sistema está preparo para eles e sem eles estarem preparados para

essa integração.

Tânia: Você considera que a quantidade de alunos interfere na qualidade de suas

aulas e no processo educacional de cada aluno?

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Profª D: Na minha sala tem 10 alunos matriculados, o qual considero excelente para

trabalhar com criança que tenha dificuldade auditiva. Se tivesse mais do que essa

quantidade com certeza a qualidade das aulas iriam ser prejudicada igual ocorre

na classe regular que é muito cheia.

Tânia: A senhora se sente preparada para trabalhar com alunos com deficiência?

Profª D: Sim, pois minha formação é voltada para esse tipo de atendimento, além

disso tenho 20 anos de experiência.

Tânia: Você acha que os professores da classe comum estão aptos a receberam

seus alunos?

Profª D: Não! Os professores não têm formação para trabalhar com a inclusão.

Tânia: Quais os métodos ou procedimento diferenciado utiliza com os alunos?

Profª D: Sigo o currículo da escola comum, lógico, que adaptando com materiais

mais apropriado como livros em libras.

Tânia: Como ocorre a interação dos alunos deficientes como os outros alunos?

Profª D: Nos momentos de aula de educação física e artes se juntamos com a 4º

série da sala do PIC, pois também é uma sala em menor quantidade de alunos.

Essa foi uma iniciativa do profº de Educação física que nós convidou a estar junto

com sua crianças da sala comum, pois antes não tinha um professor próprio para

educação física, era eu que levava eles até a quadra e dava-lhes uma bola para

brincar e fazer algum tipo de exercício. Achei legal essa atitude do profº, pois ele não

é pago para dar aulas na sala especial, mas mesmo assim ele dá as aulas. Nessas

aulas que acontece a inclusão eu sempre estou junto, ajudando na comunicação

entre os alunos deficientes auditivos com os professores e os outros alunos. Essa

integração é bem positiva, os alunos conseguem se interagirem.

Tânia: Os pais dos alunos têm interesse em acompanhar esse desenvolvimento

deles?

Profª D: A maioria dos pais trabalham direto e não tem tempo para acompanhar o

processo de aprendizagem.

Tânia: Que apoio você encontra da direção escolar?

Profª D: Quando solicito algum matéria a escola dentro da sua realidade tenta

providenciar, quando não pode atender prontamente faz o pedido para a Secretaria

Educacional.

Tânia: Tem apoio de outros órgãos para trabalhar?

Profª D: Não!

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Tânia: Você participa de alguma formação continuada?

Profª D: Pela rede não. Mas por conta própria sempre que dá faço cursos de

atualização em libras.

Tânia: O que poderia ser feito para melhorar o processo de inclusão nas escolas?

Profª D: Melhorara preparação para os professores. E continua com as classes

especiais com o objetivo de preparar a criança para a sala comum. Pois esse

preparo é necessário para a inclusão. Imagina aquelas crianças que tem uma

deficiência muito grave, ela precisa de um atendimento individual especialmente

quando ela vai para uma escola comum, ela precisa ser preparada.

Tânia: Existe algo a mais que você acha importante registrar?

Profª D: Não.

Tânia: Obrigada!