Tania Zapata é destaque em matéria sobre Governança

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| 16 | JORNAL dO INTERIOR ECONOMIA T ânia Zapata, diretora técnica do Instituto de Assessoria ao De- senvolvimento Humano, do Recife, autora do livro “De- senvolvimento local e partici- pação social, é convidada pelo Jornal do Interior para falar sobre Governança Corporati- va. JI – A mudança de cultura vai acontecer de cima para baixo? Tânia Zapata: Não. As mu- danças mais substantivas da nossa sociedade, só vão acon- tecer ou se consolidarem, a partir do local e das redes so- ciais. Ou pelo menos, a partir de uma nova articulação entre o local e o país. É no lo- cal, no territó- rio organizado, espaço da vida, que as coisas do cotidiano acontecem, onde existe a vida real e a ci- dadania come- ça a ser exerci- da. JI - Qual o conceito corre- to de gover- nança? Tânia Zapa- ta: É impor- tante não con- fundir o conceito de governança com o de governo. O conceito de go- vernança antecipa e ultrapas- sa o governo. Ela contempla a capacidade institucional na gestão pública, com a partici- pação de diferentes atores, como governo, agentes do mercado e sociedade civil. Va- mos deixar ainda explícito, que o conceito moderno de governança, diz respeito a uma nova forma de governar, com mais cooperação e hori- zontabilidade, diferente do velho modelo hierárquico, no qual as autoridades do estado exerciam sempre seu poder sobre o conjunto da sociedade civil. JI Como se alcança uma boa governança? Tânia Zapata: Ela se apoia em fortes interações entre a sociedade civil, os agentes do mercado e as estruturas de GOVERNANÇA UMA NOVA CULTURA POLÍTICA Da redação governo. Portanto, são vários fatores, entre os quais, líde- res com visão inovadora, que expressem causas, crenças, competência empreendedora e de articulação de uma uto- pia viável, capaz de impulsio- nar mudanças históricas e também uma nova conduta no território, com regras de jogo sociais e políticas válidas para todos os atores. JI A senhora fala em novo paradigma do desenvolvi- mento sustentável. Como é? Tânia Zapata: O entendi- mento de hoje é que precisa- mos avançar e contemplar a compreensão de que o desen- volvimento sustentável tem múltiplos as- pectos: am- biental, bioló- gico, cultural, sócio-econô- mico, político e ético. A própria compreensão do desenvolvi- mento com sustentabilida- de, leva em consideração o exercício do protagonismo das pessoas e da participação cidadã na rede- finição da esfe- ra pública, onde se discute o interesse co- letivo. JI - Qual a agenda do futu- ro? Tânia Zapata: Precisamos de uma verdadeira revolução das mentalidades, que valori- ze e dê significado ao lugar da vida, da natureza, das ideias, da criatividade humana e das imensas possibilidades da in- teligência coletiva. N o fundo, talvez o que mais precisamos entender é “não dá mais para não compartir o mundo”. A construção de um novo tipo de relação estado, sociedade e mercado, requerem a rea- propriação da política pela ci- dadania, assim como a exis- tência dos novos espaços públicos para o debate sob re as alternativas de desenvolvi- mento para o século 21. JI Como a Sra. vê o pro- cesso democrático do País? Tânia Zapata: A democra- cia que queremos não é ape- nas um regime representati- vo, senão um modo de relação entre o estado e os próprios cidadãos. Para tal, é necessá- rio que a sociedade civil se fortaleça, seja suficientemen- te autônoma e que os distin- tos atores, vejam contempla- dos seus interesses na formação da agenda pública. JI Como acelerar esse processo? Tânia Zapata: Os relevan- tes avanços na área de gestão estão apontando alternativas interessantes no campo insti- tucional, com mudanças na estrutura do estado e sua re- lação com a sociedade. Orga- nizações não governamentais sem fins lucrativos e com missão de servir ao público estão ganhando espaço, pois possuem mais flexibilidade e velocidade, no desempenho de suas atribuições. Sinali- zam que está em curso uma nova prática de implementa- ção de programas e projetos de interesse público. JI Tânia, o que impulsio- na a continuar essa militância que você chama da “rede dos teimosos”, apesar de tantos desafios? Tânia Zapata: É a certeza de que esta agenda de cons- trução do desenvolvimento mais humano e mais susten- tável está posta na sociedade e é irreversível. Estamos con- vencidas de que estar v Ivo é uma transcendência, e que este ato da vida, nossa pre- sença no mundo, contempla a expansão das consciências para abrir os espaços do uni- verso, na unidade do todo. O conhecimento interior coleti- vo permite que o futuro fale ao presente. Concluo com a convicção de que existe um futuro que deseja emergir e que depende de nós. Nova governança é a estrutura de relações entre os diferentes atores, através da qual se toma decisões sobre a coisa pública, com visão de longo prazo. A inter- dependência entre os atores é inerente e fun- damental para entender o conceito de governança.

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| 16 | JORNAL dO INTERIOR

ECONOMIA

Tânia Zapata, diretora técnica do Instituto de Assessoria ao De-

senvolvimento Humano, do Recife, autora do livro “De-senvolvimento local e partici-pação social, é convidada pelo Jornal do Interior para falar sobre Governança Corporati-va.

JI – A mudança de cultura vai acontecer de cima para baixo?

Tânia Zapata: Não. As mu-danças mais substantivas da nossa sociedade, só vão acon-tecer ou se consolidarem, a partir do local e das redes so-ciais. Ou pelo menos, a partir de uma nova a r t i c u l a ç ã o entre o local e o país. É no lo-cal, no territó-rio organizado, espaço da vida, que as coisas do cotidiano a c o n t e c e m , onde existe a vida real e a ci-dadania come-ça a ser exerci-da.

JI - Qual o conceito corre-to de gover-nança?

Tânia Zapa-ta: É impor-tante não con-fundir o conceito de governança com o de governo. O conceito de go-vernança antecipa e ultrapas-sa o governo. Ela contempla a capacidade institucional na gestão pública, com a partici-pação de diferentes atores, como governo, agentes do mercado e sociedade civil. Va-mos deixar ainda explícito, que o conceito moderno de governança, diz respeito a uma nova forma de governar, com mais cooperação e hori-zontabilidade, diferente do velho modelo hierárquico, no qual as autoridades do estado exerciam sempre seu poder sobre o conjunto da sociedade civil.

JI – Como se alcança uma boa governança?

Tânia Zapata: Ela se apoia em fortes interações entre a sociedade civil, os agentes do mercado e as estruturas de

GOVERNANÇAUMA NOVA

CULTURA POLÍTICA

Da redação

governo. Portanto, são vários fatores, entre os quais, líde-res com visão inovadora, que expressem causas, crenças, competência empreendedora e de articulação de uma uto-pia viável, capaz de impulsio-nar mudanças históricas e também uma nova conduta no território, com regras de jogo sociais e políticas válidas para todos os atores.

JI – A senhora fala em novo paradigma do desenvolvi-mento sustentável. Como é?

Tânia Zapata: O entendi-mento de hoje é que precisa-mos avançar e contemplar a compreensão de que o desen-volvimento sustentável tem

múltiplos as-pectos: am-biental, bioló-gico, cultural, sóc io-econô-mico, político e ético. A própria compreensão do desenvolvi-mento com sustentabilida-de, leva em consideração o exercício do protagonismo das pessoas e da participação cidadã na rede-finição da esfe-ra pública, onde se discute o interesse co-letivo.

JI - Qual a agenda do futu-ro?

Tânia Zapata: Precisamos de uma verdadeira revolução das mentalidades, que valori-ze e dê significado ao lugar da vida, da natureza, das ideias, da criatividade humana e das imensas possibilidades da in-teligência coletiva. N o fundo, talvez o que mais precisamos entender é “não dá mais para não compartir o mundo”. A construção de um novo tipo de relação estado, sociedade e mercado, requerem a rea-propriação da política pela ci-dadania, assim como a exis-tência dos novos espaços públicos para o debate sob re as alternativas de desenvolvi-mento para o século 21.

JI – Como a Sra. vê o pro-cesso democrático do País?

Tânia Zapata: A democra-cia que queremos não é ape-

nas um regime representati-vo, senão um modo de relação entre o estado e os próprios cidadãos. Para tal, é necessá-rio que a sociedade civil se fortaleça, seja suficientemen-te autônoma e que os distin-tos atores, vejam contempla-dos seus interesses na formação da agenda pública.

JI – Como acelerar esse processo?

Tânia Zapata: Os relevan-tes avanços na área de gestão estão apontando alternativas interessantes no campo insti-tucional, com mudanças na estrutura do estado e sua re-lação com a sociedade. Orga-nizações não governamentais sem fins lucrativos e com missão de servir ao público estão ganhando espaço, pois possuem mais flexibilidade e velocidade, no desempenho de suas atribuições. Sinali-zam que está em curso uma

nova prática de implementa-ção de programas e projetos de interesse público.

JI – Tânia, o que impulsio-na a continuar essa militância que você chama da “rede dos teimosos”, apesar de tantos desafios?

Tânia Zapata: É a certeza de que esta agenda de cons-trução do desenvolvimento mais humano e mais susten-tável está posta na sociedade e é irreversível. Estamos con-vencidas de que estar v Ivo é uma transcendência, e que este ato da vida, nossa pre-sença no mundo, contempla a expansão das consciências para abrir os espaços do uni-verso, na unidade do todo. O conhecimento interior coleti-vo permite que o futuro fale ao presente. Concluo com a convicção de que existe um futuro que deseja emergir e que depende de nós. ■

Nova governança é a estrutura de relações

entre os diferentes atores, através da qual

se toma decisões sobre a coisa pública, com visão de longo prazo. A inter-

dependência entre os atores é inerente e fun-

damental para entender o conceito de

governança.”