Tartaruga Marinha

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Origem O começo do universo, da terra, da vida e das tartarugas marinhas. 4,5 bilhões a.p.: surgimento do planeta terra. Existem no universo milhões de estrelas e vários sistemas solares. No nosso sistema solar, uma variedade de cometas, meteoritos, asteróides e planetas se formaram. A terra, um desses planetas, surgiu há 4,5 bilhões de anos. 3,5 bilhões a.p.: primeiras formas de vida. A atmosfera e os oceanos se formaram após um longo período de atividade vulcânica intensa, com a liberação de gases compostos, a ação da radiação solar e de descargas elétricas. Surgiram substâncias como a água, o gás carbônico, o metano e o cianeto. Juntos, eles são a essência da vida. A partir dessa combinação, há 3,5 bilhões de anos surgiram as primeiras formas de vida, simples como moléculas. 2 bilhões a.p.: organismos multicelulares. As primeiras moléculas evoluíram para organismos celulares que, ao se agregarem, originaram as primeiras formas de vida multicelulares, há dois bilhões de anos. Organismos fotossintetizantes apareceram e começaram a produzir oxigênio, possibilitando que a vida passasse a existir também fora da água. 550 milhões a.p.: invertebrados marinhos e vertebrados. O aparecimento e a evolução das plantas e animais que hoje são mais familiares ocorreram nos últimos 550 milhões de anos, quando surgiram os invertebrados marinhos, seguidos dos peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos, nessa ordem. As mudanças nas formas dos animais e vegetais são decorrentes de mutações gênicas que possibilitam o aparecimento de novas características em seus descendentes, proporcionando novas adaptações ao meio natural. Estas adaptações são determinantes no surgimento de novas espécies melhor adaptadas e extinção daquelas menos adaptadas. Este processo é conhecido como seleção natural, conforme descrito pelo cientista inglês Charles Darwin, no século XIX, em seu livro A Origem das Espécies. 220 milhões a.p.: primeiras tartarugas. Os primeiros quelônios surgiram derivadas de ancestrais terrestres e passavam a maior parte do tempo na água.

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Origem

O comeo do universo, da terra, da vida e das tartarugas marinhas.

4,5 bilhes a.p.: surgimento do planeta terra.Existem no universo milhes de estrelas e vrios sistemas solares. No nosso sistema solar, uma variedade de cometas, meteoritos, asterides e planetas se formaram. A terra, um desses planetas, surgiu h 4,5 bilhes de anos.

3,5 bilhes a.p.: primeiras formas de vida.A atmosfera e os oceanos se formaram aps um longo perodo de atividade vulcnica intensa, com a liberao de gases compostos, a ao da radiao solar e de descargas eltricas. Surgiram substncias como a gua, o gs carbnico, o metano e o cianeto. Juntos, eles so a essncia da vida. A partir dessa combinao, h 3,5 bilhes de anos surgiram as primeiras formas de vida, simples como molculas.

2 bilhes a.p.: organismos multicelulares.As primeiras molculas evoluram para organismos celulares que, ao se agregarem, originaram as primeiras formas de vida multicelulares, h dois bilhes de anos. Organismos fotossintetizantes apareceram e comearam a produzir oxignio, possibilitando que a vida passasse a existir tambm fora da gua.

550 milhes a.p.: invertebrados marinhos e vertebrados.O aparecimento e a evoluo das plantas e animais que hoje so mais familiares ocorreram nos ltimos 550 milhes de anos, quando surgiram os invertebrados marinhos, seguidos dos peixes, anfbios, rpteis, aves e mamferos, nessa ordem.As mudanas nas formas dos animais e vegetais so decorrentes de mutaes gnicas que possibilitam o aparecimento de novas caractersticas em seus descendentes, proporcionando novas adaptaes ao meio natural. Estas adaptaes so determinantes no surgimento de novas espcies melhor adaptadas e extino daquelas menos adaptadas. Este processo conhecido como seleo natural, conforme descrito pelo cientista ingls Charles Darwin, no sculo XIX, em seu livro A Origem das Espcies.

220 milhes a.p.: primeiras tartarugas.Os primeiros quelnios surgiram derivadas de ancestrais terrestres e passavam a maior parte do tempo na gua.

150 milhes a.p.: domnio dos dinossauros. Desenvolvendo formas de vida variadas, os dinossauros dominaram a terra h 150 milhes de anos. Nesse mesmo perodo, os atuais continentes se separaram e aos 110 milhes de anos surgiram as primeiras tartarugas marinhas.

65 milhes a.p.: extino em massa dos dinossauros.Uma srie de mudanas no clima do planeta provocou a extino em massa dos dinossauros. Mas as tartarugas sobreviveram, diferenciando-se em vrias espcies. Todas, porm, mantiveram sua caracterstica principal: o casco protetor, formado pela fuso de costelas e vrtebras e coberto por placas de queratina.

2,5 milhes a.p.: Idade da Pedra.Supe-se que o homem se alimenta das tartarugas marinhas desde a Idade da Pedra, iniciada no chamado perodo Paleoltico Inferior, quando seus ancestrais comearam a fabricar os primeiros utenslios.

40 mil a.p.: chegada do homem Amrica.Aves e mamferos evoluam e dominavam os ambientes areo e terrestre, at que, h 40 mil anos, o homem chega Amrica. Imagina-se que os ndios no litoral brasileiro coletavam os ovos e caavam as tartarugas que subiam praia para desovar e as que ficavam presas nas poas dgua durante as mars baixas. O hbito era comum em diversas culturas, em todo o mundo. Mas, at ento, no havia risco de extino. porque as populaes de tartarugas eram numerosas e bem distribudas.

Sculo XV: explorao comercial.

Com o desenvolvimento do mercantilismo, a relao homem-tartaruga passou a representar um risco para esses animais. Na Amrica, a chegada dos colonizadores a transformou em valiosa mercadoria de comrcio. Os prprios ndios e caboclos as matavam e vendiam. Mantendo-as vivas nos pores dos navios, garantiam carne fresca durante as longas viagens trans-ocenicas. Na Europa, eram transformadas em pratos requintados, jias e outros ornamentos sofisticados.

Sculo XX: degradao dos habitats e incremento pesqueiro.

Alm da caa, as tartarugas passaram a sofrer tambm com a perda de importantes reas de alimentao e reproduo, devido ocupao desordenada do litoral e poluio marinha. O incremento da pesca industrial tambm acelerou o processo de reduo das populaes. Assim, aps milhes de anos habitando os oceanos, um curto perodo de apenas trs ou quatro sculos de explorao comercial foi suficiente para que as tartarugas marinhas passassem a correr risco de desaparecer.

Quelnios

Quelnios ou testudines so nomes que agrupam todas as formas de tartarugas identificadas no mundo. A origem desses animais no bem conhecida, embora se saiba que tenham surgido h cerca de 220 milhes de anos, quando o planeta possua um nico super-continente chamado Pangea. Existem atualmente 13 famlias de quelnios, com 75 gneros e 260 espcies destes, h apenas seis gneros com sete espcies marinhas.

So facilmente reconhecveis por causa de sua inconfundvel carapaa (casco), formada pela fuso de sua coluna vertebral achatada com as costelas. Unida ao plastro (parte ventral do casco), a carapaa forma uma caixa ssea rgida, revestida por placas de queratina, que serve de proteo contra os predadores.

So rpteis e derivaram de ancestrais terrestres. Mesmo podendo se aventurar por longos perodos no ambiente aqutico respiram por pulmes e necessitam sair da gua para completar seu ciclo reprodutivo, colocando seus ovos no ambiente terrestre.

Ao contrrio dos rpteis terrestres, que mantinham a regio ventral protegida pelo contato com o solo, a seleo natural favoreceu o desenvolvimento do plastro, em um primeiro momento, e posteriormente da carapaa, como um escudo protetor contra o ataque de predadores.

A forma dos quelnios no mudou muito no processo evolutivo. As mudanas mais significativas ao longo de milhes de anos foram a perda dos dentes (substitudos por um bico), a capacidade de retrao da cabea e membros para dentro da carapaa e a adaptao dos membros conforme o tipo de ambiente.

Fssil mais antigo encontrado no Cear

As tartarugas marinhas existem h pelo menos 110 milhes de anos e conseguiram sobreviver a todas as mudanas do clima no planeta at hoje. O fssil mais antigo conhecido foi encontrado no Brasil, em Santana do Cariri, Chapada do Araripe, no interior do Cear. Este fssil, batizado de Santanachelys gaffney, apresentava membros semelhantes aos das atuais tartarugas de gua doce.

Entretanto, a presena de uma grande cavidade orbital (espao do crnio ocupado pelos olhos), semelhante das tartarugas marinhas de hoje, levam a crer que aquele animal j possua, logo atrs dos olhos, as glndulas de sal responsveis pela excreo do excesso de sal ingerido durante a alimentao.

O surgimento dessas glndulas possivelmente aconteceu antes da adaptao dos membros - pulso e dedos se alongaram, transformando-se em eficientes nadadeiras. Alm de possibilitarem locomoo mais eficiente, na praia as tartarugas usam as nadadeiras para cavar a areia e fazer o ninho.

Alm das glndulas de sal e da formao das nadadeiras, a carapaa das tartarugas marinhas tambm passou por adaptaes: tornaram-se mais curtas e achatadas, ganhando um formato hidrodinmico que facilita a movimentao no mar. Mas, com a carapaa menor, perderam a capacidade de ocultar a cabea e os membros, como faziam seus ancestrais e como fazem at hoje as tartarugas de gua doce e terrestres.

Classificao

Reino: AnimaliaFilo: Chordata Classe: Reptilia Nesta Classe esto inseridas serpentes, lagartos, tuataras, crocodilos e tartarugas. A temperatura corporal dos rpteis varia de acordo com o ambiente. Todos possuem coluna vertebral, pele coberta por escamas e respirao pulmonar. A maioria possui corao com trs cavidades e colocam ovos.

Ordem: Testudines Nesta Ordem esto includas todas as tartarugas (marinhas, terrestres e de gua doce), sendo dividida em trs subordens: Pleurodira (tartarugas com retrao lateral do pescoo para dentro do casco); Cryptodira (tartarugas com a retrao da cabea, escondendo o pescoo dentro do casco, acompanhando a linha da coluna vertebral; Amphichelydia (todas as espcies extintas).

Subordem: CryptodiraNesta esto inclusos jabutis, tartarugas de gua doce e tartarugas marinhas.

Famlia: Cheloniidae e Dermochelyidae As tartarugas marinhas podem pertencer a duas famlias: Cheloniidae e Dermochelyidae. A famlia Cheloniidae inclui seis espcies de tartarugas marinhas, com carapaa coberta por placas. A famlia Dermochelyidae inclui somente a tartaruga de couro que, em vez de uma carapaa coberta por placas, possui pele semelhante a couro.

Espcies

Desde a sua criao, o Projeto TAMAR investe recursos humanos e materiais para adquirir o maior conhecimento possvel sobre a biologia das tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil, priorizando pesquisas aplicadas que resolvam aspectos prticos para a conservao desses animais. Conhecidos pela grande capacidade migratria, com um ciclo de vida de longa durao, as tartarugas ainda so um mistrio para pesquisadores do mundo inteiro.Nas reas de desova, 1.100 km de praias so monitorados todas as noites durante os meses de Setembro a Maro, no litoral, e de Janeiro a Junho, nas ilhas ocenicas, por pescadores contratados pelo TAMAR, chamados tartarugueiros, estagirios e executores das bases. So feitas marcao e biometria das fmeas, contagem de ninhos e ovos. A cada temporada, so protegidos cerca de quatorze mil ninhos e 650 mil filhotes.Nas reas de alimentao, o monitoramento quase todo realizado no mar, muitas vezes junto s atividades pesqueiras. Os pescadores so orientados a salvar as tartarugas que ficam...

Espcies encontradas no Brasil

aruan ou verdeChelonia mydas

Cabeuda ou MestiaCaretta caretta

de couro ou giganteDermochelys coriacea

de pente, verdadeira ou legtimaEretmochelys imbricata

olivaLepidochelys olivacea

Lora ou Kemps RidleyLepidochelys kempii

Tartaruga-FlatbackNatator depressus

Espcies-Bandeira

Como o urso panda e o mico leo dourado, as tartarugas marinhas so consideradas, no Brasil e no mundo, como espcie-bandeira, definio que se atribui s espcies carismticas, que atraem a ateno das pessoas. Por isso mesmo, so usadas para difundir e massificar a mensagem conservacionista e conscientizar a opinio pblica para a necessidade de proteger espcies menos conhecidas e seus habitats.

Quando as guas costeiras so protegidas da poluio e de atividades pesqueiras predatrias, de forma a garantir a sobrevivncia das tartarugas marinhas, por conseqncia tambm estaro protegidos peixes e outros animais colocados em risco pela pesca artesanal e mais ainda pelo setor pesqueiro industrial, considerando o seu carter intensivo. Neste contexto as tartarugas marinhas podem tambm ser chamadas de guarda-chuva.

Este procedimento favoreceu a criao de vrias reas de proteo marinhas e costeiras federais, estaduais e municipais no Brasil, beneficiando outras espcies atravs da proteo de seus respectivos habitats. Foi o que aconteceu, por exemplo, com as reservas estabelecidas em Abrolhos, Atol das Rocas, Fernando de Noronha, em Pernambuco, Santa isabel, em Sergipe, e Comboios, no Espirito Santo.

Bandeira do desenvolvimento scio-econmicoMas o Tamar foi mais alm da definio, englobando tambm, nesse contexto, as aes que promovem o desenvolvimento local sustentvel e a mudana dos hbitos das comunidades costeiras, cujos recursos naturais so essenciais para a gerao de renda e a sobrevivncia das populaes.

Desse modo, o programa de conservao adotado pelo Tamar utiliza com sucesso as tartarugas marinhas como espcie-bandeira tambm para a promoo do desenvolvimento comunitrio e da conscientizao ambiental. Os resultados alcanados comprovam que a conservao no uma barreira para a sobrevivncia das populaes que dependem da extrao de recursos naturais.

A parceria com as comunidades tem sido decisiva na formao de uma opinio publica favorvel, tanto nas prprias localidades onde o Tamar atua, como na sociedade brasileira como um todo. O uso da tartaruga marinha como espcie-bandeira amplia o alcance da mensagem conservacionista, ajuda a garantir a proteo destes animais e seus habitats a longo prazo e gera credibilidade, respeito e laos de confiana entre os diversos segmentos envolvidos no processo.

A tartaruga marinha tem hoje sua imagem amplamente reconhecida no pas e, para muitos brasileiros, tornou-se um smbolo, uma bandeira da conservao marinha e uma relao responsvel entre pessoas e o meio ambiente. A tartaruga assume um papel proeminente e inspirador. um brilhante exemplo de compatibilidade entre conservao e desenvolvimento scio-econmico.

Comportamento

As tartarugas marinhas so solitrias e permanecem submersas durante muito tempo, o que dificulta os estudos do seu comportamento. Por isso, a maior parte do que se conhece sobre elas refere-se desova, que acontece na praia.

Possuem viso, olfato e audio desenvolvidos, alm de uma fantstica capacidade de orientao. Animais migratrios por excelncia, vivem dispersas na imensido dos mares e, mesmo assim, quando atingem a maturidade sexual sabem o momento e o local de se reunir para a reproduo. Nessa poca, realizam viagens transocenicas para voltar s praias onde nasceram e desovar.

Podem migrar centenas ou milhares de quilmetros e dormir na superfcie, quando esto em guas profundas, ou no fundo do mar, sob rochas, em reas prximas costa. Os filhotes flutuam na superfcie durante o sono e geralmente mantm as nadadeiras dianteiras encolhidas para trs, sob a parte traseira do corpo.

Em mar aberto, as tartarugas marinhas encontram fortes correntes e, mesmo assim, conseguem navegar regularmente por longas distncias. Os mecanismos de navegao e orientao que utilizam ainda representam um grande mistrio, estudado por vrias geraes de pesquisadores ao redor do mundo.

Sabe-se que so capazes de detectar o ngulo e a intensidade do campo magntico terrestre. A presena de magnetita (mineral muito sensvel direo do campo magntico usado para fazer ims) no crebro das tartarugas marinhas sugere uma possibilidade para compreender a capacidade de orientao em mar aberto.

Nessa longa caminhada pelos mares, podem cruzar as fronteiras de vrios pases - e por isso precisam ser protegidas atravs de acordos de cooperao internacionais, para que o esforo de conservao seja efetivo.

Ciclo de Vida

As tartarugas marinhas apresentam um ciclo de vida complexo, utilizando diferentes ambientes ao longo da vida, o que implica em mudana de hbitos. Embora sejam marinhas, utilizam o ambiente terrestre (praia) para desova, garantindo o local adequado incubao dos ovos e o nascimento dos filhotes.

Ao nascerem, as tartaruguinhas rumam imediatamente para o alto-mar, onde atingem zonas de convergncia de correntes que formam grandes aglomerados de algas (principalmente sargaos) e matria orgnica flutuante. Nestas reas, que formam um verdadeiro ecossistema, os filhotes encontram alimento e proteo e assim permanecem, por vrios anos, migrando passivamente pelo oceano.

Algumas espcies podem permanecer no ambiente pelgico por toda a vida, como a tartaruga de couro (Dermochelys coriacea). Outras passam a fase juvenil em regies costeiras ou insulares, alimentando-se de organismos bentnicos at atingir a maturao sexual.

Embora espcies como a tartaruga oliva (Lepidochelys olivacea) atinjam a maturidade entre 11 e 16 anos, as demais s se tornam adultas entre os 20 e 30 anos. A partir da, passam a viver em reas de alimentao, de onde saem apenas na poca da reproduo, quando migram para as praias onde nasceram.

A poca de desova regida principalmente pela temperatura, ocorrendo nos perodos mais quentes do ano. No litoral brasileiro, acontece entre setembro e maro, com variao entre as espcies. Nas ilhas ocenicas, entre janeiro e junho, registrando-se somente desovas da espcie verde (Chelonia mydas).

A seguir, as diversas etapas do ciclo de vida das tartarugas marinhas:

Acasalamento

O acasalamento ocorre no oceano, em guas profundas ou costeiras, muitas vezes prximas s reas de desova. Fmea e macho se encontram e o namoro comea com algumas mordidas no pescoo e nos ombros. A cpula pode durar vrias horas. Os machos, menores que as fmeas, agarram-se a elas sobre o casco, utilizando as longas garras das nadadeiras anteriores e posteriores. Os machos brigam pela oportunidade da cpula, mas uma mesma fmea pode ser fecundada por vrios deles. A fecundao interna.

Seleo das praias

Para desovar, as fmeas geralmente procuram praias desertas e normalmente esperam o anoitecer, pois o calor da areia, durante o dia, dificulta a postura. Alm disso, a escurido da noite as protege de vrios perigos. As tartarugas escolhem um trecho da praia livre da ao das mars para construir a cama e o ninho.

Cama

Com as nadadeiras anteriores, removem grande quantidade de areia, em uma espao de aproximadamente dois metros de dimetro. Esta rea, onde a fmea se aloja para iniciar a confeco do ninho, chamada de cama. Elas podem fazer vrias camas at encontrar o local mais adequado para fazer o ninho e colocar os ovos.

Ninho e postura

Feita a cama, constroem, com as nadadeiras posteriores, um buraco para o ninho com cerca de meio metro de profundidade. Esse comportamento de postura varia de acordo com a espcie em relao profundidade do ninho. Dependendo da espcie, cada fmea pode realizar de trs a 13 desovas em uma mesma temporada de reproduo, com intervalos que variam entre nove e 21 dias. Os ovos so esfricos, do tamanho de uma bolinha de tnis de mesa, e tm casca calcria. Cada ninho contm, em mdia, 120 ovos.

Incubao

Depois da postura, a fmea volta para o mar. O calor da areia responsvel pelo desenvolvimento dos embries dentro dos ovos. A determinao do sexo dos filhotes depende da temperatura de incubao: temperaturas altas (acima de 30 C) produzem mais fmeas; temperaturas mais baixas (abaixo de 29 C) produzem mais machos.

Nascimento

Os filhotes rompem os ovos e nascem aps um perodo de incubao que varia entre 45 e 60 dias, dependendo do calor do sol. Em movimentos sincronizados, os filhotes emergem em conjunto, retirando a areia, at alcanarem a superfcie do ninho e correrem em grupo, imediatamente, para o mar. A sada do ninho ocorre quase sempre noite, estimulada pelo resfriamento da temperatura da areia. Nessa hora, so menores as chances de serem atacados por predadores. Eventualmente, num dia nublado ou chuvoso, pode ocorrer o nascimento durante o dia, por conta do resfriamento da areia. Para chegar ao mar, os filhotes se orientam pela luminosidade do horizonte.

Sobrevivncia

A nica atitude das fmeas para proteger os filhotes a camuflagem do ninho, aps a postura. As tartaruguinhas j nascem independentes, mesmo sendo to pequenas e frgeis, medindo apenas entre 3,5cm e 4cm de comprimento de casco. Muitas so devoradas por siris, aves marinhas, polvos e principalmente peixes. Outras morrem de fome e doenas naturais. Estima-se que, de cada mil filhotes, apenas um ou dois atingem a idade adulta. Mas, quando isso acontece, poucos animais conseguem ameaar as tartarugas, exceo de tubares, orcas - e o homem.

Ameaa de Extino

As espcies ameaadas de extino, animais ou vegetais, so aquelas em risco de desaparecer, em um futuro prximo. Incontveis espcies j se extinguiram nos ltimos milhes de anos, devido a causas naturais, como mudanas climticas, e incapacidade de adaptao a novas condies de sobrevivncia.

Mas hoje o homem interfere decisivamente no processo natural de extino de espcies, atravs de aes como, por exemplo, destruio dos habitats, explorao dos recursos naturais e introduo de espcies exticas (vindas de outros locais). Essas e outras atitudes provocam declnio das espcies em taxas jamais observadas na histria da humanidade.

As cinco espcies de tartarugas marinhas encontradas no Brasil continuam ameaadas de extino, segundo critrios da lista brasileira e mundial de espcies ameaadas. Das cinco, quatro desovam no litoral - e, por estarem mais expostas, so as mais ameaadas: cabeuda (Caretta caretta), de pente (Eretmochelys imbricata), oliva (Lepidochelys olivacea) e de couro (Dermochelys coriacea).

A tartaruga verde (Chelonia mydas) est menos exposta, pois desova principalmente nas ilhas ocenicas (Atol das Rocas, Fernando de Noronha e Trindade), onde a ao predatria do homem mais controlada, o que contribui para a estabilidade da sua populao.

De cada mil filhotes que nascem, somente um ou dois conseguem atingir a maturidade. So inmeros os obstculos que enfrentam para sobreviver, mesmo quando se tornam juvenis e adultos. Mas, alm dos predadores naturais, as aes do homem esto entre as principais ameaas s populaes de tartarugas marinhas, destacando-se as seguintes: aquecimento global, destruio do habitat para desova, devido a ocupao desordenada do litoral; poluio dos oceanos; e, principalmente, a pesca incidental, ao longo de todo litoral, com redes de espera, e em alto mar, com anzis e redes de deriva.

Ameaas naturais

Os primeiros predadores naturais so raposas, caranguejos e formigas. Ao nascerem, os filhotes se tornam vulnerveis predao por aves marinhas, caranguejos, polvos e uma grande diversidade de peixes marinhos.

Na maturidade, as tartarugas marinhas so relativamente imunes predao, a no ser pelo ataque ocasional de tubares e orcas. A exceo a desova, o momento mais vulnervel na vida de uma fmea adulta, pois quando ela est fora do mar. Na praia, perde a agilidade, torna-se lenta e indefesa, fica totalmente exposta aos ataques de predadores como onas-pintadas. Mas nenhuma ameaa natural, por si s, capaz de representar perigo de extino para as tartarugas marinhas. So as atitudes predatrias do homem que as colocaram nessa situao de risco.

2. Ameaas causadas pelo homem:

Caa e coleta de ovos

At a dcada de 80, era um hbito comum, nas comunidades litorneas, matar tartarugas marinhas para consumir a carne; coletar os ovos nos ninhos, para comer ou vender como tira-gosto em bares praieiros; e vender o casco para fabricao de armaes de culos, pentes e enfeites como pulseiras, anis e colares. Geralmente, as fmeas eram capturadas quando subiam praia para desovar.

Quando o Tamar lanou ao mar a primeira ninhada nascida sob sua proteo, havia praticamente uma gerao de crianas e jovens daquelas comunidades que nunca tinham visto um filhote de tartaruga. Mas hoje essas prticas predatrias raramente acontecem, nas reas protegidas pelo Tamar.

Pesca incidental

As tartarugas marinhas interagem com diversas modalidades de pesca artesanal e industrial. Presas nos diversos tipos de redes e anzis, no conseguem subir superfcie para respirar e acabam desmaiando ou mesmo morrendo afogadas.

A pesca de camaro com redes de arrasto, prximo costa, e a de peixes pelgicos com espinhis, em escala industrial, em alto mar, so dois dos principais tipos de pescaria que afetam as tartarugas marinhas, no Brasil e no mundo, com registro de altos ndices de captura incidental, considerada atualmente a principal ameaa a esses animais. Por isso, o Tamar desenvolve programa especfico que inclui educao ambiental e orientao aos pescadores, alm de desenvolver novos recursos e petrechos de pesca que possam minimizar os efeitos da pesca sobre as populaes e reduzir os ndices de capturas.

Sombreamento

Construes altas e plantaes em grande parte no litoral podem aumentar significativamente o sombreamento das praias de desova, diminuindo a temperatura mdia da areia - e as temperaturas mais baixas na areia da praia pode provocar aumento no nascimento de filhotes machos, gerando desequilbrio nas populaes de machos e fmeas.

Iluminao artificial

A incidncia de luz artificial nas praias, resultado da expanso urbana sobre o litoral, prejudica fmeas e filhotes. As fmeas deixam de desovar, evitando o litoral, se a praia est iluminada inadequadamente. Os filhotes, por sua vez, ficam desorientados: ao invs de seguir para o mar, guiados pela luz do horizonte, caminham para o continente, atrados pela iluminao artificial - e fatalmente so atropelados, devorados por predadores como ces e raposas, ou morrem de desidratao.

Por isso o Tamar conseguiu aprovar leis que impedem a instalao de novos pontos de luz em reas de desova e faz campanhas permanentes para substituio, nessas reas, das luminrias convencionais por outras, especialmente desenhadas com a consultoria do Projeto, para que a luz no incida diretamente sobre a praia.

Legislao

No Brasil, a Portaria do Ibama, n. 1.522, de 19/12/89, o instrumento legal em vigor que declara as tartarugas marinhas ameaadas de extino. Foi redigida com base na lista mundial de espcies ameaadas da Unio Internacional para Conservao da Natureza (IUCN), da qual fazem parte as sete espcies de tartarugas marinhas. As cinco espcies que ocorrem no Brasil tambm integram a lista brasileira, desde a primeira publicao at a mais recente atualizao, realizada em 2008. Os Estados do Paran, So Paulo, Rio de Janeiro e Esprito Santo tambm incluram as tartarugas marinhas em suas listas locais de espcies ameaadas.

Para os casos de prticas ilegais como captura, matana, coleta de ovos, consumo e comrcio de produtos e sub-produtos de tartarugas marinhas so aplicadas as sanses e penas previstas na Lei de Crimes Ambientais (Lei n 9605 de 12 de fevereiro de 1998) e no Decreto n 3179, de 21 de setembro de 1999.

Tambm como forma de proteger as tartarugas marinhas, a Instruo Normativa n 31, do Ministrio do Meio Ambiente, de 13 de dezembro de 2004, determina a obrigatoriedade do uso de dispositivos de escape de tartarugas (TED) nas embarcaes utilizadas na pesca de arrasto de camares.

A Instruo Normativa n 21, do Ibama, de 30 de maro de 2004, probe a pesca do camaro, entre o norte da Bahia e a divisa de Alagoas e Pernambuco, no perodo de 15 de dezembro a 15 de janeiro de cada ano. O objetivo proteger as tartarugas oliva, que nessa poca esto no pico da temporada reprodutiva. A instruo foi elaborada com a participao dos pescadores que atuam na pesca de arrasto de camaro.

H tambm diversas leis estaduais que regulamentam aspectos especficos relacionados proteo das tartarugas marinhas, como iluminao artificial (Portaria do IBAMA n 11, de 31/1/1995) e trnsito de veculos nas praias (Portaria do IBAMA n 10, de 30/1/1995).

O Brasil signatrio de vrios tratados e acordos internacionais, inclusive da Conveno Interamericana para Conservao das Tartarugas Marinhas, que ajudou a criar. um tratado que j conta com 13 pases e contempla exclusivamente medidas de conservao destas espcies e dos habitats dos quais elas dependem. O Decreto Federal no 3.842, de 13 de junho de 2001, confirma que o disposto na Conveno Interamericana deve ser executado e cumprido no Brasil.

Porque preciso proteger

Em algum momento da criao do mundo, as tartarugas marinhas receberam a seguinte misso: "Espalhem-se pelos oceanos, no escondam as suas belezas; alimentem a quem for necessrio; mas no deixem de existir". Assim foi feito - e o homem no tem o direito de contrariar essa lei csmica.

Depois de mais de 100 milhes de anos de sobrevivncia e evoluo, as tartarugas marinhas continuam desempenhando importante papel ecolgico nos ambientes onde ocorrem - das reas costeiras a grandes profundidades ocenicas (as chamadas regies abissais). So fonte de alimento para predadores marinhos e terrestres, inclusive o homem, e importantes consumidores de organismos marinhos, servindo como substrato para outras espcies.

Como animais migratrios, as tartarugas se deslocam desde os trpicos at as regies subpolares, transferindo energia entre ambientes marinhos e terrestres. So consideradas verdadeiros engenheiros do ecossistema, devido a sua influncia e ao sobre os recifes de coral, bancos de grama marinha e substratos arenosos do fundo ocenico.

Importncia biolgica das tartarugas:

Presa e predador

Como presas, as tartarugas marinhas fazem parte da dieta de vrios animais (raposas, formigas, lagartos, falces, abutres, gaivotas, fragatas, polvos, peixes, orcas, focas, crocodilos, onas entre outros) e os seus ovos tambm podem ser consumidos por razes de plantas nas praias de desova.

Como consumidores, atingem diversos nveis na cadeia alimentar. Exercem controle das populaes de esponjas, medusas, algas e grama marinha, entre outras. Durante os seus diferentes estgios de vida, alimentam-se de mais de 200 txons de vertebrados e invertebrados.

Substrato de plantas e animais

J foram observadas mais de 100 diferentes espcies de plantas e animais vivendo no casco e rgos internos de tartarugas marinhas, que assim atuam como substrato para epibiontes e parasitos. Tambm funcionam como dispersores de vrios organismos como cracas, tunicados e moluscos.

Transferindo energia

A energia e os nutrientes armazenados nas reas de alimentao (ambiente marinho) so transferidos para as praias de desova (ambiente terrestre), em forma de ovos. Apenas um tero desta energia e nutrientes retorna para os mares com os filhotes. O restante permanece nos ecossistemas terrestres, transferidos para o solo, vegetao e fauna locais.

Reciclagem de nutrientes

As tartarugas marinhas so bioturbadores, afetando a estrutura e o funcionamento dos habitats de forrageamento, como, por exemplo, recifes de coral, bancos de algas e grama marinha, e fundos de substrato arenoso. Assim, contribuem para a reciclagem de nutrientes, considerando a grande quantidade de resduos/detritos excretados por milhes delas no mundo inteiro.

A tartaruga de pente, por exemplo, ajuda a manter a biodiversidade nos recifes de corais, pois pode se alimentar seletivamente de alguns grupos de esponjas, permitindo que espcies raras se estabeleam competindo por espao e nutrientes com sucesso.

Outro exemplo o da tartaruga verde (Chelonia mydas), que o mega-herbvoro marinho mais abundante, consumindo toneladas de algas e grama marinha. Atravs de sua alimentao seletiva sobre a grama marinha, estimula o crescimento de grama jovem, mais nutritiva. Ao longo do tempo, as reas de pastagem contribuem significativamente na estabilizao de sedimentos e reciclagem de nutrientes, o que beneficia tanto as tartarugas quanto a uma grande variedade de macro e micro-herbvoros.

O caso das tartarugas de couro (Dermochelys coriacea) interessante. Durante anos, os pescadores tm observado um aumento considervel nas populaes de guas-vivas no oceano Atlntico. Frequentemente, estas guas-vivas se concentram em regies especficas em mar aberto, onde se alimentam de alevinos de espcies de peixe comercialmente importantes. A preocupao que o crescimento exagerado das populaes de guas-vivas provoque a reduo nos estoques de peixes.

Um dos principais predadores de guas-vivas justamente a tartaruga de couro, ironicamente uma das mais ameaadas de extino, por causa do alto ndice de captura incidental pela pesca. Como a tartaruga de couro desempenha papel fundamental no controle das grandes populaes de guas vivas do Atlntico, se o ndice de mortalidade dessa espcie pela pesca continuar crescendo, esse desequilbrio pode condenar tanto as tartarugas como a atividade pesqueira, j que os estoques sero reduzidos drsticamente e o peixe pode at acabar.

Todas as formas de vida

Por tudo isso, preciso proteger as tartarugas marinhas. Como poucos animais, elas representam a perpetuao da vida ao longo de mais de 100 milhes de anos. Sobreviventes, resistem e continuam, apesar de tantas agresses e ameaas, a cumprir sua misso de contribuir para a vida de outras espcies e, por consequncia, do homem.

Durante sua longa existncia, cada tartaruga marinha leva e traz toneladas de nutrientes e energia vital sobrevivncia de tantas outras formas de vida. Das tartarugas marinhas depende a existncia de uma infinidade de peixes, crustceos, moluscos, esponjas, medusas. Dependem tambm formaes de mangues, bancos de areia, de gramas marinhas e de algas, de corais e recifes, de ilhotas e formaes geolgicas.

Proteger as tartarugas marinhas , portanto, preservar a vida marinha, garantir a sobrevivncia do planeta e da humanidade.