Tavares, Eneias Farias

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  • 8/18/2019 Tavares, Eneias Farias

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    Universidade Federal de Santa Maria

    Centro de Artes e Letras

    Programa de Pós-Graduação em Letras

    Tese de Doutorado

    “AS P!TAS DA P"!C"P#$%&

    T"'T " (MAG"M )S L(*!S (LUM()ADS

    D" +(LL(AM ,LA"

     ................................. 

    "n/ias Farias Tavares

    PPGL

    Santa Maria0 !S0 ,rasil

    1231

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    “AS P!TAS DA P"!C"P#$%&T"'T " (MAG"M )S L(*!S (LUM()ADS

    D" +(LL(AM ,LA"

     ................................. 

    4or

    "n/ias Farias Tavares

    Tese a4resentada

    Ao Programa de Pós-Graduação em Letras0

    5rea de Con6entração em "studos Liter7rios0

    Da Universidade Federal de Santa Maria 8UFSM0 !S90

    Como re:uisito 4ar6ial 4ara o;tenção do grau de

    Doutor em Letras<

    PPGL

    Santa Maria0 !S0 ,rasil

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    Universidade Federal de Santa Maria

    Centro de Artes e Letras

    Programa de Pós-Graduação em Letras

    A Comissão Examinadora, abaixo assinada,

    Aprova a Tese de Doutorado

    “AS P!TAS DA P"!C"P#$%&

    T"'T " (MAG"M )S L(*!S (LUM()ADS D" +(LL(AM ,LA"

    Elaborada por 

    "n/ias Farias Tavares

    Como requisito parcial para obtenção do grau de

    Doutor em etras

    Comissão "=aminadora&

     ................................. 

    a!rence "lores #ereira $%"&'(

    #residente)*rientador 

     +++++++++++++++++++++++++++++++++ 

    Alcides Cardoso dos &antos $%E(

     +++++++++++++++++++++++++++++++++ 

    -at.rin /osen0ield $%"/1&(

     +++++++++++++++++++++++++++++++++ 

     ara Cristina &antos $%"&'(

     ................................. 

    'aria Eullia /amicelli $%"&'(

    Santa Maria0 3> de Fevereiro de 1231<

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    AG!AD"C(M")TS

    Dentre tantas pessoas que contribu5ram para essa pesquisa, recon.eço aqui apenas uma porção

    delas6 #rimeiramente, agradeço aos meus pais, Cirilo e 'arlei, por me ensinarem a

    import7ncia con8unta da cordialidade e da paci9ncia, bem como da disciplina e do trabal.o

    rduo6 &ou grato ao #rograma de #:s 1raduação em etras da %niversidade "ederal de &anta

    'aria, em especial aos 0uncionrios ;andir e &oares ?ieira e &andra &irangelo 'aggio pela leitura e arguição

    durante a 0ase de quali0icação deste trabal.o6 Aos pro0essores Alcides Cardoso dos &antos,

    -at.rin /osen0ield, ara Cristina &antos e 'aria Eullia /amicelli pela leitura e arguição no

    exame 0inal de de0esa e tamb>m =s pro0essoras suplentes ?era en@ ?ianna e /osani -et@er

    %mbac.6 Agradeço igualmente a CA#E& pela bolsa de Doutorado durante os tr9s anos dessa

     pesquisa, bem como pelo aux5lio #DEE que me permitiu e0etuar parte da pesquisa no /eino

    %nido6 &ou grato ao pro0essor da %niversidade de orB, 'ic.ael #.illips, pela orientação e

    apontamento cr5tico nesse per5odo, bem como pela cordial ami@ade6 Agradeço especialmente

    ao meu orientador, a!rence "lores #ereira, que . tantos anos me ensina e me inspira com

    seu rigor cr5tico e com sua delicade@a caracter5stica6 #or 0im, agradeço = min.a amiga e

    esposa, ;uliana de Abreu erner, pelas incessantes leituras e revises, pela paci9ncia nas

    semanas e meses dedicados a essa tese, pelo amor incodicional6

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    !"SUM

    Tese de Doutorado#rograma de #:sF1raduação em etras

    %niversidade "ederal de &anta 'aria

    As Portas da Per6e4ção& Te=to e (magem nos Livros (luminados de +illiam ,la?e

    AutorG En>ias "arias Tavares*rientadorG a!rence "lores #ereira

    Data e ocal da De0esaG &anta 'aria, H de "evereiro de 2IH26

    Esta tese de doutorado prope analisar a origem e a interpretação dos livros iluminados deilliam JlaBe6 A produção do artista 0oi e0etuada como um empreendimento t>cnico no qual

    texto e imagem eram gravados numa mesma c.apa de impressão, para depois resultarem em

    diversas c:pias impressas e 0inali@adas com aquarela6 A 0im de mapear as experimentaçes

    que culminaram na t>cnica de impressão iluminada, o primeiro cap5tulo discute a 0ormação

    tripla de JlaBe como gravurista, poeta e pintor6 * segundo analisa o poema narrativo e as

    ilustraçes para Tiriel , livro que evidencia o primeiro es0orço de JlaBe em unir texto e

    imagem6 * terceiro, al>m de detal.ar o m>todo iluminado de impressão, discute o contexto de produção e as poss5veis metas do seu autor ao empreender tal arte6 * interlKdio apresenta uma

    discussão metodol:gica sobre o tipo de anlise e conceituação cr5tica para o estudo de sua

    arte6 #artindo dessa proposta, os cap5tulos seguintes ob8etivam uma interpretação dos

     primeiros livros iluminados de JlaBe6 *s cap5tulos 4 e discutem as Canções de Inocência e

    as Canções de Experiência, ao passo que o Kltimo se debruça sobre O Matrimônio de Céu e

     Inferno6 Tais cap5tulos demonstram como, na criação do artista, texto e imagem mant9m uma

    dial:gica relação de oposição e complementaridade que revela a meta do autor de 0ragili@ar odiscurso dualista de seu tempo, se8a ele cient50ico ou religioso, ao propor uma arte centrada na

    união de percepçes 05sicas e mentais, visuais e textuais6 * recorte metodol:gico priori@a na

     primeira parte desta tese uma discussão sobre o contexto cultural da arte de JlaBe e na

    segunda uma anlise dos processos de leitura, observação e interpretação de seus livros6

    Palavras-C@ave& iteratura Comparada, Artes ?isuais, illiam JlaBe, ivros

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    A,ST!ACT

    Tese de Doutorado#rograma de #:sF1raduação em etras

    %niversidade "ederal de &anta 'aria

    T@e Doors o Per6e4tion& Te=t and (mage in +illiam ,la?eBs (lluminated ,oo?s

    Aut.orG En>ias "arias Tavares&upervising #ro0essorG a!rence "lores #ereira

    Date and #lace o0 t.e De0enseG &anta 'aria, "ebruarM H t. 2IH26

    T.is #.D dissertation analM@es t.e context o0 production and t.e interpretation o0 illiamJlaBeNs illuminated booBs6 T.e artistOs production !as tec.nicallM executed as a composite

    art, text and image, engraved in t.e same copper plate t.at !ere printed and coloured in

    !atercolor6 To maping t.e trials !.ic. culminate in t.e development o0 JlaBeNs printing

    met.od, t.e 0irst c.apter .ig.lig.ts t.e artist triple apprendis.ip as engraver, poet and painter6

    T.e second examines t.e narrative poem and t.e illustrations o0 Tiriel , !orB t.at

    demonstrates .is 0irst e00orts to combine text and image6 T.e t.ird details t.e illuminated

    met.od and discusses JlaBeNs ob8ectives to execute .is art and its social context6 T.einterlude 0ocuses a met.odological discussion t.at deals !it. t.e analMsis and t.e critical

    concepts in order to studM .is art6 "rom t.is discussion, t.e 0ollo!ing c.apters present an

    interpretation o0 JlaBeOs earlM illuminated booBs6 T.e 0ourt. and 0i0t. c.apters discuss The

    Songs of Innocence and  of Experience, !.ile t.e sixt. 0ocuses on The Marriage of ea!en

    and ell 6 T.ese c.apters demonstrate .o!, in JlaBeNs creation, text and image maintain a

    dialogic relations.ip o0 opposition and complementaritM, !.ic. evidences t.e aut.orOs

    subversion o0 dualistic discourse, !.et.er scienti0ic or religious, bM proposing an art centeredin opposite perceptions, suc. as p.Msical and mental, visual and textual6

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    HI

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    SUM5!(

    (ntrodução 66666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666

    PA!T" (

    A F!MA#$ D" ,LA" " A C!(A#$ DS L(*!S (LUM()ADS

    Ca4Etulo 3

    JlaBe e a "ormação como 1ravurista, #oeta e #intor666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666666

    Ca4Etulo 1

    Tiriel G ivro

    K>

    33

    31

    3>

    3K

    11

    1>

    1H

    1>1

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     "ssim como o homem é% assim ele !ê&

    illiam JlaBe

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    ()T!DU#$

    Se um método de Impress'o (ue com)ine o *intor e o *oeta

     for um fenômeno digno da atenç'o p+)lica% desde (ue supere em eleg,ncia

    todos os métodos anteriores% ent'o o "utor estar- seguro de o)ter sua recompensa&

    illiam JlaBe, "o *+)lico, HP3

    evou mais de um s>culo para os livros iluminados de illiam JlaBe serem estudados

    em seu 0ormato original6 #or ra@es editoriais e cr5ticas, o artista 0oi lido, analisado e

    recon.ecido primeiramente como poeta, em ediçes tipogr0icas que exclu5ram a dimensão

    visual de sua arte6 * primeiro autor a atentar para a união de texto e imagem na sua arte > ;ean

    Uagstrum6 &eu .illiam /la0e 1 *oet and *ainter $HP4( > um dos primeiros livros a estudarem pro0undidade os livros iluminados como Rarte comp:sitaS, construto verbal e visual

    indissocivel6 De acordo com Uagstrum, o problema esteve em d>cadas de interpretaçes que

    apenas Rcon0inaramS a atenção R=s suas palavrasS, desapercebendo um todo que consistia de

    Rpalavras, 0iguras e bordas, todas integralmente combinadas6S $HP4, p6 3(

    A expressão cun.ada por Uagstrum gan.a amplitude quando 6 ;6 T6 'itc.ell publica

     /la0e2s Composite "rt  $HPL(6 * cr5tico parte do estudo de Uagstrum ao en0ati@ar uma visão

    da arte de JlaBe enquanto ob8eto mKltiplo no qual elementos textuais e visuais estariam de tal0orma unidos que seria imposs5vel tratar de um como central ou superior ao outro6 esse

    aspecto, os dois autores concordam que sua arte prope a união das artes da gravura, da

     poesia e da pintura6 Todavia, enquanto Uagstrum de0ende a anlise dos 0rutos dessa RuniãoS,

    'itc.ell interpreta os livros de JlaBe não como Runidade inseparvelS e sim como Rinteração

    entre dois vigorosos modos de expressãoS, nesse caso, o verbal e o visual6 $HPL, p6 3(

    *s estudos de Uagstrum e 'itc.ell registram a import7ncia de se observar na arte

    comp:sita de JlaBe o dilogo entre esses di0erentes modos art5sticos de expressão6 Entretanto,

    raros autores estudam os livros iluminados sem metodologicamente ressaltar a import7ncia do

    texto sobre a imagem6 Esta > vista por muitos cr5ticos como depositria RilustrativaS ou

    RalusivaS das narrativas, personagens ou temas presentes naquele6 ogicamente, o dilogo

    entre texto e imagem > desa0iador6 Tal di0iculdade 0oi aludida por 'itc.ell nos seguintes

    termosG R"alar sobre poemas complexos e imagens ao mesmo tempo > como tentar levar duas

    conversas ao mesmo tempo6S $HPL, p6 xvii( Entretanto, embora a reprodução cr5tica do

    dilogo entre gravura, poesia e pintura em JlaBe se8a imposs5vel, não se deve con0undir o

    espaço de sua pgina iluminada V no qual não . dissociação entre essas artes V com os

     processos mentais envolvidos no ato da leitura, da observação e da interpretação6

    H3

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    Analisar os processos t>cnicos compreendidos nos livros iluminados de illiam JlaBe

    e propor um m>todo para a sua interpretação > o que ob8etiva esta tese6 #ara tanto, discuto na

     primeira parte deste trabal.o seu es0orço individual em conceber uma t>cnica que pudesse

    responder criativamente =s limitaçes culturais e comerciais que vivenciou no contexto

    londrino do 0inal do s>culo HL6 a segunda, estudo na arte de JlaBe o desenvolvimento de

    uma percepção que educaria seus espectadores a identi0icar construçes dualistas oriundas do

    discurso pol5tico e religioso, construçes que legitimavam o moralismo condenat:rio, a 0alsa

    compaixão e a aceitação passiva das di0erenças, bases para a opressão e a dominação6

    Diante desse ob8etivo, depareiFme com dois problemas metodol:gicos6 #rimeiramente,

    o de reconstituir o per5odo em que JlaBe produ@iu sua arte V as d>cadas de HLI e HPI6 #ara

    tanto, 0i@ uso de uma base te:rica e cr5tica que percebesse a relação da arte de JlaBe com os

    temas, debates e problemas espec50icos de seu contexto6 esse sentido, destaco a import7ncia

    de cr5ticos como David Erdman, &aree 'aBdisi, /obert EssicB, ;osep. ?iscomi, 'orris

    Eaves, 'ic.ael #.illips e 'ars.a -eit. &c.uc.ard, que tiveram na interpretação .ist:rica dos

    livros iluminados e do seu contexto de produção suas principais 0erramentas de anlise6

    Em segundo lugar, a pergunta que norteou min.a pesquisa sobre os livros iluminados

    0ora a respeito da leitura e interpretação da imagem)texto de suas l7minas6 Enquanto poesia e

     pintura tiveram seu desenvolvimento metodol:gico e conceitual, como lidar com um ob8eto

    que une de 0orma igualitria essas duas artesQ Al>m disso, como interpretar a tradição literria

    e cultural, bem como a iconogra0ia visual, com as quais JlaBe dialoga em seus textosQ

    #ara tanto, ob8etivei uma anlise que não visse na arte de JlaBe um sentido Knico e

    apreens5vel de 0orma de0initiva6 Antes, estudei o caleidosc:pio visual e textual de JlaBe como

    uma s>rie de elementos culturais que, ao inv>s de delimitar e de obrigar o cr5tico ao in0indvel

    exerc5cio de busca por 0ontes, enriquece e potenciali@a leituras e compreenses diversas6 #ara

    tal estudo, tr9s 0oram os autores 0undamentais enquanto tentativas cr5ticas de o0ertar uma

    interpretação da arte de JlaBe e de responder = pergunta sobre como ler seus livrosiluminadosG 6 T6 'itc.ell, &tep.en Je.rendt e Alcides Cardoso dos &antos6 Al>m desses,

    destaco os autores que problemati@aram as relaçes entre texto e imagem no contexto da arte

    de JlaBe, como ;ean Uagstrum, David Jindman, ;anet arner e C.ristop.er Ueppner6

    Jaseado nesse duplo percurso interpretativo, esta tese se divide em duas partes6 a

     primeira, composta de tr9s cap5tulos, estudo o desenvolvimento do m>todo de impressão

    criado por JlaBe6 &endo o primeiro um mapeamento da 0ormação de JlaBe como gravurista,

     poeta e pintor, centro a anlise nas obras produ@idas entre H e HL6 o segundo cap5tulo,estudo o poema e as ilustraçes para Tiriel  $HLFHL(6 Jaseado na anlise do manuscrito e

    H4

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    das imagens dessa obra inconclusa, trabal.ei com a .ip:tese de tratarFse de um livro

    iluminado em gestação6 * terceiro, por sua ve@, detal.a o m>todo iluminado de impressão6

     esses primeiros cap5tulos, apresento uma discussão cronol:gicoFbiogr0ica a 0im de

    dar conta do desenvolvimento de JlaBe como gravurista, poeta e pintor, numa 0ormação que

    culminaria na criação do m>todo iluminado em HLP6 Todavia, os dados biogr0icos apenas

    aparecerão quando pertinentes = discussão sobre a obra6 Ao alocar a arte comp:sita de JlaBe

    no seu contexto cultural, .ist:rico e social, o que se tem > o produto resultante de um espaço

    de produção mKltiplo, no qual texto e imagem dialogam com um campo pol5tico, art5stico e

    social pro05cuo6 Essa contextuali@ação da obra iluminada 0ornece a base de discussão t>cnica e

    est>tica para a interpretação presente nos outros cap5tulos deste trabal.o6

    Ao passar da primeira para a segunda parte, apresento um interlKdio no qual propon.o

    uma estrutura de anlise para os livros iluminados, proposta metodol:gica baseada, sobretudo,

    nos estudos de 'itc.ell, Je.rendt e &antos6 Essa re0lexão responde =s pr:prias caracter5sticas

    do livro iluminado, livro que demanda observação e leitura e uma completa interação entre

    in0ormaçes visuais e textuais no processo de anlise6 Assim como a arte de JlaBe apresenta

    caracter5sticas Knicas, percebi como 0undamental uma discussão cr5tica que tamb>m

     priori@asse a 0ormulação de uma terminologia espec50ica para seu estudo6

    &e nos primeiros cap5tulos desta tese pesquiso o desenvolvimento t>cnico e art5stico de

    JlaBe, nos cap5tulos que compe a segunda parte concentroFme na anlise detal.ada do texto

    e das imagens de alguns poemas e l7minas dos livros iluminados6 * quarto cap5tulo centraFse

    n "s Canções de Inocência  $HLP(, livro que registra a primeira cr5tica de JlaBe ao

     pensamento dualista6 A continuidade dessa re0lexão via arte comp:sita seria conclu5da cinco

    anos depois, com  "s  Canções de Experiência  $HP4(, tema do quinto cap5tulo6 esse,

     propon.o uma re0lexão sobre os e0eitos do contraste promovido por JlaBe para os Restados

    contrriosS de Inocência e Experiência na edição con8unta dos dois livros6

    #or 0im, no Kltimo cap5tulo desta tese, analiso O Matrimônio de Céu e Inferno $HPIFHP2(, obra em que conceitos religiosos e culturais são revistos e corrigidos6 #artindo da

    anlise de 6 ;6 T6 'itc.ell, interpreto Matrimônio como uma obra que evidencia a oposição

    meta0:rica de c>u e in0erno e art5stica de poesia e pintura, ampliando as Rportas de percepçãoS

    corporal)mental de seus leitores por meio da met0ora do m>todo iluminado de impressão6

    &eria inapropriado propor uma anlise de todas as l7minas desses livros V algo

    imposs5vel para o escopo dessa tese6 Em vista disso, optei por uma re0lexão inicial sobre a

    estrutura de cada um dos livros, re0lexão que abre cada um dos respectivos cap5tulos6 A 0imde dar conta de uma anlise que tanto ilustrasse a interpretação dos livros iluminados quanto

    H

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    evidenciasse o processo de RcorrosãoS de 0alsas RverdadesS morais e de abertura das Rportas

    da percepçãoS, escol.i um nKmero limitado de poemas ou l7minas6

     o quarto cap5tulo, analiso RT.e Ecc.oing 1reenS e RT.e ittle JlacB JoMS de

     Inocência e no quinto me deten.o a RondonS e RT.e TMgerS de Experiência, l7minas que

    0ragili@am o moralismo religioso dedicado aos temas do sexo e da escravidão e que

    evidenciam as contradiçes da crença monote5sta ou polite5sta enquanto explicação para o

    so0rimento .umano6 Em  Matrimônio, privilegio uma discussão sobre os temas visuais e

    textuais que perpassam as pginas iluminadas do livro em relação =s l7minas H4 e H, nas

    quais a t>cnica de JlaBe > usada como met0ora de um aprimoramento 05sico e mental6

    Jaseado nessa progressão, este trabal.o de0ender a tese de que em JlaBe . um

    instigante emparel.amento entre criação, execução e interpretação6 Como veremos, nos livros

    iluminados, elementos t>cnicos se apresentam como elementos est>ticos e simb:licos, e a

    inteira atividade de seu autor demarca os limites entre o criador e a obra6 Al>m disso, o

    mapeamento e anlise da 0ormação de JlaBe e das obras que antecedem a criação de seu

    m>todo iluminado serão ilustrativos de seu desenvolvimento art5stico e de seu pro8eto t>cnico

    e est>tico de combinar poesia e pintura num mesmo espaço6 esse sentido, esse trabal.o

    iniciar com a re0lexão sobre JlaBe como gravurista em 0ormação e 0indar com a anlise da

    descrição da Tipogra0ia cnico, po>tico e art5stico, 05sico e intelectual6

    Em seus livros, JlaBe reali@ou um matrimWnio 05sico ao criar um m>todo de impressão

    que permitia escrever e desen.ar sobre a placa de cobre6 Artisticamente, essa reali@ação

     propiciou a união das artes da poesia e da pintura, numa contraposição de signos visuais e

    textuais que visava minar as distinçes intelectuais e religiosas do per5odo6 &e as Canções de

     Inocência e de Experiência ob8etivam 0ragili@ar tais separaçes, > em Matrimônio de Céu e

     Inferno que JlaBe reali@ar uma união não apenas de texto e imagem, mas dos elementos

    d5spares que potenciali@am a experi9ncia .umana6 Assim, a tese de doutorado RAs #ortas da#ercepçãoG Texto e tica se coadunam nessa arte comp:sita6

    Ao analisar os livros de JlaBe, argumentarei sobre como > concreti@ado neles um

    dilogo entre as reali@açes do gravurista, poeta e pintor e o contexto social no qual esteve

    imerso6 &ua t>cnica de impressão >, em alguns elementos, a t>cnica dos seus contempor7neos,

    assim como sua linguagem > a linguagem da revolução, do visionarismo e do imaginrio

    m5tico e b5blico de seu tempo6 &ua poesia iluminada, sem exceção, > uma busca porRliberdade, igualdade e 0raternidadeS, embora JlaBe viesse a perceber que os ideais da

    H

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    /evolução se perverteriam numa organi@ação social igualmente opressora, temas que serão

     privilegiados em sua obra 0utura6 esse sentido, estudar a t>cnica e a arte de JlaBe > estudar a

    t>cnica e a arte de seu tempo6 #or>m, curiosamente, tamb>m não o >6

    * poeta)pintor alterou drasticamente todas as t>cnicas de gravação e impressão

    contempor7neas com o ob8etivo de expressar nos seus livros iluminados o que seria invivel

    com qualquer outro m>todo convencional6 Embora os especialistas da arte comp:sita de JlaBe

    ten.am dado di0erentes explicaçes = sua criação, todos concordam que o m>todo iluminado

    signi0icou liberdade econWmica e inovação art5stica, permitindo ao autor desen.ar e escrever

    sobre a placa como se o 0i@esse com pincel e tinta sobre o papel ou a tela6

    #ortanto, ob8etivo com este trabal.o analisar a t>cnica e a arte de JlaBe, evidenciando

    seus pontos de encontro, relação e 0usão, com a cultura e com a arte dos seus dias6 A meu ver,

    o livro iluminado blaBiano, esse livroFpintura, essa galeria de arteFpoema, 0ora resultado de

    um con8unto de necessidades editoriais e 0inanceiras, mas acima disso, nascera de uma visão

    art5stica que via na divisão e na separação dualista os principais ind5cios da queda e da

    decad9ncia do .omem6 Ao dramati@ar esse processo mental e cultural, JlaBe alme8ou com

    seus livros um matrimWnio que pudesse evidenciar unidade de imagem e texto, de percepção e

    re0lexão, do o05cio iluminado que englobava a obra do pintor e do poeta6

    "undamental ao trabal.o que apresento nesta tese 0oi o per5odo de cinco meses no

    /eino %nido no qual tive a oportunidade de trabal.ar com 'ic.ael #.illips, pro0essor da

    %niversidade de orB, e de reprodu@ir o m>todo de JlaBe num estKdio contempor7neo de

    gravação6 Tal prtica, complementada por um curso de gravação no 'orleM College o0

    ondon, contribuiu para a compreensão da constante experimentação envolvida na arte da

    gravura, essencial = criação de JlaBe6 Al>m dessa prtica, as bibliotecas e os arquivos

    .ist:ricos consultados apro0undaram a dimensão .ist:rica e sociol:gica desse estudo6

    H

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    CAPNTUL 3

    ,LA" " A F!MA#$ CM G!A*U!(STA0 P"TA " P()T! 

    Este cap5tulo discute o aprendi@ado de illiam JlaBe como gravurista, poeta e pintor6

    Dessa 0ormação, o artista obt>m a base textual e visual que empreende em seus livros

    iluminados6 Embora as relaçes de texto e imagem se8am t:pico comum nos c5rculos literrios

    e est>ticos entre HI e HLI, em especial o debate sobre a R%t #ictura #oesisS e suas

    consequ9ncias para o dilogo entre as Rartes irmãsS, o 8ovem artista est menos preocupado

    com a discussão te:rica e mais interessado na experimentação com di0erentes estilos e

    materiais6 Como /obert 1lecBner a0irma, o que se observa nos anos de 0ormação de JlaBe >

    muito mais as atividades de um R0a@edorS do que as de um Rconceituador6S $HPL2J, p6 (

    Entretanto, > no processo gradativo dessa 0ormação que est a g9nese de uma

    reali@ação art5stica que, anos depois, investir contra esses princ5pios conceituais e divis:rios,

    a ponto de criar uma t>cnica que demonstre não poss5veis similaridades entre as artes da

     poesia e da pintura e sim suas particularidades diversas6 Antes de discutirmos essa t>cnica,

     por>m, > preciso compreender a base cultural e art5stica com a qual JlaBe dialoga e que 0orma

    sua percepção cultural6 o contexto londrino de HLI e HPI, sua arte visual e textual recria

    obras, autores e temas a 0im de, gradativa e inovadoramente, compor uma t>cnica que

    estabelece um dilogo entre gravura, poesia e pintura6 As seçes seguintes mapearão a

    mKltipla educação desse artista e suas reali@açes nos campos dessas tr9s artes6

    (< A Formação 6omo Gravurista

    * &r6 JlaBe tem desde a ;uventude cultivado as duas ArtesDa #intura X da 1ravura X durante um #er5odo de Yuarenta Anos unca suspendeu seus abores sobre o Cobre nen.um Knico Dia6

    #rospecto de Divulgação para Os *eregrinos de Chaucer , de JlaBe, HLH2

    Em H, numa ondres de quase um mil.ão de .abitantes que observa os e0eitos da

    revolução industrial inglesa, nasce illiam JlaBeH6 &eus pais são comerciantes e dissidentes V

    0am5lias nem cat:licas nem anglicanas que exercem uma religiosidade privada baseada na

    interpretação pessoal da b5blia62 * 0ato da 0am5lia JlaBe viver em 1olden &quare, na esquina

    H  Entre H2I e HI, a revolução industrial inglesa resulta no .iperFdesenvolvimento urbano, tendo comocontraponto o maciço 9xodo do ambiente rural6 $illiams, HP3Z att, HPP( &obre o impacto de tal processo,;o.n &tevenson escreve que de um lado . o Rantigo mundo rural de prosperidade e segurança, um mundo agora

     perdidoS, e de outro, a Rmis>ria e a degradação da nova sociedade de massa6S $HPPP, p6 H34(2 o decorrer dos s>culos H e HL, diversas religies a0loram como alternativa ao catolicismo e ao anglicanismo,sendo re0erenciadas como REntusiastas /eligiososS ou RDissidentes6S #ara esses, a interpretação da b5blia e a 0>substitu5a a intermediação da

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    da Jroad e da 'ars.all &treet, um bairro de artistas e comerciantes na parte central de

    ondres, no qual convivem poetas, ilustradores, gravadores, pintores, atores e mKsicos, marca

    a percepção intelectual e art5stica de seus 0il.os6 $JentleM, 2II3, p6 H4(

    Tanto a mãe de JlaBe, Cat.erine, quanto seu pai, ;ames, 0a@em parte da congregação

    'oraviana, grupo que recebeu a visita de Emanuel &!edenborg entre HI e HI6 "undada

    em H3L por seguidores do Conde alemão [in@endor0 3, os 'oravianos são con.ecidos por seu

    R8Kbilo imaginativo e por seu senso de completude corporal e 9xtase religioso6S &uas origens

    remetem = cabala cristã, = alquimia .erm>tica e ao misticismo oriental, tendo entre suas

    crenças a associação das c.agas de Cristo = união sexual de seus membros, numa agenda que

    inclui Reducação sexual e aconsel.amento marital6S Con0orme 'ars.a -6 &c.uc.ard, as

     prticas religiosas moravianas são permeadas de leituras em grupo, mKsicas, pinturas e

    iluminuras, numa miscel7nea udioFvisual que agrada não apenas ao Resp5ritoS dos 0ieis como

    tamb>m aos seus Rsentidos6S 4 $2II, pp6 H4F3H(

    Como muitas 0am5lias dissidentes, o casal JlaBe educa seus 0il.os em casa, investindo

    seus recursos 0inanceiros em livros, pan0letos e sermes, al>m de manuais de desen.o e

    gravuras6 Ao perceber o interesse do segundo 0il.o, illiam, pelas artes visuais, ;ames JlaBe

    o matricula na popular escola de desen.o de UenrM #ars6 Entre HL e HI, JlaBe aprende

    noçes de anatomia, perspectiva e sombra, con.ecimento baseado na c:pia de pinturas,

    esculturas e gravuras de mestres italianos6  Com #ars, tamb>m tem contato com arte

     paisag5stica e preparação de tintas a :leo, elementos que despre@aria6 $EssicB, HPLI, pp6 4F(

    Ao t>rmino dos anos com #ars, JlaBe prope aos pais ser treinado na Rarte da

    congregacionistas, quaBers, batistas, moravianos, latitudinaristas e metodistas6 U tamb>m seitas que seguemJo.eme e &!edenborg, como o caso do Je.menismo e da m, grupos milenaristas quev9em as interp>ries pol5ticas como RsinaisS de um apocalipse iminente6 $ebb, HPPP, pp6 PFP(3 * 0undador moraviano > icolas ud!ig ?on [in@endor0 $HIIFI(6 #ara uns, Rte:logo criativo e pioneiro datoler7ncia religiosa e racialSZ para outros, Rgn:stico .er>tico e um pervertido sexual6S uterano por educação,reconcilia di0erentes prticas religiosas, unindo vida piedosa e percepção art5stica6 Tal 0ormação resulta nainterpretação do sacri05cio de Cristo como alusiva de uma união espiritual e sexual, numa livre exegese da &o0ia'5stica dos gn:sticos e do encontro dos se0irots masculinos e 0emininos da Cabala6 $&c.uc.ard, 2II, pp6 HF22(4  #ara o 0undador [in@endor0, Rseria atrav>s da arte, da poesia e da mKsica que o \casamento m5sticoNS entre a.umanidade e Cristo seria reali@ado6 $&.uc.ard, 2II, p6 H34( &egundo um contempor7neo, o ob8etivo dessaeducação religiosa baseada em texto, som e imagem, era tornar o Rsobrenatural acess5vel por materiali@Flo6 Aosinv>s de morti0icar os sentidos $666( cada um deveria ser estimulado ao limite de suas capacidades6S $p6 H3L( &egundo culo HL, al>m da centenria escola de latimque preparava 8ovens para a universidade6 Algumas são de direção anglicana, outras são regidas por seitas ougrupos religiosos nascentes, al>m das escolas de caridade para crianças pobres ou :r0ãs, sendo que todasdividiam a mesma estrat>gia de ensino6 Jritain a0irma que, devido ao temor por parte das classes conservadorasque o aumento de leitores resultasse em revoltas, apenas a b5blia era adotada para leitura e estudo6 $HPPP, p6 H2( %m dos relatos de sua in07ncia narra o interesse pela arte da ilustração e pelos livros de gravuras6 /obert EssicB

    menciona que o Rprecoce connoisseur S começou a 0requentar Ras lo8as dos negociantes de gravuras logo depoisde entrar na escola do &r6 #ars6S &e o .bito de colecionar ilustraçes era comum no per5odo, o gosto de JlaBe naescol.a dos artistas estava longe do usual6 EssicB a0irma que mesmo nesses primeiros anos RJlaBe pre0eria osgrandes mestres da Alta /enascença $( e as lin.as r5gidas de D]rer6S $HPLI, pp6 3F4(

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    1ravura, por ser menos dispediosa e su0icientemente adequada =s suas intençes6S $JentleM,

    HPP, p6 HI( Tal decisão adequaFse ao nKmero crescente de lo8as de impressão e gravura

    londrinas6 AcBroMd escreve que, Rao 0im de seu tempo com #ars, ele decidiu não entrar na

    rec>m estabelecida /oMal AcademM &c.ool $di0erente de outro 8ovem 0il.o de comerciantes,

    T.omas /o!landson(, sendo, ao inv>s, alocado como aprendi@S de gravurista6 $HPP, p6 4I(

    Entre HH e HP, JlaBe estuda com ;ames Jasire, gravurista de renome da

    &ociedade dos Antiqurios de ondres6 Com ele, recebe uma 0ormação tradicional baseada na

    observação e c:pia de pinturas, gravuras e esculturas, numa rotina diria de do@e .oras

    durante seis dias na semana6 os anos com Jasire, JlaBe estuda livros e obras que o 0a@em

    valori@ar nos renascentistas as cores claras e o traço de0inido e repudiar os contrastes barrocos

    de lu@ e sombras comuns =s pinturas a :leoL6 $#.illips, 2III, p6 3F(

    * trabal.o de um gravurista pro0issional exige o dom5nio de uma s>rie de t>cnicas que

    englobam a gravação na c.apa de cobre e a preparação do material necessrio para executFla6

    ^ tare0a do gravurista ou de seu aprendi@ preparar a super05cie da c.apa de metal ou madeira

     para a gravaçãoZ a0iar os burisZ dissolver o cidoZ preparar a prensa para receber a matri@ de

    impressãoZ cortar e umedecer o papel a ser impressoZ preparar vrios tipos e cores de tinta

     para aplicação na c.apaZ e0etuar o trabal.o de impressãoZ al>m de atividades secundrias que

    incluem a limpe@a do estKdio e a entrega de encomendas6 a gravação, os artistas tamb>m

    devem prever que a imagem da c.apa se8a o espel.o da imagem impressa, o que exige

    inscrev9Fla no cobre ao contrrio6 $JentleM, 2II3, p6 34F3( 1ravuristas como JlaBe precisam

    de um espaço amplo e iluminadoG uma bancada para a preparação das c.apas de cobreZ uma

    mesa grande para o trabal.o de gravaçãoZ uma prensa para a impressãoZ al>m de RvaraisS para

    a secagem dos impressos6 Al>m de materiais espec50icos, como buris de di7metros variados,

    c.apas de madeira e cobre, solventes, cidos e tintas6P $Jindman, HP, p6 HHFH4(

    &egundo JentleM, trataFse de um peculiar espaço de ca:tica organi@ação, repleto de

    Rcuriosas 0erramentas e estran.as 0ragr7nciasS $2II3, p6 34(, como pode ser observado nas"ig6 H6H e H636 a imagem H62, são ilustrados os diversos processos envolvidos no trabal.o de

     A ilustração Spectators at a *rint Shop in St& *aul2s Church3ard  $H4(, de ;6 /6 &mit. exempli0ica o sucessode lo8as especiali@adas em gravuras, possivelmente uma lo8a similar =quelas visitas por JlaBe em sua in07ncia6L um estKdio como o de Jasire, . comp9ndios e livros ilustrados que constituem um catlogo editorial egr0ico para os que ali trabal.am6 &egundo #.illips, os livros do per5odo que apresentam texto e imagem incluemos g9neros b5blico, .ist:rico e sat5ricos, g9neros que marcariam a arte de JlaBe6 $2III, p6 (P &obre esse, AcBroMd escreve que Rele logo se acostumou com o c.eiro de :leo, verni@ e cera negra alemã ecom o c.eiro de tinta em seus dedos6 #elos pr:ximos anos V na verdade, pelo resto de sua vida V estaria rodeado

     por potes de 0erro para a mistura de :leo, c.apas para aquecer as placas de cobre, cera de velas, con8untos de

    agul.as e buris, panos para a limpe@a do verni@, vasos para a mistura dos cidos $666(, trapos para limpar as placas, pedras para polir o metal, penas para estourar as bol.as na super05cie das placas6 Ao seu redor, 0ol.as de papel lin.o, bem como as pr:prias placas, da espeçura de moedas, sobre tiras de couro com areia, enquanto asgravava, e a prensa de madeira com suas tbuas, cilindros e panos de lã6S $HPP, p6 43(

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    impressãoG aplicação de tinta na placa gravada sobre um bra@eiro, limpe@a da super05cie de

    cobre com a palma da mão e impressão6 $?iscomi, 2II3, p6 H( Com Jasire, JlaBe aprende a

    import7ncia da experimentação com materiais e t>cnicas, como provam suas pinturas com

    aquarela e t9mpera e com gravaçes em cobre, madeira, pedra e estan.o6 &obre o uso de

    cidos que viabili@a sua t>cnica iluminada, Uagstrum a0irma que mesmo nessa R\descobertaN,

    que usava corrosivos para gravação em relevo, o artista ignorou as tend9ncias dos seus dias6

    &eus contempor7neos usavam cido para apro0undar lin.as e destacar tons6 JlaBe usou cido

     para submergir tom e para tra@er = super05cie a lin.a6S $HP4, p6 P( *u se8a, decorre da sua

    0ormação como gravurista a criação que 0a@ coabitar suas aptides como poeta e pintor 6HI

    &omado a esse aprendi@ado t>cnico, JlaBe acessa con.ecimentos que 0ormariam sua

    identidade como artista, entre eles o estudo do estaturio de igre8as londrinas HH6 Trabal.ando

    na abadia de estminister, por exemplo, JlaBe compWs duas ilustraçes para os monumentos

    medievais dedicados a /ain.a Eleanor, esposa de Eduardo cada mais tarde6 esse

    momento, > a 0ormação como gravurista de JlaBe que motiva sua primeira produção po>tica6

    Como aprendi@ de Jasire, JlaBe tamb>m estuda os mestres italianos por meio de

    gravuras6 As obras de /a0ael, por exemplo, 0oram gravados por 'arcantonio /aimond,

    enquanto os a0rescos de 'ic.elangelo por "rancesco &alviati, 1iorgio 1.isi e eonard

    1aultier6 AcBroMd en0ati@a que nessas ilustraçes JlaBe encontra um espel.o para suas

     predileçes art5sticas, pois elas Rcompartil.avam uma intensa espiritualidade ou, ainda mais,

    uma clare@a visionria, concebida nas e pelas lin.as 0ortes da gravuraZ não .avendo \corN,

     para usar a palavra do per5odo que denota associaçes entre artistas e tons, apenas a visão do

    artista > poderosamente expressa6S $HPP, p6 3P( Como apreciador desses mestres, JlaBe

    HI A arte da gravura signi0ica para JlaBe incessante experimentação, algo que não teria com outro m>todo6 &obreisso, ister escreve que apesar da Rt>cnica na qual JlaBe 0oi treinado ser mais ou menos um m>todo mec7nico dereproduçãoS, com ela o artista R0oi capa@ de adaptar com grande sucesso sua pr:pria expressão visionriaS$HP, p6 L(6 #ara AcBroMd, 0ora com Jasire que JlaBe Raprendera as virtudes da disciplina e da precisão6 Elecontinuaria como um artesão por toda a vida, misturando tintas e verni@es, comprando papeis e placas de cobre,enga8ado num di05cil e cont5nuo labor 05sico6 #alavras seriam para ele peças metlicas em relevo, e podeFse di@erque as exig9ncias t>cnicas do seu o05cio V a necessidade de uma lin.a de0inida, por exemplo, e a import7ncia das

     particularidades m5nimas V o a8udariam a 0ormar seu completo sistema meta05sico6S $HPP, p6 44(HH &egundo &tanleM 1ardner, os meses que JlaBe trabal.a nessas igre8as medievais são 0undamentais ao seuaprendi@ado6 #ara ele, os longos dias na Abadia de estminister R0oram uma experi9ncia Knica, pro0unda e

    desa0iadora6 $666( Entre os estandartes do orgul.o decr>pito, ele estava copiando as 0aces dos tiranos medievais eseus cKmplices episcopais V e a atividade mais presente nesses primeiros desen.os eram as b>licas6 $666( Contraessa tend9ncia, os meses que JlaBe esteve livre do estKdio de Jasire 0oram exclusivos para um aprendi@ado quedi0icilmente teria em outro lugar, enriquecendo sua primeira poesia de vrios modos6S $HPPL, p6 H4(

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    conceber sua arte como de0esa da lin.a de0inida em detrimento de cores e tons6

    Al>m de con.ecer os mestres renascentistas em gravuras e ilustraçes, JlaBe acessa

    no estKdio de Jasire livros e manuscritos que o introdu@em no universo dos signos m5sticos e

    m5ticos6 JlaBe enriquece essa simbologia visual com leituras de #aracelso, Joe.me e

    &!edenborg6 esses anos, Jasire ilustra comp9ndios de misticismo antigo e de iconogra0ia

    m5tica6H2 Ademais, o 0ato do estKdio de Jasire 0icar em 0rente ao  4reemason2s all   sugere

    que esse contato introdu@ JlaBe ao universo peculiar dos s5mbolos e prticas maçWnicas6H3 

    JlaBe tamb>m estuda manuais que propem RensinarS a Rgramtica gestualS dos

    sentimentos .umanos6 #or meio de 0iguras ilustrativas, a proposta de tais livros > revelar

    conceitos atrav>s de imagens6 &egundo ;anet arner, gravuristas e pintores do per5odo 0a@em

    uso dessas gramticas gestuais ao ilustrarem ideias, sentimentos e con0litos6 A autora cita o

     Iconologia $HP3(, de Cesare /ipa, catlogo de signos aleg:ricos, considerado a RJ5blia dos

    &5mbolos para europeusS do per5odo6 $HPL4, p6 ( #ublicado na m são comuns gramticas de orat:ria e teatro, como o Chirologia# ou da

    linguagem natural das m'os $H44(, de ;o.n Jul!er, e o  Método de aprender a ilustrar as

     *aixões $HL(, de C.arles e Jrun6 #ara ;acqueline ic.tenstein o ob8etivo desses tomos >

    0ormular uma Rsemi:tica dos sentimentos .umanosS via variaçes 0aciais e gestuais6 TrataFse

    de sinteti@ar uma Rl5ngua das paixes, cu8a ambição seria tradu@ir visualmente a maior parte

    das emoçes .umanas atrav>s de 5cones imediata e universalmente identi0icveis6S H $HPP4, p6

    H2 &egundo AcBroMd, JlaBe Restava muito pr:ximo de outro pro8eto de Jasire, as ilustraçes para o  5e6 S3stem%or% "n "nal3sis of "ncient M3tholog3Z de ;acob JrMant6 Ele mencionaria esse livro anos depois, e > comumenteaceita a ideia de que JlaBe ten.a e0etuada a gravura de uma \arca lunarN, com uma pomba e um arcoF5ris, al>mde outros motivos estil5sticos antigos6 Tais imagens se tornariam parte do seu mundo imaginrio6S $HPP, p6 4(H3 &egundo &c.uc.ard, quando JlaBe 0oi trabal.ar com Jasire, mudandoFse para o estKdio do gravador por seteanos, ele estaria Rsituado no coração do mundo maçWnico londrino6S m Rde vrias ramos da 'açonaria de toda a

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    2HI( esse sentido, o que autores como /ipa e e Jrun conseguiram nos s>culos H e H 0oi

    criar para a pintura Rum dicionrio cu8as letras eram as expresses tipi0icadasS de ol.os,

    lbios, poses, gestos, e quaisquer outros elementos que deveriam ser decodi0icados e

    compreendidos, como indicam as "ig6 H6, H6 e H6L6H $&elligmannF&ilva, HPPL, p6 H(

    Al>m desses manuais iconogr0icos, . livros compostos por emblemistas 0amosos do

     per5odo como "ranc.is Yuarlis, ;o.n Mnne e 1eorge it.er6 $arner, HPL4, p6 P( Esses

    comp9ndios de ilustraçes medievais, renascentistas, barrocas ou neoclssicas, não visam

    apenas = reprodução de traços e temas, como 0ormar nos aprendi@es uma linguagem comum,

    que l.es permitisse somar = sua percepção da realidade6H &egundo arner, essa Rtradição de

    imagensS apresenta R0:rmulas gestuaisS como Rpoetas usavam palavrasS, com ob8etivos

    comunicativos e expressivos6 $HPL4, p6 4( * estudo desses volumes marca a 0ormação de

    JlaBe, como demonstra o 0ato de sua produção inicial apresentar muito dessa iconogra0ia6HL 

    Dos mestres renascentistas que primeiro marcam sua arte, destacamFse 'ic.elangelo

    $H4FH4( e 1iulio /omano $H4P2FH4(6 JlaBe con.ece o trabal.o de 'ic.elangelo da

    tradução inglesa do  

    anWnima, um .omem idoso que testemun.a o mart5rio de &ão #edro, na versão de JlaBe ele

    tornaFse o abatido =osé de "rimatéia entre as 7ochas de "l)ion6 $"ig6 H6P e H6HH(

    A gravura exempli0ica sua .abilidade em modi0icar 0ontes, como > percept5vel na

    alteração de dois elementos da c:pia de &alviati6 $"ig6 H6HI( JlaBe aloca o pro0eta num

     pen.asco, pr:ximo a um mar tempestuoso, e se a 0igura de 'ic.elangelo se recusa a observar

    a execução do ap:stolo, a versão de JlaBe apresenta ol.os abertos e pesarosos6 Tal alteraçãotransmuta a 0igura amedrontada num .er:i re0lexivo, con0igurando uma criação centrada na

    H Exempli0ica isso a anlise que e Jrun prope das personagens de #oussin na tela RA queda do 'an6S #arae Jrun, o quadro não apresentaria apenas uma 0iguração do epis:dio b5blico como tamb>m uma progressãonarrativa que deveria ser lida, interpretada e decodi0icada pelo espectador6 $&eligmannF&ilva, 2IHH, p6HL e 2(H Como escreve 1eorge Cumberland, gravurista e amigo de JlaBe, Rão > para roubar as ideias dos vel.osmestres que n:s os estudamos, mas para amalgamFlos a outros e a n:s mesmos6S $Apud arner, HPL4, p6 HL(HL Embora C.ristop.er Ueppner legue a JlaBe a mesma posição de "useli, de antipatia pelo gestual ret:rico$HPP, p6 (, as aquarelas produ@idas na d>cada de HLI evidenciam o arti0icialismo gestual dos manuais6

    HP JlaBe possu5a ainda outra 0onte, como atesta a anedota registrada por Cunning.am6 Enquanto era retratado porum pintor, JlaBe mencionou que 'ic.elangelo pintava um an8o mel.or do que /a0ael6

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    solidão e no pesar da vo@ pro0>tica que Rclama no desertoS uma mensagem impopular62I 

    Al>m disso, a gravura de JlaBe ilustra sua prematura .abilidade na arte em que seria

    um respeitvel art50icie6 &obre a primeira versão de =osé de "rimatéia, ister menciona que a

    gravura 0oi Ro in5cio do desenvolvimento de JlaBe como ilustrador, uma pro0issão que

     proveria a ele seu principal meio de subsist9ncia6S $HP, p6 L( o caso de =osé de "rimatéia,

    a gravura tamb>m revela seu interesse pela tradição religiosa e .ist:rica da ueda do omem $HLI( e " ?is'o

    do =ulgamento 4inal   $HLIP(6 Todavia, essas releituras visuais de seus .er:is masculinos

    subvertem valores tanto est>ticos quanto religiosos6 Taman.a > essa assimilação que em

    alguns c5rculos, o gravurista > con.ecido como R'ic.elangelo JlaBeS, num exemplo de como

    sua arte 0ora vista como recriação antiquada dos pintores renascentistas que admirava62H

    Al>m das 0iguras gigantescas que JlaBe toma de 'ic.elangelo, . um inteiro con8unto

    de s5mbolos gestuais e m5ticos que ele apreende de 1iulio /omano6 De acordo com

    Uagstrum, JlaBe encontra nesse disc5pulo de /a0ael uma contraparte cWmica, poderosa e

    en>rgica para a .armonia visual do antigo mestre, sobretudo por seus Ra0rescos grandiosos,

    ameaçadores e catastr:0icos no *ala@@o del T  em '7ntua6S $HP4, p6 43(6 eles, JlaBe viu

    as bocas de mac.os e 09meas gigantes abertas num .orror de mscaras trgicas gregasZ eleviu gigantes entre roc.as, templos desmoronados, a mescla de .omens, mulas, bodes estiros numa ação m5tica6 Ele viu peixes monstruosos, batal.as medon.as entre animais0ero@es, 0iguras aleg:ricas em 0orma romana escrevendo em tabletas, e .omens e mul.eresm5ticos e .er:is b5blicos situados na mesma paisagen aleg:rica e roc.osa, onde ra5@escresciam acima do campo de visão das personagens .umanas6 $HP4, p6 43(

    Desses elementos paradoxais de /omano, JlaBe retira e recria muitas de suas imagens

    0uturas622 Ademais, ele tamb>m percebe em /omano a arte de 0a@er coabitar num mesmo

    espaço visual di0erentes 0ontes, estilos e temas6 &egundo Uagstrum, JlaBe encontra nele um

    artista que R0ora capa@ de alocar os .er:is de 'ic.elangelo e de /a0ael no palco aleg:rico de

    D]rer e de criar para eles açes de grande originalidade e 0orça6S $HP4, p6 43( Em seus livros

    2I * 0ato de JlaBe ter retornado a essa imagem duas ve@es V em HP3 e HL2 V revela sua estima pelo tema6Como sumari@ado por AcBroMd, JlaBe mesclou nessa gravura Rsuas aspiraçes 8uvenis e ideais V o pro0eta, oartista g:tico, a proporção .er:ica de 'ic.elangelo, a remota antiguidade, e, talve@ entre elas, a 0igura de simesmoS como poeta e pintor, que começava a sentir o peso do isolamento social e art5stico6 $HPP, p6 4P(2H uma carta ao pintor ;o.n innell, o arquiteto ingl9s C.arles Tat.am perguntaG R&er que voc9 conseguiriaconvencer o nosso 'ic.elangelo JlaBe a nos encontrar em seu estKdioQS $Ueppner, HPP, p6 22(22 #or exemplo, as 0iguras de Entrada do Imperador  Sigismond em M,ntua  podem ter inspirado a l7mina 2 de

     Matrimônio, em especial a 0igura 0eminina pr:xima = rvore e a do 8ovem querubim que repousa ao solo, doiselementos iconogr0icos comuns no per5odo6 As trombetas b>licas de /omano em 0orma serpentina podem teroriginado as trombetas angelicas de  "mérica, l7mina 3, e de  Europa, l7mina H26 o gigantesco a0resco de/omano, " >ueda dos Aigantes, JlaBe tomaria das 0iguras soterradas e so0redoras do seu 

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    iluminados, JlaBe iria mesclar o mesmo tipo de signos e s5mbolos, tornando comp:sita não

    apenas sua arte como tamb>m a miscel7nea de temas e autores que nela encerraria6

    * importante da 0ormação como gravurista > que ela 0ornece a JlaBe dois elementos

    cruciais = sua arteG o gosto pela experimentação em arte e a s>rie de t>cnicas que seriam

    alteradas e recriadas ao combinar seus outros interesses6 Em seu estKdio, Jasire ensina ao

    aprendi@ a valori@ar a de0inição da lin.a e a estudar a cor como arti05cio para en0ati@ar 0iguras

    e palavras6 ^ um ambiente no qual est livre para experimentar com subst7ncias qu5micas,

     placas de cobre, 0erramentas metlicas e pigmentos ex:ticos6 Em ess9ncia, um cenrio que

    di0ere do espaço acad9mico que encontra nos anos seguintes6 Entre HP e HL, JlaBe

     publica seu primeiro livro de poemas e expe aquarelas na maior galeria do per5odo6 #or>m,

    nen.uma dessas reali@açes o a0astaria do Ralqu5micoS e Rca:ticoS estKdio de gravação6

    ((< A "du6ação 6omo Poeta

    &&& meu lote nos Céus é o seguinteB Milton amoume na inf,ncia 8 mostroume sua face E@ra !eio com Isa9as o *rofeta% mas Sha0espeare desde cedo guioume pela m'o

     *aracelso 8 /oehme apareceram para mim& Terrores nos Céus acima E no Inferno a)aixo 8 uma terr9!el 8 assom)rosa mudança ameaçou a Terra

     " Auerra "mericana iniciou Todos os seus orrores Som)rios diante da minha face *elo "tl,ntico até a 4rança& Ent'o a 7e!oluç'o 4rancesa começou em nu!ens som)rias&

     E Meus "nDos me disseram (ue ao !er tais !isões eu n'o permaneceria na Terra

    illiam JlaBe, H2 de &etembro de HLII6

    Como poeta, as primeiras obras de JlaBe são  Es)oços *oéticos $HL3( e a peça não

    conclu5da ;ma Ilha na ticaS inglesa6 $Jindman, HP, p6 H( #or

    outro lado, ilustram sua leitura de &pencer, 'ilton, &.aBespeare e dos poetas do seu s>culo623 

     Es)oços  *oéticos > impresso sem a supervisão de JlaBe, sob a tutela do /everendo A6 &6

    'att.e! e do amigo ;o.n "laxman, tendo diversos erros tipogr0icos6 $-eMnes, HPH, p6 2(

    A irregular edição pode ter resultado na ideia de JlaBe de conceber uma obra que unisse

    tanto o RpoetaS e o RpintorS, como tamb>m o ReditorS e o Rlivreiro6S

    Alguns poemas de  Es)oços *oéticos incorporam narrativas .ist:ricas da que JlaBe ainda os c.ama de an8os, não de deuses, como mais tarde 0aria6 esse

    23 Damon a0irma que Es)oços *oéticos revela um Rper5odo revolucionrio, uma busca por uma inspiração nãoFneoclssica, uma preparação para o per5odo rom7ntico6 Ele rel9 os poemas de 'acp.erson)*ssian $HI( e os deC.aterton $H4(, passa pelo romance g:tico de alpole, Castle of Otranto $H4(, e pelas 7eli(ues of "ncient English *oetr3 $H(, de #ercM, autor que redescobriu a balada l5rica6S $HPLL, p6 33H(

    2L

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    caso não se trata de personi0icação de elementos naturais, por>m de uma nova 0orma de tratar

    essas personagensG a man.ã como virgem, o inverno como um monstro6 &egundo ort.rop

    "rMe, > em Es)oços  poéticos que 0iguram em estado embrionrio os temas mais caros ao

     poetaG o ciclo da .ist:ria, o papel do poeta na sociedade e a queda do .omem6 $HP4, p6 HL2(

    Al>m disso, o volume revela um considervel poder de assimilação e imitação da

    tradição po>tica do s>culo H e H6 ele, JlaBe recria os poemas sa@onais de T.omsonZ

    trabal.a com os poemas de &pencer, como RTo T.e Evening &tarSZ reescreve a poesia g:tica

    de #ercM com R"air ElenorSZ interpreta as cançes elisabetanas como RUo! s!eet < roamNd

    0rom 0ield to 0ieldS ou R'M silBs and 0ine arraMSZ experimenta com o estilo de C.aterton no

     pequeno >pico n:rdico R1!in, -ing o0 or!aMSZ demonstra suas leituras das peças .ist:ricas

    de &.aBespeare em R-ing Ed!ard t.e T.irdS, de *ssian com os poemas em prosa RT.e

    Couc. o0 Deat.S e RContemplationS e de 'ilton com R&amson6S $1lecBner, HPL2J, p6 2(

     o ano seguinte, ;ma Ilha na inspirado nos pan0letos sat5ricos de comumente

    associado ao pr:prio autor e as outras personagens com artistas ou pensadores que ele

    con.ecera no c5rculo de 'att.e!s624 * texto apresenta uma s>rie de dilogos burlescos que

    aludem = 0iloso0ia e =s artes dos dias de JlaBe62 A peça prenuncia dois aspectos dos livros

    iluminadosG ela inicia e termina com poemas que reaparecerão em Canções de  InocênciaG

    RUolM T.ursdaMS, RurseNs &ongS e RT.e ittle JoM ostS, e alude a um m>todo de

    impressão que diminui custos e mão de obra, numa alusão = sua 0utura t>cnica62

    A composição de Es)oços *oéticos e ;ma Ilha na tico, com interesses tanto religiosos quanto seculares6 Esses primeiros

    textos tamb>m demonstram a precoce maturidade diante do clima de insegurança pol5tica que

    as guerras estrangeiras e a instabilidade econWmica geram nos cidadãos ingleses durante os

    24 U poss5veis correlatos para as personagens de ;ma Ilha na JlaBe,

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    anos HI e HLI6 &e sua 0am5lia dissidente observa nesses eventos RsinaisS de um iminente

     8ulgamento divino, JlaBe começa a usFlos como material po>tico6 %m texto que documenta

    essa relação entre educação po>tica e observação .ist:rica > a carta que JlaBe escreve ao

    amigo ;o.n "laxman em HLII, ep5gra0e desta seção6 ela, são percept5veis os elementos

    culturais e literrios que 0ormam sua sensibilidade po>tica6

     as primeiras lin.as, JlaBe alude aos RAn8os que circundavamS seu Resp5rito6S Esses

    relatos de vises e dilogos com esp5ritos e an8os são comuns em seus escritos6   $1ilc.rist,

    HL3, p6 ( Todavia, JlaBe re0ereFse a essas vises em termos de criação po>tica e capacidade

    imaginativa, não as relacionando com experi9ncias sobrenaturais62 #or isso, 1ilc.rist a0irma

    que o sentido de RvisãoS para JlaBe > o mesmo do Rusado por ords!ort. para designar o

    arrebatamento especial do poeta6S $p6 34( Como "oster Damon aponta, Ras vises de JlaBe

    não eram sobrenaturais, mas uma esp>cie de intensi0icação de uma experi9ncia normalS, nem

    criaçes nem relatos m5sticos, e sim R0atos de valor art5stico6S  2L $HPLL, p6 43F(

    Tais relatos visionrios aproximam JlaBe dos pro0etas londrinos do per5odo, que

    expressam suas vises em pan0letos, poemas e em praça pKblica, como o gravador illiam

    &.arp, os pro0etas /ic.ard Jrot.ers e ;oana &out.cott ou o autor do popular " 7e!ealed

     no6ledge of Some Things that .ill Speedil3 )e 4ulfilled in the .orld $HP4(, ;o.n rig.t6

    #or>m, enquanto esses aliciam seguidores e guiam o Rpovo escol.idoS ao #ara5so, RJlaBe

    dese8a construir sua ova ;erusal>m com palavras e imagens6S $Jindman, HPL2, p6 H3( Como

    'ic.ael #.illips a0irma, o artista Rtril.ou uma via independente, sendo importante distinguiF

    lo dos pro0etas e milenaristas radicais do 0im do s>culo HL6S $2IHH, p6 H(

    Depois de re0erir em sua carta ao pintor UenrM "useli e ao patrono illiam UaMleM,

    JlaBe escreveG R'ilton amouFme na in07ncia X mostrouFme sua 0ace6S Essa admiração >

    vis5vel em Es)oços *oéticos6 *s poemas sasonais que abrem o livro experimentam com Ro

    verso de 'ilton6S $Damon, HPLL, p6 24( Yuanto ao poema que encerra o volume, R&ansãoS,

    este ecoa o Sans'o "gonista de 'ilton6 #ara #.illips, JlaBe cria um pr:logo po>tico para odrama b5blico anterior, prenunciando seu RdesenvolvimentoS como Rpoeta e a in0lu9ncia que

    2 ?ises dessa nature@a perpassam a vida e a obra de JlaBe, tornandoFse comum a tentativa de explicFlas = lu@de opinies contempor7neas6 AcBroMd, por exemplo, escreve que Ra expressão comumente usada por m>dicos

     para tal 0enWmeno > \imaginação eid>dicaN, e manuais 0ornecem numerosos exemplos de imagens alucinat:riasque \sempre são !istas literalmenteNZ elas não são mem:rias, ou p:sFvises ou son.os despertos, mas percepçessensoriais reais6 a segunda metade do s>culo HP, "rancis 1alton $666( c.ega a sugerir que \como todos os outrosdons naturais, esse tende a ser .erdadoN, o que poderia explicar porque o irmão de JlaBe insistia ter visto 'ois>se Abraão6 Assim, de 0orma alguma as vises de JlaBe parecem ter sido incomuns6 * que > marcante, todavia, > aextensão com que uma capacidade in0antil comum 0oi mantida por ele at> o 0im de sua vida6S $HPP, p6 3(

    2L #ara Erdman, tais vises eram 0requentes = comunidade art5stica do s>culo HL6 RUogart., di0icilmente umm5stico, tin.a visesZ e muitos outros artistas, incluindo Cos!aM, que ensinou na Escola de #ars e que 0ora5ntimo de JlaBe, alardeou sobre visitantes espirituais que posavam para seus retratos6 JlaBe, por>m, insistia quesuas pinturas advin.am de vises intelectuais, não de alucinaçes corp:reas6S $HPPH, p6 3(

    3I

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    a 0igura de 'ilton exerceria tão pro0undamente sobre seu pensamento6S $HP3, p6 2I( ^ de

    'ilton que JlaBe apreende a trans0ormar temas b5blicos em poesia e arte6 2P 

     a carta a "laxman, JlaBe alude = import7ncia da J5blia em sua 0ormaçãoG RE@ra veio

    a mim na compan.ia de

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    .ermen9utica e a .istoriogra0ia b5blica estão sendo revistas6 Diante de um discurso que ope a

     b5blia como 0alsidade .ist:rica ou relato divino, JlaBe critica ambas as posiçes63H 

     a carta a "laxman, JlaBe acrescenta que R&.aBespeare desde seus primeiros anos, o

    guiara pela mão6S A menção surpreende, pois a relação de JlaBe com este > menos evidente

    do que sua proximidade estil5stica e temtica com 'ilton e com a J5blia6 Embora os versos

    livres e o ins:lito elenco de personagens dos livros iluminados pareçam ter pouco em comum

    com a densidade psicol:gica dos textos s.aBespearianos, > por suas reali@açes po>ticas que

    JlaBe est interessado632  Em  Es)oços, a variedade estil5stica ecoa o estilo de &.aBespeare6

    %m exemplo disso > o poema RJlind 'anNs Ju00S, que recria a estrutura e o estilo da Rinter

    &ongS de  respeitado como pensador, sendo seus textos m5sticos e alqu5micos tradu@idos

     para o ingl9s ainda no s>culo H6 Damon a0irma que no Three /oo0s of *hilosoph3 de

    #aracelso RJlaBe encontrou uma 0orma preliminar de esboçar seu universoS, vislumbrando

    uma interessante intersecção de sistemas m5sticos633 &e nos livros do escritor su5ço, prtica

    m>dica, Ralquimia, astronomia e teologia eram essenciaisS, nas criaçes iluminadas de JlaBe,

    .ist:ria, mitologia e misticismo, tamb>m o seriam6 $Davis, HP, p6 3(

    Al>m de #aracelso, as traduçes inglesas dos textos do visionrio alemão ;acob

    3H %m exemplo disso est na oposição entre o racionalismo de T.omas #aine e o pietismo de /ic.ard atson6Em  Idade da 7a@'o $HP4FHP(, #aine questionou a veracidade b5blica por apontar incongru9ncias como nosrelatos de criação do Aênesis e nos Evangel.os6 #ara ele, o cristianismo não passava de uma Rdoutrina selvagem

    e visionriaS embasada na R0bula de CristoS e no seu carter Rblas0emamente obsceno6S $Apud Ueppner, HPPL, p6 HP(6 Em resposta, atson compWs o seu  "pologia a /i)lia  $HP( como um es0orço de .armoni@ar os paradoxos b5blicos6 Como Ueppner a0irma, #aine e atson se baseavam no mesmo princ5pio de verosimil.ançatextual, estando sua desavença no que seria considerado Rincongru9nciaS ou não6 JlaBe, anos depois, anota nasua edição de atson sua opinião sobre os dois lados da disputaG Rão posso conceber o Divino nos ivros daJ5blia como algo baseado no Yuem escreveu o qu9 ou Yuando ou baseada na evid9ncia .ist:rica que pode ser0alsa aos ol.os de um .omem X e verdadeira aos ol.os de outro 'as nos &entimentos X Exemplos que sendo?erdades ou #arbolas são

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    Joe.me $H4FH2( aparecem ainda no s>culo H, seguida de uma biogra0ia publicada por

    /ic.ard .ittaBer6 Em ondres, os seguidores do escritor alemão, boe.ministas, garantem o

    0cil acesso aos seus textos634 eles, o poeta encontra um modo alternativo de descrever a

    criação do universo e as particularidades da imaginação6 a opinião de Jindman, RJoe.me

     pode ter plantado a semente de uma crença na nature@a como detentora da criação art5stica6S

    $HP, p6 HH( * 0ato de seus textos apresentarem epis:dios de criação, queda, redenção e

    apocalipse, revestidos de estran.os conceitos como \ustN ou \&udeN, pode ter a8udado na

    criação dos curiosos nomes das personagens de JlaBe, como *ot.oon, uva, os ou A.ania6

    $"rMe, HP4, p6 H3( Ademais, a presença de uma divindade tir7nica em Joe.me pode ter

    inspirado JlaBe na criação do seu pr:prio demiurgo, %ri@en6 $Uo!ard, HPL4, p6 2II(

    Al>m de #aracelso e Joe.me, JlaBe l9 nesses anos Cornelius Agrippa e Emanuel

    &!edenborg, e ainda comp9ndios sobre gnosticismo e cabala, como atestam Tiriel   e

     Matrimônio de Céu e Inferno63 Tendo em mãos essa rique@a conceitual, JlaBe empreende

    uma leitura m5sticoFpo>tica da tradição religiosa63 Ao escrever para "laxman, JlaBe tamb>m

    alude a eventos .ist:ricos6 Ap:s citar autores que viram a .ist:ria sob ol.ar apocal5ptico,

    JlaBe escreve que Rterrores apareceram nos C>us acima e no culo, sendoum deus que criou o universe 05sico e então se exilou de sua criação6 Da Cabala, JlaBe adaptou muito do seuvocabulrio6 Jrono!Bsi escreve que em JlaBe R. uma pro0usão de s5mbolos $( que remete, em passossucessivos, a CabalaG seus quatro Estados, suas `rvores, seu Especto e sua Emanação, sua m em cada UomemN6 A Cabala originou a moderna dial>tica blaBiana dos Contrrios ede sua #rogressão6S $HP2, p6 32( &obre a relação entre a obra de JlaBe e a Cabala, ver &.eila &pector $2IIH(63 Corrigir a interpretação de JlaBe unicamente como m5stico 0oi o que levou ortr.op "rMe a escrever The 4earful S3mmetr3 V que l9 JlaBe como poeta V e David Erdman a publicar *rophet "gainst Empire  V que

    apresenta o artista em seu contexto .ist:rico6 E6 #6 T.ompson en0ati@a que não se deve associar diretamenteJlaBe com autores, textos ou seitas m5sticos6 Comentando o estudo comparativo de '6 &erge Uutin entreJoe.me e seus disc5pulos, T.ompson menciona que RJlaBe $( n'o  era disc5pulo de Joe.me, n'o  estavaligado a nen.uma escola, mas usou as obras de teoso0istas anteriores com um esp5rito livre6S $HPP3, p6 4(

    33

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    min.a 0ace Atrav>s do *ceano, vindos da "rança6 Então A /evolução "rancesa iniciou em

    nuvens espessas6S De acordo com 'ic.ael Davies, esse 0undo social e .ist:rico marca a

    composição de poemas .ist:ricos como R-ing o0 or!aMS e R-ing Ed!ard

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    and eternitM Jeneat. me burns eternal 0ire * 0or a .and to plucB me 0ort.6S 3P

    A mãe, morti0icada pelas palavras do 0il.o, altera seu discurso e expressa que a

    imper0eição e a dor do 8ovem são similares aos dela6 A partir da aproximação entre so0redor e

    observador e da anulação da l:gica que opem 8ustos e in8ustos o 8ovem encontra con0orto6

     as palavras de Erdman, em RT.e Coac. o0 Deat.S, JlaBe Rest indo em direção = sua

    convicção madura de que a inteira doutrina do pecado seria uma 0alsidade social e pol5tica6S

    $HPPH, p6 P( Depois da morte do 8ovem, o poema encerra com uma estran.a nota otimista

    sobre a continuidade natural diante da morte iminente6

    &uc. smiles !ere seen upon t.e 0ace o0 t.e Mout. a visionarM .and !iped a!aM .is tears,and a raM o0 lig.t beamed around .is .ead All !as still6 T.e moon .ung not out .erlamp, and t.e stars 0aintlM glimmered in t.e summer sBMZ t.e breat. o0 nig.t slept among

    t.e leaves o0 t.e 0orestZ t.e bosom o0 t.e lo0tM .ill dranB in t.e silent de!, !.ile on .isma8estic bro! t.e voice o0 angels is .eard, and stringed sounds ride upon t.e !ings o0nig.t6 T.e sorro!0ul pair li0t up t.eir .eads, .overing angels are around t.em, voices o0com0ort are .eard over t.e Couc. o0 Deat., and t.e Mout. breat.es out .is soul !it. 8oMinto eternitM64I

    * que o poeta dramati@a em RT.e Coac. o0 Deat.S > o tipo de pensamento que

     perpassa a l:gica moralista religiosa6 os termos de Erdman, Rpecado e arrependimento são

    neste poema apenas a casca de uma vel.a 0:rmulaZ o que trs alegria e coragem ao 8ovem e

    sua mãe > o 5mpeto de união e a substituição de uma visão do in0erno por uma visão de um

    novo mundo de pa@ e de campos dourados6S $HPPH, p6 P( Esse 0inal apresenta uma paisagem

    sombria, de tonalidade b5blica, que ao rememorar cenrios des>rticos e decadentes, opem

    Rmundo deca5doS e Rbenção al>m vida6S * uso dessa oposição > meta0:rico, visto que JlaBe

     percebe em distinçes desse tipo V bem)mal, 8ustos)in8ustos, mortalidade)eternidade V sinais

    da noção religiosa da queda6 Tal construção e seus e0eitos são anulados apenas quando a mãe

    imaginativamente recon.ece que o so0rimento do 0il.o > semel.ante ao dela6

    Diante dessa constatação, que JlaBe revisitar em suas Canções  de Inocência e de

     Experiência, > apresentada ao 8ovem agoni@ante uma poss5vel redenção6 Embora a Kltima

    lin.a mani0este essa RsalvaçãoS nos termos da acepção cristã da alma que parte do corpo, o

     poema usa tal imag5stica ironicamente6 Como veremos, tanto a poesia quanto a arte visual de

    JlaBe mant>m essa ligação de aproximação)a0astamento dos t:picos religiosos de seus dias63P R min.as queridas amigas, rogai por mim estendam suas mãos, para que meu A8udador possa vir Atrav>sde um abismo va@io camin.o entre o mundo deca5do e a eternidade Dentro de mim, queima 0ogo eterno A. seum braço pudesse elevarFme para 0oraS $Tradução do autor(4I Tais sorrisos são vistos na 0ace do 8ovem uma visionria mão enxuga as lgrimas deles, e um raio de lu@envolve sua cabeça Tudo estava quieto6 A lua não pendurou sua lamparina, e as estrelas bril.avam 0racas no c>u

    de verão, o sopro da noite dormia entre as 0ol.as da 0lorestaZ o seio da colina elevada bebia no orval.o emsil9ncio, enquanto em sua testa ma8estosa a vo@ de an8os > ouvida, e sons de cordas cavalgam sobre as asas danoite6 * par pesaroso ascende o ol.ar, an8os pairam ao redor deles, vo@es de con0orto ao redor do eito da'orte, e o 8ovem expira sua alma, indo com 8Kbilo para a eternidade6 $Tradução do autor(

    3

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    Al>m disso, JlaBe opta por uma narrativa composta de vo@es individuais e ocasionais

    in0ormaçes descritivas, o que aloca seu enredo num passado amb5guo e inde0inido6

    * enredo do poema parte da tradição b5blica em sua paisagem desolada, deca5da V via

    reescrita miltoniana V e c.ega a uma discussão teol:gica entre 8ustiça e in8ustiça6 Todavia,

    JlaBe usa essa .ip:tese para 0ragili@Fla, apresentando uma resolução otimista muito mais

     pr:xima dos textos m5sticos de #aracelso e Joe.me do que da l:gica 8ustiça)recompensa ou

     pecado)punição6 Em seu enredo, que une teologia e resolução visionria, e em sua oposição

    entre dualismos religiosos e percepção m5stica, RT.e Couc. o0 Deat.S evidencia o primeiro

    estgio de uma caracteri@ação textual e visual que perpassar sua obra iluminada6

     os anos anteriores = publicação de Es)oços *oéticos, JlaBe compe duas ilustraçes

    que evidenciam a convencionalidade de suas primeiras experimentaçes com texto e imagem6

    Em HLI, baseandoFse em RT.e Coac. o0 Deat.S, JlaBe executa o esboço de duas gravuras

    que possivelmente RilustrariamS o enredo do poema6 Em Cena 4+ne)re $"ig6 H6H2(, JlaBe

    evidencia a oposição entre o so0rimento diante da morte e a convenção religiosa que ope

    oraçes em prol dos mortos e condenação de pecados6 Yuin@e anos depois, JlaBe volta a essa

    imagem, usandoFa em RT.e 1arden o0 oveS, de Canções de Inocência6 #or>m, se este

    esboço apenas alude ao tema da morte e =s prticas 0Knebres, o esboço de Cena Mortu-ria

    $"ig6 H6H3( > uma transposição visual das personagens do poema de Es)oços *oéticos, com o

     8ovem doente = cama, e a mãe 8unto da 0il.a, velando e orando por ele6

    Como esta imagem reprodu@ a 0bula do poema, podemos supor que JlaBe pensa

    numa união tradicional entre texto e imagem, semel.ante =quelas encontradas na tradição de

    livros ilustrados ou na arti0icial noção de RsimilaridadeS proposta pelo debate das Rartes

    irmãsS6 essa acepção, todavia, o que JlaBe reali@a > unicamente uma diminuição da arte

    visual em relação = po>tica, na medida em que as duas cenas não repetem a ironia do texto6

    Diante dessa limitação, não surpreende JlaBe abandonar esses esboços6

    Ao lado de R"air EleonorS e R-ing Ed!ard t.e T.irdS, RT.e Coac. o0 Deat.S V poema e ilustraçes V exempli0ica o crescente interesse de JlaBe pela união ou aproximação

    das artes da poesia e da pintura6 Composto na d>cada de HI e publicado em HL3, o poema

     pode ter dado ao artista a ideia para duas aquarelas que expe na /oMal AcademM no ano

    seguinte6 Em " )reach in a cit3% the morning after a )attle $%ma ?iolação na Cidade, 'an.ã

    ap:s a 1uerra( e .ar unchained )3 an angel% 4ire% *estilence% and 4amine follo6ing $1uerra

    ibertada por um An8o, "ogo, Doença e "ome a &eguem(, o pranto 0amiliar diante de corpos

     8ovens ou in0antes reaparece6 1radativamente, JlaBe aproxima suas aptides como poeta,gravurista e pintor, a ponto dessa união se tornar sua principal meta6 Tal dilogo entre arte

    3

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    literria e pict:rica > percept5vel na sua produção art5stica na d>cada de HLI, numa obra que

    recria visualmente personagens b5blicas, s.aBespearianas e pol5ticas6

    (((< A4rendiOado 6omo Pintor

    O olho (ue prefere a Cor de Ticiano e 7u)ens a de Michelangelo e 7afael de!e ser modesto e du!idar de seus prJprios poderes& Connoisseurs falam como se

     7afael e Michelangelo nunca ti!essem !isto a cor de Ticiano ou Correggio& Eles de!eriam sa)er >ue Correggio nasceu dois anos antes de Michelangelo% e Ticiano apenas um ano depois&

    Tanto 7afael (uanto Michelangelo conheciam o !ene@iano% e condenaram e reDeitaram tudo o (ueele fe@ com o mais completo desdém% como se fosse fa)ricado para destruir a arte&

    Sr& /& aparece ao *+)lico% a partir do Dulgamento desses olhos estreitos% (ue h- muito go!ernam aarte de sua es(uina som)ria& Os olhos dos est+pidos nunca ser'o deleitados com a o)ra como s'o

     pela imagem do gênio de!otado& " (uerela entre 4lorentinos e ?ene@ianos n'o se d- por (ueesses n'o compreendem Gesenho% e sim por(ue eles n'o entendem a Cor& Como poderiamK Eles

    (ue n'o sa)em como desenhar uma m'o ou um pé sa)eriam como o pintarK

     *intar n'o depende de onde as Cores s'o colocadas% mas onde as lu@es e som)ras s'o postas% e tudo isso depende da 4orma e da

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    A 0im de elucidar sua produção para eventuais visitantes, JlaBe compe um catlogo de L

     pginas6 o pre0cio do volume, sumari@a suas opinies est>ticas e in0lu9ncias art5sticas6

    * pre0cio inicia com a de0esa de JlaBe da import7ncia da lin.a e da 0orma em

    detrimento da cor e da lu@, ao a0irmar que R* ol.o que pre0ere a #intura de Ticiano e /ubens

    =quela de 'ic.elangelo e /a0ael, deveria ser modesto e duvidar dos pr:prios poderes6S Ao

    discutir as di0erenças entre uma arte baseada na lin.a e outra baseada na cor, JlaBe

    acrescentaG R#intar não depende de onde se aplica as Cores, mas de onde as lu@es e sombras

    são colocadas, e tudo isso depende de onde a "orma ou a in.a > postaZ *nde elas estão

    erradas, a pintura nunca estar correta6S 1eorge Cumberland, amigo de JlaBe, publicou dois

    textos sobre a import7ncia da lin.a6 Em Thoughts on Outline $HP( e em Outlines from the

     "ncients $HL2P(, de0ende a import7ncia da de0inição e da claridade na pintura6 Al>m desses,

    JlaBe possivelmente l9 nesses anos 7eflections on the *ainting and Sculpture of the Aree0s,

    de incBelmann, tradução inglesa do tamb>m amigo UenrM "useli6 $Davis, HP, p6 HL(

    *utro livro,  Gictionar3 of *ainters $HIFHLI(, de 'att.e! #ilBington, apresenta

    uma de0inição de Rlin.aS muito pr:xima em sentido e estilo =s palavras 0uturas de JlaBe no

    seu Cat-logo Gescriti!oG R%ma lin.a correta pode dar pra@er, mesmo sem qualquer cor, mas

    nen.uma cor pode o0ertar igual satis0ação ao ol.o 8udicioso, se a lin.a estiver incorretaZ pois,

    nem composição nem cor podem tra@er m>rito se a lin.a > de0eituosa6S  42 $Eaves, HPL2, p6 H(

    #or outro lado, a de0esa da lin.a por JlaBe pode ser vista dentro de um contexto mais amplo,

    que não apenas corresponde =s opinies est>ticas correntes sobre a lin.a e a cor como a um

    embate cultural que opun.a a primeira como RmoralmenteS superior = segunda643 

     esse contexto, parece estran.a a de0esa tão severa que JlaBe 0a@ da lin.a6 Todavia,

    devemos analisar tal argumento nos moldes daquela estrat>gia sat5rica muito cara ao s>culo HP

    de Rreter os termos convencionais de um argumento e re8eitar a moralidade convencional que

    os acompan.am6S $Eaves, HPL2, p6 H( o caso da discussão est>tica, essa era apenas uma

    alavanca para uma de0esa do intelecto V relacionado = lin.a V em detrimento do corpo e suasAoats% The /ramins " Gra6ing e The Spiritual *rotectorB e b5blicos HThe /od3 of ")el found )3 "dam and E!eB Cain fleeing a6a3 " Gra6ing% Soldiers casting

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    sensaçes V relacionadas =s cores644 JlaBe ignora esse t:pico, tra@endo = discussão o que l.e

    interessaG a di0erença signi0icativa entre arte comercial e arte imaginativa6

    Al>m disso, a de0esa de um padrão de clare@a aproxima JlaBe da revitali@ação de

    caracteres clssicos no s>culo HL6 &obre essa caracter5stica da arte de JlaBe, 'orris Eaves

    menciona que JlaBe mescla Rcertos valores do iluminismo a um terreno rom7ntico6 Tal

    a0irmação o torna um enigma para cr5ticos que tentam v9Flo como parte do neoclassicismo

    nas artes visuais ou do romantismo de ords!ort. em literatura6S $HPL2, p6 HI( *s termos de

    Eaves revelam o 8ogo de paroxismos pr:prios =s escol.as est>ticas e po>ticas de JlaBe6

    #or>m, as contradiçes entre estilo visual baseado na lin.a e na de0inição em contraste com

    uma poesia de obscuros simbolismos compem o e0eito desestabili@ador de sua arte6

    #or 0im, sua opinião sobre os que não RentendemS pintura devido = di0iculdade com o

    Rdesen.oS > sintomtica de sua 0ormação como gravurista, uma pro0issão que se baseia,

    sobretudo, na de0inição da lin.a64 Ademais, essa valori@ação exempli0ica sua arte iluminada

    0utura, que depende da impressão de lin.as para 0ormar palavras e imagens sobre a pgina e

    que apenas depois recebe a aplicação de cores6 #or outro lado, tal de0esa não signi0ica que a

    composição de cores se8a secundria6 &obre a import7ncia delas em seus livros, Uagstrum

    a0irma que Ra cor em JlaBe serve para en0ati@ar o sentido, não redu@iFlo, para en0ati@ar a

    0orma, não obscurec9Fla, sendo um elemento indispensvel de sua arte6S $HP4, p6 H(

    Entretanto, apesar da divisão entre lin.a e cor ser clara para JlaBe, deveFse ponderar

    sobre o principal ob8etivo dessa cr5tica6 esse aspecto, as a0irmaçes em seu pre0cio podem

    ser vistas como cr5tica =s opinies que opem a arte renascentista como antiquada = arte

     paisag5stica e retratista, executada a :leo6 Exempli0icam essas RopiniesS a menção de JlaBe

    em seu texto a RespecialistasS ou Rmestres da opinião6S Esses 0ormam um sistema de cr5ticos

    e de negociantes de arte que di0erenciam uma arte RsuperiorS de outra Rin0erior6S #ara JlaBe,

    sua obra era 8ulgada por Rol.os estreitosS, que . tanto tempo regem a Resquina sombriaS,

    numa alusão aos artistas e cr5ticos associados a /oMal AcademM64

    44 &egundo Daniel Arasse, Ra prtica clssica > perpassada de grandes opçes art5sticas, entre as quais a maisdeterminante, no que di@ respeito = imagem do corpo, > evidentemente aquela que articula e =s ve@es ope odesen.o e o colorido como 0undamento tanto da verdade como do e0eito da representaçãoG iniciada no s>culo?

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    Em HP, ao 0indar seu aprendi@ado com Jasire, JlaBe > admitido nessa 0amosa

    academia, encontrando ali uma atmos0era que contrasta com a que con.ecera no estKdio do

    mestre gravurista6 &e nos anos com Jasire, ele acostumaFse a um espaço que estimula

    experimentação t>cnica e art5stica, a academia o0erece um cenrio 0ormal e r5gido no qual a

    repetição da norma aceita > a principal exig9ncia a novos estudantes, como revela o par de

    aquarelas de Ed!ard "rancis JurneM dedicado ao diaFaFdia dos estudantes reais6 $"ig6 H6H4 e

    H6H( A 0ormalidade das roupas e a observação e c:pia do estaturio clssico ilustram o clima

    s:brio da /oMal AcademM no ano em que JlaBe inicia seus estudos6 Embora ten.a visto a

    import7ncia da c:pia quando trabal.ara com Jasire, com ele tivera espaço para inovação e

    experimentação, elementos caros = sua arte e di0icilmente permitidos nos sales reais6

     os poucos meses em que estuda na prestigiada academia, JlaBe nota que o tipo de

    arte l executada o a0astaria de seus planos como gravurista, poeta e pintor6 As ra@es para

    sua partida são inexatas, embora o tipo de educação art5stica e t>cnica que a academia o0erta

     possa explicar as ra@es para JlaBe a ter abandonado6 #ara algu>m como ele, que de0ende a

    liberdade t>cnica e art5stica, o espaço de seu pr:prio estKdio > mais 0avorvel6 4

    Al>m dessas di0erenças est>ticas, a noção de moralidade dos artistas da Academia

     pode ter surpreendido suas posiçes pessoais libertrias64L  Ademais, sua predileção pela

    aquarela em detrimento da pintura a :leo prenuncia sua de0esa da lin.a e da claridade em arte6

    #or seu turno, aquarelas e gravuras V as t>cnicas que JlaBe domina V não são vistas com bons

    ol.os pelos acad9micos64P As primeiras são relegadas aos sales laterais, onde são 0acilmente

    abastada, percept5vel pelas roupas e pelos gestos, que observa a pro0usão de pinturas espal.adas pelas altas e bem iluminadas paredes da Somerset ouse6 o centro da multidão, o diretor e pintor ;os.ua /eMnolds conversacom o pr5ncipe regente6 Tal encontro, segundo 'arB Uallett, Rsugere a parceria ideal entre a reale@a brit7nica eos artistas acad9micos no per5odo6S Tamb>m ilustrativo > o 0ato de serem exibidas poucos exemplos da arteRUist:ricaS de0endida por /eMnolds no seu Giscursos $HPFHPI(, entre de@enas de retratos, paisagens, nature@amorta e 0iguras de animais, temas que mais agradavam = RclientelaS da academia6 $HPPP, p6 2HF23(4 Anos depois, JlaBe recorda da discussão que tivera com um pro0essor da /oMal AcademM c.amado 1eorge'oser6 JlaBe de0endia /a0ael e 'ic.elangelo e 'oser e Jrum e /ubens6 REu estava certa ve@ ol.ando as

    gravuras da obra de 'ic.elangelo X /a0ael na biblioteca da /oMal AcademM quando 'oser veio X disse ?oc9não deveria estudar essas antigas *bras Di05ceis, 'ortas X &ecas, essas ão "inali@adas obras de Arte6 EspereX eu mostrarei o que voc9 deveria Estudar Ele então voltou X deitou sobre a mesa as 1alerias de e Jrun X/uben Como eu 0iquei secretamente irado6 E em min.a mente pensei Eu disse a 'oser, Essas coisas que voc9c.ama de "inali@adas não 0oram nem mesmo

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    igonoradas, ao passo que gravuras não são nem aceitas para exibiçes6 $'Mrone, 2IIP, p6 H(

    Textos como In(uir3 into the 7ise and Esta)lishment of the 7o3al "cadem3 of "rts $H( de

    /obert &trange e cada de HLI6

    Como 0a@ com 'ic.elangelo, JlaBe trabal.a com a iconogra0ia de D]rer para seus

     pr:prios ob8etivos64 Tematicamente, a presença do gravurista alemão em JlaBe tamb>m >

     ão surpreende o 0ato de não .aver ind5cio algum de que JlaBe ten.a integrado qualquer desses grupos6I 'eiFing &ung menciona que o Rdecl5nio da estima pela gravura começou ainda na vida de JlaBe6 * dilemados gravuristas era o de se considerarem como artistas ou artesãos comerciais6S $2IIP, p6 P(H

     *utro grupo exclu5do da /oMal AcademM 0ora o 0ormado por artistas mul.eres6 Embora pintoras como 'ariaCos!aM, 'arM 'oser e Angelica -au00man, tiveram algumas de suas obras expostas, isso apenas aconteceu porque souberam corresponder = opinião comum do que uma mul.er RdeveriaS pintarG temas ou personagens0emininas, nature@a morta e cenas dom>sticas ou decorativas6 &egundo 'arB Uallett, diversas outras tiveramsuas obras negadas, como acontecia com gravuristas e pintores de aquarelas6 $HPPP, p6 2(2 JlaBe não 0ora o Knico a criticar a /oMal AcademM6 Ant.onM #asquin 0e@ isso por meio de uma peça teatralc.amada The 7o3al "cademicians# a 4arce, de HL6 *utro satirista dos 8ogos sociais e comerciais da academia0oi #eter #indar que, entre HL2 e HL publicou as suas 

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     percept5vel na predileção de ambos por cenrios ridos e apocal5pticos6 Al>m desses, JlaBe

    reinterpreta dogmas cristãos que considera errWneos e que estão presentes em D]rer6 %m

    exemplo disso est na  "nunciaç'o de D]rer em relação a Gança de "l)ion6  $"ig6 H6HP e

    H62I( #rimeiramente, o padrão de lin.as que partem do 0irmamento e da pomba > similar ao

    usado por JlaBe na criação do entorno de sua personagem6 A alusão visual não > acidental,

    visto que o .omem de  "l)ion simboli@a V como a pomba simboli@a o esp5rito santo na

    gravura de D]rer V o nascimento de um novo tipo de ser .umano nas terras inglesas6 JlaBe

    re0orça essa alusão por repetir a at5pica pomba de D]rer abaixo do seu .er:i, exagerando a

    estran.esa da criatura e desen.andoFa com cabeça de inseto e asas de morcego6 * 0ato de na

    versão blaBiana os raios de lu@ partirem do .omem e não do animal sugere a necessidade de

    uma alteração da divina santidade dos c>us para a terra, de Deus para o .omem6

    Como Uagstrum escreve, as ilustraçes de D]rer e JlaBe são visuali@açes da Rperda

    do para5so, de uma nature@a amaldiçoada, $666( uma rememoração da gl:ria passada e uma

    antecipação do esplendor apocal5ptico por vir6S $HP4, p6 3L( #or>m, no caso dessas imagens,

    tal ResplendorS se con0igura de di0erentes maneiras6 Em D]rer, a redenção 8a@ na encarnação

    de Cristo, ao passo que na visão de JlaBe, a redenção est na capacidade criativa do .omem,

    capa@ de criar um para5so da terra desolada de Albion6 ovamente, a releitura de JlaBe

    distorce a 0onte original para, a partir dela, obrigar seu observador a alterar sua pr:pria visão

    da realidade e do .omem6 Al>m disso, a gravura de JlaBe mant>m relação com sua visionria

    interpretação da .ist:ria da um dos londrinos que testemun.a os R1ordon /iotsS V revoltas

    0omentadas pelo paci0ista 1eorge 1ordon V e a invasão e destruição da prisão de e!gate6L 

    JlaBe em suas diversas verses para a personagem, como no poema RondonS de Canções de  Experiência e nal7mina L4 de =erusalém6 ; a relação entre o vel.o .omem e o beb9 que est sobre sua cabeça tamb>m pode terinspirado os dois 0rontisp5cios que JlaBe preparou para as Canções6 $'itc.ell, HPL, p6 F( *utra gravura deD]rer,  Ga *roporç'o dos Corpos umanos  $"ig6 H6HL( pode ter inspirado  " Gança de "l)ion6 Tal posturacorporal tamb>m seria usada por JlaBe em =erusalem, l7mina , e em O inquestionvelque esses eventos marcaram a mem:ria do 8ovem artista6 &obre isso, &tanleM 1ardner menciona que os  culo HL em movimento6 "ora um 0enWmenocom o qual JlaBe viveu e que a8udou a 0or8ar seu pensamento6 ão > que ele ten.a condenado sua viol9ncia, mas

    42

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    Diversos contempor7neos aludem a esse epis:dio em termos pro0>ticos ou apocal5pticos,

    numa peculiar união de interpretação b5blica e observação de eventos .ist:ricos6P  %ma

    imagem ilustrativa dessa relação entre revolução e visionarismo > a gravura "s 7e!oltas de

    NP $HPI, "ig6 H62H(, de ;6 Ueat. a partir da tela de "rancis .eatleM, na qual um c>u

    tempestuoso serve de cenrio para destruição de pr>dios, 0ogueiras, vandalismo, brigas e o

    ataque das 0orças monrquicas contra o povo revoltado6 $'cCalman, HPPP, p6 HL( esse

    clima de perigos pol5ticos vistos sob lu@ apocal5ptica, tamb>m destacaFse a exibição de

     pinturas como  Morte no Ca!alo Gescorado, de Jen8amin est, El9sio% ou Estado do =u9@o

     4inal , de JarrM, e o Gil+!io, de o!eZ telas que associam pro0ecia b5blica e crise nacional6

    $Ueppner, HPP, p6 P( A partir desse imaginrio, a menção de JlaBe a eventos apocal5pticos

    registra a insegurança pol5tica que marca o in5cio da d>cada de HLI6 Como Erdman a0irma,

    deveFse RreFexaminar o suposto isolamento dos anos de aprendi@ado de JlaBe para ver

    quantas 8anelas o barul.o patri:tico londrino 0e@ adentrar em seu mundo6S $HPPH, p6 2P(

    'arca desse e0eito > o 0ato de JlaBe tamb>m excursionar nesses anos pela pintura de

    temas b>licos e revolucionrios, como atestam as aquarelas ;ma ?iolaç'o na Cidade e

    Auerra

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    Al>m de D]rer, /a0ael tem um papel central na 0ormação art5stica de JlaBe,

    marcando sua arte pela centralidade de gestos ret:ricos6 %m dos primeiros desen.os de JlaBe

    > uma c:pia do Adão de /a0ael em Expuls'o de "d'o e E!a&I Yuando JlaBe começa sua

    0ormação com Jasire, ele possivelmente tem con.ecimento de um debate sobre duas

    tradiçes da arte ocidental6 C.ristop.er Ueppner escreve que uma > baseada no corpo do

    estaturio grego e que a outra est centrada nos gestos dos oradores romanos6 A primeira >

    considerada Rintuitiva, natural e centrada no torsoS, como a arte de 'ic.elangelo, e a

    segunda, Rexpl5cita, arti0icial e centrada nos membrosS, como a de /a0ael6H $HPP, p6 3(

    #or mais que JlaBe discordasse de tal oposição, as primeiras aquarelas dos anos HLI

    são marcadas pela mais arti0icial dessas tradiçes, sobretudo pela limitante in0lu9ncia dos

    tratados ret:ricos6 Como apontado anteriormente, tais autores ensinam gestos corporais como

    anlogos de ideias e conceitos6 o caso de JlaBe, esse aprendi@ado se d com a observação

    de gravuras dos a0rescos de /a0ael, reprodu@idas na /9)lia *rotestante da 4am9lia $HLH( ou

    na  7o3al ;ni!ersal 4amil3 /i)le  $HL2(6 Essas gravuras seriam recriadas por JlaBe em

    muitas de suas primeiras aquarelas6 Saul e a 4eiticeira de Endon $HL3(, baseada em  I

    Samuel 2LGFHP, exempli0ica a inicial subservi9ncia de JlaBe = arte de /a0ael6 $"ig6 H623(

    Jindman l9 a posição gestual dos braços e a inclinação de &aul como recon0iguração de

     ")ra'o e os Três "nDos $"ig6 H622(, um dos a0rescos do ?atican oggia6 $HP, p6 2P(

    JlaBe realoca visualmente as posiçes corpo