Taxa de Câmbio, Taxa de Juros, Produtividade e...

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Taxa de Câmbio, Taxa de Juros, Produtividade e Desindustrialização Introdução Câmbio A taxa de câmbio é o preço da moeda estrangeira em moeda nacional. Quando dizemos que US$ 1,00 vale R$ 1,75, estamos cotando, precificando o dólar em termos de reais. Isto é, US$ 1,00 custa R$ 1,75. Se eu quiser comprar no mercado internacional mercadorias que custem US$ 100,00, vou precisar desembolsar R$ 175,00. A valorização do câmbio significa a desvalorização da moeda estrangeira em termos da moeda nacional, é o mesmo que a moeda nacional se valorizar em relação à moeda estrangeira. Se a taxa de câmbio vai para US$ 1,00 por R$ 1,70, haverá necessidade de menos reais para comprar a mesma quantidade de dólares. Assim, ao invés de desembolsar R$ 175,00 para comprar mercadorias no valor de R$ 100,00, serão necessários, agora, R$ 170,00 (2,85% menos). Os artigos estrangeiros ficaram mais baratos em reais ou, em outros termos, as importações estão mais em conta. O contrário também é verdadeiro. Se a taxa de câmbio vai para US$ 1,00 por R$ 1,80, há necessidade de mais reais para adquirir a mesma quantidade de dólares. Assim, desembolsarei R$ 180,00 para comprar mercadorias que custam R$ 100,00. Neste caso, as importações ficaram mais caras (2,85%). Em ambos os casos, os reflexos nas exportações são contrários. Se o dólar se desvalorizar (a moeda nacional se valorizar), as importações ficam mais baratas, mas as exportações ficam mais caras. Os produtos brasileiros, em dólar, ficam mais caros. As valorizações cambiais atrapalham as exportações. Por outro lado, se o dólar se valorizar (a moeda nacional se desvalorizar), as importações ficam mais caras, mas as exportações mais baratas. Os produtos brasileiros, em dólar, ficam mais baratos. As desvalorizações cambiais favorecem as exportações.

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Taxa de Câmbio, Taxa de Juros, Produtividade e Desindustrialização

Introdução

Câmbio

A taxa de câmbio é o preço da moeda estrangeira em moeda nacional. Quando

dizemos que US$ 1,00 vale R$ 1,75, estamos cotando, precificando o dólar em termos de

reais. Isto é, US$ 1,00 custa R$ 1,75. Se eu quiser comprar no mercado internacional

mercadorias que custem US$ 100,00, vou precisar desembolsar R$ 175,00.

A valorização do câmbio significa a desvalorização da moeda estrangeira em

termos da moeda nacional, é o mesmo que a moeda nacional se valorizar em relação à

moeda estrangeira. Se a taxa de câmbio vai para US$ 1,00 por R$ 1,70, haverá

necessidade de menos reais para comprar a mesma quantidade de dólares. Assim, ao

invés de desembolsar R$ 175,00 para comprar mercadorias no valor de R$ 100,00, serão

necessários, agora, R$ 170,00 (2,85% menos). Os artigos estrangeiros ficaram mais

baratos em reais ou, em outros termos, as importações estão mais em conta.

O contrário também é verdadeiro. Se a taxa de câmbio vai para US$ 1,00 por R$

1,80, há necessidade de mais reais para adquirir a mesma quantidade de dólares. Assim,

desembolsarei R$ 180,00 para comprar mercadorias que custam R$ 100,00. Neste caso,

as importações ficaram mais caras (2,85%).

Em ambos os casos, os reflexos nas exportações são contrários. Se o dólar se

desvalorizar (a moeda nacional se valorizar), as importações ficam mais baratas, mas as

exportações ficam mais caras. Os produtos brasileiros, em dólar, ficam mais caros. As

valorizações cambiais atrapalham as exportações. Por outro lado, se o dólar se

valorizar (a moeda nacional se desvalorizar), as importações ficam mais caras, mas as

exportações mais baratas. Os produtos brasileiros, em dólar, ficam mais baratos. As

desvalorizações cambiais favorecem as exportações.

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Portanto, flutuações na taxa de câmbio (no preço da moeda estrangeira) alteram

os preços relativos dos produtos.

Juros

A taxa de juros é o preço do dinheiro. Quanto maior os juros, maior o custo do

dinheiro, do capital. As empresas (o governo e as pessoas) necessitam, por um motivo

ou outro, tomar dinheiro emprestado. Quando isso acontece, esses três personagens

incorrem em custos financeiros, que irão fazer parte de seus custos totais. Tomar

dinheiro emprestado é contrair uma dívida e toda dívida gera custo financeiro, pois

sobre essa divida incidem os juros. Ninguém devolve ao banco a mesma quantia que

tomou emprestado: devolve o valor emprestado (o principal), acrescido dos encargos

financeiros (os juros).

Se a taxa de juros contratada for de 20% e o empréstimo de R$ 100,00, ao final do

contrato (ou durante sua vigência), a empresa (ou as pessoas, ou o governo) deverá

devolver ao banco R$ 120,00. Se a taxa contratada for de 100%, deverá devolver R$

200,00.

As empresas recorrem aos bancos para tomarem empréstimos basicamente por

dois motivos: para financiar capital de giro (compra de matérias primas, pagamento de

salários e outras despesas correntes) ou para investimento (aquisição de máquinas e

equipamentos (bens de capital), destinados a melhorar ou expandir a produção.

No caso do capital de giro, as taxas de juros altas, que encarecem esses

empréstimos e, portanto, o custo total da empresa, são repassadas para o preço final dos

produtos ou, na impossibilidade de isso acontecer, reduz a rentabilidade (o lucro) da

empresa. Empresa com lucro muito baixo ou sem lucro geralmente fecha.

Quanto ao investimento, a empresa fará a seguinte conta (ou pergunta): qual o

retorno (aumento de lucro) que a aquisição de novas máquinas e equipamentos irá

proporcionar? Esse percentual a mais de lucro gerado pelos novos equipamentos

deverá, obrigatoriamente, ser superior ao juro que a empresa pagará ao banco quando

tomar dinheiro emprestado para adquiri-lo. Se os juros forem superiores ao retorno do

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capital investido, não compensa o empréstimo, pois, ao invés de lucro, a nova máquina

irá dar prejuízo.

Portanto, taxas de juros altas provocam desaquecimento, redução da atividade

econômica. Essa perda de dinâmica bate na produção e no emprego, isto é, reduz a

oferta de novos postos de trabalho.

A única saída para as empresas e para a economia como um todo é, num contexto

de valorização cambial (aumentos de importações e redução das exportações) e

elevadas taxas de juros (aumento dos encargos financeiros das empresas), aumentarem

a produtividade, para compensar a valorização cambial e o custo financeiro dos

empréstimos.

Produtividade

Entende-se por produtividade a relação entre a produção e a utilização dos

recursos produtivos (máquinas, equipamentos e mão de obra). Enquanto a produção é

uma medida absoluta, a produtividade é um conceito relativo. Produção é a medida da

quantidade produzida de uma determinada mercadoria (ou serviço) num certo intervalo

de tempo. Já a produtividade irá medir as contribuições individuais de cada recurso

produtivo utilizado para realizar a produção. Assim, uma mesma produção pode ser

obtida com maior ou menor produtividade. Aumentar a produtividade significa

aumentar a produção com economia de recursos.

Produzir determinada quantidade de mercadorias em um dia, utilizando 10

trabalhadores e 5 máquinas é diferente de produzir essa mesma quantidade em 2 dias,

utilizando 12 trabalhadores e as mesmas 5 máquinas. A produtividade, na primeira

situação, é bem maior que na segunda. O que as economias e as empresas buscam é o

aumento da produção com aumento de produtividade. Somente o aumento de produção

não basta.

Na medida em que a produtividade aumenta (ou dito de outra forma, na medida

em que a produção aumenta, com economia de recursos), pelo menos duas importantes

conseqüências aparecem: (a) os custos de produção se reduzem e a capacidade

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competitiva da empresa aumenta e (b) os recursos produtivos economizados podem ser

utilizados para mais produção.

O esforço produtivo da empresa, no entanto, pode ser frustrado se seus custos

operacionais sofrerem elevação devido a altas taxas de juros. Do ponto de vista do

câmbio, a realidade é a mesma. Na medida em que o câmbio se valoriza, as mercadorias

nacionais tornam-se mais caras em moeda estrangeira e as mercadorias estrangeiras

mais baratas em moeda nacional

Para manter sua rentabilidade, as empresas precisam aumentar sua

produtividade, quer dizer, produzir com custos menores, na mesma proporção da perda

de competitividade causada pelos juros altos e câmbio valorizado. Não é uma tarefa fácil,

pois as taxas de juros reais no Brasil são as mais elevadas do mundo e nossa moeda, o

real, é uma das que mais se valorizaram em relação ao dólar norte americano nos

últimos anos. Em resumo, se as empresas dinamizam os processos de produção e

trabalho para elevar a produtividade, esse esforço é esterilizado pelos juros altos e o

real valorizado.

Entre outras, as variáveis que, além do câmbio e juros, vêm prejudicando a

competitividade da indústria nacional, principalmente a de transformação, são:

Estrutura tributária ineficiente e burocratizada

Infra-estrutura de transporte: rodovias, ferrovias, portos e aeroportos

insuficientes ou “sucateados”

Preços de energia e telecomunicações elevados em comparação aos

praticados nos países concorrentes

Fraca defesa comercial dos interesses da industrial nacional

Incentivos fiscais às importações (“guerra dos portos”)

Falta de uma política industrial efetiva.

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As medidas de produtividade, no entanto, não se obtêm facilmente, pois não

existe uma “fórmula” que se ajuste a todos os processos produtivos ou ramos de

atividade. Existem várias formas de cálculo, todas sujeitas a críticas e observações. 1

Produtividade Setorial

A medida da produtividade dos vários setores produtivos considerados a seguir

utilizou a metodologia do quociente (divisão) entre a produção física (PF) e as horas

pagas (HP) na produção: Pd = PF/HP.

Esse cálculo precisa ser observado com alguma atenção. Nem sempre o aumento

da produtividade indica prosperidade do setor ou da economia. As situações simuladas a

seguir procuram responder ao problema.

Exemplos:

1- Aumento da PF em 20% e aumento das horas pagas em 14%. Pd = 20%/14% >

aumento da produtividade em 5,26%.

2- Aumento da PF em 20% e aumento das horas pagas em 20%. Pd = 20%/20% >

resultado dessa divisão é 1, que indica que não houve variação na

produtividade, somente na produção.

3- Aumento da PF em 20% e aumento das horas pagas em 24%. Pd = 20%/24% >

redução da produtividade em 3,22% e aumento na produção (20%).

4- Aumento da PF em 20% e redução das horas pagas em 3%. Pd = 20/-3 >

aumento da produtividade em 23,71%. Houve aumento da PF e redução da

utilização do recurso produtivo mão de obra. Esse aumento de produtividade

pode ser interessante para a empresa, mas não é para o trabalhador, uma vez que

houve redução de horas pagas.

5- Estabilidade da PF e redução das horas pagas em 3%. Pd = 100/97 > aumento

da produtividade em 3,1%.

6- Estabilidade da PF e aumento das horas pagas em 3%. Pd = 100/103 > redução

da produtividade em 2,91%.

1 Ver apêndice sobre medidas de produtividade ao final do texto.

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7- Redução da PF em 10% e redução das horas pagas em 3%. Pd = 90,9/97,08 >

redução da produtividade em 6,35%. Péssimo cenário para a empresa, para os

trabalhadores e para toda a economia.

Como percebemos, há várias possibilidades de variações e resultados quando se

mede a produtividade por esse método que, aliás, é o mais utilizado, pelo menos na

indústria.

A seguir, apresentamos o desempenho da indústria de transformação e seus

principais ramos, medido pela produtividade física (PF/PH). Nas informações contidas

nas tabelas não definimos se a produtividade aumentou ou diminuiu devido a variações

das horas trabalhadas. Somente é informado o resultado do quociente PF/HP.

Tabela 1. Produtividade – Indústria de Transformação e Sub Setores/Brasil (2006/11) Ano Indústria

de

Transforma-

ção

Metalurgi

a

Básica

Máquina

s e

Equipa-

Mentos

Produto

s de

Metal

Maq.Ap. Eletr.

de Precisão e

Comunicaçõe

s

Meios de

Transport

e

Outro

s

Prod.

Ind.

Transf

.

Alimento

s

e

Bebidas

2006 2,24 1,49 9,57 0,36 2,33 -1,64 2,52 -3,75

2007 4,19 0,39 10,54 -0,99 2,75 6,48 -0,62 -0,61

2008 1,22 -5,38 -4,36 -3,92 -8,24 3,85 0,04 -0,92

2009 -2,05 -9,7 -8,91 -6,26 -15,02 0,70 -1,69 2,25

2010 5,94 4,89 13,18 14,25 0,95 9,5 6,16 4,24

2011 -0,31 -2,64 -3,29 1,69 -6,06 -2,65 -3,3 -2,18

Ac. 11,54 11,10 15,49 3,98 -22,25 16,75 2,86 -1,18

Fonte: IBGE – PIM-PF/PIMES

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Tabela 1a. Produtividade – Indústria de Transformação e Sub Setores/Brasil (2006/11) (continuação) Ano Vestuário Têxtil Calçados e Couro Produtos

Químicos

Borracha e

Plástico

2006 0,81 3,08 6,27 -0,82 3,59

2007 10,54 1,53 8,14 2,53 5,36

2008 9,9 2,88 2,68 -2,94 1,72

2009 -0,23 -0,73 0,32 5,18 0,51

2010 9,34 -2,22 1,73 5,87 7,75

2011 -0,9 -13,37 -4,69 -1,57 -1,2

Ac. 32,40 -9,46 14,78 8,18 18,79

Fonte: IBGE – PIM-PF/PIMES

Chama atenção as oscilações do comportamento da produtividade nos doze

ramos listados e, também, na indústria de transformação como um todo. Essas

mudanças que ocorrem de ano para ano, vão de aumentos de produtividade (resultados

positivos) a quedas (resultados negativos).

Em alguns sub-setores (Máquinas, Aparelhos Elétricos, eletrônicos, de precisão

e de comunicação; Alimentos e Bebidas; Têxtil), o acumulado da produtividade no

período analisado chega a ser negativo.

De qualquer forma, o comportamento da produtividade nesses diversos ramos da

indústria de transformação ficou aquém dos valores encontrados para a taxa de juros e o

câmbio, como veremos a seguir (Tabela 2). A exceção é a indústria de Vestuário

(aumento acumulado de produtividade de 32,40% no período).

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Tabela 2 - Variação do Câmbio e Taxa Média Mensal de Juros Pessoas Físicas

Ano Câmbio Médio (R$ x US$)

– Variação Percentual

Taxa Média Mensal de

Juros (%)

2006 -6,61 28,87

2007 -5,94 24,12

2008 -17,02 27,80

2009 30,03 27,72

2010 -22,88 27,56

2011 -5,90 30,34

Ac. -31,21* 27,73

Fonte:Banco Central do Brasil / Juros pré-fixado, pós-fixados e flutuante (*) Valores negativos > valorização cambial.

Comparando-se os valores acumulados nas Tabelas 1 e 1a com os encontrados na

Tabela 2, verifica-se que 11 dos 12 ramos da indústria apresentaram produtividades

menores que a valorização cambial e a média mensal dos juros. Além disso, se

observarmos ano a ano, iremos constatar que, enquanto a produtividade oscila, às vezes,

até de forma abrupta, a valorização cambial e a taxa de juros apresentam maior

uniformidade.

Quanto aos juros, as médias de um ano para o outro são muito parecidas, com

pequenas variações, fazendo com que a média final (27,73%) expresse, de fato, esse

comportamento, ou seja, os valores anuais são muito parecidos com a média.

As variações cambiais, por sua vez, apesar de alguns “saltos”, mostram uma firme

tendência de valorização. Somente em 2009, ano em que a crise financeira internacional

se fez sentir com maior intensidade no Brasil, a taxa de câmbio experimentou uma

queda expressiva (o real desvalorizou-se em 30,03%). Nos demais anos houve uma

constante valorização cambial.

Concluí-se que há uma grande distância entre os ganhos de produtividade e o

comportamento de câmbio e juros. Estes dois últimos estão sempre à frente, o que cria

dificuldades para a competitividade dos produtos industrializados produzidos no país.

Pelo lado dos juros, o alto custo do capital inibe os investimentos. A valorização cambial,

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por seu turno, torna mais caras nossas exportações e mais baratas as importações.

Assim, além de perdermos mercado internacional, enfrentamos a concorrência dos

produtos estrangeiros dentro do país.

A essas restrições, mais a estrutura tributária deficiente, todas de natureza

macroeconômica, somam-se os problemas de infra-estrutura, qualificação profissional

etc. listados anteriormente.

Desindustrialização A desindustrialização decorre da perda de competitividade e de mercado da

indústria local. Seus sinais mais claros são: (a) substituição de produtos nacionais por

importados no mercado interno (b) redução de participação de produtos

industrializados na pauta de exportação (c) quebra e/ou descontinuidade de cadeias

produtivas da indústria (d) redução do emprego e renda (e do valor adicionado) gerados

pela indústria na formação do PIB.

A perda de competitividade da indústria é, por sua vez, conseqüência das razões

elencadas anteriormente. Lembrando: (a) elevadas taxas de reais de juros (b)

sobrevalorização cambial (c) estrutura tributária que onera as exportações (d) escassez

de crédito destinado à produção (e) falta ou baixa qualidade da infra estrutura física

para produzir e escoar a produção (f) baixa qualificação da mão de obra (g) fracos

controles comerciais sobre produtos importados (h) diferenças de produtividade entre a

indústria nacional e a estrangeira.

Trata-se, portanto, de um conjunto de situações que configura um cenário de

redução relativa da presença da indústria na economia. Não há um consenso entre os

formadores de opinião de que, de fato, exista um movimento de desindustrialização em

curso no país.

O argumento dos que não concordam que esteja havendo desindustrialização é o

de que as questões são setoriais. Há setores com problemas de competitividade e, por

isso, perdendo espaço para a concorrência internacional, reduzindo, assim sua

participação, enquanto outros segmentos não sofrem tal processo, pelo contrário, estão

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crescendo. Neste sentido, para que de fato exista desindustrialização, o processo deve

ser generalizado. Terá que estar ocorrendo em todos os setores da indústria de

transformação, indistintamente.

A corrente que aponta para a existência da desindustrialização tem como

parâmetros (a) a crescente participação de produtos importados no comércio interno

(hoje está por volta de 20%) (b) a reprimarização da pauta de exportação do país (c) a

redução do Valor da Transformação Industrial - VTI (d) a transferência de etapas do

processo produtivo para o exterior (quebra de cadeias produtivas) (e) a diferença entre

o crescimento do comércio de produtos industrializados e o crescimento da produção

interna desses produtos (f) a queda consistente do valor agregado pela indústria de

transformação ao PIB.

Não temos dúvidas de que os argumentos que identificam sinais de

desindustrialização no país são mais consistentes. Evidente ainda não se tratar de

processo já terminado e sem retorno. A indústria ainda é muito importante na geração

de riqueza do país e pólo dinâmico de desenvolvimento sócio-econômico, não só do

setor, mas de muitas outras atividades ligadas aos serviços, como o comércio, os bancos,

seguradoras, publicidade etc. Não obstante, detecta-se uma redução persistente do valor

que ela agrega ao produto interno, à geração de postos de trabalho e no saldo externo

negativo do setor. São indicadores importantes que devem ser considerados.

Outro aspecto que chama a atenção e que compromete o comportamento futuro

do setor é a perda de competitividade do segmento industrial produtor de produtos

intensivo em tecnologia. O sentido deveria ser o inverso, esses setores deveriam estar

crescendo, pois, mesmo sem ser intensivos em mão de obra, produzem bens de alto

valor agregado e acabam por dinamizar todo o parque industrial, além de contribuir

para que a Balança Comercial do setor se torne superavitária.

Se hoje o processo de desindustrialização, apesar de preocupante, ainda está em

seu início, sem a implantação de uma indústria sólida de alto padrão tecnológico

estaremos, de fato, regredindo em nossa história. A indústria não tem só a capacidade de

produzir produtos, produz, também, conhecimento. Essa é a questão fundamental que,

se relegada a um segundo plano, comprometerá, de fato, o futuro do país.

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Finalmente, é importante salientar que o processo de industrialização brasileiro

data do início do século passado. A indústria brasileira, em que pese todo o processo de

globalização, desregulamentação e terceirização da indústria mundial, ainda é a mais

completa e diversificada da América Latina. Ela chegou a esse patamar em pouco tempo,

mas, a partir de meados dos anos 1980, começou a perder sua dinâmica e sua velocidade

de crescimento reduziu-se drasticamente. A chamada ‘terceira revolução industrial’, em

que a robótica, a telemática, a química fina e a nanotecnologia, entre outras,

modificaram produtos, serviços, processos e até as relações sociais de trabalho, passou

longe do Brasil.

Precisamos recuperar o tempo perdido, não retroceder, como parece estar

acontecendo. O desenvolvimento futuro de nossa indústria deve ocorrer com

trabalhadores qualificados, com empregos de qualidade, com a incorporação dos ganhos

de produtividade aos salários, com as relações de trabalho democratizadas e com

liberdade sindical. Não devemos repetir os erros do passado, cuja marca do crescimento

industrial foi a concentração de renda e escassez de democracia.

Dieese/Força Sindical Abril/2012

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Apêndice Medidas de Produtividade

1. Produtividade Física

Pode ser obtida a partir da (a) divisão entre a quantidade de produtos

produzidos e o contingente de mão de obra envolvido nessa produção: Pd = P/MO, onde

P representa produção, MO a quantidade de trabalhadores utilizados para se obter a

produção e Pd a produtividade e (b) divisão entre a quantidade de produtos produzidos

e a quantidade de horas trabalhadas necessárias para a obtenção de determinada

produção: Pd = P/HP, onde HP representa a quantidade de horas pagas.

As duas formas se adéquam mais à produção industrial, uma vez que é possível

medir, com certa facilidade, a quantidade de produtos produzidos, além de a produção

estar organizada de forma sistemática e rotineira, que permite mensuração mais exata.

Alguma dificuldade pode aparecer quando o mix de produção (tipos de produtos

fabricados) é muito grande.

Para os serviços, inclusive financeiros, e comércio, essa metodologia não seria a

mais apropriada. Contabilizar o atendimento à saúde e educação, por exemplo, exige-se

muito mais que somar a quantidades de mercadorias produzidas. Idem para os serviços

produzidos pelo setor bancário/financeiro, em que a quantidade de horas pagas

(trabalhadas) ou o montante físico produzido não reflete, exatamente, o valor da

produção.

No caso do setor de comércio, a medição da produtividade por essa metodologia

apresenta certos problemas devido à diversidade de itens transacionados. Assim, a

medida da produtividade, obtida a partir da quantidade de unidades vendidas, pode não

refletir eficiência devido aos diferentes valores (preços) das mercadorias e a margens de

lucro que se obtém de cada uma.

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2. Produtividade a partir do Faturamento

Trata-se, também, de um quociente. O conceito é bem parecido com o da

Produtividade Física, só que, ao invés de considerar o produto físico, a mercadoria

produzida, considera-se seu valor (preço de venda). Para se calcular o faturamento da

empresa basta multiplicar a quantidade produzida de mercadorias (q) pelos seus preços

de venda (p), isto é, p x q.

Dividindo-se o faturamento pela quantidade de trabalhadores (Pd = FT/MO) ou

pela quantidade de horas pagas (Pd = FT/HP), onde FT é o faturamento, obtém-se,

também, uma medida de produtividade. Essa técnica é mais abrangente que a primeira,

uma vez que o faturamento pode ser medido em todas as empresas, independente de

sua atividade (indústria, comércio, serviços etc), pois tudo é convertido em moeda,

como, por exemplo, no cálculo do PIB.

A questão que se apresenta aqui é a intervenção do preço no conceito da

produtividade. Se os preços aumentarem, a produtividade aumenta, se o inverso

ocorrer, a produtividade diminui. Ora, o trabalhador que produziu a mercadoria está

completamente alheio a fatos como estes. Quem determina a flutuação de preços é o

mercado ou, se a empresa possuir algum poder sobre esse mercado, será ela a

estabelecer preços (mark-up) que favoreçam seu faturamento. Eventualmente,

determinada empresa com poder de mercado pode agir de forma “predadora”,

comprimindo seus preços para expulsar algum concorrente. Nesse momento o

faturamento cai e a produtividade se reduz. O mesmo raciocínio pode ser utilizado

quanto a outra parcela da conta, a quantidade. Flutuações de demanda podem, também,

influenciar o faturamento.

Outros ganhos que, também, fogem ao controle do trabalhador, são os financeiros,

que não aparecem no faturamento, mas aparecem nos lucros das empresas. Para

incluirmos na produtividade esses ganhos, devemos utilizar, nos cálculos, o lucro líquido

da empresa (ou pelo menos o lucro antes do Imposto de Renda e da Contribuição sobre

o Lucro) ao invés do faturamento.

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Mais um aspecto, que deve ser considerado nesta situação, são os empréstimos

que as empresas obtêm junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico –

BNDES, com taxas de juros muito inferiores (subsidiadas pelos trabalhadores) às

praticadas no mercado, que diminuem seus custos operacionais e, consequentemente,

aumentam suas margens de lucro. Essa vantagem financeira, se utilizado o método do

faturamento, também não aparece como ganhos de produtividade.

É necessário, entretanto, distinguir a atividade pública da atividade privada.

Educação e saúde, por exemplo, são fornecidas tanto por um quanto por outro. A

dificuldade está na mensuração quando se trata de fornecimento público, uma vez que

na esfera da administração pública não existe o conceito de faturamento. Há outros

métodos para se apurar a produtividade no setor público, cujo conhecimento deve ser

aprofundado.

3. Valor Adicionado

A soma dos Valores Adicionados, utilizada para se medir produtividade, guarda

semelhanças com o método do faturamento. A cada etapa do processo produtivo as

empresas, à medida que recebem e transformam o produto da etapa anterior, lhes

adiciona valor. Elas combinam os insumos de produção (capital, trabalho, recursos

naturais, tecnologia etc.) transformando-os em produtos, que podem destinar-se ao

consumo ou a outra fase da produção. O valor que ela adiciona é a diferença entre o

custo de aquisição desse produto e o preço de venda de sua produção.

A essa altura é preciso salientar que o valor adicionado pela empresa é apurado

levando-se em conta todo o processo produtivo, não apenas o processo de produção, no

chão da fábrica. Por processo produtivo entende-se um percurso que vai desde a

aquisição de matérias-primas e outros insumos, até a comercialização da

mercadoria/serviço. Todos os ambientes (setores) da empresa entram nesse cálculo.

4. EBITDA - Earning Before Interest, Taxes, Depreciation/Depletion and

Amortization (LAJIDA – Lucro Antes dos Juros, Impostos, Depreciação/Exaustão e Amortização)

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O EBITDA, à medida que exclui os juros (ativos e passivos), os tributos (IRPJ e

CSLL2, no caso brasileiro), as depreciações e amortizações de seu cálculo, indica que

pretende mostrar exclusivamente o resultado operacional, ou seja, o lucro gerado

estritamente a partir da exploração do objeto de negócio da empresa.

Essencialmente o EBITDA revela a capacidade operacional da empresa em gerar

caixa. Isso explica a exclusão da depreciação e exaustão, despesas que alteram o

resultado geral da empresa, porém não significam desembolso efetivo de recursos,

representando perda econômica, não financeira. Mesmo que a depreciação (ou

exaustão) seja a medida da necessidade de reinvestimento da empresa, não fica

prejudicado o fato de que o EBITDA permanece sendo um indicador confiável de

capacidade operacional e de geração de caixa.

O EBITDA não deixa de ser uma medida de eficiência, uma vez que a geração

operacional de caixa esta intimamente ligada ao nível de produtividade da empresa.

“Por eliminar os efeitos financeiros e decisões contábeis, pode medir com maior

precisão a produtividade e a eficiência do negócio”. Quanto mais eficiente for a empresa

em seu processo produtivo, maior será sua produtividade e melhores serão seus

resultados operacionais. Daí considerarmos que há grande correlação entre o

crescimento do EBITDA e o aumento de produtividade da empresa.

5. Custo Unitário do Trabalho (cut)

A teoria diz que reajustes salariais acima da produtividade são inflacionários,

pois a elevação de custos que eles representam será repassada aos preços. Esse foi um

argumento utilizado por muito tempo, quando se afirmava, com pouco discernimento,

que os aumentos de salários eram a causa da inflação. Na verdade essas afirmações

eram feitas sem se ter conhecimento da situação da produtividade nos diversos setores

da produção. Na realidade, a inflação era conseqüência de muitas outras coisas, não dos

2 IRPJ – Imposto de Renda de Pessoas Jurídicas e CSLL – Contribuição social sobre o Lucro Líquido são tributos que incidem sobre os ganhos totais da empresa, considerando, inclusive, as eventuais receitas financeira, não ligadas ao resultado operacional, daí não serem consideradas no cálculo do EBITDA.

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salários. Enquanto esse tipo de argumento era utilizado, crescia a concentração da

renda, favorecendo o capital e a participação dos salários na renda nacional diminuía.

O Custo Unitário do Trabalho (cut) é a divisão entre os custos totais nominais do

trabalho (C) e o produto real obtido com o trabalho (Y). Portanto, CUT = C/Y. O custo

total do trabalho (C) inclui, além dos salários, todos os gastos incorridos pelo

empregador com a mão de obra: encargos sociais, participação nos resultados, horas

extras, assistência médica etc.

Se dividirmos C e Y pelo número de horas trabalhadas (h), vamos ter: CUT =

(C/h)/(Y/h). Chamando C/h de A e Y/h de h, teríamos a equação escrita da seguinte

maneira: CUT = h/A, onde h representa o custo total médio do trabalho (por hora

trabalhada) e A a produtividade do trabalho. Com essa equação (CUT = h/A) é possível

provar que nem todo aumento de salário gera pressões sobre os custos das empresas a

ponto de haver necessidade de repassar para preço e, no conjunto da economia, gerar

inflação. As variações salariais, que indicam alterações no custo médio do trabalho (h)

precisam ser confrontadas com a variação da produtividade (A). “Se os salários estão

subindo a um ritmo aparentemente incompatível com a estabilidade de preços

(aumento de h), mas cuja magnitude é igual ou inferior aos ganhos de produtividade

(aumento igual ou maior de A)”, não há ameaça inflacionária devido ao aumento salarial,

uma vez que o CUT não está subindo. Em outras palavras, o custo unitário do trabalho

(cut), medida utilizada pelas empresas para tomar decisão sobre aumentos salariais, só

irá aumentar se o custo médio do trabalho (h) for maior que os ganhos de produtividade

(A), caso contrário, se A for maior que h, o custo unitário do trabalho irá se reduzir.

6. Folha de Pagamento

Por este método, compara-se a variação da produção física (ou faturamento) com

a variação das despesas com salários expressas na folha de pagamento da empresa: Pd

= PF/Fopag. É uma medida muito semelhante à encontrada quando se compara a

produção física com as horas pagas na produção. A diferença é que, quando o cálculo é

realizado com a folha de pagamento, a medida já não é física e, sim, monetária, uma vez

que a folha de pagamentos é expressa em valores monetários (dinheiro), enquanto que

as horas pagas são expressas em termos de quantidade de horas.

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Quando, por outro lado, se compara o faturamento com a folha de pagamentos: Pd

= FT/Fopag, ambas são medidas monetária e incorremos nas mesmas dificuldades da

comparação entre produção física com o faturamento, isto é, flutuações de preços e

quantidades alteram o faturamento e, portanto, a produtividade. Assim, incorre-se no

mesmo problema apontado anteriormente.

É importante lembrar, também, que a rotatividade da mão de obra (que não é

pequena em nosso mercado de trabalho) pode alterar o valor da Folha de Pagamento e

prejudicar a medida correta da produtividade.

Dieese/Força Sindical