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  • APLICAO DO PROGRAMA SIMAPRO NA AVALIAO

    DOS CICLOS DE VIDA DOS MATERIAIS DA CONSTRUO

    CIVIL: ESTUDO DE CASO PARA UM CONJUNTO

    HABITACIONAL

    Joo Gabriel Gonalves de Lassio

    Projeto de Graduao apresentado ao Curso

    de Engenhar ia Civil da Escola Pol itcnica,

    Universidade Federal do Rio de Janeiro,

    como parte dos requisitos necessr ios

    obteno do t tulo de Engenheiro .

    Orientador:

    Assed Naked Haddad

    Rio de Janeiro

    Agosto, 2013

  • ii

    APLICAO DO PROGRAMA SIMAPRO NA AVALIAO

    DOS CICLOS DE VIDA DOS MATERIAIS DA CONSTRUO

    CIVIL: ESTUDO DE CASO PARA UM CONJUNTO

    HABITACIONAL

    Joo Gabriel Gonalves de Lassio

    PROJETO DE GRADUAO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO

    DE ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITCNICA DA UNIVERSIDADE

    FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS

    NECESSRIOS PARA A OBTENO DO GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL.

    Examinada por:

    Prof. Assed Naked Haddad, D. Sc.

    Prof . Carlos Alberto Pereira Soares, D. Sc.

    Prof . Crist ine Kowal Chinell i , D. Sc.

    RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

    AGOSTO de 2013

  • iii

    Lassio, Joo Gabriel Gonalves de

    Apl icao do Programa SimaPro na Aval iao

    dos Ciclos de Vida dos Mater iais da Construo

    Civi l: Estudo de Caso para um Conjunto

    Habitacional/ Joo Gabriel Gonalves de Lassio

    Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Pol itcnica, 2013.

    XIII , 96p.: i l . : 29,7 cm

    Orientador: Assed Naked Haddad

    Projeto de Graduao UFRJ/ POLI /

    Engenhar ia Civi l, 2013.

    Referncias Bibl iogrf icas: p. 87 90.

    1. Aval iao do cic lo de vida. 2. Materiais de

    Construo. 3. Impactos Ambientais. I . Haddad,

    Assed Naked. I I . Universidade Federal do Rio de

    Janeiro, UFRJ, Curso de Engenhar ia Civi l. I I I . Ttulo .

  • iv

    AGRADECIMENTOS

    A Deus, por tudo.

    Aos meus pais e minha irm, pela conf iana e apoio dedicados.

    Ao meu professor or ientador, Assed Naked Haddad, pelo apoio, incent ivo e

    conf iana durante este trabalho.

    professora Oflia de Queiroz Fernandes Arajo , do Inst ituto de Qumica,

    por me ceder l icena do sof tware SimaPro, essencial a este trabalho.

    Ao professor Otto Correia Rotunno, pela preocupao e dedicao aos seus

    alunos do Programa de Educao Tutorial, do qual eu f iz parte.

    s amizades que foram estabelecidas neste perodo , pelo companheir ismo.

    A todos que contr ibu ram de alguma forma para esta real izao.

  • v

    Resumo do Projeto de Graduao apresentado Escola Pol itcnica/UFRJ

    como parte dos requisitos necessr ios para a obteno do grau de

    Engenheiro Civi l.

    APLICAO DO PROGRAMA SIMAPRO NA AVALIAO DOS CICLOS DE VIDA DOS

    MATERIAIS DA CONSTRUO CIVIL: ESTUDO DE CASO PARA UM CONJUNTO

    HABITACIONAL

    Joo Gabr iel Gonalves de Lassio

    Agosto/2013

    Orientador: Assed Naked Haddad

    Curso: Engenhar ia Civil

    No presente trabalho foram aval iados os impactos ambientais dos mater iais

    ao, cermica, cimento e madeira de uma edif icao constr uda no municpio

    de So Gonalo, estado do Rio de Janeiro, atravs da metodologia de

    Avaliao do Ciclo de Vida (ACV) , visando o auxl io na tomada de decises

    tanto de cunho privado quanto pblico e a promoo do pensamento do cic lo

    de vida direcionado ao setor da construo civi l. Assim, seguindo as

    recomendaes das normas ISO 14040 e ISO 14044, aplicou-se a

    metodologia de ACV com a ut i l izao de bancos de dados disponveis e do

    sof tware SimaPro. Os resultados apresentaram um considervel consumo de

    energias no renovveis , a intensif icao do aquecimento global e a

    toxic idade sade humana. Alm disso, mostrou uma necessidade de ao

    mediante a cadeia de produo do ao, cimento e principalmente dos

    materiais cermicos.

    Palavras-chave: Aval iao do cic lo de vida. Mater iais de construo.

    Impactos. Construo civi l.

  • vi

    Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a part ial

    fulf i l lment of the requirements for the degree of Engineer.

    IMPLEMENTATION OF THE SIMAPRO PROGRAM IN LIFE CYCLE ASSESSMENT OF

    THE BUILDING MATERIALS: CASE OF STUDY FOR A HOUSING

    Joo Gabr iel Gonalves de Lassio

    August/2013

    Advisor: Assed Naked Haddad

    Course: Civi l Engineering

    In the present work, the environmental impacts of building materials used in

    the construct ion of a housing project in the city of So Gonalo, state of Rio

    de Janeiro, have been assessed through the methodology of Life Cycle

    Assessment (LCA) in order to not only to assist the decision-making of

    private and publ ic nature, but also to promote l ife cycle thinking in the

    construct ion industry. Based on the guidel ines set by ISO 14040 and ISO

    14044, the LCA methodology has been applied with available databases and

    SimaPro program. The results show a considerable consumption of non -

    renewable energy, intensif icat ion of global warming and toxic ity to human

    health. Moreover, this study exposes a necessity of act ion on the chain of

    product ion of steel, cement and ceramic materials mainly.

    Keywords: Life Cycle Assessment. Bui lding Materials. Environmental

    Impacts. Civi l Construct ion.

  • vii

    SUMRIO

    LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................. ix

    LISTA DE TABELAS ............................................................................................................. xi

    1. INTRODUO ..............................................................................................................14

    1.1. Apresentao .........................................................................................................14

    1.2. Objetivos da Pesquisa ............................................................................................15

    1.2.1. Objetivos Gerais ..............................................................................................15

    1.2.2. Objetivos Especficos ......................................................................................15

    1.3. Justificativa do trabalho ..........................................................................................16

    1.4. Estrutura do Trabalho .............................................................................................16

    2. REVISO DA LITERATURA ........................................................................................18

    2.1. O desenvolvimento sustentvel ..............................................................................18

    2.2. A sustentabilidade no setor da Construo Civil .....................................................20

    2.3. Ferramentas de avaliao ambiental no setor da construo civil ..........................21

    3. AVALIAO DO CICLO DE VIDA ...............................................................................22

    3.1. Definio ................................................................................................................22

    3.2. Histrico .................................................................................................................23

    3.3. Metodologia............................................................................................................24

    3.4. Ferramentas utilizadas na ACV ..............................................................................24

    3.5. Avaliao do Ciclo de Vida na Construo Civil .....................................................25

    4. METODOLOGIA DA PESQUISA ..................................................................................27

    5. EDIFICAO ESTUDADA ...........................................................................................28

    6. RESULTADOS E DISCUSSES ..................................................................................31

    6.1. A avaliao do ciclo de vida dos materiais da edificao estudada ........................31

    6.1.1. Definio dos objetivos e do escopo ...............................................................31

    6.2. Objetivo da Anlise ................................................................................................31

    6.3. Domnio de Aplicao ............................................................................................32

    6.3.1. Sistema a ser estudado ...................................................................................32

    6.3.2. Fronteiras do ciclo de vida...............................................................................34

    6.3.3. Base de Dados ................................................................................................48

    6.4. Inventrio do Ciclo de Vida .....................................................................................49

    6.5. Coleta de dados .....................................................................................................51

    6.5.1. Quantificao dos materiais ............................................................................51

    6.5.2. Modelagem do ciclo de vida ............................................................................69

    6.6. Avaliao dos Impactos .........................................................................................76

  • viii

    6.6.1. Categorias de impactos ...................................................................................77

    6.6.2. Indicadores de categoria de impacto ...............................................................77

    6.6.3. Clculo dos resultados ....................................................................................78

    6.7. Interpretao dos Resultados .................................................................................82

    7. CONCLUSES .............................................................................................................85

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ....................................................................................87

    ANEXO A .............................................................................................................................91

  • ix

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Estrutura de uma ACV (Fonte: ISO 14040, 2006).................................................24

    Figura 2 - Planta de Situao, sem escala. ..........................................................................28

    Figura 3 Planta de fachada, sem escala. ...........................................................................29

    Figura 4 Corte transversal, sem escala. ............................................................................29

    Figura 5 - Plantas baixas do primeiro e segundo pavimentos da unidade 5, sem escala. .....30

    Figura 6 - Planta de Situao, sem escala. ..........................................................................32

    Figura 7 - Fronteira do Sistema ............................................................................................34

    Figura 8 - Fluxos nas etapas do ciclo de vida (Fonte: Module de sensibilisation lco-

    conception, ADEME/MATE, 2001)........................................................................................50

    Figura 9 - Esquema das fundaes ......................................................................................55

    Figura 10- Esquema ilustrativo para obteno da inclinao I (%) e da rea projetada A (m).

    (Fonte: TCPO 13 Edio) .................................................................................................57

    Figura 11 - Modelagem da extrao de minrio de ferro e carbono ......................................69

    Figura 12 - Modelagem da extrao da argila ......................................................................70

    Figura 13 - Modelagem da extrao do calcrio ...................................................................70

    Figura 14 - Modelagem da extrao da madeira ..................................................................70

    Figura 15 - Modelagem da fabricao do ao .......................................................................71

    Figura 16 - Modelagem da fabricao da cermica ..............................................................71

    Figura 17 - Modelagem da fabricao do cimento ................................................................72

    Figura 18 - Modelagem da fabricao dos elementos de madeira ........................................72

    Figura 19 - Modelagem do transporte e distribuio dos ciclos de vida dos materiais ..........73

    Figura 20 - Modelagem do descarte em aterro .....................................................................73

  • x

    Figura 21 - Modelagem da reciclagem .................................................................................74

    Figura 22 - Esquema da rede de contribuio dos impactos ambientais associados ao ciclo

    dos materiais de construo considerado, mtodo Impact2002+, visualizao corte de 1% 75

    Figura 23 - Elementos da fase de Avaliao dos impactos (Fonte: ISO 14040, 2006) ..........76

    Figura 24 - Classificao dos fluxos do inventrio nas categorias de impactos mid-points e

    end-points. (Fonte: Adaptado de JRC, 2010) .......................................................................78

    Figura 25 - Comparao dos ciclos de vida dos materiais selecionados, mtodo CML 2,

    caracterizao ......................................................................................................................79

    Figura 26 - Comparao dos ciclos de vida dos materiais selecionados, mtodo Eco-

    indicator 99, caracterizao ..................................................................................................80

    Figura 27 - Comparao dos ciclos de vida dos materiais selecionados, mtodo

    Impact2002+, caracterizao ...............................................................................................80

    Figura 28 - Comparao dos ciclos de vida dos materiais selecionados, mtodo

    Impact2002+, normalizao .................................................................................................81

    Figura 29 - Comparao dos ciclos de vida dos materiais selecionados, mtodo

    Impact2002+, ponderao ....................................................................................................81

    Figura 30 - Comparao dos ciclos de vida dos materiais selecionados, mtodo

    Impact2002+, pontuao nica.............................................................................................82

    Figura 31 - Composio da edificao pelos materiais estudados em kg .............................83

  • xi

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Composio dos Resduos de Construo Civil de algumas cidades brasileiras .33

    Tabela 2 - Diviso dos subsistemas da edificao em estudo com seus materiais associados

    .............................................................................................................................................33

    Tabela 3 - Usos das madeiras na construo civil (adaptado de IPT, 2003) .........................37

    Tabela 4 - Madeira empregada nos sistemas da edificao .................................................38

    Tabela 5 - Tabela de fornecedores de concreto considerados na cidade de So Gonalo ...40

    Tabela 6 - Tabela de fornecedores de materiais cermicos e argamassa considerados na

    cidade de So Gonalo ........................................................................................................40

    Tabela 7 - Tabela de fornecedores de ao considerados na cidade de So Gonalo ...........40

    Tabela 8 - Tabela de fornecedores de madeira considerados na cidade de So Gonalo ....41

    Tabela 9 - Distncia final a ser consideradas na distribuio dos materiais de construo ..41

    Tabela 10 - Classificao dos resduos da Construo Civil (Resoluo n302, CONAMA). 42

    Tabela 11 - Destinao final dos resduos da Construo Civil (Resoluo n302, CONAMA).

    .............................................................................................................................................42

    Tabela 12 - Destinao dos resduos da Construo Civil (adaptado de SindusCon-SP,

    2012). ...................................................................................................................................43

    Tabela 13 - Distribuio dos resduos no seu fim de vida .....................................................44

    Tabela 14 - Distncias at a destinao final dos materiais de construo ..........................44

    Tabela 15 - Equipamentos para transporte de Resduos da Construo Civil (Fonte:

    Sinduscon-SP, 2012)............................................................................................................45

    Tabela 16 - Veculos utilizados no transporte dos resduos de construo civil ....................45

    Tabela 17 - Deslocamentos para a distribuio e transporte do ao .....................................46

    Tabela 18 - Deslocamentos para a distribuio e transporte da cermica ............................46

    Tabela 19 - Deslocamentos para a distribuio e transporte do cimento ..............................46

    Tabela 20 - Deslocamentos para a distribuio e transporte da madeira Peroba .................47

  • xii

    Tabela 21 - Deslocamentos para a distribuio e transporte da madeira Pinheiro-do-paran

    .............................................................................................................................................47

    Tabela 22 - Especificaes dos materiais adotados .............................................................49

    Tabela 23- Quantidade total de cimento utilizado para execuo das alvenarias .................53

    Tabela 24- Tabela de demanda usual de servios para execuo de estrutura de concreto

    armado (Fonte: TCPO - 13 Edio) ....................................................................................53

    Tabela 25- Clculo das reas totais construdas ..................................................................54

    Tabela 26- Demanda de servios para execuo da estrutura de concreto armado .............54

    Tabela 27- Clculo do volume total dos blocos.....................................................................55

    Tabela 28- Clculo do volume total das vigas ......................................................................55

    Tabela 29- Clculo da inclinao I(%) e da rea projetada A (m). .......................................57

    Tabela 30- Tabela para obteno do fator de correo para o clculo de telhas cermicas.

    (Fonte: TCPO - 13 Edio) ..................................................................................................58

    Tabela 31- Estimativo para estrutura de madeira para telha cermica. (Fonte: TCPO - 13

    Edio) .................................................................................................................................59

    Tabela 32- Estimativa para piso cermico (Fonte: TCPO 13 Edio) ...............................60

    Tabela 33- Clculo da rea de piso ......................................................................................60

    Tabela 34- Estimativa para rodap cermico (Fonte: TCPO 13 Edio) ..........................61

    Tabela 35- Clculo do comprimento de rodap ....................................................................61

    Tabela 36- Estimativa para azulejos (Fonte: TCPO 13 Edio) ........................................62

    Tabela 37- Portas externas definidas em projeto ..................................................................63

    Tabela 38- Estimativa de insumos para porta externa de madeira (Fonte: TCPO - 13

    Edio) .................................................................................................................................63

    Tabela 39- Clculo do volume dos elementos componentes das portas externas ................64

    Tabela 40- Quantidades totais de materiais utilizados na execuo das portas externas .....64

    Tabela 41- Tipos e quantidades de portas internas definidas em projeto .............................64

    Tabela 42- Estimativa de insumos para porta interna de Madeira (Fonte: TCPO - 13 Edio)

    .............................................................................................................................................65

  • xiii

    Tabela 43- Clculo do volume dos elementos componentes das portas internas .................65

    Tabela 44- Quantidades totais de materiais utilizados na execuo das portas internas ......66

    Tabela 45- Tipos e quantidades das diferentes janelas definidas em projeto .......................66

    Tabela 46- Clculo do volume dos elementos componentes das janelas .............................66

    Tabela 47- Quantidades totais de materiais utilizados na execuo das janelas ..................67

    Tabela 48- Quantidade de materiais para execuo das esquadrias ....................................67

    Tabela 49- Tabela resumo das quantidades finais em kg dos materiais por subsistema ......68

    Tabela 50- Tabela resumo das quantidades finais em kg dos materiais ...............................68

    Tabela 51 - Clculo das reas das paredes .........................................................................91

    Tabela 52 - Clculo da rea total de emboo .......................................................................93

    Tabela 53 - Clculo da rea total de reboco .........................................................................94

    Tabela 54 - Clculo da rea total de azulejo .........................................................................96

  • 1. INTRODUO

    1.1. APRESENTAO

    A construo civil responsvel por vrios reflexos, ao local e regio onde se instala

    a obra, causados por suas atividades direta ou indiretamente. Desde a fabricao do

    cimento e o transporte de materiais at a formao de um lago por uma barragem ou

    alterao de uma rea por terraplanagem. Esses reflexos so de cunho ambiental, social e

    at mesmo econmico (SPADOTTO et al., 2011).

    Entretanto, os reflexos ambientais do setor da construo civil tm preocupado de

    maneira cada vez mais notria a sociedade. De fato, os impactos ambientais se

    intensificaram conforme o crescimento da demanda pelo setor construtivo, que acompanhou

    as duas imensas ondas de populaes que incharam o tecido urbano de diversas cidades

    do mundo, a primeira entre os sculos XVIII e XIX e a segunda, recente e muito maior, que

    tomou impulso em meados do sculo XX e ainda no se abateu.

    Assim, a indstria da construo se consolidou como uma das que mais se consome

    insumos e energia. Efetivamente, ao longo do seu ciclo de vida, as construes so

    responsveis, no mundo, por 40% das emisses de CO2, por 40% do consumo de recursos

    naturais e por 40% dos resduos gerados, e, devido a isso, por vezes denominada como a

    indstria dos 40% (ENTREPRISES & CONSTRUCTION DURABLE, 2007).

    No Brasil, a construo civil vem alcanando altos ndices de crescimento

    impulsionados no apenas pelo aumento do emprego formal e da renda per capita, mas

    tambm por fortes incentivos governamentais, como polticas fiscais e programas de

    concesso de subsdios. A maior parte destes investimentos tem sido direcionada s

    habitaes populares, afim de que se minimize o dficit habitacional brasileiro.

    Essa forte expanso do nmero de habitaes traz consigo um significante

    crescimento do consumo de materiais. Segundo a ABRAMAT (Associao Brasileira da

    Indstria de Materiais de Construo), em 2011 o PIB da indstria de materiais e

    equipamentos cresceu 4,3% acima da inflao do setor. Alm disso, a indstria de materiais

    apresentou a segunda maior contribuio do PIB da cadeia da construo, ficando apenas

    atrs da atividade da construo civil em si.

    O crescimento da demanda por materiais de construo reflete diretamente no

    aumento do consumo de matrias-primas e energia, mais precisamente durante as fases de

    extrao, transformao e transporte. Alm disso, deve-se levar em conta a consequente

  • 15

    expanso da produo de resduos, tanto devido a desperdcio de materiais quanto a

    demolies. Segundo Santiago (2008), o volume de resduos de construo e demolio

    (RCD) equivale a mais da metade dos resduos slidos urbanos, e a maior parte deles

    depositada irregularmente sem qualquer forma de segregao. Sabe-se que a grande a

    maioria proveniente do subsetor habitacional.

    Dessa maneira, constata-se cada vez mais a necessidade de reduo dos impactos

    ambientais na busca da sustentabilidade na construo civil. Para tal, importante

    aperfeioar as cadeias produtivas dos materiais de construo e buscar materiais

    sustentveis: de origem de fontes renovveis, no poluentes, no txicos sade, que

    sejam durveis e/ou reutilizveis e de custo acessvel ao mercado consumidor (CONDEIXA,

    2013).

    Em outras palavras, para que o setor alinhe seu sucesso de crescimento s

    responsabilidades junto sociedade, faz-se necessrio adequar o contexto de

    desenvolvimento sustentvel s prticas do ramo (COSTA, 2012).

    1.2. OBJETIVOS DA PESQUISA

    1.2.1. Objetivos Gerais

    O objetivo principal desta monografia avaliar os impactos ambientais dos materiais

    de construo mais essenciais no subsetor de edificaes habitacionais: o ao, o cimento, a

    cermica e a madeira. Dessa forma, prope-se a aplicao do conceito de sustentabilidade

    sobre suas cadeias de suprimentos e dos seus ciclos de vida, de maneira a auxiliar na

    tomada de deciso ambiental e contribuir com a gesto da vida til de uma edificao.

    1.2.2. Objetivos Especficos

    Os objetivos especficos, que complementam o alcance do objetivo geral, esto

    listados a seguir:

    a) Aplicar a metodologia de avaliao do ciclo de vida (ACV) de maneira concreta a

    uma situao real;

    b) Promover o pensamento do Ciclo de vida no subsetor de edificaes;

    c) Analisar o ciclo de vida dos quatro materiais: ao, cermica, cimento e madeira;

  • 16

    d) Utilizar a metodologia de avaliao do ciclo de vida (ACV) na avaliao dos

    impactos de cada material;

    e) Servir como ferramenta de auxlio para futuras tomadas de decises tanto de

    cunho privado quando pblico.

    1.3. JUSTIFICATIVA DO TRABALHO

    O estudo fundamenta-se no aprimoramento simultneo da gesto da qualidade e

    ambiental da indstria da construo civil, atravs do mpeto investimento nos processos,

    tecnologias e procedimentos que dele fazem parte, constantemente inserido na esfera

    sustentvel. Deve-se tambm considerar a manuteno da associao do local com o

    global, em outras palavras, o setor no pode mais ignorar a influncia que uma construo

    pontual tem sobre o meio ambiente.

    Dessa forma, a metodologia de avaliao do ciclo de vida (ACV) se destaca como a

    abordagem analtica ideal, por ser a mais completa e interessante ao avaliar os impactos

    desde a extrao das matrias-primas at a destinao final do produto, contemplando toda

    a cadeia produtiva de materiais utilizados na indstria da construo.

    1.4. ESTRUTURA DO TRABALHO

    Esta monografia est dividida em sete captulos, sendo eles: introduo, reviso da

    literatura, a avaliao do ciclo de vida, metodologia da pesquisa, edificao estudada,

    resultados e discusso e concluses.

    Este primeiro captulo introdutrio apresenta o tema estudado, abordando questes

    relacionadas aos objetivos, s justificativas e estruturao do trabalho.

    No captulo 2, apresentada a reviso bibliogrfica, a qual forneceu fundamentao

    terica sobre os temas relacionados com a pesquisa, tais como sustentabilidade,

    desenvolvimento sustentvel, a sustentabilidade na construo civil e uma introduo sobre

    a metodologia da ACV.

    No captulo 3, possvel se aprofundar sobre a ACV, discorrendo sobre suas

    definies, aplicaes, conceitos, histrico, metodologia, ferramentas e sua aplicao no

    setor da construo civil.

    No captulo 4, descreve-se a metodologia empregada para a avaliao ambiental dos

    impactos de cada material selecionado para o estudo.

  • 17

    No captulo 5, a edificao que ser o objeto de estudo deste trabalho apresentada

    e devidamente descrita.

    No capitulo 6, apresentado os resultados obtidos com a utilizao da metodologia

    de ACV com consequentes anlises e discusses. Todo o processo atendeu as

    recomendaes do quadro normativo.

    No captulo 7, so apresentadas as concluses do estudo, avaliando se os objetivos

    foram atingidos e apontando tambm sugestes para trabalhos futuros.

    Em seguida, so listadas as referncias bibliogrficas utilizadas para o

    desenvolvimento deste trabalho.

    E finalmente, para complementao e suporte ao estudo, disponibilizado

    documentos no Anexo A.

  • 18

    2. REVISO DA LITERATURA

    Neste captulo sero evidenciados os conceitos e algumas questes que

    caracterizam o tema sustentabilidade, bem como um breve histrico do conceito de

    desenvolvimento sustentvel. Alm disso, o conceito ser relacionado com a indstria da

    construo civil, com a exposio de particularidades, aplicaes e ferramentas. Finalmente,

    a metodologia de ACV ser apresentada como uma ferramenta de gesto da

    sustentabilidade, introduzindo um posterior e aprofundado estudo sobre a mesma.

    2.1. O DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL

    A demanda da sociedade atual por solues que priorizem a conservao do meio

    ambiente e mantenha a explorao dos recursos do planeta de forma a no torn-la

    exaurvel, refora a necessidade de um estudo profundo que crie metodologias que

    possibilitem aes imediatas e cenrios avaliados. A preocupao com a agilidade desses

    estudos teve carter de urgncia atravs da observao mundial nas mudanas e

    contaminaes do meio ambiente por mtodos imprprio se inconscientes devido falta de

    planejamento quanto explorao, ao uso e ao descarte. Surge ento o tema

    sustentabilidade, uma soluo para as questes polticas, sociais e culturais, norteando de

    maneira mais benfica utilizao dos recursos naturais, minimizando ao mximo o impacto

    ambiental que afeta a sociedade de forma economia e social e cultural (COSTA, 2012).

    A expresso desenvolvimento sustentvel surgiu oficialmente em 1987, no relatrio

    Our common future, da primeira ministra e mdica norueguesa Gro Harlem Brundtland, na

    Comisso das Naes Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento. Neste

    documento o conceito de desenvolvimento sustentvel definido como o desenvolvimento

    que encontra as necessidades atuais sem comprometer a habilidade das futuras geraes de

    atender suas prprias necessidades. Desde ento, este tema ganhou o mundo, estando

    cada vez mais presente em todos os setores.

    De acordo com Ferreira (2009), esta definio aberta de sustentabilidade vem sendo

    substituda por conceitos mais objetivos e abrangentes, vinculados s dimenses ambiental,

    econmica e social e so diretamente influenciados pelos aspectos poltico e cultural.

    Apenas como critrio informativo, descrever-se- a seguir uma cronologia dos fatos

    mais significativos relacionados preocupao com o meio ambiente e o desenvolvimento

    sustentvel.

  • 19

    1972: Em Estocolmo; pela primeira vez as Naes Unidas se reuniram para discutir

    sobre os impactos ambientais causados pela forte industrializao dos pases

    desenvolvidos. Nesta conferencia nasceu a UNEP (United Nations Environment);

    1987: O termo desenvolvimento sustentvel surge oficialmente no relatrio Our

    common future da primeira ministra norueguesa Gro Harlem Brundtland;

    1992: Cpula da Terra - Rio de Janeiro; pela primeira vez reuniram-se as instncias

    nacionais (164 naes e mais 100 chefes de estados) pelo tema desenvolvimento

    sustentvel. Cada pas redigiu uma Agenda 21 (ou como se melhorar o equilbrio do

    planeta nos prximos 10anos, para que o sculo 21 seja o sculo do

    desenvolvimento sustentvel). Diferentemente das outras conferncias, o debate

    poltico excluiu as esferas governamentais e, no s alertou, mas tambm, mobiliza a

    opinio pblica: a partir de agora cada um tem um papel a desempenhar em busca

    de um melhor desenvolvimento da humanidade;

    2012: Rio+20 Rio de Janeiro; Aps 20 anos da Cpula da Terra, os pases

    voltaram a se reunir em prol da constrio de uma economia verde com vista no

    desenvolvimento sustentvel considerando a retirada de pessoas da situao de

    pobreza e o auxilio aos pases em desenvolvimento seguirem o caminho verde. Alm

    disso, foi tambm pautado a melhoria de coordenao internacional para o

    desenvolvimento sustentvel. Mais especificamente, tiveram-se como objetivos

    especficos ampliao do uso de energias renovveis e a transformao das

    cidades em mais eficientes e habitveis.

    Essas estratgias e dimenses da sustentabilidade devem ser adotadas atravs de

    todos os setores da sociedade, com o esforo conjunto e interligado. O setor da construo

    civil, sendo responsvel em suprir a estrutura de funcionamento de praticamente todas as

    atividades de desenvolvimento social, econmico e cultural, responsvel por significativos

    impactos ambientais. Assim sendo, a busca por produtos que sejam compatveis com cada

    uma destas dimenses de sustentabilidade requer esforo no conhecimento dos processos

    produtivos dos mesmos, do contexto cultural e social na qual esto inseridos e da

    capacidade natural do ecossistema local. Desta forma pode-se garantir o desenvolvimento

    deste setor apoiado na qualidade de vida e do ambiente natural para as geraes atuais e

    futuras (GRIGOLETTI, 2001).

  • 20

    2.2. A SUSTENTABILIDADE NO SETOR DA CONSTRUO CIVIL

    A construo sustentvel uma questo cada vez mais essencial para empresas,

    sejam quais forem suas atuaes no setor da construo civil (ENTREPRISES &

    CONSTRUCTION DURABLE, 2007). De fato, esta recente percepo tem recebido

    crescente ateno devido a uma srie de questes de peso no setor, tais como a

    descoberta de novos riscos sanitrios tanto para os trabalhadores quanto para os usurios,

    legislaes cada vez mais restritas, surgimento de rgos certificadores e as j

    comprovadas vantagens que a eco concepo traz consigo.

    Aplicado s construes, o desenvolvimento sustentvel abrange um vasto leque de

    aspectos relacionados com a escolha de materiais, mtodos construtivos, uso e operao e

    a demolio das edificaes. Essencialmente, este conceito tem o enfoque sobrea reduo

    das emisses de CO2, o consumo de energia e o esgotamento progressivo dos recursos

    naturais pela indstria da construo.

    Se por um lado, o setor da construo civil se apresenta como um vilo para o meio

    ambiente e um consequente desafio para o desenvolvimento sustentvel, sendo

    responsvel por um tero do consumo de recursos naturais, incluindo 12% de todo o uso de

    gua doce, e pela produo de at 40% de resduos slidos (CONDEIXA, 2013).Por outro,

    importante observar que o setor est se posicionando como um ator fundamental no auxlio

    s solues dos desafios ambientais. Isso porque, ele vem despertando consigo uma forte

    conscincia em prol do engajamento global pela reduo dos impactos sobre o meio

    ambiente.

    No entanto, apesar de a conscincia ambiental estar cada vez mais presente no

    setor da construo civil, ela tem sido tradicionalmente limitada a reflexes pontuais e em

    curto prazo, em outras palavras, a viso global dos impactos sobre o meio ambiente no

    frequentemente levada em conta.

    Conforme Grigoletti (2001), imprescindvel ao desenvolvimento sustentvel do

    setor da construo civil a avaliao ambiental dos materiais de construo. Este assunto

    apresenta um vasto campo para pesquisa, levando-se em conta a vida til completa dos

    materiais, ou seja, que avalie seu desempenho ambiental desde a produo dos materiais a

    serem utilizados at sua disposio final, ao trmino da vida til da edificao, e um

    conjunto amplo de materiais disponveis no mercado.

  • 21

    2.3. FERRAMENTAS DE AVALIAO AMBIENTAL NO SETOR DA

    CONSTRUO CIVIL

    Diferentes mtodos de avaliao ambiental tm sido desenvolvidos ao longo dos

    ltimos anos. Esses mtodos so baseados, na maioria das vezes, em contribuies

    tericas Ecologia Industrial. Esta disciplina corresponde a uma cincia multidisciplinar que

    visa otimizao da utilizao de energia, de recursos e de capital dentro de um sistema

    tcnico pela reduo de seus impactos ambientais (LASVAUX, 2010).

    Entretanto, grande parte dessas recentes ferramentas se caracteriza por se limitar a

    abordagens monocritrios. Em outras palavras, os impactos ambientais avaliados por essas

    ferramentas se resumem a uma nica dimenso. Por exemplo, no desenvolvimento de

    concretos alternativos, de um lado, pode-se garantir uma reduo de emisso de dixido de

    carbono, mas de outro, pode-se registrar impactos ambientais mais elevados sobre outros

    aspectos.

    No caso de uma edificao, a escolha de um material, por exemplo, pode ser

    prefervel durante a sua fase de construo, contudo, o mesmo material pode causar

    problemas durante a fase de demolio e no seu manejo final, ou seja, os rejeitos

    produzidos podem globalmente causar mais impactos negativos sobre o meio ambiente.

    Dessa forma, faz-se necessrio a aplicao de conceitos que possibilitem essa

    considerao mais global, no caso, denominada como abordagens de mltiplos critrios.

    Neste contexto, a avaliao do ciclo de vida (AVC) a ferramenta mais bem

    sucedida dentre as ferramentas disponveis. Sua prtica e sua difuso atual contribuem para

    que a mesma se caracterize como um instrumento cada vez mais eficiente e reconhecido,

    pois avalia os impactos desde a extrao das matrias-primas at a destinao final do

    produto, proporcionando o conhecimento a cerca de suas diferentes fases.

    O conhecimento sobre as diferenas nas fases de um produto ou servio

    disponibiliza dados sobre seus componentes, materiais constituintes e processos

    transformadores. A partir da organizao dessas informaes possvel conhecer e avaliar

    o seu valor e seus impactos ao longo da cadeia produtiva a que pertence. De forma ampla,

    essa observao pode ter cunho pluridimensional e aplicabilidade para melhorias, como a

    conservao do meio-ambiente, j que os elos produtivos se originam na explorao do

    mesmo e finalizam na destinao do rejeito do processo (COSTA, 2012).

  • 22

    3. A AVALIAO DO CICLO DE VIDA

    3.1. DEFINIO

    A conscientizao acerca da importncia da proteo do meio ambiente e dos

    possveis impactos associados aos produtos disponveis no mercado consumidor aumentou

    o interesse pelo desenvolvimento de mtodos destinados melhor compreender e remediar

    estes impactos. Uma destas tcnicas disponvel e em desenvolvimento a Avaliao do

    Ciclo de Vida (ACV).

    Segundo a norma (ISO 14040, 2006), uma caracterstica essencial da metodologia

    da Avaliao do Ciclo de Vida e que pode ser utilizada como sua definio mais global a

    seguinte:

    A ACV examina de maneira sistmica os aspectos e os

    impactos ambientais dos sistemas de produtos, desde a

    aquisio de matrias-primas at a eliminao final, conforme o

    objetivo e o campo de estudo estipulados.

    Como complementao, pode-se dizer que a Avaliao do Clico de Vida quantifica

    tanto globalmente quanto exaustivamente que possvel os efeitos potenciais de um produto

    sobre o meio ambiente. Sua abordagem consiste simultaneamente na quantificao dos

    fluxos de materiais e energias ligadas s operaes ou atividades realizadas e na traduo

    destes dados em um nmero reduzido de indicadores, medindo seus impactos sobre o meio

    ambiente.

    A avaliao e interpretao aplicada de seus resultados podem ser direcionadas na

    identificao de possveis melhorias em relao ao desempenho ambiental dos produtos

    nas diferentes etapas dos seus ciclos de vida, na informao aos fabricantes e aos

    organismos governamentais e no governamentais e ainda na escolha de indicadores de

    performances ambientais dos produtos.

    Dessa forma, evidencia-se que as aplicaes de uma Avaliao do Ciclo de Vida se

    estendem em diversas esferas, como no mbito empresarial, comunitrio ou ainda em

    organismos certificadores. No caso de empresas privadas, os objetivos podem ser

    caracterizados pela obteno de selos ecolgicos e certificaes, marketing empresarial,

    atendimento s legislaes, comparao de cenrios, materiais e produtos entre outros. J

    para o coletivo, esta metodologia pode ser utilizada como um auxlio nas polticas de

    emisses de poluentes e nos fluxos de resduos. E finalmente, ela pode tambm

    desempenhar um papel importante na definio de critrios de um selo ecolgico.

  • 23

    3.2. HISTRICO

    A utilizao da ACV como ferramenta de gesto ambiental se iniciou na dcada de

    1960 sob diferentes formas e com uma variedade de nomes. Especialmente na literatura da

    dcada de 1990, possvel encontrar algumas semelhanas entre termos utilizados, tipos e

    nveis de estudos. Desde ento, o termo avaliao do ciclo de vida tem sido adotado para

    denominar os estudos voltados para o ciclo de vida ambiental (KHASREEN et al., 2009).

    De fato, no incio dos anos 90 surgiu a necessidade de estudos de impactos

    ambientais com abordagens de mltiplos critrios, tais como consumo de matrias-primas e

    energia, poluio atmosfrica e na gua e a produo de resduos, levando em conta o

    conjunto de etapas do ciclo de vida de um produto, ou seja, desde a fabricao eliminao

    final, passando tambm pela fase de utilizao.

    Entretanto, a maior parte desses estudos era focada nas esferas de eficincia

    energtica, consumo de matrias-primas e na destinao final dos resduos.

    A primeira aplicao de uma ACV em sua atual compreenso ambiental foi em um

    estudo realizado pela Coca-Cola para quantificar os efeitos sobre o meio ambiente das

    embalagens desde o bero at o tmulo. Na poca, a nfase voltou-se principalmente pela

    reduo de resduos slidos, ao invs de emisses ou consumo de energia (KHASREEN et

    al., 2009).

    Hoje em dia, a avaliao inclui todo o ciclo de via do produto, processo ou atividade,

    abrangendo a extrao e processamento de matrias-primas; a transformao, o transporte,

    e a distribuio, o uso, a reutilizao, a manuteno; a reciclagem e a disposio final.

    (GAMA, 2010).Esta definio foi posteriormente consolidada na srie de normas ISO

    14 040, as quais at o ano de 2006 eram representadas pela lista a seguir:

    ISO 14040. Life Cycle Assessment. Principles and Framework. (1997).

    ISO 14041. Life Cycle Assessment. Goal and Scope Definition and Inventory

    Analysis.

    ISO 14042. Life Cycle Assessment. Life Cycle Impact Assessment. (2000).

    ISO 14043. Life Cycle Assessment. Life Cycle Interpretation. (2000).

    ISO/TR 14047. Life Cycle Impact Assessment. Examples of Application of SO

    14042.(2000).

    ISO/TS 14048. Life Cycle Assessment. Data Documentation Format. (2001).

    ISO/TR 14049. Life Cycle Assessment. Examples of Application of SO 14041 for goal

    and scope definition and inventory analysis.

  • 24

    Segundo FINKBEINER et al. (2006), a partir de 2006, as normas de ISO14040, ISO

    14041, ISO 14042 e ISO 14043 foram compiladas nas normas ISO14040 (2006) e 14044

    (2006).

    3.3. METODOLOGIA

    A metodologia de uma ACV a mais eficaz e com a maior credibilidade para a

    avaliao dos impactos ambientais de um produto ou de uma atividade. A abordagem

    adotada rigorosamente descrita e leva em considerao todos os consumos e rejeitos do

    objeto de estudo. A estrutura metodolgica de uma analise do ciclo de vida regida pela

    srie de normas internacionais ISO 14040, que definiu quatro fases principais para o estudo

    de ACV, as quais se interligam de alguma maneira, conforme Figura 1.

    Cada fase ser devidamente conceituada e explicada durante o desenvolvimento do

    estudo.

    3.4. FERRAMENTAS UTILIZADAS NA ACV

    Esto disponveis diversas ferramentas de apoio, dois dos softwares mais utilizados

    para aplicao de uma ACV so o SimaPro LCA, software utilizado no desenvolvimento

    deste trabalho e desenvolvido pela PRConsultants, e o GaBi da empresa PE International.

    Estrutura da Anlise do Ciclo de Vida

    Definio dos

    objetivos e do

    Campo de

    Estudo

    Inventrio

    Avaliao dos

    Impactos

    Interpretao

    Aplicaes Diretas :

    Desenvolvimento e

    melhoria do produto

    Planjemento

    Estratgico

    Poltica Pblica

    Marketing

    Outros

    Figura 1 - Estrutura de uma ACV (Fonte: ISO 14040, 2006)

  • 25

    O SimaPro permite a modelagem de produtos e sistemas a partir de uma perspectiva

    de ciclo de vida. Esta ferramenta pode ser utilizada para clculo da pegada de carbono,

    design de produto e design ecolgico, declaraes de produtos ambientais, Impacto

    ambiental de produtos ou servios, Relatrios ambientais e determinao de indicadores de

    desempenho (PR, 2013).

    3.5. AVALIAO DO CICLO DE VIDA NA CONSTRUO CIVIL

    Segundo a Energy Conservation in Buildings and Community Systems, o mtodo da

    ACV pode ser diretamente aplicada no setor de construo produtos do setor, edificaes

    individuais e conjuntos de edificaes. No entanto, as edificaes so sistemas

    excepcionais e possuem muitas caractersticas que tornam a aplicao padro da

    metodologia de ACV complexa.

    Os motivos pelos quais o setor se torna de difcil avaliao tambm so

    mencionados pelo grupo, e esto listadas a seguir:

    a) A expectativa de vida de um edifcio longo e desconhecido, isso se torna um fator

    de impreciso nas consideraes a serem feitas. Por exemplo, as fontes de energia

    ou a eficincia energtica de um edifcio pode se alterar, comprometendo as

    previses de impactos ambientais;

    b) As construes esto em locais especficos, e, por isso, muitos dos impactos so

    locais algo que normalmente no considerado em uma ACV;

    c) As construes e seus componentes e/ou produtos so heterogneos em sua

    composio. Dessa forma, uma quantidade maior de dados necessria e os

    processos de fabricao podem variar consideravelmente de um lugar para o outro;

    d) O ciclo de vida de edificaes inclui fases especficas construo, uso e

    demolio com consequncias variveis sobre o meio ambiente. Por exemplo, na

    fase de utilizao, o comportamento dos usurios e operadores de servios tem

    uma influncia significativa no consumo de energia;

    e) Uma edificao altamente multifuncional, o que torna difcil a definio de uma

    unidade funcional adequada;

  • 26

    f) Uma edificao cria um ambiente de vida interna, que pode ser analisada em

    termos de sade e conforto. Para manter um ambiente interno de boa qualidade a

    construo necessita de energia (aquecimento, ventilao, iluminao, etc.) e

    materiais. H, portanto, fortes ligaes entre os impactos ambientais e a qualidade

    do conforto, do ar interno, da sade e produtividade;

    g) Como as edificaes esto intimamente integradas com outros elementos

    construdos no meio ambiente, como infraestruturas urbanas, estradas, instalaes

    sanitrias entre outros, pode ser altamente enganoso realizar uma ACV de uma

    edificao isolada.

    Estes fatores apenas apoiam e reforam a ideia apresentada por Khasreen et al.

    (2009), a qual indica que, embora a ACV seja amplamente utilizada no setor da construo

    civil desde 1990, e seja uma ferramenta importante na anlise de edificaes, ela menos

    desenvolvida do que em outras indstrias.

    Entretanto, segundo Soares et al. (2006), apesar das questes explicitadas, a

    aplicao da ACV na avaliao ambiental de sistemas e elementos construtivos possibilita

    uma anlise mais detalhada e crtica da etapa de especificao de materiais e a promoo

    de melhorias ambientais, e muitas vezes econmicas, nas diversas etapas do ciclo de vida

    do sistema considerado.

    A ACV de uma edificao necessita, inicialmente, um nmero significativo de dados

    (fluxos ou indicadores) para modelar corretamente um estudo de caso. Estas anlises tm

    sido facilitadas nos ltimos anos para os no-especialistas, com um grande nmero de

    ferramentas de ACV especficas para as construes (LASVAUX, 2010).

  • 27

    4. METODOLOGIA DA PESQUISA

    Estabeleceu-se a relao entre a metodologia de ACV e o setor da construo civil,

    abrangendo pesquisas qualitativas e quantitativas na avaliao dos impactos ambientais dos

    materiais de construo. Para isso, selecionou-se uma edificao real para a aplicabilidade

    da metodologia em questo.

    O estudo foi dividido em duas partes. A primeira, e j decorrida, contemplou uma

    reviso literria para fundamentao do referencial terico no que diz respeito ACV por

    meio de artigos, teses, revistas e livros de estudos e debates recentes. Alm disso, foram

    tambm examinados estudos de casos para observao da real aplicabilidade da

    metodologia de uma ACV.

    A segunda parte se caracterizou pela prtica da metodologia de uma ACV, a qual se

    comps, em primeiro lugar, pelo levantamento das quantidades e consideraes bsicas

    dos insumos mais essenciais necessrios edificao em estudo, tais como o ao, a

    cermica, o cimento e a madeira, atravs do projeto da mesma e recomendaes tcnicas.

    Em seguida, modelizou-se a ACV no software SimaPro, de acordo com as

    exigncias normativas, obtendo-se posteriormente os resultados para interpretao,

    anlises e sugestes.

  • 28

    Figura 2 - Planta de Situao, sem escala.

    5. A EDIFICAO ESTUDADA

    Como objeto de estudo selecionou-se um conjunto habitacional composto por cinco

    unidades unifamiliares direcionados para a classe mdia baixa, cada um com dois

    pavimentos que se localiza na Rua Mutuapira, lote 136, na cidade de So Gonalo, Rio de

    Janeiro. Para a sua concepo, empregou-se o predominante mtodo tradicional de

    construo, com estrutura em concreto armado e vedao em tijolo cermico.

    O terreno se situa no encontro de duas ruas e possui uma rea total de 309,00 m

    com uma rea de construo de 280,03 m, gerando uma taxa de ocupao de 42,38%.

  • 29

    Cada unidade residencial dispe de uma sala, cozinha, rea de servio, banheiro,

    dois quartos, garagem e um quintal do fundo totalizando uma rea total construda em torno

    de 56 m em mdia, conforme representao da planta baixa na Figura 5.

    Figura 3 Planta de fachada, sem escala.

    Figura 4 Corte transversal, sem escala.

  • 30

    Figura 5 - Plantas baixas do primeiro e segundo pavimentos da unidade 5, sem escala.

  • 31

    6. RESULTADOS E DISCUSSO

    Os materiais selecionados da edificao estudada (ao, cermica, concreto e

    madeira) foram avaliados sobre o contexto da metodologia de avaliao de ciclo de vida.

    Dessa maneira, definiram-se os objetivos e o escopo da anlise, delimitaram-se as

    fronteiras do estudo, identificaram-se os impactos e, finalmente, por meio do inventrio do

    ciclo de vida, os impactos finais foram avaliados.

    Todas as fases da metodologia de uma ACV previstas no quadro normativo foram

    consideradas, com suas respectivas definies, elucidaes e aplicao sobre o estudo de

    caso.

    Os resultados da anlise foram apresentados por meio de grficos gerados pelo

    software SimaPro, baseados nos inventrios de cada material considerado na construo.

    Para uma melhor compreenso dos conceitos e consideraes explorados, fez-se o uso

    tabelas, esquemas e fluxogramas de processos.

    6.1. A AVALIAO DO CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS DA EDIFICAO

    ESTUDADA

    6.1.1. Definio dos objetivos e do escopo

    Nesta primeira fase de uma Avaliao de Ciclo de Vida, determinam-se

    principalmente os objetivos do estudo, a limitao das fronteiras do sistema estudado e a

    base de dados utilizada, conforme a norma (ISO 14040, 2006). Alm disso, o objetivo e o

    escopo devem ser claramente definidos e compatveis com a aplicao (ISO 14044, 2009).

    Dessa maneira, pode-se dividir esta fase nos seguintes tpicos:

    Objetivo da Anlise;

    Domnio de aplicao;

    Fronteiras do Sistema;

    Base de dados;

    6.2. OBJETIVO DA ANLISE

    Esta anlise tem como objetivo quantificar os fluxos de materiais e de energia para

    as fronteiras do sistema de uma edificao. Por conseguinte, mensurar estes dados a fim de

  • 32

    se obter os impactos sobre o meio ambiente. Notar-se-, contudo, certa impreciso dos

    resultados face aos meios limitados diante da complexidade do estudo.

    Ainda, nesta anlise recebero uma ateno especial os impactos que

    frequentemente se associam atividade de construo, mais precisamente ao subsetor de

    habitaes, o qual utiliza uma excessiva quantidade de recursos no renovveis,

    correspondendo quase 50% do total consumido por toda a indstria da construo.

    Alm disso, a emisso significativa no apenas de CO2, mas tambm de outros

    gases poluentes como o SO2, implica diretamente em danos ao meio ambiente, como a

    intensificao do efeito estufa e a acidificao das chuvas, respectivamente. O aquecimento

    global tambm uma consequncia direta das emisses destes gases. Finalmente, a

    destinao final dos resduos corrobora igualmente para este cenrio negativo, atravs de

    partculas destrutivas de oznio liberadas no ar.

    Considerando que a preocupao ambiental, principalmente no Brasil, uma

    disciplina recente, essencial a difuso de estudos nesta esfera. Dessa forma, objetiva-se

    tambm atingir um nmero significativo de pessoas interessadas no apenas pela

    sustentabilidade, mas tambm pela eco concepo, na construo civil ou no,

    comunicando sobre os resultados quantitativos e as possibilidades de aperfeioamento de

    sistemas de produtos. De maneira mais geral, os resultados a serem apresentados podero

    igualmente ser compartilhados a todos os indivduos e organismos interessados no assunto.

    6.3. DOMNIO DE APLICAO

    6.3.1. Sistema a ser estudado

    De acordo com a norma (ISO 14040, 2006), a avaliao do ciclo de vida modela o

    ciclo de vida de um produto sobre a forma de um sistema de produtos que desempenham

    uma ou mais funes definidas. Dessa forma, se tomou o cuidado de definir e considerar os

    diferentes subsistemas vinculados a edificao selecionada, a qual foi devidamente descrita

    no captulo anterior.

    O estudo se concentrar em torno das fundaes, da estrutura, das vedaes

    verticais, dos revestimentos, das esquadrias e da cobertura. Para simplificao do

    levantamento de insumos e da realizao da anlise em curso foram selecionados os

    principais materiais utilizados no mtodo tradicional de construo no Brasil, e que tambm

    se caracterizam como a maior parte dos resduos gerados pela atividade da construo civil.

  • 33

    Na Tabela 1 podem-se observar os resultados de estudos para algumas cidades

    brasileiras, os quais apresentam uma maior participao dos materiais provenientes do

    cimento, como concreto e argamassas, na composio dos resduos da construo civil.

    Tabela 1 - Composio dos Resduos de Construo Civil de algumas cidades brasileiras

    Cidade de

    Origem

    Material

    Concreto e

    argamassa

    Solo e

    areia Cermica Rochas Ferro Gesso Outros

    So Paulo 33,0 32,0 30,0 - - - 5,0

    Salvador 53,0 22,0 14,0 5,0 - - 6,0

    Florianpolis 37,0 15,0 12,0 - - - 36,0

    Recife4 44,0 23,0 19,0 3,0 - - 11,0

    Rio de

    Janeiro5 51,2 - 13,7 29,2 1,2 1,7 3,0

    Brito Filho (1999 apud JOHN, 200); Projeto Entulho Bom (2001); Xavier et tal, (2000); 4Projeto Entulho Limpo

    (2004 apud CARNEIRO, 2005); 5COMLURB (2002 apud NUNES, 2004).

    Realmente, segundo Mariano (2008), a composio dos resduos da construo civil

    brasileira em uma obra , basicamente, constituda por argamassa, concreto e blocos de

    concreto, alm de madeiras, plsticos, papel e papelo. Dessa forma, os materiais

    selecionados foram o cimento, a cermica, o ao e a madeira.

    Os materiais associados aos seus respectivos sistemas e que sero levados em

    considerao podem ser observados na Tabela 2.

    Tabela 2 - Diviso dos subsistemas da edificao em estudo com seus materiais associados

    Sistema da edificao Caractersticas Materiais

    Fundao Estrutura de Concreto

    Armado

    Cimento

    Ao

    Estrutura Estrutura de Concreto

    Armado

    Cimento

    Ao

    Madeira

  • 34

    Sistema da edificao Caractersticas Materiais

    Vedaes Verticais

    Blocos cermicos

    assentados com

    argamassa

    Cimento

    Cermica

    Revestimento

    Azulejos, pisos e rodaps

    assentados com

    argamassa

    Cimento

    Cermica

    Esquadrias Portas e janelas em

    madeira

    Cimento

    Ao

    Madeira

    Cobertura

    Telhado com duas guas

    em telhas cermicas e

    estrutura em madeira

    Ao

    Madeira

    Cermica

    6.3.2. Fronteiras do ciclo de vida

    A fronteira do sistema determina quais processos elementares devem ser includos

    na ACV. A seleo da fronteira do sistema deve ser consistente com o objetivo do estudo.

    Alm disso, os critrios utilizados na determinao da fronteira do sistema devem ser

    identificados e explicados (ISO 14044, 2009). Em outras palavras, nesta etapa definem-se

    os processos elementares a serem includos no sistema (ISO 14040, 2006).

    As fronteiras devem especificar sobre quais etapas do ciclo de vida ser realizada a

    anlise (COSTA, 2012), desde a aquisio de matrias-primas at a sua eliminao final.

    Figura 7 - Fronteira do Sistema

  • 35

    Dessa forma, a fronteira estabelecida para o sistema em estudo foi delimitada a partir

    da extrao de matrias-primas, passando pela fabricao, distribuio e eliminao final. O

    detalhamento das fronteiras de cada material poder ser observado nas sees a seguir.

    Apesar do significativo perodo de tempo e dos impactos devidos, principalmente, ao

    uso de energia e da gua, a fase de utilizao das edificaes foi excluda da anlise. Por

    um lado, as consideraes pertinentes ao uso da gua e energia no se relacionam com os

    materiais estudados, e por outro, as possveis reformas e manutenes da edificao ficam

    a cargo do usurio e da necessidade do cenrio. Dessa forma, optou-se mais uma vez pela

    simplificao da anlise ao invs da adoo de hipteses para a estimativa do consumo de

    insumos e dos impactos sobre o meio ambiente nessa etapa.

    6.3.2.1.Extrao das matrias-primas

    6.3.2.1.1.Ao

    O ao uma liga de natureza relativamente complexa e sua definio no simples,

    visto que, a rigor os aos comerciais no so ligas binrias: de fato, apesar dos seus

    principais elementos de liga serem o ferro e o carbono, eles contm sempre outros

    elementos secundrios, presentes devido aos processos de fabricao (CHIAVERINI, 1996).

    Pode-se citar como elementos residuais decorrentes dos processos de fabricao o silcio, o

    mangans, o fsforo e o enxofre (PFEIL; PFEIL, 2010).

    Dado que os elementos principais do ao so o ferro e o carbono, considerou-se que

    as matrias-primas para a sua fabricao sero extradas no mesmo local de extrao do

    minrio de ferro.

    De acordo com o BNDES, a produo de minrio de ferro no Brasil ocorre nos

    estados de Minas Gerais, Par e Mato Grosso do Sul. Observando-se no apenas a

    proximidade do estado de Minas Gerais com o local da edificao, mas tambm que o

    estado possui a principal rea produtora de minrio de ferro no pas, sua regio do

    Quadriltero Ferrfero foi considerada como o local de extrao das matrias-primas.

    O Quadriltero Ferrfero se localiza a poucos quilmetros a leste da capital Belo

    Horizonte e seus vrtices situam-se nas cidades de Sabar, Santa Brbara, Mariana e

    Congonhas do Campo.

    6.3.2.1.2.Cimento

    Segundo a ABCP, o Cimento Portland composto de clnquer e de adies. O

    clnquer o principal componente e est presente em todos os tipos de Cimento Portland e

  • 36

    tem como matrias-primas o calcrio e a argila, ambos obtidos de jazidas em geral. A

    adio de outros componentes pode variar de um tipo de cimento para o outro e so

    principalmente eles que definem os diferentes tipos de cimento.

    importante observar que o processo natural de fabricao do clnquer, chamado de

    calcificao, responsvel por significativas emisses de dixido de carbono (CO2), o qual

    contribui para o aquecimento global, como j explicitado anteriormente.

    De acordo com o DRM-RJ, no estado do Rio de Janeiro, as maiores reservas e

    produo de calcrio para cimento so encontradas no municpio de Cantagalo. De fato, l

    se podem encontrar grandes empresas produtoras de calcrio como, Holcim Brasil, Cimento

    Rio Branco SA e Companhia Cimento Portland Itau.

    Dessa forma, foi levado em considerao que as matrias-primas do Cimento

    Portland sejam extradas no municpio de Cantagalo juntamente com o calcrio.

    6.3.2.1.3.Cermica

    Segundo a Associao Brasileira de Cermica (ABC), os materiais com colorao

    avermelhada largamente empregados na construo civil, como blocos cermicos, telhas e

    revestimentos cermicos possuem argila em sua composio e que devido a este fator

    apresentam cor avermelhada.

    Conforme o Ministrio de Minas e Energia (MME), os principais arranjos produtivos

    mneros-cermicos do estado do Rio de Janeiro so Campo dos Goytacazes, Trs Rios e

    Itabora. Dessa forma, o municpio de Itabora foi escolhido como local de extrao da argila

    ao se observar a sua proximidade com a cidade de So Gonalo.

    6.3.2.1.4.Madeira

    So inmeros os usos da madeira na construo civil, desde os elementos

    estruturais, passando por painis de revestimentos externos e internos, pisos e forros at

    esquadrias.

    Segundo o Instituto de Pesquisas Tecnolgicas (IPT), para atender esses usos na

    construo civil os principais centros demandantes de madeira serrada, localizados nas

    Regies Sul e Sudeste, se abasteceram durante dcadas com o pinheiro-do-paran

    (Araucaria angustifolia) e a peroba-rosa (Aspidosperma polyneuron), explorados nas

    florestas nativas dessas regies (INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLGICAS). No

    entanto, o consumo desenfreado dessas reservas tem provocado substituio dessas

    espcies por outras nem sempre adequadas ao uso pretendido.

  • 37

    Na Tabela 3, observam-se indicaes quanto ao uso das madeiras na construo

    civil.

    Tabela 3 - Usos das madeiras na construo civil (adaptado de IPT, 2003)

    Tipo de Construo Descrio Indicaes de madeira

    Construo civil pesada

    interna

    Peas de madeira serrada

    na forma de vigas,

    caibros, pranchas e

    tbuas utilizadas em

    estruturas de cobertura.

    Peroba-rosa era

    tradicionalmente empregada.

    Construo civil leve externa

    Peas de madeira serrada

    na forma de tbuas e

    pontaletes empregados

    em usos temporrios

    (andaimes, escoramentos

    e formas para concreto) e

    s ripas e caibros utilizadas

    e partes secundrias de

    estruturas de cobertura.

    Pinheiro-do-Paran era

    tradicionalmente empregada

    Construo civil leve interna

    decorativa

    Peas de madeira serrada

    e beneficiada, como

    forros, painis, lambris e

    guarnies, onde a

    madeira apresenta cor e

    desenhos considerados

    decorativos.

    Construo civil leve interna

    de utilidade geral Idem anterior.

    Construo civil leve, em

    esquadrias

    Peas de madeira serrada

    e beneficiada, como

    portas, venezianas,

    caixilhos.

    Pinheiro-do-Paran

    referncia para estes usos.

    Construo civil assoalhos

    domsticos

    Peas de madeira serrada

    e beneficiada (tbuas

    corridas, tacos, taces e

    parquetes).

  • 38

    Apesar da indicao de busca de espcies alternativas s madeiras Pinheiro-do-

    Paran e Peroba Rosa, as mesmas foram selecionadas como as madeiras a serem

    empregadas nos sistemas de estruturas, esquadrias e cobertura da edificao, conforme

    Tabela 4. Esta escolha justifica-se no apenas por elas ainda serem especificadas para

    alguns usos, mas tambm, pela ocorrncia de reas de reflorestamentos destas espcies.

    Alm disso, ressalta-se tambm a facilidade ao acesso de informaes sobre ambas as

    espcies, bem como a presena das mesmas na base de dados utilizada.

    Tabela 4 - Madeira empregada nos sistemas da edificao

    Sistema Aplicao Madeira

    Estrutura Formas Pinheiro-do-Paran

    Esquadrias Portas e janelas Pinheiro-do-Paran

    Cobertura Estrutura do telhado Peroba-Rosa

    Ainda segundo o IPT, a Peroba-Rosa pode ser encontrada no estado de Minas

    Gerais, mais precisamente na Serra da Mantiqueira. J a espcie Pinheiro-do-Paran pode

    ser encontrada nas Regies Sul e Sudeste do pas, no entanto, devido a sua maior

    concentrao no estado do Paran, considerou-se a sua regio norte como local de

    extrao desta espcie, mais precisamente s proximidades do municpio de Maring.

    6.3.2.2.Fabricao

    Para a fase de fabricao, considerou-se que alguns materiais sero fabricados no

    mesmo local de extrao, tais como o cimento e os revestimentos cermicos. Esta deciso

    no apenas levou em considerao a simplificao da anlise como tambm a realidade da

    indstria de insumos da construo civil, visto que a grande maioria das fbricas localiza-se

    junto ou prxima ao local de extrao das matrias-primas. Como exemplificao, podem-se

    citar as indstrias de cimento que formam um grande complexo reunindo em um mesmo

    local a extrao da matria-prima e a fbrica de cimento (NETO, 2007).

    6.3.2.2.1.Ao

    De acordo com o Instituto Ao Brasil, no estado do Rio de Janeiro, esto em

    operao as siderrgicas Cosigua/Gerdau (Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro) que

    produz aos longos para a construo civil, tanto para os mercados internos e externos;

    CSN que se localiza em Volta Redonda que produz folhas e laminados tambm para os

    mercados internos e externos. CSA que se localiza em Santa Cruz, Zona Oeste da cidade

    do Rio de Janeiro, com produo destinada apenas para o mercado externo; Siderrgica

    Barra Mansa (Votorantim Siderurgia) que fabrica ao para atender as demandas do

  • 39

    mercado interno de construo civil; e finalmente uma recente siderrgica em Resende,

    tambm da Votorantim Siderurgia, fabricando aos longos para a construo civil nacional.

    Dessa forma, levando em conta no apenas proximidade da fbrica com os locais

    de extrao e da localizao da edificao, mas tambm a orientao da produo, a

    siderurgia Cosigua/Gerdau em Santa Cruz, Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, foi

    escolhida como local de produo dos materiais em ao.

    6.3.2.2.2.Cimento

    Como j explicitado anteriormente, o cimento ser fabricado no mesmo local da

    extrao de suas matrias-primas, no municpio de Cantagalo.

    6.3.2.2.3.Cermica

    Da mesma maneira como o ocorrido com o cimento, considerou-se como local de

    fabricao dos materiais cermicos o mesmo local de extrao de suas matrias-primas, no

    municpio de Itabora.

    6.3.2.2.4.Madeira

    Segundo Asner et al. (2006), a extrao convencional de madeira ocorre

    predominantemente em reas com distncias de at 25 km entre floresta e rodovias

    existentes. Assim, considerou-se para ambas as espcies, uma distncia de 25 km a ser

    percorrida entre a extrao e a serraria, onde ocorre o desdobramento da madeira.

    Para facilitao do estudo, considerou-se que o acabamento das peas estruturais e

    formas e a fabricao e montagem das esquadrias sero realizados junto s serrarias.

    6.3.2.3.Distribuio

    Nesta etapa, estimaram-se os deslocamentos entre as etapas de distribuio e a

    montagem dos materiais de construo. Inicialmente, privilegiou-se a hiptese na qual os

    fornecedores se localizam na cidade de So Gonalo, nas proximidades da construo a ser

    edificada. Em seguida, o clculo do deslocamento necessrio consistiu na escolha de trs

    fornecedores de materiais cujas distncias at o local da construo foi retirada a mdia, a

    fim de obter uma melhor estimativa.

    A obteno das distncias entre os locais de distribuio dos materiais at o local da

    construo foi atravs da utilizao do recurso Google Maps, no qual foi selecionada a

    mdia das distncias dos possveis trajetos para um veculo particular. Dessa forma, foi

  • 40

    possvel obter um valor mdio aproximado para a distncia dos fornecedores ao local da

    construo.

    6.3.2.3.1.Concreto

    Tabela 5 - Tabela de fornecedores de concreto considerados na cidade de So Gonalo

    Fornecedor Endereo Distncia

    Supermix Concreto S/A Est. Ania, s/n, Colubande, So Gonalo, RJ 8,8 Km

    Concreto Redimix Brasil Est. Carioca, 201, Rocha, So Gonalo, RJ 6,6 Km

    Concrelago Concreto LTDA Av. Presidente Roosevelt, 1520, Vista Alegre, So

    Gonalo, RJ 13,8 Km

    6.3.2.3.2.Materiais cermicos e argamassa

    Tabela 6 - Tabela de fornecedores de materiais cermicos e argamassa considerados na cidade de So Gonalo

    Fornecedor Endereo Distncia

    SJ Material de Construo R. Gov. Agamenon Magalhes, 101, Boa Vista, So

    Gonalo, RJ 5,4 Km

    Barraco do Construtor Est. do Pacheco, 402, loja 2, Pacheco, So Gonalo,

    RJ 7,8 Km

    C & C Casa e Construo R. Oliveira Botelho, 349, Neves, So Gonalo, RJ 12,8 Km

    6.3.2.3.3.Ao

    Tabela 7 - Tabela de fornecedores de ao considerados na cidade de So Gonalo

    Fornecedor Endereo Distncia

    Gerdau Comercial de Aos S/A R. So Gonalo, 196, Neves, So Gonalo, RJ 12,2 Km

    C & C Casa e Construo R. Oliveira Botelho, 349, Neves, So Gonalo, RJ 12,8 Km

    Ferromar Comrcio de Ferro e

    Ao Av. So Miguel, So Miguel, So Gonalo, RJ 2,2 Km

  • 41

    6.3.2.3.4.Estruturas, esquadrias e formas em madeira

    Tabela 8 - Tabela de fornecedores de madeira considerados na cidade de So Gonalo

    Fornecedor Endereo Distncia

    R15 Madeireira R. Clodomiro Antunes da Costa, loja 1, Arsenal, So

    Gonalo, RJ 11,1 Km

    BMV Atacado das Madeiras Av. Presidente Roosevelt, 188, Vista Alegre, So

    Gonalo, RJ 13,6 Km

    Real Madeiras Av. So Paulo, 270, Trindade, So Gonalo, RJ 1,4 Km

    6.3.2.3.5.Distncias finais

    Tabela 9 - Distncia final a ser consideradas na distribuio dos materiais de construo

    Materiais Distncia mdia aproximada

    Ao, argamassa, blocos cermicos, concreto, lajotas

    cermicas e peas em madeira 10 Km

    6.3.2.4.Fim de vida

    H diversas possibilidades para a destinao final dos resduos no fim de vida de

    uma edificao, cada um com diferentes impactos sobre o meio ambiente, custos e emprego

    tecnolgico. Segundo Costa (2012), as decises tomadas na fase de fim de vida de uma

    edificao podem inferir diretamente na gerao de resduos e danos ao meio-ambiente,

    como o desperdcio de recursos naturais.

    As edificaes so responsveis por uma importante produo de resduos, em sua

    maioria inerte e no txica. Estes resduos apresentam problemas de eliminao e

    geralmente so absorvidos por terrenos baldios ou aterros, consequentemente provocam

    interferncias no uso do solo e geram emisses na gua e no solo (ROUVREAU et al,

    2010).

    No Brasil, no existe um padro de atividades nas demolies, apenas

    recomendaes de segurana e usos de equipamentos.

  • 42

    Tabela 10 - Classificao dos resduos da Construo Civil (Resoluo n302, CONAMA).

    Classes Resduos

    A

    So os resduos reutilizveis ou reciclveis como agregados, tais como:

    a) de construo, demolio, reformas e reparos de pavimentao e de outras

    obras de infra estrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem;

    b) de construo, demolio, reformas e reparos de edificaes: componentes

    cermicos (tijolos, blocos, telhas, placas de revestimento etc.), argamassa e

    concreto;

    c) de processo de fabricao e/ou demolio de peas pr-moldadas em concreto

    (blocos, tubos, meios-fios etc.) produzidas nos canteiros de obras;

    B So os resduos reciclveis para outras destinaes, tais como: plsticos,

    papel/papelo, metais, vidros, madeiras e outros;

    C

    So os resduos para os quais no foram desenvolvidas tecnologias ou

    aplicaes economicamente viveis que permitam a sua reciclagem/recuperao,

    tais como os produtos oriundos do gesso;

    D

    So os resduos perigosos oriundos do processo de construo, tais como: tintas,

    solventes, leos e outros, ou aqueles contaminados oriundos de demolies,

    reformas e reparos de clnicas radiolgicas, instalaes industriais e outros.

    Tabela 11 - Destinao final dos resduos da Construo Civil (Resoluo n302, CONAMA).

    Classes Resduos

    A

    Devero ser reutilizados ou reciclados na forma de agregados, ou encaminhados

    a reas de aterro de resduos da construo civil, sendo dispostos de modo a

    permitir a sua utilizao ou reciclagem futura;

    B

    Devero ser reutilizados, reciclados ou encaminhados a reas de

    armazenamento temporrio, sendo dispostos de modo a permitir a sua utilizao

    ou reciclagem futura;

    C Devero ser armazenados, transportados e destinados em conformidade com as

    normas tcnicas especificas.

    D Devero ser armazenados, transportados, reutilizados e destinados em

    conformidade com as normas tcnicas especificas.

    Dessa forma, segundo a resoluo n307/2002 (e atualizaes) do CONAMA, os

    materiais cimento e cermica esto classificados como resduos da construo civil de

    classe A, os quais devem ser reciclados ou destinados a aterros especficos para resduos

    da construo civil. J o ao e a madeira se classificam como classe B entre os resduos de

  • 43

    construo civil, e devero ser reutilizados, reciclados ou encaminhados a reas de

    armazenamento temporrio para posterior reaproveitamento.

    Por um lado, ns sabemos, entretanto, que na prtica a maior parte dos resduos da

    construo civil no Brasil tem sua destinao final em aterros especficos ou no. De fato,

    segundo Gonalves (2012), apenas 1% dos entulhos reciclado no Brasil, e a grande

    maioria tem sua destinao final em aterros e terrenos baldios.

    Por outro, devemos considerar tambm a efetiva reutilizao de alguns materiais e

    produtos quando da demolio de uma edificao, principalmente ao se tratar de esquadrias

    e outros elementos em madeira. Este processo muito se d atravs da comercializao das

    peas usadas.

    Com isso, faz-se necessria uma considerao mais realista para o fim de vida dos

    materiais estudados, na qual sero tambm levados em conta aterros industriais para os

    resduos de construo civil de classe B, conforme indicao do SindusCon disponvel na

    Tabela 12.

    Tabela 12 - Destinao dos resduos da Construo Civil (adaptado de SindusCon-SP, 2012).

    Destinao Classe A Classe B

    Reutilizao no prprio

    canteiro Reutilizao no prprio canteiro

    Reciclagem no prprio

    canteiro Reciclagem no prprio canteiro

    Pontos de entrega Apenas pequenos volumes

    reas de transbordo e

    triagem rea de Transbordo e triagem

    reas de reciclagem Usinas de reciclagem de

    resduos classe A

    Aterros de resduos Aterros de resduos classe A

    Aterros para resduos

    industriais

    Quando no houver outra

    alternativa local

    Outros fornecedores Resduos de embalagens

    reaproveitveis

    Sucateiros/ Cooperativas/

    Grupos de coleta seletiva Resduos reciclveis

    Responsabilidade

    compartilhada Logstica reversa

  • 44

    De posse dos dados supracitados, estipulou-se a seguinte distribuio dos resduos:

    Tabela 13 - Distribuio dos resduos no seu fim de vida

    Classe Material Quantidade Destinao Final

    Classes A Cimento e cermica 25% Usina de Reciclagem

    75% Aterro Sanitrio

    Classe B Ao e madeira 50% Usina de Reciclagem

    50% Aterro Sanitrio

    Sabendo-se que prximo cidade de So Gonalo existe uma usina de reciclagem

    para resduos slidos, localizada na Estrada Porfrio Ernesto Mendona, em Rio Bonito,

    considerou-se que os resduos a serem reciclados sero para l encaminhados. Enquanto

    que os resduos a serem aterrados sero encaminhados para um aterro localizado na

    prpria cidade de So Gonalo, no bairro de Anai Pequeno.

    Tabela 14 - Distncias at a destinao final dos materiais de construo

    Material Destinao Final Endereo Distncia

    Classes A e B Usina de Reciclagem Est. Porfrio Ernesto Mendona, Rio Bonito , RJ 55 Km

    Classes A e B Aterro Sanitrio Anai Pequeno, So Gonalo, RJ 12 Km

    6.3.2.4.1.Transporte dos resduos

    O transporte de resduos pode ser realizado pelo construtor ou por uma empresa da

    rea de coleta de resduos. Recomenda-se que seja contratada uma empresa especializada

    para manejar o resduo de forma segura e no poluidora. As escolhas para os destinos dos

    resduos interferem na produo de CO2, atravs do transporte, devido s distncias

    percorridas (COSTA, 2012).

    Seguindo as recomendaes do Sinduscon-SP (2012) que esto ilustradas na

    Tabela 15, selecionou-se os veculos a serem utilizados no transporte de resduos que se

    encontram na Tabela 16.

  • 45

    Tabela 15 - Equipamentos para transporte de Resduos da Construo Civil (Fonte: Sinduscon-SP, 2012)

    Veculos e equipamentos Tipos de resduos a serem transportados

    Caminho com equipamento poliguindaste

    ou caminho com caamba basculante,

    coberto com lona.

    Blocos de concreto, blocos e outros

    componentes cermicos, argamassas,

    concreto, tijolos e assemelhados; gesso

    (revestimento, placas acartonadas e

    artefatos); telas de fachada e de proteo;

    solo.

    Caminho com equipamento poliguindaste,

    caminho com caamba basculante ou

    caminho com carroceria de madeira,

    coberto com lona.

    Madeira

    Caminho, caminhonete ou outro veculo de

    carga (desde que os bags sejam retirados

    fechados para impedir mistura com outros

    resduos e disperso durante o transporte).

    Papelo (sacos e caixas de embalagens dos

    insumos utilizados durante a obra) e papel;

    serragem e EPS (poliestireno expandido,

    exemplo: isopor).

    Caminho preferencialmente equipado com

    guindaste para elevao de cargas pesadas

    ou outro veculo de carga.

    Metal

    Caminhes ou outros veculos de carga

    cobertos.

    Material, instrumentos e embalagens

    contaminados por resduos perigosos

    (exemplos: pincis, panos, estopas,

    embalagens, etc.).

    Tabela 16 - Veculos utilizados no transporte dos resduos de construo civil

    Classe Material Veculo

    Classe A Cermica

    Caminho com equipamento poliguindaste Cimento

    Classe B Ao Caminho com guindaste

    Madeira Caminho com equipamento poliguindaste

  • 46

    6.3.2.4.2.Deslocamentos para a distribuio e transporte

    a) Ao

    Tabela 17 - Deslocamentos para a distribuio e transporte do ao

    Etapa Origem Destino Distncia

    Extrao Minas Gerais Rio de Janeiro 540 km

    Fabricao Rio de Janeiro So Gonalo 100 km

    Distribuio So Gonalo So Gonalo 10 km

    Fim de vida So Gonalo Rio Bonito 55 km

    So Gonalo 12 km

    b) Cermica

    Tabela 18 - Deslocamentos para a distribuio e transporte da cermica

    Etapa Origem Destino Distncia

    Extrao Itabora Itabora 0 km

    Fabricao Itabora So Gonalo 24 km

    Distribuio So Gonalo So Gonalo 10 km

    Fim de vida So Gonalo Rio Bonito 55 km

    So Gonalo 12 km

    c) Cimento

    Tabela 19 - Deslocamentos para a distribuio e transporte do cimento

    Etapa Origem Destino Distncia

    Extrao Cantagalo Cantagalo 0 km

    Fabricao Cantagalo So Gonalo 180 km

    Distribuio So Gonalo So Gonalo 10 km

    Fim de vida So Gonalo Rio Bonito 55 km

    So Gonalo 12 km

  • 47

    d) Madeira Peroba-Rosa

    Tabela 20 - Deslocamentos para a distribuio e transporte da madeira Peroba

    Etapa Origem Destino Distncia

    Extrao Serra da Mantiqueira Serra da Mantiqueira 25 km

    Fabricao Serra da Mantiqueira So Gonalo 345 km

    Distribuio So Gonalo So Gonalo 10 km

    Fim de vida So Gonalo Rio Bonito 55 km

    So Gonalo 12 km

    e) Madeira Pinheiro-do-paran

    Tabela 21 - Deslocamentos para a distribuio e transporte da madeira Pinheiro-do-paran

    Etapa Origem Destino Distncia

    Extrao Paran Paran 25 km

    Fabricao Paran So Gonalo 1.230 km

    Distribuio So Gonalo So Gonalo 10 km

    Fim de vida So Gonalo Rio Bonito 55 km

    So Gonalo 12 km

    6.3.2.5.Limitaes da fronteira do sistema

    Nesta seo sero feitas algumas consideraes em relao s limitaes da

    fronteira do sistema. Alm disso, ressalta-se que ser tambm feita uma reviso das

    limitaes e consideraes j definidas nos itens anteriores afim de melhor explicit-las.

    Na fase de fabricao, considerou-se como o local de sua realizao o mesmo local

    que se d a extrao das matrias-primas. Alm disso, foram levados em conta os fluxos de

    energia e de material necessrios para a produo de cada componente em estudo. Os

    processos de fabricao foram utilizados diretamente a partir do banco de dados Ecoinvent

    ou Idemat 2001.

    No que diz respeito fase de distribuio, considerou-se uma mdia das distncias

    dos fornecedores existentes nas proximidades do local da construo para o clculo dos

    impactos gerados pelo transporte nesta etapa.

    A etapa de uso e operao da edificao, bem como reformas e manutenes foram

    excludas da avaliao do ciclo de vida essencialmente por razes de simplificao.

  • 48

    Finalmente, na etapa de fim de vida, foram levados em conta apenas os cenrios nos

    quais os resduos so destinados a aterros sanitrios e processados por reciclagem.

    No foram levados em conta os processos de infraestrutura, ou seja, a construo de

    fbricas, nem a fabricao de equipamentos e veculos necessrios para a produo,

    operao e transportes dos materiais, respectivamente.

    6.3.3. Base de Dados

    Para a viabilizao da avaliao do ciclo de vida foi utilizada a base de dados do

    Ecoinvent, considerado um lder mundial no fornecimento de inventrio de ciclo de vida.

    Como complemento, utilizou-se tambm a base de dados Idemat 2001.

    6.3.3.1.Qualidade dos dados

    Segundo a norma (ISO 14040, 2006), as exigncias relativas qualidade dos dados

    especificam em termos gerais as caractersticas dos dados necessrias ao estudo. Alm

    disso, as descries da qualidade dos dados so importantes para compreender a confiana

    e interpretar corretamente os resultados do estudo.

    A qualidade dos dados est baseada essencialmente em trs critrios: os fatores

    temporais e geogrficos (domnio espao-temporal) e o fator ligado s diferentes tecnologias

    utilizadas nos processos do ciclo de vida.

    Neste contexto, destaca-se principalmente o fato das bases de dados serem de

    origem estrangeira e consequentemente retratarem a realidade europeia. Alm disso, a

    tecnologia da construo civil propriamente dita no pas em grande parte artesanal,

    diferentemente do que ocorre nos pases de referncia.

    Dessa forma, buscaram-se adequar os processos constituintes dos inventrios

    modelados sempre que possvel, tais como deslocamentos necessrios e o tipo de energia

    empregada, algumas vezes nuclear. Isso juntamente com a confiabilidade das informaes

    justifica a utilizao das referidas bases de dados, mesmo que inseridas em outro cenrio.

    6.3.3.2.Insero dos dados

    Faz-se necessria uma correspondncia adequada entre os materiais selecionados

    para o estudo e os materiais fornecidos pela base de dados, em ateno ao

    comprometimento dos resultados quantitativos de impactos gerados. Dessa forma, foi feita

    uma adaptao entre os materiais e seus processos aos cenrios j definidos. Na Tabela

    22, podem-se ser verificados os materiais adotados.

  • 49

    Tabela 22 - Especificaes dos materiais adotados

    Material Correspondncia

    Ao Reinforcing steel, at plant/RER U

    Cermica Ceramics I

    Cimento Portland calcareous cement, at plant/CH U

    Madeira Pinheiro-do-Paran Paranapine I

    Peroba-Rosa Peroba I

    Ainda neste contexto, para o transporte dos insumos na estrada foi considerado o

    caminho Transport, lorry> 28, fleetaverage/RER U, e dentro da cidade, o caminho

    Transport, lorry> 16, fleetaverage/RER U. No que diz respeito fonte de energia empregada

    nos processos de produo e transformao dos materiais, o perfil energtico europeu foi

    substitudo pela Electricity, mdium voltage, production BR, at grid/BR U, a qual leva em

    conta a produo de energia no Brasil.

    6.4. INVENTRIO DO CICLO DE VIDA

    A segunda fase de uma avaliao de ciclo de vida a fase do inventrio do ciclo de

    vida (ICV), na qual ocorre a identificao dos fluxos no elementares e a quantificao dos

    fluxos elementares. Estes se diferenciam pelo fato de serem entradas e sadas de

    processos existentes nas diferentes etapas do ciclo de vida, entre os agentes e ocorridas no

    meio ambiente, conforme Figura 8.

    De acordo com a norma (ISO 14040, 2006), esta fase cataloga os dados de entrada

    e sada reportados ao sistema estudado. O inventrio implica na coleta de dados

    necessrios para alcanar os objetivos do estudo.

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    Figura 8 - Fluxos nas etapas do ciclo de vida (Fonte: Module de sensibilisation lco-conception, ADEME/MATE, 2001)

    As informaes resultantes da anlise de inventrio do ciclo de vida do subsdios

    para o aprimoramento do processo produtivo, criando oportunidades de melhoria de