TCC- Augusto Faria Roos Faria... · quadrinhos, jogos de RPG, ... Portanto o objetivo deste estudo...
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AUGUSTO FARIA ROOS
STAR WARS:
Um estudo a partir da Psicologia Analítica e da Mitologia
Faculdade de Psicologia
Pontifícia Universidade Católica
São Paulo 2008
Pontifícia Universidade Católica
São Paulo
2008
AUGUSTO FARIA ROOS
STAR WARS:
Um estudo a partir da Psicologia Analítica e da Mitologia
Trabalho de conclusão como exigência
parcial para graduação no curso de
Psicologia, sob orientação
da Profa. Dra. Flavia Hime
Faculdade de Psicologia
Agradecimentos:
Eu agradeço primeiramente a Profa. Dra. Flavia Arantes Hime, que orientou
e possibilitou esse trabalho, sempre disposta a ajudar e orientar, dando seu
grande apoio e incentivo, e ótima companhia. Agradeço imensamente a você, pelo
seu carinho e atenção.
Agradeço em especial minha namorada Joana, pela sua enorme paciência
e força, sem a qual esse trabalho não seria realizado.
Agradeço ao ex-professor Max, e a Viktor Salis, por suas recomendações
bibliográficas e inspiração. Obrigado.
Agradeço ao meu orientador de Seminários, Sergio Wajman, que me
ajudou a iniciar esse trabalho, passando-me importantes recomendações para eu
prosseguir na realização do mesmo.
Agradeço à Professora Marisa Penna, por ter aceitado avaliar esse
trabalho.
Agradeço à minha família e aos meus amigos, pela motivação e companhia.
Área do conhecimento: Código 7.07.00.00 -1 – Psicologia
Star Wars: Um estudo a partir da Psicologia Analítica e da Mitologia
Augusto Faria Roos, 2008
Orientadora: Profa. Dra. Flavia Arantes Hime
Palavras-chave: Star Wars, Mito do Herói, Psicologia Analítica e Mitologia
Resumo:
O objetivo deste trabalho foi refletir sobre o arquétipo do herói sob a ótica
da Psicologia Analítica e da Mitologia. Para tanto foram analisados os três
primeiros filmes da saga Star Wars, utilizando-se o método da Psicologia Analítica,
que tem como recurso a amplificação simbólica.
Percebeu-se que ao assistir e analisar os filmes, são invocados símbolos
decorrentes das vivências dos personagens. Tais símbolos permitem que
entendamos o que se passou com a vida dos personagens, visto que os símbolos
tem sua origem arquetípica, logo comum a todos os seres humanos e passíveis de
serem compreendidos. O foco do filme é a compreensão da trajetória do
personagem Anakin Skywalker, considerado no trabalho como um herói mitológico
por corresponder com as características universais que compõe tal conceito. O
trabalho se atém a articular os conceitos do herói mitológico com o arquétipo do
herói. Tal arquétipo articula com uma série de conceitos da Psicologia Analítica,
apontando condições básicas do ser humano e a relevância dos mitos no
desenvolvimento humano, tanto no que se refere à construção da subjetividade,
quanto aos aspectos coletivos, vislumbrados nas manifestações dos arquétipos. O
mito do herói refere-se ao processo do ser humano rumo à individuação, e
também de suas múltiplas vicissitudes, assim como do movimento da humanidade
em seus esforços para lidar com as polaridades, ora cindindo-as, ora buscando o
equilíbrio.
Sumário:
− Introdução ........................................ .........................................................pg.1
− Capítulo I ........................................ ........................................................... pg.3
Sobre o mito e sua relação com a Psicologia
− Capítulo II ....................................... ............................................................pg.15
O mito do herói
− Capítulo II a ..................................... ...........................................................pg.16
Características do herói
− Capítulo III ...................................... ............................................................pg.27
Sobre a Psicologia Analítica
− Capítulo III a .................................... ...........................................................pg.27
Conceitos de ego e self na Psicologia Analítica
− Capítulo III b .................................... .......................................................... pg.34
Sobre o processo de individuação na Psicologia Anal ítica
− Capítulo III c .................................... .......................................................... pg.44
Considerações sobre os conceitos de sombra e comple xo para a
Psicologia Analítica
− Capítulo III d .................................... .......................................................... pg.55
O bem e o mal para a Psicologia Analítica
− Capítulo IV ....................................... ......................................................... pg.62
Método
− Capítulo V ........................................ .........................................................pg.64
Resultados
− Capítulo V a ...................................... .........................................................pg.64
A influência histórica subjacente aos filmes
− Capítulo V b ...................................... .........................................................pg.66
Sinopses
− Capítulo VI ....................................... ......................................................... pg.96
Análise e Discussão
− Capítulo VII ...................................... ........................................................pg.153
Considerações Finais
− Referências Bibliográficas ........................ .............................................pg.161
1
Introdução:
A escolha do tema para esse trabalho de conclusão de curso de Psicologia
da PUC-SP deu-se a partir de um interesse pessoal de integrar conceitos da
Psicologia com as cenas da coleção de filmes Star Wars, cenas essas que
compõem uma elaborada e profunda trama e que podem ser significadas de
diferentes formas.
Pretendo, com esse trabalho, buscar reflexões e interpretações baseadas
na Psicologia e mitologia, no sentido de descrever e refletir sobre assuntos e
temas que configuram a trama. Tais temas se referem às mudanças transcorridas
pelo herói e os significados, condições e decorrências implicadas nessas
mudanças.
Desta maneira farei um recorte, dada a complexidade da narrativa. Meu
olhar se dirigirá ao personagem principal e à trama que se desenrola nos três
primeiros filmes.
No trabalho de análise do filme, pretendo intercalar aspectos da mitologia
presentes no filme com conceitos da Psicologia Analítica, para assim levantar
questionamentos sobre o ser humano, que são retratados no filme, assim como
deveu-se ao propósito do produtor cinematográfico George Lucas, que auxiliado
pelo famoso mitólogo Joseph Campbell, propôs-se a descrever um mito por meio
de uma extensa obra cinematográfica que descreve a cronologia da vida e morte
de um herói. Trata-se de um conjunto de seis filmes que desenrolam-se numa
seqüencia temporal, sendo que em cada episódio se retratam as principais
situações transformadoras da trama.
Este trabalho se restringirá aos filmes, uma vez que a obra Star Wars
possui uma extensa literatura e outras formas de continuidade como revistas em
quadrinhos, jogos de RPG, animações que narram eventos ocorridos entre alguns
filmes, e mesmo novas histórias. O foco de trabalho será o herói principal e
personagens e eventos retratados nos três filmes iniciais da saga.
Portanto o objetivo deste estudo é refletir sobre o arquétipo do herói sob a
ótica da Psicologia Analítica e da Mitologia. A organização do trabalho será como
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se segue: No primeiro capítulo abordarei o Mito e sua relação com a Psicologia.
No segundo,discorrerei sobre o mito do herói, apresentando suas características.
No terceiro, apontarei os conceitos da Psicologia Analítica mais relevantes à
consecução dos objetivos deste estudo além de discorrerer sobre o bem e o mal
segundo essa perspectiva. No quarto, apresentarei a metodologia, no quinto, os
resultados, que constarão da influência histórica presente nos filmes e das
sinopses destes. O sexto refere-se à análise e discussão e por final o sétimo trará
as considerações finais.
3
Capítulo I - Sobre o mito e sua relação com a Psico logia:
“A mais antiga das interpretações da mitologia é o evemerismo (Evêmero, filósofo
grego do século IV antes de Cristo). Os mitos seriam a transposição de
acontecimentos históricos e de suas personagens para a categoria divina”.
(SILVEIRA, 2003:113).
Mitos são narrativas fundadas em culturas primitivas que contêm os
acontecimentos originários e reveladores do homem enquanto animal já
convertido em cultura e já vivendo suas próprias condições humanas, que seriam
de um ser mortal, sexuado e fazendo parte de uma comunidade. Sendo assim, o
mito já foi o registro originário de uma comunidade ou tribo que serviu para
explicar, ou mesmo inaugurar, as condições e questões existenciais do homem,
condições essas que seriam as características do homem enquanto ser no mundo.
Mesmo se os homens primitivos já indagassem sobre tentativas de definir os
preceitos e condições do homem, fosse para atingir um modelo invariável, fosse
para resolver insatisfações da vida, os mitos já estavam presentes e ofereciam a
"primeira versão". Segundo Mircea Eliade, em seu livro “Mito e Realidade” (1998),
a primitiva ou ancestral origem do mito remonta ao Sagrado, Deus ou Ente
sobrenatural, sendo por excelência ritualizado pela comunidade. Sendo assim, os
mitos são narrações do divino que ecoam desde tempos ancestrais; sua utilização
para a sociedade se presta a orientar os homens mediante as transformações da
vida e fornecer uma explicação sobre a origem do mundo.
A autora Nise da Silveira em seu livro “Jung – vida e obra” (2003) cita que
os mitos são modelos exemplares de todas as atividades humanas significativas.
A autora faz uma referência a Malinowski que por sua vez expõe que os mitos nas
sociedades primitivas “são a expressão de uma realidade original mais poderosa e
mais importante através da qual a vida presente, o destino e os trabalhos da
humanidade são governados”. (SILVEIRA, 2003:114)
Ao analisarmos a modernidade, algumas funções das sociedades arcaicas e
primitivas encontram seus correspondentes funcionais na sociedade atual.
Exemplo disso seriam o médico e o psicólogo, que substituíram os anciãos e
4
sábios na função de prestar suporte aos “desajustes” pessoais e comunitários. O
autor Joseph Campbell no livro “O herói de mil faces”, menciona o psicanalista
como um agente com função análoga à do mito para os povos antigos: seria
semelhante à de um guia espiritual; ele menciona:
(...) o simbolismo perene da iniciação é produzido espontaneamente
pelo próprio paciente no momento de sua emancipação. Ao que
parece, há nessas imagens iniciatórias algo que, de tão necessário
para a psique, se não for fornecido a partir do exterior, através do mito
e do ritual, terá de ser anunciado outra vez, por meio do sonho, a
partir do interior - do contrario, nossas energias seriam forçadas a
permanecer aprisionadas num quarto de brinquedos, (...)
(CAMPBELL, 1997:22).
Ao longo dos séculos, os mitos foram sendo resignificados, ocorreram
mudanças na concepção de mito, que foi, por muito tempo, rotulado como fábula,
ilusão, ficção inventada. Tais significações atribuídas ao mito lhe retiraram o
caráter religioso e metafísico. Apesar das implicações históricas do mito, que o
descaracterizaram quanto à sua função social, removendo-o da esfera da
formação e manutenção do indivíduo, como veremos nas sociedades tribais ou na
Grécia clássica, ainda assim, os mitos sempre continuaram acompanhando a
humanidade e desempenhando sua função.
Segundo Maria Helena de Mendonça Coelho, para Adorno e Hockheimer em
“A Dialética do Esclarecimento” (COELHO, 2000:20), o mito se origina do terror e
desamparo do homem em relação à natureza e da tentativa de entender e explicar
o mundo. Muitos mitos são histórias que visam o esclarecimento da criação do
mundo e do desenvolvimento da civilização. Para tais autores o uso de mitos para
explicar o mundo é uma prática primitiva, uma vez que a sociedade ocidental atual
possui conceitos mais avançados para isso.
Ainda segundo Coelho (2000), os mitos revelam uma interação da
subjetividade humana com a natureza, interação essa que faz surgir dificuldades.
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Penso que a concepção de mito como sendo uma ciência primitiva que descreve e
explica a origem das coisas, leva em conta apenas uma crítica às explicações do
mito da origem, vistas como em defasagem e em lugar subordinado em relação às
explicações da ciência moderna sobre a origem. A autora enfatiza que segundo os
autores citados, os mitos seriam vestígios de uma fase primitiva de nossa cultura,
quando os seres humanos por se submeterem à natureza, não apresentavam
autoconsciência, devido à projeção da dimensão subjetiva na natureza, “O
sobrenatural, os espíritos e os demônios seriam imagens especulares dos
homens, que se deixam amedrontar pelo natural” (ADORNO – HOCKHEIMER
apud COELHO, 2000). A autora cita ainda que para esses autores a mitologia
como prática social resulta em um estado de imenoridade social por não fazer o
uso da razão, que é própria do humano, e que é o veículo para a ciência, logo
veículo para a formulação de uma sociedade mais harmoniosa. Ela completa
citando que para tais autores, deveríamos abandonar as explicações mágicas e
desenvolver a ciência e a razão, que por infelicidade acabaram se convertendo em
mito, “..., apoiando-se na ideologia, explicação enganosa própria das produções
mitológicas, acaba por se identificar com o mito, afirmam os autores de ‘Dialética
do Esclarecimento’” (COELHO, 2000:20). A citação acima se refere à falência da
razão e da ciência, que ao invés de seguirem um curso diferenciado, acabaram se
aproximando aos mitos.
Ao se observar mitos de diferentes lugares e épocas, é sempre possível
notarmos semelhanças, o que revela que os conteúdos dos mitos dizem respeito a
aspectos essenciais do ser humano. Sendo assim, mitos não contam histórias
exclusivas de um povo, eles apenas são criados por um povo, pois contam
histórias sobre o ser humano.
A narrativa do mito tem como conteúdo os aspectos coletivos e universais
do ser humano, que se repetem em todas as gerações e se atualizam a partir da
vida de cada um, uma vez que cada ser humano, a partir de sua experiência de
vida, virá a entrar em contato com esses conteúdos padrões que atingem a sua
psique. Esses padrões são conhecidos como arquétipos. “... o arquétipo é uma
fonte primária de energia e padronização psíquica. Constitui a fonte essencial de
6
símbolos psíquicos, os quais atraem energia, estruturam-na e levam, em ultima
instância, à criação de civilização e cultura”. (STEIN, 2006:81).
Os aspectos essenciais do ser humano que o mito por sua vez captura nos
permitem a identificação do mito com o arquétipo (relação que logo será
desenvolvida), o que nos revela que o mito se constitui a partir dos elementos
ontológicos do homem, como nascimento, vida e morte. Por este motivo, já é
possível fundamentar as semelhanças entre os mitos nas diferentes culturas e
épocas. Como menciona Joseph Campbell: "a mitologia em todos os lugares é a
mesma" (CAMPBELL, 1997:15).
Farei uma pequena digressão sobre arquétipos e instintos, para melhor
apresentar as características definidoras dos mitos.
Segundo Nise da Silveira, “... arquétipos são possibilidades herdadas para
representar imagens similares, são formas instintivas de imaginar.” (SILVEIRA,
2003:68)
Cabe dizer que existe uma forte relação entre arquétipos e instintos. O
autor Murray Stein, em seu livro: Jung – o mapa da alma; desenvolve definições
de arquétipo e sua relação com os instintos.
“À medida que Jung ia penetrando cada vez mais profundamente
nas fontes do material inconsciente – primordialmente sonhos e
fantasias – apresentadas por seus pacientes e descobertas em seu
próprio trabalho introspectivo, ele foi levado a teorizar a respeito de
algumas estruturas gerais da mente humana, estruturas que
pertencem a todos os seres humanos, não só a dele ou ao paciente
que tem diante dele. À camada mais profunda da psique humana deu
o nome de ‘inconsciente coletivo’ e concebeu o seu conteúdo como
uma combinação de padrões e forças universalmente
predominantes, chamadas ‘arquétipos’ e ‘instintos’. Em sua
concepção, nada existe de individual ou único nos seres humanos
nesse nível. Todos temos os mesmos arquétipos e instintos. Quanto
7
à individualidade, tem que ser procurada em outras áreas da
personalidade” (STEIN, 2006:83-84).
Segundo o autor, a individualidade se dá a partir de uma luta pessoal pelo
desenvolvimento e aquisição de consciência; e os arquétipos e instintos são dons
da natureza que são dados igualmente a todos os seres humanos.
Para o mesmo autor, a teoria dos arquétipos é fundamental para a
concepção global da psique proposta por Jung, que por sua vez concebia uma
profunda relação entre instinto e arquétipo, apesar de não separar a mente do
corpo e de concebê-los como sendo inter-relacionados. Irei definir a diferença
básica entre instinto e arquétipo por meio de uma analogia segundo a qual o
arquétipo estaria associado à mente e o instinto ao corpo, ou seja, tal analogia irá
separar conceitualmente a mente do corpo, porém irá proporcionar um
entendimento da distinção entre tais conceitos. Nesta analogia, o arquétipo
“carregaria” as mensagens da mente, ou seja, as imagens e idéias (conteúdos
psíquicos); enquanto que o instinto “carregaria” as mensagens corporais, que
seriam os níveis de ansiedade e outras reações químicas do funcionamento
fisiológico. No entanto, as dinâmicas desses dois conceitos se dão conjuntamente,
como partes que compõem uma unidade, sendo assim inseparáveis. Tais
dinâmicas atingem o sujeito devido a uma impressão causada na relação do
sujeito com o mundo, que por sua vez irá mobilizar conteúdos internos do sujeito,
ativando a unidade arquetípico-instintiva.
Outra analogia, concebida por Jung e mencionada por Murray Stein no
mesmo livro anteriormente citado, é de situar o arquétipo e o instinto em pólos de
um espectro.
“Na experiência prática e concreta, instintos e arquétipos encontram-
se sempre misturados e nunca em forma pura. As extremidades
arquetípicas e instintivas do espectro psíquico encontram-se no
inconsciente, onde se chocam e lutam entre si, entremisturam-se e
conjugam-se para formar unidades de energia e motivação que logo
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se manifestarão na consciência como necessidades imperativas,
desejos prementes, idéias e imagens”. (STEIN, 2006:95).
A autora Nise da Silveira relaciona arquétipos com mitos e ainda diz como
se originariam os arquétipos. Serão destacadas abaixo algumas citações de seu
livro: Jung – vida e obra.
“... produções do inconsciente, tais como visões, alucinações,
delírios, trazem sempre de permeio componentes míticos. A
constatação repetida dessas ocorrências, sem que conhecimentos
anteriores os pudessem explicar, levou Jung a admitir que devem
estar presentes nas profundezas do inconsciente os moldes básicos
para a formação dos mitos (arquétipos)”. (SILVEIRA, 2003:116).
“Resultariam do depósito das impressões superpostas deixadas
por certas vivências fundamentais, comuns a todos os seres
humanos, repetidas incontavelmente através de milênios. Vivências
típicas, tais como as emoções e fantasias suscitadas por fenômenos
da natureza, pelas experiências com a mãe, pelos encontros do
homem com a mulher e da mulher com o homem, vivências de
situações difíceis como a travessia de mares e de grandes rios, a
transposição de montanhas etc” (SILVEIRA, 2003: 68).
“Seriam disposições inerentes à estrutura do sistema nervoso que
conduziriam à produção de representações sempre análogas ou
similares. Do mesmo modo que existem pulsões herdadas para agir
de modo sempre idêntico (instintos), existiriam tendências herdadas
para construir representações análogas ou semelhantes” (SILVEIRA,
2003:68-69).
Segundo a autora, os mitos são os materiais básicos do ser humano, a
partir dos quais o mesmo estruturaria sua psique. Tais materiais seriam as
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características ontológicas que influenciam e mesmo regem a vida dos seres
humanos.
“A noção de arquétipo, postulando a existência de uma base
psíquica comum a todos os seres humanos, permite compreender
por que em lugares e épocas distantes aparecem temas idênticos
nos contos de fadas, nos mitos, nos dogmas e ritos das religiões, nas
artes, na filosofia, nas produções do inconsciente de um modo geral
– seja nos sonhos de pessoas normais, seja em delírios de loucos”
(SILVEIRA, 2003:69).
A passagem citada acima, assim como as demais dos outros autores,
revelam a capacidade do arquétipo de capturar conhecimentos que foram desde
os primórdios ou de tempos antigos da civilização, utilizados e pensados pelo
homem; e que outros seres humanos de diferentes locais e tempo, sem terem
entrado em contato direto com tais conhecimentos, puderam reproduzi-los e
expressá-los espontaneamente, em outro tempo e local. Isso é possível quando
determinado conhecimento está incluído no nível arquetípico, que é um nível de
consciência coletiva e intrínseca aos seres humanos, potencialmente acessível
aos mesmos em qualquer época e cultura.
Como foi citado anteriormente, o mito, assim como o arquétipo, remonta a
um ente sobrenatural e mesmo divino, que por sua vez inaugurou condições da
constituição psíquica e vida coletiva do ser humano. Essas condições
permanecem acessíveis aos humanos e são concebidas como características
presentes e mesmo essenciais ou ontológicas. Sendo assim, o mito é a revelação
desses conteúdos ontológicos.
No texto da autora Nise da Silveira, complementando as citações feitas, é
presente a questão do arquétipo como sendo uma força natural que surge nas
pessoas, exigindo delas uma reestruturação senão uma doença, sendo o
arquétipo, uma voz interna incessante e mesmo atormentadora que se apresenta
nos seres humanos no exercício de suas vidas.
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Joseph Campbell em seu livro "O herói de mil faces", menciona: "Não seria
demais considerar o mito a abertura secreta através da qual as inexauríveis
energias do cosmos penetram nas manifestações culturais humanas”
(CAMPBELL, 1997:15).
Segundo esse autor, as civilizações arcaicas e os povos tribais utilizavam a
mitologia para orientar as mudanças das fases na vida dos indivíduos e do grupo.
Para tal, costumeiramente se realizavam rituais ou ritos que tinham como função a
aplicação da mitologia dentro da cultura social. Estes ritos tinham a função de
relembrar ao povo os ensinamentos do mito.
No mesmo livro citado, o autor menciona que a função primária dos ritos e
da mitologia sempre foi a de fornecer símbolos para elevar e avançar o espírito
humano, para assim opor-se à reprodução das "fantasias humanas constantes
que tendem a levá-lo para trás" (CAMPBELL, 1997:21). Os rituais possuem forte
relação com a mitologia, pode-se dizer que eles eram a aplicação prática do mito
enquanto sendo um propósito de acompanhar fases de mudanças e
transformações.
Segundo o autor Edward C. Whitmont, as transformações se dão quando o
indivíduo atinge os núcleos arquetípicos de seus complexos, que por sua vez
seriam as condições que sustentam a condição anterior do sujeito. “Assim, o
centro nuclear de um complexo se apresenta caracteristicamente sob a forma de
imagens e representações mitológicas...” (WHITMONT, 2002:66). Tal autor cita
que essas representações mitológicas são nomeadas mitologemas, que são
temas com conteúdos primordiais que foram repetidos incontáveis vezes nas
manifestações humanas, sendo as estruturas básicas do ser humano com as
quais ele se depara para estruturar seu psiquismo. No entanto, tais conceitos
serão desenvolvidos mais adiante.
Recapitulando Joseph Campbell em seu livro “O herói de mil faces” (1997),
é ressalvado que os ritos realizavam transformações nas pessoas, auxiliando os
sujeitos a cruzarem difíceis limiares de transformação que resultava em mudanças
gerais no padrão psicológico dos mesmos. Esses ritos exerciam um rigoroso
rompimento de um padrão de vida e viam o sujeito como um aventureiro da vida
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que, após o rito, se reestruturava em um isolamento a fim de amadurecer seus
sentimentos relativos à sua nova situação, podendo assim retornar ao grupo como
se tivesse renascido.
Mircea Eliade em seu livro "Mito e Realidade" menciona:
Nos níveis arcaicos da cultura, a religião mantém a abertura para um
mundo sobre-humano, o mundo dos valores axiológicos. Esses
valores são “transcendente”’, tendo sido revelados pelos Entes
Divinos ou Ancestrais míticos. Constituem, portanto, valores
absolutos, paradigmas de todas as atividades humanas. Como
vimos, esses valores são veiculados pelos mitos aos quais compete
acima de tudo despertar e manter a consciência de um outro mundo,
do além,- mundo divino ou mundo dos Ancestrais. Esse “outro
mundo” representa um plano sobre-humano, “transcendente”, o
plano das realidades absolutas. É através da experiência do
sagrado, do encontro com uma realidade transumana, que nasce a
idéia de que alguma coisa existe realmente, de que existem valores
absolutos, capazes de guiar o homem e de conferir uma significação
à existência humana. É através da experiência do sagrado, portanto,
que despontam as idéias de realidade, verdade e significação, que
serão ulteriormente e sistematizadas pelas especulações
metafísicas.(ELIADE, 1998:123-124)
Segundo Eliade, o uso do mito nos rituais se presta a realizar a rememoração
e reatualização do evento primordial, a fim de ajudar o homem primitivo a
distinguir e a reter o real. O autor complementa que os rituais, devido às
constantes repetições, continuamente expõem as pessoas a situações
paradigmáticas, permitindo assim a manutenção e vinculação do sujeito com o
sagrado, ou com "outro mundo", possibilitando-lhe significar sua existência e
ajudando-o a construir sua realidade, "O ritual abole o tempo profano, cronológico,
e recupera o tempo sagrado do mito" (ELIADE, 1998:124).
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Pode-se dizer que as práticas rituais forneciam suporte para o
enfrentamento das transformações e fortaleciam o vínculo do sujeito com um
sentido da vida ou realidade própria. Na época moderna, não existe este suporte
espiritual efetivo, mas nem por isso não se dão as transformações. Na ausência
de uma mitologia padrão na cultura, nós ainda temos as manifestações
individuais, no mínimo em nossos sonhos, que, por sua vez, trazem símbolos que
podem ser empregados a serviço de uma transformação. Desta forma, existe uma
semelhança entre sonhos e mitos. Mesmo em se tratando de uma experiência
privada, os sonhos podem exercer grande influência no indivíduo.
Joseph Campbell (1997) em seu livro anteriormente citado faz uma analogia
interessante: “O sonho é o mito personalizado e o mito é o sonho
despersonalizado” (1997: 27). Em seguida, o autor menciona que tanto o mito
quanto o sonho simbolizam a dinâmica da psique, a diferença entre eles seria que
o sonho é deformado pelas particularidades do sonhador, enquanto que as
deformações do mito são válidas para toda a humanidade. (CAMPBELL, 1997:27).
Como já vimos, a narrativa do mito não se presta apenas a um relato
qualquer, mas sim a um relato profundo que transmite o divino. O mito abarca o
contato com o divino, por isso não se trata de uma história comum falada em
qualquer conversa de um grupo, mas sim de uma mensagem capaz de transmitir a
esse grupo o divino ou o sagrado. Podemos ver essa diferença entre relato
comum e mito ao observarmos como era feita a transmissão do mito. Na Grécia
antiga, os mitos eram cantados, recitados, enquanto em outras culturas a
transmissão do mito acontecia em um contexto ritualizado. Essa mensagem divina
se constata tanto no mito do herói quanto no mito da origem. Esses são os dois
tipos fundamentais de mitos. O mito da origem possui a função pré-científica de
explicar como se deu a origem do mundo, relatando a história da criação do
mundo. O outro tipo de mito é o mito do herói, de ordem psicológica, que descreve
as passagens de um herói que passa por transformações durante sua aventura ou
passagem da vida narrada. O mito do herói descreve as reações que o herói
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emitiu perante as situações a ele trazidas, relatando assim os enfrentamentos e
implicações externas e internas que conseqüentemente o atingem.
Segundo Murray Stein em seu livro: JUNG – o mapa da alma, o mito do
herói concede a ele o papel de criador da consciência. O autor ainda cita:
“O herói é um padrão humano básico – igualmente característico
tanto em mulheres quanto em homens – que exige o sacrifício da
‘mãe’, significando uma atitude infantil passiva, e que assume as
responsabilidades da vida e enfrenta a realidade de um modo adulto.
O arquétipo do herói exige o abandono desse pensamento fantasioso
infantil e insiste em que se aceite a realidade de modo ativo” (STEIN,
2006:86).
No livro “Mitologia Grega” de Junito Brandão (1999), o mito do herói é um
recurso que pode auxiliar o homem a conhecer as possibilidades de sua
consciência individual e coletiva, à medida que o mesmo pode se inspirar com as
transformações do herói, fazendo-o assim se dar conta da pujança e
potencialidade de sua personalidade. O autor nesse livro descreve a origem, a
estrutura ontológica e a etimologia do herói, que serão desenvolvidos em outro
capítulo. No prefácio deste livro são mencionados conceitos de C.G. Jung, que
concebe mito como arquétipo, logo muito importante para estruturação,
desenvolvimento e evolução de nossa personalidade, consciência individual e
coletiva; o que mais uma vez permite relacionar o mito com a psicologia. Segundo
o autor do prefácio, o herói é um arquétipo que está sempre constelado nas
grandes transformações (BRANDÃO, 1999:1-19).
Neste trabalho pretendo, por meio da análise do personagem central da
coleção de filmes Star Wars, refletir sobre as condições arquetípicas que
acompanharam o herói; e de como se articulou a questão da escolha e do destino
com o percurso de tal personagem. Conjuntamente à análise do filme, pretendo
discutir a relação entre arquétipo e escolha; e de que formas essas duas
dimensões se conciliam a favor do processo de individuação, conceito que será
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desenvolvido posteriormente. Além disso, pretendo refletir sobre as possibilidades
de controle que temos sobre o nosso próprio processo de individuação, quando o
resultado do mesmo não corresponde ao que fora desejado, seja devido a uma
incompatibilidade com a realidade ou com o arquétipo que o rege. Para tanto, será
enfocada a forma como o ambiente ou a sociedade influencia a posição subjetiva
de cada sujeito; e como tal disposição ou posição social designada interage e se
relaciona com as escolhas.
15
Capítulo II - Mito do herói:
O mito do herói inaugura um novo foco em relação ao mito da origem.
Como cita Erich Neumann (1995:107), “a preponderância agora é o centro do
mundo como lugar onde está o homem”. Sendo assim, o foco não mais é a
história da criação do mundo e do homem, não se trata mais de assimilar e
acomodar o milagre da criação ou de responder às inquietações a respeito de o
que somos e de onde viemos, mas sim de olhar como um homem vive sua vida e
como encara sua morte. Esse “novo foco mitológico” apresenta uma via dupla,
podendo ser encarado tanto do ponto de vista do eu (herói) quando do ponto de
vista do outro (que observa ou interage com o herói). O herói é aquele que
“renova” o mundo e revela arquétipos do ser humano. Por isso, o mito do herói
inaugura uma fase de olhar um indivíduo em suas relações com o mundo. Nesta
fase, cujo foco é como um homem vive, é que se formam as figuras e as
personalidades humanas, que emergem da observação das individualidades e
personagens. Cabe pontuar que o mundo são as situações vivenciadas pelo herói,
sendo o ambiente e contexto das interações do mesmo (conforme a citação
acima, o lugar onde está o homem como sendo o centro do mundo).
Sendo assim, as figuras e personalidades humanas, se apresentam por
meio da trajetória do herói, e são “reveladas” a partir de uma experimentação ou
mesmo uma identificação com conteúdos que representam uma figura ou
personalidade humana. Pode-se pensar que esses aspectos pessoais
identificados pelo herói se configuram por meio de uma trama, na qual o herói é
afetado por conteúdos subjetivos com os quais se relaciona; tanto conteúdos
advindos de escolhas pessoais, quanto reações infligidas por um outro
personagem.
Esses conteúdos revelados pela trajetória do herói são possíveis por meio
da “captação” de arquétipos feita pelo mesmo. Tais “captações” se expressam no
mundo coletivo: os arquétipos mobilizam internamente o herói, que
consequentemente os expressa no mundo, afetando ou sendo notado pelos
outros. Tais conteúdos arquetípicos são elementos psíquicos veiculados pelo herói
16
e que servem ao mesmo como um modo de operar, sentir e de perceber a si
mesmo e ao mundo.
“Assim sendo, o herói é o precursor arquetípico da humanidade em geral.
O seu destino é o modelo que deve ser seguido...” (NEUMANN, 1995:107).
Podemos pensar o mito heróico como sendo potencialmente parte constituinte da
personalidade de cada indivíduo.
Junito S. Brandão em seu livro “Mitologia Grega”, cita: “Não seria mais
simples dizer que o herói, seja ele de procedência mítica ou histórica, seja ele de
ontem ou de hoje, é simplesmente um arquétipo, que ‘nasceu’ para suprir muitas
de nossas deficiências psíquicas?” (BRANDÃO, 2002: 20). O autor complementa a
citação acima apontando para as correspondências e “similitude estrutural” entre
heróis nas mais diferentes culturas que não tinham comunicação entre si. Como
se a vinda do herói fosse uma demanda de desenvolvimento psíquico para a
comunidade, sendo assim, cada comunidade precisará de um herói para mobilizar
seus recursos psíquicos ou mesmo cumprir fases de desenvolvimento da psique
humana. É possível constatar em diferentes culturas e povos o mesmo mito, o que
pode sugerir uma direção do desenvolvimento da consciência humana comum em
diferentes povos, os quais realizam esse desenvolvimento independentemente,
por meio de seu funcionamento grupal e dos heróis.
Capítulo II a - Características do herói:
Joseph Campbell em seu livro O herói de mil faces, cita dois termos,
“separação” e “transfiguração”, que por sua vez possibilitam a elevação espiritual
e retomada do trabalho de criação desempenhadas pelo herói. A “separação”
seria, como cita o autor, “uma radical transferência da ênfase do mundo externo
para o mundo interno, do macrocosmo para o microcosmo, uma retirada, do
desespero da terra devastada, para a paz do reino sempiterno que está dentro de
nós” (CAMPBELL, 1997:27). Tal reino sempiterno é concebido pelo autor como o
inconsciente infantil, que por sua vez comporta as potencialidades não realizadas
17
na vida adulta, cujos conteúdos possibilitam uma renovação e elevação na vida
adulta.
Sobre a “transfiguração”, o autor diz que é o retorno do herói ao nosso meio
para desempenhar a tarefa de ensinar a lição de vida renovada que aprendeu.
O autor cita ainda que o herói é aquele que se retira da “cena mundana dos
efeitos secundários” (1997:27), e se lança sobre as regiões causais da psique,
aonde se encontram as dificuldades, e se empenha em erradicá-las e esclarecê-
las em favor de si mesmo. Tal processo corresponde ao combate empenhado pelo
herói contra os demônios infantis de sua cultura local. O herói é, portanto, aquele
que passa por tal experiência assimilando-a diretamente e sem distorções daquilo
que C.G Jung denominou imagens arquetípicas. O autor complementa que tal
processo do herói é concebido pela filosofia hindu como sendo a discriminação
entre o verdadeiro e o falso; e que “Os arquétipos a serem descobertos e
assimilados são precisamente aqueles que inspiraram, nos anais da cultura
humana, as imagens básicas dos rituais, da mitologia e das visões” (CAMPBELL,
1997:27).
Campbell faz uma relação do herói com a dinâmica de ascensão e
desintegração das civilizações: um cisma no espírito ou um cisma no organismo
social não são resolvidos por uma retomada dos ideais e dos funcionamentos
passados, nem por rearranjos de elementos em deterioração ou planejamentos
ideais de futuro. Apenas o nascimento pode conquistar a morte, não o nascimento
de algo antigo, mas sim o do novo.
Existem variadas formas e configurações de heróis, cada um deles toca
distintos aspectos dos arquétipos, assim como existem variadas formas de rituais.
No entanto, é muito presente nos rituais a função de catarse, de viver uma
experiência limite e até mesmo trágica, para se renovar ou purificar os membros
da comunidade ou da tribo.
Os conteúdos que de certa forma compuseram os rituais são essenciais
para as culturas, uma vez que eles contêm as bases de como lidar com as etapas
da vida, como lidar com o grupo e de como pertencer a tal cultura. Dessa forma, é
18
constatada a importância do conteúdo dos rituais, que, assim como os conteúdos
experimentados pelo herói, são arquetípicos.
O herói, após seu nascimento, deve engendrar na batalha primordial a luta
contra os “primeiros pais”. Tal batalha leva o herói a tirar suas amarras do
ambiente familiar, desobstruindo seu caminho ou potência a fim de estruturar sua
personalidade e também o mundo interno, os estágios superados e os que se
seguirão na trajetória do herói.
A natureza do herói se relaciona com o nascimento do mesmo, no qual se
encontra a “problemática dos pais duplos”. Essa característica configura o mito do
herói, visto que tal problemática se apresentou em diversas culturas. Além de o
herói ter pai e mãe pessoais, de criação, o mesmo possui também pai e mãe
divinos. “Essa dupla origem, com as suas figuras parentais pessoal e
suprapessoal opostas entre si, constela o drama da vida do herói” (NEUMANN,
1995:108).
O nascimento do herói revela uma peculiaridade, tornando-o um sujeito
incomum, diferente, gerado por algo incomum, um demônio ou divindade. A
experiência de parto é sentida intensamente pela mãe. “A experiência primária da
mulher com o nascimento é matriarcal. Não é o homem o pai do filho: o milagre da
procriação vem de Deus. Logo, a fase matriarcal não é regida por um ‘pai
pessoal’, mas por um progenitor ou poder suprapessoais” (NEUMANN, 1995:109).
Cabe dizer que nos primórdios da humanidade, ou seja, na época pré-histórica, as
mulheres davam à luz um bebê sem saberem que o homem era pai. Para essa
mãe pré-histórica, o bebê foi produzido por ela mesma, por um ser criador divino
ou forças da natureza, que de qualquer forma, faz dela a “Grande Mãe” e a
“Terra”, como sendo uma deusa que viveu uma experiência de milagre. Essa
significação da origem do filho exerce influência sobre o mito do herói, mesmo que
posteriormente tenha sido reconhecido o nexo causal da procriação por meio do
intercurso sexual com o homem.
A mãe do herói é sempre uma mãe virgem, Mãe Deusa ou então uma
“noiva de deus”.
19
“Aqui a virgindade significa - como geralmente no mundo antigo-
não pertencer a nenhum homem específico, quer dizer, é
essencialmente sagrada, não como pureza física, mas como abertura
psíquica para Deus. Vimos que a virgindade é um aspecto importante
da Grande Mãe, do seu poder criador, que não depende de nenhum
parceiro masculino. Mas há também um elemento procriador
masculino agindo nela. No início, no nível urobórico, ele é anônimo;
posteriormente, torna-se subordinado e justaposto à Grande Mãe,
como energia fálica; e só relativamente mais tarde aparece ao seu
lado, como consorte. Por fim, no mundo patriarcal, ela é destronada
pelo seu príncipe consorte e, por sua vez, justaposta e subordinada.
Mas retém a sua eficácia arquetípica” (NEUMANN, 1995:108).
Segundo o autor, a crença do nascimento do herói a partir de uma virgem é
mundial, prevalecendo na América do Norte e na América do Sul, na Polinésia,
Ásia, Europa e África.
Devido ao herói ser diferente da norma humana, do comum, ele é
considerado pela humanidade como tal. A distinção do herói com relação às
outras pessoas o configura como único, despertando assim atenção e contraste
em relação aos demais. Ele tem um aspecto dual: ao mesmo tempo em que ele
vive entre os outros homens, ele se sente estranho perante o coletivo,
experimentando dentro de si algo incomum e divino. Durante seus feitos heróicos,
ele se sente extraordinário, como que sendo filho de uma divindade, como sendo
bem diferente de seu pai de criação, terreno.
A batalha contra os pais, desempenhada pelo herói, implica o
enfrentamento do que é humano, não sendo concebido apenas como um
sofrimento pessoal e indizível do herói, mas sim como sendo características do ser
humano, ou seja, arquetípicas. O herói é aquele que sofre e supera algo que é
humano, que posteriormente, quando se põe em questão, é tratado como sendo
algo de que todo mundo sofre. No entanto, parece ser só o herói quem realmente
passou por isso. Pode-se dizer que a tragédia do herói, além de ser uma
20
experiência pessoal do mesmo, afeta toda a humanidade, marcando e
diferenciando o mundo mesmo após sua morte, visto que a tragédia passou a ser
reconhecida por cada sujeito como fazendo parte de si. Dessa forma, não é
necessário o herói estar vivo para representar algo humano, mesmo sendo o herói
um recipiente das projeções arquetípicas, as outras pessoas tomam a si mesmas
como recipientes, assim como o herói.
Segundo Viktor D. Salis (2002:12), “O herói é aquele que deve sobreviver
ao impacto e voltar à luz do dia, íntegro perante todas as contrariedades e
desilusões”. Deve superar as derrotas e prosseguir no caminho de sua
imortalidade, revelando o sentido original e genuíno de sua humanidade,
superando o medo da perda da individualidade para assim seguir ao encontro da
vontade universal cósmica.
O autor afirma que o mito exerce uma função mobilizadora de conteúdos
adormecidos no humano: o herói revela a paixão que impulsiona tais conteúdos.
Os talentos despertos que o herói desenvolve e deve aprimorar até o nível de
semelhança aos deuses, por fim podem lhe render a imortalidade, em
contrapartida da degeneração, criando-se assim, os mitos.
Ainda segundo Salis, para o pensamento antigo, o conceito de destino
corresponde ao máximo de liberdade responsável a que alguém poderia almejar,
uma vez que o destino seria o caminho para se compreender o sentido da própria
existência, o mistério e os propósitos da vida. Desta forma, ter o próprio destino
revelado seria uma dádiva dos deuses. O mesmo deveria ser cumprido, uma vez
que desta forma seria possível se consolidar os talentos da maneira mais plena. A
vida era tida como presente dos deuses, na qual cada um deveria ser si mesmo
do modo mais belo e pleno possível, para desta forma honrá-la, recriando os seus
talentos “educados e expandidos ao máximo” (SALIS, 2002:20).
O autor faz referência às escolas da Grécia antiga que adotavam o mito do
herói como ferramenta para a construção do homem pleno. O caminho do herói se
presta à reconquista do sagrado, sendo que a etimologia da palavra herói é aquele
que busca o sagrado. Essas escolas pregaram o caminho do herói, que não se
tratava de um caminho guerreiro, mas sim de um caminho da libertação do ser,
21
libertação do mistério interior e do conhecimento dos deuses pelo homem. Em
contrapartida a isso existia um caminho de conquista do outro, dominação e
destruição, que não fomentavam a conquista de si mesmo, a libertação da alma e
a busca do conhecimento cósmico, como o fazia o caminho do herói segundo tais
escolas.
“Os homens vieram da raça de ouro (símbolo da eternidade e da
justiça) e decaíram para a raça de prata (símbolo da essência versus
a aparência). Foi quando aprenderam a mentir e a esconder a
verdade. Decaíram mais para a raça de bronze, que era o símbolo de
querer ser a verdade e a lei pelas próprias mãos. Decaíram mais
ainda para a raça de ferro, símbolo da condição mortal, pois o ferro
representa a vida que se corrói e se carcome. Era o nascer, crescer,
envelhecer e morrer, enfim, somos nós.” (SALIS, 2002:26).
O herói, segundo Salis, seria uma quinta raça, que se prestava a superar e
escapar do ciclo da degeneração, citado acima. O caminho do herói seria a
transposição das provas que cada etapa viria lhe impor, até atingir ou reconquistar
o ouro alquímico, que representava o divino e o ouro primordial, “símbolo da
eternidade e da verdade incorruptível” (SALIS, 2002:26-27).
Neste processo, o herói deveria despertar o Daimon, um gênio
intermediário entre o mortal e o imortal que nos habita e que nos impulsiona para
a imortalidade. Sendo assim, o caminho do herói se daria do mortal ao herói, do
herói ao Daimon, do Daimon aos deuses.
O autor cita a “Tábua das Esmeraldas”, item arqueológico atribuído ao deus
Hermes (deus mensageiro que auxiliava os heróis no caminho do sagrado) onde
foi encontrada a seguinte observação: “Descobre o gênio imortal que te habita
(Daimon), aquela energia apaixonada que te torna em algo e te impulsiona em
direção à tua missão aqui na Terra” (Tábua das Esmeraldas, apud SALIS 2000).
Segundo o pensamento antigo, os homens morriam para renascer
futuramente a partir do nível espiritual que atingiram na vida passada: devido a
22
isso se almejava uma morte digna. Sendo assim, o herói pode ser considerado
como uma alma antiga que veio para terra já predestinado a realizar sua elevação
espiritual, o que caracteriza o herói messiânico, aquele que é o escolhido ou o
enviado dos deuses.
Segundo o mesmo autor, o caminho do herói era a luta entre a Dike e a
Hybris (Ouro, justa medida em oposição à Prata, desmedida). O herói era alguém
com vícios e virtudes, com qualidades e defeitos, e com uma disposição de
aperfeiçoamento de si mesmo por meio das provas superadas. Ainda assim são
recorrentes as manifestações desmedidas dos heróis, como os ataques de fúria
que marcaram a história de Hércules. Perante tais descomedimentos, o herói
deveria se redimir. Tal dinâmica aproxima o herói da condição humana,
caracterizada pela ambivalência.
Os heróis viveram em tempos remotos quando não havia normas sociais
suficientemente estabelecidas. Suas trajetórias revelam aspectos inacabados e
contraditórios de determinadas culturas. Por meio deles, desvelam-se aspectos do
homem e da sociedade que estavam encobertos, permitindo assim
transformações nos valores e na subjetividade das pessoas, no ambiente, na vida
e no coletivo, uma vez que os conteúdos revelados por meio do herói são
arquetípicos, logo humanos por excelência e passíveis de serem incorporados
pelo coletivo.
Junito S. Brandão em seu livro “Mitologia Grega” (2002) cita uma
característica comum entre muitos heróis: matar involuntariamente entes queridos
ou membros de sua própria família. Tais episódios são concebidos como
fatalidades ou enganos lamentados pelo herói. Além dos episódios de
assassinatos de familiares, o autor cita outros descomedimentos dos heróis, como
atitudes impulsivas ou de fúria e vingança. O autor se refere a tais contextos como
sendo uma ambivalência do herói, pois ele desempenha serviços extraordinários
em favor de uma comunidade, mostrando qualidades e virtudes, mas também
protagoniza episódios de violência e mesmo monstruosidade.
Assim sendo, apesar de os heróis se elevarem a um nível divino, eles
apontam sua humanidade, que se apresenta nos mitos. Estes permitem a
23
identificação dos mortais com uma parte deste ser que atinge o sagrado, mas que
também mostra suas qualidades humanas e como as mesmas os influenciam.
A Hybris é uma crença de Sólon, antigo legislador Grego que concebia a
justiça como um princípio divino. Segundo Werner Jaeger (1969:277) a
abundância levava à Hybris, que por sua vez levava à ruína. Tal conceito ou
divindade é concebido como o perigo que reside na insaciabilidade do desejo, que
habita naquele que nunca se satisfaz com o que tem e sempre quer o dobro.
Segundo o mesmo autor (1969:281), “Assim, a felicidade e a fortuna não ficam
muito tempo nas mãos de quem as goza. É na própria natureza delas que a sua
perpétua mudança reside”. O autor cita a participação do divino no destino dos
homens e o nexo causal entre desventura e culpa do homem, sendo a desventura
uma atitude do homem que vai contra o princípio divino, tornando-o responsável
pela própria desventura. “O desenvolvimento da autoconsciência humana realiza-
se no sentido da progressiva autodeterminação do conhecimento e da vontade em
face dos poderes do alto. Daí a participação do homem no seu próprio destino e a
sua responsabilidade perante ele” (JAEGER, 1969:280).
O deixar-se seduzir pela Hybris, pode ser entendida como a sorte,
embriaguez da vitória, soberba, entre outros estados que almejam um sucesso e
que se transformam facilmente em profunda dor e castigo, sendo desempenhada
assim, uma força de justiça moral divina da qual os homens participam. O homem
tomado pela Hybris é levado ao seu próprio sacrifício, algo necessário para se
restaurar o equilíbrio da ordem divina. As conseqüências da Hybris se apresentam
no destino do homem, não como algo isolado, mas sim na trajetória de vida do
mesmo chegando a se prolongar para as futuras gerações de seus respectivos
familiares. Cabe dizer que essas concepções se referem ao pensamento religioso
politeísta da Grécia Antiga e que as religiões se transformaram estruturalmente no
transcorrer da história.
Dike é uma divindade reparadora, filha de Zeus que fica ao seu lado e
lamenta as injustiças cometidas pelos humanos, das quais a mesma deve prestar
conta. Dike significa o cumprimento da justiça, a justa medida, o meio pelo qual se
podem apoiar os que foram prejudicados pela Hybris. Significa dar a cada parte o
24
que lhe é devido, “Assim se compendiava numa palavra só a decisão e o
cumprimento da pena. O culpado dá Dike, o que equivale originalmente a uma
indenização, ou compensação. O lesado, cujo direito é reconduzido pelo
julgamento, recebe Dike. O juíz reparte Dike” (JAEGER, 1969:125).
O autor citado acima, reflete sobre o conhecimento advindo da dor e do
sofrimento. O sofrimento para os antigos, trata-se da realização do divino na terra,
do triunfo da hybris que restitui a justa medida e a justiça divina e revela o
conhecimento advindo do sofredor. A hybris recai sobre os que mostraram-se
excessivamente confiantes, a mesma se realiza posteriormente na vida de
determinada pessoa, e revela para a humanidade o conhecimento advindo da dor
do mesmo. Os ditados populares podem ser vistos como consequências da hybris,
que transformaram-se em formulações sobre a vida e o ser humano.
No livro “Rei, Guerreiro, Mago, Amante: a redescoberta dos arquétipos do
masculino” (MOORE-GILLETTE, 1993:37), o herói é definido como um arquétipo
que orienta o menino a tornar-se homem, “auge das energias masculinas do
menino”.
“O herói começa achando que é invulnerável, que para ele só serve
o 'sonho impossível', que ele pode 'lutar contra o inimigo invencível' e
vencer. Mas se o sonho é realmente impossível, e o inimigo
realmente invencível, o herói vai ter problemas” (MOORE-GILLETE,
1993: 38).
O herói recebe a conotação de arquétipo do amadurecimento que rege a
transformação para a fase adulta. Pode-se destacar na passagem citada acima,
uma hybris intrínseca ao herói, devido ao fato dele ter um excesso de confiança
em si mesmo. Tal característica revela conteúdos infantis no herói, uma vez que o
mesmo precisa extrapolar-se para conhecer suas limitações.
“Como no caso de outros arquétipos masculinos imaturos, o Herói
está excessivamente ligado à Mãe. Mas tem uma forte necessidade
25
de superá-la. Trava um combate mortal com o feminino, lutando para
conquistá-lo e afirmar a sua masculinidade. Nas lendas da Idade
Média sobre heróis e suas donzelas, quase nunca sabemos o que
acontece depois que o herói mata o dragão e se casa com a
princesa. Não nos contam o que aconteceu com o casamento deles,
porque o Herói, como arquétipo, não sabe o que fazer com a
princesa depois que a conquista. Não sabe o que fazer quando as
coisas voltam ao normal.
A derrocada do herói é que ele não conhece e é incapaz de aceitar
suas próprias limitações. O menino ou o homem dominado pelo
Herói da Sombra” não consegue realmente perceber que é um ser
mortal. A negação da morte – limitação fundamental da vida humana
– é a sua especialidade” (MOORE-GILLETE, 1993: 39).
O herói é aquele que não se deixa capturar por uma limitação, pois prefere
achar-se diante de infinitas possibilidades, ficando continuamente estruturando e
ativando suas potencialidades resistindo a ser uma pessoa que limitou sua vida a
um determinado desenvolvimento.
“O Herói lança o menino de encontro aos seus limites, contra o
aparentemente intratável. Encoraja-o a sonhar o sonho impossível,
que afinal de contas pode ser possível, se ele tiver coragem
suficiente. Dá-lhe poder para lutar contra o inimigo imbatível, que
será bem capaz de derrotar, se não estiver possuído pelo herói”
(MOORE-GILLETTE, 1993: 40).
O estar possuído pelo herói refere-se à prepotência em relação a
superação de uma tarefa. O arquétipo do herói pode motivar e encorajar um
sujeito a vencer seus bloqueios e realizar uma superação, em contrapartida pode
iludir o sujeito a se achar superior e invulnerável.
26
No mito de Hércules, o arquétipo do herói desempenhou um processo de
lidar com seus limites, e apesar de sua força física superior, o mesmo teve que
usar de sua inteligência para superar os desafios, uma vez que quando ele
tentava resolver seus problemas com sua força bruta, ele sempre fracassava.
Neste herói, o arquétipo o impulsionou a um manejo das próprias potências em
prol de uma atitude mais segura e pensada, que mesmo assim, envolve muitos
riscos, com os quais Hércules soube lidar para superar suas provas. Hércules foi
um exemplo de herói que se aprimorou durante a vida, realizando grandes feitos e
amadurecendo com excelência. Quando era necessária uma atitude corajosa e
impensada ele a tinha, quando era necessária uma atitude de cautela ou traquejo
ele também a tinha, quando ele se sentia arrependido e culpado, ele buscava sua
cura, sentindo suas dores e pedindo orientações dos deuses. O mesmo foi-se
enriquecendo de qualidades e talentos conforme amadurecia, até que teve que
consentir com sua própria morte, que aceitou como sendo sua última prova a
superar. Ele construiu sua pira aonde voluntariamente foi incendiado encerrando
sua vida para repousar em sua eternidade junto aos outros deuses no Olimpo.
Portanto percebemos que, embora o herói seja predestinado e o escolhido
para cumprir uma missão, ele tem a possibilidade de escolher os caminhos a
trilhar, no sentido da individuação e da transformação de si-mesmo e da
comunidade, ou da derrocada, pela negação das suas limitações, que poderiam
lhe apresentar novas potencialidades rumo ao crescimento.
27
Capítulo III - Sobre a Psicologia Analítica:
Carl Gustav Jung, fundador da Psicologia Analítica, nasceu em 26 de julho
de 1875 em Kesswil, aldeia da Turgóvia localizada na Suíça.
Jung fez todos os seus estudos na Universidade de Basiléia, concluindo o
curso médico no ano de 1900, aos 25 anos, se especializando em psiquiatria.
Jung após sua formação na Universidade, ocupou o cargo de segundo
assistente no hospital Burgholzli, de Zurique, período em que este hospital vivia
intensa atividade científica sob a direção de Eugen Bleuler, considerado um dos
maiores psiquiatras de todos os tempos.
Em 1902 defendeu sua tese de doutouramento que teve como título:
Psicologia e patologia dos fenômenos ditos ocultos. Em 1905, ele assumiu o posto
imediatamente abaixo de Bleuler na hierarquia do hospital, trabalhando junto do
mesmo como seu colaborador em experiências, nas quais elaborou seus métodos
próprios para estudar a esquizofrenia.
Jung, como já dito, foi criador da Psicologia Analítica, divergindo da
Psicanálise, criada por Freud, que o tinha como discípulo.
Segundo (SILVEIRA, 2003: 15), quando Jung escreveu em 1912 o livro:
“Metamorfose e símbolos da libido”, marcaram-se divergências doutrinárias que
separaram Jung de Freud, fortalecendo-se a criação Psicologia Análitica.
Neste capítulo serão vistos alguns dos conceitos desenvolvidos por Jung e
posteriormente estudados por autores da Psicologia Analítica.
Capítulo III a - Conceitos de Ego e Self da Psicolo gia Analítica:
“A descoberta de caráter mais fundamental e de maior alcance, de
Jung, é a do inconsciente coletivo ou psique arquetípica. Graças às
pesquisas que ele realizou, sabemos atualmente que a psique
individual não é apenas um produto da experiência pessoal. Ela
envolve ainda uma dimensão pré-pessoal ou transpessoal, que se
manifesta em padrões e imagens universais, tais como os que se
28
pode encontrar em todas as mitologias e religiões do mundo. Jung
descobriu também que a psique arquetípica conta com um princípio
estruturador ou organizador que unifica os vários conteúdos
arquetípicos. Esse principio é o arquétipo central ou arquétipo da
unidade, ao qual Jung denominou o Si-mesmo” (EDINGER, 2000:
22).
Self ou Si-mesmo é o centro ordenador e unificador da psique total
consciente e inconsciente, que se relaciona com a consciência e personalidade,
cujo centro ordenador é o ego. Sendo assim, ego e self são dois centros
organizadores da psique, o primeiro conta com a participação ativa do sujeito,
sendo o seu eu, vontade, ego, e o segundo não requer a participação ativa do
sujeito, se trata de uma personalidade superior interna do sujeito e inapreensível
pelo mesmo. Pode ser concebida como a divindade interior “O Si-mesmo constitui,
por conseguinte, a autoridade psíquica suprema, mantendo o ego submetido ao
seu domínio” (EDINGER, 2000:22).
O autor citado faz uma seleção de símbolos que são associados ao self,
tais como: a unidade, a totalidade, a união dos opostos, o centro do mundo, o eixo
do universo, o ponto criativo aonde Deus e o homem se encontram, a eternidade,
a capacidade de gerar ordem a partir do caos, o elixir da vida.
O mesmo autor destaca a importância vital que exerce um eixo que conecta
o ego com o self, assegurando a integridade do ego e uma condição favorável
para o processo de individuação. No entanto, esse eixo não é algo pré-existente
do ser humano, mas sim um estado cultivado pela relação do ego com o self por
meio de movimentos de alternância do ego. No nascimento do ser humano o ego
existe como potência a ser constituída e estruturada, há apenas o self, o recém
nascido se encontra completamente identificado com o self, logo idêntico ao self.
Tal estado é denominado inflação e é a nossa condição inicial enquanto
seres humanos. O termo inflação faz referência a sentir-se amplo e importante, ou
seja, achar-se amplo e importante de uma maneira que não necessariamente
condiz com a realidade externa. Significa estar além dos limites das próprias
29
medidas, podendo ser qualificado com adjetivos como orgulhoso, arrogante,
presunçoso etc. No entanto, ao nascermos, já possuímos o self, enquanto
totalidade funcional consciente e inconsciente, e devemos construir o ego. Para
tanto, o ego deve emergir do self (estado de alienação). Uma representação visual
seria de uma esfera menor saindo verticalmente de dentro de uma esfera maior,
mantendo seus centros alinhados, aonde seria o eixo ego-self (vinculo vital que
assegura a integridade do ego), estado concebido pelo autor como ideal e de
difícil obtenção devido às sutilezas do processo.
“Se esta for uma correta representação dos fatos, a separação
entre o ego e o si-mesmo e a crescente conscientização de que o
ego é dependente constituem, na realidade, dois aspectos de um
mesmo processo de emergência, que se estende por todo o período
que vai do nascimento à morte” (EDINGER, 2000: 26).
O autor ainda afirma que no decorrer do processo da vida até a morte,
ocorrem sucessivas oscilações: de imersão do ego no self, processo de que deriva
o estado de inflação; e de emersão do ego do self, de que deriva o estado de
alienação. O estado inicial de inflação é importante na medida em que a criança
possa entrar em contato direto com as realidades arquetípicas, estabelecendo
uma intimidade com seus aspectos divinos e criativos. Conseqüentemente, o ego
inflado inicial, assim como o estado de inflação, não reconhece os limites do
interior e exterior. É um estado sujeito a ser influenciado impulsivamente pelo
desejo (concebido, nesse caso, como a ordem do mundo), e pode ser
caracterizado como irresponsável e desmedido. Tais características advindas da
identificação com o self devem suceder sutilmente a um estado de alienação, de
modo que não se rompa ou se danifique além do necessário o eixo ego-self, uma
vez que deve-se manter raízes no self. Segundo o mesmo autor (2000:33), é
indispensável que se proporcione adequadamente para uma criança o estado de
inflação, uma vez que o mesmo é uma condição fundamental para o
30
desenvolvimento da vida psíquica. Após esse estado proporcionado
adequadamente, o autor cita:
“Todavia, algum tempo depois, o mundo começa necessariamente
a rejeitar as exigências feitas pela criança. Nesse ponto, a inflação
original começa a se dissolver, mostrando-se insustentável diante da
experiência. Mas também tem início a alienação; o eixo ego-Si-
mesmo é danificado. É criada na criança uma espécie de ferida
psicológica incurável, ao longo do processo de aprendizagem de que
ela não é a deidade que acreditava ser. Ela é expulsa do paraíso,
sendo geradas uma ferida e uma separação permanentes”
(EDINGER, 2000:33).
Na vida adulta ocorrem repetidas experiências de alienação, tanto
advindas de encontros com a realidade, trazidas pela vida, quanto advindas de
suposições inconscientes do ego. No entanto, é necessária a contínua
aproximação com o self para não nos alienarmos de nosso próprio íntimo, ficando
assim expostos às enfermidades de caráter psicológico e ou orgânico.
Há necessidade de se manter uma integridade do eixo ego-self, ao mesmo
tempo em que se dissolve a identificação ego-self, uma vez que o ego não
experimenta do apoio fornecido pelo self enquanto estiver identificado com o
mesmo.
O autor cita exemplos de estados inflados (2000:37), como: as explosões
de ira, tentativas de se manipular o ambiente que motiva a ira; ânsia por
vingança, por se identificar com uma divindade vingadora; motivações para o
poder de todos os tipos, uma vez que fica implícita a onipotência, atributo apenas
de Deus; rigidez intelectual, por atribuir caráter universal e se supor onisciência; e
todas as operações regidas pelo desejo e prazer, por se atribuírem um valor
central com caráter transpessoal. “Na realidade, a colocação em si mesmo de um
excesso de qualquer coisa é indício de inflação, pois transcende os adequados
limites humanos” (EDINGER, 2000:37).
31
Um exemplo básico da sucessão do estado de alienação sobre o de
inflação pode ser visto nos mitos de queda do homem, como no mito de Adão e
Eva. Neste mito, primeiramente eles viviam em um estado paradisíaco até
violarem a ordem de Deus, comendo do fruto proibido da árvore do conhecimento
do bem e do mal. Após esse passo de ampliação de consciência, os dois foram
expulsos do paraíso. Não comer da árvore do conhecimento era a condição para
se suspender o estado de inflação e seu subseqüente estado de alienação,
interrompendo-se o estado de comunhão e identidade com Deus, aonde não havia
conflito, pois tudo era uma unidade Homem-Deus. O pecado original se trata de
um pecado necessário para a evolução da consciência, se trata de uma mudança
primordial que contribuiu para a aquisição de recursos psíquicos humanos.
Segundo o mesmo autor (2000:42), Adão e Eva, eram originariamente
inflados como qualquer recém nascido, sendo assim, eram inflados passivamente.
No entanto, ao se deixarem seduzir pela serpente, que por sua vez dizia: “se
comerem este fruto, seus olhos se abrirão e você será como Deus”; neste ponto
eles exerceram uma inflação ativa. Foi quando se deu início o drama da tentação
e da queda, o ato voluntário de agir em prol do desejo de serem como Deus.
Consequentemente, eles foram expulsos do paraíso, caindo no mundo enquanto
seres humanos, mortais, que agora vivem o sofrimento, os conflitos, incertezas
etc. O processo de nascimento do ego deu-se por meio de um processo de
alienação, assim como o processo de expulsão do paraíso de Adão e Eva. O
paraíso pode ser simbolizado pela união do ego-self, vivenciado na vida intra-
uterina do bebê, assim como nos anos seguintes do nascimento.
“A obtenção da consciência é um crime, um ato de hybris contra os
poderes estabelecidos; mas é um crime necessário, que leva a uma
necessária alienação com relação ao estado natural de unidade. Se
desejamos ser, de alguma forma, leais ao desenvolvimento da
consciência, devemos considerá-lo um crime necessário. É preferível
ser consciente a permanecer no estado animal. Mas, para emergir, o
32
ego é obrigado a colocar-se contra o inconsciente de que proveio e a
assegurar sua autonomia com um ato inflado” (EDINGER, 2000:50).
O autor complementa a citação acima utilizando exemplos de casos clínicos
de psicoterapia, nos quais as situações da vida pedem ao paciente que cometa
um “crime” para se desconfigurar uma situação aprisionadora na qual o mesmo
estaria vivendo.
Existem mitos nos quais a hybris é necessária e construtiva, como no caso
de Adão e Eva. No entanto, em muitos outros mitos retrata-se a hybris de forma
destrutiva, sendo o ego ativamente inflado que desencadeou conseqüências
desastrosas. Um exemplo é o mito de Ícaro, que voou alto demais com as asas
que seu pai construiu para fugirem de uma torre. O pai o havia advertido sobre a
conseqüência de se voar muito alto, que o sol derreteria as asas causando a
queda e morte. Ainda assim, Ícaro o fez e caiu para a morte. Tal situação não
gerou um aumento de consciência, pelo menos não para Ícaro. No entanto,
mostrou-se um conhecimento para os outros, humanidade, sobre os limites a
serem respeitados e suas conseqüências, e de como faz bem se seguir orientação
de pessoas mais sábias, advindas do outro.
“O mito pode ser visto, na verdade, como expressão simbólica da relação
entre o ego e o Si-mesmo” (EDINGER, 2000: 23).
O autor cita que muitas das religiões exerciam suporte para as pessoas
evitarem o estado de inflação, sendo sempre valorizada a personalidade não
inflada, ou seja, alienada, que por sua vez não toca nas questões sagradas,
deixando-as somente para Deus, uma vez que, ao se apossar de um estado
inflado, se estará transcendendo os limites humanos suportáveis ao ego.
“Logo, o tabu pode ser encarado como uma proteção contra a
inflação. Posteriormente, a idéia de tabu foi reformulada em termos
da vontade de Deus e do caráter inevitável de punição por
transgressões de Sua vontade. Mas a idéia de tabu e o temor à
33
inflação ainda se manifestam por trás dessa nova fórmula”
(EDINGER, 2000: 60-61).
Sobre o estado de alienação, o autor cita que o ego não apenas deixa de
estar identificado com o self, mas também se desconecta dele. Apesar de ser
impossível se desconectar da totalidade e centro ordenador da psique, que é o
self, o ego deixa de obter segurança, energia e sentido fornecidos pelo self. Os
contatos com a realidade do mundo podem frustrar e danificar o eixo ego-self,
causando estranhamento ao ego, por sua vez, podendo se apresentar sintomas,
como a falta de auto-aceitação, por exemplo. Sobre a experiência de não ser
nutrido pelo self, o autor cita: “Quando a conexão se quebra, o resultado é o vazio,
o desespero, a falta de sentido e, em casos extremos, a psicose ou o suicídio”
(EDINGER, 2000: 72).
O autor complementa citando que sempre quando se faz presente o
desespero de uma profunda alienação, procede-se a violência, voltada de forma
tanto interna quanto externa, sendo os extremos dessa o suicídio e o assassinato.
Sendo assim, a origem da violência se dá devido à uma forte rejeição a si e ao
outro causada pela alienação do ego com o self.
O self é vivido pelo sujeito por meio suas relações com o mundo. Edinger
afirma que o self e o mundo são uma só e única coisa, ou seja, são a mesma
coisa. São citados exemplos de casos clínicos, dentre outros, de pacientes que
possuem manias de perseguição, que acham que fatos externos e independentes
do mundo lhes dizem respeito diretamente. Pode- se dizer que essa dinâmica que
determinados pacientes revelam nas suas relações com o mundo é um indicador
das relações que os mesmos exercem com seu self. Podemos dizer que esses
pacientes lidam com o self de forma persecutória, entendendo todos os conteúdos
que emergem do self como significando especificamente algo preconcebido pelo
ego. Sendo assim, self e mundo são análogos enquanto relações do ego. As
relações que temos com o self são iguais às relações que temos com o mundo.
34
Capítulo III b - Sobre o Processo de Individuação n a Psicologia Analítica:
“De modo geral, é o processo pelo qual os seres individuais se formam e se
diferenciam; em particular, é o desenvolvimento de um individuo psicológico como
um ser distinto da psicologia geral e coletiva” (SHARP, 1993: 90).
O self contém a totalidade do sujeito, inclusive as características próprias
do mesmo a serem desenvolvidas. Cabe ao ego em individuação dar vazão para
tais conteúdos se manifestarem, os quais são articulados inconscientemente pelo
self. Desta forma, o sujeito estaria realizando a si mesmo, ou seja, o ego
correspondendo ao self.
Sobre a dinâmica ego-self: “... no conflito como na colaboração entre ambos
é que os diversos componentes da personalidade amadurecem e unem-se numa
síntese, na realização de um individuo específico e inteiro” (SILVEIRA, 2003: 77).
No processo de individuação, para o indivíduo tornar-se único, é
necessário primeiramente ou mesmo simultaneamente, a estruturação do ego.
Essa estruturação do ego não se trata apenas da diferenciação do ego em relação
ao self, mas também: do recolhimento dos conteúdos projetados na sombra a
serem integrados pelo ego; da diferenciação do ego com a persona; da
conscientização e elaboração dos complexos; da integração com a anima (no
homem) ou animus (na mulher). Tais processos configuram as condições ideais
para o ego proceder a individuação, na qual o ego exerce a conscientização de
suas condições psíquicas e realiza as demandas do si-mesmo. O ego estrutura
suas condições psiquicas, distinguindo-se da consciência coletiva, a qual tende a
identificar os sujeitos com uma massa e não enquanto individuo único, para então
se proceder a relação com o self. Serão explicitados os conceitos utilizados
acima, que são pressupostos teóricos da Psicologia Analítica, fundamentais a todo
ser humano em seu processo de individuação, logo, arquétipos que se articulam
no processo de individuação.
Segundo o dicionário junguiano, dirigido por Paolo Francesco Pieri (2002), o
processo de individuação é um processo simultâneo de diferenciação e
35
integração. Apesar de parecer contraditório, a simultaniedade é exercida, tanto em
níveis diferentes, quanto, a diferenciação sendo seqüenciada pela sua integração,
simultânea ou posteriormente.
A diferenciação se presta a distinguir um conteúdo psíquico de um outro,
com os quais estaria inconscientemente identificado, a fim de realizar uma
discriminação. A integração seria a incorporação dos conteúdos diferenciados,
porém mantendo suas distinções. Sobre essas duas dinâmicas do processo de
individuação, o autor cita:
“Portanto, a diferenciação individuativa indica uma passagem
à independência e à autonomia da parte, quando se torna possível a
referência representativa ao estado originário de indiferenciação
psíquica e à sua conseqüente ineficaz dependência e heteronomia
em relação ao outro diferente de si próprio e do todo. A integração
individuativa indica, ao invés, uma passagem à dependência e à
heteronomia da parte, quando se tornar possível a referência, neste
caso, ao estado originário de oposição e de conflito e, portanto, de
ineficaz independência e autonomia em relação ao outro diferente de
si próprio e ao todo” (PIERI, 2002:256).
Uma conseqüência da individuação é a de estabelecer as diferenciações
entre distintas estruturas psíquicas, como a persona. Personas são expressões
da máscara psíquica que usamos nas relações com o mundo, que servem para
ocultar um estado interno e também para revelar traços parciais de nossa
personalidade: si-mesmo, centro ordenador da psique total, e ego, centro da
personalidade consciente. Para evitar que essas “estruturas psíquicas” estejam
inconscientemente identificadas entre si, a individuação, por meio da diferenciação
e integração, desenvolve uma articulação entre os distintos operadores da
dimensão do mundo interno, possibilitando assim a estruturação de um ser
humano “único” e organizado pelo seu próprio processo de integração. O autor
cita ainda:
36
“ ‘É importante para a meta da individuação, isto é, da realização do
si-mesmo, que o indivíduo aprenda a distinguir entre o que parece
ser para si mesmo e o que é para os outros. É igualmente necessário
que conscientize seu invisível sistema de relações com o
inconsciente...’ ” (PIERI, 2002: 259).
Existem outras “estruturas psíquicas” na psicologia analítica, como sombra
e anima/animus, que serão desenvolvidas posteriormente e que também se
incluem no processo descrito acima de discriminação dos operadores do mundo
interno.
No mesmo volume destacado acima é salientado que no processo de
individuação nós nos tornarmos o nosso próprio si-mesmo. “‘Podemos pois
traduzir “individuação” como “tornar-se si-mesmo” ou “o realizar-se do si-mesmo” ’”
(PIERI, 2002: 259).
No constante balizamento do mundo interno, no qual o ego é a capacidade
de escolha e participação ativa, existem outras entidades internas que influem
com mesma ou até maior força. Sendo assim, o ego não tem força para realizar o
processo sozinho, pois tem que se articular com seus recursos internos, e nem
mesmo tem controle sobre qual é o objetivo a ser alcançado. Segundo (PIERI,
2002: 260), o ego deve realizar com o si-mesmo ou self uma relação, nem de se
opor nem de se submeter, mas sim de se conectar ao mesmo, permanecendo em
sua órbita. Segundo o autor, o self ou si-mesmo é da ordem do indescritível,
sendo assim, sobre a relação do ego com o mesmo e sobre o conteúdo do
mesmo, nada se pode afirmar. O autor usa a palavra sentir para fazer referência à
relação que o ego estabelece com o self, uma vez que ao ego o si-mesmo é
inapreensível, o que exige uma relação num nível irracional e mais sensorial.
Sendo assim, o self, de antemão, já bloqueia qualquer tentativa de manipulação
racional do ego.
Cabe destacar que a individuação tem importante valor tanto para se assegurar
quanto para proteger a individualidade mediante as pressões do externo exercidas
37
pelo ambiente e meio coletivo. Além de oferecer proteção, a individuação fortalece
o ego a não recair no inconsciente ou sucumbir às coações advindas da ligação
entre o indivíduo e o ambiente.
Desenvolve-se na individuação: o aspecto interior e subjetivo de integração;
e o aspecto exterior objetivo na relação com o outro. Na individuação, o sujeito
além de dispor de uma organização articulada interna, empenha-se em uma
articulação externa com o outro.
Sobre o sujeito que se encontra no processo de individuação em relação ao
ambiente coletivo, o autor cita:
“Desta forma o nível interindividual da individuação é
considerado como distinção do Eu em relação aos modelos
(presentes no plano da ação interpsíquica além da representação
interpsíquica) e, portanto, como expressão da capacidade do
indivíduo de perceber-se não mais como executor automático das
normas coletivas externas ou dos hábitos já instaurados
internamente. Neste sentido pode-se dizer que, na individuação, o Eu
– retirando-se do assim chamado ‘coletivo’ – põe-se à margem dele e
constitui as bases para possível troca e verdadeira interação com
ele...” (PIERI, 2002: 261).
A autora Aniela Jaffé (1995, 76) diz: “O caminho natural para a
experiência pessoal do inconsciente coletivo é aberto pelos sonhos e, de
forma menos comum, pelas visões, alucinações, fenômenos
sincronísticos etc”.
A mesma afirma que no processo de individuação são “invocadas” imagens
do inconsciente que devem ser elaboradas conscientemente. O processo não se
trata apenas da sucessão dessas imagens, mas sim de uma complementação das
mesmas pela realidade exterior. Desta forma, ao se combinar uma imagem interior
com uma atitude em relação ao exterior, processa-se o desenvolvimento da
individualidade e destino. Como destino é entendido o desenvolver da
38
individualidade no sentido mais elevado, jamais plenamente realizado e meta
contínua da individuação.
“A individuação consiste, basicamente, em tentativas
constantemente renovadas, constantemente exigidas, de combinar
as imagens interiores com a experiência exterior. Ou, dizendo de
outro modo, é o esforço no sentido de ‘fazer tornar-se inteiramente
nossa própria intenção aquilo que o destino pretende fazer conosco’ ”
(W. Bergengruen apud Jaffé, 1995: 79).
“Nos momentos bem-sucedidos, uma parte do self é realizada
como a unidade de interior e exterior. Então o homem pode repousar
em si mesmo, porque está auto-realizado e irradia o efeito da
autenticidade” (JAFFÉ, 1995: 79).
A autora complementa a citação acima fazendo uma consideração sobre a
condição numinosa e indescritível do arquétipo do self, e considera individuação
em linguagem religiosa como a realização do divino no homem.
“Pela conscientização das conexões e imagens transpessoais e
pela experiência de sua numinosidade, reconhecemos energias que
atuam por trás do nosso ser e de nossas ações, assim como por trás
da aparente casualidade dos acontecimentos” (JAFFÉ, 1995: 81).
As situações que nos exigem uma escolha, ou que nos fazem lembrar de
intimidades, medos e alegrias, mobilizam e atualizam nossa psique, que passará a
funcionar a partir deste engajamento. No entanto, nem sempre estamos certos
sobre nossas expectativas e por vezes nos frustramos. Esses estados de
disposições do sujeito, sempre se constituem de elementos internos psíquicos que
se agrupam e se apresentam para o ego, ou pelo mesmo são manejados. A partir
das expressões internas advindas das situações que vivemos, temos a
39
oportunidade de nos dispor para uma ação, nos entender conosco, exercer nossa
criatividade e etc. Sendo assim, nossa situação interna sempre é nosso ponto de
partida, ou afinação, para as transposições das situações vividas. É o nosso fio
condutor, que quando é abalado deve prosseguir a partir desse abalo, ou quando
está estável, permanece a partir desse estado até suceder alguma mudança.
A anima, no homem, ou animus, na mulher, são arquétipos interiores que
nos revelam a totalidade dos conteúdos sobre o sexo oposto e funcionam como
guias da criatividade, permitindo-nos acessar e mesmo expressar articuladamente
nossos conteúdos inconscientes. No entanto, este trabalho não irá aprofundar
nem mesmo compor uma análise com esses conceitos, pela necessidade de
limitar e recortar nosso foco de estudo.
“Mais cedo ou mais tarde, a verdadeira individuação exige do homem
uma disposição de abandonar as pretensões da sua personalidade
em favor do self como autoridade supra-ordenada, e renunciar a elas
sem se perder. A individuação sempre encerra sacrifício, uma ‘paixão
do eu’. Mas ‘não significa exatamente deixar-se tomar; é um abrir
mão consciente e deliberado, que prova que se é capaz de dispor de
si mesmo, isto é, do seu próprio eu’. No entanto, somos conduzidos a
essa entrega livre ou voluntária de si pelo self, pelo seu impulso de
desenvolvimento e realização própria. A personalidade mais
abrangente toma o eu a seu serviço e este torna-se o representante
e o realizador do self no mundo da consciência” (JAFFÉ, 1995: 90)
Apesar de as exigências do self soarem como comandos externos, aos
quais se devem obedecer com continência, não se trata de uma relação vertical de
submissão, mas sim de uma escolha voluntária do eu em se corresponder com as
demandas do self. O self é também denominado, como já dito, como o si-mesmo.
Sendo assim, trata-se de um diálogo interno, de uma autoridade semelhante à
externa, mas sendo um aspecto interno superior da mesma pessoa, o que pode
40
afirmar que uma pessoa que desempenha tal relação com o self, obedece a si
mesma.
A relação com o self ressalta uma distância do mesmo em relação ao ego,
advinda da separação primordial para a criação do ego, como foi descrito
anteriormente. Tal diálogo com o self parece impor ao ego as limitações e rédeas
a serem seguidas e guiadas. Sendo assim, o ego se dispõe ou não a ceder a tais
limitações, desempenhando, independentemente de sua escolha, uma luta
interna. Segundo a autora, a limitação “imposta” pelo self pode soar desagradável
e ameaçadora ao ego, o qual pode se assustar ao se deparar com a falta de
liberdade despertada. Ou, em outro caso, a limitação pode ser recebida como um
despertar da alma que finalmente chegou.
“O perigo de confundir a individuação com o tornar-se um homem-
deus ou um super-homem é evidente. As trágicas ou grotescas
conseqüências desse equívoco só podem ser evitadas se o ego-
personalidade puder conduzir o entendimento com o self, não
perdendo de vista a realidade das nossas limitações humanas e da
nossa mediocridade” (JAFFÉ, 1995: 81)
A autora destaca, após a citação acima, a necessidade do ego em resistir à
influência do self, para não ser tomado pelo mesmo, para somente assim poder
torná-lo consciente em sua divindade. Isso sugere a modéstia e cautela até que se
possa de fato se conter no ego uma forma de se relacionar com o self. É citada
ainda a necessidade de se abandonar as pretensões do ego, encerrando suas
paixões, exercendo assim um sacrifício a fim de se vincular e se relacionar com o
self, uma vez que as demandas do self podem não corresponder às aspirações e
desejos do ego.
“Como em todas as questões que confinam com o transcendental, a
única resposta que a psicologia pode dar é uma resposta
contraditória: o homem é livre e não é livre. Não é livre para escolher
41
o seu destino, mas sua consciência lhe dá a liberdade para aceitá-lo
como uma tarefa que lhe foi atribuída pela natureza. Se ele toma a
responsabilidade pela individuação, submete-se voluntariamente ao
self – em linguagem religiosa, submete-se à vontade de Deus. No
entanto, a submissão não anula o sentimento de sua liberdade. Pelo
contrário, só o sacrifício o justifica e a responsabilidade por seus atos
e decisões lhe dá validade. O sacrifício é uma afirmação da tarefa
que a vida representa. Ele aponta para além do homem e, por isso,
pode levá-lo a uma autêntica experiência de significado” (JAFFÉ,
1995: 91).
No momento em que o ego escolhe se corresponder com o self, advêm os
devires, enquanto metas a serem identificadas para então serem cumpridas pelo
ego, uma vez que o ego orientado pelo self abrange suas questões existenciais,
tais como: sentido da vida, destino, etc. As implicações do ego no processo de
individuação despertam dificuldades e sentimentos irreconciliáveis. No self se
contém a totalidade e unidade, enquanto que no ego se contém as contradições e
fragmentos do self. No entanto, o ego não “sabe” ou não suporta integrar os
opostos, restando-lhe como alternativa “pedir auxílio” para o self, no intuito de se
obter uma totalidade ou de haver-se com uma resolução da contradição
despertada. As dificuldades, para conciliar tendêcias opostas constelam no sujeito
o embate entre liberdade e prisão.
“A liberdade e a prisão acompanham e condicionam a história da
evolução do homem. Sua consciência aumentou consideravelmente
de alcance, desde seu primeiro despertar, e adquiriu um forte
sentimento de liberdade” (JAFFÉ, 1995: 93).
A liberdade pode ser facilmente associada ao cumprimento dos anseios do
ego e obtenção da satisfação pelo mesmo, despertando-lhe a idéia de ser livre
para permanecer ou não em determinada situação conforme seu livre-arbítrio ou
42
livre-escolha. Já a idéia de prisão pode ser facilmente associada com a restrição
de liberdade, com o confinamento e ausência de escolha, despertando a
inevitabilidade de uma situação.
A individuação é a forma pela qual se dá o desenvolvimento da psique
humana, por meio da correspondência do ego com o self. “A consciência,
ampliando-se ao longo dos milênios, é o prémio maior da evolução, especialmente
devido ao sentimento de liberdade que comunica” (JAFFÉ, 1995: 93). A autora
complementa dizendo que o maior acesso a liberdade tem como consequência o
distanciamento da natureza, que nos protegia dando-nos instintos mais resolutos;
e que, sem eles, temos que encontrar dentro de nós mesmos condições que nos
protejam, de maneira que não precisemos ficar diluídos nas massas e
agrupamentos coletivos, pois a coletividade oferece proteção e exerce influência
sugestiva sobre o indivíduo. A autora diz que a individuação tem como significado
social o meio pelo qual o sujeito não permanece massificado.
O processo de desenvolvimento e mesmo evolução da consciência humana
por meio da realização do self é relacionado pela mesma autora como sendo a
“individuação da humanidade” (JAFFÉ, 1995: 113). A individuação não ocorre,
portanto, apenas no nível pessoal, já que um sujeito pode tomar para si o
“problema dos outros”, ou seja, conteúdos projetados pelos outros ou coletivos,
que de alguma forma combinam com o sujeito alvo da projeção devido ao fato
dele assumi-los como “problemas seus”. Sendo assim, o sujeito pode identificar
seus conteúdos a serem trabalhados a partir de um apontamento exterior dirigido
a ele. Dessa forma, o indivíduo irá trabalhar tanto seus conteúdos interiores
quanto os conteúdos exteriores projetados nele pelos outros.
“A individuação do homem tomado como indivíduo não se realiza
separadamente da individuação coletiva, mas na verdade o espírito
do tempo se realiza no indivíduo, e a imagem de Deus, especifica de
uma época, está constelada no inconsciente dele como uma imagem
da totalidade” (JAFFÉ, 1995: 114).
43
Cabe salientar que a relação abordada pela autora entre o self e Deus não
assimila os dois conceitos como significando a mesma coisa. Logo, o self não é
igual a Deus, ele apenas interage com o ego de forma semelhante a como a
humanidade se relacionou com a religiosidade e com a imagem de Deus, as quais
foram se transformando durante a história.
Apesar de tanto Deus quanto o self serem irrepresentáveis, existe a
diferença entre Deus, ou seja, objeto inapreensível, e imagem de Deus e
religiosidade, ou seja, objetos apreensíveis; assim como existe a diferença entre
self, arquétipo central inapreensível, e imagens arquetípicas, emanações do self
apreensíveis. Sendo assim, existe uma dinâmica semelhante entre os conceitos
de self e divindade no que concerne ao psiquismo do ser humano. Os conteúdos
que são expressos pelo self, imagens arquetípicas, são de uma profundidade que
só podem ser verdadeiramente assimilados se forem contemplados em suas
demandas emocionais e não apenas racionais, para assim serem assimiladas as
características numinosas ou sagradas desses conteúdos inconscientes.
É destacado pela autora que as religiões que as pessoas, desde os
primórdios até a atualidade, professavam e a representação que os mesmos
faziam de Deus ou divindade, correspondem ao processo de desenvolvimento do
self coletivo. A individuação visa à síntese dos opostos no self, concebidos de
maneira consciente pelo ego, que por sua vez engendra o processo de lidar com
as contradições até se atingir uma situação de resolução, desempenhando assim
o apaziguamento das contradições.
No processo de individuação, os ganhos obtidos se dão: na estruturação do
ego mediante as questões que o abalavam em determinada fase; e na sucessão
de estruturações a serem feitas conforme advierem novas “dificuldades interiores”.
Sendo assim, o ego que permanece no processo de individuação, durante sua
vida escala diversos níveis interiores, assimilando-os e tomando crescente
consciência de nossa realidade psicológica própria, adquirindo continuamente
auto-conhecimento. Além disso, o ego em contato com o self é guiado a levar
sua vida realizando seu “melhor destino possível”.
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Cabe destacar a função compensatória da psique, seu funcionamento padrão, à
qual tanto o processo de individuação quanto qualquer outro funcionamento
psíquico estão sujeitos. Trata-se do conflito subjacente a qualquer ação
psicológica na qual uma tese é contraposta pela sua antítese; e do choque entre
as duas cria-se a síntese, que por sua vez pode transformar-se em uma tese para
uma nova antítese e síntese. Esse é o mecanismo de auto regulação da psique,
na qual qualquer contexto exacerbado irá, como em uma balança, evocar seu
oposto, criando assim um conflito interno no qual a síntese seria a resolução e re-
estabelecimento de um equilíbrio temporário. A individuação não escapa desse
funcionamento, ela apenas prepara o ego para um “melhor desempenho” e
permite uma compensação na relação do ego com o self. Essa função
compensatória permite ainda a realização da síntese do self, ou seja, a resolução
proposta pelo self enquanto personalidade superior que ordena o ego em seus
balizamentos de tese e antítese.
Aniela Jaffé afirma que apesar de o ser humano ser diferente dos outros
animais por ter maior controle sobre seus instintos e por ter um eu consciente com
liberdade de decisão e outras, ainda assim, as ações e idéias do mesmo são
moldadas pelos arquétipos, e sua predisposição para vencer o inconsciente é
engendrada pelo self.
Capítulo III c: - Considerações sobre os conceitos de Sombra e Complexo
para a Psicologia Analítica:
Na medida em que o ego emerge e que não vive identificado com o self, o
indivíduo passa a criar sua sombra. Ainda que o mesmo permanecesse
identificado com o self, sua sombra se estenderia para sua “carência” de ego.
Sendo assim, a sombra se constitui das incompletudes e das experiências do
sujeito. A cada afirmação ou permanência, indubitavelmente se produz uma
sombra, uma vez que a mesma pode ser entendida como as não realizações do
sujeito, as quais se estendem continuamente para todo o sempre, uma vez que
em cada situação vivida apresenta uma escolha e inúmeras renúncias. Essas
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inúmeras renúncias são as possibilidades não escolhidas para uma situação, as
quais foram absorvidas ou projetadas na sombra. Uma condição básica do ser é o
não ser, pois é impossível ser todas as coisas ao mesmo tempo. Logo, todo o
infinito que continuamente se multiplica pelas escolhas rejeitadas de cada
momento “vai para” a sombra. Os conteúdos sombrios são as variadas
possibilidades não vividas pelo sujeito, que podem emergir para consciência
causando experiência de estranhamento ou mal-estar.
A sombra contém conteúdos indesejados, obscuros e ameaçadores para a
personalidade. Uma vez que o ego se configura concientemente em algo por ele
desejado, os conteúdos insconscientes que não “concordam” com a configuração
desejada são projetados na sombra. “‘o termo “sombra” se refere à parte da
personalidade que foi reprimida por causa do ideal de ego’” (WITHMONT apud
SANFORD,2007: 64).
O autor fala sobre o nexo entre o ideal de ego e as influências exercidas
pelo ambiente cultural, sociedade, família, laços sociais e regras religiosas, os
quais, por sua vez, podem operar inconscientemente no desenvolvimento do ego.
“Não há dúvida de que nossos pais são de extrema importância na
formação do ideal de ego, uma vez que eles reforçam certas
condutas, quando as aprovam, e rejeita outros tipos de
comportamento ou os punem, quando os desaprovam” (SANFORD,
2007: 65).
O autor complementa dizendo que as organizações de formação de caráter
e grupos com códigos de conduta e padrões de comportamento exercem uma
função importante na construção da personalidade consciente. À medida em que
se forma uma personalidade, cria-se uma sub-personalidade embutida na sombra.
Enquanto somos ignorantes a respeito de nossa sombra, a mesma leva uma vida
autônoma dentro nós. O autor cita que apesar de o ego não ter consciência sobre
a sombra, a mesma tem consciência de tudo o que se passa em nossa
consciência. Sendo assim, é favorável alguma canalização desses elementos
46
sombrios pelo ego, a fim de amenizar um acúmulo dos mesmos, que por vezes
perturba o ego, tido como rejeitador de suas próprias expressões.
Uma das formas de expressão da sombra segundo o autor é o senso de
humor.
“... frequentemente, quem ri é a personalidade da sombra. Isto
acontece porque o humor expressa muito das nossas emoções
subjacentes, inferiores ou temidas. Por essa razão, um outro modo
de obtermos um conhecimento da nossa sombra é através da
observação do que induz o senso de humor, já que o riso faz com
que a sombra seja liberada sem perniciosidade” (SANFORD, 2007:
69).
A sombra não se trata apenas de um receptáculo do inconsciente que
contém todos nossos medos ou vergonhas, uma vez que a mesma pode exercer
um auxílio ao ego, que por sua vez pode obter consciência e conhecimento da
mesma. Um conhecimento possível de se obter da sombra poderia ser o
reconhecimento da desonestinade e maldade interna. Tal experiência seria
benéfica uma vez que possibilitaria a percepção ou malícia para não se deixar
prejudicar em uma transação financeira ou em uma situação de perigo, por
exemplo.
Os sentimentos de raiva, quando não reprimidos pelo ego, expressam o
estado interno despertado por determinada situação. É saudável a expressão
desses sentimentos, pois essas reações liberam energias para o ego realizar suas
demandas. Sendo assim, os conteúdos sombrios permitem uma aptidão ao ego,
fortalecendo-o e dando-lhe clareza, podendo colaborar para a estruturação de
uma personalidade mais resoluta. Isso indica uma função “positiva” da sombra,
por esta nos dar energia para sanar eventuais situações de insuportabilidade
interna, permitindo uma elaboração de “novos” conteúdos psíquicos ao invés de
reprimí-los.
47
A personalidade sombria pode engendrar uma transformação no ideal de
ego, à medida que o ego entra em contato com outras possibilidades de ser.
Neste caso, a sombra revelaria ao sujeito suas potencialidades a serem
desenvolvidas. No entanto, ao lidar com a sombra, não se deve simplesmente
deixar fluir seus conteúdos em supressão ao ego, uma vez que o ego deve
interagir e não se submeter ou identificar-se.
“Individuação e totalidade tornam-se possíveis somente quando a
personalidade consciente tem uma certa atitude moral. Se as
pessoas se identificarem demais com seu lado trapaceiro, desonesto
e violento, sem um mínimo sentimento de culpa ou reflexão a esse
respeito, sua totalidade pode não acontecer” (SANFORD, 2007: 71).
O autor destaca uma importância especial exercida pelo vínculo entre pais
e filhos no desenvolvimento e elaboração do problema da sombra. A honestidade
das relações parentais no processo de criação dos filhos possibilita um
fundamento para a vida moral. Segundo o autor:
“… vida moral é fruto do passado e das ligações de uma pessoa,
assim como sua capacidade para ter sentimentos humanos. Em
algumas crianças esse vínculo nunca se estabelece e as defesas
emocionais necessárias contra o lado mais escuro da sombra
acabam não existindo ou são muito fracas. Isso acontece no
crescimento de personalidades criminosas ou sociopáticas, devido a
uma identificação do ego com a sombra” (SANFORD, 2007: 72).
A personalidade da sombra se torna mais perigosa conforme a
personalidade consciente perde o contato com ela. No entanto, não é saudável a
estimulação da personalidade sombria de forma impulsiva, mas sim, sua
estimulação sempre ponderada pela consciência moral, que dará vazão a esses
conteúdos mantendo-se a responsabilidade, consciência e independência do ego.
48
O autor cita que por ser um arquétipo, a sombra estará sempre presente em
nossas vidas.
“De fato, algumas pessoas parecem estar fadadas a viver a
personalidade da sombra para o benefício do resto de nós...” “...
esses criminosos estão tão possuídos pelo arquétipo da sombra que
são compelidos a vivê-lo vida afora. Isso significa que, até que a
espécie humana se torne mais consciente da sombra, algumas
pessoas estarão fadadas a carregá-la” (SANFORD, 2007: 75).
Sendo assim, a presença de um sujeito identificado com sua sombra advém
de uma projeção outrora dirigida ao mesmo. Tal projeção se deu por meio de uma
negação de conteúdos sombrios de uma pessoa ou grupo, que projetam os
conteúdos no primeiro que, no caso, por sua vez se identifica com tais conteúdos
e passa a viver sobre tais condições. Essa negação, que tem como seqüência sua
projeção para o externo ou para o outro, ocorre devido à insuportabilidade de se
reconhecer esses conteúdos como pertencentes ao determinado sujeito, uma vez
que isso implicaria uma difícil tarefa espiritual e psicológica para o mesmo que, ao
ter se despertado para sua sombra, sentiria os incômodos de lidar com ela.
“Projeção é um mecanismo psicológico inconsciente que ocorre sempre que uma
parte de nossa personalidade, quando ativa, não tem relação com a consciência”
(SANFORD, 2007: 77).
A projeção impede que possamos ver o outro como ele realmente é,
restando-nos ver no outro, conteúdos de nós mesmos. Continuamente nós
projetamos conteúdos internos no mundo, no entanto nem sempre reconhecemos
alguns conteúdos como pertencendo a nós mesmos. Sendo assim, para se
estruturar o ego nas relações com o outro, torna-se necessário o recolhimento da
sombra projetada para assim se reconhecer os conteúdos negados pertencentes
ao eu e então entrar em contato com o outro.
49
“Por essa razão, quando encontramos alguém que odiamos,
faremos bem em parar e perguntar a nós mesmos se nosso ódio não
teria emergido porque alguma coisa em nós, da qual não gostamos,
foi projetada sobre outra pessoa. Nem sempre será o caso. Às vezes
odiamos ou não gostamos de outras pessoas pelo fato de que elas
agem conosco de modo inconveniente, mas outras vezes este é o
caso e, quando isso acontece, o relacionamento com a outra pessoa
é severamente perturbado pelo nosso próprio inconsciente”
(SANFORD, 2007: 77).
No processo de estruturação do ego para lidar com o self,
consequentemente elabora-se a relação com o outro. Ambos os processos se
entrelaçam na mesma meta de ampliação de consciencia do processo de
individuação.
A sombra existe tanto no âmbito pessoal quanto no coletivo. O segundo
nível seriam as correspondências entre as sombras pessoais que compõem uma
massa, massa essa de pessoas que compactuam em suas projeções. “... à
medida que os indivíduos inseridos num grupo ou nação tornam-se idênticos à
consciência cultural, também eles pertencerão à sombra coletiva” (SANFORD,
2007:79).
A sombra coletiva se configura como uma conseqüência inevitável da
cultura. À medida que nos desidentificamos da sombra coletiva, damos passos
para a individualidade.
O autor diz que guerras geralmente advêm de um problema com a sombra.
Por meio da guerra obtemos um cenário ideal para projetarmos nossa sombra no
inimigo, destituindo-o de humanidade e despersonalizando-o para então matá-lo.
Os rituais de purificação impostos aos guerreiros que retornavam das guerras nas
culturas primitivas tinham o propósito de amenizar as projeções da sombra que se
encontravam exacerbados devido aos combates.
A sombra se faz presente na consciência quando o ego não tem condições
de por si próprio ter resolutividade sobre seus desejos e aspirações. Os
50
esquecimentos de compromissos indesejáveis, os lapsos e os sonhos são formas
de a sombra exercer sua influência sobre o ego. Por mais que o ego seja
inconsciente das demandas da sombra, a mesma desponta suas intenções no
nível consciente a fim de expressar seus anseios e possibilitar uma resolutividade
que o ego não estaria suprindo. A sombra se expressa em nossas fantasias,
pensamentos, desejos, vontades que, no entanto, são reprimidos ou rejeitados,
pelo ego talvez por uma tentativa de esconder esses conteúdos até dele mesmo.
“Assim, se refletirmos sobre nossos lapsos de linguagem e esquecimentos
inconscientes, podemos percorrer o outro lado de nós mesmos que tem
pensamentos e planeja atitudes que, ao nível consciente, não somos capazes de
aceitar” (SANFORD, 2007: 80). Os conteúdos da sombra não identificados se
tornam projeções, que isentam e distanciam o sujeito de suas questões, que
passam a ser tidas como pertencentes ao outro.
O autor fala sobre a dificuldade do ego em lidar com sua sombra: mostra-se
resistente nessa relação devido a um sentimento de culpa despertado. Sendo
assim, o ego tende a evitar a desconfortável culpa de assumir partes sombrias a
ele pertencentes.
“Muitas pessoas carregam um considerável sentimento de culpa na
maior parte do tempo, mas trata-se de uma culpa falsa. Isso significa
que as pessoas se sentem culpadas pelas coisas erradas e não se
responsabilizam por aquilo que, em suas vidas, seria de sua
verdadeira responsabilidade. A falsa culpa nos paralisa, mas quando
assumimos o apropriado fardo da responsabilidade pela pessoa
imperfeita que somos, então não somos paralisados, mas nossa
personalidade efetivamente cresce e se aprofunda” (SANFORD,
2007:84).
A sombra contém os complexos, que são conteúdos psíquicos advindos
dos conflitos vivenciados e dos choques emocionais, conteúdos esses que
carregam forte carga afetiva. Tais conteúdos contidos na sombra exercem
51
funcionamentos autônomos, reproduzidos pelo ego sem que o mesmo os tenha
sob controle. São funcionamentos da sombra que fazem emergir para o nível da
consciência os complexos, os quais por sua vez alteram o estado emocional do
ego, dispondo-o de uma carga afetiva de tom elevado. Essa carga afetiva elevada
se configura como impulsos autônomos que invadem o ego, podendo-o fazer agir
de forma impulsionada pelo complexo, ou seja, o ego sofre uma distorção em sua
percepção da realidade causada pela constelação de um complexo ou arquétipo.
Nas vivências de cargas afetivas elevadas, como irritação, raiva, ansiedade, o ego
ativa um complexo, o qual por sua vez pode regê-lo temporariamente.
Nas situações de testes psicológicos com palavras, nas quais um
entrevistado deve emitir sua resposta perante uma palavra a ele arbitrariamente
sugerida, mas por sua vez selecionada pelo entrevistador, é possível notarmos os
complexos quando ocorrem perturbações sensíveis ou pausas longas para a
emissão da resposta. Isso significa que o sujeito, ao se deparar com a palavra a
ele dirigida no teste, foi tocado por um complexo pessoal, tendo nele despertado
cargas afetivas, níveis de ansiedade, etc. Sendo assim, um complexo pode se
fazer presente no sujeito do teste ao se associar a ele alguma palavra estímulo.
Os complexos são conteúdos emocionais interiores dos sujeito, conteúdos
esses advindos de traumas vividos, situações intensas ou emotivas e,
principalmente, de conflitos internos vividos. Tais conteúdos se resguardam no
íntimo do sujeito e podem emergir perante algum estimulo que os ative, causando
assim uma rememoração do sujeito nos níveis sensitivos e simbólicos, racionais e
emocionais.
Quanto à autonomia exercida pelo complexo, pode se dizer que são
conteúdos sentidos como forçados ao ego, sendo que o ego não pode controlá-
los, pois eles se apresentam enquanto emoções sentidas pelo sujeito em sua
intimidade própria.
“A verdade é que não somos nós que temos o complexo, o complexo
é que nos tem, que nos possui. Com efeito, o complexo interfere na
vida consciente, leva-nos a cometer lapsos e gafes, perturba a
52
memória, envolve-nos em situações contraditórias, arquiteta sonhos
e sintomas neuróticos. O complexo obriga-nos a perder a ilusão de
que somos senhores absolutos em nossa própria casa” (SILVEIRA,
2003: 30).
A autora citada acima diz que os complexos são agrupamentos de
conteúdos psíquicos carregados de afetividade e ordenados por um núcleo de
intensa carga afetiva; e que esse núcleo se associa com outros afetos comuns e
conteúdos, exercendo assim sua vida autônoma dentro de nós. No entanto, a
potência dos complexos varia.
“‘Alguns repousam tranqüilamente mergulhados na profundeza do
inconsciente e mal se fazem notar; outros agem como verdadeiros
perturbadores da economia psíquica; outros já romperam caminho
até o consciente, mas resistem a deixarem-se assimilar e
permanecem mais ou menos independentes, funcionando segundo
suas leis próprias’” (JACOBI apud SILVEIRA, 2003: 31).
No entanto, apesar de sua característica incômoda, os complexos podem
ser estímulos e aberturas para novas possibilidades de realização. Em
contrapartida, podem-se criar as patologias e situações de adoecimento conforme
os complexos tomam para si quantidades excessivas de energia psíquica.
A autora citada elabora ainda que para se assimilar um complexo, ou seja,
torná-lo consciente e articulável para o ego, é necessário a compreensão do
mesmo tanto no nível racional quanto no emocional. Em outras palavras, é
necessário uma descarga ou expressão emocional para que conjuntamente com
essa expressão mental ou racional sejam efetuadas devidamente a assimilação e
compreensão do complexo pela consciência e ego.
Os complexos, podem advir principalmente dos conflitos e traumas
emocionais da esfera pessoal, que segundo a autora: “A maior parte dos
conteúdos do inconsciente pessoal é constituída por complexos desse tipo”
53
(SILVEIRA, 2003: 32). No entanto, são destacados pela mesma complexos de
outra natureza, por sua vez advindos de: “... feixes de forças contendo
potencialidades evolutivas que, todavia, ainda não alcançaram o limiar da
consciência e, irrealizadas, exercem pressão para vir à tona” (SILVEIRA, 2003:
33). Esse outro tipo de complexo, apesar de ser igualmente vivido pelo ego em
situações de conflito, leva dentro de si e se assenta sobre componentes
arquetípicos, os quais mobilizam no sujeito a necessidade de serem elaborados e
atualizados. Sobre tais tipos de complexos, diz a autora:
“Visto nesta perspectiva, por trás de suas características
exclusivamente pessoais, o complexo mostraria conexões com os
arquétipos, ou seja, haveria sempre uma ligação entre as vivências
individuais e as grandes experiências da humanidade” (SILVEIRA,
2003: 33).
Podemos ilustrar como exemplos de “grandes experiências da humanidade”,
o complexo materno que, advindo da relação com o arquétipo da Grande Mãe,
desponta várias indagações que tal arquétipo despertou na humanidade e de
como a luta pela separação da mãe e do ambiente familiar se trata de uma
situação criadora de complexos. Sendo assim, a existência de um complexo na
psique é algo natural do ser humano, uma vez que os complexos de natureza
arquetípica, como a saída do herói de seu ambiente familiar, por exemplo, implica
uma experiência de confronto emocional e de forte lembrança, assim como a
felicidade, perda, morte e outras situações que invariavelmente nos perturbam ou
emocionam, nos fazem sofrer ou sorrir e marcam nossa memória. “A palavra
complexo denota o elemento estrutural básico da psique objetiva, e o elemento
central do complexo é o arquétipo” (WHITMONT, 2002: 52).
O autor destacado cita o exemplo do complexo de autoridade, referindo-se
a um sujeito específico. Toda vez que o tal sujeito se deparava com uma figura
autoritária, ele se fascinava e repugnava simultaneamente. Sempre quando se
fazia presente de alguma forma a questão da autoridade, principalmente quando
54
relacionada à paternidade, o sujeito se irritava e desafiava a todos, sempre
atribuindo a culpa ao outro. Tal sujeito possui um complexo de autoridade. O
mesmo é tomado por um impulso que o desgoverna, devido a estar identificado
com esse impulso. Apesar de o impulso ser sentido como pertencendo a ele em
seu nível mais íntimo, é necessário uma diferenciação do ego com os impulsos
advindos do complexo. Ser tomado pelo complexo, ou seja, agir compulsivamente,
nos faz assumir uma posição inflada e primitiva, geralmente só nos possibilitando
dar-nos conta depois de já termos feito algo. Um constrangimento como por
exemplo “o que deu em mim, como pude fazer isso!”. Apesar de nos
responsabilizarmos por nossas próprias atitudes, nem sempre nós as temos
conscientemente. Isso faz surgir o desafio ou necessidade de nos tornarmos mais
conscientes e de não assumirmos tais impulsos como pertencentes ao ego, nos
identificando. Quando nos identificamos com o impulso, é mais comum a reação
de atribuir a culpa ao outro e de não conceber ou esperar uma outra atitude vinda
de si mesmo.
“A capacidade para evoluir para a diferenciação e a
transformação do impulso não surgirá até que o estado de identidade
seja dissolvido. Isso exige a confrontação do impulso como um Tu,
como algo diferente do Eu, como algo separado de nós. Somente
nesse ponto é que pode começar o diálogo interior” (WHITMONT,
2002: 54).
Após a diferenciação, torna-se possível uma contenção e articulação do
ego frente seus impulsos, de maneira que este não é mais manipulado por eles. O
ego obtém a capacidade de escolha e responsabilidade consciente, seja por não
se deixar levar por impulsos, utilizá-los de forma positiva ou por qualquer outra
escolha tomada pelo ego, que passaria a ter participação ativa e consciente na
própria vida, não sendo levado a realizar a si mesmo de forma inconsciente e até
mesmo trágica.
55
Por meio dos conflitos temos a possibilidade de desenvolver nossa
consciência,nos amadurecendo, ao ponto que quando não procedemos dessa
forma, somos impulsionados a ser e escolher, de forma inconsciente.
Capítulo III d - O bem e o mal na psicologia analí tica:
“O entrelaçamento de liberdade com falta de liberdade afeta o
homem de modo mais profundo no conflito entre o bem e o mal. Sou
livre para escolher o bem? Não sendo responsável por isso, estou
condenado a fazer o mal?” (JAFFÉ, 1995: 95).
O mal é tido como aspecto da sombra e sua força destrutiva interna, se não
resistida pelo ego, pode efetuar uma ação má e mesmo tornar o ego negativo ou
mau. No entanto, o bem e o mal são polaridades de uma mesma coisa e não duas
coisas diferentes. Todas as polaridades são integradas no self, encontrando-se
polarizadas apenas na percepção do ego. Sendo assim, a totalidade do bem e do
mal não estão dissociadas e o ego, nossa possibilidade de percepção, não tem
condições para perceber a totalidade.
O processo de individuação não tem como propósito a extirpação do mal,
mas sim a realização de um sujeito completo que comporte essas duas
polaridades. Como já foi descrito anteriormente, um sujeito que reprime suas
pulsões consideradas malignas, vive-as em sua sombra, as quais por vezes
podem perturbar o nível da consciência.
“Mesmo no cume mais elevado, jamais estaremos além do bem e do
mal...; pois, do mesmo modo que no passado, também no futuro todo
erro cometido, intencional ou imaginado, será vingado em nossa
alma, não importando que viremos ou não o mundo de cabeça para
baixo”.(JUNG apud JAFFÉ, 1995: 97-98).
56
A autora salienta que bem e mal não são conceitos absolutos, mas sim
julgamentos morais que variam entre as diferentes culturas. Devido a tal
relatividade e incerteza, a solução do conflito moral entre bem e mal deve ser
buscada não apenas nos códigos morais e na consciência, mas também no
inconsciente e na voz interior.
Ao se tornar consciente da própria sombra, de que a escuridão e o mal
fazem parte da totalidade inconsciente de si mesmo, o sujeito é lançado para sua
individuação. Segundo a autora, faz-se necessário por vezes que o sujeito tome o
partido da sombra, embrenhando-se em antagonismos de vontades e obediência.
“Os choques de dever são marcos no caminho da individuação,
pois ‘nada amplia mais a consciência do que essa confrontação dos
antagonismos internos’. Ela pressupõe uma responsabilidade
consciente, que é mais diferenciada do que a observância obediente
das exigências da lei. A conscientização e a ética do homem não são
testadas no cumprimento lógico dos preceitos seculares e espirituais
coletivamente aceitos, mas no modo como ele se comporta e decide
ao se defrontar com os conflitos de dever” (JUNG apud JAFFÉ, 1995:
97).
O ser humano, por exercer sua consciência a partir do ego, lida sempre
com fragmentos de uma totalidade e por vezes depara-se com as oposições ou
polaridades, o que gera um grande conflito.
“A totalidade do ser humano se desenvolve na capacidade
voluntária e consciente de suportar o conflito, na solução dele
através de uma decisão ou de uma aceitação. A causa de ser
empurrado em duas direções, colocado entre o sim e o não, entre a
vontade e a contra-vontade, entre o bem e o mal, encontra-se no
arquétipo do self transcendental, onde os opostos estão preformados
potencialmente” (JAFFÉ, 1995: 99).
57
Nas culturas e religiões passadas, recorrentemente foi dissociada a unidade
bem e mal, sendo cada uma das partes projetadas em divindades distintas,
geralmente antagônicas entre si.
“A separação entre um deus mau e um deus bom é ainda maior no
mito iraniano (ou persa) de Aura-Mazda e Arimã. Aura-Mazda é
quem derrama a vida, a luz, a verdade e as bênçãos sobre os
homens. De Arimã procedem a morte, as trevas, as mentiras e as
doenças dos seres humanos. O mundo onde vivem os homens é o
campo de batalha desses dois deuses, que disputam como prêmio
as almas humanas. Arimã não luta sozinho. Enquanto príncipe dos
demônios, ele comanda uma tropa de devas, seres malignos
devotados ao embuste e à falsidade. Assim como seu mestre, eles
se empenham em destruir o poder do bem que Aura-Mazda
representa e pretendem encaminhar a humanidade para o mal.
Antes, a oposição entre bem e mal ou entre luz e sombra nunca tinha
sido tão claramente configurada como na religião iraniana.”
(SANFORD, 2007: 28).
Na cultura descrita acima, as pessoas da comunidade eram avaliadas como
estando sob influência ou domínio de Arimã quando colaboravam para o mal,
enquanto que os outros que não recebiam a projeção do mal agiam sempre
passíveis a serem relacionados com a dinâmica dos dois deuses.
São apontadas pelo autor outras culturas e religiões com características
semelhantes às descritas acima. Religiões egípcias e escandinavas, por exemplo,
retratam deuses irmãos, um bom e o outro mau. O irmão mau tenta destruir o
bom, sempre conseguindo quando o bom assume uma posição inflada,
concebendo-se invulnerável. No entanto, a divindade do bem, quando vencida
pelo mal, sempre assume uma nova forma, mantendo-se enquanto divindade que
58
se opõe ao mal, ou mesmo transformando-se em outra divindade, o que configura
uma transformação cultural religiosa, inovando as crenças de determinada cultura
ou comunidade.
Em muitas culturas de dois deuses, um representando o bem e outro o mal,
os mesmos eram concebidos como deuses criadores, em que um criava as coisas
belas e boas, como as árvores, lagos e campos e animais dóceis, enquanto o
outro criava as coisas más, como as montanhas escarpadas, os desertos, os
insetos e os animais vorazes. Um associado à vida e saúde; e outro à morte e
doença. As projeções do bem e do mal foram dirigidas à natureza, nas sensações
e conteúdos que a mesma despertava nos homens.
O mesmo autor destacado acima cita o maniqueísmo, doutrina criada por
Mani, nascido na Pérsia por volta do ano 215 d.C.
“Mani ensinava que a luz e treva, bem e mal, criação e destruição
estão em conflito constante. Como os gnósticos, ele relacionava o
mundo do espírito com o reino do bem, enquanto o mundo material
estava ligado à escuridão e ao mal. O homem vive aprisionado no
mundo das trevas e do mal porque ele vive preso em seu corpo. A
salvação do homem consiste em separar-se do seu corpo, através do
conhecimento verdadeiro, além da rejeição às paixões e ao apetite
sexual, que mantêm o ser humano cativo do mal, do principio
material” (SANFORD, 2007: 29).
O autor complementa a citação acima fazendo referência a santo
Agostinho, século IV d.C., enquanto pensador que fazia um contraponto ao
pensamento de Mani. O autor diz que santo Agostinho reformulou a idéia do mal
enquanto privação, ou ausência do bem. Como exemplo de mitologias e religiões
que não personificavam o mal na figura de uma divindade isolada, o autor cita o
politeísmo Grego, que por sua vez não atribuía a total projeção do mal em
qualquer divindade. O mal era um agente que percorria a todos os deuses quando
os mesmos exacerbavam em seus sentimentos de raiva, inveja, orgulho, etc.
59
Sobre a religião persa anteriormente citada, o autor destaca: “Na linguagem
mitológica, não se pode reverenciar uma divindade benéfica, ligada à luz e ao
amor, e negligenciar a divindade-irmã das trevas e do mal. Exatamente quando
Aura-Mazda procura estabelecer sua hegemonia sobre o mundo é que Arimã
guerreia contra ele” (SANFORD, 2007:36). Sobre a religião dos gregos, o mesmo
cita: “Apenas entre os gregos não existe guerra entre os deuses – talvez disputas,
mas não guerras. Isso porque esses deuses e deusas eram sábios demais para
se pretenderem bons” (SANFORD, 2007: 36).
O autor reflete sobre a igualdade, que funciona como uma balança entre as
cargas de bondade e maldade. Quando se projeta muita luz em uma divindade,
necessariamente se projetará o mesmo coeficiente de sombra em uma outra
divindade que existirá conjuntamente à primeira, o que indica uma semelhança
entre o funcionamento psíquico com a mitologia, que personifica as forças
psíquicas arquetípicas. Relembramos que as personificações do bem e do mal
realizadas pelas culturas passadas, são denominadas pela psicologia moderna
como arquétipos ou complexos autônomos, os quais influem na sorte e destino
dos homens, ultrapassando a capacidade de apreensão pelos mesmos. “Se
ultrapassamos os limites de nossa capacidade natural para o amor e a bondade,
acabamos criando dentro de nós mesmos a parcela exata oposta de ódio e
crueldade” (SANFORD, 2007: 35).
Tal passagem destacada acima indica que sombra e luz compõem uma
totalidade, uma vez que ao se exacerbar na capacidade de amor e bondade, que
seria a parte correspondente à luz, cria-se a mesma quantidade de sombra, cuja
parte correspondente seria o ódio e crueldade. Devido à dinâmica de uma parte
ser compensada pela outra em parcelas iguais, pode-se pensar em se tratar de
duas partes que compõem uma totalidade, que poderia ser metaforicamente
pensado como a figura de uma balança que contém o mesmo peso em cada
prato, sendo a totalidade a unidade da figura de uma balança em equilíbrio. Toda
unidade, assim como a balança, pode representar metaforicamente a totalidade.
No entanto, a balança em equilíbrio representa partes iguais que se completam
em uma unidade, visto que partes iguais em uma balança, quando alteradas em
60
alguma das partes, é compensada pela outra, indicando que uma parte afeta a
outra. O autor cita diversas culturas que não utilizavam os reguladores para o mal,
como os usados em religiões polarizadas com deuses perseguidores, ou nos
sistemas de lei e punição para manter-se a ordem. Ele cita tribos indígenas onde
a própria palavra e seu cumprimento mantinham a ordem, enquanto que os
“desonrados” eram punidos pelo ostracismo ou pela rejeição pela comunidade.
Na religião judaico-cristã, os conteúdos malignos e benévolos são
incorporados na figura do Deus único. Apesar de ser usada a figura do diabo
como aquele que reina no inferno punindo as almas dos maus, muitas passagens
da bíblia fazem menção ao deus único que contém em si tanto o bem quanto o
mal. “'Bem' e 'mal' são aspectos da imagem arquetípica de Deus e, juntos,
pertencem à totalidade do homem e da vida” (JAFFÉ, 1995: 101).
O mecanismo de projeção da sombra se dá quando o ego ainda não tem
condições de os assimilar. No entanto, enquanto o ego não recolhe e assimila
suas projeções, ele permanece em uma situação estagnada, não trazendo para si
e para o mundo o novo, mas sim suprimindo-o. No processo de individuação
desperta-se o herói, que enfrenta o desconhecido de si e do mundo e
posteriormente retorna energizado, trazendo o novo.
A projeção necessita do bode expiatório, que serve como justificativa para
permanecer-se confortável perante a não realização do novo, que se reconcilia
com o velho, dando-lhe continuidade e desenvolvimento.
Segundo Edward F. Edinger (2000), a unidade, ser sozinho e
indivisibilidade, constituem marcas de individualidade, enquanto que a
multiplicidade e a dispersão correspondem ao oposto da individualidade,
representando o processo de quebra da unidade, desmembramento e dispersão.
“A dispersão, ou multiplicidade, como condição psicológica, pode
ser vista do ponto de vista interno e externo. Vista a partir de dentro,
trata-se de um estado de fragmentação interna que envolve certo
número de complexos relativamente autônomos que, quando
tocados pelo ego, provocam mudanças de disposição e de atitude e
61
levam o indivíduo a perceber que não é uno, mas múltiplo. Do ponto
de vista externo, a multiplicidade se manifesta através da
exteriorização ou projeção de partes da psique individual no mundo
exterior. Numa tal condição, a pessoa encontra seus amigos e
inimigos, esperanças e temores, fontes de apoio e ameaças de
fracasso concretizadas em pessoas, objetos e eventos externos.
Num tal estado de dispersão, não pode haver experiência de
individualidade essencial. Encontramo-nos sujeitos às ‘dez mil
coisas’” (EDINGER: 2000: 236).
Tal autor cita santo Agostinho, referindo-se à expressão “dez mil coisas” do
parágrafo destacado. “Agostinho diz:... ‘toda alma aferrada à amizade pelas coisas
perecíveis é desgraçada – despedaça-se quando as perde, e então percebe a
miséria em que estava mesmo antes de as perder’” (AGOSTINHO apud
EDINGER, 2000: 236).
O bem e o mal, além de concepções e atitudes frente a vida e aos outros,
tratam-se da disposição interna do sujeito, de como ele se percebe e como de fato
está sua situação. Sendo assim, esses dois opostos são atribuições valorativas,
qualidades que servem para julgarmos a nós mesmos e aos outros. No nível da
consciência do ego, são tidos como antagonismos, mas no self formam uma
unidade que compõe a totalidade. Sendo os julgamentos do ego passíveis de
estarem errados, podemos pensar estarmos de uma forma, mas na verdade
estamos de outra e nos surpreendemos por termos nos julgado errado. No
entanto, julgamentos são tentativas de compor uma totalidade, algo que o ego não
é capaz. Sendo assim, todos julgamentos são passíveis de estarem errados, pois
o bem e o mal no self são a mesma coisa. O self é capaz de fazer o julgamento da
totalidade, para tanto não é usado o bem e o mal, nem o certo e o errado, mais
sim a totalidade.
62
Capítulo IV – Método:
O objetivo deste trabalho é refletir sobre o arquétipo do herói sob a ótica da
Psicologia Analítica e da Mitologia. Para tanto serão analisados os três primeiros
episódios da saga cinematográfica Star Wars, fazendo-se um recorte que
privilegie a compreensão dos aspectos psicológicos presentes no personagem
que encarna o Herói, Anakin Skywalker, que torna-se Darth Vader no final do
terceiro episódio. Embora meu interesse inicial fosse abordar os seis episódios
que compõem a saga completa, optei por reduzir meu propósito em função das
limitações de tempo, que obrigam freqüentemente o pesquisador a lidar com suas
frustrações impostas pela realidade concreta.
A tradução dos fatos ocorridos nos episódios visará a sua compreensão, de
modo a tornar conhecido o material desconhecido ou obscuro.
Será utilizado o método da Psicologia Analítica, que aborda os fenômenos
psíquicos de forma simbólica arquetípica, permitindo a integração entre aspectos
da subjetividade e da objetividade, assim como entre a individualidade e a
coletividade.
Segundo Penna, (2003): “Como ponte entre o mundo arquetípico, o mundo
da consciência e o mundo externo, o símbolo se constitui o fenômeno psíquico
apreensível e compreensível” (PENNA, 2003: 213).
Será feita uma intersecção entre fatos e acontecimentos recortados dos
filmes como relevantes à compreensão do herói, sua função, significado e
percurso, e os fundamentos teóricos desenvolvidos na parte inicial do estudo.
Utilizar-se-á a amplificação simbólica, técnica desenvolvida por Jung na
interpretação de sonhos de pacientes. Diz Penna (2003) que:
“O processo de amplificação simbólica proposto por Jung
consiste em ampliar e enriquecer os elementos do símbolo através
de associações e analogias que fluem numa cadeia contínua de
similaridade, visando a traduzir e interpretar o material desconhecido
63
do símbolo. O ato de ampliar e enriquecer o símbolo, por meio de
analogias diversas, favorece a compreensão de seu significado
arquetípico pela diversidade de possibilidades oferecidas ao ego
para captar o aspecto oculto do símbolo e encontrar o significado que
mais sentido faça para a consciência atual” (Penna, 2003: 195).
Ainda segundo a autora “Os símbolos coletivos ou culturais, na
amplificação, revelam seus aspectos arquetípicos prospectivos, fornecendo um
entendimento ampliado da situação atual e futura da coletividade, além de sua
conexão com a história passada” (Penna, 2003: 197).
O método da Psicologia Analítica envolve uma participação ativa do
pesquisador: no caso deste estudo, houve a escolha do tema a ser pesquisado,
um recorte feito a partir desta escolha e a análise e discussão refletirá um diálogo
entre pesquisador e pesquisado, onde este se transformará. O conhecimento será
produzido nesta troca, que nos atingirá de forma consciente e inconsciente.
Portanto, é necessário um distanciamento que permita que se reflita sobre o
material produzido.
No capítulo que se segue, o da apresentação dos resultados, será abordada
brevemente a influência histórica presente nos filmes, e depois constarão as
sinopses dos três primeiros filmes.
64
Capítulo V – Resultados :
Capítulo V a - A influência histórica subjacente ao s filmes:
Antes da apresentação das sinopses, serão destacadas algumas
passagens sobre estudos que foram realizados para a elaboração dos filmes.
A coleção de filmes que compõem a saga Star Wars contou com uma série
de estudos históricos para assim se compor o roteiro. Existe uma correlação entre
o roteiro do filme com eventos históricos passados. No livro: Star Wars e filosofia,
coordenado por Willian Irwin (2005), são apontados alguns desses elementos,
destacados abaixo:
“Os monges budistas viajando por toda a China, Coréia e Japão
partilhavam suas artes marciais com pupilos dignos. Cerca de meio
século depois da fundação de Shaolin Kung-fu, o rei Sila, na
península coreana, convidou monges budistas para treinar uma
ordem de guerreiros de elite, que seriam conhecidos como Hwa
Rang. Eles deveriam servir ao reino, garantir a justiça e manter a
ordem social. Eram uma ordem monástica treinada não só em artes
marciais, mas também nas artes de cura, em ch'i kung taoísta, nas
artes da liderança política e diplomacia, bem como na filosofia
budista. Assim como os Jedi, os Hwa Rang eram escolhidos em uma
idade bem jovem, treinados para terem uma mente pura e seguirem
um rígido código ético de lealdade, honra e serviço. Eles também
tinham autoridade sobre os demais militares, como acontece com os
Jedi em Ataque dos Clones.
O Budismo foi introduzido no Japão por meio da Coréia, trazendo
consigo as artes marciais budistas que formam a base do jiu-jitsu. No
Japão, os Sohei, uma ordem de monges guerreiros parecidos com os
Hwa Rang, foi criada. Eles viviam em mosteiros nas montanhas em
65
torno da capital imperial de Kyoto. Seu considerável poder político
acabou criando-lhes problemas com o Xogum (governante militar da
classe guerreira, os samurais), culminando, no século XVI, com a
destruição por parte dos samurais do complexo monástico Sohei,
matando a maioria dos monges, de modo semelhante ao que ocorre
com os Jedi, que quase são dizimados em A vingança dos Sith.
Alguns Sohei se esconderam, misturando-se aos monges não-
militantes, e com o passar do tempo eles ensinaram suas artes
marciais a outros monges e a alguns samurais. Finalmente, as artes
marciais budistas se tornaram o centro do treinamento samurai.”
(IRWIN, 2005: 48)
“A espada é a alma de um samurai. O relacionamento que um
samurai tem com sua espada é como o de um Jedi com seu sabre de
luz. O nome 'Jedi' deriva da era samurai dos espadachins chamados
Jidai geki, cuja tradução literal seria 'a era do drama', referindo-se
aos cenários ou temas de inspiração samurai usados nas artes
dramáticas japonesas. A túnica em estilo de quimono do Jedi se
baseia, informalmente, nas vestimentas dos samurais, com o
acréscimo de um capuz medieval para dar mais um toque monástico.
O capacete e a armadura de Vader também se baseiam naqueles
usados pelos samurais. A luta de espadas na trilogia original de
Guerra nas Estrelas reflete o caminho da espada chamado Kendo,
derivado da tradição samurai. Já na trilogia inicial, vemos estilos de
luta de espada baseados mais em kung-fu.” (IRWIN, 2005: 48-49)
Tais passagens indicam que os filmes tiveram o propósito de retratar
questões do ser humano, visto que a elaboração dos mesmos foi baseada em
passagens históricas transcorridas no extremo oriente. Além do mais, o produtor
do filme, George Lucas, teve contato com o mitólogo Joseph Campbell, que por
sua vez traçou diversas semelhanças entre as diferentes culturas humanas,
levantando a questão do herói e do mito como sendo elementos universais e de
66
relevância para o desenvolvimento da consciência, tema que concerne às ciências
humanas e à psicologia.
Capítulo V b - Sinopses:
Episódio I – A ameaça fantasma:
O filme começa com uma nave se aproximando de uma base espacial e
pedindo autorização para pousar. No painel da nave aparece um holograma do
líder da estação espacial, o piloto lhe fala que os representantes do embaixador
então a bordo e desejam pousar. O líder da estação espacial concede o pouso de
maneira suspeita e a nave pousa. Os representantes do embaixador são dois Jedi,
um mestre, Qui-Gon Jin, e seu aprendiz, Obi-Wan Kenobi. Eles são recepcionados
por um andróide e levados para uma sala de reunião para aguardarem. O líder da
estação espacial é o vice-rei da Federação do Comércio, uma entidade que
controla taxas comerciais da República Galáctica. Seu nome é Nute Gunray e sua
base espacial está bloqueando as relações do planeta Naboo. O andróide vai até
o líder da estação espacial e diz que os embaixadores são Jedi, o que deixa o
vice-rei muito surpreso e com medo, levando-o a contactar Sidious. Aparece então
um holograma com a imagem de Darth Sidious, um poderoso Sith. Os Sith são os
arquiinimigos dos Jedi. Sidious ordena que sejam desembarcadas as tropas para
invadir o planeta e que os Jedi sejam assassinados imediatamente. Nute proclama
em relação à aprovação do senado, mas Sidious lhe garante proteção e diz ter
controle do senado.
Os Jedi, já bastante desconfiados com a demora, repentinamente ouvem
uma explosão e se levantam de prontidão, ligando suas espadas lasers. O barulho
tinha sido a explosão da nave que os transportava por canhões da base espacial.
Os Jedi começam a ser caçados por dróides dentro da estação espacial e
desembarcam escondidos juntos com as tropas dróides na invasão no planeta
Naboo. Chegando ao planeta, em meio às perseguições dróides, os Jedi se
deparam com um nativo, Jar Jar Binks, membro de uma avançada comunidade
67
subaquática da qual havia sido banido. O mesmo passou a perseguir os Jedi,
dizendo que os Deuses exigiam que ele agora fosse seu humilde servo, pois teve
sua vida salva pelos mesmos. De início os Jedis dispensam a oferenda de
servidão, mas devido a eles terem que se transportar até a capital de Naboo e
estarem muitos afastados e a pé, eles então exigem que Jar Jar Binks os levem
até sua cidade.
Logo após a chegada na cidade, os Jedis e Jar Jar Binks foram levados à
presença do líder da cidade que após contrariedades cedeu um transporte para
Naboo aos Jedi, no qual acabaram levando Jar Jar Binks junto, alegando que os
Deuses exigiam que sua vida fosse de Qui-Gon, por este tê-lo salvado a vida dos
tanques e lasers. Sendo assim os três personagens partem em um pequeno
veículo aquático cruzando o núcleo do planeta até chegarem a Naboo. Os Jedi
localizaram a líder de Naboo, a Rainha Amidala, sendo escoltada por dróides, eles
então destróem os dróides e fogem levando a Rainha, suas damas de companhia
e alguns soldados e pilotos, indo todos juntos em uma nave espacial até a capital
da República para denunciarem o crime da Federação do Comércio. No entanto
na saída do planeta a nave se depara com um bloqueio de várias naves dróides
atirando, o que causou danos na nave, que ainda assim conseguiu escapar graças
aos reparos feitos pelo dróide R2D2, contudo a nave não tinha condições de
chegar até a capital da República, tendo que pousar em Tatooine, um planeta
desértico e marginalizado pela República, para fazerem os reparos na nave.
O vice-rei Nute Gunray contacta Sidious, que por sua vez logo pergunta
onde estão os contratos de concessão assinados pela Rainha. Nute lhe diz que a
Rainha sumiu e que uma nave passou pelo bloqueio e agora estava fora do
alcance dele. Sidious lhe diz que enviará seu aprendiz Darth Maul para localizar a
nave.
Ao pousarem no planeta, Qui-Gon, R2D2, Jar Jar e a dama de companhia
da rainha Padmé, vão até a cidade para comprar as peças para a nave. Eles
entram em uma pequena loja de peças usadas, na qual encontram o que
precisam; no entanto o proprietário diz que o dinheiro da República não valia nada
naquele planeta e ainda diz que ninguém além dele iria ter aquelas peças. Qui-
68
Gon então se retira enquanto a dama de companhia Padmé conversava com um
escravo do proprietário, um garoto de dez anos chamado Anakin. Qui-Gon chama
a todos e sai do recinto e Anakin completa rapidamente seu serviço e é liberado
para ir para casa. No caminho Anakin encontra Jar Jar que havia ficado para trás
do grupo e se envolvido em uma briga. Anakin neutraliza o conflito enquanto os
outros voltavam para buscá-lo. Começa uma tempestade de areia e Anakin
oferece abrigo para todos em sua casa. Todos o seguem até sua casa, aonde são
apresentados para sua mãe.
Anakin mostra para a dama de companhia Padmé e para o dróide R2D2,o
dróide que ele está montando, C3PO, e depois todos vão à mesa de jantar. Anakin
pergunta a Qui-Gon o que eles estavam fazendo em seu planeta e Qui-Gon diz
que está em uma importante missão, mas que sua nave quebrou. Anakin pergunta
se Qui-Gon é um Jedi, pois vira sua espada pendurada na cintura, Qui-Gon
confirma e Anakin diz ter sonhado que era um Jedi, e que ele libertava todos os
escravos de seu planeta. Anakin e sua mãe revelam que a única alternativa de
conseguir o dinheiro para as peças seria por meio das apostas em torno das
corridas de Pod. Anakin se propõe a correr na corrida e dar o prêmio para Qui-
Gon. Após algumas contrariedades a idéia é aceita e Qui-Gon negocia uma
aposta com o proprietário da loja de peças. Qui-Gon, em uma conversa com a
mãe de Anakin, pergunta quem era o pai do mesmo: a mãe revela que não houve
pai e que simplesmente ficou grávida e o concebeu e o educou. Ela ainda diz que
ele tem poderes especiais, que prevê as coisas antes que elas aconteçam. Todos
vão para a corrida. Anakin teve seu Pod (veículo de corrida) sabotado por um
adversário com quem tinha desavenças, mas mesmo assim supera várias
dificuldades da corrida e vence. Qui-Gon cobra o vendedor de peças e nos termos
da aposta estava a libertação de Anakin caso ele vencesse. Qui-Gon pega as
peças e diz que pegaria mais tarde o menino. Qui-Gon leva as peças para a nave
junto com Padmé, R2D2 e Jar Jar, e ordena que Obi-Wan as instale na nave, para
voltar sozinho e buscar Anakin. Qui-Gon chega junto com Anakin à casa de sua
mãe, dando para a mesma o dinheiro que sobrou da aposta. Qui-Gon diz para
Anakin na presença de sua mãe que ele não era mais um escravo, mas que não
69
conseguiu libertar sua mãe. A mãe saúda seu filho, dizendo que agora ele estava
livre para realizar seus sonhos e que o lugar dela era naquele planeta; ela
pergunta para Qui-Gon se ele poderia levá-lo junto. Qui-Gon diz que o levaria e
que não foi por acaso que veio a tal planeta, diz que era a vontade da Força levar
Anakin e lhe oferecer um treinamento Jedi. Anakin aceita mesmo perante as
advertências de Qui-Gon sobre as dificuldades de ser um Jedi. Ele se despede de
sua mãe e parte junto com Qui-Gon. Perto da nave eles são atacados por Darth
Maul. Qui-Gon ordena que Anakin corra para a nave e que os mande levantarem
vôo. A nave passa por trás de Qui-Gon com a porta aberta e ele rapidamente pula
dentro da mesma deixando Darth Maul para trás.
Durante a viagem espacial Padmé fica ainda mais próxima de Anakin, que
sentia falta de sua mãe. Anakin lhe dá uma jóia que ele havia esculpido para ela
que lhe agradece.
A nave chega a Coruscant, a capital da República da Galáxia, um planeta
com a superfície inteiramente coberta por cidade. Na plataforma de pouso os
aguardavam o Senador Palpatine, consultor da rainha Amidala sobre as situações
do senado, e o Supremo Chanceler Valorum, líder do Senado. A Rainha é
saudada pelo Chanceler, que lhe diz que todos estão preocupados com a situação
e que havia convocado uma sessão especial do senado para ouvi-la. A Rainha
agradece e rapidamente se dirige para a sua nave de transporte acompanhada
pelo Senador Palpatine. Anakin fica sem saber aonde ir, visto que Qui-Gon ficou
para trás conversando com o Chanceler. Padmé chama Anakin e Qui-Gon sinaliza
para ele ir com ela.
A Rainha se retira para posteriormente se encontrar com o Senador
Palpatine. Neste encontro ele lhe fala que a República não funciona mais e que o
Senado não atuará contra a invasão de Naboo devido à falta de poder do
Supremo Chanceler, que não controla os burocratas. A Rainha pergunta quais são
as opções e Palpatine diz que primeiro deve-se forçar a eleição de um Chanceler
mais forte e que a Rainha poderia questionar a posição do Chanceler Valorum. A
Rainha desaprova e Palpatine diz que a outra opção seria submeter o pedido de
intervenção contra a invasão ao tribunal. A Rainha protesta dizendo que o tribunal
70
tardaria muito na resolução e que seu povo não pode esperar. Palpatine a
aconselha a aceitar por ora o controle da Federação do Comércio.
Qui-Gon vai ao conselho Jedi para reportar os ocorridos. Diz sobre a
aparição de um guerreiro negro que o atacou e que ele pensa se tratar de um Sith.
Todos do conselho ficam surpresos e Mestre Mace Windu lhe diz que os Sith
foram extintos há milênios e que não voltariam sem o conhecimento do Conselho.
Mestre Yoda, a maior autoridade dos Jedis, diz que é difícil ver o lado negro. Qui-
Gon diz ter encontrado um ponto de convergência na força. Mace Windu pergunta
se foi em uma pessoa e Qui-Gon confirma, dizendo que é um menino que foi
concebido pelos midiclorians e que não foi coincidência tê-lo encontrado. O
Conselho lhe pergunta se trata da profecia do escolhido e Qui-Gon revela sua
opinião dizendo que sim e que o menino deveria ser testado. É marcado um
encontro para se avaliar Anakin perante o conselho.
Anakin é levado ao conselho Jedi para ser avaliado. Após passar nos
exames básicos de aptidão Jedi, Mestre Yoda lhe pergunta como ele se sente. Ele
responde que está com frio e sente falta de sua mãe. Yoda diz que sente muito
medo em Anakin.
Na sessão convocada do Senado, o Senador Palpatine introduz a Rainha
Amidala, que por sua vez diz que seu planeta foi invadido pela Federação do
Comércio. Rapidamente os mesmos levantam-se e respondem com indignação
dizendo que são mentiras e que recomendam que vá uma comissão à Naboo
investigar as acusações. O Supremo Chanceler aceita a recomendação perante a
pressão de Senadores e a Rainha proclama contra o senado dizendo que aquela
assembléia é incapaz de resolver imediatamente aquele ataque e que seu povo
não deveria aguardar uma comissão. A Rainha completa, momento em que o
senador Palpatine dá um malicioso sorriso, dizendo que a liderança do Chanceler
Valorum não é digna de confiança. Imediatamente a assembléia se exalta por
votações e o Chanceler se senta silenciosamente mostrando-se pasmo.
Após a sessão do senado a rainha se recolhe e posteriormente ouve Jar Jar
enquanto observa calada a vista de seu aposento. Jar Jar lhe diz que seu povo
possui um grande exército que jamais se entregam sem lutar. Entra
71
repentinamente o Senador Palpatine. Palpatine diz ter se candidatado para
Chanceler e que toda essa situação irá lhe dar um voto a favor. A Rainha anuncia
que irá voltar para Naboo e que não assinará nenhum tratado e que irá se juntar
ao seu povo e sai rapidamente ordenando que seu guarda prepare sua nave.
Ao anoitecer Anakin volta ao Conselho na presença de Qui-Gon e Obi-Wan.
É anunciado que ele não seria treinado, pois o seu futuro do mesmo não estava
claro. Qui-Gon diz que aceita Anakin como seu discípulo. Yoda diz que ele já tem
um discípulo e que é impossível ter outro, pois o código proíbe. Qui-Gon diz que
Obi-Wan pouco tem a aprender com ele já estando pronto para os testes. Windu
diz que agora não era hora para isso, pois eles deveriam escoltar a Rainha
Amidala de volta a Naboo e investigar sobre o mistério dos Sith. Yoda diz que a
sorte do jovem Skywalker seria decidida depois.
A tripulação que havia partido de Naboo agora volta para embarcar na
nave. Obi-Wan questiona Qui-Gon sobre a atitude do mesmo frente o Conselho
Jedi e quanto à persistência em treinar o garoto que foi considerado perigoso. Qui-
Gon diz a Obi-Wan: “O destino dele é incerto. Ele não é perigoso. O conselho
decidirá o futuro dele. Satisfaça-se com isso. Embarque já”. Obi-Wan se dirige
calado para a nave. Anakin se aproxima de Qui-Gon e diz que não quer ser um
problema. Qui-Gon lhe diz que ele não será um problema e diz para ele não
esquecer que: “o seu foco determina a sua realidade”. Anakin lhe pergunta o que
são midi-clorians e Qui-Gon responde: “São formas de vida microscópica que
estão em todas as células vivas. Somos simbiontes com elas. Formas de vida
vivendo juntas para vantagens mútuas. Sem midi-clorians a vida não existiria... e
não conheceríamos a Força. Falam sempre conosco... nos dizendo da vontade da
Força. Quando aprender a se concentrar, irá ouvi-los. Com tempo e treinamento
você irá entender”.
Todos embarcam na nave e iniciam a viagem de volta para Naboo. Qui-Gon
questiona a Rainha, diz que não entendeu porque estavam voltando e que ele
apenas pode protegê-la e não lutar contra um exército. A Rainha chama Jar Jar e
pede para que ele dê as coordenadas de seu povo para se aliar ao exército deles
contra a Federação do Comércio.
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A nave chega a Naboo e pousa afastada da capital, perto da localidade do
povo Gungan. Jar Jar conduz todos ao encontro do seu povo, aonde são
recepcionados asperamente pelo líder e pai de Jar Jar. A Rainha toma a frente
dizendo sobre a invasão, mas Padmé a interrompe e revela que ela é que é a
Rainha de Naboo e que a outra era o seu disfarce de segurança. Ela então pede
ajuda dizendo que eles sempre viveram em paz até a chegada da Federação do
Comércio, e faz um pedido de ajuda ajoelhada dizendo que implora pela ajuda do
povo Gungan. O líder fica contente com o gesto de humildade e diz que todos
agora podem se tornar amigos. Posteriormente todos juntos elaboram o plano de
o exército Gungan afastar os dróides da cidade para uma guerra em campo
aberto, enquanto a rainha e seu grupo invadem a cidade para seqüestrarem e
forçarem Nute Gunray a um acordo.
A guerra começa entre os Gungan e os dróides enquanto a tropa da rainha,
incluindo os dois Jedi, Anakin e R2D2, invadem o Palácio. Ao chegarem a uma
pista de pouso interna, alguns pilotos pegam suas naves e partem para atacar a
base espacial da federação do comércio. Anakin e R2D2 sobem a bordo de uma
nave de combate para se protegerem dos tiros e Qui-Gon manda que eles fiquem
ali.
Todos são surpreendidos por Darth Maul, a Rainha e seus soldados
desviam para encontrarem com Nute Gunray. Qui-Gon e Obi-Wan lutam juntos
com suas espadas lasers contra Darth Maul. Anakin acidentalmente liga o piloto
automático da nave de combate e é levado até a zona de combate. Enquanto o
povo Gungan bate em retirada, perseguidos pelos dróides, Anakin entra com a
nave dentro da base espacial e com um tiro certeiro destrói o reator principal que
manda sinal para todas as unidades dróides, fazendo com que todo o exército
parasse de funcionar. A rainha Amidala consegue seqüestrar o vice-rei e forçar um
acordo. Enquanto os Jedi prosseguem o combate, Qui-Gon fica temporariamente
isolado de Obi-Wan por um campo de força, lutando com Darth Maul, que por sua
vez atinge fatalmente Qui-Gon com sua espada laser. Obi-Wan, que assistia a luta
se prepara, pois o campo de força iria abrir e ele logo iria combater Darth Maul.
Eles começam a luta e Obi-Wan perde sua espada e é empurrado em um
73
profundo poço, ficando pendurado próximo da queda. Darth Maul aguarda alguma
idéia de como atingir Obi-Wan e de vencer o combate, mas Obi-Wan em uma
manobra inesperada salta por cima do inimigo enquanto usa o poder Jedi de atrair
objetos para a mão, atraindo a espada de Qui-Gon e então corta Darth Maul ao
meio.
Obi-Wan então corre para seu mestre, que estava caído no chão e o toma
em seus braços. Este por sua vez lhe fala carinhosamente que é tarde de mais.
Obi-Wan, lamentando não poder ajudá-lo, ouve suas últimas palavras: “Prometa
que treinará o garoto. Ele é o escolhido e trará equilíbrio para a Força. Treine o
garoto”. Qui-Gon morre nos braços de Obi-Wan.
Uma nave do Senado pousa em Naboo, enquanto a Rainha Amidala, ao
lado de Obi-Wan e Anakin, despacham o vice-rei, que por sua vez vai para a nave
do Senado. O Senador Palpatine, que havia recentemente sido eleito como
Supremo Chanceler, desce da nave acompanhado pela guarda especial do
Senado. Palpatine saúda Obi-Wan pela sua bravura e diz a Anakin: “E você,
jovem Skywalker, acompanharemos sua carreira com muito interesse”. Palpatine é
saudado pela Rainha, que o parabeniza pela eleição.
Ao por do sol Obi-Wan se encontra com mestre Yoda, que por sua vez lhe
concede o nível de cavaleiro Jedi, mas protesta dizendo que não concorda com o
treinamento do garoto. Yoda diz que Anakin pode ser o escolhido, mas que há
grande perigo em seu treinamento. Obi-Wan diz que deu sua palavra à Qui-Gon e
que irá treinar Anakin mesmo sem permissão se necessário. Yoda suspira
relutante e diz que o conselho concorda com Obi-Wan e lhe diz seriamente: “Seu
aprendiz Skywalker será”.
Logo após todos se reúnem para o funeral de cremação de Qui-Gon.
Anakin pergunta para Obi-Wan o que acontecerá com ele. Obi-Wan lhe diz que o
conselho concordou que ele o treinasse, e promete para Anakin que ele irá se
tornar um Jedi.
Yoda e Windu conversam durante o funeral: Windu fala que não há dúvidas
de que o guerreiro misterioso fosse um Sith. Yoda o diz: “São sempre dois deles.
Nem um a mais, nem a menos. Um mestre... e um aprendiz”.
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No dia seguinte ocorre uma festa em toda a cidade com um desfile do povo
Gungan. Todo o conselho Jedi está presente e no altar a Rainha entrega uma
homenagem ao líder dos Gungan. Anakin olha sorrindo e flertando para a rainha
que por sua vez lhe retribui com um longo sorriso. O filme termina com uma cena
de frente dos personagens enfileirados lado a lado no altar durante a celebração e
festa.
Episódio II - O ataque dos clones:
O filme começa com um cruzador de Naboo escoltado por duas naves
menores de combate chegando ao planeta Coruscant. Ao chegarem à pista de
pouso, enquanto os passageiros do cruzador desembarcavam, ocorre uma
explosão. Trata-se de uma tentativa de assassinato à ex-Rainha Amidala de
Naboo, que havia sido eleita Senadora da República. Foi colocada uma bomba
neste cruzador, o transporte oficial da Senadora, que explodiu com toda sua
tripulação. No entanto, a verdadeira Senadora estava disfarçada pilotando uma
das naves de escolta. Após a explosão ela corre para socorrer sua dedicada
agente disfarçada, que por sua vez falece em seus braços. O segurança dela, que
estava na outra nave de escolta a retira do local: ela mesma encontrava-se pasma
pelo ocorrido questionando se deveria ter voltado, mas seu segurança lembra-lhe
que ela viera para uma importante votação.
No “Palácio” do Senado, ocorre uma reunião, dos principais membros do
Conselho Jedi com o Chanceler Palpatine. Este fala aos Jedi sobre a força dos
separatistas que estão agregando sistemas planetários que pertenciam à
república. Palpatine diz que suas negociações não falharão, o que levaria a uma
cisão da República. Mestre Windu lhe diz que: “se as negociações falharem, não
haverá Jedi suficientes para proteger a república, somos guardiões da paz e não
soldados”. Palpatine pergunta para mestre Yoda se o mesmo achava que iria
ocorrer a guerra. Yoda lhe responde: “O lado negro da força a tudo obscurece.
Impossível prever o futuro”. Um holograma aparece na mesa de Palpatine
anunciando a chegada do Comitê Legalista. Palpatine pede ao holograma que os
75
mandem entrar e se levanta dizendo aos Jedi que tratariam daquele assunto mais
tarde. Yoda se dirige até a porta para recepcionar a senadora Amidala dizendo
estar feliz por ela estar bem e lamentando a explosão ocorrida em sua
aterrissagem. Amidala lhe responde perguntando se tem idéia sobre quem está
por traz dos ataques; mestre Windu se introduz no diálogo dizendo que o serviço
secreto aponta para mineiradores descontentes de Naboo. Amidala responde,
dizendo achar que o Conde Dookan estaria por traz dos ataques, os Jedi
discordam dizendo que Dookan já foi um Jedi e portanto não mataria alguém.
Mestre Yoda adverte Amidala sobre o perigo que ela corre. Palpatine, que estava
aos fundos olhando pela janela, sugere que a Senadora seja colocada sob
proteção de Cavaleiros Jedi, ela contesta e Palpatine completa sua fala, que dizia
não achar que a situação fosse tão grave. Palpatine diz que ele acha que a
situação é grave, quando Yoda o olha desconfiado. Palpatine diz que entende que
a proteção possa lhe ser incomoda e que seria favorável um Jedi familiar, e
propõe que seja o mestre Kenobi. Mestre Windu responde prontamente dizendo
que é possível e que fará com que Obi-Wan Kenobi se apresente o mais rápido
possível.
Na parte do dia, nos aposentos da senadora, sobem Anakin Skywalker e
Obi-Wan Kenobi de elevador. Dentro do mesmo Obi-Wan diz a Anakin que não o
vê tão nervoso há tempos e que ele deveria relaxar. Anakin lhe responde
desconsolado: “Eu não a vejo há dez anos”. Obi-Wan meneia a cabeça sorrindo.
Eles chegam ao andar e são calorosamente recepcionados por Jar Jar e
levados até a Senadora Amidala ou Padmé. A Senadora vem sorridente para os
receber. Obi-Wan faz uma reverência dizendo ser um prazer reencontrá-la,
Amidala lhe responde que já faz muito tempo e então olha para Anakin e fala
surpresa: “Ani, meu deus você cresceu!”. Anakin a responde: “Você também, e
está mais bonita. Digo, para uma Senadora!” Obi-Wan franze o rosto constrangido.
Amidala sorri e diz que ele sempre será aquele garoto lindo que conheceu em
Tatooine e se vira caminhando, seguida pelos Jedi para sentarem-se. Obi-Wan lhe
diz: “Garanto que nossa presença aqui passará despercebida”. Amidala pergunta:
“Quero saber quem está tentando me matar”. Obi-Wan responde: “Viemos aqui
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para protegê-la, não para iniciar uma investigação”. Anakin diz: “Descobriremos
quem está tentando matá-la. Eu prometo”. Obi-Wan o olhou seriamente e disse.
“Não vamos exceder nossa missão, jovem aprendiz Padawan”. Anakin responde:
“Digo no intuito de protegê-la, mestre.” Obi-Wan responde firmemente: “Não
vamos insistir nesse assunto. Atente às minhas orientações”. Anakin pergunta:
“Por que?”. Obi-Wan responde perturbado: “Que?”. Anakin responde calmo e
desafiador: “Por que acha que fomos chamados, se não para encontrarmos o
assassino? Proteção é trabalho de seguranças, não dos Jedi. Isso é especial,
mestre. Investigar é a nossa função prioritária”. Obi-Wan responde: “Faremos
exatamente o que o conselho determinou. E você vai aprender a se comportar,
jovem”. Anakin abaixa a cabeça e silencia. Padmé fala: “Talvez sua mera
presença revele os mistérios que cercam esta ameaça. Agora se me derem
licença... (ela se levanta seguidamente por todos) eu vou me retirar”. Obi-Wan sai
andando em direção ao chefe da segurança que lhe passa algumas informações.
Jar Jar se aproxima de Anakin, que ficara olhando Padmé se retirando, ele
o fita longamente e diz: “Estou feliz por vê-lo de novo, Ani.” Anakin lhe responde
olhando para Padmé, que estava saindo do aposento: “Ela mal me reconheceu,
Jar Jar. Eu pensei nela todos os dias desde que nos separamos... e ela me
esqueceu completamente”. Jar Jar responde enquanto Obi-Wan se aproxima: “Ela
está feliz. Contente como não a via há muito tempo”. Obi-Wan fala aos dois: “Está
olhando pelo lado negativo. Cuidado com seus pensamentos. Ela ficou contente
de nos ver. Agora vamos checar a segurança”.
Obi-Wan e Anakin ficam no andar onde a Senadora dormia, fazendo a
segurança. Anakin fica na sacada e Obi-Wan pára próximo dele e diz: “Você
parece cansado”. Anakin: “Eu não consigo mais dormir bem”. Obi-Wan: “Por
causa da sua mãe”. Anakin faz sinal que sim com sua cabeça e diz: “Não sei por
que ainda sonho com ela”. Obi-Wan: “Os sonhos passam com o tempo”. Anakin:
”Preferiria sonhar com Padmé. Ficar perto dela de novo é embriagante” Obi-Wan:
“Cuidado com os pensamentos. Eles o traem. Você fez uma promessa à Ordem
dos Jedi que não é fácil quebrar. E ela é uma política. Eles não são confiáveis”.
Anakin: “Ela não é como os outros senadores.” Obi-Wan: “Os senadores só ligam
77
para os que financiam suas campanhas. Esquecem as sutilezas da democracia
para obter dinheiro”. Anakin: “Não venha como mesmo discurso. Pelo menos não
o de política da economia”.
Enquanto os Jedi conversam, um robô voador se posiciona na janela do
quarto de Padmé e começa a cortar o vidro, deixando cair lá dentro as duas
centopéias venenosas. As centopéias se locomovem rapidamente pelo quarto
chegando até a cama de Padmé e os Jedis conversam sobre o Chanceler
Palpatine. Anakin o defende diante das formulações críticas de Obi-Wan. Anakin
diz que o Chanceler é um bom homem, e então, subitamente vira seu rosto para o
quarto de Padmé; Obi-Wan diz que também pressente perigo. Os dois correm
rapidamente para o quarto. As centopéias já estavam próximas do rosto de Padmé
quando Anakin com sua espada laser ligada, pula dando dois golpes de espada
matando as centopéias. Padmé Amidala se levanta assustada e Obi-Wan vê o
robô voador que ainda estava posicionado na janela e corre atirando-se,
quebrando a janela e se agarrando ao robô. Anakin sai correndo atrás de Obi-Wan
e o resgata em um carro conversível. O robô vai até a posição do assassino. Os
Jedi capturam a assassina. Anakin e Obi-Wan a interrogam e quando ela foi falar
quem a contratou, um dardo atingiu-lhe o pescoço, e os Jedi só conseguiram ouvir
que era um caçador de recompensas que a contratara. Obi-Wan retirou e guardou
o dardo tóxico.
No dia seguinte, Anakin e Obi-Wan se apresentam no conselho Jedi. Yoda
ordena que Obi-Wan localize o tal caçador de recompensas, e Mestre Windu
salienta que deve-se descobrir para quem ele trabalha. Obi-Wan pergunta como
ficaria a proteção da Senadora Amidala. Yoda lhe responde: “Cuidar disso o seu
Padawan irá.” Obi-Wan olha preocupado para Anakin, que por sua vez mostra-se
satisfeito e apto. Windu fala: “Anakin, leve a Senadora de volta ao planeta Naboo.
Estará segura lá. Não use transporte oficial. Viajem como refugiados”. Anakin
responde: “Como líder da oposição, será difícil tirá-la da Capital.” Yoda: “Até esse
assassino pegarmos... respeitar nossa posição ela deve.” Windu: “Anakin, vá ao
Senado. Peça a Palpatine para falar com ela.” Os dois Jedi fazem uma reverência
e saem.
78
No Senado, Anakin se encontra com Palpatine, que lhe diz: “Falarei com
ela. Amidala não desobedecerá minha ordem. Eu a conheço bem para afirmar
isso”. Anakin: “Obrigado, Excelência”. Palpatine: “Então, finalmente lhe deram uma
missão. Sua paciência foi recompensada”. Anakin: “Sua orientação, mais que
minha paciência”. Palpatine: “Você não precisa de orientação, Anakin. Com o
tempo, aprenderá a confiar em seus sentimentos. Então, você será invencível. Eu
já disse que você é o Jedi mais talentoso que conheci”. Anakin: “Obrigado,
Excelência”. Palpatine: “Vejo que esta se tornando o maior de todos os Jedi. Até
mais poderoso que Mestre Yoda“.
No Templo Jedi, caminham e conversam juntos Yoda, Windu e Obi-Wan.
Obi-Wan: “Estou preocupado com meu Padawan. Ele não esta preparado para
essa missão”. Yoda: “O conselho confia na sua decisão”. Windu: “O rapaz tem
grandes habilidades”. Obi-Wan: “Mas ainda tem muito que apreender. Suas
habilidades o tornaram... arrogante”. Yoda: “Sim. Uma falha cada vez mais comum
entre os Jedi. Confiantes demais eles são. Mesmo os mais velhos e mais
experientes”. Windu: “Lembre-se que se a profecia for verdadeira... somente
Anakin pode trazer equilíbrio à força”.
Nos aposentos da Senadora Padmé, Anakin a aguarda. Padmé orienta Jar
Jar sobre sua ausência temporária e que ele deve representá-la no Senado.
Padmé dispensa Jar Jar e cruza com Anakin e dizendo em tom irritado: “Não
gosto de me esconder.” Anakin ( em tom presunçoso): “Não se preocupe. O
Conselho ordenou uma investigação. Mestre Obi-Wan encontrará o caçador de
recompensas”. Padmé: “Não trabalhei o ano todo para derrubar... o Ato de Criação
Militar e não poder votar”. Anakin: “As vezes temos que esquecer o orgulho e fazer
o que mandam”. Padmé: “Anakin... você amadureceu”. Anakin: “Só o Mestre Obi-
Wan não percebe. (pausa) Não me entenda mal. Obi-Wan é um grande mentor. É
tão sábio quanto Mestre Yoda... e tão poderoso quanto Mestre Windu. Fico muito
grato de ser aprendiz dele. Mas tem certos aspectos... em muitos aspectos... eu
sou superior a ele. Estou pronto para os testes. Mas ele me acha muito
imprevisível. Não me deixará ir adiante”. Padmé: “Deve ser frustrante”. Anakin: “É
pior! Ele é muito crítico. Nunca escuta. Ele não entende. Isso não é justo!”.
79
Padmé: “Os mentores olham mais para nossos erros do que gostaríamos. É assim
que amadurecemos”. Anakin: “Eu sei”. Padmé: “Anakin... não tente amadurecer
tão rápido”. Anakin se levanta e fica próximo dela de frente e diz: “Mas eu estou
amadurecido. Foi você mesma que disse (dando um sorriso malicioso)”. Padmé
fala com um tom sério: “Não olhe pra mim desse modo”. Anakin responde aflito:
“Por que não?”. Padmé: “Eu fico constrangida”. Amidala se retira irritada, enquanto
Anakin diz com um sorriso malicioso: “Sinto muito Milady”.
Uma nave leva Anakin, Obi-Wan, Padmé, sua dama de companhia e seu
chefe de segurança até a estação de vôos interplanetários, aonde Anakin, Padmé
e R2 iriam embarcar para Naboo. Todos se despedem, Anakin ouve com pouco
interesse às recomendações de Obi-Wan e então partem para Naboo.
Obi-Wan vai visitar um velho amigo, dono de uma pequena lanchonete. Os
dois sentam-se juntos, Obi-Wan mostra-lhe o dardo tóxico retirado do pescoço da
assassina. Pergunta de onde veio o dardo, seu amigo lhe diz que pertence aos
clonadores do planeta Kamino e lhe dá coordenadas aproximadas. Obi-Wan vai
para a biblioteca para pegar o mapa com o caminho para Kamino. No entanto não
encontra os dados de que precisa e então vai ao Templo Jedi.
Na nave de viagem para Naboo, Anakin e Padmé conversavam. Padmé:
“Não deve ser fácil ter prestado juramento como Jedi. Não poder visitar os lugares
ou fazer coisas que gosta”. Anakin: “Ou estar com aqueles que amo”. Padmé:
“Tem permissão para amar? Achei que era proibido para um Jedi”. Anakin sorri e
diz: “A união é proibida. A posse é proibida. A compaixão, que eu definiria como
amor incondicional... é fundamental para um Jedi. Assim, poderia dizer que somos
estimulados a amar”. Padmé: “Você mudou muito”. Anakin: “E você não mudou
nada. Continua igual ao que era nos meus sonhos”. Os dois ficam intrigados um
com o outro e Anakin morde seus lábios excitado.
Obi-Wan vai ao Templo Jedi e entra em uma aula que Mestre Yoda dava para
crianças. Obi-Wan diz que está tentando localizar um planeta que não consta nos
registros. Mestre Yoda faz uma piada sobre Obi-Wan ter perdido um planeta e
pede para uma das crianças fecharem as cortinas para juntos acharem o planeta
que Mestre Kenobi perdeu. Obi-Wan coloca seu arquivo no leitor de mapas da
80
sala, que simula as estrelas e os planetas dentro da sala. Ele aponta para aonde
deveria estar o planeta dizendo que a gravidade atrai todas as estrelas para
aquele local, mas que não há nada ali. Yoda pergunta se alguma das crianças
sabem ou acham algo. Um garoto diz: “Mestre? Porque alguém deletou da
memória do arquivo”. Yoda concorda com a criança e diz para Obi-Wan ir até o
centro de gravidade que encontrará o planeta, e diz que alguém deve ter apagado
os arquivos. Obi-Wan questiona dizendo que deveria ser impossível alguém
apagar isso. Yoda diz: “Perigoso e inquietante esse enigma é. Somente um Jedi
poderia deletar esses arquivos. Mas quem e por quê é difícil de responder. Meditar
sobre isso irei”.
A nave chega até Naboo. Eles desembarcam e continuam andando lado a
lado e conversando juntos. Padmé conta sobre sua trajetória na política, Anakin
diz que acha que a república precisa dela. Eles se reúnem com a Rainha de
Naboo e seus conselheiros, que conversam sobre a crise da República. Dizem
que nunca houve uma guerra desde a fundação da República e que as
negociações do Senado deveriam resolver isso para que não se aumentassem os
aliados da Federação do Comércio. A Rainha então propõe pensarem na
segurança de Padmé. O conselheiro pergunta: “O que sugere, Mestre Jedi?”.
Padmé o corta dizendo: “Anakin não é um Jedi. Ele ainda é aprendiz Padawan”.
Anakin interrompe: “Espere um instante”. Padmé: “Desculpe-me. Achei que ia ficar
na Terra Lacustre. É bem isolada”. Anakin, parando e botando as mãos na cintura:
“Desculpe-me. Sou o responsável pela segurança aqui”. Padmé: “Anakin, é o meu
planeta. Eu o conheço. Por isso estamos aqui. Seria sábio aproveitar meu
conhecimento em vista disso”. Anakin, nervoso e desconcertado e diante de
olhares desaprovadores da rainha: “Desculpe-me, Milady”. Rainha: “Perfeito.
Então, está resolvido”.
Obi-Wan chega na atmosfera de Kamino e desce até uma gigante base de
metal situada em um mar revolto. Ele é recepcionado por um alienígena do sexo
feminino, que lhe diz: “Mestre Jedi... o Primeiro-Ministro o está aguardando”. Obi-
Wan (surpreso): “Sou aguardado?”. Ela responde: “Naturalmente. Ele está ansioso
para vê-lo. Após todos esses anos... estávamos começando a pensar que não
81
viria. Por aqui, por favor”. Obi-Wan caminha ao lado da recepcionista que o leva
até o primeiro ministro. Recepcionista: “Eu lhe apresento Lama Su... Primeiro-
Ministro de Kamino”. Ambos se saúdam inclinando o corpo. Recepcionista: “E este
é o Mestre Jedi...”. Obi-Wan: “Obi-Wan Kenobi”. Lama Su: “Estou seguro que irá
aproveitar sua estada. Por favor (sentam-se). E agora, vamos aos negócios.
Ficará satisfeito de saber que estamos dentro da programação. 200 mil unidades
estão prontas, com mais um milhão a caminho”. Obi-Wan: “Isso é uma... boa
notícia”. Lama Su: “Por favor, diga ao seu Mestre Zaifo Vias... que sua ordem será
cumprida dentro do prazo”. Obi-Wan: “Desculpe. Mestre...?”. Lama Su (irritando-
se): “Mestre Jedi Zaifo Vias ainda é... um dos principais lideres do Conselho dos
Jedi, não?”. Obi-Wan: “Mestre Zaifo Vias foi morto há quase dez anos”. Lama Su:
“Oh, eu lamento ouvir isso. Ficaria orgulhoso do exército que construímos para
ele”. Obi-Wan (surpreso): “Exército?”. Lama Su: “Sim, um exército de clones. E
devo dizer, um dos melhores que já criamos”. Obi-Wan: “A primeira vez que meu
mestre o contatou sobre o exército... ele disse para quem era?”. Lama Su:
“Naturalmente que disse. Este exército é para a República. Mas deve estar
ansioso para inspecionar as unidades”. Obi-Wan: “É por isso que estou aqui”. Eles
se levantam e começam a caminhar.
Em Naboo, Anakin chega junto com Padmé em uma canoa até um
palacete. Funcionários levam as malas enquanto Anakin ajuda Padmé a
desembarcar. Os dois caminham lado a lado pela varanda do palacete enquanto
Padmé conta que vinha àquele local na sua época de escola. Eles param em uma
sacada de frente para um grande lago. Padmé conta que na época que vinha ali,
ela nadava bastante e deitava na areia para secar-se ao sol. Anakin: “Eu não
gosto de areia. É áspera, desagradável, irritante... e fica em todo lugar. Não é
como aqui. Tudo aqui é macio... e suave”. Anakin começa a acariciar Padmé, que
por sua vez permite e depois o olha penetrante. Anakin sorri e começa a se
impulsionar timidamente para beijá-la, e então eles se beijam. Durante o beijo,
Padmé de forma repentina afasta-se dizendo: “Não. Eu não devia ter feito isso”,
fixamente olhando para frente. Anakin: “Desculpe”, ficando desorientado.
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Obi-Wan, junto com o primeiro ministro e sua secretária, caminham em uma
plataforma de vidro observando todos os procedimentos da construção do exército
clone. Lama Su conta para Obi-Wan sobre as vantagens dos clones perante os
dróides. Lama Su conta que os clones tem um programa de crescimento
acelerado e que são obedientes, recebem qualquer ordem sem contestar. E que
foram modificados geneticamente para serem menos independentes que o modelo
original. Obi-Wan pergunta quem é o modelo original e Lama Su responde que é
um caçador de recompensas chamado Jango Fett. Obi-Wan pergunta onde está
Jango Fett. Lama Su conta que eles o mantém ali, e que além do pagamento,
Jango pediu um clone de si próprio inalterado e sem crescimento acelerado. Obi-
Wan diz que quer conhecer Jango Fett e a secretária de Lama Su diz que será um
prazer conseguir isso.
Anakin sentado com Padmé em um campo com pequenas cachoeiras em
volta, conversam: Anakin pergunta para Padmé sobre seu primeiro namorado, ela
reluta mas conta e ele rapidamente pede para ela parar, dizendo: “Tudo bem, eu
já entendi”. Anakin pergunta o que aconteceu com o namorado. Padmé diz que ela
entrou para o serviço público e ele virou artista. Anakin diz que ele foi mais
esperto. Padmé diz: “Você não gosta mesmo de políticos”. Anakin: “Gosto de dois
ou três. Mas não estou certo sobre um deles. Não acho que o sistema funcione”.
Padmé: “Como o faria funcionar?”. Anakin: “Os políticos deveriam sentar, discutir o
problema... concluir o que é melhor para o povo, e fazer”. Padmé: “É o que
fazemos. Mas as pessoas nem sempre estão de acordo”. Anakin: “Deveriam ser
convencidas”. Padmé: “Por quem?”. Anakin: “Não sei. Alguém”. Padmé: “Você?”.
Anakin: “Claro que não”. Padmé: “Quem, então?”. Anakin: “Alguém sábio”. Padmé:
“Está me soando como uma ditadura”. Anakin: “Bem... se é o que funciona”.
Padmé (pausa e o olha): “Você está brincando comigo”. Anakin: “Não teria
coragem de brincar com uma Senadora”. Os dois brincam pelo campo, Anakin
simula ter se machucado por um animal de pasto, Padmé corre para ajudá-lo e ele
sorrindo a pega e os dois rolam juntos pela grama.
A secretária de Lama Su vai com Obi-Wan até os aposentos de Jango Fett,
e uma criança abre a porta. Secretária: “Boba, seu pai está aqui?”. Boba: “Sim”.
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Secretária: “Podemos vê-lo”. Boba: “Claro”. A criança chama seu pai e Obi-Wan
toma a frente para aguardá-lo.
Obi-Wan fica de frente com Jango Fett e faz um interrogatório informal. Obi-
Wan se despede e se retira junto com a secretária, Jango fica desconfiado e
ordena que o filho, clone, faça as malas para ambos partirem.
Anakin toma o café da tarde com Padmé e a noite eles se juntam na sala,
ambos ardentes. Anakin: “Desde que a conheci... em todos esses anos... não
houve um dia em que não pensei em você. E agora que estou ao seu lado... eu
me sinto angustiado. Quanto mais perto, pior vou ficando. A idéia de não estar
com você... faz com que eu não respire. Estou obcecado pelo beijo... que nunca
deveria ter me dado. Meu coração está batendo... esperando que aquele beijo não
vire uma cicatriz. Você está em minha alma, atormentando-me. O que devo fazer?
Farei qualquer coisa que me pedir”. Anakin a olha com uma pausa, e diz nervoso:
“Se você está sofrendo como eu, por favor, diga-me”. Padmé: “Eu não posso. Nós
não podemos. Isso é simplesmente impossível”. Anakin: “Qualquer coisa é
possível. Ouça...”. Padmé (nervosa, levantando-se): “Não, escute você. Vivemos
em um mundo real. Volte para ele. Está estudando para ser um Jedi. Eu sou uma
Senadora. Se nos deixarmos levar por seu desejo... chegaremos a algo que não
pode acontecer... apesar do que sentimos um pelo outro”. Anakin: “Então, você
sente alguma coisa”. Padmé: “Não vai sacrificar seu futuro por mim”. Anakin: “Está
me pedindo para ser racional. É algo que eu sei que não posso fazer. Eu gostaria
de poder ignorar meus sentimentos... mas não consigo”. Padmé: “Não vou me
entregar a isso”. Anakin se vira e começa a caminhar, pára e diz: “Sabe... não teria
que ser desse modo. Poderíamos manter em segredo”. Padmé: “Seria viver uma
mentira. Algo que não conseguiríamos manter. Eu não poderia fazer isso. E você?
Poderia viver assim?”. Anakin: “Não. Você tem razão. Iria nos destruir”.
Obi-Wan se despede da secretária e vai até sua nave. Ele fica de frente
para R4, o robô auxiliar da nave, e pede para se comunicar com o conselho Jedi.
Um holograma de Obi-Wan aparece em uma sala aonde estão Mestre Windu e
Mestre Yoda. Obi-Wan reporta sobre o exército de clones pedido por Zaifo Vias
dez anos atrás, e diz que encontrou o caçador de recompensas. Windu lhe diz que
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o conselho não autorizou a criação desse exército, e Yoda pede que Obi-Wan
traga o caçador de recompensas para ser interrogado. Obi-Wan diz que ligará
denovo quando o tiver, e é encerrada a transmissão.
Yoda: “Cego estamos... se a criação desse exército de clones não conseguimos
ver”. Windu: “O Senado precisa saber que não mais usamos tão bem a Força”.
Yoda: “Somente o Lorde Negro de Sith conhece nossa fraqueza. Se informado o
Senado for, aumentar os adversários irão”.
Anakin dormindo em seu aposento próximo ao da Senadora Amidala, fala durante
seu sono: “Não... mãe... não”. Anakin desperta assustado de seu pesadelo, e fica
de pé meditando em frente ao nascer do sol. Padmé já acordada, chega perto de
Anakin, mas decide não incomodá-lo. Anakin, de olhos fechados, pede para
Padmé ficar.
Padmé: “Teve outro pesadelo a noite passada”. Anakin: “Os Jedi não têm
pesadelos”. Padmé: “Eu ouvi”. Anakin: “Vi minha mãe. Ela está sofrendo, Padmé.
Eu a vi tão claramente como vejo você. Ela está sofrendo. Sei que estou
desobedecendo a ordem de proteger você... mas eu preciso ir. Tenho que ajudá-
la”. Padmé: “Eu irei com você”. Anakin: “Sinto muito, não tenho escolha”.
Obi-Wan, se encontra com Jango Fett quando ele estava embarcando para
fugir em sua nave. Os dois travam um árduo combate mas Jango foge e Obi-Wan
consegue grudar um localizador no casco da nave de Jango.
Anakin chega com Padmé e R2 em uma nave de Naboo até Tatooine.
Anakin junto com Padmé, vão até a antiga oficina onde Anakin trabalhava como
escravo. Anakin pergunta sobre Shmi Skywalker. Seu antigo patrão o reconhece.
Anakin firmemente pergunta novamente sobre sua mãe e seu antigo patrão lhe dá
a informação desejada.
Enquanto isso Obi-Wan persegue de nave Jango na órbita do Planeta
Geonnosis. Jango percebe a nave Jedi o perseguindo e se inicia uma batalha
espacial. Jango após vários tiros e bombas lançadas pensa ter destruído o Jedi
com uma explosão, mas Obi-Wan estava escondido, aguardou um tempo para
depois descer e explorar o planeta.
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Anakin pousa na região que lhe foi informada, um deserto, como o Planeta
todo. Eles desembarcam e Padmé pede que R2 fique com a nave. Os dois
caminham aproximando-se de uma casa. Próximo da casa encontram C3PO, que
por sua vez reconhece Anakin e Padmé. C3PO, animado, diz ter ficado contente
de vê-los, e que sabia que “Mestre Ani”, seu criador, iria voltar. Anakin diz que veio
ver sua mãe. C3PO responde: “Talvez seja melhor nós entrarmos”.
C3PO entra com os dois e os introduzindo, Anakin já toma a frente falando
seu nome, lhe responde também se apresentando: “Owen Lars. Está é minha
namorada, Beru”. Padmé se apresenta, e Owen Lars fala a Anakin: “Imagino que
sou seu meio-irmão. Sabia que iria aparecer um dia”. Anakin: “Minha mãe está
aqui?”. Outro que chegava lhe responde: “Não, ela não está. Cliegg Lars
(estendendo a mão e cumprimentando Anakin). Shmi é minha esposa. Acho
melhor entrarmos. Temos muito que conversar”. Eles entram e se sentam. Cliegg
Lars: “Foi pouco antes do amanhecer. Eles apareceram de repente. Um ataque do
'povo da areia'. Sua mãe tinha saído cedo... para apanhar os cogumelos que
crescem nos evaporadores. Pelos rastros, ela estava a meio caminho de casa...
quando foi levada. Aqueles seres andam como homens, mas são... violentos...
monstros insanos. Trinta de nós fomos atrás dela. Voltaram quatro. Eu teria ido
com eles, mas depois que perdi a perna... eu não posso mais me locomover... até
cicatrizar. Não tenciono desistir dela... mas ela se foi há um mês. Não há muita
esperança que esteja viva”. Anakin se levanta e começa a andar. Owen Lars
pergunta: “Aonde você vai?”. Anakin responde: “Encontrar minha mãe”. Cliegg
Lars: “Sua mãe está morta, filho. Deve se conformar”.
Anakin vai para fora da casa e fica um tempo sozinho. Padmé vai até ele,
que lhe diz: “Você tem que ficar aqui. São pessoa boas. Você estará segura”.
Padmé: “Anakin...” (e lhe dá um abraço). Anakin caminha para uma moto e diz que
não irá demorar. Ele monta na moto e sai a toda velocidade. Ele pede informação
para os Jawas, anões comerciantes que vivem em bases móveis pelo deserto.
Enquanto isso Obi-Wan explorava as instalações inimigas. Até que flagra
uma reunião dos líderes separatistas coordenada pelo ex-Jedi Conde Dookan.
Obi-Wan ouve os planos de Dookan de destruir os Jedi e a República.
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Anakin localiza durante a noite o acampamento do “Povo da Areia”. Ele se lança
de altos penhascos silenciosamente aproximando-se. Anakin anda pelo
acampamento entre cabanas esféricas e para diante de uma cabana maior para
abrir uma passagem com sua espada laser. Ao entrar ele vê sua mãe semi-
acordada amarrada em uma armação triangular de madeira. Ele começa a
desamarrá-la e a toma nos braços. Shmi: “Ani... é você?”. Anakin: “Estou aqui,
mãe. Você está segura”. Shmi: ”Ani? Você está tão bonito (sorrindo e o
acariciando). Meu filho. Meu filho adulto. Estou orgulhosa de você, Ani”. Anakin:
“Eu senti sua falta”. Shmi: “Agora estou completa. Eu amo v...”. Anakin: “Fique
comigo mãe, tudo vai ficar...”. Shmi: “Eu... Eu amo... (ela morre pendendo seu
pescoço pra trás). Anakin fecha os olhos dela e fica furioso, sai da cabana quando
estava amanhecendo e mata toda a tribo com sua espada.
Mestre Yoda, que meditava sozinho, ouvindo a voz de Qui-Gon aos gritos:
“Anakin! Anakin! Não!”. Mestre Windu entra na sala e senta-se ao lado de Yoda,
que o olha com lágrimas. Windu: “O que há?”. Yoda: “Dor... sofrimento... morte, eu
sinto. Alguma coisa terrível aconteceu. O jovem Skywalker está sofrendo. É uma
dor terrível”.
Obi-Wan vai até sua nave pousada aos arredores da base inimiga e tenta
ajustar seu comunicador para pedir ajuda. O comunicador está fora de alcance
para Coruscant, Obi-Wan tenta localizar Anakin em Naboo que é mais perto, mas
não encontra o sinal de Anakin, o que o deixa preocupado. Ele então aumenta a
freqüência e capta o sinal de Anakin em Tatooine. Obi-Wan: “O que diabos ele faz
lá? Eu o mandei ficar em Naboo”. Obi-Wan começa a fazer a transmissão para
Anakin.
Enquanto isso, Anakin traz o corpo de sua mãe para enterrá-la próximo à
residência de seu padrasto. Anakin se isola em um cômodo da casa antes do
enterro da mãe e Padmé vai até ele. Anakin se encontra em um estado de revolta,
lamentando por não ter conseguindo salvar a mãe, culpando Obi-Wan pelo
acontecido. Ele confessa que matou o povo da areia, inclusive mulheres e
crianças, e Padmé o consola. A família se reúne para o enterro, Anakin se
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aproxima do túmulo da mãe e diz: “Não fui forte para salvá-la, não tive forças, mas
eu prometo que não fracassarei de novo. Sinto demais a sua falta”.
Anakin vai para nave, a chamado de R2, e vê uma mensagem de Obi-Wan
pedindo ajuda, e vai até ele para salvá-lo, desobedecendo Mestre Windu que tinha
pedido que ele ficasse onde estava para proteger a Senadora. Ele retransmite a
mensagem para Coruscant como Obi-Wan lhe ordenou, deixando os Jedi a par da
situação.
Anakin e Padmé são capturados e levados para uma arena de combate, na
qual estava Obi-Wan. Antes de entrarem na arena, Padmé declara seu amor por
Anakin e eles se beijam. Os Jedi lutam e conseguem vencer as criaturas soltas na
arena.
Dookan envia tropas para a arena para matar os Jedi e a Senadora, mas
Mestre Windu aparece e ameaça um dos aliados de Dookan. Vários Jedi
aparecem e salvam os três. Os Jedi acabam acuados pela enorme quantidade de
dróides, mas nesse momento Yoda aparece com o exército de clones, resgatando
todos. Os dróides batem em retirada, pois agora eram minoria frente ao exército
de clones. Anakin e Obi-Wan vão atrás de Dookan para impedir que o mesmo
fugisse. Ao se iniciar a luta contra Dookan, Anakin parte sozinho para o ataque,
contrariando Obi-Wan que queria um ataque conjunto. Anakin é detido por um raio
de Dookan, ficando inconsciente. Obi-Wan luta sozinho, é derrotado, mas quando
vai receber o golpe fatal, Anakin interfere salvando Obi-Wan. Ambos lutam e
Dookan acaba por cortar o braço direito de Anakin. Yoda aparece e luta contra
Dookan. Dookan usa a força para derrubar um pilar em cima de Obi-Wan e
Anakin, que estavam caídos juntos. Yoda opta por salvar os Jedi, deixando
Dookan escapar.
Obi-Wan volta para o templo Jedi com Windu e Yoda, no qual conversam. Obi-
Wan fala para Windu: “Acredita no que Dookan disse... sobre Sidious controlar o
senado? Não é o que sinto”. Yoda: “Ao lado negro Dookan se juntou. Mentiras,
trapaças... criar mal entendidos são seus métodos agora”. Windu: “Contudo,
deveríamos vigiar de perto o senado. Onde está seu aprendiz?”. Obi-Wan: “A
caminho de Naboo, escoltando a Senadora Amidala até em casa. Devo admitir
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que sem os de clones não teríamos chegado à vitória”. Yoda: “Vitória?! Vitória,
você disse? Mestre Obi-Wan, não houve vitória. O manto do lado negro caiu. A
guerra dos clones começou”.
Na última cena, Anakin se casa em segredo com Padmé, tendo R2 e C3PO
como testemunhas, e já usando um braço mecânico. O filme termina na cena do
casamento.
Episódio III - A Vingança do Sith:
O filme começa com uma guerra no espaço, nas proximidades e órbita do
planeta Coruscant. O Chanceler Palpatine havia sido recentemente seqüestrado
pelo General Dróide Grievous, um andróide de combate que lidera o exército dos
dróides na Guerra dos Clones despertada no episódio II. Dois caças Jedi, um com
Anakin Skywalker e outro com General Obi-Wan Kenobi, voam dentro da guerra
em direção à nave de Griveous com a missão de resgatar o Chanceler. Anakin
aponta para Obi-Wan a localidade da nave de Griveous.
Um soldado aliado de escolta pede ajuda por terem naves atirando nele
por trás. Anakin se consulta com Obi-Wan, planejando resgatar o soldado em
apuros, mas Obi-Wan o adverte que não deveriam desviar da missão, que o
soldado está fazendo seu trabalho e que eles deveriam fazer o deles. Anakin
consente e o soldado é explodido por uma nave. Outra nave inimiga lança mísseis
sobre os dois Jedi, que fogem dos mesmos. Anakin consegue escapar do míssil
que o perseguia, no entanto Obi-Wan é atingido por um outro. O míssil espalha
vários robôs que começam a destruir a nave de Obi-Wan. Anakin se propõe a
salvá-lo, mas Obi-Wan lhe diz que a missão é salvar o Chanceler e que Anakin
deve cumpri-la, deixando-o para trás. Anakin se recusa e salva seu mestre dos
pequenos dróides. Os dois então invadem a nave de Griveous, destróem alguns
dróides e, graças a R2D2, localizam a posição do Chanceler. R2 projeta um
holograma da nave indicando a posição do Chanceler. Obi-Wan comenta que o
mesmo está no topo da torre de observação do gigante cruzador que era a nave
de Griveous. Anakin diz olhando em sua volta: “Eu sinto o Conde Dookan”. Obi-
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Wan: “Eu pressinto uma armadilha.” Anakin: “Qual o próximo passo?”. Obi-Wan
sorrindo: “Cair na armadilha”. Anakin comanda que R2 fique com a nave e Obi-
Wan lhe dá um comunicador dizendo-lhe para aguardar instruções. Os Jedi
correm até o elevador mediante combates com Dróides e sobem até o topo da
torre de observação.
Eles chegam até o local e vêem apenas o Chanceler nos fundos, algemado
num trono de observação. Se aproximam do Chanceler com cautela. Obi-Wan o
saúda formalmente enquanto Anakin pergunta se o mesmo estava bem. Palpatine
olhando para o elevador diz: “Conde Dookan”. Os dois Jedis se viram e vêem
Dookam e dois dróides chegando do elevador. Obi-Wan diz para Anakin: “Desta
vez, vamos lutar juntos.” Anakin responde: “Eu ia dizer a mesma coisa”. Eles
aguardam Dookan que se aproximava. Palpatine diz: “Peçam ajuda. Não são
páreo para ele. É um Lorde Sith”. Obi-Wan: “Chanceler Palpatine, Lordes Sith são
nossa especialidade”. Dookan: “Seus sabres, por favor. Não vamos criar confusão
diante do Chanceler”. Obi-Wan: “Desta vez não vai escapar, Dookan”. Os três
começam a lutar com suas espadas lasers. Dookan: “Tenho aguardado ansioso
por isso”. Anakin: “Meus poderes duplicaram desde o último encontro”. Dookan:
“Ótimo. Quanto maior o orgulho, maior a queda”. Palpatine observa admirando a
luta. Obi-Wan é jogado para trás e destrói os dois dróides de Dookan. Dookam
levita Obi-Wan e o lança fortemente contra a parede, deixando-o inconsciente.
Anakin procede sozinho à luta e eles travam suas espadas. Dookan: “Sinto um
grande medo em você, Skywalker. Você tem raiva, sente ódio... mas não usa isso
em seu favor”. Anakin em uma manobra sorrateira, amputa as duas mãos de
Dookan, o deixando de joelhos e tomando as duas espadas em suas mãos e as
cruzando no pescoço de Dookan. Palpatine rindo entusiasmado: “Muito bem,
Anakin, isso mesmo! Mate-o. Mate-o agora”. Anakin fica em conflito: “Não posso”.
Palpatine: “Mate!”. Anakin corta a cabeça de Dookan e mostra feições de
incerteza. Palpatine: “Você fez bem, Anakin. Ele era perigoso demais para
continuar vivo”. Anakin: “Era um prisioneiro desarmado. Eu não devia ter feito isso.
Não é atitude de um Jedi”. Palpatine: “É algo natural. Ele decepou seu braço e
você quis vingança. Não foi a primeira vez, Anakin. Lembra o que me contou
90
sobre sua mãe e o Povo da Areia? Temos que ir embora antes que cheguem mais
dróides”. Palpatine caminha enquanto Anakin corre até Obi-Wan. Palpatine diz:
“Anakin, não há mais tempo. Temos que sair antes que seja tarde”. Anakin: “Ele
parece estar bem”. Palpatine: “Esqueça”. Anakin: “O destino dele será igual ao
nosso”. Anakin leva Obi-Wan em suas costas e foge levando o Chanceler. Obi-
Wan recobra sua consciência e Anakin ordena que R2 venha até ele. Griveous,
que os localizou, ativa escudos de força que os impedem de locomoverem-se. R2
chega para desativar os escudos de força, mas junto com ele chega um pelotão
de soldados dróides, que os rendem levando todos até a cabine de pilotagem da
nave, onde estava General Grievous. Os Jedi lutam contra Grievous, mas ele
acaba escapando e fugindo. Anakin consegue pousar a nave e todos são levados
ao Senado para deixarem o Chanceler Palpatine. Obi-Wan vai para o templo Jedi
e Anakin fica no Senado para acompanhar o desfecho. Padmé se encontrava
escondida atrás de um pilar esperando por Anakin. Ele vai até ela e diz querer
contar a todos que são casados. Padmé assustada discorda. Ela conta que está
grávida. Anakin fica empolgado com a notícia, dizendo ser o dia mais feliz de sua
vida e que eles não deviam se preocupar com nada por enquanto.
General Grievous foge e contacta Lorde Sidious, que lhe ordena que leve os
líderes separatistas a um determinado planeta, dizendo que planeja ter um novo
aprendiz e que a guerra está próxima do fim. Anakin e Padmé vão dormir. Anakin
acorda assustado no meio da noite, pois sonhara que Padmé morria durante o
parto. Ele conta seu sonho à Padmé, dizendo: “Não vou deixar que este vire
realidade”.
Anakin vai conversar com Yoda sobre seu sonho. Depois, Anakin se encontra
com Obi-Wan, que fala que Chanceler Palpatine solicitou a presença de Anakin.
Obi-Wan adverte Anakin para ter cuidado com Palpatine e diz estar se sentindo
apreensivo.
Anakin vai até Palpatine, que o elege como seu representante pessoal no
Conselho Jedi.
91
Anakin vai até o Conselho informar a nomeação a ele concedida. O
Conselho aceita a nomeação mas não lhe concede o nível de Mestre, o que deixa
Anakin muito nervoso.
Anakin e Obi-Wan saem do Conselho. Anakin diz estar revoltado pois
considera uma insulta não terem lhe concedido o grau de Mestre Jedi. É decidido
no conselho que Yoda iria para o planeta dos Wookies que estava sendo invadido
pelos dróides. A sessão do Conselho é encerrada. Obi-Wan passa para Anakin a
missão de espionar Palpatine e reportar os passos do mesmo para o Conselho.
Anakin não concorda, tampouco aceita bem a missão.
Obi-Wan e Windu acompanham Yoda para ser transportado para a nave do
exército clone que iria para o planeta dos Wookies, eles conversam sobre Anakin
e ficam preocupados a respeito da profecia.
Anakin, junto a Padmé, questiona a ordem Jedi, enquanto Padmé questiona a
guerra e a república. Padmé abraça Anakin dizendo-lhe para abraçá-la como em
Naboo quando só o amor deles importava e nada mais.
Anakin vai até um concerto onde Palpatine o chamou, e Palpatine lhe conta sobre
a localização do General Grievous. Palpatine pede para ele sentar-se e comanda
que seus outros acompanhantes os deixem a sós. Palpatine conversa com Anakin
sobre semelhanças entre os Jedi e os Sith, e conta uma lenda Sith de um mestre
tão poderoso que conseguia impedir que os outros com quem se importava
morressem. Anakin mostra-se muito interessado nesse poder.
Anakin vai à reunião do conselho Jedi contar a localização do General
Grievous. Yoda, a distancia, diz que deveriam agir rápido e Anakin conta que o
Chanceler lhe pediu para que ele liderasse a campanha, mas todos discordam e
nomeiam Obi-Wan, por ser um mestre e por ter mais experiência, Anakin consente
silenciando-se e mostrando-se frustrado.
Anakin acompanha Obi-Wan até sua decolagem, ele diz para Obi-Wan que o
mesmo precisará da ajuda dele nessa missão. Obi-Wan concorda mas diz que a
informação pode estar errada tornando a perseguição inútil. Anakin ao se despedir
diz: “Mestre... eu desapontei o senhor. Não tenho sido muito dedicado ao seu
treinamento. Tenho sido arrogante e peço desculpas. Tenho tido grandes
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frustrações com o Conselho”. Obi-Wan: “Você é forte e sábio, Anakin. Estou muito
orgulhoso de você. Treinei você desde que era um menino. Ensinei tudo que sei.
Você se tornou um Jedi muito melhor do que eu esperava. Mas seja paciente,
Anakin. Em breve o Conselho vai fazer de você um Mestre Jedi”. Eles se
despedem, e apesar de a conversa com Obi-Wan ter melhorado o humor de
Anakin, logo quando Obi-Wan se foi, seu humor voltou a ficar como antes.
Anakin teve outro sonho com a morte de Padmé, no qual Obi-Wan a ajudava.
Anakin conversa com Padmé e diz que se sente perdido. Padmé o questiona e ele
responde: “Obi-Wan e o Conselho não confiam em mim. Alguma coisa está
acontecendo. Não sou o Jedi que deveria ser. Eu quero mais. E sei que não
deveria”. Padmé o acalma dizendo que ele espera muito de si mesmo. Anakin
continua: “Achei um meio de salvar você. Dos meus pesadelos. Não quero perder
você, Padmé”. Padmé: “Não vou morrer no parto. Eu prometo”. Anakin: “Não, eu é
que prometo”.
Mestre Windu, após receber a confirmação de que Obi-Wan estava em combate
com Grievous, pede que Anakin encaminhe essa mensagem ao Chanceler.
Anakin vai, enquanto Windu conversa com Yoda dizendo que sente um complô
para destruir os Jedi. Anakin vai até o Chanceler passar a informação. Anakin
confessa sua insatisfação com o Conselho. Palpatine consola Anakin,
engrandecendo-o e voltando-o contra os Jedi e confessando ser um Sith. Anakin o
desafia e diz que irá entregá-lo para o Conselho. Anakin conta para Windu sobre a
revelação e Windu sem se consultar com ninguém junta alguns Jedi e vai atrás de
Palpatine impedindo Anakin de ir junto. Contrariado, Anakin fica aguardando
Windu voltar, pensando no que Sidiuos lhe falou, até que decide ir até lá,
contrariando Windu. Quando ele chega, Windu e Sidious já estavam em combate:
Windu estava com vantagem. Sidious pede ajuda a Anakin e Windu diz que ele
deve ser destruído. Anakin fica contestando Windu. Quando Windu vai dar o golpe
fatal em Sidious, Anakin interfere cortando a mão de Windu e Sidious então
arremessa Windu pela janela com seus raios, matando-o. Anakin fica assustado
com o que fez, mas aceita ter passado para o lado negro da força, e torna-se
discípulo de Sidious que o nomeia Darth Vader. Palpatine, agora revelado Darth
93
Sidious, ordena que Anakin vá ao Templo Jedi, matar todos os Jedi e depois ao
planeta Mustafar para matar os lideres separatistas, terminado assim a guerra.
Anakin cumpre a ordem, enquanto Sidious ordena que as unidades clone
destruam todos os Jedi, o que acontece de maneira desapercebida pelos Jedi,
surpreendidos e mortos pelo próprio exército clone. Yoda e Obi-Wan são os
únicos que conseguem escapar.
Senador Organa vai até o Templo Jedi, que estava em chamas, para
entender o que estava acontecendo. Ao tomar conhecimento da situação, Organa
retira-se, contactando Yoda e Obi-Wan para irem à sua nave.
Anakin vai até Padmé para acalmá-la e diz que os Jedi tentaram tomar o
poder da República e que ele permaneceria fiel ao Chanceler. Diz que vai à
Mustafar acabar com a guerra, pedindo que ela o espere.
Senador Organa é convocado para uma sessão especial no Senado, Yoda
e Obi-Wan voltam ao Templo Jedi. Lá, destróem os clones e descobrem que
Anakin estava por trás de tudo.
Enquanto isso, no Senado, Palpatine declara-se Imperador e todos aceitam.
Anakin destrói os líderes separatistas e permanece no planeta, aguardando
ordens de seu novo mestre. Yoda ordena que Obi-Wan mate Anakin, que havia se
tornado Darth Vader. Obi-Wan vai procurar por Anakin na casa de Padmé e conta
para a mesma que viu um holograma de segurança em que via Anakin matando
crianças, que ele havia passado para o lado negro. Padmé recusa-se a aceitar e
Obi-Wan descobre que Anakin é o pai do bebê que Padmé esperava. Ele se retira
e Padmé decide ir ate Anakin acompanhada apenas de C3PO. Sem que ela
perceba, Obi-Wan entra na nave e lá fica escondido.
Yoda vai até Sidious, com quem trava uma luta, enquanto Padmé encontra
Anakin. Ela diz o que Obi-Wan lhe havia contado e Anakin diz que não irá perdê-la
como perdeu sua mãe e que está fazendo tudo isso para poder protegê-la. Ela
propõe que ele abandone tudo e que fujam juntos para criar o filho. Ele diz que
não precisam fugir, pois agora ele pode fazer tudo da forma que quiser,
controlando a Galáxia. Padmé fica horrorizada, discordando dos planos de Anakin.
Obi-Wan aparece e Anakin estrangula Padmé a distancia usando a Força e
94
fazendo-a desmaiar. Analkin grita com Obi-Wan dizendo que ele jogou Padmé
contra ele e Obi-Wan diz que Anakin mesmo fez isso, eles lutam ao mesmo tempo
que Yoda e o Imperador lutam. Yoda perde o combate e foge com o Senador
Organa. Sidious pressente que Darth Vader corre perigo e vai em sua busca.
Anakin, após um longo combate com Obi-Wan, se encontra em uma plataforma
dentro de um rio de lava enquanto Obi-Wan encontrava-se na margem, em terra
firme. Obi-Wan o adverte de que acabou o combate, pois ele estava em um nível
superior. Anakin diz exaltado: “Você subestima meu poder”. Obi-Wan o adverte a
não tentar, mas Anakin tenta saltar sobre Obi-Wan, que em um único golpe,
arranca-lhe um braço e duas pernas. Anakin começa a rolar para o rio de lava,
apenas segurando-se com o seu braço mecânico. Obi-Wan diz: “Você era o
escolhido! Deveria destruir o Sith e não se juntar a eles! Trazer equilíbrio à Força,
não deixá-la na escuridão!”. Anakin grita: “Eu odeio você!”. Obi-Wan: “Você era
meu irmão, Anakin. Eu amava você”.
Anakin começa a ser queimado pela lava, pois se encontrava bem próximo
à ela. Obi-Wan pega o sabre do mesmo e se retira, deixando o queimar vivo.
Obi-Wan volta para a nave, levando Padmé, R2 e C3PO.
Vader consegue escapar das chamas, ficando com seu corpo todo
queimado, e é socorrido por Sidious, que o recolhe e o leva para Coruscant em
uma cápsula médica.
Obi-Wan contacta Senador Organa e vai em seu encontro. Ele chega com
Padmé nos braços pedindo um médico. Ela dá luz a um casal de gêmeos,
batizando-os e falecendo em seguida. Vader é levado para uma sala de cirurgia
onde rapidamente é montado sobre ele um traje mecânico. Vader pergunta para
Sidious sobre Padmé e Sidious lhe responde: “Parece que, em sua raiva, você a
matou!”. Vader fica furioso e grita.
Yoda, Obi-Wan e Organa decidem que todos devem desaparecer e que as
crianças devem ser separadas e escondidas. Organa diz que levará a menina e
Obi-Wan pergunta sobre o menino. Yoda lhe responde: “Para Tatooine. Para sua
família deve mandá-lo”.
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Obi-Wan se compromete em levar o menino e cuidar dele. Organa se retira e
Yoda fala para Obi-Wan: “Em sua solidão em Tatooine, tenho um treinamento
para você. Um velho amigo aprendeu o caminho da imortalidade. Ele voltou do
reino dos mortos da Força. Seu antigo mestre”.
Obi-Wan surpreso, lembrando-se de Qui-Gon Jinn, ouve Yoda que ainda
lhe fala: “Como conversar com ele, eu vou ensinar a você”.
Padmé é velada em Naboo segurando em suas mãos o colar que Anakin
lhe fizera aos 10 anos de idade. Vader ao lado de Sidious olha de uma nave, a
construção de uma gigante base espacial do recém formado Império.
O filme termina com Obi-Wan entregando o menino Luke para o meio irmão
de Anakin e sua esposa.
96
Capítulo VI – Análise e Discussão:
Episódio I – A ameaça fantasma
O título do filme que retrata o início da saga faz referência à condição
inconsciente dos Jedi em relação à existência dos Sith. Os Jedi representam o
bem, enquanto os Sith, o mal. O filme retrata a situação de os Jedi acharem que
os Sith tinham desaparecido e que não existiam mais, mas no filme ocorre a
revelação do Sith, que há milênios não se manifestava.
Neste episódio, um Sith é destruído por Obi-Wan Kenobi. No entanto, os
Jedi sabem que sempre há dois Sith, um Mestre e um aprendiz, ou seja, resta um
deles solto como um fantasma. Sendo assim, o título “A ameaça fantasma”, se
refere à situação dos Jedi, que se encontravam ameaçados sem saberem; visto
que o Sith estava tramando e usando seu poder para destruir os Jedi sem se
revelar. O Sith que agiu sem se revelar é o grande vilão do filme, o qual concluiu
futuramente seu golpe de destruir os Jedi, arquitetando um peculiar desfecho da
primeira parte da saga no episódio III - A vingança do Sith.
A “Ameaça Fantasma” representa, portanto, a condição inconsciente dos
Jedi, que concebiam o Sith como não mais existentes, mas que na verdade estava
operando inconscientemente. Mesmo posteriormente, quando os Jedi tinham
conhecimento da existência do Sith, eles permaneceram inconscientes na
condição de não saberem identificá-lo, capturá-lo ou destruí-lo. O Sith Darth
Sidious usou da estratégia de nunca se revelar para prosseguir operando
inconscientemente, semelhante à dinâmica do psiquismo inconsciente exercido
pela sombra no ego.
Darth Sidious disfarçou-se com o nome de Palpatine. Durante os primeiros
três filmes, não é revelado que Sidious é Palpatine, eles aparecem como dois
personagens diferentes, apenas no episódio III é que é revelada a verdade. Por
meio dessas duas personalidades, Sidious arquitetou toda a trama, ora sendo
Palpatine, um influente membro do Senado, ora Lorde Sidious, um aterrorizante
97
vilão que manipulava os corruptos e criminosos a cometerem crimes contra o
Senado.
Palpatine foi “A ameaça fantasma”, nos três primeiros filmes da saga, os
quais serão analisados neste trabalho. O mesmo revelou-se só no terceiro filme,
situação que será desenvolvida mais adiante, e permaneceu exercendo seu papel
como imperador nos três filmes posteriores, que completam a saga de vida e
morte de Anakin Skywalker, personagem que é enfatizado neste trabalho. Anakin
Skywalker no terceiro filme torna-se Darth Vader, discípulo de Darth Sidious ou
Palpatine, permanecendo nesse papel nos três episódios seguintes. No entanto,
como já mencionado, serão analisados apenas os três primeiros filmes.
Os Jedi tem a crença de que devem destruir o Sith e possuem a profecia do
escolhido, que é o único que pode trazer o equilíbrio para a Força. No Episódio I,
os Jedi descobrem o escolhido, um menino de dez anos chamado Anakin. Anakin
Skywalker é o personagem principal e o mais influenciado pela trama, mas que,
por fim, acaba contra-influenciando a mesma. Tal personagem pode ser concebido
como um herói, visto que ele corresponde a todos os traços que compõem o herói
mitológico. O herói é um arquétipo que contém características que seguem um
padrão. Em heróis de diferentes culturas e tempos, podem-se traçar diversas
semelhanças, as quais configuram tal arquétipo e compõem as características
comuns do mesmo. A análise será construída a partir das características
universais que compõem o arquétipo do herói, que serão destacadas dentro dos
subtítulos abaixo.
Nascimento do herói:
O herói e protagonista dos filmes é Anakin Skywalker. Nascido em
Tatooine, um planeta coberto por deserto, marginalizado e fora da República,
Anakin é criado por sua mãe e desempenhava a condição e o expediente de
escravo em uma oficina mecânica, cujo proprietário era “Dono” dele e de sua mãe.
Anakin nasceu espontaneamente sem um pai progenitor, teve sua
concepção concebida naturalmente pela “Força”. Tal informação é destacada da
cena no episódio I, em que Qui-Gon Jinn, após perceber algo de especial no
98
menino, pergunta para a mãe do mesmo quem era o pai; e ela responde: “Não
houve pai (Qui-Gon intriga-se). Levei-o no ventre. Dei-lhe vida e o eduquei. Não
sei como explicar”.
Segundo NEUMANN (1995: 108), a mãe do herói é sempre virgem, ou seja,
sagrada e dotada de abertura psíquica para Deus. O fato de não ter havido um pai
denota uma experiência de milagre, que a identifica com a Grande Mãe, Mãe
Terra, e Deusa Mãe. Escolhida e qualificada pela natureza para gerar o herói.
Segundo o autor, a Deusa Mãe que não precisou de um progenitor, não é regida
por um pai pessoal, mas sim por um poder suprapessoal que representa um
elemento procriador masculino internalizado e que a auxilia na maternagem e
educação do herói.
Todo herói mitológico é caracterizado por um nascimento peculiar,
geralmente sendo um parto com dificuldades ou com tentativas de “outros
poderosos” de destruir o filho enquanto ainda recém nascido e indefeso. No
entanto, o herói sempre supera as dificuldades iniciais impostas pelos
“adversários” ou pela própria natureza. No caso de Anakin, seu nascimento foi
diferenciado e especial, pois o mesmo fora concebido magicamente, “um milagre
da Força”. O nascimento do herói é diferenciado, seja por extremas dificuldades,
ou extremas facilidades, em todos os heróis mitológicos é presente no nascimento
a característica de ser especial. A característica especial do nascimento de Anakin
é o fato de não ter sido necessário um pai progenitor para se dar à gravidez,
podendo-lhe ser atribuído o status de “o enviado dos deuses”, entre outros.
O fato de não ter existido um pai pessoal, configura a distinção do herói,
que segundo NEUMANN (1995: 110), faz com que o herói se sinta estranho
perante os outros, experimentando dentro de si algo incomum e divino, fazendo-o
pensar que é filho de uma divindade. Segundo o pensamento antigo, o herói é
aquele que veio para a terra com uma missão, predestinado a realizar sua
elevação espiritual para ascender nos ciclos das reencarnações, o que o
caracteriza como o enviado dos deuses, recebendo projeções de messias,
salvador, o escolhido, entre outras.
99
Com 10 anos de idade, Anakin teve subitamente nele projetado o “status de
o escolhido e referido na profecia Jedi” ao entrar em contato com Qui Gon, apesar
de sua mãe sempre o ter concebido como especial, como indica o filme.
Anakin suportou projeções da mãe, que cuidou dele concebendo-o especial
e, posteriormente, a projeção de o escolhido da profecia Jedi. Apesar de
inevitavelmente terem sido projetados nele outros conteúdos, as duas projeções
destacadas possuem uma importância que tange ao sagrado. Anakin teve, na sua
experiência com maternidade, um cuidado exercido pela sua mãe, de resguardá-lo
em uma vida normal apesar de saber que ele tinha poderes especiais futuramente
concebidos como atributos Jedi. Qui-Gon, em uma fala que será destacada
posteriormente, toma conhecimento a partir da mãe de Anakin, que ele tinha
poderes especiais, que seriam capacidades superiores Jedi inatas.
Anakin, logo de início em sua relação com Qui Gon, que por sinal foi uma
breve relação (devido ao mesmo ter morrido em duelo), se encaixou naturalmente
na projeção de herói redentor que veio ao mundo para trazer equilíbrio para a
Força.
Ainda assim, Anakin não tinha consciência, talvez nem mesmo Qui Gon, da
responsabilidade de assumir tal projeção. A relação entre ambos fluiu de forma
natural e Anakin não foi tratado como uma entidade divina, o que lhe permitiu não
estranhar a projeção a ele dirigida, prosseguindo assim em sua jornada.
Pode-se destacar a naturalidade com que Anakin encaixou-se na trama,
como sendo o seu destino. A nave de Qui Gon é atingida enquanto escapava de
um planeta que havia sido invadido e ele chega até o planeta Tatooine para fazer
os reparos. A nave teve que pousar no tal planeta, pois não tinha condições de
seguir adiante, logo foi uma ação de sobrevivência. O fato de ser uma ação de
sobrevivência configura a real necessidade e propósito da ação de pousar em
Tatooine para adquirir peças novas, que permite atribuir a tal ação, a qualidade de
“força do destino” já que é Anakin quem repara e quem possui as peças para o
conserto da nave. Se isso não acontecesse, não se daria à sobrevivência, logo, tal
sobrevivência teve que se dar para que a nave prosseguisse existindo
100
futuramente, ou seja, o destino pode ser entendido, nesse caso, como sendo a
realização no presente que configurou o futuro.
A revelação do herói:
Ao chegarem a Tatooine, Qui-Gon e Obi-Wan concordam que sentem um
distúrbio na força. Tal sensação pode se referir tanto à influência dos Sith na
trama, quanto à anunciação da vinda do escolhido.
As peças que faltavam na nave estavam disponíveis apenas na pequena
oficina aonde Anakin trabalhava como escravo, ou seja, ele possibilitou a
aquisição das peças que faltavam. Tal configuração do problema que afligia a
nave tinha em Anakin sua solução, logo Anakin estava conectado à solução do
problema da nave. Quando estavam na mesa conversando, após Anakin os
abrigar da tempestade de areia, ele se propõe a participar da corrida de Pod para
ajudá-los, já que os Jedi precisavam de dinheiro e o vencedor ganharia uma certa
quantia, mas sua mãe discorda, assim como todos os outros que não o queriam
em perigo. No entanto, Anakin insiste para sua mãe, que então reconsidera e diz:
“Posso não gostar... mas ele poderá ajudar vocês. É o destino dele”. Qui Gon
então o olha profundamente. O mesmo posteriormente fala para Anakin e sua
mãe, que havia perguntado para Qui Gon se ele levaria Anakin para se tornar
Jedi: “Sim. Nosso encontro não foi coincidência. Nada acontece por acaso”.
Devido ao encaixe natural de Anakin com o problema da nave,
proporcionado pelo mesmo ter mostrado seu altruísmo, sua boa ação
inconscientemente tratava-se da ação de seu ego para que ele realizasse seu
destino de tornar-se um Jedi. Qui-Gon o libertou sem o mesmo saber e lhe
ofereceu a oportunidade de deixar seu planeta para tornar-se um Jedi. Pode-se
dizer que Qui-Gon acoplou na boa ação de Anakin, de forma inconsciente para o
mesmo, sua libertação e escolha de partir, o que configura o ato de ajudar a nave
como a abertura do self para o ego tornar-se um Jedi.
A naturalidade do “encaixe” entre a ajuda de Anakin e a necessidade de
ajuda da nave, além de poder ser concebida como “força do destino”, por
espontaneamente ter se dado à completude para se prosseguir a jornada, tal
101
realização do destino, pode ser associado à realização de uma demanda do self,
correspondente ao processo de individuação.
Na mitologia, o destino é o que os deuses esperam dos homens, realizá-lo
é atingir o sagrado dentro de si e elevar a existência ao nível de excelência. Na
Psicologia Analítica, o self é a totalidade do sujeito, correspondendo
simbolicamente ao sagrado e aos deuses. O ato de realizar o self configura o
processo de individuação, que é o tornar-se si-mesmo, enquanto personalidade
superior potencialmente acessível ao ego. Pode-se traçar uma semelhança entre
a expressão: “realizar o destino”, e o conceito do processo de individuação.
Qui-Gon em uma fala comenta com a mãe de Anakin: “Deve orgulhar-se de
seu filho. Ele faz sem esperar recompensa”. A mãe lhe responde: “Ele não
conhece a ganância. Ele tem...”. Qui Gon completa sua fala: “Tem poderes
especiais. Prevê as coisas antes que aconteçam. Daí seus reflexos. É uma
característica Jedi”. A mãe lhe diz: “Merece vida melhor que a de escravo”. Qui
Gon: “Se tivesse nascido na República nós o teríamos identificado. A Força é
estranhamente poderosa dentro dele”.
Anakin estava cumprindo etapas de seu desenvolvimento concomitante
com a realização de seu destino e individuação, ele fazia suas boas ações sem a
ganância, que ainda não conhecia, mas sim motivado pela sua ligação e mesmo
identificação com o self. Uma vez correspondendo com os conteúdos advindo de
seu self e inconscientes, é que Anakin inicia sua trajetória, que o levou a ter que
abandonar sua mãe e partir para o mundo. O processo de realização do destino,
associado ao cumprimento do processo de individuação, pode ser referido como a
realização do si mesmo orientado pelo self, concomitante com o seu próprio
processo de desenvolvimento e amadurecimento. O processo de amadurecer é
uma conseqüência de viver no tempo, as realizações feitas no passado estruturam
a consciência do presente.
Anakin, assim como todo ser humano, desenvolve-se com o tempo, e
supera etapas de amadurecimento. No entanto, cada indivíduo tem sua própria
aptidão para amadurecer e corresponder ao “seu próprio” self. Anakin capta, dá
vazão e cumpre os conteúdos advindos de seu inconsciente. Seu ego até então
102
apenas realiza o que lhe é inconscientemente dirigido, levando-o ao encontro com
o problema da nave que transportava os Jedi e a Rainha Amidala.
Anakin deu-lhes uma alternativa para que eles conseguissem dinheiro para
as peças que faltavam na nave, o que lhe rendeu inconscientemente sua partida
para o mundo.
A dinâmica de Anakin de participar da resolução da história demonstra sua
aptidão para realizar as demandas do self, visto que o mesmo desempenha várias
tarefas que por fim lhe abrem um caminho.
A característica de ser o escolhido predestina Anakin a ser diferente e o
assemelha a uma variada gama de possibilidades de herói, seja messiânico, como
já mencionado, seja redentor, seja guerreiro, de qualquer forma que Anakin se
desenvolvesse, necessariamente lhe seria incumbida a realização da profecia.
Anakin fora de forma inesperada colocado diante do chamado para a
aventura e responde como naturalmente apto. O mesmo mostrava qualidades
especiais, como seu dote para piloto de Pod, para consertar coisas e ajudar os
outros sem desejar nada em troca.
Seu gesto heróico e primeira grande façanha foi participar e vencer a
perigosa corrida de Pod, que lhe rendeu o prêmio das apostas e que pagou as
peças da nave. No entanto, Qui Gon apostou, sem o conhecimento de Anakin, sua
libertação e ganhando a corrida ele passou a não ser mais um escravo.
Qui-Gon desempenhou o papel do inconsciente do herói, ele planejava um
futuro para posteriormente oferecê-lo para Anakin.
Depois de feita a sua primeira grande façanha e benfeitoria heróica,
enquanto Obi Wan encaminhava o conserto da nave, Qui Gon foi até Anakin na
presença de sua mãe e anunciou a libertação e escolha de se tornar um Jedi.
Tal passagem foi um marco para Anakin, pois ele teve que fazer uma
escolha que mudaria seu destino. Apesar de o ego ser permissívo à influência do
inconsciente, o qual pode indicar qual escolha se fazer, desta vez, a escolha tinha
um alcance maior, pois tinha como conseqüência que o mesmo abandonasse seu
planeta e entrasse na instituição dos Jedi. Foi uma escolha que teve que ser
selada com o ego, o que implica a conseqüência de separar-se do inconsciente,
103
responsabilizando-se agora o ego, que passa a assumir o controle paralelamente
ao inconsciente, que até então o guiava. O ego passou então a ser solicitado para
uma nova fase na qual o mesmo passaria a governar. Anakin até então seguia sua
vida conforme seu inconsciente lhe indicava, mas com essa escolha ele passou a
viver a partir de seu ego, pois ele havia abandonado sua condição inicial, saindo
do planeta Tatooine e da companhia de sua mãe. Tal saída representa a
separação primordial do ego com o self.
A separação do ego com o self, poderia ser descrita como o primeiro passo
para o processo de individuação. O self é o estágio inicial da psique, aonde não há
consciência e tudo é inconsciente. O ego deve emergir do self para se constituir o
eu, fundando-se assim a consciência. Tal separação é necessária para se dar o
desenvolvimento psíquico, o ego é uma estrutura que deve entrar em
funcionamento para que o indivíduo possa exercer sua vida de forma autônoma. A
permanência no self é a vivencia da totalidade, aonde não há o eu nem o outro,
aonde não há a escolha nem a individualidade, pois tudo é dissolvido na totalidade
e ordenado pelo self. No entanto, dentro do self contém o ego, o qual deve
emergir e se separar do self; ainda que invariavelmente o ego seja submetido ao
self, o mesmo pode exercer sua autonomia. Anakin estava identificado com o self,
mas escolheu partir e deixar sua mãe e seu planeta de origem, o que implica em
uma conseqüência e limitação que não cede ao seu desejo. O ego é uma parte do
self, logo compartilha da totalidade e completude do mesmo, mas levando uma
vida conscientemente limitada pelas suas escolhas, ao ponto que o self não tem
uma vida limitada pelas escolhas pois ele é a totalidade intemporal. O ego é o eu
que vive no tempo, na sucessão dos momentos presentes, enquanto que o self já
contém o futuro, o passado, o nascimento e a morte, ou seja, a totalidade do
sujeito.
Anakin escolheu ser um Jedi e partiu com Qui Gon para realizar sua
jornada e sonho. Anakin fala logo quando conhece Qui Gon sobre o sonho que
teve, no qual ele era um Jedi que libertava os escravos de seu planeta. Pode-se
destacar esse conteúdo profético em seu sonho, de ele ser um Jedi, fato que
ocorreu posteriormente, apesar de ele nunca ter voltado para Tatooine para
104
libertar todos os escravos, visto que um Jedi segue as missões a ele passadas e
não traça suas próprias missões ou criações. Semelhante a um Samurai, um Jedi
tem um profundo compromisso em servir a Força e não aos seus próprios desejos.
Ainda assim, Anakin mostra ter uma conexão direta com seu inconsciente, uma
vez que ele colhe em seus sonhos suas futuras realizações, de forma que ele
realiza o que é inconscientemente esperado dele. Além de um guerreiro, piloto e
altruísta, todos seus dotes e feitos se apresentam precocemente. Tal precocidade
mostra sua excepcionalidade, o que é uma característica padrão do herói
mitológico - a de apresentar precocemente talentos excepcionais.
Anakin iniciou sua individuação de forma conivente com a atitude Jedi, de
corresponder à Força, e não conforme seu bel-prazer. O seguir a Força e não
seus próprios desejos podem ser associados ao processo de individuação, no qual
o sujeito deve seguir seu self e não seu ego, como será visto adiante quando o
mesmo abandona sua mãe.
Anakin mostra sua relação próxima com self ao se referir ao seu sonho. Os
sonhos são conteúdos advindos do self, com o propósito de nortear o ego. Anakin
aos dez anos parece já estabelecer uma relação madura com seus sonhos,
tratando-os como conteúdos sagrados constituídos pelo e para o sujeito, o que
mostra um dote psicológico do mesmo, de explorar seus recursos internos
mantendo-os em contato e ligação com sua vida externa. Tal característica atribui
a Anakin qualidades de herói com talentos psicológicos, pois sabe expressar e
realizar suas próprias demandas internas.
Os sonhos são produções do self, que contém as demandas do self, como
orientações a serem cumpridas em prol do processo de individuação. Anakin
mostra ter um elo fortalecido com seu self, pois estava realizando o que seu sonho
lhe tinha dirigido.
Anakin, por ter seguido o caminho que se abriu naturalmente para ele,
possui legitimidade e direito de estar ali. Apesar da possibilidade de ele não ser
aceito pelo mundo, ainda lhe resta seguir sua ordem interior. O mesmo não fora
induzido pelo por seu bel-prazer ou pela arbitrariedade do ego a chegar ali, visto
que ele se lançou ao chamado para a aventura, estruturado pelo self,
105
abandonando sua mãe e planeta, para realizar-se enquanto personalidade
heróica. Anakin não pesou as suas possibilidades para fazer sua escolha de se
tornar ou não um Jedi, não escolheu de forma racional, apenas de acordo com a
consciência do ego, mas sim se deixou levar por algo que sentia que devia fazer.
Tal disposição de cumprir com seu senso de dever é outra característica que
identifica Anakin com o herói mitológico e o assemelha a um sujeito em processo
de individuação, uma vez que o mesmo faz inconscientemente a realização de seu
self, enquanto herói cumprindo seu destino e etapas de desenvolvimento. Sendo
assim, Anakin possui um vínculo com seu self, capaz de orientá-lo em sua vida
para o caminho do herói, de superar as provas, ampliar sua consciência e realizar
o seu destino.
No processo de individuação, o ego corresponde-se com o self, abrindo
mão de seu próprio desejo para realizar a demanda do self. Sendo assim, Anakin
iniciou sua individuação, igualmente de forma precoce, indicando sua
característica heróica associada ao processo de individuação, sendo tal traço uma
das muitas qualidades precoces que compõem esse herói.
Quando a nave fora atingida, foi Obi-Wan quem sugeriu o planeta Tatooine
para se fazer os reparos. Obi-Wan direcionou a nave para lá, logo o mesmo
estava ligado diretamente ao destino do herói Anakin.
Obi-Wan, como demonstrarão os outros filmes, é um personagem
intimamente ligado a Anakin. No final do episódio I, devido à morte de Qui-Gon,
Obi-Wan assume o papel de Mestre de Anakin, o escolhido.
Anakin mobilizou o seu ego de forma a realizar suas transformações e
atendendo ao chamado para a aventura. Ele teve que se despedir da sua mãe,
selando conscientemente seu destino de não saber quando voltaria a vê-la.
A partida do herói:
Anakin abandonou sua mãe, que por sua vez o incentivou a ter coragem
para tal. A mãe o incentiva a realizar-se, dando-lhe a escolha.
A escolha foi a invocação do ego de Anakin, que a partir de então estaria
separado do self. Anakin escolhe e Qui-Gon pede-lhe que arrume rápido suas
106
coisas para partirem. Ele se despediu sem dificuldades de seu dróide C3PO e
então despediu-se de sua mãe, que não colocou barreiras para que seu filho se
fosse para ganhar seu mundo e realizar-se enquanto pessoa e herói. A mãe
conformou-se de que sua parcela na criação do herói estava encerrada e o deixou
partir. Após sua partida, ele foi estabelecendo novos laços com o mundo que se
abria, para dessa forma suplantar o abandono da mãe, planeta de origem e self.
Anakin, não mais identificado com o self, estava agora contando com seu ego.
Sua vida passada que lhe remetia ao mundo materno e self, que agora não mais
lhe ofereciam proteção e aconchego, pois agora tudo dependia dele mesmo,
enquanto ego responsável por suas ações e conseqüências. Geralmente o esforço
de partir e romper os laços familiares parte do herói, que usa a energia desse
arquétipo para se impulsionar para o mundo, vencendo a mãe possivelmente
dominadora ou super-protetora e cortando os laços. Anakin teve o mesmo destino,
mas de forma diferente, não a partir de sua vontade de romper os laços maternos,
mas sim se agarrando à oportunidade de partir. Ao partir com Qui Gon, Anakin
pára e olha para trás, para sua mãe que o observava partir. Anakin volta correndo
para abraçá-la e diz: “Eu não posso. Não posso, mamãe. Eu verei você outra
vez?”. Sua mãe responde: “O que diz o seu coração?”. Anakin responde: “Espero
que sim. Sim. Creio eu”. A mãe lhe responde sorrindo: “Então nos veremos outra
vez”. Anakin: “Virei libertar você, mamãe. Eu prometo”. Sua mãe o acaricia e diz:
“Agora, seja corajoso... e não olhe para trás. Não olhe para trás”. Anakin então
parte e sua mãe fica por se consolar com a partida necessária e padrão do destino
do herói.
Anakin, diferente do padrão do herói que deixa para trás as experiências
ultrapassadas, deseja ver sua mãe de novo, o que configura sua saída do
ambiente familiar marcada pela falta e desvinculação com a mãe de forma
dolorida. O mesmo ainda promete salvar a mãe, a primeira promessa de seu ego.
No entanto, o ego não tem o mesmo poder que o self, logo pode-se denunciar o
primeiro ato de hybris de Anakin, por se pensar capaz além de suas limitações.
Anakin, motivado por suas emoções, assume a postura do ego inflado para
107
separar-se do self, prometendo libertar sua mãe por pensar ser uma capacidade
de seu ego.
Para o ego se separar do self, ele deve assumir uma posição inflada, no
qual se sente livre e tão poderoso quanto o self. Sendo assim a hybris de Anakin
foi uma expressão necessária para que ele pudesse suprir sua carência emocional
de perder a companhia da mãe, ele concebeu-se com o poder de voltar e libertá-
la, e então partiu.
Qui-Gon e a Rainha Padmé Amildala foram duas pessoas que estavam
inconscientemente designadas ao herói. Foram duas personalidades que
influenciaram o herói, que por sua vez manteve-se, como mostra o filme,
intimamente vinculado aos dois. Ele futuramente se casa com a Rainha Amidala e
permanece sendo um Jedi, inconscientemente vinculado a Qui-Gon, que o lançou
para esse destino, mesmo tendo morrido antes de Anakin ter sido oficialmente
aceito na Ordem dos Jedi. Estas são as duas figuras positivas que participaram
da retirada de Anakin do self e presença da mãe. Tais figuras foram importantes
estímulos que impulsionaram a partida do herói, pelo fato dele ter se sentido
seguro e acolhido para partir na companhia dos mesmos. Pode-se dizer que essas
duas figuras carregaram a projeção de Anakin de seu mundo materno, onde
existia o amor, segurança e totalidade, ou seja, características do self, diferente do
ego, que é marcado pelo conflito e insegurança.
Enfrentamentos do herói:
Anakin parte com Qui Gon; próximos da nave, Qui Gon corre seguido por
Anakin. Anakin grita para Qui Gon que o espere, pois está cansado, Qui Gon se
vira e vê um guerreiro negro se aproximando rápido em uma moto voadora. O
guerreiro negro é Darth Maul, discípulo de Sidious. Os dois lutam com seus sabres
lasers e Anakin corre para a nave. A nave passa com a porta aberta por traz de
Qui Gon e ele pula na nave fugindo.
Tal aparição do Sith foi finalmente revelada nos momentos antes de Anakin
chegar à nave. Anakin, ao se aproximar da nave, já passou por um grande perigo
e por uma revelação de consciência aos Jedi, visto que os Sith não apareciam há
108
milênios e eram tomados como inimigos que deixaram de existir. Essa passagem
mostra que na partida do herói já se lançam grandes perigos e revelações
coletivas de ampliação de consciência.
O herói atualiza e aumenta a sua consciência, contribuindo para o aumento
de consciência do coletivo. Segundo BRANDÃO (2002: 20), o herói alavanca um
processo de transformação de consciência, suprindo as deficiências psíquicas de
seu grupo ou comunidade. CAMPBELL (1997: 27) cita os enfrentamentos que se
dão logo na saída do herói, perigos e dificuldades que o mesmo tem que enfrentar
antes de embarcar na aventura.
Anakin, durante a viagem para Coruscant, fica isolado num canto, quando é
atendido por Padmé. Anakin lhe dá um colar que ele mesmo esculpiu, dizendo que
é para que ela se lembre dele. Tal presente de Anakin tem o propósito de
simbolizar o vínculo dele com Padmé. Anakin lhe revela estar sentindo falta de
sua mãe.
Tal sentimento de falta logo ao abandonar a mãe foi uma manifestação
interna de Anakin que o mesmo acolheu em si; o herói geralmente não sente a
falta, pois é lançado ao mundo pelo propósito de abandonar a mãe, energizado
por tal superação e sendo rapidamente absorvido por outras questões. No
entanto, no caso particular de Anakin, deu-se a falta e ele se envolveu com seu
estado interno despertado, acolhendo-o e sentindo-o, visto que partiu tendo que
abandonar a mãe e não para abandonar a mesma. As ligações do herói com os
seus conteúdos internos mostram um vínculo real do mesmo, que o afeta e o
orienta, tornando-o intrinsecamente ligado ao seu estado interior. Anakin tem a
característica de corresponder ao seu estado interno, sendo sensível e implicado
consigo mesmo. Pode-se dizer que o ego, ao se desvincular do self, mantém-se
uma grande apreensão interna, buscando reconectar-se ao self, criando-se assim
o eixo ego-self, eixo que faz a ligação de Anakin com seu self, representado pela
sua infância em Tatooine e relação com a mãe. O sentimento de falta de Anakin
lhe permite manter o vínculo que integra sua personalidade, conectando-o com
seu passado e origens, e organizando-o para absorver o presente e o futuro,
mantendo sua essência originária.
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Segundo EDINGER (2000: 33), a separação do ego com o self, é
impulsionada pela atitude inflada do ego, e deve suceder para o estado de
alienação, aonde o ego perde a identidade com o self. O processo de alienação é
expressado pelo sentimento de perda, de abandono do self. Tal estado deve se
processar de forma sutil, para que assim se mantenha um eixo que liga o ego com
o self, o eixo ego-self, fundamental para se dar a vida criativa para o ego,
enriquecendo-o com características do self.
No entanto, como logo será visto, o sentimento de falta não é bem recebido
pela Ordem Jedi, que consideram o apego como um impasse para o
desenvolvimento. O sentimento de perda desperta o medo na Ordem Jedi. Para
tanto eles usam do tabu de não sentir a falta, pois a mesma é uma passagem para
o lado negro da “Força”. O tabu, segundo EDINGER (2000: 60-61), é uma
proteção contra a possibilidade de inflação do ego, que acarretaria uma
penalidade dos deuses ou do self.
Enquanto o Senador Palpatine arquiteta seu golpe para se tornar
Chanceler, os Jedi vão ao Conselho reportar a aparição do Sith. O Conselho
responde ao apontamento de Qui-Gon dizendo: “Impossível. Os Sith foram
extintos há milênios. Não creio que os Sith tivessem voltado sem nosso
conhecimento. Difícil ver o lado negro (diz Yoda). Usaremos nossos recursos para
desvendar o mistério. Descobriremos o agressor. Que a Força esteja com você”.
Os Jedi fazem uma saudação por ter sido encerrado o assunto e Obi-Wan se
retira, mas Qui-Gon permanece no lugar e conta sobre a revelação do escolhido,
pedindo-lhe treinamento.
Todos do Conselho ficam mobilizados ou assustados com a noticia e
marcam uma sessão só com o garoto.
Enquanto Palpatine realiza seu golpe de destituir o Chanceler para criar-se
eleições, Anakin é testado pelo Conselho Jedi. Um membro do Conselho diz a
Anakin que seus pensamentos se voltavam para sua mãe. Anakin responde:
“Sinto falta dela”. Yoda lhe diz: “Medo de perdê-la, não é?”. Anakin lhe responde:
“O que isso tem a ver com o resto?”. Yoda: “Tudo. O medo é a trilha para o lado
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negro. O medo leva à raiva. E a raiva leva ao ódio. O ódio leva ao sofrimento.
Sinto muito medo em você”.
À medida que o ego emerge e vive sua vida, cria-se a sombra, que no caso
de Anakin, voltava-se para o desejo de libertar sua mãe. A sombra é composta
das nossas não aceitações e não realizações. Anakin já tinha uma promessa para
realizar, e tinha seus sentimentos de perda. Tal situação interna de Anakin
despertou insegurança no Conselho Jedi, que não se sentiu confortável com a já
explicitada sombra de Anakin. O Conselho sentiu-se assombrado com o futuro de
Anakin, e projetou no mesmo suas próprias sombras, referentes a ter que
enfrentar o lado negro da Força. O medo em relação ao futuro de Anakin estava
contido na sombra de cada membro do Conselho, que estavam acomodados com
suas vidas como elas estavam. A presença e possibilidade de inclusão de Anakin
ameaçou a estrutura interna do Conselho, remexendo os conteúdos sombrios dos
mesmos.
Anakin não tinha medo em relação a seu futuro, tinha apenas o desejo de
rever sua mãe; no entanto, ao lidar com o Conselho, Anakin deparou-se com a
sombra dos Jedi, que não aceitavam a presença do medo. Pode se dizer que o
medo é a sombra do Conselho Jedi, visto que eles não aceitam a presença do
mesmo. Para Anakin, o medo provavelmente se tratava de um problema pessoal,
que cada um teria que lidar e superar. No entanto, ele viu que para a Ordem Jedi,
não era permitido o medo, pois senão ele seria rejeitado.
A rejeição da Ordem Jedi em aceitar Anakin fora um enfrentamento pelo
qual ele passou, pois teve que lidar com a insegurança e rejeição do Conselho em
relação à sua pessoa, assim como lidar com o medo e insegurança em relação ao
seu futuro, que dependia da Ordem Jedi. O Conselho defendeu-se com
formulações a respeito da subjetividade de Anakin: a tarefa de aceitação do
escolhido tocou conteúdos sombrios do Conselho, ameaçando as crenças nos
quais ele se baseava. O escolhido, como eles estavam avaliando, teria que
futuramente enfrentar seus medos, que correspondem aos medos do Conselho,
eles não aceitaram tal desafio e recuaram como forma de manter o status quo. A
111
possibilidade de confronto com o lado negro da Força, ou, a ameaça de ter que
lidar com tal questão, serviu de fundamento para se rejeitar Anakin.
Obi-Wan proclama para Qui Gon sobre a insistência do mesmo em treinar o
garoto e o questiona quanto ao mesmo não seguir o código Jedi. Qui Gon diz para
Obi-Wan que ele ainda tem muito o que aprender. Posteriormente, antes de
retornarem a Naboo, Obi-Wan reluta sobre a atitude de Qui-Gon, dizendo que o
menino era perigoso. Qui-Gon o repreende e diz que o destino do mesmo era
incerto e que ele não é perigoso.
A projeção da sombra do Conselho sobre Anakin contou com o apoio de
Obi-Wan, que logo se identificou com o Conselho. Apenas Qui-Gon não projetava
sua sombra em Anakin, mantendo apenas a projeção de ele ser o escolhido, logo
ter que se tornar um Jedi.
A passagem destacada acima mostra a resistência de Obi-Wan em relação
a seu mestre não seguir o código ou o Conselho Jedi, mostrando uma opinião
própria e que diverge da de seu Mestre, não compactuando com o mesmo em
relação à Anakin. Não seguir o Código ou o Conselho, são conteúdos sombrios de
Obi-Wan, visto que ele se identifica com o cumprimento padrão da Ordem Jedi,
não recebendo bem qualquer ação que discorde do Conselho.
Palpatine se candidata a Chanceler, aproveitando-se de sua influência com
os problemas da rainha Amidala que foram denunciados no Senado. Amildala
decide voltar para Naboo para aliar-se com os Gungans e combater a invasão.
Anakin volta ao Conselho acompanhado por Qui-Gon e Obi-Wan. O Conselho
afirma que a Força é forte em Anakin, mas que seu futuro não estava claro,
portanto ele não seria treinado. Qui-Gon mesmo assim o aceita como discípulo e o
Conselho adia a resolução, visto que a Rainha precisaria ser protegida ao voltar
para Naboo, e que eles deveriam investigar sobre o mistério dos Sith.
Anakin teve entraves e dificuldades no caminho, que são as provas que o
herói deve superar. No caso dele, sua prova foi a não aceitação da Ordem dos
Jedi e a turbulenta situação da revelação do Sith. Tal cenário de chegada lhe
mostrou a existência de outras prioridades à frente da resolução de seu destino. O
ataque a Naboo e influência dos Sith, que em suas decorrências libertou Anakin e
112
configurou sua situação de chegada, da mesma forma, tiveram influência na
resolução do Conselho sobre Anakin, que foi adiada devido ao retorno para Naboo
e devido à necessidade de se investigar o mistério de Sith. Anakin foi encaixado
em seu destino devido a um desvio de trajeto da nave da rainha Amilada; após
sua inclusão na nave ele prosseguiu sendo levado pelas situações despertadas
com sua vinda.
Anakin foi sendo levado pela aventura até se dar o desfecho da mesma,
que por fim deu-lhe a resolução em relação ao Conselho Jedi. O herói
permaneceu dentro da aventura, “sendo levado pela Força”, até se concluir um
ciclo, para após renascer uma nova fase.
CAMPBELL (1997: 27), faz a relação do herói com a dinâmica de ascensão
e desintegração das civilizações, fio que percorrerá toda a trajetória de Anakin nos
filmes. O autor cita que apenas o nascimento pode salvar a morte, sendo que para
se darem as transformações sociais, deve emergir o novo e não uma reprodução
de algo antigo. A transformação é o que liga o futuro com o passado, é a mudança
e o fechamento de um ciclo. O autor cita que o herói é aquele que está envolvido
nesse processo trazendo o novo para dar-se a transformação. Anakin
acompanhou uma grande mudança, sua presença e participação na trama
desencadearam o nascer de uma nova fase.
Grande feito do herói:
Ao chegarem em Naboo, Obi-Wan pede desculpas para seu Mestre,
dizendo que não cabe a ele discordar sobre o garoto. Qui-Gon contenta-se e
aponta qualidades de seu Padawan.
Sidious envia seu aprendiz Darth Maul para junto do vice-rei da Federação
do Comércio. Sidious, “disfarçado” de Palpatine, ficou sabendo diretamente pela
rainha Amidala que a mesma iria retornar a Naboo. Darth Maul é enviado para ser
o difícil adversário dos Jedi e para garantir rendição de Naboo para a Federação
do Comércio. Palpatine ou Sidious sempre enreda a trama colocando as
dificuldades e fatalidades a serem decorridas.
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Anakin foi uma importante peça para a vitória da batalha entre os gungans
e os dróides. Qui-Gon mandou que ficasse na nave-caça para se proteger. No
entanto, Anakin quis ajudar Padmé e seus guardas que estavam sendo atacados
por dróides. Ele usa a arma da nave para destruir os dróides que atiravam em
seus aliados e, ao mexer no gatilho, ativa a nave para ir junto das outras, que
estavam guerreando na órbita do planeta contra as naves dróides. Anakin é
levado até o local e com apenas um tiro certeiro e ao acaso, destrói a base
espacial, vencendo a guerra, já que o alvo que atingiu era o reator principal de
energia que mandava sinal para todas as unidades dróides.
O tiro certeiro e ao acaso de Anakin, de destruir o alvo que canalizava toda
a energia do conflito, demonstra a qualidade de redentor do mesmo, de encerrar o
conflito e trazer a ordem. Anakin tem a predisposição para atingir tal alvo de forma
inconsciente.
Cada personagem teve uma participação fundamental para se dar o
desfecho do filme. Tal arranjo eficiente que supriu todas as demandas que
advieram, superando-as, pode servir como analogia da organização interna, que
quando tendo todos seus elementos articulados, configuram a condição ideal para
o processo de individuação, e para desempenhar de forma bem sucedida os
enfrentamentos e dificuldades.
Enquanto a rainha Amidala emboscava o vice-rei da Federação do
Comércio para forçá-lo a um acordo de rendição e Anakin vencia as unidades
dróides, Qui-Gon e Obi-Wan lutavam conjuntamente contra Darth Maul. No
entanto, Qui-Gon não aguardou Obi-Wan para combater Maul, lutando contra o
mesmo sozinho. Qui-Gon é fatalmente ferido pelo adversário, Obi-Wan então o
substitui em combate. Obi-Wan se encontrava pendurado em um poço e Maul
bem mais acima, já se dando como vencedor, ficando apenas a observar a
desvantagem de Obi-Wan. A despreocupação de Maul foi sincronizada com a
bravura de Obi-Wan de saltar por cima do mesmo, atraindo a espada de Qui-Gon
às mãos e matando-o. Diferente do que ocorre no episódio III, quando Anakin
tomado por fúria cega (hybris) e alertado por Obi-Wan a não tentar, salta por cima
114
de Obi-Wan e tem seus membros decepados. Tal passagem será vista mais
adiante.
Após a resolução do conflito e durante o despache do vice-rei da Federação
do Comércio, tido como responsável por todo o conflito, chega o recém-eleito
Chanceler Palpatine, ainda encoberto Darth Sidious, que parabeniza a todos pela
vitória e mostra seu interesse por Anakin. Chega a personalidade responsável por
todo o mal para prestigiar a vitória do bem, ficando disfarçado entre eles e já
interessando-se por Anakin.
A chegada do herói não transcorreu para uma situação acolhedora,
tampouco obteve uma atenção exclusiva. Ao contrário disso, a história se
encaminhou para sua resolução, que foi a morte de Qui-Gon, a retomada de
Naboo, agora unida aos Gungans, e a revelação da existência do Sith. Neste
desfecho, atendendo aos desejos de Qui-Gon e a persistência e lealdade de Obi-
Wan, deu-se a aceitação de Anakin na Ordem dos Jedi como sendo o escolhido.
Final do Filme:
Obi-Wan se propõe a treinar Anakin devido ao fato de ter dado sua palavra
a Qui-Gon, antes do mesmo morrer. Ao matar Maul, Obi-Wan corre e toma seu
Mestre ainda vivo em seus braços, que lhe diz: “Obi-Wan... Prometa... Prometa
que treinará o garoto”. Obi-Wan: “Prometo, Mestre”. Qui-Gon: “Ele... é o escolhido.
Ele trará o equilíbrio. Treine o garoto”.
Mesmo a contragosto, Yoda aceita Obi-Wan como Mestre de Anakin
Skywalker. Yoda adverte sobre um grande perigo no treinamento do escolhido e
diz que sente em Obi-Wan o desafio de Qui-Gon e que acha isso desnecessário,
mas mesmo assim ele cede.
É feita a cerimônia de cremação de Qui-Gon, onde Obi-Wan diz a Anakin
que o Conselho aceita que ele o treine e lhe promete que ele será um Jedi. Diante
da morte de Qui-Gon, que deixou Anakin inseguro e preocupado com seu futuro,
abriu-se uma nova fase, na qual Anakin obteve a segurança de que seria um Jedi.
Obi-Wan passou de discípulo para Mestre e o Conselho se viu diante da
existência do Sith.
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No entanto, Anakin começou sua lista de perdas posteriores à separação
da mãe, com a morte de Qui-Gon. Foi uma perda significativa por ser a principal
figura que acompanhou e motivou a partida do herói. Qui-Gon o acolheu e lhe
abriu o caminho para ser um herói. Por mais que Anakin já tivesse os quesitos
fundamentais, foi Qui-Gon quem lhe propôs o caminho do herói, permitindo assim
a realização de sua potencialidade. Se não fosse pela intervenção de Qui-Gon, tal
potencialidade se desenvolveria de outra forma, engendrada pelo self ou pelo
próprio ego do herói. Qui-Gon ofereceu o convite para a aventura no momento em
que Anakin estava pronto para partir e no contexto sincrônico da abertura do self.
Obi-Wan, assim como o Conselho, advertiram sobre Anakin ter passado da idade
padrão para se efetuar o treinamento. Mesmo assim, perante muitas
contrariedades, Anakin foi aceito.
O filme se encerra com a cerimônia da união entre Naboo e o povo
Gungan, momento em que Anakin, ao lado de seu Mestre Obi-Wan, já se encontra
com as vestimentas e o corte de cabelo padrão do Padawan, aprendiz de Jedi.
Anakin sorri flertando com Padmé, que corresponde, e então o filme termina.
O filme retrata as memórias iniciais que compuseram a chegada do herói.
As passagens e enfrentamentos do mesmo configuraram seu mundo interno,
criando seus complexos e traçando sua origem, a partir do que serão contrapostas
suas futuras experiências e elaborações, pois o filme foi uma passagem da vida
do herói que determinou sua noção de realidade. Os desafios do herói ficaram por
ser superados, pois dependiam não apenas dele,
mas também do coletivo, no caso, a Ordem dos Jedi. Anakin desenvolveu seu
complexo materno, pois abandonar sua mãe contou com seu primeiro conflito: ele
optou por partir para desenvolver-se enquanto herói, mas tal experiência
despertou-lhe conteúdos emocionais, os quais posteriormente foram reprimidos
pelo Conselho Jedi. A prova que Anakin ficou por superar foi sua relação com o
Conselho Jedi. Que seria a base de uma troca de confiança? Ou que seria
pautada na desconfiança devido à repressão originária em relação à sua mãe? Tal
resolução apenas pode ser vista no futuro, no caso, no episódio II.
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Episódio II – O ataque dos clones:
O título refere-se ao ponto nodal da cisão da República, o ataque dos
clones, que levou a República à guerra e futuramente possibilitou a instauração do
Império. O filme começa na situação de desagregação da República, pois muitos
sistemas foram se desconectando, dificultando a Ordem Jedi de manter a ordem e
paz na galáxia. A Senadora Amidala engendrava um movimento contra a criação
do exército da República, motivo pelo qual Sidious encomendava atentados contra
a vida da mesma. O filme se passa dez anos adiante do filme anterior, quando
Senadora Amidala se dirige para Coruscant para votar contra o ato de criação
militar no Senado. No entanto, em sua aterrissagem, sua nave explode devido a
uma tentativa de assassinato, então são convocados dois Jedi para protegê-la,
Obi-Wan Kenobi e Anakin Skywalker.
Nesse episódio, são retratados alguns retornos, realizações de ciclos e
novos começos e mudanças. Anakin volta a ver Padmé e declara seu amor por
ela, volta a ver sua mãe e a enterra, perde seu braço direito e casa-se em segredo
com Padmé. São essas as atualizações feitas pelo herói, que retorna a algumas
questões despertadas no episódio I e inova sua situação de vida, que irá exigir um
novo retorno e atualização no episódio III. Pode-se dizer que cada filme
representa uma transformação e “curva do destino” que marcaram e definiram a
vida do herói.
O episódio II mostra a relação do herói com seu Mestre Obi-Wan Kenobi,
marcada pela prepotência e pelo seu desejo de independência. No mesmo
episódio, Anakin recebe suas duas primeiras missões desacompanhado de seu
Mestre. A primeira foi a de proteger a Senadora Amídala: ele a leva para o planeta
Naboo no intuito de exercer o papel de guardião. No entanto, ele faz mais que
isso, pois declara seu amor para ela, violando o Código Jedi. Além disso, Anakin a
leva para seu planeta de origem em busca de sua mãe, por sonhar repetidas
noites que ela estava sofrendo. Anakin, em sua relação com Padmé, realiza suas
próprias demandas sem o auxílio de seu mestre, expressando o sentimento de
prisão que o mesmo lhe desperta. Em sua segunda missão sozinho, ao final do
filme, ele escolta a Senadora Amidala até seu planeta, situação em que se casa
117
em segredo com ela. A necessidade de ser um casamento em segredo é porque,
se o mesmo for revelado, Anakin não poderá mais ser um Jedi. Entretanto, ele
continua sendo um Jedi, cumprindo seu importante papel de guerreiro protetor da
República, e secretamente é casado por ter uma grande afeição por Padmé.
Anakin tem uma relação de admiração por Palpatine, de ambivalência com Obi-
Wan e de dependência amorosa e afetiva com Padmé.
Tais passagens serão posteriormente desenvolvidas e analisadas de forma
mais detalhada, conforme o transcorrer das cenas.
Palpatine foi quem encomendou o assassinato da Senadora Amidala e
quem recomendou que a mesma fosse colocada sob proteção de Mestre Obi-Wan
Kenobi e seu Padawan. Ele é a ameaça pela qual se convocou a missão para os
Jedi e também quem fez formalmente o convite para que os Jedi assumissem tal
missão. Sendo assim, ele é a causa da trama e da história, pois manipula suas
ações para realizar seus objetivos, manipulando as pessoas e dissimulando-se
como vítima; no entanto, é ele quem elabora todas as maldades. No episódio I, o
mesmo atrelou Anakin à trama, já relacionando-o a até então rainha Amidala, que
era o foco consciente das manipulações do ego do vilão. No episódio II, ele
configura uma trama unindo Anakin e Amidala novamente. No entanto, o interesse
de atrair Anakin tem como propósito jogá-lo contra os Jedi e aproximá-lo
inconscientemente dos Sith.
Todos os filmes podem ser interpretados como uma obra do Sith, que
maliciosamente arquitetou e realizou o destino de toda uma geração, o que pode
associar Anakin como sendo uma obra do mal, aquele que veio predestinado a ser
a ferramenta do mal, o que acabou acontecendo. A mera influência de Palpatine
na trama sempre finaliza em uma fatalidade. No episódio I, a fatalidade foi a morte
de Qui-Gon por seu discípulo Darth Maul. No episódio II, Palpatine prossegue
sendo o Chanceler, que diz estar tentando manter a ordem na República, mas é o
maior responsável pelo fortalecimento dos separatistas, agindo como Darth
Sidious. A fatalidade é o início da guerra dos Clones e o fortalecimento do vínculo
entre Anakin e Palpatine.
118
No entanto, apesar das maldades de Sidious, as mesmas sempre revelam
coisas boas, como a revelação do escolhido, a oportunidade deste ver novamente
sua mãe, entre outras aberturas e possíveis fechamentos que foram
apresentados, advindos das tramas de Sidious. O bem e o mal se entrelaçam no
construir de uma história, são forças que fazem se chocar os conflitos e se
processar as resoluções. Sidious é aquele que é dedicado a fazer o mal, ele
trabalha constantemente para configurar o cenário mundano em um caos para
assim obter mais poder e futuramente governar sua própria ordem na figura de um
ditador.
O sistema político, o Conselho Jedi, o Senado e a República representam a
ordem vigente, na qual os cidadãos vivem protegidos pela justiça, sustentada pelo
Senado e pelos Jedi. Sidious, no final do episódio III, destrói o sistema e instaura a
sua própria ordem, organizada em um império galáctico.
Situação interna e externa do herói:
Anakin é convocado junto de Obi-Wan para a missão de proteger a
Senadora Amidala. Tal situação o deixa ansioso devido ao mesmo ter sentido
muito a falta de Padmé e agora, finalmente seu serviço, reencontrou-a. Ao se
apresentarem à Senadora e se sentarem para conversar, Anakin diverge de Obi-
Wan, defendendo o dever de encontrarem o assassino, enquanto Obi-Wan
defende que o dever era apenas de proteção, como fora designado pelo
Conselho. Ele diz, repreendendo a atitude de Anakin: “Faremos exatamente o que
o Conselho determinou. Vai aprender a se comportar, jovem”. Obi-Wan reage
rigidamente com Anakin, considerando sua atitude desafiadora e descabida, o que
desponta uma relação conflituosa. De um lado, Obi-Wan, aquele que segue
devotamente a Ordem dos Jedi, e de outro Anakin, aquele que se deixa influenciar
por outras pulsões e devires advindos de seus sentimentos e ideais próprios.
A relação entre eles é diferente da que Obi-Wan tinha com seu Mestre, na
qual ele era devoto ao mesmo, que, por sua vez, assumia o lugar de Mestre com
excelência. Já a relação de Anakin com Obi-Wan não é tão formal e unilateral, o
que não impede que Obi-Wan exerça sua posição e autoridade; talvez pela
119
diferença não tão grande de idade entre eles, foi possível uma relação mais
próxima e flexível. Anakin o tinha como Mestre, como pai e posteriormente como
irmão. Isso mostra uma relação na qual uma das partes pode mudar a qualidade e
o valor atrelado na relação, permitindo mudanças de projeções e
posicionamentos, renovando e atualizando o vínculo. Isso indica uma disposição
positiva de Obi-Wan na relação, visto que ele deixa à vontade seu pupilo para
expressar-se e estabelecer trocas de diferentes formas. Mesmo assim, devido ou
a uma característica de Obi-Wan, de não intervir ou contrariar, ou de Anakin, de
não respeitá-lo como Mestre, independentemente do motivo, Obi-Wan ocupava
uma posição passiva, apesar de sempre apontar ao seu Padawan todas as
limitações a serem respeitadas. A relação dos dois sugere uma maior abertura e
diálogo. No entanto, como será analisado mais adiante, Anakin mostrava-se
insatisfeito com tal relação, não usufruindo de tal abertura.
Obi-Wan deixava Anakin por conta própria, e Anakin usou dessa relação
para seguir suas pulsões internas e diferenças em relação à Obi-Wan.
Enquanto os dois fazem a guarda nos aposentos da Senadora, Obi-Wan diz
para Anakin que ele parece cansado, e ele lhe responde que não consegue mais
dormir. Obi-Wan pergunta se é por causa de sua mãe, Anakin meneia a cabeça
que sim e mostra-se insatisfeito de ainda estar sonhando com ela. Obi-Wan lhe diz
que os sonhos passam com o tempo, Anakin muda de assunto, dizendo que
preferiria sonhar com Padmé. Obi-Wan lhe adverte sobre o juramento de não
união amorosa prestado à Ordem Jedi, da dificuldade que seria quebrar esse
juramento e ainda comenta sobre Padmé ser uma política e que políticos não são
confiáveis. Eles debatem política e então a Senadora sofre um atentado que eles
conseguem impedir.
O diálogo deles sobre tal sonho mostra a qualidade de Obi-Wan de ser
atencioso ao reparar no cansaço de Anakin e deduzir que o mesmo não dormia
por causa de sua mãe. No comentário de Obi-Wan: “Sonhos passam com o
tempo”, ele aconselha Anakin a lidar com seu problema, pode-se inferir uma
tentativa de amansar Anakin e enquadrá-lo na Ordem Jedi, menosprezando seus
sentimentos e demandas por sentir a falta de sua mãe, demandas essas
120
anteriormente já rejeitadas pelo Conselho no episódio I. Anakin muda o assunto
para seus sentimentos em relação a Padmé e Obi-Wan o coloca frente à realidade
do juramento prestado à Ordem Jedi, de forma amigável e franca, dando-lhe um
aviso sobre as conseqüências que ele enfrentaria se seguisse tal caminho. Anakin
em momento algum se abre com Obi-Wan, tendo em vista que age por si mesmo,
mostrando-se independente, não recorrendo ou procurando suporte em Obi-Wan.
No entanto, a forma de Obi-Wan colocar-se para Anakin, por mais agradável que
fosse, colocava Anakin frente às suas responsabilidades, pois Obi-Wan apenas
segue o Código Jedi, não se desviando do mesmo, e fornece amigavelmente para
Anakin apenas o mesmo suporte que tem para si, o Código Jedi.
Após os dois impedirem o atentado a Padmé, Obi-Wan lança-se
audaciosamente da janela para agarrar-se em um pequeno dróide voador, o que
indica um elo de confiança entre ele e Anakin, pois ele se jogou por saber que
Anakin o resgataria, e quando este o fez, Obi-Wan exclama: “Por que você
demorou tanto?”.
Obi-Wan e Anakin iniciam a perseguição do assassino após o atentado.
Anakin mostra coragem e habilidades elevadíssimas para tal captura, assim como
Obi-Wan, que igualmente mostra-se virtuoso. Porém, Anakin apresenta a
característica de ser extremamente ousado, o que perturba Obi-Wan. Exemplo
disso foi quando Anakin se lança do carro voador por intuir que o veículo que
perseguiam estava mais abaixo, que de fato estava. Ele agarra-se no veículo
perseguido o levando a fazer um pouso forçado. Obi-Wan suspira quando Anakin
inesperadamente pula do carro, dizendo: “Odeio quando faz isso”.
Quando Anakin perseguia ofegante a assassina que entrou num bar, Obi-
Wan grita para ele esperar e lhe entrega a espada que Anakin havia perdido
enquanto fazia o pouso forçado da nave da assassina. Obi-Wan lhe dá as
recomendações de ter paciência para encontrar a assassina, não indo tão
ofegante na busca, e diz para ele não perder novamente o sabre, dizendo em tom
bem humorado: “Essa arma é a sua vida!”. Eles entram no bar e Obi-Wan lhe
confessa: “Sinto que você vai acabar comigo”. Anakin lhe responde: “Não diga
121
isso. Você é o mais próximo que eu tenho de um pai”. Obi-Wan: “Então, por que
não me ouve?”. Anakin: “Estou tentando”.
Tal diálogo expressa a situação entre ambos, na qual Anakin está tentando
adequar-se à relação enquanto Obi-Wan apenas deixa as coisas fluírem. A
irritação de Obi-Wan frente à audácia de Anakin aponta diferenças entre eles. Obi-
Wan expressa sua insatisfação com as divergências de seu Padawan, visto que
não concorda, tampouco entende as mesmas. As diferenças não reconhecidas
entre eles instauram uma relação de descompasso, na qual cada parte deverá
buscar em si mesmo entender o que representa o outro, visto que no contato
imediato ocorre uma comunicação desprovida de reconhecimento das diferenças.
No entanto, a relação entre eles é instituída como relação entre mestre e aprendiz,
na qual o mestre deve treinar e ensinar seu aprendiz.
Mesmo assim, para um Mestre poder instruir seu aprendiz, ele deve
primeiramente ver a individualidade do mesmo para então fornecer os
ensinamentos que lhe carecem. Sendo assim, independente da relação instituída
de mestre e aprendiz, é necessário o reconhecimento das diferenças e
individualidades. No entanto, as características de Anakin não se reduziam ao
Código Jedi, o que impediu que Obi-Wan reconhecesse as diferenças e
individualidade de Anakin, pois Obi-Wan adequava-se ao Código Jedi, e para
fornecer à seu Padawan uma completude, ele teria que não se ater apenas ao
Código Jedi, mas sim no ser Jedi que Anakin buscava. No entanto, Obi-Wan não
ajudou ativamente Anakin em seu processo de tornar-se Jedi, mas sim deixou
essa tarefa para o próprio Anakin. Ficando Obi-Wan, a conviver com Anakin, que
por sua vez deveria lidar com a Ordem Jedi por estar junto de Obi-Wan, a fim de
aprimorar-se até achar o seu lugar na Ordem Jedi.
O Conselho determina que Obi-Wan encontre o caçador de recompensas
que contratou a assassina e passa a função de proteger a Senadora para Anakin,
o que deixa Obi-Wan inseguro, pois era a primeira missão que Anakin recebia
sozinho. Mestre Windu ordena que Anakin vá ao Senado pedir para Palpatine
enviar Padmé para Naboo. Anakin vai até Palpatine, que começa a exaltá-lo
122
enquanto sendo superior aos Jedi, dizendo que ele se tornaria o mais poderoso de
todos os Jedi.
Foi Mestre Windu quem proporcionou tal encontro, pois ele enviou Anakin
para a influência do desconhecido Sith, relação que Anakin já tinha proximidade,
devido que o mesmo já tinha um vínculo e admiração por Palpatine, no entanto tal
vínculo foi-se fortalecendo.
Obi-Wan conversa em particular com Yoda e Windu, dizendo achar que
Anakin não está preparado para essa missão. Yoda diz que o Conselho confia na
decisão de Obi-Wan, que por sua vez não volta atrás na missão de Anakin. Tal
passagem mostra uma contrariedade de Obi-Wan em deixar seu Padawan
desacompanhado dele ou especificamente nessa missão, o que indica que Obi-
Wan preferiria não enviá-lo para tal missão. No entanto Obi-Wan não intervém,
deixando Anakin ir, correspondendo ao desejo do mesmo e sendo passivo em
relação a seus próprios intuitos, deixando prevalecer a decisão do Conselho.
Palpatine saúda Anakin, dizendo que finalmente os Jedi lhe deram uma missão.
Ele faz isso com o propósito de fortalecer o lado de Anakin que quer separar-se de
Obi-Wan, destacando-o da Ordem Jedi.
Obi-Wan representava o aspecto de Anakin que treinava para se
transformar em um Jedi. No entanto, Obi-Wan deixa fluir segundo as decisões do
Conselho e da Ordem dos Jedi, confinando Anakin na mesma, que lhe serviam
como suporte. Anakin tinha em suas recordações primordiais a respeito do
Conselho e Ordem dos Jedi a rejeição à sua pessoa, como mostrou o episódio I,
em que o mesmo logo de chegada não é reconhecido e desperta insegurança e
desconfiança.
Anakin vai até os aposentos de Padmé para levá-la para Naboo. Ele a
consola, já que ela reclamava por ter que se retirar sem poder votar contra o ato
de criação militar. Ao ouvir Anakin, Padmé comenta para o mesmo que ele
amadureceu e Anakin lhe responde: “Só o Mestre Obi-Wan não percebe. Não me
entenda mal. Obi-Wan é um grande mentor. É tão sábio quanto Mestre Yoda... e
tão poderoso quanto Mestre Windu. Fico muito grato de ser aprendiz dele. Mas em
certos aspectos... em muitos aspectos... eu sou superior a ele. Estou pronto para
123
os testes. Mas ele me acha muito imprevisível. Não me deixa ir adiante”. Padmé
lhe diz: “Deve ser frustrante”. Anakin responde: “É pior! Ele é muito crítico. Nunca
escuta. Ele nunca entende. Isso não é justo!”. Padmé lhe diz que os mentores
olham mais para nossos erros do que gostaríamos e que é assim que
amadurecemos. Anakin diz que sabe disso e Padmé lhe diz para que ele não tente
amadurecer muito rápido. Anakin então deixa-se levar por seu desejo amoroso por
Padmé e lhe diz que está amadurecido, olhando-a de maneira penetrante. Inicia-
se então uma atmosfera de intimidade entre os dois.
As falas de Anakin em relação à Obi-Wan, expressam sua necessidade de
reconhecimento. Ele aponta que só Obi-Wan não percebe o seu amadurecimento,
dizendo que já superou seu Mestre e que deseja deixar de ser um Padawan. Sua
relação com Obi-Wan lhe desperta o sentimento de prisão, que faz com que
Anakin se revolte. Quando ele diz que Obi-Wan nunca escuta e que isso é injusto,
pode-se destacar o tom exaltado de Anakin, o que indica conteúdos emocionais
que emergem de tal questão, configurando assim um novo complexo em Anakin.
Segundo SILVEIRA (2003: 30), os complexos são conteúdos psíquicos
carregados afetivamente e que exercem um funcionamento autônomo dentro de
nós, não partindo do ego. Os complexos atuam por meio de impulsos que levam o
sujeito a se comportar de determinada forma. Anakin começa a desenvolver um
complexo que se refere à sua relação com Obi-Wan, visto que quando evoca sua
relação com seu Mestre, ele se exalta e exprime fortes impulsos emocionais. Tais
impulsos e complexos estão contidos na sombra, visto que são inconscientes ao
ego. Por meio do dinamismo da sombra, os complexos permanecem sempre na
eminência de perturbarem o ego. Os complexos são criados tanto devido a
conflitos e traumas emocionais, quanto devido a emanações arquetípicas, que
seria a constelação no sujeito de um arquétipo, pertencente ao inconsciente
coletivo, logo acessível a toda a humanidade. SILVEIRA (2003: 33), diz sobre a
natureza desses complexos arquetípicos: “... feixes de forças contendo
potencialidades evolutivas que todavia, ainda não alcançaram o limiar da
consciência e, irrealizadas, exercem pressão para vir à tona”. Tais demandas
arquetípicas podem se tratar de grandes paradigmas da humanidade que se
124
constelam em determinadas pessoas, funcionando como complexos à mercê da
compreensão do ego.
Anakin inicia uma relação com Padmé, mostrando já de início seu desejo de
troca de intimidade. Com Padmé, Anakin encontrará uma relação que não lhe
desperta o sentimento de prisão, despertado por Obi-Wan e a Ordem dos Jedi. A
Ordem Jedi impõe um código de conduta que Anakin já pretende quebrar em sua
relação com Padmé. Anakin se insinua sexualmente para Padmé, acentuando sua
diferença em relação à Obi-Wan. Como será visto adiante, Anakin assume a
personalidade do afoito enquanto Obi-Wan a do devoto.
Com Padmé, Anakin verbaliza pela primeira vez seus sentimentos e
indagações em relação à Obi-Wan, apesar de já ter sido possível notar alguns
entraves na relação; ele se expõe, pois a mesma fornece-lhe abertura para tal.
Essa nova relação de Anakin, com quem esperou dez anos para se reencontrar,
serviu-lhe como auxiliar para ele elaborar seus impasses. Com ela, ele sentia a
segurança e abertura para se expor, tal relação passou a ser um recurso para
Anakin procurar elaborar seus conflitos. No entanto, Padmé não exercia apenas
essa função de abertura e confiança para conversar assuntos pessoais, ela
também recebia a projeção do grande amor de Anakin. No episódio III, Anakin não
encontra mais em Padmé a função de abertura para elaborarb seus temas
emergentes, mas apenas o grande amor que jamais aceitará perder, como será
visto adiante.
Obi-Wan acompanha Anakin até o local onde ele iria embarcar com Padmé
e R2. Obi-Wan passa orientações para Anakin, dizendo-lhe: “Anakin, não faça
nada antes de consultar a mim ou ao Conselho”. No entanto, tanto Anakin quanto
Padmé já estavam empolgados com a viagem, não atentando muito para a
despedida. Obi-Wan mostra-se preocupado com as atitudes que Anakin poderia
ter em sua ausência. Anakin trata seu Mestre com desdém ao se despedir,
ouvindo as recomendações e preocupações do mesmo de forma impaciente e
irritada.
A partir de então, o filme se dá paralelamente, ora mostrando a missão de
Obi-Wan e ora a de Anakin. Isso nos faz entender o que um estava fazendo
125
enquanto o outro fazia, mostrando-se o sincronismo entre eles, o processo e
experiência que cada um passou na ausência um do outro e como cada um deles
ocupou seu tempo, aprendizado e transformações. Serão destacados alguns
desses sincronismos abaixo, continuando na seqüência do filme.
Obi-Wan vai até o planeta Kamino, onde suas investigações o levaram. Lá,
ele revela as corrupções da República, que havia ordenado a criação de um
exército de clones sem o conhecimento do Conselho Jedi. Desta forma, Obi-Wan
desempenha o serviço de suprir a carência de informação da Ordem Jedi,
enquanto Anakin cria uma relação de trocas de intimidade com Padmé,
fomentando seu desejo de união amorosa. Anakin, mediante a responsabilidade
pela segurança da Senadora, procura exibir seu novo status, o que lhe rende um
constrangimento perante a rainha de Naboo, quando Padmé lhe retira sua suposta
autoridade, não deixando Anakin se gabar perante a corte.
Obi-Wan simula saber sobre o pedido de criação do exército enquanto
conversa com o primeiro ministro, procurando investigar e descobrir os dados
sobre o pedido de criação do exército e sobre o assassino por trás dos ataques à
Senadora. Obi-Wan se dirige ao desconhecido usando os recursos da
dissimulação para se extrair toda a informação de que precisa, ocultando sua
indignação perante a criação do exército e comportando-se como representante
da Ordem Jedi designado para inspecionar e checar os avanços da encomenda
feita. Enquanto isso, Anakin ruma ao desconhecido de si mesmo, seduzindo
Padmé e dando-lhe um beijo, que foi interrompido pela mesma. Anakin senta-se
no campo com Padmé, onde conversam, desfrutam da companhia um do outro,
divertem-se e rolam na grama agarrados.
Obi-Wan vai de encontro ao caçador de recompensas que havia contratado
a primeira assassina. O mesmo ficava hospedado em Kamino e Obi-Wan foi
surpreendê-lo. Os dois ficam cara a cara e Obi-Wan faz um interrogatório informal
e se retira para contactar o Conselho.
Enquanto isso, Anakin come à mesa com Padmé, conta suas histórias e
então usa a Força para levitar uma fatia de pêra e enviá-la ao outro lado da mesa
para Padmé, fazendo a “piadinha”: “Se Mestre Obi-Wan me pegasse fazendo isso,
126
ficaria muito irritado”. Pode-se interpretar como uma “piadinha”, devido à
seriedade esperada de um Jedi perante o uso da Força e a forma como Anakin
usou a Força ao levitar a pêra - para impressionar Padmé.
Os dois vão para a sala, onde Anakin confessa seu amor e Padmé coloca a
impossibilidade do relacionamento, dizendo que apesar do que sentem um pelo
outro, ele não deveria sacrificar seu futuro por ela. Anakin responde: “Está me
pedindo para ser racional. É algo que eu sei que não posso fazer. Eu gostaria de
poder ignorar meus sentimentos... mas não consigo”. Ele propõe manterem um
relacionamento em segredo, ela discorda e ele concorda com ela, aceitando a
situação de não união entre os dois. Anakin, apesar de ter se mostrado impulsivo
para conquistar Padmé, tentando todas as possibilidades para tal, ainda assim,
mostrou-se compassivo com a resolução de não se unirem, respeitando e
entrando em acordo com tal resolução, o que demonstra uma capacidade do
mesmo de aceitar a frustração do desejo.
Obi-Wan contacta Windu e Yoda dizendo-lhes sobre suas descobertas e
pedindo orientação. Yoda pede que ele capture o caçador de recompensas para
ser interrogado pelos Jedi. A atitude de Obi-Wan demonstra a característica de ser
prudente e cauteloso, dando passos previamente pensados rumo ao
desconhecido.
Obi-Wan corre e encontra Jango, o caçador de recompensas, embarcando
para fugir. Eles travam um árduo combate. Obi-Wan não consegue capturá-lo,
mas coloca um localizador na nave do mesmo para posteriormente persegui-lo.
Anakin tem um pesadelo com sua mãe em que a vê sofrendo. Padmé lhe
diz que o ouviu durante a noite e Anakin diz que sabe que está violando sua
missão, mas que deve ir ajudar sua mãe. Padmé vai junto. Eles pegam uma nave
de Naboo e vão para Tatooine, indo até a oficina em que Anakin trabalhava como
escravo, onde pegam o novo endereço de sua mãe, que havia sido comprada por
um fazendeiro chamado Lars que a libertou e com ela se casou.
Anakin sentiu-se mobilizado com o sofrimento de sua mãe e percebeu que
seu sonho retratava algo real que estava acontecendo. Ele se viu diante do dever
de retornar ao seu planeta para rever sua mãe. Padmé lhe deu essa abertura e
127
apoio indo acompanhá-lo. Tal atitude de Padmé a aproximou ainda mais de
Anakin, pois ela participou de sua partida e agora de seu retorno ao ambiente
familiar. Anakin teve que reaver suas origens e família, no caso apenas a mãe,
que o chamava por meio dos sonhos. Os sonhos de Anakin correspondiam à
realidade, o que reafirma sua característica de recolher nos sonhos suas futuras
realizações, e mostra que os sonhos de Anakin revelavam a realidade concreta. O
self de Anakin lhe enviou em seus sonhos a situação em que se encontrava sua
mãe, e Anakin atendeu a seu self indo em busca da mesma, sua única
representante de seu passado, infância e origem.
Anakin foi mobilizado por emoções despertadas pelo seu sonho, o que o
deixou preocupado e ansioso para ver a mãe. Ele atendeu ao chamado decidindo
comprovar o que estava acontecendo com a mesma, pois seu self lhe dizia que
ela estava sofrendo. O sonho e mensagem do self, que consequentemente dirigiu
Anakin de volta para seu planeta de origem, pode ser interpretado como uma
necessidade, que o self enviou ao ego de Anakin, de rever suas origens, de
Anakin visitar o seu passado e sua situação inicial de identificação com o self,
para se energizar e orientar o ego. No entanto, Anakin partiu para realizar seu
sonho ansiosamente no intuito de salvar sua mãe, lidando de forma concreta com
o self e não simbólica.
Obi-Wan segue o localizador, indo para um planeta em que estão alojados
os líderes separatistas e o exército dróide, enquanto Anakin vai até o local onde
vivia sua mãe e reencontra C3PO, conhece os Lars e descobre o que houve com
sua mãe. Anakin não se mostra disposto a conhecer sua família, mas sim parte
imediatamente para seu devir interno de resgatar a mãe que corria perigo. Ele
parte para resgatá-la, mesmo mediante desestimulações de Lars, que dizia para
ele se conformar com a morte dela.
Obi-Wan espiona as instalações inimigas e deflagra uma reunião dos
líderes Separatistas sendo liderada por Conde Dookan, Mestre do falecido Qui-
Gon Jinn, por sua vez Mestre de Obi-Wan. É revelado um inimigo que os Jedi não
concebiam ser possível. Obi-Wan descobre uma verdade que o deixa nervoso e
revoltado.
128
Obi-Wan envia uma mensagem para Anakin, visto que seu comunicador de
longo alcance estava quebrado: na mensagem ele pede que Anakin repasse tudo
para Coruscant e conta todas suas descobertas, entretanto durante a mensagem
ele é capturado, e depois recebe uma visita de Dookan.
Dookan tenta tornar Obi-Wan um aliado, lhe explicando que os Jedi estão
sendo enganados por Darth Sidious e que junto com Obi-Wan ele conseguiria
destruir o Sith. Obi-Wan nem mesmo cogita fazer o que diz Dookan e o chama de
traidor dizendo que jamais se juntaria a ele. Dookan então entrega Obi-Wan à
morte enviando-o para ser devorado na arena. Obi-Wan mostra-se solidamente
como um Jedi que honra sua Ordem e não se deixa corromper pela facilidade para
escapar enganando Dookan.
Anakin resgata sua mãe com vida, mas ela morre em seus braços, satisfeita
e orgulhosa por ter o visto seu filho crescido e podendo dizer-lhe de seu amor.
Anakin, logo quando sua mãe morre, lamenta e então se enfurece, matando toda
a tribo.
Anakin sentiu fúria por ter perdido sua mãe e responsabilizou toda aquela
tribo pelo ocorrido, exterminando todos seus elementos. A vingança de Anakin
deu-se no intuito de expiar sua culpa de ter perdido a mãe e revidar a dura pena
que lhe fora infligida, o que mostra como ele foi abalado pelo que aconteceu com
sua mãe e pelo arrependimento de não a poder salvar.
Yoda sente à distância o que acontecera e responde para Windu com
lágrimas em seus olhos e demonstrando compaixão, que pressentia que o jovem
Skywalker estava sofrendo uma dor horrível.
Anakin perdeu sua mãe, maior representante de sua infância e self. O
mesmo se enfurece, pois não consegue aceitar ou impedir tal perda, mostrando
seu estado descompensado em relação a seu destino, pois as coisas não saíram
como ele queria ou precisava, ele não concordou com o que ocorreu, então puniu
uma tribo inteira por terem lhe causado tal dano. Seu ego não correspondeu com
o self, mas frustrou-se com o mesmo, lamentando não ter tido o poder para fazer
diferente. Tal passagem afasta Anakin do self e o aproxima do ego, afasta-o de
ser um Jedi e o aproxima de ser um Sith, pois o mesmo passa a estabelecer com
129
o self uma relação de desconfiança, que lhe tira as coisas que ele mais valoriza, e
assume como solução para isso, que o ego deve ter grande poder para combater
o self.
A raiva de Anakin não é compreendida pelos Jedi, mas contou com a
compaixão de Yoda, que chora e lamenta pelo que houve com Anakin. Yoda,
apesar de sua rigidez de corresponder ao Código Jedi, lamenta o sofrimento de
Anakin.
Anakin chega com o corpo de sua mãe, todos vão rapidamente para fora
recebê-lo, mas ele os ignora e entra num aposento com o corpo, mostrando
feições de revolta. Padmé vai até ele, que logo se exalta por não ter conseguido
salvar sua mãe. Ela lhe diz: “Tem coisas que não têm conserto. Você não é todo-
poderoso”. Anakin responde: “Bem, deveria ser! Um dia, eu serei. Serei o mais
poderoso Jedi que já existiu. Eu lhe prometo. Aprenderei até a impedir que as
pessoas morram. É tudo culpa de Obi-Wan! Ele é ciumento! Ele está me
segurando! (joga coisas na parede)”. Padmé: “Qual é o problema, Anakin?”.
Anakin confessa (olhando para suas mãos): “Eu os matei. Matei todos eles. Estão
mortos. Cada um deles (exaltando-se em tom de fúria e indignação). E não só os
homens... mas as mulheres... e as crianças, também. São uns animais! E eu os
exterminei como animais! Eu os odeio! (gritando)”. Padmé o acolhe e diz: “Sentir
raiva é humano”. Anakin: “Eu sou um Jedi. Sei que sou melhor que isso”. Padmé o
consola, então todos se reúnem para o enterro.
A raiva de Anakin não corresponde à identidade Jedi. No entanto, ao dizer
que era um Jedi e melhor que isso, ele demonstra arrependimento por sua ação
de extermínio decorrente do sentimento de ódio, expressando assim sua vontade
e interesse de corresponder à identidade Jedi.
Anakin se ajoelha diante do túmulo, dizendo que não teve forças e que
falhou, ele promete que não fracassará de novo. Tal promessa parece não se
dirigir à sua mãe, visto que ela já estava morta e nada mudaria isso. Tal promessa
dirigiu-se para o próprio ego de Anakin, o qual deveria ser mais poderoso para
impedir as intercorrências do self. Anakin expressa seu grande abalo interno
130
dizendo para o túmulo da mãe que sente muito a falta de dela – vínculo com
infância e de ligação com o self.
O ego que saiu de Tatooine no episódio I agora voltou e fez novamente
uma promessa que não poderia cumprir, configurando-se um novo ato de hybris e
de inflação do ego.
Anakin falhou com sua promessa feita no episódio I, de voltar para libertar a
mãe escrava, visto que ela obteve sua libertação sem ser salva por Anakin, mas
sim pelo seu futuro marido. No entanto, Anakin sente que devia tê-la salvo,
sentindo-se fracassado por não tê-lo feito. Anakin não cumpriu de forma concreta
com a promessa de libertar ou salvar a mãe, mas cumpriu de forma simbólica,
pois salvou o corpo de sua mãe, removeu-a com vida da tortura a tomou-a nos
braços, o que simbolicamente representa libertá-la e salvá-la. Ouviu as últimas
palavras dela e acompanhou o falecimento, o que simbolicamente representa
libertá-la da vida e tornar sua transição para a morte completa, pois a mesma
sentiu-se realizada por poder ver seu filho novamente e então morrer. Anakin não
reconhece o valor de seu feito para sua mãe, pois queria resgatá-la com vida não
a deixando falecer. Ele não se satisfaz com o que pôde fazer, concebendo como
uma falha sua em relação à mãe. Ele não reconhece a morte da mãe, não aceita
tal limite, pois queria que ela continuasse a viver. A culpa de ter deixado acontecer
daquela forma, como se coubesse a ele que sua mãe não morresse, e a negação
da morte da mãe, o impulsionam a prometer não falhar de novo. Anakin reforça
seu ponto fraco, assume promessas que o fixam em um funcionamento apegado e
onipotente, atualizando sua hybris de ser todo-poderoso e capaz de impedir que
as pessoas morram, assumindo capacidades além das suportáveis pelo ego.
MOORE- GILLETE (1993: 40), afirmam que o arquétipo do herói, assim como
outros arquétipos “imaturos”, são excessivamente ligados à mãe. Os autores
ainda dizem:
“A derrocada do herói é que ele não conhece e é incapaz de aceitar
suas próprias limitações. O menino ou o homem dominado pelo
Herói da Sombra não consegue realmente perceber que é um ser
131
mortal. A negação da morte – limitação fundamental da vida humana
– é a sua especialidade” (MOORE- GILLETE, 1993: 37).
Anakin de início expressa sua incapacidade de aceitar a morte da mãe, ou
seja, a limitação para ele de que agora não tem mais a sua mãe. Pode se dizer
que em tal passagem, de encarar a morte da mãe, Anakin foi possuído pelo
arquétipo do herói.
R2 chega para o enterro trazendo uma mensagem de Obi-Wan. Anakin e
Padmé sobem a bordo da nave para ver a mensagem e já retransmitem para os
Jedi em Coruscant. A mensagem revela toda a descoberta de Obi-Wan, mas,
durante a transmissão, ele é atacado e capturado. Windu ordena que Anakin fique
onde está para proteger Padmé e diz que eles irão resgatar Obi-Wan.
Windu lhe dá essa ordem pelo motivo de ele ter que garantir a proteção de
Padmé, mas inconscientemente, Windu pede que Anakin repouse seu sofrimento
e permaneça ali para elaborar sua perda.
Padmé discorda de ficarem ali e convence Anakin de salvarem Obi-Wan,
pois chegariam mais rápido e os Jedi jamais chegariam a tempo. Padmé diz: “Vai
ficar sentado e deixá-lo morrer? Ele é seu amigo...”. Anakin responde: “Ele é como
meu pai! Mas o Mestre Windu mandou que eu ficasse aqui!”. Apesar da tentativa
de Anakin de obedecer Windu e de não assumir responsabilidades maiores do
que pode suportar, tentando evitar uma nova atitude de hybris, Padmé escolhe ir,
obrigando Anakin a acompanhá-la e ele aceita de bom grado. Eles partem para
salvar Obi-Wan levando junto C3PO.
Ao levarem C3PO, um dróide para relações diplomáticas criado por Anakin
em sua infância, eles resgatam um elemento da infância de Anakin integrando-o à
nave. Apesar de Anakin ter perdido sua mãe, ele recuperou seu dróide, que lhe
recebeu chamando-o de “meu criador mestre Ani”. Resgatar C3PO foi uma
integração de um elemento do self a partir de uma retomada ao universo infantil.
Joseph Campbell em seu livro “O herói de mil faces”, reflete sobre o
inconsciente infantil, como sendo a “estrutura” que: “comporta as potencialidades
não realizadas na vida adulta, cujos conteúdos possibilitam uma renovação e
132
elevação na vida adulta” (CAMPBELL, 1997: 27). O autor afirma que o herói é
aquele que inicialmente deve se retirar da cena mundana para mergulhar em seu
inconsciente infantil, para após então lançar-se sobre as regiões causais e
conflituosas da psique, a fim de esclarecê-las em favor de si-mesmo.
Anakin de fato retirou-se da cena mundana e regressou para seu
inconsciente infantil, aonde teve a árdua experiência de perda da mãe. Anakin não
permaneceu por muito tempo no inconsciente infantil, pois rapidamente partiu para
resgatar Obi-Wan. Anakin viu-se diante do conflito de escolher entre permanecer
no inconsciente infantil para elaborar seu luto, ou salvar seu mestre Obi-Wan.
Padmé fez essa escolha aliviando Anakin, que seguiu sua jornada para resgatar
seu mestre, deixando para trás seu “inconsciente infantil”, mas levando consigo
seu antigo companheiro C3PO, que voltou para a vida de Anakin, que agora tinha
seus dois andróides de estimação, R2-D2 e C3PO, unidos e presentes,
representando símbolos de sua ligação com o self.
Anakin voltou para a ação, prosseguindo para a resolução da aventura,
deixando para trás suas recentes experiências e prosseguindo para o novo
fechamento de ciclo, sendo que cada filme retrata no final, uma transformação
geral na trama.
Após correrem risco de vida, eles são capturados e juntam-se a Obi-Wan. O
filme que se passava com os dois traçando seus caminhos paralelos, agora narra
novamente os dois juntos. Anakin e Padmé, antes de entrarem na arena de
combate para serem destruídos juntos com Obi-Wan para a diversão de uma
platéia, mudam o acordo de não viverem sua união e amor. Padmé se declara e
volta atrás no acordo; e Anakin se entrega de novo ao seu desejo, eles então se
beijam.
Padmé, diante da possibilidade de destruição de sua vida, situação a que já
estava acostumada devido a tantos atentados sofridos, diz que não tem medo de
morrer e decide embarcar no amor proibido com Anakin.
Os três lutam na arena e vencem as criaturas adversárias. Quando é dada
a ordem para os dróides os destruírem, chegam outros Jedi que iniciam uma
133
batalha. Depois surge Yoda com o exército clone, obrigando os separatistas a
baterem em retirada.
Obi-Wan e Anakin vão atrás de Dookan para impedi-lo de fugir. Obi-Wan
queria um ataque conjunto, mas Anakin se precipita indo sozinho para o combate.
Ele é atingido por raios de Dookan, que o deixam invalidado. Anakin se precipitou,
sendo tomado pela raiva e partindo para o ataque de forma inflada e se achando
invulnerável, ele desconsidera e coloca em risco seu Mestre, agindo de forma
desmedida e impulsiva.
Anakin partiu para o ataque com excessiva confiança, cometendo um ato
de hybris e sofrendo imediatamente a consequência.
“O herói lança o menino de encontro aos seus limites, contra o
aparentemente intratável. Encoraja-o a sonhar o sonho impossível,
que afinal de contas pode ser possível, se ele tiver coragem
suficiente. Dá-lhe poder para lutar contra o inimigo imbatível, que
será bem capaz de derrotar, se não estiver possuído pelo herói”
(MOORE-GILLETE,1993: 40).
“O herói começa achando que é invulnerável, que para ele só
serve o 'sonho impossível', que ele pode 'lutar contra o inimigo
invencível' e vencer. Mas se o sonho é realmente impossível, e o
inimigo realmente invencível, o herói vai ter problemas” (MOORE-
GILLETE, 1993: 38).
Obi-Wan no episódio I já demonstrava seu estilo calmo, prudente e
meditativo; e Anakin começa a manifestar seu descontrole como um vício ou
impulso. Ele não efetuou um retiro ritual após a sanguinolência e luto da mãe, mas
sim engatou-se nas missões exercendo importante papel, mas deixando seus
impulsos adormecidos e inconscientes, logo não elaborados pela consciência do
ego. Em contrapartida, não houve tempo para uma estruturação interna, as coisas
foram se sobrepondo, o que configura o herói como sendo altamente solicitado
134
pelo self. Sempre usando suas qualidade de guerreiro desempenhando
benfeitorias, salvando vidas e combatendo os perigos. O herói pode ser tido como
um instrumento das forças do bem. Tal arquétipo dá o impulso para o individuo
suportar o que para os outros é insuportável, levando adiante as realizações,
superando o insuportável e seguindo em frente.
Anakin não atende à recomendação e pedido de Obi-Wan, deixando-o
sozinho para a luta contra Dookan. Quando Dookan ia dar o golpe fatal em Obi-
Wan, que já estava derrotado, Anakin intervém salvando-o, mas tem seu braço
cortado por Dookan. Yoda chega, mas Dookan consegue fugir.
Edward F. Edinger, em seu livro “Ego e arquétipo”, cita sobre o
desmembramento:
“As mãos são o agente da vontade consciente. Assim, ter as
mãos cortadas corresponderia à experiência da impotência do ego.
Nas palavras de Jung, a experiência do si-mesmo é sempre uma
derrota para o ego” (EDINGER, 2000: 286).
Mesmo tendo Anakin assumido seu ego como capaz e poderoso, enquanto
duelava com Dookan, o self lhe desmembra, removendo-lhe o agente da ação,
seu braço direito.
Anakin recebe sua segunda missão de escoltar Padmé para retornar para a
Naboo, situação em que se casa em segredo, já portando um braço mecânico.
Obi-Wan, junto de Windu e Yoda, indagam sobre os ocorridos.
Sendo assim o filme finaliza com algumas atualizações, têm início a guerra
dos clones, o Sith novamente prega uma peça nos Jedi, Anakin se casa em
segredo, decidindo manter uma vida particular e escondida da Ordem dos Jedi.
Anakin teve enfrentamentos e superações que a vida foi-lhe solicitando
como retrata o filme. Ele foi botado à prova de proteger Padmé em sua primeira
missão sozinho. Tal prova obrigou-lhe a assumir uma posição, de corresponder ao
Código Jedi reprimindo seus impulsos e desejos, ou deixar-se levar pelos
mesmos. Anakin solucionou essa prova se entregando aos seus desejos e
135
casando-se em segredo. Sendo assim, sua primeira missão sozinho já o destinou
a se casar e manter um segredo perante a Ordem Jedi. Anakin teve como
segunda prova, o retorno ao seu planeta para resgatar sua mãe. Missão essa não
designada pela Ordem Jedi, mas sim pelo seu self por meio dos sonhos. Anakin
teve que lidar com a perda da mãe infligida pelo self, o que marcou uma cisão
entre o ego de Anakin e seu self, visto que Anakin responsabiliza seu ego pelo
ocorrido, assumindo que cometeu um fracasso e prometendo não mais falhar.
Sendo assim, Anakin volta seu desenvolvimento pessoal para aprimorar seu ego,
a fim de não mais falhar e operar com sucesso nas coisas concretas, porém
deixando na sombra, seu vínculo como o self e a vida simbólica.
Episódio III - A vingança do Sith:
O título do filme refere-se ao final da saga do herói Anakin Skywalker, que
torna-se Darth Vader. Anakin torna-se Vader quando passa para o lado negro da
Força, voltando-se contra a Ordem dos Jedi e passando a servir o Lorde negro
Sith Darth Sidious. A vingança do Sith foi o resultado do longo golpe de Palpatine,
que atuava sem se revelar, portanto inconsciente aos Jedi. Palaptine influi sobre a
profecia dos Jedi, que esperava que o escolhido trouxesse equilíbrio para a Força
destruindo o Sith. No entanto, o escolhido se uniu ao Sith e destruiu a Ordem dos
Jedi.
O filme se passa alguns anos após o término do episódio II e começa com
Anakin e Obi-Wan indo resgatar Palpatine, que havia sido seqüestrado por
General Grievous do exército dróide.
Anakin não é mais um Padawan, lhe é concedido o nível de Cavaleiro Jedi,
mesmo assim ele acompanha sempre seu mestre nas missões.
Situação interna e externa do herói:
Anakin mantém seu casamento em segredo, conseguindo conciliar o
mesmo de forma satisfatória com sua identidade de Jedi. Ele desenvolve uma
relação mais confortável com Obi-Wan, os dois se relacionam como amigos ou
136
irmãos, onde cada parte tem sua individualidade respeitada e reconhecida. Anakin
estruturou-se de forma que pudesse observar a si mesmo e medir suas reações
despertadas, o que lhe permitiu amadurecer nas suas relações com Obi-Wan e
com a Ordem Jedi, além de entender e controlar seus impulsos. Tal atitude denota
uma maior humildade e passividade de Anakin, que estava o ajudando a criar sua
própria identidade de Jedi. Logo no início do filme, Obi-Wan é atacado em sua
nave e diz para Anakin abandoná-lo e prosseguir com a missão de resgatar o
Chanceler, Anakin discorda de seu Mestre, salvando-o para irem juntos
resgatarem o Chanceler. O mesmo não vê mais Obi-Wan como uma figura que o
limita e aprisiona, passando a interagir com o mesmo sem nenhuma restrição,
expressando suas questões e ouvindo as que lhe são trazidas, ou seja,
estabelecendo uma interação verdadeira, apesar de reservar seu casamento em
sua vida pessoal e escondendo tal fato dos Jedi.
No episódio II, Anakin tinha uma relação conflituosa com Obi-Wan, pois não
expressava nem compartilhava suas questões internas, guardando e acumulando
dentro de si uma variedade de sentimentos que o faziam desejar separar-se de
Obi-Wan. Seu relacionamento com Padmé permitiu que ele expressasse suas
insatisfações relacionadas à Obi-Wan. Anakin anteriormente agia por conta
própria, sem consultar-se ou pedir ajuda, tanto internamente, tentando organizar
seus sentimentos, quanto externamente, partindo para um ataque sozinho contra
Dookan. No entanto, agora Anakin mostra-se mais aberto para entrar em contato e
receber a ajuda do outro.
Os dois vão até o Chanceler e travam combate com Dookan. Obi-Wan sofre
um ataque que lhe deixa inconsciente e Anakin luta sozinho contra Dookan. Ele
corta em um só golpe as duas mãos do oponente e fica a decidir o que fazer.
Palpatine lhe comanda que mate Dookan, Anakin reluta, mas pressionado por
Palpatine, ele então o mata. Tal situação demonstra a capacidade de Anakin de
controlar seus impulsos e manter uma situação de decisão. No entanto, o mesmo
cede facilmente à manipulação do outro, no caso, Palpatine.
Após Anakin decepar a cabeça de Dookan, ele demonstra-se incerto e diz
que não seguiu o modo Jedi, visto que era um prisioneiro desarmado. Palpatine
137
lhe diz que Dookan era perigoso demais para continuar vivo e que Anakin agiu de
maneira natural, desejando vingança devido ao seu braço cortado. Palpatine ainda
diz que não foi a primeira vez, dizendo: “Lembra o que você me contou, sobre sua
mãe e o povo da areia”. Palpatine diz para se retirarem rápido. Anakin vai socorrer
Obi-Wan e Palpatine diz para Anakin abandoná-lo. Entretanto, nesse momento
Anakin não reluta e leva Obi-Wan em seus ombros.
Anakin demonstrou não estar possuído pelo arquétipo do herói, visto que
conseguiu vencer o “inimigo invencível”, algo que exige uma atitude não possuída
pelo herói, que parte para cima achando-se invulnerável e perde seu braço, mas
sim uma atitude mais contida. Antes de encontrar Dookan, Anakin lhe diz que seus
poderes dobraram desde o último encontro, fala em que Anakin mostra-se
confiante para o combate, não devido à ilusão de ser invencível, mas sim
confiante nas capacidades e poderes de seu ego.
Grievous escapa, dando continuidade à guerra, que passa a ter como
propósito de capturá-lo para assim se encerrar a guerra e se voltarem às
negociações, sendo que com a morte de Dookan, Grievous passou a ser o líder do
exército dróide.
Anakin mostra grande talento em aterrissar a gigante nave de Grievous,
realizando a missão de resgate do Chanceler com sucesso. Chegando ao Senado,
ele despede-se de Obi-Wan de forma agradável e recebe os agradecimentos de
Senador Organa. Vendo Padmé escondida atrás dos pilares, ele despede-se de
Organa e vai abraçá-la. Anakin a beija e Padmé o adverte que ali não era um local
apropriado. Anakin diz que está cansado de esconder e agora quer que todos
saibam que eles são casados. Padmé o repreende e Anakin pergunta o que
houve, pois ela estava tremendo. Padmé lhe diz: “Aconteceu uma coisa
maravilhosa. Ani, eu estou grávida”. Anakin responde: “Isso é... Isso é
maravilhoso. (sorrindo)”. Padmé preocupada diz: “O que agente vai fazer?”.
Anakin: “Não vamos nos preocupar com nada agora. Este é um dia de felicidade.
O dia mais feliz da minha vida”.
138
Após a ação logo no começo do filme de resgatar o Chanceler, o resto do
filme se passa em conspirações em torno de Anakin e o conflito despertado no
mesmo por um sonho.
Griveous vai para o planeta onde os separatistas estavam refugiados e
rapidamente corre para contactar Sidious. Sidious lhe ordena que mande os
líderes separatistas para o planeta Mustafar, lhe diz que o final da guerra está
próximo e que a morte de Dookan foi uma perda necessária, pois em breve ele
terá um novo aprendiz, mais jovem e mais poderoso.
Anakin fica junto com Padmé, que estava penteando seu cabelo na
cobertura de seus aposentos, falando seus planos para a vinda do bebê. Anakin
lhe diz que ela é linda e que ele está muito apaixonado. Eles vão dormir e Anakin
sonha que Padmé morre no parto, pedindo-lhe ajuda. Anakin desperta assustado
e fica acordado, inquieto. Padmé vai até ele e lhe pergunta o que o estava
incomodando, mas Anakin desconversa, dizendo que lembrava-se quando tinha
dado o colar que ela usava, colar dado no episódio I. Padmé o pressiona e ele
conta que foi um sonho como aqueles que teve antes de sua mãe morrer. Padmé
pede que ele conte e ele reluta, mas acaba contando que o sonho era com ela,
que ela morria durante o parto, mas que ele não deixará este se tornar realidade.
Padmé diz que a vinda do bebê mudará suas vidas, que ela não poderá ficar mais
no Senado e se a Ordem Jedi souber, Anakin seria expulso. Ela pergunta se Obi-
Wan poderia ajudá-los, mas Anakin rapidamente diz que eles não precisam da
ajuda de Obi-Wan.
O sonho de Anakin o remeteu para o que lhe acontecera no episódio II,
quando sonhou que perdia sua mãe e teve que lidar com o fato de sua morte, teve
que se haver com o que o “self lhe armou”. Anakin fez com seu ego a promessa
de não falhar de novo, ou seja, não deixar o self agir. Com esse novo sonho, ele
teve que lidar com a aterrorizante idéia de perder Padmé. No entanto, o mesmo
não procurou entender do que se tratava o sonho, não demonstrando abertura
para entendê-lo. Ele rapidamente o tomou no sentido concreto, de que Padmé iria
morrer e ele deveria impedir que isso acontecesse.
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A situação do sonho fez emergir imediatamente o complexo de perda de
Anakin, despertado pela perda da mãe igualmente anunciada por um sonho.
Anakin despertou durante a noite e se pôs a pensar sobre o que ocorria. Seu self
voltou para assombrar o ego de Anakin. Padmé vai até ele, toma conhecimento do
que houve e pergunta se Obi-Wan poderia ajudá-los. Anakin é tomado pelo seu
outro complexo da sua relação com Obi-Wan. Ele diz que não precisam da ajuda
do mesmo. Quando Padmé lhe pergunta o que eles fariam, Anakin a consola e
alivia a preocupação da mesma. A atitude de consolo de Anakin expressa sua
praticidade e aptidão para lidar com as coisas concretas. Anakin entendeu seu
sonho como um desafio para seu ego, que deveria resolver tal ameaça, no
entanto, o inimigo que Anakin está declarando é ele mesmo, seu self. Anakin
assume a postura de ter que equipar seu ego para impedir que Padmé morra. O
preparo de Anakin se dá no nível concreto, das capacidades do ego, e não no
nível simbólico, que seriam as articulações internas feitas pelo ego. Anakin em sua
resolução conjunta com Padmé regrediu, pois reativou seus funcionamentos que o
regeram no episódio II, de não precisar de Obi-Wan e prosseguir operando com
seu ego para resolver seus conflitos de forma superficial e apenas no nível do
concreto.
Anakin fica completamente tomado por tal assunto e vai conversar com
Yoda, perguntando o que devia fazer. Yoda lhe diz que o medo da perda é uma
passagem para o lado negro da Força e que ele deve se alegrar com os que se
unem à Força sem jamais sentir a falta, e lhe responde que ele devia treinar a si
mesmo para se libertar de tudo o que tem medo de perder.
Anakin continua a lidar com tal questão apenas no plano do concreto, pode-
se inferir que ele tirou para si de sua conversa com Yoda, que teria que não se
importar com o que ocorreria com Padmé e deixá-la morrer, sendo que muitas
outras interpretações podem ser feitas, como se libertar de outras coisas que não
quer perder senão Padmé. A morte é um tema muito presente em Anakin. No
começo do filme, ele se propõe a salvar um soldado com dificuldades, para
impedir que ele morresse, mas Obi-Wan lhe convence de que o soldado estava
fazendo seu trabalho e Anakin mostra feições de desconforto, atendendo à
140
orientação de Obi-Wan e prosseguindo na missão. Anakin fica compenetrado com
sua missão pessoal de salvar Padmé, o que pode ter lhe tirado uma percepção
mais refinada das situações que procederão.
Anakin, após falar com Yoda, apressa-se para a reunião dos relatórios da
guerra no Templo Jedi, para encontrar-se com Obi-Wan. Anakin chega e Obi-Wan
lhe adverte do atraso e resume o que foi dito. Anakin oculta de Obi-Wan o motivo
de seu atraso e Obi-Wan lhe diz que Chanceler Palpatine solicitou sua presença,
advertindo o mesmo a ter cuidado com o Chanceler. Anakin vai até Palpatine, que
lhe consagra a função de representante pessoal do Chanceler no Conselho Jedi.
Anakin se satisfaz com a idéia de se tornar um Mestre, ele pensa que se for aceito
no Conselho logo seria um Mestre, sendo que apenas Mestres que compõem o
Conselho, e com tal cargo ele poderia tentar resolver o seu problema do sonho
com Padmé, apesar de tal expectativa de entrar no Conselho para tentar resolver
seu sonho, não tenha sido destacada no filme. Ainda assim, tornar-se um Mestre
lhe traria mais poderes, e, Anakin tinha a concepção de que apenas com mais
poderes poderia impedir a morte de Padmé, impedir que seu sonho se tornasse
realidade.
Anakin demonstra uma relação persecutória com seu self, sendo que o ego
teria que obter todo o poder e controle para poder se impedir a ação do self.
No entanto, quando Anakin leva sua nomeação para o Conselho, Mestre
Windu lhe diz que ele está no Conselho, mas que não lhe seria concedido o nível
de Mestre. Anakin se enfurece, deixando os Jedi desconcertados com tal reação.
A reunião do Conselho decidiu que Yoda iria para o planeta dos Wookies para
levar um pelotão do exército clone e impedir a invasão dróide. Anakin fica
ressentido durante a reunião do Conselho por não ter sido nomeado Mestre.
Anakin não contava com a possibilidade de estar no Conselho sem ser um
Mestre, ele estava tão apegado à idéia de que se tornaria um Mestre, que quando
Windu não lhe concede tal nível, ele imediatamente se revolta. Anakin havia se
apegado ao seu raciocínio lógico, de que para estar no Conselho logo seria um
Mestre. Tal lógica sustentava uma grande expectativa de Anakin, e encobria um
desespero caso não se realizasse. Tal desespero é tamnho que Anakin o ignorou,
141
por ser insuportável para sua consciência do ego. Anakin não concebia tal
possibilidade, o lhe causou revolta e a projeção no Conselho de eles terem sidos
injustos e responsáveis pela não obtenção da necessidade de Anakin.
As ações de Anakin não estavam sendo orientadas pelo seu bom senso,
mas sim pela sua missão pessoal de salvar Padmé, missão essa que ele não
contou para ninguém e foi levando-a paralelamente com as questões da guerra.
Saindo do Conselho, Anakin acompanha Obi-Wan e reclama para o mesmo
que a atitude do Conselho foi uma ofensa. Obi-Wan o acalma e lhe passa a
missão de espionar o Chanceler, reportando todos seus passos ao Conselho.
Anakin não aceita bem tal missão de trair seu amigo Palpatine, questionando Obi-
Wan por que ele estava lhe pedindo isso. Obi-Wan lhe responde que é o Conselho
que está pedindo.
Anakin questiona Obi-Wan sobre não ter sido eleito Mestre, mas não
explica qual seu interesse ou necessidade nisso, o que demonstra uma relação de
uso e não de troca que Anakin estava fazendo com Obi-Wan e o Conselho, pois o
mesmo não compartilhou da real necessidade que passava, por saber que o
Conselho não aceitaria a violação do Código, de ser casado, de estar esperando
um filho e estar tentando impedir a morte de sua esposa que seu sonho já
anunciara. No entanto, Anakin nem mesmo cogitou em revelar-se para o
Conselho, pois não tinha esperança que o mesmo pudesse ajudá-lo.
Anakin não recebeu nenhuma ajuda para lidar com seu estado interno.
Padmé não estava atenta para o estado de Anakin, ela lhe pede que use de sua
influência com o Chanceler para interromper a guerra e para voltarem às
negociações, depois lhe pede carinho, dizendo-o para abraçá-la como se não
existisse a guerra e nem as conspirações.
Anakin foi solicitado por Palpatine, que lhe deu a localização de Grievous,
dizendo que a inteligência clone o havia encontrado. Palpatine senta-se com
Anakin para uma conversa em particular e lhe conta que o Conselho planeja traí-
lo. Palpatine extrai a verdade de Anakin sobre sua missão secreta de espioná-lo.
Palpatine começa a questionar os Jedi, assemelhando-os aos Sith, dizendo que
todos que têm poder têm medo de perdê-lo, e então conta uma lenda Sith sobre
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um Mestre Sith tão poderoso que podia criar a vida e impedir que as pessoas com
quem se importava morressem. Anakin pergunta o que houve com ele e Palpatine
conta que ele ensinou tudo o que sabia para seu aprendiz, que o matou durante o
sono. Anakin interessado perguntou se era possível aprender esse poder e
Palpatine o responde que não de um Jedi.
Tal passagem retrata uma retaliação inconsciente à Anakin, que em sua
bondade, honra, pureza e honestidade é usado pelo Sith, que lhe prega maldade,
fazendo-se de vítima e usando da ingenuidade de Anakin para deixá-lo em “maus
lençóis” e manipulá-lo. Anakin ouve de Palpatine uma possibilidade de salvar
Padmé, a única opção que encontrou até então e que o deixa muito interessado,
apesar de tal opção estar no lado negro da Força. É uma cena que mostra Anakin
sendo inconscientemente corrompido pelo lado negro.
Anakin demonstra que não compactua com a Ordem Jedi a respeito de
rejeitar o lado negro, pois ao entrar em contato com o mesmo não opõe-se de
antemão, mas sim o avalia de “peito aberto”.
Sobre a lenda Sith contada por Palpatine, pode ser inferido que refere-se ao
Mestre de Sidious, sendo Sidious o discípulo que o matou enquanto dormia, o que
indica que Sidious, tem o poder de manter vivo quem ele quer e tem o poder de
criar a vida, o que pode indicar ser ele o pai biológico de Anakin, que nasceu
espontaneamente da Força.
Anakin leva para o Conselho a informação do Chanceler a respeito da
localidade do General Grievous, mas não conta sobre as outras coisas que
conversaram. Anakin diz que o Chanceler pediu que ele liderasse a campanha,
mas o Conselho recusou e enviou Obi-Wan, o que deixou Anakin frustrado e
abatido.
Anakin acompanha Obi-Wan até sua decolagem e pede desculpas ao
mesmo por como tem agido, dizendo que tem sido arrogante e não dedicado ao
treinamento, dizendo-lhe ainda que tem tido muitas frustrações com o Conselho.
Obi-Wan lhe exalta, dizendo que tem muito orgulho dele e para ele ter paciência,
pois logo o Conselho o tornaria um Mestre. Ouvir Obi-Wan animou Anakin, mas
143
não por muito tempo, por ter suas feições alegres ido embora tão logo Obi-Wan se
foi.
Assim como no episódio II, Anakin e Obi-Wan, foram separados, Obi-Wan
parte para a importante missão de derrotar Grievous a fim de encerrar a guerra,
enquanto Anakin fica em Coruscant “reportando” os passos do Chanceler, que
seria a importante missão de revelar o Sith. Mas, na verdade, Anakin estava na
árdua missão de lidar com seus conflitos e com o seu inconsciente, tentando obter
segurança e clareza interna, tarefa que não estava desempenhando de forma bem
sucedida. Além do mais, Anakin não reportava ao Conselho sobre o conteúdo de
suas conversas com Palpatine, mantendo-as para si.
Anakin tem novamente um sonho com a morte de Padmé, no qual Obi-Wan
a ajuda. Anakin fica se remoendo a respeito de Obi-Wan e pergunta para Padmé
se o mesmo esteve ali e ela lhe confirma que sim. Anakin pergunta nervoso o que
Obi-Wan queria e Padmé lhe diz que ele estava preocupado e lhe falou que
Anakin está sobre muita pressão. Anakin desabafa com Padmé, dizendo que se
sente perdido e que Obi-Wan e o Conselho não confiam nele. Anakin diz: “Alguma
coisa está acontecendo. Não sou o Jedi que deveria ser. Eu quero mais. E sei que
não deveria”. Padmé o consola e Anakin continua: “Achei um meio de salvar você.
Dos meus pesadelos. Não quero perder você, Padmé”. Anakin promete para
Padmé que ela não irá morrer no parto.
Junto de Padmé, Anakin demonstra uma auto-reflexão sobre o que está lhe
acontecendo. Ele elabora sobre estar se sentindo perdido e sobre não ser o Jedi
que deveria ser. Tais elementos articulados por Anakin referem-se às limitações
externas que ele tem que se adequar, as quais não lhe dão perspectivas. Anakin
começa a atingir dentro de si a confirmação de que ele não é um Jedi, pois as
situações externas que ele colheu na Ordem Jedi não podem ajudá-lo a salvar
Padmé, sua maior prioridade e único projeto de realização. Sendo que Anakin foi
completamente absorvido por sua missão de lutar contra o self. Se Anakin quer
salvar Padmé e não encontra soluções sendo um Jedi, ele passa a questionar o
que ele tem que ser para poder salva-la. Ele diz querer mais, sabendo que não
deveria “querer mais”, o que não o permite ser um Jedi, pois os Jedi não devem
144
“querer mais”. Apesar de Anakin ter como único objetivo salvar Padmé, ele não
abre mão de ser um Jedi. Ele não entendeu a situação de ter que fazer uma
escolha entre ser um Jedi ou ser um pai de família, como sendo a causa de seu
sofrimento, tampouco associou o significado do sonho da morte de Padmé como
estando atrelado a tal escolha pessoal.
Devido ao mesmo já ter a certeza de querer ser um pai de família, bastava
ele sair da Ordem dos Jedi. Anakin não fez essa leitura simbólica, pois acreditava
que a ocorrência da morte de Padmé não tinha relação com sua onipotência de
ser um Jedi e ser casado. A lei determina que ele pode ser uma coisa ou outra, e
não as duas. Anakin não teve como foco tal questionamento e não o relacionou
com o sonho e morte de Padmé, pois não elaborou no plano simbólico, ficando
apenas no concreto. Se Anakin assumisse conscientemente, selando um acordo
com seu ego que ele permaneceria sempre levando uma vida paralela secreta de
casado enquanto permaneceria sendo um Jedi, não haveria problemas, pois o ego
teria feito uma escolha e assumido o sacrifício consciente de ter uma vida secreta
para continuar sendo um Jedi. No entanto, Anakin não queria mais ter sua vida
secreta, ele queria não ter mais que esconder que é casado, tal nova escolha
exige uma revisão geral, pois entra-se em desacordo com a primeira escolha de
ter uma vida dupla. Dá-se então um conflito de desejos, que exige uma escolha e
um trabalho para se instalar suas relações. Acontece que Anakin
inconscientemente queria não mais esconder seu casamento. Apesar de ele ter
dito no começo do filme que está cansado de esconder que é casado e que deseja
falar para todos, ele nunca o fez, mas sim foi procurando alternativas, acumulando
e carregando dentro de si novos conflitos. Anakin diz para Padmé que os Jedi não
confiam nele, no entanto é verdade que Anakin não confia nos Jedi, por não
compartilhar com eles seus segredos, mesmo assim Anakin começa sua conversa
com Padmé dizendo sobre a desconfiança dos Jedi em relação a ele. Tal atitude
demonstra uma projeção da sombra de Anakin sobre os Jedi. Anakin não
questiona a si mesmo se deve merecer tal confiança, ele apenas acusa os Jedi de
serem injustos.
145
Anakin por meio de sua projeção de sombra nos Jedi, como sendo injustos,
defende-se de ter que encontrar de que forma ele está sendo injusto. As relações
de Anakin com o Conselho eram superficiais, pois ele não entrava em contato com
a real demanda do Conselho, mas sim com sua projeção de sombra. Tal
comportamento de Anakin, pode denotar um complexo de aceitação e rejeição
pelos Jedi, visto que no episódio I, ele fora rejeitado por ter se mostrado como de
fato ele era, o que pode lhe ter sugerido que se ele se mostrasse de outra forma
ele poderia ser ter sido aceito.
A partir do momento em que o sujeito não se mostra como ele de fato é, ele
usa o recurso da persona. Persona é um conceito da Psicologia Analítica, são as
máscaras psíquicas que mostramos para o mundo para ocultar nosso estado
interno. É importante que tenhamos persona para limitarmos o que queremos que
o outro tenha contato, podendo assim resguardar conteúdos que não queremos
mostrar. No entanto é importante sabermos que a persona não é o ego, mas sim
uma forma de moderar nossas comunicações com os outros.
Anakin exercia uma relação de aparências, no nível da persona, e exigia
que sua persona fosse tratada como sendo o seu ego, frustrando-se com o outro
quando o mesmo não lhe correspondia. O esforço de se viver apenas na persona,
denota uma atuação controladora e manipuladora do ego, sendo que o ego ficaria
apenas a organizar sua comunicação para obter seus interesses.
A ação de ocultar seu casamento da Ordem dos Jedi, não perturbava em
níveis insuportáveis o ego de Anakin, no entanto a partir do momento em que ele
se viu ameaçado de perder sua esposa, seu ego passa a buscar mais poderes por
conceber que essa seria a única forma de salvar Padmé.
É feita uma nova reunião do Conselho, em que o comandante clone diz que
Obi-Wan estava em confronto com Grievous. Windu diz para Anakin levar o
relatório para o Chanceler e prestar atenção na reação do mesmo a fim de
descobrir suas intenções. Anakin se dirige ao Senado enquanto os Jedi ficam
desconfiados de um complô do Chanceler contra os Jedi.
Anakin encontra Palpatine e lhe diz que Obi-Wan estava em confronto com
Grievous, dizendo-lhe que deveria estar junto com ele e queixa-se de estar se
146
sentindo excluído do Conselho. Palpatine lhe diz que o Conselho não confia em
Anakin, pois olham para o futuro do mesmo e vêem mais poder do que podem
controlar. Palpatine começa a jogar Anakin contra os Jedi e lhe propõe de ensinar
sobre as sutilezas da Força, dizendo que seu mentor lhe ensinou tudo sobre a
Força até mesmo a natureza do lado negro. Palpatine diz que junto dele, Anakin
teria mais poder que qualquer Jedi, inclusive o poder para salvar Padmé da morte
certa.
Palpatine diz que sabe o que está atormentando Anakin e lhe diz que pode
dar a Anakin todo o poder de que precisa.
Anakin obtém a certeza de Palpatine ser o Lord Sith e vai até Windu, para
entregá-lo. Windu parte rapidamente, levando alguns Jedi, e impede Anakin que
insistia querer ir junto para prender o Chanceler. Windu ordena que Anakin espere
no Templo até ele voltar. Anakin ouve à distancia a voz de Palpatine dizendo que
se algum Jedi o matar, qualquer chance de salvar Padmé estará perdida. Anakin
chora olhando no horizonte o prédio de Padmé, que por sua vez olhava de volta
para o Templo Jedi. Windu consegue derrotar Palpatine, mas Anakin chega no
momento crucial, ficando a tentar convencer Windu a não matar Palpatine, pois
precisava dele. Windu não lhe dá ouvidos e quando vai dar o golpe fatal, Anakin
intervém, cortando-lhe a mão. Sidious joga Windu com seus raios janela abaixo,
matando-o. Anakin torna-se discípulo de Sidious, que o batiza Darth Vader,
dizendo apenas que quer ajuda para salvar Padmé, pois não consegue viver sem
ela.
Anakin, por ter afirmado para si que apenas tendo poder para vigiar e
impedir a morte de Padmé, é que ela não morreria, foi levado até a situação limite
de passar para o lado negro. Anakin não consegue obter o poder sozinho, tendo
que procurar no outro. Os Jedi não lhe deram o poder e o Sith lhe ofereceu, sendo
assim, Anakin aliou-se com o Sith, rompendo sua relação com o self. Tal
passagem retrata o enfraquecimento de Anakin e o nascimento de Darth Vader. O
enfraquecimento de Anakin se deu devido ao vício do mesmo em solucionar seu
problema de forma concreta e não simbólica; tal “vício” acarretou a derrota do
herói, que não desenvolveu suas qualidades psicológicas precocemente
147
constatadas no episódio I. Ele se opôs ao self e perdeu a luta contra o mesmo,
isolando o ego do self. O self quando tido como inimigo é realmente imbatível,
sem que haja herói ou homem capaz de vencê-lo, podendo no máximo, aliar-se a
ele. Anakin foi contra a realização do herói dotado de talento psicológico, pois não
se uniu ao self, tendo o mesmo como seu guia e totalidade que ampliaria sua
consciência e elevaria sua alma, ao contrário disso, ele viu o seu self como seu
inimigo, contra o qual devia lutar para impedir as mudanças indesejáveis. Anakin
passou a ser conjuntamente Darth Vader, no entanto para alguns, principalmente
para Padmé, Anakin ainda existia.
Anakin no episódio I, antes de abandonar sua mãe, lamenta ter que deixá-la
e diz que não quer que as coisas mudem. Sua mãe lhe responde que não
podemos impedir as mudanças assim como não podemos impedir o nascer do sol.
Anakin demonstra já de início uma desavença com o self, não aceitando o controle
do mesmo e desejando ter todo o poder para fazer os desejos do ego, e não os do
self.
Sidious dá a ordem para que os clones destruam todos os Jedi. Yoda sente
à distancia um distúrbio na Força, enquanto todos os Jedi eram mortos pelos
próprios soldados clones. Obi-Wan e Yoda sobrevivem, enquanto Vader,
seguindo a primeira missão que Sidious lhe deu, mata todos os Jedi do Templo,
inclusive os Padawan, jovens e crianças.
Senador Organa vai ao Templo e toma conhecimento da reviravolta do
exército clone, ele então vai para sua nave onde acolhe Yoda e Obi-Wan.
Vader vai até Padmé que estava preocupada pois vira de longe o Templo
em chamas. Vader consola Padmé e diz para a que os Jedi traíram a República e
que o Chanceler lhe deu a importante missão de ir para o planeta Mustafar e
acabar com a guerra. Vader pede para Padmé o aguardar e parte para sua
missão.
Senador Organa é chamado para uma sessão especial no Senado, aonde
Palpatine se declara imperador, e acusa os Jedi de traição. Enquanto Yoda e Obi-
Wan voltam para o Templo e descobrem que Anakin estava por trás dos ataques.
Yoda diz que precisam destruir o Sith e Obi-Wan reluta em ter que matar Anakin,
148
dizendo que ele é como um irmão para ele. Yoda lhe diz que Anakin não existe
mais pois foi consumido por Vader e envia Obi-Wan. Yoda vai ao Senado para
confrontar Sidious, eles travam combate mas Yoda é derrotado, assumindo que
falhou e partindo junto de Organa.
Obi-Wan conta para Padmé o que Anakin tinha feito, mas Padmé não
entrega a localização de Anakin, Obi-Wan descobre que ele era o pai, pois Padmé
já estava visivelmente próxima do parto.
Padmé leva C3PO para ir até Anakin em Mustafar, mas Obi-Wan entra e
permanece escondido na nave.
Ao chegar lá, Padmé corre para abraçar Anakin e lhe diz que Obi-Wan lhe
havia dito coisas horríveis. Padmé propõe para Anakin de eles fugirem juntos e
abandonar tudo para criarem seus filhos. Anakin lhe diz que fez tudo isso para
protegê-la, que agora têm mais poder do que qualquer Jedi, e que eles não
precisam fugir pois agora tinham o controle da Galáxia. Padmé fica horrorizada
com o que ouve e Obi-Wan aparece na porta da nave. Anakin se enfurece com
Padmé por ter trazido Obi-Wan para matá-lo, e começa a enforcá-la a distancia.
Padmé, sendo estrangulada sem entender como Obi-Wan chegou e querendo
acalmar Anakin, desmaia. Os dois conversam e então começam a lutar. Após
longo combate, os dois lutam no meio de um rio de lava. Obi-Wan sai da lava indo
para terra firme, dizendo para Anakin que a luta tinha acabado, pois ele estava em
posição superior. Anakin, que estava em uma pequena plataforma de metal que
flutuava sobre a lava, mais abaixo de Obi-Wan, diz enfurecido: “Você subestima
meu poder”. Obi-Wan: “Não tente”. Anakin salta sobre Obi-Wan, que em um golpe
cortá-lhe suas duas pernas e o braço. Anakin fica apenas com seu braço
mecânico. Obi-Wan então diz gritando: “Você era o escolhido! Deveria destruir os
Sith, não se juntar a eles! Trazer equilíbrio à Força, não deixá-la na escuridão!”.
Anakin grita com toda a força: “Eu odeio você!”. Obi-Wan: “Você era meu irmão,
Anakin. Eu amava você”.
Obi-Wan com feições de angústia, observa Anakin, que de tão próximo à
lava começou a pegar fogo, Obi-Wan desvia o olhar para não vê-lo derreter o
corpo inteiro, e então pega a espada de Anakin, e se retira trocando seus últimos
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olhares com Anakin. Vader se arrasta para longe da lava enquanto Sidious
chegava em uma nave para resgatá-lo.
Vader demonstra-se frio e direto na conversa com Padmé, ao ver Obi-Wan
na nave ele se exalta, gritando com Padmé e a estrangulando. Tal passagem
mostra uma atitude irracional, de tentar matar o grande amor pelo que fez tudo,
inclusive ir para o lado negro da Força. Pode-se pensar que Vader não foi ao lado
negro apenas por Padmé, mas também por ter inclinação em seguir seu próprio
ego, livrando-se da prisão que o self lhe despertava.
Vader tentou saltar por cima de Obi-Wan, por achar-se mais poderoso do
que de fato é. Isso mostra a identificação do ego com o poder máximo e absoluto,
e é uma atitude semelhante a estar possuído pelo herói, mas agora não se tratava
de conhecer suas limitações, e sim um ego amadurecido e identificado com o
poder superior. No entanto Vader estava enganado e teve suas pernas e braço
amputados, e logo após, seu corpo queimado. O rio de lava pode representar o
estado de fúria, emoção e impulsos diluídos na qual Vader se assentava. Obi-Wan
saiu daquele estado indo para a terra firme, posição que lhe garantiu a vitória do
combate, da dura realidade que não lhe pareceu uma vitória. Obi-Wan, abatido
pelo ódio de Vader, se retira, deixando Vader desmembrado e queimando vivo.
Obi-Wan não teve o intuito de matar Vader; mesmo Yoda tendo-lhe designado a
missão de destruir o Sith, ele sentiu a certeza dentro si, orientado pelo self em
harmonia com o ego, e o deixou lá, levando consigo a espada de seu ex-discípulo
e ex-irmão, Anakin.
Vader é resgatado e passa pela transformação de ter montado, sobre seu
corpo, um traje mecânico, com uma roupa com botões para regular o
funcionamento do corpo, e uma máscara preta que lacra toda sua face. Tal roupa
é algo fixo e permanente, que agora fazia parte de Darth Vader. Ele teve seus
braços e pernas humanas substituídos por máquinas acopladas em si mesmo.
Isso pode representar que Vader deixou seus resquícios humanos para trás, como
se fosse uma nova fase que se iniciava, e sua humanidade fosse uma fase
ultrapassada, que não mais lhe diz respeito. No entanto, assim que sua operação
foi concluída, Sidious chega para acompanhá-lo. Vader lhe pergunta de Padmé,
150
se ela estava bem. Sidious lhe responde: “Parece que em sua raiva, você a
matou”. Vader se enfurece destruindo os aparelhos a sua volta e solta um grito
metálico, como sua voz, que agora era auxiliada por uma máquina.
Vader quando pergunta por Padmé, pode simbolizar perguntando sobre seu
self, pois Padmé era o único elemento de seu self que ele queria salvar: ela era de
fato, o elemento do self que Anakin queria isolar para si, tomando-o para seu ego.
Salvar Padmé foi o que o levou a se tornar Darth Vader e cumprir tal destino. O
ego de Anakin articulou-se durante o filme para salvar Padmé, sendo a mesma
reconhecida por Anakin como seu vínculo indispensável para a vida. Anakin
projetava em Padmé seu self, e sua articulação com a consciência do ego o levou
a sua atual situação. Ao saber que Padmé morrera, o que contrariava o ego de
Anakin, que queria salvá-la e não matá-la, Vader perdeu seu último ponto de
contato com seu self, perdeu sua busca de sentido e frustrou sua expectativa de
ser. Anakin planejava ser aquele que salva e vive com Padmé. Tal opção de vida
já não mais existia, fora retirada pelo self. Vader passou a ser um ego que
rompeu, ou simbolicamente, destruiu o seu self. Destruir o self é de fato
impossível pois ele nos governa até nossa morte, mas no caso, Anakin morreu,
pois ninguém mais o reconhecia por tal nome, Obi-Wan o abandonou e Padmé
morreu, Anakin se foi e agora só restou Vader. Anakin é o verdadeiro nome de
Vader, logo, representa o self do mesmo, que se perdeu quando ele perde Padmé.
Segundo Edinger (2000: 236) a unidade representa a individualidade,
enquanto que a multiplicidade e a dispersão correspondem ao oposto da
individualidade, representando o processo de quebra da unidade,
desmembramento e dispersão. O autor diz:
“A dispersão, ou multiplicidade, como condição psicológica, pode ser
vista do ponto de vista interno e externo. Vista a partir de dentro,
trata-se de um estado de fragmentação interna que envolve certo
número de complexos relativamente autônomos que, quando
tocados pelo ego, provocam mudanças de disposição e de atitude e
levam o individuo perceber que não é uno, mas múltiplo. Do ponto de
151
vista externo, a multiplicidade se manifesta através da exteriorização
ou projeção de partes da psique individual no mundo exterior. Numa
tal condição, a pessoa encontra seus amigos e inimigos, esperanças
e temores, fontes de apoio e ameaças de fracasso concretizadas em
pessoas, objetos e eventos externos. Num tal estado de dispersão,
não pode haver experiência de individualidade essencial.
Encontramo-nos sujeitos às 'dez mil coisas'” (EDINGER:2000: 236)
Obi-Wan leva a nave de Padmé, ainda desmaiada e junto de R2 e C3PO,
para uma base lunar aonde estavam Yoda e Organa.
Padmé é levada para um médico, que por sua vez diz que por razões
inexplicáveis ela estava morrendo, pois perdeu a vontade de viver. O médico diz
que deve operá-la para salvar os bebês, pois ela estava grávida de gêmeos.
Começa o trabalho de parto. Obi-Wan a ajuda dando os bebês a ela para serem
batizados, Luke e Léia. Padmé diz a Obi-Wan que sabe que ainda há bondade em
Vader, e morre.
Podemos perceber que há vários símbolos referentes a polaridades ou
duplicidades no filme: Anakin torna-se Vader, Palpatine é o Sith, e está em
oposição a Obi Wan, a Força tem um lado “claro” e um Negro. Muitas vezes há
movimentos de oposição entre essas forças, não como se fossem lados de uma
mesma moeda, mas como se, para uma prevalecer, a outra precisasse ser
eliminada. Esta dinâmica surge tanto no nível da subjetividade, como o Mal
subjugando o bem em Anakin que morre e renasce Vader, como no âmbito da
coletividade. Portanto, são forças arquetípicas que se manifestam como
possibilidades de integração, mas que, no filme, veiculam relações de poder.
Podemos pensar do dinamismo patriarcal, que se caracteriza por polaridades que
se excluem e não se integram, o que ocorrerá, possivelmente, quando estiver
presente o dinamismo da alteridade, para o qual a sociedade pós-moderna parece
se encaminhar.
O casamento entre Anakin e Padmé poderia representar uma tentativa de
harmonizar o Feminino e o Masculino, com todos os seus aspectos integrados,
152
como ocorria no casamento sagrado. Entretanto, não há um reconhecimento
social por parte dos Jedi, que eram a referência e o grupo de pertinência de
Anakin, por não conceberem a possibilidade de um cavaleiro seu casar. Vemos
aqui também uma cisão entre a vida pública dos Jedi, e sua vida privada, no que
tange ao relacionamento amoroso. A falta de um ritual público mostra bem essa
não receptividade da comunidade Jedi ao casal, o que cria conflitos internos e
também dificuldades de elaborá-los na vida pública. O fato de nascerem gêmeos,
um menino e uma menina, também chama a atenção. Parece renascer a
possibilidade de um tornar-se dois, que tornam-se um, num movimento contínuo
de discriminação e integração pela composição de diferenças.
O filme termina com suas atualizações de ciclos. Anakin transforma-se em
Vader, perdendo sua humanidade e tendo sua pele queimada e coberta por uma
roupa permanente, o que simboliza a perda da sensibilidade representada pelo
contato da pele com o mundo. Até sua voz fica metalizada, como se a armadura
que o protege e recompõe também o desumanizasse. Ele definitivamente está
possuído e identificado com sua sombra, tornando-se o Mal. A República
transforma-se em um Império, a Ordem dos Jedi desaparece e todos os Jedis
vivos tornam-se inimigos da nova República, sendo caçados e mortos. O Sith se
revela, tornando-se Imperador da Galáxia. Obi-Wan é exilado no deserto, no
planeta natal de Anakin, Tatooine, para onde leva o bebê Luke para a família de
Anakin. Yoda vai para seu exílio, onde fica sozinho em um planeta inteiramente
coberto por um pântano. O pântano remete à desestruturação, ao informe, mas
pode ser a matéria que acolhe, preparando novos desenvolvimentos.
O desafio que fica para o herói é seguir adiante no seu recém-desperto
caminho das trevas. Não há nenhum desafio para o futuro, ele transformou-se no
ego poderoso que serve ao Império e obedece ao seu Mestre. As intercorrências
nos futuros filmes irão fazer com que se reviva a trama de Vader.
153
Capítulo VII – Considerações Finais:
Os filmes retratam os principais acontecimentos que configuraram o destino
de um herói. São narradas diferentes fases da vida do personagem. Este contou
com alguns elementos especiais, genéticos e pessoais, referentes à sua história
de vida, que foram os atributos que o levaram a ser enquadrado na Ordem Jedi
com o status de “o escolhido”. Tal status era algo imanente ao personagem,
conseqüente de seu nascimento especial. No entanto, a partir da saída do herói
para o mundo, ele foi deixando de ter apenas atributos sagrados advindos de seu
nascimento e infância com a mãe, e passou a adquirir outras características
mundanas e não sagradas: ele saiu do mundo materno e foi para a realidade do
mundo externo à proteção do lar. Tal embate logo de início já marcou o herói com
traços e sentimentos humanos. Seu primeiro enfrentamento foi o abandono da
mãe, e depois a rejeição pela Ordem Jedi, o que já lhe causou a ativação de
complexos, marcando-o como humano e afastando-o do divino. Sendo assim,
mesmo os heróis com nascimento divino devem enfrentar a realidade, composta
por um arranjo social com suas normas e atravessadas pelas relações com os
outros.
George Lucas, produtor dos filmes, registrou depoimentos dizendo que Star
Wars o ajuda a lidar com o vazio da existência, preenchendo uma lacuna de
ausência de sentido e de inexplicável insatisfação. Ao ver esses filmes e criar
essas histórias ele preenche uma camada de sua vida que tange ao sagrado, pois
os filmes expressam conteúdos que não temos presentes na nossa vida cotidiana,
conteúdos da ordem do sagrado, que despertam um estado de contemplação e
beleza. Os filmes retratam aventuras em meio ao espaço sideral e planetas
desconhecidos, com belezas incompreensíveis pela imaginação. O produtor dos
filmes criou um universo fantástico, com seus próprios planetas, personagens,
raças, tecnologias, instituições e lei natural. O Universo Star Wars é regido por
uma Força, que são as decorrências e acontecimentos da Galáxia e do Universo,
são as coisas que acontecem, os destinos que se traçam.
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São retratados diversos personagem que compõe a trama em torno da
“Força”. A “Força” é um elemento que fica subjacente aos filmes e que se trata de
uma crença dos personagens centrais, sendo uma crença real em que se apóiam
os personagens. Nos filmes é retratado o duelo de duas entidades que
representam a Força, os Jedi e os Sith. Essas duas entidades possuem poderes
especiais, pois eles aprenderam técnicas e conhecimentos com a Força, que
representa Deus no Universo Star Wars. Com o conhecimento da Força eles
podem levitar objetos e corpos, podem influenciar as mentes fracas e mesmo
soltar raios dos dedos. Existem os Jedi, que representam o bem, e os Sith que
representam o mal. Esses dois representantes da Força vivem em eterno conflito,
no qual um deve destruir o outro. No episódio I, a Ordem Jedi desconsidera a
existência dos Sith, que por sua vez estavam conspirando para dar um golpe
certeiro, concluído no episódio III. O centro da trama se dá na relação de Obi-Wan
Kenobi (Mestre) e Anakin Skywalker (o escolhido e discípulo). Obi-Wan é um
devoto membro da Ordem Jedi e indivíduo comprometido em conhecer e usar a
Força, enquanto Anakin é um jovem que iniciou sua jornada na Ordem Jedi
desenvolvendo significante parceria com seu mestre e realizando com o mesmo
muitas aventuras e enfrentando perigos, além de viver seu mundo interno, sua
vida, devires, escolhas, sentimentos, memórias e desejos. Enquanto Obi-Wan se
desenvolve ganhando crescente importância na Ordem Jedi, Anakin se
desenvolve tentando conhecer a si mesmo, explorando seus recursos e realizando
seus desejos. Obi-Wan era adaptado ao Código Jedi, enquanto Anakin sofria com
as limitações que o Código lhe impunha, mas prosseguia escalando suas
conquistas pessoais e se sobressaia enquanto dotado de excelentes talentos Jedi.
Ainda assim, Anakin nunca atingia o status de Obi-Wan, pois não tinha a mesma
devoção e comprometimento. Anakin vivia respeitando as limitações que lhe eram
impostas, mas sempre em busca de suas próprias satisfações, que não eram
compartilhadas pela Ordem Jedi. Enquanto Obi-Wan desfrutava da vida junto à
Ordem Jedi, Anakin desfrutava ao menos em parte fora da mesma, em seu
casamento secreto. Anakin sustentava um segredo, mantia um casamento secreto
e jamais o revelando para não ter que supostamente deixar a Ordem Jedi. Ele
155
sentia medo quanto à revelar a verdade sobre a sua violação ao Código Jedi, pois
tal revelação tinha como consequência a sua possível expulsão. O fato é que
Anakin não concebia, pelo menos segundo o que mostram os filmes, abandonar a
Ordem Jedi e seguir seu destino só com Padmé. Sendo assim, Anakin estava
dividido, diante da necessidade de ter duas coisas que juntas não são aceitas,
essa era sua condição que configurava sua situação de conflito. Anakin não tinha
família, os Jedi eram sua família e Padmé era sua esposa. Permanecer na Ordem
não era apenas realizar seu compromisso de ser “o escolhido”, mas era um elo
que sempre teve, embora nunca tendo achado o seu devido lugar. Por mais que
Anakin tivesse passado muito tempo “bem adaptado” à Ordem Jedi, ele nunca
estava de fato acomodado, ele escolheu não abrir mão de seu casamento com
Padmé e não deixar a Ordem Jedi e seu importante serviço de defensor da
Galáxia. A combinação das escolhas de Anakin não estavam em harmonia, sendo
que uma delas impossibilitava a outra, Anakin ocultava e sustentava sua situação
proibida. No episódio III, Anakin demonstra insatisfação quanto a manter seu
casamento em segredo, dizendo estar cansado e querendo que todos saibam que
ele é casado. Para tanto precisava da confiança, reconhecimento e status da
Ordem dos Jedi. Anakin sempre escondeu a verdade da Ordem, deixando desta
forma, que seu reconhecimento, confiança e status, não fossem articulados pelo
ego em se relacionando no nível da consciência com a Ordem, mas sim, deixando
tais conteúdos sob o funcionamento da sombra, no nível inconsciente, que o levou
para “o lado negro da Força”. xxxxxxxxxxxxxxxx
Os filmes despertam a contemplação devido ao fato de se entrar em
contato com cenários, mundos e realidades desconhecidas, assim como, devido
ao fato da trama se compor de conteúdos arquetípicos: estes remontam ao
sagrado, e refletem conteúdos básicos da existência, como as mudanças, a vida
se esvanecendo, a morte, a temporalidade e a possibilidade de se acessar uma
totalidade sobre esse universo assistido, uma forma de, por meio da fantasia, se
atingir o sagrado, ou algo profundo dentro de nós que não conseguimos nomear.
O mito é capaz de apresentar todas essas questões em uma narrativa, mas a
156
dimensão do mito não se trata apenas da narração, e sim dos conteúdos e
emoções que esta desperta dentro de nós.
Darth Vader é um personagem que suscita no outro ou coletivo, conteúdos
e disposições como medo, admiração, curiosidade, encantamento, entre outros.
Ele atingiu um nível de personalidade que tange à figura, que por sua vez tange
ao arquétipo. No entanto, sua especificidade adveio da história de vida de Anakin
Skywalker. Este, por sua vez, quando suscita “conteúdos e disposições” no outro,
é justamente aquele quem recebe as projeções, e as permanecerá recebendo
mesmo depois de sua morte, por ter se transformado em um símbolo.
Simbolos não são arquétipos: Vader não se tornou um arquétipo, pois nada
forma uma arquétipo, visto que eles são preformados, eles pré-existem: podemos
formar símbolos, que tangem ao arquétipo por terem sido por este influenciados.
A criação ou obra do herói, que seria uma figura que se destaca do coletivo
recebendo projeções, é um símbolo que repousará no inconsciente, sendo
eventualmente trazido pela sombra ou pelo ego. Tal criação se torna imortal por
conter, dentro de um símbolo, sentimentos, percepções e conhecimento. As
informações são organizadas em um símbolo, que fica solto no inconsciente
coletivo, podendo, de maneira semelhante a um complexo, exercer um
funcionamento autonômo e inconsciente. O herói não precisa estar vivo para
apresentar-se, seu caminho e suas superações revelam o conhecimento que se
pode tirar deste destino e manifestação do self.
O destino ou manifestação do self é dirigido pelo ego, pelas escolhas do
sujeito. As escolhas variam conforme a consciência do ego, ou seja, de acordo
com o ponto de vista do ego orientado para uma realização do self, visto que o
self, enquanto totalidade, comporta todas as possibilidades. Cabe ao ego definir
como se conduzirá a história e qual faceta do self irá se concretizar pela ação do
ego. As escolhas delineiam o desfecho da história.
O ego está à mercê das influências externas do mundo, e das influências
internas, como os complexos autônomos que interferem na atuação consciente do
ego: cabe ao mesmo desempenhar suas escolhas e destino.
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No processo de individuação, o ego se estrutura para realizar seu self; no
entanto o self, devido ao fato de ser a totalidade, compõe-se tanto do bem quanto
do mal; segundo Sanford (2007: 35) o bem e o mal, assim como a luz e a sombra,
juntos formam uma unidade e totalidade, sendo que existem exatamente as
mesmas parcelas de bem e de mal. Sendo assim, não se pode superar ou vencer
o mal, assim como não se pode detruir o bem, tratam-se de dois elementos que
como em uma balança, tendem ao equilíbrio, por serem a mesma coisa no self,
sendo polaridades opostas apenas para a consciência do ego. O autor diz:
“Se ultrapassamos os limites de nossa capacidade natural para o
amor e a bondade, acabamos criando dentro de nós mesmos a
parcela exata oposta de ódio e crueldade” (SANFORD, 2007: 35).
A hybris, crença da Grécia antiga de que os deuses puniam os excessos do
homens, pode se pautar no mesmo princípio de um equilíbrio imposto pela
unidade do self, sendo que todas as polaridades e não só o bem e o mal, formam
uma unidade total no self. A unidade impõe seu equilíbrio natural, pois regula a
consciência parcial do ego, que por sua vez configura o estado interno do
indivíduo.
Darth Vader pode ser considerado como alguém que ultrapassou sua
capacidade natural para o bem, amor e bondade, e criou dentro de si a “parcela
exata de ódio e crueldade”.
A qualidade de ser “o escolhido”, o enviado dos deuses, ou, o orientado e
designado pelo self, e o escolhido pela “Força”, pré-determina que ele traga o
equilíbrio e a completude para se prosseguir a existência não só pessoal, mas
coletiva: sendo assim, o self do herói redentor corresponderia à um self coletivo.
Logo, o herói realiza uma demanda do inconsciente coletivo,
desempenhando benfeitorias para a Galáxia. No caso de Anakin, o herói não foi
apenas o elemento que realizou demandas da comunidade, mas foi também
aquele que procurou realizar a possibilidade de completude na totalidade.
Entretanto Anakin, enquanto realização da profecia, manteve a cisão entre os Jedi
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e os Sith. Na profecia ele deveria destruir o Sith, mas ele se alia ao suposto
inimigo, deixando de destruir o objeto de projeção do mal, conforme era dele
esperado. Assim concretiza a realização do mal, reafirmando a polarização entre
bem e mal. Na chegada do herói é retratada a situação de poder pleno da Ordem
dos Jedi, que concebiam que os Sith tinham desaparecido há milênios. Tal hybris
dos Jedi foi compensada no episódio III - A vingança do Sith. Anakin neste
episódio impede a destruição do Sith e conseqüentemente passa para o lado do
mesmo. Posteriormente, no episódio VI, Vader impede que Sidious destrua o bem,
aniquilando o mal, e morrendo como um agente do bem, e mais que isso, aquele
que realiza o equilíbrio da Força. Vader pode ser considerado como o agente
sagrado que pune a hybris dos “homens”, o enviado dos deuses que não escapou
de seu destino, oferecendo-se em sacrifício para redimir-se, redimindo a
humanidade.
Vader realizou a completude indo para o caminho das trevas, compensando
seu “irmão” Obi-Wan, que seguiu para o caminho da luz. Sua ida para o lado
negro da Força representa um equilíbrio de forças, visto que o par principal dos
filmes é a dupla Obi-Wan e Anakin: cada parte por fim representou um polo e
conjuntamente compunham a totalidade.
Anakin tinha um elo com seu self: a trama desenvolvida em cada filme
contou com um sonho seu. O sonho representa este elo, sendo Anakin o
representante mais intimamente ligado à “Força”. Anakin, diferentemente dos
outros personagens, levou sua vida sem um compromisso sério, verdadeiro de
alma, com a Ordem e seus princípios, ele ocupava-se consigo mesmo, com seus
desejos, dores, alegrias e lutas, advindos de seu próprio ego. Fez suas escolhas
quando chegou o momento decisivo e deu-se fatalmente seu destino.
O ser humano, enquanto consciência do ego, realiza sua psique no tempo.
A consciência do ego pode estar no presente, pode estar no passado ou estar na
projeção do eu para o futuro. Não temos a consciência do futuro, mas apenas uma
projeção simbólica sobre ele. No entanto, o self e ordenador do destino é uma
personalidade superior da qual o ego emerge e se diferencia para se constituir o
eu, e mantém um elo para se reconectar com a personalidade superior
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representada pelo self. O self é capaz de uma consciência do futuro, pois é
arranjado numa percepção de totalidade, ou seja, numa unidade viva composta
por tudo, capaz de não dissociar presente, passado e futuro, abrangendo e
percebendo a si e ao mundo em sua totalidade.
Bem e Mal, no self, são partes de uma mesma totalidade mas no ego
elas são separadas, ficando dissociadas em seus fragmentos depositados no eu,
no outro e no coletivo. Quando estão dissociadas uma da outra, e voltadas uma
contra a outra, enquanto forças em guerra, reproduzem assim, a dinâmica de uma
anular a outra, ou destruir a outra, ignorando assim a completude entre as
mesmas. O herói é aquele que tem uma falta interna, advinda da não completude
entre os opostos do mundo, é ele que engendra tal completude, por ter
internamente tal necessidade.
Sendo assim, o herói parece necessitar de um alimento para viver, pelo
qual luta ou morre. As metas pessoais do herói não dizem respeito apenas a ele,
pois ele realiza uma carência da consciência coletiva, dando-lhe a completude que
lhes falta.
Devido à carência que o ambiente coletivo lhe impõe ele luta para obter sua
condição de ser, mas morre para tanto, usando sua vida para conseguir se realizar
como pessoa, mas também para servir à necessidade de ampliação de
consciência do coletivo
O herói renova o mundo trazendo o novo, da mesma forma que luta para
nascer, saindo do útero para o mundo, e depois abandonando a mãe para ganhar
seu mundo. O herói luta para ser o que o mundo ainda não lhe oferece, chegando
até sua morte.
A vida do herói é a sua luta; há um desencaixe pela sua diferenciação e
singularidade, e ao mesmo tempo é-lhe oferecido um lugar a ocupar na
comunidade, uma missão a realizar em nome do coletivo. Afinal, ele é “o
escolhido”, não o sujeito da ação, mas aquele que recebe uma determinação.
Escolha ou destino? Deixar-se capturar por uma identidade pré-determinada ou
construir-se num movimento de construção-desconstrução, permanência-
impermanência? Como ser si-mesmo na busca pela integração rumo à totalidade?
160
A riqueza do mito está não apenas no encontro de respostas, mas valida-se no
caminho percorrido na direção da completude na eterna busca do sentido, do
significado.
161
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