TCC Bernardo Etges - Final.rev1
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7/23/2019 TCC Bernardo Etges - Final.rev1
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SULESCOLA DE ENGENHARIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
Bernardo Martim Beck da Silva Etges
ANLISE DE QUASE-ACIDENTES COMO MEDIDA
PR-ATIVA NA GESTO DE SEGURANA DACONTRUO CIVIL:
ESTUDO EM EMPRESAS DE PORTO ALEGRE/RS
Porto Alegre
junho 2009
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BERNARDO MARTIM BECK DA SILVA ETGES
ANLISE DE QUASE-ACIDENTES COMO MEDIDAPR-ATIVA NA GESTO DE SEGURANA DA
CONTRUO CIVIL:ESTUDO EM EMPRESAS DE PORTO ALEGRE/RS
Trabalho de Diplomao apresentado ao Departamento deEngenharia Civil da Escola de Engenharia da Universidade Federaldo Rio Grande do Sul, como parte dos requisitos para obteno do
ttulo de Engenheiro Civil
Orientador: Carlos Torres FormosoCo-orientador: Fabrcio Borges Cambraia
Porto Alegre
junho 2009
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BERNARDO MARTIM BECK DA SILVA ETGES
ANLISE DE QUASE-ACIDENTES COMO MEDIDA
PR-ATIVA NA GESTO DE SEGURANA DACONTRUO CIVIL:
ESTUDO EM EMPRESAS DE PORTO ALEGRE/RS
Porto Alegre, 25 de junho de 2009
Carlos Torres FormosoEng. Civil, PhD pela University of Salford, Gr-Bretanha
Orientador
Fabrcio Borges CambraiaEng. Civil, M. Sc. pela UFRGS
Co-orientador
Profa. Carin Maria SchmittCoordenadora
BANCA EXAMINADORAProf. Tarcisio Abreu Saurin (UFRGS)
Doutor pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Prof. Carlos Torres Formoso (UFRGS)PhD pela University of Salford, Gr-Bretanha
Prof. Paulo Antonio Barros de Oliveira (UFRGS)
Doutor pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
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A meus pais, Sandra e Roberto e minha irm Ana Paula.Pela motivao, valores e exemplo.
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AGRADECIMENTOS
Aos meus pais Sandra e Roberto, pelo carter, dedicao e estmulo irrestrito aos meus
objetivos e conquistas.
minha irm Ana Paula, pelo exemplo, incentivo e pacincia neste ltimo semestre de
muitas mudanas.
Mi, pelo amor, companheirismo e motivao a cada pgina e resultado descrito neste
trabalho.
Ao meu orientador, Carlos Torres Formoso, e co-orientador, Fabrcio Borges Cambraia, por
todo o apoio e incentivo neste trabalho; foi um grande aprendizado amadurecimento
acadmico e profissional.
professora Carin, pela dedicao em incorporar um Trabalho de Diplomao de alto nvel
ao curso de Engenharia Civil da UFRGS.
Gerdau, por proporcionar o contato com uma metodologia de Sade e Segurana do
Trabalho pr-ativa e que me motivou na escolha do tema do trabalho de diplomao.
As trs empresas analisadas, pela disponibilidade em participar desta pesquisa
Ao Enio, Piussi, Tatiana, Paulo, Rodrigo, Mateus, Lisiane, Jaqueline, Karine, e Maria, por
possibilitarem o acesso aos dados deste trabalho e por todo o apoio e entusiasmo com que
colaboraram com a pesquisa.
Aos irmos Andr e Alexandre pela grande e verdadeira amizade.
Ao trio maravilha, D e P, pela companhia nos estudos, no 14 e nas corridas.
A todos os meus colegas da UFRGS, por sempre compartilhar das dificuldades e muitas
alegrias que tivemos neste perodo acadmico.
A todos os leitores deste trabalho; foi para eles que as informaes aqui contidas foram
descritas de forma a ser fonte de informao para os sistemas de gesto de segurana da
construo civil.
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Razo do homem: se a no ouvimos, tudo escuro.
Se a ouvimos demais, nada seguro.Alexander Pope
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RESUMO
ETGES, B. M. B. S. Anlise de quase-acidentes como medida pr-ativa na gesto dasegurana da construo civil: estudo em empresas de Porto Alegre/RS. 2009. 103 f.
Trabalho de Diplomao (Graduao em Engenharia Civil) Departamento de EngenhariaCivil. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
Diversos estudos na gesto de segurana do trabalho defendem o uso de quase-acidentes
como meio eficaz e pr-ativo na preveno de acidentes. Sua utilizao nos sistemas de
gesto de sade e segurana do trabalho da construo civil, contudo, encontra-se pouco
difundida o que por conseqncia reflete na falta de conhecimento destes eventos nos
canteiros de obra. No objetivo de verificar a utilidade das informaes contidas nos relatos de
quase-acidentes, levantados por empresas do setor, e contribuir para a melhoria da utilizao
de dados sobre estes eventos, foram analisadas trs empresas construtoras de Porto Alegre.
Estas empresas foram selecionadas por j possurem alguma prtica de relato e controle de
quase-acidentes, alm de apresentar certificao internacional de qualidade e reduo de
perdas. O trabalho buscou resultados de estudos de anlise de acidentes e quase-acidentes
para estabelecer uma comparao quanto a sua natureza. A fase de coleta de dados consistiu
em vistas e observao destas empresas, com aplicao de entrevistas semi-estruturadas e
participao em reunies de segurana, no objetivo de melhor compreender o cenrio derelato e coleta de quase-acidente de cada empresa. Os relatos de quase-acidentes foram, ento,
analisados sob oito critrios de classificao (natureza, agente causador,feedbackao sistema
de gesto, priorizao, rastreabilidade, profisso do trabalhador, dia da semana e horrio da
ocorrncia) que permitiram compreender a natureza de sua ocorrncia nestas empresas e
compar-los a resultados na literatura. Por fim, foram avaliados aspectos positivos quanto as
observaes desenvolvidas nas empresas em relao s informaes obtidas nos relatos, bem
como foram sugeridas possveis melhorias a serem aplicadas na gesto de quase-acidentes daconstruo civil.
Palavras-chave: quase acidentes; sistemas de gesto de sade e segurana do trabalho; carterpr-ativo.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1: distribuio dos acidentes do trabalho na construo........................................ 13
Figura 2: pirmide de Bird................................................................................................ 23
Figura 3: distribuio dos acidentes do trabalho quanto ao horrio em relao aosdados de Costella (1999) e Sinduscon /PE (2003)..............................................
29
Figura 4: distribuio dos acidentes segundo ao dia da semana....................................... 30
Figura 5 delineamento de pesquisa................................................................................... 36
Figura 6: formulrio de relato de incidentes Empresa A................................................ 53
Figura 7: fluxo da gesto de incidentes Empresa A....................................................... 54
Figura 8: formulrio de relato de incidentes Empresa B................................................ 62
Figura 9: fluxo da gesto de incidentes Empresa B....................................................... 63
Figura 10: formulrio de relato de quase-acidentes Empresa C..................................... 70
Figura 11: fluxo da gesto de quase-acidentes Empresa C............................................ 70
Figura 12: distribuio dos quase-acidentes quanto natureza de sua ocorrncia........... 74
Figura 13 distribuio dos quase-acidentes quanto a natureza nas trs empresasanalisadas............................................................................................................
76
Figura 14:feedbackpositivo, negativo em relao ao sistema de gesto ou risco semcontrole................................................................................................................
80
Figura 15:feedbackpositivo e negativo comparado com os resultados de Cambraia etal. (2008)............................................................................................................. 81
Figura 16:feedbackpositivo e negativo ao sistema de gesto de segurana nasempresas analisadas............................................................................................
81
Figura 17: priorizao dos quase-acidentes em relao gravidade identificada nas trsempresas..............................................................................................................
83
Figura 18: priorizao dos acidentes na Empresa C comparados com Cambraia et al.(2008)..................................................................................................................
84
Figura 19: distribuio dos quase-acidentes quanto rastreabilidade nas trs empresasanalisadas............................................................................................................
85
Figura 20: comparao dos resultados obtidos no trabalho com Cambraia et al. (2008).. 85
Figura 21: relato de quase-acidentes quanto profisso na Empresa A........................... 86
Figura 22: distribuio dos quase-acidentes quanto ao dia da semana............................. 88
Figura 23: distribuio dos quase-acidentes quanto ao horrio na Empresa A eEmpresa B...........................................................................................................
89
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1: categorias quanto natureza do acidente do banco de dados desenvolvido eas categorias de classificao sugeridas pela NB 18............................................ 31
Quadro 2: distribuio dos quase-acidentes segundo a natureza do evento....................... 31Quadro 3: distribuio dos acidentes segundo a natureza do evento................................. 32
Quadro 4: categorias e distribuio dos acidentes quanto ao agente de leso.................... 33
Quadro 5: categorias e distribuio dos acidentes quanto ao agente de leso segundo aoSinduscon/PE (2003)............................................................................................ 33
Quadro 6: critrios para priorizao de quase-acidentes.................................................... 34
Quadro 7: caracterizao e descrio da Empresa A e respectivas obras.......................... 41
Quadro 8: caracterizao e descrio da Empresa B e respectivas obras........................... 43
Quadro 9: caracterizao e descrio da Empresa C e respectivas obras........................... 44
Quadro 10: fontes de evidncia utilizadas no trabalho....................................................... 45
Quadro 11: categorias e resultados de anlise dos quase-acidentes quanto natureza...... 75
Quadro 12: resultados obtidos em trabalhos na literatura quanto natureza dos quase-acidentes............................................................................................................... 77
Quadro 13: distribuio dos quase-acidentes com relao ao agente causador nas trsempresas observadas............................................................................................ 78
Quadro 14: comparao da distribuio em relao ao agente causador de maior
freqncia com os resultados de Costella (1999) e do Sinduscon/PE (2003)...... 79Quadro 15: profisso dos funcionrios que relatam quase-acidentes em relao aos
funcionrios acidentados avaliados na literatura.................................................. 87
Quadro 16: distribuio dos quase-acidentes quanto ao dia da semana comparados comos resultados obtidos por Costella (1999) para acidentes do trabalho................. 88
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SIGLAS
PIB Produto Interno Bruto
CBIC Cmara Brasileira da Indstria da Construo
EUA Estados Unidos da Amrica
SST- Sade e Segurana do Trabalho
PCMAT Plano de Condies do Meio Ambiente do Trabalho na Indstria da Construo
CPT com perda de tempo
SPT sem perda de tempo
CDM com dano material
UE Unio Europia
DDS dilogo dirio de segurana
CAT comunicao de acidente do trabaho
RI relato de incidente
EPI equipamento de proteo individual
CIPA comisso interna de preveno de acidentes
APR anlise preliminar de risco
SESMT servios especializados em segurana, higiene e medicina do trabalho
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SUMRIO
1 INTRODUO............................................................................................................ 12
1.1 CONTEXTO DA SEGURANA NA CONSTRUO CIVIL................................. 12
1.2 QUESTO E OBJETIVOS DE PESQUISA.............................................................. 16
1.3 DELIMITAES....................................................................................................... 16
1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO................................................................................ 17
2 SISTEMA DE GESTO DE SEGURANA E OS QUASE-ACIDENTES NACONSTRUO CIVIL.............................................................................................
18
2.1 CONCEITOS E CLASSIFICAO DOS TERMOS APLICADOS NOSSISTEMAS DE GESTO DE SST..............................................................................
18
2.2 CONTEXTUALIZAO........................................................................................... 20
2.3 RELAES ENTRE ACIDENTES E QUASE-ACIDENTES.................................. 22
2.4 EMPREGO DE QUASE-ACIDENTES NA GESTO DA SEGURANA.............. 23
2.4.1 Identificao e registro de quase-acidentes.......................................................... 24
2.4.2 Anlise e investigao de quase-acidentes............................................................ 27
2.4.3 Controle e difuso de informaes........................................................................ 35
2.4.4 Consideraes finais............................................................................................... 35
3. MTODO DE PESQUISA......................................................................................... 36
3.1 REVISO BIBLIOGRFICA.................................................................................... 363.2 SELEO DAS EMPRESAS.................................................................................... 37
3.2.1 Empresa Contratante............................................................................................. 37
3.2.2 Empresa A............................................................................................................... 39
3.2.3 Empresa B............................................................................................................... 39
3.2.4 Empresa C............................................................................................................... 39
3.3 COLETA DE DADOS NAS EMPRESAS................................................................. 40
3.3.1 Empresa A............................................................................................................... 40
3.3.2 Empresa B............................................................................................................... 42
3.3.3 Empresa C.............................................................................................................. 42
3.4 CLASSIFICAO DOS QUASE-ACIDENTES....................................................... 46
3.5 QUANTIFICAO E COMPARAO DOS RESULTADOS OBTIDOS COMA LITERATURA.........................................................................................................
49
3.6 AVALIAO DA UTILIDADE E PROPOSIO DE SUGESTES DEMELHORIA NA GESTO DE QUASE-ACIDENTES ANALISADOS...................
49
4 DESCRIO E ANLISE DO CENRIO E DO SISTEMA DE GESTO DE
SST NAS EMPRESAS ANALISADAS....................................................................
50
4.1 EMPRESA A............................................................................................................... 50
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4.1.1 Sistema de Gesto de Segurana Empresa A.................................................... 50
4.1.1.1 Dilogo Dirio de Segurana................................................................................ 51
4.1.1.2 Registro de Incidentes........................................................................................... 52
4.1.2 Obra A1................................................................................................................... 55
4.1.3 Obra A2................................................................................................................... 56
4.1.4 Obra A3................................................................................................................... 57
4.1.5 Obra A4................................................................................................................... 57
4.1.6 Obra A5................................................................................................................... 58
4.2 EMPRESA B............................................................................................................... 59
4.2.1 Sistema de Gesto de Segurana........................................................................... 59
4.2.1.1 Dilogo Dirio de Segurana................................................................................ 60
4.2.1.2 Relato de Incidentes Empresa B......................................................................... 614.2.2 Obra B1................................................................................................................... 63
4.2.3 Obra B2................................................................................................................... 64
4.2.4 Obra B3................................................................................................................... 65
4.2.5 Obra B4................................................................................................................... 66
4.3 EMPRESA C............................................................................................................... 66
4.3.1 Sistema de Gesto de Segurana........................................................................... 66
4.3.1.1 Dilogo Dirio de Segurana................................................................................ 68
4.3.1.2 Relato de Quase-acidentes.................................................................................... 69
4.3.2 Descrio geral das obras da Empresa C............................................................. 71
5 RESULTADOS............................................................................................................. 73
5.1 NATUREZA DOS QUASE-ACIDENTES................................................................ 73
5.2 AGENTE CAUSADOR DOS QUASE-ACIDENTES............................................... 77
5.3FEEDBACKPOSITIVO OU NEGATIVO AO SISTEMA DE GESTO................. 80
5.4 PRIORIZAO DOS QUASE-ACIDENTES........................................................... 82
5.5 RASTREABILIDADE DO EVENTO........................................................................ 845.6 PROFISSO DO TRABALHADOR......................................................................... 86
5.7 DIA DA SEMANA..................................................................................................... 88
5.8 HORRIO DA OCORRNCIA................................................................................. 89
5.9 UTILIDADE DO RELATO DE QUASE-ACIDENTE.............................................. 90
5.10 SUGESTES DE MELHORIA................................................................................ 92
6 CONCLUSES............................................................................................................ 94
REFERNCIAS ............................................................................................................... 97
APENDICE A................................................................................................................... 100
APENDICE B.................................................................................................................. 102
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1 INTRODUO
Este trabalho teve motivao na experincia do autor, atravs de um estgio extra-cuticular,
em uma empresa siderrgica de grande porte, com um sistema moderno de gesto de
segurana. Este ampliado suas subcontratadas, inclusive empresas de construo civil.
Acompanhar a rotina deste sistema em um ambiente corporativo e ver a possibilidade de
utilizar dados destas prticas na Construo Civil serviu de estmulo ao desenvolvimento
deste trabalho de diplomao.
1.1 CONTEXTO DA SEGURANA NA CONSTRUO CIVIL
A indstria da construo civil um setor reconhecido como uma das principais foras
econmicas brasileira, devido, principalmente, sua expressiva participao no Produto
Interno Bruto (PIB). Segundo aos dados de 2007 da Cmara Brasileira da Indstria da
Construo (CBIC), a construo civil participa com 7,32% na composio do PIB nacional ecom 18,33% do PIB da indstria (CMARA BRASILEIRA DA INDSTRIA DA
CONSTRUO, 2007). Segundo Casarotto (2002), o setor tambm, responsvel por grande
parcela da gerao de postos de trabalho, garantindo, por exemplo, 13 vezes mais vagas que a
indstria automobilstica.
A indstria da construo posiciona-se, tambm, como alvo de uma crescente busca por
reduo de perdas e melhores desempenhos de qualidade e produtividade. Entretanto, estes
investimentos e o poder representado pela construo na economia, no esto atingindo as
polticas de segurana do setor: a construo civil conhecida como uma das atividades com
maior risco de acidentes e de fato, apresenta elevadas taxas de freqncia destes eventos.
Conforme dados do Ministrio da Previdncia Social de 2006 (BRASIL, 2007), a construo
civil ocupa a quinta posio em relao incidncia de acidentes de trabalho. No Brasil foram
registrados 503.890 acidentes no ano de 2006. Destes 31.529 (6,25%) ocorreram na indstria
da construo civil. Saurin (2002) j mencionou estatsticas do ano 2000 em que o setor almdo elevado nmero de acidentes do trabalho, ocupava posio com o maior nmero de bitos
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estudo em empresas de Porto Alegre/RS
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do pas (10,5% do total). No ano de 2006, esta situao no teve grandes modificaes,
considerando que o setor foi o segundo com maior nmero de bitos. (BRASIL, 2007).
Nos Estados Unidos da Amrica (EUA), estatsticas de 2006 revelam que a indstria daconstruo corresponde a 4,6% dos acidentes do trabalho, porm representa 21,4% dos casos
resultantes em bito (UNITED STATES OF AMERICA, 2007). Como ilustra a figura 1, o
estudo desenvolvido por Lima Jnior et al. (2005) indica que no apenas no Brasil e nos
EUA que o nmero de acidentes no trabalho na construo elevado. Nos pases analisados
em seu estudo, a construo civil apresenta altos ndices de acidentes do trabalho, sendo estes
valores superiores (em termos percentuais) ao emprego da mo-de-obra que gera.
0
10
20
30
40
EUA Frana Espanha Japo
% Emprego % Acidentes Totais % Acidentes Fatais
Figura 1: distribuio dos acidentes do trabalho na construo (em percentagem dototal das atividades econmicas) (adaptado de LIMA JNIOR et al., 2005).
Segundo Costella (1999), este elevado nmero de acidentes e de fatalidades na construo
pode ser explicado por diversos fatores caractersticos do setor, dentre eles:
a) a dinmica do ambiente de trabalho devido a variaes das fases construtivas,das equipes de trabalho, do processo de construo;
b) o uso intensivo da mo-de-obra na execuo da maioria das tarefas daconstruo civil devido carncia de mecanizao em diversas atividades dosetor;
c) curto perodo de atividade de muitas empresas subcontratadas nos canteiros deobra, influenciando nas relaes profissionais e sociais dos trabalhadores e
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representando fator que dificulta a manuteno e disseminao das polticas desegurana desenvolvidas;
d) grande nmero de pequenas empresas no setor, as quais, muitas vezes no tm
polticas de segurana implementadas;e) caractersticas da mo-de-obra: baixos salrios, jornada de trabalho extensa,
grande diversidade de tarefas, que se contrape ao baixo grau de instruo degrande parte dos trabalhadores;
f) caractersticas do ambiente: rudos excessivos, poeira, exposio ao clima;manuseio intenso de substncias qumicas (cal e cimento), alm de riscoselevados e variveis com o decorrer da obra.
De uma forma geral, as condies de segurana do trabalho na indstria da construo no pas
sofreram melhorias substanciais a partir da publicao da NR-18: Condio e Meio Ambiente
de Trabalho na Indstria da Construo, em 1978, e, principalmente,com a reviso em 1995
(SAURIN, 2002). Entretanto, a legislao atual de segurana no pas tende a enfatizar
excessivamente as protees fsicas, em detrimento de medidas gerenciais para a preveno
de acidentes. De forma geral, as prticas de segurana adotadas na maioria dos canteiros de
obras no Brasil so fortemente influenciadas pela legislao vigente, com destaque para a
necessidade de rigorosa fiscalizao.
A falta de exigncia legal de mtodos eficazes de gesto de Sade e Segurana do Trabalho
(SST) tambm contribui para agravar os problemas de segurana da construo civil
brasileira. Embora a NR-18 estabelea, por exemplo, a necessidade de elaborao de um
Plano de Condies e Meio Ambiente de Trabalho na Indstria da Construo (PCMAT) em
todos os canteiros de obra com mais de 20 trabalhadores, a utilizao do mesmo nem sempre
atinge aos objetivos propostos. Por exemplo, Saurin (2002) argumenta que muitas vezes o
PCMAT visto como uma atividade extra a gesto da obra no qual so destacadas protees
fsicas e no processos gerenciais, no exigindo um planejamento, tampouco controle das
prticas.
Apesar da NR-18 carecer de aspectos gerenciais, ela no causa de seu baixo nvel de
cumprimento e elevadas taxas representada pelos indicadores de desempenho da segurana na
construo civil. A NR-18, desde sua publicao em 1978 e sua reviso em 1995, j despertou
o interesse das empresas e dos trabalhadores para a importncia da segurana do trabalho e
neste aspecto indiscutvel sua contribuio (SAURIN, 2002).
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estudo em empresas de Porto Alegre/RS
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Outra deficincia da legislao de segurana o carter reativo dos indicadores de segurana
utilizados. As taxas de freqncia e de gravidade de acidentes so geradas a partir da
ocorrncia de acidentes do trabalho com afastamento, sendo considerados, respectivamente, o
nmero de acidentes e o nmero de dias de afastamento, em relao s horas trabalhadas no
perodo de anlise. Em indstrias com sistemas de gesto de SST mais avanados, nos quais
acidentes do trabalho se tornaram eventos raros, a utilizao apenas destes indicadores passou
a desperdiar oportunidade de identificao de falhas no processo e na rotina dos sistemas de
gesto de SST.
Diante deste fato, o desenvolvimento de um sistema de gesto de SST deve enfatizar a
identificao de riscos de acidentes do trabalho em sua fonte. Desta forma ser possvel atuar
sobre estes fatores pr-ativamente, obtendo informaes de grande utilidade para preveno
de acidentes.
Assim, o estudo de quase-acidentes representa uma possibilidade de antecipao ocorrncia
de eventos de maior gravidade. Atravs da observao, relato, anlise e identificao de suas
causas, passando para um estgio de tomada de aes preventivas e corretivas e controle das
mesmas, possvel adotar um carter pr-ativo na gesto de segurana dos canteiros de obra.
Percebe-se uma lacuna na literatura quanto ao uso de quase-acidentes na gesto de SST, em
especial sobre o processo de identificao, priorizao, resposta e monitoramento das
respostas destes eventos na construo civil (CAMBRAIA et al., 2008, p. 53). Embora
existam alguns trabalhos sobre o tema, tais como o levantamento de Hinze (2002) que se
limitou a quantificar a incidncia de quase-acidentes nas empresas atravs de uma survey, h
uma carncia de estudos que abordem mais a fundo o processo de coleta e anlise de dados
referentes a estes eventos e a utilidade desta informao na preveno de acidentes. O
presente trabalho est inserido na linha de pesquisa Projeto e Gesto de Sistemas de Produo,
em desenvolvimento no Programa de Ps-Graduao em Engenharia Civil, na qual se tem
buscado desenvolver novas abordagens para a gesto da segurana na construo civil. Foi
utilizado como importante referncia deste trabalho uma pesquisa anterior realizada sobre
quase acidentes dentro desta linha de pesquisa (CAMBRAIA et al., 2008).
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1.2 QUESTO E OBJETIVOS DE PESQUISA
A partir da lacuna de conhecimento identificada foi formulada a seguinte questo principal de
pesquisa: como utilizar relatos de quase-acidentes na gesto de segurana da construo civil?
Parte-se da premissa de que existe uma forte correlao entre a ocorrncia dos acidentes e os
quase-acidentes, de forma que estes ltimos podem ser utilizados como indicadores do nvel e
da natureza dos riscos envolvidos em canteiros de obra, podendo prevenir a ocorrncia
daqueles eventos.
O objetivo principal deste trabalho consiste na avaliao da utilidade das informaes
contidas nos relatos de quase-acidentes, levantados por empresas do setor, de forma acontribuir para a melhor utilizao de dados sobre estes eventos na gesto da segurana da
construo civil.
Utilidade, neste contexto, a avaliao dos benefcios incorporados s prticas de segurana
alcanadas com o relato de quase-acidente. Este benefcio decorre inclusive no
comportamento e atitude dos funcionrios.
Os objetivos secundrios deste trabalho so:
a) anlise da distribuio dos quase-acidentes em relao sua natureza;
b) comparao dos dados de quase-acidentes a dados disponveis sobre aincidncia de acidentes do trabalho e quase-acidentes publicados na literatura;
b) proposio de melhorias nas prticas adotadas pelas empresas estudadas nacoleta e anlise de dados de quase acidentes.
1.3 LIMITAES
Devem ser apontadas duas importantes delimitaes deste trabalho. Primeiramente, o trabalho
se limita a utilizao de dados secundrios, resultantes de sistemticas de relato e coleta de
quase-acidentes adotada por empresas da construo civil. Em alguns casos, estas sistemticas
so resultado de outras pesquisas j desenvolvidas nas empresas.
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estudo em empresas de Porto Alegre/RS
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Alm disto, o estudo utilizou apenas as informaes contidas nos relatos de quase-acidentes.
Estas informaes, se passveis de coleta, atravs de uma maior investigao, seriam dados
adicionais que poderiam permitir a descrio da natureza dos eventos ocorridos de forma mais
completa.
1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO
Este trabalho est dividido em seis captulos. No captulo 1, apresentada uma introduo do
contexto atual da gesto de SST na indstria da construo civil, com destaque para o cenrio
brasileiro, bem como para a justificativa, questo e aos objetivos da pesquisa.
No captulo 2, feita uma descrio da bibliografia existente sobre a utilizao de quase-
acidentes nos sistemas de gesto de segurana. Foram analisadas as principais atividades
envolvidas no emprego de prticas que envolvem os quase-acidentes: a coleta e anlise de
dados, incluindo possveis critrios de classificao, assim como a difuso e o controle das
informaes contidas nos quase-acidentes.
O captulo 3 descreve o delineamento da presente pesquisa detalhando a escolha das empresas
analisadas, o mtodo de coleta de dados e a definio das categorias de anlise. O captulo 4
descreve o sistema de gesto das trs empresas, o treinamento em relao aos quase-acidentes
e o procedimento de coleta, anlise e difuso dos quase-acidentes em cada empresa, bem
como uma descrio das obras que tiveram dados coletados.
O capitulo 5 apresenta os resultados obtidos a partir da anlise dos quase-acidentes
identificados, fazendo uma comparao com os resultados obtidos na literatura referente a
acidentes e quase-acidentes na construo civil. Neste captulo so avaliadas as utilidades
percebidas na prtica de quase-acidentes e so apontadas sugestes de melhoria na obteno
de informaes destes eventos.
O captulo 6 traz as concluses obtidas aps a anlise e comparaes dos resultados,
salientando para a utilidade destas informaes. Ao final so descritas contribuies que
venham a melhorar a prtica de quase-acidentes nas empresas.
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2 SISTEMA DE GESTO DE SEGURANA E OS QUASE-ACIDENTES
NA CONSTRUO CIVIL
2.1 CONCEITOS E CLASSIFICAO DOS TERMOS APLICADOS NOS
SISTEMAS DE GESTO DE SST
Inicialmente surge a necessidade de definir alguns termos importantes que sero utilizados aolongo deste trabalho, a saber, incidentes, acidentes, quase-acidentes e suas respectivas
definies, bem como termos normalmente utilizados nos sistemas de gesto de SST.
Segundo Saurin (2002), segurana no trabalho refere-se tanto a preveno de acidentes
instantneos, quanto preveno de doenas ocupacionais, que normalmente se desenvolvem
gradativamente ao longo do tempo. Muitas vezes a segurana definida mais por sua falta do
que por sua presena e trata mais de como os acidentes ocorrem do que como processos
inerentes organizao e aes humanas podem evitar, detectar e conter eventos inseguros(REASON, 20001apud COSTELLA, 2008, p. 23).
Os acidentes do trabalho so caracterizados como [...] uma ocorrncia imprevista e
indesejvel, instantnea ou no, relacionada com o exerccio do trabalho, que provoca leso
pessoal ou de que decorre risco prximo ou remoto dessa leso. (ASSOCIAO
BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS, 19752 apud COSTELLA, 1999, p. 9). Saurin
(2002) questiona este conceito, afirmando que definio da norma assemelha-se com o
conceito de quase-acidentes ao afirmar que o acidente de trabalho no necessariamente
envolve leso, mas pode apresentar potencial para provocar a mesma. Desta forma os
acidentes so eventos indesejveis que resultam em leso pessoal ou a propriedade, ao meio
ambiente ou a terceira parte (JONES et al., 1999). Complementando esta definio Saurin
(2002, p. 13) enfatiza trs aspectos:
1REASON, J. Safety paradoxes and safety culture. Injury Control and Safety Promotion, v.7, n.1, p. 3-14,Mar. 2000.
2ASSOCIAO BRAILEIRA DE NORMAS TCNICAS. Cadastro de acidentes: NB 18. Rio de Janeiro, 1975.
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[...] (a) ao estabelecer que os acidentes so eventos no planejados, reconhecido opapel do acaso de sua ocorrncia; (b) os acidentes no tm relao exclusivamentecom o meio fsico do trabalho (mquinas, ferramentas, condies de iluminao erudo, por exemplo), mas envolvem, tambm, o meio ambiente social (organizaodo trabalho e relacionamento entre pessoas, por exemplo) dentro do qual o trabalho
desempenhado; (c) os acidentes apenas com danos materiais tambm soconsiderados acidentes do trabalho.
Os acidentes, dentro dos sistemas de gesto de segurana, ainda so classificados de acordo
com o tipo de perda vinculado. As categorias abordadas neste trabalho so classificadas pela
NBR 14280 (ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS, 1999) sob os
seguintes conceitos:
a) acidentes com perda de tempo (CPT) so o acidentes que resultam em danos spessoas e que impedem o acidentado de voltar ao trabalho, em suas funesnormais, aps o dia seguinte ao acidente, no horrio normal de trabalho, ou queresulta em perda de vida, incapacidade permanente total, incapacidade
permanente parcial ou incapacidade temporria total;
b) acidentes sem perda de tempo (SPT) so acidente com leso, que resultam emdanos s pessoas que no impedem o acidentado de voltar ao trabalho aps odia seguinte ao acidente, no horrio normal de trabalho, no entanto, na suaocorrncia exigem primeiros socorros ou atendimento mdico de urgncia;
c) acidentes com danos materiais (CDM) so acidentes que no resultam em lesopessoal, mas propriedade, ao meio ambiente e perdas no processo deproduo.
Em relao a quase-acidentes, Marsh e Kendrick (2000), em um trabalho de anlise destes
eventos relacionados segurana infantil em ambientes domsticos, definiram estes eventos
como toda situao causada pela criana, ou que ocorra a ela, que poderia resultar em uma
leso, mas que felizmente no chegou a ocorrer. Costella (1999, grifo nosso) sintetiza a
definio destas ocorrncias como eventos com caractersticas e potencialpara causar algumdano, mas que no chegam a ocorrer. Portanto, a definio de quase-acidentes utilizada neste
trabalho segue a de Cambraia et al.(2008, p. 53) que caracteriza estes eventos como:
[...] todo evento no planejado, instantneo decorrente da interao do ser humanocom o meio ambiente fsico e social de trabalho, com potencial de gerar umacidente. [...] Diferentemente dos acidentes, a conseqncia de um quase-acidenteno representa danos pessoais e materiais, resultando geralmente em apenas perdade tempo. Alm disso, para a caracterizao de um quase-acidente no exigido queexista um indivduo que poderia vir a sofrer o potencial acidente no entorno de local
em que ocorre o evento. Assim sendo, um quase-acidente tambm tem potencialpara resultar em acidente com danos exclusivamente materiais.
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importante, ainda, diferenciar o significado de quase-acidentes de atos e condies
inseguras, termos tambm muito difundidos na SST. Ato inseguro relacionado a hbitos de
trabalho ou problemas comportamentais; j condio insegura envolve ambiente fsico ou
organizacional inseguro (JONES et al., 1999). Enquanto nos atos e nas condies inseguras a
situao de perigo resultado de uma ao contnua ou permanente no ambiente de trabalho,
nos quase-acidentes essa ao instantnea, sem continuidade (SAURIN, 2002).
Incidentes muitas vezes so usados como sinnimos de quase-acidentes (REASON, 1997).
Outros autores consideram incidentes englobando acidentes, quase-acidentes, atos e condies
inseguras (VAN DER SCHAAF; KANSE, 2004; JONES et al., 1999). No presente trabalho o
termo incidente ser utilizado para designar qualquer situao insegura que no cause leso
fsica ou dano material e ambiental.
2.2 CONTEXTUALIZAO
Independente de gerar ferimento ou dano a propriedade, qualquer evento inesperado, acidente,
incidente ou quase-acidente, que interrompa ou que tenha o potencial de interromper o fluxo
de trabalho em um processo industrial, deve ser considerado e tratado como aviso que precede
um acidente (JONES et al., 1999). Desta forma, a coleta e anlise de dados de quase-acidentes
podem contribuir para a identificao dos riscos associados atividade industrial, antes destes
causarem um acidente.
O relato de quase-acidentes vem se tornando cada vez mais freqente em diversos domnios
da indstria, dos transportes e da sade. Sua utilizao j tem longa histria como parte de
sistemas de gesto de SST, especialmente em setores como aviao civil, usinas nucleares,indstria qumica, e, mais recentemente, no transporte ferrovirio, indstrias farmacuticas e
na medicina (VAN DER SCHAAF; KANSE, 2004). Na medida em que a investigao de
acidentes prtica exigida por lei e difundida nos diversos domnios, a mesma vem sendo
adotada tambm entre os quase-acidentes (JONES et al., 1999). Isso se deve, dentre outros
motivos, ao fato de tais setores industriais terem apresentado melhorias no desempenho da
gesto da segurana a ponto das investigaes dos acidentes se tornarem raras, no se
constituindo em ferramenta de informao efeedback (VAN DER SCHAAF, 1995).
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Nesta linha, Costella (2008) enfatiza a necessidade do desenvolvimento de pesquisas que
foquem em dados relacionados com riscos ou em eventos que potencialmente poderiam gerar
acidentes, alm da compreenso dos motivos de suas ocorrncias. O autor ainda argumenta
que [...] necessrio compreender como o sucesso obtido, como as pessoas aprendem e se
adaptam criando a segurana em um ambiente com falhas, perigos, trade-offs e mltiplos
objetivos.(COSTELLA, 2008 p. 16).
Costella (1999, p. 2) afirma:
[...]a existncia de riscos comum ao trabalho na construo civil e por esse motivo,a preveno de acidentes torna-se uma atividade ainda mais desafiadora. Entretanto,
pode-se diminuir estes riscos a partir de medidas pr-ativas para melhorar ascondies de trabalho e assegurar-se de que o trabalho est sendo desenvolvido deuma maneira segura. Pode-se estabelecer as mesmas metas dos programas depreveno de acidentes de empresas manufatureiras nas de construo, apesar de seconsiderar que o esforo requerido para eliminar os riscos de acidentes seja maior naconstruo, devido ao constante estado de mudana em contraposio ao ambientede repetitividade da manufatura.
Entretanto, a identificao e o relato de quase-acidentes no uma tarefa fcil, principalmente
por depender do envolvimento da fora de trabalho (REASON, 1997). Segundo Marsh e
Kendrick (2000), os quase-acidentes so particularmente de difcil anlise por serem baseadasem percepes subjetivas do quo quase um incidente pode ser classificado como quase-
acidente. Van der Schaaf e Kanse (2004) agruparam fatores que influenciam no relato de
quase-acidentes por parte da fora de trabalho em quatro grupos:
a) medo de ao disciplinar ou da reao de outras pessoas;
b) aceitao dos riscos como parte do trabalho que desempenham e de difcilpreveno, alm da perspectiva machista dos setores industriais;
c) crena na inutilidade da informao, devido a falta de umfeedbackda gerncia;
d) sentimento prtico de que o relato de quase-acidentes difcil e consome muitotempo de trabalho.
Seguindo exemplos de indstrias mais avanadas em segurana, Jones et al. (1999) sugerem
que a avaliao interna de quase-acidentes deve compor parte integral do sistema de gesto de
SST. A indstria qumica tem uma longa histria em compartilhar informaes como forma
de evitar que acidentes se repitam. Na Unio Europia (UE) foi estabelecida em 1982 a
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Seveso I3que visa informar e transferir as experincias de aprendizado, em eventos ocorridos
nesta indstria, com outras organizaes e outros pases da UE. Para isso, foi desenvolvido
um esquema de notificao de acidentes industriais de maior gravidade MARS (Major
Accident Reporting Systems) cuja funo disseminar rapidamente, no setor, informaes
sobre os acidentes de maior gravidade, contendo a anlise de causas e o aprendizado
decorrente destes eventos. Na publicao mais recente, a Seveso II4, de 1997, j recomenda o
relato de acidentes de menor gravidade e quase-acidentes que consideram de particular
interesse tcnico preveno de acidentes de maior gravidade e a limitao de suas
conseqncias (JONES et al., 1999).
2.3 RELAES ENTRE ACIDENTES E QUASE-ACIDENTES
Os quase-acidentes so uma das principais fontes de informao pr-ativas para a gesto da
segurana, pois estes eventos so relativamente mais freqentes e poderiam ter gerado um
acidente sob circunstncias levemente diferentes (CAMBRAIA et al., 2008). Van der Schaaf
(1995) definiu os quase-acidentes como importante fonte de informao por serem eventos
muito mais numerosos que os acidentes. Saurin (2002), dentro deste contexto, relaciona osquase-acidentes com os acidentes, salientando que a ocorrncia daqueles eventos bem mais
comum que destes, sendo os quase-acidentes um indicativo de probabilidade de acidentes.
Jones et al. (1999), descrevem que os quase-acidentes so, de fato, eventos muito mais
frequentes que os acidentes. Van der Schaaf (1995) definiu os quase-acidentes como eventos
muito mais numerosos que os acidentes sendo fonte de informaes que possibilitam avaliar a
qualidade do sistema de segurana e o porqu da no ocorrncia do acidente. Alm disso,
justifica as extensivas regras de segurana, programas de treinamento e equipamentos
redundantes de proteo, pois mostra na ao que possvel conter um possvel acidente
potencial tornando o evento, um quase-acidente.
Diversos estudos j foram desenvolvidos buscando relacionar, quantitativamente, o nmero
de ocorrncia de quase-acidentes, acidentes de menor gravidade e acidentes de maior
3Council directive of 24. June 1982 on the major-accident hazards of certain industrial activities. Trata-se de
uma comisso de comunicao e controle de acidentes do trabalho na indstria qumica europia.4 Council Directive 96/82/EC of 9. Dec. 1996 on the control of major-accident hazards involving dangerous
substances.
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gravidade. Dos estudos desenvolvidos nesta rea, o pioneiro deles o estudo de Bird e
Germain (BIRD; GERMAIN 19665 apud JONES et al., 1999). A pirmide de Bird o
resultado de uma anlise completa de acidentes ocupacionais desenvolvida nos Estados
Unidos da Amrica. Esta anlise baseou-se em mais de 1.750.000 acidentes ocorridos em 21
ramos da indstria americana. O estudo revelou que a ocorrncia de leses graves, leses
leves, acidentes com dano propriedade e quase-acidentes segue a proporo 1-10-30-600,
conforme a figura 2, apresentando que para cada leso de maior gravidade, ocorrem 600
quase-acidentes (trabalho no publicado)6.
1 lesograve
10 lesesmenores
30 acidentes comdanos propriedade
600 quase-acidentes
Figura 2: pirmide de Bird (trabalho no publicado). 7
2.4 EMPREGO DE QUASE-ACIDENTES NA GESTO DA SEGURANA
Cambraia et al. (2005) condiciona o sucesso dos sistemas de gesto de SST busca e ao
tratamento dado s informaes obtidas. Os quase-acidentes constituem uma das mais
relevantes formas de se obter informaes sobre a segurana e sobre as causas de ocorrncia
de acidentes pela possibilidade destes eventos gerarem um acidente sob condies levemente
diferentes (CAMBRAIA et al., 2005).
5BIRD, F. E.; GERMAIN, G.L. Damage Control. New York: American management Assoc. Inc, 1966.6 Material de Treinamento no publicado. Det Norske Veritas, Gesto Moderna da Segurana, So Paulo, 2003.7opus citatua
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Mesmo os quase-acidentes precisam seguir uma sistemtica para que a informao obtida seja
de utilidade nos sistema de gesto de SST. Van der Schaaf (1995) sugere que um sistema de
informao de quase-acidentes na gesto de segurana seja baseado nas seguintes atividades:
a) identificao de quase-acidentes, geralmente por meio do relato voluntrio dosoperadores;
b) seleo dos eventos teis para a preveno, em funo da qualidade eprofundidade das informaes disponveis;
c) anlise do evento selecionado, por meio de tcnicas qualitativas de anlisecausal;
d) classificao de acordo com a anlise das causas bsicas;e) anlise estatstica computacional do banco de dados de quase-acidentes para
apoiar a tomada de deciso gerencial;
f) avaliao da eficcia das aes implementadas.
Cambraia et al. (2008) sugere que a operacionalizao do uso de quase-acidentes na gesto de
segurana nos canteiros de obra seja entendida como um sistema de informao contendo trs
etapas bsicas:
a) identificao e registro dos quase-acidentes (entrada);
b) anlise dos mesmos (processamento);
c) difuso das informaes (sada).
2.4.1 Identificao e registro de quase-acidentes
A identificao de quase-acidentes necessria para iniciar qualquer trabalho de anlise sobre
este tipo de evento. Jones et al. (1999) definem o relato de quase-acidentes como um dos
objetivos internos das companhias. Estimular o relato de quase-acidentes e aprender atravs
deles uma maneira de se reduzir a ocorrncia de eventos de maior gravidade. Isso levar a
uma reeducao em acidentes e uma melhoria na performance dos sistemas de gesto de
segurana (JONES et al., 1999).
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Segundo Brazier (1994), um relato detalhado e coerente possibilita a indicao do potencial
de gravidade de um possvel acidente que teve a sorte de no ocorrer. No caso da UK
Railway analisado por Wright e Van der Schaaf (2004), a investigao de quase-acidentes
feita voluntariamente. Os relatos so feitos por um formulrio ou por telefone, diretamente
pelos funcionrios da empresa.
Em seu estudo Cameron et al. (2006) concluram que os trabalhadores da construo so mais
inclinados a participarem por meios informais de comunicao. Dentre os motivos para o uso
destes meios, tais como comunicao oral, em detrimento do uso de mtodos escritos
(formais), est o baixo nvel de escolaridade do trabalhador da construo, a resistncia em
emitir opinies escritas por medo de discriminao ou perda do emprego e tambm o fato da
comunicao oral ser mais fcil e requer um menor esforo. As tentativas de implementar
cartes defeedbackou formulrios de sugesto obtiveram pequeno sucesso neste estudo.
Alm disso, como argumenta Brazier (1994) em formulrios escritos necessrio que sejam
definidos termos e expresses de conhecimento tanto das pessoas requisitadas a elaborar o
relato, quanto das pessoas s quais o documento destinado. nessa padronizao que reside
o problema das respostas textuais: sem ela, a prtica do relato conduz a uma alta variabilidade
da qualidade do relato (BRAZIER, 1994).
Considerando a existncia de uma relao causal entre acidentes e quase-acidentes, a pesquisa
desenvolvida por Costella (1999) ser muito utilizado neste trabalho. Porm, nesta
comparao deve-se considerar que Costella utilizou dados bastante gerais da construo civil
no Rio Grande do Sul e que os resultados obtidos foram feitos a partir da anlise dos dados
disponveis nas CAT.
Como define Costella (1999) a investigao de acidentes no Brasil encontra-se ainda em umpatamar que o considera como um fenmeno decorrente de falhas humanas e ou tcnicas,
traduzidas pelas expresses de um ato inseguro e condio insegura. Neste mesmo enfoque a
cultura de no-culpa dos sistemas de gesto, ainda carece de grandes implementos na
construo civil. A partir de entrevistas realizadas com funcionrios de cargos administrativos
de empresas da construo civil, os prprios empregados do setor apresentam o
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comportamento de assumirem a culpa pela ocorrncia de acidentes. (PINTO, 19968 apud
COSTELLA, 1999, p. 28).
Dentro deste ponto de vista necessrio desenvolver uma cultura de no-culpacaracterizadapela confiana, em que as pessoas so encorajadas e at recompensadas por fornecerem uma
informao essencial relativa segurana. (REASON. 1997). Fundamental neste aspecto o
desenvolvimento de polticas de treinamento e capacitao dos funcionrios a cerca da
importncia do relato de quase-acidentes (COSTELLA, 2008).
Desta forma, primeiramente, necessrio definir treinamento e capacitao. Conforme
Bittencourt e Varela (2007) no treinamento, o objetivo a transmisso do conhecimento no
levando em conta se a pessoas esto compreendendo o que ensinado. J a capacitao
preocupa-se em proporcionar condies e oportunidades para que as pessoas desenvolvam
competncias, porm, esto baseadas fundamentalmente em seus prprios interesses. A
diferena principal entre treinamento e capacitao , ento, uma questo de conscincia
(BITTENCOURT; VARELA, 2007)..Torna-se necessrio, ento, disponibilizar,
primeiramente, um treinamento, para aps verificar se houve capacitao das pessoas.
A Norsk Hydro (empresa naval norueguesa), por exemplo, viu a importncia do treinamento
contnuo de seus empregados. Isto criou uma ateno segura em toda a organizao (JONES
et al., 1999). Dessa forma, os treinamentos devem demonstrar que no h limites no relatar,
pois at mesmo o quase-acidente de menor gravidade pode gerar aprendizados importantes,
alm de servir de motivao aos empregados (JONES et al., 1999).
Porm, a construo civil no apresenta o mesmo grau de maturidade que a indstria naval
norueguesa em relao ao treinamento dos funcionrios. Como argumenta Hinze (19979apud
COSTELLA, 1999) o treinamento no deve mais ser encarado como uma tarefa difcil e depouco efeito perante a alta rotatividade da construo civil; deve-se levar em conta que os
custos envolvidos ao treinamento de segurana, sero menores que as conseqncias, caso um
acidente grave ou fatal ocorra.
8 PINTO, A. Navegando no espao das contradies: a (re) construo do vnculo trabalho/sade portrabalhadores da construo civil. 1996. 247 f. Dissertao (Mestrado em Psicologia Social) PontifciaUniversidade Catlica de So Paulo, So Paulo.
9 HINZE, J. Construction Safety. Upper Saddle River, NJ: Prentice-Hall, 1997.
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Dentre mtodos de treinamento aplicados na construo civil, destacam-se integraes das
equipes e o Dilogo Dirio de Segurana (DDS) (CAMBRAIA, 2004). O DDS, segundo
Cambraia (2004), consiste na realizao diria de pequenas reunies, sempre antes do incio
das atividades. Os assuntos a serem abordados so sugeridos pelo tcnico de segurana das
empresas envolvendo instrues bsicas ligados segurana no trabalho que devem ser
utilizadas e praticadas por todos os participantes. As prelees, geralmente, so dirigidas
pelos mestres de obra, encarregados ou pelos prprios tcnicos de segurana. Estas reunies
tm uma durao aproximada entre 10 e 20 minutos (CAMBRAIA, 2004).
2.4.2 Anlise e investigao de quase-acidentes
Conforme Cambraia et al. (2008) a triagem dos quase-acidentes possibilita a anlise destes
eventos. Aps, realiza-se a investigao das provveis causas e das recomendaes quanto a
medidas preventivas que devem ser adotadas. Os quase-acidentes priorizados podem receber
uma investigao mais aprofundada que inclua, por exemplo, uma classificao quanto ao
agente causador, natureza e retorno positivo ou negativo do sistema de proteo de segurana
adotado (CAMBRAIA et al., 2008). A avaliao quanto ao retorno positivo ou negativo sobrea eficcia do sistema de preveno segue a abordagem de Reason (1997) que define o
primeiro caso como situao em que medidas preventivas funcionam como planejadas ou o
trabalhador consegue retornar ao trabalho. No segundo caso, o acidente no ocorreu por um
acaso, sendo que as medidas de preveno no funcionaram ou no existiam.
Van der Schaaf et al.(1995) apontam trs requisitos necessrios para a anlise dos quase-
acidentes:
a) comprometimento da liderana: de forma a garantir que o aprendizado, a partirdos quase-acidentes, seja sua nica funo. Devem garantir que o relatovoluntrio no tenha nenhum impacto negativo sobre os funcionrios querelataram;
b) relato: deve ser motivado atravs de treinamento e capacitao de todos osfuncionrios sobre a identificao dos quase-acidentes, demonstrando as aes
promovidas sobre os relatos, e lhes fornecendo freqente feedback dosresultados;
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c) suporte da equipe de segurana: necessrias para apreciar o modelo de errohumano, e assegurar a abordagem objetiva em descrever, classificar einterpretar o relato de quase-acidentes.
Cambraia et al. (2008) propem cinco formas de classificao para a anlise de os quase-
acidentes da construo civil:
a) natureza: a classificao utilizada para esta categoria foi subdivida nosseguintes itens:
- queda de materiais, ferramentas e equipamentos com diferena de nvel;
- queda de materiais, ferramentas e equipamentos no mesmo nvel;
- impacto sofrido pelo trabalhador;
- desequilbrio do trabalhador por deficincias nos acessos;
- impacto do trabalhador contra objetos fixos;
- iminncia de impacto envolvendo mquinas e equipamentos de transporte decarga;
- impacto de mquinas ou equipamentos de transporte de cargas;
- arremesso de materiais e ferramentas;
- iminncia de queda de andaimes e escadas com trabalhadores;
- choque eltrico;
- atrito e abraso;
b) agente causador: so todos os elementos fsicos envolvidos diretamente com oquase-acidente;
c) feedback positivo ou negativo ao sistema de gesto: os quase-acidentes deretorno negativo demonstram o potencial de aprendizagem por meio decorreo de falhas, em situaes que no existiam medidas preventivas, ou asmesmas falharam. Por outro lado, os quase-acidentes de retorno positivomostram o sucesso de medidas preventivas que entraram em ao quando
solicitadas;
d) prioridade, em funo do risco intrnseco a cada evento: a priorizaoestabelece um critrio para avaliar quais os quase-acidentes que justificariamuma investigao mais profunda;
e) rastreabilidade do evento: avalia a possibilidade de identificao das causas-raz e da atuao sobre elas.
No estudo desenvolvido por Marsh e Kendrick (2000), as categorias de anlise includas nos
formulrios de coleta de dados sobre acidentes domsticos envolvendo crianas foram: data,hora, local, mecanismos de leso, parte de corpo lesionada e tipo de leso. Em um estudo de
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anlise de acidentes do trabalho vinculados a atividade mineradora na Turquia, Sari et al.
(2004) utilizaram critrios de anlise divididos em quatro grupos: idade e experincia,
ocupao, local da leso e partes do corpo lesionadas. O estudo de anlise de acidentes na
construo civil em Portugal no perodo de 1992 e 2001, desenvolvido por Macedo e Silva
(2005) utilizou como critrios a idade da vtima no momento do acidente, a atividade
econmica, a data do calendrio e o perodo em que o acidente ocorreu, o tipo de leso e a
parte do corpo lesionada.
Dois trabalhos bem abrangentes foram desenvolvidos na anlise de acidentes do trabalho na
construo civil atravs da anlise da Comunicao de Acidentes do Trabalho (CAT).
Costella (199) analisou os acidentes do trabalho ocorridos no Rio Grande do Sul no perodo
entre 1996 e 1997. Outro trabalho Sinduscon/PE (2003) analisou os acidentes com CAT no
estado de Pernambuco no ano de 2002. Os resultados destes trabalhos comprovam
apontamentos interessantes a cerca das caractersticas dos acidentes do trabalho na construo
civil.
A anlise quanto ao horrio da ocorrncia foi parte integrante dos trabalhos de Costella (1999)
e Sinduscon/PE (2003). Este resultado demonstrado na figura 3.
12%
37%
1%
13%
30%
7%
16%
29%
0%
23%
17%14%
7:30 -9:30 9:30 -12:00 ALMOO 13:00 -15:00 15:00 -17:30 HORA EXTRA
Costella (1999) SINDUSCON PE(2003)
Figura 3: distribuio dos acidentes do trabalho quanto ao horrio em relao aosdados de Costella (1999) e Sinduscon /PE (2003).
Quanto profisso dos funcionrios, 3 categorias de profissionais sofreram 87,0% dos
acidentes: serventes (44,3%), pedreiros (21,7%) e carpinteiros (21,0%). Na avaliao, o
servente o profissional mais acidentado, sendo superior a soma dos acidentes dos pedreiros e
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carpinteiros, mas tambm a profisso que emprega maior nmero de funcionrios na
construo civil (COSTELLA, 1999). Dados do Siduscon/PE (2003) apontam serventes,
pedreiros e carpinteiros representando 17,0%, 6,6% e 5,3% dos trabalhadores acidentados,
respectivamente, sendo estas profisses as que apresentam maior nmero de ocorrncias.
Costella (1999) avaliou a distribuio dos acidentes do trabalho quanto ao dia da semana. Tal
avaliao passou por tratamento estatstico e observou uma tendncia decrescente da
ocorrncia de acidentes do trabalho durante a semana. Tal comportamento pode ser visto na
figura 4. Na segunda-feira h uma concentrao de 21,7% dos acidentes enquanto na sexta-
feira concentra 15,7% das ocorrncias. Ocorrncias nos finais de semana representam 5,6%
dos casos, mas sua diminuio funo da jornada de trabalho reduzida.
22%20% 19% 18%
16%
6%
Segunda-feira Tera-feira Quarta-feira Quinta-feira Sexta-feira Sbado eDomingo
Figura 4: distribuio dos acidentes segundo ao dia da semana
(adaptado de COSTELLA, 1999).
A natureza dos quase-acidentes analisados por Costella (1999) teve sua caracterizao
submetida definio de categorias demonstradas no quadro 1. As categorias de anlise de
quase-acidentes quanto natureza, utilizados por Cambraia et al. (2008) e os resultados
obtidos, so demonstrados no quadro 2.
Em relao natureza, nos acidentes do trabalho analisados por Costella (1999), houve a
predominncia de ocorrncias envolvendo quatro categorias de anlise. Impacto sofrido,
queda com diferena de nvel, impacto contra e esforos excessivos ou inadequados
representaram 78,1% dos acidentes, como pode ser verificado no quadro 3. O trabalho, ainda
refere que estas primeiras quatro categorias reproduzem resultados de outras pesquisas
desenvolvidas em outros pases e estados brasileiros (COSTELLA, 1999). Cambraia et al.(2008) concentrou os quase-acidentes nas cinco primeiras categorias: queda de objetos com
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estudo em empresas de Porto Alegre/RS
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diferena de nvel e em mesmo nvel, impacto sofrido pelo trabalhador, desequilbrio do
trabalhador por deficincia de acessos, impacto do trabalhador contra objetos fixo, em um
total de 77,3% dos quase-acidentes.
Categorias do banco de dados Categorias NB 18
Prensagem ou aprisionamento Aprisionamento em, sob ou entre
Atrito ou abraso Atrito ou abraso
Contato com objeto ou substncia a
temperatura muito alta ou muito baixa
Exposio temperatura ambiente elevada ou
baixa
Esforos excessivos ou inadequados Esforo excessivo. Reao do corpo a seusmovimentos
Choque eltrico Exposio energia eltrica
Exposio ao rudo Exposio ao rudo
Impacto contra Impacto de pessoa contra
Impacto sofrido Impacto sofrido por pessoa
Contato com substncia nocivaInalao, ingesto ou absoro (por contato)
de substncia txica ou nociva
Queda com diferena de nvel Queda de pessoa com deferena de nvel
Queda em mesmo nvel Queda de pessoa em mesmo nvel
Ataque de ser vivo
Exposio poluio
Exposio presso ambiente
Exposio radiao ionizante
Exposio radiao no ionizante
Exposio vibrao
Imerso
Contato com temperatura externa
Categorias no encontradas nas CATs
pesquisadas
Quadro 1: categorias quanto natureza do acidente do banco de dados desenvolvido
e as categorias de classificao sugeridas pela NB 18 (COSTELLA, 1999).
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Cambraia et al.(2008)
Queda de materiais, ferramentas e equipamentos com diferena de nvel 28,2%Queda de materiais, ferramentas e equipamentos no mesmo nvel 21,8%
Impacto sofrido pelo trabalhador 9,1%Desequilbrio do trabalhador por deficiencias nos acessos 9,1%Impacto do trabalhador contra objetos fixos 9,1%Iminncia de impacto envolvendoequipamentos de transporte de carga 8,2%Impacto de mquinas ou equipamentos de transporte de cargas 5,5%Arremesso ou projeo de materiais e ferramentas 3,6%Iminncia de queda de andaimes e escadas com trabalhadores 2,7%Choque eltico 1,8%Atrito e abraso 0,9%
Quadro 2: distribuio dos quase-acidentes segundo a natureza do evento
(CAMBRAIA et al., 2008).
Natureza do acidente Total
Impacto sofrido 31,7%
Queda com diefrena de nvel 19,0%
Impacto contra 15,0%
Esforos excessivos ou inadequados 12,4%
Prensagem ou aprisionamento 7,9%
Queda em mesmo nvel 7,6%
Exposio ao rudo 2,5%
Contato com substncia nociva 1,7%
Choque eltrico 1,2%
Atrito ou abrso 0,5%
Contato com temperatura extrema 0,5%
Total 100,0% Quadro 3: distribuio dos acidentes segundo a natureza do evento
(COSTELLA, 1999).
A avaliao dos agentes de leso envolvidos nos acidentes analisados por Costella (1999)
demonstrou que os principais agentes foram andaimes ou similares (10,0%); peas soltas de
madeira (8,1%); peas metlicas ou vergalhes (7,9%); na sua maioria os vergalhes; as
frmas de madeira ou metlicas (7,7%), na sua maioria as frmas de madeira e as serras em
geral (6,6%). A distribuio dos acidentes de trabalho analisados por Costella (1999) em
relao aos agentes causadores demonstrado no quadro 4.
O estudo realizado pelo Sinduscon/PE (2003) utilizou categorias mais detalhadas quanto ao
agente causador, mas que puderam ser agrupadas apresentando os resultados maisrepresentativos. Estes resultados podem ser visualizados no quadro 5.
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Classificao dos Agentes de Leso Inclui %
andaime ou similar cavalete, andaime suspenso mecnico, guarda-corpo 10,0%
madeira (pea solta) escoras, tbuas, sarrafos, mouro, etc. 8,1%
pea metlica ou vergalhocabo de ao, arame, escora metlica, chapas, calhas, vigas,
zinco 7,9%
forma de madeira ou metlicachapas de compensado, painis metlicos ou de madeira
7,7%
serras em geral circular, manual, policorte 6,6%
concreto, cimento ou pea de concretoelementos estruturais de concreto, concreto fresco,
argamassa6,4%
mquinas ou equipamentosbetoneira, guincho, elevador, mangote, vibrador, furadeira,
lixadeira, equipamento de fundao6,4%
escada escada de concreto, de madeira, de abrir, etc. 5,6%
ferramenta sem fora motrizmartelo, marreta, p, picareta, p de cabra, colher de
pedreiro, alicate, chave de fenda5,6%
pedras, brita ou areia granito, mrmore, basalto 4,1%
prego 3,7%carro de mo ou similar girica e caamba 3,6%
tijolo ou similaresbloco cermico, telhas, tavelas, telhas fibrocimento,
cermica em geral3,0%
piso ou parede 2,9%
rudo 2,5%
vo livrefinal de laje, vo do elevado, vo na laje, reservatrio,
blocos de fundao, caixas de esgoto2,4%
tubo tubos de PVC, cobre, ferro fundido e concreto 2,2%
entulho ou terra 2,1%
telhado 1,9%
material eletrizado
andaimes, peas metlicas, tomada, quadros e cabos de luz
1,2%
portas, portes, janelas, etc. 1,0%
substncia qumica e substncias em
alta temperatura
cal virgem, cido sulfrico, adesivos de PVC, gua, piche,
pontas metlicas aps o corte0,6%
outro tipo de materialtintas, massa corrida, vidro, corda, caixa e fio de luz no
eletrizados1,9%
no identificado 2,7%
Total 100,0% Quadro 4: categorias e distribuio dos acidentes quanto ao agente de leso
(adaptado de COSTELLA, 1999).
Agente Causador Sinduscon/PE (2003)Andaime, plataforma - edifcio ou estrutura 7,7%Ferramentas manuais sem fora motriz 7,3%Pea metlica ou vergalho 7,3%Equipamentos 6,1%Madeira (pea solta) 6,6%Veculo rodovirio motorizdo 4,2%Escada mvel ou fixada 2,2%Cho - superfcie utilizada para sustenatr pessoas 1,8%
Quadro 5: categorias e distribuio dos acidentes quanto ao agente de leso segundoao Sinduscon/PE (2003).
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O estudo de quase-acidentes de Cambraia et al. (2008) apresentaam resultados quanto ao
feedbackpositivo ou negativo ao sistema de gesto. Estes, apresentaram 16% das ocorrncias
com retorno positivo e 84% com retorno negativo.
Na avaliao quanto a priorizao dos quase-acidentes, Cambraia et al. (2008) utilizaram uma
matriz de avaliao como forma selecionar os eventos de maior severidade e probabilidade de
ocorrncia, que justificam uma investigao mais profunda. Nesta matriz, cada evento era
enquadrado em categorias de severidade e probabilidade, obtendo-se uma indicao das
prioridades por intermdio de trs zonas de risco:
a) vermelha: eventos de maior prioridade;
b) amarela: eventos de prioridade intermediria;
c) verde: eventos de baixa prioridade.
O quadro 6 abaixo mostra os critrios relacionados com a severidade. Estas definies
ocorreram a partir de adaptao de Sampaio (1999).
Muito alta (I) Pode ocasionar a morte do trabalhador Extremamente
remota (A)
O acidente ou doena conceitualmente
possvel, mas extremamente improvvel de
acontecer ao longo da execuo da obra
Alta (II)
Pode gerar leses incapacitantes
permanentes ou doenas ocupacionais
graves
Remota (B) No esperado de acontecer durante a
construo
Moderada
(III)
Pode acarretar afastamento do trabalho por
perodo superior a quinze dias Improvvel (C) Pouco esperado de acontecer
Baixa (IV) Pode acarretar afastamento do trabalho por
perodo inferior a quinze dias Provvel (D)
Esperado de ocorrer ao menos uma vez
durante a construo
Menor (V) Pode acarretar primeiros socorros ounenhum prejuizo ao trabalhador
Freqente (E) Esperado de ocorrer vrias vezes durante aconstruo
Severidade Probabilidade
Quadro 6: critrios para priorizao de quase-acidentes
(adaptado de SAMPAIO, 1999).
Os resultados obtidos neste estudo, em relao priorizao dos quase-acidentes apontaram
13,7% dos quase acidentes em prioridade alta, 75,4% em prioridade mdia e 10,9% em
prioridade baixa (CAMBRAIA et al., 2008).
Cambraia et al. (2008) ainda utilizaram a categoria de rastreabilidade dos quase-acidentes.Este estudo demonstrou que 87,3% foram rastreveis e 12,7% no foram possveis de rastrear.
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estudo em empresas de Porto Alegre/RS
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2.4.3 Controle e difuso de informaes
O controle e a divulgao de quase-acidentes a etapa da gesto destes eventos em que se
torna necessrio o envolvimento da liderana. Jones et. al. (1999) descrevem o modelo daempresa Norsk Hydro, a qual verificou que o nmero de acidentes foi reduzido medida que
os lderes trabalham para aumentar o foco nos quase-acidentes e no aprendizado sobre eles.
Quando a organizao relaxou no controle e divulgao dos quase-acidentes a ocorrncia de
acidentes aumentou.
Costella (2008) cita normas internacionais (OHSAS 1800110) salientando a inexistncia de um
item especfico que envolva a alta administrao nos sistemas de gesto de SST. A
participao da alta administrao estaria em analisar o desempenho global do sistema de
gesto SST e no na anlise de detalhes especficos. (COSTELLA, 2008). Costella (2008, p.
68) refere-se ao comprometimento da alta administrao e demonstra sua importncia para
sistema de gesto SST na organizao:
O comprometimento da alta administrao significa que a segurana e a sadedevem ter valor cultural destacado na organizao. Para isso, a direo deveestimular o reconhecimento da importncia do desempenho humano, tanto em
palavras, como em aes. Assim, as presses da produo tero menor influnciasobre a segurana do trabalho e haver maior equilbrio entre os objetivos.
2.4.4 Consideraes finais
Aps a divulgao desses indicadores necessrio que sejam aplicadas contramedidas
identificadas como necessrias a partir das causas destes eventos. Garantidas estas trs etapas
relato, anlise e controle e incorporando-as rotina dos sistemas de gesto SST dos
canteiros de obra, possvel implementar um carter pr-ativo agindo antecipadamente sobre
as causas de acidentes mais graves.
10
Occupational Health and Safety Assessment Series nmero 18001 consiste em um Sistema de Gesto comfoco na Sade e Segurana Ocupacional
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3 MTODO DE PESQUISA
O delineamento de pesquisa est apresentado na figura 5. A pesquisa foi dividida em seis
grandes etapas, as quais so descritas a seguir.
Figura 5: delineamento de pesquisa.
3.1 REVISO BIBLIOGRFICA
A reviso bibliogrfica foi realizada de forma contnua no decorrer de todo o estudo. A partir
da pesquisa bibliogrfica, obteve-se o embasamento terico do trabalho, tendo por referncia
trabalhos j desenvolvidas. Foi mais intensa no incio da pesquisa, com vistas a definir a
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questo e objetivos do trabalho, e no final, na etapa de comparao dos resultados obtidos e
sugesto de melhorias possveis na utilizao de dados de quase-acidentes.
3.2 SELEO DAS EMPRESAS
Trs empresas, denominadas de A, B e C, foram selecionadas para participar deste estudo.
Sua escolha deveu-se ao fato de que possuam sistemas de gesto de SST evoludos, em
relao s prticas normais do setor, e, particularmente, por possurem prticas de registros de
quase acidentes. Todas elas tinham sistemas de gesto da qualidade certificados com base na
norma ISO 9001. Alem disto, duas delas (empresas B e C) haviam participado de trabalhos de
pesquisa desenvolvidos pelo NORIE11-UFRGS, o que facilitou o acesso a algumas
informaes. No caso especfico da empresa C, havia sido feita a implementao de relatos de
quase-acidentes atravs do trabalho de pesquisa de um doutorando12do NORIE-UFRGS, em
2008. No caso das empresas A e B, os relatos de quase-acidentes foram realizados em vrias
obras por exigncia de um cliente comum, denominado neste trabalho de Empresa
Contratante. O autor deste trabalho atuou por um ano nesta empresa como estagirio na rea
Sade e Segurana do trabalho, juntamente diretoria corporativa da empresa exercendo ocontrole e gesto das estatsticas de SST. A seguir apresentada uma descrio de cada uma
destas empresas.
3.2.1 Empresa Contratante
A Empresa Contratante tem atuao multinacional na produo de aos longos para aconstruo civil e aos especiais para a indstria automotiva. A unidade onde foram coletados
os dados deste trabalho sediada no municpio de Sapucaia do Sul na Regio Metropolitana
11 Ncleo Orientado para a Inovao da Edificao ncleo de pesquisa na rea da construo civil vinculado aUniversidade Federal do Rio Grande do Sul
12Fabrcio Borges Cambraia, co-orientador deste trabalho
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de Porto Alegre. Trata-se de uma unidade siderrgica semi-integrada13, em atividade desde
1957.
Esta empresa possua uma poltica e prticas de segurana que ultrapassam os requisitosestabelecidos em normas nacionais, as quais eram estendidas aos seus contratados, tais como
as Empresas A e B. Desde 2006, a Empresa Contratante vinha desenvolvendo um programa
aplicado a todas as suas reas de produo, bem como a empresas terceirizadas, chamado de
Trilha da Segurana.
A Trilha de Segurana estabelece um conjunto de critrios que devem ser atendidos para que
a rea de produo ou empresa terceirizada possa avanar de estgio, mediante a premiao
no fim de cada ciclo. Um destes critrios que, em mdia, cada funcionrio deve realizar ao
menos um Relato de Incidente (RI) mensal. Neste contexto, incidente definido como todo o
evento inseguro que no cause leso pessoal ou dano material.
As metas mensais estipuladas pela Trilha de Segurana, repassadas s empresas terceirizadas,
eram:
a) zero acidente CPT;
b) ter mdia mnima de um RI por funcionrio;
c) pontuao mnima de 95% na Avaliao Mensal de Segurana;
d) realizar Inspeo Semanal Planejada com a presena de lideranas;
e) realizar uma melhoria de 5S14, Segurana ou Meio Ambiente e evidenciar comregistro de fotos do antes e do depois.
O desempenho das empresas terceirizadas era medido de acordo com seguintes etapas:
a) cumprimento das metas e avaliao de suas evidncias;
b) o avano para o prximo estgio da Trilha da Segurana ocorre mediante oatendimento a todas as metas;
13 Siderrgicas semi-integradas so usinas que partem da sucata e do ferro-gusa para a produo de produtossemi-acabados.
14 Os cinco sensos que do nome ao Programa 5S tm sua origem nas iniciais das palavras japonesas seiri,seiton, seiso, seiketsu, shitsuke. No allfabeto latino so conhecidos como os sensos de utilizao, organizao,
limpeza, sade e autodisciplina5S. Trata-se de uma filosofia e uma maneira de organizar e gerenciar o espaode trabalho com o propsito de melhorar a eficincia atravs da eliminao de materiais no mais usados,melhorando o fluxo de trabalho e mitigando os processos desnecessrios.(VANTI, N. 1999)
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c) as empresas que alcanam o sexto estgio dentro do semestre recebem umabonificao.
A Empresa Contratante tambm exigia que todos os funcionrios prprios de terceiros
deveriam ser alfabetizados. Estes funcionrios, antes de poder desenvolver suas atividades nas
obras dentro da unidade siderrgica, eram submetidos a um treinamento de integrao
poltica e s diretrizes de segurana da Empresa Contratante. Este treinamento tem a durao
de 4 horas e comprovada mediante a uma avaliao de conhecimentos na qual os
funcionrios devem atingir 70% da pontuao.
3.2.2 Empresa A
A Empresa A uma empresa construtora com sede em Porto Alegre com mais de 80 anos de
atuao no mercado. Tem forte atuao no segmento de obras industriais, comerciais, de
infra-estrutura e de gerao de energia. Alm disso, a empresa possui uma fbrica de pr-
moldados, participando no mercado de projeto, fabricao e execuo de obras que utilizam
esta tecnologia.
3.2.3 Empresa B
Empresa construtora sediada em Porto Alegre e tem como principal segmento de atuao
obras industriais. Atua tambm no ramo hospitalar, comercial e, recentemente, no mercado
imobilirio.
3.2.4 Empresa C
Esta empresa constitui-se em uma das maiores empresas atuantes no mercado imobilirio de
Porto Alegre. O sistema de gesto de segurana desta empresa havia passado por uma srie de
melhorias no ano de 2008, em funo do trabalho de um aluno de doutoramento. Este trabalho
props a implementao de um conjunto de indicadores de segurana com o objetivo de
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avaliar o desempenho da empresa e suas subcontratadas de forma pr-ativa. Atravs destes
indicadores buscava-se uma maior integrao da gesto da segurana ao processo de
planejamento e controle da produo.
3.3 COLETA DE DADOS NAS EMPRESAS
A fase de coleta de dados foi iniciada pela Empresa C, pois nela estava sendo desenvolvido
um trabalho vinculado a linha de pesquisa de Projeto e Gesto de Sistemas de Produo, em
desenvolvimento no Programa de Ps-Graduao em Engenharia Civil. Este primeiro contato
com a empresa e com o tcnico de segurana foi de grande importncia para definir o
delineamento desta pesquisa. Aps, a pesquisa foi ampliadaa s demais empresas
Foram aplicados dois tipos de entrevistas: abertas e semi-estruturadas. As entrevistas semi-
estruturadas foram baseadas em dois roteiros de perguntas, um deles mais voltado para as
caractersticas gerais das obras e o outro focado no sistema de gesto da SST, com nfase nas
prticas relacionadas coleta e anlise de dados de quase-acidentes. Os roteiros encontram-se,
respectivamente nos Apndices A e B.
Em algumas visitas, o autor realizou observaes participantes em reunies de segurana com
os funcionrios de cada empresa. Na inteno de observara relao dos funcionrios com os
tcnicos de segurana. Dentre as reunies desenvolvidas pela equipe de segurana das
empresas com seus funcionrios e que tratavam da importncia do relato, e a que era aplicada
de maneira similar em todas as empresas era o DDS. Alm disso, por promover um dilogo
entre tcnicos de segurana, engenheiros e funcionrios, o DDS um momento em que os
funcionrios se sentem mais convidados a relatar. Desta forma, nas trs empresas analisadas,foram feitas observaes participativas durante a realizao destas reunies.
3.3.1 Empresa A
Para o desenvolvimento deste trabalho, primeiramente foi realizado um contato com a
Empresa Contratante para apresentar os objetivos do trabalho e solicitar aprovao paraacesso usina e aos dados de suas contratadas. Posteriormente, foi feito contato com a
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Empresa A para informar o objetivo da pesquisa e agendar as visita