Tcc Completo Simone Revisado

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1 UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SIMONE DRUNN A MEMÓRIA POLÍTICA DE AMAURY MULLER Ijuí, RS, janeiro de 2010

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UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO

RIO GRANDE DO SUL

SIMONE DRUNN

A MEMÓRIA POLÍTICA DE AMAURY MULLER

Ijuí, RS, janeiro de 2010

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SIMONE DRUNN

A MEMÓRIA POLÍTICA DE AMAURY MULLER

Monografia apresentada ao Curso de História, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, como requisito parcial à obtenção do título de Licenciada em História.

Orientador: Drª. Sandra Maria do Amaral

Ijuí, RS, janeiro de 2010

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Dedico este trabalho a minha irmã Carla Drum (in memorian),

pelo carinho, admiração e amor que

tinha por mim e dedicação a tudo que fazia. Também foi um

exemplo a ser seguido.

Mana me ilumine de onde quer que você esteja.

Mana te amo, eternamente.

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AGRADECIMENTO

Primeiramente quero agradecer a Deus, por ter me dado o direito à vida e

inteligência para seguir o meu caminho, as dificuldades impostas servem para me fortalecer e

ver que sou capaz, muitas vezes pensei em desistir, mas refleti, pensei e ao final você me

guiou e deu-me luz para seguir. Agradeço profundamente por ter proporcionado essa vitória,

essa conquista, que do projeto, sonho, tornou-se realidade. Muito obrigada.

A meus pais José Camaçol Drunn e Assunta Orsolim Drunn, que apesar de

distantes, sempre me fortaleceram, mandando energias positivas e me incentivando a seguir

em frente.

Ao meu amigo/namorado e marido Marcelo Frota, pelas palavras de incentivo,

carinho e paciência nesse período de conclusão. E por ter me dado força e não me deixar

desistir.

Aos meus chefes Bertiele Balke Muller e Evandro Balke, por nunca terem me

impedido ou dificultado quando eu precisei sair para estudar e pesquisar. Sempre me

incentivando e apoiando.

Aos meus colegas de trabalho também meu agradecimento, pela compreensão e

incentivo nesses anos de estudo.

Aos colegas de turma pelo companheirismo e amizade conquistada e que com

certeza a amizade verdadeira será eterna.

Aos familiares de Amaury, que não mediram esforços em disponibilizar materiais

e entrevista para que esta pesquisa fosse feita.

À minha professora e orientadora Sandra Maria do Amaral, a ela um carinho

especial, pois foi também peça chave, na hora em que eu quis desistir. Incentivou-me, deu

força, me aconselhou. Pelas excelentes leituras e orientações que foram de muita importância

para meu trabalho de conclusão. Muito obrigada.

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“Um patriota deve estar sempre pronto a defender seu país do governo.”

Edward Abbey

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LISTA DE FOTOS

FOTO 1: Amaury na Infância ............................................................................................. 11

FOTO 2: Amaury com colegas militantes em 1962 ........................................................... 13

FOTO 3: Amaury e o irmão Erani na campanha de 1983 ................................................. 18

FOTO 4: Com amigos em Ijuí, 1964. ................................................................................. 19

FOTO 5/ 6: Casamento ....................................................................................................... 20

FOTO 7: Com os filhos na praia ........................................................................................ 23

FOTO 8: Em Orlando (Florida) .......................................................................................... 38

FOTO 9: No México. ......................................................................................................... 38

FOTO 10: Na China. .......................................................................................................... 39

FOTO 11: Na Austrália....................................................................................................... 39

FOTO 12: No Paraguai. ..................................................................................................... 39

FOTO 13: Em Cuba. ........................................................................................................... 40

FOTO 14: Com o embaixador do Kuwait. ......................................................................... 40

FOTO 15: Com o líder palestino Yasser Arafat ................................................................. 41

FOTO 16: Com o presidente da Africa do Sul, Nelson Mandela. ..................................... 41

Foto 17/18: Recebendo diploma e condecoração. .............................................................. 42

FOTO 19: No gabinete com amigos e eleitores. ................................................................ 43

FOTO 20: Convenção do PDT ........................................................................................... 43

FOTO 21: Encontro nacional do PDT ................................................................................ 43

FOTO 22: Campanha de Brizola para presidente. .............................................................. 44

FOTO 23: Amaury na tribuna do Congresso Nacional ...................................................... 44

FOTO 24: Amaury na Bancada do Congresso Nacional .................................................... 45

FOTO 25: Comissão de Trabalhos da Câmara. .................................................................. 45

FOTO 26: Na Tribuna com Ulysses Guimarães. ............................................................... 46

FOTO 27: Com Tancredo Neves e a filha Fernanda. ........................................................ 46

FOTO 28: Amaury com o cantor Aguinaldo Timóteo ...................................................... 47

FOTO 29: Amaury assinando a Constituição de 1988. ...................................................... 50

FOTO 30: Amaury com a família em Porto Alegre, Natal de 2000. .................................. 61

FOTO 31: Amaury com a família no Revellion de 200. .................................................... 62

FOTO 32: Simone Drunn e Samira El Ammar Muller, durante a entrevista para a pesquisa

biográfica. .......................................................................................................................... 63

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 08

1 A FAMÍLIA DE AMAURY .......................................................................................... 11

1.1 Infância ................................................................................................................ 11

1.2 Escolaridade ........................................................................................................ 13

1.3 Vínculo Partidário ............................................................................................... 16

1.4 Expulsão da PUC e Prisão .................................................................................. 16

1.5 Ijuí ....................................................................................................................... 18

1.6 Casamento ........................................................................................................... 20

1.7 Campanha para o 1º Mandato ............................................................................. 21

1.8 Política nas Veias ................................................................................................ 22

1.9 Filhos ................................................................................................................... 23

2 VIDA PÚBLICA ........................................................................................................... 24

2.1 Chegada em Brasília ........................................................................................... 24

2.2 Parlamentares progressistas ................................................................................ 24

2.3 Reuniões dos Parlamentares ................................................................................ 25

2.4 O que foi o Grupo dos Autênticos do Movimento Democrático Brasileiro....... 25

2.5 Luta Armada ....................................................................................................... 27

2.6 Como foi lançar um Anticandidato...................................................................... 27

2.7 Desintegração do Grupo ...................................................................................... 29

2.8 Os Neo-Autênticos .............................................................................................. 30

2.9 Discurso da Cassação...........................................................................................30

2.10 A Cassação ........................................................................................................ 31

2.11 Vida pós-cassação ............................................................................................. 33

2.12 Revista o Espelho .............................................................................................. 34

2.13 Lei da Anistia .................................................................................................... 35

2.14 Volta ao Plenário em 1983 ................................................................................ 35

3 VIDA PÓS-DITADURA .............................................................................................37

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3.1 Motivo de ciumeira entre os colegas ................................................................... 37

3.2 Diretas Já ............................................................................................................. 46

3.3 Dever Cumprido .................................................................................................. 48

3.4 Constituição ........................................................................................................ 49

3.5 Último Mandato................................................................................................... 52

3.6 Diagnóstico do câncer ......................................................................................... 57

3.7 Homenagens Póstumas ....................................................................................... 63

CONCLUSÃO ........................................................................................................ 65

REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 68

ANEXOS ................................................................................................................. 70

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INTRODUÇÃO

Desde a Proclamação da República em 1889, a história política brasileira

mostrou-se por muitas vezes instável e incerta. Esse quadro de incertezas e instabilidades

acabou por culminar no período mais negro da história política do Brasil, que foi a ditadura

militar iniciada com a derrubada do presidente João Goulart em 1964. O regime militar tolheu

vidas, cerceou direitos, brutalizou e bestificou pessoas durante seus longos 30 anos de

existência, mergulhando o país em dívida externa e sucateando o Estado.

Muitos daqueles que ergueram suas vozes para protestar contra tal infâmia foram

caçados, perseguidos, presos, interrogados, torturados e, em muitos casos, mortos. Muitos

foram aqueles que tiveram de atravessar os anos de chumbo da ditadura no exílio. Políticos

como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o ex-governador do estado do Rio

Grande do Sul, Leonel de Moura Brizola tiveram de viver exilados.

Músicos como Caetano Veloso e Gilberto Gil, diversos intelectuais, artistas, e

tantos outros tiveram de deixar seu país sem direito de escolha. Lá fora, longe das garras dos

generais, lutaram contra a ditadura usando o que há de melhor na cultura brasileira,

participando de movimentos políticos internacionais, e lembrando o mundo de que o Brasil

era um país que mantinha seu povo como refém do próprio governo.

Muitos brasileiros, porém, permaneceram aqui no Brasil travando uma luta contra

a ditadura, anulando suas profissões, suas famílias e suas vidas para que hoje possamos viver

em um Estado realmente democrático.

O presente trabalho pretende focar a vida de um homem, um brasileiro entre

muito outros que teve a coragem de erguer sua voz contra os generais, políticos, simpatizantes

e torturadores, que lutou na arena política com as únicas armas disponíveis naqueles tempos

de insanidade, que eram seu patriotismo, seu amor pela causa da liberdade, sua determinação

de livrar o Brasil do totalitarismo em que o mesmo estava mergulhado. Um brasileiro que foi

perseguido, preso e torturado, mas que, ao contrário de muitos de seus companheiros de luta,

sobreviveu para continuar sua luta pelos direitos humanos e tornar-se parte da história política

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do Brasil. Este homem, este brasileiro, um entre tantos Davis que se ergueu contra o

imponente Golias foi o deputado federal Amaury Muller.

A pesquisa biográfica que realizei teve como foco a vida do deputado Amaury

Muller, sua trajetória na política brasileira, sua participação e importância na época da

ditadura, no período de 1964 a 1985. O recorte temporal para análise teórica teve início em

1964 (ano do golpe militar, até 1979, quando foi promulgada a anistia).

A palavra biografia vem do grego βιογραφία, de βíος - bíos, vida e γραφή –

gráphein, escrever. É um gênero literário em que o autor narra a história da vida de uma

pessoa ou de várias pessoas. Geralmente as biografias contam a vida de alguém depois de sua

morte. Em alguns casos a biografia inclui aspectos da obra dos biografados, como por

exemplo Eric Clapton em sua biografia Clapton, numa abordagem muitas vezes de um ponto

de vista crítico e não apenas historiográfico. A biografia, na maioria das vezes, de pessoas

públicas como políticos, cientistas, esportistas, escritores ou pessoas, que através de suas

atividades deixaram uma importante contribuição para a sociedade.

Meu interesse nessa biografia em particular é por gostar de política, por ter acesso

à familia como fonte de pesquisa e principalmente saber o que tudo isso causou e custou para

essas pessoas que viveram naquela época, qual a sua contribuição para a história do Brasil,

como a imprensa e a sociedade via seu envolvimento na luta contra a ditadura.

Como foi a formação do Grupo dos Autênticos do Movimento Democrático

(MDB), qual motivo levou 23 deputados federais a fazer política de oposição, em um

momento tão adverso, em plena ditadura militar, que ficou conhecido como Semeadores da

Democracia e quais foram as contribuições do grupo para acabar com a ditadura?

Essa pesquisa foi baseada em documentos escritos (jornal/carta), depoimentos de

amigos e colegas (Jorge Martins, dep. estadual Gerson Burmann) e familiares (esposa, Samira

El Ammar Müller, filhos Márcio Müller e Alexandre Müller). Também utilizei recortes de

jornais, fotografias, entrevistas, bem como leituras sugeridas referentes ao tema da ditadura

militar e sua repercussão.

O presente trabalho está dividido em três capítulos que enfocam a vida do

deputado Amaury Muller. O primeiro capítulo é sobre a família de Amaury Muller, sua

infância, escolaridade, vínculo partidário, casamento e primeiro mandato. O segundo aborda a

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vida pública de Amaury, a chegada em Brasília, o reconhecimento dos parlamentares

progressistas, a formação do Grupo dos Autênticos do Movimento Democrático Brasileiro

(MDB), sua cassação, vida pós-cassação, até sua volta ao plenário da Câmara. O terceiro

capítulo discorre sobre sua vida pós-ditadura, a lei da anistia, o movimento das Diretas Já, a

Assembléia Constituinte, sua participação na Constituição de 1988, o último mandato e sua

morte em 2001.

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1 A FAMILIA DE AMAURY MÜLLER

1.1 Infância

FOTO 1: Amaury com os irmãos Darcy, Erani, Lori, Marli e os pais Virginia Martins Campos e Henrique Muller no monumento a Duque de Caxias em Cruz Alta nos anos 40. (foto do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).

Amaury Müller nasceu no município de Cruz Alta, na localidade de Colônia São

João, no dia 17 de janeiro de 1936. Filho de Henrique Müller (descendente de alemão com

polonês) e Virginia Martins Campos (uma mistura de português, negro, índio e espanhol).

Seus pais possuíam um pequeno pedaço de terra de onde tiravam o sustento para dez pessoas,

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pois possuíam oito filhos, (cinco homens e três mulheres), Darci, Ary, Amaury, Erani, Lori,

Marli, Maria, um dos irmãos não se sabe o nome, pois faleceu ainda pequeno. Era difícil

manter um alto padrão de vida, mesmo assim sempre procuraram não deixar faltar nada aos

seus filhos. Mas quando a idade escolar chegou seu pai sentiu-se na obrigação de mudar-se

para a cidade já que não havia escola no interior e também não havia transporte escolar, como

existem hoje em dia. Com isso todos foram morar na cidade, onde os dois filhos mais velhos

já moravam, na casa de um tio militar para estudar.

O pai de Amaury não quis que ele também fosse morar com o tio, pois isso iria

pesar ainda mais no orçamento do mesmo. Assim, decide arrendar os 25 hectares de terra e

mudar-se para a cidade. Ele que originalmente era guarda-livros (uma espécie de contabilista),

decide abrir uma pequeno deposito de madeira, já que tinha madeira abundante na época

nessa região, o pinho, mas não se saiu muito bem. Com isso colocou seu outro conhecimento

em prática, foi trabalhar como contador onde era muito requisitado e também dava aulas (não

se sabe do que, nem a esposa e nem a irmã de Amaury, souberam dizer de que). Era um ramo

em que os lucros também não eram muito altos, mas na medida do possível e de suas

limitações, conseguiu proporcionar a todos os filhos uma vida digna. (NADER, Ana Beatriz -

Autênticos do MDB Semeadores da Democracia História Oral de Vida política, p.66).

Enquanto morou no interior, Amaury ajudava seu pai nas lidas da terra, arava,

gradeava, semeava, colhia. Era uma espécie de pequeno agricultor. Seus irmãos já não

tiveram a mesma experiência do campo, já que eram mais novos quando migraram para a

cidade e duas de suas irmãs nasceram na cidade. (NADER, 1998, p.66).

No ambiente urbano, tiveram algumas dificuldades, tanto financeiras quanto de

adaptação. As pessoas na cidade são mais desconfiadas, ainda que naquele tempo as pessoas

honrassem seus compromissos com o “fio do bigode”, tanto que nas propriedades rurais não

existia cerca, o gado era marcado na paleta. Mas conseguiram se adaptar à cidade sem

maiores problemas. (NADER, 1998, p.66).

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1.2 Escolaridade

FOTO 2: Amaury com colegas militantes em 1962 em Porto Alegre. (foto do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).

Na cidade, todos trabalhavam e estudavam. Amaury cursou o jardim de infância

no Grupo Escolar Margarida Pardelha (1942-1943), o primário concluiu também no Grupo

Escolar Margarida Pardelha (1944-1948), no Ginásio, ele passou a estudar na Escola Normal

Annes Dias (1949-1952) e por fim o Científico no Ginásio Estadual Antônio Sepp, sempre se

destacando como estudante. Nesse período ele sempre esteve entre os três melhores alunos.

Erani e Amaury concluíram o terceiro grau, duas de suas irmãs também se formaram em

cursos superiores.

Amaury sempre gostou de ler e escrever, por conta disso foi trabalhar numa Rádio

local, a Rádio Cruz Alta no período de 1952-1954. (Entrevista com Samira El Ammar Muller,

no dia 03/11/2009).

Desde adolescente, Amaury demonstrou certa liderança entre seus amigos, por

exemplo, nas brincadeiras de criança era ele quem comandava, era tido como um líder de

turma. Com o passar do tempo, essa liderança foi aflorando, se consolidando entre os amigos

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e colegas, levando-o a ser orador em diversas ocasiões, nos cursos ginasial e científico e mais

tarde nos dois cursos de graduação superior. (NADER, 1998, p.66).

Já nessa época demonstrou interesse pela vida pública; nos fins da década de 40 e

início dos anos 50, conviveu com a campanha “o petróleo é nosso”, pois como dirigente

secundarista teve acesso a debates e discussões sobre o tema. Foi nessa época que ele sentiu

acender o sentido de patriotismo, algo racional e consciente, nada passivo. Juntamente com

alguns colegas secundaristas, Amaury se engajou na luta pelo monopólio estatal do petróleo;

eram vistos como “instrumentos dóceis” do comunismo internacional. Mas isso não fez com

que eles desistissem de seus ideais e princípios. Essa participação nos movimentos de rua

enquanto secundarista rendeu-lhe um caminho muito importante na militância universitária.

Como podemos observar na foto acima, juntamente com outros colegas de militância,

Amaury participou do XXVº Congresso Nacional dos Estudantes no ano de 1962 em Porto

Alegre. (NADER, 1998, p.66).

Em 1955, foi para Porto Alegre cursar Arquitetura na UFRGS, nesse mesmo ano

foi eleito presidente da sala, mas como seus pais não tinham condições de sustentar-lhe na

capital, foi obrigado a desistir da faculdade. Esse ano também foi marcado por duas perdas

dolorosas.

Primeiro, a desistência de um curso que tanto gostava, mas que com o passar dos

anos sentiu que havia agindo mais pela ânsia e impulso de adolescente do que gosto pelo

curso, pois se fosse um curso que realmente lhe fosse sonho e desejo teria retomado mais

tarde, como conta sua esposa em entrevista. Amaury não era de desistir tão fácil de seus

objetivos, portanto, foi mais uma coisa de momento, com certeza.

O segundo fato foi a perda da mãe. Amaury sempre foi muito apegado à mãe,

tinha muito orgulho do lado brasileiro dela, da pessoa morena que ela era. E sempre procurou

cultivar, manter vivos os costumes, a comida, os hábitos desse lado brasileiro que o ligava à

mãe. (entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).

E como teve de desistir do curso de arquitetura, viu-se obrigado a trabalhar

durante o dia e estudar à noite. O único curso noturno oferecido na época era a Faculdade de

Ciências Políticas e Econômicas na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

(PUC). Escolheu esse curso por achar que ampliaria seus horizontes, e por sentir a

necessidade de mudanças políticas, econômicas e sociais do país. Era um curso de grande

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influência, através dele passou a entender mais sobre socialismo, as necessidades do país, os

problemas e as soluções, enfim entender melhor sobre política, tornando-se uma base

fundamental para ele mais tarde. Essa atitude e necessidade de Amaury em trabalhar durante o

dia e estudar a noite tornou-se exemplo para outros jovens que queriam continuar seus

estudos. Com isso, logo se elegeu presidente do Centro Acadêmico Visconde de Mauá.

Quebrando um velho tabu se reelegeu no ano subseqüente, coisa que não acontecia. (NADER,

1998, p.67).

No terceiro ano da PUC, chegou à vice-presidência do Diretório Central de

Estudantes. Antes de concluir o curso de Ciências Políticas e Econômicas, fez vestibular e

passou, para um novo curso que estava sendo oferecido, Jornalismo. Também exerceu a

presidência do Centro Acadêmico Arlindo Pasqualini. Em 1961, já formado em Economia e

terminando Jornalismo, decide fazer um novo curso e presta vestibular para Direito, e sua

ativa participação nas militâncias, sua identificação com os avanços que o meio estudantil

experimentava no sentido de incrementar as então chamadas “reformas de base” e não

diferente dos outros tempos, novamente é eleito presidente do Centro Acadêmico “Mauricio

Cardoso”. (NADER, 1998, p.68).

Nesses nove anos de participação nos centros acadêmicos, nos movimentos

universitários, sempre participou de todos os congressos da UNE livre, antes do golpe de

1964. Em um desses congressos José Serra foi eleito presidente da entidade (UNE) em uma

composição da Ação Popular com o velho “partidão” (PCB - Partido Comunista Brasileiro, o

PCB que foi fundado em 1922, e com o fim do bipartidarismo começou a de desfragmentar,

dividindo-o em partidos menores com ideologias diferentes) e outras correntes progressistas.

(NADER, 1998, p.68).

A razão para fazer tantos cursos, não era acumular diplomas, mas sim

conhecimentos em vários campos e permanecer na militância estudantil, participando dos

movimentos populares.

Na UNE havia o Centro Popular de Cultura, grupo que fazia teatro despojado,

informal, com um único objetivo de politizar o povo. Foram tempos importantes, pois

mostrava aos cidadãos seus direitos, os quais deveriam ser respeitados. Para Amaury, foi um

tempo muito bom e importante, em que viveu intensamente e ampliou muito sua visão de

mundo. Foi um período de permanente aprendizado. (NADER, 1998, p.68).

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1.3 Vínculo Partidário

Amaury começou sentir e ver a necessidade de um vínculo partidário, apesar da

origem conservadora do pai que era do Partido Liberal (PL), ingressou na militância do

antigo PTB. Escolheu esse partido por que ele já simpatizava com a causa trabalhista de

Getúlio, já era simpatizante desse partido deste a época da campanha “o petróleo é nosso”.

Foi um partido que deu direito a quase, se não todas, as causas trabalhistas. O direito de

salário mínimo à mulher, ao voto feminino, décimo terceiro salário, praticamente todos os

direitos trabalhistas foram implantados na época de Getúlio. (NADER, 1998, p.68).

Amaury simpatizava com isso, buscava uma luta mais justa para os populares e

viu nesse partido uma idéia reformadora e nacionalista, a mesma de Getúlio Vargas dos anos

50, que abrigava as correntes da esquerda, do processo político. Partido esse que militou por

pouco tempo devido a divergências operacionais, mas continuou a votar em seus melhores

candidatos. (NADER, ANA Beatriz - Autênticos do MDB Semeadores da Democracia

História Oral de Vida política, p.68).

Brizola tornou-se muito rápido numa espécie de mito, e com isso atraiu centenas

de bajuladores, e infelizmente na chamada “ala moça” do PTB. Os oportunistas e parasitas

passaram a ditar regras de conduta e isso fez Amaury romper com o partido. Nessa curta

militância, teve a oportunidade de conhecer figuras de extremo senso de humanidade, de uma

cultura sólida, como por exemplo, Julio Teixeira e Lauro Hagemann e além, claro, de adquirir

mais experiência, aprendendo muito. (NADER, 1998, p.69), (Entrevista concedida à autora no

dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).

1.4 Expulsão da PUC e Prisão

Em 1964, ano do golpe militar, estava no quarto ano do curso de Direito na PUC-

RS e era o presidente do DCE. Esse golpe já estava sendo organizado, preparado há muito

tempo, era para ser contra Getúlio, mas com seu suicídio, a situação tomou outro rumo e

quem sabe proporção. Amaury e mais três colegas, inconformados com o sucesso do golpe e a

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inexistência de reação ou quem sabe com uma visão equivocada das razões que levaram

Jango e Brizola ao exílio, resolveram iniciar uma pequena movimentação popular onde

invadiram o DCE da PUC-RS utilizando alto-falantes. Procuravam com isso provocar uma

reação no povo, mas isso custou caro para eles, ambos foram expulsos da universidade sem

direito à defesa. (NADER, 1998, p.69).

Em razão da expulsão, Amaury não concluiu o curso, pois como o reitor da época

gostava de confirmar, foi excluído da PUC-RS no dia 28 de abril de 1964. Nessa data

específica, à noite, explodiram alguns petardos de efeito apenas moral nos banheiros da PUC-

RS, e como Amaury foi o único dos excluídos visto por lá, isso antes da noite, acusaram-no do

atentado, embora sua culpa nunca pudesse ser provada. Como os militares pressionaram a

reitoria exigindo que o autor fosse expulso, decidiram por expulsar Amaury, mesmo sem

provas, apenas por ele ser claramente contra o regime e por ocupar a liderança do Diretório

Central de Estudantes (DCE) naquela época. . (NADER, 1998, p.69).

Isso causou, além de sua expulsão, prisão e violência física. Em entrevista com

sua esposa, ela deixou-me claro que essa prisão foi algo que ele sempre procurou deixar bem

guardado no seu passado, nunca comentou com seus familiares e estes também achavam um

assunto muito desagradável e procuravam fazê-lo esquecer, embora o trauma e a revolta com

a prisão o tivessem perseguido por muitos anos. Ela disse-me que nunca entrou em detalhes

de como foi, quantas vezes foram, onde foi, quais dias foram, evitavam o assunto para deixá-

lo mais feliz e ver se o acontecido caísse no esquecimento, pois era algo que lhe deixava

muito triste. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar)

Do departamento de tortura do antigo DOPS, foi retirado por um delegado de

polícia, Heitor Gralha Bonorino, conhecido da família. O mesmo era casado com uma senhora

de Cruz Alta, ficando responsável de apresentá-lo as autoridades durante o inquérito policial

instaurado em torno da explosão. Ficou em sua residência por algum tempo, e como não tinha

provas suficientes, o inquérito foi arquivado. (entrevista concedida à autora no dia

01/11/2009, por Samira El Ammar) e (NADER, 1998, p.69).

Em junho de 1964, vários companheiros ocuparam-se de fazer a localização de

colegas presos, a fim de poderem prestar alguma assistência. Todos os esforços foram inúteis,

pois presos políticos ficavam à margem da lei, não recebiam visitas e muito menos apoio

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jurídico. Nesse mesmo ano, Amaury foi preso novamente e levado para um prédio inacabado

do SESME (Serviço Social do Menor), onde se encontravam vários presos políticos.

Lá permaneceu cerca de um mês, mas por influência do então senador e líder do

governo, Daniel Krieger, foi posto em liberdade. Krieger era padrinho da então noiva de

Amaury. No SESME, não sofreu nenhum tipo de tortura. E como teve que deixar a faculdade

de Direito e as portas se fecharam profissionalmente, neste mesmo ano de 1964, no final do

mês de agosto, decide fixar residência em Ijui, onde já se encontrava um dos irmãos, mais

moço. Assim começou a trabalhar na Rádio Progresso. (NADER, 1998, p.69).

1.5 Ijuí

FOTO 3: Com o irmão Erani na campanha de 1982.

FOTO 3: Com o irmão Erani na campanha de 1982. (foto do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).

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FOTO 4: Com um grupo de amigos em Ijuí em 1964. (fotos do acervo da família, cedida por Samira El Ammar

Muller).

Na Rádio Progresso de Ijuí exerceu a função de Redator-Chefe e, aos domingos,

na hora do almoço, José Eriberto Krycszum (locutor da RPI) lia uma crônica, de autoria do

Amaury, no espaço chamado “Ponto Crítico". Todo mundo esperava a crônica do domingo,

com muita expectativa. Sucesso este que mais tarde tornou-se livro, com o mesmo título,

editado pelo Conselho Municipal de Cultura Artística Ijuí-1970. (entrevista concedida à

autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).

Foi na cidade de Ijuí que reiniciou sua atividade política, embora os áulicos do

regime militar rotulassem-no como homem subversivo ou o homem que quis destruir a PUC,

e tentassem de todos os modos tolher sua modesta ação. Nesse período com o fim do

pluripartidarismo e a criação do MDB, partido esse de oposição tolerado pelos donos do

poder, ingressou como fundador e logo começou seu trabalho como secretário-geral.

(NADER, 1998, p.70).

Em 1968 foi candidato em uma sublegenda1 como vice-prefeito de Francisco de

Assis Costa, para dar suporte à eleição de Sadi Strapazzon e Wanderlei Burmam. Graças aos

seus 1500 votos é que Sadi Strapazzon se elegeu, pois a diferença para seu opositor foi de

apenas 290 votos. (entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).

1 Naquela época cada partido poderia indicar três duplas de candidatos ao Executivo e os votos eram somados entre os candidatos de cada partido.

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1.6 Casamento

FOTOS 5/6: Casamento de Amaury Muller e Samira El Ammar no dia 3 de Janeiro de 1970, na Igreja Matriz Nossa Senhora da Natividade e recepção na Sociedade Ginástica de Ijuí. (fotos do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).

Em junho de 1967, conheceu sua futura esposa num baile da SOGI, Samira El

Ammar, então com 17 anos. E como o interesse foi mútuo, logo começaram a flertar, como

disse ela em entrevista (um termo usado na época); Amaury era noivo de uma professora que

havia ficado em Porto Alegre trabalhando enquanto ele veio para Ijuí, pois temiam que ele

fosse preso se continuasse na política estudantil. (entrevista concedida à autora no dia

01/11/2009, por Samira El Ammar).

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O noivado já estava desgastado, devido à distância, mas ele precisava regularizar

essa situação para começar um novo relacionamento, coisa que ocorreu no mesmo ano. O Sr.

Salim El Ammar, pai de Samira, logo no começo do namoro teve uma espécie de resistência

em relação ao seu envolvimento com ele, por Amaury ser 10 anos mais velho, mais experiente

e pelo fato de as pessoas dizerem que ele era comunista por causa de suas idéias progressistas.

E naquela época era moda chamarem comunistas de “comedores de criancinhas”, como disse

sua esposa. Mas o Sr. Salim concordava, gostava e admirava as idéias progressistas de

Amaury. O pai de Samira estava na verdade preocupado, pois conhecia aquele episódio na

PUC e o fato de Amaury ser rotulado como o homem que quis explodir a PUC certamente o

incomodava. (entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).

Amaury, mesmo sendo observado por comparsas que apoiavam a ditadura, não

deixou intimidar-se e continuou seu trabalho mais modestamente. E então seu sogro percebeu

que estava entregando sua filha a uma pessoa com idéias mais progressistas, a uma pessoa que

queria o melhor para seu país e não ficava calado perante tantas injustiças que estavam

acontecendo. Assim, Amaury conseguiu conquistar a confiança e apoio de seu sogro.

(entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).

Amaury e Samira namoraram por um ano, no início de 1969 ficaram noivos e

casaram-se em três de Janeiro de 1970 na Igreja Matriz Nossa Senhora da Natividade aqui de

Ijuí e recepcionaram seus parentes e amigos na Sociedade Ginástica de Ijui (SOGI).

(entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).

1.7 Campanha para o 1º mandato

Nesse mesmo ano, foi indicado por um grupo de amigos a disputar uma vaga na

Câmara de Deputados e o partido MDB fez questão que ele concorresse, pois precisavam de

candidatos novos, vigorosos para fazer frente às cassações que haviam ocorrido em 69, ano

esse que ocorreu o maior número de cassações, e com isso eles precisavam repor, ocupar

esses lugares. Então o MDB de Ijuí decidiu que ele seria a pessoa ideal, pela sua militância,

pela sua atividade, para representar Ijuí e a região na Câmara Federal e como alternativa

ideológica ao então representante da região, Antônio Bresolin. (NADER, Ana Beatriz -

Autênticos do MDB Semeadores da Democracia História Oral de Vida política, p.70).

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Foi algo novo, uma novidade para ambos, era a primeira vez que concorria a uma

cadeira na Câmara de Deputados. Sem condições nenhuma, estrutura zero, foi definitivamente

uma aventura, e tudo aconteceu muito rápido, o casamento e logo em seguida a campanha,

depois a vitória, tudo num curto espaço de tempo. Ele fez a campanha por toda a região com

uma ruralzinha, praticamente caindo aos pedaços, doada por membros do partido, a qual o seu

irmão Erani dirigia, e distribuição de santinhos branco e preto. Esta foi a sua campanha.

(entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).

Com apenas três meses de campanha e sem nenhum apoio financeiro, se elegeu

pela primeira vez Deputado Federal. Favorecido pela sorte e certamente pelas circunstâncias

favoráveis, elegeu-se com trinta mil votos, considerada uma votação acima da média para os

padrões da época. Claro que Amaury além de sua campanha e da ajuda dos companheiros do

MDB da região Noroeste do Rio Grande do Sul, teve o apoio decisivo de boa parte do antigo

“partidão” e uma pequena parcela de votos de ex-colegas das faculdades que freqüentou.

(NADER, 1998, p.70; e Eentrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El

Ammar).

Teve nesta eleição um grande apoio da classe estudantil e operária devido às suas

propostas inovadoras para a época e devido a sua clara postura de oposição ao regime

totalitário e ditatorial imposto pelo golpe de 1964. (NADER, 1998, p.70).

1.8 Política nas Veias

Amaury trazia nas veias a vocação pela política, pois o ramo Campos está na

própria origem de Cruz Alta e teve alguns descendentes com vida pública ativa. Aristides

Basílio de Campos, primo de sua mãe, foi prefeito em Cruz Alta e deputado estadual em duas

ocasiões, Heitor Campos, também primo de sua mãe, foi prefeito de Santa Maria e se elegeu

uma vez para a Assembléia Legislativa do Estado, outro primo de sua mãe, mais distante um

pouco, Múcio Castro, pai do jornalista Tarso de Castro (criador do Pasquim) também foi

Deputado Estadual. Assim, de alguma forma, o lado materno de sua família tinha relação

intensa com a atividade política, não surpreendendo que Amaury e seu irmão mais novo Erani

tenham abraçados a vida pública. Mesmo com esses parentes envolvidos na política, jamais

puderam ajudá-lo, pois quando concorreu a Câmara de Deputados em 1970, estes já haviam

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morrido. (NADER, Ana Beatriz - Autênticos do MDB Semeadores da Democracia História

Oral de Vida política, p.65).

1.9 Filhos

FOTO 7: Amaury com os filhos Márcio, Alexandre e Fernanda, curtindo férias em abril de 1981, na praia de Atlanta. (foto do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).

Em Janeiro de 1971, já grávida do primeiro filho, o recém casal foi fixar

residência em Brasília, para Amaury cumprir seu primeiro mandato de Deputado Federal. Em

28 de julho nasce Márcio, o primeiro filho do casal, em 28 de julho de 1974 nasce Alexandre,

o segundo filho e em 14 de dezembro de 1976 nasce Fernanda, a caçula, todos eles nasceram

em Ijuí. Como podemos perceber na foto, Amaury sempre foi um pai muito zeloso, embora

não estivesse muito presente, devido a sua carreira política, mas não se descuidava da

educação e do lazer dos filhos, procurando participar sempre que possível. (entrevista

concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).

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2 VIDA PÚBLICA

2.1 Chegada em Brasília

Em janeiro de 1971, Amaury Müller muda-se para Brasília, levando sua esposa

Samira já grávida do primeiro filho. Tudo ainda era novidade, pois as coisas aconteceram de

uma forma muito rápida. Em um ano eles se casaram, logo em seguida a indicação para

concorrer à vaga de Deputado, a campanha, a eleição, a vitória e a mudança para Brasília.

Amaury foi para o planalto central com duas idéias fixas, uma era combater a ditadura dentro

dos limites possíveis e preconizar a necessidade de uma Assembléia Nacional Constituinte,

que devolvesse o Estado do Direito ao país e rasgasse perspectivas de profundas reformas

estruturais em seu organismo econômico-social. (entrevista concedida à autora no dia

01/11/2009, por Samira El Ammar).

2.2 Parlamentares Progressistas

Chegando em Brasília, logo no início dos trabalhos na Câmara, sobretudo na

tribuna, os parlamentares progressistas foram se identificando. Era um grupo de idealistas:

Chico Pinto, Lysâneas Maciel, JG de Araújo Jorge, Alencar Furtado, Fernando Lyra,

Fernando Cunha, Marcondes Gadelha, Getúlio Dias, Nadyr Rossetti e muitos outros. E assim

foram fazendo amizades.

Dessa identificação inicial, porém tímida, porque ninguém sabia nada de ninguém

e sempre havia um temor de ter alguém infiltrado, nasceu a idéia de reuniões e troca de

opiniões. Chico Pinto foi quem deu a sugestão. (NADER, 1998, p.70).

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2.3 Reuniões dos Parlamentares

As primeiras reuniões, limitadas a uns dez ou doze deputados, aconteceram nos

apartamentos de Paes de Andrade e Marcondes Gadelha. Mais tarde, desse grupo de

deputados nasceria o Grupo dos Autênticos: a oposição contundente, sem fronteiras ou limites

à ditadura militar e a tudo o que ela representava de nocivo à democracia, à liberdade, à

justiça social e à própria soberania do país. (NADER, 1998, p.70).

2.4 O que foi o Grupo dos Autênticos do Movimento Democrático Brasileiro (MDB)

Esse grupo surgiu porque os colegas sentiram que dentro do próprio MDB havia

os mais moderados, condescendentes com a ditadura, que não queriam muita encrenca, não

queriam confusão, não queriam ser cassados, pois tinham conquistado aquele mandato e

queriam desfrutar dele, e então aceitavam as coisas. Tinham receio de perder o mandato e

com isso passavam a mão por cima dos acontecimentos, ficando muitas vezes negligentes aos

fatos ocorridos com a ditadura. O grupo então sentiu que faziam parte de uma ala mais

rigorosa, mais radical, mais autêntica, e assim formaram o Grupo Autêntico do MDB.

(entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).

Era formado por 23 deputados federais, que fizeram política de oposição, em

momento tão adverso, em plena ditadura militar. O Grupo elaborou e assinou um documento

de Anticandidatura de Ulysses Guimarães, na sessão da Câmara que elegeu o general Ernesto

Geisel, Presidente do Brasil, em 15 de janeiro de 1973. Nesse documento, os Autênticos

devolviam o voto, o qual consideravam uma farsa, ao grande ausente, o povo brasileiro.

(NADER, 1998, p.15).

Expressavam também contrariedade em relação ao comportamento de Ulysses

Guimarães, que descumpriu o acordo com o grupo e compareceu àquela sessão na condição

de candidato. (NADER, 1998, p.15).

O Grupo sentiu necessidade de ter uma reação mais radical, mais positiva, mais

forte no combate a ditadura diante do que estava acontecendo. A principal luta do Grupo era

contra a ditadura, e quanto ao projeto de sociedade pretendido por ela. Situava-se no apoio ao

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povo, consubstanciado em projetos sociais. Amizade e compromisso com o povo e não puxa-

saquismo à revolução, precisava de deputados legítimos, que fossem autenticamente amigos

do Brasil e do povo brasileiro. Os Autênticos caracterizavam-se como verdadeira oposição no

Congresso Nacional, principalmente na Câmara. Era o Grupo que fazia oposição de forma

declarada, franca, aberta, induvidosa, sendo em síntese as finalidades de sua existência.

(entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).

Faziam parte desse grupo os parlamentares mais ousados, mais corajosos, que

apresentavam projetos mais arrojados, e que não tinham receio de denunciar as

particularidades da ditadura, tais como as cassações, as mortes e as prisões. Fatos esses que

ocorriam muito nesse período, como o caso do jornalista Vladimir Herzog, que foi convocado

para depor e apareceu enforcado em sua cela. Sua esposa Clarice Herzog desde então

participou de vários movimentos, a vida toda, não largou mais, não parou, lutou pela anistia,

pelas eleições diretas. Ela participou de todos os movimentos sociais, sempre

lembrando/denunciando a morte do marido. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009,

por Samira El Ammar).

Outro caso que chocou muito foi o do deputado Rubens Paiva, que teve seu corpo

jogado de um avião em alto mar pelo DOPS. Sua esposa Eunice Paiva também passou a vida

lutando, correndo atrás de justiça, cobrando da ditadura a morte do marido que foi depor e não

apareceu mais. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).

Isso sem esquecer o caso de Stuart Edgard Angel Jones, cuja mãe, Zuzu Angel,

morreu tentando encontrar o corpo do filho e lutando contra a ditadura. Procurou denunciar a

ditadura em seus desfiles, pois era uma modista de renome internacional. Até hoje dizem que

o acidente que a matou foi forjado, levando a crer que foi assassinada por ter furado a

segurança e entregado uma carta a Henry Kissinger, Secretário do Estado Norte Americano

que estava no Brasil em visita oficial. Essa carta denunciava as torturas da ditadura, e esse

episódio deixou muitos militares irritados, deixado-a marcada. Casos como este tiveram

grande repercussão nacional, e são apenas alguns, entre tantos outros. (Entrevista concedida à

autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).

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2.5 Luta Armada

Em depoimento a Ana Beatriz Nader, Amaury relatou o que achava da luta

armada, qual era sua opinião.

[...] Em razão do agravamento da repressão política, nos anos amargos do governo Médici, muitos do Grupo dos Autênticos consideravam que a luta armada, embora justa e desejável, oferecia forte pretexto para o regime prender, torturar e assassinar, encurralando cada vez mais os direitos humanos no país. Não era uma crítica aos movimentos em si e menos ainda aos que deles participavam. Muitos dos que se exilaram, fizeram autocrítica no exterior. Nas atividades cotidianas temiam que essas questões, pudessem diminuir a disposição de outros brasileiros de manter acesa a luta contra o regime autoritário [...]. (NADER, 1998, p.71).

O grupo, por um período, defendeu a luta armada, pois na época não havia outra

solução, para poder fazer frente à ditadura, porque cada um fazia o que queria. Eles achavam

que a solução era essa, no vigor da juventude, no auge do idealismo, o grupo achava que seria

necessária a luta armada por uma época, por um período. Depois eles começaram a lutar pelos

direitos dos cidadãos, dos trabalhadores, para acabar com a injustiça social e se detiveram

mais a esse tipo de trabalho que trazia benefícios concretos para a população. (Entrevista

concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).

Amaury fala, em depoimento, sobre por que os parlamentares precisavam

defender suas posições no parlamento, pelo menos para poder denunciar as injustiças.

[...] Em outras palavras, o grupo achava que o mandato parlamentar, mesmo sujeito a violências de toda a ordem, tinha certa importância, no mínimo para denunciar as violações dos direitos humanos, o empobrecimento da população e a entrega despudorada de nossas riquezas ao capital estrangeiro [...]. (NADER, 1998, p.71).

2.6 Como foi lançar um Anticandidato

E com base nisso tiveram a idéia de lançar um anticandidato, uma espécie de

contraponto ao nome que o regime militar imporia ao Congresso Nacional para a presidência

da República. Sabiam que a candidatura não era para valer, mas o que desejavam era espaço

no rádio, na televisão para, mesmo correndo o risco de cortes da censura fardada, denunciar

todas as mazelas do regime e a farsa da eleição indireta, por um Colégio Eleitoral, sem a

menor representatividade. Assim o Grupo lançou Ulysses Guimarães como candidato de

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protesto. No processo de Anticandidatura tinham a finalidade de denunciar a ditadura no

exterior, que devido ao controle, a mordaça na imprensa da época, em especial em relação ao

MDB, era algo difícil de fazer. Dessa maneira lançaram Ulysses Guimarães como candidato

do Grupo aproveitando os veículos de comunicação do governo para colocar o nome do

candidato da oposição em evidência na mídia e mostrar no exterior que havia resistência.

(NADER, 1998, p.71).

De certa forma, o grupo alcançou seus objetivos, não plenamente, mas foi uma

maneira de denunciar, de colocar um anticandidato para mexer com a população, para sacudir

o sistema. Sabiam que não tinham nenhuma chance, mas foi uma forma de protestar, de

marcar posição. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).

Era raro o Grupo se reunir para estabelecer formalmente alguma meta de atuação.

O objetivo central era combater a ditadura. Com a cassação do deputado Marcelo Gatto em

fevereiro de 1976, o Grupo passou a se reunir mais frequentemente, a fim de fixar uma linha

de comportamento que, sem embargo do combate ao regime, evitasse qualquer pretexto para

novas cassações. Contudo, a idéia não prosperou. A conduta parlamentar do Grupo era

incontrolável fora do Congresso Nacional. Se lá, devido ao poder de polícia da mesa diretora,

a censura podava quaisquer alusões mais contundentes ao regime, nos comícios, o discurso

inflamado, denunciador, das mazelas da ditadura, era mais solto e sem nenhum controle.

Nenhum dos integrantes do Grupo ignorava que os donos eventuais do poder ansiavam por

qualquer pretexto para desfigurar e desfibrar o Grupo. Era difícil estabelecer regras para

parlamentares que com razões de sobra, expunham seus mandatos e sua própria integridade

física na luta contra o inimigo comum. No âmbito congressual, em que pese à censura da

mesa, era comum ocuparem a tribuna para denunciar violências, torturas e assassinatos, como

foi o caso da guerrilha do Araguaia (Xambioá). (NADER, 1998, p.72).

O discurso uniforme, articulado, no sentido de execrar o regime de exceção e o

empobrecimento de setores majoritários da população, produziu resultados surpreendentes. O

MDB passou a gozar de respeito e credibilidade perante a opinião pública. As eleições

parlamentares de 1974 provaram isso. O partido aumentou consideravelmente o número de

deputados estaduais e federais e obteve 16 vitórias em 23 disputas para o Senado Federal. Foi

o auge do Grupo Autêntico. (NADER, 1998, p.72).

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2.7 Desintegração do Grupo

Essa maiúscula vitória começou a marcar a decomposição do grupo. Alguns

integrantes imaginavam ser impossível galgar postos de comando, inclusive na mesa diretora

da Câmara. Com o crescimento do MDB, chegaram ao Congresso Nacional vários outros

parlamentares que, espelhados na conduta do Grupo, pretendiam ampliá-lo e transformá-lo

em um instrumento ainda mais poderoso de combate ao regime militar. Com a explosão de

algumas vaidades pessoais, esses novos parlamentares tiveram certa decepção e assim criaram

por eles chamados o Grupo Neo-Autênticos. Em 1978, houve uma renovação muito grande na

câmara. Com essa renovação, muita gente que então fazia parte do grupo não se elegeu, e

muita gente nova entrou. Então o Grupo começou a aumentar, diversificar e acabou se

desintegrando. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).

Em 1977 começou o movimento pela anistia, o qual cresceu exponencialmente no

ano de 1978. Esse era o sonho de todos que lutavam contra a ditadura, e o Grupo aderiu a esse

movimento, para poder trazer os presos políticos de volta. Essa lei era o sonho dourado de

todo político, pois era o único jeito de acabar com a ditadura no país. (Entrevista concedida à

autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).

Então, naturalmente, o grupo foi se afastando, até mesmo porque a ditadura ficava

em cima. Houve casos em que eles perseguiram muito e as pessoas acabaram por ficar

receosas, outros se deixaram influenciar pela família. Havia amigos de Amaury cujas esposas

imploravam de joelhos para não irem à tribuna, prestar solidariedade, apoio aos colegas

cassados, pois corriam o mesmo risco de serem cassados. Como é que iria se manter, se

sustentar. Com isso começaram a se afastar e automaticamente o grupo foi se desintegrando.

(Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).

Outros integrantes do grupo achavam que a dissolução teve três inimigos: o PT, o

Arraes e o Brizola. Consideravam inimigos porque a partir da anistia o grupo se subdividiu,

alguns seguiram Brizola, outros o Arraes e alguns o PT. (NADER, 1998, p.332).

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2.8 Os Neo – Autênticos

Os Neo-Autênticos queriam na verdade pertencer ao Grupo dos Autênticos, mas

não dava mais, pois o Grupo dos Autênticos já tinha sido feito; entretanto, chegaram a se

integrar. Mas para ocorrer essa integração havia uma necessidade de identificar quem estava

chegando, quem queria participar do Grupo começou a ser chamado de Neo-Autêntico.

(Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).

Na verdade o que motivava essas pessoas era uma admiração pelo Grupo dos

Autênticos, pois foram para Brasília já conhecendo esse Grupo de nome e seus trabalhos.

(Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).

O sujeito, para ser Autêntico, tinha que ser contra o golpe militar, combater os

generais do governo. Isso era fundamental. A partir desse ponto, os próprios deputados não-

Autênticos procuraram ser Autênticos deputados em seus discursos. Tinham medo de não se

identificarem como Autênticos em seus pronunciamentos, colocando em risco as eleições

posteriores e, por isto, adequavam seus discursos ao Grupo dos Autênticos. (NADER, 1998,

p.344).

No plenário ou mesmo fora dele, mas sem a menor articulação, a conduta de

ambos era idêntica. Como sempre acontece, uns se expunham mais que os outros não por

valentia ou por brio, mas por temperamento. (NADER, 1998, p.72).

2.9 Discurso da Cassação

Em 1976, no início da campanha municipal, Nadyr Rossetti e Amaury Muller, em

um dos comícios na cidade de Palmeiras das Missões, ultrapassaram os limites que a ditadura

fixou para a oposição. Os discursos, proferidos em momentos bem diferentes do comício,

foram considerados insultuosos às Forças Armadas. Em entrevista à esposa de Amaury, pedi

qual foi o conteúdo desse discurso, e ela me disse que não estava presente, mas foi algo que

repercutiu muito na imprensa. Basicamente o discurso condenava a ditadura, pregando a

queda do regime e instigando a volta dos exilados para o país, entre eles Leonel Brizola,

Miguel Arrais, e muitos outros que estavam espalhados pelo mundo. Foi uma das coisas que

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mais influenciaram na cassação de ambos, pois o governo militar tinha horror ao Brizola

devido à sua posição contra a ditadura, temendo que ele voltasse para acabar com o regime.

(NADER, 1998, p.72) e (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El

Ammar).

No dia seguinte ao comício, os jornais de Porto Alegre publicaram manchetes do

tipo ”MBD homenageia Brizola e prega queda do regime”. Alguns deputados gaúchos como

Fernando Gonçalves e Hugo Mardini, entre outros, intimamente ligados à ditadura,

expressavam suas inquietações com o que chamavam de “agressões aos militares” e mal

ocultavam suas preocupações para com o fato de que tais manifestações pudessem criar

obstáculos à “abertura lenta e gradual”, proposta pelo general Geisel. Durante a semana que

seguiu ao comício, os meios de comunicação, em serviço deplorável ao poder, criticaram a

conduta de Amaury e Nadyr, insinuando que a inquietação dos quartéis só terminaria se os

deputados que ousassem ofender a elite militar fossem punidos, isso quer dizer se tivessem

seus mandados cassados. Fernando Gonçalves, deputado federal por Palmeiras das Missões,

exigiu da emissora que transmitiu o comício a entrega das fitas. De posse das mesmas, o

adulador cuidou de entregá-las ao comando do IV exército, sediado em Porto Alegre, outra

copia foi levada a Brasília e entregue ao SNI. A partir daí a cobrança da mídia foi diária.

Dois dias depois, já ao anoitecer, os telejornais, em edições extraordinárias,

anunciavam a cassação de Amaury e Nadyr, sem dar-lhes a chance de irem à tribuna para

contestar as acusações de agitadores, e se despedir dos colegas. A data de 28 de março de

1976 foi considerada por Amaury um dos episódios mais traumáticos de sua vida. (NADER,

1998, p.72).

2.10 A Cassação

Na época tinha dois filhos pequenos, Márcio com cinco anos incompletos e

Alexandre, com pouco mais de um ano e meio. Como sempre foi um homem de poucos

recursos, que jamais se preocupou com coisas materiais, a cassação transformou-se em

pesadelo. Seu pai, tão mais pobre que ele, não podia ajudá-lo materialmente, a família da

esposa, embora financeiramente melhor estabilizada, tampouco tinha condições de auxiliá-los.

Foi uma espécie de inferno terrestre. (NADER, 1998, p.73)

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Perante sua esposa, tentou demonstrar tranqüilidade, procurou não se desesperar

para passar mais segurança a ela, que se encontrava indignada, revoltada com a situação.

Segurou muito bem o episódio da cassação, com dignidade. Foi à Câmara, conversou com

colegas, deu as declarações que precisava para a imprensa:

Eu não, rodei a baiana mesmo! Xinguei todo mundo, entrei na Câmara, no congresso, berrei, esperneei, briguei, cobrei dos colegas também, os chamados moderados que estavam de conchavo com a ditadura, de se calarem diante da situação, frente a indiferença de alguns colegas de tribuna e até então julgando-se amigos. Até hoje em Brasília o pessoal da Câmara comenta que eu botei o líder do MDB que se chamava Laerte Vieira, de Santa Catarina, para correr do gabinete, a gente tava lá, o Amaury foi levado para a câmara assim que saiu a notícia às seis horas da tarde. Anunciaram na imprensa, “reunido o conselho nacional de segurança, baseado no AI-5, decide que Amaury Muller e Nadyr Rosseti, foram cassados e tiveram seus direitos políticos suspensos por dez anos”. Aí foi lido na tribuna e foi aquela gritaria, os mais corajosos foram lá protestar, como o Lysâneas Maciel, esse sim foi corajoso, sabendo que poderia ser cassado também, foi para a tribuna em defesa a Amaury e Nadyr Rosseti; em seu discurso, referiu-se à questão do medo. Em primeiro de abril, quando discursava sem microfone e sem mesa diretora, por volta das seis e meia da tarde, alguém lhe disse: - “Você acaba de ser cassado.” Ao que imediatamente respondeu sob aplausos: - “cassados estamos todos”. Isso sim que é um cara corajoso, que é um companheiro, sabendo que ali não tinha mais volta para ele, não ficou calado diante dos acontecimentos. Então se reunindo no gabinete de Amaury, apareceu o Laerte Vieira, sugerindo ao Amaury que fosse se despedir do presidente da Câmara Célio Borges, que era da ARENA. Eu enlouqueci literalmente, eu tava magoada e com isso fiquei histérica, disse: o que? Se despedir, numa hora dessas, de injustiça, vai se despedir coisa nenhuma, suma daqui, desapareça, se Célio Borges quer se despedir que venha aqui, que é o que deveria fazer como presidente da Câmara, prestar sua solidariedade a um membro da Câmara. Noutro dia estava em todos os jornais e todos comentavam na Câmara, cuidado com a mulher do Amaury, tá botando todo mundo pra correr, tinha uns que ligavam pra saber se poderiam ir fazer uma visita, dar um abraço, prestar solidariedade a ele [...].(trecho da entrevista concedida a autora no dia 03/11/2009, por Samira El Ammar).

Com o tempo, a violência da cassação acabou sendo assimilada, não obstante seu

impedimento de trabalhar no mercado formal, não foi aceito num instituto, mantido pela

Câmara que produzia discursos e trabalhos de pesquisa para os parlamentares, embora fosse

dirigido por colegas deputados. Essa negativa teve como fulcro o medo de desafiar a ditadura.

Mesmo assim, durante um período, ele realizou trabalhos para essa entidade com o nome de

sua esposa. (NADER, 1998, p.73).

Um fato curioso e triste que também marcou a vida de Amaury nesse ano de 1976,

no período da cassação, foi que seu pai ficou sabendo da cassação pelo Jornal Nacional do dia

28 de março de 1976, decidiu então ir até a igreja matriz de Cruz Alta rezar pelo seu filho

Amaury, e, mais tarde, no mesmo dia, foi encontrado pelos seus outros filhos, passando mal

na Igreja matriz. Foi levado ao hospital e constataram que ele havia sofrido um AVC

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(Acidente Vascular Cerebral), mais conhecido como derrame. A partir daí ficou paraplégico e

com dificuldades de falar, vindo a falecer dois anos depois de complicações das seqüelas do

AVC. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).

2.11 Vida pós-cassação

A vida pós-cassação mudou muito, trabalhava em casa, fazendo artigos, trabalhos

de colegas, pesquisas, projetos, discursos, pois tem deputado que não redige uma linha, o

assessor que redige, o assessor é que faz tudo, com Amaury era diferente, ele não admitia que

alguém redigisse seus discursos, seus telegramas, ele não admitia que alguém fizesse isso por

ele, era muito perfeccionista, ele que fazia tudo. Ele sempre teve muita habilidade, facilidade,

vocação para pesquisar, escrever, tendo publicado alguns livros: Ponto Crítico, Teatro do

Absurdo, A Luta Continua volumes 1 ao 6. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009,

por Samira El Ammar).

No começo foi muita mágoa, muita revolta, até assimilar, acostumar-se com a

idéia da cassação, foi triste, doloroso. Ele procurou não demonstrar seu desespero, mostrando-

se forte perante sua esposa, que era mais passional, mais emotiva, mais transparente. Ele se

segurava mais, mas não deixava de ficar nervoso, irritado, preocupado com a situação.

(Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).

Na época o cassado político era uma espécie de hanseniano, do qual muitas

pessoas fugiam ou guardavam prudente distância. E Amaury afirma em seu depoimento:

[...] Cabe aqui dizer que nem todos agiam dessa maneira. Alguns deputados, como Fernando Cunha, JG de Araújo Jorge, Marcondes Gadelha, Getulio Dias e Álvaro Dias, foram extraordinariamente solidários. Fernando Cunha merece um destaque, por ter sido especialmente solidário tornou-se duplamente compadre de Amaury, e sua filha mais nova leva o nome de Fernanda em virtude de homenageá-lo também. Outro destaque para o jornalista Josélio Gondim da Paraíba, pela sua atitude solidária, tido por alguns como um homem esperto, boa vida e oportunista. Ele havia fundado uma revista em Brasília, com o nome O Espelho, e convidou-o para trabalhar junto com ele [...] (NADER, 1998, p.74).

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2.12 Revista o Espelho

Mesmo sabendo das dificuldades político-profissionais de Amaury, Josélio

Gondim o acolheu, deu-lhe um espaço na revista e nunca censurou nenhum texto por ele

produzido. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).

Ele publicava artigos sobre economia, e isso rendeu-lhe o cargo de diretor

econômico, não ligado à política, porque a revista também não queria gente que radicalizasse

muito, pois tinham medo de não conseguir o patrocínio, a publicidade oficial que

necessitavam para se manter. Então algumas vezes ele chegava e pedia para Amaury dar uma

“maneirada”, se segurar, por isso seu cargo era na área de economia, pois tinha essa

preocupação de ele começar a expor muito a revista, ficando claro então que ele não tinha

uma liberdade total de expressão. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por

Samira El Ammar).

Ele começou falando sobre economia, pois tinha muita coisa para se falar nessa

área, nesse período da ditadura. Não era só na política que as coisas não estavam certas, a

economia do país também vivia num caos, tinha muita coisa errada. Mas Amaury era

inteligente (e teimoso), passado um tempo começou a misturar política junto na sua coluna.

Ele sentiu um pouco mais de coragem, liberdade para se expressar, pois já havia começado

alguns movimentos para criação da lei de anistia e isso possibilitava essa coragem. Já se

falava na anistia, no exterior já havia movimentos pela anistia no Brasil, tinha exilados no

lado de fora. Pessoas ligadas à cultura, jornalistas, escritores, prêmio Nobel disso e daquilo,

preocupados com a ditadura da América do Sul, já se manifestavam que isso tinha que acabar.

O movimento começou vindo com toda falta de mídia, de globalização, não tinha nada disso

na época, mesmo assim a TV já dava dicas. A TV Globo foi uma das que apoiou a ditadura,

foi quando Roberto Marinho pôde se instalar na TV Globo e conseguir a concessão do canal e

todas as regalias. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).

Amaury tinha um grande apreço pelo jornalista Josélio Gondim. Em sua

avaliação, achava-o um homem de bem, justo e solidário, ignorando o que outros achavam.

Por vários meses, manteve a coluna assinada na revista. O pagamento mensal sempre era um

problema, mas ainda assim conseguiu sobreviver dignamente, e sempre lhe foi grato por tudo

isso. (NADER, 1998, p.74).

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2.13 Lei da Anistia

Em 1977 começou a se desenhar no horizonte a possibilidade da anistia,

começaram a ganhar expressão os movimentos pela anistia. Terezinha Zerbini fundou em São

Paulo o Comitê Brasileiro pela Anistia (CBA). E esse embrião deu lugar a outros CBA’s, que

se espalharam rapidamente por todo o país. Em Brasília, com apoio de vários setores da

sociedade e em especial da OAB, os deputados criaram um CBA, cujas reuniões cada vez

mais concorridas, eram vigiadas de perto pelos órgãos de repressão. Apesar disso ninguém foi

preso ou molestado. (NADER, 1998, p.74).

Depoimento proferido por Amaury em relação à anistia.

[...] Com a ascensão de João Baptista Figueiredo ao poder, a idéia cresceu e encontrou eco no próprio plantonista do regime militar. Foi ele que, em 29 de Agosto de 1979 , assinou a lei da anistia, uma anistia capenga, míope, que jamais foi ampla e irrestrita, mas que acabou contemplando varias lideranças políticas, então exiladas no exterior. Amaury também foi beneficiado por ela, embora sempre criticasse seu caráter limitado, pois tanto ele como outros colegas anistiados em 1979 foram impedidos de concorrer às eleições de 1978. Tiveram que aguardar o pleito de 1982, quando Brizola, Arraes, Lysâneas, Nadyr e Amaury receberam a unção das urnas e voltaram à vida pública [...]. (NADER, 1998, p.74).

2.14 Volta ao Plenário em 1983

A volta ao plenário, em 1983, foi cheia de muita emoção, porém agora os

deputados que outrora foram cassados, queriam mostrar mais trabalho, havia uma

preocupação em desempenhar bem o mandato, atender aos eleitores. A eleição de 1982 já fora

no pluripartidarismo. O governo extinguiu o bipartidarismo (Arena/MDB), para enfraquecer a

oposição que era muito forte, e já tinham conquistado a anistia, assim liberou o bipartidarismo

para poder dividir o MDB. (NADER, 1998, p.74).

Diante disso, Amaury voltou ao congresso, mas já não era o mesmo grupo, não

eram todos do mesmo lado dos antigos companheiros, do mesmo partido, parte somente, a

outra parte pertencia a outros partidos, com ideologias afinadas, mas adversários. Começou

uma luta para poder se manter no poder, pois na hora do voto a voto, o que importa é a

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legenda e não o pensamento igualitário. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por

Samira El Ammar).

Os projetos que Amaury tinha antes da anistia voltaram a ser representados

novamente, projetos trabalhistas, da aposentadoria da mulher rural. Novas estratégias, novas

medidas para poder se manter no congresso, para poder manter o esquema todo. Era mais

complicado, mais trabalho, mais cuidado, mais preocupação com as lideranças do interior, do

seu Estado. Era necessário manterem contatos permanentes. Os deputados passaram a não

ficar mais morando permanentemente em Brasília, iam toda semana para os seus Estados,

porque lá estavam os eleitores e estava cheio de gente querendo conquistá-los, de todos os

partidos na sua base, eu vou lá para poder garantir meus votos. Deputados de São Paulo, Rio

de Janeiro, Minas Gerais que já não eram de ficar em Brasília, aí que começaram a não ficar

mesmo, na sexta-feira iam embora, depois começou na quinta e hoje então nem se fala, na

quinta-feira já não tem votação na câmara. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009,

por Samira El Ammar).

Amaury, aos poucos começou a considerar que o Congresso Nacional tinha

perdido sua perspectiva histórica e não era a caixa de ressonância das mais legítimas

aspirações populares e muito menos representava a maioria dos brasileiros. O custo das

eleições assumiu proporções gigantescas.

Com a volta ao plenário, Amaury deixa claro sua decepção, em discurso proferido

por ele a Ana Beatriz Nader:

[...] Hoje, no ritmo que as coisas vão, só os ricos e alguns cooperativistas reúnem condições materiais de disputar mandados. Há um processo de degeneração das eleições, uma espécie de metástase que vai corroendo as entranhas da dignidade e da honradez do eleitorado. Uns poucos ainda mantém viva a chama do idealismo. A maioria, infelizmente, só vota se receber favores em troca. Ora, como voto não é mercadoria, nego-me a participar dessa farsa. De resto, não possuo recursos financeiros para enfrentar o poder econômico. Mas, mesmo que os tivesse não concordo em participar de um processo sabidamente espúrio e prostituído. Isso não quer dizer que todo parlamentar escorregue para o pântano da dissolução dos costumes políticos. Em absoluto. Remanescem alguns, talvez uma centena, que repudiam esse tipo de escambo imoral. A maioria, porem, compra votos e comercializa a própria consciência. Sempre digo a meus filhos, que minha herança e minha coerência... É a minha coerência, e não mais que minha, a minha coerência, meu grande legado [...]. (NADER, 1998, p.75).

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3 VIDA PÓS-DITADURA

3.1 Motivo de ciumeira entre os colegas

Amaury e alguns colegas do Grupo Autênticos voltaram para Câmara, como

Lysâneas Maciel, Chico Pinto e Fernando Cunha, esses cumpriram apenas um mandato e

decidiram deixar a vida pública. JG de Araújo Jorge e Nadyr Rosseti não conseguiram a

reeleição em 1986, para a Assembléia Nacional Constituinte, Fernando Lyra, que não havia

sido cassado parecia ser o único que tinha sobrado do Grupo além de Amaury. (NADER,

1998, p.75).

Com a volta para Câmara de Deputados em 1982, Amaury cumpria seu quinto

mandato e não havia mudado suas antigas posições políticas. Na verdade, isso fez com que ele

amadurecesse e aprendesse muito, não tinha também idade para os mesmos arroubos de antes.

Esse amadurecimento, no entanto, não alterou sua visão de uma sociedade socialista, mais

livre, mais igualitária e mais humana. E declara:

[...] Mantenho inabaláveis minhas convicções nacionalistas, profundamente enraizadas desde os tempos de adolescência quando participei da histórica campanha pelo monopólio estatal do petróleo e pelo controle de setores estratégicos da economia. Hoje, porém, o quadro é diferente, não temos uma ditadura militar, mas, pior, temos um neoliberalismo selvagem, ancorado na parafernália do desenvolvimento tecnológico e na idéia de que a competitividade, em um mundo globalizado, é que move o progresso [...]. (NADER, 1998, p.76).

Os agentes tinham uma admiração muito grande pelo Amaury, e era muito

conhecido por todos, pelos funcionários, pela imprensa por ter pertencido ao grupo dos

deputados mais recentes a serem cassados, pois a pouco tempo ainda estava militando, ao

contrário dos deputados cassados em 1967/1969 que estavam afastados do congresso há mais

tempo. Todos estavam contentes com sua volta, causando inclusive muita ciumeira entre os

cassados antigos. Eis o que declarou Samira em relação a isso:

[...] Amaury era muito ligado às embaixadas. Na cassação, ao contrário do que pode se supor, o cassado político que tem prestígio, respeitabilidade continua sendo prestigiado. As embaixadas, embora instaladas no Brasil, legalmente não devem satisfação ao governo brasileiro em termos de prestigiar as pessoas e exilá-las, é um direito internacional desde que não fira o governo e ofenda o mesmo. Essas

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embaixadas procuravam muito o Amaury, depois de ele cassado. Não era só pelo prestigio dele como parlamentar, mas pela pessoa, pela luta, pelo trabalho e até para prestar solidariedade, muitas embaixadas eram contra a ditadura. Eram países democráticos, mas estavam ali trabalhando então precisavam respeitar, não podiam dar palpites.

Amaury sempre era convidado, por pessoas que trabalhavam na embaixada, para festas e eventos, criando um vínculo muito grande depois da cassação. Quando ele retornou para a Câmara, todas as embaixadas queriam fazer festa, homenagear essa vitória, despertando então um pouco de inveja entre seus colegas parlamentares. [...] (trecho da entrevista concedida a autora no dia 03/11/2009, por Samira El Ammar).

Todos falavam no nome de Amaury. Pela sua grande respeitabilidade, recebia

muitos convites dos Parlamentos e de Governos dos mais variados países, para dar palestras

ou participar em congressos, como Finlândia, Londres, México, Austrália, Paraguai, Cuba,

etc..., e isso acabava gerando ciúmes em seus colegas. (Entrevista concedida à autora no dia

01/11/2009, por Samira El Ammar).

FOTO 8: Em Orlando (na Disney). (foto do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).

FOTO 9: No México (28/02/1993). (foto do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).

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FOTO 10: Na China . (foto do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).

FOTO 11: Na Austrália (21/11/1992). (foto do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).

FOTO 12: No Paraguai. (foto do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).

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FOTO 13: Em Cuba. (foto do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).

FOTO 14: Com o Embaixador do Kuwait (25/02/1989, data nacional do Kuwait). (foto do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).

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FOTO 15: Com Yasser Arafat, Presidente da causa Palestina. (foto do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).

FOTO 16: Com o Presidente da África, Nelson Mandela. (foto do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).

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Todos os anos, Amaury recebia Diploma do Presidente do Departamento

Intersindical de Acessória Parlamentar (DIAP), por figurar entre os melhores “cabeças” do

Congresso Nacional. Recebeu também várias condecorações ao decorrer de sua carreira.

(Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).

FOTOS 17/18: Recebendo Diploma do presidente do DIAP e sendo condecorado pelo seu trabalho em prol dos

trabalhadores. (fotos do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).

Amaury estava quase que diariamente na Tribuna Plenário da Câmara,

defendendo os seus projetos de interesse social. Sempre participava dos seminários e eventos

do partido. Foi 4º Secretário da Câmara de Deputados e presidente durante anos na Comissão

de Trabalho, seu trabalho foi pacifico, conseguindo excelentes melhorias para os

trabalhadores. Frequentemente recebia amigos e eleitores em seu gabinete. (Entrevista

concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).

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FOTO 19: Amaury em seu gabinete com amigos e eleitores. (fotos do acervo da família, cedida por Samira El

Ammar Muller).

FOTO 20: Convenção do PDT. (fotos do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).

FOTO 21: Encontro Nacional do PDT. (fotos do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).

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FOTO 22: Campanha de Leonel Brizola para presidente. (fotos do acervo da família, cedida por Samira El

Ammar Muller).

FOTO 23: Amaury na Tribuna. (fotos do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).

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FOTO 24: Amaury na Bancada. (fotos do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).

FOTO 25: Comissão de Trabalho da Câmara com o Ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. (fotos do acervo

da família, cedida por Samira El Ammar Muller).

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FOTO 26: Na Tribuna com Ulysses Guimarães. (fotos do acervo da família, cedida por Samira El Ammar

Muller). (fotos do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).

FOTO 27: Com o Presidente Tancredo Neves e a filha Fernanda, em sua residência, em Brasília, quando recebeu

delegação de vereadores de Ijuí. (fotos do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).

3.2. Diretas Já

João Baptista Figueiredo, eleito pelo colégio eleitoral, assume a presidência com a

finalidade de restaurar, devolver a democracia ao país. O presidente decreta lei de anistia,

devolvendo o direito para políticos, artistas e demais brasileiros que se encontravam exilados

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e condenados por crimes políticos, de regressarem a seu país. Seria o último presidente

militar. (Wikipédia Livre).

Dessa maneira inicia o processo de redemocratização do país. João Figueiredo em

dezembro de 1979 modificou a legislação, restabelecendo o pluripartidarismo do país.

(Wikipédia Livre).

João Figueiredo enfrentou uma grande crise econômica desde que assumiu seu

governo, isso fez com que os partidos de oposição ao regime crescessem e os sindicados e as

entidades de classe se fortalecessem.

Em 1984, o povo começa a se organizar e surge um movimento pelas Diretas Já,

foi um ato de mobilização dos civis, que queriam a volta de eleições diretas pra presidente.

Isso tudo teve início com a ementa constitucional Dante de Oliveira pelo congresso, mas não

teve sucesso, perdeu por 22 votos. (site: Nova República).

Esse movimento pelas Diretas Já tomou proporções gigantescas, foi além das

organizações partidárias, acontece grandes comícios, o povo foi pras ruas em passeatas,

tornado-se uma mobilização nacional. A população contava que com a vitória das Diretas Já,

colocando todas suas expectativas e esperanças, pois esperavam que pudessem ser

representados com maior autenticidade e a resolução de muitos problemas como: salários

baixos, segurança, inflação, entre outros problemas, que só encontrariam se pudessem

escolher seus representantes. (FAUSTO, 2003, p.509).

FOTO 28: Amaury percorreu o país nas Diretas Já. Nessa foto com o cantor Agnaldo Timóteo, que participou do

comício em Ijuí e região. (foto do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).

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A derrota das eleições diretas causou um grande desânimo e frustração na

população, mas os adeptos ao movimento sentiram uma esperança parcial e julgaram-se

vitoriosos quando um de seus líderes, Tancredo Neves, foi eleito presidente da república, pelo

colégio eleitoral. Iniciaria aí uma transição para a democracia no Brasil. (FAUSTO, 2003,

p.510).

Tancredo Neves, ao ser eleito, já começou com intensas atividades de contatos no

país e também uma viagem ao exterior. Já se encontrava doente, mas resolveu deixar a doença

para depois da posse. Não teve tempo, pois na véspera de assumir o cargo de presidente da

república foi internado as pressas por complicações de sua doença. Passou por várias

cirurgias. José Sarney, que era seu vice, assumiu como presidente interino. (FAUSTO, 2003,

p.514).

No dia 21 de abril de 1985, morre Tancredo Neves num hospital de São Paulo,

depois de ter adquirido infecção hospitalar. A população se comoveu, foi para as ruas

acompanhar o cortejo com o corpo do presidente. Tinha-se a sensação de que o país acabara

de perder um político muito importante num momento tão delicado. (FAUSTO, 2003, p.515).

Essa sensação tinha tal fundamento, pois Tancredo tinha qualidades que eram

raras de se encontrar no meio político, era considerado um político honesto, com equilíbrio e

coerência de posição e isso era maior do que suas preferências ideológicas. (FAUSTO, 2003,

p.515).

José Sarney assume como presidente em exercício pleno no dia 15 de março de

1985 e dando fim aos 21 anos de Regime Militar. A redemocratização só foi completa em

1988 com a promulgação da constituição de 1988. (site: Nova República).

3.3 Dever Cumprido

Amaury sentiu-se contente e com uma sensação de dever cumprido com a eleição

de Tancredo, tanto ele como outros idealistas e companheiros de luta. E Samira disse:

[...] Foi muito gratificante, ele estava inteiramente a favor dessa eleição, tanto que em um determinado período, o Brizola andou ameaçando, sugerindo que não

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votassem no colégio eleitoral, discutiu com o Tancredo por um motivo qualquer que ele inventou na época. Disse pro Amaury: nem pensar que o Brizola vai impedir essa eleição. Nós estávamos numa luta ferrenha na época, era como se fosse uma eleição direta, o colégio eleitoral acabou sendo praticamente uma eleição direta, porque mobilizou a população toda. Mesmo uma coisa aparentemente ilegal, diferente do que tinha sido até então dos costumes, passou a ser legal porque o povo legalizou, o povo avalizou. Estava todo mundo lutando por isso. A eleição de Tancredo foi considerada como se fosse uma eleição direta. Foi uma vitória nossa, nós vibramos demais, demais, demais [...]. (trecho da entrevista concedida à autora no dia 03/11/2009, por Samira El Ammar).

3.4 Constituição

Sarney assume a presidência com algumas restrições, pois até ser indicado pra ser

vice de Tancredo, ele pertencia à ala de oposição, não tinha muita ligação com a

democratização que o PMDB buscava. O Partido Frente Popular (PFL), não abria mão de seu

nome na chapa então o PMDB acabou por ceder. (FAUSTO, 2003, p.511).

Sarney fixou sua atenção em dois pontos, que seria a revogação das leis que

vinham do regime. O chamado entulho autoritário e na eleição de uma Assembléia

Constituinte, encarregada de elaborar uma nova constituição. Uma reunião foi marcada para

novembro de 1986. (FAUSTO, 2003, p.520).

No dia 5 de outubro de 1988 inicia-se um novo ciclo no país, a constituição é

promulgada instaurando um regime democrático sob a forma de governo presidencialista,

onde a população votou no dia 21 de abril de 1993, escolhendo sob qual forma queria ser

regida. (site: Wikipédia).

Em 1988, ano em que foi promulgada a constituição, Amaury recebeu o título de

parlamentar nota 10 pela sua atuação na elaboração da Carta Magna. (Entrevista concedida à

autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).

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FOTO 29: Amaury assinando a Constituição de 1988, fato que lhe rendeu o titulo cidadão nota 10. (foto do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).

Fonte: Wikipedia Livre.

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Amaury foi muito atuante em relação à constituinte, mas achou que no final não

tinha sido totalmente satisfatório, deixou muita coisa a desejar. Samira disse que:

[...] ele tava todo dia na TV, assim no noticiário, porque focava o plenário todo dia tinha noticiário da constituinte. Foi muito atuante na área da agricultura, dos direitos do trabalhador, ele esteve muito envolvido, a comissão de trabalho, ficava até de madrugada, muitas vezes fazíamos carreteiro na liderança pro pessoal comer lá pela meia noite. Eles não tinham tempo pra nada devido as votações, discussões das matérias relativas a constituinte. O congresso sempre lotado de pessoas de todo o país, grupos, entidades reunidas que iam pra lá ou mandavam seus representantes, pra também entrarem na reforma da constituinte, para serem incluídos seus planos, seus projetos.

Amaury achou que a reforma da constituinte ficou muito a desejar, teve muita coisa boa que se conquistou e muita coisa ficou pendente, que não deu pra acrescentar, que não aceitaram a maioria não quis, alguns avanços mais sociais mais arrojados. Tentaram achar um meio termo. Não foi totalmente satisfatório, mas por hora foi o que conseguiram fazer [...]. (trecho da entrevista concedida à autora no dia 03/11/2009, por Samira El Ammar).

Amaury, em depoimento a Ana Beatriz Nader, fez o seguinte comentário em

relação à Constituição de 1988.

[...] Gostaria de fazer um breve comentário sobre a nova Constituição. No início dos anos 70, quando Chico Pinto, Alencar Furtato, Lysâneas Maciel, JG de Araújo Jorge, Marcos Freire, Paes de Andrade e tantos outros formavam a linha de frente na luta contra a ditadura, o próprio Grupo Autêntico lançou a idéia de uma Assembléia Nacional Constituinte. Foi na cidade de Recife, em 1971. Lá militava, entre outros, o deputado Jarbas Vasconcellos, nosso anfitrião. O documento tirado à época sugeria uma grande mobilização nacional em torno da idéia, a fim de tornar vulnerável a ditadura e apressar seu fim. Foi exatamente o que aconteceu. Os CBA’s pregaram simultaneamente a anistia e a convocação da Assembléia Nacional Constituinte. Mas, mesmo antes deles, o Grupo dos Autênticos pautou sua atuação, em boa parcela, tendo como mote a implantação de um Estado de Direito e de uma ordem econômico-social mais justa, a partir de uma nova Constituição.

Quinze anos mais tarde ela veio. Fui constituinte e participei, direta e ativamente, das articulações dos setores progressistas no sentido de textualizar avanços e conquistas sociais, tidas como indispensáveis para assegurar plenamente os direitos da cidadania. Sem embargo desses avanços, que hoje estão sendo destruídos pela fúria neoliberal, lutamos para impor uma ordem econômica protetora dos interesses nacionais, aí incluímos o monopólio de setores estratégicos (petróleo, telecomunicações) e a implementação de uma reforma agrária massiva, radical e profunda. Foi o grito do Grupo Autêntico que ecoou nas consciências dos constituintes. Foi a experiência, acumulada por antigos militantes do Grupo, que deslanchou conquistas extraordinárias, não obstante a tresloucada oposição das áreas conservadoras, notadamente no capitulo referente a questão agrária. Creio, mesmo, que parte apreciável do atual texto é uma espécie de herança política e ideológica do Grupo Autentico.

Por derradeiro, quero dizer que, ao participar desse bivaque verdadeiramente oposicionista, realizei-me como cidadão e como homem público. Claro, fui personagem menor do processo, mas nem por isso, porém, sinto-me diminuído perante os demais companheiros [...]. (NADER, 1998, p.77).

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3.5 Último Mandato

O último mandato de Amaury foi em 1991-1995 pelo PDT. A essa altura da

carreira política, ele encontrava-se desgostoso, não tinha o mesmo encanto do começo pela

política, com o rumo que ela tinha tomado; com as atitudes dos políticos, com a corrupção na

política, com o uso do dinheiro para compra de votos, para fazer os esquemas eleitorais em

Ijuí e na região. Samira disse que:

[...] ele já estava muito chateado no último mandato que exerceu. Ele saiu em 1995 e não tava mais querendo seguir carreira política. Achava que a política tinha mudado muito, não era mais aquela coisa, não tinha mais graça. Era uma compra, quem tem mais arruma mais voto. Mas ele continuou trabalhando, até o fim, nunca deixou de pleitear, de falar, mesmo estando fora da câmara é como se estivesse diariamente na tribuna, pois continuou dando sua opinião. Mas intimamente estava desencantado [...]. (trecho da entrevista concedida à autora no dia 03/11/2009, por Samira El Ammar).

Ficha de seus mandatos, licenças, perdas de mandato, filiações partidárias,

atividades partidárias, estudos e graus universitários, seminários, conferências e congressos,

atividades parlamentares, atividades sindicais, representativas de classe e associativas,

condecorações, obras publicadas, missões oficiais, outras informações. (ficha biográfica

retirada do site da Câmara dos Deputados).

AMAURY MULLER - PDT

Amaury Muller

Nascimento: 17/1/1936

Profissões: Economista e Jornalista

Filiação: Henrique Muller e Virginia Martins Muller

Legislaturas: 1971-1975, 1975-1979, 1983-1987, 1987-1991 e 1991-1995.

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Mandatos Eletivos:

Deputado Federal, 1971-1975, RS, MDB. Dt. Posse: 01/02/1971; Deputado

Federal, 1975-1976, RS, MDB. Dt. Posse: 01/02/1975; Deputado Federal, 1983-1987, RS,

PDT. Dt. Posse: 01/02/1983; Deputado Federal (Constituinte), 1987-1991, RS, PDT. Dt.

Posse: 01/02/1987; Deputado Federal, 1991-1995, RS, PDT. Dt. Posse: 01/02/1991.

Licenças:

Licenciou-se do mandato de Deputado Federal, na Legislatura 1971-1975, para

Tratamento de Saúde por 10 (dez) dias, a partir de 19 de julho de 1971.

Perdas de Mandato:

Mandato de Deputado Federal cassado e os direitos políticos suspensos por dez

anos, na legislatura 1975-1979, em face do disposto no art. 4 do Ato Institucional nº 5, de 13

de dezembro de 1968, expedido pelo Decreto de 29 de março de 1976, publicado no D.O. de

30/03/1976, p. 4105.

Filiações Partidárias:

PTB, 1954-1966; MDB, 1966-1979; PDT, 1980-.

Atividades Partidárias:

Vice-Líder, MDB, 1976; Vice-Líder, PDT, 1986-1987.

Estudos e Graus Universitários:

Economia, PUC, Porto Alegre, RS; Comunicação, PUC, Porto Alegre, RS.

Seminários, Conferências e Congressos:

Representante da Comissão de Transportes da Câmara dos Deputados, ao I

Seminário sobre o Plano Nacional de Viação-Região Nordeste, em Salvador, BA, 16 a

21/06/1975; Representante da Câmara dos Deputados, no Simpósio Estadual da Carne e da

Lã, Porto Alegre, RS, 19 a 23/11/1975; Delegado da Câmara dos Deputados, à 72ª

Conferência Interparlamentar, Genebra, Suíça, 24 a 29/09/1984; Delegado do Grupo

Brasileiro da Associação Interparlamentar de Turismo, à VII Assembléia Geral da

Organização Mundial de Turismo e à XIV Reunião do Comitê de Membros Afiliados daquela

organização, Madri, Espanha, 22/09/1987; Delegado da Câmara dos Deputados, à 78ª

Conferência Interparlamentar, Bangkok, Tailândia, 12 a 17/10/1987; Delegado da Câmara dos

Deputados, à 80ª Conferência Interparlamentar, Sofia, Bulgária, 19 a 24/09/1988;

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Representante do Grupo Brasileiro do Parlamento Latino Americano, na Reunião

Extraordinária para a Integração da América Latina, Cidade do México, México, 13 a

17/04/1989; Delegado da Câmara dos Deputados, à 82ª Conferência Interparlamentar,

Londres, Inglaterra, 04 a 09/09/1989; Delegado da Câmara dos Deputados, à Conferência

Interparlamentar sobre Meio Ambiente Global, Washington, EUA, 29/04 a 02/05/1990; Chefe

da Delegação Brasileira, Conferência de Parlamentares do Cone Sul, Valparaíso, Chile, 01 a

03/11/1990; Participante: 78ª Reunião da Conferência Internacional do Trabalho, Genebra,

Suíça, 05 a 13/06/1991; II Reunião Parlamentar do MERCOSUL, Buenos Aires, Argentina,

18 a 22/09/1991; III Reunião de Parlamentares do MERCOSUL, Montevidéo, Uruguai, 04 a

08/12/1991;

Atividades Parlamentares:

ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE: Subcomissão da Política

Agrícola e Fundiária e da Reforma Agrária, da Comissão da Ordem Econômica: Titular, 1987

Subcomissão da Questão Urbana e Transporte, da Comissão da Ordem

Econômica: Suplente, 1987

Comissão de Sistematização: Suplente, 1987-1988. CONGRESSO NACIONAL:

COMISSÕES MISTAS: Mensagem 10/71, que submete ao CN o texto do DL 1143/70, que

dispõe sobre a Marinha Mercante e a Construção Naval: Membro, 1971

PL 18/71, que dispõe sobre P.N.D.: Membro, 1971

PL 24/71, que dá nova redação a dispositivos do DL 1040/69: Membro, 1971

PL 29/71, que dispõe sobre o Estatuto dos Militares: Membro, 1971

Mensagem 17/72, que submete ao CN o texto do DL 1211/72, isenção de

impostos de importação e sobre produtos industrializados: Membro, 1972

Mensagem 43/72, que submete ao CN o texto do DL 1228/72, que isenta o

imposto de renda às empresas estrangeiras de transportes terrestres: Vice-Presidente, 1972

Mensagem 28/73, que submete ao CN o texto do DL 1268/73, que autoriza o

Tesouro Nacional a subscrever ações do aumento de capital das Ações Finos Piratini S.A

Vice-Presidente, 1973

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Mensagem 6/74, que submete ao CN o texto do DL 1290/73, que dispõe sobre

aplicação financeira de disponibilidades pelas entidades da Administração Federal Indireta,

bem como pelas Fundações supervisionadas pela União, e dá outras: Vice-Presidente, 1974

Destinada a rever Doações, Vendas e Concessões de Terras Públicas (Art. 51 do

Ato das Disposições Constitucionais Transitórias): Titular, 1991. CÂMARA DOS

DEPUTADOS: MESA: Quarto-Secretário, 1983-1984. COMISSÕES PERMANENTES:

Agricultura e Política Rural: Titular, 1989-1990

Economia: Membro efetivo, 1971

Economia, Indústria e Comércio: Titular, 1971, Suplente, 1985-1987, 1989-1990

Vice-Presidente, 1972-1973

Relações Exteriores: Titular, 1984-1987, 1989-1990, Suplente, 1991-1994

Seguridade Social e Família: Presidente, 1991-1992

Transportes e Obras Públicas: Suplente, 1971, 1973, e Vice-Presidente, 1975

Trabalho, Administração e Serviço Público: Presidente, 1990-1991, 1993,

Primeiro-Vice-Presidente, 1992, Segundo-Vice-Presidente, 1993, Titular, 1994. COMISSÕES

ESPECIAIS: Reforma Agrária: Titular, 1985-1987

Política Agrícola: Titular, 1990

Crimes de Responsabilidade do Presidente da República: Suplente, 1992

PEC n. 71/91 - Vinculação do Salário Mínimo na Fixação da Aposentadoria e da

Pensão por Morte: Titular, 1993.

Atividades Sindicais, Representativas de Classe e Associativas:

Presidente, União Cruz-Altense de Estudantes, 1953; Presidente, Centro

Acadêmico Visconde de Mauá, Fac. de Ciências Econômicas da PUC, Porto Alegre, RS,

1958-1959; Vice-Presidente, DCE/PUC, 1960, Centro Acadêmico Arlindo Pasqualini, Curso

de Jornalismo da PUC, 1961, Centro Acadêmico Maurício Cardoso, Fac. Direito da PUC,

1962, Porto Alegre, RS.

Condecorações:

Ordem do Mérito do Congresso Nacional.

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Obras Publicadas:

MULLER, Amaury. Ideologia e desenvolvimento. Porto Alegre: Dce/puc, 1962.

______. Ponto Crítico: crônicas. Ijuí: Departamento Municipal de Cultura, 1970.

Missões Oficiais:

Representante da CD, nos atos e solenidades comemorativas do 150º aniversário

de fundação do Município de Cruz Alta, RS, 1971; Viagem de estudos e observação à

Austrália, China e Índia, a convite dos governos daqueles países, 1975; Participante da

Delegação Parlamentar Brasileira de Solidariedade à Revolução Sandinista, Nicarágua, 1983;

Integrante da Missão Parlamentar Brasileira que denunciou à ONU e OEA abuso

dos direitos humanos praticados pelas ditaduras militares do Chile, Argentina e Uruguai,

Washington, 1983; Membro da Delegação do Brasil aos Congressos da União

Interparlamentar em Helsinque, Finlândia, 1983, Genebra, Suíça, 1984, Sofia, Bulgária, 1987,

Bangkok, Tailândia, 1988 e Londres, Inglaterra, 1989; Integrante da Missão Brasileira aos

Congressos do Parlamento Latino-Americano na Guatemala, 1985 e México, 1986; Chefe da

Delegação Parlamentar Brasileira que examinou as condições carcerárias dos presos políticos

do Uruguai, Montevidéu, 1984. Viagem à Tchecoslováquia, Áustria, Alemanha e Estados

Unidos, a convite dos Governos daqueles Países, para estudar o aproveitamento do carvão

mineral, 1985; Membro da Delegação Brasileira às Reuniões Internacionais sobre Meio

Ambiente na cidade do México, 1988 e Washington, 1989; Coordenador da Delegação

Brasileira aos Congressos sobre Autodeterminação dos povos e a questão Palestina, Argel,

Argélia, 1984, Lima, Peru, 1986 e Trípoli, Líbia, 1988; Chefe da Missão Parlamentar

Brasileira em visita aos territórios Palestinos ocupados de Gaza e Cisjordânia, 1989; Chefe da

Delegação Brasileira à Reunião de Valparaíso, Chile, sobre a integração da América-Latina,

1990; Missão Oficial na Austrália, a convite do Parlamento Australiano, 23/11 a 04/12/1992;

Representante da Câmara dos Deputados, na Conferência das Nações Unidas sobre Meio

Ambiente, Rio de Janeiro, Brasil, 01 a 14/06/1992.

Outras Informações:

Militante da luta em favor da Anistia ampla, geral e irrestrita. Telefones retirados

do SIGESP-DEP.

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3.6 Diagnóstico do câncer

No dia 31 de maio de 2001 é diagnosticado um câncer de pulmão em Amaury.

Alguns meses antes, seus familiares notaram uma perda de apetite nele e consequentemente

perda de peso. Outra mudança que também sentiram nele foi uma espécie de irritação com

tudo. Mais próximo do diagnóstico ser confirmado, mais ou menos um ou dois meses antes,

ele começou com uma tosse muito estranha (embora fosse fumante, não tinha tosse),

provavelmente seria mais um dos sintomas do câncer. Ele chegou a tomar algumas

medicações paliativas, consultou uns dos médicos da câmara, fez nebulização. Não foi dada a

importância devida, ou ele mesmo não tinha interesse em procurar saber o que realmente era,

pois tinha receio, já que era um fumante compulsivo. Talvez, no fundo, sabia que poderia ser

alguma coisa mais grave. Pela riqueza de detalhes, optei por deixar a entrevista tal qual como

foi gravada. Essa entrevista aborda os três últimos meses de vida de Amaury, entre a

descoberta do câncer, o tratamento e a morte em 31 de agosto de 2001. Então Samira

começou a falar:

[...] as coisas só tomaram um rumo diferente quando eu percebi que tinha algo de errado. Preocupei-me mesmo, quando ele falou, confessou que quando ele deitava e virava pro lado pra ler, pois ele lia de lado, lado direito, começou a sentir dores quando fazia esse movimento de deitar de lado na cama pra ler, pois era muito difícil ele reclamar de algum tipo de dor, a não ser gripe, ai to mal, essa gripe tá me derrubando, coisa de homem manhoso, (que a gente tem mania de dizer). E quando eu vi paralelo a isso na mesma época, começou a sair um chiado do peito dele, sem ele fazer nada, parado mesmo começou a aparecer uma espécie de ronco, (ela emite o som, rrrrrrrrrrrrrrrrrrr). Aí eu fiquei apavorada, fiz de tudo pra ele ir ao médico, até que eu marquei a consulta e então ele sentiu-se obrigado a ir dizendo que não era nada. Foi sozinho. Quando voltou, comentou que o médico havia mandado fazer uma radiografia, que deveria voltar lá no outro dia pra buscar e levar o resultado pra ele ver. Comentei com ele, não deve ser nada, quer que eu pegue pra ti? Não, não, pode deixar que eu pego. No dia seguinte (31 de maio) ele saiu lá do SINAI (Sindicato Nacional de Inserção), no qual dava assessoria pros agentes de trabalho, buscou a radiografia no Instituto Vilas Boas e trouxe pra casa, eram seis horas da tarde, eu tava em casa ansiosa esperando, então pedi, o que deu no resultado, e ele me respondeu, eu não olhei essa porcaria, vou caminhar que ganho muito mais, foi aí que eu dei graças a Deus por ele ter ido caminhar na rua, pois às vezes ele caminhava na esteira em casa, eu estava curiosa e preocupada, abri a radiografia e fui ler o resultado, e lá falava em células tumorais. Entrei em pânico, aí liguei pro meu irmão o Renato El Ammar, pois não queria ligar pros guris, (os filhos Alexandre e Márcio), pra não deixá-los preocupados, não queria assustá-los, o Renato estava a caminho do hospital e comentei com ele que tinha chegado o exame do Amaury e ele me pediu pra ler o finalzinho do laudo, ai falava em células tumorais então ele disse é um tumor, apavorado assim com a voz, e eu na minha inocência, na minha esperança, pedi é um tumor benigno, nãããão, é câncer, aos

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gritos, ele apavorado. Aí começou o pânico, o pavor. Pedi ao guarda lá, nosso vigia da porta, pelo amor de Deus, quando o Amaury chegar você me avisa antes dele entrar, fecha o portão pra ele ter que tocar a campainha e eu poder saber que ele entrou porque preciso tomar umas providências aqui e não quero que ele veja. Eu entrei em pânico, até que eu me recuperei e comecei a agir, liguei imediatamente pra um amigo nosso da Varig, o Neto, mandei urgentemente me providenciar duas passagens pro dia seguinte pra Porto Alegre, que o tratamento dele seria feito lá. Nesse meio tempo o Nato (Renato El Ammar, o irmão de Samira), já avisou a mãe, Samir, Ibrahim, os guris (filhos de Amaury, Marcio e Alexandre), aí foi o pavor com os guris, o Márcio estava em Rio Preto trabalhando, o Alexandre estava em Porto Alegre, o pânico era esses guris, o meu pavor era contar pros guris, eu entrei em parafuso de pena, de dor deles, de não saber o que fazer, aí já acionaram nesse meio tempo o Gibram que morava em Porto Alegre também, que era muito amigo do Alexandre, já mandaram imediatamente o primo ir lá pra casa dele, antes dele saber o que era, ficar lá de prontidão, lá em casa, nosso apartamento em Porto Alegre e já ligaram pro Dr. Miguel que era chefe de serviço lá deles o cabeça, o chefão, do Márcio, o Dr. Miguel foi lá falar e ficar com ele, foi um horror, foi um horror foi uma tragédia, uma coisa pavorosa, vem, vem pra cá, tem que ser aqui no Sul, tem o Dr. Jesus de Camargo que é um dos melhores da América Latina, um dos melhores cirurgiões torácicos, e ele tem que consultar, e Brasília Deus me livre. Ai foi que eu liguei pro Neto esse da Varig, disse Neto me espera no balcão da Varig, ainda bem que o Amaury tinha um prestígio, que as pessoas faziam pra gente, mesmo ele não sendo deputado. Eu não conseguia nem falar, tudo isso aos prantos ou tentando me acalmar, aí não consegui nem falar direito e aí ele imediatamente nos esperou no balcão da Varig, na porta, com os bilhetes na mão. Mas antes disso, ainda no dia do diagnóstico do tumor, arrumei minha mala, a mala dele, a Fernanda chegou em casa nessa hora que eu estava arrumando, comentei que ele estava doente, tinha um problema e que iria tratar e ela começa a chorar e nisso ele entra, aí ele pediu, o que a Fernanda tem que tá chorando? Ah, aquelas coisas da Nanda, tu não sabes, brigou com o namorado, ta aí, chegou, brigou com o Marcelo, tá chorando, aquelas fiasqueiras dela, tem mania de fazer escândalo. E ele acreditou, aí ele entrou dizendo assim, ele era meio irônico, não dava o braço a torcer, muito orgulhoso, muito orgulhoso, muito orgulhoso, não dava o braço a torcer, dizer que estava preocupado, e aí to muito mal? Não, não, mal não, mas nós vamos pra Porto Alegre fazer exame, vamos pra lá. Quê? Eu não vou pra Porto Alegre coisa nenhuma. Não, negrinho escuta, eu comentei com os guris, só comentei assim assado, e eles não confiam nos médicos daqui, que os médicos são fajutos. Mas o que é isso, então eu estou muito mal, não negrinho, não tem nada de mau negrinho, é só pra te cuidar melhor, porque esses caras daqui não dá pra confiar. Ah não, mas eu não vou não, eu já marquei com o doutor Rivaldo, Eraldo, um que eu achei lá pra ele, um lá qualquer, ele vai me dar o resultado e eu fiquei de levar o resultado pra ele, como é que eu vou, eu já marquei. Não, não, eu já liguei pro Dr. Eraldo, nem tinha ligado, liguei no dia seguinte, de manhã eu liguei. Eu liguei pro Dr. Eraldo, já tá tudo combinado, ele acha melhor também, acha melhor você ir pra Porto Alegre, que lá os médicos são muito bons nessa área. Ah e como vou conseguir consulta? Não se preocupa, a Beta já conseguiu consulta, já falou com o Camargo, claro que ele não tem hora, mas ele vai abrir uma exceção pra ti, vai estar nos esperando no gabinete lá dele, no consultório, a hora que tu chegares, ele vai deixar aberto o consultório só pra te atender, lá não sei aonde. Tentou argumentar: ah, mais passagem, não vou conseguir de hoje pra amanhã, não tem jeito, tem sim eu já falei com o Neto, já ta tudo pronto, mala. E a Nanda, a Nanda não tem problema nenhum, já falei com ela e não tem problema nenhum, ela já sabe. E como faz pagamento disso e daquilo, eu disse não, já tá tudo providenciado, esses pagamentos e depois dá pra fazer tudo por lá também o que precisar fazer isso aí não é problema e a Nanda nem te preocupe, já tá tudo esquematizado, ela vai ao supermercado, ela se vira, e isso e aquilo, ele tentou, tentou, argumentar, aí viu que não tinha jeito, concordou. Quando chegamos a Porto Alegre o médico estava lá nos esperando, era noite já, porque além de tudo o vôo atrasou, aí chegamos e o Camargo falou pra ele, mas assim com muito jeito. Olhou o exame, é realmente deputado, tô vendo aqui, temos um tumor, mas assim não fez aquele drama, aquela cara sabe, aquele jeito foi calmo. Agora a gente em princípio

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vai avaliar pra fazer cirurgia, mas mais depois, mais adiante um pouco, primeiro vamos fazer uma avaliação, vou fazer vários exames, vai ter uma internação no hospital, mas é pra fazer esses exames de rotina, tem que fazer pra ver. Eu acho que ele não entendeu que era extensão do câncer, acho que ele não entendeu que era pra ver se tinha metástase, que nem eu sabia, eu só fiquei sabendo depois que era isso, que eles fazem todos os exames pra ver se tem, metástase, que se já tem não adianta combater ali. E aí apresentou assim e tal, hoje em dia tem excelentes médicos fazendo quimioterapia, radioterapia, tem o Dr. Jéferson que é um cara que fez curso em Londres, então começou a dar esperança, cercando de todos os cuidados o melhor atendimento, a gente se sentiu protegido. E depois toda a família foi pra lá, se mandou todo mundo, o Márcio, pobrezinho chegou lá no dia seguinte, e aí começou o tratamento, fez todos os exames, ficamos lá o final de semana depois ele se internou na segunda-feira. O primeiro dia fez todos os exames e não apareceu metástase, o segundo dia fez exames em outra região não sei o que também não apareceu nada, nós vibrávamos cada vez, aí no último dia, no cérebro, metástase no cérebro, quando daí o Márcio me disse, me telefonou aos prantos da Santa Casa, aí ele desabou mesmo, disse “merda” deu metástase, mas ele berrava, eu berrava de um lado e ele de outro, foi uma loucura, o Ibrahim estava no telefone com a mãe, “lembra mãe?” O Ibrahim tava no telefone com minha mãe, aqui de Ijui, que ele queria notícias e eu berrando e ele que é isso, o que tá acontecendo, que gritaria é essa e a mãe contou, não, deu metástase, então o Ibrahim foi lá, foi todo mundo correndo, Renato, Samir, foi uma loucura, uma gritaria, mas ele não soube, fez de conta que não soube ou não entendeu direito. O Dr. Camargo, por telefone me ouviu berrando e depois me pediu o que era aquela gritaria, calma, por favor, quando cheguei ao hospital, que eu não estava no hospital, estava em casa, os guris estavam no hospital, estavam acompanhando, fazendo tudo, eles tentavam me poupar, pois eles são médicos e estavam lá. Peguei um táxi e saí voando, aí o Camargo me disse calma, calma, aí eu disse pra ele eu não entro lá, só entro com o senhor, eu não vou entrar sozinha, eu não entro, não vou entrar, como vou entrar, ele vai ver minha cara, vai ver minha cara de choro e eu não vou entrar no quarto, aí entrei com ele, quando ele entrou pra explicar, ele foi assim muito sutil pra explicar, é deputado, realmente nós olhamos aqui, temos os resultados, não tocou em metástase, câncer nem tumor, aqui tem uns pontinhos no cérebro, pontinhos Amaury não entendeu ou fez que não entendeu, vamos agora iniciar a sessão de quimioterapia e radioterapia. Ele não perguntou mais sobre a cirurgia que iria fazer, eu penso, particularmente penso que aquela, tipo mini-cirurgia, micro-cirurgia que fazem pra botar o cateter que tudo entra por ali, eu acho que ele pensou que aquilo ali era a cirurgia. Porque eu uma hora cheguei a pensar, eu no meio daquele tumulto, enquanto estavam fazendo, eu cheguei a pensar que cirurgia era aquilo ali. Penso que ele achou o mesmo, como ele fugia dessas coisas assim, deletava da cabeça. Eu sabendo que era metástase, a explicação que o Dr. Camargo deu pra ele, valeu pra mim, eu deletei, eu não sei até hoje como, eu deletei, sabendo que estava com metástase. Pra mim ele iria fazer um tratamento, nós íamos voltar a Brasília logo depois e continuar vindo todos os meses até aquele período de toda semana que faz, depois volta três semanas, depois uma aqui mais três lá, a gente pensou que ia ficar nessa vida, com muito cuidado daí, que não ia ser a mesma coisa, mas nunca na vida, eu deletei da minha cabeça, pode acreditar nisso, porque pra mim não era o fim, não era. Comecei a sentir pavor, bem no final estava sentindo um clima esquisito, ele chegou ir pra casa, ai voltou e ficou fazendo quimioterapia e radioterapia, o cabelo caiu, aquela coisa toda, aqui (mostrou a região do pescoço e tórax com a mão) queimou tudo por causa da esofagite, queimou tudo, tudo, ficou em carne viva, a gente vivia passando pomada, dai começou a quimioterapia, as queimaduras eram da radioterapia por causa do capacete com os buraquinhos, criava aquelas feridas à gente tirava dele, e não queria tomar os remédios, no começo tomou as medicações, tava animadíssimo com o tratamento, pois ligava gente do Brasil inteiro pra ele, político, todo mundo, ligavam de todo lugar e deixava-o animado, tomava aquela fluoxetina também, que só no começo acho que faz efeito, depois piora, ai tava aceso, aceso, tava normal, assim tava normal, nunca vi doente, não cheguei ver ele doente, doente, só quando vi tava na UTI, na cama. Ele tava normal, saía, ia e vinha com os guris, a gente saía comer fora, isso bem no começo, depois comecei a fazer só em casa, porque a comida tinha

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que ser bem esmagadinha, quando passei pra fase de fazer só purê pra ele, arroz e feijão com bastante caldinho pra poder esmagar. Então fiquei em Porto Alegre tipo morando, fazia rancho. Purê todo dia, aí a gente não almoça mais fora por causa disso, porque até então ele saía pra passear, os guris levavam ele lá no parque da Redenção, no Brique da Redenção. O Márcio ia e vinha de São Paulo. Teve uma vez que ele passou mal aí ficou desanimado, num mau humor daqueles, porque acabou tudo, acabou o cigarro, acabaram as coisas de que ele gostava de fazer, aí veio injeção na barriga pra não sei o que, aí passou mal, escarrou sangue e foi internado no Hospital Pereira Filho de Porto Alegre, lembro tinha um pavilhão, aí já tava no Hospital Pereira Filho com duas coisas aqui (mostrou com a mão a região abdominal), pra sonda sei lá pra que era aquilo, então vendo aquilo ele tava enjoado, coitado, tinha que pedir pra ele comer, pois ele não queria comer devido à esofagite causada pelas radioterapias. Aí comemoramos o aniversário do Márcio, não posso nem me lembrar, no dia 28 de julho, no hospital, encomendei um monte de coisas, fizemos lá no hospital mesmo, ele participou, cantamos parabéns tudo, como fazia tempo que estávamos por lá, já nos dávamos com as enfermeiras, com todo mundo, comprei quarenta caixas de bombons na época eu lembro, distribui pra todos que cuidavam deles, coloquei tudo lá nos armários do hospital. O Alexandre dormia todas as noites com ele, não me deixou dormir nenhuma noite lá, ele dormia sentado numa poltrona. Ficamos uns vinte dias no hospital, voltamos pra casa onde ficamos umas duas semanas, eu, achei que nós não voltávamos mais pro hospital, disseram que o tumor tinha regredido, não sei da onde regrediu aquele maldito e depois deu aquele estouro todo. O tumor pelos exames tinha regredido em dois terços. O Amaury recebeu visita do senador Pedro Simon, do Alceu Collares. No dia dos pais ele estava em casa, fizemos um churrasco e foi um dia que ele comeu muito bem, pois não sentia fome, uma época não podia comer quase nada. Enquanto pensava que estava tudo bem, numa segunda-feira à noite, eu estava na sala assistindo TV com Alexandre e ele disse aí nega não to me sentindo muito bem, o Alexandre acha que devo ir ao hospital, pra ver o que é depois o Alexandre me falou que ele estava tossindo muito e escarrou sangue, então resolveu levar ele na hora pro hospital. Aí ele foi pro hospital e não teve mais volta. Na mesa de cirurgia quando o Dr. Camargo estava examinando ele, estourou o câncer e ele começou a escarrar sangue direto pela boca, ia morrer em seguida se não fizesse a cirurgia, foi obrigado a operar, ele não queria, disse que não adiantava o câncer já tinha se espalhado, resolveu operar porque não tinha jeito, ali era salvação na hora. Fez a cirurgia, foi pra UTI, no sábado quando fui visitá-lo estava dormindo ainda, em processo de recuperação. No domingo, quando cheguei ao hospital, os guris disseram o papai tá acordado e está conversando, foi uma alegria pra nós, o contrário pra ele que estava achando uma droga tudo aquilo, deu inclusive uma bronca em todos nós, eu disse calma negrinho, calma nada disse ele, então eu disse já tá melhor, tá o mesmo. Fomos embora, maravilha, amanhã ele tá melhor a gente conversa. No dia seguinte ele piorou, estava cheio de fiação e não acordou mais. Começamos a rezar, fazer novenas, levamos a imagem da Santa Rita de Cássia pra UTI, então começou o dilema, uma hora melhorava outra piorava, o rim parava de funcionar depois voltava a funcionar, nós vibrávamos a cada melhora, foi aquele sofrimento, a gente só podia entrar uma vez por dia pra olhar ele, os guris podiam mais, então ele começou a inchar. No outro dia quando voltei pra vê-lo, os guris disseram, mamãe não te assusta, o papai ta todo inchado, o Amaury não era mais ele, ele tava magrinho e de repente inchou tanto que não se reconhecia, sem cabelo, e daquele tamanho, parecia que não era ele. As enfermeiras começaram a forrar as mãos dele, os pés, ele tava todo enrolado, pois qualquer batidinha podia sangrar. Nós íamos pra lá todo dia e sempre daquele jeito, cheio de tubo pra tudo quanto era lado, nada de melhora. Na quarta-feira, ligaram avisando que ele tinha dado uma melhora e na madrugada de sexta-feira, sabe aquela história que falam, parece que melhora pra morrer, me acordaram às seis horas da manhã no dia 31 de agosto pra dizer que ele tinha morrido às três horas da madrugada. Mas na quinta-feira o Dr. Camargo já tinha conversado com o Márcio, eu desconfiei, estava na sala, ele ligou se despedindo, que tinha gostado e admirava muito a família, depois o Márcio me contou que ele disse que não tinha mais o que fazer. Meu irmão, o Renato apareceu em Porto Alegre na quinta-feira, quando era pra ir na sexta-feira, ele disse que estava lá pra

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dar uma força, eu achei meio estranho, acho que o Márcio os avisou que o Amaury não passava daquela noite. O Samir e o Ibrahim ficaram aqui em Ijui pra organizar as coisas e contaram com uma ajuda fantástica, da criatura mais leal que o Amaury teve até hoje, de todos os políticos, cabos eleitorais, graduados e letrados, era o homem mais fiel que ele teve até hoje, foi Sérgio Côrrea, foi ele que providenciou tudo, o enterro, o carro de bombeiros, a câmara de vereadores, o Sérgio providenciou tudo e até hoje eu o considero das pessoas que trabalharam com o Amaury a mais leal, de todos que eu conheci, sem interesse, que ficam ao teu lado mesmo depois, quando não tem mais mandado, que não é mais autoridade, que não dá mais emprego, mesmo assim permaneceu fiel até o último minuto. Viemos de Porto Alegre na sexta-feira, demorou pra liberar o corpo, pois tinha que passar em vários lugares, cartório, fórum. Chegamos aqui à tardinha, aí pelas cinco horas e o enterro foi no dia seguinte às dez horas da manhã no cemitério municipal de Ijui [...]. (trecho da entrevista concedida à autora no dia 03/11/2009, por Samira El Ammar).

O depoimento de Samira, tal qual gravado durante a entrevista, nos leva a ter uma

visão íntima do drama de Amaury Müller, pois a intimidade com que se tratavam

(negrinho/negrinha), a teimosia de Amaury em buscar ajuda médica, o trato com a filha

Fernanda (Nanda) que ficou em Brasília, assim como a atenção de amigos e familiares mostra

o quanto Amaury era amado e respeitado. Samira não mediu palavras ou cercou-se de floreios

lingüísticos para disfarçar o carinho que sentia pelo marido e o quanto esse período de sua

vida foi dolorido. Últimas fotos com a família.

FOTO 30: Amaury com a família em Porto Alegre no seu último Natal em Dezembro de 2000. (foto do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).

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FOTO 31: Amaury com a família em Brasília no seu último Revellion em Dezembro de 2000. (foto do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).

FOTO 32: Foto da entrevista: pesquisadora Simone Drunn e Samira El Ammar Muller, no dia 03 de Novembro de 2009.

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3.7 Homenagens Póstumas

Nos dias em que seguiu a morte de Amaury Müller, na Câmara de Deputados,

seus colegas de plenário prestaram suas últimas homenagens, entre os dias 31 de agosto de

2001 a 05 de setembro de 2001. Seus colegas demonstraram o carinho, orgulho e respeito que

tinham por ele. Por ser um político preocupado com as causas e injustiças sócias, deixou

saudades, recordações e um caminho que deveria ser seguido por muitos políticos que hoje se

encontram no plenário. Aqui vou relatar alguns depoimentos de colegas, amigos e familiares.

Acho interessante destacar esses depoimentos pra se ter uma visão de um ângulo diferente,

não só dos familiares.

Trecho do depoimento proferido pelo Deputado Marcondes Gadelha:

[...] era um jornalista militante, intelectual consumado, rigoroso, disciplinado, dotado de raciocínio cartesiano, elegante no texto. Deixou dois livros escritos: “Ideologia e Desenvolvimento” e “Ponto Critico”.

Mas, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, era a ação que o seduzia, a luta, o combate em campo aberto que o atraíam [...] ( trecho do pronunciamento feito pelo deputado e colega Marcondes Gadelha (PFL – PB), no dia 31 de Agosto de 2001, em Brasília). (anexo pronunciamento completo/anexo nº. 1).

Trecho do depoimento proferido pelo líder do PDT e Deputado Alceu Collares:

[...] em nome da direção nacional e da liderança do PDT, registro com tristeza o falecimento, na cidade de Porto Alegre no dia 31 último, o deputado Amaury Müller.

O companheiro Amaury Müller, durante cinco legislaturas, foi uma das grandes lideranças políticas do parlamento brasileiro [...] (trecho do depoimento proferido pelo deputado Alceu Collares, no dia 05 de setembro de 2001). (anexo pronunciamento completo/anexo nº. 2).

Trecho do depoimento proferido pelo Deputado Paulo Paim:

[...] Amaury Muller, Sr. Presidente, é um daqueles homens que a história do nosso País e do mundo jamais esquecerá por sua luta internacional contra o preconceito [...]. (trecho do depoimento proferido pelo Deputado Paulo Paim ( PT-RS) no dia 31 de agosto). (anexo pronunciamento completo/anexo nº. 3).

Trecho do depoimento proferido pelo Deputado Renato Vianna:

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[...] muito me orgulha, Senhor Presidente, a mim e a minha família, o privilégio de ter compartilhado, por mais de 20 anos, com a amizade sempre leal e fraterna de Amaury Muller, sua esposa Samira e seus filhos Márcio, Alexandre e Fernanda [...]. (trecho do pronunciamento feito pelo deputado Renato Vianna (PMDB/SC), no dia 05 de setembro de 2001). (anexo pronunciamento completo/anexo nº. 4).

Trecho do depoimento proferido pelo Deputado Eunício Oliveira:

[...] admitida pelo Governo revolucionário à formação de dois partidos políticos, a ARENA (a serviço do autoritarismo dominante) e o MDB, de oposição consentida, Amaury Muller ingressou no MDB, do qual foi um dos fundadores e Secretário Geral [...] (trecho do depoimento proferido pelo deputado Eunício Oliveira (PMDB-RS), no dia 05 de setembro de 2001). (anexo depoimento completo/anexo nº. 5).

Trecho do depoimento concedido ao Jornal Hora H, pelo amigo e ex-vereador de

ijui, Jorge Luis Martins:

[...] o Amaury me inspirou a ser político, ele jamais será esquecido, pois era um político eficaz, dedicado, digno e respeitado por todos os partidos, ele lutava por direitos sociais, pelo povo [...] (entrevista concedida a João Anschau do Jornal Hora H dos dias 5 a 11 de setembro de 2003, caderno especial, p. 2 do amigo Jorge Luis Martins, ex-vereador de Ijui, do PDT/anexo nº. 6).

Esses são alguns depoimentos de amigos e colegas, o conteúdo completo

encontra-se em anexos.

Esse é um procedimento normal da Câmara, entre colegas e amigos de plenário.

Coloquei também em anexo uma reportagem realizada por João Anschau do

Jornal Hora H, do dia 5 a 11 de setembro de 2003, caderno especial. (jornal Hora H caderno

especial anexo/anexo nº.15).

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CONCLUSÃO

Mais do que o principal núcleo de oposição ao regime militar, o Grupo Autêntico

do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) foi uma espécie de sementeira da mobilização

da sociedade contra o autoritarismo na década de 1970.

Entre os 23 parlamentares que integraram o grupo, Amaury Müller destacou-se

não apenas pela coragem cívica e nacionalismo que marcaram os autênticos, mas também por

uma atuação plural, versátil, característica acentuada na segunda fase da sua vida parlamentar,

nos anos 1980/90, já com o país redemocratizado e, de modo particular, nos trabalhos da

Assembléia Nacional Constituinte (1980/1990). Constituinte essa que foi uma das principais

bandeiras dos “autênticos”, e mote freqüente nos pronunciamentos feitos por Amaury tanto na

Câmara quanto em palestras para diferentes segmentos da sociedade, bem como nas

campanhas eleitorais.

Durante a Assembléia, em manifestações individuais ou integradas às forças

progressistas que nela atuaram, o representante gaúcho se dedicou à defesa de avanços

sociais, aí incluídos a reforma agrária “massiva, radical e profunda”, como ele reclamava, dos

direitos individuais e do monopólio de setores estratégicos como o petróleo e as

telecomunicações, idéias que até Constituinte tiveram peso, mas que foram arrefecidas na

década seguinte, com a prevalência da cartilha neoliberal.

Na realidade, a defesa do petróleo brasileiro, ainda no movimento secundarista,

foi um dos marcos do engajamento de Amaury no processo político, que teve seqüência, no

período universitário, com destacada atuação, como dirigente e orador, nos centros

acadêmicos de cursos de economia, jornalismo e direito, liderança que tornou natural sua

participação em todos os Congressos da UNE ocorridos antes do golpe de 1964.

Desde sempre, Amaury conciliou esse caráter nacionalista, construído a partir do

movimento estudantil, e permanente defesa dos interesses do Rio Grande do Sul, com uma

visão universal e multirracial dos problemas.

Essa personalidade politicamente tão complexa pode ser explicada por fatores tão

diversos, quanto o genético e os ambientes em que desenvolveu a sua formação: o trabalho

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precoce (aos sete anos) na pequena propriedade rural da família e logo em seguida, rica e

ascendente vida urbana – Cruz Alta, Porto Alegre, Ijuí, Brasília e dezenas de outras cidades

brasileiras, européias, asiáticas e africanas (árabes em especial), que ele visitou quase sempre

em conferências parlamentares ou a convite oficial. No sangue, de um lado – o paterno – a

mistura de alemão e polonês, e, de outro, a cruza de português, negro, índio e “remotamente

espanhol”, componente acrescido, afetivamente, pelo casamento com a libanesa de

nascimento Samira El Ammar, razão a mais de sua dedicação à causa Palestina, como

solidário que sempre foi, nas missões internacionais, e na atuação no Congresso, com todos os

povos de alguma forma vítimas da exploração e da violência.

A adversidade das prisões (em 1964) e da cassação do mandato de deputado

federal (em 1976) constitui um atestado do vigor demonstrado por Amaury no enfrentamento

do autoritarismo. Altivez presente até na crítica à Lei de Anistia de 1979, da qual foi

beneficiário, mesmo assim por ele qualificada de “capenga, míope, jamais ampla e irrestrita”,

embora tenha contemplado lideranças políticas então exiladas, em que se destacavam a figura

de Leonel Brizola e Miguel Arraes.

No retorno à Câmara, em 1983, manteve-se fiel aos compromissos e ideais de

antes da cassação, manteve sua coerência.

O nacionalismo, a experiência de vida, a formação ideológica, enfim, tornaram o

economista Amaury um profissional e político incompatível com as visões simplistas e

economistas da ordem econômica mundial. Na essência – descontados arroubos retóricos –

Amaury sempre demonstrou essa preocupação de ir fundo ao âmago das questões. Contido (e

distante, muito distante) da verdade ele só se mostrava na avaliação dos seus próprios méritos.

Amaury, na realidade foi grande não só na coragem, determinação e no engajamento às

bandeiras sustentadas pelo Grupo Autêntico, mas em toda a sua vida pública.

Com o presente trabalho, podemos concluir que, mesmo perante crises,

dificuldades, não devemos nos deixar abater e nos levar por caminhos que não são de nossa

ideologia, precisamos manter a cabeça fria e seguirmos lutando e brigando por nossos ideais e

objetivos.

Como o exemplo de Amaury, que mesmo depois de ter passado por prisões,

cassação, não baixou a cabeça nem se deixou influenciar, intimidar por idéias, julgadas por

ele como corruptas, mantendo assim a chama do idealismo acesa.

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Ao fazer esta pesquisa biográfica de Amaury Muller, descobri fatos que ainda não

conhecia sobre a ditadura. As leituras me levaram a conhecer detalhes mais específicos da

ditadura, o que ela foi e como aconteceu e os rumos que o país tomou sob o seu governo.

Assim como os crimes cometidos por brasileiros a favor do regime contra brasileiros contra o

regime. Também quero citar a importância do grupo dos Autênticos na luta pela libertação do

país, pois essa é uma parte desconhecida da história e que merece ser lembrada, pois, sem

dúvida alguma, ajudou o país a chegar a sua redemocratização.

E assim ao concluir esta pesquisa, percebi que o trabalho foi válido e muito

satisfatório, permitiu-me aprofundar mais na política local (Ijui) e região, e ver quão grande e

interessante ela é e foi. Ficam aqui registradas muitas das teorias estudadas, debatidas durante

o longo percurso de meu curso de História.

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REFERÊNCIAS

Bibliográficas:

ALVES, Maria Helena Moreira. Estado e Oposição no Brasil (1964-1984). São Paulo: Vozes, 1987.

ARNS, Evaristo (Org.) Brasil Nunca Mais. Petrópolis: Vozes, 1988.

BORIS, Fausto. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 2003.

COLLING, Ana Maria. A Resistência da Mulher à Ditadura Militar no Brasil. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1997.

FÈLIX, Loiva Otero. História e memoria: a problemática da pesquisa. Passo Fundo: Ediupf, 1998.

NADER, Ana Beatriz. Autênticos do MDB Semeadores da Democracia História Oral de Vida

Política, São Paulo: Paz e Terra, 1998.

Documentais:

Ficha biográfica.

Fotos do acervo de Samira El Ammar Muller.

Orais:

Entrevista com: Samira El Ammar Muller.

Periódicos:

Anschau, João. Jornal Hora H Gente, caderno especial. Amaury Müller: Um Apóstolo da Democracia. Ijuí, 5 a 11 de setembro de 2003, p.01-03.

Virtuais:

(Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/ditadura> Acesso em: 10 set. 2008).

(Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Nova_Rep%C3%BAblica> Acesso em: 10 set. 2008).

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70

(Disponível em: <http://www2.camara.gov.br/amaury/muller/wicket:interface> Acesso em: 15 outubro de 2009).

(Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Redemocratiza%C3%A7%C3%A3o> Acesso em: 15 outubro de 2009).

(Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Nova_Rep%C3%BAblica> Acesso em: 15 outubro de 2009).

(Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Diretas_J%C3%A1> Acesso em: 15 outubro de 2009).

( Disponível em: <http://diap.ps5.com.br/file/2491.pdf. > Acesso em: 15 janeiro de 2010).

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ANEXOS

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ANEXO I – PRONUNCIAMENTO DO DEPUTADO MARCONDES

GADELHA (PFL-PB)

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ANEXO II – DISCURSO PROFERIDO NA SESSÃO DO CONGRESSO

NACIONAL, NO DIA 05 DE SETEMBRO DE 2001, PELO DEPUTADO

ALCEU COLARES.

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ANEXO III – DISCURSO DO DEPUTADO PAULO PAIM

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ANEXO IV – DISCURSO DO DEPUTADO RENATO VIANNA

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ANEXO V - DISCURSO DO DEPUTADO EUNÍCIO OLIVEIRA

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ANEXO VI E VII – DEPOIMENTO DO AMIGO JORGE LUIS

MARTINS, E REPORTAGEM INTEIRA DO JORNAL HORA H.

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ANEXOS DIVERSOS

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