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FACULDADES INTEGRADAS DO BRASIL - UNIBRASIL ESCOLA DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES TATIANNE BERNARDO DE BRITO AS CONTRIBUIÇÕES DO PROGRAMA BANCO DE ALIMENTOS DA CEASA/PR, UNIDADE DE CURITIBA, COMO UM MECANISMO DA POLÍTICA DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL. CURITIBA 2010

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FACULDADES INTEGRADAS DO BRASIL - UNIBRASIL

ESCOLA DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES

TATIANNE BERNARDO DE BRITO

AS CONTRIBUIÇÕES DO PROGRAMA BANCO DE ALIMENTOS DA CEASA/PR,

UNIDADE DE CURITIBA, COMO UM MECANISMO DA POLÍTICA DE

SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL.

CURITIBA

2010

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TATIANNE BERNARDO DE BRITO

AS CONTRIBUIÇÕES DO PROGRAMA BANCO DE ALIMENTOS DA CEASA/PR,

UNIDADE DE CURITIBA, COMO UM MECANISMO DA POLÍTICA DE

SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL.

CURITIBA

2010

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado para obtenção do título

de Bacharel em Serviço Social –

Faculdades Integradas do Brasil -

UNIBRASIL.

Professora Orientadora: Melissa

Ferreira Portes.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço todas as dificuldades que enfrentei; não fosse por elas, eu não teria saído

do lugar. As facilidades nos impedem de caminhar. Mesmo as críticas nos auxiliam

muito.

Chico Xavier

Agradeço primeiramente a Deus, por fazer cada dia de minha vida mais uma vitória.

Agradeço aos meus familiares. Agradeço principalmente aos meus pais por tornarem esse sonho realidade, por toda dedicação e esforço, vocês são a razão que me impulsionam a nunca desistir dos meus desejos.

Agradeço a minha cunhada Ineide pela preocupação e interesse em contribuir com essa minha realização.

Agradeço carinhosamente ao meu padrinho Sergio, pois foi ele quem me auxiliou na escolha por esta profissão.

Agradeço a minha supervisora de campo de Estágio Edite, mais que supervisora ganhei uma amiga, e a Clarice por todas as orientações, pois me auxiliou para a construção de uma postura crítica da realidade.

Agradeço minha orientadora Melissa, pelo incentivo da construção desta pesquisa.

Agradeço a minhas amigas Evania, Jhecy e Iza, pela força, cumplicidade e amizade nesses quatro anos de faculdade.

Em fim, agradeço a todos que acompanharam esta minha caminhada.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BA - BANCO DE ALIMENTOS

BNDE - BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

CE - ESTADO DO CEARÁ

CEASA/PR - CENTRAIS DE ABASTECIMENTO DO PARANÁ

CEAGE/SP - ENTREPOSTOS GERAIS DO ESTADO DE SÃO PAULO

CIBRAZEN - COMPANHIA BRASILEIRA DE ARMAZENAMENTO

CIC - CIDADE INDUSTRIAL DE CURITIBA

CMAS - CONSELHO MUNCIPAL DA ASSISTÊNCIA SOCIAL

CME - CAMPANHA DA MERENDA ESCOLAR

CNAN - CONFERÊNCIA NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO NUTRICIONAL

CNPJ - CADASTRO NACIONAL DA PESSOA JURÍDICA

CNSAN - CONFERÊNCIA NACIONAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR E

NUTRICIONAL

COBAL - COMPANHIA BRASILEIRA DE ALIMENTOS

COEP - COMITÊ DE ENTIDADES PÚBLICAS NO COMBATE À FOME

CONSEA - CONSELHO NACIONAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL

COOPNUTRI - PROJETO DE COOPERAÇÃO NUTRICIONAL

CRAS - CENTROS DE REFERÊCNIA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL

DESAN - DEPARTAMENTO DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL

DHAA - DIRETO HUMANO À ALIMENTAÇÃOI ADEQUADA

DIVAS - DIVISÃO SOCIAL

EAN - EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL

FAO - ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA ALIMENTAÇÃO E

AGRICULTURA

FBSAN - FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA ALIMENTAR

FESAN FÓRUM ESTADUAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL

FINEP - FINANCIADORA DE ESTUDOS E PROJETOS

FMI - FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL

GEASAN - GRUPO DE ESTUDOS E AÇÕES EM SEGURANÇA ALIMENTAR E

NUTRICIONAL

GEMAB - GRUPO EXECUTIVO DE MODERNIZAÇÃO DO SISTEMA DE

ABASTECIMENTO

GERAP - GERÊNCIA DA ASSESSORIA DA PRESIDÊNCIA

INAN - INSTITUTO NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO

IPEA - INSTITUTO DE PESQUISAS ECONÔMICAS APLICADAS

LOSAN - LEI ORGÂNICA DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL

MDA - MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO

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MDS - MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME

ONG - ORGANIZAÇÃO NÃO GOVERNAMENTAL

ONU - ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS

PAA - PROGRAMA DE AQUISIÇÃO DE ALIMENTOS

PAT - PROGRAMA DE ALIMENTAÇÃO DO TRABALHADOR

PE - ESTADO DE PERNAMBUCO

PEC - PROPOSTA DE EMENDA CONSTITUCIONAL

PNAE - PROGRAMA NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO ESCOLAR

PNSAN - POLÍTICA NACIONAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL

PR - ESTADO DO PARANÁ

PROVOPAR - PROGRAMA DE VOLUNTÁRIADO PARANAENSE

SAAPS - SERVIÇO DE ALIMENTAÇÃO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL

SAN - SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL

SETP - SECRETARIA DE ESTADO DO TRABALHO, EMPREGO E PROMOÇÃO

SOCIAL

SINAC - SISTEMA NACIONAL DE CENTRAIS DE ABASTECIMENTO

SISAN - SISTEMA NACIONAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL

SSAN - SISTEMA NACIONAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL

SUAS - SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

UNICEF - FUNDO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A INFÂNCIA

LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 ENTIDADES SOCIAIS CADASTRADS NO BA............................................ 53

GRÁFICO 2 ENTIDADES CADASTRADS APÓS NOVEMBRO/2008.............................. 54

GRÁFICO 3 FREQÜÊNCIA GERAL E ANUAL DO ATENDIMENTO REALIZADO AS

ENTIDADES SOCIAIS EM 2009..................................................................

55

GRÁFICO 4 DIA DE RETIRADA DOS PRODUTOS EM 2009......................................... 56

GRÁFICO 5 DIA EFETIVO DA RETIRADA DE PRODUTOS EM 2009............................ 58

GRÁFICO 6 DOCUMENTOS NECESSÁRIOS PARA O CADASTRO............................. 59

GRÁFICO 7 MUNICÍPIOS DAS ENTIDADES SOCIAIS CADASTRADAS....................... 60

GRÁFICO 8 LOCALIZAÇÃO POR REGIONAIS DAS ENTIDADES CADASTRADAS..... 61

GRÁFICO 9 MODALIDADE DE ATENDIMENTO............................................................. 62

GRÁFICO 10A PÚBLICO ALVO............................................................................................ 63

GRÁFICO 10B PÚBLICO ALVO............................................................................................ 64

GRÁFICO 11 PESSOAS ATENDIDAS PELAS ENTIDADES POR FAIXA ETÁRIA........... 65

GRÁFICO 12 DESTINAÇÃO DOS PRODUTOS RECEBIDOS PELO BA.......................... 66

GRÁFICO 13 ENTIDADES COM PROFISSIONAIS DE SERVIÇO SOCIAL...................... 67

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GRÁFICO 14 ENTIDADES COM PROFISSIONAIS DE NUTRIÇÃO................................. 68

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 DADOS INSTITUCIONAIS DA ASSOCIAÇÃO FEMININA DE

PROTEÇÃO À MATERNIDADE E A INFÂNCIA DE CURITIBA...................

69

TABELA 2 DADOS INSTITUCIONAIS DO PRECAVVIDA............................................. 70

TABELA 3 DADOS INSTITUCIONAIS DO INSTITUTO AMA........................................ 70

TABELA 4 DADOS INSTITUCIONAIS DO ROCHA VIVA PROMOÇÃO SOCIAL......... 71

TABELA 5 DADOS INSTITUCIONAIS DO LAR RECANTO TARUMÃ.......................... 71

TABELA 6 DADOS INSTITUCIONAIS DA ASSOCIAÇÃO COMUNITÁRIA DAS

VILAS ESPERANÇA E NOVA CONQUISTA................................................

72

TABELA 7A DADOS DOS PROFISSIONAIS PARTICIPANTES ATRAVÉS DE

ENTREVISTA................................................................................................

72

TABELA 7B DADOS DOS PROFISSIONAIS PARTICIPANTES ATRAVÉS DE

ENTREVISTA................................................................................................

73

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vii

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..............................................................................................................9CONHECENDO A SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL............................17

1.1 Da fome ao Direito Humano à Alimentação Adequada e Soberania Alimentar .......................... 17 1.2 Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil .............................................................................. 23 1.3 Redes de Equipamentos de Segurança Alimentar e Nutricional ............................................... 32

1.3.1 Restaurantes Populares ..................................................................................................... 32

1.3.2 Cozinhas Comunitárias ....................................................................................................... 33

1.3.3 Banco de Alimentos ............................................................................................................ 33

1.3.4 Feiras e Mercados Populares ............................................................................................. 33

1.3.5 Educação Alimentar e Nutricional ....................................................................................... 34

1.4 Segurança Alimentar e Nutricional no Estado do Paraná ......................................................... 35

2 CENTRAIS DE ABASTECIMENTO DO PARANÁ S.A. - Unidade Curitiba - E O PROGRAMA BANCO DE ALIMENTOS......................................................................38

2.1 Centrais de Abastecimento do Paraná S.A. .............................................................................. 38 2.2 Histórico dos Programas Sociais na Ceasa/PR, Unidade de Curitiba ....................................... 41

2.2.1 Projeto Compras Comunitárias ........................................................................................... 41

2.2.2 Projeto Mercadão Popular .................................................................................................. 42

2.2.3 Programa Armazém da Família .......................................................................................... 42

2.2.4 Projeto Cesta do Trabalhador ............................................................................................. 42

2.2.5 Projetos Nutricentro, Supersopa e de Cooperação Nutricional ........................................... 43

2.3 A Concepção do Banco de Alimentos no Âmbito Nacional ........................................................ 44 2.4 O Banco de Alimentos da Ceasa/PR, Unidade de Curitiba ....................................................... 48 2.5 Perfil das Entidades Atendidas: o Relato de uma Experiência .................................................. 51

2.5.1 Entidades Sociais Cadastradas no BA ............................................................................... 52

2.5.2 Entidades Cadastradas Após Novembro/2008 ................................................................... 53

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2.5.3 Freqüência Geral e Anual do Atendimento Realizado às Entidades Sociais em 2009 ....... 54

2.5.4 Dia de Retirada dos Produtos em 2009 .............................................................................. 55

2.5. 5 Dia Efetivo de Retirada de Produtos em 2009 ................................................................... 56

2.5. 6. Documentos Necessários para o Cadastro ...................................................................... 57

2.5.7 Municípios das Entidades Sociais Cadastradas ................................................................ 59

2.5.8 Localização por Regionais das Entidades Cadastradas .................................................... 60

2.5.9 Modalidade de Atendimento ............................................................................................... 61

2.5.10 Público Alvo ...................................................................................................................... 62

2.5. 11 Pessoas Atendidas pelas Entidades por Faixa Etária ...................................................... 64

2.5. 12 Destinação dos Produtos ................................................................................................ 65

2.5.13 Entidades com Profissionais de Serviço Social ................................................................ 66

2.5. 14 Entidades com Profissionais de Nutrição ......................................................................... 67

3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS EMPÍRICOS DA PESQUISA..........68 3.1 Apresentações das Entidades Sociais objeto de nossa pesquisa empírica ............................... 69

3.1.1 Dados Institucionais ............................................................................................................ 69

3.1.2 Dados dos Profissionais Participantes Através de Entrevista ............................................. 72

3.2 Análises dos Dados ................................................................................................................... 73

3.2.1 Entrevistas do Bloco 1 ........................................................................................................ 74

3.2.2 Entrevistas do Bloco 2 ........................................................................................................ 82

CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................92REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................96

PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO. Conhecendo o Programa de Alimentação Escolar (PAE) no Brasil. Disponível em: <http://portalsme.prefeitura.sp.gov.br/Projetos/merenda/Anonimo/prog_alimentacao/historicobrasil.aspx?MenuID=28&MenuIDAberto=11>. Acesso em 23 ago 2010 ........................................... 100

ANEXO......................................................................................................................102

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9

INTRODUÇÃO

Este trabalho é fruto da vivência no campo de estágio realizado pela

acadêmica no Programa Banco de Alimentos - BA, nas Centrais de

Abastecimento do Paraná - CEASA/PR, unidade Curitiba.

No decorrer das atividades desenvolvidas nesse estágio, várias questões

foram levantadas, especialmente sobre o entendimento que as entidades

sociais atendidas têm sobre o programa. O vínculo criado entre as partes é de

mera distribuição e recebimento de produtos, não tendo o BA um perfil social

das entidades sociais atendidas, ou seja, não há conhecimento de quem são

estas instituições, de quais ações são por elas desenvolvidas, e de qual é a

destinação concebida dos produtos recebidos através do BA.

Desta forma, se fez oportuno, conhecer as entidades sociais atendidas,

saber qual o trabalho que estas desenvolvem e qual o destino dado aos

produtos recebidos, bem como verificar o entendimento que as mesmas têm

sobre a atuação do BA.

Nesse sentido, foi elencado como tema para essa pesquisa, as

contribuições do programa BA da Ceasa/PR, unidade de Curitiba, como um

mecanismo da Política de Segurança Alimentar e Nutricional.

Foi eleito como objetivo geral a identificação da compreensão que as

entidades sociais atendidas pelo BA da Ceasa/PR, unidade de Curitiba, têm

acerca das contribuições do programa, como um mecanismo da Política de

Segurança Alimentar e Nutricional. Objetivos específicos, ou secundários,

colaborarão com o desenvolvimento da pesquisa através da identificação das

entidades sociais (e a determinação do destino dado aos produtos recebidos) e

do conhecimento e contextualização das atividades de cunho social

desenvolvidas pela CEASA/PR para a área alimentar (com maior ênfase no

BA). Além disso, o conhecimento da Política de Segurança Alimentar e

Nutricional servirá de referencial teórico para uma análise empírica do trabalho

realizado, tornando possível apontar os limites e as possibilidades do BA em

relação às entidades sociais atendidas pelo programa.

A CEASA/PR, ao longo dos anos, vem desenvolvendo ações de combate

ao desperdício de alimentos, contribuindo conseqüentemente para a

amenização da fome. Tais ações ocorrem não somente pelo desperdício, mas

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também pelo excedente de produtos hortigranjeiros comercializados

cotidianamente neste entreposto.

O desperdício nesse caso analisado ocorre por conta do processo

incorreto de manipulação dos alimentos, seja pela colheita tardia no campo

pelos produtores rurais, seja pelo manuseio e carregamento pelo meio de

transporte até a sua chegada na CEASA/PR.

No momento da entrega dos produtos hortigranjeiros à CEASA/PR, as

condições de higiene, de manuseio e de processamento em novas

embalagens, também propiciam para a não comercialização dos mesmos e,

assim, para desperdício.

Por outro lado, a busca de entidades sociais por alimentos gratuitos junto

ao comércio atacadista da CEASA/PR era uma constante problemática: como

não existiam programas de repasse de alimentos as pessoas se arriscavam

coletando produtos descartados em caçambas de lixo.

Para sanar a problemática do desperdício alimentar, e atender

socialmente entidades com necessidades específicas, a CEASA/PR passou a

desenvolver diversas ações de responsabilidade social. Todas as suas ações

nesse sentido serão apresentadas no segundo capítulo desta pesquisa através

de um resgate de seu trajeto histórico. As ações estratégicas de combate ao

desperdício de alimentos, atualmente, encaminha o excedente para o BA que,

por sua vez, distribui os produtos às entidades sociais cadastradas. Sendo

assim entende-se o BA como um mecanismo importante para a promoção da

Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), pois ao mesmo tempo em que

distribui alimentos para as entidades sociais necessitadas, está combatendo o

desperdício de alimentos.

Mister se faz ressaltar que quando a referência acima a SAN é feita

especialmente para uma alimentação adequada, ou seja, ao direito de um

cidadão comer dignamente sem exercer a coleta de alimentos em condições de

higiene precárias, fato esse ocorrido antes da existência dos programas sociais

dentro da CEASA/PR.

Falar em SAN é falar ainda de uma alimentação de qualidade, na qual o

indivíduo possa ter variedade de produtos e em quantidade suficiente, se

alimentando desta forma de acordo com sua necessidade e satisfação, não

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exigindo que algum membro de uma família tenha ingestão menor de

quantidade de alimentos, para suprir a necessidade dos demais.

Diante do exposto, pontualmente, verificou-se como problema para essa

pesquisa a determinação de qual a compreensão que as entidades sociais

atendidas pelo BA têm sobre as atribuições do programa, e qual sua relevância

enquanto um mecanismo de combate à fome e, por conseqüência, como um

mecanismo da Política de Segurança Alimentar e Nutricional.

Entende-se que o problema discutido nesse estudo contribuirá de

maneira positiva para as práticas adotadas pela CEASA/PR, pois possibilitará

que as entidades sociais entendam o BA como um programa social,

constituinte de uma política social que objetiva amenizar a fome. O estudo

servirá também como referência para o conhecimento de entidades sociais

sobre a existência do programa, para que as mesmas iniciem ou dêem

continuidade ao atendimento de usuários necessitados nesta perspectiva

alimentar.

Sendo a alimentação um direito social fundamental, esse estudo justifica-

se também pela possibilidade de compreensão e expansão da idéia de evitar o

desperdício de alimentos, sensibilizando produtores e comerciantes a doarem

seus excedentes para o BA, contribuindo para a garantia de continuidade do

programa e para a efetivação da Política de Segurança Alimentar e Nutricional.

A sensibilização quanto ao tema sobre a SAN vinculada em relação à

atuação do BA, remete ao pensamento do Ministro do Desenvolvimento Social

e Combate a Fome, Sr. Patrus Ananinas, que afirma:

A alimentação é o primeiro degrau constitutivo da dignidade humana. Direito elementar e sagrado. Sem comer adequadamente, nenhuma pessoa é capaz de produzir, de sonhar direitos mais elevados, de se desenvolver. (2008, p. 4).

O trabalho hoje desenvolvido pela CEASA/PR estimula, portanto, a

possibilidade de existência futura de uma Central de Abastecimento com baixo

índice de desperdício, com contribuição para melhorias ambientais; e que sua

atuação junto ao BA, e deste junto aos usuários do programa, permitirá que

pessoas que hoje se encontram em insegurança alimentar e nutricional,

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possam exercer sua cidadania suprindo suas necessidades básicas, para

assim almejar e desenvolver habilidades e aspirações.

Nesse ínterim, observando a fome como um fenômeno social que

desencadeia um processo de exclusão, impossibilitando para diversos

brasileiros o exercício de sua cidadania de forma elementar e positiva, parece

oportuno citar a teoria social crítica de Karl Marx como fundamento para a

elaboração desse estudo no que diz respeito às contradições presentes nas

relações sociais aqui avaliadas. Buscar-se-á meios de um entendimento

especifico no que diz respeito aos motivos que levaram a sociedade a pensar

na criação, evolução e manutenção de aparatos de combate a fome, bem como

para a verificação da relevância de tais aparatos para a parcela da sociedade

que é vítima do liberalismo econômico atual.

A análise das contribuições do BA como mecanismo de combate à fome

possibilitará o conhecimento da importância que as entidades sociais atendidas

depositam no programa. Dessa forma, será possível avaliar se o BA se trata

apenas de programa executor de políticas públicas, de forma paternalista e

assistencialista, ou se este desenvolve um trabalho social com vistas a resgatar

a dignidade da pessoa humana através de incentivo sustentável.

Nesse sentido, partindo de um pressuposto, que tais entidades sociais,

mesmo que no senso comum, tenham um breve conceito sobre a importância

da existência de programas de combate à fome e de políticas que os garantam,

se faz necessário à aplicabilidade de instrumentos que afirmem esse

pressuposto, permitindo desencadear um processo reflexivo a fim de

sensibilizá-las e torná-las multiplicadoras de tal conhecimento.

A partir de uma leitura crítica da realidade, onde o indivíduo, a partir de

uma realidade ampla, decifre as expressões da questão social, levando em

consideração as partes fragmentadas e interpretando-as como importantes

para tecer um conhecimento do fenômeno social, se faz possível através deste

estudo, entender as contribuições, os limites e as possibilidades da intervenção

das políticas públicas de combate à fome para uma parcela específica da

população.

Para tanto, o estudo em questão, pela natureza da pesquisa, será

abordado através do método quantitativo e qualitativo, partilhando assim do

pensamento de Silva e Menezes:

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Considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa. Não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador é o instrumento-chave. É descritiva. Os pesquisadores tendem a analisar seus dados indutivamente. O processo e seu significado são os focos principais de abordagem (2001, p. 20).

No que diz respeito à tipologia da pesquisa, optou-se pela pesquisa

descritiva, pois esta permite uma maior aproximação do objeto de estudo, para

conhecimento com maior intensidade da realidade do tema escolhido, através

de embasamento teórico fundamentado, criando uma prática de possibilidades

e estratégias de ação consciente à população que o estudo visa atingir, assim

como cita Silva e Menezes:

Visa descrever as características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis. Envolve o uso de técnicas padronizadas de coleta de dados: questionário e observação sistemática. Assume, em geral, a forma de levantamento. (2001, p. 21)

Utilizar-se-á como instrumento para coleta de dados a visita institucional,

que como descreve Afonso:

Apresenta-se como um instrumento do agir profissional do assistente social quando este – a partir de solicitação ou de sua própria iniciativa - entra em contato com informações sobre uma determinada situação social, as quais foram em busca para proceder à realização de um estudo social. Dessa forma, temos que a realização de uma visita institucional constitui uma das etapas da realização de um estudo social no meio institucional (2010, p.2).

A visita institucional possibilitará ainda a utilização de outros

instrumentos para a coleta de dados, como a observação direta, que se

constitui um instrumento para extrair dados mais próximos da realidade, pois

permite interagir com o usuário em seu contexto natural, assim como elucida

Chizzotti:

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A observação direta pode visar uma descrição “fina” dos componentes de uma situação: os sujeitos em seus aspectos pessoais e particulares, o local e suas circunstâncias, o tempo e suas variações, as ações e suas significações, os conflitos e a sintonia de relações interpessoais e sociais, e as atitudes e os comportamentos diante da realidade (2005, p. 90).

Utilizar-se-á como procedimento da observação direta o método

sistemático, que Cardoso descreve:

O registro da observação sistemática é feito freqüentemente mediante a utilização de folhas de papel com a lista de categorias a serem consideradas. Nesse sentido, há a necessidade de um conhecimento prévio acerca do fenômeno que será observado, bem como a clareza sobre os objetivos da observação, para a elaboração do roteiro (2007, p. 2, citado por Gil 1994).

Compreende-se como relevante e conveniente a aplicação de um

questionário para a realização do levantamento da realidade social das

entidades sociais envolvidas no processo. Sobre a aplicabilidade do

questionário como método quantitativo, elucida Chizzotti:

O questionário consiste em um conjunto de questões pré-elaboradas, sistemática e seqüencialmente dispostas em itens que constituem o tema da pesquisa, com o objetivo de suscitar dos informantes respostas por escrito ou verbalmente sobre assunto que os informantes saibam opinar ou informar (2005, p. 55).

Atualmente estão cadastradas no BA 265 entidades sociais; destas, 6

foram escolhidas como amostra para elaboração desse estudo. A opção

quantitativa deve-se ao tempo limitado para a coleta de dados e a distância

física das demais unidades atendidas. A escolha deu-se através do

levantamento do perfil social das entidades cadastradas, realizado durante o

período de estágio acadêmico, supervisionado pela Assistente Social de

campo, que indicava maior concentração de atendimentos na cidade de

Curitiba. Tal perfil acima citado será exposto adiante como relato de

experiência, no capítulo 3 desse estudo.

As entidades escolhidas para o estudo localizam-se em Regionais

delimitadas pela Prefeitura Municipal local, a saber: Bairro Novo, Boa Vista,

Boqueirão, Cajuru, Cidade Industrial de Curitiba (CIC), Matriz, Pinheirinho,

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Portão e Santa Felicidade. A localização das entidades facilitou também a

escolha, devido ao fato de não ser disponibilizado à pesquisadora recursos

materiais, físicos ou financeiros por parte do BA da CEASA/PR para o estudo.

O roteiro de visitas a 4 entidades foi elaborado para o momento em que

elas receberiam e serviriam as doações do BA aos seus usuários. Essa opção

foi escolhida, com base no perfil institucional das mesmas, para verificação da

manipulação dos produtos recebidos, que se dá “in locus”. Outras duas

entidades foram visitas no momento de recebimento e distribuição dos

produtos para verificação do trabalho social desenvolvido.

A escolha do profissional para conceder entrevista teve como referencial

primordial a sua área de atuação, preferencialmente de Serviço Social e/ou

Nutrição. Na ausência desses profissionais graduados, optou-se pelo

responsável direto pela entidade, seja esse o presidente ou a pessoa com

maior integração as atividades desenvolvidas na instituição.

Posteriormente a coleta de dados e informações, foi elaborada a análise

do conteúdo obtido. Bardin (1977, p. 42) considera que “A análise de conteúdo

se constrói em um conjunto de instrumentos metodológicos que asseguram a

objetividade, sistematização e influências aplicadas aos discursos diversos”.

Em relação à entrevista semi-estrutura, partilha-se das considerações de

Manzini:

(...) A entrevista semi-estruturada está focalizada em um assunto sobre o qual confeccionamos um roteiro com perguntas principais, complementadas por outras questões inerentes às circunstâncias momentâneas à entrevista. Para o autor, esse tipo de entrevista pode fazer emergir informações de forma mais livre e as respostas não estão condicionadas a uma padronização de alternativas (1990/1991, p. 2).

A presente pesquisa contém três capítulos.

Em seu primeiro capítulo, discorre-se sobre a temática de SAN, a

importância do Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA), o histórico

da SAN no Brasil e no Estado do Paraná e quais os mecanismos existentes

para que tal tema se efetive.

O segundo capítulo tratará da CEASA/PR, unidade de Curitiba, de quais

foram os programas de cunho social que existiram no decorrer dos anos até a

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efetivação do programa BA. A respeito do BA, apresentar-se-á descrição sobre

sua atuação e das entidades por ele atendidas, através da exposição de um

perfil social, elaborado durante o percurso acadêmico da pesquisadora.

No terceiro capítulo foi realizada a análise prática, executada juntamente

às entidades sociais atendidas, assim como elucidado anteriormente.

Realizamos por fim as considerações finais do estudo ora elaborados.

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CONHECENDO A SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL

Pretende-se com este capítulo efetivar o conhecimento sobre Segurança

Alimentar e Nutricional, atribuindo a importância ao DHAA para a consolidação

dessa temática, e levantando informações sobre seu processo de construção

no contexto histórico do Brasil e do Estado do Paraná. O levantamento desses

dados poderá verificar de forma efetiva quais as possibilidades dos programas

públicos estabelecidos de amenizar a fome da população que se encontra em

situação de vulnerabilidade social e, portanto, em insegurança alimentar e

nutricional.

1.1 Da fome ao Direito Humano à Alimentação Adequada e Soberania

Alimentar

Partilhamos das considerações de Burity [et AL], ao falar sobre a fome

assim a considera:

A manifestação mais grave da insegurança alimentar e nutricional é a fome. Mas o estado de insegurança alimentar e nutricional deve ser percebido em seus variados graus, que envolvem desde dimensões psicológicas até manifestações físicas que comprometem e colocam em risco a saúde e a própria vida das pessoas (2010, p. 26).

Segundo Ribeiro:

Todos os estudos sobre a fome carregam implícita ou explicitamente uma concepção sobre a alimentação. Isso porque a fome é um conceito que se define na sua relação com a alimentação. Assim, pode-se dizer que o conceito que se tem sobre a alimentação indica a compreensão que se tem da fome (2008, p. 14).

A fome segundo Helene, Marcondes e Nunes (2002) a fome deve ser

conceituada em dois aspectos: o primeiro trata da fome crônica, que

conceituam como sendo a privação constante de nutrientes, ou seja, o

indivíduo convivendo com a falta parcial, precária ou quase nula de uma

alimentação adequada, que possibilitaria a este sanar suas necessidades vitais

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e assim desenvolver-se, portanto seria o primeiro estágio da fome. O segundo

aspecto, de acordo com os autores, trata da fome aguda, e esta é a face mais

cruel da fome, pois leva o individuo a morte, ou seja, a fome aguda é

decorrente da crônica, pois intensifica a falta de alimentos.

No pensar de Conti (2009) “A fome é definida como um conjunto de

sensações provocadas pela privação de nutrientes que incitam a pessoa a

procurar alimentos e que cessam com sua ingestão”.

Neste processo, podemos engrenar e desencadear o histórico da

sociedade brasileira que viveu e vive em situação de falta e privação da

ingestão de alimentos para sua sobrevivência. Assim como elucida Valente:

Como bem sabemos, a história das carências alimentares e nutricionais no Brasil começa com a ocupação da nova colônia pelos portugueses em 1500. O primeiro relato refere-se aos nativos escravizados que morriam de fome ao recusar-se a comer em cativeiro. Prossegue no Brasil colônia e Império, com os negros escravos e pequenos produtores rurais agregados às grandes propriedades. Estende-se por todo o período da Velha Republica e do Estado Novo, no Nordeste, nas áreas rurais e nas periferias de todas as maiores cidades do País. Agravava-se com processo de intensa modernização conservadora da agricultura. Chegamos aos dias de hoje com 32 milhões de brasileiros incluídos no Mapa da Fome e espalhados por todo país, mesmo que concentrados no Nordeste, nas áreas rurais e nas grandes metrópoles (2002, p. 43).

Partilhando também da ilustre idéia de um dos precursores da questão

da fome, Josué de Castro, que em sua obra prima Geografia da Fome, mapeou

geograficamente o quadro de desnutrição do Brasil, faz suas considerações

sobre o tema, dizendo que:

A alimentação do brasileiro tem-se revelado, à luz dos inquéritos sociais realizados, com qualidades nutritivas bem precárias, apresentado, nas diferentes regiões do país, padrões dietéticos mais ou menos incompletos e desarmônicos. Numas regiões, os erros e defeitos são mais graves e vive-se num estado de fome crônica; noutras, são mais discretos e tem-se a subnutrição. Procurando investigar as causas fundamentais dessa alimentação em regra tão defeituosa e que tem pesado tão duramente na evolução econômico-social do povo, chega à conclusão de que elas são mais produtos de fatores sócio-culturais do que de fatores de natureza geográfica (1984, p.280).

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19

Levando em consideração que a problemática da fome começou a se

acentuar com o novo modelo econômico efetivado no Brasil na década de 30,

quando trabalhadores rurais passam a migrar para os grandes centros em

busca de emprego nas fábricas, por salários desproporcionais à condição de

vida que eles deveriam ter, desta maneira a questão social fome, se agravou

ainda mais. É o que atesta Parrino ao citar:

A questão da fome viu-se agravada e mais dramaticamente exposta no Brasil nos anos 30 do século passado, com o início da industrialização, que fomentou a urbanização do País e inseriu massas empobrecidas na cena política nacional (2009, p. 23).

Diretamente ligada à idéia de massas empobrecidas e famintas citadas

por PARRINO acima, Bomfim relata:

Em primeiro lugar, é preciso considerar que, não sendo a fome no Brasil um problema epidêmico, sua natureza é política e econômica, ou seja, não provém de calamidades ou de um regime de escassez, mais, sim, da falta de recursos da população mais pobre para comprar alimentos (2000, p. 2).

É o que também afirma Martins (1996) dizendo que “A grande limitação

está decididamente no acesso ao alimento que, colocado no mercado, é

apenas acessível a quem disponha de renda”.

Contribuindo com tais análises, pode-se enunciar também o pensar de

Silva, que ao realizar uma pesquisa empírica no Vale do Jequitinhonha-MG,

considerada umas das regiões do país com índices mais elevados de pobreza

na década de 1970.

Contar a história da fome nesta região é contar a história de expropriação de seus camponeses e, ao mesmo tempo, entender a fome como um fenômeno produzido por relações sociais, logo, um fenômeno cuja compreensão exige não a análise da fome em si, mas uma análise contextualizada e reveladora do pólo produtor fome. Parte-se do princípio de que a fome é produzida (1996, p. 32).

Nos estudos de Valente (2002) se pode encontrar uma explicação para a

importância do ato de se alimentar. Segundo o autor a alimentação vai além da

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20

mera ingestão da ração nutricional; o indivíduo transformou tal ato em um rico

ritual de criatividade, de partilha, de carinho, de comunhão e solidariedade

entre os seres humanos. Essa idéia está diretamente ligada à concepção

marxista, que descreve a alimentação não como um ato natural/individual de

cada sujeito e sim como um ato social.

Ainda partilhando das considerações de Valente (2002) o autor lembra

também que existem milhares de pessoas que sequer tem acesso a uma

alimentação saudável, que possa sanar primeiramente suas necessidades

vitais, para depois sim transformar o rito da alimentação em uma atividade de

socialização e partilha.

Não obstante, podemos encontrar no olhar das ciências sociais o seu

pensar sobre o ato de se alimentar, assim como elucida Canesqui e Garcia:

Não comemos apenas quantidades de nutrientes e calorias para manter o funcionamento corporal em nível adequado, pois há muito tempo os antropólogos afirmam que o comer envolve seleção, escolhas, ocasiões e rituais, embrica-se com a sociabilidade, com idéias e significados, com as interpretações de experiências e situações (2005, p. 9).

Fica evidente, assim como elucida Valente:

Que ao faminto não se nega apenas o nutriente, mais sim o prazer de comer, de compartilhar as refeições com amigos e familiares, viver seus hábitos e práticas alimentares que foram construídos e reconstruídos por sua cultura e história (2002, p. 28).

É nesse sentindo, por questões aqui elucidadas, que a SAN, começou a

se tornar uma temática de interesse mundial. Tanto esse fato é verdadeiro que

o embrião do DHAA está contemplado na Declaração Universal dos Direitos

Humanos de 1948 – elaborada com o intuito de reconstruir os direitos

humanos, resgatando valores éticos, de forma a orientar a ordem mundial,

após o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Em seu artigo 25, a Declaração Universal dos Direitos Humanos declara:

Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez,

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viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência fora de seu controle.

Como forma de maior efetivação desta garantia do direito a alimentação,

em 1966, o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais,

em seu artigo 11, pela primeira vez através da expressão DHAA, contemplou:

1. Os Estados-partes no presente Pacto reconhecem o direito de toda pessoa a um nível de vida adequado para si próprio e para sua família, inclusive à alimentação, vestimenta e moradia adequadas, assim como uma melhoria contínua de suas condições de vida. Os Estados-partes tomarão medidas apropriadas para assegurar a consecução desse direito, reconhecendo, nesse sentido, a importância essencial da cooperação internacional fundada no livre consentimento.

2. Os Estados Partes no presente Pacto, reconhecendo o direito fundamental de toda pessoa a estar livre da fome, adotarão, individualmente e mediante a cooperação internacional, as medidas, inclusive programas concretos, necessárias para:

a) Melhorar os métodos de produção, conservação e distribuição de gêneros alimentícios pela plena utilização dos conhecimentos técnicos e científicos, pela difusão de princípios de educação nutricional e pelo aperfeiçoamento ou reforma dos regimes agrários, de maneira que se assegurem a exploração e a utilização mais eficazes dos recursos naturais.

b) Assegurar uma repartição eqüitativa dos recursos alimentícios mundiais em relação às necessidades, levando-se em conta os problemas tanto dos países importadores quanto dos exportadores de gêneros alimentícios.

Ao se referir sobre o DHAA os autores GOMES e PEREIRA (2009)

afirmam que o acesso a uma alimentação de qualidade, em quantidade

suficiente e nutrição plena, é fundamental para se garantir o direito à vida. Eles

ressaltam ainda que o DHAA está sendo incorporado a sociedade brasileira

como um direito.

Desta forma Valente (2002) afirma que o DHAA começa pela luta contra

fome, onde se começa a pensar em estratégias de garantia para todos os

cidadãos ao acesso a alimentos em quantidade e qualidade suficiente,

atendendo sobremaneira suas necessidades nutricionais básicas essenciais

para uma boa saúde, e logo poder desenvolver suas atividades de cidadania.

Para Burity [et AL] (2010), diz que o DHAA está previsto em normas

internacionais que reconhecem o direito fundamental de toda pessoa a estar

livre da fome como pré-requisito para a realização de outros direitos humanos.

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Parrino ao definir o DHAA faz referência a um relato da Organização das

Nações Unidas (ONU) do ano de 2002, conforme a seguir:

O Direito Humano a Alimentação Adequada é um direito humano inerente a todas as pessoas de ter acesso regular, permanente e irrestrito, quer diretamente ou por meio de aquisições financeiras, a alimentos seguros e saudáveis, em quantidade e qualidade adequada e suficientes, correspondentes às tradições culturais do seu povo e que garanta uma vida livre do medo, digna e plena nas dimensões física e mental, individual e coletiva (2009, p. 20).

Através do Comentário Geral nº. 12, item 6, aprovado pelo Comitê de

Direitos Econômicos, Sociais e Culturais da ONU, como maneira de efetivar e

operacionalizar o DHAA encontra-se a seguinte definição:

O direito à alimentação adequada realiza-se quando cada homem, mulher criança, sozinho ou em companhia de outros, tem acesso físico e econômico, ininterruptamente, à alimentação adequada ou aos meios para sua obtenção. O direito à alimentação adequada terá de ser resolvido de maneira progressiva. No entanto, os estados têm a obrigação precípua de implementar as ações necessárias para mitigar e aliviar a fome, como estipulado no parágrafo 2 do artigo 11, mesmo em épocas de desastres, naturais ou não.

Falar em DHAA implica também em citar o conceito de soberania

alimentar, especialmente em uma época onde a lógica do lucro é indispensável

para o sistema econômico. Os termos fome e lucro, nesse contexto

globalizado, devem levar a reflexão dos limites de cada nação em questões de

respeito e hábitos alimentares, como cita Conti (2009), ao lembrar que a

soberania alimentar está estritamente relacionada às relações de comércio

internacional, que precisam ser reguladas sob pena de desequilibrarem a

produção e o abastecimento interno de cada país.

Desta maneira, conforme citação de Parrino (2009), a soberania alimentar

vem requerer o direito de cada povo, em produzir, transformar, consumir,

importar e exportar alimentos, sem gerar injustiça social, respeitando as

diversidades produtiva e cultural de cada nação.

Para Burity [et Al] o conceito de soberania alimentar:

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Defende que cada nação tem o direito de definir políticas que garantam a Segurança Alimentar e Nutricional de seus povos, incluindo aí o direito à preservação de práticas de produção e alimentares tradicionais de cada cultura. Além disso, se reconhece que este processo deva se dar em bases sustentáveis, do ponto de vista ambiental, econômico e social (2010, p. 13).

Podemos atrelar esta idéia acima exposta, com o pensar de Ziegler

(2002) que ao fazer suas considerações sobre a questão da fome, lembra que

o Brasil é uma dos maiores exportadores de alimentos e uma das maiores

economias do mundo, mas que, no entanto, milhões de brasileiros ainda

sofrem de fome e desnutrição.

Valente esclarece:

Na realidade, segurança alimentar e nutricional trata exatamente de como uma sociedade organizada, por meio de políticas públicas, de responsabilidade do Estado e da sociedade como um todo, pode e deve garantir o direito humano à alimentação a todos os cidadãos. Assim, a alimentação é um direito do cidadão, e a segurança alimentar e nutricional para todos é um dever do Estado e responsabilidade da sociedade (2002, p. 40).

Após um trajeto histórico de lutas, considerações e conquistas, os

fundamentos e operacionalizações da SAN, discutidos mundialmente,

chegaram ao Brasil e ao Estado do Paraná, tornando-se um assunto

significativo no âmbito governamental e da sociedade como um todo, assunto

este que conheceremos no próximo ítem.

1.2 Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil

Entendemos como oportuno antes de retratar o histórico da Segurança

Alimentar e Nutricional no Brasil, trazermos as considerações de Gomes Junior

(2007) na qual narra que o termo SAN surgiu nas proximidades da Primeira

Guerra Mundial (1914-1918), quando a segurança estava intimamente ligada à

idéia de segurança nacional. Nesse período, portanto, segundo o autor, o

alimento era reconhecido como um mecanismo de controle e persuasão. A

idéia à época era ter capacidade de produção alimentícia suficiente para criar

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reservas, de modo a não ficar suscetível em possíveis cercos, embargos ou

boicotes de fomentação política ou militar.

Segundo Lehman (citado por Valente, 2009, p. 40), a partir da década de

1940, em meio a Segunda Grande Guerra, ocorre o processo de criação da

ONU e da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura

(FAO). Nessa mesma época criam-se o Fundo Monetário Internacional (FMI) e

o Banco Mundial. Para todos esses instrumentos operados a partir do ano de

1945, embora haja divergências, a utilização de alimentos excedentes era vista

como um componente da segurança alimentar.

Aproveitando esta análise, podemos engrenar a idéia de Parrino (2009),

que diz que o conceito de SAN ganha força, em especial a partir da criação da

ONU, em 1945. A autora diz ainda que nesta época ocorreu certa tensão

política, pois se de um lado a SAN era visualizada como um direito humano, de

outro lado, ou seja, pelos organismos financeiros era visualizada como um

mecanismo que poderia ser garantido pela lógica de mercado. Desta forma a

SAN decorria da não disponibilidade de alimentos, levando a insegurança

alimentar nos países pobres.

Segundo Burity [Et Al] (2010), foram então criadas estratégias que

garantissem o aumento da produção de alimentos nessas nações (pobres),

utilizando-se novas variedades genéticas fortemente dependentes de insumos

químicos (a chamada revolução Verde).

Em resgate histórico, antes mesmo da Revolução Verde, no Brasil,

conforme citado por Parrino (2009), no ano de 1940, no Governo de Getúlio

Vargas, foi criado o Serviço de Alimentação da Previdência Social (SAPS), um

programa que se constituía em prestar atendimento aos trabalhadores

industriais, com alimentação digna e barata.

Esse programa era dirigido por Josué Apolônio de Castro. Ruano(2008)

secretário de Segurança Alimentar, realiza considerações a Josué de Castro

em seu centenário de morte, dizendo que é impossível falar em segurança

alimentar no Brasil sem referendar Josué Apolônio de Castro, pernambucano

nascido em Recife, em 5 de setembro de 1908, médico, professor, grande

pensador, que contribuiu significativamente para o que hoje chamamos de

SAN.

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25

O mesmo material de Ruano (2008) descreve ainda as principais ações

desenvolvidas por Castro. Em 1932, promoveu o primeiro inquérito sobre As

Condições de Vida das Classes Operária no Recife; este primeiro inquérito

realizado no Brasil, com vistas a uma população específica, denuncia o flagelo

da fome vivenciado pelos trabalhadores pernambucanos. Em 1945, ocorre o

lançamento de sua obra prima, Geografia da Fome, onde faz uma análise das

carências alimentares das cinco regiões do Brasil.

Geografia da Fome foi traduzida para 25 idiomas, levando ao mundo a

denúncia do autor, sobre a fome não como fator meramente natural, mas como

um produto gerado pelas relações existentes na sociedade, relações estas de

natureza econômica, política e cultural. Nesse sentido o livro surge como

promissor para o incentivo de uma ótica diferente do modo de se pensar na

fome e, por conseqüência, a sociedade.

Pode-se dizer que sob e a partir da influência desta visão crítica de

Castro, vários programas a nível nacional foram surgindo. Em 1955 foi

instituído pelo Decreto Federal nº. 37.106 a Campanha de Merenda Escola

(CME), que definia as atribuições de um órgão específico para incentivo da

alimentação escolar, com melhor valor nutritivo, com produtos ricos em

proteínas e vitaminas. Em 1979, esta campanha passou a ter a nomenclatura

de Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).

Em 1962, ocorreu a criação da Companhia Brasileira de Alimentos

(COBAL) e da Companhia Brasileira de Armazenamento (CIBRAZEN).

No ano de 1972 criou-se o Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição

(INAN), que se referia à desnutrição como uma doença social. O INAN foi

extinto em 1997, pelo então Presidente da República, Fernando Henrique

Cardoso.

Como forma de complementação das atribuições feitas por Castro para a

elaboração de uma Política de Segurança Alimentar e Nutricional, cita-se em

seguida as considerações realizadas por Valente:

As primeiras sistematizações importantes sobre o tema foram desenvolvidas por Josué de Castro, cuja influência extrapolou a realidade brasileira e acabou por ter um papel importante na criação da FAO, da Campanha Mundial contra Fome e de Luta pela Paz. Josué tentou mostrar o caráter intrinsecamente político e social da fome e de suas seqüelas orgânicas, cobrando soluções de cunho

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social para a questão. Tentou tirar a fome de debaixo do tapete e colocá-la em debate (2002, p. 44).

Como forma de prosseguir e esboçar o processo histórico para a

consolidação do que hoje conhecemos como SAN, apresenta-se a seguir o

resgate histórico realizado por Parrino (2009). A autora relata que entre

1970-1980, foi criado o Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT).

Nesta época, assim como elucida Conti (2009), a FAO promoveu a I

Conferência Mundial de SAN, porém, de alguma forma a questão da

estimulação da produção agrícola para aumentar os estoques diante a crise

mundial foi retomada, ou seja, a idéia da Revolução Verde, já mencionada

anteriormente.

Segundo Valente (2002) as primeiras referências sobre o conceito de

SAN, descritas documentalmente, surgiram no Ministério da Agricultura em

1985, através de diversas mobilizações da sociedade civil organizada, criando

uma proposta de Política de Segurança Alimentar e criando um Conselho de

Segurança Alimentar.

Em 1986, com a realização da I Conferência Nacional de Alimentação

Nutricional (CNAN), surgiu a proposta da criação da política de SAN, agora

através de um Conselho Nacional de Alimentação Nutricional e de um Sistema

Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SSAN). Nesse mesmo ano é

criado o Tíquete do Leite, no Governo Sarney.

Segundo Parrino(2009) essa proposta de Política de SAN tinha ênfase na

importância do Estado e do planejamento do combate contra a fome e a

pobreza. Conti (2009) ao se referir à década de 1990, relata o surgimento de

inúmeras organizações da sociedade civil com discussões e articulações sobre

as propostas de SAN; ao mesmo tempo, o governo passou a desenvolver

políticas públicas voltadas a erradicação da fome. Um exemplo da articulação

civil é a criação, em 1993, dos comitês da Ação da Cidadania contra a Fome

pela Vida, conhecida nacionalmente como a Campanha Contra a Fome, sob a

liderança do sociólogo Herbert de Souza (mais conhecido com o Betinho).

Também no ano de 1993, é criado o Conselho Nacional de Segurança

Alimentar e Nutricional (CONSEA), sob o decreto nº. 807, de 22 de abril do

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27

referido ano, assim como proposto na I Conferencia Nacional de SAN, acima

citado.

Ao realizar suas considerações sobre a criação do CONSEA, Valente

assim o expõe:

Em 1993, paralelamente à criação do CONSEA e em sintonia com as demandas da sociedade civil, o governo federal, de forma absolutamente inédita na história do país, reconheceu o círculo vicioso formado pela fome, a miséria e a violência e definiu o seu enfrentamento como prioridade do governo (2002, p. 46).

Partilhando da idéia Nascimento ao se referir sobre as atribuições do

CONSEA, assim descreve:

Da construção da segurança alimentar como política pública iniciada em 1917, passando por Josué de Castro em 1932 até início dos anos 1990, a política pública de SAN tem um significado restrito e uma dimensão menor. Quando da criação do CONSEA em 1993, hoje acrescentando o Nutricional, essa política recebe outro sentido, uma outra dinâmica é manifestada, muito em função do encontro da sociedade civil com o Estado (2009, p. 18).

Perante a colocação de Valente (2002), onde o autor nos diz que no ano

de 1993, a questão da fome, começa a ser visualizada de maneira prioritária

pelo governo, torna-se oportuno lembrar que em 1994, ocorre a I Conferência

Nacional de Segurança Alimentar, com o tema “Fome: uma questão nacional”.

Segundo Valente (2002) o relatório final desta primeira CNAN resultou no

entendimento de que a fome e a miséria são fatores causados pela

concentração de renda de terra. Diante a isto, a partir de resoluções e

considerações em relação ao problema fome, foram discutidas questões para

construção de uma Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional,

com os seguintes eixos:

I. Reduzir o custo dos alimentos e seu peso no orçamento familiar;

II. Assegurar saúde, alimentação e nutrição a grupos populacionais

determinados;

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III. Assegurar a qualidade biológica, sanitária, nutricional e tecnológica dos

alimentos e seu aproveitamento, estimulando práticas alimentares e

estilos de vida saudáveis.

Em 1995 o CONSEA foi extinto, conforme relata Nascimento:

A extinção do CONSEA a partir de 1995, com o início do governo de Fernando Henrique Cardoso, que cria em seu lugar o Conselho da Comunidade Solidária, órgão consultivo da Presidência da República, vinculado à Casa Civil. O Conselho era integrado por dez ministros de Estado, pela Secretária Executiva da Comunidade Solidária (Ruth Cardoso, primeira-dama) e por 21 representantes da sociedade civil, sendo seus membros nomeados pelo Presidente da República (2009, p. 19).

As considerações de Valente (2002), referentes ao Conselho da

Comunidade Solidária, ressaltam que o foco antes central da Segurança

Alimentar, deu lugar a demandas de cunho econômico e social, que de certa

forma são fatores que geram a pobreza, ou seja, fatores que propiciaram à

sociedade pensar na questão da Segurança Alimentar, mas sem resolvê-la.

Segundo Conti (2009) relata que, através das discussões ocorridas em

âmbito internacional, por redes da sociedade civil e pela FAO, a alimentação e

a nutrição passam a ser vistas como um direito humano. Diz o autor ainda, que

esta visualização contribuiu para que a Cúpula Mundial de Alimentação,

através da convocação da FAO, em 1996, definisse a SAN como uma

garantia, a todos, de condições de acesso a alimentos básicos de qualidade, em quantidade suficiente, de modo permanente e sem comprometer a outras necessidade essenciais, com base em práticas alimentares saudáveis, contribuindo assim para uma existência digna, em um contexto de desenvolvimento integral de pessoa, com preservação das condições que garantam uma disponibilidade de alimentos a longo prazo (FAO, citado por Conti, 2009, p.19) .

Segundo Burity [Et. Al]:

No final da década de 80 e início da década de 90, o conceito de segurança alimentar passou a incorporar também a noção de acesso a alimentos seguros (não contaminados biológica ou quimicamente); de qualidade (nutricional, biológica e tecnológica), produzidos de forma sustentável equilibrada, culturalmente aceitáveis e também incorporando a idéia de acesso à informação(2010, p. 12).

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Conforme Parrino (2009), em 1998, é criado o Fórum Brasileiro de

Segurança Alimentar e Nutricional (FBSAN). Segundo sua Carta de Princípios,

o FBSAN surgiu como herdeiro de uma história de mobilização social no campo

da SAN para propiciar espaço político e técnico permanente para diálogo,

articulação e intervenção nos processos de formação e tomada de decisão

referentes a SAN.

Dois anos mais tarde, em 2000, conforme PARRINO (2009) é criado a

Organização Não Governamental (ONG) Instituto da Cidadania, liderado por

Luiz Inácio Lula da Silva. Tal ONG mobilizou mais de 100 especialistas para

traçar um projeto de combate à fome e a miséria.

De acordo com Parrino(2009), criou-se em 2001 o projeto Fome Zero,

como proposta de uma política de SAN para o Brasil. Logo em 2003, no

governo Lula, o projeto foi implantado, ou seja, o tema de SAN voltou a ser

uma prioridade na agenda governamental. O CONSEA foi então reativado, de

acordo com VALENTE e BEGHIN (2006) como um órgão consultivo, de

imediata assessoria da Presidência da República, para formular políticas e

definir orientações que garantissem a realização do DHAA no Brasil.

Como forma de delinear a proposta de Política de SAN para o Brasil,

segundo Valente e Neghin (2006), em 2004 realizou-se a II Conferência

Nacional de SAN (CNSAN). Tal evento, realizado em Pernambuco, na cidade

de Olinda, reunindo dois mil participantes, teve como tema "A construção da

Política Nacional de SAN". A principal deliberação decorrente desta

conferência foi à promulgação da Lei Federal nº. 11.346 de 15 de setembro de

2006, a Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (LOSAN), que cria o

Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN).

Conforme Ananinas (2009), os pontos principais da LOSAN são a criação

do SISAN, a reafirmação das obrigações do poder público de respeitar,

proteger, promover e prover alimentação adequada, o estabelecimento de

instrumentos de monitoramento e a exigibilidade do direito humano à

alimentação adequada, institucionalizando a Política e o Plano Nacional de

Segurança Alimentar e Nutricional.

Referente à exigibilidade do DHAA, Burity [Et Al] considera:

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Conceito de exigibilidade: é a possibilidade de exigir Direitos Humanos perante qualquer órgão público. O conceito inclui não somente o ato de exigir, mas também o direito de ter uma resposta em tempo oportuno. O termo “exigibilidade”, apesar de não parecer um termo simples, significa simplesmente exigir, cobrar aquilo que está na lei ou aquilo que não está na lei, mas que é necessário para que se possa viver de forma digna (2009, p. 35).

Em 2007 Parrino (2009) relata a realização da III CNSAN, com o tema

“Por um Desenvolvimento Sustentável com Soberania Alimentar e Nutricional”,

realizado em Fortaleza, no Estado do Ceará. Tal conferência teve como o

objetivo a formulação de uma estratégia para a criação do SISAN, para

estruturar e pautar seus eixos na soberania alimentar e nutricional, como forma

de se garantir o desenvolvimento sustentável. Assim a comissão organizadora

do evento declara em seu relatório final:

A III CNSAN reafirmou que o objetivo da segurança alimentar e nutricional implica uma concepção de desenvolvimento sócio-econômico que questiona os componentes do modelo hegemônico no Brasil que são geradores de desigualdade, pobreza e fome e com impactos negativos sobre o meio ambiente e a saúde. A busca desse objetivo requer que a PNSAN seja orientada por seis diretrizes integradoras dos diferentes setores de governo e da sociedade civil: (i) promover o acesso universal à alimentação adequada e saudável; (ii) estruturar sistemas justos, de base agroecológica e sustentáveis de produção, extração, processamento e distribuição de alimentos; (iii) instituir processos permanentes de educação e capacitação em segurança alimentar e nutricional e direito humano à alimentação adequada; (iv) ampliar e coordenar as ações de segurança alimentar e nutricional para povos indígenas e demais povos e comunidades tradicionais definidos pelo decreto 6040/07; (v) fortalecer as ações de alimentação e nutrição em todos os níveis de atenção à saúde, de modo articulado às demais políticas de segurança alimentar e nutricional; (vi) promover a soberania e segurança alimentar e nutricional em âmbito internacional (Relatório Final 2007 da III Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional).

Outro fator importante neste processo ocorreu em no mês de fevereiro de

2010, quando a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 047/2003 foi

aprovada. Nesse sentido, em seu artigo 6º que dispõem dos direitos sociais

presentes na Constituição Federal Brasileira de 1988, o direito a alimentação é

“emendado”.

Mais recentemente conforme exposto no sitio da Rede SAN, em 25 de

agosto de 2010, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, assinou o Decreto

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Federal nº. 7.272, regulamentando a Lei n°. 11.346 (LOSAN), que cria o

SISAN, com vistas a assegurar o DHAA, e institui a Política Nacional de

Segurança Alimentar e Nutricional (PNSAN), estabelecendo parâmetros para a

elaboração do Plano Nacional de SAN. Esse documento também dá outras

providências, a saber, define a forma de gestão, financiamento, avaliação e

controle social, e busca assegurar o direito à alimentação adequada e saudável

em todo o país, conforme prevê a Constituição Federal e a LOSAN.

No capítulo I, das disposições gerais, em seu artigo 1º, este decreto

define:

Art. 1º Este Decreto define as diretrizes e objetivos da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (PNSAN), dispõe sobre a sua gestão, mecanismos de financiamento, monitoramento e avaliação, no âmbito do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN), e estabelece os parâmetros para a elaboração do Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional.

Em seu artigo 2º assim dispõe sobre os objetivos e as diretrizes da

PNSAN:

Art.2º Fica instituída a Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional - PNSAN, com o objetivo geral de promover a segurança alimentar e nutricional, na forma do art.3° da Lei nº. 11.346, de 15 de setembro de 2006, bem como assegurar o direito humano à alimentação adequada em todo território nacional.

Após exposição da evolução histórica da SAN no Brasil, cabe alertar que

o entendimento que se tem sobre a SAN em nossos dias pode variar, pois é

uma temática que ainda se encontra em processo de construção.

Conforme Parrino (2009), “O conceito de SAN evoluiu na medida em que

avançou a história da humanidade e alteraram-se a organização social e as

relações de poder”.

Ribeiro (2008) elucida que através de um estudo publicado pelo Fundo

das Nações para a Infância (UNICEF), organizado por Maxwell e

Frankenberger, constatou-se a existência de mais de 30 definições para o

termo SAN.

O conceito adotado na II Conferência Nacional de SAN, realizada em

2004, a define como

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A realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base boas práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam social econômica e ambientalmente sustentáveis.

1.3 Redes de Equipamentos de Segurança Alimentar e Nutricional

Para que de fato a Segurança Alimentar se operacionalize existe um

conjunto de equipamentos públicos para combate a insegurança alimentar e

nutricional, denominada rede de equipamentos de SAN. Podemos encontrar no

portal1 do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome (MDS), os

equipamentos que compõem atualmente esta rede e que conseqüentemente

contribuem para a efetivação do SISAN.

1.3.1 Restaurantes Populares

São equipamentos públicos, de alimentação e nutrição, onde as refeições

são produzidas balanceadamente, de forma a garantir boas práticas de

alimentação saudável, respeitando hábitos alimentares de cada região.

Encontram-se instalados em pontos estratégicos de grandes centros

urbanos, onde o número de pessoas em situação de vulnerabilidade social e

insegurança alimentar e nutricional se acentuam.

O MDS ainda viabiliza por meio de editais públicos a modernização e

implementação de restaurantes populares, visando desta maneira a promoção

de SAN. Conforme elucidado no sitio do MDS atualmente existem 92

restaurantes populares, instalados em 72 municípios brasileiros.

Estas refeições são vendidas a preços acessíveis.

1 Acessar o sitio: http://www.mds.gov.br/segurancaalimentar/equipamentos

Page 33: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

33

1.3.2 Cozinhas Comunitárias

As cozinhas comunitárias se operacionalizam através da mesma lógica

dos restaurantes populares, porém, seu público de certa forma é

estrategicamente selecionado: efetivamente são pessoas que se encontram em

situação de vulnerabilidade e insegurança alimentar, que são acompanhadas

pelos Centros de Referência da Assistência Social (CRAS).

1.3.3 Banco de Alimentos

O BA é um equipamento que tem por objetivo, arrecadar produtos

excedentes de mercados, feiras, centrais de abastecimentos, varejões, entre

outros integrantes da cadeia de produção, armazenagem e processamento de

alimentos.

Após o recebimento destes alimentos, os produtos são selecionados,

processados, separados e embalados. São distribuídos gratuitamente à

entidades sócio-assistenciais pertencentes ao Sistema Único de Assistência

Social (SUAS).

O BA, como equipamento que compõem o SISAN, também tem por

objetivo distribuir alimentos às cozinhas e restaurantes populares. Outra

atividade desempenhada pelo BA, é o recebimento dos produtos oriundos do

Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Nesse sentido entendemos que o

BA contribui significativamente para o combate ao desperdício de alimentos, ou

seja, sua existência se torna de grande valia, pois combater ao desperdício é

umas das ações propositivas da Política de SAN.

1.3.4 Feiras e Mercados Populares

Segundo o portal do MDS, as feiras populares incentivam o agricultor

familiar a vender seus produtos, de modo a compartilhar experiências

alimentares, conservando desta maneira a cultura e os hábitos de alimentação

de cada região, além de evitar o desperdício dos produtos.

Essas feiras, como disposto no sitio do MDS, até o ano passado eram em

número de 160, espalhadas pelo Brasil. Existem feiras realizadas sempre no

Page 34: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

34

mesmo local, em dias alternados, ou uma vez na semana; e também aquelas

que a cada semana acontecem em um ponto específico. Existem ainda as

feiras móveis, realizadas com um veículo adaptado para acomodar os

produtos.

Já os mercados populares têm como objetivo a comercialização de

produtos componentes de uma cesta básicas, porém, são comercializados com

preços mais acessíveis, a famílias cadastradas.

1.3.5 Educação Alimentar e Nutricional

Para que o cidadão possa ter acesso ao conhecimento de boas práticas

alimentares, que estimulem a segurança alimentar de cada indivíduo,

respeitando sua cultura e hábitos, compõe à Política de SAN a promoção da

Educação Alimentar e Nutricional (EAN), que são ações desenvolvidas pela

sociedade civil organizada e por parcerias governamentais, para promover a

intersetorialidade.

Aproveitando este momento de elucidação dos meios que permitem a

operacionalização da SAN, se faz de grande valia acrescentar algumas das

estratégias de combate à fome, aderidas pelo programa Fome Zero, programa

já mencionado anteriormente, que é a criação do PAA.

Conforme disposto no sitio2 do MDS:

O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) é uma das ações do Fome Zero e promove o acesso a alimentos às populações em situação de insegurança alimentar e promove a inclusão social e econômica no campo por meio do fortalecimento da agricultura familiar. O PAA também contribui para a formação de estoques estratégicos e para o abastecimento de mercado institucional de alimentos, que compreende as compras governamentais de gêneros alimentícios para fins diversos, e ainda permite aos agricultores familiares que estoquem seus produtos para serem comercializados a preços mais justos. O Programa propicia a aquisição de alimentos de agricultores familiares, com isenção de licitação, a preços compatíveis aos praticados nos mercados regionais. Os produtos são destinados a ações de alimentação empreendidas por entidades da rede socioassistencial; Equipamentos Públicos de Alimentação e Nutrição como Restaurantes Populares, Cozinhas Comunitárias, e Banco de Alimentos para famílias em situação de vulnerabilidade social. Além disso, esses alimentos também contribuem para a formação de cestas de alimentos distribuídas a grupos populacionais específicos.

2 Acessar o sitio: http://www.mds.gov.br/segurancaalimentar/alimentoseabastecimento/paa

Page 35: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

35

1.4 Segurança Alimentar e Nutricional no Estado do Paraná

Nesse trecho do estudo, apontar-se-á as lutas e as conquistas

alcançadas no âmbito estadual. Nesse sentido traçaremos o histórico

percorrido, onde se encontram marcos importantes para a efetivação desta

temática no Estado do Paraná.

Conforme expõe Parrino (2009), em 1993, existia a atuação do Comitê

Ação da Cidadania do Paraná, projeto criado pelo sociólogo Betinho, com

repercussão nacional. Nesse mesmo ano, criou-se o Comitê de Entidades

Públicas no Combate à Fome (COEP). Podemos encontrar o sítio3 do COEP as

seguintes considerações referentes ao programa:

O COEP – Comitê de Entidades no Combate à Fome e pela Vida – foi criado em 1993 em meio à intensa mobilização da sociedade civil deflagrada pelo Movimento pela Ética na Política, tendo entre seus idealizadores o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho. O objetivo era reunir empresas para somar esforços na articulação e implementação de ações voltadas para o combate à fome e à miséria. Inicialmente, eram 30 as entidades envolvidas; hoje, o COEP é um dos principais articuladores junto a organizações públicas e privadas para a promoção de iniciativas visando o desenvolvimento humano e social, em especial as realizadas em comunidades de baixa renda de todo o país. São mais de 1.100 instituições envolvidas nas 27 unidades da federação e em 29 municípios, incluindo entidades de classe e universidades, nas quais funcionários, colaboradores, professores e alunos são incentivados a participar de diferentes projetos sociais.

Prosseguindo com as elucidações de Parrino (2009), no ano de 1997,

acontece a criação do Grupo de Estudos e Ações em Segurança Alimentar e

Nutricional (GEASAN). A respeito deste grupo de estudos, podemos encontrar

no sitio4 do CONSEA/PR, as seguintes considerações:

O GEASAN desenvolveu seus trabalhos tendo como objetivos: divulgar o conceito de segurança alimentar e nutricional e seus eixos estratégicos; viabilizar a integração e a implementação das ações desenvolvidas por seus integrantes, contribuindo para a construção da Segurança Alimentar e Nutricional no nível local; apoiar a formação de Conselhos Locais de Segurança Alimentar e Nutricional.

3 Acessar o sitio: http://www.coepbrasil.org.br/portal/publico/apresentarConteudo.aspx?

CODIGO=C2007423103136125&TIPO_ID=54 Acessar o sítio: http://www.consea.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=5

Page 36: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

36

Dentre as atividades desenvolvidas pelo GEASAN tiveram destaque a realização de eventos no Dia Mundial da Alimentação, quando foram criados espaços de discussão e de articulação de ações, Oficinas Temáticas de Trabalho e de Capacitação na Área de Segurança Alimentar e Nutricional. Os principais avanços obtidos pelo GEASAN puderam ser aferidos com a popularização e sensibilização de diferentes segmentos da sociedade civil e das instituições de governo, introduzindo na pauta de discussões a concepção de estratégias e de políticas públicas comprometidas com o enfrentamento da insegurança alimentar e nutricional.

Logo em 2003, assim como disposto neste mesmo sítio, através da

intermediação da Secretaria de Estado do Trabalho, Emprego e Promoção

Social (SETP) ocorreram diversas ações de enfrentamento à pobreza e à fome.

Uma delas é a instituição do Programa Fome Zero Paraná; em face disso

ocorreram 18 fóruns regionais para a elucidação de tal programa.

Outro marco importante deste mesmo ano foi a criação do Fórum

Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional (FESAN). Essa instituição

realizou no mesmo ano de sua criação o I Encontro Estadual de SAN, com o

tema "Vamos acabar com a fome", abordando questões como segurança

alimentar, direitos humanos e mobilização social; economia solidária, geração

de emprego e renda; e o componente nutricional da segurança alimentar.

Ainda em 2003 ocorreu a criação do CONSEA/PR, através do decreto nº.

1.556, de 09 de julho de 2003.

No ano seguinte (2004) aconteceram 14 conferências regionais de SAN e,

em seguida, a I Conferência Estadual de SAN.

Em 2006, ocorre a II Conferência Estadual de SAN. Nesse mesmo ano,

ocorreu outro marco importante para a evolução da SAN no Estado do Paraná:

a criação da Frente Parlamentar de SAN.

Em 2008, aconteceu a aprovação da Lei Estadual de SAN - nº. 15.791,

que institui a política no Paraná. E, em 2009, criou-se o Departamento de

Segurança Alimentar e Nutricional (DESAN), ou o antigo SETP Estadual com

nova nomenclatura.

Recentemente, o governador do Estado do Paraná, Orlando Pessuti,

sancionou a Lei Estadual nº. 16.565 de 31 de agosto de 2010, que instituiu o

Sistema Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional, que em seu II

Capítulo, referente ao SISAN, em seu artigo 5º assim elucida:

Page 37: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

37

Art. 5º. A consecução do direito humano à alimentação adequada e da segurança alimentar e nutricional da população paranaense far-se-á por meio do SISAN PR, integrado por um conjunto de órgãos e entidades, do Estado e dos Municípios e pelas instituições privadas, com ou sem fins lucrativos, afetas à segurança alimentar e nutricional e que manifestem interesse em integrar o Sistema, respeitada a legislação aplicável.

Desta forma percebemos que a construção de uma política nacional,

começa a germinar, após anos de avanços e desafios, também nos Estados da

Federação. É através desta perspectiva que no próximo capítulo

conheceremos qual a participação do BA da CEASA/PR, unidade de Curitiba,

no processo de construção e consolidação de ações voltadas à SAN.

Page 38: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

38

2 CENTRAIS DE ABASTECIMENTO DO PARANÁ S.A. - UNIDADE

CURITIBA - E O PROGRAMA BANCO DE ALIMENTOS

2.1 Centrais de Abastecimento do Paraná S.A.

Para que seja possível conhecermos a atuação do BA da CEASA/PR,

unidade de Curitiba, se faz necessário o conhecimento dos motivos que

levaram esta companhia a pensar na incorporação do mesmo.

De início narrar-se-á o processo histórico da implantação da CEASA/PR;

posteriormente, quais os programas de cunho social que existiram ao longo do

tempo; e, por último, o BA e as entidades sociais atendidas por ele atendidas.

Com base no material impresso e arquivado nas dependências da

CEASA/PR, disponível na Divisão Social (DIVAS) e na Gerência da Assessoria

da Presidência (GERAP), pode-se descrever o processo histórico da empresa,

bem como dos programas sociais anteriores ao BA.

Na década de 1960, foram criados os primeiros terminais atacadistas, já

com a sigla CEASA, porém com a denominação, Centro Estadual de

Abastecimento S.A., um atuante no Estado de São Paulo, que atualmente têm

o nome Entrepostos Gerais do Estado de São Paulo (CEAGE/SP), e posterior

outra instalada no Recife, no Estado de Pernambuco (PE).

Devido ao sucesso destes dois grandes centros varejistas, o Governo

Federal, com o intuito de organizar, padronizar e concentrar a disponibilidade

de produtos de primeira necessidade, produtos perecíveis à população,

resolveu implantar terminais atacadistas de hortigranjeiros regionais,

denominado Centrais de Abastecimento.

Nesse sentido foi instituído uma Comissão Especial do Ministério do

Planejamento e Coordenação, para a realização de estudos preliminares em

termos nacionais, acerca da constituição destas centrais a níveis estaduais.

Após esse contato com os Estados, tais estudos foram encaminhados à

Coordenadoria de Execução do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas

(IPEA), ao Ministério do Planejamento e Coordenação, a Financiadora de

Estudos e Projetos S.A. (FINEP), ao Banco Central e ao Banco Nacional de

Page 39: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

39

Desenvolvimento Econômico (BNDE). Desta forma, foram definidos os locais

para a instalação das CEASAS, dentre eles a cidade Curitiba.

Assim, em 26 de novembro de 1969, o Grupo Executivo de Modernização

do Sistema de Abastecimento (GEMAB) foi instituído através do Decreto5 nº.

65.750. Posteriormente, o então Presidente Emílio Garrastazu Médici, assinou

o Decreto nº. 66.332, de 17 de março de 1970 que delegava a COBAL a

execução da política nacional de abastecimento e as providências necessárias

à implantação do programa de Centrais de Abastecimento. É através deste

mesmo Decreto que fica estabelecido o apoio por parte da COBAL as

empresas que tem responsabilidade de gerir as Centrais de Abastecimento.

Conforme Maciel [Et. Al]:

Em 11 de maio de 1972, o Governo Federal através do Decreto nº 70.502, regulamentou o Sistema Nacional de Centrais de Abastecimento - SINAC, fortalecendo as posições do GEMAB e da COBAL e dando ao sistema a competência para definir as estruturas operacional e administrativa das centrais, bem como suas atribuições e condições de funcionamento. De acordo com esse Decreto, as unidades integradas ao Sistema, para melhor adequação do mesmo em uniformidade administrativo/operacional, adotariam a denominação de Centrais de Abastecimento S.A. - CEASA, seguida da qualificação regional ou municipal correspondente (2007, p. 3).

Ainda segundo Maciel [Et. Al] (2007), a constituição da CEASA/PR deu-se

em 11 de fevereiro de 1972, com funcionamento efetivo a partir de agosto de

1976. A CEASA/PR foi implantada de acordo com as normas da COBAL, acima

citada, sendo uma sociedade por ações, de economia mista6, implantada de

acordo com as normas do Sistema Nacional de Centrais de Abastecimento

(SINAC), vinculada à Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento

conforme disposto na Lei nº. 6.636 de 29 de fevereiro de 1974; reiterada pela

Lei nº. 8.485 de 03 de junho de 1987; e estadualizada pela Lei nº. 9.352 de 23

de agosto de 1990, de acordo com os Decretos-Lei nº. 2.400 de 21 de

dezembro de 1987 e 2.427 de 08 de abril de 1988, regulamentada pelos

Termos de Doação, assinado em 26 de setembro de 1990, passando a partir

de então, o Governo do Estado do Paraná a possuir o capital majoritário.

5 Decreto na íntegra disponível em: http://www2.camara.gov.br/legin/fed/decret/1960-1969/decreto-65750-26-novembro-1969-407367-publicacao-1-pe.html6Maiores informações sobre sociedade de Economia Mista, acesse: http://www.jusbrasil.com.br/topicos/296750/sociedade-de-economia-mista

Page 40: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

40

Ainda nos valendo das considerações elaboradas por Maciel [Et. Al]

(2007), devido ao elevado crescimento da população da Região Metropolitana

de Curitiba e a acentuada expansão da cidade de Curitiba, observou-se uma

deficiência em várias áreas de infra-estrutura, inclusive no abastecimento de

gêneros alimentícios. Nesse período, tal segmento não tinha nenhuma

padronização de atuação. O elevado consumo da população e o sistema de

abastecimento ineficiente (com indisciplina dos circulantes, falta de higiene e

intermediários desnecessários) clamaram pela implantação de um órgão

centralizador e regulador para distribuição de produtos hortigranjeiros.

Em 06 de agosto de 1972 inauguro-se a nova sede da CEASA em

Curitiba, com instalações amplas, modernas e higiênicas, beneficiando

comerciantes e consumidores.

Partilhando das considerações da Consultoria e Engenharia Ambiental,

que ao realizar o Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos da CEASA/PR

no que diz respeito ao seu funcionamento assim considera:

A CEASA Curitiba funciona com o recebimento de produtos hortigranjeiros, em sua maioria diretamente dos produtores rurais do Paraná, recebe produtos da CEAGESP e de outros Estados (principalmente frutas e safra de inverno), mantidos pelos comerciantes dos boxes. Outra forma de comercialização na CEASA é a venda direta de produtos pelos produtores em local específico (Mercado do Produtor) onde estes negociam diretamente sua produção sem a necessidade de boxes. A venda é realizada diretamente do caminhão de transporte expondo sua mercadoria nas chamadas “pedras”. Somente na CEASA Curitiba circula diariamente cerca de 20.000 pessoas principalmente no período matutino (2006, p. 8).

Neste complexo, onde em dados levantados no ano de 2006, assim como

citado acima, cerca de 20.000 pessoas circulam diariamente pela CEASA/PR,

na logística de comercialização de alimentos perecíveis, o excedente e logo o

desperdício dos produtos se tornou algo inevitável.

Nesse sentido, a ocorrência de pessoas físicas, e instituições de apoio

ao cidadão em situação de vulnerabilidade social a procura destes alimentos

excedente se deu de forma quase que presumível.

Portanto, no próximo tópico, listar-se-ão quais foram os equipamentos

existentes neste processo de responsabilidade social, de forma a amenizar a

Page 41: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

41

existência deste público, que de certa maneira acabava se arriscando higiênica

e fisicamente ao buscar os produtos nas caçambas (depósito dos produtos

impróprios para o comércio), e também diretamente nos boxes dos

comerciantes da CEASA/PR.

2.2 Histórico dos Programas Sociais na Ceasa/PR, Unidade de

Curitiba

Em consulta a documentação histórica da CEASA/PR, e utilizando como

referência também as considerações de Maciel [Et. Al] (2007), é a partir do ano

de 1983 que a CEASA/PR, unidade de Curitiba, começou a desenvolver ações

para execução de projetos sociais de emergência, que atendessem sobre

maneira à população em situação de vulnerabilidade social, com o objetivo de

elevar o padrão alimentar nutricional recomendado e, desta forma, e como

conseqüência, contribuir para a amenização da fome de seus assistidos.

Assim foi instituído na CEASA/PR, o Programa de Abastecimento

Alimentar Integrado, que se desenvolve de forma independente da função

tradicional da Central de Abastecimento, e abriga diversos projetos com

objetivos comuns e modelos operacionais diferenciados.

2.2.1 Projeto Compras Comunitárias

O Projeto Compras Comunitárias foi o primeiro projeto

operacionalizado pela CEASA/PR, e tinha como objetivo amenizar os efeitos da

crise econômica do País, levando a empresa a alterar seus estatutos e iniciar

um trabalho de cunho eminentemente social. Maciel [Et. Al] relata:

No Projeto Compras Comunitárias, a CEASA/PR atua efetuando a compra dos produtos de alimentação, limpeza e higiene, repassando-os aos Grupos de Compras, a preços de custo, para que sejam vendidos às famílias cadastradas. Este atendimento se concretiza à partir da elaboração de convênio junto à Municípios, Associações, Sindicatos e outras entidades formais que tenham interesse nesta modalidade. A responsabilidade do transporte dos produtos é das entidades conveniadas, bem como o prazo para pagamento é de quatro dias úteis (2007, p. 6).

Page 42: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

42

Devido à positividade e aceitabilidade do projeto compras comunitárias,

ao longo deste percurso, novos projetos foram sendo implantados.

2.2.2 Projeto Mercadão Popular

Este projeto foi a segunda proposta de atuação da CEASA/PR enquanto

ações de abastecimento alimentar integrado. Seu funcionamento se dava

através de um ônibus adaptado que percorria os bairros integrantes, de acordo

com o calendário pré-fixado, sendo a estrutura de funcionamento idêntica ao

Armazém da Família.

2.2.3 Programa Armazém da Família

O Programa Armazém da Família funcionava em um ponto fixo de

vendas, com famílias interessadas cadastradas, e horário para atendimento.

Com formato parecido ao projeto compra comunitária, no que diz respeito aos

produtos comercializados, o projeto é realizado através de convênio entre a

CEASA/PR e Prefeituras Municipais.

A CEASA/PR tinha como responsabilidade fornecer os produtos,

transportar as mercadorias, constituição da Unidade no Município, e prestação

de assessoria técnica na implantação e na implementação das ações

desenvolvidas.

O Município por sua vez tinha como responsabilidade a disponibilização

de espaço físico e toda a infra-estrutura necessária, bem como a máquina

registradora, pessoal, material de expediente, paletes, e outros materiais afins

para o desenvolvimento das atividades do dia-a-dia.

2.2.4 Projeto Cesta do Trabalhador

Page 43: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

43

Esse projeto se desenvolvia através do arranjo de cestas de alimentos

básicos, eram padronizadas e se destinavam a organizações governamentais

ou privadas. Conforme Maciel [Et. Al] (2007), até o ano de 2002, os principais

usuários desta projeto, eram a Secretaria de Estado da Criança e Assuntos da

Família e O Programa de Voluntariado Paranaense (PROVOPAR), através do

atendimento de projetos e ações governamentais da época como o "Da Rua

para a Escola", o "Baia Limpa", o "Plantando Palmito no Litoral do Estado", o

"Atendimento aos Índios de Mangueirinha" e o "Adote uma Criança".

2.2.5 Projetos Nutricentro, Supersopa e de Cooperação

Nutricional

Estes projetos foram implantados na CEASA/PR, unidade de Curitiba

em setembro de 1996.

O Projeto Supersopa tinha como objetivo, processar sopa, canja,

extrato de tomate e doces, para atendimento de crianças carentes, creches

públicas, adolescentes e idosos em situações de calamidade pública, com os

produtos oriundos da cadeia produtiva da CEASA/PR, através de produtos que

não respondessem ao padrão ideal de comercialização no atacado. Foi

desativado em 2003.

Já o Projeto de Cooperação Nutricional (COOPNUTRI), atual BA, tinha

como proposta realizar o aproveitamento de hortigranjeiros também fora do

padrão de comercialização na CEASA/PR, para doação in natura a entidades

sociais previamente cadastradas.

Como expõe Maciel [Et. Al] (2007), até o ano de 2002 o COOPNUTRI

focava na execução de duas ações principais, através da realização de cursos

de aproveitamento integral de alimentos, direcionados aos manipuladores de

alimentos das entidades atendidas, e o repasse dos produtos ao Projeto

Supersopa.

Atualmente os programas sociais que se encontram em operação na

CEASA/PR são o Programa Armazém da Família e o Programa BA. O

Programa Armazém da Família atende 4 municípios do Paraná (Cerro Azul,

Guaraqueçaba e seus dois distritos, Tagaçaba e Ilha de Superagui).

Page 44: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

44

Neste sentido, no próximo tópico, discorrer-se-á sobre o funcionamento

de um BA como um equipamento da Política de Segurança Alimentar e

Nutricional, previsto pelo MDS 7, o que esclarecerá inclusive como se procede

a operação do BA da CEASA/PR, unidade de Curitiba.

2.3 A Concepção do Banco de Alimentos no Âmbito Nacional

Na temática que tem como foco central o conhecimento das atribuições

do BA, enquanto equipamento componente da Política de SAN cabe a este

tópico determinar a nível nacional, o que é um BA, qual seu objetivo, seu

funcionamento interno, quem são os profissionais habilitados a atuar nele e,

atualmente, quais os estados e municípios do Brasil que têm unidades em

funcionamento.

Conforme o MDS define

O Banco de Alimentos é uma iniciativa de abastecimento e segurança alimentar que tem como objetivo arrecadar alimentos, por meio de articulação do maior número possível de unidades de comercialização, armazenagem e processamento de alimentos, visando o recebimento de doações de alimentos fora dos padrões de comercialização, mas sem nenhuma restrição de caráter sanitário (produtos inadequados para a comercialização, mas próprios para consumo humano). Após feita seleção, classificação, processamento ou não, porcionamento e embalagem, estes alimentos são distribuídos gratuitamente para entidades assistenciais, de acordo com suas reais necessidades de consumo, definidas a partir de um trabalho de avaliação desenvolvido pela equipe do próprio Banco de Alimentos.

Ainda nos valendo das considerações do MDS (2007), após este primeiro

passo, as entidades cadastradas têm o objetivo de distribuir os alimentos

arrecadados à população em situação de vulnerabilidade alimentar e social.

Para que estas entidades sociais possam participar como beneficiárias de um

BA, antes mesmo de conhecer os critérios estabelecidos, devem respeitar a

caráter gratuito e discreto das ações desenvolvidas pelo BA, e reconhecer o

caráter de instabilidade no que diz respeito aos produtos recebidos através do

BA.

7 Disponível em: http://www.mds.gov.br/falemds/perguntas-frequentes/seguranca-alimentar-e-nutricional/banco-de-alimentos/gestor/banco-de-alimentos

Page 45: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

45

São critérios para adesão ao programa, assim como cita MDS:

(...) entidades sociais, sem fins lucrativos, em geral, registradas ou em processo de registro no Conselho Municipal de Assistência Social ou em outros Conselhos de Políticas Públicas, que atendam gratuitamente pessoas em situação de vulnerabilidade alimentar, por meio da produção e do fornecimento de refeições. Estão entre elas os mais diversos tipos de entidades: creches, asilos, albergues, casas de recuperação, abrigos para crianças e idosos, orfanatos, entidades que atendem população de rua (2007, p. 12):

No que diz respeito à seleção das entidades sociais a serem cadastradas,

assim como elucida MDS (2007), estas serão selecionadas pela equipe técnica

do BA através de Assistentes Sociais, que deverão realizar um estudo sobre as

proponentes no sentido de conhecer a população por elas atendida. O estudo

deve envolver também outras questões relevantes para o BA local, como

questões de higiene, boas práticas de manipulação dos alimentos, utilização e

distribuição dos produtos recebidos em tempo hábil para a sua conservação.

Estes quesitos determinam a adesão da entidade social, bem como sua

manutenção no programa.

No que diz respeito à característica de um BA, o MDS relata:

Pelo seu modo de operar, um Banco de Alimentos caracteriza-se como uma forma solidária, organizada e responsável de, por um lado, aproveitar os desperdícios, em boas condições para consumo, oriundos de toda a cadeia produtiva e, por outro, auxiliar na complementação de refeições da parcela da população em situação de vulnerabilidade alimentar. A ação do Banco de Alimentos deve ser sempre discreta, respeitadora da privacidade de quem doa e de quem recebe, além de ser marcada pela gratuidade. Essa condição de não visar o lucro, confere ao Banco de Alimentos o direito de fiscalizar e exigir que as entidades assistenciais efetivamente distribuam os alimentos recebidos, sem custos de qualquer ordem, exclusivamente para as pessoas por elas atendidas. Os Bancos de Alimentos, quando implantados em escala compatível com o volume da demanda percebida, têm potencial para transformar-se num instrumento de luta contra o desperdício e de combate à fome que ultrapassa o caráter meramente assistencial. Os Bancos de Alimentos deverão vir acompanhados de ações estruturantes e de promoção da segurança alimentar e nutricional, como a educação alimentar e educação para o consumo, devendo atuar de modo complementar e suplementar a outros programas de alimentação de públicos específicos, como crianças e idosos, sem a pretensão de assumir e responder integralmente pela demanda de alimentos de sua população alvo (2007, p. 13).

Ainda aproveitando as considerações do MDS, pode-se afirmar que um

BA geralmente é instalado em municípios com uma população em torno de

Page 46: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

46

100.000 habitantes, devido à maior concentração de centros de distribuição,

atacadistas, varejistas, restaurantes, ou mercados, o que conseqüentemente

implica em desperdício de alimentos; e, por existir mais entidades sociais, que

atendam a população urbana em situação de vulnerabilidade alimentar e social.

O BA pode ser empreendido por organização da sociedade civil de

interesse social, sem fins lucrativos, ou por governos municipais. Quando da

implantação do BA, parte do interesse da sociedade civil, ou de uma

organização que já desenvolve atividades de cunho social, caso da

CEASA/PR, este deverá ter personalidade jurídica de direito privado, sem fins

lucrativos.

É imprescindível a elaboração de um estatuto ou um regimento interno

para o BA, para que nele seja depositado um caráter de trabalho transparente;

é aconselhável que seja formado também um conselho, com participação da

sociedade civil, das entidades cadastradas e órgãos do poder público. O MDS

(2007, p. 14) assegura que a formação do conselho garante a democracia na

gestão do BA, pois haverá fiscalização dos dirigentes, dando maior

transparência, sustentabilidade e legitimidade ao instrumento.

No que diz respeito à atuação do BA, desenvolvendo ações

compartilhadas, Brasil assim considera:

Grande parte do sucesso de um Banco de Alimentos deve-se à capacidade de seus operadores em estabelecer parcerias. Ainda que a iniciativa de implantar o Banco de Alimentos seja do governo local, representantes da sociedade civil, de empresas privadas, cidadãos e outros órgãos de governo podem e devem participar das ações empreendidas pelo Banco de Alimentos de diferentes formas, seja doando alimentos e equipamentos, coletando as doações ou prestando serviços voluntários. As parcerias firmadas no local são fundamentais para diminuir os custos, desenvolver novas atividades ligadas à promoção da segurança alimentar, aumentar o volume de alimentos doados e a capacidade de atendimento do Banco de Alimentos e, em última estância, para complementar um número maior de refeições atendendo uma parcela maior da população em situação de vulnerabilidade alimentar (2007, p. 14).

As ações do BA, ainda segundo o MDS (2007), não devem se limitar

apenas na realização da coleta, da seleção e da distribuição dos produtos. É

importante criar ações periódicas de capacitação da equipe do próprio BA e

dos manipuladores das entidades beneficiadas, pela Vigilância Sanitária local

ou por outros órgãos competentes, com orientações e cursos de boas práticas

Page 47: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

47

de higiene e manipulação/produção de alimentos; de higiene pessoal, do local

e dos equipamentos; de manipulação correta dos alimentos (recebimento,

armazenamento, distribuição e preparo); de microbiologia e aproveitamento

integral dos alimentos; de noções de cardápio, de lactário e de alimentação

equilibrada, por exemplo.

Com relação à equipe de atuação dos BA, o MDS define:

a. Coordenador - que deve atuar permanentemente como “captador” de doações; representar o BA em congressos, palestras, entrevistas e outros eventos; elaborar materiais didáticos sobre o BA, objetivando o incentivo das doações e a divulgação dos trabalhos/resultado realizados/obtidos; organizar e coordenar as reuniões da Câmara de Gestão ou Conselho de Administração, bem como cumprir as metas estabelecidas por ela.

b. Nutricionista ou profissional da área de alimentação (engenheiro de alimentos, bióloga, médico veterinário, engenheiro agrônomo e outros) - elaborar e supervisionar as boas práticas de manipulação na área de alimentos; avaliar a qualidade dos alimentos doados; responsabilizar-se pela aprovação da qualidade dos produtos; controlar a distribuição dos produtos conforme atendimento local; recomendar o destino final dos produtos; capacitar a equipe do BA, entidades assistenciais e da população; realizar visitas técnicas às entidades assistenciais; realizar o controle do estoque; elaborar materiais didáticos; desenvolver técnicas para redução e/ou eliminação do desperdício.

c. Assistente social - realizar e coordenar o cadastro de entidades assistenciais beneficiárias; verificar se as entidades assistenciais atendem corretamente a todas as família cadastradas no BA; informar ao coordenador do BA as possíveis mudanças no cadastro das entidades assistenciais; realizar visitas periódicas às entidades assistenciais.

d. Assistente administrativo - organizar arquivos, expedição de correspondência e documentos, execução de serviços de informática e outros trabalhos administrativos; realizar contato diário com as empresas parceiras para verificar volume de doação, data e horário para a retirada; encaminhar ao encarregado operacional o roteiro para retirada das doações, bem como a relação das entidades que serão beneficiadas; auxiliar na organização de eventos, campanhas e cursos.

e. Encarregado operacional - realizar contato com os doadores para verificar o volume de doações; realizar e coordenar a coleta e o recebimento dos produtos; realizar a triagem e o descarte dos produtos impróprios para o consumo humano; controlar o acondicionamento, armazenamento dos produtos e a identificação por doador; controlar a entrada e saída dos produtos; realizar a expedição e a emissão de recibos; coordenar trabalhos de higienização ambiental e dos equipamentos e utensílios; auxiliar a equipe técnica e administrativa do BA; auxiliar na organização de eventos.

f. Auxiliares gerais - realizar a coleta dos produtos em seu local de origem; responsabilizar pela carga e descarga dos produtos; responsabilizar pelas etapas de pré-seleção, seleção, pesagem e pela higienização de embalagens; acondicionar, identificar e armazenar os produtos selecionados; realizar a higienização das

Page 48: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

48

dependências (instalações, equipamentos, bancadas, monoblocos, pallets, carrinhos, plataforma e caixas isotérmicas) do BA; realizar o descarte e acondicionamento do lixo.

g. Motorista - responsável pelo transporte dos produtos e de técnicos da equipe do BA em visitas a parceiros e entidades, captação de recursos, vistorias e outros; auxiliar no carregamento e descarregamento dos alimentos.

h. Estagiários de Nutrição ou de área afim - auxiliar nas visitas técnicas periódicas às entidades e aos doadores; auxiliar no controle da qualidade dos alimentos e no armazenamento dos produtos; auxiliar na supervisão operacional do BA; auxiliar na organização de cursos e eventos; auxiliar nas atividades técnicas inerentes ao Banco de Alimentos, inclusive testes de receitas, cálculo nutricional e custos; realizar pesquisa científica (2007, p. 25 a 28).

Em relação ao número de BA existentes no país, MDS relata:

No Brasil, uma das experiências pioneiras no âmbito governamental é o Banco Municipal de Alimentos de Santo André - SP, criado em 2000. Além deste existem ainda, o Banco de Alimentos de Embú das Artes, Banco de Alimentos de Guarulhos, Banco de Alimentos da cidade de Belo Horizonte, Banco de Alimentos da Cidade de São Paulo, Banco de Alimentos do Rio Grande do Sul, Prato Amigo na cidade de Salvador, Banco de Alimentos de Rio Claro, Banco de Alimentos de São Carlos, Banco de Alimentos CEASA Campinas, Banco de Alimentos da cidade de Diadema, Banco de Alimentos de Goiânia, Banco de Alimentos das cidades de Ribeirão Preto e São José do Rio Preto, Banco de Alimentos de Campina Grande, vários bancos de alimentos do SESC - Mesa Brasil, entre outros (2007, p. 10).

2.4 O Banco de Alimentos da Ceasa/PR, Unidade de Curitiba

Em 2003, o Projeto COOPNUTRI mudou seu nome para CEASA Amiga,

porém com a mesma lógica de atuação, através do repasse in natura dos

alimentos recebidos e a realização de ações de educação alimentar às

entidades sociais. No ano de 2007, o programa COOPNUTRI deu lugar ao

Programa BA.

O BA, unidade de Curitiba, é um programa social da CEASA/PR,

realizado em parceria com diversas instituições governamentais ou não, que

tem como objetivo, organizar a coleta dos hortigranjeiros não comercializados

pelos atacadistas e por produtores rurais e repassá-los às entidades socais.

Outra linha de atendimento realizado pelo BA é através da parceria

realizada com o PAA, programa do Governo Federal, que tem por finalidade

Page 49: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

49

realizar a compra direta dos produtos do agricultor familiar com recursos

disponibilizados pelo MDS e do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA),

e repassar aos segmentos que atuem na linha da SAN. Nesta perspectiva, o

incentivo a agricultura familiar estará sendo fortalecida e os costumes e hábitos

alimentares de determinadas regiões estarão sendo assegurados; desta forma

a soberania alimentar também será preservada. As entidades sociais atendidas

pelo BA serão beneficiadas com os produtos vindos do PAA, quando em sua

atuação, realizar a modalidade de atendimento através de refeições servidas

na própria entidade.

Além da distribuição às entidades sociais dos produtos recebidos através

do comércio atacadista e do PAA, o BA atende famílias que moram no entorno

da CEASA/PR, de outras regiões de Curitiba e da Região Metropolitana,

através do programa denominado Mesa Saudável, na mesma lógica do

atendimento as entidades cadastradas.

A instituição de um Conselho Gestor é uma das propostas sugeridas

quando da criação de um BA. Em sua composição deverá conter 1/3 dos

representantes governamentais, 1/2 da sociedade civil organizada e 1/6 das

entidades sociais. Nesse sentido o BA, na CEASA/PR de Curitiba, o Conselho

Gestor objetiva realizar o controle social das ações desenvolvidas, propor

formas de atuação que enfrente o desperdício, seja pela sensibilização ao

comerciante e ao produtor, seja pela sensibilização das entidades de se

envolverem com estas ações e desta forma se tornam multiplicadoras do

combate ao desperdício e a fome. Compõem a equipe profissional do BA,

unidade de Curitiba, 1 Coordenadora e Assistente Social, 2 encarregados

operacionais, 1 motorista, 9 auxiliares de serviços gerais, 3 estagiárias, uma

graduanda em Serviço Social e 3 técnicas em Nutrição.

O BA além de realizar a coleta e a distribuição dos hortigranjeiros,

também desenvolve ações educativas voltadas a SAN como forma de garantir

a promoção da saúde, como a realização de cursos, palestras e oficinas em

parceria com organizações governamentais ou não e pessoas da sociedade

civil.

Em 2007, ano em que a criado o BA, ocorreu nas dependências da

CEASA/PR a modernização da estrutura. Juntamente a essa ação, foi efetuada

a compra de uma série de equipamentos, conforme sugestão do MDS (2007),

Page 50: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

50

para implantação do programa que evita desperdício de alimentos. Assim o

COOPNUTRI transformou-se em BA.

No ano corrente (2010) se pode verificar a consolidação desta ação:

equipamentos estão sendo instalados, com base na proposta de BA nacional,

para que as operações básicas, como recepção, seleção, divisão, embalagem

e distribuição, sejam concretizadas ainda no presente ano. Visto que no BA, os

produtos são repassados in natura às entidades sociais e as famílias

assistidas, o novo processo seletivo da CEASA/PR virá melhorar ainda mais a

qualidade e higiene dos produtos repassados. Assim, a CEASA/PR está em

vias de completa adequação a citação do MDS, conforme descrito a seguir:

Para que o Banco de Alimentos possa funcionar adequadamente, é necessário adquirir um conjunto mínimo de equipamentos, móveis e utensílios e materiais de consumo, essenciais ao bom funcionamento das operações. O dimensionamento dos equipamentos está relacionado diretamente ao volume e tipo de produtos arrecadados em doação e ao sistema de distribuição. Os equipamentos devem ser de material resistente, de fácil limpeza e desinfecção, confeccionados em material impermeável, que não transmitam substâncias tóxicas e odores. Devem ser resistentes à corrosão e a repetidas operações de higienização. A superfície dos equipamentos devem ser lisas e livres de rugosidades, frestas e outras imperfeições que possam comprometer a higiene dos alimentos ou se caracterizem como fontes de contaminação (2007, p. 23).

Para que um BA possa funcionar de maneira adequada, que possibilite a

realização de um trabalho fundamentado, com lógica de atuação e que vá de

encontro aos preceitos de SAN, existem algumas observações a serem

analisadas; nesse sentido o BA, unidade de Curitiba, vem de forma gradativa

se adequando a esta perspectiva, para que o trabalho seja visto de maneira

transparente e concisa.

O processo de inclusão da entidade social interessada em receber os

produtos do BA, ocorre da seguinte maneira através de cadastro prévio.

Primeiramente ela deve encaminhar um ofício via e-mail ao BA, fazendo

solicitação de inclusão ao programa. Após este recebimento, a equipe

profissional, encaminha novamente via e-mail o formulário de cadastro; a

entidade social deverá preenchê-lo com os seus dados identificativos (citando

histórico, atividades desenvolvidas, profissionais atuantes, público atendido,

modalidade de atendimento alimentar, etc.).

Page 51: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

51

Após a análise do formulário é marcada uma reunião com a entidade

social, a fim de expor o trabalho desenvolvido. Alguns documentos da entidade

serão recolhidos (cópias), tais como: Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica

(CNPJ), Conselho Municipal da Assistência Social (CMAS), Estatuto Social, Ata

de Fundação, Ata de Posse da Diretoria e Comprovante de Endereço. Fica

estabelecido nesta mesma reunião, o dia de retirada dos produtos pela

entidade (uma vez por semana).

Existem ainda alguns critérios determinados pelo BA para que a entidade

social possa participar do programa: a entidade deve possuir caráter de

assistência social ou utilidade pública; fornecer refeição no local ou distribuir os

produtos in natura (neste caso a entidade deve fazer a entrega do cadastro das

famílias ao BA); possuir condições mínimas para o acondicionamento e

preparo dos alimentos; disponibilizar voluntários para a coleta, seleção e

distribuição dos produtos; dispor de meio de transporte para a coleta; participar

de cursos, oficinas e palestras de capacitação e treinamento na área de SAN,

saúde e assistência social.

A aprovação final para o cadastro da entidade se dará por meio da

análise da equipe do BA e do seu Conselho Gestor e da assinatura do termo

de adesão e compromisso ao programa pela entidade beneficiada.

2.5 Perfil das Entidades Atendidas: o Relato de uma Experiência

A análise de perfil das entidades atendidas apresentada a seguir é fruto

do trabalho realizado pela pesquisadora sob a coordenação de sua

supervisora/assistente social de campo, do programa BA, durante seu período

de estágio. O perfil foi construído para caracterizar a realidade das entidades

sociais atendidas.

Essa análise serviu de subsídio e justificativa para a escolha da localidade

das entidades participantes como amostra no estudo. Ela também quantificou,

para a pesquisa empírica, as entidades de acordo com a atividade realizada, se

de distribuição ou de manipulação de alimentos, e serviu como base para o

cumprimento do objetivo específico de relato de experiência da pesquisadora

em seu campo de estágio.

Page 52: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

52

O perfil que será apresentado foi elaborado com base nas informações

prestadas pelos responsáveis das entidades sociais, quando da realização do

cadastro junto ao BA, ou seja, através do levantamento de dados quantitativos.

Os dados que seguem foram avaliados no período de referência de

novembro/2008, início do estágio da pesquisadora, até março/2010. A fonte

desses dados foi o BA, da CEASA/PR, unidade Curitiba.

2.5.1 Entidades Sociais Cadastradas no BA

GRÁFICO 1 - ENTIDADES SOCIAIS CADASTRADAS NO BA.

FONTE: BA CEASA/PR.

Quando do início do estágio neste campo, foi solicitado via e-mail e

também por telefone, às entidades que já se encontravam cadastradas

Page 53: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

53

(anterior ao mês de novembro de 2008 - início do estágio da acadêmica), o

recadastramento das mesmas. A grande maioria atendeu ao pedido do BA

somente a partir do mês de março de 2009.

Identifica-se, nesse sentido, que as entidades foram pouco solícitas, vez

que, foram solicitadas por duas ocasiões para a atualização de seus dados. As

entidades, enquanto protagonistas e responsáveis por organizações que atuam

em prol das demandas sociais, necessitam de conhecimento e acesso às

solicitações de cunho burocrático requeridas por suas instituições parceiras,

neste caso o BA. Em outros casos, o atraso do retorno da informação poderia

ter acarretado em prejuízo no abastecimento dos produtos para os usuários da

entidade, por exemplo.

2.5.2 Entidades Cadastradas Após Novembro/2008

GRÁFICO 2 - ENTIDADES CADASTRADAS APÓS NOVEMBRO/2008.

FONTE: BA CEASA/PR.

Page 54: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

54

No período de estágio da pesquisadora por 4 vezes, a saber, em

novembro/2008, março/2009, novembro/2009, março/2010, novas inclusões de

entidades sociais foram realizadas, e neste percurso podemos analisar que a

maior adesão ocorreu em novembro de 2009, depois em março de 2010.

2.5.3 Freqüência Geral e Anual do Atendimento Realizado às

Entidades Sociais em 2009

GRÁFICO 3 - FREQUÊNCIA GERAL E ANUAL DO ATENDIMENTO REALIZADO ÀS

ENTIDADES SOCIAIS EM 2009.

FONTE: BA CEASA/PR.

Page 55: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

55

Cada entidade social tem direito a 48 coletas anuais no BA, levando em

consideração feriados e recessos, pois cada uma é atendida uma vez por

semana, o que anualmente totalizam em 48 atendimentos por entidade.

Percebe-se através da análise do gráfico 3, que apenas 6 entidades

sociais se aproximam do número determinado; outras 8 ultrapassaram a

quantidade proposta. Não foi possível analisar a freqüência de 79 entidades,

pois a ficha de freqüência das mesmas, manuaseada pela equipe operacional

do BA, não foi repassada à pesquisadora.

Observa-se, portanto, que apesar do número de entidades cadastradas

junto BA ser relativamente alto, o comprometimento individual de cada uma em

retirar os produtos periodicamente no ano de 2009, ainda se encontra

defasado. Esse fato pode se justificar pela falta de transporte das mesmas,

porém, é algo que demanda maior pesquisa para o conhecimento necessário

dos outros fatores que levam a estes determinantes.

2.5.4 Dia de Retirada dos Produtos em 2009

GRÁFICO 4 - DIA DE RETIRADA DOS PRODUTOS EM 2009.

Page 56: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

56

FONTE: BA CEASA/PR.

Neste gráfico é possível perceber que o dia que em que existem mais

entidades cadastradas para receber os produtos é na terça-feira. É válido

mencionar que o fluxo de maior comercialização na CEASA/PR se dá nas

terças e quintas-feiras, ou seja, dias de maiores doações realizadas pelos

permissionários ao BA.

Podem-se sugerir para esses dias específicos, atividades de cunho

sensibilizador, para tornar pública a instituição do BA, de maneira interventiva e

propositiva, criando um espaço de diálogo com as entidades atendidas. Além

disso, falar sobre a atuação do BA enquanto um mecanismo que efetiva a

Política de SAN, incentiva o resgate de alguns eixos balizadores desta política,

tais como, o manuseio correto dos alimentos para os profissionais das

entidades, a importância da multiplicação de saberes acerca do não

desperdício de alimentos, a importância da sociedade em ter o conhecimento

que a alimentação é um direito social e que existem programas e projetos que

possam atendê-las nesse sentido, mas sempre salientando que os programas

sociais são emergenciais e que servem de incentivo para a amenização das

vulnerabilidades sociais para, posteriormente, contribuir para a emancipação

do indivíduo.

Nesse sentido também seria interessante o BA disponibilizar palestras

macro sociais, ou seja, assuntos que permitem um conhecimento maior da

realidade social, como exemplo, SAN, cidadania, assistência social, entre

outros.

2.5. 5 Dia Efetivo de Retirada de Produtos em 2009

Neste gráfico (5) podemos comprovar que a maior incidência de ida ao

BA por parte das entidades sociais, se dá na terça-feira, porém aqui o número

é preciso: no gráfico anterior 56 estão cadastradas na terça-feira, mas nem

todas efetivamente comparecem para a retirada das doações.

Page 57: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

57

Com base no levantamento realizado a partir da ficha de freqüência,

comprovou-se que efetivamente 45 entidades retiram produtos na terça-feira,

ou seja, a maioria das entidades sociais.

GRÁFICO 5 - DIA EFETIVO DE RETIRADA DE PRODUTOS EM 2009.

FONTE: BA CEASA/PR.

2.5. 6. Documentos Necessários para o Cadastro

Cada entidade quando realiza adesão junto ao BA deve entregar a

fotocópia dos docmentos a seguir listados: CNPJ, CMAS, Estatuto Social, Ata

de Fundação, Ata de Posse da Diretoria e Comprovante de Endereço, como

inclusive já foi relacionado no item 2.4 desse estudo.

O que facilmente se perceba pela desmonstração gráfica a seguir, é que

a maioria das entidades sociais não dispõe de cadastro no CMAS. Essa

Page 58: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

58

ausência de cadastrado leva ao questionamento do trabalho desenvolvido por

essas entidades pois parte-se do pressuposto de que toda entidade de caráter

social deve manter parceria com órgãos que efetivem polícas de assistência

social, no sentido de atribuir às suas atividades credibilidade e transparência.

Além disso, a visibilidade dessas parcerias governamentais remete a

dimensões ético-políticas, teórico-metodológicas e técnico-operacionais de

forma a garantir a promoção da cidadania.

GRÁFICO 6 - DOCUMENTOS NECESSÁRIOS PARA O CADASTRO.

FONTE: BA CEASA/PR.

Sabe-se que as pessoas que se interessam em criar uma organização

social, são pessoas que de alguma forma convivem ou se sensibilizam com

determinadas expressões da questão social; muitas vezes são pessoas físicas

que não dispõem de um conhecimento teórico que possibilite uma visão

totalizadora das demandas. Pode-se analisar desse modo, que há o

desconhecimento da importância do trabalho em redes, o que também em

certos casos dificulta a organização burocrática da entidade social, tornando

precária ou permanentemente assistencialista a atividade social. Mesmo que

Page 59: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

59

de início, o trabalho social passa por uma fase assistencialista mas a sua

continuidade nesse mesmo formato não se justifica.

2.5.7 Municípios das Entidades Sociais Cadastradas

No gráfico 7 gráfico percebe-se que a grande maioria das entidades se

encontra localizada na região de Curitiba. Posteriormente, os números

apontam para a região metropolitana de São José dos Pinhais e Piraquara.

GRÁFICO 7 - MUNICÍPIOS DAS ENTIDADES SOCIAIS CADASTRADAS.

FONTE: BA CEASA/PR.

Page 60: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

60

Nesta análise, com base no critérios de implantação definidos pelo MDS,

de implantar BA quando no município quando residirem mais de 100.000

habitantes, se pode sugestionar pontos de instalação para novos BA, pois o

comércio alimentício terá maior concentração e o desperdício de alimentos se

fará maior. Mesmo o BA sendo um programa social da CEASA/PR, podemos

analisá-lo estando em consonância com este critério básico, o que também

permitiria o trabalho em redes com outros segmentos que atuam nesta mesma

perspectiva, a amenização da fome e logo o desperdício de alimentos.

2.5.8 Localização por Regionais das Entidades Cadastradas

GRÁFICO 8 - LOCALIZAÇÃO POR REGIONAIS DAS ENTIDADES CADASTRADAS.

FONTE: BA CEASA/PR.

Page 61: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

61

A análise do gráfico 7 demonstra a maior concentração das entidades

sociais atendidas pelo BA com localização no município de Curitiba, portanto,

se fez relevante conhecer em quais regiões da capital se encontra a maior

concentração das mesmas.

Na amostra apresentada no gráfico 8, percebe-se a maior concentração

na regional Matriz, que engloba os bairros Ahu, Alto da Glória, Alto da Rua XV,

Batel, Bigorrilho, Bom Retiro, Cabral, Centro, Centro Cívico, Cristo Rei, Hugo

Lange, Jardim Botânico, Jardim Social, Juvevê, Mercês, Prado Velho,

Rebouças e São Francisco.

A análise da tabela de dados gerais das entidades sociais, arquivada na

DIVAS da CEASA/PR, unidade de Curitiba, identifica que o bairro que abrange

maior concentração de entidades sociais atendidas é o do Rebouças. Trata-se

de uma questão para aprofundamento de análise, para compreensão mais

concreta ocorrência.

2.5.9 Modalidade de Atendimento

GRÁFICO 9 - MODALIDADE DE ATENDIMENTO.

Page 62: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

62

FONTE: BA CEASA/PR.

Com base nos dados apresentados no gráfico 9, percebe-se que a grande

parcela de entidades beneficiadas pelo BA são instituições que atuam na

modalidade assistencial, sem público específico, como exemplo, aquelas que

atendam somente a idosos, ou seja, a maioria das entidades sociais, com base

nas informações acima expostas, presta atendimento para todas as pessoas

que se encontram em alguma situação de vulnerabilidade social.

2.5.10 Público Alvo

Conforme elucidado no gráfico 9, o qual expõe que a grande maioria das

entidades sociais atendidas não apresenta modalidade de atendimento

específico.

GRÁFICO 10A - PÚBLICO ALVO.

Page 63: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

63

FONTE: BA CEASA/PR.

Para análise do público alvo, portanto, devido justamente e essa

multiplicidade de pessoas atendidas, deu-se através de dois gráficos, para

facilitação do entendimento da questão.

GRÁFICO 10B - PÚBLICO ALVO.

Page 64: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

64

FONTE: BA CEASA/PR.

A partir da análise dos dois gráficos acima expostos (10A e 10B) se

percebe que a maior parcela de público atendido pelo BA, através das

entidades sociais cadastradas, se constitui em famílias em situação de

vulnerabilidade social. Outro grande público são crianças e adolescentes.

Compreende-se a partir dessa análise ser de grande valia o conhecimento de

entidades que atendem a estas demandas, a fim de verificar o trabalho

desenvolvido especificamente para e com este público, visto que se pode

orientá-los a partir de um diálogo a encontrar estratégias para uma atuação

efetiva, que de fato minimize as diversas expressões da questão social, que

fazem com que estes públicos sejam os mais fragilizados.

2.5. 11 Pessoas Atendidas pelas Entidades por Faixa Etária

GRÁFICO 11 - PESSOAS ATENDIDAS PELAS ENTIDADES POR FAIXA ETÁRIA.

Page 65: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

65

FONTE: BA CEASA/PR.

A análise do gráfico 11, como forma de se comprovar o público atendido,

acima exposto no item 2.5.10, demonstra que a maior concentração de

pessoas atendidas pelas entidades sociais se encontra na faixa etária que

perpassa pela infância, adolescência, juventude e fase adulta.

2.5. 12 Destinação dos Produtos

GRÁFICO 12 - DESTINAÇÃO DOS PRODUTOS RECEBIDOS PELO BA.

Page 66: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

66

FONTE: BA CEASA/PR.

Entende-se através da amostragem exposta no gráfico 12, ser de grande

relevância a análise específica da destinação dos produtos coletados através

do BA da CEASA/PR, unidade Curitiba, pois esse dados elucida como as

doações recebidas estão sendo efetivamente utilizadas.

Com base nestas informações, nota-se que a maior parte das entidades

sociais manipula o alimento na própria instituição e que outra parcela

significativa o distribui in natura. Essa detecção estimula agora ao

entendimento sobre a existência de ações de educação alimentar com este

público, para verificação da atuação ou não de profissionais capacitados para

realizar o aproveitamento integral dos alimentos.

2.5.13 Entidades com Profissionais de Serviço Social

GRÁFICO 13 - ENTIDADES COM PROFISSIONAIS DE SERVIÇO SOCIAL.

Page 67: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

67

FONTE: BA CEASA/PR.

Das 265 entidades sociais atendidas, observa-se que 201 possuem o

profissional de Serviço Social. Essa questão se apresenta de forma bastante

contraditória: se a grande maioria das entidades sociais tem em seu quadro de

funcionários um profissional da área de assistência social, quais seriam os

possíveis fatores responsáveis pelo baixo número de entidades que se

encontram cadastrados CMAS - órgão de controle social auxilia as entidades a

ele vinculadas, na promoção de ações, programas e projetos com vista à

cidadania?

2.5. 14 Entidades com Profissionais de Nutrição

Pode-se perceber pela análise do gráfico 14, que o número de

nutricionistas nas entidades sociais é baixo, o qual nos faz analisar possíveis

dificuldades para a publicização dos princípios de SAN. Seria interessante ter

conhecimento referente ao entendimento que estes profissionais presentes nas

entidades sociais têm acerca desta temática. Tem-se aqui mais um ponto de

investigação, como um instrumento de conhecimento, para percepção do

Page 68: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

68

trabalho desenvolvido pelos profissionais que estão direta e indiretamente

envolvidos nas entidades sociais sobre a Política de SAN.

GRÁFICO 14 - ENTIDADES COM PROFISSIONAIS DE NUTRIÇÃO.

FONTE: BA CEASA/PR.

No próximo capítulo apresentaremos os dados empíricos desta pesquisa.

3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS EMPÍRICOS DA PESQUISA

O presente capítulo tem como objetivo apresentar os dados coletados

durante a pesquisa empírica, bem como da análise de seu conteúdo.

Page 69: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

69

Apresentar-se-ão quadros com informações das entidades sociais escolhidas

para entrevista e em seguida, dados dos profissionais que as representaram no

repasse das informações.

3.1 Apresentações das Entidades Sociais objeto de nossa pesquisa

empírica

3.1.1 Dados Institucionais

TABELA 1 - DADOS INSTITUCIONAIS DA ASSOCIAÇÃO FEMININA DE PROTEÇÃO À

MATERNIDADE E A INFÂNCIA DE CURITIBA.

FONTE: A AUTORA.

TABELA 2 - DADOS INSTITUCIONAIS DO PRECAVVIDA.

Page 70: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

70

FONTE: A AUTORA.

TABELA 3 - DADOS INSTITUCIONAIS DO INSTITUTO AMA.

FONTE: A AUTORA.

TABELA 4 - DADOS INSTITUCIONAIS DO ROCHA VIVA PROMOÇÃO SOCIAL.

Page 71: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

71

FONTE: A AUTORA.

TABELA 5 - DADOS INSTITUCIONAIS DO LAR RECANTO TARUMÁ.

FONTE: A AUTORA.

Page 72: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

72

TABELA 6 - DADOS INSTITUCIONAIS DA ASSOCIAÇÃO COMUNITÁRIA DAS VILAS

ESPERANÇA E NOVA CONQUISTA.

FONTE: A AUTORA.

Após esta breve apresentação das entidades sociais visitadas, no

próximo item, apresentar-se-ão informações referentes ao profissional que

concedeu a entrevista.

3.1.2 Dados dos Profissionais Participantes Através de Entrevista

TABELA 7A - DADOS DOS PROFISSIONAIS PARTICIPANTES ATRAVÉS DE ENTREVISTA.

FONTE: A AUTORA.

Page 73: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

73

TABELA 7B - DADOS DOS PROFISSIONAIS PARTICIPANTES ATRAVÉS DE ENTREVISTA.

FONTE: A AUTORA.

Após a apresentação dos dados institucionais das entidades sociais

visitadas, e dos dados dos profissionais que concederam entrevista, o próximo

item, apresentará a análise dos conteúdos adquiridos através da entrevista

semi-estruturada.

3.2 Análises dos Dados

Este item tem por objetivo analisar o conteúdo coletado durante as visitas

institucionais. Para tanto foi utilizado como instrumento de coleta de dados, um

questionário, o qual serviu de fundamento para a entrevista semi-estruturada.

Apresenta-se a seguir as concepções levantadas, no que se refere às

considerações dos nossos sujeitos da pesquisa.

No primeiro bloco apresentam-se perguntas a respeito da questão da

fome, do direito à alimentação - garantia constitucional -, sobre quais as

concepções dos mesmos sobre o DHAA e soberania alimentar, e

considerações sobre a Política de SAN. No segundo bloco, tratou-se de

questões sobre o BA.

Nas visitas realizadas, tomou-se conhecimento das entidades sociais

escolhidas como amostra, elencadas acima, na qual cada representante

apresentou as dependências da instituição, bem como relatou quais as ações e

trabalhos desenvolvidas.

Deste modo iniciou-se a entrevista com questões pertinentes ao tema de

pesquisa. Com base no questionário aplicado, o qual continha perguntas semi-

abertas, a pesquisadora realizou a entrevista.

Page 74: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

74

Os representantes responderam as questões a seguir apresentadas.

3.2.1 Entrevistas do Bloco 1

Em sua opinião, quais os fatores responsáveis pela fome?

A Sra. J. F. A. (assistente social), representante da entidade social A-28,

assim considerou:

Eu acho que por uma questão de comodismo ta, eu posso ta sendo agora injusta com certas pessoas, mais eu acho que é por uma questão de comodismo mesmo ta, é porque as pessoas a partir do momento em que ta passando fome, ela se aliena, ela não busca meios pra sobreviver né, ela prefere continuar ali, do que ela buscar meios pra sobreviver, num primeiro ponto. Num segundo ponto né, as oportunidades de trabalho pras pessoas que tem menos instrução né, é mais difícil né, hoje é mais difícil, as empresas ela não dão oportunidade, e o próprio meio social que faz com que essa pessoa sinta-se excluída mais do que ela esta, eu acho que esse é o segundo ponto da questão da fome hoje né, e tanto a nível federal, como a nível estadual, como a nível municipal, a preocupação não é matar a fome dessa população e sim é continuar fazendo com que essa população ela seja cada vez mais oprimida né, é um meio de o governo fazer com que essas pessoas se aliene, e não briguem pelos seus direitos né, eu acho que esse é um terceiro ponto, e o que mais poderia ser... A falta de política pública mesmo.

O Sr. P. K (líder da entidade), representando a entidade social R-2,

pronunciou:

(...) oportunidade até está havendo mais, mais o pessoal ainda tem a visão de ganhar as coisas, de querer as coisas, então eu acho que é perspectiva de vida mesmo, porque ele já vem de uma família que não trabalhava ai ele quer viver assim, hoje quem quer tomar atitudes pode mudar, eu vejo isso, problema familiar, uso de droga, bebida (...).

A Sra. R. P. (nutricionista), representante da entidade S-5, contribui

comentando:

Eu acho que aqui no Brasil o desperdício é grande, desde la na lavoura né, tem o desperdício, a concentração da renda também é responsável, e eu também na minha concepção a corrupção o uso de dinheiro de programas que deveriam ser usados pra isso pra

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75

solucionar o problema da fome, são desviados e não chega a quem precisa.

O Sr. O. S. R. (presidente da entidade) representando a entidade social

A-36, sobre a questão da fome, respondeu:

Olha o que é mais causador da questão da fome no Brasil né,inteiro e isso Curitiba faz parte é a questão da falta de distribuição de renda então o Brasil viveu muitos anos principalmente na época da ditadura militar na época do militarismo se concentrou muita renda na mão de poucos e o povão ficou desempregado ficou sem estudar, aí começou a pobreza muito grande.

Com base nas respostas adquiridas, pode-se perceber que vários

pontos causadores da fome foram levantados, porém com perspectivas

equivocadas. Assim como comentado pela Sra. J.F.A., que acredita ser por

uma questão de comodismo, é perceptível que esta análise, contribui para o

acirramento da expressão da questão social da fome nos dias atuais.

Partindo deste pressuposto, se analisa uma resposta que contribui para

esta visão conservadora, na qual o sujeito de pesquisa cita a questão do

costume das pessoas vulnerabilizadas de ganhar benefícios, e então não

saírem desta linha da pobreza, ou seja, a população brasileira não foi educada

para romper com o clientelismo e assistencialismo.

Em um terceiro momento, a análise das respostas obtidas diz respeito à

concentração de renda, no qual o contexto econômico e social contribui para tal

concentração. Pode-se ainda comentar das considerações realizadas, o fato de

ser apontado como responsável pela fome a inexistência de políticas públicas,

por conta da corrupção.

Partilhando da análise realizada por Valente (2002) e de Parrino (2009),

no primeiro capítulo desta pesquisa, que atribuem ao contexto histórico às

carências alimentares no Brasil, desde o Descobrimento e avançando pelos

períodos da História até os dias atuais, se faz necessário um olhar macro social

para essa questão, levando em conta que o país Brasil inúmeros sistemas

econômicos, políticos e sociais guiados pelos detentores do poder, contribuindo

desta forma com a marginalização das pessoas em situação de vulnerabilidade

social.

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76

Em resposta às considerações levantadas no que diz respeito à falta de

política pública, nota-se que há desconhecimento da existência da Política de

SAN; levando-se em considerações que esta política é relativamente nova, se

faz necessário que a sociedade civil seja sensibilizada, para desta forma torná-

la pública e efetiva em todas as esferas de poder.

Cabe ainda ressaltar aos profissionais envolvidos nesta causa uma

atuação de forma comprometida com seus usuários, a fim de desencadear um

processo reflexivo que de fato contribua para a emancipação social,

contribuindo assim para um país mais justo e igualitário.

Você tem o conhecimento de que o direito a alimentação, é garantido através

da Constituição Federal promulgada em 1988, em seu artigo 6º, que assegura

os direitos sociais, como: saúde, moradia, assistência social, entre outros

direitos sociais? Comente.

A Sra. E. S. (secretária geral) representante da entidade social I-47,

referente a esta pergunta respondeu desconhecer.

Partilhando também da fala da Sra. F.S. (presidente da entidade)

representante da entidade social C-21, respondeu afirmando ter ciência da

qualidade da alimentação como um direito, mas sem saber especificar ou

precisar qual lei a garante.

A Sra. J. F. A. (assistente social) representante da entidade social A-28,

afirmou ter conhecimento da existência legal do direito à alimentação, citando

sem precisão o conteúdo presente na Constituição Federal.

O Sr. O. S. R. (presidente da entidade) representando a entidade social

A-36, contribui com a fala a seguir:

Olha esse direito que foi inserido na constituição brasileira, foi até inclusive uma luta né, até dos próprios Bancos de Alimentos juntos com a sociedade civil organizada, associações de moradores, sindicatos, igrejas e assim fez com que fosse inserido na constituição o direito a segurança alimentar, é um direito do cidadão brasileiro e um dever do estado, então sendo dever do estado, todo brasileiro tem direito alimentação, é obvio que passa por um crescimento econômico do país, e o incentivo as pessoas a produzir seu próprio alimento, aí tanto da força de trabalho, quer dizer você tem que gerar emprego pra pessoa ter seu salário, e volta a questão da distribuição de renda, quer dizer se a pessoa tiver uma renda ele não vai ficar

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mendigando um prato de comida e nem uma bolsinha de fruta ou verdura.

Após a análise das respostas obtidas, percebe-se que os sujeitos de

pesquisas desconhecem que o direito a alimentação é um direito social, pois

recentemente tal direito foi emendado à Constituição Federal. Isso se explica

pelo fato de que a sociedade ao longo dos tempos visualizava a alimentação

como uma questão individual.

Como atestado no questionamento anterior, muitas pessoas ao longo da

história passam fome e uma das formas encontradas para a amenização desta

questão social foi através de esforços entre a sociedade civil como o apoio de

diversos órgãos governamentais ou não, conforme exposto no primeiro e

segundo capítulo desta pesquisa.

Diante ao exposto, partilha-se das considerações de Horochovski e

Meirelles que trazem a discussão sobre o “empoderamento” das pessoas em

situação de vulnerabilidade social, por mediação de seus representantes das

instituições sociais que prestam assistência social às mesmas, os autores

elucidam

Numa perspectiva emancipatória, empoderar é o processo pelo qual indivíduos, organizações e comunidades angariam recursos que lhes permitam ter voz, visibilidade, influência e capacidade de ação e decisão. Nesse sentido, equivale aos sujeitos terem poder de agenda nos temas que afetam suas vidas. Como o acesso a esses recursos normalmente não é automático, ações estratégicas mais ou menos coordenadas são necessárias para sua obtenção. Ademais, como os sujeitos que se quer ver empoderados muitas vezes estão em desvantagem e dificilmente obtiveram os referidos recursos espontaneamente, intervenções externas de indivíduos e organizações são necessárias, consubstanciadas em projetos de combate à exclusão, promoção de direitos e desenvolvimento, sobretudo em âmbito local e regional, mas com vistas à transformação das relações de poder de alcance nacional e global (2007, p. 486).

Portanto acreditamos ser de grande relevância o torna-se público do

direito à alimentação como um direito social, garantido constitucionalmente,

para deste modo, dar concretude, visualização e efetividade à Política de SAN.

Em sua opinião, o que seria o Direito Humano a Alimentação Adequada?

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A Sra. E. S. (secretária geral) representante da entidade social I-47,

respondeu:

Eu acho que é uma alimentação digna né, eu acho assim que o alimento tem que ser feito com muita limpeza, em primeiro lugar, e com muito cuidado no preparo, porque você ta fazendo para as pessoas né, que nem no nosso caso são crianças, não importa a idade, eu acho que tudo tem que ser feito com muito cuidado, muita higiene, eu acho assim é a consciência do preparo.

A Sra. J.F.A. (assistente social) representante da entidade A-28 nos

relatou:

Eu acho que é a primeira necessidade do ser humano né, porque se ele não esta com a barriga cheia como é que a cabeça vai pensar né, eu acho que é isso né.

A Sra. R. P. (nutricionista), representante da entidade S-5, expôs:

(...) eu vi isso quando estava fazendo meu TCC, há... A criança está passando fome, vamos dar uma merenda pra ela, há... Leite em pó e sucrilhos, os mais baratos. E não é isso, ele tem que ter uma alimentação de qualidade, tanto na parte que vá atender as necessidades dele, que não vá causar danos na saúde, tanto na parte do alimento adequado, não adianta eu dar uma alimento vencido que vá trazer danos, tem que ser um alimento adequado em todas as partes, tem que ser um alimento que vá trazer um bom estado nutricional um aporte calórico, mais um alimento saudável de qualidade, limpinho, bem preparado, que traga mesmo a ele benefícios.

As respostas das pelos sujeitos de pesquisa trazem, mesmo que

empiricamente, a concepção de DHAA, enquanto direito primordial do cidadão.

Partilhando das considerações realizadas por Parrino (2009), no primeiro

capítulo desta pesquisa, que traz as concepções do relator especial da ONU

referente ao tema, este nos diz que o DHAA é o direito de todas as pessoas, a

terem o acesso regular, permanente e irrestrito, a alimentos seguros,

saudáveis, em quantidade e qualidade suficiente, seja por meio de aquisição

econômica ou por meio da própria produção, e que conseqüentemente,

garantirá aos indivíduos, uma vida plena.

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Em complemento a este tema, se faz válido mencionar que o DHAA traz

consigo questões políticas e históricas de luta para a conquista do mesmo, ou

seja, em decorrência da extrema pobreza que fazia com que tantas pessoas

passassem fome, assim como citado no primeiro capítulo da presente

pesquisa, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em seu artigo 25º,

que além de trazer o direito como vestuário, habitação, entre outros, traz

inclusive o direito a alimentação, ou seja, a alimentação esta firmada por

relações internacionais, onde cada chefe de Estado tem o dever de garanti-la.

Eis novo motivo para a importância da publicização do direito à alimentação,

enquanto direito garantido constitucionalmente.

Em sua opinião, o que seria Soberania Alimentar?

A Sra. J.F.A. (assistente social) representante da entidade A-28,

contribuiu para a pesquisa afirmando que a soberania alimentar é ficção, “uma

coisa inexistente”.

A Sra. E. S. (secretária geral) representante da entidade social I-47,

afirmou nuca ter ouvido falar no tema.

O Sr. O. S. R. (presidente da entidade) representando a entidade social

A-36, ao se referir a soberania alimentar soube especificar:

Soberania alimentar é a pessoa saber que ele tem direito a alimentação mais ao mesmo tempo ele tem direito de produzir o seu próprio alimento, isso pra mim é soberania alimentar, é uma questão de direitos e deveres, você tem o direito alimentar, mais você tem o dever de produzir o seu alimento.

Nestas respostas, encontra-se de forma bastante rara a concepção de

soberania alimentar, onde os sujeitos de pesquisa citam o direito do cidadão a

produzir seu alimento.

Falar em DHAA é falar de forma imediata em soberania alimentar, pois

um complementa o outro. Assim sendo, se faz oportuno trazer considerações

objetivas ao tema, como quando Burity (2010) afirma que a soberania alimentar

implica na defesa de cada país em definir políticas que venham a garantir a

segurança alimentar do seu povo, de acordo com sua cultura particular.

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Desta forma entendemos que a soberania alimentar garante que os

cidadãos possam produzir seu alimento, tanto para o próprio consumo, quanto

para fins econômicos, e o Estado por sua vez, tem o dever de garantir este

direito, com sustentabilidade ambiental, econômica e social.

Você já ouvir falar na Política de Segurança Alimentar e Nutricional? Comente.

A fala da Sra. F.S. (presidente da entidade), representante da entidade

social C-21, sobre a Política de SAN, revela seu desconhecimento sobre o

tema. O mesmo deus-e com a Sra. E. S. (secretária geral) representante da

entidade social I-47 e com o Sr. P. K (líder da entidade), representando a

entidade social R-2.

A Sra. J.F.A. (assistente social) representante da entidade A-28,

comentou ter “ouvido falar”, mas sem maiores delongas sobre o assunto.

A Sra. R. P. (nutricionista), representante da entidade S-5, comentou:

(...) Então, eu acho que é muito daquilo que eu já te falei, é um direito instituído, mas não é atendido né, os nossos governantes, lideres, não tem essa mentalidade há, eles precisam de comida, há vamos mandar qualquer coisa, não importa muito de que forma que chega, (...). Contribui dizendo (...) A Segurança Alimentar precisa valorizar o que a pessoa precisa, valorizando desde la o pequeno agricultor, para que ele produza, venda, e para que esse alimento chegue de forma adequada para que precise.

O Sr. O. S. R. (presidente da entidade) representando a entidade social

A-36, respondeu a questão da seguinte maneira:

A gente já ouviu, temos acompanhado bastante, vários debates sobre a questão de segurança alimentar, ela inclui essa questão da distribuição de renda, não tem como você dar uma garantia de ter uma segurança alimentar para as famílias sustentando elas só com cesta básica, ou coisas parecidas, vira um programa assistencialista, o que tem que se fazer, até em princípio a cesta básica ajuda, o bolsa família ajuda, mais não pode ficar parado nisso aí, ou achar que isso vai ser a distribuição de renda, porque isso ainda ta muito longe da distribuição de renda que o país merece e que os brasileiros merecem, o país é muito rico nós sabemos disso e não haveria necessidade de haver tanta pobreza.

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Com base nas respostas adquiridas acima, nota-se que os sujeitos de

pesquisa, desconhecem o tema Política de SAN - o que pode se justificar pela

recente efetivação de tal política.

A política de SAN traz consigo inúmeros processos de lutas e conquistas

adquiridos no decorrer da história. Assim como elucidado no Decreto nº.

7272/10 de 25 de agosto, que regulamenta a Lei nº. 11.346, de 15 de setembro

de 2006, a LOSAN; esta que por sua vez, cria o SISAN, com vistas a assegurar

o DHAA. Apenas como referência as leis acima citadas, parece importante

recordar que o Decreto define diretrizes, objetivos e parâmetros da PNSAN,

tudo para garantir o direito fundamental de todo cidadão à alimentação

adequada.

Nesse sentido, mister se faz nova insistência no sentido de tornar pública

a Política de SAN, permitindo a todo cidadão o exercício de seu direito no que

tange a esta lei específica. Apenas quando os representantes de organizações

sociais estiverem instrumentalizados sobre tal política, se poderá avançar no

sentido de instituí-la de fato, e por fim multiplicar conhecimento para que todo

cidadão exerça seus direitos e deveres de forma ampla e segura.

Na sua concepção, qual é a importância de uma Política de Segurança

Alimentar e Nutricional?

A Sra. E. S. (secretária geral) representante da entidade social I-47,

afirmou a necessidade da política “sair do papel” para que na prática muitas

pessoas possam ser beneficiadas.

A Sra. R. P. (nutricionista), representante da entidade S-5, elucidou

sobre a importância do acesso ao alimento adequado.

A Sra. L. K (líder da entidade), representando a entidade social R-2,

comentou que a política de SAN era fundamental e que ainda torcia para que

obtivesse sucesso.

O Sr. O. S. R. (presidente da entidade) representando a entidade social

A-36, contribuiu respondendo:

Page 82: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

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Eu acho que a importância que ela tem é até por uma questão de saúde né, é uma questão vital na vida da pessoa é o alimento, se ele não tem o alimento saudável se a pessoa se a criança não é bem alimentada ela não tem um crescimento um desenvolvimento é, conforme a necessidade dela e os direitos que ela tem dentro desse desenvolvimento.

Aqui encontramos considerações importantes ao tema, podendo

compartilhar das considerações feitas por Belik a respeito do tema:

Como se observa, um programa que vise atender aos objetivos de segurança alimentar deve seguir diretrizes um pouco mais amplas que as atribuições exigidas para o combate à fome. No Brasil, não temos problemas de oferta de alimentos, mas 46 milhões de indivíduos vivem em situação de risco, pois a sua renda é insuficiente para que eles possam se alimentar nas quantidades recomendadas e com a qualidade e regularidade necessária (2003, p. 18).

Portanto estas considerações vão ao encontro com as respostas obtidas.

3.2.2 Entrevistas do Bloco 2

Há quanto tempo retira os produtos no BA? Qual o vínculo da pessoa que retira

os produtos no BA para a entidade? Qual é o processo/destino dos alimentos

recebidos, quando da chegada na entidade? Você já participou de atividades

desenvolvidas pelo BA?

A Sra. R. P. (Nutricionista), representante da entidade S-5, sobre o

tempo de cadastro nos diz

Olha eu não tenho certeza, devido ao tempo que estou aqui, mais

acredito que seja a mais de cinco anos.

No que concerne ao o vínculo da pessoa que retira os produtos no BA

com a entidade, a Sra. R.P diz

O responsável por ir retirar é o nosso motorista.

A Sra. R. P. no que diz respeito ao destino/processo dos alimentos,

assim expõe

Page 83: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

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(...) quando chega, a gente seleciona, aí tem alguns alimentos, por

exemplo, essa semana, tinha mamão e kiwi pra ser servido que tinha

que utilizar rapidinho, aí a gente já prepara para o outro dia, fizemos

suco de kiwi pra ser servido no outro dia e um creme de mamão que

servimos de sobremesa, então a gente vê a condição do alimento,

tem alimento que ter que ser utilizado rapidamente então a gente já

coloca ali no cardápio, então a gente deixa o cardápio de quarta feira

em aberto porque sabemos que tem alimentos que vão chegar e que

tem que ser utilizados rapidamente.

Partilhando da fala da Sra. F.S. (Presidente) representante da entidade

social C-21, no que se refere ao tempo de vínculo com o BA

Faz muito tempo, não recordo exatamente, porém faz mais de cinco

anos.

No que se refere ao vínculo da pessoa que retira os produtos no BA,

com a entidade, a Sra. F.S. diz,

Quem retira é o motorista e um voluntário.

Sobre atividades realizadas no BA, F.S. elucida

Já participei, mas não lembro quando e nem o assunto.

A Sra. E. S. (Secretária Geral) representante da entidade social I-47,

sobre o tempo de que retiram os produtos

Acho que faz um ano mais ou menos.

A Sra. E. S. (Secretária Geral), referente ao destino dos produtos diz

O produto é selecionado, lavado, e guardado.

Referente à participação de atividades no BA, E.S diz “nunca participei”.

A Sra. L. K (Líder da Entidade), representando a entidade social R-2,

sobre o tempo de retirada, diz

Há uns três anos eu acho.

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O Sr. O. S. R. (Presidente) representando a entidade social A-36, sobre

o tempo de retirada dos produtos junto ao BA, diz

A nossa associação retira esta fazendo dois anos.

Sobre o vínculo do responsável pela retirada, o Sr. O.S.R. diz

Normalmente sempre vem um voluntário das famílias que recebem,

pra ajudar aqui.

O Sr. O. S. R. referente ao destino dos produtos, contribui

A gente descarrega do caminhão, coloca em cima da mesa, do

banco, aí por ordem de chegada das pessoas você vai distribuindo.

A Sra. F.S. (Presidente) representante da entidade social C-21, sobre o

destino dos produtos diz

É realizada a separação e seleção dos produtos, são colocados em

um armário, e quem prepara a refeição, são os nossos próprios

usuários.

O Sr. P. K (Líder da Entidade), representando a entidade social R-2,

acerca do destino/processo dos produtos

São selecionados e distribuídos as famílias.

No que diz respeito a participação das atividades junto ao BA, a Sra L.

K. diz, “Não”.

Compreende-se pelas respostas obtidas, um número expressivo de

entidades cadastradas junto ao BA há alguns anos e nesse sentido o vínculo

entre ambas as partes poderia ser maior. Justifica-se este entendimento devido

a pouca participação dos sujeitos de pesquisa nas atividades desenvolvidas no

BA, assim como mencionado nas falas acima expostas.

No que diz respeito às atividades desenvolvidas pelo BA, como exposto

no segundo capítulo desta pesquisa, o MDS (2007) relata que as ações não

devem se limitar apenas à coleta, seleção e distribuição dos produtos, mas

devem à luz da temática de SAN, com oferta de cursos, palestras, campanhas

sobre alimentação, sobre o combate a fome e ao desperdício de alimentos.

Analisa-se pelas respostas obtidas que a sensibilização das entidades

quanto ao cuidado e boas práticas de higiene com os produtos recebidos,

ocorrem desde o recebimento no BA até a chegada na própria entidade. Porém

Page 85: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

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é válido ressaltar que um dos sujeitos de pesquisa, demonstra não ter esta

atitude bastante necessária no momento da distribuição dos alimentos

coletados, pois “deposita” simplesmente os produtos em cima de uma mesa ou

de bancos, para que as famílias os recebam por ordem de chegada à

instituição.

A partir destas considerações, se faz ainda mais importante o

desenvolvimento de palestras sobre o manuseamento correto dos produtos,

tanto para os representantes das entidades sociais, quanto para os

responsáveis pela retirada dos mesmos.

Existe alguma ação sobre Segurança Alimentar e Nutricional desenvolvida com

os usuários atendidos?

Sobre as ações de SAN desenvolvidas com os usuários dos alimentos

coletados no BA, F.S. respondeu:

Eu consigo fazer esse trabalho mais no centro dia, por ser uma quantidade menos de idosos, é voltada mais para orientação individual.

Sobre a mesma questão, P.K. contribuiu para o estudo afirmando:

Não, eu acho que eles não têm nem estrutura, eu duvido que algum deles tenha liquidificador pra isso.

O.S.R, elucidou:

Às vezes fazemos algumas palestras, mostrando a necessidade que tem da gente aprender a manipular os alimentos, até por uma questão de desperdício.

A partir das falas acima, podem ser feitas diferentes considerações. No

primeiro caso, o sujeito de pesquisa relata que a forma de tratar de questões

pertinentes a SAN se constitui no atendimento clinico e individual, ou seja, o

tratamento dado é de pra e simplesmente como questão de saúde.

Page 86: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

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No segundo caso, a resposta do sujeito de pesquisa, que tem um olhar

conservador, acaba vitimizando seus usuários e deixando-os cada vez mais

dependentes dos serviços prestados; essa questão se apresenta dessa forma

ao apontar que os usuários não “têm estrutura” para operacionalizar os

conhecimentos que poderiam ser adquiridos, através da publicização das boas

práticas de manuseamento e alimentação.

No último caso, o sujeito de pesquisa relata a realização de ações de

prevenção ao desperdício de alimentos, através do aprendizado da

manipulação dos alimentos.

Diante dessa análise, percebe-se que os sujeitos de pesquisa

compreendem a SAN meramente como uma questão de boas práticas de

alimentação, manuseamento e saúde. Partilhando das considerações de

Burlandy, ao se referir a SAN, elucida-se que:

Tradicionalmente, as ações setoriais no campo da educação alimentar priorizaram estratégias de disseminação de informações sobre os riscos associados a determinadas práticas alimentares (consumo de alimentos com alta concentração de gorduras, açúcares etc.) visando à adoção de um perfil de consumo mais saudável. A educação na ótica da SAN impõe que esse processo seja compreendido e enfrentado de forma integrada em todos os seus componentes (produção, comercialização, acesso, cultura, valores sociais etc.), e não apenas na dimensão mais específica do consumo individual e de suas repercussões no estado nutricional (2004, p. 13).

Nesta perspectiva, compreende-se que as estratégias acima expostas,

contribuem significativamente para a publicização da SAN, bem como suprem

questões nutricionais individuais. É necessário visualizar a SAN como uma

política pública que deve envolver diversos setores da sociedade, conforme

expõe Burlandy ao complementar:

Além desses fatores, a garantia de acesso à informação é estratégica para o exercício da cidadania alimentar, sejam informações sobre direitos legalmente consagrados, mecanismos de exercício desses direitos, políticas públicas existentes, sejam as referentes às questões nutricionais, como a disponibilização das informações nos rótulos dos alimentos, os princípios de uma alimentação saudável e o controle da propaganda em torno da alimentação (2004, p. 13).

Portanto, entende-se que o trabalho desenvolvido pelo BA, contando com

a participação de seus usuários, pode promover a Política de SAN, em níveis

Page 87: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

87

consideráveis. Para tanto, é preciso maior envolvimento das entidades sociais

que participam do programa para, principalmente, disseminar o conhecimento.

Em sua opinião, o que é o Banco de Alimentos? Para que serve? E qual a

importância do mesmo?

A Sra. R. P. (nutricionista), representante da entidade S-5, comentou:

Ele ajuda na Segurança Alimentar e ajuda as instituições em estar garantido uma alimentação diferenciada aos seus atendidos.

Sobre a importância creditada ao BA, a Sra. R.P. respondeu:

É importante justamente por ajudar a garantir uma boa alimentação.

A Sra. F.S. (presidente da entidade) representante da entidade social

C-21, disse:

Serve basicamente para ajudar na alimentação dos nossos dependentes.

A Sra. E. S. (secretária geral) representante da entidade social I-47,

comentou:

Eu imagino que seja mais como instruções de como utilizar os alimentos.

Sobre a importância do BA, a Sra. E.S., respondeu:

É muito importante porque aprendemos muitas coisas sobre o aproveitamento.

Page 88: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

88

A Sra. L. K (líder da entidade), representando a entidade social R-2,

respondeu que o BA serve para matar a fome dos necessitados. Sobre a

importância do BA, afirmou:

Eu acho que a importância maior é a conscientização que esse banco de alimentos pode fazer, com relação ao trabalho em cima dos comerciantes.

O Sr. O. S. R. (presidente da entidade), representando a entidade social

A-36, sobre o que seria o BA, respondeu:

Eu acho que o BA ele serve até para esta questão do aproveitamento dos produtos que tema que na Ceasa, que antigamente era jogado, e que hoje tem uma boa parcela que arrecada e distribui para as famílias, para as associações, para as creches. O BA é uma função social muito boa, até nessa questão de cursos de formação.

Os sujeitos de pesquisa, pelas respostas concedidas em entrevista,

visualizam o BA como um distribuidor de alimentos, auxiliando na alimentação

dos usuários do programa, e por isso creditam-lhe importância. Eles também

verificam que o BA contribui para a SAN, ajudando a combater o desperdício

de alimentos, auxiliando na sensibilização de comerciantes e produtores para

realização de doações dos produtos excedentes. Também têm ciência que o

BA realiza cursos sobre o aproveitamento integral dos alimentos.

Os sujeitos de pesquisa, ainda que empiricamente, têm uma idéia

aproximada sobre o que seria o BA, enquanto equipamento da Política de SAN.

De acordo com o MDS (2007, p. 13) a coordenação do BA deve realizar

parcerias para o desenvolvimento de cursos para o aproveitamento integral dos

alimentos, conforme respondido pelos entrevistados. Mas a função do BA,

enquanto equipamento de uma Política de SAN vai além, e para que esse

papel seja esclarecido e conhecido, se faz necessária maior sensibilização dos

fenômenos causadores da fome, bem como dos mecanismos legais que atuam

na amenização do problema. O entendimento do BA em sua totalidade só será

possível através de um trabalho articulado junto aos usuários de seus

benefícios, para que efetivamente tirem proveito de todas as boas

oportunidades ofertadas pelo programa.

Page 89: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

89

Quais sugestões você nos daria, no que diz respeito à logística de

atendimento? E quais suas sugestões de atividades/ações que poderiam ser

desenvolvidas no BA?

A Sra. F.S. (presidente da entidade), representando a entidade social

C-21, contribuiu dizendo:

Sugiro que o atendimento as entidades sociais, passe a ser realizado na parte da manhã.

A Sra. L. K (líder da entidade), representando a entidade social R-2,

sugere ao BA, comentou:

Se pudesse entrar em parceria com mercados e restaurantes pra beneficiar mais gente, seria interessante.

O Sr. O. S. R. (presidente da entidade) representando a entidade social

A-36, respondeu:

Eu acho que como eu já falei dentro da questão da própria estrutura, eu acho que o BA teria que acompanhar mais de perto todas as associações e entidades que distribuem os alimentos, nas vilas, nas paróquias, nas igrejas, nas associações, o BA tinha que ter estrutura para acompanhar até por uma um questão de logística de ver se os produtos estão sendo bem aproveitado, se ta compensando se as famílias que recebem conhecem sabem da onde que ta vindo esses produtos e porque que ta vindo esse produto, porque a gente percebe que tem algumas coisas que precisava mudar com relação, porque só levar o alimento e distribuir isso é muito simples é assistencialismo e não politiza as famílias e se você senta junto com essas famílias e discute mostra da onde que ta vindo porque que ta vindo(...).

A partir das respostas obtidas, percebe-se que no que concerne à

logística de atendimento realizado pelo BA, o sujeito de pesquisa, sugere o

atendimento realizado no período da manhã (atualmente as entidades sociais

são atendidas no período da tarde). Isso se justifica devido à grande demanda

de doações recebidas no período matutino, o que impossibilita que a equipe

operacional possa atendê-los nessa parte do dia.

Outra questão sugerida é de parcerias entre o BA e outros setores

alimentícios, tais como mercados e restaurantes, para beneficiar ainda mais

Page 90: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

90

seus usuários. Nesta sugestão, podemos atrelar às considerações do MDS, ao

se referir sobre os objetivos traçados para um BA:

O Banco de Alimentos é uma iniciativa de abastecimento e segurança alimentar que tem como objetivo arrecadar alimentos, por meio de articulação do maior número possível de unidades de comercialização, armazenagem e processamento de alimentos, visando o recebimento de doações de alimentos fora dos padrões de comercialização, mas sem nenhuma restrição de caráter sanitário (produtos inadequados para comercialização), mas próprios para consumo humano (2007, p. 11).

Diante ao exposto, considera-se que o BA, por estar em processo de

implantação, com equipamentos ainda em fase de instalação, tem sua

operação morosa no momento. A sugestão de novas parcerias para o BA deve

ser repensada oportunamente, quando o programa estiver totalmente instalado,

sem impedimentos para realização de articulações com outros setores. Nesta

perspectiva, as considerações de MDS (2007) já alertam que o sucesso de um

BA está ligado à capacidade de seus operadores, em realizar parceiras, com

diversos setores, seja do governo local, representantes da sociedade civil,

empresas privadas ou outros órgãos estatais, no sentido de envolvimento nas

ações desenvolvidas pelo programa, seja através de doações ou de serviço

voluntário.

Na terceira consideração, o sujeito de pesquisa traz considerações

bastante relevantes. Ele entende que o BA ainda não disponibiliza estrutura de

recursos humanos e materiais, devido a sua fase de implantação, mas ressalta

a importância que existe por parte do BA em conhecer as entidades

beneficiadas, a fim de verificar o destino das doações. Ele alerta que a mera

distribuição de alimentos atribuiria ao BA um atendimento assistencialista, sem

possibilidade de politizar os usuários. Dessa opinião partilha Junqueira:

A prestação de serviços concretiza-se na relação do prestador com o usuário, sendo este usuário não apenas um consumidor, mas um cidadão que tem direito de acesso a um serviço de qualidade. É também nessa relação que o serviço torna-se realidade, pois a ação de prestação só se concretiza com a presença do usuário. A dimensão técnica e social do prestador, seu saber e tecnologia disponível, não são suficientes sem alguém que aproprie o serviço prestado. Daí a importância do sujeito que apropria os serviços ser um cidadão que tem noção de seus direitos, estabelecendo uma relação entre iguais e não subordinação (2005, p. 7).

.

Page 91: Tcc Contribuicoes Programa Banco Alimentos

91

A partir dessas colocações, podem-se realizar duas análises: a primeira

diz respeito aos representantes das entidades sociais, interessados em dar

continuidade ao atendimento prestado aos seus usuários, no sentido

possibilitar sua inserção social. A segunda análise diz respeito ao BA, para que

este trabalhe em ações articuladas com uma rede social, tão logo o programa

esteja totalmente implantado, com capacidade de recursos humanos e

materiais.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após verificação do conteúdo aprendido, considera-se que esta pesquisa

foi de grande relevância, pois permitiu adotar uma postura investigativa em

relação ao tema proposto. A investigação como um instrumento técnico-

operativo do Serviço Social possibilitou através da teoria adquirida enquanto

acadêmica a compreensão do contexto social objeto de estudo, a fim de

pesquisá-lo e apontar novas perspectiva de intervenção.

Orientada pelo método dialético marxista, que permite entender e decifrar

a realidade social e suas contradições oriundas do sistema capitalista, a atitude

investigativa do profissional de Serviço Social contribui para a inquietação

frente às expressões da questão social, respaldado pelas dimensões ético-

política, teórico-metodológica e técnico-operativa, tornado possível construir

uma postura crítica perante dada realidade social, e assim formar profissionais

que a partir do conhecimento histórico e social, podem construir um fazer

profissional de acordo com a realidade presente.

Frente a essas considerações, entende-se que através da compreensão

que as entidades sociais atendidas pelo BA têm sobre as atribuições do

programa, e de sua relevância enquanto um equipamento de combate à fome

e, logo, um mecanismo da Política de SAN, problema da pesquisa ora

realizada, através da metodologia aplicada, cumpriu o objetivo traçado de

verificação.

Estabeleceu-se no primeiro capítulo do estudo, conhecer a Política de

SAN. Porém antes do conhecimento de tal política, se fez necessário

compreender os condicionantes para tal implantação. Para que uma política

pública se torne efetiva, existem fatores sociais que demandam a constituição

de tal política; no caso do estudo apresentado, a demanda social foi a

expressão da questão da fome.

A fome, como expressão de exclusão e limitação do cidadão, existe em

todo desenrolar histórico e social do Brasil; a desigualdade social, grande

causadora da fome, não permite ao cidadão condições econômicas para suprir

suas necessidades básicas, mesmo tendo esse direito assegurado pela Carta

Magma do país.

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Diante do grande número de pessoas passando fome, o que implica em

atribuir a falta de alimentos de forma mínima e adequada como um fenômeno

social, diversas lutas para a conquista de direitos começam a ganhar espaço

na agenda pública brasileira. Nesse sentido é que a Política de SAN foi

conquistada.

Assim como elucidado no primeiro capítulo desse estudo, diversas ações

foram levantadas para a efetivação da política de SAN. Para essa verificação

foi importante conhecer e conceituar o DHAA, direito de todo cidadão em ter

acesso a uma alimentação adequada e saudável, por tempo permanente e

irrestrito, em quantidade e qualidade suficiente, por meio da própria produção

ou aquisição financeira. Atrelada a esta temática, também esteve presente em

definição teórica a soberania alimentar, como forma de reafirmar o DHAA, a

qual diz respeito ao direito de cada nação definir políticas que garantam a SAN

para a sua população, preservando práticas e hábitos alimentares de sua

cultura.

Para continuidade da pesquisa elaborada, busco-se apresentar também a

SAN nacional e estadual. A SAN, variante em relação ao conceito estabelecido,

é afirmada no Brasil como o direito de todos ao acesso regular e permanente a

alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso

a outras necessidades essenciais do cidadão, através de bases alimentares

práticas que promovam a saúde e respeitem a diversidade cultura.

No decorrer da história brasileira, diversas ações emergiram para

promoção da SAN, sempre pautadas segundo orientações da FAO, tais como:

elaborações de obras teóricas como forma de evidenciar a fome e a criação de

diversos órgãos ou institutos estatais como a CME, a COBAL, o INAN e o PAT.

Ocorreram também no Brasil Conferências de SAN (em duas ocasiões),

que promoveram a instituição do CONSEA e a criação do MDS, bem como do

atual programa Fome Zero. Outro fato importante a ser exposto, ressalta após

a deliberação da II Conferência Nacional de SAN, quando se promulgou a Lei

nº. 11.346/06 (LOSAN), criando o Sistema de SAN com vistas a assegurar o

DHAA. Por fim, houve a aprovação do Decreto Federal nº. 7272/10, que

regulamenta a LOSAN e define os objetivos e diretrizes da Política de SAN.

Apresentou-se ainda no primeiro capítulo dessa pesquisa, a rede de

mecanismos de SAN, a saber: Restaurantes Populares, Cozinhas

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Comunitárias, Banco de Alimentos, Feiras e Mercados Populares, Educação

Alimentar e Nutricional.

E, finalizando o 1º capítulo, abordou-se a SAN a nível estadual (Estado do

Paraná). Embasadas pela estrutura construída a nível nacional, realizaram-se

no Estado algumas ações específicas, tais como: a criação do Comitê de Ação

da Cidadania bem como das Entidades Públicas de Combate a Fome, de

grupos de estudos e ações de SAN, a constituição do CONSEA/PR, através do

apoio do SETP/PR. Também ocorreram conferências locais sobre SAN e criou-

se Lei Estadual (nº. 16. 656/10) para instituir o Sistema de SAN.

No segundo capítulo apresentou-se a CEASA/PR e os motivos que

levaram o entreposto, ao longo dos anos de trabalho, a desenvolver programas

sociais de combate à fome e ao desperdício de alimentos. Programas nesse

sentido foram listados e conceituados. O mais recente e ainda em

funcionamento é o BA. Criado com base em especificações do MDS, o BA da

unidade de Curitiba do CEASA/PR atende diversas entidades sociais através

da doação de alimentos excedentes da comercialização, mas ainda próprios

para consumo humano.

A pesquisa realizada no BA apontou o perfil das entidades sociais

atendidas, bem como de seus usuários. Com base em dados de localidade e

número de público atendido, foram escolhidas unidades de amostra para

realização da verificação proposta como objetivo do estudo empírico.

Diante ao exposto, após embasamento teórico e pesquisa de campo,

apresenta-se a seguir as considerações sobre o tema discutido.

Considera-se que as indagações realizadas aos sujeitos de pesquisa,

contribuem para o entendimento da importância da educação política dos

representantes de instituições bem como de seus beneficiários (usuários).

Infelizmente a pesquisa revelou que falta conhecimento a população de seus

direitos básicos, e de mecanismos capazes de sanar a problemática da fome. A

maioria dos entrevistados acredita que a população faminta assim se mantem

por comodismo, devido ao assistencialismo do governo, ou por acreditarem na

inexistência de mecanismos estatais para a solução do problema.

No que diz respeito ao conhecimento dos sujeitos de pesquisa, sobre

DHAA, soberania alimentar e sobre a própria Política de SAN, supostamente

tema conhecido pelas entidades, especialmente devido ao seu posicionamento

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sobre a questão da fome e a participação no BA, compreendeu-se

desconhecimento sobre as políticas adotadas atualmente. É notável que os

entrevistados tenham tamanha proximidade com o tema, pois vivenciam na

prática cotidiana a falta de alimentação adequada, sem ter maiores

informações sobre possibilidades aplicativas da Lei e de seus mecanismos e

equipamentos solucionadores.

Atrelando essas considerações às atribuições do BA enquanto um

mecanismo da Política de SAN, reflete-se o pouco conhecimento por parte das

entidades sociais atendidas sobre as proporções que este conhecimento

poderia alcançar. Pontua-se como limite e dificuldade da presente pesquisa a

falta de politização dos sujeitos, vez que estes enquanto representantes sociais

desconhecem a política social de SAN.

Aponta-se como facilitador para a realização da pesquisa, o acervo

bibliográfico disponível, que possibilitou compreensão sobre as questões

econômicas, históricas, políticas e sociais acerca da expressão da questão

social social da fome.

Cabe ao final desse relato, a sugestão para que o BA, da CEASA/PR,

unidade Curitiba, desenvolva ações para seus usuários no sentido de

sensibilizá-los sobre as atribuições do programa em que participam enquanto

mecanismo de Política de SAN. Como a equipe do BA é reduzida, sugestiona-

se a criação de uma gestão em rede, com estabelecimento de uma visão

menos conservadora e hierarquizada, para possibilitar parcerias efetivas que

gerem conhecimento e possa disseminá-lo. A visão do usuário em sua

totalidade, assim como do BA enquanto mecanismo parceiro e de educação

política e social, são fundamentais para uma rede social articulada que preste

um atendimento de caráter não assistencialista mas sim de emancipação e

sustentabilidade. Portanto, é necessário ao BA bem como as entidades por ele

atendidas, buscar estratégias que venham a contribuir para garantir a

autonomia, a justiça e a emancipação do cidadão.

Concluí-se essa pesquisa com a crença de que o estudo foi de grande

valia para o processo de formação em Serviço Social, pois permite a partir da

visão de homem e do mundo atrelar conhecimentos adquiridos na graduação, a

fim de decifrar as relações sociais, fragilizadas pelo sistema capitalista,

possibilitando a socialização política, como forma de intervenção social.

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ANEXO

Anexo 1 – QUESTIONÁRIO

Nome da Entidade Social:

Nº do cadastro junto ao Banco de Alimentos:

Data da Visita:

Responsável que nos concedeu entrevista:

QUESTÕES NORTEADORAS

Informações sobre a Entidade

a.Data de Fundação:

b.Público Alvo e Número de pessoas Atendidas:

c.Faixa-Etária:

d.Histórico e ações desenvolvidas:

e.Parcerias e trabalho e redes:

Informações do profissional que nos concedeu entrevista

f.Formação Acadêmica:

g.Área de atuação na Entidade:

h.Quanto tempo trabalha na Entidade:

Informações Específicas

i.Em sua opinião, quais os fatores responsáveis da fome?

j.Você tem o conhecimento de que o direito a alimentação, é garantido

através da CF88, em seu artigo 6º, que assegura os direitos sociais, como:

saúde, moradia, assistência social, entre outros direitos sociais? Comente.

k.Em sua opinião, o que seria o Direito Humano a Alimentação Adequada?

l.Em sua opinião o que seria, ou seja, sua concepção sobre Soberania Alimentar?

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m.Você já ouvir falar na Política de Segurança Alimentar e Nutricional? Comente.

n.Na sua concepção, qual é a importância de uma Política de Segurança

Alimentar e Nutricional?

o.Há quanto tempo retira os produtos no BA, qual o vínculo da pessoa que retira os produtos no BA com a entidade, qual é o processo/destino dos alimentos recebido, quando da chegada na entidade, Você já participou de atividades desenvolvidas pelo BA?

p.Existe alguma ação sobre Segurança Alimentar e Nutricional desenvolvida com os usuários atendidos?

q.Em sua opinião, o que é o Banco de Alimentos, para que serve? E qual a importância do mesmo?

r.Em sua opinião, o que é o Banco de Alimentos, para que serve? E qual a importância do mesmo?

s.Quais sugestões você nos daria, no que diz respeito a logística de

atendimento? E qual sua sugestões de atividade/ações que poderiam ser

desenvolvidas no BA?