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DANIANE PRISCILA TEIXEIRA OS CONTOS DE FADAS NA LITERATURA INFANTO-JUVENIL CANOAS, 2009

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DANIANE PRISCILA TEIXEIRA

OS CONTOS DE FADAS NA LITERATURA INFANTO-JUVENIL

CANOAS, 2009

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DANIANE PRISCILA TEIXEIRA

OS CONTOS DE FADAS NA LITERATURA INFANTO-JUVENIL

Trabalho de conclusão apresentado ao Curso de Letras do Centro Universitário La Salle - Unilasallle, como exigência parcial para obtenção do grau de Licenciado em Letras.

Orientação: Prof.ª Ms. Maria Luiza Steiner Fleck

CANOAS, 2009

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DANIANE PRISCILA TEIXEIRA

OS CONTOS DE FADAS NA LITERATURA INFANTO-JUVENIL

Trabalho de conclusão aprovado como requisito parcial para a obtenção do grau de Licenciado em Letras pelo Centro Universitário La Salle - Unilasalle.

Aprovado pelo avaliador em 3 de dezembro de 2009.

AVALIADOR:

______________________________________

Prof.ª Ms. Maria Luiza Steiner Fleck

Unilasalle

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a Deus e a todos aqueles que buscam dar um sentido a

sua existência.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, em primeiro lugar, por ter me agraciado com esta oportunidade de

estudar, o que sempre almejei.

Aos meus pais, que corajosamente lutaram e foram vitoriosos durante toda a

minha educação, superando dificuldades econômicas para que eu concluísse os

estudos de base e pudesse ingressar na faculdade, me tornando a profissional que

hoje sou.

Em especial, ao Daniel, meu marido e amigo pela motivação, compreensão e

apoio decisivos para a concretização deste sonho.

Agradeço as minhas amigas Gisele Moitoso e Maria Elizete, que além de toda

a amizade que construímos, estiveram presentes nestes quatro anos de estudo,

compartilhando ideias e experiências.

Agradeço a Prof.ª Maria Luiza, minha orientadora, que desde sempre me

acolheu com muito carinho e exigência, me ensinando a construir este trabalho, com

amor e entusiasmo.

A todos os colegas de profissão, aos professores do curso e à coordenação,

pela dedicação e comprometimento durante o curso.

Obrigada!

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Para que uma estória realmente prenda a atenção da criança, deve entretê-la e despertar sua curiosidade. Mas

para enriquecer sua vida, deve estimular-lhe a imaginação: ajudá-la a desenvolver seu intelecto e a

tornar claras suas emoções; estar harmonizada com suas ansiedades e aspirações; reconhecer plenamente suas

dificuldades e, ao mesmo tempo, sugerir soluções para os problemas que a perturbam.

(Bettelheim, 1990, p. 13).

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RESUMO

Os contos de fadas, em sua tradição oral, surgiram há milhares de anos, como

obras de uma sociedade pré-literária. Sua valorização deu-se há alguns séculos

atrás, quando passaram a ser narrados às crianças. Suas mais recentes

contribuições estão diretamente ligadas aos estudos de Bettelheim e inúmeros

outros autores de Literatura Infanto-juvenil, que se dedicaram ao estudo dos

conteúdos implícitos nos contos de fadas e sua importância na vida da criança. O

trabalho é de cunho bibliográfico e experimental. Foi desenvolvido um projeto

interdisciplinar com alunos de 5ª série, cujo tema girou em torno dos contos de fadas

e culminou com uma peça teatral. Busca-se, assim, explicar a fonte comum entre

todos os contos e o porquê de suas narrativas serem tão cativantes e entendidas

por diversas gerações em diferentes contextos, até os dias de hoje, além de

representar um forte incentivo para a formação do leitor infanto-juvenil.

Palavras-chave: Contos de fadas. Leitura. Escrita.

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RESUMEN

Los cuentos de hadas, en su tradición oral, surgieron cerca de millares de años,

como obras de una sociedad pre-literaria. Su valorización se dio cerca de algunos

siglos atrás, cuando pasaron a ser narrados para los niños. Sus más recientes

contribuciones están directamente ligadas a los estudios de Bettelheim y de muchos

otros autores de Literatura infanto-juvenil que se dedicaron al estudio de los

contenidos implícitos en los cuentos de hadas y su importancia en la vida del niño. El

trabajo es de cuño bibliográfico y experimental. Fue desarrollado un proyecto

interdisciplinar con alumnos de 5ª grado, cuyo tema giró en torno de los cuentos de

hadas y terminó en una pieza teatral. Buscándose explicar así la fuente común entre

todos los cuentos y el porque de sus narrativas ser tan emocionantes y entendidas

por diversas generaciones en diferentes contextos, hasta los días de hoy, además

de representar un fuerte incentivo para la formación del lector infanto-juvenil.

Palabras - clave: Cuentos de hadas. Lectura. Escrita.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................9

2 OS CONTOS: DEFINIÇÃO, ORIGEM E EVOLUÇÃO ...........................................11

2.1 Os contos de fadas x narrativas do fantástico – maravilhoso ......................16

2.2 Origem dos contos de fadas ............................................................................18

3 LITERATURA INFANTIL: ORIGEM E CONTEMPORANEIDADE ........................21

3.1 Charles Perrault .................................................................................................22

3.2 Irmãos Grimm ....................................................................................................24

3.3 Hans Christian Andersen ..................................................................................26

3.4 Os contos de fadas modernos - A literatura infa ntil brasileira .....................28

4 A NARRATIVA DOS CONTOS DE FADAS: ANALISANDO A SUA

ESTRUTURA ............................................................................................................32

4.1 Características estruturais dos contos de fadas ............................................33

4.2 Análise de diferentes versões de um mesmo conto ......................................36

4.3 Psicanálise nos contos de fadas .....................................................................40

5 PROJETO DE LITERATURA E TEATRO: CRIANÇAS SOBEM AO PALCO ......45

5.1 Metodologia .......................................................................................................45

5.2 Projeto Contos de Fadas ..................................................................................45

5.3 Produção final: Escrevendo um conto de fadas ou conto maravilhoso e

apresentação teatral ...............................................................................................52

5.3.1 Projeto Integrado de Atividades / Cronograma.................................................53

5.3.2 Ficha Técnica e Sinopse da Apresentação Teatral ..........................................55

5.4 Considerações finais ........................................................................................73

6 CONCLUSÃO ........................................................................................................74

REFERÊNCIAS .........................................................................................................76

OBRAS CONSULTADAS .........................................................................................78

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1 INTRODUÇÃO

As histórias populares que chamamos de contos de fadas exerceram grande

influência sobre o contexto cultural; sua universalidade e permanência até hoje

revelam a sua relevância para o ser humano.

Os contos que chegaram à Europa durante a Idade Média foram reescritos,

transformados, para se adequarem à sociedade em que se inserem. Sobreviveram e

se espalharem por toda a parte, graças à memória e à habilidade narrativa de

gerações de contadores, que dedicavam parte das longas noites de antigamente

para entreterem-se uns com os outros contando e ouvindo histórias.

A passagem do tempo e o interesse de diversos autores fizeram com que

essas narrativas começassem a receber um tratamento literário atribuindo-se a elas

um estilo mais sofisticado, em um processo que as transformou nos contos de fadas

que hoje se conhecem e que irradiam encantamento a seus leitores.

O presente trabalho busca aprofundar os conhecimentos sobre este gênero

narrativo e compreender o fascínio despertado em seus leitores. Escolhi este tema

por apreciar muito este assunto e pelo fato de considerar extremamente importante a

fantasia na vida das crianças. Desde criança gosto muito de livros infantis. Através

deles pude sonhar, imaginar outros lugares, sentir o que os personagens sentiam,

enfim, foram grandes incentivadores no meu processo de leitura e escrita nos anos

escolares.

Outro motivo que auxiliou na minha decisão a respeito do tema é o trabalho

que realizo com os alunos da 5ª série do Ensino Fundamental, onde observo

interesse pela leitura de contos de fadas. Esse fascínio demonstrado pelos alunos

motivou a curiosidade em pesquisar o significado que estas narrativas têm em

relação ao processo de leitura e escrita dos alunos juvenis.

No segundo capítulo conceituarei o gênero narrativo conto, mais

especificamente contos de fadas, sua origem e evolução. Aqui optamos por Antônio

Houaiss para a definição dentro da língua portuguesa e Coelho para a definição

dentro da área literária. Ainda no segundo capítulo, uma abordagem sobre a origem

e a evolução dos contos ao longo do tempo e as semelhanças e diferenças entre o

conto de fadas e o conto maravilhoso.

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No capítulo seguinte um estudo de referencial teórico sobre os principais

autores e estudiosos dos contos de fadas e adeptos que fizeram associações do

tema com seus trabalhos, Charles Perrault, Irmãos Grimm e Hans Christian

Andersen, a tradição do conto oral sendo transcrita e recriada pelos precursores, e a

literatura infantil na contemporaneidade.

No capítulo quarto, nosso objetivo será analisar e descobrir as características

estruturais do conto Cinderela, suas semelhanças e diferenças em duas versões, de

Charles Perrault e Irmãos Grimm. Após a leitura da obra, estruturalmente, nosso

trabalho será organizado de maneira a enfocar a classificação, caracterização na

obra lida. Os referenciais teóricos em que vamos nos sustentar serão Bruno

Bettelhein, Nelly N. Coelho entre outros.

O quinto capítulo consiste em um projeto “Os contos de fadas na literatura

infanto-juvenil”, realizado de outubro a novembro de 2009, com alunos de 5ª série do

Ensino Fundamental do Colégio da Imaculada, Canoas RS. A metodologia iniciará

com o trabalho em sala de aula, tendo como base o incentivo à leitura e à escrita.

Depois de lidos diferentes livros, textos e trocadas experiências com as turmas, os

alunos e a professora irão eleger o conto de fadas que a turma levará ao palco como

peça teatral. A partir de então, um novo processo se desenvolverá, com a adaptação

da história, criação de personagens e elaboração dos recursos cênicos necessários

para transmitir a mensagem que os alunos construíram e obtiveram da leitura

realizada.

Enfim, nesse último capítulo farei a apresentação dos resultados obtidos

mediante as atividades práticas e a culminância do projeto consistirá na

apresentação teatral dos alunos da 5ª série aos colegas, pais e comunidade escolar.

Farei as considerações finais ao término do projeto, observando o alcance dos

objetivos previamente traçados.

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2 OS CONTOS: DEFINIÇÃO, ORIGEM E EVOLUÇÃO

O conto, em seu significado mais genérico, nos remete ao significado de

história curta em prosa, com um só conflito e ação, poucos personagens, fábula e

romance. Esta é a definição segundo o dicionário de língua portuguesa Houaiss

(2009, p. 187). Porém esta significação é ampla; conto é um termo literário que nos

diz muito mais. O contar (do latim computare) uma história, oralmente, evoluiu para o

registrar as histórias, por escrito. Gotlib nos diz que “o conto, no entanto, não se

refere só ao acontecido. Não tem compromisso com evento real; nele, realidade e

ficção não têm limites precisos” (1995, p. 12).

Percebemos que esta definição não está totalmente explícita; não aprofunda o

conceito e tem um foco específico, o dicionário de língua portuguesa nos dá breve

posicionamento ao estudo. Nossa busca pelo conceito de conto partirá para um

dicionário, disponível no meio eletrônico, sendo mais definido o conceito:

Do lat. comentum, in. (invenção, ficção, plano, projecto), ligado ao v. contueor, eris (olhar atentamente para, contemplar, ver, divisar). Narração oral ou escrita (verdadeira ou fabulosa); obra literária de ficção, narração sintética e monocrónica de um fato da vida. Podemos afirmar que o contar é tão antigo quanto a vida em comunidade, pois é inerente à natureza humana, o falar, a necessidade, de comunicarmos ao outro o que sentimos, descobrimos, queremos desejamos, etc. (COELHO, 2009).

Partindo do significado do dicionário Houaiss e somando as informações do

dicionário etimológico eletrônico, entendemos que os contos misturam ficção e

realidade, que ambos têm seu espaço, e que através dos tempos os contos vêm

sendo recontados oralmente ou escritos por diversas gerações. Estes contos

populares fazem parte de diversas civilizações. Nos primórdios eram somente

relatados de forma oral. O conto é a manifestação primitiva da Literatura, sua

origem é indefinida.

A definição de Coelho é similar a de Carvalho quando diz que “o contar é tão

antigo quanto viver em comunidade, e, dessa forma, é impossível afirmar com

precisão a origem do conto” ([19--], p. 64). Goés afirma que “o processo se fez de

forma simples; da palavra viva e animada surgiu o mito, e deste nasceu o conto”

(1990, p. 66).

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Na vida em comunidade, problemas como a riqueza, trabalho, poder fazem

parte de sua rotina e servem como assunto de discussão e reflexão na maioria dos

contos. Essa popularidade reflete a inspiração da criação dos contos, não sendo

apenas imaginação, mas acontecimentos reais da vida de um povo, que reúne,

guarda e, posteriormente, transforma em moralidade na vida social. Encontramos na

Bíblia textos com estruturas semelhantes ao conto, e, no entanto, não podemos

identificar a autoria de cada um deles. Por fazerem parte do folclore de vários povos,

por lidarem com a sabedoria popular e os conteúdos essenciais da condição

humana, por sua transmissão oral antes mesmo da escrita, fica difícil precisar ao

certo a origem dos contos de fadas.

De acordo com Coelho (1987, p. 17), a coletânea mais antiga das narrativas

que estão nas origens da literatura popular europeia, Calila e Dimna pode ter surgido

na Índia em meados do século V, antes de Cristo. A composição é caracterizada por

várias histórias entrelaçadas. O maravilhoso se faz presente mediante a

antropomorfização dos animais (animais assumem aspectos divinos). Alguns

registros de contos de fadas datam de 4.000 a.C, feitos pelos egípcios, com o "Livro

do Mágico". Na sequência, aparece na Palestina (Velho Testamento), Grécia

Clássica, sendo o Império Romano o principal divulgador das histórias mágicas do

Oriente para o Ocidente. A materialidade sensorial do Oriente, com a luxúria da

Arábia, Persa, Irã e Turquia, se contrapuseram à cultura dos celtas e bretões no

ocidente, cheia de magia e espiritualidade.

O registro material dos contos de fadas começou no século VII, segundo

Coelho (1987, p. 43), com a transcrição do poema épico anglo-saxão Beowulf. As

fadas aparecem no século IX, no livro de escrita galesa, denominado Mabinogion.

Nele não só surgem as fadas, como a transformação das aventuras reais que deram

origem ao Ciclo Arturiano.

No século XII, mais precisamente em 1155, o Romance de Brut de Wace

retomam as aventuras lendárias do Rei Arthur e seus cavaleiros. Neste mesmo

século, Os lais de Marie de France, gênero de poema narrativo ou lírico, que

continha temas das novelas de cavalaria do ciclo do rei Arthur, divulgaram a cultura

céltico-bretã pelas cortes da Europa e sua absorção pelo cristianismo (COELHO,

1987, p. 49).

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Na Idade Média, esse lastro pagão choca-se, funde-se ou deixa-se absorver pela nova visão de mundo gerada pelo espiritualismo cristão e,transformado, chega ao Renascimento... Até que, finalmente, na passagem para a era clássica para a romântica, grande parte dessa antiga literatura maravilhosa destinada aos adultos é incorporada pela tradição oral popular e transforma-se em literatura para crianças (COELHO, 1987 p. 15).

Na Europa, no século XIV é que surge, segundo Bettelheim (1990, p. 339), a

primeira coleção de contos com motivos do folclore europeu denominado “Gesta

Romanorum", de origem persa, escrito em latim, precedendo a famosa coleção “As

Mil e Uma Noites” do folclore árabe.

Na Inglaterra, em meados do século XVI, os contos orais foram convertidos em

drama teatral por George Peele. Nesta época, na Europa, os contos de fadas ainda

pensados para adultos começaram a ser reunidos em coletâneas, entre as quais se

destacam: Noites prazerosas (século XVI), escritas por Gianfrancesco Straparola de

Caravaggio. Ele reuniu nesta coletânea várias narrativas contadas em diversas

províncias italianas.

Giovanni Boccaccio, no século XVI, em sua obra Decameron. integrou-se ao

nível de literatura culta, tornando sua obra renascentista, como Camões e Garcilaso

de La Vega. Os italianos Basile, Croce escreveram narrativas de origem oriental e

que no século XVII fariam parte da literatura infantil. Giambattista Basile escreveu o

livro Conto dos Contos, ou Pentameron, publicado por volta de 1600. Esse título

lembra Decameron, de Bocaccio, no entanto, Basile utiliza o maravilhoso das

narrativas orientais diferentemente de Bocaccio. O Conto dos Contos destaca os

contos de fadas à tradição napolitana; são cinco contos que surgem a partir de Zoza,

uma princesa melancólica que nunca sorria, e, segundo Coelho, o argumento é o

seguinte:

Zoza, a princesa triste, que nunca havia sorrido, estava um dia à janela de seu palácio, quando ouviu uma ridícula discussão entre uma velha e um jovem. Achou muita graça na cena e pôs-se a rir de maneira incontida, o que ofendeu profundamente a velha e levou esta a amaldiçoá-la, condenando-a a não ter paz enquanto não se casasse com o príncipe de Camporotundo (COELHO, 1987 p. 63).

No final do século XVII até pouco antes da Revolução Francesa no século

XVIII, surgiu uma literatura não erudita que celebrava a "exaltação da fantasia, do

imaginário, do sonho, do inverossímil, que encapavam uma literatura que se fazia

mais ou menos à margem da literatura oficial" (COELHO, 1987, p. 70). Em sua

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produção e divulgação destacou-se o papel de mulheres cultas, intituladas de

preciosas. Essas mulheres reuniam em seus salões a elite intelectual da época,

muitas vezes para apreciar dramatizações de contos de fadas e muitas dessas obras

transformavam-se em moda.

Além disso, produziam e traduziam romances na maioria, de conteúdo

escandaloso; assim como a vida de algumas mulheres, esses romances eram os

“contos de fadas para adultos”. Esse ambiente criado pelos romances preciosos

possibilitou a acolhida de “As mil e uma noites” no início do século XVIII, e perdurou

até fins do século. Entre 1785 e 1789, foi publicada a série "Gabinete de Fadas -

Coleção Escolhida de Contos de Fadas e Outros Contos Maravilhosos", com 41

volumes, escritos por vários autores (podemos perceber já no título, uma distinção

entre duas narrativas que, mais adiante definiremos). A Coleção marca o fim deste

tipo de produção literária voltado exclusivamente para o público adulto.

Na França no século XVII, os contos de fadas ganham forma literária publicada

de forma simplificada e foram relacionados aos contos propagados por senhoras,

amas e criadas como instrumento moralizador e socializador da vida das crianças.

Em 1697, com a adaptação de "A Pele de Asno" é que Perrault revela a intenção de

escrever para crianças, principalmente meninas, orientando sua formação moral. No

prefácio desse conto, Perrault situou sua obra na tradição de sátira amorosa, como a

fábula de “Eros e Psique”, mas acrescentou que transmitia apenas uma história

inventada e contada por senhoras, afastando-se da elite literária e identificando-se

como popular.

Na Alemanha do século XIX, os folcloristas Jacob (1785-1863) e Wilhelm

Grimm (1786-1859), integrantes do Círculo Intelectual de Heidelberg, realizaram

uma busca por antigas narrativas populares, histórias e lendas de todas as regiões.

Com esse trabalho, onde percorreram a pé diversas aldeias. Estando junto aos

camponeses, criaram os maravilhosos contos, de forma viva e autêntica, valorizando

a estética e a memória do povo alemão. Os irmãos Grimm, como resultado de sua

pesquisa, publicaram uma coletânea de 100 contos denominada Kinder und

Hausmaerchen (Contos de Fadas para Crianças e Adultos).

Os contos de fadas sofreram transformações ao longo do tempo, mas ao

contrário do que se imaginava, não há exatamente uma cisão entre o aspecto oral e

escrito dos contos de fadas. A oralidade, característica essencial das histórias

tradicionais, desde sempre foi entrelaçada com a escrita. Vários exemplos na

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história das histórias mostram isso: desde as fábulas gregas, ou As mil e uma noites,

das vidas dos santos até as parábolas de Cristo.

A oralidade do gênero dos contos de fadas associada à figura terna da

contadora de histórias fazia alusão à ideia de intimidade e cumplicidade entre os que

ouvem e aquele que narra, propiciando um clima de familiaridade. Essa oralidade

atribuída às velhas senhoras foi, muitas vezes, criticada. O abade Villiers,

contemporâneo de Charles Perrault, se referiu às suas histórias como sendo para

“ignorantes, tolos, mulheres e crianças” (WARNER, 1999, p. 44). Villiers discordava

da opinião de Perrault, que dizia que o conto “Pele de Asno” era moralmente

impecável, no entanto, poderia tratar-se de um incesto entre pai e filha, como

podemos identificar:

Infelizmente, ele começou a notar que a infanta sua filha era não apenas extraordinariamente bela, como sua beleza, inteligência e encanto ultrapassavam de muito os da rainha sua mãe. Sua juventude, o suave frescor de sua tez despertaram no rei um amor tão violento que ele não pôde escondê-lo da infanta e lhe declarou que havia decidido desposá-la, já que somente ela podia livrá-lo do seu juramento. A jovem princesa, cheia de virtude e pudor, sentiu-se desfalecer diante de tão terrível proposta. Lançou-lhe aos pés do rei seu pai e suplicou-lhe, com todas as suas forças do seu coração, que não a forçasse a cometer semelhante crime (PERRAULT, 1989. p. 160).

Perrault poderia estar sendo irônico, ao negar a imoralidade do conto. É

necessário recordar que os contos eram narrados por mulheres que trabalhavam em

casa e tais contos acabaram apresentando características sociais atribuídas às

mulheres dessa época, como: características pedagógicas de ensinar para educar

os filhos, aspectos românticos, como os finais felizes representados pelas

possibilidades de casamento com um belo príncipe ou também riscos que poderiam

correr; histórias ritmadas de acordo com o trabalho feminino rotineiro e repetitivo

como fiar, quebrar nozes ou tecer.

Villiers não atacou somente a Perrault, atacou a crianças e senhoras, como

propagadores de histórias falsas, tagarelices, historietas, tolices impressas,

contadores de histórias para dormir em pé. E esses termos pejorativos, diminuídos

(tagarelices, historietas) são constantes nas falas dos depreciadores quanto dos

apreciadores do conto de fadas, os primeiros censurando-os e os segundos

enaltecendo-os como coisas de crianças.

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Pensando a origem do conto Pele de Asno que poderia ser mítica,

representaria a Natureza, despojada de seu esplendor pelo inverno e voltando a

recuperá-lo na primavera: os trajes que a princesa veste da cor do sol, da cor da lua

e da cor do tempo. Segundo Carvalho, o Mito é o primeiro estágio do conto, dessa

necessidade de “dizer e ouvir”, pela sua vinculação com o sobrenatural, com a

superstição ([19-], p. 52).

O conto infantil é a expressão literária que compreende o “dizer e ouvir”, do

homem pelo homem, pela comunicação, compreensão, pelos medos e alegrias,

construindo mitos heroicos, místicos que se conservam e se transformam com o

passar do tempo, o Mito se faz raiz do conto. Assim, é possível perceber a essência

das narrativas populares, com suas variações através dos tempos, utilizando o mito

para humanizar o mundo hostil que cerca o homem, o Mito oportuniza a recriação da

realidade e elaboração das experiências vividas sem a lógica do racionalismo,

vencendo medos e frustrações.

2.1 Os contos de fadas x narrativas do fantástico – maravilhoso

As histórias que conhecemos, ouvimos, têm alegrias, tristezas, paixões,

decepções etc. Podem estar escritas em forma de aventura, trazendo um desafio ou

uma missão para o personagem principal. Podem, também, narrar à metamorfose da

vida desse personagem, que passa de sapo a príncipe, ou a transformação de pobre

a rico ou de infeliz a muito feliz. É misturando fantasias e significados, que muitas

histórias se apresentam.

Os contos de fadas apresentam-se assim, misturando fantasias e significados.

De origem muito antiga, essas narrativas nem sempre estiveram presentes nos

livros. Essas histórias que hoje nos são tão familiares foram passando de boca em

boca, de uma cidade para outra, de uma região para outra. Tudo isso na forma oral;

os mais velhos contavam as histórias aos mais novos, passando-as assim de

geração para geração. Alguns contos de fadas têm origem nos países do Oriente.

Outros, em países ocidentais, em geral, na Europa, ainda no século XII ao XV.

Os contos de fadas, de acordo com Coelho (1987, p. 12), são chamados de

contes de fées, na França; fair tale, na Inglaterra; cuento de hadas, na Espanha; e

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racconto di fata, na Itália. Em Portugal e no Brasil, no final do século XIX, foram

denominados contos da carochinha, sendo chamados por Câmara Cascudo,

importante historiador e folclorista brasileiro, de contos de encantamento. Apesar de

todo esse aparato histórico, o que temos na verdade, é uma total indistinção entre

contos maravilhosos e de fadas.

Apesar dos contos de fadas e dos contos de encantamento fazerem parte do

universo maravilhoso, segundo Coelho, eles tratam de problemáticas diferentes. Os

contos de fadas tratam da realização interior ou existencial do herói, enquanto os

contos maravilhosos tratam da realização exterior ou social.

A autora também define os contos maravilhosos, como:

[...] narrativas sem a presença de fadas, via de regra se desenvolvem no cotidiano mágico (animais falantes, tempo e espaço reconhecíveis ou familiares, objetos mágicos, gênios, duendes etc.) e têm como eixo gerador uma problemática social (ou ligada à vida prática concreta). Ou melhor, trata-se sempre do desejo de auto-realização do herói (ou anti-herói) no âmbito socioeconômico, através da conquista de bens, riquezas, poder material etc. Geralmente, a miséria ou a necessidade de sobrevivência física é o ponto de partida para as aventuras da busca. Eles se originam das narrativas orientais, e enfatizam a parte material/sensorial/ética do ser humano: suas necessidades básicas (estômago, sexo, vontade de poder), suas paixões do corpo (COELHO, 1987, p. 13).

Coelho (1987, p. 14) distinguiu os contos de fadas dos contos maravilhosos por

possuírem como eixo gerador uma problemática existencial; o herói deve vencer

provas para que alcance sua auto-realização. Nos contos de fadas, é imprescindível

a presença do maravilhoso, com ou sem a presença das fadas.

Os contos de encantamento ou maravilhosos, por sua vez, são narrativas sem

a presença das fadas e que enfatizam uma problemática social ou relacionada à

vida prática. Estes últimos têm origem oriental e realçam a parte material, sensorial e

ética do ser humano. Os contos de fadas são de origem celta e apareceram

inicialmente como poemas. Os contos clássicos infantis tiveram suas origens bem

antes da faustosa corte do rei Luis XIV, no século XVII na França, e nasceram para

falar aos adultos.

As crianças, os adultos de hoje e também de outros tempos são atraídos pelo

encantamento das narrativas maravilhosas do “era uma vez...” Etimologicamente, a

palavra “fada” deriva do latim fatum, que designa o destino, ou fado, fatalidade.

Coelho caracteriza o conto de fadas como:

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[...] com ou sem a presença de fadas (mas sempre com o maravilhoso), seus argumentos desenvolvem-se dentro da magia feérica (reis, rainhas, príncipes, princesas, fadas, gênios, bruxas, gigantes, anões, objetos mágicos, metamorfoses, tempo e espaço fora da realidade conhecida etc.) e têm como eixo gerador uma problemática existencial. Ou melhor, têm como núcleo problemático à realização essencial do herói ou da heroína, realização que, via de regra, está visceralmente ligado à união homem mulher (COELHO, 1987, p. 14).

As fadas são seres fantásticos ou imaginários do folclore ocidental e das

Américas, na forma de belas mulheres, de poderes sobrenaturais e virtudes,

interferindo e auxiliando o homem onde há a impossibilidade de uma solução

natural, humana (COELHO, 1987, p. 31). As fadas são de origens diversas:

princesas, plebeias, não possuem raça ou etnia. Suas características são similares

as dos povos onde nasceram. Seres imaginários, míticos, representados geralmente

por mulheres que possuem poderes sobrenaturais “usados para o bem (fadas

madrinhas) ou para o mal (bruxas), mas aparecem também outros seres mágicos,

pequenos animais com asas, ou seres minúsculos, portando objetos mágicos (vara

de condão, fusos, cestas)” (MIRANDA, 1978, p. 94).

2.2 Origem dos contos de fadas

Qual seria a origem dos contos de fadas? Existe a informação de que estes

contos teriam sido escritos para os adultos, nos séculos XVI e XVII, embora a

estética deste período desvalorizasse a literatura popular, Charles Perrault alcançou

seu lugar no pódio da História Literária Universal, sendo uns dos maiores sucessos

da literatura para a infância (COELHO, 1991, p. 84).

Segundo registra Cashdan (2000, p. 20), originalmente concebidos como

entretenimento para adultos, os contos de fadas eram contados em reuniões sociais,

nas salas de fiar, nos campos e em outros ambientes onde os adultos se reuniam -

não nas creches. Charles Perrault é tido como o inaugurador dos contos de fadas,

pois reescreveu contos antigos por serem de domínio popular (COELHO, 1991, p.

95). Esses contos eram transmitidos oralmente, embora seus enredos não

apresentem fadas, ou finais felizes, o mágico acontece com personagens animais

que falam, pensam, como, por exemplo, o Lobo em Chapeuzinho Vermelho.

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O conto de fadas e o conto maravilhoso ou fantástico são formas de narrativas

em literatura infantil ou folclórica que, no entanto, pertencem a raízes distintas de

criação. Coelho nos diz que uma narrativa não anula a outra, mas que ambas devem

completar-se em uma realização integral; cada indivíduo, consciente ou

inconsciente, prefere uma delas e essa escolha influi no comportamento de sua vida

(1987, p. 12).

Segundo Coelho, os Contos de Grimm incluem-se na área das narrativas do

fantástico-maravilhoso, porque as narrativas pertencem ao mundo da fantasia ou do

imaginário (1999, p. 142). No conto maravilhoso, a problemática está ligada às

necessidades da vida prática: evidenciam a busca pelo material, necessidades

básicas do ser humano: fome, poder, riquezas. Possuem uma narrativa do mundo

real, com situações do cotidiano, e dentro desse contexto real, surge algo de mágico

ou maravilhoso, mas sem a necessidade de se ter a presença de fadas, ou

princesas e príncipes.

Nos dois contos, de fadas e maravilhoso, geralmente é apresentado um final

feliz para o herói ou a heroína e os oponentes são castigados (o bem normalmente

vence o mal). Príncipes ou princesas, até mesmo pobres podem ser encantados,

transformados em animais (cisne, sapo...) ou em algumas vezes em árvores, lago; a

isso chamamos de metamorfose. As mulheres possuem o poder de desencantar,

revertendo os feitiços aplicados (a princesa beija o sapo e ele transforma-se em

príncipe...).

Valores humanistas predominam nas narrativas do maravilhoso; percebemos a

fome, o frio, o descanso, a honra pela palavra. Os fracos, porém astutos, vencem a

prepotência e a força, caracterizando o herói e facilitando a identidade que o leitor

está buscando. As mulheres se mostram puras, belas, obedientes. Possuem

ambiguidades em sua natureza, sendo causa de bem e de mal; podendo salvar o

homem com amor ou sendo a causa de sua destruição. São inspiração de heróis

que lutam com dragões, monstros horríveis e ao final são dadas como recompensa

pela coragem e pela luta. Aspectos negativos da mulher em narrativas são

evidenciados com mulhereres gulosas, teimosas, mentirosas.

Não podemos nos esquecer de que todo texto, para ser compreendido em sua

verdadeira essência, exige de seu leitor um conhecimento prévio do que o alicerça.

Fora dele, os equívocos de interpretação podem ser inevitáveis. Os contos de fadas

surgiram com o intuito de alertar, pevinir e salientar possíveis riscos que todos nós

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corremos, mas também despertam a fantasia, a realização de sonhos distantes.

Basta que façamos a compreensão de nossos conflitos e aqueles presentes no

texto, pois nos contos encontramos a universalidade.

No próximo capítulo iremos abordar desde os primórdios da literatura infantil a

sua apresentação nos dias atuais, estruturas que se mantiveram fiéis ao longo de

séculos, superando fronteiras e mudanças de comportamento.

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3 LITERATURA INFANTIL: ORIGEM E CONTEMPORANEIDADE

Os primeiros narradores são os antepassados anônimos de todos os escritores. O gosto de ouvir é como o gosto de ler. Assim as bibliotecas, antes de serem estas infinitas estantes, com as vozes presas dentro dos livros, foram vivas e humanas, rumorosas, com gestos, canções, danças entremeadas às narrativas.

Cecília Meireles

Os estudos da literatura folclórica e popular de cada nação iniciaram-se a partir

do século XIX; a França teve um papel importante no processo de transformação da

literatura maravilhosa e em sua migração para o resto da Europa. No século XVII,

deve ser destacado Charles Perrault, que buscou redescobrir os relatos

maravilhosos numa época em que as narrativas maravilhosas entraram em declínio.

De início, não estava preocupado com as crianças, apenas mais tarde pretendeu

diverti-las e orientar a formação moral das meninas. Sua primeira seleção de contos

é composta de seis contos de fadas e dois contos maravilhosos. Os contos aí

incluídos são: A Bela Adormecida no Bosque, Chapeuzinho Vermelho, O Barba Azul,

O Gato de Botas, As Fadas, A Gata Borralheira, Henrique do Topete e O Pequeno

Polegar.

No século XVIII, as fadas passaram a um segundo plano no interesse dos

adultos e se recolheram ao mundo infantil. Mais tarde, no século XIX, retornaram,

mas não por uma preocupação com as crianças e um entretenimento dos homens,

mas sim por uma preocupação linguística. Foi nesse contexto que os irmãos Jacob e

Wilheelm Grimm, estudiosos da mitologia germânica e da história do Direito alemão,

passaram a coletar e estudar uma grande massa de textos. Como consequência,

publicaram os Contos de Fadas para crianças e adultos (1812-1822). Destacam-se

dentre os contos que foram traduzidos para o português: A Bela Adormecida, Os

Músicos de Bremen, Os Sete Anões e a Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho, A

Gata Borralheira, O Corvo, As Aventuras do Irmão Folgazão, A Dama e o Leão.

Também como representantes da literatura infantil desse século XIX, temos

Hans Christian Andersen, poeta e novelista dinamarquês, a Condessa de Segur

(1856), Lewis Carroll (1865), com Alice no país das maravilhas e, finalmente, Collodi,

que em 1883, publica Pinóquio.

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3.1 Charles Perrault

Um dos autores mais conhecidos dentro do território francês é, sem dúvida

nenhuma, Perrault. Charles Perrault nasceu na França em 1628 e morreu em 1703.

Escreveu diversos contos que encontrava no território. E foi um dos primeiros a

pensar nos contos para as crianças. Com pouco mais de 50 anos, trocou o serviço

ativo, como militar pela educação dos filhos. Motivado por esse desejo, começou a

registrar as histórias da tradição oral contadas, principalmente aquelas que ouvia por

sua mãe ao pé da lareira. No início, esses contos não eram específicos às crianças,

mas defendiam a literatura francesa e da causa feminista, possuía como uma de

suas líderes a prima de Perrault, Marie - Jeanne L'Héritier de Villandon. Charles

Perrault compilou os contos narrados por mulheres em ambiente familiar,

incentivado por Marie, que defendeu com energia o gênero que transmitia a

sabedoria antiga e pura das pessoas que o originaram - velhas senhoras, amas,

governantas (WARNER, 1999, p. 44).

Com quase 70 anos, publicou um livro de contos “Contes de ma Mère l'Oye”,

conhecido, na época, como "contos de velha", "contos da cegonha" ou "contos da

mamãe gansa", sendo o último o título o qual a obra ficou conhecida em todo o

mundo. A primeira edição, de onze de janeiro de 1697, recebeu o nome de "Histórias

ou Contos do tempo passado com moralidades", que remete à famosa moralidade

da história presente ao final de cada texto. Contos da Mamãe Gansa, coletânea de

contos folclóricos dos quais os principais contos são: A Bela Adormecida no Bosque,

Chapeuzinho Vermelho, O Barba Azul, O Gato de Botas, As Fadas, A Gata

Borralheira ou Cinderela, Henrique o Topetudo e O Pequeno Polegar.

Com redação simples e fluente, as histórias eram adaptações literárias que

traziam ao final, conceitos morais em forma de verso. Essa perspectiva promoveu,

desde a fase inicial, na chamada literatura infantil a existência de um caráter

civilizatório. Acredito que, através do conto, as crianças passam a entender seus

papéis dentro da sociedade e as sujeitam a eles, de acordo com os interesses, que

faz com que aceitem sem questionamento seu destino, esperando assim como nos

contos, que se agir de forma “correta”, terá uma ajuda benevolente:

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Os contos de fada, à diferença de qualquer outra forma de literatura, dirigem acriança para a descoberta de sua identidade e comunicação, e também sugerem experiências que são necessárias para desenvolver ainda mais o seu caráter. Os contos de fada declamam que uma vida boa está ao alcance das pessoas apesar da adversidade- mas apenas se ela não se intimidar com as lutas do destino, sem os quais nunca se adquire verdadeira identidade. Essas histórias prometem à criança que, se ela ousar se engajar nesta busca atemorizante, os poderes benevolentes virão em sua ajuda, e ela conseguirá (BETTELHEIM, 1990. p. 32).

Os "Contos da mamãe gansa" se constituem de uma coletânea de oito

histórias, posteriormente acrescidas de mais três títulos, ainda que num manuscrito

de 1695, só encontrado em 1953, aparecessem apenas cinco textos. Os contos que

falam de princesas, bruxas e fadas trazem histórias que habitam até hoje o

imaginário infantil como "Chapeuzinho Vermelho", "Cinderela", dentre outros.

Durante a Idade Média, os contos obtiveram maior popularidade e inspiraram o

escritor francês Charles Perrault, no século XVII e futuramente com os irmãos

Grimm no século XIX. O objetivo de Perrault era pedagógico, apresentava

disfarçadamente a moralidade de acordo com a época, expondo com originalidade,

profundidade e atualidade. Ainda na Idade Média, os contos orientais enriqueceram

o mundo ocidental, tornando-se o gênero mais cultivado, foram traduzidos e

adaptados pelo clero, franciscanos e jesuítas dando origem a livros famosos,

novelas, contos etc. Podemos mencionar: a novela italiana “O Decameron”, a novela

espanhola “Cid, el Campeador” e “Griselda” de Perrault.

Charles Perrault tinha origem em uma tradicional família burguesa. Desde

cedo, comprometeu-se com tradição literária classicista. Aos 15 ou 16 anos

abandonou a escola, após uma desavença com um professor em decorrência de

divergência no método de ensino tradicionalista – que censurava o uso de alguns

clássicos da literatura greco-romana – e juntamente com um amigo deu início aos

estudos somente com a orientação paterna. Logo cedo traduziu clássicos como o

sexto livro Eneida. Tornou-se advogado e, após a morte do pai, ingressou na vida

política, como assessor de seu irmão, Pierre que compara o cargo de coletor de

finanças. Ainda atento à produção literária, compôs Odes de louvor ao Rei. Quando

foi substituído por Colbert, Charles é indicado por um acadêmico de renome,

Chapelain, a ingressar na Petit Academie. A partir deste momento, ele se consolidou

na posição e braço direito de Colbert, subindo progressivamente na carreira política.

Em 1671, ingressou na Academia Francesa de Letras, onde passou a ser lembrado

pela disputa literária que envolveu nos acadêmicos e assim, ganhou repercussão em

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jornais como o Le Mercure Galant e nos salões da corte. A Querèlle foi

desencadeada após a leitura de seu poema “O século de Luís, o grande” em sessão

da Academia. Charles Perrault criticava a exaltação classicista à produção literária

de origem grego-romana e concomitante desprezo pela produção moderna. Como

resultados das discussões, Perrault produziu sua mais importante obra “Parallèle

dês Anciens Modernes en ce qui regard les artse les science – Paralelo dos Antigos

e Modernos em que se observam as artes e as ciências”.

3.2 Irmãos Grimm

Os primeiros a pensarem nos contos propriamente para crianças na Alemanha

foram os irmãos Grimm. Jacob (1785-1863) e Wilhelm (1786-1859) - linguistas e

folcloristas, durante 13 anos colecionaram histórias recolhidas da tradição oral,

esperando caracterizar o que havia de mais típico no espírito alemão. Estudiosos da

língua nativa, esses irmãos em suas pesquisas para saber um pouco mais sobre o

povo e a origem da sua língua ouviam histórias que também eram contadas

oralmente dentro do território e para o público adulto.

Publicaram um primeiro volume em 1812, que continha o que recolheram em

Hessen, nos distritos de Meno e Kinzing, do condado de Hanau, onde nasceram. O

segundo volume foi concluído em 1814. A maior parte das lendas do segundo

volume foi-lhes contada pela senhora Viedhmaennin, uma camponesa oriunda da

aldeia de Niedezwehn, perto de Kassel. Jacob era o mais intelectualizado dos

irmãos, mas Wilhelm era quem detinha o entusiasmo e inspiração da poesia; juntos

chegaram a editar 210 histórias, a maior parte delas encontrada nos dois volumes

originais.

Assim Coelho diz que:

Em meio à imensa massa que lhes servia para os estudos lingüísticos, os Grimm foram descobrindo o fantástico acervo de narrativas maravilhosas, que, selecionadas entre as centenas registradas pela memória do povo, acabaram por formar a coletânea que é hoje conhecida como Literatura Clássica Infantil (2003, p. 23).

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Nessa seleção de contos, há também fontes literárias que coincidem com

Perrault, no século XVII, na França (isso explica a existência de uma fonte comum, -

a oriental ou grega). Títulos das narrativas: A Bela Adormecida, O Chapeuzinho

Vermelho, Os Músicos de Bremen, O Rato, O Enigma, O Príncipe e a Princesa, A

Gata Borralheira, O Senhor Compadre, O Alfaiate Valente e Joãozinho e Maria. São

deles as histórias: Pele de Urso, A Bela e a Fera (PAVONI, 1989, p. 12). Foram

esses dois irmãos que introduziram os contos para as crianças no território alemão.

A primeira obra dentro desse território, destinada aos adultos e as crianças, recebeu

o nome de “Histórias das Crianças e do Lar”, já mostrando assim uma proposta

educativa. Pensando no fato dos contos até então serem escritos para os adultos e

título dessa coletânea já evidencia que estão mais voltados para a criança e para a

infância.

Diferentemente das histórias contadas até o momento, inclusive as de Perrault,

as histórias dos irmãos Grimm, têm um final menos trágico, apresentando menos

violência. A crueldade que normalmente está presente nos contos de fadas até

então é amenizada, há um final de “felizes para sempre”, onde as “pessoas boas”

têm um final feliz e as “pessoas más” têm um final trágico. Nessa época do século

XIX o mundo passava pelo romantismo e tudo tinha um sentido mais humanitário. A

violência, tão presente na maioria dos contos até então é amenizada, onde se passa

a destacar como a vida pode ser maravilhosa, que sempre há um final feliz. Os

Irmãos Grimm recolheram novelas populares como documentação do espírito

germânico. Charles Perrault também publicou seus contos em verso e prosa dando

forma aos Contos da Carochinha. Com isso constatamos que "tanto Grimm como

em Perrault predomina a atmosfera de leveza, bom humor ou alegria, que neutraliza

os dramas ou medos existentes na raiz de todos os contos. Daí essa literatura

entender-se tão bem com o espírito das crianças" (COELHO, 1987, p. 75).

A solidariedade, o amor ao próximo passa a serem destacados e apesar de

alguns aspectos negativos continuarem presentes nas histórias predomina,

prevalece à esperança e a confiança na vida.

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3.3 Hans Christian Andersen

Hans Christian Andersen é considerado o mais notável nome da literatura

recreativa infantil e juvenil em todo o mundo, no século XIX. Ele amou todas as

crianças e sempre demonstrou elevada concepção artística e delicadeza de

sentimentos.

Andersen nasceu na Dinamarca, numa ilha chamada Fiônia, em Odensee, no

dia 02 de abril de 1805. Perdeu seu pai aos 11 anos e foi obrigado a trabalhar em

uma fábrica de tecidos. Sua mãe não o compreendia bem e o tratava de jeito

diferente do que as mães costumam tratar a seus filhos. Ela casou-se novamente e

Andersen saiu de casa. Ele foi acolhido na casa de uma velha senhora, irmã de um

pastor, que era chamado por todos de “o poeta”, velho amigo de seu pai e que o

compreendia e apreciava.

Em 1818, dois anos após o falecimento de seu pai, chega à sua terra natal uma

companhia de teatro real de Copenhague. Andersen, depois de muito suplicar ao

encarregado da distribuição dos ingressos, consegue ser incluído entre os atores,

com um pequeno papel. O teatro, seu grande sonho, estava realizado. Ele parte com

a companhia e vive todos os tipos de sofrimento, e com apenas 15 anos,

desesperado, abandonado e sozinho, lembra de procurar um cantor lírico, italiano,

chamado Siboni, e foi ao seu encontro. Siboni descobriu-lhe o talento e deu-lhe

amparo, assistência e assim completou sua educação. Em 1828, ingressa na

Universidade atingindo o seu sucesso.

Mais tarde foi introduzido na residência da família real, o rei Frederico VI,

admirando o valor de Andersen, lhe proporcionou algumas viagens e Andersen

ganha fama e glória. Seu legado é composto de obras que o celebrizaram: os

maravilhosos para as crianças, repletos de beleza e arte. Um conjunto de 156

maravilhosos contos para crianças e adolescentes. Esse poeta foi tão importante

para as crianças que obteve a maior consagração já alcançada por um artista: 2 de

abril foi consagrado o “ Dia Internacional da Criança e o Dia Internacional do Livro

Infantil”, sendo expressão de imortalidade.

Andersen continua a tradição criada pelos irmãos Grimm de organizar os

contos populares, fábulas, anedotas, histórias de aventuras e contos de fadas de

forma a agradar as crianças. Começou sua trajetória pesquisando narrativas do

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folclore de sua terra. Aos poucos adquiriu voz própria e, em estilo dinâmico e com

enredos criativos, passou a produzir histórias provenientes de sua imaginação. Em

muitas histórias ressalta a sátira, numa ironia sutil, com humor, como “A roupa nova

do Imperador”, “O Soldadinho de chumbo”, etc (CARVALHO, [19--], p. 193).

Um sentimento humano, cheio de dor e tristeza com final trágico, como: “A

Sereiazinha”, “ A Pequena Vendedora de Fósforos”, Sapatinhos Vermelhos” e

outras são capazes de nos arrancar lágrimas. Ao recolher histórias populares,

Andersen incorpora aos componentes ideológicos que as moldavam desde a

origem: a revolta dos oprimidos contra os valores da aristocracia exploradora; a

consciência da dificuldade de transformar essa realidade; a transfiguração do desejo

em fantasia compensatória. Soldados, servos, artesãos, camponeses, por intermédio

de forças mágicas e de elementos sobrenaturais, tornam-se fortes e vêm a ocupar o

espaço que lhes é de direito na sociedade.

Carvalho nos diz que “na obra de Andersen podemos observar o mais

completo quadro de gêneros literários e as mais variadas manifestações de estilo”

([19--], p. 193). Quanto mais antiga a literatura, mais próxima da criança, nem que

seja pela fantasia.

Sua primeira obra foi uma coleção de “Histórias Maravilhosas”. A primeira

produção poética foi “O menino moribundo” (1827) que abriu para todas as crianças

do mundo as portas da fantasia e da beleza. Há mesmo, em Andersen, histórias

autobiográficas, como a do “Patinho Feio”, a “Fábula de minha vida” e, em parte, “A

Rainha de Neve”. Andersen se faz representar pelo Patinho, que desprezados em

seu meio, pela própria mãe, teve que fugir para longe, para um lugar que

reconhecessem seu valor. E depois, durante os anos de escola, ele se preparava

para transformar-se no belo “cisne”.

Em 1835 publicou histórias Contadas às Crianças, com seus quatro primeiro

contos. Até 1872, produziu 168 histórias. Suas histórias trabalhavam com o código

social e eram inspiradas na sua infância sofrida, trazendo uma moral ou

ensinamento (COELHO, 1987, p. 76).

Através dos anos, os contos de Andersen foram traduzidos para inúmeras

línguas e sofreram incontáveis adaptações que, muitas vezes, alteram

substancialmente o enredo. Hoje mesmo tendo passado tanto tempo da criação dos

contos de fadas e com a presença constante da tecnologia, eles ainda estão

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presentes na vida das crianças, sendo contados por pais aos seus filhos, pelos

professores e educadores aos seus alunos.

O maravilhoso de Andersen aparece mais que nos outros autores; nele o

maravilhoso é tudo, é a alma do conto, é um mundo vivo, é a própria vida de

Andersen. Deu vida às flores, plantas, animais, objetos e brinquedos, sendo o maior

animista. Não teve preocupação de moralizar e não se aproximou dos autores que

assim pensavam; ele estava avançado para a literatura de seu tempo.

Para Andersen a infância não acabava, não havia um elo entre a fase infantil e

a adulta. No conto “A rainha de Neves” temos Kay e Gerda de mãos dadas;

reencontram na escada a caixa de flores e suas pequenas cadeiras, e o conto

termina assim: “ Lá estavam sentados, os dois, adultos e ainda crianças, crianças

pelo coração, e era verão, o verão quente e abençoado.”

Andersen buscou na cultura do povo suas fontes de inspiração; foi um homem

muito simples, humilde, bondoso e alegre, podemos encontrar estas características

em: “A Princesa no País das Ervilhas”, “O Companheiro da Viagem”.

Andersen foi a primeira voz autenticamente romântica a contar histórias para

as crianças e a sugerir padrões de comportamento a serem adotados pela nova

sociedade, como: valorização do indivíduo por suas qualidades e não por sua

aparência externa (O Patinho Feio); atração pela aventura, pelo diferente e

emancipação (A Sereiazinha), etc. Observamos também, além do maravilhoso na

narrativa de Andersen, a presença do “realismo”; não vemos fadas, mas o mágico

está presente de forma natural, não havendo fronteiras entre o real e a fantasia.

Andersen se difere dessa forma de Perrault e dos Grimm, pois a agressividade não

penetrou em suas produções literárias.

3.4 Os contos de fadas modernos - A literatura infa ntil brasileira

A literatura infantil brasileira apareceu tardiamente, pouco antes da virada para

o século XX, permanecendo por muito tempo sob o domínio cultural europeu,

considerando que na Europa, Charles Perrault publicara seus primeiros contos em

1697. Foram décadas de traduções e produções tímidas quase que exclusivamente

baseadas nas produções européias.

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Nesse período, o país atravessava uma fase em que a expectativa dos adultos

era de que as crianças se tornassem sérias e maduras o quanto antes. Textos

serviam como doutrina; o acesso à escola era restrito às classes altas e os

professores exigiam dos alunos leituras de textos clássicos, com linguagem

requintada e temas não atrativos. Nesse cenário surgiram os contos populares ou de

encantamento vindos da Europa, repletos de aventura e magia, correspondendo aos

anseios dos jovens leitores.

Um passo importante desse período foi o trabalho de Carlos Jacob Jansen,

que, ao chegar da Alemanha em 1851, se viu diante do descontentamento do

público infantil como acontecia com o adulto (COELHO, 1991, p. 241).

Somente no início do século XX, autores consagrados na “literatura adulta”

como Olavo Bilac e José de Alencar, passam a se dedicar à literatura infantil. Porém,

a revolução na literatura infantil brasileira aconteceria realmente com Monteiro

Lobato, que introduziu uma série de novos elementos tanto formais como em

conteúdo.

Segundo Coelho (1991, p. 57), a divisão histórico-literária da literatura infantil

brasileira, em seus vários períodos, tem em Monteiro Lobato um marco divisor de

épocas:

a) precursora: período pré-lobatiano (1808-1919);

b) moderna: período lobatiano (anos 20/70);

c) pós-moderna: período pós-lobatiano (anos 70/...).

Foi em pleno período de confronto entre o tradicional (formas já desgatadas do Romantismo/Realismo) e o moderno (representado pelo Modernismo de 22) que Monteiro Lobato inicia a invenção literária que cria o verdadeiro espaço da literatura infantil no Brasil (COELHO, 1991, p. 57).

Monteiro Lobato é o precursor de uma literatura infantil crítica: se preocupa em

debater temas públicos, normalmente circunscritos ao mundo adulto, de forma a

serem facilmente apreendidos pelas crianças. Não podemos esquecer do uso de

uma linguagem coloquial bem característica da infância (invenção de palavras). A

intenção central de sua obra é formar futuros “modificadores da realidade”, por isso é

repleta de uma ideologia “subversiva”. É possível perceber, por sua obra, que

Lobato era extremamente nacionalista, inimigo de ideias, crenças e valores que

favorecessem a manutenção do status quo, vago defensor, em teoria de ideias

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socializantes contra o obscurantismo autoritário do poder. Por outro lado, possuía

ideias um tanto quanto liberais, como a crença no desenvolvimento econômico

capitalista para a resolução dos problemas brasileiros, na democracia etc.

Segundo Zilberman (1982, p. 63), a literatura infantil até Lobato não

apresentava uma temática nacional, reproduzindo os padrões vindos da Europa. Ele

consegue romper esse círculo, aproveitando nossas tradições folclóricas e seu êxito

se deve aos seguintes fatores:

a) personagens que se repetem em todas as narrativas;

b) emprego de crianças como heróis, promovendo imediata identificação com

o leitor;

c) ausência de autoritarismo e de imagens adultas repressoras;

d) a opinião das crianças personagens é respeitada;

e) a curiosidade e a criatividade são estimuladas.

Para Pellegrini (2009), a história da literatura no Brasil das três últimas décadas

vem marcada por um sofisticado mercado editorial, inserido numa poderosa indústria

cultural, que hoje a torna totalmente prisioneira do marketing, processo que se

constitui de estratégias de divulgação, promoção e vendas do objeto-livro.

Por esse motivo, a literatura infantil é uma das áreas editoriais que mais tem se

desenvolvido nas últimas décadas. Estamos vivendo num período em que a

literatura vem ganhando cada vez mais espaço na área acadêmica, nas escolas de

Educação Básica, na imprensa e na preocupação dos pais em torno do gosto pela

leitura.

A autora nos dá exemplos da Literatura Brasileira e aponta para linhas de ação,

a mais freqüente citada respeito às incursões no verismo naturalista; pode-se alinhar

uma preocupação com a renovação do conto de fadas. Outras vertentes que surgem

são de aventuras que podem passar no campo (heróis em férias) ou em uma cidade

grande, narrativas com animais (humanizados com freqüência) e episódios da

história do Brasil.

“História meio ao contrário”, de Ana Maria Machado, publicada em 1979,

protagoniza, a partir de seu título, a inversão do modelo do conto de fadas. “A Fada

que tinha ideias”, de Fernanda Lopes de Almeida e A Menina que o Vento Roubou,

de Heloisa Penteado são narrativas que preservam a estrutura dos contos de fadas,

inovando em seu conteúdo e renovando temas abordados. Elementos que

permanecem os mesmos dos contos de fadas:

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a) presença do maravilhoso;

b) personagens, poucos e geralmente tipos;

c) o meio, ambiente não é muito detalhado;

d) a intriga e o motivo das ações são bem simples;

e) o bem contra o mal;

f) punição do mal;

g) final feliz, resolução de todos os conflitos.

Em “A Fada que tinha ideias”, temos poucas personagens, tipos, como a Clara

Luz, sua mãe, a fada boa, a fada Rainha que é mandona e ranzinza. “Clara Luz era

uma fada, de seus dez anos de idade que morava no céu... ou “Clara Luz e a mãe

moravam numa rua toda feita de estrelas chamada Via Láctea.”

Percebemos que a literatura atual mantém elementos básicos da narrativa de

contos de fadas, mas também se mostra preocupada com problemas da vida

cotidiana e transparece isso em seus livros. Os livros infantis são adaptados às

necessidades sociais representadas pelo sistema educativo, independente de ser

realista ou fantasista. No entanto, o elemento fundamental: o maravilhoso ou a

fantasia funcionam como uma alavanca para o interesse, atraindo o leitor em sua

forma plena, motivando a leitura e expandindo a criatividade. A literatura infantil

procura remeter a criança ao seu cotidiano, buscando preparar as crianças para

enfrentar a realidade da vida.

Assim, no capítulo que segue poderemos analisar os elementos básicos da

narrativa e comprovar se realmente são evidenciados em versões diferentes de um

mesmo conto.

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4 A NARRATIVA DOS CONTOS DE FADAS: ANALISANDO A SUA ESTRUTURA

Gillig (1999, p. 28) chama os contos de fadas de contos maravilhosos, pelo

predomínio não de fadas, mas de situações maravilhosas nos contos. O

maravilhoso, essencial para o equilíbrio da razão, é o próprio uso que fazemos do

imaginário e diz respeito à magia ou intervenção divina, dividindo-se em três

funções: fantasmagórica: através da realização do herói, trabalhando com sua

realidade psíquica, traduz de maneira simbólica as aspirações do homem; estética:

quando é vista também como uma obra de arte, patrimônio cultural da humanidade,

apresentando a relação homem versus natureza e sua visão de mundo;

encantamento: referência ao estado de êxtase a partir da narrativa, onde se passa

do cotidiano trivial para o universo do conto.

Não se pode precisar onde se distingue o mito do conto folclórico, de acordo

com Bettelheim (1990, p. 35), apenas afirmar-se que ambos provêm de uma

sociedade pré-literata. Os países nórdicos usam a palavra saga para ambos: mito e

conto folclórico; os alemães usam sage para os mitos e marchen para os contos.

Ingleses e franceses enfatizam o papel das fadas em histórias em que elas não

aparecem na maior parte das vezes. Mitos e fadas atingem a sua forma final apenas

quando estão redigidos, após passarem por um processo de mudança pelo

contador, condicionando-os ou melhorando-os, de acordo com os interesses dos

ouvintes, das preocupações do momento ou da época.

A separação entre a narração ritualística e o tratamento apenas artístico dado

aos contos, de acordo com Mendes (2000, p. 26), foi o início da transformação do

mito em contos populares. Bettelheim afirma que esses contos desenvolveram-se a

partir dos mitos ou foram a eles incorporados, passando a experiência acumulada de

uma sociedade sedenta de transmiti-las a novas gerações.

Também Mendes nos fala sobre a origem comum dos contos e mitos:

Estes contos fornecem percepções profundas que sustentaram a humanidade através das longas vicissitudes de sua existência, uma herança que não é transmitida sob qualquer outra forma tão simples e diretamente, ou de modo tão acessível, às crianças. Um mito, como uma estória de fadas, pode expressar um conflito interno de forma simbólica e sugerir como pode ser resolvido, mas esta não é necessariamente a preocupação central do mito. Ele apresenta seu tema de forma majestosa; transmite uma força espiritual; e, o divino está presente e é vivenciado na forma de heróis sobre-

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humanos que fazem solicitações constantes aos simples mortais. Por mais que nós, os mortais, possamos empenhar-nos em ser como estes heróis, permaneceremos sempre e obviamente inferiores a eles (BETTELHEIM, 1990, p. 34).

Os personagens e os acontecimentos presentes nos contos de fadas, segundo

Bettelheim (1990, p. 35), demonstram conflitos internos, indicando sua resolução e

novos passos em busca de uma humanidade mais elevada. Mendes (2000, p. 26)

observa que a separação entre o sagrado e o profano deu-se pela pressão de

acontecimentos sociais inesperados (migrações, invasões e suas conseqüências

inevitáveis) ou pelo percurso natural e histórico de um povo. Os mitos passam a ser

narrados para quaisquer pessoas, em ambientes comuns, perdendo seu significado

primeiro, resumindo-se em histórias de entretenimento.

Essa origem comum dos contos e mitos explica ainda a semelhança entre sua estrutura narrativa e a de outras formas artísticas surgidas posteriormente, com as lendas heróicas e as epopéias. Assim, a cultura folclórica, nascida em uma comunidade sem classes, vem a ser, a partir do feudalismo, propriedade da classe dominante. Esse fenômeno pode explicar, finalmente, o uso ideológico que se faz dos contos de fada, desde a instalação do sistema educacional burguês até hoje (MENDES, 2000, p. 26).

A milenar medicina hindu acreditava que os contos de fadas tinham poder

terapêutico através de sua meditação, que levava a visualização da natureza do

conflito existencial que estava causando a perturbação, e o caminho para a

resolução. Mas foi a psicanálise quem ofereceu as maiores contribuições na análise

dos significados mais profundos dos contos de fadas, propondo-se a desvendar

significados manifestos e encobertos da mente consciente, pré-consciente e

inconsciente, tendo em Jung, seu maior representante (BETTELHEIM, 1990, p. 35).

4.1 Características estruturais dos contos de fadas

É imprescindível a presença do maravilhoso nos contos de fadas, pois é ele

que dá caráter imaginativo nesses contos. Depois do maravilhoso, vêm os

personagens, poucos, englobando o enredo. Podem ser crianças, jovens; podem

viver em casas simplórias ou em palácios. Possuem características exageradas: são

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excessivamente bons, maus, exuberantes em beleza ou extremamente feios,

covardes ou valentes, bruxas, fadas ou princesas.

Os pais, as madrastas, avós ou trabalhadores que entram em alguns contos

caracterizam a sociedade, são considerados personagens tipos acessórios, segundo

Brait (2004, p. 41). Podemos encontrar personagens os animais ou objetos

animados: vassouras, varinhas, espelhos etc. A característica principal desses

personagens é que são tipos e têm geralmente uma característica potencialmente

elevada.

Outro elemento da estrutura é o meio em que as ações se desenrolam, o leitor

não tem o lugar apresentado com precisão, nem o tempo onde ocorreu a narrativa,

mas estes itens são abordados em poucas palavras. Os marcadores de tempo e

espaço apresentados podem ser: “Num certo lugar”, “ Em um reino distante”, “Na

Antiga Pérsia”, e o mais destaco “Era uma vez”.

Foi com Vladimir Propp, estruturalista russo e um dos expoentes da

narratologia, que se deu um dos primeiros estudos científicos relevantes dos contos,

em 1920. A partir dos estudos nos quais se propôs a analisar estruturalmente cem

narrativas dos contos populares da época, chegou à conclusão de que todas as

histórias tinham a mesma sequência de ações ou funções narrativas, e a questão de

que, apesar da diversidade de temas e versões, todas poderiam ter uma origem

comum.

Em sua reconhecida análise dos contos de fadas, faz a seguinte relação: o

antagonista (vilão), o príncipe, a princesa, o herói, o falso herói, etc. Depois relaciona

suas funções, somando o número de 31 características constantes na maioria dos

contos de fadas.

As narrativas evidenciam quatro etapas:

a) apresentação;

b) conflito;

c) clímax;

d) desfecho.

Em todas essas espécies de conto há uma característica comum: os contos

são desenvolvidos baseados em um único núcleo dramático. Coelho (1987, p. 78),

afirma que Propp formulou uma estrutura básica para os contos de fadas,

envolvendo início, ruptura, confronto e superação de obstáculos e perigos,

restauração e desfecho.

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O início caracteriza-se pelo aparecimento do herói ou da heroína e do

problema que vai desestabilizar a paz inicial; a ruptura, quando o herói vai para o

desconhecido, deixando a proteção e se desligando da vida concreta; o confronto e

a superação de obstáculos e perigos, quando o herói busca soluções fantasiosas; a

restauração é quando se inicia o processo da descoberta do novo, das

potencialidades e das polaridades; e o desfecho, é o retorno à realidade, com a

união dos opostos, iniciando o processo de crescimento e desenvolvimento.

Nos dois contos, os personagens que vivem as aventuras narradas têm

funções definidas: o herói ou heroína devem superar alguns obstáculos para

conseguir alcançar seu ideal. Podem contar com a presença de algum ajudante

nessa busca ou um oponente que tentará impedi-los de alcançar os objetivos. O

herói ou heroína são bons, e os oponentes são maus. Personagens heróis podem

receber atributos de reis, rainhas, príncipes, princesas; nem sempre os heróis

recebem nomes, são chamados por seus atributos (Chapeuzinho Vermelho, Gata

Borralheira, etc.), o que faz com que o leitor se identifique com elas mais facilmente.

No conto de fadas, a problemática em torno da qual gira a história está relacionada

aos valores espirituais do ser humano, o amor por exemplo. O personagem

protagonista busca sua realização pessoal por meio da satisfação de um ideal, de

um sonho: encontrar o amor de sua vida, em geral um principe ou princesa, com

quem quer casar-se.

Coelho (1987, p. 78), também afirma que a fantasia básica dos contos de fadas

expressa os obstáculos ou provas que precisam ser vencidos, como um verdadeiro

ritual iniciático, para que o herói alcance sua auto-realização. Partem de um

problema vinculado à realidade e seu desenvolvimento é uma busca de soluções, no

plano da fantasia, com a introdução de elementos mágicos. A restauração da ordem

acontece no desfecho da narrativa, quando há uma volta ao real.

Propp, ao analisar a semelhança entre a estrutura das narrativas e a sequência

das ações nos rituais, concluiu que os mais velhos faziam o papel de iniciadores e

contavam aos jovens, que eram os iniciantes, o que lhes estava acontecendo, só

que se referiam ao fundador da raça e dos costumes, o primeiro ancestral. Essa

narração que mostrava o sentido das práticas nos rituais a que os jovens estavam se

submetendo, era parte integrante do ritual e devia ser mantida em segredo: um

segredo entre o iniciador e o iniciado, que funcionava como um amuleto verbal e

dava poderes mágicos aos envolvidos. Essas narrações acabaram transformando-se

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em mitos, mantidos e transmitidos como preciosos tesouros nas sociedades tribais

(MENDES, 2000, p. 26).

Através do mito, segundo Mendes (2000, p. 27), pode-se entender a realidade

social de um povo, sua economia, seu sistema político, seus costumes e suas

crenças. Através dos mitos é que eram explicadas a vida individual e social,

passada, presente e futura nas comunidades primitivas.

Isso só foi possível, de acordo com Pavoni (1989, p. 43), quando Propp, ao

estudar as raízes históricas dos contos maravilhosos, descobriu que algumas

práticas comunitárias dos povos primitivos (ritos de iniciação sexual e

representações da vida e da morte), explicam a existência de dois tipos de contos,

abrangendo a maior parte das histórias chamadas hoje de contos maravilhosos ou

de fadas.

4.2 Análise de diferentes versões de um mesmo conto

O conto Cinderela está presente nas mais variadas culturas do mundo,

retratando a trajetória permeada por sofrimentos e privações de uma jovem, que

depois alcança a felicidade.

A versão mais antiga existente de ‘Cinderela’, em que aparece o sapatinho perdido, foi registrada por volta de 850-60 d.C. na China; a história foi anotada por um funcionário público que a ouviu da boca de uma criada de família, e o modo pelo qual é contada revela que o público já a conhece: não se trata absolutamente do Urtext. (WARNER, 1999, p. 234).

Segundo Warner (1999), a versão chinesa não é exatamente o primeiro texto,

mas, sem dúvida, representa o primeiro registro datado. Nesta versão, Cinderela é

conhecida como Yeh-hsien. Na cultura ocidental, os textos escritos mais difundidos

são os seguintes: a versão francesa intitulada Cinderela - O Sapatinho de Cristal, de

Charles Perrault (1697), e a versão alemã, A Gata Borralheira, dos Irmãos Grimm

(1812).

Na versão de Charles Perrault (1697), Cinderela ou O Sapatinho de Cristal,

temos a história de um fidalgo viúvo que tem uma filha. Ele se casa novamente com

outra mulher, que possui duas filhas. A madrasta, com ciúmes da filha legítima, faz

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com que esta trabalhe muito e seja maltratada. A jovem é chamada de Borralheira,

Cinderela.

O príncipe promove um baile e convida todas as moças do reino, e a única que

não comparece é Cinderela, que fica chorando. Nesse momento, surge sua fada

madrinha, que transforma uma abóbora em carruagem, ratos em cavalos e cocheiro.

Veste Cinderela em um lindo vestido e esta vai ao baile com a condição de retornar

à meia-noite, quando tudo voltaria ao normal. O príncipe, ao vê-la, fica encantado.

Porém, próximo à meia-noite, Cinderela retira- se rapidamente deixando cair um

sapatinho. O príncipe manda que todas as moças experimentem o sapato até

encontrar a dona. Quando Cinderela prova, fica ainda mais esplendorosa. É nesse

momento que as irmãs a reconhecem e lhe pedem perdão. Cinderela as perdoa,

casa-se com o príncipe e casa as duas irmãs com ricos fidalgos da corte.

Na versão alemã, A Gata Borralheira, dos Irmãos Grimm (1812), encontramos

a trajetória de uma jovem que, ao perder sua mãe, fica muito triste. Com o passar do

tempo, seu pai se casa novamente. A madrasta possui duas filhas, que começam a

maltratar a enteada e chamam-na de Cinderela. A jovem, que teve que passar a

dormir na cozinha, é muito humilhada.

Um dia, o pai necessita viajar, as duas irmãs lhe pedem que vestidos e jóias, e

Cinderela pede um ramo do primeiro galho de árvore que bater no seu chapéu.

Cinderela planta-o perto do túmulo de sua mãe e o ramo se torna uma grande

árvore.

O rei anuncia uma festa a todas as jovens em idade de casar, mas Cinderela

só iria se fizesse os afazeres que a madrasta lhe impunha. Com a ajuda dos

pássaros, consegue fazer tudo, porém a madrasta não a deixa ir. Cinderela vai

chorar embaixo da árvore e um pássaro branco lhe joga um lindo vestido. Ela vai ao

baile, dança com o príncipe e quando já é tarde, precisa fugir. No segundo dia de

baile, vai com outro vestido e também foge. No terceiro e último dia de baile,

Cinderela ganha um vestido mais bonito que os outros; porém, quando foge, seu

sapato fica preso, e ela sai correndo.

O príncipe então determina que só se casaria com a dona do sapatinho.

Quando vão provar, uma das irmãs corta o dedo para poder calçar, mas o príncipe é

avisado por duas pombas e vê o sangue. A outra irmã, também para enganar o

príncipe, corta o calcanhar, mas novamente ele é avisado pelas pombas. Quando,

finalmente, Cinderela prova, descobre-se a verdadeira dona do sapato.

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Ao analisarmos as versões de Perrault e Grimm, notamos que ambas

apresentam algumas especificidades: no texto de Charles Perrault, encontramos a

presença de uma fada que auxilia Cinderela, existe também a ajuda de animais, dois

dias de baile. O diferencial mais evidente, talvez, seja a presença da moralidade no

final do conto de Perrault, cuja finalidade seria a de fornecer diretrizes para a postura

dos possíveis leitores do texto.

Por sua vez, na versão dos Irmãos Grimm, não há a presença da fada, mas há

uma árvore encantada, que auxilia a protagonista na solução de seus problemas.

Temos três dias de baile e um fato que caracteriza este texto é a presença de atos

sanguinários: as irmãs, na tentativa de se fazerem passar pela princesa do baile,

mutilam seus pés para enganar o príncipe, que, por sua vez, é avisado por duas

pombas a respeito da atitude das irmãs. No dia do casamento de Cinderela, suas

irmãs têm seus olhos furados por duas pombas. O texto dos Grimm não possui

moralidade explícita, contudo encontramos a presença do castigo às irmãs que

maltrataram Cinderela.

Logo no começo das duas narrativas é possível verificar nítida diferença entre

os textos. Perrault apresenta rapidamente os pais de Cinderela, dizendo “que um

nobre perdeu sua esposa muito cedo e que logo casou-se novamente”. Caracteriza

essa nova esposa como uma mulher extremamente orgulhosa e arrogante. É breve

e sucinto na apresentação. Podemos verificar no excerto que segue:

“Era uma vez um nobre cuja mulher morreu muito cedo e logo casou de novo.

Sua segunda esposa era a mulher mais orgulhosa e mais arrogante que já se viu”.

O início apresentado pelos Irmãos Grimm é mais explorado, utilizam-se de dois

parágrafos e descrevem a esposa do nobre com mais riqueza de detalhes. É

possível identificar nesta apresentação características dos personagens, como

sentimentos, carinho existente na família, a dor sentida pela perda da mãe. Existe

uma explanação do ambiente e da natureza. Podemos identificar nos dois exertos

que seguem:

“Era uma vez uma bondosa mulher que tinha uma única filha, uma menina

linda e meiga, a quem amava muito. Um dia a mulher adoeceu gravementee, e

embora ainda fosse jovem, sentiu que não ia durar muito tempo. Assim chamou a

filha para perto de si e, depois de abraçá-la carinhosamente, pediu: - Seja sempre

meiga e bondosa para com todos, minha filha, que lá do céu estarei o tempo todo

olhando por você! “

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Nas duas versões há semelhanças nos primeiros parágrafos das narrativas, a

mais evidente trata da chegada da madrasta de Cinderela a sua casa. A madrasta

seria uma viúva com duas filhas, todas arrogantes com maus modos. As filhas, da

mesma forma que a madrasta, desprezam e fazem de tudo para destratar Cinderela.

Fazem dela uma escrava e nas duas versões a pobre moça Cinderela, dorme junto

às cinzas.

Na versão de Perrault, as filhas da madrasta dormem em quartos luxuosos com

grandes espelhos, Cinderela não reclama de sua situação, não quer aborrecer ao

pai; Cinderela dorme em um cantinho junto à chaminé, em meio as cinzas e daí

nasce o apelido da irmã mais velha: gata borralheira, ou seja coberta de borralho, de

cinzas. Na versão dos Irmãos Grimm Cinderela também é chamada de gata

borralheira, pois permance suja de cinzas, ela não possuía um quarto, nem ao

menos uma cama. Era obrigada a dormir na cozinha, próximo a cinzas de um fogão.

Esses dois contos têm em comum a personagem central Cinderela, e também

valores e comportamentos, que independente de sua época ou origem apresentam

formas diferentes de interpretação. Observadas as diferenças entre as versões de

Perrault e Grimm, notamos que ambas apresentam a mesma estrutura narrativa, ou

seja, a história de uma jovem que é humilhada por sua madrasta e suas irmãs e que

só consegue vencer suas aflições por intermédio de um ente mágico, que a auxilia a

ir ao baile e conhecer o príncipe com o qual se casa.

Segundo Abramovich (1997, p. 119), o maravilhoso universo dos contos de

fadas se perpetua há milênios, havendo registros de que eram contados na China

desde o século IX. Tal fato se justifica, de um lado, porque os contos estão envoltos

no mundo da fantasia; de outro, porque partem sempre de uma situação real, de

fácil compreensão para a criança. Isto porque as narrativas se passam em lugares

idealizados e sem limites, mas que qualquer criança pode freqüentar.

As personagens são simples, passam por situações inusitadas, buscam

respostas e convivem com entidades fantásticas, como bruxas, fadas, entre outros.

O importante é que os contos de fadas mantêm uma estrutura fixa, partem de um

conflito real, se desenvolvem em um mundo fantasioso com o auxílio de

personagens mágicos e finalizam com a solução dos problemas no plano real, o que

permite à criança a idéia de que é possível abrir as portas para a fantasia, mas é

preciso assumir o real.

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Ainda neste tópico, observamos os seguintes aspectos: a ordem cronológica

dos fatos é sempre obedecida; através dos atos das personagens, temos acesso às

suas características; e verifica-se a presença dos extremos (feio/belo; rico/pobre;

amor/ódio; bom/mal). Os principais personagens dos contos de fadas, quais sejam: o

herói, em torno do qual se concentra toda a ação; o inimigo ou o oponente do herói

(bruxa, rei malvado, madrasta, lobo); o auxiliar do herói (fada ou animal falante), que

consiste na representação da figura mágica; a figura contrastante, como, por

exemplo, os irmãos mais velhos e a madrasta; e a pessoa salva pelo herói (na

maioria dos contos, a personagem feminina).

4.3 Psicanálise nos contos de fadas

O conto de fadas possui alegorias, que exprimem uma moral, um padrão de

conduta que seria o correto, o recomendado dentro de um contexto social e

histórico. Segundo Miranda, a caracterização dos protagonistas, herói ou heroína,

identificam-se com o bem. Em algumas narrativas o desvio de conduta pode

complicar o final do protagonista, servindo de exemplo para demonstrar a

moralidade do contexto social (1978, p. 95).

A seguir, de forma sucinta, podemos identificar em um dos contos de Perrault,

Chapeuzinho Vermelho:

“ Certo dia, a mãe de uma menina mandou que ela levasse um bolo e um

pouco de manteiga para sua avó. No caminho pela floresta, um lobo aproximou-se e

perguntou-lhe onde ia e qual o caminho que seguiria.

Ao ouvir as respostas, o lobo tomou o caminho mais curto, e devorou a avó.

Em seguida, fechou a porta e deitou-se na cama a espera de Chapeuzinho

Vermelho.

Não demorou muito, a menina chegou com o bolo e a manteiga. Bateu a porta

e ao ouvir a voz grossa do lobo, assustou-se, mas supôs que sua avó estivesse

rouca. Respondeu dizendo que a neta e que trazia bolo e manteiga, o lobo a convida

a entrar adoçando um pouco a sua voz. A seguir o lobo pede a menina que tire sua

roupa e deite-se com ele na cama com ele.

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Quando a menina se deitou e sentiu o corpo do lobo, percebeu os pêlos, o

tamanho dos braços e o lobo a explicava: para te abraçar melhor. Até que

Chapeuzinho perguntou a “avó” por que dos dentes tão grandes; o lobo respondeu:

- ‘É para te comer!’ E assim dizendo, atirou-se sobre Chapeuzinho Vermelho e

a comeu”.

Conforme Campello, Perrault possuía objetivos ao escrever seus contos:

Perrault escreveu a história com fins didáticos, para alertar as jovens virgens e mesmo as não-tão-virgens que brilhavam na corte do Rei Sol. Com isso, funda a literatura infantil 'clássica', não-tão-infantil assim. As alegorias de seus contos representam as preocupações políticas e sexuais da França no século XVII. Vestir sua heroína com um capuz vermelho - a cor das prostitutas, do escândalo e do sangue - simboliza o pecado da menina e a previsão de seu destino (CAMPELLO, 2009).

Relacionando a moral do conto de Perrault, com o personagem o "lobo",

percebemos que o autor nos diz que os lobos bonzinhos são os mais perigosos, pois

o objetivo era alertar a todas as meninas ingênuas dos perigos que poderiam correr.

A narrativa de Chapeuzinho Vermelho foi baseada em um conto antiquíssimo, o mito

de cronos, que devorava os seus filhos depois que saíam da barriga de sua esposa,

colocando nela, no lugar de seus filhos um monte de pedras, afinal essa foi a versão

dada pelos Irmãos Grimm.

Bettelheim nos diz que os bons contos de fadas têm significados em muitos

níveis; só a criança pode saber quais os significados importantes para ela. À medida

que o jovem leitor infantil cresce, relendo os contos, irá descobrir novos significados.

Isso lhe dará a certeza de que evoluiu e amadureceu em compreensão, já que a

mesma história lhe mostra agora outros aspectos que não havia considerado

anteriormente. Assim, os contos atingem a sua missão: a criança é quem irá

descobrir, por si mesma, os significados ocultos nos textos (1990, p. 205).

Chapeuzinho Vermelho explicita uma menina inocente, a mais bonita que

existia, entretanto desobediente e curiosa, diria um tanto convencida, pois ao ouvir a

voz grossa do lobo sente medo e assim mesmo não foge, insiste e entra na casa.

E depois ao deitar-se na cama com ele, não esboça movimento de

afastamento, permanece ao seu lado, atraída e repelida ao mesmo tempo.

Conforme Bettelheim:

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Chapeuzinho Vermelho externaliza os processos internos da criança púbere: o lobo é a externalização da maldade que a criança sente quando vai contra os conselhos dos pais e permite-se tentar, ou ser tentada, sexualmente. Quando se desvia do caminho que os pais lhe traçaram encontra maldade, e teme que esta a engula e ao pai cuja confiança traiu (1990, p. 213).

O lobo, antagonista, mente à menina na floresta, indicando-lhe um caminho

mais longo, para ele chegar primeiro à casa da avó e em seu diálogo final, usa

palavras falsas: abraçar, correr, escutar, ver. O lobo mostra-se dissimulado tentando

disfarçar a voz da avó e persuadir a personagem feminina.

O lobo é um personagem assustador; as crianças normalmente sentem muito

medo dele. Além disso, ele está presente em outros contos, por exemplo, o conto

dos Três Porquinhos. Mesmo sentindo medo, as crianças pedem a seus pais que

lhes contem essa narrativa. O lobo exerce grande importância no nosso imaginário,

pois nos alerta dos perigos de andar desacompanhados, da desobediência e

ingenuidade. Com isso os contos de fadas falam de conquistas reais ou fantásticas,

de perdas e buscas, dos sonhos e fantasia e através da leitura e imaginação, parte

dos leitores infantis consegue se desvencilhar desse processo e constrói pouco a

pouco sua autonomia, redescobrindo seus valores.

No princípio os contos nasceram da originalidade popular, mas eram repletos

do fantástico e da magia (GOÉS, 1984, p. 78). Quando os contos populares de

magia sofreram a melhor das transformações surgiram os contos de fadas, firmando

com o homem a busca pelo bem. Essas narrativas podem auxiliar na formação da

criança, demonstrar o certo e o errado nas atitudes, caracterizar o bem e o mal.

Os contos de fadas são considerados universais porque toda criança, ao ler um

desses contos, coloca-se no lugar do personagem, e através da imaginação ela

pode mudar a realidade que não a satisfaz. Os contos utilizam como base de suas

histórias os maiores conflitos da humanidade. Assim, ao ler ou ouvir um conto, a

criança está lendo não só os seus conflitos, mas os de todos os seres humanos que

vivem e já viveram. Com as histórias dos outros ela pode se tornar capaz de resolver

seus próprios problemas e, ainda, vai sentir-se forte para enfrentá-los.

Bettelheim (1990, p. 19) tenta mostrar por que as histórias de fadas são tão

significativas para as crianças, ajudando-as a lidar com os problemas psicológicos

do crescimento e da integração de sua personalidade. Ele considera os contos de

fadas uma espécie de texto ideal para as crianças, por conterem elementos capazes

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de despertar-lhes curiosidade e a atenção, além de possibilitar-se um convívio mais

saudável com as questões íntimas de natureza emocional.

Segundo o autor, tais histórias carregam em si uma mensagem positiva da luta

contra as dificuldades da vida, que são injetáveis e de incentivo a que a pessoa não

se intimide, mas defronte de modo firme as opressões. Assim dominará obstáculos

e, ao final será vitoriosa.

Outro aspecto enfatizado por Bettelheim é o prazer advindo do contato com tais

textos, suas qualidade literárias. Há autores que consideram os contos de fadas

como um detonador da fantasia e imaginação. Abramovich (1997, p. 120) diz que:

“Os contos de fadas estão envolvidos no maravilhoso, um universo que detona a

fantasia, partindo sempre duma situação real, concreta, lidando com as emoções

que qualquer criança já viveu.”

A autora aponta a contribuição dos contos como fonte de estudos para os

psicanalistas, sociólogos, antropólogos e psicólogos, no que diz respeito às

interpretações do comportamento e anseios humanos:

“Os contos falam de amor, carências, medos, dificuldades de ser criança, de

perdas e buscas, de auto - descobertas – tudo isso contribuindo em grande parte

para a formação do processo pessoal (1997, p. 128).

Bettelheim analisou a importância dos contos de fadas para o desenvolvimento

psicológico das crianças; suas ideias se baseiam na teoria psicanalítica freudiana.

Diz Bettelheim:

Falam de suas pressões internas graves de um modo que ela inconscientemente compreende e - sem menosprezar as lutas interiores mais sérias que o crescimento pressupõe – oferecem exemplos tanto de soluções temporárias quanto permanentes para dificuldades prementes. É esta exatamente a mensagem que os contos de fadas transmitem à criança, de forma múltipla: que uma luta contra dificuldades graves na vida é inevitável, é parte intrínseca da existência humana - mas que se a pessoa não se intimida mas se defronta de modo firme com as opressões inesperadas e muitas vezes injustas, dominará todos os obstáculos e, ao fim, emergirá vitoriosa (1990. p. 20).

Sob este prisma, Bettelheim relaciona a influência dos contos de fadas ao

modelo psicanalítico:

[...] os contos de fadas transmitem importantes mensagens à mente consciente, à pré-consciente, e à inconsciente, em qualquer nível que esteja funcionando no momento. Lidando com problemas humanos universais, particularmente os que preocupam o pensamento da criança, estas histórias

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falam ao ego em germinação e encorajam seu desenvolvimento, enquanto ao mesmo tempo aliviam pressões pré-conscientes e inconscientes. À medida que as estórias se desenrolam, dão validade e corpo às pressões do id, mostrando caminhos para satisfazê-las, que estão de acordo com as requisições do ego e do superego (1990, p. 14).

Os contos de fadas nos falam de muitos assuntos; das dificuldades, de

descobertas, de perdas ou buscas de sonhos. É essa fantasia presente nos contos

de fadas que pode nos mostrar outras formas de se ver a realidade na qual estamos

inseridos e isso pode-se tornar um impulsionador para desencadear nossas

fantasias, maneiras de se ler a vida, sentir ou viver na relação com os outros e com

o mundo.

No próximo capítulo, explanaremos a parte prática do trabalho, com o

desenvolvimento de um projeto, cujo detalhamento poderá ser acompanhado por

meio da leitura atenta. É uma proposta de aplicação em sala de aula, com resultados

bem satisfatórios. Vamos ao projeto e ao teatro.

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5 PROJETO DE LITERATURA E TEATRO: CRIANÇAS SOBEM AO PALCO

5.1 Metodologia

A presente monografia é de cunho bibliográfico, pois está amparada em livros,

revistas e sites especializados a respeito da temática em foco. Pode-se considerar

que a pesquisa é participante, pois a autora da monografia e seus alunos

mergulharam na leitura e na montagem de uma peça de teatro. A culminância da

pesquisa deu-se com a apresentação da peça aos pais e à comunidade escolar,

com grande envolvimento também de outros professores.

Em virtude de o projeto ser um processo e resultado de um trabalho, cuja base

foi o incentivo à leitura, desenvolvi um projeto de atividades didáticas, cujo

detalhamento vem a seguir.

5.2 Projeto Contos de Fadas

Tema

Os contos de fadas na literatura infanto - juvenil.

Delimitação do tema

A formação de leitores a partir dos contos de fadas e o processo de leitura e

escrita infanto-juvenil nas 5ª séries.

Justificativa

A leitura tem ocupado cada vez menos espaço em nosso cotidiano. Ler não é

apenas decodificar os signos. Ler é atravessar o texto, interagindo com o autor na

busca e na produção de sentidos. É ser competente para compreender e decifrar a

realidade; é saber interpretar símbolos, imagens, gestos, promovendo, interferências

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e a comunicação das várias formas do texto entre si (intertextualidade). Escolhi este

tema por ser um assunto que eu aprecio muito e pelo fato de considerar

extremamente importante a fantasia na vida das crianças. Outro motivo que me fez

decidir a respeito do tema é o trabalho que realizo com os alunos da 5ª série do

Ensino Fundamental, no qual observo grande interesse pela leitura de contos de

fadas. Este fascínio demonstrado pelos alunos motivou a curiosidade em pesquisar

o significado que estas narrativas têm em relação ao processo de leitura dos alunos

juvenis. Pretendo descobrir como o aluno associa o texto de literatura e o relaciona à

sua expressão e linguagem, sendo de grande relevância na área de Letras e de

Literatura. É através da leitura que adquirimos novos conhecimentos, é lendo que

desafiamos nossa imaginação e descobrimos o prazer de pensar e sonhar. O aluno

com dificuldade de leitura perde a oportunidade de entender textos nas aulas de

Português, entender a riqueza de aprender sobre sua cidade/município, seu estado

ou país nas aulas de Geografia e História e, de compreender as situações-

problemas nas aulas de Matemática, bem como o funcionamento e as

características da vida, os mecanismos de seu próprio corpo e do seu planeta nas

aulas de Ciências. Trabalhando com os contos de fadas, os alunos constroem e

reconstroem significados para as histórias e desenvolvem o prazer da leitura.

Formulação do problema

Qual é a importância dos contos de fadas no processo de leitura e escrita e

qual a sua inferência na linguagem do leitor juvenil?

Hipóteses

Hipótese 1. A leitura é um processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo

de construção do significado do texto, relacionando ao seu cotidiano. É um fato

constante, instrumental e básico no ensino da língua.

Hipótese 2. Mediante a leitura, o aluno leitor, irá expandir seu vocabulário e se

tornará apto para se expressar e passar por vários níveis lingüísticos.

Hipótese 3. Os contos de fadas resolvem conflitos emocionais pelos quais as

crianças passam rumo ao crescimento pessoal e emocional.

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Público Alvo

Alunos da 5ª série do Ensino Fundamental.

Objetivo Geral

Descobrir por que os contos de fadas causam fascínio nos leitores da literatura

de fantasia e mágica e podem contribuir (ou não) para a formação de leitores.

Objetivos Específicos

De acordo com o PCN de Língua Portuguesa para o 3º ciclo do Ensino

Fundamental:

a) ampliar, progressivamente, o conjunto de conhecimentos discursivos,

semânticos e gramaticais envolvidos na construção dos sentidos do texto;

b) selecionar textos segundo seu interesse e necessidade;

c) ler, de maneira autônoma, textos de gêneros e temas com os quais tenha

construído familiaridade: selecionando procedimentos de leitura adequados

a diferentes objetivos e interesses, e a características do gênero e suporte;

desenvolvendo sua capacidade de construir um conjunto de expectativas

(pressuposições antecipadoras dos sentidos, da forma e da função do

texto), apoiando-se em seus conhecimentos prévios sobre gênero, suporte

e universo temático, bem como sobre saliências textuais - recursos

gráficos, imagens, dados da própria obra (índice, prefácio etc);

d) analisar a contribuição da literatura infanto-juvenil para a formação de

jovens leitores;

e) identificar essa importância no processo de leitura de crianças e pré-

adolescentes;

f) examinar quais inferências essa literatura causa nas habilidades de

expressão e comunicação dos alunos;

g) analisar alguns contos de fadas quanto a sua estrutura e enredo,

compreendendo os significados que eles podem ter para a formação

psíquica e emocional das crianças;

h) habilitar o aluno para conhecer e compreender contos de fadas;

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i) desenvolver no aluno a habilidade de produzir textos;

j) incentivar o trabalho em equipe;

k) estimular a criatividade;

l) promover o hábito de leitura;

m) mediante a produção e revisão de textos escritos, que o aluno possa

identificar características discursivas dos contos de fadas;

n) reescrever um conto partindo da modificação de seus elementos;

o) planejar, produzir e revisar textos a partir de contos de fadas tradicionais e

modernos;

p) realizar dramatizações como forma de expressão oral.

Avaliação

Será considerada satisfatória se os alunos alcançarem aos objetivos propostos,

dentre outros: mostrando interesse, participação, entendimento; ampliando seus

conhecimentos linguísticos; analisando os avanços dos alunos desde as produções

iniciais, revisões, incluindo reescritas e produções individuais. Serão avaliadas as

atitudes e a participação de cada aluno, tanto no grande grupo quanto nas

atividades individuais e atividades de correção. Durante a aula serão avaliadas as

atitudes dos alunos e o interesse na realização das tarefas. Como as redações serão

entregues e depois avaliadas, constatarei o conhecimento dos alunos em uma

produção textual, observando se as marcas linguísticas da narrativa foram

apresentadas. Os alunos serão avaliados através de seu o comportamento,

oralidade e leitura e as respostas de compreensão de texto.

Desenvolvimento da proposta

Antes de iniciar o trabalho com o gênero, irei expor aos meus alunos da 5ª

série do Ensino Fundamental o trabalho que será desenvolvido a partir deste

momento, esclarecendo que eles irão trabalhar com o gênero conto de fadas, e que

realizarão um trabalho com esse gênero por meio de etapas, ou seja, módulos, que

se organizam em torno do tema principal.

Feitos os esclarecimentos a respeito do trabalho a ser realizado, perguntarei

aos alunos:

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a) Você sabe o que é um conto de fadas?

b) Conhece algum(s)?

c) Normalmente, do que trata os contos de fadas?

Após essa contextualização, proporcionarei aos alunos a possibilidade de

expressão oral com intuito de relembrar os contos de fadas que conhecem. Para

tanto, será realizado um trabalho dirigido, em que os alunos irão descrever pelas

silhuetas os personagens de alguns de fadas, escrevendo no quadro os títulos dos

contos mais famosos. Em seguida, farei a seguinte abordagem:

a) Desses contos, quais vocês conhecem?

b) Quem lembra a historia de pelo menos um desses contos?

c) E os personagens, quem são?

d) Como termina a história?

Poderão ser anotadas no quadro, as colocações dos alunos, para verificarmos

os conhecimentos prévios acerca do gênero. Observarei se há participação de

todos; se todos já tiveram contato com o gênero; as dificuldades e facilidades dos

alunos para expressar oralmente suas idéias ou conhecimentos.

Realizada esta primeira etapa do trabalho, segue-se a sequência, que será

desenvolvida em módulos didáticos, como descritos a seguir.

O contato com o conto de fadas Cinderela / Gata Bor ralheira

O conto de fadas selecionado para este trabalho é Cinderela, também

conhecido como Gata Borralheira. Neste momento, deve-se solicitar que os alunos

exponham seus conhecimentos sobre este conto de fadas, suscitando neles seus

conhecimentos e impressões primeiras e cotidianas do conto. Sugerimos, para o

momento, as seguintes questões:

a) Você conhece o conto de fadas “Cinderela / Gata Borralheira”?

b) Se sim, vocês leram, assistiram ou apenas ouviram falar sobre ele?

c) Como é, resumidamente, a história desse conto de fadas?

d) O que acham desse conto?

e) Vocês gostam desse conto?

Logo após, explicarei que Cinderela e Gata Borralheira são duas versões

diferentes para o mesmo conto e apresentarei as versões de ambos, que compõem

o livro da coleção “Trabalhando com os gêneros do discurso: Conto de fadas”, de

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Eliana Gagliardi e Heloisa Amaral (2001) da editora FTD.

Diferenças entre as duas versões

Neste momento, entregarei a primeira versão, o conto “Cinderela”, e farei uma

discussão sobre o conto. Logo após apresentarei a segunda versão, A Gata

Borralheira, fazendo novamente a discussão e pedindo para realizarem uma análise

comparativa, contemplando os itens do quadro abaixo:

ITENS GATA BORRALHEIRA CINDERELA

Autor

Pai

Mãe

Ser fantástico

Amigos

Inimigos

Duração do baile

Roupagem

Meio de transporte

Término do encanto

Localização da princesa

Desfecho

Com essas atividades, os alunos perceberão que é possível escrever histórias

através de duas ou mais versões.

Questões para análise das duas versões:

a) Aponte pelo menos uma diferença entre o início das duas versões do conto.

b) Aponte pelo menos uma semelhança.

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2. Veja a seguir em trechos das duas versões o comportamento das

personagens nos preparativos para o baile. Observe bem as diferenças!

a) Discuta com um (a) colega as afirmações abaixo e marque um X na coluna

adequada.

b) Em uma das versões, Cinderela é mais triste do que na outra. Em qual delas

Cinderela á mais triste? Que palavras ou frases levaram você a perceber essa

tristeza?

3. Em seguida, você vai ler a parte das versões que descreve o baile. Em uma

delas a descrição dos acontecimentos do baile é longa e cheia de detalhes; na outra,

essa descrição é bem resumida. Parece que o baile é mais importante para um autor

do que para outro.

a) Em qual das versões o baile parece mais importante? Que pistas, no texto,

ajudaram você a chegar a essa conclusão?

b) Em sua opinião, por que um autor valoriza mais o baile e seus preparativos

do que o outro?

4. Dando continuidade à história de Cinderela ou Gata Borralheira, ela, ao sair

correndo do baile, perde seu sapatinho, que é achado pelo príncipe. O que

acontece? Agora você vai ler o final deste conto, na versão de Perrault e na dos

irmãos Grimm. Observe as semelhanças e as diferenças.

a) As irmãs de Cinderela têm destinos diferentes nas duas versões. Quais são

eles?

b) Aponte outra diferença entre os finais das duas versões do conto.

c) Aponte uma semelhança entre os dois finais.

Irmãos Grimm

Perrault

As irmãs perguntam se Cinderela quer ir ao baile

Cinderela manifesta desejo de ir ao baile

Cinderela oferece-se para pentear as irmãs

As irmãs obrigam Cinderela a penteá-las

As irmãs pedem opinião de Cinderela

As irmãs não têm nenhuma consideração por Cinderela

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5. Se você fosse contar a história de Cinderela para uma criança de quatro

anos, qual versão escolheria? Por quê?

5.3 Produção final: Escrevendo um conto de fadas ou conto maravilhoso e

apresentação teatral

Ao final do trabalho, acredita-se que os alunos já tenham um embasamento

suficiente sobre os contos de fadas. A partir das leituras e atividades realizadas, a

professora solicitará aos alunos que produzam um texto que poderá ser: um conto

maravilhoso ou um conto de fadas. Deverão organizar um planejamento da escrita

de seus textos, atendendo aos elementos: personagens, tempo, espaço; e aos

momentos da narrativa: apresentação, conflito, clímax e desfecho.

Após a escrita dos rascunhos e antes da entrega dos textos à professora, os

alunos farão análise de suas produções segundo um roteiro de avaliação,

observando se é necessário mudar alguma trecho de seus textos. Com isso, eles

poderão demonstrar sua criatividade e comprovar os novos conhecimentos

adquiridos.

Será realizada, finalmente, uma apresentação teatral com texto adaptado de

Cinderela e esta peça será apresentada aos pais, colegas e comunidade. Depois de

lidos diferentes textos e trocadas experiências com as turmas, os alunos e a

professora irão eleger o conto de fadas que a turma levará ao palco como

apresentação teatral.

Roteiro de Avaliação (do aluno) Está o.k.

Preciso mudar.

Os personagens da história criada são típicas de um conto de fadas?

O local é típico de um de fadas?

O tempo da história criada é indeterminada, como acontece nos contos de fadas?

Seu (sua) herói/heroína sofre uma falta ou perda logo no inicio da história?

O (a) herói/heroína passa por provações ou enfrenta desafios?

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Existe um elemento mágico (ser ou objeto) que ajuda o (a) herói/heroína?

No final da história, o personagem principal é recompensado e o vilão ou antagonista (se houver) é castigado?

As palavras utilizadas na história criada são próprios para um conto de fadas?

Na história, os acontecimentos estão separados em diferentes parágrafos?

Há muita repetição de palavras como “daí”, então” e “depois”?

Há o cuidado de não repetir o nome das personagens?

Os diálogos esta pontuados corretamente para que o leitor possa identificar facilmente que é que está falando?

O conto termina com uma das expressões típicas dos finais de contos de fadas?

5.3.1 Projeto Integrado de Atividades / Cronograma

Aula Data Conteúdo Tipo de Atividade

1ª 15/10

Expressão oral.

Comunicação e expressão.

Características dos contos de fadas: personagens.

Contextualização e exposição do trabalho a ser desenvolvido.

Questionamentos acerca do tema conto de fadas:

- Você sabe o que é um conto de fadas?

- Conhece algum(s)?

- Normalmente, do que trata os contos de fadas?

2ª 16/10 Analisando diferentes versões de um mesmo conto de fadas (início do conto).

Retomada da aula anterior, revisando tudo o que foi apresentado.

Leitura do conto Cinderela na versão de Perrault e Irmãos Grimm.

3ª 20/10 Analisando diferentes versões de um mesmo conto de fadas (meio do conto).

Retomada da aula anterior, revisando tudo o que foi apresentado.

Leitura do conto Cinderela na versão de Perrault e Irmãos Grimm.

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4ª 22/10 Analisando diferentes versões de um mesmo conto de fadas (final do conto).

Retomada da aula anterior, revisando tudo o que foi apresentado.

Leitura do conto Cinderela na versão de Perrault e Irmãos Grimm.

5ª 23/10

Texto: “Ali Babá e os quarenta ladrões”

Introduzir o conto maravilhoso.

Retomada da aula anterior, revisando tudo o que foi apresentado.

Leitura e compreensão textual.

Interpretação de texto.

6ª 27/10

Filme João e Maria.

Estrutura narrativa: apresentação, conflito, clímax e desfecho.

Expressão oral.

Análise do filme: estrutura da narrativa.

Exposição de idéias e caracterização dos personagens: vilões, heróis etc.

7ª 29/10 Produção textual (rascunho).

Retomada da aula anterior, revisando tudo o que foi apresentado.

Produção textual (rascunho) utilizando o planejamento prévio da narrativa: personagens, espaço, tempo. Observar se estão de acordo com o tipo de narrativa trabalhada.

8ª 30/10 Correção do rascunho através do roteiro de avaliação.

Correção da estrutura textual.

Os alunos dispostos em duplas irão realizar a leitura dos textos e fazer a correção.

9ª 03/11 Finalização da produção textual. Passar o texto a limpo realizando as devidas correções.

10ª 06/11 Apresentação Teatral

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5.3.2 Ficha Técnica e Sinopse da Apresentação Teatral

PROJETO CONTOS DE FADAS

Colégio da Imaculada

Série : 5ª série do Ensino Fundamental

Turma : A / B

Nome da Peça Teatral : De Cinderela a Gata Borralheira às avessas

Autor(a) : texto adaptado de Irmãos Grimm

Roteiro e Direção : Profª Daniane P. Teixeira e Prof Elson André Hermes

Cenário : Profª Daniane e Profª Yur A. Alves

Duração : 40 minutos

Público Alvo : Ensino Infantil e Ensino Fundamental (anos iniciais até 5ª série)

Gênero : contos de fadas (teatro infantil / comédia)

Sinopse : A proposta é reunir em torno de uma só peça duas versões da história de A gata Borralheira. A primeira é uma versão da história de Cinderela, tal como é conhecida; para tanto, foi feita uma adaptação do texto dos Irmãos Grimm. A 2ª parte da peça consiste em uma grande brincadeira. De forma bastante divertida e bem-humorada, a Gata Borralheira surge às avessas, em um novo contexto e integrada a outros personagens dos contos de fadas. Podemos falar de uma releitura do conto de fadas tradicional, adaptado para o mundo e a realidade atual: surge uma nova forma de se enxergar conhecidos personagens do teatro infanto-juvenil. A peça, com roteiro escrito pela Profª Daniane, autora da presente monografia e encenada pelos alunos das 5ª séries A e B, levará a uma viagem divertida pelos mundo da literatura. Roteiro para apresentação teatral Peça: De Cinderela a Gata Borralheira às avessas

Cena 1: MODERNA – (Madrasta moderna, Cinderela, irmãs patricinhas)

NARRADOR: A magia de muitas histórias revela-se na possibilidade de se contá-las de várias formas. Algumas podem iniciar pelo avesso... Como a nossa!

MARTA: Quem é a autora de toda essa bagunça?

HELEN: (masca chiclé) É esta Cindy! Ela sempre fica mexendo em minhas coisas! Acho que tem inveja de mim!

PATY: Agora deu até pra estragar minhas roupas! Mãe, esse vestidinho não ficou legal!

MARTA: Mas não era aquele “caro” que você quis levar?

PATY: É, mas não me serve. Ficou grande demais!!!

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HELEN: Este celular está muito velho! Todas as minhas amigas têm um parecido. Vi um celular muito mais bonito na Tv. Mãe, compra um “Motorola V3”?

MARTA: Tá bom, minha filha. Vamos aproveitar o cartão de crédito que teu pai nos deixou e torrar tudo o que podemos. (batem as mãos e vibram)

PATY: Mãe, lembra os dois conjuntinhos que comprei no shopping... então... não gostei de nenhum deles! Ficaram muito feios! E grandes!

MARTA: Tá bom, minha querida. Faz o seguinte: se não servem em ti, dá para a Cindy. Desajeitada como ela é, não vai fazer diferença nenhuma!

CINDERELA: Mas eu também quero uma roupa nova...

MARTA: Nem pensar! Pra que roupa? Não te esquece que tu está de castigo! Não vai sair de casa mesmo!

CINDERELA: Ah, mas eu vou contar tudo para o meu pai quando ele voltar!

MARTA: (Aperta as bochechas da menina e debocha) É em mim que teu pai vai acreditar!

CINDERELA: (triste) Por que só elas podem ganhar roupas novas? Por que eu sempre tenho que usar as roupas que elas não querem mais?

MARTA: Deixa de ser malcriada! Está tudo muito caro! Deixo ver uma coisa no extrato: (risada)... desculpe, Cinderela, mas o cartão de crédito já estourou e não tem mais nada... Então você usa estes vestidos aqui... (joga em cima de Cinderela)

PATY: Então, mãe... vai ou não vai comprar outro conjuntinho pra mim? Aproveitamos e vamos ao shopping...

HELEN: Queremos fazer compras e depois vamos ao cinema...

MARTA: Fala baixo, que eu disse pra ela que não tenho mais dinheiro... Bem capaz que vou gastar com ela...

CINDERELA: Deixa eu ir junto com vocês ao cinema.

PATY: De jeito nenhum. Deus me livre passar vergonha na frente de minhas amigas.

HELEN: No shopping, só vai gente elegante e bonita! Portanto, não há lugar para você...

MARTA: Fica em casa, Cinderela! E nada de usar o computador. Se eu descobrir que você mexeu no meu computador, você vai ficar um ano sem televisão. (grita no ouvido) Ouviu: UM ANO SEM TELEVISÃO. Toma conta de tudo. (De propósito, esbarra na lixeira e espalha tudo no chão.) Isso aqui está muito sujo! Aproveita e limpa o chão.

NARRADORA: Com toda doçura e humildade, Cinderela limpou o chão. Como não podia usar o computador, resolveu, então, ler um livro. Dentro do livro, a nossa menina encontrou um vidrinho. E, como ler bem é entrar na história, Cinderela ficou tão impressionada que entrou no livro.

CINDERELA: Vamos ver o que está escrito: “Quem dessa história muito gostar, princesa vai se tornar. Quem dessa poção mágica esfregar, uma grand e história vai encontrar.”

NARRADOR: E Cinderela resolveu experimentar. (Cinderela fica sonâmbula e entra no livro gigante.)

Cena 2: (História tradicional)

CINDERELA MODERNA: Que livro legal! É pra já que vou ler! Oba! Gostei do título: A Cinderela Encantada. Que legal! O meu nome está na capa dessa história. (Cinderela começou a ler o livro.)

NARRADOR: Num reino muito distante, havia uma menina que estava passando por muitos apuros depois da morte da mãe. Ela tinha um pai bem carinhoso e dedicado e que dava a ela todo o conforto. Mas o pai sentia que faltava à menina carinhos de mãe. Por isso, resolveu casar-se de novo e escolheu para esposa uma senhora viúva que tinha três filhas da mesma idade de Cinderela.

PAI: Eu preciso viajar e cuidar dos negócios da família! Quero que você me prometa que nada vai faltar para cada uma de vocês, inclusive Cinderela!

MORGANA: Eu vou cuidar muito bem da nossa filhinha!

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PAI: E você, minha filha, sempre deve obedecer a sua nova mãe! Faça tudo o que ela lhe disser e pedir!

CINDERELA: Pai, me leva com o senhor? Prometo que vou ficar bem quietinha e não atrapalhar nada...

PAI: Eu sei..., minha filha! Mas eu não posso!

CINDERELA: Mas o senhor prometeu para minha mãe que jamais me abandonaria!

PAI: Minha querida, ouça uma coisa! Eu prometi e vou cumprir! Logo, logo vou voltar1 Até lá, comporte-se bem! Não se esqueça que eu te levo sempre no meu coração. (Apenas fica Cinderela. Os outros saem.)

NARRADOR: Cinderela era uma moça muito bonita, meiga, inteligente e bondosa, bem semelhante a sua mãe. Quando se sentia triste, conversava com seus livros.

CINDERELA: Minha mãezinha, que já está no céu, ajuda-me e não me deixe só!

NARRADOR: Cinderela adormeceu e ali mesmo, ao lado da lareira, ajeitou-se e passou à noite. A madrasta, que a viu dormindo sobre as cinzas, não teve pena e nada fez!

Cena 3: (Dia seguinte. entra Grisela.)

CINDERELA: Bom dia, Grisela, dormiu bem?

GRISELA: Ah que lhe interessa. Passe essa roupa e não leve mais que uma hora, uma hora ouviu?

CINDERELA: Sim, Grisela. Por que está me tratando mal?

MORGANA: Não reclame de minhas filhas. Agora que teu pai não está aqui, quem dá as ordens sou eu! E você ouviu que ele disse: me obedeça sempre.

CINDERELA: Bom dia, Anastácia!

ANASTÁCIA: Conserte essa roupa e não leve o dia inteiro fazendo isso, ouviu?

CINDERELA: Sim, Anastácia.

SAMARA: E passa também o meu vestido! (Saem)

NARRADOR: Quando o serviço da casa estava terminado, a pobre moça sentava-se junto à lareira, e sua roupa ficava suja de cinzas.

SAMARA: Como você é desleixada! Vive cheio de cinzas!

MENSAGEIRO DO REI: (música para entrada do mensageiro) Em nome do Rei, peço licença para entrar nessa casa! O Rei convida todas as moças para um baile para a escolha da moça que vai se casar com o príncipe e será a nossa futura rainh a. Todas as pessoas importantes do reino foram convidadas. Vejo que aqui há moças em idade de casamento!

MORGANA: (muito feliz e radiante) Tem sim! As minhas filhas são as mais belas do reino!

MENSAGEIRO: Preciso visitar outras famílias! Deixo com vocês a mensagem do rei: o Príncipe vai escolher a sua futura esposa entre as moças em idade de casamento.

GRISELA: O príncipe irá escolher a mim! (arruma cabelo.)

ANASTÁCIA: Nunca! Sou muito mais bonito do que você! Que vestido irei colocar?

CINDERELA: Eu também posso ir?

MORGANA: Só se tiver um vestido bonito e depois de acabar todo o serviço!

SAMARA: Suja de carvão, nunca poderá ir ao baile!

ANASTÁCIA: Coitada, não tem vestido de baile!

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Cena 4: Fada

NARRADOR: Finalmente o grande dia chegou. A pobre Cinderela só ouviu a madrasta e as irmãs saírem numa carruagem.

CINDERELA: Por que só eu não posso ir? Por que todos me abandonaram? Não acredito em nada, em mais nada. (Cinderela começa a chorar)

FADA: Nada, meu bem? Oh não, você fala sem pensar.

CINDERELA: Não é verdade.

FADA: Se você perdesse a fé, eu não viria e aqui estou eu. Sou sua fada madrinha. Você gostaria de ir ao baile, não é?

CINDERELA: Sim! (Suspira.)

FADA: Bem, eu posso fazer com que você vá ao baile. Vou transformá-la na mais linda princesa! Acredite sempre em seus sonhos. Pois em realidade poderão sempre se transformar.

NARRADOR: Num toque da varinha mágica, a Fada Madrinha transformou os farrapos em um belo vestido. Em outro toque, arranjou um belo par de sapatinhos.

CINDERELA: Muito obrigada, minha Fada Madrinha!

FADA: Cinderela, você deve estar de volta à meia-noite, pois o encanto terminará. Ao bater do último toque das doze badaladas, tudo voltará ao normal!

Narrador: Toda arrumada, Cinderela entrou na carruagem e foi ao baile real.

Cena 5: Baile

NARRADOR: Durante o baile, nenhuma princesa conseguia encantar o jovem príncipe. (música)

REI: Minha rainha, veja como nosso filho está desanimado!

RAINHA: Parece que a ideia do baile não deu muito certo!

LUANA: Nenhuma moça do reino consegue despertar o coração de meu irmão.

LIDIA: Meu pai deveria ter convidado jovens de outros reinos.

RAINHA: Vamos esperar! O baile ainda vai longe!

LUANA: Precisamos também torcer para que alguma moça encante o nosso irmão!

LIDIA: (entra Cinderela) Seja bem-vinda!

LUANA: (vai até o irmão) Meu irmão, veio mais uma princesa! Parece a mais bonita da festa! Não vai convidá-la para dançar!

PRÍNCIPE: Deixe-me ajudá-la! Seja bem-vinda, princesa!

NARRADOR: Todos ficaram admirados com a moça que acabara de chegar. O príncipe estava encantado, e dançou todas as músicas com Cinderela. Ela estava tão absorvida com ele, que se esqueceu do aviso da fada madrinha. Então, o relógio do palácio começou a bater doze horas.

FADA: (voz oculta) Cinderela, corre e foge! Ao som da última badalada, o encanto vai se desfazer!

PRÍNCIPE: Ei, o que houve? Espere! Você, na pressa, deixou cair um dos seus elegantes sapatinhos de cristal. (O príncipe vai atrás, não encontra ninguém e depois volta).

REI: O que houve meu filho?

PRÍNCIPE: A moça desapareceu!

LUANA: Vou ver se não consigo encontrá-la.

RAINHA: E esse sapato?

PRÍNCIPE: É dela. A única coisa que me restou de lembrança é este sapato.

RAINHA: Haverá, em algum lugar de nosso reino, outras moças dignas em ser sua esposa.

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PRÍNCIPE: Não, minha mãe! A moça com quem dancei é a dona do meu coração! É com ela que casar!

REI: Então, meu filho você deve procurá-la! Amanhã, uma comitiva real vai percorrer todo o reino à procura da moça.

PRÍNCIPE: E eu vou acompanhar pessoalmente a missão.

RAINHA: E aquela que calçar esse sapatinho terá a honra de se tornar a futura rainha.

LIDIA: Até lá, meu irmão, procure descansar! Amanhã, você terá pela frente uma grande missão.

Cena 6: Depois do baile

NARRADOR: Cinderela chega, exausta, em casa; sem carruagem e vestindo sua roupa velha e rasgada.

CINDERELA: Só o que me restou da noite maravilhosa é este pé do sapatinho de cristal. Preciso guardá-lo bem!

GRISELA: Ai que cansaço! Estou exausta! Parece que um elefante passou por cima de mim!

CINDERELA: (volta ao palco) Vocês se divertiram bastante?

ANASTÁCIA: A festa estava maravilhosa!

GRISELA: Mas o príncipe ficou encantado por uma princesa e não dançou com mais ninguém.

SAMARA: Quando ouvimos as doze badaladas, a princesa partiu correndo e deixou apenas seu sapatinho de Cristal.

MORGANA: Mas também, vocês não se ajudaram! Por que deixaram que o príncipe dançasse com aquela princesa! (Saem as três irmãs) Cinderela, vai fazer uma chá pra mim!

NARRADOR: (enquanto isso Morgana toma o chá). E o rei cumpriu a sua promessa. Uma comitiva real ia de casa em casa experimentando o sapatinho para encontrar a bela princesa.

DUQUE: (Corneta anunciando a chegada da comitiva real) Estou procurando a jovem dona deste sapato. Aquela em que o sapato servir será a princesa por quem o príncipe procura.

MORGANA: Ouçam só o que eu vou dizer: uma de vocês ainda poderia... (As irmãs se empurram.)

MENSAGEIRO: Ninguém, nem mesmo o príncipe sabe quem ela é. O sapatinho de vidro é tudo que resta. O rei ordenou que todas as jovens do reino experimentassem.

DUQUE: A jovem que conseguir calçar este sapatinho será a noiva do príncipe e futura rainha...

SAMARA: Eu primeiro!!! (Experimenta, mas não consegue. As outras ficam rindo.)

GRISELA: Agora é minha vez (Faz pose. Não consegue. As outras debocham mais ainda.)

ANASTÁCIA: Sou eu a futura rainha... (Experimenta e não consegue. Risada geral.)

CINDERELA: (aparece) A senhora deseja mais uma xícara de chá! Oh, me desculpem! Eu não sabia que tinham visitas.

MORGANA: (Bastante desajeitada, empurra pelas costas a Cinderela.) Já para dentro! Ninguém te chamou pra cá!

PRÍNCIPE: Quem é aquela jovem?

SAMARA: Não é ninguém!

MENSAGEIRO: Como ninguém! Moça, volte pra cá! O rei ordenou que todas experimentassem o sapato.

CINDERELA: (Dá um sorriso) Eu gostaria de experimentar o sapatinho para ver se me serve!

MORGANA: Mas ela é apenas uma serviçal.

DUQUE: Saber servir o reino deve ser a primeira virtude da futura rainha.

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ANASTÁCIA: Imagina,... Cinderela ser a noiva! Ela não tem postura e beleza. (Cinderela experimenta o sapato)

SAMARA: Cinderela, deixe de bobagem! (Debocha e ridiculariza.) Se você não estava na festa, então o sapato não vai servir!

MORGANA: O sapato só poderá caber no pé da princesa que dançou com o príncipe. (As irmãs riem e caçoam dela)

SAMARA: Deixa ela experimentar! Assim nós vamos ter mais um motivo para rir da nossa (ironia) querida irmãzinha.

DUQUE: Sente-se para colocar o sapato. ( Cinderela sentou-se e, para surpresa de todos, o sapatinho serviu-lhe perfeitamente!)

AS TRÊS: (brincando/ deboche) Cinderela! Cinderela! Cinderela.

GRISELA: O que é isso?

ANASTÁCIA: Não pode ser!

SAMARA: Serviu na Cinderela?

PRÍNCIPE: Achei o meu tesouro! Então é você a moça com quem dancei à noite inteira?

SAMARA: Não pode ser. Tem que provar que de fato é a princesa!

CINDERELA: Permita que eu busque o outro sapatinho! Deixei-o guardado em lugar bem seguro. (Sai)

NARRADOR: Nesse momento, surge novamente a fada madrinha, que tocou a roupa de Cinderela com a varinha mágica. Imediatamente os farrapos se transformaram num belo vestido. (A Fada Madrinha acompanha Cinderela até o palco, mas não é vista pelos personagens porque estão de costas.)

SAMARA: Será que era Cinderela o tempo todo!!! Só pode ser uma grande brincadeira?

GRISELA: Senhor príncipe, só pode ter sido um grande engano! Posso experimentar novamente o sapatinho! Antes eu estava um pouco nervosa e o pé inchou?

SAMARA: Mas não você que dançou com o príncipe!

CINDERELA: Aqui está o outro sapatinho de cristal! (Tira do bolso e calça no outro pé.)

PRÍNCIPE: (Ele se ajoelha) Agora sou o príncipe mais feliz da Terra! A princesa mais bonita será a futura rainha deste reino! (dão-se os braços e saem de cena)

MADRASTA: Perdão, Cinderela, eu imploro seu perdão, por todo sofrimento que lhe causamos.

CINDERELA: (Abraça as irmãs e madrasta) Eu as perdoo de todo o meu coração.

PRÍNCIPE: O seu gesto de perdão prova que você será uma rainha de muito bom coração.

MENSAGEIRO: (Faz sinal de cumprimento) Uma rainha muito adorada e nunca antes vista em todo o reino.

PRÍNCIPE: A sua beleza interior vai fazê-la digna da coroa. (Coloca a coroa.)

Cena 7: (Volta da Cinderela Moderna e conexão entre as histórias)

CINDERELA MODERNA: (volta à cena) Gostei desse livro! O que será isto? (Dentro do livro tem um envelope misterioso)

Mago: “Depois da leitura do lido o livro, dentro de você vive e pulsa uma nova história. Olhe para todos os lados e descubra um novo olhar! Quem esta mensagem achar, saiba que outra história poderá encontrar.” Outra história? Como assim? Aonde será que vou encontrar uma nova história? Já sei! (Encontra o balão. Estoura..)

NARRADOR: A história que vamos acompanhar é um baile à fantasia promovido por um rico empresário que queria encontrar uma boa moça para ser a esposa de seu filho. O herdeiro da empresa procura por um jovem que tenha um coração humilde, seja muito honesta e trabalhadora.

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Cena 8: (Cinderela está limpando o chão. Aparecem Jurema e Josina com roupas nas mãos)

JUREMA: Cinderela, passe minhas roupas! Hoje tem um baile à fantasia e eu não posso perder. (dança)

JOSINA: Passe minhas roupas! (entra comendo) Além de comer todo aquele banquete... (Pausa) Dessa vez tiro o pé da lama e me caso com herdeiro mais rico de nossa cidade!

CINDERELA: Será que eu posso também ir ao baile?

JUREMA: (risada) Você? Pirou! (ajeita cabelo) Sem chances, minha belezoca! Com você ao nosso lado, a minha beleza vai ficar manchada! (olha-se no espelho)

MADALENA: Cinderela! Anda logo com isso! Ainda deve limpar toda a casa, a começar pelo banheiro... (As irmãs fazem cara de nojo. Entrega vassoura) Tudo isso em meia hora... Meia hora? Não... Dez minutos! (Olha no relógio e ri.)

CINDERELA: (Cinderela vai até as três, perguntando) Se eu terminar a tempo, posso ir ao baile à fantasia?

MADALENA: (A madrasta olha para as irmãs e diz) Claro, querida! Se você limpar tudo ... (Ela olha para suas filhas e diz, rindo) Se você tiver roupas... (E elas saem rindo de Cinderela.)

CINDERELA: (Ajoelha.) Ai, mamãe... Queria tanto que estivesse aqui... Tenho certeza de que não estaria sofrendo... Com fome, trabalhando tanto... Muitas vezes eu pego os restos que sobram na panela para comer e não passar fome! (Ela levanta e começa a dançar, logo para e adormece.)

MÃE: (voz oculta) Minha filha, não se preocupe! Você vai ao baile sim! Se as fadas estão todas ocupadas, então vou te mandar outros mensageiros. Acredite e confie: você vai ao baile! Minha filha, não confie apenas nas aparências! É preciso olhar mais fundo em cada pessoa. Todo mundo tem dentro de si um pouquinho, pelo menos, do bem.

CINDERELA (Entram as Bruxas) Queria tanto ir ao baile! Se eu tivesse uma roupa... Quem são vocês?!

BRUXA 1: Ora, bolas! Somos Bruxas! Estamos a seu dispor!

BRUXA 2: Estávamos voando por aqui e ouvimos seu pedido!

CINDERELA (para o público) Bruxas? Mas só dá gente louca nesse lugar!

Bruxa 1: Por que não? As Fadas estão todas ocupadas com seus afazeres. Se você nos der uma chance, podemos ajudá-la!

BRUXA 2: E, ainda podemos dar uma lição naquelas irmãzinhas mal-educadas! E essas coisas à toa que você pediu, arrumo em um estalar de dedos! Hehehe! Faça seu pedido!

CINDERELA: Não sei, não... Eu... É bobeira eu querer ir ao baile! Não tenho roupas... Sou pobre... Meu pai mal me deixou dinheiro... Minha madrasta ficou com tudo, e gasta somente com suas filhinhas... E eu? Sou a empregada da casa!

BRUXA1: Você não acredita em sonhos? Todos podem se realizar! Isso é simples de se conseguir, e nem precisamos de mágica para fazer essas coisas!

BRUXA 2: Às vezes, a melhor mágica é se usar o cérebro e fazer o bem! (Cinderela parece não acreditar.)

BRUXA 1: Sim, Cinderela! Venha comigo... Olha só! Com dez reais te arrumo roupas legais e você ficará linda! Vamos a um brechó! Que tal? Agora vamos! (Saem do palco.)

Cena 9: Baile

NARRADOR: Ajudada pelas novas amigas, nossa Cinderela vai até um brechó e com inteligência e pouco dinheiro consegue realizar seus sonhos! Nem sempre os sonhos são caros! Caro é não conseguir ou não querer sonhar mais!

REI: Você será o responsável por cuidar das minhas filhas?

PALHAÇO: Pode deixar, meu senhor!

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RAINHA: Minhas filhas, por favor, não me aprontem nada!

REI: Se alguma coisa acontecer a elas, você será o culpado! Portanto, esteja sempre de olhos bem abertos!

PRINCESA: Pai, eu posso dar uma volta no jardim? Aqui está muito quente? (A outra princesa cochicha nos ouvidos dela)

REI: Pode, minha filha! Mas tome cuidado! Há muitos perigos que se escondem ao redor desse prédio. (Elas saem). E você? Está esperando o quê? Deve acompanhá-las!

RAINHA: Elas são muito danadas! Portanto, olhos abertos! Se alguma coisa acontecer a elas, teu olhos poderão se fechar para sempre! (Rei e Rainha saem.)

PALHAÇO: Como a senhora quiser! (O Rei sai) Elas ainda me pagam! Sempre eu tenho que cuidar dessas malcriadas. (Sai) Ei!!? Onde vocês se esconderam? Suas pestinhas! Sumiram?

NARRADOR: E o empregado, fantasiado de palhaço, ficou muito triste...

PALHAÇO: Triste eu? Triste nada, eu estou é muito feliz! Até que enfim elas vão me dar uma folga! (Volta para a festa.)

Cena 10: (Chegada da família de Cinderela)

JOSINA: Como é lindo esse lugar! Grande! E pensar que isso tudo será meu, um dia desses! (Corneta. Aparece o príncipe.)

MADALENA: Vão, minhas lindas! Mostrem do que vocês são capazes e deem orgulho para a mamãe... (Música. Josina vai atrás de comida. Aparece Cinderela. A madrasta fica com raiva.) Onde ela arrumou aquelas roupas? Será mesmo Cinderela?

REI: Onde estão minhas filhas?

PALHAÇO: Eu não sei! Elas sumiram!

RAINHA: Como assim “sumiram”?

PRÍNCIPE: Sem a presença delas, não haverá mais festa!

TODOS: Oh!

CINDERELA: E agora! Tanto sacrifício pra nada!

RAINHA: Pelo amor de Deus, todos me ajudem a procurar as minhas filhas! (Saem todos, menos Cinderela que fica triste.)

BRUXA 1: Não se preocupe, nos já sabemos onde as pestinhas estão...

BRUXA 2: Elas se esconderam! Nós vamos trazê-las de volta e assim tua festa será enorme. (Buscam as filhas pelas orelhas.)

Rei: (voltam todos) Minhas filhas, onde vocês estavam?

Princesa 1: Fomos tomar um ar!

REI: Há muita gente má por aí!

PRINCESA 2: Aí apareceram duas bruxas e essa moça e nos pegaram pelas orelhas!

RAINHA: Bruxas!!! Deixa de besteira! Pare de mentir! Depois do baile, você vai ter o castigo que merece!

RÍNCIPE: Vamos, troca esta música! Quero dançar uma bela valsa com essa bela moça! (Dança. Badalada da meia-noite.)

CINDERELA: Eu... Eu não posso me atrasar! Preciso me retirar, senhor!

PRÍNCIPE: Mas já vai? Por acaso é algum feitiço que não pode ficar até meia-noite fora de casa?

CINDERELA: Não! Prometi às minhas amigas que voltaria antes da meia-noite dez para casa, e já está tarde! Até mais!

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PRÍNCIPE: (O príncipe segura o braço da jovem) Espere! Eu... Eu preciso saber aonde vive! Que família você pertence!

MADALENA: (A madrasta vai até ela, dizendo) É uma forasteira! Vaio passar uns dias em minha casa e já vai voltar para sua cidade...

PRÍNCIPE: Onde fica?

MADALENA: Muito longe... preciso levá-la, não é?! (Ela sai puxando Cinderela e suas filhas a acompanham. O sapato de Cinderela fica no chão e o príncipe o pega. Ele cheira e diz)

PRÍNCIPE: E não tem chulé! (Ele sai)

Cena 11: (Entram Cinderela, a madrasta e as filhas)

MADALENA: Por acaso roubou dinheiro, Cinderela? Onde conseguiu essas roupas?

CINDERELA: Tive ajuda de bruxas madrinhas, fui a um brechó e eu comprei por dez reais! (As três começam a rir.)

JUREMA: Não seja boba! Acha que acreditaríamos nessa história ridícula?

MADALENA: (Mensageiro entra e entrega uma carta na casa. A madrasta lê) Hum... Parece que o herdeiro procura quem dançou com ele na festa ontem! A jovem esqueceu o sapatinho e ele vai se casar com quem for a dona! (As três começam a rir, olhando para Cinderela)

JOSINA: Casar com... ela? Nem sabe dançar como eu!

MADALENA: Chega! (A madrasta chama suas filhas em um canto e diz) Uma de vocês vai ter ser a herdeira daquela empresa! Eu não permitirei que Cinderela vista o sapato... Vou fazer algo... (A madrasta tira de suas roupas uma maçã) Vou dar a ela esta maçã envenenada! Ela dormirá para sempre...

JUREMA: Depois vamos escondê-la em algum lugar para que o herdeiro não a encontre! Já sei, no meu quarto!

MADALENA: Olha só, Cinderela! Como você é a dona do sapato, eu não quero que fique com raiva de mim e suas irmãs... Não quer uma maçã para matar sua fome? ( Cinderela come a maçã e desmaia)

JUREMA: Quem leva o corpo? (Olha feio para Josina.)

JOSINA: Sempre eu fico com a parte pesada... (Josina leva Cinderela para fora do palco, seguida da madrasta e de Jurema .)

PAI: Bom dia, minhas queridas! Voltei da minha viagem! Cinderela, o papai voltou! Cinderela! Ué! Não tem ninguém em casa. (Vem Madalena e as filhas. Espiam, mas não fazem nada.) O que será que houve! Tô com uma fome danada! (Também come da maçã e desmaia).

MADALENA: Pronto! Agora temos mais um problema para resolver! Rápido! Escondam o corpo, antes que alguém apareça! (Escondem do lado da cama.)

JOSINA: Mas ele é muito pesado!

JUREMA: Vamos, força e não reclame! (Enquanto isso, entra a comitiva real.)

MENSAGEIRO: Ô de casa! Há alguém aqui querendo experimentar este sapato.

AS TRÊS: Príncipe Zorro!

PALHAÇO: (Entra sonolento. Boceja.) Tô cansado, já caminhei quase toda a cidade hoje! Tem alguma cama por aí para eu descansar! (Senta em cima dos corpos.)

JOSINA: Não! Não estão todas ocupadas!

PALHAÇO: Como assim? Vocês todas estão em pé! (Josina tenta impedir, mas não consegue.)

JOSINA: Ó, meu Deus! Agora é tarde!

PALHAÇO: Não, ainda é bem cedo!

JUREMA: Droga! O sapato não serviu em mim! Ficou grande demais... Que nojo! O cheiro é horrível!

JOSINA: Em mim, ficou pequeno... (Madrasta cutuca.)

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MENSAGEIRO: Só vocês moram nesta casa?

JUREMA: Claro que sim! (leva um beliscão de Jurema) O que foi? Para com isso!

PRÍNCIPE: Vim aqui par saber da jovem Cinderela! Me disseram que ela vive aqui como uma escrava!

MADALENA: Imagina! A Cinderela, minha amada enteada, foi viajar... Não está aqui, não! Não é, filhinhas?

PALHAÇO: Ops! O que é que temos aqui! Isso aqui é bem desconfortável?

MADALENA: Não é nada! Saia daí!

PALHAÇO: Se não é nada, porque eu tenho que sair! (Larga um grande peido. Os corpos começam a tossir! Tira um lenço e descobre os corpos.)

CINDERELA: Ai, que dor de cabeça!

PAI: O que foi que aconteceu? Minha filha, você está bem? Que dor! Parece que fui pisoteado por um hipopótamo!

PALHAÇO: Epa! Pera aí! Eu não sabia que tinha alguém debaixo desses lençóis! E além do mais, deveria me agradecer por ter acordado!

PAI: Muito obrigado! Mas o cheirinho foi muito ruim.

MADALENA: Você estragou tudo, Josina! Era para você ou sua irmã estarem no lugar de Cinderela...

JOSINA: Então eu vou contar! (O palhaço vai morder a maçã) Foi ela que deu a maçã envenenada para a Cinderela!

PALHAÇO: Oh, não! (desamaia)

MADALENA: Você me paga! Estragou tudo!

PAI: Depois nós resolvemos este problema!

MENSAGEIRO: Você quer experimentar o sapato? (Cinderela experimenta o sapato.)

PRÍNCIPE: Agora vou cuidar de você! Não será mais escrava de ninguém, Cinderela! Só do meu amor...

CINDERELA: Meu pai, eu lhe peço que as perdoe! Eu sei que eu sofri bastante, mas o perdão é a melhor solução! Precisamos acreditar que todas as pessoas podem mudar.

PAI: É por isso que tenho muito orgulho de você!

CINDERELA: É preciso que as pessoas possam ter uma chance real para mudar! O bem está dentro de cada um. Narrador: Encontrando a felicidade, o herdeiro da mais rica empresa da cidade, em alguns dias depois, casou-se com Cinderela. Elenco

Personagem Aluno Personagem Aluno

Narradora Raphaella Cinderela atual Franciele

Borralheira Jackeline Patricinha 1 (Paty) Yasmin

Cinderela Fernanda R. Patricinha 2 (Helen) Laura

Madrasta Marina Madrasta atual (Marta) Gabriela

Filha 1 Ana Cléo Cinderela Isabelle

Filha 2 Aline Jurema Laura Marques

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Filha 3 Bruna Josina Cássia

Rainha Mariana Madrasta Nathália

Fada Madrinha Profª Daniane Mãe de Cind. Gabriela

Princesa 1 Júlia Bruxa 1 Ana Paula

Princesa 2 Fernanda L. Bruxa 2 Kamine

Príncipe Guilherme Pai Pablo

Rei Gabriel Princesa Eduarda

Pai de Cind. Maurício Narrador Matheus

Duque Wesley Príncipe Luís Carlos

Mensageiro 1 Henrique Palhaço Pedro / Luan

Mensageiro 2 Leonardo Mago Eduardo

Rei 2 Bruno Rainha 2 Yasmin

Iniciei o trabalho questionando os alunos sobre o interesse pelos contos de

fadas. A maioria dos alunos mostrou-se conhecedora dos contos comentando sobre

livros lidos em séries anteriores e filmes assistidos. Pedi que comentassem sobre

alguns contos e foram lembrados Chapeuzinho Vermelho, a Branca de Neve e os

Sete Anões e Cinderela. A turma foi dividida em grupos e foi proposto um desafio:

identificar personagens diversos através da silhueta de cada um. Foi preciso manter

a atenção em cada detalhe da figura, para se poder reconhecer cada um dos

personagens de diferentes contos, traços como vestuário, adereços auxiliaram no

desvendamento. Personagens como Aladim, Simbad e Peter Pan foram rapidamente

identificados. Essa atividade me mostrou que os alunos ainda estão muito próximos

desse gênero, lembravam de cada história descrevendo riqueza de detalhes. Fiz

proposições de atividades que incidiam sobre os livros de literatura (a seleção de

livros e as atividades propostas foram ao encontro da faixa etária do Ensino

Fundamental, contemplando a literatura infanto-juvenil). Depois que analisamos

duas versões do clássico Cinderela, observamos semelhanças e diferenças entre as

versões de Perrault e dos Irmãos Grimm, trabalhamos as etapas da narrativa:

apresentação, conflito, clímax e desfecho. Após a leitura diferentes livros, textos e

trocadas experiências com as turmas, os alunos e a professora elegeram o conto de

fadas que a turma levou ao palco como apresentação teatral. O conto eleito foi

Cinderela, pois apesar de já termos nos aprofundado na análise desse conto, o

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enredo nos propiciaria um número satisfatório de personagens atendendo ao grande

interesse dos alunos de participarem.

Iniciou-se, a partir de então, um novo processo, caracterizado pela adaptação

da história, criação de personagens e elaboração dos recursos cênicos necessários

para transmitir a mensagem que os alunos construíram e obtiveram da leitura

realizada. Os alunos contribuíram para a organização do roteiro teatral. Tarefa

árdua, pois inserir 37 alunos na peça, rendeu muita criatividade em se criar

personagens. A solução encontrada foi dividir as duas turmas em dois momentos da

narrativa: um grupo encenaria o conto Cinderela clássico, na forma tradicional que

conhecemos. Enquanto o segundo grupo encenaria a Cinderela às avessas. Nesse

momento os alunos enriqueceram o roteiro com idéias criativas, tornando a

Cinderela moderna irmã de duas patricinhas e enteada de uma madrasta que

adorava passear no shopping. Inovaram mudando o baile tradicional em uma festa a

fantasia, onde o príncipese vestira-se de Zorro e Cinderela teve ajuda de bruxas que

a levou a um brechó, comprando tudo que precisava por dez reais. Os alunos

sugeriam as músicas utilizadas na sonorização, na confecção de cenário.

Recebemos o apoio dos professores Élson Andre Hermes (Língua Portuguesa)

e Yur Andiara Alves (Artes) contribuindo com seus talentos artísticos e técnicas

teatrais. Os pais também se empenharam na confecção das fantasias tornando

nossa apresentação um verdadeiro espetáculo. Abaixo algumas imagens desse

momento tão envolvente.

Ao buscar soluções e aprimorar a imaginação para construir as cenas, os

alunos afinaram a percepção sobre eles mesmos e sobre as situações do cotidiano.

A necessidade de narrar fatos e representar por meio da ação dramática está

presente em todas as faixas etárias e culturas, e provavelmente diz respeito à

necessidade humana de recriar a realidade em que vive e de transcender limites.

O trabalho com sequências didáticas permitiu a elaboração de contextos de

produção de forma precisa, por meio de atividades e exercícios múltiplos e variados

com a finalidade de oferecer aos alunos noções, técnicas e instrumentos que

desenvolvessem suas capacidades de expressão oral e escrita em diversas

situações de comunicação.

Como a proposta contemplou alunos de quinta série do Ensino Fundamental,

para esta sequência foi selecionado o gênero “Conto de Fadas” por se tratar de um

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gênero ainda presente na vida das crianças e o contato entre eles seja ainda bem

próximo.

Preparei, então, uma sequência de atividades planejadas a partir de uma

situação inicial, em que os alunos demonstraram seus conhecimentos prévios, bem

como suas dificuldades. Detectadas as dificuldades de comunicação, foram

desenvolvidas etapas com o propósito de saná-las, de maneira que foi possível

encaminhá-los à produção final.

A produção final consistiu na criação de um novo texto em que os alunos

puderam utilizar a seu critério, os personagens e os enredos dos contos que leram

no percurso das atividades, permitindo, contudo, que demonstrassem sua

criatividade, observando os elementos essenciais característicos da narrativa:

apresentação, conflito, clímax e desfecho.

Como o esperado era que desenvolvessem habilidades de comunicação oral,

os resultados foram apresentados na escola através de uma peça teatral.

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A madrasta oferece uma maçã envenenada.

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A versão às avessas do baile.

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Elenco e direção.

O conto de fadas é um mundo habitado por seres maravilhosos: fadas, magos,

bruxas, anões, gigantes, gênios, princesas, animais falantes, etc. Tudo o que

acontece nele, por mais estranho que possa parecer, é cercado de encantamento e

magia. O bem sempre vence o mal e os finais são “felizes para sempre”

Justamente por causa desse encantamento, acreditei que esse tipo de conto

prenderia a atenção dos alunos as atividades propostas. Dentre todos os escritores

de contos de fadas, destaquei Charles Perrault e os Irmãos Grimm, pois os mesmos

são autores, em versões diferentes, do clássico conto “Cinderela” ou “Gata

Borralheira”.

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5.4 Considerações finais

Ao final de todo esse trabalho, é totalmente perceptível o encantamento dos

alunos à nossa peça; todos os nossos atores ficaram satisfeitos, pois perceberam a

alegria no público que assistia. Durante a encenação com público aproximado de

400 crianças (os alunos do colégio), os alunos se mostravam muito ansiosos, tanto

os nossos atores quanto a plateia. Houve grande motivação e dedicação em realizar

a apresentação teatral, pois todos se empenharam em buscar fazer o seu melhor.

Até nos sugeriram repetir esta apresentação em outros momentos.

Os alunos estavam preocupados em não cometer nenhuma falha e queriam

mostrar todo o empenho e esforço obtidos. Durante a encenação, transpareceu a

confiança e a certeza de que estavam realizando um ótimo trabalho, o que de fato

aconteceu. A reação dos pais e da família que assistiram a segunda apresentação

foi extremamente gratificante. Os pais prestigiaram ao evento com alegria e

satisfação em verem seus filhos, muitos deles vencendo limitações físicas ou

psicológicas, fazendo uma apresentação excelente.

Recebemos o apoio de outros colegas professores, auxiliando nos bastidores,

trocando cenários e acalmando aqueles alunos mais nervosos antes da

apresentação. O que ficou realmente explícito foi a alegria desses alunos em

apresentar o projeto aos alunos, á família e a toda comunidade escolar.

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6 CONCLUSÃO

Este trabalho desenvolveu-se a partir de uma abordagem com referencial

teórico, buscando as principais fontes sobre a origem e o desenvolvimento dos

contos de fadas aos longos dos anos. Como introdução ao tema, buscou-se

explanar de maneira breve, sua contextualização histórica, ou seja, onde e como

surgiram, seus principais escritores e a quem se destinavam.

Vimos que, com o decorrer do tempo, os contos de fadas sofreram

transformações, acompanhando a evolução social e a tradição da narrativa. Falar

sobre contos de fadas é, também, falar sobre a história do homem e seus mitos.

Contar histórias é uma arte que atravessa séculos sem data para terminar, uma vez

que envolve gerações, estabelecendo laços entre os povos. O conto de fadas

original da cultura folclórica e eternizado pela literatura, obedece a esse padrão e

sobrevive, passando a fazer parte da literatura para crianças.

Hoje os contos passam por mudanças próprias da modernidade, indicando

eliminação de fronteiras, sendo uma característica forte das produções atuais. Os

tempos modernos não eliminam a necessidade da fantasia, ao contrário, o

encantamento repetido nas antigas e novas histórias revela-se como parte de novas

linguagens e novos comportamentos.

Com as pesquisas feitas sobre literatura infantil, podemos concluir que a

literatura, sendo utilizada de forma provocativa pelo educador, leva a criança a

questionar, levantar hipóteses, argumentar, comparar o conteúdo das histórias com

os de sua vivência, ajudando assim na construção de um indivíduo autônomo e

confiante em si, acima de tudo, vivendo sua infância de forma natural.

É preciso ter a clareza de que a leitura é sempre um meio, nunca um fim; é

necessário que a criança tenha oportunidade de fazer suas próprias descobertas, e

a sua curiosidade é uma forte aliada, vindo ao encontro do lúdico, do concreto.

Pensando a construção da peça teatral realizada pelos meus alunos, e se é

verdade que o resultado — a apresentação do teatro para pais, amigos, comunidade

escolar — é um momento ímpar e revestido de um significado especial, é importante

ressaltar que, para o professor, o momento mais importante do ponto de vista

pedagógico é o processo que se inicia desde a leitura da obra literária, o respeito

pelas opiniões e escolha do texto, bem como na construção individual e coletiva do

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trabalho a ser apresentado. Dessa forma, é preciso muita sensibilidade para

considerar avanços e recuos, formas de aconselhar e dirigir o trabalho, respeitar a

individualidade, a fim de que a auto-estima do aluno e de todo o elenco estejam

alimentados pelo sucesso da leitura, do teatro e pelo reconhecimento da plateia.

O bom educador deverá reconhecer o valor da literatura na formação da

criança e sempre estar atento para inovar com atividades que chamem a atenção,

que sejam realmente prazerosas e que respeitem a fase de desenvolvimento em que

a criança se encontra, colocando em seu planejamento leituras que estejam de

acordo com o interesse. Talvez o mais interessante nesse trabalho é ter a

consciência de que o tema jamais se esgotará. Assim como Cinderela, tantos outros

personagens perduram desde tempos mais remotos e serão constantemente

renovados sob o viés de diferentes leituras e realidades.

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REFERÊNCIAS

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OBRAS CONSULTADAS

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