TCC final - EMBALAGENS SUSTENTÁVEIS
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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SANTOS
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS
FERNANDA SILVA CARVALHO
EMBALAGENS BIODEGRADÁVEIS
ESTUDO DE CASO PARA A INDÚSTRIA DE ALIMENTOS
Santos
2011
FERNANDA SILVA CARVALHO
EMBALAGENS BIODEGRADÁVEIS
ESTUDO DE CASO PARA A INDÚSTRIA DE ALIMENTOS
Santos
2011
Trabalho de conclusão de curso de Bacharelado em Engenharia de Produção apresentado como parte das atividades para obtenção do título de Engenheira de Produção da Universidade Católica de Santos. Orientador: Prof. Me. José Maurício La FuenteCo-orientador: Prof. Me. Marco Antônio Bumba
FERNANDA SILVA CARVALHO
EMBALAGENS BIODEGRADÁVEIS
ESTUDO DE CASO PARA A INDÚSTRIA DE ALIMENTOS
Aprovado em: ____________
Banca examinadora
_______________________
Prof.................................................
_______________________
Prof.................................................
_______________________
Prof.................................................
Trabalho de conclusão de curso de Bacharelado em Engenharia de Produção apresentado como parte das atividades para obtenção do título de Engenheira de Produção da Universidade Católica de Santos. Orientador: Prof. Me. José Maurício La FuenteCo-orientador: Prof. Me. Marco Antônio Bumba
Dedico este trabalho ao meu filho
que com toda sua inocência, não
entendeu o motivo de minha ausência,
mas que colherá os frutos da minha
dedicação.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente ao meu marido, pelo extremo apoio e paciência, ao meu
filho, à minha mãe que sempre acreditou em mim, e a todos que me ajudaram de
alguma forma nesses turbulentos últimos anos de faculdade.
Aos amigos da turma pelos bons momentos e também pelos aprendizados.
A todos os meus mestres, em especial ao meu orientador prof.º José Maurício La
Fuente, pelo auxílio no desenvolver desse estudo; prof.º Marco Aurélio por todo o
apoio na coordenadoria do curso e ao meu co-orientador prof. Marco Bumba que me
fez ver a Química por um ângulo diferente.
“Suba o primeiro degrau com fé.
Não é necessário que você veja toda a
escada. Apenas dê o primeiro passo.”
Martin Luther King
RESUMO
O presente trabalho ter por finalidade apresentar informações significativas para que
se desenvolva amplo conceito sobre produtos biodegradáveis e desenvolvimento
sustentável. Como um estudo de caso, faz uso de material bibliográfico para
apresentar o ciclo de vida de embalagens plásticas e bioplásticas, e analisar as
vantagens e desvantagens da utilização do biopolímero PLA no mercado. Esse
levantamento de dados vem apresentar dados relevantes e fazer comparações entre
os plásticos tradicionais e os biodegradáveis. Para exemplificar e equiparar as
informações, será citado um exemplo real, em uma indústria alimentícia. Os
resultados apontam para o favorecimento do uso do PLA para embalagens.
Palavras-chave: Biodegradável. Embalagem. Desenvolvimento sustentável.
Avaliação do ciclo de vida.
ABSTRACT
The present study, intended to provide meaningful information in order to develop
broad concept of sustainable development and biodegradable products. As a case
study makes use of papers to present the life cycle of plastic containers and
bioplastic, and analyze the advantages and disadvantages of using PLA biopolymer
market. This data collection is to present relevant data and make comparisons
between traditional plastics and biodegradable. To illustrate and treat the information
will be referred to a real example, in a food industry. The results point to the
encouragement of the use of PLA for packaging.
Keywords: Biodegradable. Packaging. Sustainable development. Life cycle
assessment.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Municípios brasileiros, segundo a destinação final dos resíduos sólidos domiciliares e/ou públicos..........................................................................................19
Figura 2 - Países que desenvolvem estudos de ACV................................................23
Figura 3 - Entradas, saídas e exemplos de impactos ambientais associados a ACV de um produto............................................................................................................24
Figura 4 - Roda de ecoconcepção.............................................................................25
Figura 5 - Gráfico da participação de cada segmento na indústria de embalagem.. .28
Figura 6 - Ciclo de vida dos materiais plásticos.........................................................30
Figura 7 - Tipos de polímeros, segundo sua fonte e degradabilidade.......................31
Figura 8 - Ciclo de vida dos biopolímeros..................................................................35
Figura 9 - Ciclo de compostagem..............................................................................35
Figura 10 - Processo de produção do PLA................................................................40
Figura 11 - Consumo mundial de bioplásticos...........................................................41
Figura 12 - Mercado global de embalagens de bioplástico por produção.................42
Figura 13 - Embalagem Cyclus Nutrycell...................................................................45
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Tempo de degradação de diferentes tipos de materiais descartados em lixões..........................................................................................................................28
Tabela 2 - Grau de preferência de matérias-primas renováveis na produção de biopolímeros..............................................................................................................38
Tabela 3 - Capacidade de produção de bioplásticos (em t).......................................39
Tabela 4 - Projeção de chances de sucesso de estabelecimento de tecnologia e receita potencial para o Brasil no ano de 2015..........................................................43
S U M Á R I O
1 INTRODUÇÃO................................................................................................111.1 Contextualização...........................................................................................12
1.2 Problema........................................................................................................13
1.3 Objetivos........................................................................................................13
1.3.1 Objetivos específicos......................................................................................14
1.4 Relevância ou justificativa...........................................................................14
1.5 Metodologia e processos.............................................................................15
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA...........................................................................172.1 Recursos naturais.........................................................................................17
2.1.1 Resíduos sólidos.............................................................................................17
2.2 Gestão ambiental empresarial.....................................................................20
2.2.1 Estudo de impacto ambiental..........................................................................21
2.2.2 Avaliação do ciclo de vida...............................................................................22
2.3 Embalagens...................................................................................................25
2.4 Plásticos........................................................................................................27
2.4.1 Definições sobre o plástico.............................................................................29
2.4.2 Ciclo de vida do plástico..................................................................................29
2.5 Plásticos biodegradáveis.............................................................................30
2.5.1 Estudos de viabilidade técnica e econômica de bioplásticos..........................33
2.5.2 Ciclo de vida do bioplástico.............................................................................34
2.5.3 Poli ácido láctico..............................................................................................36
2.5.4 Produção.........................................................................................................38
2.5.5 Mercado..........................................................................................................41
3 EXEMPLO DE APLICAÇÃO...........................................................................444 COMENTÁRIOS FINAIS.................................................................................48REFERÊNCIAS.........................................................................................................49
11
1 INTRODUÇÃO
Procurar maneiras mais eficientes de utilizar os recursos do planeta tem
prorrogado a capacidade da Terra de sustentar vida, suportando a variedade de
poluentes gerados pelas atividades humanas.
Para Romeiro Filho et al. (2010) as principais preocupações com o projeto
de um produto resumia-se nos aspectos técnicos e funcionais desses produtos. Já
atualmente é crescente a preocupação com os efeitos dos sistemas de produção
bem como dos produtos sobre o meio ambiente.
Este estudo visa analisar o impacto causado pelas embalagens ao meio
ambiente durante seus estágios de vida e avaliar a viabilidade econômica da
produção de embalagens biodegradáveis, em especial o polímero poli-ácido láctico,
considerado este um dos que gera menor impacto ao meio, permitindo o retorno de
seus componentes básicos aos ciclos naturais. Serão evidenciados os dados mais
relevantes nesse tipo de processo, as características e benefícios do uso do
polímero derivado do amido de milho na fabricação de embalagens, assim como o
retorno para a empresa que investe nesse novo mercado.
É também sempre bom relembrar a definição de embalagem: todo produto feito de material de qualquer natureza para ser usado para conter, proteger, transportar, distribuir e apresentar os bens, desde os bens materiais naturais até os bens processados, do produtor ao usuário ou consumidor... Ou seja, a embalagem tem uma função vital social e econômica! (QUEIROZ; GARCIA, 2005, p. 1 apud OFFICIAL..., 1994)
A preocupação com a geração de resíduos das embalagens tem sido uma
tendência comum em diferentes áreas: sociedade, legislação, mercado e também
das empresas, que buscam contribuir para responsabilidade social. Vê-se o
benefício para o meio ambiente, portanto, em termos de negócios, seria interessante
questionar se também há um retorno positivo.
12
1.1 Contextualização
Segundo Calderoni (2007, apud ONU, 1991, p. 46), desenvolvimento
sustentável é “[...] aquele que atende as necessidades do presente sem
comprometer a possibilidade das gerações futuras atenderem suas próprias
necessidades.”
Os padrões de produção e consumo atuais estão muito distantes do
considerado desenvolvimento sustentável, pois fazem uso de recursos naturais em
quantidade superior ao disponível para que todos os povos possam dele usufruir.
Por isso deve-se repensar o ciclo de vida de um produto levando em consideração
os tipos de materiais e os sistemas de produção, otimizando-se todos os aspectos
possíveis.
Um terço do lixo doméstico brasileiro é composto por embalagens, os
outros dois terços por comida. E 56% de todo o lixo plástico é feito de embalagens
usadas, os quais são os grandes responsáveis pelo entupimento de bueiros e
consequentemente inundações, mortes de animais marinhos, que os confundem
com comida, além de levarem em média 200 anos para se decompor (SANTOS,
2007).
Alguns empreendedores visionários enxergaram que negócios
sustentáveis poderiam ser lucrativos, além de favorecerem o meio ambiente. E a
BUNGE foi uma delas investindo no desenvolvimento de uma nova embalagem para
um de seus produtos. A embalagem, que envolve o creme vegetal da linha Cyclus
Nutrycell, é fabricada com o polímero poli-ácido lático (PLA), obtido a partir da
fermentação do amido de milho. Segundo a empresa, esta embalagem decompõe-
se em até 180 dias após descarte adequado e surge como uma alternativa para a
comercialização de produtos com foco nas melhores práticas de preservação
ambiental. A iniciativa da Bunge é um exemplo de aplicação dos dados obtidos
neste estudo de caso.
13
1.2 Problema
Os problemas ambientais provocados pela sociedade têm como motivos
principais a necessidade de uso do meio ambiente para obter recursos necessários
para produzir bens e serviços, assim como dispor de espaços para os descartes daí
advindos. O esgotamento dos recursos para sustentar as necessidades humanas
gera um desequilíbrio ambiental e segundo Barbieri (2007), o lixo gerado pela
população cada vez mais é composto por restos de embalagens e de produtos
industriais, que deixaram de ter utilidade para os usuários.
Os padrões atuais de consumo utilizam os recursos naturais do planeta
de maneira não sustentável. Baseado nisto, Barbosa Filho (2009), cita que: “[...] a
busca pela sustentabilidade, colocou as discussões relativas ao projeto de produtos,
com destaque para aqueles envolvendo recursos naturais não renováveis.”
O consumo de alimentos e bens duráveis cresce a cada ano, justificando
o crescimento do setor de embalagens, segundo dados da Associação Brasileira de
Embalagens (ABRE, 2011). O crescente volume de embalagens plásticas
descartado logo após consumo, e sua implicações ambientais, faz com que a
sociedade mundial ensaie algumas mudanças de comportamento.
A redução do volume de materiais plásticos da vida moderna representa
um grande desafio, e exige a integração de estudos na busca de novas matérias-
primas e na fabricação de embalagens aliado à sua funcionalidade na conservação
do produto.
1.3 Objetivos
Este trabalho tem como objetivo principal a análise do impacto ambiental
das embalagens plásticas quando da aplicação na indústria alimentícia.
14
1.3.1 Objetivos específicos
Os objetivos específicos deste estudo sobre embalagens plásticas para
uso no setor alimentício são:
a) Caracterizar o ciclo de vida das embalagens plásticas;
b) Caracterizar o ciclo de vida das embalagens plásticas
biodegradáveis comparativamente as tradicionais;
c) Levantar os impactos da aplicação de embalagens fabricadas com a
resina PLA, biodegradável em empresas alimentícias.
1.4 Relevância ou justificativa
Este estudo se justifica pelo intenso uso de embalagens plásticas no setor
alimentício, as quais apesar de sua adequação quanto a integridade do produto,
tornam-se um problema ambiental após descarte. Entre as alternativas para controle
desse impacto está o uso de plásticos biodegradáveis como é o caso do polímero
PLA.
Há várias linhas de pesquisa e produção de novos materiais plásticos que
reduzam o impacto ao meio ambiente. Os fatores que implicam nessa escolha são o
crescimento da consciência ambiental, gerando aumento da demanda; o alto preço
do petróleo e derivados; e os avanços técnicos, nos termos de propriedades e
funcionalidade, desse segmento (PLÁSTICO MODERNO, 2011).
Alguns autores afirmam que as características positivas de uma
embalagem biodegradável surgem desde sua fabricação, já que utiliza substância
atóxica em sua composição, consome de 20% a 50% menos combustível que o
plástico comum em seu processo, tem matéria-prima de fonte renovável, alta
biodegradabilidade, além de atuar como fertilizante ao se decompor. (BENZI, 2002;
15
CARR, 2007, p. 18 apud MOHANTY, 2002). Essas características do polímero PLA,
que é aprovado pela Anvisa1, vão ao encontro proposto por Carr (2006, p. 47), sobre
materiais para embalagens alimentícias de que “o material deve ser apropriado para
o produto e não deve transmitir a esse substâncias indesejáveis que excedam os
limites aceitáveis pelo órgão competente”.
1.5 Metodologia e processos
Os diversos métodos de pesquisa como: o levantamento de dados,
experimentação ou os estudos de caso, representam estratégias que, pela forma de
coletar e analisar evidências de dados empíricos apresentam vantagens e
desvantagens. Para Yin (2005), os pontos positivos e negativos são particulares a
cada método e dependem na sua essência de três fatores:
a) tipo de questionamento da pesquisa;
b) controle existente sobre eventos comportamentais;
c) ênfase em fenômenos históricos versus fenômenos
contemporâneos.
Essa pesquisa tem caráter exploratório, com objetivo de investigar e
tornar explícito o problema levantado, seguindo a metodologia de estudo de caso,
porque busca a compreensão de fenômeno social e organizacional (YIN, 2005).
Analisa, ainda, o fenômeno social da sustentabilidade ambiental por meio do uso de
embalagens biodegradáveis, bem como o efeito que essa escolha trás às empresas.
Caracteriza-se a adequabilidade dessa metodologia pelo objeto do
estudo, ser área de negócio particular: embalagens biodegradáveis, pela
contemporaneidade da gestão de resíduos sólidos e pela existência de base teórica
consolidada sobre o tema embalagens. A metodologia estudos de caso é, ainda,
aqui reforçada, pela identificação em sua estratégia de planejamento, de
questionamentos na forma de “como“ e “porquê” sobre um evento contemporâneo
1 Agência Nacional de Vigilância Sanitária
16
pouco controlável (YIN, 2005). As perguntas “como” e “porquê” permitiram analisar
como essa opção por embalagens biodegradáveis influi na produção de produto
alimentício, eventos atuais não controláveis por meio da atividade pesquisa.
Para Yin (2005), o preconceito que existe sobre a metodologia de estudo
de caso quanto ao tempo gasto na sua realização está relacionado ao modo como
este era feito no passado, fato que pode ser superado por adequado planejamento e
desenvolvimento dos trabalhos. Relacionado ao fator tempo, também, está a
confusão feita entre esta metodologia e o método específico de coleta de dados para
estudos etnográficos e os de observação participante. Yin considera esta
metodologia complexa e posiciona-se de maneira diversa aos que a consideram de
fácil realização.
Pressupõe-se, então, que este estudo se fundamenta em uma
metodologia empírica cuja coleta de informações factuais sobre relacionamentos
hipotéticos possa auxiliar a análise do uso e embalagens biodegradáveis sob o
ponto de vista do negócio. Considera-se este trabalho de caráter exploratório de
análise de caso e compreende, analiticamente, as etapas básicas, a saber:
a) revisão bibliográfica - composta por pesquisa em livros, revistas
científicas, sites de instituições austeras e teses, de fácil
compreensão, para proporcionar familiaridade com o problema;
b) caracterização das resinas plásticas tradicionais e biodegradáveis;
c) análise da viabilidade da aplicação das resinas biodegradáveis na
indústria alimentícia.
17
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
1.6 Recursos naturais
Os recursos naturais sempre estiveram disponíveis ao homem. Assim,
pode-se dizer que, produzir é converter ou transformar bens e serviços naturais para
satisfazer as necessidades e desejos humanos (BARBIERI, 2007).
A natureza necessita de ciclos naturais para se renovar, porém o ser
humano não respeita esse padrão de tempo, fazendo com que alguns recursos
naturais beirem o esgotamento, quando não, já se esgotaram. Os recursos naturais
considerados renováveis são aqueles que podem ser obtidos indefinidamente de
uma mesma fonte: colheita anual, rebanhos, lenha, solo, etc. Porém, com exceção
da energia solar, deve-se levar em conta a forma com que são usados esses
recursos e como a natureza será afetada por tais transformações.
Como qualquer ser vivo, o ser humano retira recursos do meioambiente para prover subsistência e devolve as sobrar. No ambiente natural, as sobras de um organismo são restos que, ao se decomporem, devolvem ao ambiente elementos químicos que serão absorvidos por outros seres vivos, de modo que nada se perde. O mesmo não acontece com as sobras das atividades humanas. (BARBIERI, 2007, p. 21)
1.6.1 Resíduos sólidos
Pode-se dizer que a “era industrial alterou a maneira de produzir
degradação ambiental, pois ela trouxe técnicas produtivas intensivas em material e
energia para atender mercados de grandes dimensões” (BARBIERI, 2007, p. 8).
Desde então, a produção e consumo de bens e serviços exigem e geram
18
quantidades estrondosas de resíduos. Barbieri (2007) cita também que já foram
sintetizadas mais de 10 milhões de substâncias e que o número não para de
crescer.
Um dos recursos naturais muito utilizado e degradado é o solo. Este, que
recebe diversos grupos de resíduos, de perigosos à radioativos, contamina-se,
dando origem à áreas contaminadas as quais ficam como passivos ambientais para
as próximas gerações, contrariando a proposta do desenvolvimento sustentável. O
solo contaminado, para novo uso no meio urbano, deve passar por processo de
recuperação, fato que em geral tem alto custo financeiro (CETESB, 2010).
De acordo com a CETESB (2010), a Europa e os Estados Unidos já
sofrem com áreas contaminadas há algumas décadas, decorrente da
industrialização mais antiga, mas nem por isso países em desenvolvimento como o
Brasil, estão livres desse problema.
A falta de conscientização da sociedade e a não aplicação de políticas
específicas para a questão dos resíduos sólidos, torna cada dia esse problema mais
preocupante. O aumento dos resíduos sólidos é gerenciado geralmente pela
maneira tradicional de coleta e afastamento do local de geração, sendo que a
grande maioria, segundo dados da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico
(PNSB), realizada em 2008 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), é descartada no solo em áreas como lixões, sem nenhum tipo de controle
(IBGE, 2008).
Nesta pesquisa, o IBGE apresenta a relação entre resíduos sólidos e a
destinação final dos mesmos. Percebe-se através da Figura 1 que a situação
configura um cenário de destinação inadequado, pois a grande parte dos resíduos
são descartados em vazadouros à céu aberto, ou melhor, os lixões.
19
Figura 1 - Municípios brasileiros, segundo a destinação final dos resíduos sólidos domiciliares e/ou públicos.
Fonte: IBGE, 2008.
Segundo Calderoni (2003), o conceito de lixo e resíduo varia conforme a
época e o lugar, dependendo de fatores jurídicos, econômicos, ambientais, sociais e
20
tecnológicos. Portanto, devido ao poder de compra que os brasileiros têm
atualmente, a quantidade de lixo gerada vem aumentando. Além da destinação
incorreta, pesquisas apontam as fragilidades dos programas de coleta seletiva, que
não acompanham o crescimento desenfreado de materiais inorgânicos. Com isso,
cada vez mais resíduos sólidos ocupam áreas e mais áreas, durante muitos anos.
A reciclagem de materiais é um dos pontos mais importantes no gerenciamento sustentável de resíduos. Ao lado da reutilização e da redução da geração de resíduos, é uma das atividades-chave para o enfrentamento do desafio representado pelo destino final dos resíduos sólidos, compondo a mundialmente conhecida estratégia dos três R (reduzir, reutilizar, reciclar). (IBGE, 2010, cap. 49)
Das 5.564 cidades do Brasil, apenas 994 têm coleta seletiva. Apesar de
ter ocorrido grande aumento em comparação com a PNSB realizada em 2000, o
número ainda é baixíssimo (IBGE, 2008). Além do problema de se reciclar apenas
pequena parte do volume de resíduos sólidos, Carr (2006) ressalta a dificuldade
encontrada em reciclar os mais diversos tipos de plásticos, por possuírem em sua
composição diversos aditivos, que dificultam e encarecem esse processo.
1.7 Gestão ambiental empresarial
Gestão ambiental são diretrizes e atividades administrativas e
operacionais com objetivos de favorecer o meio ambiente. Surgiram quando foi
possível notar os primeiros sinais de esgotamento natural (BARBIERI, 2007). Um
exemplo foi a proibição de serras hidráulicas ao perceber a escassez de madeira na
França, no século XVII.
Investir em gestão ambiental foi a maneira que as empresas encontraram
para administrar a apropriação dos recursos ambientais com o mínimo de impacto.
Sempre se apoiando nos 3 principais critérios de desempenho: eficiência
econômica, igualdade social e respeito ao meio ambiente. A empresa deve incluir
conceitos ambientais em planejamentos e projetos da empresa, para que se possa
21
estudar e desenvolver novos produtos (BARBOSA FILHO, 2009). Para Barbieri
(2007), uma empresa sustentável é aquela que contribui para a solução de
problemas ambientais e sociais, ainda assim gerando valor para a organização.
A crescente conscientização sobre a importância da proteção ambiental e dos possíveis impactos associados a produtos manufaturados e consumidos tem aumentado o interesse no desenvolvimento de métodos para melhor compreender e diminuir estes impactos. (NBR ISO 14040, 2001, p. 1)
Portanto, hoje, o projetista de um produto, deve levar em consideração a
redução dos impactos ambientais, surgindo opções diversas para tornar o sistema
de produção menos danoso. E as empresas de diversos setores sofrem cada vez
mais pressão para reduzir esses impactos. São eles, segundo Romeiro Filho et al.
(2010), ONGs, novas legislações ambientais, tratados internacionais, além de
demandas de mercados consumidores cada vez mais exigentes.
1.7.1 Estudo de impacto ambiental
Para promover a melhoria dos sistemas produtivos em matéria ambiental
de uma organização, é necessário que se efetue estudos relativos às atividades em
curso e as que futuramente poderão vir a ocorrer. Esses estudos requerem análise
dos impactos ambientais para que se possa agir de acordo com leis, normas e
diretrizes (BARBIERI, 2007).
Ainda para o autor, um estudo de impacto ambiental deve, independente
das características da atividade ou produto, considerar os passos abaixo:
a) identificar e avaliar previamente os impactos sobre o meio ambiente
físico, biológico e social;
b) estudar alternativas para os diferentes componentes do
empreendimento ou atividade;
c) desenvolver medidas para agir sobre as fontes dos impactos
ambientais e sobre os próprios impactos;
22
d) desenvolver medidas que monitorem as operações;
e) desenvolver planos para mitigar os impactos ambientais adversos.
Um dos instrumentos de gestão baseados em estudos de impactos
ambientais, que possui enfoque em produto, que é o objeto desse estudo, é a
Avaliação do Ciclo de Vida (ACV). A NBR ISO 14040 (2001) fornece princípios e
estrutura para que a empresa possa conduzir seus estudos de ACV.
1.7.2 Avaliação do ciclo de vida
A ACV é uma técnica que avalia e analisa os aspectos ambientais
e impactos potenciais dos estágios sucessivos de um produto, processo ou
serviço, afirma Barbieri (2007), contribuindo para a diminuição de
resíduos, sejam de materiais ou energia. Esses estágios são definidos
como ciclo de vida, e abrangem desde a aquisição de matéria-prima até a
disposição final. Segundo Santos B. (2011, p. 3), essa ferramenta também
é útil no setor de marketing, pois auxilia na “obtenção de declarações e
rótulos ambientais”, e por esses motivos, muitas organizações estão
dando atenção maior à seus produtos, a fim de ganhar em
competitividade. Esse modelo de referência atingiu reconhecimento
internacional através das normas da série ISO 14040.
A Polikem (2011) comenta que a ACV tem caráter regional,
sendo que um mesmo produto pode ser considerado ambientalmente
mais correto na Holanda, por exemplo, e no Brasil não ter a mesma
imagem.
23
Figura 2 - Países que desenvolvem estudos de ACV.Fonte: SANTOS, B., 2011 apud HOOF, 2000.
Outra norma que auxilia o processo de melhoria da gestão ambiental é a
norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) ISO/TR 14062 (2004),
que visa a integração dos aspectos ambientais no projeto e desenvolvimento de um
produto. Para a ABNT (2004), muitas organizações estão percebendo os inúmeros
benefícios obtidos com essa integração, tais como redução de custos, estímulo à
inovação, oportunidades de novos negócios e melhoria na qualidade dos produtos. A
ABNT (2004) ressalva que todos os produtos são passíveis de causar impacto ao
meio ambiente, sejam eles significativos ou não, de curta ou longa duração,
regionais ou globais.
Abaixo, a Figura 3 exemplifica alguns impactos ambientais que podem ser
observados com a ACV:
24
Figura 3 - Entradas, saídas e exemplos de impactos ambientais associados a ACV de um produto.Fonte: ABNT ISO/TR 14062, 2004.
Barbieri (2007, p.164) cita que “a ACV também é conhecida pela
expressão do berço ao túmulo (cradle to grave).”
A roda de ecoconcepção, apresentada na Figura 4, representa
bem as ações pertinentes às interações do produto com o meio ambiente:
25
Figura 4 - Roda de ecoconcepção.Fonte: BARBOSA FILHO, 2009, apud KAZAZIAN, 2005.
1.8 Embalagens
“A embalagem é componente importante da atividade econômica dos
países industrializados, em que o consumo desse item é utilizado como um dos
principais parâmetros para verificar o nível de atividade da economia” (Romeiro Filho
et al., 2010, p. 272, apud MESTRINER, 2002).
Para Barbosa Filho (2009, p. 124) “a imagem da empresa está
diretamente associada à embalagem”, além de servir de intuito de diferenciação em
relação à concorrência. Ainda para o autor, a embalagem é praticamente um novo
produto, além de ter função conceitual, com intuito de dar identidade e valor ao
produto, além de gerar no cliente um conceito sobre o fabricante.
26
A embalagem deve atender a duas abordagens simultaneamente. Uma
delas é a sua imagem, que se expõe ao público, que o conquista, e a outra diz
respeito a suas funções primárias, com a finalidade de conter, proteger e transportar.
Porém essas funções primárias se dividem em algumas áreas, afim analisar as
diferentes funcionalidades, conforme Barbosa Filho (2009):
a) econômica – analisa componentes de valor e custo de produção e
matéria-prima;
b) tecnológica – levantar e avaliar sistemas de acondicionamento,
como novos materiais, para conservação do produto;
c) mercadológica – chamar a atenção, transmitir informações,
despertar o desejo de compra e por fim, vencer os concorrentes.
d) conceituais – construir uma marca, dar identidade e agregar valor ao
produto;
e) comunicação e marketing – fornecer oportunidades de comunicação,
seja entre cliente e produto, seja entre cliente e empresa;
f) sociocultural – expressar cultura e estágio de desenvolvimento de
empresas e países;
g) meio ambiente – avaliar possibilidade de novos produtos e ou
reciclagem.
Os pontos-chave para se desenvolver novo produto, no caso em estudo,
uma nova embalagem, se devem observar atentamente alguns pontos-chave, como
o conhecimento de origem, produção e evolução do produto em questão; o
consumidor, hábitos, atitudes de consumo e expectativas; o mercado; a
concorrência; e conhecimento técnico da matéria-prima. A embalagem é um grande
fator de competitividade que associa à imagem da empresa (ROMEIRO FILHO et
al., 2010).
Antigamente, as empresas, em especial as que forneciam produtos de
rápido consumo, não viam nada além da relação produto versus consumo imediato.
Não havia preocupação com a destinação do produto que teve sua vida útil
encerrada ou com a destinação de suas embalagens (BARBOSA FILHO, 2009).
27
Para Forlin e Faria (2002), a preocupação com a degradabilidade dos
materiais plásticos pós-consumo, foi o que desencadeou pesquisas de novas
resinas plásticas para o desenvolvimento de embalagens para alimentos. Estes
setores se depararam com um obstáculo que era unir componentes que
favorecessem a degradação ambiental, sem se contrapor com a função primordial
da embalagem, que é de proteção e manutenção da estabilidade do alimento.
Dessas pesquisas surgiu a resina PLA, um exemplo de material que apresenta
propriedades mecânicas semelhantes aos polímeros convencionais,
possibilitando a substituição destes por estes novos materiais (PRADELLA,
2006).
1.9 Plásticos
O plástico é um material novo, caso comparado com os mais de 6 mil
anos de história do vidro. Desde os primeiros ensaios, até formar-se material
industrializado, se passou aproximadamente 1 século. Egípicios e romanos já se
utilizavam de misturas de materiais resinosos, porém foi somente em 1862 que
Alexander Parkes, sem querer, efetivamente o criou. A idéia inicial era preparar um
material que imitasse o marfim, porém surgiu a parkesina, com a qual ele fundou a
PARKESINE CO., em 1866, que futuramente sofre problemas econômicos, gerando
reflexos em sua produção e obtenção de matéria-prima, vindo à falência. Na virada
do século, a tecnologia dos plásticos começou a acelerar, sendo que na década de
20 já era possível reconhecer as estruturas das cadeias de plásticos e polimerizar
em escala industrial, iniciando-se assim o nascimento da indústria dos plásticos
(FAU, 2011).
Para Gauto e Rosa (2011, p. 182), a utilização do plástico é tão
abrangente, que é até difícil imaginar a vida moderna sem sua presença. É o
plástico que compõem os encanamentos residenciais, canetas, sacos de lixo,
eletrodomésticos, eletroeletrônicos, e assim por diante. Esse material já representa
28
20% do volume total de resíduos em lixões. Porém, o grande defeito do plástico é a
poluição, afirma os autores, visto que o problema está na “manifestação de má
educação de indivíduos, de ignorância coletiva e falta de responsabilidade por parte
de empresas e de representantes do poder público.” (GAUTO E ROSA, 2011, p.
182).
Somando-se à poluição dos plásticos, citada por Gauto e Rosa, ao tempo
de degradação do material, resulta em uma escalada de agressões ao meio
ambiente. Abaixo, a Tabela 1 apresenta o tempo de degradação de cada tipo de
material, quando descartados em lixões:
Tabela 1 - Tempo de degradação de diferentes tipos de materiais descartados em lixões.
MATERIAL TEMPO DE DEGRADAÇÃO
Aço (latas) 10 anos
Alumínio 200 a 500 anos
Isopor Indeterminado
Madeira 6 meses
Madeira pintada 13 meses
Papel 1 a 6 meses
Plástico 450 anos
Plástico (PET) 100 anos
Longa Vida 100 anos
Vidro Indeterminado
Fonte: CARR, 2006 apud MAGALHÃES, 2007.
Apenas no setor de embalagens, os materiais plásticos estão em maior
número, participando com 29,7% do total da produção física de diversos segmentos
de materiais, referentes ao ano de 2010, conforme Figura 5:
29
Figura 5 - Gráfico da participação de cada segmento na indústria de embalagem.Fonte: ABRE, 2011.
Como não há um comprometimento com o gerenciamento integrado de
resíduos sólidos, seja por parte da sociedade, dos órgãos competentes, ou da
indústria, grande parte desse plástico fica à deriva.
1.9.1 Definições sobre o plástico
O plástico (do grego plastikos – moldar), material pertencente à família
dos polímeros, sendo este último, substâncias que se formam pela ligação de uma
quantidade suficiente de moléculas (monômeros), estas caracterizadas por uma ou
mais espécie de átomos. Essa macromolécula adquire um conjunto de propriedades
que não é alterado acentuadamente caso se adicione ou retire algumas de suas
moléculas (GAUTO E ROSA, 2011). Esse processo é chamado de polimerização, e
é essencial na fabricação do plástico. Para os autores, os polímeros dividem-se em
2 grupos:
30
a) naturais – presentes nos seres vivos. Ex: proteínas, DNA, RNA e
carboidratos;
b) sintéticos – produzidos pela indústria petroquímica. Ex: PVC,PEAD,
PEBD, OS, PP, PET, fibras, resinas e elastômeros.
Para a RES Brasil, empresa brasileira especializada em novas
tecnologias para plásticos, as características que fizeram com que o plástico fosse o
material mais adequado para embalar a maior diversidade de produtos, foram a
maleabilidade, resistência e a impermeabilidade, tornando possível proteger desde
um microscópico chip até um equipamento de grandes proporções.
1.9.2 Ciclo de vida do plástico
Analisando-se o ciclo de vida do plástico, encontra-se a situação
representada na Figura 6:
31
Figura 6 - Ciclo de vida dos materiais plásticos.Fonte: POLIKEM, 2011.
Observa-se nesse ciclo a existência de três tipos de reciclagem as quais
têm finalidades diferentes:
reciclagem energética – obtenção de energia.
reciclagem química – transformação do resíduo em matéria-prima .
reciclagem mecânica – obtenção da resina para nova transformação.
1.10 Plásticos biodegradáveis
Segundo a Associação Brasileira de Polímeros Biodegradáveis e
Compostáveis (ABICOM), os plásticos biodegradáveis, também chamados de
bioplásticos ou biopolímeros, diferem-se dos polímeros tradicionais por não se
utilizar de aditivos para se decompor, não apresentar compostos de metais pesados
e também não gerar resíduos tóxicos. Os biodegradáveis de fontes renováveis
32
utilizam como matéria-prima principal para sua manufatura, carboidrato derivado de
plantios como milho, mandioca, batata, trigo, cana-de-açúcar; ou óleos vegetais
extraídos da soja, mamona, girassol, palma ou outra planta oleaginosa.
Para a ABICOM (2011), há atualmente uma confusão no que diz respeito
à nomenclatura correta dos produtos de fontes renováveis. Por falta de um sistema
brasileiro de identificação, consumidores acabam por não saber exatamente que tipo
de material levam para casa. Para eles, para ser compostável, a biodegradação
deve ocorrer em até 180 dias, sob utilização de métodos disponíveis. O gráfico de
quadrante abaixo representa claramente essas relações:
Figura 7 - Tipos de polímeros, segundo sua fonte e degradabilidade.Fonte: ABICOM, 2011.
Os bioplásticos dividem-se em dois grupos, sendo os representados na
parte superior da ordenada do gráfico acima: os biodegradáveis e os que apenas
possuem fonte renovável em sua composição. A ABICOM (2011) diz que, os
biodegradáveis devem ser descartados corretamente em usinas de compostagem2,
pois são rapidamente biodegradados, por ação de microorganismos que consomem
o material, resultando em água, dióxido de carbono e húmus. O outro grupo tem
2 “Compostagem é o processo biológico de decomposição e de reciclagem da matéria orgânica contida em restos de origem animal e vegetal formando um composto. Propicia um destino útil aos resíduos orgânicos agrícolas, industriais e domésticos” (ABICOM).
33
como matéria-prima fonte renovável em todo ou em parte, e não necessariamente
se biodegrada.
A utilização de produtos de base bio, como é o caso do plástico verde da
empresa Brasken, à base de cana-de-açúcar, pode ser uma atitude sustentável, mas
não elimina a problemática de destinação incorreta de grandes volumes de resíduos.
Essa matéria-prima tem ótimo índice de redução de gases do efeito estufa, além de
não apresentar impactos significantes na agricultura, pelo fato de o Brasil utilizar-se
apenas de “1% de suas terras cultiváveis para produção de etanol, [...] sem
concorrer com o plantio de alimentos” (BRASKEN, 2011). Pradella (2006) acredita
ser mais vantajosa, no Brasil, a utilização da cana-de-açúcar para fabricação de
biopolímeros, pelo custo de produção dessa matéria-prima ser baixo aqui no país.
“Biodegradabilidade e compostabilidade são definidas e regulamentadas
por normas internacionais reconhecidas: EN 13432, EN 14995, ASTM D6400 e
GreenPla e ABNT 1544” (ABICOM, 2011). A Associação também esclarece que os
plásticos chamados oxidegradáveis não atingiram requisitos mínimos para
comprovar a ação de degradação microbiológica, portanto não podem se utilizar do
termo biodegradável para apelo mercadológico.
Existe no mercado um tipo de plástico, que muitos denominam
oxibiodegradável, que é nada mais que os tradicionais polímeros (polietileno ou
polipropileno), acrescido de aditivo (sal), para que se acelere o processo de
degradação, resultando em polímeros de cadeias menores, CO23 e água. Contudo,
geram partículas que permanecem no solo, podendo contaminá-lo. Por isso, a
ABICOM esclarece na Revista Plástico Moderno (2011), que esse material não
atendeu aos requisitos mínimos das normas já citadas, estando incoerente a
utilização do termo bio já que não comprovou a degradação por ação microbiológica.
Com o comprometimento das empresas em desempenhar seus papéis na
preservação ambiental, a revista Plástico Moderno (2011) acredita que a utilização
dos plásticos biodegradáveis têm sido “uma das ações mais importantes para atingir
3 Gás carbônico.
34
metas, mexer nos índices de sustentabilidade e mudar hábitos de consumo”, e
assim adentrar nos mais variados ramos industriais. Acredita-se também que o
impulso inicial para o aumento da demanda desse tipo de material, foi dado pela
iniciativa da substituição das sacolas plásticas dos supermercados. Para eles, o
público consumidor vem adquirindo cada vez mais consciência ambiental.
1.10.1 Estudos de viabilidade técnica e econômica de bioplásticos
Para Barbosa Filho (2009), produtos novos surgem para atender
necessidades, e sempre haverá uma solução técnica adequada para tal. A
organização pode reconhecer essas necessidades em diversas dimensões, tais
como:
a) diferenciar-se dos produtos concorrentes, em qualquer aspecto;
b) criar ou reforçar ideia ou identidade de famílias de produtos ou
marca;
c) questões ambientais, como redução ou modificação de matéria-
prima, decorrentes de conscientização dos consumidores e ou
mudança de padrões de consumo.
Para Romeiro Filho et al. (2010), a inovação tecnológica é fator chave
para ganho de competitividade e sucesso empresarial. “Partindo-se de uma mesma
estrutura de produção, pode-se utilizar de um conjunto determinado de peças e
componentes para criar alternativas distintas a serem colocadas à disposição do
mercado.” (BARBOSA FILHO, 2009, p. 34).
Tratando-se do valor atribuído a um produto isolado, Barbosa Filho (2009)
afirma que na fase conceitual do projeto pode-se definir um teto para o valor do
produto a fim de atender as limitações impostas pelo mercado, seja em razão dos
preços da concorrência, ou pelas restrições da capacidade de compra dos
consumidores. Já em estratégia mais amplas, pode-se desenvolver produto
complementar de uma família de produtos, formando assim uma cadeia de valor
35
(pois se pode utilizar componentes ou estruturas padrão para uma gama de
produtos). Um dos fatores importantes para o sucesso de um produto no mercado
são os esforços da organização como um todo, para que possa transmitir ao
consumidor a idéia de que aquele produto é a cara da empresa. O produto deve
estar condizente com as estratégias da empresa. (BARBOSA FILHO, 2009).
Atualmente, vem surgindo legislações e políticas governamentais que
incentivam a utilização desses materiais, assim muitos países com base nessa
mudança, estão investindo em expansão no mercado, fazendo com que novas
tecnologias surjam dentro dos próximos dez anos. Destacam-se nesse cenário a
Europa, com mais de 1600 produtos certificados, Japão, Austrália, EUA e Canadá,
segundo a Biomater (2011), instituição parceira de Universidades Federais que
desenvolve materiais e embalagens biodegradáveis.
A Cereplast está investindo em resina à base de algas; a Telles, uma join
venture4, está investindo em sua capacidade de PHA5; grandes empresas
petroquímicas estão programadas para produzir o PE6 bio-derivado, portanto, devido
a tantos avanços, a Pira International (2010) prevê grandes mudanças no ranking
das principais fornecedoras de embalagens de bioplástico.
1.10.2 Ciclo de vida do bioplástico
Para Pradella (2006), a ACV deve ser valorizada para que se haja
uma expansão da química verde e amenização da contaminação
ambiental e das mudanças climáticas.
Os aspectos ambientais são minimamente reduzidos no ciclo de
vida do bioplástico que, dentre os benefícios ao meio ambiente, estão a
4 Conjunto de empresas, de setores semelhantes, com fins lucrativos.5 Poli-hidroxialcanoatos.6 Polietileno.
36
capacidade de absorver o CO2 da atmosfera e a redução de matérias-
primas de origem fóssil.
Figura 8 - Ciclo de vida dos biopolímeros.Fonte: BRITO, 2011.
A ABICOM (2011) acredita ser a melhor solução para um mundo melhor e
mais limpo, a utilização de biodegradáveis, pois haveria uma redução significativa
dos resíduos sólidos, bem como a redução da poluição gerada pelos processos de
fabricação de plásticos tradicionais.
37
Figura 9 - Ciclo de compostagem.Fonte: ABICOM, 2011.
1.10.3 Poli ácido láctico
O polímero poli-ácido láctico, ou poly lactic acid (PLA) em inglês, é um
poliéster alifático, semicristalino ou amorfo e biodegradável, segundo BRITO et al.
(2011). Advém da fermentação do amido de milho, onde depois de utilizado, se
destinado de forma correta às usinas de compostagem, se decompõe por hidrólise,
seguido de ataques de bactérias, utilizando oxigênio, umidade, microorganismos e
calor, sendo seus componentes naturalmente aborvidos pela natureza, não
contaminando o solo e não interferindo no desenvolvimento de plantas, animais e
microorganismos (ABICOM, 2011; BRITO et al., 2011; POPOV, 2010).
Sobre suas propriedades, BRITO et al. (2011) comenta sobre a rigidez,
transparência, biocompatibilidade, e boa capacidade de moldagem, que são
características também dos polímeros de origem fóssil, em especial o PET7. O autor
comenta ainda que devido a sua característica de elevada transparência é forte
concorrente a substituto nas embalagens termoformadas8, porém deve-se evitar que
7 Polietileno tereftalato.8 Processo de moldagem, utilizando calor e sucção, a fim de atender alguns requisitos necessários para o produto.
38
as mesmas sejam submetidas à altas temperaturas ou condições de umidade,
porque pode ocorrer degradação do produto em semanas.
Pesquisas com plásticos feitos de milho existem desde 1932, porém
possuiam baixo peso molecular e propriedades não adequadas. Em 1954, a
empresa DuPont patenteou o PLA, mas teve de encerrar seu trabalho pelo fato de o
produto não atender à condições de umidade. Posteriormente surgiram aplicações
na área médica, e só então, no final da década de 90 é que o PLA chegou à escala
de commodities9 pela NatureWorks. Apenas nos últimos anos os laboratórios
obtiveram produtos com a resistência e a facilidade de manipulação que a indústria
exige (PRADELLA, 2006).
Popov (2010) afirma que, em 2010, o Brasil importava cerca de 500 t de
PLA por ano, e por não possuir nenhum fabricante, já chamava atenção de gigantes
do setor, como é o caso da Cereplast, que demonstrou interesse em instalar fábrica
no país. A Cereplast produz anualmente cerca de 48 mil t do biopolímero.
Pradella (2006) cita que a utilização do amido em bioplásticos tem sido
muito estudado, sendo modificado ou misturado com outras substâncias, com o
intuito de melhorar sua processabilidade. O interesse pelo amido advém de suas
caracterísiticas positivas, como o baixo custo e alta disponibilidade. Além das
empresas brasileiras produtoras de bioplásticos, existem muitas pesquisas sendo
desenvolvidas em Universidades, e dentre as matérias-primas utilizadas encontra-se
a mandioca, batata e cana-de-açúcar.
Hoje o PLA é melhor e mais utilizado em embalagens para alimentos,
óleos e produtos gordurosos, dizem Pradella (2006) e Brito (2011), e também em
fibras e tecido (tapetes, carpetes, roupas). Não é indicado para embalagens de
fermentados e outros líquidos, pois não impede a entrada de O2 e CO2. O gerente de
produtos da Cargill, Walcinyr Bragatto Neto, declarou à revista Plástico Moderno
(2011), que acredita na inserção do PLA nos segmentos de laminação de papel,
alimentos, produtos de limpeza (caixas de detergentes em pó), filmes, entre outros.
9 Termo em inglês que designa mercadorias. É utilizado em transações comerciais.
39
A produção de PLA no Brasil tem menor custo, pela facilidade da
obtenção de matéria-prima, e mesmo a resina sendo importada, ainda é mais
econômica que no mercado europeu e asiático, porém semelhante ao custo do
norte-americano. Contudo, o Brasil tem plenas condições de atender este setor, pela
facilidade com que se pode plantar o milho (POPOV, 2010). A Tabela 2 indica quais
matérias-primas são mais bem utilizadas na fabricação de alguns biopolímeros
Tabela 2 - Grau de preferência de matérias-primas renováveis na produção de biopolímeros.
Fonte: PRADELLA, 2006.
Sobre possíveis preocupações com o plantio de milho, Popov (2010)
esclarece que “para fabricar as 200 mil toneladas de PLA no mundo são necessárias
700 mil toneladas de milho, o que representa menos de 0,1% da produção mundial
do cereal”10. A utilização do milho pra esse fim, não implicará na redução do volume
do produto para fins de consumo, sendo que com o crescimento do setor de
bioplástico, a produção de milho deverá ser incrementada.
10 Para cada t de PLA, utilizam-se três t e meia de milho.
40
1.10.4 Produção
Inovações nas características produtivas, inclusive em embalagens e
rotulagens, surgem na busca de vantagens competitivas da organização. “Estas
vantagens de mercado, [...] deveriam, se alinhar às restrições e aos requisitos do
processo produtivo ou do fabrico propriamente dito” (BARBOSA FILHO, 2009, p. 67).
João Carlos de Godoy Moreira, diretor de tecnologia e inovação da
Biomater Eco-Materiais Ltda., informou à revista Plástico Moderno (2011) que, há
mais facilidade no mercado de bioplástico, para construção de fábricas, porque não
exige grandes instalações, diferentemente da cadeia petroquímica. Porém,
empresas que estão no mercado há muitos anos, desconhecem o processamento
desse tipo de resina. Moreira (apud PLÁSTICO MODERNO, 2011, p.13) afirma que
“o processamento é idêntico” ao tradicional, esbarrando em algumas barreiras
técnicas, “como maior sensibilidade a altas temperaturas. Mas isso é questão de
adaptar o produto e ajustar processos”.
Apesar da grande demanda, os bioplásticos não chegam nem à 1%
comparando-se aos plásticos tradicionais que, hoje, podem custar até três vezes
menos que os biodegradáveis. Contudo, um estudo apresentado pela European
Bioplastic junto de uma Universidade alemã, comentado pela revista Plástico
Moderno (2011), apontou uma projeção de 70% de aumento da capacidade
produtiva mundial de bioplásticos, para o ano de 2015, podendo chegar à 1,7 milhão
de toneladas, conforme apresentada na Tabela 3:
Tabela 3 - Capacidade de produção de bioplásticos (em t).Tipo 2010 % 2015 %
Bio-PE 200.000 28 450.000 26
Bio-PET 50.000 7 290.000 17
Blendas de amido biodegradáveis 117.800 16 124.800 7
PLA 112.500 15 216.000 13
41
PHA 88.100 12 147.100 9
Poliésteres biodegradáveis 56.500 8 143.500 8
Celulose regenerada 36.000 5 36.000 2
Bio-PA 35.000 5 75.000 5
PLA-blendas 8.000 1 35.000 2
Derivados de celulose 8.000 1 - -
Blendas de amido duráveis 5.100 1 - -
Bio-PP - - 30.000 2
Bio-PVC - - 120.000 7
Bio-PC - - 20.000 1
Outros 7.500 1 22.300 1
Total 724.500 100 1.709.700 100
Fonte: PLÁSTICO MODERNO, 2011.
Segundo Pradella (2006), o PLA é um polímero, do grupo de poliésteres11,
que é obtido por síntese química a partir do ácido láctico.
O processo segue nas seguintes etapas:
a) extração do amido da biomassa;
b) conversão do amido em açúcar por hidrólise enzimática ou ácida;
c) fermentação do caldo resultante por bactérias sob condições de
limitação de oxigênio (esse processo pode ocorrer em batelada ou
processo contínuo);
d) separação do ácido láctico do caldo;
e) purificação, onde ocorre neutralização, filtração, concentração e
acidificação;
f) polimerização em reator químico convencional.
A Figura 10 representa um fluxograma do processo de produção do PLA:
11 Grupo de ésteres. Produtos de reação entre ácidos carboxílicos e alcoóis, resultando em água como subproduto (GAUTO; ROSA, 2011).
42
Figura 10 - Processo de produção do PLA.Fonte: PRADELLA, 2006.
Um dos fatores benéficos em sua produção é o baixo índice de emissão
de carbono, 1,3 k para cada quilo de PLA, que é menos que a metade do produzido
pelo plástico das garrafas PET, diz Popov (2010).
1.10.5 Mercado
Os plásticos biodegradáveis vêm ganhando mercado, seja para aplicação
da “sustentabilidade na cadeia produtiva [...], obediência às normas, certificados de
qualidade para seus produtos, desperdício zero, redução de energia, [...]”
(PLÁSTICO MODERNO, 2011). É o que se conclui pela análise da Figura 11, que
mostra o consumo desses plásticos no hemisfério norte em 2009 e a esperada em
2014. Observa-se, porém, que não há dados para a América do Sul.
43
Figura 11 - Consumo mundial de bioplásticos.Fonte: PLÁSTICO MODERNO, 2011.
Renato Azevedo, gerente da Cereplast, em entrevista a Popov (2010), cita
que o mercado de bioplástico briga por 5% do total de plástico fabricados
mundialmente, e tem a expectativa de que, até 2014, atinja esse alvo. Porém não
foi o que representou os dados de produção fornecidos na Plástico Moderno (2011),
na Tabela 3, que previu aumento somente de 2,5% até 2015.
O mercado atual aponta a liderança do PLA em comparação a outros
biopolímeros, conforme representa a Figura 12:
44
Figura 12 - Mercado global de embalagens de bioplástico por produção.Fonte: PIRA INTERNATIONAL, 2010.
Porém, com base em um estudo desenvolvido pela Pira International
(2010), empresa inglesa do nicho de pesquisas (mercadológicas, estratégicas,
consultorias, entre outros), existe uma previsão de redução no mercado de
tecnologias tradicionais de embalagens de biopolímeros à base de amido, celulose e
poliéster.
Pradella (2006) levantou o preço de comercialização dos biopolímeros e
afirma que em 2002 este preço era de U$4,00/kg, decrescendo ao longo dos anos,
contrapondo-se ao aumento da demanda. Ele afirma também que o PLA é o
biopolímero com maior potencial de receita.
Conclui-se que nosso país tem posição mundial privilegiada por dispor de matérias primas renováveis a baixo custo (fontes de carbono e energia) e por, potencialmente, possuir mão-de-obra qualificada [...], oferecendo-se oportunidade para nos tornarmos plataforma mundial produtora e exportadora de biopolímeros, desde que ações concretas de financiamento e de organização das atividades de P&D12 sejam estabelecidas pelos órgãos públicos, em consonância com os setores produtivos do país. (PRADELLA, 2006, p. 7)
12 Pesquisa e desenvolvimento.
45
Segundo uma projeção de Pradella (2006) sobre as chances de sucesso
de alguns tipos de bioplásticos para o ano de 2015, aponta que o PLA não terá fatia
grande do mercado, porém é a que gera mais receita.
Tabela 4 - Projeção de chances de sucesso de estabelecimento de tecnologia e receita potencial para o Brasil no ano de 2015.
Fonte: PRADELLA, 2006.
É importante destacar que na composição do custo de produção
destes biopolímeros não foi considerado o valor referente aos gastos com
energia.
46
47
3 EXEMPLO DE APLICAÇÃO
A BUNGE, empresa de agronegócios e alimentos do país, segundo
informações próprias, contribui de maneira substancial para as divisas da economia
nacional, atuando também no segmento de bioenergia. Inaugurada em 1818 em
Amsterdã, e em 1905 no Brasil, sua missão é “melhorar a vida, contribuindo para o
aumento sustentável da oferta de alimentos e bioenergia, aprimorando a cadeia
global de alimentos e agronegócio”. Seguindo um de seus principais valores, a
sustentabilidade, investiu em um tipo de embalagem biodegradável para um de seus
produtos, o creme vegetal Cyclus Nutrycell (BUNGE, 2009).
O investimento em sustentabilidade se estende também a diversos
programas de proteção ambiental, alguns deles vinculados ao nome do produto. A
embalagem foi produzida com PLA, depois de 2 anos de estudos, para constatar
sua viabilidade. Sequencialmente à embalagem foi produzido também com o mesmo
material, o rótulo do óleo vegetal da mesma linha. A empresa destaca que o volume
de recipientes (embalagens e rótulos) ainda é muito pequeno para se tornar
significativo na produção de alimentos.
Sobre a compatibilidade do material com o produto, a BUNGE (2009)
afirma que, para poder entrar no mercado, foram necessários muitos testes
realizados por instituições reconhecidas, a fim de viabilizar as características de
biodegradabilidade e de atendimento às normas de embalagem de alimentos.
Segundo a BUNGE (2009), “testes demonstraram que o PLA não afeta as
características químicas e sensoriais [...]” de margarinas e produtos semelhantes,
contanto que se respeite o prazo de validade estabelecido na embalagem. Esses
testes foram realizados por órgãos competentes como: o Centro de Pesquisa e
Desenvolvimento de Embalagem (CETEA), o Instituto de Tecnologia de Alimentos
(ITAL), e órgãos ligados à Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento de
São Paulo. Como produtos desse gênero, exigem condições de uso em geladeira,
“não existe a possibilidade de a embalagem entrar em processo de decomposição,
48
ou estimular o produto nele contido a tal processo” (BUNGE, 2009). A Figura 13
apresenta a embalagem:
Figura 13 - Embalagem Cyclus Nutrycell.Fonte: BUNGE, 2009.
Sobre suas propriedades, a BUNGE afirma que a embalagem suporta um
calor de até 55º, e no mínimo 0º, não sendo possível sua armazenagem em freezers
e congeladores para não se tornar quebradiço, nem a utilização em microondas,
confirmando as características levantadas por BRITO et al (2011). A tinta da
embalagem é atóxica, e também não é prejudicial ao meio ambiente.
A resina da Cyclus é fornecida pela empresa Cereplast, já comentada
anteriormente, e segundo a BUNGE, é importada e comercializada aqui no Brasil
pela empresa Iraplast. Porém a produção dos potes é feita em terras brasileiras, por
um consórcio de empresas formados por Poly-vac, Emplal e Fibrasa, que são
responsáveis pela termoformação do material.
Conforme dados de Pradella (2006), 3 matérias-primas são melhor
utilizadas na fabricação do PLA: a cana-de-açúcar, o milho e o soro de queijo, sendo
a primeira abundante no Brasil, o milho nos EUA, e o soro, em ambos. Devido a
preferência de Pradella (2006) pela utilização da cana-de-açúcar para biopolímeros
brasileiros, também por possuir baixo custo, questiona-se o fato de a BUNGE
utilizar-se do amido de milho. A empresa se justifica afirmando que este último, se
destaca por um grupo de qualificadores como: disponibilidade, biodegradabilidade,
49
baixo custo, excelente desempenho, além de apresentar melhores condições para
uso no mercado de laticínios.
Com a estratégia da BUNGE de criar uma família específica de produtos
mais sustentáveis foi possível utilizar-se de componentes e estruturas padrão,
compondo uma cadeia de valor, segundo Barbosa Filho (2009). A empresa, por
acreditar limitação da produção de resinas biodegradáveis, tem estratégias de, a
médio prazo, estender a toda linha Cyclus, devido a ajustes necessários nos
processos industriais, de fabricação, das embalagens e até de logística, devido a
biodegradação do material. Inicialmente pode-se concluir que a BUNGE optou por
novos negócios, onde aproveitou uma necessidade de mercado, segundo conceitos
de Barbosa Filho (2009), criando novo produto, além de levar em conta o mínimo
impacto na fabricação da embalagem.
A BUNGE (2009) comenta sobre a dedicação e integralidade das diversas
áreas da empresa, em relação ao projeto, alegando que todas as etapas de P&D,
bem como adaptação de maquinário e testes, seguiram a linha de sustentabilidade.
A empresa ressalta que o desenvolvimento de embalagem biodegradável para
alimentos era inédito no Brasil. Apesar de todo esse processo ter elevado o custo de
produção, tornando o produto possivelmente mais caro que seus concorrentes, a
Bunge faz jus ao citado por Barbosa Filho (2009), onde reforça que são seus valores
que guiam as características da linha Cyclus. Ainda afirma que na ACV do produto,
“os ganhos ambiental, social e financeiro são grandes, pois se elimina o passivo de
resíduo”, e diz que pesquisas apontam a preferência dos consumidores em adquirir
produtos que causem menos impactos ambientais.
Por este fator, a BUNGE foi reconhecida nacionalmente pela Embanews,
que premia diversas categorias de embalagens, ganhando prêmio em três delas.
Essa premiação nacional resultou na maior premiação pela World Packaging
Organization (WPO) – Organização Mundial de Embalagens, na categoria de
desenvolvimento mais significativo em embalagens sustentáveis. A WPO é uma
organização sem fins lucrativos, que concede prêmios para diferentes iniciativas no
setor de embalagens. A empresa considera essa premiação como um dos primeiros
50
retornos obtidos pela iniciativa, e comenta que já reduziu custos com um outro de
seus projetos sustentáveis, além de deixar de gerar cerca de 4,5 mil toneladas de
resíduos sólidos (BUNGE, 2009).
Segundo a BUNGE (2009), a embalagem atende a todas as normas
nacionais e internacionais de biodegrabilidade, tais como: ABNT, União Européia e
Americana, entre outras. Também recebeu o selo internacional do Instituto de
Produto Biodegradável (BPI). Portanto, é correto atribuir, segundo a ABICOM
(2011), a informação de biodegradável à embalagem, por atender aos requisitos de
biodegradabilidade e compostabilidade.
51
52
4 COMENTÁRIOS FINAIS
A utilização do polímero PLA para fabricação de embalagens se mostrou
mais viável do que a utilização do plástico tradicional, pois a utilização de
bioplásticos vem ao encontro da minimização dos resíduos sólidos não
degradáveis,melhorando as condições do meio ambiente, e ainda propiciando o
retorno dos elementos à natureza (como adubo). Porém, vários fatores há de se
trabalhar para que a idéia seja, de todo, benéfica. Um exemplo é que se criem
condições específicas para a destinação final dos mesmos, além de se investir em
educação ambiental.
Dentre as possíveis soluções de uma gestão ambiental mais vantajosa,
está as opções de produtos recicláveis ou compostáveis. A opção por produtos de
plástico reciclável dá-se preferencialmente em produtos de longa duração ou
produtos reutilizáveis, permanecendo por um bom tempo, com o mínimo de danos
ao meio ambiente. Já os compostáveis é melhor utilizado para produtos com ciclo de
vida mais curto, como embalagens de produtos de uso diário, por exemplo, a
margarina.
Uma organização moderna deve investir em responsabilidade social,
investindo na avaliação do ciclo de vida de seus produtos, a fim de encontrar
soluções que reduzam impactos ambientais, para não se tornar obsoleta no
mercado. Apesar de estudos apontarem um declínio na utilização do PLA como
matéria-prima para bioplásticos, acredita-se que surjam novas tecnologias capazes
de modificar processos de fabricação e o consumo global de biodegradáveis,
aparecendo cada vez mais no dia-a-dia das pessoas.
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REFERÊNCIAS
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