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CENTRO EDUCACIONAL DA FUNDAÇÃO SALVADOR ARENA FACULDADE DE TECNOLOGIA TERMOMECANICA GABRIEL MAFRA DE PAIVA ESTUDO DO PROCESSAMENTO E MERCADO DE CERVEJAS ESPECIAIS NO BRASIL São Bernardo do Campo 2011

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CENTRO EDUCACIONAL DA FUNDAÇÃO SALVADOR ARENA

FACULDADE DE TECNOLOGIA TERMOMECANICA

GABRIEL MAFRA DE PAIVA

ESTUDO DO PROCESSAMENTO E MERCADO DE CERVEJAS ESPECIAIS NO BRASIL

São Bernardo do Campo

2011

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GABRIEL MAFRA DE PAIVA

ESTUDO DO PROCESSAMENTO E MERCADO DE CERVEJAS ESPECIAIS

NO BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso, realizado sob orientação do Professor Ms Marco Antonio Conti Carlotti Filho apresentado À Faculdade de Tecnologia Termomecânica como requisito para obtenção do título de Tecnólogo em Alimentos

São Bernardo do Campo

2011

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Catalogação elaborada na fonte

Biblioteca da Faculdade de Tecnologia Termomecanica

Bibliotecária: Simone Santos Farias - CRB- 8/6212

Banca Examinadora:

Prof. Ms. Marco Antonio Conti Carlotti Filho

Prof. Ms. Luciana Borin de Oliveira

Prof. Ms. Matthias R. Reinold

Aprovado em 12/11/2011

[email protected]

Paiva, Gabriel Mafra de Estudo do processamento e mercado de cervejas especiais no Brasil / Gabriel Mafra de Paiva. São Bernardo do Campo: FTT, 2011.

00 p.88: il. ; 30 cm.

Orientador: Marco Antonio Conti

Carlotti Filho

Trabalho de conclusão de curso – Faculdade de

Tecnologia

Termomecanica, Tecnologia em Alimentos, 2011.

1. Cervejas especiais. 2. Produção. 3. Mercado. I. Carlotti Filho, Marco Antonio Conti. II. Faculdade de Tecnologia Termomecanica, FTT, Tecnologia em Alimentos. III. Título.

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Dedico este trabalho á Deus,

aos meus familiares,

amigos, e mestres.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por ter se manifestado em toda minha vida,

em momentos ruins em frente às tribulações, o qual me ensinou e fez crescer

tornando a pessoa que vos escreve, como também nos momentos de conquistas

dando-me alegria, e sabedoria para aproveitar cada momento.

Sou grato também ao meu orientador, Marco Antonio C. C. Filho, que além de

orientar e ajudar neste trabalho, foi um grande amigo, que me mostrou a minha

capacidade para enfrentar os problemas, e o quanto estes eram pequenos, mesmo

eu achando grandes. Além disso, a sua paciência e sua determinação resultaram na

conclusão desse trabalho.

Outra pessoa muito importante, o qual eu devo imensamente favor,

agradecendo por tudo, é o mestre cervejeiro Matthias R. Reinold. O qual entende e

conhece toda a cadeia produtiva referente à fabricação de cerveja, além das

matérias primas envolvidas. Este homem é maravilhosamente humilde, por desfrutar

e ensinar sem hesito o seu conhecimento, demonstrando que o consumo consciente

e moderado desta bebida, gera respeito a sua própria vida e a dos outros em sua

volta.

Agradeço também a Luciana Borin, que sendo minha coordenadora, foi uma

grande amiga, dando conselhos, fazendo com que eu não desistisse do curso e dos

meus sonhos. Outro conselho foi referente à apresentação do tema a ser citado

neste trabalho, o qual depositei todas minhas forças, superando as dificuldades.

Aos meus pais, irmão, e familiares, sou grato pela força e pela ajuda que me

deram, durante a execução do trabalho. Já aos amigos, agradeço da mesma forma,

em especial a Nathália Ayumi Aoki, por estar sempre perto em me ajudar.

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"Não eduque seu filho para ser rico, eduque-o para ser feliz.

Assim ele saberá o VALOR das coisas e não o seu PREÇO"

Max Gehringer

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RESUMO O Brasil é 3° maior produtor de cerveja do mundo. O consumo majoritário de cerveja no país é do tipo American Standard Lager, com marcas como Brahma®, Antarctica® e Skol®. Contudo o aumento do poder aquisitivo da população, mais o incremento de uma nova cultura degustativa, fazem com que o consumo de cervejas especiais apresente expansão. Essa situação é favorável para o consumo de produtos mais caros e elaborados, o qual a cerveja especial está inserida, notando-se maior disponibilidade desse tipo de produto em locais de venda de bebida. O objetivo desse trabalho foi avaliar o mercado desse seguimento e aspectos de seus processos industriais. As cervejas especiais abrangem um nicho de 2% do mercado e apresentam expansão do mesmo, superior ao que ocorre com os tipos mais populares. Seus processamentos demonstram uma sequência de etapas similar, mas com diferenças pontuais que determinam características sensoriais diferenciadas. A carência de mão de obra especializada e pesquisa bibliográfica sobre o assunto podem bloquear o aumento de um setor econômico com grande potencial. Palavras chave: Cervejas especiais, Produção, Mercado.

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ABSTRACT

Brazil is the 3rd largest producer of beer in the world. The majority of beer consumption in the country is such as American Standard Lager, with brands such as Brahma®, Antarctica® and Skol®. However the increase in purchasing power, more the increment of a new culture of taste, makes the consumption of special beers present expansion. This situation is favorable for the consumption of more expensive and elaborate, which is inserted a specially brewed, noting a positive growth when compared with the most popular types. The aim of this study was to evaluate the market and this follow-up aspects of their industrial processes. The beers include a special niche in 2% of the total market. His case presents a similar sequence of steps, but with slight differences that determine different sensory characteristics. The shortage of skilled labor and research literature on the subject may block the expansion of a market with great economic potential. Keywords: Special beers, Production, Marketing.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Valores de mercado das principais marcas mundiais .......................... 19

Figura 2 - Cerveja Pilsener Urquel ....................................................................... 21

Figura 3 - Comparação entre a cerveja Pilsen e o que se bebe como a cerveja

Pilsen.................................................................................................................... 23

Figura 4 - Cervejas de trigo: Hefeweizen e Kristallweizen.................................... 24

Figura 5 - Berliner Weisse de tom esverdeado .................................................... 25

Figura 6 - Berliner Weisse de tom avermelhado .................................................. 25

Figura 7 - Cerveja dry Stout da marca Guinness ................................................. 26

Figura 8 - Cerveja Lambic Peche ......................................................................... 27

Figura 9 - Cerveja Lambic Kriek ........................................................................... 28

Figura 10 - Cerveja Lambic Framboise ................................................................ 28

Figura 11 - Cerveja Gueuze ................................................................................. 28

Figura 12 - Cervejas Trapistas da Abadia de Westmalle...................................... 29

Figura 13 - Cervejas Trapistas da Abadia de Chimay .......................................... 29

Figura 14 – Cevada .............................................................................................. 32

Figura 15 - Diferença entre a cevada de duas e seis fileiras.................................33

Figura 16 - Composição do grão de cevada...........................................................34

Figura 17 - Maltes com temperaturas diferentes de torrefação..............................35

Figura 18 - Quirera de arroz...................................................................................38

Figura 19 - Gritz de Milho.......................................................................................38

Figura 20 - Lúpulo..................................................................................................40

Figura 21 - Bolsas internas do lúpulo, que contém a lupulina................................41

Figura 22 – Levedura.............................................................................................43

Figura 23 - Fluxograma de uma Maltaria................................................................50

Figura 24 - Blend de maltes especiais Munich e Carafa.........................................54

Figura 25 - Coloração do malte para diferentes tipos de cerveja............................55

Figura 26 - Fluxograma das etapas que ocorrem na Cervejaria.............................58

Figura 27 - Gráfico de mosturação das cervejas Lager..........................................64

Figura 28 – Trub.....................................................................................................69

Figura 29 - Trocador de calor em placas para resfriar o mosto..............................70

Figura 30 - Flash pasteurização..............................................................................78

Figura 31 - Gráfico de Pasteurização de cervejas produzidas em linha continua..79

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 11

2. METODOLOGIA ................................................................................................. 14

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .............................................................................. 15

3.1 Mercado ................................................................................................ 15

3.2 Tipos de Cerveja .................................................................................. 19

3.2.1 Pilsen .............................................................................................. 20

3.2.2 American Stander Lager ................................................................. 22

3.2.3 Weissbier ou Weizenbier................................................................. 24

3.2.4 Berliner Weisse ............................................................................... 25

3.2.5 München ou Munique ...................................................................... 26

3.2.6 Stout ................................................................................................ 26

3.2.7 Lambic............................................................................................. 27

3.2.8 Gueuze............................................................................................ 28

3.2.9 Trappist ........................................................................................... 29

3.3 Matérias primas ................................................................................... 30

3.3.1 Água ................................................................................................ 30

3.3.2 Malte ............................................................................................... 32

3.3.3 Adjuntos .......................................................................................... 38

3.3.4 Lúpulo ............................................................................................. 40

3.3.5 Levedura ......................................................................................... 43

3.3.6 Leveduras Selvagens ...................................................................... 47

3.3.7 Bactérias ......................................................................................... 48

3.4 Processos............................................................................................. 50

3.4.1 Maltaria ........................................................................................... 50

3.4.2 Cervejaria ........................................................................................ 57

3.4.2.1 Moagem................................................................................49

3.4.2.2 Mosturação ou Brassagem...................................................51

3.4.2.3 Filtração................................................................................55

3.4.2.4. Cozimento............................................................................56

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3.4.2.5. Decantação........................................................................59

3.4.2.6. Resfriamento e aeração.....................................................60

3.4.2.7. Tratamento da levedura.....................................................61

3.4.2.8. Fermentação......................................................................62

3.4.2.9. Maturação..........................................................................65

3.4.2.10. Clarificação ou filtração....................................................66

3.4.2.11. Carbonatação...................................................................67

3.4.2.12. Envase e pasteurização...................................................68

4. CONCLUSÃO ..................................................................................................... 80

5. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ....................................................................... 81

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1. INTRODUÇÃO

Tem-se o conhecimento, de que uma das atividades mais antigas realizadas

pelo homem são o consumo e produção de bebidas alcoólicas. Há indícios

históricos, que por volta de 8.000 anos a.C., a cerveja começou a ser fabricada. A

produção teve seu início na Antiguidade com as civilizações da Suméria, Babilônia e

Egito. Com o passar do tempo, pelas expansões dos impérios gregos e romanos, a

cultura local foi difundida por toda região da Europa, inclusive o hábito de consumir

bebidas fermentadas. Em seguida, a arte de se fabricar cerveja, foi conquistada

quando os povos bárbaros invadiram o império romano (VENTURINI; CEREDA,

2001; VENTURINI, 2005).

No século XIII, na Idade Média, foram os germânicos que introduziram o

lúpulo como matéria prima ao processamento de cerveja, atribuindo características

básicas de como é conhecida a bebida nos dias atuais. Mas muitos produtores

empregavam diferentes ingredientes na elaboração de cerveja, sendo que no ano de

1516, o Duque Guilherme IV da Bavária, instituiu a lei da pureza (Reinheitsgebot),

conhecida como a lei mais antiga sobre a manipulação de alimentos. Essa se refere

à fabricação da cerveja, e obriga para isso, somente o uso de água, cevada, e

lúpulo. A levedura foi descoberta posteriormente, pois não havia como se identificar

a ação dessa na cerveja (VENTURINI; CEREDA, 2001; VENTURINI, 2005)

A cerveja chegou ao Brasil no século XIX, no ano de 1808, quando fugiram D.

João VI e a família real portuguesa de seu país de origem, por causa do domínio das

tropas francesas lideradas por Napoleão Bonaparte. Sendo que a cerveja era

somente importada e não fabricada aqui, até que no ano de 1885, no bairro de Água

Branca da cidade de São Paulo, criou-se a Companhia Antártica Paulista. No ano de

1888, a “Manufatura de Cerveja Brahma Villigier e Cia” foi fundada na cidade do Rio

de janeiro, por Joseph Villiger. Essas duas cervejarias, depois de quase cem anos,

em 1999 se juntaram criando assim a Ambev, que passou a ser a principal no país.

Nos anos posteriores esta se juntaria com outras duas companhias formando a

maior corporação no mundo (AMBEV, 2011; VENTURINI, 2005).

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No ano de 2001, o Brasil estava em quarto lugar entre os maiores produtores

mundiais de cerveja, produzindo, anualmente, 8,4 bilhões de litro e tendo um

consumo per capita de quase 50 L/ano. Depois de dez anos, o país se situa em

terceiro lugar no ranking mundial com 12,4 bilhões de litros produzidos de cerveja.

Percebe-se nesse período, também, um aumento no seu consumo per capita,

chegando a 64 L/ano. Esse crescimento é explicado pelo desenvolvimento de novas

tecnologias e pesquisas com vista à superação dos problemas enfrentados nas

cervejarias, que são referentes à otimização do processo, redução de custos,

melhorias na qualidade de seus produtos e processos exercidos, como as vendas, e

eficiência na cadeia de suprimentos ou distribuição. Outro fator, que contribui

decididamente no incremento do consumo, é a questão econômica no qual o pais

está inserido, pelo qual, após a implantação do plano Real, no ano de 1994 e 95,

proporcionou-se um aumento no poder aquisitivo da população; fator esse

fundamental para que haja mudanças em hábitos de consumo, não focado somente

com a alimentação básica (REINOLD, 2011d; VENTURINI, 2005).

Esse contexto possibilita o aparecimento de diversos tipos de cerveja no

mercado, que se diferem tanto nas quantidades e composições das matérias primas,

quanto no seu processamento, através de modificações nos equipamentos e na

tecnologia dos processos operacionais (VENTURINI, 2005).

A participação no mercado de cervejas especiais elaboradas pelas

microcervejarias apresentou taxas de crescimento de 15 % ao ano, superando os

7% das cervejas produzidas em grande escala (REINOLD, 2011d).

As cervejas especiais apresentam diferenciação no processo e emprego de

matérias primas se comparadas às cervejas mais comercializadas e populares. Esse

termo, no Brasil, refere-se às cervejas importadas, como exemplo as cervejas

produzidas em monastérios na Europa; e às cervejas artesanais, que podem ser

produzidas de “forma caseira”, ou até mesmo em microcervejarias, que utilizam

matérias primas de alta qualidade, com pouco ou até nenhuma adição de aditivo,

além de equipamentos com menor capacidade. Porém possuem um maior cuidado

em sua produção, elaborando cervejas diferenciadas, que contenham receitas

tradicionais e antigas, originando resultados bem interessantes e próprios (BREJAS,

2011a; REINOLD, 2011d).

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Em relação a essa nova frente de cervejas especiais, que vem apresentando

um representativo crescimento de consumo, o objetivo deste trabalho é

compreender e identificar aspectos, que envolvem desde a matéria-prima até o

produto final, da confecção de alguns tipos de cervejas especiais, tomando como

base o processamento da cerveja Pilsen, a mais consumida e produzida no país

(SINDICERV, 2011a).

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2. METODOLOGIA

Estabeleceu-se como padrão de processamento, o fluxograma de produção

de cerveja Pilsen. A partir de então, discutiu-se, em cada etapa, aspectos inerentes

do processamento de algumas das cervejas especiais disponibilizadas ao

consumidor brasileiro.

A escolha do padrão deu-se pelo fato da cerveja Pilsen ser a mais produzida

no mundo, em grande escala, e possuir vasta bibliografia de discussão de seu

processamento. Também deve ser considerado que as modificações ocorridas nos

processamentos das especiais são pontuais, fazendo com que a descrição

individualizada, de cada tipo, tornar-se-ia repetitiva.

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3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 Mercado

A produção de cerveja coloca o Brasil como terceiro país no ranking mundial,

com valor de 124 milhões hL/ano, sendo que o primeiro é a China, com cerca de 454

milhões hL/ano. Já o consumo nacional é considerado baixo, em relação aos países

europeus, girando em torno dos 64 litros per capita/ano. Os maiores consumidores

de cerveja são os habitantes da República Checa com consumo de 161 litros per

capita/ano (REINOLD, 2011d).

Segundo Reinold (2011b) e Santarnech (2011), o aumento da faixa etária e

do poder aquisitivo da população, alavancado pela estabilidade de preços e

flexibilização do crédito, são fatores que impulsionam o consumo brasileiro. Tal

panorama faz com que o Brasil apresente um mercado cervejeiro em crescimento,

sendo o reflexo de seu atual contexto econômico de estabilidade, diferentemente do

que ocorre com outros países.

Segundo uma pesquisa levantada pelo Sindicerv e a Fundação Getúlio

Vargas (FGV), o ano de 2008 apresentou os seguintes resultados referente aos

benefícios econômicos que a indústria de cerveja proporciona para o Brasil: 1,7

milhões de empregos, 16,4 bilhões de salários pagos e 41,7 bilhões de valores

adicionados (SINDICERV, 2011b).

De acordo com o Brasil Brau (2011) e Reinold (2011d), no ano de 2009, a

participação no mercado de cervejas especiais e do setor Premium e Super

Premium no país, equivaleu a 4,5% do total, apresentando taxas de crescimento de

15 % ao ano. Esses valores refletem o surgimento de microcervejarias, que chegam

a mais de 170 no país, em um mercado dominado por 4 grandes empresas: AmBev;

Schincariol, recentemente adquirida pela Kirin; Kaiser, pertencente a Heineken e a

Cervejaria Petrópolis, a única cervejaria com exclusivo capital nacional. Essas

abrangem uma fatia de 90% do total.

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Com a segmentação do mercado cervejeiro no Brasil e o interesse do

consumidor experimentar, cada vez mais novos tipos de cerveja são disponibilizados

no mercado, impulsionados pela elevação de ofertas de produtos importados e do

número de microcervejarias. As últimas aumentam sua atuação pelo fato de serem

empreendimentos lucrativos em um mercado defasado, monopolizado por pequeno

número de grandes indústrias (MORADO, 2011).

Uma nova frente de pensamento referente ao consumo de cervejas, também

eleva o consumo das especiais. Essa nova tendência é conduzida por uma frente

gastronômica, que aborda a apreciação diferenciada da cerveja, com ingestão em

poucas quantidades, para maior percepção de seus aromas e sabores. Ou seja,

bebe-se melhor e não se toma a cerveja para matar a sede (consumo direto),

possibilitando uma discussão proveitosa sobre o assunto (SANTARNECH, 2011).

A maioria das cervejarias do mundo produz cerca de 10 a 50 milhões hL/ano,

porém três dessas fabricam cerca de 100 milhões de hL/ano, representando quase a

metade da produção mundial. As comercializações dos produtos destas cervejas

industriais são em volumes expressivos, podendo atingir competitivamente todo o

globo (MORADO, 2011).

Segundo Mattos (2007, 2011) e Venturini (2005), a AB-InBev é um exemplo

de corporação cervejeira, que domina cerca de 20% do mercado mundial. Essa

expressiva participação fora iniciada no ano de 2000, quando a Brahma comprou a

Antártica, formando assim a AmBev. Já em 2004, cervejaria belga Interbrew e a

AmBev, se fundiram gerando a InBev. E por fim, no ano de 2009, a InBev que já

continha um portfólio considerável, com as marcas Brahma, Stela Artois e Becks,

juntou-se com a norte americana Anheseur-Busch (informação verbal)1.

Essa cervejaria, nos dias atuais, é a principal companhia no mundo do ramo,

conforme verificado na Tabela 1, demonstrativa da porcentagem de participação do

mercado das principais empresas cervejeiras do mundo. Vale ressaltar que esse

quadro já sofreu modificação devido à aquisição do grupo Schincariol pela cervejaria

Kirin em meados de 2011 (TOPHAM, 2011).

1 Informação verbal concedida pelo mestre cervejeiro Rubens Mattos, em palestra na

Unicamp, no dia 18 de julho de 2011

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Tabela 1 - Participação (%) no mercado cervejeiro mundial das principais industriais do setor

Companhia 2010

1 Anheuser-Busch InBev NV 18,6

2 SABMiller Plc 9,5 3 Heineken NV 8,7 4 Carlsberg A/S 5,5 5 China Resources Enterprise Co Ltd 5,0 6 Tsingtao Brewery Co Ltd 3,4 7 Modelo SA de CV, Grupo 2,8 8 Beijing Yanjing Brewery Co Ltd 2,6 9 Molson Coors Brewing Co 2,6 10 Kirin Holdings Co Ltd 1,8

Fonte: Euromonitor (2010 apud MATTOS, 2011)

O Institute of Brewing Studies define que microcervejarias, são aquelas que

produzem menos que 15 mil barris (17600 hL) por ano, tendo fabricação em menor

escala, porém com a mesma tecnologia das cervejarias convencionais. Além disso,

as primeiras contêm características marcantes e regionais com qualidades diferentes

das segundas, sendo um fator decisivo na produção de vários estilos de cerveja no

Brasil (MORADO, 2011).

A onda de microcervejarias percorreu anteriormente vários países, até chegar

ao Brasil, em meados da metade da década de 1980. A partir deste período,

apareceram inúmeras microcervejarias, concentradas nas regiões do sul e sudeste.

Sendo que, a maioria delas, nascida de comércios voltados para área de alimentos,

como: bares, restaurantes e churrascarias, fora as produções caseiras. Essas

pequenas produtoras notaram como é interessante produzir cervejas personalizadas

de sabor próprio e local, proporcionando assim, a formação de um produto, que

populariza a marca de seu estabelecimento (MORADO, 2011).

As cervejas especiais apresentavam problemas relacionados ao seu

processo, o que inviabilizava a sua produção. Atualmente, essa barreira já foi

superada; entretanto, existem outros fatores que freiam sua expansão como,

principalmente, o alto imposto cobrado, cerca de 65% do produto acabado, valor

equivalente para as pequenas e grandes indústrias fabricantes de cerveja. Tal

situação torna o custo do produto final das pequenas cervejarias, que possuem

menores montantes de produção, proibitivos para parte da população

(GONÇALVES, 2009).

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Referente à participação de cerveja consumida no mercado nacional, as

especiais chegam a 2% do total, sendo que 1% é proporcionado pelas

microcervejarias, e o restante, trata-se das importadas e especiais advindas das

cervejarias de grande escala. O aumento desta porcentagem depende de vários

fatores, como a redução de impostos direcionados a microcervejaria, sendo estes

diretamente ligados a capacidade produtiva; além da manutenção dos indicadores

econômicos, representados pela taxa de juros, variação cambial, salário mínimo, e

até o IPC (Índices de Preços ao Consumidor) (SANTARNECH, 2011).

Ao analisar as fusões e aquisições de empresas nacionais e estrangeiras,

como exemplo a compra do grupo Schincariol pela cervejaria japonesa Kirin,

constata-se que o mercado de cervejas se mostra cada vez mais dinâmico. Esta

estratégia se refere a uma maneira competitiva das empresas atuarem, aderindo ao

seu portfólio marcas populares já inseridas no mercado. As marcas que o grupo

Schincariol detinha, eram: Nova Schin, Devassa, Glacial, Baden Baden, Eisenbahn,

sucos, água, além de ser a terceira maior produtora de refrigerantes no país. No ano

de 2010, tal empresa representava quase 12% do mercado de cervejas no Brasil,

perdendo somente para a Ambev. Nesse mesmo ano obteve um lucro de R$ 54

milhões e receita líquida de R$ 2,9 bilhões (REINOLD, 2011h; VENTURINI, 2005).

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Os valores de mercado das principais marcas mundiais de cerveja, em

bilhões de dólares, são demonstrados na Figura 1.

Figura 1: Valores de mercado das principais marcas mundiais Fonte: Valor (2011 apud MATTOS, 2011)

3.2 Tipos de Cerveja

Atualmente estima-se mais de 20 mil tipos de cerveja, as quais se diferenciam

pelo uso de matéria prima, além de variações durante o processo, como: tempo e

temperatura de cozimento, fermentação e maturação (SOARES, 2011).

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Todavia, as cervejas são definidas de acordo com o tipo de fermentação que

ocorre durante os seus processos. As cervejas de alta fermentação, representada

pela família Ale, são propiciadas pela levedura Saccharomyces cerevisiae, e

possuem origens diversas como as inglesas (Bitter, Porter, Pale Ale); a irlandesa

(Stout); as alemãs (Weizenbier, Altbier, Kölsch) e a belga (Trappiste) considerada

um estilo diferencial de cerveja especial, pois se adiciona uma pequena quantia de

levedura na garrafa, sofrendo assim uma segunda maturação (REINOLD, 2011e;

VENTURINI; CEREDA, 2001).

Esse estilo por possuir temperatura de fermentação mais elevada e conter

maiores teores de malte e lúpulo, acarreta a formação de características sensoriais

mais acentuadas e complexas à cerveja, propiciando, dessa forma, sabor mais

revigorado e encorpado (BREJAS, 2011b).

A família Lager concebe as cervejas de baixa fermentação, pelo uso da

levedura Saccharomyces uvarum no seu processo. Estas cervejas são originárias da

Alemanha (München, Bock, Malzbier, e Rauchbier) e República Tcheca (Pilsener ou

Pilsen, Budvar). Além dessas cervejas, existe outro tipo de cerveja de ascendência

belga (Lambic, Gueuze), a qual provém da fermentação espontânea de leveduras

selvagens que se propagam naturalmente do ambiente externo para o tanque,

proporcionando uma fermentação com diferentes produtos mais frutados e ácidos

(LAUX, 1997; REINOLD, 2006; REINOLD, 2011e; VENTURINI; CEREDA, 2001).

Em relação aos tipos de cerveja, a legislação brasileira, define que elas

poderão ser nomeadas como Pilsen, Export, Lager Dortmunder, München, Bock,

Malzbier, Ale, Stout, Porter, Weissbier, Alt, além de outras designações referentes a

outros estilos que são conhecidos mundialmente. Contudo, ao se fabricar um

determinado tipo de cerveja, este deverá respeitar as características originais que o

definem tal tipo de cerveja (TSCHOPE, 2001; VENTURINI, 2005).

Segundo Laux (1997), as características organolépticas de um determinado

tipo de cerveja, são caracterizadas pelo teor de extrato inicial do mosto mensurado

em °Plato, porcentagem final alcoólica, origem e características das matérias primas

utilizadas, tipo de leveduras, e processo de fermentação empregado.

3.2.1 Pilsen

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No ano de 1842, na cidade de Plzeň (na região da Boêmia) da República

Tcheca, nasceu a primeira cerveja estilo Pilsen. Foi elaborada por Josef Grolle,

convocado, na época, para desenvolver uma cerveja diferente para a cervejaria

Plzeňský Przadoj. Essa possuía o nome de Bürgerliche Brauhaus, que

posteriormente passou a ser chamado de “Pilsener Urquell”, como observado na

Figura 2. A água mole provinda dessa região possibilitou a obtenção de uma cerveja

com cor mais dourada e brilhante, diferenciando-se das demais cervejas

anteriormente produzidas. (JACKSON, 2007; KUNZE, 1996; VARNAM;

SUTHERLAND, 1997).

Figura 2: Cerveja Pilsener Urquel Fonte: CERVEJACASTRUM (2011)

Além da cor, outro fator modificado proporcionado pela água, foi a

característica tátil bucal sentida após tomar a cerveja, sendo esta mais leve em

comparação as demais. Uma diferença notável, também, foi a fermentação em

temperatura mais baixa e a utilização um lúpulo mais agradável sensorialmente e

temperado. O desenvolvimento dessa cerveja proporcionou uma mudança no modo

de se fabricar a bebida, sendo que, anteriormente, produzia-se mais a de alta

fermentação, e agora a de baixa fermentação. Isso foi ocasionado, por causa da

melhor digestibilidade, e sabor, que este estilo demonstra (KUNZE, 1996).

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Outro tipo de cerveja lager, fabricado na cidade de Ceské Budejovice,

localizada ao sul de Plzeň, é a que muitos diriam ser semelhante à Pilsen, por ter um

amargor parecido. Mas pelo fato de conter um sabor de malte acentuado e

adocicado, fez com que os próprios nativos denominassem-na de cerveja

Budweiser, fabricada hoje pela Budvar. Por conta deste nome, Budweiser, existe

uma disputa acirrada na justiça que envolve a Anheuser-Busch, empresa

participante da AB Inbev (JACKSON, 2007; VENTURINI; CEREDA, 2001).

No mundo, a Pilsen é o estilo de cerveja mais apreciado, por ser uma cerveja

mais leve e refrescante. Já nos países que possuem um clima tropical como no caso

do Brasil, este tipo de cerveja é a mais conhecida, o qual corresponde a 98% o de

todas as cervejas consumidas no país. Mas as cervejas claras fabricadas no Brasil

em grande escala, são consideradas derivações da primeira cerveja Pilsen

(SOARES, 2011; VENTURINI; CEREDA, 2001).

Na Alemanha, as cervejas tipo pilsener, apresentam um teor de extrato inicial

em torno de 11,6%, que pode variar de 11,3 a 12,2%, e o valor alcoólico de 4,2 a

5,4%. Possui uma tonalidade dourada, sendo bem clara e brilhante, além de uma

espuma branca e cremosa. Seu sabor é complexo, devido à sinergia do amargor

suave propiciado pela maltagem da cevada e o sabor picante não acentuado do

lúpulo Saaz. Essa cerveja pode conter o diacetil, mas não de forma muito presente.

Já no sabor residual na boca após sua ingestão, ou “after taste”, percebe-se um

balanço entre o lúpulo e o malte, não contendo ésteres frutados. Além dessas

características, a cerveja pilsen apresenta um valor de médio a alto de

carbonatação, proporcionando refrescância ao seu consumo (KUNZE, 1996;

STRONG, 2008).

3.2.2 American Standard Lager

Ao se tornar popular por toda Europa, o estilo pilsen chegou aos Estados

Unidos, levando a origem de cervejas lagers, porém com características bem

diferentes da pioneira. Fator ocasionado por se produzir cervejas em maiores

escalas, além do uso de adjuntos, como o milho e o arroz, que propiciam o

enfraquecimento do sabor e corpo da cerveja (JACKSON, 2007).

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As modificações proporcionaram uma cerveja leve e refrescante, elaborada

para ser consumida em uma temperatura bem inferior, suprindo, dessa forma, a

necessidade de saciar a sede. Esse tipo de cerveja é a mais popular nos Estados

Unidos e no Brasil, com marcas como: Budweiser, Brahma, Itaipava, Antarctica,

entre outras. Essas se assemelham por conter ingredientes similares, os quais são

usados de dois a seis tipos de malte de cevada, além de adjuntos como a quirera de

arroz, gritz de milho e xarope de alta maltose. Seu teor alcoólico varia de 4,2 a 5,3%

de volume, apresentando de 8 a 15 de IBU e cor de 8 a 10 de EBC. Uma questão

relevante para esse tipo de cerveja ser descrita no rótulo como Pilsen, dá-se pelo

fato de muitos consumidores não conhecerem outros tipos de cerveja, além de ser

uma classificação simplória baseada em convenção nacional (BREJAS, 2011b;

MORADO, 2011; STRONG, 2008).

A diferença na composição das cervejas do estilo Pilsen e a American

Standard Lager é demonstrada na Figura 3.

Figura 3: Comparação entre a cerveja Pilsen e o que se bebe como a cerveja Pilsen Fonte: CERVEJANAGUELA (2011)

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3.2.3 Weissbier ou Weizenbier

Cerveja elaborada a base de trigo, originária da região sul da Alemanha. É

mais consumida no verão, pelo fato de ser mais leve e refrescante. O extrato inicial

possui um valor mínimo de 11%, com teor alcoólico final de 4,3 a 5,6%, o qual é

propiciado pela alta fermentação. Em resumo geral, são cervejas com tonalidade

clara, podendo ser turvas ou não, devido à presença de leveduras no seu corpo

provenientes da filtração. Dependendo de sua variedade, seu sabor pode-se

assemelhar a um gosto suave de banana (sabor frutado), baunilha e cravo (sabor

floral), devido aos diferentes compostos gerados por processos fermentativos

específicos que são propiciados por microrganismos variáveis (KUNZE, 1996;

STRONG, 2008; VENTURINI; CEREDA, 2001).

As cervejas de trigo se diferenciam em dois subtipos (com exemplares

demonstrados na Figura 4), sendo o primeiro caracterizado por ser mais turva por

não haver filtração, apresentando no mínimo um milhão de células de levedura por

mL. Esse tipo se denomina de Hefeweizen, o qual apresenta cor amarelada marrom.

Em sua produção adiciona-se uma pequena quantia de extrato, pré-envase para que

a fermentação seja complementada na garrafa. O mosto original contém teores de

11 a 12%. O outro subtipo é a cerveja Kristallweizen, apresenta 12,5 a 13% de

extrato no mosto pré-fermentativo e não contém levedura no momento em que for

consumida, pois ocorre a etapa de filtração durante seu processo de fabricação,

resultando em uma cor mais clara e translúcida (KUNZE, 1996; BREJAS, 2011b).

Figura 4: Cervejas de trigo: Hefeweizen e Kristallweizen Fonte: Braukaiser (2011) e Bierindex (2011)

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3.2.4 Berliner Weisse

Cerveja que utiliza entre 35 a 50 % de malte de trigo, com o mosto pré

fermentativo de 7,5% de concentração. Seu teor alcoólico aproxima de 2,7 a 2,8%, e

a porcentagem de CO2 é de 0,7%. Essa cerveja apresenta acidez de 3,2 a 3,4 de pH

no final da fermentação, sendo que, em muitas fábricas, adiciona-se lúpulo e mosto

para que ocorra a maturação na garrafa. O acido lático gerado, promove a

estabilização da cerveja, fazendo com que seu tempo de prateleira seja prolongado.

Esse tempo possibilita uma maturação do sabor, modificado pelos metabólitos

formados (KUNZE, 1996).

É uma bebida efervescente, com sabor floral, que sacia a sede, sendo

consumida pelos alemães principalmente no verão. Sendo que ao se consumir esta

bebida, adiciona-se xarope doce de frutas com cores diferentes, como

demonstrados nas Figuras 5 e 6. O teor de IBU é de 3 a 8, sendo bem suave, e o

teor alcoólico é de 2,8 a 3,8 em volume. Em relação ao extrato para fermentação

esta apresenta um valor de 7 a 8°P, Utiliza-se o Lactobacillus delbrueckii para

ocorrência da acidificação (BREJAS, 2011b; KUNZE, 1996; STRONG, 2008).

Figura 5: Berliner Weisse de tom esverdeado Figura 6: Berliner Weisse de tom avermelhado Fonte: TRAVELPOD (2011a) Fonte: TRAVELPOD (2011b)

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3.2.5 München ou Munique

Em 1830, o cervejeiro alemão Gabriel Sedlmayr dono da cervejaria Spaten,

aperfeiçoou este determinado tipo de cerveja, popularmente chamado de “dunkel”.

Produziu, assim, uma cerveja Lager escura com sabor de malte e amargor suave,

com um valor médio de 5% de teor alcoólico e o extrato inicial de 12,7%. Percebe-se

aromas que lembram chocolate, caramelo e amêndoas, e um amargor moderado de

18 a 28 IBU2 (STRONG, 2008; VENTURINI; CEREDA, 2001).

3.2.6 Stout

Cerveja que possui diferentes variedades, provenientes da alta fermentação,

originárias de toda Grã-Bretanha. O malte de cevada é altamente tostado,

possibilitando uma cor mais escura, com 200 unidades de EBC. Essa cerveja pode

ou não ser adocicada por adjuntos e conter amargor variável. A mais conhecida é a

popular Guinness, fabricada na cidade de Dublin, na Irlanda (Figura 7). Essa

cerveja, a qual é uma dry Stout, apresenta um sabor menos doce comparada com

as demais Stout, contendo um teor alcoólico de 4,5 a 5%, e 11,5% de extrato de

mosto (KUNZE, 1996; VENTURINI; CEREDA, 2001).

Figura 7: Cerveja dry Stout da marca Guinness Fonte: CERVEJACASTRUM (2011)

2 IBU (International Bitterness Units) - é a medida de amargor da cerveja, calculado pelo teor

de acidez e quantidade de lúpulo adicionado (JACKSON, s.d.).

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Os demais sub-estilos, variam de acordo com o extrato inicial, teor alcoólico

final, e outras características já vistas. Como exemplo a sweet Stout, a qual contém

um sabor tostado e amargor médio de 20 a 40 unidades de IBU, além de ser mais

suave devido à adição de lactose e vitaminas. Esta cerveja é mais escura que a dry

Stout, possuindo um mosto de 10,5 a 11,5% de extrato original, e um teor alcoólico

aproximado de 4,0% (KUNZE, 1996; STRONG, 2008).

3.2.7 Lambic

Apesar de a Bélgica ser um país menor e menos populoso que o Brasil,

consome uma quantidade maior de cerveja per capita durante o ano, possuindo uma

tradição em fabricar diferentes tipos de maneira artesanal, com originalidade e alta

qualidade (REINOLD, 2006).

Estilo belga, fabricado em todo território de Bruxelas e nas cidades vizinhas,

apresenta sabores evidentemente frutados, e um pouco adocicados, sendo sempre

perceptível o sabor ácido, proveniente da fermentação espontânea em tonéis de

carvalho. Apresenta um extrato inicial de 11,5 a 13,5%, sendo que para sua

fabricação emprega-se cevada e trigo. Já seu teor alcoólico se encontra por volta de

4,5 a 5% de volume da cerveja finalizada (KUNZE, 1996; REINOLD, 2006;

STRONG, 2008)

Esse tipo de cerveja corrobora a originar outros estilos, sendo esses frutados

como a Peche, o qual se adiciona pêssego em sua formulação (Figura 8); a Kriek,

no qual se utiliza cereja (Figura 9); e a Framboise, como o nome propriamente

sugestiona, acrescenta-se, framboesa (Figura 10) (REINOLD, 2006).

Figura 8: Cerveja Lambic Peche Fonte: LINDEMANS (2011)

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Figura 9: Cerveja Lambic Kriek Figura 10: Cerveja Lambic Framboise Fonte: BEERADVICE (2011) Fonte: BELGIAMBEERCAFÈ (2011)

3.2.8 Gueuze

Esse tipo de cerveja, feita há vários séculos, possui origem na região do vale

do Sene, na Bélgica. Contém uma coloração mais escura sem ocorrer a etapa da

filtração (Figura 11). Fabricada em diferentes misturas de Lambic, possui

fermentação na garrafa e tempos variados de maturação (KUNZE, 1996; REINOLD,

2006).

Figura 11: Cerveja Gueuze Fonte: 365BEERS (2011)

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3.2.9 Trappist

Outro lugar de fabricação, que faz parte da história da cerveja, são os

monastérios ou abadias, os quais existem desde a Idade média, e, atualmente, seis

estão localizados na região da Bélgica (Rochefort, Westmalle, Westvleteren,

Chimay, Orval e Achel) e uma na Holanda, onde se fabrica as cervejas La Trappe na

abadia de Koningsshoven. Nesses lugares, os monges eram responsáveis por

produzirem as cervejas, que são designadas Trappist. As cervejas fabricadas na

abadia de Westmalle (Figura 12), são consideradas de alta fermentação, são

encorpadas e contém aroma agradável de lúpulo, sendo que o teor alcoólico é

considerado alto em relação aos demais tipos, variando em 6% e 8% para a Dubbel

e Trippel. Já na abadia de Chimay, fabricam-se três cervejas com teores alcoólicos

diferentes (Figura 13), a Doré possui 4,8% (somente vendida na própria abadia),

Rouge contém 7%, a Blanche com 8%, e a Bleue com 9% (KUNZE, 1996;

REINOLD, 2006; BREJAS, 2011b; BELGIANBEER, 2011).

Figura 12: Cervejas Trapistas da Abadia de Westmalle Fonte: MALETIS (2011)

Figura 13: Cervejas Trapistas da Abadia de Chimay Fonte: BELGIANBEER (2011)

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3.3 Matérias primas

A cerveja é uma bebida não destilada, com baixo teor alcoólico, cujas

matérias primas, essenciais para sua elaboração, são diretamente responsáveis

pelas características sensoriais do produto. Essas matérias primas são

representadas por: água de ótima qualidade; malte, cujo cereal mais utilizado é a

cevada; lúpulo, que dá o amargor característico à cerveja; fermento ou levedura de

cultivo, que propiciará a fermentação do mosto cervejeiro; e os adjuntos que

complementam o malte, contribuindo na concentração de extrato para fermentação

(VENTURINI, 2005; VENTURINI; CEREDA, 2001).

Por meio de diferentes combinações de matérias-primas, alterando as

variedades e as quantidades desses componentes, somados com o tempo e a forma

de preparos diferenciados, podem-se obter outros estilos de cerveja (TSCHOPE,

2001).

3.3.1 Água

É o componente em maior quantidade na cerveja, sendo o responsável

principal pelo seu corpo. Em determinados tipos de cervejas corresponde de 84 a

88% do peso total do produto final. Um fator importante a ser avaliado na água, o

qual se torna fundamental para determinar a sua qualidade no processo cervejeiro, é

a presença de metais pesados, que catalisam reações com outros constituintes da

cerveja, provocando, assim, turvações no meio (LAUX, 1997; REINOLD, 2008).

A escolha do local em que será construída a empresa cervejeira depende,

principalmente, da qualidade e disponibilidade de água em determinada região. Se

necessário, devem ser realizados tratamentos para torná-la adequada à indústria,

dentre os quais, o controle microbiológico que é indispensável (VENTURINI, 2005).

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Segundo Brasil (1994), a água que irá compor a cerveja tem que ser tratada

com substâncias químicas, operações físicas, além de outras, que podem ser feitas

sozinhas ou até em conjunto, assegurando assim a qualidade da mesma. Tschope

(2001, p.27) cita que a água deve conter as seguintes características: “Teor máximo

de ferro = 0,1ppm; Teor máximo de manganês = 0,1ppm; Dureza total, teor máximo

de carbonato de cálcio = 100ppm; e Oxigênio necessário para oxidar a matéria

orgânica (DQO) – máximo = 2,0ppm”.

Os sais presentes na água, provocam mudanças no pH do malte e do mosto,

sendo que os íons de bicarbonato, ao serem aquecidos na mosturação, concebem

aumento. Já os íons de cálcio e magnésio, na mesma etapa, reage com os fosfatos

secundários, formando fosfatos terciários, que são insolúveis, e prótons diminuindo o

pH, mantendo ótimas condições para o bom funcionamento das enzimas do malte.

O sabor amargo desagradável na cerveja é alcançado por uma elevada

concentração de sulfato de magnésio. Sais de manganês e de ferro possibilitam

turvação e alteração de sabor. Outros minerais importantes que influenciam

diretamente no resultado do processo, são o cobre e o zinco, sendo que em

pequenas quantidades, são importantes para o crescimento das leveduras e, em

quantidades elevadas, turvam a cerveja (BELITZ; GROSCH, 1992; JACKSON,

2007).

As características minerais da água, ou “terroir”, são específicas para cada

região, sendo que tais particularidades determinam estilos diferentes de cerveja.

Como exemplo a água de Dublin, capital da Irlanda, que possui elevados níveis de

dureza3, possibilitando o desenvolvimento do estilo stout, como a Guinness. Na

cidade de Plzeň (República Tcheca), a água mole permitiu a elaboração da primeira

cerveja Pilsen (Pilsener Urquell) da família Lager (EDWARD, 2009; VARNAM;

SUTHERLAND, 1997).

Os parâmetros de dureza eram imutáveis, porém a partir do avanço

tecnológico, principalmente na área da química moderna, os cervejeiros podem

produzir o equilíbrio de minerais necessário na bebida devido ao ajuste pré-

estabelecido na água. Faz, dessa forma, com que a qualidade da cerveja elaborada

não seja mais dependente da casualidade e principalmente das características da

água provenientes de onde a cervejaria está localizada (JACKSON, s.d.).

3 Niveis de Dureza - refere-se à concentração elevada de carbonato de cálcio e magnésio,

além de íons propiciados pela quantidade de metais presentes na água (JACKSON, s.d.).

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32

Os fins destinados ao uso da água em uma cervejaria, sendo de pequeno ou

grande porte, são desde a obtenção da cerveja finalizada, até serviços que

necessitam da água como meio de trabalho, como a utilização desta em caldeiras de

vapor e sanitização dos equipamentos. De acordo com estes dados, a indústria de

cerveja gasta em torno de 4 a 10 vezes mais em volume de água, a cada litro de

cerveja processada (LAUX, 1997; VENTURINI; CEREDA, 2001).

3.3.2 Malte

3.3.2.1 Cevada

O cultivo da cevada é realizado há mais ou menos 10 mil anos, tendo sua

origem na Mesopotâmia, região localizada no que hoje é denominado Oriente Médio,

e se difundiu para outros locais, como a região norte da África, e os continentes

asiático e europeu. Esse grão, cultivado e conhecido há milhões de anos, foi

substituído pelo trigo com o decorrer do tempo na alimentação do homem. A cevada,

demonstrada na Figura 14, é o quarto cereal mais importante no planeta, estando na

frente o trigo, seguidos pelo milho e arroz. Isso, porém, não fez com que fosse

deixada de lado, pois é destinada tanto para a fabricação de cerveja e uísque,

quanto para a ração de animais (BRIGGS, 2001; LIMA, 2010).

Figura 14: Cevada Fonte: GLOBORURAL (2010)

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33

O clima frio é o mais adequado para o seu plantio. É semeado no inverno e

colhido no verão. No Brasil, seu cultivo se estende na região sul, sendo que exige

uma pluviosidade amena e boas condições de luminosidade. Já o solo, não pode ser

ácido, mal drenado e arenoso. A concentração de nitrogênio e fósforo deve ser

adequada para a plantação dos grãos de cevada, que serão destinados à fabricação

de malte (BRIGGS, 2001; LIMA, 2010).

A família em que a cevada está inserida é a das gramíneas e seu gênero

Hordeum possui mais de 32 espécies, além das híbridas ou transgênicas. São

encontrados dois tipos de variações na espécie, uma de duas e outra de seis fileiras

em cada espiga (Figura 15). A cevada de duas fileiras possui grãos maiores e mais

uniformes ao ser comparado com a de seis fileiras, pelo fato de conter elevada

concentração de extrato, constituído principalmente por amido. Outra diferença

encontrada entre as duas variedades se dá em relação à quantidade de proteínas,

consequentemente ao teor das enzimas, o qual a de seis fileiras contém maiores

teores se comparada a de duas. Dessa forma, a variedade a ser escolhida

dependerá do tipo de cerveja a ser produzido, de acordo com as necessidades do

processo (BRODERICK et al., 1977; LIMA, 2010; REINOLD; 1997; VENTURINI;

CEREDA, 2001).

Figura 15: Diferença entre a cevada de duas e seis fileiras Fonte: HUMMCERVEJA (2009)

O grão de cevada é composto principalmente pela casca, a camada de

aleurona, o endosperma e o embrião (Figura 16). A casca possui a função de

proteger o grão, contendo em sua formulação hemiceluloses, proteínas, resinas e

taninos. Além disso, a casca é mais grossa na cevada de seis fileiras, tendo por

volta de 10% do peso do cereal (BRODERICK et al., 1977; REINOLD, 1997).

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34

Figura 16: Composição do grão de cevada

Fonte: Cabral e Cordeiro, 2011

A camada de aleurona é constituída de um conjunto de células vivas, ricas em

α- amilase, uma enzima hidrolítica. Já o endosperma, concentra toda reserva

alimentícia do grão, representada pelo amido. Este carboidrato é composto por 30%

de amilose, fração linear da molécula, a qual contém ligações α-1,4 de unidades de

D-Glucose; e a amilopectina (fração ramificada), representativa dos outros 70% do

amido (BRODERICK et al., 1977; CABRAL; CORDEIRO, 2011; VENTURINI;

CEREDA, 2001).

O malte é obtido por meio da germinação de um determinado cereal, sendo a

cevada a mais apropriada para esse processo, pois propicia sabor superior a outros

cereais. Além disso, contém altos teores de amido, e de enzimas aminolíticas e

proteolíticas, que colaboram no rendimento ao se obter o malte. Esse componente é

o ingrediente que mais influencia no sabor, aroma, cor da cerveja e espuma, pois

para cada hectolitro de cerveja a ser elaborado, utiliza-se em torno de 15 a 17 kg de

malte (REINOLD, 2010, s.d.; TSCHOPE, 2001; VENTURINI, 2005).

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35

A atuação enzimática, presente no malte de cevada, e fundamental para a

qualidade da cerveja, é conhecida como poder diastásico, que consiste na

capacidade da enzima na transformação do amido, presente no grão maltado, em

açúcares disponíveis para fermentação alcoólica. Comercialmente, o poder

diastásico de um grão é avaliado em conjunto ao seu valor econômico, para a

escolha adequada do cereal que será utilizado para obtenção do malte.

Tecnologicamente, um maior poder diastásico, contribui para obtenção de uma

maior densidade ao produto final, além de atribuir sabor e aroma durante o processo

de um determinado tipo de cerveja (KALNIN, 1999; VENTURINI, 2005).

Os maltes podem ser classificados como de base ou especiais, os quais se

diferenciam pela quantidade representativa do total utilizado e os efeitos que

proporcionam (Figura 17). Sobre os maltes de base, a porcentagem desses é maior

em relação aos especiais, e proporciona a cerveja maior concentração de extrato,

além de fornecer grande parte do poder enzimático. Já os maltes especiais,

atribuem à cerveja características marcantes que proporcionam ou atenuem suas

propriedades, como a presença de proteínas de médio peso molecular que

beneficiam a estabilidade da espuma, ou até mesmo a cor e o sabor. A quantidade

de uso e o poder diastásico proporcionado por este tipo de malte é considerado bem

inferior em relação ao malte de base. Contudo para determinado tipo de cerveja a se

fazer, o encarregado cervejeiro, pode-se utilizar de um a dois tipos, ou dependendo

do que é desejado, emprega-se de sete a oito diferentes tipos de malte especiais

(REINOLD, 2010).

Figura 17: Maltes com temperaturas diferentes de torrefação Fonte: EMPÓRIOSÂOPATRICIO (2010)

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36

3.3.2.2 Trigo

Pertencente ao gênero Triticum, além de ser da mesma família que a cevada

(Gramineae), o trigo é lavrado a mais de 6000 anos a.C. na região sudoeste da Ásia.

Com a sua expansão pelo mundo no decorrer do tempo, esse grão passou a ser o

mais cultivado e a ter mais lavouras no mundo. Devido a isso, o trigo teve que sofrer

adaptações de acordo com o clima e o solo, possibilitando a obtenção de diferentes

variedades. O primeiro contato deste cereal com o Brasil foi por intermédio de

Martim Afonso de Souza, acompanhado da primeira muda de cana-de-açúcar. Mas

a plantação de trigo só passou a ser importante, quando os colonos italianos vieram

para a região do Rio Grande do Sul no ano de 1862 (BRIGGS, 2001; LIMA, 2010).

Hoje, com os avanços agrícolas, a plantação de trigo no país se estende

desde a região sul até o Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. Adotando a cultura de

inverno, com rotação de cultura de soja, e lavouras de sequeiro. Por ser da mesma

família que a cevada, o trigo apresenta a mesma morfologia, só que existe

diferenças em relação às concentrações de cada constituinte do grão, como

exemplos os teores de proteína, amido, umidade, entre outros (BRIGGS, 2001;

LIMA, 2010).

Esse cereal é destinado para a alimentação humana e de animais. Referente

ao primeiro caso, o trigo é usado nas indústrias de etanol, amido e glutamato de

monossódico, como também em bebidas alcoólicas e principalmente a moageira,

através da moagem do grão para produção de farinha. A classificação de acordo

com a dureza do grão é dada pelo grau de infestação, teste de moagem, e a

lavagem do glúten, determinando, dessa forma, a porcentagem desse componente

protéico. O rendimento agrícola é outro parâmetro que classifica o trigo analisando

diretamente o quanto de volume foi produzido. Além disso, o trigo apresenta um

valor nutritivo melhor se comparado à cevada, por possuir mais elevada taxa de

proteínas, e igual ao do milho. (LIMA, 2010).

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37

Para a fabricação das cervejas de trigo, utiliza-se no mínimo 50% de malte

desse cereal, podendo chegar até índices de 100% dos maltes empregados para

produção dessa determinada cerveja. O malte de trigo pode ser utilizado também

nas cervejas em que o malte de cevada é comumente empregado, em concentração

de 3 a 10 %, devido a sua maior quantidade de proteínas, em relação à cevada,

propiciando ao produto uma melhor clarificação, maior estabilidade de espuma e

uma característica tátil bucal, ou paladar mais encorpado, perceptível por um realce

da redondez do sabor. Outra diferença constatada é a diferença existente na

comparação do malte de trigo europeu em relação ao americano, sendo que o

primeiro possui maior quantidade de enzimas que o segundo, devido às variedades

de trigo empregadas no processo de malteação, ou até mesmo em alterações nas

técnicas utilizadas (JACKSON, 2007; KUNZE, 1996; REINOLD, 2010).

Ao se utilizar proporções maiores que 70% de malte trigo, há a necessidade

de compensar o restante com o malte de cevada, pois se deve conter uma

quantidade substancial de nitrogênio assimilável para o desenvolvimento da

levedura. Também, o conteúdo de glicose adicionada ao mosto pode ser aumentado

de 35 a 40%, para que haja a formação de mais produtos secundários, como o

acetato de etila e acetato de isoamila. As quantidades desses últimos compostos

modificam-se de acordo com a composição do mosto. O acetato de isoamila é

responsável pela formação de aroma de banana presente na cerveja de trigo

(KUNZE, 1996).

Para as cervejas de trigo do tipo Hefeweizen, pode-se utilizar maltes claros ou

escuros, sendo que os primeiros possuem de 8 a 14 unidades, e os segundos de 25

a 60 unidades EBC4. Além disso, emprega-se de 50 a 100% de malte de trigo na

fabricação deste subtipo de cerveja. A cor amarelo-marrom é obtida pela adição de

malte caramelo e malte de trigo mais escuro ou torrificado. O tipo Kristallweizen

possui coloração de 8 a 12 unidades de EBC, e usa-se de 50 a 70% de malte de

trigo claro, além de maltes especiais com poder mais corante (KUNZE, 1996).

O trigo, sem o processo de maltagem, é utilizado em uma porção de 30 a

40% nas cervejas belgas do tipo Lambic (KUNZE, 1996).

4 EBC (European Brewing Convention) - é a medida de cor do malte usado para se fazer a

cerveja (JACKSON, s.d.).

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38

3.3.3 Adjuntos

Venturini (2005, p 355) define os adjuntos, como: “materiais carboidratos não-

malteados de composição apropriada e propriedades, que beneficamente

complementam ou suplementam o malte de cevada”. Para isso, utilizam-se fontes

amiláceas de diferentes produtos, os quais são obtidos de diversos cereais, que

sofrem adequados processos de beneficiamento. Esses cereais são representados

pelo milho, trigo, centeio, sorgo, aveia e arroz (BAMFORTH, 2005; VENTURINI;

CEREDA, 2001).

Dentre os complementos mais utilizados na indústria cervejeira brasileira,

destacam-se a quirera de arroz (grão partido), por possuir menor custo e conter alto

teor de amido (Figura 18); e o milho moído e desgerminado, conhecido

comercialmente como gritz (Figura 19). Esses proporcionam a fabricação de

cervejas mais doces e encorpadas. A partir desse polissacarídeo, as enzimas

presentes, após a preparação do malte de cevada, atuarão levando à formação de

carboidrato fermentescível (REINOLD, 1990; VENTURINI; CEREDA, 2001).

Figura 18: Quirera de arroz Figura 19: Gritz de Milho Fonte: CLICMERCADO (2011) Fonte: Kowalski (2011)

Outra forma importante de complementação é a utilização direta de açúcares

fermentescíveis (maltose, sacarose, açúcar invertido, glicose, entre outros), o que

permite disponibilização rápida do material a ser metabolizado pelas leveduras,

evitando assim, a etapa da sacarificação (REINOLD, s.d.; VENTURINI, 2005).

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39

Dentre esses adjuntos que disponibilizam açúcar fermentescível diretamente

ao mosto, encontra-se, principalmente, o xarope de alta-maltose que minimiza

problemas na brassagem, fermentação e maturação. É obtido do amido do milho,

através da realização das etapas de gelatinização (as moléculas de amido em

contato com a água quente, possibilitam a formação de uma solução mais viscosa,

facilitando a atuação da α-amilase), liquefação (quebra das cadeias de amido pela α-

amilase, reduzindo assim a viscosidade), e por fim a açucaração com a atuação

conjunta das (REINOLD, 1990; VARNAM; SUTHERLAND, 1997; VENTURINI, 2005;

VENTURINI; CEREDA, 2001):

α-amilases - continua a decompor as cadeias de amilose e amilopectina até a

formação de dextrinas, que são cadeias insolúveis compostas de 7 a 12

unidades de glicose;

β-amilases - responsável pela formação das cadeias de maltose, composta

por duas unidades de glicose.

Segundo Reinold (1997), a composição desse xarope contém cerca de 45 a

60% de maltose, 2 a 7% de glicose, 25 a 30% de maltotriose, e 9 a 23% de

dextrinas.

A utilização destes adjuntos pela maioria das cervejarias justifica-se,

principalmente, na elaboração de cervejas mais leves comparadas às elaboradas

com malte puro, na melhoria da estabilidade coloidal que aumenta a validade de

prateleira do produto, na redução do teor de proteínas ou nitrogênio, fator que

diminui a probabilidade de contaminação por bactérias láticas, além de ser simples

em seu manuseio e armazenagem, e eventualmente reduzir os custos durante o

processo (LAUX, 1997; VENTURINI; CEREDA, 2001).

Outro adjunto, o caramelo, é mais usado como corante na obtenção de

cervejas especiais (tipo de malzbier), do que como fonte de material fermentescível.

É obtido por meio da degradação de açúcares, como a sacarose, sendo que as

ligações glicosídicas são quebradas, abrindo, dessa forma, o anel hemiacetálico e,

posteriormente, formam-se polímeros insaturados. Esse processo ocorre, com o

aquecimento da sacarose, ou até mesmo xarope de glicose, com sais ou ácidos de

amônio, formando assim produtos que proporcionam sabor e aroma, além da cor

típica das cervejas escuras (REINOLD, 1990; RIBEIRO; SERAVALLI, 2004;

VARNAM; SUTHERLAND, 1997).

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40

Pode-se também, utilizar outros cereais maltados ou não para a obtenção de

outras cervejas, podendo ser tanto em grandes ou pequenas quantidades, como:

milho, centeio, milho arroz, sorgo, aveia. Em relação ao ultimo caso, ao se empregar

a aveia, observará uma maciez de seda; em relação ao milho, esse acarreta a

cerveja, características mais claras e luminosas; já o uso do centeio, proporciona a

um gosto mais temperado (JACKSON, 2007; TSCHOPE, 2001).

3.3.4 Lúpulo

Registrados nos anos de 1098 a 1179, os textos de santa Hildegarda,

abadessa da abadia beneditina de Rupertsberg, foram os primeiros a citar do uso do

lúpulo na obtenção da cerveja. Anteriormente, porém, já houveram relatos, na região

entre Letônia e Suécia, do uso de chá de lúpulo para esterilizar equipamentos, antes

de se iniciar um serviço (JACKSON, 2007).

O lúpulo ou Humulus Lupulus é uma trepadeira de aproximadamente 5 a 7

metros de altura, que está inserido na família das moráceas, a qual é conhecida

como Cannabinaceae. O lúpulo tem um parentesco com a planta Cannabis, contudo

o primeiro não possui substâncias alucinógenas em sua composição. Para a

produção de cerveja, o lúpulo empregado, é proveniente de flores femininas não

fecundadas (Figura 20) (BRODERICK et al., 1977; VENTURINI; CEREDA, 2001).

Figura 20: Lúpulo Fonte: CHARLESBRENSONBIER (2010)

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41

Sua planta é cultivada em climas frios durante dias longos, sendo que dentro

de sua flor, há bolsas que armazenam a lupulina, como demonstrado na Figura 21.

Por meio da coloração desse componente, define-se o estágio de amadurecimento

do lúpulo; tonalidades incolores representam o estado inicial de desenvolvimento e a

coloração amarelo-ouro brilhante determina o estado de maturação, percebendo-se

um aroma agradável com cheiro de resina fresca. Já a cor marrom-avermelhada,

aparece de acordo com o passar do tempo, possuindo um aroma desagradável, o

que determina a impossibilidade de uso deste lúpulo para fins cervejeiros (LAUX,

1997; REINOLD, 1990).

Figura 21: Bolsas internas do lúpulo, que contém a lupulina Fonte: SAÚDEPELASPLANTAS (2011)

Essa substância contém compostos aromáticos, que são voláteis como no

caso do óleo essencial e o ácido beta. Além disso, paralelamente com o álcool e o

dióxido de carbono, o lúpulo possui ação de conservante natural pela presença de

polifenóis, ricos em taninos. Também contém resinas amargas, representadas pelo

ácido alfa ou humulonas, que dão o sabor característico amargo. Esses, por sua

vez, são isomerizados quando o mosto é fervido, possibilitando a formação de iso-

humulonas, que ao ser comparado com os alfa-ácidos, são compostos mais

amargos e mais solúveis (VARNAM; SUTHERLAND, 1997; VENTURINI, 2005;

VENTURINI; CEREDA, 2001).

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42

Todos os componentes citados tornam o lúpulo fundamental para o processo

cervejeiro, pois possibilita ao produto final, características sensoriais, como o

amargor e aroma. Juntamente, o lúpulo auxilia na coagulação das proteínas de alto

peso molecular, presentes no mosto, o que beneficia a estabilidade da cerveja (JAY,

2005; KALNIN, 1999; REINOLD, 1990).

Os lúpulos mais comumente conhecidos são provindos da Europa, dentre

eles se encontra o lúpulo Saaz, originário da região da Boêmia, dos arredores da

cidade de Zatec do país Republica Tcheca. Esse lúpulo é utilizado classicamente na

obtenção da cerveja Pilsen, o qual apresenta um buquê floral e delicado. Outros

lúpulos, que se localizam próximos a Munique na Alemanha, são o Hallertau e

Tettnang, contém características mais aromáticas. Já na região da Bélgica e da

Baviera, o lúpulo Northdown apresenta um teor elevado de acidez, ou seja, alfa e

beta ácidos, conferindo assim amargor à cerveja. Outro lúpulo conhecido, mas

localizado na cidade de Washington nos EUA, é o Cascade, que se diferencia por

apresentar aromas cítricos (JACKSON, 2007).

É comercializado em três diferentes formas. A primeira utiliza a flor

naturalmente, contudo é pouca utilizada nos processos cervejeiros realizados nos

dias atuais. Outra forma é em pellets, o qual contém o lúpulo em pó concentrado ou

não, possibilitando o fácil manuseio e automação na dosagem deste constituinte na

etapa de cozimento do mosto. O extrato é outra forma comercializada, sendo que o

lúpulo é moído e, através de solventes orgânicos (hexano, metanol), extraem-se

componentes amargos e óleos entéricos, que são novamente vaporizados. Essa

última forma é muito utilizada, devido à economia de espaço, por possuírem maiores

densidades, além de permitir o armazenamento em um tempo prolongado (KALNIN,

1999; REINOLD, 1990; VENTURINI, 2005).

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43

3.3.5 Levedura

A levedura é um fungo, que se reproduz assexuadamente, ou seja, por

brotamento ou até por fissão, podendo originar de cada célula, 20 outras. Apresenta-

se, geralmente, de forma unicelular, estando distribuída em 39 gêneros e cerca de

350 espécies. O seu formato é meio arredondado, possuindo um tamanho de 5 a 8µ

de largura e 6 a 10µ de comprimento (BAMFORTH, 2005; JAY, 2005; REINOLD,

1997; VENTURINI; CEREDA, 2001).

As leveduras podem crescer numa ampla faixa de pH ácido, em até 18% de etanol e em presença de 55 a 60% de sacarose. Podem apresentar diferentes cores, do marfim ao rosa e até o vermelho. Alguns de seus ascósporos e artrósporos possuem alta resistência térmica (JAY, 2005, p 46).

A utilização de leveduras de estrutura microscópica demonstrada na Figura

22, pelo homem na produção de alimentos, vem desde muito tempo atrás, em

processos fermentativos naturais que ocorriam através da concorrência entre

diversos microrganismos do ambiente, como as leveduras, bactérias, fungos,

bolores, além de outros.

Figura 22: Levedura Fonte: CERVEGETARIANO (2011)

Os povos primitivos da região da Ásia, África e América Latina, fabricavam

uma espécie de mingau com diversos cereais, bagas, raízes e sementes misturadas,

que posteriormente era fermentado pelas bactérias e leveduras do meio,

promovendo uma bebida parecida com a cerveja.

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44

A descoberta das leveduras ocorreu no final do século XIX, por Louis Pasteur,

que fez um estudo especifico sobre a atuação fermentativa das leveduras em

cerveja e vinho. Além disso, foi nesta época em que se descobriu a rota da via

metabólica da glicólise, sendo fundamental para compreensão do processo

fermentativo (JACKSON, 2007; VARNAM; SUTHERLAND, 1997; VENTURINI;

CEREDA, 2001).

O conhecimento das propriedades funcionais e suplementares de certa

levedura ou até bactéria, é fundamental, juntamente com a matéria-prima e

processos técnicos adequados, para um cervejeiro fabricar determinado tipo de

cerveja. Para saber qual fermento é mais adequado para tal processo, analisa-se a

habilidade da levedura flocular, ou seja, o comportamento em suspensão dos flocos

formados após a fermentação: se fica acima ou em baixo no tanque. Também é

necessário observar se as leveduras estão eventualmente crescendo durante a

fermentação, aumentando seu peso de 3 a 5 vezes (BAMFORTH, 2005;

VENTURINI, 2005; VENTURINI; CEREDA, 2001).

O avanço técnico e científico alcançado pelo homem gerou na utilização do

cultivo puro de cepas para a fabricação de diversos produtos como a cerveja. O qual

foi obtido, segundo Venturini e Cereda (2001, p 109) pelo: “isolamento de uma única

célula de levedura, que é propagada vegetativamente até alcançar a quantidade

necessária para inoculação do mosto em nível industrial”.

Uma das formas de se isolar a levedura se dá através do uso do bagaço de

malte como matéria prima. A levedura, imobilizada a partir do bagaço de malte, é a

Sacharomyces uvarum, empregada para se fabricar cervejas de baixa fermentação

(LIMA, 2010).

O emprego de uma cultura pura assegura à cervejaria a não contaminação

por outros microrganismos, apresentando um maior rendimento em relação às cepas

cultivo misto. O armazenamento deste tipo de cultura é feito em meios sólidos

inclinados e líquidos, sendo todos conservados em temperatura fria de -4°C. E para

não se ter contato com o oxigênio, a fim de um adequado desenvolvimento da

levedura, pode-se usar parafina liquida ou ate mesmo óleo mineral em cima da

cultura, proporcionando um ambiente anaeróbico (VENTURINI; CEREDA, 2001).

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45

Para a transformação dos açúcares disponíveis no mosto, em produtos que

determinam o sabor e aroma, como o álcool e o gás carbônico, utilizam-se leveduras

do gênero Saccharomyces. Sendo que as cepas responsáveis por esse processo

são a S. uvarum ou carbengensis e a S. cerevisae, que são utilizadas nas duas

grandes famílias de cerveja, com diferentes tipos de fermentação, delimitando-as

como tal. A baixa fermentação é feita pela S. uvarum na temperatura de 7 a 15°C

durante 7 a 10 dias, o qual se sedimenta no fundo do tanque, após a fermentação

tumultuosa, produzindo cerveja do tipo Lager. São responsáveis por abaixar o pH do

mosto para aproximadamente 3,8. A cerveja tipo Ale é obtida pela alta fermentação

com a cepa S. cerevisiae, que flocula na superfície do tanque durante a fermentação

tumultuosa, entre 18 e 22°C por um período de 3 a 5 dias, e reduzem o pH do meio

a 4,1 a 4,2 (JAY, 2005; LAUX, 1997; TSCHOPE, 2001; VARNAM; SUTHERLAND,

1997).

Sabe-se que somente os açúcares primários (glicose e frutose) serão

diretamente fermentados pelas leveduras, e que as dextrinas e os polissacarídeos,

não o são. Os demais carboidratos necessitam de uma ação enzimática para serem

assimilados pela levedura. No caso da sacarose, essa é dissociada em glicose e

frutose, pela invertase fora da célula da levedura, sendo depois difundida para

dentro da levedura e metabolizada. Já a maltotriose e a maltose, que possuem três

e duas unidades de glicose, são levadas para o interior da levedura pela enzima

permease, os quais se transformam em glicose por outra enzima conhecida como

maltase (REINOLD, 1990; 1997)

A diferença metabólica que permite separar as cepas lager e ale, é a

capacidade da primeira poder fermentar o açúcar melibiose, por conter a enzima α-

galactosidase ou melibiase, que transforma a melibiose em glicose e galactose.

Esse dissacarídeo, que foi transformado, junto com a frutose forma o trissacarídeo

rafinose. Sendo assim, a levedura S. uvarum consegue metabolizar integralmente a

rafinose, já a levedura S. cerevisiae, que não contém a melibiase, só alcança a

fermentação de um terço da rafinose, pois somente a frutose é metabolizável. Além

do tipo de açúcar que determinado fermento poderá fermentar, averigua-se a

quantia de oxigênio que cada um necessita para poder crescer, e a diferença de

tipos e quantidade de metabólitos formados após a fermentação (BAMFORTH,

2005; KUNZE, 1996; REINOLD, 1997; VENTURINI, 2005).

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46

Outra diferença entre essas cepas é sua capacidade de esporular. Em

condições impróprias do meio (pH, temperatura, oxigênio),a levedura não consegue

agir formando, assim, esporos, que a protege do meio, e somente se desporula,

quando essas condições forem viáveis para sua atuação. As leveduras de alta

fermentação formam os esporos após 48 horas, e as leveduras de baixa

fermentação, possuem a uma pequena capacidade de esporular (KUNZE, 1996).

Além das leveduras citadas, para diferentes estilos de cerveja, têm-se cepas

respectivas para propiciar a fermentação. No caso das lambics, utiliza-se a

Brettanomyces, uma cepa de levedura selvagem que em conjunto com uma bactéria

lática fermentam a cerveja. Já em relação à cerveja Bavarian weissbier (cerveja de

trigo), emprega-se a levedura Torulaspora delbrueckii (BRIGGS, 2004; EDWARD,

2009; HARDWICK, 1995).

As leveduras de alta fermentação, como as que são utilizadas para a

fabricação de cerveja de trigo, conseguem desenvolver uma quantia considerável de

produtos ou metabólitos secundários, os quais são importantes para a formação de

aromas e sabores. Essas leveduras possuem a capacidade de descarboxilar o ácido

ferúlico, um agente antioxidante presente também no milho e no farelo de arroz.

Esse ácido, presente no mosto, ao ser descarboxilado pelas leveduras, é

transformado em 4-vinil-guaiacol. A degradação das pentosanas libera o ácido

ferúlico, sendo favorecido por um pH do mosto entre 5,7 a 5,8, pelo emprego de

40% de malte de cevada, e uma maceração em repouso na temperatura de 35 a

40°C. O 4-vinil-guaiacol, produto secundário de fermentação, é formado na

quantidade de 0,5 a 3,0 ppm, pelas leveduras da cerveja de trigo. Junto a esse

metabólito, produz-se também o 4 vinil fenol na proporção de 0,1 a 0,7 ppm

(KUNZE, 1996; LIN, 2003).

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47

3.3.6 Leveduras Selvagens

Considera-se que são as demais cepas de leveduras, diferentemente das que

são cultivadas para a fabricação de cervejas de alta e baixa fermentação. Ao se

fazer certo tipo de cerveja, com o gênero adequado de levedura, e esta sofrer

contaminação por outras leveduras, que não as cervejeiras, haverá competição

pelos constituintes do mosto, formando-se produtos considerados “off flavor”, ou

seja, não desejados para cerveja. No caso de contaminação, por outro gênero

cervejeiro, esse acarretará problemas referentes à atenuação final5, modificação na

velocidade de fermentação, floculação, além de um paladar diferente do desejado

(VENTURINI; CEREDA, 2001; VENTURINI, 2005).

Alguns tipos de cerveja utilizam certas cepas de levedura selvagem, em seu

processo fermentativo, os quais são relevantes para determinar suas características

sensoriais e de identidade.

A maioria das cervejas belgas é fermentada por leveduras especiais, que

complementam o convencional processo fermentativo em garrafas.. Empregam-se

também outros gêneros de leveduras como Brettanomyces, Candida, Hansenula e

Pichia (BAMFORTH, 2005; KUNZE, 1996;).

3.3.6.1 Brettanomyces

Gênero de levedura não formador de esporos. Com células de formato ogival,

desenvolvem-se por brotamento. Em condições aeróbicas, este gênero produz acido

acético a partir da glicose. Deste modo poderá causar deterioração na cerveja.

Entretanto possuem a capacidade de participar nas etapas de pós fermentações,

levando à produção de compostos favoráveis à certos tipos de cervejas (HUGHES;

BAXTER, 2001; JAY, 2005).

5 Atenuação final - se refere a diferença entre o extrato primitivo do mosto e o extrato aparente em

qualquer fase do processo de fermentação. Por exemplo, um mosto contém 12% de extrato, e após a fermentação sobrou 4%, conclui-se que a atenuação final foi de 66,6%.

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48

3.3.6.2 Candida

Reproduz-se por brotamento e possui mais de três espécies, principalmente

encontrada em carnes cruas de gado e de frango. Além desses alimentos, esse

gênero pode participar da fermentação dos grãos de cacau, ser componente de

grãos de kefir, e também do processo de fabricação das cervejas Ales (JAY, 2005).

3.3.6.3 Pichia

Desenvolve-se por brotamento, apresentando formação de esporos em forma

de chapéu nos ascos. Proporcionam deterioração em picles e chucrute, além de

crescerem em salmoura de azeitonas. (JAY, 2005).

3.3.7 Bactérias

Dividem-se como gram positivas e negativas, sendo que as primeiras são

responsáveis pela maioria das contaminações em cervejas de estilo Pilsen, como as

bactérias láticas dos gêneros Lactobacillus e Pediococcus. Já as segundas,

compostas por bactérias acéticas, enterobactérias, além de outros como

Zymomonas, Megasphaera e Pectinatus, produzem ácido acético, acetaldeído e gás

sulfídrico, além de ácido butírico (VENTURINI; CEREDA, 2001; VENTURINI, 2005).

Além das leveduras selvagens, empregam-se, nas cervejas belgas, bactérias

láticas que produzirão ácido lático favorecendo a elaboração de sabores com notas

mais suaves. As variações apresentadas, em relação ao uso do microrganismo que

propiciará a fermentação das diversas cervejas belgas, caracterizam a possibilidade

de obtenção de sabores variados, tornando essas mais interessantes em

comparação as demais cervejas. As bactérias láticas, utilizadas para fermentação

das cervejas belgas, podem ser Pediococcus e Lactobacillus (BAMFORTH, 2005;

KUNZE, 1996;).

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49

3.3.7.1 Lactobacillus

Bactérias gram-positivas que possuem forma de bastonetes com cadeias

longas. Estão presentes, principalmente, em produtos lácteos, assim como em

vegetais e cervejas de alta fermentação (Ale). As espécies presentes neste gênero

podem ser tanto microaerófilas quanto aeróbias, os quais propiciam muitos dos

produtos fermentados na área de alimentos. Produzem, muitas vezes, metabólitos

indesejáveis, como a molécula precursora do diacetil, sendo esta uma cetona, que

acarreta a bebida um sabor de manteiga (HUGHES; BAXTER, 2001; JAY, 2005;

VENTURINI; CEREDA, 2001).

3.3.7.2 Pediococcus

Bactérias láticas homofermentativas em formatos de cocos. Ao fermentar o

açúcar produzem somente ácido lático. São encontradas principalmente nas

cervejas de baixa fermentação (Lager), como contaminantes que disputam o

substrato a ser fermentado (JAY, 2005).

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50

3.4 Processos

Como visto anteriormente, o malte é uma das matérias primas utilizadas na

fabricação da cerveja. Porém o seu processamento requer um espaço de tamanho

industrial, devido a variedades de malte que se pode obter, além da tecnologia

empregada na malteação. Em conta disto, os maltes são elaborados nas maltarias,

e posteriormente são comercializados para cervejarias e microcervejarias em

grandes ou pequenas quantidades, de acordo com a demanda do mercado

(VENTURINI; CEREDA, 2001; TSCHOPE, 2001).

3.4.1 Maltaria

A Figura 23 representa o fluxograma dos processos que ocorrem na maltaria.

Figura 23: Fluxograma de uma

Maltaria Fonte: Tschope (2001) (Elaboração própria)

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51

Após a colheita, os grãos de cevada são transportados até as maltarias, onde

são inspecionados para serem aceitos, por análises de umidade com o limite

máximo de 13%; teor de proteína entre 9 e 11% para fabricação de cervejas claras e

superior a 12% para cervejas escuras; microbiológicas; e, principalmente, de poder

germinativo ,o qual é determinado pelo aparelho Vitascope, em que seu valor deve

ser superior a 96%, para possibilitar ótimos resultados na malteação (REINOLD,

1997; TSCHOPE, 2001).

Além desses testes, avalia-se a porcentagem de impurezas que contém o

lote, podendo ser terra, pedaços de palha, pedaços de saco, pedras, resíduos

metálicos, sementes e grãos de diferentes tamanhos, entre outros. Um lote 65 a 75

kg/hL, considerado de boa qualidade, deve ter abaixo de 3% de índice de

impurezas. A porcentagem de extrato6 para a cevada de seis fileiras é de 77,5%. Já

para os grãos de cevada de duas fileiras este teor é no mínimo de 77,5 a 81%

(CABRAL; CORDEIRO, 2011; LIMA, 2010).

Para se transportar adequadamente os grãos a granel durante seu processo

de beneficiamento, utilizam-se sistemas variados para sua locomoção tanto na

maltaria, quanto na cervejaria. Esses meios de transporte podem ser verticais

(elevador de canecas); horizontais (rosca helicoidal, corrente, ou correia); além dos

pneumáticos, que transportam a própria cevada, ou até partículas mais leves (LIMA,

2010; (informação verbal)¹).

Posteriormente, ocorre a pré-limpeza, no qual são retiradas as sujidades, por

peneiras vibratórias, que poderiam gerar danos à qualidade do malte a ser

elaborado, devido à presença de microrganismos e matéria orgânica. Esses são

oriundos do processo de debulhamento da colheita realizado pelas máquinas. Além

disso, utilizam-se imãs para retirar metais dos grãos, que nos processos posteriores

poderiam ocasionar explosões (CABRAL; CORDEIRO, 2011; LIMA, 2010;

TSCHOPE, 2001).

6 Extrato é definido como: “teor de materiais solúveis obtidos quando da preparação do mosto para a

fermentação” (LIMA, 2010, p 96)

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52

Segundo Reinold (2011f), após a passagem dos grãos pelo imã, os mesmos

são encaminhados para o Trieur, equipamento que separa os grãos partidos de

cevada de sementes de ervas nativas e, posteriormente, encaminham-nos para os

crivos, denominados Plansichter, onde são peneirados e classificados de acordo

com seu tamanho (informação verbal)7.

De acordo com a sua classificação, os grãos de cevada são dividos em três

classes, segundo a portaria nº 691 de 22 de novembro de 1996, sendo os de 1ª

classe os grãos, que ficarem retidos, ao se utilizar peneira de 2,5mm de largura; os

de 2ª classe os grãos que passarem na peneira de 2,5mm de largura, e ficarem

retidos na peneira de 2,2mm de largura; já os de 3ª classe são aqueles que passam

pela peneira de 2,2mm de largura. Para fins cervejeiros, utilizam-se as 1ª e 2ª

classes, já a 3ª é destinada diretamente à ração animal, por possuir diâmetro

impróprio para a fabricação de cerveja, sendo denominada de cevada forrageira ou

cevadilha (BRASIL, 1996; BRODERICK et al., 1977; LIMA, 2010; REINOLD, 1997).

Após a classificação, os grãos são secos para que seu teor de umidade não

ultrapasse 15%, tendo-se o cuidado para não vitrificação do grão, que ocasionaria,

devido à secagem intensa, a morte do mesmo. Os grãos, então, são armazenados

em silos, cujo controle da temperatura, umidade e oxigênio é muito importante para

se manter, por tempos prolongados, a mesma qualidade. As condições apropriadas

colaboram, também, para que a cevada vença o período de dormência, que varia de

4 a 6 semanas, fundamental para que atinja seu grau máximo de energia a fim de

que germine (BRODERICK et al., 1977; CABRAL; CORDEIRO, 2011; TSCHOPE,

2001).

Problemas comuns nesse setor, que devem ser evitados pelos processadores

são: explosão de pó, contaminação microbiana, desgastes de máquina e doenças

respiratórias de colaboradores, que atuam na linha relacionada, advindas do pó

inalado. De acordo com Reinold (2011f), as últimas são combatidas por um sistema

pneumático, que aspira todo ar presente no sistema de transporte, peneiras,

secador, e outros equipamentos, mantendo assim o ar despoluído e com mínimos

riscos de explosão de pó (informação verbal)7.

7 . Informação verbal concedida pelo mestre cervejeiro Matthias Reinold, em palestra na FTT, no dia

06 de setembro de 2011.

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53

O processo de obtenção do malte para se ter uma germinação homogênea, é

iniciado a partir do aumento da umidade dos grãos para teores entre 44 e 48% a

temperaturas de 14 a 18 °C. O aumento da umidade propicia a quebra da dormência

do grão, o que gera, concomitantemente, um aumento do quociente respiratório,

estimulando assim a atividade das enzimas e, por fim, o brotamento do embrião.

Esses são acondicionados em tanques de água, com 14m de diâmetro na

temperatura de 16°C, por períodos úmidos de 3 a 5 horas, e depois em momentos

secos com duração de 18 a 20 horas. Nesses tanques insufla-se ar, agitando assim

os grãos na água, o que gera uma incorporação do oxigênio no próprio grão,

permitindo o desenvolvimento do embrião (LIMA, 2010; REINOLD, 2011g;

TSCHOPE, 2001).

Posteriormente, são colocados em caixas de germinação, onde a temperatura

e oxigênio fornecidos são controlados para síntese das enzimas. Nesta etapa

verifica-se o desenvolvimento da radícula e acrospira (órgãos representantes do

embrião), que ocorre devido à presença de componentes nutritivos no próprio grão e

do oxigênio. Sendo que os carboidratos disponíveis, por exemplo, derivados das

moléculas de amido, são queimados devido à respiração, formando calor, CO2, e

vapor de água. O corpo farinhoso sofre, também, modificações, pois a água que

entrou no grão anteriormente fez com que os hormônios internos, ácido giberélico, e

gibelirina A, difundam-se para aleurona, formando diversas enzimas, como a α-

amilase e a β-amilase. Essas transformam o amido, presente no grão, em açúcares,

fornecendo energia para que o embrião respire e desenvolva, o qual isto é

perceptível visualmente pelo crescimento da radícula e plúmula (CABRAL;

CORDEIRO, 2011; LIMA, 2010; REINOLD, 2011g).

Lima (2010) comenta que, em certos casos, nas maltarias, adiciona-se ácido

giberélico antes e durante a germinação, na concentração de 0,25 mg/kg de cevada.

Esse procedimento proporciona certas vantagens, como o aumento de 1 a 3% de

extrato do malte e do volume do malte verde, redução de 2 a 3 dias do tempo de

maceração, além de quebrar a dormência do grão e maltar com técnicas de abrasão

cevadas de qualidade inferior. Em relação às desvantagens, aumenta-se a

intensidade da cor de maltes claros, produz-se quantidade elevada de nitrogênio

solúvel e, além disto, percebe-se um crescimento maior das radículas, devido o

aumento do quociente respiratório, havendo assim perdas no decorrer da maltagem

(LIMA, 2010).

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54

Após o processo germinativo, tem-se como produto o malte verde, que é

altamente susceptível ao ataque por microrganismos, havendo, dessa forma, a

necessidade de ser seco em duas etapas, sendo a primeira realizada para

interromper a germinação, o que possibilita a preservação da atuação de enzimas

no interior dos grãos. Permite, também, a retirada da radícula e acrospira, estruturas

do grão que possibilitam, se presentes, sabor amargo e adstringente à cerveja, além

de serem higroscópicas, ou seja, absorverem água. O sabor amargo, característico

da radícula e acrospira, é proporcionado por serem ricas em proteínas e polifenóis.

Ao serem removidas são destinadas à alimentação de animais (LIMA, 2010;

REINOLD, 2011g; TSCHOPE, 2001).

A temperatura nessa pré-secagem situa-se em torno de 50 a 60°C, o que

possibilita a redução da umidade do malte verde até 10%. As características ideais

do malte são obtidas na secagem final, conhecida também como torrefação, no qual

a temperatura vai de 80°C (cervejas claras) até 105°C (cervejas escuras),

promovendo o escurecimento pela formação das meloidinas, que colaboram no

sabor e aroma pela reação de Maillard e caramelização dos açúcares. Portanto é,

nessa etapa, que se podem originar diferentes tipos de malte usados em cerveja,

devido às diversas temperaturas de torrefação do malte utilizado: Pilsen (85°C); Pale

Ale (95°C); Munich (105°C) (Figura 24). Outros tipos podem ocorrer como o malte

especial carafa que se obtém pela torrefação do malte pilsen; e o malte caramelo, o

qual é torrado após a germinação, numa temperatura superior que o malte munich

(CABRAL; CORDEIRO, 2011; REINOLD, 2011g).

Figura 24: Blend de maltes especiais Munich e Carafa Fonte: CERVEJACASTRUM (2011)

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55

Na Europa, os cervejeiros utilizam normalmente para as cervejas lager o

malte caramelo. Sendo que os nomes referentes a este tipo de malte são Carastan,

Cara, Special B, Extra Special, CaraVienna, e CaraMunich. Os maltes que são

submetidos a temperaturas maiores na etapa de secagem e torrefação, são

considerados maltes torrados, os quais comercialmente se encontram como: malte

âmbar, malte preto, malte escuro, malte chocolate e malte marrom (REINOLD, 2011

e).

A coloração do malte, utilizado para a fabricação de diferentes tipos de

cervejas de especiais, está demonstrada na Figura 25.

Figura 25: Coloração do malte para diferentes tipos de cerveja Fonte: Beer Wiki (2011)

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56

Depois de ser malteado, o grão é armazenado em silos no período entre 15 a

30 dias, com intuito de restaurar as enzimas que foram alteradas com as etapas de

secagem, e homogeneizar a concentração de umidade do malte. Esse período

denomina-se pousio. É fundamental que ocorra, pois se for processado diretamente,

sem haver este descanso, propiciará um mosto turvo, que ocasiona problemas

futuros nas etapas de filtração e fermentação. Esse descanso, também, aumenta a

umidade do malte, fazendo com que os colóides das proteínas e glucanos

recuperem a sua hidratação, favorecendo assim, posteriormente, a moagem do

malte. O malte é enviado para cervejarias só depois de ter sido padronizado as

diferentes bateladas processadas, de acordo com seu tipo, sendo expedido em

sacos de 50 kg, ou a granel (LIMA, 2010; REINOLD, 2003; TSCHOPE, 2001).

O malte levemente tostado apresenta cor mais clara e proporciona sabores

delicados e macios às cervejas. Se for um pouco mais torrado conterá um tom mais

escuro, dando sabor mais doce à bebida, parecendo com biscoito amanteigado. Já

os mais tostados, ainda, propiciarão à cerveja, tons de chocolate e café. Na região

da Baviera localizada na Alemanha, e também nos EUA, o malte é secado em cima

de faia ou amieiro, os quais conferem sabores defumados ao produto (JACKSON,

2007).

Para a fabricação da cerveja tipo Stout, mais de 200 unidades EBC, usa-se

uma mistura de maltes claros e maltes com alta capacidade de propiciar a cor,

podendo ser o malte caramelo e o escuro na proporção de 10 a 20%. A Stout

produzida pela cervejaria Guiness, o qual é a maior fabricante deste estilo, emprega-

se 10% de malte tostado em sua formulação (KUNZE, 1996).

As cervejas trapistas feitas em monastérios utilizam de 10 a 15% de malte

caramelo, além do malte de cevada. Já nas cervejas do tipo Lambic, emprega-se de

60 a 70% de cevada levemente maltada. (KUNZE, 1996).

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57

3.4.2 Cervejaria

A empresa que optar pelas matérias primas a granel, acarretará em um alto

investimento inicial, pois o custo de um sistema de armazenagem a base de silos e

sistemas de transporte para transpor o malte, e outras matérias primas, são

considerados elevados. Este método é utilizado principalmente pelas grandes

cervejarias, devido à grande produção, já as pequenas adotam a utilização de

sacos, os quais são armazenados em ambientes secos e arejados, sem a

proliferação de pragas. Sendo que, a quantidade de malte estocado, deverá suportar

uma produção de até três semanas (BRIGGS, 2001; LIMA, 2010; TSCHOPE, 2001).

Depois de ser expedido pelas maltarias, o malte a granel, recepcionado nas

cervejarias, sofre o mesmo processo que a cevada sofreu até chegar a maltaria. Por

isso a necessidade de retirar amostras de malte do lote para verificação da

qualidade do mesmo pelas análises laboratoriais. Além disso, a característica física

do malte também é avaliada, devendo ser uniforme o tamanho do grão, sem a

presença da radícula, e a espessura da casca não pode ser muito fina, pois poderá

prejudicar no leito filtrante (BRIGGS, 2001; REINOLD, 2003).

Os testes laboratoriais são: teor de aminoácidos no extrato, teor de glucanas,

dureza do malte, viscosidade, além da relação de nitrogênio solúvel e o total. A partir

desses dados, avalia-se a qualidade do malte, o que influencia diretamente no

processo fermentativo (LIMA, 2010).

A cor dependerá do malte analisado, sendo que o malte para obtenção da

cerveja pilsen, apresenta cor amarelo-pardo. È inviável a existência de materiais

estranhos, e muito pó de malte, pois esse último acarreta em perigos presentes e

definitivos aos processos de transporte e aos colaboradores, que atuam no mesmo,

pela explosão de pó (BRIGGS, 2001; REINOLD, 2003).

O armazenamento deverá obedecer ao principio “FIFO” (first in, first out), o

qual o primeiro lote que entra será o primeiro ao sair, devido o malte, advindo de um

grão, possuir um tempo de validade pelo fato de ser altamente nutritivo. Outro fator

verificado é a umidade do malte, que deve estar abaixo de 5% (REINOLD, 2003).

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58

O processamento da fabricação de cerveja compreende as seguintes etapas

conforme a Figura 26: Moagem do malte, Mosturação ou Brassagem, Filtração do

mosto, Cozimento, Decantação, Resfriamento e Aeração, Tratamento da levedura,

Fermentação, Maturação, Clarificação ou Filtração, Envase, e Pasteurização (KUCK,

2008; VENTURINI; CEREDA, 2001).

Figura 26: Fluxograma das etapas que ocorrem na Cervejaria Fonte: VENTURINI; CEREDA, 2001 (Elaboração própria)

3.4.2.1 Moagem do Malte

O objetivo da moagem do malte é a divisão padronizada do mesmo. Essa

etapa, segundo Venturini (2005), age diretamente na rapidez das transformações

físico-químicas, no rendimento, na clarificação e na qualidade final da cerveja.

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59

Primeiramente rasga-se a casca no sentido longitudinal, expondo assim a

parte interior, a qual é denominada endosperma. Depois com a trituração dessa

região, facilita-se, dessa forma, a ação das enzimas presentes no malte. É

importante evitar-se a produção de farinha, pois a granulometria pequena leva à

formação excessiva de pastas8 no interior do mosto, o que prejudica a filtração,

tornando-a lenta. No caso contrário, também é inapropriado, pois propiciaria

inadequações na hidrólise do amido (KUCK, 2008; REINOLD, s.d.; SIQUEIRA,

2007).

O malte, ao ser moído, passa por moinhos, podendo ser de dois tipos: o de

martelo ou o de rolos. O método de moagem mais viável dependerá, principalmente,

do grau de modificação que sofreu o malte, além das propriedades dos tanques em

que se fará a brassagem (volume, tempo e temperatura de agitação), e do processo

de filtração, que ocorrerá posteriormente (VENTURINI; CEREDA, 2001).

O moinho de rolos apresenta variações no número de rolos. Sendo mais

utilizados o de dois e principalmente o de seis. O primeiro traz ótimos resultados

com maltes moles ou solúveis (malte muito modificado), que são obtidos por uma

malteação rápida. Já o de seis rolos funciona com três pares, sendo que nessa

moagem, empregam-se maltes com grau de modificação inferior ao anteriormente

citado, ou seja, maltes duros. Cada par ou etapa desse moinho possui uma função

específica, sendo que no primeiro inicia-se a passagem dos grãos, que são

transformados em sêmola, farinha e cascas separados pelos 1° pares de peneiras.

Depois que a farinha foi separada, pois não há a necessidade de môe-la novamente,

o segundo par de rolos retirará, fragmentos do endosperma presentes na casca. Já

na terceira moagem, a sêmola grossa passará a ser fina, possibilitando cerca de 20-

25% de cascas, 45-65% de sêmola, e 15-25% de farinha (BRODERICK et al., 1977;

REINOLD, 1990; 1997; VENTURINI; CEREDA, 2001).

8 Formação de grumos ou pelotas

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60

Uma moagem eficiente incide na obtenção da sêmola fina por meio da

trituração do grão, sem agredir a casca, deixando-a inteira. Uma alternativa, que

torna isso mais viável é a moagem úmida, o qual provém da umidificação do grão

malteado que, posteriormente, é moído no equipamento de dois rolos. O tempo

decorrido entre a pré-umidificação do malte e sua moagem, de acordo com Reinold

(1990), não deve ultrapassar 30 minutos, pois, dessa forma, evita uma prévia

hidrólise do amido anterior à brassagem, descontrolando essa importante etapa do

processo cervejeiro. Em contrapartida, a moagem úmida contribui na elasticidade da

casca, permitindo maior integridade da mesma e pouca retenção do endosperma

aderido a seus tecidos, após a moagem (BAMFORTH, 2005; KALNIN, 1999;

VENTURINI; CEREDA, 2001).

A manutenção da integridade da casca beneficia a obtenção de ótimos

resultados dos processos que prosseguirão a maltagem, pois ao deixar a casca da

cevada mais intacta, permite-se um aumento da porosidade da filtração, o que a

deixa mais rápida. Além dos moinhos de rolos, existe o moinho de martelos, que

confere a redução do grão de malte a pó, promovendo um acréscimo no rendimento

da mosturação. Para remediar a alta concentração de pó no mosto, utiliza-se o filtro

prensa, que minimiza problemas no processo de filtração e clarificação posteriores

(BRODERICK et al., 1977; VENTURINI; CEREDA, 2001).

Quando se utiliza o milho como adjunto no processo de fabricação de cerveja,

esse é armazenado em silos na própria cervejaria, o qual se controla e respeita as

condições de estocagem deste grão. Do silo, o milho vai direto para o moinho de

martelo para que seja quebrado, formando assim fragmentos e não pó (BRIGGS,

2001).

3.4.2.2 Mosturação ou Brassagem

De acordo com Reinold (1990), durante a elaboração da cerveja Pilsen,

acrescenta-se água em quantidades variantes de 4 a 5 litros, para cada kilograma

de matéria prima adotada.

Page 63: Tcc - Gabriel Mafra de Paiva

61

O mosto é obtido de duas maneiras: por infusão, o qual é realizado pela

mistura do malte puro moído com água quente, extraindo 65% de sólidos totais, e a

decocção, que se diferencia pela adição posterior de adjuntos específicos como o

gritz de milho ou a quirera de arroz, que possibilita uma extração maior de sólidos

totais. O cozimento dos adjuntos é feito separadamente do malte puro com a água,

devido à temperatura de gelatinização dos cereais ser diferente, ou seja, cada tipo

de grão possui sua temperatura específica de trabalho. No caso do gritz de milho,

esse é aquecido com água na proporção de a cada 30 partes de água se adiciona 1

parte do grão quebrado. Após o amido se gelatinizar, é resfriado até a temperatura

do mosto e, posteriormente adicionado no mesmo (BRIGGS, 2001; TELES, 2007;

VENTURINI, 2005).

As enzimas presentes no malte, que agirão nessa etapa do processo,

necessitam de certos fatores físico-químicos para que atuem perfeitamente, como: a

temperatura, a acidez do meio, o tempo e a constituição do malte moído. Além de

atuarem sobre o amido do malte, por possuírem a capacidade de hidrolisar cerca de

50% a mais da massa do malte, agem sobre os adjuntos adicionados (BRODERICK

et al., 1977. REINOLD, s.d.).

Ao se utilizar adjuntos em quantidades superiores ao limite do poder

diastásico das enzimas, necessita-se adicionar enzimas adicionais, que suprirão a

quantidade requerida. A atuação enzimática é iniciada já na malteação, momento

em que são difundidas do embrião para a aleurona, e completadas ao decorrer da

brassagem (VENTURINI; CEREDA, 2001).

Na cevada, existem quatro tipos de enzimas: as amilases conhecidas por

decompor o amido, sendo a beta amilase formada no endosperma, e alfa amilase na

aleurona; as enzimas citolíticas, como a beta-glucanase, que degradam as paredes

celulares do endosperma do grão, sendo formadas por proteínas e hemiceluloses;

as peptidases, que solubilizam as proteínas no mosto; e as fosfatases, que

degradam o ácido fosfórico, produzindo íons fosfatos no mosto cervejeiro

(REINOLD, 1990; SIQUEIRA, 2007).

Page 64: Tcc - Gabriel Mafra de Paiva

62

De acordo com Rost (2007), essas enzimas são consideradas endógenas por

estarem dentro do malte. Já as enzimas industriais ou exógenas, são obtidas de

outras fontes de matéria prima, podendo ser de origem animal, vegetal, ou ainda de

fermentações de microrganismos. Como exemplo de exógenas aplicadas em alguns

processos cervejeiros tem-se a papaína (vegetal), que impede a turvação da

cerveja, propiciando o aumento de vida de prateleira e a pullulanase que promove a

atenuação ou enfraquecimento da levedura na fermentação.

No processo da decocção, os complementos são altamente resistentes às

ações das enzimas, havendo a necessidade de adicioná-los na caldeira de mostura.

Nesse local, sofre o tratamento prévio, por 30 minutos, com cerca de 10% do malte

triturado com água à temperatura de 38-50°C, com o objetivo de ativação das

enzimas do malte e disponibilização do amido do adjunto (REINOLD, 1990;

VENTURINI, 2005).

Posteriormente, eleva-se a temperatura em 1°C a cada 1 minuto até a

evaporação. Nesse processo, há a gomificação dos adjuntos, que por sua vez,

facilita a atuação da alfa amilase. Esta enzima promove a liquefação do amido, o

qual reduz as cadeias longas do amido gelatinizado, gerando assim, mosto com

menor viscosidade (REINOLD, 1990; VENTURINI; CEREDA, 2001).

Em seguida, ocorre a fervura durante 5 a 45 minutos, desse mosto inicial, em

uma tina ou tanque de Mosturação. Nesse, adiciona-se o resto do malte triturado

mais a água que foram pré-macerados nas mesmas condições, em 38 a 50°C por 30

minutos. Essa mistura terá elevação de sua temperatura a velocidade de 1°C a cada

minuto, até atingir 72°; temperatura considerada ótima para ação das enzimas do

malte, favorecendo a açucaração ou sacarificação, no qual há a formação dos

componentes que serão posteriormente fermentados (maltose e glicose),

parcialmente fermentados (a maltotriose) e não fermentados (as dextrinas)

(REINOLD, 1990; 1997; VENTURINI; CEREDA, 2001).

Page 65: Tcc - Gabriel Mafra de Paiva

63

Além da obtenção dos açúcares fermentescíveis pela hidrólise do amido,

ocorre ao mesmo tempo, a solubilização das proteínas presentes nas paredes

celulares do malte, pelas proteases e beta-glucanases. A decomposição dos

compostos protéicos, de alto peso molecular, em peptídeos acontece pelas

endopeptidases. Por sua vez, estes peptídeos são degradados em aminoácidos,

devido à ação das exopeptidases. A disponibilidade de aminoácidos permite seus

usos como alimento para as leveduras, já as proteínas de alto peso molecular

propiciam uma ótima estabilidade da espuma (REINOLD, 2011; SIQUEIRA, 2007;

VENTURINI. 2005).

Segundo Reinold (2011f), para as cervejas lagers, o aquecimento

proporcionado na mostura com temperaturas escalonadas como demonstrado na

figura 27, promoverá a ação das enzimas. Sendo que cada enzima possui sua

especificidade, ou seja, atua em determinado pH e temperatura. A variação desse

último fator permite a ação específica de cada enzima com os efeitos esperados

(informação verbal)9.

As glucanases operam logo no início da brassagem em um pH de 4,7 a 5,0,

degradando os glucanos a 44°C. Depois disso, as proteases que atuam de acordo

com o aumento da temperatura. São elas:

Exopeptidases: dentre as quais tem-se as diseptidases que é a

primeira peptidase a degradar as cadeias protéicas, na temperatura de

40 a 45°C; posteriormente as aminopeptidases, na temperatura de 40 a

50°C e as carboxipeptidases na temperatura de 50 a 60°C.

Endopeptidases na temperatura de 50 a 60°C (REINOLD, 1997).

Posteriormente ocorre a ação das amilases, sabendo que a alfa amilase age

na temperatura de 72 a 75°C. Já a beta amilase opera entre 60 a 65°C. O processo

de brassagem ocorre até a temperatura de 70 a 75°C, devido a essa atingir a

quantidade necessária de açúcar para fermentação, além de dextrinas. E se for

abaixo de 75°C, podem-se haver problemas na filtração, reduzindo a velocidade por

causa da alta viscosidade. Já se for maior que 78°C, o poder diastásico se perde,

não propiciando assim a formação de substâncias solúveis como os açúcares

(REINOLD, 1997).

9 - Informação verbal concedida pelo mestre cervejeiro Matthias Reinold, em palestra na FTT,

no dia 06 de setembro de 2011.

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64

O diagrama de variação de tempo e temperatura de um processo típico de

mosturação de cervejas Lager, é demonstrado na Figura 27.

Figura 27: Gráfico de mosturação das cervejas Lager (REINOLD, 2011f)

Tais reações enzimáticas são fundamentais para a caracterização da cerveja,

colaborando nas propriedades físicas e no processo cervejeiro. Sendo que a correta

ação enzimática, nesse seguimento produtivo, traz como benefícios: diminuição da

viscosidade do mosto, que acelera e permite melhor aproveitamento dos agentes

que auxiliam na filtração; melhora na qualidade da espuma, e no sistema de

dosagem. Esse último diminui o tempo de processo e, consequentemente a redução

de custos por hectolitro de cerveja produzido. Além disso, as enzimas proporcionam

padronização da qualidade de cervejas, o que pode aumentar a vida de prateleira e

permitir o desenvolvimento de novos produtos, como a cerveja light de baixo teor de

carboidrato, obtida pela atuação da enzima amiloglucosidase (ROST, 2007;

SIQUEIRA, 2007).

Para verificar se todo amido foi hidrolisado e transformado em açúcar, faz-se

comumente o teste de iodo normal, que deve apresentar, ao final do processo,

ausência da coloração roxo-azulada. O princípio do teste é a adição de duas gotas

de solução de iodo a 0,2N em recipiente com uma quantia mínima do mosto liquido.

Ao perceber um tom amarelado, nesta solução, constata-se que a degradação do

amido chegou até a dextrina limite. (REINOLD, 1997; VENTURINI, 2005)

40

45

50

55

60

65

70

75

80

0 20 40 60 80

Tem

per

atu

ra (°

C)

Tempo (minutos)

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65

A temperatura de mosturação da cerveja de trigo, tanto Hefeweizen e

Kristallweizen, varia de 35 a 37 °C com o tempo de 20 a 25 minutos de cocção. O

processo de degradação protéica, nesse processo apresenta dificuldades, em

relação às existentes com a cevada, pois o trigo apresenta maiores teores protéicos.

A atenuação limite é de 78 a 85% para cerveja Hefeweizen, que representa um

procedimento mais viável economicamente (KUNZE, 1996).

3.4.2.3 Filtração

Em 1878, Lorenz Enzinger, inventou a filtração de cerveja através de filtro de

massa, tornando-a brilhante, ou seja, não mais translúcida e opaca. A partir de

então, tal propriedade passou a ser um critério de qualidade (KUNZE, 1996).

Após a mostura, o produto é aquecido até 75°C, obtendo desse modo,

viscosidade apropriada para o processo de filtração, que consiste na separação do

bagaço do mosto nas tinas de filtração. Nesta etapa, é desejado se extrair ao

máximo o líquido para obtenção do mosto. Obtêm-se duas frações distintas: a

primeira denominado bagaço, o qual é sólida, composta pela casca, e componentes

que não foram solubilizados do malte; e a segunda, líquida denominada extrato ou

mosto (REINOLD, 1990; VENTURINI, 2005).

Primeiramente, obtêm-se o mosto primário, pelo filtro da tina de filtração, o

qual é feito de aço inoxidável com agitador, que move o mosto para facilitar a

retirada do bagaço. Em segundo momento, a fração sólida retida nos filtros, é lavada

com água, com intuito de extrair os componentes ainda presentes no bagaço. Após

esta lavagem, a sobra da torta é considerada um subproduto, sendo utilizada como

ração animal, pois contém um alto valor nutritivo em fibras (KUCK, 2008;

VENTURINI; CEREDA, 2001).

A extração do mosto é influenciada pela temperatura do mesmo, por isso

quanto mais quente estiver, menos viscosa será a sua consistência, tornando mais

rápida a filtração. Outra consideração importante a ser feita é a análise da

resistência do bagaço, que depende do tipo de malte, qualidade da moagem e

intensidade do processo de mosturação (REINOLD, 1990).

Page 68: Tcc - Gabriel Mafra de Paiva

66

3.4.2.4 Cozimento

Depois de filtrado, o mosto é encaminhado para uma tina de fervura,

iniciando, assim, a sua cocção na temperatura de 100°C, o qual permitirá a

inativação das enzimas pela coagulação das proteínas e a evaporação da água,

concentrando assim os extratos fermentescíveis. Além destas transformações, a

adição do lúpulo junto com os componentes do mosto, mais as altas temperaturas,

favorece a obtenção do sabor, aroma, cor e esterilidade microbiológica da cerveja.

Essa última também é conseguida graças aos efeitos da extração dos compostos

solúveis do lúpulo. O tempo de fervura do mosto, junto com o lúpulo, é estimado em

um período de tempo de 1,0 a 1,5 horas (JAY, 2005; KALNIN, 1999; VENTURINI;

CEREDA, 2001).

A alfa amilase, que está presente no mosto até a filtração, é inativada com

objetivo de não decompor os açúcares nas etapas posteriores. Em contrapartida,

são adicionados os adjuntos carboidratados no final da etapa, como o xarope de

glicose, que aumentarão a concentração do mosto, reduzindo, assim, os compostos

nitrogenados disponíveis na cerveja (REINOLD, 1990; SANTOS, 2010; TELES,

2007).

O escurecimento da cor do mosto é propiciado pela formação de meloidinas,

obtidas pela reação de aminoácidos com os açúcares (Reação de Mailard), a

caramelização dos açúcares, e a coagulação do tanino do lúpulo ao reagir com as

proteínas (TELES, 2007).

O lúpulo é adicionado durante três estágios na forma de pellets, sendo que a

primeira vez ocorre no início da fervura do mosto. A quantidade adicionada é a de

um quarto do peso total estabelecido e tem como objetivo, promover a coagulação

das proteínas. Já a finalidade de dar o amargor a cerveja acontece na segunda

etapa, o qual se adiciona 30 minutos mais tarde com a metade do peso total. No

caso, a última adição é realizada nos 15 minutos finais da fervura, contendo

constituintes do lúpulo de ótima qualidade, com maiores compostos aromáticos,

como os óleos essenciais e compostos voláteis, que contribuem para um refino nas

características sensoriais da cerveja (REINOLD, 1997; VENTURINI; CEREDA,

2001).

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67

Segundo Venturini (2005), a adição do lúpulo mais as condições de

temperatura proporcionadas ao meio, visam na contribuição da esterilidade do

mosto cervejeiro. Este fato é fundamental para a segurança do mosto, pois a

disponibilidade de nutrientes e carboidratos no mesmo representa um risco elevado

de desenvolvimento de outros microrganismos competidores com as leveduras de

cultivo, possibilitando, dessa forma, contaminações por bactérias gram-positivas e

gram-negativas, acéticas, enterobactéria, zymomonas e outras cepas de levedura,

consideradas selvagens (BAMFORTH, 2005).

As bactérias gram-positivas, principalmente as láticas, deterioram a cerveja,

devido à formação de produtos que levam a diferenciação na qualidade e sabor. No

caso das leveduras selvagens, elas atuam em toda fermentação, na velocidade,

floculação, e consequentemente no paladar, obtendo produtos com off-flavor

variados devido a diferentes compostos formados (VARNAM; SUTHERLAND, 1997;

VENTURINI, 2005).

A concentração de lúpulo a ser adicionado no mosto fervido, no processo de

fabricação da cerveja tipo Stout da cervejaria Guiness, é de 600 a 700 g/hl. Essa

dose, sendo alta, faz com que a cerveja tenha uma quantia de 40 a 50 unidades de

IBU10. Já a cerveja estilo Porter, contem um valor aproximado de 40 unidades de

IBU (KUNZE, 1996).

Realiza-se em um tempo mais prolongado, de cozimento na cerveja tipo

Lambic, pois se adiciona lúpulo natural, que se encontra muito oxidado. Ao se ferver

o mosto nas cervejas trapistas, adiciona-se o lúpulo inteiro, na forma de flor, e

coloca-se açúcar cândi claro ou escuro, que confere um caráter de rum ao sabor

(KUNZE, 1996, JACKSON, 2007).

Ao final do cozimento deve-se acertar o extrato do mosto para que ocorra a

fermentação. Na tabela 2 encontram-se os teores de extratos para alguns tipos de

cervejas especiais.

10

IBU (International Bitterness Units) - é a medida de amargor da cerveja

Page 70: Tcc - Gabriel Mafra de Paiva

68

Tabela 2 - Tipos de cerveja com seus extratos pré fermentativos.

Tipos Extrato (%) Pilsen 11,3 a 12,2 American Standard Lager 12 a 18 (Alta densidade - cerveja diluída

na filtração) Weizen Hefeweizen 11 a 12 Weizen Kristallweizen 12,5 a 13 Berliner Weise 7 a 8 München 12,7 Stout 10,5 a 11,5 Lambic 11,5 a 13,5 Fonte: Kunze, 1996 (Elaboração própria)

Um processo alternativo utilizado para a fabricação de cervejas envolve a

concentração do mosto em alta densidade. A elaboração nesse tipo de tratamento

representa um modelo das mudanças que estão sendo feitas, durante os últimos

anos, no processo cervejeiro. Sendo que esse utiliza xarope de alta maltose, além

de novos filtros e lúpulos diferenciados, que aumentarão o mosto de 11-12°Plato11

para 15-18°Plato. Depois do processo de fermentação terminado adiciona-se água

para diluir a cerveja (HARDWICK, 1995; VENTURINI, 2005).

A utilização deste processo na indústria cervejeira acarreta na redução de

custos voltados para o tratamento de efluentes, energia, matéria prima, limpeza, e

também nas propriedades físico-químicas da cerveja, como: maior produção de

álcool por açúcar fermentescível; maior concentração de adjuntos, proporcionando

um sabor suave acentuado; e melhoria na estabilidade da cerveja. Além disso,

diminui a quantidade de água empregada na mosturação, reduz o uso de mão de

obra e consome menos energia a cada hL produzido, possibilitando na diminuição

dos custos do processo (LAUX, 1997; SILVA et al, 2007; TELES, 2007).

A água empregada para a diluição desta cerveja, no momento final de

maturação, deverá estar livre de qualquer contaminação, possuindo uma

concentração de oxigênio inferior a 0,1 mg/ L. Outro fator importante, é a

alcalinidade e dureza dessa água que deve ser baixa. Já a temperatura e o teor de

dióxido de carbono deverão ser iguais ao da cerveja diluída (TSCHOPE, 2001).

11

°Plato - pode ser definido como as gramas de extrato equivalentes ao peso da sacarose, em 100 gramas de mosto a 20ºC (12,56ºP = 11,97ºBrix)

Page 71: Tcc - Gabriel Mafra de Paiva

69

Porém existem fatores que questionam o uso deste método como, por

exemplo, o fato da concentração elevada do mosto, antes da fermentação, propiciar

condições estressantes para a levedura, além de aumentar a quantidade de

carboidratos, que modificariam a estabilidade da espuma. No entanto, o uso desse

processo apresenta expansão em determinadas cervejas, as quais contêm adjuntos

em sua composição (HARDWICK, 1995; VENTURINI, 2005; TELES, 2007).

3.4.2.5 Decantação

Depois da cocção do mosto filtrado, necessita-se retirar o “trub”, o qual é

composto pelo bagaço do lúpulo, polifenóis e minerais. Esses são retirados pelo

processo de decantação no Whilrpool, podendo ser juntados com o bagaço do malte

tendo o mesmo destino, ou retornados para outros processos anteriores, como a tina

de filtração ou a tina de mosturação, visando a um melhor rendimento do extrato

cervejeiro (REINOLD, 1997; VENTURINI; CEREDA, 2001).

Se não ocorresse a separação do “trub”, a cerveja absorveria características

desagradáveis a seu aspecto sensorial, adquirindo um amargor não esperado, com

coloração mais escura, além da desestabilização da espuma. Esta separação tem

que ser completa, pois, pelo contrário haveria efeitos diretos na fermentação, devido

à formação de uma película viscosa, que englobaria as cepas do fermento,

impossibilitando o metabolismo dos carboidratos presentes no meio do mosto

(BAMFORTH, 2005; REINOLD, 1990).

Figura 28: Trub Fonte: CERVEJAARTESANAL (2011)

Page 72: Tcc - Gabriel Mafra de Paiva

70

3.4.2.6 Resfriamento e Aeração

O principal intuito do abaixamento de temperatura do mosto é a inoculação

das leveduras apropriadas, que irão fermentar o extrato para a elaboração da

cerveja. Os níveis de queda da temperatura dependem do tipo de cerveja que se

deseja obter, estando diretamente relacionadas com os tipos de fermentação

utilizados: alta fermentação com temperaturas de 14 a 16 °C, e a baixa fermentação

de 6 a 12°C (KALNIN, 1999; VENTURINI; CEREDA, 2001).

Em relação à aeração, Venturini (2005) e Teles (2007) comentam que este

processo é fundamental para a fabricação de cerveja, pois trazem conseqüências

diretas às etapas posteriores. Por isso a necessidade da aeração adequada no

mosto, que disponibiliza oxigênio para a levedura atuar de modo favorável, além de

facilitar a retirada de compostos do mosto que provocariam turbidez na cerveja.

Aeração disponibiliza oxigênio para a levedura, que em pouco tempo ao ser

consumido, promove a produção de ácidos carboxílicos insaturados e esteróis que

são constituintes de suas membranas. São fundamentais para o metabolismo

oxidativo, ou seja, a respiração. O oxigênio deve ser adicionado quando o mosto

estiver em temperaturas baixas, evitando assim o escurecimento desse, devido a

oxidação de taninos quando se faz a aeração quente (REINOLD, 1997; VENTURINI,

2005; VENTURINI; CEREDA, 2001).

Figura 29: Trocador de calor em placas para resfriar o mosto Fonte: NOCELLI (2011)

Page 73: Tcc - Gabriel Mafra de Paiva

71

3.4.2.7 Tratamento da levedura

A propagação da levedura para fermentação, a partir de um cultivo base,

consiste em aumentar progressivamente o volume do mosto, servindo para que haja

uma melhor adaptação do microrganismo a este líquido; além de propiciar seu

desenvolvimento, verificado pelo aumento do número de células. (VENTURINI;

CEREDA, 2001).

Primeiro, o cultivo mestre é inoculado a uma solução de 100 mL do mosto,

depois de certo tempo fermentando, este é diluído em um recipiente com 1000 mL

de mosto. Após ter passado o tempo de crescimento da levedura (fase aeróbica), o

meio com o cultivo de leveduras é inoculado ao mosto principal nos tanques de

fermentação. Sabe-se que os utensílios utilizados para a propagação da levedura

devem ser esterilizados para não haver possíveis contaminações por bactérias e

leveduras selvagens. Esse processo de propagação serve tanto para as leveduras

de baixa fermentação como para as de alta, havendo alteração na temperatura

utilizada, na qual as primeiras devem ser propagadas a níveis inferiores que as

segundas. As leveduras de baixa são ativadas a 10°C, e as de alta de 15 a 20°C

(JACKSON, 2007; VENTURINI; CEREDA, 2001).

A alta fermentação possui maior número de ciclos (5 a 15) que a baixa

fermentação. O número de ciclos reflete a quantidade de vezes que se pode usar

determinada levedura durante o processo. As leveduras empregadas na cerveja de

trigo, podem perder de 2 a 3 ciclos de sua capacidade por formar o 4-vinil-guaiacol.

(KUNZE, 1996).

Page 74: Tcc - Gabriel Mafra de Paiva

72

3.4.2.8 Fermentação

Processo que consiste em decompor os açúcares solúveis no mosto em

anaerobiose, pela ação de designadas cepas de leveduras, transformando em

produtos como o álcool e gás carbônico. Esses produtos são provenientes de dois

tipos de metabolismo: o anabólico, o qual está ligado às reações de formação

celular, necessitando de energia que é obtido pela presença do oxigênio; e o

catabólico, que é o inverso do outro, havendo o acúmulo de energia nas células pela

oxidação e a quebra das moléculas (REINOLD, s.d.; VENTURINI; CEREDA, 2001).

A fermentação anabólica ocorre pela via metabólica, desmembrada por

Embden-Meyerhof, o qual se trata da descarboxilação do piruvato em acetaldeído,

sendo que o NADH o oxida, formando o álcool (BAMFORTH, 2005; VARNAM;

SUTHERLAND, 1997).

A quantidade de fermento, adicionada ao mosto vai depender da

concentração de açúcares fermentescíveis, de sua composição, da temperatura em

que se encontra e da disponibilidade de oxigênio no meio. Sendo inoculados, em

média de 107 células viáveis / mL, que irá catabolizar todos os açúcares disponíveis

no extrato, levando a formação de duas moléculas de etanol ou álcool etílico, duas

moléculas de dióxido de carbono e energia, a cada molécula simples açúcar. Além

disso, a fermentação propicia a produção de metabólitos secundários, o qual sendo

em pequenas quantidades, colabora no sabor e aroma da cerveja. (KUCK, 2008;

VENTURINI; CEREDA, 2001)

Como já foi pronunciado, o processo de fermentação a ser utilizado vai

depender de qual tipo de cerveja se deseja obter. A baixa fermentação produz as

cervejas tipo Lager, conhecidas como as nacionais americanas e as alemãs

Pilsener, com as cepas de S. carlbengensis; a alta fermentação utiliza as cepas de

S. cerevisiae, sendo representada pelas cervejas inglesas Stout e Porter do tipo Ale,

além das cervejas alemãs de trigo, como a Weizenbier e a Berliner Weisse

(BAMFORTH, 2003; KALNIN, 1999; REINOLD, s.d.).

Page 75: Tcc - Gabriel Mafra de Paiva

73

Conhecendo-se a diferença entre os dois tipos de fermentação, compreende-

se o processo de baixa fermentação, que consiste no uso de tanques fermentadores

cilindros-cônicos, feitos de aço inox. As leveduras são inoculadas através de

tubulações no mosto a temperatura de 6-11°C. A fermentação é feita lentamente, de

10 a 15 °C durante 3 a 5 dias, sendo percebida pela formação de espuma e

produção de dióxido de carbono. Já no final ao diminuir a temperatura, percebe-se o

desaparecimento da espuma e a decantação da levedura (BAMFORTH, 2005;

VENTURINI; CEREDA, 2001).

Antigamente, os processos de alta fermentação, eram feitos em tanques

abertos, estando, assim, sujeito a contaminação pelo ambiente externo. Nos tempos

atuais, este tipo de fermentação ocorre em tanques cilindros-cônicos, da mesma

forma que a de fermentação baixa. No inicio da fermentação, a temperatura é

mantida em torno de 12 a 16°C, com concentração de 0,24 a 0,5 litros de

levedura/hectolitro. Sabe-se que as leveduras, nesse caso, ficam suspensas após a

fermentação,

A temperatura de fermentação na cerveja de trigo situa-se entre 18 e 24 °C,

sendo que os tamanhos dos tanques de fermentação e a forma como ocorre,

possuem influência determinante na eficácia da mesma. A produção de 4 vinil

guaiacol é reduzida, no momento que se opera várias vezes o ciclo de fermentação.

Essa situação é invertida, quando se prolonga o tempo da permanência da levedura

na cerveja já fermentada (KUNZE, 1996).

O 4-vinil-guaiacol, um composto fenólico, na concentração média de 1,5 a 2

ppm, mais o éster etílico e o éster isobutílico (35 a 40 ppm), e os alcoóis superiores

como o propanol e metilpropanol (150 a 160 ppm), são responsáveis pelo aroma

típico e sabor da cerveja de trigo. A fermentação, na cerveja tipo Hefeweizen, inicia

na concentração de 0,3 a 1 litro de levedura para cada hectolitro de mosto, em uma

temperatura aproximada de 12°C. Uma vez que a fermentação ocorre com vigor nas

temperaturas entre 13 a 21 °C, no período de três a quatro dias (KUNZE, 1996).

Page 76: Tcc - Gabriel Mafra de Paiva

74

Mas o que especialmente marca a cerveja Hefeweizen, é a fermentação

secundária que ocorre nas garrafas, podendo haver antes ou não o repouso em um

tanque intermediário de fermentação durante certo tempo. O processo da cerveja

sem repouso, que previamente é misturada com o Speise12 e adicionada logo na

garrafa para ocorrência de segunda fermentação, acontece em duas etapas. A

primeira ocorre a 12 a 20°C durante 3 a 7 dias, no qual se percebe a redução do

diacetil, e o aumento da pressão a 1,5 a 2 bar dentro da garrafa, além de que o

extrato que se fermentará é de 0,1 a 0,2%. A segunda, consiste na mesma pressão

de 2 bar dentro da garrafa, sendo que é realizada em temperaturas frias de 5°C, no

período de 14 a 21 dias. No caso da cerveja desse mesmo tipo, em que ocorre o

repouso intermediário, o produto fica seis dias num tanque quente, e depois no

período de quatorze dias a 1°C no mesmo local, acaba sendo maturada e

consequentemente armazenada nas garrafas para fermentação (KUNZE, 1996).

Já na cerveja de trigo Kristallweizen, a fermentação principal ocorre

normalmente, com 12% de atenuação final, quando então, a mesma temperatura, é

transferido para outro tanque. Nesse, regula-se a pressão até 4 a 5 bar, e depois de

3 a 7 dias o produto é resfriado até 8°C aproximadamente. Em seguida, ao fim de 10

dias, a mesma pressão ocorre refrigeração a 0°C. Após uma semana, procede-se a

filtração a temperatura de -2°C, situação final que é mantida até o envase (KUNZE,

1996).

Nas cervejas trapistas, a fermentação, ocorre nas temperaturas de 20 a 25°C,

utilizando leveduras próprias do monastério, que são de alta fermentação. Os

produtos secundários, originários da fermentação nas garrafas, fazem com que

estas cervejas tenham um sabor bem interessante (KUNZE, 1996, JACKSON,

2007).

A fermentação, feita espontaneamente por leveduras selvagens, confere um

sabor de caráter ácido à cerveja Lambic. O seu tempo de maturação poderá durar

de um a três anos, em que ocorre a formação dos produtos secundários, fazendo

com que estilo de cerveja tenha um sabor característico (KUNZE, 1996).

12

Speise- Em alemão significa comida, sendo exatamente uma quantidade de 6 a 7% do mosto, para fornecer mais extrato para levedura fermentar (KUNZE, 1996)

Page 77: Tcc - Gabriel Mafra de Paiva

75

3.4.2.9 Maturação

Consiste na continuação do processo fermentativo, sendo que os compostos

formados no fim da fermentação anterior são maturados. Havendo três modificações

principais: a carbonatação da cerveja, propiciada pela produção de dióxido de

carbono pelas leveduras; a clarificação, que ocorre pela separação das leveduras

em temperaturas baixas, devido à sedimentação pela ação da gravidade, resultando

numa pré-filtração; caracterização do sabor, pois compostos formados como,

acetato de etila, o qual é um éster, contribuem para diferenciação das características

organolépticas, além da redução dos teores de diacetil e acetaldeído, que são

compostos irrelevantes ao sabor da cerveja (REINOLD, s.d.; VENTURINI, 2005;

VENTURINI; CEREDA, 2001).

O diacetil, formado na etapa anterior, é responsável por dar um sabor

“amanteigado” à cerveja. Esta dicetona, conhecida também como 2,3-butanodiona, é

reduzida pela enzima diacetilredutase na fase de maturação, em 2,3-butilenoglicol.

Tal processo acarreta com que esse sabor característico seja retirado das cervejas.

Em certos tipos de cerveja pode-se observar concentrações maiores de diacetil, o

que, por vezes, é desejado (VENTURINI; CEREDA, 2001).

A maturação ocorre a temperaturas próximas a 0°C e o tempo de maturação

necessário, para que haja um bom rendimento, deve ocorrer lentamente. Em um

tempo que varia de acordo com o processo cervejeiro específico. No caso da cerveja

Pilsener, a maturação ocorre no período de 15 dias (KALNIN, 1999).

Nessa fase, na cerveja de trigo, espera-se em primeiro lugar a degradação do

diacetil pela levedura, ocorrendo, posteriormente, resfriamento a temperaturas

próximas de 7°C. A levedura é extraída, da mesma forma que no processo

fermentativo, para evitar o aumento do pH e sua autólise. Por fim a temperatura da

cerveja é novamente abaixada até -1°C (KUNZE, 1996; REINOLD, 1997).

Page 78: Tcc - Gabriel Mafra de Paiva

76

Na temperatura de 0 a 5°C faz-se a pós maturação nas cervejas trapistas.

Adiciona-se novamente lúpulo e açúcar, antes da realização do envase. São

submetidas, posteriormente, a uma sala de repouso, sofrendo o processo de

maturação no período de 3 semanas a 25°C. São cervejas estáveis até um período

de 5 anos. A nova adição de açúcar promove a fermentação secundária, tendo um

alcance maior no grau alcoólico (KUNZE, 1996).

3.4.2.10 Clarificação ou Filtração

O objetivo desta etapa é a retirada dos compostos em suspensão como:

leveduras, complexos taninos-proteícos, e resinas do lúpulo. Além dos filtros de

placas horizontais e de velas, existem diferentes agentes filtrantes, que facilitam esta

capacidade de redução da turbidez da cerveja, melhorando assim, as suas

características físicas, microbiológicas e sensoriais (KUCK, 2008, REINOLD, 2011a).

A terra de diatomácea representa um destes agentes filtrantes, a qual é

composta de algas fossilizadas de diferentes espécies, que removem as substâncias

suspensas. Segundo Teles (2007), remove-se em média de 75 a 85% das

substâncias turvadoras, presentes na cerveja que foi clarificada.

Outros agentes utilizados na indústria cervejeira, os quais são capazes de

adsorver, são as perlitas, celulose, carvão ativado que elimina o sabor e odor

estranhos presentes na cerveja, além das próprias leveduras, que por sua vez

facilitam e auxiliam a filtração em quantidades adequadas. Além disso, é a ultima

fase a influenciar na qualidade da cerveja, pois confere um aspecto cristalino e brilho

à bebida, não alterando na sua composição e sabor (REINOLD, 2011a; VENTURINI,

2005; VENTURINI; CEREDA, 2001).

As cervejas de trigo Hefeweizen diferenciam-se das Kristalweizen, por não

fazerem a filtração da levedura. Isso faz com que o estilo Hefeweizen, contenha

turvação e as Kristalweizen sejam de cor clara e transparente (BREJAS, 2011b;

KUNZE, 1996).

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77

3.4.2.11 Carbonatação

Apesar da produção de CO2 pelas leveduras na maturação ser o necessário

para a cerveja, não existe um controle do nível da concentração deste componente

no produto. Por isso os teores desse gás são corrigidos pela carbonatação

mecânica, o qual suplementa a quantidade perdida durante o processo anterior,

padronizando, assim, a fabricação. As concentrações finais de CO2, na cerveja já

envasada e a ser comercializada, depende do tipo e estão demonstradas na tabela 3

(JAY, 2005; VENTURINI, 2005; VENTURINI; CEREDA, 2001).

Tabela 3: Concentração de CO2 em diferentes tipos de cerveja

Tipos de Cerveja Porcentagem de CO2 em volume Scottish ales 0,75 a 1,3 Barley Wine e Imperial Stout 1,3 a 2,3 Pale Ale, Stout, IPA e Porters 1,7 a 2,5 Bock, Doppelbock, Vienna, Marzen, Pilseners, American Lagers

2,2 a 2,7

Weizen, WItbier e Lambic 3,0 a 4,0 Fonte: Rodrigues, 2010 (Elaboração própria)

Esse processo ocorre por meio da recuperação de CO2 dos tanques de

fermentação e maturação, ou também na compra de CO2 de empresas específicas.

O modo de recuperação o dióxido de carbono se dá por meio de membranas de

polipropileno ou politetrafluoretileno (BAMFORTH, 2005).

A cerveja de trigo contém alta concentração de dióxido de carbono, de 6 a 10

g/L, isso a torna bem popular devido seu caráter refrescante, e também propiciar

fácil digestibilidade. Para produzir uma quantidade aceitável de dióxido de carbono

na maturação, na cerveja Hefeweizen, acrescenta-se de 6 a 7% de volume do mosto

primário13, rico em extrato, a mais na própria “cerveja verde”14. Esse irá sofrer

maturação, servindo assim de substrato adicional para a levedura fermentar. O

segundo método utilizado para ter a porcentagem ideal de dióxido de carbono nesta

cerveja, é a adição de um mosto com 9 a 10% de extrato, que já fora iniciada a

fermentação baixa. O processo prossegue em baixa pressão de 0,2 a 0,3 bar.

(KUNZE, 1996).

13

Mosto primário: Mosto oriundo da filtração, sendo que neste não foi feito ainda a lavagem no bagaço e adicionado a este, o que deixa menos concentrado (TSCHOPE, 2001). 14

Cerveja verde: È a cerveja que sai dos tanques de fermentação, e que ainda não sofreu o processo de maturação (BENTO, C. V.; CARVALHO, G. B. M.; SILVA, J. B. A, 2007).

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78

3.4.2.12 Envase e Pasteurização

O processo de envase ocorre ao acondicionar as cervejas em embalagens

propícias que vão depender de sua destinação: como latas de alumínio; garrafas tipo

A ou “longneck”; ou barris denominados de Keg, sendo esses de aço inox ou

alumínio, pois facilita a sua higienização comparada aos antigos barris de madeira

(KALNIN, 1999; VENTURINI; CEREDA, 2001).

Em relação ao seu destino, ocorrerá a pasteurização, só no caso das cervejas

convencionais, ou seja, que não são denominadas chope. A pasteurização acarreta

na estabilidade biológica da bebida e pode ser realizada de duas maneiras: antes do

envase, feito por trocador de placa ajustado às partículas da cerveja, em alguns

segundos por 75°C (Figura 31); e depois do envase, o qual as embalagens (lata ou

garrafa) passam por um túnel de pasteurização, até que a temperatura interna na

garrafa chega entre 60 a 65°C (KUCK, 2008; VENTURINI; CEREDA, 2001).

Figura 30: Flash pasteurização Fonte: REINOLD (2011i)

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79

O perfil de variação de temperatura da cerveja, em sua passagem pelo túnel

de pasteurização de dois andares, é demonstrado na Figura 31.

Figura 31: Gráfico de Pasteurização de cervejas produzidas em linha continua (REINOLD, 2011f).

O chope é considerado, uma cerveja não pasteurizada, por isso a

necessidade de armazenar em barris de alumínio e aço inoxidável, nas temperaturas

refrigeradas (0 a 5°C), com uma vida útil inferior ao das cervejas pasteurizadas

(KALNIN, 1999).

2535

47

5864 62

55

44

32

22

0

10

20

30

40

50

60

70

4,5 6,5 4,5 5 11 8 5 4,5 5,5 4,5

Tem

pe

ratu

ra (°

C)

Tempo (Min.)

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80

4. CONCLUSÃO

Os processos que envolvem fabricação dos diferentes tipos de cerveja

comercializados no mundo seguem, basicamente, a mesma sequência de etapas.

Apresentam, contudo, diferenças pontuais que promovem alterações organolépticas

significativas entre elas. As modificações são verificadas desde o tipo de matéria-

prima utilizada até o nível de carbonatação.

Durante a realização desse trabalho ficou evidente a falta de literatura

especializada no assunto, mostrando a carência de estudos nessa área específica

no Brasil.

O consumo de cervejas especiais, em ritmo de conquista de mercado superior

ao das cervejas mais populares, propulsionados pelo aumento do poder aquisitivo

da população e o surgimento de uma nova cultura de degustação, faz com que surja

a necessidade de investimento em pesquisa e mão de obra especializada para

suprimento dessa demanda, evitando o bloqueio de um mercado com grande

potencial econômico.

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81

5. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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