TCC JUAN SOBRE VALORAÇÃO
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA
FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E CIÊNCIAS CONTÁBEIS
CURSO DE ADMINISTRAÇÃO
RELATÓRIO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO
CENTRO REGIONAL DE INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA
CRITT - UFJF
JUAN GOMES PEREIRA
JUIZ DE FORA
2011
1
JUAN GOMES PEREIRA
RELATÓRIO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO
CENTRO REGIONAL DE INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA
CRITT - UFJF
Relatório apresentado pelo acadêmico Juan
Gomes Pereira ao curso de Administração da
Universidade Federal de Juiz de Fora, como
requisito para obtenção do título de Bacharel
em Administração.
Orientador: Prof.ª Msc. Gisele de Souza Castro
Vieira
JUIZ DE FORA
FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E CIÊNCIAS CONTÁBEIS/ UFJF
2011
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA
FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E CIÊNCIAS CONTÁBEIS
CURSO DE ADMINISTRAÇÃO
RELATÓRIO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO
CENTRO REGIONAL DE INOVAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA
CRITT - UFJF
IDENTIFICAÇÃO
Aluno: Juan Gomes Pereira
Matrícula na UFJF: 200746016
Área de Concentração: Administração Financeira
Organização concedente: Centro Regional de Inovação e Transferência de Tecnologia –
CRITT - UFJF
Setor onde foi realizado o estágio: Transferência de Tecnologias
Cargo/Função na organização: Bolsista
Supervisor da Organização: Luiz Carlos Tonelli
Cargo: Diretor
Período de Realização: 1º de Outubro de 2010 a 22 de Fevereiro de 2011
Carga Horária Total: 370 Horas
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, por me oferecer a capacidade de persistência e busca pela realização
de meus objetivos.
Agradeço a meus pais pela educação e amor e por representarem exemplos
excepcionais na minha formação.
Agradeço também aqueles que contribuíram para a elaboração deste trabalho, como os
colaboradores do CRITT, em especial Débora Marques, pela oportunidade e todos os
conhecimentos proporcionados.
Ainda, agradeço à Profª Gisele de Souza Castro Vieira, pela orientação e constante
apoio na realização do estudo.
4
ATESTADO DE REALIZAÇÃO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO
Atesto, para comprovação do Estágio Supervisionado, que o aluno Juan Gomes
Pereira, estagiou no Centro Regional de Inovação e Transferência de Tecnologia – Critt – da
UFJF, no setor Transferência de tecnologias, no período de 1º de Outubro de 2010 até 22 de
Fevereiro de 2011, com carga horária aproximada de 370 horas.
Juiz de Fora, ____ de _____________ de 2011
_________________________________
Luiz Carlos Tonelli
Diretor
5
UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA
FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E CIÊNCIAS CONTÁBEIS
CURSO DE ADMINISTRAÇÃO
RELATÓRIO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO
FOLHA DE APROVAÇÃO
Após a exposição do discente, Juan Gomes Pereira, matrícula nº 200746016, sobre a
realização do estágio supervisionado, a Banca Examinadora, composta pelos professores
abaixo, reuniu-se e aprovou o presente relatório que, por atender aos requisitos estabelecidos,
recebeu a nota (_________) _______________________________________ (por extenso).
Juiz de Fora, _____________ de _____________de 2011.
______________________________________________________
Profª. Gisele de Souza Castro Vieira
Orientadora
______________________________________________________
Profª. Elida Maia Ramires
Membro da Banca Examinadora
______________________________________________________
Profª. Janayna Katyuscia Freire de Souza Ferreira
Membro da Banca Examinadora
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LISTA DE FIGURAS
Figura 01 Exemplo de árvore de decisão 27
7
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 Número de banhos em pet shops 37
Tabela 02 Número de banhos em residências 38
Tabela 03 Consumo de shampoo região sudeste 38
Tabela 04 Consumo de shampoo classes A e B da região sudeste 39
Tabela 05 Projeção de vendas para o cenário otimista (em litros) 39
Tabela 06 Projeção de vendas para o cenário pessimista (em litros) 40
Tabela 07 Custo unitário por litro (em reais) 41
Tabela 08 Preço de venda cenário otimista (em reais) 42
Tabela 09 Preço de venda cenário pessimista (em reais) 42
Tabela 10 Fluxos de caixa – cenário otimista 43
Tabela 11 Fluxos de caixa – cenário pessimista 43
Tabela 12 Projeção de royalties 47
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LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS
CRITT Centro Regional de Inovação e Transferência de Tecnologia
EVA Economic value added - valor econômico agregado
EVTECIAS
Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica, Comercial e de Impactos
Ambientais e Sociais
FC Fluxo de Caixa
FINEP Financiadora de Estudos e Projetos
Io Investimento inicial
MVA Market value added - valor de mercado agregado
NIT Núcleo de Inovação Tecnológica
OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
P&D Pesquisa e Desenvolvimento
PII Programa de Incentivo à Inovação
PINTEC Pesquisa de Inovação Tecnológica
SEDETEC Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico
TT Transferência de Tecnologia
VP Valor Presente
VPL Valor Presente Líquido
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RESUMO
Este trabalho tem como objetivo a identificação de um dos métodos expostos como
um processo simples, objetivo e eficiente para a valoração de tecnologias, visto a necessidade
crescente de obtenção de valor adequado e justo no momento das negociações. O contexto do
mercado demonstra que a importância de se inovar nas empresas faz com que as organizações
invistam cada vez mais na área, assim como são desenvolvidos mais projetos e pesquisas. O
tema valoração apresenta espaço para uma discussão sobre seus métodos e a situação
problema de qual seria o mais adequado, não só para a transferência de tecnologia, mas
também para os processos desenvolvidos no CRITT, onde o autor do trabalho realizou
estudos de valoração, que também servirão de base para um Estudo de Caso.
10
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 11
2 REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................................. 15
2.1 Avaliação de Empresas...........................................................................................15
2.1.1 Modelos de Avaliação..............................................................................16
2.1.1.1 Método do Fluxo de Caixa Descontado.....................................16
2.1.1.2 Método EVA/MVA...................................................................17
2.2 Transferência de Tecnologias..................................................................................19
2.2.1 Inovação Tecnológica...............................................................................19
2.2.2 O processo de transferência de tecnologias..............................................21
2.3 Valoração de tecnologias........................................................................................23
2.3.1 Valoração por utilização do VPL.............................................................24
2.3.2 Árvore de decisão.....................................................................................26
2.3.3 Valoração por múltiplos...........................................................................28
3 METODOLOGIA ............................................................................................................... 30
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DO CASO ............................................................... 32
4.1 CRITT....................................................................................................................32
4.1.1 Setor de Transferência de Tecnologias......................................................33
4.2 O projeto................................................................................................................34
4.2.1 Caracterização da tecnologias....................................................................34
4.2.2 Projeção de vendas.....................................................................................36
4.2.3 Projeção de investimentos..........................................................................40
4.2.4 Projeção de custos, despesas e receitas......................................................41
4.2.5 Projeção de Fluxos de caixa.......................................................................43
4.3 Valoração...............................................................................................................45
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................. 48
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 51
ANEXOS..................................................................................................................................54
11
1. INTRODUÇÃO
A competitividade no mercado se mostra crescente em ritmo acelerado, de forma que
as organizações apresentam necessidade de diferenciação frente às concorrentes. Em um
ambiente globalizado, onde as informações são de domínio de todos e a uma velocidade
surpreendente, o diferencial almejado pode ser definido como uma busca pela inovação. Em
outras palavras, as empresas tendem a empreender novos negócios, novos ramos de atividade,
novos produtos e processos para que se mantenham em posição superior no ambiente de
negócios e na visão do cliente. A inovação, portanto, é uma ferramenta útil às empresas que
encontram alta competitividade nos seus meios de atuação.
Conforme Queiroz (1999, p. 04):
A inovação torna-se cada vez mais importante no ambiente atual, sendo a gestão da
inovação uma das tarefas mais importantes da administração moderna. As rápidas
mudanças no mercado tornam cada vez mais difícil para a empresa pensar em
termos de futuro e constantemente se antecipar. Segue que, para competir nesse
ambiente turbulento, as empresas precisam adotar a inovação como um modo de
vida corporativo (...).
Com o avanço da complexidade e profundidade dos estudos científicos e técnicos de
produtos e processos já existentes, são identificadas novas oportunidades, que se
transformarão em idéias que, posteriormente desenvolvidas, se configurarão como inovações
no mercado. Desse segmento surgem as inovações tecnológicas, que representam mudanças
tecnológicas nos produtos (bens ou serviços) ou no modo pelo qual são formulados e
ofertados (processos).
Uma grande dificuldade encontrada por organizações que praticam a inovação,
principalmente a tecnológica, é a forma pela qual o processo é inserido no mercado.
Desenvolvida a tecnologia inovadora, a empresa (podendo também ser caracterizada como
inventora), assim como o pesquisador individual, se depara com dois caminhos: transferir a
12
tecnologia (vendê-la) ou realizar o spin-off (desenvolver a tecnologia na própria organização
ou criar uma organização para este fim)1.
Em ambos os casos, é necessária uma análise bem pautada e baseada em dados
consolidados e confiáveis para obtenção de um panorama geral sobre o mercado de atuação, a
fim de que sejam determinadas com precisão estratégias de inserção, atuação e permanência
no mercado, de forma a garantir posição privilegiada através da tecnologia proposta.
Além disso, no caso de transferência de tecnologia, mais importante do que todos os
aspectos citados anteriormente, há a preocupação com a identificação de um parâmetro, uma
faixa de valores em que deve orbitar a negociação. Para obtenção desses valores, realiza-se o
processo chamado de valoração (amplamente apontado na literatura como valuation, sua
expressão em inglês). Consiste, basicamente, numa análise mercadológica aliada a
ferramentas financeiras, podendo ser realizada através de diversos métodos, conforme será
discutido ao longo deste estudo.
Considerando a inovação tecnológica como diferencial relevante para as organizações
atuais, o processo de valoração apresenta grande relevância, já que este é a fase inicial do
processo de inserção no mercado de um novo produto ou processo. Assim sendo, é de grande
importância que o processo de valoração seja pautado em análises confiáveis e em utilização
de ferramentas que apresentem uma estimativa de mercado (e de atividade da organização) o
mais verossímil possível.
Endler (2004, p. 02) retrata a realidade encontrada pelas empresas no processo de
avaliação:
Uma avaliação errada pode levar a sérias conseqüências, como expectativas
incorretas e irreais num processo de aquisição, na aceitação ou não de um
1 Estes processos serão explicados em detalhes no capítulo 2 – Referencial Teórico.
13
investimento ou mesmo na expectativa de crescimento de uma empresa, as quais
podem refletir diretamente no valor das ações da empresa.
Organizações que não estão preparadas para assumir tal tarefa, assim como
pesquisadores individuais sem conhecimento na área financeira podem contar com a
consultoria de empresas especializadas, e também com o apoio de instituições voltadas ao
empreendedorismo e inovação, como é o caso do CRITT – Centro Regional de Inovação e
Transferência de Tecnologia da Universidade Federal de Juiz de Fora, que servirá de base
para o estudo de caso a ser apresentado neste estudo.
Porém, o conhecimento de tarefas que envolvam a inovação, assim como o processo
em discussão – a valoração – não são amplamente difundidos entre o meio empresarial e
acadêmico, indo de encontro com as tendências de mercado. Desta forma, se torna evidente a
necessidade de exploração do tema, para que os novos profissionais da área tenham tal
conhecimento agregado, e que possam adicionar valor às empresas em que atuarem.
Segundo Prado (2006), entre as empresas de pequeno e médio porte, não há o rigor
necessário na apuração de valor, onde o mesmo é, muitas vezes, determinado de maneira
informal, refletindo as informações disponíveis e considerando a experiência e a índole dos
envolvidos.
A dificuldade apresentada por empresas inovadoras em determinar um valor
adequado é um dos motivos pelos quais estudos que abordem o tema de valoração são mais
recorrentes. O principal ponto abordado por eles, assim como o objetivo deste, é a discussão
em torno da indicação de um método de valoração eficiente e confiável, e ainda, de fácil
entendimento e aplicação. Este estudo se propõe, portanto, a apresentar um estudo de caso que
exemplifica a metodologia de valoração de investimentos utilizada em projetos do CRITT.
A proposta de discussão se mostra importante, também, por se tratar de uma
ferramenta difundida na graduação, o VPL (Valor Presente Líquido), com uma abordagem
14
diferente, a utilizando como um método simples, ágil e eficiente na valoração de tecnologias,
conforme será explicado no decorrer do estudo. Ainda como objetivo do estudo, mostra-se a
apresentação de algumas das técnicas de valoração utilizadas com maior freqüência, incluindo
uma revisão de literatura sobre o tema valoração e avaliação. Apesar da exposição de diversos
métodos, a análise se baseará na utilização do VPL, método aplicado no Caso a ser
apresentado.
Este trabalho, além da atual introdução, se dividirá em: Capítulo 2 - Referencial
Teórico, onde serão abordados e descritos os conceitos envolvidos nos estudos de avaliação e
valoração, Capítulo 3 - Metodologia, Capítulo 4 - Apresentação e Discussão do Caso, onde
será detalhado um exemplo de valoração de tecnologia baseada no método proposto, Capítulo
5, apresentando as Considerações Finais do estudo, e por fim as Referências Bibliográficas
utilizadas na pesquisa.
15
2. REFERENCIAL TEÓRICO
Neste capítulo, serão abordados alguns conceitos pertinentes ao estudo, tais como
Avaliação de empresas, Transferência de tecnologias e Valoração. Tal compreensão é
importante, pois os conceitos aqui descritos são a base da prática a ser retratada no Capítulo 4
e fazem parte, também, da análise feita nas Considerações finais. Ainda, os termos Avaliação
de Empresas e Valoração de Tecnologias são análogos, pois o objetivo dos mesmos é comum:
a identificação de um valor.
2.1 Avaliação de Empresas
O mercado de negócios não é movimentado somente pela negociação de serviços e
produtos, mas principalmente pelas transações comerciais envolvendo empresas. Aquisição e
fusão de organizações, privatizações, dissolução de sociedades, liquidação de
empreendimentos, todos estes processos necessitam uma avaliação contábil-financeira para
que sejam realizados de maneira justa quanto ao valor.
Desse modo, a avaliação de empresas, de acordo com Martins (2001), tem como
objetivo a determinação de um valor adequado de mercado, que demonstre o potencial
econômico da companhia alvo da transação. Ressalta-se que a avaliação de empresas busca
um valor adequado, justo, mas não correto, já que este será determinado pela interação entre
compradores e vendedores, conforme afirmação de Martelanc, Pasin e Cavalcante (2005).
Além disso, a avaliação de empresas atua como base de análise e informações para o
desenvolvimento de estratégias corporativas que visem a criação de valor para os acionistas,
assim como manutenção de vantagem no mercado acionário, de acordo com Copeland, Koller
e Murrin (2002).
Damodaran (2007) cita, ainda, que a avaliação de empresas pode ser utilizada para
diversos outros fins, como mera análise das finanças corporativas, avaliação para fins legais e
16
tributários, gestão de carteiras, utilizada para comparação com concorrentes que adquiriram
e/ou foram adquiridas por outras empresas etc.
2.1.1 Modelos de Avaliação
De acordo com Santos e Santiago (2008), os processos de Avaliação e Valoração
podem ser vistos como complementares, já que ambos têm como escopo a definição de valor
e se utilizam de conceitos comuns para desenvolvimento de métodos, conforme será discutido
adiante. Também podem ser encontrados outros métodos de avaliação, porém os aqui citados
apresentam maior relação com o tema.
2.1.1.1 Método do Fluxo de Caixa Descontado
O método do fluxo de caixa descontado é o mais empregado para a avaliação de
empresas. Envolve a projeção de fluxo de caixa, determinação da taxa de desconto, estimativa
de valor residual e por fim, cálculo do valor da empresa, conforme descrito por Martelanc,
Pasin e Cavalcante (2005). Tais autores (2005) afirmam que o método se baseia no montante
futuro de recurso que a empresa avaliada irá gerar, avaliado no momento presente, para que
estejam explícitos os riscos envolvidos.
São variadas as formas pelas quais a avaliação de empresas pode ser realizada com o
Fluxo de caixa descontado, como continuidade operacional, avaliação de ativo, patrimonial e
empresarial, conforme proposto por Damodaran (2007).
De modo prático, o valor da empresa seria o valor presente dos fluxos de caixa
pertencentes à perspectiva, descontado a uma taxa que represente os riscos envolvidos. É um
método que se aproxima da técnica de valoração utilizada para este estudo, conforme ainda
será explicado, por se utilizar de uma ferramenta prática e conhecida da área de finanças, o
Valor Presente Líquido (VPL).
17
O VPL é um conceito simples, porém muito importante para a área de Finanças.
Conforme sintetizado por Ross, Westerfield e Jaffe (2002 p. 73), o VPL é “a relação entre $ 1
agora e $ 1 no futuro”, contemplando a idéia do valor do dinheiro ao decorrer do tempo.
Baseia-se em “corrigir” os fluxos futuros a uma taxa de desconto adequada, considerando um
possível investimento inicial. O VPL seria a soma de todos os fluxos de caixa de todos os
períodos corrigidos a determinada taxa de desconto no período presente.
A fórmula do VPL pode ser descrita como:
Onde:
VPL = Valor Presente Líquido
= Investimento inicial
FC = Fluxo de Caixa
i = Taxa de desconto
t = Período do Fluxo
2.1.1.2 Método EVA/MVA
EVA, economic value added, valor econômico agregado, e MVA, market value added,
valor de mercado agregado, são tidos como um método eficiente para a avaliação de
empresas, principalmente no momento da criação de valor das mesmas, segundo Martelanc,
Pasin e Cavalcante (2005), sendo utilizados, freqüentemente, para avaliações voltadas à
análise de desempenho empresarial.
18
Conforme estudo de Faria (2006), o conceito de EVA surgiu durante a década de 90,
com os estudos do consultor americano G. Bennett Stewart (1991), mas a idéia contida no
conceito já é difundida há muito por economistas como Marshall e Keynes, ao retratarem
conceitos como lucro econômico e lucro residual.
O método consiste em determinar um valor que considere todos os custos da empresa
ou de determinado processo, incluindo os fixos, os operacionais, e até mesmo os de
oportunidade, subtraídos do lucro operacional projetado.
Nascimento (1998), apud Martins (2001, p.245), resume o conceito:
É o lucro operacional líquido, menos o custo de oportunidade de todo o capital
empregado, sendo esse custo de oportunidade definido como „o retorno mínimo
aceitável dos investimentos. É uma linha invisível que divide boas e más
performances de empresas, uma taxa limite que deve ser obtida com propósito de
criar valor‟.
O método EVA é discutido por diversos outros autores, como Gitman (2010),
Copeland (2002) e Frezatti (2000), que propõem diversas maneiras de calculá-lo,
diferenciando as contas que devem ou não ser consideradas, mas todos concordam no ponto
que o EVA seria um valor mínimo aceitável para as organizações iniciarem estratégias de
criação de valor.
O método é complementado pela análise MVA, valor agregado de mercado, que além
de considerar os fatores intrínsecos do EVA, faz uso de fatores externos à organização para
sua avaliação, como perspectivas de crescimento de mercado, cotações de títulos de mercado,
entre outros.
De acordo com Ehrbar (1999) apud Martins (2001, p. 248), “A criação de riqueza é
determinada (...) pela diferença entre o valor de mercado e o capital que investidores
comprometeram naquela empresa.” Ou seja, o valor de uma empresa deve englobar os
esforços de terceiros para que fosse apresentado o valor atual, assim como o valor estimado
pelo mercado, sua perspectiva em relação ao negócio.
19
Este método, com suas duas abordagens, é utilizado com freqüência pelas
organizações porque envolve uma discussão sobre a estrutura de capital vigente e também
acerca do posicionamento de mercado adotado pela empresa, segundo estudo de Santos e
Watanabe (2005). Além disso, leva a um estreitamento entre as áreas de planejamento
estratégico e finanças, dinamizando os processos e integrando a informação dentro da
empresa.
Deve-se ressaltar, a mérito de esclarecimento, que EVA e MVA são marcas
registradas da empresa norte-americana de consultoria Stern & Stewart & Co.
A avaliação é fortemente relacionada à avaliação de empresas (vide toda a literatura
sobre o tema utilizar esse termo), enquanto a valoração seria voltada para a avaliação de
tecnologias. Assim como descrito na Introdução, o objetivo tem como foco a valoração de
tecnologias inovadoras, e, para melhor entendimento de sua função, serão abordados
conceitos pertinentes, como inovação tecnológica e transferência de tecnologias.
2.2 Transferência de Tecnologias
A transferência de tecnologias se mostra um processo amplo, como será abordado nos
tópicos a seguir. Porém, para que se obtenha um panorama completo do conceito, faz-se
necessário o entendimento de inovação tecnológica, o “gatilho” para o processo de
transferência.
2.2.1 Inovação tecnológica
A inovação, apesar da constante presença como assunto de discussões empresariais e
estudos acadêmicos, ainda não é bem compreendida no país. De acordo com Plonski (2005),
nesse quesito, ocorrem três equívocos freqüentes: reducionismo (ter inovação somente como a
20
de base tecnológica), descaracterização (desconsiderar as mudanças tecnológicas
conseqüentes) e encantamento (ver apenas o extraordinário e o surpreendente como
inovação).
Silva (1984) diferencia as inovações em grandes e pequenas. As grandes seriam
aquelas que implicariam mudanças da função de produção, e as pequenas seriam mudanças ao
longo de uma dada função de produção, ou seja, uma espécie de efeito das “grandes”
inovações. Tal distinção se mostra obsoleta perante o panorama de inovação que atualmente é
apresentado. Sabe-se que o processo de inovação é amplo, sendo o que ele define como
grande inovação apenas o começo do processo, e as pequenas inovações as conseqüências e
efeitos desse processo, mostrando-se apenas um.
Logo, a inovação é um processo socioeconômico que envolve mudanças e
empreendedorismo, não somente um avanço de técnicas e aplicação de experimentos.
Poderia, então, ser entendida como um processo de mudança advindo de uma ação
empreendedora, que representará modificações nos processos e atividades de determinada
sociedade, sendo perceptíveis ao analisar os impactos ali causados, suas melhorias,
envolvendo a praticidade e criatividade presentes.
Considerando tais informações, é necessário entender o conceito de inovação
tecnológica. Esta se refere a produtos ou processos produtivos que são inseridos no mercado
com características tecnológicas novas ou consideravelmente aprimoradas, segundo resultados
de estudos da PINTEC2 apud Righetti e Pallone (2007). Em outras palavras, a inovação
tecnológica está presente em produtos e processos que representam novas soluções para o
mercado (por exemplo, o advento do celular, na década de 90) ou aprimoramentos
consideráveis (utilização do celular como microcomputador e gps).
2 Pesquisa de Inovação Tecnológica – PINTEC é realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), com o apoio da Financiadora de Estudos e Projetos – FINEP, do Ministério da Ciência e Tecnologia.
21
De acordo com o Manual de Oslo (2005, p. 21), o guia fundamental de diretrizes sobre
o tema, as inovações tecnológicas podem assim ser resumidas:
Uma inovação tecnológica de produto é a implantação/comercialização de um
produto com características de desempenho aprimoradas, de modo a fornecer
objetivamente ao consumidor serviços novos ou aprimorados. Uma inovação de
processo tecnológico é a implantação/adoção de métodos de produção ou
comercialização novos ou significativamente aprimorados. Ela pode envolver
mudanças de equipamento, recursos humanos, métodos de trabalho ou uma
combinação destes.
Assim sendo, a inovação tecnológica (ou tecnologia inovadora) pode ser classificada
como a criação de uma vantagem competitiva, que se desenvolve em produtos ou processos.
A tecnologia inovadora será, então, comercializada, seja diretamente ao consumidor ou por
cessão de direitos de produção, incorrendo à transferência de tecnologia.
2.2.2 O processo de transferência de tecnologias
A tecnologia inovadora (que, necessariamente, conterá inovação tecnológica)
apresenta dois caminhos para seu desenvolvimento: spin-off e transferência de tecnologias.
De acordo com a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico) apud Pereira e Muniz (2006), spin-offs podem ser entendidos como organizações
criadas por pesquisadores do setor público, empresas que contam com licenças de uso de
tecnologias advindas do setor público, ou aquelas que foram criadas a partir de instituições de
pesquisa.
Em outras palavras, Spin-off pode ser entendido como a criação, geração de uma nova
empresa ou negócio para o desenvolvimento da tecnologia, fazer com que seja evoluída para a
fase de produto. De modo geral, seria o processo de fazer com que a pesquisa, a idéia, seja
inserida no mercado como produto a partir de uma organização idealizada exclusivamente
para este fim.
22
O outro rumo é o processo de transferência de tecnologia (TT). Nesta modalidade, a
inovação tecnológica se desenvolve sem prejuízo no processo, em relação à outra opção. De
acordo com Silveira (1985) e Miranda e Simeão (2004), se baseia na venda de tecnologia,
concessão de direitos a uma organização para que esta realize a “travessia” da tecnologia, do
conceito ao produto. Envolve não somente o conceito de um produto, mas também a
propriedade intelectual (patentes) e know-how3.
O processo de transferência, ou licenciamento, pode ser visto como uma alternativa
viável para a grande maioria das inovações tecnológicas, devido a seu menor custo para o
pesquisador/idealizador (sem a necessidade de obtenção de equipamentos, insumos e gastos
referentes à abertura de uma empresa). Ainda, gera o direto de recebimento de royalties para o
detentor da patente, no caso, o pesquisador.
Além disso, a transferência propicia às adquirentes uma forma de diversificar seus
portfólios de produtos, sem a necessidade de fase de Pesquisa e Desenvolvimento do conceito
da tecnologia inovadora.
Os conceitos de TT estão sempre ligados à idéia de conhecimento comercializado,
troca de informações. Rogers (1995) apud Cysne (2005) classifica o processo como a
comunicação de uma inovação pelo sistema social, ou seja, a difusão dos conhecimentos e
técnicas.
Cysne (2005) analisa também a evolução do conceito de transferência, iniciando no
começo da década de 90 como apenas uma transação comercial, até os dias atuais, onde são
percebidos conceitos envolvidos, como disseminação de informações, e a visão do processo
como algo que leve ao desenvolvimento das sociedades.
3 Know-how: termo em inglês que significa conhecimento, experiência, capacidade ou técnica específica,
desenvolvida por uma pessoa ou organização. É fonte de vantagem competitiva quando se apresenta como um
diferencial frente aos concorrentes.
23
Destarte, a transferência de tecnologias pode ser entendida como um conceito que
abrange uma área ampla do processo de inovação tecnológica (e conseqüente criação de
vantagem competitiva) e desenvolvimento de mercado empresarial. Uma transferência
realizada com êxito se inicia com um estudo detalhado da tecnologia a ser transferida, o que
envolve uma refinada análise financeira, necessária para determinação de um valor adequado.
Para tal finalidade, os consultores da área realizam a valoração de tecnologias.
2.3 Valoração de tecnologias
A valoração de tecnologias pode ser entendida como um processo análogo à avaliação
de empresas, com o diferencial de se basear em uma inovação tecnológica para o
desenvolvimento de toda a análise. Assim sendo, o objetivo da valoração de tecnologias pode
ser visto não como a avaliação de uma empresa, mas sim a avaliação do potencial
mercadológico e financeiro de uma tecnologia inovadora.
Souza (2009) propõe um conceito de valoração baseado em seu objetivo:
O objetivo da valoração não é prever o valor exato da tecnologia no momento de sua
comercialização, mas fornecer, diante de todas as incertezas que caracterizam o
processo de inovação tecnológica, um valor esperado que, de certa forma, capte os
riscos e incertezas inerentes a este processo.
Desse modo, a valoração atua como uma ferramenta capaz de determinar um valor
base para negociações, que seja adequado ao potencial que a tecnologia em questão oferece,
considerando-se as características do mercado de atuação, seu momento econômico e
expectativas do mesmo.
De acordo com Santos e Santiago (2008), a valoração tem como escopo a identificação
de um valor justo, que reflita todo o potencial econômico da tecnologia em relação às
informações de mercado no momento em que é realizada a valoração, criando-se um valor
referência para as negociações advindas da transferência da tecnologia.
24
Análoga à avaliação de empresas, a valoração de tecnologias apresenta alguns métodos
para ser efetuada, mesclando ferramentas básicas de finanças e soluções desenvolvidas
especificamente para esse fim. A seguir, serão apresentados alguns métodos de valoração
utilizados, exemplificando a utilização de ferramentas conhecidas e novas soluções.
2.3.1 Valoração por utilização do VPL
De acordo com Martelanc, Pasin e Cavalcante (2005), o método de utilização do VPL,
ou desconto de fluxos de caixa, baseia sua análise no montante de recurso financeiro que o
projeto irá gerar no futuro, trazidos ao momento presente, para reflexão sobre o tempo e os
riscos associados à tecnologia.
Ainda, segundo Martins (2001), o método representa a melhor maneira de se expor a
efetiva capacidade de geração de riqueza do empreendimento, pois considera conceitos de
entradas, saídas e também investimentos, além do risco, captado através das taxas de desconto
a serem utilizadas.
Santos e Santiago (2008) dissertam que o conceito básico do método é que o valor de
determinado projeto varia de acordo com o valor dos fluxos futuros que ele apresenta,
considerando a vida útil da tecnologia e uma taxa de desconto que englobe o valor do dinheiro
no tempo e os riscos envolvidos.
Conforme discutido anteriormente, o VPL representa o valor presente de fluxos de
caixa futuros, subtraindo-se o investimento inicial necessário. Tratando-se de tecnologias
inovadoras, é necessária uma análise mercadológica, de onde serão extraídas informações
primordiais, como quantidades comercializadas, para que sejam construídos os fluxos de
caixa. Ainda, informações como investimentos, gastos e despesas devem ser considerados.4
4 A metodologia para obtenção destas informações será abordada no Capítulo 4, Apresentação e Discussão do
Caso, pois é variável. É relevante, no momento, o entendimento do conceito de valoração através do VPL.
25
Os fluxos de caixa devem ser construídos de acordo com o horizonte visualizado para
vida útil da tecnologia. Segundo Martelanc, Pasin e Cavalcante (2005), o horizonte da
projeção deve considerar aspectos como risco do empreendimento, período de instabilidade
do projeto e considerações acerca da vida útil da aplicação da tecnologia, no caso, do produto
a ser comercializado. Já Martins (2001, p. 283) afirma que “Em termos práticos, a maioria das
avaliações trabalha com períodos de projeção que variam entre cinco e 10 anos, dependendo
do grau de previsibilidade das variáveis”.
Com os fluxos de caixa construídos, pode-se, portanto, calcular o valor presente dos
mesmos, através da fórmula:
Onde:
VP = Valor Presente
FC = Fluxo de Caixa
i = Taxa de desconto
t = Período do Fluxo
A fórmula representa o somatório de todos os fluxos de caixa presentes na projeção,
descontados a uma taxa i, apresentando o valor presente dos mesmos. Porém, para obtenção
do valor presente líquido, assim como proposto por Ross, Westerfield e Jaffe (2002), deve-se
subtrair o investimento inicial:
Onde:
VPL = Valor Presente Líquido
VP = Valor Presente
= Investimento inicial
26
O resultado da análise, de acordo com estudo de Santos e Santiago (2008), é simples e
objetivo, fazendo com que um valor adequado seja encontrado de maneira eficiente,
permitindo, ainda, uma análise mais ampla: caso o valor do VPL seja positivo, o
desenvolvimento do projeto é viável, caso seja negativo, o processo de transferência da
tecnologia deverá ser realizado após modificações de melhoria no projeto.
Endler (2004) defende o método, ressaltando que ele consegue captar em sua análise
todos os fatores que atuam na formação de valor da empresa, que apresenta, de forma
consistente, um valor justo para o projeto, por considerar o investimento exigido, os lucros
gerados por ele e o tempo para que estes ocorram.
Algumas variações podem ocorrer no método. A organização na qual o autor do
estudo realizou um trabalho de valoração (conforme será discutido e apresentado em capítulo
posterior) utiliza a criação de cenários para composição da análise, podendo esta e outras
técnicas ser utilizadas no método do VPL, sem prejuízo de qualidade e confiança nos
resultados obtidos.
Grandes autores da área de finanças como Ross, Westerfield e Jaffe (2002) e Gitman
(2010), reconhecem que o VPL é uma ferramenta base para análises financeiras, de aplicação
simples e objetiva. Porém, é reconhecido também seu potencial de utilização em variados
tipos de análises, mantendo-se eficiente e oferecendo resultados confiáveis, assim como
ferramentas específicas.
2.3.2 Árvore de decisão
Árvores de decisão (do inglês Decision Trees) representam um sistema complementar
à análise de valor com o VPL, criado especificamente para a valoração de projetos. De acordo
com Pozzer (2001), são úteis para a visualização de opções de desenvolvimento de projetos,
assim como os valores financeiros referentes, auxiliando no processo de tomada de decisão.
27
Do mesmo modo, Ross, Westerfield e Jaffe (2002, p. 174), consideram árvores de decisão
“como um instrumento de identificação de decisões seqüenciais à análise do VPL.”.
Segundo Bogdan e Villiger (2006), o escopo das árvores de decisão é evidenciar as
opções gerenciais disponíveis, compreendendo a flexibilidade do projeto analisado, ao
apresentar os diversos cenários possíveis para o desenvolvimento do projeto.
Figura 01: Exemplo de árvore de decisão
Fonte: 2º Programa de Incentivo à Inovação – EVTECIAS Modem Banda Larga, 2010
Uma árvore de decisão é composta por nós, representando as decisões a serem
tomadas, e ramos, que demonstram as opções disponíveis para cada decisão. Cada alternativa
é acompanhada de um valor financeiro, que explicita o montante envolvido ao se tomar como
decisão tal alternativa.
28
Em tecnologias a serem transferidas, o valor que acompanha o ramo da transferência
representa o valor adequado para negociação. Como pode ser observado na Figura 01, o valor
da transferência é ainda acompanhado das opções de royalties envolvidos na transação.
É um método prático e de visualização objetiva de todo o processo, porém deve ser
construído com cautela e atenção. Bogdan e Villiger (2006) salientam que a árvore de decisão
pode não oferecer todas as alternativas possíveis e valores o mais próximo do exato, já que
pressupõe uma análise do tomador de decisão, podendo ser determinadas alternativas errôneas
e probabilidades deficientes, além da não inserção de muitas alternativas, o que tornaria a
análise demasiada complexa.
2.3.3 Valoração por múltiplos
O método de valoração por múltiplos, amplamente difundido no mercado de ações,
tem como escopo a análise comparativa da tecnologia a ser valorada com outras semelhantes,
ou que atuem no mesmo mercado. A idéia na qual o método se baseia é a de que as empresas,
ou tecnologias, tenham seu comportamento de acordo com um padrão pré-estabelecido, como
dissertam Santos e Santiago (2008).
Damodaran (2007) propõe três etapas essenciais para uma avaliação relativa ser
considerada eficiente e confiável. A primeira delas é referente à identificação de ativos que
possam ser comparados e que já tenham sido precificados. A seguir, é necessário escalonar os
preços do mercado a partir de uma variável comum entre eles, para que possam ser analisados
de forma padronizada e comparável. Por fim, ajuste de diferenças entre os ativos,
considerando que ativos tais como empresas podem possuir tamanhos diferentes, produções
em escalas diversas, e outros fatores que influenciam diretamente no preço.
Santos e Santiago (2008) ressaltam a praticidade do cálculo do valor de acordo com
este método, mas salientam que existem limitações, principalmente relativas a empresas de
29
base tecnológica ou projetos inovadores, por não possuírem atores semelhantes no mercado.
Ainda, há a premissa básica de que uma inovação tecnológica deva gerar valor, sendo que
caso o valor gerado seja comparável ao criado pelas tecnologias atuais, não há sentido em
desenvolver a inovação.
Descritos os conceitos e métodos envolvidos no estudo, parte-se para uma breve
descrição da Metodologia utilizada para confecção do trabalho, para que se possa iniciar uma
discussão sobre os métodos de valoração a partir de um estudo de caso.
30
3. METODOLOGIA
A presente pesquisa se mostra exploratória, já que tem como principal escopo o
melhor entendimento do tema (valoração). Conforme Diehl e Tatim (2004, p.53), a pesquisa
exploratória “Tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com
vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses”.
Ainda, pode ser considerada qualitativa, uma vez que pretende analisar
especificamente a utilização do VPL como método de valoração, fazendo uso de um Estudo
de caso como exemplificação. Mendonça (2010, p.25) afirma que pesquisas qualitativas
“podem permitir a construção de novas interpretações, num processo cíclico, dinâmico e
contínuo que busca uma espécie de sintonia fina até o momento da análise final”.
Ainda, foi realizada uma pesquisa bibliográfica a fim de se obter uma visão geral
sobre o contexto do tema, e também para eliminação de dúvidas e questionamentos ao longo
da análise. Cervo, Bervian e da Silva (2007, p. 60) definem tal tipo de pesquisa:
A pesquisa bibliográfica procura explicar um problema a partir de referências
teóricas publicadas em artigos, livros, dissertações e teses. [...] Busca-se conhecer e
analisar as contribuições culturais ou científicas do passado sobre determinado
assunto, tema ou problema.
Os autores utilizados para construção do referencial teórico foram determinados de
acordo com sua relevância em estudos na área e reconhecimento no meio acadêmico, além de
se tratarem de trabalhos científicos e publicados.
A pesquisa também apresenta caráter documental, sendo que faz uso de trabalho
específico sobre o tema abordado, para extração de informações e exemplificação. Diehl e
Tatim (2004, p. 59) declaram que “[...]a pesquisa documental vale-se de materiais que ainda
não receberam tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com o
objetivo do trabalho.”.
31
O estudo se baseia em um estudo de caso que retrata os trabalhos desenvolvidos pelo
graduando no CRITT (Centro Regional de Inovação e Transferência e Tecnologia). Um
estudo de caso, de acordo com Diehl e Tatim (2004, p. 61) “caracteriza-se pelo estudo
profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos, de maneira que permita seu amplo e
detalhado conhecimento”.
Um processo de valoração específico realizado pelo autor durante o período de estágio
atua como fonte de informações necessárias à aplicação da ferramenta de avaliação
comentada, processo este que será discutido no Capítulo seguinte, Apresentação e Discussão
do Caso.
32
4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DO CASO
4.1 CRITT
O CRITT – Centro Regional de Inovação e Transferência de Tecnologia atua como o
NIT (Núcleo de Inovação Tecnológica) da Universidade Federal de Juiz de Fora desde maio
de 1995, vinculado à SEDETEC (Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico).
Classificado como NIT, é responsável, portanto, pelo gerenciamento de política de
inovação da Universidade, abrangendo estímulo à proteção ao conhecimento e o processo de
transferência de tecnologia. Tem suas atividades com qualidade monitorada pela norma NBR
ISO 9001:2000, com três setores finalísticos: Transferência de Tecnologia, Incubadora de
Base Tecnológica e Design e Treinamento. Além destes, apresenta outros setores, como Pré-
Incubação, Comunicação e Marketing, Proteção ao Conhecimento.
A Incubadora de Base Tecnológica e Design recebe empreendedores que desejam
iniciar uma empresa baseada em produtos ou processos de alto grau tecnológico e de
inovação. Oferece estrutura física adequada, acompanhamento no desenvolvimento de Plano
de Negócios e outros planos de gestão, capacitação para os envolvidos, estímulo a parcerias,
entre diversas atividades relacionadas ao desenvolvimento dos incubados.
O setor de Treinamento tem como atividade principal o planejamento e execução de
capacitação e aprimoramento dos colaboradores internos, empresas incubadas e também ao
público geral, como é o caso de alguns cursos específicos oferecidos à comunidade. O
conhecimento é transferido através de cursos, palestras e workshops 5.
Ainda, o CRITT é responsável pelo gerenciamento do PII – Programa de Incentivo à
Inovação, cujo trabalho será apresentado e discutido neste estudo. O PII promove a cultura de
5 Workshop: do termo em inglês, trabalhos em grupo, com a intenção de discussão de determinado tema e
difusão de conhecimento.
33
inovação dentro da Universidade, podendo ser inscritos projetos de professores da própria
organização, que contenham, necessariamente, inovação tecnológica. Durante o projeto são
elaborados EVTECIAS (Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica, Comercial e de Impactos
Ambientais e Sociais) e Plano de Negócios Estendido. O objetivo é o desenvolvimento dos
projetos, seja para transferência da tecnologia ou spin-off , ou seja, cessão de direitos a uma
empresa para produção e comercialização ou geração de uma nova empresa para
desenvolvimento da tecnologia no mercado, conforme explicitado no Referencial teórico.
4.1.1 Setor de Transferência de Tecnologia
O setor de Transferência de Tecnologia foi o setor no qual o graduando autor do
estudo atuou e desenvolveu as atividades que serão descritas posteriormente. O setor
desenvolve atividades que buscam potencializar a inovação não só da Universidade, mas do
empreendedorismo de Juiz de Fora e região como um todo.
Realiza atendimentos externos a demandas de inventores independentes, que ao
procurarem o CRITT encontram consultoria na área, confecção de planos de negócios, criação
de parcerias visando a transferência, uma vez que o setor realiza triagem dentro do corpo
docente da Universidade para que tais atividades sejam desenvolvidas.
No setor de TT o autor deste estudo atuava como responsável pela valoração de
tecnologias. Tais estudos eram provenientes tanto de demandas externas (atendimentos) como
também de projetos advindos das duas edições do PII. Além disso, também realizava
atendimentos, que se desdobravam em pequenos estudos mercadológicos.
O processo de valoração no setor se iniciava com o atendimento ao inventor e/ou
pesquisador, que procurava o CRITT a fim de obter respaldo no processo de transferência.
Após esclarecer os passos da valoração, eram coletadas informações sobre o projeto, para que
fosse iniciado o estudo, com uma análise do mercado no qual seria inserida a nova tecnologia,
34
partindo para a análise financeira, utilizando-se de premissas e ferramentas financeiras como
o VPL. Ao final do processo, era confeccionado um relatório com todas as informações, que
era repassado ao cliente com todo o conteúdo e as explicações pertinentes.
4.2 O projeto
A seguir, será descrito o projeto que servirá como base para a aplicação do conteúdo
discutido no capítulo Referencial Teórico, englobando a caracterização da tecnologia, as
premissas de mercado, projeções financeiras e obtenção de valor de transferência através do
VPL. Por se tratar de um projeto do PII, que envolve tecnologia inovadora, alguns dados
(como componentes e proporções) serão denominados genericamente, a fim de preservar a
confidencialidade, o que não acarretará problemas para o entendimento da análise.
4.2.1 Caracterização da tecnologia
Neste tópico serão apresentadas informações gerais sobre o projeto, com o intuito de
apresentação e contextualização do mesmo, sendo o conteúdo necessário para
desenvolvimento da análise utilizada para a valoração do projeto. As informações aqui
relatadas foram retiradas do Plano de Negócios – Projeto Carrapaticida, também elaborado
pelo autor deste estudo para a 2ª edição do PII da UFJF.
O projeto escolhido para demonstração da aplicabilidade do VPL em valorações
refere-se ao desenvolvimento de uma tecnologia para licenciamento. A tecnologia se baseia
em um carrapaticida atóxico para uso em animais domésticos, na forma de um shampoo.
A tecnologia em questão se baseia na utilização de uma substância conhecida como
timol, 2-isopropil-5-metil-fenol, como princípio ativo de um carrapaticida. O timol é um
componente cristalino e incolor, que pode ser encontrado em diversas espécies vegetais, como
o tomilho, orégano, hortelã, entre outras. Foi descoberto em 1719, por um pesquisador
35
alemão, Gaspar Naumann, que pôde observar características como solubilidade em água e
aroma agradável. Apresenta também caráter anti-séptico, antifúngico e descongestionante.
O estudo utilizado como exemplo procurava desenvolver nova aplicação para o timol.
Primeiramente, em relação ao método utilizado para diluir a substância. Atualmente, o timol é
diluído em DMSO (dimetilsufóxido), um composto que apresenta alto grau de toxicidade,
além de cheiro desagradável, resultante de um processo de oxidação. Agravante, em reação
com outras substâncias tóxicas, o nível de toxicidade se eleva, podendo causar sérios danos à
saúde.
Além disso, a tecnologia é inovadora ao identificar uma nova característica da
substância, que é seu caráter carrapaticida, não observado ou pesquisado anteriormente.
Como proposta, a tecnologia se baseia numa utilização de timol que apresenta como
solvente uma solução alcoólica, que não exige processos químicos especiais para a “junção”
dos compostos, sendo necessária somente a adição dos mesmos, salientando-se a proporção
exata dos componentes.
Dentre as aplicações possíveis da tecnologia, pode-se determinar como inicial o
desenvolvimento de shampoo carrapaticida para animais domésticos (cães e gatos). É uma
aplicação que explora as principais características da tecnologia, o caráter carrapaticida do
timol e a atoxicidade da solução.
Nessa linha, podem ser desenvolvidos também diversos produtos além do shampoo,
como sabonetes, loções, materiais de limpeza de canis e soluções de uso tópico.
Esta aplicação estará voltada para o mercado de pet-shops de todo o Brasil. Tais lojas
representam uma interessante opção de inserção no mercado, porque além de usarem o
36
produto em suas operações (banhos), podem revendê-lo aos clientes, estendendo, assim, a
rede de contatos e ampliando o alcance da tecnologia sobre o mercado.
A tecnologia, porém, não se limita somente à aplicação apresentada. Com o
desenvolvimento da mesma, podem ser criados novos produtos que se baseiem no caráter
carrapaticida do timol, como carrapaticidas para outros tipos de animais, como bovinos e
eqüinos. Além disso, a tecnologia pode se estender ainda mais e evoluir para um produto
contra piolhos para uso humano, na forma de shampoo, semelhante ao proposto inicialmente.
4.2.2 Projeção de Vendas
A projeção de vendas é baseada no estudo mercadológico realizado para o Plano de
Negócios do projeto, de onde foram extraídas as informações utilizadas. Segundo o estudo, a
maioria das empresas de produtos pet está localizada na região sudeste do país, com grande
concentração no estado de São Paulo. Como clientes destas empresas, apresentam-se duas
vertentes a serem seguidas para a comercialização do produto. Primeiramente, têm-se as pet
shops, lojas especializadas em produtos para animais domésticos, de brinquedos a
medicamentos, e o mais importante no caso, os serviços de banho e tosa. Podem tanto usar o
shampoo em seus banhos como apresentá-lo aos clientes, para que estes o utilizem em seus
animais nas próprias residências. Seriam, portanto, os consumidores primários do produto.
Também, há o mercado mais amplo, que engloba tanto as lojas especializadas quanto
agropecuárias e supermercados. Dessa forma, a aquisição do shampoo seria feita diretamente
pelos donos de animais, podendo ser comprado juntamente com a recorrente ração, por
exemplo, ou em uma ida ao supermercado. Os donos de animais representam os consumidores
finais, mesmo não sendo os usuários, de fato, do produto (os animais).
37
Para ser determinada a quantidade anual de litros de shampoo a serem utilizados,
baseia-se no consumo de tal produto nas classes A e B do Brasil, através, inicialmente, do
número de cães no país (número que representará a base para a análise).
No Brasil há, aproximadamente, 32 milhões de cães, sendo que 10% destes são
animais de rua6. Logo, estes serão desconsiderados, resultando em um total de 28.800.000
cães domésticos (90% do total). Sabe-se que 73,5% dos donos de cães os levam para banho
em pet shops, sendo que: 17,8% semanalmente, 24,2% quinzenalmente e 31,5%
mensalmente7. Inferindo-se tais freqüências à quantidade de cães no país e o número de
banhos (52 semanais, 26 quinzenais e 12 mensais), determina-se o número de banhos anuais
em lojas especializadas, conforme Tabela 01:
Tabela 01: Número de banhos em pet shops
Fonte: Elaborado pelo autor
Do mesmo modo, relaciona-se a freqüência dos banhos fora de casa aos banhos
domésticos, resultando em: 6,4% de banhos semanais, 8,7% quinzenais e 11,4% mensais.
Analogamente à lógica anteriormente citada, determina-se a quantidade anual de banhos
domésticos, como pode ser visto na Tabela 02:
6 Fonte:http://veja.abril.com.br/200110/amigos-abandonados-p-100.shtml, disponível em 08/02/2011.
7 Fonte: http://www.vet.softdesign.inf.br/?Mercado-promissor,-gasto-mensal-em-pet-shop-ultrapassa-R$-
50&ctd=2, disponível em 08/02/2011.
38
Tabela 02: Número de banhos em residências
Fonte: Elaborado pelo autor
Portanto, o número total de banhos por ano no país é de 757.036.800. Com a intenção
de determinar a quantidade total de shampoo gasta nesses banhos, estima-se que, em média,
são gastos 50 ml do produto em cada banho, levando a um total de 37.851.840 litros de
shampoo por ano no país.
Para dimensionamento mais adequado, parte-se para os aspectos econômicos do
mercado. Primeiramente, sabe-se que o estado de São Paulo detém cerca de 50% de todas as
pet shops do país, e estima-se que a região sudeste represente 60% do total nacional desse
mercado. Essa representação é relacionada à quantidade anual de litros, para se chegar ao
consumo da região. O resultado obtido é 22.711.104 litros por ano (60% de 37.851.840),
como pode ser observado no somatório dos totais da Tabela 03:
Tabela 03: Consumo de shampoo região sudeste
Fonte: Elaborado pelo autor
Em seguida, projeta-se a quantidade auferida anteriormente sobre a percentagem de
população das classes A e B do país, já que serão estes que comprarão o produto, diretamente,
no varejo, ou indiretamente, pelos serviços de banho das lojas especializadas. Sabe-se que tais
39
classes sociais englobam 29% da população brasileira8, logo, consumiriam 29% do gasto
anual de shampoo, ou seja, 6.586.220 litros. A Tabela 04 representa os valores:
Tabela 04: Consumo de shampoo classes A e B da região sudeste
Fonte: Elaborado pelo autor
Por fim, esta seria uma projeção superestimada do mercado de atuação. Por se tratar de
um produto que envolve uma tecnologia inovadora, uma novidade ao mercado, utiliza-se um
índice de penetração no mercado. O índice de penetração no mercado foi estipulado em 1,5%
do consumo total. Porém, para melhores resultados e visualização do panorama de mercado,
adotam-se dois cenários possíveis: um otimista e outro, pessimista. O índice de penetração no
mercado do cenário pessimista representa 60% do otimista, sendo, portanto, 0,9% do
consumo total.
Ainda, para composição dos cenários, foi utilizada uma progressão de vendas ao longo
dos períodos da projeção (05 anos, valor usual, conforme discutido em tópico do Referencial).
A Tabela 05 agrupa as informações de venda do cenário otimista, em litros:
Tabela 05: Projeção de vendas para o cenário otimista (em litros)
Fonte: Elaborado pelo autor
No primeiro ano da projeção, foram consideradas as vendas em pet shops, na classe A.
Para 2012, as vendas correspondem ao consumo da classe A tanto em pets quanto residencial.
No ano seguinte, a projeção é de que o mercado atinja a classe A de modo geral e também a
8 Fonte: http://www.logisticadescomplicada.com/o-brasil-suas-classes-sociais-e-a-implicacao-na-economia/
disponível em 08/02/2011
40
classe B por meio das lojas especializadas. Para os dois últimos anos, estima-se que as vendas
abranjam as classes A e B nos dois ambientes.
Na projeção do cenário pessimista, os dois primeiros anos correspondem ao consumo
da classe A em pet shops. Para 2013, as vendas se estendem também para o consumo
residencial da classe A. 2014 e 2015 apresentam vendas da classe A como um todo e da classe
B em lojas especializadas. O resultado pode ser observado na Tabela 06:
Tabela 06: Projeção de vendas para o cenário pessimista (em litros)
Fonte: Elaborado pelo autor
4.2.3 Projeção de Investimentos
Os investimentos foram projetados de acordo com informações obtidas com a equipe
pesquisadora. Foram classificados como Investimentos em Pesquisa & Desenvolvimento
(P&D) e Investimentos em Produção e Comercialização.
Com base no projeto, os investimentos em P&D estão estimados na ordem de R$
207.000,00, para os dois cenários (o investimento é necessário em ambos e independe da
quantidade comercializada). O valor engloba desembolsos com pesquisadores, testes e
registros, componentes para realização de testes, entre outros.
Os investimentos em Produção e Comercialização, intitulados na planilha apenas
como Investimentos em Produção, estão estimados em R$ 334.328,24 no cenário otimista e
R$ 330.652,94 no cenário pessimista. Os valores representam insumos para início de
produção, equipamentos e maquinários, e demais investimentos operacionais. Há discrepância
nos valores entre os cenários porque estes investimentos estão diretamente ligados à
quantidade comercializada projetada. Ressalta-se, também, que a projeção de todos os valores
41
refere-se à alternativa de spin-off, a fim de obter um valor final mais adequado e compatível
com o mercado.
4.2.4 Projeção de Custos, Despesas e Receitas
O custo unitário do litro do produto foi obtido após informações do pesquisador,
acerca dos componentes e proporções, e pesquisa de mercado para averiguar os preços. Foi
determinado, deste modo, que o litro do carrapaticida teria um custo de R$ 8,80, incluindo a
embalagem e rótulo.
A Tabela 07 apresenta os insumos (descritos de forma genérica, devido à
confidencialidade do projeto) necessários para a produção de 1.000 litros do produto, e o
custo unitário total para cada litro:
Tabela 07: Custo unitário por litro (em reais)
Fonte: Elaborado pelo autor
O custo representa remuneração de colaboradores e respectivos encargos, além do
custo de manutenção de equipamentos necessários à produção. Também é determinado pela
quantidade comercializada, conforme pode ser observado em detalhes nos Anexos.
A estimativa das despesas tem como base a rotina de uma organização, como despesas
com água, energia elétrica, despesas bancárias e jurídicas, honorários de terceiros, entre
outros. Apesar de serem projeções para a criação de uma empresa para desenvolvimento da
tecnologia (spin-off), fazem parte da análise para composição do cenário.
42
Para ser auferida a receita, primeiramente foi necessário determinar o preço de venda.
Para isso, foram considerados todos os custos e despesas. A margem foi estipulada em 20%
para os 2 primeiros anos, 25% para os 2 seguintes e 30% para o último ano da projeção, de
acordo com a equipe pesquisadora. Foi considerada, também, uma alíquota média de impostos
sobre o produto no valor de 25%.
As Tabelas 08 e 09 reúnem as informações citadas para a formulação do preço de
venda, considerando os dados anteriormente citados dos cenários, como quantidades
comercializadas, custos e despesas.
Tabela 08: Preço de venda cenário otimista (em reais)
Fonte: Elaborado pelo autor
Tabela 09: Preço de venda cenário pessimista (em reais)
Fonte: Elaborado pelo autor
Assim sendo, o preço foi determinado por R$ 49,90 o litro no cenário otimista e R$
64,90 o litro no cenário pessimista. Com tais informações, juntamente com as quantidades a
serem comercializadas projetadas, obteve-se a receita anual para cada ano e cenário da
análise.
43
4.2.5 Projeção de Fluxos de Caixa
Com todos os componentes estipulados, foi possível a montagem de fluxos de caixa
anuais para um período de 05 anos, considerado o tempo médio para uma tecnologia se tornar
obsoleta e/ou saturada no mercado. Os resultados para o cenário otimista pode ser observado
na Tabela 10:
Tabela 10: Fluxos de caixa – cenário otimista
Fonte: Elaborado pelo autor
Pode-se observar que nos dois primeiros anos de projeção (2011 e 2012), o fluxo de
caixa é negativo, devido aos valores elevados de investimento, da fase de P&D e Industrial,
que serão pagos nos períodos citados. A partir do ano de 2013 o fluxo de caixa já demonstra o
potencial do projeto de gerar lucro. O valor dos impostos está informado apenas para critério
de compensação dos valores encontrados na identificação do preço do produto.
Abaixo, na Tabela 11, podemos observar os resultados para o cenário pessimista. Os
investimentos estão refletidos nos fluxos de caixa dos 3 primeiros períodos de projeção, pelo
fato do menor preço de venda e valor fixo dos investimentos.
Tabela 11: Fluxos de caixa – cenário pessimista
Fonte: Elaborado pelo autor
44
Para formulação do VPL, foi utilizada uma taxa de desconto de 50% para o cenário
otimista e 40% para o cenário pessimista. Tais valores foram obtidos com os professores
orientadores do PII, Profª. Fernanda Perobelli e Profº. Eduardo Gonçalves, ambos membros
da Faculdade de Economia da UFJF. Os valores são usuais no âmbito de tecnologias
inovadoras, segundo os professores, e utilizados como base para todos os projetos
participantes do PII, para análise equivalente entre os projetos.
O VPL representa o valor dos fluxos somados ao tempo presente, ou seja,
considerando o valor do dinheiro no tempo. Os VPL‟s dos cenários podem ser descritos
matematicamente da seguinte maneira:
Desse modo, o Valor Presente Líquido do cenário otimista resultou em R$ 335.262,54
e - R$ 194.444,58 no cenário pessimista. Em uma análise breve, podemos observar que o
projeto é viável no cenário otimista, por apresentar VPL positivo, porém, para o cenário
pessimista, seriam necessários mais alguns períodos para o projeto ser viável, já que
apresentou VPL negativo.
Tal ocorrência pode ser devido ao fato de as premissas do cenário otimista considerar
o consumo residencial da classe B, que representa um total considerável em relação aos outros
segmentos, elevando a venda do produto.
45
Ainda, no cenário pessimista, além da estimativa menor de vendas, os custos são
equivalentes aos do cenário pessimista, e o investimento inicial é igual para os dois, podendo
também ser uma explicação para o valor negativo. Porém, o fato do valor pessimista não ser o
desejado não inviabiliza o projeto, pois foi de conhecimento de todos os envolvidos que se
tratava de uma análise conservadora e restritiva, sendo, de uma maneira geral e ampla,
tendenciosa para o insucesso, tornando o estudo mais confiável e compatível com a realidade.
Realizada a etapa de indicação de fluxos de caixa e VPL, o próximo passo para análise
do projeto é a Valoração em si, na qual será indicado um valor base para as negociações da
tecnologia.
4.3 Valoração
Conforme discutido anteriormente, a valoração será feita com uso das informações do
VPL. Foram criados dois cenários de projeção, o otimista e o pessimista, e será importante a
proporção destes dois cenários para estipulação do valor de transferência.
Para a valoração através do VPL, são utilizadas proporções dos cenários construídos
nas projeções para composição de um único valor, que será o valor base para a transferência.
Usualmente, é de bom senso que não se adote uma projeção muito otimista, por
questões de riscos de mercado. Deste modo, a projeção seria confiável se adotasse a
proporção de 50% de composição do cenário otimista e 50% do cenário pessimista. Porém, a
partir da análise de mercado realizada para as projeções, pode-se inferir que o projeto será
recebido no mercado de maneira mais “receptiva”, sem grandes receios e resistências, por
conta da necessidade do mercado de novas soluções práticas.
Assim sendo, a proporção utilizada foi a de 60% do VPL do cenário otimista, e 40%
do VPL do cenário pessimista. Assim como a taxa de desconto utilizada para cálculo dos
46
VPL‟s, a proporção proposta foi determinada de acordo com o conhecimento de mercado e de
processos de valoração do bolsista autor do projeto e dos professores orientadores do PII, não
sendo baseado em nenhuma fonte específica, porém não deixando a análise menos confiável
ou verossímil. Destarte:
. 60% do VPL otimista: 60% x R$ 335.262,54 = R$ 201.157,52
. 40% do VPL pessimista: 40% x (- R$ 194.444,58) = - R$ 77.777,83
. Valor base para transferência: R$ 201.157,52 + (- R$ 77.777,83) = R$ 123.379,69
Portanto, o valor da transferência da tecnologia deve orbitar R$ 123.379,69, ou seja, é
um valor base para negociações, sendo que qualquer valor acima do indicado é interessante
para o pesquisador.
Deve-se salientar, ainda, que o indicado representa somente o valor base da
transferência, da cessão dos direitos de produção e comercialização da tecnologia. No
momento da negociação, deverão também ser discutidos os valores de royalties para o
inventor, percentual acordado entre o mesmo e a empresa transferente, já que se trata de
tecnologia com patente registrada.
Os royalties serão pagos ao detentor da patente em porcentagem do valor
comercializado, seja mensalmente ou de acordo com outro período estipulado no contrato da
transferência.
Os valores dos royalties também foram projetados de acordo com a análise, calculados
a partir de valores comuns no mercado (1, 2 e 3% - tais taxas podem atingir o valor de 5% em
algumas projeções), aplicados ao valor do VPL de cada cenário, a fim de composição de valor
base para a transferência:
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Tabela 12: Projeção de royalties
Fonte: Elaborado pelo autor
Assim sendo, o processo de valoração se encerra com a entrega de um relatório de
valoração para o pesquisador, contendo todos os valores obtidos e explicações. Todos os
valores devem ser considerados (o valor do projeto, obtido através da análise do VPL e
também dos royalties) no momento da negociação, com o objetivo de se potencializar a
capacidade do projeto de gerar lucros.
Um processo de valoração como o realizado neste estudo de caso permite que a
negociação seja mais favorável ao pesquisador/inventor, uma vez que, mesmo que não
obtenha conhecimento na área financeira, se valerá de informações confiáveis e valores
expressos de maneira objetiva.
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como observado no capítulo que aborda o Referencial teórico, a técnica de valoração
se mostra abrangente no que se refere a métodos e processos. Várias são as opções para a
realização de um estudo mercadológico e financeiro, que são indicadas para cada finalidade
específica do trabalho – uma valoração para a fusão de uma empresa, para compra de algum
parceiro da cadeia produtiva, ou até para a transferência de tecnologias, alvo deste estudo.
A transferência de tecnologia deve conter um estudo de valoração baseado em
informações sólidas e consolidadas, para que este apresente confiabilidade e verossimilhança
com o momento do mercado de atuação. Dessa maneira, o profissional que esteja incumbido
do processo deve ter a habilidade de filtrar informações e capacidade de relacioná-las para a
formação de uma projeção que tenha uma “linha de raciocínio” clara e objetiva.
Ainda, a valoração de uma tecnologia deve ser entendida como mais que a indicação
de um valor adequado para transações, mas também como um direcionamento para o
desenvolvimento da tecnologia, uma vez que todos os componentes da análise financeira são
baseados em informações mercadológicas, de acordo com o segmento identificado como
prioritário.
Em relação ao método utilizado para a valoração, o VPL, foco deste estudo, remete
algumas considerações. Primeiramente, assim como demonstrado no Referencial e também
observado em praticidade no Caso, a utilização do VPL como método de valoração se
apresenta prática, objetiva e simples.
Comparando-se com os outros métodos apresentados, o VPL justifica a classificação
apresentada. Conforme visto sobre o uso de Árvores de decisão, este procedimento gera
lacunas para discussões acerca do rumo de desenvolvimento a ser seguido pelo projeto, uma
vez que demonstra apenas os cenários possíveis e os valores envolvidos. O método dos
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múltiplos torna o resultado passível de dúvidas, pois se utiliza de comparações com projetos e
empresas já atuantes no mercado, o que se torna ineficaz ao se tratar de tecnologias
inovadoras.
Assim sendo, pode-se determinar o uso do VPL como um meio objetivo, confiável e
adequado para a valoração de tecnologias inovadoras, já que em sua análise engloba conceitos
mercadológicos e atualização com as tendências e perspectivas do mercado em que atuará o
novo produto.
Para as valorações desenvolvidas no CRITT, o VPL se adequada às necessidades do
setor de Transferência de Tecnologia, pois os clientes, pesquisadores e inventores, não
apresentam conhecimentos aprofundados sobre valoração e finanças, na maioria das vezes.
Portanto, o método propicia um panorama geral sobre o mercado, sobre o segmento
identificado como alvo e valores de negociação de entendimento simplificado.
Por esta razão, as outras modalidades de valoração citadas não foram utilizadas no
capítulo 4, Apresentação e Discussão do Caso, pois não foram utilizadas pelo autor do estudo
em seus trabalhos na empresa. Deixa-se como sugestão, porém, que outros métodos sejam
incorporados, ainda que de maneira parcial, ao utilizado atualmente no setor, o que tornaria os
estudos ali realizados mais completos.
Também, após pesquisa e estudo de diversos materiais para composição deste
trabalho, foi identificada uma “escassez” de trabalhos científicos na área de valoração de
tecnologias. Ainda que sejam encontrados em grande número, se apresentam ainda retidos em
conceitos iniciais e discussão de métodos e aplicações já existentes. Isso se torna um embate
quando observado o mercado de forma geral, conforme descrito na Introdução, um ambiente
em constante mudança e surgimento de novos produtos e processos a alta velocidade.
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Deste modo, propõe-se que não seja determinado um método como sendo o específico
para a valoração de determinado segmento (empresas, tecnologias e etc.). O ideal, na visão do
autor deste projeto, seria que se formasse um processo de valoração que contivesse os pontos
fortes de cada aplicação existente, e que se mantivesse em constante aperfeiçoamento e
consonância com as técnicas, perspectivas e evolução do mercado global. Porém, para que
este passo seja dado, é necessário que os estudos atuais sejam aprofundados e melhor
direcionados para a transferência de tecnologias.
Conclui-se, portanto, que no momento atual do mercado, com as técnicas vigentes e
perspectivas demonstradas, a utilização do VPL como método de valoração se comprova
adequada e confiável, permitindo a ambos os lados da transferência (pesquisador e
transferente) fácil visualização do contexto e potencial do projeto. As demais técnicas devem,
ainda, ser aperfeiçoadas, e aplicadas ao VPL a título de complementação da análise, visto que
este é considerado um método relevante e consolidado.
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ANEXO 01 – Planilha de projeções do Plano de Negócios – Projeto Carrapaticida
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