TCC Thompsson Kray[4 - final] corrigido

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CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM VITICULTURA E ENOLOGIA Trabalho de Conclusão de Curso MANEJO DO SOLO E NUTRIÇÃO DAS VIDEIRAS EM BENTO GONÇALVES Thompsson Benhur Didoné Bento Gonçalves 2010

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CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM VITICULTURA E ENOLO GIA

Trabalho de Conclusão de Curso

MANEJO DO SOLO E NUTRIÇÃO DAS VIDEIRAS EM BENTO

GONÇALVES

Thompsson Benhur Didoné

Bento Gonçalves

2010

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Thompsson Benhur Didoné

Matrícula N° 200721060199

MANEJO DO SOLO E NUTRIÇÃO DAS VIDEIRAS EM BENTO

GONÇALVES

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como

requisito parcial para obtenção do grau de

Tecnólogo em Viticultura e Enologia, pelo Instituto

Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio

Grande do Sul Campus Bento Gonçalves.

Orientador: Prof. Dr. Cláudio Henrique Kray

Local do Estágio: ASCAR/EMATER-BG

Bento Gonçalves

2010

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Dedico este trabalho a todos

que de uma forma ou outra

colaboraram e foram

companheiros durante a

realização do curso.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus por guiar todos os meus passos e conceder a

oportunidade de realização deste curso.

Aos meus pais pelo presente da vida.

À minha esposa Simone e filha Juliana pelo companheirismo, apoio e paciência

durante todo o curso.

Ao meu orientador, Professor Doutor Cláudio Henrique Kray pelo aprendizado e

ajuda na elaboração do trabalho.

À professora Fernanda Zorzi pelo apoio e ajuda durante o curso.

À equipe da ASCAR/EMATER-BG nas pessoas do Engenheiro Agrônomo Gilberto

Luis Salvador, dos Técnicos Agrícolas Luis Tortini e Vasco Mazzarolo, do Médico

Veterinário Carlos Renato Kurtz, da secretária Isabel C. Machado e da Extensionista de Bem

Estar Social Maria de Lourdes Gasparin Pancotte, pela contribuição e apoio.

Ao Escritório Regional da ASCAR/EMATER/SERRA, nas pessoas do Gerente

Regional Médico Veterinário Elói Potolan e Gerente Adjunto Zootecnista Jaime Ries, pela

compreensão e apoio na realização do curso.

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RESUMO

O objetivo foi relatar as atividades realizadas na ASCAR/EMATER de Bento Gonçalves, durante os trabalhos diários com os viticultores, no que se refere ao manejo de solo com o cultivo de plantas de cobertura ou vegetação nativa, bem como às práticas adotadas para coletar amostras de solo, verificar a fertilidade e fazer as recomendações de adubação e calagem dos vinhedos orientados pela empresa. As orientações e recomendações de manejo de solo ou adubação servem para o planejamento de vinhedos, obedecendo todos os critérios e restrições da implantação dos mesmos. Este trabalho registrou as principais plantas de cobertura de solo e as formas de manejo; a diferença entre a recomendação de adubação oficial e os resultados obtidos no campo; as dificuldades na recomendação de calagem e adubação de manutenção da videira e, as soluções que a Assistência Técnica Oficial do Estado do Rio Grande do Sul em conjunto com a Pesquisa Oficial vem adotando.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO....................................................................................................................10 1.1 LOCAL, PERÍODO E ORIENTADOR DO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO.................................................................................................................................12 1.2 CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO.......................................................................13

2. DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES E JUSTIFICATIVAS..................................................15 2.1 MANEJO DE SOLO COM PLANTAS DE COBERTURA .........................................15

2.1.2 PLANTAS DE COBERTURA DE SOLO EM ÁREAS COM EXCESSO DE COBRE.............................................................................................................................23

3 COLETAS DE AMOSTRA DE SOLOS. ............................................................................24 3.1 ANÁLISE FÍSICA DO SOLO .......................................................................................24

3.1.1CRITÉRIOS PARA PROFUNDIDADE DE AMOSTRAGEM (RECOMENDADOS AOS TÉCNICOS DA EMATER/RS): .........................................25

3.2. ANÁLISE QUÍMICA DO SOLO .................................................................................27 3.2.1 COLETA DE AMOSTRAS DE SOLO ..................................................................28

4 INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS DAS ANÁLISES QUÍMICAS DE AMOSTRAS DE SOLO DE VINHEDOS......................................................................................................31

4.1 INTERPRETAÇÃO DA ACIDEZ DO SOLO...............................................................31 4.2 INTERPRETAÇÃO DAS CLASSES DE SOLO, ARGILA E CAPACIDADE DE TROCA DE CÁTIONS........................................................................................................33 4.3 INTERPRETAÇÃO DOS TEORES DE FÓSFORO.....................................................34 4.4 INTERPRETAÇÃO DO POTÁSSIO ............................................................................35 4.5 INTERPRETAÇÃO DO CÁLCIO E DE MAGNÉSIO TROCÁVEIS E DE ENXOFRE EXTRAÍVES DO SOLO......................................................................................................35 4.6 INTERPRETAÇÃO DE TEORES DE MICRONUTRIENTES....................................36

5 RECOMENDAÇÃO DE ADUBAÇÃO. ..............................................................................37 5.1 CORREÇÃO DE ACIDEZ (CALAGEM).....................................................................37 5.2 ADUBAÇÃO CORRETIVA DE FÓSFORO, POTÁSSIO e BORO............................40 5.3 ADUBAÇÃO DE CRESCIMENTO E MANUTENÇÃO-NITROGÊNIO (N).............41 5.4 ADUBAÇÃO DE MANUTENÇÃO COM FÓSFORO (P)...........................................43 5.5 ADUBAÇÃO DE MANUTENÇÃO COM POTÁSSIO (K). ........................................44 5.6 ADUBAÇÃO DE MANUTENÇÃO COM CÁLCIO (Ca)............................................46 5.7 ADUBAÇÃO DE MANUTENÇÃO COM MAGNÉSIO (Mg). ...................................46 5.8 ADUBAÇÃO DE MANUTENÇÃO COM BORO (B). ................................................48 5.9 ADUBAÇÃO DE MANUTENÇÃO COM ZINCO (Zn). .............................................49 5.10 EFEITO DO COBRE (Cu) NA VITICULTURA. .......................................................50

6. CONCLUSÃO......................................................................................................................53 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................54

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Índice de Figuras

Figura 1- Produtividade média histórica do município de Bento Gonçalves ...........................14 Figura 2- Vinhedo com plantio de aveia preta em março.........................................................19 Figura 3- Vinhedo com cobertura de solo com ervilhaca.........................................................20 Figura 4- Área do vinhedo a ser amostrada – 02 Sub-amostras ...............................................29 Figura 5- Procedimentos para amostragem do solo com diferentes equipamentos..................30 Figura 6- Amplitude de pH vs disponibilidade de nutrientes e alumínio.................................32 Figura 7- Saturação da CTC pH 7,0 por bases, com aumento do pH do solo. .........................33 Figura 8- Deficiência de Nitrogênio na folha da Videira. ........................................................43 Figura 9- Deficiência de Fósforo na folha da Videira. .............................................................44 Figura 10 e 11- Deficiência de potássio na folha/cacho da Videira......................................... 45 Figura 13 e 14- Deficiência de magnésio na folha e cacho da videira......................................47 Figura 15- Deficiência de Boro no cacho da videira................................................................48 Figura 16- Deficiência de Zinco nas folhas de videira.............................................................49 Figura 17- Doses de M.O. em solo com excesso de cobre.......................................................51

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Índice de Tabelas

Tabela 1 - Variedades de uva Vitis vinífera, Vitis labrusca, bourquina e híbridas mais plantadas no município de Bento Gonçalves...........................................................................14 Tabela 2 - Faixas determinação do pH em água, saturação CTC por bases e por alumínio. ...................................................................................................................................32 Tabela 3 - Teor de argila, matéria orgânica e CTC a pH 7,0....................................................33 Tabela 4 - Teor de fósforo no solo extraído pelo método Mehlich-1, conforme teor de argila e para solos alagados. ..................................................................................................................34 Tabela 5 - Teor de fósforo extraído por resina de troca aniônica em lâminas. ........................34 Tabela 6 - Interpretação do teor de potássio conforme as classes de CTC do solo a pH 7,0. ..35 Tabela 7 - Teores de cálcio e magnésio trocáveis e enxofre extraível do solo.........................35 Tabela 8 - Interpretação dos teores de micronutientes no solo.................................................36 Tabela 9 - Adubação de pré-plantio(1). .....................................................................................40 Tabela 10- Teor no solo de boro, com doses recomendada de boro e tetrabórax. ...................40 Tabela 11- Adubação de Crescimento e Manutenção – Nitrogênio (N). .................................41 Tabela 12- Quantidades de cama-de-aviário (adubo orgânico) a aplicar em manutenção.......42

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Índice de Equações

Equação 1- Necessidade de calcário por saturação de bases....................................................38

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1. INTRODUÇÃO

A viticultura no Brasil ocupa uma área de aproximadamente 77 mil hectares, com

vinhedos estabelecidos desde o extremo sul do país, em latitude de 30°56’15’’S, até regiões

situadas muito próximas ao equador, em latitude de 5°11’15’’S.

A Serra Gaúcha, onde se situa Bento Gonçalves, está localizada no Nordeste do

estado do Rio Grande do Sul, cujas coordenadas geográficas e indicadores climáticos médios

são: latitude 29ºS, longitude 51°W, altitude 600-800m, precipitação 1.700mm, temperatura

17,2°C e umidade relativa do ar de 76%, conforme dados da EMBRAPA Uva e Vinho

(CNPUV). É a maior região vitícola do país com mais de 30 mil hectares de vinhedos. Trata-

se de uma viticultura de pequenas propriedades, pouco mecanizada devido à topografia

acidentada, onde predomina o uso de mão de obra familiar. A poda é realizada de julho a

agosto e a colheita concentra-se nos meses de janeiro a março.

A densidade de plantio situa-se entre 1.600 a 3.300 plantas por hectare e predomina o

sistema de condução em latada ou pérgola (horizontal), proporcionando produção de 10 a 30

toneladas por hectare, de acordo com a cultivar e as condições climáticas da safra. A maior

parte da uva colhida é destinada à elaboração de vinhos, sucos e outros derivados.

Em todo o mundo a espécie Vitis vinifera L. é a mais cultivada, sendo utilizada como

uva de mesa, passa e, principalmente, para produção de vinhos finos. No Brasil, ela ocupa

aproximadamente 20% do volume das uvas industrializadas. Entre as viníferas tintas a

cultivar Cabernet Sauvignon é a que apresenta maior área cultivada no Rio Grande do Sul,

sendo que a Serra Gaúcha é considerada o principal pólo produtor de uvas para vinhos finos

no Brasil, com 30.373 ha de vinhedos, consolidando-se como a maior região vitícola do país

(PROTAS et al., 2002).

O município de Bento Gonçalves é um dos maiores centros econômicos e industriais

do Sul do país. No setor primário destaca-se a vitivinicultura, com uma área em torno de

6.000 hectares de vinhedos, com 2.000 famílias de agricultores familiares envolvidos,

representando mais de 10.000 agricultores familiares.

A vitivinicultura teve início com a chegada dos imigrantes italianos em 1875 e,

tornou-se a principal atividade econômica da agricultura de Bento Gonçalves.

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Segundo o Instituto Brasileiro do Vinho (IBRAVIN, 2009), existem 78 vinícolas

registradas em Bento Gonçalves e 738 em todo o estado. De acordo com a Secretaria

Municipal do Desenvolvimento Econômico, o setor representa a terceira maior economia do

município, com 12,99% de participação no mercado, considerando o seu faturamento. Nos

últimos 8 anos foram processadas, no município, em média 98 mil toneladas de uva ao ano.

No estado, essa produção girou em torno de 499 mil toneladas ao ano. (Panorama

Socioeconômico de Bento Gonçalves – 2008)

O relevo possui altitudes de mais de 700 metros acima do mar e, em poucas

distâncias pode baixar para 300 ou 400 metros acima do nível do mar, o que indica fortes

declividades e, sugere medidas de controle de erosão, principalmente a hídrica.

No início da vitivinicultura, os agricultores derrubavam a mata nativa, plantavam

seus vinhedos e, como não existiam herbicidas, manejavam as plantas nativas, com roçadas

ou capinas o que garantia um aceitável controle da erosão e, uma adubação natural, por muitas

vezes deficiente em alguns nutrientes.

Muitas das inovações foram benéficas, causando um grande aumento de área

cultivada e maior produtividade nos vinhedos. Porém com o passar do tempo alguns

problemas começaram a surgir, comprometendo a qualidade, produtividade e própria

sobrevivência da videira.

Na região da Serra Gaúcha, em geral, ocorre relevo irregular, com forte declividade

e, alta pluviosidade, o que pode acentuar a erosão do solo, principalmente naquele local onde

o solo fica desprotegido ou, são cultivadas plantas que além de não proteger podem degradar

ainda mais o solo, dependendo da época e intensidade que são cultivadas.

Outro fato a ser considerado é a ocorrência cada vez mais freqüente de pragas e

doenças em regiões tradicionais de cultivo de uvas, doenças e pragas que jamais ocorreram e,

que podem estar direta ou indiretamente associadas ao manejo de solo, cobertura verde e suas

inter-relações.

Nos primeiros plantios de vinhedos (imigrantes, até a década de 50), houve algum

controle de erosão com o manejo de plantas nativas, mas, com o surgimento dos herbicidas,

adubos químicos e a mecanização (Revolução Verde) esse controle de erosão diminuiu. Por

outro lado, a utilização de adubos químicos ou orgânicos permitiu o aumento da

produtividade dos vinhedos, mas também em muitos casos, devido ao uso excessivo ou

errôneo desta adubação, registraram-se grandes perdas na produção, além da contaminação do

solo.

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Assim, a atividade de Assistência Técnica e Extensão Rural, prestada pela

EMATER/RS-ASCAR em Bento Gonçalves, visa orientar para o manejo de solo que

mantenha uma cobertura, seja verde ou palhada, com espécies cultivadas ou nativas, que

tragam um equilíbrio, não havendo competição com as videiras de maneira a assegurar a este

solo melhoria em sua integridade física, química, biológica e, ao meio ambiente por respeitar

os princípios dos sistemas agroecológicos. Da mesma forma orienta os viticultores sobre as

forma corretas de coleta de amostras de solo, faz a interpretação dos resultados e as

recomendações de nutrição da videira.

Serão relatadas a seguir as principais experiências e recomendações de manejo de

solo e nutrição de videiras prestadas pela EMATER/BG, baseados nas recomendações da

EMBRAPA/CNPUV, Sociedade Brasileira de Ciência do Solo e, também nas observações

diretas do trabalho a campo, junto ao viticultor.

1.1 LOCAL, PERÍODO E ORIENTADOR DO TRABALHO DE CONC LUSÃO DE CURSO.

O Relatório do Estágio Curricular Obrigatório é uma exigência do Instituto Federal de

Educação, Ciência e Tecnologia (IFRS), Campus Bento Gonçalves e visa proporcionar o

contato do aluno com o setor de Vitivinícola, podendo descrever as atividades e orientações

prestadas aos viticultores, aprendidas no decorrer do curso. O estágio tem uma duração

mínima de 360 horas, período que foi considerado como aproveitamento curricular, conforme

pedido feito pelo aluno, baseado no Art. 9° do Regulamento de Estágio Supervisionado e,

deferido pela Comissão Pedagógica do Curso. O aluno fez mais 90 horas para escrever este

trabalho, perfazendo um total de 450 horas, conforme prevê a grade curricular deste Curso.

O pedido de aproveitamento do Estágio baseou-se no fato que o aluno trabalha em

atividades correlatas ao Curso, ou seja, trabalha na EMATER/RS-ASCAR, exercendo suas

atividades em Bento Gonçalves, estando trabalhando na referida empresa desde 1997, sendo

considerado como período de estágio, desde o ingresso do funcionário na empresa até a defesa

deste Trabalho de Conclusão de Curso.

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A Associação Sulina de Crédito e Assistência Rural (ASCAR/EMATER) é uma

entidade filantrópica que presta, através de Engenheiros Agrônomos, Técnicos Agrícolas e

Extensionistas Rurais, assistência técnica e extensão rural aos pequenos produtores rurais, e

está vinculada à Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado do Rio Grande do Sul.

O Escritório Municipal da EMATER/RS-ASCAR de Bento Gonçalves está situado

na Rua Marechal Floriano, n° 234, Centro.

O orientador acadêmico é o Prof. Eng. Agr. Dr. Cláudio Henrique Kray.

1.2 CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO.

Bento Gonçalves está localizado na encosta superior do Nordeste da Serra Gaúcha, a

uma altitude de 691m, possui uma extensão geográfica de 382,5 km², com extremos térmicos

de 36º no pico máximo e mínimo de -3º, caracterizando-se como área de clima subtropical

úmido. A temperatura média anual da região fica em torno de 17° C.

A sede municipal dista 125 km via rodoviária da capital do estado. A média de

precipitação anual é 1600,83 mm, com freqüência média de 120 dias por ano. A umidade

relativa do ar é em média de 77% e insolação anual média alcança 2200 horas.

O município conta com a sede e cinco distritos: Tuiuty, Faria Lemos, Pinto Bandeira,

São Pedro e Vale dos Vinhedos.

A cidade faz limite geográfico com os municípios de Veranópolis, Farroupilha,

Garibaldi, Monte Belo do Sul, Nova Roma do Sul, Santa Tereza e São Valentim do Sul. Seus

acessos principais são através das rodovias estaduais: ao sul pela RSC 470, via Porto Alegre,

ao Norte RSC 470, via Veranópolis; e ao leste através de Farroupilha pela RSC 422.

A atividade agrícola do município, onde a maioria das famílias trabalha em regime

de agricultura familiar, gira em torno das frutíferas de clima temperado, de clima subtropical,

olerícolas, lavoura de cereais e de leguminosas, gado de leite, agroindústria e um percentual

pequeno, porém em expansão de produtos orgânicos (Figura 1).

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Figura 1- Produtividade média histórica do município de Bento Gonçalves Fonte: EMATER/RS (2007)

Como se pode perceber na Figura 1, a videira é a frutífera mais plantada, tradição que

chegou com os primeiros imigrantes italianos e permanece até hoje. Porém num aspecto

percebe-se a diferença: até pouco tempo atrás as variedades plantadas eram as uvas

americanas, também conhecidas como híbridas ou comuns (Vitis labrusca, bourquina e

híbridas) e nas últimas décadas tem se verificado a expansão do plantio das variedades

viníferas ou européias (Vitis Vinifera), Tabela 1.

Tabela 1 - Variedades de uva Vitis vinífera, Vitis labrusca, bourquina e híbridas mais plantadas no município de Bento Gonçalves.

V. labrusca, bourquina e híbridas V. vinífera

ROSADA BRANCAS TINTAS BRANCAS TINTAS

Niágara Niágara Isabel Riesling Cabernet Sauvignon

Seivw Willard Seibel Chardonnay Cabernet Franc

Moscato embrapa Hebermont Malvasia Tannat

Concord Semillon Merlot

Couderc Trebiano Pinot Noir

Bordo Moscato Pinotage

Fonte:EMATER/RS (2008)

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2. DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES E JUSTIFICATIVAS

As atividades de Assistência Técnica e Extensão Rural foram desenvolvidas em todo

o município de Bento Gonçalves, em conjunto com os colegas Técnicos Agrícolas Luiz

Tortini e Vasco Mazarollo e, o Eng. Agr. Gilberto Luiz Salvador, no período que compreende

desde a contratação na EMATER/RS-ASCAR até os dias atuais.

A Assistência Técnica prestada pela EMATER/RS-ASCAR abrange inúmeras

culturas, tais como pêssego, ameixa, caqui, kiwi, maçã, etc....além de olerícolas, gramíneas,

crédito rural, agroindústrias, entre outras atividades. Porém neste Relatório de Conclusão de

Curso, relataremos com maior embasamento científico algumas atividades que apresentam

correlação com o Curso de Tecnólogo em Viticultura e Enologia, que evidentemente referem-

se ao cultivo da videira, sendo elas: Manejo do Solo com Plantas de Cobertura e Nutrição da

Videira (desde a coleta de amostras de solo, interpretação dos resultados das análises do solo

e recomendações de adubação na videira).

2.1 MANEJO DE SOLO COM PLANTAS DE COBERTURA

O município de Bento Gonçalves apresenta o relevo bastante acidentado, com cultivo

de videiras em declividades não recomendadas para a fruticultura. Porém como o setor

primário é formado pela maioria de mini produtores rurais, com áreas médias de cultivo de

3,5 ha por família (IBRAVIN, 2009), torna-se uma questão social prestar Assistência Técnica

que reduza os riscos de erosão, principalmente em solos com bastante declividade, ajudando a

manter o homem no campo.

Com o pensamento de favorecer o agricultor familiar e preservar os recursos naturais,

são oferecidas palestras, cursos, tardes de campo, visitas individuais, além de elaborar

matérias para a mídia como TV, rádio e jornal, em parceria entre a EMATER/RS-ASCAR,

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMABRAPA), IFRS e Secretaria Municipal

de Agricultura, ente outras entidades.

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Assim, busca-se que o agricultor adote o manejo de solo que mantenha cobertura,

seja verde ou palhada, com espécies cultivadas ou nativas, que tragam um equilíbrio, não

havendo competição com as videiras, de maneira a assegurar a este solo melhoria em sua

integridade física, química, biológica e, ao meio ambiente por respeitar os princípios dos

sistemas agroecológicos.

Principais vantagens das plantas de cobertura de solo:

- Evitam a erosão do solo;

- Facilitam a infiltração de água no solo;

- Mantém e elevam o teor de matéria orgânica do solo;

- Reduzem as oscilações de temperatura no solo;

- Rompem as camadas adensadas;

- Melhoram a estrutura do solo;

- Fornecem nitrogênio às videiras;

- Reciclam os nutrientes do solo;

- Reduzem a lixiviação dos nutrientes;

- Diminuem a população das plantas espontâneas (efeito alelopático e/ou supressor);

- Fornecem substratos para microorganismos do solo;

- Reduzem ou eliminam o uso de herbicidas em vinhedos.

As plantas de cobertura de solos têm por finalidade proteger o solo contra o impacto

das gotas da chuva, assim diminuindo o risco de erosão e tornando o ambiente mais propício

para que haja ciclagem de nutrientes que estão contidos nas folhas das parreiras (Kuhn, 2002).

Ainda impedem a perda de nutrientes e contribuem para a manutenção ou melhoria das

condições físicas, químicas e biológicas do solo.

O manejo racional das plantas de cobertura do solo melhora a produtividade dos

vinhedos preservando as condições ambientais sem aumentar os custos de produção.

Manter o solo coberto é garantia de menor erosão, menor incidência de moléstias,

menor perda de nutrientes, menor contaminação dos mananciais hídricos, maior atividade

biológica no solo entre outros fatores benéficos às culturas.

Sempre que possível recomenda-se o manejo de ervas espontâneas, quando estas se

desenvolvem em épocas que não competem com as culturas por água e nutrientes. Devem ser

manejadas através de roçadas, acamando ou dessecando.

A semeadura de espécies que se desenvolvem em épocas em que as videiras estão em

fim de ciclo vegetativo ou em dormência pode ser uma boa forma de controlar as ervas que se

desenvolveriam junto com as videiras exercendo competição.

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Sempre que se fizer o manejo das plantas de cobertura sem o uso de herbicidas

haverá menos problemas ambientais, podendo o agricultor economizar recursos, mantendo

maior equilíbrio ambiental no vinhedo, o que garantirá melhores resultados.

O revolvimento do solo com aração, capina, escarificações, ou de qualquer outra

forma, deve ser evitado por ocasionar rompimento do sistema radicular das culturas e ser

porta de entrada de moléstias fúngicas.

Cabe ressaltar que, nos vinhedos novos e, até mesmo em alguns mais antigos, onde o

terreno permite, estão sendo construídos patamares, com o objetivo de facilitar a mecanização

agrícola e, também funcionar como diminuidor de velocidade das águas das chuvas,

diminuindo o efeito da erosão. Porém, mesmo com patamares é fundamental o manejo de

plantas de cobertura de solo, principalmente nos primeiros anos da construção destes

patamares, até que o terreno se acomode (digamos se reestruture). Assim é fundamental saber

a escolha das plantas a serem manejadas, para que realmente haja um efeito benéfico.

A maioria dos agricultores sabe e reconhece a necessidade de proteção do solo,

porém muitas vezes fazem esta proteção com espécies não indicadas ou plantadas em

períodos não propícios, que podem causar concorrência por água e nutrientes com as videiras.

Um grande medo dos agricultores é com relação às plantas daninhas e, “ver o

vinhedo no meio do mato”. As plantas daninhas não são em sua totalidade, prejudiciais a

videira. Há espécies menos competitivas que podem ser admitidas nas áreas, podendo ajudar

na ciclagem de nutrientes, promovendo a cobertura de solo, diminuindo a erosão, além de

servir de abrigo para os inimigos naturais. Algumas espécies são extremamente competitivas e

se disseminam muito rápido, como é o caso da grama seda ( Cynodon dactylon L. ), tiririca

(Cypereus rotundus L.), capim colonião ( Pancium maximum Jacq.), braquiárias ( Brachiaria

spp.), corda de viola ( Ipomoemia sp), as quais devem ser erradicadas das áreas. Outras

espécies menos competitivas podem conviver com a cultura nas entre linhas, no período

chuvoso, porém necessitam ser roçadas a cada 20 a 30 dias. O controle de plantas daninhas é

realizado observando-se diminuir a competição com a videira por água, luz, e nutriente ou

visando à eliminação das espécies mais competitivas.

Quando o vinhedo foi plantado, até que atinja a altura dos arames, é importante que

não haja competição por nutrientes e por água, porém deve-se levar em consideração o risco

de erosão e, adotar medidas para preveni-la. Assim, somente é possível o manejo do solo sem

cobertura, em terrenos planos e com irrigação por gotejamento, caso contrário a cobertura de

solo é indispensável.

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É importante escolher o tipo de planta de cobertura, observando, entre outros fatores,

a variedade de videira cultivada, tipo de máquina ou equipamento disponível, tipo de solo e

teor de matéria orgânica do mesmo.

As melhores plantas utilizadas como cobertura de solo são as leguminosas e as

gramíneas cultivadas e, também as plantas nativas, quando manejadas adequadamente.

A recomendação de plantio de culturas de cobertura de solo, feita em Bento

Gonçalves, segundo a fertilidade do solo e baseado nas observações a campo é a seguinte:

- Solos de Fertilidade Baixa: plantio de ervilhaca e trevo;

- Solos de Fertilidade Média: plantio de aveia ou azevém;

- Solos Compactados: plantio de nabo forrageiro.

Descreveremos abaixo as espécies mais usadas como plantas de cobertura de solo da

videira em Bento Gonçalves:

i) AVEIA PRETA ( Avena strigosa )

Semeadura – meados de fevereiro a meados de abril.

Quantidade de sementes – 100 a 120 kg/ha.

A aveia produz grande volume de matéria seca, tem grande efeito alelopático e

controla muito bem outras ervas anuais que se desenvolvem na primavera e verão, tem ciclo

que se adequa ao período de dormência da videira.

Recomenda-se o cultivo em vinhedos que apresentam teores de matéria orgânica

acima de 3%.

Em áreas tomadas por gramas ou capins perenes, deve-se realizar o controle dos

mesmos antes da semeadura de aveia.

A semeadura deve ser feita na superfície e com o solo úmido antes da quedas das

folhas da videira. Recomenda-se, em Bento Gonçalves, a semeadura no mês de março, com o

objetivo de obter um bom volume de palha e permitir que, por ocasião da poda das videiras

(agosto), a aveia já esteja com os grãos em massa o que poderá garantir a maturação da

semente e dispensar uma nova semeadura para o ano seguinte. Por ocasião da semeadura,

estamos recomendando que o agricultor deixe de molho por um dia a semente na água e,

também passe uma grade bem leve no solo (somente 1 a 2 cm - que não corta as raízes ), isso

garantirá um ótimo índice de germinação das sementes (Figura 2.)

Semeando cedo, em agosto a aveia praticamente já completou seu ciclo, não

necessitando de aplicação de herbicidas, ocasião que o agricultor pode fazer o acamamento da

aveia, arrastando uma “copada” de eucalipto, pneus velhos, pedaço de tronco, lâmina do

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trator, etc...e, assim a cultura completa a maturação da semente. Se ocorrer atraso no plantio

faz-se necessário o uso de roçadeira ou rolo-faca ou dessecamento com herbicida, pois caso

seja ano de seca, pode haver concorrência com a videira.

Figura 2 - Vinhedo com plantio de aveia preta em março.

No primeiro ano de semeadura de aveia, é necessário que se faça adubação

nitrogenada visto que a decomposição da palha é lenta e requer grande volume de nitrogênio,

podendo faltar para a videira.

Em solos com baixos teores de material orgânico deve-se adubar a aveia, por ocasião

do plantio, para que não atrase em demasia seu ciclo. Se a aveia não for acamada, dificulta o

trabalho de poda das videiras e reduz um pouco o controle de outras ervas.

ii) ERVILHACA ( Vicia sativa )

Semeadura – meado de fevereiro a meados de abril.

Quantidade de semente – 60 a 80 kg/ha

A ervilhaca é recomendada para o cultivo em parreirais que apresentam teores de

matéria orgânica menor do que 3% para evitar que haja excesso de vigor (Figura 3).

Apresenta o inconveniente de nem sempre completar seu ciclo antes da floração da videira e,

nestes casos, requer roçada ou acamamento com rolo faca evitando que haja competição com

as videiras.

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Em caso de semeadura consorciada com aveia, usar 60 a 80 kg de aveia e 30 a 40 de

ervilhaca por ha.

Figura 3-Vinhedo com cobertura de solo com ervilhaca.

Deve-se evitar fazer cortes ou pastoreio para não atrasar o ciclo da cultura.

A ervilhaca não tem um bom controle de ervas espontâneas que nascem no fim da

primavera e verão e por isso os viticultores acabam utilizando herbicidas para controlá-las.

iii) NABO FORRAGEIRO ( Raphanus sativus L. )

Semeadura – março a abril.

Quantidade de semente – 15 a 20 kg/ha

O nabo forrageiro tem um bom desenvolvimento em solos compactados e, nestas

condições é recomendado. É de fácil manejo, mas apresenta o inconveniente de ter

decomposição rápida da resteva gerando baixo controle de espécies que ocorrem espontâneas

nos vinhedos. Às vezes também se desenvolve no período de primavera verão, sob os

vinhedos, requerendo roçada. Por estes motivos não é tão aceita pelos viticultores. Para obter

controle sobre outras ervas deve ser consorciado com aveia.

iv) AZÉVEM (Lolium multiflorum )

Semeadura – março a abril.

Quantidade de semente – 40 kg/ha

21

O azevém pode competir por água e nutrientes com as videiras. O fato de completar

o ciclo em dezembro, e às vezes até janeiro, requer cuidados especiais.

Só é recomendado em vinhedos com vigor excessivo, mesmo assim é de difícil

manejo ecológico já que se for roçado rebrota com facilidade e atrasa ainda mais seu ciclo.

Em condições de seca no período de outubro a janeiro, pode causar grandes danos na

produção de uvas.

Quando cultivado para diminuir o vigor das videiras é conveniente que seja roçado,

antes da floração e, retirado do parreiral a cada corte.

Os agricultores resistem ao plantio do azevém devido à concorrência com as videiras

por água e nutrientes e, devido aos herbicidas usados não apresentarem eficiência no seu

controle (tornou-se resistente ao gliphosate). Assim, por ocasião de uma seca o agricultor

pode ter diminuição de safra.

v) CENTEIO ( Secale cereale L.)

Semeadura – meados de fevereiro a meados de abril.

Quantidade de semente – 100 a 120kg/ha.

Produz volume de palha semelhante à aveia. Exerce bom controle de outras ervas,

apresenta a vantagem de ter desenvolvimento mais rápido, completando seu ciclo mais cedo.

É ideal para o cultivo em locais de mesoclimas mais quentes onde o ciclo vegetativo começa

mais cedo.

As maiores desvantagens são o preço e a dificuldade de conseguir semente se

comparado com a aveia. Tem problemas de germinação quando semeado na superfície do

solo. No primeiro ano de semeadura requer adubação nitrogenada maior para as videiras.

vi) TREVO BRANCO ( Trifolium repens ) TREVO VERMELHO ( Trifolium pratense ) Semeadura – abril a julho.

Quantidade de sementes – Trevo branco 2 a 3 kg/ha e vermelho 6 kg/ha.

Excelente cobertura de solo, além de fixar nitrogênio através de simbiose. Deve ser

plantado após o terceiro/quarto ano do cultivo do vinhedo, podendo ser semeado nas entre

linhas. Pode também ser transplantado.

Existem outras plantas que podem ser utilizadas como cobertura de solo, porém são

pouco cultivadas na nossa região, mas vale um registro, pois poderão vir a ser utilizada no

futuro. Exemplo: ervilha forrageira, fava forrageira, serradela, tremoço, milheto, amendoim

22

forrageiro, e sorgo forrageiro (primeiros anos de cultivo do vinhedo para tirar cobre do solo),

crotalárias (principalmente a Spectabilis, que controla nematóides), espécies nativas, etc....

Segundo Giovannini (2008) algumas espécies de leguminosas, como a ervilhaca

(Vicia sativa), mostram, a partir do terceiro ano de cultivo, drástica diminuição do número de

plantas, devido à autoalelopatia. Há um acúmulo de toxinas no solo que prejudica o seu

próprio desenvolvimento. Deve-se alternar o cultivo da ervilhaca com outra leguminosa.

Para Oliveira (2006) na uva comum onde à produtividade é importante, deve revisar-

se o conceito do uso de espécies cultivadas de inverno-primavera (aveia, azevém, etc.),

principalmente, em solos pobres. A razão é que essas espécies foram melhoradas para

responder aos fertilizantes e apresentam sua taxa máxima de crescimento na primavera,

quando as parreiras estão rebrotando, portanto, podem concorrer com a videira por nutrientes

e água, principalmente, em parreirais em formação.

Quanto às espécies cultivadas de verão-outono (aveia de verão, quikuio, amendoim

forrageiro, etc.) devem-se levar em conta as mesmas considerações feitas para as cultivadas

de inverno-primavera, quanto à resposta a fertilizantes, porém como a época de crescimento

dessas espécies é a partir de novembro-dezembro, pouco vai afetar a produtividade da uva.

Abstraindo o aspecto de parreiral em formação, essas espécies podem contribuir para

melhorar a qualidade da uva.

Quanto às espécies nativas (grama forquilha, missioneira, ranpegina, milhã etc.) que

não respondem ou respondem muito pouco a fertilização, pouco irão concorrer por nutrientes

com as videiras e como crescem a partir de novembro/dezembro podem concorrer por água e

algum nutriente, no período de maturação da uva não havendo praticamente, nenhum prejuízo

para a produção.

2.1.1 ADUBAÇÃO DE VINHEDOS COM MANEJO DE PLANTAS DE COBERTURA

DE SOLO.

Em vinhedos já instalados, a aplicação de fertilizantes e corretivos de acidez do solo

(conforme a recomendação de adubação de análise de solo ou análise foliar de tecido) pode

23

ser feita, por exemplo, antes do acamamento da aveia cultivada, o que resultaria em uma

ótima incorporação dos nutrientes no solo.

2.1.2 PLANTAS DE COBERTURA DE SOLO EM ÁREAS COM EXCESSO DE COBRE.

Em vinhedos renovados ou novos, que existe excesso de cobre no solo, mesmo no

primeiro ano de plantio, recomenda-se o cultivo de aveia preta no inverno, cortando esta aveia

quando a mesma estiver florescendo e retirando debaixo do vinhedo (quando não existir risco

de erosão). Assim estaremos retirando parte do cobre do solo e, no verão recomenda-se

plantar outra gramínea, que pode ser o milho, onde também deve ser retirada toda a planta do

vinhedo, seja para silagem ou milho seco. Outra vantagem do milho é o controle dos ventos

frios e conseqüente controle da antracnose da videira, porém deve-se ter o cuidado de que a

plantação de milho não impeça a passagem de luz até as videiras e prejudique seu

desenvolvimento, bem como a concorrência por água e nutrientes. Caso a aveia fique no

terreno, também estará contribuindo para a formação de matéria orgânica que pode formar

compostos húmicos combinados com o cobre, o que possibilitaria que as raízes das videiras se

desenvolvam e ultrapassem as camadas de cobre do solo.

Em vinhedos já instalados, quando se cultiva alguma gramínea, como a aveia, é

notório o aparecimento de manchas amareladas, justamente no local onde existe a maior

concentração do cobre. Recomenda-se que o terreno receba uma adubação orgânica com cama

de aviário e o solo seja levemente revolvido, assim além de estarmos incorporando o adubo,

também estaremos dispersando o cobre.

24

3 COLETAS DE AMOSTRA DE SOLOS.

Os técnicos do Escritório Municipal da EMATER de Bento Gonçalves fizeram as

coletas de amostras de solo, bem como interpretação dos resultados e recomendação de

adubação de 925 amostras de solo nos últimos 03 anos (EMATER/BG-2009).

As amostras de solo são coletadas e interpretadas sob dois aspectos: análise química

ou física deste solo.

3.1 ANÁLISE FÍSICA DO SOLO

A análise física do solo é feita com o objetivo de identificar a classe de solo, a fim de

verificar se a cultura foi plantada conforme as recomendações do zoneamento agrícola de

risco climático. Também pode indicar as melhores práticas agrícolas a serem adotadas para

melhorar a estrutura, a fertilidade e a vida daquele solo.

A amostra de solo pode ser coletada pelo agricultor, sendo orientado para efetuar a

coleta, ou pelos técnicos da EMATER/BG. A coleta normalmente é feita em uma estrada

existente no vinhedo, onde facilmente pode ser visualizado o perfil do terreno, medida a

profundidade desejada e feita à coleta com auxilio de uma pá de corte. Também pode ser feita

a coleta da amostra de solo com o auxilio de um trado holandês, que retira a primeira amostra

de 0 a 20 centímetros, a segunda amostra de 20 a 40 centímetros e a terceira amostra de 40 a

50 centímetros.

São coletadas, em cada gleba, no mínimo quatro sub-amostras, que após serem

misturadas homogeneamente, formarão uma amostra de aproximadamente 1 kg, a qual será

devidamente ensacada, etiquetada e enviada ao Laboratório de Solos da Universidade Federal

do Rio Grande do Sul (UFRGS). O produtor paga por cada amostra o valor de R$ 35,00, que

é o valor cobrado pela UFRGS para fazer a análise física da amostra de solo. O tempo do

envio da análise ao Laboratório, até o retorno do resultado, leva em torno de 30 dias.

25

As normas de coleta de amostra de solo para análise física são regulamentadas pela

Instrução Normativa n° 12, do Ministério da Agricultura, de 2005.

O zoneamento agrícola de risco climático para o Estado do Rio Grande do Sul

contempla como aptos ao cultivo da uva os solos Tipos 1, 2 e 3, especificados na Instrução

Normativa nº 10, de 14 de junho de 2005, publicada no DOU de 16 de junho de 2005, Seção

1, página 12, alterada para Instrução Normativa nº 12, através de retificação publicada no

DOU de 17 de junho de 2005, Seção 1, página 6, que apresentam as seguintes características:

i) SOLOS TIPO 1:

Solos com textura arenosa e com teor de argila maior que 10% e menor ou igual a

15%, com profundidade igual ou superior a 50 cm; ou teor de argila entre 15 e 35% e com

menos de 70% areia, que apresentam diferença de textura ao longo dos primeiros 50 cm da

camada de solo, e com profundidade igual ou superior a 50 cm.

ii) SOLOS TIPO 2:

Solos com textura média, com teor de argila entre 15 e 35% e menos de 70% areia,

com profundidade igual ou superior a 50 cm.

iii) SOLOS TIPO 3:

a) Solos com textura argilosa, com teor de argila maior que 35%, com

profundidade igual ou superior a 50 cm;

b) solos com menos de 35% de argila e menos de 15% de areia (textura siltosa),

com profundidade igual ou superior a 50 cm.

O zoneamento agrícola de risco climático é um instrumento de política agrícola e

gestão de riscos na agricultura, que está sob a responsabilidade da Coordenação-Geral de

Zoneamento Agropecuário, subordinada ao Departamento de Gestão de Risco Rural, da

Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento -

MAPA.

3.1.1CRITÉRIOS PARA PROFUNDIDADE DE AMOSTRAGEM

(RECOMENDADOS AOS TÉCNICOS DA EMATER/RS):

26

Na determinação da quantidade de argila e de areia existente nos solos, visando o seu

enquadramento nos diferentes tipos previstos no zoneamento de risco climático, recomenda-se

que:

a) a amostragem de solos seja feita na camada de 0 a 50 cm de profundidade;

b) nos casos de solos com grandes diferenças de textura (por exemplo:

arenoso/argiloso, argiloso/muito argiloso), dentro da camada de 0 a 50 cm, esta seja

subdividida em tantas camadas quantas forem necessárias para determinar a quantidade de

areia e argila em cada uma delas;

c) o enquadramento de solos com grandes diferenças de textura na camada 0 a 50

centímetros, leve em conta a quantidade de argila e de areia existentes na subcamada de maior

espessura;

d) as amostras sejam devidamente identificadas e encaminhadas a um laboratório de

solos que garanta um padrão de qualidade nas análises realizadas.

Para o uso dos solos, deve-se observar a legislação relativa às áreas de preservação

permanente.

Além da questão de crédito agrícola, o técnico também possui uma visão de que a

nutrição das plantas envolve uma série de fatores, tanto físicos quanto químicos do solo, para

que os resultados em termos de produtividade sejam satisfatórios. Além dos nutrientes

estarem presentes no solo e, de maneira disponível para a absorção das plantas, o aspecto

físico do solo pode ser limitante na absorção destes nutrientes.

Os solos podem apresentar teores de nutrientes considerados adequados, mas devido

à sua condição física, a eficiência da utilização destes nutrientes pelas plantas pode ser

severamente afetada podendo causar redução na produtividade. Estes efeitos podem ser

maiores com condições climáticas adversas, como em anos de secas.

Um solo bem estruturado, sempre terá maior produtividade em relação a solos

compactados ou sem vida microbiana, quando comparados com a mesma adubação recebida.

Por isso, em viticultura recomenda-se o plantio de culturas de cobertura de solo,

principalmente no período de outono, com o objetivo de formação de uma camada de

cobertura, aumentando a vida microbiana e a fonte de nutrientes, através do aumento do teor

de matéria orgânica. Além do efeito físico da palha sobre a redução da evaporação da água do

solo, ainda há a ação da matéria orgânica beneficiando a melhor estruturação do solo

(principalmente poros), que por sua vez atua na melhoria da capacidade de retenção de água

pelo solo.

27

As propriedades físicas do solo interferem diretamente na absorção de água e

conseqüentemente nutrientes, pelas raízes das plantas (Streck, 2002), assim na moderna e

sustentável agricultura quando se fala em qualidade química ou em qualidade física do solo

não se pode trabalhar isoladamente um ou outro fator, pois ambos fazem parte do todo ou da

fertilidade integral do solo.

Na atividade agrícola é muito comum observar que os produtores rurais, visando

garantir a produtividade de sua lavoura, investem bastante no item adubação. Porém, muitas

vezes, eles esquecem de observar problemas como a compactação do solo, onde as raízes

terão seu desenvolvimento comprometido e, conseqüentemente, a absorção de água e

nutrientes pela planta também estará comprometida, existindo grande chance do investimento

em adubação não resultar no retorno esperado. O solo deve ser observado de maneira mais

ampla, considerando diversos fatores que, juntamente com a fertilidade irão garantir a

produtividade.

Os técnicos da EMATER/BG elaboram planos de crédito para investimento e custeio

de videira, sendo uma exigência governamental que o proponente que usará o crédito agrícola

invista em culturas que estejam dentro do zoneamento de risco climático. Além da questão do

crédito agrícola, se procura orientar o agricultor no sentido que se adote as melhores práticas

de manejo de solo, de acordo com os teores de argila, areia e silte que a análise física

determinou.

3.2. ANÁLISE QUÍMICA DO SOLO

A produção de uvas com qualidade nas condições de clima e solo de Bento

Gonçalves requer especial atenção à fertilidade do solo e ao uso de fertilizantes. As

recomendações de adubação e calagem da Comissão de Fertilidade do Solo do Rio Grande do

Sul e Santa Catarina (CQFS/NRS, 2004), superestimam as necessidades das videiras e

atendem ao sistema de produção até há pouco praticado, onde o preço da uva dependia da

variedade e muito pouco da qualidade, gerando maior receita a aqueles que obtinham as

maiores produtividades.

28

As recomendações de adubação feitas pelos técnicos da EMATER/BG primam pela

quantidade e qualidade da uva produzida, sendo baseadas em análises químicas de solo e

observação do estado nutricional do vinhedo. A análise foliar, praticamente não é utilizada

por vários motivos, ente os quais:

- Na época de coleta das folhas para análise, o vinhedo está com as folhas

recobertas por tratamentos fúngicos, o que pode mascarar o resultado da análise;

- O tempo entre a coleta das amostras de folhas e o retorno do resultado da análise

é superior ao período ideal para aplicação dos nutrientes que por ventura estejam

faltando na planta;

- A coleta das folhas do vinhedo é metódica, portanto deve ser feito por pessoa

treinada, o que inviabiliza o trabalho, pois no Escritório da EMATER/BG,

trabalham somente dois técnicos, para mais de 2.000 propriedades com vinhedos.

A base para a interpretação dos resultados das análises de solo continua sendo a

CQFS/NRS, (2004), porém algumas adaptações foram feitas e serão comentadas no decorrer

deste trabalho.

As análises de solo dos vinhedos são coletadas pelos técnicos da EMATER/BG ou

pelos próprios viticultores (que recebem orientação para as coletas), seguindo as orientações

da CQFS/NRS, (2004). Após a coleta as amostras são secas sob folhas de papel, ensacadas

(aproximadamente 500 gramas), etiquetadas e enviadas ao Laboratório de Análises de Solos,

da Faculdade de Agronomia da UFRGS. O preço cobrado do viticultor é de R$ 30,00

referentes ao custo do laboratório para cada análise química completa.

O Laboratório de Análises de Solos da UFRGS foi escolhido para o envio das

amostras de solo, pela proximidade de Bento Gonçalves e também pela credibilidade e

idoneidade do Laboratório, evidenciado pelo selo de qualidade da Rede Oficial de

Laboratórios de Análises de Solo (ROLAS) que acompanha cada análise.

Os técnicos da EMATER/BG fazem o acompanhamento da fertilidade do solo de

mais de 300 amostras de vinhedos/ano.

Na análise química do solo falaremos sobre a Coleta de Amostras de Solo,

Interpretação dos Resultados das Análises das Amostras e Recomendações de Adubação e

Calagem.

3.2.1 COLETA DE AMOSTRAS DE SOLO

29

Todos os passos para avaliação da fertilidade do solo ou recomendação de adubação

são importantes, mas o que mais tem influência sobre os resultados é a coleta do solo para

análise. Qualquer erro neste momento pode apresentar uma falsa idéia de fertilidade,

comprometendo os resultados de produtividade e qualidade das uvas.

Nas demais etapas do processo, como, por exemplo, uma interpretação equivocada,

pode facilmente ser revista, enquanto que erro na coleta de solo para análise fatalmente

resultará em recomendação de adubação equivocada.

Recomenda-se que o viticultor encaminhe amostras de solo para análises a cada 03

anos ou quando algum sintoma de deficiência ou toxidez é evidenciado.

A coleta de solo para análise em videira é recomendada logo após a colheita da uva

no caso de vinhedo produzindo e, no caso de plantio de vinhedos novos ou renovados a

amostra deve ser coletada no mínimo 03 meses antes do plantio das mudas.

Segundo as normas da CQFS/NRS, (2004), o primeiro passo para a amostragem

consiste em dividir o vinhedo em glebas de solo homogêneas, considerando-se o tipo de solo,

a topografia, a vegetação e o histórico de produção deste vinhedo. O solo pode ser

diferenciado pelo perfil, topografia, textura, cor entre outros fatores.

Cada amostra de solo que vai para o laboratório (amostra composta) é formada por

no mínimo 10 e uma média de 15 amostras simples (subamostras) por hectare, que são

coletadas por caminhamento em “ziguezague” (Figura 4).

Figura 4 - Área do vinhedo a ser amostrada – 02 Sub-amostras

30

A coleta das amostras de solo é feita com pá-de-corte ou trado. Normalmente quando

o técnico não consegue fazer a coleta, é explicado ao viticultor sobre a forma correta de fazer

a coleta de solo (Figura 5).

Figura 5. Procedimentos para amostragem do solo com diferentes equipamentos. Fonte: CQFS/NRS, (2004).

O viticultor é orientado a tirar a amostra de solo a uma profundidade de 17 a 20

centímetros, na faixa de adubação do vinhedo, colocando as sub-amostras homogêneas em um

balde. Após o agricultor deve misturar bem o solo no balde e retirar uma amostra de meio

quilograma, encaminhando a EMATER/BG. O mesmo procedimento é feito pelos técnicos da

EMATER.

Na EMATER/BG a amostra é secada sob um papel, na sombra, entre dois a três dias,

sendo posteriormente colocada em um saco plástico limpo, sendo devidamente identificada

com um formulário específico ANEXO A.

No Escritório Municipal existe um livro de controle das amostras recebidas, enviadas

ao Laboratório de Análises e interpretadas.

Em média 30 dias após o envio das análises ao Laboratório de Solos da UFRGS, o

resultado retorna ao Escritório Municipal, em 02 vias, onde os técnicos fazem à interpretação

dos resultados e, uma via vai ao viticultor e outra fica arquivada ANEXO B.

31

4 INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS DAS ANÁLISES QUÍMICA S DE AMOSTRAS DE SOLO DE VINHEDOS.

O Laudo de Análise Química do Solo retrata a fertilidade do solo que foi coletada a

amostra, sendo interpretado conforme a probabilidade de resposta das culturas, segundo os

índices estabelecidos na (CQFS/NRS, 2004).

A interpretação dos resultados analíticos por faixa de teores apresentadas no Laudo

de Análise possui os seguintes indicadores: acidez, teor de argila e matéria orgânica, CTC,

teores de fósforo, de potássio, de cálcio, de magnésio, de enxofre e micronutrientes no solo.

4.1 INTERPRETAÇÃO DA ACIDEZ DO SOLO.

O pH referência é o valor do pH do solo mais adequado ao desenvolvimento da

cultura. Acima desse valor não é observada resposta à calagem. A videira enquadra-se na

classe de pH 6, 0 como valor de referência.

A quantidade de corretivo a aplicar depende do pH em água a ser atingido. A

quantidade de corretivo aumenta quanto maior for à acidez potencial do solo, expressa pelo

índice SMP.

A necessidade de aplicação de calcário é definida observando-se os seguintes itens:

- pH do solo;

- Saturação da CTCpH7,0 por bases;

- Saturação da CTCefetiva por Al;

A acidez do solo interfere na disponibilidade da maioria dos nutrientes do solo para

as plantas (Figura 6).

32

Figura 6 - Amplitude de pH vs disponibilidade de nutrientes e alumínio. Fonte: Malavolta, 1989.

Considerando-se a sensibilidade da videira a acidez, a recomendação de corretivos é

feita conforme a interpretação da Tabela 2. Tabela 2 - Faixas determinação do pH em água, saturação CTC por bases e por

alumínio. Faixas de

interpretação

pH em

água

CTC a pH 7,0

Cmolc/dm3

Saturação da

Por bases

CTC(%)

Por alumínio

Muito baixo < = 5 < 45 < 1

Baixo 5,1 – 5,5 < = 5 45 – 65 1 – 10

Médio 5,6 – 6 5,1 – 15 66 – 80 10,1 – 20

Alto > 6 > 15 > 80 > 20

Os valores analíticos referem-se às faixas de interpretação especificadas, não havendo necessariamente correspondência entre si. Fonte: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (2004)

33

Conforme aumenta o pH do solo, aumenta a saturação de bases, sendo que o pH entre 6,0 e

7,0 é o melhor para as culturas ( Figura 7).

Figura 7 - Saturação da CTC pH 7,0 por bases, com aumento do pH do solo. Fonte: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (2004).

4.2 INTERPRETAÇÃO DAS CLASSES DE SOLO, ARGILA E CAPACIDADE DE TROCA DE CÁTIONS.

Conforme o teor de argila o solo é dividido em classes, que depois será usada para a

interpretação do fósforo. Na tabela 3 temos também a porcentagem de matéria orgânica, que

servirá para a recomendação de nitrogênio e também a CTC a pH 7,0

Tabela 3 - Teor de argila, matéria orgânica e CTC a pH 7,0 Argila Matéria Orgânica CTC pH 7,0

Faixa Classe Faixa Interpretação Faixa Interpretação

% % Cmolc/dm3

≤ 20 4 ≤ 2,5 Baixo ≤ 5,0 Baixo

21-40 3 2,6 – 5,0 Médio 5,1 – 15,0 Médio

41-6- 2 > 5,0 Alto > 15,0 Alto

> 60 1 -

Fonte: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (2004)

5 ,0 7 ,04 ,0 6 ,0

0

2 0

4 0

6 0

8 0

1 0 0

p H d o s o lo

Satruação por bases (%)

34

4.3 INTERPRETAÇÃO DOS TEORES DE FÓSFORO.

O método de Mehlich–I é adotado nos estados do RS e de SC desde 1968, para a

avaliação da disponibilidade de fósforo e de potássio para as culturas. Tendo em vista que a

resposta diferenciada das culturas nos diferentes tipos de solos é devida à baixa capacidade do

método de extrair o fósforo, especialmente em solos mais argilosos, que apresentam teores

elevados de óxidos de ferro e de alumínio e retêm (fixam) mais fósforo, a interpretação dos

resultados é efetuada conforme as classes de argila para as culturas de sequeiro. No caso de

solos alagados, essa diferenciação não é necessária devido à predominância de reações de

redução que favorecem a liberação desse nutriente, principalmente de fosfatos de ferro

Tabela 4.

Tabela 4 - Teor de fósforo no solo extraído pelo método Mehlich-1, conforme teor de argila e para solos alagados.

Interpretação

Classe de

1

solo conforme

2

o teor de

3

argila (1)

4

Solos

alagados

---------------- ------------------ mg/dm3---- ---------------- ----------------

Muito baixo ≤ 2,0 ≤ 3,0 ≤ 4,0 ≤ 7,0 -

Baixo 2,1 -4,0 3,1 – 6,0 4,1 – 8,0 7,1 – 14,0 ≤ 3,0

Médio 4,1 -6,0 6,1 – 9,0 8,1 – 12,0 14,1 – 21,0 3,1 – 6,0

Alto 6,1 -12,0 9,1 – 18,0 12,1 – 24,0 21,1 – 42,0 6,1 – 12,0

Muito alto > 12,0 > 18,0 > 24,0 > 42,0 > 12,0

(1)Teores de argila: classe 1 = >60%; classe 2 = 60a41%; classe 3 = 40a21%; classe 4 <= 20% Fonte: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (2004)

Para solos onde foi aplicado fosfato natural é necessário que o fósforo seja extraído

por resina de troca aniônica em lâminas,(Tabela 5).

Tabela 5 - Teor de fósforo extraído por resina de troca aniônica em lâminas. INTERPRETAÇÃO TEOR DE FÓSFORO

mg/dm3 Muito baixo ≤ 5,0

Baixo 5,1 – 10,0 Médio 10,1 – 20,0 Alto 20,1 – 40,0

Muito alto > 40 Fonte: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (2004)

35

4.4 INTERPRETAÇÃO DO POTÁSSIO

Em função da resposta das culturas à adubação potássica, as faixas de interpretação

dos teores desse nutriente no solo variam conforme a capacidade de troca de cátions a pH 7,0

Tabela 6.

Tabela 6 - Interpretação do teor de potássio conforme as classes de CTC do solo a pH 7,0.

Interpretação

> 15

CTCpH7,0(cmolc/dm3)

5,1 – 15,0

≤ 5,0

----------------------- ----------mg/dm3---------- -------------------

Muito baixo ≤ 30 ≤ 20 ≤ 15

Baixo 31 – 60 21 – 40 16 – 30

Médio 61 – 90 41 – 60 31 – 45

Alto 91 – 180 61 – 120 45 – 90

Muito Alto > 180 > 120 > 90

Fonte: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (2004)

4.5 INTERPRETAÇÃO DO CÁLCIO E DE MAGNÉSIO TROCÁVEIS E DE ENXOFRE EXTRAÍVES DO SOLO.

A interpretação do cálcio e magnésio trocáveis e enxofre extraível no solo são

apresentados na Tabela 7. São utilizadas três faixas de interpretação: ‘Baixo’, ‘Médio’ e

‘Alto’. Na prática consideram-se satisfatórios teores na classe ‘Médios’.

Tabela 7 - Teores de cálcio e magnésio trocáveis e enxofre extraível do solo Interpretação Cálcio Magnésio Enxofre

cmolc /dm3

Baixo <= 2,0 <= 0,5 <= 2,0

Médio 2,1 – 4,0 0,6 – 1,0 2,1 – 5,0

Alto > 4,0 > 1,0 > 5,0

Fonte: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (2004)

36

4.6 INTERPRETAÇÃO DE TEORES DE MICRONUTRIENTES.

A interpretação dos micronutrientes no solo é apresentada na Tabela 8. São utilizadas

três faixas de interpretação: ‘Baixo’, ‘Médio’ e ‘Alto.’

Tabela 8 - Interpretação dos teores de micronutientes no solo. Interpretação Cobre Zinco Boro Manganês Ferro

mg /dm3 g/dm3

Baixo <0,2 < 0,2 < 0,1 < 2,5 -

Médio 0,2 -0,4 0,2 – 0,5 0,1 – 0,3 (1) 2,5 – 5,0 -

Alto > 0,4 > 0,5 > 0,3 > 5,0 > 5,0

(1) Para a cultura da videira, o teor adequado de boro no solo varia de 0,6 a 1,0 mg/dm3. Fonte: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (2004)

37

5 RECOMENDAÇÃO DE ADUBAÇÃO.

A adubação da videira possui influência na produtividade e qualidade das uvas e dos

vinhos. Por isso, uma adubação exagerada, como em alguns casos é recomendada na

CQFS/NRS, (2004), no caso da videira, pode aumentar a incidência de doenças e

comprometer a produção.

A recomendação de adubação e calagem feita pela EMATER/BG baseia-se nas

interpretações dos índices analíticos apresentados nas análises de solo, conforme sugere a

Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (2004), mas também levam em conta as observações

feitas a campo, com relação à utilização de fertilizantes e os resultados das videiras em

produção e produtividade.

Segundo Fregoni (1980), uma planta de videira contém obrigatoriamente C, H e O,

obtidos da atmosfera e da água, e N, P, K, Ca, Mg, S, B, Cl, Co, Cu, Fe, Mn, Mo, Na, e Zn,

normalmente obtidos da solução do solo.

A extração de nutrientes, ainda segundo Giovannini (2008) é dada pela concentração

dos mesmos nos tecidos da planta e pela quantidade de matéria seca produzida sendo,

portanto, afetada por diversos fatores.

Os fatores mais importantes que afetam a extração de nutrientes pela videira são: o

clima, solos, porta-enxertos, cultivares, sistemas de condução e técnicas de cultivo.

As recomendações de adubação feitas pela EMATER/BG, sempre levam em

consideração os sintomas visuais do vinhedo. Nunca é feita uma recomendação sem conhecer

o parreiral ou no mínimo uma boa conversa com o viticultor sobre o estado nutricional das

parreiras

5.1 CORREÇÃO DE ACIDEZ (CALAGEM)

A recomendação oficial de correção de acidez de solo leva em conta o pH em água,

pH SMP, a quantidade de alumínio tóxico.

38

Podem-se seguir dois caminhos para quantificar a dose de corretivo de acidez do solo

a ser incorporada, segundo a CQFS/NRS, (2004).

1°) Observar o índice SMP e fazer a recomendação, ou

2°) Utilizar o cálculo do corretivo a ser aplicado, pelo critério de saturação de bases, conforme a fórmula:

Equação 1- Necessidade de calcário por saturação de bases.

Onde: NC = Necessidade de calcário, em t/ha (com PRNT 100%); 70 = é a porcentagem da saturação de bases desejada para viticultura; V1 = é a porcentagem da saturação de bases do solo CTC = é a capacidade de troca de cátions do solo

Na EMATER/BG, para fazer a recomendação de calagem em vinhedo em produção,

observamos se existe alumínio tóxico e, as quantidades de cálcio e magnésio indicadas na

análise de solo. Se existir alumínio tóxico ou o pH do solo não é o ideal, com CTC abaixo de

70, então montamos a recomendação pelo método de saturação de bases.

A observação das análises de solo realizadas nos mostra que em muitas situações o

pH em água não atinge o valor 6,0, referência para a qual é sugerida a recomendação de

acidez e, mesmo assim os solos não apresentam alumínio tóxico e mostram elevados índices

de capacidade de troca de cátions (>70%). Neste caso não é feita recomendação de aplicação

de corretivo de acidez para os vinhedos em produção.

Cabe, também salientar que segundo Giovannini (2008), há produção de vinhos em

solos de pH desde 5,5 a 8. A história da viticultura da Serra Gaúcha nos mostra que os solos

da associação Ciríaco/Charrua (Classificação Taxonômica,Brasil,1973) onde foram cultivados

vinhedos por longos anos com boas produtividades, apresentavam pH em água mais próximo

de 5,5 do que de 6,0.

Outra característica a ser considerada é que grande parte desta região apresenta solo

com elevados teores de matéria orgânica (MO), acima de 5% e baixo pH, cuja recomendação

de calagem baseada no índice SMP para atingir pH 6,0 é superior a 20 toneladas/ha, enquanto

que na prática obtem-se excelentes resultados com doses menores de calcário. Baseado no

exposto e considerando ainda os resultados obtidos com produtores e alguns trabalhos de

NC (t/ha) = CTC (70 – V1)

100

39

pesquisa da EMBRAPA/CNPUV, seguimos dois procedimentos para a recomendação de

calagem em Bento Gonçalves:

i) Calagem em áreas a serem implantados vinhedos:

- Amostrar o solo de zero a vinte centímetros de profundidade;

- Seguir as recomendações da CQFS/NRS, (2004), tendo como referência atingir o pH em

água de 6,0 , mas evitar aplicar doses que superem 10 t/ha de calcário/ha com PRNT 100%;

- Incorporar o calcário na profundidade de zero a vinte centímetros;

- Utilizar calcário de granulometria média;

- Não usar cal como corretivo, evitando mudanças bruscas de pH e interferindo no equilíbrio

dos minerais do solo.

ii) Calagem em vinhedos existentes:

A contínua e crescente morte de plantas nos indicam que não mais se justifica a lesão

ao sistema radicular das videiras para incorporar corretivos e adubos.

O uso de pequenas dosagens de calcário na superfície, mesmo em solos que pelo

índice SMP sugere dosagens em torno de 20 t/ha, tem proporcionado boas colheitas.

Trabalhos de pesquisa que estão sendo conduzidos pelo pesquisador George

Wellington Bastos de Melo da EMBRAPA/CNPUV com dosagens de ½ e ¼ de SMP,

aplicados na superfície do solo tem mostrado bons resultados de produção e significativas

mudanças de pH nas camadas mais profundas do solo ( Palestra Técnica/EMATER-2002). As

recomendações da EMBRAPA/CNPUV são feitas considerando-se 60% das dosagens

indicadas pela CQFS/NRS, (2004), para solos da serra Gaúcha. Estas constatações nos fazem

adotar os seguintes procedimentos nas recomendações de calagem para vinhedos em

produção:

- Aplicar o calcário na superfície do solo antes do acamamento ou roçadas das

plantas de cobertura;

- Utilizar a dosagem de ½ SMP (CQFS/NRS, (2004) limitado ao máximo de 2 t/ha

considerando PRNT 100%;

- Em caso de solos onde a recomendação, segundo a CQFS/NRS, (2004), seria acima

de 10 t/ha, reaplicar uma segunda dose, dois anos após a primeira aplicação e, acompanhar as

alterações de pH através de nova análise de solo e da produtividade do vinhedo.

40

5.2 ADUBAÇÃO CORRETIVA DE FÓSFORO, POTÁSSIO e BORO.

Consiste na aplicação de P, K e Boro no solo, antes do plantio das mudas (Tabela 9),

para elevar os teores para níveis suficientes, baseada na análise de solo. Segundo Giovannini

(2008) devem ser aplicados produtos de solubilidade lenta e que fiquem uniformemente

distribuídos em todo o perfil.

O adubo a base de fósforo mais recomendado é o Superfosfato Triplo, o adubo a base

de potássio é o Cloreto de Potássio e a base de boro é o Tetrabórax. Isto se deve pela questão

do preço e facilidade do viticultor encontrar estes produtos.

Tabela 9 - Adubação de pré-plantio(1). Interpretação do teor de P ou

de K no solo

Fósforo Potássio

Kg de P2O5/ha Kg de K2O/ha

Muito baixo 150 90

Baixo 100 60

Médio 50 30 (1) Não é recomendados a adubação de pré-plantio com fósforo e potássio para as faixas de teor “Alto” e “Muito Alto”. Fonte: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (2004).

O teor adequado de boro no solo para a cultura da videira varia de 0,6 a 1,0 mg/dm3,

portanto, se o teor no solo for menor que 0,3 mg/dm3, faz-se à recomendação (Tabela 10).

Tabela 10 - Teor no solo de boro, com doses recomendada de boro e tetrabórax. Teores no Solo Dose Recomendada Equivalente/tetraborax

< 0,3 ppm 16,5 kg/ha 150 kg/ha

0,4 a 0,5 ppm 11 kg/ha 100 kg/ha

0,6 a 1,0 ppm 5,5 kg/ha 50 kg/ha

FONTE: EMATER/RS (2007)

41

Recomenda-se incorporar os adubos ao solo através de grade ou escarificador,

podendo-se misturar o fósforo, potássio e boro. Sempre são recomendados adubos com

formulação de um único nutriente.

Na produção orgânica só é permitido o uso de Sulfato de Potássio ou Sulfato Duplo

de Potássio e Magnésio, ou fontes orgânicas de Potássio tais como palha ou cinzas.

O uso de fosfatos naturais causa menores impactos ambientais e são os únicos aceitos

no sistema de produção orgânica.

5.3 ADUBAÇÃO DE CRESCIMENTO E MANUTENÇÃO-NITROGÊNIO (N).

A adubação nitrogenada de plantio ou crescimento segue as orientações da

CQFS/NRS, (2004), (Tabela 11).

Tabela 11- Adubação de Crescimento e Manutenção – Nitrogênio (N). Teor de matéria Orgânica no solo

Época

1° ano

de aplicação

2° ano

de nitrogênio(1)

3° ano

% -------------------------- Kg de N /ha--------- --------------------------

≤ 2,5 40 40 50

2,6 – 5,0 20 20 30

> 5,0 10 10 0 (1) Ano de plantio do porta-enxerto. Mudas enxertadas: considerada a partir do 2º ano. Fonte: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (2004).

Na adubação de manutenção com nitrogênio, as recomendações da Sociedade

Brasileira de Ciência do Solo não estão sendo seguidas por serem consideradas

superestimadas.

Foram feitas as seguintes alterações:

- Para áreas com teores de M.O. ≤ 2,5%segue-se às recomendações da CQFS/NRS, (2004);

- Para solos com M.O. superior a 2,5% não é recomendada adubação nitrogenada. Cabem

algumas exceções quando se trata de uva de mesa.

42

Antes da decisão da quantidade de nitrogênio a ser aplicada sempre se leva em

consideração a diagnose visual, a destinação da produção e o consumo de Luxo de N.

Quanto ao tipo de adubo, se a relação Ca/Mg da análise de solo for inferior a 3:1

recomenda-se Nitrato de cálcio, caso contrário recomenda-se Sulfato de Amônio. Já a uréia

onde a relação custo x benefício seria melhor, não é recomendada, devido aos agricultores não

seguirem as orientações de se aplicar metade da dosagem comumente aplicada de Sulfato de

Amônio ou Nitrato de Cálcio.

A adubação nitrogenada de manutenção (orgânica ou mineral) é recomendada

somente quando o crescimento vegetativo estiver abaixo do esperado. O excesso de nitrogênio

pode prejudicar a floração/frutificação, tornar a planta mais susceptível a doenças e prejudicar

a qualidade dos frutos, especialmente em uvas para vinho.

Pode ser usada adubação orgânica, como cama-de-aviário , desde que a análise de

solo indique teores de matéria orgânica inferiores a 2,5% e, a análise visual do vinhedo

também indique falta de N. As doses recomendadas estão expressas na (Tabela 12).

Tabela 12 - Quantidades de cama-de-aviário (adubo orgânico) a aplicar em manutenção. Teor de matéria orgânica no solo

Cama de Uva para vinho

aves Uva para mesa

% ----------------------------------t /ha-------------------------------- <= 2,5 3,0 6,0

2,5 – 3,5 2,0 4,0 3,6 – 5,0 1,0 2,0

> 5,0 0 0 Fonte: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (2004).

A necessidade de N na videira pode facilmente ser suprimida com o cultivo de

plantas de cobertura de solo, uso de compostos e estercos de aves e animais.

Caso a análise de solo ou análise visual indique falta de Nitrogênio, calcula-se a

quantidade a ser aplicada considerando-se a exportação do nutriente pela planta (produção).

Para a recomendação de adubação é considerado o consumo de 2kg de N para a produção de

1000 kg de uva, conforme dados da EMBRAPA/CNPUV.

A época de aplicação de adubação nitrogenada para manutenção da videira,

oficialmente é recomendada em 3 etapas:

1ª) 50% da dose no início da brotação;

2ª) 25% da dose após a fase de fecundação (chumbinho);

3ª) 25% da dose em aproximadamente 30 dias após a segunda aplicação.

43

Pela prática de campo recomendamos a aplicação de adubação nitrogenada em duas

etapas:

1ª) 50% da dose recomendada no início da brotação; e

2ª) 50% da dose recomendada na fase de chumbinho.

O teor de matéria orgânica é o indicador de disponibilidade de N no solo mais

utilizado, mas este não tem sido muito eficaz na predição do comportamento das plantas, o

que tem causado sérios problemas na viticultura, pois tanto o excesso quanto a deficiência de

nitrogênio afeta a produtividade e a qualidade dos frutos.

Os sintomas de deficiência de nitrogênio se caracterizam pela redução no vigor das

plantas e pela clorose (amarelecimento) no limbo das folhas maduras e velhas (Figura 8). Em

algumas variedades tintas as folhas e, principalmente, os pecíolos podem apresentar coloração

avermelhada.

Figura 8 - Deficiência de Nitrogênio na folha da Videira. Fonte: EMBRAPA/CNPUV

5.4 ADUBAÇÃO DE MANUTENÇÃO COM FÓSFORO (P).

A adubação de manutenção com fósforo segue as recomendações da CQFS/NRS,

(2004), elevando-se os índices indicados pela análise de solo até o nível médio da adubação

de correção, somando-se o consumo de 1,4 kg de P2O5 por tonelada da uva produzida.

44

Resumindo, a recomendação é feita com a soma da quantidade de P2O5 até o nível médio da

recomendação de correção com 1,4 kg de P2O5 por tonelada de fruto produzido.

A época de aplicação varia de junho a agosto, com a recomendação de adubos com

um único nutriente. O mais recomendado é o Superfosfato Triplo.

Solos brasileiros são deficientes em fósforo, com teores médios em torno de 1,0 mg

kg-1 (Mehlich 1) Bissani et. al., (2008), que torna necessário utilização de adubos químicos

para suprir a deficiência. Os sintomas de deficiência de fósforo ocorrem em folhas maduras,

onde é observada redução do tamanho, tornam-se amareladas e ainda pode apresentar limbo

com manchas avermelhadas (Figura 9).

Figura 9 - Deficiência de Fósforo na folha da Videira. Fonte: EMBRAPA/CNPUV

5.5 ADUBAÇÃO DE MANUTENÇÃO COM POTÁSSIO (K).

A adubação de manutenção com potássio também segue as recomendações da

CQFS/NRS, (2004), elevando-se os índices indicados pela análise de solo até o nível médio

45

da adubação de correção, somando-se o consumo de 6 kg de K2O por tonelada da uva

produzida, idêntica à adubação como fósforo.

A época de aplicação varia de junho a agosto, com a recomendação de adubos com

um único nutriente. O mais recomendado é o Cloreto de Potássio, isso pela facilidade do

produtor comprar o fertilizante.

Na grande maioria dos solos brasileiros a concentração de K é considerada baixa, no

entanto, os solos da região da Serra Gaúcha apresentam teores de médio a elevado.

O uso indiscriminado de fertilizantes potássicos aumenta a concentração desse

elemento no mosto, podendo acarretar problemas enológicos.

Por ser um elemento bastante móvel no interior das plantas, os sintomas de

deficiência de potássio ocorrem em folhas mais velhas. Nas variedades brancas os sintomas

iniciais se caracterizam por amarelecimento nas proximidades das bordas foliares, com o

agravamento da deficiência as bordas ficam necrosadas. Nas variedades tintas, as folhas

tornam-se avermelhadas e também mostram o necrosamento das bordas (Figura 10 e 11).

Figura 10 e 11- Deficiência de potássio na folha/cacho da Videira. Fonte: EMBRPA/CNPUV

Segundo Giovannini (2008) a maior demanda de K é da metade ao final do verão,

quando são acumuladas grandes quantidades desse elemento na maturação dos frutos. Por

isso, deficiências temporárias de K são associadas com superproduções.

Tanto o excesso quanto a falta de K podem necrosar a ráquis do cacho, causando

secamento das uvas. Segundo Giovannini (2008) o excesso de K quando a relação K2O/MgO

for superior a 10, também provoca dessecamento da ráquis e também uma antecipação na

entrada em repouso vegetativo e um atraso na retomada da atividade vegetativa no ciclo

seguinte.

46

5.6 ADUBAÇÃO DE MANUTENÇÃO COM CÁLCIO (Ca).

O fornecimento de cálcio ás videiras é feito pela aplicação de calcários para a

correção de pH do solo. Também pode ser feito com as aplicações foliares de cloreto de

cálcio.

Para cada tonelada de uva produzida, a videira absorve aproximadamente 6 kg de

CaO. (EMBRAPA/CNPUV, 2009).

O cálcio é um elemento pouco móvel na planta, por isso os sintomas de deficiência

aparecem nas folhas jovens. Essas folhas normalmente são menores do que as normais, com a

superfície entre as nervuras cloróticas, com pintas necróticas e tendência a se encurvarem para

baixo (Figura 12).

Figura 12 - Deficiência de potássio na folha/cacho da Videira. Fonte: EMBRAPA/CNPUV, 2009.

5.7 ADUBAÇÃO DE MANUTENÇÃO COM MAGNÉSIO (Mg).

47

O fornecimento de magnésio as videiras é feito pela aplicação de calcários

dolomítico para a correção de pH do solo. Também pode ser feito com as aplicações foliares

de sulfato de magnésio.

Para cada tonelada de uva produzida, a videira absorve aproximadamente 1 kg de

MgO ( EMBRAPA/CNPUV, 2009).

O magnésio é um elemento móvel na planta, por isso os sintomas de deficiência

aparecem nas folhas maduras (Figura 13 e 14). Essas folhas apresentam a superfície entre as

nervuras cloróticas, que com o agravamento da deficiência vão ficando amareladas, no

entanto as nervuras permanecem verdes. Tem-se observado um distúrbio fisiológico chamado

dessecamento da ráquis, sendo sua ocorrência mais freqüente em anos em que o período de

maturação dos frutos é bastante chuvoso e o solo apresenta-se com alto teor de potássio e

baixo de magnésio.

Figura 13 e 14 - Deficiência de magnésio na folha e cacho da videira. Fonte: EMBRAPA/CNPUV, 2009.

Apesar dos teores de Mg2+ da grande maioria dos solos brasileiros ser baixo, ele não

tem sido problema sério para a videira, pois, como para o cálcio, a utilização de calcário

dolomítico para aumentar o pH do solo também aumenta o teor de Mg.

Observaram-se nos Laudos das Análises de Solos dos últimos anos, teores elevados

de magnésio, provavelmente pela utilização de calcário dolomítico sem orientação de análise

química.

48

5.8 ADUBAÇÃO DE MANUTENÇÃO COM BORO (B).

A grande maioria dos solos do Brasil, cultivados com videira, possuem baixo teor de

boro. Em Bento Gonçalves, freqüentemente tem-se observado sintomas de deficiência de B,

sendo que os problemas normalmente aparecem em solos cujo teor é menor do que 0,6

mg/dm-3.

Segundo Giovannini (2008) a falta de B provoca deficiência na fecundação,

reduzindo o número de bagas por cacho, formando uvas de tamanho reduzido e sem sementes;

bagas com manchas de cor chumbo na polpa do fruto e redução no crescimento das raízes

(Figura 15). A característica principal é a redução no tamanho das folhas e encurtamento dos

entrenós.

Figura 15 - Deficiência de Boro no cacho da videira. Fonte: EMBRAPA/CNPUV, 2009.

O excesso de boro também provoca distúrbio na floração por intoxicar o pólen,

queimar a flor e reduzir o peso da baga e a produção.

A recomendação feita é a aplicação de 1 kg de boro para elevar 0,1mg/dm3 que

indica a análise de solo, até o limite de 1mg/dm3.

A mobilidade do boro nas plantas ainda é muito discutida, principalmente porque os

sintomas de deficiência aparecem nas folhas e ramos novos. Assim, mesmo que se faça

adubação química no solo com boro, recomenda-se que também se faça adubação foliar com

esse nutriente, por dois anos, após a adubação de solo, em duas aplicações sendo:

1ª) quando as videiras tiverem de 3 a 4 folhas; e

49

2ª) no início do florescimento.

5.9 ADUBAÇÃO DE MANUTENÇÃO COM ZINCO (Zn).

Os sintomas de deficiência de zinco dependem do grau de carência e da cultivar.

Possuem influência no tamanho das folhas (ficam menores), na frutificação irregular e na

qualidade dos frutos.

Os sintomas foliares normalmente aparecem no início do verão, quando começam a

sair às brotações laterais. As brotações novas são pequenas, de folhas deformadas, com

clorose entre as nervuras e limbo foliar verde escuro (Figura 16).

Figura 16 - Deficiência de Zinco nas folhas de videira. Fonte: EMBRAPA/CNPUV, 2009.

Quando a análise de solo indica menos de 3 mg/dm3 de zinco, é feita a

recomendação de adubação com este nutriente, sendo recomendado 1 kg de zinco para elevar

1 mg/dm3 da análise, até o limite de 6 mg/dm3. Normalmente se indica o Sulfato de Zinco,

que pode ser misturado com outros adubos para ser distribuído no solo.

Normalmente os fungicidas ditiocarbamatos, utilizados na viticultura, contêm Zn

em sua formulação, sendo raros os casos de deficiência.

50

5.10 EFEITO DO COBRE (Cu) NA VITICULTURA.

O uso sistemático de pulverizações fitossanitários com Cu, freqüentemente, resulta

em fenômenos de fitotoxicidade para a videira, que pode ser agravada com o aumento da

acidez dos solos, segundo Giovannini (2008).

O Cu pode se combinar com a matéria orgânica formando complexos organo-

metálicos que limitam sua assimilabilidade e sua mobilidade no solo. O excesso provoca uma

redução no crescimento das plantas, atingindo em maior grau o sistema radicular que tem seu

crescimento muito reduzido.

A aplicação de calcário e, aplicações maciças de matéria orgânica formarão

compostos húmicos combinados com o Cu, que irão diminuir sua atividade.

Manifestações de toxidez por Cu são: sistema radicular pequeno, clorose nas folhas

semelhantes às causadas por Fe; manchas necróticas e secamento com posterior queda das

folhas. Nas plantas intoxicadas os teores de N, Ca e Mg aumentam e o teor de K diminui

(Malavolta, 1976).

Teores indicados pela análise química do solo são considerados como suficientes

quando acima de 0,4 mg/L, sendo baixos quando inferiores a 0,15 mg/L, médio entre estes

dois valores e tóxicos acima de 5 mg/L.

Quando diagnosticada a toxidez, pela análise de solo, recomenda-se, no caso de

vinhedos novos, o plantio de alguma gramínea, como milho ou aveia e, quando a mesma

estiver florescendo ou o milho granando, retirar a planta do vinhedo. Com isso espera-se estar

retirando cobre do solo.

Em vinhedos produzindo, recomenda-se o plantio de aveia, que ficará amarelada e

pouco desenvolvida, nas manchas de terreno que existe excesso de cobre. Deve-se adubar esta

aveia, nas manchas amareladas, e quando a mesma estiver florescendo deve-se cortar e retirar

debaixo do vinhedo.

Outra prática recomendada é aumentar o teor de matéria orgânica do solo, formando

um complexo orgânico-metálico com o cobre, reduzindo seus efeitos prejudiciais às raízes

(Figura 17), em experiência feita na EMBRPA/CNPUV, 2009.

51

Figura 17 - Doses de M.O. em solo com excesso de cobre. Fonte: EMBRAPA/CNPUV, 2009.

Fica evidente que em solos com maior teor de M.O, embora com excesso de Cu, as

raízes conseguem se desenvolver. Porém deve-se avaliar o vigor do vinhedo, para definir a

viabilidade da aplicação da M.O.

Na adubação de correção, orienta-se o viticultor para ter o cuidado de dar um espaço

de tempo de no mínimo 40 dias entre a aplicação de calcário e adubos a base de fósforo.

Em vinhedos produzindo, recomenda-se o plantio de culturas de cobertura de solo,

como a aveia, semeadas cedo (meados de março), para que esta aveia em agosto já tenha

completado seu ciclo e esteja secando. Assim a distribuição dos adubos recomendados é feita

antes do acamamento da aveia, dando excelentes resultados em termos de aproveitamento

pela videira.

Os adubos recomendados pela EMATER/BG, sempre que possível são formulações

de um único nutriente, indicando a quantidade exata que cada vinhedo deve ser fertilizado

com aquele formulado. Recomenda-se também que sejam misturados os diversos formulados

que foram recomendados, no momento da distribuição no vinhedo.

52

A adubação via folha é vista apenas como uma forma emergencial de suprir as

necessidades da planta, enquanto não se obtém condições adequadas de solo.

Em geral as adubações foliares são bastante caras e produzem resultados para apenas

uma safra.

53

6. CONCLUSÃO

O presente Trabalho de Conclusão de Curso procurou relatar de forma sintética, as

principais atividades relacionadas ao manejo de solo com plantas de cobertura, as formas de

coleta de amostras de solo para análise química e física, interpretação dos resultados das

análises e as recomendações de adubação para videira, elaboradas pelas EMATER de Bento

Gonçalves.

Foram comentadas as formas oficiais que são coletadas as amostras de solo, tanto para

análises físicas quanto para as químicas, bem como a forma de interpretação dos resultados

destas análises, tudo de acordo com as recomendações da Comissão de Fertilidade do Solo do

Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Porém, quanto às recomendações de adubações, foi

apresentada a forma com que a Pesquisa e Extensão Rural Oficial estão praticando, diferindo

da CQFS/NRS, (2004).

Pelos resultados de campo, fica comprovado que as doses indicadas pela CQFS/NRS,

(2004), para as condições de Serra Gaúcha, estão superestimadas. Este Manual, que serve de

base para as recomendações de adubação e calagem, para a grande maioria dos prestadores de

assistência técnica, não possui índices para a recomendação de adubação de manutenção para

a videira baseado em análise de solo; somente em análise de tecido, o quê para a cultura da

videira pode apresentar resultados mascarados, pela grande concentração de produtos

fúngicos nas folhas.

Enfim, procuramos mostrar que em termos de manejo de solo com plantas de

cobertura estamos no caminho certo, com recomendações voltadas para as especificidades

locais. Porém em termos de nutrição da videira, no que se refere às recomendações de

adubações, necessitamos desenvolver trabalhos em conjunto com as instituições de ensino

voltadas para o setor da uva, com as entidades de pesquisa e assistência técnica, a fim de

elaborar um roteiro para a nutrição da videira, que realmente atenda as necessidades da Serra

Gaúcha; roteiro este que seja oficial e que sirva de base para os profissionais que prestam

assistência técnica com responsabilidade.

54

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Ministério da Agricultura. Departamento de Pesquisa Agropecuária. Levantamento de reconhecimento dos solos do estado do Rio Grande do Sul. Recife:1973.431p.

BISSANI, C.A.;GIANELLO, C.;CAMARGO, F.A.O.;TEDESCO, M.J.; GIANELLO. Análise de solo, plantas e outros materiais. Porto Alegre. Dep. de Solos-Faculdade de Agronomia. UFRGS.2ª edição. 2008. 344p.

EMATER/RS – ASCAR Curso Básico de Fruticultura: móduloI – ameixa, nectarina, uva, figo, caqui, quivi / Centro de Treinamento de Agricultores de Nova Petrópolis – Porto Alegre: EMATER/RS – ASCAR, 2007. 112p.

EMATER, Bento Gonçalves. Relatório de Atividades Desenvolvidas pelo Escritório Municipal em 2009.

EMATER/RS-ASCAR.Levantamento de Fruticultura Comercial do Rio Grande do Sul: 2006 coordenado por Paulo Lipp João e Antonio Conte. – Porto Alegre: EMATER/RS-ASCAR, 2007. 83p.

EMATER/RS-ASCAR. Sumário de Informações: Assistência Técnica e Extensão Rural / organizado por Renan Corá de Lima, Ricardo Machado Barbosa. Porto Alegre: EMATERS/RS – ASCAR, 5ª edição.2008. 97p.

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GIOVANNINI, EDUARDO. Produção de uvas para vinho, suco e mesa. Porto Alegre:Renascença, 3ª edição.2008.368 p.

IBRAVIN.Cadastro Vinícola. 2009. Disponível em: hppt://www.ibravin.org.br/regioesprodutoras.php . Acesso em 03/08/2009.

55

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KUHN, G.B; LOVATEL, J.L.; PREZOTTO, O.P.; RIVALDO, O.F.; MANDELI, F.; SONEGO, O.R. O cultivo de videira: informações básicas. Edição Bento Gonçalves: EMBRAPA-CNPUV,1996.60p. (EMBRAPA-CNPUV.Circular Técnica, 10).

OLIVEIRA, O. L. P.; JUERGENS, L. P.; BELLÉ, V.; RIGO, J. C.; Manejo de Solo e da Cobertura Verde em Videiras Visando Sustentabilidade. Bento Gonçalves: Uepae de Bento Gonçalves/Embrapa, 2004. 4p. ( Comunicado Técnico, 55).

PALESTRA TÉCNICA SOBRE NUTRIÇÃO DA VIDEIRA,2002,Bento Gonçalves:[EMBRAPA-CNPUV] 1. CD-ROM

PANORAMAS SOCIOECONÔMICOS DE BENTO GONÇALVES; Prefeitura Municipal de Bento Gonçalves, 2009, disponível em: http: www.bentogoncalves.com.br. Acesso em 15/12/2009

PROTAS. J. F. Da S.; Camargo, U. A.; Melo, L. M. R. de A Viticultura Brasileira: Realidade e Perspectivas. In: SIMPÓSIO MINEIRO DE VITICULTURA E ENOLOGIA, 1., 2002, Andradas, MG. Viticultura e Enologia: atualizando conceitos. Caldas: EPAMIG,2002. p.17-32. 2002. p

STRECK, E.V. et al; Solos do Rio Grande do Sul. – Porto Alegre: EMATER/RS; UFRGS, 2002 . 126p.

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ANEXO A

FORMULÁRIO DE ANÁLISE QUÍMICA DO SOLO

ANÁLISE DO SOLO - QUÍMICA Nome: Número da amostra: Localidade: Município: Data: Área: Plantado: Topografia: Adubos que usou: Fórmula: . . Kg /ha Fórmula: . . Kg/ha Calcário: Usou últimos três anos/...... Adubação orgânica Usou últimos três anos?...... kg O que vai plantar..............

ANÁLISE COMPLETA EMATER BENTO GONÇALVES

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ANEXO B

LAUDO DE ANÁLISE QUÍMICA DE SOLO – UFRGS