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Universidade Federal de Santa Catarina Centro de Cincias Biolgicas Departamento de Ecologia e Zoologia Laboratrio de Ecologia Humana e Etnobotnica

QUINTAIS DO SERTO DO RIBEIRO: AGROBIODIVERSIDADE SOB UM ENFOQUE ETNOBOTNICO.

Monografia apresentada como exigncia para obteno do grau de Bacharel em Cincias Biolgicas, no Centro de Cincias Biolgicas da Universidade Federal de Santa Catarina, disciplina: BIO5156.

Orientadora: Natalia Hanazaki Co-orientador: Nivaldo Peroni

Victria Duarte Lacerda

Florianpolis, 2008.

A cincia pode classificar e nomear os rgos de um sabi mas no pode medir seus encantos. A cincia no pode calcular quantos cavalos de fora existem nos encantos de um sabi. Quem acumula muita informao perde o condo de adivinhar: divinare. Os sabis divinam. Manoel de Barros

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Agradecimentos:

Que bom que consegui chegar nessa parte, parecia que nunca ia conseguir... Bem, esses agradecimentos no so apenas para aqueles que tornaram esse trabalho possvel, mas para todos que acreditaram em mim e que contriburam pra a formao do que eu sou hoje.

Em primeiro lugar agradeo a Deus em todas as suas formas e crenas (Pai, Oxal, Jah, Tup, Al, Natureza, Seleo Natural...).

Minha me, fofinha, por sempre confiar em mim, apesar de eu achar que eu no daria tanta trela pra minha filha...

Ao meu pai, por tudo.

Aos meus orientadores Natalia, que me atura h um tempo, sempre com sua sabia pacincia oriental e ao Nivaldo, pela oportunidade e pela estatstica. Valeu mesmo!

todos os moradores do Serto, ou como eles mesmo dizem, Barreira do Ribeiro, por sempre me receberem com um sorriso amigvel no rosto, por me confiarem seus conhecimentos e pela oportunidade de conhecer um lugar muito especial. Graas a vocs que esse trabalho existe.

s fontes financiadoras do projeto, CNPq e PIBIC, por me proporcionarem um ano recebendo dindin.

Muito obrigada a todos que me acompanharam na coleta de dados e compartilharam momentos agradabilssimos, s vezes regados a um bom banho de cachoeira. A vai o meu mais sincero agradecimento: Aninha (quem comeou tudo), Mari (quem acreditou no projeto), Tati (minha linda panelinha), Totonho (amigo do Rio que aproveitou uma visita pra ajudar na coleta de dados e

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conhecer a cachoeira) e Melzita (pela iniciativa de fazer o retorno dos resultados).

Um agradecimento especial ao pessoal dos transportes e ao seu Paulo, por tornarem as sadas possveis e mais engraadas.

Moniquinha, por tudo, e por ler meu TCC e corrigir com graaaaande pacincia. Ah, pela Bahia tambm!!!! Valeu negona.

Muito obrigada tambm Elisa Gandolfo Martins e Elaine Zuchiwschi, por aceitarem participar da banca do meu TCC.

Obrigada a todos os colegas e amigos do curso de Cincias Biolgicas da UFSC. turma que entrou na faculdade comigo, 2003.2 (malhao e seqelas). Aos grandes amigos que fiz nessas minhas caminhadas biolgicas pelo mundo afora. Aos amigos no biolgicos, mas que sempre partilharam comigo os sonhos de ver um mundo melhor. No vou citar nomes porque no quero ser injusta com nenhum.

Um agradecimento bem especial todos ENEBs que pude ir, e aos grande amigos que fiz nesses encontros, Bahia, Rio de Janeiro, Sergipe e Rio Grande do Sul. Novamente no me atreverei a citar nomes pelo mesmo motivo.

Aos meus irmos Dubeto e Zeca pelas brigas e reconciliaes.

Aos professores que tornaram o curso agradvel, principalmente quando estava desacreditada. Muito obrigada Paulo Simes, pelo respeito com todos os alunos, ao Paulo Hofmann, por ser um educador antes de tudo, ao Daniel Falkenberg pela melhor disciplina da faculdade, ao Edmundo e Carlos Pinto. Pela segunda melhor disciplina, Parasitologia, que apesar de nojenta era instigante; Carol Zabendzala, por amar a educao e tentar passar isso pros alunos, ao Leandro Belinaso, pelas discusses em sala; no poderia deixar de falar da Marg, por

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tornar a biologia celular algo compreensvel e Verinha, por ser a Verinha!!!

Ao Professor Ulysses Paulino Albuquerque, pela oportunidade de estgio com plantas da caatinga, e assim aprofundar meu conhecimento em etnobotnica. Aos colegas de laboratrio em Recife, os leanos!!! saudade boa...

Aos colegas de laboratrio, aos tantos cafs e chazinhos tomados tarde, pelas conversas e tudo mais. Valeu: Marinete, Zique, Sarinha, Dbora, Aninha, Elisa, Flvia, Mel, Mari Giraldi, Mari Gomes, Ph, Leo, Thiaguinho...

Aos bares do entorno da UFSC, por tornarem esses 5 anos e meio um pouquinho mais agradvel, e aos amigos que compartilharam muitas vezes esses momentos, especialmente Tati e Marinete, companheirassas de uma cervejinha no meio da tarde. T bom, Aline e Cecil (mainha) tambm. Valeu Bar da Nina (eler), Cats, IEGA, Pida, Kanalu, aos extintos Trito, Pepa e Cantina Italiana.

Ah, valeu Cido (Alcir), por sempre ajudar todos os alunos e ser um timo coordenador. Sonia tambm, chego ao final da faculdade feliz com a direo do curso, que parece que finalmente est em plena comunho com os alunos.

A todos que puderam contribuir de alguma maneira pelo que sou hoje.

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Sumrio Lista de Figuras .......................................................................................................... 01

Lista de Tabelas .......................................................................................................... 03 Resumo ........................................................................................................................ 04

1. Introduo ............................................................................................................... 05 2. Objetivos ................................................................................................................. 2.1. Objetivo geral ................................................................................................... 09 09

2.2. Objetivos especficos ........................................................................................ 09 3. rea de Estudo ....................................................................................................... 3.1. Parque Municipal da Lagoa do Peri ................................................................. 3.2. Serto do Ribeiro da Ilha ................................................................................ 4. Metodologia ............................................................................................................ 4.1. Coleta de dados ................................................................................................ 4.2. Anlise dos dados ............................................................................................ 4.3. Retorno de resultados ....................................................................................... 10 10 11 14 14 16 16

5. Resultados e Discusso ........................................................................................... 18 5.1. Perfil Scio-econmico .................................................................................... 18

5.2. Uso das plantas e Diversidade ......................................................................... 20 5.3. Listagem livre das plantas ................................................................................ 5.4. Plantas cultivadas e espontneas ...................................................................... 33 34

5.5. Forma de obteno das plantas ......................................................................... 35 5.6. Retorno de resultados ....................................................................................... 36

6. Consideraes Finais .............................................................................................. 41 7. Referncias .............................................................................................................. 43 Anexos ......................................................................................................................... Termo de Consentimento prvio e esclarecido ....................................................... Questionrio Scio-econmico................................................................................ Inventrio das plantas de quintais ........................................................................... 48 49 51 52

Folder ....................................................................................................................... 53 Cartilha .................................................................................................................... Ilustraes das espcies mais representativas ......................................................... 54 55

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Lista de figuras: 1 Localizao do Parque Municipal da Lagoa do Peri, Florianpolis, SC (Fonte: Teive et al., 2008).

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Comunidade do Serto do Ribeiro (Foto: Mariana Giraldi).

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Entrevista no quintal, Serto do Ribeiro, Ilha de Santa Catarina/SC (Foto: Mariana Giraldi).

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Renda familiar em reais (R$) de 19 entrevistados do Serto do Ribeiro, Ilha de Santa Catarina/SC. Idade dos 20 entrevistados do Serto do Ribeiro, Ilha de Santa Catarina/SC.

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Responsvel por cuidar do quintal da casa para os 20 entrevistados do Serto do Ribeiro, Ilha de Santa Catarina/SC.

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Famlias botnicas com maior nmero de espcies em 11 quintais do Serto do Ribeiro, Ilha de Santa Catarina/SC.

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Exemplos dos quintais estudados no Serto do Ribeiro, Ilha de Santa Catarina/SC (Fotos: Mariana Giraldi).

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Espcies com maior nmero de citaes em 11 quintais do Serto do Ribeiro, Ilha de Santa Catarina/SC.

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Etnovariedades de plantas por tamanho do quintal em 11 quintais do Serto do Ribeiro, Ilha de Santa Catarina/SC.

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Curva de acumulao de espcies em 11 quintais no Serto do Ribeiro, Ilha de Santa Catarina/SC.

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Hbitos ecolgicos das espcies de plantas encontradas em 11 quintais no Serto do Ribeiro, Ilha de Santa Catarina/SC.

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Espcies introduzidas e nativas presentes em 11 quintais no Serto do Ribeiro, Ilha de Santa Catarina/SC.

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Plantas que apresentaram maior freqncia em listagem livre (n = 11 entrevistas), Serto do Ribeiro, Ilha de Santa Catarina/SC.

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Total de plantas cultivadas e de nascimento espontneo em 11 quintais no Serto do Ribeiro, Ilha de Santa Catarina/SC.

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Plantas colhidas, ganhas e compradas em 11 quintais no Serto do Ribeiro, Ilha de Santa Catarina/SC.

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Estande de divulgao do Laboratrio de Ecologia Humana e Etnobotnica montado na VII SEPEX, UFSC, Ilha de Santa Catarina/ SC (Foto: Natalia Hanazaki, 25/10/2008).

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Estande de divulgao do Laboratrio de Ecologia Humana e Etnobotnica montado na VII SEPEX, UFSC, Ilha de Santa Catarina/ SC (Foto: Natalia Hanazaki, 25/10/2008).

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Palestra de abertura do Peri em Foco, realizado no Parque Municipal da Lagoa do Peri, Ilha de Santa Catarina/ SC (Foto: Mel Simionato Marques, 07/11/2008).

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Palestra Pessoas e Plantas no Serto do Ribeiro, realizada no Peri em Foco, realizado no Parque Municipal da Lagoa do Peri, Ilha de Santa Catarina/ SC (Foto: Natalia Hanazaki, 07/11/2008).

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Reunio organizada para divulgao dos projetos realizados na comunidade do Serto do Ribeiro, Ilha de Santa Catarina/ SC (Foto: Mariana Giraldi, 07/12/2008).

Lista de tabelas:

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Listagem das espcies e etnovariedades presentes em 11 quintais e moradores da comunidade rural do Serto do Ribeiro, Ilha de Santa Catarina/SC.

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Riqueza de etnovariedades por tamanho do quintal em 11 quintais do Serto do Ribeiro, Ilha de Santa Catarina/SC.

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Frequncia e ranqueamento das plantas com maiores citaes pelos entrevistados (n=11 entrevistas), Serto do Ribeiro, Ilha de Santa Catarina/SC.

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Resumo: Os quintais so considerados como um sistema agrcola tradicional muito difundido na maioria das regies tropicais do mundo. So reas ao redor das casas onde so plantadas uma mistura de espcies vegetais, cujas finalidades incluem a produo de alimento para complementao da dieta. Alm disso, esse sistema pode contribuir para a manuteno da diversidade biolgica tanto em reas rurais como em reas periurbanas e urbanas. Este estudo tem como objetivos efetuar um registro do conhecimento ecolgico local sobre os recursos vegetais cultivados em quintais para finalidade de complementao alimentar, em uma comunidade rural, descendente de aorianos, que ainda mantm uma forte identidade cultural. Essa comunidade, o Serto do Ribeiro (Florianpolis, SC), se mantm relativamente isolada do meio urbano, onde uma parte da populao residente ainda cultiva aipim (Manihot esculenta) e cana-de-acar (Saccharum officinarum), plantas essas utilizadas na fabricao artesanal de farinha e aguardente, respectivamente. Esta comunidade est inserida dentro de uma Unidade de Conservao, o Parque Municipal da Lagoa do Peri, que est sendo enquadrado segundo a legislao brasileira do Sistema Nacional de Unidades de Conservao. Foram visitadas 20 propriedades, onde residem 52 pessoas no total, para realizao de um levantamento scio-econmico. Alm deste levantamento, foram visitados 11 quintais, listando-se as plantas utilizadas na alimentao da famlia. Dentre as 76 espcies de plantas presentes em 11 quintais encontrou-se 138 etnovariedades. Das 34 famlias de plantas encontradas as principais foram Myrtaceae e Lamiaceae. As espcies mais representativas do Serto principalmente devido s suas etnovariedades, so Musa sp. (banana e suas respectivas variedades), Citrus sinensis (L.) Osbeck (laranja e variedades), Citrus reticulata Blanco (tangerina, vergamota e ponc), Psidium guajava L. (goiaba) e Petroselinum sp. (salsinha), respectivamente. As entrevistas foram feitas com a pessoa que se diz responsvel pela manuteno do quintal. notvel a grande quantidade de etnovariedades de plantas nessa rea. O aparecimento de espcies nativas com o palmito juara (Euterpe edulis) dentro dos quintais e das reas adjacentes tambm corrobora com a hiptese de que os quintais so importantes para a manuteno da agrobiodiversidade. Porm apesar de algumas espcies nativas estarem presentes nos quintais dessa comunidade, a grande maioria das plantas corresponde a espcies exticas.Palavras chave: etnobotnica, reas de cultivo, conhecimento tradicional.

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1. Introduo:

Segundo a Conveno da Diversidade Biolgica, artigo 2, a biodiversidade representa a variabilidade entre os seres vivos de todas as origens compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquticos e os complexos ecolgicos de que fazem parte; compreendendo ainda a diversidade intra-especfica e interespecfica de ecossistemas (CDB, 1992). Complementando esta idia, Diegues e Arruda (2001) afirmam que a biodiversidade tambm produto de uma construo cultural e social, desde a domesticao de plantas e animais, at seus usos rituais e mticos. A fim de conter a devastao dos recursos naturais, a busca por alternativas, como o desenvolvimento de sistemas sustentveis para a manuteno da diversidade biolgica, tem crescido expressivamente. Porm, muitas das formas propostas de manejo dos ecossistemas caracterizam-se pela desvinculao das populaes humanas que os habitam (Albuquerque, 1999). Rompendo com esta idia, abordagens etnobotnicas de pesquisa buscam contemplar a perspectiva e as necessidades de comunidades locais nas propostas de estratgias de manejo de sistemas naturais (Toledo et al., 1995). A relao entre populaes humanas e recursos vegetais tem sido abordada ao longo de toda a histria do conhecimento cientfico. Entretanto, o termo etnobotnica, referindose especificamente a esta relao, foi cunhado h pouco mais de um sculo, sendo originalmente o estudo das plantas usadas por povos considerados primitivos e aborgenes (Harshberger, 1896). A definio de etnobotnica, atualmente, corresponde ao estudo das inter-relaes diretas entre humanos e plantas em sistemas dinmicos (Alcorn, 1995; Albuquerque, 2002; Hanazaki, 2004). Segundo Amorozo (2004a), o maior interesse da Etnobotnica captar as diferentes dimenses da relao de grupos humanos com as plantas. Isto inclui tanto aspectos mais objetivos e mensurveis, de manejo do ambiente, utilizao e domesticao de plantas, como aspectos mais subjetivos, que para serem compreendidos precisam que se conhea um pouco mais sobre os significados dados pelas pessoas s coisas e a sua vida, sua forma de pensar e perceber o ambiente, alm dos referenciais que usam para tomar decises. A etnobotnica teve influncia inicial de reas do conhecimento que faziam uso predominantemente de metodologias de carter qualitativo, como a Antropologia Cultural e

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a Botnica Econmica, nas quais as pesquisas de carter etnobotnico limitavam-se a fazer listagens de plantas teis. Com o seu desenvolvimento, a etnobotnica passou a incorporar tambm abordagens de carter quantitativo. Autores como Prance et al. (1987) ressaltam a grande contribuio deste carter para a conservao biolgica, pois o mesmo pode representar uma importante ferramenta para integrar elementos etnobotnicos com informaes biolgicas e ecolgicas, indo alm de simples listas de espcies e usos. Ambas abordagens, qualitativa e quantitativa, longe de serem antagnicas, so complementares. Cabendo, ao pesquisador, julgar qual a mais adequada utilizar em sua pesquisa, ou mesmo num equilbrio entre elas no processo da pesquisa (Amorozo, 2004b). Existe uma tendncia entre os trabalhos etnobotnicos atuais de incluir, alm de listagens de plantas teis, informaes sobre potencial de uso de variedades vegetais selvagens e cultivadas, assim como integrar dados ecolgicos e etnobotnicos no delineamento de estratgias mais sustentveis de utilizao de ecossistemas tropicais. A coleta deste tipo de informao, combinada com programas que se desdobram no cultivo de espcies vegetais nativas, tm o potencial de enriquecer a dieta da populao e reduzir a dependncia das atuais espcies comercializadas e de materiais industriais no-renovveis (Plotkin, 1997). Segundo Gadgil et al. (1993), o conhecimento tradicional contm informaes valiosas sobre o papel que as espcies desempenham em sistemas ecolgicos sustentveis. O conhecimento ecolgico local, de populaes que utilizam os recursos da natureza, tem sido alvo de estudos diversos (Brook e Mclachlan, 2008), pois a diversidade cultural est fortemente relacionada com a diversidade biolgica, principalmente com plantas cultivadas e manipuladas pelas sociedades tradicionais (Hanzaki et al., 2008). Muitas tcnicas e prticas de manejo utilizadas por algumas populaes tradicionais tm o potencial de serem ecologicamente sustentveis, j que respeitam a complexidade e delicadeza dos ecossistemas (Albuquerque, 1999). Segundo Robinson (1997), populaes humanas podem relacionar o uso das florestas com produo de alimentos e tecnologias para subsistncia de maneira sustentvel. H uma grande variedade de povos com conhecimentos inestimveis acerca de plantas e animais. Tal conhecimento pode no estar expresso na terminologia da cincia moderna, e muitas vezes, est entrelaado magia, aos mitos e superstio, mas pode ser certamente

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explicitado. No se trata meramente de conhecimento das espcies, mas tambm de conhecimento de prticas de lavoura, jardinagem e agricultura (Robinson, 1997). Assim, muitas comunidades possuem sistemas prprios de manejo, resultado da experincia acumulada historicamente da sua relao com os recursos naturais, o que viabiliza o suprimento de suas necessidades com um prejuzo ambiental mnimo (Albuquerque e Andrade, 2002). Quintais so considerados como um sistema agrcola tradicional muito difundido na maioria das regies tropicais do mundo (Lamont et al., 1999). So denominados recorrentemente, como reas ao redor das casas onde so plantadas uma mistura de espcies vegetais, principalmente as rvores frutferas e razes (Soemarwoto, 1987). Estas reas so consideradas sistemas sustentveis de manejo em uma perspectiva ecolgica (Fernandes e Nair, 1986; Alcorn, 1990). Uma das principais finalidades do quintal a produo alimentar (Fernandes e Nair, 1986). Alm disso, podem atender demandas locais especficas, prestando diversos servios ambientais e sociais, como seqestro de carbono (Kumar e Nair, 2004; Albretch e Kandji, 2006; Kumar, 2006b), conservao de espcies nativas (Blanckaert et al., 2004; Kumar e Nair, 2004), produo de alimento para consumo familiar a baixo custo (Blanckaert et al., 2004; Kumar, 2006a), entre tantos outros benefcios. Em uma abordagem ecolgica e gentica, os quintais podem representar um espao de resistcia s monoculturas (Amorozo, 2004b) pois, ao contrrio de cultivos monoespecficos, mantm alta diversidade inter e intra especfica, resultantes de experimentao e seleo local, assim como de trocas e circulao de espcies levadas de um ambiente para outro (Williams, 1997). Alm de serem fonte de subsistncia, segurana alimentar e recursos financeiros, so tambm um repositrio e um lugar para experimentao de espcies incomuns e de variedades de plantas (Padoch e de Jong, 1991; Kumar e Nair, 2004). A aparncia estrutural dos quintais determinada em grande parte pelo ambiente natural e pela tentativa da famlia em utilizar tantas espcies localmente adaptadas quanto possvel em uma extenso de terra relativamente pequena, para mltiplos propsitos. Os tipos de cultivo encontrados nos quintais so ditados pelo potencial ecolgico da regio e preferncia alimentar cultural (Niez, 1984 apud Fox, 1999). O desaparecimento dos

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quintais no implicaria somente na perda de um sistema ecologicamente estvel e geneticamente rico, como tambm na perda da valiosa herana cultural associada a ele (Nair e Krishnankutty, 1984). Apesar do grande uso humano, das funes ecolgicas e da importncia scioeconmica, a literatura sobre os quintais tropicais deficiente na preciso dos elementos da diversidade e variao florstica nestes sistemas (Albuquerque et al., 2005). Segundo Florentino et al. (2007), a pouca ateno dada prtica dos quintais observada especialmente no Brasil; na sia, por exemplo, at a dcada de 1990, os quintais foram objeto de estudo em aproximadamente 40% das publicaes sobre sistemas agroecolgicos, sendo a maioria de cunho qualitativo, descrevendo o ambiente, sua composio florstica e funo. Alm da sia, destacam-se Mxico, Amrica Central e Oeste da frica, com grande nmero de publicaes sobre quintais (Kumar e Nair, 2004). No Brasil, a maioria dos trabalhos etnobotnicos em quintais feita em comunidades indgenas, principalmente na Amaznia, e pouco se sabe sobre esses sistemas de cultivo em outros tipos de comunidade fora da regio Amaznica (Winklerprins, 2002; Vogl et al., 2004). H ainda alguns trabalhos que realizaram estudos sobre estrutura e florstica de quintais, em comunidades rurais na Caatinga pernambucana (Albuquerque et al. 2005; Florentino et al. 2007). Assim, torna-se extremamente necessrio a realizao de estudos etnobiolgico, alm de estudos complementares mostrando a grande importncia dos quintais e sistemas agroflorestais, como alternativas s monoculturas e por servir de fonte de sustentabilidade local e de recursos genticos, alm de oferecerem proteo ao solo.

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2. Objetivos:

2.1. Geral

Este estudo tem como principal objetivo efetuar um registro do conhecimento ecolgico local sobre plantas utilizadas como fonte de alimentao dos moradores do Serto do Ribeiro, uma rea que liga os distritos do Ribeiro da Ilha e Pntano do Sul pelo interior da Ilha de Santa Catarina, municpio de Florianpolis, onde reside uma pequena comunidade rural; sobre os recursos vegetais cultivados e manejados em quintais.

2.2. Especficos

Caracterizar os quintais quanto a sua estrutura fsica e quanto s espcies cultivadas para fins alimentares; Realizar um registro sobre o conhecimento etnobotnico dos quintais da comunidade do Serto do Ribeiro, relacionando os recursos vegetais utilizados na alimentao;

Ampliar os estudos com quintais j realizados nas proximidades do Serto do Ribeiro (Peroni et al. 2007, comunicao pessoal); Contribuir para a valorizao do conhecimento local levando as informaes do estudo administrao do Parque Municipal da Lagoa do Peri; e Promover o retorno de resultados das informaes etnobotnicas compiladas por este projeto atravs de aes voltadas aos moradores da regio.

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3. rea de Estudo

3.1. Parque municipal da Lagoa do Peri:

O Parque Municipal da Lagoa do Peri (Figura 01) est localizado na regio sudeste de Florianpolis (2743' S e 4832' W), possui cerca de 20 km e abriga a maior lagoa de gua doce da costa catarinense, cuja rea de 5,07 km (CONAGE, 1999). Segundo a classificao climtica de Kppen, Florianpolis apresenta o clima subtropical mido ou Cfa, no existindo uma estao seca.

Figura 01: Localizao do Parque Municipal da Lagoa do Peri, Florianpolis, SC (Fonte: Teive et al., 2008).

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O ndice pluviomtrico anual da regio em torno de 1.450 mm, ocorrendo um ligeiro aumento de precipitao durante os meses de vero (janeiro a maro) e reduo nos meses de inverno (junho a agosto). A temperatura mdia varia entre 20 e 24 C, com a temperatura mdia mais baixa ocorrendo no ms de julho, em torno de 13,7 C, e a mais elevada ocorrendo em janeiro e fevereiro, variando de 28 a 31 C. A umidade relativa do ar , em mdia, de 82% (Simonassi, 2001). A lagoa do Parque definida como lagoa costeira, pois se originou de um brao de mar e mantm ligao com o mesmo (Esteves, 1988). A rea do Parque constituda pelo corpo lagunar e o conjunto de vegetao que o cerca, sendo limitado a leste por uma estreita faixa de restinga que separa a lagoa do mar; e a oeste, sul e norte por encostas de Mata Atlntica de topografia acidentada, com altitudes de at 500 m (Silva, 2000). Devido a este grande manancial hdrico, a rea que abriga as nascentes da bacia hdrica e a rea da lagoa foi tombada como Patrimnio Natural pelo Decreto Municipal n 1.4008 de 04 de junho de 1976 (Florianpolis, 1976) e posteriormente transformada em Parque pela Lei Municipal n 1.828 de 04 de dezembro de 1981 (Florianpolis, 1981), que tambm instituiu sua estrutura de administrao.

3.2. Serto do Ribeiro da Ilha:

Os aorianos so descendentes dos imigrantes das Ilhas dos Aores e da Madeira, alm de portugueses continentais. Estabeleceram-se no litoral catarinense em meados de janeiro de 1748, guardando traos culturais prprios, com a economia baseada na pequena propriedade rural (Caruso e Caruso, 1997). Os primeiros habitantes do Serto do Ribeiro (Figura 02), descendentes dos aorianos, fixaram-se na regio a partir de 1761 (Batista, 2004). Nesta rea percebe-se que h realmente um predomnio das lavouras de subsistncia, porm muitas vezes associadas ao cultivo de cana-de-acar para produo de aguardente e alimentao do gado (Pereira, 2001). Alm da presena de lavouras de mandioca e aipim associadas fabricao artesanal de farinha (Batista, 2004). Essas atividades so feitas muitas vezes de maneira artesanal e espordica, apesar da grande influncia do meio urbano, uma vez que muitos moradores trabalham em outras localidades.

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Figura 02: Comunidade do Serto do Ribeiro (Foto: Mariana Giraldi).

O Serto do Ribeiro agrega 147 habitantes, organizados em 35 famlias com residncias fixas ou temporrias (Pereira, 2001). Na regio no h nenhum posto mdico nem escola de ensino fundamental ou ensino mdio, existindo apenas de educao infantil. A coleta de lixo feita a cada quinze dias e a estrada de acesso localidade no pavimentada e encontra-se em estado de abandono. Essa comunidade encontra-se numa rea de assentamento e uso do Parque Municipal da Lagoa do Peri, chamada rea de Paisagem Cultural (Salgado, 2002). Segundo a lei de criao do Parque, a rea de Paisagem Cultural destina-se ao desenvolvimento social da populao residente, proteo da fauna, flora e seu substrato, ao lado da conservao da paisagem resultante das atividades tradicionais na rea (Florianpolis, 1981). A existncia do Parque deu-se antes da criao do Sistema Nacional de Unidade de

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Conservao da Natureza (SNUC), institudo pela Lei Federal n 9.985 de 18 de julho de 2000, no qual as Unidades de Conservao so desdobradas em dois grandes grupos: as Unidades de Conservao de Proteo Integral e as Unidades de Conservao de Uso Sustentvel. Segundo esta lei, os parques ento includos nas reas de proteo integral, nas quais no so permitidos espaos habitados por populaes humanas (Brasil, 2000). Este Parque, atualmente, est em processo de enquadramento no SNUC.

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4. Metodologia:

4.1. Coleta de dados:

O Decreto Federal n 4.339/02 trata da Poltica Nacional da Biodiversidade e, entre os seus princpios, no ponto 2, XII, do seu anexo, institui que as aes relacionadas ao acesso ao conhecimento tradicional associado biodiversidade devero transcorrer com consentimento prvio informado dos povos indgenas, dos quilombolas e das outras comunidades locais (Brasil, 2002). Logo, a primeira ao feita foi visitar a comunidade e apresentar o termo de consentimento prvio e informado (Anexo A). Aps a obteno do consentimento, foram coletados dados scio-econmicos e etnobotnicos atravs de entrevistas utilizando um questionrio semi-estruturado (Anexo B). Esta etapa aconteceu de Junho Outubro de 2007. Segundo Albuquerque et al. (2008), as entrevistas semi-estruturadas so aquelas em que as perguntas so parcialmente formuladas antes de ir ao campo, porm apresenta flexibilidade, permitindo assim um aprofundamento em questes que se faam necessrias. Foi entrevistada pelo menos uma pessoa, do sexo feminino ou masculino, de cada domiclio da comunidade do Serto do Ribeiro. As entrevistas transcorreram nas residncias e foram includas todas aquelas que possuam quintal. Nas entrevistas constaram questes que caracterizavam a relao que os moradores mantinham com o quintal, e o histrico deste. Foram includas tambm questes sobre a pessoa responsvel pelos cuidados como quintal, se o mesmo importante na alimentao da famlia, se ele j foi maior ou menor do que ele atualmente. Atravs de uma listagem livre (Anexo C), com perguntas sobre as espcies presentes nos quintais e seus usos, foi elaborada um inventrio das citaes das espcies presentes no quintal de cada entrevistado. Nesta listagem considerou-se exclusivamente a categoria de uso alimentar. Foi solicitado acompanhamento do informante pela rea que ele considera quintal (Figura 03), onde ele pde dar mais informaes sobre as espcies j citadas e incluir outras que fossem avistadas ali. Alm da listagem de espcies, o inventrio abordou questes referentes origem das plantas, se a planta nasceu espontaneamente ou se foi cultivada, como foi adquirida, de

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que localidade provm e se houve doaes de propgulos para outras pessoas. Outras informaes foram consideradas sobre as espcies, como sua forma de vida ou hbito (herbceas, lianas, arbustos ou rvores).

Figura 3: Entrevista no quintal, Serto do Ribeiro, Ilha de Santa Catarina/SC (Foto: Mariana Giraldi).

A rea dos quintais foi tambm caracterizada qualitativamente quanto ao tamanho, em trs classes: pequeno, mdio e grande. Essa definio aconteceu devido subjetividade com que os moradores consideravam a rea abrangente do seu quintal. Muitas vezes, eles apontavam apenas para uma horta; enquanto que em outras, todo terreno era considerado como sendo o quintal. Alm disso, alguns moradores cultivavam na beira da estrada e essa rea, para eles, era considerado como quintal tambm. Dentro dos quintais foram quantificados dois nveis de diversidade, ou seja, a diversidade interespecfica (riqueza de espcies), assim como a diversidade intra-especfica (variedades). Algumas amostras das espcies foram coletadas para elaborao de exsicatas e identificao em laboratrio. Esta etapa foi realizada de Maro Outubro de 2008.

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4.2. Anlise dos dados:

Para os dados scio-econmicos, utilizou-se estatstica descritiva. J para anlise da diversidade dos quintais, optou-se pelo ndice de Shannon (H). O ndice de Diversidade de Shannon leva em considerao a riqueza das espcies e sua abundncia relativa, sendo definido por:

em que pi = ni/N; ni = valor de importncia de cada espcie ou grupo; N = total dos valores de importncia (Krebs, 1989). A elaborao das curvas de acumulao de citaes por entrevistado foi feita atravs do uso do software EstimateS 7.5 (Colwell, 2006). Para anlise dos dados de listagens livres e para o ranqueamento das variedades foi utilizado o software Anthropac 4.0 mdulo Freelist (Borgatti, 1995).

4.3. Retorno de resultados:

Seguindo os preceitos da Declarao de Belm (Campos, 2002), torna-se imperativo que sejam investidos esforos no retorno de resultados de pesquisas etnobiolgicas e etnobotnicas, idealmente como parte dos prprios projetos de pesquisa. H um grande projeto: Pessoas e plantas no Serto do Ribeiro, realizado no Laboratrio de Ecologia Humana e Etnobotnica (ECZ/ CCB/ UFSC) que se propem caracterizar o conhecimento e utilizao plantas pelos moradores do Serto. O trabalho apresentado aqui um desdobramento desse projeto, assim existem mais dois projetos de pesquisa realizados na mesma localidade. O retorno de resultados abrange os diferentes subprojetos inseridos no projeto e conta tambm com o apoio de uma bolsista de extenso, cuja bolsa vinculada ao Departamento de Projetos de Extenso, da Pr-Reitoria de Pesquisa e Extenso, UFSC. Atravs de um estande na VII SEPEX (Semana de Pesquisa e Extenso Universitria), que se realizou entre 22 e 25 de Outubro de 2008, o projeto do Serto pde ser divulgado para comunidade, com exposio de fotos e distribuio de um material em forma de folders (Anexo D).

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Foi organizado, no dia 07 de Novembro de 2008, um seminrio de pesquisas e uma exposio, preparada pela bolsista do projeto de extenso, na sede do Parque Municipal da Lagoa do Peri. Este seminrio contou com a participao de outros projetos de pesquisa que so ou foram desenvolvidos na regio da Unidade de Conservao. Por fim, foi organizado material impresso, em forma de cartilha (Anexo E) e em linguagem acessvel aos moradores da comunidade, comunicando uma sntese dos resultados das pesquisas efetuadas.

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5. Resultados e Discusso:

5.1. Perfil Scio-econmico

Foram realizadas entrevistas em 20 domiclios, destas, 05 so referentes a residncias temporrias ou de veraneio, ou seja, de pessoas que no residem l, mas mantm essas casas para ir ao final de semana. Nos 20 domiclios residem, atualmente, 52 pessoas, porm se forem consideradas, apenas as residncias fixas, este nmero cai para 40 pessoas. Em relao ao nmero mdio de moradores dos domiclios do Serto, pode ser considerado pequeno: a mdia de moradores por domiclio foi de 2,60. Estes domiclios esto integrados a unidades familiares. Nestas unidades familiares, constitudas basicamente pelo casal e seus filhos, podem fazer parte de ncleos familiares maiores, visto que os filhos, depois de casados, constroem suas casas no terreno dos pais. Porm, nesta parte do estudo considerou-se como unidade amostral cada domiclio, ou residncia e no os ncleos familiares. Das vinte residncias do local, em dezessete (85%), o entrevistado ou seu cnjuge nasceu e foi criado no local, e em trs (15%) eram naturais de outros bairros de Florianpolis e possuam ali residncias temporrias. Todas as residncias so prprias e apenas em trs residiam pessoas que no eram casadas, sendo uma solteira, outra viva e um desquitado. A mdia da renda familiar de 4,5 salrios mnimos por domiclio sendo que, em geral, as rendas mais altas so de famlias que possuem residncias temporrias no local (Assis, 2007). Considerando apenas as famlias de residncia permanente, a renda familiar mdia para de 3,22 salrios mnimos. Em uma residncia a renda familiar no foi informada. Contudo observou-se que oito dos vinte entrevistados, possuem renda mensal de dois a quatro salrios mnimos (Figura 04). Foram entrevistados nove mulheres e onze homens. A idade dos entrevistados variou de 73 a 20 anos, com mdia de 48 anos (Figura 05).

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Figura 04: Renda familiar em reais (R$) de 19 entrevistados do Serto do Ribeiro, Ilha de Santa Catarina/SC.

Figura 05: Idade dos 20 entrevistados do Serto do Ribeiro, Ilha de Santa Catarina/SC.

Durante a pesquisa procurou-se entrevistar a pessoa que cuidava do quintal. Dos 20 entrevistados 6 responderam que o casal quem cuida do quintal; 11 pessoas responderam que so eles mesmos que cuidam do quintal; e duas pessoas afirmaram que recebem ajuda, uma do filho e outra tem do irmo (Figura 06).

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Figura 06: Responsvel por cuidar do quintal da casa para os 20 entrevistados do Serto do Ribeiro, Ilha de Santa Catarina/SC.

Com exceo de uma casa, todos possuem algum tipo de cultivo, roa, onde predomina o cultivo de uma ou poucas espcies, mais afastada da residncia, e/ou quintal. Os moradores de quatorze residncias plantam aipim ou mandioca, sendo que trs deles cultivam apenas no quintal. Entre as residncias que no possuem roa, muitas se beneficiam da roa dos pais ou irmos, alguns, inclusive, ajudam a manej-la. Todos os cultivos so para consumo familiar, sendo que apenas um entrevistado afirmou comercializar em caso de excedente.

5.2. Uso das plantas e Diversidade:

Das 20 residncias iniciais, foram selecionados 11 quintais, onde foram encontradas 76 espcies de plantas, com um total de 138 variedades locais ou etnovariedades, distribudas em 34 famlias botnicas (Tabela 1). As famlias com maiores nmeros de espcies presentes foram Myrtaceae, Lamiaceae e Solanaceae (Figura 07). Abaixo imagem de dois quintais da comunidade conforme Figura 08.

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Figura 07: Famlias botnicas com maior nmero de espcies em 11 quintais do Serto do Ribeiro, Ilha de Santa Catarina/SC.

Figura 08: Exemplos dos quintais estudados no Serto do Ribeiro, Ilha de Santa Catarina/SC (Fotos: Mariana Giraldi).

Peroni et al. (2007) verificaram a presena de 94 espcies e 41 famlias botnicas em 102 quintais em trs comunidades prximas ao Serto do Ribeiro. Em outro estudo, efetuado na Caatinga, Florentino et al. (2007) apresentou 84 espcies e 35 famlias em 25 quintais amostrados. J Valado et al. (2006), identificou 92 espcies de plantas alimentcias pertencentes a 40 famlias botnicas em um estudo realizado em um

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assentamento rural no Estado de So Paulo. Todavia, apesar de um nmero reduzido de unidades amostrais da pesquisa realizada no Serto, obteve-se um resultado semelhante ao dos outros estudos com relao diversidade de plantas presente nos quintais.

Tabela 1: Listagem das espcies e etnovariedades presentes em 11 quintais e moradores da comunidade rural do Serto do Ribeiro, Ilha de Santa Catarina/SC.

FAMILIA Espcie/Morfoespcie ANACARDIACEAE Mangifera indica L. ANNONACEAE Annona squamosa L. APIACEAE Daucus carota L. Petroselinum sp.

Nome comum e Etnovariedades

Status Hbito

Manga

I

Arbreo

Fruta do conde

N

Arbustivo-arbreo

Cenoura Salsa Salsinha

I I

Herbceo Herbceo

ARACEAE Xanthosoma sp. 01 Xanthosoma sp. 02 ARECACEAE Butia sp. Euterpe edulis Mart. Buti Palmito N N N Arbustivo Arbreo Arbreo Inhame Tai N N Herbceo Herbceo

Syagrus romanzoffiana (Cham.) Glassman Coquinho ASTERACEAE Lactuca sativa L. Matricaria chamomilla L. Mikania sp. BIXACEAE Bixa orellana L. Urucum Alface Maanilha Guaco

I I N

Herbceo Herbceo Liana

N

Arbustivo

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BRASSICACEAE Brassica oleracea L Couve Brcolis Repolho Eruca sativa Mill. Raphanus sativus L. Brassicacea 1 BROMELIACEAE Ananas comosus (L.) Merr. CARYCACEAE Carica papaya L. CHENOPODIACEAE Beta vulgaris L. CONVOLVULACEAE Ipomoea batatas (L.) Lam. CUCURBITACEAE Cucumis melo L. Cucurbita sp. Sechium edule (Jacq.) Sw. Melo Abbora menina Machuchu Chuchu DIOSCOREACEAE Dioscorea sp. EBENACEAE Diospyros sp. Caqui Caqui caf Caqui corao de boi Caqui grado Caqui ma Caqui mido I Arbreo Car N Liana I N N Liana Liana Liana Batata doce N Liana Beterraba I Herbceo Mamo N Arbreo Abacaxi N Herbceo Rcula Rabanete Agrio seco I I I Herbceo Herbceo Herbceo I Herbceo

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EUPHORBIACEAE Manihot esculenta Crantz Mandioca Aipim amarelo Aipim casca preta Aipim manteiga Aipim rosinha Aipim roxinho FABACEAE Arachis hypogaea L. Phaseolus vulgaris L. Amendoim Feijo Feijo vermelho Feijo preto LAMIACEAE Melissa officinalis L. Mentha sp. Ocimum basilicum L. Origanum vulgare L. Rosmarinus officinalis L. Lamiaceae 1 LAURACEAE Persea americana Mill. LILIACEAE Allium fistulosum L. Allium sativum L. Allium sp. MALPIGHIACEAE Bunchosia armeniaca (Cav.) DC. Malpighia glabra L. Guaran Acerola N I Arbustivo Arbustivo Cebolinha Cebola verde Alho Cebola-alho I I I Herbceo Herbceo Herbceo Herbceo Abacate N Arbreo Erva cidreira Hortel Hortel roxa Alfavaca Manjerico Organo Alecrim Alfavaca do reino I I I Herbceo Herbceo Herbceo I Herbceo I I Herbceo Herbceo N N Herbceo Herbceo N Arbustivo

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MORACEAE Artocarpus heterophyllus Lam. Artocarpus sp. Morus nigra L. MUSACEAE Musa sp. Banana branca Banana canela Banana caturra Banana cco Banana enxerto Banana figo Banana ma Banana maai Banana nanica Banana nanico Banana ouro Banana prata Banana roxa Banana so tom MYRTACEAE Eugenia brasiliensis Lam. Eugenia tomentosa Aubl. Eugenia uniflora L. Myrciaria cauliflora (Mart.) O. Berg Psidium guajava L. Grumichama Cabeludinha Pitanga Jaboticaba Jaboticaba de enxerto goiaba goiaba branca goiaba vermelha Psidium cattleianum Sabine Myrtaceae sp.01 OXALIDACEAE Averrhoa carambola L. Carambola I Arbreo ara N N Arbreo Arbustivo-arbreo N Arbreo N N N N Arbreo Arbustivo Arbustivo-arbreo Arbreo I Arbustivo Jaca Fruta po Amorinha I I I Arbreo Arbustivo Arbreo

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PASSIFLORACEAE Passiflora alata Curtis Passiflora edulis Sims Maracuj cobra Maracuj Maracuj amarelo POACEAE Cymbopogon citratus (DC.) Stapf Saccharum officinarum L. Zea mays L. PUNICACEAE Punica granatum L. ROSACEAE Eriobotrya japonica (Thunb.) Lindl. Malus pumila Mill. Prunus persica (L.) Batsch Rosaceae 1 RUBIACEAE Coffea arabica L. Coffea sp. RUTACEAE Citrus limonia (L.) Osbeck Limo Limo galego Limo todo ano Citrus reticulata Blanco Tangerina Vergamota Ponc Citrus sinensis (L.) Osbeck Laranja Laranja acar Laranja lima Laranja vermelha I Arbustivo-arbreo I Arbustivo-arbreo I Arbustivo-arbreo Caf Caf sombrero Caf caturra I Arbustivo-arbreo I Arbustivo-arbreo Ameixa amarela Ma Pssego Ameixa par I I I ? Arbreo Arbustivo Arbustivo Arbustivo Rom I Arbreo Capim limo Cana Cana ma Milho N Herbceo I I Herbceo Herbceo N N Liana Liana

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Laranja bruta Laranja pamoio Laranja vanessa Laranja todo ano Citrus sp. Lima Lima catinga Limo caipira SOLANACEAE Capsicum sp. 01 Capsicum sp. 02 Capsicum sp. 03 Lycopersicum sp. 01 Lycopersicum sp. 02 VITACEAE Vitis vinifera L. ZINGIBERACEAE Zingiber officinale RoscoeN= nativo e I= introduzido.

I

Arbustivo-arbreo

Pimenta Pimenta malagueta Pimento Pimento Tomate japons Tomate mido

N N N N N

Herbceo Herbceo Herbceo Herbceo Herbceo

Uva roxa

I

Liana

Gengibre

I

Herbceo

As espcies mais representativas do Serto (Figura 09), principalmente devido s suas etnovariedades, so Musa sp. (banana e suas respectivas variedades), Citrus sinensis (L.) Osbeck (laranja e variedades), Citrus reticulata Blanco (tangerina, vergamota e ponc), Psidium guajava L. (goiaba) e Petroselinum sp. (salsinha), respectivamente (ilustraes em Anexo F). importante ressaltar que no se mensurou a abundncia das plantas presentes no quintal, considerou-se somente a presena ou no da etnovariedade.

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30 25 20 15 10 5 0Ci Mu tru sa sp s Ci s tru ine . n s Ps re sis id ticu i Pe um la ta tro gu Br s e a ja va as lin sic um a sp Ca oler . ac ric e Se a p a ch a pa iu y Di m e a d M os an py ule ro ih o s s Al t e liu sc p. m ule M yr fist nta cia ul r ia os c um Ci aul tru iflo s ra C lim Ph u c on as ur b ia e O olu ita s ci m s v p. u m ul ga Sa Pa bas ris il cc ssi ha flo icum ra ru Er m o ed u io bo ffic lis in tr y ar a ja um po ni ca

Figura 09: Espcies com maior nmero de citaes em 11 quintais do Serto do Ribeiro, Ilha de Santa Catarina/SC.

Os quintais considerados pequenos, mximo 400m2, (n=5) somaram um total de 72 etnovariedades de plantas, os mdios, entre 400m2 e 800m2, (n=2) apresentaram 60 e os grandes, acima de 800m2, (n=4), 153 (Figura 10). A mdia de plantas por tamanho de quintal foi: pequeno 14,4 etnovariedades, mdio 30 e grande com 38,8 plantas.

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Figura 10: Etnovariedades de plantas por tamanho do quintal em 11 quintais do Serto do Ribeiro, Ilha de Santa Catarina/SC.

Analisando as reas de cultivo individualmente (Tabela 02), os menores quintais possuem riqueza de etnovariedades bem diversas, variando de 1 a 30. Porm os quintais grandes, como esperado, apresentaram um grande nmero de variedades. Logo, no Serto do Ribeiro, no se pode afirmar que os quintais maiores possuem maior riqueza. Todavia, quando analisamos as mdias, podemos observar que h uma tendncia de que, quanto maior o quintal, maior o nmero de etnovariedades. Acredita-se que a riqueza de espcies vai ser influenciada por outros fatores alm o tamanho do quintal como o nmero de indivduos de cada espcie que cultivado ou manejado e o hbito das espcies.

Tabela 02: Riqueza de etnovariedades por tamanho do quintal em 11 quintais do Serto do Ribeiro, Ilha de Santa Catarina/SC.

Quintal

Pequeno 17 30 12 12 1

Mdio 18 42

Grande 45 29 29 50

Mdia

14,40

30,00

38,80

Considerando a diversidade de Shannon, H= 1,71 decits. Fox (1999) obteve um

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resultado um pouco superior, H= 1,96. Contudo, importante salientar que o trabalho aqui apresentado foi realizado no apenas com plantas utilizadas na alimentao, ao contrrio da maioria dos trabalhos, inclusive esse apresentado por Fox, que verificam as outras modalidades de usos (medicinal, ornamental, entre outros), aumentando assim o nmero de espcies e conseqentemente, a diversidade. A curva de acumulao de espcies (Figura 11) no apresenta estabilidade, indicando que se mais quintais fossem possveis de serem amostrados nessa localidade, provavelmente, seria registrada uma diversidade ainda maior. Apesar de existirem outros quintais ali, no foram possveis de serem amostrados, principalmente devido disponibilidade dos entrevistados. A construo de curvas de acumulao permitir, futuramente, a comparao da diversidade dos quintais do Serto do Ribeiro com os quintais das outras localidades de Florianpolis estudadas por Peroni et al. (2007) haja vista que foram usados tamanhos amostrais, nmero de quintais, distintos.

Figura 11: Curva de acumulao de espcies em 11 quintais no Serto do Ribeiro, Ilha de Santa Catarina/SC.

Com relao ao hbito das plantas (Figura 12), encontrou-se 19,5% arbreo (15 espcies), 11,7% arbustivo-rbreo (9 espcies), 14,3% arbustivo (11 espcies), 42,8% herbceas (33 espcies) e 11,7% lianas ou trepadeiras (9 espcies). O maior nmero de

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espcies herbceas devido s plantas utilizadas como condimento (pimenta, alfavaca, organo, entre outras) e s verduras propriamente ditas (rcula, alface, couve, etc.). Estas fazem parte do que comumente dito como horta que, geralmente, est mais prximo casa.

Figura 12: Hbitos ecolgicos das espcies de plantas encontradas em 11 quintais no Serto do Ribeiro, Ilha de Santa Catarina/SC.

Em relao origem das espcies, comum observar a presena de espcies nativas em quintais das regies tropicais midas e ridas, porm tambm comum a presena de plantas exticas ou introduzidas, muitas vezes at predominantes sobre as nativas (Kumar e Nair, 2004; Albuquerque et al., 2005). Com relao s espcies introduzidas ou nativas, adotou-se a classificao utilizada por Peroni et al. (2007), obtendo como resultado 41 espcies introduzidas, 33 nativas e 2 espcies indefinidas (Figura 13).

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Figura 13: Espcies introduzidas e nativas presentes em 11 quintais no Serto do Ribeiro, Ilha de Santa Catarina/SC.

Nas comunidades estudadas por Peroni et al. (2007) encontrou-se um resultado parecido, com 66% de espcies introduzidas e 34% de espcies nativas; considerando-se como espcies exticas todas aquelas introduzidas na Amrica Neotropical aps a chegada de Colombo em 1492 (Clement, 1999; Prance e Nesbitt, 2005). A relao do quintal com a alimentao foi verificada atravs da pergunta sobre a importncia do quintal e foi realizada em todas as casas, juntamente com o questionrio scio-econmico. Verificou-se que 08 pessoas consideram que os quintais tm grande valor na sua alimentao, 05 consideram que a importncia mdia, e 03 consideram-na pequena. Apesar de consider-la pequena, um entrevistado disse ach-la muito importante, e apenas uma pessoa disse que o quintal no contribui em nada com sua alimentao. Essa pergunta relaciona-se com a quantidade de alimento que eles produzem no quintal. Observou-se que apesar de mais da metade dos entrevistados no relacionarem essa importncia, h uma grande quantidade de plantas alimentcias em seus quintais. Supe-se, assim, que os quintais tm grande relevncia na reposio quando h falta de alguns alimentos. Outro detalhe que as plantas utilizadas como temperos, em sua maioria, so retiradas dos quintais. Outra relao interessante a das mulheres com os quintais. Verificou-se que grande parte dos quintais estudados so cuidados por mulheres, cerca de 46% cuidado apenas pela mulheres e 36% cuidado pelo casal, assim cerca de 82% dos quintais manejado pelas mulheres. Somente as reas mais longe das residncias, como as roas, so

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mantidas pelos homens. Essa relao verificada em muitas pesquisas, como a feita por Florentino et al. (2007) na Caatinga pernambucana.

5.3. Listagem livre das plantas:

Na listagem livre, levou-se em considerao apenas o nome popular ou a etnovariedade das espcies, como tambm a ordem em que essas plantas foram citadas. As plantas que apresentaram maior freqncia de citaes nas listagens livres foram: vergamota, Citrus reticulata Blanco; salsa, Petroselinum sp.; chuchu, Sechium edule (Jacq.) Sw.; cebolinha, Allium fistulosum L.; e limo, Citrus limonia (L.) Osbeck (Figura 14). Os quintais estudados por Fox (1999) no interior de So Paulo apresentaram resultado semelhante em relao freqncia de plantas alimentcias, com mamo como principal espcie seguida por laranja cravo (Citrus reticulata) e ponc (Citrus reticulata).

Figura 14: Plantas que apresentaram maior freqncia em listagem livre (n = 11 entrevistas), Serto do Ribeiro, Ilha de Santa Catarina/SC.

Essas mesmas plantas foram ranqueadas com relao ordem em que os entrevistados as citaram (Tabela 03). A mdia delas foi: vergamota, posio 12,22; salsa, 5,00; chuchu, 19,43; cebolinha na posio mdia de 5,57 e cebolinha, 17,86. interessante

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observar que apesar da freqncia da salsinha e cebolinha no foram as maiores, elas ocupam melhores posies no ranking, isso se justifica por serem lembradas primeiro pelos entrevistados. Tal fato se deve por estas plantas estarem presentes na horta, ou por serem muito utilizadas, como condimento.Tabela 03: Frequncia e ranqueamento das plantas com maiores citaes pelos entrevistados (n=11 entrevistas), Serto do Ribeiro, Ilha de Santa Catarina/SC.

Item Vergamota Salsa Chuchu Limo Cebolinha Jaboticaba Ameixa amarela Abbora menina Mamo Maracuj

Frequncia (%) 81,8 72,7 63,6 63,6 63,6 54,5 54,5 54,5 54,5 54,5

Ranking mdio 12,22 5,00 19,43 17,86 5,57 14,00 23,67 20,17 15,50 19,50

Com relao s plantas nativas e introduzidas, as plantas introduzidas que apresentaram maior freqncia foram vergamota, salsinha, cebolinha, limo e ameixa amarela. J as nativas foram: chuchu, abbora menina, mamo, maracuj e jaboticaba.

5.4. Plantas cultivadas e espontneas:

A maioria das plantas presentes nos quintais do Serto do Ribeiro, 87%, cultivada e 13% espontnea (Figura 15). Esse resultado foi relativamente diferente do apresentado por Fox (1999), em que apenas 3% das plantas so espontneas. A autora sugere que esse valor to baixo devido freqente manuteno dos quintais. J os quintais da Amaznia estudados por Padoch e de Jong (1991), apresentaram um valor mais prximo do estudo no Serto, 14% da plantas no so cultivadas, ou seja, so espontneas. Neste estudo, os autores afirmam que a proteo ou a seleo da vegetao que ocorre 34

espontaneamente um aspecto importante das tcnicas locais de manejo dos recursos.

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C ultivadas E x pontneas

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Figura 15: Total de plantas cultivadas e de nascimento espontneo em 11 quintais no Serto do Ribeiro, Ilha de Santa Catarina/SC.

Esse resultado mais expressivo de plantas espontneas no Serto pode ser explicado pelo fato de que a maioria dessas plantas nativa, como por exemplo, a goiaba (Psidium guajava L.), a pitanga (Eugenia uniflora L.) e o palmito (Euterpe edulis Mart.). Estas plantas so frutferas, sendo atrativas principalmente para as crianas, como tambm por toda a comunidade. No caso do palmito, sua representatividade d-se tambm pelo fato de ser uma planta protegida pela legislao ambiental. O palmito pode ser observado tanto presente nos quintais quanto em outras reas de cultivo e nas encostas dos morros da comunidade, cobertos pela vegetao da Mata Atlntica. Alm disso, as rvores frutferas podem ser dispersadas por animais, principalmente aves, e, por isso, muitas vezes esto dentro das reas dos quintais.

5.5. Forma de obteno das plantas:

As plantas presentes nos quintais do Serto do Ribeiro foram classificadas em ganhas, colhidas ou compradas (Figura 16). O resultado mais expressivo est relacionado as plantas colhidas no prprio quintal, com 49% do total, seguidas pelas ganhas, 34%, e em menor quantidade, 27%, pelas plantas compradas.

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Figura 16: Plantas colhidas, ganhas e compradas em 11 quintais no Serto do Ribeiro, Ilha de Santa Catarina/SC.

Grande parte das plantas ganhas vem dos prprios vizinhos ou de bairros prximos, como Ribeiro da Ilha, Armao do Pntano do Sul e Costa de Dentro. Poucas plantas foram ganhas de outras regies ou municpios. No entanto, ainda h grande quantidade de plantas que so compradas, essas so plantas adquiridas geralmente em forma de sementes vendidas no comrcio em saquinhos ou obtidas de frutas e de verduras compradas na feira.

5.6. Retorno de resultados:

A primeira forma de retorno de resultados que encontramos, foi divulgar o projeto sobre Plantas do Serto para a comunidade. Isso se deu atravs de um estande do Laboratrio de Ecologia Humana e Etnobotnica (Figura 17 e Figura 18) que foi montado na Semana de Pesquisa e Extenso universitria (SEPEX) da UFSC, que ocorreu de 22 25 de Outubro de 2008. Foram expostas fotos do Serto (moradores, cotidiano e plantas) e distribudos folders sobre os projetos desenvolvidos na regio.

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Figura 17: Estande de divulgao do Laboratrio de Ecologia Humana e Etnobotnica montado na VII SEPEX, UFSC, Ilha de Santa Catarina/ SC (Foto: Natalia Hanazaki, 25/10/2008).

Figura 18: Estande de divulgao do Laboratrio de Ecologia Humana e Etnobotnica montado na VII SEPEX, UFSC, Ilha de Santa Catarina/ SC (Foto: Natalia Hanazaki, 25/10/2008).

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Apesar de no ter uma resposta imediata, acredito que essa foi uma tima forma de divulgao, afinal muitas pessoas no conheciam o Serto do Ribeiro e com isso, passaram a saber da existncia de um povoado to prximo e ao mesmo tempo to distante deles. A prxima etapa realizada foi o evento Peri em foco, ocorrendo no dia 07 de Novembro de 2008 na sede do Parque Municipal da Lagoa do Peri (figura 19). Neste evento, a idia era aproximar a populao que vive no entorno do Parque Municipal da Lagoa do Peri das pesquisas que so desenvolvidas no local. Uma srie de pesquisadores divulgou seus projetos atravs de mini-palestras que aconteceram durante todo o dia. Ao final da tarde, foi inaugurada uma exposio composta por materiais doados pelos pesquisadores sede do Parque. Tais materiais variaram de psteres at jogos utilizados como ferramenta para Educao Ambiental.

Figura 19: Palestra de abertura do Peri em Foco, realizado no Parque Municipal da Lagoa do Peri, Ilha de Santa Catarina/ SC (Foto: Mel Simionato Marques, 07/11/2008).

Alm da distribuio de folders, o projeto foi divulgado atravs de uma pequena palestra: Pessoas e Plantas no Serto do Ribeiro (Figura 20). Uma exposio de fotos

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foi organizada e doada para o Parque, com o fim de valorizar a rea de paisagem cultural da Unidade de Conservao.

Figura 20: Palestra Pessoas e Plantas no Serto do Ribeiro, realizada no Peri em Foco, realizado no Parque Municipal da Lagoa do Peri, Ilha de Santa Catarina/ SC (Foto: Natalia Hanazaki, 07/11/2008).

Por fim, foi organizada uma reunio na comunidade, entre no dia 07 de Dezembro de 2008 (Figura 21), onde se pde conversar com a comunidade sobre os trs projetos desenvolvidos no Serto. A entrega da cartilha, com os resultados dos projetos ser feita de casa em casa e esclarecendo as dvidas dos moradores quando for necessrio. Pretende-se dialogar com a comunidade sobre essas pesquisas e como elas podem colaborar com a situao dos moradores perante o enquadramento do Parque Municipal da Lagoa do Peri no SNUC.

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Figura 21: Reunio organizada para divulgao dos projetos realizados na comunidade do Serto do Ribeiro, Ilha de Santa Catarina/ SC (Foto: Mariana Giraldi, 07/12/2008).

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6. Consideraes finais:

O conhecimento sobre plantas importante, pois pode contribuir para o aumento da diversidade de espcies em um local. Os quintais no Serto do Ribeiro representam um espao onde os moradores podem cultivar algumas espcies, mantendo hbitos antigos, no prejudicando os ecossistemas naturais, e ainda mantendo a segurana alimentar. importante registrar que no h uma organizao formal do quintal, isto , o quintal no tem diferentes culturas separadas por reas. Entretanto, perceptvel que h uma separao entre os tipos de cultivo com relao proximidade da casa. Por exemplo, as verduras e as plantas usadas para condimento e verduras, compem a horta, e esto sempre mais perto da casa. J as plantas frutferas que fazem parte do pomar esto mais afastadas da casa e misturadas entre elas, ou seja, desorganizadas. Em alguns casos, mais afastada ainda, est a roa. Observo que esta separao facilita o manejo das plantas e o cotidiano da famlia, simplificando o preparo de alguma comida. As plantas mais utilizadas estaro mais prximas cozinha, enquanto que as plantas que podem ser comercializadas ficam mais afastadas, pois no so necessrias a todo o momento. O atual modo de produo agrcola requer uma mudana para um modelo de produo agroecolgica, menos agressiva ao meio ambiente. Neste processo, os quintais podem ser teis como exemplos de uso sustentvel dos recursos naturais, fundamentado no conhecimento e nas tcnicas de manejo tradicionais (Kumar e Nair, 2004). Isto porque os quintais agregam uma grande variedade de plantas, nativas e exticas, com distintos usos, como o uso alimentcio. Alm disso, o fato das plantas produzidas no Serto no estarem contaminadas com produtos qumicos, como agrotxicos, fertilizantes, herbicidas, entre outros, torna estes alimentos mais saudveis do que os que so encontrados no comrcio. No entanto, h uma grande dependncia dos produtos comercializados para complementao alimentar das famlias, evidenciando o papel complementar dos quintais. H uma grande diversidade de plantas alimentcias, tanto de espcies quanto de variedades destas espcies. Apesar da grande diversidade presente nos quintais do Serto, muitas famlias encontram-se desestimuladas a continuar a viver nessa localidade. O enquadramento do Parque Municipal da Lagoa do Peri ao Sistema Nacional de Unidades de

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Conservao deixou muitos moradores temerosos com a possibilidade de serem desapropriados, alguns at mesmo j deixaram a comunidade. Em geral, acredita-se que a atividade agrcola e a modificao de habitats tm efeitos negativos sobre a biodiversidade. No entanto, sistemas de uso mltiplo da terra, como os quintais, podem ser considerados alternativas capazes de conciliar produo agrcola sustentvel e conservao de espcies nativas (Kumar e Nair, 2004). Segundo Albuquerque (1999), a etnobiologia pode contribuir para a conservao dos recursos e para o desenvolvimento sustentvel, atravs da identificao de processos de uso sustentvel de recursos naturais; desenvolvendo projetos para conservao da biodiversidade com base no conhecimento tradicional das populaes locais; estudando modelos cognitivos e sistemas ecolgicos de populaes tradicionais. Assim, prope-se como potencial deste trabalho, partindo de uma fundamentao etnobiolgica, fornecer informaes para embasar o enquadramento do Parque Municipal da Lagoa do Peri de um modo que no haja a desapropriao da populao que habita o Serto do Ribeiro.

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7. Referncias:

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Anexos

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Anexo A Termo de consentimento prvio e esclarecido. Somos Ana Luiza Arraes de Alencar Assis e Victoria Duarte Lacerda, estudantes da Universidade Federal de Santa Catarina, aqui em Florianpolis, e estamos desenvolvendo um trabalho sobre o uso de plantas em quintais e sobre o cultivo de aipim (mandioca) aqui na comunidade. Os nomes dos trabalhos desenvolvidos so: Os agricultores tradicionais do Serto do Peri (Florianpolis - SC) e a conservao de diversidade de mandioca (Manihot esculenta Crantz - Euphorbiaceae), e Importncia de quintais rurais na Ilha de Santa Catarina para manuteno da biodiversidade um enfoque etnobotnico. A etnobotnica uma rea de pesquisa onde se estuda o conhecimento popular sobre o uso de plantas. Alm de ns, as outras pessoas que participam do trabalho so os professores Natalia Hanazaki e Nivaldo Peroni. O que queremos com este trabalho conhecer o que vocs cultivam e sabem sobre as plantas cultivadas e como as usam. Algumas amostras de plantas podero ser coletadas (folhas e frutos) e levadas para o laboratrio, para serem identificadas. Mas para que este trabalho possa ser realizado e possamos conhecer as plantas, gostaramos de pedir autorizao para visit-lo(a), conversar sobre os usos e para coletar algumas plantas em seu quintal ou roa, assim como tirar algumas fotos da plantas e de vocs. A qualquer hora o senhor ou a senhora pode parar nossa conversa ou desistir de participar do trabalho, sem trazer nenhum prejuzo. importante destacar que no temos nenhum objetivo financeiro e que os resultados da pesquisa sero passados a vocs e s sero usados para comunicar outros pesquisadores e revistas relacionadas universidade. Caso tenha alguma dvida basta me perguntar, ou nos telefonar. Nosso telefone e endereo so: Laboratrio de Ecologia Humana e Etnobotnica, Centro de Cincias Biolgicas / Departamento de Ecologia e Zoologia, Universidade Federal de Santa Catarina Campus Trindade, CEP 88010-970 / Telefone: 3721-9460.

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Entrevistado: Depois de saber sobre o que a pesquisa, de como ser feita, do direito que tenho de no participar ou desistir dela sem prejuzo para mim e de como os resultados sero usados, eu concordo em participar desta pesquisa. _____________________________ Entrevistado ______________________ Entrevistador

___________________________________________________________ Municpio, Localidade e data

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Anexo B Questionrio Scio-econmicoINFORMANTE

Nome do entrevistador: Data: Nmero da casa:______________________ Bairro:_______________ Nmero da entrevista_____________________ 1. Nome:________________________________________________ 2. Sexo: ________ 3. Idade:________________ 4. Estado civil:__________________ 5. N de filhos: ___________ 6. Nmero de residentes:___________________ 7. Local de nascimento:_____________________________________ 8. Tempo de residncia no local:______________________________ 9. Residncia/ Stio: a) prpria b) alugada c) outros:__________________ 10. Principal fonte de renda: _________________________________ 1) Qual a renda mensal da famlia em reais ou em salrios mnimos? ( ) at 1 ( )4a6 ( ) 10 a 15 ( ) >20 ( )2a3 ( )7a9 ( ) 16 a 20 2) Recebem algum benefcio do governo federal, governo estadual ou da prefeitura? ( ) Bolsa Famlia ( ) Bolsa Escola ( ) Vale Gs ( ) Outro ____________________ 3) O quintal j foi a) ( ) maior que atualmente? b) ( ) menor que atualmente? 4) Por que planta? (o que motiva a plantar no quintal)? ( ) consumo familiar ( ) comrcio ( ) lazer ( ) outro: ________________ 5) a) Quem cuida do quintal? b) Quanto tempo gasta?

6) Qual a importncia do quintal para alimentao diria? a) grande b) mdia c) pequena d)nenhum 7) Alm do quintal o senhor(a) cultiva alguma roa? ( ) no ( ) sim Quantas roas e de que?

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Anexo C: Inventrio das plantas de quintais.

Nome comum

Uso1

Manejo2 Forma (C/E) obteno3

de Origem (de J doou para Observao onde veio e algum? local?)4 (para quem?)

1 2

Usos: declarados pelo informante. Manejo: C=cultivada; E= espontnea; 3 Ganhou, comprou, colheu, 4 Local de origem.

Anexo D: Folder.

Anexo E: Cartilha.

Anexo F: Ilustraes das espcies mais representativas.

Legenda: Da esquerda para direit, de cima para baixo, Citrus sinensis (Fonte: http://www.bomengids.nl/zomer2004/pics/Sinaasappel__Citrus_sinensis__Orangeimg_676. jpg), Musa sp. (Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/archive/4/46/20050509073155!Musasp3.1.jpg), Citrus reticulata (Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/b/b0/OrangeBloss_wb.jpg/240pxOrangeBloss_wb.jpg), Psidium guajava (Fonte: http://www.plantcare.com/oldSite/httpdocs/images/namedImages/Guava.jpg), Petroselinum sp. (Fonte: http://farm4.static.flickr.com/3285/2730527902_6af1b334d5.jpg)