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UNISAL
Daniela da Silva Paula
A importncia da prtica educativa e psicopedaggica no
processo de ensino-aprendizagem da criana com Deficincia Intelectual
Lorena
2012
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UNISAL
Daniela da Silva Paula
A importncia da prtica educativa e psicopedaggica no
processo de ensino-aprendizagem da criana com Deficincia Intelectual
Lorena
2012
Monografia apresentada como exigncia parcial para a obteno de ttulo de especialista em Psicopedagogia e Psicomotricidade no Curso de Especializao Lato Sensu do Centro Universitrio Salesiano de So Paulo Lorena, sob a orientao da Prof Ms Renata Izabel Mariconi Ferro.
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Paula, Daniela da Silva. P281i A importncia da prtica educativa e psicopedaggica no processo de ensino-aprendizagem da criana com Deficincia Intelectual. Lorena:
UNISAL, 2011. 77 f. Monografia (Ps-graduao em Psicopedagogia e Psicomotricidade). Centro Universitrio Salesiano de So Paulo. Orientadora: Prof Ms Renata Izabel Mariconi Ferro. Inclui Bibliografia.
1.Deficincia mental. 2. Deficincia Intelectual. 3. Necessidades educativas especiais. 4. Avaliao e interveno escolar e psicopedaggica. I. Ferro, Renata Izabel Mariconi. II. Centro Universitrio Salesiano de So Paulo. III. Ttulo.
CDU 371.92
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RESUMO
As crianas com deficincia intelectual tm dificuldades graves tanto
para aprender quanto de carter geral, e isso requer o ajuste da educao e a
adequao do currculo medida e necessidade de cada um. Quando as
dificuldades no so muito grandes, os ajustes em metodologia, atividades e
materiais e os agrupamentos flexveis so suficientes para responder s
necessidades dos alunos. At aqui, basta adequar o currculo e conduzi-lo a
seu ltimo nvel de concretizao, o individual. Quando as dificuldades so
gerais e permanentes, porm, preciso fazer adaptaes mais profundas, com
uma variao significativa em relao aos modelos mais comuns de
individualizao do currculo e requerer recursos e apoios especializados.
Nessa perspectiva, pretende-se com esse trabalho apresentar o conceito
de deficincia mental ou intelectual, a evoluo da educao das crianas com
deficincia intelectual ao longo da histria, a organizao curricular e os
objetivos educacionais para alunos com deficincia intelectual inclusos nas
escolas regulares, bem como o trabalho de avaliao, interveno e apoio s
necessidades educativas especiais desses alunos, por meio de um programa
educativo e psicopedaggico.
Palavras chaves: Deficincia mental. Deficincia Intelectual. Necessidades
educativas especiais. Avaliao e interveno escolar e psicopedaggica.
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ABSTRACT
Children with intellectual disabilities have serious difficulties both to
learn about the general character, and this requires the adjustment of
education and the adequacy of the curriculum and as the needs of
each one. When difficulties are not too large, the adjustments
in methodology, activities and materials and groupings are flexible enough
to meet the needs of students. So far, just adjust the curriculum and lead it to
its ultimate level of achievement, the individual. When difficulties are general
and permanent, but you have to make deeper changes, with significant
variation in relation to the most common models of individualized curriculum
and require specialized resources and support.
From this perspective, it is intended with this work present the concept
of mental or intellectual, the evolution of the education of children with
intellectual disabilitiesth roughout history, the curriculum and educational
goals for students with intellectual disabilities included in regular schools as
well as the work ofassessment, intervention and support for special educational
needs of these students through a program of education and psychology.
Keywords: Mental retardation. Intellectual Disability. Special educational
needs. Assessment and intervention school and psychoeducational.
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SUMRIO
1. JUSTIFICATIVA ............................................................................................. 8
2. INTRODUO ................................................................................................ 9
3. OBJETIVOS ................................................................................................. 11
4. DEFICINCIA INTELECTUAL ..................................................................... 12
4.1 Definindo a deficincia intelectual ........................................................... 12
4.2 Caractersticas cognitivas ........................................................................ 15
4.3 Incidncia e diagnstico .......................................................................... 18
4.4 Preveno ............................................................................................... 21
4.5 Avaliao .............................................................................................. 22
5 . EDUCABILIDADE DA CRIANA COM DEFICINCIA INTELECTUAL ..... 26
5.1 Necessidades educativas especiais ..................................................... 26
5.2 Adaptaes curriculares ....................................................................... 33
5.3 Papel da escola e do professor no trabalho com alunos com deficincia
intelectual ...................................................................................................... 37
6. O PROCESSO DE AVALIAO E INTERVENO PSICOPEDAGGICAS
NO PROCESSO EDUCATIVO DE CRIANAS COM DEFICINCIA
INTELECTUAL ................................................................................................. 43
6.1 A avaliao psicopedaggica ............................................................... 43
6.2 Trajetria escolar e acompanhamento psicopedaggico ...................... 45
6.3 Princpios bsicos de interveno escolar e psicopedaggica ............. 53
7. CONSIDERAES FINAIS .......................................................................... 54
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ................................................................ 59
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ANEXO A ......................................................................................................... 62
ANEXO B ......................................................................................................... 73
ANEXO C ......................................................................................................... 75
ANEXO D ......................................................................................................... 77
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1. JUSTIFICATIVA
A deficincia mental atualmente denominada de deficincia intelectual
constitui uma condio permanente, embora no imutvel. Por isso, correto
incluir a deficincia intelectual entre as necessidades educativas especiais de
carter permanente, ainda que o desafio do educador consista justamente em
tratar de mudar para melhor o grau da capacidade deficiente do educando.
Nessa perspectiva, compreender como o aluno deficiente intelectual
aprende e os estmulos favorecedores de sua aprendizagem suas
possibilidades torna-se um aspecto fundamental avaliao e interveno
psicopedaggica e educativa.
Espera-se com este trabalho, viabilizar informaes relevantes acerca
da criana deficiente intelectual, contribuindo assim para uma atuao
consciente e eficaz por parte dos profissionais que a atendem.
Os dados levantados sero relevantes para debates acadmicos e
cientficos.
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2. INTRODUO
O presente trabalho organiza-se em trs partes, partindo-se de uma
abordagem histrica e a seguir social e pedaggica, alm de uma abordagem
progressivamente mais relacionada com a prtica psicopedaggica.
Assim como ocorreu em campos do comportamento humano, tudo o que
diz respeito deficincia intelectual, sua realidade e ao seu tratamento sofreu
modificaes profundas quanto a conceito, anlise e ateno prtica, como
salienta a literatura nessa rea.
Segundo Fierro,
o que hoje se entende como deficincia mental foi identificada e conhecida no passado, mas apenas passou a ser objeto de ateno mdica e pedaggica e de estudo cientfico a partir do final do sculo XVIII. Educadores e pedagogos incumbiram-se, desde ento, da deficincia mental. (COLL, MARCHESI, PALCIOS E COLS, 2004, p. 193).
Na esfera educacional, a conceitualizao e caracterizao da
deficincia intelectual vm sendo analisadas ao longo dos anos,
proporcionando a pesquisadores e estudiosos da rea uma crescente
discusso acerca de como atender as necessidades dessa demanda.
Para Batista e Mantoan (2006), a deficincia mental desafia a escola
comum no seu objetivo de ensinar, de levar o aluno a aprender o contedo
curricular, construindo o conhecimento. O aluno com essa deficincia tem uma
maneira prpria de lidar com o saber, que no corresponde ao que a escola
preconiza. Na verdade, no corresponder ao esperado pela escola pode
acontecer com todo e qualquer aluno, mas os alunos com deficincia mental
denunciam a impossibilidade de a escola atingir esse objetivo, de forma tcita.
O aluno com deficincia mental tem dificuldade de construir
conhecimento como os demais e de demonstrar a sua capacidade cognitiva,
principalmente nas escolas que mantm um modelo conservador de ensino e
uma gesto autoritria e centralizadora. Essas escolas apenas acentuam a
deficincia, aumentam a inibio, reforam os sintomas existentes e agravam
as dificuldades do aluno com deficincia mental, afirmam Batista e Mantoan
(2006).
Considerando esse enfoque, o presente estudo tem como questo
norteadora de sua pesquisa, a seguinte interrogao: Como desenvolver uma
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prtica educativa e psicopedaggica que favorea o aprendizado de crianas
com deficincia intelectual?
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3. OBJETIVOS
Objetivo Geral
Contribuir para o enriquecimento do trabalho educativo e
psicopedaggico com crianas que apresentam deficincia intelectual.
Objetivo Especfico
Apresentar possibilidades e recursos que viabilizem o desenvolvimento
educacional da criana com deficincia intelectual, em um olhar educativo e
psicopedaggico.
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4. DEFICINCIA INTELECTUAL
4.1 Definindo a deficincia intelectual
A definio formal da deficincia intelectual passou por vrias
modificaes, no decorrer da histria, medida que novos conhecimentos
foram sendo produzidos pelas cincias e tambm, que se foram fortalecendo
as ideias relativas aos direitos humanos das minorias, o que implicou na
clarificao de fatores sociais que determinam uma maior ou menor
funcionalidade da pessoa.
As primeiras menes deficincia intelectual no chegam a serem
definies claras e objetivas, mas de alguma forma mostram como esta era
concebida. Na obra de Pessotti (1984), denominada Deficincia Mental: da
superstio cincia, tem-se uma brilhante exposio, de agradvel leitura,
sobre a caminhada epistemolgica percorrida pelas ideias sobre a deficincia
mental.
Estaremos aqui apresentando somente a sntese das que consideramos
as principais.
Algumas das expresses utilizadas para designar pessoas que
apresentavam comportamentos bizarros, eram: les enfants du bon Dieu (as
crianas do bom Deus), idiotas, cretinos, imbecis. Surgidos na Idade Mdia,
estes termos ganhavam significados diferentes, em funo das variaes do
pensar teolgico em vigor no contexto onde eram empregados.
Para alguns, as pessoas a quem assim se referia, eram pessoas eleitas
de Deus; para outros, uma espcie de expiadoras das culpas alheias; para
outros ainda, pessoas aplacadoras da clera divina, a receber, em lugar da
aldeia, a vingana e o castigo celestes. Tambm para alguns, eram tidas como
pessoas possudas pelo demnio, ou mesmo a prpria besta demonaca.
Cada concepo determinava a prtica de relaes da sociedade com
essas pessoas. Assim, tanto se encontrava quem as acolhesse com caridade
(garantindo teto e alimentao), como quem praticasse o exorcismo (com
flagelaes, torturas), e o castigo (queima na fogueira, afogamento).
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No sculo XVII, Thomas Willis (1621-1675) escreveu (in PESSOTTI, 1984,
p. 18):
A idiotia e a estupidez dependem de uma falta de julgamento e de inteligncia, que no corresponde ao pensamento racional real: o crebro a sede da enfermidade, que consiste numa ausncia de imaginao e memria, cuja sede est no crebro. A imaginao, localizada no corpo caloso, ou substncia branca; e a memria, na substncia cortical. Assim, se a imbecilidade ou a estupidez aparecem, a causa reside na regio cerebral envolvida, ou nos espritos animais, ou em ambos.
No sculo XX, o conjunto de definies da deficincia mental mais
sistematizado e organizado foi o produzido pela Associao Americana de
Retardo Mental (AAMR, 2002).
Tambm marcadas pela ideia da incurabilidade, at meados do sculo,
elas assim evoluram:
Um estado de defeito mental, desde o nascimento ou primeiros anos de vida, devido a um desenvolvimento incompleto do crebro, em cuja conseqncia a pessoa afetada torna-se incapaz de desempenhar seus deveres como um membro da sociedade, na posio de vida na qual ela nasceu. (TREDGOLD,1908, p.58)
Deficincia mental um estado de desenvolvimento mental incompleto, de tal tipo e grau, que o indivduo torna-se incapaz de adaptar-se ao ambiente normal de seus companheiros, de forma a manter uma existncia independente de superviso, controle, ou apoio externo. (TREDGOLD,1937, p.223)
Um estado de incompetncia social alcanado na maturidade, ou provvel de se alcanar na maturidade, resultante de um defeito no desenvolvimento, de origem constitucional (hereditrio, ou adquirido); a condio essencialmente incurvel atravs de tratamento, e irremedivel atravs de treinamento.(DOLL,1962, p.63)
O retardo mental se refere ao funcionamento intelectual geral inferior mdia, que se origina durante o perodo de desenvolvimento, e encontra-se associado a atrasos em uma ou mais das seguintes reas: (1) maturao, (2) aprendizagem, (3) ajustamento social. (HEBER, 1959 p.91)
Retardo mental se refere a um funcionamento intelectual geral significativamente abaixo da mdia, co-existindo com dficits no comportamento adaptativo, e manifestado durante o perodo de desenvolvimento. (GROSSMAN, 1973, p.103)
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Tomando-se o conjunto de definies aqui apresentadas, pode-se
constatar que o olhar sobre a deficincia intelectual modificou-se radicalmente,
no decorrer do tempo.
Da suposio de ser um problema espiritual, metafsico, passou a ser
vista como uma doena incurvel, e falta de ensino e estimulao.
As definies de 1992 e 2002 impuseram mudanas radicais e de grande
importncia para o trato da deficincia intelectual. Primeiramente, a importncia
de se voltar o olhar para o funcionamento presente da pessoa e em segundo
lugar, o atrelamento do diagnstico dessa deficincia s oportunidades
disponveis de suportes, na comunidade, a serem disponibilizados para a
pessoa.
Dificilmente se poder obter uma definio pontual para a deficincia
intelectual, bem como a concordncia universal em torno de qualquer definio,
j que a variedade de topografia bastante diversificada.
Entretanto, parece haver consenso quanto s seguintes caractersticas definidoras:
O retardo mental uma deficincia caracterizada por limitaes significativas no funcionamento cotidiano, que esto presentes desde o incio da vida, instalando-se antes da idade de 18 anos. Comportamento adaptativo um conjunto de habilidades conceituais, sociais e prticas, que so aprendidas pelas pessoas, para funcionar em suas vidas cotidianas. Sua avaliao deve focalizar o desempenho de um indivduo em suas rotinas dirias e nas circunstncias diversificadas em que vive, ao invs de buscar identificar seu desempenho mximo. Embora longe de ser perfeito, a habilidade intelectual ainda melhor representada pelo QI, quando obtido atravs de instrumentos apropriados de avaliao, ministrados e interpretados com preciso. O critrio para o diagnstico aproximadamente dois desvios-padro abaixo da mdia, considerando a medida padro de erro para o instrumento especfico de medida utilizado, bem como seus pontos fortes e suas fragilidades. Sistemas de classificao mltipla devem ser utilizados para atender s necessidades diversificadas dos indivduos e de suas famlias, pesquisadores, clnicos e prticos. Tais sistemas podem se fundamentar, por exemplo, na intensidade dos suportes que se mostram necessrios, na etiologia, nos nveis de inteligncia medidos, ou nos nveis de comportamento adaptativo avaliados. As funes ou razes para se aplicar uma definio de retardo mental a um indivduo so mltiplas e podem incluir: diagnstico, classificao, e/ou planejamento de suportes. (AAMR, 2002, p.341).
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No caso da escola, parecem ser importantes as funes de diagnstico,
de identificao das necessidades de suporte e de planejamento do sistema de
suportes a ser implementado, para favorecer o funcionamento eficiente do
aluno.
4.2 Caractersticas cognitivas
O funcionamento cognitivo do aluno com deficincia intelectual comporta
um conjunto de caracterstica que testemunham certa fragilidade nesse
funcionamento. Considera-se importante delimitar um perfil desse
funcionamento ressaltando que seja qual for a importncia da deficincia desse
aluno, ele capaz de realizar numerosas aprendizagens. O professor no deve
considerar essas caractersticas como obstculo para uma ao educativa
eficiente. Ele deve, ao invs disso, levar em conta essas caractersticas tendo
como objetivo desenvolver estratgias que permitam maximizar a eficincia de
suas intervenes educativas.
Os alunos com deficincia intelectual tm dificuldades para mobilizar os
seus prprios recursos cognitivos internos de modo eficiente. Em situao de
resoluo de problema, frequentemente esses alunos se apoiam mais sobre
recursos externos, tais como a opinio de um colega, do que sobre seus
prprios recursos cognitivos. Ele fortemente influenciado pela opinio e pela
ao do outro. As frequentes dificuldades vivenciadas por esses alunos em
contexto de aprendizagem podem talvez explicar essa ausncia de confiana
na prpria capacidade de resolver os desafios com os quais ele confrontado
em casa ou na escola.
Inhelder (1963) realizou um estudo importante sobre o funcionamento
cognitivo das pessoas com deficincia o qual pode esclarecer, pelo menos em
parte, esta dificuldade para mobilizar seus prprios recursos cognitivos internos
de modo eficiente. Neste estudo, realizado com cem pessoas que
apresentavam deficincia intelectual, a autora observou a manifestao de
oscilao do raciocnio em pelo menos 10% dessas pessoas. Essas oscilaes
se caracterizavam pela expresso de dois nveis de raciocnio que elas
apresentavam frente demanda de resoluo de um problema. Neste estudo,
Inhelder observou trs tipos de oscilao. A primeira que se caracteriza por um
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raciocnio que marca um progresso durante o perodo de interrogao do
sujeito, a segunda caracterizada por oscilaes simples entre dois nveis de
raciocnio e uma terceira cujo raciocnio marca um retorno durante a
interrogao do sujeito.
Estas oscilaes testemunham que fatores cognitivos podem influenciar
os mecanismos operatrios, podendo, inclusive, interferir na coerncia interna
do pensamento (INHELDER, 1963). A respeito desses fatores extra cognitivos,
Inhelder identifica: a inquietude, a sugestionabilidade e a hesitao que em um
contexto de troca social podem ter um efeito sobre a fragilidade do pensamento
das pessoas com deficincia intelectual. A inquietude resultaria de problemas
de trocas afetivas ou intelectuais com o meio social. A sugestionabilidade
resultaria das constantes dificuldades cognitivas experienciadas pela criana,
que teria como consequncia a ausncia de credibilidade nas prprias idias.
Ela resulta da necessidade de aprovao do outro, o que no permite a criana
buscar solues motivadas pelo interesse na resoluo do problema, mas pela
busca de aprovao. Essa forma de funcionamento impede o sujeito de se
adaptar e de tratar os problemas de forma objetiva. Essa necessidade de
aprovao presente nos procedimentos cognitivos da criana dificultaria seu
processo de deciso quanto resoluo de problemas, resultando em
comportamentos de hesitao. Os fenmenos evolutivos, seja a construo
progressiva do mecanismo operatrio, seja o desenvolvimento das trocas
afetivas com o meio social, constituem uma totalidade da qual os diferentes
aspectos so interdependentes (INHELDER,1963). Segundo esta autora, o
desenvolvimento operatrio comporta um aspecto de equilbrio individual
interno e um aspecto social. As operaes lgicas constituem um meio de troca
entre o indivduo e o grupo, logo, as regras operatrias so construdas no
conjunto das normas sociais. Assim, se o sujeito acumula experincia de
sucesso em suas trocas com o meio social, ele pode ultrapassar seu potencial.
Entretanto, o contrrio tambm pode se produzir.
O ponto de vista de Inhelder parece ser compartilhado com o de Ferreti
(1994) quando considera que o desenvolvimento de estratgias de resoluo
de problemas depende algumas vezes das\caractersticas cognitivas do sujeito
e outras vezes dos suportes sociais e contextuais que lhe so oferecidos.
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Oferecer suportes qualitativos e ainda situaes de ensino e aprendizagem que
proporcionem interaes eficazes constitui estratgias importantes para a
superao das barreiras impostas pela deficincia intelectual, no que diz
respeito apropriao do conhecimento.
Em sala de aula, esses alunos experienciam dificuldades em centralizar
a ateno sobre os elementos essenciais que permitiriam orientar o
procedimento de realizao das tarefas propostas pelo professor. Trata-se de
um problema de ateno seletiva. Normalmente eles tm dificuldade em
compreender o que esperado deles e consequentemente, apresentam
dificuldades para se orientarem e planejarem eficazmente realizao da
tarefa.
Em situao de aprendizagem, esses alunos utilizam de maneira pouco
eficiente estratgias cognitivas de repetio interna ou de agrupamento de
informao que permitiriam reter as informaes teis resoluo do
problema. Eles facilmente esquecem elementos importantes para a realizao
eficiente da tarefa.
O planejamento e a auto-regulao durante a situao de resoluo de
problemas se constituem nos aspectos que os alunos com deficincia
intelectual apresentam maiores dificuldades. Eles experimentam dificuldade em
refletir sobre o resultado da prpria ao e sobre a transformao das
estratgias relacionadas a esta ao, ou seja, so os aspectos metacognitivos
implicados na realizao das tarefas que se revelam pouco eficientes nesses
alunos. Eles tendem a repetir a mesma estratgia mesmo quando elas se
mostram ineficazes.
A transferncia das aprendizagens para novos contextos constitui outra
dificuldade pelas qual passa o aluno com deficincia intelectual.
Frequentemente, este aluno no consegue aplicar espontaneamente um
conhecimento ou um conhecimento adquirido em outro contexto, mesmo
quando existe pouca diferena entre esses dois contextos. Esta dificuldade de
transferncia se constitui sem dvida em um grande desafio para o professor.
Problemas de natureza metacognitiva poderiam explicar, em parte, essas
dificuldades de transferncia.
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Outra caracterstica a considerar diz respeito fragilidade que ele
apresenta ao operar no nvel das representaes mentais, uma vez que essa
dificuldade interfere na evoluo conceitual. A evoluo conceitual relaciona-se
com o desenvolvimento da oralidade, da capacidade de estabelecer dilogo
com o outro e com o meio fsico e social de modo significativo.
Acredita-se que essas caractersticas podem interferir no processo de
apropriao do conhecimento pelo aluno com deficincia intelectual. Desse
modo, o atendimento a esse aluno deve se estruturar em funo das
possibilidades de superao dessas barreiras.
4.3 Incidncia e diagnstico
Ao se pensar na etiologia da deficincia intelectual, at mesmo para
buscarem-se formas de prevenir ou de reduzir a sua incidncia, encontram-se
04 (quatro) tipos de fatores causais, sendo esses fatores interativos e
cumulativos:
Fatores biomdicos
Dizem respeito a processos biolgicos. Dentre eles destacam-se os
problemas metablicos (fenilcetonria), as sndromes genticas e anomalias
cromossmicas (Sndrome de Down), sndromes endocrinolgicas
(hipotiroidismo), sndromes morfolgicas (microcefalia), sndromes
neurolgicas (distrofia muscular), doenas infecciosas, intoxicao,
traumatismos crnio-enceflicos, tumores, transtornos mentais, etc.;
Fatores sociais
Dizem respeito interao familiar e social e relacionam-se situao
de extrema privao ambiental e ausncia de interao social e familiar;
Fatores comportamentais
Esto associados a comportamentos potencialmente causais, tais como
a sndrome da criana maltratada, golpeada, seviciada, abusada ou
negligenciada. Tanto os aspectos emocionais podem estar envolvidos como os
traumas crnio-enceflicos decorrentes;
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19
Fatores educacionais
Esto associados ao no atendimento das exigncias de apoio que
certas crianas necessitam para o seu desenvolvimento intelectual e suas
habilidades adaptativas.
Muitas causas de deficincia intelectual so desconhecidas. Estudos
recentes revelam que 50% (cinquenta por cento) das causas de deficincia
mental dos tipos menos graves so desconhecidas e entre as mais agravadas,
30% ( trinta por cento) tm sua origem desconhecida.
O interesse em se conhecer as causas da deficincia intelectual deve-se
importncia em se detectar as possveis limitaes que ela possa vir a
provocar nas pessoas e, principalmente, identificar os meios para sanar essas
causas ou, mesmo, evit-las.
Durante muito tempo, e at mesmo em nossos dias, a deficincia
intelectual tem sido vista como uma doena, uma enfermidade incurvel.
Atualmente, conhecimentos cientficos comprovados e novas
descobertas tm revelado que:
nem sempre as sndromes biomdicos provocam deficincia intelectual;
a condio etiolgica pode ser tratvel e o seu conhecimento prvio
permite procedimentos que minimizam deficincias que viriam a ocorrer;
pessoas com deficincia intelectual podem ter sade perfeita, assim
como outras podem apresentar graves problemas biomdicos, sendo
que a maioria situa-se entre esses dois extremos;
etiologia no sinnimo de deficincia intelectual, uma vez que
pessoas com uma mesma condio etiolgica podem ou no vir a
apresentar deficincia intelectual;
as pessoas com deficincia intelectual no apresentam incompetncia
generalizada, possuindo muitas capacidades e habilidades que
permitem o seu desenvolvimento e ajustamento s demandas do seu
meio fsico e social;
a sade fsica de uma pessoa com deficincia intelectual influencia a
sua funcionalidade, mas outros fatores tambm participam, tais como, a
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natureza do ambiente em que vive exigncias, expectativas - , bem
como os efeitos e o impacto exercido pelas suas limitaes intelectuais e
adaptativas.
Segundo Fierro ( 2004), a incidncia de causas concretas da deficincia
intelectual tambm bastante variada. Em cada populao, depende
principalmente de circunstncias sanitrias, sobretudo na gravidez e no parto, e
muitas vezes tambm de causas sociais. Mas, de acordo com o mesmo autor,
o conhecimento da origem concreta da deficincia em uma pessoa nem
sempre indispensvel para o seu tratamento e para a sua educao. O
conceito de necessidades educativas especiais no d muita importncia a
esse conhecimento e permite deixar de lado, em ampla medida, as origens ou
os antecedentes dessas necessidades: da etiologia ou da(s) causa(s) dessa
concreta caracterizada como deficincia intelectual. O enfoque das
necessidades educativas especiais est atento sua apresentao atual,
demanda especfica que coloca ao profissional, ao professor, escola, aos
recursos materiais e didticos para responder a ela. Centra-se na realidade
presente do aluno e na possibilidade de modific-la: na realidade de suas
capacidades atuais e na possibilidade de desenvolv-las.
O professor, o educador, o profissional que intervm junto a pessoas
com deficincia no pode ignorar a etiologia do dficit, mas tambm no
depende muito dela em seu trabalho concreto. Este no muda apenas pela
circunstncia de que as srias dificuldades de aprender em um aluno
procedam de uma alterao cromossmica, de uma infeco pr-natal ou de
um traumatismo de parto. Mesmo quando a deficincia se deve a fatores ps-
natais, sobrevindos, como ocorre com a deficincia intelectual resultante da
fenilcetonria no tratada a tempo ou de uma encefalite ou uma meningite, o
caso chega a ele em condies orgnicas j irreversveis. Apenas quando h
um fator sociocultural e de aprendizagem significativo, predominante ou
concomitante, potencializador de outros fatores, inteiramente relevante
identific-lo. Nesse caso, as perspectivas de reabilitao so mais favorveis.
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21
4.4 Preveno
O conhecimento das causas da deficincia intelectual importante para
a sua preveno. Muitas aes poderiam ser desencadeadas de modo a evitar
a ocorrncia de deficincias:
programas de preveno contra as drogas e o lcool e vacinao da
me contra certas doenas so exemplos de medidas dirigidas aos pais
e comunidade que visam evitar o aparecimento das deficincias.
Caracterizam o que se denomina preveno primria.
programas de dieta para crianas que nasceram com fenilcetonria e
programas de estimulao precoce so exemplos de aes que
reduzem a durao ou revertem os efeitos de problemas j existentes
que podem resultar em deficincia. Caracterizam o que se denomina
preveno secundria.
programas de educao especial, de qualificao profissional para
pessoas com deficincia e programas de reabilitao, so exemplos de
aes que reduzem as consequncias dos problemas gerados pelas
deficincias e melhoram o funcionamento da pessoa. Caracterizam o
que se denomina preveno terciria.
O ideal que se possa realizar a preveno primria, ou seja, aes
junto aos pais e sociedade para evitar o aparecimento das deficincias que
possam ser evitadas.
Adotar medidas de proteo criana e sua me contra doenas
provocadoras de deficincias, orientao para reduzir casamentos
consanguneos, acompanhamento pr-natal, cuidados mdicos no momento do
parto e apoio ao recm-nascido, preveno de acidentes e traumatismos,
vacinao, preveno de carncias nutricionais e afetivas, controle do uso do
lcool e de drogas por parte da me, eliminao de perigos ambientais,
melhoria da nutrio da me e da criana, so exemplos de medidas de
preveno primria, ou seja, de evitao do aparecimento de deficincias.
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O trabalho de preveno deve incluir a famlia, a escola, os servios de
sade, os rgos de comunicao e outros que envolvam a sociedade visando
a divulgao das informaes e a mudana de atitude social.
4.5 Avaliao
A avaliao j no se refere identificao ou definio, natureza,
aos graus, etiologia e s caractersticas da deficincia intelectual como tal,
em sua generalidade, mas sua identificao, sua gravidade, aos traos e ao
perfil de um sujeito concreto.
De acordo com Fierro (2004) h uma dupla mxima geral que vale para
o tratamento e a educao das pessoas com deficincia: nenhuma avaliao
tem sentido se no estiver relacionada a uma interveno. A avaliao, por sua
vez, deve referir-se no apenas (s) pessoa(s) com a(s) qual(is) se intervm,
mas prpria atividade, ao processo e aos resultados da interveno. Na
avaliao das pessoas com deficincia intelectual, h um enfoque talvez o
mais fecundo que rene em um nico procedimento as duas vertentes, e que
avalia o potencial de aprendizagem do sujeito ao mesmo tempo em que o
programa de instruo ou de ensino. um procedimento que pode ser
operacionalizado apropriadamente no paradigma teste treinamento
reteste, um paradigma teoricamente potente e fecundo na prtica (FIERRO,
1987). Contudo, a aconselhvel integrao de diferentes momentos e objetivos
da atividade avaliadora, assim como desta com a interveno educativa ou
outra no deve impedir que diferencie nveis no que se entende
genericamente por avaliao.
H, em primeiro lugar, uma possvel e necessria avaliao de dficits
fsicos, orgnicos, neurolgicos, sensoriais e motores, perfeitamente
identificveis, muitas vezes associados deficincia mental. Essa avaliao
cabe ao mdico especialista neurologista, reabilitador, otorrino, etc. - , que
estabelecer o diagnstico correspondente acerca de certas capacidades e,
respectivamente, limitaes ou disfunes geralmente difceis de modificar e
com as quais se ter de contar.
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Em outro extremo, no mbito escolar, est a avaliao de carter
educacional ou curricular (VERDUGO, 1994), em que se avalia a aquisio por
parte do aluno daqueles conhecimentos, competncias e capacidades que
constituem o contedo do currculo. Essa avaliao cabe ao professor e, em
princpio, no difere da que ele faz com outros alunos, sem outras
particularidades que no aquelas que decorrem da adaptao dos critrios de
avaliao pertinentes.
Entre os dois extremos, o das limitaes ou disfunes fsicas e o da
avaliao escolar, abre-se uma ampla margem de avaliao, justamente
daquelas capacidades adaptativas bsicas que se consideram constitutivas
ou descritivas da deficincia intelectual. , sem dvida, a avaliao mais
completa do ponto de vista tcnico e metodolgico, mas tambm a mais
pertinente e necessria nesse caso.
Na psicometria e na avaliao tradicional, tratou-se de avaliar
tipicamente a inteligncia, seja uma inteligncia geral, sejam as chamadas
aptides intelectuais bsicas. As crticas habituais testologia ou a alguns
de seus usos so perfeitamente compatveis com uma utilizao prudente e
bem-orientada dos clssicos testes de inteligncia geral ou de aptides
concretas, com os quais habitualmente se tentou medir o hipottico
quociente intelectual ou, de maneira geral, o nvel de capacidades bsicas de
ordem diversa: de discriminao, de associao, de abstrao, de raciocnio,
etc. Inclusive as variveis e os constructos introduzidos posteriormente para
substituir o quociente de inteligncia, como potencial de aprendizagem ou
potencial de desenvolvimento, so difceis de avaliar se no for com tarefas
totalmente idnticas s das provas clssicas de aptido intelectual.
Tais provas, entretanto, continuam sendo teis para avaliar capacidades
bsicas nas pessoas com deficincia. O requisito sempre, naturalmente, que
o nvel da prova esteja de acordo com o sujeito a ser avaliado. Este deve ser,
como se costuma dizer, testvel com esse teste concreto; deve ser capaz,
pelo menos, de compreender o sentido das\tarefas que a prova prope. por
essa razo que em sries de provas, como as de Wechsler, que so ordenadas
por idades para adultos, para crianas e para os menores -, e salvo casos de
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deficincia leve, o mais aconselhvel aplicar a verso correspondente a uma
idade inferior do sujeito com deficincia que se vai avaliar.
Em geral, todos os testes ou as provas de capacidade intelectual e/ou de
aptides especficas so aptos para avaliar a deficincia intelectual. Em
princpio, os mais apropriados seriam, consequentemente, os mais livres de
influncias culturais e, portanto, mais livres de influncias educativas. Ocorre,
no entanto, que a desejvel influncia educacional seguramente pode modificar
um pouco capacidades muito bsicas, e que a avaliao do potencial de
aprendizagem no pode ser feita sem a mediao de prticas educativas ou
instrucionais. Isso, por sua vez, torna irrelevante ou carente de significado a
elaborao e a aplicao dessas provas livre. Sem dvida, so essas
consideraes que levam alguns autores a conceituar os testes clssicos e a
avaliao da inteligncia como avaliao de repertrios cognitivos.
Seguramente, disto que se trata: de capacidade intelectual como conjunto de
repertrios de conhecimento.1
So teis, portanto, as provas clssicas de capacidade, ou repertrios
cognitivos, como as escalas de Wechsler, o teste de Aptides Primrias (PMA),
de Thurstone, as matrizes de Raven; ou as mais recentes, como o Teste de
Habilidade, de Sternberg, que responde a um modelo tridico de inteligncia;
ou tambm as que, um pouco margem da tradio psicomtrica dominante,
como por exemplo, aquelas inspiradas no modelo evolutivo de Piaget, so
integradas por tarefas correspondentes a estgios desse modelo.
Os profissionais que intervm junto a pessoas com deficincia
seguramente teriam preferncia por provas projetadas com ateno especial a
dficits e disfunes cognitivos que aparecem na deficincia mental. o caso
da prova PASS (Planejamento, Ateno, Processamento Simultneo e
Sucessivo) elaborada por Das e colaboradores, de acordo com seu modelo das
funes deficitrias nas pessoas com deficincia ( MOLINA E ARRAIZ, 1993).
Visto que o dficit nos sujeitos com deficincia afeta sobretudo a
adaptao em vrios mbitos, um enfoque possvel da avaliao justamente
1 Para mais informaes e referncias sobre esses temas, ver Forns e Amador (1995).
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a avaliao do comportamento adaptativo. Destaca-se, a esse propsito, o
sistema West Virginia, adaptado na Espanha por professores da Universidade
de Madri. uma prova do tipo criterial. Ela no compara a execuo do
sujeito em relao a um grupo de referncia, como ocorre nas provas
normativas, mas tenta avaliar seu grau de domnio em reas especficas de:
resposta perceptiva, motricidade, autonomia pessoal, comunicao,
aprendizagens escolares e outras habilidades. uma proposio afinada com
as cartas grficas ou com os mapas de desenvolvimento popularizados por
Gunzburg e, na Espanha, por Gonzlez Mas (1978). So instrumentos de
observao e de coleta de informaes sobre a progresso tpica na aquisio
de destrezas; e, ao mesmo tempo, servem de guia para propor metas
posteriores de instruo.
Em todo o caso, preciso destacar que a qualificao de uma criana
como aluno com deficincia mental no pode ser feita em carter definitivo.
No apenas a avaliao contnua subentende-se da aprendizagem, mas
tambm a avaliao de capacidades bsicas est sujeita reviso, o que deve
ser feito de modo sistemtico de tempos em tempos, pelo menos no incio da
escolarizao, como na mudana de escola ou na passagem de um ciclo para
outro. uma avaliao que sempre deve ser feita com a finalidade principal de
orientao educativa, com contedo altamente ideogrfico, e sem refugiar-se
nela como um rtulo cmodo. (deficincia mental), nem tampouco em uma
cifra (a do QI) supostamente inaltervel.
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5 . EDUCABILIDADE DA CRIANA COM DEFICINCIA INTELECTUAL
5.1 Necessidades educativas especiais
Durante muito tempo acreditou-se que as pessoas com deficincia
intelectual no aprendiam os contedos acadmicos ensinados na escola. Por
essa razo, a sua educao era pautada na crena de que s teriam acesso a
aprendizagens relacionadas a atividades da vida diria (auto-cuidado e
segurana), algumas habilidades sociais, de lazer e de trabalho
supervisionado, ou pouco mais. Aprendizagem acadmica? Nem pensar!
Como decorrncia natural da falta de oferta do conhecimento, muitos se
tornaram sub-realizados na escola ou engrossaram as fileiras dos chamados
incompetentes curriculares antes mesmo de terem acesso a esses currculos.
A convico atual de que as pessoas com deficincia intelectual
apresentam diferentes condies de aprendizagem e de que outros fatores,
alm do intelectual, esto presentes e interferem na sua funcionalidade
acadmica tm contribudo para que o sistema educacional compreenda
melhor a diversidade de possibilidades dos alunos e procure oferecer um
ambiente mais favorvel sua aprendizagem.
Por outro lado, a comunidade escolar est presenciando alunos
portadores de deficincia intelectual alcanando nveis escolares nunca antes
imaginados, porque sistemas de apoio organizados e adaptaes curriculares
adequadas esto permitindo o seu acesso a uma aprendizagem efetiva e
progressiva.
Quem imaginaria, h tempos atrs, que uma pessoa com deficincia
intelectual poderia concluir o 9 ano do ensino fundamental? No entanto, essa
tem sido uma realidade. Por esforo do aluno e de sua famlia e pelo
comprometimento da escola com o seu aprendizado esse resultado tem sido
possvel.
A escolarizao desses alunos e os nveis que viro a alcanar
dependero de muitos fatores: o grau de suas limitaes intelectuais e
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adaptativas certamente desempenha um relevante papel nas suas expectativas
de realizao escolar.
Mas outros fatores so significativamente relevantes. Os resultados
educacionais dependem, ainda, de como o ambiente escolar favorece o acesso
ao currculo e organiza e adapta esse currculo de modo a ser desenvolvido
pelo aluno.
O sucesso escolar do aluno com deficincia intelectual, portanto,
depende de suas condies pessoais e das condies escolares, ou seja, da
interao aluno x ambiente.
Outra situao tem mudado no panorama nacional e internacional. No
mais se defende que o lugar de pessoa com deficincia intelectual estudar na
escola especializada.
Experincias educacionais bem sucedidas esto revelando que os
alunos com deficincia intelectual podem e devem estudar nas escolas
regulares, e que um adequado sistema de apoio educacional suficiente para
lhe dar acesso ao currculo e apropriao do saber escolar.
Para Batista e Mantoan (2006) a deficincia mental desafia a escola
comum no seu objetivo de ensinar, de levar o aluno a aprender o contedo
curricular, construindo o conhecimento. O aluno com essa deficincia tem uma
maneira prpria de lidar com o saber, que no corresponde ao que a escola
preconiza. Na verdade, no corresponder ao esperado pela escola pode
acontecer com todo e qualquer aluno, mas os alunos com deficincia mental
denunciam a impossibilidade de a escola atingir esse objetivo, de forma tcita.
Eles no permitem que a escola dissimule essa verdade. As outras
deficincias no abalam tanto a escola comum, pois no tocam no cerne e no
motivo da sua urgente transformao: considerar a aprendizagem e a
construo do conhecimento acadmico como uma conquista individual e
intransfervel do aprendiz, que no cabe em padres e modelos idealizados.
O aluno com deficincia intelectual tem dificuldade de construir
conhecimento como os demais e de demonstrar a sua capacidade cognitiva,
principalmente nas escolas que mantm um modelo conservador de ensino e
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uma gesto autoritria e centralizadora. Essas escolas apenas acentuam a
deficincia, aumentam a inibio, reforam os sintomas existentes e agravam
as dificuldades do aluno com deficincia intelectual. Tal situao ilustra o que a
definio da Organizao Mundial de Sade - OMS de 2001 e a Conveno da
Guatemala acusam como agravante da situao de deficincia.
O carter meritocrtico, homogeneizador e competitivo das escolas
tradicionais oprimem o professor, reduzindo-o a uma situao de isolamento e
impotncia, principalmente frente aos seus alunos com deficincia intelectual,
pois so aqueles que mais entravam o desenvolvimento do processo escolar,
em todos os seus nveis e sries. Diante da situao, a sada encontrada pela
maioria dos professores desvencilhar-se desses alunos que no
acompanham as turmas, encaminhando-os para qualquer outro lugar que
supostamente saiba como ensin-los.
O nmero de alunos categorizados como deficientes intelectuais foi
ampliado enormemente, abrangendo todos aqueles que no demonstram bom
aproveitamento escolar e com dificuldades de seguir as normas disciplinares
da escola. O aparecimento de novas terminologias, como as necessidades
educacionais especiais, aumentaram a confuso entre casos de deficincia
intelectual e outros que apenas apresentam problemas na aprendizagem, por
motivos que muitas vezes so devidos s prprias prticas escolares.
Se as escolas no se reorganizarem para atender a todos os alunos,
indistintamente, a excluso generalizada tender a aumentar, provocando cada
vez mais queixas vazias e maior distanciamento da escola comum dos alunos
que supostamente no aprendem.
A necessidade de encontrar solues imediatas para resolver a
premncia da observncia do direito de todos educao fez com que
algumas escolas procurassem sadas paliativas, envolvendo todo tipo de
adaptao: de currculos, de atividades, de avaliao, de atendimento em sala
de aula que se destinam unicamente aos alunos com deficincia.
Essas solues continuam reforando o carter substitutivo da
Educao Especial, especialmente quando se trata de alunos com deficincia
intelectual. Tais prticas adaptativas funcionam como um regulador externo da
aprendizagem e esto baseadas nos propsitos e procedimentos de ensino
que decidem o que falta ao aluno de uma turma de escola comum. Em outras
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palavras, ao adaptar currculos, selecionar atividades e formular provas
diferentes para alunos com deficincia e/ou dificuldade de aprender, o
professor interfere de fora, submetendo os alunos ao que supe que eles
sejam capazes de aprender.
Na concepo inclusiva, a adaptao ao contedo escolar realizada
pelo prprio aluno e testemunha a sua emancipao intelectual. Essa
emancipao consequncia do processo de autoregulao da aprendizagem,
em que o aluno assimila o novo conhecimento, de acordo com suas
possibilidades de incorpor-lo ao que j conhece. Entender este sentido
emancipador da adaptao intelectual sumamente importante para o
professor comum e especializado.
Aprender uma ao humana criativa, individual, heterognea e
regulada pelo sujeito da aprendizagem, independentemente de sua condio
intelectual ser mais ou ser menos privilegiada. So as diferentes ideias,
opinies, nveis de compreenso que enriquecem o processo escolar e
clareiam o entendimento dos alunos e professores. Essa diversidade deriva
das formas singulares de nos adaptarmos cognitivamente a um dado contedo
e da possibilidade de nos expressarmos abertamente sobre ele.
Ensinar um ato coletivo, no qual o professor disponibiliza a todos
alunos, sem exceo, um mesmo conhecimento. Ao invs de adaptar e
individualizar/diferenciar o ensino para alguns, a escola comum precisa recriar
suas prticas, mudar suas concepes, rever seu papel, sempre reconhecendo
e valorizando as diferenas.
As prticas escolares que permitem ao aluno aprender e ter
reconhecidos e valorizados os conhecimentos que capaz de produzir,
segundo suas possibilidades, so prprias de um ensino escolar que se
distingue pela diversificao de atividades. O professor, na perspectiva da
educao inclusiva, no ministra um ensino diversificado e para alguns. Ele
prepara atividades diversas para seus alunos (com e sem deficincia
intelectual) ao trabalhar um mesmo contedo curricular. Essas atividades no
so graduadas para atender a nveis diferentes de compreenso e esto
disponveis na sala de aula para que os alunos as escolham livremente, de
acordo com seus interesses.
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Para exemplificar esta prtica, consideremos o ensino dos planetas do
sistema solar para uma turma de alunos com e sem deficincias. As atividades
podem variar de propostas de elaborao de textos, a construo de maquetes
do sistema planetrio, realizao de pesquisas em livros, revistas, jornais,
internet, confeco de cartazes, leituras interpretativas de textos literrios e
poesias, apresentao de seminrios sobre o tema, entre outras. O aluno com
deficincia intelectual, assim como os demais colegas, escolhe a atividade que
mais lhe interessar e a executa. Essa escolha e a capacidade de desempenhar
a tarefa no so predefinidas pelo professor. Tal prtica distinta daquelas que
habitualmente encontramos nas salas de aula, nas quais o professor escolhe e
determina uma tarefa para todos os alunos realizarem individualmente e
uniformemente, sendo que para os alunos com deficincia intelectual ele
oferece outra atividade facilitada sobre o mesmo assunto ou at mesmo sobre
outro completamente diferente. Contraditoriamente, esta tem sido a soluo
adotada pelos professores para impedir a, excluso na incluso. Utilizando
como exemplo esse mesmo contedo - o ensino dos planetas do sistema solar
- comum o professor selecionar uma atividade de leitura e interpretao de
textos para todos os alunos, cabendo quele com deficincia intelectual apenas
colorir um dos planetas em folha mimeografado. Modificar essas prticas
discriminatrias um verdadeiro desafio, que implica em inovaes na forma
de o professor e o aluno avaliarem o processo de ensino e de aprendizagem.
Elas exigem a negao do carter padronizador da aprendizagem e eliminam
todas as demais caractersticas excludentes das escolas comuns, que adotam
propostas pedaggicas conservadoras. A prtica escolar inclusiva provoca
necessariamente a cooperao entre todos os alunos e o reconhecimento de
que ensinar uma turma , na verdade, trabalhar com um grande grupo e com
todas as possibilidades de subdividi-lo. Dessa forma, nas subdivises de uma
turma, os alunos com deficincia intelectual podem aderir a qualquer grupo de
colegas, sem formar um grupo parte, constitudo apenas de alunos com
deficincia e/ou problemas na aprendizagem.
Para conseguir trabalhar dentro de uma proposta educacional inclusiva,
o professor comum precisa contar com o respaldo de uma direo escolar e de
especialistas (orientadores, supervisores educacionais e outros), que adotam
um modo de gesto escolar, verdadeiramente participativa e descentralizada.
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Muitas vezes o professor tem ideias novas para colocar em ao em sua sala
de aula, mas no bem recebido pelos colegas e pelos demais membros da
escola, devido ao descompasso entre o que est propondo e o que a escola
tem o hbito de fazer para o mesmo fim. A receptividade inovao anima a
escola a criar e a ter liberdade para experimentar alternativas de ensino. Sua
autonomia para criar e experimentar coisas novas se estender aos alunos
com ou sem deficincia e assim os alunos com deficincia intelectual sero
naturalmente valorizados e reconhecidos por suas capacidades e respeitados
em suas limitaes.
A liberdade do professor e dos alunos, de criarem as melhores
condies de ensino e de aprendizagem, no dispensa um bom planejamento
de trabalho, seja ele anual, mensal, quinzenal ou mesmo dirio. Ser livre para
aprender e ensinar no implica em uma falta de limites e regras ou, ainda, em
cair num espontaneismo de atuao. O ano letivo, assim como a rotina diria
de uma turma, deve contemplar um tempo para planejar, outro para executar,
outro para avaliar e socializar os conhecimentos aprendidos. Todo esse
processo realizado coletivamente e individualmente. Um exemplo de rotina
de sala de aula seria desenvolver, em um primeiro momento, o planejamento
coletivo, que compreende uma conversao livre entre o professor e seus
alunos a respeito do emprego do tempo naquela jornada. Esse momento
permite ao aluno expressar-se livremente a respeito do que pretende
fazer/aprender nesse dia e professora colocar suas intenes no mesmo
sentido. No planejamento todo o grupo pode tomar decises com relao s
atividades e aos grupos a serem formados para realiz-las. Num segundo
momento, as atividades so realizadas conforme o plano estabelecido.
Finalmente a jornada de trabalho reconstituda na ltima parte dessa rotina,
com a participao de todos os alunos. Eles ento socializam o que
aprenderam e avaliam a produo realizada no dia. O aluno com deficincia
intelectual, como os demais, participa igualmente de todos esses momentos:
planejamento, execuo, avaliao e socializao dos conhecimentos
produzidos.
A avaliao dos alunos com deficincia intelectual, como j mencionado,
visa ao conhecimento de seus avanos no entendimento dos contedos
curriculares durante o ano letivo de trabalho, seja ele organizado por srie ou
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ciclos. O mesmo vale para os outros alunos da sua turma, para que no sejam
feridos os princpios da incluso escolar. A promoo automtica, quando
exclusiva para alunos com deficincia intelectual, constitui uma diferenciao
pela deficincia, o que caracteriza discriminao. Em ambos os casos, o que
interessa para que um novo ano letivo se inicie o quanto o aluno, com ou sem
deficincia, aprendeu no ano anterior, pois nenhum conhecimento aprendido
sem base no que se conheceu antes.
O conceito de necessidades educativas especiais enfatiza no as
possveis s vezes indubitveis limitaes e dificuldades de aprender dos
alunos, mas sim as demandas que apresentam escola, aos professores, com
relao aos recursos especiais pessoais, didticos e materiais que sua
educao requer. Em outras palavras, enfatiza a relao aluno-professor e
tambm a atividade deste ltimo, e no apenas do aluno.
O conceito no diz tanto sobre o que o aluno e faz, mas, sobretudo,
sobre o que a escola tem de fazer com ele. As demandas e as necessidades
educativas especiais tm como correlato a resposta especfica da escola. So
necessidades que se manifestam no no aluno como tal, mas sim em sua inter-
relao com o meio escolar. por essa razo que tal conceito est associado
ao mesmo tempo a uma concepo da aprendizagem como processo
construtivo que se desenvolve no apenas de dentro nem apenas de fora, mas
da interao do sujeito com o meio.
No marco desse conceito, a principal questo deixa de ser descritiva ou
diagnstica (que alunos apresentam deficincia intelectual?) e passa a ser
estratgica e prtica: que resposta educativa preciso dar? Que estratgias de
atuao educativa so necessrias? Que desenvolvimento e quais adaptaes
curriculares? Quando se adota essa perspectiva prtica, justifica-se dar um
passo alm, o de atender s dificuldades na atividade de ensinar, mais do que
nas de aprender. A lgica desse enfoque pede que, em vez de falar de
dificuldades dos alunos, ou alm disso, fale-se de dificuldades de seu ensino
(FIERRO, 1987). E tambm pede que se proponha, se planeje e se desenvolva
uma teoria e uma tecnologia didticas dessas dificuldades de ensinar. Alm
disso, trata-se de enfocar a atividade educacional no tanto em torno de
dificuldades, as de aprender e ensinar, fazendo com que o peso da ateno
recaia sobre a dificuldade, mas em torno de um conjunto de prticas e modos
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de interveno dirigidos e super-las. Trata-se de mudar o enfoque, no
centrando mais no aspecto negativo das dificuldades, mas sim no positivo dos
programas, das prticas, das estratgias didticas e da educao especfica
que preciso oferecer aos alunos.
As dificuldades de aprender e de ensinar, mesmo as muito graves que
se apresentam na deficincia profunda, aparecem logo no contexto interativo,
prtico, de interveno tcnica, no apenas didtica ou educativa, mas tambm
psicolgica e social em suma, interdisciplinar. Nesse contexto, compreende-se
o atrativo que tem para alguns educadores determinadas noes elaboradas
por psiclogos, como a de zona de desenvolvimento proximal, de Vigotsky, a
de potencial de aprendizagem, enriquecimento instrumental, aprendizagem
mediada (FEUERSTEIN, 1980) e a de inteligncia como capacidade de
aprender em condies de instruo incompleta (CAMPIONE, BROWN E
FERRARA, 1987). So noes teoricamente esclarecedoras e fecundas na
prtica, porque ajudam a entender as situaes que do lugar a necessidades
educativas especiais. Tambm ajudam a manej-las em seu quadro real, que
no ou no apenas o de alguns alunos com dificuldades, mas o de um
processo de socializao, de aquisio de destrezas sociais e culturais, de
educao e instruo em habilidades bsicas, processo que tem suas
dificuldades na conexo e na interao de seus dois polos: indivduo e
sociedade, ou aluno e escola.
5.2 Adaptaes curriculares
A educao se define concretamente pelo currculo, que o conjunto de
experincias potencialmente educativas que a escola oferece, ou, em outras
palavras, o conjunto das oportunidades de aprender dos alunos. Fierro (2004)
lana ento a questo: ser que as crianas e os adolescentes com deficincia
necessitam de um currculo especial, diferente dos colegas? Segundo ele, h
quem defenda isso. No possvel, na prtica, porm, planejar um currculo
que , por um lado, seja especial, diferente do comum, mas, por outro lado,
comum a todos os alunos com deficincia. Ao contrrio, medidas curriculares
especficas, alm de individuais, so possveis e necessrias. So as
adaptaes curriculares.
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Uma proposta curricular coerente baseia-se antes de tudo nos
processos, nas atividades que ocorrem na escola, e no tanto nos produtos ou
nos resultados. De qualquer maneira, deve haver tais resultados; de outro
modo, e em ltima anlise, no h educao. De uma perspectiva pessimista
das possibilidades educativas das crianas com deficincia, h o temor de que
no cheguem a se produzir nelas resultados valiosos. uma viso que precisa
ser descartada. Deve-se julgar o que valioso e o que no , em termos de
educao, a partir de critrios pertinentes ao que prprio e especfico da
condio humana. Por esses critrios, muito mais relevante o xito
educacional que se produz quando uma criana com um dficit muito profundo
consegue comunicar-se e manifestar um desejo, do que quando um estudante
universitrio conclui com sucesso seu curso.
Por outro lado, um currculo razovel enuncia seus objetivos levando em
considerao as capacidades gerais que a educao trata de estabelecer, e
no ou no unicamente as aprendizagens especficas e os objetos
operacionais. A educao se prope a ampliar a capacidade dos alunos: que
eles aprendam no apenas estes ou aqueles contedos e habilidades, mas que
aumentem a capacidade de fazer coisas por si mesmos e sua capacidade de
fazer coisas por si mesmos e sua capacidade de aprender. Com tal propsito,
transcende-se a noo de inteligncia como conjunto supostamente fixo de
aptides e, portanto, deixa-se para trs tambm a noo de deficincia
intelectual como dficit e limitao fixa nessas aptides. Ao contrrio, ressalta-
se o desenvolvimento dinmico das capacidades e o impulso que a educao
pode e deve proporcionar a esse desenvolvimento.
Assim, a perspectiva educacional contrape-se perspectiva
meramente diagnstica. O educador necessita da avaliao das capacidades
bsicas dos alunos, mas, de certo modo, sua tarefa pode ser descrita como
uma luta contra as piores previses dessa mesma avaliao.
A verdade que as crianas com deficincia intelectual tm dificuldades
graves, tanto para aprender quanto de carter geral, e isso sempre requer o
ajuste da educao e a adequao do currculo medida e necessidade de
cada um. Quando as dificuldades dos alunos no so muito grandes, os
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ajustes em metodologia, atividades e materiais e os agrupamentos flexveis so
suficientes para responder s necessidades dos alunos. At aqui, basta
adequar o currculo e conduzi-lo a seu ltimo nvel de concretizao, o
individual. Quando as dificuldades so gerais e permanentes, porm, preciso
fazer adaptaes mais profundas, com uma variao significativa em relao
aos modelos mais comuns de individualizao do currculo.
Para Batista e Mantoan (2007),
a necessidade de encontrar solues imediatas para resolver a premncia da observncia do direito de todos educao fez com que algumas escolas procurassem sadas paliativas, envolvendo todo tipo de adaptao: de currculos, de atividades,de avaliao, de atendimento em sala de aula que se destinam unicamente aos alunos com deficincia. Essas solues continuam reforando o carter substitutivo da Educao Especial, especialmente quando se trata de alunos com deficincia mental.
Tais prticas adaptativas funcionam como um regulador externo da aprendizagem e esto baseadas nos propsitos e procedimentos de ensino que decidem o que falta ao aluno de uma turma de escola comum. Em outras palavras, ao adaptar currculos, selecionar atividades e formular provas diferentes para alunos com deficincia e/ou dificuldade de aprender, o professor interfere de fora, submetendo os alunos ao que supe que eles sejam capazes de aprender.
A escolarizao de pessoas com deficincia intelectual depende, dentre
outros aspectos, de suas limitaes cognitivas e adaptativas. A demanda
escolar em termos de currculo aumenta a cada srie e a complexidade dos
contedos passa a exigir do aluno mais capacidades e habilidades
acadmicas.
Por outro lado, reconhecido que o apoio oferecido ao aluno melhorou a
sua funcionalidade acadmica.
As adaptaes curriculares constituem uma eficiente forma de apoio
para o aluno e, muitas vezes, so necessrias por toda a sua vida escolar,
parcial ou em todas as disciplinas.
As adaptaes curriculares mais eficientes so as que melhor se
ajustam s necessidades e potencialidades do aluno e devem tomar como
base o currculo regular de ensino. Podem ser reduzidas, sem alteraes
expressivas na programao regular, e possibilitar que todos os alunos da sala
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possam delas se beneficiar. Podem, ainda, ser mais acentuadas, para atender
a condies especficas necessrias, de modo a obter maior participao do
aluno com deficincia nas atividades curriculares comuns.
Essas adaptaes curriculares e de acesso ao currculo podem incluir:
a criao de condies fsicas, ambientais e materiais para o aluno na
sua unidade escolar de atendimento;
a propiciao de melhores nveis de interao e comunicao com as
pessoas com as quais convive na comunidade escolar;
adaptaes metodolgicas e didticas: situar o aluno onde possa melhor
trabalhar, adotar mtodos e tcnicas de ensino-aprendizagem
especficas para o aluno, quando necessrio, sem prejuzo para as
atividades curriculares;
a utilizao de tcnicas, procedimentos e instrumentos de avaliao
distintos da classe, se necessrio, sem alterar os objetivos da avaliao
e seu contedo;
a introduo de atividades complementares para o aluno alcanar os
objetivos comuns dos demais colegas. Essas atividades podem ser
realizadas na prpria classe, na sala de recursos ou por meio do
professor itinerante, devendo envolver o professor da sala regular na
sua programao e/ou execuo;
a introduo de atividades complementares especficas para o aluno
diversificadas que possam atender a necessidades diversas do resto
da turma;
a supresso de atividades ou objetivos educacionais que no possam
ser atingidos ou realizados pelo aluno e que lhe restrinjam a participao
ativa. Substituir essas atividades e objetivos por outros acessveis,
significativos e bsicos para o aluno;
a adoo de um tempo para o cumprimento dos objetivos, contedos e
critrios de avaliao, que sejam exeqveis para o aluno (respeitar o
ritmo prprio).
H um nmero reduzido de alunos com deficincia intelectual, cuja
gravidade, to acentuada, incapacita-os funcionalmente para atividades
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essenciais da vida, tais como: a comunicao, a autonomia e a prpria
sobrevivncia. Para esses alunos, os currculos regulares muitas vezes nem
podem ser adaptados, exigindo um currculo prprio, ajustado s
potencialidades e limitaes do aluno.
Nesses casos, s vezes necessrio adotar exclusivamente ou
parcialmente atendimentos individualizados.
As adaptaes em alunos com deficincia intelectual tm a ver, antes de
tudo, com seus dficits em capacidades de carter geral e bsico. So dficits
que podem requerer tambm recursos especializados: de tecnologia, de cdigo
e de comunicao. Em alunos com deficincia, porm, o principal problema
no costuma estar nos meios tecnolgicos ou em habilidades muito
especializadas do educador. Inclusive pode-se dizer que o professor do ensino
comum est mais capacitado para a educao de crianas com algum dficit
sensorial, como a surdez. O problema est na dificuldade de superar um
determinado teto educacional, no totalmente rgido, mas fortemente fixado
por sua limitada capacidade, um teto que, salvo dficit grave, no to
aparente na educao infantil e nos primeiros anos do ensino fundamental,
mas que se torna mais patente medida que os anos passam e que o aluno
ingressa em ciclos/etapas superiores. Na deficincia intelectual, as dificuldades
educativas e as adaptaes mudam substancialmente com o nvel escolar:
pouco visveis no comeo, tornam-se muito mais claras no final do ensino
mdio.
5.3 Papel da escola e do professor no trabalho com alunos com
deficincia intelectual
Toda unidade escolar deve desenvolver, primeiramente, seu projeto
pedaggico. neste momento que se definem os objetivos pedaggicos para
o alunado de cada escola, os contedos que sero trabalhados e como sero
trabalhados. neste momento que, luz do estabelecido e recomendado nos
Parmetros Curriculares Nacionais, que se define o contedo e o mtodo de
trabalho que se vai desenvolver na escola.
A partir da elaborao do projeto pedaggico e da avaliao pedaggica
inicial de seus alunos, cada professor deve elaborar seu Plano de Ensino, o
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qual dever explicitar os objetivos pedaggicos a ser buscado durante o ano,
para cada grupo, o contedo que ser trabalhado, bem como as alternativas
metodolgicas que parecem necessrias para administrar o ensino em cada
classe.
Esse plano, entretanto, no pode ser rgido e definitivo para o ano todo, j
que no decorrer do processo de ensino e aprendizagem, no contexto da
relao entre o professor e cada aluno, o professor poder detectar problemas
no ensino, que exigiro a implementao de ajustes e adaptaes, seja nos
objetivos, no contedo, no mtodo de ensino, e no mtodo de avaliao. H
que se garantir a flexibilidade, para que se possa alcanar o sucesso no
ensino.
Projeto pedaggico construdo, plano de ensino elaborado, inicia-se o
processo efetivo de ensinar.
importante que, a cada contedo a ser introduzido, avalie-se o
conhecimento prvio que cada aluno traz consigo. Essa avaliao deve ser
uma avaliao compreensiva, ou seja, que implique numa atitude de
investigao sobre a natureza do erro, quando este acontea.2
A avaliao classificatria (graduar os alunos como melhores, piores, etc.)
se esgota em si mesma, no nos permitindo identificar e compreender as
necessidades especiais que o aluno possa apresentar, impedindo-nos, assim,
de poder reformular, com eficcia, nosso procedimento de ensinar.
Hardman (et al 1993 p. 120-121) apresentam algumas dicas para o
professor da classe regular, que podem ser teis, na administrao do ensino,
na sala inclusiva:
Ver os alunos com deficincia intelectual como alunos, em primeiro lugar.
Focalizar suas semelhanas com os demais alunos, ao invs de focalizar
suas diferenas.
Reconhecer os alunos com deficincia intelectual por seus prprios
sucessos na sala de aula, ao invs de compar-los com os sucessos dos
colegas que no apresentam uma deficincia (compare o aluno com ele
mesmo).
2 Ver Ficha de Avaliao Compreensiva em Anexo A.
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Utilizar estratgias cooperativas de aprendizagem, quando for possvel
promover aprendizagem efetiva por todos os alunos. Utilizar alunos sem
deficincia como suportes para alunos com deficincia intelectual. Isto
pode incluir o estabelecimento de programas de companheirismo e tutoria
por alunos mais adiantados (de classes mais avanadas).
Considerar todos os alunos da sala, quando organizar o ambiente fsico.
Encontrar formas de atender s necessidades individuais de cada criana
(Ex.:Estabelecer ilhas que permitiro a acomodao de cadeiras de rodas,
organizar as carteiras de forma a facilitar a tutoria em determinadas
atividades, acomodar a moblia de forma a atender s diferenas individuais
de audio ou de viso).
Colaborar com os professores da educao especial, ou outros
especialistas, para adaptar o contedo programtico (Ex.: Cincias,
Matemtica, ou Educao Fsica) para as necessidades especiais do aluno
com deficincia intelectual.
Deixar os alunos que no tm deficincia saber que h um aluno com
deficincia mental que pertence sua sala de aula. Os objetivos e
atividades deste aluno podem ser diferentes daqueles dos demais alunos,
mas com apoio, o aluno com deficincia mental se beneficiar de trabalhar
com o professor e com os demais alunos da classe.
Incentivar o aluno com deficincia intelectual a se envolver nas atividades
extra-curriculares da escola.
Em resumo, atribuio do professor:
Identificar as necessidades educacionais especiais presentes em seu aluno (natureza, intensidade, frequncia).
Planejar ajustes pedaggicos na sua prtica de ensino (interveno).
Implementar esses ajustes.
Verificar os resultados; caso tenha obtido sucesso, timo. Caso no, recomea-se do primeiro item.
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Os nveis de comprometimento de cada aluno com deficincia intelectual
diferem muito de um para o outro.
O importante, primeiramente, que o professor se habitue a ensinar
pesquisando. Fazer isso sempre, e com todos os alunos. Permanecer sempre
atento ao efeito de seu ensino, analisar os erros cometidos pelo aluno; procurar
compreender sua natureza e identificar seus determinantes; e promover os
ajustes que se mostrarem necessrios para atender s necessidades
educacionais de todos os alunos, inclusive s necessidades educacionais
especiais do com deficincia intelectual.
Alunos com deficincia intelectual, que apresentam comprometimentos
maiores, em qualquer das reas (intelectual, comportamento adaptativo),
podero necessitar de um plano curricular diferente do que est posto para os
demais alunos.
Isto porque a escola deve favorecer, para ele, condies para que utilize o
mximo de suas possibilidades, na construo do melhor nvel de autonomia
possvel, para a administrao de sua vida na comunidade, usufruindo dela
todos os recursos disponveis.
Alguns alunos necessitaro de pequenos ajustes no mtodo de ensino, e
assim conseguiro alcanar os objetivos educacionais postos para a srie em
que se encontra, e avanar nos diferentes nveis de escolaridade.
Outros necessitaro de maiores adaptaes, tais como uma superviso
individualizada, no decorrer do trabalho escolar, para conseguir avanar nos
nveis de escolaridade.
Outros, ainda, tero muita dificuldade de alcanar os objetivos
acadmicos que se encontram postos, especialmente medida que se avana
nos anos de escolaridade.
Para estes, geralmente, a substituio de objetivos de natureza
acadmica por objetivos de natureza funcional pode ser o mais indicado, j que
ser por esta via que ele melhor avanar no processo de construo de um
cidado que participe da vida de sua comunidade, manifestando suas
necessidades e desejos, e cumprindo com sua parte de responsabilidades na
convivncia com as demais pessoas.
Caber equipe de apoio pedaggico desenvolver uma avaliao mais
aprofundada do caso, e elaborar um Plano Individualizado de Ensino.
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Assim, de acordo com as Adaptaes Curriculares em Ao (BRASLIA,
2002) a equipe de apoio pedaggico tem como responsabilidades:
Desenvolver um estudo pormenorizado do caso, focalizando sempre a
relao entre o ensino do professor e a aprendizagem do aluno
Elaborar o Plano Individualizado de Ensino (P.I.E.) para o aluno com
necessidades educacionais especiais que no puderam ser atendidas, aps
esgotadas as iniciativas do professor em promover os ajustes
metodolgicos, em sua prtica cotidiana de ensino
Indicar Adaptaes de Grande Porte que se mostram necessrias
(mudanas significativas nos objetivos pedaggicos para esse aluno, em
particular, as consequentes mudanas no contedo curricular, mudanas no
mtodo de ensino, e mudanas nos procedimentos de avaliao). Neste
item, cabe equipe de apoio pedaggico explicitar formalmente o suporte
do professor especialista ao professor da classe regular, ou a realizao de
parcerias com outras reas da ateno pblica, caso seja necessrio seu
acompanhamento (Ex. Sade)
Orientar o professor quanto s Adaptaes de Pequeno Porte que ele pode
implementar, para garantir que os novos objetivos, estabelecidos para esse
aluno, sejam alcanados
Registrar esses dados em pronturio individual, o qual dever acompanhar
o aluno, caso este mude de unidade escolar
Acompanhar o desenvolvimento do caso e o efeito das adaptaes no
processo de aprendizagem do aluno
Rever e reajustar, periodicamente, o Plano Individualizado de Ensino
(P.I.E.), medida do desenvolvimento do aluno
Cabe ao professor ensinar pesquisando, ou seja, empregar
continuamente a avaliao compreensiva e buscar estratgias alternativas
para favorecer a aprendizagem de seu aluno com deficincia intelectual.
Para os alunos que apresentarem comprometimentos mais severos,
recomenda-se, depois de esgotadas todas as possibilidades do professor, o
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encaminhamento para a equipe de apoio pedaggico, que dever estudar o
caso e elaborar o Plano Individualizado de Ensino.
Este poder diferir do Plano adotado para os demais alunos no contedo
e s vezes no mtodo de ensino, mas ter contedos que podem ser
trabalhados em cada rea do conhecimento da classe regular (Linguagem,
Matemtica, Cincias, Geografia, Histria, Educao para as Artes,
Educao Fsica).
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6. O PROCESSO DE AVALIAO E INTERVENO PSICOPEDAGGICAS
NO PROCESSO EDUCATIVO DE CRIANAS COM DEFICINCIA
INTELECTUAL
6.1 A avaliao psicopedaggica
A avaliao psicopedaggica deve prestar informaes relevantes
para orientar a direo das mudanas que tm de ser feitas visando
ao adequado desenvolvimento dos alunos e melhoria da instituio
escolar. (GIN, 2004,p. 278)
preciso ter presente que a concepo atual do processo de ensino e
aprendizagem implica mudanas importantes no modelo de avaliao das
necessidades educativas dos alunos e, consequentemente, nas prticas e nos
instrumentos utilizados; o modelo vigente at agora e que ainda se manifesta
com muita vitalidade -, orientado para o indivduo e baseado na utilizao de
instrumentos muitas vezes descontextualizados, revela-se claramente
insuficiente para a formulao da resposta educativa.
A prtica da avaliao psicopedaggica deve ser coerente, tanto do
ponto de vista conceitual quanto do metodolgico, com a origem social do
desenvolvimento, e portanto da aprendizagem, e com uma viso das
diferenas individuais como indicadores da natureza e do tipo de apoios que
devem ser proporcionados aos alunos.
A avaliao psicopedaggica no uma tarefa que um profissional
(pedagogo, psiclogo, psicopedagogo) possa assumir de forma exclusiva. Ao
contrrio, imprescindvel a estreita colaborao desses profissionais com os
outros indicadores presentes nos diversos contextos de desenvolvimento; em
particular, os pais e os professores. A interdisciplinaridade um requisito para
a adequada avaliao das necessidades educativas especiais dos alunos,
embora se deva reconhecer a pouca tradio de trabalho cooperativo e
respeitoso entre os diversos profissionais envolvidos.
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Dessa perspectiva, pode-se definir a avaliao psicopedaggica como
um processo compartilhado de coleta e anlise de informao relevante acerca
dos vrios elementos que intervm no processo de ensino e aprendizagem,
visando a identificar as necessidades educativas de determinados alunos ou
alunas que apresentem dificuldades em seu desenvolvimento pessoal ou
desajustes com respeito ao currculo escolar por causas diversas, e a
fundamentar as decises a respeito da proposta curricular e do tipo de suportes
necessrios para avanar no desenvolvimento das vrias capacidades e para o
desenvolvimento da instituio.
A avaliao psicopedaggica no pode restringir-se a um ato pontual,
por mais sofisticados que sejam os instrumentos utilizados, nem soma de
diversas exploraes em um mesmo perodo de tempo. Alm disso, deve
contemplar os diversos elementos que intervm no processo de ensino e
aprendizagem; ou seja, o prprio aluno, o contexto escolar (classe e instituio)
e o contexto familiar.3
A finalidade mais importante da avaliao psicopedaggica no
classificar os alunos em diferentes categorias diagnsticas e fazer uma
previso sobre seu possvel rendimento, mas orientar o processo de tomada de
deciso sobre o tipo de resposta educativa que o aluno precisa para favorecer
seu adequado desenvolvimento pessoal. Em outras palavras, a avaliao
psicopedaggica deve servir para orientar o processo educacional em seu
conjunto, facilitando a tarefa dos professores que trabalham cotidianamente
com o aluno.
A avaliao psicopedaggica, em ltima anlise, deve proporcionar uma
informao relevante no s para conhecer de forma completa as
necessidades dos alunos e seu contexto escolar, familiar e social, como
tambm para fundamentar e justificar a necessidade de introduzir mudanas na
oferta educacional e, se for o caso, a adoo de medidas de carter
extraordinrio. Consequentemente, essa informao deve ser obtida pela
avaliao dos aspectos que se destacam a seguir:
A interao entre o professor e os contedos de aprendizagem.
3 Ver quadro dos aspectos familiares a valorizar na avaliao psicopedaggica em Anexo B.
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A interao do professor com o aluno e a turma com relao aos
contedos de aprendizagem.
A interao do aluno com seus colegas, seja individualmente com
alguns deles, seja com o grupo.
Os contextos de desenvolvimento: a escola e, se for o caso, a
famlia.
Finalmente, para Gin (2004) a avaliao psicopedaggica deve
perseguir tambm a melhoria da oferta educativa em seu conjunto e, portanto,
o desenvolvimento da instituio escolar entendida como sistema.
6.2 Trajetria escolar e acompanhamento psicopedaggico
Ao longo da infncia e da adolescncia dos filhos com deficincias, em
especial nas mudanas de etapa educacional, os pais se veem diante de
decises, sobre escolarizao, que no so fceis de tomar. As respostas
escolares s necessidades educativas especiais supem uma mudana em
seus esquemas prvios: as opes que lhes so oferecidas no correspondem
ao que viveram em sua prpria histria escolar, e eles no conseguem
imaginar como a vida em uma escola especial ou como se adapta o currculo
em uma escola especial ou como se adapta o currculo em uma escola regular.
Por outro lado, para muitos pais, trata-se no apenas de decises cruciais para
o futuro de seu filho, mas tambm de momentos em que avanam na tomada
de conscincia da situao da criana, com os consequentes efeitos no plano
emocional. O apoio profissional - informao, apoio emocional, ajuda no
processo de tomada de decises particularmente importante nas
encruzilhadas da trajetria escolar.
Um momento de encontro, ou desencontro, entre famlias e
profissionais, ocorre nas decises que se tomam ao longo da vida escolar de
uma criana sobre a modalidade educacional mais adequada: integrao em
uma escola regular ou ingresso em uma escola de educao especial? Para o
profissional, a escolha de um ou outro sistema corresponde busca do
contexto no qual possa obter melhor resposta a determinadas necessidades
educativas especiais. Para algumas famlias muito mais: um indicador da
maior ou menor gravidade da deficincia da criana.
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A determinao da modalidade educacional deve ser feita com base na
avaliao psicopedaggica, levando em conta, fundamentalmente, as
caractersticas da criana, mas tambm considerando a resposta que est
obtendo ou pode obter em diferentes contextos educativos, assim como as
possibilidades do meio familiar. Por isso os profissionais responsveis por essa
tarefa devem no apenas dispor de instrumentos para a avaliao da criana,
mas tambm conhecer em profundidade o que significam as diferentes
modalidades, e, mais ainda, conhecer as escolas, sua proposta curricular e sua
capacidade de adequao diversidade.
Outro importante fator de observao, avaliao e acompanhamento
psicopedaggicos o momento da brincadeira. A importncia dos
companheiros de brincadeiras na socializao de crianas de fundamental
importncia e os estudos feitos nas reas de Psicologia Social e do
Desenvolvimento a tm reforado (HARRIS, 1995, 1999). Uma das mais
recentes e completas revises sobre o processo de socializao de crianas e
adolescentes foi elaborada por Harris (1995, 1999), mostrando que os pais no
so os principais protagonistas na determinao da personalidade adulta de
seus filhos, apesar de serem os principais agentes socializadores, aqueles que
mais precocemente atuam sobre a criana. No sendo os pais os nicos e nem
os principais agentes influenciadores de seus filhos, afirma-se a importncia do
grupo no processo de socializao. De acordo com a teoria da socializao de
grupo de Harris (1999): (...) as crianas se identificam com um grupo
constitudo dos pares delas, que talham o comportamento delas s normas do
grupo e que os grupos contrastam com outros grupos e adotam normas
diferentes (p.335).
Harris (1995, 1999) explica que o processo de formao de grupo se
apoia na capacidade inata do homem possuir crebro construdo com a
habilidade de classificar, categorizar, nomear, rotular ou dividir pessoas ou
coisas em grupo; capacidade esta j observada em outras espcies e na
criana antes de um ano de idade, que j faz categorizaes por idade e sexo.
A terceira forma de classificao usada pelo homem a raa, que leva mais
tempo para ser adquirida.
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Esse processo de categorizao, por sua vez, independe da existncia
de rtulos, pois uma categoria se define por um conceito, que pode existir
mesmo sem um nome. Assim, para que ocorra uma condio de grupo no
preciso haver uma histria anterior de amizade, um conflito com membros de
outro grupo, a luta por territrio, saber quem so seus companheiros, nem
mesmo existirem diferenas visveis na aparncia ou no comportamento.
claro que ter caractersticas como sociabilidade, amabilidade e beleza
afeta o relacionamento com me, pai, professor e seus pares. Entretanto,
sentir-se membro de um grupo ou fazer uma autocategorizao, segundo
Turner (1987), independe dessas condies.
A autocategorizao fortemente dependente do contexto social - onde
estamos e quem est conosco - e varia de um momento para outro em
funo da salincia das vrias categorias sociais. Por exemplo, a categoria
social criana no se destaca quando s h crianas no ambiente, mas sim
meninos e meninas, ou crianas mais novas e mais velhas. De acordo com
Turner (1984): As auto-imagens que assumimos representam a produo
cognitiva da autocategorizao, que altamente varivel e especfica para a
situao (p. 527).
Dessa forma, no so as relaes prximas que fazem algum
pertencer a um grupo, mas o grupo com o qual se identifica; o grupo de
referncia ou grupo psicolgico o que conta. O processo bsico de
formao do grupo no est centrado na atrao nem na interdependncia,
mas, sim,