Técnicas construtivas do período colonial

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Figuras Figura 1 ‐ Adobe. Confecção e assentamento .................................................................................... 7 Figura 2 ‐ Alvenaria de tijolos. Aparelhos. .......................................................................................... 8 Figura 3 ‐ Alvenaria de pedra ............................................................................................................. 9 Figura 4 ‐ Canjicado. ........................................................................................................................... 9 Figura 5 ‐ Aparelho de cantaria e aparelho misto de cantaria e alvenaria de pedra (esq.). Portal de cantaria. Imagem RODRIGUES, 1979. (dir.) ...................................................................................... 10 Figura 6 ‐ Taipa de pilão.  Imagem BARDOU, 1981, p. 19 (esq).  Taipa de pilão reforçada com madeira, utilizada nas cadeias. Fonte BARRETO, P. T. “Casas de câmara e cadeia” In: Arquitetura Oficial I, (dir.) .................................................................................................................................... 11 Figura 7 ‐ Execução da taipa de pilão. Imagem BARDOU, 1981, p. 20. ............................................ 11 Figura 8 ‐ Construção em pau‐a‐pique rustica. Imagem BARDOU, 198, p. 49. (esq) Construção em pau‐a‐pique apurada. Detalhe.  Imagem SANTOS, 1951 (dir) .......................................................... 12 Figura 9 ‐ Elementos de estrutura em pau‐a‐pique apurada.   Imagem SANTOS, 1951 .................. 13 Figura 10 ‐ Muro de enxaimel. Imagem BARDOU, 1981 (esq) Tabique (dir) .................................... 14 Figura 11 ‐ Planta da matriz de Nossa Senhora do Pilar, em Ouro Preto com as divisórias da nave construídas em tabique. Imagem SANTOS, 1951 ............................................................................. 15 Figura 12 ‐ Desdobramento da madeira. Gravura de Jean‐Baptiste Debret. ................................... 17 Figura 13 ‐ Tesoura de linha suspensa ............................................................................................. 17 Figura 14 ‐ Tesoura francesa ............................................................................................................ 18 Figura 15 ‐ Tesoura clássica ou paladiana ........................................................................................ 18 Figura 16 ‐ Tesoura de Santo André ................................................................................................. 18 Figura 17 ‐ Tesoura romana .............................................................................................................. 18 Figura 18 ‐ Estrutura de caibro armado. Fazenda Viegas. Imagem Cardoso, 1975 .......................... 19 Figura 19 ‐ Telhado de caibro armado.............................................................................................. 19 Figura 20 ‐ Telhados feitos com pau roliço. Imagem Barreto 1975. ................................................ 19 Figura 21 ‐ Detalhe do frechal .......................................................................................................... 20 Figura 22 ‐ Elementos do beiral de caibro armado .......................................................................... 20 Figura 23 ‐ Cachorros ornamentados. Imagem Lemos 1979. ........................................................... 21 Figura 24 ‐ Beira. Imagem RODRIGUES, 1979. ................................................................................. 21 Figura 25 ‐ Beira. Imagem RODRIGUES, 1979. ................................................................................. 22 Figura 26 ‐ Varanda e alpendre ........................................................................................................ 22 Figura 27 ‐ Estruturas de alpendre e falso alpendre ........................................................................ 23 Figura 28 ‐ Tipos de forro. Fonte Santos, 1951. ............................................................................... 23 Figura 29 ‐ Forro de taquara. Detalhe e assentamento. Imagem Santos, 1951. ............................. 24 Figura 30 ‐ Forro abobadado e forro em esquife. ............................................................................ 24 Figura 31 ‐ Forro em esquife. Museu do ouro em Sabará. Imagem Smith, 1975. ........................... 24 Figura 32 ‐ Folha de réguas (Esq). Porta principal fazenda em Embu e folha de almofadas (centro) Janela da fazenda do Padre Inácio. Imagens Luis Saia, 1975 e Janela com conversadeira (Dir) ...... 25 Figura 33 ‐ Folha de treliça. Fazenda Viegas. Imagem Cardoso 1975m (Esq.) Janela com postigo (Centro) Porta com folhas de pinázios (Dir.) .................................................................................... 26 Figura 34 ‐ (E) Rótula  (C) Abertura à inglesa. Janela de  guilhotina (D) Abertura à francesa. ......... 26 Figura 35 ‐ Tipos de vãos. Fonte Barreto, 1975. ............................................................................... 27 Figura 36 ‐ Muxarabi e balcão. Desenho Rodrigues, 1979. .............................................................. 28 Figura 37 ‐ Óculo e seteira ................................................................................................................ 29 

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Figura 38 ‐ Dobradiças de leme ........................................................................................................ 30 Figura 39 ‐ Aldraba. Fazenda Embu. ................................................................................................. 30 Figura 40 ‐ Puxadores e trancas ....................................................................................................... 30 Figura 41 ‐ Piso de ladrilhos. Tipos de juntas. Junta reta, junta matada e xadrez. .......................... 31 Figura 42 ‐ Piso em frisos de madeira .............................................................................................. 31 Figura 43 ‐ Detalhe dos frisos e sua estrutura apoiados em parede de taipa de pilão (esq). Detalhe de pisos e paredes de enxovias reforçados com lastro e grades de madeira. (dir) ......................... 32 Figura 44 ‐ Detalhe de pisos de enxovias com lastro de madeira. (E) Com frisos de madeira. (D) De terra batida. ...................................................................................................................................... 32 Figura 45 – Lajeado (esq) Pé de moleque com costelas (dir) ........................................................... 33 Figura 46 ‐ Costelas........................................................................................................................... 33 Figura 47 ‐ Capistrana ....................................................................................................................... 33 Figura 48 ‐ Alicerce de parede de pau‐a‐pique. Fonte SANTOS, 1951. (esq). Encaixe das ombreiras na soleira do alicerce. Fonte Vasconcellos, 1979. (dir) .................................................................... 34 Figura 49 ‐ Enchimento do espaço entre o baldrame e  o solo.  Fonte Vasconcellos, 1979. (esq) Acabamento do alicerce e sargeta.  Fonte Vasconcellos, 1979. (dir) ............................................... 35 Figura 50 ‐ Tipologia volumétrica ..................................................................................................... 37 Figura 51 ‐ Casa sertaneja.Imagem Barreto, 1975 ........................................................................... 37 Figura 52 ‐ Palhoça. Imagem BARDOU, 1983. .................................................................................. 38 Figura 53 ‐ Fazenda de Engenho. (Fonte Vauthier, 1975) ................................................................ 38 Figura 54 ‐ Planta de uma senzala. Fonte Valthier, 1975 (esq) Corte de uma senzala. Fonte Valthier, 1975 (dir) ........................................................................................................................... 39 Figura 55 ‐ Usina de Engenho. (Fonte Vauthier, 1975) .................................................................... 39 Figura 56 ‐ Fazenda de Engenho. Detalhe de planta. (Fonte Vauthier, 1975) ................................. 40 Figura 57 ‐ Fazenda Viegas. Rio de Janeiro, 1725. ............................................................................ 40 Figura 58 ‐ Fazenda Colubandê. São Gonçalo. ................................................................................. 41 Figura 59 ‐ Fazenda Colubandê. São Gonçalo. ................................................................................. 41 Figura 60 ‐ Sítio do Padre Inácio(esq) Sítio do Mandu (dir) ............................................................. 42 Figura 61 ‐ Sítio Querubim (esq) Villa Angarana. Palladio. 1570 (dir) .............................................. 43 Figura 62‐ Planta das casas. Fonte BARRETO, Paulo T. .................................................................... 44 Figura 63 ‐ Casa de meia‐morada. Corte. ......................................................................................... 45 Figura 64 ‐ Sobrado na Rua do Amparo. Olinda, sec. XVII. (esq) Pátio de São Pedro (dir) ............... 46 

 

 

   

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Técnicas construtivas do período colonial ......................................................................................... 1 

Vedações e divisórias ..................................................................................................................... 7 

Alvenaria ..................................................................................................................................... 7 

Adobe ..................................................................................................................................... 7 

Tijolos Cerâmicos .................................................................................................................... 8 

Pedra ....................................................................................................................................... 8 

Cantaria .................................................................................................................................. 9 

Taipa de Pilão ....................................................................................................................... 10 

Pau‐a‐Pique .......................................................................................................................... 12 

Enxaimel ............................................................................................................................... 14 

Tabique ................................................................................................................................. 14 

Coberturas e Forros ...................................................................................................................... 16 

Telhas ........................................................................................................................................ 16 

Estruturas de telhado ............................................................................................................... 16 

Beirais e beiras ...................................................................................................................... 20 

Varandas e alpendres ........................................................................................................... 22 

Forros .................................................................................................................................... 23 

Esquadrias ..................................................................................................................................... 25 

Outros Elementos ......................................................................................................................... 28 

Muxarabis e balcões ................................................................................................................. 28 

Ferragens .................................................................................................................................. 29 

Piso ............................................................................................................................................... 30 

Pisos e Pavimentos ....................................................................................................................... 30 

Pisos e Pavimentos Internos ..................................................................................................... 30 

Pavimentos Externos ................................................................................................................ 32 

Pintura ...................................................................................................................................... 34 

Alicerces .................................................................................................................................... 34 

Tipos e padrões da arquitetura civil colonial .................................................................................... 36 

VOLUMETRIA CONSTRUTIVA ........................................................................................................ 36 

A CASA DO SERTANEJO ................................................................................................................. 37 

FAZENDA DE ENGENHO ................................................................................................................ 38 

A SENZALA .................................................................................................................................... 39 

USINA DE ENGENHO ..................................................................................................................... 39 

A CASA GRANDE ........................................................................................................................... 40 

O SÍTIO BANDEIRISTA ............................................................................................................... 42 

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A CASA URBANA ........................................................................................................................... 43 

A casa térrea ............................................................................................................................. 43 

O  SOBRADO ............................................................................................................................. 45 

 

   

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Vedações e divisórias

Alvenaria A alvenaria é uma técnica de confecção de muros utilizando tijolos, lajotas ou pedras de mão, aglutinados entre si por meio de uma argamassa. No período do Brasil colonial as argamassas mais utilizadas eram de cal e areia ou de barro. 

Adobe

 

 

Figura 1 - Adobe. Confecção e assentamento

O adobe é uma  lajota  feita de barro com dimensões aproximadas de 20 x 20 x 40 cm, compactados manualmente  em  formas  de madeira,  postos  a  secar  à  sombra  durante certo numero de dias e depois ao sol. O barro deve conter dosagem correta de argila e areia,  para  não  ficar  nem  muito  quebradiça,  nem  demasiadamente  plástica.  Para melhorar  sua  resistência,  pode‐se  acrescentar  fibras  vegetais  ou  estrume  de  boi.  As lajotas  assim  confeccionadas  são  assentadas  com  barro,  e  revestidas  com  reboco  de argamassa  de  cal  e  areia.  Embora  encontremos  importantes  construções  feitas inteiramente  de  adobe,  como  a  matriz  de  Santa  Rita  Durão,  MG1,  o  material  era usualmente reservado a divisórias interiores. 

                                                            1 BAZIN, 1956, Vol. 1, p. 58.

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Tijolos Cerâmicos

 

Figura 2 - Alvenaria de tijolos. Aparelhos.

Usando a mesma matéria prima – a argila, o tijolo cerâmico difere do adobe pelas suas dimensões menores  e  pelo  fato  de  ser  cozido  em  fornos,  a  altas  temperaturas.  Sua durabilidade o rivaliza com a pedra. Foi talvez o primeiro material de construção durável utilizado pelo homem. Aliás, mesmo o homem fora feito de argila, de acordo com a Bíblia, que  ensinava  a  utilizá‐lo2,e  sua  presença  assinalava  para  a  possibilidade  de  vida sedentária, junto aos aluviões dos rios. O Portão de Ishtar, na Babilônia, do século IV a.C. e  a Muralha  da China,  do  século  III  a.C.,  constituem‐se  em  exemplos  não  somente  da durabilidade como  também do grau de evolução a que chegou esta  técnica no período proto‐histórico. Desde o século XVII, o tijolo era comumente empregado na Bahia e em 1711  já  existe  registro  de  uma  olaria  em  Ouro  Preto.  A  precariedade  de  condições, entretanto, reservava a maior parte da produção das olarias para telhas. As alvenarias de tijolos somente vão se tornar comuns no século XIX. Nos séculos precedentes perde, em importância  para  a  taipa  de  pilão,  a  pedra  e  cal,  e  mesmo  o  adobe.  Encontramos, entretanto, fiadas de tijolos associadas à pedra em muros de pedra e cal. 

Pedra Era o material que conferia maior resistência aos muros, razão porque era utilizada nas fortificações,  igrejas monumentais  e  nas  construções  oficiais. No  início  da  colonização, ainda no século XVI, já encontramos construções assim realizadas. É o caso da torre que Duarte Coelho ergueu em Olinda em 1535.  Foi a  técnica preferida das  igrejas de Ouro Preto3. 

                                                            2 “Vamos, façamos tijolos e cozamo-los ao fogo. Serviram-se de tijolos em vez de pedras, e de betume em lugar de argamassa.” (Gênese, cap. 11-3) 3 SANTOS, 1951, p. 90.

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Figura 3 - Alvenaria de pedra

As pedras utilizadas eram calcários, arenitos ou pedra de rio e granitos , no Rio de Janeiro, e mesmo  a  pedra‐sabão  e  a  canga4, em Minas.  As  argamassas  eram  cal  e  areia, mais resistente,  ou  o  barro,  onde  não  existia  a  disponibilidade  de  cal.  As  pedras  eram  de tamanho variável, até 40 cm na maior dimensão ou mais, e acabamento  irregular, sem qualquer  trabalho  de  aparelhagem.  Pedras  menores  eram  colocadas  para  calçar  as maiores. 

Na alvenaria de pedra seca, é dispensada a argamassa. As paredes têm grande espessura (0,60 a 1,00 m) e são assentadas com a ajuda de formas de madeira. Esta técnica é mais utilizada  para muros  exteriores.  As  pedras  de mão, maiores,  contornadas  por  pedras menores recebe o nome de cangicado. 

 

Figura 4 - Canjicado.

Cantaria Por  cantaria  entendemos  o  serviço  utilizando  a  pedra  lavrada  de maneira  precisa,  de modo  que  as  peças  se  ajustam  perfeitamente  umas  sobre  as  outras  sem  o  auxílio de argamassa aglutinante. Para o assentamento rigoroso utilizam‐se grampos metálicos  e,  às  vezes,  óleo  de  baleia  como  adesivo,  para  auxiliar  na  vedação. Apesar  de  ser  um serviço  sofisticado,  que  exige  profissional  bastante  habilitado  –  o  canteiro,  é  também 

                                                            4 Minério de ferro.

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milenar. Os  templos  gregos  e  romanos,  as  grandes  catedrais medievais  foram, em  sua maioria, executados em cantaria. 

No Brasil, entretanto, como também em Portugal, devido à dificuldade de mão de obra qualificada  e  também  devido  ao  custo,  a  cantaria  não  era  utilizada  na  totalidade  do edifício, mas apenas em suas partes mais importantes: nos frontispícios, nas soleiras, nas pilastras,  nas  cornijas,  nos  portais,  nas  janelas  e  nos  cunhais,  sendo,  no  restante  das vedações, utilizada outra técnica mural. O aparelho das pedras não era muito elaborado, exceto no Rio de Janeiro, a partir da segunda metade do século XVIII. 

 

Figura 5 - Aparelho de cantaria e aparelho misto de cantaria e alvenaria de pedra (esq.). Portal de cantaria. Imagem RODRIGUES, 1979. (dir.)

Taipa de Pilão A taipa de pilão foi o material mais empregado nas construções coloniais no Brasil, devido sobretudo  à  abundância de matéria prima – o barro  vermelho,  à  relativa  facilidade de execução, à satisfatória durabilidade5 e às excelentes condições de proteção que oferece quando  recebem manutenção  adequada.  É  uma  técnica  de  origem mourisca  praticada pelos  portugueses  e  espanhóis  desde  tempos  imemoriais,  conhecida  também  pelos negros  africanos.  Era de uso  comum na  Europa,  até meados do  século XIX. Na  França recebia o nome de pisé. 

                                                            5 John Mawe, em seu livro Viagens ao Interior do Brasil (1812) relata: “Essa espécie de estrutura é durável; vi casas assim construídas que dizem ter duzentos anos…”. Apud VASCONCELOS, 1979, p. 21.

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Figura 6 - Taipa de pilão. Imagem BARDOU, 1981, p. 19 (esq). Taipa de pilão reforçada com madeira, utilizada nas

cadeias. Fonte BARRETO, P. T. “Casas de câmara e cadeia” In: Arquitetura Oficial I, (dir.)

A técnica consiste em amassar com um pilão o barro colocado em formas de madeira, os taipais,  semelhantes às  formas de concreto utilizadas hoje.  Os  taipais  têm  somente os elementos  laterais, e são estruturados por tábuas e montantes de madeira,  fixados por meio  de  cunhas,  em  baixo,  e  um  torniquete  em  cima.  Suas  dimensões  são  de aproximadamente 1,0 m de altura por 3,0 a 4,0 m  lateralmente, e têm a espessura final da  parede,  0,6 m  a  1 m. Após  a  secagem,  o  taipal  é  desmontado  e  deslocado  para  a posição vizinha. E assim sucessivamente. 

 

Figura 7 - Execução da taipa de pilão. Imagem BARDOU, 1981, p. 20.

Os critérios de escolha do barro não se conservaram plenamente, de vez que dependia de tradição oral e ficou perdida no tempo. Sabe‐se que, semelhante ao adobe, deve ser uma mistura bem dosada de argila e areia e alguma fibra vegetal, crina de animal ou mesmo estrume.  Podia‐se  também  misturar  óleo  de  baleia,  que  “conferia  uma  resistência extraordinária”6. O barro é colocado em pequenas quantidades, em camadas sucessivas de aproximadamente 20 cm, que se reduzem a 10 ou 15 cm depois de comprimidas. 

A  secagem  durava  de  4  a  6  meses,  findos  os  quais  as  paredes  poderiam  receber revestimento, geralmente argamassa de cal e areia, que  lhe aumentava a resistência. A esta  argamassa  era,  às  vezes  acrescentada  “bosta  de  vaca”.  O  resultado  era  uma                                                             6 BAZIN, 1956, Vol. 1, p.57.

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argamassa capaz de resistir “à mais forte e duradoura chuva”7. Como a parede não podia receber água de chuva, alguma providências eram tomadas, entre elas o uso de grandes beirais e a elevação acima do terreno com alvenaria de pedra. Paulo Santos nos fala de “uma construção existente em Cabo Frio, datando de pelo menos três séculos”, de taipa de pilão, cuja  resistência é  tão grande, “a ponto de se assemelhar ao nosso concreto”8 Uma  variante do  sistema,  chamado  formigão9,  consiste em misturar  à massa de barro pedras miúdas e pedras maiores (pedras de mão). 

A  taipa  de  pilão  foi  mais  utilizada  nas  regiões  de  São  Paulo  e  Goiás.  Em  Minas,  a encontramos  em  igrejas mais  antigas  e  em  residências.  Nas  cadeias,  quando  não  era possível  sua  execução  com  pedra  e  cal,  a  taipa  era  reforçada  com  engradamento  de madeira, nas paredes e nos pisos. 

Pau-a-Pique Pau‐a‐pique, taipa de sebe, taipa de mão, barro armado ou taipa de sopapo, são diversos nomes para um dos  sistemas mais utilizados  tanto nos  tempos da  colônia  como  ainda hoje  em  construções  rurais,  devido  a  suas  qualidades  –  baixíssimo  custo  (todos  os materiais são naturais), resistência e durabilidade. Conhecido dos indígenas e dos negros africanos, utilizado no Nordeste, nos Massapés e em Minas. 

Na sua versão mais depurada, consiste em uma estrutura mestra de peças de madeira, cuja seção pode variar 50 x 50 cm, 40 x 40 cm até 20 x 20 cm composta de esteios – peças verticais enterradas no solo, baldrames – peças horizontais  inferiores, e frechais – peças horizontais superiores. Os esteios tem comprimento de até 15 m, dos quais 2 a 4 m são enterrados. 

 

Figura 8 - Construção em pau-a-pique rustica. Imagem BARDOU, 198, p. 49. (esq) Construção em pau-a-pique apurada. Detalhe. Imagem SANTOS, 1951 (dir)

                                                            7 BARRETO, Paulo Thedim. “Casas de câmara e cadeia”, p. 173. In: Arquitetura Oficial I, 1975. 8 SANTOS, 1951, p. 83. 9 O termo formigão pode também designar a mistura de cascalho, saibro ou areia, e cal usada em fundações. Em Portugal, designa a mistura de cal e saibro umidecida, apiloada dentro de formas, como a taipa de pilão.

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A parte extrema dos esteios, que ficava enterrada não era afeiçoada em seção quadrada, mantendo a forma roliça das árvores. Era popularmente denominada nabo. As madeiras preferidas era a Aroeira ou Braúna. Os baldrames era ligados aos esteios por sambladuras tipo rabo‐de‐andorinha. Entre os esteios e os frechais eram então colocados paus roliços verticais  (paus‐a‐pique), de aproximadamente 10  cm de diâmetro. A este eram  ligados horizontalmente outros mais finos, compondo uma malha quadrangular, em apenas um dos  lados  ou  nos  dois  lados.  Esta  trama  era  amarrada  com  cordões  de  seda,  linho, cânhamo ou buriti. Feita a trama, o barro era jogado e apertado com as mãos, daí o nome de sopapo. 

 

Figura 9 - Elementos de estrutura em pau-a-pique apurada. Imagem SANTOS, 1951

No caso de paredes muito altas, utilizam‐se peças  intermediárias entre o baldrame  e o frechal, denominadas madres10. Sob os baldrames estão os  socos, o espaço preenchido com alvenaria, funcionando apenas para vedação. Para reforço do baldrame, entre este e o solo, pode‐se colocar peças de madeira, denominadas burros. 

Paulo Santos nos informa de diversas igrejas de Minas construídas por esta técnica: Santa Rita e Nossa Senhora do Ó, em Sabará, Matriz de Nossa Senhora da Conceição, em Catas 

                                                            10 Madre é também o nome genérico de todas as peças horizontais, baldrames e frechais e também das linhas de tesouras, quando estas suportam a carga de um pavimento imediatamente sob o telhado.

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Altas, Nossa Senhora das Mercês, em Mariana, Nossa Senhora das Mercês e Perdões em Ouro Preto11. 

Era a técnica muito utilizada também para divisórias internas, sobretudo nos pavimentos elevados, em construções cujas paredes externas eram de taipa de pilão. 

Enxaimel Em  tudo  semelhante  ao  sistema  anterior  no  que  se  refere  à  estrutura  principal,  dele difere quanto à vedação. Neste caso o vão entre os esteios, estes também denominados enxaiméis,  e  as madres,  baldrames  e  frechais,  é  reforçado  com  peças  inclinadas  nos cantos ou na diagonal dos quadros. Estas peças têm o nome de cruz de Santo André ou aspas francesas. O vão é preenchido com adobe ou mesmo tijolos. Esta técnica é também milenar, utilizada na Europa medieval, e muito popular no sul do país. Mas tanto Paulo Santos como Sylvio de Vasconcelos registram a utilização em outras regiões. 

 

Figura 10 - Muro de enxaimel. Imagem BARDOU, 1981 (esq) Tabique (dir)

Tabique Tabique  é  uma  divisória  feita  com  estrutura  de  vigas  de madeira  e  revestimento  de tábuas. È um serviço e grande simplicidade e  facilidade de execução, utilizado no Brasil colonial  sobretudo  para  divisórias  internas.  As madeira  utilizadas  são  as mesmas  das estruturas de maior responsabilidade,  isto é, aroeira,  ipê, peroba, maçaranduba,  jatobá, e também aquelas de menor densidade como o cedro, a canela, o vinhático, a caviúna, entre outras. Esta grande  simplicidade entretanto não quer dizer que  lhe  foi  reservado 

                                                            11 SANTOS, 1951, p. 86.

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papel de menor responsabilidade. O exemplo mais marcante é, sem dúvida, o da Matriz de Nossa  Senhora do Pilar, de Ouro Preto,  cujas paredes externas  são de alvenaria de pedra e a parede da nave, de madeira, conferindo‐lhe a forma poligonal. 

 

Figura 11 - Planta da matriz de Nossa Senhora do Pilar, em Ouro Preto com as divisórias da nave construídas em tabique. Imagem SANTOS, 1951

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Coberturas e Forros

Telhas Os telhados são, por assim dizer, a marca da arquitetura colonial. Embora no século XVI as boas construções, como casas de Câmara e Cadeia ainda usassem o sapé, eram depois substituídas por telhas. As telhas são sempre cerâmicas, de capa e canal, ou capa e bica, também  chamadas  telhas  canal  ou  colonial.  Fora  do  Brasil  são  conhecidas  por  telhas árabes  ou mouriscas.  Inicialmente  eram moldadas  artesanalmente  por  escravos.  Eram naturalmente muito irregulares, o que gerou uma crença popular de que eram “feitas nas coxas”. A expressão inclusive transcendeu o discurso técnico, e é ainda hoje utilizado para designar pejorativamente qualquer coisa mal  feita. Por extensão, a expressão passou a designar qualquer coisa mal feita ou irregular. 

 

O  cozimento  também  não  era  perfeito,  como  viria  a  ser  no  século  XIX,  quando  aqui aparecem as telhas francesas ou marselha e as telhas romanas. O processo de moldagem e cozimento davam a estas  telhas  forma e coloração muito características  responsáveis pela  aparência  inconfundível  das  edificações  coloniais,  que  tanto  agradam  às  novas gerações. 

Estruturas de telhado A estrutura de assentamento das  telhas era sempre de madeira. O desdobramento das peças era artesanal, executado geralmente por escravos, como mostra a bela gravura. 

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Figura 12 - Desdobramento da madeira. Gravura de Jean-Baptiste Debret.

As  tesouras12  (em Portugal  chamadas asnas) mais utilizadas eram a tesoura de  linha suspensa, ou canga de porco e a  tesoura de Santo André; mais raramente a tesoura paladiana. A tesoura romana seria mais comum a partir do século XIX. 

 

Figura 13 - Tesoura de linha suspensa

                                                            12 Ver, p. e., MONTEIRO, J. C. R. Tesouras de telhado, Rio de Janeiro: Interciência, 1976.

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Figura 14 - Tesoura francesa

 

Figura 15 - Tesoura clássica ou paladiana

 

Figura 16 - Tesoura de Santo André

 

Figura 17 - Tesoura romana

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O uso de tesouras como estrutura principal e terças e caibros como estrutura secundária é mais apurado e recente. Primitivamente era comum o sistema de caibro armado, isto é, sem  tesouras, com cada caibro  recebendo o seu próprio  tirante ou olivel. Acima deste, apenas  as  ripas  e  telhas.  O  encaibramento  era  executado  de maneira  variada,  sendo comuns os paus  roliços – “caibros de mato virgem,  redondos e bons”. Podiam  também ser  lavrados  a  machado,  ou  ainda,  serrados.  Quando  serrados,  tinham  dimensões aproximadas “de altura três quartos de palmo e de grosso meio palmo e assentados em distância outros dois palmos” 

 

Figura 18 - Estrutura de caibro armado. Fazenda Viegas. Imagem Cardoso, 1975

 

Figura 19 - Telhado de caibro armado

 

Figura 20 - Telhados feitos com pau roliço. Imagem Barreto 1975.

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Figura 21 - Detalhe do frechal

As  seções das peças das  tesouras eram maiores que  as utilizadas hoje e  suas medidas eram em palmos: um palmo quadrado (22 x 22 cm), um palmo por um e meio (22 x 33 cm), e assim por diante. Para melhor distribuição das cargas, no caso de paredes de taipa de pilão, é  feito um  reforço de madeira que  recebe os caibros ou pernas das  tesouras. Cada  tarufo  corresponde  a  um  caibro,  que  é  juntado  aos  frechais  por  meio  de sambladuras  tipo  rabo de andorinha.As madeiras mais utilizadas eram a canela, peroba do campo, angelim, braúna jatobá e jacarandá. 

Beirais e beiras Os beirais são um capítulo à parte devido a sua importância na proteção das paredes, na condução das águas de chuva e na linguagem estética. A própria existência dos beirais é uma das características dos edifícios coloniais. Os beirais protegiam da chuva as paredes de taipa ou pau‐a‐pique. A forma característica de mudança de inclinação das águas, que tem o nome de galbo, tinha a finalidade de projetar a água para mais distante. A peça de madeira  que propicia e execução do galbo chama‐se contrafeito. 

 

Figura 22 - Elementos do beiral de caibro armado

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Na ponta dos caibros que  faziam os contrafeitos, esculpiam‐se cabeças de cachorro, às quais atribuíam a função simbólica de proteção da casa, à semelhança das carrancas das navegações medievais.  Por extensão estas peças ficaram sendo chamadas de cachorros, e o conjunto de caibros do beiral era a cachorrada. 

 

Figura 23 - Cachorros ornamentados. Imagem Lemos 1979.

As beiras  são ornamentos de pequena profundidade na alvenaria, no ponto de  ligação com o telhado. Muitas vezes eram executados com o próprio material do revestimento, usando telhas como moldes. A expressão “sem eira nem beira” para designar uma pessoa pobre, sem posses, vem da arquitetura colonial. Eira é um pequeno quintal nos fundos da casa; beira é a decoração da alvenaria, de que falamos. “Sem eira nem beira” é pois, uma pessoa que tem uma casa tão pobre que não tem quintal nem ornamento na parede. 

 

Figura 24 - Beira. Imagem RODRIGUES, 1979.

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Figura 25 - Beira. Imagem RODRIGUES, 1979.

Varandas e alpendres Devido  à  grande  divergência  entre  autores  quanto  a  estes  elementos,  Sylvio  de Vasconcelos sugere a adoção da seguinte nomenclatura. Varanda é o espaço resultante do  prolongamento  da  água  principal  do  telhado  e  apoiado  diretamente  no  solo, guarnecido por guarda‐corpo, peitoril balaustrado ou grade de ferro. 

 

Figura 26 - Varanda e alpendre

O alpendre é uma peça  coberta, geralmente no pavimento  térreo,  com uma  cobertura autônoma,  que  não  se  constitui  prolongamento  do  telhado,  como  a  varanda, mas  é apoiada na parede principal do edifício. Vasconcelos  conclui dizendo que o  alpendre é apoiado na outra extremidade diretamente no solo. Na nomenclatura da técnica edilícia, entretanto,  isto se constitui um  falso alpendre, pois o verdadeiro alpendre tem uma de suas extremidades em balanço (MONTEIRO, 1976).  É comum entretanto vermos o termo alpendre  utilizado  como  sinônimo  de  varanda,  como  no  texto  clássico  de  Luís  Saia, O alpendre nas  capelas brasileiras. Existe portando uma divergência entre a  terminologia técnica, mais precisa, e aquela dos textos históricos, mais livre. 

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Figura 27 - Estruturas de alpendre e falso alpendre

Forros Os  forros mais  comuns  eram  de  tábuas  de madeira,  planos,  assentes  diretamente  na estrutura  dos  telhados,  ou  em  um  barroteamento  complementar.  As  tábuas  tinham geralmente largura aproximada de um palmo. Neste caso, a junção das peças de madeira poderia ter várias formas. 

 

Figura 28 - Tipos de forro. Fonte Santos, 1951.

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Havia também os forros com esteira de taquara. 

 

Figura 29 - Forro de taquara. Detalhe e assentamento. Imagem Santos, 1951.

Além da forma plana, os forros poderiam possuir a forma abobadada, muito comum nas igrejas, ou a chamada forma de esquife, caixão ou gamela. No forro abobadado são feitas cambotas auxiliares, encurvadas na  forma  final da  forração. No  segundo  caso, é muito comum que se utilizem as mesmas peças do madeiramento do telhado. O forro compõe‐se de cinco painéis, quatro deles inclinados e o último plano. 

 

Figura 30 - Forro abobadado e forro em esquife.

 

Figura 31 - Forro em esquife. Museu do ouro em Sabará. Imagem Smith, 1975.

Em  construções mais  luxuosas,  os  forros  poderiam  formar  painéis moldurados.  Neste caso  as  molduras  tinham  altura  de  cerca  de  15  cm,  e  eram  feitas  de  caixotões  de madeira.Os forros eram geralmente pintados ou em uma cor somente ou decorada com 

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pintura abstrata ou figurativa.  Era comum a pintura faiscada, isto é, imitando madeira ou pedra. 

Esquadrias

 

As folhas das portas e janelas eram sempre de madeira e não diferiam muito conceitualmente de nossas  práticas  atuais.  As  diferenças  ficam  por  conta  das  disponibilidades  técnicas  e características acessórias. As  folhas podiam ser de réguas, de almofadas, de treliças  (urupemas) ou rendas de madeira – estas últimas no caso de folhas de janelas. Mais recentemente, a partir do século XVIII, quando o uso do vidro se  torna mais comum, aparecem as  folhas de pinásios com vidros. 

 

Figura 32 - Folha de réguas (Esq). Porta principal fazenda em Embu e folha de almofadas (centro) Janela da fazenda do Padre Inácio. Imagens Luis Saia, 1975 e Janela com conversadeira (Dir)

Nos primeiros séculos, o vidro era artigo de  luxo, “os mais custosos ornamentos no  interior do Brasil”13.  Conta‐se  inclusive  que,  nas  mudanças,  os  moradores  levavam  as  peças  de  vidro consigo14. Robert Smith nos conta que o primeiro a fazer menção de vidros em janelas é o viajante sueco Johan Brelin, em 1756.15  

Era  comum, nas  janelas, o uso de postigos, pequenas portinholas  fixadas nas  folhas principais, para auxiliar na iluminação e mesmo para vigia. 

                                                            13 SPIX E MARTIUS. Viagem pelo Brasil. Rio de Janeiro, 1938. Apud VASCONCELOS. 1979. 14 Joseph de Laporte. Apud SMITH, Robert. (1969)” Arquitetura civil no período colonial” In: Arquitetura Civil I. São Paulo: FAUUSP e MEC-IPHAN, 1975. 15 SMITH, Op. cit..

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Figura 33 - Folha de treliça. Fazenda Viegas. Imagem Cardoso 1975m (Esq.) Janela com postigo (Centro) Porta com folhas de pinázios (Dir.)

Funcionamento

 

Figura 34 - (E) Rótula (C) Abertura à inglesa. Janela de guilhotina (D) Abertura à francesa.

O mais comum era a abertura segundo um eixo vertical – abertura à francesa, ou horizontal, que hoje  chamamos  de  basculante.  Sylvio  de  Vasconcelos  denomina  as  primeiras  de  gelosias  e  as segundas de rótulas. Não é entretanto uma unanimidade a denominação. Na verdade a palavra italiana gelosia significa ciúme, e designa mais o elemento que permitia às mulheres observarem o movimento das ruas sem serem vistas. “Quem está por trás das varinhas em xadrez pode ver e não  ser  visto. Em  suma  (…)  traz  também a  idéia de  zelo e  ciúme.”16 Designa portanto mais as treliças ou urupemas, e mesmo mais tarde, as venezianas, do que a articulação das  janelas. Por outro lado rótula, independente de serem verticais ou horizontais, designa a articulação, o tipo de funcionamento  –  diferente  das  janelas  de  guilhotina  por  exemplo.  Na  literatura  especializada vemos portanto os  termos  rótula e gelosia  serem utilizados no  sentido oposto ao definido por 

                                                            16 PINTO., Estêvão (1943). “Maxarabis e balcões”. In: Arquitetura Civil II.Textos Escolhidos da Revista do IPHAN. São Paulo: FAUUSP e MEC-IPHAN, 1975.

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Vasconcelos, e até mesmo encontramos a palavra rótula designando as treliças, mesmo quando fixas17, o que se constitui evidentemente num erro. Optamos portanto pela designação abertura à francesa para as  janelas e portas  acionadas por dobradiças de eixo  vertical. Utilizamos  rótula, seguindo uso consagrado, para  janelas de eixo horizontal. Adotamos gelosia como sinônimo de rótula, embora possa também designar o enchimento do quadro das  janelas com treliças.  Já no século XVIII tornam‐se comuns as janelas de guilhotina, ou abertura à inglêsa. 

Vãos

 

Figura 35 - Tipos de vãos. Fonte Barreto, 1975.

Os  vãos  eram  compostos  de  quatro  elementos.  As  vergas,  elemento  superior,  as  ombreiras, laterais  e os  peitoris  e  soleiras,  inferiores. Nas paredes de  alvenaria, pau  a pique  e  adobe, de menor espessura, a  solução não diferia do que hoje  faríamos. Nas paredes de  taipa de pilão e alvenaria de pedra, mais espessas, temos uma solução característica, que chama0mos janelas de rasgo ou janelas rasgadas. Com a finalidade de aumentar a luz do compartimento, as laterais do vão eram  chanfradas ou  ensutadas. A parte da alvenaria que preenchia o  vão da  soleira  até o peitoril,  geralmente menos  espessa  que  o  restante  da  parede,  chamava‐se  pano  de  peito.  O 

                                                            17 No Novo Dicionário Aurélio temos Rótula. 1. Gelosia; e Gelosia 1. Grade de frasquias de madeira cruzadas intervaladamente que ocupa o vão de uma janela; rótula. 2. Janela de rótula.

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espaço conseguido com o rasgo da parede, bem iluminado e fresco, recebia assentos de madeira, taipa ou alvenaria chamados conversadeiras. 

O peitoril levava um gradil de madeira torneada, ou de ferro batido, dizia‐se que era uma janela de  peitoril  entalado,  isto  é,  contido  no  vão. Quando  projetado  para  fora  tínhamos  as  janelas sacadas,  simplesmente  sacadas  ou  janelas  de  púlpito.  Várias  sacadas  unidas,  com  espaço  de circulação entre elas formavam um balcão, que usualmente era coberto pela projeção do telhado. As sacadas e balcões tinham, na parte interior um reforço estrutural, que poderia ser de madeira ou de pedra, chamado cão, cachorro, ou consolo. Estes consolos  suportavam o piso da  sacada, uma peça de pedra – a bacia. Os muxarabis eram construído sobre as sacadas. 

O  acabamento  das  janelas  poderia  ser  de madeira,  ou  nas  construções mais  sofisticadas,  de cantaria de pedra, material que a partir do século XIX se consagrou. Quando de cantaria, as vergas podia receber cornijas. O uso de vergas curvas ou onduladas aparecem talvez pela primeira vez no Brasil, segundo Robert Smith, em 1743, no Paço dos Governadores do Rio de Janeiro. Em Portugal fora empregado em 1717, na  fachada do Palácio de Mafra, edifício assinado por  João Frederico Ludovice. 

Outros Elementos

Muxarabis e balcões

 

Figura 36 - Muxarabi e balcão. Desenho Rodrigues, 1979.

O muxarabi é um dos elementos mais característicos da nossa arquitetura colonial, uma das mais persistentes  influências da arquitetura árabe.  Segundo Estêvão Pinto18, muxarabi  significa  local fresco19.  Para  nós  designa  um  balcão  fechado  por  treliças,  chamadas  também  de  urupemas, geralmente  com  janelas de  rótula. As  frasquias que  formavam  as urupemas  tinham dimensões bem pequenas, em torno de 15 mm, e eram sobrepostas, formando uma malha bem delicada. 

                                                            18 PINTO, Op. cit. 19 Sítio das bebidas, ou local onde se punham as bilhas a fim de refrescar a água.

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Hoje em dia existem muito poucos exemplares de muxarabis. A vinda da Corte portuguesa foi um golpe de morte para eles. Oficialmente alegava‐se que o país devia perder os ares de colônia, e assimilar as novas  tendências européias,  isto é, o Neoclassicismo, que não admitia a  influência “espúria” da arquitetura árabe, mas somente a tradição greco‐romana. Conta‐se, entretanto, que o Príncipe Regente tinha medo de possíveis ataques contra ele e os membros da corte, ataques este que seriam camuflados pelas treliças. A verdade é que a operação iniciada com o intendente Paulo Fernandes Viana teve efeito devastador sobre os muxarabis. No Rio de Janeiro não restou nenhum. “A impressão era que se tinham deixado as casas em trajes menores”20  

Balcão é uma peça sacada do corpo principal, um pouco maior em profundidade que a sacada, permitindo o trânsito entre um peça e outra da construção principal pelo exterior. 

Seteiras e óculo 

As  seteiras  são  pequenas  aberturas  verticais,  utilizadas  na  arquitetura  militar  como  vão  de observação, vigia e  tiro. mas são  também usadas na arquitetura civil e  religiosa. Os óculos  têm forma circular, quadrifólio ou outras. Na arquitetura militar as  seteira  têm  também o nome de balestreiro.  Os  óculos  são  muito  comuns  nas  igrejas,  para  luminação  adicional  das  tribunas, consistórios ou outros compartimentos. Neste caso  têm moldura de pedra e são esculpidas em perfís diversos. 

 

Figura 37 - Óculo e seteira

Ferragens As  ferragens  para  acionamento  eram  as  chamadas  dobradiças  de  cachimbo  ou  dobradiças  de leme. O leme era a chapa de ferro fixada nas folhas das portas, os quais tinham as mais variadas dimensões  e  desenhos.  As  aldrabas,  ou  aldravas  eram  pequenas  argolas  ou maças metálicas fixadas  em um eixo, para o visitante bater na porta; servia em outros casos, para acionar uma tranqueta e assim abrir a porta pelo lado de fora. 

                                                            20 PINTO, Op. cit..

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Figura 38 - Dobradiças de leme

 

Figura 39 - Aldraba. Fazenda Embu.

 

Figura 40 - Puxadores e trancas

Piso

 

Pisos e Pavimentos

Pisos e Pavimentos Internos O piso mais simples era de terra batida. A terra era socada com certa mistura de argila, areia e água, à qual se adicionava às vezes sangue de boi, para uma melhor liga. No piso de terra batida podia‐se assentar  ladrilhos de barro cozido, de 7 a 8 mm de espessura e 

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20 a 30 cm de  largura. O desenho de assentamento podia ser de  junta  reta, com  junta matada  ou  mata‐junta,  paralelo  ou  em  xadrez.  Especial  destaque  para  os  pisos  das enxovias nas casas de câmara e cadeia. 

 

Figura 41 - Piso de ladrilhos. Tipos de juntas. Junta reta, junta matada e xadrez.

 

Figura 42 - Piso em frisos de madeira

Os pisos de tábuas corridas de madeira eram os mais comuns em pavimentos elevados do solo. Em alguns  lugares, a única solução possível. Os frisos de madeira tinham em torno de 40 cm de  largura e espessura de 3 a 4 cm, apoiados em barrotes.  Com o passar do tempo, as peças vão se adelgando, chegando a 2,5 cm, e se estreitando, chegando a 10 ou 15 cm.  A seção dos barrotes eram “em quadra”, isto é, quadrada, medindo em torno de um palmo (22 cm) até “palmo e meio” ou “um pé” (cerca de 30 cm), dependendo do vão. 

Na cadeia de Ouro Preto, em 1723, os pisos foram feitos com lastro de coçoeiras “de três quartos de palmo em quadra”21 (cerca de 16 cm, de seção quadrada). Nas enxovias dos negros,  tal  lastro de madeira era  recoberto com  terra batida misturada com sangue de boi, nas cadeias dos brancos, a grade era assoalhada. À semelhança dos forro, podiam ser assentados em junta seca, com ou sem mata‐junta por baixo,  em meio‐fio ou em macho 

                                                            21 BARRETO, sd., p.191.

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e fêmea, mais raro. As madeiras utilizadas eram sempre de boa qualidade: ipê, jacarandá, canela parda, jatobá, e outras, variando com a época e a disponibilidade. 

 

Figura 43 - Detalhe dos frisos e sua estrutura apoiados em parede de taipa de pilão (esq). Detalhe de pisos e paredes de enxovias reforçados com lastro e grades de madeira. (dir)

 

Figura 44 - Detalhe de pisos de enxovias com lastro de madeira. (E) Com frisos de madeira. (D) De terra batida.

Pavimentos Externos Os  lajeados  eram  lajes  de  pedra  –  arenitos,  gneiss  ou  calcários,  assentados  com argamassa  de  barro.  Estas  lajes  podiam  ser  trabalhadas  por  canteiro  apenas  na  face superior, ou  também nas  faces  laterais. Tinham estas  lajes de 5 a 10  cm de espessura normalmente,  porém  em  casos  excepcionais  podiam  ser mais  espessas.  É  o  caso  da cadeia de Ouro Preto, para a qual José Fernandes Pinto Alpoim, em 1745,  mandou que os pisos fossem que eram “lageados por baycho com lagedo de morro, e que nenhuma pedra tivesse menos que cinco palmos de comprido e hum ou dous de groço”22. 

Os lajeados podiam ser feitos de mármore, caso em que o acabamento era bem melhor, e reservado  a  compartimentos mais  nobres,  como  saguões  de  edifícios  públicos  civís  ou religiosos.  O  pé‐de‐moleque  ou  calçada  portu‐guesa  era  muito  comum.  Consistia  no assentamento sobre a terra batida de seixos rolados (pedras redondas de rio). Podem ser empregados seixos de duas cores, formando mosaico. Podem ser utilizados em interiores 

                                                            22 Apontamentos, Vila Rica, 1745. Apud BARRETO, Op. cit., p. 193.

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de pavimentos  térreos, caso em que  se utilizam pedras de diâmetro menor, com cerca de    3  cm,  ou  também  para  pavimentos  de  calçamentos  de  vias  públicas,  com  pedras maiores, de diâmetro aproximado de 10 cm. 

 

Figura 45 – Lajeado (esq) Pé de moleque com costelas (dir)

Nas  vias  públicas,  para  reforçar  a  pavimentação,  podem‐se  colocar  lajes  de pedra enterradas a prumo, em forma de costelas. Os espaços entre as costelas são preenchidos com pé de moleque. 

 

Figura 46 - Costelas

Capistrana  é  uma  faixa  contínua  de  lajeado  no meio  de uma  via  pública,  em  cujas  laterais  se  adiciona  a pavimentação  de  seixos  ou  lajes.  O  nome  capistrana refere‐se  a Capistrano Bandeira de Mello, presidente da província de Minas, que mandou executar este serviço em 1878. Figura 47 - Capistrana  

  

 

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Pintura As paredes eram geralmente caiadas. A cor branca foi, por isso mesmo notada por todos aqueles  que  deram  notícias  sobre  nossas  construções  coloniais,  como Maria  Graham, Vauthier, Kidder e  Spix e Martius. A  caiação era  feita de  cal de mariscos, de pedra ou tabatinga23. 

As madeiras  eram  preferencialmente  pintadas  a  cola,  têmpera  ou  óleo,  sendo  o  óleo utilizado como veículo extraído de mamona, de baleia ou de  linhaça. Quando o veículo era a cola, usava‐se cola de peixe, de pelica ou couro de boi. Para a têmpera, utilizava‐se a secular  albumina  de  ovo. Os  corantes mais  comuns  eram  o  anil  ou  índigo  ‐indigueiro‐leguminosa (azul), sangue de drago e urucum (vermelho), a açafroa (amarelo), a braúna (preto), o  ipê e a cochonilha (cor de rosa)24. 

Nas  pinturas  decorativas,  era  comum  a  chamada  “pintura  de  fingimento”,  que procuravam  imitar madeira ou mármore.  Faiscado era o nome que  se dava em Minas Gerais à pintura a óleo ou tempera de portais, ombreiras e batentes de madeira imitando pedra. 

Alicerces

 

Figura 48 - Alicerce de parede de pau-a-pique. Fonte SANTOS, 1951. (esq). Encaixe das ombreiras na soleira do alicerce. Fonte Vasconcellos, 1979. (dir)

                                                            23 Barro branco, untoso ao tato. De “toba-tinga”, i. e. barro branco. Sendo mais fácil de encontrar que a cal de mariscos, seu uso se generalizou na pintura de casas mais simples. À tabatinga adicionava-se algum fixador, seja albumina de leite, de sorveira (árvore resinosa) ou soluções de pedra-ume. 24 Excetuando a cochonilha, inseto que fornece um corante carmim, os otros pigmentos são de origem vegetal. São tirados das folhas, como o índigo – do indigeiro, uma leguminosa; dos frutos, como o urucum; de flores, como a açafroa, ou do próprio tronco, como a braúna e o drago

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Nas construções coloniais eram utilizadas sempre fundações diretas, no mais das vezes de alvenaria  de  pedra  seca,  qualquer  que  seja  o  tipo  de  parede.  A  exceção  fica  com  as construções estruturadas com esteios – o pau‐a‐pique e o enxaimel. Neste caso as peças de madeira que formam os esteios são enterradas no solo com 2 a 4 m de profundidade. A parte enterrada não era afeiçoada em seção quadrada mas mantinha a seção do tronco original. Esta parte do esteio é popularmente chamada de nabo e recebia um tratamento contra o apodrecimento e contra brocas e fungos. Este tratamento consistia em crestar a madeira com fogo. Paulo Santos nos diz que existem esteios mergulhados no solo há mais de dois séculos e com o núcleo central em perfeito estado, embora com a parte externa apodrecida25. 

Para as outras técnicas, os alicerces eram sempre a alvenaria de pedra, às vezes seca, às vezes com barro, ou apenas  rejuntada com calda. A calda é um barro muito  liqüefeito, que  pode  ser  derramado  e  preenche  os  vazios  entre  as  pedras.  Pode  ser  derramado depois de uma ou duas fiadas prontas. 

 

Figura 49 - Enchimento do espaço entre o baldrame e o solo. Fonte Vasconcellos, 1979. (esq) Acabamento do alicerce e sargeta. Fonte Vasconcellos, 1979. (dir)

As dimensões dos alicerces eram variáveis, mas não diferiam muito das práticas atuais para  fundações  diretas.  Para  a  igreja  de Nossa  Senhora  do Monte  do  Carmo  de Ouro Preto foram usados baldrames26 de cerca de 2 m de profundidade (dezoito palmos) e de largura 90 cm (quatro palmos) externamente para fora da parede e 30 cm (palmo e meio) para dentro,  isto é, a  largura da parede mais 1,2 m  (um  total de aproximadamente 3,5 m)27. Mais  recentemente,  os  aliceces  tornam‐se menos  profundos  e  a  parte  saída  das paredes diminui para aproximadamente um palmo. O acabamento dos alicerces é sempre bem nivelado com uma pedra, que os cobre em toda a extensão, não sendo interrompido nem para as obreiras das portas, que são nele encaixados. 

 

                                                            25 SANTOS, 1951, p. 86. 26 Muros contínuos de fundação. Não confundir com a peça de madeira chamada de baldrame nas paredes de pau-a-pique. 27 SANTOS, 1951, p. 92.

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Tipos e padrões da arquitetura civil

colonial VOLUMETRIA CONSTRUTIVA Os  mais  importantes  fatores  determinantes  das  formas  arquitetônicas  de  nossa  arquitetura colonial são de ordem econômica e técnica. Assim é que muitas das possibilidades da arquitetura praticada na Europa não são vigentes aqui devido à falta de recursos econômicos. A escolha das técnicas  construtivas,  muitas  vezes  a  sua  má  realização,  e  a  relativa  fragilidade  das  nossas construções,  apontada  pelos  diversos  cronistas  da  época  têm  sua  explicação  na  escassez  de recursos alocados na construção mesmo dos mais importantes edifícios. 

Somente a partir de 1630 aproximadamente podemos falar de algum padrão mais definitivo com relação  à  construção.  É  nessa  época,  por  exemplo,  que  a  cobertura  vegetal  começa  a  ser substituída  pela  telha  cerâmica28,  exceto  as  mais  modestas,  como  as  casas  de  sertanejos, afastadas  das  fazendas,  e  a  senzalas.  Com  as  limitações  de  largura  impostas  pelas  técnicas construtivas, desde que os vão eram vencidos apenas com vigas de madeira, o que determinava uma largura de algo em torno de 6 m para as alas, e ainda a necessidade de melhor  iluminação e ventilação  dos  compartimentos  praticamente  impunha  o  pátio  central.  Esta  solução  era  bem adequada para edifícios de maior porte, como palácios, paços, e outras construções maiores para equipamentos públicos. Eram colocados sempre em centro de terreno, assim como os pavilhões.  

No  desenho  abaixo  estão  representados  os  tipos  mais  utilizados.  A  “meia‐água”  (1)  era geralmente  utilizada  em  construções  de  menor  importância,  como  o  rancho  e  a  cozinha.  O telhado  de  duas  águas  (2)  era  muito  utilizado  em  construções  urbanas,  sobretudo  em  casa geminadas, um padrão dos mais comuns nas cidades, nas casas de porta e janela, meia‐morada, sobrados, etc. O madeiramento do telhado, neste caso consistia apenas nas terças transversais e caibros, como nos informa Vaultier29. O telhado de quatro águas (3) era a cobertura mais comum nos pavilhões, o  tipo  construtivo mais utilizado para  construções de maior porte,  como  casas‐grandes, equipamentos públicos menores e mansões. Uma variante deste é o telhado de quatro águas com lanternim (4), que objetivava melhor iluminação e ventilação do telhado, bem como o uso alternativo desta área. O claustro (5) era a forma preferida para construções que aspiravam maior  monumentalidade.  O  pavilhão  composto  em  forma  de  “L”  (6)  era  uma  solução intermediária entre o pavilhão e o claustro. Era utilizada quando se dispunha de terrenos de boa 

                                                            28 SMITH, Robert C. A arquitetura civil do período colonial. In: Arquitetura Civil I. Textos Escolhidos da Revista do IPHAN. São Paulo: FAUUSP e MEC-IPHAN, 1975. P. 128. 29 VAUTIER, L. L. Casas de residência no Brasil. In: Arquitetura Civil I. Textos Escolhidos da Revista do IPHAN. São Paulo: FAUUSP e MEC-IPHAN, 1975. P. 41 ss.

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largura para  casas‐grandes, mansões urbanas,  etc. A  varanda  alpendrada (7) ou puxada (8)  era solução  comum  em  todos  os  partidos,  desde  a  casa  mais  simples  do  sertanejo  até  as  mais sofisticadas. 

 

Figura 50 - Tipologia volumétrica

A CASA DO SERTANEJO É  a mais  simples  construção  do  período  colonial.  Eram  casas  de  homens  livres,  espécies  de colonos, que cultivavam uma propriedade, dividindo a produção como o senhor de engenho. Sua casa  pode  ser  feita  toda  de  palha  –  a  palhoça  –  na  qual  a  estrutura  é  feita  de  paus  roliços revestidos  com  palha,  geralmente  de  buriti30  ou  carnaúba31.  As  paredes  podem  ser  de  pau‐a‐pique, sendo então também chamadas tapona ou sopapo. 

 

Figura 51 - Casa sertaneja.Imagem Barreto, 1975

                                                            30 Tipo de palmeira brasileira cujas folhas e troncos são utilizadas em construções rústicas. 31 Tipo de palmácea comum no nordeste, que além dar derivados com que se fabricam, entre outras coisas, velas, sabonetes, isolantes, oferece o tronco e as palmas para as construções civis

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Tinham  estas  casas  apenas  um  compartimento  interno.  Uma  esteira  grosseira  de  ramagens, estendidas nas extremidades são as camas de toda a família. Pendurado na estrutura do telhado, uma caixa de papelão ou um baú de folhas, onde “as moças guardam seus trajes de domingo”32. A cozinha era um canto deste compartimento único, com um forno e fogão de  lenha, quando não um  puxado  do  telhado  ou  um  alpendre,  que  podia  ser  aberto  ou  fechado,  ou  ainda  podia‐se utilizar o quintal para cozinhar. Não havia, obviamente, banheiro ou latrina, como ainda hoje não se  vê nas  regiões mais afastadas, no  interior.  Indispensável, porém era o alpendre ou  varanda frontal, o verdadeiro ambiente de estar. A entrada da varanda está  sempre  interceptada, para torna‐la íntima e proteger da entrada de animais33. 

 

Figura 52 - Palhoça. Imagem BARDOU, 1983.

O rancho era também equipamento obrigatório. Colocado para além e  junto da cerca, consistia em  um  pequeno  abrigo  para  servir  de  pouso  ao  viajante  ou  tropeiro.  Uma maneira  de  bem receber o visitante sem permitir o contato com a intimidade da casa. 

FAZENDA DE ENGENHO

Figura 53 - Fazenda de Engenho. (Fonte Vauthier, 1975) 1‐  Capela;  2‐Casa  Grande  (Proprietário);  3‐Hóspedes;  4‐Casa  do engenho; 5‐Cavalariças; 6‐ Casa do bagaço; 7‐ Forno; 8‐ Cocheira; 9‐ Refinaria‐destilaria; 10‐ Olaria; 11‐ Senzalas; 12; Casa do feitor. 

 

 

                                                            32 VAUTIER, L. L. Casas de residência no Brasil. In: Arquitetura Civil I. Textos Escolhidos da Revista do IPHAN. São Paulo: FAUUSP e MEC-IPHAN, 1975. P. 94. 33 BARRETO. Paulo Thedim. O Piauí e a sua arquitetura. In: Arquitetura Civil I. Textos Escolhidos da Revista do IPHAN. São Paulo: FAUUSP e MEC-IPHAN, 1975. P. 213.

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A SENZALA Consistia, quase invariavelmente em um comprido telheiro, feito de alvenaria de tijolos ou pau‐a‐pique, com celas medindo aproximadamente 3 m de comprimento e  largura, cobertas  também com  telhas,  as  terças  apoiando‐se  diretamente  nas  paredes.  As  portas  eram  de  tábuas  de madeira. O piso de terra batida e sem forro ou outra abertura. 

 

Figura 54 - Planta de uma senzala. Fonte Valthier, 1975 (esq) Corte de uma senzala. Fonte Valthier, 1975 (dir)

USINA DE ENGENHO Segundo  a  descrição  de  Vauthier,  consistia  em  uma  vasta  coberta  sustentada  por  pilastras  de tijolos,  fechada  apenas  até  a  altura  de  um  homem. As  canas  verdes  empilhadas  em  uma  das extremidades,  as parelhas  girando  sem  cessar.   Misturam‐se o  ruído dos  gritos e o estalar das canas comprimidas sobre os cilindros. 

 

 

Figura 55 - Usina de Engenho. (Fonte Vauthier, 1975)

1‐ Almanjarra e moenda; 2‐Reservatório de madeira para o caldo de cana; 3‐ Bateria para evaporação e cozimento 4‐  Chaminé; 5‐ Depósito de cana. 

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A CASA GRANDE A  Casa Grande  era  a  sede  das  fazendas,  que  abrigava  o  senhor  de  engenho,  sua  família  seus agregados e hóspedes. Diferentemente dos outros tipos construtivos, a casa grande podia variar muito quanto à forma. 

 

Figura 56 - Fazenda de Engenho. Detalhe de planta. (Fonte Vauthier, 1975)

1‐ Capela; 2‐Quartos de hóspedes; 3‐ Sala de jantar; 4‐ Sala de estar; 5‐Tribuna das mulheres. 

Vaultier, em suas célebres cartas34 documenta uma destas casa‐grandes. Como visitante, não teve acesso à intimidade da casa, razão porque desenhou apenas uma parte. Mas não é difícil supor o restante:  uma  seqüência  de  compartimentos,  quartos  ou  alcovas35,  ligados  por  um  corredor  e contando, eventualmente com uma varanda. 

 

Figura 57 - Fazenda Viegas. Rio de Janeiro, 1725.

                                                            34 VAUTIER, L. L. Casas de residência no Brasil. In: Arquitetura Civil I. Textos Escolhidos da Revista do IPHAN. São Paulo: FAUUSP e MEC-IPHAN, 1975. P. 80. 35 Quarto interno, sem aberturas para o exterior.

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Estas  casas eram de apenas um pavimento de habitação,  levantado do  solo. A parte de baixo, segundo Vaultier, ocupada por armazéns e pessoal de serviço. A  técnica construtiva é a melhor disponível, podendo ser de alvenaria de pedra ou taipa de pilão, dependendo da região. Telhados de madeira e telhas de barro. 

Elemento  indispensável nas casas‐grandes de fazenda é a varanda, grande e  larga, ocupando na maioria das vezes toda a frente como é o caso da Fazenda do Viegas ou então contornando toda a edificação.  Neste  item,  um  exemplo  dos  mais  curiosos  é  o  da  Fazenda  Colubandê,  em  São Gonçalo,  em  que  temos  uma  varanda  periférica  externa  e  outra  interna,  separadas  pelos compartimentos das salas e quartos da casa. 

 

Figura 58 - Fazenda Colubandê. São Gonçalo.

 

Figura 59 - Fazenda Colubandê. São Gonçalo.

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O SÍTIO BANDEIRISTA

 

 Figura 60 - Sítio do Padre Inácio(esq) Sítio do Mandu (dir)

O sítio bandeirista é um caso especial na arquitetura colonial do segundo século. Objeto de primoroso estudo de Luís Saia36, e comentado por Michel Foucault37, que destaca a singularidade do quarto de hóspedes dentro do corpo da construção, porém abrindo para o exterior,  como um  caso de heterotopia. O  sítio bandeirista é um  tipo de edifício dos mais  interessantes, pois, em que pese a precariedade dos meios  construtivos,  tem um desenho  clássico  dos  mais  rigorosos,  podendo  mesmo  ser  comparado  as  plantas  de Palladio. Os doze exemplares estudados por Saia em São Paulo e municípios vizinhos são considerados  pelo  autor  como  solução  típica  dos  fazendeiros  abastados  da  região. Guardam entre  si  características muito próprias  e  semelhanças que autorizam  falar de um  tipo  arquitetônico. O  Sítio  do  Padre  Inácio  e  o  Sítio  do Mandu,  em  Cotia,  e  Sítio 

                                                            36 AIA, Luís. “Notas sobre a arquitetura rural paulista do segundo século”. In: Arquitetura Civil I. Textos Escolhidos da Revista do IPHAN. São Paulo: FAUUSP e MEC-IPHAN, 1975. P. 221-281. 37 FOUCAULT, Michel. “Des espaces autres” In: Dits et écrits. 1984.

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Querubim  em São Roque são os melhores exemplos. Nos três temos, salvo variações, na parte  frontal  uma  varanda,  uma  capela  e  o  célebre  quarto  de  hóspedes,  que  causou impressão a Foucault. 

A porta da frente não se abre para a parte principal da casa, onde a família vive, de modo que qualquer pessoa que passe por ali, qualquer viajante, tem o direito de abrir a porta, entrar no quarto e passar a noite ali. Agora, os quartos são dispostos de tal modo que as pessoas que lá ingressam, nunca atingem o coração da família: será apenas um viajante, jamais  um  hóspede  verdadeiro.  Este  tipo  de  heterotopia,  que  hoje  está  quase completamente desaparecida de nossa civilização…38 

A  sala  ocupa  o  lugar  central  e  os  quartos,  a  lateral.  Nos  fundos  uma  outra  varanda, possivelmente uma área de  serviços, não necessariamente uma  cozinha, que podia  ser externa  à  construção.  A  construção  era  sempre  de  taipa  de  pilão,  telhados  de  barro assentes  sobre madeiramento do  tipo  caibro  armado. O espaço  abaixo do  telhado era aproveitado como depósito ou mesmo como abrigo de serviçais. 

 

Figura 61 - Sítio Querubim (esq) Villa Angarana. Palladio. 1570 (dir)

A CASA URBANA

A casa térrea A casa urbana no Brasil colonial seguia um único padrão, determinado por questões parcelárias, tectônicas  e  ambientais.  Quanto  ao  sistema  parcelário,  o  lote  urbano  era  sempre  estreito  e profundo, variando a largura de 5 a 8 metros39. 

Se  contornar  uma  cidade  importante,  onde  se  comprimem,  uns  contra  os  outros, numerosos tetos de telhas, por mais atentamente que a observe, também não verá nunca 

                                                            38 FOUCAULT. Op Cit. 39 VAUTIER, L. L. Casas de residência no Brasil. In: Arquitetura Civil I. Textos Escolhidos da Revista do IPHAN. São Paulo: FAUUSP e MEC-IPHAN, 1975. P. 32.

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destacar‐se  ali,  por  entre  grupos  de  construções mais  humildes  [...]  edifício  algum  de proporções grandiosas [...]40 

Não se concebiam casas urbanas recuadas e com jardins41. As casas eram alinhadas pela divisa frontal e geminadas nos dois lados – casas em correnteza –, criando a chamada rua 

corredor.  Isto  em  parte  se  deve  à precariedade  das  técnicas  construtivas. Sabendo‐se  que  a  taipa  de  pilão,  ou  o pau‐a‐pique       eram  vulneráveis  à chuva, um dos modos de protegê‐las das intempéries  era  colar  empena  com empena, restando apenas duas fachadas expostas.  Os  beirais  e  varandas  se incumbiam da proteção destas. 

Seguindo o princípio de Vaultier, de que “quem viu um casa brasileira, viu quase todas”42, podemos nos basear no estudo de Paulo Thedim Barreto43 sobre a casa piauiense  e  estendê‐lo  ao  resto  do Brasil. Não estaremos longe da verdade. 

A  casa  mais  simples  que  poderemos encontrar é a  chamada casa de porta e janela,  composta  apenas  de  sala, quarto,  varanda e  cozinha. Para nossos padrões  atuais,  poderemos estranhar que  a  circulação  para  os 

compartimentos dos fundos se dê pelo quarto. Considere‐se porém que nenhuma pessoa não pertencente ao convívio  familiar era admitida para além da  sala. Variações podem acontecer com o acréscimo de alcovas, compartimento do qual não temos conhecimento, mas  que  era  muito  comum,  atendendo  aos  padrões  de  então  de  preservação  da intimidade e proteção da família. Hoje pensamos que nenhum compartimento habitável pode prescindir de um vão de iluminação e ventilação. Este, porém, é uma idéia recente, criado  pelos  higienistas  do  século  XIX.  Estes  propuseram  a substituição  do  conceito deventilação química (volume de ar por pessoa) dos compartimentos então adotado pelo conceito deventilação física (circulação de ar). 

As coberturas eram feitas com telhas de barro tipo capa‐e‐canal,  assentes sobre madeiramento, que se compunha apenas de caibros, cumeeira e terças, estas diretamente apoiadas nas paredes. A pouca largura de vãos a vencer dispensava o uso de tesouras. 

                                                            40 VAUTIER, L. L. Op. Cit. 41 REIS FILHO, Nestor Goulart. Quadro da arquitetura no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1970. P. 22. 42 VAUTIER, L. L. Op. Cit. P. 37. 43 BARRETO, Paulo T. “O Piauí e sua arquitetura” In: Arquitetura Civil I. Textos Escolhidos da Revista do IPHAN. São Paulo: FAUUSP e MEC-IPHAN, 1975. P. 191-219.

Figura 62- Planta das casas. Fonte BARRETO, Paulo T.

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Figura 63 - Casa de meia-morada. Corte.

O SOBRADO Logo a seguir, temos o sobrado urbano, um dos tipos de residência mais persistentes de nossa história da habitação individual. O termo sobrado hoje em dia designa o prédio com mais  de  um  pavimento,  não  pressupondo  a  existência  de  pisos  intermediários44. Acrescentaríamos que o números de pavimentos de um sobrado é geralmente dois, e não mais que três. Até hoje vemos um grande número de sobrados nos núcleos históricos de nossas cidades, a maioria tendo sido construída nos primeiros anos do século XX, mas que muito pouco acrescentaram ao sobrado setecentista, no que se refere à morfologia. 

Dos mais antigos no Brasil temos aqueles conhecidos sobrados o da a casa nº 28, da rua do  Amparo  e  a  casa  nº  7  do  Pátio  de  São  Pedro,  ambos  em  Olinda,  e  datando provavelmente das primeiras décadas do século XVII. No primeiro caso, observamos que se  trata de uma casa situada em  terreno com grande aclive, razão porque o pavimento inferior, da rua do Amparo é bem menor. Temos aí a  loja de comércio. Geralmente, nas áreas  mais  povoadas  dos  centros  urbanos,  o  pavimento  inferior  era  dedicado  ao comércio. A casa de residência se desenvolve unicamente no sobrado, onde temos a sala, o santuário  (lembremos não apenas a vocação católica do nosso povo como  também o grande poder da igreja, em tempos de contra‐reforma), as alcovas e nos fundos a sala de jantar e cozinha, dando o quintal para a ladeira da Misericórdia. 

No outro caso, no sobrado do Pátio de São Pedro, temos um programa mais completo, pois  se  trata  não  somente  de  terreno  plano  como  também  de  um  lote  de esquina.  A planta  apresentada  reflete  possivelmente  as  transformações  de  uso  atualizadas,  pois notamos  uma  casa  já melhor  equipada.  Temos  no  pavimento  térreo  uma  loja melhor dotada de espaços, com armazém e grande depósito, e os compartimentos dos  fundos servindo  à  residência,  com  a  sala  de  engomar,  um  compartimento  que  somente desaparece das casas brasileiras com o século XX já avançado, e a senzala urbana, que se transformou em quarto de criado. Note‐se que já temos ai banheiro e W.C., integrados ao corpo da construção, embora com acesso por fora. No pavimento superior, por se tratar 

                                                            44 CORONA, Eduardo e LEMOS, Carlos A. C. Dicionário da arquitetura brasileira. São Paulo, EDART, 1972. P. 429.

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de uma casa de esquina. Temos quartos, uma alcova e a camarinha, pequena alcova ou quarto. 

 

Figura 64 - Sobrado na Rua do Amparo. Olinda, sec. XVII. (esq) Pátio de São Pedro (dir)

A técnica construtiva destes sobrados é a mais simples do período colonial, utilizando‐se nas paredes o pau‐a‐pique, a taipa de pilão ou alvenaria de adobe ou tijolos cerâmicos, dependendo  do  local.  As  coberturas  de  telha  cerâmica  sobre  madeiramento  que raramente  incluía  tesouras,  sendo  mais  comum  apenas  terças  e  caibros.  O  piso intermediário era  sempre de  frisos de madeira  sobre  coçoeiras  transversais. Em alguns casos fazia‐se um piso suplementar ocupando todo o espaço disponível ou apenas parte dele. 

Na  arquitetura  residencial  raramente  se  fugia  deste  padrão  de  sobrado.  As  exceções ficam por conta das casas de nobres, de ricos proprietários rurais, quando os  lotes têm uma testada frontal maior e onde, apesar de se manter a linha de fachada, aparecem os pátios internos, que vão propiciar melhor ventilação aos compartimentos intermediários. Como exemplo, entre muitos, a casa do Barão de Pontal, construída em 1790, por  José Pereira  Arouca  e  um  grande  sobrado,  ambos  em  Mariana,  notável  este  último  pelo grande número de pátios e quartos, formando um intrincado labirinto45. 

                                                            45 RODRIGUES, José Wasth. Documentário arquitetônico. Belo Horizonte: Itatiaia, 1979. P. 148.