Tcnicas de coagulao apostila
Transcript of Tcnicas de coagulao apostila
TÉCNICAS DE COAGULAÇÃO
INTRODUÇÃO As provas de coagulação exigem cuidados de ordem técnica para que os resultados obtidos
sejam os mais exatos e reprodutíveis possíveis:
a) a lesão tecidual decorrente da punção venosa deve ser mínima;
b) as seringas e os frascos de acondicionamento de sangue e plasma devem ser
plásticos ou siliconizados;
c) os coagulantes de escolha são o CITRATO DE SÓDIO usado na proporção de
uma parte de anticoagulante para nove partes de sangue;
d) o plasma deve ser separado em até 30 minutos após a coleta e, dependendo da
prova a ser executada, pode ser congelado por 4 horas, no máximo;
e) realizar os testes em duplicata e em paralelo, com um controle normal de
plasma.
1. PROVA DO LAÇO (Fragilidade Capilar)
PRINCÍPIO
A Prova do Laço ou Prova de Fragilidade Capilar, é um teste que procura avaliar a
capacidade dos vasos de resistirem a uma pressão. Em última análise, a prova avalia uma
das funções pertinentes à parte vascular da hemostasia.
TÉCNICA
a) delimitar uma área de aproximadamente 5 cm2 no antebraço do paciente,
marcando-se os sinais e manchas existentes (pintas, petéquias existentes, etc.);
b) determinar a pressão arterial do paciente (máxima e mínima) e manter o
manguito do aparelho no valor médio entre as pressões máxima e mínima, desde
que esse valor não ultrapasse a 100 mm de Hg. Caso isso ocorra, a pressão deve
ser mantida em 100 mm de Hg;
c) o manguito do aparelho deve ser mantido na pressão obtida em b), por 5
minutos;
d) retirar o aparelho e contar as petéquias (apresentam-se em forma de pontos
vermelhos-rutilante);
e) a prova é considerada POSITIVA quando forem contadas mais de 4 petéquias na
área delimitada
2. TEMPO DE SANGRAMENTO (Método de Duke)
PRINCÍPIO O Tempo de Sangramento (T.S.) avalia a capacidade de se processar a hemostasia
após o vaso ter sido lesado. O T.S. depende da função plaquetária e da integridade
funcional do vaso. O método mais comumente utilizado é o de Duke, em que é feita uma
incisão, de tamanho padronizado, medindo-se a seguir o tempo decorrido até que cessar o
sangramento, intervindo apenas os fatores plaquetário e vascular.
TÉCNICA
a) realizar assepsia do lóbulo da orelha (pode-se usar também a polpa digital) com
algodão embebido em álcool e deixar evaporar;
b) com auxílio de uma lanceta específica e de um só golpe, fazer uma incisão local,
com cerca de 2 mm de profundidade; disparar o cronômetro;
c) a cada 30 segundos recolher a gota de sangue em papel de filtro (tendo o
cuidado de que o mesmo não toque o lóbulo ou a polpa), até que a última gota
deixe apenas um sinal puntiforme no papel;
d) anotar o tempo decorrido entre a primeira e a última gota recolhidas.
Valor Normal: de 1 a 3 minutos.
INTERPRETAÇÃO
O Tempo de Sangramento é um teste indicativo de distúrbios plaquetários ( em
relação ao número à funcionalidade das mesmas) e de alterações da integridade vascular.
As alterações mais evidentes do Tempo de Sangramento são encontradas nas
púrpuras trombocitopênicas e trombopáticas.
3. TEMPO DE COAGULAÇÃO DO SANGUE TOTAL (Método de Lee-White)
PRINCÍPIO
O Tempo de Coagulação (T.C.) mede o tempo necessário para que o sangue
coagule “in vitro”.
TÉCNICA
a) proceder à punção venosa, procurando lesar os tecidos, o mínimo possível ;
b) disparar o cronômetro, assim que o sangue entrar na seringa;
c) separar 3 tubos de ensaio (10 x 120 mm), colocar 1 ml de sangue em cada um e
levá-los imediatamente em banho à 37ºC;
d) 3 minutos após a coleta, iniciar a observação do tubo 1, inclinando-o
suavemente; repetir essa observação a cada 30 segundos até que o sangue
coagule. Marcar o tempo transcorrido desde a coleta até a formação do coágulo;
e) proceder do mesmo modo com os tubos 2 e 3;
f) o Tempo de Coagulação será o obtido pela média dos tempos encontrados nos
3 tubos,
Valor Normal: de 4 a 9 minutos.
INTERPRETAÇÃO
O Tempo de Coagulação é uma prova pouco sensível para detectarem-se alterações
no sistema global da coagulação.
Um prolongamento do Tempo de Coagulação pode ser causado por
Hipofibrinogenemia, por deficiência de alguns dos fatores do sistema intrínseco e pela
presença de anticoagulantes circulantes.
O T.C. é largamente empregado como método de controle de terapia com
anticoagulantes, especialmente no caso da heparina.
4. RETRAÇÃO DO COÁGULO (Método de Mac-Farlane)
PRINCÍPIO
Após a coagulação do sangue, o coágulo formado retrai-se ou mais precisamente,
retrai-se a rede de fibrina, retendo os elementos figurados do sangue e liberando a parte
líquida, o soro. A retração do coágulo é devida à liberação de substâncias, pelas plaquetas
localizadas nos pontos de intersecção das malhas da rede de fibrina, O volume de soro
liberado, é expresso percentualmente em relação ao volume inicial do sangue que se deixou
coagular. A retração de coágulo está relacionada diretamente ao número e à funcionalidade
das plaquetas e inversamente proporcional ao grau de anemia.
TÉCNICA
a) transferir cerca de 5 ml de sangue, sem anticoagulantes para um tubo cônico
graduado, cujas paredes foram previamente umedecidas com solução
fisiológica;
b) fechar o tubo com uma rolha provida de um fio de arame com a ponta retorcida
“em anzol”;
c) após a coagulação do sangue, colocar o tubo em banho à 37ºC por 1 hora;
d) ler, a seguir, o volume total ( coágulo e soro). Com o auxílio do fio de arame,
retirar cuidadosamente o coágulo retraído; ler o volume final do soro.
CÁLCULO: % de retração = Vol. soro x Hematócrito do paciente
Vol. total x Hematócrito normal (*)
(*) Consultar tabela.
Valor Normal: de 45 a 55%
5. TEMPO DE PROTROMBINA (Tempo de Quick de um estágio)
O teste do Tempo de Protrombina avalia a atividade coagulante do sistema
extrínseco, incluindo a protrombina (ou seja, todo o “complexo da protrombina”) e o
fibrinogênio.
TÉCNICA
a) a um tubo de 12 x 75 mm, previamente mantido a 37ºC, pipetar 0,1 ml de
tromboplastina e 0,1 ml de plasma (a tromboplastina é ativada, mantendo-se à
37ºC por 5 minutos);
b) homogeneizar delicadamente, deixando por cerca de 20 segundos no banho a
37ºC;
c) adicionar 0,1 ml de CaCl2 M/40, disparando simultaneamente o cronômetro;
d) deixar em repouso cerca de 8 segundos e a seguir iniciar a observação do
desenvolvimento da rede de fibrina (indica o ponto final da retração).
Valor Normal: de 10 a 14 segundos ( 70 a 100% de atividade).
OBSERVAÇÃO
Pode-se usar, alternativamente, tromboplastina a que foi adicionado previamente
cálcio e, nesse caso, colocam-se 0,2 ml de tromboplastina-cálcica e 0,1 ml do plasma.
Os reagentes (Tromboplastina, CaCl2) e tubos, devem estar à 37ºC.
INTERPRETAÇÃO
O reagente tromboplástico tissular utilizado no teste não contém os fatores V, VII e
X, que devem ser fornecidos pelo plasma do paciente, juntamente com a protrombina e o
fibrinogênio. Assim, a deficiência ou ausência de qualquer um desses fatores, resulta em
um prolongamento do Tempo de Protrombina.
Admitindo-se que o fibrinogênio esteja em concentração normal, o prolongamento
do Tempo de Protrombina deve-se à deficiência de alguns dos fatores do complexo da
Protrombina,
O Tempo de Protrombina pode encontrar-se alongado nos seguintes casos: presença
de anticoagulantes circulantes, na deficiência de vitamina K e nas hepatopatias de um modo
geral.
5.1 ATIVIDADE PROTROMBÍNICA
A atividade protrombínica do material é avaliada através do tempo (em segundos) e
de uma curva de atividade (previamente preparada para cada lote da tromboplastina
utilizada).
PREPARO DA CURVA DE ATIVIDADE
Faz-se uma mistura (pool) de pelo menos 3 plasmas normais obtidos do mesmo
modo; distribui-se em 10 tubos da seguinte maneira:
Tubos = 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
“Pool” plasma (ml) = 1,0 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1
Sol. Fisiológica (ml) = 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0
Atividade (%) = 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10
Com a mesma tromboplastina determina-se o Tempo de Protrombina de cada um
dos tubos; o tempo do tubo l corresponde à 100% de atividade (*).
Valor Normal: 70 a 100% de atividade.
Obs.: O sangue não deve ter mais do que 4 horas de coleta (fatores, como o V,
degradam-se, mesmo mantendo-se o sangue em congelador).
(*) Uma preparação de tromboplastina é considerada de boa qualidade, quando o seu 100%
de atividade, frente a um “pool” de plasmas normais, corresponder a um Tempo de
Protrombina entre 12 e 14 segundos.
6. TEMPO DE RECALCIFICAÇÃO DO PLASMA (T.R.P.)
PRINCÍPIO
A adição de íons cálcio ao plasma (ou sangue) citratado, desencadeia o processo da
coagulação, visto que, com exceção dos íons cálcio (complexados pelo citrato), o plasma
deve conter todos os fatores plasmáticos da coagulação.
O teste avalia todo o sistema de coagulação, principalmente o sistema intrínseco.
TÉCNICA a) a um tubo mantido previamente a 37 C adicionar 0,2 ml de plasma e 0,2 ml de
CaCl 2 M/40. Disparar o cronômetro, homogenizar;
b) deixar em repouso em banho à 37 C, por 30 segundos e a seguir iniciar a
observação da formação de fibrina, inclinando-se levemente o tubo;
c) marcar o tempo decorrido até a formação da fibrina.
Valor Normal: 80 a 120 segundos.
INTERPRETAÇÃO
O TRP encontra-se alterado nos casos de deficiência de um ou mais dos fatores V,
VIII, IX, X, XI e XII, avaliando ainda a Protrombina (II), o Fibrinogênio (I) e a presença
de anticoagulantes.
O resultado é altamente influenciável pelo número de plaquetas existentes no
plasma
7. TEMPO DE CEFALINA OU TEMPO DE TROMBOPLASTINA PARCIAL (T.T.P.)
Trata-se de uma prova de recalcificação na qual, a fim de eliminar-se a influências das
plaquetas (visto que o número das mesmas interfere no TRP), adiciona-se uma quantidade
ótima de fosfolipídeos ( cefalina ou tromboplastina, por ex.).
Técnica
a. pipetar para um tubo de ensaio, 0,l ml de plasma (pobre em plaquetas) e 0,l ml de
cefalina. Homogenizar;
b. incubar por l20 segundos em banho à 37 C, agitando a mistura a cada l0
segundos;
c. adicionar 0,l ml de CaCl 2 M / 40 ; disparar o cronômetro: d. marcar o tempo de coagulação ( tempo de formação da fibrina).
Valor normal: 40 a 60 segundos.
INTERPRETAÇÃO O TTPA é uma prova sensível para avaliar alterações no processo da coagulação.
O alongamento do TTPA, é indicativo de alteração dos fatores V, VII, IX, X, II e I,
ou ainda, de quando existirem anticoagulantes circulantes.
8. TEMPO DE TROMBOPLASTINAPARCIAL ATIVADA (TTPA) OU TEMPO DE KAOLIN-CEFALINA
O TTPA também consiste em uma prova de recalcificação em que as variáveis
constituídas pelo número de plaquetas e pelo grau de ativação dos fatores XI e XII são
eliminadas através da adição de um fosfolípede e de um ativador (celite ou caolin, por
exemplo). Com a adição dessas substâncias, conseguem-se resultados mais reprodutíveis e
uma sensibilidade maior do que nas determinações do T.R.P. e T.T.P.
TÉCNICA
a) em um tubo de ensaio, previamente aquecido a 37ºC, pipetar 1 ml de cefalina;
incubar a 37ºC por 1 minuto;
b) a seguir, adicionar 0,1 ml de caolin; após 2 minutos recalcificar com 0,1 ml de
CaCl2 e disparar o cronômetro;
c) marcar o tempo de formação de fibrina;
d) colocar 0,1 ml de plasma a um tubo mantido previamente a 37º C. Incubar por 1
minuto.
e) adicionar 0,2 ml da mistura cefalina-caolin; incubar por 3 minutos;
f) adicionar 0,1 ml de CaCl2 M / 40; disparar o cronômetro;
g) marcar o tempo de formação da fibrina.
INTERPRETAÇÃO
O TTPA é uma prova sensível para avaliar alterações no processo de coagulação.
O alongamento do TTPA é indicativo de alteração dos fatores V, VII, IX, X, II e I,
ou ainda, de quando existirem anticoagulantes circulantes.
9. FIBRINOGÊNIO (Método de Ratnoff-Menzie)
PRINCÍPIO
O fibrinogênio do plasma pode ser separado das demais proteínas plasmáticas pela
sua transformação em fibrina: submete-se a fibrina à digestão em meio alcalino, havendo
liberação de aminoácidos, entre os quais, a tirosina. Esta pode ser dosada através da medida
de intensidade da cor azul que se desenvolve com o reativo de Folin-Ciocalteau.
TÉCNICA
a) colocar em tubo de ensaio de 20 x 200mm;
1- 10 ml de solução fisiológica
2- 0,5 ml de plasma
3- 0,05 ml de trombina (25 U/ml)
4- bastão de vidro;
b) girar o bastão mergulhado na solução. Utilizando-se a trombina, a coagulação se
processa em 2 ou 3 minutos. Com o decorrer da coagulação, os fios de fibrina
aderem ao bastão.
Embora a reação possa se desenvolver à temperatura ambiente, a mesma se
processa mais eficientemente quando realizada à 37ºC; assim, deve-se manter o
tubo da reação em banho à 37ºC, por 30 minutos, girando-se o bastão a cada 5-
10 minutos, de tal forma que a fibrina se enovele no bastão.
c) desprezar a solução contida no tubo e lavá-lo 3 vezes com solução fisiológica
para eliminar qualquer interferente. O bastão deve ser retirado e lavado 3 vezes
com jatos de solução fisiológica; o coágulo aderido deve ser comprimido
cuidadosamente em papel de filtro, após cada lavagem.
d) recolocar o bastão no tubo, com a fibrina aderida ; adicionar ao tubo 1,0 ml de
NaOH a 10%. Colocar o tubo em Banho-Maria por 10 minutos, tomando-se o
cuidado de cobrí-lo com papel alumínio, para evitar evaporação.
e) após o resfriamento do tubo em temperatura ambiente, adicionar sucessivamente
e na ordem:
1- 7,0 ml de H2O destilada
2- 3,0 ml de Na2CO3 a 20%. Agitar
3- 1,0 ml de reativo de Folin (diluído 1/3 em H2O). Agitar;
f) deixar em repouso à temperatura ambiente por 30 minutos. Ler em
espectrofotômetro à 650 nm contra um branco, preparando da seguinte maneira:
Branco: - 1,0 ml de NaOH 10%
- 7,0 ml de água destilada
- 2,0 ml deNa2CO3 20%
- agitar
- 1,0 ml de Reativo de Folin
Deixar em repouso à temperatura ambiente por 30 minutos;
g) a D.O. da cor desenvolvida no sistema a dosar, é diretamente proporcional à
concentração de fibrinogênio ou tirosina, até a quantidade de 0,35 mg de tirosina
(caso a intensidade da cor obtida for superior àquela obtida com 0,35 mg, diluir
a solução e fazer o cálculo proporcional);
h) a quantidade de tirosina correspondente à leitura é determinada em uma curva
padrão de tirosina. Para a conversão da quantidade de tirosina em fibrina,
multiplica-se o valor obtido, pela constante que é a quantidade de tirosina
contida na fibrina, em função do teor de Nitrogênio. Faz-se o cálculo de mg% de
fibrinogênio em função da quantidade de plasma usada para a dosagem (ex.: se
usarmos 0,5 ml de plasma, multiplicamos por 200).
Valor Normal: 165 a 485 mg%
Padrão 1- preparar, a partir da solução estoque de tirosina (20 mg% em HCl 0,1N), uma
solução de uso ¼ (uma parte de solução padrão e 3 partes de água destilada);
2- pipetar para um tubo:
- 1,0 ml da solução de tirosina ¼
- 6,0 ml de água destilada
- 1 ml de NaOH 10%
- 3,0 ml de Na2CO3 20%
- agitar
- 1 ml de Folin
- agitar.
RECOMENDAÇÕES DOS LIMITES TERAPÊUTICOS DA ANTICOAGULAÇÃO ORAL (8)
INR INDICAÇÃO VALOR ALVO VALORES LIMITES
Profilaxia do tromboelismo 2,5 2 - 3
venoso (cirurgia de alto risco)
Tratamento de trombose venosa 3 2 - 4
profunda – prevenção da embolia
em pacientes com fibrilação atrial,
doença cardíaca valvular ou
válvulas biológicas. Profilaxia de
tromboelismo venoso (cirurgia de
quadril)
Embolismo sistêmico recorrente. 3,5 3 - 4, 5
Prótese valvular cardíaca.