Técnicas de Tradução em Língua espanhoLa

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Indaial – 2019 TÉCNICAS DE TRADUÇÃO EM LÍNGUA ESPANHOLA Prof. Dr. Wellington Freire Machado 1 a Edição

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Indaial – 2019

Técnicas de Tradução em Língua espanhoLaProf. Dr. Wellington Freire Machado

1a Edição

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Copyright © UNIASSELVI 2019

Elaboração:

Prof. Dr. Wellington Freire Machado

Revisão, Diagramação e Produção:

Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri

UNIASSELVI – Indaial.

Impresso por:

M149t

Machado, Wellington Freire

Técnicas de tradução em língua espanhola. / Wellington Freire Machado. – Indaial: UNIASSELVI, 2019.

141 p.; il.

ISBN 978-85-515-0421-5

1. Língua espanhola. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.

CDD 460

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apresenTaçãoOlá, acadêmico! É com sensação de entusiasmo e sentimento de dever

cumprido que apresentamos este valioso material para sua iniciação ao estudo das Técnicas de Tradução em Língua Espanhola.

Este livro didático foi concebido com base em reflexões teórico-práticas adaptadas aos objetivos de aprendizagem, estabelecidos pela UNIASSELVI. Como você já sabe, a UNIASSELVI prioriza um alto padrão de qualidade, que acompanha o livro desde seu planejamento até a execução final.

Esta disciplina está dividida em três unidades: Teorias, critica e história da tradução; Procedimentos técnicos e literários da tradução; e O ensino de lín-gua estrangeira e a tradução. Em cada uma delas você conhecerá técnicas, refle-xões, normas e questões pertinentes ao estudo da tradução em língua espanhola. Ao término de cada unidade, você encontrará autoatividades complementares ao conteúdo estudado.

Para que você conheça questões próprias de cunho teórico e prático, na Uni-dade 1 serão apresentados tópicos específicos de teoria, crítica e história da tradu-ção. Esta primeira parte – apesar de bastante teórica – proporcionará uma dimensão apropriada do que significam os Estudos da Tradução em âmbito acadêmico.

Na Unidade 2 conheceremos os procedimentos técnicos e literários da tradução: é neste momento em que poderemos vislumbrar como colocar a mão na massa. Aparecerão, então, questões como as escolhas do tradutor, os recursos tecnológicos que podem ser empregados durante o ato de tradução, os textos técnicos, os textos literários – como a poesia, o conto, o romance e o teatro –, as questões de recursos audiovisuais (como a dublagem e a legendagem), a tradu-ção jurídica e a tradução técnica e científica.

Por fim, na Unidade 3, conheceremos outro viés da pesquisa aplicada em tradução: o ensino de língua estrangeira e a tradução. Nesta etapa, serão abordadas questões como a linguística aplicada à tradução, a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) e a didática específica na formação de tradutores e intérpre-tes. Neste momento, estudaremos as noções de tradução direta e inversa, a tra-dução especializada, a questão da interpretação e, por fim, o papel do intérprete e o mundo da tradução simultânea.

Ao terminar o presente livro você terá estudado teorias, procedimentos e técnicas de tradução de textos em língua espanhola. Faremos, ao longo desta jornada, diversos exercícios que nos auxiliarão a fixar o conhecimento aqui com-partilhado, e treinar estas questões nos domínios da língua na qual você está estudando, a língua espanhola.

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Aceite este material como uma porta que o guiará ao mundo incrível da tradução. Seja muitíssimo bem-vindo a este universo! Aproveite com sa-bedoria o que a sua UNIASSELVI lhe proporciona.

Prof. Dr. Wellington Freire Machado

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Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos!

NOTA

Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!

UNI

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Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!

LEMBRETE

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UNIDADE 1 – TEORIAS, CRÍTICA E HISTÓRIA DA TRADUÇÃO ............................................1

TÓPICO 1 – PRIMEIROS ESTUDOS DA TRADUÇÃO ...................................................................31 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................32 A CONTRIBUIÇÃO DO FORMALISMO RUSSO ..........................................................................63 JIŘÍ LEVÝ E A RELAÇÃO COM O CÍRCULO DE PRAGA ...........................................................94 OUTRA VISÃO SOBRE O TRADUZIR ...........................................................................................12RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................16AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................17

TÓPICO 2 – TEORIAS CONTEMPORÂNEAS .................................................................................191 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................192 A QUESTÃO SISTÊMICA NO FORMALISMO RUSSO .............................................................203 ITAMAR EVEN-ZOHAR E A TEORIA DOS POLISSISTEMAS ................................................224 A ESPECIFICIDADE DA TRANSCRIAÇÃO .................................................................................305 A TRADUÇÃO CULTURAL ...............................................................................................................34RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................39AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................40

UNIDADE 2 – PROCEDIMENTOS TÉCNICOS E LITERÁRIOS DA TRADUÇÃO ................41

TÓPICO 1 – A TRADUÇÃO LITERÁRIA ..........................................................................................431 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................432 A IMPORTÂNCIA DO TRADUTOR NO CAMPO LITERÁRIO ...............................................443 DUAS TENDÊNCIAS EM TRADUÇÃO DE FICÇÃO .................................................................464 A ESCOLHA DO TRADUTOR DE FICÇÃO ..................................................................................505 A TRADUÇÃO DE POESIA ...............................................................................................................54RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................59AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................60

TÓPICO 2 – ASPECTOS PROFISSIONAIS DA TRADUÇÃO ......................................................651 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................652 A INVISIBILIDADE DO TRADUTOR ............................................................................................663 A TRADUÇÃO E AS TOMADAS DE DECISÕES .........................................................................694 A QUESTÃO DA FLUÊNCIA .............................................................................................................72RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................74AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................75

TÓPICO 3 – A PRÁTICA DA TRADUÇÃO .......................................................................................771 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................772 A TRADUÇÃO JURAMENTADA ....................................................................................................783 TRADUÇÃO JURÍDICA .....................................................................................................................814 LEGENDAGEM E DUBLAGEM ........................................................................................................84

sumário

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RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................88AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................89

UNIDADE 3 – O ENSINO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA E A TRADUÇÃO .............................91

TÓPICO 1 – AS LÍNGUAS DE SINAIS ..............................................................................................931 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................932 SURGIMENTO DAS LÍNGUAS DE SINAIS ................................................................................943 AS LÍNGUAS DE SINAIS NO MUNDO HISPÂNICO ................................................................974 LIBRAS....................................................................................................................................................985 A PROFISSÃO DE LIBRAS NO BRASIL: PROFESSOR, TRADUTOR/INTÉRPRETE .......100RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................105AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................106

TÓPICO 2 – PROGRAMAS DE APOIO À TRADUÇÃO (PAT) ...................................................1071 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1072 O TRADUTOR FREELANCER E O MANEJO DE FERRAMENTAS .......................................1083 FERRAMENTAS ÚTEIS ....................................................................................................................108

3.1 TRADOS ..........................................................................................................................................1093.2 WORDFAST ....................................................................................................................................1093.3 GOOGLE TRANSLATE ................................................................................................................1103.4 MYMEMORY ..................................................................................................................................1113.5 OMEGAT .........................................................................................................................................112

4 UMA REFLEXÃO SOBRE O USO DE SOFTWARES DE TRADUÇÃO ..................................113RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................116AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................117

TÓPICO 3 – NICHOS DA TRADUÇÃO ...........................................................................................1191 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1192 TRADUÇÃO MÉDICA ......................................................................................................................1203 TRADUÇÃO FARMACÊUTICA .....................................................................................................1204 TRADUÇÃO DE GAMES .................................................................................................................1215 TRADUÇÃO E-COMMERCE ...........................................................................................................1226 TRADUÇÃO WEB ..............................................................................................................................123RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................125AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................126

TÓPICO 4 – A FORMAÇÃO DE TRADUTORES E INTERPRETES ..........................................1291 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1292 A TRADUÇÃO SIMULTÂNEA .......................................................................................................1303 A SITUAÇÃO PROFISSIONAL DO TRADUTOR HOJE ..........................................................1334 ASSOCIAÇÕES DE TRADUTORES ..............................................................................................134RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................136AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................137REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................138

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UNIDADE 1

TEORIAS, CRÍTICA E HISTÓRIA DA TRADUÇÃO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer os enfoques da tradução enquanto disciplina acadêmica;• estudar as principais teorias da tradução;• reconhecer as especificidades presentes nas teorias tradicionais e nas con-

temporâneas;• entender a importância do Formalismo Russo para as primeiras teorias da

tradução;• conhecer a história da disciplina para, nas unidades seguintes, estudar

questões ligadas à prática da tradução;• estudar a noção de Polissistemas;• explorar teorias contemporâneas fundamentais, como a Teoria da Trans-

criação, a Teoria dos Polissistemas e Tradução Cultural.

Esta unidade está dividida em dois tópicos. No decorrer da unidade você en-contrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – PRIMEIROS ESTUDOS DA TRADUÇÃOTÓPICO 2 – TEORIAS CONTEMPORÂNEAS

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

CHAMADA

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TÓPICO 1UNIDADE 1

PRIMEIROS ESTUDOS DA TRADUÇÃO

1 INTRODUÇÃO

Querido acadêmico! Antes de qualquer início é preciso escolher um ponto de partida. Nestas palavras iniciais explicaremos sobre o que trata este livro didático e também discorreremos a respeito da tradução como disciplina acadêmica.

Começaremos, então, por esse último. O termo Estudos da Tradução surge a partir da proposição de James Holmes, em artigo intitulado The name and nature of Translation Studies. Originalmente pensado em inglês, o autor sugere o título de Translation Studies, o que foi amplamente aceito por outros estudiosos do ramo.

De acordo com Introdução aos Estudos Tradutológicos (2015, p. 9), atualmente, pode-se dizer que os Estudos da Tradução, no que tange ao âmbito da pesquisa pura, bipartem-se em duas perspectivas infinitamente amplas: (a) os estudos descritivos da tradução; (b) os estudos teóricos da tradução.

Os estudos descritivos, de acordo com a proposta de Holmes (1988), centram--se no produto (product-oriented, a tradução em si mesma), na função (function-orien-ted, a tradução em determinado contexto social) e também no processo (process-orien-ted, o que acontece na mente do tradutor, o processo de traduzir).

A pesquisa focada no produto descreve a tradução como um todo, voltando seu foco para a questão textual: a comparação entre traduções e o contraste entre tra-duções diferentes. Já os estudos focados na função se voltam, como o próprio nome sugere, para a função da tradução em dado contexto sociocultural. O foco aqui, dife-rentemente dos estudos descritivos com enfoque no produto, volta-se para a questão do contexto, no qual se realiza determinada tradução. Já não mais o texto, mas o contexto. A questão histórica também possui grande importância para os estudos orientados por este caminho, segundo Holmes.

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UNIDADE 1 | TEORIAS, CRÍTICA E HISTÓRIA

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FIGURA 1 – PESQUISA FOCADA NO PRODUTO

FONTE: <http://bit.ly/2P61SrP>. Acesso em: 29 nov. 2019.

Ainda, segundo Introdução aos Estudos Tradutológicos, (2015, p. 9), com relação aos estudos descritivos focados em questões de cunho psicológico, pode-se dizer que os estudiosos desse ramo consideram métodos do campo da psicologia para realizar suas pesquisas.

Na contraface dos estudos descritivos se encontram os estudos teóricos. Se por um lado os estudos descritivos se voltam para a descrição em três níveis possí-veis, o que os estudos teóricos de tradução fazem é valer-se dos resultados obtidos na pesquisa descritiva para elaborar proposições de âmbito maior.

As teorias que se centram no meio, conforme Holmes (1988), dedicam-se a es-tudar o meio em que ocorre a tradução, que pode ser a tradução feita por computado-res, a tradução feita por intérpretes, ou também as CAT Tools, ferramentas do campo da computação que auxiliam o tradutor a realizar a sua tarefa. Já as teorias que se voltam para a área estão mais restritas ao par de línguas envolvidas (por exemplo es-panhol-português). Diferentemente do enfoque voltado na área, que se vale de uma abordagem comparatista, as teorias enfocadas no nível lidam com os níveis linguís-ticos possíveis de serem explorados. O nível da palavra, as terminologias etc. Ainda no nível do texto, as teorias dedicadas ao tipo textual se voltam para a questão dos gêneros, sejam eles literários ou não. Por último, e não menos importante, as teorias que se voltam à época enfocam em textos contemporâneos ou antigos. Já as teorias restritas a um tipo de problema se voltam, como o próprio nome sugere, a problemas próprios da área da tradução.

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TÓPICO 1 | PRIMEIROS ESTUDOS DA TRADUÇÃO

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FIGURA 2 – O TRABALHO DE INTÉRPRETE

FONTE: <http://bit.ly/3410laQ>. Acesso em: 29 nov. 2019.

A pesquisa aplicada em tradução se debruça sobre uma série de elementos empíricos que dizem respeito diretamente ao ato de traduzir em si. Um dos elemen-tos desta pesquisa é a questão da tradução e do ensino: a formação do tradutor, a questão da técnica e problemas enfrentados no dia a dia de trabalho. A questão das ferramentas, por sua vez, dedica-se aos recursos que o tradutor terá ao seu dispor durante o trabalho da tradução: dicionários de dúvidas, gramáticas, dicionários eti-mológicos etc. Já o campo relativo ao âmbito das políticas de tradução, volta-se às políticas linguísticas e a outras questões de política cultural. Por último, e não menos importante, na ponta do ramo em pesquisa aplicada em tradução, encontra-se o viés da crítica de tradução: é através desta pesquisa que se abaliza o mérito de traduções específicas, como destaca Holmes (1988). Tendo em vista este apanhado, o que espe-rar, então, desta disciplina a partir deste ponto?

FIGURA 3 – FERRAMENTAS QUE AUXILIAM O TRADUTOR

FONTE: <http://bit.ly/356ulmK>. Acesso em: 29 nov. 2019.

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UNIDADE 1 | TEORIAS, CRÍTICA E HISTÓRIA

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FIGURA 4 – O IMPÉRIO ROMANO E AS ORIGENS DA TRADUÇÃO

FONTE: <http://bit.ly/2P3wutV>. Acesso em: 29 nov. 2019.

Conheceremos, nestas páginas iniciais, nomes e teorias significativas que pensaram questões pertinentes à tradução enquanto disciplina acadêmica. Aborda-remos, assim, questões teóricas que envolvem desde o nível da palavra, enquanto forma, até uma abordagem histórico-cultural da tradução.

2 A CONTRIBUIÇÃO DO FORMALISMO RUSSO

Alguma vez você já ouviu falar no Formalismo Russo? O Formalismo Russo foi uma corrente de crítica literária muito importante, surgida no começo do século XX e com reverberações posteriores. Na história dos estudos da tradução no ociden-te, esta escola não é reconhecida como um marco de fundação nos estudos tradutó-rios. No entanto, as bases do formalismo serviram para orientar a metodologia de estudiosos como Jiří Levý, conforme veremos a seguir. Afinal, o que defendia o For-malismo Russo?

FIGURA 5 – O FORMALISTA BORIS MIKHAILOVICH EIKHENBAUM (1886-1959)

FONTE: <http://bit.ly/2E2pE1G>. Acesso em: 29 nov. 2019.

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TÓPICO 1 | PRIMEIROS ESTUDOS DA TRADUÇÃO

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Em seu livro intitulado Teorias Contemporâneas da Tradução, Edwin Gentzler (professor de literatura comparada e ex-diretor do Centro de Tradução da Universi-dade de Massachusetts, Amhers), traça as principais características do Formalismo Russo, que de alguma forma serviram de base para os estudos posteriores de Jiří Levý na década de 1960.

Um dos primeiros apontamentos de Gentzler diz respeito à questão da lite-rariedade: ele relembra que os formalistas russos buscavam isolar e definir o que os seguidores dessa corrente entendiam por "literariedade". Para tanto, esses estudiosos focavam em questões que "viam como fato literário separando artefatos literários de outras disciplinas, tais como a psicologia, sociologia e história cultural" (GENTZLER, 2009, p. 111). Essa questão é importante porque nos dá a dimensão exata do entendi-mento de arte e literatura que possuíam os formalistas. Para Viktor Chklovski (1973, p. 40), um dos formalistas mais estudados, a arte é entendida como “a soma dos dis-positivos artísticos e literários que o artista manipula para criar sua obra".

Gentzler comenta que a literatura e os textos estudados eram vistos pelos formalistas como possuindo autonomia (independência). O autor considera esse con-ceito bastante importante para a construção de teorias contemporâneas da tradução, pois o enfoque se volta para o texto em si e suas especificidades, não para noções idealizadas:

Essa noção é importante para a atual geração de estudiosos tradutores interessados em como a tradução literária pode contribuir com a teoria da tradução, pois lhes permite enfocar sua investigação em traços determi-nantes específicos de textos literários, em vez de noções metafísicas acerca da natureza da literatura e do significado (GENTZLER, 2009, p.111).

Além disso, também é importante mencionar que os formalistas se preo-cupavam com a questão da singularidade do texto: para Gentzler (2009), eles ten-tavam determinar o que difere o texto literário de outros, ou, em suas palavras: "o que faz os textos literários diferentes de outros textos, que os torna novos, criativos, inovadores" (GENTZLER, 2009, p.11).

Alguma vez você já parou para pensar na questão do significado das pala-vras na literatura? Veja o que diz o importante crítico literário brasileiro Ítalo Mori-coni no livro Como e por que ler a poesia brasileira do século XX (2002, p. 8), a respeito do significado da palavra em âmbito poético:

Toda linguagem tem seu quê de poesia. Mas a poesia é onde o “quê” da linguagem está mais em pauta. A poesia brinca com a linguagem. Chama atenção para possibilidades de sentido. Explora significativamente coinci-dências sonoras entre palavras. Fabrica identidades por analogia, através de imagens ou metáforas: mulher é flor, rapaz é rocha, amor é tocha. Nu-vem é pluma. Pedra é sono.

Ainda nas palavras do autor:

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UNIDADE 1 | TEORIAS, CRÍTICA E HISTÓRIA

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Ocorre que a palavra poesia abrange sentidos que vão além da linguagem verbal, oral ou escrita. Ela também se refere a um universo muito mais amplo e menos exclusivo ou especializado que o do livro e da leitura. É o lado aquém livro da poesia. Que tem a ver com o universo da cultura, tem a ver com o ar que nos envolve. Um filme pode ter poesia. Um gesto, comum ou excepcional, pode ter poesia. A poesia está no ar. A poesia é popular. Se mulher é flor, a poesia está na boca do povo, vem da boca do povo. Espera-se que a poesia enquanto arte específica das palavras de algum modo, revele ou esteja articulada com essa poesia além livro, essa poesia da vida (MORICONI, 2002, p. 8-9).

De fato, ao longo da história da humanidade, a literatura, arte cujo principal instrumento é a palavra, tem relegado amostras significativas do poder humano de criação e reinvenção do já conhecido. Uma abordagem formalista da criação literá-ria nos permite contemplar a arte não no que diz respeito a sua estrutura profunda (como defendem teóricos do nível de Chomsky e Nida), mas sim no que tange aos seus elementos estruturais superficiais, conforme menciona Gentzler em seu manual de teoria da tradução.

Por falar em significado das palavras, você já leu alguma obra de Guimarães Rosa?

Foi um importante autor brasileiro conhecido por seu grande poder de invenção linguística e neologismos. Rosa criou palavras, brincou com o significado e escreveu com traço fino o seu nome na história da literatura brasileira.

Ficou curioso? Recomendamos a leitura de Grande Sertão: Veredas. FONTE: ROSA, G. Grande Sertão: Veredas. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

DICAS

Observe, agora, o que diz Edwin Gentzler (2009, p. 112) com relação ao formalismo e aos Estudos da Tradução:

O formalismo e os estudos de tradução privilegiam elementos estruturais superficiais e os analisam a fim de aprender o que determina o status literário. De fato, os formalistas russos, embora usassem conceitos temá-ticos, relegavam-nos a um status secundário e estavam mais interessa-dos em conceitos composicionais. Argumentavam que as ideias abstratas frequentemente tinham a mesma aparência no decorrer da história; im-portante para eles era como os conceitos temáticos se expressavam. Os estudos da tradução usam conceitos temáticos de um modo semelhante, mudando-os de uma posição primária e determinante para um conceito dependente da cultura e língua na qual estão inseridos.

Gentzler ainda enfatiza:

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TÓPICO 1 | PRIMEIROS ESTUDOS DA TRADUÇÃO

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Talvez o aspecto mais importante e menos entendido do Formalismo Rus-so seja sua dimensão histórica. Os ataques contra a escola tendem a criti-car suas crenças “decadentes” da arte pela arte, e sua falta de parâmetros históricos. Os formalistas russos, contudo, não só analisavam os textos de maneira sincrônica, mas também diacrônica, tentando compreender como os textos se relacionam a uma tradição literária determinante. Sua análise formal incorporava, portanto, fatores intrínsecos e extrínsecos para deter-minara contribuição de um texto específico para uma tradição literária em evolução ou seu distanciamento dela (GENTZLER, 2009, p. 112).

FIGURA 6 – EDWIN GENTZLER, AUTOR DE DIMENSÕES PRECURSORAS NA TEORIA DA TRADUÇÃO

FONTE: <http://tic-conference.eu/images/Edwin2-10.JPG>. Acesso em: 22 fev. 2019.

Com o advento da autenticidade, a metodologia e as convicções formalistas influenciaram gerações subsequentes de teóricos e pensadores sobre a arte, a palavra e os princípios de tradução. É o caso dos autores que conheceremos no subtópico seguinte.

3 JIŘÍ LEVÝ E A RELAÇÃO COM O CÍRCULO DE PRAGA

Os grupos conhecidos como checo e eslovaco eram constituído por teóricos como Jiří Levý, Frantisek Miko e Anton Popovic. De acordo com Gentzler (2009) estes grupos evoluíram a partir do próprio Formalismo Russo. Uma questão importante sinalizada pelo autor é o distanciamento do conceito de literatura "como obra au-tônoma isolada do resto do mundo" (GENTZLER, 2009, p. 113). Para o autor, este movimento já começara anteriormente nas etapas últimas do formalismo:

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UNIDADE 1 | TEORIAS, CRÍTICA E HISTÓRIA

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Um dos motivos de o texto de Levy, Umèni Preklodu (Tradução literária) (1963), traduzido para o alemão como Die Literarísche Übersetzung (1969), ser tão instrumental para os estudos da tradução foi justamente o fato de utilizar as doutrinas do Formalismo Russo, aplicando-as ao tema da tra-dução e mostrando como as leis estruturais formalistas se localizavam na história e como elas interagem com pelo menos duas tradições literárias ao mesmo tempo, a da cultura-fonte e a da cultura receptora (GENTZLER, 2009, p. 113).

FIGURA 7 – JIŘÍ LEVÝ

FONTE: <http://bit.ly/2Lxly5N>. Acesso em: 20 fev. 2019.

Jiří Levý (1926–1967) nasceu na Tchecoslováquia (atual República Checa). Foi um dos mais importantes pesquisadores da tradução de seu tempo. Levý também atuava como historiador e teórico da literatura, sendo o seu pensamento fundamental para o desenvolvimento da teoria da tradução naquele país. De acordo com Gentzler (2009), Levý possuía fortes raízes formalistas, o que é percebido através da metodologia linguística perceptível no projeto teórico do autor. Gentzler (2009) afirma que um primeiro fato que sobressai foi a distinção feita por Roman Jakobson em On Linguistic Aspect of Translation, obra de 1959:

Os estruturalistas de Pragaviam os textos como incorporados em redes se-mióticas da língua como um código ou complexo de elementos linguísticos que se combinam de acordo com certas regras. Cada palavra, assim, rela-ciona-se com outros segmentos do mesmo texto (sincrônica) e outras pala-vras em textos na tradição literária (diacrônica) (GENTZLER, 2009, p. 114).

Levý estabeleceu, então, um modelo. Nesse modelo era salutar que se man-tivesse a qualidade literária da obra de arte. Isto é, a tradução não agiria como um "agente facilitador", convertendo a complexidade do texto da cultura-fonte em algo mais palatável para a cultura-receptora. Além de Jakobson, outro membro do Círcu-

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TÓPICO 1 | PRIMEIROS ESTUDOS DA TRADUÇÃO

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lo Linguístico de Praga, foi salutar para a criação da teoria e Levý: Vilém Mathesius. Gentzler (2009, p. 114) afirma que em 1913 escrevera que "a meta fundamental da tradução literária era alcançar, ou pelos mesmos artifícios ou por outros, o mesmo efeito artístico que no original"

FIGURA – VILÉM MATHESIUS, PRESIDENTE DO CÍRCULO

Acadêmico! Ao longo da sua trajetória alguma vez você já deve ter ouvido falar no Círculo Linguístico de Praga. Vamos relembrar o que foi o Círculo?

O Círculo Linguístico de Praga, também conhecido como "Escola de Praga", foi um dos movimentos mais importantes no âmbito das letras no século XX. O grupo reuniu importantes linguistas e críticos literários responsáveis por estudos no âmbito da semiótica e do estruturalismo. Este grupo, estabelecido na cidade de Praga, havia teóricos do nível de Roman Jakobson, René Wellek, Vilém Mathesius e Nikolai Trubetzkoy.

FONTE: <http://ualk.ff.cuni.cz/userfiles/index.jpg>. Acesso em: 29 nov. 2019.

NOTA

Observe o que diz Gentzler (2009) sobre a concepção do efeito da tradução poética na teoria de Levý (amparado nas reflexões de Matheisus):

"A tradução significativa da poesia prova que a correspondência do efeito artístico é muito mais importante que os artifícios artísticos equivalentes. Mathesius afirmava que a tradução dos artifícios artísticos iguais ou quase iguais costuma fazer com que a tradução exerça efeitos diferentes no leitor” (GENTZLER, 2009, p. 114).

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UNIDADE 1 | TEORIAS, CRÍTICA E HISTÓRIA

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O entendimento da língua para Levý passava pela ideia de que esta é um sistema semiótico conformada por aspectos sincrônicos e diacrônicos.

Caro acadêmico! Você lembra quando estudamos os conceitos de sincronia e diacronia no livro Linguística Aplicada à Língua Espanhola? Na ocasião, dissemos:

“Os conceitos de sincronia e diacronia são de importância vital para os estudos linguísticos. Saussure estabeleceu dois tipos de linguísticas: a linguística sincrônica e a linguística diacrônica. A sincrônica se ocupa de um recorte temporal (por exemplo, a língua no século XV). Já a linguística diacrônica se ocupa com as transformações da língua através do tempo (a língua nos séculos XV, XVI, XVII, XVIII...). O significado das palavras sincronia e diacronia está ligado à origem na língua grega: Diacronia, do grego dia ‘através’ e chrónos ‘tempo’, quer dizer ‘através do tempo’, e sincronia, do grego syn ‘juntamente’ e chrónos ‘tempo’, significa ‘ao mesmo tempo’" (MACHADO, 2017, p. 10).

FONTE: MACHADO, W. F. Linguística aplicada à língua espanhola. Indaial: Uniasselvi, 2017.

IMPORTANTE

Uma das chaves para compreender a teoria de Levý, no que tange aos seus limites e à filosofia que emprega, pode ser encontrada na ideia exposta por Gentzler (2009) ao discorrer sobre a crença formalista em relação a poeticidade:

A crença formalista de que a poeticidade era uma qualidade formal, algo que podia ser separado de uma obra, é crucial para compreendermos a teoria de tradução de Levý. Ele acreditava que poderia determinar, pela lógica, aqueles aspectos que fazem de um texto uma obra de arte, sepa-rando-os do conteúdo, do mundo, do sistema linguístico, substituindo-os por elementos estilísticos de uma língua diferente, igualmente separados de tudo o mais, e chegar a uma obra igualmente artística (GENTZLER, 2009, p. 115).

Assentado sobre bases formalistas e inspirado por importantes nomes do Círculo de Praga, como Roman Jakobson e Vilém Mathesius, a Teoria da Tradução de Jiří Levý acrescenta ânimo aos Estudos da Tradução ao pensar a obra de arte ar-ticulada em sistemas linguístico distintos, considerando especificidades em culturas diferentes, a fonte e a receptora.

4 OUTRA VISÃO SOBRE O TRADUZIR

Susan Bassnnet, professora universitária e importante teórica dos Estudos da Tradução, publicou, em 1980, um livro intitulado Translation Studies (Estudos da Tra-dução, em tradução livre). As ideias defendidas pela professora da Universidade de

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TÓPICO 1 | PRIMEIROS ESTUDOS DA TRADUÇÃO

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Warnick surgiram, segundo Gentzler, na esteira dos debates com os seus estudantes de pós-graduação. As ideias de Bassnnet são tão significativas, que Gentzler afirma que o livro fora "talvez o livro mais vendido de Estudos da Tradução" (GENTZLER, 2009, p. 132). Afinal, o que defende Bassnnet?

FIGURA 8 – SUSAN BASSNETT

FONTE: <http://bit.ly/356zLy7>. Acesso em: 20 fev. 2019.

Primeiramente, é importante mencionar que Bassnett rompe com uma pers-pectiva tradicional de teoria da tradução ao defender que "não há um modo correto de traduzir um texto literário" (GENTZLER, 2009, p. 132). Além disso, no livro de Bassnett também é defendida a ideia de que a interpretação da tradução seja baseada "na comparação da função do texto como original e traduzido" (GENTZLER, 2009, p. 132). Veja o que diz Gentzler a respeito do modus operandi da teórica inglesa:

Em uma análise de um histórico da tradução de diversas versões do 13º po-ema de Catulo, por exemplo, ela usa uma definição bastante geral do termo “função” para descrever “de maneira objetiva” as diferentes versões. Na verdade, porém, Bassnett parece se distanciar de uma tradução feita por sir Walter Marris, que “caiu no abismo esperando pelo tradutor que resolva se amarrar a um esquema de rima muito formal”, e preferir uma versão cheia de jargões e letras de rock’n ’roll de Franlc Copley, que ela acha “mais próxi-ma do poema latino do que a versão literal de Marris”. Por fim, ao discorrer sobre uma versão de Ben Jonson, que traduziu o soneto em um poema de 41 versos, ela sugere que se “aproxima mais em espírito, tom e linguagem a Catulo que qualquer uma das outras duas versões” (Bassnett, 1980, p. 88-91). É claro que Bassnett tenta, retoricamente, decompor o conceito estreito dos leitores do que deveria ser uma tradução literária e nos ajudar a ver os fenômenos de tradução em um sentido mais amplo. Ela parece dar prefe-rência, contudo, à inclusão de efeitos de ostranenie, possibilitando aos tradu-tores acrescentar comentários e passagens a fim de acompanhar os efeitos do original e tornar o texto relevante para o leitor contemporâneo. Seu largo uso do termo “função” e sua aplicação liberal do conceito de mudança ate-nuam as fronteiras entre definições tradicionais de tradução e adaptação (GENTZLER, 2009, p. 132).

As proposições da autora inglesa surgiram a partir de reflexões a respeito do flamengo/holandês. A perspectiva adotada pela autora, como percebemos através da exposição de Gentzler, traz-nos uma visão completamente ampliada da tradução,

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UNIDADE 1 | TEORIAS, CRÍTICA E HISTÓRIA

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isolando problematicamente questões como função, efeitos e atualização do texto aos leitores de determinada língua / tempo histórico.

Você sabe quem foi Catulo? Gaius Valerius Catullus foi um poeta romano nascido em Verona, aproximadamente 87 anos antes de Cristo! Durante o período republicano, o poeta romano é conhecido historiograficamente por ter rompido com as temáticas mitológicas presentes no passado romano, utilizando claramente em seus poemas uma linguagem coloquial.

NOTA

Gentzler (2009) menciona o trabalho de James Holmes como uma espécie de contraponto à perspectiva de Bassnett: "ele quer revelar primeiro o processo de tra-dução, para depois entender por que determinadas decisões foram tomadas, antes de julgar o resultado como bom/mau, verdadeiro/inverídico ou compreendido/mal compreendido" (GENTZLER, 2009, p. 135).

Nessa visão, a questão da tomada de decisão do tradutor é algo indissociável do processo de tradução, havendo sempre um leque de possibilidades à disposição do tradutor, que a todo momento se vê condicionado a realizar escolhas. Gentzler (2009, p. 135) pontua que "qualquer que seja o desenrolar da tradução, outras tradu-ções sempre são possíveis, não melhores nem piores, mas diferentes, dependendo da poética do tradutor".

Esta abertura nos dá outra dimensão do processo de tradução, pois nos ensi-na que o processo de escolhas do tradutor não precisa necessariamente se dar no âm-bito da língua original ou na língua-alvo, mas no que Gentzler (2009) chama de "zona cinza", que se situa entre ambas línguas. Isto significa dizer que o tradutor, indivíduo conhecedor da língua/cultura fonte e da língua/cultura alvo, pondera, compara e es-colhe a todo momento.

A diferença entre as abordagens de Holmes e de Bassnett é que Holmes tenta preservar o som, o sentido, o ritmo, o “material” textual do objeto na língua e recriar essas sensações específicas - som, sentido e associação - a despeito de limitações inerentes na língua-alvo, enquanto Bassnett enfoca o tema central e o significado, deriva a “função original” e permite a subs-tituição de grande parte do texto, com todas as particulares ressonâncias e associações, por algo novo e muito diferente, mas que, em teoria, afeta o lei-tor da mesma maneira. Em ambos os casos, atendo-se à definição da teoria dos estudos de tradução, podemos ver como os métodos para os tradutores em treinamento e/ou a real prática da tradução dão substância a qualquer discussão de teoria (GENTZLER, 2009, p.135).

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TÓPICO 1 | PRIMEIROS ESTUDOS DA TRADUÇÃO

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Você pode encontrar o artigo The name and the nature of Translation Studies em https://www.tau.ac.il/tarbut/tirgum/holmes75.htm. O texto está disponibilizado em língua inglesa.

DICAS

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Neste tópico, você aprendeu que:

• É recente a existência da tradução como disciplina acadêmica.

• A pesquisa pura em tradução se biparte em estudos descritivos e estudos teóricos.

• James S. Holmes foi quem propôs o termo Translation Studies (Estudos da Tradução).

• A pesquisa aplicada explora a questão do ensino, das ferramentas, das políticas de tradução e da crítica.

• O Formalismo Russo serviu de base para as primeiras teorias acadêmicas que eclo-diram na segunda metade do século XX.

• Jiří Levý utilizou perspectivas do Formalismo Russo aplicadas à tradução, consi-derando aspectos relativos à cultura fonte e cultura receptora.

• Susan Bassnett isola problematicamente questões como função, efeitos e atualiza-ção do texto aos leitores de determinada língua / tempo histórico.

RESUMO DO TÓPICO 1

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1 Relacione as colunas:

Indique a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:a) ( ) 1 – 2 – 2 – 1 – 2 – 1 – 2.b) ( ) 1 – 1 – 1 – 1 – 2 – 1 – 2.c) ( ) 2 – 2 – 1 – 1 – 1 – 1 – 2.d) ( ) 2 – 1 – 2 – 1 – 1 – 1 – 1.e) ( ) 2 – 2 – 2 – 1 – 1 – 1 – 1.

2 A partir do que estudamos no subtópico 2, "A contribuição do Formalismo Russo", considere as seguintes afirmações:

I- O Formalismo Russo foi uma escola que se dedicou exclusivamente aos Estudos da Tradução, sendo considerada a pioneira.

II- Os formalistas russos buscavam isolar e definir o que os seguidores dessa cor-rente entendiam por "literariedade".

III- Para os formalistas não havia diferença da forma dos textos literários para ou-tras formas.

É CORRETO o que se afirma em:a) ( ) I, II e III.b) ( ) I e II.c) ( ) Apenas II.d) ( ) I e III.e) ( ) Todas as opções estão incorretas.

3 Marque a opção CORRETA:a) ( ) Susan Bassnett defende que há apenas um modo correto de traduzir.b) ( ) A questão da tomada de decisão por parte do tradutor é um ponto de refle-

xão na teoria de James Holmes.c) ( ) Bassnett tenta preservar o som, o sentido, o ritmo, o “material” textual do

objeto na língua e recriar essas sensações específicas.d) ( ) Holmes enfoca o tema central e o significado, deriva a “função original” e

permite a substituição de grande parte do texto.e) ( ) Aspectos como questões, como função e tempo histórico não são importan-

tes para a teoria de Bassnett.

AUTOATIVIDADE

Estudos descritivos de traduçãoEstudos teóricos de tradução

( ) Foco no produto( ) Foco no meio( ) Foco no tipo textual( ) Foco no processo( ) Foco na época( ) Foco na função( ) Foco na área

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TÓPICO 2

TEORIAS CONTEMPORÂNEAS

UNIDADE 1

1 INTRODUÇÃO

A Teoria dos Polissistemas surgiu através dos estudos e reflexões de Itamar Even-Zohar, professor da Universidade de Tel Aviv (Israel). Even-Zohar é um dos mais importantes teóricos da cultura da atualidade e vem desenvolvendo, da segun-da metade do século XX aos dias atuais, importantes estudos que nos permitem com-preender a questão cultural a partir de uma perspectiva sistêmica.

FIGURA 9 – A TEORIA DOS POLISSISTEMAS

FONTE: <http://bit.ly/2LyWLhC>. Acesso em: 29 nov. 2019.

Even-Zohar não é propriamente um tradutor ou especialista em Estudos da Tradução. No entanto, ao longo de sua vasta produção ensaística, dedicou-se a abordar a tradução literária no plexo central da cultura. No livro Polisistemas de Cul-tura (2017), o teórico israelense dedicou três ensaios ao tema da tradução: La posición de la literatura traducida en el polisistema literario; La fabricación del repertorio cultural y el papel de la transferencia; e Textemas vs. repertoremas en la traducción.

Nas páginas seguintes conheceremos não somente a teoria de Even-Zohar, mas também uma ideia embrionária já perceptível no Formalismo Russo e outras teorias contemporâneas.

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UNIDADE 1 | TEORIAS, CRÍTICA E HISTÓRIA

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Você pode baixar gratuitamente o livro Polisistemas de Cultura (2017), em espanhol, diretamente através do website do autor. Para fazê-lo, acesse: https://m.tau.ac.il/~itamarez/works/papers/trabajos/polisistemas_de_cultura2007.pdf.

DICAS

2 A QUESTÃO SISTÊMICA NO FORMALISMO RUSSO

Anteriormente, falamos nos primeiros formalistas russos e a influência desta significativa escola de crítica literária para os Estudos da Tradução. Você recorda qual era um dos principais conceitos associados ao formalismo? Na ocasião, men-cionamos a questão da "autonomia": a linguagem poética e literária, em uma visão formalista, só é literária ao demonstrar capacidade de ressignificação. Por esta razão, a questão da autonomia esteve no centro dos principais estudos de base formalista. Mas, em que ponto essa visão da literatura começa a mudar e por que isso é tão im-portante para os Estudos da Tradução e, por conseguinte, para a Teoria dos Polissis-temas de Itamar Even-Zohar?

FIGURA 10 – YURI TYNIANOV (1894-1943) E A QUESTÃO SISTÊMICA

FONTE: <http://bit.ly/2Prl822>. Acesso em: 29 out. 2019.

Ao discorrer sobre o Formalismo Russo em Teorias contemporâneas da tra-dução, Gentzler (2009) menciona que em Boris Èjxenbaum já ocorre a defesa do aban-dono do entendimento da literatura como arte autônoma em prol de um entendi-mento histórico do fenômeno literário. Se a literatura é produzida em âmbito social, como ignorar as diferentes variáveis que influenciam em sua criação?

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TÓPICO 2 | TEORIAS CONTEMPORÂNEAS

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O problema desta perspectiva se dá, inicialmente, porque o estudo da for-ma – e a compreensão da autonomia dos textos literários e poéticos –, são pedras angulares na constituição desta escola de pensamento. No entanto, a mudança desta perspectiva ocorreu e, longe de ser uma traição ao modus operandi formalista, é vista pela crítica como um estágio natural das próprias ideias defendidas pelos formalistas russos. Veja o que diz Gentzler ao comentar esta questão:

[...] essa ruptura do formalismo russo foi uma consequência natural da abordagem formalista: na análise de uma questão literária específica, o crítico logo percebia que o problema literário não só estava emaranhado na história, mas também influenciava a história na qual se insere, abrindo o problema complexo da evolução literária (GENTZLER, 2009, p. 144).

Posterior às reflexões de Èjxenbaum, os formalistas seguintes passaram a considerar nuances de significativo valor histórico. Foi então que Yuri Tynianov (1928) escreveu ensaio intitulado Da Evolução Literária:

O crítico logo percebia que o problema literário não só estava emara-nhado na história, mas também influenciava a história na qual se insere, abrindo o problema complexo da evolução literária. Segundo Tynjanov, qualquer nova obra literária deve necessariamente desconstruir unida-des existentes ou, por definição, deixa de ser literária. A tradição literária não era mais concebida como uma linha reta contínua, mas antes como uma luta envolvendo destruição e reconstrução a partir de elementos" (TYNIANOV, 1928 apud GENTZLER, 2009, p.144)

Ruptura crítica – este é o termo com o qual Gentzler define Tynianov ao con-siderar o desenvolvimento do formalismo e a relevância desta escola para os Estudos da Tradução. A crítica, que o autor direcionou em outros ensaios, volta-se contra o projeto formalista, chegando a criticar a pesquisa desenvolvida por alguns colegas, considerando-as "superficiais e mecânicas e seus resultados ilusórios e abstratos" (GENTZLER, 2009, p. 144).

FIGURA 11 – RÚSSIA, LOCAL E SURGIMENTO DO FORMALISMO RUSSO

FONTE: <http://bit.ly/2rt0tCE>. Acesso em: 29 out. 2019.

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UNIDADE 1 | TEORIAS, CRÍTICA E HISTÓRIA

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A teoria de Tynianov (1928) acrescenta a noção de sistema e alarga as frontei-ras do entendimento do fenômeno literário. Veja o que diz Even-Zohar a respeito do Formalista Russo:

La formulación de Tynianov sobre las fronteras cambiantes de la literatu-ra, en cuanto campo de acción institucionalizado en el que los rasgos es-pecíficos que operan en él y por él están sometidos a una transformación constante, nos ha permitido liberarnos de la constricción de objetos de es-tudio ya delimitados por las instituciones de la sociedad (EVEN-ZOHAR, 2017, p. 26).

FIGURA 12 – AS INFLUÊNCIAS DO TEMPO HISTÓRICO

FONTE: <http://bit.ly/2E21sMQ>. Acesso em: 28 fev. 2019.

Ao trazer a noção de sistema, o formalismo, então, abriu caminhos para os teóricos que viriam posteriormente no fluxo temporal. No subcapítulo seguinte co-nheceremos a teoria de Itamar Even-Zohar, em seus limites e importância para ques-tões de tradução.

3 ITAMAR EVEN-ZOHAR E A TEORIA DOS POLISSISTEMAS

Atualmente, (re)conhecido como um dos mais importantes teóricos da cultu-ra vivo, não é à toa que a teoria de Even-Zohar reverbera pelos mais distintos campos, permitindo leituras atentas e constantemente renovadas. De todas as características e limites naturalmente existentes na teoria de Even-Zohar, o grande destaque diz res-peito ao alcance múltiplo e às possibilidades de leitura possíveis. A tradução, ponto diretamente relacionado com a questão literária, ganha grande destaque na linha de pensamento do teórico israelense.

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TÓPICO 2 | TEORIAS CONTEMPORÂNEAS

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FIGURA 13 – ITAMAR EVEN-ZOHAR, TEÓRICO DA UNIVERSIDADE DE TELAVIV

FONTE:<http://bit.ly/2DZkxiD>. Acesso em: 29 out. 2019.

A grande contribuição de Even-Zohar ao campo de estudos de cultura é o conceito de Polissistema. O Polissistema, como expressa o próprio nome, significa uma multiplicidade (poli) de sistemas que estão em constante interação. Estes siste-mas, que funcionam articulados uns com os outros, podem ser de natureza literária ou extraliterária. A Teoria dos Polissistemas busca compreender a atuação de formas distintas de escrita em uma cultura específica.

A abordagem de Even-Zohar é considerada bastante completa porque ob-serva o fenômeno ao qual se debruça a partir de diversas variáveis que permitem a existência do fenômeno "A" ou "B". A esta altura, você deve estar se perguntando: de onde surgiu essa noção de sistemas múltiplos que se entrecruzam e geram fenôme-nos perceptíveis em âmbito social?

A resposta está você encontra nas páginas anteriores ao texto que você está lendo, acadêmico. Relembre que há pouco falávamos sobre o teórico russo Yuri Ty-nianov (1928), especificamente sobre a singularidade deste teórico em relação aos demais formalistas russos. Gentzler (2009) comenta, em subcapítulo intitulado Ita-mar Even-Zohar: explorando relações literárias intrasistêmicas, que a inspiração de Even--Zohar partiu, em primeira instância, dos conceitos outrora apresentados por Tynia-nov, "como sistema, normas literárias e a noção de evolução como uma luta contínua entre vários sistemas literários" (GENTZLER, 2009, p. 148). O lugar de fala de Even--Zohar é a cultura hebraica, e as principais motivações que conduziram sua linha de pensamento, estão relacionadas com a tradução de textos literários para o hebraico e a relação do hebraico com outros sistemas. Observe, agora, a definição de Gentzler a respeito do Polissistema:

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UNIDADE 1 | TEORIAS, CRÍTICA E HISTÓRIA

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Even-Zohar adotou o conceito de sistema de Tynjanov, sua estrutura hie-rárquica de diferentes sistemas literários, seu conceito de desfamiliariza-ção como artifício medidor de significação literária histórica e, por fim, seu conceito de mutação e evolução literária. A definição de Even-Zohar de Polissistema é igual ao conceito de sistema de Tynjanov, incluindo as estruturas literárias, semiliterárias e extraliterárias. O termo “Polissis-tema” é, portanto, global, abordando todos os sistemas literários, tanto maiores quanto menores, existentes em determinada cultura. A substân-cia de sua pesquisa envolve sua exploração das complexas inter-relações entre os vários sistemas, principalmente os sistemas maiores e os subsis-temas menores (GENTZLER, 2009, p. 149).

O que você está achando das teorias que estamos apresentando a você? Complexo? Difícil de visualizar mentalmente? De fato, acadêmico, estes conceitos não são fáceis em um primeiro momento. Apesar disso, eles são importantes para que possamos dar início aos nossos Estudos da Tradução. Ao compreender a história desta disciplina em nível acadêmico, assim como outras questões teóricas, automaticamente estaremos aptos para avançar rumo a questões pertinentes ao ato de traduzir.

UNI

Onde entra a questão da tradução nessa ideia de Polissistema apresentado pelo teórico israelense? Even-Zohar considerou que a literatura traduzida deveria ser incluída no Polissistema: "em todos os modelos de sistemas anteriores, as tra-duções eram invariavelmente classificadas como sistemas secundários; os dados de Even-Zohar mostravam que tal classificação pode ser incorreta" (GENTZLER, 2009, p. 150). A questão centra-se, especificamente, em torno dos sistemas de cultu-ras maiores e sistemas de culturas menores. Gentzler (2009) comenta que a tradução no âmbito das culturas maiores "como a anglo-americana ou francesa, diferem dos polissistemas de nações mais jovens ou menores, como Israel ou os Países Baixos" (GENTZLER, 2009, p. 150). Por serem autossuficientes, os polissistemas de cultura maior escanteiam a tradução literária para a margem social, ao passo que em culturas menores essas traduções ocupam um espaço de maior destaque. Esta conclusão é um exemplo bastante notável de um tipo de investigação realizada no domínio da Teoria do Polissistemas: o foco não está na tradução em si (enquanto forma), mas na rever-beração desta em âmbito sociocultural, o que redimensiona o espectro de pesquisa do investigador.

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TÓPICO 2 | TEORIAS CONTEMPORÂNEAS

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FIGURA 14 – UNIVERSIDADE DE TEL AVIV, BERÇO DA TEORIA DE IVEN ZOHAR

FONTE: <http://bit.ly/36hB8u7>. Acesso em: 31 out. 2019.

Observe o que diz Even-Zohar a respeito da relação dos textos de origem e a literatura receptora:

Mi tesis es que las obras traducidas si se relacionan entre ellas al menos de dos maneras: por el modo en que los textos de origen son seleccionados por la literatura receptora, pues nunca hay una ausencia total de relación entre los principios de selección y los co-sistemas locales de la literatu-ra receptora (para decirlo con la mayor cautela posible); y por el modo en que adoptan normas, hábitos y criterios específicos -en resumen, por su utilización del repertorio literario –, que resulta de sus relaciones con otros co-sistemas locales. Dichas relaciones no se limitan al nivel lingüís-tico, sino que aparecen también en cualquier otro nivel de selección. De esta forma, la literatura traducida puede poseer un repertorio propio y hasta cierto punto exclusivo (EVEN-ZOHAR, 1999, p. 224).

Você pode ler o ensaio La posición de la literatura traducida en el polisistema literario, acessando: http://bit.ly/2YvOsbH.

FONTE: EVEN-ZOHAR, I. La posición de la literatura traducida en el polisistema literario. Traducción de Montserrat Iglesias Santos revisada por el autor. In: EVEN-ZOHAR, I. Teoría de los Polisistemas, Estudio introductorio, compilación de textos y bibliografía por Montserrat Iglesias Santos. Bibliotheca Philologica, Serie Lecturas. Madrid: Arco, 1999. pp. 223-231.

DICAS

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UNIDADE 1 | TEORIAS, CRÍTICA E HISTÓRIA

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Even-Zohar defende que há uma relação entre a cultura originária e a re-ceptora e esta relação se manifesta na escolha dos textos traduzidos. O autor afirma, ainda, que considera a literatura traduzida "no solo como un sistema integrante de cualquier polisistema literario, sino como uno de los más activos en su seno" (EVEN--ZOHAR, 1999, p. 224).

Outro ponto relevante é a questão da posição da obra traduzida no Polissis-tema literário, que não pode ser estaticamente primária ou secundária, sendo esta re-lação variável (a depender das circunstâncias). Gentzler (2009) esmiúça essa questão, exemplificando cada um dos momentos em que a condição se alterna de secundária para primária:

Even-Zohar especifica três circunstâncias sociais que geram uma situação na qual a tradução ocuparia uma posição primária: quando uma literatura é “jovem” ou no processo de ser estabelecida; quando uma literatura é “pe-riférica” ou “ fraca” ou ambas as coisas e quando uma literatura está viven-do uma “crise” ou um momento de mudança (Even-Zohar, 1978a: 24). No primeiro caso, como é próprio da situação israelita e parece característico da cultura checa do século XIX (MACURA, 1990), a tradução supre a ne-cessidade de uma literatura jovem de usar sua língua nova para tantas e va-riadas espécies de escrita quantas forem possíveis. Como não podem criar todas as formas e gêneros, os textos traduzidos servem como a referência mais importante, durante certo período de tempo (embora não se limitem a essa função na hierarquia). Segundo Even-Zohar, o mesmo princípio se aplica à segunda situação, na qual uma literatura fraca, geralmente de uma nação menor, como Israel, não é capaz de produzir todas as espécies de escrita que um sistema mais forte, maior, reproduz - daí a inabilidade para produzir inovação e a subsequente dependência da tradução para introdu-zir textos que estabeleçam precedentes. Em tais circunstâncias, os textos tra-duzidos servem não apenas como um meio pelo qual novas ideias podem ser importadas, mas também como a forma de escrita mais imitada por escritores “criativos” na língua nativa. Na terceira situação, talvez análoga à situação cultural na América do Norte na década de 1960, modelos lite-rários definidos já não estimulam a nova geração de escritores, que recor-rem a outras fontes para encontrar ideias e formas. Sob tais circunstâncias históricas, ou combinação de circunstâncias, tanto escritores estabelecidos quanto de vanguarda produzem traduções, e, pelo texto traduzido, novos elementos são introduzidos em um sistema literário que, sem eles, não apa-receria (GENTZLER, 2009, p. 151).

Como podemos perceber, a tradução em uma perspectiva polissistêmica está muito além da questão puramente textual, envolvendo condições socioculturais e atores que de alguma forma determinam o status ou a posição das traduções no âm-bito do polissistema literário. Em outras palavras, questão social é fundamental na determinação dos papéis desempenhados pelas traduções feitas em determinado sis-tema. Isso está diretamente ligado ao quão forte determinado sistema literário é (com modelos pré-existentes, presença ou não de cânone estabelecido etc).

Even-Zohar, no entanto, afirma que “não somente o status socioliterário da tradução depende de sua posição dentro do polissistema, mas a prática da tradução também está subordinada a determinada posição” (EVEN-ZOHAR, 1999, p. 231).

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TÓPICO 2 | TEORIAS CONTEMPORÂNEAS

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Outra questão relevante é o porquê do surgimento de traduções. Gentzler comenta que Even-Zohar fala em "vácuos" em determinada cultura literária. Estes vácuos constituiriam a falta de características "técnicas, formas e até gêneros" (GENT-ZLER, 2009, p. 152). Nesse sentido, a tradução preencheria um espaço até então não existente na cultura receptora, alargando, assim, os horizontes da cultura que rece-beu. Pelo contrário, se não são feitas importações – de literatura estrangeira e de tra-duções –, o sistema manter-se-ia estagnado e impossibilitado de desenvolver-se até o desejável estado de dinâmico.

Imagine você uma cultura literária muito jovem: uma nação recém-criada, uma língua sem memória conhecida ou tradição literária conservada. A tradução, em um contexto assim, passaria a apresentar linguagens "novas" aos produtores literá-rios da cultura receptora. É como se o sistema A fornecesse a semente necessária pra que novas formas de literatura cresçam no solo receptor.

Even-zohar especifica que a literatura traduzida pode estar conectada com repertórios inovadores (caracterizados por ele como primários) ou com repertórios conservadores (secundários). O que ocorre quando determinada tradução (inovado-ra, primária) penetra no solo da cultura receptora? [...] "no se puede mantener una distinción nítida entre textos originales y textos traducidos" (EVEN-ZOHAR, 1999, p. 225). Ocorre uma espécie de fusão que torna por limitar as fronteiras. Isso acontece, sobretudo, porque, para o autor, muitas vezes as traduções são feitas por escritores destacados ou então membros da vanguarda que estão prestes a se transformar.

Se pensarmos nos maiores escritores brasileiros, prontamente perceberemos que muitos deles, além de escritores, também eram tradutores. Este é o caso de Ma-chado de Assis, Manuel Bandeira, Cecília Meirelles e Haroldo de Campos. Juntos, os referidos autores traduziram ninguém menos que Edgard Allan Poe, Charles Di-ckens, Virginia Woolf, Shakespeare, Sor Juana Inés de la Cruz, José Zorilla, Bertold Brecht, Jean de Cocteau, Friedrich Schiller, Ezra Pound, Homero, Maiakovski.

Um caso de vanguarda, por exemplo, liga-se à figura de Haroldo de Cam-pos (a quem conheceremos nas páginas seguintes). Campos fazia parte do grupo Noigandres, grupo brasileiro de poetas de vanguarda formado em 1952, por nomes como Décio Pignatari, Augusto de Campos e Haroldo de Campos. Este grupo foi o responsável pelo surgimento da Poesia Concreta no Brasil. Juntos, traduziram obras de vanguarda que de alguma forma inspiraram a criação de outras similares no Po-lissistema literário nacional.

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UNIDADE 1 | TEORIAS, CRÍTICA E HISTÓRIA

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FIGURA 15 – REVISTA NOIGANDRES.

FONTE: <http://bit.ly/2YwbpeH>. Acesso em: 25 fev 2019.

Você conhece a literatura concretista do século XX? Os concretistas apresen-taram uma nova forma de fazer literatura no Polissistema literário brasileiro. Suas contribui-ções até hoje expressam um modo de fazer arte bastante particular.

NOTA

Ainda sobre a inserção de uma tradução em dada cultura, Even-Zohar si-naliza que no momento em que surgem novos modelos literários, a tradução se transforma em um dos instrumentos de elaboração do novo repertório. Ou seja, é a partir dela que se criarão outras formas literárias: "A través de obras extranjeras se introducen en la litertura local ciertos rasgos (tanto princípios como elementos) antes inexistentes" (EVEN-ZOHAR, 1999, p. 225). Se incorporam, além de novos modelos, uma série de traços como "un lenguaje (poético) nuevo o nuevos modelos y técnicas compositivas" (EVEN-ZOHAR, 1999, p. 225). Os critérios que selecionam as obras traduzidas, adverte Even-Zohar, já são pré-determinados pela situação predominan-te no polissistema local. Os textos não são escolhidos a esmo, de forma aleatória. Eles são escolhidos por que são compatíveis com o campo de expectativas da cultura receptora, com "las nuevas tendencias y con el papel supuestamente innovador que pueden asumir dentro de la literatura receptora" (EVEN-ZOHAR, 1999, p. 225).

Pense, por exemplo, no Polissistema literário brasileiro e no mercado editorial nacional. Basta uma visita nas principais livrarias localizadas em cidades de grande, médio e pequeno porte, para perceber a invasão de diversos tipos de bestsellers que a cada ano invadem o mercado nacional e são devorados por um público receptor ávi-

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do pelos lançamentos. Desde meados do século XIX, o Polissistema literário brasilei-ro vem buscando sua afirmação frente a outros sistemas tradicionais. Lembre-se que os primeiros esforços partiram dos românticos, como José de Alencar, que buscavam na natureza e na cor local a verdadeira identidade brasileira.

Dado o advento da globalização, da internet e do surgimento de outras for-mas de arte, (como o cinema, a televisão e os quadrinhos), hoje, menos de duzentos anos após os esforços dos primeiros românticos, o Polissistema literário nacional ain-da importa repertórios de matriz primárias (inovadoras). As séries de livros publica-dos por George R. R. Martin (Game of Thrones), são exemplos bastante tangíveis, que motivaram toda uma nova geração de escritores que produzem histórias inspiradas no estilo do autor inglês: Raphael Draccon, Felipe Castilho, Leonel Caldela e outros.

FIGURA 16 – RAPHAEL DRACCON / GEORGE MARTIN

FONTE: <http://bit.ly/2rx5xWu>. Acesso em: 29 nov. 2019.

A teoria de Even-Zohar nos permite entender, então, como a tradução literá-ria se articula com o Polissistema que a recebe, considerando variáveis que podem ser de ordem diversa e contribuindo com uma visão bastante ampla de uma teoria da tradução. Com Even-Zohar é dado um passo além do Formalismo Russo e das ou-tras teorias predecessoras. Compreende-se o entendimento de teóricos como James S. Holmes (a quem Even-Zohar dedica uma epígrafe na introdução do ensaio La po-sición de la literatura traduzida en el polisistema literário: a la memoria de James S Holmes, un gran estudioso de la traducción y un muy querido amigo” (EVEN-ZOHAR, 1999, p. 223) e esclarece as relações entre literatura, tradução e cultura.

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Recomendamos a leitura dos seguintes ensaios de Even-Zohar sobre a tradução literária:

EVEN-ZOHAR, I. La fabricación del repertorio cultural y el papel de la transferencia. In: Interculturas, Transliteraturas. Sanz Cabrerizo, Amelia ed. Madrid: Arco Libros, 2008. p. 217-226. Disponível em: https://m.tau.ac.il/~itamarez/works/papers/trabajos/EZ-Fabricaccion-del-repertorio2008.pdf. Acesso em: 29 out. 2019.

FONTE: EVEN-ZOHAR, I. La posición de la literatura traducida en el polisistema literario. Traducción de Montserrat Iglesias Santos revisada por el autor. In: EVEN-ZOHAR, I. Teoría de los Polisistemas, Estudio introductorio, compilación de textos y bibliografía por Montserrat Iglesias Santos. [Bibliotheca Philologica, Serie Lecturas] Madrid: Arco Libros, 1999. p. 223-231. Disponível em: https://m.tau.ac.il/~itamarez/works/papers/trabajos/EZ-Posicion-Traduccion.pdf. Acesso em: 29 out. 2019.

DICAS

4 A ESPECIFICIDADE DA TRANSCRIAÇÃO

No Brasil, a Teoria da Transcriação em âmbito poético surgiu através da mão de Haroldo de Campos (1929-2003). Campos foi um poeta e tradutor brasileiro e re-conhecido como um dos principais nomes do Concretismo. Fazia parte do grupo Noigandres com seu irmão, o poeta Augusto de Campos, e Décio Pignatari. Publicou grande parte dos seus poemas na revista homônima do grupo.

O que significa o termo Transcriação, cunhado pelo autor paulista? Primeira-mente, cabe afirmar que a Transcriação é um conceito complexo de difícil definição, inclusive para o próprio Haroldo de Campos. Nas linhas seguintes buscaremos elen-car as principais características que conformam a ideia de transcriação desenvolvida pelo teórico paulistano.

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FIGURA 17 – HAROLDO DE CAMPOS

FONTE: <http://bit.ly/2P2IxHS>. Acesso em: 29 out. 2019.

Você sabe o que foi o Concretismo?“Os princípios do concretismo afastam da arte qualquer conotação lírica ou simbólica. O quadro, construído exclusivamente com elementos plásticos – planos e cores –, não tem outra significação senão ele próprio. A pintura concreta é "não abstrata", afirma Van Doesburg em seu manifesto, "pois nada é mais concreto, mais real, que uma linha, uma cor, uma superfície". Os desdobramentos da arte concreta na poesia se evidenciam em São Paulo pelo lançamento da revista Noigandres, em 1952, editada pelos irmãos Haroldo de Campos (1929-2003) e Augusto de Campos (1931), e por Décio Pignatari (1927-2012). No Rio de Janeiro, alunos do curso de Ivan Serpa no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ), tendo como teóricos os críticos Mário Pedrosa (1900-1981) e Ferreira Gullar (1930-2016), formam o Grupo Frente, em 1954.”

FONTE: Concretismo. In: ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL. São Paulo: Itaú Cultural, 2019. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo370/concretismo>. Acesso em: 4 de mar. 2019. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7.

IMPORTANTE

A tradução, na visão de Haroldo de Campus, não é apenas uma simples transferência da língua original para a traduzida. O trabalho do tradutor é uma espé-cie de criação que mantém na língua traduzida a essência das nuances presentes no texto original. Esta definição vale, em primeira instância, para o âmbito da tradução poética. Veja o que diz a Enciclopédia Itaú Cultural (2019, s.p) a respeito do termo:

O principal objetivo do tradutor, segundo a concepção de Haroldo, é fa-zer coam que, de alguma maneira, a essência poética da língua de partida encontre ressonância da língua de chegada, mesmo que isso signifique certas alterações semânticas em relação ao poema original, as chamadas “lei das compensações em poesia.

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O objetivo do texto, em uma visão transcriadora, é mais importante do que o significado específico das palavras ao serem traduzidas. Ao detectar os elementos estruturais (como versos, sons e ritmos), o transcriador deve manter este objetivo do texto original, mantendo-se fiel aos propósitos do autor. É importante mencionar que há liberdade criativa no ato de transcriar, contanto que se mantenha o objetivo prin-cipal. Imagine um poema que ao ser lido transpareça ao leitor a impressão de estar ouvindo as ondas do mar. O transcriador poderá, para manter este objetivo em sua trancriação, optar por formas que melhor se adequem a este objetivo na língua para a qual o texto será traduzido.

Desde o barroco, ou seja, desde sempre, não nos podemos pensar como identidade fechada e conclusa, mas sim, como diferença, como abertura, como movimento dialógico da diferença, contra o pano de fundo do universal [...] essa prática diferencial articulada a um código universal é também, por definição, uma prática tradutória Haroldo de Campos, Transcriação, p. 198-199 (apud REVISTA CIRCULADÔ. Ano IV, n. 5. set/ 2016).

UNI

Sem lugar a dúvidas, a Transcriação poética é um ato de criação literária e demanda um grau de complexidade bastante considerável. Esta atividade demanda no transcriador uma grande sensibilidade poética e desenvolvida capacidade de cria-ção. Estes pré-requisitos, portanto, fazem do ato transcriador um delicado caminho no âmbito da tradução.

Recomendamos a leitura do dossiê intitulado Tradução como criação e crítica – Haroldo de Campos e Henri Meschonnic, de autoria de Guilherme Gontijo Flores.

FONTE: FLORES, G. G. Tradução como criação e crítica – Haroldo de Campos e Henri Meschonnic. Revista CIRCULADÔ, São Paulo, ano IV, n. 5, set. 2016. Disponível em: http://www.casadasrosas.org.br/crhc/arquivos/revista-circulado-ed5.pdf. Acesso em: 31 out. 2019.

DICAS

A transcriação, hoje, ultrapassa os limites da poesia e pode ser encontrada também em outros segmentos, como é o caso do marketing. Dado ao seu enfoque estético, a teoria da transcriação se faz presente em outras formas de tradução que demandam fidelidade ao objetivo estético.

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Em um âmbito geral, observe o que diz Martins (2016, s.p.) a respeito da téc-nica e da distinção entre Tradução e Transcriação:

Entende-se por “transcriação” o processo de transportar uma mensagem criada em uma língua para outra. Mas transcriar não é sinônimo de traduzir – então qual é a diferença? A transcriação é a transformação de uma mensagem geral, que contém não só con-teúdo escrito como também design visual e imagens. Envolvendo, deste modo, o contexto cultural de uma comunicação escrita, as-sim como um anúncio, folheto ou site. O processo de transcriação requer um olhar abrangente para a mensagem, a fim de adaptá-la ao público sem ignorar os elementos de design principais, visando a consistência – principalmente ao lidar com mercados nacionais. Durante o processo de transcriação, o transcriador pode escolher restruturar a forma como a informação é apresentada para que a mensagem inerente seja mais relevante para o público alvo. O con-teúdo original do idioma de partida é utilizado como base para a versão transcriada para a outra língua. É como pedir para alguém reescrever algo com suas próprias palavras.

FIGURA 18 – TRANSCRIAÇÃO

FONTE: <http://bit.ly/2E17kpK>. Acesso em: 29 out. 2019.

Vamos especificar, então, as diferenças entre transliteração, tradução e trans-criação? A transliteração constitui em uma transcrição das palavras de um alfabeto para outro idioma. Na sequência, observe um exemplo bastante simples de transli-teração: o nome do autor transliterado do português para a língua grega: de Wellin-gton Freire Machado em português temos, então Ουέλλινγκτον Φρέιρ Ματσάντο.

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Acesse translate.google.com e tente transliterar o seu nome para outros idiomas com alfabetos distintos do nosso. Ouça o áudio e surpreenda-se com as distintas formas de pronúncia.

DICAS

Já a tradução encontra palavras de sentidos equivalentes em idiomas distintos. Veja o que diz o dicionário Michaelis (TRANSPOSIÇÃO, c2019) a respeito da tradução:

Transposição ou versão de uma língua para outra; técnica que consiste em traduzir palavra, enunciado, texto, obra etc. falado ou escrito, de uma língua para outra, possibilitando sua compreensão por alguém que não conhece ou não domina a língua em que originalmente o enunciado foi emitido.

Por fim, a transcriação ocorre quando o tradutor encontra formas de pre-servar o sentido original do texto. De todas as atividades inerentes ao ato de tra-duzir esta é, sem sombra de dúvidas, a mais complexa, visto que demanda gran-de conhecimento, técnica e perspicácia.

5 A TRADUÇÃO CULTURAL

O conceito de Tradução Cultural apresenta um entendimento da tradução além do simples ato de verter um texto de uma língua para outra. A língua, aspecto fundamental da cultura, é um elemento de grande complexidade e se encontra no cerne do fractal cultural. Observar a história dos povos, portanto, é lançar automati-camente um olhar para a história da tradução. Com tantos idiomas e dialetos distri-buídos sobre os sete continentes, a tradução transformou-se na atividade que melhor representa a natureza humana.

A comunicação efetiva, que respeita as diferenças em suas mínimas particu-laridades, é um pilar de grande importância no âmbito da tradução, já que esta só pode ser alcançada a partir da consciência do outro. Observe o que diz Pires (2008, p. 2) a respeito da questão cultural nos domínios da tradução:

Para haver a comunicação entre duas culturas, é fundamental que a lín-gua traduza não apenas fatos e informações, mas sim a forma de pensar e de valorar da outra cultura. O mediador deve dominar tanto a língua quanto a cultura dos povos envolvidos na tradução, como origem e como meta. Também é preciso haver equilíbrio de poderes entre uma cultura e outra, para haver uma relação de troca. Caso contrário, a tradução pode-rá ficar comprometida, ou com o excesso de preocupação com a cultura meta, ou com o excesso de respeito pela cultura de origem.

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A tradução cultural acontece partindo do cuidado do tradutor ao transitar por culturas distintas: "se a tradução literária se vale de duas línguas e dois sistemas lite-rários distintos, a tradução cultural pressupõe dois elementos, no mínimo, com identi-dades próprias, construídas com base na história, na língua e na religião, entre outros aspectos" (PIRES, 2008, p. 2).

Peter Burke, na introdução de seu livro intitulado A tradução cultural nos primór-dios da Europa Moderna (uma coletânea de ensaios coorganizada com R. Po-chia Hsia), discute a "tradução entre línguas no contexto da tradução entre culturas” (BURKE, 2009, p.13).

FIGURA 19 – PETER BURKE

FONTE: <http://bit.ly/2RzcfpD>. Acesso em: 29 out. 2019.

Um dos pontos iniciais comentados pelos historiadores ingleses é a questão das diferenças culturais de uma cultura para a outra (como a questão do humor). Alguma vez você já ouviu uma piada em outro idioma e não achou graça? Observe o que dizem a respeito do tema:

Diferenças entre culturas, bem como entrelínguas reduzem o que se chamou de “tradutibilidade” dos textos. Um grande problema para qualquer pessoa que esteja traduzindo literatura cômica, por exemplo, é que o senso de humor das várias culturas, suas “culturas do riso”, como foram chamadas, são muito diferentes. Piadas não conseguem cruzar fronteiras. De maneira similar, com frequência elas estagnam ao longo dos séculos ou se tornam ininteligíveis, como as referências aos chifres dos maridos em Shakespeare, que podem ter feito as pla-teias elisabetanas rolar de rir pelos corredores do Globe, mas são sau-dadas com silêncio hoje em dia (BURKE, 2009, p. 13).

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Por qual razão a questão da tradução se tornou objeto de estudo – e ponto de reflexão – de um teórico do campo da história? Na coletânea de artigos são aborda-dos aspectos como as missões católicas e as traduções na China (de 1583 a 1700), a língua como meio de transferência de valores culturais, a tradução da teoria política em um contexto europeu moderno, a questão do latim, e outros temas cujo enfoque se centra na questão cultural. Burke (2009) afirma que os historiadores fazem "a me-dição entre o passado e o presente e enfrentam os mesmos dilemas de outros traduto-res" (BURKE, 2009, p. 14). O principal dilema dos historiadores é manter a fidelidade ao original, sem deixar que se perca a compreensão dos leitores da língua meta.

Por exemplo, deveríamos falar da “política” de um rei medieval? A palavra não ocorre em textos medievais. Ela não era necessária, já que um rei medieval não precisava convencer eleitores a ele-gê-lo apresentando-lhes um programa de ações futuras. Ele pode ter tido uma política no sentido de certos princípios ou estratégias subjacentes a suas ações políticas cotidianas, desde a promoção da justiça até a ampliação dos limites de seu reino, mas uma política no moderno sentido de um programa é um conceito anacrônico (BURKE, 2009, p. 14).

FIGURA 20 – CAPA DA EDIÇÃO BRASILEIRA DO LIVRO DE PETER BURKE

FONTE: <http://bit.ly/38lDcTW>. Acesso em: 29 out. 2019.

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Apesar do termo tradução cultural hoje estar associado a Burke, o autor es-clarece que a alcunha se deu pela mão do antropólogo Edward Evans-Pritchard: “a expressão ‘tradução cultural’ foi originalmente cunhada por antropólogos do círcu-lo de Edward Evans-Pritchard, para descrever o que ocorre em encontros culturais quando cada lado tenta compreender as ações do outro" (BURKE, 2009, p. 14). Como exemplo de tradução cultural, Burke (2009) menciona no ensaio O caso da antropóloga Laura Bohannan, que contou a história de Hamlet a um povo da África Ocidental. Burke comenta que Bohannan ouviu constantes correções da narrativa por parte dos anciãos "até finalmente se ajustar aos padrões da cultura local" (BURKE, 2009, p. 14).

Como podemos perceber, para além de uma questão de interesse potencial-mente exclusivo do campo linguístico, a tradução cultural pode ser foco de interesse de distintas áreas, como a antropologia, a história, literatura etc. Burke (2009) men-ciona que a tradução cultural foi acolhida por um grupo de estudiosos da literatura preocupados com a questão da tradutibilidade dos textos e sinaliza que “para eles o entendimento em si é uma espécie de tradução, convertendo os conceitos e as ex-periências de outras pessoas em seus equivalentes no nosso próprio ‘vocabulário" (BURKE, 2009, p. 15).

FIGURA 21 – EUROPA MODERNA

FONTE: <https://i.servimg.com/u/f39/17/13/11/35/110.jpg>. Acesso em: 21 set. 2019.

Burke comenta que o não entendimento não é um problema restrito a um problema de comunicação entre povos distintos. O historiador inglês menciona que na cultura contemporânea, a maioria das pessoas é incapaz de compreender a lin-guagem jurídica ou a linguagem médica. O problema, no entanto, não é algo pro-priamente novo ou característico do nosso tempo: "isso já era um problema no século XVII, quando o holandês Adriaan Koerbagh publicou um dicionário de termos legais no vernáculo a fim de ajudar as pessoas comuns a evitar serem manipuladas pelos advogados" (BURKE, 2009, p. 15).

Tradução implica negociação, um conceito que expandiu seu domínio na úl-tima geração, indo além dos mundos do comércio e da diplomacia para se referir ao intercâmbio de ideias e à consequente modificação de significados (PYM, 1993; ECO, 2003).No caso do Período Moderno, a ideia da tradução negociada parece particular-mente apropriada quando o assunto são as missões.

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[...] missionários cristãos tinham de decidir quão longe poderiam ir ao adaptar (ou, como se dizia na época, ao "acomodar”) a mensagem cristã à cultura em que estavam trabalhando. Na China, por exemplo, Matteo Ric-ci descobriu que, caso se vestisse como padre, ninguém o levaria a sério, e por isso ele se vestia como um erudito confuciano, "traduzindo” assim sua posição social para o chinês. Permitia que os chineses que convertia reverenciassem seus ancestrais à maneira tradicional, afirmando que esse era um costume mais social que religioso. Ele traduziu a palavra “Deus” pelo neologismo Tianzhu, literalmente "Senhor dos Céus”, e permitiu que os cristãos chineses se referissem simplesmente a Tian, “Céus”, como Confiado havia feito (BURKE, 2009, p. 16).

No âmbito da rotina de um profissional da área da tradução, a questão cultu-ral é fundamental para que o produto final oriundo do trabalho do tradutor resulte em uma abordagem respeitosa, consciente e verdadeiramente compreensiva da cul-tura do outro. Reflexões como as apresentadas por Peter Burke (2009) permitem-nos redimensionar não somente o nosso olhar, mas também a nossa prática enquanto profissionais atuantes em múltiplos universos culturais.

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RESUMO DO TÓPICO 2Neste tópico, você aprendeu que:

• A teoria dos Polissistemas surgiu através dos estudos e reflexões de Itamar Even--Zohar, professor da Universidade de Tel Aviv (Israel).

• O Formalismo Russo forneceu as bases necessárias para que Even-Zohar pudesse pensar os diversos fenômenos associados ao polissistema literário.

• Even-Zohar defende que há uma relação entre a cultura originária e a receptora e esta relação se manifesta na escolha dos textos traduzidos.

• A tradução em uma perspectiva polissistêmica está muito além da questão pura-mente textual, envolvendo condições socioculturais.

• A tradução ocupa "vácuos" presentes na cultura receptora e possibilita o surgi-mento de vanguardas.

• A literatura traduzida pode estar conectada com repertórios inovadores (caracteri-zados por ele como primários) ou com repertórios conservadores (secundários).

• Na Teoria da Transcriação o trabalho do tradutor é uma espécie de criação que mantém na língua traduzida a essência das nuances presentes no texto original;

• A transcriação, hoje, ultrapassa os limites da poesia e pode ser encontrada também

em outros segmentos, como é o caso do marketing.

• Existem diferenças entre Transliteração, Tradução e Transcriação.

• A tradução cultural não considera somente a língua no processo de tradução, mas também a cultura.

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

CHAMADA

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1 Assinale com V as alternativas verdadeiras e com F as falsas:

( ) Na Teoria dos Polissistemas, quando a tradução penetra no solo da cultura receptora ocorre uma espécie de fusão.

( ) A Teria dos Polissistemas centra-se unicamente na forma, pois é fundamenta-da no Formalismo Russo.

( ) Na teoria de Even-Zohar não são consideradas quaisquer relações entre a cul-tura originária e a receptora ao escolher um texto a ser traduzido.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA de respostas:a) ( ) V – V – F.b) ( ) F – F – V.c) ( ) V – F – F. d) ( ) V – V – V.e) ( ) V – F – V.

2 De acordo com o que estudamos no item 2 "A especificidade da transcria-ção", considere as seguintes assertivas:

I- Transliteração – encontra palavras de sentidos equivalentes em idiomas distintos.

II- Transcriação – ocorre quando o tradutor encontra formas de preservar o sentido original do texto.

III- Tradução – constitui em uma transcrição das palavras de um alfabeto para outro idioma.

Estão corretas:a) ( ) I, II e III.b) ( ) Somente I e II.c) ( ) Apenas III.d) ( ) Todas as alternativas estão incorretas.e) ( ) Apenas II.

3 Marque as alternativas CORRETAS:a) ( ) A tradução cultural respeita as diferenças culturais em suas mínimas par-

ticularidades.b) ( ) A principal meta da tradução cultural é produzir uma abordagem respei-

tosa, consciente e verdadeiramente compreensiva da cultura do outroc) ( ) A transliteração é a principal forma de realização da tradução cultural.d) ( ) A expressão “tradução cultural” foi originalmente cunhada por antropó-

logos do círculo de Edward Evans-Pritchard para descrever o que ocorre em encontros culturais quando cada lado tenta compreender as ações do outro.

e) ( ) O termo "tradução", segundo Peter Burke, significa "negociação".

AUTOATIVIDADE

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UNIDADE 2

PROCEDIMENTOS TÉCNICOS E LITERÁRIOS DA TRADUÇÃO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer questões pertinentes às escolhas do tradutor;• observar os processos de manipulação da tradução e invisibilidade e visibili-

dade do tradutor;• estudar os recursos tecnológicos empregados na tradução;• observar os parâmetros de tradução dos textos literários, considerando a pro-

sa e a poesia;• explorar outras possibilidades em tradução, como a questão da dublagem e

a da legendagem;• conhecer práticas específicas da tradução juramentada;• entender as diferenças entre a tradução jurídica e a tradução juramentada.

Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará atividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – A TRADUÇÃO LITERÁRIATÓPICO 2 – ASPECTOS PROFISSIONAIS DA TRADUÇÃOTÓPICO 3 – A PRÁTICA DA TRADUÇÃO

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

CHAMADA

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TÓPICO 1

A TRADUÇÃO LITERÁRIA

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

Na primeira unidade observamos questões teóricas relativas à área da tra-dução, reflexões geradas ao longo de praticamente todo o século XX. Conhecere-mos, neste primeiro tópico da Unidade 2, as questões relativas à tradução literária. Já sabemos que a tradução, enquanto ofício, não é algo novo. Pensemos em livros religiosos antigos como a Torah, a Bíblia e o Alcorão: esses livros, considerados os mais importantes da história religiosa da humanidade, jamais chegariam até nós se não fosse pela mão de diversos tradutores.

FIGURA 1 – MANUSCRITOS DA TORAH

FONTE: <http://bit.ly/2DXcD9s>. Acesso em: 15 jul. 2019.

O ofício de tradutor, arte que por natureza exige conhecimento profundo em ambas línguas traduzidas, pressupõe técnica, senso comparativo e metarreflexão por parte do tradutor. Dessa maneira, observamos como se posicionam alguns teóricos da área no que diz respeito à tradução literária, seja ela exercida através da prosa ou da poesia.

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UNIDADE 2 | PROCEDIMENTOS TÉCNICOS E LITERÁRIOS DA TRADUÇÃO

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2 A IMPORTÂNCIA DO TRADUTOR NO CAMPO LITERÁRIO

Acadêmico! Alguma vez você já pensou no quão complexo pode ser o pro-cesso de tradução de uma obra literária? Além das nuances técnicas, também há uma função primordial exercida no mercado editorial. É bem verdade que o tradutor ocu-pa um papel muito importante no campo literário. Pense, por exemplo, na indústria de best-sellers: quantos milhões e milhões de reais pode movimentar a publicação traduzida de uma obra consagrada pelos leitores, como é o caso da série Harry Potter, de J. K. Rowling, ou as Crônicas do gelo e do fogo, de George Martin. São dezenas, cente-nas, milhares de reais que entram no mercado nacional todo ano. Na ponta principal, como sempre foi e sempre será, encontra-se o leitor. Já nos bastidores, no trabalho so-litário cotidiano, encerrado entre quatro paredes, encontramos ninguém menos que o tradutor: o sujeito cujo rosto sequer é mostrado, mas que conhece perfeitamente a obra do autor a ser traduzido, e por quem passam as decisões que darão a tonalidade do texto que chegará nas livrarias para saciar uma legião ávida de leitores.

FIGURA 2 – A TORRE DE BABEL, UM DOS MITOS IDIOMÁTICOS MAIS ANTIGOS (BRUEGEL, O VELHO)

FONTE: <http://bit.ly/36jGlBO> Acesso em: 15 jul. 2019.

Você conhece algum tradutor literário? No Brasil temos casos importantíssi-mos de tradutores que, de tanto prestígio que alcançaram, lograram um espaço de reconhecimento não somente nas editoras de maior poder, mas também na conside-ração dos leitores.

Este é o caso de Eric Nepomuceno. Você já ouviu falar neste tradutor? Nepo-muceno é um dos tradutores mais prestigiados no circuito américo-hispânico-bra-sileiro. Amigo íntimo de Gabriel García Márquez, traduziu a obra do ganhador do Prêmio Nobel ao português. Além disso, também traduziu outros autores hispano-

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TÓPICO 1 | A TRADUÇÃO LITERÁRIA

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-americanos de grande relevância, como é o caso dos argentinos Jorge Luis Borges e Julio Cortázar, e do mexicano Juan Rulfo. Com um currículo de peso, Nepomuceno já ganhou três prêmios Jabuti.

Você sabia que existe o Dicionário de Tradutores Literários no Brasil – DITRA? O dicionário, disponibilizado via web, é vinculado ao grupo de pesquisa “Literatura Traduzida” (UFSC) e é fomentado pelo CNPq. De acordo com os criadores, as informações dos verbe-tes são fruto de muitas pesquisas, incluídas aí aquelas fornecidas por alguns dos tradutores, que têm se mostrado muito receptivos com esta iniciativa. Inspirados em ideias defendidas por Antoine Berman e Anthony Pym, teóricos para quem importam não apenas a figura discursiva, mas também material do tradutor, elaboramos critérios para a confecção dos verbetes e um questionário destinado aos tradutores. Nesse questionário, as perguntas co-briam múltiplos aspectos da atividade do tradutor, entre eles sua trajetória de vida, método de trabalho e concepção da atividade tradutória. Vários instrumentos foram utilizados para chegarmos às informações biobibliográficas dos verbetes. Além do contato direto com os tradutores, foram de especial valia a plataforma Lattes, do CNPq, e os sites da Associação Brasileira de Tradutores, do Sindicato dos Tradutores, da Câmara Brasileira do Livro, do proje-to Releituras e também as listas e páginas pessoais de tradutores. As editoras foram também, em geral, bastante receptivas ao projeto, facilitando o contato com seus tradutores. Foi feita ainda ampla consulta a edições eletrônicas (incluindo os arquivos de anos anteriores) de jornais e revistas, onde foi localizado um riquíssimo material, que inclui artigos, resenhas, entrevistas e uma variada iconografia. Demos particular atenção à leitura dos chamados pa-ratextos, presentes nas traduções: prefácios, posfácios e notas do tradutor, que consultamos em nossa biblioteca de textos traduzidos, atualmente em processo de formação.

Ficou curioso? Acesse: https://dicionariodetradutores.ufsc.br/pt/index.htm.

DICAS

Assim como Nepomuceno, ao longo da nossa história da literatura, outros tra-dutores deixaram sua marca. Aliás, muitos escritores são, também, tradutores. Autores clássicos da literatura brasileira como Machado de Assis, Olavo Bilac, Monteiro Loba-to, Manuel Bandeira, Clarice Lispector, Rachel de Queiroz, Cecília Meireles, Augusto Meyer, Graciliano Ramos, Mario Quintana, e muitos outros com frequência traduziam obras de outros idiomas. Mas não se engane! Não somente os autores de outrora tra-duziram, outros, contemporâneos e de grande prestígio na nossa literatura, também já exerceram ou exercem o ofício de tradutor, como é o caso de Tatiana Salem Levy, Charles Kiefer, Sergio Faraco, Aldyr Garcia Schlee, Ruy Castro, Paulo Leminski, Milton Hatoum, Millôr Fernandes, Marina Colasanti, Marco Lucchesi, Lya Luft, Lúcio Cardo-so, Carlos Nejar e Bernardo Carvalho. A lista é interminável, acadêmico!

Tal qual vimos na primeira unidade, a profissão de tradutor é discutida aca-demicamente no que tange às possibilidades de trabalho e no que se refere a questões estritamente éticas.

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UNIDADE 2 | PROCEDIMENTOS TÉCNICOS E LITERÁRIOS DA TRADUÇÃO

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A seguir, conheceremos um pouco mais sobre as reflexões feitas em torno da tradução literária: afinal, vale tudo ao traduzir um texto para outro idioma?

3 DUAS TENDÊNCIAS EM TRADUÇÃO DE FICÇÃO

A tradução de ficção, uma das linhas de atuação de maior prestígio no âmbi-to da tradução, vem suscitando diversas reflexões em relação ao seu modus operandi. O aspecto mais gritante tem relação com duas tendências demarcadas no âmago das escolhas do tradutor.

Em texto intitulado A tradução literária, Paulo Henriques Britto (2012) oferece uma visão bastante aguçada com relação às ditas escolhas, visto que ao traduzir um texto antes de tudo é necessário um entendimento relacionado aos propósitos do ato de traduzir.

O autor apresenta, primeiramente, a noção de função poética de Roman Jakobson. Nessa visão, entende-se o texto literário como um objeto estético: "o texto literário é aquele em que predomina essa função (a poética), ou seja, aquele em que a ênfase recai no próprio texto, e não nos outros componentes da situação de comuni-cação" (BRITTO, 2012, p. 59). O autor afirma ainda que o texto literário é aquele capaz de expressar os sentimentos do autor, comunicar conteúdos filosóficos ou ideológi-cos aos leitores.

FIGURA 3 – AS POSSIBILIDADES DA TRADUÇÃO

FONTE: <http://bit.ly/2PrFwA2>. Acesso em: 1º jul. 2019.

Em suma, pode-se dizer que a grandeza do texto literário se encontra na ca-pacidade que tem de encantar o leitor. Diante dos desafios de verter um texto literá-rio para outro idioma, como manter o encantamento em outra língua que não aquela na qual o texto foi produzido?

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TÓPICO 1 | A TRADUÇÃO LITERÁRIA

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Na esteira da função poética, Britto (2012, p. 59) apresenta o conceito de fun-ção da tradução: "a função da tradução é produzir um texto em T1, que substitua um texto T, para que possa ser lido por pessoas que leem o idioma em que T1 foi escrito, mas não o idioma em que T foi escrito".

Isto é, um texto traduzido do Espanhol para o português brasileiro procura ser feito para que leitores do português brasileiro o possam entender. Parece óbvio?

Britto (2012, p. 59) sinaliza que deve haver

pois, uma determinada relação de correspondência entre T e T1, para que a leitura de T1, possa ser considerada, até certo ponto e em muitas situações, como correspondendo a uma leitura de T, de tal modo que o leitor de T1, possa dizer, sem faltar com a verdade, que leu T" (id). O autor se pergunta, após a explanação, qual a relação de correspondência existente entre T e T1.

Você arrisca uma resposta plausível?

Dou-lhe uma...Dou-lhe duas...Dou-lhe três...

Não?

Pois então, observe atentamente os seguintes conceitos, pois eles são muito importantes para que possamos compreender o que importa em nível prático quan-do nos propomos a realizar uma tradução literária.

Ao traduzir um texto literário de ficção, o tradutor pode se orientar por dois caminhos pré-definidos. A contribuição de Britto bebe diretamente nas reflexões do filósofo alemão Friedrich Schleiermacher e nos auxilia substancialmente a encontrar o nosso próprio caminho diante das diferentes perspectivas que porventura se colo-quem diante do nosso caminho enquanto tradutores.

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UNIDADE 2 | PROCEDIMENTOS TÉCNICOS E LITERÁRIOS DA TRADUÇÃO

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FIGURA 4 – A TRADUÇÃO COMO A MELHOR FORMA DE EXPRESSAR

FONTE: <http://bit.ly/2PrW1My> Acesso em: 1º jul. 2019.

A estratégia mencionada por Britto (2012) recebe o nome de domesticação. Você lembra quando mencionamos, ao longo deste livro, que a todo momento o tradu-tor está envolvido em escolhas? Pois bem, a domesticação, muitas vezes, constitui uma dessas escolhas. Imagine que você recebeu a proposta de traduzir um texto de Miguel de Cervantes (relembre-se que Cervantes viveu no século XVII). O primeiro desafio com o qual você se depara é a distância existente entre o espanhol escrito por Cervantes e o de hoje: construções poéticas próprias do seu tempo, vocabulário popular, muitas vezes, bastante complexo para o leitor atual.

O que você, como tradutor, faria nesse caso, prezado acadêmico e futuro cole-ga? Traduziria o texto para o português mantendo a complexidade do texto fonte com medo de descaracterizá-lo ou optaria por uma tradução mais palatável ao português, fácil de ser lida pelo leitor brasileiro contemporâneo, com o ônus de correr o risco de ser taxado como adaptador e não como tradutor? Qual dessas atitudes constitui, na sua opinião, uma estratégia domesticadora?

Acertou quem ficou com a segunda opção. Uma estratégia domesticado-ra traria o texto para o leitor de modo que fosse mais fácil ao leitor contemporâneo compreendê-lo. Nesse caso, expressões rebuscadas seriam traduzidas em construções mais simples, sem o adendo da complexidade, pensado originalmente pelo autor na língua em que produziu o texto. Pense na domesticação de cães e gatos. Quando do-mesticamos animais de qualquer espécie nada mais fazemos do que tentar desativar a natureza deles, adaptando-os para uma convivência harmônica e pacífica em (nossa) sociedade. A estratégia domesticadora, nesse caso, nada mais faz do que abrandar as características originais que, porventura, não possam ser compreendidas pelo leitor da T1 (tradução nº 1). O texto literário de Cervantes, hipotético aqui a título de exemplo, funcionaria exatamente assim: no lugar de expressões da época, uma tradução palatá-vel ao público-alvo ao qual o texto se destina.

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FIGURA 5 – A MORTE DO AUTOR?

FONTE: <http://bit.ly/2DXrNf1>. Acesso em: 1º jul. 2019.

Agora vamos conhecer a estratégia estrangeirizante, um pouco mais difícil para o tradutor. Retomemos: se na estratégia domesticadora facilitamos para o leitor, já na estratégia estrangeirizante o tradutor não facilita a vida do leitor. Britto (2012) afirma que esta estratégia é aquela que é defendida e adotada por Schleiermacher (por razões socioculturais que por ora não nos são relevantes). Segundo Britto (2012), a estratégia estrangeirizante consiste em levar o leitor até o tempo e o lugar do origi-nal, sem que seja feita outra concessão a sua facilidade de leitura que não a troca do inglês original pelo português:

Neste caso, eu utilizaria uma linguagem característica do século XVIII, com todos os "tus" e "vós": manteria o sistema de pesos e medidas da época; conservaria todas as referências do original, tal-vez incluindo notas de rodapé para esclarecer as passagens mais difíceis. Se eu quisesse estrangeirizar de maneira mais radical, po-deria até utilizar uma sintaxe próxima à do inglês, ou introduzir anglicismos até então inexistentes para dar o sabor exato das pala-vras do original. O tradutor pode optar por uma ou por outra es-tratégia, mas, segundo Schleiermacher, ou bem ele faz uma coisa, ou bem faz outra; não pode haver meio termo (BRITO, 2012, p. 61).

"A tradução domesticadora gera a invisibilidade do tradutor que busca priorizar a intenção do autor adaptando-a para a cultura local por meio do apagamento de quaisquer traços que possam, porventura, causar estranhamento ao leitor. Dessa forma, o tradutor faz com que o seu texto passe por um texto original sem que o leitor perceba que se trata, na verdade, de um texto traduzido. O esforço do tradutor em aproximar o texto fonte da cultura alvo envolve aspectos políticos e sociais que visam a priorizar o cânone. É, pois, uma leitura conservadora" (FREITAS, 2003, p. 56)

FONTE: FREITAS, L. F. de. Visibilidade problemática em Venuti. Cadernos de Tradução, Florianópolis, v. 2, n. 12, p. 55-63, jan. 2003. ISSN 2175-7968. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/traducao/article/view/6197/5756. Acesso em: 23 jul. 2019.

IMPORTANTE

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Como você pôde ver, esta estratégia demanda pesquisa e estudos por parte do tradutor, pois nela é preciso que realmente se faça uma imersão no contexto no qual o autor estava inserido, pensando questões correlatas na língua para a qual se traduz.

Você concorda com Schleiermacher quando este diz que o tradutor deve priorizar um ou outro caminho? Pois bem, Paulo Henriques Britto (2012) não concor-da. Segundo ele, o que o tradutor literário faz é exatamente o contrário: ele encontra um caminho intermediário entre as duas atitudes extremas: ele não deve facilitar completamente o texto ao português (pois corre o risco de descaracterizar o estilo do autor), nem tampouco ceder à obsessão por ser o mais fiel possível, adotando uma perspectiva estrangeirizadora. O meio termo seria conseguir se equilibrar entre am-bas perspectivas, sabendo mediar, na medida do oportuno, a dosagem de cada um dos aportes possíveis.

O que fazer quando, por questões de ordem maior, é necessário o tradutor adotar obrigatoriamente uma das posturas? Veremos na sequência

4 A ESCOLHA DO TRADUTOR DE FICÇÃO

Imagine que o tradutor literário é uma peça de uma grande engrenagem cha-mada mercado editorial: como sabemos, o papel do tradutor se desenvolve pratica-mente nos bastidores em um cenário cujos holofotes estão virados para a figura do autor e para as grandes empresas editoriais. Perceba, você, que a prática de colocar o nome do tradutor do texto na capa é uma política recente e não é adotada por todas as editoras.

Considerando esse contexto, imagine que você seja convidado para traduzir um romance de um autor contemporâneo reconhecido pelo seu estilo inconfundível. Nesse caso, em hipótese alguma você deveria optar por uma perspectiva puramente domesticadora, já que uma abordagem assim suscitaria revolta nos leitores afeiçoa-dos ao estilo do autor, que provavelmente reclamariam da subtração da característica autoral a qual estão acostumados.

Assim, o tradutor deveria buscar reproduzir o estilo do autor. Alguma vez você já leu José Saramago? O autor português é reconhecido no mundo inteiro pela sintaxe dos seus textos, sintaxe, muitas vezes, desprovida de pontuação.

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FIGURA 6 – UMA DAS EDIÇÕES ESPANHOLAS DE CAIM

FONTE: <http://bit.ly/2YB0Uai>. Acesso em: 29 out. 2019.

Veja, a seguir, um excerto do texto fonte de Caim:

Caim agradeceu como era seu dever, mas o privilégio não podia fazê-lo esquecer os seus agravos contra deus, que iam em argumento, Suponho que o senhor estará feliz, disse aos anjos, ganhou a aposta contra satã e, apesar de tudo, quanto está a sofrer, job não o renegou, Todos sabíamos que não o faria, Também o senhor, imagino, O senhor primeiro que todos, Isso quer dizer que ele apostou porque tinha a certeza de que ia ganhar, De certo modo sim, Portanto, tudo ficou como estava, neste momento o senhor não sabe mais de job do que aquilo que sabia antes [...] (SARAMA-GO, 2009, p.141).

Agora, observe atentamente a versão em espanhol, traduzida por Pilar del Rio, esposa de Saramago:

Caín lo agradeció como era su deber, pero el privilegio no podía ha-cerle olvidar los agravios de dios, que iban en aumento, Supongo que el señor estará contento, les dijo a los ángeles, ha ganado la apuesta contra satán porque, a pesar de todo lo que está sufriendo, job no ha renegado de él, Todos sabíamos que no lo haría, También el señor, imagino, El señor el primero de todos, Quiere decir eso que él apostó porque tenía la certeza de que iba a ganar, En cierto modo, sí, Por tan-to, todo está como estaba, en este momento no sabe más de job de lo que sabía ya antes […] (SARAMAGO, 2009, p. 106).

Perceba que é parte do estilo de Saramago os diálogos sem o uso de traves-sões (—). No texto traduzido, Pilar del Rio manteve exatamente a mesma técnica estilística de Saramago, traço que nos permite reconhecer o autor português por seu estilo único quando lemos os seus textos, mesmo quando não possuem indicação de autoria, dado que essa característica se tornou exclusiva de Saramago, já ganhador do Prêmio Nobel de literatura (1998).

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Observe que os nomes próprios também são iniciados por letras minúscula. Uma tradução domesticadora radicalizante baniria estes traços e suscitaria grande es-tranhamento em leitores já habituados ao estilo do autor português, sejam estes leitores proficientes no idioma fonte (língua portuguesa) ou estrangeiros de línguas diversas.

Este é um exemplo que nos permite entender que nem sempre encontrar o meio termo entre uma tradução domesticadora e outra estrangeirizante é a melhor opção. Há imposições claras do mercado editorial e, muitas vezes, o tradutor não tem o poder de decisão, estando a cargo da empresa contratante, que se pauta em parâmetros diversos.

FIGURA 7 – O MERCADO DE BESTSELLERS E A QUESTÃO DA DOMESTICAÇÃO

FONTE: <http://bit.ly/2s7Rirg>. Acesso em: 7 jul. 2019.

Britto (2012, p. 64) sinaliza que um fator determinante para a escolha, muitas vezes, dá-se em função do público-alvo, elemento importante na política adotada no âmbito da tradução:

quando a tradução é destinada a leitores com menor sofisticação intelec-tual, ou a um público infantojuvenil, o tradutor tenderá a lançar mão de estratégias domesticadoras, com o objetivo de não afastar o leitor, que talvez deixasse o livro de lado se encontrasse uma dificuldade excessiva na leitura.

Conforme se vê, a política de tradução adotada pelo tradutor é menos ób-via e negociável do que se possa imaginar. Adiante refletiremos sobre a questão da poesia. Você observará como funciona a tradução poética.

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Veja o que escreveu Clarice Lispector sobre uma tradução que fez do russo de uma peça de Tchecov. Perceba a questão da domesticação presente no texto:

Mas e quando nos caiu em mãos uma peça de Tchecov? Veio numa fase em que eu estava meio deprimida. Depois eu soube que Tati andou consultando amigos meus para saber se me convinha lidar com o personagem principal, já que este se parecia demais comigo. A conclusão era que eu trabalhasse de qualquer maneira porque me faria bem agir, e porque seria bom eu ver, como num espelho, a minha própria fisionomia. Que me faria bem lidar com um personagem cujo senso trágico da vida termina levando-o ao desespero. Traduzimos Tchecov, eu com um esforço tremendo, pois me parecia estar me descrevendo. Depois, por motivos externos, a peça passou para as mãos de outras pessoas, e perdemo-la de vista. Um dos motivos externos consistia no fato do diretor querer interferir demais na nossa tradução. Não nos incomodamos com a interferência justa de um diretor, tantas vezes esclarecedora, mas as divergências eram muito sérias. Entre outras, ele achava que, em vez de “angústia”, usássemos a palavra “fossa”. Ora, nós duas discordávamos: um personagem russo, ainda mais daquela época e ambiente, não falaria em fossa. Falaria em angústia e em tédio destruidor. Mas, para falar a verdade, em termos atuais, ele estava era na fossa mesmo.

FONTE: Traduzir procurando não trair. In: MONTERO, T.; MANZO, L. (Org.). Clarice Lispector – Outros escritos. Rio de Janeiro: Rocco, 2005. p. 115-118. Publicado originalmente em Revista Joia, Rio de Janeiro, n. 177, maio de 1968. ©Paulo Gurgel Valente.

FONTE: <http://bit.ly/2rtOULt>. Acesso em: 29 out. 2019.

UNI

FIGURA – CLARICE LISPECTOR

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UNIDADE 2 | PROCEDIMENTOS TÉCNICOS E LITERÁRIOS DA TRADUÇÃO

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5 A TRADUÇÃO DE POESIA

Assim como a tradução de ficção, a tradução de poesia também se localiza no olho cerne de um furacão: debates calorosos com argumentos e duras refutações dão a tônica do cenário que se desenha quando observamos a questão da poesia no âmbito da tradução literária. Você pode imaginar o porquê de a poesia ser tão problematizada no âmbito dos estudos de tradução?

Em primeiro lugar devemos pensar na natureza poética: com base na sua expe-riência, você acredita que a poesia é um texto fácil de ser lido? Independentemente da sua resposta, é consenso entre leitores de poesia, críticos e poetas, que a poesia é uma arte que concentra em si grande complexidade, pois envolve elementos semânticos, sintáticos e sonoros que muitas vezes soam dificílimos para pessoas que não estão ha-bituadas com a leitura de poesia.

FIGURA 8 – A COMPLEXIDADE DA TRADUÇÃO POÉTICA

FONTE: <http://bit.ly/2YwTMLT>. Acesso em: 30 out. 2019.

Considerando esses fatores, é importante mencionar que não é raro conhecer pessoas que dizem não gostar de poesia. Muitas vezes o leitor não alcança o nível de abstração exigida por este tipo de texto, o que faz com que o não gostar advenha do não entendimento. Nesse sentido, é natural que a tradução de poesia suscite discus-sões calorosas.

Conforme Britto (2012), existem dois tipos de posturas críticas com relação à poesia: há pessoas que dizem que a poesia pode ser traduzida e há teóricos que defendem que é impossível traduzir poesia.

Alguma vez você já parou para pensar sobre o assunto? Já leu alguma poesia traduzida? Com relação a (im)possibilidade de traduzir poesia, Britto (2012, p. 119) sinaliza que:

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TÓPICO 1 | A TRADUÇÃO LITERÁRIA

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em tese, é possível traduzir poesia, mas na prática todas as traduções poé-ticas são falhas; a poesia não pode (ou não deve) ser propriamente tradu-zida, mas sim recriada, ou imitada, ou parafraseada, ou transpoetizada; é possível traduzir poesia, mas é impossível julgar a qualidade da tradução: tudo que se pode dizer a respeito da tradução de um poema é "eu gosto" ou "eu não gosto.

O autor defende que a poesia é um texto literário como qualquer outro e, por essa razão, pode sim ser traduzido. No entanto, dada a complexidade da arte poética, todos os elementos do poema podem ser importantes, conforme sinaliza o autor:

quando se trata de um poema, em princípio toda e qualquer característica do texto – o significado das palavras, a divisão em versos, o agrupamento de versos em estrofes, o número de sílabas por verso, a distribuição de acentos em cada verso, as vogais, as consoantes, as rimas, as aliterações, a aparência das palavras no papel etc. –, pode ser de importância crucial (BRITTO, 2012, p. 120).

A complexidade da tradução de poesia se dá no ato de decisão sobre quais elementos são mais relevantes para serem recriados na tradução. Evidentemente este processo é bastante árduo, o que demanda muito conhecimento, técnica e tem-po nas escolhas a serem efetuadas (BRITTO, 2012).

O autor defende ainda que toda a tradução – poética ou não – implica em perdas: quão descaracterizadas serão as perdas de uma tradução específica? Quão negociáveis são estas perdas? São aspectos que, sem sombra de dúvidas, devem ser levados em conta pelo tradutor (BRITTO, 2012).

De acordo com Britto, em uma posição oposta a sua, o escritor russo Vladi-mir Nabokov defendia a impossibilidade de traduzir poesia. Eis a sua argumenta-ção: “o poeta utiliza de modo particularmente complexo e sutil os recursos do seu idioma; ora, como os recursos de dois idiomas diferentes nunca são os mesmos, é impossível recriar na língua-meta os efeitos poéticos do original e, portanto, não se deve sequer tentar fazê-lo” (BRITTO, 2012, p. 122).

A grande dificuldade em torno ao traduzir poesia diz respeito aos elemen-tos singulares do idioma do poeta. Conforme Britto, o poeta "trabalha com o que há de mais idiossincrático em seu idioma, e esses elementos por ele utilizados criativa-mente muitas vezes inexistem na língua-meta" (BRITTO, 2012, p. 123).

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UNIDADE 2 | PROCEDIMENTOS TÉCNICOS E LITERÁRIOS DA TRADUÇÃO

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FIGURA 9 – NABOKOV, EM 1973

FONTE: <http://bit.ly/2RzKFbT> Acesso em: 8 jul. 2019.

Veja o que diz Ivan Junqueira, poeta e tradutor, membro da Academia Brasileira de Letras, sobre o ato de traduzir poesia:

A rigor e sem exagero, a tradução exige esforço mais extenso e intenso do que a criação propriamente dita, sobretudo quando se trata do traslado de textos poéticos, nos quais, além de todas as especificidades a que já alu-dimos, resta ainda ao tradutor o desafio de interpretar o pensamento do autor, sem falar nos problemas de atmosfera poética, que é necessário re-criar em outra língua, e, intimamente vinculado a esses, o da escolha do vocabulário, pois há palavras que podem suscitar uma sugestão poética em determinada língua e em outras não, caso se trate de uma tradução literal. É nesse resgate de equivalências que reside o mérito de qualquer tradução. E pode-se dizer até que a maior virtude de qualquer espécie de tradução é não dar nunca a impressão de que o foi (JUNQUEIRA, 2012, p. 10).

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TÓPICO 1 | A TRADUÇÃO LITERÁRIA

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Recomendamos a leitura do livro “Palavra de tradutor – Reflexões sobre a tradução por tradutores brasileiros”. É uma publicação da Universidade Federal de Santa Catarina. Nela, você encontra textos, relatos de processo de tradução de grandes tradutores nacionais como Haroldo de Campos, Clarice Lispector, Paulo Bezerra, Monteiro Lobato, Silviano Santiago, Paulo Henriques Britto, Millôr Fernandes, Ubaldo Ribeiro e outros.

Você pode baixar o e-book gratuitamente em: http://bit.ly/2sYXodT

DICAS

FIGURA – LIVRO PALAVRA DE TRADUTOR

FONTE: <https://bit.ly/2N7l2N7>. Acesso em: 30 out. 2019.

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UNIDADE 2 | PROCEDIMENTOS TÉCNICOS E LITERÁRIOS DA TRADUÇÃO

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Você lembra quando, na Unidade 1, estudamos o conceito de transcriação? Diante de todas as discussões relativas ao traduzir ou não poesia, é importante que pensemos na poesia considerando o conhecimento gerado por Haroldo de Campos, quem considerava a tradução como um processo de transcriação, no qual o tradutor cria algo novo a partir do original.

As discussões em torno a idiossincrasia idiomática têm sentido se pensarmos na singularidade de cada idioma. Não somente idiomas como o mandarim, o árabe ou o russo possuem idiossincrasias gritantes, mas também língua oriundas do mes-mo tronco genealógico – como as germânicas e as latinas – também possuem notáveis traços distintivos cuja expressão torna-se muitas vezes impossível de ser vertida em outros idiomas.

Por essa razão, é importante considerar o posicionamento de Britto com rela-ção a todo e qualquer ato de traduzir: a tradução, ação que pressupõe inúmeras perdas inegociáveis, é viabilizada a partir da consciência de suas próprias fragilidades. Saben-do isso, que muitas vezes pode ser impossível manter a sonoridade, a aliteração, até mesmo a rima ou algum efeito semântico, o tradutor toma consciência de suas próprias limitações e delineia o caminho pelo qual deverá trilhar.

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RESUMO DO TÓPICO 1Neste tópico, você aprendeu que:

• O tradutor possui importância vital no campo literário.

• A tradução de ficção constitui uma das linhas de atuação de maior prestígio no âmbito da tradução.

• Na visão de Britto o texto literário é visto como um objeto estético, em termos de Jakobson.

• A grandeza do texto literário se encontra na capacidade que este tem de encantar o leitor.

• A estratégia da domesticação torna o texto traduzido mais palatável para o leitor.

• A estratégia estrangeirizante consiste em levar o leitor até o texto fonte.

• As estratégias de tradução são escolhidas de acordo com o público-alvo do leito-rado e o perfil editorial.

• Na visão de Britto (2012) todas as traduções poéticas são falhas, de modo que a poesia não pode (ou não deve) ser propriamente traduzida, mas sim recriada.

• Toda a tradução – poética ou não –, implica em perdas e ganhos.

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AUTOATIVIDADE

1 Considere as seguintes sentenças:

I- Todas as traduções poéticas são falhas.II- O tradutor possui relevância ínfima no funcionamento do campo literário.III- A tradução de poesia não deve considerar elementos semânticos, sintáti-

cos e sonoros.

Agora, indique a alternativa CORRETA:a) ( ) Apenas a sentença I está correta.b) ( ) Todas as sentenças estão corretasc) ( ) As sentenças II e III estão corretas. d) ( ) Todas as sentenças estão incorretase) ( ) As sentenças I e III estão corretas.

2 Observe os seguintes trechos traduzidos de obras estrangeiras:

I- Naquela noite chegou o comerciante, trouxe da venda uma libra de balas a cinquenta copeques, ela faia a ela, e eu chamei Lukéria da cozinha e man-dei que lhe fosse cochichar que eu estava no portão e desejava lhe dizer algo de caráter muito inadiável (A dócil de Fiódor Dostoiévski, 2017).

II- Porque, na verdade, eu amo a rainha. Tudo na minha esposa é doce, deli-cado, em contraste com o esplendor exuberante da sua garupa: suas mãos e seus pés, sua cintura e sua boca. Tem o nariz arrebitado e uns olhos lân-guidos, feitos de águas misteriosamente quietas que só o prazer e a cólera agitam (Elogio da Madrasta de Mario Vargas Llosa, 2011).

III- Numa tarde de chuvas primaveris, quando viajava sozinha para Barce-lona dirigindo um automóvel alugado, María de la Luz Cervantes sofreu uma pane no deserto dos Monegros. Era uma mexicana de 27 anos, bonita e séria, que anos antes tivera certo nome como atriz de variedades (Só vim telefonar [conto] de Gabriel García Márquez. In: Gabriel García Márquez, Doze contos peregrinos, 2018).

Relacione as opções correspondentes:1- Perspectiva estrangeirizante.2- Perspectiva domesticadora.( ) Texto A dócil, Fiodor Dostoiéviski; 2017. Tradução de Vadim Nakitin. Edi-

tora 34.( ) Elogio da Madrasta, Mario Vargas Llosa; 2011. Tradução de Ari Roitman e

Paulina Wacht.( ) Só vim telefonar. (conto) Gabriel García Márquez; 2018. Tradução de Eric

Nepomuceno.

3 Leia o seguinte conto:

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La tortuga gigante

Horacio Quiroga

Había una vez un hombre que vivía en Buenos Aires, y estaba muy con-tento porque era un hombre sano y trabajador. Pero un día se enfermó, y los mé-dicos le dijeron que solamente yéndose al campo podría curarse. Él no quería ir, porque tenía hermanos chicos a quienes daba de comer; y se enfermaba cada día más. Hasta que un amigo suyo, que era director del Zoológico, le dijo un día:

— Usted es amigo mío, y es un hombre bueno y trabajador. Por eso quie-ro que se vaya a vivir al monte, a hace mucho ejercicio al aire libre para curarse. Y como usted tiene mucha puntería con la escopeta, cace bichos del monte para traerme los cueros, y yo le daré plata adelantada para que sus hermanitos puedan comer bien.

El hombre enfermo aceptó, y se fue a vivir al monte, lejos, más lejos que Misiones todavía. Hacía allá mucho calor, y eso le hacía bien.

Vivía solo en el bosque, y él mismo se cocinaba. Comía pájaros y bichos del monte, que cazaba con la escopeta, y después comía frutos. Dormía bajo los árboles, y cuando hacía mal tiempo construía en cinco minutos una ramada con hojas de palmera, y allí pasaba sentado y fumando, muy contento en medio del bosque que bramaba con el viento y la lluvia.

Había hecho un atado con los cueros de los animales, y lo llevaba al hom-bro. Había también agarrado vivas muchas víboras venenosas, y las llevaba den-tro de un gran mate, porque allá hay mates tan grandes como una lata de kero-sene.

El hombre tenía otra vez buen color, estaba fuerte y tenía apetito. Preci-samente un día que tenía mucha hambre, porque hacía dos días que no cazaba nada, vio a la orilla de una gran laguna un tigre enorme que quería comer una tortuga, y la ponía parada de canto para meter dentro una pata y sacar la carne con las uñas. Al ver al hombre el tigre lanzó un rugido espantoso y se lanzó de un salto sobre él. Pero el cazador, que tenía una gran puntería, le apuntó entre los dos ojos, y le rompió la cabeza. Después le sacó el cuero, tan grande que él solo podría servir de alfombra para un cuarto.

— Ahora — se dijo el hombre —, voy a comer tortuga, que es una carne muy rica.

Pero cuando se acercó a la tortuga, vio que estaba ya herida, y tenía la ca-beza casi separada del cuello, y la cabeza colgaba casi de dos o tres hilos de carne.

A pesar del hambre que sentía, el hombre tuvo lástima de la pobre tortu-ga, y la llevó arrastrando con una soga hasta su ramada y le vendó la cabeza con tiras de género que sacó de su camisa, porque no tenía más que una sola camisa, y no tenía trapos. La había llevado arrastrando porque la tortuga era inmensa, tan alta como una silla, y pesaba como un hombre.

La tortuga quedó arrimada a un rincón, y allí pasó días y días sin moverse.El hombre la curaba todos los días, y después le daba golpecitos con la

mano sobre el lomo.

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La tortuga sanó por fin. Pero entonces fue el hombre quien se enfermó. Tuvo fiebre, y le dolía todo el cuerpo.

Después no pudo levantarse más. La fiebre aumentaba siempre, y la gar-ganta le quemaba de tanta sed. El hombre comprendió entonces que estaba gra-vemente enfermo, y habló en voz alta, aunque estaba solo, porque tenía mucha fiebre.

— Voy a morir — dijo el hombre—. Estoy solo, ya no puedo levantarme más, y no tengo quien me dé agua, siquiera. Voy a morir aquí de hambre y de sed.

Y al poco rato la fiebre subió más aún, y perdió el conocimiento.Pero la tortuga lo había oído, y entendió lo que el cazador decía. Y ella

pensó entonces:— El hombre no me comió la otra vez, aunque tenía mucha hambre, y me

curó. Yo le voy a curar a él ahora.Fue entonces a la laguna, buscó una cáscara de tortuga chiquita, y des-

pués de limpiarla bien con arena y ceniza la llenó de agua y le dio de beber al hombre, que estaba tendido sobre su manta y se moría de sed. Se puso a buscar enseguida raíces ricas y yuyitos tiernos, que le llevó al hombre para que comiera. El hombre comía sin darse cuenta de quién le daba la comida, porque tenía delirio con la fiebre y no conocía a nadie.

Todas las mañanas, la tortuga recorría el monte buscando raíces cada vez más ricas para darle al hombre, y sentía no poder subirse a los árboles para lle-varle frutas.

El cazador comió así días y días sin saber quién le daba la comida, y un día recobró el conocimiento. Miró a todos lados, y vio que estaba solo, pues allí no había más que él y la tortuga, que era un animal. Y dijo otra vez en voz alta:

— Estoy solo en el bosque, la fiebre va a volver de nuevo, y voy a morir aquí, porque solamente en Buenos Aires hay remedios para curarme. Pero nunca podré ir, y voy a morir aquí.

Pero también esta vez la tortuga lo había oído, y se dijo:— Si queda aquí en el monte se va a morir, porque no hay remedios, y

tengo que llevarlo a Buenos Aires.Dicho esto, cortó enredaderas finas y fuertes, que son como piolas, acostó

con mucho cuidado al hombre encima de su lomo, y lo sujetó bien con las enreda-deras para que no se cayese. Hizo muchas pruebas para acomodar bien la escope-ta, los cueros y el mate con víboras, y al fin consiguió lo que quería, sin molestar al cazador, y emprendió entonces el viaje.

La tortuga, cargada así, caminó, caminó y caminó de día y de noche. Atra-vesó montes, campos, cruzó a nado ríos de una legua de ancho, y atravesó pan-tanos en que quedaba casi enterrada, siempre con el hombre moribundo encima. Después de ocho o diez horas de caminar, se detenía, deshacía los nudos, y acos-taba al hombre con mucho cuidado, en un lugar donde hubiera pasto bien seco.

Iba entonces a buscar agua y raíces tiernas, y le daba al hombre enfermo. Ella comía también, aunque estaba tan cansada que prefería dormir.

A veces tenía que caminar al sol; y como era verano, el cazador tenía tanta fiebre que deliraba y se moría de sed. Gritaba: ¡agua!, ¡agua!, a cada rato. Y cada vez la tortuga tenía que darle de beber.

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Así anduvo días y días, semana tras semana. Cada vez estaban más cerca de Buenos Aires, pero también cada día la tortuga se iba debilitando, cada día tenía menos fuerza, aunque ella no se quejaba. A veces se quedaba tendida, com-pletamente sin fuerzas, y el hombre recobraba a medias el conocimiento. Y decía, en voz alta:

— Voy a morir, estoy cada vez más enfermo, y sólo en Buenos Aires me podría curar. Pero voy a morir aquí, solo, en el monte.

Él creía que estaba siempre en la ramada, porque no se daba cuenta de nada. La tortuga se levantaba entonces, y emprendía de nuevo el camino.

Pero llegó un día, un atardecer, en que la pobre tortuga no pudo más. Ha-bía llegado al límite de sus fuerzas, y no podía más. No había comido desde hacía una semana para llegar más pronto. No tenía más fuerza para nada.

Cuando cayó del todo la noche, vio una luz lejana en el horizonte, un res-plandor que iluminaba el cielo, y no supo qué era. Se sentía cada vez más débil, y cerró entonces los ojos para morir junto con el cazador, pensando con tristeza que no había podido salvar al hombre que había sido bueno con ella.

Y sin embargo, estaba ya en Buenos Aires, y ella no lo sabía. Aquella luz que veía en el cielo era el resplandor de la ciudad, e iba a morir cuando estaba ya al fin de su heroico viaje.

Pero un ratón de la ciudad —posiblemente el ratoncito Pérez— encontró a los dos viajeros moribundos.

— ¡Qué tortuga! —dijo el ratón—. Nunca he visto una tortuga tan grande. ¿Y eso que llevas en el lomo, qué es? ¿Es leña?

— No —le respondió con tristeza la tortuga—. Es un hombre.— ¿Y adónde vas con ese hombre? —añadió el curioso ratón.— Voy... voy... Quería ir a Buenos Aires —respondió la pobre tortuga en

una voz tan baja que apenas se oía—. Pero vamos a morir aquí, porque nunca llegaré...

— ¡Ah, zonza, zonza! —dijo riendo el ratoncito—. ¡Nunca vi una tortuga más zonza! ¡Si ya has llegado a Buenos Aires! Esa luz que ves allá, es Buenos Aires.

Al oír esto, la tortuga se sintió con una fuerza inmensa, porque aún tenía tiempo de salvar al cazador, y emprendió la marcha.

Y cuando era de madrugada todavía, el director del Jardín Zoológico vio llegar a una tortuga embarrada y sumamente flaca, que traía acostado en su lomo y atado con enredaderas, para que no se cayera, a un hombre que se estaba mu-riendo. El director reconoció a su amigo, y él mismo fue corriendo a buscar reme-dios, con los que el cazador se curó enseguida.

Cuando el cazador supo cómo lo había salvado la tortuga, cómo había he-cho un viaje de trescientas leguas para que tomara remedios, no quiso separarse más de ella. Y como él no podía tenerla en su casa, que era muy chica, el director del Zoológico se comprometió a tenerla en el Jardín, y a cuidarla como si fuera su propia hija.

Y así pasó. La tortuga, feliz y contenta con el cariño que le tienen, pasea por todo el jardín, y es la misma gran tortuga que vemos todos los días comiendo el pastito alrededor de las jaulas de los monos.

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Agora que você já leu o conto, vamos traduzi-lo com base no conheci-mento adquirido neste tópico. Este é um conto do começo do século XX. Você pode trabalhar adotando uma perspectiva domesticadora (tornando o conto mais próximo aos leitores contemporâneos), você pode seguir uma abordagem estrangeirizante, mantendo-se o mais próximo ao texto fonte, ou também pode lançar mão de ambas estratégias ao mesmo tempo. Mãos à obra! Justifique sua escolha.

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TÓPICO 2

ASPECTOS PROFISSIONAIS DA TRADUÇÃO

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

O trabalho do tradutor, um ofício de bastidores, com frequência é questio-nado em decorrência de aspectos como a pouca visibilidade e a baixa remuneração. Esta questão, objeto de reflexão e denúncia por parte de diversos teóricos da área, constitui um dos pontos mais nevrálgicos e menos glamorosos do status de tradutor no mundo contemporâneo, seja em países modernos como Estados Unidos ou em países e menor poder financeiro.

FIGURA 10 – DICIONÁRIOS, RECURSO INDISPENSÁVEL NA MÃO DO TRADUTOR

FONTE:<http://bit.ly/2YxwcP3>. Acesso em: 30 out. 2019.

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Além disso, a tradução, ofício que decorre de um processo de tomadas de decisão por parte do tradutor, com frequência está subordinada a matizes ma-croestruturais, como o mercado editorial e o campo de produção de literatura, espaços compostos por suas próprias regras e leis.

Neste tópico, estudaremos a problemática da invisibilidade do tradutor, a questão da tomada de decisão por parte do tradutor e também a questão da fluência articulada no cerne de uma ideologia burguesa de produção.

2 A INVISIBILIDADE DO TRADUTOR

Lawrence Venuti (1994), importante teórico dos estudos de tradução, pro-blematiza a questão da invisibilidade do tradutor no mercado editorial. Em texto intitulado A invisibilidade do tradutor, o teórico estadunidense detecta dois fenômenos inter-relacionados tocantes à questão que dá título ao artigo. O primeiro deles diz res-peito ao leitor no que tange a sua reação ao encontrar um texto traduzido; o segundo se relaciona com o critério utilizado na realização de determinada tradução. O autor afirma que:

Por um lado, os leitores geralmente encaram a tradução de um texto es-trangeiro, seja em prosa ou poesia, como se este houvesse sido originaria-mente escrito em sua língua, como se não fosse, de fato, uma tradução; por outro lado, uma tradução é considerada aceitável (por redatores, revi-sores e leitores) quando sua leitura é fluente, quando a ausência de quais-quer passagens canhestras, construções não idiomáticas ou significados confusos transmite a sensação de que a tradução reflete a personalidade ou a intenção do autor estrangeiro, ou o significado essencial do texto original (VENUTI, 1994, p. 111).

O autor sinaliza que as duas atitudes, por parte dos leitores e também por parte do campo especializado, apagam "completamente a intervenção crucial do tra-dutor do texto" (VENUTI, 1994, p. 111). A questão se centra no êxito da tradução: para o autor estadunidense, quanto mais bem-sucedida é uma tradução, maior é a invisibilidade do tradutor. Nesse sentido, de forma proporcional, maior é a visibili-dade do autor do texto e do significado do texto original:

o corolário extraído dessas atitudes, e frequentemente sustentado pelos próprios tradutores, é que o trabalho da tradução deve ser apagado, que a descoberta deste trabalho durante o processo de leitura é indesejável, pois significa que o texto traduzido não satisfaz o critério da fluência (VENU-TI, 1994, p. 111).

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FIGURA 11 – O TRABALHO SOLITÁRIO DO TRADUTOR

FONTE: <http://bit.ly/347TuMG>. Acesso em: 30 out. 2019.

Você concorda com Venuti, estudante? De fato, quando lemos um texto tra-duzido geralmente focamos no constructo textual e sequer consideramos que por trás daquele texto muitas vezes fluído, escrito em português, encontra-se um sujeito cujo trabalho é primordial para que possamos ter acesso ao conteúdo final (o texto publicado), seja ele um livro de artigos, um romance, uma novela curta, um compên-dio de contos ou poemas. O ponto de tensão é que a questão aventada por Venuti de fato possui sentido se considerarmos que na maioria das vezes o tradutor possui um papel de coadjuvante.

Venuti (1994), no desenvolvimento da questão apresentada, considera que a invisibilidade (que muitas vezes pode soar melodramática aos olhos alheios) encon-tra-se na esteira de outra questão mais ampla: o baixo status que se atribui ao trabalho do tradutor. No pensamento do autor, esse baixo status referido está ligado à questão de que os tradutores são pouco reconhecidos pelo seu trabalho. Evidentemente que existem exceções, como o já mencionado Eric Nepomuceno e tantos outros – como Paulo Bezerra, reconhecido tradutor de Dostoievski, e Beatriz Viegas-Farias, traduto-ra de Shakespeare.

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FIGURA 12 – LAWRENCE VENUTI, TEÓRICO ESTADUNIDENSE

FONTE: <http://bit.ly/2LzFvc4>. Acesso em: 30 out. 2019.

Venuti (1994) menciona ainda o tema da exploração econômica ao qual são submetidos os profissionais deste ramo:

Os tradutores são rotineiramente alienados do produto de seu trabalho por relações de produção que mais se assemelham às que determinam o trabalho em outros setores econômicos, como as indústrias de manu-faturas e de serviços. Os contratos padronizados os forçam a abrir mão de todos os direitos sobre o texto traduzido ao menos pelo tempo em que ele permanecer à venda, às vezes por todo o período de vigor do copyright, que é normalmente feito em nome do editor. Além disso, os tradutores recebem um salário muito abaixo por uma tarefa que geral-mente requer meses de trabalho intelectual intensivo, cuja natureza é altamente especializada: os editores ainda os veem como trabalhadores de aluguel, oferecendo-lhes um pagamento fixo baseado no número de palavras traduzidas e raramente cedendo-lhes parte dos direitos autorais e das vendas de direitos subsidiários e revistas em reedições em brochura (VENUTI, 1994, p.112).

O autor, em seu texto, traz alguns exemplos que comprovam a invisibilidade do tradutor no campo do mercado editorial. Um dos exemplos mostra a experiência e Ronald Christ, autor que observou que diversos jornais nos Estados Unidos, como o The Los Angeles Times, não citam os tradutores nem sequer nos cabeçalhos das resenhas; de acordo com a pesquisa de Christ, os críticos literários não mencionam que determinados livros são traduzidos e citam os textos traduzidos como se tives-sem sido produzidos originalmente na língua inglesa. Além disso, Venuti (1996, p. 112) sinaliza que "os editores quase sempre excluem os tradutores das capas e dos anúncios dos livros".

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FIGURA 13 – O EXAUSTIVO E SOLITÁRIO TRABALHO DO TRADUTOR

FONTE: <http://bit.ly/359447m>. Acesso em: 30 out. 2019.

A invisibilidade, que ocorre nos níveis textual e estético, também se faz pre-sente em torno da questão socioeconômica, de acordo com Venuti (1994, p. 112):

não é difícil perceber aqui uma rede de ligações causais: a invisibili-dade do tradutor para os leitores, apesar de ser em primeira instância um efeito determinado do texto, do próprio uso da língua feito pelo tradutor, determina parcialmente o baixo status cultural e econômico da tradução, e este baixo status, por sua vez, desempenha seu papel, determinando que a tradução continue a ser julgada segundo o crité-rio da fluência, que inicialmente encobre o trabalho do tradutor.

Recomendamos a leitura da dissertação de mestrado intitulada Caminhos do pensamento tradutório de Lawrence Venuti, de autoria de Letícia Della Giacoma de França. O trabalho pode ser acessado em: https://acervodigital.ufpr.br/handle/1884/37133

DICAS

3 A TRADUÇÃO E AS TOMADAS DE DECISÕES

Além da questão da invisibilidade do tradutor, no bojo do assunto também se encontram outros temas de igual importância, como o processo de decisões ine-rente ao ato de traduzir.

Ao escrever A Invisibilidade do tradutor, Lawrence Venuti define o seu enten-dimento do termo "tradução". Para o autor, a tradução é o processo "através do qual uma mensagem é decodificada a partir de uma cadeia de significantes fornecida

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UNIDADE 2 | PROCEDIMENTOS TÉCNICOS E LITERÁRIOS DA TRADUÇÃO

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pelo autor estrangeiro, e outra mensagem correspondente é codificada em cadeia, fornecida pelo tradutor" (VENUTI, 1994, p. 113). A tradução, neste entendimento, constitui-se de natureza inegavelmente transformadora, pois decodifica a cadeia de significantes do texto original e o codifica no idioma traduzido.

FIGURA 14 – FORMAS DE EXPRESSÃO

FONTE: <http://bit.ly/2P3jvIE>. Acesso em: 30 out. 2019.

Venuti (1994) menciona que a escolha da mensagem e a da cadeia de signi-ficantes constitui nada mais do que dois passos fundamentais de um processo. Es-tes passos, por sua vez, demonstram "a natureza profundamente transformadora da tradução e a intervenção ativa do tradutor" (VENUTI, 1994. p. 114). O processo de escolhas (do emprego na língua-meta) advindo da interpretação é, neste caso, uma condição inegociável, na visão de Venuti. Ele afirma que as interpretações do tradu-tor "não podem ser compreendidas em termos das noções simplistas de equivalência ou igualdade linguística entre original e tradução" (VENUTI, 1994. p. 114 ). Você lem-bra quando estudamos Jirí Levy na primeira unidade deste livro? Pois bem, Levy, evocado por Venuti, afirma que:

do ponto de vista da situação de trabalho do tradutor em qualquer mo-mento de sua atividade, a tradução é um PROCESSO DE DECISÕES: uma série de situações consecutivas - como jogadas em um jogo - que impõem ao tradutor a necessidade de escolher entre um número determi-nado (e muitas vezes definível com exatidão) de alternativas (LEVY, 1967 apud VENUTI, 1994, p. 113).

É inegável que a afirmação de Levy, ratificada por Venuti (1994), encontra farto respaldo na prática cotidiana do tradutor. São eleições de ordem diversa que surgem como um leque diante do tradutor. Estas possibilidades se registram nos mais diversos níveis. Venuti afirma que, durante o processo tradutório, as caracterís-ticas fonológicas da cadeia de significante original "são completamente abandona-das" (VENUTI, 1994, p.113); de forma não muito distinta, a sintaxe também é alterada com certa frequência: "estas modificações ocorrem mesmo em textos como os poéti-cos, em que a sonoridade e a ordem das palavras do texto original são importantes para a produção de significado" (id).

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TÓPICO 2 | ASPECTOS PROFISSIONAIS DA TRADUÇÃO

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FIGURA 15 – A CULTURA E SUAS DIVERSAS FACES

FONTE: <http://bit.ly/341Q6TG>. Acesso em: 30 out. 2019

Você recorda, acadêmico, quando abordamos a questão da tradução cultural de Peter Burke? Pois bem, essa é uma das questões de grande importância no proces-so tradutório, visto que, ao traduzir um texto, o tradutor envolve-se em uma cadeia dinâmica composta por elementos culturais de natureza diversa. O texto, muitas ve-zes, pensado para uma cultura X, é construído a partir dos elementos linguísticos disponíveis para o autor naquele idioma X. Ao traduzir um texto de um sistema lin-guístico para outro, o tradutor deve calcular as possíveis perdas e excessos advindos das substituições efetuadas, já que é impossível encontrar um grau de equivalência capaz de conectar em sua completude o texto original ao texto meta.

Ainda, com relação a esse tema, Venuti (1994, p. 114) afirma que não se pode, em hipótese alguma, "pressupor uma relação de coextensão entre o texto fonte e a tradução [...] em sua forma natural, a tradução excede o original”.

FIGURA 16 – RIQUEZA IDIOMÁTICO-CULTURAL NO MUNDO MODERNO

FONTE: <http://bit.ly/2E2LguM>. Acesso em: 30 out. 2019.

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UNIDADE 2 | PROCEDIMENTOS TÉCNICOS E LITERÁRIOS DA TRADUÇÃO

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Você, querido acadêmico e leitor atento, consegue imaginar um exemplo prá-tico do que estamos falando?

Imagine, primeiramente, que você precisa traduzir um texto regionalista (seja ele gaúcho, catarinense ou nordestino) para outro idioma. Existem expressões que, muitas vezes, não possuem correspondente em uma língua estrangeira. Dada a com-plexidade da linguagem humana – assunto que estudamos exaustivamente nas dis-ciplinas Linguística Aplicada à Língua Espanhola I e Linguística Aplicada à Língua Espanhola II –, você consegue deduzir por que muitas construções são impossíveis de se encontrar extensão satisfatória na língua-meta? A questão, a princípio, pode ser compreendida a partir do conceito de tradução cultural que mencionamos anterior-mente. É de conhecimento público que, quando uma expressão local surge em deter-minado contexto, ela não surge simplesmente do nada. Você lembra do conceito de linguagem, que estudamos em Linguística Aplicada à Língua Espanhola I?

Na ocasião, citamos Saussure (1969, p. 9), que nos diz que a linguagem é "he-teróclita e multifacetada", pois abrange vários domínios; “é ao mesmo tempo física, fisiológica e psíquica; pertence ao domínio individual e social”. São essas relações, com elementos de natureza individual e coletiva, considerando fatores históricos e socioculturais, que geram construções que, muitas vezes, não encontram corres-pondente na língua-meta. Afinal, cada lugar é único em sua essência. Pensemos no português mesclado com o alemão ou com o italiano em zonas colonizadas: muitos fenômenos linguísticos advindos desses contatos só se dão em um único tempo/es-paço, não é mesmo? A boa notícia é que a aparente impossibilidade de tradução aca-ba dando origem a um processo de reflexão que leva o tradutor a encontrar formas criativas de cumprir o seu papel.

4 A QUESTÃO DA FLUÊNCIA

Ao pensar a invisibilidade do tradutor, Venuti nos traz a ideia de fluência. Este conceito, na acepção empregada pelo autor, diz respeito ao efeito causado no leitor. Recorde-se que anteriormente mencionamos que a fluência na tradução era uma condição que invisibilizava o tradutor.

Venuti (1994, p. 117) afirma que a fluência indica nos leitores, resenhistas e editores uma determinação ideológica: "a fluência na tradução gera um efeito de transparência, a partir do qual se pressupõe que o texto traduzido representa a per-sonalidade ou a intenção do autor estrangeiro ou o sentido essencial de seu texto".

O autor entende que para a tradução contemporânea, a estratégia da fluência é o produto determinado por duas ideologias burguesas, a consumibilidade e o in-dividualismo. A consumibilidade está relacionada aos índices de venda e também as escolhas feitas pelo editor do livro que será lançado no mercado:

Ambas determinam que o texto será traduzido e lido de forma a reproduzir as relações capitalistas de produção nas quais ele está inserido. Essa contribuição do

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TÓPICO 2 | ASPECTOS PROFISSIONAIS DA TRADUÇÃO

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texto traduzido à reprodução social pode assumir a forma de mero consumo trans-formando-se em produção, como Marx incisivamente descreve o processo no Grun-drisse: quando um texto traduzido torna-se propriedade comerciável, em especial quando alcança a categoria de best-seller, ele incentiva a tradução de tipos parecidos de textos estrangeiros (ou, pelo contrário, a desestimula por estar o mercado satura-do). Por exemplo, o enorme sucesso de O Nome da Rosa, de Umberto Eco, na tradução fluente de William Weaver, estimulou a publicação nos Estados Unidos (e talvez a própria composição) de pós-escrito a O Nome da Rosa.

FIGURA 17 – UMBERTO ECO, AUTOR DE O NOME DA ROSA

FONTE: <http://bit.ly/357qJRz>. Acesso em: 30 out. 2019.

Nesse sentido, a fluência enquanto geradora do mecanismo de personalida-de do autor estrangeiro, nada mais é – na hipótese aventada por Venuti (1994) – do que o resultado de estratégias mercadológicas burguesas, que tornam por manter o tradutor na condição de operário da palavra.

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RESUMO DO TÓPICO 2Neste tópico, você aprendeu que:

• De acordo com Venuti (1994), os leitores geralmente encaram a tradução de um texto estrangeiro, seja em prosa ou poesia, como se este houvesse sido originaria-mente escrito em sua própria língua.

• Para Venuti (1994), uma tradução é considerada aceitável (por redatores, revisores e leitores) quando sua leitura é fluente.

• A invisibilidade se encontra na esteira de outra questão mais ampla: o baixo status que se atribui ao trabalho do tradutor.

• Os tradutores são rotineiramente alienados do produto de seu trabalho por re-lações de produção, como as indústrias de manufaturas e de serviços, segundo Venuti.

• A tradução se constitui de natureza inegavelmente transformadora, pois decodifi-ca a cadeia de significantes do texto fonte e o codifica no texto de chegada.

• Para Jirí Levy, a tradução é um processo de decisões do tradutor.

• Em sua forma natural, a tradução excede o texto original.

• Para a tradução contemporânea, a estratégia da fluência é o produto determinado por duas ideologias burguesas: a consumibilidade e o individualismo.

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AUTOATIVIDADE

1 De acordo com Venuti (1994), é CORRETA a alternativa:

a) ( ) Quanto mais bem-sucedida é uma tradução, maior é a visibilidade do tra-dutor.

b) ( ) A invisibilidade do tradutor não tem relação com o baixo status da profissão.c) ( ) Os leitores não encaram a tradução de um texto estrangeiro, seja em prosa

ou poesia, como se este houvesse sido originariamente escrito em sua língua.d) ( ) Traduzir é ser o mais fiel possível do texto estrangeiro.e) ( ) Quando a leitura de um texto é fluente, ela transmite a sensação de que a

tradução reflete a personalidade ou a intenção do autor estrangeiro.

2 Autorreflexão: com base na leitura desse tópico, na sua opinião, quais a ra-zões do tradutor – apesar de toda a sua importância – ser relegado à invisi-bilidade? Exponha sua opinião entre 15 e 30 linhas.

3 Considere as seguintes assertivas:

I- A fluência na tradução gera um efeito de transparência, a partir do qual se pressupõe que o texto traduzido representa a personalidade ou a intenção do autor estrangeiro ou o sentido essencial de seu texto (Venuti, 1994).

II- A tradução contemporânea à estratégia da fluência é o produto determinado por duas ideologias burguesas: a consumibilidade e o individualismo (Venuti, 1994).

III- A tradução é uma coextensão do texto traduzido.

Assinale a resposta CORRETA:a) ( ) Todas as alternativas estão corretas.b) ( ) Estão corretas I e II.c) ( ) Estão corretas somente I e III.d) ( ) Todas as alternativas estão incorretas.e) ( ) Está correta somente a alternativa II.

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TÓPICO 3

A PRÁTICA DA TRADUÇÃO

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

Ao nos depararmos com a vastidão do campo da tradução, é comum que surjam dúvidas com relação às possibilidades que se desenham no horizonte do tra-dutor. Afinal de contas, todo a complexa formação do tradutor o habilita somente para traduzir textos literários?

FIGURA 18 – A DUBLAGEM PROFISSIONAL

FONTE: <http://bit.ly/2P5tNbm>. Acesso em: 30 out. 2019.

Evidentemente que a resposta a essa pergunta é negativa, caro estudante. Neste tópico, conheceremos alguns campos de atuação profissional, como a tradu-ção juramentada, a tradução jurídica e a tradução audiovisual, como a dublagem e a legendagem.

Se nas seções anteriores pensamos questões de foro teórico, como as discus-sões acadêmicas em torno do ato de traduzir, como a invisibilidade do tradutor e o cenário contemporâneo no qual se encontra neste tópico, conheceremos aplicações empíricas para este profissional.

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UNIDADE 2 | PROCEDIMENTOS TÉCNICOS E LITERÁRIOS DA TRADUÇÃO

2 A TRADUÇÃO JURAMENTADA

Acadêmico! Alguma vez você já precisou dos serviços de um tradutor jura-mentado? Você sabe o que faz um tradutor juramentado? Pois bem, nesta seção va-mos esclarecer algumas questões relativas a este braço e atuação na área de tradução.

A tradução juramentada é uma espécie de fé pública na veracidade de do-cumentos traduzidos. Este trabalho, evidentemente, é efetuado por um tradutor juramentado previamente credenciado à Junta Comercial Estadual. A seleção deste profissional se dá mediante concurso. Quais os tipos de documentos devem ser sub-metidos ao criterioso trabalho do tradutor juramentado?

Com frequência são traduzidos diplomas, históricos escolares, certidões de nascimento, certidões de casamento, registros civis, carteiras de identidade e todo e qualquer documento que necessite ser traduzido de um idioma para outro com fé pública.

FIGURA 19 – A TRADUÇÃO DE DOCUMENTOS OFICIAIS

FONTE: <http://bit.ly/3569oIO>. Acesso em: 30 out. 2019.

A tradução juramentada garante a originalidade do documento, atestando explicitamente que a tradução é legítima. Este é um trabalho bastante sério e é forne-cido por empresas especializadas no assunto e também por profissionais autônomos. Ao optar por uma tradução juramentada o cliente possui uma garantia de autentici-dade similar à fé pública que os tabeliães atribuem a cópias autenticadas em cartório.

A tradução juramentada é uma exigência legal da comunidade internacional. O Brasil implementou o requisito no Decreto Federal nº 13.609, de 21 de outubro de 1943. O sistema garante que os documentos estrangeiros não têm validade legal no Brasil, sendo necessária, para seu reconhecimento nas esferas administrativas, o acom-panhamento de uma versão traduzida ao português, língua oficial do nosso país.

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TÓPICO 3 | A PRÁTICA DA TRADUÇÃO

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Veja o que diz o decreto Decreto nº 13.609, de 21 de outubro de 1943.

CAPÍTULO III

DAS FUNÇÕES DOS TRADUTORES PÚBLICOS E INTÉRPRETES COMERCIAIS

Art. 17. Aos tradutores públicos e intérpretes comerciais compete:

a) Passar certidões, fazer traduções em língua vernácula de todos os livros, documentos e mais papéis escritos em qualquer língua estrangeira, que tiverem de ser apresentados em Juízo ou qualquer repartição pública federal, estadual ou municipal ou entidade mantida, orientada ou fiscalizada pelos poderes públicos e que para as mesmas traduções lhes forem confiados judicial ou extrajudicialmente por qualquer interessado.

b) Intervir, quando nomeados judicialmente ou pela repartição competente, nos exames a que se tenha de proceder para a verificação da exatidão de qualquer tradução que tenha sido arguida de menos conforme com o original, errada ou dolosa, nos termos do artigo 22 e seus §§ 1º e 3º.

c) Interpretar e verter verbalmente em língua vulgar, quando também para isso forem nomeados judicialmente, as respostas ou depoimentos dados em Juízo por estrangeiros que não falarem o idioma do país e no mesmo Juízo tenham de ser interrogados como interessados, como testemunhas ou informantes, bem assim, no foro extrajudicial, repartições públicas federais, estaduais ou municipais.

d) Examinar, quando solicitada pelas repartições públicas fiscais ou administrativas competentes ou por qualquer autoridade judicial, a falta de exatidão com que for impugnada qualquer tradução feita por corretores de navios, dos manifestos e documentos que as embarcações estrangeiras tiverem de apresentar para despacho nas Alfândegas, bem assim qualquer tradução feita em razão de suas funções por ocupantes de cargos públicos de tradutores e intérpretes.

Parágrafo único. Aos exames referidos na alínea d, quando se tratar da tradução feita por corretores de navios, são aplicáveis as disposições do artigo 22 e seus parágrafos. Se o exame se referir a tradução feita por ocupante de cargo público em razão de suas funções e dele se concluir que houve erro, dolo ou falsidade, será o seu resultado comunicado à autoridade competente para promover a responsabilidade do funcionário.

Art. 18. Nenhum livro, documento ou papel de qualquer natureza que for exarado em idioma estrangeiro, produzirá efeito em repartições da União dos Estados e dos municípios, em qualquer instância, Juízo ou Tribunal ou entidades mantidas, fiscalizadas ou orientadas pelos poderes públicos, sem ser acompanhado da respectiva tradução feita na conformidade deste regulamento.

Parágrafo único. estas disposições compreendem também os serventuários de notas e os cartórios de registro de títulos e documentos que não poderão registrar, passar certidões ou públicas-formas de documento no todo ou em parte redigido em língua estrangeira.

DICAS

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UNIDADE 2 | PROCEDIMENTOS TÉCNICOS E LITERÁRIOS DA TRADUÇÃO

Art. 19. A exceção das traduções feitas por corretores de navios, dos manifestos e documentos que as embarcações estrangeiras tiverem de apresentar para despacho nas Alfândegas e daquelas feitas por ocupantes de cargos públicos de tradutores ou intérpretes, em razão de suas funções, nenhuma outra terá fé pública se não for feita por qualquer dos tradutores públicos e intérpretes comerciais nomeados de acordo com o presente regulamento.

Parágrafo único. Somente na falta ou impedimento de todos estes e de seus prepostos poderá o Juiz da repartição encarregada do registro do comércio nomear tradutores e intérpretes ad-hoc. Estes, em seguida ao despacho e no mesmo papel, prestarão o compromisso legal, lavrando aí o seu ato.

Art. 20. Os tradutores públicos e intérpretes comerciais terão jurisdição em todo o território do Estado em que forem nomeados ou no Distrito Federal quando nomeados pelo Presidente da República. Entretanto, terão fé pública em todo o país as traduções por eles feitas e as certidões que passarem.

Art. 21. Qualquer autoridade judiciária ou administrativa poderá, ex-offício ou a requerimento de parte interessada, impugnar a falta de exatidão de qualquer tradução.

Art. 22. Quando alguma tradução por arguida de inexata, com fundamentos plausíveis e que possam acarretar efetivo danos às partes, a autoridade que dela deva tomar conhecimento, sendo judiciária, ordenará o exame que será feito em sua presença. Se a autoridade for administrativa, requisitará o exame com exibição do original e tradução, à Junta Comercial ou órgão correspondente, sendo notificado o tradutor para a ele assistir querendo.

§ 1º Esse exame será feito por duas pessoas idôneas, de preferência professores do idioma e na falta destes por dois tradutores legalmente habilitados, versando exclusivamente sobre a parte impugnada da tradução.

§ 2º O resultado do exame não será mais objeto da controvérsia e a tradução, assim sustentada ou reformada, terá inteira fé, sem mais admitir-se discussão ou emenda.

§ 3º Se do exame só se concluir falta de exatidão da tradução como objeto científico, a nenhuma pena fica sujeito o tradutor, se dele se concluir erro de que resulte efetivo dano às partes, será o tradutor obrigado a indenizá-las dos prejuízos que daí lhes provierem e em Juízo competente; porém, si se provar dolo ou falsidade na tradução, além das penas em que o tradutor incorrer na legislação criminal e que lhes serão impostas no competente Juízo, será condenado pela repartição a que estiver subordinado, ex-officio ou a requerimento dos interessados, às penas de suspensão, multa e demissão, referidas no art. 24 deste regulamento.

Art. 23. Não poderão os tradutores públicos e intérpretes comerciais, sem causa justificada e sob pena de suspensão, se recusar aos exames ou diligências judiciais ou administrativas para que tenham sido competentemente intimados, não lhes sendo igualmente permitido recusar qualquer tradução desde que esta se apresente no idioma em que estejam legalmente habilitados.

FONTE: BRASIL. Decreto nº 13.609, de 21 de outubro de 1943. Estabelece novo Regulamento para o ofício de Tradutor Público e Intérprete Comercial no território da República. Brasília. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1930-1949/D13609.htm. Acesso em 1º nov. 2019.

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TÓPICO 3 | A PRÁTICA DA TRADUÇÃO

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Veja o que o website Eurodicas (s.p.) diz a respeito das funções de um tradutor juramentado:

Não é apenas a tradução fiel de documentos a tarefa que cabe aos res-ponsáveis pela tradução juramentada. Suas atribuições incluem ainda a possibilidade de atuarem como intérpretes em juízo, em cartórios ou em outros locais onde haja a necessidade de interpretação de um texto em outro idioma. Alguns exemplos incluem casamentos entre brasileiros e estrangeiros, a compra e venda de imóveis por estrangeiros, registros de filhos de estrangeiros nascidos no Brasil, audiências públicas, entre ou-tras ocasiões. Ou seja, estamos falando de um campo de ampla atuação e extrema importância para atestar a veracidade de informações nas mais diversas ocasiões.

FIGURA 20 – A FÉ PÚBLICA

FONTE: <http://bit.ly/2rxIwCO>. Acesso em: 30 out. 2019.

Se você ficou interessado nessa profissão, pesquise a respeito dos concursos para tradutor juramentado nas juntas comerciais do seu estado. O processo geral-mente envolve provas de conhecimentos gerais e linguísticos.

Ficou interessado neste tema? Sugerimos a leitura Saiba como virar tradutor juramentado, disponível em http://bit.ly/2P5uDF2.

DICAS

3 TRADUÇÃO JURÍDICA

A tradução jurídica, que não deve ser confundida com a juramentada, consis-te na tradução de documentos jurídicos. Este tipo de tradução pode ser juramentada (com fé pública) ou não. O ponto de inflexão dessa linha de atuação diz respeito à área do direito. Nesse sentido, é importante salientar que não basta um conhecimento satis-fatório em Língua Espanhola para ser tradutor jurídico, mas, também, o conhecimento do sistema jurídico brasileiro e do país estrangeiro. Por quais razões esses conhecimen-tos são necessários?

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UNIDADE 2 | PROCEDIMENTOS TÉCNICOS E LITERÁRIOS DA TRADUÇÃO

FIGURA 21 – A TRADUÇÃO JURÍDICA

FONTE: <http://bit.ly/2RCOe10>. Acesso em: 30 out. 2019.

Em primeiro lugar, esse conhecimento é necessário porque o Direito possui seu próprio vocabulário, recheado de jargões e expressões próprias dessa área. A questão é que, muitas vezes, a tradução literal de um termo não basta, visto que, com frequência, pode acontecer que termos do Direito brasileiro encontrem correspon-dentes completamente diferentes na língua espanhola.

Veja o que diz o texto de apresentação do Dicionário Jurídico Português-Es-panhol, publicado pela editora espanhola Heliasta:

En todo trabajo de traducción, una dificultad principal es la de superar a los llamados falsos amigos: voces en la lengua a la que se traduce, iguales o similares a la del idioma traducido, pero con un significado distinto. Entre el portugués y el español, los falsos amigos son legión. Evitar la confusión que originan es uno de los grandes méritos del diccionario de Blademyr Capeloni Bragança. Otra dificultad característica de la relación entre nuestros idiomas es la de la similitud de sus sistemas jurídicos, simi-litud que no es identidad. Las particularidades de los distintos Derechos nacionales llevan a que presenten instituciones jurídicas propias, y a que los conceptos jurídicos jueguen, en sus respectivos marcos, funciones di-símiles. Para ello ha sido necesario el íntimo conocimiento de los sistemas jurídicos de diversos países, alcanzado mediante una extensa tarea pro-fesional en el campo de la traducción (BRAGANÇA, 2010, contracapa).

De fato, você lembra dos falsos amigos (cognatos) presentes na Língua Espa-nhola? Aquelas palavras que muitas vezes confundem o aprendente do idioma? No âmbito do Direito, não é diferente. Além dos falsos cognatos também existem as seme-lhanças entre os sistemas jurídicos, o que muitas vezes pode gerar confusões homéri-cas, visto que, como bem adverte o texto de apresentação do dicionário, semelhança não significa que ambas línguas são idênticas.

Assim, é compreensível que, além do conhecimento satisfatório da Língua Es-panhola e da Língua Portuguesa, o tradutor jurídico possua um nítido conhecimento do direito nacional e estrangeiro.

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TÓPICO 3 | A PRÁTICA DA TRADUÇÃO

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FIGURA 22 – A QUESTÃO TERMINOLÓGICA

FONTE: <http://bit.ly/2PpEAMu>. Acesso em: 30 out. 2019.

Observe o que diz Nuria Bertachini (2011), advogada e tradutora pública, especialista em espanhol instrumental jurídico:

Tradutores da língua espanhola observam com frequência o uso do "por-tunhol" nos documentos jurídicos. Tal prática é fruto não apenas das se-melhanças entre os idiomas "irmãos" – espanhol e português, mas tam-bém da relativa familiaridade com os ordenamentos jurídicos da maioria dos países que têm o espanhol como língua oficial, com os quais temos em comum o sistema jurídico romano-germânico. Esses fatores levam muitos a crer que é dispensável o assessoramento por tradutores adequadamente capacitados. Porém, vários podem ser os riscos que as traduções ou ver-sões equivocadas podem acarretar. Imagine, caro leitor, uma cláusula de contrato cujo valor estipulado por uma das partes seja de un billón. Ora, a armadilha deste falso cognato pode causar prejuízo de alguns "zeros" à direita, já que "un billón" corresponde a um milhão de milhões, isto é, um trilhão. Observe, em português, "um bilhão" corresponde a mil milhões. Há ainda os casos referentes ao contexto em que diversas expressões po-dem ser utilizadas. "Cancelar" – termo tão comum à língua materna por-tuguesa como sendo o ato de "anular", por exemplo, um pagamento; em outra situação de interlocução, em língua espanhola, pode designar o ato de "efetuar" o pagamento.

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UNIDADE 2 | PROCEDIMENTOS TÉCNICOS E LITERÁRIOS DA TRADUÇÃO

Você conhece o Diccionario del Español Jurídico, publicado pela Real Academia Española? Trata-se de uma ferramenta disponibilizada nas versões impressa e on-line. Para conhecer, acesse: https://dej.rae.es/.

DICAS

FIGURA - DICCIONARIO DEL ESPAÑOL JURÍDICO DA REAL ACADEMIA ESPAÑOLA

FONTE: <https://dej.rae.es/>. Acesso em: 30 out. 2019.

Podemos conceber que a partir da leitura do que escreveu a especialista, que o equívoco na tradução de um texto jurídico pode significar prejuízos incalculáveis, visto que apesar do português e do espanhol serem línguas muito próximas, ambas possuem falsos cognatos que podem causar confusões abissais.

Recomendamos a leitura do texto Presentación - Español Jurídico, disponível em http://bit.ly/356cUmu.No texto, a autora apresenta ao leitor alguns termos específicos do espanhol jurídico.

DICAS

4 LEGENDAGEM E DUBLAGEM

A legendagem e a dublagem são, sem dúvidas, o trabalho do tradutor que mais público alcança, se considerarmos a abrangência de produções audiovisuais como os filmes que toda semana renovam a grade dos mais variados cinemas. É um campo de trabalho bastante amplo: exércitos de dubladores, roteiristas e especialista em legendagem trabalham intensamente para que o resultado final chegue ao públi-co. Afinal, como funciona este trabalho?

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TÓPICO 3 | A PRÁTICA DA TRADUÇÃO

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De acordo com Eliana Márcia dos Santos Carvalho, em ensaio intitulado Du-blagem e legendagem no cinema – perdas ou ganhos?:

Acreditamos que o tradutor de cinema precisa ser um bom contador de histórias. Além de precisar saber contar histórias, precisa também ser um bom ficcionista. Esses dois fatores são determinantes para o sucesso de um filme, independentemente do seu gênero. Necessária se faz também a agilidade criativa nos momentos de comédia, farsa, suspense, terror etc., a fim de que o expectador que não conhece a língua possa entendê-lo. O trabalho do tradutor exige também, uma pesquisa minuciosa. Hoje em dia, o profissional de tradução conta com recursos que lhe permitem aces-so simultâneo à obra escrita e as bandas de áudio e vídeo e o profissional de tradução cinematográfica precisa de tempo para fazer um mergulho na obra, a fim de possibilitar a contextualização na história, pré-produção dos roteiros produzidos, pois é a prática incessante dos roteiros prelimi-nares do filme e a sua imagem e o áudio que serão utilizados na etapa das correções, falhas, cortes e recortes de cenas nos frequentes casos de remontagem do original. Não podemos esquecer da adequação estilística da tradução à riqueza de informação extralinguística presente nos outros recursos semióticos da obra e a parte gráfica, além das técnicas de dicção e mais especificamente as regras de editoração e legendagem (CARVA-LHO, 2006, p. 4).

FIGURA 23 – A LEGENDAGEM

FONTE: <https://www.flickr.com/photos/robertnyman/264241626> Acesso em: 18 jul. 2019.

Além disso, é importante mencionar a questão do estilo. Alguma vez você já colocou um filme dublado com legenda no DVD? Experimente! Você verá que a legenda, na maioria das vezes, é muito diferente da fala dublada. Por que isso acon-tece? Em primeira instância, a resposta é muito simples: como já sabemos a partir do advento da linguística, a linguagem escrita se distingue naturalmente da linguagem coloquial. Por isso, ao trabalhar com dublagem e legendagem, o profissional deve ter uma noção muito nítida do estilo dessas diferentes formas.

O texto dublado deve transmitir a verdade da interação verbal em tempo real entre os personagens, algo que o roteiro original se esmera, na maioria das ve-

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UNIDADE 2 | PROCEDIMENTOS TÉCNICOS E LITERÁRIOS DA TRADUÇÃO

zes, para expressar. É o aspecto interacionista da linguagem: uma dublagem que se orientasse pelos caminhos do texto escrito na legendagem, com frequência falharia no aspecto da verossimilhança. Por outro lado, a legendagem se concentra no grau de informação, permitindo-se, muitas vezes, adequar o discurso, evitando digressões longas e por muitas vezes escolhendo atalhos linguísticos, visto que o tempo de visu-alização da fala geralmente é muito curto e é preciso agilidade para expressar.

FIGURA 24 – RECURSO DUBLAGEM

FONTE: <http://bit.ly/36hSdnO> Acesso em: 19 jul. 2019.

Veja o que Renato Rosemberg, citado por Carvalho (2006), afirma com relação a este ponto:

[...] o grande público, e, pior, boa parte da imprensa, ainda confunde o tra-balho de tradução para dublagem com o de tradução para legendagem. Há diferenças profundas entre os dois, a começar pelo próprio destino do texto traduzido: enquanto na legendagem ele é apresentado direta-mente ao público, e, portanto, tem que ser escrito segundo a norma culta, na dublagem ele serve de base para que o ator o interprete, o que nos deixa mais à vontade para escrever como cada personagem falaria [...] (ROSEMBERG, 2003, p. 164 apud CARVALHO, 2006, p. 4).

Além disso, é importante mencionar que a questão do tempo de leitura é su-mamente importante para a questão estilística da legenda: “na legendagem há dois limites básicos: o número de caracteres que cabem na tela e o tipo de leitura pro-porcional ao número de caracteres. É importante saber também, que o número de caracteres da legenda é calculado de acordo com o tempo disponível para a leitura" (CARVALHO, 2006, p. 5).

Enquanto a dublagem se orienta pelo caminho da interpretação, a legenda-gem se centra em uma perspectiva formal. Você já parou para pensar na dublagem?

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TÓPICO 3 | A PRÁTICA DA TRADUÇÃO

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O dublador – pessoa que dá voz a determinado personagem – nada mais é do que um ator. É preciso ter formação em teatro ou interpretação para se desenvolver nessa profissão. Por outro lado, o ator interpreta o texto que foi (re)escrito/traduzido por um roteirista versado em tradução. Nesse sentido, o trabalho do roteirista/tradu-tor vai muito além do "simplesmente" traduzir, possuindo grande importância no processo de captar e expressar da melhor forma possível os diálogos do texto.

FIGURA 25 – TRADUÇÃO E ROTEIRO

FONTE: <http://bit.ly/346A3UC>. Acesso em: 19 jul. 2019.

E isso está diretamente ligado a um entendimento aguçado da noção de es-tilo. Observe: o texto de um filme dramático como Troia (2004, direção de Wolfgang Petersen) – que se passa em terra distantes em um tempo muito aquém da atualidade –, não pode ter o mesmo estilo de diálogos que um filme como As branquelas (2004, direção de Keenen Ivory Wayans) , por exemplo, uma comédia bastante conhecida. Nesse sentido, é salutar dizer que o tradutor responsável por roteirizar a dublagem de uma obra cinematográfica específica também deve ser versado na arte do roteiro.

Como você pode perceber, no âmbito da tradução são inúmeras as perspec-tivas de atuação. No entanto, não se trata de um caminho fácil, pois muitas vezes a tradução carrega consigo a necessidade da especialização, seja em uma área técnica do conhecimento – como a saúde, a biologia, as engenharias, as letras, a toxicologia – ou na arte de criar roteiros de cinema/televisão.

O universo da tradução, um dos tantos solos férteis da área de Letras, apre-senta grandes desafios para o profissional, que podem ser desenvolvidos proporcio-nando atuação em diversas frentes.

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RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• A tradução juramentada é uma área de atuação, cuja principal função é atribuir fé pública a documentos traduzidos.

• A tradução juramentada é legalizada a partir de um decreto de 1943.

• A tradução jurídica requer um grau de especialidade e conhecimento do portu-guês e da língua traduzida.

• A linguagem da dublagem é diferente da linguagem da legendagem.

• A legendagem e a dublagem são campos proeminentes no âmbito da tradução profissional.

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

CHAMADA

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1 Marque a opção CORRETA:

a) ( ) A tradução juramentada é uma atividade que pode ser desenvolvida por indivíduos com notório saber, sem creditação oficial.

b) ( ) A tradução juramentada é uma exigência legal da comunidade internacio-nal cuja implementação no Brasil se deu no Decreto Federal 13.609, de 21 de outubro de 1943.

c) ( ) Ao tradutor juramentado não compete passar certidões, fazer traduções em língua vernácula de todos os livros, documentos e mais papéis escritos em qualquer língua estrangeira.

d) ( ) De acordo com a lei, os tradutores públicos e intérpretes comerciais não terão jurisdição em todo o território do Estado em que forem nomeados ou no Distrito Federal, quando nomeados pelo Presidente da República.

e) ( ) Segundo o Decreto Federal 13.609/43 poderão os tradutores públicos e in-térpretes comerciais, sem causa justificada e sob pena de suspensão, recusar-se aos exames ou diligências judiciais ou administrativas para que tenham sido competentemente intimados.

2 Considere as seguintes assertivas:

I- Os falsos cognatos são grandes armadilhas na tradução jurídica.II- A tradução jurídica não requer formação e conhecimento específico na

área do Direito.III- O equívoco na tradução de um texto jurídico pode significar prejuízos fi-

nanceiros incalculáveis.

Estão CORRETAS:a) ( ) Todas as assertivas estão corretas.b) ( ) Apenas a II está correta.c) ( ) Estão corretas apenas I e III.d) ( ) Todas as assertivas estão incorretas.e) ( ) A assertiva III está incorreta.

3 Convidamos você a ouvir a música Cosas olvidadas, na voz do cantor Enri-que Bunbury (https://www.youtube.com/watch?v=gWRaiyNX4JY). Agora, acompanhe a letra. Depois de ouvir e ler, convidamos você a traduzir a mú-sica. A tradução, deverá ser adequada à condição de legenda. Hipotetica-mente, esta tradução iria como legenda traduzida do videoclipe da música.

AUTOATIVIDADE

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Cosas olvidadasDespués de mucho, mucho tiempo Recién ahora vuelvo a hablarte Que sensación al escucharte Parece que fuera ayer.

Ya ves estoy mucho más viejo Y gozo igual a aquellos días Que tanto, tanto me querías Ya nada queda, todo se fue.

Son cosas olvidadas Esos viejos amores Y al evocar tiempos mejores Se van nublando nuestras miradas.

Son cosas olvidadas Que vuelven desteñidas Y en la soledad de nuestras vidas Abren heridas, al corazón.

Hay en tu voz un dejo triste De penas y melancolía Y a su conjuro el alma mía

Se esfuerza por no llorar

Es que a los dos nos hizo daño Resucitar las horas muertas Y el corazón abrió sus puertas A la tristeza de recordar

Son cosas olvidadas Esos viejos amores

Y al evocar tiempos mejores Se van nublando nuestras miradas

Son cosas olvidadas Que vuelven desteñidas Y en la soledad de nuestras vidas Abren heridas, al corazón...

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UNIDADE 3

O ENSINO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA E A TRADUÇÃO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEMA partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer aspectos históricos tocantes ao surgimento da língua de sinais;• observar como acontece a organização das línguas de sinais nos países hispa-

no-falantes e também no Brasil;• entender a regulamentação que permite o exercício do profissional de LIBRAS

– Língua Brasileira de Sinais no Brasil: professor, tradutor/intérprete;• refletir sobre questões relativas à utilização de Programas de apoio à tradução

(PATs).• pensar o papel do tradutor freelancer e o manejo de ferramentas;• conhecer ferramentas úteis para o tradutor, como o Trados, o Wordfast, o My-

Memory, o OmegaT e outros;• conhecer a opinião de especialistas quanto à validade do uso – ou não – de

PATs no exercício da profissão;• observar os nichos existentes no campo da tradução, como a tradução médi-

ca, a tradução farmacêutica, a tradução de games, a tradução voltada para o e-commerce e a tradução web.

• entender o papel do intérprete no âmbito da tradução simultânea;• conhecer a tradução intermitente e a simultânea de cochicho;• acessar as possibilidades de formação para o tradutor, como os cursos livres, os

cursos de pós-gradução lato e stricto senso;• conhecer as associações de tradutores e intérpretes existentes no Brasil.

PLANO DE ESTUDOSEsta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – A LÍNGUA DE SINAISTÓPICO 2 – PROGRAMAS DE APOIO À TRADUÇÃO (PAT)TÓPICO 3 – NICHOS DA TRADUÇÃOTÓPICO 4 – A FORMAÇÃO DE TRADUTORES E INTERPRETES

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

CHAMADA

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TÓPICO 1

AS LÍNGUAS DE SINAIS

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

O campo da tradução é um espaço profícuo para a pesquisa e para a espe-cialização, já que se presentifica em diversas áreas do conhecimento e abordagens linguísticas. Nos últimos anos muito se tem escrito e debatido a respeito da tradu-ção em língua de sinais.

FIGURA 1 – LÍNGUAS DE SINAIS - INCLUSÃO

FONTE: <http://bit.ly/36eP7AM>. Acesso em: 2 ago. 2019.

Neste tópico abordaremos questões relativas às línguas de sinais utilizadas no mundo. Tentaremos, ao longo das páginas seguintes, abordar algumas questões importantes para aqueles que desejam conhecer um pouco mais sobre este univer-so, contemplando alguns questionamentos: como as pessoas surdas se comunicam quando estão na presença de alguém de outro país? Quando surgiu a língua de sur-dos em nível internacional? Há uma língua de surdos universal? Como cada país se organiza com relação ao seu próprio idioma de sinais? Qual o viés que o profissional da tradução em língua espanhola deve adotar?

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UNIDADE 3 | O ENSINO DE LÍNGUA

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2 SURGIMENTO DAS LÍNGUAS DE SINAIS

Se na atualidade as línguas de sinais recebem grande projeção midiática, sen-do oferecidos cursos por instituições privadas e públicas, visando especializar profis-sionais neste campo do saber, no passado não havia essa superexposição e organiza-ção que encontramos na atualidade. Afinal de contas, quando surgiram as primeiras manifestações embrionárias das línguas de sinais?

Historicamente, pode-se dizer que a primeira manifestação escrita em prol de um tratado dos signos ocorreu no ano 1620, pelas mãos do espanhol Juan Pablo Bo-net, com a criação da obra "Reduction de las letras y Arte para enseñar á ablar los Mudos". Bonet foi um respeitado pedagogo e logopedista espanhol.

FIGURA 2 – A LETRA “A” NO MANUAL DE BONET

FONTE: <http://bit.ly/2rlpakz>. Acesso em: 2 ago. 2019.

A obra de Bonet é considerada o primeiro estudo de fonética e logopedia. Na obra, o autor propôs uma abordagem de ensino aos surdos com o uso de sinais feitos com as mãos. Evidentemente, uma forma bastante rústica e embrionária, mas com fundamental caráter inaugurador, visto que, a partir desse ponto inicial, possibilitou--se o desenvolvimento futuro de línguas de sinais no mundo inteiro.

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TÓPICO 1 | AS LÍNGUAS DE SINAIS

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FIGURA 3 – O ESPANHOL JUAN PABLO BONET (1573–1633)

FONTE: <http://bit.ly/2RE8peX>. Acesso em: 2 ago. 2019.

Apesar de seu surgimento no século XVII, pode-se dizer que as línguas de signo só encontraram uma estrutura organizacional e uma abordagem completa com o surgimento da língua de sinais francesa, no século XIX. A propósito, foi em Paris, em 1850, que foi publicada a obra Dictionnaire mimique et dactilologique, assinada por Alexandre Blanchet. Atualmente, a língua de sinais francesa possui entre 100 e 200 mil usuários falantes.

FIGURA 4 – O SURGIMENTO DAS LÍNGUAS DE SINAIS

FONTE: <http://bit.ly/2E5j764>. Acesso em: 2 ago. 2019.

A língua de sinais espanhola, LSE, está relacionada à língua francesa de si-nais, já que a publicação inovadora de Diccionario Mímico y Dactilológico, obra assi-nada por Francisco de Villabrille, em 1851, ao que tudo indica se constituía de uma espécie de tradução da obra publicada outrora por Blanchet, em Paris.

Cabe mencionar ao longo da história outras tentativas, como a de 1760, quan-do o alemão Samuel Heinicke criou uma máquina que buscava ensinar a oralidade a pessoas surdas. Reily em "Escola inclusiva: linguagem e mediação", afirma que: "Em vez

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UNIDADE 3 | O ENSINO DE LÍNGUA

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de aproveitar a visão como sentido principal, ele propôs o paladar, associando sons vocálicos a sabores (A com água; E extrato de losna; I com vinagre; O com água com açúcar; U com azeite; para os sons híbridos, fazia misturas dos sabores)" (2004, p.115 apud AMARAL, 2017, p. 2).

Sâmia Carvalho do Amaral, em ensaio intitulado "O surgimento da libras e sua importância na comunicação e educação dos surdos" menciona que, historicamente, foram registradas outras tentativas que visavam apresentar outras alternativas aos surdos:

Após o pesquisador Samuel Heinicke tentar ensinar os surdos a falar, o francês abade L’Épée se destacou na história; também, a partir de 1760, por realizar um trabalho na educação de duas irmãs surdas que haviam perdido seu professor, padre Vanin. Embora disposto a continuar com a educação das mesmas, decidiu por mudar a metodologia que antes era utilizada através de imagens, pois limitava as mesmas de compreende-rem conceitos mais profundos da religião (REILY, 2004, s.p.). Então, pas-sou a utilizar-se de sinais que contemplassem conceitos abstratos. Porém, apesar das duas irmãs terem aprendido a escrever e a ler, a deficiência naquela metodologia era evidente, pois não havia uma gramática que apoiasse tal ensino aprendizagem (AMARAL, 2017, p. 3).

O surgimento da Língua Francesa de Sinais ocorrera, então, graças aos es-forços de Charles-Michel de l'Épée (l'abbé de l'Épée). Fora o pedagogo francês quem criou uma escola gratuita para surdos, ainda no século XVIII. O autor criou, então, um sistema visual nomeado "signos metódicos". Uma mescla de signos com termos gramaticais era no que consistia o método de l'Épée.

FIGURA 5 – O FRANCÊS CHARLES-MICHEL DE L'ÉPÉE

FONTE: <http://bit.ly/35a5bnq>. Acesso em: 2 ago. 2019.

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TÓPICO 1 | AS LÍNGUAS DE SINAIS

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Sem espaço a dúvidas, este momento constituiu um ponto de evolução contí-nua na língua de surdos francesa, o que também impulsionou o desenvolvimento de outras línguas de sinais no mundo, como é o caso da "Lengua de Signos Española" e da nossa brasileiríssima Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), conforme veremos nos subtópicos a seguir.

3 AS LÍNGUAS DE SINAIS NO MUNDO HISPÂNICO

A língua espanhola de sinais, conforme já mencionamos, é uma língua oriun-da da língua de sinais francesa. Dentro do território espanhol existem, ainda, outras variantes, como a Lengua de Signos Catalana, e outras expressões, como a valenciana e demais variantes geográficas.

Somente em 2007 foi instituída a Lei 27/2007, de 23 de outubro, que reconhece a língua de sinais espanhola e regulamenta os meios de apoio a comunicação oral de pessoas surdas, com deficiência auditiva e surdo-cega.

Na Venezuela a lengua de señas venezolana, remonta à década de 1930, após a inauguração da primeira escola que acolhia jovens e crianças surdas na cidade de Caracas.

Veja, a seguir, a lista de línguas de sinais da América Latina elaborada pelo website Cultura-Sorda:LSM: Lengua de Señas Mexicana.LSMY: Lengua de Señas Maya-YucatecaLSChatinoi: Lengua de Señas Chatino (México)LSV: Lengua de Señas VenezolanaLSC: Lengua de Señas ColombianaPISL: Providence Island Sign LanguageLSCuiba: Lengua de Señas de CubaGSL: Guyana Sign LanguageNGT: Nederlandsee GabarentaalKSL: Kajana Sign LanguageLIBRAS: Língua Brasileira de SinaisLSUK: Lengua de Señas de Urubú-KaaporLSP: Lengua de Señas PeruanaLSB: Lengua de Señas BolivianaLSEC: Lengua de Señas EcuatorianaLSCh: Lengua de Señas ChilenaLSPy: Lengua de Señas ParaguayaLSA: Lengua de Señas ArgentinaLSU: Lengua de Señas Uruguaya

• Veja a distribuição completa de acordo com o mapa em: https://cultura-sorda.org/wp-content/uploads/2015/03/LS-Sudamerica-Mexico-Cultura-Sorda.png.

DICAS

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UNIDADE 3 | O ENSINO DE LÍNGUA

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Caso você deseje se especializar na língua de sinais de algum país de língua hispânica, é necessário buscar a qualificação necessária em instituições credenciadas pela lei de cada país. Sem lugar a dúvidas, o aprendizado de uma língua de sinais, conjugado com o conhecimento da língua espanhola que você está tendo aqui, no curso de Letras da UNIASSELVI, pode abrir infinitas possibilidades de atuação pro-fissional tanto no Brasil como em solo estrangeiro.

Você poderá encontrar materiais em espanhol sobre as línguas de sinais utilizadas no mundo hispano-falante, acessando o website https://cultura-sorda.org/.

DICAS

4 LIBRAS

A LIBRAS, Língua Brasileira de Sinais, é uma língua utilizada por pessoas sur-das no Brasil. Ela é uma de mais de 200 línguas de surdos existentes na atualidade e pertence ao tronco familiar da língua de sinais francesa, assim como outras línguas de sinais também utilizadas na Europa, como a Espanha, e também em outros lugares da América.

Você lembra quando mencionamos anteriormente o francês Charles-Michel de l'Épée? Foi ele quem inspirou Dom Pedro II a desenvolver uma língua brasileira de sinais, em uma viagem do Imperador à França:

Em uma viagem à França, Dom Pedro II conheceu o trabalho realizado por L’Épée no Instituto de Surdos de Paris, e percebendo que no Brasil ainda não havia metodologias voltadas para a educação dos surdos, convidou o professor francês Her-nest Huet para realizar a educação destes, o qual teve um papel fundamental no surgi-mento da comunicação e educação dos surdos no Brasil. Hernest Huet fundamentou seus métodos educacionais na leitura labial, articulação da fala e auxílio da datilologia, tornando a língua de sinais francesa a base da Língua Brasileira de Sinais (AMARAL, 2017, p. 3).

Esta viagem e o convite feito pelo imperador a Hernest Huet possibilitou, mais tarde, o surgimento do Instituto Imperial dos Surdos-Mudos, conforme esclarece Sâ-mia Carvalho do Amaral:

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TÓPICO 1 | AS LÍNGUAS DE SINAIS

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Em 1857, Hernest Huet conseguiu o apoio de Dom Pedro II para fundar o Instituto Imperial dos Surdos-Mudos, atualmente chamado de Institu-to Nacional de Educação dos Surdos (INES). Porém, somente a partir de 1960, com o aumento dos diagnósticos de surdez, que houve o maior nú-mero de pessoas interessadas em aprender LIBRAS. Com o surgimento da LIBRAS, o bilinguismo passou a ser um dos meios mais utilizados no processo de ensino-aprendizagem, pois possibilitava aos surdos apren-derem a Língua Portuguesa e a Língua Brasileira de Sinais. A Filosofia Bilíngue diz, de acordo com Goldfeld (1997 apud JESUS; NERES 2015, p. 5) “que o surdo deve adquirir a língua de sinais como língua materna e a de seu país como segunda língua”. Embora haja outras opiniões de que a língua do país deve ser a primeira a ser adquirida e de maneira escrita e oral, tais opiniões desrespeitam o direito dos surdos de ter a língua de sinais como sua língua materna (AMARAL, 2017, p. 3-4).

FIGURA 6 – SEDE DO INES - INSTITUTO NACIONAL DE EDUCAÇÃO DE SURDOS (RIO DE JANEIRO)

FONTE: <http://bit.ly/2YEOGNS>. Acesso em: 2 ago. 2019.

Atualmente, o INES é um órgão de grande importância dentro do Ministério da Educação, visto que é ele quem atende os surdos não somente do território nacio-nal, mas também de países vizinhos que não possuem um órgão similar, conforme aponta o website oficial:

O INES é um órgão do Ministério da Educação que atende alunos sur-dos da Educação Infantil até o Ensino Médio, além de oferecer ensino profissionalizante e estágios remunerados que ajudam a inserir os surdos no mercado de trabalho. O INES também apoia e promove a pesquisa de novas metodologias a serem aplicadas no ensino das pessoas surdas, além de prestar atendimento psicológico, fonoaudiológico e social à co-munidade surda (INES, 2018, s.p).

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UNIDADE 3 | O ENSINO DE LÍNGUA

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Convidamos você a assistir ao vídeo "INES completa 160 anos", disponível no link: https://www.youtube.com/watch?v=XBmsg58xmhE.

NOTA

É importante mencionar que a LIBRAS não se trata simplesmente de tradu-ção do português para os sinais, ou então, de forma mais grosseira, de mímicas feitas no intento de traduzir algo para os surdos. A LIBRAS hoje possui status de Língua, sendo o meio de comunicação e expressão utilizado não somente por surdos, mas também por pessoas que possuem problemas para se comunicar oralmente.

Em tempo, você sabe a diferença entre tradução e intérprete? De acordo com o portal da acessibilidade o intérprete é a “pessoa que transmite o que foi dito de uma língua (língua fonte) para outra (língua alvo)”. Já o tradutor é a “pessoa que traduz de uma língua para outra. Refere-se ao processo envolvendo pelo menos uma língua escrita. Assim tradutor é aquele que traduz um texto escrito de uma língua para a outra (seja ela escrita ou oral)” (FADERS, s.d., s.p.).

Conheça mais sobre o INES assistindo ao vídeo “Primeira escola para surdos do Brasil completa 160 anos”, no link: https://www.youtube.com/watch?v=fb1VgJZUVck.

DICAS

5 A PROFISSÃO DE LIBRAS NO BRASIL: PROFESSOR, TRADUTOR/INTÉRPRETE

Em 2005, o então presidente Luis Inácio Lula da Silva, assinou o Decreto 5.626 que regulamenta o uso de LIBRAS no serviço público. Esse decreto criou normas que visavam o acolhimento e o atendimento de pessoas surdas nas esferas tanto da saúde como da educação federal. No segundo capítulo do referido decreto, é normatizada a inclusão da Libras como disciplina curricular: "Art. 3º A Libras deve ser inserida como disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação de professores para o exercício do magistério, em nível médio e superior, e nos cursos de Fonoaudiologia, de instituições de ensino, públicas e privadas, do sistema federal de ensino e dos sis-temas de ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios".

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TÓPICO 1 | AS LÍNGUAS DE SINAIS

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FIGURA 7 – POLÍTICAS PARA SURDOS POR FORÇA DE LEI

FONTE: <http://bit.ly/2DY3VrE>. Acesso em: 2 ago. 2019.

Além disso, esse decreto também estabelece que a disciplina de Libras cons-tituir-se-ia em disciplina curricular optativa (hoje obrigatória, em caso de cursos de licenciatura) nos cursos de educação superior e profissional.

Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005

CAPÍTULO IIIDA FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE LIBRAS

E DO INSTRUTOR DE LIBRAS

Art. 4º A formação de docentes para o ensino de Libras nas séries finais do ensino fundamental, no ensino médio e na educação superior deve ser reali-zada em nível superior, em curso de graduação de licenciatura plena em Letras: Libras ou em Letras: Libras/Língua Portuguesa como segunda língua.

Parágrafo único. As pessoas surdas terão prioridade nos cursos de for-mação previstos no caput.

Art. 5º A formação de docentes para o ensino de Libras na educação in-fantil e nos anos iniciais do ensino fundamental deve ser realizada em curso de Pedagogia ou curso normal superior, em que Libras e Língua Portuguesa escrita tenham constituído línguas de instrução, viabilizando a formação bilíngue.

§ 1º Admite-se como formação mínima de docentes para o ensino de Libras na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, a forma-ção ofertada em nível médio na modalidade normal, que viabilizar a formação bilíngue, referida no caput.

§ 2º As pessoas surdas terão prioridade nos cursos de formação previs-tos no caput.

Art. 6º A formação de instrutor de Libras, em nível médio, deve ser realizada por meio de:

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UNIDADE 3 | O ENSINO DE LÍNGUA

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I- cursos de educação profissional; II- cursos de formação continuada promovidos por instituições de ensino

superior; e III- cursos de formação continuada promovidos por instituições creden-

ciadas por secretarias de educação.

§ 1º A formação do instrutor de Libras pode ser realizada também por organizações da sociedade civil representativa da comunidade surda, desde que o certificado seja convalidado por pelo menos uma das instituições referidas nos incisos II e III.

§ 2º As pessoas surdas terão prioridade nos cursos de formação previstos no caput.

Art. 7º Nos próximos dez anos, a partir da publicação deste Decreto, caso não haja docente com título de pós-graduação ou de graduação em Libras para o ensino dessa disciplina em cursos de educação superior, ela poderá ser ministrada por profissionais que apresentem pelo menos um dos seguintes perfis:

I- professor de Libras, usuário dessa língua com curso de pósgraduação ou com formação superior e certificado de proficiência em Libras, obtido por meio de exame promovido pelo Ministério da Educação;

II- instrutor de Libras, usuário dessa língua com formação de nível médio e com certificado obtido por meio de exame de proficiência em Libras, promovido pelo Ministério da Educação;

III- professor ouvinte bilíngüe: Libras - Língua Portuguesa, com pós-gra-duação ou formação superior e com certificado obtido por meio de exame de pro-ficiência em Libras, promovido pelo Ministério da Educação.

§ 1º Nos casos previstos nos incisos I e II, as pessoas surdas terão priorida-de para ministrar a disciplina de Libras.

§ 2º A partir de um ano da publicação deste Decreto, os sistemas e as ins-tituições de ensino da educação básica e as de educação superior devem incluir o professor de Libras em seu quadro do magistério.

Art. 8º O exame de proficiência em Libras, referido no art. 7º, deve avaliar a fluência no uso, o conhecimento e a competência para o ensino dessa língua.

§ 1º O exame de proficiência em Libras deve ser promovido, anualmente, pelo Ministério da Educação e instituições de educação superior por ele creden-ciadas para essa finalidade.

§ 2º A certificação de proficiência em Libras habilitará o instrutor ou o professor para a função docente.

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TÓPICO 1 | AS LÍNGUAS DE SINAIS

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§ 3º O exame de proficiência em Libras deve ser realizado por banca exa-minadora de amplo conhecimento em Libras, constituída por docentes surdos e lingüistas de instituições de educação superior.

Art. 9º A partir da publicação deste Decreto, as instituições de ensino mé-dio que oferecem cursos de formação para o magistério na modalidade normal e as instituições de educação superior que oferecem cursos de Fonoaudiologia ou de formação de professores devem incluir Libras como disciplina curricular, nos seguintes prazos e percentuais mínimos:

I- até três anos, em vinte por cento dos cursos da instituição; II- até cinco anos, em sessenta por cento dos cursos da instituição; III- até sete anos, em oitenta por cento dos cursos da instituição; e IV- dez anos, em cem por cento dos cursos da instituição.

Parágrafo único. O processo de inclusão da Libras como disciplina curri-cular deve iniciar-se nos cursos de Educação Especial, Fonoaudiologia, Pedagogia e Letras, ampliando-se progressivamente para as demais licenciaturas.

Art. 10. As instituições de educação superior devem incluir a Libras como objeto de ensino, pesquisa e extensão nos cursos de formação de professores para a educação básica, nos cursos de Fonoaudiologia e nos cursos de Tradução e Inter-pretação de Libras - Língua Portuguesa.

Art. 11. O Ministério da Educação promoverá, a partir da publicação deste Decreto, programas específicos para a criação de cursos de graduação:

I- para formação de professores surdos e ouvintes, para a educação infan-til e anos iniciais do ensino fundamental, que viabilize a educação bilíngue: Libras - Língua Portuguesa como segunda língua;

II- de licenciatura em Letras: Libras ou em Letras: Libras/ Língua Portu-guesa, como segunda língua para surdos;

III- de formação em Tradução e Interpretação de Libras - Língua Portu-guesa.

Art. 12. As instituições de educação superior, principalmente as que ofer-tam cursos de Educação Especial, Pedagogia e Letras, devem viabilizar cursos de pós-graduação para a formação de professores para o ensino de Libras e sua inter-pretação, a partir de um ano da publicação deste Decreto.

Art. 13. O ensino da modalidade escrita da Língua Portuguesa, como se-gunda língua para pessoas surdas, deve ser incluído como disciplina curricular nos cursos de formação de professores para a educação infantil e para os anos iniciais do ensino fundamental, de nível médio e superior, bem como nos cursos de licenciatura em Letras com habilitação em Língua Portuguesa.

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UNIDADE 3 | O ENSINO DE LÍNGUA

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Parágrafo único. O tema sobre a modalidade escrita da língua portuguesa para surdos deve ser incluído como conteúdo nos cursos de Fonoaudiologia.

FONTE: CÂMARA DOS DEPUTADOS. Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, e o art. 18 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/2005/decreto-5626-22-dezembro-2005-539842-publicacaooriginal-39399-pe.html. Acesso em: 20 nov. 2019.

Cinco anos após o decreto presidencial de 2005, em 2010, a deputada federal Maria do Rosário apresentou um projeto de lei que se propunha a regulamentar a profissão de tradutor e intérprete em libras. Esta lei foi sancionada cinco anos mais tarde, em 2015, pela presidenta Dilma Rousseff. Esta lei possibilitou a criação do Es-tatuto da Pessoa com Deficiência. É no referido estatuto onde se especifica questões rela-tivas ao direito à habilitação e à reabilitação, o direito à saúde, à educação, à moradia, ao trabalho, à assistência social, à cultura, ao esporte, ao turismo e ao lazer, do trans-porte e à mobilidade e também da acessibilidade.

FIGURA 8 – MAIS ACESSIBILIDADE

FONTE: <http://bit.ly/36pcUOP>. Acesso em: 2 ago. 2019.

Nos últimos anos foram amplas as políticas públicas voltadas para a imple-mentação da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS – em âmbito público. Esse mo-vimento sistêmico reverberou diretamente no campo de atuação do profissional da área de línguas/linguagens. Hoje, o profissional que deseja especializar-se nesta área do conhecimento encontra uma grande oferta de formação, gratuita ou paga, que o prepara para atuar diretamente em um mercado de trabalho amplo e ávido por profissionais qualificados, com grandes oportunidades de atuação tanto no serviço público como no serviço privado.

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RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• A primeira manifestação escrita em prol de um tratado dos signos ocorreu no ano 1620, pelas mãos do espanhol Juan Pablo Bonet com a criação da obra "Reduction de las letras y Arte para enseñar á ablar los Mudos".

• As línguas de signo só encontraram uma estrutura organizacional e uma aborda-gem completa com o surgimento da língua de sinais francesa, no século XIX.

• Em Paris, em 1850, foi publicada a obra Dictionnaire mimique et dactilologique, assi-nada por Alexandre Blanchet.

• A língua de surdos espanhola está relacionada à língua francesa de sinais.

• O pedagogo francês Charles-Michel de l'Épée (l'abbé de l'Épée) é um dos grandes nomes de referência do desenvolvimento das línguas de sinais.

• Na Espanha existem outras variantes, como a lengua de signos catalana, e outras expressões, como a valenciana e demais variantes geográficas.

• Atualmente, existem ao redor de 200 línguas de sinais no mundo.

• O Imperador Dom Pedro II conheceu o trabalho realizado por L’Épée no Instituto de Surdos de Paris e convidou Hernest Huet para realizar a educação de surdos no Brasil.

• O Instituto Imperial dos Surdos-Mudos converteu-se no que hoje conhecemos por INES, o Instituto Nacional de Educação dos Surdos.

• O Decreto 5.626/2005, assinado pelo ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, regu-lamentou o uso de LIBRAS no serviço público.

• Em 2010, a deputada federal Maria do Rosário, apresentou um projeto de lei que se propunha regulamentar a profissão de tradutor e intérprete em libras. Este projeto se tornou lei em 2015.

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1 Com base no vídeo “Primeira escola para surdos do Brasil completa 160 anos”, e, considerando a leitura do conhecimento aprendido no Tópico 1, escreva um texto dissertativo-argumentativo comentando os seguintes pontos: por que o estudo de LIBRAS é tão importante para o surdo no Brasil? Por que esta é uma área profícua para o profissional da tradução? Na sua opinião, qual o principal desafio para o profissional que deseja atuar neste caminho?

2 Assinale a alternativa INCORRETA:

a) As línguas de sinais só encontraram sua orientação a partir da afirmação da Língua Francesa de Sinais, no século XIX.

b) A LIBRAS surgiu a partir da obra Reduction de las letras y Arte para enseñar á ablar los Mudos, de Juan Pablo Bonet.

c) Samuel Heinicke (1727-1790) criou uma máquina que buscava ensinar a oralidade a pessoas surdas.

d) L’Épée (1712-1789) se destacou na história, também a partir de 1760, por realizar um trabalho na educação de duas irmãs surdas que haviam perdido seu professor.

e) O L’Épée abade criou uma escola gratuita para surdos, ainda no século XVIII.

3 Qual das seguintes iniciativas implementou a regulamentação da LIBRAS no serviço público?

a) A lei que instituiu o Estatuto da Pessoa com Deficiência, assinada pela presi-denta Dilma Rousseff.

b) A Lei Rouanet.c) A Constituição Federal de 1988, apresentada por Ulysses Guimarães.d) O decreto 5.626/2005, sancionado pelo ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva.

AUTOATIVIDADE

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TÓPICO 2

PROGRAMAS DE APOIO À TRADUÇÃO

(PAT)

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

O surgimento da computação, e mais tarde da internet, modificou de forma definitiva o modus operandi de diversas profissões. Assim como todas as outras áre-as, no âmbito da tradução também ocorreram mudanças quase que estruturais, pois, com a facilidade de acesso a softwares e a plataformas, hoje, o trabalho do tradutor conta com a ajuda de recursos que há 30 anos eram impensáveis.

Você já parou para pensar que há poucas décadas o tradutor podia contar somente com dicionários etimológicos, de sinônimos, bilíngues, temáticos, plurilín-gues, analógicos, de abreviatura e siglas? Imagine todo este material impresso, em folha de papel; calhamaços, quilos e quilos de papel sobre a mesa de trabalho do tradutor.

FIGURA 9 – O USO DE SOFTWARES

FONTE: <http://bit.ly/2LF5T4s>. Acesso em: 7 ago. 2019.

É indubitável que o avanço das novas tecnologias modificou, substancial-mente, a forma de atuação do profissional da área de tradução. Se anteriormente os recursos impressos constituíam as principais ferramentas as quais podia recorrer o profissional da área de tradução, hoje este cenário mudou de maneira drástica.

Neste tópico abordaremos as possibilidades de atuação do tradutor freelan-cer e também as diversas ferramentas que podem auxiliar o profissional desta área no exercício da sua profissão.

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UNIDADE 3 | O ENSINO DE LÍNGUA

2 O TRADUTOR FREELANCER E O MANEJO DE FERRAMENTAS

Caro acadêmico, você sabe o que é um profissional freelancer? O termo freelancer, oriundo da língua inglesa, caracteriza um tipo de profissional autôno-mo, que não possui chefe e presta serviços para diferentes contratantes. Este tipo de profissional aceita trabalhos por encomenda. É o profissional quem estabelece o valor do próprio trabalho. Logo, a parte interessada – neste caso o contratante – negocia questões como valores, prazos e extensão do serviço prestado.

FIGURA 10 – O UNIVERSO DOS FREELANCERS

FONTE: <http://bit.ly/357Z82x>. Acesso em: 7 ago. 2019.

Atualmente, profissionais de diversas áreas do saber atuam como freelan-cers, em áreas como o jornalismo, a fotografia, a tradução, o design, a programa-ção, a edição de fotos e vídeos, a revisão de textos, a orientação de TCCs, a criação de conteúdo para blogs, a ilustração e muitos outros.

Além da liberdade, esta forma de atuação pressupõe a não fidelidade do tradutor a um empregador. Logo, isso implica um maior poder de decisão e con-centração de trabalho.

É visando a produtividade do profissional da área da tradução, seja ele free-lancer ou não, que surgiram nos últimos anos dezenas de softwares que visam me-lhorar a vida do tradutor. Geralmente, estas ferramentas oferecem ao tradutor facili-dades que, quando convertidas em vantagens, transformam-se em horas de trabalho economizado.

3 FERRAMENTAS ÚTEIS

Nesta seção elencaremos algumas ferramentas funcionais na tarefa cotidiana da tradução. Em linhas gerais, todas as ferramentas oferecem versões gratuitas e pa-gas de seus produtos.

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TÓPICO 2 | PROGRAMAS DE APOIO À TRADUÇÃO (PAT)

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3.1 TRADOS

O Trados é um dos softwares mais antigos de tradução. Seu surgimento re-monta ao ano de 1984. O programa foi desenvolvido pela empresa alemã Trados GmbH. A grande popularização deste software se deu a partir da incorporação dele pela Microsoft no Windows.

FIGURA 11 – O SOFTWARE TRADOS

FONTE: <http://bit.ly/2LHwwph>. Acesso em: 20 nov. 2019.

A grande vantagem do Trados, hoje, são algumas opções que a plataforma ofe-rece, como o Multiterm, uma ferramenta que trabalha em função de questões termino-lógicas. Além deste recurso, também é oferecido o SDL Trados Studio, um tradutor de arquivos que cria memórias de tradução e gerencia projetos de ordem diversa.

3.2 WORDFAST

O Wordfast é um software especialista em memória de tradução. Este pro-grama surgiu em 1999 na esteira do sucesso do Trados. Logo no princípio, podia-se instalá-lo como um macro dentro do Microsoft Word. Conforme a ferramenta foi se popularizando entre os usuários, a empresa passou a oferecer outras versões pagas do produto, mais refinadas e com aportes mais completos do que na versão gratuita.

Page 120: Técnicas de Tradução em Língua espanhoLa

110

UNIDADE 3 | O ENSINO DE LÍNGUA

FIGURA 12 – WORDFAST, FERRAMENTA

FONTE: <http://bit.ly/2PaCDVv>. Acesso em: 20 nov. 2019.

Atualmente, a empresa oferece o Wordfast Translation Studio, software pago, lançado dez anos após o lançamento da versão gratuita.

3.3 GOOGLE TRANSLATE

Devido a facilidade de acesso, atualmente o Google tradutor é uma das ferra-mentas mais utilizadas, visto que pode ser acessado on-line. A ferramenta, que trans-litera o documento para uma língua estrangeira, deve ser utilizado com cuidado. Vale lembrar que a tradução não é perfeita e é necessária atenção máxima por parte do tradutor no manejo de expressões linguística, termos específicos de determinadas culturas, e também na tradução de orações complexas. É uma ferramenta auxiliar, bastante funcional, mas que não pode ser utilizada como instrumento principal e sim na condição de auxiliar.

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TÓPICO 2 | PROGRAMAS DE APOIO À TRADUÇÃO (PAT)

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FIGURA 13 – UMA DAS FERRAMENTAS MAIS USADAS

FONTE: <http://bit.ly/2E1qThl>. Acesso em: 20 nov. 2019.

3.4 MYMEMORY

O MyMemory, além das funcionalidades presentes no google tradutor e em outros softwares conhecidos de tradução automática, gera um banco de dados a par-tir da contribuição de cada usuário. Esse material acaba sendo acumulado em um megabanco de dados.

O programa está disponível em: https://mymemory.translated.net/.

DICAS

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UNIDADE 3 | O ENSINO DE LÍNGUA

FIGURA 14 – MYMEMORY

FONTE: <http://bit.ly/36mX8nv>. Acesso em: 20 nov. 2019.

3.5 OMEGAT

O OmegaT é um software gratuito disponível para as plataformas Windows, Mac e Linux. Com este programa, o tradutor tem acesso a processamento simultâneo de projetos com vários arquivos, uso simultâneo de múltiplas memórias de tradução e a glossários de usuários com reconhecimento de formulários flexionados.

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TÓPICO 2 | PROGRAMAS DE APOIO À TRADUÇÃO (PAT)

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FIGURA 15 – OMEGAT

FONTE: <http://bit.ly/38rjA0o>. Acesso em: 20 nov. 2019.

Apesar das facilidades, o fabricante adverte em sua página oficial: "OmegaT é uma aplicação de memória de tradução gratuita que funciona no Windows, Mac, Linux [...]. É uma ferramenta destinada a tradutores profissionais. Não traduz para você! (Software que faz isso é chamado de tradução automática, e você terá que pro-curar em outro lugar por isso)" (s.d., s.p). Vale mencionar que o programa trabalha, ainda, com 30 formatos de arquivos, como Microsoft Word, Excel, Power, XHTML e HTML, formatos de LibreOffice e OpenOffice, Mediawiki, textos simples e outros.

4 UMA REFLEXÃO SOBRE O USO DE SOFTWARES DE TRADUÇÃO

Em ensaio intitulado "Por que usar programas de apoio à tradução?", os auto-res Danilo Nogueira e Vera Maria Conti Nogueira (2014), tradutores profissionais, abordam a questão do trabalho do tradutor mediado por PAT (Programas de Apoio à Tradução). Logo no princípio de seu texto, os autores oferecem uma importante reflexão quanto ao uso de softwares de tradução e o dado conservadorismo (rodeado de preconceito) de alguns profissionais da área:

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114

UNIDADE 3 | O ENSINO DE LÍNGUA

Tradutores tendem ao conservadorismo tecnológico. Entre os mais ve-lhos, ainda há quem alimente a saudade de sua máquina de escrever. Há quem diga, “sou tradutor, não micreiro”, como, há quarenta anos, havia quem entregasse ao editor traduções manuscritas, alegando ser tradutor, não datilógrafo. Quem se recusa a usar programas de apoio à tradução (PAT) costuma alegar que esses programas podem ser muito úteis para os outros, mas, para o “seu” tipo de tradução, tem pouca serventia. Entretan-to, os PATs são úteis, para não dizer indispensáveis, para todos os tradu-tores e tipos de tradução, exceto quando a saída eletrônica não é aceitável, como é o caso da legendagem. Os ganhos de produtividade são maiores em textos altamente repetitivos, mas os ganhos de qualidade e conforto do tradutor são sempre altos, independentemente do tipo de tradução. Nenhum desses programas traduz, todos ajudam o tradutor a realizar um trabalho de melhor qualidade, com mais facilidade e em menor tem-po (NOGUEIRA, 2014, p. 19).

Entre as vantagens no uso de um PAT, os autores elencam que, na maio-ria deles, é possível ver o texto de partida e de chegada abaixo ou ao lado. Ou seja, esta funcionalidade aparece na medida em que o tradutor realiza a tradução. Além disso, estes programas dificultam os saltos, o que evita que o tradutor "se perca" entre o que foi traduzido e o que ainda não foi. A maioria dos softwares oferece o tratamento a formatos ditos ‘estranhos’, tais como PowerPoint, HTML, XML, C++, Java, XML" (NOGUEIRA, 2014, p. 21).

"Esses formatos “não Word” representam uma parcela crescente de nos-so serviço e, embora o texto em si possa ser até fácil de traduzir, lidar corretamente com a profusão de marcações (“tags”) é uma tarefa impos-sível sem PAT" (NOGUEIRA, 2014, p. 21).

As vantagens, incluem, ainda, o uso de diversos glossários ao mesmo tempo, a pesquisa ativa e imediata, a garantia do uso de traduções obrigatórias, a coleta de termos e preparação de glossários específicos, as buscas difusas, as memórias de tra-dução e tantos outros.

FIGURA 16 – O USO DE SOFTWARES

FONTE: <http://bit.ly/340IIrC>. Acesso em: 7 ago. 2019.

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TÓPICO 2 | PROGRAMAS DE APOIO À TRADUÇÃO (PAT)

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Na conclusão de seu ensaio, os autores realizam uma espécie de manifesto pró-PATs baseado em sua própria experiência: "há muito não traduzimos absolu-tamente nada sem PAT. Como resultado, construímos um enorme corpus bilíngue, fonte de informações preciosas para nosso trabalho. Atualmente, traduzir a partir de um texto de partida impresso ao lado é como apertar um parafuso usando uma faca de cozinha" (NOGUEIRA, 2014, p. 35).

Ficou curioso para saber mais sobre PATs? Convidamos você a ler o texto na íntegra em: https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/4925631.pdf.

DICAS

FONTE: <http://bit.ly/2LCeGUE>. Acesso em: 20 nov. 2019.

Page 126: Técnicas de Tradução em Língua espanhoLa

116

RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• O surgimento da computação, e mais tarde da internet, modificou de forma defi-nitiva o modus operandi de diversas profissões.

• O freelancer é um tipo de profissional autônomo, que não possui chefe e presta serviços para diferentes contratantes.

• O trabalho do tradutor já não mais se atrela unicamente a ferramentas tradicionais, como dicionários, mas a Programas de Apoio à Tradução (PAT).

• O Trados é um dos softwares mais antigos de tradução.

• O Wordfast é uma alternativa ao uso do Trados em âmbito profissional.

• O Google Translator é uma ferramenta que translitera o documento para uma lín-gua estrangeira.

• O MyMemory gera um banco de dados a partir da contribuição de cada usuário.

• O OmegaT permite o acesso a processamento simultâneo de projetos com vários arquivos, uso simultâneo de múltiplas memórias de tradução, e também a glossá-rios de usuários com reconhecimento de formulários flexionados.

• Na maioria dos PATs é possível ver o texto de partida e de chegada abaixo ou ao lado.

• Os PATs facultam o uso de diversos glossários ao mesmo tempo, a pesquisa ativa e imediata, a garantia do uso de traduções obrigatórias, a coleta de termos e prepa-ração de glossários específicos, as buscas difusas, as memórias de tradução e tantos outros.

Page 127: Técnicas de Tradução em Língua espanhoLa

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AUTOATIVIDADE

1 Considere as seguintes assertivas:

I- Os PATs são ferramentas que efetuam o trabalho no lugar do tradutor.I- O freelancer pressupõe fidelidade a um empregador fixo.III- As ferramentas de tradução pressupõem um avanço no modus operandi do

tradutor.

Estão corretas:a) I, II e III.b) Apenas I.c) Apenas I e II.d) Apenas III.e) Nenhuma das alternativas está correta.

2 De acordo com o texto do Tópico 2, marque a PAT que prioritariamente translitera:

a) MyMemory.b) OmegaT.c) Wordfast.d) Google translator. e) Trados.

3 Por qual razão, na sua opinião, é importante o profissional da área de tra-dução manter-se atualizado com relação às ferramentas e às novas tecno-logias? Desenvolva um texto dissertativo-argumentativo, de 15 a 30 linhas, comentando essa questão.

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TÓPICO 3

NICHOS DA TRADUÇÃO

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

Anteriormente abordamos alguns campos de trabalho possíveis para o tra-dutor, como a dublagem e a legendagem, a tradução de narrativas e de poesia, a tradução juramentada e também a tradução jurídica. Neste tópico apresentaremos a você outras perspectivas de atuação do profissional especializado na arte de traduzir.

Você já parou para pensar na infinidade de perspectivas que se abre no gran-de leque da tradução? A indústria farmacêutica, por exemplo, chefiada por megala-boratórios internacionais, com frequência necessita de profissionais aptos para tra-duzir inúmeras bulas de remédios e outros documentos de importância para o setor.

FIGURA 17 – O MUNDO EM IDIOMAS

FONTE: <https://svgsilh.com/svg/456774.svg>. Acesso em: 10 ago. 2019.

Outro setor que movimenta um exército de profissionais da tradução é o campo de games. A tradução, a dublagem e a legendagem aplicada a jogos constitui tarefas rotineiras em empresas que prestam serviços para megaempresas do setor.

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UNIDADE 3 | O ENSINO DE LÍNGUA

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2 TRADUÇÃO MÉDICA

O profissional que se dedica ao campo da tradução médica presta serviços para organizações não governamentais, agências sanitárias, empresas farmacêuticas e hospitais.

Com frequência estes profissionais se deparam com uma imensidão de do-cumentos por traduzir. Entre os infinitos tipos, destacamos: informes médicos, ques-tionários, formulários, histórico clínico, instruções para pacientes, ensaios clínicos, resultados de exames, publicações médicas, resultados de análises, informes clínicos, documentos de teor informativo, artigos médicos, websites de páginas médicas, for-mação em EAD (também conhecido como e-learning), protocolos clínicos, material informativo destinado a pacientes e também dispositivos médicos.

FIGURA 18 – ÁREA MÉDICA

FONTE: <http://bit.ly/3469rTy>. Acesso em: 10 ago. 2019.

Em linhas gerais, o profissional pode ser formado na área de medicina ou não. Quando o tradutor não possui essa formação é desejável que trabalhe com pes-soas experientes no exercício da medicina e também da tradução. Esses profissionais costumam agrupar-se em equipes.

3 TRADUÇÃO FARMACÊUTICA

Assim como a tradução médica, a tradução farmacêutica é um campo bastante específico no universo da tradução. Pode-se dizer que essa área possui campos de afi-nidade com a tradução médica, apesar de voltar-se para outras áreas do saber como a formação em química.

O tradutor que escolha especializar-se nesta área específica, com frequência encontrará na rotina de trabalho o desafio de tradução análises farmacêuticas, relató-rios laboratoriais, rótulos de remédios, artigos de farmácia, registros de medicamentos, fichas técnicas, conferências ministradas no âmbito da indústria farmacêutica, questio-nários, manuais de produtos químicos, descrição de embalagens, tradução de estudos

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TÓPICO 3 | NICHOS DA TRADUÇÃO

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farmacológicos, fichas de segurança químico-farmacêuticas, relatórios de farmacovi-gilância, expedição e registro de medicamentos, patentes farmacêuticas e químicas, produtos farmacêuticos, documentação de laboratório, legislação e regulamentação farmacológica, marketing farmacêutico, folhas de dados de segurança de materiais e muitos outros.

FIGURA 19 – A TRADUÇÃO DE RÓTULOS DE REMÉDIOS

FONTE: <https://svgsilh.com/svg/296966-ff5722.svg>. Acesso em: 10 ago. 2019.

Bastante coisa, não? Como você pode perceber, trata-se de um campo am-plo que visa uma abordagem esgotante das possibilidades e atuação do profissio-nal em farmácia.

4 TRADUÇÃO DE GAMES

Apesar de, em um primeiro momento, não parecer um campo promissor, en-gana-se quem ignora o mercado de games. São dezenas, centenas, milhares de joga-dores que esperam anualmente o lançamento da atualização de seus jogos favoritos.

Ao entrar em determinado mercado, as grandes produtoras de jogos preci-sam comprometer-se em possibilitar aos jogadores a mesma experiência que o jogo original proporciona. Isso implica, muito além de uma simples tradução do jogo para outro idioma, significa encontrar a expressão perfeita que dê conta das sensações que o game original suscita nos players.

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UNIDADE 3 | O ENSINO DE LÍNGUA

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FIGURA 20 – O MÁGICO UNIVERSO DOS GAMES

FONTE: <https://www.megatopico.com/download/file.php?id=36257>. Acesso em: 10 ago. 2019.

Evidentemente, este campo – assim como as demais – exige conhecimento em nível terminológico e também das plataformas de games. Esses profissionais conhe-cem a fundo os principais consoles, como o PlayStation, o Xbox, o Wii e também as plataformas digitais Android, iOS e Windows. Além disso, também traduzem jogos para computador e ramos de jogos on-line, como são os RPGs, MMORPG e MMO.

5 TRADUÇÃO E-COMMERCE

Você sabe o que é e-commerce? O e-commerce nada mais é do que o comér-cio feito através da web: lojas que vendem produtos para usuários no mercado nacio-nal ou internacional. Alguma vez você já fez a compra de algum produto em algum website estrangeiro? Imagine que você acesse um website chinês para comprar um produto que lhe pareceu financeiramente vantajoso. Para que você entenda o conteú-do da página de e-commerce, o conteúdo não poderia estar escrito em chinês. Certo? É nesse momento em que entra em ação o profissional de tradução: é ele quem vai traduzir a descrição dos produtos para a língua do público-alvo.

O trabalho da empresa encarregada da tradução facilita questões práticas do vendedor, como a chegada a potenciais clientes no idioma em seus idiomas nativos, per-mitir a adaptação do mercado local ao conteúdo da loja on-line etc. Sem dúvidas é um campo bastante promissor com o advento da informática, visto que, atualmente, desde os gigantes internacionais chineses até os microempreendedores nacionais estão valen-do-se deste recurso. Vender os produtos em outros idiomas é possibilitar o alcance a um número maior de clientes, além de potencializar as vendas e a economia da empresa.

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TÓPICO 3 | NICHOS DA TRADUÇÃO

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FIGURA 21 – AS COMPRAS AO ALCANCE DE UM TOQUE

FONTE: <http://bit.ly/2P74B47>. Acesso em: 10 ago. 2019.

6 TRADUÇÃO WEB

Atualmente, diversos serviços possibilitam a tradução automática de websi-tes para outros idiomas. O problema desse serviço prestado, muitas vezes está rela-cionado à questão da transliteração: dispositivos, como o Google translator, translite-ram o texto de uma língua para outra.

É neste aspecto em que entra o trabalho do tradutor, responsável por direcio-nar um olhar atento ao texto traduzido, considerando nuances linguísticas significa-tivas e questões de contexto sociocultural. Por essa razão é que inúmeros donos de websites recorrem ao trabalho profissional de um tradutor, com o objetivo de obter o melhor resultado.

FIGURA 22 – A WEB

FONTE: <http://bit.ly/38r1LPi>. Acesso em: 10 ago. 2019.

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UNIDADE 3 | O ENSINO DE LÍNGUA

124

A tradução de páginas web, mais além da própria tradução, implica – tam-bém – a nossa já conhecida noção de tradução cultural. É importante levar em conta fatores como a cultura destino e demais especificidades ligadas ao público ao qual se destina determinados produtos.

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RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• Existe uma infinidade de perspectivas de atuação no grande leque da tradução.

• O profissional que se dedica ao campo da tradução médica presta serviços para organizações não governamentais, agências sanitárias, empresas farmacêuticas e hospitais.

• Os tradutores que atuam na tradução médica traduzem questionários, formulá-rios, histórico clínico, instruções para pacientes, ensaios clínicos, resultados de exa-mes, publicações médicas, resultados de análises, informes clínicos, documentos de teor informativo, artigos médicos, entre outros tipos de documentos.

• A tradução farmacêutica possui campos de afinidade com a tradução médica, ape-sar de voltar-se para outras áreas do saber como a formação em química.

• Entre os tipos de documentos manipulado no âmbito da tradução farmacêutica, encontram-se as análises farmacêuticas, relatórios laboratoriais, rótulos de remé-dios, artigos de farmácia, registros de medicamentos, fichas técnicas entre outros.

• A tradução de games visa possibilitar ao jogador a mesma experiência que o jogo original proporciona.

• Para atuar no âmbito da tradução de games é necessário conhecimento em nível terminológico e também das plataformas de games.

• A tradução em e-commerce facilita o comércio feito através da web, atua em prol de lojas que vendem produtos para usuários no mercado nacional ou internacio-nal.

• O tradutor web é responsável por direcionar um olhar atento ao texto traduzido, con-siderando nuances linguísticas significativas e questões de contexto sociocultural.

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AUTOATIVIDADE

1 Considere as seguintes opções:

(a) Tradução médica.(b) Tradução de games.(c) Tradução farmacéutica.(d) Tradução de e-commerce.(e) Tradução web.

Agora marque a descrição correspondente a cada um dos nichos anteriores:

( ) Considera nuances linguísticas significativas e questões de contexto socio-cultural.

( ) Traduz resultados de exames; publicações médicas; resultados de análises; informes clínicos; documentos de teor informativo.

( ) Facilita questões práticas do vendedor, como a chegada a potenciais clientes no idioma em seus idiomas nativos, permitir a adaptação do mercado local ao conteúdo da loja on-line.

( ) Traduz fichas técnicas, conferências, questionários, manuais de produtos químicos e descrição de embalagens.

( ) Se propõe a proporcionar no usuário a mesma sensação que este tem ao aces-sar o produto original.

2 Convidamos você a assistir ao vídeo Traducción Médica, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Lkzr9r4eXdk

Agora responda as seguintes perguntas:

a) Quais os três pontos importantes que apontam a importância da medicina?

b) Em que consiste a tradução?

c) Quais são os textos usados na tradução médica?

d) Quais são os profissionais envolvidos nas etapas implicadas na tradução médica?

e) Quais as etapas da tradução médica?

f) Quais os traços específicos que caracterizam a tradução médica?

g) O que são os aspectos sociolinguísticos?

h) Quais são os aspectos pragmáticos?

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3 Após ter estudado diversos nichos ao longo deste tópico, responda o se-guinte questionamento: qual dos nichos de tradução mais lhe chama a aten-ção? Desenvolva um texto dissertativo-argumentativo, de 15 a 30 linhas, comentando esta questão.

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TÓPICO 4

A FORMAÇÃO DE TRADUTORES E

INTERPRETES

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

Ao longo das páginas deste livro didático, estudamos teorias da tradução, história da tradução, possíveis áreas de atuação e uma série de questões relacionadas à profissão de tradutor de espanhol no Brasil: a tradução juramentada, a dublagem e a legendagem, o profissional que se dedica à LIBRAS ou ao aprendizado e respectivo exercício de alguma das "lenguas de señas" usadas no mundo hispânico, a questão da tradução jurídica e a reverberação deste ramo em outras áreas, além de outros tópicos de matiz teórico-prática.

FIGURA 23 – ESTUDO FORMAL DA TRADUÇÃO

FONTE: <https://www.flickr.com/photos/shaneglobal/5192120094>. Acesso em: 7 ago. 2019.

Pois bem, caro acadêmico. Neste último tópico conheceremos algumas ques-tões de cunho pragmático ligadas ao papel do profissional da tradução no Brasil: afinal de contas, após tanta teoria e informações diversificadas, como o regimento jurídico que assegura o exercício da profissão, você deve estar ansioso por saber como o mercado acolhe os profissionais oriundos do campo do estudo de línguas, não é mesmo?

Dessa forma, abordaremos, nesta seção, algumas questões próprias ao âmbito da tradução e da interpretação no campo da língua espanhola no Brasil.

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UNIDADE 3 | O ENSINO DE LÍNGUA

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2 A TRADUÇÃO SIMULTÂNEA

Ramo essencial do campo de tradução, a tradução simultânea é uma subárea que exige atenção máxima do intérprete. De acordo com o website TeclaSAP, criado pelo intérprete de conferências Ulisses Carvalho (s.d., s.p.):

Tradução Simultânea (também conhecida por Interpretação Simultânea ou Interpretação de Conferência) é o ato de traduzir oralmente, como o próprio nome já diz, ao mesmo tempo a fala de um orador para a língua de um ou mais ouvintes. Ela visa dar a pessoas que falam idiomas dife-rentes a possibilidade de participar, sem barreiras linguísticas, de reuni-ões, debates, cursos, conferências etc. Essa comunicação só é possível por meio de intérpretes profissionais fluentes em seus idiomas de trabalho e treinados nas técnicas de tradução, interpretação e comunicação.

FIGURA 24 – O USO DO INTÉRPRETE EM ENCONTROS POLÍTICOS

FONTE: <http://bit.ly/2Pz9IJk>. Acesso em: 7 ago. 2019.

O intérprete, fluente em ambos idiomas nos quais está atuando, em geral interpreta em tempo real. Alguma vez você já presenciou o exercício da tradução simultânea?

Se não pessoalmente, posso garantir que pelo menos uma vez na vida você já assistiu a cerimônias na televisão nas quais utilizou-se a mão-de-obra do tradutor simultâneo. Vamos! Pense! Puxe pela memória! Posse do presidente da República; eventos esportivos mundiais, como a Copa do Mundo, as Olimpíadas e os Jogos de Inverno; o pronunciamento do presidente dos Estados Unidos sobre algum assunto da política internacional, no telejornal.

Graças ao surgimento da televisão como meio de informação na segunda me-tade do século XX, hoje podemos ter exemplos bastante pontuais com relação ao uso

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TÓPICO 4 | A FORMAÇÃO DE TRADUTORES E INTERPRETES

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de intérpretes em tempo real. De acordo com o já citado Ulisses Carvalho, a tradução simultânea foi usada pela primeira vez durante os julgamentos nazistas após a Se-gunda Guerra Mundial: "a modalidade de interpretação usada até então, era a con-secutiva. Como era necessária a tradução para quatro idiomas, essa forma deixou de ser viável. Os julgamentos teriam sido bem mais longos sem o advento da tradução simultânea. Ao longo de décadas, a simultânea vem ajudando pessoas e empresas a superar barreiras linguísticas" (CARVALHO, s.d., s.p.).

FIGURA 25 – TRADUÇÃO SIMULTÂNEA EM ENCONTRO DE ESTADO DOS GOVERNOS DOS EUA E JAPÃO

FONTE: <http://bit.ly/36mgt8a>. Acesso em: 7 ago. 2019.

Você sabia que existem modalidades de interpretação? Uma dessas modali-dades é a interpretação simultânea. Talvez esta seja a mais difícil e a que mais exige destreza e experiência do intérprete simultâneo: estando localizado dentro de uma cabine de som, o intérprete ouve o que é dito em um determinado idioma. Simulta-neamente, o profissional traduz as palavras do orador em outro idioma – imagine que em um seminário no Brasil o presidente do governo da Espanha, Pedro Sánchez, esteja falando a um público que não entende espanhol. É nesse momento em que entra o papel do intérprete – é ele quem vai traduzir para o público ouvinte, simul-taneamente à fala do presidente. É uma modalidade incrível, não? Você se imagina realizando este papel?

A tradução por acompanhamento geralmente ocorre em locais turísticos: al-guma vez você já fez uma viagem turística assim? O guia geralmente utiliza um apa-relho portátil e cada participante vai recebendo o som em seu respectivo aparelho. É uma modalidade bastante usada no campo da tradução turística.

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UNIDADE 3 | O ENSINO DE LÍNGUA

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FIGURA 26 – TRADUÇÃO FEITA EM CABINE

FONTE: <http://bit.ly/2s9tAuT>. Acesso em: 7 ago. 2019.

Outra modalidade, não menos importante, é a tradução consecutiva. Diferen-temente da tradução simultânea, o tradutor não traduz no momento exato da fala. Ele toma nota de todas as informações oferecidas pelo orador. Em intervalos de cinco minutos ele interpreta a fala para o outro idioma. De acordo com Ulisses Carvalho (s.d., s.p.), esta modalidade "faz com que a duração do evento seja prolongada, por-tanto, sua utilização é recomendada apenas para reuniões de curta duração".

Além dessas três modalidades, há também a forma intermitente e a simultâ-nea de cochicho. De acordo com a intérprete profissional Tereza Sayeg, a tradução intermitente:

É normalmente utilizada em reuniões pequenas, acordos comerciais ou conversas informais. Consiste em traduzir tanto o idioma de origem quanto o de destino. O orador diz apenas algumas frases e faz uma pausa para que o intérprete traduza. É denominada também de “sentence-by--sentence” ou “ping-pong”. Ainda segundo Sayeg, a tradução em cochi-cho "nada mais é do que uma forma de interpretação simultânea sem ca-bine. Se a tradução for para uma ou duas pessoas no máximo, o intérprete pode usar esta modalidade, que é muito prática" (SAYEG, s.d., s.p.).

FIGURA 27 – TRADUÇÃO EM GRUPOS TURÍSTICOS

FONTE: <http://bit.ly/2E9Ux41>. Acesso em: 7 ago. 2019.

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TÓPICO 4 | A FORMAÇÃO DE TRADUTORES E INTERPRETES

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Essas são modalidades bastante usadas por intérpretes profissionais em eventos dos mais diversos portes, como seminários, eventos esportivos, encon-tros políticos, pronunciamentos oficiais, encontros diplomáticos e muitos outros.

3 A SITUAÇÃO PROFISSIONAL DO TRADUTOR HOJE

A formação para tradução é um processo que decorre ao longo de algumas etapas, tais como: o estudo formal de uma língua; a profissionalização certificada no ramo da tradução; a atuação no mercado de trabalho.

Como já vimos, o conhecimento de ambas línguas é condição indispensável para atuação do tradutor. Apesar de não haver pré-requisitos qualificativo indispen-sáveis, é de suma importância considerar a formação em cursos livres, superiores ou em estudos de pós-graduação como complementos que, muitas vezes, podem fazer a diferença o disputado mercado de trabalho.

Um exemplo clássico são os diversos cursos de pós-graduação lato e strictu

senso que estão disponíveis para o profissional que deseja atualizar-se sobre novas perspectivas, tecnologias de tradução e também em questões de cunho empírico, como empreendimento, imagem pessoal e rentabilidade.

Dessa forma, se você se interessar por esse campo de atuação, após a sua formação em Letras você pode, por exemplo, buscar uma formação paralela em tra-dução. A ênfase você escolhe: existem cursos para tradutores de textos, intérpretes, tradução médica, tradução literária, e muitas outras vertentes! A escolha é sua!

Caso a sua preferência não seja propriamente no âmbito de uma tradução voltada para o mercado, você pode também optar por um curso de mestrado ou doutorado na área. Nesse caso, você estaria direcionando sua carreira para o âmbito acadêmico, o que, de nenhuma maneira, o impede de atuar em âmbito externo aos muros da academia.

No caso das suas ambições estarem ligadas a questões mais específicas ou introdutórias, você também pode realizar cursos livres. Estes cursos geralmente são oferecidos por conhecidos profissionais do ramo ou então por empresas de tradução. Nesse caso, você precisaria encontrar referências até que possa escolher o seu curso. Você pode acessar o site das associações que mencionaremos a seguir.

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UNIDADE 3 | O ENSINO DE LÍNGUA

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4 ASSOCIAÇÕES DE TRADUTORES

No Brasil, atualmente, existem associações de tradutores que certificam a associação ao membro. Uma das mais conhecidas é a ABRATES, Associação Brasi-leira de Tradutores. Em sua página oficial, a associação apresenta-se como: "Somos a ABRATES, Associação Brasileira de Tradutores e Intérpretes, associação sem fins lucrativos e administrada por tradutores/intérpretes voluntários, fundada no Rio de Janeiro, nos anos 70. Promovemos cursos, eventos e fomentamos a troca de conhe-cimento e contatos entre colegas e/ou instituições e agências. Através da ponte que estabelecemos flui o conhecimento e é feito o networking, mudando carreiras e vidas. Cada vez mais presente e atuante, a ABRATES oferece vários benefícios para os asso-ciados". Para ingresso nessa associação, o postulante deve comprovar experiência de dois anos em tradução ou formação em curso de graduação, pós-graduação ou livre de tradução, certificado por alguma instituição formadora (s.d., s.p).

Além da ABRATES, também existe a APIC, a Associação Profissional de In-térpretes de Conferência, que atua em um âmbito mais específico, o nicho da intepre-tação em conferências.

FIGURA 28 – ABRATES

FONTE: <http://bit.ly/36pukLd>. Acesso em: 20 nov. 2019.

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TÓPICO 4 | A FORMAÇÃO DE TRADUTORES E INTERPRETES

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O SINTRA, Sindicado Nacional de Tradutores, é outra associação que reúne pro-fissionais que atuam no âmbito da tradução. Afinal de contas, para que servem essas associações e o sindicado? Geralmente, esses grupos normatizam a atuação do tradutor (estabelecendo valores de referência) e também dão credibilidade ao profissional que, uma vez vinculado a uma dessas associações, praticamente estará exposto em uma vitri-ne nacional de profissionais atuantes no campo da tradução e da interpretação.

Você ficou curioso para conhecer cada um deles mais a fundo? Acesse:Sindicado Nacional de Tradutores: www.sintra.org.br/.Associação Profissional de Intérpretes de Conferência: www.apic.org.br/.Associação Brasileira de Tradutores e Intérpretes: www.abrates.com.br/.

DICAS

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RESUMO DO TÓPICO 4

Neste tópico, você aprendeu que:

• De acordo com o intérprete Ulisses Carvalho, a Tradução Simultânea é o ato de traduzir oralmente, como o próprio nome já diz, ao mesmo tempo a fala de um orador para a língua de um ou mais ouvintes.

• A tradução simultânea com frequência é empregada em eventos como: a posse do presidente da República; eventos esportivos mundiais, como a Copa do Mundo, as Olimpíadas e os Jogos de Inverno.

• Na tradução simultânea o intérprete traduz as palavras do orador em outro idioma.

• A tradução por acompanhamento ocorre em locais turísticos: o guia geralmente utiliza um aparelho portátil e cada participante vai recebendo o som em seu res-pectivo aparelho.

• Na tradução consecutiva o intérprete toma nota de todas as informações oferecidas pelo orador. Em intervalos de cinco minutos ele interpreta a fala para o outro idio-ma.

• A tradução intermitente é normalmente utilizada em pequenas reuniões.

• Atualmente, existem pós-graduações lato e strictu senso que estão disponíveis para o profissional que deseja atualizar-se sobre novas perspectivas, tecnologias de tradução e também em questões de cunho empírico, como empreendimento, imagem pessoal e rentabilidade.

• No Brasil, atualmente, existem associações de tradutores que certificam a associa-ção ao membro, como a ABRATES, a SINTRA e a APIC.

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

CHAMADA

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AUTOATIVIDADE

1 Imagine a situação hipotética na qual você decide iniciar no caminho da tradução. Depois de estudar o tópico 4, dessa unidade, qual tipo de atuação para o intérprete lhe parece mais desafiador? Intérprete simultâneo? De co-chicho? Consecutiva? Intermitente? Desenvolva um texto dissertativo-ar-gumentativo, de 15 a 30 linhas, comentando esta questão.

2 Considere as seguintes assertivas:

I- Na tradução consecutiva o tradutor não traduz no momento exato da fala.II- A tradução por acompanhamento acontece em pequenos grupos e reuni-

ões mais curtas.III- A tradução simultânea é sugerida para grandes eventos.

Agora marque as assertivas corretas:a) Estão corretas I e III.b) Apenas a III está correta.c) I e II estão corretas.d) Nenhuma das alternativas está correta.e) Apenas a I está correta.

3 Qual das modalidades a seguir é também conhecida como “ping-pong”?

a) Tradução simultânea.b) Tradução de cochicho.c) Nenhuma das alternativas.d) Tradução consecutiva.e) Tradução intermitente.

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