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Alessandra da Silva Bughi Corrêa da Costa ALGUMAS REFLEXÕES A CERCA DO TDAH E DA PSICANÁLISE EM CRIANÇAS EM IDADE DE ALFABETIZAÇÃO. Rio de Janeiro 2004

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  • Alessandra da Silva Bughi Corra da Costa

    ALGUMAS REFLEXES A CERCA DO TDAH E DA PSICANLISE EM CRIANAS EM IDADE DE

    ALFABETIZAO.

    Rio de Janeiro 2004

  • 2

    UNIVERSIDADE CNDIDO MENDES

    PS-GRADUAO LATO SENSU

    PROJETO VEZ DO MESTRE

    ALGUMAS REFLEXES A CERCA DA PSICNALISE E DO TDAH EM CRIANAS EM IDADE DE

    ALFABETIZAO

    OBJETIVO:

    Repensar estratgias metodolgicas para auxiliar no

    tratamento e desenvolvimento de crianas portadoras

    do TDAH.

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    AGRADECIMENTOS

    A Deus que me deu a vida e condies de chegar ao fim desta jornada.

    Ao meu marido, pela dedicao e compreenso.

    Aos meus pais, que me ensinaram a lutar pelos meus sonhos.

    minha filha, que tanto amo.

    Ana Lucia, pela amizade e disponibilidade.

    turma, pela colaborao e camaradagem.

    minha orientadora pela disponibilidade no decorrer da monografia.

  • 4

    DEDICATRIA

    Dedico esta monografia aos meus dois alunos

    portadores de TDA/H que durante o ano de 2003

    lutaram para se alfabetizar e alcanaram este objetivo.

    A vocs toda a minha admirao.

    Alessandra da Silva Bughi Corra da Costa

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    RESUMO

    A Psicanlise tem a cada dia se inserido mais no cotidiano escolar e

    social, sendo ela a responsvel por conceitos que vieram clarificar alguns

    conflitos vivenciados pelo infante e seu grupo familiar.

    O presente estudo tem como objetivo refletir sobre a escuta

    psicanaltica no tratamento do Transtorno do Dficit de Ateno,

    exemplificando um caso especfico.

    A definio do TDAH e suas principais caractersticas so necessrias

    para tornar o estudo relevante no meio acadmico. As possveis causas e o

    manejo do tratamento tambm sero citadas ao longo do trabalho.

    A reflexo de um caso especfico, mostrando a histria familiar,

    preocupao da escola e sentimentos da criana em questo, nos far

    repensar em algumas estratgias metodolgicas e uma mudana de olhar

    diante da diversidade da apresentao do transtorno.

    Todo ser nico. Suas caractersticas so individuais e precisam ser

    respeitadas. A Psicanlise nos informa sobre a grandiosidade e diversidade

    do crebro humano e a medicina o quanto ainda obscuro para ns.

    A dissertao tem como meta abrir horizontes para novas formas de

    olhar qualquer criana, mas fundamentalmente as que possuem alguma

    dificuldade.

  • 6

    SUMRIO

    INTRODUO 7 CAPTULO I 9 CAPTULO II 13 CAPTULO III 20 CAPTULO IV 27 CAPTULO V 30 CONCLUSO 36 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 38 NDICE 39 ANEXOS 40 FOLHA DE AVALIAO 49

  • 7

    INTRODUO

    A presente dissertao tem por objetivo algumas reflexes a cerca da

    escuta psicanaltica em crianas portadoras do Transtorno do Dficit de

    Ateno/ Hiperatividade (TDAH) em idade de alfabetizao.

    A escolha do tema se deu em funo do curso de Psicopedagogia

    oferecer reflexes diversas sobre as orientaes realizadas as instituies

    escolares que cada vez mais no seu dia a dia convivem com as dificuldades

    enfrentadas por estas crianas.

    O estudo tem como meta articular a escuta da Psicanlise com o

    tratamento indicado pelo mdico neurologista que, geralmente o

    responsvel pelo diagnstico geral deste transtorno. A partir disso, algumas

    colocaes sobre as especificidades de um caso acompanhado por mim e

    as orientaes e decises tomadas pela equipe escolar que tinha como

    objetivo principal a sua alfabetizao.

    Sabe-se que a psicanlise cada vez mais tem se inserido no cotidiano

    escolar como base do desenvolvimento afetivo e entendimento de vivncias

    e conflitos to intensos na infncia. Repensar estratgias metodolgicas

    tendo como referncia conceitos psicanalticos, como: as fases descritas por

    Sigmund Freud a cerca da sexualidade; e, a relao me e beb ser o

    primeiro passo para a realizao do trabalho. A hiptese que estas

    crianas precisam ser ouvidas e atendidas de acordo com suas

    potencialidades sem, entretanto depreci-las ou trat-las como sem limites

    ou rotul-las como doentes.

    A definio do Transtorno do Dficit de Ateno/Hiperatividade

    (TDAH) e as principais caractersticas que se apresentam diante da famlia e

    da escola tambm sero objeto de estudo para que possamos refletir sobre

    como esta criana por vezes to impulsiva se sente em relao aos seus

  • 8

    atos e, como se do a orientao mdica para situaes to comuns vividas

    pela criana, seus familiares e grupo escolar.

    As propostas de manejo e tratamento veiculadas na literatura atual

    devem ser vistas como diretrizes gerais e no como receitas prontas. A

    individualidade de cada criana est acima de tudo, especialmente quando

    se aborda um transtorno to heterogneo como o TDAH.

    Por fim, uma pequena dissertao sobre o ano escolar de uma

    menina em idade de alfabetizao diagnosticada com TDAH e a conduta

    tomada pela equipe que a acompanhou durante todo este tempo.

  • 9

    CAPTULO I

    A Relao Pais x Beb

  • 10

    A RELAO PAIS X BEB

    importante iniciar esta dissertao, citando Melanie Klein:

    Quando um homem e uma mulher casados

    transformam-se em pais, desenvolve-se uma nova

    situao psicolgica real entre ambos, porque

    praticamente cada um dos esposos leva para o

    matrimnio concepes e esperanas anteriores

    relacionadas com a paternidade. Uma mudana na

    atitude dos componentes de um casal pode, inclusive,

    remontar ao momento em que se tem segurana da

    concepo, seja esta acidental ou no. (KLEIN, 1970,

    p.35)

    Diante disso, infere-se que, ao mesmo tempo em que a chegada de

    um filho fortalece os laos matrimoniais, devido ao aumento de uma

    responsabilidade mtua, este acontecimento considerado feliz, exige uma

    reorganizao no sentimento de amor e de afeto. O nascimento de um beb

    demanda muita ateno, principalmente da me, privando assim, cada um

    dos parceiros da ateno antes recebida.O xito dessa prova depender do

    grau de preparao emocional de cada um dos membros para o matrimnio

    e a paternidade, das esperanas, das exigncias e ideais que atribuam a

    esses estados ou esperavam deles.

    Quando nasce o beb, as pessoas mais diretamente envolvidas - ou

    seja, o pai e a me - passam a relacionar-se entre si, com o filho e com o

    mundo ao seu redor, a partir de posies que anteriormente viram em seus

    pais. Ou seja, o relacionamento do casal afetar seus sentimentos no que

    diz respeito chegada de um filho, assim como a capacidade da esposa em

    tornar-se me, de acordo com suas prprias experincias. Nesta ocasio, o

    casal estar vivendo, dentro de si, o confronto entre as definies de seus

    papis de pai e me, adquiridos ao longo de suas vidas.

  • 11

    As expectativas que a mulher tem sobre o marido e que o marido tem

    sobre a mulher so as mesmas que cada um tem de si mesmo. Entretanto,

    estas so expectativas conscientes, representaes de um casal moderno

    que se prope a viver o papel de pai e me dentro dos padres tambm

    considerados modernos.Porm, a nvel inconsciente, existem outros

    padres, ligados a velhos costumes j internalizados e identificados em seus

    pais.

    O nascimento do filho, talvez seja, mais do que qualquer outro evento

    que possa ter lugar na vida de um casal, uma ocasio especialmente

    privilegiada para a demarcao ntida entre papis masculinos e femininos.

    Geralmente, os pais esto dispostos a viver estes papis, contudo nos casos

    patolgicos. O pai prefere continuar na situao anterior de filho, ou a me

    permanecer na situao de filha.

    1.1 - Primeira Infncia

    Segundo Franoise Dolto (1990), a criana desde o nascimento um

    ser de fala espera de trocas sensrio-motoras. Para ela o nascimento pode

    ser considerado como uma castrao, pois o beb tem uma perda primria,

    uma separao irreversvel de uma me arcaica. O beb encontra um

    espao desconhecido, j cheio de referncias e nomeaes totalmente

    novas pra ele. Assim, a autora foi uma das primeiras a pregar o no

    distanciamento da me e do beb no hospital por ocasio do parto e,

    mostrava-se totalmente favorvel volta o mais rpido possvel para a casa,

    ambiente familiar para criana desde o tero.

    A criana necessita fundamentalmente da presena do outro como

    mediador e instaurador de sentidos; a me ser a grande responsvel pela

    humanizao deste pequeno ser.

  • 12

    Os afagos, emoes, co-corporeidade, ternura e

    apetite de viver, o prazer de viver, o prazer de ser e se

    comunicar, as emoes e sensaes do corpo, tudo

    isso presentifica um eu inicialmente heteronmico

    numa dialtica inter-humana. (LEDOUX, 1990, p.22)

    O narcisismo se constitui atravs desta dade me - beb, aonde

    desde muito cedo o lactente armazena em sua memria percepes visuais,

    olfativas e auditivas do encontro com as pessoas prximas,

    fundamentalmente com a me. Isso faz com que se formem traos que

    balizam os momentos de solido.

    Se o presente da criana se enraza nas trocas com

    uma mesma pessoa, de ausncia em presena e de

    presena em ausncia, a criana vai-se informando

    sobre o seu ser na solido. (LEDOUX, 1990, p. 45)

    Franoise Dolto, assim como Melanie Klein tambm fala de uma

    memorizao (introjeo) de um vnculo com a me que mesmo em sua

    ausncia permanece unindo ela criana.

    Apesar de saber-se que a relao do beb com a me fonte de sua

    prpria existncia, no se pode deixar de reconhecer o papel do pai na

    constituio psquica do sujeito. ele quem ser responsvel pelo desvio do

    olhar da me possibilitando assim seu desejo se expanda e que haja uma

    descontinuidade obrigatria para que o filho seja ento saudvel

    psiquicamente. Segundo a autora o recm nascido s pode desenvolver-se

    num corpo, como homem ou mulher, se estiver em relao com uma voz

    de homem e de mulher, com uma voz diferente associada a da me. O pai

    assumir papel importantssimo, pois ele que encarna a lei do incesto e

    inscreve a criana na sociedade.

  • 13

    CAPTULO II

    Etapas do Desenvolvimento Emocional

  • 14

    ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL

    Ao passo que um beb se transforme numa criana, isto num

    adolescente e posteriormente num adulto, segundo a teoria psicosexual de

    desenvolvimento escrita por Sigmund Freud, ocorrem mudanas marcantes

    no que desejado e em como estes desejos so satisfeitos. As

    modificaes nas formas de gratificao e as reas fsicas delas so os

    elementos bsicos na descrio feita por Freud das fases do

    desenvolvimento.

    Freud chamou de Fase Oral, o primeiro momento do desenvolvimento

    psicosexual.

    2.1 - Fase Oral

    Desde que o beb nasce a necessidade e gratificao esto

    predominantemente concentrados na rea da boca. Enquanto alimentado,

    o beb tambm confortado, acalentado e acariciado. No princpio ele

    associa o prazer da alimentao a reduo de tenso. A pulso bsica da

    criana no interpessoal ou social, apenas de receber alimento para

    atenuar fome e sede.

    Nesta fase, principalmente no primeiro ano de vida, o prazer deriva

    fundamentalmente de atividades como sugar, morder e comer. A libido

    centra-se em prazeres orais. O desmame ento o principal conflito desta

    fase; quanto mais difcil for para o beb deixar o seio ou a mamadeira, tanto

    mais a libido se fixar nesta fase. Se uma parcela da libido l for deixada,

    quando adultos podero exibir traos como dependncia, passividade e gula

    alm de preocupaes orais como falar excessivamente e fumar.

  • 15

    2.2 - Fase Anal

    medida que uma criana cresce, novas reas de tenso e

    gratificao so trazidas conscincia. Para Freud entre o segundo e quarto

    ano de vida o prazer obtido principalmente da regio anal. quando a

    criana aprende a controlar seus esfncteres. A obteno do controle

    fisiolgico ligada percepo de que esse controle uma nova fonte de

    prazer. O conflito desta fase se centra no treinamento para o controle

    esfincteriano que ir colidir com as restries da sociedade, pois as crianas

    estaro sendo solicitadas a controlar seus impulsos naturais.

    As caractersticas associadas a fixao parcial na fase anal so:

    obstinao, parcimnia e ordem.

    2.3 - O Complexo de dipo

    Na fase anal, os vnculos amorosos alternavam-se entre pai e me,

    sempre em relaes duais. J no perodo edpico, pai e me so percebidos

    juntos, numa relao onde a conquista da me est impedida pelo pai. Ao

    mesmo tempo em que o pai vivido pelo menino como modelo e figura de

    amor, percebido, tambm, como inimigo dentro de um combate onde

    apenas um poder sobreviver.

    O mundo infantil ampliado quando o ego consegue reconhecer

    pessoas individuais. No momento em que a criana passa a integrar suas

    mltiplas impresses, ela se encontra com duas pessoas, pai e me, e essa

    nova situao abrange suas inter-relaes.Suas experincias emocionais

    aumentam quantitativamente, na medida em que ingressa no tipo triangular

    de relao objetal, que possui, sempre, uma significao especial. O

    complexo de dipo , justamente, representado por esse primeiro conjunto

    triangular.

  • 16

    Cada vez mais, o pai ir desempenhar um papel importante na vida da

    criana e passar, tambm, a representar um objeto de amor, interesse e

    prazer.No entanto, a criana tem agora que enfrentar todos os estmulos,

    excitaes e conflitos inerentes a uma relao entre trs pessoas.

    Segundo Melanie Klein:

    O novo e importantssimo fator, que representa um

    problema de primeira grandeza para criana, reside

    nas inter-relaes parentais. Ela adivinha que existem

    intimidades segundo os termos de seus prprios

    impulsos, por outras palavras, as suas noes so

    determinadas pela projeo e, por isso, so uma

    grosseira distoro da realidade. Os pais fazem um ao

    outro o que a criana gostaria de fazer.(KLEIN, 1969,

    p.17)

    A condio para o desenvolvimento dos desejos edpicos positivos a

    imagem do pnis do pai, como rgo bom e criador, pois atravs dessa

    crena de bondade em relao ao pnis, que o menino pode permitir-se a

    desejos genitais em relao me. Seguido a este desejo, surge o temor da

    castrao que, equivalendo aos impulsos sdicos orais, leva o menino a

    temer que seu rgo genital seja arrancado por dentada de seu pai, numa

    forma de punir o desejo do filho. Esses temores influem na ansiedade do

    menino em relao ao seu pnis, pois os ataques de seus perseguidores

    interiorizados sugerem uma afronta a seu pnis e a tudo que ele deseja

    preservar, reforando, ainda mais, o medo da castrao. Todas essas

    ansiedades podem ser neutralizadas pela imagem do corpo da me como

    fonte de bondade, assim como pela introjeo de objetos amados. Se

    houver predominncia dos impulsos de amor, o pnis do menino se

    transforma num meio de satisfazer e dar bebs a sua me. Deste modo,

  • 17

    poder fazer a reparao, o que acaba por aumentar sua confiana,

    permitindo-lhe a liberao de seus desejos e impulsos.

    Essas fantasias possibilitam ao menino enfrentar o temor da castrao,

    podendo estabelecer concretamente sua posio genital e sua condio

    para sublimao, alm de formar a base para a conquista de potncia de

    seu desenvolvimento.

    A erotizao dos genitais dirigir o interesse infantil para a percepo

    das diferenas anatmicas. Num primeiro momento, para Freud, a fantasia

    infantil nega a ausncia do pnis da mulher. O menino concentra sua

    ateno em seu pnis e a menina valoriza o clitris como sendo um pequeno

    pnis, semelhante ao masculino e que se desenvolver. Portanto, o

    conhecimento da vagina inexiste neste instante e, s na adolescncia, ser

    ela adequadamente integrada a imagem corporal.

    Na primeira etapa do complexo de dipo, existem as fantasias sobre o

    pnis do pai e o seio da me. De acordo com Melanie Klein:

    A influncia da figura combinada na capacidade do

    infante para distinguir entre os pais, e para estabelecer

    boas relaes com cada um deles, afetada pela

    fora da inveja e pela intensidade de seu cime

    edipiano. Pois as suspeitas de que os pais esto

    sempre obtendo gratificao sexual um do outro

    refora a fantasia - oriunda de vrias fontes - deles

    estarem sempre conjugados. (KLEIN, 1964, p.48)

    Nas formaes do complexo de dipo e do superego, a vivncia

    traumtica do desmame leva, simultaneamente, ao desencadeamento de

    pulses de destruio dirigidas ao seio materno e ao aparecimento de um

    sentimento de culpa, que so resultados da interiorizao do objeto

    frustrante, o qual fundamenta o desenvolvimento posterior do ego. Por isso,

  • 18

    desde o primeiro ano de vida, est presente a ambivalncia com o objeto

    que , segundo Melanie Klein, a essncia do conflito edipiano.

    As tendncias edipianas se exprimem com a agressividade destrutiva

    da criana. Esse fato ocorre mesmo antes do aparecimento da linguagem e

    da curiosidade manifesta, ou latente, ter seu apogeu aos quatro anos de

    idade. Em ambos os sexos, muito cedo ocorre uma identificao com a

    figura que est na origem de uma fase de feminidade. No rapaz, este

    complexo de feminidade, ocorre at o inicio do perodo de latncia. De

    acordo com Melanie Klein, este papel pode ser comparado ao complexo de

    castrao, ou seja, a conscincia da ausncia do pnis na moa. Da, o

    medo da me ( qual a criana quis roubar o contedo de seu corpo e contra

    a qual exerce tendncias destrutivas) no menos intenso que o medo do

    pai. Depois dessa fase de feminidade, o rapaz entra em rivalidade com o pai,

    pois comea a identificar-se com a figura paterna. Contudo ainda associa, de

    maneira intima, no desejo de possuir a me, tendncias destrutivas e

    tendncias reparadoras.

    Na menina, a formao da relao edipiana menos complexa.Ela

    principia quando a menina percebe-se castrada permanecendo durante o

    perodo de latncia. Neste momento os anseios da libido misturam-se com

    os anseios destrutivos e, devido s frustraes e cimes, as tendncias

    hostis so mais estimuladas. A posio kleiniana em relao ao desejo do

    pnis, que constitui desde o perodo inicial do desenvolvimento psquico uma

    relao edipiana, traduz no desejo de receber o pnis, fonte ilimitada de

    prazer. A este desejo segue-se a frustrao estabelecida pelo desmame.

    Como resultado desta frustrao, o seio torna-se para criana, objeto de

    tendncias destrutivas e o pnis, o bom objeto de satisfao, do qual sua

    me se apropriou.

    Outra questo a se destacar, diz respeito ao fato que na situao

    edipiana, quando a inveja no exagerada, o cime um meio de super-

    la, pois ao senti-lo, os sentimentos hostis podero se dirigir par um dos

  • 19

    irmos, considerados rivais. Ao crescer, parte do dio do menino desviado

    para o pai, j que este invejado pela posse da me.

    A identificao com a me nesse papel possibilita

    maior gama de sublimaes. indispensvel tambm

    considerar que o processo de lidar com a inveja por

    meio do cime simultaneamente uma importante

    defesa contra a prpria inveja. O cime sentido

    como sendo muito mais aceitvel e suscita bem

    menos culpa do que a inveja primria que destri o

    primeiro objeto bom. (KLEIN, 1964, p.48)

    As fantasias de incorporao so, tambm, um aspecto do complexo

    de dipo no inicio da infncia. Os mecanismos orais predominam, apesar

    dos impulsos instintivos de todas as fontes corporais estarem operando de

    modo concorrente.

    Assim, pode-se dizer que o desenvolvimento do amor pleno, da

    capacidade de estabelecer relaes maduras, duradouras e produtivas, ou

    seja, o desenvolvimento daquele tipo de relao que em psicanlise chama-

    se de amor de objeto, segue um longo percurso. Permear desde as

    dimenses parciais da sexualidade oral e anal, at obter seu primeiro

    estgio de integrao com as vivncias da fase flica e a organizao do

    complexo de dipo.

  • 20

    CAPTULO III

    Questes sobre o TDAH

  • 21

    TDAH

    O Transtorno do Dficit de Ateno / Hiperatividade um problema de

    sade mental caracterizado principalmente por desateno, agitao e

    impulsividade. Este transtorno pode levar a criana a dificuldades

    emocionais, de relacionamento familiar e social, alm de acarretar baixo

    desempenho escolar.

    Faz-se necessrio uma pequena evoluo histrica do TDAH para um

    melhor entendimento dos sintomas. As crianas com o humor instvel em

    idade escolar, s comearam a ser descritas e analisadas no incio do

    sculo XX. Estas eram incapazes de manter a ateno e concentrao nas

    tarefas acadmicas. Segundo A. R. Melo, os estudos nos primeiros quarenta

    anos do sculo XX, encontravam-se numa dade no que concerne ao

    esclarecimento etiolgico e delineamento da instabilidade. Descreve a

    autora que:

    As questes que se coloca dizem respeito a uma

    dualidade entre: (1) a existncia de um sintoma de

    origem constitucional ou apenas de um conjunto de

    sintomas reunidos que no passam de uma

    caracterizao de outras patologias j definidas; (2) a

    instabilidade encarada como um distrbio caracaterial

    ou psicomotor; (3) a origem ser, sobretudo afetivo-

    emocional ou de maturidade motora. (BARROS,

    2002, p. 33)

    Nas dcadas de setenta e oitenta, mantendo a linha europia de

    estudos, a investigao francesa acabou por atribuir a instabilidade infantil a

    uma ocorrncia precoce do processo de separao me/beb, remetendo-

    se, portanto, ao campo da psicanlise.

  • 22

    Contudo, outra abordagem a se considerar a anglo-saxnica que se

    fundamenta primordialmente pela neurologia; onde a hipercinesia ocorre

    como uma sndrome decorrente de uma leso cerebral.

    Durante algum tempo esta correlao foi reforada pela

    implementao do uso de medicamentos que, diminuam os estados de

    hiperatividade e aumentavam os nveis de ateno.

    J nas dcadas de quarenta e cinqenta, comearam a surgir

    referncias de casos em que os medicamentos no atuavam de maneira

    favorvel; portanto houve a necessidade do abandono da proposio

    organicista como nico esclarecimento.

    Nos anos seguintes, autores ingleses passaram a referir-se a esta

    dificuldade como Sndrome Hipercintica, em casos de leso orgnica

    comprovada, caracterizando-se por: impulsividade, excesso de movimentos,

    dificuldades de sustentar ateno e dificuldades em respeitar regras. J os

    norte-americanos a chamaram de Hiperatividade e apesar de concordarem

    com a maioria das caractersticas citadas substituem as dificuldades de

    respeitar regras pelo atraso escolar e ainda consideram-na, apresentando

    diferentes maneiras de expressar-se comportamentalmente.

    Melo conclui ento, que:

    O estudo da instabilidade privilegia o indivduo como

    ser psicossocial em relao ao mundo, ao passo que o

    estudo da Hipercinesia ou Hiperatividade privilegia

    aspectos neuropeditricos, isto , o organismo e a sua

    estrutura psicofisiolgica. (BARROS, 2002, p. 34)

  • 23

    3.1 - Hereditariedade

    Alguns estudos realizados com famlias de crianas portadoras de

    TDAH tm indicado significativa participao de um componente gentico.

    Foi detectado que 25% dos familiares em primeiro grau destas crianas

    tambm tm o transtorno. E, estudos com gmeos demonstraram que tendo

    um deles a confirmao do diagnstico de TDAH, a chance do outro tambm

    apresentar o transtorno de 80 a 90 por cento.

    Assim, parece-nos que o fator da hereditariedade explica a variedade

    de comportamentos impulsivos e hiperativos. Entretanto, o que se afirma

    que muito provavelmente o que herdado uma vulnerabilidade para o

    transtorno e no o transtorno em si.

    Durante a gravidez ou mesmo no parto, algumas complicaes

    podem sugerir maior probabilidade das crianas virem a manifestar os

    sintomas de TDAH sem, contudo isto querer indicar uma relao de causa e

    efeito.

    3.2 - Estudos Cerebrais

    As investigaes cientficas tm a cada dia indicado com mais afinco

    a presena da disfuno em uma rea do crebro conhecida como orbital

    frontal em adolescentes e crianas portadoras de TDAH. Esta regio

    situada na parte da frente do crebro e, uma das regies mais

    desenvolvidas em seres humanos sendo responsvel pela inibio do

    comportamento, pela ateno sustentada, pelo autocontrole e pelo

    planejamento para o futuro.

    A grande maioria das pesquisas, tambm demonstram que existem

    alteraes no funcionamento dos neurotransmissores que tem a funo de

    transmitir informaes entre um neurnio e outro, permitindo a ligao entre

    uma rea e outra do crebro.

  • 24

    Os neurotransmissores deficitrios em portadores do TDAH so

    basicamente a dopamina e a noradrenalina. Assim sendo, a medicao que

    tem se mostrado eficaz para a melhora dos sintomas apresentados o

    metilfenidato (Ritalina). Pela grande interligao das reas cerebrais,

    pouco provvel que apenas a reduo de uma ou duas substncias

    cerebrais possa dar conta de todos os sintomas do TDAH.

    Apesar de ainda saber-se muito pouco sobre as causas deste

    transtorno as investigaes permanecem e os estudos tm avanado a cada

    dia.

    3.3 - Fatores Ambientais

    Algumas teorias indicam que problemas familiares poderiam ser os

    grandes causadores do TDAH, principalmente em famlias que adotam um

    sistema de educao mais permissiva. Porm, o que se verificou que isto

    pode ser conseqncia e no causa; comportamentos como: alto grau de

    discrdia conjugal e funcionamento catico podem exacerbar caractersticas

    do TDAH e at fazer com que surjam sintomas de TOD (Transtorno

    Opositivo Desafiador) ou um comportamento agressivo, sem, no entanto ser

    o transtorno propriamente dito.

    O ambiente e a conquista das habilidades motoras e cognitivas agem

    sobre o desenvolvimento das habilidades adaptativas. Contudo, pelos

    estudos neurobiolgicos analisados quanto mais forte for a carga gentica,

    menor a importncia dos desencadeadores ambientais.

    3.4 - Critrios de Diagnstico para o TDAH, segundo o DSM-

    IV.

    A Relacionar em (1) ou (2)

  • 25

    (1) Seis (ou mais) dos seguintes sintomas de desateno persistiram por

    pelo menos seis meses, em grau desadaptativo no curso do

    desenvolvimento.

    x Freqentemente demonstra dificuldade de prestar ateno a detalhes ou por descuidos comete erros em atividades escolares ou de

    trabalho;

    x Geralmente tem dificuldades para manter a ateno em tarefas ou atividades ldicas;

    x Freqentemente parece no ouvir quando lhe dirigem a palavra; x Tem freqentemente dificuldades em seguir as instrues e no

    termina suas tarefas escolares, domsticas ou profissionais (estas

    dificuldades no so devidas a comportamento de oposio ou

    incapacidade de compreender instrues);

    x Freqentemente apresenta dificuldades para organizar tarefas e atividades;

    x Evita geralmente tarefas que exijam esforo mental constante; x Perde com freqncia materiais necessrios ao trabalho escolar ou a

    outras atividades afins;

    x Distrai-se facilmente por estmulos externos; x Com freqncia, demonstra-se esquecida nas atividades dirias.

    (2) Seis (ou mais) dos seguintes sintomas de hiperatividade persistiram por

    pelo menos seis meses, em grau desadaptativo no curso do

    desenvolvimento.

    3.5 - Hiperatividade

    x Com freqncia agita as mos ou os ps ou se contorce no assento; x Freqentemente levanta-se durante a aula, ou em outras situaes

    em que necessrio ficar sentada;

  • 26

    x Freqentemente corre e sobe nas coisas em situaes inapropriadas; x Freqentemente tem dificuldade em brincar sossegadamente; x Freqentemente movimenta-se em demasia, parecendo estar ligada

    tomada eltrica;

    x Freqentemente fala em excesso.

    3.6 - Impulsividade

    x Freqentemente precipita-se, respondendo antes de as perguntas terem sido completadas;

    x Freqentemente apresenta dificuldade em esperar a sua vez; x Freqentemente interrompe os outros;

    B - Incio dos sintomas anterior idade de sete anos.

    C - Sintomas presentes em dois ou mais ambientes.

    D - Significativa evidncia de desadaptao na vida social, acadmica ou

    ocupacional.

    E - Os sintomas no ocorrem exclusivamente durante o curso de um

    Transtorno Invasivo do Desenvolvimento, Esquizofrenia ou outro Transtorno

    Psictico e no so melhor explicados por outro transtorno mental.

  • 27

    CAPTULO IV

    Como ajudar as crianas com TDAH?

  • 28

    COMO AJUDAR AS CRIANAS COM TDAH?

    As intervenes representam um grande passo para minimizar o

    aspecto negativo que o TDAH traz vida da criana, dos pais e dos seus

    professores. Quando o transtorno no tratado pode associar-se a

    experincias negativas de ordem social, pessoal, familiar e escolar,

    permanecendo durante a adolescncia e vida adulta.

    Nesse caso deve-se frisar que este transtorno exige intervenes

    mltiplas. Na maioria das vezes, necessria a combinao de vrias das

    seguintes intervenes:

    x Esclarecimento familiar sobre o TDAH x Interveno psicoterpica x Interveno psicopedaggica x Uso de medicao

    fundamental para a famlia que sejam corrigidas as noes erradas

    e rtulos como os de preguioso e/ou burro em relao ao tratamento do

    TDAH. necessrio que a famlia possa ventilar as suas angstias e as

    suas dvidas sobre os vrios aspectos deste transtorno.

    As crianas com este transtorno necessitam, na maioria das vezes, de

    algum tipo de acompanhamento psicoterpico. A deciso do tipo de

    interveno a ser feita com a criana do profissional de sade mental que

    estiver a atendendo.

    Cerca de 25 a 30% das crianas com TDAH apresentam problemas

    de aprendizagem secundrios ou associados ao transtorno. Nesses casos, a

    interveno psicopedaggica fundamental. Tal reconstruo deve ser feita

    por um profissional especializado (psicopedagogo ou fonoaudilogo), pois o

    tratamento sintomatolgico no resolve as seqelas de aprendizagem que

    ficaram para trs. s vezes, necessrio um acompanhamento pedaggico,

    feito pelo professor, que ajude a prevenir novas lacunas na aprendizagem.

  • 29

    Vrios estudos cuidadosos demonstram claramente

    que mais de 70% das crianas com o Transtorno

    apresentam melhoras significativas dos sintomas de

    desateno, de hiperatividade e/ou de impulsividade

    na escola e em casa com o uso correto de remdios...

    (ROHDE, 1999, p.66)

    Aquelas crianas com sintomas leves e com boas capacidades

    cognitivas podem necessitar apenas de intervenes psicoterpicas e

    estratgias de manejo cognitivo-comportamentais em casa e na escola.

    Entretanto, a grande maioria apresenta prejuzos significativos na sua vida

    em funo dos sintomas; so candidatas claras ao uso de remdios.

  • 30

    CAPTULO V

    Um estudo de caso

  • 31

    O CASO DEBORAH

    Deborah (nome fictcio), aluna da classe de alfabetizao de uma

    escola regular localizada na zona sul da cidade, responsvel por atender

    uma clientela scio econmica alta, irm gmea de Rodrigo, vem

    apresentando ao longo do seu desenvolvimento caractersticas peculiares de

    uma criana portadora de TDAH.

    A menina acabara de completar seis anos e ingressou na classe de

    alfabetizao com algumas restries. Segundo a professora da classe

    anterior, Deborah muito distrada e parece no memorizar os conceitos j

    trabalhados. comum realizar uma tarefa ao lado da professora com

    sucesso e no momento seguinte parecer nunca ter visto aquele conceito que

    praticamente acabara de formular.

    Vrias vezes seu caso foi discutido na superviso pedaggica e

    muitas hipteses foram formuladas; conseqentemente reformularam-se

    tambm algumas estratgias metodolgicas na tentativa de ajud-la a

    superar as dificuldades apresentadas. Contudo o que parecia dar certo num

    momento, no outro no tinha o mesmo efeito.

    Deborah Iniciou o semestre ainda precisando ser lembrada da

    seqncia das letras de seu prprio nome, coisa que seus amigos j davam

    conta h muito tempo. Sua escrita encontrava-se na fase pr-silbica e no

    ousava ler para ningum dizendo no saber e pronto.

  • 32

    5.1 Histria Familiar

    Deborah, gmea de Rodrigo (nome fictcio), nasceu de parto a termo

    e teve seu desenvolvimento psicomotor dentro dos padres pr-

    estabelecidos. Comeou a falar sem atraso, porm sempre apresentou

    linguagem infantilizada e troca e omisses de fonemas. Aos quatro anos e

    meio por indicao da escola, a famlia procurou uma fonoaudiloga que

    aps avaliao iniciou o tratamento duas vezes por semana durante uma

    hora.

    Seus pais, principalmente sua me desejou enormemente a gravidez,

    submentendo-se inclusive a fertilizao artificial para realizar este sonho. O

    pai, muito mais velho que a me, j tinha quatro filhas de um casamento

    anterior e sua resoluo em ter mais filhos foi alm de fazer a vontade da

    esposa, a esperana de gerar um filho homem.

    Assim que Rodrigo e Deborah nasceram todos os olhares da famlia

    se voltaram para Rodrigo, que imediatamente tornou-se o prncipe da casa.

    Deborah, tambm muito amada, sempre foi muito bem cuidada pelos pais

    sem, no entanto despertar neles aquele brilho no olhar que seu irmo

    despertava.

    Desde muito cedo, demonstrava alguns medos, como ficar sozinha ou

    dormir em seu quarto e, fazia de tudo para chamar ateno de sua me,

    quase sempre utilizando meios como: chorar, no se autorizar a realizar

    tarefas que j deveria fazer sozinha como se vestir ou escovar os dentes e,

    no se dispor a brincar com seus pares sem a presena de um adulto.

    Todas estas formas que utilizava para estar mais prxima da me

    acabavam por desgastar a relao que se tornava cansativa e conflitante na

    maioria das vezes.

  • 33

    5.2 - Indicaes

    A escola, depois de algumas reunies com a equipe e pais resolveu

    fazer as seguintes indicaes teraputicas: primeiramente, definiu pela

    manuteno da fonoaudiloga e a entrada de uma professora particular para

    ajudar na confeco dos deveres de casa e tentar repor de alguma forma

    aquilo que estava defasado na sua aprendizagem; a seguir se faria uma

    avaliao neurolgica e uma psicolgica. Estes profissionais trabalhariam

    em conjunto em prol de sua alfabetizao.

    5.3 - Aulas Particulares

    Iniciamos as aulas confeccionando os deveres de casa que a cada dia

    foram se tornando mais complexos. Deborah foi se desmotivando ao passo

    que as dificuldades cresciam. Para tudo dizia no saber, at mesmo para as

    coisas mais simples como o que mais gostava de comer ou brincar.

    Percebemos que deveria criar um lao afetivo forte com ela antes de

    qualquer coisa para depois sim me ater ao seu desenvolvimento cognitivo.

    Jogos e brincadeiras foram realizados e, muita dramatizao ldica

    envolvendo toda a sua rede de relaes escolares e familiares.

    Deborah comeou a se interessar pelas tarefas que trazia e o trabalho

    teve como objetivo o reconhecimento de sons iniciais e finais das palavras. A

    discriminao auditiva foi o pontap inicial para ajud-la a comear a

    representar os fonemas graficamente.

    Todo o dia, antes de comear a aula, precisava fazer algum tipo de

    brincadeira com ela e acariciar seus cachorros permitindo por vezes que

    ficassem dentro do quarto conosco para que a aula transcorresse de

    maneira positiva.

    Deborah aos poucos foi se libertando do no sei e apenas para mim

    respondia com afinco ou pelo menos tentava fazer articulaes sobre os

    conceitos trabalhados. Dia aps dia isto foi se expandindo e, a professora de

  • 34

    turma e a fonoaudiloga comearam a ter tambm pequenos sinais de que

    estava evoluindo no que dizia respeito ao seu desenvolvimento cognitivo.

    Contudo ainda percebamos que sua ateno era frgil e talvez por isso

    parecia no memorizar as letras ou nmeros precisando sempre do apoio

    visual.

    Aps avaliao neurolgica, foi diagnosticada com Transtorno do

    Dficit de Ateno / Hiperatividade (TDAH) e iniciou o uso da medicao

    adequada. Logo, percebemos uma mudana no que se refere ateno e a

    confeco de suas produes, porm seu comportamento infantilizado, seus

    medos e sua posio em relao ao irmo se mantinham, o que para ns

    significava que suas oscilaes de humor permaneceriam e talvez pudesse

    voltar a se esconder diante da dificuldade em aprender - ou mesmo se

    recusando a faz-lo, no se dispondo a mudar de lugar no seio da famlia.

    O trabalho continuou e Deborah comeou a se interessar por bingo de

    letras, confeco de textos e interpretao oral de histrias. Gostava de me

    ver lendo e j dava mostras de que a qualquer momento se aventuraria

    neste universo. Acompanhava com o dedinho as palavras e j tentava juntar

    os fonemas para uma possvel leitura.

    Esta pequenina foi descobrindo que era bom saber e descobrir novas

    formas de aprender e foi se sentindo segura para se expor pro mundo.

    O passo seguinte foi a avaliao psicolgica que deixou Deborah a

    princpio um pouco receosa, mas contente em perceber que seria bom

    ingressar no processo teraputico. Deborah passou a freqentar duas vezes

    por semana a sua terapia.

    Todo o esforo da Escola, Famlia e claro, fundamentalmente dela

    mesma, propiciou uma mudana de postura diante da vida, o que foi muito

    positivo para a sua aprendizagem.

  • 35

    5.4 - Parecer da Escola

    Segundo a professora da alfabetizao Deborah revelou-se uma

    menina mais atenta, esforada, e implicada com as atividades propostas.

    Fossem elas coletivas ou em grupo. Nos jogos e nas brincadeiras realizadas

    nos ptios, participou com entusiasmo e alegria e, mesmo quando no dava

    conta de alguma meta estabelecida previamente pelo grupo, no

    demonstrava receio para enfrent-los.

    uma criana prestativa e solidria, que se envolve com as questes da

    turma procurando sempre ajudar. Sua ateno e preocupao unem os

    colegas e propicia um ambiente de acolhimento e menos competio entre

    eles. Sabe compartilhar e dividir suas coisas, e demonstra intensa satisfao

    quando percebe que os amigos se interessaram por suas novidades.

    Nas tarefas de sala e nas realizadas em casa, tenho percebido

    maior dedicao e interesse; sendo, no entanto, ainda, necessrio estmulo

    e uma interveno individual para Deborah dar conta da atividade pedida.

    Continua muito organizada com o uso de seu material e costuma zelar pelo

    material coletivo. Mais concentrada parece ser mais capaz de entender o

    que pedido e comear a avanar rumo s novas aprendizagens.

  • 36

    CONCLUSO

    Aps algumas consideraes sobre a Psicanlise e o TDAH infere-se

    que o crescimento emocional da criana deriva-se, em grande parte, da

    famlia. Contudo a criana portadora de TDAH possui caractersticas

    peculiares que precisam ser avaliadas e exigem dos pais uma postura

    diferente no que diz respeito ao prprio crescimento. fundamental que esta

    criana desfrute de uma relao parental saudvel e emocionalmente

    positiva.

    Observa-se que o processo de crescimento difcil. So inmeros os

    obstculos a serem ultrapassados. E, o ambiente circundante que ir

    oferecer a confiabilidade necessria ao seu desenvolvimento. Por esta

    razo, de extrema importncia que, desde a concepo de um filho, seja

    estabelecido um vnculo de amor entre ele e os que esto a sua volta. Sem

    dvida, num primeiro momento, a figura materna de suma importncia

    para o estabelecimento deste vinculo. Se no houver o verdadeiro

    reconhecimento do seu papel, enquanto me, na relao com o filho, todos

    os outros relacionamentos da criana acabaro por ser prejudicados.

    Freud em seus escritos prope que o psicanalista seja algum que

    escute o sofrimento do sujeito e que possa ajud-lo atravs da anlise a

    escutar o seu prprio desejo.

    Ora, ento sendo o TDAH um transtorno que invade a vida da criana,

    impondo-lhe caractersticas e atitudes que se sobrepe ao seu prprio

    querer, interessante pensar que causador de sofrimento para criana e

    familiares. A impulsividade, desateno e agitao motora no prejudicam

    s o aprendizado, mas todas as relaes estabelecidas por ela.

    A maioria dos estudos atuais sobre o TDAH nos informa que sua

    causa ainda inatingvel apesar de j haverem muitas indicaes. Sabe-se,

  • 37

    porm que o sucesso do tratamento tem sido o uso da medicao correta e

    a mudana no comportamento de quem prximo criana, podendo ser

    este o grande achado da Cincia. Negociaes, perodos de exigncias

    curtos em relao ateno, estimular a aprendizagem atravs do prazer

    etc... So algumas estratgias que facilitam o relacionamento com a criana

    portadora de TDAH.

  • 38

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    SANTOS, Regina Cludia. A chegada do beb no segundo casamento. RJ, 1996. KLEIN, Melanie. Contribuies psicanlise. SP: Mestre Jou, 1996. _____________. Psicanlise da criana. SP: Mestre Jou, 1969. _____________. A Psicanlise de Hoje. RJ: Imago, 1970. _____________. Os Progressos da Psicanlise. RJ: Zahar, 1969. _____________. Fontes do Inconsciente. RJ: Zahar, 1964. LEDOUX, Michel H. Introduo a obra de Franoise Dolto. RJ: Jorge Zahar Editor, 1990. FADIMAN, James e FRAGER, Robert. Teorias da Personalidade. SP: Copyright, 1979. DAVIDOFF, Linda L. Introduo Psicologia. SP: Copyright, 1980. ROHDE, Luis Augusto P. e BENCZIK, Edyleine B. P. Transtorno de Dficit de Ateno. Porto Alegre: Artmed, 1999. BARROS, Juliana Monteiro Gramtico. Jogo Infantil e Hiperatividade. RJ: Sprint, 2002. RAPPAPORT, Clara Regina e FIORI, Wagner da Rocha e HERZBERG, Eliana Teoria do Desenvolvimento - Conceitos Fundamentais. Volume 2 SP: EPU, 1982. BOSSA, Ndia A. e OLIVEIRA, Vera Barros de Avaliao Psicopedaggica da criana de zero a seis anos. Petrpolis: Vozes, 2002.

  • 39

    NDICE

    INTRODUO 7

    CAPTULO I 9

    A RELAO PAIS X BEB 10

    1.1 - Primeira Infncia 11

    CAPTULO II 13

    ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL 14

    2.1 - Fase Oral 14

    2.2 - Fase Anal 15

    2.3 - O Complexo de dipo 15

    CAPTULO III 20

    TDAH 21

    3.1 Hereditariedade 23

    3.2 Estudos Cerebrais 23

    3.3 Fatores Ambientais 24

    3.4 Critrios de Diagnstico para o TDAH segundo DSM IV 24

    3.5 Hiperatividade 25

    3.6 Impulsividade 26

    CAPTULO IV 27

    COMO AJUDAR AS CRIANAS COM TDAH? 28

    CAPTULO V 30

    O CASO DEBORAH 31

    5.1 Histria Familiar 32

    5.2 Indicaes 33

    5.3 Aulas Particulares 33

    5.5 Parecer da Escola 35

    CONCLUSO 36

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 38

    NDICE 39

    ANEXOS 40

    FOLHA DE AVALIAO 49