Teatro dos sentidos
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Recurso: «Teatro dos Sentidos»
Actividade: Guião de Construção de Peça de
Teatro Interativa
Junho, 2012
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Índice
Pág.
Introdução 3
Enquadramento conceptual do recurso 5
Narrativa da prática 13
Elementos ilustrativos 19
Instrumentos e ferramentas utilizadas 19
Avaliação do recurso 20
Considerações finais 23
Bibliografia 24
Anexos 25
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“O teatro não é uma forma a mais de manifestação. Ele é essencial ao ser humano. Nesse grande teatro
existencial o homem é espectador de si mesmo, nenhum animal faz indagação da sua existência, o
homem faz. O teatro para mim é isso: ninguém tem o saber, o saber nasce do espectáculo e com o
espectáculo. Sou feliz…”
(Boal, in Teixeira 2007)
Introdução
O presente dossiê apresenta o recurso do Projeto “Escol(h)as em Boa Hora”
(NC-117) – Programa Escolhas - designado por «Teatro dos Sentidos» e a sua
estruturação através da atividade Guião de Construção de Peça de Teatro
Interativa.
Este recurso nasce a partir da identificação da atividade “Teatro dos Sentidos”
enquanto geradora de impacto entre os participantes do projeto. É uma
atividade regular do nosso Plano de Atividades, integra crianças e jovens das
três principais Escolas (2º e 3º ciclos do ensino básico, secundário e
profissional) do concelho de Vagos, é atractiva e tem provocado um processo de
mudança e melhoria quanto ao desenvolvimento integral de muitos dos seus
participantes regulares.
Caracteriza-se como sendo um recurso de suporte à motivação,
(re)socialização, mediação, inserção social e de acompanhamento de públicos
(nomeadamente jovens dos 11 aos 24 anos) em situação de vulnerabilidade que
participam de forma regular em atividades de expressão dramática, assim como
uma metodologia de animação pedagógica e de ensino/aprendizagem. Com
efeito, a sua área estratégica de intervenção é a Inclusão escolar e educação não
formal, assim como a Dinamização comunitária e cidadania na medida em que
tem demonstrado (na fase de auto-avaliação) que contribui para a promoção do
sucesso escolar, prevenção do abandono escolar através do desenvolvimento de
várias competências por via da educação não formal e por apresentar-se como
uma atividade lúdico-pedagógica, de cariz artístico e cultural que promove a
informação e apoio à comunidade, inclusivamente sob o ponto de vista
terapêutico (cf. Ficha de caracterização do Recurso devidamente atualizada na
sequência das sessões de consultoria e das atividades de experimentação).
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O Recurso que apresentamos pretende responder às seguintes problemáticas
junto dos jovens (participantes regulares em atividades de dramatização):
Dificuldade de estruturação de guiões de peça de teatro de forma
autónoma (carência na organização de ideias e sistematização da
informação);
Dificuldades de expressão/comunicação;
Baixa auto-estima e baixo nível de auto-confiança;
Ausência de identificação e pertença grupais;
Dificuldade em estabelecer relações sociais.
O presente “Guião de construção de peça de teatro interativa” serve para apoiar
as atividades de dramatização e/ou teatro orientando técnicos/as e jovens na
construção de um produto coerente, eficaz e inovador. Servirá sobretudo para os
destinatários se autonomizarem gradualmente na construção de histórias,
personagens, cenários, através de uma orientação de base que potencia as artes
de expressão e o desenvolvimento integral dos seus intervenientes.
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Enquadramento conceptual do recurso
Teatro, brincadeira e jogo
Vários autores da literatura sobre jogos dramáticos reconhecem existir uma
combinação e complementaridade entre o teatro e jogo, resultando numa nova
atividade: o jogo dramático. Contudo, apesar das grandes afinidades entre
ambos, o conceito de jogo dramático é ainda bastante recente. O recurso
«Teatro dos Sentidos» e a sua estruturação através do presente “Guião de
Construção de Peça de Teatro Interativa” apoia-se conceptualmente na
existência de uma forte integração do JOGO no TEATRO.
Tal como defende a autora MOTTA “…o jogo pressupõe uma ação que visa um
objetivo que pode ser o próprio jogo, que tem ritmo, contexto e regras que
regem os jogadores e o próprio jogo. (…) O jogo, portanto, não é sinónimo de
brincar ou de lúdico (1995: 2). ROOYACKERS, nesta mesma linha, explica que
“os participantes aprendem não só a brincar com os outros, mas a dar às suas
ações uma forma dramática. Os participantes contam e representam histórias e
experiências, dizem o que é que acham importante numa dada situação e o que
pensam e sentem sobre ela e como é que a traduziriam num jogo dramático.
Relacionam-se com os pares, pois todos sabem que os outros estão a preparar e
a representar algo que eles próprios imaginaram (2003: 16). Tal como afirma
DATNER (in MOTTA, 1995:85) “os jogos dramáticos, apresentam
características próprias, não podendo ser confundidos com um jogo qualquer,
pertencendo à metodologia psicodramática e sociodramática.”
Na linha deste esclarecimento conceptual também pretendemos reforçar a
opinião de vários autores que defendem que os jogos dramáticos não são
representações formais num palco e com público. A dramatização é em si um
outro jogo específico, original e criativo que procede ao lúdico, para brincar e
jogar. Tal como explica ROOYACKERS “num jogo dramático vive-se num
mundo diferente do nosso e usamos a nossa imaginação para representar algo
através das nossas ações. Representar o que criamos é uma parte muito
importante dos jogos dramáticos (2003:15).
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MONTEIRO (in MOTTA, 1995: 26) define jogo dramático como “toda a
atividade que propicie ao indivíduo expressar livremente as criações do seu
mundo interno, realizando-as na forma de representação de um papel, pela
produção mental de uma fantasia, ou por uma determinada atividade corporal.”
De uma forma simples, é todo o jogo que acontece no contexto dramático, no
“como se”.
Jovens e jogos dramáticos
“O jogo dramático é uma das técnicas mais utilizadas quando se trabalha com
jovens” (MOTTA, 1995: 25). Normalmente o que inicialmente parece difícil de
ser exteriorizado, acaba por encontrar no espaço do jogo um ambiente
facilitador à comunicação e revelação. O jogo tem um grande impacto entre os
seus participantes porque cria um ambiente descontraído, informal e lúdico que
facilita a abordagem de determinados temas que normalmente quando
colocados verbalmente são mais difíceis de serem expostos e explicados pelos
jovens. Por outro lado, é uma técnica que controla a agitação dos mais
irrequietos e ajuda-os a sintonizarem com o seu mundo interno através de
objetos intermediários “O jogo dramático fornece maneiras criativas de se lidar
com os conflitos, pois propõem sempre que a abordagem do tema seja em
campo relaxado de conduta” (CASTANHO in MOTTA, 1995:24). Muitos autores
realçam o papel fundamental dos jogos dramáticos nas diferentes etapas de
desenvolvimento da adolescência e transição para a vida adulta reforçando que
“os mais simples jogos desempenham um papel fundamental em nossas vidas
nos momentos de tensão. É a possibilidade de retomar a espontaneidade
bloqueada pela emoção” (CASTANHO in MOTTA, 1995:24). A coesão do grupo
é fundamental para esse clima relaxado e espontâneo “No campo relaxado do
lúdico, os conflitos, as dificuldades, as facilidades, as complementaridades, o
encontro e a comunicação são vividos, conhecidos e reconhecidos pelo grupo”
(DATNER in MOTTA, 1995: 87).
A importância dos jogos dramáticos para o desenvolvimento
pessoal, escolar e social dos participantes
Os jogos dramáticos demonstram um amplo valor pedagógico e são apreciados
mesmo pelos participantes com pouca experiência teatral.
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Todos os autores que se dedicam à investigação na área da dramatização são
unânimes a reconhecer as potencialidades dos jogos dramáticos no processo
educativo dos seus participantes. Seguidamente apresentam-se as razões pelas
quais se devem usar os jogos dramáticos na atividade de teatro/dramatização
(ROOYACKERS, 2003):
Os jogos dramáticos contribuem para o desenvolvimento social e emocional. Ou
seja, encorajam os participantes a expressar o seu mundo interior e a sua
fantasia, reflexo da sua realidade própria, ajudando-os a integrarem-se no
mundo exterior dentro do seu esquema de pensamento. Como os participantes
são confrontados diante de problemas reais que exigem uma solução,
desenvolvem a imaginação e aprendem a organizar as suas ideias, formas de
reação e de comportamentos. Alargam o conhecimento sobre si mesmos porque
utilizam várias formas de comunicação – oral e expressão física – o que faz com
que se diga mais coisas a seu respeito. ROOYACKERS afirma que “A
representação é como um espelho: ajuda-nos a perceber o que podemos fazer”
(2003:18). Com efeito, promove e desenvolve a concentração e a confiança em si
e nos outros porque partilham-se experiências diferentes em relação à vida
quotidiana.
Os jogos dramáticos desenvolvem a personalidade pois através deles aprende-se
a explorar e gerir a imaginação e a processar de forma consciente e organizada
as experiências de relacionamento com os outros. Desenvolve-se também o
controle sobre o que se diz, como se diz, ou seja, o modo como se movem os
participantes, verificando-se melhorias ao nível da autoestima. O trabalho da
imaginação envolve a transferência do “eu” para uma situação diferente ou não
presente, ou para uma identificação com “outro”. Esta modalidade mental ajuda
para uma compreensão mais clara de como as outras pessoas vivem e sentem,
fomentando as relações sociais salutares. A imaginação está na essência de toda
a criatividade, transformando experiências e imagens acumuladas, em novas
ideias.
Os jogos dramáticos desenvolvem a expressão oral e física. A representação
desenvolve a capacidade de expressão porque promove a aprendizagem de
novas palavras e diferentes formas de comunicação, assim como ensina a lidar
com situações desconhecidas. O contato direto com o “outro” desenvolve a
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capacidade de expressão de sentimentos e ideias com recurso a um vocabulário
mais adequado, mais rico e intenso (entoações, palavras com força emocional),
desenvolvendo-se formas de comunicação mais autênticas e originais. “Num
jogo dramático, os jogadores tendem a ficar mais próximos das outras pessoas
do que o fariam no quotidiano. Interagem com os outros de uma forma mais
direta, tem mais contacto físico com os outros” (ROOYACKERS:2003:18).
Os jogos dramáticos desenvolvem também a criatividade. Num jogo dramático
aprendemos a ver a autoexpressão, os outros participantes, as situações, os
assuntos de uma forma nova. Passa-se a explorar o mundo que nos rodeia, a
relação com os outros e a desenvolver ideias em grupo e individualmente. “Estas
experiências expandem a capacidade de brincar e ajudam-nos a gerir os
pensamentos e os problemas do nosso quotidiano de forma mais criativa”
(ROOYACKERS:2003:17). “Pois a criatividade, elemento fundamental do jogo
dramático não tem limites” (MAZZOTTA in MOTTA, 1995: 11).
Os jogos dramáticos ajudam a desenvolver a capacidade de composição. Esta
capacidade relaciona-se com o aspeto visual da peça (forma e conteúdo), a
compreensão da história. Tal como o autor explica “É preciso trabalhar no jogo
para o tornar agradável de ver, para que os outros possam apreciar a forma de
representar, de contar a história, o movimento e o aspeto cénico”
(ROOYACKERS:2003:18).
Os jogos dramáticos são relaxantes e apreciar um jogo é muito importante e
para isso os participantes têm que se sentir confortáveis e à vontade com os
outros elementos do grupo, partilhando as suas opiniões de uma forma livre e
espontânea. Todos os assuntos – sérios e cómicos – devem produzir satisfação
nos participantes e o fato de envolver brincadeiras não implica que se tenha de
estar sempre a rir para apreciar o desempenho do outro.
Os jogos dramáticos também desempenham um papel preponderante no
processo de inclusão social. O grupo de participantes está indiferenciado e
defendido, as pessoas não se conhecem e com o jogo inicia-se a estrutura de
coesão grupal. Quando o grupo já se conhece, desenvolve-se o relacionamento já
iniciado, experienciando novas formas de estar em grupo, sem os estereótipos
inicialmente vivenciados. Estes jogos são designados de jogos para a
integração e são definidos como “aqueles em que as pessoas interagem em
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conjunto e o grupo funciona como bloco buscando criar uma identidade”
(MOTTA, 1995: 29).
Apesar da existência de uma grande diversidade de jogos pedagógicos, na
construção de um guião de peça de teatro interativa devem ser selecionados os
seguintes: jogos de aquecimento, jogos de auto e hetero-conhecimento, jogos
utilizando objetos intermediários, jogos de integração, jogos cooperativos e
jogos de personagens.
No ponto seguinte pretendemos abordar o papel terapêutico dos jogos
dramáticos aliados ao sociodrama. Para além das potencialidades já analisadas
anteriormente ao nível desta técnica “o objetivo do jogo dramático é permitir
uma aproximação terapêutica do conflito” (CUKIER in MOTTA, 1995: 26). O
que mais caracteriza um jogo dramático é a possibilidade de mudança e
crescimento no jogador/participante. “O jogo dramático deve, de alguma
forma, comover, isto é, envolver emocionalmente o participante na atividade de
expressar as criações do seu mundo interno (o que é criado na sua
subjetividade)” (CASTANHO in MOTTA, 1995: 26). MOTTA defende as
potencialidades dos jogos dramáticos revelando que “acredito na possibilidade
de todo e qualquer jogo ocorrido no contexto dramático ter o poder de
transformar internamente o jogador à medida que se possa jogar com
espontaneidade” (MOTTA, 1995: 26).
O jogo dramático e o sociodrama
O “guião de construção de peça de teatro interativo” tem a peculiaridade de
acrescentar ao jogo dramático, o sociodrama. Com efeito, a combinação destas
duas técnicas permite articular a componente socioeducativa com a terapêutica,
como demonstraremos seguidamente.
A complementaridade do sociodrama com o jogo dramático constitui uma nova
resposta para os jovens e técnicos que participam em atividades de
dramatização/expressão dramática (no projeto “Escol(h)as em Boa Hora” esta
atividade foi designada por «Teatro dos Sentidos») e que se defrontam com
dificuldades em estruturar guiões de peça de teatro de forma autónoma. O
acesso a esta ferramenta de intervenção social possibilita encontrar uma solução
para a inclusão social dos jovens oriundos de contextos socioeconómicos
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vulneráveis através de técnicas que garantem o desenvolvimento pessoal, social
e escolar – como analisamos anteriormente ao nível do valor pedagógico dos
jogos dramáticos – e de um método terapêutico, o sociodrama como
evidenciaremos através da fundamentação teórica que a seguir apresentamos.
O sociodrama é uma técnica de intervenção pedagógica e terapêutica com vista
à mudança de comportamento nos grupos. Foi desenvolvida por Jacob Moreno,
nos EUA, nos anos 30 do século XX. Este concluiu que partindo da avaliação
dos problemas sentidos no passado e no presente da vida de um grupo,
procuram-se formas adequadas de resolução das situações e conflitos mais
delicados. Este processo passa pela dramatização das experiências individuais
dos vários elementos do grupo que entram no jogo da cena. Na atividade
«Teatro dos Sentidos» realizada no projeto “Escol(h)as em Boa Hora” é a vida
do grupo que tem sido dramatizada em contexto de sessão sociodramática.
TEIXEIRA (2007: 188) afirma que utilizando as técnicas dramáticas do
sociodrama estamos a colaborar para a compreensão e a busca de alternativas
para problemas pessoais e comunitários (interpessoais).
O trabalho que o projeto “Escol(h)as em Boa Hora” desenvolve junto dos jovens,
dentro da Escola, no âmbito da atividade «Teatro dos Sentidos» caracteriza-se
pela “intervenção social no processo educativo ou uma ação educativa, como
proposta de intervenção, pressupõe uma ação intencional sobre os indivíduos,
grupos ou comunidades, com a finalidade de gerar mudanças e melhorias.»
(TEIXEIRA, 2007: 26). A atividade teatral realizada pelo projeto contribui para
a compreensão do indivíduo e contextualização dos fatos sociais.
O sociodrama torna as relações entre os elementos do grupo mais saudáveis,
mais espontâneas do que formais, daí o papel fundamental que assume os jogos
dramáticos neste processo de conquista da confiança no grupo. Tal como refere
FERREIRA 2010: 17) “utiliza práticas pedagógicas que privilegiam a educação
vivencial, com a liberdade de expressão. Constitui-se uma maneira descontraída
de trabalhar o grupo social e o indivíduo no grupo, com possibilidades de
experimentar várias soluções para os conflitos quotidiano, despertando no ser
humano uma atitude ativa perante a vida. No sociodrama, o grupo é o
protagonista porque as pessoas aprendem a expressar as suas opiniões,
focalizam os seus dramas.»
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O sociodrama é constituído por 3 fases: aquecimento, dramatização e
comentários.
O «aquecimento» “é o início do sociodrama, momento em que o participante e
o ambiente de confiança são preparados para que se possa emergir o tema que
será trabalhado durante a prática…” (FERREIRA, 2010:33). Os jogos
dramáticos que ajudam ao aquecimento do grupo, tal como sugeridos
anteriormente, têm nesta fase um papel preponderante.
A «dramatização» é o momento em que se “trabalha(m) a(s) cena(s) fruto do
aquecimento. A(s) cena(s) é(são) dramatizada(s) com o objetivo de se ter uma
circunstância atual do grupo e das possíveis alternativas de superação da
situação presente…” (FERREIRA, 2010: 36). Esta segunda etapa faz com que
cada participante do grupo, através de cenas dramáticas (“como se…”), assuma
o papel de ator/atriz e inclusivamente de espectador.
A fase dos «comentários» reúne o grupo para partilhar sobre as experiências
vividas durante a fase de aquecimento e dramatização. Nesta etapa “os
participantes são estimulados a expressarem tanto o significado da prática como
as suas implicações futuras (…) é uma fase importante para verificar o que da
prática foi absorvido e foi capaz de modificar o participante” (RAMALHO E
SANTOS in FERREIRA, 2010:40).
Nesta articulação jogos dramáticos/sociodrama não podemos deixar de tecer
alguns comentários sobre o teatro-fórum como elemento também integrador
deste recurso.
No ponto seguinte deste dossiê, iremos focalizar a nossa atenção em todos os
passos que constituem o guião de construção de peça de teatro interativo.
Neste guião, o teatro utilizado no sociodrama tem o objetivo de produzir uma
peça de teatro porque envolve os participantes numa iniciativa de dinamização
comunitária, uma das áreas estratégicas de intervenção deste projeto, para além
de se apresentar como uma oportunidade dos jovens do projeto revelarem,
diante da comunidade, a sua participação e co-responsabilização, para além de
ser uma estratégia de marketing e divulgação do projeto. Com efeito, iremos
mencionar que a história/peça deve ser atrativa para o público ao ponto de
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envolvê-lo na peça. Esta interação com o público desenvolve-se no teatro-fórum
que abordaremos de forma breve, neste último ponto da fundamentação teórica.
Teatro-fórum
Um dos aspetos do presente guião de construção de peça de teatro interativo
que revela a sua inovação e utilidade é o envolvimento que procura dar ao
público. Como veremos mais adiante, o desenrolar da peça deve colocar o
espectador a refletir sobre os conflitos e/ou dilemas e as consequências das
ações/opiniões de cada personagem, assim como levá-lo a desejar opinar sobre
o tema/s central/ais.
Teatro-fórum é uma das técnicas do teatro do oprimido (método brasileiro de
Augusto Boal), em suma é um espetáculo em que o público/plateia se torna em
ator social. “Através de jogos teatrais, o público analisa a realidade em que vive
e teatraliza as situações que deseja ver transformadas” (BOAL in TEIXEIRA,
2007: 212).
São os destinatários finais deste recurso (jovens que participam na atividade do
projeto «Teatro dos Sentidos») que levantam os temas sobre os quais o grupo
gostaria de realizar um teatro-fórum. No teatro-fórum “A metodologia baseia-
se deste modo, na criação de pequenas situações reais, normalmente em
oficinas de algumas horas, situações nas quais se verificam uma clara situação
de opressão, representadas posteriormente para uma plateia que é convidada a
participar, substituindo os atores, equacionando todas as possibilidades. No
Teatro-Fórum, como técnica teatral é utilizada uma pergunta feita pelo elenco
aos espectadores. É apresentado um problema objetivo, através de personagens
opressores, que entrem em conflito por causa dos seus desejos e vontades
contraditórias. Nesta luta pelo seu objetivo, o oprimido fracassa sempre,
cabendo ao espectador apresentar/representar as suas alternativas para os
problemas dramatizados, intervindo diretamente no espetáculo, substituindo
assim o personagem oprimido (Boal in TEIXEIRA, 2007: 103).
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Narrativa da Prática
Educação pela Arte - O teu recurso para o Teatro…Passo a Passo…
Este recurso visa apoiar técnicos/as, jovens e adultos participantes em projetos
de intervenção social e de cariz artístico na construção de guiões de peças de
teatro interativas, fomentando simultaneamente o desenvolvimento de
competências artísticas, sociais e pedagógicas com vista ao bem-estar de tod@s!
Seguidamente, passamos a explicitar o modo de utilização desta ferramenta
para que a possas utilizar de forma autónoma nos teus contextos de intervenção.
Passo I…
Jogo… Expressão… Lúdico… Dramatização…Conhecimento… São expressões
que definem o passo I deste manual. Assim, jovens e adultos deverão empolgar-
se no faz-de-conta ou no falar-sem-dizer para exercitar alguns temas ou
capacidades: exercício da imagem corporal e social, trabalho de projetos de vida,
desenvolvimento da cooperação e discussão de temas variados. Deve-se ainda,
fazendo uso do lúdico, explorar alguns temas e conceitos que permitam o grupo
compreender melhor esta expressão artística, nomeadamente: a história do
Teatro, tipologia de teatros, elementos do teatro, entre outros.
Assim, sem preconceitos nem constrangimentos, arrisquem a desenvolver os
jogos dramáticos abaixo propostos. Contudo, salientamos que deverão
experimentar cada jogo antes de o pôr em prática.
Jogo de integração e heteroconhecimento
Cada participante escolhe três objetos pessoais (ex.: pulseira, boné, telemóvel…)
que correspondam a três dos seus nomes (ex.: Andreia Soares e Silva). Irá
apresentar-se ao grupo falando como se fosse o objeto, ou seja, na 1ª pessoa e
partilhando o seu valor (ex.: Eu sou a pulseira Andreia. Tenho 1 ano e fui uma
oferta muito especial do Tiago…). O grupo pode fazer perguntas.
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Jogo de equipa/cooperativo
O grupo deverá, rapidamente e sem falar, organizar-se numa fila, em sentido
crescente, por data de nascimento, num tempo limite definido pelo/a
dinamizador/a. De seguida, devem-se explorar os recursos utilizados e valorizar
o sucesso da atividade ou explorar as razões da sua não concretização.
Posteriormente, devem formar-se três sub-grupos e cada um deverá organizar
uma pequena dramatização que reflita situações distintas: uma conflituosa, uma
cómica, uma trágica. Podem ou não basear-se em situações reais. Após exporem
as pequenas dramatizações ao grande grupo, deve fomentar-se a discussão
acerca das capacidades reveladas pelas equipas e valorizar o trabalho em
equipa.
Jogo de personagens
O grupo deve ser dividido de modo a criar equipas de 3 ou 4 elementos. A cada
equipa deverá ser entregue um papel com uma personagem ou contexto (ex.:
Padre; Prisão; Cabeleireiro). O objetivo será cada equipa criar uma estátua que
represente o definido no papel e as restantes equipas terão que acertar em três
tentativas. No final, deve refletir-se sobre as opções tomadas, a capacidade de
criação de personagens e os meios utilizados para atingir o objetivo.
(Fonte: 100 Jogos para Grupos)
Jogo de Sensações/relaxamento
Num ambiente de relaxamento – música tranquila, luz reduzida, velas de cheiro
-, o/a dinamizador/a deverá propor aos participantes que se sentem ou deitem
confortavelmente para «abrirem asas à imaginação». Todo o grupo deve estar
em silêncio enquanto serão proferidas frases de relaxamento e de motivação à
construção de lugares paradisíacos na mente individual (ex.: Respirem
profundamente enquanto se abstraem do mundo real. Sintam o vosso corpo
em contato com o chão/cadeira, num percurso mental ascendente, da ponta
dos dedos dos pés até ao couro cabeludo – o/a dinamizador/a deve explicitar
cada zona do corpo. Agora reflitam sobre como se sentem neste momento:
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estão ansiosos, cansados, tristes, felizes… Conscientes do nosso estado de
espírito devem imaginar um local belo, feliz e só vosso. Esse local – quinta,
praia, campo, lago, etc… - tem um portão e só vocês têm a chave. Abram-no e
entrem com a certeza que só encontrarão o que desejarem. Sintam os cheiros,
vejam as cores, toquem no que desejam, observem o que contém e criem o que
pretendem. Aqui não há problemas, ansiedades, medos ou conflitos… existem
apenas sensações boas (continuem este discurso de acordo com as
especificidades dos grupos). Podem vir a este lugar sempre que quiserem pois
ele existe na vossa mente. Saiam fechando a porta e guardando a chave junto
ao coração. Vão regressando ao mundo real, sentindo os cheiros do espaço
onde estão, ouvindo os sons, tateando o chão. Lentamente vão-se sentando e
abrindo os olhos, adaptando-os à luz.) No final cada indivíduo pode partilhar
como é o seu lugar, o que viu e sentiu. Deve-se concluir a atividade valorizando
a capacidade de imaginarmos e de experimentarmos diferentes sensações,
competências importantes para o desenvolvimento individual ao nível do teatro.
Os jogos dramáticos propostos a título exemplificativo, deverão fazer parte das
atividades de teatro como elementos de «aquecimento» do grupo, integração
atividade ou conclusão da mesma. Trabalham competências transversais à
dramatização e ao desenvolvimento cognitivo do indivíduo, como tal são
imprescindíveis para a formação do grupo (cf. Ponto 1 - Fundamentação teórica
do recurso) e para a construção de uma peça de teatro, o passo II deste manual.
Passo II…
Para construírem uma peça de teatro têm que ter em atenção vários critérios,
indicadores e ordem de elaboração.
Verifiquem, fazendo-o vocês própri@s
A) Definam um tema (em grupo, devem discutir sobre um tema interessante
para os participantes; pensar no público-alvo; refletir sobre a inovação do
tema);
B) Pesquisem sobre o tema (recorrendo à internet ou a bibliotecas escolares ou
municipais, procurem informações sobre o tema e peças de teatro que já tenham
abordado o tema; para saberem mais, para além da contextualização teórica
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realizada no início deste recurso, procurem informações sobre o teatro-fórum,
como uma vertente do teatro do oprimido, em outros locais ou procurem assistir
a uma sessão; deixem que o tema surja no grupo através das sessões de
sociodrama);
C) Construam, em grupo e num clima de interajuda e cooperação, um guião de
peça de teatro tendo em consideração os seguintes aspetos: personagens,
cenários, adereços, locais de apresentação da peça, referências cénicas,
construção das falas, recursos humanos, materiais, financeiros e, sem dúvida, a
forma de promover o envolvimento do público.
Passo a Passo…
1º) Após escolherem um tema e promoverem no grupo atividades dramáticas
que fomentem a construção de personagens e falas, devem começar por
construir o guião dividindo-o consoante as regras básicas das peças de teatro,
em atos e cenas. Os atos constituem uma série de cenas interligadas pelo tema
ou temas da peça. As cenas dividem-se conforme as alterações no número de
personagens em cena, quando entra ou sai do palco um/a ator/atriz, ou de
cenário/contexto.
2º) Dividido em atos e cenas, o guião deve indicar claramente as personagens
presentes em palco, as suas falas (estas devem ser antecedidas do nome da
personagem que vai proferi-las) e posturas/ações, ou seja as indicações cénicas
– estas indicações permitem ao/à encenador/a direcionar os/as atores/atrizes
para o estado emocional que devem ter, as suas posições no contexto e atitudes,
todavia não devem restringir os/as atores/atrizes, permitindo que se libertem e
se exprimam na «arte de representar».
3º) A história/peça deve ser dinâmica e expor algum conflito ou dilema, como
elemento atrativo para o público. Para criar um guião de peça de teatro em que
haja interação com o público, à semelhança do teatro-fórum1, devem-se
construir personagens que se contrastem, ao nível da opinião, sobre o tema
central ou que se vejam perante vários caminhos e opções sem certezas da mais
1 Procurar mais informações no site http://www.apele.org de A Pele – espaço de contacto social e cultural.
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acertada. O desenrolar da peça deve colocar o espectador a refletir sobre os
conflitos e/ou dilemas e as consequências das ações/opiniões de cada
personagem, assim como levá-lo a desejar opinar sobre o tema/s central/ais.
Para tal, a peça deve ser relativamente realista, fomentando assim a
identificação do público com as personagens ou temas, todavia deve ter ênfase e
algum drama que transcenda o quotidiano para não desmotivar o público e
manter a peça na sua vertente artística e de entretenimento. A ênfase pode ser
dada por uma fala, uma ação mais intensa ou mesmo uma mudança drástica nas
luzes ou sons. O momento do clímax, na construção de uma peça interativa,
existe quando a ação vai em crescente complicação, convergindo para um
impasse cuja solução será dada ao público para conceber. Conceber um final
para uma história será então o trabalho do espectador com o apoio dos/as
atores/atrizes (Ver anexo I – modelo de guião de peça de teatro interativa no âmbito
da atividade «Teatro dos Sentidos», pp. 25-35). Ou seja, a relação entre o/a
ator/atriz e a plateia, deve atingir um nível de proximidade capaz de atingir a
«alma» do/a(s) recetores(as), promovendo, para além do entretenimento, a
educação e o conhecimento.
A utilização da técnica sociodramática com os/as atores/atrizes, em atividade,
semanalmente, e em paralelo com a construção da peça, é de extrema
importância para a desconstrução de mitos e conflitos sobre o tema assim como
para exercitar algumas técnicas de representação – ex.: solilóquio – momento
em que o indivíduo «pensa alto», promovendo a partilha das suas reflexões
perante a espontaneidade, no momento do sociodrama, e que poderá integrar a
peça de teatro para explicar algo ao espectador ou partilhar com ele os seus
pensamentos ou sentimentos. Por acharmos que o sociodrama é uma mais-valia
para a construção de um guião de peça de teatro interativa, exploraremos de
seguida esta técnica de intervenção pedagógica e terapêutica.
Passo III…
A inovação deste recurso, relaciona-se com o aliar a construção de peças de
teatro, à interação com o público e ao trabalho do ator/atriz enquanto ser social
através do sociodrama. Este recurso visa ainda autonomizar os indivíduos na
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construção de peças interativas e promover a sua capacidade de (re)criação
própria e interação social saudável.
De assinalar que a técnica sociodramática2, deve ser desenvolvida por uma
equipa especializada, nomeadamente com experiências, formação e
conhecimentos ao nível da mesma – é importante que estejam sempre presentes
2 elementos especializados assim como estejam reunidas as condições para a
realização de uma sessão de sociodrama; pela experiência, aconselhamos a
presença de educadores/as e psicólogos/as e/ou psiquiatras em virtude da
espontaneidade da sessão que pode levantar questões pessoais e íntimas
disruptivas.
Tal como referido anteriormente, as sessões de sociodrama devem
desenvolver-se com o grupo, semanalmente, à medida que se vai trabalhando o
guião da peça e após algumas sessões onde são trabalhadas as capacidades de
pensar e estar positivamente em grupo assim como a confiança entre os
elementos que o constituem. Adaptando o sociodrama à atividade de Teatro,
podem propor um tema ao grupo, após dar indicações claras da intervenção de
cada um (ex. 1: O tema pode ser «Agora já é tarde»; cada participante deve
dramatizar uma situação em que empregou esta frase ou que sente de acordo
com o seu conteúdo; os restantes apenas podem expor soluções ou alternativas
sem nunca julgar ou depreciar o/a protagonista; ex.2: percebendo-se problemas
de conhecimento ou compreensão de certos temas podem-se abordar os
mesmos nestas sessões, como por exemplo «O namoro e as sexualidades»; «A
violência nas relações», etc.) – se sentirem conflitos no grupo que podem ser
trabalhados em sessões de sociodrama e/ou perceberem que o grupo exporá
rápida e facilmente algum tema, deixem que a espontaneidade reine.
Muita atenção na utilização deste método pois podem «acordar fantasmas» que
depois não conseguem controlar. Todavia, com todos os critérios inicialmente
indicados obedecidos, recorram ao sociodrama para ajudar os participantes a
criar projetos de vida concertados, a trabalhar bem em equipa, a resolver
conflitos internos, a aprender a partilhar e a guardar sigilo assim como para
2 Para obter mais informações sobre o Sociodrama e a formação nesta técnica para a dinamização de sessões sociodramáticas devem navegar no site http://www.sociedadeportuguesapsicodrama.com, onde encontrarão os contatos da Sociedade Portuguesa de Psicodrama.
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exercitar técnicas fulcrais para a construção de personagens para peças de
teatro.
Elementos ilustrativos
De modo a verificarmos as evidências e impacto da aplicação deste recurso,
realizamos algumas entrevistas a alguns/mas jovens participantes na atividade
«Teatro dos Sentidos», com o/a(s) quais aplicamos as técnicas e metodologia
acima explanadas. Com efeito, encontra-se em anexo (p. 25) os seguintes
documentos: Anexo II – Guião de Entrevista ao grupo de participantes, p. 37;
Anexo III – Instrumento Audiovisual «Entrevista ao grupo participante», p. 38
(por ser um documento audiovisual, foi partilhado no dropbox com o Programa
Escolhas); Anexo IV – Grelha de Avaliação das Entrevistas, pp. 39-40.
Instrumentos e ferramentas utilizadas
Para aplicares este recurso deves munir-te de vários instrumentos e ferramentas
nomeadamente: o manual; um espaço propício para ensaios e aplicação do
recurso (com palco, cadeiras e luzes); adereços para a peça e para as sessões de
sociodrama (ex.: panos para fazer de «espelhos» - pesquisar técnicas de
sociodrama), conhecimentos de base sobre teatro e sociodrama e recursos
humanos especializados e preparados para a aplicação do recurso (técnico/a
com bases de teatro para a aplicação dos jogos dramáticos; técnico/a(s)
especializado/a(s) e com formação em sociodrama, nomeadamente de
educadores/as e psicólogo/a(s) e/ou psiquiatras).
As ferramentas necessárias para a aplicação do guião (que se complementa
através do recurso a jogos dramáticos e ao sociodrama) e operacionalização do
mesmo através da apresentação pública da peça de teatro interativa são:
comunicação interna salutar, cooperativa e criativa (entendendo-se o
«interna» entre os indivíduos do grupo de teatro); recurso a meios de
informação atuais para pesquisas e construção, em formato digital, do guião
(computadores com acesso à internet; impressoras para entregue do guião final
a cada ator/atriz); construção de instrumentos de divulgação da peça
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(folhetos, cartazes, convites); espaços na comunidade para a apresentação da
peça – com palco que corresponda às necessidades da apresentação.
Fundamentalmente, estes são os instrumentos e ferramentas imprescindíveis
para a aplicação do guião e exposição pública da peça de teatro, todavia,
mediante a peça construída, poderão haver outro/a(s) cujo recurso seja
indispensável.
Avaliação do recurso
A aplicação do manual, no momento da fase de avaliação/validação do recurso,
realizada por diferentes técnicos/as da comunidade (professores/as e técnicos
sociais de Escolas e Associações) – ver Anexo V, p. 41 – em atividades similares
ao «Teatro dos Sentidos», com diferentes públicos (grupos de crianças, grupos
de jovens e grupos de adultos) e a avaliação desses/as mesmos/as técnicos/as,
permitiu-nos concluir que o recurso promoveu o aumento de competências
(quer para os grupos-alvo quer para os/as responsáveis das atividades) e
evidenciou-se como um auxiliar inovador e prático para os/as aplicadores/as.
Após análise das entrevistas de avaliação do recurso (aos destinatários finais)
assim como das observações em diário de bordo da atividade «Teatro dos
Sentidos», no qual se descreveram sentimentos, competências, participação,
empenho, autonomia, iniciativa e evolução dos/as participantes, e das grelhas
de validação do recurso aplicadas a diferentes indivíduos e instituições da
comunidade, concluímos que este recurso incorpora os 5 critérios de qualidade
de um Recurso Escolhas. Uma breve análise ao conteúdo das grelhas de
validação realizadas por algumas entidades (Escola Secundária de Vagos, Escola
Profissional de Vagos e Associação Boa Hora) permite-nos concluir que este
recurso respeita a:
- INOVAÇÃO: “abordagem de temáticas sociais atuais em contexto dramático e
o apelo à participação do espectador levando-o a interagir com o elenco e a
colaborar no desfecho da peça” (Diretora Pedagógica, Associação Boa Hora);
- PERTINÊNCIA: “muito pertinente, pela promoção da abordagem de
temas/problemas e necessidades sociais/culturais, através do debate de ideia,
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exposição de situações reais e procura de soluções” (Coordenadora do Curso
“Organização de Eventos”, Escola Secundária de Vagos);
- UTILIDADE: “a peça de teatro transporta a partilha de experiências, o que
permite alertar e despertar para as questões sociais vividas pelos destinatários”;
“assume uma utilidade crescente numa sociedade que cada vez mais deve
procurar ajudar os jovens a reolver conflitos internos através da partilha em
grupo de confiança” (Coord. Curso “Organização de Eventos”, Escola
Secundária de Vagos); “desconstrução de mitos e conflitos acerca de tema
vividos pelos próprios protagonistas” (Coord. Curso Animação Sociocultural,
Escola Profissional de Vagos);
- CAPACITAÇÃO/AUTONOMIA: “a trajetória implicada nesta metodologia
promove meios para aquisição da autonomia” (Diretora Pedagógica, Associação
Boa Hora); “a união da técnica sociodramática com a construção de uma peç a
de teatro e a possibilidade de interação com o público traduz-se num potencial a
valorizar” (Coord. Curso “Organização de Eventos”, Escola Secundária de
Vagos);
- TRANSFERABILIDADE: “pode ser utilizado em múltiplas situações de
intervenção, sendo de fácil compreensão e utilização” (Coord. Curso
“Organização de Eventos”, Escola Secundária de Vagos); “o teatro e jogos
interativos são situações/oportunidades para criar situações de
ensino/aprendizagem, no qual a descoberta e a construção de conhecimentos
estão sempre presentes; é fácil utilizar este guião” (Diretora Pedagógica,
Associação Boa Hora).
Na fase de experimentação, concluímos (junto de técnicos e participantes jovens
e adultos) que o manual realizado inicialmente tinha uma linguagem pouco
concreta/adequada e direcionada para o objetivo. Face a esta avaliação,
adaptamos a linguagem e organizamos um manual de uma forma mais prática,
interativa e aplicável por qualquer pessoa/instituição com interesse pela
intervenção social e pelo teatro.
A tipologia do “Guião de peça de Teatro interativo” é um “Package Pedagógico”
constituído por um manual e um “CD-ROM”. Esta ferramenta audiovisual
resultou numa aplicação informática interativa que permite um acesso mais
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fácil, inovador e prático a este recurso. Durante a fase de experimentação surgiu
a dificuldade de realizar esta aplicação, contudo após processo de validação,
optámos por investir num técnico externo ao projeto para o enriquecimento
desta tipologia.
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Considerações finais
O presente manual procurou focar os aspectos imprescindíveis para a aplicação
do guião e exposição pública de uma peça de teatro, todavia, mediante a peça
construída, poderão haver outro/a(s) cujo recurso seja indispensável, e que
devem ser apropriados pelos futuros incorporadores.
Um aspecto a não menosprezar são os custos de implementação associados a
este recurso. As várias despesas com equipamentos (computador, vídeo-
projetor, impressora, scanner, instalação de Internet em Banda Larga etc.);
recursos humanos (técnicos na área da saúde, na área da intervenção social, na
área artística, monitores, formadores, etc.), funcionamento e desenvolvimento
das atividades (guiões, caracterização, cenografia, espaço, etc.) envolvem custos
que facilmente podem ser rentabilizadas por parcerias locais (como são
habituais desenvolver-se em projetos promovidos por instituições/associações
sem fins lucrativos).
Os futuros incorporadores deste recurso não devem menosprezar ainda que as
despesas dependem dos cenários a construir; que na técnica do sociodrama é
obrigatória a presença de um técnico especializado na área da intervenção social
e que os jogos dramáticos, sociodrama e Teatro-Fórum exigem espaços com
determinadas características - dimensão ajustada ao grupo e às dinâmicas a
realizar, palco e espaço com plateia (no caso do Teatro-Fórum).
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Bibliografia
FERREIRA, C. P. B., (2010), A expressividade no Sociodrama. Brasília:
Universidade de Brasília, Faculdade de Educação, Programa de Pós-Graduação
em Educação, 17-40.
JARES, X., (2007), Técnicas e Jogos Cooperativos para Todas as Idades.
Porto: Edições Asa.
MOTTA, J. M. C. (Org.), (1995), O Jogo no Psicodrama. S.Paulo: Ágora.
ROOYACKERS, P., (2003), 101 Jogos dramáticos: Aprendizagem e diversão
com jogos de teatro e faz-de-conta. Porto: ASA Editores, S.A.
TEIXEIRA, T. M. B., (2007), Dimensões Sócio Educativas do Teatro do
Oprimido: Paulo Freire e Augusto Boal. Tese de Doutoramento, Universidade
Autónoma de Barcelona, 26-212.
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Anexos
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ANEXO I – modelo de guião de peça de teatro interativa construída no âmbito da atividade Teatro dos Sentidos
Guião da Peça «Lua da Joana», criada e adaptada a partir do livro «Lua de Joana» de Maria Teresa Maia Gonzalez
PERSONAGENS Dr. Brito, pai de Joana Bé, mãe de Joana Diogo, irmão de Marta Avó Ju, avó da Joana Joana Narrador/a CENÁRIOS A – Quarto de Joana Constituem elementos deste espaço cénico: inicialmente o quarto está todo pintado de branco, com colcha branca e decoração totalmente branca. O quarto tem uma janela através da qual se vêm nuvens e o ceú e um baloiço em forma de uma Lua, pendurada. Existe também um puff que tem uma colcha branca no início e depois tira-se para que fique preto. A decoração muda com a colocação dos caleidoscópios no quarto. Depois vêem-se pinturas negras e uma manta colorida na cama. B – Átrio de entrada no prédio Constituem elementos deste espaço cénico: Existe um elevador e umas escadas. Talvez umas caixas de correio. C- sala de estar da casa da Joana Constituem elementos deste espaço cénico: um sofá, uma mesinha com o porta-retratos do avô da Joana e, mais tarde, da avó Ju. Esta sala tem uma janela para o exterior D – Sala da casa do tio Augusto Constituem elementos deste espaço cénico: uma mesa e uma cadeira. ACTO I CENA l CENÁRIO A - Quarto de Joana O quarto está pouco iluminado, incidindo um foco de luz branca sobre o baloiço em forma de meia-lua. DR. BRITO (Entra cabisbaixo, senta-se no puff preto, trazendo na mão as cartas de Joana, e começa a reler a última, pausadamente.)
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Dr. Brito - «... Não está ninguém em casa...» (Faz uma pausa breve, olhando em seu redor.) «Acho que vou telefonar a alguém. Talvez à Rita. O Lucas é óptima companhia, mas não fala...» (Paz nova pausa e sorri tristemente.) Dr. Brito - «Pode ser que, dentro de alguns anos, com o avanço da tecnologia, dêem voz humana aos cães. E toda a gente ficará menos só.» «Um beijo da tua amiga Joana.» (Tira um lenço de assoar do bolso das calças e limpa os olhos; volta a pegar na carta e relê.) Dr. Brito - «Não está ninguém em casa...» (Olha novamente em redor e, abanando a cabeça em jeito de negação, repete, em voz mais alta, dirigindo-se ao público.) Dr. Brito - «Não está ninguém em casa!...» (Levanta-se, sempre com as cartas na mão, e dirige--se para o baloiço em forma de lua; baixa-se e permanece acocorado por algum tempo, a olhar a lua; depois, acaricia o baloiço.) (fecha a cortina) NARRADOR/A – «2 ANOS ANTES…» ACTO II CENA l CENÁRIO A — quarto da Joana Está uma luz forte a incidir sobre a Joana. JOANA (está sentada no chão, encostada à cama, vestida com cores fortes, de jeans e t-shirt; o quarto está branco, com a Lua a um canto e a cama no centro) Joana – «A decoração do quarto está tal como eu queria. Pelo menos para a decoração a minha mãe é fantástica!» (com um ar de cinismo) Joana – «Faz hoje um mês que … Oh Marta sinto tanto a tua falta! Não consigo perceber!» (olha pela janela tentando encontrá-la no céu) Joana – (nesta parte a Joana está a fazer que escreve e relata a próxima fala tal como se a estivesse a escrever) «Olha, demorei muito para me resolver … precisava de desabafar e tu eras a minha única confidente, portanto resolvi escrever-te. Fiz hoje anos mas foi o pior aniversário de sempre pois sem ti não tem piada! Adivinha o que o meu pai me deu???? Pois é, mais um relógio. Para uma pessoa que não tem tempo para mim é curioso que me dê sempre relógios!» (Joana olha o relógio que está no pulso e abana a cabeça negativamente)
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Joana – «A avó Ju como sempre deu-me um presente especial… uns brincos que eram dela quando era mais nova…Se não fosse a avó Ju não sei o que seria de mim! » (pausa: suspiro e sorriso triste) Joana – (boceja) «Estou a ficar com sono… vou tentar não sonhar novamente contigo… são pesadelos dolorosos. È terrível!» (ar de choro) «Um beijo da Joana» (pousa o diário na cama, apoia os braços e a cabeça e adormece) (fecha a cortina) CENA 2 CENÁRIO C – Sala de estar da casa da Joana (Avó Ju está sentada no sofá a fazer renda) Joana – (entra na sala com um ar triste, dá um beijo carinhoso à avó e senta-se ao seu lado) Avó Ju – (pousa as agulhas e a renda e vira-se para a neta com um ar dócil e compreensivo) «Então minha querida porque estás tão triste? Não gosto de te ver assim…» Joana – «A vida é uma seca avó. (esta fala é dita aos berros, Joana levanta-se e, andando de um lado para o outro, relata) «Nada de bom acontece…O pai nunca está em casa, a mãe vira a casa do avesso, o pré histórico» (a avó arregala-lhe os olhos), ok, o Jorge, põe a música aos berros que nem consigo ouvir os meus próprios pensamentos e a escola está quase a começar. E pior, a Marta não está cá pois abandonou-me!» (fica com os olhos lacrimejantes e deixa-se cair no sofá, desgastada) Avó Ju – «Querida, cá em casa estou eu para te apoiar e a tua família que te adora embora por vezes não o demonstrem. A escola vai ser boa para ocupares a cabeça e mostrares o que és capaz… sempre foste boa aluna e tenho muito orgulho em ti! A Marta não te abandonou querida… ela morreu, tens que encarar isso. Ela está sempre no céu a olhar por ti, nunca te deixará. Tal como o avô nunca me deixou» (olha para o retrato do marido pousada numa mesinha e sorri) Joana – (a chorar encostada ao ombro da avó) «Mas… sinto-me tão só!» NARRADOR/A – 1 MÊS DEPOIS CENA 3 CENÁRIO C – Sala de estar da casa da Joana (avó Ju a limpar o pó; Joana entra com a mochila vinda da escola) Joana – (cumprimenta a avó Ju com um beijo e tem um ar mais animado) «Olá avó. Queria-te contar uma novidade… Lá na escola, para além de ter sido eleita delegada de turma outra vez, o que não me deixa muito satisfeita mas pronto…
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eu percebo… acham-me responsável e respeitam-me e essa parte é boa, o meu amigo João Pedro teve uma ideia brilhante de fazer uma peça de teatro inspirada na história da Marta para alertar o pessoal para a estupidez de consumirem drogas. Que achas?» Avó Ju – «Acho uma óptima ideia querida. Assim todos poderão saber os malefícios dessas coisas. Então delegada novamente??? És o meu orgulho querida!» (abraça a neta por momentos; depois põe um ar algo preocupada) Joana – «Estás bem avó?» (Joana olha para a avó atentamente) Avó Ju – «Sim querida mas tenho algo para ti e receio um pouco pela tua reacção…(pausa) A mãe da Marta esteve cá e deixou um saco para ti… (entrega o saco à Joana) quero que o vejas com calma e carinho e sem tristezas está bem minha querida?» Joana – (pega no saco, acena com a cabeça para a avó e força um sorriso,) (toca o telefone a avó sai de cena para o atender e não regressa) Joana – (abre o saco e tira alguns objectos da Marta entre os quais a colecção de caleidoscópios e analisa-os atentamente; sorri) «Marta, tenho que te confessar que sempre invejei a tua colecção de caleidoscópios! Agora é minha… mas não a queria assim… preferia que tivesses sido tu a oferecer-ma quando te casasses e o teu marido não quisesse isto lá em casa! Sim, porque eu nunca vou casar… uhhh, que nojo!» ( no final da fala a Joana faz um ar mais divertido) CENA 4 Cenário B – átrio de entrada no prédio (Joana está a chegar do treino de basquetebol de fato de treino e um ar contente; Diogo está cabisbaixo, vestido de preto e irritado; está a descer as escadas do prédio para sair) Joana – (fica embaraçada quando vê o Diogo) «Olá Diogo. Tudo bem?» Diogo – (com as mãos nos bolsos e com a cabeça baixa e em tom sarcástico) «Pois… vai estando!» Joana - «Já não te via há imenso tempo… então que tal é o secundário? Estou ansiosa que termine este ano para também ir para essa escola!» Diogo - «É uma seca. Mas também não tenho aparecido muito por lá!» Joana – (com um ar preocupado) «Mas tens faltado às aulas??? Olha que isso não é uma cena fixe! Os teus pais não vão ficar nada contentes e sabes que eles não precisam de mais motivos para ficarem triste né Diogo???» Diogo – (em tom agressivo) «Pára de me dar sermão… não tens esse direito Joana»
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Joana – (com os olhos lacrimejantes e cabeça baixa) - «Desculpa…» Diogo – (levanta a cabeça e olha directamente para a Joana) - «Não, desculpa eu! Não queria ser agressivo… tu não mereces! Desculpa, a sério!» Joana – (mais animada) «Então que tens feito??? Eu vim agora do treino de basket. Aquilo está cada vez mais puxado… não sei se aguento com tudo: ser delegada de turma, estar na Associação de estudantes, a peça de teatro… (pausa, fica embaraçada)» Diogo – (finge-se interessado) «Andas no teatro agora?» Joana – (com a cabeça baixa e falando em sussurro) «É uma peça que vamos fazer lá na escola sobre… sobre a história da Marta. Para alertarmos o pessoal para as drogas, ‘tás a ver? Acho que a Marta ia curtir, que achas?» Diogo – (novamente sarcástico) – «Ela não está cá para dizer pois não??? Fica bem Joana. Xau» (sai apressadamente; Joana fica a olhar para o Diogo com ar de culpada) (fecha a cortina) Ouve-se Jingle Bells de fundo. NARRADOR/A – ENTRETANTO APROXIMA-SE O NATAL… CENA 5 Cenário C - sala de estar da Joana JOANA E DIOGO (Joana está a ouvir música quando o Diogo toca à porta) Diogo (com uma ar de culpado e um presente na mão) - «Olá Joana» Joana (olha para Diogo com surpresa pela visita) - «Olá Diogo, entra.» Diogo - «Olha queria desejar-te um Bom Natal e essas cenas todas e entregar-te um presente… É uma cena fixe que encontrei numa loja, espero que gostes… Não é nada de especial… Também te queria pedir desculpa pela última vez que nos encontramos… fui má onda contigo…» Joana - «’Tá-se bem. Já esqueci. Obrigada pelo presente mas eu ainda não comprei nada… sabes, aqui está a única coisa em que sou parecida com a minha mãe: deixo as compras sempre para a última!» Diogo (sorri) - «Então como correu a peça de teatro lá na Escola? A minha mãe veio de lá emocionada!»
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Joana (admirada com a pergunta) - «Foi baril. Estava imensa gente e acho que a mensagem passou mesmo. Pelo menos espero que sim... Sabes, estava aqui a ouvir música e lembrei-me daquele Natal em que fomos os três, eu, tu e a Marta, roubar luzes dos jardins… que cena… lembras-te?» Diogo (fica com um ar triste) - «Não. Desculpa, tenho de ir. Bom Natal Joana.» (dá-lhe um beijo rápido no rosto e sai apressadamente) (Joana fica espantada com a mudança de humor do Diogo; já depois de ele sair fala) Joana - «Bom Natal Diogo» Joana fica com ar de quem está a pensar na reacção do Diogo quando o telemóvel toca. Joana - «Sim. Ah, Olá João Pedro. Sim, está tudo bem e contigo? Cinema? Sabes não me apetece muito… Sim, tens razão estamos de férias e temos que aproveitar mas ainda tenho os presentes de Natal para comprar portanto não vai dar! … Vens comigo???? Sabes, era uma cena que costumava fazer com a Marta… (fica triste) Ok, mas aceito a tua ajuda. No shopping daqui a 30 min, pode ser? Até já então.» NARRADOR/A – A Primavera aproxima-se e com ela grandes mudanças… CENA 6 Cenário A – Quarto da Joana Joana está na Lua a escrever no seu diário (ar triste e preocupado)… Joana - «Querida Marta, tenho andado muito… acho que a palavra correcta é desmoralizada! Por isso não te tenho escrito muito nem tão pouco pintado, um passatempo que gostava tanto… Como sabes a avó Ju está muito doente… o coração está fraco e já nem sai da cama para jantar connosco! Estou mesmo preocupada! Outra novidade muito má: o Diogo veio cá a casa (com muita surpresa minha!) e contou-me que os teus pais se vão separar… Foi uma bomba, sempre pensei que eram feitos um para o outro! Sem ti, todo o mundo está a mudar… para pior! Ontem fiz um teste de Matemática e não consegui responder a duas perguntas… acho que estou a perder qualidades e nem na escola as coisas me correm bem! Vou parar de escrever. Prometi à avó Ju que hoje levava o jantar para o quarto e lhe fazia companhia. Um beijo da Joana» (apagam-se as luzes e Joana desloca-se lentamente da Lua para a cama) NARRADOR/A – Duas semanas depois… CENA 7 Cenário A – Quarto da Joana
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Bé entra no quarto toda vestida de preto e ar desgastado Bé - «Joana, ainda não estás pronta? O funeral é daqui a 30 minutos. Despacha-te!» Joana - «Não vou… Esquece.» (aos berros) Bé - «O teu pai vai ficar muito desapontado contigo, afinal a avó Ju era mãe dele ou esqueceste-te disso???» Joana - «Quero lá saber do que o pai pensa… Ele também não se importa com o que eu penso ou sinto! Deixem-me em paz!» (esta frase é dita aos berros; depois a chorar e quase sem forças diz: «Sem a avó Ju esta família está perdida!» Bé - «Não há quem perceba estes jovens…» (com ar de indignação e a sair do quarto, enquanto ajeita a decoração) Joana - «Oh Marta, ajuda-me…» (em desespero) Apagam-se as luzes. CENA 8 Cenário A – Quarto da Joana Acendem-se as luzes lentamente enquanto se ouve Joana ao telefone com a DT, de pé junto à janela do quarto. Está vestida com um fato de treino preto. Joana - «Sim, s’tora eu volto para as aulas para a semana mas ainda não estou bem. … Ok, obrigada. .. Não, não se preocupe eu peço os cadernos ao João Pedro e apanho a matéria rápido… Obrigada, para si também!» (desliga a chamada e revira os olhos) «Agora parece que toda a gente quer mandar em mim… Vou para a escola quando me apetecer!» (batem à porta do quarto…) Joana (aos berros e irritada)- «Não estou para ninguém» Diogo vem vestido de preto, tipo punk, com olheiras e ar de toxicodependente. Diogo (abre lentamente a porta e espreita) - «Este ninguém pode entrar???» Joana (ar surpreso) - «Diogo? Quem te abriu a porta? Pensei que estava em casa só com o traumatizado do meu irmão…» Diogo (entrando) - «Sim, foi ele que me abriu a porta pois ia a sair quando eu toquei. Então, como estás? Sinto muito pela morte da tua Avó!» (fica um silêncio estranho e abraçam-se, de pé)
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Joana (a choramingar) - «Obrigada…» (pausa) «E tu, estás com um ar abatido…» Diogo (a disfarçar) – «Pois, ando a dormir mal. Mas ‘tá-se bem.» Joana - «Sei o que isso é… Durmo bué de mal também. Antes tinha pesadelos com a tua irmã… agora é com ela e com a minha avó… (pausa, começa a chorar) Já não aguento mais Diogo. Só acontecem merdas na minha vida!» (senta-se no chão a chorar agarrada às pernas) Diogo senta-se junto à Joana e abraça-a. Depois, olham-se intensamente nos olhos e começam a beijar-se. Diogo tira a sua camisola e depois, lentamente, tira a da Joana (esta fica com um top de alças). Rebolam no chão enquanto o pano se vai fechando. (fecha a cortina) CENA 9 Cenário A – Quarto da Joana Vê-se Joana a pintar com raiva numa folha de cavalinho um grande círculo negro. Joana está com o cabelo amarrado, com olheiras, em fato de treino. O quarto está modificado – deixou de ser totalmente branco e tem agora uma colcha colorida e vários desenhos a preto nas paredes. Joana - «Sim, Deus é isto… Um grande círculo negro… Um buraco escuro… pois se assim não fosse não me deixava ficar assim, tão abandonada!» ACTO III CENA 1 CENÁRIO C – Átrio do prédio É de madrugada. Diogo está sentado no chão, a tremer, com os lábios a deitar sangue e um olho pisado. Pega no telemóvel com dificuldades, pois tem o braço magoado, e marca um número. Em cena ouve-se a voz de Joana, ensonada - «Diogo??? Que horas são? Estás bem?» Diogo - «Desce as escadas, estou na entrada do prédio. Preciso de ti…» Joana entra em cena e agarra Diogo que se queixa com dores. Diogo - «Cuidado… Dói.» Joana fica de cócoras perto de Diogo - «O que te aconteceu?» Diogo - «Não faças perguntas pf. Ajuda-me. Liga para a Rita, está o número no meu telemóvel e combina com ela para me ires buscar uma dose de cavalo. Por favor Joana.»
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Joana (com ar indignado e a gaguejar) - «’Tás a falar a sério? A Rita, aquela com quem fomos à festa no outro dia vende droga? (depois cai em si e fica ainda mais indignada; falando muito baixinho diz : Tu consomes droga????» Diogo - «Estou muito mal Joana. Por favor… Dói-me tudo! Depois explico-te, prometo. Já agora, tens dinheiro que me emprestes? Depois dou-te, prometo!» Joana (começa a caminhar de um lado para o outro aflita, sem saber o que fazer) Diogo (está muito abatido e queixa-se de dores) - «Joana, por favor é só mais esta vez, prometo. Não ‘tou agarrado. Saio quando quiser, vais ver.» Joana (olha para Diogo e pega no telemóvel) a gaguejar diz - «Rita? È a Joana, amiga do Diogo… Olha, ele precisa de… sabes, ele ‘tá com dores e… merda… é assim, bateram-lhe, ele não tá bem pediu-me para te comprar… sim, isso… Ok, vou ter contigo…Sei onde é… Quanto????» (fecha-se a cortina) NARRADOR/A – Os meses vão passando. Joana quer ajudar o Diogo a deixar a droga mas a estratégia que encontrou não foi a melhor. Joana está num beco…encontrará a saída? CENA 2 CENÁRIO A- quarto da Joana Joana está enrolada numa manta, com olheiras, sentada no chão e só se ouve um telefonema a terminar. Joana - «Rita, traz-me outra dose… Não, não te vou pagar outra vez com relógios… (envergonhada pergunta) Aceitas brinco de ouro???» (Joana pega no diário, e junta-o ao peito, congelando em estátua. Ouve-se a sua voz gravada dizendo: «Querida Marta, Nestes últimos tempos aconteceu tanta coisa que nem sei como te contar… A DT chamou a minha mãe à escola para falar sobre as minhas notas que estão péssimas. Escusado será dizer que levei um sermão descomunal mas nem me perguntou o porquê… obrigou-me a ir ao psicólogo! Enfim… gastando dinheiro a minha mãe vai achar que está a resolver tudo! O meu irmão, por incrível que pareça, é o único cá em casa que se apercebeu da minha cena... Até veio falar comigo, naqueles grunhidos que ele faz, para perguntar se eu tava bem e para não me meter em cenas maradas. As palavras dele foram «Então deixaste de ser a menina certinha para seres a bad girl? Olha que essas cenas maradas que andas a usar são do pior. Nunca mais te safas, Joana… não vás por aí, a sério» E saiu. Nem sei o que dizer acerca disto! O pior… tenho que vender os brincos da avó Ju para pagar uma dose. Se não te dissesse isso acho que rebentava! Sou uma fraca, uma covarde. Tenho nojo de mim. Mas agora já te perdoo, pois já te percebo! Desculpa, não consigo escrever mais… doem-me as mãos, os braços, o
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corpo todo! Tenho saudades de ti, da avó Ju e do meu pai porque é como se ele também não estivesse cá… Um beijo da Joana» CENA 3 CENÁRIO B – Sala de estar da casa da Joana Vê-se uma foto da avó Ju perto da do marido. Bé e Dr. Brito estão de pé, com um ar preocupado, a conversar. Bé - «O psicólogo disse que o melhor é a Joana afastar-se do ambiente onde compra aquelas porcarias.» Dr. Brito - «Sim, é o melhor. Como é que isto aconteceu Bé? Como é que não vimos antes?» Bé - «Não nos vamos culpar. Temos o nosso trabalho e os miúdos tinham que cumprir com o deles, estudar e não se meterem em sarilhos. Mas a vida não quis assim…» Dr. Brito - «Pois… Mas tudo se vai resolver. Vou ligar para o meu irmão para ver se ele acolhe a Joana lá na casa dele de Sintra durante uns tempos.» (Dr. Brito pega no telemóvel e liga ao irmão. Enquanto isso a esposa olha pela janela com ar pensativo.) Dr.Brito - «Olá. Sim…. Olha, preciso da tua ajuda… A Joana pode ir aí passar uma temporada?... Óptimo. Eu próprio a levo no fim-de-semana. Até lá. Abraço.» Bé olha para o marido com ar interrogativo. Dr.Brito - «Diz à Joana que faça a mala pois no fim-de-semana vamos lá levá-la. Agora tenho que sair pois tenho doentes à espera.» (Dá um beijo leve na face da esposa e sai.) Bé - «Espero que a Joana aceite. (Pega na foto da sogra) Preciso da sua ajuda minha sogra!» (fecha a cortina) CENA 4 CENÁRIO D – Casa do Tio da Joana Projecta-se uma imagem da Joana sentada numa mesa a escrever à Marta e ouve-se: «Querida Marta, Estou em casa do meu Tio Augusto. O Diogo entrou num programa de desintoxicação e por isso eu também aceitei vir passar cá uns dias para ver se me livro daquela porcaria. As dores já passaram pois o médico deu-me umas pastilhas para ajudar, mas eram horríveis! O pior agora é que não posso falar com o Diogo… lá no centro de reabilitação disseram que ele não pode contactar
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com ninguém que também consumisse com ele. Tenho saudades dele mas sinto que agora tudo vai melhorar. A minha mãe veio cá ontem e conversamos, melhor, ela falou durante horas sobre a nova decoração da loja. Tenho pena dela… ela esforça-se mas não consegue estar lá para mim, à séria, como eu precisava! O meu pai ainda não veio cá… Ligou a desculpar-se com o trabalho, como sempre! Quando voltar a casa vou ter uma conversa séria com ele. Vou dormir um pouco. É estranho, sinto-me cansada. Deve ser dos remédios… Um beijo da Joana» CENA 5 CENÁRIO A – QUARTO DA JOANA Joana entra no quarto com a mochila às costas. Deixa-a cair no chão e diz: Joana - «Que merda… só me faltava mais esta…vou reprovar de ano!» (as luzes ficam muito fracas; Joana abre uma caixa que está debaixo da cama e tira uma seringa) NARRADOR/A – Joana está sozinha em casa. Sente-se só, sem ninguém com quem desabafar. Que mal fará só mais uma vez? Vê-se Joana a levantar a manga da camisola e a injetar-se. (neste ponto o/a diretor/a /responsável da peça diz «Stop». Os/as atores/atrizes ficam em estátua enquanto o/a diretor/a /responsável da peça pede ao público sugestões para o término da mesma. Quem sugerir, deve ir a palco e colocar-se no lugar de uma das personagens e, com a ajuda do grupo de teatro, dar um final à peça – técnica utilizada no teatro-fórum.)
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ANEXO II – Guião de entrevista a grupo representativo dos/as participantes
Guião de Entrevista 1. Que técnicas/métodos que foram desenvolvidos na atividade regular Teatro
dos Sentidos promoveram para o teu sucesso escolar e inclusão social? 2. Existiram momentos na atividade do Teatro dos Sentidos que promoveram
para tua criatividade ou capacidade de construir peças/ guiões de teatro? Como?
3. Que ações desenvolvidas no decurso da atividade Teatro dos Sentidos te
apoiaram na construção de personagens, sempre que tal te foi solicitado? 4. Como caracterizas o desenvolvimento da técnica sociodramática no teatro e
qual o impacto que teve em ti? 5. Julgas que as peças de teatro de interação com o público produziram para
um maior envolvimento do mesmo? De que forma? 6. Quais as competências pessoais e sociais que adquiriste ao participares na
atividade, nomeadamente através da participação numa peça de teatro e no desenvolvimento do seu guião?
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Anexo III – DVD: Avaliação do recurso realizada pelos jovens, envolvidos na
atividade «Teatro dos Sentidos», através de entrevistas em grupo
Partilhado no espaço dropbox com Drª. Tatiana Gomes.
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Anexo IV – Grelha de avaliação das entrevistas
Grelha de avaliação da entrevista filmada – avaliação das afirmações dos/as jovens e do impato da atividade Teatro dos Sentidos, na qual foi desenvolvido e aplicado o recurso escolhas Impato nos jovens
Fatores
evidenciados pelo recurso
1 – Sim,
em
grande
medida
2 – Sim,
um pouco
3- Não
Exemplos
A- Promoção do sucesso escolar
100% 0
0 -“ganhei motivação e à vontade para os estudos que não
tinha”
- “participei mais nas aulas e tinha mais confiança em mim”
- “ajudou a estarmos mais concentrados nas aulas e a ter
maior capacidade de compreensão»
B – Promoção da inclusão social
100% 0 0 - “os jogos ajudaram a libertarmo-nos mais, a ter confiança
em nós próprios e a interagir melhor com as pessoas em
geral”
- “o grupo de teatro era muito diferente mas integramo-nos
todos devido ao trabalho desenvolvido e também na
comunidade escolar em geral”
C – Desenvolvimento da
criatividade
100% 0 0 - “os jogos dramáticos promoveram para a criatividade”
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D – Capacidade de construir guiões
de peças de teatro interativas
40% 60% 0 - “com o passar do tempo no teatro sentia-me mais à
vontade e desenvolvi mais rapidamente o que era pedido”
- “ajudou-me a ser mais autónoma e a criar a minha própria
peça de teatro este ano”
E – Aumento da autonomia
100% 0 0 - “o teatro faz-nos sonhar e ter vontade de alcançar os nossos
sonhos”
- “ajuda-me a tomar decisões e tenho maior motivação para
lutar pela profissão que desejo”
F – Acréscimo de competências
cognitivas e sociais
100% 0 0 - “comecei a sociabilizar mais com outras pessoas e a aceitar
opiniões e críticas”
- “tenho maior capacidade de adaptação ás situações e
pessoas”
- “comecei a colaborar mais com os colegas, a trabalhar mais
em grupo”
-“ajudou-me a crescer pessoalmente”
- “sinto mais bem-estar, mais confiança nos outros, tenho
uma melhor dicção e projeção de voz; participo mais noutros
contextos – aulas e outras atividades do Escolhas; tenho
mais iniciativa própria”
G- Facilidade na utilização do
recurs
100% 0 0 -“o recurso tem todas as instruções e toda a informação para
se conseguir fazer uma boa peça de teatro”
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Anexo V – Grelha de validação do Recurso Escolhas
A aplicação do manual, no momento da fase de avaliação/validação do recurso, realizada por diferentes técnicos/as da comunidade
(professores/as e técnicos sociais de Escolas e Associações).
1) IPSS – Associação Boa Hora, Coordenadora pedagógica
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2) Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Rural de Vagos (EPADRV), Coordenadora Curso Profissional
de Animação Sociocultural
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3) Equipa Técnica do projeto “Escol(h)as em Boa Hora”
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4) Escola Secundária de Vagos, Coordenadora do Curso Profissional “Organização de Eventos”