Teatro Portugues Origens
description
Transcript of Teatro Portugues Origens
-
7. Gil Vicente e as origens do teatro portugus
Introduo Literatura Portuguesa
USC, 2006/2007, http://apuntamentos.iespana.es/introlitpt/07.doc
1
1. Gil Vicente (1465 1536?). As origens do teatro portugus
Embora tenhamos referncias a um teatro litrgico e religioso anterior e Gil Vicente, no o conhecemos, pelo que considerado o fundador do teatro portugus. As principais caractersticas do seu teatro so:
a) Emprega o dialecto saigus. b) Influencias: Teatro espanhol: Torres Naharro. Teatro ingls. Teatro francs.
c) No se posse incluir na tradio clssica grega, j que as suas obras no se podem dividir em comdia e tragdia.
d) Tem traos prprios da Posmodernidade: Fragmentarismo. Mistura.
2. Classificao dos autos vicentinos
2.1. Temtica
a) Autos pastoris (Auto da sibila Cassandra): so dilogos cmicos entre pastores.
b) Autos de moralidade (Autos das Barcas, Auto da alma:) tm duas vertentes de construo: Episdios do Testamento. Ensinanas morais.
c) Farsas (O clrigo de Beira, Auto da ndia): episdio cmico com certo enredo com as formas mais desenvolvidas do teatro vicentino, o gnero mais aplaudido.
d) Autos cavalheirescos: aparecem neles cavalheiros como Amadis de Gaula. e) Alegorias de tema profano (A fraga do amor).
2.2. Estrutura
a) Farsas: episdios caractersticos de casos ou tipos sociais. So as mais simples.
b) Autos de enredo: estrutura mais complexa. c) Autos alegricos: e o gnero mais valorado pela crtica e divide-se em:
Profanos. Religiosos.
2.3. Tipos
J que a finalidade do teatro de Gil Vicente no mostrar conflitos psicolgicos, seno a crtica social e de ideias, as personagens so planos, tipos (no redondas). Os principais tipos so:
a) Tipos humanos: pastor, campons, escudeiro, moa de vila, soldado, amo, moo, castelhano, o parvo... quase nunca tm nomes prprios.
b) Personificaes alegricas: Deus, anjo, virtudes (Esperana etc.), estaes do ano, planetas.
c) Personagens bblicas e mticas: tomadas da Histria ou do mito. d) Figuras teolgicas: a tentao, o diabo.
Gil Vicente no respeita as unidades clssicas de espao, tempo e aco (embora no Auto da ndia haja uma certa unidade de aco).
-
7. Gil Vicente e as origens do teatro portugus
Introduo Literatura Portuguesa
USC, 2006/2007, http://apuntamentos.iespana.es/introlitpt/07.doc
2
3. A stira social de Gil Vicente
Por meio das personagens tipo Gil Vicente reflexa a estrutura piramidal da sociedade medieval (clero, instituies polticas, tipos folclricos e tradicionais), criticando a todos os seus elementos excepto o campons1
1) Clero: a classe social mais criticado pela falta de coerncia entre o que diz e o que faz.
:
2) Escudeiro: apresentado como um parasito que quer ascender socialmente sem trabalhar.
3) A Corte: um foco de rapina e corrupo: 4) Moa de vila: apresentada como adltera. 5) O campons tratado como uma vtima, s vezes com certo patetismo.
Gil Vicente defende um esquema social mais justo, mas no que a mobilidade social tampouco seja possvel, dizer, no deixa de ser classista.
Ademais tambm critica: 1) O amor corts: criticado nalguns autos e exaltado noutros. 2) O esprito de Cruzada tambm ridiculizado, mas com limites j que ele
trabalha para a Corte. 3) Os judeus: so criticados pelas suas actividades econmicas. 4) A Justia apresenta-se com um carcter anti-social.
4. O teatro de ideias. Poesa religiosa. Poesa csmica
Na poca de Gil Vicente existe um debate religioso no que ele participa com o seu teatro:
a) Critica o enriquecemento da Igreja, que mesmo quem de mudar a doutrina (que proibia a representao da imagem de Cristo).
b) Rejeita a violncia como mtodo de converso. c) Quer racionalizar a ideia de Deus e de Cu. d) Segue a filosofia de Plato: o mundo sensvel no mais que uma iluso e
no intemporal onde residem a Verdade e Deus. e) Para isto usa mitos tradicionais e outros inventados.
Assim, est prximo ao erasmismo (ainda que no o ) e ao franciscanismo. 5. Aspectos estticos e estilsticos dos autos
Este aspecto no est muito estudado na obra de Gil Vicente, mas diz-se que pratica trs modalidades estilsticas diferentes:
1) Estilo gtico: grandiloquente, elegante e barroco. 2) Estilo realista: aprecia-se rigor e certeza de trao nas personagens populares
e nos ambientes. 3) Estilo potico: diversidade de temas, tons, atitudes...
Ademais, temos de dizer que Gil Vicente :
a) Inovador no que se refere lngua:
1 A burguesia no est presente na obra de Gil Vicente.
-
7. Gil Vicente e as origens do teatro portugus
Introduo Literatura Portuguesa
USC, 2006/2007, http://apuntamentos.iespana.es/introlitpt/07.doc
3
Vivacidade da sua linguagem coloquial e proximidade com a lngua falada. Uso de muitas linguagens coloquiais de acordo com o status social das
personagens. b) Fiel tradio pelo uso da redondilha, embora tambm empregue o verso
longo. 6. A escola vicentina
As peas de Gil Vicente comeam ter sucesso no crculo do pao e a correr como literatura de cordel, o que permitiu a compilao das suas obras por parte do seu filho. Esta circulao das obras populariza o teatro entre o pblico burgus e comeam assim as representaes em ptios, que se daro at o sculo XVII.
Entre os autores da Escola Vicentina esto: 1) Antnio Ribeiro Chiado: franciscano, muito celebrado na poca. 2) Baltasar Dias. 3) Cames (trs peas teatrais). 4) Afonso lvares.
A obra destes autores corre em folhas volantes e representada nos ptios. Ademais, seriam perseguidos pela Inquisio. 6.1. Caractersticas formais
O teatro dos autores da Escola Vicentina apresenta uma srie de caractersticas que j podamos observar em Gil Vicente:
a) Versos heptasslabos. b) Desarticulao da estrutura. c) No aceitao das regras clssicas. d) Linguagem popular.
6.2. Gneros
1) Farsas: gnero praticado por Antnio Ribeiro Chiado, Antnio Prestes etc. 2) Autos novelescos, sentimentais ou cavaleirescos: em voga no sculo XVIII.
Destacam autores como Sebastio Pires. 3) Autos religiosos:
Modalidade vicentina: Antnio Prestes. Vidas de santos (no contemplado por Gil Vicente): Afonso lvares,
Baltasar Dias.
Paralelamente existe tambm um teatro jesuta em latim, o primeiro em empregar decorados pintados, sistemas para mudar o cenrio, guarda-roupa para o vesturio...
Ademais o teatro castelhano vai evoluindo mentes o portugus fica um bocado arcaizante, embora Gil Vicente tambm entre algo em Espanha (autores como Caldern de la Barca ou Tirso de Molina conhecem-no).
-
7. Gil Vicente e as origens do teatro portugus
Introduo Literatura Portuguesa
USC, 2006/2007, http://apuntamentos.iespana.es/introlitpt/07.doc
4
A situao do teatro no Portugal do sculo XVII
A) Espectculos jesutas2
um teatro minoritrio: o pblico limitado (membros da Companhia e elites).
: nos colgios jesutas existe uma certa tradio dramtica. Este teatro tem as seguintes caractersticas:
Representa-se em latim, sendo assim um exerccio prtico para os alunos. H uma censura temtica, s se permitem temas religiosos ou histricos. No h personagens femininos j que era indecente que as mulheres
subissem ao cenrio e que os homens se vestissem de mulher. Os autores so mestres da Companhia. A montagem muito espectacular, face pobreza literria derivada da
limitao temtica. A crtica tem assinalado que o sucesso do teatro jesuta provoca a falta
dum teatro nacional, mas isto no assim j que o teatro espanhol si tem sucesso, pelo que tambm o poderia ter o portugus.
B) Teatro castelhano: as primeiras companhias espanholas que chegam a Lisboa fazem-no com liberdade poltica, j que nesse momento Espanha e Portugal compartilham Corte. Ptios: correspondem-se aos corrales castelhanos, ao longo do sculo
XVII abrem-se vrios ptios dos quais o mais importante o Ptio das Arcas em Lisboa (destrudo pelo terramoto de 1755). Os ptios mais antigos eram mais rudimentares, descobertos e geralmente realizam-se os espectculos na primavera ou no vero nas primeiras horas da tarde.
Representam-se obras de Lope de Vega, Tirso de Molina, Caldern... Todas em castelhano. Muitos autores espanhis escolhem assuntos ou personagens portuguessas para achegarem-se ao pblico luso. Este o caso de Lope de Vega nalgumas das suas obras ou de Vlez de Guevara em Reinar despus de morir (trata a histria de Ins de Castro).
C) Peas de carcter popular, tradicionais: em geral seguem a linha de Gil Vicente. Depois dele fala-se da escola vicentina, uma srie de autores que seguem os seus passos, mas que no introduzem nada novo. Exemplos disto so: Baltasar Dias: madeirense cego que vivia cantando romances e escrevia
peas de teatro popular. Tem uma certa fama no folclore e na literatura popular (literatura de cordel).
Antnio Ribeiro Chiado: frade franciscano que deixa o convento para dedicar-se vida de mendigo. conhecido pela alcunha de Chiado, quarteiro lisboeta que ele frequentava. Est tambm ligado ao folclore.
2 No texto Ratio Studiorum podemos observar algumas das normas que regiam o teatro jesuta.
2.1. Temtica2.2. Estrutura2.3. Tipos6.1. Caractersticas formais6.2. Gneros