Teatro São José- Presença Portuguesa Nos Palcos Paulistanos

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REVISTA LUMEN ET VIRTUS ISSN 2177-2789 VOL. II Nº 4 MAIO/2011 Edson Santos Silva 52 TEATRO SÃO JOSÉ – PRESENÇA PORTUGUESA NOS PALCOS PAULISTANOS Prof. Dr. Edson Santos Silva 1 http://lattes.cnpq.br/2855415041274093 RESUMO – O teatro paulistano foi, no período de 1864 a 1898, reflexo do que ocorria na Corte do Rio de Janeiro e em cidades europeias. Eram exportados espetáculos que durante muitos anos encantaram o público da cidade, ávido por diversão e cultura a qualquer preço. O primeiro teatro digno desse nome foi o Teatro São José, que recebeu muitas Companhias, encenando peças de autores nacionais e portugueses. PALAVRAS-CHAVE – teatro paulistano- Teatro São José- Companhias ABSTRACT – Within 1864 and 1898, the paulistano theater was a reflection of any fact taking part on Rio de Janeiro Court and on European cities. Plays that enchanted people in the cities for years were exported. Attending the theaters there was a kind of public avid for diversion and culture at any cost. The first worthy place that deserves the name of “theater” was the Theater São José, which received many Companies, putting on scene plays of Brazilian and Portuguese authors. KEYWORDS – paulistano theater - Theater São José - Companies A história do Teatro Paulistano no século XIX mantém fortes vínculos com o panorama teatral luso. Se em Portugal, nas palavras de Garrett, havia arribanas ao invés de espaço teatral, na cidade de São Paulo, em 1864, surge o Teatro São José e, com ele, as tais arribanas, que aqui receberam eufemisticamente o nome de Casas da Ópera, desapareceram completamente. 1 Professor doutor de ensino superior na Unicentro- campus Irati- Paraná- ministrando as disciplinas: Literatura Portuguesa I e II; Teoria da Literatura I e Literatura e Indústria Cultural.

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    VOL. II N 4 MAIO/2011

    Edson Santos Silva

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    TEATROSOJOSPRESENAPORTUGUESANOSPALCOSPAULISTANOS

    Prof. Dr. Edson Santos Silva1

    http://lattes.cnpq.br/2855415041274093

    RESUMO O teatro paulistano foi, no perodo de 1864 a 1898, reflexo do que ocorria na Corte do Rio de Janeiro e em cidades europeias. Eram exportados espetculos que durante muitos anos encantaram o pblico da cidade, vido por diverso e cultura a qualquer preo. O primeiro teatro digno desse nome foi o Teatro So Jos, que recebeu muitas Companhias, encenando peas de autores nacionais e portugueses. PALAVRAS-CHAVE teatro paulistano- Teatro So Jos- Companhias ABSTRACT Within 1864 and 1898, the paulistano theater was a reflection of any fact taking part on Rio de Janeiro Court and on European cities. Plays that enchanted people in the cities for years were exported. Attending the theaters there was a kind of public avid for diversion and culture at any cost. The first worthy place that deserves the name of theater was the Theater So Jos, which received many Companies, putting on scene plays of Brazilian and Portuguese authors. KEYWORDS paulistano theater - Theater So Jos - Companies

    A histria do Teatro Paulistano no sculo XIX mantm fortes vnculos com o panorama

    teatral luso.

    Se em Portugal, nas palavras de Garrett, havia arribanas ao invs de espao teatral, na

    cidade de So Paulo, em 1864, surge o Teatro So Jos e, com ele, as tais arribanas, que aqui

    receberam eufemisticamente o nome de Casas da pera, desapareceram completamente.

    1 Professor doutor de ensino superior na Unicentro- campus Irati- Paran- ministrando as disciplinas: Literatura Portuguesa I e II; Teoria da Literatura I e Literatura e Indstria Cultural.

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    Com a inaugurao do Teatro So Jos, os paulistanos passaram a receber as grandes

    produes teatrais vindas da Corte, Rio de Janeiro, e muito frequentemente encenaes

    europeias.

    Neste artigo, sero elencadas algumas Companhias que se apresentaram nesse teatro, bem

    como as principais peas nele encenadas.

    O perodo delimitado para tal apresentao de 1864 a 1898, correspondente ao

    funcionamento do Teatro So Jos. Para tanto, foram consultados peridicos da poca,

    sobretudo O Correio Paulistano e A provncia de So Paulo, e bibliografia especfica.

    Pode-se afirmar que antes da inaugurao e efetivo funcionamento do Teatro So Jos,

    ocorrido em 1864, havia, na Provncia de So Paulo, arremedos de teatro. Estudiosos do Teatro

    Paulista, como Pedro de Oliveira Ribeiro Neto, chegam a chamar os teatros anteriores de

    barraces, sem luxo e sem acabamentos. (1974, p. 44)

    Aps a fundao da Faculdade de Direito, em 1826, a cidade de So Paulo, ento

    Provncia, passou a ser um polo cultural, sobretudo na rea teatral. Assim, aps vrias tentativas

    para a construo de um teatro altura do progresso por que passava So Paulo, o presidente da

    Provncia, Josino do Nascimento Silva, em 10 de maio de 1854, estabeleceu um contrato com o

    empresrio Antnio Bernardo Quartim, que era Capito da Guarda Nacional e conhecido,

    poca, como desonesto e incompetente, pois tudo o que construa, alm de ficar extremamente

    caro, era mal feito. Nesse contexto, comeava a nascer no papel o que seria o mais majestoso e

    elegante teatro da cidade o So Jos.2

    Escolheu-se para a instalao do teatro o ptio de So Gonalo (atual Praa Joo

    Mendes), entre as Ruas da Esperana e do Imperador, onde hoje esto os fundos da Catedral da

    S. O lanamento da primeira pedra para a construo do So Jos ocorreu em 07 de abril de

    1858, segundo crnicas da poca, com grande pompa e festejos, com espao para oraes, hinos,

    alm de uma salva de trinta tiros. 2 Consta que o nome do Teatro So Jos foi posto em homenagem aos dois Joss presidentes da Provncia que se interessaram por sua ereo: Jos Joaquim Fernandes Torres e Jos Antnio Saraiva; e talvez tambm Jos Toms Nabuco de Arajo. (HESSEL e READERS, 1979, p.196) A seguir, uma breve biografia dessas trs personalidades: Jos Joaquim Fernandes Torres (Torquim, Minas Gerais, 1797-1869) foi presidente das Provncias de Minas Gerais e So Paulo e ministro do Imprio. Jos Joaquim Saraiva (Quitanga, 1823-1895) formou-se pela Faculdade de Direito de So Paulo. Dotado de raro bom senso, foi deputado provincial e geral, senador, diplomata, ministro do Imprio, presidente do Conselho de Ministros e presidente das provncias de Alagoas, Pernambuco, So Paulo e Piau, nesta ltima, considerando Oeiras imprpria para capital, construiu nova cidade, s margens do Parnaba, denominando-a Teresina, em homenagem Imperatriz Dona Teresa Cristina (1852). Jos Toms Nabuco de Arajo (Bahia,1813 - Rio de Janeiro,1878) formou-se pela Faculdade de Direito de Olinda. Magistrado, jornalista, deputado, senador, ministro do Imprio. Foi presidente da Provncia de So Paulo. (HESSEL e READERS, 1979, p.203)

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    O teatro passa a denominar-se S.Jos em ateno a ser o nome do atual Presidente da provncia [Jos Joaquim Fernandes Torres] que solcito pelos interesses morais e materiais de So Paulo, e levando de vencida os obstculos que se opunham realizao da obra desapropriou os terrenos, celebrou novo contrato com o Empresrio, e mandou comear o edifcio, e em ateno tambm ao Bacharel Formado Jos Antnio Saraiva, atual Ministro e Secretrio dEstado dos Negcios da Marinha e Deputado Assemblia Geral pela Provncia da Bahia que sendo presidente desta Provncia celebrou a 16 de setembro de 1854 com o Empresrio o 1 contrato para realizao da obra, a qual no foi, porm, executado... (Auto da Fundao do Teatro da Capital- Apud AMARAL, 1979, p. 77)

    Ao contrrio dos teatros anteriores, o So Jos apresentava um projeto luxuoso:

    camarotes, tribuna para a Presidncia, corredores largos, platia com quatrocentos assentos,

    guarda-roupas e camarins.

    Desde 1858, a euforia em torno da construo do So Jos foi grande e, aos poucos, o

    teatro passou a ser o centro das atenes da cidade de So Paulo. Segundo Elisabeth R. Azevedo,

    o Teatro So Jos foi a maior obra feita em So Paulo no sculo XIX at a dcada de 1870,

    rivalizando apenas, em termos de debates, com a construo de estradas de ferro (2000, p.178),

    como a famosa Estrada de Ferro do Norte, que ligaria So Paulo ao Rio de Janeiro.

    Pouco se sabe, apesar de toda essa euforia em torno do teatro, dos detalhes acerca da

    construo do So Jos, que teve vida tumultuada, com duas datas de inaugurao e informaes

    esparsas sobre espetculos anteriores a essa data oficial. O Teatro teve sua pedra fundamental a

    07 de abril de 1858, sendo inaugurado a 04 de setembro de 1864, e reinaugurado definitivamente

    a 11 de maro de 1876. Em 15 de fevereiro de 1898 um incndio destruiu-o completamente, fim

    a que todos os teatros, no s de So Paulo, como tambm de todas as capitais do Brasil, como

    Salvador, Recife e Rio de Janeiro, tiveram no sculo XIX.

    Assim, atesta-se que a inaugurao oficial do teatro ocorreu a 04 de setembro de 1864,

    sem estar ainda com as obras concludas. Segundo Hessel e Readers, antecipando-se a um

    processo que viria multiplicar-se em nosso pas em certos momentos do sculo XIX, o teatro So

    Jos sofreu diversas inauguraes oficiais, at a ltima, a 11 de maro de 1876, (1979, p. 196),

    com a apresentao da pea A Tnica de Nessus, de Sizenando Nabuco, estudante da Faculdade de

    Direito.

    Parece que o projeto de um teatro luxuoso no se cumpriu. O proscnio era pouco

    espaoso, eram pssimas as acomodaes dos artistas, a acstica deficiente, a plateia era de cho

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    batido e, durante algum tempo, o pblico assistia aos espetculos em cadeiras trazidas de suas

    casas.

    Muitas foram as Companhias que se apresentaram no So Jos, assim como variados foram

    os espetculos ali encenados.

    Em 1864 e 1865, conforme informaes do peridico Correio Paulistano, foram encenadas

    algumas peas, entre as quais algumas de autores portugueses, contudo, no h referncia quanto

    s Companhias que levaram essas peas ao palco do So Jos.

    Em fevereiro de 1866, a Companhia Dramtica apresentou, no Teatro So Jos, entre

    outros, os dramas: As mulheres de mrmore, de Thedore Barrire e Lambert Thiboust, traduo de

    Jos Joaquim Vieira Souto, pea de tese, anti-romntica; Os homens de mrmore, de Jos da Silva

    Mendes Leal, inspirado em A Dama das Camlias, em benefcio do ator Alexandre Julianeli, e

    Suplcio de Mulher, de mile de Gerardin e Alexandre Dumas Filho, traduo de Machado de

    Assis, drama em trs atos, um libelo contra o adultrio, em benefcio da atriz Jlia Costa de

    Azevedo. Nesse mesmo ano, o ator Joaquim Augusto abandonou a Companhia, que se dissolveu.

    O empresrio Quartim, no concordando com a deciso do governo de no mais subvencionar a

    Companhia, tentou recuperar o auxlio financeiro, sem o qual a Companhia no existiria,

    enviando ofcio ao Governo com dois argumentos: a situao de penria em que ficariam as

    famlias dos atores e o fim da nica diverso na Provncia.

    Pedro de Oliveira Ribeiro Neto, acerca do repertrio dessa Companhia, afirma que nos

    espetculos no faltavam o punhal, o veneno, o trabuco, o incndio e outros agentes

    mortferos. (1974, p.44) A presena desses cinco elementos deixa clara a escolha do gnero da

    empresa de Quartim: o melodrama3. guisa de exemplo, pode ser citada a pea A famlia Morel,

    em 5 atos, extrada do romance Os mistrios de Paris, de autoria de Eugne Sue, folhetim publicado

    no Journal des Dbats, em 1848.

    Encerradas as atividades da Companhia do empresrio Quartim, J. B. Linsky,

    prestidigitador e empresrio teatral, ocupou o So Jos por quase dois anos, de 1866 a 1868. 3 Melodrama - uma das formas teatrais mais populares de todo o sculo XIX, o melodrama sempre teve um pblico fiel nos teatros brasileiros, notadamente entre 1840 e 1860, perodo em que o ator Joo Caetano reinou quase absoluto nos palcos do Rio de Janeiro, Autores como Victor Ducange, Anicet Bourgeois, Joseph Bouchardy e Adolphe Dennery, entre outros, foram incansavelmente traduzidos e representados, de modo que se tornaram familiares para os nossos antepassados os enredos emaranhados, repletos de surpresas, coincidncias extraordinrias, alguma inverossimilhana e reviravoltas, assim como as personagens esteriotipadas, sem qualquer densidade psicolgica. A frmula vinha da Frana, onde o melodrama adquirira algumas caractersticas bsicas, j presentes nas obras de seu criador, Guilbert de Pixercourt, no incio do sculo XIX. A mais importante que no desfecho deve sempre haver a justa recompensa da virtude e a punio do crime. (GUINSBURG, 2006, p. 179)

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    Sabendo que a influncia dos estudantes da Faculdade de Direito era de suma importncia para o

    desenvolvimento da cena paulistana e com pblico garantido nas noites em que ocorriam

    funes, sobretudo nas estreias, fazia constar em quase todos os anncios dos espetculos os

    seguintes dizeres: Merci et reconnaissance a Mrs les tudiants de lAcadmie de St Paulo4.

    (AMARAL, 1979, p. 93)

    No fim do ano de 1868, aps retumbante sucesso com o drama Gonzaga, Eugnia Cmara

    e sua Companhia se associaram ao empresrio Jos Maria Leal Ferreira e, a partir de ento, o

    enorme sucesso de pblico conquistado por ela desde 1860 desapareceu. Ainda nesse ano, de

    acordo com informaes do Correio Paulistano, muitas peas de autores portugueses foram

    encenadas, entretanto no h referncia s Companhias que eram responsveis por tais

    encenaes.

    No incio de 1869, Eugnia Cmara se despediu de So Paulo e um grupo de artistas

    fundou a Companhia Dramtica Paulista. Pouco se sabe acerca dos espetculos levados cena

    por essa empresa, a no ser que era formada por muitos atores da extinta companhia fundada e

    dirigida pela musa de Castro Alves.

    Em 1871 e 1872, a Companhia Dramtica Nacional, sob a direo de Joaquim Augusto

    Filho, leva cena, pela primeira vez, a famosa A Morgadinha de Val-Flor,5 de Pinheiro Chagas,

    representada pela primeira vez em Portugal, em 1868, no Teatro D. Maria I.

    Nos anos seguintes, o So Jos recebeu algumas companhias, ainda que de menor

    expresso. Entre elas, cabe destacar a Sociedade Dramtica Particular Unio Beneficente, que na

    noite de 31 de outubro de 1874, em homenagem ao rei de Portugal Lus I, leva ao palco o drama

    em trs atos intitulado Um homem de honra, de Mendes Leal.

    Em 11 de maro de 1876, quando o teatro se achava totalmente construdo, coube

    Companhia Lrica Italiana reinaugur-lo, levando cena a pera Lucia de Lammermoor, de Gaetano

    Donizetti, em trs atos, baseada no romance A noiva de Lammermoor, de Walter Scott, com a

    4 Livre traduo: Agradecimento e reconhecimento aos estudantes da Academia de So Paulo. 5 Huppes salienta que vale a pena ressaltar a repercusso da pea A Morgadinha de Val-Flor, que mostra facilmente a filiao ao estilo melodramtico, mesmo numa poca em que o gnero oficialmente j vinha perdendo terreno. Estreou no Teatro D. Maria II, a 03 de abril de 1869, com elenco de primeira ordem: Emlia Adelaide, Tasso, Csar de Lima, Delfina e Rosa Damasceno. To popular se torna que a escultura da Morgadinha pode ser encontrada hoje dividindo espao com vultos da histria oficial na Avenida da Liberdade, uma das vias mais importantes de Portugal. Pinheiros Chagas substitui a atmosfera feudal corrente pelo cenrio aldeo dos incios do sculo XIX, na regio de Beira, Portugal. Mesmo localizando as aes em passado recente, no fica perdida a noo de que h um abismo entre aristocracia e povo. Alis, exatamente este o motivo da infelicidade de Leonor, a Morgadinha, e de seu amado Lus. (2000, p.38)

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    soprano Augusta Cortese, o bartono G. Spalzzi e o tenor Luigi Lelmi, sob a direo de Jos

    Mirandola.

    Um dos jornais da poca, A Provncia de So Paulo, trs dias depois, destacou a noite de

    inaugurao definitiva do So Jos com estas palavras: O teatro uma verdadeira ressurreio.

    um verdadeiro cu aberto em referncia ao intolervel barraco que dantes foi. (AMARAL,

    1979, p. 88)

    Sucesso garantido eram, alm dos dramas e dramalhes, as peras. E por quase dois anos,

    o teatro recebeu companhias estrangeiras: a Lrica Italiana e a Italiana de peras. Ambas faziam

    muito sucesso de pblico e lotavam o teatro em dia de funo. A essa altura, em 1876, j estava

    totalmente construdo e capacitado para receber Companhias que brilhavam na Corte do Rio de

    Janeiro, e o So Jos ainda passou a receber com muita frequncia espetculos estrangeiros.

    Ainda em 1876, foi encenado O drama do povo, de Manuel Pinheiro Chagas, sob a direo

    de Antonio Pedro e Joo Gil. No h referncia quanto Companhia que levou a pea ao palco

    do So Jos.

    Na noite de 21 de julho de 1877, o Largo de So Gonalo se encantou, novamente,

    segundo os jornais da poca, com a encenao da pea A Morgadinha de Val-Flor, sendo o

    primeiro espetculo da Companhia de Emlia Adelaide Pimentel, atriz portuguesa. A pea teve

    sucesso garantido e repetido inmeras vezes no palco do So Jos.

    Nesse mesmo ano, 1877, compareceu a Companhia Espanhola de Zarzuelas, do

    empresrio Lus Milone, sendo o diretor de orquestra o maestro J. Puig. O gosto musical do

    pblico paulistano pelo teatro musicado, sobretudo pela zarzuela, j havia sido testado em 1874,

    quando na cidade chegou uma companhia espanhola, a primeira que aqui se apresentou, para

    encantamento dos estudantes da Faculdade de Direito, competindo, na poca, com a Lrica

    italiana

    Subiram cena oito zarzuelas, entre elas Os Madgyares, em quatro atos, com letra de D.

    Luiz de Olona e msica de Joaquin Gaztambide.

    A Empresa Albuquerque, tendo frente o empresrio Manuel Ferreira de Albuquerque e

    como ator principal Joaquim Augusto Ribeiro de Sousa Filho, intentava montar no dia 8 de julho

    de 1877 um espetculo para homenagear as Altezas Imperiais que se encontravam na cidade para

    festejar a abertura da linha frrea Estrada do Norte. O programa contemplaria o drama A famlia

    do Corsrio, de Desnoyer e Nus Fellet; entretanto, por falta de tempo para os ensaios, o drama

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    fora substitudo pelo espetculo circense Cendrillon, cuja direo era de Jos Mancini, frente de

    um grupo de artistas infantis do Circo Ingls.

    Maria Spelterini, funmbula (dana na corda bamba) italiana, j consagrada nos palcos

    internacionais, fez estrondoso sucesso em So Paulo no Teatro Provisrio e no So Jos, em

    1877. Seus espetculos, ligados s artes circenses, eram sempre estupendos, a ponto de na

    temporada paulista sua empresa colocar bondes sada dos espetculos para que os espectadores

    de bairros considerados distantes, na poca, como a Luz e o Brs, voltassem s suas casas sem

    dificuldades, tamanha era a enchente nos dias de apresentao da funmbula.

    Nesse mesmo ano, outras companhias se apresentaram nos palcos do So Jos:

    Companhia Dramtica, sob a direo de Ribeiro Guimares; Dramtica Portuguesa, de Adelaide

    Pimentel e a Companhia Dramtica do Teatro So Pedro de Alcntara.

    Em 1878, a Companhia Dramtica do Teatro So Pedro de Alcntara, do empresrio Guilherme Squiner da Silveira, continuou a se apresentar no Teatro So Jos. Estreando no Rio de Janeiro, logo reunira em torno de si alguns dos atores mais influentes da cena carioca, poca: Ismnia dos Santos, Jesuna Montani, Dias Braga e Furtado Coelho. O repertrio era composto por dramas e dramalhes, entre eles, A Morgadinha de Val-Flor e A judia, ambas de Manuel Pinheiro Chagas.

    A encenao de Santa Iria, drama sacro de Augusto Csar de Vasconcelos, recebeu crticas

    mais severas:

    Bonitas decoraes e visualidades bem organizadas constituram o nico atrativo das duas noites. Drama inteiramente de mgicas e palhaadas, recebeu como era de esperar os aplausos da platia. A Sra. Ismnia no se achou constrangida em representar de Santa; pelo contrrio... O anjo S. Miguel que teve as honras das representaes, apesar de pronunciar poucas palavras. A Sra. Maria Lusa a quem coube o anglico papel muitos aplausos recebeu graas ao vestido curto e decotado. (Correio Paulistano, 18 de maro de 1878 - apud MOURA, 1978, p. 40.)

    Em 02 de outubro de 1878, o ento Conselheiro Antnio da Silva Prado, na qualidade de

    usufrutrio do teatro, transferiu todos os seus direitos ao artista Cludio Rossi, que fechou contrato

    com a Companhia de Teatros Brasileiros, depois transformada em Companhia de Teatros

    Paulista, que teve pouco tempo de durao, no se sabendo de espetculos levados cena por

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    essa Companhia. No demorou muito e o So Jos entrou em definitivo no calendrio das

    grandes companhias.

    Como se pode constatar, o acontecimento artstico mais importante da temporada de

    1877-1878, em So Paulo, foi a vinda da Companhia Dramtica Portuguesa, dirigida pela

    empresria Emlia Adelaide, uma das atrizes mais importantes de Portugal, que se preocupava em

    apresentar ao pblico um repertrio de nada menos que cinqentas peas da dramaturgia

    francesa, italiana e, evidentemente, portuguesa. As obras escolhidas pela companhia privilegiavam

    dramas histricos e realistas, melodramas, comdias, alm de espetculos de apelo popular:

    mgica, ou na linguagem teatral, ferie de grande espetculo, ornada de coros e coplas6.

    Como exemplo, pode-se citar A filha do ar, de Eduardo Garrido, de longe o autor mais

    encenado nos palcos paulistanos, no sculo XIX, espetculo em que a platia ficava paralisada

    diante da apario, em cena, de slfides, gnios do ar, camponeses, diabos, habitantes dos

    tmulos, alm de danarinos, cuja dana frentica e infernal ocorria em um cenrio ricamente

    fantasmagrico. A companhia teve sua estreia no So Jos em 21 de julho de 1877, com a

    consagrada A Morgadinha de Val-Flor, indubitavelmente uma das peas mais encenadas em seu

    tempo. Subiram ainda ao palco do So Jos as peas Fernanda, de V. Sardou, traduo de Ernesto

    Biester, Redeno e As duas rfs, ambas de Ernesto Biester; Cladia e Maria Antonieta, de Paolo

    Giacometti; Madalena, de Pinheiro Chagas; A vida de um rapaz pobre e Jlia, ambas de Octave

    Feuillet, princesa Jorge e Mr. Alphonse, de Alexandre Dumas Filho; novamente a mgica A filha do

    ar, de Eduardo Garrido e O Tartufo, de Molire, com traduo de Antnio Feliciano de Castilho.

    No mesmo perodo de 1877 a 1878, compareceu na Provncia a Companhia Dramtica,

    de Ribeiro Guimares, cuja caracterstica principal era o elenco numeroso; foi o maior empresrio

    de teatro durante as dcadas de 70 e 80. O nmero de atores, fato impensado para a poca, era o

    mesmo que o da Companhia de Emlia Adelaide: dezoito. Contudo, o repertrio, alm de mais

    extenso, era mais diversificado do que o da Companhia portuguesa. Coube a Ribeiro Guimares

    algo indito: a incluso de alguns dramaturgos brasileiros, totalmente ignorados pelas

    Companhias que aqui aportavam. A Companhia apresentou-se em So Paulo nos meses de

    fevereiro a junho e em novembro de 1877 e, tambm, de julho a outubro de 1878. Nessa ltima

    temporada, a empresa passaria a se chamar Companhia Dramtica de pera Cmica. Ao longo

    6 As coplas (em francs, couplets) so composies em verso destinadas a serem musicadas e cantadas. No teatro musicado, so parte integrante do texto dramtico. Portanto, a autoria das coplas do dramaturgo. (GUINSBURG, 2006, p 96.)

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    das trs temporadas foram encenadas, alm de dramas nacionais, mais de trinta peas, afora as

    comdias em um ato e nmeros de vaudeville. O restante do repertrio era tipicamente

    composto do que se representava na poca: melodramas de Adolphe Dennery, Plouvoir e

    Barrire; A Morgadinha de Val-Flor; os dramas histricos portugueses: Os dois proscritos ou A

    restaurao de Portugal, de Luciano Fausto Cardoso de Carvalho, a partir da obra Histria de Portugal,

    de Alexandre Herculano, O tributo das cem donzelas, de Mendes Leal. Como no podia faltar no

    repertrio de nenhuma companhia nmeros de mgica, to do agrado do grande pblico, na

    ocasio, subiu ao palco Rocambole, romance folhetinesco adaptado para o teatro por Sousa Bastos,

    Gabriel e Lusbel ou Os milagres de Santo Antnio, do portugus Braz Martins, encenadas quase que

    obrigatoriamente por todas as Companhias que aqui se apresentavam. O espetculo que mais

    trouxe receita para a Companhia foi o drama sacro e fantstico Milagres de N. S. da Conceio

    Aparecida, de Manuel Toms Pinto Pacca. A causa para tamanho sucesso foi explicada por um

    jornalista do Correio Paulistano, em 23 de julho de 1878: ou porque passa-se a ao na provncia

    de So Paulo ou porque a parte mgica costuma agradar ao nosso pblico. Para a apresentao

    de alguns espetculos, sobretudo aqueles em que havia partes danantes, a empresa prevenia

    antecipadamente ao pblico, fazendo constar o seguinte aviso em jornais da poca: no haver

    durante o espetculo cena alguma demasiado livre e que pode ser vista sem o menor

    constrangimento pela exmas. Famlias desta capital, assim como todas as peas que levam cena,

    quer pardias, quer de outro qualquer gnero. (Correio Paulistano, 03 de agosto de 1878).

    Ainda em 1878, compareceu ao So Jos a Companhia Francesa Cassino Paulistano, que

    foi a primeira empresa profissional nascida em So Paulo e dedicada especialmente ao teatro

    lrico, dirigida pelo maestro francs Gabriel Giraudon. A proposta da empresa era divulgar o que

    havia de mais significativo no repertrio da pera-cmica, - sobretudo as composies de Jacques

    Offenbach. O repertrio da Companhia Francesa era extenso, tendo, alm dos famosos e muito

    apreciados vaudevilles 7, operetas ditas bufas.

    Um fato chamava ateno na Companhia Francesa Cassino Paulistano: a sua organizao.

    Diretor empresrio, ensaiador geral, mdico da empresa, regente de orquestra, primeiro violino

    concertante, dois pintores cengrafos, contra-regra, maquinista, bilheteiro, costureira e ponto

    7 Vaudeville - palavra de origem francesa que designa comdia musicada, cheia das mais complicadas situaes e que nasceu ligada a canes, mais particularmente s canes de Oliver Basselin, natural de uma regio da Normandia denominada o Vale do Vira (Vau de Vire ou Val de Vire). (GUINSBURG, 2006, p. 305)

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    compunham o quadro de funcionrios da Companhia. A temporada teve incio no acanhado

    Teatro Provisrio, a ser historiado adiante, estendendo-se ao So Jos.

    O maior sucesso da temporada, no teatro So Jos, de fevereiro a maro de 1878, foi a

    pera bufa, em quatro atos, Orphe aux enfers, de Offenbach, sobre libreto de Hector Crmieux e

    Ludovic Halry. Essa pera teve sete representaes alternadas, fato raro poca, em que um

    espetculo s ocasionalmente era repetido mais de uma vez. Escrita em1858, Offenbach fez uma

    verso moderna e muito inovadora da lenda grega do mito de Orfeu e Eurdice. Crticos e

    escritores franceses, escandalizados com a verso da lenda, chegaram a acusar o autor de profanar

    os deuses gregos. Inspirado no sucesso dessa pea, Francisco Corra Vasques escreveu Orfeu na

    Roa, pardia do original de Offenbach, permanecendo um ano em cartaz no Teatro So Jos.

    O gosto musical na cidade de So Paulo foi se formando a partir da apresentao das

    companhias europias, que temiam a vinda a So Paulo por causa das pssimas condies das

    orquestras e dos coros locais, sem falar das condies dos dois teatros prprios para receber uma

    companhia lrica: O So Jos e o Provisrio. Ignorando essas adversidades, a Sociedade Lrica

    Italiana apresentou apenas uma nova criao, Maria de Rohan, de Gaetano Donizetti; as demais

    j eram de conhecimento do pblico paulistano, nas temporadas ocorridas em 1875 e 1876:

    Norma, tragdia de Vincenzo Bellini; Lucia di Lammermoor, de Donizetti; Il barbiere de Siviglia, de

    Gioacchino Rossini; La Traviata e Un ballo in maschera, ambas de Giuseppe Verdi.

    Faziam muito sucesso entre os paulistanos os espetculos circenses, organizados por

    companhias itinerantes, formados por picadeiros e arquibancadas e cobertos por lona. Nada

    impedia que algumas apresentaes fossem adaptadas para os palcos dos teatros oficiais, como o

    Circo Casali, que se apresentou no Teatro So Jos. A companhia permaneceu por trs

    temporadas na cidade; o maior sucesso do repertrio do circo, entre outros, foi a pardia jocosa

    Uma viagem lua por um balo. Este espetculo, conforme jornais da poca, mostrava um balo que

    se enchia dentro do circo e dele caa um astronauta de pra-quedas e o pblico chegava ao delrio.

    Outra sensao era a apario de uma jiboia viva de vinte palmos de comprimento por dois e

    meio de largura, segundo informaes de crnicas desse perodo. O pblico deleitava-se com

    esse tipo de espetculo, o que justifica seu sucesso. Para tanto, fez-se necessrio aumentar o

    nmero de camarotes e at uma banda de msicos tocava nos espetculos. Nos dias de chuva no

    havia funo, e nos dias normais o empresrio mandava soltar foguetes, sinalizando que o

    pblico poderia comparecer ao circo.

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    A Grande Companhia Automtica, dirigida por Luigi Luppi, tambm muito agradou ao

    pblico de So Paulo, sedento de efeitos especiais e espetculos sensacionais. A Companhia,

    graas ao emprego de uma tecnologia moderna, com efeitos causados pela luz eltrica, trouxe

    grandes novidades a So Paulo. As crnicas da poca no diziam ao certo se os bonecos eram de

    fato marionetes ou se eram bonecos movidos corda. Pelos ttulos dos espetculos, percebe-se

    que qualquer que fosse a manipulao dos bonecos era exigida uma tcnica elaborada, a fim de

    que a companhia alcanasse o xito ensejado.

    Vinda da Corte, a Companhia Dramtica Empresria tinha como plataforma teatral a

    encenao de espetculos variados: dramas da escola moderna, isto , a escola realista, magias,

    comdias e vaudevilles, conforme anunciavam as crnicas da poca. O elenco era simples e tinha

    sua frente um nico nome conhecido, a atriz Josefina Miro; durante a breve estada da

    Companhia no So Jos, a Associao encenou unicamente dramalhes portugueses, alm de

    comdias e bailados.

    A Companhia Dramtica, dirigida por Dias Braga, encerrou a temporada teatral em So

    Paulo, em 1878, no dia 07 de dezembro, com O guia da montanha, de Paul Feval, e no dia 14 desse

    mesmo ms apresentada a pea Dalila, de Octave Feuillet. Foi encenado, tambm, o

    melodrama A cruz de Madalena, de Dennery.

    No ano de 1879, conforme o Correio Paulistano, apresentaram-se no So Jos a Companhia

    Dramtica, de Ribeiro Guimares, a Companhia Dramtica, de Guilherme da Silveira e a

    Companhia Dramtica, de Furtado Coelho.

    Em 1882, retorna a So Paulo a companhia de Ismnia dos Santos que, na ocasio, maro

    e abril, levou ao palco o drama As duas rfs, de Ernesto Biester, que foi o mais produtivo e

    importante dramaturgo portugus de seu tempo. O sucesso da atriz, mais uma vez, arrebatou os

    paulistanos, e ao trmino da apresentao do drama ela recebeu flores e alguns presentes, fato

    comum poca. Alm do drama de Biester, a Companhia de Ismnia ainda apresentou O marqus

    de Pombal e Um drama de Revoluo, ambos de Joo Campos Navarro de Andrade e O condenado, de

    D. Thomaz de Mello. Ainda se apresentaram a Companhia Dramtica, de Simes e a Companhia

    Cuniberti.

    Um ano depois, de 26 a 28 de maro de 1883, o palco do So Jos foi ocupado pela

    Companhia do Teatro Recreio Dramtico do Rio de Janeiro, de Augusto de Castro e Dias Braga,

    e em um desses dias houve uma festa cvica para a entrega de dez cartas de alforria. Este dado

    serve apenas para avaliar o papel do teatro poca. Em 31 de outubro de 1883, a Companhia

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    Lambertini, para homenagear o aniversrio do Rei D. Lus de Portugal, levou cena o drama de

    costumes militares 29 ou Honra e Glria, de Jos Romano.

    No final de 1885, o palco do So Jos acolheu algumas Companhias amadoras. Entre elas,

    destaca-se a Sociedade Unio Comercial, que levou ao palco a comdia-drama, Trabalho e Honra,

    de Augusto Csar de Lacerda, em trs atos.

    Em 1886, chegam a So Paulo duas Companhias portuguesas: a Companhia Dramtica

    Portuguesa do Teatro Prncipe Real de Lisboa, da qual fazia parte a atriz Margarida Cruz, a

    Companhia do Teatro D. Maria II, dirigida pelo primeiro ator dramtico Jos de Rosa. A

    primeira empresa levou ao palco os seguintes espetculos: Os Lazaristas, de Antonio Ennes, As

    duas rfs, de Ernesto Biester, e o grande sucesso A Morgadinha de Val-Flor, de Pinheiro Chagas.

    Quanto segunda Companhia, no se tem informao do repertrio apresentado no So Jos. O

    que as crnicas da poca apontavam era que nesse ano continuava o desinteresse dos

    paulistanos pelo teatro, sendo sempre diminuta a concorrncia aos espetculos. (AMARAL,

    1979, p. 122).

    Sarah Bernhardt esteve em So Paulo de 28 de junho de 1886 a 03 de julho do mesmo

    ano, atuando nas peas Frou Frou, de H. Meillac, no drama Adrienne Lcouvreur, de Scribe e

    Legouv, na tragdia Fedra, de Racine, e em A Dama das Camlias, de Alexandre Dumas.

    Todas essas encenaes fizeram com que o pblico ficasse exigente em relao ao

    desempenho das atrizes. Este dado, aliado ausncia de espetculos de pera, eram uma das

    causas do desinteresse do pblico paulistano pelo teatro. E assim, a principal atrao de 1887, na

    tentativa de reconquistar o pblico perdido, foi a apresentao da Companhia Lrica Italiana, da

    Empresa Social, sob a direo de Luigi Miloni. O ano de 1887, ento, contemplou basicamente

    espetculos lricos. Apenas tem-se notcia da presena da Companhia de peras Cmicas, de

    Heller.

    Contudo, em 05 de setembro de 1888, apresentou-se no So Jos a Companhia

    Dramtica Portuguesa, com a pea Sua Excelncia, de Gervsio Jos G. Lobato. As crnicas da

    poca chamaram a ateno para o conjunto harmonioso da empresa, sobretudo pelos artistas que

    a compunham.

    Em 18 de novembro de 1889, trs dias aps a Proclamao da Repblica, o Teatro So

    Jos foi palco de uma noite histrica. Ali se reuniram os monarquistas de So Paulo, convocados

    pelo Conselheiro Antnio da Silva Prado, do Partido Conservador, e Augusto da Silva Queirs,

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    do Partido Liberal. O objetivo da reunio era que os monarquistas aderissem nova forma de

    governo. Mais uma vez o palco serviu para comemoraes cvicas e encontros polticos.

    A primeira Companhia portuguesa a se apresentar no So Jos durante o Regime

    Republicano foi a Companhia Dramtica Portuguesa Teatro Prncipe Real de Lisboa, da qual

    fazia parte a atriz Amlia Vieira dos Santos. O repertrio apresentado por essa companhia no

    privilegiou o teatro portugus, mas sim o brasileiro, levando cena os dramas musicais: Bug-Jargal,

    de Jos Cndido da Gama Malcher, com libreto de Vincenzo Valle, baseado em romance de

    Victor Hugo sobre a revolta dos escravos em So Domingos, em 1791; Moema, de Assis Pacheco

    Neto, com libreto do autor e de Delgado de Carvalho.

    Ainda em 1889, com as pregaes positivistas e as naturais dificuldades de uma mudana

    de regime poltico e de adaptao social de um pas que acabava de abolir a escravatura (1888),

    no foi muito brilhante nem variado o movimento teatral em So Paulo. Poucas Companhias se

    apresentaram no So Jos. Conforme o peridico Correio Paulistano, apenas vieram a Santana da

    Corte, de Heller, a Companhia Dramtica e a Companhia de Operetas dramticas do Rio de

    Janeiro, de Guilherme da Silveira

    Em 1890, o teatro So Jos recebeu a Grande Companhia de Comdias, de Guilherme da

    Silveira e a Companhia Prncipe Real.

    Quando o pblico rareava, era necessrio privilegiar o repertrio lrico, muito a gosto

    poca. Talvez por esse fato, os anos de 1891 e 1892 foram ricos em apresentaes lricas no

    palco do So Jos. Quando isto acontecia, duas Companhias disputavam, ambas com grande

    sucesso, o pblico: a Lrica Italiana e a Companhia Dramtica de Zarzuelas.

    No final do ano de 1892, a Companhia Fnix Dramtica da Capital Federal, sob a direo

    cnica de Moreira de Vasconcelos, levou ao palco as peas Fidalgas e operrias e Niniche, ambas de

    Gonalves Belo de Azevedo; Os engeitados, de Antonio Ennes; F, esperana e caridade e O corao do

    povo, ambas de Francisco Moreira de Vasconcelos.

    Tendo frente a atriz Amlia Vieira dos Santos, retornou cidade de So Paulo, em 1893,

    a Companhia do Teatro Prncipe Real de Lisboa que, diferentemente do ocorrido em 1890,

    apresentou um repertrio variado, destacando-se as peas As duas rfs, de Biester, e a consagrada

    A Morgadinha de Val-Flor. Ainda nesse ano, o Teatro So Jos foi contemplado com a Companhia

    Italiana de pera, de Raphael Tomba e a Companhia Theatro de Variedades, sob a direo de

    Machado.

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    Em 1894, a Companhia Theatro Minerva apresenta o drama dio da Raa, de Francisco

    Gomes de Amorim; nove meses depois, a vez da Companhia Teatro Apollo, direo de

    Adolpho de Faria, que leva cena a opereta Pum II, de Eduardo Garrido.

    Em 1895, a Companhia Theatro Apollo continua a encenar peas no So Jos,

    juntamente com a Companhia Ismnia dos Santos, agora sob a direo de Dias Braga.

    Dadas as condies do teatro So Jos, os espetculos rareavam, e em 1896, eram to

    precrias que o intendente de obras pblicas da capital resolveu no mais consentir que outra

    companhia, depois da que ali se encontrava, estreasse, antes de passar o prdio pelos consertos

    necessrios.

    Ainda assim, apresentou-se, no ano de 1896, a Companhia de pera-Cmica Portuguesa,

    levando cena, com muito sucesso, a pea A bilha quebrada, de Heinrich Von Kleist.

    Nos anos de 1897 e 1898, segundo informaes do Correio Paulistano, apresentou-se

    apenas a Companhia pera Cmica, de Moreira Sampaio.

    No dia 15 de fevereiro de 1898 um incndio de grandes propores destruiu o So Jos,

    que vira, no dia 11 de fevereiro daquele ano, subir ao palco A Morgadinha de Val-Flor, que

    repetidas vezes fizera um grande sucesso ali. Segundo crnicas da poca, So Paulo dormia

    quando foi despertada pelo bimbalhar desesperado dos sinos das igrejas. O Teatro So Jos

    pegava fogo e ardia, irremediavelmente perdido.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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    Peridicos:

    O Correio Paulistano- 1864 a 1898

    A provncia de So Paulo- 1875 a 1898