TECLAS & AFINS 01

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  • www.teclaseafins.com.br

    MINIMOOG: um clssico revolucionrio

    & A

    FINS

    A busca pelo timbre perfeito para o lbum e a estrada

    As vrias facetas domulti-instrumentista e arranjador

    Jether Garotti

    Sntese SonoraHarmonia e ImprovisaoArranjo Comentado rgos e Organistas

    E mais...

    Mrcio Buzelin

    Conhea os principais lanamentos da Musikmesse Frankfurt

    Ano 1 - Edio 1 - Maio 2014

  • 6 / MAIO 2014 teclas & afins

    Costumo dizer que uma publicao um ser vivo, e, como tal, per-corre diversas fases diferen-tes at que se torne madu-ra, produtiva e sbia. Com Teclas & Afins no poderia ser diferente. Ela foi conce-bida e alimentada, ainda no tero, por bastante tempo, durante o qual planos e in-certezas a cercavam. O objetivo estava claro: disseminar informao qualificada e relevante a um pblico carente de fontes confiveis. Mas, de que modo o mercado acolhe-ria a publicao? O segmento de instrumentos musicais de teclas estaria preparado para uma revista digital? Qual se-ria nosso foco?Chegamos concluso de que falar apenas sobre um instru-mento seria manter lacunas abertas, pois muitos msicos desenvolvem suas atividades em vrios deles. E tambm que precisam saber mais sobre tudo o que cerca o univer-so dos escolhidos. Depois de muitas pesquisas e delibera-es - e tomando como exemplo iniciativas bem sucedidas - chegamos concluso de que ela deveria nascer, tendo como foco os instrumentos de teclas e todo o universo que os cercam, desde acessrios e perifricos a composio e gravao, passando por todas as fases de uma produo. Finalmente esse momento chegou e esta edio est em suas mos, ou melhor, em sua tela. Com a ajuda de colabo-radores preciosos, levamos a cabo o desafio de lanar uma revista digital para o mercado musical. Mas, como todo ser vivo, ela ainda sofrer mudanas, amadurecer, aprender com os erros, assim como com as crticas e os elogios que receber. Ganhar peso e credibilidade, ficar mais profunda e sbia. Mas temos a certeza de que, durante essa trajetria, levar informao qualificada a seus leitores. Boa leitura e muita msica!

    Nilton CorazzaPublisher

    EDITORIALAno 1 - N 01 - Maio 2014

    PublisherNilton Corazza

    [email protected]

    Gerente FinanceiroRegina Sobral

    [email protected]

    Editor e jornalista responsvelNilton Corazza (MTb 43.958)

    Colaboraram neste edio:Alex Saba, Amador Rubio, Eloy Fritsch, Rosana

    Giosa, Turi Collura

    DiagramaoSergio Coletti

    [email protected]

    Foto da capaRicardo Muniz

    Publicidade/[email protected]

    [email protected]

    Sugestes de [email protected]

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    Os artigos e materiais assinados so de responsabilidade de seus autores.

    permitida a reproduao dos contedos publicados aqui desde que fonte e autores sejam

    citados e o material seja enviado para nossos arquivos. A revista no se responsabiliza pelo

    contedo dos anncios publicados.

    & A

    FINS

    Rua Nossa Senhora da Sade, 287/34Jardim Previdncia - So Paulo - SP

    CEP 04159-000Telefone: +55 (11) 3807-0626

  • MAIO 2014 / 7 teclas & afins

    Interface 4As notcias mais quentes do

    universo das teclas

    Retrato 10Jether Garotti Jr.

    Acompanhamento de classe

    Vitrine 18Novidades do mercado

    Memoria 24Minimoog

    Sonoridade revolucionria

    materia de Capa 30Mrcio Buzelin

    Em busca do timbre perfeito

    SIntese 38Oscilador de baixa frequncia

    por Eloy Fritsch

    Livre pensar 40O improviso e o Jazz

    por Alex Saba

    OrgAos e organistas 44O que rgo, hoje, no Brasil?

    Por Amador Rubio

    Harmonia e ImprovisaCAo 46 As escalas do campo harmnico maior

    e a correlao escala/acorde por Turi Collura

    Arranjo comentado 49Walking-Bass ou Baixo Caminhante

    por Rosana Giosa

    NESTA EDIO

  • 4 / maio 2014 teclas & afins

    vOCE em teclas & afins

    Este espao seu!Teclas & Afins quer divulgar trabalhos, iniciativas, msicos e bandas que apresentem qualidade e sejam diferenciados.

    No importa o instrumento: piano, rgo, teclado, sintetizadores, acordeon, cravo e todos os outros tm espao garantido em nossa revista. Mas tem que ser de teclas!

    Veja abaixo como participar:

    1. Grave um vdeo de sua performance. A qualidade no importa. Pode ser at mesmo de celular, mas o som precisa estar audvel.

    2. Faa o upload desse vdeo para um canal no Youtube ou para um servidor de transferncia de arquivos como Sendspace.com, WeTransfer.com ou WeSend.pt.

    3. Envie o link, acompanhado de um release e uma foto para o endereo [email protected]

    4. A cada edio, escolheremos um ou dois artistas para figurarem nas pginas de Teclas & Afins, com direito a entrevista e publicao de release e contato.

    No fique fora dessa! Mostre todo seu talento!

  • maio 2014 / 5 teclas & afins

    Vamos nos conectar?

    vOCE em teclas & afins

    & A

    FINS

    A mais completa

    revista digital para os

    instrumentos de teclas

    Cadastre-se j e participe

    de nossas promoes

    www.teclaseafins.com.br

    E suas mensagens podem ser publicadas aqui!Se preferir, envie crticas, comentrios e sugestes para o e-mail [email protected] e clique nos cones distribudos pela revista para acessar as pginas de artistas, produtos e marcas apresentadas.

    Teclas & Afins quer conhecer melhor voc, saber sua opinio e manter comunicao constante, trocando experincias e informaes. Para isso, acesse, curta, compartilhe e siga nossas pginas nas redes sociais:

  • 6 / MAIO 2014 teclas & afins

    interface

    Mais que especial

    Joo Donato: piano assinado e comemoraes

    Lenda da msica brasileira, o pianista, acordeonista, arranjador, cantor e compositor Joo Donato completa 80 anos em 2014. Entre as vrias celebraes dedicadas a esse cone da Bossa Nova, uma se destaca por conta da originalidade e da exclusividade: a Fritz Dobbert produziu um piano comemorativo em homenagem ao msico. Essa edio especial, chamada O Piano de Joo Donato, feita com madeira originria do Acre terra natal do msico - e leva as assinaturas da Fritz Dobbert, reconhecida pela produo de pianos de alta qualidade e preciso, da Acre Made In Amaznia, responsvel pela madeira, e, obviamente, de Joo Donato (foto acima). O msico fez questo de acompanhar o processo de produo do instrumento na fbrica, em So Paulo, e atestar a qualidade do resultado. O piano comemorativo servir como modelo para uma nova srie de instrumentos que a empresa pretende lanar no prximo semestre. Esta no a primeira parceria entre o msico e a fbrica: no Carnaval do Rio de Janeiro deste ano, Joo Donato desfilou pela escola de samba Unidos de Vila Isabel - que prestou uma homenagem a Chico Mendes - sentado frente de uma rplica do piano especial produzido pela Fritz Dobbert. Alm do piano comemorativo, outros eventos e homenagens para o msico ocorrero em 2014, como uma exposio multissensorial sobre a vida e a obra de Joo Donato e gravaes de shows, CDs, DVDs e uma srie documental em quatro captulos, entre outros.

  • MAIO 2014 / 7 teclas & afins

    INTERFACE

    O polons Slawomir Zu-brycki apresentou a viola organista, instrumento con-cebido h cinco sculos pelo gnio renascentista Leonar-do da Vinci, que combina piano e violoncelo. A inveno fazia parte do Co-dex Atlanticus manuscrito de 12 volumes com projetos que vo desde ideias para ar-mas a planos para mquinas voadoras e une caractersti-cas do cravo, do rgo e da viola de gamba. O instrumento parece um piano de cauda, mas as 61 cordas, em vez de serem golpeadas por martelos, so friccionadas por quatro rodas giratrias revestidas de crina de cavalo, de forma semelhante dos arcos de violino e violoncelo.

    Viola organista projetada por da Vinci construda

    SONHO REALIZADOO tecladista e principal compositor do Nightwish, Tuomas Holopainen, passou boa parte dos ltimos 15 anos amadurecendo uma ideia surgida em 1999: reinterpretar em msica a histria em quadrinhos The Life and Times of Scrooge McDuck (A Saga do Tio Patinhas), de Don Rosa. Boa parte do ano de 2013 foi dedicada composio e produo do lbum-solo, lanado agora. As ilustra-es da capa e do livreto foram feitas pelo prprio Don Rosa. Ao lado de Holopainen, participam do projeto a London Orchestra e o The

    Metro Voices, Troy Donockley (flautas e bodhran), Mikko Livanainen (guitarra e banjo), Teho Majamki (didgeridoo),

    Jon Burr (gaita) e Dermot Crehan no violino-solo, alm dos vocalistas lan Reid, Johanna Kurkela, Johanna Liva-nainen e Tony Kakko (do Sonata Arc-tica), e o guitarrista e produtor Pip

    Williams, responsvel pelos ar-ranjos orquestrais.J sua banda principal, o Nightwish, pretende gravar um novo lbum durante 2014. O disco marcar a es-treia da cantora Floor Jan-sen, a substituta de Anette Olzon que, assim como

    Tarja Turunen, foi demitida.

  • 8 / MAIO 2014 teclas & afins

    retrato

    A diva pop Alicia Keys se juntou a Pharrell Williams, Hans Zimmer e Kendrick Lamar para produzir Its On Again, o primeiro single da trilha sonora original de The Amazing Spider-Man 2. Para a artista, a cano tem muito mais significado que apenas compor a trilha sonora. Its On Again capta a experincia, a histria e - mais importante - o significado por trs do filme: todos ns temos o potencial de sermos extraordinrios. H um pouco de super-heri em todos ns, diz a pianista.

    A SUPER ALICIA

    INTERFACE

    O SESC Carmo est promovendo o projeto Sons das Igrejas do Centro Especial Instru-mentos de Teclado. A srie de concertos em igrejas histricas da regio central da cidade de So Paulo busca democratizar o acesso msica erudita e evidenciar o patrimnio histrico da cidade. Depois de recitais de cravo, espineta, virginal e fortepiano, a srie

    tem continuidade com as apresentaes de Delphim Rezende Porto - ao rgo da Primei-ra Igreja Presbiteriana Independente de So Paulo, em 13 de maio - e Dante Pignatari - ao piano na Igreja Nossa Senhora da Boa Morte, no dia 27 do mesmo ms. Os concertos se iniciam as 13 horas. Mais detalhes podem ser obtidos no site do SESC Carmo.

    Msica e histria em So Paulo

  • MAIO 2014 / 9 teclas & afins

    INTERFACE

    O internacionalmente reconhecido pia-nista chins Lang Lang foi premiado com o Doutorado Honorrio pela prestigiosa Birmingham City University, na Inglaterra. Vencedor de vrios prmios internacionais, o msico considerado o mais quente artista de msica clssica do planeta pelo New York Times, apresentando-se pelas maiores cidades do mundo. Na China, um fenmeno conhecido como Efeito Lang Lang fez que mais de 40 mi-lhes de crianas comeassem a apren-der piano, graas inspirao do msico. E no para por a! O pianista realiza re-citais para doentes e em comunidades carentes e distantes dos grandes centros de seu Pas, o que o levou ao lanamento da Lang Lang International Music Founda-tion, que tem como objetivos cultivar pia-nistas de alto nvel e defender a msica como fundamento da educao.

    Doutor Lang Lang

    A Copa Yamaha de Teclados Arranjadores premiar o tecladista mais verstil do Bra-sil com um teclado arranjador Tyros 5, alm de um sistema de sonorizao porttil STAGEPAS 400i e um software de gravao e produo Cubase 7.5 Steinberg para o se-gundo e terceiro lugares, respectivamente. A conquista do cobiado prmio, porm, no ser fcil. Os msicos tm de provar sua percia ao criar um estilo utilizando os teclados PSR-S950, PSR-S750 ou Tyros 4. Os trabalhos selecionados sero postados na pgina da Yamaha no Facebook, no dia 25 de julho. Os oito mais curtidos disputaro o primeiro lugar ao vivo, no dia 17 de outubro, em local a definir. Para saber os detalhes e se inscrever, visite http://br.yamaha.com/. As inscries vo de 3 de abril a 16 de julho.

    VAI QUE SUA!

  • 10 / MAIO 2014 teclas & afins

    interface

    AHMAD JAMALNo Brasil, em maio

  • MAIO 2014 / 11 teclas & afins

    INTERFACE

    O BMW Jazz Festival definiu as atraes de sua quarta edio, a ser realizada em So Paulo (HSBC Brasil - 29 a 31 de maio) e Rio de Janeiro (VIVO Rio - de 30 de maio a 1 de junho). No intuito de expandir o projeto para outras regies, o evento investe pela primeira vez em uma verso fora do eixo Rio-So Paulo, com show do vocalista Bobby McFerrin, acompanhado de quinteto, no Cine Theatro Brasil, em Belo Horizonte, no dia 3 de junho. Talvez o maior destaque desta edio, no entanto, seja o consagrado pianista Ahmad Jamal - um dos favoritos de Miles Davis - que se apresenta em formato de quarteto, com Reginald Veal no contrabaixo, Herlin Riley na bateria e Manolo Badrena na percusso. O msico, que completa 85 anos em 2015, apresenta as faixas do lbum Saturday Morning, seu registro mais recente, de 2013, com composies de sua autoria, alm de verses para msicas de Duke Ellington e Horace Silver.O Festival tambm traz pela primeira vez ao Brasil a sonoridade original e inovadora da big band Snarky Puppy, que mistura jazz, funk e blues. Liderado pelo baixista Michael League, o grupo uma das principais revelaes da msica instrumental contempornea e conta em seu line up com quatro tecladistas: Bobby Sparks, Shaun Martin, Cory Henry e Bill Laurence, alm do apoio do trumpetista Justin Stanton. Imperdvel!

    Jazz para todos os gostos

    Completam a lista, alm do cantor Bob McFerrin, o contrabaixista Dave Holland, o saxofonis-ta Kenny Garrett e o trompetista Chris Botti, com seus respectivos grupos. A edio paulista-na recebe ainda a pernambucana SpokFrevo Orquestra.Com patrocnio da BMW, o BMW Jazz Festival tem direo artstica de Monique Gardenberg, da Dueto Produes, e curadoria assinada em conjunto pelo jornalista Zuza Homem de Mello, o msico e produtor musical Z Nogueira e o produtor musical Pedro Albuquerque.

    Snarky Puppy: mix de estilos

  • 12 / MAIO 2014 teclas & afins

    Retrato

    O multi-instrumentista, arranjador e maestro Jether Garotti Jr.

  • MAIO 2014 / 13 teclas & afins

    Acompanhamento de classe

    Jether Garotti Junior e Zizi Possi: parceria duradouraConjunto de flautas-doce Guiomar Novaes: prmio APCA e primeiro cach

    Em meio estreia da turn do projeto Tudo Se Transformou, de Zizi Possi, Jether Garotti Jr. falou Teclas e Afins sobre carreira e msica.

    Pianista, tecladista, clarinetista, vocalista, sound designer, arranjador, orquestrador, produtor musical e compositor de trilhas sonoras. Esse Jether Garotti Jr., graduado em clarinete erudito pela Escola de Comuni-caes e Artes da USP (So Paulo) e mestre em msica popular brasileira pela UNICAMP (Campinas). Se no bastassem tantos ttulos, Garotti tem em seu portflio a parceria de 24 anos com a cantora Zizi Possi, de quem maestro arranjador e participou de 10 l-buns, incluindo os cultuados Per Amore, Pra Ingls ver.e ouvir e Puro Prazer. Criador e diretor musical de trilhas sonoras para dana, teatro, musicais - como Emoes Baratas e Mucho Corazon -, e filmes publici-

    trios para TV e rdio, participou como instru-mentista, arranjador e assistente de direo musical em projetos com Milton Nascimen-to, Nana Vasconcelos, Toquinho, Jane Duboc, Joo Bosco, Alcione, Ivan Lins, Edu Lobo, Ana Carolina, Luiza Possi, Faf de Belem, Eduar-do Dusek, Elizete Cardoso, Ney Matogrosso, Gonzaguinha, Flvio Venturini, Leila Pinhei-ro, Paula Lima, Rosa Maria, Dominguinhos, Paulinho da Viola, Toninho Ferragutti, Paulo Moska, Moraes Moreira, Cadu de Andade e Luzia Dvorek, entre outros. , tambm, ar-ranjador residente da Orquestra Sinfnica de Helipolis, que conta com direo artstica do maestro Isaak Karabtchevsky e adminis-trada pelo Instituto Baccarelli.

  • 14 / MAIO 2014 teclas & afins

    NA REDEComo foi sua formao musical?Comecei com o piano, por uma questo quase psicolgica. Tinha seis anos de idade e era o garoto mais alto e mais gordinho da turma, mas muito tmido. A a molecada par-tia pra cima, brincava e, por vezes, eu batia, mordia. Para a psicloga da escola eu tinha algum problema: est machucando as cri-anas. Vamos fazer um estudo psicolgico porque provavelmente ele vai precisar ir para a classe especial. A sala especial tinha pes-soas com sndrome de Down, deficincias etc. Eu estava quase indo para l. Antes que eu fosse, uma professora de msica olhou pra mim e disse que queria tentar uma ltima coi-sa. Me colocou na frente do piano, comeou a ver posio de mo, pediu licena a todos, fechou a porta e foi se ambientando comigo, sentindo como eu respondia aos estmulos. Depois, abriu a porta e deu seu veredito: esse menino no tem nada. Deixem ele comigo que vou cuidar dele. E foi assim que conheci Sophia Helena Freitas Guimares de Oliveira, uma grande professora que fazia trabalhos que, at hoje, fazem parte da memria de to-dos que passaram por ela, os que seguiram como msicos e os que no seguiram, e que fez com que ns aprendssemos msica de forma no didtica, mas com o corao. Ela in-dicava peas difceis, aprimorava a interpreta-o, os fraseados, desde os seis ou sete anos.

    Dois anos depois, eu j estava tocando piano, violo e flauta-doce e desenvolvendo todos os primeiros passos musicais, a teoria, va-lores, solfejo. Em 1979, entrei no conjunto de flautas-doce Guiomar Novaes, que ela administrava. ramos quase 30 flautas e, em 1981, ganhamos o prmio da APCA de melhor grupo instrumental erudito do ano. Foi praticamente ali que comeou minha carreira profissional, aos 13 anos, quando recebi meu primeiro cach.

    Conhecendo flauta-doce, violo e piano voc j pde ter uma boa ideia do universo que poderia usar em arranjo...Sim. Porque, quando voc lida com instru-mentos meldicos e harmnicos, voc per-cebe o foco de cada um e o que ele precisa ouvir do outro, ou seja: o que eu, como ins-trumento harmnico, preciso prestar aten-o no que o meldico faz, e descobrir como dar suporte, como dar o melhor embasa-mento harmnico para que ele faa a parte dele com segurana. E, como instrumento meldico, o que ele precisa do instrumento harmnico, onde o que ele est fazendo se encaixa na harmonia que o outro est apre-sentando. uma via de duas mos. E, se voc entender isso, sabe qual a necessidade e a importncia de cada um no contexto.

    Ela lhe deu o embasamento tcnico de piano? Chegou um momento em que tive que rom-per com ela porque ela queria que eu me Ensaio com Orquestra Helipolis e Paula Lima: popular na sinfnica

    retrato

  • MAIO 2014 / 15 teclas & afins

    memoria

    Acompanhador, arranjador, sideman, maestro: trajetria de sucesso com Zizi Possi

    mantivesse na linha do piano erudito. Eu no queria ser concertista. Eu queria apenas msi-ca popular no piano. Isso era claro desde o incio. Ento, aos 18 anos, um pouco antes de entrar na USP, fui a um conservatrio de msi-ca popular, na Pompeia, e tive aulas com a Ce-clia Gorini. Ela me mostrou o que so cifras, acompanhamentos, como se trata a msica popular, como se resolve a transcrio, no piano, de baio, samba, xote, toda essa gama de ritmos brasileiros. Isso foi em 1981. Quan-do vi uma transcrio do Curumim, do Csar Camargo Mariano, decidi: isso que eu gos-taria de estudar. essa forma de msica que eu queira tentar aprender. A partir da, ele se transformou em referncia para mim, pela maneira de acompanhar, de preencher, de comentar pianisticamente. O tratamento que ele d a essas coisas faz parte da minha forma-o. Passei pelo CLAM e pelo Espao Musical

    do (Ricardo) Breim. Ento, deixei o piano fora da USP e fui para o clarinete. Mas fazia coral, regncia de coral, arranjo, comeava a conhe-cer algumas coisas, experimentar. No Festival de Prados, mexamos muito com arranjos de hoje para amanh, uma forma funcional de ar-ranjo, que era, basicamente, o que acontecia na msica barroca mineira, ou seja: algum importante vir amanh tarde e precisamos ter uma msica na igreja. O que as pessoas fa-ziam? Compunham de hoje para amanh, en-saiavam e tocavam. L, comecei a experimen-tar arranjos modestos para sopros, para coro, para cordas. O maestro Adhemar (Campos Fi-lho) ensinava instrumentao de bandas, uma das matrias do festival. Lgico, que dvamos um jeito, entrvamos pela cozinha, pela janela, sentvamos l atrs para aprender um pouco com ele. Foi quando comecei a mexer com um pouco de instrumentao, textura e fraseado.

  • 16 / MAIO 2014 teclas & afins

    Como iniciou sua carreira de arranjador? Aconteceu quando entrei nos Heartbreakers, em 1987. O repertrio principal deles era Duke Ellington. Havia mais de 190 transcries dos arranjos originais. E aquela formao era ba-sicamente um grupo que se chamava Nou-velle Cuisine. Luca Raele, Maurcio (Tagliari), Fernando (Carlos Fernando Nogueira), eram a cozinha do Heartbreakers. Havia o Luiz Mace-do, que era o arranjador principal, o (Mrio) Carib e o Matias (Capovilla), que tambm fa-ziam arranjos. Ento comecei a entrar em con-tato com isso, no atravs do papel e da cane-ta, mas do software, diretamente do teclado, como advice de input, controlador, MIDI IN. Ali era o canal de entrada, e o computador era o papel. Quem tocava piano e clarinete era o Luca Raele. Quando iam sair para fazer o pri-meiro disco-solo, veio o convite dele: Jether, voc o nico cara que eu conheo que pode se dar bem, porque as partituras so todas para piano e clarinete, ou seja, intercalando um e outro. Foi quando comecei a me desli-

    gar do clarinete erudito, das sinfnicas jovens, do concerto, para entrar definitivamente na msica popular. E quando comeou um con-tato maior com o arranjo, mais por observao do que por experimentao. E comecei a lidar com softwares. At l eu escrevia muito pou-co e tinha pouca noo do que estava acon-tecendo. A partir do software, voc comea a ter certa segurana a mais: isso funciona, isso no, com pequenas excees. No fao parte da gerao de arranjo de papel e caneta. Que-ria muito ter feito, porque eles so imbatveis. Mas fao parte da gerao seguinte, que a do computador, do sequencer, da notao grfica, da impressora. No se vivia sem o computador e uma impressora. Se no tivesse isso, o arranjo no acontecia.

    Em relao ao piano, voc utiliza tanto acsti-cos quanto digitais. Quais as diferenas?O som acstico imbatvel, insubstituvel. Se voc colocar uma orquestra sinfnica tocando com um piano digital, vai sentir falta do cor-po harmnico do piano acstico, pois s ele consegue completar aquele contexto. Mas, se voc colocar um instrumento desse em outro contexto, como em um show ao vivo na praia, ele vai ser um mvel enorme completamente tratado para que nada mais entre nele ou vaze para os microfones. E vai ter um timbre magre-lo, ou um timbre que vai sofrer todas as inter-ferncias do meio. J no instrumento digital, voc sai com o LR em cabo estreo, completa-mente limpo, diretamente para a mesa. Ento, dependendo do lugar aonde se vai fazer o tra-balho, voc pode optar por um instrumento digital para manter as condies e a qualidade daquele timbre, ou por um instrumento acsti-co, para que as qualidades do timbre sejam realadas. Ou seja, cada um no seu lugar. Se voc optar sempre pelo acstico, corre o risco de, em certas circunstncias, no ter a mesma qualidade. E vice-versa.

    retrato

  • MAIO 2014 / 17 teclas & afins

    E h diferenas no toque?Eles apresentam possibilidades diferentes, porque voc est tratando com um martelo que bate em uma corda ou com um teclado que aciona um contato. preciso descobrir qual a sensibilidade de cada um, como em uma srie de pianos acsticos. No piano digital, com contato, o msico tem que en-contrar qual o range de interpretao. diferente da resposta do acstico. Mas no digital, ele pode adicionar timbres, pads, atmosferas, que, com o acstco, seria ne-cessrio fazer em uma ps-produo ou um overdubbing de gravao. Dependendo da proposta, se obtm melhores resultados sa-bendo fazer a escolha certa. Um no supera o outro, porque so dois tipos de tratamen-to completamente distintos que, por si s, so completos no contexto em que esto: o piano acstico em uma sala tratada, ou de

    Jether Garotti Jr. Instrumento preferido: gostaria de aprender a tocar bateria (rs)Instrumento inesquecvel: a orquestra sinfnicaInfluncias: Herbie Hancock, Cesar Camargo Mariano, Egberto Gismonti, Gilson Peranzzetta, Benny Goodman, Marcus MillerDisco preferido: As Falls Wichita, So Falls Wichita Falls, de Path Metheny, e Saudades do Brasil, de Nan VasconcelosMsica preferida: Close To Home, de Lyle Mays. Trabalho inesquecvel: Valsa Brasileira, com Zizi PossiSonho de consumo: um HD superpequeno em que coubessem 74 mil terabytes de sonsDescoberta: fazer msica para o outro, no para voc mesmoO que anda ouvindo: de tudoO que anda lendo: tratados de orquestraodolo: Professora Sophia Helena Freitas Guimares de Oliveira

    concerto, e o digital onde for preciso sair com LR completamente preservado.

    Falando da Zizi, que seu projeto de maior vi-sibilidade, como manter uma parceria musical de 24 anos produtiva e inovadora?Entendendo as necessidades dela como ar-tista, estabelecendo comunicao e respeito mtuo. Conseguimos atingir esse ponto. Mas, principalmente, entender o que necessrio e o que no na msica. Esse movimento acaba desembocando em se tornar um sideman. Ou seja, aquele que provm. Vamos fazer isso? Vamos fazer aquilo? Precisamos fazer uma extenso harmnica aqui, o que voc acha? Vamos fazer um arranjo, pensar em uma con-cepo?. Em 2001, me tornei maestro dela e assumi toda a concepo. A direo musical sempre dela. Mas penso como realizar, como tornar palpvel a concepo dela em matria

  • 18 / MAIO 2014 teclas & afins

    de msica? Como fazer isso acontecer? Sem-pre fiz esse papel de realizar as ideias.

    Em quais outros projetos est envolvido?O principal a Orquestra de Helipolis. Fui chamado, em 2006, como arranjador resi-dente e, de l at hoje, sou responsvel pela concepo e os arranjos de todos os projetos com msica popular e com participaes de artistas populares. Por l j passaram Ivan Lins, Joo Bosco, Paula Lima, a prpria Zizi Possi, Moraes Moreira, Guilherme Arantes, Lenine, vrios artistas. Toda vez que eles trazem o re-pertrio deles, meu trabalho adaptar aqui-lo para formao especificamente sinfnica, sem instrumentos populares. A proposta justamente fazer que o corpo sinfnico soe para a msica popular. Ento, muitas vezes, figuras ritmadas brasileiras, sncopas, suin-gues, so um desafio para os msicos. Eles

    tem formao rtmica muito mais voltada para a viso europeia do instrumento. E esse desafio muito interessante. Mas eles no se acomodam. Muitas vezes necessrio dizer: pare de ler, sinta o samba, o suingue... mui-to interessante v-los desligarem uma chave e ligarem outra para entenderem a msica de forma diferente. Tambem fao produo de jingles e trilhas. algo que sempre me chamou muito a ateno: musicar imagens, criar trilhas sonoras para movimento e para dana. No sou grande improvisador e no gosto de improvisar. J tentei ser jazzista, mas percebi que no a minha praia. Minha praia fazer msica para alguma coisa, no msica por msica, para mim. Tanto que at hoje no me interessei em fazer projetos au-torais. Gosto mais de fazer msica para a es-pecfica necessidade que se apresenta, ou seja, torn-la til.

  • MAIO 2014 / 19 teclas & afins

    No ano passado, a Yamaha me fez um convite

    formal para que eu fizesse parte do quadro de endorsers do piano digital CP4 Stage. Eu tinha uma parceria de muitos anos com ou-tra marca e teria que analisar at que ponto seria interessante deixar isso para assinar contrato com uma empresa com que, at ento, eu havia tido pouco contato. Conver-samos e discutimos quais as possibilidades. Fomos convidados, o Ivan Lins, o Guilherme Arantes e eu, para lanar esse piano. Inclu-sive, como j trabalhei com os dois e sei de que forma cada um toca, sei que temos muitas afinidades. Ento, estou assinando um contrato de 3 anos com a Yamaha repre-sentando o CP4 Stage e o Motif XF8. Uso o Logic Pro X no Mac para produo musical e o Finale 2014 para edio de par-tituras. De certa forma, a evoluo dos soft-wares e dos computadores os tornaram mais estveis, ou seja, voc pode confiar mais neles, lev-los para o palco para fazer parte de suas performances ao vivo. Anti-gamente, corria-se o risco de alguma coisa simplesmente parar. Hoje no. A segurana muito maior. Por exemplo,

    uso um PowerBook no palco, disparando alguns timbres e no uso mais placa de u-dio. Levo um cabo P2 da sada de fones de ouvido para a mesa, com qualidade. Tam-bm uso um programa para iPad chamado forScore, em que so salvas todas as parti-turas em formato PDF. Isso vira um banco de arquivos, com os shows, as partituras, as verses das partituras. Por exemplo, voc faz um ensaio da mesma msica para duas for-maes, dois trabalhos diferentes, e faz anota-es. Salva essas anota-es e envia por e-mail, abre para os amigos, distribui via Bluetooth para outros iPads... E voc no precisa mais de tanta luz no pal-co. Depois, voc tem isso como backup em vrios lugares, no Dropbox, no seu com-putador, no iPad. E est sempre com tudo mo. No PowerBook, uso o Mainstream, da Apple, que faz parte do pacote Logic. um programa especificamente desenhado

    para performances ao vivo, que usa todos os recursos do Logic mas o torna mais gil utilizando apenas a parte de instrumentos visuais e efei-tos, sem produo musical, partituras etc.

    SETUPJether Garotti Jr.

  • 20 / maio 2014 teclas & afins

    VITRINE

    MEDELI MC49AEquipo www.equipo.com.br/medeli

    O teclado arranjador MC49A, da Medeli, possui 49 teclas, 132 sons, 100 variaes de ritmos com controles de acompanhamento, 80 melodias e 5 kits percussivos com simulaes de peas de bateria. A polifonia de 32 notas. O equipamento ainda oferece metrnomo incorporado e funes DSP, Sustain e Modulation. O conjunto de conexes traz sada para caixa amplificada/fone de ouvido, entrada para microfone e entrada USB (MIDI in-out) para comunicao com outros equipamentos.

    WALDMAN StylishGrand 88 USB (SYG 88 USB)Waldman Music - www.waldman-music.com

    O piano digital StylishGrand 88 USB, da Waldman, possui 88 teclas padro de piano com resposta ao toque e ao de martelos, 163 tipos de sons com funo de ajuste de sonoridade, nove grupos de percusso e um conjunto de efeitos sonoros. Os 100 estilos de acompanhamento possuem cada um sua prpria introduo e o instrumento oferece efeitos digitais como reverb e chorus, alm do modo Minus Channel e as funo Repeated Playback e Song Recording, para gravar uma pista de acompanhamento e cinco pistas de melodia. Interfaces USB e MIDI, e Memory Bank de 8 ajustes completam o modelo.

    Toque nos produtos para acessar vdeos, informaes e muito mais!

  • maio 2014 / 21 teclas & afins

    VITRINE

    O modelo MP7, da Kawai, traz 256 notas de polifonia, 256 sons, 256 User Setups e 256 User Memories, com 4 zonas internas e externas, possibilitando seu uso como um eficiente controler MIDI, e o recurso Virtual Technician. A tecnologia Harmonic Imaging XL proporciona timbres de pianos acsticos e eltricos vintage, alm do rgo tonewheel clssico. O teclado conta com o novo mecanismo RH2, com recurso let-off (escape), teclas de madeira e superfcie de marfim sinttico. Com o recurso USB Audio, o instrumento capaz de reproduzir e gravar arquivos MP3 e WAV.

    KAWAI MP7Kawai - www.fritzdobbert.com.br

    O piano digital porttil ES100, da Kawai, combina teclado de 88 teclas com ao de martelo (AHAIV-F) tecnologia Harmonic Imaging, que oferece sampleamento nota a nota e resposta autntica de piano de cauda, a custo mais baixo que os outros modelos da linha. Compacto e leve (apenas 15kg), traz 19 sons, incluindo oito de piano acstico, 192 notas de polifonia, modos Dual e Split, metrnomo, 100 acompanhamentos de bateria, lies para estudo, sistema de alto-falantes estreo e capacidade de Damper com meio pedal. Alm disso, pode vir acompanhado opcionalmente de estante e pedaleira de trs pedais.

    KAWAI ES100 Kawai - www.fritzdobbert.com.br

  • 22 / maio 2014 teclas & afins

    VITRINE

    O Pa300, o mais recente teclado da srie Pa da Korg, conta com a tecnologia Enhanced RX (Real eXperience),

    memria PCM interna equivalente a do Pa600, display TFT TouchView colorido de 5 e

    interface grfica fcil e intuitiva com funo de busca. Mais de 310 Estilos, cada um com trs

    Intro/Endings, quatro Variations e quatro Fill In + Break, oito

    Favorites e trs bancos User para armazenamento esto disponveis

    para o tecladista, alm de conjunto de sons GM aprimorado para Standard MIDI

    Files, player de MP3 com Transpose e Tempo Change e compatibilidade com formatos

    populares de Lyrics. Quatro Master Effects em estreo (125 algoritmos de efeito), Modo

    Guitar 2 aprimorado e banco de dados SongBook completamente programvel facilitam e aprimoram

    a performance.

    KORG Pa300Pride Music www.korg.com.br

    O piano de palco Forte, de 88 teclas, da Kurzweil, oferece a nova tecnologia Flash- Play com 16 GB de sons e carregamento instantneo, sem tempo de espera. Com multitimbralidade de 16 partes, teclado pesado com ao de martelo (Fatar TP/40L) e sensibilidade velocidade e aftertouch, o modelo possui uma grande tela LCD para facilitar ajustes e configuraes. Oproduto ainda no est disponvel no Brasil.

    KURZWEIL ForteKurzweil www.kurzweil.com

  • maio 2014 / 23 teclas & afins

    VITRINE

    KORG KROSSPride Music www.korg.com.br

    O workstation KROSS, da Korg, apresenta corpo leve de apenas 4,3 kg (61 teclas) ou 12,4 kg (88 teclas). O sistema EDS-i (Enhanced Definition Synthesis-integrated) oferece aproximadamente 112 MB de memria Preset PCM, 421 multisamples (incluindo 6 multi-samples em estreo) e 890 drumsamples (incluindo 49 samples em estreo), com polifonia mxima de 80 vozes e sete efeitos disponveis para uso simultneo. O equipamento ainda traz Step sequencer derivado da srie Electribe, sequencer de 16 pistas, drum track, e arpeggiator, alm da funo Quick Layer/Split para versatilidade em tempo real e gravador de udio estreo que permite gravar performances e vocais. Conecta-se com o computador via USB para integrao como plug-in em um DAW. A alimentao de energia pode ser feita por 6 pilhas AA.

    YAMAHA U1TA Yamaha Musical www.yamaha.com.br

    O novo piano U1TA, da Yamaha, carrega a tecnologia TransAcoustic que, basicamente,

    transforma a tbua harmnica em uma espcie de alto-falante. Isso significa que

    qualquer som pode ser emitido atravs deste componente naturalmente ressonante

    do piano. Utilizando um mecanismo semelhante ao da Silent Series, possvel

    impedir que os martelos golpeiem as cordas e, em vez disso, o instrumento reproduza

    amostras digitais, sem a necessidade de fones de ouvido ou amplificao.

  • 24 / maio 2014 teclas & afins

    VITRINE

    ROLAND FA-06 / FA-08Roland Brasil www.roland.com.br

    A nova srie FA da Roland apresenta os modelos FA-06, com 61 teclas sensveis velocidade, e FA-08, com teclado Ivory Feel-G de 88 notas. Ambos os modelos trazem mais de 2.000 sons do INTEGRA-7, incluindo tons de sintetizador e tons acsticos e de bateria SuperNATURAL, e so compatveis com a coleo expansvel de tons de sintetizadores dessa linha. O sequen-

    ciador de 16 pistas oferece grava-o contnua em ciclo, exportao

    das pistas sequenciadas para um carto SDHC no formato de mix estreo ou dados MIDI multipistas. O sampler incor-

    porado - baseado nas funciona-lidades do SP-404SX - possui 16 al-

    mofadas e quatro bancos, alm de gravao/reproduo direta de

    cartes SDHC. Funes D-Beam, Rhythm Pattern, Arpeggiator e Chord Memory, alm de 16

    motores MFX independentes, seis pro-cessadores COMP+EQ para bateria, TFX (efeitos to-

    tais) exclusivo e equalizao, chorus e reverb globais, alm de porta USB, completam o equipamento.

    ROLAND AIRARoland Brasil www.roland.com.br

  • maio 2014 / 25 teclas & afins

    VITRINE

    ROLAND RD-800Roland Brasil www.roland.com.br

    O piano de palco RD-800, da Roland, oferece uma ampla gama de timbres produzidos pela tecnologia SuperNATURAL, incluindo um novo tom Concert Grand derivado do V-Piano Grand, sons de pianos verticais e eltricos, alm de clavinet com toque e som vintage. Mais de 1.100 sons adicionais so fornecidos para maior versatilidade, incluindo rgos de Virtual Tone Wheel, teclados vintage, sintetizadores modernos e outros. O teclado possui mecanismo PHA-4 Concert Keyboard com Escapement e Ebony/Ivory Feel com deteco de toque. Entre os recursos, o modelo oferece sobreposio de tons, ponto de diviso do teclado, controles dedicados para a seleo de Live Sets, nveis das partes, equalizador de cinco bandas, efeitos de Modulao, Tremolo, Simulador de Amplificador e boto Tone Color, que permite uma manipulao sonora complexa em tempo real utilizando um s boto. Tambm esto disponveis gravao/reproduo de msicas em formato WAV e cpia de segurana da memria atravs de uma memria flash USB opcional.

    A Linha Aira, da Roland formada por uma srie de ferramentas digitais que utilizam modelos complexos para obter sons clssicos. O lanamento inicial inclui uma bateria eletrnica baseada nas 808 e 909 (TR-8 Rhythm Performer), um sintetizador baseado no clssico TB-303 (TB-3 Touch Baseline), um vocoder (VT-3 Voice Transformer) e um sintetizador (System 1: Plug-Out Synthesizer). A linha Aira conta com uma interface para computadores, mas foi criada para no depender de softwares. A Roland projetou um algoritmo que modela o comportamento dos 808 e 909 originais no capacitor. Desta forma, o som da bateria varia dependendo de como o padro construdo usa energia. H tambm a ferramenta chamada Scatter, uma coleo de 10 efeitos com intensidade variada, feitos para imitar alguns dos clssicos de ps-produo adicionados pelos produtores musicais. O System-1 um sintetizador com dois osciladores capaz de toques monofnicos ou polifnicos de at quatro vozes. O recurso Plug-Out permite mudar entre o modo padro do System-1 ou algum carregado do computador.

  • 26 / MAIO 2014 teclas & afins

    Mrcio Buzelin: identidade sonora a servio do pop

    materia de capa

  • MAIO 2014 / 27 teclas & afins

    Em busca do timbre perfeitos vsperas da estreia da turn Funky Funky Boom Boom, Mrcio Buzelin fala sobre timbres, equipamentos e o trabalho de arranjo das msicas do lbum e do show

    Considerada por muitos a banda brasileira de maior destaque no cenrio pop dos ltimos anos, o Jota Quest tem como influncia marcante a black music dos anos 70. No mais recente trabalho, Funky Funky Boom Boom, as origens retornam de maneira mais evidente, abrindo campo para timbres caractersticos da poca ao lado de experincias sonoras mpares. Produzido pelo norte-americano Jerry Barnes - conhecido por trabalhos com Chic, Aretha Franklin e Stevie Wonder, entre outros - e gravado no estdio Minrio de Ferro, o lbum traz quatorze msicas inditas que reafirmam o groove como fio condutor da mistura peculiar de black music, pop e rock da banda mineira.

    No toa, o tecladista Mrcio Buzelin quem comanda a parafernlia de sintetiza-dores e teclados incumbida de imprimir essa sonoridade ao grupo. Alm de cria-dor de timbres e perseguidor da sonori-dade perfeita, o msico colecionador de teclados - todos utilizados de acordo com a necessidade do Jota Quest - e tem em seu acervo raridades como o ARP-2600 e o Farfisa VIP 345. s vsperas da estreia do novo show - que promete transformar as casas de espetculos em bailes black -, Buzelin contou sobre a escolha de equipamentos, o desenvolvimento de timbres para o lbum e como traduz as sonoridades para a estrada.

    Rica

    rdo M

    uniz

  • 28 / MAIO 2014 teclas & afins

    NA REDE

    marcio buzelin

    Vocs gravaram o Funky Funky Boom Boom no Minrio de Ferro? l que fica sua coleo de teclados? H vrios teclados no Minrio de Ferro, mas minha coleo fica em casa. Esses teclados so muito frgeis e no bom ficar levando para todo lado. Ento, eles ficam parados, no meu apartamento. Tenho um home studio e gravo praticamente tudo l. Fiz um estdio com todos os teclados interligados. Fazemos arranjos usando o timbre e a caracterstica que cada um tem. uma diverso.

    Como funciona a escolha tanto de equipa-mentos quanto de timbres e sonoridades para os CDs e os shows? Voc tem auxiliares ou faz tudo sozinho?Em relao aos arranjos, sempre tive a caracterstica de fazer as coisas sozinho. Fico mais vontade. E esse at foi um dos motivos que eu coloquei o MOTU no home studio. Gosto de gravar na hora em que tenho vontade. A escolha dos modelos e timbres muito intuitiva. Como j brinquei muito com eles todos, quando comeo a ouvir a msica, seja ela gravada ou tocada no estdio com a banda, imediatamente j me vem a ideia do teclado que eu acho que vai combinar. E h certos CDs que levam para determinado caminho, em que eu utilizo mais alguns teclados que outros. Neste ltimo, Funky Funky Boom Boom, usei muitos sintetizadores dos anos 70, os Moogs e os Roland da dcada de 1980. Alm disso, piano e os eletromecnicos tipo Rhodes. O som estava gerando essa caracterstica dos 80, do groove...Eu, imediatamente, ia ali. A ideia puxava para aqueles teclados, como o Roland JX-8P e o SH-101, que uso para dobrar os baixos. O Rogrio (Flausino, vocalista da banda) me apresentou o pessoal que hoje trabalha comigo. Na poca em que o Daft Punk veio para o Brasil fazer uma turn, eu estava no camarote, assistindo o

    show e no consegui ver os teclados direito, porque chegamos em cima da hora. Junto da gente estavam uns caras, umas figuras muito curiosas. Eu estava impressionado com aquilo tudo e na hora pensei alto: meu Deus do Cu, quantos osciladores esses caras esto usando nesse timbre?. A o cara do lado falou: tem seis. Como que pode, que teclado esse com seis osciladores?, comentei. E ele respondeu: eles usam quatro do Moog Voyager linkados com isso e aquilo.... Pensei, gente, quem esse cara? Tem mais um maluco aqui. Conversando com ele, descobri que tinham um projeto de produo de msica eletrnica chamado Click Box, muito conceituado (Marco AS e Pedro Turra). Os caras so meio sound designers, coisa assim, um negcio bem maluco. Convidei os dois

  • MAIO 2014 / 29 teclas & afins

    marcio buzelin

    para irem minha casa. Conversando com o cara, saquei que ele entendia muito, bem mais do que eu. Sou muito curioso, gosto de mexer, mas esses caras entendem do negcio a fundo. Trouxe os dois a Belo Horizonte, na poca de produo do La Plata. Eles so de So Paulo e ficaram indo e voltando para Minas durante 7 meses. E foi uma diverso. Fizemos 15 msicas. Algumas delas foram para o Funky, outras entraram no La Plata. E o Rogrio participou muito da criao. Esses so os caras que me ajudam. Com o passar dos anos, a gente tem uma tendncia a se repetir, em tudo. E no caso dos teclados, eu estava comeando a repetir o padro de arranjo e de timbres. Eu precisava de uma pessoa que pensasse completamente diferente de mim. E nada mais divertido que chamar sound designers que fazem msica eletrnica bem conceituada. Trabalhamos muito juntos na pr-produo. Vamos l para casa, apresento as ideias, toco a msica no piano ou nos teclados, eles corrompem tudo, passam pra dentro do computador, misturam com DSPs, a gente

    mistura com analgico, no tem regra. Isso vai formando uma identidade interessante. uma mistura de pontos de vista dentro do mesmo instrumento. Eles so parceiros com quem eu gosto muito de trabalhar. Depois, claro, desenvolvemos, com a banda. Deixo a opo bem coerente com aquilo que estou pensando e isso fica completamente livre para a banda interferir, editar, tirar. Nos ltimos trs CDs, os produtores aprovaram muito os arranjos que eu tinha feito. A interveno deles em termos de arranjo de teclados foi menor. Inclusive, o PJ (baixista) e o Paulinho (Fonseca, baterista) so muito curiosos em relao a equipamentos eletrnicos. s vezes, at eles fazem alguns arranjos de teclado, que adoro. Amo interveno.

    O Funky Funky Boom Boom tem essa carac-terstica forte de black music, de grooves e os vintages caem bem. Mas como faz para levar os teclados para a estrada?No tem condio. Para a estrada eu tenho um setup em que eu tento pegar alguns timbres

    Rica

    rdo M

    uniz

  • 30 / MAIO 2014 teclas & afins

    marcio buzelin

    e samplear. Os principais eu vou tocando e outros, por que eu no consigo tocar todos, deixo no Live. Geralmente, tento refazer o timbre dos vintage nos teclados atuais. Houve uma poca em que isso era muito difcil, porque os equipamentos eram mais limitados. Hoje, j possvel chegar perto. Claro que no a mesma coisa dos antigos. O que tenho levado no palco o Roland SH-101, que tem oitavador e eu dobro os baixos, e o Yamaha CS-10, que uma analgico bem antigo. Estou usando o simulador de Hammond VK-88 da Roland, o Yamaha Motif, j em fase de migrao, o Gaia, com que fao uns baixos e uns pads, o JP-8080, que tambm vou migrar, e o Roland VP770, Vocoder que usei bastante. Na hora de transformar o que foi gravado no CD para o ao vivo, um trabalho novo. Com o Aira, lanado agora, voc pode programar no computador todo o sistema de DSP do SH-101 e do System-100 modular, que usei muito nesse CD. Voc fala dentro dele, vai pra dentro da memria, ou seja, voc fica com o

    hardware simulando tal timbre. Assim que o modelo chegar ao Brasil vou colocar no setup tambm. Como foi a produo de Jerry Barnes e Nile Rodgers no Funky Funky Boom Boom? Isso mrito do PJ. Tocamos em um evento de um patrocinador nosso, junto com o Chic. O Chic foi uma influncia enorme para a banda quando ela comeou. L estava o Nile Rogers, que um cone, e o PJ foi conversar com o baixista. Ficou amigo do Jerry. Sabia que ele era produtor musical do Chic, que tocou com Stevie Wonder, Chaka Khan, Sting... E convi-dou, sem compromisso: vamos ao estdio produzir uma msica ou duas. Mas foi uma sinergia to boa que fez um link com o incio da banda. O cara tem know how pra caram-ba. Para um produtor dar um direcionamento a uma banda de quase 20 anos, tem que ter uma moral. E chegou o cara l... O cara! Ele ou-viu as nossas prs e algumas sobras de estdio que tnhamos do passar desse anos e falou:

    Jota Quest: Rogrio Flausino, Mrcio Buzelin, Marco Tlio Lara, PJ e Paulinho Fonseca

    Mur

    cio N

    ahas

  • MAIO 2014 / 31 teclas & afins

    marcio buzelin

    isso, isso, isso, vamos tocar juntos. Somos uma banda que faz muito show, ento tocar-mos juntos no estdio d outro vigor, acerta as velocidades, muda a estrutura da msica, voc sente ela no sangue. menos pragmti-co do que uma programao dentro de uma pr no Pro Tools. Isso fez muita diferena. Foi uma parceria que deu muito certo. Muitos ar-ranjos eu fazia e mostrava para ele, ele nem modificava ou pedia faz um piano, faz isso.... A grande maioria do que fizemos ele gostou muito. Foi muito bom. Acho que a participa-o dele, alm do astral da banda ter ficado muito bom e pela sinergia, contribuiu para a qualidade, porque mixamos l fora e maste-rizamos l fora. Isso renovou a banda.

    A gravao de playbacks no engessa a performance se a ideia do show ser mais danante?Acho que no. A ferramenta est ali para te ajudar a viabilizar o que voc quer. Ensaiamos muito at chegar ao formato que acredita-mos que seja bom. Por exemplo, lanamos o

    Funky e s depois de cinco meses iniciamos a turn. Nesse meio tempo, testamos muita coi-sa ao vivo. Tem coisas que a gente acha que vo funcionar e no funcionam. Outras sur-preendem. Chamamos o Baby Blue, o produ-tor DJ do Chris Brown, que ajudou a montar esse espetculo, que diferente de msicas colocadas para tocar. Hoje, temos trs shows diferentes, mas nos de lanamento, que so os grandes, temos uma sequncia. O Paulinho muito tecnolgico. Ele sempre tocou com click e usou muito loop. Ento, temos essa caracterstica de tocar determinadas msicas com auxlio da tecnologia. J outras vo com-pletamente cruas.

    Como isso funciona com o pessoal que est tocando com vocs agora, como os backing vocals e os metais do Funk Como Le Gusta? Eles tem alguma dificuldade?Sinceramente, acho que eles nem percebem, porque j estamos bem organizados, bem di-recionados, desde o incio da banda. O dia em que eu cheguei de Braslia, estavam o Marco

    Na estrada: setup turbinado para reproduzir timbres do disco

    Rica

    rdo M

    uniz

  • 32 / MAIO 2014 teclas & afins

    marcio buzelin

    Como foi sua formao musical?Comecei com piano. Minha famlia tinha maes-tro, cantor, professor de msica. O dia em que o piano chegou l em casa, em Braslia, eu brin-cava tanto com ele que minha mo resolveu me colocar na aula para brincar com musicalidade. Comecei com uma professora particular em Bra-slia e em Belo Horizonte, quando mudei. Depois, fiz um teste na antiga FUMA - Fundao Univer-sidade Multiarte e passei. Mas no consegui me identificar com o erudito, apesar de ser comple-tamente apaixonado por msica erudita. Eu era adolescente. Naquela poca do Rock In Rio, eu queria mesmo era ter uma banda. Esse era meu sonho. Estvamos naquele boom do pop-rock nacional e um amigo me viu brincando no pia-no da sala de provas e me convidou para entrar na banda dele. Eu tinha 15 anos e falei: quero, s no tenho teclado. Consegui um Casiotone MT 68 e fui tocar com os caras. Depois conse-gui, com muito custo, um Juno-106. Isso mudou minha vida. Eu passava noites mexendo nos timbres. Ento, aprendi de forma emprica. No tinha informao alguma sobre isso, mas fui me desenvolvendo nesse gosto de fazer timbres. H muita diferena entre voc pegar um tecla-do, digital ou analgico, independentemente da tecnologia, se aventurar no mundo dele e ir mexendo nos timbres para fazer algo que tenha sua identidade.

    Rica

    rdo M

    uniz

    Tlio (guitarrista), o Paulinho e o PJ tocando, em cima de um sequencer do W30. O Pau-linho ouvindo o click de uma sada do equi-pamento. Do W30 saam umas percusses, uns metais... Quem programou isso? O Pau-linho. uma caracterstica da banda!

    Como v a questo do endorsement?Nunca fui endorser de marca alguma. Sem-pre quis usar os teclados de que gosto. Mas um dia o Sr. Takao Shirahata, da Roland, esteve no estdio para conversar com o Paulinho sobre umas baterias eletrnicas que eles estavam lanando. Eu nem sabia quem ele era, apenas que era da empresa. Comecei a conversar com ele sobre minha coleo de teclados, falei do que eu acha-va da tima fase da Roland na dcada de 1980, da poca mais deficiente, a volta, os teclados de que eu gosto, os vocoder... Falei tudo que eu pensava . Uma semana depois ele enviou sete teclados para o es-tdio. Nunca ganhei um presente desses. Coincidentemente so os teclados que eu mais tenho usado e isso estava acontecen-do mesmo antes dessa parceira. Liguei para o Sr. Takao e ouvi dele: quero sua opinio, quero que voc use. E seu compromisso comigo nenhum. Imediatamente colo-quei o nome da Roland no CD.

  • MAIO 2014 / 33 teclas & afins

    SETUP A coleo de instrumentos de Mrcio Buzelin possui alguns exemplares raros, principalmente no Brasil, e uma ampla gama de sonoridades para atender aos mais diversos fins.

    Arp 2600 - Clavinet C - Crumar Bit 01 - David Smith Mofo - Emu Emax - Emulator IEmulator II - Emulator III - Ensoniq ASR 10 - Farfisa VIP 345 - Hammond B3 com Leslie 147

    Korg MS-10 - Korg PS-3100 - Kurzweil K2500RS - Memorymoog - PolymoogMoog Liberation - Moog Voyager - Oberheim 4voice - Oberheim Matrix6

    Oberheim OBXA - Open Labs Neko - Piano Yamaha C3 - Piano Yamaha CP 70Quasimidi Rave-on-lution - Quasimidi Sirius - Rhodes Suitcase 88 - Roland Integra 7

    Roland JP-8000 - Roland JP-8080 - Roland Juno-106 - Roland Juno-60 - Roland JupiterRoland JX-8P - Roland MKS-80 - Roland SH-01 - Roland SH-05 - Roland SH-10

    Roland SH-101 - Roland System 100 - Roland VK-88 - Roland DVP 1 - Roland VP-770Studio Eletronics SE01 - Waldorf Q - Wurlitzer 200A - Wurlitzer 206A - Yamaha 40MYamaha A3000 - Yamaha CS-10 - Yamaha CS-15 - Yamaha CS-15D - Yamaha CS-30

    Yamaha Motif XF

  • 34 / MAIO 2014 teclas & afins

    memoria

    Robert Moog e sua lendria inveno

    Baseado nos instrumentos modulares, o Minimoog considerado o

    primeiro sintetizador desenvolvido especificamente para msicos

  • MAIO 2014 / 35 teclas & afins

    SONORIDADE REVOLUCIONRIAO Minimoog um sintetizador analgico monofnico de 44 teclas e prioridade para a ltima nota tocada, desenvolvido por Bill Hemsath e Robert Moog. Foi lanado em 1970 pela R.A. Moog Inc. (Moog Musicdepois de 1972) e produzido at 1981.Redesenhado por Robert Moog, foi relanado em 2002 com o nome Minimoog Voyager. Antes do surgimento do Minimoog, os sintetizadores modulares MOOG eram produzidos apenas por encomenda e demandavam grande conhecimento tcnico para serem manuseados e produzirem sons. Eram caros, complicados e delicados, com as conexes entre os mdulos feitas por cabos. Por esses motivos, dificilmente eram levados para a estrada. O Minimoog foi concebido em resposta ao uso de sintetizadores na msica

    rock e pop. Nasceu do conceito de incluir as partes mais importantes de um sintetizador modular em um pacote compacto, sem a necessidade de cabos de conexo. A inteno era permitir aos msicos levar a mesma sonoridade dos grandes modulares para seus shows e, alm de tocar, programar novos timbres rapidamente em tempo real. Com o passar do tempo e a aceitao dos msicos, o Minimoog tornou-se um instrumento distinto e icnico, e o primeiro sintetizador a figurar nas prateleiras das lojas. O nico modelo de Minimoog efetivamente produzido foi o modelo D, com alteraes em relao ao Modular Moog e seus predecessores (A, B e C, logicamente), mas com as mesmas caractersticas bsicas. Apesar de seu design ter impactado a indstria e o

  • 36 / MAIO 2014 teclas & afins

    Rick WakemanThe Six Wives of Henry VIII

    Journey to the Centre of the EarthThe Myths and Legends of King Arthur and the Knights of

    the Round TableWhite Rock

    No Earthly Connection ELP (Keith Emerson)

    Lucky Man Pictures at an Exhibition

    Kraftwerk Neon Light

    Autobahn Rush (Geddy Lee)

    Tom Sawyer Yes (Patrick Moraz)

    Relayer Pink Floyd (Rick Wright)

    AnimalsPhil Collins

    SussudioElectric Light Orchestra

    On the Third Day

    Para ouvirdesign de todos os sintetizadores criados depois dele, o Minimoog deve sua fama aos excelentes timbres analgicos que consegue produzir e ao melhor filtro j instalado em um sintetizador (passa-baixa de 4 polos de 24 dB por oitava, com controles de corte e ressonncia, e envelope ADS, alm de tracking de teclado).Sua configurao de cabeamento interno e seu layout definiram a configurao geral de sintetizadores por dcadas. Cada parmetro ajustvel estava to claramente definido no painel que o Minimoog se tornou uma excelente ferramenta para todos os interessados em sntese subtrativa clssica. O sintetizador oferecia ainda um gerador de tom em 440 Hertz para auxiliar na afinao dos osciladores, j que, como todo instrumento analgico, a afinao poderia oscilar dependendo da corrente eltrica e da temperatura do equipamento. O equipamento possui tambm entrada de udio para processar sons externos em seus circuitos. O painel de controle pode ser levantado ou abaixado, conforme a convenincia do msico. Outra grande inovao foi a adio dos controles de modulao e pitch por meio de rodas Modulation Wheel e Pitch Bend Wheel - utilizados at hoje.

    Rick Wakeman e seu bom e velho Minimoog: esquerda, na dcada de 1970, no set de gravao de The Six Wives of Henry VIII, e direita, em 2009, durante o show The Six Wives of Henry VIII - Live at Hampton Court Palace.

    memoria

  • Conhea nossa linha completa de pianos no site.

    www.piano.com.br

  • GERAO SONORABasicamente, o painel do controle do Minimoog pode ser dividido em trs sees: os geradores de sinal (trs osciladores controlados por voltagem VCO alm de rudos rosa e branco), o filtro (controlado por voltagem - VCF) e o amplificador (controlado por voltagem - VCA). Para produzir um som, o msico deve primeiramente escolher as formas de onda (entre triangular, dente-de serra, quadrada e dois diferentes tamanhos de onda pulso) ou rudo (branco ou rosa) a ser gerado pelo VCO. O sinal ento roteado para

    o VCA, onde seu contorno desenhado por um gerador de envelope ADS (Attack, Decay/Release, Sustain) dedicado. O filtro (VCF) e o amplificador (VCA) possuem geradores de envelope ADSD (Attack-Decay-Sustain-Decay) independentes. A sada do terceiro oscilador ou gerador de rudo pode ser roteada para controlar a entrada de voltage dos filtros ou osciladores. A quantidade de modulao de afinao ou filtro controlada pela roda de modulao (modulation wheel). Dessa forma, frequentemente usado para controlar a afinao (modulao do oscilador)

    memoria

  • MAIO 2014 / 39 teclas & afins

    SUCESSO IMEDIATOA estreia do Minimoog nos palcos foi na turn dos shows Pictures at an Exhibition, da banda inglesa Emerson, Lake & Palmer. O tecladista Keith Emerson foi o primeiro msico a excursionar com esse instrumento, em 1970. Vrias das tcnicas fundamentais do uso do pitch-bend foram desenvolvidas por ele e muito tecladistas apren-deram como usar o novo recurso seguindo seu exemplo.

    ou o contedo harmnico (modulao da frequncia de corte do filtro). Graas a essa configurao o Minimoog responsvel por alguns dos melhores e mais ricos timbres analgicos de sintetizadores, baixos e leads da histria da msica.

    INCIO DE UMA NOVA ERAO Minimoog Modelo D foi redesenhado extraoficialmente por vrias vezes durante a dcada de 1990 at que foi reproduzido pela Moog Synthesizers com recursos novos e atualizados, como o sistema MIDI. Mas foi apenas em 2002 que o novo Minimoog oficial foi apresentado por Robert Moog com o nome de Voyager, abrindo as portas para uma nova safra de equipamentos produzidos pela Moog Music. Alm desses, outros equipamentos buscam reviver a histria e a sonoridade deste que um dos maiores clssicos da indstria de instrumentos musicais, como o Studio ElectronicsMidimoog, o Studio ElectronicsSE-1, o plug-in VST Steinbergs Model-E e o ArturiasMinimoog V.

    memoria Conhea as publicaes da

    www.editorasomearte.com.brContato: [email protected]

    Visite nosso site para conhecer melhor os 3 Mtodos e os 3 Repertrios

    SOM & ARTEE D I T O R A

    INICIAO AO PIANO POPULAR Volumes 1 e 2

    LANAMENTOInditos na rea do piano popular, so livros dirigidos a adultos ou crianas que queiram iniciar seus estudos de piano de forma agradvel e consistente.

    MTODO DE ARRANJO PARA PIANO POPULAR

    Volumes 1, 2 e 3

    Ensinam o aluno a criar seus prprios arranjos.

    Trazem 14 arranjos prontos em cada volume para desenvolvimento da leitura das duas claves (Sol e F) e anlise dos arranjos.

    REPERTRIO PARA PIANO POPULAR

    Volumes 1, 2 e 3

  • 40 / maio 2014 teclas & afins

    SINTESE POR ELOY FRITSCH

    Oscilador de Baixa Frequncia

    O LFO (Low Frequency Oscillator) gera uma forma de onda com frequncia abaixo da capacidade de audio. Em sin-tetizadores analgicos, usado somente como fonte de controle de voltagem. Um sintetizador pode ter dois ou mais LFOs. O LFO modi-fica o sinal de udio em outras unidades de sntese como osciladores (VCO), filtros (VCF) e amplificadores (VCA). Uma unidade de sntese LFO possibilita a seleo de frequncia e forma de onda que sero utilizadas para modificar o sinal audvel. Quando se seleciona a forma de onda senoidal no mdulo LFO, por exemplo, e se liga o sinal resultante em um mdulo VCO (oscilador), a frequncia de udio do VCO comear a alternar para cima e para baixo de acordo com a faixa de frequncias do LFO. Essa flutuao peridica de uma frequncia de udio na faixa abaixo de 20Hz (20 vezes por segundo) chamada vibrato.

    No sintetizador clssico, as principais unidades de sntese usadas para modificar o sinal produzido pelo oscilador so modulador de anel (ring modulation), filtros LPF, BPF e HPF, envelopes (ADSR), sample and hold (S&H) e o oscilador de baixa frequncia (LFO)

    Mdulo LFO para sntese analgica modular

    LFO VCO

    LFO VCF Efeito de Wah-wah

    Efeito de Vibrato

    Um efeito de wah-wah pode ser obtido se o movimento do corte de frequncia do filtro for controlado por um LFO utilizando uma onda senoidal ou triangular.

  • maio 2014 / 41 teclas & afins

    Eloy F. FritschTecladista do grupo de rock progressivo Apocalypse, compositor e professor de msica do Instituto de Artes da UFRGS onde coordena o Centro de Msica Eletrnica. Lanou 10 lbuns de msica instrumental tocando sintetizadores, realizou trilhas sonoras para cinema, teatro e televiso.

    sintese

    LFO VCA Efeito de Trmolo

    Por outro lado, se a sada de um LFO utilizando uma onda triangular for ligada entrada de um VCA, ento produzir a modulao de amplitude chamada de trmolo.

    Controles do LFOOs sintetizadores disponibilizam, em seus painis, unidades LFO com trs ou mais formas de onda. O resultado audvel da sntese sonora por LFO depender da forma de onda se-lecionada pelo msico. As principais formas de onda encon-tradas em unidades LFO so senoidal, triangular, dente de serra, quadrada e aleatria. As ondas senoidal e triangular so muito usadas para produzir efeitos de vibrato. A den-te de serra cria um efeito de rampa: quando o som chega ao valor mnimo, ele volta ao mximo imediatamente e re-comea a cair. A quadrada alterna bruscamente entre dois ajustes podendo ser usada para o efeito de sirene. E a onda aleatria alterna randomicamente entre vrios ajustes. A sonoridade da onda aleatria semelhante quela produ-zida pelo emprego da sntese com Sample and Hold (S&H). O LFO possui uma funo de ajuste da velocidade de mo-dulao. Esse controle aparece normalmente na forma de um potencimetro. Quando este girado para a direita, a frequncia da onda de modulao aumenta. O LFO pode modificar tambm o sinal provindo do gerador de rudo (noise generator). Quando o LFO modula o gera-dor de rudo, pode produzir uma srie de efeitos como sons de motocicleta, motores, mquinas, helicptero e outros.As modificaes de altura, timbre e amplitude obtidas com o LFO podem ser usadas para aumentar a expressividade em frases musicais executadas nos sintetizadores. Por exem-plo, a nota pode iniciar sem vibrato e, gradativamente, passar a vibrar. Por essa razo, os LFOs possuem um controle para selecionar o tempo de atraso e a quantidade de fade in (delay time/fade). Logo, essas funes, existentes nas unidades de LFO permitem ajustar a quantidade de efeito de vibrato, trmolo e wah-wah na entrada do som.

    SH Poly: produzido pela Rhythmic Robot, um sintetizador virtual subtrativo emulando um clssico da Roland dos anos 1970. O painel apresenta dois LFOs com seleo de ondas e possibilidades de modulao (acima).

    Sintetizador Roland JP-8000: unidade LFO com os controles de Rate e Fade (abaixo).

    Korg MS-20: o LFO chamado de Modulation Generation.

  • 42 / maio 2014 teclas & afins

    livre pensar POR ALEX SABA

    O Improviso e o Jazz

    Existe uma tendncia natural de nossa sociedade para rtulos. Temos carros de passeio, de esporte, utilitrios; trajes de vero, de inverno e de meia-estao; cozinha brasileira, inter-nacional e italiana. E assim por diante. Alguns desses rtulos so mais explicaes do que propriamente uma rotulao, mas todos buscam enquadrar um determinado assunto. Mas, e a msica? Ser que ela pode ser enquadrada? De certa forma pode. Clssico, rock e jazz so definies claras. At surgirem o rock progressivo, o jazz rock e o samba reagge, que embaralham qualquer definio. Muitos artistas se colocam num limite muito estreito, a um milmetro de tudo... ou nada.Quando Miles Davis lanou Bitches Brew, o mundo, literalmente, no entendeu nada. Mui-tos crticos, seno todos, arrasaram o disco. Quando ele gravou Man With The Horn aps um longo perodo afastado, foi um novo susto. No seu ltimo disco, Doo Bop (lanado postuma-mente em 1992), ele fundia rap e jazz. Miles deixou de ser um jazzman? Picasso deixou de ser um pintor quando aderiu ao cubismo? Picasso no deixou de ser pintor, da mesma forma que Miles no abandonou o jazz. Os dois so indiscutveis gnios e, como tal, romperam com suas respectivas tradies, mas nunca com sua essncia. Por mais que os puristas (ou os ortodoxos) odeiem, o jazz no uma arte folclrica, que possa ser estudada com incio-meio-fim. Ele est vivo e sua evoluo a maior prova disso.Na abertura do programa Free Jazz, h alguns anos, Nelson Motta disse que o charme do gnero era a improvisao. Mas no bem assim: improvisao a alma do jazz. Existem muitos mtodos que ensinam como improvisar, mas o bom improviso depende unicamente do artista e nunca de regras. Pode ser uma nica nota ou uma cascata de notas, mas s o verdadeiro jazzman sabe como, quando e onde coloc-las. E esta a grande diferena. Tanto

    Nesta estreia, quero logo encarar os fatos: o preconceito danoso. Todos concordam com isso, mas, em msica (como em qualquer manifestao artstica), as pessoas no se importam em ser preconceituosas. Podemos ter preferncias, mas devemos estar prontos para o futuro. Como voc est conectado ao amanh e assinante hoje de uma revista do amanh, teremos boas conversas por aqui...

  • maio 2014 / 43 teclas & afins

    Alex SabaTecladista, guitarrista, percussionista, compositor, arranjador e produtor com quatro discos instrumentais solo e um disco ao vivo com sua banda Hora do Rush, lanados no exterior pelo selo Brancaleone Records. Produziu e dirigiu programas para o canal TVU no Rio de Janeiro e comps trilhas para esses programas com o grupo Poly6, formado por 6 tecladistas/compositores. Foi colunista do site Baguete Dirio e da revista Teclado e udio. www.alexsaba.com.br

    livre pensar

    no rock quanto no clssico, existem grandes solistas, mas pouqussimos improvisadores.A Fantasia clssica era inicialmente (no sculo XVI) uma composio instrumental que ado-tava a estrutura do ricercare (do italiano procurar, inventar), mas que foi abandonada pos-teriormente (sculo XVIII), transformando-se em uma espcie de sonata de construo menos rgida. No rock, ouvimos muitos solos, mas pouqussimos so improvisados. Basta comparar-mos com as gravaes ao vivo. Poucos msicos se arriscam a alterar seus solos, e esta a palavra chave: arriscar.Improvisar no saber qual a nota seguinte. Durante o improviso o msico entra em uma espcie de estado de graa. S ele e sua msica. Nem mais seu instrumento est l, visto que este apenas isso: um instrumento para o momento maior. Certos msicos improvisam como se passeassem no parque (Bill Evans - piano, Philippe Catherine - gui-tarra, Paul Desmond - sax alto); outros parecem duelar com o diabo (Jeremy Steig - flauta, Clifford Brown - trumpete, Michael Camillo - piano) e ainda os que conversam com seus instrumentos (Oscar Peterson - piano, Jim Hall - guitarra). Mas todos tem em comum o fato de criarem algo inteiramente novo cada vez que tocam uma msica.O jazz no uma arte esttica (nenhuma arte pode ser, mas a msica a que mais sofre com os rtulos). Ele assume suas influncias e mistura-se sem a menor cerimnia. Duke Ellington, Miles Davis, Dizzy Gillespie, Ornette Coleman e outros nos mostraram o cami-nho. Traditional, New Orleans, be-bop, cool, free-jazz, jazz-sinfnico, latin-jazz, jazz-rock, world-jazz, acid-jazz, no importa o nome. Existe jazz para todos e para todos os gostos.Daqui para frente, vou escrever sobre discos e shows (na verdade tudo mais ligado msica) desde os que ferem os ouvidos dos puristas, at os que fazem a alegria dos mais ortodoxos. Enquanto isso, vou ouvindo um pouco de Meade-Lux-Lewis, Milton Nascimento, Tribal Tech, Jelly Roll Morton, Joo Bosco, The Chick Corea Elektric Band, Miles Davis & Marcus Miller, Miles Davis & Gill Evans, Charlie Christian, Kazumi Watanabe, Joe Zawinul & Benny Carter, Weather Report, Charles Mingus, Jaco Pastorius...

  • 44 / maio 2014 teclas & afins

    ORGAOS E ORGANISTAS

    O que rgo, hoje, no Brasil?

    A profundidade do tema dos rgos de tubos proporcionaria um material riqussimo: histria, apogeu, declnio, lutas pela conservao, formao de organistas, entre outros. Afinal, em um pas colonizado como catlico, o rgo seria um item da cesta bsica musical. Apenas para lembrar, mais recentemente o Conclio Vaticano II ainda apregoava: Tenha-se em grande apreo na Igreja latina o rgo de tubos, instrumento musical tradicional e cujo som capaz de dar s cerimnias do culto um esplendor extraordinrio e elevar poderosamente o esprito para Deus. Entretanto, de conhecimento geral que esse apreo no foi levado to a srio. No que haja dvida sobre a veracidade do escrito, que transcende a barreira das religies, mas sim por uma srie de motivos polticos, econmicos e culturais. Sem dvida, no faltaro temas para as prximas edies.Assim, pareceu-me que escrever apenas sobre rgos de tubos no seria um retrato fiel ao tema, mais pela quantidade do que pela qualidade.O aparecimento dos rgos eltricos ou eletrificados Hammond, Lowrey, Baldwin, Eminent, Wurlitzer na primeira metade do sculo XX acarretou uma mudana que, lentamente, repercutiu em nossas terras. Com o final da Segunda Guerra, os modelos Spinet (mais compactos e simplificados, portanto mais baratos) lanados nos Estados Unidos pareceram ser uma encomenda para o Brasil. Seria a origem do que a maioria conhece hoje como rgo em terras tupiniquins. A gigante Yamaha, com seus Electones nos anos 70, trouxe o rgo para as residncias, proporcionando uma opo mais rpida de entretenimento do que o tradicional piano, alm de oferecer cursos rpidos, acompanhamento automtico, ritmo eletrnico, tudo isso com aulas em grupo! Quase uma heresia!Santa heresia... empresrios brasileiros no perderam tempo e os rgos nacionais comearam

    Ao ser convidado para escrever neste espao sobre rgos, meus sentimentos iniciaram uma gangorra tenebrosa: prazer e pavor! O prazer de tratar de um assunto to rico foi encoberto por um pavor, no mnimo, bsico: afinal, o que um rgo, hoje, no Brasil?

    por amador rubio

  • maio 2014 / 45 teclas & afins

    Amador RubioPianista, organista, professor e autor de adaptaes de mtodos para rgo. Com larga experincia na rea pedaggica, tem agregado vasto conhecimento comercial, tendo atuado como Gerente de Produtos na Roland Brasil por sete anos. Foi responsvel por grandes instalaes dos rgos americanos Rodgers no Pas (Sinagoga Israelita do Rio de Janeiro, Igreja Nossa Senhora do Brasil, UFRJ, Igreja Batista Renascena de Braslia etc) alm de difundir os rgos Roland Atelier no mercado nacional, conquistando uma importante fatia do mercado. Autor de adaptao de mtodos de piano para rgos Spinet sob encomenda da Tokai, tem lutado para o incentivo do estudo organstico no Brasil.

    a aparecer, como opo para os menos abastados: Novatron, Diatron, Itson, Gambitt, Minami, Saema, Spark,

    todos com dois manuais, pedaleira de 13 notas, ritmo e acompanhamento automtico. O crescimento das

    igrejas evanglicas tambm abriu uma demanda que se mantm at hoje: o alto custo dos importados no dava s congregaes pequenas condies para ter um rgo at

    que os modelos nacionais foram introduzidos nas igrejas e, consequentemente, nas casas dos fiis que desejavam levar

    para seus lares a mesma comunho espiritual dos cultos.Com produo industrial em larga escala, o pas conta hoje

    com dezenas de revendedores de rgos, alm de uma grande quantidade de pequenos fabricantes que vendem

    centenas de unidades por ms! Ignorar esse instrumento (que hoje chamamos de rgo) e esse pblico seria leviano. Hoje comum uma jovem estudar 2 ou 3 anos, tocar alguns hinos, ter

    um instrumento em casa e se auto-intitular: Sou organista!Longe de mim qualquer julgamento, e creiam, no estou

    sendo irnico, mas toda essa explanao tem um objetivo: alertar a todos nossos leitores que abordaremos aqui uma

    variedade de assuntos que vai muito alm da difcil definio do seu prprio tema. Afinal, no decidimos ainda o que - e o

    que no - um rgo, quem - e quem no - organista... O importante que se no fosse pelos fabricantes nacionais,

    pelos instrumentos com preos acessveis, pelas jovens que estudam para tocar na igreja e receberem o ttulo

    de organistas, pelas ditas professoras de rgo, o Rei dos Instrumentos estaria mudo, reinando para uma meia dzia de sditos fiis (alguns fanticos preciso lembrar-me de contar

    essa experincia em outra oportunidade).Investir em concertos, aulas, aproximao, restauro, qualquer

    coisa necessria e bem-vinda! Quem sabe uma dessas jovens de hoje venha a ser uma organista com O maisculo amanh.

    Em vez de reclamar e criticar, que tal trabalhar?

    ORGAOS E ORGANISTAS

  • 46 / maio 2014 teclas & afins

    HARMONIA E IMPROVISACAO

    As Escalas Do Campo Harmnico Maior e a Correlao Escala/Acorde

    As escalas do campo harmnico maior e a correlao escala/acordeA partir de cada nota da escala maior, podemos construir um acorde, obtendo o assim chamado campo harmnico diatnico ou harmonizao - da escala maior. Da mesma forma, a partir de cada grau, se constroem sete escalas, de forma comum chamadas de modos, ou escalas modais. Na prxima figura, podemos ver a correlao entre cada acorde e sua escala:

    Em termos tonais, til evidenciar a direta ligao entre um determinado acorde e sua escala. Cada tonalidade composta, na sua forma mais simples, por um campo harmnico diatnico (os acordes) e pelas relativas escalas. A escala e o acorde so as duas faces de uma mesma moeda, a escala sendo a representao horizontal e o acorde sendo a repre-sentao vertical.

    com muita alegria que iniciamos essa coluna em Teclas e Afins! Comeamos introduzindo alguns conceitos de base a partir dos quais, a cada edio, desenvolveremos novas atividades e estudos. O artigo desse nmero trata da correlao entre o campo harmnico diatnico maior e as escalas a ele correlatas. Sabem aquelas escalas consideradas gregas por quem no as conhece? Pois bem, ns descobriremos tudo sobre elas!

    por turi collura

  • maio 2014 / 47 teclas & afins

    HARMONIA E IMPROVISACAO

    Consideraes sobre as escalas

    Escala Jnica: usa-se nos acordes com 7M que tm funo de tnica (I7M). Tonalmente, necessrio prestar ateno ao 4 grau da escala, pois gera uma forte tenso com o 3. Na escala jnica, o 4 grau configura-se como nota de passagem ou cromatismo ao 3, pois no conveniente permanecer nela. Para evitar a dissonncia do 4 grau, possvel transform-lo em #4, gerando assim uma escala Ldia (1-2-3-#4- 5-6-7). Esta escala pode ser aplicada no lugar da escala jnica, pois as notas do acorde (1-3-5-7) so respeitadas.

    Escala Drica: uma escala menor com sexta maior. , talvez, a escala menor mais usada na improvisao, sendo a escala dos acordes com funo de IIm7. Ela pode ter, tambm, outras aplicaes: pode ser usada como primeira opo para acordes Xm7 nas msicas com caractersticas modais, ou em algumas outras circunstncias que analisaremos nas prximas edies. A msica Footprints, de Wayne Shorter, por exemplo, um blues em menor.Sobre o primeiro grau dessa msica pode-se usar uma escala Drica, j que o com-positor quis colocar um primeiro grau com stima menor.

    Escala Frgia: usa-se sobre o IIIm7. Por causa de sua sonoridade muito caracterstica, fora do contexto tonal, usada em msicas que requerem especificamente essa sonoridade (veja, por exemplo, a msica La Fiesta, de Chick Corea).

  • 48 / maio 2014 teclas & afins

    Turi ColluraPianista, compositor, atua como educador musical e palestrante em instituies e festivais de msica pelo Brasil. Autor dos mtodos Rtmica e Levadas Brasileiras Para o Piano e Piano Bossa Nova, tem se dedicado ao estudo do piano brasileiro. autor, tambm, do mtodo Improvisao: prticas criativas para a composio meldica, publicado pela Irmos Vitale. Em 2012, seu CD autoral Interferncias foi publicado no Japo. Seu segundo CD faz uma releitura moderna de algumas composies do sambista Noel Rosa. Entre outras atividades, em 2014 Turi est ministrando cursos online em grupo, entre os quais os de Piano Blues & Boogie, o de Improvisao e Composio Meldica e o de Bossa Nova. [email protected] - www.turicollura.com - www.pianobossanova.com

    A escala Frgia caracterizada por uma segunda menor. Pode tambm ser usada sobre um acorde de dominante, gerando uma sonoridade de dominante sus4 alterada (muito interes-sante - veja exemplo abaixo). Nesse caso, a escala de G frgio sobreposta ao acorde G7sus4, evidenciando as alteraes b9, #9, b13.

    Escala Ldia: usada no acorde de IV7M. usada, tambm, nos acordes de I7M(#4). Como evidenciado acima, a diferena entre as escalas Jnica e Ldia somente o #4, respeitando, ambas, as notas dos acordes (1-3-5-7). A escala Ldia se usa, tambm, nos acordes bII7M, bIII7M, bVI7M, bVII7M (de forma geral, a escolha principal perante um acorde X7M que no seja o a tnica da msica!).

    Escala Mixoldia: a escala do dominante primrio. Usa-se sobre os acordes de 7a carac-terizados por 9a e 13a maiores. Fora de contextos tonais a encontramos, por exemplo, no blues. Como no caso da escala jnica, o 4 grau cria um choque com o 3 grau. Assim, como naquele caso, a escala Mixoldia pode alterar o 4 grau para o #4, transformando-se na escala Mixoldia #4 (ou Ldia b7). Falaremos dessa escala em um prximo episdio.

    Escala Elia: ou escala menor natural. Usa-se esta escala na presena de um VIm7. Esta escala oferece o 6 grau menor.

    Escala Lcria: caracterizada pelas b2 e b5, esta escala pode ser usada nos acordes meio-diminutos.

    Que tal conhecer todas as escalas em todos os tons?

    HARMONIA E IMPROVISACAO

  • maio 2014 / 49 teclas & afins

    arranjo comentado por rosana giosa

    Walking-Bass ou Baixo Caminhante

    A Histria de Lily Braun

    Inicio com A Histria de Lily Braun, um tema de Edu Lobo e Chico Buarque, que, embora sejam brasileiros, compuseram esse tema numa levada mais jazzstica, tpica dos temas americanos em que a linha de baixo faz um walking- bass (ou baixo caminhante). Nessa levada o contrabaixo caminha em semnimas e varia e se subdivide em colcheias, o que d uma ideia bem real de um contrabaixo andando e s vezes saltitando.Para uma msica brasileira, um acompanhamento diferente, que cria um clima muito interessante. H poucas composies brasileiras criadas com esse tipo de levada e por isso eu a escolhi para que possamos sentir o resultado dessa tcnica numa msica nossa.No arranjo para piano, essas semnimas do contrabaixo so tocadas na mo esquerda, na regio grave, imitando a tessitura do contrabaixo. As notas do walking-bass so notas da cifra indicada no compasso, variando com as notas da escala que atravessam essa cifra ou mesmo com algumas notas cromticas. A mo direita faz a melodia algumas vezes simples e outras vezes agregada aos acordes indicados pela cifra.Importante toc-la com o sotaque americano ou Jazz-feeling, em que as colcheias so sempre subdivididas como se fossem tercinas: a primeira colcheia mais longa (espera-se a 2 colcheia da tercina) e a segunda mais curta.Voc pode encontrar mais informaes e exemplos de walking-bass no meu Mtodo de Arranjo para Piano 3, assim como as orientaes para a harmonizao da melodia.

    Bom estudo!

    Aos msicos estudantes

    com muito prazer que recebo o convite do editor de Teclas & Afins para fazer parte deste time. Uma revista dirigida aos estudantes e msicos profissionais das teclas muito bem-vinda ao mercado da msica brasileira, to carente de materiais e de lanamentos voltados a esse segmento. Pretendo contribuir com arranjos para piano popular, um trabalho que venho desenvolvendo h tempos em minha carreira de professora e musicista e ao qual dediquei a publicao de oito livros lanados pela Editora Som&Arte. A cada ms trarei um arranjo novo, de nveis e estilos diferentes, escritos integralmente e indicados com sua cifras. Farei comentrios a respeito do arranjo para que os estudantes possam, na medida do possvel e de seu conhecimento musical, entender como foi elaborado. Assim ele poder aproveitar as ideias e tcnicas que forem do seu agrado em seus prprios arranjos.

  • 50 / maio 2014 teclas & afins

    arranjo comentado

  • maio 2014 / 51 teclas & afins

    arranjo comentado

    Rosana GiosaPianista de formao popular e erudita, vive uma intensa relao com a msica dividindo seu trabalho entre apresentaes, composies, aulas e publicaes para piano popular.Pela sua Editora Som&Arte lanou trs segmentos de livros: Iniciao para piano 1 e 2; Mtodo de Arranjo para Piano Popular 1, 2 e 3; e Repertrio para Piano Popular 1, 2 e 3. Com seu TriOficial e outros msicos convidados lanou o CD Casa Amarela, com composies autorais. professora de piano h vrios anos e desse trabalho resultou a gravao de nove CDs com seus alunos: trs CDs coletivos com a participao de msicos profissionais e seis CDs-solo. Contato: [email protected]