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18 TN Petróleo nº 56 A moderna indústria de petróleo e gás, petroquímica, construção naval e offshore é implacável quando se trata da qualificação dos profissionais que preten- dem atuar no setor. Não basta exibir o certificado de conclusão de um dos muitos cursos voltados para a área. É preciso estar preparado para manipular a última palavra em tecnologia. E isso vale tanto para os executivos que exercem cargos que exigem formação superior, quanto para os trabalhadores que ocupam postos com formação de Ensino Médio. Tal nível de exigência acontece dentro de um cenário que evolui e se modifica numa velocidade espantosa, e que ao longo dos anos vem transformando nossas instituições de ensino técnico numa espécie de museu de grandes novidades. Ou seja: o que hoje é top de linha ama- nhã provavelmente já foi superado. Nesta selva tecnológica só sobre- vivem os que estão preparados para se adaptar imediatamente às mudanças, assim como algumas espécies acabam desenvolvendo ca- racterísticas ditadas por mudanças climáticas e outros danos causados ao ecossistema pelo desenvolvimento não sustentável. É justamente na precária formação profissional básica que, hoje, se encontra um dos mais perigosos “gargalos” (termo da moda para designar tudo o que impede o desenvolvimento) já identificados pela indústria nacional. Recentemente, a Petrobras foi obrigada a reduzir o nível de exigência em geral adotado para a contratação de mão-de-obra em seus empreendimentos – isso aconteceu no ca- dastramento de interessados para a construção da Refinaria Abreu e Lima, no Recife. E a decisão foi tomada a partir do momento em que os responsáveis pelo recrutamento perceberam que a grande maioria dos candidatos não havia concluído sequer o Ensino Fun- damental. No âmbito federal são muitas as iniciativas ligadas à capacitação de trabalhadores, mas essa enorme sucessão de siglas se revela pouco ou nada eficiente diante do costumeiro abandono de projetos a meio caminho, por causa da troca de governantes e, conseqüente- Ampliação, modernização e interiorização dos programas de capacitação são armas da indústria para combater o gargalo criado pela baixa escolaridade da mão-de-obra disponível no país. Técnicos de nível médio por Victor Abramo O PROGRAMA EDUCAÇÃO PARA A NOVA INDÚSTRIA É UMA RESPOSTA AO DESAFIO DE ELEVAR A OFERTA DE OPORTUNI- DADES PARA FORMAÇÃO DE PROFISSIONAIS QUE ATENDAM AOS REQUISI- TOS DO MERCADO. Armando Monteiro Neto, presidente da CNI ensino técnico Novos desafios para um Brasil mais competitivo

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Descriçao da matéria: Técnicos de nível médio - Novos desafios para um Brasil mais competitivo, por Victor Abramo. Competitividade em ritmo lento. OIT aponta queda na produtividade. PNQP ataca principais carências. Entrevista especial - Demanda até 2010 será de dois milhões de técnicos, com Armando Monteiro Neto – Presidente da CNI. Faetec: ensino técnico sofre com abandono.

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Amoderna indústria de petróleo e gás, petroquímica,construção naval e offshore é implacável quando setrata da qualificação dos profissionais que preten-dem atuar no setor. Não basta exibir o certificado deconclusão de um dos muitos cursos voltados para aárea. É preciso estar preparado para manipular a

última palavra em tecnologia. E isso vale tanto para os executivosque exercem cargos que exigem formação superior, quanto para ostrabalhadores que ocupam postos com formação de Ensino Médio.

Tal nível de exigência acontece dentro de um cenário que evolui ese modifica numa velocidade espantosa, e que ao longo dos anos vemtransformando nossas instituições de ensino técnico numa espécie demuseu de grandes novidades. Ou seja: o que hoje é top de linha ama-nhã provavelmente já foi superado. Nesta selva tecnológica só sobre-vivem os que estão preparados para se adaptar imediatamente àsmudanças, assim como algumas espécies acabam desenvolvendo ca-racterísticas ditadas por mudanças climáticas e outros danos causadosao ecossistema pelo desenvolvimento não sustentável.

É justamente na precária formação profissional básica que, hoje,se encontra um dos mais perigosos “gargalos” (termo da moda paradesignar tudo o que impede o desenvolvimento) já identificadospela indústria nacional. Recentemente, a Petrobras foi obrigada areduzir o nível de exigência em geral adotado para a contrataçãode mão-de-obra em seus empreendimentos – isso aconteceu no ca-dastramento de interessados para a construção da Refinaria Abreue Lima, no Recife. E a decisão foi tomada a partir do momento emque os responsáveis pelo recrutamento perceberam que a grandemaioria dos candidatos não havia concluído sequer o Ensino Fun-damental.

No âmbito federal são muitas as iniciativas ligadas à capacitaçãode trabalhadores, mas essa enorme sucessão de siglas se revelapouco ou nada eficiente diante do costumeiro abandono de projetosa meio caminho, por causa da troca de governantes e, conseqüente-

Ampliação, modernização e interiorização dos programas de

capacitação são armas da indústria para combater o gargalo criado

pela baixa escolaridade da mão-de-obra disponível no país.

Técnicosde nível médio

por Victor Abramo

O PROGRAMA EDUCAÇÃO

PARA A NOVA INDÚSTRIA

É UMA RESPOSTA AO

DESAFIO DE ELEVAR A

OFERTA DE OPORTUNI-

DADES PARA FORMAÇÃO

DE PROFISSIONAIS QUE

ATENDAM AOS REQUISI-

TOS DO MERCADO.

Armando Monteiro Neto,presidente da CNI

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mente, de programas de gover-no. Dessa forma, não há conti-nuidade e muito menos atuali-zação constante das técnicas en-sinadas aos jovens aprendizes.No troca-troca de letrinhas, me-todologias e objetivos, o resulta-

do é que a grande maioria denossos cursos técnicos está ultra-passada, obsoleta e inoperante.

A disfunção que atinge amão-de-obra qualificada se veri-fica de forma mais intensa no ní-vel técnico. Isso porque, para car-

gos que exigem nível superior,diante da dificuldade de encon-trar pessoas com os perfis dese-jados, sempre resta a saída daimportação de mão-de-obra ca-pacitada. Muitas empresas seencarregam exclusivamente delocalizar tais profissionais nomercado internacional e dos trâ-mites legais para que possamtrabalhar no país.

No andar de baixo, a coisa édiferente, mas a situação já che-gou a tal ponto que os respon-sáveis por um grande empreen-dimento ligado à siderurgia noRio de Janeiro chegaram a co-gitar a vinda de 300 operárioschineses para trabalhar na plan-ta industrial. A operação só nãose concretizou por causa da re-ação imediata de grupos ligadosaos direitos humanos e sindica-listas, não necessariamente nes-sa ordem.

O BRASIL POSSUI um dos pioresíndices de competitividade entreos 43 maiores países do mundo.Esta é a principal conclusão doÍndice de Competitividade (IC) de2007 da Federação das Indústriasdo Estado de São Paulo (Fiesp),divulgado no início de outubropela instituição. Entre os paísesanalisados, o Brasil ficou na 38ªcolocação, com 17,4 pontos em

Competitividadeem ritmo lento

cem possíveis, e só ficou na frentede Filipinas, Turquia, Colômbia,Índia e Indonésia.

De acordo com José RicardoRoriz Coelho, diretor-geral doDepartamento de Competitividadee Tecnologia (Decontec) da Fiesp,a má colocação do Brasil nãosignifica que o país não avança emsua competitividade, e sim que osoutros países o fazem de formamuito mais acelerada. “Podemosestar avançando, mas a maioriados países evolui em um ritmomais acelerado”, explicou.

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técnicos de nível médio: novos desafios para um brasil mais competitivo

Educação para a NovaIndústria

Numa tentativa de reverteresse quadro, o empresariado bra-sileiro lançou, via ConfederaçãoNacional da Indústria (CNI), oprograma Educação para a NovaIndústria, que prevê investimen-tos de R$ 10,4 bilhões na educa-ção básica e profissional de 16,2milhões de brasileiros nos próxi-mos quatro anos. Os recursos se-rão aplicados de 2007 a 2010 naampliação e modernização darede de escolas e laboratórios, notreinamento e atualização de pro-fessores e na revisão dos conteú-dos dos cursos promovidos peloServiço Social da Indústria (Sesi)e pelo Serviço Nacional deAprendizagem Industrial (Senai).

“O programa é uma respostada indústria ao desafio de au-mentar a oferta de oportunidadespara a formação de profissionais

que atendam aos requisitos domercado de trabalho, e está sin-tonizado com o Mapa Estratégi-co da Indústria 2007-2015”, diz opresidente da CNI, ArmandoMonteiro Neto. No documento,que traduz a visão do setor pro-dutivo sobre o futuro do país, osempresários destacam que a edu-cação de qualidade é fundamen-tal para a expansão das empre-sas e o aumento da competitivi-dade da economia brasileira nomercado globalizado.

Tão ou mais importante quan-to investir R$ 10,4 bilhões numaudacioso programa de educaçãobásica e qualificação profissionalcom alcance nacional, a decisãoda Confederação Nacional daIndústria (CNI) de ampliar emodernizar a rede de escolas elaboratórios de treinamento, erever o conteúdo dos cursos pro-movidos pelo sistema, reafirma os

princípios que motivaram a cria-ção, em 1942, do Senai, institui-ção que nos últimos 65 anos pre-parou cerca de 43,2 milhões debrasileiros para o trabalho. A ini-ciativa inclui ainda a capacitaçãodos docentes, técnicos e gestoresem tecnologia.

Hoje, 406 escolas fixas e 301unidades móveis espalhadaspelo Brasil atendem mais de doismilhões de trabalhadores porano. Atuando na educação bási-ca, o Serviço Social da Indústria(Sesi) mantém escolas em 2.006municípios, e recebe 1,5 milhãode matrículas ao ano para cur-sos de Educação Infantil, Ensi-no Fundamental e Médio; Edu-cação do Trabalhador e Educa-ção Continuada. A modernizaçãopreconizada pelo programa Edu-cação para a Nova Indústria temna atualização do corpo docentee na revisão de conteúdo (leia-

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NO ÚLTIMO RELATÓRIO Indicado-res-Chave do Mercado de Trabalhodivulgado pela Organização Interna-cional do Trabalho (OIT), o Brasilficou ainda mais distante dos paísesdesenvolvidos e até de emergentesem um dos principais indicadoresque medem a eficiência da econo-mia: entre 1980 e 2005, a produtivi-dade por trabalhador caiu 2,7% nopaís, enquanto a dos EstadosUnidos aumentou 57% e dobrounos últimos dez anos na China.

O documento aponta ainda queo valor agregado por trabalhador(que mede quanto cada empregadoacrescenta na etapa de produção)no Brasil caiu de US$ 15,1 mil em1980 para US$ 14,7 mil em 2005,enquanto na China cresceu emmédia 5,7% ao ano de 1980 a2006. Nos últimos dez anos, o

OIT aponta queda na produtividadevalor agregadopor trabalhadorchinês passoude US$ 6,3 milem 1996 paraUS$ 12,5 mil em2006, e nospaíses do lesteeuropeu cresceu 53% no períodode 1996 a 2006.

A pesquisa constata que aliderança do ranking continua comos Estados Unidos, onde a produ-ção por trabalhador passou de US$41,6 mil em 1980 para US$ 63,8 milem 2006. Em segundo lugar, aindade acordo com a OIT, vem a Irlanda,com US$ 55,9 mil produzidos porempregado. Na comparação porhora trabalhada, porém, quem lideraa estatística é a Noruega, com US$37,99 pagos por hora, contra US$

35,63 nos Estados Unidos. Segun-do o relatório, a produtividade portrabalhador caiu de 1980 a 2005em metade dos países da AméricaLatina. Em 2005, cada venezuelanoproduziu o equivalente a 42% doque produziu um trabalhador nosEstados Unidos. Em 1980, aproporção chegou a 77%.

Na comparação com os EUA, aprodutividade brasileira registrouqueda ainda mais expressiva,passando de 36,5% do obtido pelosamericanos, em 1980, para 23,5%,25 anos depois. Na indústria, aprodução por empregado no Brasilcaiu de US$ 7,1 mil para US$ 5,9mil entre 1980 e 2005. Issorepresenta apenas 5% do nível deprodutividade industrial dosEstados Unidos. Em 1980, essaproporção estava em 19%.

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ASSIM COMO A EDUCA-

ÇÃO CONTRIBUI PARA O

AVANÇO DA INDÚSTRIA,

ESTA RETRIBUI PROMO-

VENDO MUDANÇAS NO

AMBIENTE EDUCATIVO.

Armando Monteiro Neto,presidente da CNI

se novas tecnologias) seus prin-cipais pilares.

A experiência do Sesi e do Se-nai com educação formal e profis-sional foi decisiva para a constru-

ção do programa Educação para aNova Indústria, que reúne e pre-tende aperfeiçoar o trabalho reali-zado pelas duas instituições. “Oprograma é uma resposta da indús-tria aos desafios que se colocampara o Brasil”, diz o presidente daCNI, Armando Monteiro Neto,lembrando que a implantação doprojeto significará um incrementode cerca de 30% no atendimento àeducação profissional.

Visão estratégica para2007-2015

Documento que traduz a vi-são do setor produtivo sobre ofuturo do país, o Mapa Estraté-gico da Indústria 2007-2015, ela-borado pela CNI, mostra que osempresários consideram a edu-cação de qualidade a base fun-damental para a expansão dasempresas.

De acordo com o estudo, nosúltimos anos observa-se uma ele-vação da exigência de escolari-dade no perfil da força de traba-lho para todos os setores da in-dústria. Tal tendência aparececom mais nitidez nas atividadescom maior intensidade tecnológi-ca, como de extração de petróleoe fabricação de máquinas e equi-pamentos eletrônicos, quandocerca de 85% das contratações sãodestinadas a pessoas com nívelmédio e superior.

“Pesquisas recentes confir-mam que trabalhadores com mai-or grau de escolaridade têm maischances de encontrar emprego,porque estão mais bem prepara-dos para absorver novas tecnolo-gias e promover nas empresas umambiente de conhecimento e cri-atividade”, acrescenta o presi-dente da CNI.

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Diz o estudo que o setor pro-dutivo requer trabalhadores cadavez mais capacitados e qualifica-dos, e disso decorre a necessida-de de identificar quais os perfisprofissionais desenhados paraatender às novas demandas daindústria. “O processo não é es-tanque, mas de grande sinergia.Assim como a educação contribuipara o avanço da indústria, estaretribui promovendo mudançasno ambiente educativo”, frisaMonteiro Neto na apresentaçãodo trabalho.

Inovações facilitam acessoPara democratizar o acesso

aos cursos ligados ao projeto Edu-cação para a Nova Indústria, aCNI pretende reforçar os progra-mas Senai 24 Horas e Senai Iti-nerante, que funcionam em ho-rários e locais especiais. Segun-do os responsáveis pela iniciati-

va, nos locais onde houver de-manda, condições de segurançae transporte, as unidades escola-res podem oferecer cursos emhorários e dias não convencio-nais, atendendo dessa forma ossegmentos populacionais quenão podem freqüentar salas deaula entre 8h e 22h.

Através de educação à distân-cia, durante 24 horas e sete diaspor semana os cursos de educa-ção profissional estarão disponí-veis para alunos que trabalhame precisam se manter atualizadospara melhorar o rendimento nasempresas ou encarar novos de-safios profissionais.

Diante da diversidade de de-mandas, o projeto também pre-tende lançar mão do programaSenai Itinerante como suporte fí-sico e pedagógico, combinadocom a educação à distância, pormeio de ações móveis compreen-

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dendo unidades e kits didáticos.A intenção é dar uma resposta aomovimento de interiorização daindústria, aos arranjos produtivoslocais e aos novos pólos de de-senvolvimento regional.

Mudança de rumo edespreparo

Na direção oposta à exigên-cia de melhor preparo da mão-de-obra, o estudo realizado pelaCNI aponta como um dos princi-pais limitadores do crescimentodo país o baixo nível de escolari-dade de nossa força de trabalho.Segundo dados da Relação Anu-al de Informações Sociais (Rais),instrumento do Ministério do Tra-balho e Emprego para medir onível de escolaridade do trabalha-dor brasileiro, de um total de 7,8milhões de empregados na in-dústria, 4,8 milhões (61%) nãopossuem educação básica com-

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pleta. Destes, nada menos do que2,4 milhões não completaram oEnsino Fundamental.

O trabalho encomendado pe-los empresários também identifi-cou o aparecimento de novas re-giões industriais em função damaior mobilidade do capital pro-dutivo, e, conseqüentemente,maior crescimento das taxas deemprego industrial em espaçosgeográficos onde até os anos 1990a indústria não tinha presençasignificativa. Isso, aponta a pes-quisa, reforça a necessidade ur-gente de formação de recursoshumanos, tendo como pano defundo a previsão de uma deman-da adicional de 1 milhão de em-pregos até 2010, dos quais cercade 400 mil serão técnicos com di-ferentes formações.

Esta mudança de rumo do de-senvolvimento vem revelando si-tuações altamente preocupantes.

Em setembro, a grande impren-sa registrou que a Petrobras foiobrigada a reduzir as exigênci-as contratuais para garantir mão-de-obra local na construção daRefinaria Abreu e Lima, em Per-nambuco. O primeiro grandedesafio para consumar o empre-endimento que exigirá investi-mentos totais de US$ 4,05 bilhõesapareceu logo na fase inicial daobra, quando serão aplicados R$400 milhões em terraplenagem.

Das 1.028 vagas que devem serpreenchidas até dezembro desteano, muitas são destinadas à con-tratação de pedreiros e serventesapenas alfabetizados, o que nãotraz nenhum problema. Mas a di-ficuldade aparece quando se tra-ta da contratação de técnicos paraoperar máquinas de última gera-ção, como as utilizadas na terra-plenagem do terreno e que exi-gem o Ensino Médio completo.

Mesmo com a Agência do Tra-balho estadual buscando profis-sionais em todo o estado – na pri-meira fase deveriam ser prioriza-dos candidatos de Ipojuca, Cabode Santo Agostinho, Jaboatão dosGuararapes, Moreno e Escada, ci-dades vizinhas ao Porto de Sua-pe, onde está sendo erguida aobra – o número de candidatosficou muito longe das 334 vagasdisponíveis.

Dentro das contrapartidas ofe-recidas pela Petrobras para rece-ber incentivos fiscais do município,a empresa se comprometeu a rea-lizar 4,8 mil atendimentos nas áre-as de capacitação profissional, in-clusão social e geração de empre-go e renda em Ipojuca durante aconstrução da refinaria. Além dosprojetos de apoio social já acerta-dos, o município ainda negociacom a estatal a construção de es-colas públicas e de um hospital.

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Considerada uma ação estra-tégica dentro do Programa deMobilização da Indústria Nacio-nal de Petróleo e Gás Natural(Prominp), o Plano Nacional deQualificação Profissional (PNQP)foi criado para reduzir a escas-sez de mão-de-obra especializa-da em categorias profissionais li-gadas ao setor de petróleo e gás.Nos próximos dois anos estãoprevistos investimentos da ordemde R$ 300 milhões na capacita-ção de 112 mil profissionais.

O objetivo do plano – que estásendo implementado em cincociclos – é capacitar estes profissi-onais em dois anos por meio decursos gratuitos ou com custoscompartilhados com empresas dosetor, prestadoras de serviço efabricantes de peças e equipa-mentos. No primeiro ciclo de se-leção pública, realizado em mea-dos de 2006 em dez estados(Amazonas, Pernambuco, Espíri-to Santo, Minas Gerais, Rio deJaneiro, Bahia, Paraná, Rio Gran-de do Norte, Rio Grande do Sule São Paulo), foram oferecidas11.040 vagas para cursos de ní-

PNQP ataca principais carências1º ciclo Vagas oferecidas

Básico Médio Técnico Inspetor Superior Total

2.190 2.850 600 1.350 4.050 11.040

2º ciclo Vagas oferecidas

Básico Médio Técnico Inspetor Superior Total

9.789 7.185 622 2.637 2.748 22.981

vel básico, médio, técnico, inspe-tor e superior.

Nesta primeira fase, a peque-na procura pelos cursos de nívelbásico, médio e técnico surpreen-deu os responsáveis pela imple-mentação do programa: das 2.155vagas oferecidas, somente 132 fo-ram preenchidas em todo o país.Na época tal comportamento foicreditado à incerteza do empre-sariado quanto a contrataçõespara grandes empreendimentosda Petrobras.

No primeiro semestre desteano foi implementado o segundociclo do PNQP, destinado a can-didatos dos níveis básico, médio,técnico, inspetor e superior, sen-do oferecidas 22.981 vagas em 14estados do país (Alagoas, Amazo-nas, Bahia, Ceará, Espírito San-to, Minas Gerais, Paraíba, Para-

ná, Pernambuco, Rio de Janeiro,Rio Grande do Norte, Rio Grandedo Sul, Santa Catarina e São Pau-lo). Sinal de que o gargalo estána base, o número de vagas des-tinadas aos níveis básico e técni-co pulou de 5.040 para 16.974. Oterceiro, quarto e quinto ciclos de-verão ser implantados no primei-ro semestre de 2008, segundo se-mestre de 2008 e primeiro semes-tre de 2009, respectivamente.

EmpregoEmbora tenha origem em uma

demanda do setor petrolífero e,em grande parte, da própria Pe-trobras, é importante ressaltar quea mão-de-obra qualificada peloPNQP não será contratada pelaestatal, mas por empresas queprestam serviços à estatal e ou-tras operadoras do setor de pe-

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tróleo e gás natural. Os alunosque finalizarem os cursos estarãoqualificados em uma categoriaprofissional que foi mapeadacomo necessária em determina-da região. Não há garantia dire-ta de emprego para esses alunos,mas o que se espera é que aschances de serem absorvidospelo mercado de trabalho aumen-tem em virtude de sua especiali-zação e em decorrência da de-manda do setor naquela região.

Demanda de profissionaisTomando por base a carteira

de investimentos do setor de pe-tróleo e gás natural, o Prominpmantém atualizado um diagnós-tico de demanda de profissionaisnecessários na implantação des-tes projetos. Neste diagnóstico,foi constatado que a demanda depessoal requerida pelos empre-endimentos previstos para o se-tor de petróleo e gás era maiorque a disponibilidade destes pro-fissionais no mercado. Diantedesta constatação foi definida acriação do PNQP, uma espécie deextensão do Prominp, com umameta nada modesta de realizar aqualificação de cerca de 112 milprofissionais especializados em

categorias profissionais conside-radas críticas pelo mercado.

InvestimentosOs investimentos previstos ao

longo dos próximos dois anospara qualificar cerca de 112 milprofissionais em 17 estados daFederação, nos quais ocorrerãoos projetos de investimentos pla-nejados para o setor, são da or-dem de R$ 300 milhões. Estãoprevistos cerca de 900 cursos di-

ferentes e 6.400 turmas, envol-vendo uma estrutura compostapor cerca de 80 entidades de en-sino de todo o país. Os estadosonde serão realizados os cursossão Alagoas, Amazonas, Bahia,Ceará, Espírito Santo, MatoGrosso do Sul, Minas Gerais,Paraíba, Paraná, Pernambuco, Riode Janeiro, Rio Grande do Nor-te, Rio Grande do Sul, Rondô-nia, Santa Catarina, São Paulo eSergipe.

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Entrevista especial

Com Armando Monteiro Neto – presidente da CNI

Demanda até 2010 seráde dois milhões de técnicos

MONTEIRO CHAMA A atençãopara o fato de que, entre 1995 e2005, a demanda do setor produ-tivo para trabalhadores com EnsinoMédio completo passou de 2,9milhões para 8,6 milhões, e quepesquisa realizada pelo Senaimostra que Brasil precisará decerca de dois milhões de profis-sionais capacitados nas áreastécnicas entre 2006 e 2010.Esse contexto, diz o dirigente,reforça a necessidade de açõesvoltadas para a elevação daescolaridade dos trabalhadores,“e o programa Educação para aNova Indústria é uma resposta aodesafio de expandir a oferta deoportunidades de formação derecursos humanos com altaqualidade”, assegura.

Muito se tem falado da necessida-de de a indústria brasileira desen-volver ou adquirir novastecnologias para ser competitivano mercado internacional. Aomesmo tempo, vemos todos osdias notícias sobre a enormedificuldade encontrada pelasempresas no tocante à mão-de-obra para operar essas técnicasinovadoras. Como o senhor vê

Em entrevista exclusiva à TN Petróleo o presidente da CNI, Armando Monteiro Neto,lembra que o Brasil é um país com algumas particularidades, e que ao mesmo tempoque o desemprego atinge 10% dos brasileiros, setores específicos enfrentam a falta deprofissionais. Este é, segundo o executivo, o preço que o país paga por não ter dado aimportância necessária à educação.

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esse abismo entre a tecnologia dofuturo e o despreparo do trabalha-dor brasileiro para acompanhar oavanço tecnológico?

A crescente incorporação denovas tecnologias aos processosde produção exige a atualizaçãodas competências dos trabalhado-res. É um processo contínuo deaprendizagem, que começa comeducação básica de qualidade,passa pela educação profissional,prossegue com o Ensino Superiore abrange, ainda, o desenvolvi-mento de habilidades profissionaisespecíficas. Por isso, nos últimosanos, as pessoas com maior graude escolaridade têm mais chancesde encontrar um emprego. OBrasil concorre com nações queinvestem contínua e intensamentena qualidade do ensino, caso devários países da Ásia, da EuropaCentral e da América do Norte.Temos, portanto, que enfrentar odesafio de expandir a oferta deoportunidades de formação derecursos humanos com altaqualidade.

Ao lançar um plano de educaçãode alcance nacional a CNI mostraque os empresários estão dispos-tos a fazer sua parte para permitiro acesso de milhões de brasileirosao moderno mercado de trabalho.No seu entender o governofederal tem atuado de modoeficiente nesse sentido?

Dados da Relação Anual deInformações Sociais (Rais) de2005 mostram que, dos 7,8milhões de trabalhadores naindústria, 4,8 milhões – ou seja,mais se 60% – não têm a educa-ção básica completa, e 2,4 milhõesnão completaram o Ensino Funda-mental. Esse contexto reforça anecessidade de ações voltadaspara a elevação da escolaridade

dos trabalhadores. Com a acelera-ção do crescimento da economia,o mercado de trabalho brasileirovive uma situação em que faltamempregos e trabalhadores. É opreço que o Brasil paga por nãoter dado a atenção necessária àeducação. O programa Educaçãopara a Nova Indústria é umacontribuição do setor produtivo aodesenvolvimento de profissionaissintonizados com o acirramento dacompetição nos mercados e oconstante avanço tecnológico.

Recentemente, a Petrobras teveque reduzir as exigências para acontratação de mão-de-obra porquemuitos trabalhadores sequer eramalfabetizados. De que forma estedespreparo pode influenciar osnovos empreendimentos no país?Existe alguma perspectiva demudar esse quadro?

O Brasil é um país com algu-mas particularidades. Ao mesmotempo que o desemprego atinge10% dos brasileiros, setoresespecíficos enfrentam a falta deprofissionais. É o caso das indús-trias petroquímicas, da construçãocivil e do setor de açúcar e álcool.Sempre que a economia cresceacima de 4%, as empresas enfren-tam tal problema. O processo deexpansão das empresas às vezesfica comprometido, porque elasnão encontram os profissionais deque necessitam. Entre 1995 e2005, a demanda do setor produ-tivo para trabalhadores com ensinomédio completo passou de 2,9milhões para 8,6 milhões, segundodados da Rais. Estudos do Senaiindicam que o Brasil precisará decerca de dois milhões de profis-sionais nas áreas técnicas entre2006 e 2010. É preciso lembrarainda que, se os investimentos doProgramas de Aceleração do

Crescimento (PAC) para ospróximos anos forem de fatorealizados, ocorrerá enorme faltade recursos humanos capacitados.É justamente para mudar essequadro que a CNI lançou o progra-ma Educação para a Nova Indús-tria. Ele é uma resposta ao desafiode expandir a oferta de oportuni-dades de formação de recursoshumanos com alta qualidade.

O programa da CNI está voltadopara a capacitação de mão-de-obra através do ensino técnico e,principalmente, da atualização doconteúdo dos cursosprofissionalizantes. De que modoisso será feito no âmbito dosistema Senai/Sesi?

Desde que foram criadas hámais de 60 anos, as escolas doSesi (Serviço Social da Indústria) edo Senai (Serviço Nacional deAprendizagem Industrial) sedistinguem pelo atendimento àsnecessidades de capacitação detrabalhadores para a indústria. Aeducação nas escolas do Sesi e doSenai considera as necessidadesde aperfeiçoamento dos processosde produção, estimula acriatividade, a inovação e oempreendedorismo. A definiçãodas características da educaçãopatrocinada pela indústria prevê aincorporação das tecnologias àprodução, às peculiaridadesregionais, o deslocamento daindústria das metrópoles para ointerior e as novas possibilidadesde organização da produção. Comunidades espalhadas em todo opaís, o Sesi e o Senai acompanhama evolução da indústria, buscamparcerias, modernizam métodos eformam cidadãos capazes de atuarde maneira autônoma, crítica,consciente e participativa notrabalho e na vida pessoal.

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CERTAMENTE VAMOS PA-

GAR MUITO CARO POR

ISSO. NÃO SE REFAZ

UMA REDE DE ENSINO

EM UM ANO.

Alexandre Cardoso,secretário estadual de Ciência e Tecnologia

ensino técnico

o início de agosto, o secretário de Ciência e Tecnologia do Rio deJaneiro, Alexandre Cardoso, divulgou relatório em que constata autilização de equipamentos ultrapassados na formação de futurosprofissionais em 15 escolas técnicas da rede estadual de ensino.

Na ocasião, Cardoso manifestou preocupação em relação à mão-de-obra necessária a empreendimentos como o pólo petroquímicode Itaboraí (Comperj) e da siderúrgica Thyssen CSA, em SantaCruz, que, juntos, exigirão investimentos em torno de R$ 20 bi-lhões e abrirão enorme demanda por mão-de-obra especializada.

O relatório mostrou que, além de usarem equipamentos obsole-tos, as unidades voltadas para o ensino técnico apresentavamsérios problemas administrativos, como descabidas diferenças nascontas de água, luz e telefone e total falta de controle da jornadade trabalho de seus funcionários. Diante desse quadro de descon-trole, as escolas registram índices de evasão que chegam a 70%, eem alguns casos seus responsáveis sequer foram capazes deinformar o número correto de alunos matriculados.

A inspeção feita pelo secretário constatou que o Ensino Técnicofoi relegado nos últimos anos ao mais completo abandono, e o quesobrou nas unidades da Fundação Estadual de Apoio à EscolaTécnica (Faetec) foi uma infra-estrutura mínima para treinar apren-dizes com métodos obsoletos e técnicas ultrapassadas. “Certamentevamos pagar muito caro por isso. Não se refaz uma rede de ensinoem um ano”, disse o secretário.

Entre outras coisas, a inspeção encontrou turmas de Mecânicatendo aulas práticas em motores a carburador que deixaram de serfabricados em 2002; de Eletrônica, usando tevês a válvula para otreinamento; e falta de madeira no curso de Carpintaria. De acordocom o secretário, no Instituto de Educação havia uma turma deapenas três alunos, com professores que só trabalhavam três horaspor dia. O relatório mostrou que apenas 30% dos professorescumpriam a jornada de 40 horas.

Estado responde com novo programa de capacitaçãoA necessidade de mão-de-obra para suprir a demanda criada

pelos pólos industriais que deverão ser construídos no Rio deJaneiro nos próximos anos e a situação de abandono do ensinotécnico no estado motivaram a criação de mais uma sigla e olançamento, no último dia 23 de outubro, de um novo projeto decapacitação profissional.

ENSINO TÉCNICOsofre com abandono

N

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32 TN Petróleo nº 56

OS CVTS SÃO A NOVA

GERAÇÃO DE ESCOLAS

TÉCNICAS, COM CURSOS

FOCADOS NA ATIVIDADE

DE INTERESSE DA RE-

GIÃO. O OBJETIVO É SU-

PRIR COM MÃO DE OBRA

LOCAL A DEMANDA DAS

INDÚSTRIAS.

Alexandre Cardoso,secretário estadual de Ciência e Tecnologia

A iniciativa, que prevê aconstrução de 18 CentrosVocacionais Tecnológicos (CVT)nos próximos 12 meses, éresultado de uma parceria entreos governos federal (Ministérioda Ciência e Tecnologia) eestadual (Secretaria de Ciênciae Tecnologia), materializou-secom a inauguração da primeiraunidade em Duque de Caxias,na Baixada Fluminense. Oinvestimento é de R$ 15 mi-lhões, dinheiro que deverá serusado prioritariamente nacompra de equipamentos.

"Esta é uma nova geração deescolas técnicas, com cursosfocados na atividade de interes-se de cada região. O objetivo ésuprir com mão-de-obra local ademanda da indústria atravésde cursos de menor duração, jáque serão específicos paradeterminada atividade. Preten-demos treinar de 2,4 mil a trêsmil alunos por ano para evitarum apagão de mão-de-obra que

nos obrigue a trazer trabalhado-res de fora", disse o secretáriode Ciência e Tecnologia, Ale-xandre Cardoso.

O programa também é vistocomo uma oportunidade deatualizar o ensino técnico.Segundo Cardoso, juntandoestas novas escolas à redeFaetec, da qual fazem parte asunidades de inclusão digitalque utilizam caça-níqueistransformados em computadoresescolares, o governo estadualterá condições de formar, nospróximos anos, cerca de 100 milalunos/ano. Além da parceriaentre os governos federal eestadual, as prefeituras devemparticipar doando o terreno ou oprédio para as novas unidades,e fornecendo funcionários paraserviços gerais.

O secretário adianta querecursos para outros 25 CVTsestão sendo negociados, e queo projeto completo prevê oinvestimento de R$ 50 milhões

na criação de 34 CVTs. "Meuobjetivo é ir mais longe echegar a 59 unidades", acres-centa Cardoso, dizendo quedessa forma o estado alcançará100% de cobertura na formaçãoprofissional para os próximos 10anos. Ainda este ano deverãoser inaugurados os CVTs deSanta Cruz e Quintino, ambostendo como carro-chefe o cursoautomotivo.

No CVT da Praça do Rosá-rio, em Saracuruna, como ointeresse despertado foi muitogrande e existe uma fila deespera com cerca de 700 jovens,novas turmas são formadas namedida que outras são concluí-das. Os alunos são escolhidosatravés de sorteio realizadopelos próprios candidatos, e aduração do curso principal queatenderá à indústria de plásti-cos é de cinco meses. Para eleforam inscritos 120 alunos comidade mínima de 17 anos,distribuídos em seis turmas.

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