TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO APLICADA À GESTÃO DA ... · transformar em um grande diferencial...

21
TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO APLICADA À GESTÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL Marcelo Correa Machado (UFF) Resumo: A atual ritmo em busca da normatização das atividades em todos os setores da sociedade transforma a gestão empresarial moderna. A implantação de sistemas de gestão da qualidade, meio ambiente, segurança ocupacional e responsabilidade social, através de suas normas específicas, ou sistemas de gestão, de forma integrada e através de sistemas informatizados, bem como a compreensão dos efeitos e impactos destes novos sistemas de gestão dentro das organizações ainda representam um grande desafio. Este artigo aborda, através de uma pesquisa aplicada, exploratória e descritiva, por revisão bibliográfica e documental, a evolução histórica do conceito de responsabilidade social, desenvolvimento sustentável e o uso da informática na gestão empresarial. A questão da responsabilidade social cresce e ganha força a cada dia e podemos observar iniciativas rumo à sustentabilidade em todos os continentes, com maior ou menor intensidade. Porém, no Brasil este movimento ainda é embrionário e a grande maioria das empresas ainda não utiliza uma solução de TI em sua gestão. Palavras-chaves: Responsabilidade Social, Sistemas de Gestão, Gestão Informatizada, ABNT NBR 16001 ISSN 1984-9354

Transcript of TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO APLICADA À GESTÃO DA ... · transformar em um grande diferencial...

Page 1: TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO APLICADA À GESTÃO DA ... · transformar em um grande diferencial competitivo se considerado corretamente dentro da ... da RSC e do uso de TI na gestão

TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO APLICADA À GESTÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL 

Marcelo Correa Machado

(UFF)

Resumo: A atual ritmo em busca da normatização das atividades em todos os setores da sociedade transforma a gestão empresarial moderna. A implantação de sistemas de gestão da qualidade, meio ambiente, segurança ocupacional e responsabilidade social, através de suas normas específicas, ou sistemas de gestão, de forma integrada e através de sistemas informatizados, bem como a compreensão dos efeitos e impactos destes novos sistemas de gestão dentro das organizações ainda representam um grande desafio. Este artigo aborda, através de uma pesquisa aplicada, exploratória e descritiva, por revisão bibliográfica e documental, a evolução histórica do conceito de responsabilidade social, desenvolvimento sustentável e o uso da informática na gestão empresarial. A questão da responsabilidade social cresce e ganha força a cada dia e podemos observar iniciativas rumo à sustentabilidade em todos os continentes, com maior ou menor intensidade. Porém, no Brasil este movimento ainda é embrionário e a grande maioria das empresas ainda não utiliza uma solução de TI em sua gestão.

Palavras-chaves: Responsabilidade Social, Sistemas de Gestão, Gestão Informatizada,

ABNT NBR 16001

ISSN 1984-9354

Page 2: TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO APLICADA À GESTÃO DA ... · transformar em um grande diferencial competitivo se considerado corretamente dentro da ... da RSC e do uso de TI na gestão

X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014

2

1. INTRODUÇÃO

A crescente preocupação com o desenvolvimento sustentável, principalmente após

o termo ganhar notoriedade em escala global com a Rio-92, estimula, em vários

segmentos da sociedade, novos conceitos que possam proporcionar cada vez mais um

incremento da sustentabilidade nas ações humanas. Dentre eles, a ideia da

responsabilidade social (RS) é um dos que mais se destaca de forma interdisciplinar.

A gestão da RS tem um grande marco com o trabalho realizado pela International

Standard Organization (ISO), que lança, em novembro de 2010, a primeira norma

Internacional de gestão da responsabilidade social, a ISO 26000 – Diretrizes sobre

Responsabilidade Social. Dessa forma, a ISO proporciona o que pode ser a base para a

unificação dos vários conceitos e ferramentas de gestão da RS em um documento comum,

possibilitando novas iniciativas que impulsionem ainda mais a ideia do desenvolvimento

sustentável.

No Brasil, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) já disponibiliza

desde 2004 uma norma brasileira (NBR) de gestão da responsabilidade social: a ABNT

NBR 16001. Esta norma, diferentemente da ISO 26000, é uma ferramenta de gestão que

permite certificação através de auditoria externa. A ABNT NBR 16001 passou por

processo de revisão durante o ano de 2011, logo após o lançamento da norma

internacional ISO 26000, tendo sido publicada a nova versão ABNT NBR 16001 em

meados de 2012.

A inclusão da RS como ferramenta de gestão empresarial é fundamental para que

seu objetivo maior - contribuir para que o desenvolvimento sustentável (ISO 26000, pg.

Vii) - fique mais próximo de ser realizado. Objetivo este que se inicia efetivamente a

partir da criação do Clube De Roma, em 1968, e da edição em 1972 do relatório

encomendado ao Massachusetts Institute of Technology (MIT) intitulado “Os Limites do

Crescimento”. Desde então, eventos nos quais a sustentabilidade das atividades humanas

são o tema principal surgem ao redor do mundo.

Surgem novos conceitos sobre desenvolvimento sustentável e o mais aceito foi

aquele proposto no documento Our Common Future (Nosso Futuro Comum, WCED,

1987), elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento,

Page 3: TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO APLICADA À GESTÃO DA ... · transformar em um grande diferencial competitivo se considerado corretamente dentro da ... da RSC e do uso de TI na gestão

X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014

3

também conhecido como Relatório Brundtland, que definia o desenvolvimento

sustentável como sendo o “desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração

atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações”.

Este conceito teve grande importância durante a Conferência da Organização das

Nações Unidas (ONU) sobre meio ambiente e desenvolvimento sustentável, também

chamada de Cúpula da Terra ou Rio-92, sediada no Rio de Janeiro. Com a disseminação

deste conceito após a Rio-92 o interesse sobre a sustentabilidade cresceu e se globalizou

(Maia & Pires, 2011).

A recém-lançada ISO 26000 – Diretrizes sobre Responsabilidade Social busca uma

padronização, ou homogeneização entre os conceitos de RS e desenvolvimento

sustentável. Embora seja um processo que demandará tempo até que um resultado prático

seja observado, este pode ser o caminho para que o consenso seja atingido, permitindo

assim o estabelecimento da RS como mais uma ferramenta universal de gestão.

Enquanto isso, a adoção de soluções que envolvem tecnologia da informação TI na

gestão corporativa é cada vez mais presente, enquanto o acesso a equipamentos e

sistemas de informação se torna constantemente mais fácil em um cenário de

globalização extrema e de competitividade cada vez mais intensa.

Almeida (1997) afirma que a utilização de soluções tecnológicas para tratamento

da informação é conhecida há séculos, sendo o ábaco, usado desde o século VIII antes de

Cristo, talvez o exemplo mais antigo.

A busca por um desenvolvimento sustentável a partir da década de 70 culminou

com o lançamento da norma internacional ISO 26000 – Diretrizes sobre

Responsabilidade Social, em Novembro de 2010. A crescente complexidade envolvendo

sistemas de gestão, especialmente quando estes passam a compor um SIG, coloca em

evidência a demanda pelo uso de sistemas informatizados que proporcionem agilidade e

velocidade de acesso às informações envolvidas no processo da gestão empresarial.

Dentro deste cenário, onde a capacidade de incremento da gestão se torna cada vez

mais necessária e se transforma em diferencial competitivo para as organizações, o

entendimento sobre a gestão da responsabilidade social pelas empresas que buscam

implementar tal ferramenta se torna um fator crítico de sucesso em tal processo.

Page 4: TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO APLICADA À GESTÃO DA ... · transformar em um grande diferencial competitivo se considerado corretamente dentro da ... da RSC e do uso de TI na gestão

X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014

4

Portanto, o uso de sistemas de TI na gestão da responsabilidade social pode se

transformar em um grande diferencial competitivo se considerado corretamente dentro da

estratégia empresarial, ou em um grande problema caso não seja avaliado de forma

adequada.

Este trabalho foi elaborado com base nos métodos e técnicas de pesquisa descritos

por Gil (2011) e Booth et al. (2005). Os conceitos dos autores se complementam,

enquanto Gil (2011) mantém seu foco na questão científica da pesquisa e Booth et al.

(2005) observa a satisfação de atender a curiosidade da descoberta sobre algo inédito,

por mais idealista que possa parecer. Se baseia em uma pesquisa aplicada, buscando,

através de uma rev8isão bibliográfica sobre a realidade do uso da TI na gestão da RS,

identificar oportunidades de melhoria no processo. É também exploratório e descritivo,

pesquisando sobre o desenvolvimento de conceitos ainda recentes acerca do

desenvolvimento sustentável, da RSC e do uso de TI na gestão de um SGRS, ao mesmo

tempo em que busca entender como tais conceitos e ferramentas já existem em uma

população reduzida que busca a aplicação destas ferramentas, dentro do universo das

empresas brasileiras.

2 GESTÃO EM BUSCA DE UM DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL

Após a ISO 9001 se consolidar a partir de sua primeira edição, em 1987, como a

primeira ferramenta de gestão amplamente aplicada por todo o mundo as empresas

interessadas em desenvolver ainda mais sua capacidade organizacional começaram a

expandir os horizontes da gestão, principalmente utilizando normas baseadas no sistema

PDCA. Passaram também a promover a gestão do meio-ambiente, da segurança e a saúde

no trabalho, e mais recentemente, da gestão da RS.

Soratto et al. (2006) demonstra o que chama de “clara tendência na evolução e

disseminação dos sistemas de gestão” em uma análise histórica desta evolução conforme

mostrada na figura 3.

Figura 1 - Evolução dos sistemas de gestão normalizados

Page 5: TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO APLICADA À GESTÃO DA ... · transformar em um grande diferencial competitivo se considerado corretamente dentro da ... da RSC e do uso de TI na gestão

X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014

5

Fonte: Soratto et al. (2006)

A crescente complexidade envolvendo sistemas de gestão, especialmente quando

estes passam a compor um sistema de gestão integrado (SGI), coloca em evidência a

demanda pelo uso de sistemas informatizados que proporcionem agilidade e velocidade

de acesso às informações envolvidas no processo da gestão empresarial.

Barbieri (2007) coloca que o ciclo PDCA permite elaborar planos de trabalhos

para qualquer área-problema de modo contínuo, tornando-se desse modo uma

metodologia básica para que se alcancem permanentemente novos padrões de

desempenho.

Certamente que a figura 1 acima nos mostra apenas alguns dos tipos de sistemas

de gestão, principalmente aqueles voltados à certificação com normas editadas pela ISO,

ou OHSAS, ou outro órgão normalizador internacional. Porém, é fundamental o

entendimento de que cada uma das normas principais possui uma série de outras normas

complementares, desenvolvidas ao longo do tempo em função da necessidade de

melhoria contínua e pela especificidade de cada indústria e seus processos produtivos

únicos. Estas normas são chamadas de normas setoriais.

A busca por um desenvolvimento sustentável a partir da década de 70 estimulou o

surgimento e evolução do conceito de RS, culminando com o lançamento da norma

internacional ISO 26000 – Diretrizes sobre Responsabilidade Social, em Novembro de

2010. A partir do lançamento da ISO 26000, a ABNT inicia um processo de reformulação

da versão editada em 2004 da norma brasileira, a ABNT NBR 16001.

Page 6: TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO APLICADA À GESTÃO DA ... · transformar em um grande diferencial competitivo se considerado corretamente dentro da ... da RSC e do uso de TI na gestão

X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014

6

Dentro deste processo global em busca de um patamar cada vez mais sustentável

para as atividades empresariais, as normas de RS vêm colaborando para que as

organizações promovam sua gestão utilizando tais ferramentas. Isso suscita, além de uma

melhoria da governança corporativa, um evidente diferencial competitivo entre as

organizações.

É também de fundamental importância a compreensão do impacto que a tecnologia

da informação pode representar na gestão empresarial, especialmente se a empresa usar

mais de um sistema de gestão.

Portanto, o uso de sistemas de TI na gestão da responsabilidade social pode se

transformar em um grande diferencial competitivo se considerado corretamente dentro da

estratégia empresarial, ou em um grande problema caso não seja avaliado de forma

adequada.

3 RESPONSABILIDADE SOCIAL E DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL

Responsabilidade social, responsabilidade social corporativa, ou mesmo

responsabilidade social empresarial. Ainda que diversamente nomeado, o conceito de RS

se mantém hoje um tema amplamente discutido. A ISO reconhece que “o termo torna-se

mais largamente utilizado no início da década de 70, embora vários aspectos da RS já

fossem objeto da ação de organizações e governos desde o final do século XIX, e em

alguns casos até mais cedo”. (ISO 26000, 2010)

Felden et al. (2007) aponta que “para alguns autores, a única responsabilidade de

uma empresa é para com a geração de lucro, enquanto que, para outros, por usarem

recursos oriundos da sociedade, as empresas devem manter atitudes éticas e responsáveis

com todas as suas partes interessadas (stakeholders)”.

Para Friedman (1970), em seu controverso artigo no The New York Times, a única

responsabilidade social das empresas seria a utilização de todos os seus recursos em

atividades que visem a aumentar seus próprios lucros. O autor vai ainda além ao dizer

que as empresas, ou os negócios, não poderiam ter “responsabilidade social”, o que

caberia somente a indivíduos, não a organizações. Friedman (1970) afirma ainda que

Page 7: TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO APLICADA À GESTÃO DA ... · transformar em um grande diferencial competitivo se considerado corretamente dentro da ... da RSC e do uso de TI na gestão

X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014

7

“Homens de negócios ou executivos não deveriam ter outras preocupações além de

devotar sua lealdade e trabalho aos seus empregadores, que esperavam deles o máximo

esforço para que o negócio retornasse o melhor resultado financeiro possível dentro das

leis vigentes, da ética e dos melhores costumes”.

Importante perceber, porém, que conceitos tais como filantropia ou cidadania

empresarial se misturam e algumas empresas ainda alegam ser socialmente responsáveis

por apoiarem determinado projeto para a comunidade no seu entorno, ou mesmo afastada.

Felden et al. (2007) esclarece de forma exemplar esta diferenciação na tabela 1, abaixo.

Tabela 1 - Conceitos de atuações sociais advindos da sociedade pós-industrial

Filantropia empresarial A filantropia empresarial pode ser conceituada como ação social, de natureza

assistencialista, caridosa e temporária.

O ato filantrópico praticado pela empresa não garante que a mesma esteja

trabalhando de acordo com a legislação trabalhista e fiscal ou respeitando o meio

ambiente.

Cidadania Empresarial O termo cidadania empresarial é utilizado para designar o envolvimento de

empresas em programas sociais, incentivo ao trabalho voluntário,

compartilhamento de seus conhecimentos gerenciais, de desenvolvimento de

parcerias com fundações e associações e de apoio a projetos sociais.

RESPONSABILIDADE

SOCIAL CORPORATIVA

A definição de responsabilidade social corporativa é o conceito que engloba toda

a cadeia produtiva da empresa, designa atenção tanto ao seu público interno como

para os agentes externos, ou seja, a sociedade. Mas deve englobar também a

prática do dialogo e da gestão que resultem em um relacionamento transparente

das empresas com os demais públicos como: empregados, consumidores, clientes,

fornecedores, governos e sociedade.

Fonte: Felden et al. (2007)

Já Ramos (2010) nos traz um comparativo entre filantropia, RS e desenvolvimento

sustentável, demonstrando aspectos comuns entre os três conceitos, porém com

dimensões bastante diferenciadas na questão prática de seus resultados.

Tabela 2 - Diferenças entre filantropia, responsabilidade social e desenvolvimento sustentável.

Filantropia Responsabilidade Social Desenvolvimento sustentável

Ação individual e voluntária Ação coletiva Ação global

Page 8: TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO APLICADA À GESTÃO DA ... · transformar em um grande diferencial competitivo se considerado corretamente dentro da ... da RSC e do uso de TI na gestão

X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014

8

Fomento da caridade Fomento da cidadania Fomento de sustentabilidade para as

gerações futuras

Base assistencialista Base estratégica Base continuidade de vida

Restrita a empresários,

filantrópicos e abnegados

Extensiva a todos Extensiva a todos em um conceito

sistêmico que envolve do indivíduo às

nações

Prescinde de gerenciamento Demanda gerenciamento Demanda consciência

Decisão individual Decisão consensual Decisão sistêmica

Fonte: Ramos (2010)

Sobre as diferenciações expostas nas tabelas 1 e 2, a ISO esclarece de forma

objetiva dentro da norma ISO 26000 os seguintes pontos:

A noção inicial da responsabilidade social era centrada em atividades filantrópicas, como doações a instituições beneficentes. Temas como práticas de trabalho e práticas leais de operação surgiram há mais de um século. Outros temas, como direitos humanos, meio ambiente, defesa do consumidor e combate à fraude e à corrupção, foram acrescentados ao longo do tempo conforme foram recebendo maior atenção. (ISO 26000, 2010)

A diferenciação estabelecida por Felden et al. (2007) evidencia a necessidade de

uma interação entre empresa e seus stakeholders pautada em práticas éticas e

responsáveis, social e ambientalmente. Entretanto, a realidade dos desafios sociais e

econômicos atuais demostra ainda a fragilidade da capacidade do Estado em atender as

demandas dos cidadãos e assim abre espaço para as que empresas e a sociedade civil

organizada atuem de forma bastante intensa ao mesmo tempo em que desenvolvem a

questão da RSC.

Soratto et al. (2006) afirma que “a responsabilidade social vem se tornando, em

muitos casos, um referencial de excelência para o mundo dos negócios sob a perspectiva

de um modelo de desenvolvimento sustentável, que resulta em harmonia entre as

dimensões social e ambiental”.

A responsabilidade social vem se tornando parte das ações corporativas de forma

irreversível e, quando gerenciadas de forma correta, podem criar benefícios

significativos tanto para a reputação da empresa como para a motivação e lealdade de

Page 9: TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO APLICADA À GESTÃO DA ... · transformar em um grande diferencial competitivo se considerado corretamente dentro da ... da RSC e do uso de TI na gestão

X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014

9

seus funcionários. O resultado destas ações de responsabilidade social fortalecem as

parcerias e as relações, tanto internas quanto externas.

3.1 HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DO CONCEITO DA

RESPONSABILIDADE SOCIAL

A história da RSC é motivo de estudos há décadas e a maioria das pesquisas

aponta para um início incerto quanto à data precisa sobre os primeiros eventos

relacionados a um possível conceito de RS. Nunes (2010) menciona que as primeiras

abordagens entre empresas e o corpo social onde estavam inseridas foram detectadas

ainda no século XIX, quando surgiram as primeiras discussões sobre questões sociais e

os impactos destas questões no contexto econômico.

Kreitlon (2004) em uma retrospectiva histórica menciona o clássico de Engels,

Situação da classe trabalhadora na Inglaterra, de 1845, como constatação de primórdios

sobre o pensamento acerca da RS.

Carroll (2009) reconhece evidências nos Estados Unidos da América do Norte

(EUA) anteriores à década de 50, como por exemplo, quando os homens de negócios

eram perguntados em entrevistas à revista Fortune sobre suas responsabilidades sociais

(Fortune, 1946, citado por Bowen, 1953, p.44).

O trabalho de Howard R. Bowen, Responsabilidades Sociais do Homem de

Negócios, publicado em 1953, foi provavelmente o primeiro texto a considerar de forma

objetiva o conceito de RS. Para Carroll (1999), tanto pelo conteúdo voltado

especificamente à questão da RS quanto pelos argumentos de Bowen (1953) contrários à

ideia de que a RS seria a cura para todos os males, mas que continha indicações sobre

como os negócios poderiam ser conduzidos no futuro, Howard R. Bowen poderia ser

considerado o pai da RSC.

Após a obra de Bowen (1953), outro grande autor escrevendo sobre RS foi Keith

Davis, com vários textos sobre o assunto já na década de 1960. Carroll (1999) nos traz a

definição de Keith Davis para RS:

Decisões e ações dos homens de negócios tomadas por razões, ao menos em parte, além dos interesses econômicos diretos da firma. (Davis, 1960, apud Carrol 1999)

Page 10: TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO APLICADA À GESTÃO DA ... · transformar em um grande diferencial competitivo se considerado corretamente dentro da ... da RSC e do uso de TI na gestão

X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014

10

Mais tarde, em 1967, Keith Davis revisa seu conceito sobre RS em um artigo onde

analisa a questão sobre a dívida do homem de negócios para com a sociedade. Em sua

definição revista, Davis define que:

A causa da responsabilidade social emerge da preocupação com as consequências éticas dos atos de alguém, à medida que podem afetar os interesses de outros. (Davis, 1967, apud Carroll, 1999)

Ainda na década de 60, pensadores como Clarence C. Walton (1967), traz uma

definição um pouco diferente daquela descrita por Davis (1967):

Em suma, o novo conceito de responsabilidade social reconhece a intimidade das relações entre a Corporação e a sociedade e aceita que tais relações devem ser mantidas em mente pela alta direção enquanto a Corporação e os grupos relacionados perseguem seus respectivos objetivos. (Walton, 1967, p. 18, apud Carroll, 1999)

Outro autor importante, Milton Friedman, publica em 1970 no New York Times seu

artigo, The social responsibility of business is to increase profits. Naturalmente

comentários surgem contestando as colocações de Friedman (1970) e em 1972 é

publicado um relatório do Clube de Roma, The Limits of Growth, ajudando os críticos da

postura neoliberal radical de Friedman a formularem argumentos cada vez mais robustos

em direção a um conceito amplo de RS.

Também em 1972, na França, surge o chamado “Balanço Social”, com o objetivo

de publicar e divulgar as ações de cunho social de determinada empresa. A emissão de

um balanço social viria a se tornar obrigatória em 1977 para empresas com mais de 750

funcionários (Nunes, 2010). Começa então a mudança do paradigma da RS do indivíduo

para a RS da empresa (RSE). A década de 70 deixa sua contribuição acerca de definições

sobre RS ainda com Harold Johnson (1971) e Backman (1975), entre outros.

Ao mesmo tempo em que pensadores expressavam seus conceitos sobre RS, a

Comissão pelo Desenvolvimento (CED) ressalta em sua publicação Responsabilidade

Social das Corporações, de 1971, que empresas estariam sendo chamadas a assumir

responsabilidades mais amplas para com a sociedade como nunca visto antes, de forma a

atender a uma vasta gama de valores humanos.

No intuito de comparar a evolução do conceito, citamos ainda a definição do

Banco Mundial de 2002 em um relatório preparado pelo Instituto Internacional para o

Meio Ambiente e Desenvolvimento (IIED), onde, entre outros fatores, enfatizava com

Page 11: TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO APLICADA À GESTÃO DA ... · transformar em um grande diferencial competitivo se considerado corretamente dentro da ... da RSC e do uso de TI na gestão

X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014

11

veemência a questão de que as empresas precisam ir além do atendimento às leis e

regulações para poderem desenvolver sua RSC:

O Conselho pelo desenvolvimento sustentável do Banco Mundial definiu responsabilidade social corporativa como “o compromisso empresarial de contribuir para o desenvolvimento econômico sustentável, trabalhando em conjunto com os empregados, suas famílias, a comunidade local e a sociedade em geral para melhorar sua qualidade de vida, de maneiras que sejam boas tanto para as empresas como para o desenvolvimento.” (BANCO MUNDIAL, 2002)

Em sintonia com o trabalho do Banco Mundial, é fundamental ressaltarmos uma

importante iniciativa fora do contexto norte-americano relacionada ao desenvolvimento

da RS: a edição do LIVRO VERDE – Promover um quadro europeu para a

responsabilidade social das empresas, produzido em 2001 pela Comissão das

Comunidades Europeias (CCE).

Este trabalho elaborado pela CCE traz uma definição de RS e considera que “a

maioria das definições descreve a RSC como a integração voluntária de preocupações

sociais e ambientais por parte das empresas nas suas operações e na sua interação com

outras partes interessadas”.

Ser socialmente responsável não se restringe ao cumprimento de todas as obrigações legais - implica ir mais além através de um “maior” investimento em capital humano, no ambiente e nas relações com outras partes interessadas e comunidades locais [...]

[...] No entanto, a responsabilidade social das empresas não pode ser encarada como um substituto da regulação ou legislação no domínio dos direitos sociais ou das normas ambientais, designadamente da aprovação de legislação nova e apropriada. Nos países em que esta regulação não exista, deverão ser envidados esforços no sentido de estabelecer um quadro regulador ou jurídico adequado, por forma a definir uma base equitativa a partir da qual se possam desenvolver as práticas socialmente responsáveis. (CCE, 2001)

Apesar de ainda haver uma considerável variedade de conceitos para RS em vários

documentos editados sobre o assunto, analisamos finalmente a definição da norma ISO

26000, a qual foi também incorporada na ABNT NBR 16001:2012, que agrega todos os

demais conceitos de forma simples e objetiva:

Responsabilidade social - responsabilidade de uma organização pelos impactos de suas decisões e atividades na sociedade e no meio ambiente (2.6), por meio de um comportamento ético. e transparente que

contribua para o desenvolvimento sustentável, inclusive a saúde e bem-estar da sociedade;

Page 12: TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO APLICADA À GESTÃO DA ... · transformar em um grande diferencial competitivo se considerado corretamente dentro da ... da RSC e do uso de TI na gestão

X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014

12

leve em consideração as expectativas das partes interessadas; esteja em conformidade com a legislação aplicável e seja consistente

com as normas internacionais de comportamento; e esteja integrada em toda a organização e seja praticada em suas relações

Além de definir de forma concisa o conceito de RS, a norma ISO 26000 e a ABNT

NBR 16001:2012 estabelecem ainda de maneira clara o objetivo da RS nas empresas e

organizações como sendo “o de contribuir para o desenvolvimento sustentável” (ISO

26000, 2010).

Desta forma, a RSC não somente se estabelece como uma responsabilidade das

empresas como também passa a ter uma dimensão prática na direção de um objetivo

comum e estabelecido, trazendo clareza para qualquer avaliação futura sobre a RS, sua

aplicação e gestão dentro das organizações.

3.2 NÍVEIS DE RESPONSABILIDADE SOCIAL

Dentro desta perspectiva de responsabilização pelos impactos gerados, o que pode

ser estendido a impactos sociais e ambientais, e em função da complexidade em se

definir se uma empresa é responsável socialmente ou não, pode-se pensar em níveis de

RSC. Esta abordagem vem evoluindo, junto com o próprio conceito de RSC ao longo do

tempo.

Um destes modelos para definição de níveis de RS foi sugerido por Enderle e

Tavis (1998), que apontam três níveis de RS:

Tabela 3 - Níveis de Responsabilidade Social

Nível 1: Requisitos éticos mínimos quando a empresa atende e cumpre com todas as suas

obrigações legais.

Nível 2: Obrigações consideradas além do nível mínimo quando além de atingir o nível 1, a

empresa atende ás expectativas da sociedade.

Nível 3: Aspirações a ideais éticos quando a empresa, após atender às leis e a sociedade,

busca ideais éticos que superam as obrigações legais e as expectativas da sociedade.

Fonte: Enderle & Tavis, (1998, apud Felden, 2007)

Page 13: TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO APLICADA À GESTÃO DA ... · transformar em um grande diferencial competitivo se considerado corretamente dentro da ... da RSC e do uso de TI na gestão

X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014

13

Felden et al. (2007) enfatiza que apesar de uma empresa poder se enquadrar no

nível 2, as expectativas da sociedade podem, entretanto, variar, forçando a empresa a

retornar ao nível 1 até que as novas expectativas sociais sejam atendidas. A ISO também

aborda esta questão na norma ISO 26000 quando estabelece que “os elementos da RS

refletem as expectativas da sociedade em um momento específico, sendo, portanto,

passíveis de mudança”.

3.3 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL – DESAFIO DO

SÉCULO XXI

Bellen (2006) afirma que a noção de desenvolvimento sustentável tem sua origem

mais remota no debate internacional sobre o conceito de desenvolvimento e provém de

um longo processo histórico de reavaliação crítica da relação existente entre a sociedade

civil e o meio ambiente.

Para Maia & Pires (2011), os impactos gerados pela pressão industrial sobre o

meio ambiente, a extrema concentração de capital e o crescimento demográfico,

expuseram a sociedade global a crises que exigem soluções extremamente complexas.

A ausência de consenso sobre o conceito de DS dificulta a elaboração de ações

objetivas neste sentido. Este quadro somente apresentou alguma mudança quando surgiu

a definição que seria a mais aceita para desenvolvimento sustentável, justamente a do

relatório Brundtland (1987).

O desenvolvimento que procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades, significa possibilitar que as pessoas, agora e no futuro, atinjam um nível satisfatório de desenvolvimento social e econômico e de realização humana e cultural, fazendo, ao mesmo tempo, um uso razoável dos recursos da terra e preservando as espécies e os habitats naturais. (Relatório Brundtland, 1987)

Em 2010, a ISO 26000, traz a definição abaixo para desenvolvimento sustentável.

Esta definição é um aperfeiçoamento da definição do Relatório Brundtland.

Desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações de suprir suas próprias necessidades

Page 14: TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO APLICADA À GESTÃO DA ... · transformar em um grande diferencial competitivo se considerado corretamente dentro da ... da RSC e do uso de TI na gestão

X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014

14

NOTA: Desenvolvimento sustentável refere-se à integração de objetivos de alta qualidade de vida, saúde e prosperidade com justiça social e manutenção da capacidade da Terra de suportar a vida em toda a sua diversidade. Esses objetivos sociais, econômicos e ambientais são interdependentes e reforçam-se mutuamente. Desenvolvimento sustentável pode ser tratado como uma forma de expressar as expectativas mais amplas da sociedade como um todo.

Portanto, é de fundamental importância a diferenciação entre as noções de RS e

desenvolvimento sustentável, onde este último refere-se à sustentabilidade das ações da

sociedade em escala planetária, envolvendo as três dimensões da sustentabilidade:

econômica, social e ambiental, como demonstrado na figura 2, a seguir.

Já a RSC diz respeito às ações de determinada organização referentes às mesmas

questões do tripé da sustentabilidade, porém em uma esfera restrita ao seu alcance, ou

seja: à sua cadeia produtiva, à comunidade ao redor da empresa e ao meio ambiente onde

a empresa está inserida.

De acordo com Maia & Pires (2011), “a busca pelo equilíbrio entre as dimensões

econômica, social e ambiental passam então a fazer parte do discurso sobre a

sustentabilidade".

Figura 2 - As três dimensões do desenvolvimento sustentável

Fonte: Adaptado da ISO 26000

A parir deste conceito surge a noção de Triple Bottom Line, delineado a partir da

publicação “Cannibal´s with Forks: The triple bottom line of 21st Century Business”, de

John Elkington (1997), sendo que antes desta data pouca referência se encontra com

relação a este termo (Norman & MacDonald, 2003). Seguindo o Triple bottom LIne, a

organização precisa considerar as três dimensões em sua governança e em suas tomadas

de decisões, bem como em seus relatórios.

Page 15: TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO APLICADA À GESTÃO DA ... · transformar em um grande diferencial competitivo se considerado corretamente dentro da ... da RSC e do uso de TI na gestão

X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014

15

4 GESTÃO INFORMATIZADA

Apesar de sistemas de gestão estarem disponíveis desde a década de 80, com a

edição do primeiro entre todos os sistemas de gestão, a ISO 9001, o uso da informática

para dinamizar a gestão destes sistemas somente se popularizou para a grande maioria

das empresas, independente do seu porte, a partir do fim da década de 90 e início do

segundo milênio.

O mundo vive a era da informação e a principal característica deste momento é o

uso intensivo da TI em praticamente todas as atividades humanas. Para Lunardi et al.

(2010), a popularização da TI por sua acessibilidade torna possível o uso e aplicação de

TI até para MPEs.

Em uma pesquisa realizada com micro e pequenas empresas (MPEs), Lunardi et

al. (2009) verifica que, entre outros pontos, as MPEs são motivadas a adotar soluções de

TI nas operações principalmente por quatro fatores distintos:

Necessidade interna,

Pressões externas,

Utilidade percebida; e

A presença de um ambiente organizacional favorável.

Dentre estes fatores, as pressões externas e um ambiente organizacional favorável

são os principais motivadores. A mesma pesquisa indicou a TI como ferramenta

importante para proporcionar alguma vantagem competitiva.

Enquanto o uso da TI pelas empresas se desenvolve, estudos mais recentes

começam a avaliar o grau de informatização das organizações e como esta informatização

afeta o desempenho do negócio. Zwicker et Al. (2007) esclarece que o termo

informatização representa a utilização de recursos de TI pelas empresas. Para Weissbach

(2003, apud Mendonça, 2007), a informatização é o processo de aplicação gradual,

crescente, planejada e sistemática do uso da TI em todas as funções da organização.

Compreender o grau de informatização de determinada organização é fundamental

para que um planejamento adequado do uso da TI, bem como dos investimentos

Page 16: TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO APLICADA À GESTÃO DA ... · transformar em um grande diferencial competitivo se considerado corretamente dentro da ... da RSC e do uso de TI na gestão

X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014

16

necessários para sua adequação às necessidades da organização sejam eficazes e

eficientes, servindo como base para futuros aperfeiçoamentos. (Mendonça et Al., 2007)

4.1 INFORMÁTICA APLICADA À GESTÃO EMPRESARIAL

Como já colocado anteriormente, o uso da informática pelas empresas está

praticamente consolidado nos mais diversos segmentos. Para Bravo (2005), a finalidade

de um sistema de gestão informatizado é ajudar uma organização a atingir suas metas,

fornecendo informações aos gestores em tempo real.

Campos et. al (2011) aponta que “[]...A utilização da TI pelas organizações

brasileiras, como forma de tornar o negócio mais competitivo, de aprimorar as práticas

administrativas, ou até mesmo na tentativa de se diferenciar dos concorrentes tem sido

uma prática comum nas organizações.

Mendonça et Al. (2009) em estudo sobre a influência da TI na produtividade da

indústria brasileira reafirma a profundidade com que a TI se encontra hoje nos processos

produtivos:

“De forma desigual, as TI afetaram todas as atividades econômicas: setores maduros, como o têxtil, rejuvenescem; surgem novas indústrias, como a de software, que constituem a base de novo processo de desenvolvimento”. (Mendonça et al., 2009)

Ao mesmo tempo, novas ferramentas de gestão foram surgindo enquanto a

complexidade das relações sociais foi crescendo. Este fato vem forçando as organizações

a investirem em TI para alcançarem os resultados necessários e também transformando a

estrutura de TI já disponível e as futuras ferramentas de gestão em vantagem

competitiva.

Segundo Mendonça et al. (2009), “os investimentos em TI são mais importantes

que os outros tipos de investimentos no que diz respeito ao crescimento da

produtividade”. Para Zwicker et al. (2007), com relação ao uso da TI, é fundamental

avaliar se ela está realmente gerando valor agregado através de uma aplicação adequada,

ou seja, se está trazendo benefícios para os negócios da empresa.

Portanto, considerando que o uso da TI se dá de forma estruturada e adequada ao

tipo de negócio de cada empresa, quando bem aplicada, trará certamente ganho de

Page 17: TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO APLICADA À GESTÃO DA ... · transformar em um grande diferencial competitivo se considerado corretamente dentro da ... da RSC e do uso de TI na gestão

X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014

17

produtividade e valor. Lunardi et al. (2010) afirma que empresas investindo de forma

planejada em TI apresentam desempenho superior às demais, especialmente na questão

da redução de custos operacionais.

Albertin; Rosa (2008) aponta a necessidade de entendimento sobre as dimensões

do uso da TI em benefício dos negócios de uma organização, que seriam:

Os tipos de uso de TI,

Os benefícios oferecidos,

O desempenho empresarial,

A governança e a administração de TI, e

O papel dos executivos de negócio e de TI

Os autores destacam ainda a importância de conhecer também as relações entre

cada uma das dimensões, o contexto definido pelos direcionadores das respostas

organizacionais e do uso da TI, as pressões de mercado, de indivíduo e da própria

tecnologia. Portanto o valor agregado pelo uso da TI depende diretamente do estudo

desses fatores, conforme mostrado na figura 11 abaixo.

Figura 3 - Modelo das dimensões do uso de tecnologia de informação em benefício dos negócios

Fonte: Albertin; Rosa (2008)

Page 18: TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO APLICADA À GESTÃO DA ... · transformar em um grande diferencial competitivo se considerado corretamente dentro da ... da RSC e do uso de TI na gestão

X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014

18

O resultado da aplicação de uso da TI em uma empresa estará ligado à visão e

valor que essa tecnologia tem para a empresa e o sucesso da aplicação de recursos de TI

depende de a empresa reconhecer os benefícios gerados, tais como redução de custos,

produtividade, flexibilidade, qualidade e inovação.

Przyczynski e Vanti (2012) também ressaltam que o potencial da TI relacionado à

capacitação e sustentação de estratégias está ligado à capacidade dos dirigentes em

perceberem o valor e os impactos que a TI proporciona aos negócios ao promover

transformações importantes com a oferta de novos serviços e uma gestão eficiente de

recursos organizacionais.

4.2 INFORMÁTICA APLICADA À GESTÃO DA ABNT NBR 16001:2012

Considerando a revisão de literatura até aqui elaborada, fica evidente que uma

empresa que planeja seus investimentos em TI de forma estruturada e voltada ao

atendimento das necessidades identificadas e ainda compreendendo os fatores críticos de

sucesso relacionados ao uso da TI, pode implementar a gestão da RS utilizando sistemas

informatizados para o controle e monitoramento da evolução da responsabilidade social

corporativa.

O sucesso da implementação de um sistema de gestão da responsabilidade social

(SGRS) depende, entre outros fatores, de recursos adequados para a gestão da ferramenta

a ser utilizada, neste caso a ABNT NBR 16001. Uma das maiores dificuldades para

atingir o sucesso de uma implantação desta natureza é a subjetividade de determinados

requisitos.

Soratto et al. (2006) “constatou, ao analisar as peculiaridades da certificação de

um SGRS com base na ABNT NBR 16001:2004, obstáculos potenciais[...] considerando

a subjetividade dos requisitos e a dificuldade em quantificar objetivos, metas e

programas, de acordo com as temáticas propostas”.

Quintella et. al (2009) colocam a necessidade de se traduzir os objetivos que

contribuem para o sucesso de um empreendimento em indicadores que os monitorem,

identificando-os desta forma como fatores críticos de sucesso (FCS). Estes fatores

Page 19: TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO APLICADA À GESTÃO DA ... · transformar em um grande diferencial competitivo se considerado corretamente dentro da ... da RSC e do uso de TI na gestão

X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014

19

devem, ainda segundo Quintella et. al (2009), ser explicitados em uma estrutura básica

de variáveis que poderão influenciar no sucesso ou fracasso do atingimento das metas

definidas.

6 CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES PARA FUTURAS PESQUISAS

A questão da responsabilidade social cresce e ganha força a cada dia, enquanto as

organizações ainda se preparam para a promoção de sua própria responsabilidade social

corporativa. O lançamento da ISO 26000 aparece como o primeiro movimento

internacional em busca deste objetivo.

É possível observar iniciativas rumo à sustentabilidade em todos os continentes,

com maior ou menor intensidade. Porém, no Brasil este movimento ainda é embrionário,

talvez pelas características socioeconômicas do nosso país. Um bom exemplo disso é o

reduzido número de empresas certificadas pela norma brasileira de responsabilidade

social, ainda extremamente reduzido, quase inexpressivo, se comparado ao universo de

empresas ativas no Brasil.

O uso da TI na gestão empresarial seja ainda reduzido, mesmo sendo cada vez

mais acessível, é fundamental para que as empresas obtenham sucesso na implementação

de ferramentas de gestão, desde qualidade até responsabilidade social.

Pode-se observar uma vasta área para que melhorias na gestão da responsabilidade

social no Brasil sejam implementadas por empresas, certificadas ou não. Fica clara a

necessidade de um aprofundamento sobre a questão, com a possibilidade de uso de novas

metodologias de implementação e aplicação de um SGRSI, preferencialmente de forma

integrada com os demais SGs já implementados pelas empresas que almejem expandir

sua gestão e incluir a responsabilidade social como mais um SG a colaborar com o

negócio.

BIBLIOGRAFIA

Albertin, Alberto L.; Albertin, Rosa M. de M.; Benefícios do uso de tecnologia de informação para o desempenho empresarial. Rio de Janeiro, 2008. (rap – Rio de Janeiro 42(2):275-302, Mar./abr. 2008)

Page 20: TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO APLICADA À GESTÃO DA ... · transformar em um grande diferencial competitivo se considerado corretamente dentro da ... da RSC e do uso de TI na gestão

X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014

20

Almeida, José M. F.; Para uma história da informática. Minho, 1997. (“Sistemas de Informação”. ISSN 0872-7031. 62, 1997)

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TECNICAS. ABNT NBR ISO 9001 - Sistema de Gestão da Qualidade – Requisitos, Rio de Janeiro, 2008 (ISBN 978-85-07-01100-2)

_______ABNT NBR 16001 - Responsabilidade Social – Sistema de Gestão – Requisitos, Rio de Janeiro, 2012 (ISBN 978-85-07-03523-7)

_______ABNT NBR ISO 26000 – Diretrizes sobre Responsabilidade Social – Rio de Janeiro, 2010 (ISBN 978-85-07-02363-0).

Banco Mundial (Fox, T.; Ward, H.; Howard, B.); Public sector roles in strengthening corporate social responsibility: a baseline study. 2002 (Corporate Responsibility for Environment and Development Programme International Institute for Environment and Development (IIED)), October 2002.

Bellen, H. M. V. Indicadores de sustentabilidade: uma análise comparativa. Rio de Janeiro, 2006. (2a Edição, Editora FGV, ISBN 85-225-0506-3))

Booth, Wayne C.; Colomb, Gregory G.; Williams, J. M.; A Arte Da Pesquisa, 2005. (Martins Editora, Metodologia de Pesquisa, ISBN: 8533621574, Edição: 2ª)

Bravo, Alfredo L.; O papel dos sistemas de informação na modernização da gestão pública municipal no Brasil: Estudo de caso na prefeitura municipal de Rio Bonito / RJ. Niterói, 2005. (Dissertação de mestrado – Universidade Federal Fluminense – Escola de Engenharia)

Carroll, A. B. A Three-Dimensional Conceptual Model of Corporate Performance. , v.4, n.4, p.497-505. 1979.

Campos, Ilka M. S.; Medeiro, Marcos F. M.; Souza Neto, Manoel V.; O uso TI nas MPEs da cidade de João Pessoa: um diagnóstico da situação atual. João Pessoa, 2011. (SISTEMAS & GESTÃO, v. 6, n. 1, p. 44-55, janeiro a abril de 2011)

Carrol, M.; van der Merwe, A.; Kotzé, P.; Secure Cloud Computing - Benefits, Risks and Controls. South Africa, 2011. (Information Security South Africa (ISSA), 2011)

CCE - Comissão das Comunidades Europeias, Livro Verde – Promover um quadro europeu para a responsabilidade social das empresas, Bruxelas, 2001.

Felden, Cátia R.; Kelm, Martinho L.; Muller, Pedro A.; Ferramentas Inovadoras da Abordagem de Gestão Social, São Paulo, 2007. (RAI - Revista de Administração e Inovação, São Paulo, v. 4, n. 2, p. 100-116, 2007)

Friedman, Milton. The social responsibility of business is to increase its profits. The New York Times Magazine, New York, Setembro, 1970.

Gambôa, Fernando A. R.; Caputo, Márcio S.; Filho, Ettore B.; Método para gestão de riscos em implementações de sistemas erp baseado em fatores críticos de sucesso. São Paulo, 2004. (Revista

Page 21: TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO APLICADA À GESTÃO DA ... · transformar em um grande diferencial competitivo se considerado corretamente dentro da ... da RSC e do uso de TI na gestão

X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014

21

de Gestão da Tecnologia e Sistemas de Informação, Journal of Information Systems and Technology Management, Vol. 1, No. 1, 2004, pp. 45-62; ISSN online: 1807-1775)

Gil, Antonio C.; Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. São Paulo, 2008. (Editora Atlas, 6ª Ed., ISBN 978-85-224-5142-5).

Kreitlon, Maria P., A Relação ética entre empresas e sociedade: Fundamentos teóricos da responsabilidade social empresarial, Curitiba, 2004 (em Anais do XXVIII ENAMPAD)

Lunardi, Guilherme L.; Dolci, Pietro C.; Maçada, Antonio C. G. - Adoção de tecnologia de informação e seu impacto no desempenho organizacional: um estudo realizado com micro e pequenas empresas, São Paulo, 2010 (R. Adm., São Paulo, v.45, n.1, p.05-17, jan./fev./mar. 2010)

Maia, Anderi G.; Pires, Paulo S.; Uma compreensão da sustentabilidade por meio dos níveis de complexidade das decisões organizacionais, São Paulo, 2011 (RAM, Rev. Adm. Mackenzie, v. 12, n. 3, edição especial • São Paulo, SP • maio/jun. 2011 • ISSN 1678-6971)

Mendonça, Marco A. A.; Freitas, Fernando A.; Souza, Jano M.; Tecnologia Da Informação E Produtividade Na Indústria Brasileira, São Paulo, 2008. (RAE • São Paulo • v. 49 • n.1 • jan./mar. 2009 • 074-085, ISSN 0034-7590)

Norman, Wayne, and Chris MacDonald. 2004. "Getting to the Bottom of 'Triple Bottom Line,'" Business Ethics Quarterly 14(2) (April): 243-62.

Organização das Nações Unidas (ONU): Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, (WCED), Nosso Futuro Comum. 1987

Przyczynski, R.; Vanti, Adolfo A.; Recursos de tecnologia da informação sustentadores de vantagem competitiva: um estudo no setor metal-mecânico agroindustrial. São Paulo, 2012 (RAM, REV. ADM. MACKENZIE, V. 13, N. 4 • SÃO PAULO, SP • JUL./AGO. 2012 • ISSN 1518-6776)

Quintella, Heitor L. M. de Meirelles; Lemos, Ricardo G. F.; Leitão, Leonardo T.; Fatores críticos de sucesso na gestão estratégica de preços no varejo: estudo comparativo das técnicas HILO E EDLP. (Rio´s International Journal on Sciences of Industrial and Systems Engineering and Management - Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2009)

Ramos, Ana J. G. N.; A norma ABNT NBR 16001 sistema de gestão da responsabilidade social como ferramenta de estratégia de negócio: Um estudo de caso SERASA EXPERIAN, Niterói, 2010. (Universidade Federal Fluminense)

Soratto, Alexandre N.; Morini, Antônio A.; Almeida, Márcia A. S.; Knabben, Patrícia de S.; Varvakis, G.; Sistema da Gestão da Responsabilidade Social: Desafios para a certificação NBR 16001, Paraná, 2006. (ISSN 1808-0448 / v. 02, n. 04: p. 13-25, 2006 Revista Gestão Industrial)

Zwicker, R.; Souza, Cesar A.; Vidal, Antonio G. R.; Siqueira, José de O.; Grau de Informatização de empresas: Um modelo estrutural aplicado ao setor industrial do estado de São Paulo, São Paulo, 2007. (RAE-eletrônica, v. 6, n. 2, Art. 13, jul./dez. 2007)