Televisão,Modernidade e Vida Cotidiana

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TELEVISÃO, MODERNIDADE E VIDA QUOTIDIANA: discussão sobre o trabalho de Roger Silverstone face a diferentes contextos culturais TUFTE ,Thomas RESUMO Como a televisão entra, influencia e, portanto, contribui para a constituição social, cultural e econômica das nossas vidas diárias? O que nós aprendemos com a mudança qualitativa nos estudos empíricos de mídia nos últimos 15-20 anos? É possível estabelecer diretrizes analíticas para tais estudos? E quais são as possibilidades e limitações ligadas ao desejo de fazer generalizações sobre televisão e vida quotidiana nas modernas sociedades contemporâneas? Discute-se esta questão principalmente em referência a dois aspectos que considera-se chaves em qualquer análise relacionada à televisão e vida quotidiana. Palavras-chave: Recepção. Estudos Culturais. Etnografia. Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com)

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Cotidiano.

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  • TELEVISO, MODERNIDADE E VIDA QUOTIDIANA: discusso sobre o trabalho de Roger Silverstone face a diferentes contextos culturais

    TUFTE ,Thomas

    RESUMO Como a televiso entra, influencia e, portanto, contribui para a constituio social, cultural e econmica das nossas vidas dirias? O que ns aprendemos com a mudana qualitativa nos estudos empricos de mdia nos ltimos 15-20 anos? possvel estabelecer diretrizes analticas para tais estudos? E quais so as possibilidades e limitaes ligadas ao desejo de fazer generalizaes sobre televiso e vida quotidiana nas modernas sociedades contemporneas? Discute-se esta questo principalmente em referncia a dois aspectos que considera-se chaves em qualquer anlise relacionada televiso e vida quotidiana. Palavras-chave: Recepo. Estudos Culturais. Etnografia.

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  • 2 Televiso, modernidade e vida quotidiana.

    Intexto, Porto Alegre: UFRGS, v. 2, n. 2, p. 1-24, julho/dezembro 1997.

    1 INTRODUO

    "No Ocidente e em outras sociedades, por trs das portas da frente fechadas, a

    televiso e outras tecnologias de informao e comunicao so consumidas e usadas,

    imagina-se que, de um modo comum e nico". (Morley e Silverstone, 1991:4)

    No Paraguai, havia uma famlia muito pobre, que morava em uma pequena casa

    de tijolos. A nica hora do dia em que sua porta da frente estava fechada era durante a

    noite, enquanto as pessoas dormiam. No restante do tempo, a porta da frente estava

    sempre aberta. A maioria das atividades domsticas ocorria do lado de fora, fosse

    cozinhar ou jantar (no quintal dos fundos), tomar banho (do lado da casa) e no menos:

    assistir televiso. O uso e consumo que eles faziam da televiso se dava com maior

    freqncia na frente da porta da frente e no por atrs dela. Noite aps noite, quase o

    ano todo, a famlia moradora desta casa colocava seu aparelho de TV no ptio da

    frente, com uma fileira de cadeiras de jardim de plstico verde ao redor do aparelho, e

    l eles sentavam e relaxavam na brisa da noite enquanto assistiam televiso,

    conversando, com as crianas brincando ao redor.

    A organizao do lugar e o espao em frente ao aparelho de TV neste exemplo

    parece ser fundamentalmente diferente daquela apontada por Morley e Silverstone na

    citao acima. A porta da frente estava raramente fechada. A vida era amplamente

    vivida do lado de fora da casa, com limites no definidos entre as esferas pblicas e

    privada, dando uma "ambientao" muito rural sua vida na paisagem urbana de

    Assuno. Este exemplo da porta da frente pode parecer um detalhe, mas uma

    ilustrao significativa da complexidade e variedade de como a televiso entra nas

    vidas dirias da audincia em diferentes contextos culturais.

    Como a televiso entra, influencia e, portanto, contribui para com a constituio

    social, cultural e econmica das nossas vidas dirias? O que ns aprendemos com a

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  • 3 TUFTE, Thomas

    Intexto, Porto Alegre: UFRGS, v. 2, n. 2, p. 1-24, julho/dezembro 1997.

    mudana qualitativa nos estudos empricos de mdia nos ltimos 15-20 anos? possvel

    estabelecer diretrizes analticas para tais estudos? E quais so as possibilidades e

    limitaes ligadas ao desejo de fazer generalizaes sobre televiso e vida quotidiana

    nas modernas sociedades contemporneas? Discute-se esta questo principalmente em

    referncia a dois aspectos que considera-se chaves em qualquer anlise relacionada

    televiso e vida quotidiana.

    1. Primeiro, a questo da domesticidade e a domesticidade dos meios de comunicao

    de massa, especialmente a televiso. O que ns entendemos por domesticidade, e at

    onde podemos considerar que os meios de comunicao de massa sejam domsticos?

    At onde esta questo est relacionada modificao dos limites entre as esferas

    pblica e privada? A domesticidade tem significados diferentes em situaes culturais

    diferentes, por exemplo, na vida semi-pblica da famlia paraguaia acima descrita,

    quando comparada com a vida das famlias britnicas ou nrdicas, "enfiadas" atrs das

    portas? Isto nos leva segunda questo:

    2. Qual o papel scio-cultural da televiso na constituio dos subrbios ou vizinhanas,

    e vice-versa? A cotidianeidade e popularidade da televiso esto relacionadas a um

    modo especfico de vida suburbana? At certo ponto pensa-se que sim, mas ento, at

    onde possvel generalizar, quando comparamos "modos suburbanos de vida" nos

    subrbios urbanos das grandes metrpoles latino americanas com o que os anglo-saxos

    entendem por subrbio e vida nestes subrbios? A discusso sobre as reflexes do

    estudioso ingls, Roger Silverstone, sobre isto, comparadas com os pensamentos do

    estudioso colombiano Jesus Martin-Barbero, sero teis neste debate.

    2 SIGNIFICADO E APLICABILIDADE GLOBAL DOS ESTUDOS CULTURAIS BRITNICOS

    Este artigo surgiu aps a leitura do livro quase clssico de Roger Silverstone "Television

    and Everyday life", publicado em ingls em 1994 e em espanhol em 1996, um dos livros

    mais recentes sobre estudos de mdia dentro da tradio mais atual dos Estudos

    Culturais Britnicos. Ao refletir sobre as discusses de Silverstone e ao analisar as

    descobertas no estudo de Ph.D. - um estudo etnogrfico sobre o uso cotidiano das

    telenovelas pelas mulheres brasileiras (Tufte, 1994) - encontrou-se alguns pontos onde

    a abordagem de Silverstone parecia limitada em sua aplicao no Brasil, e em outras

    realidades latino americanas estudadas. Este artigo busca expor algumas destas

    limitaes, mas quer, tambm, demonstrar o quanto inspirador e til pode ser o livro

    de Siverstone como ferramenta terica em estudos de mdia, empricos qualitativos.

    "Television and Everyday Life" uma anlise criteriosa e abrangente sobre o

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  • 4 Televiso, modernidade e vida quotidiana.

    Intexto, Porto Alegre: UFRGS, v. 2, n. 2, p. 1-24, julho/dezembro 1997.

    ponto em questo, um tipo de sntese terica da "mudana qualitativa" vista nos

    estudos culturais anglo-saxnicos nos ltimos 15-20 anos. Vistos em retrospectiva, os

    estudos de mdia empricos, dentro desta tradio anglo-sax dos Estudos Culturais,

    tm tido, desde 1980, cada vez mais uma orientao metodolgica qualitativa, com o

    objetivo de revelar a complexa relao entre a mdia e a audincia. O reconhecimento

    da polissemia do texto (Hall 1973 / 1980), o processo de recepo ativa (Morley 1980,

    Radway 1984, Ang 1985, Jensen 1986, etc.), a intertextualidade (Fiske 1987) e a

    crescente anlise etnogrfica do papel mediador da comunicao de massa baseada no

    contexto (Lull 1980, 1988, 1990, Morley 1986), esto entre as principais descobertas e

    assuntos estudados dentro desta linha de pensamento.

    Os estudos etnogrficos de mdia esto - como no trabalho sobre teorias de

    mediao do latino americano Martin-Barbero (por exemplo Orozco 1991 e 1994. Para

    introduo geral ver Tufte 1996b) -, concentrando, cada vez mais, suas anlises no

    papel mediador que da mdia na vida quotidiana (veja por exemplo Moores 1993 e 1996,

    e crtica de Moores 1993 em Lull 1996). Deste modo, em uma relao produtiva entre os

    estudos empricos qualitativos e as reflexes e discusses tericas, os pesquisadores

    culturais e de mdia esto progredindo na tentativa de revelar as complexidades da

    relao entre a mdia e a audincia. Neste contexto, o livro de Roger Silverstone torna-

    se um resumo pertinente do conhecimento produzido e uma excelente anlise da

    relao entre o meio mais estudado nas ltimas dcadas, a televiso, e o cotidiano. Ele

    apresenta-se como uma ferramenta muito til em uma anlise cultural do papel da

    televiso na vida quotidiana.

    Dito isto, precisa-se acrescentar, que importante deixar claras as premissas e

    estar criticamente ciente sobre os contextos epistemolgicos e culturais nos quais se

    desenvolve o trabalho de Silverstone. "Importar" seus conceitos e categorias para outros

    ambientes culturais e escolas acadmicas diferentes dos Estudos Culturais Britnicos,

    onde seu trabalho foi desenvolvido, provavelmente trar muitos problemas. James Lull

    recentemente levantou uma crtica polmica com relao tradio dos Estudos

    Culturais Britnicos, dizendo que a "miopia cultural dos estudos culturais,

    inadvertidamente produziu um discurso intelectual e uma prtica acadmica

    imperialista" (Lull 1996: 10), ao mesmo tempo que criticou a falta de competncia

    metodolgica em muitos estudos etnogrficos desta linha de pensamento. Lull, todavia,

    excluiu o ambicioso projeto etnogrfico de Morley e Silverstone "Domestic

    technologies", que nunca foi realizado empiricamente. Este artigo segue a linha de

    pensamento de Lull, embora de uma forma menos polmica.

    Roger Silverstone parece estar ciente do problema, e repetidamente chama a

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  • 5 TUFTE, Thomas

    Intexto, Porto Alegre: UFRGS, v. 2, n. 2, p. 1-24, julho/dezembro 1997.

    ateno para os perigos de universalismo, reducionismo e impreciso histrica em sua

    anlise. Entretanto, como tem ocorrido com certa freqncia, tais livros so

    publicados, traduzidos e vendidos pelo mundo todo. Nos ltimos anos tem havido um

    estouro virtual de uso internacional de estudiosos britnicos, e portanto, tambm na

    Amrica Latina. Como parte deste estouro, pode-se dizer que este artigo, por um lado,

    apresenta alguns dos conceitos principais de Silverstone. Por outro lado, uma reflexo

    crtica sobre a "confuso conceptual" potencial e a limitada aplicabilidade de sua teoria

    e anlise ao efetuar-se estudos de mdia empricos qualitativos em outros ambientes

    culturais, por exemplo na Amrica Latina. Todavia, voltemo-nos substncia, uma

    apresentao da discusso de alguns dos conceitos de Silverstone, primeiramente

    aquele de domesticidade.

    3 DOMESTICIDADE E A MDIA

    Assistir ao noticirio, a um programa humorstico, a uma novela ou a um filme so

    atividades que geralmente acontecem no lar. uma atividade domstica - a maioria de

    ns capaz de concordar com esta afirmativa. Em uma pesquisa sobre os usos

    domsticos das tecnologias de informao e comunicao, David Morley e Roger

    Silverstone vem a televiso como um meio essencialmente domstico, dizendo que

    deve ser entendido tanto dentro do contexto de domesticidade e famlia, como dentro

    do contexto mais amplo das realidades polticas, sociais e econmicas. Devido

    mudana do papel da televiso na moderna sociedade contempornea, eles defendem

    que deve ser dada nfase aos estudos contextualizados sobre televiso. A televiso

    deve ser vista como "encerrada dentro de uma cultura tcnica e consumista, que

    tanto domstica como nacional (e internacional), uma cultura que ao mesmo tempo

    privada e pblica" (Morley e Silverstone 1991:3). A noo de domesticidade, dizem eles,

    deve refletir esta contextualizao.

    Continuando esta linha de pensamento, Silverstone desenvolve em seu livro

    "Television and Everyday Life" (1994), uma estrutura geral de anlise para estudos

    empricos referentes TV e vida quotidiana. Ele amplia a anlise da televiso como um

    meio domstico, apresentando trs dimenses de domesticidade; lar, representando a

    realidade fenomenolgica; famlia, a realidade social e moradia a realidade econmica.

    Ele tambm analisa a domesticidade em um contexto histrico ao abordar como a vida

    domstica desenvolveu-se e ganhou importncia cultural e comercial (na Europa) no

    incio do sculo XIX. Foi dentro da burguesia que criou-se um espao de lazer puro e

    atividade domstica. Pela primeira vez, o espao de vivncia tornou-se distinto do local

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    de trabalho (Benjamin 1976/1983 em Silverstone 1994:176). O relato histrico de

    domesticidade de Silverstone (europeu) e sua conceituao de TV e domesticidade

    interessante, fornecendo uma reflexo terica ao que ele aparentemente procura em

    seu trabalho: realizar uma antropologia da audincia de TV (veja tambm Silverstone

    1990).

    Lar

    O lar, diz Silverstone, um construto. Ele origina uma srie de interesses

    fenomenolgicos sobre como a televiso influencia a vida quotidiana no lar.

    Primeiramente, a mdia eletrnica contribui para quebrar os limites, entre sexos e,

    mais genericamente, entre as esferas pblica e privada, contribuindo deste modo, para

    um deslocamento de espao para lugar; lar e limite de alcance desenvolvem-se

    separadamente. O pesquisador de mdia americano, Joshua Meyrowitz, faz uma anlise

    profunda desta relao lugar-espao (Meyrowitz 1985). Esta anlise criticada -

    corretamente eu diria - pela generalizao exagerada, pois ele no se aprofunda o

    suficiente em sua anlise da "qualidade do toque" ao discutir os processos de separao

    entre espao e lugar (Silverstone 1994:30).

    Em segundo lugar, a segurana ontolgica das pessoas influenciada pela

    simples presena de um aparelho de televiso ligado, e pelos programas repetitivos e

    reconhecveis que dele fluem. O lar a morada de sua vida quotidiana, e o aparelho de

    TV fortalece este sentimento (Leal 1986). Em terceiro lugar, o lar tambm um

    ambiente simblico que lhes fornece uma identidade. A simples aquisio de um

    aparelho de TV, ou um outro eletrodomstico, tem uma forte influncia simblica na

    identidade das pessoas. A relao entre o lar e a identidade pode tambm ser

    fortalecida atravs da mediao de imagens de domesticidade das novelas, programas

    humorsticos, etc.

    No conjunto, a televiso influencia a constituio do lar de trs maneiras: 1) a

    relao entre lugar e espao na vida quotidiana; 2) a segurana ontolgica da audincia

    e 3) lar e identidade. O lar, com razo, torna-se um construto, um ideal mesmo, que,

    no mundo todo, as famlias lutam por obter. Todavia, a concepo de lar, sem dvida,

    varia entre as famlias pelo mundo todo. Voltaremos a isto mais tarde.

    Famlia

    A dimenso familiar de domesticidade, de acordo com Silverstone, reflete a relao

    dinmica entre a TV e as pessoas que moram dentro dos lares. A famlia tem sido

    tradicionalmente o local social onde acontece grande parte do consumo de mdia e

    tem, portanto, sido o principal grupo social abordado pelos estudos de mdia empricos

    qualitativos (veja Lull 1980, 1988 e 1990, Morley 1980 e 1986. Veja tambm por

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  • 7 TUFTE, Thomas

    Intexto, Porto Alegre: UFRGS, v. 2, n. 2, p. 1-24, julho/dezembro 1997.

    exemplo Barrios 1988, 1992).

    As famlias so, entretanto, entidades problemticas, tanto em termos de sua

    composio como em relao a sua caracterstica de transformao. Os limites no so

    claros - aspectos como sexo e idade a influenciam, entrando em jogo tambm a

    perspectiva de relaes de poder, por exemplo, em uma anlise de escolha de

    programas (Seiter e colab. 1989). Todas estas questes so fundamentais para a famlia

    como uma unidade social. A despeito destas dificuldades conceptuais, o uso da

    televiso pelas famlias tem sido altamente analisado - com variao de foco; os usos

    estruturais e relacionais da TV (Lull 1980), o relacionamento entre televiso e tempo

    da famlia (Bryce 1987) e relaes entre a famlia e a TV (Morley 1986).

    Um dos aspectos centrais no crescente interesse pelas dinmicas entre famlia e

    televiso tem sido o reconhecimento do papel mediador da famlia em relao como

    o contedo da televiso entra e influencia a vida quotidiana. Este reconhecimento tem

    tornado possvel identificar a famlia como "um espao cultural, no qual as mensagens

    da mdia so mediadas" (Silverstone 1994:38).

    Os estudos sobre as mulheres brasileiras de baixa renda e suas famlias e

    moradias resultaram em concluses semelhantes, mostrando que a televiso, em

    muitos casos, foi colocada na esfera mais social da moradia. Uma esfera hbrida

    dominada pela famlia, onde o modo de viver com o aparelho de TV e com as

    telenovelas influenciou a articulao e constituio de culturas hbridas (Tufte

    1994:301 ff).

    Concluindo este ponto, a famlia - a despeito de ser um conceito problemtico

    para se trabalhar - constitui uma unidade social central na relao entre televiso e

    vida quotidiana. A televiso entrelaada com a vida quotidiana da famlia de vrios

    modos, e a tal ponto que, em alguns casos, o uso social do fluxo de televiso, por

    exemplo das telenovelas, cria esferas interpessoais que se estendem para as relaes

    sociais da vida quotidiana.

    A Moradia

    A terceira e ltima dimenso de domesticidade a da moradia. Igualmente sensvel em

    relao s redefinies subjetivas e diferenciaes culturais e histricas, como lar e

    famlia, a moradia uma unidade econmica relacionada ao mundo domstico. A

    moradia considerada por Silverstone a economia moral, como definida pelo falecido

    historiador ingls, E.P. Thompson. Thompson usa o conceito para descrever como, na

    Gr-Bretanha, no sculo XVIII, formas tradicionais de atividade econmica foram

    mantidas entre a classe pobre rural e urbana, em contradio sociedade industrial

    emergente e economia de mercado (Thompson 1971). De acordo com essa linha de

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    pensamento, Silverstone define moradia como unidade econmica e cultural:

    [...] embora sua posio material estabelea limites profundos para as oportunidades disponveis de consumo e auto-expresso, dentro destes limites e, de alguma forma, algumas vezes, alm deles, as moradias podem ser definidas por si prprias como um ambiente esttico, avaliador, emocional, moral, privado e pblico - um modo de vida - do qual eles dependem para sua sobrevivncia e segurana tanto quanto dependem de seus recursos materiais (Silverstone, 1994:490).

    Os meios de comunicao de massa entram em uma relao dialtica com a

    economia moral da moradia, refletindo tanto as caractersticas culturais como a

    capacidade econmica bsica da moradia.

    Domesticidade - entre o pblico e o privado

    Uma das tendncias mais caractersticas no desenvolvimento geral das sociedades

    modernas, sejam elas de qualquer parte do mundo, a tendncia ao crescente

    isolamento e remoo da domesticidade do fluxo principal desta sociedade. Nesse

    processo, os meios de comunicao de massa tm um papel fundamental de mediador

    entre as esferas pblica e privada, entre tradio e modernidade, entre urbano e rural

    e entre o individual e o coletivo. As formas mediadas tornaram-se agentes cruciais na

    constituio da organizao das relaes sociais e de tempo e espao onde, como

    observado por Silverstone (1994), Lull (1995), Thompson (1996) e outros, o domstico

    torna-se alcanvel apenas atravs de formas de comunicao tcnicas e altamente

    mediadas. O sociologista anglo-americano, John B. Thompson, em seu livro "The Media

    and Modernity - social theory of the Media" (1995), amplia a anlise das esferas

    mediadas e, portanto, do papel da mdia na reconstituio da esfera pblica.

    Em tempos de transformaes dos limites entre as esferas pblica e privada,

    Silverstone defende a relevncia de continuar-se a falar de domstico, enfatizando

    domesticao como "um processo pelo qual ns nos apropriamos das coisas, sujeitando-

    as ao nosso controle" (Siverstone 1994: 174), um processo que no nem

    exclusivamente parte da esfera pblica, nem da privada, mas que acontece no

    cruzamento das duas. A televiso tanto objeto como meio dentro desta

    domesticidade.

    A observao principal a se fazer em relao ao conceito de domesticidade de

    Silverstone baseada na perspectiva ocidental implcita que orienta sua anlise e, que

    acreditamos, torna-se uma limitao na anlise de outras sociedades. Talvez seja mais

    limitada que uma "perspectiva ocidental" - trata-se de uma perspectiva inglesa,

    baseada em horizontes e desenvolvimentos conceituais enraizados na sociedade

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  • 9 TUFTE, Thomas

    Intexto, Porto Alegre: UFRGS, v. 2, n. 2, p. 1-24, julho/dezembro 1997.

    inglesa, principalmente com referncias histria e sociedade inglesa ou,

    ocasionalmente, com referncias de fora da Inglaterra.

    Em termos concretos consideramos que especialmente difcil generalizar sua

    noo de "lar". Os aparentes problemas de definio e aplicao de um conceito geral

    de famlia, observados pelo prprio Silverstone, tambm resultam em limitaes.

    Vamos comentar esse conceito de lar. Ele enfatiza que lar um lugar, no um espao -

    obviamente uma noo limitada territorialidade. uma base dividida em trs

    domnios experimentais: um espao privado de e para recordaes e solido, um lugar

    social para a vida familiar, e um lugar fsico para conforto e segurana (28). Todavia,

    noes de privacidade, famlia e conforto/segurana podem muito bem ter significados

    diferentes em diferentes meios culturais. Lar como um construto pode consistir de

    formas muito diferentes de trabalhar com recordaes e solido. Formas diferentes de

    sociabilidade podem ampliar o conceito de famlia alm dos seus limites. Finalmente,

    conforto e segurana so conceitos to relativos que fazem com que "lar" se torne

    difcil de construir em termos gerais. Vejamos alguns exemplos:

    Lar como um construto varia de um morador branco de classe mdia norte-

    europeu para um mestio urbano de baixa renda morador das metrpoles latino

    americanas, de camponeses em regies distantes do mundo para vrios grupos de

    cosmopolitas nos grandes centros urbanos. Pense tambm no exemplo paraguaio inicial.

    Em todos estes casos, suas noes de lar diferem substancialmente, o mesmo

    acontecendo com o papel da TV nas suas vidas dirias.

    Alguns imigrantes das reas rurais continuam, por geraes, a considerar sua

    regio, vila ou lugar de nascimento e origem como sendo seus lares, a eles retornando

    na poca da colheita, embora passem a maior parte do ano trabalhando em uma cidade

    "longe do lar". O mesmo acontece com cosmopolitas (sejam eles burocratas, polticos,

    empresrios, intelectuais, jornalistas, diplomatas ou outros): "Talvez os verdadeiros

    cosmopolitas ... no estejam nunca realmente no lar, da forma como o lugar real pode

    ser. O lar tomado por certo, mas ... os cosmopolitas podem no notar nem as

    estaes do ano, nem os pequenos rituais da vida quotidiana como absolutamente

    natural, bvio, e necessrio" (Hannerz 1996, cap. 9). Aqui lar no baseado em

    territorialidade, e o papel da televiso em relao ao construto de lar muito

    diferente.

    A luta entre lugar (lar) e des-localizao (placelessness) uma luta entre

    modernidade e ps-modernidade? Silverstone sugere esta idia, e sugere que a nossa

    luta diria inclui uma luta para manter um lugar, ou um lar, em um mundo de

    crescente des-localizao. Seguindo esta linha de pensamento, pode-se acrescentar:

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    Intexto, Porto Alegre: UFRGS, v. 2, n. 2, p. 1-24, julho/dezembro 1997.

    estaremos talvez indo em direo algum tipo de sociedade composta por pessoas sem

    lar (homelessness) no mundo ps-moderno?

    Os nossos construtos de lar esto mudando, e talvez tornando-se menos

    limitados pela territorialidade. Enquanto isso, como observa James Lull, por um lado,

    "os lugares e estilos de territrios culturais mudaram no mundo moderno", mas por

    outro lado, "as pessoas ainda se organizam culturalmente, procurando estabelecer suas

    identidades culturais e sentirem-se seguras" (Lull 1995: 159). sobre a anlise de

    Giddens sobre os "processos de desenraizamento", onde as relaes sociais so elevadas

    para fora dos contextos locais de interao e reestruturadas "atravs de espaos

    indefinidos de tempo e espao" (Giddens 1990:21) que, tanto Silverstone quanto Lull

    refletem. Ao denominar o processo como um processo de reterritorializao, Lull

    interpreta a situao de uma forma menos temvel do que o que notei na anlise de

    Silverstone. "A reterritorializao cultural ... no algo feito pelas pessoas sobre o que

    elas no tm controle" (Lull 1995: 159).

    Com relao anlise de Silverstone de famlia, ele prprio chama ateno

    para muitos dos problemas ligados tentativa de definio do conceito de famlia.

    uma entidade problemtica devido tanto composio das famlias, como ao seu

    carter de transformao pelo mundo afora. Silverstone atenta, por exemplo, para o

    fato de que dois teros das moradias no Reino Unido contm grupos sociais (ou

    indivduos) que no se encaixam no modelo de uma famlia nuclear (Silverstone 1994:

    33)! Portanto, talvez fosse mais til trabalhar com o conceito de comunidades

    interpretativas. Silverstone reconhece que este conceito est sendo cada vez mais

    utilizado pelos pesquisadores, embora ele continue a trabalhar com o conceito de

    famlia.

    No caso de Ph.D. (Tufte, 1994), o conceito de moradia est concentrado como

    um momento de mudana na seleo dos indivduos para o caso em estudo. O conceito

    de moradia onde tambm vemos a aplicabilidade geral menos problemtica dentro

    das subcategorias de domesticidade de Silverstone. Moradias definidas como um "meio

    ambiente", nos termos estabelecidos por Silverstone anteriormente neste artigo,

    fornece um ambiente flexvel, que determinado por caractersticas econmicas e

    culturais e, portanto, til na maioria dos contextos culturais.

    A despeito dos pontos crticos acima mencionados, no contexto de

    transformao das prticas comunicativas nas sociedades modernas, e com as

    mudanas nas maneiras de organizao do tempo, espao e relaes sociais, a anlise

    de domesticidade permanece um aspecto central da anlise emprica qualitativa da

    mdia.

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  • 11 TUFTE, Thomas

    Intexto, Porto Alegre: UFRGS, v. 2, n. 2, p. 1-24, julho/dezembro 1997.

    Com a introduo de novas tecnologias - sejam elas TV a cabo, computador

    pessoal, telefone celular ou aparelhos de vdeo - na vida de muitas pessoas, a realidade

    scio-cultural e econmica que constitui a domesticidade constantemente desafiada.

    Tanto a tecnologia como tal, suas possibilidades para aumento de comunicao

    intercultural, como o aumento e diversificao de oferta de programas, so elementos

    que esto mudando as nossas vidas, e a maneira de organizar nossos lares, nossas

    famlias e outras comunidades interpretativas, e nossas moradias. Da mesma forma, o

    aumento da comunicao global desafia o grau e carter de domesticidade de nossa

    mdia.

    Dada esta situao, est tornando-se cada vez mais pertinente realizar estudos

    empricos de mdia a fim de revelar as reconstituies das esferas pblicas e privadas,

    e para melhor entender os processos de mediao nas (e para) as sociedades modernas.

    Sendo assim, assegurando uma anlise contextualizada que reflita a atual

    transformao da sociedade moderna, a domesticidade mantm sua relevncia ao

    analisar-se a televiso e a vida quotidiana.

    Todavia, enquanto a domesticidade permanece um interessante, ainda que

    problemtico, conceito a ser usado nos estudos sobre televiso e vida quotidiana, o

    conceito de subrbio, e a noo de um "modo de vida suburbano" genrico, ao qual

    Silverstone liga sua compreenso de domesticidade, contm uma srie de conotaes

    que dificultam seu uso, por exemplo, na Amrica Latina. Essa crtica ser elaborada a

    seguir.

    4 HIBRIDIZAO SUBURBANA DE MODERNIDADE?

    "O subrbio foi uma tentativa, pela e para as classes mdias, de ter o melhor de dois

    mundos: o campo e a cidade". (Silverstone 1994: 58)

    Lares, famlias e moradias - a nossa domesticidade - apenas um aspecto das

    nossas vidas quotidianas. Todavia, todos ns moramos em uma espcie de comunidade,

    seja em bloco de apartamentos, em casas tpicas do subrbio, nas favelas, em uma

    concentrao urbana de casas de baixa renda, ou seja l onde for. A nossa vizinhana

    denota estilos de vida diferentes, condies scio-econmicas diferentes, prticas

    culturais diferentes na vida quotidiana. Em algumas comunidades h mais contato

    social e um verdadeiro senso de comunidade. Em outras pode no haver nada

    comunitrio, cada famlia ou cada indivduo pode viver muito isolado. Um denominador

    comum que todos eles possuem pelo menos um aparelho de televiso em suas casas.

    A despeito destas diferenas em estilos de vida, ..., Silverstone, de uma forma

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  • 12 Televiso, modernidade e vida quotidiana.

    Intexto, Porto Alegre: UFRGS, v. 2, n. 2, p. 1-24, julho/dezembro 1997.

    altamente provocadora, defende a existncia de um "modo de vida suburbano"

    genrico, onde a televiso um meio suburbano. Ele defende que a "suburbanizao"

    das culturas e sociedade no sculo XX um processo de desenvolvimento fundamental

    na sociedade, onde a televiso tm um papel central: "televiso no apenas o

    produto da suburbanizao no mundo moderno, mas , em si, suburbanizadora".

    Agora, como o processo geral de suburbanizao corresponde diversidade de

    comunidades nas quais vivemos nosso cotidiano? Como esta anlise geral se encaixa nas

    sociedades altamente polarizadas como as da Amrica Latina? O que se argumenta aqui

    que eles no correspondem, que Silverstone fora uma generalizao perigosa

    defendendo implicitamente a no-existncia de um processo uniforme de

    desenvolvimento scio-cultural e poltico-econmico no mundo, que incluiria usos

    scio-culturais genricos e impacto da televiso. Sendo assim, se, por um lado,

    Silverstone revela um alto conhecimento sobre a relao entre televiso e processos de

    desenvolvimento de suburbanizao em algumas sociedades do Ocidente como a inglesa

    e a americana, ele, de certa forma, tambm falha ao extremo do reduzicionismo e

    universalismo sobre o que ele mesmo alerta. Elaboremos estes pontos, voltando

    primeiramente questo de como Silverstone define "subrbio".

    Subrbios e privatizao mvel

    "O subrbio" uma inveno inglesa dos tempos do colonialismo. Foi um produto tanto

    da histria colonial, como da industrializao. Os primeiros subrbios foram construdos

    em Calcut em fins de 1770. Eles eram "casas livres, bem-ventiladas ... em uma parte

    aberta da cidade", construdos para os empregados da Companhia das ndias Orientais.

    A idia, a funo e a esttica destas casas rapidamente se espalharam para Londres,

    que naquele momento experimentava uma urbanizao precoce. Sendo assim,

    originados nos tempos coloniais, os subrbios rapidamente passaram a representar uma

    forma de viver, uma organizao de tempo especfica, relaes sociais e de espao

    ligadas ao processo de industrializao, e mais explicitamente, no sculo XX, ao projeto

    de modernidade:

    s margens da cidade, absorvendo o campo, fornecendo unidades nicas de moradias familiares para a classe mdia e para aquelas que aspiram tornarem-se classe mdia, o subrbio oferecia um sonho padronizado, agrupado em unidades padronizadas (prdios e componentes pr-fabricados tornam-se comuns), dentro das quais, todavia, os indivduos poderiam, e o fizeram, expressar sua prpria individualidade (Silverstone, 1994:59).

    Partindo-se da anlise de Raymond Williams sobre televiso como tecnologia e

    forma cultural, Silverstone discute as duas tendncias, embora paradoxais, fortemente

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  • 13 TUFTE, Thomas

    Intexto, Porto Alegre: UFRGS, v. 2, n. 2, p. 1-24, julho/dezembro 1997.

    ligadas, de aumento de mobilidade e lares de famlias cada vez mais auto-suficientes,

    sintetizado por Williams no conceito de privatizao mvel (Williams, 1975:26).

    Silverstone desenvolve o conceito de Williams ao construir uma anlise muito

    contextualizada deste. Basicamente, ele defende que o subrbio a encarnao da

    privatizao mvel, com o lar sendo o foco deste processo.

    No comeo deste sculo, o lar experimentou pela primeira vez ser o produto e

    foco de uma nova ordem de comunicao e informao. O lar privado gradualmente

    desenvolveu-se para tornar-se dependente de toda uma srie de servios tecnolgicos,

    dos quais o rdio, e mais tarde a televiso, vieram a ser fundamentais. Como analisado

    por Williams, o carro e o telefone foram outros servios fundamentais.

    Para Silverstone, o subrbio deveria ser visto tanto como um produto histrico,

    como uma idia e como um ideal, e finalmente como "um sintoma de, e uma metfora

    para, uma trajetria dominadora da cultura do sculo XX". Ele inclui o melhor dos dois

    mundos (rural e urbano), uma ordem funcional bem planejada, com habitaes

    padronizadas onde cada famlia encontra um lar, conforto e propriedade. Ele tornou-

    se, e continua a ser a despeito das mudanas, "um foco de privacidade" (floodlit

    privacy), de onde aqueles que no se ajustam "camisa-de-fora do ideal suburbano"

    foram excludos (Silverstone 1994: 53-59).

    A vida quotidiana nestes subrbios da classe mdia era "centralizada na criana,

    competitiva, socivel (mas solitria), restrita, dependente de um equilbrio especfico

    de domesticidade feminina e mobilidade social e geogrfica masculina, segurana e

    ambio", e deste modo, ela "fornece uma personificao concreta de uma utopia

    moderna ou para muitos, uma distopia" (Silverstone 1994: 60).

    Silverstone reconhece a existncia de outras manifestaes suburbanas ou neo-

    urbanas, tais como manifestaes no planejadas em forma de cintures, subrbios

    com jardins e subrbios industriais, mas interpreta todos eles como diferentes

    expresses em busca de um mesmo ideal. Ele no amplia uma anlise das diferenas de

    modos de vida. Desta forma, as premissas para sua anlise so bem claras - o subrbio

    um elemento integrado no processo de desenvolvimento do ocidente, tendo um papel

    central na socializao das pessoas para a modernidade. Ele chama este processo de

    hibridizao suburbana da modernidade.

    O processo de suburbanizao, defende Silverstone, o processo cultural

    central de hibridizao. Hibridizao entendida por Marylyn Strathern, e com ela

    Silverstone, como um processo cultural encerrado dentro da estrutura da modernidade.

    um processo estril e criativo que est incorporado nas vidas vividas nos subrbios, e

    mais especificamente, incorporado na crescente tecnologizao da vida quotidiana. A

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  • 14 Televiso, modernidade e vida quotidiana.

    Intexto, Porto Alegre: UFRGS, v. 2, n. 2, p. 1-24, julho/dezembro 1997.

    televiso o principal mediador nesta hibridizao suburbana da modernidade.

    Subrbios e Comunicao

    A televiso influencia o processo de hibridizao suburbana de trs formas: 1)

    reforando e possibilitando a existncia suburbana atravs da sua presena; 2)

    oferecendo objetivaes dos sonhos e pesadelos do suburbanismo, dentro de suas

    prprias mitologias dominantes e 3) como uma instituio e um meio - em suas formas

    e contedos, e como um motor de hibridizao (Silverstone 1994).

    Embora a televiso, de acordo com Silverstone, possa ter sido criada para o

    subrbio, no era, e no , assistida apenas no subrbio, mas em todo lugar. Seu

    objetivo , principalmente, enfatizar o papel dialtico da televiso no processo de

    suburbanizao: "Televiso no apenas um produto tecnolgico do processo de

    desenvolvimento na sociedade, mas tambm uma forma e prtica cultural que

    contribui para a suburbanizao do mundo" (Silverstone 1994:54).

    Dentro deste processo, a tecnologizao das nossas vidas modernas influencia

    nossa relao de natureza com cultura (Strathern 1993 em Silverstone, 1994: 54).

    Silverstone mais tarde conclui que a hibridizao leva domesticao da esfera

    pblica, um processo cultural que as novas tecnologias, principalmente a televiso,

    tornaram possvel, e o subrbio incorporou (Silverstone 1994:65). Segundo Silverstone:

    O espao para televiso tinha sido criado por um tecido social e cultural j preparado: um tecido - de fibras naturais e artificiais - que, em sua hibridizao fundamental, forneceu um meio ambiente para uma aceitao mais ou menos aceitvel de todos os acordos e contradies oferecidos pelo novo meio (Silverstone, 1994:62).

    A domesticao da esfera pblica est situada no papel transformador dos

    meios de comunicao domsticos na constituio das esferas - os meios de

    comunicao tornaram-se cada vez mais importantes para o contato entre a esfera

    pblica das instituies, polticos, ... e a esfera privada dos cidados na sociedade.

    A anlise de John B. Thompson do pblico.t.4 mediado de muitas formas

    relevante suburbanizao de Silverstone, especialmente a anlise de Thompson das

    mudanas de relao entre as esferas pblicas e privada; a interao social tornando-se

    cada vez mais mediada; a poltica tornando-se um assunto muito mediado, onde a luta

    por visibilidade torna-se uma chave para o exerccio do poder. No pblico mediado das

    modernas sociedades "suburbanizadas", o espao do visvel torna-se "um espao aberto,

    no-dialgico, no localizado do visvel, no qual formas simblicas podem ser

    expressadas e recebidas por uma pluralidade de outros no-presentes" (Thompson 1995:

    245). A hibridizao suburbana, com seu crescente isolamento e remoo de

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  • 15 TUFTE, Thomas

    Intexto, Porto Alegre: UFRGS, v. 2, n. 2, p. 1-24, julho/dezembro 1997.

    domesticidade, originrio do hbito da sociedade moderna, est correlacionada com

    este crescente pblico mediado, observado por Thompson. Todos estes aspectos

    tornam-se elementos do mesmo processo de desenvolvimento.

    Todavia, embora este processo de desenvolvimento parea global, vale a pena parar e

    dar uma olhada no processo de desenvolvimento latino americano a fim de

    contextualizar e detalhar a tendncia global para realidades locais.

    Suburbanizao e modernidade na Amrica Latina

    Com o que os subrbios de Silverstone podem ser comparados na Amrica Latina? Os

    condomnios de classe mdia alta parecem ser o equivalente mais prximo - por serem

    uma forma padronizada de organizao urbana, sejam eles grandes complexos de

    apartamentos ou conjuntos de casas trreas. Eles geralmente tm guardas, e at

    mesmo postos policiais localizados ao seu redor, a fim de proteger seus moradores da

    vida sem lei da rua pblica. Dentro destas reas protegidas, a vida vivida, at certo

    ponto, de forma semelhante aos modos de vida suburbana descritos por Roger

    Silverstone. Todavia, os condomnios so na verdade um fenmeno da classe mdia

    alta, enquanto que, as associaes latino-americanas mais prximas aos subrbios de

    Silverstone, so preferivelmente as extensas periferias urbanas de baixa renda, as

    manifestaes em forma de cintures no planejados, caractersticos das maiores

    cidades da Amrica Latina. A maioria das populaes vive nestas organizaes urbanas,

    nestes "subrbios" nos arredores de So Paulo, Cidade do Mxico, Lima, Rio, Buenos

    Aires, etc.

    Todavia, diferentemente do descrito por Silverstone, as pessoas que a moram

    no so classe mdia, elas no vivem em um lugar ideal (longe disto), elas no

    mudaram-se para l por livre e espontnea vontade, mas so geralmente foradas a

    migrar na procura de empregos/renda. Aproximar-se das metrpoles urbanas e

    encontrar um lugar para ficar nas enormes periferias torna-se uma estratgia de

    sobrevivncia. Dado que muitas destas reas comearam como campos de invasores,

    com casas por eles construdas, a maioria delas est longe de ser padronizada e no

    constituem nem partes explcitas, nem integradas, dos planos de desenvolvimento

    urbano. Em alguns mapas, por exemplo de So Paulo, algumas moradias urbanas de

    baixa renda - reas de favelas - so simplesmente indicadas como pontos brancos, elas

    no existem no discurso urbano pblico. E isto se reflete nos servios pblicos

    oferecidos - infra-estrutura muito limitada, sem servio social, transporte pblico ruim,

    eletricidade limitada, sistema de gua e sistema de esgoto altamente subdesenvolvido,

    e o nico desenvolvimento urbano que eles conhecem geralmente conseguido aps

    muita luta, em forma de iniciativas individuais ou aes e manifestaes cvicas

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  • 16 Televiso, modernidade e vida quotidiana.

    Intexto, Porto Alegre: UFRGS, v. 2, n. 2, p. 1-24, julho/dezembro 1997.

    coletivas. De tempos em tempos, perto da poca de eleio, quando os polticos

    precisam de votos, algumas condies eventualmente so melhoradas. A vida

    comunitria bem desenvolvida nestas vizinhanas ajuda a melhorar as coisas, e as redes

    sociais e comuns tambm ajudam as pessoas a atravessarem condies econmicas

    difceis, a encontrar moradia, a organizar privativamente o cuidado com as crianas, a

    encontrar emprego.

    As realidades culturais e scio-econmicas destas enormes organizaes

    urbanas latino americanas, e moradias da maioria das populaes urbanas latino

    americanas, so o oposto do ideal de vida suburbana de Silverstone, historicamente

    ligado ao desenvolvimento da massa urbana e industrializao das sociedades europias

    e norte-americanas. Jesus Martin-Barbero refletiu sobre as formas de vizinhana latino-

    americanas, procurando na histria de vida de seus habitantes e, portanto, no

    complexo contexto social e cultural destas vidas, as chaves para o entendimento do

    que constitui a identidade destas pessoas. A vida vivida nestas vizinhanas parece ser

    de muitas formas muito diferente das vidas vividas no contexto de "suburbia". Martin-

    Barbero define vizinhanas da seguinte forma:

    [...] o grande mediador entre o universo privado do lar e o mundo pblico da cidade. um espao estruturado com base em certos tipos de sociabilidade e "comunicao" entre parentes e "vizinhos". A vizinhana d ao indivduo as referncias bsicas para a construo de um "ns", de uma sociedade mais ampla do que aquela baseada nos laos familiares e, ao mesmo tempo, mais densa e mais estvel do que as relaes centradas e individualizadas impostas pela sociedade .... Pertencer a uma vizinhana significa, para as classes populares, ter uma identidade reconhecida sob quaisquer circunstncias (Martin-Barbero 1993:201)

    Contrrio forma polmica como Silverstone defende que, nos subrbios cada

    aspecto da vida social que cria um senso de comunidade est se perdendo (Baumgarter

    em Silverstone 71), a vizinhana acima descrita constitui comunidades dinmicas e

    socialmente vivas. A misria social, os conflitos sociais e econmicos, a falta de

    segurana, o desemprego, a situao de imigrantes das reas rurais, entre outros

    fatores, tudo contribui para aproximar as pessoas.

    A anlise de Silverstone de hibridizao das culturas e o papel da televiso

    neste processo tem paralelos com a anlise de Martin-Barbero sobre a relao entre

    cultura e comunicao, onde ele se concentra nos processos (histricos) de mediao,

    com nfase especial na cultura popular (Martin-Barbero 1987/1993). Enquanto isso,

    onde Silverstone se concentra at certo ponto na forma como a TV cresce na vida

    moderna como uma tecnologizao desta vida, Martin-Barbero se concentra na forma

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  • 17 TUFTE, Thomas

    Intexto, Porto Alegre: UFRGS, v. 2, n. 2, p. 1-24, julho/dezembro 1997.

    como a televiso contribui para com a continuao das antigas tradies culturais de

    narrao de estrias, melodrama, eventos e sociabilidade.

    Suas perspectivas diferentes sobre a relao da televiso com os processos de

    modernizao refletem as diferentes realidades com as quais eles trabalham. A cultura

    de vizinhana de Martin-Barbero fundamentalmente diferente do conceito de

    Silverstone de cultura suburbana. Silverstone defende que o subrbio:

    Constitui uma realidade nova e diferente na qual as distines cruciais de cultura - e a crucial, mas em constante mudana entre natureza e cultura, - so absorvidas uma na outra, para serem perdidas sob o peso da cultura, do artificial, do tecnolgico ... tambm o colapso da distino entre corpos e mquinas como metforas um dos outros so sintomas de uma verso de cultura que hbrida em essncia, a qual fundamentalmente suburbana (Silverstone, 55-56).

    Genericamente falando, parece haver uma artificialidade a cerca da vida nos

    subrbios, ilustrativa de alguns tipos de colapsos na distino fundamental entre

    natureza e cultura. Tudo torna-se suburbano, uma situao nem-ou caracterizada por

    Silverstone como "uma verso de cultura que hbrida em essncia". Da forma como

    interpreto, a cultura de vizinhana de Martin-Barbero contrasta com os subrbios de

    Silverstone. Ela parece mais viva, culturalmente mais dinmica, talvez com mais tenso

    e contradio, mas tambm com mais senso de identidade e vida articulada.

    Basicamente, eles simplesmente expressam prtica culturais diferentes e diferentes

    mundos.

    Textos suburbanos?

    Obviamente, realidades diferentes refletem diferentes processos de desenvolvimento.

    Todavia, ao analisar o papel dos programas de televiso na vida das pessoas,

    Silverstone e Martin-Barbero mais uma vez tm alguns pontos em comum. Ambos

    analisam a relao entre gneros de fico (subseqentemente soap opera e

    telenovelas) e vida quotidiana. A soap opera, defende Silverstone:

    1. Fornece imagens da vida suburbana que podem, tanto miticamente e

    funcionalmente, como formalmente e substancialmente, ser vistas como oferecendo

    imagens e modelos do modo de vida suburbano.

    2. A televiso, tanto em sua programao como na temporalidade especfica da

    narrativa da soap opera em si, fornece um padro para a estrutura temporal do modo

    suburbano.

    3. Fornece a matria-prima para unir a comunicao social no meio ambiente

    suburbano (Silverstone 1994:72-74)

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  • 18 Televiso, modernidade e vida quotidiana.

    Intexto, Porto Alegre: UFRGS, v. 2, n. 2, p. 1-24, julho/dezembro 1997.

    A anlise histrica de Martin-Barbero sobre o desenvolvimento da cultura popular, as

    origens do melodrama e, portanto, das telenovelas, mostra caractersticas semelhantes

    das formas de mediao das telenovelas na vida quotidiana. O mesmo ocorre com meus

    estudos sobre telenovelas no Brasil. Os gneros de televiso formam uma parte

    integrada e constitutiva das culturas contemporneas e influencia sua organizao de

    tempo, espao e relaes sociais, no apenas dentro da esfera privada do lar, mas na

    comunidade.

    No processo de hibridizao cultural, e concentrando-se em como os meios de

    comunicao social influenciam estes processos, os limites entre as esferas pblica e

    privada so quebrados, so experimentadas novas formas de sociabilidade, as pessoas

    organizam seus horrios de acordo com os programas de TV, e o ritmo de organizao

    da vida na comunidade desta forma influenciado pela mdia (Martin-Barbero

    1987/1993, Tufte 1994 e 1995).

    Dada a semelhana entre os gneros soap opera e telenovelas, baseados nas

    mesmas estruturas de narrativa e nfase no melodrama, as descobertas analticas de

    Silverstone acima apresentadas tm alguma aplicao aos contextos latino-americanos.

    Todos os trs pontos so reconhecveis em comparao com as telenovelas. Todavia,

    aprofundando-se nestas anlises completas, as soap operas e telenovelas so tambm

    muito diferentes. Um aspecto a presena macia das telenovelas na Amrica latina

    em oposio presena menos intensa das soap operas nos EUA e no Reino Unido;

    outras diferenas so, por exemplo, as caractersticas das telenovelas como obras

    abertas, diferentes das soap operas; as telenovelas so um fenmeno do horrio nobre

    (prime time), enquanto as soap operas so transmitidas principalmente durante o dia;

    as telenovelas so um gnero mais familiar em oposio s soap operas, que so mais

    explicitamente dirigidas ao pblico feminino; e finalmente a representao mais

    explcita do conflito social, mobilidade social e questes sociais de interesse pblico

    nas telenovelas substancialmente diferente das narrativas na maioria das soap operas

    (veja uma anlise mais elaborada destas diferenas em Tufte 1994). Tudo isto nos leva

    concluir que telenovelas e soap operas tm papis significativamente diferentes nos

    processos tambm diferentes de hibridizao de modernidade em suas respectivas

    organizaes "nativas" (EUA-UK versus Amrica Latina).

    5 A ESFERA HBRIDA DE SIGNIFICAO

    A fim de concluir a anlise sobre a aplicabilidade da teoria de Silverstone sobre

    televiso e vida quotidiana em diferentes organizaes culturais, voltemos a algumas

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  • 19 TUFTE, Thomas

    Intexto, Porto Alegre: UFRGS, v. 2, n. 2, p. 1-24, julho/dezembro 1997.

    das descobertas do trabalho emprico no Brasil (Tufte 1994, 1995a/b e 1996a/b). Foi a

    leitura comparativa de Silverstone em relao s descobertas com esse trabalho que

    provocaram toda a reflexo exposta neste artigo.

    No caso especfico do Brasil, efetuou-se um estudo etnogrfico de mdia sobre

    como as mulheres brasileiras de baixa renda usavam a televiso, e telenovelas em

    especfico, nas suas vidas quotidianas. O estudo de caso revelou a existncia de uma

    esfera hbrida de significao, uma zona cinza que interliga os elementos de

    domesticidade (lar/moradia e comunidades interpretativas) e cultura de vizinhana.

    Ela expressou uma organizao especial de tempo e espao, ligado um cdigo de

    conduta especial, tudo criando uma esfera que principal na formao do self, de

    identidade - uma identidade brasileira especfica, fortemente nascida da emoo,

    tendo as telenovelas como agentes principais.

    Nesta realidade especfica, a esfera hbrida de significao uma esfera

    coletiva na qual a televiso tem uma papel constituinte fundamental. A esfera hbrida

    torna-se o construto simblico, principalmente no horrio nobre (prime time), de onde

    partem os processos de mediao e hibridizao para nossas infinitas prticas da vida

    diria.

    A esfera hbrida de significao requer uma estrutura de entendimento que leva

    em considerao o processo de desenvolvimento local/regional/nacional, uma estrutura

    de entendimento que relaciona a organizao de tempo, espao e relaes sociais a

    aspectos de tradio versus modernidade, o discurso rural para o urbano, as tradies

    de narrativa, os aspectos de gnero, os discursos religiosos e as histrias de vida. O

    valor explicativo das categorias sociolgicas, desenvolvidas em outros contexto ajudam,

    mas o ponto bsico que eles geralmente so insuficientes nas anlises empricas.

    Todavia, e retornando Silverstone, h alguns pontos e observaes bvias que

    relevam o grande grau de aplicabilidade dos conceitos de Silverstone e estrutura

    analtica em outras realidades culturais diferentes de sua prpria. Por exemplo quando

    Silverstone usa os termos de Morse de hibridizao como sendo um no-espao (um

    vcuo cultural, de acordo com Silverstone), Silverstone defende que um espao

    hbrido, dentro do qual os indivduos, as famlias e vizinhanas podem criar, de

    diferentes formas, algo de sua prpria cultura e suas prprias identidades: espaos para

    sonhar assim como espaos para ao" (62). Isto muito semelhante minha esfera

    hbrida de significao.

    O mesmo ocorre ao observar-se que tais espaos so um "produto das mudanas

    tecnolgicas e sociais, mas tambm continuamente reconstrudos nas atividades dirias

    daqueles que as freqenta - talvez distrados, mas apesar disso, participantes,

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  • 20 Televiso, modernidade e vida quotidiana.

    Intexto, Porto Alegre: UFRGS, v. 2, n. 2, p. 1-24, julho/dezembro 1997.

    comprometidos com as lutas em andamento na vida diria" (62-63). Finalmente,

    Silverstone fala de "um novo tipo de realidade fundida, e que funde, na qual os limites;

    entre natureza e cultura, pas e cidade; e talvez tambm, entre fantasia e realidade,

    tornam-se indistintos e inadequados. Aqui, o subrbio representa uma til hibridizao

    ... (172)". Silverstone termina concluindo que, surgiu um novo tipo de esfera pblica -

    uma emergncia que ele analisa e descreve como uma suburbanizao da esfera

    pblica.

    A despeito destas muitas observaes criteriosas, teis e "culturalmente

    conversveis", repete-se as observaes iniciais: sejam cautelosos ao generalizar.

    Universalismo algo difcil de se tratar. Concentrem-se na realidade de interesse,

    realizem anlises histricas relevantes, sejam leal riqueza das descries densas -

    nelas est escondida a diversidade cultural, os detalhes. O conceito de um mundo de

    suburbanizao implica bem poucos detalhes e basicamente bem pouca relevncia nos

    processos de desenvolvimento latino-americanos, por exemplo o caso do Brasil.

    Alguns pesquisadores sociais obviamente defendero que conceitos sociolgicos

    clssicos (principalmente europeus) so perfeitamente aplicveis nos estudos

    etnogrficos modernos na Amrica Latina. Eles podem defender que o processo de

    integrao na moderna sociedade apenas mais vagaroso nesta parte do mundo.

    Acredita-se, em relao histria do estudo de caso brasileiro realizado, assim como a

    vrios outros estudos etnogrficos de mdia da Amrica Latina, que no um processo

    mais vagaroso de desenvolvimento em direo uma sociedade moderna, mas

    simplesmente outro processo de desenvolvimento. Poder-se-ia falar de modernidades

    diferentes. Todavia, pedir cuidado nas generalizaes, no um argumento para

    relativismo cultural. simplesmente uma argumento para contextualizao, ou,

    levando a srio os riscos mencionados por Silverstone: falta de exatido histrica,

    universalismo e reduzicionismo.

    Os estudos de mdia empricos qualitativos so mais do que nunca necessrios a

    fim de entender a sociedade cada vez mais mediada em que vivemos - nisto,

    Silverstone apontou algumas questes fundamentais relacionadas com a constituio da

    sociedade e o papel da televiso na mesma. Sua ambio de fazer antropologia sobre a

    audincia de TV (Silverstone 1990) deveria ser seguida por muitos outros estudiosos no

    mundo todo.

    Buscar maior compreenso sobre o papel da televiso nas nossas vidas

    quotidianas deve envolver estudos etnogrficos de mdia metodologicamente bem

    elaborados, scio-historicamente contextualizados, sensveis cultura e crticos. Tais

    estudos deveriam concentrar-se nestas esferas hbridas de significao, estes potes de

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  • 21 TUFTE, Thomas

    Intexto, Porto Alegre: UFRGS, v. 2, n. 2, p. 1-24, julho/dezembro 1997.

    fervura de vida vivida, do qual os meios de comunicao de massa so uma parte

    integral. daqui que a dinmica de agncia, modernidade e domesticidade d origem a

    novos hbridos em nossa organizao de tempo, espao e relaes sociais, e novos

    hbridos em nossa formao dos eus e coletividades, seja entre paraguaios,

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