Tema de Pesquisa

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O CORAÇÃO E A ILHA: A CONSTRUÇÃO DO ROMANCE EM HIJO DE HOMBRE, DE AUGUSTO ROA BASTOS O Paraguai O Paraguai é conhecido, e se reconhece, por duas alegorias contrastantes: a de coração, como centro geográfico da América do Sul, e a de ilha-sem-mar, pelo caráter isolacionista que o país adotou durante muito tempo. Como coração, o Paraguai é centro e está equidistante das principais capitais da América do Sul, mas esta equidistância não significa um fluxo e refluxo constante e natural de elementos vitais: as distâncias são longas e ainda hoje transpostas com certa dificuldade. Parte do território somente foi povoada por meio de incentivo à vinda de imigrantes, muitos deles desterritorializados em seus lugares de origem: menonitas alemães, russos e poloneses, além de asiáticos e sul-americanos, especialmente brasileiros. Este encontro de culturas e gostos afeta a homogeneidade do paraguaio tradicional; principalmente a presença dos brasileiros, que é massiva e intrusiva. Estima-se que há cerca de 400 mil brasileiros, em um país de 6 milhões de habitantes. O Paraguai-ilha-sem-mar é uma alegoria ao grande isolamento em que o país viveu, e que, de certa forma, ainda vive. Os menonitas, desterritorializados por motivos religiosos, chegaram pela primeira vez no final da década de 1920 para povoar as terras áridas da Região do Chaco, que já então sofria o processo de tensão que resultaria na guerra entre o Paraguai e a Bolívia. Outra leva importante de menonitas chegou no final da década de 1940; portanto, depois da guerra. Os brasileiros somente chegaram de forma representativa a partir da década de 1970. A razão para essa abertura tardia se deve a fatores geográficos, históricos e políticos. Durante muito tempo, o único acesso ao centro político do Paraguai foi a Bacia Platina

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O CORAÇÃO E A ILHA: A CONSTRUÇÃO DO ROMANCE EM HIJO DE HOMBRE, DE AUGUSTO ROA BASTOS

O Paraguai

O Paraguai é conhecido, e se reconhece, por duas alegorias contrastantes: a de coração, como centro geográfico da América do Sul, e a de ilha-sem-mar, pelo caráter isolacionista que o país adotou durante muito tempo.

Como coração, o Paraguai é centro e está equidistante das principais capitais da América do Sul, mas esta equidistância não significa um fluxo e refluxo constante e natural de elementos vitais: as distâncias são longas e ainda hoje transpostas com certa dificuldade. Parte do território somente foi povoada por meio de incentivo à vinda de imigrantes, muitos deles desterritorializados em seus lugares de origem: menonitas alemães, russos e poloneses, além de asiáticos e sul-americanos, especialmente brasileiros. Este encontro de culturas e gostos afeta a homogeneidade do paraguaio tradicional; principalmente a presença dos brasileiros, que é massiva e intrusiva. Estima-se que há cerca de 400 mil brasileiros, em um país de 6 milhões de habitantes.

O Paraguai-ilha-sem-mar é uma alegoria ao grande isolamento em que o país viveu, e que, de certa forma, ainda vive.

Os menonitas, desterritorializados por motivos religiosos, chegaram pela primeira vez no final da década de 1920 para povoar as terras áridas da Região do Chaco, que já então sofria o processo de tensão que resultaria na guerra entre o Paraguai e a Bolívia. Outra leva importante de menonitas chegou no final da década de 1940; portanto, depois da guerra. Os brasileiros somente chegaram de forma representativa a partir da década de 1970.

A razão para essa abertura tardia se deve a fatores geográficos, históricos e políticos. Durante muito tempo, o único acesso ao centro político do Paraguai foi a Bacia Platina e o rio Paraguai. De 1822 até a morte do ditador Francia, em 1840, o país se fechou a qualquer tipo de contato com o meio externo a fim de gerar uma autonomia que permitisse ao país um desenvolvimento auto-sustentado. Logo depois veio a Guerra da Tríplice Aliança, que se estendeu de dezembro de 1864 a março de 1870, com a dizimação da quase totalidade da população masculina do país.

A ilha e o coração são alegorias que realçam as características do povo paraguaio: arredio e desconfiado, ao mesmo tempo em que alegre e afável. Muito ligado à terra e ao seu lugar.

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O Romance

Hijo de hombre é um dos romances da principal figura literária do país: Augusto Roa Bastos (1917-2005). O romance faz parte de uma trilogia que inclui Eu, o supremo e O fiscal e foi editado em 1960.

Em sua maior parte, trata do relato memorialista da personagem principal, que narra sua vida a partir de seu lugar de origem, a cidade de Itapé, e se desenvolve até o final da Guerra do Chaco entre o Paraguai e a Bolívia, passando por vários lugares: Sapucaí, Assunção, o Chaco e novamente Itapé, fechando o círculo de peregrinação.

A narrativa não segue uma lógica cartesiana: ora o narrador é autodiegético, ora homodiegético, e algumas vezes heterodiegético. Os personagens vão aparecendo e desaparecendo até se entrelaçarem em capítulos posteriores.

O romance usa como pano de fundo a paisagem dos lugares e a relação simbiótica desses lugares com o povo que os habita e os diferencia dos demais. Elementos históricos paraguaios e da tradição oral guarani se misturam com outras histórias e tradições populares de lugares distantes, como a lenda de São Macário, originária de Portugal e que encontra no Romance uma morada local.

A Pesquisa

O Romance de Roa Bastos é uma trama urdida em várias camadas. Nele podemos apreciar elementos da tradição oral e popular paraguaia, conjuminados com os relatos jornalísticos e históricos. Também estão presentes elementos religiosos associados aos elementos mitológicos da cultura guarani.

Esses elementos diferenciados não convivem no romance harmoniosamente; ao contrário, estão sempre em tensão dialógica, deslocando e afirmando o lugar e, a partir do lugar, sua gente. Também o lugar não é o lugar sólido e reservado. É um lugar sempre em disputa e que se move plasticamente junto com aqueles que se foram do lugar. Tampouco é um lugar inexpugnável: está sempre a ser invadido ou dominado. Isso se dá no Romance, na ação das personagens, mas, aparentemente, também se dá na construção do Romance.

No relato, as tradições do lugar estão contaminadas, consciente ou inconscientemente, por outras tradições que a invadiram e moldaram ou remoldaram não somente o lugar, mas também sua gente. Vozes moventes que trazem outros imaginários que se associam às vozes locais e recriam novas perspectivas enquanto destroem outras já tradicionais. História e ficção se misturam para se redimensionarem e para redimensionar o próprio lugar e a história das pessoas.

A pesquisa tem como objetivo desfiar a trama do Romance para evidenciar como os elementos tradicionais locais são redimensionados e redimensionam os fluxos de vozes que chegam carregando outras tradições, outras linguagens e outros imaginários e que (re)modelam o lugar e são por ele (re)modelados.

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Comentário da MR

Penso q vc , senão nesta proposta inicial bem delineada, mas ainda em nível mais geral, deveria já numa 2a. etapa definir melhor o problema de pesquisa, q deve manifestar uma incongruência,  uma desararmonia; deve traçar um confronto entre ao menos 2 varíáveis q não combinam entre si ;esse deve ser o motor, a dúvida genuina geradora de desconforto, pq cria uma necessidade vital em nós de responder a algo q não sabemos e por isso nos deixa inquietos e nos perturba. É por isso q recorremos à investigação q demanda  pesquisa cuja meta é chegar a uma "crença", cf diz Peirce, q mantenha acesa a chama de um ideal: a de chegarmos a uma resposta q aplaque a dúvida e nos conforte por termos chegado a alguma zona de equilíbrio, ainda q provisório.

No caso do teu pré-projeto, penso q a pergunta de pesquisa está delineada misturada ao objetivo aqui: "A pesquisa tem como objetivo desfiar a trama do Romance para evidenciar como os elementos tradicionais locais são redimensionados e redimensionam os fluxos de vozes que chegam carregando outras tradições, outras linguagens e outros imaginários e que (re)modelam o lugar e são por ele (re)modelados".Isso cria um confronto, uma incongruência com a alegoria do lugar geográfico e cultural ser "coração e ilha"? Parece q o romance cria uma dissonância já q inventa pela ficção uma forma de trazer á tona o q estava invisível no lugar geográfico: a rede de conexões, a abertura ao múltiplo sob o fechado, apegado à tradição local. Agora, fico intrigada com o modelo de "romance histórico", q penso ser uma questão derivada da anterior: qual é essa história nacional q está aí reinventada e reconfigurada, desvelando aquilo q está oculto nas raizes da tradição? Seria um novo tipo de romance histórico? Essa resposta, em nível hipotético ainda, é a hipótese q deve ser essa chama iluminadora do percurso de pesquisa q nos acene com as respostas possíveis q antevemos para continuarmos o caminho com uma referência cuja validade é passível de ser verificada no percurso, mas se bem formulada, cf diz Peirce, é uma inferência abdutiva , misto de razão e intuição, q tem grande probabilidade de estar correta; é uma introvisão da resposta, antes mesmo q ela seja visível e constatada; uma retrodução, um pensamento q vai do fim, da consequencia para o começo, a causa, tal qual o método poético q Poe antevê para o gênero conto em A Filosofia da composição.Mas isso já seria a próxima etapa da pesquisa q já promete ser muito significativa. Vc já pesquisou o q existe na crítica sobre a obra desse escritor? Isso respaldaria o significado de sua proposta interpretativa e a sua contribuição para o conhecimetnto da obra desse escritor para a literatura latino-americana? (esse seria um objetivo maior de seu projeto, cf penso).

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O CORAÇÃO E A ILHA: O ESPAÇO MOVENTE DE AUGUSTO ROA BASTOS

pROBLEMA: o PARAGUAY, SUAS CIDADES E RIOS É MAIS QUE UM APAISAGEM, É UM PERSONAGEM PRINCIPAL NA COSNTRUÇÃO DA NARRATIVA: QUE PARAGUAY É ESSE O DE CORAÇÃO OU O DE ILHA OU HAVERIA UMA ESPAÇO DINÂMICO E INTEGRADO QUE SEJA AO MESMO TEMPO, MARCO DE IDENTIDADE DO SER PARAGUUAYO E AO MESMO TEMPOINTEGRADO

ROA BATOS PARAGUAYO E ESTRANGEIRO LOCAL E UNIVERSAL.

O romance hist´roico não e´a leitura do aocntecido. Com os mesmos ducumentos histporicos s epode fazer diferentes e ate antagonicas historias dizia roa bastos. O romance histoprico é uma leitura ruidosa da historia distorcida por outras vozes que s eimpregnam no lugar, territorio fazendo deste um palimpsesto.

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Bibliografia sobre teória geral:

AÍNSA AMIGUES, Fernando, Espacio literario y fronteras de la identidad: Universidad de Costa Rica, San José, 2005.

ARIES, Philippe. O homem diante da morte (el hombre delante la muerte)

BAKHTIN, Mikhail, A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: Hucite, São Paulo, 1999.

____, Estética da criação verbal: Martins Fontes, São Paulo, 2003.

____, Problemas da poética de Dostoiévsky: Forense, Rio de Janeiro, 2002.

____, Questões de literatura e estética: Hucite, São Paulo, 2002.

BERGSON, Henri, Matéria e memória: Martins Fontes, São Paulo, 1999.

DUBY, Georges, Guerreros y Campesinos:

DURAND, Gilbert, As estruturas antropológicas do imaginário: Martins Fontes, São Paulo, 1997.

FOUCAULT, Michel, El pensamiento del afuera: Pre-textos, Valencia, 1988.

LIMA, Luis Costa, Pensando nos trópicos: Rocco, Rio de Janeiro

MELLO E SOUZA, L, O diabo e a terra de Santa Cruz: Cia das Letras, São Paulo, 1986.

MERLEAU-PONTY, Maurice, Fenomenologia da percepção: Martins Fontes, São Paulo, 1999.

____, Signos: SeixBarral, Madrid

LLOSA, Mario Vargas, Sueño y realidad de América Latina: Fondo Editorial, Lima, 2010.

TODOROV, Tzvetan, Nosotros y los outros: Siglo Vinteuno, México, 2003.

VERNANT, Jean-Pierre, Entre mito & política: Edusp, São Paulo, 2002.

YATES, Frances A., The art of memory: Pimlico, London, 2000.

ZUMTHOR, Paul. Babel ou o inacabamento: Bizâncio, Lisboa, 1998.

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____, Escritura e nomadismo: Ateliê, Cotia, 2005.

____, La letra y la voz de la “literatura” medieval: Cátedra, Madrid, 1989.

____, Performance – Recepção – Leitura: Educ, São Paulo, 2000.

____, Speaking of the Middle Ages: University of Nebraska, 1986.

____, Tradição e esquecimento: Hucitec, São Paulo, 1997.

Bibliografia sobre o Romace histórico:

Bibliografia sobre o espaço e o lugar:

BACHELARD, G., Poética do espaço

BLANCHOT, Maurice, El espacio literario: Editora Nacional, Madrid, 2002.

BOTTINEAU, Yves, El camino de Santiago:

BOWMAN, Léornard J., Itenerarium: the idea of journey

COLLOT, Michel

GABRIEL, Zoran, Towards a theory of spce in narrative: Poetics Today, 5, 2, 1984

PACHECO, A. P. Lugar do mito: narrativa e processo social nas Primeiras estórias

de Guimarães Rosa.: Nankin, São Paulo, 2006.

ZUMTHOR, Paul. La medida del Mundo: Cátedra, Madrid, 1994.

Bibliografia sobre Roa Bastos:

MACIEL, Alejandro, El truno entre las páginas: Intercontinental, Asunción, 2002.

SÁNCHEZ, Vidalia, Caminos del Mercosur - Augusto Roa Bastos: narrador, poeta y caminante: MEC/Servilibro, Asunción, 2007;

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Bibliográfica de Roa Bastos: