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ROTEIROMédico precisa viajar para dar mais vida ao
impreciso viver. Levando, como se deve, um mínimo
de tudo: roupa, limpeza, notas, papéis e, sobretudo,
ideias. À espreita de absorver o máximo de tudo: coi-
sas, lugares, pessoas. À espreita do gesto que pode
macular o branco de doer, ou ser.
Há outra viagem mais impiedosa, a estática, a
que se faz sem sair do lugar. Esse viajor, se decidido
e rigoroso, percorre os caminhos mais insuspeitos, os
de si próprio. Com suas evocações sofridas, experi-
ências inconclusas e saudades diluídas por demoras.
Sem autovitimização ou autoindulgência, ao cortar as
correntes das dores antigas sobra a inconstância do
eu, com opções diversas e incertezas tão presentes...
E desejos tão incorretos. Sim, viajar é necessário e
impreciso tal qual o baile da vida, mas os caminhos
dúbios adotados devem ter o ardor da curiosidade, do
desprendimento e do alargar-se. Essenciais para evi-
tar a tristeza da síntese poética: “Viajar, viajar, todo
o planeta é zero.” Entre a decepção e a alegria, todo
roteiro é incerto, decerto o interior.
Médico precisa viajar com esforço e disciplina,
para dentro de si e do outro. E, às vezes, só com leveza
e nonchalance, sem intenção. É a dupla via certa do
dever e do prazer.
“Um cantinho, um violão.”
Tom, síntese da bossa, da simplicidade, do contato
e do isolamento, de sentimentos misturados, do
ócio com significado de ter tempo para criar e viver
o sonho de existir. E se desdobrar no outro.
SOBRE VIDA
(Poesia de Tom e Vinicius)
“A felicidade é como a pluma/Que o vento vai
levando pelo ar/Via tão leve/Mas tem a vida breve/
Precisa que haja vento sem parar.”
E sabemos que o vento nem sempre movimenta as
folhas em sua previsibilidade imprevista. Tornado
brisa, sente-se e evoca a suavidade do pressentido,
mas é breve e recorrente, como tudo que é vida.
Não sou crente, dos quais não tenho a fé; não sou ateu, dos quais não invejo a convicção; não sou agnóstico, dos quais não possuo a reflexão; sou um mero perplexo.
Máxima religiosa para quem ainda não encontrou a luz.
DO CADERNO VERDE
tema
“Ensinar não é só uma profissão, ensinar é uma arte. O ensino necessita da justiça de um verda-
deiro juiz, da pureza de um verdadeiro sacerdote, da
paciência de um verdadeiro médico. O professor é um
médico espiritual, cura os erros do intelecto, livra a
alma da ignorância. O ensino é uma profissão espiri-
tual. O professor é o guia que nos leva pelos caminhos
cheios de beleza, da ciência. Que imensa beleza, que
enorme beleza existe no fato de tirar uma dúvida de
um aluno, de um professor ensinar uma coisa nova a
um aluno, de um professor ser justo e compreensivo.”
Extraído de uma redação escrita em 1959 pelo estu-
dante Caetano Veloso, aos 16 anos, e que mereceu do
professor Nestor Oliveira o parecer: “Excelente prova,
pode servir de modelo quanto a estrutura, quanto
a substância”.
ENTREMEIO
ANTOLOGIA II