Temas em Debate 05 - 1º semestre de 2010

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TEMAS EM DEBATE Número 5 – São Paulo – 1º Semestre de 2010 Faculdades Integradas Rio Branco – Curso de Jornalismo Foto Daniela Maciel Solidariedade Indo à luta.indd 1 18.10.10 14:19:54

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A revista Temas em Debate é uma publicação elaborada pelos alunos da disciplina Reportagem II do curso de jornalismo das Faculdades Integradas Rio Branco. Nesta edição: solidariedade.

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Solidariedade em açãosolidariedade foi colocada em pauta nesta quinta edição de

temas em debate, dedicada à doutora Zilda Arns Neumann (foto ao lado), fundadora da Pastoral da Criança, com o apoio da Confederação Na-cional dos Bispos do Brasil (CNBB).A missionária, pediatra e sanitarista dedicou sua vida à defesa da crian-ça pobre e desnutrida de países “emdesenvolvimento”, sobretudo do Bra-sil. Foi uma das vítimas brasileiras

do terremoto que atingiu a cidade de Porto Príncipe, capital do Haiti, no último dia 12 de janeiro.

O leitor encontrará um conjun-to de reportagens que atestam a generosidade do povo brasileiro, a preocupação com o bem-estar social, o respeito e o amor ao pró-ximo. Deixamos aqui consignado os nossos agradecimentos a Leograf, pela generosidade de imprimir mais uma vez esta publicação.

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expedientetemas em debate é uma publicação dos alunos da disciplinaReportagem II do Curso de Jornalismo das Faculdades IntegradasRio Branco. São Paulo Ano III - N. 5 – Janeiro-Junho de 2010.

editorprof. dario luis borelli

diretor geralprof. dr. custódio pereira

diretor acadêmicoprof. dr. edman altheman

coordenadora de comunicação socialprofa. maria ursulina de moura

faculdades integradas rio branco

curso de comunicação social avenida josé maria de faria, 111cep 05038-070 – são saulo, sptelefone: (011) 3879-3100www.riobrancofac.edu.br

Apoio cultural – CTP, impressão e acabamento:

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Entidades se mobilizam em defesa dos direitos civisImpostômetro, Instituto Ágora e Museu da Corrupção são iniciativas que visam despertar a consciência cívica da população

Gabriela Conde e Letícia Liñeira

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vida pública brasileira tem sido palco constante, nos úl-timos anos, de cenas de cor-

rupção em que o poder político e financeiro são usados ilegalmente para beneficiar determinados grupos e indivíduos. Isso vem se repetindo por todo o país desde a colonização dos portugueses, em 1500, quando era obrigatório o pagamento do Quinto, uma taxa anual cobrada sobre todo o ouro encontrado, e que correspondia a 20% do metal extraído em terras tupiniquins. De lá para cá, essa cobrança aumentou consideravelmente.

Hoje o contribuinte trabalha, em média, 157 dias por ano ape-nas para pagar impostos, se-gundo o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT). São mais de cinco meses de trabalho para honrar compromissos com a União, estados e municípios, de forma direta ou indireta. “Diante desse quadro, constatamos que os cidadãos não têm a mínima no-ção de quanto pagam de tributos e, muitos inclusive, por estarem isentos do Imposto de Renda, acham que não pagam nada. Por isso, a ideia do Impostômetro”, conta o economista-chefe da Associação Comercial de São Paulo, Marcel Solimeo.

A inédita iniciativa surgiu em 21 de abril de 2005, feriado de Tiradentes – que foi enforcado e morto ao se rebelar contra o execesso de impostos –, para conscientizar a população sobre o sistema tributário brasileiro, que não é transparente, e chamar a atenção para as taxas pagas que deveriam ser convertidas em serviços públicos de qualidade. E contribuir, assim, para o despertar da sociedade em fiscalizar como e onde o dinheiro dos nossos tributos é aplicado. Para isso, em parceria com o IBPT, a entidade paulista projetou e instalou em seu edifício sede, localizado na rua Boa Vista, número 51, no centro

velho de São Paulo, uma espécie de relógio gigante que conta, em tempo real, quanto de imposto está sendo arrecadado no momento. A

contagem tributária baseia-se nos orçamentos dos governos federal, estadual e dos principais municípios do país, e do comportamento do

montante total arrecadado no ano anterior. Para isso, explica Solimeo, “é feita uma estimativa para o total do ano-calendário, que é dividida pelo número de dias, horas, minutos e segundos. A medida em que vão saindo dados sobre a arrecadação, a estimativa vai sendo corrigida automaticamente.”

A veracidade desses números baseia-se em fontes públicas de informação, como os órgãos esta-tais, sendo, portanto, fidedignos da dinâmica da realidade brasileira. Como o Impostômetro trabalha com estimativas e correções em tempo real, seu desempenho pode ser considerado positivo e próximo dos resultados oficiais, já que as diferenças entre estimativas e dados finais têm sido pequenas nos últimos quatro anos. Não à toa, o “relógio do imposto”, co-mo é popularmente conhecido, já é referência em informação e prestação de serviço.

A jornalista do portal de conteúdo UOL, Denise de Almeida, 26 anos, costuma utilizar em suas pesquisas os dados disponíveis do Impostômetro na internet para escrever matérias sobre economia. “O grande benefício dessa inicia-tiva da sociedade civil é que ela está perto de todos e qualquer um tem acesso. Além disso, a ação tem grande credibilidade porque se tornou uma fonte preciosa de notícia que antecipa tendências sobre a arrecadação de impostos no Brasil. E isso é muito bacana”, afirma. Já o estudante de Comércio Exterior, Lucas Stocco, de 22 anos, vê no relógio uma medida pioneira que estimula a reflexão sobre a carga tributária. “Uma das grandes mazelas e chagas sociais nossa é a impotência do Estado e a passividade do povo. Por isso, acredito que o Impostômetro é bené-fico para que o cidadão comum, que normalmente não entende e ojeriza política, tenha um contato mais próximo da sua realidade e

possa, a partir daí, entender o que significam aqueles números todos e se conscientizar sobre o seu papel e o poder do voto”, diz.

Instituto ÁgoraOutra medida que visa o

despertar da consciência civil e do interesse político no país e que tem dado bons resultados, é o Instituto Ágora em Defesa do Eleitor e da Democracia. Fundada pelo seu diretor institucional, Gilberto de Palma, em 2000, a en-tidade é apartidária e tem como objetivos traduzir a linguagem política para a população jovem e leiga por meio de projetos pe-dagógicos os assuntos públicos e facilitar o acompanhamento dos representantes nos parlamentos municipais. “Os jovens de hoje estão desinteressados, não é co-mo antigamente. As juventudes têm conexões diferentes, mas os novos atores do século XXI estão nascendo. São atores jovens e que serão o novo design de governança”, observa Palma.

Esperança dessa mudança de comportamento, o programa “Debate do Eleitor” do instituto estimula o diálogo em escolas públicas e privadas entre jovens eleitores e políticos, sendo que, nesse caso, os convidados a se sentar na plateia para ouvir os discursos são os próprios vereadores. Além disso, Palma conta que acontecem as chamadas Animações de Redes que ajudam a educar politicamente. “Pegamos os mapas de São Paulo e do Rio de Janeiro e dividimos em ONGs específicas, de acordo com a área de atuação pública de cada uma delas – educação, saúde, transporte, meio ambiente, segurança, mobilidade urbana, entre outras – e atuamos como facilitadores para essas or-ganizações. Foi uma sacada tardia, mas que tem dado certo”, conta o diretor do Ágora.

Desde 2002, o instituto faz um balanço legislativo no final

Marcel Solimeo, economista-chefe da Associação Comercial de São Paulo

O estudante Lucas Stocco defende debate sobre a carga tributária no País

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do ano, a fim de difundir as leis e sensibilizar a sociedade sobre os seus direitos. A publicação divulga o número de projetos aprovados em cada área de política mais a ficha individual de cada parlamentar. Hoje a entidade tem duas sedes, uma no Rio de Janeiro e outra em São Paulo, com quatro e seis funcionários, respectivamente.

O poder de mudança O fato de que as coisas pre-

cisam mudar é incontestável. O primeiro passo para isso é a escolha do voto, mas de nada adiante ter um voto consciente se ele não for responsável. A antiga ideia de que uma tarefa de governo é responsabilidade apenas do governo e de que os valores da democracia são externos à nossa vida, precisam mudar, garante Palma. “É essencial que a sociedade entenda o mecanismo

dos parlamentos e tenha noção da influência que o seu voto pode ter. E é exatamente isso que o Ágora busca fazer, promover o interesse civil pela história de vida dos políticos e pelos programas de seus partidos, para que possam, assim, analisar as propostas apresentadas e votar com responsabilidade”.

Assim como essa grande ini-ciativa educativa e interativa, outra entidade civil fundou o Museu da Corrupção (MuCo) para colaborar com o despertar da consciência da população. A ação, que é 100% online, é do jornal Diário do Comércio de São Paulo e foi criada para reunir os principais casos ligados às denúncias de corrupção no país e mostrar os bastidores dos escândalos que marcaram a história da política brasileira e que foram alvo de investigação dos parlamentos nacionais, como no

Senado, na Câmara e nas demais casas legislativas e instâncias da Justiça.

A responsável pelas pesquisas dos primeiros casos que constituem uma pequena parcela do vasto acervo do museu foi a jornalista Kássia Caldeira que, procurada pela reportagem, não foi encontrada. No portal, é possível encontrar informações que datam os períodos referentes às decadas de 1970 até os dias atuais. O MuCo funciona da seguinte maneira: cada escândalo tem direito a um espaço em uma sala do museu, com relatos, imagens e uma série de reportagens que abordam a repercussão que houve sobre ele na imprensa. Alguns dos lamentáveis episódios que podem ser encontrados são a Operação Satiagraha, a Máfia das Sanguessugas, o escândalo do Mensalão, a Operação Anaconda,

a farra das passagens aéreas no Congresso, os dólares na cueca, entre tantos outros. É um trabalho em constante e em permanente atualização. Construção, inclusive, que contou com um projeto arquitetônico de verdade.

O arquiteto mineiro Rodrigo de Araújo Moreira é o quem assina a estrutura do museu. Vale ressaltar que o MuCo não tem o propósito de denunciar pessoas, empresas, partidos políticos ou órgãos pú-blicos, seja para favorecê-los ou para prejudicá-los. A exposição de todos esses casos não é meramente intencional. Isso se faz necessário, tendo em vista que a memória do brasileiro é muito curta no que diz respeito à vida política do país. Ou alguém ainda se lembra do nosso “carequinha”, que foi acusado de operar o esquema do Mensalão?

O Impostômetro funciona no edifício-sede do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, localizado na rua Boa Vista, número 51, no centro velho de São Paulo, desde 21 de abril de 2005

O empreendedor Gilberto de Palma

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Brasil demostra amorà cidade de São Luiz de Paraitinga

Moradores reconhecem que a solidariedade da população foi decisiva para a reconstrução

da cidade do carnaval das marchinhas

Aline Sanae e Josiane Brito

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s temporais causaram grandes estragos na região sudeste do Brasil na virada de ano. O Esta-

do de São Paulo sofreu com a grande quantidade de chuvas e a região do Vale do Paraíba foi a mais atingida. A cidade de São Luiz do Paraitinga, localizada a 170 km da capital, foi assolada por cheias inesperadas que chegaram a deixar quase toda a população do município desabrigada.

As chuvas intensas fizeram com que o Rio Paraitinga e Rio do Chapéu transbordassem, pro-vocando uma enchente nunca antes vista pelos moradores. Vários bairros da cidade foram destruídos com a força das águas, deixando casas, o centro histórico e comércio da cidade em estado de calamidade pública.

Anísio Almeida, funcionário da prefeitura de São Luiz do Paraitinga, tinha três casas na rua que margeia o Rio Paraitinga. Duas delas, foram totalmente destruídas. “Sempre em janeiro a gente vê a água subir, eu pegava minha televisão, os móveis que ficavam na parte de baixo da casa, o cachorro e trazia para o quarto que era mais alto e a água só chegava até a sala, coisa de 50 centímetros. No ano novo, a água chegou até metade da minha antena parabólica, ficou em cima do telhado, no segundo andar da casa”.

Acostumados com as frequen-tes enchentes do Rio Paraitinga nos meses de janeiro, os luizenses adotaram os mesmos procedimentos: subiram os móveis para os andares superiores, leva-

ram os carros para os bairros mais altos e esperavam a água baixar. As pessoas que perceberam a seriedade da situação, desocu-param suas casas salvando o que podiam. Mas muitas pessoas, inclusive os turistas, não queriam desocupar a cidade. “Enquanto a água ia subindo, as pessoas não queriam sair das casas, estava difícil ajudar, as pessoas só começaram a deixar as casas depois que a igreja desabou e mesmo assim, após insistirmos muito”, conta Luis Augusto Pola, um dos instrutores de rafting da cidade.

Segundo o pároco da Igreja Matriz São Luís de Toloza, Edson Carlos Alves Rodrigues, a água não parava de subir e a previsão era de que água parasse somente no dia seguinte. “Da sacada do meu quarto, eu vi a igreja caindo aos poucos, parede por parede, quando caiu a segunda torre, a Defesa Civil já estava aqui, pedindo para desocuparmos a casa paroquial.”

Ações solidáriasA cidade dos carnavais de mar-

chinha recebeu muitas doações e donativos nos dias que seguiram às enchentes. O Brasil inteiro se mobilizou em campanhas, arrecadações, shows em prol da cidade e jogos amistosos. De acordo com Eduardo Coelho, diretor de Turismo de São Luiz do Paraitinga, “o país mostrou que ama São Luiz, mandou ajuda, roupa, comida. Recebemos mais doações do que todo o Estado de Santa Catarina, levando em conta que somos uma cidade do interior de São Paulo.”

As equipes de rafting foram

homenageadas diversas vezes, por terem salvado praticamente a cidade toda e não ter deixado ninguém para trás. Usaram seus próprios botes, material de trabalho e não pensaram duas vezes quanto a ir salvar vidas ou salvar os pertences dos moradores. “Minha mãe saiu de bote comigo com os heróis do rafting. Se não fossem eles, íamos ter muitas mortes”, conta Tereza Soares, que também teve sua casa e loja destruídas, perdendo suas mercadorias e móveis. A comerciante relata também que durante vários dias, os moradores receberam marmitas, pois não havia como se alimentar na cidade. “A solidariedade foi muito forte em Paraitinga, o povo foi muito bom.”

A comoção pública foi tão grande que muitas pessoas saíram

de suas casas e viajaram até São Luiz do Paraitinga para ajudar a limpar. Foram organizados mutirões para arrumar a cidade. O carnaval foi cancelado, mesmo sendo o grande “chamariz” da cidade. “Não havia condições de realizar o carnaval com a cidade do jeito que estava, transferimos as bandas para outras cidades”, disse o diretor de Turismo. Em São Paulo, o Corinthians promoveu no mês de março, um carnaval fora de época de Paraitinga, para arrecadar fundos para ajudar na reconstrução da cidade. Além disso, realizaram jogos amistosos, doações de camisas autografadas, em parceria com outros times, como o Palmeiras.

O comércio da cidade também foi afetado, as lojas que fazem parte do centro histórico foram destruídas

com a força das águas, o material foi levado junto com a lama. Estima-se uma perda de milhões de reais. Carlos Cursino, dono do Mercado Cursino, na praça central de Paraitinga, conta que a porta do supermercado foi levada pela forte onda que se formou quando a torre da Igreja Matriz caiu. “O prejuízo não temos como estimar, pois foram todas as mercadorias, os computadores tinham acabado de serem trocados. Além dos produtos aqui do mercado, perdemos os produtos que ficam no galpão atrás do mercado. A ajuda que tivemos dos nossos fornecedores, foi muito boa, tivemos um prazo maior para pagar.”

Com a mobilização dos luizenses e a solidariedade da população, São Luiz do Paraitinga deve renascer ainda melhor.

Ruínas da Igreja Matriz e o que restou da casa de Anísio Almeida, morador de rua que margeia o Rio Paraitinga

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Voluntários se unem para “fazer o bem sem olhar a quem”

Entidade social com sede no bairro de Pirituba, em São Paulo,desenvolve ações beneficientes de ajuda ao próximo

Daniela Taboada, Juliana B. Lucas e Thays Paula Custódio

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Sidney Carvalho da Silva Jr. coordena projeto que arrecada, prepara e distribui alimentos a moradores de rua

Voluntários brincam com crianças carentes abrigadas na Casa Naim

m uma época marcada por desastres e violência, a solida-riedade pode trazer a esperança

de um novo recomeço às pessoas necessitadas, e beneficiar tanto os que fazem quanto os que recebem o bem.

Diante de tais acontecimentos, surgem necessidades que só podem ser supridas com o auxílio e boa vontade de pessoas solidárias e organizações dispostas a contribuir, a fim de amenizar o resultado de tantas fatalidades.

Um exemplo de entidade com-prometida com a boa vontade é a Comunidade Missão Mensagem de Paz. A Missão, como é chamada pelos voluntários e frequentadores, nasceu em 1994 com o objetivo de levar aos necessitados a paz e a esperança de um novo recomeço, e desde sua fundação desenvolve atividades diárias que visam o desenvolvimento de pessoas que

buscam um sentido para a vida, de casais que estejam passando por problemas conjugais e dependentes químicos que querem se livrar do vício.

A Missão nasceu da necessidade descoberta pelo fundador Fernando Baptista, 28 anos, de reunir pessoas para que umas pudessem ajudar as outras. Durante os primeiros anos, a Missão funcionou na Igreja Nossa Senhora Auxiliadora, no bairro de Pirituba, em São Paulo. Atualmente, a Missão é composta por 120 pes-soas que foram se identificando com a proposta de ajudar e “fazer o bem sem olhar a quem”.

“Os critérios para o trabalho vo-luntário são amar o próximo, amar o que faz e não ver diferença entre as pessoas, porque você não vai ter uma remuneração, mas o amor que você recebe é maior do que isso”, declarou Camila Pereira da Silva, serva da counidade há três anos.

Os trabalhos desenvolvidos são reconhecidos pela sociedade, por companhias e órgãos públicos que apoiam e patrocinam eventos e tra-balhos organizados pela Missão.

A Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) cedeu por 50 anos um espaço ao lado da Estação Pirituba da Linha 7, onde há quatro anos está localizada a sede da Missão. O terreno poderá ser uti-lizado durante o prazo desde que a Missão o mantenha conservado.

Expresso Amor e PazA Missão mantém um grupo

chamado Ministério Expresso Amor e Paz, que há sete anos se reúne quinzenalmente para a arrecadação, preparo e distribuirão de alimentos para moradores de rua. O grupo de 20 pessoas, composto por servos e voluntários, prepara em média 150 refeições individuais e as distribui no Pátio do Colégio, no centro histórico de São Paulo.

O coordenador do Ministério, Sidney Carvalho da Silva Jr., 25 anos, declarou que o principal intuito não é alimentar os “irmãos de rua”, mas levar palavras de esperança, religiosidade, ouvir histórias e compartilhar experiências. “As pessoas que vivem nas ruas não passam fome. Durante a semana, conseguem se alimentar com a ajuda dos comerciantes e dos po-pulares. Por isso, nós levamos mais do que o alimento”, disse Silva. Os voluntários são instruídos a darem bons conselhos, para que os que têm família voltem aos seus lares, e aos que estão entrando nas drogas e prostituição saiam enquanto é tempo. Ao final de cada dia de Expresso, todos se reúnem formando uma grande corrente humana para fazer uma oração de agradecimento.

Atendimento a criançasA Missão também trabalha para

proporcionar alegria às crianças que moram em favelas da região de Pirituba. Em datas comemorativas, como Páscoa, Dia das Crianças e Natal, todos se mobilizam e buscam doações de doces, brinquedos e cestas básicas para distribuírem nas festas realizadas na sede da entidade. Cada um colabora com o que pode e tem: um cabeleireiro se disponibiliza a cortar cabelo dos moradores, donos de bombonieres doam doces e, no final, cerca de 180 crianças são beneficiadas.

No último dia 8 de maio, 15 membros da Missão visitaram a Casa Naim, orfanato localizado no bairro Parada de Taipas, e

proporcionaram a 54 crianças um dia repleto de atividades e guloseimas.

Às 11 horas, os voluntários se preparavam carregando carros com panelões de purê e de salsichas, pães, bolos, gelatinas, pirulitos e muito suco para as crianças carentes. Além dos alimentos, os servos também levaram produtos de higiene pessoal, tintas para decorar os rostos das crianças e um violão para cantar com elas.

As crianças são encaminhadas à Casa por decisão judicial – casos de maus tratos e abandono – ou por famílias que não têm onde morar. Todas as atividades realizadas de-vem ser citadas em relatórios que são enviados ao Fórum da Lapa, que encaminha algumas crianças.

“Os juízes avaliam as crianças que vieram para cá, e, se estiverem aptas, são reintegradas nas famí-lias. Nós terminamos o ano de 2009 com cerca de 90 crianças”, disse Clóvis da Silva, coordenador de evangelização da Casa Naim.

A Casa Naim não tem apoio financeiro de órgãos públicos, e é mantida por empresários, chama-dos de benfeitores, e por diversas doações arrecadadas.

“Gosto quando as pessoas vêm aqui. Gosto de conversar com elas”, disse Paula Batista, 12 anos. Ela e seus dois irmãos estão na Casa Naim há dois meses. Antes disso, todos moravam na Bahia com a mãe e o padastro. Paula nunca frequentou escola e diz ter muita vontade de aprender a ler e escrever.

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pesar do pessimismo com que muitas pessoas encaram o mundo hoje em dia, é im-

possível negar que, até a metade do século passado, palavras como responsabilidade social, filantropia e solidariedade não eram tão presentes em nosso cotidiano. Em pleno século XXI, algumas empresas encaram esses termos apenas co-mo sinônimo de marketing social: se aproveitam de incentivos fiscais e divulgam exaustivamente ações que estão muito mais relacionadas com a promoção da marca do que com consciência em relação ao seu papel na sociedade.

Porém, existem organizações que, independentemente de que

Marília Sobral

Capacitação “cinco estrelas” atrai jovens carentesHotéis de luxo de São Paulo e do Rio de Janeiro oferecem a jovens programa de desenvolvimento pessoal e profissional

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alMorador da zona leste de São Paulo, o estudante Giorgio Christou, 18 anos, não pretende se tornar um hoteleiro, mas garante que as amizades e as lições aprendidas no programa no hotel serão levadas para toda a vida

quaisquer incentivos fiscais, re-conhecimento da mídia ou promoção de sua imagem, adotam programas que realmente beneficiam quem precisa, promovendo o desenvol-vimento de verdadeiros cidadãos, como o programa YCI.

O Youth Career Iniciative (YCI) é reconhecido internacionalmente como um importante programa de educação, capacitação e auxílio à inserção no mercado de trabalho para jovens de baixa renda. Durante 26 semanas (aproximadamente seis meses), os jovens recebem aulas práticas e teóricas, oito horas por dia, em hotéis classificados como cinco estrelas. No Brasil, a instituição responsável por

coordenar a iniciativa é o Instituto para o Desenvolvimento do Inves-timento Social (IDIS). Por meio de uma rede de 38 organizações sociais parceiras e pela divulgação em jornais de grande circulação nas cidades abrangidas, o IDIS seleciona jovens com idade entre 18 e 21 anos, que tenham concluído o Ensino Médio (e que não estejam cursando Ensino Superior ou Téc-nico), com renda familiar menor ou igual a um salário mínimo e meio. Além disso, é preciso ter dis-ponibilidade de tempo integral e dedicação exclusiva ao programa.

“Somente hotéis de alto padrão podem aderir ao Programa, pois têm condições de oferecer cultura

e procedimentos de treinamento instalados, alto padrão e busca de excelência no atendimento, variedade de departamentos para a vivência prática, disponibilidade de recursos humanos, técnicos, materiais”, explica Osmar Araújo, coordenador do IDIS. Após o envio de ficha de inscrição, a instituição executa o processo de recrutamento, entrando em contato com todos os jovens para checar as informações dos formulários, esclarecer dúvidas e agendar a seleção.

Em 2010, oito hotéis participarão do Programa. Em São Paulo os hotéis são: São Paulo Airport Marriott Hotel (de Guarulhos, SP), Renaissance São Paulo Hotel,

InterContinental São Paulo e Grand Hyatt São Paulo. No Rio de Janeiro, o Sheraton Barra participa pela primeira vez do YCI, juntando-se ao InterContinental Rio de Janeiro, Copacabana Palace e J.W. Marriott. A seleção dos hotéis é realizada pela organização mentora do programa, a International Business Leaders Fórum (IBLF).

Criado em 1995, na Tailândia, o programa aconteceu primeiramente apenas no Hotel Pan Pacific e, em 15 anos, já envolveu aproximadamente 50 hotéis no mundo. O YCI foi implantado no Brasil em 2005, como um programa piloto em seis hotéis da rede Marriott.

Só no Renaissance São Paulo

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Hotel – referência em hotelaria de luxo no país – cerca de 50 jovens já se formaram no programa. Além de aulas, o hotel oferece benefícios como assistência mé-dica, odontológica, alimentação no local e seguro de vida.

Fernanda Magri, presidente do Comitê Espírito de Servir – série de programas da rede Marriott que visa contribuir para a comunidade do local onde o hotel está instalado – explica que há uma expectativa em relação a todos que participam do YCI. “Neste ano pretendemos formar 12 jovens em nosso programa e estamos fazendo as entrevistas no momento. Gostaríamos de absorver todos, mas depende muito do desempenho do aluno e interesse dele em permanecer nessa área.

Muitas vezes este é o primeiro contato do jovem com o mercado de trabalho e com isso vislumbra uma série de oportunidades”, afirma Magri.

O coordenador do IDIS explica que o curso prepara o jovem para o mercado de trabalho em geral, apesar de ocorrer dentro do setor hoteleiro. Entre as turmas de 2005 a 2009, de acordo com estudo realizado pelo IDIS, 70% encontram-se atualmente no mercado de trabalho e 36% deram continuidade aos estudos (superior, técnico ou de idiomas).

Mesmo que não siga carreira hoteleira, o YCI é uma chance de o jovem desenvolver habilidades profissionais e pessoais essenciais em qualquer área. Giorgio Christou,

18 anos, afirma que não pretende se tornar um hoteleiro, mas que as lições aprendidas no hotel serão levadas para toda a vida. “Além de criar mais responsabilidade, aprendo, a cada dia, a respeitar o espaço do outro e a exigir que respeitem o meu”, afirma Christou.

Dificuldades enfrentadas por todo trabalhador nas grandes cidades não desmotivam, mas sim contribuem para o desenvolvimento pessoal. “Venho da Zona Leste para a Paulista de metrô todos os dias, mas sei que vale a pena. Faço amizades, ocupo meu tempo e sinto que tenho uma razão no mundo”, diz o jovem.

Focado na redução da pobreza, do risco de exploração, da exclusão social e no ingresso dos jovens no

mercado de trabalho, o YCI chega ao sexto ano no Brasil. Em 2010, o Programa abre 76 vagas, das quais 40 em São Paulo e 36 no Rio de Janeiro. Há vários benefícios para os hotéis participantes por fortalecer as ações de responsa-bilidade social, estimular de forma organizada o voluntariado entre os colaboradores, e por identificar e preparar talentos para o setor. “O bacana é que o curso não necessariamente faz com que esses jovens fiquem na área de hotelaria, mas os incentiva a estudar, buscar melhores oportunidades e apre-senta a eles um universo totalmente novo. A impressão que temos é que em seis meses o nosso trabalho é de lapidar esses jovens”, declarou Magri.

Como participarVeja abaixo os requisitos para

concorrer a uma vaga no progra-ma:

Ter entre 18 e 21 anos de ida-de em 2010.

Ter concluído o Ensino Mé-dio.

Ter renda familiar menor ou igual a um salário mínimo e meio.

Ter disponibilidade de tempo integral e dedicação exclusiva ao programa.

Os interessados devem preencher a ficha de inscrição disponível no site do Instituto para o Desenvolvimento do In-vestimento Social e enviar para o e-mail [email protected]

Foto Marília Sobral

Além de aulas, os alunos do programa de capacitação do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social têm assistência médica, odontológica, alimentação no local e seguro de vida

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er solidário com quem precisa é um ato de amor e cidadania. Inspirado nessa filosofia de vi-

da, a comunidade de Nossa Senho-ra Aparecida da Vila Piauí, no bairro de Pirituba, zona oeste de São Paulo, criou o projeto “Crescendo cidadão”.

O projeto é uma parceria da Paróquia Nossa Senhora Aparecida da Vila Piauí com a Associação de Proteção à Maternidade, à Infância e à Adolescência (Aspromatina), entidade dirigida por padres da Ordem dos Cônegos Regulares Lateranenses, que mantém creches e escolas no Brasil. A parceria funciona da seguinte forma: a paró-quia Nossa Senhora Aparecida de Vila Piauí oferece o espaço e a alimentação, que muitas vezes é doada pela população local, e a Aspromatina oferece os fun-cionários e a capacitação dos mes-mos.

O projeto tem como alvo crian-ças de seis a 12 anos, com intuito de tirá-las das ruas em seus horá-rios vagos, para evitar que se envolvam com drogas ou crimes, estragando assim suas infâncias.

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“Crescendo cidadão” acolhe crianças de famílias pobres

Parceria entre a paróquia da Vila Piauí e a Aspromatina oferece café da manhã, almoço e reforço escolar

Daniela Maciel, Danielle Furlanetti e Flávia Queiroz

SPara frequentar o projeto, as crian-ças devem estar matriculadas, frequentando a escola e serem crianças de família de baixa renda.

O objetivo do projeto é dar orientação e capacitação para uma vida melhor. Ou seja, as crianças que estudam de manhã, entram no projeto no período da tarde. O transporte é feito por vans esco-lares da prefeitura. As crianças que estudam à tarde, frequentam o projeto no período da manhã.

De manhã, às 8h, as mães levam seus filhos até o projeto. Lá eles são recepcionados com café da manhã, tem reforço escolar, aulas de pin-tura e artesanato, brincadeiras e atividades físicas. Depois das ati-vidades, eles almoçam e as vans que fazem os transportes escolares os levam para o colégio.

Nesse período, as crianças que estudaram de manhã, são levadas pelas vans até o projeto e são recepcionadas com o almoço. Na parte da tarde, tem reforço escolar, aulas de pinturas e artesanato, brincadeiras e atividade física, e às 5h da tarde as mães vêm buscá-las.

“O nosso intuito é que as crianças ao invés de ficarem na rua durante o tempo livre, venham para o projeto em busca de aprender mais, brincar mais e ter contato com outras crianças com realidades parecidas”, afirma Verônica Bastos, diretora do projeto “Crescendo Cidadão”.

O projeto tem capacidade de acolher 60 crianças por período. Por conta disso, há uma lista de espera grande, com cerca de 100 nomes de crianças, para que as mesmas possam também participar das atividades. “A preferência é sempre por crianças de famílias que estão passando por dificuldades financeiras”, explica a diretora.

Com a ajuda das pedagogas e orientadores, as crianças têm uma melhora considerável no aprendizado na escola. Muitas delas entraram sem saber ler e escrever, e hoje participando do projeto já sabem.

“Meu filho entrou no projeto com oito anos. Ele estava na segunda série na escola da prefeitura, não sabia ler e nem escrever. À tarde, ficava na rua empinando pipa ou jogando bola. Agora já faz um ano que ele frequenta o ‘Crescendo cidadão’, e as notas melhoraram muito, ele já sabe ler e escrever”, declarou Maria das Neves Souza, mão de um aluno.

A Aspromatina dá prioridade para empregar a população da paróquia, e aqueles que tenham filhos no projeto. “Não basta tirar as crianças das ruas e dar a elas educação e lazer. É preciso que proporcionemos empregos aos pais delas para que a dificuldade financeira da família seja suprida”, afirma o padre Mário Pistor, diretor da entidade.Além de aulas, os alunos do programa de capacitação do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social têm assistência médica, odontológica, alimentação no local e seguro de vida

Criança do “Crescendo cidadão” com o rosto pintado durante brincadeiraCrianças de seis a doze anos de idade são acompanhadas por pedagos

A prática de esportes é uma das atividades desenvolvidas no projeto

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Trabalhador desempregadorecebe ajuda da prefeitura

Projeto municipal oferece cursos gratuitos para recolocaçãodo trabalhador no mercado de trabalho da capital

André Santos e Jéssica Ferreira

Relação Empresa-CATUma equipe dentro das unidades

do CAT funciona como uma espécie de busca por novas oportunidades. O centro liga para as empresas a procura de vagas em vários segmentos. A única obrigatoriedade para empresa, lembrando que o serviço também é gratuito para o empregador, é a de avisar ao CAT no pós-processo seletivo se aquele candidato foi contratado ou não. Caso a empresa não tenha feito o contato com o Centro, a própria

unidade procura o empregador em sete dias. Não há acompanhamento no período pós-contratação. O CAT também não se responsabiliza por fiscalizar a empresa de suas obrigações trabalhistas, por exemplo. “O único trabalho do CAT é o da intermediação”, conta o gerente, que cita as empresas de serviços como maiores destinos dos candidatos.

O CAT também mantém uma parceria com a Escola Paulista de Magistratura para fazer a

conciliação do devedor com o credor. Nas instalações do CAT, é feito um acordo por um intermediário sem qualquer custo.

O Centro também oferece palestras de motivação e atendimento para aqueles que não estão sendo selecionados, ou que esperam por muito tempo por uma oportunidade. Há também uma linha de microcrédito para novos empreendedores criarem ou ampliarem seu próprio negócio. “Às vezes é mais interessante aproveitar

um talento do que conseguir um novo emprego”, acredita Miguel Jr.

BeneficiáriosRodolfo Silva tem experiência

em áreas administrativas e logísticas e está à procura de emprego há pouco mais de dois meses. Nesse período, é frequentador assíduo da unidade do CAT Lapa. Ainda não conseguiu um emprego pela intermediação do Centro, apenas entrevistas e dinâmicas de grupo. Desanimado, ele diz ter persistência para conseguir seu emprego. “Minhas perspectivas são médias, nem tão boas nem tão ruins”, disse. Dispensado por uma empresa de prótese dentária devido à crise do último ano, o desempregado diz não ver a hora de arrumar novo trabalho. “Não quero ficar dependendo de seguro desemprego.”

Já Cristiane Moreira enxerga o Centro como grande oportunidade para conseguir um novo emprego. É a primeira vez que ela vai ao CAT. Ela está desempregada desde o fim do ano quando trabalhou de forma temporária em uma loja de departamentos. Nesse período, consegue “bicos” em casas de família na zona oeste. A procura agora é por um emprego fixo, que possa sladar os compromissos do mês. “A dificuldade é muito grande, as contas aumentam e o fiado no mercadinho cresce a cada dia”, conta ela. A oportunidade chega a Cristiane, depois da triagem com os funcionários do CAT. Ela consegue duas entrevistas para trabalhar como vendedora aproveitando a experiência que adquiriu na área. “Não falei que iria sair daqui com uma vaguinha? Agora é correr atrás”, disse ela, feliz pela oportunidade.

EndereçosOs Centros funcionam nas se-

guintes regiões de São Paulo:Região oeste: Lapa – Rua Catão, 312.Região leste: Itaquera – Rua Gregório Ramalho, 12. Região norte: Santana – Rua Vo-luntário da Pátria, 1.553.Região central: Luz – Av. Prestes Maia, 913.Região sul: Interlagos – Av. Inter-lagos, 6.122.

undado em 2005 pela Secre-taria Municipal do Trabalho da Prefeitura de São Paulo, o Cen-

tro de Apoio ao Trabalho (CAT) tem como meta aproximar o trabalhador de empresas filiadas. Para isso, foram criadas seis unidades do CAT. Uma das mais procuradas pelos trabalhadores, está na zona oeste do município, no bairro da Lapa.

Com média de 600 atendimentos por dia, a unidade oferece diversos cursos de capacitação e adaptação para auxiliar o trabalhador na disputa por uma vaga no exigente mercado de trabalho, além de prestar outros serviços ao trabalhador, como dar entrada no seguro desemprego, tirar dúvidas sobre como abrir seu próprio negócio e suporte a pequenos empreendedores que pretendem seus próprios negócios.

O atendimento aos candida-tos às vagas é muito bem estru-turado. No momento em que o cadastro é efetuado, torna-se possível identificar as principais características do candidato e por meio do banco de dados, encontrar vagas disponíveis para o perfil do trabalhador. Junto com o cadastro, o candidato é convidado a incluir em seu perfil cursos de capacitação que mais lhe agrade.

O candidato é monitorado pelo CAT desde seu cadastro. Após a realização de cursos, seu perfil é novamente ligado a procura por novas vagas, para participar de pro-cessos seletivos.

Conforme as necessidades do mercado, o CAT abre licitação em entidades executoras para oferecer os cursos mais procurados pelos candidatos, desde informática, auxiliar administrativo até pedrei-ros e eletricistas. A verba para a execução desses cursos vem do poder público e é dividido entre a Prefeitura e o Ministério do Trabalho. “A idéia é que o candidato consiga estar mais bem preparado para conseguir um emprego mais rápido”, diz Nelson Miguel Jr., gerente de apoio do CAT Lapa, que ainda conta com parcerias de centros educativos próximos a unidade como o Senac, o Sebrae, Ciesp, Associação Comercial, entre outros.

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O CAT faz 600 atendimentos por dia e oferece diversos cursos de capacitação para auxiliar o trabalhador

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m parceria com o genro, Percival Caropreso, dona Lúcia Bulau fundou, em 1994, a “Casa do

Sol”, para abrigar crianças de até seis anos vítimas da negligência dos pais. A sede da entidade fica em uma chácara localizada no Parque Rincão, no município de Cotia (SP). A área do terreno é de 3.800 m².

No local, há muitas árvores e construções. São quatro quartos divididos e decorados de acordo com a idade. O quarto azul recebe bebês de zero a um ano, o rosa, de um a dois anos, o amarelo acomoda crianças de dois a três anos, e o quarto verde é para os mais ‘gran-dinhos’, de três a seis anos. A “Casa do Sol” foi reconhecida como instituição de Utilidade Pública Municipal e Federal, e trabalha para conquistar o nível estadual. A administração fica por conta dos parentes que conciliam suas pro-fissões com balanços mensais, notas fiscais e folhas de pagamento.

Com nove funcionários e uma rotatividade grande de voluntários, a “Casa do Sol” tem capacidade para receber até 23 crianças. Hoje, cuida de 15. “Pela nova lei, a justiça tem até dois anos para decidir o futuro da criança: se ela volta para os pais ou vai para adoção”, esclarece dona Lúcia.

Na “Casa do Sol”, as crianças são cuidadas por profissionais da saúde cedidos pela Prefeitura Municipal de Cotia, atuando no voluntariado, como o dentista dr. Fábio Bigarelli e a pediatra dra. Regina Maris Videira.

José Roberto Palmeira, conhe-cido como “Tio Zé Roberto”, conta que os pais têm direito a visita a cada 15 dias. As visitas são controladas pelo orfanato e passadas ao juiz pa-ra acompanhamento.

Por estar localizada na Rodovia Raposo Tavares, perto da Granja Vianna, uma região valorizada de São Paulo, o abrigo recebe boas doações das pessoas e das muitas empresas

E instaladas na região. “Essa cozinha aqui foi toda montada e doada pela Gerdau”, conta Palmeira. As doações envolvem quantias mensais em dinheiro, roupas e eletroeletrônicos usados, que são revendidos para gerar dinheiro. Mas o volume das doações não é o mesmo todos os meses, o que gera um caixa controlado a “mãos de ferro”. “Recebemos doações de alimentos constantemente. Assim, nós evitamos ao máximo mexer no caixa”, ressalta Palmeira.

VoluntáriosManoela Viera, voluntária

assídua da “Casa do Sol” há seis meses, conta que uma instituição filantrópica não pode depender apenas de voluntários para seu pleno funcionamento, pois há muita responsabilidade envolvida e é difícil garantir que o voluntário vá realmente voltar na próxima se-mana. Dona Lúcia concorda com com ela. “A importância dos funcionários para nós é enorme. Confiamos plenamente em todos, alguns estão conosco desde a abertura. Sem eles não haveria possibilidade de manter o abrigo.” Para Viera, “o voluntário não tem o compromisso de voltar, ele aparece a cada 15 dias ou mais, uma vez ou outra.

Ela e seu marido são responsá-veis por uma ONG que apóia os pais de crianças sob guarda da justiça. Com uma responsabilidade social grande, a cada visita à “Casa do Sol” o casal leva suas filhas de cinco e seis anos para ajudar a dar banho e comida às crianças. “É importante que elas aprendam a compartilhar, dar valor ao que tem e ver que podem ajudar também. Acho que fazendo isso agora, quan-do elas crescerem vão levar esse sentimento de amor ao próximo”, afirma Viera.

A casa recebe também esta-giários de Psicologia de faculdades da região, que cumprem horas de estágio. “Eu gosto quando o

‘Tio Vitor’ vem para brincar com a gente. Ele faz cócegas e brinca comigo no salão”, conta Josué, de três anos. Vitor Cestari, o ‘Tio Vitor’, é estudante de Psicologia da FMU e visita as crianças nos fins de semana.

Essa energia boa dos volun-tários, crianças e funcionários se mistura à da natureza que ronda a chácara, proporcionando um clima alegre e de felicidade. Os voluntários contam que, em meio às brincadeiras com as crianças, é comum esquecer que ali é um abrigo. “O que me atrai aqui é a organização, a sensação de que é uma casa, não um abrigo”, conta Vieira. “Tia, eu quero falar! Eu gosto de brincar no salão com a “Tia Manoela”, porque tem um monte de brinquedos lá”, conta Tainá, de três anos, empolgada com o gravador.

ReconhecimentoEsse ambiente de carinho mar-

ca cada criança que passou pela “Casa do Sol”. Maria dos Anjos da Silva Nunes é conhecida no abrigo como “Tia Xuxa” e é a funcionária mais antiga de casa – são 16 anos. Ela conta, emocionada, quando, há três meses, uma menina que ela cuidou por muito tempo, foi reintegrada à família, voltou, já com 21 anos, para visitar a casa. “A primeira pessoa por quem ela perguntou foi por mim. Ela veio me ver, disse que estava com muita saudade de mim. Me agradeceu e disse que eu era como uma mãe para ela”, conta Nuens, feliz, e toma fôlego para acrescentar: “Olha, eu chorei muito, mas foi de alegria. A gente se abraçou e ela também chorou.”

O apego e carinho dos funcio-nários e voluntários da casa é

sentido de longe. “Olha esse daqui, ele é meu meninão, meu filho! A mãe dele deixou ele aqui e nunca mais voltou. Eu quero ele pra mim”, diz a funcionária Celia Regina Donata Pereira, “Tia Célia”, mostrando uma das crianças.

Em meio a esse ambiente, a criança tem a oportunidade de crescer em uma realidade bem diferente da oferecida por seus pais e, principalmente, em uma fase onde são definidos seu caráter e personalidade.

“Contamos com a ajuda de voluntários – que fixos são muito poucos – e, principalmente, da solidariedade de visitas que nos ajudam a concretizar o objetivo básico da “Casa do Sol”, que é proporcionar às nossas crianças o que todas devem receber: carinho, amor e segurança”, finaliza dona Lúcia.

“Casa do Sol” abriga vítimas de negligência dos paisCarinho, amor e seguranças são as palavras de ordem no abrigo criado para atender crianças que estão sob a guarda da Justiça

Bárbara Rezendes

“Tia Eliete” serve as refeições e auxilia as crianças do abrigo “Casa do Sol” durante o almoço na conzinha

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atual diretora da Casa da Mãe de Deus e nossa (CMDn), Miriam Ferreira, co-

locou como seu objetivo de vida cuidar, dar educação e carinho, e principalmente apoio à crianças carentes do bairro do Cambuci, região central da cidade de São Paulo.

“A casa de apoio foi fundada pela minha amiga Maria Lucia de Campos Sica, há sete anos. Seu principal objetivo é oferecer apoio à formação, cuidado e educação da criança, procurando integrar os aspectos físicos, emocionais, cognitivos e sociais”, afirma a diretora. Segundo ela, apesar de não ter sido a fundadora da casa, sempre se manteve à frente de tudo. “A Maria Lúcia era muito ocupada, então quem cuidava mesmo e tinha um contato direto com as mães e as crianças era eu. Até que no início do ano passado ela passou a casa, legalmente, para o meu nome”, revela.

Para Ferreira, a CMDn é uma espécie de filho. Ela conta que se dedica em tempo integral para as melhorias da casa. Sua meta é conseguir proporcionar momentos de alegria as crianças que, muitas vezes, vivem em uma situação precária em casa e são obrigadas a lidar com elas sem ter outra opção.

Hoje, a instituição acolhe 74 crianças, conta com quatro vo-luntários, seis colaboradores e cinco profissionais especializados. Apesar do trabalho realizado, não é considerada um abrigo, as crian-ças não dormem no local, elas vão no período inverso ao da escola e os responsáveis vão buscá-las. Mas como os alunos, normalmente, vêm de família simples em que os pais trabalham demais ou, em alguns casos, são irresponsáveis, a diretora já chegou ao ponto de levar muitas crianças para a casa dela. “Inclusive tem uma menina de nove anos que está morando há mais de

um ano na minha casa, pois os pais a rejeitaram”, conta.

Beatriz Timótio mora com Mi-riam há dois anos. A garota foi rejeitada pelo pai, que ameaçava abandona-lá em um abrigo. Quando soube das intenções do homem, a diretora se comoveu e levou a criança para morar em sua casa. Por morar na casa de Ferreira, Beatriz está ainda mais próxima da instituição e se sente muito feliz, pois além de estar em contato com as brincadeiras e aulas de reforço, acredita que pode dar uma boa ajuda a diretora. “O que eu mais gosto da Casa da Mãe de Deus é de brincar com meus amigos e de conseguir fazer minhas lições da escola com a ajuda das tias”, afirma Beatriz.

Evelyn Rodrigues, de cinco anos, também sentiu uma grande diferença depois que começou a frenquentar a casa de apoio. Segundo sua mãe, Ana Paula Rodrigues, ela consegue se relacionar com as pessoas e melhorou na escola. “Apesar de nova, minha filha tinha muita dificuldade de entender as aulas da escola. Uma das coisas que mais prezo na instituição é o apoio que dão para que as crianças se interessem em aprender”, revela a mãe.

E não é apenas pelo aprendizado que as mães procuram o apoio da instituição. O que mais motivou a emprega doméstica Rinalda da Silva a colocar sua filha de seis anos na casa, foi o medo da violência. “A comunidade onde moro é muito pe-rigosa, quanto mais tempo meu filho ficar fora de lá melhor, pelo menos na CMDn ele está em contato com coisas boas.”

Engana-se quem pensa que o trabalho na casa é feito espe-rando algo em troca. A CMDn está passando por uma situação financeira complicada, faz dois anos que a diretora trabalha de graça.

Segundo ela, o que a faz continuar é o amor que sente pelas crianças. “Tenho uma forte ligação com aquele espaço e principalmente com os meus 74 filhos de coração”, revela.

Por ter como foco o cuidado com crianças carentes, a asso-ciação trata de casos bastante delicados. Pais dependentes quí-micos, crianças com distúrbios psicológicos, mães que apanham dos maridos, ex- presidiárias, entre outras situações. A professora de religião Marildes Romanelli, que trabalha há nove anos na insti-tuição, relata o caso que mais a comoveu durante sua história na casa. Um menino de três anos, filho de pais traficantes, seria colocado em um caminhão com uma pessoa desconhecida, para viajar à Bolívia. “Conversando com a mãe, para que ele não fosse, a Miriam colocou a casa dela à disposição e o abrigou por seis meses”, conta. Ela ainda revela que no final desse período, a mãe conseguiu recursos e o deixou com a avó na Bolívia, talvez agora mais seguro.

O telefone da CMDn é 3217-1209.

Casa atende 74 crianças carentes da região do CambuciObstinada, Miriam Ferreira faz de tudo para não deixar faltar nada para as crianças da Casa Mãe de Deus e nossa (CMDn)

Aletéia Beller e Erica Seccato

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Fotos Erica Seccato

A doméstica Ana Paula deixa a filha Evelyn na casa depois da escola

As crianças se divertem na brinquedoteca da casa depois do lanche e das aulas de reforço escolar com apoio

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