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Temor da MorteCausas do temor da morte - Porque os espritas no temem a morte Causas do temor da morte 1 - O homem, seja qual for a escala de sua posio social, desde selvagem tem o sentimento inato do futuro; diz-lhe a intuio que a morte no a ltima fase da existncia e que aqueles cuja perda lamentamos no esto irremissivelmente perdidos. A crena da imortalidade intuitiva e muito mais generalizada do que a do nada. Entretanto, a maior parte dos que nele crem apresentam-se-nos possudos de grande amor s coisas terrenas e temerosos da morte! Por qu? 2. - Este temor um efeito da sabedoria da Providncia e uma conseqncia do instinto de conservao comum a todos os viventes. Ele necessrio enquanto no se est suficientemente esclarecido sobre as condies da vida futura, como contrapeso tendncia que, sem esse freio, nos levaria a deixar prematuramente a vida e a negligenciar o trabalho terreno que deve servir ao nosso prprio adiantamento. Assim que, nos povos primitivos, o futuro uma vaga intuio, mais tarde tornada simples esperana e, finalmente, uma certeza apenas atenuada por secreto apego vida corporal. 3 . - A proporo que o homem compreende melhor a vida futura, o temor da morte diminui; uma vez esclarecida a sua misso terrena, aguarda-lhe o fim calma, resignada e serenamente. A certeza da vida futura d-lhe outro curso s idias, outro fito ao trabalho; antes dela nada que se no prenda ao presente; depois dela tudo pelo futuro sem desprezo do presente, porque sabe que aquele depende da boa ou da m direo deste.

A certeza de reencontrar seus amigos depois da morte, de reatar as relaes que tivera na Terra, de no perder um s fruto do seu trabalho, de engrandecer-se incessantemente em inteligncia, perfeio, d-lhe pacincia para esperar e coragem para suportar as fadigas transitrias da vida terrestre. A solidariedade entre vivos e mortos faz-lhe compreender a que deve existir na Terra, onde a fraternidade e a caridade tm desde ento um fim e uma razo de ser, no presente como no futuro. 4. - Para libertar-se do temor da morte mister poder encar-la sob o seu verdadeiro ponto de vista, isto , ter penetrado pelo pensamento no mundo espiritual, fazendo dele uma idia to exata quanto possvel, o que denota da parte do Esprito encarnado um tal ou qual desenvolvimento e aptido para desprender-se da matria. No Esprito atrasado a vida material prevalece sobre a espiritual. Apegando-se s aparncias, o homem no distingue a vida alm do corpo, esteja embora na alma a vida real; aniquilado aquele, tudo se lhe afigura perdido, desesperador. Se, ao contrrio, concentrarmos o pensamento, no no corpo, mas na alma, fonte da vida, ser real a tudo sobrevivente, lastimaremos menos a perda do corpo, antes fonte de misrias e dores. Para isso, porm, necessita o Esprito de uma fora s adquirvel na madureza. O temor da morte decorre, portanto, da noo insuficiente da vida futura, embora denote tambm a necessidade de viver e o receio da destruio total; igualmente o estimula secreto anseio pela sobrevivncia da alma, velado ainda pela incerteza. Esse temor decresce, proporo que a certeza aumenta, e desaparece quando esta completa. Eis a o lado providencial da questo. Ao homem no suficientemente esclarecido, cuja razo mal pudesse suportar a perspectiva muito positiva e sedutora de um futuro melhor, prudente seria no o

deslumbrar com tal idia, desde que por ela pudesse negligenciar o presente, necessrio ao seu adiantamento material e intelectual. 5. - Este estado de coisas entretido e prolongado por causas puramente humanas, que o progresso far desaparecer. A primeira a feio com que se insinua a vida futura, feio que poderia contentar as inteligncias pouco desenvolvidas, mas que no conseguiria satisfazer a razo esclarecida dos pensadores refletidos. Assim, dizem estes: "Desde que nos apresentam como verdades absolutas princpios contestados pela lgica e pelos dados positivos da Cincia, que eles no so verdades." Da, a incredulidade de uns e a crena dbia de um grande nmero. A vida futura -lhes uma idia vaga, antes uma probabilidade do que certeza absoluta; acreditam, desejariam que assim fosse, mas apesar disso exclamam: "Se todavia assim no for! O presente positivo, ocupemo-nos dele primeiro, que o futuro por sua vez vir" E depois, acrescentam, definitivamente que a alma? Um ponto, um tomo, uma fasca, uma chama? Como se sente, v ou percebe? E que a alma no lhes parece uma realidade efetiva, mas uma abstrao. Os entes que lhes so caros, reduzidos ao estado de tomos no seu modo de pensar, esto perdidos, e no tm mais a seus olhos as qualidades pelas quais se lhes fizeram amados; no podem compreender o amor de uma fasca nem o que a ela possamos ter. Quanto a si mesmos, ficam mediocremente satisfeitos com a perspectiva de se transformarem em mnadas. Justifica-se assim a preferncia ao positivismo da vida terrestre, que algo possui de mais substancial. considervel o nmero dos dominados por este pensamento. 6. - Outra causa de apego s coisas terrenas, mesmo nos que mais firmemente crem na vida futura, a impresso do ensino que

relativamente a ela se lhes h dado desde a infncia. Convenhamos que o quadro pela religio esboado, sobre o assunto, nada sedutor e ainda menos consolatrio. De um lado, contores de condenados a expiarem em torturas e chamas eternas os erros de uma vida efmera e passageira. Os sculos sucedem-se aos sculos e no h para tais desgraados sequer o lenitivo de uma esperana e, o que mais atroz , no lhes aproveita o arrependimento. De outro lado, as almas combalidas e aflitas do purgatrio aguardam a intercesso dos vivos que oraro ou faro orar por elas, sem nada fazerem de esforo prprio para progredirem. Estas duas categorias compem a maioria imensa da populao de alm-tmulo. Acima delas, paira a limitada classe dos eleitos, gozando, por toda a eternidade, da beatitude contemplativa. Esta inutilidade eterna, prefervel sem dvida ao nada, no deixa de ser de uma fastidiosa monotonia. por isso que se v, nas figuras que retratam os bem-aventurados, figuras anglicas onde mais transparece o tdio que a verdadeira felicidade. Este estado no satisfaz nem as aspiraes nem a instintiva idia de progresso, nica que se afigura compatvel com a felicidade absoluta. Custa crer que, s por haver recebido o batismo, o selvagem ignorante - de senso moral obtuso -, esteja ao mesmo nvel do homem que atingiu, aps longos anos de trabalho, o mais alto grau de cincia e moralidade prticas. Menos concebvel ainda que a criana falecida em tenra idade, antes de ter conscincia de seus atos, goze dos mesmos privilgios somente por fora de uma cerimnia na qual a sua vontade no teve parte alguma. Estes raciocnios no deixam de preocupar os mais fervorosos crentes, por pouco que meditem. 7. - No dependendo a felicidade futura do trabalho progressivo na Terra, a facilidade com que se acredita adquirir essa felicidade, por meio de algumas prticas exteriores, e a possibilidade at de a comprar a dinheiro, sem regenerao de carter e costumes, do aos

gozos do mundo o melhor valor. Mais de um crente considera, em seu foro ntimo, que assegurado o seu futuro pelo preenchimento de certas frmulas ou por ddivas pstumas, que de nada o privam, seria suprfluo impor-se sacrifcios ou quaisquer incmodos por outrem, uma vez que se consegue a salvao trabalhando cada qual por si. Seguramente, nem todos pensam assim, havendo mesmo muitas e honrosas excees; mas no se poderia contestar que assim pensa o maior nmero, sobretudo das massas pouco esclarecidas, e que a idia que fazem das condies de felicidade no outro mundo no entretenha o apego aos bens deste, acorooando o egosmo. 8. - Acrescentemos ainda a circunstncia de tudo nas usanas concorrer para lamentar a perda da vida terrestre e temer a passagem da Terra ao cu. A morte rodeada de cerimnias lgubres, mais prprias a infundirem terror do que a provocarem a esperana. Se descrevem a morte, sempre com aspecto repelente e nunca como sono de transio; todos os seus emblemas lembram a destruio do corpo, mostrando-o hediondo e descarnado; nenhum simboliza a alma desembaraando-se radiosa dos grilhes terrestres. A partida para esse mundo mais feliz s se faz acompanhar do lamento dos sobreviventes, como se imensa desgraa atingira os que partem; dizem-lhes eternos adeuses como se jamais devessem rev-los. Lastima-se por eles a perda dos gozos mundanos, como se no fossem encontrar maiores gozos no alm-tmulo. Que desgraa, dizem, morrer to jovem, rico e feliz, tendo a perspectiva de um futuro brilhante! A idia de um futuro melhor apenas toca de leve o pensamento, porque no tem nele razes. Tudo concorre, assim, para inspirar o terror da morte, em vez de infundir esperana. Sem dvida que muito tempo ser preciso para o homem se desfazer desses preconceitos, o que no quer dizer que isto no suceda, medida que a sua f se for firmando, a ponto de conceber uma idia mais sensata da vida espiritual.

9. - Demais, a crena vulgar coloca as almas em regies apenas acessveis ao pensamento, onde se tornam de alguma sorte estranhas aos vivos; a prpria Igreja pe entre umas e outras uma barreira insupervel, declarando rotas todas as relaes e impossvel qualquer comunicao. Se as almas esto no inferno, perdida toda a esperana de as rever, a menos que l se v ter tambm; se esto entre os eleitos, vivem completamente absortas em contemplativa beatitude. Tudo isso interpe entre mortos e vivos uma distncia tal que faz supor eterna a separao, e por isso que muitos preferem ter junto de si, embora sofrendo, os entes caros, antes que v-los partir, ainda mesmo que para o cu. E a alma que estiver no cu ser realmente feliz vendo, por exemplo, arder eternamente seu filho, seu pai, sua me ou seus amigos? Por que os espritas no temem a morte 10. - A Doutrina Esprita transforma completamente a perspectiva do futuro. A vida futura deixa de ser uma hiptese para ser realidade. O estado das almas depois da morte no mais um sistema, porm o resultado da observao. Ergueu-se o vu; o mundo espiritual aparece-nos na plenitude de sua realidade prtica; no foram os homens que o descobriram pelo esforo de uma concepo engenhosa, so os prprios habitantes desse mundo que nos vm descrever a sua situao; a os vemos em todos os graus da escala espiritual, em todas as rases da felicidade e da desgraa, assistindo, enfim, a todas as peripcias da vida de alm-tmulo. Eis a por que os espritas encaram a morte calmamente e se revestem de serenidade nos seus ltimos momentos sobre a Terra. J no s a esperana, mas a certeza que os conforta; sabem que a vida futura a continuao da vida terrena em melhores condies e aguardam-na com a mesma confiana com que aguardariam o despontar do Sol aps uma noite de tempestade. Os motivos dessa confiana decorrem, outrossim, dos fatos testemunhados e da concordncia desses fatos com a lgica, com a justia e bondade de Deus, correspondendo s

ntimas aspiraes da Humanidade. Para os espritas, a alma no uma abstrao; ela tem um corpo etreo que a define ao pensamento, o que muito para fixar as idias sobre a sua individualidade, aptides e percepes. A lembrana dos que nos so caros repousa sobre alguma coisa de real. No se nos apresentam mais como chamas fugitivas que nada falam ao pensamento, porm sob uma forma concreta que antes no-los mostra como seres viventes. Alm disso, em vez de perdidos nas profundezas do Espao, esto ao redor de ns; o mundo corporal e o mundo espiritual identificam-se em perptuas relaes, assistindo-se mutuamente. No mais permissvel sendo a dvida sobre o futuro, desaparece o temor da morte; encara-se a sua aproximao a sangue-frio, como quem aguarda a libertao pela porta da vida e no do nada. (Allan Kardec -O Cu e o Inferno) .................................................................................................................. ............ RESUMO a) Para muitas pessoas, o temor da morte uma causa de perplexidade. b) Muitas sociedades, nos fazem crer desde crianas que, alm da vida presente, nada mais h. c) A felicidade do homem carnal consiste na satisfao fugaz de todos os seus desejos. d) A moderao dos desejos do homem moral, lhe d calma e serenidade.

QUESTES PARA ESTUDO E PARTICIPAO:

1 - Temos diante de ns o futuro, a vida eterna. Por que muitas pessoas tem medo da morte? 2 - Alguns acreditam que existe cu e inferno e que mais fcil irmos parar no inferno. Em seguida a esta afirmao, falam da crena do fogo eterno. O que o fogo eterno? Essa crena contra ou a favor da justia Divina? Por que? 3 - Por que o justo no teme a morte e o futuro? Que "mecanismos" ele usa para alcanar essa tranquilidade e paz de esprito? 4 - Explique as diferenas entre o homem carnal e o homem moral. 5 - "O segredo para ser feliz consiste em saber cada um suportar a sua desgraa" Essa uma afirmao que ouvimos de muitas pessoas. Ela est de acordo com a doutrina de amor ensinada por Jesus? E com a Justia Divina? E com os ensinamentos da Doutrina Esprita? Explique o porqu de cada resposta. .................................................................................................................. ..... VENCENDO O TEMOR DA MORTE Publicado a 23 de janeiro de 2012 por lgm Desde as primeiras manifestaes religiosas, quando o pensamento contnuo passou a ocupar o crebro dos nossos ancestrais, a ideia da morte causa temor e at hoje, aps todos os esclarecimentos, as pessoas em geral ainda no se libertaram desse atavismo. O instinto de preservao da vida o mais forte nos seres vivos, inclusive no ser humano. Todavia, principalmente atravs do livro Evoluo em Dois Mundos, da autoria do Esprito Andr Luiz, psicografado por Francisco Cndido Xavier, se tomou cincia clara de que a evoluo de todos os seres se faz atravs das sucessivas encarnaes e desencarnaes, desde os mais simples unicelulares at a fase hominal. No entanto, pode-se

perguntar: Por que, mesmo j tendo passado milhares ou milhes de vezes por essa experincia de perder o corpo fsico e permanecer apenas com o corpo espiritual, ainda no nos desvencilhamos do receio da morte? A resposta simples: porque estamos h relativamente muito pouco tempo vivenciando a fase da razo, da inteligncia, em comparao com os perodos anteriores, vividos nos Reinos inferiores da Natureza. Tempo de contato com a tica, ou seja, de civilizao, temos menos ainda, ou seja, mais ou menos seis milnios e meio. As informaes mais claras e avanadas sobre o mundo espiritual so recentssimas, ou seja, a partir da Doutrina Esprita, que surgiu com o lanamento de O Livro dos Espritos, em sua edio inicial de 1857, portanto, apenas um sculo e meio de contato assduo com nossos irmos desencarnados, principalmente atravs das sesses medinicas dos centros espritas. O instinto de preservao da vida material luta contra a ideia da perda do corpo fsico, necessria evoluo, dentro do nosso crebro ainda pouco afeito racionalidade mais avanada: somos, em verdade, semi-alfabetizados em termos de racionalidade e menos adiantados ainda em termos ticos: quanto primeira, veja-se nossa dificuldade de aprendizado at das matrias do currculo escolar, e, quanto aos segundos, sequer internalizamos o Evangelho e vivemos sofrendo por conta dos nossos defeitos morais. No fundo, tememos, talvez mais do que a perda do corpo fsico, o encontro face a face com a prpria conscincia, que onde est escrita a Lei Divina e atravs da qual entramos em contato direto com o Pai. O Esprito Andr Luiz esclarece na referida obra que, e em outras tambm, de sua autoria, que, para vivermos relativamente bem no mundo espiritual, temos de j ter vencido grande parte das nossas ms tendncias, ou seja, o orgulho, o egosmo e a vaidade. Em um mundo onde a forma de expresso individual o pensamento, o interior de cada um se revela em todos os instantes e no h meios de viver bem ali sem a estabilidade interior, que s a vivncia das virtudes proporciona.

Por isso, a reforma moral de cada um de ns deve iniciar-se aqui e agora, para que, alm de desfrutarmos uma melhor qualidade de vida aqui mesmo, no mundo material, venhamos a continuar realmente bem quando passarmos para o mundo espiritual, que a verdadeira morada dos Espritos evoludos. medida que evolumos intelecto-moralmente, precisamos menos de reencarnar. A razo foi o referencial adotado por Allan Kardec para selecionar as informaes recebidas dos Espritos na formulao da Codificao. A mesma razo deve ser o referencial para analisarmos a ns prprios e o modo como temos pensado, sentido e agido. Se nossa conscincia nos aprova, podemos ficar tranquilos de que viveremos bem aqui e no mundo espiritual. Em caso contrrio, mudemos de rumo, adotando o melhor, que gradativamente iremos merecendo mais ter serenidade, inclusive para efetivar, quando chegar a hora, mais uma passagem para o mundo espiritual. Seja em virtude do desgaste gradativo do corpo fsico, seja atravs da desencarnao sbita, a passagem certa e inarredvel do caminho de cada um. Preparemo-nos sem ansiedade nem tristeza e tambm sem deixar de viver bem e felizes aqui e agora, pois a vida vida em qualquer lugar. O objetivo desta mensagem auxiliar nossos irmos a refletirem maduramente sobre o assunto, afastando os fantasmas do temor que as religies tradicionais incutiram na nossa mente durante milnios, o que vem causando prejuzo at hoje. Allan Kardec pontificou: Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre: tal a Lei. Luiz Guilherme Marques .................................................................................................................. ................... O TEMOR DA MORTE Parecem ser inesgotveis as lies deixadas humanidade pelo filsofo grego Scrates. Seja pelo modo como viveu e pensou a vida, como filosofou extraindo idias

de seus interlocutores, como destruiu certezas de vrios pseudosbios ou mesmo pelo modo como morreu vemos que muitos de seus ensinamentos continuam atuais at hoje. Julgado pelo Tribunal de Atenas por ter sido acusado de desrespeitar os deuses e corromper a juventude, acabou condenado morte em uma votao apertada1 .A execuo de sua sentena, que deveria ser consumada por meio da ingesto de um veneno chamado cicuta, deu-se algumas semanas aps o veredicto. Enquanto esse dia fatal no chegava, Scrates no perdeu a oportunidade para mais uma vez exemplificar ensinamentos aos seus discpulos, dando-lhes genunas mostras de serenidade diante do destino que o aguardava. Instado por eles a fugir da priso, recusou-se, alegando que assim trairia sua prpria conscincia, logo ele que sempre defendeu o respeito e submisso de todos os cidados s leis e decises da Cidade. Perguntado sobre o que queria que fizessem com seu corpo, disse que dele se preocupassem os que ficassem vivos, pois, segundo ele, Scrates no mais estaria ali. E mesmo no dia de sua execuo, depois de ter ingerido a cicuta e j sentindo fortemente os seus efeitos, quando vivia seus ltimos momentos, ainda teve tempo para mais um gesto espirituoso, lembrando a seu amigo Crton que ele, Scrates, era devedor de Asclpios, e pediu-lhe que no se esquecesse de honrar referida dvida em seu nome. 2

Scrates, que ensinou sobretudo pelo exemplo, retrata bem a atitude de um homem que no temia a morte ou suas conseqncias. Era ele um homem, portanto, que, tendo filosofado pra valer, combatendo a ignorncia e as falsas verdades at as ltimas conseqncias, mostrou-nos como superar diversos de nossos vcios, dentre eles um que, quando excessivo, prejudica muito nossas vidas: o medo de morrer. O medo parece ser hoje, segundo bem percebe o filsofo contemporneo Luc Ferry, a coisa mais bem distribuda do mundo3 . Isto porque temos medo de tudo: do desemprego, da doena, do aquecimento global, da violncia, da solido, da traio e, como no poderia deixar de ser, da morte. E tais medos estariam entre as principais causas de infelicidade e de bloqueio para que possamos viver uma vida plena, cheia de alegria e sabedoria. Mas por que temos medo? De incio no podemos esquecer que o medo uma paixo, entendida aqui esta palavra no sentido filosfico com que a trata Ren Descartes4 e o prprio Allan Kardec em O Livro dos Espritos5 . Ou seja, o medo uma paixo, em um sentido filosfico, por ser ele uma percepo que a alma sente, independentemente de sua vontade, diante de determinadas situaes de perigo. Portanto, as paixes e o medo enquanto tal so uma espcie de sentimento em 1

O tribunal, composto por 501 cidados, considerou Scrates culpado por maioria de votos: 281 contra 220. 2 Sobre o julgamento e o perodo que antecedeu a execuo de Scrates, ver, respectivamente, a Apologia de Scrates e o Fdon, ambos escritos por Plato. 3 Sobre o tema, ver o livro de sua autoria Vencer os Medos (Editora Martins Fontes, So Paulo: 2008). 4 Ver a obra deste filsofo francs, intitulada Tratado das Paixes ou As Paixes da Alma. 5 Conforme esboado na Parte Terceira, Cap. XII, questes 907 a 912.relao ao qual, a princpio, no temos controle6 . Nesta senda, verificamos com diversos filsofos e com os espritos que as paixes possuem uma utilidade providencial, pois so todas elas postas em ns para o nosso bem e conservao. Logo, o medo um aliado nosso, quando sentido de forma equilibrada e quando bem compreendido. A sua falta ou o seu excesso quando, respectivamente, nos veramos em risco diante das situaes mais banais do cotidiano, ou quando seramos por ele paralisados para as coisas mais simples da nossa vida que passam a ser danosos. Reflitamos um pouco agora sobre o medo da morte, que parece exceder mais do que faltar na imensa maioria dos seres humanos. Quais respostas e proposies a doutrina esprita traz para que enfrentemos e equilibremos esse medo? Cumpre-nos observar que os medos de uma maneira geral, e o da

morte em particular, devem seu surgimento no s ao fato de serem paixes, mas tambm em grande parte em razo do desconhecido que eles representam. Logo, dentre tantas razes, podemos destacar que tememos a morte em funo de: a) no sabermos o que acontece depois dela; b) porque dela temos frequentemente as expectativas mais sombrias, tais como a entrada dos condenados em mundos onde iro expiar por meio de sofrimentos atrozes os erros de uma vida efmera; c) porque, em se tratando da morte daqueles que amamos, imaginamos que jamais iremos rev-los; ou ainda d) porque imaginamos que aps a morte ficaremos privados dos gozos e prazeres que s podemos ter enquanto encarnados.7 Acontece que, assim como fez em relao a tantas outras ideias errneas, a doutrina esprita destruiu o desconhecido relacionado morte. O espiritismo, atravs da mediunidade, demonstrou que no somos um corpo, mas sim um esprito que ganha, temporariamente, corpos fsicos para cumprir etapas evolutivas da sua existncia. A morte, portanto, no existe. O que existe a vida do esprito, em etapas e fases diferentes. Nas palavras de Kardec: 10. A Doutrina Esprita transforma completamente a perspectiva do futuro. A vida futura deixa de ser uma hiptese para ser realidade. O estado das almas depois da morte no mais um sistema, porm o resultado da observao.

Ergueu-se o vu; o mundo espiritual aparece-nos na plenitude de sua realidade prtica; no foram os homens que o descobriram pelo esforo de uma concepo engenhosa, so os prprios habitantes desse mundo que nos vm descrever a sua situao; a os vemos em todos os graus da escala espiritual, em todas as fases da felicidade e da desgraa, assistindo, enfim, a todas as peripcias da vida de alm-tmulo. Eis a por que os espritas encaram a morte calmamente e se revestem de serenidade nos seus ltimos momentos sobre a Terra. J no s a esperana, mas a certeza que os conforta; sabem que a vida futura a continuao da vida terrena em melhores condies e aguardamna com a mesma confiana com que aguardariam o despontar do Sol aps uma noite de tempestade. Os motivos dessa confiana decorrem, outrossim, dos fatos 6 Para uma compreenso breve, porm abrangente, das paixes e suas relaes com o espiritismo, ver o artigo As Paixes, uma Breve Anlise, de Silvio Seno Chibeni, disponvel em http://www.geak.com.br/site/upload/midia/pdf/as_paixoesuma_breve_analise-silvio_chibeni.pdf 7 Para uma melhor compreenso das idias esboadas neste pargrafo faz-se indispensvel a leitura completa do captulo II (Temor da Morte), Primeira Parte, do livro O Cu e o Inferno, em seu item denominado Causas do Temor da Morte, disponvel em http://www.ipeak.com.br/site/estudo_janela_conteudo.php? origem=6948&idioma=1, bem como das questes 941 e 942 de O Livro dos

Espritos.testemunhados e da concordncia desses fatos com a lgica, com a justia e bondade de Deus, correspondendo s ntimas aspiraes da Humanidade. (...). A lembrana dos que nos so caros repousa sobre alguma coisa de real. No se nos apresentam mais como chamas fugitivas que nada falam ao pensamento, porm sob uma forma concreta que antes no-los mostra como seres viventes. Alm disso, em vez de perdidos nas profundezas do Espao, esto ao redor de ns; o mundo corporal e o mundo espiritual identificam-se em perptuas relaes, assistindo-se mutuamente. No mais permissvel sendo a dvida sobre o futuro, desaparece o temor da morte; encara-se a sua aproximao a sangue-frio, como quem aguarda a libertao pela porta da vida e no do nada.8 Acontece, no entanto, algo curioso entre muitos de ns, espritas. Mesmo sabendo, ou devendo ter aprendido, que a morte no o fim, mas apenas uma mudana, ainda assim sentimos muito medo da morte, tanto da nossa prpria quanto a daqueles que amamos. Ocorre mesmo de muitos de ns sentirmos medo at dos prprios espritos, seja de v-los ou de simplesmente perceber-lhes a presena. Algo comparvel a mdicos que teriam medo de sangue. Mas por que ser que isso acontece? Em nosso entender, esse temor excessivo da morte ocorre entre muitos de ns,

espritas, porque ainda somos muito tericos. Lemos as obras fundamentais da doutrina esprita e admiramos sua beleza, sua construo e sua coerncia, mas no as estudamos e vivenciamos verdadeiramente. Somos, enfim, muito superficiais ao incorporar o espiritismo s nossas vidas. O resultado disso que pouco a pouco abandonamos os espritos no nosso dia a dia, quando no foi essa a proposta de Allan Kardec e dos prprios espritos. E a acabamos sentido medo da morte e dos espritos porque, nas atividades de interao medinica, acostumamo-nos a lidar prioritariamente com os nossos obsessores, esquecendo do convvio com os nossos guias e amigos espirituais. A mediunidade, de algo natural, feito nas nossas prprias residncias, como era comum de se ver no sculo XIX no mundo inteiro, passou a ser algo um tanto quanto fantstico, que nos incute muitas vezes um injustificvel temor. Proibimo-nos, explcita ou tacitamente, de interagir com os espritos em nossos lares e na nossa famlia, quando nada, absolutamente nenhuma palavra de toda a obra kardequiana, recomenda-nos a tanto. Sobre o assunto Allan Kardec claro ao afirmar que: 269. Os Espritos podem comunicar-se espontaneamente, ou acudir ao nosso chamado, isto , vir por evocao. Pensam algumas pessoas que todos devem abster-se de evocar tal ou tal Esprito e ser prefervel que se espere aquele que queira comunicar-se. Fundam-se em que, chamando determinado

Esprito, no podemos ter a certeza de ser ele quem se apresente, ao passo que aquele que vem espontaneamente, de seu moto prprio, melhor prova a sua identidade, pois que manifesta assim o desejo que tem de se entreter conosco. Em nossa opinio, isso um erro: primeiramente, porque h sempre em torno de ns Espritos, as mais das vezes de condio inferior, que outra coisa no querem seno comunicar-se; em segundo lugar e mesmo por esta ltima razo, no chamar a nenhum em particular abrir a porta a todos os que queiram entrar. 8 In O Cu e o Inferno, Primeira Parte, Captulo II (Temor da morte), item 10, denominado Por que os espritas no temem a morte, disponvel em http://www.ipeak.com.br/site/estudo_janela_conteudo.php? origem=3755&idioma=1Numa assemblia, no dar a palavra a ningum deix-la livre a toda a gente e sabe-se o que da resulta. A chamada direta de determinado Esprito constitui um lao entre ele e ns; chamamo-lo pelo nosso desejo e opomos assim uma espcie de barreira aos intrusos. Sem uma chamada direta, um Esprito nenhum motivo ter muitas vezes para vir confabular conosco, a menos que seja o nosso Esprito familiar. Cada uma destas duas maneiras de operar tem suas vantagens e nenhuma desvantagem haveria, seno na excluso absoluta de uma delas. As comunicaes espontneas inconveniente nenhum apresentam,

quando se est senhor dos Espritos e certo de no deixar que os maus tomem a dianteira. Ento, quase sempre bom aguardar a boa-vontade dos que se disponham a comunicar-se, porque nenhum constrangimento sofre o pensamento deles e dessa maneira se podem obter coisas admirveis; entretanto, pode suceder que o Esprito por quem se chama no esteja disposto a falar, ou no seja capaz de faz-lo no sentido desejado. O exame escrupuloso, que temos aconselhado, , alis, uma garantia contra as comunicaes ms. Nas reunies regulares, naquelas, sobretudo, em que se faz um trabalho continuado, h sempre Espritos habituais que a elas comparecem, sem que sejam chamados, por estarem prevenidos, em virtude mesmo da regularidade das sesses. Tomam, ento, freqentemente a palavra, de modo espontneo, para tratar de um assunto qualquer, desenvolver uma proposio ou prescrever o que se deva fazer, caso em que so facilmente reconhecveis, quer pela forma da linguagem, que sempre idntica, quer pela escrita, quer por certos hbitos que lhes so peculiares.9 V-se, pois, com Kardec, que as comunicaes dirigidas (evocaes), sem desautorizar as espontneas, so bem mais vantajosas, sendo atravs delas que poderamos criar o hbito de manter contato medinico frequente com

os nossos espritos protetores e familiares. Alis, enquanto mecanismo de fortalecimento da f, as evocaes mostram-se muito mais eficazes, pois possibilitam a ns, encarnados, um intercmbio medinico capaz de criar vnculos de intimidade, afeio e simpatia que no conseguimos por meio das comunicaes medinicas espontneas. Logo, fortalecendo-se a f, teme-se menos a morte, posto que aqueles que se mantinham afastados de ns pelo tmulo passam a conviver conosco tambm enquanto espritos. V-se, pois, que, se estudssemos e praticssemos os ensinamentos da doutrina esprita com maior profundidade, deveramos falar da morte, seja com nossos familiares ou amigos, assim como deveramos falar da vida, ou seja, como algo natural. Poderamos, em conseguindo conviver com maior naturalidade com os espritos, principalmente nossos protetores e aqueles que nos so familiares e simpticos, ajudar no s a ns mesmos a vencer o medo da morte, mas tambm s pessoas prximas e inmeras outras que tem na morte uma das piores fontes de infelicidade e angstia. Imaginemos a felicidade que sentiramos ao poder conviver diretamente, no nosso dia a dia, com os espritos daqueles que amamos, tal como feito no Lar da Famlia Esprita narrado na Revista Esprita de Setembro de 185910 , na qual o convvio 9 O Livro dos Mdiuns, captulo XXV, Das Evocaes, item 269.

10 Remetemos o leitor leitura completa deste belo texto de Kardec, definido por ele como um espetculo verdadeiramente edificante, no link http://www.ipeak.com.br/site/estudo_janela_conteudo.php? origem=2729&idioma=1de uma mulher e suas filhas com os seus respectivos marido e pai, que j havia desencarnado, chegava a ter uma naturalidade surpreendente? Por que no poderamos, portanto, utilizando-nos da mediunidade com respeito, seriedade e f, viver experincias parecidas? Nada do que est contido nas obras de Allan Kardec nos desautoriza a tanto. Alis, justamente isso o que os espritos nos recomendam, seno vejamos as seguintes questes de O Livro dos Espritos, que tratam da Perda dos Entes Queridos: 934. A perda dos entes que nos so caros no constitui para ns legtima causa de dor, tanto mais legtima quanto irreparvel e independente da nossa vontade? Essa causa de dor atinge assim o rico como o pobre: uma prova ou uma expiao, e constitui lei para todos. Tendes, porm, uma consolao em poderdes comunicar-vos com os vossos amigos pelos meios que vos esto ao alcance, enquanto no dispondes de outros mais diretos e mais acessveis aos vossos sentidos. 935. Que se deve pensar da opinio dos que consideram profanao as comunicaes com o alm-tmulo? No pode haver nisso profanao, quando haja recolhimento e

quando a evocao seja praticada com respeito e convenincia. A prova de que assim tendes no fato de que os Espritos que vos consagram afeio acodem com prazer ao vosso chamado. Sentem-se felizes por vos lembrardes deles e por se comunicarem convosco. Haveria profanao se isso fosse feito levianamente. A possibilidade de nos pormos em comunicao com os Espritos uma dulcssima consolao, pois que nos proporciona meio de conversarmos com os nossos parentes e amigos que deixaram antes de ns a Terra. Pela evocao, aproximamo-los de ns; vm colocar-se ao nosso lado, nos ouvem e respondem. Desse modo, cessa, por bem dizer, toda separao entre eles e ns. Auxiliam-nos com seus conselhos, testemunham-nos o afeto que nos guardam e a alegria que experimentam por nos lembrarmos deles. Para ns, grande satisfao sab-los ditosos, informar-nos, por seu intermdio, dos pormenores da nova existncia a que passaram e adquirir a certeza de que um dia nos iremos a eles juntar. Que fique claro que no estamos aqui a dizer que a evocao dos espritos possa ser feita de qualquer modo ou em qualquer circunstncia. Muito pelo contrrio. Quanto a isso, Kardec tambm foi preciso ao explicar em diversas passagens de suas obras, em especial em O Livro dos Mdiuns, o quo necessrio entender a mediunidade para bem pratic-la. Precisamos de um indispensvel recolhimento para estud-la alis, no s a mediunidade, mas a doutrina esprita como

um todo com disciplina, profundidade e persistncia, preparando-nos tanto intelectual quanto moralmente, para poder bem exercer a interao medinica. Ainda sobre o temor da morte, algo a mais deve ser dito. Sabemos, pelos testemunhos que nos so dados por diversos espritos, que, se por um lado a morte do corpo fsico no o fim de tudo, por outro lado no podemos imaginar ingenuamente que, pelo simples fato de ter morrido, algum ter assegurada a sua sorte no plano espiritual, tendo se tornado um anjo. De modo algum. O espiritismo nos liberta dessas iluses ao nos ensinar que, enquanto espritos, somos aquilo que pensamos e queremos. Ento, na verdade, se devssemos ter medo de alguma coisa aps a desencarnao, este medo deveria ser dos nossos pensamentos e das nossas vontades, ou melhor, dos nossos maus pensamentos e das nossas vontades inconsequentes, para cujos aprimoramentos agimos to pouco quando encarnados. Preciso dizer que deixar de temer a morte no significa passar a desej-la, nem tampouco transbordarmos de alegria quando ela ocorre. Afinal, o medo, como vimos, possui uma utilidade providencial. Ter certo medo de morrer, bem como medo de que nossos filhos, cnjuges, familiares e amigos morram, mais do que natural, mesmo para o esprita. Contudo, quando somos espritas esforados, que procuram bem entender e praticar a doutrina esprita, percebemos que a razo e a intensidade

desse medo mudam significativamente com o passar do tempo. Sendo assim, claro que podemos chorar pela perda de pessoas queridas, mas no de desespero, e sim pela saudade, posto que temos a certeza de que iremos nos reencontrar, seja atravs da mediunidade, seja nos sonhos, seja quando tambm desencarnarmos ou at mesmo em futuras reencarnaes. Pensar na morte, com tudo o que isso nos proporciona de questionamentos metafsicos, longe de ser algo mrbido, deveria ser algo a se fazer constantemente com o fim de se buscar uma maior maturidade espiritual para que, quando ela nos atinja, venha de que lado for, possamos estar mais bem preparados. Infelizmente no isto o que acontece, pois normalmente fugimos da idia ou fingimos que ela no existe. Por isso, para encerrar, deixaremos ao leitor uma pergunta semelhante quela feita por Frei Leo ao seu amigo Francisco de Assis, quando aquele viu este cuidando de um jardim com uma paz de esprito digna de dar inveja aos que no a possuem. A pergunta, que fica como reflexo, : o que voc faria, se soubesse que iria morrer hoje? A resposta que cada um de ns der certamente dir muito sobre quem somos e em que precisamos melhorar... verdade que no somos Scrates e que talvez estejamos longe de ter a mesma sabedoria e serenidade que ele teve para enfrentar a morte. Mas temos a doutrina esprita que, bem compreendida, fornece-nos ferramentas

potentssimas para encarar e domar nossos medos, principalmente o da morte, bem como para nos tornar espritos cada vez melhores. Daniel A. Lima 10 de fevereiro de 2012 .................................................................................................................. ....................................................... Para muitas pessoas, o temor da morte uma causa de perplexidade, falece-lhes fundamento para semelhante temor. Mas, que queres! Se procuram persuadi-las, quando crianas, de que h um inferno e um paraso e que mais certo irem para o inferno, visto que tambm lhes disseram que o que est na Natureza constitui pecado mortal para a alma! Sucede ento que, tornadas adultas, essas pessoas, se algum juzo tm, no podem admitir tal coisa e se fazem atias, ou materialistas. So assim levadas a crer que, alm_da_vida_presente, nada mais h. Quanto aos que persistiram nas suas crenas da infncia, esses temem aquele fogo eterno que os queimar sem os consumir. Ao justo, nenhum temor inspira a morte, porque, com a f, tem ele a certeza do futuro. A esperana f-lo contar com uma vida melhor; e a caridade, a cuja lei obedece, lhe d a segurana de que, no mundo para onde ter de ir, nenhum ser encontrar cujo olhar lhe seja de temer. O homem carnal, mais preso vida corprea do que vida_espiritual tem, na Terra, penas e gozos_materiais. Sua felicidade consiste na satisfao fugaz de todos os seus desejos. Sua alma, constantemente preocupada e angustiada pelas vicissitudes da vida, se conserva numa ansiedade e numa tortura perptuas. A morte o assusta, porque ele duvida do futuro e porque tem de deixar no mundo todas as suas afeies e esperanas. O homem moral, que se colocou acima das necessidades factcias criadas pelas paixes, j neste mundo experimenta gozos que o homem material desconhece. A moderao de seus desejos lhe d ao Esprito calma e serenidade. Ditoso pelo bem que faz, no h para ele

decepes e as contrariedades lhe deslizam por sobre a alma, sem nenhuma impresso dolorosa deixarem. .................................................................................................................. ............................................ Opinio de Psiclogo emor da morte Carlos Henrique Vernier Quais motivos levam as pessoas a temer a morte? O medo do desconhecido? Medo de serem enterradas ou cremadas ainda em vida? Medo da solido, perder algum amado; amigos, pais, filhos, o processo doloroso do luto e a solido, etc. Talvez a no compreenso do verdadeiro sentido da vida faz com que a maioria de ns tenha certo receio da morte. Assim como nascer um fenmeno natural, a morte tambm o . Mas, afinal, por que tememos a morte? No a morte que nos amedronta e sim as inmeras informaes com as quais crescemos, pois ouvimos desde criana que ao morrermos encontraremos o nosso destino final, nos incutiram duas situaes difceis de aceitar e por essa razo a morte se tornou um enigma para muitos de ns. A existncia de um cu para os bons e um inferno para os maus parece um paradoxo terrvel, pois que no somos bons o bastante para merecer um cu conforme nos mostra as pinturas angelicais, nem to pouco maus o bastante para merecermos um inferno eterno onde o remorso seja travestido de um ser com aparncia pouco agradvel. De onde viemos? O que estamos fazendo aqui? Para onde vamos depois? A morte foi apresentada ao longo dos sculos como algo terrvel, dramtico, horripilante. No nada disso. A pesquisa cientfica mostra que a morte nada mais do que uma natural desagregao molecular, biolgica. Nada tem que possa causar pavor, desde que saibamos que habitamos uma estrutura biolgica sujeita a desgastes e com tempo mais ou menos determinado de ocupao. Com essa conscincia o medo se esvazia... Todos temos o nosso tempo. Ideal e oportuno que saibamos viv-lo.

Muitos pensadores da antiguidade traziam o semblante sereno, pois que tinham algo mais alm da racionalidade, tinham tambm uma sabedoria que os animava a sempre ousar, a dar o melhor de si para a humanidade, seja atravs dos inventos ou simplesmente a defesa de suas ideias em concordncia com suas descobertas e por elas estariam dispostos a morrer se fosse preciso. A falta de um idealismo que mova a criatura na direo de algo superior, faz com que tudo parea montono, tudo que diz respeito a conquistas no plano do concreto, um dia acaba e descobre-se um imenso vazio. O que seria esse vazio? Por que ele est sempre apontando para algo inacabado? Onde buscar a realizao? Como preencher o vazio deixado pelas aquisies, pelas posses? O medo da morte est substancialmente relacionado com esse vazio. A dvida se faz cruel, razo pela quais muitos se deprimem, mergulham no vazio existencial sem se darem conta de que a vida muito mais do que nascer, crescer, se reproduzir e morrer. Medo algo instintivo e ele tem sua razo de ser, faz parte do equilbrio que sustenta a vida. Sem o medo nos atiraramos sem receio nas mais complexas situaes que nos colocariam em risco eminente a integridade fsica. O receio til, pois ele que nos defende de ns mesmos. No entanto, o medo irracional doloroso, cruel e nos deixa a merc de algo que desconhecemos. Scrates enfatizou muito bem: Conhece-te a ti mesmo. Nessa pequena sentena est a chave de todas as portas que at ento se manteve encerrada, porque questes sociais, culturais, polticas e religiosas. Conhecimento, eis a melhor forma de conhecer e lidar com os medos. Como estamos vivendo? Aprenda a bem viver e bem sabers morrer - Confcio. O autor, Carlos Henrique Vernier, psiclogo - CRP 06/107461 ..................................................................................................................

........................................................ Como perder o medo da morte 2 Morte Ns todos vamos morrer. E, acredite ou no, esse um evento to natural quanto nascer, crescer ou ter filhos. No entanto, a ideia da finitude nos enche de terror. Por qu? Ser que precisa ser assim? D para sofrer menos? Texto Maria Fernanda Vomero

H muito tempo, no Tibete, uma mulher viu seu filho, ainda beb, adoecer e morrer em seus braos, sem que ela pudesse fazer nada. Desesperada, saiu pelas ruas implorando que algum a ajudasse a encontrar um remdio que pudesse curar a morte do filho. Como ningum podia ajud-la, a mulher procurou um mestre budista, colocou o corpo da criana a seus ps e falou sobre a profunda tristeza que a estava abatendo. O mestre, ento, respondeu que havia, sim, uma soluo para a sua dor. Ela deveria voltar cidade e trazer para ele uma semente de mostarda nascida em uma casa onde nunca tivesse ocorrido uma perda. A mulher partiu, exultante, em busca da semente. Foi de casa em casa. Sempre ouvindo as mesmas respostas. Muita gente j morreu nesta casa; Desculpe, j houve morte em nossa famlia; Aqui ns j perdemos um beb tambm. Depois de percorrer a cidade inteira sem conseguir a semente de mostarda pedida pelo mestre, a mulher compreendeu a lio. Voltou a ele e disse: O sofrimento me cegou a ponto de eu imaginar que era a nica pessoa que sofria nas mos da morte. A morte pode ser vista como um mistrio incompreensvel. Ou como um absurdo inaceitvel. A morte pode at ser tratada como um tabu. Mas, seja como for, aceitemos isso ou no, a morte uma realidade

inexorvel. Por mais que queiramos nos esconder dela, deixar de existir to natural quanto existir. Na verdade, a morte provavelmente a nica coisa certa na sua existncia ou na minha: certo que todos ns vamos morrer um dia. Pode-se aceitar a inevitabilidade da morte e olh-la de frente. Ou pode-se neg-la, fugir dela, imaginar que no pensar na morte possa fazer com que ela deixe de acontecer com voc ou com a sua famlia. Mas todos ns estamos programados para nascer, crescer e morrer uma obviedade esquecida por boa parte da sociedade ocidental contempornea, que teima em ver a morte como um evento inesperado e injusto. Sobretudo, costumamos v-la como um evento exclusivo, pessoal, que isola quem sofre uma perda de todo o resto do mundo. Mas no h nada menos exclusivo do que morrer. Como est expresso na fbula tibetana, a morte no privilgio nem desgraa particular de ningum. Ela chega para todos, sem exceo. Mas, afinal, se a morte to comum e corriqueira, por que ela nos causa tanto medo? O maior desejo do homem a imortalidade, diz a psicloga Ingrid Esslinger, do Laboratrio de Estudos sobre a morte do Instituto de Psicologia da Universidade de So Paulo (USP), acostumada a atender pessoas em situao de luto. Por isso, muitas vezes a morte considerada uma inimiga. E uma adversria, que poderia ser vencida pelos avanos cientfico-tecnolgicos do sculo 20, que aumentaram a eficincia dos diagnsticos, dos medicamentos, das tcnicas cirrgicas etc. Soa como um despropsito falar de morte a quem tem as descobertas da cincia a seu favor. Afinal, se existem meios de prolongar a vida til do ser humano, de manter-se jovem, por que pensar na finitude? um paradoxo: a valorizao da vida e a iluso de eterna beleza e jovialidade trazidas pela vida moderna acabam gerando, por meio do apego a tudo isso, muito mais tristeza e sofrimento pelo fim inevitvel da existncia do que felicidade pelo mais de vida que proporcionam. O ocidente transformou a morte em tabu: ela costuma ser banida das conversas cotidianas. Tudo aquilo que possa lembr-la

escamoteado. Os doentes morrem no hospital, longe dos olhos e, no raro, do corao de seus amigos e parentes. E os rituais de luto so cada vez mais rpidos. O medo natural que todo ser humano sente diante da prpria finitude vira pnico. E mesmo a morte natural acaba virando sinnimo de aniquilamento sumrio. O que, no mais das vezes, no corresponde realidade por se tratar simplesmente de uma vida que chegou ao fim. Como perder o medo da morte - Hora de ir embora O primeiro passo para conviver melhor com a idia da morte esquecer aquela imagem medieval, um tanto ttrica, de um esqueleto coberto com uma capa preta carregando uma foice afiada na mo. Talvez uma imagem melhor para a morte seja imagin-la como o fim de uma festa: voc j sabia que ela teria que acabar, em algum momento. E, pensando bem, talvez no seja de todo mal que a festa termine. Voc agentaria danar na pista para sempre? Por melhor que seja a msica, tem uma hora que seu corpo e sua mente pedem descanso. E a, talvez, seja o momento mesmo de sair da pista, serenamente, sem traumas, e dar lugar a quem est chegando festa cheio de gs. O medo da morte inerente ao desenvolvimento humano. Aparece na infncia, a partir das primeiras experincias de perda. E tem vrias facetas: trata-se de um medo do desconhecido, somado ao medo da prpria extino, da ruptura da teia afetiva, da solido e do sofrimento. O medo da morte fundador da cultura, diz a socioantroploga Luce des Aulniers, responsvel pela disciplina de estudos sobre a morte, da Universidade de Quebec, em Montreal, Canad. Esse medo funciona como piv e como motor de todas as civilizaes. A partir do desejo de perenidade, se desenvolvem as instituies, as crenas, as cincias, as artes, as tcnicas e mesmo as organizaes polticas e econmicas. Esse o lado, digamos, vital da morte. O medo da morte nos fora a viver a nos relacionar, a procriar, a criar, a construir coisas que nos transcendam, diz a pesquisadora canadense. Na iluso da

imortalidade, o ser humano acredita que suas obras sejam permanentes e garantam que ele no seja esquecido. Cada um adapta, sua prpria maneira, a mxima plantar uma rvore, escrever um livro e fazer um filho. Para o nosso inconsciente, a morte nunca possvel nem admissvel quando se trata de ns mesmos. A idia da no-existncia provoca tal desconforto que a mente humana acaba criando alguns mecanismos de defesa para fugir dessa realidade, diz o psiquiatra e psicanalista Roosevelt Smeke Cassorla, da Sociedade Brasileira de Psicanlise, em So Paulo. A negao e a represso da idia de morte so exemplos desses artifcios. Como perder o medo da morte - Terror ancestral Nada disso novidade. Desde os tempos mais remotos, os homens j enxergavam a morte como elemento antagnico vida. Talvez fosse mais fcil aceit-la como fato natural quando ela acontecia aos borbotes, quando a expectativa de vida das pessoas era de 35 anos. Mas o estranhamento e o terror sempre existiram. As pinturas nas paredes de cavernas como Lascaux e Chauvert, na Frana, revelam o incmodo que a morte provocava no homem de 30 mil anos atrs. Episdios alegres, como caadas, eram retratados em cores vivas. As imagens fnebres, por sua vez, eram pintadas com cores escuras. O antagonismo se mantm dentro de cada um de ns, no jogo constante entre Eros, o deus grego do amor, e Tanatos, o deus da morte, para usar uma imagem cunhada por Sigmund Freud, fundador da psicanlise. As foras da vida, representadas por Eros, estimulariam o crescimento, a integrao, a autoproteo e a sobrevivncia. As foras da morte, representadas por Tanatos, alimentariam os instintos destrutivos e as atitudes de auto-sabotagem, por exemplo. Da conciliao de todas essas foras contraditrias, surgiriam o equilbrio e o vigor emocional necessrios para viver. No entanto, o medo de morrer pode gerar um apego desmedido a elementos cotidianos e um conseqente desespero diante da possibilidade de vir a perder tudo com a morte a companhia dos amigos, o carro novo, os imveis, o status social, os projetos no

realizados. No budismo, assim como na tradio crist, o desapego condio essencial para uma boa morte. Normalmente assumimos que precisamos dominar alguma coisa para que ela nos traga felicidade. E nos perguntamos: como possvel saborear alguma coisa se no podemos possu-la?, escreve Sogyal Rinpoche, em seu O Livro Tibetano do Viver e do Morrer. Mas, na morte, no podemos levar nada conosco. Eis aqui outro paradoxo: para viver bem, sem o tormento da idia do fim, preciso cultivar um certo desapego em relao vida. Em certas ordens religiosas catlicas, os monges, ao se encontrarem nos corredores do mosteiro, costumam dizer uns aos outros: Memento mori, expresso latina que significa lembre-se de que vai morrer. A saudao que o contraponto de Carpe diem (aproveite o dia) funciona como um exerccio de aceitao da morte. O contrrio disso o culto ao ego, ao pequeno eu que h dentro de cada um de ns, manifestado na no-aceitao do curso natural dos acontecimentos. E que est presente no indivduo que tenta se colocar acima do todo a que pertence. Na vida, quanto mais voc est centrado em si mesmo, mais voc sofre com a ausncia de solidariedade, com a falsa idia de que est desamparado. Na morte, acontece a mesma coisa. Quanto menos voc compartilha a sua dor, mais insuportvel ela se torna. Como perder o medo da morte - Morra na filosofia Para quem busca na filosofia maneiras de lidar melhor com a morte, as reflexes finais do filsofo grego Scrates condenado a tomar cicuta, um veneno letal , feitas no sculo 5 a.C., representam um excelente exerccio de aceitao. Porque morrer uma ou outra destas duas coisas. Ou o morto no tem absolutamente nenhuma existncia, nenhuma conscincia do que quer que seja. Ou, como se diz, a morte precisamente uma mudana de existncia e, para a alma, uma migrao deste lugar para outro, afirmou Scrates. Para quem no acredita na continuao da vida, a morte o nada, o fim das aflies. E para quem acredita na continuao da vida, a morte a passagem desta existncia para outra melhor. De qualquer modo, a dor estaria na

vida e no na morte. A morte um assunto to complexo que sequer h uma concordncia entre os cientistas quanto sua definio. No campo filosfico, essa discusso fica ainda mais sinuosa. Apesar de considerarmos a morte como um evento biologicamente irreversvel, ela no pode ser determinada exclusivamente pelo critrio biolgico, pois envolve tambm questes ontolgicas e filosficas, afirma o patologista forense Marcos de Almeida, professor de medicina legal e biotica da Universidade Federal de So Paulo. Alma e conscincia so sinnimos? Existe uma alma imortal? Se sim, para onde ela vai quando morremos? Sem respostas da cincia, o homem busca nas religies as explicaes para a morte. Para uns, trata-se de uma passagem. Para outros, uma forma de libertao do sofrimento. H ainda aqueles para quem morrer simplesmente deixar de existir. Pesquisas demonstram que pessoas com forte grau de envolvimento religioso, independentemente da crena, geralmente tm menos medo da morte, afirma a psicloga Maria Jlia Kovcz, coordenadora do Laboratrio de Estudos sobre a morte da USP e autora de morte e Desenvolvimento Humano. A f ajuda a superar a ansiedade em relao idia de finitude, diz ela. Para o psicanalista Roosevelt Cassorla, na religio o indivduo convive melhor com a finitude porque l encontra certezas sobre por que vive, por que morre e o que acontece aps a morte. Se h uma outra vida que se segue morte, existiria ento uma continuidade da mente ou do esprito. Viver em funo dessa continuidade nos torna mais responsveis pelas conseqncias dos nossos atos, diz a psicloga Bel Cesar, do Centro de Dharma da Paz, em So Paulo, e autora de Morrer No se Improvisa. O fruto apodrece, cai no cho, mas deixa a semente que dar vida a outro fruto. Assim tambm conosco. A viso espiritual da morte implica desapego. Afinal, tambm por meio da aceitao da impermanncia humana que a religio ajuda a suavizar o sofrimento causado pela finitude. Por outro lado, a idia de transcendncia, do indivduo que

vence a morte, paradoxalmente embute uma aspirao perenidade, ao no admitir que o sujeito chegue a um fim. Como perder o medo da morte - A negao do fim Em oposio viso espiritualista da morte, h a tradio materialista ocidental, que surgiu na Antiguidade e depois foi retomada pelos filsofos do iluminismo, a partir do sculo 18, para a qual a morte o fim total e absoluto. Nada mais do que a interrupo de um processo neurofisiolgico. Essa concepo, mais tarde lapidada pelos existencialistas, como o francs Jean-Paul Sartre, funda muito da nossa viso de que morrer uma idia inconcebvel com a qual impossvel lidar. Morrer um absurdo, escreveu o filsofo existencialista Arthur Schopenhauer (1788-1860). A morte no cabe na idia cartesiana de vida para a qual tudo poderia ser medido, compreendido, planejado. O Ocidente, em seu esforo por no admitir a morte, est h pelo menos 30 anos obcecado pela idia do jovem como metfora de vida saudvel. O envelhecimento visto sempre como decrepitude e a morte vista sempre como a eptome disso. H uma negao muito clara da finitude. Sobretudo porque os valores da sociedade de massa e de consumo so antagnicos idia de morte: o fetichismo da juventude eterna, os ideais de progresso, a acumulao de bens, a busca da imortalidade, diz Olgria Feres Matos, professora do Departamento de Filosofia da USP. A sociedade ocidental vive um presente perptuo. No h nem a viso de um futuro nem a evocao de um passado. Por isso, a morte no admitida como uma experincia humana aceitvel, afirma Olgria. O resultado uma sociedade atormentada, que busca inutilmente a felicidade em fugas da realidade de que um dia iremos deixar de existir. Mesmo no mundo ocidental, no entanto, sobrevivem tradies que, ao festejar a morte, celebram a vida. O Dia dos Mortos, no Mxico, um exemplo disso. Ainda existem aldeias que desenterram os mortos nesse dia. Trata-se de um costume indgena milenar. As refeies so feitas no cemitrio, e as crianas ganham doces e bombons em forma

de caveiras, diz o historiador Leandro Karnal, professor de histria da Amrica na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). No interior do pas, sobrevive a prtica de conversar com os mortos para coloc-los a par do que aconteceu durante o ano. As famlias preparam altares para seus falecidos e neles colocam os objetos que guardam uma relao afetiva com o parente que se foi: livros, discos, cigarros, comidas, fotografias. Vale tudo que tenha tido algum valor para o morto. A morte j foi vista de modo mais familiar pelo Ocidente. E no faz tanto tempo. At meados do sculo passado, era costume morrer em casa. A famlia reunia-se em volta do leito para ouvir a ltima palavra daquele que estava mor--rendo, afirma o historiador Eduardo Basto de Albuquerque, da Universidade Estadual Paulista, em Rio Claro. Era um momento de despedida. No se ocultava das crianas a morte como se faz atualmente. O velrio tambm era, na maioria das vezes, realizado em casa tradio que sobrevive em algumas cidades do interior do Brasil. Existiam comidas tpicas para a ocasio. Os parentes preparavam alguns pratos para receber os conhecidos que participavam do enterro. Havia, inclusive, cnticos e oraes especiais para o momento, diz Eduardo. A expulso da morte da nossa intimidade uma metfora da negao da finitude que operamos em nossas prprias vidas. Os rituais de morte esto presentes em todas as sociedades do planeta. Servem para a compreenso social do fenmeno: ajudam a digerir o impacto provocado pela perda do outro e funcionam como fator de agregao daquela sociedade, diz o antroplogo Guillermo Ruben, da Unicamp. Os rituais seculares foram esvaziados de sentimentos e significado, escreveu o socilogo alemo Nobert Elias, na arguta anlise da experincia de morte nos dias de hoje, presente em A Solido dos Moribundos. O crescente tabu da civilizao em relao expresso de sentimentos espontneos e fortes trava suas lnguas e mos. E os viventes podem, de maneira semiconsciente, sentir que a morte contagiosa e ameaadora; afastam-se involuntariamente dos

moribundos, afirmou. O temor do contgio pela morte explica a solido e a frieza das unidades de terapia intensiva, onde, muitas vezes, os doentes terminais morrem sem a possibilidade de dizer uma ltima palavra aos que amam e sem ningum que lhes oferea conforto espiritual. Claro que morrer assim d muito medo. Estabelece-se a um crculo vicioso: temos pnico da morte porque ela parece horrvel e a tornamos mais horrvel do que poderia ser porque nos afastamos dela e de quem morre. Como perder o medo da morte - Processo natural No incio dos anos 70, iniciou-se um movimento de humanizao da medicina, principalmente no campo do atendimento aos pacientes terminais. A enfermeira britnica Cicely Saunders inovou ao propor um atendimento multiprofissional aos portadores de cncer avanado, em locais chamados hospices. Nesses abrigos, o doente conta com os cuidados mdicos e com a proximidade da famlia. Da equipe multiprofissional fazem parte tambm psiclogos e sacerdotes de diferentes religies, prontos a oferecer assistncia psicolgica e espiritual. O movimento hospice incentivou a criao das unidades de cuidados paliativos, que funcionam ligadas aos hospitais, e do home care, o atendimento domiciliar a pacientes terminais. No Brasil, o pioneiro na divulgao dos cuidados paliativos foi o mdico Marco Tullio de Assis Figueiredo, professor da Universidade Federal de So Paulo. Alm de ter criado dois cursos voltados aos estudantes da rea de sade um sobre tanatologia (o estudo da morte) e outro sobre cuidados paliativos , ele implantou uma Unidade de Cuidados Paliativos no Hospital So Paulo. Os estudantes de medicina, em geral, nada aprendem, em seus cursos, sobre a morte, diz ele. Por isso, vemos mdicos tentando manter a vida do paciente a qualquer preo, mesmo que isso implique mais sofrimento para o doente. Tal prtica conhecida como distansia, conceito que significa a tentativa de adiar a morte o mximo possvel e de conseguir uma sobrevida sem qualquer qualidade.

Num esforo para reaproximar o tema do cotidiano de crianas, adolescentes, adultos e idosos, a equipe do Laboratrio de Estudos sobre a morte, da USP, preparou uma trilogia de v-deos chamada Falando de morte. Cada episdio dedicado a uma fase da vida. E a morte vista como uma delas. O objetivo estimular discusses sobre o assunto na escola, na famlia, nos hospitais. Falar da morte transform-la em aliada, conselheira, em uma presena natural, afirma Ingrid Esslinger, integrante da equipe. Na filosofia oriental, existem prticas especficas de preparao para a morte. A principal delas a meditao, que tem o objetivo de domar a mente, a ansiedade e as emoes negativas sempre mas especialmente no momento em que a pessoa se aproxima da morte. Uma das imagens utilizadas na meditao para caracterizar os instantes finais da existncia a de uma bela atriz sentada em frente ao espelho. O ltimo espetculo est prestes a comear. Ela retoca a maquiagem e repassa toda a sua fala antes de pisar no palco pela ltima vez. Est preparada para a apresentao derradeira. Reconcilie-se com a morte. No por morbidez, no para se esquecer de viver, no porque seja bom deixar de existir. Mas simplesmente porque ela vai acontecer e no somente com voc mas com todos os que andaram, andam ou venham a andar sobre a Terra. A voc e a mim, portanto, resta apenas aprender a conviver com ela. Encar-la de frente, compreend-la, admiti-la. Em vez de tentar escamote-la, negla, escond-la debaixo do tapete. E, quem sabe, assim, sofrer menos com a visita que ela nos far um dia e com os eventuais sinais da sua presena que ela j tenha plantado ao nosso redor. Desejo uma excelente vida para voc, caro leitor. E uma boa morte. Fonte: Super interessante - fevereiro 2002 .................................................................................................................. ........................................... A morte como ela No to simples quanto parece: quando

morremos, milhares de partes do nosso corpo esto na ativa tentando reverter o processo. E muita coisa ainda acontece depois que damos o ltimo suspiro por Otavio Cohen e Karin Hueck Quando Steven Thorpe chegou ao Hospital Universitrio de Coventry, no Reino Unido, a equipe mdica disse famlia que no havia mais nada a fazer. O adolescente de 17 anos havia sofrido ferimentos gravssimos na cabea em um acidente de carro e os danos no seu crebro eram irreversveis. O diagnstico era morte enceflica. Mas a famlia no perdeu as esperanas. O procedimento que comprova a ausncia total de atividade cerebral foi realizado mais 3 vezes, at que o quinto exame revelou ondas cerebrais fraqussimas - o que significava uma chance de sobrevivncia. Duas semanas depois, Steven acordou do coma e comeou a se recuperar. O caso, que chamou a ateno da medicina em 2008, mostra que o limite entre a vida e a morte mesmo tnue. Se um procedimento errado quase acabou com a vida de um jovem em pleno sculo 21, d para imaginar por que a morte ainda assusta os mdicos (para nem falar de ns, reles mortais). Duzentos anos atrs, quando no existiam aparelhos que identificassem os sinais vitais, os diagnsticos errados para o fim da vida eram frequentes. Em 1846, a Academia de Cincias de Paris aceitou que a morte significa a ausncia de respirao, de circulao e de batimentos cardacos. Mas mais de um sculo depois, outro francs, Paul Brouardel, concluiu que o corao no sustenta a vida sozinho. Uma pessoa decapitada pode ter batimentos cardacos por uma hora, o que no quer dizer que ela esteja viva. Quando surgiram os respiradores artificiais nos anos 1950, os critrios para definir o fim da vida ficaram ainda mais confusos. Ficou decidido que ele acontece quando as clulas do crebro param totalmente de funcionar e desligam o encfalo, a parte do sistema nervoso central que controla funes automticas, como a respirao e a circulao. Geralmente, isso acontece depois de acidentes ou AVCs. A morte cerebral permite a doao de rgos - j que o resto do corpo continua

intacto e imune dor. (Embora existam relatos de reaes parecidas com s da dor na hora da retirada dos rgos, como batimentos cardacos acelerados e presso alta.) Na teoria, o crebro a placa me de um computador. Quando ela queima, a mquina no funciona mais, mesmo que todas as outras peas ainda estejam em bom estado. A explicao parece simples, n? Mas da a identificar com preciso quando isso acontece outra histria. O fim. (ou no) De certa forma, a primeira definio de morte, a da ausncia de circulao e respirao, no est totalmente errada. Estima-se que em 99% dos casos so as falhas no corao e no pulmo que encerram de vez a vida (s 1% dos casos tem origem na morte cerebral). Pense de novo na analogia do computador. O sistema corao-pulmo a bateria da mquina, que garante o funcionamento das outras peas. Quando essa bateria descarrega, voc pode continuar usando o computador ligado tomada. o que acontece com grvidas que no tm mais sinais cerebrais, mas que so mantidas "vivas" por aparelhos at dar luz. De acordo com o americano Dick Teresi, autor do livro The Undeath (Os No-Vivos), desde 1981, 22 mulheres tiveram bebs estando clinicamente mortas. Seus corpos estavam vivos - mas o crebro j no os controlava mais. Por isso, para compreender a morte, preciso entender como trabalha a nossa "bateria". O corao funciona com estmulos eltricos que provocam a contrao (que joga o sangue para frente) e o relaxamento (que o enche novamente). muito importante que esses movimentos sejam sincronizados. Se o corao bater rpido demais, no d tempo de ench-lo totalmente e a quantidade de sangue bombeada para o corpo diminui. Bater devagar demais tambm no bom sinal, pelo mesmo motivo: vai faltar sangue para manter as condies vitais. Isso especialmente perigoso para os pulmes. Sem sangue por l, eles no levam mais oxignio para as clulas. Sem oxignio no h metabolismo e, bem, sem metabolismo as clulas morrem. Para um mdico, a ausncia de batimentos cardacos uma corrida contra o

tempo. "Depois de 8 minutos, a chance extremamente pequena", diz o cardiologista Diego Chemello, do Hospital de Clnicas de Porto Alegre. Mas a prtica continuar tentando. Em 2012, o jogador de futebol congols Fabrice Muamba ficou 78 minutos com o corao parado, e at hoje ningum sabe direito como. O mais provvel que a atividade eltrica do corao dele nunca tenha zerado totalmente e o oxignio que ele recebeu por aparelhos tenha garantido sua sobrevivncia. Alm das batidas irregulares, a parada cardaca pode ser causada por um infarto, responsvel por 70% das mortes sbitas no Brasil. O sangue que chega ao corao pela artria coronariana vem cheio de glicose, cidos graxos e sais minerais que controlam a atividade eltrica do msculo. Se essa artria obstruda por gordura (o famigerado colesterol), o suprimento de nutrientes interrompido e acontece uma pane eltrica. De fato, o infarto um problema eltrico. Por isso que o aparelho preferido dos paramdicos de sries de TV se chama desfibrilador. O impacto do choque de 200 joules, o suficiente para acender uma lmpada de 100 watts por dois segundos - e para botar nosso corao no ritmo. Se o corao parar de bater, a circulao interrompida na mesma hora. Nos 3 primeiros minutos, a recuperao quase certa porque o organismo tem reserva de oxignio e nutrientes (sim, toda a nossa vida s deixa 3 minutos de economias). Mas isso logo acaba e as clulas param de funcionar. As do crebro puxam a fila. nos neurnios que so feitas as reaes qumicas e eltricas mais complexas do corpo, que mais precisam de oxignio. Para se ter uma ideia, o tecido cerebral recebe 10 vezes mais sangue que o muscular, que realiza uma funo mecnica e bem menos complicada - o movimento. "Depois de 5 minutos, pode haver danos permanentes", diz o cardiologista Guilherme Fenelon. A consequncia pode ser perda da fala ou dos movimentos, por exemplo. Mas tambm pode ser bem mais esquisita: em 2011, a escocesa Debbie McCann acordou de um derrame com um problema que fez sua fala ficar parecida com sotaque

italiano. E teve tambm o caso do jogador de rgbi que saiu do armrio depois de um AVC. No fim das contas, seu corpo no foi feito para viver para sempre. No fim, o corao vai parar de bater, a respirao vai cessar e, como uma lmpada, o crebro vai se apagar. A vida acaba a. Mas a morte, no. Ela est apenas comeando. As muitas mortes ESTRANGULAMENTO No enforcamento, a cartida e a jugular so esmagadas, o que faz com que o fluxo de sangue no crebro pare. Ao mesmo tempo, a presso na regio pode tambm afetar o ritmo dos batimentos cardacos. Ou seja, o estrangulamento para o funcionamento dos dois rgos mais importantes para a vida: crebro e corao. FALNCIA MLTIPLA DE RGOS Uma das principais causas da falncia mltipla de rgos o choque sptico. Acontece assim: uma infeco que o sistema imunolgico no consegue deter causa a dilatao dos vasos sanguneos. Com os vasos largos, a presso cai, o corao no se enche mais adequadamente, bate fora do ritmo e os rgos vitais ficam sem sangue. E adeus mundo cruel. CNCER Os tipos mais comuns de cncer (pulmo, mama, colo-retal e estmago, segundo a OMS) matam do mesmo jeito: pela metstase. As clulas doentes se multiplicam descontroladamente e podem pegar carona no sangue ou no sistema linftico at chegar a outras reas do corpo, como pulmes, ossos e crebro. Sufocadas pelas doentes, as clulas saudveis deixam de funcionar. AFOGAMENTO Uma pessoa no consegue ficar com o pulmo vazio por muito tempo, porque ele tenta se encher involuntariamente. A a gua inalada obstrui

a faringe, chega aos alvolos pulmonares - e falta oxignio. CARBONIZAO a falta de oxignio que faz com que uma pessoa morra em um incndio. Apesar de o fogo queimar os tecidos do corpo - o que tambm acabaria levando morte -, a asfixia mata antes. ENVENENAMENTO Cada veneno age de uma maneira. A morte por cianeto, preferido dos autores de romances policiais, acontece por causa de ligaes qumicas do veneno com o ferro do sangue, que essencial para a respirao celular. o ferro, afinal, que carrega o oxignio. Sem ele, as clulas morrem. ACIDENTE Os acidentes matam pela perda de sangue. Se as feridas forem graves, vai faltar irrigao nos rgos principais. O corao pode parar de bater porque no consegue se encher mais. "Se a situao no for contornada, a pessoa perder a conscincia por falta de oxigenao no crebro", diz o cardiologista Diego Chemello. O comeo do fim Antes de virar p, nosso corpo vira um monte de outra coisa 0 minuto Ao contrrio do que diz o clich, ningum "cai duro no cho" ao morrer. Como o sistema nervoso no libera mais os neurotransmissores que contraem os msculos, o cadver fica totalmente flcido. 5 minutos O corpo deixa de responder a estmulos externos. No h mais respirao nem batimentos cardacos. 1 hora hora do sangue parar. Primeiro, coagula o contedo das veias, por onde o sangue corria mais lentamente. O lquido das artrias segue a

gravidade e fica perto do cho, onde a pele fica azulada. 2 horas Sem circulao no h metabolismo. Sem metabolismo, no h calor. O corpo, que estava a 36,5C, comea a se resfriar, 1C por hora at entrar em equilbrio com o ambiente. 3 horas O corpo fica rgido quando as reservas de ATP dos msculos acabam. Quanto mais musculosa for a pessoa, mais reservas de energia ela ter, e mais vai demorar para endurecer. A primeira parte do corpo que enrijece o rosto, que tem msculos menores. Depois, endurecem os ombros, braos e trax. De 5 a 8 horas Sem oxignio, as clulas das paredes dos vasos necrosam e ficam frgeis, principalmente nos capilares dos dedos, que so mais finos. Acontece a hipstase: o sangue sai dos vasos e impregna os tecidos vizinhos. 8 horas O corpo continua a enrijecer. Os msculos das pernas finalmente se contraem. Por causa disso, os dedos do cadver podem estar levemente fechados e os joelhos, um pouco dobrados. 12 horas O corpo como uma toalha molhada no varal. Depois de um tempo, a gua evapora e os tecidos se retraem. Os olhos ficam fundos, os lbios escuros, e pelos e unhas parecem crescer - mas a pele que se retraiu. 24 horas Um adulto de 75 quilos pode perder at 1,3 quilo de sua massa nas primeiras 24 horas, graas evaporao de gua (nada dos famosos 23 g que a fico diz ser o peso da alma). Se o cadver estiver no calor, ao ar livre, pode ficar seco, como carcaas de animais no

deserto. 2 dias As bactrias continuam a liberar gases, o que faz com que o corpo inche. O cheiro piora por causa da decomposio das protenas do corpo, e um lquido avermelhado, resultado do rompimento dos alvolos pulmonares, pode sair pela boca e narinas. 3 dias O corpo, que at ento estava rgido, volta flacidez. Isso porque os tecidos musculares j esto se decompondo. A ordem a mesma do endurecimento: primeiro a cabea, depois braos e tronco e, por fim, as pernas. Mais de 7 dias Se o corpo estiver em um ambiente com muita umidade e temperatura alta, a gordura do corpo em decomposio reage com sais do solo (como o potssio) e o cadver fica macio e escorregadio, como um sabo. Em seguida, o corpo comea a desaparecer at sobrarem s os ossos. Para saber mais The Undead: How Medicine Is Blurring the Line Between Life and Death Dick Teresi, Pantheon, 2012 Death to Dust: What Happens to Dead Bodies Kenneth V. Iserson, Galen Press, 1994 .................................................................................................................. .......................................... junho 2007 Poderemos vencer a morte?A imortalidade est ao alcance da cincia ou a morte ser a nica barreira intransponvel para o ser humano?

por Rodrigo Cavalcante De certa forma, o homem j est ganhando essa batalha. No incio do sculo 20, a expectativa de vida no Brasil era de pouco mais de 30 anos. Hoje, a mdia supera os 70. Ou seja: conseguimos duplicar o tempo de vida em cerca de um sculo. Isso no significa, claro, que estamos perto de alcanar o sonho da imortalidade. Para tanto, seria necessrio encontrar uma forma de suspender os efeitos do avano da idade. Mas ser que, no futuro, as pesquisas genticas podero encontrar uma cura para o envelhecimento? Por enquanto, o maior defensor dessa tese o controvertido bioqumico Aubrey De Grey, da Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Ele defende que a expectativa de vida poder ser estendida para at 1 000 anos nas prximas dcadas e que a imortalidade, em breve, ser mais uma escolha tica (j que a presso populacional seria insuportvel em um planeta em que ningum morre) do que de viabilidade tcnica. Se o envelhecimento um fenmeno fsico em nossos corpos, o avano da medicina poder atacar a velhice da mesma forma que ataca as doenas, diz o cientista. Para isso, ele diz que ser necessrio solucionar os seguintes problemas: Combate degenerao celular: As clulas que formam os tecidos de rgos vitais como o crebro ou o corao deixam de se renovar aps um tempo. Para evitar esse processo, seria necessrio encontrar formas de estimular o crescimento e a reposio delas algo que poderia ser feito, em tese, por transfuses peridicas de clulas-tronco projetadas para substitui-las. Eliminao das clulas no desejveis: Novas tecnologias podero combater a proliferao de clulas de gordura responsveis por doenas como o diabete e de outros tipos de clulas danosas como as que se acumulam na cartilagem das juntas do corpo. A dificuldade elimin-las sem danificar as clulas saudveis. Mutao nos cromossomos e nas mitocndrias: O cncer o dano mais conhecido causado por essas mutaes nos cromossomos. Para combat-lo, ser preciso eliminar as enzimas responsveis pela

resistncia das clulas cancergenas. As mitocndrias, responsveis pela produo de energia das clulas, tambm so suscetveis a mutaes que precisam ser eliminadas. Acmulo de lixo dentro e fora da clula: O lixo celular formado por resduos da atividade celular e causa vrios problemas, como arteriosclerose. Uma forma de combat-lo encontrar enzimas que devorem esses resduos. Os fluidos onde as clulas esto imersas tambm acumulam materiais nocivos. Para combat-los, preciso encontrar uma forma de renov-los. Caso a medicina no consiga resolver esses problemas, outra sada seria contar com ajuda de mquinas, como nanorrobs implantados em nosso corpo para limpar as clulas. Ou arrumar, em ltimo caso, uma forma de transferir a nossa conscincia para uma mquina. Essa alternativa levantada pelo cientista e inventor americano Raymond Kurzneil, para quem, em algumas dcadas, poderamos fazer uma espcie de download de nossa conscincia em um computador. Resta saber qual seria a vantagem de viver dentro de uma mquina. .................................................................................................................. .................................................. junho 2008 Por que algumas pessoas acham que d para voltar da morte?No h motivo para imaginar que seja possvel ver o outro lado e retornar. Seriam essas experincias s um defeito no crebro? por Texto Salvador Nogueira Em situaes potencialmente fatais, no so poucas as pessoas que, ao sobreviver, relatam experincias aparentemente sobrenaturais durante os momentos em que caminharam na tnue fronteira entre a vida e a morte. Em muitos casos, percebem-se saindo fora do prprio corpo e, em algumas situaes, dizem inclusive ter visto uma luz forte, chamando-as para si. O que isso? No h dvida de que esses fenmenos acontecem, mas explic-los sempre mais difcil. Durante muito tempo, essas

experincias foram interpretadas como evidncia incontestvel de que existe uma vida aps a morte. Isso encorajou cientistas a buscar sinais concretos da presena de uma alma que habita o corpo enquanto ele est vivo. Nenhum desses experimentos obteve resultados conclusivos. Em compensao, os pesquisadores que apostaram no fato de que as pessoas que experimentaram essas sensaes de quase-morte foram enganadas pelo seu prprio crebro tm colhido excelentes resultados. Hoje, possvel at mesmo afirmar qual a regio do crebro que se responsabiliza por essa sensao. A chamada juno temporo-parietal a rea do crtex cerebral que est ligada sensao do eu na prtica, ela ajuda a pessoa a se localizar no espao, perceber onde esto as fronteiras de seu corpo e onde ela est se colocando no momento. PAU NA MQUINA S que esse sistema s vezes pode dar pau. o caso de um dos pacientes de Peter Brugger, que trabalha no Hospital da Universidade de Zurique, na Sua. Vtima de epilepsia, ele experimentava regularmente a sensao de estar fora do corpo, e isso acontecia justamente na ativao de sua juno temporo-parietal, medida por ressonncia magntica. Esse mesmo sistema cerebral, quando d defeito, pode produzir outros fenmenos aparentemente sobrenaturais, como a sensao de que existem almas penadas no ambiente, estranhamente presas pessoa que consegue v-las ou senti-las (so os chamados doppelgngers). Foi o que o grupo de Olaf Blanke, da Escola Politcnica Federal de Lausanne, tambm na Sua, percebeu. Blanke estudou uma moa de 22 anos que tambm sofria de epilepsia. Ao ser estimulada eletricamente em sua juno temporo-parietal, a jovem passou a sentir a existncia de algum postado exatamente atrs dela. E, quanto maior o estmulo eltrico, maior a riqueza de detalhes com que a moa percebia seu doppelgnger, bem como a aflio ligada a isso. Aparentemente, essas mesmas iluses so disparadas numa situao

de quase-morte produzindo desde a sensao de sair do corpo at a presena de fantasmas (muitas vezes na forma de entes queridos), interpretados normalmente como pessoas que esto ali para facilitar a transio para o tal outro lado. Se no muito charmosa do ponto de vista religioso, essa explicao ajuda a mostrar como nosso crebro ainda um mistrio em aberto, capaz de nos enganar com grande vivacidade de detalhes. E no d por encerrada a questo. Afinal, saber que o crebro capaz de produzir essas iluses no exclui a possibilidade de que exista algo alm. Eu de fato acredito que as experincia ligadas alma devam ser vistas como simples produtos do nosso crebro, diz Brugger. Mas a verdade que estamos bem longe de ter explicado todas as coisas. Juno Temporo-parietal a rea do crtex cerebral que parece estar ligada sensao do eu, tal como a percepo das fronteiras do prprio corpo. Oito milhes de americanos relataram ter passado por uma experincia de quase-morte em algum momento de sua vida. Virando gasparzinho Quatro fenmenos comuns nas experincias de quase-morte Quentinho Como se estivesse de volta ao tero, o paciente parece sentir um calor reconfortante ao seu redor durante a experincia. Peso-pluma Uma espcie de eu astral da pessoa uma rplica de seu corpo consegue ver, de cima, todo o ambiente onde ela est. Tudo Zen Muitas pessoas relatam uma sensao sobrenatural de calma e paz envolvendo sua mente e corpo nesses momentos. Iluminado Surge diante do moribundo um tnel de luz que d a impresso de conduzi-lo para fora do mundo, para um lugar melhor. .................................................................................................................. ............................................

Como perder o medo da morte 2 Morte Ns todos vamos morrer. E, acredite ou no, esse um evento to natural quanto nascer, crescer ou ter filhos. No entanto, a ideia da finitude nos enche de terror. Por qu? Ser que precisa ser assim? D para sofrer menos? Texto Maria Fernanda Vomero

H muito tempo, no Tibete, uma mulher viu seu filho, ainda beb, adoecer e morrer em seus braos, sem que ela pudesse fazer nada. Desesperada, saiu pelas ruas implorando que algum a ajudasse a encontrar um remdio que pudesse curar a morte do filho. Como ningum podia ajud-la, a mulher procurou um mestre budista, colocou o corpo da criana a seus ps e falou sobre a profunda tristeza que a estava abatendo. O mestre, ento, respondeu que havia, sim, uma soluo para a sua dor. Ela deveria voltar cidade e trazer para ele uma semente de mostarda nascida em uma casa onde nunca tivesse ocorrido uma perda. A mulher partiu, exultante, em busca da semente. Foi de casa em casa. Sempre ouvindo as mesmas respostas. Muita gente j morreu nesta casa; Desculpe, j houve morte em nossa famlia; Aqui ns j perdemos um beb tambm. Depois de percorrer a cidade inteira sem conseguir a semente de mostarda pedida pelo mestre, a mulher compreendeu a lio. Voltou a ele e disse: O sofrimento me cegou a ponto de eu imaginar que era a nica pessoa que sofria nas mos da morte. A morte pode ser vista como um mistrio incompreensvel. Ou como um absurdo inaceitvel. A morte pode at ser tratada como um tabu. Mas, seja como for, aceitemos isso ou no, a morte uma realidade inexorvel. Por mais que queiramos nos esconder dela, deixar de

existir to natural quanto existir. Na verdade, a morte provavelmente a nica coisa certa na sua existncia ou na minha: certo que todos ns vamos morrer um dia. Pode-se aceitar a inevitabilidade da morte e olh-la de frente. Ou pode-se neg-la, fugir dela, imaginar que no pensar na morte possa fazer com que ela deixe de acontecer com voc ou com a sua famlia. Mas todos ns estamos programados para nascer, crescer e morrer uma obviedade esquecida por boa parte da sociedade ocidental contempornea, que teima em ver a morte como um evento inesperado e injusto. Sobretudo, costumamos v-la como um evento exclusivo, pessoal, que isola quem sofre uma perda de todo o resto do mundo. Mas no h nada menos exclusivo do que morrer. Como est expresso na fbula tibetana, a morte no privilgio nem desgraa particular de ningum. Ela chega para todos, sem exceo. Mas, afinal, se a morte to comum e corriqueira, por que ela nos causa tanto medo? O maior desejo do homem a imortalidade, diz a psicloga Ingrid Esslinger, do Laboratrio de Estudos sobre a morte do Instituto de Psicologia da Universidade de So Paulo (USP), acostumada a atender pessoas em situao de luto. Por isso, muitas vezes a morte considerada uma inimiga. E uma adversria, que poderia ser vencida pelos avanos cientfico-tecnolgicos do sculo 20, que aumentaram a eficincia dos diagnsticos, dos medicamentos, das tcnicas cirrgicas etc. Soa como um despropsito falar de morte a quem tem as descobertas da cincia a seu favor. Afinal, se existem meios de prolongar a vida til do ser humano, de manter-se jovem, por que pensar na finitude? um paradoxo: a valorizao da vida e a iluso de eterna beleza e jovialidade trazidas pela vida moderna acabam gerando, por meio do apego a tudo isso, muito mais tristeza e sofrimento pelo fim inevitvel da existncia do que felicidade pelo mais de vida que proporcionam. O ocidente transformou a morte em tabu: ela costuma ser banida das conversas cotidianas. Tudo aquilo que possa lembr-la escamoteado. Os doentes morrem no hospital, longe dos olhos e,

no raro, do corao de seus amigos e parentes. E os rituais de luto so cada vez mais rpidos. O medo natural que todo ser humano sente diante da prpria finitude vira pnico. E mesmo a morte natural acaba virando sinnimo de aniquilamento sumrio. O que, no mais das vezes, no corresponde realidade por se tratar simplesmente de uma vida que chegou ao fim. Como perder o medo da morte - Hora de ir embora O primeiro passo para conviver melhor com a idia da morte esquecer aquela imagem medieval, um tanto ttrica, de um esqueleto coberto com uma capa preta carregando uma foice afiada na mo. Talvez uma imagem melhor para a morte seja imagin-la como o fim de uma festa: voc j sabia que ela teria que acabar, em algum momento. E, pensando bem, talvez no seja de todo mal que a festa termine. Voc agentaria danar na pista para sempre? Por melhor que seja a msica, tem uma hora que seu corpo e sua mente pedem descanso. E a, talvez, seja o momento mesmo de sair da pista, serenamente, sem traumas, e dar lugar a quem est chegando festa cheio de gs. O medo da morte inerente ao desenvolvimento humano. Aparece na infncia, a partir das primeiras experincias de perda. E tem vrias facetas: trata-se de um medo do desconhecido, somado ao medo da prpria extino, da ruptura da teia afetiva, da solido e do sofrimento. O medo da morte fundador da cultura, diz a socioantroploga Luce des Aulniers, responsvel pela disciplina de estudos sobre a morte, da Universidade de Quebec, em Montreal, Canad. Esse medo funciona como piv e como motor de todas as civilizaes. A partir do desejo de perenidade, se desenvolvem as instituies, as crenas, as cincias, as artes, as tcnicas e mesmo as organizaes polticas e econmicas. Esse o lado, digamos, vital da morte. O medo da morte nos fora a viver a nos relacionar, a procriar, a criar, a construir coisas que nos transcendam, diz a pesquisadora canadense. Na iluso da imortalidade, o ser humano acredita que suas obras sejam

permanentes e garantam que ele no seja esquecido. Cada um adapta, sua prpria maneira, a mxima plantar uma rvore, escrever um livro e fazer um filho. Para o nosso inconsciente, a morte nunca possvel nem admissvel quando se trata de ns mesmos. A idia da no-existncia provoca tal desconforto que a mente humana acaba criando alguns mecanismos de defesa para fugir dessa realidade, diz o psiquiatra e psicanalista Roosevelt Smeke Cassorla, da Sociedade Brasileira de Psicanlise, em So Paulo. A negao e a represso da idia de morte so exemplos desses artifcios. Como perder o medo da morte - Terror ancestral Nada disso novidade. Desde os tempos mais remotos, os homens j enxergavam a morte como elemento antagnico vida. Talvez fosse mais fcil aceit-la como fato natural quando ela acontecia aos borbotes, quando a expectativa de vida das pessoas era de 35 anos. Mas o estranhamento e o terror sempre existiram. As pinturas nas paredes de cavernas como Lascaux e Chauvert, na Frana, revelam o incmodo que a morte provocava no homem de 30 mil anos atrs. Episdios alegres, como caadas, eram retratados em cores vivas. As imagens fnebres, por sua vez, eram pintadas com cores escuras. O antagonismo se mantm dentro de cada um de ns, no jogo constante entre Eros, o deus grego do amor, e Tanatos, o deus da morte, para usar uma imagem cunhada por Sigmund Freud, fundador da psicanlise. As foras da vida, representadas por Eros, estimulariam o crescimento, a integrao, a autoproteo e a sobrevivncia. As foras da morte, representadas por Tanatos, alimentariam os instintos destrutivos e as atitudes de auto-sabotagem, por exemplo. Da conciliao de todas essas foras contraditrias, surgiriam o equilbrio e o vigor emocional necessrios para viver. No entanto, o medo de morrer pode gerar um apego desmedido a elementos cotidianos e um conseqente desespero diante da possibilidade de vir a perder tudo com a morte a companhia dos amigos, o carro novo, os imveis, o status social, os projetos no realizados. No budismo, assim como na tradio crist, o desapego

condio essencial para uma boa morte. Normalmente assumimos que precisamos dominar alguma coisa para que ela nos traga felicidade. E nos perguntamos: como possvel saborear alguma coisa se no podemos possu-la?, escreve Sogyal Rinpoche, em seu O Livro Tibetano do Viver e do Morrer. Mas, na morte, no podemos levar nada conosco. Eis aqui outro paradoxo: para viver bem, sem o tormento da idia do fim, preciso cultivar um certo desapego em relao vida. Em certas ordens religiosas catlicas, os monges, ao se encontrarem nos corredores do mosteiro, costumam dizer uns aos outros: Memento mori, expresso latina que significa lembre-se de que vai morrer. A saudao que o contraponto de Carpe diem (aproveite o dia) funciona como um exerccio de aceitao da morte. O contrrio disso o culto ao ego, ao pequeno eu que h dentro de cada um de ns, manifestado na no-aceitao do curso natural dos acontecimentos. E que est presente no indivduo que tenta se colocar acima do todo a que pertence. Na vida, quanto mais voc est centrado em si mesmo, mais voc sofre com a ausncia de solidariedade, com a falsa idia de que est desamparado. Na morte, acontece a mesma coisa. Quanto menos voc compartilha a sua dor, mais insuportvel ela se torna. Como perder o medo da morte - Morra na filosofia Para quem busca na filosofia maneiras de lidar melhor com a morte, as reflexes finais do filsofo grego Scrates condenado a tomar cicuta, um ven