Tempo de Utilização Do Concreto Fresco

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    ANAIS DO 57 CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2015 57CBC 1

    TEMPO DE UTILIZAO DO CONCRETO EM ESTADO FRESCO:CONTESTAO DE PARADIGMA

    Time of use of concrete in Fresh State: Contestation of Paradigm

    Autor: Zanetti, Jos James

    Consultor de Tecnologia de Concreto da Max [email protected]

    Resumo

    Discutem-se constantemente a necessidade de desenvolvimento sustentvel e reduode CO2. A indstria da construo civil consome de 100 a 200 vezes mais massa demateriais que a indstria automobilstica. Portanto, uma indstria que precisa de muitoscuidados com os recursos que utiliza e com os desperdcios. Na fabricao do cimentocalculam-se a emisso de uma tonelada de CO2 para cada tonelada de clinquerproduzido. No Brasil, segundo a ABCP, devido o uso de adies em substituio aoclinquer, a relao seria de 0,6 tonelada de CO2por tonelada de cimento. Alm da grandeemisso de CO2por volume de concreto existe ainda grande desperdcio de recursos com

    o descarte de concreto fresco justificado apenas pelo paradigma da vida til de 150minutos contado da mistura da gua ao cimento. A nica referencia desse tempo deutilizao encontrada na NBR 7212 e esta contradiz a NBR 12655, norma destinada aopreparo, controle e recebimento do concreto e NBR NM 9 norma com procedimento deensaio de pega em concreto.

    Atravs de ensaios de laboratrio Dal Molin, D.C.C.; Rohen, A.B.; Vieira, G.L. (2012)demostram que o uso do concreto depois desse perodo no apresenta efeitos negativosnas resistncias dos concretos.

    Esse artigo complementa o artigo apresentado por aqueles autores e demonstra que, emcondies de campo, os concretos moldados apresentaram o mesmo comportamento deganho de resistncia observado no estudo de laboratrio e vai alm. O ensaio de pega doconcreto realizado em campo de acordo com a NM NBR 9 demonstra que o tempo deutilizao pode ultrapassar em muito os 150 minutos proposto pela NBR 7212 podendochegar a 360 minutos antes de acusar inicio de pega mesmo sem o uso de aditivoretardador de pega.

    Portanto, descartar o concreto de forma irracional, apenas por decurso de tempo, nocontribui para a construo civil alcanar desenvolvimento sustentvel.

    O presente artigo prope que a definio de concreto fresco colocada na NBR 12.655 amelhor forma de controle do tempo de utilizao do concreto, segundo o qual concretofresco o concreto que est completamente misturado e que ainda se encontra emestado plstico, capaz de ser adensado por um mtodo escolhido.

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    Palavra-Chave: Tempo de Pega do Concreto, Concreto Fresco, Concreto Usinado

    Abstract

    Are discussed constantly need for sustainable development and reducing CO2. The construction industryconsumes 100-200 times the mass of material that the automotive industry1. So it's an industry that needs alot of care with the resources it uses and waste.In cement production calculate the emission of one ton ofCO2 per ton of clinker produced . In Brazil , according to the ABCP , because the use of additions to replace

    the clinker , the ratio would be 0.6 ton of CO2 per ton of cement . Besides the large CO2 emissions pervolume of concrete there is still great waste of resources with the fresh concrete disposal justified only by thelife of the paradigm 150 minutes counted from the mixing of water to cement. The only reference that usagetime is found in the NBR 7212 and this contradicts the NBR 12655 , which is addressed to the preparation ,control and receipt of concrete and NBR NM 9 standard with handle test procedure in concrete.

    Through laboratory tests Dal Molin , DCC ; Rohen , A.B .; Vieira, GL demonstrate that the use of concreteafter this period has no negative effects on the resistance of the concrete .

    This article complements the article presented by those authors and demonstrates that under fieldconditions, the molded concrete showed the same strength gain of behavior observed in the laboratory studyand beyond. The concrete handle field trial according to NBR NM 9 shows that the usage time can exceedby far the 150 minutes proposed by the NBR 7212 and could reach 360 minutes before you accuse handlestart even without the additive use handle retardant .

    Therefore , dispose of the concrete irrationally , just by lapse of time does not contribute to the constructionindustry achieve sustainable development.

    This article proposes that the definition of fresh concrete placed in NBR 12655 is the best way to control thetime of use of the concrete, according to which fresh concrete is the " concrete that is completely mixed andstill in plastic state , capable It is thickened by a method selected "

    Keywords: time of catching , fresh concrete , readymix concrete

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    1. INTRODUO

    O tempo decorrido entre o inicio da mistura da gua e o cimento no preparo do concreto ea sua utilizao tem sido motivo de polemica e possivelmente de rejeio de concreto emcondies de uso. Em tempos de economia de recursos naturais para a preservao davida no planeta vale lembrar que uma tonelada de cimento despeja na atmosfera oequivalente a 600 kg de CO2. Soma se a isso as emisses para produzir e transportar osagregados e o prprio concreto e os recursos naturais necessrios para a extraodesses agregados e possivelmente desperdiados.

    Os parmetros envolvidos no processo de pega do cimento so muitos e variveis, o quetorna questionvel utilizar o relgio como instrumento tecnolgico para aceitao ourejeio do concreto.

    Estudos mostram que a moldagem do concreto enquanto possvel o seu adensamentoapresenta aumento de resistncia quando comparado com a moldagem inicial. Somente aprtica antiga de adicionar gua ao concreto para retomada de consistncia podeprejudicar a resistncia, no pelo tempo entre a mistura e a sua utilizao, mas pelaalterao do fator a/c.

    Portanto, as obra com controle do volume de gua adicionado nas frentes de serviopodem e devem abandonar o relgio como instrumento de aceitao ou rejeio dos

    concretos.

    2.ASPECTOS FCICO-QUMICO NA HIDRATAO DO CIMENTO

    O cimento um aglomerante hidrulico processado a altas temperaturas, caracterizando-se pela ausncia de gua quimicamente combinada no gro anidro.

    De acordo com a Silva (2010) o mecanismo de hidratao inicia-se com a dissoluo dogro anidro em meio aquoso, formando espcies qumicas diversas. Quando a dissoluoatinge o nvel de saturao, ocorre a combinao entre os elementos qumicos do cimentoe a gua, levando a precipitao de slidos hidratados. O mecanismo de dissoluo-precipitaocontinuar enquanto houver gua suficiente.

    De acordo com outro mecanismo proposto, chamado topoqumico ou hidratao noestado slido do cimento, as reaes ocorrem diretamente na superfcie dos compostosdo cimento anidro sem que os compostos entrem em soluo.

    A partir de estudos de microscopia eletrnica da pasta de cimento nota-se que omecanismo de dissoluo-precipitao dominante nos estgios iniciais da hidratao.Em estgios posteriores, quando a mobilidade inica na soluo se torna restrita, ahidratao na partcula residual de cimento pode ocorrer por reaes no estado slido(reao topoqumica).

    Na Teoria de Le Chatelier sobre a cristalizao (cristaloidal) o endurecimento devidoao engavetamento de cristais que se formam pela cristalizao de uma soluosupersaturada de compostos hidratados menos solveis que os anidros.

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    Na Teoria de Michaelis sobre hidratao (coloidal) a hidratao d origem a uma soluosupersaturada e formam-se cristais em agulhas e palhetas hexagonais.

    Como o cimento Portland composto de uma mistura heterognea de vrios composto oprocesso de hidratao consiste em reaes simultneas dos compostos anidros comgua. Entretanto, nem todos os compostos se hidratam mesma velocidade.

    3. PEGA E ENDURECIMENTO

    O cimento ao ser misturado com gua perde a plasticidade depois de decorridodeterminado tempo. O intervalo de tempo decorrido entre a adio de gua e o incio das

    reaes com os compostos do cimento dito tempo de incio de pega evidenciado pelaelevao de temperaturae o aumento brusco de viscosidadeda pasta.

    A pega de um cimento est relacionada consistncia que determinado constituinte ougrupo de constituintes, quando submetidos ao fsica, qumica ou fsico-qumica, possaresultar num maior ou menor grau de consistncia, ao longo dos seus vrios estgios demudana, ou transformao, dentro de perodos variveis de tempo.

    Fatores que interfere na pega dos cimentos, e consequentemente nas argamassas econcretos:

    Cimentos ricos em C3A aceleram a pega, pois o composto que reage

    imediatamente com gua. O tempo de pega varia inversamente proporcional ao grau de moagem. Maior graude moagem resulta em pega mais rpida.

    O tempo de pega inversamente proporcional temperatura da pasta, argamassaou concreto. Quanto mais quente o concreto menor o tempo de pega.Temperaturas prximas de 0C podem paralisar a hidratao.

    Aditivos e adies.

    4.ASPECTOS FSICOS DO PROCESSO DE PEGA

    Para a aplicao na prtica da construo em concreto aconselhvel rever aspectos

    fsicos, como enrijecimento, pega e endurecimento, que so as diferentes manifestaesna evoluo dos processos qumicos.

    O enrijecimento a perda da consistncia da pasta plstica do cimento e est associadacom o fenmeno da perda de abatimento no concreto. A perda gradual da gua livre dosistema, como resultado da formao de produtos de hidratao, adsoro superficial porprodutos poucos cristalinos e evaporao fazem com que a pasta enrijea e, finalmenteatinja a pega. O termo pega se refere solidificao da pasta plstica. O incio dasolidificao, chamado de inicio de pega, marca o ponto em que a pasta se torna notrabalhvel. Da mesma forma, as operaes de lanamento, compactao e acabamentose tornam difceis aps esse estgio. A pasta no se solidifica repentinamente; necessrio um tempo considervel para se tornar rgida a ponto de no ser mais

    manipulvel. O tempo que leva para se solidificar completamente, perdendo toda aplasticidade denominado fim de pega.

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    O inicio de pega da pasta de cimento, determinada com auxilio da agulha de Vicat, otempo arbitrrio no processo de pega, que se considera alcanado quando a agulha deVicat no consegue chegar mais que 5 mm a 7 mm do fundo de uma pasta de cimento de40 mm de profundidade.

    Ao final da pega a pasta de cimento tem pouca ou nenhuma resistncia pois apenas oinicio da hidratao do C3S que, uma vez iniciada, continuar por vrias semanas. Natecnologia do concreto o fenmeno de ganho de resistncia com o tempo chamado deendurecimento.

    Metha e Monteiro (2008) prope que a sequncia das principais operaes do concreto :

    proporcionamento dos materiais, homogeneizao, transporte, lanamento do concretoplstico, adensamento e acabamento enquanto a mistura ainda trabalhvel e curamida para atingir a maturidade desejada. Propem os autores que a misturaconvencional de concreto normalmente leva de 6 h a 10 h para atingir a pega.

    5. TEMPO DE PEGA DO CONCRETO

    As reaes entre o cimento e a gua so as causas bsicas da pega do concreto,embora, por diversas razes discutidas adiante, o tempo de pega do cimento empregadono concreto no coincide com o tempo de pega do concreto.

    Como definido anteriormente, os fenmenos de enrijecimento, pega e endurecimento so

    manifestaes fsicas das reaes progressivas de hidratao do cimento. Os tempos deinicio e fim de pega do cimento so pontos definidos arbitrariamente por um mtodo deensaio. Esses pontos determinam a taxa de solidificao da pasta de cimento emcondies de ensaio. De forma semelhante, a pega do concreto definida como o inicioda solidificao de uma mistura fresca de concreto. Tanto o inicio de pega como o fim depega so definidos arbitrariamente por um mtodo de ensaio, como o mtodo deresistncia penetraoda ASTM C 403 e da NBR NM 9.

    O tempo de inicio de pega e tempo de fim de pega, quando medidos pelo mtodo deresistncia penetrao, no registra uma alterao especfica nas caractersticas fsico-qumica da pasta de cimento. So puramente pontos de referncia no sentido que o inicio

    de pegadefine o limite de manuseio e o fim de pegamarca o ponto da perda completa detrabalhabilidade e inicio da resistncia mecnica.

    O tempo de pega representa, aproximadamente, o momento em que o concreto frescono pode mais ser adequadamente misturado, lanado e compactado. O final de pegarepresenta o momento em que o concreto comea a desenvolver resistncias a taxassignificativas.

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    Figura 1 - Evoluo da pega e endurecimento do concreto (Mindess, S. e Young, F.-1981)

    6. ENSAIO DE PEGA DO CONCRETOResumidamente, o ensaio consiste em medir a fora necessria para fazer a agulhapenetrar 25 mm no concreto. O inicio de pega ocorre quando a resistncia penetraoda agulha atinje 3,5 MPa e o final de pega quando necessita de 27,6 MPa para a mesmapenetrao. O ponto de inicio de pega um ponto escolhido arbitrariamente e no indicaque o concreto, ainda no estado fresco, teria resistncia de 3,5 MPa no ensaio deresistncia a compresso conforme ensaio da NBR 5739.

    Os principais fatores que influenciam no tempo de pega dos concretos so: composiodo cimento, relao a/c, temperatura e aditivos. Os cimentos de pega rpida tendem aproduzir concretos com as mesmas caractersticas. Como o fenmeno da pega eendurecimento so influenciado tambm pelo preenchimento dos espaos vazios pelosprodutos da hidratao, concretos com menor relao a/c tendem a preenche-los maisrapidamente e, consequentemente, tero seu tempo de pega e endurecimento afetados.

    A figura a seguir mostra a influncia da temperaturado concreto na consistncia inicial ena queda de consistncia ao longo do tempo. Nesse ensaio o concreto mantido emtemperatura constante foi remisturado antes de cada determinao de consistncia aolongo do tempo. Observou-se que o concreto misturado e mantido a maior temperaturaapresentou menor consistncia inicial e maior queda de consistncia com o tempo.

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    Figura 2 - Influncia da temperatura na reologia do concreto fresco utilizando CP II F 32

    0

    20

    40

    60

    80

    100

    120

    140

    0 20 40 60 80 100 120 140

    Consistncia(mm)

    Tempo Decorrido Final Mistura (minuto)

    PERDA DE CONSISTNCIA EM FUNO DA TEMPERATURA

    21 35

    21 C35 C

    No ensaio conduzido na ABCP a pasta de consistncia normal do cimento - NBR NM 43 -necessitou a mesma quantidade de gua para a consistncia normal para pastasmantidas em temperaturas diferentes. A pega da pasta de cimento - NBR NM 65 -apresentou tempo de pega menor para pasta a temperatura maior, refletindo o

    comportamento observado no concreto. O uso de aditivo plastificante polifuncional depega normal aumentou o tempo de pega da pasta de cimento quando comparado com areferncia sem aditivo ensaiado mesma temperatura. O uso de aditivo de pega normaldiminuiu a quantidade de gua para se obter a consistncia normal, como se esperava, eaumentou bastante o tempo de pega. Para a pasta mantida a 25 C o tempo de pegatriplicou passando de 4 h para 13 h com o uso do aditivo. A pasta mantida a 38 Caumentou em pouco mais de uma hora o tempo de pega em funo da utilizao doaditivo. De qualquer forma, mesmo quando submetido a alta temperatura o inicio de pegado concreto com aditivo foi superior a 150 minutos.

    Figura 3 - Influncia da temperatura e aditivo na reologia da pasta de cimento

    Incio Fim

    Sem Aditivo 25 31,7 04h 22min 05h 50min

    Sem Aditivo 38 31,7 02h 05min 03h 00min

    Com Aditivo 25 29,6 13h 05min 16h 00min

    Com Aditivo 38 29,6 03h 40min 05h 00min

    Tempo de Pega

    Temperatura(oC)

    gua

    Consistncia(%)

    Amostra

    Metha e Monteiro, 2008; Sprouse, J.H. e Peppler, R.B., 1978 apud Metha e Monteiro,2008 mostram o efeito do tipo de cimento, da temperatura e dos aditivos nos tempos depega do concreto em ensaio realizado conforme a ASTM C 403.

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    Figura 4 - Tempo de pega do concreto. Efeito da temperatura (Sprouse, H. e Poppler, B-1978)

    Observar que mesmo temperatura de 32 C o comportamento do concreto com ocimento B sem aditivo apresenta o inicio de pega bastante superior a 150 minutosproposto pela NBR 7212 como o limite da responsabilidade da concreteira paracontinuidade de lanamento.

    7. OBJETIVOS DO ESTUDO

    O presente trabalho estuda o comportamento reolgico do concreto no estado fresco e

    endurecido em condies de obra e complementa a pesquisa realizada em laboratrio porMolin, et al (2012) sobre o comportamento do concreto endurecido mantido em estadoplstico por at 6 horas pelo uso de aditivo superplastificante.

    O estudo de reologia do concreto fresco - tempo de pega e perda de consistncia - foirealizado no ms de janeiro/2015 com concreto fck 40 MPa entregue no canteiro de obrasdo Ptio de Manobras da Linha 17 do Metro - SP.

    7.1. Concreto UtilizadoFigura 5 - Mistura de concreto utilizada para os ensaios

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    7.2. Perda de Consistncia com o Tempo

    O ensaio foi realizado para verificar o tempo que o concreto poderia ser mantido comoconcreto fresco, conforme definio da NBR 12655.

    O concreto foi recebimento na frente de servio aps 86 minutos da primeira mistura degua. Uma amostra tomada da betoneira mvel foi transferida para uma betoneira de 250litros para ensaio de perda de abatimento com o tempo. A boca da betoneira era cobertapor pano mido para evitar perda por evaporao. Antes de cada ensaio de consistnciao concreto era mistura por 2 minutos. Quando a consistncia atingia o limite de 30 mm eraadicionado aditivo superplastificante para a retomada da consistncia a 110 mm 20 mm.

    Observou-se que o tempo decorrido desde o inicio do ensaio at a primeira adio deaditivo foi de 180 min. Entre a primeira e a segunda adio de aditivo o tempo decorridotambm foi de 180 min. Na segunda adio de superplastificante - 446 minutos desde oinicio da mistura - houve um excesso de produto e a consistncia foi elevada para 180mm. A partir desse momento a queda de consistncia passou a ser mais rpida e, em 60minutos, caiu de 180 mm para 20 mm denotando grande atividade qumica.

    Na figura a seguir so apresentados graficamente os dados do ensaio de consistncia emomentos de adio de superplastificante. Observar que no momento em que o concretoatinge o tempo limite de 150 minutos a consistncia era de 50 mm. Sem a adio desuperplastificante estaria no limite de bombeamento em 90 minutos, mas ainda poderia

    ser lanado por outro meio e adensado por vibrador de imerso at pelo o tempo de 270minutos. Entretanto, com a adio de superplastificante, aos 480 minutos desde o inicioda primeira adio de gua, o concreto ainda poderia ser bombeado e, aos 536 minutos,ainda poderia ser adensado.

    Figura 6 - Perda de consistncia do concreto. Ensaio realizado temperatura da frente de servio.

    0,0

    5,0

    10,0

    15,0

    20,0

    25,0

    30,0

    35,0

    0

    50

    100

    150

    200

    250

    60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360 390 420 450 480 510 540 570

    Temperatura(oC)

    ConsistnciaNBRNM6

    7(m

    m)

    Tempo Decorrido Desde a Primeira Adio de gua (min)

    PERDA DE CONSISTNCIA COM O TEMPO

    Consistncia Temp Concreto Temp Ambiente

    Adio deSuperplastificante

    Tempo limite paraaplicao do concreto

    sob responsabilidade daConcreteira - NBR 7212

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    7.3. Tempo de Pega

    No ensaio de tempo de pega por penetrao da agulha de Proctor executado conformeNBR NM 9 com o mesmo concreto do ensaio anterior, mas sem as adies subsequentesde aditivo superplastificante.

    Como nos ensaios de pega do concreto observado por outros autores - figura 4 -constatou-se que o inicio de pega ocorre muito depois de 150 minutos, nesse caso em440 minutos com temperatura ambiente no local do ensaio variando entre 26 C e 36 C.

    importante destacar que o tempo de inicio de pega do concreto sem as adies

    subsequentes de superplastificante coincidiu com o tempo de inicio da rpida perda deconsistncia encontrada no ensaio de perda de consistncia observada na figura 7. Oensaio de tempo de pega do concreto no foi re-aditivado com superplastificante, simula otempo que o concreto poderia receber outra camada caso tivesse sido lanado logo quefoi recebido na obra.

    Figura 7 - Tempo de inicio de pega do concreto realizado temperatura ambiente

    0,00

    1,00

    2,00

    3,00

    4,00

    5,00

    0 60 120 180 240 300 360 420 480 540

    RESISTNCIAAPENETRAO(

    MPa)

    TEMPO DECORRIDO DESDE A PRIMEIRA ADIO DE GUA (min)

    INICIO DE PEGA DO CONCRETO - NBR NM 9

    Tempo limite para aplicao doconcreto sob responsabilidade

    da Concreteira - NBR 7212

    Inicio depega

    7.4. Resistncia a Compresso

    As moldagens realizadas alm do tempo estabelecido pela NBR 7212 como limite deresponsabilidade da fornecedora de concreto mostram no existir perdas resistncia.Ensaios realizados em laboratrio (Dal Molin et all - 2012) mostraram aumento deresistncia dos concretos moldados em at 6 horas aps a adio da gua. No ensaio osautores utilizaram um cimento de pega rpida, CP V, e um cimento de pega lenta, CP IVem dosagens diversas. A consistncia para a realizao das moldagens foi mantida pelosautores mediante a adio de superplastificante. Concluem no haver perda de

    resistncia dos concretos moldados aps o tempo limite de 150 minutos.

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    Figura 8 - Tendncia da resistncia aos 28 dias dos concretos moldados com cimento CP V

    43,342,1

    43,0 43,5

    47,5

    52,4

    37,8

    36,0

    39,3 39,1

    44,7

    49,7

    34,0 34,1 34,7 34,4

    40,8

    42,2

    25

    30

    35

    40

    45

    50

    55

    0 1 2 3 4 5 6 7

    Resist

    nciaacompresso(MPa)

    Tempo decorrido desde a mistura at a moldagem (hora)

    Resistncia a compresso do concreto aos 28 dias - CP V - ARI

    CP V 1:2,5 CP V 1:4 CPV 1:5,5

    Figura 9 - Resistncia aos 28 dias dos concretos moldados com cimento CP IV

    30,2

    32,033,1 32,7 32,9

    35,3

    26,5

    28,6 29,2 29,1

    30,7

    32,9

    21,0

    23,124,3

    26,727,9

    30,0

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    40

    0 1 2 3 4 5 6 7

    Resistnciaacompresso(MPa)

    Tempo decorrido desde a mistura at a moldagem (hora)

    Resistncia a compresso do concreto aos 28 dias - CP IV

    CP IV 1:2,5 CP IV 1:4 CP IV 1:5,5

    Como esse estudo de verificao de resistncia foi realizado em laboratrio, utilizandobetoneira de pequeno volume, os autores propuseram que a investigao fosse feita embetoneira de maior volume. Esse autor j havia feito o estudo de moldagem at o limite detrabalhabilidade do concreto em condies de campo em duas outras ocasies, umadurante a construo da primeira etapa da UHE Tucuru em 1991 e outra durante asobras do complexo petroqumico COMPERJ da Petrobras em 2012.

    Na Comperj o tempo mdio entre o inicio da mistura e chegada da betoneira obra foi de90 minutos com temperatura do concreto a 36 C, mas se elevando at a 41 C no

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    decorrer do ensaio. O cimento utilizado na mistura foi o CP III 40 para atender fck 40MPa. A manuteno da consistncia durante o perodo do ensaio foi conseguida com usode aditivo superplastificante de pega normal, base naftaleno, introduzido na obra dentrodas recomendaes do fabricante. As moldagens foram realizadas a cada 30 minutosaps a chegada da betoneira obra com a consistncia de150 mm 20 mm. Na ltimamoldagem o efeito do aditivo sobre a consistncia era perdido em questo de minutosdenotando inicio da rpida formao de cristais de hidratao. Mesmo assim foi oconcreto foi moldado para verificao da resistncia nessa condio.

    Figura 10 - Resistncia das moldagens ao longo do tempo em condies de obra.

    HoraEvento

    Tempo

    Decorrido(h:min)

    Consistncia

    Antes Aditivo(mm)

    Consistncia

    Moldagem(mm)

    Aditivo

    Acumulado(% do cim.)

    Resistncia

    3 dias(MPa)

    Resistncia

    7 dias(MPa)

    Resistncia

    14 dias(MPa)

    Temperatura

    Ambiente(oC)

    Temperatura

    Concreto(oC)

    10:50 0

    12:46 01:56 45 150 0,14% 31,5 40,7 41,5 32 36

    13:15 02:25 110 150 0,16% 31,4 41,1 43,1 33 40

    13:45 02:55 125 145 0,18% 31,8 40,2 44,6 31 37

    14:15 03:25 105 155 0,25% 31,2 40,5 47,1 29 36

    14:45 03:55 105 140 0,31% 29,6 38,9 42,7 30 36

    15:15 04:25 85 140 0,39% 29,5 40,8 46,5 29 33

    15:45 04:55 50 60 0,47% 28,4 38,8 44,7 30 41

    Observar que, descontadas as variaes naturais de resistncias inerentes ao ensaio, osresultados se mantiveram ao longo do tempo com leve tendncia de ganho com oaumento do tempo de moldagem, mesmo aquela ocorrida quando j se notava rpidoaumento de temperatura e de perda de trabalhabilidade.

    Em um segundo estudo, este conduzido nas obras de UHE Tucuru no tempo em que ossuperplastificante ainda no eram de uso corrente nas obras do Brasil, foi realizado sem ouso desse aditivo para corrigir a perda de plasticidade. As moldagens ocorreram a cada15 minutos e pelo tempo em que foi possvel adensar o concreto dentro dos moldes. Osresultados, expresso em ganho de resistncia em relao moldagem inicial soapresentados no grfico a seguir. Os dados de consistncias foram anotados junto aos

    pontos de resistncia no interior do grfico.Observar a tendncia de crescimento das resistncias que aumentaram em at 33% emrelao primeira moldagem executada logo no incio do ensaio.

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    ANAIS DO 57 CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2015 57CBC 13

    Figura 11 - Ganho de resistncia de concretos moldados ao longo do tempo sem uso de aditivosuperplastificante para manter a trabalhabilidade

    0

    10

    20

    30

    40

    0 15 30 45 60 75 90 105 120 135 150 165 180 195 210

    GanhodeResistncia(%)

    Tempo(minuto)

    GANHO

    DE

    RESISTNCIA

    COM

    O

    TEMPO

    DE

    MOLDAGEM

    150

    mm

    200 mm

    130 mm120 mm

    80mm

    90mm

    90 mm

    70mm

    60mm

    50mm

    30

    mm

    10

    mm

    10

    mm 10mm

    Em relao aos ensaios de pega e resistncia mostrados anteriormente observa-se ainfluncia do uso de superplastificante prolongando o tempo de trabalhabilidade. Oconcreto deixaria de ser compatvel para lanamento com bomba j aos 60 minutos e seesse fosse o nico recurso ento teria sido descartado, independente de estar aqum dolimite de 150 minutos. Com a continuidade das moldagens comprova-se aqui que acontinuidade do lanamento no est no tempo limite de responsabilidade do fornecedordo concreto, 150 minutos, mas na capacidade de ser lanado e adensado, o que nosremete novamente a NBR 12655.

    Na falta de superplastificante e com a possibilidade de adio de gua na obra para amanuteno da consistncia complementou-se o estudo anterior, na mesma poca e como mesmo concreto, para demonstrar os efeitos j conhecidos da influncia negativa queessa prtica pode acarretar. Observar que no eixo das ordenadas no grfico a seguir osvalores so negativos, representando o percentual de queda de resistncia ocorrida comrelao a resistncia obtida na primeira moldagem. A medida que o fator a/c foiaumentado pela gua adicionada para manter a consistncia a resistncia relativadespencou. Ao final de 250 minutos o ensaio foi encerrado com fator a/c >1,1. A queda deresistncia nessa ltima moldagem foi de 68%.

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    Figura 12 - Efeito negativo na resistncia do concreto por adio de gua para manuteno daconsistncia.

    80

    70

    60

    50

    40

    30

    20

    10

    0

    0 50 100 150 200 250 300

    VariaodeRe

    sistncia(%)

    Tempo(minutos)

    VARIAODERESISTNCIAEMFUNODAADIODEGUAPARAMANTER

    CONSISTNCIA

    110mm

    80mm

    70mm

    90mm

    70mm 110mm

    90mm

    80mm

    50mm

    90mm100mm

    110mm

    100mm

    90mm

    50mm

    60mm

    60mm

    0,64 0,67

    0,69 0,69 0,70 0,71 0,74 0,75 0,76

    0,77

    0,830,87

    0,94 0,96 0,98

    1,04

    1,13

    0,5

    0,6

    0,7

    0,8

    0,9

    1

    1,1

    1,2

    0 50 100 150 200 250 300

    Fatora/c

    Tempo

    (minutos)

    VARIAO

    DO

    FATOR

    A/C

    8. CONCLUSO

    Os ensaios de pega e manuteno de trabalhabilidade executados com concreto de obrae em condies de temperatura desfavorvel mostraram que o uso de superplastificanteadicionado ao longo do tempo pode manter a consistncia por perodo superior a 6 horas.Os ensaios tambm mostraram que obras sem o recurso de superplastificante para seradicionado nas frentes de servio o tempo para o lanamento com bomba poder sermenor que o paradigma 150 minutos. Na prtica, o recebimento do concreto nas frentesde servio utiliza o conceito de concreto fresco da NBR 12655 para a aceitao doconcreto at o tempo de 150 minutos. Depois disso, independente do concreto estar aindano estado fresco, costuma ser rejeitado. O contraditrio no se limite a isso. Os ensaiosde tempo de pega com diversos autores em condies de temperatura e tipo de cimentosdiferentes tm mostrado inicio de pega acima do tempo limite de 150 minutos. Os ensaiosde resistncia, tanto em laboratrio como em campo, tem mostrado que no existir perdada qualidade do produto.

    Conclui-se que o tempo mximo arbitrado pela NBR 7212:2012, da forma como tem sidoaplicado tem levado ao desperdcio de concreto em condies de uso e que o tempo de

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    utilizao deve ser balizado pela definio do concreto fresco da NBR 12655 que coincidecom a definio do tempo de inicio de pega dos concretos:

    Concreto Fresco - Concreto que est completamente misturado e queainda se encontra em estado plstico, capaz de ser adensado por ummtodo escolhido

    9. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

    1 - Souza, U. E. L. Palestra proferida durante o lanamento do livro Canteiro de obras,no Sinduscon-SP, 2001.

    2 - Rohden, A.B.; Dal Molim, D.C.C.; Vierira, G.L. - Tempo de lanamento do concreto: umnovo paradigma. Revista Ibracon de Estruturas e Materiais, V. 5, No. 6, p. 809 a 811-Dez/2012

    3 - Silva, M. G. - Materiais de Construo Civil, Ibracon, V1, p.792 - 2010.

    4 - Metha, P. K., Monteiro, P. J. M. - Concreto - Microestrutura, Propriedades e Materiais.,p 348, p 375-376 - Ibracon. 2008.

    5 - ASTM C403-08 - Standard Test Method for Time of Setting of Concrete Mixtures byPenetration Resistance

    6 - NBR NM 9:2003 - Concreto e argamassa - Determinao dos tempos de pega pormeio de resistncia penetrao.

    7 - NBR NM 43:2003 - Cimento portland - Determinao da pasta de consistncia normal

    8 - MNR NM 65:2003 - Cimento Portland - Determinao do tempo de pega

    9 - NBR 5738:2015 - Concreto - Procedimento para moldagem e cura de corpos de prova

    10 - NBR 5739:2007 - Concreto - Ensaios de compresso de corpos-de-prova cilndricos

    11 - NBR 12655:2015 - Concreto de cimento Portland - Preparo, controle, recebimento eaceitao - Procedimento.

    12 - NBR 7212:2012 - Execuo de concreto dosado em central Procedimento