Tempo Livre - Fevereiro - N 223

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TempoLivre N.º 223 Fevereiro 2011 Mensal 2,00 Rituais Fallas de Valência, o elogio do fogo Portfólio Egipto: o canal, as pirâmides e o Farol Viagens Carnaval em Porto Santo www.inatel.pt

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Tempo Livre - Fevereiro - N 223

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TempoLivreN.º 223Fevereiro 2011Mensal2,00 €

Rituais Fallas de Valência, o elogio do fogo

Portfólio Egipto: o canal, as pirâmides e o Farol

Viagens Carnaval em Porto Santo

www.inatel.pt

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Sumário

Revista Mensal e-mail: [email protected] | Propriedade da Fundação INATEL Presidente do Conselho de Administração: Vítor Ramalho Vice-Presidente: CarlosMamede Vogais: Cristina Baptista, José Moreira Marques e Rogério Fernandes Sede da Fundação: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000Nº Pessoa Colectiva: 500122237 Director: Vítor Ramalho Editor: Eugénio Alves Grafismo: José Souto Fotografia: José Frade Coordenação: Glória Lambelho Colaboradores: António Costa Santos, António Sérgio Azenha, Carlos Barbosa de Oliveira, Carlos Blanco, Gil Montalverne, Humberto Lopes, JoaquimDiabinho, Joaquim Magalhães de Castro, José Jorge Letria, José Luís Jorge, Lurdes Féria, Manuela Garcia, Maria Augusta Drago, Maria João Duarte, MariaMesquita, Pedro Barrocas, Rodrigues Vaz, Sérgio Alves, Suzana Neves, Vítor Ribeiro. Cronistas: Alice Vieira, Álvaro Belo Marques, Artur Queirós, BaptistaBastos, Fernando Dacosta, Joaquim Letria, Maria Alice Vila Fabião, Mário Zambujal. Redacção: Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 LISBOA, Telef.210027000 Fax: 210027061 Publicidade: Direcção de Marketing (DMRI) Telef. 210027189; Impressão: Lisgráfica - Impressão e Artes Gráficas, SA -Rua Consiglieri Pedroso, n.º 90, Casal de Sta. Leopoldina, 2730-053 Barcarena, Tel. 214345400 Dep. Legal: 41725/90. Registo de propriedade naD.G.C.S. nº 114484. Registo de Empresas Jornalísticas na D.G.C.S. nº 214483. Preço: 2,00 euros Tiragem deste número: 154.605 exemplares

Na capa

18|30VIAGENS E RITUAIS

Carnaval de Porto Santoe Fallas de ValênciaDesfrutar do popularCarnaval de Porto Santo eaproveitar a amenatemperatura da ilha para osprimeiros banhos de mar de2011 é, a par, das maiscélebres e divertidas festasde Entrudo na vizinhaEspanha – as Fallas deValência – uma dasatractivas propostas dosdestinos Inatel para opróximo mês de Março.

5 EDITORIAL

6 CARTAS E COLUNA

DO PROVEDOR

8 NOTÍCIAS

16 CONCURSO

DE FOTOGRAFIA

32 TERMAS DE PORTUGAL

As boas águas do Estoril

48 TEMPO GLOBAL

António Rebelo de Sousa analisa a crise económica europeia

52 OLHO VIVO

54 A CASA NA ÁRVORE

79 O TEMPO E AS PALAVRAS

Maria Alice Vila Fabião

80 OS CONTOS

DO ZAMBUJAL

82 CRÓNICA

Eduardo White

57 BOA VIDA

74 CLUBE TEMPO LIVRE

Passatempos, Novos livros e Cartaz

25ENTREVISTA

João ProençaHá 15 anos a liderar a União Geraldos Trabalhadores (UGT), JoãoProença, engenheiro químico, fala dacrise económico-social do país,considera que a crescenteprecariedade contratual no mundo doemprego “não é só anti-social, étambém anti-sindical... “ e sublinhater a Inatel um “papel fundamentalna valorização das pessoas quetrabalham”.

34ESCOLAS DE DESPORTO INATEL

Desenvolver o projecto em termosnacionais é o objectivo das Escolas deDesporto da Inatel, já em curso nosParques Desportivos da Fundação emLisboa e no Porto.

38PAIXÕES

Melício: o escultor de Lisboa

43PORTFÓLIO

Egipto: O canal, as pirâmidese o Farol

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Editorial

Vítor Ramalho

Viver em tempo de crise

As preocupações da Inatel em marcharao ritmo do nosso tempo, no domínioda informação e da procura de res-postas ajustadas aos desafios que a

todos hoje nos colocam, explicam o convite da "Tempo Livre" ao Prof. António Rebelo de Sousapara uma análise da crise financeira que afecta aEuropa e o nosso país em particular. O excelenteartigo que fez para o efeito, na esteira aliás deoutros que a revista vem publicando, é de gran-de actualidade.

Ele enquadra as preocupações que o líder daUGT, Engenheiro João Proença, nos transmite naentrevista que no início deste novo ano de 2011nos concede e que justamente assinalamos. AInatel é uma instituição que se suporta na memó-ria, na acção do sindicalismo e na força domundo do trabalho e seria indesculpável nãoouvir a importante reflexão de João Proençasobre os desafios que hoje se colocam aos traba -lhadores e aos sindicatos.

De par com o artigo e com a entrevista, osassociados encontrarão mais uma vez, nas pági-nas da "TL", propostas aliciantes integradas nasactividades tradicionais da Fundação, quer naoferta turística no Carnaval, em Porto Santo, querno destino que foi preparado para a Fallas deValência, dois dos muitos programas de excelên-cia incluídos no período do Outono/Inverno.

Falar da Inatel é falar também da cultura, dodesporto e do enorme mundo que a preenche eque tem sido nossa preocupação reforçá-lo,

olhando sempre para o futuro. É com esta pers-pectiva que no desporto lhe damos a conhecer oprojecto escolas do desporto, algumas delas jáem funcionamento em Lisboa e no Porto, comum crescente número de praticantes.

Não poderíamos também deixar de evocar osímbolo da lusofonia que foi o grande pintorMalangatana porque, como disse, a cultura éindissociável da nossa Fundação. Quem melhordo que Eduardo White, profundo conhecedor deMoçambique, das suas gentes e do próprioMalangatana para nos vir falar deste e da sauda-de que já sentimos com a sua partida?

Noutro plano, o escultor de Lisboa, deuma escola hiper-realista, JorgeMelício, cidadão do mundo, umapersonalidade incontornável das

Artes nacionais, é, também, neste número danossa revista, objecto de um trabalho sobre a suavasta e prestigiada obra, espalhada um pouco portodo o país, em colecções de museus e de parti-culares, sem esquecer as mais representativas,visíveis em espaços abertos da capital.

Destaco por fim o reconhecimento à Unidadede São Pedro do Sul como Hotel de quatro estre-las nos processos de significativa melhoria dasunidades hoteleiras da Inatel, que implicamrequisitos muito exigentes de licenciamento. Umcaminho que foi iniciado e que prosseguirá paraum igual reconhecimento das restantesUnidades. n

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Cartas

Coluna do Provedor

Pavilhão no Porto

Eu, Jorge Gomes professor de desporto, licencia-do pela Universidade do Porto, atleta de ténis demesa do clube Sinapsa, venho por este meio per-guntar: agora que houve uma mudança a nívelde responsáveis na INATEL e, pelo que já li na“TL”, com vontade de modificar o que está mal,será que poderei ser informado o porquê de nãohaver um Pavilhão para prática de desportos noPorto?

Jorge Gomes, Porto (email)

Turismo Solidário

A Associação de Reformados de Santa Mariade Panoias-IPSS, Braga, inscrita na Inatel comoCentro de Cultura e Desporto (CCD), vemmanifestar a enorme satisfação dos seus 48associados que participaram na viagem nº 60do “Turismo Solidário 2010”.

O programa da viagem enquadrou-se na

principal razão da existência desta Associaçãoque é a de “Envelhecer sim, mas com qualida-de de vida”. A enorme satisfação, decorre dofacto de se tratar de pessoas que só na partefinal das suas vidas viajaram para fora da suaterra; gozaram férias em hotel de qualidade;assistiram a peças de teatro; visitaram o JardimZoológico e o Oceanário de Lisboa, etc.. Umasatisfação expressa nos parabéns, ainda, para opessoal da Agência de Braga, pela sua eficiên-cia na preparação desta viagem.

Manuel Rodrigues, Braga

50 anos na INATEL

Completaram, este mês, 50 anos de ligação àFundação Inatel os associados:

António Monteiro Gil e Helder Joel Linguiça,Almada; António Almeida Teles, Amadora; JoséAntónio Fonte Santa, Évora; Fernando Gomes,Gondomar; Mª da Conceição Silva, Lisboa;Máximo Marques, Loures; Manuel Pereira, Sintra.

UMA DAS TAREFAS estimulantes nas funçõespara que sucessivamente tenho sido eleito naInatel, é a de receber dos associados sugestõesinovadoras para o funcionamento da Fundação.Estas sugestões são analisadas pela Adminis -tração e Departamentos a que se destinam parase concluir, ou não, da sua exequibilidade. É,sobretudo, interessante e socialmente valiosoeste tipo de correspondência, e que reflecte adiferença entre a prática da Fundação e, comoagora se diz, do mercado.

Com efeito, a Inatel não é só mercado hote-leiro como claramente estabelece o diploma (DLnº106/2008) ao acentuar “como fins principais”da fundação a “promoção das melhores con-dições para a ocupação dos tempos livres e dolazer dos trabalhadores, no activo e reformados,desenvolvendo e valorizando o turismo social, acriação e fruição cultural, a actividade física edesportiva, a inclusão e a solidariedade social”em todo o território nacional, com especiais res-

ponsabilidades, na prossecução destes fins, daconfederações sindicais.

Ao gerir um importante património edifica-do, constituído essencialmente por equipamen-tos hoteleiros, culturais e desportivos, dedicadosà prestação de um vasto leque de serviços nasáreas da hotelaria e do turismo social, do terma-lismo social e sénior, do apoio e promoção dacultura tradicional, do teatro e do desporto ama-dor, sem esquecer os programas e iniciativas deinclusão e solidariedade social envolvendo,sobretudo, jovens e idosos, a Inatel tem umafunção e responsabilidade que ultrapassa a merarealidade do mercado.

Sem chegar à humildade do filósofo grego queteria afirmado “só sei que nada sei”, embora saberque nada se sabe já é saber alguma coisa, temos acerteza de não possuir o dom da omnisciência. Épor isso que agradecemos as contribuições dosnossos associados, interessados simplesmente namelhoria dos serviços da Fundação.

A correspondênciapara estas secções

deve ser enviadapara a Redacção de

“Tempo Livre”,Calçada de Sant’Ana,

nº. 180, 1169-062Lisboa, ou por e-mail:

[email protected]

Kalidá[email protected]

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Vítor Ramalho e Carlos Mamede com aprimeira placa de classificação da InatelPalace, a afixar na fachada principal daquelaunidade hoteleira.

Gavião promove"Trilhos do Tejo"l Com o objectivo de aliar a

prática do desporto à promoção

do concelho, a câmara de Gavião

organiza um interessante percurso

pedestre intitulado "Trilhos do

Tejo", por veredas e caminhos das

duas margens do Tejo, num

fascinante enquadramento

paisagístico que inclui o belíssimo

Castelo de Belver. O percurso

apresenta um trilho circular com

origem e destino em Belver e

contempla, ainda, passagem por

Alamal, local onde se situa a

unidade turística da Inatel. A

iniciativa tem o apoio da Fundação

na divulgação e promoção e os

interessados poderão obter

informações mais detalhadas

junto da autarquia e da Inatel em

Alamal.

l Castelo de S. Jorge recebeu, em2010, um total de 969.519 visitantesdos quais 12% nacionais. Para esteaumento contribuiu a abertura doNúcleo Arqueológico do Castelo de S.Jorge, em Março passado, e a apostano programa Domingos em Família. OServiço Educativo totalizou 44.170

participantes nos seus diferentesprogramas - Visitas Orientadas,Ateliers, Domingos em Família,Actividades de Verão, Morcegos noCastelo, Dias com História, Semanada Criança e Festas de Anos.

Preços: Normal: 7,00 €; Reduções:Estudantes - 3,50 € , Sénior > 65 anos

- 3,50 €, Família incluindo < 18 anos- 3,50 €, Pessoas com deficiência -3,50 €, LX Card - 4,90 €, Gruposescolares organizados com marcaçãoprévia - 0,70 €. Isenções: Crianças até10 anos, Residentes, Jornalistas eOperadores Turísticos no exercício defunções.

Notícias

l O Turismo de Portugal atribuiuclassificação de quatro estrelas àInatel Palace, em S. Pedro do Sul,uma distinção ligada à alteraçãoestatutária da Fundação Inatel queprevê, no prazo de três anos, aadequação dos seus equipamentos e

actividades ao sector privado.Carlos Mamede, vice-presidente

da Inatel e responsável pela área doTurismo, sublinha a importânciadesta classificação e o esforço emcurso na Fundação para adequar asunidades às novas exigências domercado, adiantando que, em breve,toda a sua rede hoteleira estaráclassificada de acordo com a oferta deserviços e características de cadaunidade.

A classificação deestabelecimentos turísticos, dacompetência do Turismo de Portugal,obedece - recorde-se - a requisitosrigorosos que avaliam, entre outros, aqualidade dos serviços, a higiene, ofuncionamento das instalações eequipamentos, a insonorização, osistema de armazenamento de lixos, ailuminação de segurança e aprevenção de risco de incêndios.

Quatro estrelas para o Inatel Palace

Castelode S.Jorge:quaseum milhãode visitantes

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preencher uma lacuna edisponibilizar aquilo que os ginásiose espaços desportivos convencionaissimplesmente não podem oferecer apessoas portadoras de deficiênciamotora, ou seja, uma oportunidadepara que as pessoas com deficiênciamotora possam melhorar a suacondição física, conquistando destaforma uma vida mais saudável. Odesignado "Espaço DesportivoAdaptado" oferece equipamentos einstalações adequadas àsnecessidades das pessoas portadorasde deficiência motora,nomeadamente um ginásio commáquinas adaptadas, que permitemacesso em cadeira de rodas assimcomo diversos equipamentos quepermitem exercitar os músculos dosmembros superiores e inferiores eefectuar um trabalho cardiovascular;pavilhões e zonas exteriores para aprática de ciclismo, ténis e basqueteadaptados - com equipamentos àdisposição; e balneários e sanitáriosadaptados, boas acessibilidades eacompanhamento por umfisioterapeuta com experiência nestetipo de deficiências

l Desenvolvido pela AssociaçãoSalvador, com a missão de guianacional de referência nadisponibilização de informação sobrea acessibilidade física em diferentestipos de espaços em Portugal, o sitePortugal Acessível -www.portugalacessivel.com - tem jádisponível informação sobreacessibilidades físicas emmais de 3.000 espaços emPortugal, graças a umaequipa que realiza oslevantamentos in loco portodo o país.Simultaneamente, o sitepretende ser umaferramenta de sensibilização junto deentidades públicas e privadas para aimportância das acessibilidades,contribuindo para a integração daspessoas com deficiência motora oumobilidade reduzida na sociedade epara a melhoria da sua qualidade devida.

O Guia Portugal Acessível, alémde permitir a interacção e troca deexperiências entre a comunidade depessoas com deficiência motora,disponibiliza informação detalhada

sobre diferentes espaços, nasseguintes áreas: Alojamento (ex:hotéis, hotéis-apartamento, pensões,pousadas); Cultura (ex: museus,monumentos, jardins); Praias(marítimas e fluviais); Restauração(ex: restaurantes, bares, pastelarias);Saúde (ex: hospitais, centros desaúde, farmácias); e Utilidades (ex:

lojas, correios, serviços doEstado). O site começoupor disponibilizar, em2008, informação sobre600 espaços na zona deLisboa, sendo alargado em2009 às 18 cidades capitalde distrito e em 2010 aos

50 principais destinos turísticos (combase no número de hóspedes).Actualmente, conta com informaçãosobre, aproximadamente, 3.100espaços.

Parque de Jogos 1º de MaioExemplo desses espaços é oresultante da parceria AssociaçãoSalvador/Inatel, situado no Parque deJogos 1º de Maio em Alvalade -Lisboa, destinado a pessoas comdeficiência motora. Esta parceria vem

Associação Salvador lança "Portugal Acessível"

O CCD do Grupo

de Amigos

Incondicionais do

Orvalho foi cantar

as Janeiras à

Agência Inatel na

Covilhã, para

agradecer o apoio

e reconhecimento

da Fundação.

Janeiras na Covilhã

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Notícias

l A Inatel Foz do Arelho foi palco,em Dezembro último, da cerimóniade entrega de prémios dos ConcursosTeatro Novos Textos, Vídeo e Artes,direccionados tanto para beneficiáriosassociados como não associados.

No âmbito do ConcursoINATEL/Teatro Novos Textos foipremiado com o "Grande Prémio" otexto original "A Manhã, A Tarde e aNoite" de Luís Mestre, e com o Prémio"Miguel Rovisco", para menores de 25anos, o texto original "A Pítia" deCésar Magalhães.

Do Concurso de Vídeo foramentregues: Prémio Fundação INATEL ao

vídeo "Naufrágio" de Flávio Pires eTiago Carvalho; Prémio Gente daMinha Terra ao vídeo "Pouco a Pouco"de Pedro Grenha e Rui Cacilhas; ePrémio Jovem Realizador ao vídeo"Nocturna" de Francisco Carvalho. Ojúri atribuiu ainda uma MençãoHonrosa ao vídeo "Sinfonia dos Loucos"de Vasco Mendes.No Concurso deArtes, o Prémio Pintura coube à obra"Não-Lugar" de Mónica Mindelis e oPrémio Escultura à obra "Pirâmide" deMaria João Ribeiro. Foram tambémentregues duas menções honrosas, nacategoria de Pintura, às obras"Microtonalidades" de Ana Cassiano e"Sem Fronteiras" de Carlos Vieira.

Paralelamente, foi inaugurada aExposição das Obras Seleccionadasdo Concurso de Artes 2010, em queestiveram expostas as 10 obrasseleccionadas na categoria de Pinturae as quatro obras seleccionadas deEscultura. A exposição esteve patenteaté final do mês de Janeiro na sala"Atlântico". A Cerimónia abriu com aactuação de um quarteto de cordasfeminino.

Concursos Inatel de Teatro, Vídeo e Artes

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l De Vasco Barata, "Un secret", umainstalação vídeo, com sessões deexibições diárias, de 26 de Fevereiroa 6 de Março, de 2011, no espaço"Round the corner" (no Trindade)com horário a definir. Um vídeo, cujabanda sonora nos narra umsegredo…Até 20 do corrente, nomesmo espaço, a instalação "Serespectador", de Anabela Bravo, de 2ªa sábado, das 15 às 20h00, umareflexão sobre a condição deespectador na contemporaneidade(…) O espectador age cada vez que

observa, selecciona, compara einterpreta aquilo que vê. Nestainstalação, o espectador éconfrontado com esta suapermanente condição.

"Arte & Peregrinação"

l Na Galeria Sul da Fundação

Oriente está patente, até 27 de

Março, a mostra "Arte &

Peregrinação, os Portugueses

ao Encontro da sua História".

Há mais de 20 anos que o

Centro Nacional de Cultura

organiza o ciclo de viagens "Os

Portugueses ao encontro da

sua história", que procura ir à

procura dos vestígios que os

Portugueses dos séculos XVII e

XVIII deixaram pelo mundo

fora.Verdadeiras embaixadas

culturais dão origem a novos

laços e projectos e são

registadas nos Diários de

Viagem, sempre da autoria de

um artista plástico e de um

escritor. Nesta exposição,

reúnem-se pela primeira vez as

ilustrações de quatro grandes

artistas portugueses de

gerações diferentes - Graça

Morais, João Queiroz, José de

Guimarães e Bárbara Assis

Pacheco - resultantes de

algumas destas viagens a

países como o Japão,

Indonésia e Índia. Os seus

"relatos" de viagem são a

demonstração nítida de que

uma crónica gráfica de viagem

permite irmos adiante do que

se espera, uma vez que, além

da narrativa das peregrinações,

temos a descrição visual do

que se sente num cenário

diferente daquele em que

vivemos no dia a dia.

"Round the Corner"

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Notícias

l Um animado e divertido espectáculo, comapontamentos musicais por parte deelementos dos diferentes departamentos,pontuou a Gala dos Trabalhadores da Inatel,realizada, no final de Dezembro, no Trindade.A anteceder o "show" do pessoal, foi

projectado odocumentário"Uma Históriacom Futuro",comemorativodos 75 anos daFundação,seguido de umaintervenção do

Presidente, Vítor Ramalho que, sem esqueceras dificuldades derivadas da actual criseeconómico-social que afecta Portugal,manifestou esperança e optimismo no futuroda Inatel.

Nas imagens centrais, o colectivo doDesporto, acompanhado ao acordeão pelo ex--árbitro António Rola e sob o olhar atento doJúri, integrado por representantes dediferentes sectores da Fundação; em cima, ogrupo da Informática, onde se destacou a belavoz de Rute Reis; em baixo, a equipa doTurismo Social.

Gala dos Trabalhadores

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l Organizada pela agência distritalda Inatel, a 34ª São Silvestre Cidadede Coimbra mobilizou mais de 400atletas pelas ruas da cidade deCoimbra. Considerada a maior festado Atletismo na região Centro dopaís, o seu percurso constou de duasdistâncias diferentes: 6400 metrospara Juniores e Seniores femininas, e

Veteranos 2; e 9600 metros paraJuniores e Seniores masculinos, alémde Veteranos 1. Em femininos, avitória coube à atleta olímpica AnáliaRosa, seguida de Carla Martinho eSara Pinho. No sector masculino,José Moreira (Cyclones) foi ovencedor, seguido de Paulo Gomes(Conforlimpa).

Corrida de S. Silvestre/Coimbra

Parceria Inatel/BP

Na sequência da parceria

que a Fundação Inatel

estabeleceu com a BP, foi

acordada uma revisão do

acordo e que significa a

melhoria das condições para

os seus Associados. Assim, o

desconto em vigor de 5

cêntimos/l passa a partir de

1/02/2011 para 6 cêntimos/l.

Relembramos que os

Associados ao abastecer nos

postos BP, acumulam pontos

Premier Plus que poderão

rebater para pagamento da

quota anual (1000 pontos =

pagamento da quota).

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Notícias

l Durante seis dias, um grupo deportugueses viveu na Alsácia a magiado Natal. História, Cultura eGastronomia são os atractivos maioresde uma região que atrai mais de doismilhões de visitantes só no mês deDezembro. Os coloridos e fascinantesMercados de Natal - de tradiçãoseiscentista - e o encanto da FlorestaNegra deslumbraram este grupo deportugueses, como sublinha ElizabeteAlves, ex-professora de Ilhavo,convencida por uma das filhas adesfrutar da festa natalícia alsaciana:"Tivemos muita sorte em apanharneve. Isto é um verdadeiro postal.Nunca pensei que a Floresta Negrafosse tão espectacular! É como voltar

à infância". A INATEL - recorde-se -organiza todos os anos viagens paraeste destino mágico.

Mercados de Natal na Alsácia

Filipe La Féria, autor do espectáculo “Fado - História de um Povo”, em cena no

Casino do Estoril, homenageado pelo presidente da Inatel no decorrer da Gala do

Turismo Sénior

Gala Sénior

Os associados Inatel do Porto já

podem utilizar o Parque de Jogos de

Ramalde, a partir das 18h00, para a

prática de Futebol de Cinco, graças à

relva sintética entretanto instalada.

Para mais informações contactar tel.:

226 184 684

Ramalde

Imagem do grupo que viveu amagia do Natal na Alsácia

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XV Concurso “Tempo Livre” Fotografia

Fotos premiadas

[ 1 ]

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[ 1 ] José Pinto, CoimbraSócio n.º 494110

[ 2 ] Luis Gaspar,LisboaSócio n.º 265869

[ 3 ] José Pestana,LisboaSócio n.º 284337

[ 2 ]

[ 3 ]

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[ a ] Manuel Cardoso, Vila Nova de GaiaSócio n.º 345542

[ b ] Maria Silva, CacémSócio n.º 493267

[ c ] Mário Bizarro, Vila Nova de GaiaSócio n.º 64888

Menções honrosas

Regulamento

1. Concurso Nacional de Fotografia darevista Tempo Livre. Periodicidademensal. Podem participar todos osassociados da Fundação Inatel,excluindo os seus funcionários ecolaboradores da revista Tempo Livre.

2. Enviar as fotos para: Revista TempoLivre - Concurso de Fotografia, Calçadade Sant’Ana, 180 - 1169-062 Lisboa.

3. A data limite para a recepção dostrabalhos é o dia 10 de cada mês.

4. O tema é livre e cada concorrentepode enviar, mensalmente, ummáximo de 3 fotografias de formatomínimo de 10x15 cm e máximo de18x24 cm., em papel, cor ou preto ebranco.5. Não são aceites diapositivos e asfotos concorrentes não serãodevolvidas.

6. O concurso é limitado aosassociados da Inatel. Todas as fotosdevem ser assina ladas no verso com onome do autor, morada, telefone enúmero de associado da Inatel.

7. A «TL» publicará, em cada mês, asseis melhores fotos (três premia das etrês menções honrosas),seleccionadas entre as enviadas noprazo previsto.

8. Não serão seleccionadas, nomesmo ano, as fotos de umconcorrente premiado nesse ano

9. Prémios: cada uma das três fotosse lec cio nadas terá como prémio duasnoi tes para duas pessoas numa dasunidades hoteleiras da Inatel, durantea época baixa, em regime APA(alojamento e pequeno almoço). Oprémio tem a validade de um ano. Opre miado(a) deve contactar a redacçãoda «TL».

10. Grande Prémio Anual: umaviagem a esco lher na Brochura InatelTurismo Social até ao montante de1750 Euros.A este prémio, a publicar na «TL» deSetembro de 2011, concorrem todasas fotos premiadas e publicadas nosmeses em que decorre o concurso.

11. O júri será composto por doisresponsáveis da revista T. Livre e porum fotógrafo de reconhecido prestígio.

[ b ]

[ a ]

[ c ]

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Um carnaval lusitano com praia, montanha e boa gastronomia

E o Porto Santoaqui tão perto...Conhecido pela beleza da praia com propriedades terapêuticas, o Porto Santo tem mais paradescobrir. Uma grande riqueza geológica, que em breve dará origem a um Geoparque denível mundial, belas veredas com paisagens deslumbrantes e uma gastronomia apetitosa esingular. Os dias de Carnaval, também festejados na ilha, podem ser um bom pretexto para adescoberta deste pequeno paraíso atlântico que teve em Cristóvão Colombo um dos maisilustres moradores.

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Viagens

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"Porto Santo - Ir é Voltar". Podia tra-tar-se de meras palavras que aslevam a brisa do mar, mas os turis-tas habitués deste pequeno paraísodo Arquipélago da Madeira com-

provam que o slogan com a qual a ilha se tem feitorepresentar em Feiras de Turismo, como a BTL, nãoé enganador. O extenso areal dourado, de cerca de9 km, é o favorito, há dezenas de anos, de Manoelde Oliveira. Com 102 anos de idade, o grande mes-tre do cinema português não desiste, ano após ano,dos dias serenos e repousantes e dos inigualáveisbanhos nas águas mornas azul-turquesa que a mais'africana' das praias portuguesas lhe proporciona.Muitas outras figuras conhecidas têm-lhe seguido oexemplo, caso, entre outros, do apresentador JorgeGabriel, da RTP, que comprou casa na ilha e costu-ma lá ir várias vezes ao ano, nem que seja parajogar algumas partidas de golfe com os amigos.

Praia e CarnavalProcurado pelos turistas essencialmente noVerão, atingindo o pico de visitantes em Agosto,

o Porto Santo é convidativo todo o ano graças àsua amena temperatura. Cruzar-se com pessoasde manga curta e calções em pleno Inverno,assim como ver turistas a nadar, não é assim tãoestranho quanto possa parecer. Fevereiro poderáser a altura ideal para os mais destemidos estrea-rem a época balnear, que ganha mais força naPáscoa e pela altura das festas do São João, emJunho, o verdadeiro cartaz turístico da ilha.

Os dias breves de Carnaval podem, no entan-to, ser a desculpa perfeita para partir à descober-ta deste e de outros encantos desta pequena ilhade 42 km2. Não tão sofisticada ou luxuosa comoa do Rio de Janeiro ou a do vizinho Funchal, estaépoca de festa é vivida com animação no PortoSanto com o chamado Carnaval Trapalhão. Naterça-feira de Entrudo desfila pelas ruas de VilaBaleira um cortejo popular, com as tradicionaissátiras, de que os porto-santenses não abdicam, atemas locais e nacionais. A autarquia tem aposta-do na dinamização deste popular ritual, "desa-fiando as associações culturais e recreativas doPorto Santo, que são, a da Camacha e a do

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Espírito Santo, para também elas mobilizarem osporto-santenses a mascararem-se", salientaRoberto Silva, presidente da Câmara Municipal.Nos últimos anos, tem sido convidada a partici-par uma trupe do Funchal, a escola de samba "OsCariocas".

A festa termina com um espectáculo musicalna Praça do Barqueiro, que este ano terá comoestrela principal um artista da terra, revela-nos

Miguel Fonseca, da "Areal Dourado", entidaderesponsável pela programação do Carnaval. Oarranque do Entrudo começa na sexta-feira, comas crianças das escolas básicas do Porto Santo adesfilarem disfarçadas. No passado faziam-seacompanhar pela Banda Filarmónica da Casa doPovo do Porto Santo.

Geoparque Cerca de 130 mil turistas visitam anualmente oPorto Santo - o recorde está em 180 mil, contaRoberto Silva - e em breve haverá uma novaatracção que poderá captar mais visitantes."Temos um projecto muito interessante queestamos a desenvolver, que é o Geoparque doPorto Santo. A ilha tem um património geológi-co único no mundo com diversos geossítiosque queremos divulgar e potencializar. O Picode Ana Ferreira, o Cabeço das Laranjas na zonado Ilhéu de Cima e o Ilhéu da Cal são algunsexemplos. Haverá uma grande rota, onde aspessoas poderão sair de manhã e regressar aofinal do dia podendo visitar todos estes sítios,ou fazer rotas mais pequenas. Estamos muito

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empenhados em ter este Geoparque a funcionarem 2013 e candidatá-lo a Parque Mundialatravés da UNESCO", diz o autarca. No Ilhéu daCal, por exemplo, é possível encontrar vestígiosda extracção de cal desenvolvida no início doséculo XVIII, assim como observar escoadaslávicas submarinas, cinzas vulcânicas e espes-sas camadas de calcário.

CaminhadasEnquanto não pode partir à descoberta em pleni-tude da riqueza geológica, o visitante pode fazer

tranquilas caminhadas pelas veredas. Uma dasmais bonitas é a do Pico Branco e Terra Chã, ondeencontra vegetação indígena na escarpa, como omarmulano. A vereda do Calhau, junto à Fonted'Areia, e a do Pico do Castelo são igualmente umconvite a inolvidáveis e salutares passeios demontanha.

Para ganhar forças para novas caminhadas,nada como deliciar-se com algumas das iguariasda ilha. A pouco mais de cem metros da tranqui-la e confortável unidade hoteleira da Inatelencontra o bar João do Cabeço, onde poderá sabo-rear o original bolo do caco com manteiga de alhoe as famosas lapas grelhadas, acompanhado poruma fresca cerveja Coral. Os menos apreciadoresde cerveja têm, entre outras alternativas, a BrisaMaracujá, um dos sumos mais apreciados pelosmadeirenses. A oferta de restaurantes é variada eem quase todos encontra pratos tradicionaiscomo a espetada com milho frito ou os bifes deatum. Um peixe que vale a pena provar é obodião grelhado. O prato mais típico do PortoSanto, a escrapiada com serralha, já não seencontra nos restaurantes. Considerada, no pas-

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sado, comida dos pobres, a saborosa escrapiadaapenas resiste, infelizmente, nas cozinhas fami-liares.

Novas unidades hoteleirasA ilha conta, actualmente, com cerca de 3000camas para receber os turistas, mas o objectivo ésubir essa oferta. Daí a previsão de novas unida-des hoteleiras, nomeadamente o Colombo'sResort, um mega projecto de qualidade, demomento com as obras paradas, e um outroatractivo hotel de que Cristiano Ronaldo é umdos principais investidores. Roberto Silva confiano recomeço das obras no Colombo dentro de umano, afastando o espectro do Vila Baleira, hotelque teve a construção parada durante mais de 25anos.

O empreendimento do internacional portu-guês e craque do Real Madrid está pendente daaprovação do plano de urbanização elaboradopela Câmara. O autarca gostaria que as obras seiniciassem ainda durante o primeiro semestredeste ano. É um investimento da ordem dos 50 a60 milhões de euros e com 500 camas, que englo-ba hotel, moradias turísticas e uma clínica derecuperação para jogadores de futebol. Com aconcretização destas duas unidades hoteleiras, oPorto Santo passa a contar com 5500 a 6000camas.

Há turistas suficientes para este número decamas? "No Verão sim, no Inverno não", dizRoberto Silva, que acredita, no entanto, que é naperspectiva de serem rentáveis todo o ano que seavançam com hotéis com estas características.No caso do Colombo's chegou a ser projectadopara ter sete estrelas.

Muitos ou poucos, os que escolhem o PortoSanto para férias fazem-no essencialmente peloprazer de dias tranquilos de repouso e pela qua-lidade terapêutica das águas e areia da sua exten-sa e belíssima praia, uma alternativa semi-tropi-cal a destinos balneares mais longínquos e obvia-mente mais 'pesados' para as deprimidas finançasda larga maioria dos portugueses. n

Helena Magna Costa (texto e fotos)

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Viagens Inatel Carnaval em Porto Santo é um dos destinos

nacionais da Inatel, com uma estadia, de 6 a

11 de Março, na pequena ilha madeirense

por ocasião das festas de Entrudo. Com

partidas de Lisboa, o programa inclui

passagem aérea, alojamento, pequeno-

almoço e cinco refeições. Preços: em quarto

duplo - 531 euros; quarto individual - 694

euros.

Vista do campo doPorto Santo Golfe

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Entrevista

João ProençaSecretário-geral da UGT

Há 15 anos a liderar a União Geral dos Trabalhadores (UGT), esteengenheiro químico de formação trocou a docência universitária pelaintervenção social e pela acção política. O doutoramento em

Metalurgia Física ficou pendurado em 1974. Com o 25 de Abril veio aliderança sindical no Técnico, chegou a ser chefe de gabinete de váriosmembros do Governo nas áreas da Energia e Economia mas sempre aacompanhar a função pública. Foi por isso, sem surpresa, que em 1978 foieleito o primeiro secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores da FunçãoPública da UGT, então criado. A actividade parlamentar chegou nos anos 80,tendo sido deputado pelo PS de 1987 a 1995. Orgulha-se de ter elaborado eapresentado na Assembleia da República a proposta do Rendimento MínimoGarantido.Hoje, olha para o trabalho feito e afirma que é um homem feliz. Natural doconcelho de Belmonte, foi uma surpresa para a família o ter enveredado pelaintervenção social e pelo trabalho na função pública. Mas declara que fez umaboa opção, “sinto muito orgulho em ser servidor, em ser dos serviçospúblicos”. Embora também não esqueça que em Portugal a actividade sindicalseja penalizada, no seu caso mantém a mesma categoria profissional desde osanos 80: investigador auxiliar do INETI, Instituto Nacional da EngenhariaTecnologia e Inovação. Sobre a história recente da Inatel, não se esquece que está intimamente ligadaà maior manifestação de sempre em Portugal: o 1º de Maio de 1974, a explosãode alegria popular e a grande saudação ao 25 de Abril.

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“A precariedade não é só anti-so c

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o cial, é também anti-sindical...”

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Entrevista

A UGT acaba de participar numa greve geralconjunta com a CGTP Intersindical. Faz sentidoesta bicefalia no movimento sindical?Totalmente, como aliás é tradição em todos ospaíses do sul da Europa. O que não faz sentido écentrais sindicais viverem de costas voltadasumas para as outras.

Faz sentido promover unidade na acção sem-pre que haja objectivos comuns de luta, não fazsentido promover a unidade orgânica, visto quehá diferentes perspectivas quanto ao movimentosindical. Aliás a realidade europeia é que só hádois ou três países com uma única central:Inglaterra, Irlanda, Alemanha e Áustria, porrazões históricas. O balanço do ano de 2010, para a UGT, é muitonegativo. Mas esta crise tem de encontrarsoluções. Agradam-lhe as recentes medidas? Esta crise tem uma dimensão nacional e uma

dimensão internacional. Muitodo que se vai passar está fora dasnossas mãos. Estamos peranteuma UE que nos exige atingirdeterminadas metas nomeada-mente em termos de dívida, maso atingirmo-las não nos salva-guarda de intervenções negativas,nomeadamente uma entrada queconsideramos absolutamente ina-

ceitável: o FMI em Portugal. Também estamosdependentes do que se vier a passar: se a Europaassume as suas responsabilidades de ser não sóeconómica mas também com uma dimensãopolítica…E solidária…Solidária, social e cultural e tendo justamenteeste objectivo muito ligado à moeda única; umamoeda única implica haver capacidade orçamen-tal, nomeadamente para haver políticas que te -nham em conta o equilibrar a competitividadedos diferentes países europeus e a coesão econó-mica, social e territorial. O que nem sempre se verifica…Porque não há uma verdadeira liderança euro-peia que seja pró-europeia. Temos uma liderançada França e da Alemanha mas nenhum dos pre-sidentes - e nenhum é de esquerda -, se assumecom uma perspectiva de futuro da Europa, quetenha uma dimensão federal e política, naEuropa e no mundo.

Mas não houve também, internamente, apostaspolíticas erradas?Apostou-se demasiado na financiarização da eco-nomia, estar tudo à volta do sector financeiro, doslucros e da especulação. E chegamos a isto: porum lado, o sector financeiro a dizer às famílias‘consumam que o banco empresta sem proble-mas’, mas omitia-se que as taxas de crédito bancá-rias para os cartões de crédito andava perto dos30% ao ano e as pessoas endividaram-se de umamaneira excessiva. Nas empresas, a mesma coisa:emprestamos e vocês até convertem os capitaisdas empresas em sociedades de gestão de partici-pações e depois estas poderão fazer investimentosfinanceiros, em vez de fazerem investimentos nosector produtivo. E até os próprios empresários daárea social desapareceram, transformaram-se eminvestidores do sector financeiro. Há que voltar, portanto, a investir no sector pro-dutivo…É necessário sobretudo ter presente de que nãopodemos permanecer com este grande endivida-mento face ao exterior, temos de equilibrar asimportações e as exportações. Antigamente eramequilibradas pelas remessas dos emigrantes, hojeisso não acontece, temos de encontrar um camin-ho noutro sentido.

Por outro lado, em termos de défice, tem dehaver sacrifícios mas muitas vezes os sacrifíciossão assumidos da maneira mais fácil. Ou seja:cortes nos salários da função pública e aumentode impostos, mas não se traduzem em melhoriadas políticas públicas, nomeadamente na melho-ria do funcionamento da administração. Essadeve ser a questão central. Temos uma crise económica e social mas tam-bém temos uma crise de desemprego...E eu não posso combater a crise económica esocial sem pensar também em promover oemprego, criar postos de trabalho, combater aprecariedade, melhorar a qualidade do emprego.E sabendo que as medidas de combate à crise sãonecessariamente recessivas, provocam ummenor crescimento económico, provocam even-tualmente no curto prazo o aumento do desem-prego. Mas como é que eu dou resposta às pesso-as? Pessoas que hoje não têm rendimentospoderão por via de ocupações temporárias, daformação profissional, obter alguns rendimentos,ou de pessoas que estão em risco de perder qua-

“Um jovemprecário quando sesindicaliza diz: mas omeu patrão não devesaber…”

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lificações, de sair do mercado de trabalho…como é que eu posso classificar? Repare que háprofissões a desaparecer. Com a crise do sectordas confecções, por exemplo, a profissão das cos-tureiras praticamente desaparece. E havia deze-nas de milhares de costureiras, a maioria delasagora no desemprego e têm de ser classificadasnoutras profissões. E o mesmo ao nível dos licen-ciados do ensino superior…A chamada geração ‘nem-nem’, nem estuda nemestá empregada …Para nós é uma prioridade. Por isso nos batemosmuito pelo programa dos estágios sobretudoorientado para os licenciados. Duram nove mesesmas fazem descontos para a Segurança Social,integra-os já no sistema, o que lhes dá acesso aoSubsídio Social de Desemprego e até com umpouco mais de tempo de trabalho ao Subsídio deDesemprego. Mas dá-lhe sobretudo acesso a umprograma de alta empregabilidade. Antes dacrise, grande parte dos estagiários, mais de 70%,conservava o posto de trabalho. E hoje as empresas estão receptivas a essesestagiários?Queremos reforçar os incentivos para que osrecrutem, porque há um problema de falta de

capacidade técnica das empresas e a entrada des-ses licenciados pode vir a ter um papel extrema-mente importante. A segunda questão é que hámuitos licenciados no mercado de trabalho quenunca tiveram a noção de estar em cursos defraca empregabilidade, ou uma empregabilidademuito ligada ao Estado. Mas o Estado hoje nãoestá a recrutar. E é necessário reclassificar esseslicenciados mas para profissões claramente iden-tificadas como profissões em que há falta no mer-cado de trabalho. Há um equilíbrio que tem de ser encontrado…Temos que utilizar este período de maior desem-prego para criar condições para ir criando postosde trabalho – o facto do desemprego estar a cres-cer não impede que todos os dias a economia criee destrua postos de trabalho. Por ano, criam-seem Portugal muito mais de 100 mil postos de tra-balho. Mas não são suficientes.

Há, ainda, que criar condiçõesde empregabilidade, quer paraagora, quer para o futuro, querdos jovens, quer de alguns queestão em risco de serem margina-lizadas do mercado de trabalho,estamos a falar de pessoas de 45-55 anos, com profissões que jánão têm saída no mercado de tra-balho ou com baixo nível de edu-cação, e temos de dar a essas pes-soas uma oportunidade de integração, não pode-mos aceitar que sejam colocadas à margem.A dois anos de terminar o último mandato àfrente da UGT, está satisfeito com o caminhoque percorreu?Estou. Sinto-me com a noção de que dei o meumelhor e acho que mudei alguma coisa para me -lhor na vida de muitos trabalhadores. É evidenteque gostaria de ter feito mais, mas a UGT cresceu,é uma instituição respeitada e forte. Indepen -dentemente de uns concordarem e outros discor-darem do que faz, é respeitada pelo conjunto dapopulação e pelo conjunto dos trabalhadores.Temos as limitações de intervenção do movimen-to sindical que hoje se confronta com o desem-prego, com a modernização de sectores de activi-dade que conduziu a muita saída de trabalhado-res mais velhos e isso traduz até decréscimo dasquotizações dos sindicatos. Há um menor envolvimento sindical.

“Tenho a noção deque dei o meu melhore acho que mudeialguma coisa paramelhor na vida demuitostrabalhadores.”

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Entrevista

As pessoas no passado sentiam mais necessida-de de estar sindicalizadas do que hoje. Osjovens estão sujeitos à precariedade e muitasvezes até têm receio de se sindicalizar. É a rea-

lidade dos factos. Um jovemprecário quando se sindicalizadiz: mas o meu patrão não devesaber. Sindicaliza-se muitasvezes por motivo de solidarieda-de, mas também para estar mel-hor protegido. Se necessitar deprotecção, é claro que o sindica-to aparece. Mas enquanto nãonecessitar de protecção explíci-

ta, o sindicato é um seguro que está a fazer. Narecente greve geral muitos trabalhadoresdiziam: se eu fizer greve geral arrisco-me a terpenalização por parte do empresário. Nós dis-semos: se vocês conseguirem provar que forampenalizados pelo facto de terem aderido à grevegeral, é o empresário que vai ser penalizado. Oproblema é provar. A precariedade não é sóanti-social, é também anti-sindical. Como é que a UGT avalia o trabalho que aInatel tem feito em prol dos trabalhadores,agora que celebra 75 anos?

É uma grande instituição que tem desempe -nhado uma acção relevante em áreas fundamen-tais: na ocupação dos tempos livres, na cultura,no desporto. Precisa de manter a linha de rumo,de utilizar melhor os trabalhadores que tem etambém de reforçar a sua capacidade técnico-profissional.

E precisa ter este aspecto de que é uma insti-tuição ao serviço dos trabalhadores, do activo ereformados, aposentados. Esta dimensão pode terum papel muito importante no quadro da com-petitividade e do emprego, nomeadamente por-que hoje é fundamental que as pessoas sintamque são valorizadas e apoiadas. A Inatel tem umpapel fundamental na valorização das pessoasque trabalham mas também na expectativa dequando saem da vida activa poderão ter um futu-ro melhor, mais apoiado.

A Inatel tem de ser um instrumento quereforce a sindicalização, de ligar os trabalhado-res ao sindicato e favorecer a actividade sindi-cal. Há ainda que apostar claramente nointercâmbio com outros países onde há insti-tuições idênticas muito ligadas ao movimentosindical. n

Manuela Garcia (texto) José Frade (fotos)

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“A Inatel tem umpapel fundamental navalorização daspessoas quetrabalham”

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Cabeça

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Fallas de ValênciaElogio do fogoValência celebra nos alvoresprimaveris uma festa ímpar,uma exuberante despedida doInverno, com orgias de fogo epólvora. A cidade é, em Março,um destino privilegiado dasviagens Inatel.

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Essa é uma imagem bem conhecida etornou-se, justamente, um dos “ex-libris” das festas populares dos nos-sos vizinhos ibéricos. As famosíssi-mas Fallas enchem as ruas da cidade

levantina de multidões arrebatadas pelos estam-pidos dos petardos e pelo lumaréu que consomeos conjuntos satíricos de figuras modeladas emcartão, os “ninots”.

Não é nada difícil descortinar nestas festivida-des similitudes com o que noutras latitudes entu-siasma as gentes enfadadas do Inverno, ansiosase animadas pelas promessas de um novo ciclo.Uma das articulações mais óbvias, e mais con-sensuais, é a que se pode fazer com as festas decunho pagão que marcam o solstício de verão. Aevolução social e cultural e a ascensão do cristia-nismo constituíram factores que foram modelan-do e regulando, ao longo do tempo, este génerode celebrações, que assumiram, simultaneamen-te, expressões locais.

Obviamente, as explicações destes “excessos”festivos têm na cidade de Valência um enraiza-mento em tradições particulares, locais, confir-

mando, ao mesmo tempo, o que vários estudostêm evidenciado: que aquilo que se designa por”tradição” não tem, a maioria das vezes, muitomais do que umas dezenas de anos. Neste caso,certas crónicas da urbe dizem que o aconteci-mento mais remoto com o qual se pode estabele-cer um parentesco seguro com os actuais rituaisfestivos é uma grande queima pública de madei-ra velha, acto que terá ocorrido há pouco mais deuma centena de anos, já no findar do séc. XIX.Oficialmente, a fogueira terá sido ateada emhonra do patrono dos carpinteiros, São José.Noutra hipótese, talvez as explicações se devamlavrar com menos pompa, mais circunstanciadasnas práticas habituais dos carpinteiros valencia-nos que, chegada a primavera, se livravam de res-tos inúteis de madeira, aproveitando eventuaisformas antropomórficas no arranjo das fogueiras.

Terramotos às duas da tardeAs festividades têm variadíssimos componentese começam muito antes dessa noite. Os prepara-tivos, com maior ou menor solenidade, têm iní-cio em Janeiro, embora em Dezembro do ano

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Cabeça

anterior esteja já fixado um programa provisório– que não varia muito de ano para ano - e vá jáadiantada a concepção e a execução dos “ninots”,que deverão ficar em exposição a partir deFevereiro e ser montados alguns dias antes danoite da queima, a “cremà”. As maiores peçaspodem requerer duas ou mais semanas para amontagem e, até, o auxílio de gruas. A construçãodas “fallas” leva vários meses e envolve o traba -lho de dezenas de artistas, nomeadamente pinto-res e escultores, os “mestres fallers”. Actual -mente, com a crescente sofisticação e dimensãodos “ninots”, ao papel, cartão e madeira tradicio-nais, juntou-se o poliestireno, uma material maisleve e dúctil.

Os dois primeiros meses do ano correspon-dem a um período de celebrações com interesse,sobretudo, para a gente de Valência, com galasculturais e de pirotecnia, com a apresentação decomissões de festas, atribuição de prémios,recepção e exposição dos “ninots”, etc. A partir

do dia 1 de Março, na agenda diária das festas,entre outros acontecimentos, está o rebentamen-to das “mascletàs”, dispositivos de petardos e defogos de artifício cuja detonação em sequência(durante cinco ou seis minutos) enche o ar dedensas nuvens de fumo e de um fortíssimo odora pólvora. Realizam-se, normalmente, na Praçado Município, às duas da tarde, e o efeito, paraquem estiver mais perto, pode ser similar ao deum terramoto – sem contar com o excesso dedecibéis, que é uma das mais evidentes paixõesdos valencianos...

Uma noite de chamas, música e pólvoraAs várias comissões “falleras” (cujo número seaproxima das quatro centenas) representamzonas, ruas e recantos da cidade e cada umadelas integra normalmente uma secção infantil,pelo que às “fallas” dos adultos, de pendor satíri-co (e acompanhadas por vezes, por um “libret”explicativo), se juntam as das crianças, que glo-sam temáticas mais próximas dos mundos dainfância. Ao todo, são montadas e queimadas nasruas de Valência várias centenas de estruturas,com menor ou maior sofisticação, cujo custo deprodução pode ultrapassar os quinhentos mileuros. Algumas podem chegar aos trinta ou maismetros de altura. A “Nou Campanar”, construídaem 2007, foi a mais alta de sempre, com os seustrinta e dois metros.

Nem todas as “fallas” têm o destino do fogo.Durante o tempo em que estão expostas ocorreuma votação para se eleger os chamados “ninotsindultats”. O indulto é concedido às ”fallas” ava-liadas como as mais belas e expressivas. Adecisão pertence ao povo valenciano e as peçaseleitas podem ser apreciadas no Museu dasFallas.

A noite da queima é o ponto mais alto dasemana “fallera” e sucede à madrugada da “nitdel foc”, a madrugada dos grandes fogos de artifí-cio. A grande maioria das “fallas” alcança essaglória, a de ser consumida pelas chamas purifi-cadoras que celebram, também, o advento da pri-mavera. A noite da grande imolação das “fallas”,em 19 de Março, significa o momento superlati-vo de uma conjugação de excessos, reunidos oselementos mais amados das festas valencianas: amúsica, a pólvora e o fogo. n

Humberto Lopes (texto e fotos)

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Viagens Inatel O Departamento de Turismo da Inatel tem

uma programa de viagem às Fallas de

Valência de 16 a 21 de Março, com partidas

de Coimbra, Santarém, Lisboa e Setúbal, e

que inclui uma manhã e almoço em Madrid

no primeiro dia e uma tarde e noite, com

jantar, em Toledo, no penúltimo dia. Preços:

quarto duplo 523 euros; individual: 704.

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Escolas de Desporto

Destinadas a dar formação às crianças e jovensdo País, as Escolas de Desporto irão funcio-nar como o motor que irá atrair o segmentoinfantil / juvenil a diversas modalidades des-portivas, constituindo-se como estrutura

nuclear das acções para a promoção, divulgação e qualifi-cação da prática dessas modalidades.

Âmbito nacionalA sua organização baseia-se no princípio da distribuiçãoequitativa pelo País, tendo em consideração a qualidade,natureza e adequação das instalações para as modalidadesdesportivas respectivas, os aspectos demográficos e a pro-cura desportiva pelos associados/praticantes.

Deste modo, a sede de cada Escola irá situar-se preferen-cialmente numa instalação de propriedade e gestão daFundação que reúna as condições técnicas exigidas pela res-

pectiva modalidade, ou em outra que possa ser definida noâmbito de acordo de cooperação e parcerias com outrasentidades.

Visão integradaA (projecção) inovação deste projecto, baseia-se numa visãointegrada do desenvolvimento desportivo, procurandosinergias entre as diversas entidades interessadas no movi-mento desportivo (publicas e privadas), respeitando e valo-rizando as vocações e competências próprias de cada inter-veniente, trazendo deste modo um valor acrescentado àoferta desportiva para os nossos associados praticantes e apopulação em geral.

Com a implementação deste projecto, a DirecçãoDesportiva entende que deste modo está não só a rentabili-zar os recursos existentes, como também a racionalizar aprocura de resposta às novas e futuras necessidades, dando

ainda resposta a uma necessidade, cada vezmais emergente na ocupação dos tempos li -vres e formação desportiva dos mais jovens.

Escolas em Lisboa e no PortoRecorde-se que, fruto de várias parcerias comclubes desportivos e outras entidades, estão jáem funcionamento nos Parques Desportivosda Fundação, em Lisboa e no Porto, váriasescolas abertas às camadas mais jovens dapopulação.

Assim, no Parque de Jogos 1º de Maio, emLisboa, estão a funcionar escolas de atletismo,futebol, judo, taekwondo, basquetebol, bad-minton, rugby, natação e ténis. No Parque deJogos de Ramalde, no Porto, estão as escolas defutebol americano, rugby e karate.n

Inatel promovedesporto juvenilContribuir para a elevação do nível de oferta desportiva da INATEL, às crianças e jovens,apostando simultaneamente no rejuvenescimento do universo de associados é o objectivocentral do projecto “Escolas de Desporto”, uma iniciativa da Direcção Desportiva daFundação e que irá concretizar-se através de parcerias com os seus associados colectivos -Centros de Cultura e Desporto -, clubes, escolas ou outras entidades publicas e privadas.

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Paixões

Jorge MelícioO escultor de LisboaA cidade do Lobito, em Angola, foi a terra que o viu nascer. Desde os 7 anosa viver em Lisboa, por mais voltas que dê, Jorge Melício regressa sempre aesta sua cidade amada. Vive-a e sente-a como poucos. E também a tempovoado com alguns trabalhos em escultura, sobretudo.

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Cabelo cortado à escovinha, alturameã, olhar vivo ainda que discreto,assim se apresenta Jorge Melício nomeio dos seus trabalhos de pintura,de uma escultura hiper-realista e de

trabalhos de artistas seus amigos ou até seusdiscípulos, que ele também ensina. Nota-se quese sente à vontade com este cenário. Mas já lávamos.

Pela mão do avô…Não havia como fugir à arte nem nunca pensouem ser outra coisa. Ainda criança, a viver emterras africanas, depois das grandes chuvadasque alagavam as estradas, todas em barro, o quemais lhe dava prazer era pegar num pedaço debarro e começar a modelar. E as cores da cultu-ra africana ficaram como grande fascínio. Parasempre.

As férias eram sempre passadas em Lisboacom o do avô materno, numa casa decorada comobras de arte de pintores destacados e onde pon-tuavam cerâmicas de Bordallo -Pinheiro. Pelamão do avô Melício, homem muito ligado à cul-tura, percorreu todos os museus da cidade ecomeçou a frequentar a ópera no S. Carlos logoaos 8 anos. Mas também não se inibiam de entrarem armazéns de ferro-velho, para ver peças dearte antigas, ou percorrer a Feira da Ladra – zonapara onde há um ano mudou a residência e quetanta nostalgia lhe traz.

Na Escola de Artes António Arroio, sentiu-sepela primeira vez sintonizado com colegas e pro-fessores que tal como ele viviam e respiravamarte. Ali “havia uma intimidade muito grandeentre alunos e professores – estes eram todos artis-tas, o que por si só era um ensinamento vivo”.

Já nas Belas Artes, que também frequentou,as memórias não são tão positivas. Daí quetenha decidido começar a expor muito cedo eaos 20 anos conhece o êxito na primeira expo-sição individual, de colagens, apresentada noAlgarve. Recebeu os holofotes dos jornais e obom augúrio não mais o abandonou. “A partirdesse momento nunca mais parei”. Eram osanos do pós-25 de Abril e o país estava sedentode actividade cultural.

Acabada a licenciatura, ruma a Paris onde oamigo Cargaleiro o ajuda a encontrar um localpara expor. Vendeu a exposição toda e andou

meses a explorar a cidade e a região, a visitar osmuseus que tanto estudara mas não conhecia.

Observar o quotidiano Durante muito tempo esculpiu a pedra e fez res-tauros arquitectónicos mas há cerca de 15 anosaproximou-se da escultura hiper-realista e a ela setem dedicado, com peças expostas um pouco portodo o país, outras integradas em colecções demuseus e de particulares. As mais emblemáticasestão na capital: no Jardim Fernando Pessoa, juntoà Assembleia Municipal de Lisboa, encontra-se oconjunto de escultura em bronze “A família”, sãofiguras humanas à escala natural. Outra obra derelevo é a que está nas imediações da sede daCaixa Geral de Depósitos, em cerâmica e dedica-da à Rainha Santa Isabel. A mais conhecida detodas no entanto é a escultura em bronze “Mãecom bébé”, em que uma mãe africana amamentao filho. Noutro registo, o traço de Melício podeainda ser apreciado na Brasileira, ao Chiado, ofriso em tela que encima a porta de entrada é dasua autoria. O traço fino e sensível é tambémmarca de um trabalho constante em azulejaria.

Sempre de lápis e bloco na mão, não raro é vê-lo a traçar formas, volumes e sombras, para mais

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Paixões

tarde “poder vir a gerar algo que tenha volume-tria”. E para as fotografias o telemóvel também serevela um grande aliado – antes era uma peque-na Kodac que andava sempre no bolso: “O movi-mento e a forma de estar das pessoas é algo queme motiva sempre”. Observar o quotidiano, ovestuário, as feições, as posições, tudo lhe servede inspiração para as criações hiper-realistas, arteque reproduz o dia-a-dia das pessoas. Um dospróximos trabalhos vai ser apresentado noMuseu da Vidigueira, onde o conceito é o retratardas profissões, o que o torna um espaço de exal-tação ao hiper-realismo.

O prazer de ensinarE encanta-o a relação das pessoas com a sua pro-dução artística, “fico muito fascinado quandovejo jovens e crianças felizes a circularem à voltadas minhas esculturas que estão em jardinspúblicos; quando em jovem se brinca à volta deuma peça de escultura, mais tarde ficará de cer-teza sensibilizado para aquela forma de arte”. E éisso mesmo que Melício pretende com o trabalhoque faz, que “haja interacção e um abraçar entrehumanos e o objecto artístico”.

A formação artística é outra das vertentes deonde retira muita satisfação. Ensinou em várioslocais e ajudou a formar jovens artistas; tanto acolaborar com a autarquia lisboeta, como com umaUniversidade da Terceira Idade. Chegou mesmo ater um atelier de artes plásticas durante 17 anos.

Tem recebido convites para ir trabalhar para oBrasil – já deu aulas de arte nas favelas daRocinha e do Alemão, em colaboração com oMinistério da Cultura Brasileiro. Mas tem resisti-do. Não se imagina longe da cidade de Lisboa,que percorre diariamente a pé, tanto de dia comoà noite, numa média de 10km diários. “É umaforma de bem-estar na vida, de podermos olharos prédios de alto a baixo, apreciar peças arqui-tectónicas de diferentes épocas e de vários sécu-los, que são fascinantes”.

Quanto ao futuro, não perdeu a esperança deum dia montar uma escola de artes que funcione24 horas por dia para jovens marginais e sem-abrigo, seguindo o modelo do pedagogo inglêsA.S. Neel. Já apresentou o projecto à câmara lis-boeta, que o rejeitou. Mas Melício não desiste àprimeira e vai insistir nesse sonho. n

Manuela Garcia

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O EGIPTO é um desses países que todos desejamvisitar, nem que seja uma só vez na vida. E se aEsfinge e as pirâmides milenares continuam a ser oseu principal cartão-de-visita, é o Suez quem pagao quinhão principal da factura nacional. Cruzam-sediariamente nesse canal que une as águas do MarVermelho às do Mediterrâneo centenas de naviosestrangeiros, importantes contribuintes para a esta-bilidade do produto interno bruto desse país árabe.Mas o Egipto é também um milagre da produçãoagrícola, graças ao Nilo, um dos maiores e maisadmiráveis rios do planeta. Nas terras por ele fertil-izadas – uns meros 5 por cento do território total –concentra-se a esmagadora maioria da população.Duas cidades são obrigatórias, seja qual for a opção

de visita. O Cairo, a capital mundial dos mesquitas,ali mesmo ao lado do Sara oriental e das pirâmidesde Giza; e Alexandria, uma das antigas referênciasda cultura ocidental de matriz greco-romana. Delarecordamos o seu Farol, uma das sete maravilhas domundo antigo, e uma imensa biblioteca, destruídapor um devastador incêndio. Nesse mesmo localexiste hoje uma outra biblioteca, exemplo maior daarquitectura moderna com palavras de todos osidiomas gravadas em baixo-relevo nas paredesexteriores, sinal de uma diversidade e tolerânciaque nem sempre são tidas em conta, como o com-provam os recentes ataques aos cristãos coptasdessa cidade. n

Joaquim Magalhães de Castro (texto e fotos)

EgiptoO canal, as pirâmides e o Farol

Portfólio

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“Cruzam-se diariamentenesse canal que une aságuas do Mar Vermelho àsdo Mediterrâneo centenasde navios estrangeiros”

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“Existe hoje uma outrabiblioteca, exemplo maiorda arquitectura modernacom palavras de todos osidiomas gravadas embaixo-relevo nas paredesexteriores”

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Mesmo o que se convencionou designarde “economias emergentes” experi-mentou um abrandamento no ritmode expansão do nível de actividade

económica, sendo, ainda, de realçar que os fluxoscomerciais mundiais sofreram uma redução de11,2%, enquanto que os movimentos do factor pro-dutivo capital conheceram um decréscimo de 40,7%.

E, se é verdade que os fluxos de investimentonos países do “centro-desenvolvido” diminuíram45,4%, também não se apresentou menos verdadeque os fluxos de investimento das NovasEconomias Emergentes passaram por uma con-tracção de 35,5%.

Ronald Findlay já havia procurado demonstrarque o que era bom para o “centro” também pode-ria ser bom para a “periferia”, pondo em causa aanálise dicotómica convencional Norte-Sul2.

E, em boa verdade, as economias “periféricas”dificilmente poderão crescer se o conjunto das eco-nomias desenvolvidas sofrer uma contracção,diminuindo, simultaneamente, o investimento ori-ginário das mesmas.

E, também, não se apresenta fácil que venha aconstatar-se um crescimento significativo da econo-mia mundial com as economias do “centro” em crise.

Em 2010, os EUA iniciaram um processo derecuperação, graças à política de estímulo à redi-namização da economia americana (de inspiraçãoKeynesiana) levada a cabo pelo Federal Reserve epelo próprio Governo, recorrendo-se, inclusive, afortes injecções de liquidez no sistema financeiro e

a programas de investimento público geradores,aliás, de um elevado défice orçamental.

Mas, os EUA são uma União Económica eMonetária completa, em cujo espaço existe umacoordenação de políticas, para além de o FederalReserve poder comprar dívida pública no mercadoprimário, financiando directamente o Estado, emcaso de necessidade.

A admissibilidade de financiamento directo aoEstado por parte do Banco Central comportaalguns problemas, podendo, nomeadamente, gerarinflação, em caso de excesso de criação monetária.

Daí que não se trate de um mecanismo a quedeva recorrer-se com frequência.

Só que, em recessão, importa mais procurar ate-nuar o problema do desemprego, estimulando aprodução (e, por conseguinte, influenciando posi-tivamente as expectativas de evolução da procura)do que erigir o controle da inflação em preocu-pação cimeira (sobretudo, em economias em que,mesmo com injecções de moeda no sistema finan-ceiro, a inflação não ultrapassa os 1 ou 2%)3.

E, contrariamente, à tese defendida pelos mone-taristas como, por exemplo, Friedman e Phelps, ainjecção de moeda no sistema financeiro não terá,apenas, um impacto inflacionista, podendo produzirefeitos positivos no nível de actividade económica.

De facto, os monetaristas, partindo da equaçãoda troca e assumindo o pressuposto das expectati-vas racionais, entendiam que um aumento novolume de massa monetária em circulação só con-tribuiria para o aumento do nível de preços, nãotendo um impacto positivo na produção.

Contudo, autores como Mankiw, Romer eBlanchard, puseram – e bem – em causa essa teo-ria, explicando que existia viscosidade nos preçose rigidez nos salários.

Mas, se nos EUA tem havido alguma recupe-ração, graças à implementação de uma políticamonetária (e macroeconómica) consistente, já naU.E., em virtude de se terem registado hesitaçõesexcessivas na prestação de auxílio à Grécia – como,

Das perspectivas futuras da economao futuro da economia portuguesa …

É do conhecimento geral que aeconomia mundial sofreu umacontracção de 2,2%, em 2009, comuma redução do PIB da ordem dos5,2% no Japão, de cerca de 4% na“zona do Euro” e de,aproximadamente, 2,4% nos E.U.A1.

Tempo Global

AntónioRebelode Sousa

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omia mundial a …

aliás, refere Jacinto Nunes4 – registou-se uma evo-lução negativa, gerando-se uma situação, particu-larmente, crítica.

Do futuro da EuropaNão pertenço ao conjunto dos que pensam que aEuropa passará, no futuro, a Nova Periferia,enquanto que as Economias Emergentes (com des-taque para a China) passariam a NOVO CENTRO.

Os “Intermediate Countries” têm vindo a bene-ficiar de uma oferta excedentária de mão-de-obra,que permite a manutenção de baixos custos sala-riais, sendo, simultaneamente, certo que não estãoconfrontados com indivisibilidades tecnológicasque impeçam a obtenção de níveis de produtivida-de elevados.

Daí a sua competitividade externa.Todavia, como avisa Paul Krugman, a Lei dos

Rendimentos Marginais decrescentes vai, segura-mente, ser uma realidade, o efeito demonstração –imitação social contribuirá, ainda mais, parareforçar o aumento dos custos marginais de pro-dução, o IDE – Investimento Directo Estrangeironesses países está, em larga medida, dependentedas estratégias delineadas por empresas multina-cionais ocidentais, os modelos de desenvolvimentoadoptados têm, em muitos casos – como na China–, correspondido a modelos de industrialização enão de desenvolvimento sustentado e os exceden-tes (saldos líquidos externos) têm sido canalizadospara aplicações em mercados ocidentais, financian-do, inclusive, dívidas soberanas, criando, por con-seguinte, situações de interdependência.

A Europa, com níveis de produtividade eleva-dos, com um mercado endógeno exigente (com umperfil de procura comparativamente sofisticado) ecom uma mão-de-obra, altamente, qualificada,poderá desempenhar um papel da maior relevân-cia no contexto mundial.

Mas, para tal, tem que aprofundar a U.E.M., oque implica uma maior coordenação ao nível daspolíticas macroeconómicas e, por conseguinte, o

reforço das instituições supra-nacionais.A presente situação não pode manter-se, haven-

do mesmo o risco da implosão da “zona do euro”.A ideia de que a Alemanha não está interessada

na manutenção da actual “zona do euro” (quealguns autores preferem designar de “área doeuro”) não faz muito sentido.

Em boa verdade, tudo se passa, hoje em dia,como se, no mercado europeu, a Alemanha tivessea sua moeda subvalorizada, enquanto que a gene-ralidade das restantes economias teriam as respec-tivas moedas sobrevalorizadas.

Com a destruição da “zona euro” ou a saída daAlemanha da mesma, a generalidade dos parceiroscomerciais teria que desvalorizar as respectivasmoedas (em alguns casos 20 a 30%) ou, então, aAlemanha teria que apreciar, substancialmente, asua moeda, o que afectaria a competitividadeexterna das exportações alemãs.

E, mal ou bem, a maior parte das exportaçõesalemãs, ainda, tem como mercado de destino oeuropeu.

Por outro lado, a destruição da “zona euro”, comeventual regresso da Alemanha ao DM, levaria a quea moeda alemã passasse a funcionar como “moedade refúgio”, verificando-se um afluxo suplementarde capitais que iria pressionar, ainda mais, no senti-do da apreciação da referida moeda alemã.

O Ministro das Finanças da Alemanha já deveter compreendido qual o risco de um “cenário” dedestruição da “zona euro”.

Por outro lado, a concretização de políticas orça-mentais responsáveis (com redução dos défices eda Dívida acumulada) só produzirá efeitos positi-vos, a longo prazo, se fôr acompanhada de reformasestruturais, que permitam o aumento da competiti-vidade externa das economias que integram a U.E.

Ora, essas reformas estruturais só se apresen-tarão viáveis se, concomitantemente, forem cria-dos, ao nível da própria Europa, mecanismos quepossibilitem a sua implementação.

E quais serão, então, as mudanças necessáriasna Europa que poderão criar esses mecanismos,consolidando a UEM e possibilitando a inversãodo “ciclo da crise”?

A Europa precisa de um OrçamentoComunitário muito mais expressivo do que aquelecom que conta actualmente, da ordem dos 4 ou 5%do PIB agregado da U.E.

A Europa deveria dispor de um Fundo Comum

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de Emergência quatro ou cinco vezes maior do queaquele de que dispõe.

A Europa deveria aceitar a alteração das regrascomunitárias (e dos próprios Estatutos do BCE),por forma a ser possível ao Banco Central Europeufinanciar directamente os Estados Membros da“zona do euro”.

A parte de investimento público nacional dosprojectos de investimento comparticipados porfundos comunitários não deveria ser tida em linhade conta para efeitos do critério do défice, bemcomo para efeitos do critério da Dívida Pública.

Deveria haver, ainda, um reforço dos fundosestruturais europeus e das transferências para aseconomias mais carenciadas.

Seria, ainda, fundamental uma maior articu-lação e coordenação de políticas macroeconómi-cas, em geral, e de políticas monetárias, em parti-cular, criando-se condições para uma desvalori-zação significativa do euro em relação ao dólar.

E, finalmente, a Europa precisava de um verda-deiro Ministro da Economia e das Finanças.

Do futuro da economia portuguesa.Se nenhuma das transformações propostas forconcretizada, a economia portuguesa conheceráuma recessão – com um decréscimo do PIB entre1,5 e 2% em 2011.

Como é sabido5, a criação de emprego só existequando a taxa de crescimento do PIB se apresentasuperior à taxa de crescimento da produtividade, oque, no quadro de uma recessão, se apresenta, pra-ticamente, impossível.

E para a taxa de desemprego diminuir é, ainda,necessário que a taxa de crescimento do nível deemprego seja superior à taxa de crescimento dapopulação activa, o que, naturalmente, não seapresenta fácil.

O mais natural – e na linha da Lei de OKUN –será um aumento da taxa de desemprego paravalores que se aproximarão, no mínimo, dos 12%.

Num contexto tão desfavorável, não se apresen-tará fácil obter os objectivos pretendidos para odéfice orçamental, em 2011 e 2012, sem que novasmedidas sejam adoptadas.

Se, porventura, se vier a constatar que existemdificuldades suplementares no controle do déficeorçamental, então os juros da dívida soberanapoderão aumentar, ainda, mais, não sendo deexcluir uma intervenção comunitária (na compa -

nhia do FMI – Fundo Monetário Internacional), oque poderá contribuir para um afunilamento dascondições de desenvolvimento da economia por-tuguesa, gerando-se um ciclo de recessão – medi-das contraccionistas – agravamento da recessão.

Tal só poderia ser evitado graças a reformasestruturais profundas, na Justiça, como naEducação (e, de um modo geral, na AdministraçãoPública), o que, em meu entender, só seria possívelcom a introdução das transformações que já men-cionei na U.E.

Em qualquer caso, a esquerda democráticadeverá ter que rever, necessariamente, a sua con-cepção de intervenção do Estado na economia eem termos do que se convencionou designar deEstado Providência.

Mais importante do que a adopção de políticasde protecção do emprego, assentes na ideia de queaquilo que se apresenta progressista é a adopção deuma legislação orientada para a preservação doposto de trabalho, será, em meu entender, a adopçãode políticas de apoio à adaptabilidade / mobilidadedo trabalhador e à flexibilidade / mobilidade doinvestimento, como refere Teodora Cardoso6.

As empresas, no futuro, terão que apresentarestruturas flexíveis, com redução da componentecustos fixos.

E o mesmo deverá acontecer com aAdministração Pública, não se prescindindo, toda-via, de uma “rede de direitos sociais mínimos”assegurada pelo Estado aos Cidadãos, pré-con-dição da obtenção das condições propiciadoras deestabilidade social, estabilidade social essa indis-pensável ao progresso económico e ao desenvolvi-mento integral e sustentado. n

1 Economist Intelligence Unit.2 FINDLAY, Ronald – “The terms of Trade and equilibrium

growth in the World Economy”, The American Economic

Review, Vol. 70, Junho 1980, pags 291 a 299.3 A inflação em Novembro de 2010 era de 1,1% e a taxa de

inflação média anual nos EUA, entre 1914 e 2010, foi de 3,38%.4 NUNES, Jacinto – “A Crise Económica” – Anuário da

Economia Portuguesa – 2010, Ordem dos Economistas, 2010.5 Vide, a este propósito, DIAS, Mário Caldeira in “A crise

económica e o desemprego”, Anuário da Economia

Portuguesa – 2010, Ordem dos Economistas, 2010.6 CARDOSO, Teodora – “O endividamento, a economia e a

política”, “O Economista – Anuário da Economia

Portuguesa – 2010”, Ordem dos Economistas, 2010

Tempo Global

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Olho Vivo

Quente e frio

Quem é que acredita em aquecimento globaleste Inverno, numa Europa que treme de friocomo nunca tremeu? É um discurso poucocredível, concorde-se. Porém, o físico russoVladimir Petukov tem uma teoria para explicaro aparente paradoxo. Segundo o cientista,ambos os fenómenos estão ligados, porque oderretimento das calotes polares altera todo osistema de pressões na zona do pólo Norte egera um sistema de altas pressões que empurrao ar gelado para a Europa. A hipótese foi publicada pela Revista deInvestigação Geofísica e vai ser estudada pelos especialistas.

Hoje, não,querido

A revista Sciencepublicou em Janeiroprovas de que as lágrimashumanas incluem sinaisquímicos que afectam ocomportamento dasoutras pessoas. Naslágrimas de tristeza deuma mulher, porexemplo, pode-se ler amensagem "Hoje, não,meu querido". No decursoda experiência, homensque cheiraram lágrimasverdadeiras e recentes deuma mulher viram a suaexcitação sexual diminuir,ao contrário de outrosque cheiraram apenasuma solução salina quefoi passada pela pele dorosto da mesma mulher.O estudo foi realizadopelo Instituto deNeurobiologia Weizmann,em Israel.

De África a Israel

Restos de um HomoSapiens com o dobro daidade dos até agoraconhecidos, foramencontrados em Israel,numa gruta a leste deTelavive: oito dentesespalhados por camadas dacaverna datados de há 400mil anos. Os mais antigosfósseis de humanos têm200 mil anos e foramachados na África Oriental.As escavações prosseguem,em busca de maisvestígios.

Danças nupciais

Como muitos animais, o homem tambématrai mais uma fêmea da sua espécie se

executar uns bons passos de dança.Segundo cientistas da Universidade de

Northumbria em Newcastle Upon Tyne, asmulheres heterossexuais são mais atraídaspelos machos que fazem movimentosvariados da cabeça, pescoço e tronco emenos pelos que mexem muito as mãos e

os pés. Teoricamente, no início daevolução, um homem que fosse hábilnos movimentos do tronco, pescoço e

cabeça, seria melhor caçador com arco oulança, podendo assim contribuir mais

decididamente para o sustento da fêmea e crias.

Sem medos

Cientistas americanos da universidade de Iowa descobriram a zona docérebro que faz com que sintamos medo - uma região em forma deamêndoa chamada amígdala. A investigação pode contribuir para curardistúrbios como o stress pós-traumático. Uma mulher atingida por umadoença que lhe destruiu a amígdala manteve-se indiferente a todos osestímulos aterrorizadores a que foi exposta, incluindo alguns quepunham a sua vida em perigo. Para interpretar os resultados, osinvestigadores convidaram o cientista português António Damásio,professor de neurociências na Califórnia, que estuda as funções daamígdala há vários anos.

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António Costa Santos ( textos) André Letria ( i lustrações)

Cara a cara

Como é que sabemos instantaneamente que a carade um boneco não é humana, por muito perfeita queseja a imitação? O que torna uma cara viva? Umnovo estudo, publicado na revista Psychological

Science, explica que estamos programados paraidentificar rostos humanos até na face da Lua,

mas que "sabemos" quais são reais, quais sãoimitações, através do estudo dos olhos. Segundo oscientistas, fazemos essa análise imediata para poupar

energias, uma vez que só nos interessa sociabilizarcom rostos capazes de pensar, sentir e interagir

connosco, sem perder tempo a falar para o boneco.

Há mais um elefante

Novas provas genéticas estabelecem o que já se suspeitava: oselefantes da floresta africana são uma espécie distinta doelefante da savana. Cientistas americanos e ingleses queanalisaram o ADN dos elefantes africanos e dos extintosmamute e mastodonte confirmaram que as duasvariedades se separaram há uns 3 a 5milhões de anos eque o elefante dafloresta, maispequeno queo da savana,é tãodiferentedeste quantodo elefanteasiático ou domamute.

Ano Novo,Hominídeo Novo

Há um novo hominídeo nocatálogo da Ciência. Nemneandertal, nem homemmoderno, o indivíduo, comuns 30 a 50 mil anos, foidescoberto na gruta deDenisova na Sibéria, se bemque chamar-lhe indivíduopossa ser um exagero, dado sóterem sobrado dois pequenosfósseis do denisovensis.Especialistas em antropologiaevolutiva de Leipzig,Alemanha, analisaram o ADNde um osso da mão e de umdente, encontrados em 2008no local, e publicaram osresultados a 2 de Janeiro de2011, na revista Nature.

Bonecaspara macacos

Um primatólogo de Harvard,Richard Wrangham, estudou 68chimpanzés na floresta tropicaldo Uganda e verificou que asfêmeas jovens utilizavam pauscomo reproduções doscomportamentos que as suasmães tinham com as crias. Ospaus eram transportados àscostas, "embalados" e até"amamentados" pelas pequenaschimpanzés, levando a equipade Wrangham, que publicou oseu estudo em Janeiro narevista online Current Biology,a proclamar que, a exemplo dasmeninas, as macacas tambémbrincam com bonecas. Osjovens chimpanzés machos,entretanto, usavam os pauspara actividades pseudo-guerreiras e de exploração doterritório.

Temperatura ideal

Não é por acaso que a temperatura corporal dos mamíferos (edos humanos, claro) anda à volta dos 37 graus. Esse é o valorideal para nos proteger das infecções, que aumentariam setivéssemos um metabolismo mais frio, sem que tenhamos deestar sempre a comer para manter uma temperatura maiselevada. O equilíbrio perfeito entre custo e benefício foiestabelecido por cientistas do Instituto Albert Einstein, deYeshiva, nos 36,7 graus.

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«Oamieiro é uma árvore borracho-na», afirma o senhor Adão, deLalim (Lamego), na noite gélidaem que o fomos conhecer. «As

máscaras de Carnaval são feitas com a madeiradesta árvore porque é fácil de trabalhar e absorvea transpiração dos mascarados durante o corte-jo», explica ele, um dos mais talentosos esculto-res de caretos, destinados às celebrações doEntrudo, em Lazarim.

Mas o amieiro, “Alnus Glutinosa (L.) Gaert -ner”, espontâneo nas margens dos rios e terrashúmidas, bebendo a transpiração dos foliões nãoserve apenas a desordem consentida doCarnaval, durante séculos, ajudou as gentes do

A embriaguez da água

Protagonista da história do calçadode pau, o amieiro é a árvore dos riosque melhor entende o Carnaval.

A Casa na árvore

Susana Neves

Fotos: Susana Neves

Norte a andar, trabalhar e folgar de pés secos.Citamos alguns versos do século XVIII: «Homemde Entre Douro e Minho/Calça de pau e vestelinho,/Bebe vinho de enforcado,/Traz o porcoescangado,/Foge dele como do diabo.» E é nova-mente o nosso interlocutor quem especifica:«Usavam-se tamancos feitos de amieiro, eramleves, e absorvendo a água nunca se andava comos pés molhados».

Protagonista na história do calçado de pauportuguês, esta árvore alta e austera, que podealcançar 120 anos, já não alimenta a produçãodos outrora proeminentes pauzeiros, tamanquei-ros ou soqueiros do Norte (na freguesia deVermoim, Vila Nova de Famalicão, foi erigidauma estátua em homenagem aos tamanqueiros)— profissões hoje praticamente desaparecidas.

«Há 30 ou 40 anos havia mais de 10 ou 15soqueiros. Um dos últimos, o senhor TomásBorges faleceu há pouco tempo, há ainda outroartesão em São Cipriano, também idoso...» contaAntónio Branquinho, Presidente do GrupoFolclórico e Etnográfico de São Pedro de Paus,cujos elementos dançam com socos e tamancosde amieiro.

A ligação desta “Betulaceae” à história doandar não é, no entanto, exclusivamente portu-guesa. Na Itália, desde o século XVI, por reco-mendação do médico botânico Pietro AndreaMattioli, introduziam-se no interior dos sapatos,como uma espécie de palmilha, folhas de amiei-ro frescas, uma solução para relaxar os pésdurante a marcha. Nos Alpes, era habitual oscamponeses forrarem as sacas com folhas deamieiro aquecidas, para curar o reumatismo.

Sedento de água, capaz de suster as terras nasmargens dos rios (no Douro, as árvores junto aorio eram cortadas antes das enchentes deInverno) ou secar os pântanos, incorruptível emuito sólido, uma vez submersos os seus tron-cos, o amieiro desempenhou ainda um papel cru-cial na história da arquitectura. De facto, a este“Rei das Águas” se deve a elevação por estacaria,de Rialto, a mais antiga ponte em arco de Veneza,bem como os fundamentos de algumas catedraismedievas.

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Diríamos assim que a vocação primeiradesta “árvore dos druidas”, enaltecida pelasmitologias irlandesa e britânica, é constituir-secomo base sólida, infra-estrutura a partir daqual é possível edificar. Uma outra particulari-dade confirma-o: ao estabelecer uma relaçãosimbiótica com uma minúscula bactéria emforma de cogumelo (“Actinomyces alni”), que sedesenvolve nas suas raízes, o amieiro conseguefixar grandes quantidades de azoto, enrique-cendo os solos.

A este conjunto de virtudes junta-se a belezada sua dupla floração que ocorre ao longo deFevereiro e Março, quando sem folhas, exibecachos de flores brancas pendentes (masculinas)e pequenas pinhas vermelhas aveludadas (inflo-rescências femininas) que em Outubro eNovembro se tornam lenhosas, abrem e libertamum pequenino fruto achatado e alado.

Perante tantas maravilhas surpreende ver noamieiro uma árvore “inquietante” ou “maléfica”,conforme o enunciam Andrée Corvol e JacquesBrosse, conceituados investigadores da mitologiade árvores. Segundo estes autores, a explicaçãoreside na singularidade do amieiro sobreviver emlugares, como os pântanos, perigosos ao Homeme inóspitos a outras espécies arbóreas; não pro-duzir fumo ao arder (útil ao fabrico de carnesfumadas); crescer rapidamente beneficiando daspodas, apresentar um aspecto espectral noInverno e libertar seiva da cor do sangue quandoé cortado.

Durante algum tempo, na Europa, foi proibidocortar amieiros. Dizia-se que a árvore começava afalar, um pouco como a cabeça decepada dogigante Bran, da mitologia celta. Mas pior do queisso, temia-se que por vingança da própria árvo-re, a casa do responsável pelo seu abate fosseincendiada.

No fundo, cada amieiro era visto como umapessoa, um descendente do primeiro homemsobre a Terra, cujo corpo, para algumas culturas,entre elas a irlandesa, era feito de madeira deamieiro. Uma hipótese, porventura, mais interes-sante do que descendermos de um Adão debarro. n

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Amieiros na praia fluvial de Mondim daBeira, Tarouca. Gravura: Alnus Glutinosa, Gaertner,Otto Wilhelm, 1885

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l CONSUMO Em Maio, os consumidores vão poder debater os problemase desafios da nova década e a melhor forma de os enfrentar. Pág. 58 l LIVROABERTO Destaque para “Uma História dos Milagres-da Idade Média aosNossos Dias”, de Joachim Bouflet, uma obra fascinante sobre essesmomentos de mistério e revelação. Pág. 60 l ARTES O grande acontecimentocultural português de relevo actual é a exposição “As Áfricas de PanchoGuedes”, no Mercado de Santa Clara, em Lisboa. Pág. 62 l MÚSICAS Marizaregressa ao mercado discográfico com o CD “Fado Tradicional”, outronotável trabalho de uma das mais destacadas intérpretes da nova vaga dofado. Pág. 64 l NO PALCO Duas estreias em foco em salas da capital: “AzulLonge nas Colinas”, de Dennis Potter, no TNDMII, e “Otelo”, deShakespear, no Trindade. Pág. 66 l CINEMA EM CASA “A Consagração”,

conjunto de cinco obras do grande realizadorchileno Raul Ruiz, é uma das novidades nasescolhas de Fevereiro. Pág. 68 l GRANDE ECRÓAnother Year”, de Mike Leigh, fala-nos doenvelhecimento e a solidão, do amor vivo pela vida

e do modo como as relações em família e a amizade podem ajudar aenfrentar dificuldades… Pág. 69 l TEMPO INFORMÁTICO Algumas dasnovidades do Consumer Electronic Show 2011, de Las Vegas, queapresentou 20 mil produtos inovadores de 2700 empresas. Pág. 70 l AOVOLANTE A Auris inclui agora a motorização Hybrid Synergy Drive, oprimeiro automóvel do seu segmento a oferecer uma experiência decondução híbrida. Pág. 71 l SAÚDE Se na Primavera ou no Outono, ou napresença de pó de qualquer origem, sofre de crises de espirrossucessivos… Então, deve sofrer de rinite. Pág. 72 l PALAVRAS DA LEI Regrageral, os condóminos que habitem um rés-do-chão não comparticipam nasdespesas de conservação de um elevador… Pág. 73

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Boavida|Consumo

O futuro é amanhã

Carlos Barbosa de Oliveira

Subordinado ao tema "Reforçar os poderes dosconsumidores de amanhã", realiza-se em Maio,em Hong-Kong, o Congresso Mundial dasAssociações de Consumidores. Para além das

organizações de consumidores, estarão presentes líderesde topo do Banco Mundial, Comissão Europeia,Organização Mundial de Saúde, representantes de empre-sas multinacionais, da indústria e membros do governo dediversos países, o que constituirá uma oportunidade paraum debate vivo entre as organizações de consumidores eestas entidades.

É a segunda vez que o Congresso da CI se realiza emHong - Kong - a primeira foi em 1991- e, nestes 20 anos,as preocupações dos consumidores alteraram-se profunda-mente, sendo de esperar que as organizações de consumi-dores não deixem de fazer um cotejo entre as questõessuscitadas na altura e aquelas que agora centram as suasatenções.

Há 20 anos ainda eram muito ténues os problemas sus-citados pelo desenvolvimento tecnológico, a economiadigital era apenas analisada numa perspectiva futurista, aResponsabilidade Social das Empresas era perspectivadanum modelo muito mais restrito, o consumo ético eraapenas uma preocupação subjacente às relações comerci-ais e o consumo sustentável era encarado como umaresponsabilidade quase exclusiva das empresas e dosmercados, sendo ainda ténues as perspectivas de co-responsabilização dos consumidores, resultante dos seuscomportamentos face ao consumo.

A segurança alimentar era, no entanto, um dos proble-mas que já preocupava as organizações de consumidores.A doença das vacas loucas e as dioxinas estiveram no cen-tro da discussão.

Hoje, as questões alimentares não se colocam apenas aonível da segurança e qualidade. Têm também a ver com omodo de produção sustentável e a necessidade de abaste-cer uma população em constante crescimento. Se em 1991nascia o bebe 5 mil milhões, duas décadas mais tarde apopulação da Terra já ultrapassou os 7 biliões, o que colo-ca problemas intrincados no concernente à alimentação da

Em Maio, depois de Davos e do Fórum Social Mundial, os consumidores vão poder debater cominstituições como o Banco Mundial, os problemas e desafios que se lhes colocam durante os primeirosanos desta década e a melhor forma de os enfrentar.

população mundial. Daí a importância de saber comopoderão os consumidores responder aos desafios alimenta-res do século XXI, que passarão inquestionavelmentepelas garantias de segurança e higiene em toda a cadeiaalimentar. Os organismos geneticamente modificados(OGM), os produtos transgénicos, são hoje uma preocu-pação generalizada.

Curiosamente, o Congresso da CI em 1991 realizou-senuma época em que a Europa de Leste vivia uma autênti-ca revolução em matéria de padrões de consumo, resul-tante da transformação das economias dos países daregião, depois da queda do muro de Berlim. O desmoronardo império soviético escancarou as portas à InternacionalConsumista que, de Mc Donalds e Coca - Cola em riste,desaguou na Praça Vermelha. Por essa altura, os problemasdos países do Leste Europeu estiveram no centro dasatenções dos participantes que ouviam, pasmados, os

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relatos dos delegados de países como a Polónia e aHungria: fábricas a fechar todos os dias, aumentogalopante do desemprego, miséria a alastrar, vendedoresambulantes exibindo nas ruas réplicas dos mais cobiçadosprodutos ocidentais, "made in Taiwan".

Duas décadas depois, a Europa enfrenta uma criseeconómica e financeira que, eventualmente, a poderá colo-car no centro das atenções em Hong- Kong, precisamentepor causa de problemas que, há duas décadas, apenas pre-ocupavam o Leste europeu.

Em 1991, o comércio electrónico, o consumo respon-sável, o consumo ético, a ebulição dos mercados finan-ceiros, ou o conceito de consumidor cidadão, temas cen-trais do Congresso de Maio, estiveram ausentes da dis-cussão porque… eram temas que não se colocavam, poisestavam numa fase embrionária de desenvolvimento. Era,no entanto, já bem perceptível que a emergência daseconomias asiáticas (os então denominados tigres) iria serdeterminante para uma nova abordagem das questões doconsumo à escala global.

Duas décadas depois, o acelerado desenvolvimento dos

países do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) a que sejunta ainda de forma lenta, mas progressiva, a África doSul, torna a análise da temática do consumo mais global,universalizando algumas questões do consumo, que há 20anos eram apenas preocupações dos países ocidentais.

Ser consumidor consciente em 1991 era, essencial-mente, estar atento às armadilhas do mercado, numa pers -pectiva local, pautada pelas regras de cada país ou região.Após a Cimeira do Rio de Janeiro, em 1992, na sequênciada aprovação da Agenda 21, o conceito de consumidorconsciente tornou-se mais abrangente e global, passando aestar intimamente relacionado com questões de cidadania.Foi a nova abordagem do consumo inscrita na Agenda 21que suscitou questões relacionadas com a responsabili-dade do consumidor e despertou a atenção das organiza-ções de consumidores para a problemática do consumoético, do consumo sustentável e responsável, ou para ocomércio justo. Temas que não sendo novos, eram apenasdiscutidos no seio das cooperativas de consumidores e poralguns consumerólogos interessados na análise sociológicada sociedade de consumo. n

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Boavida|Livro Aberto

Milagres, mistérios e o prazerde viajar e comer

sempre um prazer relê-lo, nunca deixando o poeta de serum inesquecível cronista do real circundante, e o cronistaum poeta que alimentou a sua obra com uma sensível,apurada e sôfrega observação da realidade. Por isso se

destaca a reedição pela D. Quixote dovolume quinto da obra “Dias Comuns”,com o título “Continuação do Sol”.Página a página reencontramos o poetaque vale sempre a pena voltar a ler,porque a obra dos grandes poetas nãoestá refém de épocas nem de ciclos degosto.

“UMA HISTÓRIA DOS MILAGRES – daIdade Média aos Nossos Dias”(Teorema),de Joachim Bouflet, é uma obra fasci-nante sobre esses momentos de mistérioe revelação a que convencionou chamar-se milagres e que estão na origem de tan-tas controvérsias históricas e religiosas,desde Fátima ao fenómeno dos estigmati-zados. Exigente na forma os analisa e va -

lida (ou não), a Igreja Católica tem feitoassentar na galeria dos grandes milagres uma boa parte dacapacidade de manter a fé dos seus crentes. É difícilexplicar e entender os milagres fora da moldura espiritualda fé individual e colectiva. Eça de Queirós escreveu um“Dicionário de Milagres”, fazendo dele um brilhante exer-cício literário. Este livro, escrito por um especialista notema e autor de biografias de grandes crentes, fornece aoleitor pistas para melhor conhecer o fenómeno ao longodos séculos, sem sugerir que a sua aceitação se sobrepo -nha ao exercício do livre arbítrio individual.

GONÇALO CADILHE é já hoje uma referência obrigatória naliteratura de viagens em Portugal. Os seus livros e progra-mas de televisão mostram que existe nesta prática umsaber muito especial que deve ter uma forma própria paraser transmitido e partilhado. Tenha-se presente a forma

José Jorge Letria

OCanal História, de que muitos leitores sãoutentes regulares e apaixonados, dedicou umasérie de documentários aosGrandes Mistérios da

História, de que resultou um livro comos mesmo título agora publicado peloClube do Autor.

Abarcando vários temas e épocas, olivro, obra colectiva que contou com acolaboração de competentes histori-adores e jornalistas, o livro fala sobreos Templários, sobre Stonehenge, sobreo Santo Sudário, sobre o naufrágio etentativas de resgate do “Titanic”, sobreas ligações dos nazis ao ocultismo esobre a busca do El Dorado, entremuitos outros mistérios para os quaissó a imaginação humana poderá terencontrado solução e resposta, mas nodomínio da pura efabulação, da especu-lação e da sua capacidade de criar e alimentar mitos. Maisde 400 páginas de leitura apaixonante e problematizadora.

Com a mesma chancela estão no mercado os primeirostítulos da colecção “Os Livros da Minha Vida”, em quepersonalidades da vida cultural e política, entre outras,sugerem títulos de referência obrigatória numa bibliotecaque queira ter pelo menos o essencial. “A Ilha do Tesouso”,de Robert Luís Stevenson, foi a escolha de Miguel SousaTavares, e “O Corsário Negro”, de Emílio Salgari, a opçãodo ex-ministro da Educação e actual administrador daGulbenkian Eduardo Marçal Grilo. E outros se seguirão.

José Gomes Ferreira, nascido em 1900 e falecido em1984, foi um dos grandes poetas portugueses do séculoXX, mas, para além disso, um notável memorialista, queregistou em páginas inesquecíveis o seu olhar sobre o quo-tidiano, sobre a vida da cidade de Lisboa, sobre a suarelação sobre a escrita e da sua escrita com o mundo. É

Para além da objectividade dos historiadores, subsistem, ao longo dos séculos e milénio, mistérios paraos quais mesmo a investigação mais apurada não conseguiu encontrar resposta.

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como tem falado e escrito sobre as viagens de Fernão deMagalhães ou Fernão Mendes Pinto e perceber-se-á queisto de falar de países, pessoas e errâncias corresponde auma arte.

Por isso é tão interessante e útil aleitura do livro “O Mundo É fácil-Aprenda a Viajar com Gonçalo Cadilhe”(Oficina do Livro), no qual o autor-via-jante sistematiza aquilo que aprendeu aolongo de muitos anos de andanças porvários continentes, dando conselhosúteis aos leitores e apostando no apare -cimento de novas viajantes, num paísonde a resposta maus frequente a qual-quer pessoa, na televisão ou em inquéri-tos para fins estatísticos, costuma ser: “oque eu mais desejo é viajar”. Esses sãoos leitores naturais de quem sabe muitosobre o tema, como é, reconhecida-mente, o caso de Gonçalo Cadilhe.

Da mesma editora é o belo livro-objecto “PortugalRevisitado” , do “chef” Chakall, que nos propõe um exce-lente roteiro de viagem pelos pratos de referência danossa cultura gastronómica. Um livro que dá gosto ter e

ler e que, às vezes, até apetece comer, detão aliciantes que são os textos e as fotos.Numa época em que a gastronomia e osseus “chefs” estão na moda, transformadosem verdadeiras vedetas mediáticas, este éum livro que dá gosto ler e ver.

“Top Service – Servir Bem é a Chave doSucesso” (Academia do Livro), de CarlaCarvalho Dias, consultora e “coach” empre-sarial é um livro que tem como propósitoensinar quem tem profissões em que seprestam serviços num contexto empresariala actuar com eficiência, mas também comprazer e resultados palpáveis. O prefácio éde Nicolau Santos, director-adjunto do“Expresso”. n

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Boavida|Artes

ANOS 80", que este conhecido criador mostra na suaGaleria, a Novo Século, Lisboa, um caso paradigmático nomercado de arte em Portugal pela sua perseverança e pro-gramação peculiar, um caso sério de independência.

Segundo o crítico José Sousa Machado, "Nestas telas, o

Rodrigues Vaz

Organizada pela Câmara Municipal de Lisboa /Gabinete Lisboa Encruzilhada de Mundos, ecomissariada por Alexandre Pomar e RuiMateus Pereira, esta exposição reúne cerca de

500 obras da colecção de arte africana do grande arquitec-to português Amâncio (Pancho) Guedes, e vai estarpatente até ao próximo dia 8 de Março.

É uma exposição notável; pela qualidade do acervo,pela "metodologia" se assim se pode chamar à reuniãofeita por Pancho Guedes de uma Colecção de Arte feita aoarrepio das correntes estéticas da época, e pelo estudolaborioso feito pelos curadores - Alexandre Pomar e RuiMateus Pereira.

As chamadas artes plásticas, a arte popular e o arte-sanato, os objectos tradicionais com destino ritual ou deuso quotidiano coexistem nesta colecção, reunida aolongo de uma intensa vida profissional passa-da em Moçambique e na África do Sul, comdestaque especial para um grande núcleo for-mado pelas obras iniciais de Malangatana.

Classificado normalmente como arquitectoe artista plástico modernista, embora nos últi-mos anos se fale dele como um pós-moderno20 anos antes de o termo ser inventado,Amâncio d'Alpoim Miranda Guedes, de seunome completo, absorveu muitas influências,pela sua grande imaginação visual, desde aarte de África ao surrealismo, e sintetiza-asnum estilo que é reconhecivelmente seu.Actualmente continua bastante activo, traba -lhando em Portugal, inventando novos edifí-cios, esculturas e pinturas, numa altura em que completa85 anos de vida.

CARLOS BARROCO MOSTRA PINTURAS DOS ANOS 80

Digno de realce no actual panorama das artes visuais étambém a exposição "CARLOS BARROCO PINTURAS

As Áfricas de Pancho Guedes: uma exposição notável O grande acontecimento cultural português de relevo actual é a exposição "As Áfricas de PanchoGuedes", no Mercado de Santa Clara, novo espaço cultural que a Câmara de Lisboa abriu na capitalportuguesa, mais concretamente em plena Feira da Ladra.

Em cima: O períodoinicial de Malangatanaocupa um lugarespecial na exposiçãoapresentada porPancho Guedes. Aolado, um trabalho deCarlos Barroco

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mundanismo, a noite inoportuna e amoda convivem plenamente com aexpressão intimista da soi-disant "alma"lusitana; a figuração ingénua, os tonsaguados, a abundância de referênciasplásticas são o sinal claro das possibili-dades infinitas que esta época nos ofe -rece."

Conhecido estudioso do mundo dosbrinquedos infantis, especialmente osafricanos, onde o que interessa é aengenhosidade e não a qualidade dosmateriais, Carlos Barroco revela-se fiel aeste legado com uma escrita muito pró -xima da chamada "Arte Povera", que procura na singelezae no quotidiano os seus motivos principais de inspiração

TERESA MENDONÇA NA MAC

Merece ainda atenção a exposição que Teresa Mendonçatem patente até ao dia 25 na Galeria MAC - Movimento de

Arte Contemporânea, sob o títuloFragmentos e Lugares na Paisagem.

Como assinala Zeferino Silva, direc-tor das Galeria, "a sua linguagem plás-tica é marcada pela originalidadeatravés de um jogo de alusões, ocul-tações e associações aparentementesem nexo, que apela à experiênciaexistencial do observador, arrastando-opara desafios que deseja enfrentar,como se fizesse parte desse mundo aliproposto."

As suas telas mostram realmenteexercícios de criação cromática, dos

quais uns derivam de sistemas de aprendizagem e outrosdo próprio comportamento emocional da artista com apintura, verdadeiramente demonstrativo do empenho, doensaio e da vontade com que Teresa Mendonça enfrenta aintimidade do espaço, da cor e da luz, na ânsia de repen-sar a arte e o refazer artístico. n

Tela de Teresa Mendonça

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Mariza acaba de regressar ao mercado discográfico com o CD “Fado Tradicional”. Mais um trabalhonotável de uma das mais destacadas cantoras da nova vaga do fado.

Vítor Ribeiro

Figura central no movi-mento espontâneo dejovens cantores que hácerca de duas décadas

ousaram “descobrir” o fado,Mariza alcançou entretantoestatuto de relevo, quer emPortugal, quer no estrangeiro.

A par de muitos outros fadistassurgidos em tempos e de modosdiferentes (Camané, AldinaDuarte, Joana Amendoeira, RaquelTavares, Ricardo Ribeiro,Carminho…), Mariza foi inovandona forma e no conteúdo, semrecusar o passado.

O álbum “Fado Tradicional”aparece 20 anos depois do discode estreia de Mariza (“Fado emMim”, 1991) e com ele a cantorareafirma a respeito e lealdade aos“princípios” matriciais que aenformaram.

A propósito deste novo traba -lho discográfico, o musicólogo RuiVieira Nery, com clarividência erigor, escreveu: “Mariza regressaaqui às próprias raízes do Fado“clássico”, mergulhando por com-pleto nas tradições mais autênticas e mais consagradas pelotempo de um género de que é hoje um expoente consagra-do”.

E conclui: “Mas ao mesmo tempo continua atenta auma nova geração de jovens compositores como SérgioDâmaso, e estimula os seus acompanhadores a apoiá-lanesta viagem como um suporte instrumental assumida-mente contemporâneo e por vezes ousadamente experi-mental. Mais uma vez oferece-nos a sua mistura tão espe-cial do velho e do novo, mas sempre só o melhor”.

Eis-nos então perante 12 temas, de entre os quais desta-camos “Fado Vianinha” (Francisco Viana); “Promete, Jura”,

Mariza: o regresso às origens

Boavida|Músicas

Fado Sérgio, (Maria JoãoDâmaso/Sérgio Dâmaso); “DonaRosa”, Fado Bailarico, (FernandoPessoa/ Alfredo Marceneiro); “AiEsta Pena de Mim”, Fado ZéAntónio, (Amália Rodrigues/ JoséAntónio Guimarães Serôdio) e“Boa Noite Solidão”, Fado CarlosDa Maia, (Jorge Fernando).

“Fado Tradicional” estádisponível nas seguintes modali-dades: “Edição Standard” – CDcom 12 fados; “Edição Especial” –CD com 12 fados + 2 fados extrae “Edição Digital”.

Em todos os casos, é muitobom ouvir Mariza.

“GUERRA” DOS THIRTY

SECONDS TO MARS

“This is War - Delux” é o títulogenérico do mais recente trabalhodiscográfico do grupo norte-americano Thirty Seconds toMars.

Nesta edição revista e aumen-tada e na qual se integra umDVD, além de canções daprimeira, encontram-se temasextra como “Hurricane 2.0, emque a banda conta com a partici-

pação de Kanye West, versões ao vivo de “Bad Romance”de Lady Gaga e de “Stronger”, igualmente de Kanye West.

“SCRIPT”, “SUM 41” E KATY PERRY EM LISBOA

Os irlandeses “The Scrip” efectuam um concerto noColiseu de Lisboa, dia 14 de Fevereiro, pelas 21h00.

Também no Coliseu de Lisboa, dia 17 de Fevereiro,apresentam-se os canadianos “Sum 41”, a partir das21h00.

Finalmente, no âmbito da California Dreams Tour, KatyPerry efectua um único espectáculo no Campo Pequeno,em Lisboa, dia 20 de Fevereiro, pelas 20h00. n

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Boavida|No Palco

Crescer… mas devagarA razão de não se querer crescer depressa é explicada em “Azul Longe nas Colinas”, de Dennis Potter, umaencenação de Beatriz Batarda, com estreia a 10 de Fevereiro, na Sala Estúdio do Teatro Nacional D. Maria II.

Maria Mesquita

São sete amigos com sete anos. Tolos, inocentes,crianças, infantis, brincam num parque pertoda vila onde moram. Querem imitar o “mundodos adultos” onde, aparentemente, tudo é pos-

sível e perdoável. Não existem castigos (pelo menos nãoficam no quarto sem jantar ou sem poderem ir brincarpara rua), não existem regras e, os sete amigos queremviver essa vida.

A partir da história de Dennis Potter, um dos mais bri -lhantes dramaturgos britânicos, Beatriz Batarda encenaaquele que poderá ser um dos mais comoventes e brutaistextos contemporâneos. Onde se pode considerar umacerta frivolidade, um desapego e se calhar uma históriadesprovida da introspecção necessária para a tornar, quiçá,num texto completo, existe sim a simplicidade que é óbviae que se espera das crianças, mesmo que estas tomemcomportamentos desviantes, se tornem más. São criançase, aos olhos das crianças (quase) nunca existe maldade.

Talvez um das características que mais se destacam destapeça seja o facto de as personagens serem interpretadas poradultos, o que torna todo o cenário ainda mais dantesco. Asbrincadeiras adultas (brincam às guerras, aos pais e àsmães, à caça ao esquilo, aos enfermeiros, etc.) tornam as cri-anças adultas na forma, mas não no conteúdo e quandoatingem o limiar do perigo, poderá ser tarde de mais. FICHA TÉCNICA: De: Dennis Potter; Tradução: Daniel Jonas;

Encenação: Beatriz Batarda; Cenografia e figurinos: Cristina

Reis; Desenho de luz: Nuno Meira; Música: Bernardo Sassetti;

Com: Albano Jerónimo, Bruno Nogueira, Dinarte Branco, Elsa

Oliveira, Francisco Nascimento, Luísa Cruz, Nuno Nunes; Um

projecto: Arena Ensemble: Co-produção: TNDMII, TNSJ,

Culturproject, Centro das Artes – Casa das Mudas.

“Otelo” no Trindade“Otelo”, para ver até dia 27 de Fevereiro no Teatro daTrindade. Uma história de traição, ciúme, desconfiança.Uma história de humanos, demasiadamente humanos…

A história de Otelo podia ser a de um homem qualquer.Calhou a ele, de origem árabe, general em Veneza, amigodo seu amigo, apaixonar-se por uma mulher mais nova,bonita, de um estrato social superior. Um amor felizmente

correspondido que em pouco tempo se tornou insuportá -vel graças à intromissão de outras pessoas. Onde a invejaanda, espalha a semente do mal, pois não há coisa pior doque sermos invejados ou invejar alguém…

Otelo é, assim, um homem colocado à prova, no maisbásico de todos os sentimentos humanos que é o ciúme.Convencem-no de que o seu melhor amigo, Cássio, temum romance com a sua mulher Desdêmona, Otelo trans-forma-se, revolta-se e inicia a sua vingança.

FICHA TÉCNICA: Autor: W. Shakespeare; Tradução: Manuel

Resende; Encenação: Kuniaki Ida; Interpretação: António

Capelo, Rita Lello, João Paulo Costa, António Júlio, João Melo,

Ângela Marques, Fernando Soares, Rute Miranda, Jorge

Loureiro, Elóy Monteiro, Pedro Fiúza, José Moreira; Figurinos:

Cristina Costa; Cenografia: Cristóvão Neto; Iluminação: José

Carlos Gomes; Sonoplastia: José Prata; Produção: Pedro

Aparício, Glória Cheio, Gabriela Poças; Produção: ACE |

Teatro do Bolhão

Angel CityEm cena, na Barraca, até 27 de Fevereiro, “Angel City”, deSam Shepard, questiona, de forma divertida, a estratégiadas grandes produtoras cinematográficas, apostadas sobre-tudo em grandes êxitos de bilheteiras, em detrimento devalores mais altos que os meramente financeiros.

Quantas vezes não ouvimos dizer que o que conta sãoos milhões de dólares facturados no fim-de-semana deestreia de determinado filme, ou vimos, no caso por-

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tuguês, o seu sucesso mede-se pelo número de especta-dores… A Rita Lello coube a direcção desta comédia ver-tiginosa onde três argumentistas são “obrigados” pelosexecutivos de uma grande produtora a criarem a obra-prima do êxito de bilheteira, acabando, ao longo do tempode clausura, por se transformarem noutra coisa que não oque são na realidade.

FICHA TÉCNICA: Texto: Sam Shepard; Direcção: Rita Lello;

Elenco: Paulo Curado, Pedro Borges, Ruben Garcia, Sérgio

Moras, Sérgio Moura Afonso, Vânia Naia; Música Original:

Paulo Curado (Sax) Ricardo Santos Pedro Freixo (Electro)

“Outra História de Encantar”Em cena até 28 de Fevereiro na Companhia Teatral doChiado, “Outra História de Encantar” é, acima de tudo, umacomédia sobre uma história um pouco diferente do que seespera dos contos de fadas. E promete ser hilariante.

Esperando-se, a partir do título a uma encenação compríncipes e princesas, num mundo de fantasia, castelos

encantados, florestas, animais mágicos, brumas e “viveramfelizes para sempre”, qual não é o espanto em saber que o“Era uma vez, há muito, muito tempo…” se passava nolongínquo ano de 1984. Ou seja, esta história de “encantar”desenrola-se nessa década (já considerada quase mundial-mente) mágica, onde as permanentes, os blusões de gangae os óculos RayBan eram donos e senhores. Podemos entãoimaginar um cenário onde as princesas têm um aspectoduvidoso, os príncipes deveriam calçar ténis Adidas, asbruxas teriam ainda pior aspecto que as princesas e todosdançavam ao som de sintetizadores.

Com a participação especial de Eládio Clímaco, RuiUnas e Jorge Mourato, e música de Toy, “Outra História deEncantar” é definitivamente, “outra” história a não perder.

FICHA TÉCNICA: De: Jorge Picoto; Interpretação: Cristina

Basílio, Eric Santos, Gonçalo Oliveira, Hugo Nevez, Inês

Oneto, Jorge Picoto, Mafalda Franco, Márcia Cardoso,

Mariana Rosário; Participação Especial: Eládio Clímaco, Jorge

Mourato, Rui Unas; Encenação: Mário Redondo; Direcção

Musical: Toy; Produção: Mole & Erre

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RAÚL RUIZ - A

CONSAGRAÇÃO

Autor de uma vasta e original

obra, Raúl Ruiz (1941, Puerto

Montt, Chile) iniciou a car-

reira artística pelo teatro de

vanguarda, entre

1956 e 1962. Em

1964 realiza a

curta-metragem

A Mala, seguida

de O Tango do

Viúvo (1967) e A

Volta (1968). A sua primeira

longa-metragem "Três Tristes

Tigres" (1968) indicia as qua -

lidades de um talentoso e ino-

vador cineasta que o golpe

militar de Pinochet (1973)

condenou ao exílio. Radicado

em Paris, dedicou-se quase

em exclusivo ao cinema, com

mais de uma centena de tra-

balhos para cinema e tele-

visão, merecendo o reconhe -

cimento da crítica e dos júris

dos mais diversos festivais,

como o recente prémio de

melhor realização do Festival

de San Sebastian para "Os

Mistérios de Lisboa", baseado

no romance de Camilo.

Nesta antologia de cinco

filmes, com produção de

Paulo Branco, podemos com-

provar a sua criatividade,

inspiração e ousadia em

películas como Três Vidas e

uma só Morte (1996);

Genealogias de um Crime

(1997); a monumental adap-

tação da obra de Marcel

Proust, O Tempo

Reencontrado (1999); Aquele

Dia (2003) e Klimt (2006).

TÍTULO ORIGINAL: Raúl Ruiz - A

Consagração; REALIZAÇÃO:

Raúl Ruiz; COM: Marcello

Mastroianni, Catherine

Deneuve, Michel Piccoli,

John Malkovich; França/GB,

528m, Cor, 1995/2006; EDIÇÃO:

Atalanta Filmes

A DANÇA

Um dos grandes aconteci-

mentos de 2010 foi a estreia

nas salas nacionais de A

Dança, o 36º documentário,

em mais de 40 anos de car-

reira, do mestre do cinema

documental

Frederick

Wiseman.

Seguindo o

seu método de

trabalho habi -

tual, o cineas-

ta norte-americano mergulha

no universo de uma das mais

importantes companhias de

Dança do Mundo: o ballet da

Ópera de Paris. Durante

várias semanas observa

ensaios, assiste a reuniões de

trabalho, filma o trabalho de

cada um dos elementos da

companhia - dos electricistas

e pintores aos gestores pas-

sando pelos bailarinos e téc-

nicos do espectáculo.

Tal como nos seus filmes

anteriores, o documentarista

norte-americano procura a

observação de uma determi-

nada instituição, das suas

rotinas, dos seus papéis bem

definidos para sobre ela cons -

truir um olhar próprio.

TÍTULO ORIGINAL: La Danse -

Le ballet de l'Opera de Paris;

REALIZADOR: Frederik

Wiseman; Documentário;

França/EUA, 159m, Cor, 2009

EDIÇÃO: Atalanta Filmes

A ORIGEM

Dom Cobb é um talentoso

ladrão que 'rou-

ba' segredos e

ideias às pes-

soas, directa-

mente das pro-

fundezas das

suas mentes, durante os so -

nhos. A rara habilidade de

Cobb fez dele uma das pessoas

mais influentes neste novo

mundo de espionagem empre-

sarial, mas também fez dele

um fugitivo internacional cus-

tando-lhe tudo o que já amara.

Dão-lhe, entretanto, uma opor-

tunidade para se redimir: um

derradeiro trabalho que

poderá devolver-lhe a sua anti-

ga vida…

Assinado por um dos mais ta -

lentosos valores da cine-

matografia actual, Christopher

Nolan - Memento (2000) e

Cavaleiro das Trevas (2008) -,

A Origem é uma viagem ao

mundo dos sonhos e do sub-

consciente. Com Di Caprio no

papel principal, encheu salas

em todo o Mundo no Verão

passado e é um forte candida-

to aos Óscares 2010.

TÍTULO ORIGINAL: Inception;

REALIZAÇÃO: Christopher

Nolan; COM: Leonardo di

Caprio, Marion Cottilard,

Ellen Paige, Joseph Gordon

Levitt; EUA/GB, 148m, cor,

2010; EDIÇÃO: Zon

Lusomundo

GREENBERG

Roger Greenberg, um solteiro

quarentão sem planos para os

próximos tempos, viaja para

Los Angeles para tomar conta

da casa e do cão do seu irmão.

Aí, reencontra velhos amigos,

incluindo um dos

membros da sua

ex-banda e uma

ex-namorada mas

conhece também

a assistente do seu

irmão, Florence, aspirante a

cantora. Retrato melancólico e

desencantado de uma raiz

geracional bem defi nida,

Greenberg é uma das re -

velações de 2010. Noah Baum -

bach, realizador e autor do

argumento, revelara já a sua

arte em A Lula e a Baleia

(2006).

TÍTULO ORIGINAL: Greenberg;

REALIZAÇÃO: Noah

Baumbach; COM: Ben Stiller,

Greta Gerwig, Jennifer Jason

Leigh, Rhys Ifans; EUA,

107m, cor, 2010; EDIÇÃO:

Castello Lopes Multimédia

Os regressos de Frederik Wiseman, mestre do cinema documental com um dos seus bons trabalhos, ADança, e de dois jovens e prestigiados cineastas: Christopher Nolan (A Origem) e Noah Baumbach(Greenberg) pautam, juntamente com a colecção de cinco filmes, A Consagração, do grande realizadorchileno Raul Ruiz as escolhas deste mês de Fevereiro. Sérgio Alves

Jovens e consagrados

Boavida|Cinema em Casa

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Boavida|Grande Ecrã

O tempo que passa

Joaquim Diabinho

Porque, se trata de um homem de fortes con-vicções estéticas e ideológicas que reflecte nasua obra (“Grandes Ambições”, acto sarcásticosobre o tatcherismo; “Nu”, fábula filosófica;

“Segredos e Mentiras”, sobre as angustiantes aspirações doamor e da afeição, que lhe valeu cinco nomeações para os“Óscares” e a Palma de Ouro em Cannes, em 1996; “VeraDarke” sobre o aborto) as grandes preocupações sobre afamília, o desemprego, os pais, as crianças, o sexo, a mortee a vida. O propósito de Leigh é levar o espectador adescobrir nessas histórias dramáticas e por vezes alegre-mente tristes e comoventes as razões e as circunstânciasque determinaram essas pessoas a serem como são.Instintivamente, como o declara o próprio cineasta, oespectador vai reconhecer-se nesse mundo dos perso -nagens e sentir-se como se fosse um qualquer deles.

Ora, o que é mais surpreendente no seu último filme,“Another Year” (“Um Ano Mais”) - que este mês chega aosecrãs portugueses - é a consagração dessa estratégia narra-tiva aliada a um forte poder visual. Trata-se de um impres-sivo drama centrado - ao longo das quatro estações do ano- na vida de um casal eternamente feliz no final da meia

idade que abre as portas da sua casa a um grupo suigeneris de amigos imersos em crises existenciais, carentesde afectos, desesperados entre alegrias e tristezas à procu-ra de momentos de equilíbrio e felicidade.Leigh que jogahabilmente com o simbolismo das cores (para assinalar otempo das estações) e que serve para acentuar também asvariações do estado de alma dos personagens, mantém, àmaneira de Jean Renoir seu mestre confesso, o olharcravado no desânimo e na esperança do humano, pelasua humanidade.

Filme sobre o envelhecimento e a solidão, do amorvivo pela vida, do modo como as relações em família e aamizade podem ajudar a enfrentar e superar dificuldades,“Another Year” vem reafirmar as qualidades superiores eimensas de um cineasta (para quem a arte cinematográfi-ca nunca morrerá!) que consagrou o seu trabalho a des -crever e amar os personagens que vivem, como diz, “dasaspirações profundas e da inexorabilidade angustiante dotempo que passa”. n

UM ANO MAIS / ANOTHER YEAR

de Mike Leigh (Grã-Bretanha, 2010 | 1h29)

com Jim Broadbent, Ruth Sheen, Peter Wight, etc.

(estreia prevista: 1 Fevereiro)

Não restam dúvidas de que Mike Leigh, sendo um atentíssimo retratista da realidade social britânica, setornou no mais ousado dos cineastas não apenas por transformar os seus filmes em reflexõesfilosóficas, cheias de ironia, sobre a complexidade humana mas também pelo seu estilo de perspicazobservador que usa a câmara como um bisturi para dissecar a vida microcósmica.

FEV 2011 | TempoLivre 69

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Boavida|Tempo Informático

A informática não páraApesar das dificuldades de todo o género que dominam a actualidade, esta tecnologia que se afirmacomo estando ao serviço do homem para o seu bem-estar não se deixa influenciar e surpreende-noscom os seus avanços. Já o dissemos no mês anterior e aqui estamos de novo.

da própria acção do que se passa no ecrã. Através de umabox adaptadora temos a TV. E preocupada com o ambi-ente a tecnologia EcoDisplay reduz a nossa pegada ambi-ental, usando materiais recicláveis e poupando energia. Ésó colocar os óculos incluídos e mergulhar na aventura.

A MICROSOFT não podia estar ausente e entre oque apresentou resolveu inovar com oprimeiro rato multi-toque. O TouchMouse permite clicar, passar o dedo,deslocar e tocar, em interacção com-pleta com o PC (Windows 7).Combina portanto as virtudes do rato coma linguagem universal do gesto. A partir de agora utilizamos1, 2 ou 3 dedos, maximizando, minimizando ou restaurandojanelas ou controlando páginas Web. E, muito importante,trabalha sobre qualquer superfície. Prevê-se que chegue porcá em breve. On-line na Amazon custa 80 dólares.

CLARO QUE A GUERRA dos tablets foi a mais notada. OiPad teve de encarar a enorme série de dispositivos. Desdea Samsung, Asus ou Toshiba às menos conhecidas MotionComputing ou Trade, só a Sony resolveu esperar por2012. A opinião geral é de que as pessoas passaram acompreender que um tablet pode ser o controlo remoto detudo na vida. A pequena tela sensível ao toque até já podecalcular a necessidade de refrigeração ou aquecimento deuma sala, usando as previsões do tempo fornecidas pelaNet. A Informática não pára e os Tablets avançam emtodas as frentes. Venha mais um. n

Gil Montalverne [email protected]

Omês de Janeiro assinala a maior feira desta tec-nologia que se realiza anualmente em LasVegas. A CES ou Consumer Electronic Show2011 apresentou 20.000 produtos inovadores

de 2700 empresas. As notícias foram nos chegando e aquidestacamos algumas. Entre os dispositivos multiusosvejamos a primeira câmara fotográfica do mundo queinclui um ecrã GPS e nos mostra num mapa a localizaçãodo utilizador a as fotografias captadas. A Casio Exilimhíbrida cria uma forma totalmente nova de planear, des-frutar e reviver as viagens pois tudo fica registado paramais tarde num mapa do Google Earth por exemplo,localizar com exactidão onde captaram as imagens. Jáchegou a Portugal com PVP de cerca de 300 Euros.

A TECNOLOGIA 3D é sem dúvida a mais fantástica tendên-cia deste ano. Tendo as emissões de TV, os filmes, os jogos,a fotografia e muitas outras aplicações a Acer resolve colo-car o primeiro monitor 3D no mundo com suporte de li -gação HDMI da NVIDIA para usufruir de todas essa ofertade possibilidades. O Full HD 3D projecta-nos para o meio

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Boavida|Ao Volante

Os novos AurisHíbrido e VersoA Toyota já colocou no mercado local os novosmodelos Auris Híbrido e Verso.

Carlos Blanco

Afamília Auris incluiagora a motorizaçãoHybrid Synergy Drive, oprimeiro automóvel do

seu segmento a oferecer umaexperiência de condução híbrida:suave, silenciosa e eficiente.Seguro, enérgico, com um comportamento competente eum conforto superior, o Auris Híbrido proporciona-nos umprazer de condução único.

O avançado sistema híbrido do Auris utiliza umainteligente combinação de dois motores eléctricos e ummotor de combustão. Esta fiável tecnologia híbrida é já uti-lizada por dois milhões de condutores Toyota em todo omundo.

O resultado é uma experiência de condução eficiente,silenciosa e sofisticada, melhorada pela suavidade eresposta da transmissão automática CVT.

O sistema híbrido sofisticado foi desenvolvido paraanalisar automaticamente as condições de condução e,consequentemente, decidir autonomamente quando uti-lizar os motores eléctricos ou a gasolina, utilizando umasuave transferência de potência entre as duas unidades.Tal permite máxima eficiência, potência optimizada eexcelente resposta em qualquer situação.

A bateria nunca necessitará de ser carregada manual-mente, uma vez que esta é recarregada automaticamenteatravés da travagem regenerativa ou por intermédio domotor de combustão.

Para além do modo de condução normal, pode-se esco -lher entre os modos EV, ECO e Power para usufruir aomáximo do Auris Híbrido:

- MODO EV para uma condução exclusivamente eléctrica,de elevada eficiência, zero emissões e extremamente silen-ciosa; MODO ECO para um equilíbrio entre eficiência e per-formance; MODO POWER para uma resposta mais rápida doacelerador.

FEV 2011 | TempoLivre 71

O novo Auris Híbrido é um inovador e completoautomóvel, cujo invejável nível de equipamento incluiluzes diurnas LED, botão de arranque, controlo deassistência ao arranque em subida, ar condicionadoautomático e jantes em liga leve. O seu preço entre nósronda o 25 mil euros.

No que respeita ao Verso, a versatilidade é, sem dúvi-da, a sua característica mais atractiva, oferecendo umaprotecção de topo, com uma estrutura rígida e airbagspara todo o habitáculo. A sua tecnologia de ponta ino-

vadora assegura uma aderênciapermanente à estrada.

O Verso tem tanto de impres-sionante como de multifacetado.Cada banco rebate totalmente nummovimento suave para criar umasuperfície completamente plana ehá vários compartimentos de arru-mação e uma ampla área parabagagem.

Com um interior espaçoso, que assegura os mais altosníveis de conforto e qualidade, o novo modelo apresentauma gama de motorizações e transmissões avançadas comcomponentes de baixo atrito, concepção super compacta eelevada eficiência e combustão.

Na unidade de 1.6 a gasolina, a nova tecnologiaValvematic optimiza simultaneamente o tempo de abertu-ra das válvulas e o seu curso, ajudando a melhorar osníveis de potência até 20% e reduzindo emissões de CO2até a um mínimo de 158 g/km.

A refinada gama diesel desfruta da última tecnologiacommon rail, proporcionando mais binário e menos CO2,atingindo um mínimo de 140 g/km. Uma baixa taxa decompressão, eficiência termodinâmica e elevado binário abaixa velocidade ajudam a atingir elevadas prestaçõescom consumos reduzidos. Os motores 2.2 também apre-sentam a tecnologia de redução de emissões exclusiva damarca, Toyota D-CAT. Os acessórios Toyota reflectem asua individualidade. Do mesmo modo que o Verso seadapta a diferentes estilos de vida, os packs de acessóriosdo modelo conferem-lhe uma dimensão personalizada.Em Portugal, o Toyota Verso está à venda a partir dos 30mil euros. n

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Boavida|Saúde

Acha que sofre de rinite alérgica?Se na Primavera ou no Outono, ou na presença de pó de qualquer proveniência, sofre de crises deespirros sucessivos… Então, muito provavelmente, sofre de rinite.

M. Augusta Drago medicofamí[email protected]

As rinites têm várias causas, ou etiologias, na lin-guagem médica. A rinite alérgica é a maiscomum, causa grande desconforto aos que delasofrem e, nos EUA, representa custos directos e

indirectos, relacionados com tratamento e absentismo, demais de 9 mil milhões de dólares anuais.

A rinite é uma inflamação da mucosa do nariz. Estainflamação pode ser causada por diversos agentes,nomeadamente produtos químicos irritantes inalados, cer-tos medicamentos de aplicação tópica inadequados ealergénios, entre os quais são mais frequentes vírus seme -lhantes aos que causam as constipações e as gripes.

Em qualquer dos casos, as manifestações clínicas referi-das pelos doentes são semelhantes. Queixam-se de con-gestão nasal, com corrimento anterior ou posterior, pruridoe muitos espirros. Também é frequente ocorrer pruridoocular e lacrimejo.

A rinite causada por agentes irritantes é habitual emambientes de trabalho poluídos com produtos tóxicos,mas também acontece com frequência nas grandescidades, devido ao número de agentes irritantes e polu-entes na atmosfera.

A rinite alérgica não é contagiosa, tem um carácterfamiliar, podendo ser transmitida de pais para filhos. Éa rinite mais frequente, porque esta fragilidade do sis-tema imunitário encontra-se amplamente difundida napopulação e existem alergénios um pouco por todo olado.

Dentro de casa, as pessoas cuja mucosa nasal possuiessa sensibilidade reagem à presença de pós domésticos,ácaros, pêlos e penas de animais domésticos e aos locaishúmidos e com fungos. No exterior, reagem às poeiras,aos pólens, aos bolores e aos bio-aerossóis.

A rinite alérgica tem tratamento, mas não tem cura. Aspessoas que sofrem de rinite alérgica podem ter uma vidaperfeitamente normal, desde que convenientementetratadas.

O primeiro passo para ter uma vida livre deste descon-forto é identificar os alergénios a que se é sensível e evitara todo o custo estar em contacto com eles. Escolher ambi-entes não poluídos, sem fumos, nomeadamente de tabaco,pêlos de animais, insecticidas, cheiros de tintas ouvernizes e, por vezes, de combustíveis e até mesmo decertos perfumes.

Em casa, o piso deve ser liso, sem tapetes ou alcatifas,para ser fácil de limpar e a limpeza tem de ser geral, fre-quente e, se possível, deve passar-se um pano húmidodiariamente no chão e nos móveis, para não acumularpoeira. O quarto onde se dorme é um local muito impor-tante para estes doentes: não pode ser húmido nem som-brio e não deve permitir a entrada de animais domésticos;o colchão e as almofadas têm de ser forradas para não per-mitir a passagem de poeira e há que preferir o uso deedredões de fibra e nunca de penas.

A parte mais importante no tratamento da rinite alérgi-ca é a prevenção e esta depende do próprio doente. Oconjunto destas pequenas medidas preconizadas, quandopostas em prática, faz toda a diferença entre uma vidanormal e o desencadear de uma crise. n

72 TempoLivre | FEV 2011 ANDRÉ LETRIA

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Boavida|Palavras da Lei

Pedro Baptista -Bastos

Regra geral, os condóminos que habitem umrés-do-chão não comparticipam nas despesasde conservação de um elevador, por não osusarem, a não ser que possuam um arrumo na

cave ou no último piso do imóvel que seja servido peloelevador e do qual façam uso. Se, por exemplo, houverum terraço, ou um espaço na cave que seja usado parabenefício comum de todos os condóminos, os residentesdo rés-do-chão devem comparticipar nas despesas demanutenção dos elevadores.

As despesas são efectuadas em proporção do valordas respectivas fracções, excepto se um condómino dorés-do-chão apenas tiver uso e acesso a um arrumo ou aum mero uso do terraço do último piso; nesse caso, far-se-á um valor proporcional ao uso pouco frequente que

esse condómino efectue do elevador.Estas questões relacionam-se sempre com os usos

que os condóminos do rés-do-chão façam de partescomuns que sejam servidas por elevadores. Se um ter-raço ou um arrumo servido por um elevador foraprazível ou útil para um condómino do rés-do-chão,terá sempre que custear as despesas de manutenção aele inerentes, no modo acima descrito.

Como esse primeiro arrumo que nos descreveu dásaída para um pátio posterior, resta-nos saber se essasaída é de uso comum de todos os condóminos ou não.

Parecendo ser de uso comum, é minha opinião quenão devem custear as despesas de conservação dos ele-vadores.

A esta dúvida da nossa associada prevê a lei aresposta no artigo 1424º do Código Civil, especialmentenos seus números 1 e 4. n

? No bloco onde resido existem dois elevadores que

servem todos os apartamentos, do último andar

até à cave, que possui alguns arrumos, inclusive um

corredor que dá saída para o pátio posterior, e um

outro arrumo para a frente do edifício – jardim e rua – o

qual constitui parte comum do prédio.

Os condóminos do rés-do-chão não têm arrumos, mas

podem usar o corredor de saída. Devem eles

comparticipar nas despesas extra para arranjos de

conservação dos elevadores?

Sócia devidamente identificada – Aveiro.

Despesasde elevadores,arrumose condóminosde rés-do-chão

FEV 2011 | TempoLivre 73

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Page 74: Tempo Livre - Fevereiro - N 223

Ginástica mental| por Jorge Barata dos Santos

N.º 23Preencha a grelha com osalgarismos de 1 a 9 semque nenhum deles serepita em cada linha,coluna ou quadrado

(horizontais) 1-PALAFRENEIROS. 2-FOI; COURELA; CAL. 3-UL;MOLE; VIGO; BE. 4-LAR; RELVADO; MIM. 5-ACÉM; SAÍDA; BODE. 6-SÓLIO; SOA; NORAS. 7-ANHO; L; SOLA. 8-CATAM; DEZ; SOVAR. 9-EGAS; DETER; RAÇA. 10-PÚS; SEMANAL; MÓS. 11-AI; MURO;IRUN; RA. 12-SAL; MAROTOS; MÊS. 13-SINO; ARE; ÓNUS.

SOLUÇÕES

ClubeTempoLivre > Passatempos

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N.º 23 SOLUÇÕES

Palavras Cruzadas | por José Lattas

HORIZONTAIS: 1-Moço que trata de cavalos (pl.). 2-Abalou;Leira; Óxido de cálcio. 3-Ribeira portuguesa, do distrito deAveiro; Multidão; Cidade da Galiza; Berílio (s.q.). 4-Penates;Gramado; Forma oblíqua do pronome pessoal da 1ª. pessoado singular. 5-Lombo entre a pá e o cachaço; Abalada; Machoda cabra. 6-Trono; Consta; Sarilhos. 7-Cordeiro; Couro. 8-Ingagam; Dezena; Desancar. 9-Nome do aio de D. AfonsoHenriques; Embargar; Estirpe. 10-Matéria; Relativo à semana;Moendas. 11-Grito de dor; Defesa; Cidade espanhola,principal fronteira com a França; Rádio (s.q.). 12-Chiste;Brejeiros; Lua. 13-Campana; Unidade de media agrária;Obrigação.

VERTICAIS: 1-Furiosas; Videiras. 2-Natural da Polónia;Astuciosos. 3-Nesse lugar; Mencionas; Vi. 4-Jazigos. 5-Ladra(inv.); Unidade de resistência eléctrica; Excelso. 6-Assopradores; Prestara. 7-Vielas; Adiamento. 8-Érbio (s.q.);Roxo; 17ª. letra do alfabeto grego (inv.). 9-Enregelada; Ápice.10-Omita; Escasso. 11-Uma das personagens de Otelo, deShakespeare; Forma átona do pronome pessoal nós;Português. 12-Decadência. 13-Sim, no dialecto provençal;Viviam; Macho. 14-Batida; Arquipélago no Atlântico. 15-Administrações; Descréditos.

74 TempoLivre | FEV 2011

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Page 76: Tempo Livre - Fevereiro - N 223

ARCÁDIA

CRETINOS COM PODER

Diego Armario

O autor descreve os

bastidores do poder na vida

política, profissional e nas

relações

interpessoais,

enquanto

revela

inúmeras

situações

caricatas de pessoas que

não merecem o poder.

Escrita de forma divertida, a

obra sensibiliza para o

respeito de quem não tem

poder e vive obedecendo a

cretinos.

BOOKSMILLE

JOÃO PASTEL: A MALDIÇÃO

DO PIRATA

Michael Broad

Três incríveis histórias vividas

por João

Pastel e nas

quais

ninguém

acredita.

João garante

que são

verdadeiras e, à medida que

as descreve, desenha e faz

comentários divertidos no

seu bloco de notas.

CÃOVERSA

Sophie Collins

Os movimentos do focinho,

olhos, orelhas e cauda dos

cães são importantes na

comunicação

com o ser

humano. Para

descodificar

esses gestos,

este guia, um

verdadeiro manual de

“caninês”, procura traduzir e

interpretar as expressões do

seu canino.

CLUBE DO AUTOR

A ILHA DOS ENCANTOS

Mary Nickson

Deprimida

com a morte

inesperada

do marido,

Victoria

refugia-se na

casa da avó,

numa idílica ilha do

mediterrâneo.

Quando tudo parece

tranquilo e a dor do luto

superada, eis que surge a

necessidade de averiguar a

verdade sobre o passado…

Um romance sobre os

contrastes do amor e o poder

da amizade na paradisíaca

ilha de Corfu.

IPLATÃO

Mark Vernon

Uma pertinente reflexão

sobre o mundo actual

analisado à luz dos

ensinamentos dos grandes

filósofos da Grécia Antiga.

Escrita de forma acessível, a

obra ajuda a compreender a

importância e

intemporalidade da

mensagem

de Sócrates,

Epicuro,

Diógenes,

Zenão e de

outros

mestres da

antiguidade, enquanto faz a

conexão com a vida no

presente.

FONTE DA PALAVRA

ANGELINA, UMA MULHER

DO POVO NA I REPÚBLICA

Manuel Dias Duarte

Com a morte de D. Manuel II

em 1932, Maria Pia assume-

se como

legítima

sucessora

do trono

português.

Levada em

menina

para longe

da casa do seu pai, só

Angelina, a lavadeira de D.

Manuel II a poderia

identificar como filha

bastarda de D. Carlos I.

EDIÇÕES COLIBRI

/FUNDAÇÃO INATEL

PARA A HISTÓRIA DOS

TEMPOS LIVRES EM

PORTUGAL: DA FNAT À

INATEL (1935-2010)

José Carlos Valente

Uma edição revista e

aumentada do livro “Estado

Novo e Alegria no Trabalho:

Uma história politica da

FNAT (1935-1958)”, publicado

em 1999, que inclui uma

súmula referente ao período

de 1959 a 2010.

Dedicada ao percurso da

FNAT/INATEL, uma

instituição ímpar com

reconhecido mérito nas

áreas da política social e da

ocupação dos tempos livres

para trabalhadores, a obra

levada à estampa para

comemorar os 75 anos da

Fundação INATEL, é um

importante contributo,

excelentemente

documentado e ilustrado,

para a história politica e

ideológica do nosso país.

EDITORIAL PRESENÇA

E DEPOIS DO AMOR

Ray Kluun

Com a morte inesperada da

mulher, Dan entra numa

espiral autodestrutiva.

Abandona o

trabalho,

entrega-se ao

álcool e à

vida boémia

de Ibiza e

Amesterdão.

Mergulhado na desgraça,

percebe que tem de alterar o

rumo da vida e investir na

filha de três anos. Juntos de

autocaravana, partem numa

longa e interessante viagem

pela Austrália.

Um romance autobiográfico,

despretensioso e divertido,

de um homem que procura

recuperar o controlo da vida.

O ANO X - LISBOA 1936

José-Augusto França

Um «Estudo de factos

socioculturais» de 1936 e

uma análise à vida política

portuguesa e suas

preocupações internas e

externas, destacando, entre

ClubeTempoLivre > Novos livros

76 TempoLivre | FEV 2011

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Page 77: Tempo Livre - Fevereiro - N 223

outros, a

Guerra de

Espanha, a

Legião

Portuguesa e

a Colónia

Penal do Tarrafal. No campo

das artes, letras e imprensa

o autor apresenta uma

minuciosa descrição da vida

em Lisboa.

SEM TEMPO PARA DIZER

ADEUS

Jacquelyn Mitchard

Raptado em criança, Bem

Cappadora

regressa ao

ceio familiar

nove anos

mais tarde.

Duas décadas

após o fatídico dia vive em

plena harmonia familiar. Até

ao dia em que Vincent, seu

irmão mais velho, realiza um

documentário com histórias

de cinco famílias cujos filhos

desaparecidos nunca foram

encontrados. Um trabalho

que abalou profundamente a

família e irá testar a solidez

dos seus laços.

SANGUE VADIO

James Ellroy

A obra decorre em 1968, no

rescaldo da luta pelos

direitos civis que

culminaram no assassínio de

Luther King e Robert

Kennedy. Uma luta marcada

pelo controle político, pelo

preconceito, corrupção e

violência na

América, que

reúne Dwight

Holly (agente

do FBI),

Wayne Tedrow

(ex-polícia e narcotraficante)

e Don Crutchfield (detective).

Um poderoso romance que

está para além da denúncia

dos esquemas criminosos e

onde as personagens

questionam as próprias

acções.

UM BEIJO NO PÉ

Maria Teresa Maia Gonzalez

Miguel e Filipa conhecem-se

desde os sete

anos e a

amizade

entre ambos

cedo evolui

para paixão.

Aos

dezassete anos Filipa

engravida e, contra a

vontade do namorado, é

pressionada pelos pais a

interromper a gestação. Para

resistir e recuperar a alegria

de viver, estes jovens

reinventam o amor.

EUROPA-AMÉRICA

POR ENTRE GRÃOS DE

AREIA

Josephine Cox

Anos 50 em Dorset, duas

vidas recomeçam à beira-

mar. Kathy pretende

transformar

Barden

House a sua

casa junto à

praia num

ninho de paz.

Mas, atraída

pelo homem solitário que

passeia à beira-mar sente

que a sua vida vai mudar. Ele

é Tom Arnold e West Bay é o

seu refúgio. Segredos e

fantasmas do passado

assombram a vida de ambos.

Estarão dispostos a aceitar o

amor quando o passado

ameaça as suas vidas?

A FARMÁCIA VERDE - O

HERBÁRIO PRÁTICO

James A. Duke

Uma obra sobre plantas

medicinais,

com mais de

180

sugestões

para tratar e

prevenir

diversas

doenças. Remédios fáceis de

encontrar para centenas de

males.

Um guia completo sobre os

tipos de plantas, benefícios,

partes usadas, efeitos

secundários e dosagens,

para uma leitura prática e

divertida.

HISTÓRIA CONCISA DE

COMO SE FAZ A GUERRA

General Loureiro dos Santos

O autor traça uma súmula

da história da guerra ao

longo dos tempos, da época

pré-clássica à actualidade.

Aborda, entre outros

aspectos do conflito bélico, a

dinâmica e meios técnicos, o

teatro de operações, os

condicionalismos e a guerra

na era da informação.

A TERRA DOS GIGANTES

Enid Blyton

Jessica, Tiago e Desejoso vão

parar à Terra dos Gigantes,

onde tudo é… Gigante! Até a

Cadeira-dos-Desejos que os

próprios

Gigantes

querem

possuir a

todo o

custo. Mas,

os

pequenos amigos não

podem perdê-la, pois, sem

ela, ficarão presos e nunca

mais regressarão a casa.

Então, como poderão

escapar sem ser

esmagados?

VERBO

A COLHER DE PAU

Maria de Lourdes Modesto

(adaptação)

Edição fac-similada de um

grande sucesso da

gastronomia nacional

publicado em 1966, adaptado

por Maria de Lourdes

Modesto.

Um magnífico álbum

de iniciação à cozinha

para quem pretende

explorar o mundo da

gastronomia.

Glória Lambelho

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Page 78: Tempo Livre - Fevereiro - N 223

ClubeTempoLivre > Cartaz

COIMBRA

Concerto

Dia 19 às 21h30 - Sax

Ensemble - Quarteto de

Saxofones de Coimbra no

Salão Nobre da C.M de

Arganil;

Evento

11º Aniversário da

Associação de Arte e

Cultura do Concelho de

Cantanhede: “Portugal em

Música”, espectáculos com

Grupo “Bairrada Portugal

Mix” - dia 24 no Lar de

Idosos da Tocha/Cantanhede

e dia 25 às 21h30 no Centro

Social e Paroquial de

Camarneira.

Escola de Música

Aulas de Música, horários e

informações na Agência de

Coimbra.

PORTALEGRE

Curso

“Formação em produção de

eventos culturais” - dias 26 e

27 no Auditório Municipal de

Sousel.

Horário: sábado - 15h/19h e

21h/23h, domingo – 9h/13h.

Preço: 25 euros (para sócios)

e 35 euros (público não

associado), mais informações

na Agência Inatel em

Portalegre.

VIANA DO CASTELO

Futebol

Dias 6, 13, 20 e 27 decorem

jogos da Taça Fundação Inatel

2010/2011, informações na

Agência Inatel

Futsal

Dias 4, 5, 11, 12, 18, 19 e 26

decorrem jogos da liga Inatel

2010/2011, informações na

Agência Inatel.

VISEU

Evento

Aniversário da Banda

Sociedade Musical “ de

Santar – dia 6 às 11h Missa,

seguida de almoço e de

concerto às 15h

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Page 79: Tempo Livre - Fevereiro - N 223

Chega pontual. Na sua esteira, e pela mesma portapor onde, com ela, entra o frio cinzento-espessode um dia sem Sol, entram "as notícias", que oseu palavrear quase transforma em aconteceres

em tempo real, com formas concretas, cheiros, sons e cores."Era… Matou… Mas… Depois…".

Mais fácil do que deter a torrente de palavras com que sealarga sobre os temas que nos últimos dias têm lançado opaís numa grave crise de síndrome vertiginoso, entre osquais, e por ordem decrescente de interesse, a morte vio-lenta do nosso último cronista social e a escolha de umnovo messias que nos salve do FMI e de todos os grandesmales (amém!), seria calar a voz do vento ou deter a torren-te das águas diluviais que têm espalhado a morte e a des-truição no mundo.

Com a capacidade de dialéctica entorpecida, penso, portrás de um sorriso semi-atento, naquele amigo que punhatermo às discussões académicas sobre o sexo dos anjos, vol-tando paulatinamente as costas ao debate e declarando,com o ar displicente de quem põe o último ponto final numtexto de cem páginas: "Depois, começaram a chover rãs…".

Palavras e gestos ficavam suspensos a meio e, entre risose protestos, a conversa mudava de rumo.

E se eu?... A rápida partida põe termo ao feliz solilóquioinformativo.

"Noblesse oblige", porém. Na era da informação e do con-hecimento, estar bem informada é tão indispensável, ummust tão imperioso, como qualquer objecto da Cartier.

Vivo na era das TIC (Tecnologias da Informação eConhecimento). Graças a elas, nada me impede de, no pró-ximo segundo, estar a comunicar, olhos nos olhos, comalguém que, além-Himalaias, esteja, como eu, a tentar escre-vinhar num computador uma qualquer crónica sobre umqualquer assunto sem importância.

Sem o dom da ubiquidade do nosso Santo António, pro-curo informar-me no local: um ligeiro toque num botão dotelecomando do televisor (modesta TIC caseira) e, semabandonar a cadeira de trabalho, encontro-me subitamentea quilómetros de distância, num feirão de cidade do inte-rior.

Como em todas as feiras, há ali vendedores e comprado-res; há o produto e a sua inevitável publicidade, o trivial eo absurdo. E, é claro, há uma moeda de troca: o "voto",moeda moderna e de utilização relativamente recente nonosso país.

Verdadeiramente difícil é determinar qual é o produto àvenda.

Palavras? Beijos? Quantos beijos por um voto? Alguém,apontando para si mesmo, parece anunciar como produto "aminha pessoa". Não, não está a tentar vender a sua pessoa,mas sim as suas "qualidades", em tudo superiores, em suaopinião, a quaisquer outras à venda noutras feiras do pro-duto. (Voz off: Chamem o Gil!)

Uma mudança brusca do operador da TV catapulta-mepara outra dessas feiras, bastante menor, mas onde, aparen-temente, além de palavras e beijos, se vendem flores. Nãoresisto a flores: quantas rosas por um voto? E qualidades?Certamente, com fartura! menos publicitadas, porém, doque a má qualidade das qualidades da concorrência. (Vozoff: Ulo o Gil?)

Melancolicamente, sigo o operador no circuito das feirasmenores, quase mercados de bairro. Mais palavras, maisbeijos, mais flores a troco de nada, vendedores românticos,pouco dotados para o negócio.

Notável a ausência de vendedoras nestes mercados tãofrequentados pela mulher. Também elas apregoariam:"Quem quer, quem quer votar na Carochinha?"?

Fim do circuito.Não terão chovido rãs, nestas feiras, quando esta crónica

for publicada e, restabelecido, o país já tiver recuperado oseu equilíbrio e o seu sentido da dignidade (Ah! Cá está apalavra que não encontrei!). Houve, contudo, uma chuva depalavras, de milhões de palavras ocas de sentido, palavrasmortas como aves em pleno voo, que jamais se cumprirão,porque, como afirmava Jorge Orwell em Politics and theEnglish Language: A linguagem política e, com variantes, istoaplica-se a todos os partidos políticos, dos Conservadores aosAnarquistas é concebida para fazer com que as mentiraspareçam verdades e o crime pareça respeitável, e para dar aopuro vento aparência de solidez. n

Afinal, onde estava o Gil Vicente"Não se esqueçam de que fazemos campanha em poesia, mas que, quando somos eleitos,somos obrigados a governar em prosa." Mário Cuomo, in: New Republic, 1985

O Tempo e as palavras

Maria Alice Vila Fabião

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Foi o Arlindo quem me recomendou oBar Ventoinhas. Eu tencionava escreveruma novela em que, a certo passo daacção, as personagens se encontravam

num lugar sórdido em que se respirasse um ar demarginalidade.

- Meu caro Jacinto – disse ele – o Ventoinhas éo cenário perfeito para o que procuras. Mas nãote apresentes lá com esse fato de bom corte, cami-sa e gravata. Escolhe a roupa mais deseleganteque tiveres e barba de dois dias. Tenta parecer-tecom os frequentadores habituais, sem dares nasvistas.

Era esse o meu desejo e procurei no fundo doroupeiro as peças que se adequassem. Encontreia horrenda camisola roxa de gola alta que a tiaEma me ofereceu no Natal. Seria de péssimogosto vesti-la, sobretudo com o casacão verde,surrado, que há muito tinha atirado para o canto.Acreditei que se o Ventoínhas fosse tal -qual adescrição do Adelino, ninguém ia reparar numtipo assim.

A porta aberta dá para um pequeno átrio comas paredes pintadas do que parece ser um prólo-go. O artista esmerou-se em figuras de mulheresgarridas e tipos sinistros, como que a anunciar oque se encontraria para além da entrada do bar.

Saído da claridade da rua, levo algum tempo aadaptar-me à penumbra entrecortada por cande-eiros de lâmpadas vermelhas. Mas por sobre obalcão há um risco de luz mais viva e por ele meoriento. Sento-me no último dos bancos altos e aprimeira pessoa que vejo, cara-a-cara, sou eu pró-prio. Por detrás das prateleiras com garrafas háum espelho e quase me assusta a imagem dosujeito de má pinta que sou agora.

O homem do bar vem à minha frente e nempergunta o que quero beber. Limita-se a esperar.Apetece-me um uisqui mas as circunstânciaslevam-me a desconfiar da pureza da bebida eopto por cerveja em garrafa. Só agora dou meiavolta para olhar a sala. Há poucos fregueses. Duas

mulheres, que deduzo alternadeiras, ensandui-cham um tipo que parece não pertencer a estefilme. Ou talvez pertença e seja por tontos comoele que aguardam as mulheres de alterne. Ele,sim, está de fato, gravata, e ar feliz para tão amá-veis companhias.

No bolso lateral direito do meu casaco guardeium jornal, dobrado em quatro, e penso que talvezfosse melhor mudar-me para uma das mesasvagas. Mas não faz sentido. A luz é fraca para lei-turas e o que me traz aqui é observar o ambiente.Nem compreendo o que levou a dobrar o jornal elevá-lo no bolso, meio dentro, meio fora, para umsítio onde não queria perder pitada do que ocor -ria em volta.

Aproxima-se de mim uma mulher que terásaltado a fasquia dos quarenta. É magra e pensoque a maquilhagem farta lhe esconde a palidez.

- Pagas-me um copo?- Agora não. Quero estar sóbrio.Afasta-se, resmungando, mas não tarda um

minuto para que o banco a meu lado tenha pre-tendente. Outro, de gravata e fato fino. Nervoso.Observa-me com uma atenção incomodativa, oolhar dele desce ao bolso do meu casaco ondetenho o jornal dobrado. Aproxima a cara do meupescoço, como se quisesse cheirar, e surpreende-me com uma pergunta em voz miúda:

- A camisola é roxa?- É roxa, é – digo, entre a surpresa e a incomo-

didade.Ele tinha outra pergunta estranha:- E o jornal é de hoje?- Exactamente.Então, ele coloca sobre o balcão um envelope

com as dimensões de meia folha A-4 e um outro,mais pequeno mas volumoso que entreabre, mos-trando notas de cinquenta euros.

- É metade - diz. – Depois do serviço feito dou-lhe a outra metade.

Quero falar mas continuo embatucado, nãocompreendo, não sei que dizer. E ele nem me dá

O matador

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Os contos do

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tempo. Do envelopemaior retira uma fotografiaque o apresenta a ele própriocom um braço sobre os ombrosde uma mulher elegante, defeições delicadas.

- Tem aí escrito o endereço da bou-tique dela. Vai ser fácil para si. Tem de ser hoje ouamanhã, vou partir agora para o estrangeiro.Quero voltar viúvo.

Enquanto fala, excitado, rasga a foto ao meio eintroduz no meu bolso, junto ao jornal, a imagemda mulher. Sobre o balcão vejo a metade da fotoem que ele próprio sorri e o envelope com o di -nheiro adiantado.

O espanto emudece. Quero falar, gritar, dizerque está enganado que me confundiu com umassassino. Mas apenas balbucio – “espere… espe-re…”- e ele não espera. Alguém chegou da rua elançou o alarme:

- Andam por aí gajos da bófia!De um salto, desvairado, o meu interlocutor

desiste de mais recomendações e corre para aporta, sumindo-se na luz do dia claro.

Que faço agora? Hesito e, por fim, opto pordistanciar-me, como se a simples mudança delugar me libertasse de toda a perturbação que seapossou de mim. Agarro no copo de cerveja e vousentar-me na mesa do fundo. Só penso que não

posso ver-me envolvidono crime encomendado. E se

vem a polícia e quer saber quem dei-xou no tampo do balcão um maço de

notas e uma foto esquecida mostrando o tipoque acabou de sair?

Informarei a mulher, isso sim, tenho no bolsoa fotografia e o endereço dela. Mas não é pressa.O marido, definiu-se por marido, equivocou-seno matador.

Os pensamentos rodopiam na minha pobrecabaça quando reparo no homem apressado queacaba de entrar. Veste uma camisola roxa, de golaalta, precisamente como a que eu tenho no corpo.Sobressalto-me quando noto que tem um jornal,dobrado em quatro, no bolso direito do casaco.Vai sentar-se no banco ao balcão que eu ocuparaaté há poucos minutos. Olha em redor, comoquem busca alguém. Acto contínuo, volta-se parao balcão, vê o dinheiro, conta as notas e recolhe-as no casaco. O mesmo faz ao retrato, depois de oobservar longamente, como se quisesse decorartodos os pormenores da fisionomia.

Passou uma semana. Folheio o jornal e deparocom o sorriso do sujeito que me abordou no BarVentoinhas. O texto por baixo informa que foiassassinado em circunstâncias misteriosas.Ninguém percebe porquê. “Era um cidadãoexemplar”- assegura a notícia. n

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Disseram-me, esta manhã, que tinhachegado um barco grande a Mato -sinhos. De um porto tão distante queos homens só dele sabem de ouvirem

falar. Veio munido de entorpecentes luzes, lentoe majestoso como uma baleia divagando em seusmares. De dentro, tambores e cânticos ecoavam,rufando e seduzindo, enquanto bailarinas líqui-das, dançando, se embrulhavam em milhentasmil cores sob os pássaros gentios que as acom-panhavam.

Havia sol. Estranharam os contadores, poisque não é costume em tempos de tão rígidos friosserem ali solarengas as madrugadas e que nempássaros se agitem em tão acordados voos. Anave, continuam eles, era um gigantesco vaporfeito de invulgares materiais. Estrelas-do-mar,búzios, escamas prateadas de peixes, carapaçasde caranguejos, conchas de um ouro luzidio emuitas máscaras de variáveis rostos. Também seviam areias encarnadíssimas de uma fineza sóigualável às mais longínquas sedas e madeirasrosa e negra e castanhamente canforizadas e tam-bém fortes como o ferro e negras como o breu.

E haviam, estranhamente, musculados negrosvestidos de uma roupagem quase nua, carregan-do consigo enormes lanças e elmos de pele eescudos de enormes e vivas cabeças de leopardosrosnando. Também, contam-se as mulheres ele-gantíssimas cujos seios eram da mais perfeita edura redondez e que os seguiam agitadas entreseus gritos comemorativos.

Dizem que Matosinhos terá acordado atónitacom tão invulgar espectáculo. Eram as altíssimaslabaredas que ondulavam de inúmeras fogueirascrepitando sobre o mar, as estrelas havidas baixase amarelas como o sol, como as luzes vastas deuma grande cidade, cintilantes e irrequietas, e,

sobre elas, crianças rindo-se com papagaiostocando o azul límpido dos céus.

Em volta do navio, contam-se incontáveis asalmadias com os seus pescadores remando e gol-finhos saltando, demorada, lentamente em suavolta e que também emitiam envidraçados sonscristalizados por todos os lados em flâmulas eminúsculas bandeiras coloridas, enquanto do seucasco se estendia, até junto à terra, uma enormepassadeira púrpura ladeada por árvores frutadase perfumadas. Sobre ela caminhava um homemnegro e forte que, em meio a sonoras gargalhadas,falava e cantava, palavras e músicas indizíveis, edos seus cabelos brancos um extenso e distantealgodoal se agitava, e das mãos, enormes mon-tanhas verdes de chá enobrecidas o guardavam eda boca, um grande rio trovejando para as duasgigantescas luas negras dos olhos aluando tudo.

Falam as mais variadas vozes que,depois deste espectáculo, do navio sefez ouvir uma estridente sirene, tãoforte, tão aguda, tão capaz de fazer tre-

mer as casas dos homens, os prédios da terra, oscampos em volta. Com esse som, os cães ladra-ram e os relógios pararam e o mar se abriu calmoe sereno para engolir aquela visão fantástica. E osilêncio, então, fez sentir-se como uma cortantee sibilante brisa para que a cidade voltasse a dor-mir de novo.

Apenas mais tarde se soube, de um país haverpercorrido o Mundo para embarcar o seu pinta-dor enfeitiçado da vida, que, agora, naquela enor-me nave, voltava para vivê-la na consanguinida-de moçambicana das suas telas. Desse homem,nosso colorido marinheiro do mundo e de seunome Malangatana, só mesmo elas, justa e mere-cidamente, poderão falar. n

Marinheiro Malangatana

Crónica

EduardoWhite

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