Tempo Livre - Janeiro - N 222
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TempoLivreN.º 222Janeiro 2011Mensal2,00 €
www.inatel.pt
Cesário Borga e Fernanda BizarroA viagem de dois jornalistas aos 75 anos da Inatel
Destacável 12 págs. Guia de vantagens
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Sumário
Revista Mensal e-mail: [email protected] | Propriedade da Fundação INATEL Presidente do Conselho de Administração: Vítor Ramalho Vice-Presidente: CarlosMamede Vogais: Cristina Baptista, José Moreira Marques e Rogério Fernandes Sede da Fundação: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000Nº Pessoa Colectiva: 500122237 Director: Vítor Ramalho Editor: Eugénio Alves Grafismo: José Souto Fotografia: José Frade Coordenação: Glória Lambelho Colaboradores: António Costa Santos, António Sérgio Azenha, Carlos Barbosa de Oliveira, Carlos Blanco, Gil Montalverne, Humberto Lopes, JoaquimDiabinho, Joaquim Magalhães de Castro, José Jorge Letria, José Luís Jorge, Lurdes Féria, Manuela Garcia, Maria Augusta Drago, Maria João Duarte, MariaMesquita, Pedro Barrocas, Rodrigues Vaz, Sérgio Alves, Suzana Neves, Vítor Ribeiro. Cronistas: Alice Vieira, Álvaro Belo Marques, Artur Queirós, BaptistaBastos, Fernando Dacosta, Joaquim Letria, Maria Alice Vila Fabião, Mário Zambujal. Redacção: Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 LISBOA, Telef.210027000 Fax: 210027061 Publicidade: Direcção de Marketing (DMRI) Telef. 210027189; Impressão: Lisgráfica - Impressão e Artes Gráficas, SA -Rua Consiglieri Pedroso, n.º 90, Casal de Sta. Leopoldina, 2730-053 Barcarena, Tel. 214345400 Dep. Legal: 41725/90. Registo de propriedade naD.G.C.S. nº 114484. Registo de Empresas Jornalísticas na D.G.C.S. nº 214483. Preço: 2,00 euros Tiragem deste número: 152.727 exemplares
Na capa
14INATEL
Uma História com FuturoDois conceituadosjornalistas, FernandaBizarro e Cesário Borga,investigaram durante mesesa história dos 75 anos daInatel para a realização deum documentário. Emitidojá na RTP e exibido,sucessivamente, em duassessões para convidados etrabalhadores no Trindade,o seu trabalho (“UmaHistória com Futuro”) é umretrato vivo e emotivo deuma instituição criada peladitadura mas quesobreviveu ao 25 de Abrilgraças à decisão sindical deaproveitar as suasestruturas e experiênciapara lhe conferir umadimensão adequada à novarealidade democrática.
Guia de VantagensDESTACÁVEL DE 12 PÁGINAS
5 EDITORIAL
6 CARTAS E COLUNA
DO PROVEDOR
8 NOTÍCIAS
12 CONCURSO
DE FOTOGRAFIA
32 TERMAS DE PORTUGAL
As boas águas do Estoril
34 MEMÓRIA
Carlos Paredes: o poeta da guitarra portuguesa
38 OLHO VIVO
40 A CASA NA ÁRVORE
67 O TEMPO E AS PALAVRAS
Maria Alice Vila Fabião
68 OS CONTOS
DO ZAMBUJAL
70 CRÓNICA
António Costa Santos
43 BOA VIDA
62 CLUBE TEMPO LIVRE
Passatempos, Novos livros e Cartaz
18RITUAIS
Carnaval Luso-GalaicoNo seu programa de ViagensNacionais Outono/Inverno2010/20111, a INATEL Turismopropõe uma viagem pelo norte dopaís, entre paisagens de montes ealdeias da região de Montalegre, comum complemento festivo: um salto aooutro lado da fronteira, ao grandeEntrudo galego de Xinzo de Limia(localidade situada entre Verín eOurense), em cujo carnaval persistemaspectos que assinalam o seuparentesco com as celebraçõesentrudescas das aldeias da província.
24INATEL CULTURA
Oficinas de Tempos LivresAnteriormente chamadas Escolas doLazer, as OTL oferecem aosbeneficiários da Fundação INATEL osmais variados cursos de média e curtaduração para a ocupação do tempolivre, acessíveis tanto para osassociados como para os nãoassociados.
27PORTFÓLIO
Nepal: o domíniodos Himalaias
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Editorial
Vítor Ramalho
Memória e Futuro
Este é o primeiro número da TL de 2011.Não poderia por isso deixar de me diri-gir à sua pessoa, pela ligação que sei sermuito estreita com a nossa Fundação,
desejando-lhe os maiores sucessos para estenovo ano.
Pela nossa parte tudo iremos fazer para, numaconjuntura difícil, contribuirmos para preenchercom inovação e exigências de qualidade, a ocu-pação dos seus tempos livres com ofertas cres-centemente diversificadas.
O facto do plano e do orçamento para 2011terem obtido parecer e aprovações que foramvotadas por unanimidade pelos membros órgãosestatutários competentes, encoraja-nos a nãoafrouxarmos nos objectivos que desde a primeirahora nos propusemos - modernizar a Inatel res-pondendo com serviços adequados a todas as fai-xas etárias. Daí a verba de dez milhões e qui -nhentos mil euros que no ano em curso afectare-mos ao investimento.
A consciência que o futuro se suporta na
memória e na sua valorização esteve assim pre-sente nos eventos com que, em 2010, ano da pas-sagem dos 75 anos da Inatel, assinalámos aefeméride. O documentário Inatel "Uma Históriacom Futuro", encomendada pelo Conselho deAdministração aos jornalistas Cesário Borga eFernanda Bizarro, exibido integralmente na RTP,nos canais 1 e 2, e que abriu também a GalaInatel e a Festa de Natal dos trabalhadores noTeatro da Trindade, é um dos testemunhos daperenidade da marca de excelência, que é aInatel tal como o livro escrito pelo Professor Dr.José Carlos Valente "Para a História dos TemposLivres em Portugal da FNAT à Inatel" que namesma altura foi publicado.
É com suporte nesta memória, que envolveacontecimentos históricos e personalidades mar-cantes dos últimos 75 anos da nossa vida colec-tiva, que estamos a preparar com muita espe-rança o futuro, como as reportagens e as noticiasdesta TL o demonstram no início deste novo ano,que desejamos o melhor para todos. n
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Cartas
Coluna do Provedor
Parques de Campismo
(…) Não quero ser injusto mas parece que aúnica vez durante o ano em que se fala de cam-pismo na nossa revista é só para nos comunica-rem o aumento da tabela de preços.
Já uma outra vez, há anos, mandei um emailao Senhor Provedor “reclamando” contra osaumentos, principalmente do parque de SãoPedro de Moel que, a partir de determinada altu-ra e injustamente na minha opinião, passoutambém a ter o mesmo tratamento que o daCosta de Caparica quando, até pela área geográ-fica em que está inserido, servem pessoas, namaioria dos casos, socialmente diferentes emtermos de poder de compra, como é o meu caso.Depois, a acrescentar a isto, há o facto do parque,em termos de equipamentos, como WC, balneá-rios etc., estar muito esquecido.
Sou frequentador de São Pedro de Moeldesde que me tornei associado da Inatel, já notempo da FNAT. Infelizmente este ano não pudepassar lá as minhas férias por causa da tal
questão económica. Sei também que, em 2010, ataxa de ocupação de São Pedro foi ainda pior doque em anos anteriores. Porquê então teimar-seem pôr São Pedro de Moel no mesmo saco daCaparica, provocando ainda mais a sua desertifi-cação? Será para acabar Porque razão é que umassociado com deficiência não tem bonificaçãonos parques de campismo ao contrário do que“acontecia” nos centros de férias?
Saberá o Dr.Vítor Ramalho que nem todos osassociados podem passar férias nos hotéis daInatel?
José A. Martins (via email)
50 anos na INATEL
Completaram, este mês, 50 anos de ligação àFundação Inatel os associados: José LuisAlmeida, de Faro; Afonso José Tobias e RenatoManuel Casco, de Évora; Mª Lourdes S. C. Rosa,Edmundo S. Silva e Joaquim Gabriel A.Pinheiro, de Lisboa.
NA REVISTA de Dezembro de 2009 escreve-mos sobre os festejos natalícios que se transfor-mam mais em lugares comuns e cada vez maisem negócios da China, do que práticas solidáriase fraternas; enfim...é a vida!
Criticando esta postura afirmava que“enquanto uns trocam prendas e enchem o ban-dulho com opíparas ceias “natalícias”, outros,mesmo ali ao lado, têm fome!
Ora houve um nosso associado que, então,não gostou da expressão usada; todavia, segun-do os dicionários, bandulho, tem o significadode barriga!
Não é isso porém o importante. O importan-te é analisar-se o problema da pobreza e das assi-metrias sociais. Não é aceitável que nestemundo de abundância, haja crianças com fomee trabalhadores com salários que não chegam amínimos decentes. Isso reflecte-se em toda anossa vida e é compreensível quando uma velhaassociada diz que vai anular a sua inscrição por-
que o dinheiro já não chega para tudo e outrosque pensam ser exagerados os mínimos aumen-tos que se apresentam nas tabelas de preços.
Estes mínimos, que representam um esforçode equilíbrio para a Fundação - agora entidadede direito privado de utilidade pública – , é, emnumerosos casos, muito para pessoas social-mente diferentes em termos de poder de com-pra.
Cortadas ou diminuídas muitas receitas,anteriormente existentes oficialmente, sabe-mos que a Administração procura manter opossível, não esquecendo os objectivos sociais.Todos estamos a passar uma crise que outroscriaram, de que a Inatel não tem culpa, massofre as consequências como os seus associa-dos. Sem falsos optimismos, acreditamos queiremos dar a volta. No limiar do novo ano,devemos ter esperança num Portugal melhor,mas é preciso que todos façamos por isso, paraalém dos desejos.
A correspondênciapara estas secções
deve ser enviadapara a Redacção de
“Tempo Livre”,Calçada de Sant’Ana,
nº. 180, 1169-062Lisboa, ou por e-mail:
Kalidá[email protected]
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Plano eOrçamento 2011
l O Plano de Actividades e o
Orçamento da Inatel para 2011
foram aprovados por
unanimidade pelos pelos
Conselho Fiscal, Consultivo e
Geral em reuniões realizadas,
respectivamente, nos passados
dias 10, 13 e 14 de Dezembro. O
presidente, Vítor Ramalho, e o
administrador financeiro,
Rogério Fernandes, deram
conta, em pormenor, aos
membros daqueles orgãos
estatutários das perspectivas de
gestão para o ano em curso,
sublinhando a determinação do
Conselho de Administração em
garantir e reforçar o
investimento da fundação
apesar dos cortes
governamentais e da diminuição
de verbas provenientes do
Euromilhões.
RectificaçãoBrochura“Hotelaria INATEL”
Na brochura “Hotelaria
Inatel”, publicada na edição
de Dezembro da revista
“Tempo Livre”, foi por lapso
indicado, na penúltima
página dedicada à tabela de
preços do Parque de
Campismo Caparica uma
redução das taxas diárias
de 30% no período de
Outubro a Maio de 2011.
Deverá ler-se “As Taxas
diárias de utilização, que
incluem o titular, têm
redução de 15% no período
de 01.10 a 31.05.”
Notícias
l A exibição do documentário “UmaHistória com Futuro”, dos jornalistasCesário Borga e Fernanda Bizarro, umaintervenção do Presidente daFundação, Vítor Ramalho, e umconcerto pela Orquestra AcadémicaMetropolitana de Lisboa, na salaprincipal do Teatro da Trindade, foramos momentos altos da Galacomemorativa dos 75 anos da INATEL.
Ao sublinhar a necessidade de umacelebração condigna do 75º aniversárioda instituição, Vítor Ramalhoenalteceu a importância social ecultural da fundação de que – frisou –o documentário, já exibido nos doiscanais da RTP, dá testemunhoeloquente. Um trabalho que –salientou ainda o presidente da
fundação – “representa umahomenagem devida aos beneficiários edestinatários da INATEL e a sua razãode ser, mas também a todos os que, nopassado e no presente deram econtinuam a dar o seu melhor paraservir, com qualidade e excelência aocupação dos tempos livres dostrabalhadores”.
A sessão terminou com umbelíssimo concerto da OrquestraAcadémica Metropolitana queinterpretou as peças“Prelúdio paraCordas”, de Alexandre Delgado, e“Serenata para Cordas” em Dó maior,de Tchaikovsky
Estiveram presentes na Gala, entreoutras individualidades, MariaBarroso, os os ex-presidentes da Inatel,Garcez Palha e Alarcão Troni, osecretário-geral da UGT, João Proença,um representante da CGTP (porimpossibilidade do seu coordenadorCarvalho da Silva), Vasco Lourenço,presidente da Associação 25 de Abril,a vereadora da cultura da CâmaraMunicipal de Lisboa, Catarina VazPinto, o antigo director do Trindade,Serra Formigal, e o governador civil deLisboa, António Galamba.
Inatel 75 anos
“Uma História com Futuro”na Gala do Trindade
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Campanha Inatel/VivaBons Temposl Fundação INATEL realizou em
Novembro a Campanha INATEL|
Viva Bons Tempos, integrada nas
comemorações do 75º
aniversário,
tendo como
objectivo a
promoção e
angariação de
novos
Associados. A campanha teve
lugar nos centros comerciais
Colombo e RioSulShopping e
registou a inscrição de dezenas
de novos associados.
Apoio à agriculturabiológical Introduzir novas dinâmicas na
área ambiental e alimentar, em
especial, no que respeita às
hortas biológicas, produtos
biológicos, conservação de
alimentos e bio-compostagem, é
o sentido do protocolo
estabelecido entre a Inatel e a
Associação Portuguesa de
Agricultura Biológica (Agrobio).
O acordo contempla, ainda,
formação e visitas a quintas
pedagógicas e de agricultura
biológicas, uma mais valia para a
rede de turismo e restauração da
fundação.
l Oferecido ao convidados presentesna Gala, o livro “Para a história dosTempos Livres em Portugal, daFNAT à INATEL (1935-2010)”, deJosé Carlos Valente(Edição Colibri/Inatel),comemorativo tambémdos 75 anos dafundação, tevelançamento público,um dia antes, noTrindade. Edição revistae aumentada da obra“Estado Novo e alegriano trabalho: umahistória politica da Fnat(1935-1958)”, do mesmoautor, publicada em 1999, o livroinclui numerosas imagens quedocumentam a história dainstituição.
Presente no lançamento, VítorRamalho recordou figuras emomentos relevantes da história dafundação referidos numa obra que –sublinhou – representa também uma“homenagem aos trabalhadores daInatel”.
António Garrido, investigador eprofessor da Universidade deCoimbra, fez a abordagem científicada obra, assinalando a suarelevância para a história da Inatel.
Trata-se – acentuou - de “um livrosério de história, que reflecteopiniões muitíssimo documentadas,decorrentes da dissertação do
mestrado do autor e marcama historiografia dePortugal, do EstadoNovo e doCorporativismo”.
Presente nolançamento, o editor daColibri, Fernando Mão-de-Ferro, destacou aimportância dafundação na vidasociocultural do país,
manifestandodisponibilidade para novas
edições que documentem a históriada Inatel no período posterior ao 25de Abril.
O autor, mestre em História doSéculo XX pela Faculdade deCiências Sociais e Humanas daUNL e membro do Instituto deHistória Contemporânea éactualmente docente no InstitutoPolitécnico de Santarém. A obrapode ser adquirida no Centro deDocumentação, na sede daFundação. Preço para sóciosbeneficiários: 14, 31 euros. Nãosócios: 23,85 euros.
“Para a história dos TemposLivres em Portugal”
l Também a Federação de Campismo e Montanhismo de
Portugal (FCMP) assinou uma cooperação que prevê a
disponibilização aos associados Inatel de serviços de
emissão de licenças desportivas e outros relacionados
com o campismo e montanhismo.
Ambas as organizações poderão usufruir das nossas
actividades nas áreas do turismo, cultura e desporto,
incluindo teatro da Trindade e alojamento na nossa rede
hoteleira.
Campismo Inatel
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Notícias
l Vasco Azevedo, do SC Lamego, foio grande vencedor da 25ª edição daMaratona de Lisboa, no passado dia5 de Dezembro, sagrando-secampeão nacional da especialidade.Vencedor da mesma prova em 2007e 2009, o maratonista de Lamego, de36 anos, fez o tempo de 2:23.09horas. O ucraniano OlekseyRybalchenko repetiu o 2º lugar de2009, seguido de Carlos Santos, doBenfica. No sector feminino, a russaMarina Kovaleva triunfou com2:42.40, quase 14 minutos devantagem sobre a sua compatriotaEkaterina Shlahova.
A prova, recorde-se, teve início efinal no Parque de Jogos 1º de Maioda Inatel
l Destinado a cidadãos portuguesescom mais de 60 anos, em pleno gozodas suas capacidades físicas epsíquicas, que lhes permitam umavida autónoma e independente, oprograma «SEMPRE EM FÉRIAS» vaiter início em Julho próximo e asinscrições podem ser feitas a partir dopróximo dia 31 de Março.
O programa assenta num planorotativo, ou seja, de 3 em 3 meses, osparticipantes alteram a morada deférias em dois grupos de unidadeshoteleiras INATEL. No Grupo A,haverá uma estadia inicial emManteigas, seguida de outra, tambémde três meses, em Albufeira. NoGrupo B, o programa começa no Lusoe conclui-se, igualmente, na unidadehoteleira de Albufeira.
Estão previstos quatro escalões:
- No primeiro escalão, os titularesde rendimento mensal inferior ouigual a 350 euros pagarão 350 euros(associados) ou 400 (não associados);
- 2º escalão, para rendimentossuperiores a 351 euros ou iguais a600 euros: associados pagam 600euros e não associados 650;
- 3º escalão, para rendimentossuperiores a 601 euros ou iguais a1010 euros: associados - 1010; nãoassociados. 1120 euros;
- 4 ºescalão, rendimentossuperiores a 1071 euros: associados –1500 euros; não associados - 1550.
Serviços de apoio e transporteOs serviços do “Sempre em
Férias” incluem alojamento emregime de pensão completa e meiapensão; serviço permanente deacompanhamento especializado,
nomeadamente médico e deenfermagem; seguro de acidentespessoais e responsabilidade civildurante as estadias; actividades decarácter recreativo desenvolvidas eadaptadas ás diferentes realidadesculturais e turísticas de cada região;acompanhamento permanente nasactividades por um animadorsociocultural; serviço de bagageiro noprimeiro e no último dia na unidadehoteleira; e, por fim, transporte emautocarro entre o distrito de origem ea unidade hoteleira e entre asunidades hoteleiras seguintes.
A participação encontra-selimitada a cotas mínimas definidaspara cada um dos escalões.
Mais informações: T. 210 027 142| [email protected] |www.inatel.pt . Solicite regulamento
MaratonaSeaside
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“Sempre em Férias” arranca no próximoVerão
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l Os amantes da natureza têm àdisposição vários trilhos cominteressantes propostas decaminhadas a locais recônditos e deelevada beleza paisagística. Saiba quepor, apenas, 5 euros pode aluguer umGPS com o trilho programado e partirà aventura com total autonomia naescolha do dia, hora e número deacompanhantes. O GPS orientá-lo-ána aventura onde, sob a tónica da
preservação da saúde, poderáusufruir do melhor que a naturezalhe oferece.
Os interessados deverão contactara recepção das unidades hoteleiras daFundação Inatel em Piódão, Luso,Castelo de Vide, Foz do Arelho, VilaRuiva e Linhares da Beira e escolherum dos dois trilhos disponíveis. Nãonecessita de estar alojado, apenas teriniciativa e desejo de quebrar a rotina,em grupo ou sozinho, mas semprecom roupa e calçado confortável e, depreferência, com água na mochila.
de viagens Leitur – Viagens e Turismo,Lda e TPM – Viagens e Turismo, astransportadoras Rodoviária do Tejo eAutoviação Micaelense, osespectáculos “Gaiola das Loucas”(Politeama), as termas de São Vicente,os palestrantes António Borges Martinse José Brites Inácio, os animadoresAngelique Câmara, Susana Sousa eCarlos Medeiros e os vencedores doconcurso: Manuel Rodrigues Pato(categoria texto) e João RodriguesFreire (categoria foto). No ProgramaTurismo Educativo Júnior receberamtroféu Joana Araújo Lopes pela melhorfoto apresentada a concurso, enquantoa Rede de Centros de Ciência Viva foieleita a colaboração mais marcante ePatricia Mariz a melhor animadora.
Caminhadas Inatel
l Cerca de sete centenas de senioresmarcaram presença na Gala de Natalque decorreu no passado dia 21 deDezembro na sala Preto e Prata doCasino Estoril, uma iniciativa queassinala o encerramento dosprogramas Sociais organizados pelaInatel. Após o almoço, Vitor Ramalho,Presidente da Fundação Inatel, deu asboas vindas a todos os presentes e,dirigindo-se os seniores, evocou ocontributo de todos na sociedade,afirmando que “através da vossaparticipação reforça-se, na época baixa,a taxa de ocupação das nossasunidades hoteleiras e de todos oshotéis privados que connoscotrabalham, criando e preservandoempregos nas diferentes regiões do
país”.A anteceder o espectáculo “Fado– História de um Povo” de Filipe LaFéria foram distinguidos os melhoresprestadores de serviço dos programasTurismo Sénior e Saúde e TermalismoSénior casos de: Inatel Piodão, InatelManteigas, Inatel Vila Ruiva, HotelSão Pedro e Grande Hotel Lisboa nacategoria de melhor unidade hoteleira;e nas restantes categorias, orestaurante Estalagem da Pateira, oCasino da Figueira, o Grupo MilRaízes” – Grupo Etnográfico do ClubeMillennium BCP, o Rancho Folclórico“As Tecedeiras”, o Grupo de Cantaresdo Pindelo dos Milagres, o Grupo deConcertinas da Beira Alta, AntónioFerreira, Luis Oliveira (Vamos Cantar),a discoteca Três Pinheiros, a agência
Gala Sénior
40º Congresso Mundial do CIOFF
l De 6 a 13 de Novembro realizou-seo 40º Congresso Mundial do CIOFF®,no Tahiti, Polinésia Francesa. AFundação INATEL, representanteportuguesa do Conselho Internacionaldas Organizações de Festivais deFolclore e Artes Tradicionais(CIOFF®), marcou presença atravésda participação da Vogal do Conselho
de Administração e Presidente doCIOFF® Portugal, Cristina Baptista.
O CIOFF®, uma organizaçãointernacional cultural não-governamental (ONG), em relaçõesconsultivas formais com a UNESCO,celebrou também os seus 40 anos desalvaguarda, promoção e divulgaçãoda cultura tradicional e do folclore.
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XV Concurso “Tempo Livre” Fotografia
Fotos premiadas
[ 1 ]
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[ 2 ]
[ 3 ]
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[ a ] José Barreiro, AlbufeiraSócio n.º 36010
[ b ] José Gonçalves, Venda do PinheiroSócio n.º 284945
[ c ] Maria Pereira, Montemor-o-NovoSócio n.º 486828
Menções honrosas
Regulamento
1. Concurso Nacional de Fotografia darevista Tempo Livre. Periodicidademensal. Podem participar todos osassociados da Fundação Inatel,excluindo os seus funcionários ecolaboradores da revista Tempo Livre.
2. Enviar as fotos para: Revista TempoLivre - Concurso de Fotografia, Calçadade Sant’Ana, 180 - 1169-062 Lisboa.
3. A data limite para a recepção dostrabalhos é o dia 10 de cada mês.
4. O tema é livre e cada concorrentepode enviar, mensalmente, ummáximo de 3 fotografias de formatomínimo de 10x15 cm e máximo de18x24 cm., em papel, cor ou preto ebranco.5. Não são aceites diapositivos e asfotos concorrentes não serãodevolvidas.
6. O concurso é limitado aosassociados da Inatel. Todas as fotosdevem ser assina ladas no verso com onome do autor, morada, telefone enúmero de associado da Inatel.
7. A «TL» publicará, em cada mês, asseis melhores fotos (três premia das etrês menções honrosas),seleccionadas entre as enviadas noprazo previsto.
8. Não serão seleccionadas, nomesmo ano, as fotos de umconcorrente premiado nesse ano
9. Prémios: cada uma das três fotosse lec cio nadas terá como prémio duasnoi tes para duas pessoas numa dasunidades hoteleiras da Inatel, durantea época baixa, em regime APA(alojamento e pequeno almoço). Oprémio tem a validade de um ano. Opre miado(a) deve contactar a redacçãoda «TL».
10. Grande Prémio Anual: umaviagem a esco lher na Brochura InatelTurismo Social até ao montante de1750 Euros.A este prémio, a publicar na «TL» deSetembro de 2011, concorrem todasas fotos premiadas e publicadas nosmeses em que decorre o concurso.
11. O júri será composto por doisresponsáveis da revista T. Livre e porum fotógrafo de reconhecido prestígio.
[ a ]
[ c ]
[ b ]
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[ 1 ] Ricardo Portugal, São João da MadeiraSócio n.º 455647
[ 2 ] Sérgio Guerra,São João do EstorilSócio n.º 204212
[ 3 ] Maria Esteves,AmadoraSócio n.º 242303
12e13_Conc_Fotog:sumario 154_novo.qxd 22-12-2010 16:11 Page 13
Entrevista
Cesário Borga/Fernanda Bizarro
A viagem de doisjornalistas aos 75 anosda INATEL
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Detentores de longa e sólida carreirajornalística, Fernanda Bizarro eCesário Borga aceitaram, ao longode seis meses, mergulhar na histó-ria dos 75 anos da Inatel para a rea-
lização de um documentário. Emitido a 14 deDezembro, no Canal 1 da RTP, e dois dias depois,no Canal Dois e numa Gala comemorativa reali-zada no Teatro da Trindade, o documentário(“Uma História com Futuro”) dá-nos, nos seus 42minutos, um retrato vivo e emotivo de uma insti-tuição criada pela ditadura para ‘controlo’ dostrabalhadores e que sobreviveu ao 25 de Abrilgraças à decisão sindical de aproveitar as suasestruturas e experiência para lhe conferir umadimensão adequada à nova realidade democráti-ca. Repleto de imagens e depoimentos que ilus-tram a espantosa evolução da FNAT/INATELdesde 1935 à actualidade, o trabalho destes expe-rientes jornalistas mostra como a renovadaFundação adquiriu uma invulgar importância nadefesa e promoção do lazer social, do desportoamador e da cultura popular, envolvendo cente-nas de milhares de seniores e jovens portugueses.Uma história que nos mostra factos, experiênciase testemunhos inesquecíveis, como o de RosaMota sobre os seus primeiros treinos e primeirasvitórias na pista de Ramalde da Inatel…ou o deum jovem e talentoso músico que, graças à fun-dação, está em Madrid à aprofundar a sua artejunto de um grande mestre, podendo sonhar comuma carreira de nível mundial.
Enquanto jornalistas o que mais vos surpreen-deu na pesquisa para este documentário?Fernanda Bizarro – Todos nós sabíamos daexistência da FNAT-INATEL mas eu não conhe-cia a sua história. Surpreendeu-me, talvez, a rea-lidade inicial dos Centros de Férias e o facto deaté ali nunca nenhum trabalhador ter tido fériase poder agora gozar os primeiros quatros dias. Eos centros em si, como funcionavam: os taispavilhões de cada ministério e as pessoas vinhamdesfrutar as férias em camaratas. Foi para mimuma revelação muito curiosa. E o conceito em si,que surgiu da Alemanha nazi, da “Força pelaAlegria”, modelo copiado e aplicado em Portugal.
Cesário Borga – Eu tinha já uma visão em relaçãoà FNAT-INATEL, da sua história política e da suarelação directa de instituição politicamente mar-cada num regime com os trabalhadores. Isto por-que vivi na altura do 25 de Abril o aparecimentoda Intersindical, integrei o plenário como repre-sentante do Sindicato de Jornalistas. Nas dis-cussões que houve à volta da FNAT havia umarelação muito grande do lado humano da insti-tuição, e que as outras não tinham. E havia histó-rias que se diziam, que houve pessoas que sóviram o mar graças à FNAT… A verdade é que édessa consciência que os sindicatos na alturadecidem apadrinhar a continuidade – emboranão se soubesse na altura como - relativamente àFNAT.
E depois havia outra coisa. Pelo lado da cultu-ra, muita gente adversa ao regime, sobretudo nofinal anos 60 princípios dos anos 70, já tinha tidocolaborações com a FNAT. Era o caso daCompanhia Portuguesa de Ópera, de algumascoisas do Trindade, onde entravam pessoas comoo Artur Ramos, que era do Partido Comunista,embora na clandestinidade. E tudo isto deu-melogo a consciência de que se tratava de umaestrutura diferente.Mas há uma adaptação do seu papel ao longodo tempo…FB – É muito interessante ver e analisar comouma instituição que nasce com um objectivopolítico desagradável em si, que era o domínioabsoluto dos trabalhadores, depois se traduz naprática por direitos dos trabalhadores. Porque asférias, as sessões e os serões para trabalhadoreseram outra coisa extraordinária. O ArturAgostinho explica isso muito bem no docu-mentário.
Numa época em que não havia televisão e asvozes dos artistas eram conhecidas sobretudoatravés da rádio, o público teve, pela primeiravez, a oportunidade de os conhecer e isso trans-forma-se, de um dia para o outro, numa coisaextraordinária. Os serões para trabalhadorescomeçaram nas empresas, mas as salas eram tãopequeninas para a curiosidade que despertouque eles tiveram de passar para o Pavilhão dosDesportos. Mas como era de tal maneira aprecia-do por todos, passou a haver dois tipos de serões:os do pavilhão, seguido pela Emissora Nacional,e em pequena escala, os das empresas.
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“Nas discussões quehouve à volta da FNAT haviauma relação muito grande dolado humano da instituição,e que as outras não tinham.E havia histórias que sediziam, que houve pessoasque só viram o mar graças àFNAT…”
Entrevista
Acabou por não cumprir o objectivo do regimede ‘adormecer’ as reivindicações…CB – Não, a FNAT adaptava-se, era uma organi-zação como as suas congéneres mas não fazia arepressão directa. A repressão cabia à PIDE e aoutras estruturas.A partir do 25 de Abril tem um papel dife -rente…FB – Hoje, a Inatel tem importância não só comooperador turístico e não só ao nível do desportoamador e das actividades culturais. A sua funçãosocial é notável. Veja-se o caso dos portuguesesemigrantes, ausentes no estrangeiro há cinco eseis décadas, e sem condições económicas pararevisitar o país. Esta é uma parte dos portuguesesde que ninguém fala, de que ninguém se lembra,mais: de que ninguém se quer lembrar. Já acha-mos triste que os portugueses tenham de emigrare se pensarmos que uma parte deles vai ser pro-fundamente infeliz e nunca mais vai ter possibi-lidades de regressar… Isso é um sentimento deculpa tão grande para todos enquanto sociedadeque ninguém se quer lembrar deles. E o programa“Portugal no Coração”, gerido pela Inatel, que
possibilita esse sonho aos nossos compatriotas devoltar à sua terra e reencontrar familiares temuma extraordinária dimensão humana e social.CB – A Inatel é uma instituição diferente dasoutras na forma de actuar. Tem turismo mas nãoé uma organização turística exclusivamente; temdesporto mas é amador, não é para pessoas fede-radas, tem outro tipo de competição; e tem a cul-tura a apoiar áreas que não são apoiadas de outramaneira. Esta diferença é a marca que aparece nodocumentário. Não encontramos nada igual nemnada que a possa substituir. Para este documentário consultaram diversasfontes…FB – Temos que falar da importância que foi parao nosso trabalho a vossa revista, a Tempo Livre, eque por lapso não vem mencionada na ficha téc-nica, o que é uma grande injustiça. A direcçãocultural da Inatel deu-nos, igualmente, todo oapoio no arquivo, na parte de documentação.Contámos ainda com a consultadoria científicado historiador José Carlos Valente. Fomos, tam-bém, à Biblioteca Nacional ler história da época;ao ANIME – arquivo de filmes da Cinemateca,
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que reúne uma grande documentação da Inatel ecujas imagens vêm na parte histórica do progra-ma; ao Museu República e Resistência, àHemeroteca de Lisboa e ao Arquivo da RTP.CB – Devo dizer que desde o princípio procurá-mos que este fosse um encadear de histórias,embora com uma orientação, uma pesquisa ecom uma distribuição de dados. Neste caso erauma história longa, com 75 anos, com passado epresente. E eu acho que é isso que se vê ao longodos 42 minutos, são esses encadeamentos dehistórias até ao fim…E algumas ficaram por contar…CB – No essencial, abordamos tudo. Claro quenão referimos com profundidade, não era um tra-balho enciclopédico. E depois também dependiamuito das imagens que encontrávamos nosarquivos. Porque é que damos um grande realceàs visitas dos operários alemães entre 1935-39,que vinham aos milhares visitar Lisboa e aMadeira? Porque encontrámos boas imagens noANIME. Se não encontrássemos nenhuma ima-gem a nossa referência àquilo teria sido resi-dual…
FB – Mas a vinda desses trabalhadores teve umaimportância crucial para a criação da FNAT. Épreciso que se diga que em 75 anos de existênciaé a primeira vez que se fala no assunto. De 1935a 1939 vieram a Lisboa e à Madeira 20 mil operá-rios alemães. Ninguém tem consciência distomas se tivermos em conta o número de pessoasque tinha Lisboa ou a Madeira nessa época… Nospaquetes, sempre em número de dois ou de três,vinham sempre à volta de três mil operários decada vez. Chegavam a Lisboa e tinham os eléctri-cos todos reservados para eles, que se espalha-vam pela cidade fora, visitavam tudo e mais algu-ma coisa.
Eles vinham a Portugal, comparavam e con-cluíam que o modelo alemão era o perfeito.Olhavam para a nossa sociedade e viam-na muitopobre e muito carenciada; os portugueses olha-vam para eles e viam um futuro de prosperidadeque poderiam vir a ter através do regime na altu-ra em ascensão. Daí o aproveitamento políticoque os dois regimes tinham dessas visitas turísti-cas dos trabalhadores alemães. n
Manuel Garcia (texto) José Frade (fotos)
“A sua função social énotável. Veja-se o caso dosportugueses emigrantes,ausentes no estrangeiro hácinco e seis décadas, e semcondições económicas pararevisitar o país. Esta é umaparte dos portugueses de queninguém fala, de queninguém se lembra, mais: deque ninguém se querlembrar.”
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Rituais
Por terras de Trás-os-Montes eEntrudos sem fronteiras18 TempoLivre | JAN 2011
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Alista da UNESCO não se confinaapenas a lugares e a patrimónioedificado. O património imaterialtem também aí lugar, desde 2001,através de um certo número de
manifestações de carácter religioso ou artístico,de festas e rituais. Os Entrudos do mundo ruralgalego bem poderiam lá figurar, pelo significadoque continuam a ter nos calendários locais, pelariqueza das funçanatas, em que participa normal-mente, e em grande número, a população local, eainda pela resistência à introdução arbitrária deelementos espúrios. Se em Xinzo de Limia, umalocalidade situada entre Verín e Ourense, o car-naval tem eminentes características urbanas, per-sistem, todavia, aspectos que assinalam o seuparentesco com as celebrações entrudescas dasaldeias da província. A animação convivial dosdesfiles, tal como o carácter fortemente satírico elúdico de muitos elementos da festa, justifica,enfim, a inclusão de Xinzo no itinerário de umasbreves férias de Carnaval. Mas antes de lá che-garmos, no itinerário proposto pela Inatel, espera-
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s e Galiza
Há-de a Primavera estar por umfio, coisa de semanas, e breves.Para esse tempo, FundaçãoInatel propõe uma viagem pelonorte do país, entre paisagensde montes e aldeias, com umcomplemento festivo: um saltoao outro lado da fronteira, aogrande Entrudo galego de Xinzode Limia.
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Rituais
nos um périplo por alguns dos recantos paisagís-ticos e patrimoniais mais interessantes da regiãode Montalegre.
Nos caminhos do contrabandoA região é terra de lendas - e das antigas, comodevem as lendas ser. Os passeios inscritos no pro-grama levar-nos-ão a pontes que só por um fio –ou uma pedrinha – não ficaram rematadas. Comouma que lá pela Serra do Barroso se quedouincompleta, tal e qual as famosas capelas. É o queconta o povo, que sabe, também, que enterrar ovinho – como faz a gente das bandas de Boticas –não é coisa que se faça por dá cá aquela palha.Uma prova de vinhos – no singular: do “vinhodos mortos” -, já perto do final da viagem eluci-dará melhor do que qualquer arremedo de expli-cação escrita sobre esse costume antigo. Antes detal fim de festa, desse último copo antes da estra-da de regresso, a cruzar paisagens de montes ebarragens, outros enredos terão subido à cena: aestância aos pés do castelo de Montalegre, as visi-tas a Pitões das Júnias - e ao seu mosteiro bene-ditino - e a Tourém, celebradas com manjaresregionais, a “participação” num entrudo rural na
que foi a capital da “Rota do Contrabando”. E,ainda, um passeio pela aldeia de Paredes do Rio,numa volta de reconhecimento e admiração doseu património – moinhos, fontanário, forno dopovo e o mais que a gente do lugar acarinha comose da mobília da casa se tratasse. Isto tudo numsó dia – já que quem corre por gosto não cansa -,que no outro a seguir há-de a folgança manter amesma cadência.
Em Meixedo, outra transmontana terreola quecultiva bem os seus pergaminhos, e porque nemsempre o profano se separa do religioso, terá oturista que meter os pés ao caminho na via-sacralocal. A passo de gosto, diga-se, que é o mesmoque dizer “sem sacrifício”, no prazer de relembrarretratos de uma vida antiga. Retratos desses, há-os também para encher os olhos em Santo André:o forno do povo, a igreja, o cruzeiro. E num ápice,que tudo ali é pertinho, ao alcance de um voo depardal, vem um salto a Espanha, para repisar oscaminhos do contrabando, na aldeia de Gironda,antes do regresso a Vilar das Perdizes, para umanoite animosa. Sem bruxas, mas com um clássi-co baile de máscaras, a mando, claro, de quemreina na quadra, el-rei Entrudo.
Mascaradas, carroças e correrias A avaliar pelo interregno que pesou durantedécadas sobre as folias de Entrudo na Galiza (eem Espanha), a ditadura franquista não era (ounão estava) para brincadeiras. Esse foi um tempode celebrações à porta fechada, em rituais e fes-tanças censuradas pelas autoridades religiosasmancomunadas com o (sempre) carrancudopoder de militares e polícias. Era um tempo emque as máscaras equivaliam a pecado, um tempoem que, como escreveu o escritor galego CarlosCasares, “polas rúas non circulaban máis que aGarda Civil e xente aburrida”.
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Carnaval em Xinzo deLimia e em Sarreaus.Em baixo, a Banda deGaitas de Xinzo deLimia
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Castelo deMontalegre, Tourém,Alto Rabagão e Pitõesdas Júnias
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Rituais
Tempos que foram: águas trespassadas nãofazem redemoinhos. Hoje, quem anda aos saltos ereviravoltas em Xinzo de Limia, sem censuras nemamarras nem estigma de pecadores, são uns tiposgalhofeiros animados por uma espécie de energiainfinitamente renovável. São as «Pantallas», masca-rados vestidos de branco, ataviados com uma capanegra ou vermelha e umas bexigas bovinas nasmãos, personagens que se fazem anunciar, nas suas
doidas correrias pelas ruas, pelo som dos choca -lhos suspensos nos cintos de couro.
O ciclo de Carnaval de Xinzo de Limia é umdos mais longos de toda a Espanha, começandocom três semanas de antecedência, com o“Domingo Fareleiro”, dia de uma divertida bata lhade farinha. Segue-se o “Domingo Oleiro”, compotes de barro a voar pelos ares, o “DomingoCorredoiro”, primeira assembleia-geral de foliões,e o “Domingo de Entroido”, que solta uma espiralde três dias de colossal folgança. Mascaradas,carroças satíricas em desfile pelas ruas e as“Pantallas” aos pinchos são imagens verdadeira-mente simbólicas do Entrudo de Xinzo. Nas ruase nas praças, bem entendido. Porque à mesa nãofaltam também (manjares) rituais a rimar com aquadra: come-se o “lacón com grelos”, o “cocido”,a “cachucha” e notórios enchidos tradicionais fei-tos com carne de porco temperada com alho,pimento, louro e orégãos. Xinzo de Limia não temapenas um dos mais longos ciclos de Carnaval.Tem também, com toda a certeza, um dos maisrefinadamente temperados. n
Humberto Lopes (texto e fotos)
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Viagens INATEL
A Fundação Inatel organiza, de 5 a 9 de Março, com partidas de
Setúbal, Lisboa e Coimbra, o circuito Carnaval Galaico-
Transmontano, com passagens, nomeadamente, por Montalegre,
Paredes do Rio, Pitões das Júnias, Tourém, Meixedo, Vilar de
Perdizes, Xinzo de Lima, Pisoões, Morgade, Carreira da Lebre e
Boticas. Preços por pessoa: 495 euros (quarto duplo) e 610 (quarto
individual). Incluem alojamento, pequeno almoço; refeições,
bebidas e vistas conforme programa; autocarro de turismo, guia,
seguro de viagem. Mais informações nas agências distritais da
Inatel.
Mascaradosem Xinzo de Limia
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Inatel Cultura
Oficinas Tempos LivresExperimentar, Conviver,ApreciarExperimentar, conviver e apreciar são palavras-chave que definem a actividade promovidanas Oficinas dos Tempos Livres (OTL) da Fundação Inatel.
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Anteriormente chamadas Escolasdo Lazer, as OTL oferecem aosbeneficiários da Fundação INA-TEL os mais variados cursos demédia e curta duração para a ocu-
pação do tempo livre. Acessíveis tanto para osassociados como para os não associados, os cur-sos podem ser frequentados pelo público emgeral, não havendo qualquer restrição ou limitede idade. Os associados da Fundação beneficiam,naturalmente, de um desconto na inscrição.
AprendizagemArtes plásticas (Pintura, Escultura) e performati-vas (Dança, Teatro), ofícios (Joalharia emEsmalte, Bordados Tradicionais), introdução anovas tecnologias (Informática) e Línguas sãoalgumas das áreas pelas quais é possível optar,aliando a aquisição de novos conhecimentos aoconvívio, bem-estar e novas experiências.
Iniciados há mais de vinte anos, estes espaçosde lazer funcionam quer em Lisboa quer noutrospontos do país, por iniciativa das Agências dis-tritais da Fundação.
Quem participa nos diferentes cursos encon-tra espaços de aprendizagem, criativos e de apeloà imaginação, e uma forma original de ocupaçãodo tempo. As motivações são várias e distintas,podendo ser, por um lado, uma paixão antigaque, por motivos profissionais ou de outraordem, nunca foi possível concretizar, ou, poroutro lado, um impulso, uma curiosidade deenveredar por algo totalmente diferente e novo.
De uma forma ou de outra, encontram-se ospontos em comum na sala do curso, onde todosse dedicam afincadamente àquilo que se com-prometeram experimentar e apreciar, com entu-siasmo e vivacidade.
Os participantes são o mais heterogéneopossível. Não há limites de idade, referências noque diz respeito a habilitações literárias ou ocu-pação profissional. Há a determinação paraaprender e estar activo.
ValorizaçãoApesar de serem cursos programados e direccio-nados para a ocupação dos tempos livres, é desalientar a importância que a participação nestasactividades já implicou na vida profissional dediversas pessoas, sem muitas ambições, que pro-
curavam não mais que uma ocupação, e que,com a experiência, já integram associações deartesanato, cooperando em feiras, a título indivi-dual e colectivo, bem como exposições ou vendade peças em lojas especializadas. O “passa-a-palavra” pode se converter rapidamente numaactividade de sucesso, surtindo, a partir daí, efei-tos para um mercado muito interessante de dina-mização do ofício escolhido.
Por vezes, a decisão de participar num cursodestes pode levar a potencializar competências eser uma solução para uma situação de desempre-go, num encontro com uma área para a qual setem, afinal, uma aptidão desconhecida até aomomento. É, pois, parte da missão da FundaçãoINATEL a valorização do ser humano, proporcio-nando reconhecimento a nível das competências.E neste seguimento, as OTL são a actividadedireccionada para essa valorização.
O estabelecimento de parcerias com entidadesformadoras de prestígio fomentam o valor destasacções, na medida em que o serviço prestadoprima pela qualidade.
As áreas promovidas variam consoante asnecessidades ou tendências, sendo sempre objec-tivo principal da Fundação dar resposta eficaz eimediata às solicitações recebidas pelos interes-sados.
No ano de 2010, registe, realizaram-se 35 cur-sos com cerca de 400 participantes.n
Ana Cónim
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CONDICIONADO pela sua situação geográfica,confinado entre a China e a Índia, o Nepal sómuito recentemente passou de reino a república,mas nem por isso esqueceu as suas mais genuí-nas expressões artístico-culturais. Um enormevale, onde se concentram os três mais impor-tantes centros urbanos do país – Khatmandu,Bhaktapur e Patan –, e uma miríade de colinas emontanhas definem a geografia desta antigamanta de retalhos de diversas etnias, crenças ecidades estados, ainda hoje perfeitamente per-
ceptíveis, cujos segredos só no início do séculoXVII seriam revelados ao mundo. Graças a umjesuíta português: o beirão João Cabral, oprimeiro ocidental a transpor o limiar do atéentão desconhecido reino do Nepal. A cadeia dosHimalaias, o «domínio das neves», em sânscrito,continua a ser o principal íman que ano após anoatrai milhares de turistas que puseram um pontofinal num dos últimos mistérios do míticoShangri La. n
Joaquim Magalhães de Castro (texto e fotos)
NepalO Domínio dos Himalaias
Portfólio
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“Uma miríade decolinas e montanhasdefinem a geografia destaantiga manta de retalhosde diversas etnias, crençase cidades estados”
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Port
fóli
o
“A cadeia dosHimalaias, o «domínio dasneves», em sânscrito,continua a ser o principalíman que ano após anoatrai milhares deturistas”
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Termas em Portugal [18]
Oflorescimento dos Estoris deu-se, primeira-mente, no Monte Estoril e, depois, em SãoJoão do Estoril, onde também houve umaságuas curativas, os Banhos da Pôça. Mas foia antiga Quinta de Santo António que viria
ser o local onde se construiram, através dos tempos, os prin-cipais edifícios de suporte à actividade termal da zona doEstoril. Primeiro, por intermédio de José Viana da SilvaCarvalho, que desde 1880 remodela toda a quinta e os anti-gos banhos e constrói um balneário em estilo neo-árabe.Seria, contudo, a partir de 1913 que um conjunto de capi-talistas, liderado por Fausto de Figueiredo, criaria o primei-ro centro de turismo desenhado de raiz em Portugal, comambições internacionais, em torno da trilogia praia, termase jogo, cujo êxito se atribui quer à área geográfica privile-giada – próximo da capital do país – quer à amenidadeclimática. A nova “estação marítima, climatérica, termal edesportiva” do Estoril previu um conjunto completo de ins-talações e equipamentos: três hotéis, novo balneário, casinocom teatro anexo, palácio de desportos, edifício para ba -nhos de mar e amplo jardim.
Fausto de Figueiredo foi uma figura incontornável nasorigens do turismo organizado no nosso país. Passou a resi-dir no Monte Estoril, desde 1910, formando a SociedadeEstoril-Plage e com a qual conseguiu cativar o interesse dogoverno republicano e dos grandes capitalistas lisboetasque investiram urbanisticamente neste local.
Em 1914, é publicado um folheto-álbum, onde se apre-senta todo o programa da obra dos seus promotores e a mate-rialização conceptual do sonho. Com desenhos do arquitec-to francês Henri Martinet, o texto do documento desenvol-ve-se em vários capítulos que reforçam a necessidade de darcondições à iniciativa privada para desenvolver turistica-mente esta região do país. Os projectos de balneário, hotéise casino seriam, contudo, transformados por outros técnicos(condutor de obras públicas Silva Júnior e arquitecto RaoulJourde) e construídos até à década de 1930.
O balneário termal que resultou desta iniciativa foi umdos mais grandiosos do país. Para além da época estival,abria durante o Inverno a pedido de alguns clínicos. E nãotinha só os banhos e duches de toda a natureza, que consti-tuíam os meios terapêuticos do estabelecimento. A meca-
As boas águas do EstorilFrequentar as águas terapêuticas do Estoril remonta, pelo menos, ao século XVI, mas foi noséculo XIX que o local tomou o impulso vilegiaturista que imprimiu um rápidodesenvolvimento a toda esta orla costeira, motivado pelo clima, caminho-de-ferro, pelaspraias e termas. Já na República, e com o patrocínio desta, os anos que se seguiram foram deesplendor e, a partir do corrente ano, de reencontro com as águas emergentes.
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Aguarela do plano doEstoril, do arquitectoHenri Martinet, 1914.Ao lado, um anúnciodas Termas deNovembro de 1930.Na página da direita,as actuais instalações
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noterapia, as massagens e os tratamentos pela electricidade,pela luz e pelo calor tinham instalações muito completas. Apiscina com galeria era das melhores do país.
A construção dos diferentes edifícios e do espaço públi-co arrastar-se-ia até à entrada dos anos 30, seguindo-se umperíodo de intensa construção nas zonas conquistadas aopinhal, às terras de lavoura e às pedreiras, facilitada, desde1940, pelo acesso rodoviário proporcionado pela estradamarginal. O concelho assume-se, então, como centro turís-tico de primeira ordem, recebendo, durante a II GuerraMundial, e mesmo depois, um elevadíssimo número derefugiados e exilados, bem como inúmeras figuras do pano-rama desportivo e cultural, tornando-se numa das mais afa-madas estâncias, de nível internacional. A sua actividadetermal perdurou até à entrada dos anos 60, quando se per-mitiu demolir, inopinadamente, o seu balneário, esperando-se, agora, um tempo de refundação, através do novo edifícioprojectado pelo arquitecto Manuel Gil Graça.
A reactivação das Termas do Estoril corresponde a umgrande investimento, para dotar o local com uma ofertaterapêutica e turística à volta das suas águas termais, capta-das a 278 metros, com 34,5º de temperatura. Trata-se depropiciar a terapia das águas a quem visita este novo bal-neário termal, numa unidade de excelência, assistida porum corpo clínico especializado e multidisciplinar, benefi-ciando das propriedades terapêuticas de uma água recon-hecida há já vários séculos e pela sua eficácia na prevençãoe tratamento das patologias das vias respiratórias, muscula-res, articulares e da pele. A divisão do edifício em duasáreas distintas, para programas terapêuticos e de bem-estar,é uma forma de potenciar as vantagens de servir os váriostipos de necessidades dos clientes, não só dos que estão emtratamento, mas também daqueles que pretendem simples-
mente desfrutar das instalações como forma de lazer eentretenimento. O futuro das termas portuguesas pode pas-sar por saber conciliar estes dois aspectos, mas o que ver-dadeiramente as distingue de outros centros de saúde é aexistência do bem mais precioso, a água mineral natural.
Para além da área terapêutica, o edifício oferece um Spade inspiração em tradições asiáticas milenares, propiciandoa quem o utiliza uma experiência única de evasão e bem-estar, num verdadeiro refúgio para os sentidos caracteriza-do pelo conforto, a elegância e o exotismo. As terapeutas,originárias da Tailândia, recorrem aos mais apreciados ereconhecidos óleos essenciais, sais, plantas e especiarias.As sessões terminam com 30 minutos de relaxamento, queincluem um tratamento de pés, uma bebida refrescante àbase de ervas e alguns minutos de tranquilidade e intros-pecção. Também a técnica Watsu utiliza a leveza do corpona água para libertar a coluna vertebral, mobilizando arti-culações e sendo profundamente relaxante. É única nas ter-mas portuguesas.
As Termas do Estoril são o único complexo termal daGrande Lisboa e, como tal, terão um papel importante naimagem do turismo de saúde associado às águas mineraisnaturais. E estas mantêm-se há séculos, no Estoril como emmuitos outros locais do país, cumprindo o seu ciclo e ultra-passando gerações e regimes políticos. Regenerando a vida.
E, numa estância de águas, a vida precisa de outros moti-vos de interesse que dão ao aquista todas as possibilidadesque o turismo potencia. Restaurantes, cafés, lojas e percur-sos de Natureza, bem como uma intensa e bem articuladaactividade cultural, manifestada nos diferentes espaçosmuseológicos e de produção artística e na dinâmica autar-quia de Cascais. n
Jorge Mangorrinha e Helena Gonçalves Pinto
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Memória
Carlos Paredes, pois é dele que falamos, tratadopor muitos como o "poeta da guitarra portu-guesa", ficou na história como autor de uma"música a um tempo popular e culta, tradicio-nal e inovadora, uma música universal". Vale a
pena saber um pouco mais sobre este homem a quemtambém chamaram "o homem dos mil dedos".
"Verdes Anos", o hino de ParedesDa biografia normal do músico consta que nasceu emCoimbra no dia 16 de Fevereiro de 1925 e morreu a 23 deJulho de 2004. Afastado da sua guitarra (chamava-lhe a suamenina) desde 1998 devido a umadoença fatal chamada mielopatia,doença neurológica que afecta aespinal medula, Carlos Paredes foi,como disse Manuel Alegre, "apalavra por dentro da guitarra / aguitarra por dentro da palavra".
Modesto, achava-se um amadorde guitarra, um instrumentistapopular e espantava-se por o admi-rarem tanto: "Toco guitarra, as pes-soas gostam de ouvir. Juntamo-nos,tocamos e assim vamos vivendo."Este era o verdadeiro CarlosParedes.
Antes da guitarra, o músico ainda tentou o piano e o vio-lino mas cedo descobriu que a guitarra era o instrumentoque mais gostava de ouvir. Muito jovem passou a acompa -nhar o pai, Artur Paredes, chegando a tocar em programasda Emissora Nacional.
Foi, no entanto, em 1962 que Paredes se tornou famosoquando compôs a banda sonora do filme "Verdes Anos", rea-lizado por Paulo Rocha. A partir daí sucederam-se temaspara filmes de Manoel de Oliveira, Fonseca e Costa, ManuelGuimarães, Pierre Kast e outros. Paulo Rocha voltou a pedir-
lhe música para o seu "Mudar de Vida". Cinema, teatro, bai-lado andaram, por esses tempos, muito ligados à música deCarlos Paredes e à sua guitarra. E enquanto tocava e com-punha a música que lhe pediam, Paredes nunca deixou deser funcionário público (era arquivador de radiografias noHospital de S. José).
A política na vida do artistaMilitante do Partido Comunista Português, esteve preso emCaxias e, denunciado por um colega, foi demitido do hos-pital onde trabalhava. Já depois do 25 de Abril foi reinte-grado e voltou a arquivar radiografias sem deixar de tocar.
Durante algum tempo andou peloPaís a tocar de graça para os traba -lhadores.
Acompanhou todos os grandesartistas portugueses e quando umdia o José Duarte lhe perguntou seum dia não gostava de acompanharAmália, Carlos Paredes respondeu:"Não podia. Se acompanhasseAmália eu desvirtuava. Amália éuma criadora, não se limita a cantaro fado. Amália é uma força culturalda música urbana portuguesa. Paraacompanhar Amália eu destruiriaisso."
O encontro com o contrabaixista Charlie Haden, primei-ro no Hot Club numa sessão de improvisos fabulosa, edepois em Paris na gravação de "Dialogues", uma espécie deduelo entre o mestre do contrabaixo e o mestre da guitarraportuguesa, foi, segundo os que puderam assistir, umaexperiência única.
O maestro António Vitorino de Almeida dizia deParedes: "A sua maneira de estar na vida e na música é deuma grande coerência ética e ideológica. Se alguma vez oCarlos Paredes deixou de estar nalgum sítio foi porque esse
Carlos Paredes, o poetada guitarra portuguesaMorreu há seis anos e, ao recordá-lo hoje, lembro-me de um excelente título que o jornalistaFernando Magalhães deu a um artigo sobre o "poeta": "Se Amália foi o fado, Paredes é a suatranscendência.". E era mesmo.
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sítio mudou de sítio. Ele nunca saiu do seu lugar". Esta éuma grande definição do homem de quem falamos.
Amigo e companheiro de 25 anosNo início dos anos 60, Paredes ligou-se ao violista FernandoAlvim e foi uma amizade para mais de 25 anos. Alvim con-fessou a seu respeito: "Tinha que adivinhar a respiraçãodele para saber como ia tocar naquele dia. Era imprevisível,nunca tocava da mesma maneira."
Cerca de vinte anos durou a ligação sentimental deParedes com a instrumentista Luísa Amaro. Aliás foi Luísaquem assistiu aos primeiros sintomas da doença do maridoe quem, dada a gravidade do estado de saúde do músico, ointernou no hospital e, mais tarde, no Lar de Nossa Senhorada Saúde, em Campo de Ourique. Mielopatia foi o diagnós-tico que o prendeu à cama durante cerca de dez anos. Esempre Luísa Amaro ao seu lado.
Muitas visitas famosas passaram pelo Lar de Campo deOurique: Maria Barroso, o casal Eanes, Amália, João Soares,Álvaro Cunhal entre outros. Conta quem viu que, quandoCunhal o visitou, Paredes se emocionou muito e teria ditoao enfermeiro que o assistia: "o meu amigo deve muito aeste homem. Ele lutou pela liberdade de todos…"
Um grandalhão com alma de meninoFoi o amigo Manuel Alegre quem melhor definiu Carlos
Paredes - um grandalhão com alma de menino. Num exce-lente trabalho de Luís Osório para a revista "Visão", em1996, ficámos a saber que o músico gostava muito de comere falava frequentemente do Galeto e do Alcântara Café,onde costumava ir antes de adoecer, e adorava os hambur-gers do MacDonald´s. Benfiquista ferrenho e fervorosocomunista costumava dizer: "Quando o Benfica ganha faz aalegria de uns e quando perde faz a felicidade dos outros."
Distraído concentrado, perdia-se nas ruas, nos aeropor-tos, confundia as salas de espectáculo e tanto que um diadeixou o colega e companheiro, Fernando Alvim, a tocarsozinho durante vários minutos. Tinha-se perdido noscorredores.
Luísa Amaro, sua companheira na vida, costumavadizer: "o Alvim foi o pai de Paredes e eu sou amãe…Acompanhei o Paredes em momentos extraordiná-rios. Tive realmente o privilégio de o encontrar na minhavida. Porque ele é único, não se repete nem nos próximosmil anos. Recebi dele as grandes ensinanças da vida."(entrevista a Maria Leonor Nunes, no J.L.).
Termino repetindo a bela frase de Carlos Paredes que, nofundo, define o artista e o homem: "Toco guitarra, as pesso-as gostam de ouvir. Juntamo-nos. Tocamos. E assim vamosvivendo." n
Maria João Duarte
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Em cima: Paredes e ohomem dascastanhas; era assim,entre gente simples,que ele se sentiabem.Ao lado: CarlosParedes e a “suamenina” através daqual “falava com aspessoas”.Em baixo: actuandocom Fernando Alvim,seu companheiromusical durante 25anos
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Olho Vivo
Primatas resistem
O que distingue os macacos e outrosprimatas nossos primos das outrasfamílias de animais é a sua resistência
aos altos e baixos das condições ambientais,meteorológicas e alimentares - conclui um estudopublicado em Dezembro na revista AmericanNaturalist. Os primatas são menos susceptíveis àsmudanças sazonais, particularmente à chuva, que
fazem mossa na sobrevivência de outras espécies e isso pode ajudar aexplicar o êxito evolucionário da espécie humana. Os factores para osucesso são alguma inteligência, vida em sociedade, com troca deinformações e inter-ajuda, e capacidade para comer um pouco de tudo.
Não é o que estáa pensarOs infiéis em série, que traemo cônjuge ou o namorado àmínima oportunidade, têmuma nova desculpa: nãopodem evitar as facadinhasno matrimónio por causa doseu gene DRD4. Segundo umestudo da universidade deBinghamton, Nova Iorque, ainfidelidade pode estar noADN, nesse gene-receptor dedopamina que influencia aquímica do cérebro e, porconseguinte, ocomportamento dosindivíduos. Foi analisada avida sexual de 181 jovensadultos, juntamente comamostras do seu ADN, edescobriu-se que os quetinham uma certa variante doDRD4 eram maispromíscuos, tinham maiscasos de infidelidade e desexo "recreativo".
Medo da invejaCientistas holandesesprovaram, num estudopublicado na revistaPsychological Science, que omedo de se ser invejado fazas pessoas portarem-semelhor com as outras. Quemé alvo de inveja por parte dequem faz o que pode paradeitar os outros abaixo temtendência para ajudar opotencial invejoso e ajuda-omais do que auxiliaria quemnão mostre vontade de oatacar por ter êxito. O estudodos holandeses dirigidospelo Prof. Niels van de Vem,da Universidade de Tilburg,não diz se estas tentativaspara seduzir e acalmar umpotencial "inimigo" resultam.
Quentinho Ano Novo
Ninguém diria, com o frio que fezem Dezembro, mas o ano que agoraacabou foi um dos três maisquentes, registados desde 1850. AOrganização Meteorológica Mundialainda está a fazer as contas, parasaber se não foi mesmo mais quente, à frentede 1998 e 2005. O ar polar, que trouxe um inverno precoce àEuropa, disfarçou o aumento da temperatura média do planeta. No Canadá,por exemplo, os termómetros registaram mais 4 a 6 graus do que a médianormal. Os técnicos prevêem, entretanto, que 2011 possa acentuar estatendência, mantendo-se quentinho. Não são lá muito boas notícias...
Cães ganham
Os cães desenvolveram, ao longo dos milhões de anos, cérebros maiores doque os gatos porque os mamíferos mais sociais precisam de mais célulascinzentas do que os solitários, diz um novo estudo daUniversidade de Oxford. Os cientistas analisaramdados sobre o tamanho dos cérebros relativamente aocorpo de mais de 500 espécies de mamíferos vivos efósseis e concluíram que os que cresceram maisdepressa foram os dos primatas, seguidos docavalo, do golfinho, do camelo e do cão. Quantomais estável é o grupo, maior o cérebro. Osmiolos de animais solitários como os gatos, oveado e o rinoceronte evoluem mais lentamente.
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António Costa Santos ( textos) André Letria ( i lustrações)
Há mais bichos na Terra
Um peixe das cavernas sem olhose uma rã que transporta osfilhos às costas são duas novas
espécies descobertas emDezembro no território indonésioda Nova-Guiné, por cientistaslocais e franceses. Numa região
muito selvagem da Papua, junto aLengguru, os cientistas percorreram um " imenso labirinto
de ecossistemas isolados ", onde as espécies podem estar protegidas hámilhões de anos. O peixe foi encontrado numa gruta, onde a falta de luz ofez perder a pigmentação e os olhos.
Adeus à cárieA cárie dentária pode ter os dias contados. Dois cientistas deGroningen, Holanda, decifraram a estrutura e a forma deactuar da glucansucrase, enzima responsável por a placadentária se agarrar ao esmalte. Agora é descobrirsubstâncias que inibam este enzima e acrescentá-las àspastas de dentes e a velha cárie deixará de se rir e afectaros nossos sorrisos. Bauke Dijkstra e Lubbert Dijkhuizendizem que a glucansucrase transforma o açúcar numa colapara o agarrar ao esmalte, onde a sua fermentação vaicomendo o cálcio. Os futuros inibidores do enzima podematé ser incluídos directamente nos doces.
A montanha pariuuma bactériaA NASA fez parar a respiração amuita gente, quando anuncioupara uma quinta-feira deDezembro uma conferência deimprensa especial, dada porespecialistas em vidaextraterrestre. Teria descoberto,por fim, marcianos e ETs?Afinal, era uma nova forma devida, sim, mas descoberta aquiao lado, na Califórnia, planetaTerra, como é sabido. No fundode um lago, há uma bactériacapaz de se desenvolver a partirdo arsénico, incorporando-o noseu ADN, prescindindo dofósforo. O grupo de elementosbásicos que a ciência consideranecessários à vida - hidrogénio,azoto, oxigénio, fósforo eenxofre - tem, assim, mais ummembro, o arsénico (a consumircom moderação, uma vez que éum poderoso veneno).
Gordura poluídaA exposição ao ar poluído nainfância e adolescência podeconduzir à obesidade em adulto,segundo um estudo do biólogoQinghua Sun, da Universidadede Ohio. Ratos expostos àpoluição cinco dias por semana,durante dois meses e meio,criaram mais células gordas eregistaram níveis de açúcar nosangue mais elevados do queoutros que respiraram ar puronos primeiros tempos de vida.Os animais começaram aexperiência às três semanas deidade, correspondendo operíodo à infância eadolescência de um ser humano.A obesidade é independente dadieta dos ratinhos. Qinghua vaiagora estudar o fenómeno emhumanos da cidade de Pequim.
Há mais estrelas no céu
Dois astrónomos americanos, Pietervan Dokkum, de Yale, e CharlieConroy, de Harvard, anunciaramem Dezembro que as estrelas nocéu são muito mais numerosas doque se pensava. Depois derecensearem astros em oito das maisantigas galáxias do universo, distantesentre 50 e 300 milhões de anos-luz,verificaram que cada uma delas terácinco a dez vezes mais estrelas que aVia Láctea, com os seus 400 milmilhões. As anãs vermelhas, de fracaluminosidade, fazem a diferença. O estudo foi publicado na revista Nature.Aguarda-se agora uma reacção da dupla Rui Veloso/Carlos Tê, que garantia,há uns anos, que não há estrelas no céu.
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Quando se fala de medronheiros(Arbutus Unedo L.) todos sorriemcom ar cúmplice. “O medronho dápedra!”, dizem uns. “É proibido fazer aguardente”, sussurram outros. “To -
dos os marinheiro bebiam uma aguardente demedronho antes de irem para o mar, era o rumnacional”, ouvimos dizer.
O medronheiro não é só a árvore que, por unsmomentos, liberta os portugueses do fado triste,na cultura Mediterrânica, onde a espécie é nati-va, aparece associado à morte e à imortalidade,simboliza o início de um novo ciclo.
Poucos conhecerão a deusa romana Cardea,em cujas mãos o ramo de medronheiro era umaespada contra as feiticeiras e uma varinha mági-ca curativa das doenças infantis, mas ainda hoje,na Córsega, nas celebrações do primeiro dia do
O cálice da maior borboleta
Se Deus tivesse dado o medronheiroao Diabo não haveria uma árvore deNatal portuguesa.
A Casa na árvore
Susana Neves
Fotos: Susana Neves
ano, as crianças deixam sobre as mesas das casasonde receberam fruta, doces e dinheiro, um ramode “Albitru” (medronheiro em corso).
“Arbousier” em francês, “strawberry tree”(árvore dos morangos) em inglês, “madroño”, emespanhol, entre nós, também “ervedeiro”, “érvo-do”, ou “ervado”, muitas são as formas de desig-nar uma espécie silvestre cujo usufruto ficaaquém do seu potencial, motivo pelo qual foiincluída entre as “NUC” (“Neglected orUnderutilized Crops”), plantas cujas colheitasestão negligenciadas ou subaproveitadas.
Esquecida a memória dos rituais pagãos – emRoma, sob os caixões era habitual colocar-se umramo de medronheiro – e havendo desde a anti-guidade uma reserva quanto à ingestão do fruto(em latim, “Arbutus Unedo”, significa pequenaárvore de que apenas se pode comer um fruto), omedronheiro não deixou, no entanto, de ser omanjar preferido da maior borboleta diurna por-tuguesa “Charaxes jasius L”.
Para a borboleta do medronheiro alimentar-sedas suas folhas, quando é ainda uma pequenalagarta, ou de medronhos maduros, uma vez adul-
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ta, só contribuiu para aumentar a sua beleza e gra-ciosidade. Nem embriaguez nem mal-estar, atri-buídos ao consumo excessivo de medronho, pare-cem afectá-la, bem pelo contrário, o colorido dassuas asas (castanho avermelhado, amarelo, brancoe preto) lembram as belas cores desta árvore dafamília das “Ericaceae”, à qual pertencem tambémos rododendros, azáleas e os mirtilos.
De pequeno porte (pode, no entanto, atingircerca de 10 metros de altura, e 200 anos de vida),capaz de renascer com grande vitalidade apósum incêndio, o medronheiro é antes de mais umaárvore resistente que não gosta de solos demasia-do húmidos e geadas fortes, por isso em Portugal,cresce espontânea de Norte a Sul, mas encontraárea privilegiada nas serras de Monchique eCaldeirão (Algarve).
Companheiro da azinheira e do sobreiro, omedronheiro é uma espécie festiva, um exemplode “joie de vivre” do mundo vegetal, que os por-tugueses poderiam eleger como árvore natalícia.Em pleno Inverno, mantém verde a folhagem,exibe delicados cachos de flores bastante melí-fluas e ainda frutos que são como pequenos sóis,amarelos, vermelhos, polposos e doces, se total-mente maduros.
É por isso injusto dizer que o fruto não presta,como se conclui das palavras de Andrés Laguna deSegóvia, médico, botânico e humanista espanhol,que no século XVI comparou o medronho a «mui-tas cortesãs de Roma, as quais, pela aparência,direis serem ninfas, de tal forma vão cheias de miladereços, mas se procurardes debaixo daquelasroupas, verificareis serem um verdadeiro exemplodo mal francês [queria dizer, terem sífilis]...».
Indiferente a insultos, o medronheiro semprebeneficiou quem dele soube tirar proveito, desdelogo a nível medicinal: as raízes, folhas, cascas efrutos têm propriedades anti-inflamatórias, anti-sépticas, depurativas, diuréticas, etc. sendotambém usadas no curtimento das peles devido aotanino vegetal; a madeira, muito fina, serviu à cons-trução de flautas (Grécia) e enquanto combustível;do medronho, para além de aguardente, fazem-sevinagres, licores, doces, geleias e até molhos. «Oprato principal realizado [por ocasião] no último
Capítulo da Confraria do Medronho, levava molhode medronho», conta a confreira Carla Godinho,membro desta associação nascida na vila de Tábua(Coimbra), em 2008, onde se pretende vir a criaruma destilaria devidamente legalizada.
Muitas são as vidas do medronheiro, para láda aguardente, que ligava a gente serrana ao seupassado árabe, pelo domínio dos alambiques decobre usados na destilagem, e que apesar dosconstrangimentos legais e fiscais, impostos a par-tir dos anos 70 e agravados com a entrada naComunidade Europeia, ainda persiste.
Uma lenda, diz que o diabo pediu a Deus paralhe oferecer a laranjeira e o medronheiro e Deussugeriu que ele reclamasse estas árvores quandonão estivessem com flor nem fruto, como sabe-mos tal nunca acontece. n
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l CONSUMO A UE aprovou a comercialização de arroz transgénico. Emcausa um negócio de milhões mas, também, a saúde e segurança dosconsumidores. Pág. 44 l À MESA O chocolate tem uma componente defantasia e prazer irresistíveis. Quem o come, gaba-lhe o lado delicioso eeuforizante, mas também a delicadeza. Pág. 46 l LIVRO ABERTO Em destaquea autobiografia de Victorino de Almeida e a reedição da obra-prima doNobel alemão Thomas Mann, “Doutor Fausto”. Pág. 48 l ARTES Até ao dia 15ainda é possível ver Cadernos de Sombras – Os Contornos da Miragem,exposição do artista plástico Jaime Silva na SNBA. Pág. 50 l MÚSICAS“Biografias do Fado” é um imperdível documento sobre dois dos mais
peculiares géneros da música popular portuguesa:os fados de Lisboa e de Coimbra. Pág. 52 l NO PALCOAtenção à história de São Julião Hospitaleiro,baseada na obra de Flaubert, no Teatro Municipal deSão Luís. Pág. 54 l CINEMA EM CASA Para um
animado e divertido começo do ano, uma selecção de quatro boas ediversificadas histórias de suspense e comédia. Pág. 56 l TEMPOINFORMÁTICO Grandes mudanças para 2011 no domínio dos diversosdispositivos informáticos. Chegou a “globalização”: um só dispositivo paramúltiplas funções. Pág. 58 l AO VOLANTE O novo modelo Peugeot, RCZ, abreuma nova dimensão na qualidade de condução e na rebeldia das formas.Um novo objecto de culto? Pág. 59 l SAÚDE A primeira consequência negativado trabalho por turnos é a manifestação de perturbações do sono. Pág. 60 l
PALAVRAS DA LEI As convocatórias para as AG’s de condomínios têm queser feitas com 10 dias de antecedência e em carta registada… Pág. 61
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Boavida|Consumo
Poderemos confiarnos produtos transgénicos?
Carlos Barbosa de Oliveira
Há dias, no Algarve, enquanto saboreava umdelicioso arroz de lingueirão, alguém quecomigo partilhava a refeição, conhecedora daminha desconfiança em relação aos OGM
(organismos geneticamente modificados) sugeriu quepoderíamos estar a comer arroz transgénico, sem nosapercebermos. Vi, naquele reparo, uma tentativa sublimi-nar da minha interlocutora para me desmotivar do belopetisco deixando-lhe um maior quinhão, mas depressa adesiludi, respondendo que era pouco provável, aquelearroz ser transgénico, pois o ministro da agricultura jámanifestara em Bruxelas a sua oposição à decisão da UEde autorizar a sua comercialização.
Lembrei-me, no entanto, de uma notícia que tinha lidopouco antes no Washington Post. A Bayer foi condenadanos Estados Unidos pela terceira vez, em poucos meses, apagar uma indemnização a produtores de arroz cujas cul-turas foram contaminadas pelo arroz transgénico LL 62,comercializado pela Bayer Crop, o mesmo que a UE pre-tende autorizar.
A empresa - que até agora já pagou três milhões dedólares em indemnizações - terá de enfrentar centenas deprocessos em que é acusada de contaminação, mas contin-ua a defender a sua inocência, reiterando o seu empenhoem provar que a biotecnologia é a única solução paramatar a fome no mundo e manifestando a sua discordân-cia com aqueles que denunciam os riscos para a saúdehumana e para a biodiversidade resultantes dos produtostransgénicos (OGM).
Em Maio, também a Monsanto, uma das maioresempresas mundiais de produção de OGM, contaminou 82000 hectares de terras de agricultores sul-africanos, comuma semente transgénica deficientemente fertilizada emlaboratório. Consequência: a maioria dos agricultores afec-tados perdeu 80% das suas colheitas.
Mais de metade da população mundial come arroz todos os dias e os portugueses são os maioresconsumidores europeus comendo, em média, 17 quilos por ano. Razão suficiente para aspreocupações que gravitam em torno da aprovação, pela UE, da comercializaçãode arroz transgénico. Em causa está um negócio de milhões para a Bayer mastambém, o direito dos consumidores à informação, saúde e segurança.
A Monsanto disponibilizou-se para ressarcir as perdas,mas culpa o fracasso das três variedades de milho plan-tadas nestas quintas, em três províncias sul-africanas, comalegados "processos de sub-fertilização no laboratório" ealega que menos de 25% de três variedades de milhoforam afectadas.
A activista ambiental Marian Mayet, directora doCentro de Biosegurança de Joanesburgo, não acredita nasalegações da Monsanto e exigiu uma investigação governa-mental rigorosa e uma interdição imediata de todos os ali-mentos contendo OGM's, alegando não ser admissível quese cometa o mesmo erro com três variedades de milhodiferentes.
Entretanto, numa manifestação de solidariedade com acatástrofe do Haiti, a Monsanto demonstrou a sua "ge -nerosidade", oferecendo aos agricultores do Haiti 475toneladas de sementes de OGM. Perante os factos relata-dos, apetece dizer que se tratou de um presente envenena-do...
Tal como a minha interlocutora, a maioria dos leitoresnão saberá responder se alguma vez comeu alimentostransgénicos, ou contendo pelo menos alguns compo-nentes geneticamente modificados. Isto acontece porque,apesar de todas as normas europeias visando a segurançae saúde dos consumidores, a UE não consegue impôr a
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obrigatoriedade de rotulagem desses alimentos. Ainda emJulho, os eurodeputados recusaram a aprovação de legis-lação obrigando a rotulagem de alimentos provenientes deanimais alimentados com rações transgénicas. Medida queviola o direito dos consumidores à informação e (a fazer féem diversos estudos que, desde os anos 90 do século pas-sado vêm sendo divulgados, apontam para a perigosidadedos OGM), consubstancia igualmente uma violação aodireito à saúde e segurança dos consumidores.
É que - é bom não esquecer - quase todos os transgéni-cos em circulação se destinam a aviários, suiniculturas epecuárias, pelo que para garantir o direito dos consumi-dores à saúde e segurança, é essencial saber quais são osovos, leite, carne (e peixe para aquaculturas) e seus deriva-dos que provêm desse tipo de cadeia alimentar.
Esta polémica em torno dos OGM não é nova. Já em1999, 170 países estiveram reunidos na Colômbia paradebater as implicações do OGM na saúde humana.Contando com o apoio do Canadá, Austrália, Chile,Uruguai e Argentina, os Estados Unidos - em 2010 osmaiores produtores de OGM que representaram 95% dassuas exportações alimentares - conseguiram fazer valer asua posição ( não inclusão nos rótulos de esclarecimentosobre a origem dos produtos, quando em causa estiveremOGM).
Se quem não deve, não teme, porquê esta recusa?Na mesma reunião foi rejeitada a aprovação de uma
medida que responsabilize as empresas produtoras deOGM, no caso de se vir a verificar que estes alimentosprovocam danos ambientais ou põem em risco a saúde dosconsumidores. Apenas os agricultores vítimas de danosestão neste momento a ser ressarcidos de prejuízos provo-cados por sementes de OGM.
Mais de 10 anos volvidos esta medida mantém-se. Épelo menos estranho que num país tão rígido em relaçãoàs tabaqueiras e outras actividades potencialmente preju-diciais à saúde, exista tanta obstinação quanto à rotulagemdos OGM e se impeça qualquer medida preventiva queassegure uma indemnização aos consumidores.
É igualmente difícil compreender idêntica perspectivada UE. Não é, porém, causa de menor estranheza, o factode a UE ter autorizado, recentemente, a comercializaçãode batata transgénica, apesar dos veementes protestos deagricultores e associações de consumidores.Principalmente, quando é sabido que duas dezenas decientistas de diversos países constataram - através de umaexperiência feita com ratos - que aqueles animais apresen-taram deficiências nos seus sistemas imunitários, depoisde terem sido alimentados com batatas geneticamentemodificadas. n
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Boavida|À Mesa
Chocolate,guloseima genial
David Lopes Ramos
Quem o come, gaba-lhe o lado delicioso eeuforizante, mas também a delicadeza. Osapreciadores mais exigentes e conhecedoresconsideram o negro a quinta-essência do
chocolate. Mas há quem coloque os de leite e os brancosno lugar mais alto das suas preferências. Já FernandoPessoa, aliás, Álvaro de Campos, via as coisas sob outroprisma: “Come chocolates, pequena;//Comechocolates!//Olha que não há mais metafísica no mundosenão chocolates.//Olha que as religiões todas não ensinammais que a confeitaria.”
O chocolate consome-se das mais variadas formas: empó, em gelado, em pastas crocantes, em bombons rechea -dos com vários sabores, com frutos secos e cristalizados,com licores e cremes, em “souflés” e “mousses”, em bolose pastéis, a acompanhar comidas sérias, como em certasreceitas francesas de “foie gras” ou no “galo de corral”catalão. O chocolate é mágico, diz-se.
Será, também, afrodisíaco? O rei azteca Monctezumatomava várias chávenas antes de visitar as suas mulheres.Concluiu-se, porém, que o efeito afrodisíaco era mais devi-do às especiarias (malaguetas) que o temperavam, pois, àépoca, o chocolate era servido sem açúcar. Embora nadaprove que o chocolate seja afrodisíaco, é para aí que a
O chocolate, que é por muitos considerado maisdo que um alimento e menos do que uma droga,embora tenha um pouco de ambos, tem umacomponente de fantasia e prazer que o tornamirresistível.
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imaginação ainda hoje aponta, talvez por serem notóriosos seus efeitos euforizantes.
Ouve-se muita gente dizer que, quando está deprimida,trincar uma pasta de chocolate, sobretudo com um altoteor de cacau, o chamado chocolate preto, não resolve oproblema, mas alivia. Para avanços namoradeiros há quemcontinue a não dispensar a ajuda de uma embalagem dosmelhores bombons. E ele há embalagens que, pela mo -dernidade e bom gosto da respectiva concepção gráfica,tornam ainda os chocolates mais tentadores. Por exemplo,a oferta de bombons belgas de Pierre Marcolini, nomeobrigatório para os apreciadores que, em Bruxelas, sabemque a sua loja fica na Place du Grand Sablon.
Um amigo meu, apreciador confesso dos mais famososchocolates negros, comia-os acompanhados por um balãodos melhores e mais velhos Armagnacs (finas aguardentesfrancesas da Gasconha). Fascinava-o a associaçãodoce/amargo do chocolate, cortado a dentadinhas e masti-gado lenta e voluptuosamente, com a macieza quente ealcoólica do Armagnac. Sentia-se apaziguado e feliz.Começou a preocupar-se, ao fim de algum tempo, por,quando não podia cumprir o ritual, sentir uma agitação enervosismo, que surgem normalmente associados à carên-cia de estupefacientes. Cortou com o hábito, quebrou arotina, mas não deixou de, uma vez ou outra, renovar oprazer da tablete de chocolate preto e do balão deArmagnac. Um Porto vintage jovem e vigoroso tambémemparceira bem com um bom chocolate com alto teor decacau.
O fruto do cacaueiro, que lembra um pequeno oval derâguebi com estrias, de cor amarelo torrado, leva muitasvoltas até à transformação no produto acabado, que é ochocolate. Primeiro, escolhe-se a variedade botânica, que éoriginária da América do Sul e Central. Cultivada actual-mente na região equatorial, encontra-se nas Caraíbas,África (Costa do Marfim, Gana e São Tomé e Príncipe, porexemplo), Sudoeste Asiático e até nas ilhas da Samoa e daNova Guiné, no Pacífico Sul. Há, fundamentalmente, trêsvariedades de cacaueiros: o “Forastero”, responsável porcerca de 90 por cento de toda a produção mundial de
favas de cacau; o “Criollo”, o mais raro e apreciado, é peloseu aroma delicado que os mais famosos artesãos dochocolate suspiram; e o “Trinatario”, que resulta do cruza-mento dos outros dois. Por cada uma das variedades decacaueiro ter personalidade própria, há quem os compareaos bacelos das videiras. E a associação estende-se à prova,seno o vocabulário do chocolate igualmente rico em cono-tações sensuais.
Colhidos os frutos, descascam-se e as suas favas sãosujeitas a dois estágios de fermentação. Secam-se, esco -lhem-se, seguindo depois para as empresas, que as descas-cam e torram, operações que lhes acentuam os aromas. Asfavas são de seguida trituradas, moídas e depuradas até àobtenção de uma “pasta” de cacau. Começa aqui o fabricodo chocolate propriamente dito: é feito o lote com pastasprovenientes de diversas colheitas, até se encontrar osabor final pretendido. Depois, é a alquimia do açúcar, dabaunilha, do leite em pó, dos frutos frescos, secos e crista -lizados, dos licores e aguardentes, dos cremes com requin-tados e esquisitos sabores. Negros, de leite e até brancos,há chocolates que são guloseimas geniais. n
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Boavida|Livro Aberto
Autobiografia, sociologia, boa ficção e o saber intemporal dos antigos
do escritor, entre 1943 e 1947 e publicado dois anosdepois; o surpreendente e brilhante “Babayaga Pôs umOvo” (Teorema), de Dubravka Ugresic, nascida na ex-Jugoslávia em 1949 e actualmente residente emAmesterdão; “O Feitiço de Xangai”( D. Quixote), docatalão Juan Marsé, e “Luka e o Fogo da Vida” (D.Quixote), de Salman Rushdie, escrito como forma deprenda para o seu segundo filho no dia em que completou12 anos de vida.
Ainda em matéria de ficção estrangeira, realce para “ABeleza e a Tristeza” (D. Quixote), do grande escritorjaponês Yasunary Kawabata; para a reedição do notável“Filhos e Amantes” (Pub. Europa-América), de D.H.Lawrence; e para “Coração em Segunda Mão”, da mesmaeditora, com autoria de Catherine Ryan Hyde.
No que se refere à ficção de autores portugueses, orealce vai para “Matteo Perdeu o Emprego”(Porto Editora),do produtivo, talentoso e sempre surpreendente GonçaloM. Tavares, um dos grandes ficcionistas portugueses con-
José Jorge Letria
Num país onde raramente se perdoa a capaci-dade sempre invejável de quem cria em diver-sos domínios, o maestro e compositor volta aassombrar-nos com a publicação de “No
Princípio Era Eu”(Clube do Autor), uma notável autobi-ografia que abarca apenas os primeiros 35 anos de vida doautor. Profusamente ilustrado, este texto autobiográfico,confirma Victorino D’Almeida como um grande contadorde histórias, servidas frequentemente por um imbatívelsentido de humor. A não perder.
NO DOMÍNIO da ficção narrativa nacional e internacionalde qualidade, em tempo de vacas magras, mas, desejavel-mente, de leituras gordas em prazer e descoberta, desta-camos títulos de publicação recente como: a reedição daobra-prima do Nobel alemão Thomas Mann “DoutorFausto”(D.Quixote), redigido nos Estados Unidos, no exílio
Homem de múltiplos talentos, António Victorino d’Almeida é também, comprovadamente, umescritor de mérito e com obra feita, como ficou demonstrado com títulos como “Coca-Cola Killer”ou “Tubarão 200”.
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temporâneos; destaque ainda para “As Bicicletas emSetembro”, de um grande jornalista, cronista e ficcionistachamado Baptista-Bastos; para o romance “Alma de Cão”(Oficina do Livro), do médico Francisco José Pereira Alves;para o volume colectivo de ficções “Chocolate”, em queparticipam alguns nomes marcantes da ficção narrativaportuguesa actual; para a oportuna e sempre louvável dohistórico “Novas Cartas Portuguesas”, de Maria IsabelBarreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa; epara o romance histórico “O Livro de Cale”, de CarlosCordeiro.
No domínio da escrita memorialística, um destaquesempre especial para a reedição pela D. Quixote de “DiasComuns V - Continuação Sol”, de José Gomes Ferreira.
Para quem gosta de livros de viagens recomenda-se“Ukuhanba-Manhã de África” (Oficina do Livro), comtexto de Miguel Sousa Tavares e fotos de Martim SousaTavares.
PARA QUEM se interessa pela abordagem do mundo emque vivemos numa perspectiva sociológica moderna,recomendamos “Nove Lições de Sociologia” (Teorema), deMichel Wieviorka, nascido em Paris em 1946 e considera-do um dos pensadores mais marcantes da sociologia con-temporânea. Abordando as grandes questões do nossotempo, o autor prepara-nos com inteligência e uma invul-gar capacidade de explicar o passado e antecipar o futuropara enfrentarmos as profundas transformações que omundo está a viver. A não perder, por várias razões.
Um olhar diverso sobre o mundo e a sua história é“História do Mundo Sem Partes Chatas” (Academia doLivro), de Fernandom G. Blásquez, uma obra divertida eno entanto rigorosa e informativa, que dá jeito ter à mão.
“BREVÍSSIMO INVENTÁRIO” (D. Quixote), é um livro depequeno formato e sedutor grafismo que confirma o talen-to do embaixador Marcello Duarte Mathias como autor deliteratura aforística, talento de resto detectado pelo grandeescritor e ensaísta David Mourão-Ferreira. Verdadeiroexercício autobiográfico, este volume que reúne trêsbreves textos de Duarte Mathias constitui uma viagempela memória da infância e da adolescência, dos lugares,das mulheres, da morte e da ideia de tempo, afinal pelaprópria vida.
NA LINHA de outras obras recentes que se propõem facul-tar-nos as chaves para alcançar o êxito, para gerir bem otempo, para pôr o talento a dar lucro e as empresas a fun-cionar bem, Mathew Syed, jornalista desportivo do “TheTimes” e director de uma agência de “marketing” escreveu
“Bounce”, (Academia do Livro) o seu primeiro livro, noqual tenta explicar-nos onde reside ou residiu a chave doêxito de figuras tão diversas como Pablo Picasso, Mozartou o tenista Federer. O autor sabe do que fala e desafia deforma heterodoxa algumas ideias feitas ou desfeitas sobrea matéria. Na mesma linha e com a mesma chancelachegou ao mercado “Family Coaching”, de Sandra Belo eÂngela Coelho, mais um livro de auto-ajuda, desta feitacom 36 desafios lançados a pais com características muitoespeciais.
Destaque ainda para um edição de um livro de teatroda autoria de António Torrado, um dos nomes maisimportantes e profícuos da literatura dramática portugue-sa contemporânea, para além da infanto-juvenil, de que éreferência incontornável, que acaba de publicar, numaedição em que se juntam as chancelas da Ministério daCultura e do Inatel, entre outras, o título “Gaby, aPrimeira”, que tem como personagem central a amante dojovem e desafortunado rei D. Manuel II, de breve e turbu-lento reinado, a que a vitória republicana de 5 de Outubrode 1910 pôs termo.
COM A PRESTIGIOSA chancela do Centro de EstudosClássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbraforam publicados em agradáveis volumes de bolso maisquatro títulos fundamentais para quem quiser conhecera obra e o pensamento de grandes autores daAntiguidade: “Obras Morais-Diálogo Sobre o Amor”,com tradução do grego, introdução e notas de Carlos A.Martins de Jesus; “Obras Morais-Como Distinguir umAdulador de um Amigo, Como Retirar Benefício dosInimigos e Acerca do Número Excessivo de Amigos”,com idêntico trabalho da responsabilidade de PaulaBarata Dias”; e ainda “Obras Morais-Sobre a Face Visívelno Orbe da Lua”, com tradução introdução e notas deBernardo Mota, três obras de Plutarco que vale a penaler nestas edições cuidadas e exemplarmente rigorosasdo ponto de vista do labor académico; derradeirodestaque, ainda do mesmo autor clássico para “VidasParalelas-Péricles e Fábio Máximo”, com tradução dogrego introdução e notas da responsabilidade de AnaMaria Guedes Ferreira e Ália Rosa Conceição Rodrigues.Quatro títulos que nos mostram o muito que os antigosjá sabiam sobre a condição humana, sobre os comporta-mentos, sonhos, ambições, medos e vilezas do Homem,igual no essencial em todas as épocas, com maior oumenor desconto para o papel das tecnologias na formade aceder ao saber e ao conhecimento do mundo, e tam-bém ao poder. n
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Boavida|Artes
Rodrigues Vaz
São cerca de trezentos desenhos, organizados emcadernos, expostos de forma despojada, carac-terizando-se pela utilização explícita da noçãode chiaroescuro, que, como refere o seu apre-
sentador, José Manuel de Vasconcelos, "tem sido o fio con-dutor de toda a representação na Arte Ocidental".
Os desenhos foram elaborados a partir do final de 2007,de formato intimista, realizados com meios de grande sim-plicidade não isenta de "forte majestade e reveladores deuma estrutura sacudida pelo pensamento, propondo formasdiluídas de dramatismo contido, como se o peso da lutaentre o pensamento e a realidade tivesse sido reduzido àsimplicidade de um dualismo: a luz e a treva, a fonte e oeco - a sombra como mitigação, como rugosa suavidade".
COLECÇÃO BERARDO EM ELVAS
Até dia 23 é igualmente possível apreciar, no Museu deArte Contemporânea de Elvas, a exposição Fragmentos,uma selecção de Arte Contemporânea feita a partir daColecção Berardo, que assim procura uma maior divul-gação ao mesmo tempo que ajuda à descentralização cul-tura cada vez mais desejada.
Através da colecção Berrado pode estabelecer-se uma
O DesenhosegundoJaime Silvana SNBA
Até ao próximo dia 15 ainda é possível ver Cadernos de Sombras - Os Contornos da Miragem, exposiçãoque o artista plástico Jaime Silva tem patente na Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa,e que o consagra como um dos pintores actuais que mais importância tem dado ao Desenhona formatação do seu percurso artístico.
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cartografia das principais tensões e problemas que atra -vessam a arte contemporânea, sendo que a partir de algu-mas das suas obras conseguem-se identificar as rupturas,prolongamentos e acontecimentos que protagonizaramaquela cena artística.
Diga-se entretanto que a selecção de obras que consti-tui esta exposição não obedece a nenhum princípio disci-plinar, cronológico ou temático, mas estabelece entre osdiferentes protagonistas da cena da arte (movimentos,artistas e obras) uma rede de prolongamentos e diálogos.
LUÍS VIEIRA BAPTISTA E MÁRIO VELA
Fragmentos é também o título da exposição que o artistaplástico Luís Vieira-Baptista apresenta até dia 21 no ClubeNacional de Artistas Plásticos - CNAP, em Telheiras,Lisboa. Fazendo jus ao primeiro grupo artístico que inte-grou em 1991/2, o Grupo Visionista, Luís Vieira-Baptistaprossegue com uma pintura que deve muito às correntessimbolistas que vão beber a sua principal inspiração nosmovimentos esotéricos agora muito na berra, pelo que asua pintura anda sempre à roda dos principais mitos dacivilização ocidental. De realçar a qualidade técnica e for-mal da sua obra, onde é possível perceber um certo rebus-camento de efeitos visuais.
Por último, é de realçar a presença do jovem pintorespanhol Mário Vela na Galeria Arte Periférica, em Lisboa,com uma série intitulada Ele, Ela, Eles e Ela.
Trata-se de uma exposição pouco ambiciosa porémmuito expressiva, na qual o autor quis apenas transmitirmensagens pela cor, pelo desenho e pela expressão. Devários modos consegue o seu desiderato, reunindo dife -rentes personagens em diferentes momentos em quadrosindependentes e livres.
EXPOSIÇÃO DE NADIR CANCELADA EM CASCAIS
Ao contrário do que anunciámos, conforme informaçõesfornecidas pela Fundação D. Luís I, o prolongamento daexposição "Utopias Urbanas" com que a Câmara deCascais assinalou os 90 anos do artista plástico NadirAfonso, no Centro Cultural de Cascais, foi cancelado àúltima hora, por decisão do autor. Tal facto deveu-se a queNadir Afonso não aceitou, nos últimos momentos damontagem, o espaço proposto pela instituição, forçada amudar a mostra devido à realização da Trienal deArquitectura, que já estava planificada há dois anos.
Do lapso, originado pela necessidade de escrever anota de reportagem com alguma antecedência, porquestões de actualidade, pedimos desculpa aos leitores. n
Da esquerda paraa direita: Peça deBruce Nauman daColecção Berardoe um trabalhodo artista espanholMario Vela
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Cento e dois fados em cinco CDs. Eis-nos perante o super-álbum “Biografias do Fado”, um imperdíveldocumento sobre dois dos mais peculiares géneros da música popular portuguesa: os fados de Lisboae de Coimbra. Silêncio, está-se a cantar o fado!
Vítor Ribeiro
Não estamos, em boaverdade, perante umanovidade, mas em pre-sença de uma oportuna
reedição de temas já anteriormentepublicados, desde 1994, ano emque Lisboa foi Capital Europeia daCultura, acontecimento a propósitodo qual foi então publicado oduplo-álbum “Biografia do Fado”,que até hoje vendeu mais de 120mil exemplares.
Na caixa agora editada, em cujacapa se reproduz um peculiardesenho de Stuart de Carvalhais,àquele trabalho discográfico jun-tam-se outros entretanto publica-dos, a saber: “Nova Biografia doFado”, “Biografia da Guitarra” e“Biografia do Fado de Coimbra”.
E é assim que, nos doisprimeiros CDs, podemos ouvir interpretações de, entreoutros “clássicos”, Alfredo Marceneiro, Carlos Ramos,António Mourão, Tony de Matos, Maria Alice, HermíniaSilva, Maria Teresa de Noronha, Argentina Santos,Fernando Farinha, Fernando Maurício, Carlos do Carmo,João Braga, Amália Rodrigues…
No terceiro CD, é-nos revelada a pujança do novo fado,pela voz de alguns dos seus mais convincentes praticantes:Camané, Mariza, Carminho, Ricardo Ribeiro, HélderMoutinho, Raquel Tavares, Aldina Duarte, Kátia Guerreiro,Ana Sofia Varela, Joana Amendoeira, Maria Ana Bobone,Cuca Roseta, Mísia, Ana Moura, Cristina Branco, PedroMoutinho, Mafalda Arnauth e Rodrigo da Costa Félix.
E sendo a guitarra portuguesa parte intrínseca dos fados(de Lisboa e de Coimbra), o quarto CD integra execuçõesindividuais, ou acompanhamentos, de mestres comoCarlos Paredes, Alcino Frazão, Armandinho, DomingosCamarinha, Raul Nery, Fontes Rocha, Mário Pacheco,António Chainho…
Silêncio, canta-se o fado!
Boavida|Músicas
O quinto e último CD leva-nos“em viagem” pelo fado deCoimbra. A “abertura” cabe a LuizGoes, com Fado Hilário, e o “fecho”a Fernando Machado Soares, com“Balada da Despedida (CoimbraTem Mais Encanto)”. De permeiopodem encontrar-se, entre outros,Adriano Correia de Oliveira, com“Trova do Vento que Passa”, JoséAfonso, com “Amor de Estudante”ou “Menina dos Olhos Tristes”.Registem-se ainda as presenças deAntónio Portugal, AntónioMenano, Edmundo Bettencourt,José Paradela de Oliveira, FernandoRolim, Sutil Roque, Luís Marinho,Alfredo Correia, António Brojo,Artur Paredes…
O ELECTRÓNICO DAVID GUETTA
O francês David Guetta acaba delançar o álbum “One More Love”,
uma edição “deluxe” com dois CDs, apresentado como sesegue: o álbum “One Love” e um CD com 13 faixas extra,no qual se integra o sucesso “Who`s That Chick?”, com aparticipação de Rhianna.
No mesmo álbum deste compositor frequentementeconsiderado o “maior artista da música electrónica daactualidade”, apresentam-se ainda temas produzidas pelomúsico para Madonna, Estelle e Kellis. n
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Boavida|No Palco
Histórias revisitadasUm homem a lutar contra o seu destino, numa fuga para a frente daquilo que não querencontrar e enfrentar. É esta a história de São Julião Hospitaleiro, para ver, até 23 de Janeiro,no Teatro Municipal de São Luís.
Maria Mesquita
Reza a história da lenda de São JuliãoHospitaleiro, escrita por Gustave Flaubert, em1877, que São Julião, aceitando a culpa e o cas-tigo como actos de Amor a Deus, pelas suas
acções, morreu nos braços de Cristo que o levou até aoReino dos Céus.
Flaubert ter-se-á inspirado nos painéis datados do séc.XIII na Catedral de Ruão, que, em 1912, foram tambémcopiados na perfeição por Amadeo de Souza Cardozo.
É, então, com base nestes vitrais que ilustram a vida eperdão de São Julião e na história escrita por Flaubert, queAntónio Pires e Maria João Cruz decidiram encenar a peça“A Paixão de São Julião Hospitaleiro”, narrando, numa per-spectiva moderna (música ao vivo e sons de hip hop), ocaminho feito pelo santo desde o dia em que lhe disseramque iria matar os próprios pais, até à data em que deu abri-go a um pobre leproso que se viria a revelar ser Jesus. Paratal, inspiraram-se também nos esquissos que Amadeo deSouza Cardozo fez e que foram recuperados para a retro-spectiva da obra do pintor em 2006, pela Gulbenkian.
FICHA TÉCNICA: Texto: Gustave Flaubert; Adaptação: António
Pires e Maria João Cruz Encenação: António Pires; Vídeo:
João Botelho; Cenografia: João Mendes Ribeiro; Figurinos:
Sílvia Grabowski; Musica: Paulo Abelho e João Eleutério;
Produtor executivo: Alexandre Oliveira; Interpretação: Maria
Rueff, David Almeida, Graciano Dias, Maya Booth, Mitó
Mendes, Marcello Urgeghe; Co–produção: SLTM - Ar de
Filmes; Teatro Nacional D. Maria II 2011.
“Glória, ou como Penélopemorreu de tédio”Cláudia Chéu, jovem encenadora portuguesa, apresenta noinício de 2011, na Sala Estúdio do Teatro Nacional D.Maria II, a peça “Glória, ou como Penélope morreu detédio”.
Pathos (Albano Jerónimo), figura masculina presente nomonólogo, prende-se ao passado. Não aceitando nemultrapassando a morte da mãe, fecha-se no seu própriomundo esperando reencontrá-la ou que ela simplesmente
regresse. No meio da solidão que o vai rodeando Pathosnão se vê reflectido nos espelhos que o cercam, mas sim aimagem maternal (sem sequer perceber a diferença), oque, se por um lado lhe permite fazer um julgamento dascoisas de forma mais natural, num misto de silêncio ereflexão, por outro, a constante procura de sentido no pas-sado e o sonho no futuro, ideal mas raramente perfeito eacessível, vão começando a corroer a sua pessoa.
Com esta peça, Cláudia Chéu invoca Narciso, constan-temente olhando-se ao espelho, assim como relembra apersonagem de Telémaco, na Odisseia de Homero,enquanto espera o tempo que for necessário, junto damãe, pelo regresso de Ulisses, durante e após a Guerra deTróia. Em cena a partir de 6 de Janeiro.
FICHA TÉCNICA: Texto e encenação: Cláudia Lucas Chéu;
Cenografia e figurinos: Ana Limpinho; Desenho de luz: Nuno
Meira; Desenho de som: Vítor Rua; Interpretação: Albano
Jerónimo (na foto) e a participação de um coro feminino; Co-
produção: TNDM II, TNSJ e AJ Produções
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O ESCRITOR FANTASMA
Um talentoso escritor-fantas-
ma, contratado para escrever
as memórias do antigo
Primeiro-Ministro inglês
Adam Lang, vê-se envolvido
numa teia de intriga política e
sexual. Lang é
implicado num
escândalo sobre
as tácticas secre-
tas da sua
administração e
á medida que o escritor-fan-
tasma mergulha no passado
do político, descobre segredos
que ameaçam as relações
internacionais. Thriller emo-
cionante e de condizente sus-
pense - a lembrar o melhor
Hitchcock - do aclamado
Roman Polanski, o filme
obteve já seis prémios do
Cinema Europeu 2010
(incluindo Melhor Filme e
Realização) e o Urso de Prata
no Festival de Berlim. Apesar
da sua prisão em Setembro de
2009, o realizador polaco con-
seguiu acompanhar toda a
pós-produção do filme passo
a passo e tomou todas as
decisões artísticas definitivas
num filme no qual as semel-
hanças entre Adam Lang e
Tony Blair, Ruth Lang e
Cherie Blair e a Halliburton e
a Hatherthon são intencionais
o que torna o filme ainda
mais interessante.
TÍTULO ORIGINAL: The Ghost
Writer; REALIZAÇÃO: Roman
Polanski; COM: Ewan
McGregor, Pierce Brosnan,
Olivia Williams, Kim Catrall;
França/Alemanha/GB, 128m,
Cor, 2010; EDIÇÃO: Zon
Lusomundo
GOLPE DE ARTISTAS
Três guardas-nocturnos
descobrem que o museu onde
trabalham vendeu uma parte
da sua colecção a um museu
dinamarquês. Cada um deles
tem um quadro favorito e não
aceitam ficar sem eles por
perto. Para evitar a transferên-
cia das obras elaboram um
plano para as trocar por
cópias antes de embarcarem
para o avião: o esquema é
complicado e
fica ainda
mais quando
a mulher de
Roger se
intromete …
Um naipe
notável de actores, como os
oscarizados Morgan Freeman,
Christopher Walken e Marcia
Gay Harden, além do nomea-
do William H. Macy, pontua
esta divertida comédia assina-
da pelo jovem realizador Peter
Hewitt. Parábola sobre o
homem contemporâneo, o
filme e assenta numa premis-
sa simples: um plano, três
homens e um assalto falhado.
TÍTULO ORIGINAL: The Maiden
Heist; REALIZADOR: Peter
Hewitt; COM: Christopher
Walken, Morgan Freeman,
William H.Macy, Marcia Gay
Harden; EUA, 90m, Cor, 2009;
EDIÇÃO: Prisvídeo
EX- MULHER PROCURA-SE
Milo Boyd, um azarado
caçador de fianças sem rumo
nem sucesso no seu trabalho,
que consegue o trabalho mais
desejado: capturar e entregar
á justiça a sua ex-mulher, a
jornalista Nicole
Hurly. Quando
ele pensava que
não haveria tare-
fa mais fácil,
Nicole diz-lhe
que está a seguir um impor-
tante caso de homicídio, e
então Milo percebe que as
coisas não vão ser bem como
ele tinha planeado e que vão
ter de se unir para continuar
vivos...Do realizador ameri-
cano Andy Tennant - "Para
Sempre Cinderela" (1998),
"Ana e o Rei"(1999) e "Hitch"
(2005) - chega-nos este filme
de acção, comédia e crime
sobre um casal recém- separa-
do que se encontra por um
acaso judicial e vai viver uma
grande aventura. A bela
Jennifer Aniston e o escocês
Gerard Butler interpretam
bem o ritmo e as cenas diver-
tidas do filme.
TÍTULO ORIGINAL: The Bounty
Hunter; REALIZAÇÃO: Andy
Tennant; COM: Gerard Butler,
Jennifer Aniston, Gio Perez,
Adam Rose; EUA, 111m, cor,
2010; EDIÇÃO: Prisvídeo
UMA NOITE ATRIBULADA
Claire e Phil são um casal
feliz com dois filhos e uma
bela casa nos subúrbios de
Nova Jersey. Para evitar a roti-
na do casamento e reacender
a chama da paixão decidem
fazer As coisas não correm
bem, e no restaurante são
confundidos com outro casal
procurado por dois polícias
corruptos. Numa sucessão de
perseguições e fugas deli-
rantes aquilo
que era apenas
uma tentativa
de apimentar a
relação trans-
forma-se na
maior aventura
de sempre e numa noite
inesquecível. Duas estrelas da
televisão norte-americana,
Tina Fey (30 Rock) e Steve
Carrel (The Office) contrace-
nam nesta comédia de Shawn
Levy, autor de comédias que
foram êxitos de bilheteira.
TÍTULO ORIGINAL: Date Night;
Realização: Shawn Levy; COM:
Tina Fey, Steve Carrel, Mark
Wahlberg, Taraji P.Henson,
Common; EUA, 90m, cor,
2010; EDIÇÃO: Castello Lopes
Multimédia
Para um animado e divertido começo do ano, seleccionamos quatro boas e diversificadas histórias: dosuspense de "O Escritor Fantasma", ao insólito de "Golpe de Artistas", passando pela acção e diversãode "Ex-Mulher Procura-se" e "Uma Noite Atribulada". Em suma: acção e boa disposição para o arranquede 2011. Sérgio Alves
Acção e Boa Disposição!
Boavida|Cinema em Casa
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Boavida|Tempo Informático
Novidades para o novo anoEstão previstas grandes mudanças para 2011 no domínio dos diversos dispositivos informáticos. Algunsdeixarão de ser interessantes porque também aqui chegou a “globalização”: um só dispositivo paramúltiplas funções. Portanto enquanto aguardamos, sejamos cuidadosos nas novas aquisições.
Gil Montalverne [email protected]
Útil poderá ser por exemplo um inversor de cor-rente para ligar ao isqueiro do carro para trans-formar os 12 volts da bateria em energia seme -lhante à da rede eléctrica (230 Volts AC).
Suporta a ligação da maioria dos pequenos equipamentoselectrónicos, desde notebooks até leitores de DVDportáteis, câmaras de vídeo, etc. Inclui também uma toma-da USB que pode ser usada com um cabo USB standardpara carregar qualquer pequeno dispositivo portátil. Umaautonomia sem limites com este Black & DeckerBDPC100C Inverter por um preço de 69 euros (imagem 1).
A PROPÓSITO de carregadores, acaba de chegar o tão anunci-ado tapete que substitui os carregadores de telemóveis,PDAs, Smartphones, etc. Trata-se do MYGRID da Duracellque permite carregar 4 dispositivos ao mesmo tempo, colo-cados sobre o pequeno estrado. Carregamento sem fiosmas através da indução, cada dispositivo, enquanto nãopassar a trazer já esse chip incluído, será necessário adi-cionar-lhe um pequenosensor-adaptadorpara que ocarregamen-to funcione.Existem já 4tipos de sen-sores para algu-
mas marcas nomeadamente a porta míni-USB. Preço cerca de 40 Euros.
MAIS UMA NOVA forma de ligar osseus discos rígidos ao computa-dor. Agora com uma base ondese podem inserir discos de 2,5”ou 3,5” e SSDs SATA, ligada auma porta USB (1.1 a 3.0). OCHDDOCK da Conceptronic é Plugand Play (reconhecimento imediato) ecusta apenas 49 E.
UM NOVO E PRÁTICO comando universal permite estarmospreparados para passar ao uso da Televisão com PowerBoxes. O Esotérico permite de imediato controlar um tele-visor e uma TV box em simultâneo, associando de formaautomática as funçõespara cada um dosequipamentos, semnecessidade de o uti-lizador seleccionar cadaum deles. Além de incluir deorigem teclas programadas paraas dez marcas mais usadas naEuropa – basta apontar o comando aoaparelho e carregar no número associadoao fabricante – permite também configurarqualquer modelo, de qualquer marca, de forma quaseautomática. Disponível em vários modelos desde um tele-visor e powerbox a leitor de DVD/Blu-ray e amplificadorAV. Preços: a partir de €15,99.
E CHAMAMOS a vossa atenção para o novo GOOGLE PRE-VIEWS, uma ferramenta opcional que pode ser accionadaatravés de um pequeno ícone em forma de lupa dispostodo lado direito dos vários resultados, quando efectuamosuma pesquisa. Abre-se uma pequena janela que forneceinformações sobre o resultado em questão, incluindoinformação visual. É de facto uma forma de facilitar apesquisa pois liberta-nos de estar a abrir páginas que nãotenham o interesse desejado.n
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Boavida|Ao Volante
RCZ O novo leãoda PeugeotO novo modelo da marca francesa abre uma novadimensão na qualidade de condução, na rebeldiadas formas, e vinca perfeitamente a separaçãoentre um produto de massas e um objecto deculto. Mas, mais do que o detalhe e a forma, é asubstância que o torna irresistível.
Carlos Blanco
Otraço das arestas musculadas, de perfil baixo eópticas longas, o arco superior brilhante e asenormes jantes antecipam uma experiência decondução única, como só o chassis de um
puro-sangue consegue oferecer, estabelecendo, graças auma estrutura imensamente rígida, o equilíbrio perfeito naequação dinâmica. A performance é o sangue que correnas veias de três motores prontos para a acção, sejam osgasolina 1.6 THP de 156 e 200 cv, seja o Diesel 2.0 HDi de163 cv.
A escolha pela Peugeot da austríaca Magna-Steyr -especialista na construção de automóveis exclusivos pro-duzidos em pequena série, como por exemplo o AstonMartin Rapid e o BMW X3 - para a montagem final doRCZ, foi decidida com base no rigor que aempresa de Graz coloca em cada projecto.Este processo de parto por onde passa oRCZ, e que em alguns aspectos é quase arte-sanal, contempla a montagem de um capotem ligas de alumínio, aspecto importantepara conter o peso final, que se quer o maisbaixo possível num automóvel destas carac-terísticas. Com menos de 1.300 kg, osmotores turbo de injecção directa, pro-movem acelerações viris e retomas develocidades espontâneas.
O interior do RCZ beneficia de um con-forto acústico topo de gama. A excelenterigidez absorve as irregularidades da estra-da, proporcionando um silêncio de rola-mento que permite explorara o sistemaáudio JBL com oito altifalantes de 240 W,
ou a sonoridade dos motores a gasolina. Graças à óptimadistância entre-eixos, o RCZ acolhe dois passageiros nosbancos traseiros esculpidos. Mala generosa de 384 litros,expansíveis a 760, são um incentivo às grandes tiradas.
O RCZ propõe uma oferta de personalização de acordocom o seu posicionamento exclusivo, deixando que ocliente o possa transformar num objecto único. Na fase deencomenda, o cliente tem ao seu dispor uma vasta lista deelementos decorativos, que darão ao RCZ um estatutomais elitista. Tal como acontecera com o concept-car, otecto pode ser revestido em carbono, quer em acabamentomate ou brilhante. O s arcos em alumínio podem serfumados, ou em cor "areia". Um pack sport destina-seexclusivamente ao 1.6 THP de 200 cv, e contemplavolante de diâmetro reduzido e alavanca da caixa develocidades curta.
Pneus largo em jantes de grandes dimensões paraexplorar ao máximo o chassis do RCZ. De série, o equipa-mento pneumático tem as dimensões de 235/45 RI8, e emopção 235/40 RI9. Para assegurar a maior eficácia de tra -vagem em termos de potência e resistência, os discos sãoventilados de grandes dimensões: 302 mm de diâmetro eno caso do motor 1.6 THP de 200 cv, discos específicos de340 mm. Os discos traseiros, inéditos nesta plataforma (talcomo acontece com os cubos de roda traseiros e os rola-mentos), são também de grandes dimensões: 290 mm.
O novo modelo da Peugeot foi eleito pelo público "omais belo automóvel do ano 2009" no 25º FestivalInternacional Automóvel. Foi ainda vencedor de um dosmais prestigiantes prémios internacionais de design, o"Red Dot Best of the Best 2010, na categoria deAutomóveis. n
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Boavida|Saúde
Distúrbio do trabalho por turnosHoje, como sempre, pelo menos desde o alvorecer da Terra, o ser humano e todos os seres vivos quehabitam à sua superfície dependem em absoluto da luz solar. Dá-se o nome de Distúrbio do Trabalhopor Turnos às manifestações clínicas resultantes do trabalho nocturno.
M. Augusta Drago medicofamí[email protected]
Oritmo biológico do nosso corpo, isto é, amaneira harmoniosa como se processam oscomplicadíssimos mecanismos celulares quenos mantêm vivos – tais como, por exemplo, as
hormonas segregadas pelas glândulas endócrinas e outrassubstâncias igualmente importantes lançadas na correntesanguínea – é comandado rigorosamente de acordo com aposição que o sol ocupa no firmamento.
O nosso organismo preparou-se ao longo de milhões deanos de vida natural para usufruir da energia que lhechega durante o dia, pelo sol, e está preparado para desen-volver mais actividade durante o período do dia em quehá luz e para descansar e dormir à noite, quando estadesaparece.
O trabalho nocturno surgiu nas sociedades muito antesda revolução industrial, mas foi aí que ganhou maiorincremento. Porém, foi com a invenção da lâmpada incan-descente, por Thomas Edison, em 1879, que verdadeira-mente nasceu o trabalho por turnos.
O desenvolvimento económico e a sua incessante buscade bem-estar material, a necessidade de produzir bens eserviços para uma população mundial em expansão e pro-gressivamente mais exigente e, mais recentemente, o fenó-meno da globalização deram origem, primeiramente, àssociedades que funcionam 24 horas por dia edepois à generalização deste modelo, que sereproduz continuamente.
É nesta comunidade global, 24 horas emfuncionamento, que maior número de pes-soas está sujeita ao trabalho por turnos, oque contraria o ciclo biológico natural egera consequências nocivas para a saúde.
A primeira consequência negativa do tra-balho por turnos é a manifestação de pertur-bações do sono, que se pode traduzir por dificul-dade em adormecer, por insónias e porsonolência diurna. O esforço exigido aoorganismo para se adaptar rapidamente àinversão do seu ritmo biológico natural, aalternância de períodos de actividade e de
repouso, faz com que este fique mais fragilizado.Diminuem as defesas naturais e o trabalhador torna-semais susceptível a contrair infecções, bem como a mani-festar sintomas de doenças que se encontram latentes noseu organismo.
O desajustamento do ritmo biológico leva a modifi-cações do comportamento. É extremamente penalizante,em termos sociais, viver em contra-ritmo em relação àsoutras pessoas. Quem trabalha por turnos tem maiorincidência de sintomas psicossomáticos, nomeadamente aansiedade que se agudiza à medida que envelhece. Estaspessoas têm tendência a consumir mais café, massas e ali-mentos ricos em gordura, o que contribui para a obesi-dade e para as doenças cardíacas e gastrointestinais.Também está provado que consomem em média maismedicamentos.
Por tudo isto, as pessoas que trabalham por turnos têmmenor qualidade de vida e porque têm de tomar decisõesem períodos do dia em que se encontram diminuídas nassuas capacidades correm um risco maior de sofrerem aci-dentes de trabalhos ou de causar danos a terceiros.
Os estudos efectuados sobre o impacto económico esocial desta patologia são ainda escassos, mas não são dedesprezar os custos resultantes da perda da produtividadee dos acidentes no local de trabalho. A investigação apon-
ta ainda para a necessidade de apoiar estes traba -lhadores que desempenham tarefas que têm con-
sequências económicas e que podem pôr emcausa a segurança das comunidades emque se inserem.
É recomendado o acompanhamentomédico destes trabalhadores para vigiar asua saúde em geral e particularmente a
capacidade de adaptação a este tipo dehorário laboral. Numa segunda fase, face a
alterações do sono ou do humor, o trabalhadordeve iniciar o tratamento e, em simultâneo, estu-
dar com o médico estratégias de repousocompensatório, como um programa de ses-tas. A educação do doente para melhorar aqualidade do sono e a fototerapia têmmostrado ser úteis neste contesto. n
60 TempoLivre | JAN 2011 ANDRÉ LETRIA
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Boavida|Palavras da Lei
? O condomínio não tem regulamento próprio, não possui
sala de reuniões em condições. As assembleias gerais
são convocadas e realizadas em Fevereiro de cada ano.
A folha de presenças das assembleias gerais não indica a
data, nem o local, onde as mesmas se realizam. Os
documentos das contas anuais são colocados à disposição
para consulta unicamente no dia da assembleia, entre as
10.00h e as 14.00h. Se pretendermos consultar os documentos
noutra data e ocasião, como deveremos proceder?
Amadeu Figueiredo – Sócio n.º 641 – Lisboa.
Pedro Baptista-Bastos
Esta carta do nosso sócio apresenta-nos váriassituações que devem ser imediatamente precavi-das. O artigo 1418º, n.º 2, al. b) do Código Civildiz-nos que o título constitutivo da propriedade
horizontal pode conter o regulamento do condomínio, quedisciplina o uso, fruição e conservação das partes comunse autónomas do edifício; isto é, no momento da criação dapropriedade horizontal pode constar já o regulamento doimóvel.
Se houver mais de quatro condóminos no edifício, oartigo 1429º-A do C. Civil determina a existência obri-gatória de um regulamento. Portanto, se neste imóvelhabitarem mais de quatro condóminos, tem que haver umregulamento, sob pena de haver responsabilidade civil ecriminal dos administradores do condómino, nos termosdo art. 1435º C. Civil.
Por outro lado, a convocatória e funcionamento dasassembleias gerais apresentam vários problemas. Asassembleias podem funcionar noutra data que não a deter-minada no artigo 1431º, n.º 1 C. Civil – a primeiraquinzena de Janeiro – se isso estiver acordado ou constardo título ou do regulamento; na ausência, parece-me haveruma primeira violação grosseira do modo de funciona-mento das assembleias.
Depois, em momento algum podem ser convocadas asassembleias do modo como o têm sido, e muito menos dis-por a documentação aos condóminos no modo como éefectuada. As convocatórias têm que ser feitas com 10 diasde antecedência e com carta registada, e indicar dia, hora,
local e ordem de trabalhos da reunião, nos termos do arti-go 1432º do C. Civil. Atenção ao modo e prazos de impug-nação das deliberações tomadas, tais como estão determi-nados no artigo 1433, nº 4º; após uma deliberação ilegal,se o condómino requerer a realização de assembleiaextraordinária, tem 20 dias para impugnar a deliberaçãoilegal, se não requerer este acto, disporá de 60 dias paraimpugnar.
Por fim, é dever do administrador prestar contas àassembleia – art. 1436º al. j) C.Civil – e tem que o fazer domodo mais completo possível, não podendo nunca,através dos seus actos de administração, prejudicar odirei to à informação dos condóminos. Se o administradorse recusar a prestar contas, incorre em responsabilidadecivil e criminal. Por fim, pode-se lançar mão do processoprevisto no Código de Processo Civil para se suprir arecusa destes actos.
Entendo que têm que consultar um advogado o maisrapidamente possível, e agir judicialmente contra estasgritantes ilegalidades. n
Condomínio sem regulamento –Assembleias Gerais – Actas
JAN 2011 | TempoLivre 61
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Ginástica mental| por Jorge Barata dos Santos
N.º 22Preencha a grelha com osalgarismos de 1 a 9 semque nenhum deles serepita em cada linha,coluna ou quadrado
(Horizontais) 1-MATE; CORAL; MOTO. 2-OREM; AMIGA; ELAV. 3-SAMA; LI; OR; LAPA. 4-MA; A; TER; R; SA. 5-TE; AV; ERA; EU; RE. 6-O; AMEM; M; LIMA; S. 7-MATA; UNIDO; ETAS. 8-B; ERMA; DAURA;E. 9-AS; OO; DAR; RO; AS. 10-EL; I; ASA; I; IM. 11-UNAS; EM; LA;AÇOS. 12-RITUAL; I; RUMARA. 13-ALAS; OCARA; ARAR
SOLUÇÕES
ClubeTempoLivre > Passatempos
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N.º 22 SOLUÇÕES
Palavras Cruzadas | por José Lattas
Horizontais: 1-Diz-se da tinta ou da pintura, que não tem brilho;Orfeão; Intenção. 2-Declamem; Concubina; Bacia de um cursode água (inv.). 3-Agulha do pinheiro; Vi; Sufixo de substantivoe adjectivo, derivado do verbo, e que traduz a ideia de ocu-pação, ofício ou emprego; Caverna. 4-Madrasta; Alcançar;Apelido. 5-Forma do pronome pessoal tu; Avenida (abrev.);Período; A minha pessoa; Raia. 6-Apreciem; Apuro. 7-Selva;Aderente; Sétima letra do alfabeto grego (pl.). 8-Abandonada;Brisa. 9-Artigo definido (pl.); Sono infantil; Abonar; Letragrega; Arsénio (s.q.). 10-Forma antiga do artigo o; Alça; Prefixoque se emprega em vez de in. 11-Umas; Preposição; Nota musi-cal; Liga ferrocarbónica (pl.). 12-Cerimonial; Tomara direcção.13-Lados; Escavara; Arrotear.
Verticais: 1-Multidões; Baqueia; Sufixo, que traduz a ideia dequalidade, propriedade ou natureza. 2-Verga; Caduco. 3-Argumento; Preposição; Desfaçatez. 4-Ave pernalta corredora,da Austrália; Amargoso; Ânimo. 5-Diz-se das pessoas espertas,finórias ou perspicazes; Atormenta. 6-Óxido de cálcio; Omesmo que mula; Vínculo. 7-Cala; Apelido do Prémio Nobelda Fisiologia e Medicina, em 1943, por descobrir e isolar a vita-mina K. 8-Graceja; Capelas; Abalava. 9-Hoje; Povoação do con-celho de Sintra. 10-Ninho; Patranha; Altar. 11-Soberano;Cantão da Suíça Central. 12-Lisonja; Osso do braço; Aia. 13-Olarias; Embaraça; Alçar. 14-Abafar; Fruto de algumas espéciesde silvas. 15-Ovário dos peixes; Pronome demonstrativo (pl.);Chefe etíope (inv.).
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ÂNCORA EDITORA
A ESTÁTUA - A TORTURA
PREFERIDA PELA PIDE
José António Pinho
A obra caracteriza
politicamente os anos de
1958 e 59 e faz uma «singela
homenagem a todos os que
viveram e lutaram por
sonhos de liberdade».
São narrados 40 dias vividos
nas
masmorras da
polícia em
Coimbra, sete
deles de
autêntica
tortura. Um
testemunho da relação com
os agentes da PIDE, do
medo e do pânico vividos e
da tábua de salvação que
permitiu não denunciar,
escrito em «palavras de
lágrimas, de sangue e de
amor».
ARCÁDIA OLHOS BRILHANTES
Catherine Anderson
Zeke compra o rancho
vizinho de Natallie, uma
divorciada
atraente
com dois
filhos e um
ex-marido
envolvido
em
negócios escuros. Quando
um dos filhos vandaliza a
sua propriedade e face à
incapacidade de Natallie
pagar os prejuízos, Zeke
disponibiliza-se a receber o
pagamento através do
trabalho do adolescente.
Inesperadamente, enquanto
tenta incutir bons valores ao
miúdo, apercebe-se que a
admiração por Natallie
cresce e, determinado a
provar que há homens
dignos de confiança, acaba
por a seduzir. Mas a atracção
entre ambos é ameaçada por
algo que pode condenar a
sua felicidade!
BOOKSMILE
CAPITÃO FOX: O FANTASMA
DOS SETE MARES
Marco Innocenti
As emoções fortes
continuam para o Ratinho
Ricky e para a tripulação de
piratas do navio Camaleão, a
quem se juntam novas e
divertidas personagens.
Entre perseguições e duelos
desvende os segredos que o
coração de um pirata
esconde e saiba como os
nossos heróis irão superar os
perigos com a ajuda de uma
misteriosa criatura que
ascende das profundezas
dos Sete Mares.
SCOTT PILGRIM NA BOA
VIDA (VOL. 1)
Bryan Lee O’Malley
Aos 23 anos, Scott tem uma
vida fantástica, faz parte de
uma banda
de rock e
namora a
miúda mais
gira da
escola.
Tudo corre
bem até
uma espantosa estafeta
sobre patins começar a
passear-se pelos seus
sonhos e a cruzar se com ele
em festas. Conseguirá Scott
chegar à menina e derrotar
os seus sete ex namorados
sem dizer adeus à boa vida?
PRINCESA DAS FLORES
Janey Louise Jones
O aniversário do avô da
Poppy aproxima-se e a Colina
do Pote de Mel vai organizar
uma festa surpresa, segundo
uma antiga tradição da
aldeia. Convencido que todos
esqueceram o seu
aniversário, o avô não faz
ideia da surpresa. Como irá
ele reagir?
BY THE BOOK
ESTORIL, A VANGUARDA
DO TURISMO
Margarida de Magalhães
Ramalho
Nascido sob o signo de um
sonho, o Estoril é a estância
balnear de referência dos
últimos cem anos. Graças ao
clima e ao Sud Express
foram muitas as figuras
internacionais (banqueiros,
actores de cinema, reis,
condes e outras ilustres
personagens) que desde a II
Guerra Mundial desfilavam
pelo seu areal e pelo luxuoso
casino.
Uma obra que relata como o
Estoril soube adaptar-se à
evolução e como continua a
ser um destino turístico
privilegiado.
EDITORIAL PRESENÇA
O BIG SUR E AS LARANJAS
DE JERÓNIMO BOSCH
Henry Miller
Escrito após regresso do
autor, nos anos 40, ao
paradisíaco Big Sur na costa
da Califórnia, a obra
composta de textos distintos
retrata as vivências e
relações
familiares e
de amizade
do autor e de
muitas
pessoas que
procuravam
aquela
região paradisíaca. Uma
obra de maturidade que
reflecte uma plena liberdade
interior.
O MUNDO MÁGICO DO
CLUBE TIARA
Vivian French
No primeiro dia de aulas as
princesas do Clube Tiara mal
podem esperar para te
conhecer… Descobre tudo
sobre a vida na Academia de
Princesas e como, em breve,
serás uma Princesa Perfeita.
ClubeTempoLivre > Novos livros
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Um livro fabuloso cheio de
surpresas para todas as
princesinhas!
O CAPUCHINHO
VERMELHO
Um Livro Pop-Up
Louise Rowe
Uma versão nova e original
de um conto tradicional, com
maravilhosas ilustrações
Pop-Up em tons de sépia que
saltam à vista de todos!
FAMA
Romance em nove histórias
Daniel Kehlmann
À medida que as páginas
avançam, definem-se os
contornos de um romance
engenhoso e
subtil que
reflecte sobre
a realidade e
as
aparências, o
quotidiano e
os sonhos e a noção de
identidade num mundo cada
vez mais saturado de
tecnologias.
99 CLÁSSICOS DO CINEMA
PARA PESSOAS COM
PRESSA
Henrik Lange e Thomas
Wengelewski
Para quem nunca viu
Casablanca, E Tudo o Vento
Levou, Matrix e outros filmes
que integram a lista dos
“musts” de
qualquer
cinéfilo, saiba
que com esta
obra poderá
colmatar
essa falha de forma rápida e
divertida. Com elevado
sentido de humor apresenta-
se em banda desenhado um
resumo em versão “fast
reading” de 99 obras-primas
que irão alargar de forma
exponencial a sua cultura
cinematográfica.
EUROPA AMÉRICA
AS FOBIAS – AGORAFOBIA,
FOBIAS SOCIAIS E FOBIAS
ESPECÍFICAS
Jean-Louis Pedinielli e
Pascale Bertagne
A obra
descreve os
fenómenos
comuns a
todas as
fobias e
ilustra o quadro semiológico
com exemplos clínicos,
enquanto percorre as teorias
que visam dar uma
explicação sobre a sua
origem, mecanismos e
consequências.
A terapia e sua aplicação são
analisadas, tendo em conta
as teorias psicanalíticas e
cognitivo-comportamentais.
FELIZ INSUCESSO
PRECEDIDO DE COCOROCÓ
Herman Melville
Do autor de Moby Dick,
chega-nos
uma obra
que invoca
vários
aspectos da
tradição,
impregnados
na acidez corrosiva do
mundo moderno. Mistura
explosiva de géneros que
assenta na improvável
transfiguração do real
quotidiano, onde os dois
contos oscilam ora entre a
alegria e a resignação, ora
entre a salvação e o
fracasso.
K4
DOU-TE UM VERSO
Uma agenda intemporal com
poemas de Fernando Pessoa,
José Régio, Miguel Torga,
Sophia de Mello Breyner,
Eugénio de Andrade, David
Mourão-Ferreira e de muitos
outros maravilhosos génios
para o fazer sorrir e ter um
dia mais agradável.
PI
ANITA PROTEGE A
NATUREZA
Marcel Marlier, Gilbert
Delahaye
A mais importante colecção
infantil Anita, lida por
diversas gerações, apresenta
uma nova edição dedicada à
natureza, onde Anita e os
amigos vão poder apreciar a
beleza da natureza e de
muitos seres vivos que a
habitam.
VERBO
RECEITAS DO CORAÇÃO
Maria de Lourdes Modesto e
Alva Seixas Martins
Com prefácio de Fernando de
Pádua, este livro revela como
a alimentação inteligente –
saudável e
racional - pode
ser variada e
saborosa.
Inclui
numerosas
receitas e
promove a saúde com
sugestões interessantes para
pessoas com doenças
cardiovasculares, cancro,
diabetes e muitas outras
patologias.
Glória Lambelho
JAN 2011 | TempoLivre 65
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ClubeTempoLivre > Cartaz
AÇORES
Ilha do Pico
Dia 8 - Encontro de Ranchos
de Natal da Ilha do Pico, na
Casa do Povo da Criação
Velha.
Ilha do Faial
Até ao dia 31 decorrem
inscrições para os cursos das
oficinas dos Tempos Livres,
Informações na Agência
Inatel em Horta.
COIMBRA
Concerto
Dia 7 às 21h30 - Orquestra de
Sopros de Coimbra na Igreja
da Misericórdia em Tentúgal.
Escola de Musica
Durante a semana decorrem
aulas de Música, diurnas e
nocturnas, na Agência
INATEL de Coimbra.
Futebol
Dias 9,16, 23 e 29 decorrem
8ª,9ª,10ª e 11ª jornadas de
Futebol -Taça Fundação
INATEL
Voleibol
Dias 7,14,21,28 –
realizam-se jornadas (1ª à 4ª)
da Liga de Voleibol
INATEL.
VIANA DO CASTELO
Futebol
Dias 16, 23 e 30 às 15h –
realizam-se diversos jogos da
Taça Fundação Inatel,
informações na Agência
Inatel.
Futsal
Dias 8, 14, 15, 21 e 22 –
decorrem jogos da Liga Inatel
2010/2011, Informações na
Agência INATEL
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-Agora tudo é diferente… Por um micronésimo de segundo, a voz quebra-se-lhe, perde decibéis. Como gaivotas extravia-das, os seus olhos procuram refúgio no mar,
cujo sal lhe corre nas veias, com o sangue dos avós. Há semanasque a sua verbosidade é espiral em torno de um tema único: oNatal que se aproxima e o receio de um regresso aos seus nataisde menina sem infância, filha de pescador. E deles vai falando,enquanto trabalha: da manta festiva estendida no chão da sala;da “bacia” de barro com as batatas com aparas de bacalhau, colo-cada sobre a manta; da roda dos trezes irmãos e irmãs sentadosem volta da “bacia”; da ausência de garfos; do gostinho de comerà mão; das quatro castanhas de sobremesa - com 2 ou 3 figos em“natais de maior abundância”; do jogo do rapa - a feijões, quedepois irão engrossar uma sopa; da alegria da partilha comoutros ainda mais desafortunados. Que fome não havia; apenasum apetite jamais saciado.
Ao longo do relato, o sorriso vai-se-lhe abrindo, belo comoflor de cacto. É certo que brinquedos não havia, que o Meninosabia que também não havia sapatos.
Noite de consoada, noite de negro-negro em tempo dejamais!
- Agora tudo é diferente!Como que atraída pelo ritmo encantatório das palavras, a
serpe de um insidioso sentimento de culpa vai-me sufocando.O meu silêncio é vergonha.
Afinal, não é apenas o risco azul do rio nascido nosCantábricos o que nos separa no mapa da nossa infância.
Do fundo da memória, as imagens surgem silenciosas contrao fundo negro-verde bordado a prata da escarcha das inverno-sas noites galegas, povoadas de lendas e mistério.
“Cozinha velha”, na “casa de baixo”, sobre a qual, séculosantes, alguém construíra a meândrica Casa da Avó. Do ladoesquerdo, à entrada, no enorme lar de granito, imola-se, cantan-do, o roble que um dia foi deus em terras gróvias, e hoje é o
Tizón, ou Cepo de Nadal (sic!). No canto oposto, o presépio, “oBelén”, onde, sobre uma multidão de figurinhas toscas, imperaum tosco Menino Jesus, a quem a Avó retira das quatro palhi-nhas para que cada criancinha possa, à vez, fazer-lhe uma levecarícia, ao som de um “villancico” mais ou menos desafinado.
No centro, sobre o lajedo nu, a mesa imensa, onde todos têmassento: adultos e crianças, familiares, amigos e pessoal semfamília. Num topo da mesa, a Avó vigia atentamente o cumpri-mento das tradições, a mais importante das quais, instituídapor ela, é, para nós, a de que, em “Noiteboa”, todas as criançassão inimputáveis. No extremo oposto, um cadeirão vazio desdea morte do Avô, um quarto de século atrás, é olhado por adul-tos com respeito e pelas crianças com temor.
Sobre a mesa, marisco, bacalhau (português!) com couve-flor,e o capão recheado, acompanhados por vinho Ribeiro e cidra dacasa, (mélhor qué champán!). Sobremesas, frutos secos, “turrón”(duro e mole), as inesquecíveis “filhoas” da Avó, de sangue deporco, com nozes, pinhões e torrões de anis, e, em honra danora portuguesa, bolinhos de jerimu e rabanadas de leite.
O cansaço das crianças traz, finalmente, quietação àquelababel galaico-portuguesa, em que a língua franca é a língua decada um.
Chega o momento de pôr os sapatos na chaminé (os “portu-gueses” não estarão para os Reis) e de deixar a mesa para osAusentes, que, presididos pelo Avô, virão, no silêncio da noite,velar o Menino e ajudá-lo a distribuir os presentes pelos sapa-tos dos netos.
Levantada a mesa no dia seguinte, e distribuídas as cinzas doTizón pelos adultos, fecha-se a Cozinha. Até à próximaNoiteboa.
Em vésperas de natal, escrevo na solidão da noite as palavrasque a culpa me fez silenciar.
Noiteboa, noite de negro-verde, em tempo de jamais!Feliz 2011, Senhores Leitores! n
Noite de consoada – “Noiteboa” –em tempo de jamaisDeito-me à sombra da árvore sem sombra - a árvore /cujas raízes nascem da infância - e é natal / […] E conto, agora, asbolas douradas que enfeitam / a árvore - sem nunca chegar ao fim. Conto-as, no entanto, enquanto as vou / colhendo,como se fosse o tempo dos / frutos. Uma a uma, essas bolas amontoam-se na minha memória, / dando um rosto a cadaum desses que batiam à porta da noite, pedindo o pão / que sobrara do natal.[…]
Nuno Júdice, “Natal”, poema inédito, in: “A poesia dos Calendários”, Dezembro 2004
O Tempo e as palavras
Maria Alice Vila Fabião
JAN 2011 | TempoLivre 67
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Embora habituado a estranhos impulsosda mulher, Afonso não reteve o protestoquando a viu equipar-se de fato – de –treino e trocar os sapatos de verniz
pelos ténis de corrida.— Onde vais tu, Letícia?— Correr no parque. Preciso, passei um dia
enervante e não conseguiria adormecer sem can-sar o corpo. Acompanhas-me?
Afonso abandonou o livro em que mergulharacom interesse e ouviu a irritação da sua própria voz:
— És doida? Faltam minutos para a meianoite, o parque é um deserto negro e, bem sabes,trata-se de um lugar perigoso.
— Não me sejas medricas – riu-se Letícia aper-tando os cordões dos sapatos. Perigoso é qualquersítio onde uma pessoa se encontre. Quando tupartiste o braço foi por escorregar na banheira.
— Por favor, Letícia – insistiu Afonso cada vezmais incomodado com o disparate da mulher.Não era raro ela eliminar calorias numa hora decorrida pelas alamedas do parque mas sempreacompanhada pela amiga Olga ou, de quando emquando, pelo próprio Afonso. E sempre a despor-tiva jornada ocorrera ao início da manhã ou aocair da tarde, nunca a entrar na madrugada,quando as próprias ruas da cidade se despem detranseuntes. Tanto mais, o Parque.
— A Olga vai contigo?— Não quer. Afinal o discurso dela é seme -
lhante ao teu, o perigo, ai, o perigo, como se oparque fosse um reduto de malfeitores á esperade mulheres parvas para lhes caírem em cima.Vou sozinha, e então?
— Então demonstras a mais tonta dasimprudências, talvez penses que tarados à cocano parque seja invenção de filmes e séries de tele-visão. Assaltos e crimes de morte também acon-tecem por cá, nesse mesmo parque que nos deli-cia ao sol da manhã são diferentes as noites e porali se move uma fauna de marginais.
Letícia soltou uma gargalhada:
— Tu não me assustas, Afonso! O que está aacontecer, uma Vaz mais, é que me faltas com oteu apoio sempre que me afasto um pouco do queconsideras o procedimento correcto.
— Pois bem, avisei-te.Da janela do quarto andar, Afonso ficou a
olhar Letícia que se afastava já em passo de corri-da, assim aconteceria nas três ruas que distan-ciavam a casa do parque. E aí, ela percorreria ogrande espaço acelerando o movimento das per-nas até que o cansaço lhe recomendasse dar oesforço por findo.
Afonso tentou retomar a leitura mas em vão.Ouvira contar de assaltos e violações naqueleparque, constava, mesmo, que duas mulheresque desafiaram conselhos tinham acabado esfa-queadas.
Bem diferente era o ânimo de Letícia ao pisaro corredor central, em passada certa e vigorosa, arespiração calma, o cabelo longo agitando-se àmedida dos movimentos do corpo.
Na realidade a noite era de breu e a luz baçados candeeiros não iluminava mais que um aper-tado circulo em volta. Ninguém. Não sentir a pre-sença de outros seres humanos causava a Letíciauma doce sensação de liberdade plena, só ela e arelva, os arbustos e arvores do parque.
Correra já umas centenas de metros quandolhe pareceu ouvir o som de passadas, atrás de si,ainda distantes. Olhou para trás, nada se via paraalém da escuridão. Mas o ar lavado da noite favo-recia o som e o ruído ritmado – Plac! Plac! –anunciava que por aquele mesmo trajecto alguémcorria e talvez se aproximasse.
Não se assustou. O seu optimismo naturallevou-a a pensar que seria outro ocasional atleta,talvez mulher, que não resistira à tentação de umanoite amena e do gosto de correr. De qualquermodo, obliquou para uma álea transversal, na con-vicção de que assim deixaria de ouvir os passos –Plac! Plac!— pelo menos com a mesma nitidez.
Enganou-se. O som parecia mesmo crescer de
Perseguição
68 TempoLivre | JAN 2011 ANDRÉ LETRIA
Os contos do
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intensidade – Plac! Plac!— sugerindo que quemassim corria viesse na peugada dela. Só então seassustou um pouco e acelerou a passada, cons-ciente de que a sua rapidez de pronto a afastariade um eventual perseguidor. Perseguidor?Custava-lhe ainda admitir essa eventualidade,mas quando ziguezagueou entre alamedas e osom das passadas à sua retaguarda crescia de niti-dez, o susto abeirou-se do pânico. O telemóvel,ligaria ao Afonso, à Olga, á polícia, a quem lheacudisse na aflição crescente.
Zangou-se com ela própria, arrependeu-se doorgulho desatinado que a levara a desprezar osconselhos de Afonso e Olga, lembrava-se agora deter lido notícias tenebrosas de ocorrências naque-le parque. E rezou. Havia muito que não rezavamas o pânico puxava-a agora a pedir a protecçãode Deus ou de algum santo especializado em sal-var teimosas incautas. Os passos do perseguidor,plac-plac, por vezes assustadoramente próximos,depois mais distantes como se o canalha nãoresistisse às acelerações desesperada da persegui-da, martelavam a noite quase em uníssono com obater do coração de Letícia. Ela era por naturezaresistente e o medo parecia redobrar as forças masnão conseguia afastar-se do perseguidor a pontode deixar de ouvir o plac- plac de uns passos pesa-dos que seriam de homem, e robusto, talvez umtarado disposto a violá-la, se não a pôr fim à suaexistência jovem, com tanto tempo de promessade vida. Exausta, forcejou ainda por continuar acorrer sem quebra de rapidez, mas a respiraçãoofegante não resultava apenas da fadiga, tambémdo pânico que se apossara dela. Sabia que não iasuportar mais uma centena de metros sem tombarde esgotamento quando ouviu um grito, meioreclamação, meio lamento:
— Pára, mulher! Não aguento mais a tua pas-sada!
Reconheceu a voz do querido Afonso e sorriu.Aquele medricas não resistira à tentação de virprotegê-la.n
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Não sei como foi convosco, mas estapassagem de ano, cá em casa, foi maisrápida do que é costume, embora até àmeia-noite, não se tenha notado nada
de anormal.Jantámos com os mesmos amigos de sempre.
Ficámos à mesa, como é hábito, a projectar ofuturo e a dizer mal do passado, do chefe daIsabel e da Mariza, que o Carlos acha que exage-ra nos gritos.
Ao longo da janta, investigámos as razões porque o "Quem Quer Ser Milionário" nunca deu umprémio de cem mil euros e pegámo-nos acerca deJesus, porque somos todos do Benfica, mas as opi-niões sobre o treinador nos afastam mais do que sefôssemos uns do Glorioso e outros lagartos.
Às dez horas, as crianças começaram a chatear-se de morte por nunca mais serem horas de batertampas de tachos à janela. Como nas viagens, per-guntavam, de quarto em quarto de hora, se faltavamuito e ouviam a resposta que os psicólogos recei-tam: está quase, vai fazer qualquer coisa para otempo passar depressa. A isto seguiam-se outrasperguntas: se podiam beber aquele restinho desumo de maçã (era whisky), porque é que o gato asarranhava quando só queriam pôr-lhe uma bande-lete de rena, se para o ano as inscrevíamos final-mente na escola de Hogwarts (vai-te informar dequanto custam as propinas), perguntas dessas, atéserem, às tantas, enviadas a brincar umas com asoutras, "que a gente já vos chama".
Depois, como também é costume, Ana, a minhaatenta mulher, lembrou-se de que já devia estarquase na hora e, como de costume, foi nessa altu-ra que se acendeu a televisão. Normalmente, olembrete acontece quando faltam dois minutos
para a passagem de ano e este 31 de Dezembro nãofoi excepção. Gritámos pelos miúdos e saltámospara junto do televisor.
Aos dez segundos para a meia-noite, o pessoalpega nas passas e assiste à contagem decrescente,à espera do zero. Todos menos eu, que tenho sem-pre a missão de fazer saltar a rolha da garrafa deespumante no momento certo. O resto do povoreconhece que tenho essa arte, embora, ano apósano, se verifique que nunca acerto no timing. Aexplosão uns anos é precoce, outros atrasada e, emqualquer dos casos, é certo e sabido que o primei-ro quarto de litro de champanhe de Lamego vai aotapete. Mas dá-lhes jeito.
Todos os anos é assim: os amigos fazembatota, engolem as passas de uva à pres-sa, para apararem nos copos o espuman-te, mas Ana, não. Faz questão de cum-
prir todos os rituais, por isso sobe para cima deuma cadeira e traga as doze passas com cuidado edemoras, pronunciando um desejo por cada umaque trinca. Leva muito tempo, até porque não tomanota prévia dos votos e, às vezes, esquece-se deonde vai e tem de recapitular os que já proferiu. Seisso acontece, por exemplo, quando já está no seteou no oito, género "que o Papa venha cá e hajaamnistia para as multas da EMEL; espera, este erao primeiro; já me perdi", estão a ver o tempo que seperde. Mas adiante.
Esta passagem de ano, como já disse, foi anor-mal e só espero que isso não seja mau sinal. Anasubiu à cadeira e à primeira badalada declarou: "sótenho um desejo para 2011: que a gente sobreviva".Após o que enfiou as doze passas na boca e ficou àespera do meu número da rolha. n
Um desejo de Ano Novo
Crónica
AntónioCosta Santos
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