Tendências Recentes do Mercado de Trabalho …...desemprego, o aumento da formalização e dos...
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Tendências Recentes do Mercado de
Trabalho Brasileiro
Naercio A. Menezes Filho
Pedro Henrique Fonseca Cabanas
Bruno Kawaoka Komatsu
Policy Paper nº 10
Janeiro, 2014
2
Tendências Recentes do Mercado de Trabalho Brasileiro
Naercio A. Menezes Filho
Pedro Henrique Fonseca Cabanas
Bruno Kawaoka Komatsu
Naercio A. Menezes Filho Insper Instituto de Ensino e Pesquisa Centro de Políticas Públicas (CPP) Rua Quatá, nº300 04546-042 - São Paulo, SP - Brasil [email protected]
Pedro Henrique Fonseca Cabanas Insper Instituto de Ensino e Pesquisa Centro de Políticas Públicas (CPP) Rua Quatá, nº300 04546-042 - São Paulo, SP - Brasil [email protected]
Bruno Kawaoka Komatsu Insper Instituto de Ensino e Pesquisa Centro de Políticas Públicas (CPP) Rua Quatá, nº300 04546-042 - São Paulo, SP - Brasil [email protected]
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Tendências Recentes do Mercado de Trabalho Brasileiro
Naercio Aquino Menezes Filho
Pedro Henrique Fonseca Cabanas
Bruno Kawaoka Komatsu
Centro de Políticas Públicas - Insper
Resumo
O mercado de trabalho brasileiro vem apresentando um comportamento interessante em
anos recentes. A redução da taxa de desemprego dos últimos dez anos ocorreu
simultaneamente ao aumento da taxa de formalização dos empregos. Porém, houve um
aumento dos gastos do governo com seguro desemprego. Como podemos explicar isso?
Nesse artigo examinamos esses três movimentos, com foco nas transições entre
situações no mercado de trabalho. Utilizando pesquisas domiciliares do IBGE, nossos
resultados mostram que não houve aumento significativo da rotatividade entre
empregados formais. Por outro lado, entre os informais e os trabalhadores por conta
própria a rotatividade reduziu-se. Houve, além disso, um aumento da probabilidade de
admissão entre desocupados até 2012 e redução da probabilidade de desligamento entre
os ocupados. O crescimento da formalidade ocorreu pela redução dos fluxos da
formalidade em direção à informalidade e ao desemprego. Em contrapartida,
verificamos aumento das transições para a formalidade, especialmente a partir da
desocupação. Por último, não encontramos evidências sustentando o argumento de que
a rotatividade teve papel relevante no aumento dos gastos com o seguro desemprego.
Simulações indicam que o aumento do valor das parcelas, determinado pelos salários
médios e reajustes do governo, é que constituiu o fator mais importante para o
crescimento daqueles gastos.
4
Introdução e Objetivos
O mercado de trabalho brasileiro vem apresentando tendências bastante interessantes
em anos recentes. Em relação ao desemprego, é amplamente divulgado no Brasil que
nos últimos anos o país atingiu o pleno emprego. Nesse sentido, a redução da taxa de
desemprego1 da última década foi intensa, passando de 13% em 2003 para 5,4% em
20132 nas Regiões Metropolitanas e de 9% para 6% no Brasil como um todo entre 2002
e 2012 (como podemos ver nos Gráficos 1 e 2, abaixo).
Fonte: PME/IBGE; PNAD/IBGE. Elaboração própria.
Como podemos compreender o movimento decrescente da taxa de desemprego? Será
que um número menor de pessoas ocupadas tornou-se desocupadas? Ou mais
desocupados saíram do desemprego?
1 A taxa de desemprego é calculada pela razão entre o estoque de desempregados e a População
Economicamente Ativa. 2 Considerando somente o mês de setembro.
13.0%
7.7%
5.4%
0%
2%
4%
6%
8%
10%
12%
14%
2003 2008 2013
Gráfico 1 - Taxa de Desemprego - Regiões Metropolitanas, 2003-2013
9%
7% 6%
0%
2%
4%
6%
8%
10%
12%
14%
2002 2008 2012
Gráfico 2 - Taxa de Desemprego - Brasil, 2002-2012
5
Essas questões são relevantes, porque revelam dinâmicas diferenciadas do
funcionamento do mercado de trabalho e possuem efeitos distintos. Por exemplo, se
menos pessoas ocupadas estão ficando desocupadas, a duração dos empregos pode estar
aumentando (ou os ocupados estão circulando mais diretamente entre empregos, sem o
passo intermediário da desocupação). Nesse caso, se considerarmos os assalariados com
carteira assinada, é possível que haja redução dos gastos do governo com encargos
trabalhistas como o seguro desemprego.
Por outro lado, se a tendência predominante é do aumento da saída do desemprego,
então a duração no desemprego pode estar se reduzindo. Durações menores no
desemprego são associadas a menores perdas de bem-estar. Se, além disso, essa
tendência estiver ligada a um aumento da saída do emprego no mercado formal, a
rotatividade do mercado de trabalho pode estar aumentando, com crescimento dos
gastos do governo com o seguro desemprego.
Outra tendência recente observada no mercado de trabalho foi do aumento do emprego
formal. Podemos ver pelo Gráfico 3 que, na última década, os empregados com carteira
assinada no setor privado saltou de 53% para 66% do total de empregados nas Regiões
Metropolitanas, com uma taxa semelhante no Brasil como um todo (Gráfico 4).
53% 58%
66%
0%
20%
40%
60%
80%
2003 2008 2013
Gráfico 3 - Proporção (%) de Empregados com Carteira Assinada - Regiões
Metropolitanas, 2003-2013
6
Fonte: PME/IBGE; PNAD/IBGE. Elaboração própria.
O emprego formal geralmente é associado a trabalhos de qualidade mais elevada, com
melhores condições e maiores salários. A boa notícia, no entanto, tem seu lado ruim: o
aumento do emprego formal implica no possível crescimento dos gastos com garantias
trabalhistas, como o seguro desemprego. Isso de fato ocorreu. Segundo dados do
Ministério do Trabalho e Emprego (MTE)3, entre 2002 e 2012 os gastos do governo
com o seguro desemprego passaram de cerca de R$ 11 bilhões para R$ 28,4 bilhões (em
valores constantes de 2012)4, um aumento médio anual de quase 10%.
Como é possível que os gastos com o seguro desemprego tenham aumentado, quando o
desemprego está diminuindo?
No presente estudo, temos como foco essas três grandes tendências: a queda no
desemprego, o aumento da formalização e dos gastos com o seguro desemprego.
Examinaremos principalmente as transições no mercado de trabalho para esclarecer
quais foram os fluxos que geraram as tendências observadas. Utilizaremos a base de
dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), realizada mensalmente pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa pesquisa é amostral e domiciliar e
abrange as seis principais Regiões Metropolitanas brasileiras5. Com o objetivo de
mostrar uma perspectiva de longo prazo, a maioria das tabelas utilizará somente os
dados dos meses de setembro dos anos 2003, 2008 e 2013.
3 Ver Brasil (2008), Brasil (2009), Brasil (2012) e Brasil (2013).
4 Utilizamos como deflator o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), do IBGE.
5 São elas as Regiões Metropolitanas de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Belo Horizonte, de Salvador, de
Pernambuco e de Porto Alegre.
56% 62%
67%
0%
20%
40%
60%
80%
2002 2008 2012
Gráfico 4 - Proporção (%) de Empregados com Carteira Assinada - Brasil, 2002-2012
7
Para um panorama mais abrangente do cenário brasileiro, fizemos tabulações
complementares com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD),
também elaborada pelo IBGE. Com abrangência nacional, essa pesquisa permite
verificar a situação do mercado de trabalho no Brasil como um todo. Como os dados da
PNAD 2013 não estão disponíveis, utilizamos os anos de 2002, 2008 e 2012.
Panorama Geral do Mercado de Trabalho e Desemprego
O crescimento da população ocupada ocorre por uma diversidade de fatores. Um
panorama geral do mercado de trabalho dos últimos dez anos mostra crescimento da
População em Idade Ativa (PIA), a população residente com idade igual ou maior do
que 10 anos6, porém a taxas declinantes (ver Gráficos 5 a 8, abaixo). Entre 2002 e 2008,
no Brasil como um todo o crescimento foi de 2,1% a.a., enquanto que entre 2008 e 2012
a taxa caiu para 0,8% a.a. Nas Regiões Metropolitanas (RMs), a taxa foi
comparativamente menor no primeiro período (1,7% a.a. entre 2003 e 2008), porém
posteriormente apresentou redução menos intensa do que no país como um todo,
mantendo-se em 1,3% a.a. de 2008 a 2013. Essas mudanças refletem tendências
demográficas de longo prazo. Com a redução das taxas de natalidade e aumento das
expectativas de vida, uma proporção maior da população passa a ocupar as faixas etárias
mais velhas, e a população mais jovem perde participação relativa, como podemos ver
nos Gráficos 9 e 10.
Como destacam Chahad e Pozzo (no prelo), o país passa por um período de bônus
demográfico, que representa uma janela de oportunidade de desenvolvimento
econômico propiciada pelas tendências demográficas. Nesse contexto, a redução das
taxas de natalidade e mortalidade faz com que a parcela da população que depende
economicamente da outra parcela, em idade ativa, seja decrescente. Haveria, dessa
forma, excedentes econômicos que, no médio e longo prazo, permitiriam aumento de
poupança e capacidade de investimento (que, no entanto, não parecem estar sendo
aproveitados). No curto prazo, o envelhecimento da população no geral e, em particular,
da PIA faz com que os jovens (tradicionalmente com maiores taxas de desemprego,
6 Apesar da mudança de definição na PNAD 2012 para pessoas com 15 anos ou mais, mantivemos o
critério anterior.
8
informalidade e menor escolaridade) percam participação e a população ocupada, no
geral, ganhe produtividade (Chahad e Pozzo, no prelo).
Fonte: PME/IBGE; PNAD/IBGE. Elaboração própria.
37 40
43
22 23 25
19 21 23
3 2 1
0
10
20
30
40
2003 2008 2013
Milh
ões
Gráfico 5 - PIA, PEA, Ocupados e Desocupados - Regiões Metropolitanas, 2003-2013
PIA PEA OCUPAÇÃO DESOCUPAÇÃO
1.7% 1.3% 1.5% 1.1% 2.7%
1.6%
-9%
-6%
-10%
-8%
-6%
-4%
-2%
0%
2%
4%
2003-2008 2008-2013
Gráfico 6 - Taxa de Variação Anual da PIA, PEA, PO e PD - Regiões Metropolitanas, 2003-2013
PIA PEA OCUPAÇÃO DESOCUPAÇÃO
142 161 169
87 99 101
79 92 95
8 7 6
0
50
100
150
200
2002 2008 2012
Milh
ões
Gráfico 7 - PIA, PEA, Ocupados e Desocupados - Brasil, 2002-2012
PIA PEA OCUPAÇÃO DESOCUPAÇÃO
9
Fonte: PME/IBGE; PNAD/IBGE. Elaboração própria.
A População Economicamente Ativa (PEA), que representa o estoque total de força de
trabalho disponível, apresentou ritmo de crescimento semelhante àquele da PIA, como
podemos ver Gráficos 6 e 8, acima. Isso significa que a redução do desemprego dos
anos 2000 ocorreu em um período em que a parcela da população que permaneceu
inativa se manteve constante (Gráficos 9 e 10). Chahad e Pozzo (no prelo) mostram que
a ocupação entre os jovens diminuiu por conta da ação de diversos programas, e houve
um aumento consequente de jovens estudando, ou seja, economicamente inativos. Além
disso, nos anos abrangidos pelos nossos dados houve aumento da escolaridade média da
população e grande expansão do ensino superior (Insper, 2009). Em consequência, é
provável que, apesar da estabilidade, o perfil dos inativos possa ter se transformado,
com redução da idade média e aumento da proporção de estudantes.
O crescimento da PEA foi puxado pelo aumento da População Ocupada (PO),
especialmente nas RMs, que representam as áreas economicamente mais dinâmicas. No
primeiro período, o crescimento foi de cerca de 2,7% a.a. tanto nas RMs quanto no
Brasil como um todo. No período seguinte, o emprego cresceu mais intensamente nas
RMs (1,6% a.a.) do que no país (0,6% a.a.).
Simultaneamente, a População Desocupada (PD) se reduziu. Nas RMs o estoque de
desocupados diminuiu mais intensamente do que no Brasil como um todo. As
tendências também foram diferenciadas, mais intensas nas RMs entre 2002 e 2008 (-9%
a.a.) e no Brasil como um todo entre 2008 e 2013 (-3% a.a.).
2.1% 0.8%
2.3%
0.4%
2.6%
0.6%
-2% -3%
-10%
-8%
-6%
-4%
-2%
0%
2%
4%
2002-2008 2008-2012
Gráfico 8 - Taxas de Variação Anual da PIA,PEA, Ocupados e Desocupados - Brasil, 2002-2012
PIA PEA OCUPAÇÃO DESOCUPAÇÃO
10
Fonte: PME/IBGE; PNAD/IBGE. Elaboração própria.
O que explica a redução da taxa de desemprego?
Um primeiro ponto é relacionado aos fluxos de entrada e saída do emprego e do
desemprego. No geral, o fluxo de entrada no desemprego foi menor do que o fluxo de
saída para o emprego, como mostra o Gráfico 11. Não estamos contabilizando o fluxo
de saída do emprego para a inatividade. Note que ambos os fluxos de novos
desempregados (com menos de 1 mês de procura) e ocupados (com menos de 1 mês no
trabalho) diminuem ao longo dos anos.
58% 57% 57%
84% 87%
89%
50%
60%
70%
80%
90%
2003 2008 2013
Gráfico 9 - Proporção (%) da População em Idade Ativa na População total e Taxa de Atividade - Regiões
Metropolitanas, 2003-2013
Atividade PIA
61% 62% 60%
82% 85% 86%
50%
60%
70%
80%
90%
2002 2008 2012
Gráfico 10 - Proporção (%) da População em Idade Ativa na População total e Taxa de Atividade - Brasil,
2002-2012
Atividade PIA
11
Fonte: PME/IBGE. Elaboração própria.
Qual dos dois movimentos foi mais relevante para a redução da taxa de desemprego? A
redução dos novos desempregados, ou aquela dos novos ocupados?
Para verificar essas questões, em uma análise mais detalhada, utilizamos uma
metodologia de decomposição da taxa de desemprego em probabilidades de transição
entre dois estados: a ocupação e o desemprego. Os cálculos das probabilidades foram
feito com dados de estoques mensais de ocupados, desocupados e desocupados de curto
prazo, a partir de uma metodologia que evita um problema de subestimação das
probabilidades de transição7.
O Gráfico 12 mostra a probabilidade média de admissão estimada para cada trimestre.
Podemos observar que há uma tendência geral de crescimento da probabilidade de
admissão entre 2002 e 2013, excetuando o último ano disponível (a partir do 2º
trimestre de 2012). O resultado mostra que, de fato, a taxa de saída do desemprego em
direção à ocupação apresentou aumento relativo na última década, o que está associado
à redução da duração média do desemprego. No último ano da série, no entanto, parece
haver uma mudança na tendência, com redução do fluxo para o emprego.
7 A metodologia foi desenvolvida por Shimer (2007) e adaptada para os dados brasileiros por Nunes
(2010) e Menezes Filho e Nunes (2013). Reproduzimos e estendemos as séries elaboradas por Menezes Filho e Nunes (2013) com dados da PME até 2013.
453,895 429,161
288,177
549,279
460,086
337,649
0
100,000
200,000
300,000
400,000
500,000
600,000
2003 2008 2013
Gráfico 11 - Novos Desempregados e Novos Ocupados - Regiões Metropolitanas, 2003-2013
Desempregados Ocupados
12
Fonte: PME/IBGE. Elaboração própria.
No mesmo período, a probabilidade de desligamento caiu (Gráfico 13), o que significa
que houve um decréscimo relativo da entrada no desemprego a partir da ocupação.
Fonte: PME/IBGE. Elaboração própria.
Mais desempregados sendo admitidos e menos empregados sendo demitidos. Em meio
a esses movimentos, o que mais influenciou a taxa de desemprego?
Segundo Menezes Filho e Nunes (2013), entre 2002 e 2009 a variação da probabilidade
de admissão explica integralmente a variação da taxa de desemprego. Isso significa que
10%
15%
20%
25%
30%
35%
04%
05%
06%
07%
08%
09%
10%
11%
12%
13%
14%
2T0
2
1T0
3
4T0
3
3T0
4
2T0
5
1T0
6
4T0
6
3T0
7
2T0
8
1T0
9
4T0
9
3T1
0
2T1
1
1T1
2
4T1
2
Pro
b. A
dm
issã
o
Taxa
de
De
socu
paç
ão
Gráfico 12 - Probabilidade de Admissão (%) e Taxa de Desemprego - Regiões Metropolitanas, 2003-2013
Tx. Desocupação Prob. Admissão
1.2%
1.7%
2.2%
2.7%
3.2%
3.7%
04%
05%
06%
07%
08%
09%
10%
11%
12%
13%
14%
2T0
2
1T0
3
4T0
3
3T0
4
2T0
5
1T0
6
4T0
6
3T0
7
2T0
8
1T0
9
4T0
9
3T1
0
2T1
1
1T1
2
4T1
2
Pro
b. D
esl
igam
en
to
Taxa
de
De
socu
paç
ão
Gráfico 13 - Probabilidade de Desligamento - Regiões Metropolitanas, 2003-2013
Tx. Desocupação Prob. Desligamento
13
a importância das contratações sobre a taxa de desemprego preponderou em relação à
importância da redução dos desligamentos no que se refere à queda da taxa de
desemprego. Apesar de mostrar redução importante e guardar relação estreita com a
taxa de desemprego (com uma correlação simples de quase 0,9), a variação da
probabilidade de desligamento é bem menor do que a anterior e praticamente não
explica em nada a queda da taxa de desemprego (Menezes Filho e Nunes, 2013).
Um segundo ponto se relaciona ao comportamento das diferentes posições na ocupação.
Os Gráfico 14 e 15 mostram que a proporção dos trabalhadores recentemente
contratados (com menos de 1 ano no trabalho) apresentou relativa estabilidade entre os
empregados formais do setor privado, enquanto que, entre os informais e trabalhadores
por conta própria, apresentou redução. Esse resultado indica que a rotatividade do
mercado de trabalho se manteve relativamente constante entre assalariados formais,
enquanto que entre informais e trabalhadores por conta própria ela se reduziu.
19% 23% 22%
17% 12% 11%
48% 48%
38%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
2003 2008 2013
Gráfico 14 - Participação (%) de Trabalhadores com Menos de 1 ano no Trabalho, por Posição na Ocupação
- Regiões Metropolitanas, 2003-2013
Carteira Assinada Conta Própria Sem Carteira
14
Fonte: PME/IBGE. Elaboração própria.
A duração média dos trabalhos informais e por conta própria, por outro lado, estaria
aumentando, enquanto aquela dos empregos formais se manteve relativamente
constante, como podemos ver no Gráfico 16, abaixo. A duração do trabalho entre os
trabalhadores por conta própria e entre informais aumentou pouco mais de 30% entre
2003 e 2013.
Fonte: PME/IBGE. Elaboração própria.
Os ocupados formais apresentaram crescimento da participação na PO, enquanto que os
trabalhadores por conta própria mantiveram a sua importância entre os ocupados com
pequena redução e os empregados sem carteira diminuíram a sua participação
19% 23% 21%
14% 12% 10%
42% 42% 38%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
2002 2008 2012
Gráfico 15 - Participação (%) de Trabalhadores com Menos de 1 ano no Trabalho, por Posição na Ocupação
- Brasil, 2002-2012
Carteira Assinada Conta Própria Sem Carteira
78 82 88
67 63 64
36 39 50
98
117 129
0
50
100
150
2003 2008 2013
Gráfico 16 - Tempo Médio (em meses) no Trabalho - Regiões Metropolitanas, 2003-2013
Total Com Carteira Sem Carteira Conta Própria
15
consideravelmente. Esses últimos apresentaram inclusive decréscimo absoluto (de -
26%).
Fonte: PME/IBGE. Elaboração própria.
Pelo lado dos desocupados, a taxa de entrada no desemprego apresentou aumento
relativo ao longo do tempo. O Gráfico 18 nos mostra que os desempregados de curto
prazo (com até 6 meses de procura por trabalho), que já eram a maioria em 2003 com
62%, aumentaram ainda mais sua participação para 74% em 2013. Além disso, o
desemprego de longo prazo, com 2 anos ou mais, apresentou redução significativa,
passando de 12% em 2003 para 7% em 2013.
Fonte: PME/IBGE. Elaboração própria.
39% 44%
51%
16% 14% 9%
20% 19% 18%
11% 11% 11% 8% 8% 6%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
2003 2008 2013
Gráfico 17 - Distribuição (%) na População Ocupada, por Posição na Ocupação - RMs, 2003-2013
Com Carteira Sem Carteira Conta Própria Setor Público Outros
62%
73% 74%
13% 11% 10% 13% 9% 9% 12%
7% 7%
0%
20%
40%
60%
80%
2003 2008 2013
Gráfico 18 - Distribuição (%) das Pessoas desocupadas por Tempo de Procura de Emprego - Regiões Metropolitanas,
2003-2013
0 a 6 meses 7 a 11 meses 1 a 2 anos 2 anos ou mais
16
Outra forma de se observar as mudanças no desemprego é através da sua duração
média. Como nos mostra o Gráfico 19, entre 2003 e 2008 essa duração caiu de 8,5
meses para 6 meses, mantendo-se no mesmo patamar até 2013.
Temos, portanto, desenvolvimentos ao longo do tempo diferenciados de acordo com a
posição na ocupação. Nas RMs, os trabalhadores por conta própria representavam em
2013 uma parcela relevante da população ocupada (18%), com trabalhos bastante
estáveis e com uma tendência de aumento dessa estabilidade. No mesmo ano, os
empregados sem carteira no setor privado estavam em tendência de decréscimo absoluto
e representavam somente 9% dos ocupados. Como no caso dos trabalhadores por conta
própria, a duração média dos vínculos estava aumentando e a entrada de novos
informais, diminuindo. Os empregados formais do setor privado apresentaram crescente
participação na PO (chegando em 2013 a 51%), mantendo constante a duração média
dos vínculos. Por outro lado, os desempregados apresentaram decréscimo absoluto, com
grande rotatividade e redução do tempo de procura de trabalho. O desemprego de longo
prazo, em adição, se reduziu consideravelmente.
Formalização
A outra tendência recente a ser investigada é a do aumento do emprego formal.
Como vemos nos Gráficos 20 a 23, o ritmo de crescimento do emprego com carteira de
trabalho assinada no setor privado foi superior àquele do total do empregados, de modo
que a proporção desses empregados formais aumentou de 53% em 2003 para 66% em
8.5
6.0 6.3
0
2
4
6
8
10
2003 2008 2013
Gráfico 19 - Tempo Médio (em meses) de Procura por Trabalho, apenas desocupados -
Regiões Metropolitanas, 2003-2013
17
2013 nas RMs (Gráficos 3) e de 56% a 67% no Brasil como um todo (Gráfico 4). Esse
crescimento se deve a uma série de fatores, como por exemplo, a tendência de
crescimento da economia brasileira (Corseuil e Foguel, 2012), o aumento da
escolaridade média (Mello e Santos, 2009), ampliação da fiscalização trabalhista
(Simão, 2009) e reformas microeconômicas implementadas pelo governo no início dos
anos 2000.
Chahad e Pozzo (no prelo) colocam outros fatores adicionais como: a estabilidade
econômica, criação de sistemas de tributação especiais para pequenas e médias
empresas (p.e. o SIMPLES nacional), aumento da demanda por profissionais mais
qualificados, envelhecimento da PO, flexibilização de formas de contratação formal,
melhoria das condições econômico-financeiras e do consumo através do crédito,
institucionalização do setor formal como um desejo da sociedade.
14
16 18
7 9
12
0
5
10
15
20
2003 2008 2013
Milh
ões
Gráfico 20 - Total de Empregados e Empregados com Carteira Assinada - Regiões
Metropolitanas, 2003-2013
Empregados (Total) Carteira Assinada
44
54 58
25 34
39
0
20
40
60
80
2002 2008 2012
Milh
ões
Gráfico 21 - Total de Empregados e Empregados com Carteira Assinada - Brasil, 2002-2012
Empregados (Total) Carteira Assinada
18
Fonte: PME/IBGE; PNAD/IBGE. Elaboração própria.
Os Gráficos 22 e 23 nos mostram que entre 2002 e 2008 o crescimento do emprego com
carteira foi ligeiramente maior no Brasil como um todo, em comparação com as RMs.
No entanto, a geração de empregos formais entre 2008 e 2013 foi mais acelerada nas
RMs.
Fonte: PME/IBGE; PNAD/IBGE. Elaboração própria.
Novamente, as transições entre situações de mercado de trabalho esclarecem a origem
dos fluxos em direção à formalidade. Nos Gráficos 24 a 26, consideramos as transições
em intervalos de 1 ano, entre cinco situações de mercado de trabalho: assalariados com
carteira assinada (formal), assalariados sem carteira (informal), trabalho por conta
própria, desocupação e inatividade. Foram considerados somente os indivíduos com
3.46%
2.02%
5.09% 4.72%
0%
2%
4%
6%
2003-2008 2008-2013
Gráfico 22 - Taxa de Crescimento Anual do Total de Empregados e Empregados com Carteira -
Regiões Metropolitanas, 2003-2013
Empregados (Total) Carteira Assinada
3.63%
1.64%
5.28%
3.86%
0%
2%
4%
6%
2002-2008 2008-2012
Gráfico 23 - Taxa de Crescimento Anual do Total de Empregados e Empregados com Carteira -
Brasil, 2002-2012
Empregados (Total) Carteira Assinada
19
entre 25 e 70 anos. As linhas segmentadas representam os limites do intervalo de
confiança de 95%.
Em primeiro lugar, a taxa de permanência dos assalariados formais e dos inativos foram
as maiores ao longo de todo o período e apresentaram estabilidade em torno de 85%,
após crescimento entre 2003 e 2005. Em contraste, a taxa dos informais se reduz a partir
de 2005. Entre os desocupados, a taxa é decrescente ao longo de todo o período,
especialmente entre 2008 e 2010.
Fonte: PME/IBGE. Elaboração própria.
A partir da formalidade, as transições em direção à informalidade ou à desocupação se
reduziram no período, o que explica em parte o aumento da formalização.
15%
25%
35%
45%
55%
65%
75%
85%
95%
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Gráfico 24 - Taxa de Permanência (%) por Situação Inicial - Regiões Metropolitanas, 2003-2011
Formal Informal C. Própria
Desocupado Inativo
2.0%
3.0%
4.0%
5.0%
6.0%
7.0%
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Gráfico 25 - Transições a Partir da Formalidade - Regiões Metropolitanas, 2003-2011
Formal Informal C. Própria
Desocupado Inativo
20
Fonte: PME/IBGE. Elaboração própria.
Com relação ao desemprego, a principal saída dessa situação ocorre pela transição para
a inatividade. Mas, o emprego formal foi aquele que mais ganhou importância como
porta de saída para a desocupação a partir de 2004. Pouco mais de 16% dos
desocupados naquele ano estava formalmente empregado após um ano. Em 2011 a
mesma estimativa chega a 30%. Esse padrão se repete a partir de todas as situações
iniciais, porém com intensidade menor.
Fonte: PME/IBGE. Elaboração própria.
Seguro Desemprego
O aumento da formalidade pode ter relação com o aumento dos gastos do governo com
seguro desemprego nos últimos anos. Em primeiro lugar, com relação à rotatividade do
setor formal, dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), nos mostram que
entre 2003 e 2011 houve crescimento relativamente pequeno da rotatividade, de 41%
para 44%, como podemos observar no Gráfico 27. O ano de 2008 apresentou um pico
na série, provavelmente devido a efeitos da crise financeira internacional. Além disso,
no mesmo período a proporção de beneficiários do seguro desemprego em relação ao
estoque de celetistas se manteve praticamente constante em 16,5%, o que significa que
o crescimento do número de beneficiários foi quase o mesmo do total de empregados
com carteira assinada.
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Gráfico 26 - Transições a Partir da Desocupação - Regiões Metropolitanas, 2003-2011
Formal Informal C. Própria
Desocupado Inativo
21
Fonte: MTE. Elaboração própria.
Os dados da PME também mostram relativa estabilidade. O Gráfico 28 nos mostra que
a proporção dos novos trabalhadores formais (com menos de 1 mês de trabalho) no
estoque total se manteve praticamente estável no período, enquanto que entre os
informais e trabalhadores por conta própria, se reduziu. A proporção de empregados
com carteira assinada que se tornaram desocupados ou inativos em relação ao estoque
de empregos com carteira segue tendência semelhante àquela das admissões (Gráfico
29), o que parece reforçar o resultado de que a rotatividade do setor formal não estaria
aumentando de forma relevante.
41.0 40.2 41.3 41.5 41.9 45.1 43.1 44.6 43.9
16.8 15.3 16.1 16.4 16.4 17.3 17.8 16.9 16.7
0
10
20
30
40
50
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
%
Gráfico 27 - Taxa de Rotatividade Anual e Proporção de Beneficiários em Relação ao Estoque Total de
Empregados Celetistas - Brasil, 2003-2011
Rotatividade Proporção de Beneficiários
0%
20%
40%
60%
80%
100%
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Gráfico 28 - Proporção (%) de Novos Trabalhadores em Relação ao Estoque Total, por Posição na
Ocupação - Regiões Metropolitanas, 2003-2012
Formal Informal C. Própria
22
Fonte: PME/IBGE. Elaboração própria.
Para contabilizar os gastos com o seguro desemprego e examinar as suas variações,
realizamos um cálculo simplificado. A regra desse benefício prevê quantidades
diferenciadas de parcelas conforme a permanência em empregos formais: de 6 a 11
meses, o trabalhador demitido sem justa causa tem direito a 3 parcelas do benefício; de
12 a 24 meses, 4 parcelas; e permanências superiores a 24 meses garantem o direito a 5
parcelas. O valor das parcelas varia de acordo com o valor do salário. Assim, para cada
uma das faixas de permanência, fizemos o cálculo para um indivíduo representativo
médio e anualizamos os resultados.
Na simulação com dados da PME supusemos que todos aqueles que estavam em
condições de utilizar o benefício o fizeram. A pesquisa da PNAD, por outro lado, coleta
diretamente a informação do uso do seguro desemprego.
Os dados dos Relatórios de Gestão do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) do
Gráfico 30 mostram que os beneficiários das cinco modalidades do seguro desemprego8
estariam aumentando, assim como os gastos do governo com o benefício. Entre 2002 e
2012 o número de beneficiários teria aumentado a uma taxa média anual de 5,6%,
enquanto que os gastos teriam crescido 10% a.a. (a preços constantes de 2012).
8 São elas: empregados formais, pescadores artesanais, empregados domésticos, trabalhadores
resgatados de regime análogo à escravidão e bolsa qualificação. O seguro desemprego de trabalhadores formais compreende a maior parte dos beneficiários e dos gastos com do benefício.
0.0%
0.2%
0.4%
0.6%
0.8%
1.0%
1.2%
1.4%
1.6%
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Gráfico 29 - Proporção de Entrantes na Formalidade e no Desemprego vindos da Formalidade - Regiões
Metropolitanas, 2003-2012
Admissão Desligamento
23
Fonte: Brasil (2012) e Brasil (2013). Elaboração própria.
As simulações com dados da PME e da PNAD (Gráficos 31 e 32) mostram que estamos
subestimando os gastos que o governo teria realizado, já que o crescimento indicado em
nossas simulações foi menor do que o crescimento mostrado anteriormente. Apesar
disso, as simulações mostram que houve aumento significativo dos gastos de cerca de
4,5% a.a. nas RMs, e de quase 5%, com dados da PNAD. Quanto ao número de
beneficiários, as diferenças em relação aos dados do MTE se devem ao fato de que os
dados da PME mostram somente os beneficiários potenciais e com a abrangência
reduzida às Regiões Metropolitanas. Os dados da PNAD mostram redução entre 2008 e
2012 do número de pessoas que declararam ter usufruído do benefício.
100
165
257
100
148 172
50
100
150
200
250
300
2002 2008 2012
20
02
= 1
00
Gráfico 30 - Gastos do Governo e Beneficiários do Seguro Desemprego - Brasil, 2002-2012
Gastos Beneficiários
100.0
119.6
162.0
100.0
87.8
109.9
80
100
120
140
160
180
2002 2008 2012
20
03
= 1
00
Gráfico 31 - Gastos do Governo e Beneficiários do Seguro Desemprego (Formal) - Regiões Metropolitanas, 2002-
2012
Gastos Beneficiários potenciais
24
Fonte: PME/IBGE; PNAD/IBGE. Elaboração própria.
Um fator que contribui com o aumento dos gastos com o seguro desemprego é o salário
dos empregados formais e os reajustes dos limites que definem as parcelas do seguro
desemprego. Ambos definem os valores das parcelas do benefício. O salário médio dos
trabalhadores apresentou crescimento ao longo do período: nas RMs entre 2003 e 2013
a média passou de R$1.370 e chegou a R$1.660 (em valores constantes de 2012), um
crescimento médio de cerca de 2% a.a. No Brasil como um todo, o crescimento foi de
1,6% a.a., passando de R$ 1.200 para R$ 1.400 entre 2002 e 2012. O salário mínimo e o
valor máximo da parcela do seguro desemprego apresentaram crescimento real mais
acelerado, de respectivamente 5,3% a.a. e 5,6% a.a. entre 2003 e 2013.
100.0
122.5
160.4
100.0
126.4 117.6
80.0
90.0
100.0
110.0
120.0
130.0
140.0
150.0
160.0
170.0
2002 2008 2012
20
02
= 1
00
Gráfico 32 - Gastos do Governo e Beneficiários do Seguro Desemprego (Formal) - Brasil, 2002-2012
Gastos Beneficiários
1,371 1,489
1,659
382 513
642 715
1,075 1,236
0
500
1,000
1,500
2,000
2003 2008 2013
R$
Gráfico 33 - Salário Médio, Salário Mínimo e Parcela Máxima do Seguro Desemprego (R$ de 2012) - Regiões
Metropolitanas, 2003-2013
Sal. Médio Sal. Mínimo Parcela Máxima
25
Fonte: PME/IBGE. Elaboração própria.
É preciso verificar, portanto, quais foram as fontes de crescimento desses gastos. A
partir da simulação anterior, fizemos um exercício simples de cenários contrafactuais
em que mantivemos constante, em primeiro lugar, o número de beneficiários e,
posteriormente, o salário médio e os limites utilizados na regra de determinação dos
valores das parcelas a serem pagas.
Com dados da PME, se o fluxo de indivíduos que saíram de empregos formais e
entraram no desemprego se mantivesse estável ao longo do tempo, os gastos teriam
crescido em 41% até 2008 e 52% até 2013. Em contraste, caso o valor das parcelas
tivesse se mantido constante (em termos reais), os gastos teriam decrescido 14% até
2008, porém aumentado 9% até 2013. Portanto, nos últimos dez anos o aumento do
salário e dos valores da regra de determinação das parcelas parecem ter contribuído
mais para o aumento dos gastos com o seguro desemprego em comparação com o
número de beneficiários.
1.9% 1.7% 2.2%
5.3% 6.0%
4.6% 5.6%
8.5%
2.8%
0.0%
2.0%
4.0%
6.0%
8.0%
10.0%
2003-2013 2003-2008 2008-2013
Gráfico 34 - Crescimento Anual do Salário Médio, Salário Mínimo e Percela Máxima do Seguro Desemprego - Regiões
Metropolitanas, 2003-2013
Sal. Médio Sal. Mínimo Parcela Máxima
26
Fonte: PME/IBGE. Elaboração própria.
Com dados da PNAD, a simulação chega ao mesmo resultado geral no período como
um todo, com uma diferença em 2008. Se o salário médio e os valores da regra de
determinação das parcelas tivessem permanecido os mesmos de 2002, em 2008 os
gastos teriam aumentado 25% em 2012, 20%. Em contraste, se o número de
beneficiários tivesse se mantido constante desde 2002, os gastos teriam se reduzido em
2% até 2008 e aumentado em 34% até 2012.
Fonte: PNAD/IBGE. Elaboração própria.
Esse resultado contrasta com os argumentos que associam a causa principal do
crescimento das despesas com o seguro desemprego com o aumento da rotatividade e
sugere que o aumento dos gastos pode ser devido ao aumento dos salários dos
trabalhadores, em que se destaca o salário mínimo. O crescimento da rotatividade
100
141 151
100
86
109 100
120
162
8090
100110120130140150160170
2003 2008 2013
20
03
= 1
00
Gráfico 35 - Variação no Total de Gastos com Seguro-Desemprego - Regiões Metropolitanas,
2003-2013
Beneficiários Fixo Salário Fixo Simulação
100
125
120
100 98
134
100
123
160
90
110
130
150
170
2002 2008 2012
20
02
= 1
00
Gráfico 36 - Evolução Contrafactual dos Gastos com Seguro Desemprego - Brasil, 2002-2012
Salário Fixo Beneficiários Fixo Observado
27
impactaria o aumento do número de beneficiários potenciais. No entanto, como vimos
anteriormente, os dados da PME sugerem que a rotatividade do setor formal não teria
aumentado expressivamente, enquanto o aumento da rotatividade registrado pelos dados
do MTE não apresenta magnitude comparável ao crescimento dos beneficiários e dos
gastos com o seguro desemprego.
Conclusões
Nesse trabalho procuramos examinar as tendências do mercado de trabalho brasileiro de
queda acentuada da taxa de desemprego e aumento da formalização nos últimos dez
anos. Buscamos, além disso, realizar simulações para esclarecer a questão do aumento
dos gastos com o seguro desemprego em um contexto de queda do número e da taxa de
desocupados.
Em relação ao desemprego, mostramos que a probabilidade de admissão entre os
desocupados cresceu na maior parte do período (exceto no último ano), o que significa
que a duração média do desemprego foi reduzida. Por outro lado, a probabilidade de
desligamento entre os ocupados decresceu. Segundo Menezes Filho e Nunes (2013), o
fator que mais explicou a queda da taxa de desemprego entre 2002 e 2009 foram as
contratações, expressas pela probabilidade de admissão entre os desocupados. Em uma
economia com elevados custos de desligamento da mão de obra, como é a brasileira, é
de se esperar que em períodos de recessão econômica as demissões apresentem variação
menor do que as admissões. Dessa forma, é provável que políticas que incentivem as
contratações, em contraste com políticas de redução de demissões, possam alcançar
melhores efeitos em momentos de dificuldades da economia.
Nossos resultados mostram, além disso, que há diferenças importantes no
comportamento das dinâmicas de contratações e duração dos vínculos de trabalho de
acordo como a posição na ocupação. Nos empregos formais, que foram os que mais
ganharam participação no período, a rotatividade e a duração média dos vínculos se
mantiveram relativamente estáveis. Entres trabalhadores por conta própria e informais a
rotatividade diminuiu e a duração média aumentou. Os períodos de desemprego, por
outro lado, estão em média mais curtos e o desemprego de longo prazo perdeu
participação.
28
O aumento da formalização é explicado basicamente pela redução das transições dos
empregados formais para a informalidade e o desemprego. No sentido inverso, os fluxos
em direção à formalidade a partir das situações de informalidade, trabalho por conta
própria, desocupação e inatividade aumentaram expressivamente, especialmente entre
os desocupados.
Os gastos com o seguro desemprego apresentaram crescimento muito significativo entre
2002 e 2012. De acordo com as simulações, apesar de o número de beneficiários ter
apresentado crescimento no período como um todo, o fator que mais contribuiu para os
gastos teria sido o aumento do valor das parcelas, determinado pelos salários médios e
pelos sucessivos reajustes determinados pelo governo. Não encontramos evidências que
permitem sustentar o argumento de que o aumento da rotatividade seria um fator de
grande relevância para o aumento dos gastos.
Por outro lado, é possível que as regras do seguro desemprego abram espaço para o
atraso na procura do emprego, uma vez que a probabilidade de sair do desemprego tem
aumentado. Nesse caso, os antigos trabalhadores formais desocupados poderiam se
manter durante alguns meses sem procurar trabalho, na expectativa de que, quando
começassem a tomar providências, encontrariam emprego com relativa facilidade.
Bibliografia
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Relatório de Gestão do Exercício 2012. Brasília, 2013
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______. Relatório de Gestão do Exercício 2008. Brasília, 2009
______. Relatório de Gestão do Exercício 2007. Brasília, 2008
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sobre a expansão do emprego formal no período 1999-2007. Mercado de Trabalho,
Nota Técnica, no. 29, mai. 2009