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ESCOLA SUPERIOR DE HOTELARIA E TURISMO DO ESTORIL 2012/2013 HIGIENE ALIMENTAR PROF. JOÃO VILLA DE BRITO TÉNIAS 23 DE MARÇO DE 2013 POR: CARLA MOREIRA, 6542

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ESCOLA SUPERIOR DE HOTELARIA E

TURISMO DO ESTORIL 2012/2013

HIGIENE ALIMENTAR PROF. JOÃO VILLA DE BRITO

TÉNIAS

23 DE MARÇO DE 2013 POR: CARLA MOREIRA, Nº6542

Pág.1

Índice

Introdução............................................................................................................ 2

Segurança Alimentar ........................................................................................... 3

Toxinfeções em Portugal .................................................................................. 6

Consequências das Doenças de Origem Alimentar ......................................... 6

Infeção vs. Intoxicação ..................................................................................... 7

Micro-organismos ............................................................................................. 7

Ténia ................................................................................................................... 8

Taenia solium ................................................................................................... 9

Taenia saginata .............................................................................................. 10

Diphyllobothrium latum ................................................................................... 10

Conclusões ........................................................................................................ 12

Bibliografia ......................................................................................................... 14

Pág.2

Introdução No âmbito da disciplina de Nutrição e Higiene Alimentar lecionada na ESHTE

pelo professor João Villa de Brito foi proposta a elaboração de um trabalho relativo a

um contaminante alimentar. Escolhi trabalhar um parasita, as ténias.

Inicialmente farei uma pequena introdução sobre higiene alimentar, porque se

fala de segurança alimentar, os principais problemas e também soluções. Irei

esclarecer alguns conceitos e apresentar dados relativos a toxinfecções. A segurança

alimentar é uma preocupação presente no dia a dia das pessoas, especialmente nos

países desenvolvidos ou industrializados, e algo com que somos confrontados com

muita frequência. É por isso importante ter entidades de confiança que garantam a

qualidade dos alimentos que consumimos. Existem ainda algumas medidas que

podem ser adotadas por cada um de nos por forma a minimizar os riscos de contrair

uma toxinfecção alimentar e é também importante educar para a segurança alimentar.

Irei depois abordar as diversas ténias, a taenia solium, a taenia saginata e o

diphyllobothrium latum. O género Taenia pertence à família Taenidae, à classe

Cestoidea e à ordem Cyclophyllidea. As respetivas formas larvais produzem a

cisticercose. O ciclo das ténias implica dois hospedeiros, um definitivo e um

intermediário, e uma fase de vida livre. O único hospedeiro definitivo das taenia solium

e da taenia saginata é o homem, no caso do diphyllobothrium latum tem também como

hospedeiro definitivo o urso. Os hospedeiros intermediários de taenia solium são os

suínos e os da taenia saginata são os bovinos, no caso do diphyllobothrium latum os

hospedeiros intremediarios são os peixes e os crustáceos. A taenia solium pode ter

também como hospedeiro intermediário o homem.

Pág.3

Segurança Alimentar A segurança alimentar tornou-se, nos últimos anos, um dos assuntos mais

pertinentes na opinião pública. Os consumidores querem ter garantias de que os

alimentos que ingerem são seguros para o consumo. Para além disso, as entidades

oficias de cada país e também internacionais querem garantir a segurança dos

alimentos e eliminar as doenças que os nossos antepassados deixaram.

A presença de potenciais perigos nos alimentos decorre de vários fatores: desde

a globalização da produção dos alimentos até aos novos hábitos de consumo.

A globalização da produção leva, muitas vezes, a um difícil controlo das

condições de higiene e de métodos de produção relativos a alguns países. A

constante exposição a antibióticos e pesticidas tornou-os mais agressivos e

resistentes. As alterações nos hábitos de consumo incluem o recurso a alimentos pré-

cozinhados ou prontos a cozinhar, a toma de refeições em unidades de restauração, o

aumento do intervalo entre a preparação e o consumo dos alimentos e o aumento do

consumo de alimentos preparados fora de casa, acrescentando vários

comportamentos de risco ao nosso dia a dia. Outros fatores a concorrer para o

aumento das ocorrências de toxinfecções alimentares incluem as alterações dos perfis

demográficos, uma população mais envelhecida e por isso mais suscetível a estes

micro-organismos e ainda um novo estilo de vida “mais saudável”, com menos sal,

menos açúcar e menos conservantes.

Muitas vezes as toxinfecções alimentares ocorrem como resultado do consumo

de alimentos de risco. Estes são o marisco cru, produtos à base de ovos, produtos de

origem animal crus ou mal cozinhados e ainda alimentos com toxinas naturais (como

os cogumelos).

Através da análise do gráfico 1 podemos concluir que os ovos e ovoprodutos

(17%), as carnes e os seus derivados (18%) e os buffets (8%) representam os

Ovos e Ovoprodutos

17%

Outros Alimentos

14%

Buffets

8%

Carne de Porco e

derivados

8% Carne de Frango e

derivados

4%

Carne de Vaca e

derivados

3%

Outras carnes

3%

Peixe e derivados

6%

Mariscos e derivados

4%

Produtos de Pastelaria

4%

Queijos

3%

Frutos e

derivados

2%

Vegetais e derivados

2%

Desconhecidos

22%

Alimentos Responsáveis por Toxinfecções Alimentares na U.E.

Gráfico 1 – Dados relativos a 2009, adaptado de EFSA,2011

Pág.4

principais alimentos responsáveis por toxinfecções alimentares na U.E. (visto que os

outros alimentos e desconhecidos não são passiveis de analise concreta). Por outro

lado podemos também concluir que os frutos e vegetais são os que menos

toxinfecções causam.

Importa também desmistificar a ideia de que as toxinfecções alimentares

acontecem em restaurantes ou similares. O gráfico 2 demonstra que o principal local

de origem é a própria casa, com 36,% dos casos reportados na União Europeia em

2009.

Os micro-organismos presentes num produto alimentar, pronto para consumir,

são influenciados de diferentes formas. É por isso importante controlar o alimento

desde o local de origem até ao momento do consumo. Os principais fatores que

podem potenciar as toxinfecções alimentares no consumidor são: o ambiente geral

onde os alimentos são produzidos, a qualidade microbiológica durante o estado cru do

alimento, as condições sanitárias e de manipulação na produção e o processo de

acondicionamento, armazenamento, conservação e distribuição do alimento.

Um produto deve ser produzido num ambiente limpo e ter uma manipulação

cuidada de forma a evitar qualquer contaminação. Depois deve ser conservado de

forma correta e utilizando processos que permitam garantir a qualidade do alimento.

Existem diversos fatores que podem levar a que um alimento não esteja adequado

para o consumo em determinada altura e que passarei a apresentar.

Fatores intrínsecos e extrínsecos dos alimentos

Os fatores intrínsecos e extrínsecos dos alimentos controlam o desenvolvimento

microbiano nos alimentos.

São fatores inerentes aos alimentos a atividade de água, o pH, a composição, os

constituintes antimicrobianos e as estruturas biológicas.

Atividade da água: conteúdo de água livre do alimento (aquela que é utilizada

pelos micro-organismos). Para quantidades de Aw inferiores a 0.6 não é possível

o desenvolvimento de bactérias, apenas de alguns fungos. Alimentos com Aw

2,8%

4,8%

4,9%

5,5%

9,9%

15,0%

20,6%

36,4%

Restauranção Colectiva Temporária

Hospitais e Centros de Saúde

Refeitórios

Escolas ou Jardins de Infancia

Ourtros Locais

Locais Desconhecidos

Restaurante ou Similar

Casa

Locais de Origem das Toxinfecções Alimentares na U.E.

Gráfico 2 – Dados de 2009, adaptado do Relatório EFSA, 2011

Pág.5

elevado (entre 0.93 e 0.99) são propícios para a reprodução de micro-

organismos.

pH: medida de acidez ou alcalinidade de uma substância. Os alimentos pouco

ácidos (pH superior a 4.5) desenvolvem a maioria das bactérias. São exemplos

destes alimentos as carnes, peixes e mariscos. Alimentos muito ácidos (pH

inferior a 4.0) não permitem a multiplicação de bactérias, apenas alguns bolores

e leveduras. São exemplos destes alimentos o limão, o vinagre ou alguns

refrigerantes.

Composição: os micro-organismos necessitam de água, fontes de energia e de

nitrogénio, vitaminas e minerais. Pelo que a composição do alimento é essencial

para o desenvolvimento de micro-organismos.

Constituintes antimicrobianos: a estabilidade de alguns alimentos deve-se a

presença de substâncias naturais que apresentam atividade microbiana e

impedem a presença de outros micro-organismos.

Estruturas biológicas: são barreiras ou obstáculos aos micro-organismos como

as cascas das sementes ou das frutas.

São fatores extrínsecos aos alimentos a temperatura, a humidade relativa, a

presença de gases, os aditivos e a irradiação.

Temperatura: uma temperatura muito elevada (superior a 65ºC) destrói grande

parte dos micro-organismos; por outro lado uma temperatura muito baixa (inferior

a 0º) apenas inibe o desenvolvimento microbiano.

Humidade relativa: esta interfere na atividade da água do alimento. Assim um

alimento com baixo Aw (fator intrínseco) num local com elevada humidade pode

sofrer uma deterioração microbiana.

Gases: os alimentos podem ser armazenados numa “atmosfera controlada”,

contendo CO2. É utilizada em muitos países para frutas e carnes. Pode também

utilizar-se o O3 em alimentos com baixo teor lipídico.

O mais importante é evitar a contaminação dos alimentos, limitar a multiplicação

dos micro-organismos e destruir os micro-organismos patogénicos.

Pág.6

Toxinfeções em Portugal

De acordo com o gráfico 3 os principais responsáveis por toxinfecções em

Portugal são as refeições cozinhadas, os bolos com creme e os salgados,

representado (em conjunto) 78% de todos os casos. Contudo, ao analisar estes dados

importa pensar que a maioria das vítimas de uma toxinfecção alimentar não recorre a

profissionais de saúde e, quando o faz, raramente é sujeita a analises que permitam

identificar o agente responsável.

Um exemplo da preocupação com as toxinfecções alimentares em Portugal é a

proibição da venda de bolas de Berlim com creme nas praia, uma vez que as

condições de acondicionamento são, por vezes, mínimas e a temperatura elevada que

se faz sentir no verão leva rapidamente ao desenvolvimento de micro-organismos que

podem causar uma toxinfecção alimentar. Esta medida é, contudo, muito contestada

pelos banhistas que se habituaram a esta tradição própria da época.

Consequências das Doenças de Origem Alimentar

As doenças de origem alimentar têm consequências diretas na saúde humana.

Estas podem manifestar-se de várias formas, desde o desconforto ou incapacidade

temporária, sendo a diarreia e os vómitos os sintomas mais frequentes, até à

ocorrência de insuficiências renal e hepática, disfunções no sistema nervoso e, em

casos extremos, a morte.

As doenças alimentares afetam de modo mais grave certos grupos da população

como crianças, grávidas, idosos, utentes em instituições de saúde e pessoas com

outras doenças.

Nos países industrializados 1 em cada 3 pessoas contraem uma toxinfecção

alimentar por ano.

Refeições Cozinhadas

34%

Bolos com Creme

33%

Salgados

11%

Mousse de Chocolate

7%

Sobremesas Doces

6%

Preseunto Caseiro

4%

Queijo

3%

Pré-cozinhados

2%

Alimentos Responsáveis por Toxinfecções Alimentares em Portugal

Gráfico 3 – Dados entre 1992 e 2001, adaptados de «Novais, 2003»

Pág.7

Infeção vs. Intoxicação

Uma infeção alimentar é provocada por bactérias que contaminam e se

desenvolvem nos alimentos. Depois de ingeridas irão infetar o organismo e passadas

algumas horas ou dias surgem sintomas como náuseas, vómitos, diarreia e febre.

Uma intoxicação alimentar é provocada por toxinas produzidas pelas bactérias.

Os sintomas surgem mais rapidamente e são eles náuseas, vómitos, diarreia e caibras

musculares. Estes sintomas podem contudo ser mais graves e afetar o sistema

nervosos central, provocando paralisias ou mesmo a morte.

Micro-organismos

Os micro-organismos são organismos unicelulares ou acelulares (os vírus) que

só podem ser vistos ao microscópio. Incluem os vírus, as bactérias, os protozoários,

as algas unicelulares e algumas formas de fungos.

As bactérias e os fungos possuem vida própria, multiplicam-se no alimento e

podem produzir toxinas. Os vírus e parasitas dependem de um hospedeiro para a sua

multiplicação e não se multiplicam nos alimentos.

De acordo com a temperatura de crescimento os micro-organismos dividem-se

em: (1) psicrófilos e psicrotróficos; (2) mesófilos e (3) termófilos.

(1) Micro-organismos psicrófilos e psicrotróficos multiplicam-se em temperaturas entre

os 0ºC e os 20ºC. Têm capacidade de se desenvolver entre os 0ºC e os 7ºC. São os

principais agentes de deterioração de carnes, pescados, ovos, frangos, etc.

(2) Micro-organismos mesófilos multiplicam-se entre os 25ºC e os 40ºC. São aqueles

quem têm grande importância na industria dos alimentos, uma vez que se

desenvolvem a temperatura ambiente.

(3) Micro-organismos termófilos multiplicam-se em temperaturas entre os 45ºC e os

65ºC.

Pág.8

Ténia Ténia ou solitária é o nome comum dado aos vermes platelmintos das ordens

Pseudophilidae e Ciclophylidae, que pertencem à classe Cestoda, que inclui vermes

parasitas de diversos animais vertebrados, inclusive do homem. A Taenia solium e a

Taenia saginata são as mais conhecidas por parasitarem o intestino delgado do

homem.

As ténias também são chamadas de "solitária" porque, na maioria dos casos, o

hospedeiro transporta apenas um verme adulto.

A ténia é um parasita, pelo que depende de um hospedeiro para a sua

multiplicação. Os seus hospedeiros intermediários são o porco, no caso da Taenia

solium, o boi no caso da Taenia saginata e ainda os peixes no caso do

Diphyllobothrium latum. O homem, além de ser o hospedeiro definitivo (teníase

intestinal), pode também tornar-se hospedeiro intermediário quando tem o lúmen do

intestino parasitado, sendo então portador de uma doença mais grave, a Cisticercose,

apenas causada pela Taenia solium e que explicarei mais adiante.

As ténias possuem corpo segmentado

composto por anéis, chamados proglótides ou

proglotes. Habitualmente, para efeitos de

esquematização, divide-se o corpo da ténia em

três zonas: cabeça, pescoço ou colo e estróbilo

(como representado na imagem 1).

A cabeça é a parte do corpo onde se

encontram os órgãos de fixação do verme à

mucosa intestinal do hospedeiro, as ventosas, o

rostro e a coroa de ganchos.

O pescoço é uma região de intensa multiplicação celular, responsável pela

formação das proglótides.

A um conjunto de proglótides é dado o nome de estróbilo. As proglótides ao se

separarem da extremidade vão sofrer um processo de maturação, passando pelos

estágios de proglótides imaturos, maduros e grávidas, isto é, proglótides ainda sem

aparelhos sexuais, as com aparelhos sexuais desenvolvidos e aquelas que já

possuem ovos fecundados. As ténias são vermes hermafroditas com estruturas

fisiológicas para autofecundação, não necessitam de parceiros para a cópula e

postura de ovos. A quantidade de ovos produzidos é muito grande (30 a 80 mil em

cada proglote), sendo uma garantia para a perpetuação e propagação da espécie.

As proglótides grávidas estão na extremidade final do estróbilo e soltam-se do

corpo do verme, sendo então eliminadas juntamente com as fezes. Esse processo de

desprendimento das proglótides grávidas do estróbilo é chamado de apólise.

Entre as ténias existentes, quatro têm o homem como hospedeiro definitivo, são

elas a Taenia solium, Taenia saginata, Taenia asiatica e Diphyllobothrium latum.

Imagem 1 - Esquematização da Taenia

Pág.9

Taenia solium

A Taenia solium adulta vive no intestino delgado do homem e

tem como uma das características distintivas da Taenia saginata a

presença de uma dupla coroa de ganchos, armada sobre o rostelo,

que auxilia na fixação do helminto à parede intestinal. O homem que

possui teníase liberta cerca de 40 mil ovos fecundados por proglótide

eliminado nas fezes. Esta costuma ter cerca de 1,5m de comprimento,

podendo atingir entre 5 a 6 metros.

O porco, hospedeiro intermediário, ingere os ovos e desenvolve o cisticerco nos

seus tecidos, principalmente o muscular. Por isso a carne de porco mal passada é a

origem da infeção pela taenia solium, a teníase intestinal. Esta é frequentemente

assintomática, mas em alguns casos poderá apresentar alguns sintomas. Os principais

são: dor abdominal ou de cabeça, alterações no apetite, fraqueza, náuseas, diarreia,

perda de peso, sensação de movimento intestinal, sons, etc. Em indivíduos

subnutridos pode agravar a desnutrição. A infeção não dá imunidade a reinfeção. O

diagnóstico é normalmente feito pela visualização de proglotes nas fezes. O

tratamento da teníase intestinal é feito com fármacos antiparasíticos como a

nitazoxanida, o praziquantel ou mebendazole ou albendazol.

Ao ingerir ovos da ténia em vez de cisticercos, o homem passa a ser hospedeiro

intermediário. Os ovos da ténia podem resistir cerca de 1 ano em ambiente com alta

taxa de humidade. Depois de ingeridos, quando os sofrem maturação e se tornam

cisticercos no organismo humano, podem causar deficiência visual, fraqueza muscular

e/ou epilepsia, dependendo do local onde se alojarem. Esta doença é chamada

cisticercose e é mais grave que a teníase, uma vez que se não for tratada pode levar à

morte. A contaminação com os ovos ocorre ao ingerir água, terra ou alimentos

naturalmente contaminados ou ainda através da manipulação de alimentos por

indivíduos com maus hábitos de higiene, não através do consumo de carne de porco,

no caso da taenia solium. Em alguns países o hábito de fertilizar o solo com fezes

humanas aumenta muito este risco. Também pode ocorrer por infeção fecal oral como

em determinadas práticas sexuais, ou até por autoinfeção do mesmo indivíduo. A

autoinfeção pode ser externa ou interna. Na autoinfeção interna, os proglotes grávidos

podem alcançar o estômago por retro peristaltismo, liberando grande quantidade de

embriões, que invadem a circulação sanguínea, disseminando-se pelo organismo

humano. Na autoinfeção externa, o próprio indivíduo ao defecar, contamina suas

mãos, que leva à boca, ingerindo os ovos eliminados nas próprias fezes. No

tratamento são usados praziquantel e corticoides.

Raramente a ténia desloca-se para o cérebro, causando neurocisticercose. Os

sintomas dependem do número de cisticercos presentes, da fase evolutiva, da

localização e da reação imunológica do hospedeiro. A cisticercose é a parasitose mais

comum do sistema nervoso central e representa um grande problema de saúde

pública na América Latina, China, Índia, África e sudeste da Ásia.

A prevenção consiste na educação sanitária, em cozinhar bem as carnes e na

fiscalização da carne e seus derivados.

Ima

gem

2 –

Ta

en

ia S

oliu

m

Pág.10

Taenia saginata

Existe também a taenia saginata, cujos hospedeiros

intermediários são os bovinos, que são infetados através da

ingestão dos ovos deste parasita depois de eliminados nas fezes

do homem. No caso da taenia saginata o homem não pode ser

hospedeiro intermediário, ao contrário do que ocorre com a taenia

solium. Um homem contaminado pela taenia saginata pode libertar até

700 mil ovos diariamente. Esta espécie está difundida mundialmente e o

número de portadores humanos está estimado em mais de 70 milhões.

A taenia saginata pode medir entre 4 a 10 metros, embora já tenham

sido observados espécimes com 25 metros.

Esta pode absorver todo o alimento que consumimos, e devemos por isso ser

medicados a fim de matá-la. Contudo a sua remoção só é possível através de cirurgia.

A taenia saginata asiatica é uma subespécie que infeta também o porco,

causando cistos infeciosos no fígado.

As medidas preventivas para a teníase determinada pela taenia saginata são o

saneamento básico, evitar a ingestão de carne bovina crua ou mal passada e ainda a

inspeção do abate dos bovinos destinados ao consumo humano.

Diphyllobothrium latum

Esta é a “ténia do peixe”. O d. latum é encontrado em peixes frescos de água

doce ou de água salgada que migram para água doce na época reprodutiva. Os ursos

e os humanos são o seu hospedeiro definitivo.

Esta ténia varia entre 1 a 10 metros de comprimento. O seu ciclo de vida é

complexo e tem dois hospedeiros intermediários, os crustáceos e os peixes de água

doce (ou de água salgada que se reproduzem em água doce). Nos peixes, fixam-se de

forma semelhante às ténias anteriormente referidas, e se o peixe infetado for

consumido por outro peixe, migra para o músculo deste último. No homem, o verme

adulto localiza-se no duodeno, no jejuno ou no íleo e os ovos imaturos são liberados

pelos proglotes e são passados para as fezes cinco a seis semanas após a infeção.

Os humanos são infetados se consumirem peixes de água doce crus ou malpassados

contaminados, com especial relevância para o salmão e trutas. Os ovos são expelidos

nas fezes e se alcançarem a água doce nadam até encontrarem um pequeno

crustáceo, no qual se alojam, assumindo a forma de larva. Esta forma é infeciosa para

os peixes que se alimentam dos crustáceos.

Ima

gem

3 –

Ta

en

ia S

ag

ina

ta

Pág.11

Imagem 4 - Ciclo de vida do d.latum

A d. latum causa difilobotriose. Esta ocorre em áreas onde lagos e rios

coincidem com o consumo humano de peixe cru, mal cozido ou defumado. Estas

áreas são encontradas na Europa, Rússia, América do Norte e Ásia. Na América do

Sul, apenas dois países, reportaram casos de difilobotriose por d. latum – o Chile e a

Argentina. A difilobotriose é caracterizada por distensão abdominal, flatulência, dor

epigástrica, anorexia, náuseas, vómitos, fraqueza, perda de peso, eosinofilia e diarreia

após 10 dias do consumo de peixe cru ou mal cozido. Há adicionalmente risco de

deficiência em vitamina B12, a qual é consumida em grandes quantidades pelo

parasita. Porém, tal como as anteriores ténias, a maioria das infeções são

assintomáticas.

Como medidas preventivas é recomendada a inspeção visual do peixe e o

consumo após o congelamento à temperatura de -20ºC por 7 dias ou de -35ºC por 15

horas, o que inviabiliza os parasitas e, desta forma, é possível a ingestão crua do

pescado. Também é importante a prevenção da infeção pela adequada confeção dos

peixes (cozer ou grelhar), dar destino higiénico aos dejetos humanos, a inspeção do

pescado e o congelamento adequado dos peixes nos frigoríficos/arcas.

Pág.12

Conclusões A segurança alimentar desempenha hoje em dia um papel fundamental na nossa

sociedade, em especial nos países desenvolvidos. As condições sanitárias querem-se

garantidas por forma a evitar doenças. Apesar de tudo é também nos países

desenvolvidos que existe uma grande incidência destas ocorrências, devido em

grande parte às novas formas de consumo e à procura de uma alimentação mais

saudável.

Os ovos, carnes e derivados e os buffets representam os principais alimentos

causadores de problemas alimentares, pelo que devem ser alvo de uma atenção

redobrada. Importa também salientar que é em casa que a grande maioria das

toxinfecções ocorre, o que se deve em grande parte à falta de informação de algumas

pessoas relativamente aos fatores que podem influenciar a qualidade de um produto.

A grande maioria das doenças alimentares são passageiras e frequentes (um

terço da população dos países desenvolvidos sofre uma toxinfecção alimentar por

ano), com sintomas ligeiros que passam após algumas horas ou alguns dias. Há

contudo que ter atenção aos casos mais graves que podem levar a problemas de

saúde ou mesmo à morte.

As ténias existem em todo o mundo e são os parasitas mais comuns, sendo

estas das poucas espécies que continuam a ser frequentes nos países Europeus.

A taenia solium ocorre um pouco por todo o mundo, mas a sua relevância a nível

europeu começa a ser pouco significativa. Devido as normas europeias e ao elevado

controlo dos produtos alimentares este parasita encontra-se praticamente controlado

no continente. Nos países da América Latina, cerca de 5% das pessoas serão

portadoras deste parasita e até um quarto dos suínos terá cisticercos infeciosos nos

músculos. É também muito comum na África e Ásia. Os suínos, por serem coprófagos

(ingestão de fezes), são mais facilmente infetados, ao ingerirem ovos ou proglotes

eliminados pelos humanos. A doença é rara em comunidades que não têm hábito de

ingerirem carne suína, como os judeus. Os abates clandestinos, realizados sem a

inspeção das carcaças contribuem para a disseminação da doença.

A taenia saginata surge também em todo o mundo, desde que haja criação de

bovinos e estes sejam destinados ao consumo. Na Índia onde o consumo de bovinos é

evitado pelos hindus, os casos são em menor número. Estima-se em 70 milhões o

número de pessoas infetadas, como referido anteriormente, e ainda que cerca de 5%

dos bovinos da Europa poderão conter cisticercos infeciosos, sendo que nos países

menos desenvolvidos, tal importância poderá chegar a 50%. É transmitida pela carne

bovina, exceto a subespécie taenia saginata asiatica que parasita também no porco.

Os abates clandestinos, realizados sem a inspeção das carcaças favorecem

igualmente a disseminação da doença.

O diphyllobothrium latum ocorre em peixes de água doce em todo o mundo,

especialmente em lagos de água fria, mas com pouca incidência na América do Sul.

Esta ocorrência tornou-se mais relevante devido à ingestão de peixe cru.

Pág.13

A teníase ocorre quando o homem é infetado pela ingestão das larvas cisticercos

ao consumir carne crua ou mal cozida (vermelha, mesmo que não tenha sangue) de

suíno, bovino ou peixes da água doce ou que tenham nadado nesta. A larva cisticerco

evolui para a forma adulta no intestino do homem.

No caso da taenia solium o homem pode também ser o hospedeiro intermediário

e neste caso a doença assume contornos mais graves e é designada de cisticercose.

A prevenção pelos órgãos de saúde pública é feita através da melhoria da

higiene e controlo da alimentação de suínos e bovinos e inspeção das carcaças de

animais abatidos para consumo. A prevenção pessoal passa pelo consumo de carne

de porco exclusivamente bem cozida ("bem passada"). A carne bovina é geralmente

mais segura porque os bovinos não ingerem fezes como o porco; contudo, também é

aconselhado o seu consumo apenas se bem cozida, ou seja, sem ficar nenhuma

porção vermelha. O presunto e outros embutidos não cozidos são alimentos de

especial risco.

Pág.14

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Imagens:

- Imagem 1: http://www.sobiologia.com.br/figuras/Reinos2/teniase2.jpg

- Imagem 2 e 3: http://www.infonet-biovision.org/res/res/files/3916.400x300.png

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