TEOLOGIA, HISTÓRIA E PRÁTICA PENTECOSTAL

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TEOLOGIA, HISTÓRIA E PRÁTICA PENTECOSTAL Professor Dr. Ricardo Bitun GRADUAÇÃO Unicesumar

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TEOLOGIA, HISTÓRIA E PRÁTICA PENTECOSTAL

Professor Dr. Ricardo Bitun

GRADUAÇÃO

Unicesumar

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C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; BITUN, Ricardo.

Teologia, História e Prática Pentecostal. Ricardo Bitun.

Maringá-Pr.: UniCesumar, 2018. Reimpressão, 2020. 208 p.“Graduação - EaD”. 1. Teologia. 2. História. 3. Pentecostal. 4. EaD. I. Título.

ISBN 978-85-459-1229-3CDD - 22 ed. 201

CIP - NBR 12899 - AACR/2

Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828

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Designer EducacionalJanaína de Souza Pontes

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Arte CapaArthur Cantareli Silva

Ilustração CapaBruno Pardinho

EditoraçãoVictor Augusto Thomazini

Qualidade TextualProdução de Materiais

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Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos com princípios éticos e profissionalismo, não somen-te para oferecer uma educação de qualidade, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos em 4 pi-lares: intelectual, profissional, emocional e espiritual.

Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil.

A rapidez do mundo moderno exige dos educa-dores soluções inteligentes para as necessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a quali-dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância.

Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária.

Vamos juntos!

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Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu-nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo.

O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”.

Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con-tribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competên-cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessá-rios para a sua formação pessoal e profissional.

Portanto, nossa distância nesse processo de cresci-mento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das dis-cussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui-lidade e segurança sua trajetória acadêmica.

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Professor Dr. Ricardo Bitun

Possui graduação em Teologia pelo Seminário Bíblico de São Paulo (1987), graduação em Ciências Sociais pela Universidade São Marcos (1993), mestrado em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo (1996) e doutorado em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2007). Atualmente é adjunto da Universidade Presbiteriana Mackenzie e coordenador do curso de pós-graduação do Programa de Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Tem experiência na área de Sociologia, com ênfase em Sociologia da religião, atuando principalmente nos seguintes temas: direito, religião, violência, democracia e neopentecostalismo.

http://lattes.cnpq.br/3152919547730130

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CARO(A) ALUNO(A), SEJA BEM-VINDO(A)!

Nosso intuito na produção deste material é introduzi-lo ao estudo e compreensão dos principais pontos da teologia pentecostal. Não temos a pretensão, neste pequeno tra-balho, de esgotarmos o assunto, antes, buscamos salientar os assuntos que se destacam no labor teológico pentecostal.

Entendemos que tanto a história como a teologia pentecostal são relativamente novas em relação à história das teologias protestante e católica. Isto se deu principalmente porque o pentecostalismo, no Brasil, preocupou-se mais com sua expansão do que pro-priamente com seus fundamentos teológicos.

Nesse sentido, este livro procura resgatar a história e a prática do pentecostalismo bra-sileiro, acentuando sua teologia, tão pouco trabalhada nesses pouco mais de cem anos do pentecostalismo brasileiro.

Sendo assim, esperamos, com este livro, contribuir com a história e a teologia pentecos-tal, ajudando você na compreensão do mundo pentecostal, bem como em seus estudos teológicos. Vamos juntos nesta jornada? Preparado(a) para o desafio?

Este livro está distribuído em cinco unidades. A unidade I, “História do Pentecostalismo”, trata do início do pentecostalismo, desde suas origens até os nossos dias. A ideia é tra-zer para o(a) aluno(a) a compreensão de como o movimento pentecostal chegou até o Brasil. Quais foram os primeiros missionários e as primeiras igrejas pentecostais a apor-tarem em terras brasileiras. A unidade trata, ainda, sobre a história das principais igrejas pentecostais e do movimento neopentecostal originário em terra pátria.

A unidade II, “Antropologia Bíblica”, tratará da definição e do conceito antropológico, dando para o(a) aluno(a) uma visão a partir da antropologia bíblica do homem. Essas conceituações nos ajudarão na compreensão dos elementos constitutivos da natureza humana e, consequentemente, no melhor entendimento sobre a queda e suas conse-quências. Com isso, o(a) aluno(a) terá ferramentas apropriadas para uma melhor com-preensão da restauração do homem a imagem e semelhança de Deus.

A unidade III, “Hamartiologia”, abordará os conceitos e significados da “Queda”, assim como o sentido bíblico do pecado e suas considerações teológicas e doutrinárias. Trará, ainda, as consequências do pecado e as diversas teorias sobre sua transmissão, termi-nando com Cristo e sua vitória sobre o pecado.

Entrando mais a fundo nas questões controversas do pentecostalismo, a unidade IV, “So-teriologia Arminiana”, levantará as questões ligadas a salvação do homem, introduzindo o aluno à Teologia Arminiana. Tratará do Movimento Remonstrante e suas implicações teológicas, bem como seus cinco artigos. Fará, ainda, uma breve comparação entre os cinco pontos do Calvinismo (TULIP) e os cinco pontos do Arminianismo (FACTS).

APRESENTAÇÃO

TEOLOGIA, HISTÓRIA E PRÁTICA PENTECOSTAL

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Por fim, a última unidade, dedicar-se-á à Prática Pentecostal. Trataremos das ques-tões ligadas ao culto Pentecostal, suas práticas litúrgicas, assim como de sua ma-neira de celebrar a Santa Ceia, o Batismo e outras práticas afins. Terminando essa unidade, abordaremos as características da organização eclesiástica, bem como sua práxis e vida.

Esperamos, com isso, cumprir nosso objetivo neste trabalho, que é aproximar o(a) aluno(a) da teologia, história e prática pentecostal, fornecendo para o(a) aluno(a) elementos que o ajudarão na compreensão de sua história e vivência de fé .

APRESENTAÇÃO

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UNIDADE I

HISTÓRIA DO PENTECOSTALISMO

15 Introdução

16 Raízes Históricas do Pentecostalismo

22 Raízes Modernas do Pentecostalismo

27 Primórdios do Pentecostalismo Moderno

31 O Pentecostalismo no Brasil

37 Breve Histórico das Principais Igrejas Pentecostais e Neopentecostais no Brasil

43 Considerações Finais

49 Referências

52 Gabarito

UNIDADE II

ANTROPOLOGIA BÍBLICA

55 Introdução

56 Conceitos, Definições e os Ramos da Antropologia

59 O Homem, Segundo a Bíblia

69 Elementos Constitutivos da Natureza Humana

74 A Queda e suas Consequências

86 A Imagem e Semelhança Restauradas

91 Considerações Finais

96 Referências

100 Gabarito

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SUMÁRIO10

UNIDADE III

HAMARTIOLOGIA

103 Introdução

104 Origem e Significado da Palavra Pecado em seu Sentido Bíblico

110 Considerações Teológicas Sobre a Doutrina do Pecado

114 Consequências do Pecado e Considerações Filosóficas

118 Conceito Bíblico Sobre o Pecado e as Teorias Sobre sua Transmissão

124 Cristo e o Pecado

126 Considerações Finais

134 Referências

134 Gabarito

UNIDADE IV

SOTERIOLOGIA ARMINIANA

137 Introdução

138 Introdução à Soteriologia

141 Introdução a Teologia Arminiana

145 Remonstrância

148 Os 5 Artigos do Arminianismo

158 FACTS e TULIP

160 Considerações Finais

165 Referências

165 Gabarito

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SUMÁRIO11

UNIDADE V

PRÁTICA PENTECOSTAL

169 Introdução

170 O Culto Pentecostal

174 Práticas Litúrgicas

182 Santa Ceia, Batismo e Outras Práticas

187 Organização Eclesiástica

195 Práxis Pentecostal e Vida

197 Considerações Finais

202 Referências

204 Gabarito

205 CONCLUSÃO

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Professor Dr. Ricardo Bitun

HISTÓRIA DO PENTECOSTALISMO

Objetivos de Aprendizagem

■ Compreender onde começou e as evidências do pentecostalismo nos primórdios do cristianismo.

■ Analisar os eventos históricos mais recentes que indicam o caminho para o pentecostalismo moderno.

■ Identificar os movimentos que iniciaram o pentecostalismo moderno propriamente dito.

■ Conhecer a história do pentecostalismo no Brasil.

■ Identificar alguns representantes do pentecostalismo e do neopentecostalismo brasileiro.

Plano de Estudo

A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

■ Raízes históricas do pentecostalismo

■ Raízes modernas do pentecostalismo

■ Primórdios do pentecostalismo moderno

■ Pentecostalismo no Brasil

■ Breve histórico das principais igrejas pentecostais e neopentecostais no Brasil

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INTRODUÇÃO

Olá, caro(a) aluno(a)! Nesta unidade faremos um estudo panorâmico da história do pentecostalismo. O objetivo é apresentar as raízes históricas do pentecosta-lismo, começando pelo chamado ambiente judeu, contexto social em que surgiu a Igreja cristã. Logo em suas origens, a Igreja cristã se diferenciou das facções judaicas por seu propósito no plano divino. O evento do Pentecostes atestou isso e demonstrou que a Igreja cristã representava a unidade do corpo de Cristo, no qual seria inserida a diversidade daqueles que confessam a Cristo.

Ao longo da história, a Igreja cristã enfrentou uma série de obstáculos e situ-ações a partir dos quais precisou se renovar e manter o legado de seu propósito divino. Apesar das dificuldades, uma série de movimentos de renovação surgi-ram com essa finalidade. Por isso, avançaremos numa investigação acerca dos principais movimentos carismáticos que, de algum modo, anteciparam o fervor característico do pentecostalismo. Buscaremos destacar alguns movimentos e seus desdobramentos, tanto na antiguidade quanto na modernidade.

Do movimento criado por Montano, destacamos os primeiros esforços de renovação da Igreja, embora esse grupo tenha sido muito criticado por parte de alguns teólogos. Entretanto, é importante compreender os conflitos teológicos que geraram esse grupo e o que este reivindicava. Devido à ênfase nos dons do Espírito Santo e na experiência extática, esse movimento é considerado por mui-tos estudiosos como um dos precursores do pentecostalismo.

Quanto às raízes modernas do pentecostalismo, buscaremos situá-las no movimento pietista alemão e no metodismo inglês. Suas ênfases na experiência pessoal e no cultivo de uma espiritualidade pulsante legaram ao pentecostalismo um estilo de vida que ainda lhe custa caro. Teremos a oportunidade de observar os desdobramentos desses movimentos nos avivamentos norte-americanos, con-texto em que surge o pentecostalismo moderno. Então, veremos sua chegada ao Brasil e as principais configurações que passou a ganhar por aqui.

Introdução

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RAÍZES HISTÓRICAS DO PENTECOSTALISMO

Caro(a) aluno(a), iniciamos nossos estudos sobre a história do pentecostalismo justamente no início do cristianismo. Observaremos que quando se fala das raí-zes pentecostais mais longínquas, dificilmente conseguiremos separar a origem da igreja cristã e, por consequência do cristianismo, com a origem do pentecosta-lismo. Veremos adiante o ambiente necessário para a fundação da igreja, o marco de pentecostes em Atos 2 e, por fim, um movimento já posterior à era apostó-lica, que guarda certa semelhança com o que vemos como pentecostalismo hoje.

AMBIENTE JUDEU: A COMUNIDADE ESCATOLÓGICA

A fim de compreendermos os antecedentes históricos do pentecostalismo, é preciso recuar na história da Igreja cristã e situar seu nascimento no ambiente judeu, isto é, nas condições históricas e sociais que tornaram seu surgimento possível. Trata-se do contexto de atuação de Jesus e a proclamação do reino de Deus. A Igreja aparece como um evento totalmente novo e seu propósito consiste em anunciar a obra de Cristo que a trouxe à existência. Contudo, o que havia nesse contexto?

Em primeiro lugar, devemos chamar atenção para a configuração do juda-ísmo dos dias de Jesus, cuja estrutura era representada por uma diversidade de facções ou grupos religiosos. Apesar de sua diversidade e antagonismos, essas facções reivindicavam para si mesmas o status de “verdadeiro Israel”.

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Raízes Históricas do Pentecostalismo

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Entre essas facções, destacam-se os Fariseus, os Saduceus, os Essênios e os Zelotes. Cada uma se considerava, a seu modo, herdeira do legado dos profe-tas e intérpretes autorizados da Lei de Moisés.

Os fariseus representavam uma ala legalista que interpretava a vontade de Deus em termos de obediência à Lei. Por representarem uma religiosidade popu-lar, esse grupo de religiosos acreditava defender a verdadeira Lei em reação a seus principais opositores, os saduceus.

Os saduceus, por sua vez, eram grupos minoritários provenientes da aris-tocracia e ocupavam as posições mais privilegiadas. Enquanto os fariseus eram conhecidos por seus costumes radicais e rejeição aos costumes estrangeiros, os saduceus representavam uma classe elitizada e que evitava conflitos políticos com Roma, o império dominante. Além disso, os saduceus interpretavam a Lei a partir da cultura grega, o que lhes rendia grandes polêmicas com os fariseus.

Quanto aos essênios, embora não sejam mencionados no Novo Testamento, eram um grupo de judeus que se retiraram para o deserto e acusavam os outros grupos de terem se corrompido.

Além de grupos religiosos, havia grupos cujo engajamento político era notório como os zelotes, que aguardavam a era messiânica como uma esperança liberta da opressão romana. Existiam motivos religiosos, políticos e econômicos para tais reivindicações e cada um afirmava (com exceção dos saduceus) a necessi-dade de intervenção divina nesses casos de opressão. A vinda do reino de Deus e do Messias significava essa ação política para o enfrentamento com Roma.

É justamente nesse ambiente político e social que surge a Ekklésia, a Igreja cristã. No entanto, do ponto de vista teológico, isto é, da perspectiva que busca compreender a ação divina na história, como a Igreja cristã deveria ser com-preendida? Seria ela mais um grupo, mais uma facção dentro do judaísmo? De acordo com o Novo Testamento, a Igreja não é mais uma facção entre as demais, mas o novo homem, a comunidade escatológica trazida à existência pelo sacri-fício de Cristo e pela atuação do Espírito Santo.

No ambiente judeu, no qual a Igreja nasceu, esperava-se a restauração das 12 tribos de Israel por ocasião da era messiânica. No entanto, Cristo escolheu 12 após-tolos como representantes do novo Israel, o povo escatológico de Deus. De acordo com Oscar Cullmann (2003), quando Pedro confessou sua fé na messianidade

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de Jesus, afirmando que Ele era “o Cristo, o Filho do Deus vivo” (BÍBLIA, 2006, Mt 16:16), não o fez como indivíduo, mas como porta-voz e representante dos doze, em sua capacidade apostólica. Sobre essa confissão a Igreja foi fundada, de modo que ela não seria apenas uma facção, mas uma comunidade escatológica, preparada no plano de Deus e princípio da nova criação ante a consumação. Esse embrião da Igreja ganharia sua forma e propósito no evento do Pentecostes, con-forme a narrativa de Atos 2. O que, de fato, significou esse evento?

A IGREJA EM ATOS DOS APÓSTOLOS: MOVIMENTO CARISMÁTICO NO CRISTIANISMO ANTIGO

O livro de Atos tem como propósito fornecer um esboço da história da Igreja, começando nos seus dias primitivos, em Jerusalém, até a chegada de seu maior expoente, Paulo, na principal cidade do Império Romano. O livro fornece um quadro da vida e pregação da comunidade primitiva em Jerusalém, passando por Samaria, Antioquia, Ásia Menor, Grécia e, finalmente, Itália.

Podemos, de fato, usar os primeiros capítulos de Atos como uma fonte con-fiável para acompanhar o desenvolvimento da Igreja em Jerusalém. Embora a Igreja cristã tenha sido fundada sobre a confissão de Pedro, isto é, sobre o cará-ter messiânico de Cristo. Sua inauguração ocorreu no evento do Pentecostes, 40 dias após a Páscoa e apenas 10 dias após a ascensão de Cristo. Uma série de eventos haviam acontecido desde então, o que representava uma frustração para as expectativas de libertação política por parte de Israel. Ao contrário do que esperavam, o Messias havia sido morto e ressuscitado, fatos que deveriam ser interpretados de uma maneira totalmente nova.

De fato, Jesus considerou seus discípulos como o núcleo de Israel, que aceitou sua proclamação do Reino de Deus e que, por esta razão, formou o verdadeiro povo de Deus, o Israel Espiritual. Depois da morte e ressurreição de Jesus, esse pequeno grupo de discípulos, um total de 120, por várias semanas, aparente-mente, não fizeram nada, a não ser esperar pela direção divina.

Finalmente, no dia do Pentecostes, algo maravilhoso aconteceu: os discípu-los experimentaram uma visitação divina, acompanhada de certas manifestações

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visíveis e audíveis, que os convenceu de que Deus enviara o seu santo Espírito sobre eles. Pedro interpretou esse evento dizendo: “Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel” (BÍBLIA 2006, Atos 2:16). A promessa dada a Israel, como cumpri-mento do dia do Senhor, agora foi consumada, não para a nação, mas para um pequeno grupo que creu no caráter messiânico de Jesus. Pedro reinterpreta afir-mando que a outorga do Espírito também pertence aos últimos dias.

A vinda do Espírito se manifestou de várias formas, tornando-se evidente às percepções físicas. Um som forte e impetuoso encheu toda a sala onde os dis-cípulos estavam reunidos. O idioma que passaram a falar não era o aramaico e nem o grego, mas uma linguagem desconhecida que dava a impressão para alguns de seus ouvintes de que estavam embriagados (BÍBLIA 2006, Atos 2:13). Aparentemente, possuíam uma dimensão estática, que fazia com que, para alguns, soassem quase ininteligíveis. No entanto, a maior parte das pessoas ouviu uma mensagem inteligível. Os judeus da Diáspora, que moravam em vários países ao redor do Mar Mediterrâneo e tinham feito uma peregrinação a Jerusalém, para celebrar o Pentecostes, ouviram os discípulos louvar a Deus em dialetos de suas terras nativas. Pedro esclareceu que esse evento foi o sinal visível do cumprimento da profecia de Joel, de que Deus derramaria o seu Espírito sobre todo o seu povo.

Desse modo, podemos concluir que a ekklésia nasceu no Pentecostes, por meio do qual foi constituído o núcleo do Corpo de Cristo. Antes desse evento, os discípulos eram apenas o embrião da Igreja. As línguas faladas no Pentecostes tinham um significado simbólico e sugeriam que esse novo evento na história da redenção estava designado para todo mundo e uniria os homens de diferen-tes idiomas numa nova unidade, a ekklésia.

Acerca desse evento, podemos extrair, sobretudo, seu verdadeiro significado teológico: a Igreja cristã seria concebida como uma unidade que comporta uma diversidade dentre aqueles que confessam o Cristo como Senhor.

Após a cobertura do livro de Atos, segue-se um longo período de tempo marcado por controvérsias teológicas. A Igreja lutou para manter o legado de seu propósito e o significado de sua unidade. Ela encontraria nos Pais da Igreja (apóstolos) seus principais defensores diante das perseguições externas pro-movidas por Roma e divergências internas causadas por ensinos heréticos, tais como os gnósticos.

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HISTÓRIA DO PENTECOSTALISMO

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Entre esses grupos controversos, destacam-se também os seguidores de Montano que, apesar de seus problemas doutrinários, enfatizavam a necessi-dade de retomar às experiências da Igreja em Atos. Vejamos alguns aspectos dessa doutrina que, de certo modo, lembra as características dos movimentos carismáticos ao longo da história.

DESDOBRAMENTOS: O MONTANISMO

O cristianismo do século II d.C. foi marcado por uma série de movimentos e controvérsias teológicas que desafiaram os herdeiros dos apóstolos. Entre esses grupos, o movimento carismático Montanista foi um dos mais conhecidos, embora tenha sido colocado à margem da Igreja. O nome do movimento é derivado de Montano, seu principal líder. Seus partidários chamavam a si mesmos de Nova Revelação e Nova Profecia, mas seus oponentes os chamavam de montanismo por causa de seu fundador. Montano foi um sacerdote pagão da região da Ásia Menor, chamada Frígia, que se converteu ao cristianismo em meados do século II. A maior parte do que se sabe a respeito do movimento e de seus ensinamentos nos foi transmitida pelos Pais da Igreja do século II, que contra eles escreveram, e de Eusébio, que escreveu no século IV uma história da igreja cristã. Montano rejeitava a crescente fé na autoridade dos bispos (como herdeiros dos apóstolos) e dos escritos apostólicos. Considerava as igrejas e seus líderes espiritualmente mortos e reivindicava uma “nova profecia” com todos os sinais e milagres dos dias ideais da igreja primitiva, no Pentecostes.

Para os bispos e líderes das igrejas, o problema não era tanto a crítica feita por Montano sobre a falta de vida espiritual e seus adeptos em prol do reavivamento, mas sua autoidentificação como porta-voz incomparável de Deus. Montano refe-ria a si mesmo como “porta-voz do Espírito Santo” e acusava os líderes oficiais da Igreja de prender o Espírito Santo dentro de um livro, ao tentar limitar a ins-piração divina aos escritos apostólicos. Opunha-se, energicamente, a qualquer limitação ou restrição desse tipo e parecia enfatizar o poder contínuo e a reali-dade das vozes inspiradas como a dele.

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O movimento de Montano apelava para as massas por declarar-se totalmente contrário a todas as formas de mundanismo, salientando a importância do mar-tírio e proclamando do retorno iminente de Cristo, de tal modo que seus adeptos viviam na expectativa desse evento. Apesar de alguns líderes cristãos oporem--se ao movimento, alguns cristãos notáveis, especialmente Tertuliano (155-222), sentiam-se atraídos pelo montanismo. Após a morte de Montano, o movimento continuou a crescer na Ásia Menor, espalhou-se pelo Ocidente.

Tertuliano abraçou o montanismo, em cerca de 207 d.C., tornando-se seu principal porta-voz no Ocidente. Tertuliano negligenciou alguns dos aspec-tos mais excêntricos desse movimento e ressaltou o desenvolvimento da ética inculcada pelo Espírito, cumprindo, assim, as promessas de Cristo, em João 14-16 (BÍBLIA 2006). As “coisas maiores” que estavam para vir da parte do “Parácleto” (Consolador) eram os padrões mais exigentes de disciplina requerida dos cristãos espirituais, tais como a negação do novo casamento a pessoas viúvas e do perdão pós-batismal de pecados considerados graves. Entretanto, o movimento desapareceu no Ocidente no decorrer do século III d.C., embora tivesse continuado no Oriente, até ser suprimido, durante o rei-nado de Justiniano (527-565).

Muitos estudiosos reconhecem algumas características do pentecostalismo moderno no movimento carismático de Montano, especialmente sua ênfase nos dons do Espírito Santo e na experiência.

Os montanistas davam atenção exclusivamente a Montano e a duas mu-lheres, Prisca e Maximila, como seus profetas, e se dedicavam à difusão de seus oráculos. [...] Na verdade quando a última dessas profetisas, Maximila, morreu, em c.189, deixou uma profecia de que não haveria outro profeta antes do fim da era cristã.

Fonte: Sinclair B. Ferguson e David Wright (2009, p. 700).

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HISTÓRIA DO PENTECOSTALISMO

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RAÍZES MODERNAS DO PENTECOSTALISMO

Caro(a) aluno(a), espero que a nossa viagem pela história esteja interessante. Vamos avançar mais, olhando históricos, não tão antigos quanto os do módulo anterior, que ajudaram a criar a base para o que se entende, atualmente, por pentecostalismo moderno. Você observará que muitos dos elementos ou com-portamentos encontrados nesses episódios históricos estão, em parte, presentes nos diversos movimentos pentecostais modernos.

RAÍZES NA TRADIÇÃO PIETISTA (SÉCULO XVII)

Segundo alguns intérpretes modernos, um dos movimentos menos compreen-didos da história do cristianismo é, sem dúvida, o pietismo alemão. Tratou-se de um movimento de renovação que pretendia completar a Reforma protestante iniciada por Martinho Lutero.

Os historiadores discernem quatro caraterísticas gerais nessa tendência:

1) seu caráter experiencial, isto é, um modo de viver como preocupação fundamental;

2) seu enfoque bíblico, ou seja, seus padrões de vida eram baseados nas Escrituras;

3) sua inclinação perfeccionista, segundo a qual buscavam o viver santo e dedicado a seguir a lei de Deus e a ajudar os necessitados;

4) seu interesse reformador, modo pelo qual se opunham à frieza e à este-rilidade da vida cristã.

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Figura 1 - Escola Dominical Fonte: Maurício Berwald (2015, on-line)¹.

A Igreja Luterana Alemã labutava, no fim do século XVII, sob dificuldades de mui-tos tipos. Sua obra era rigorosamente confinada pelos príncipes dos muitos Estados soberanos que havia na Alemanha. Muitos de seus ministros pareciam estar mais interessados por disputas filosóficas e ostentação retórica do que pelo encorajamento

A palavra “pietismo” vem de pietas (piedade, devoção, religiosidade), tradu-ção latina do grego eusébia e do hebraico hāsîd (amável, benevolente, pie-doso, bom). Eusebia aparece cerca de uma dezena de vezes no NT, traduzida por “piedade”, “religiosidade” ou “religião”.

Fonte: Sinclair B. Ferguson e David Wright (2009, p. 91).

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de suas congregações. Além disso, a vida cristã parecia obscurecida pelo formalismo. Essa situação foi alterada pelo trabalho de Philip Jacob Spener (1635-1705), um dos principais líde-res do pietismo, que passou a chamar atenção para uma reforma moral da cidade. De modo mais importante, tam-bém promoveu uma reforma de grande alcance na vida prática das igrejas. Em um sermão de 1669, mencionou a pos-sibilidade de os leigos estarem juntos, deixando de lado os copos de bebidas, os baralhos e os dados e se encoraja-rem mutuamente na fé cristã.

Spener conclamou os cristãos para um reavivamento dos interesses de Lutero e da Reforma original, embora ele mesmo alterasse levemente os ensinos da Reforma. Como exemplo, o fato de considerar a salvação mais como uma rege-neração (o novo nascimento) do que como a justificação (ser colocado na posição certa diante de Deus). Os reformadores deram mais ênfase à doutrina da justifi-cação. Apesar disso, os seguidores de Spener admitiam os princípios protestantes fundamentais sola Scriptura, sola gratia et fides e o sacerdócio de todos os cren-tes: afirmavam que a Escritura é a única fonte de revelação cristã, que a salvação é um dom gratuito de Deus, realizada pela morte e ressurreição de Cristo e que os cristãos tinham a liberdade para comparecerem diante de Deus por meio de Cristo, único mediador, ou seja, dificilmente, ou talvez nunca, romperam com as confissões básicas da tradição luterana. Tinham Lutero como grande herói e citavam-no com grande frequência.

O principal argumento do pietismo era que a reforma luterana foi um exce-lente começo para um movimento de renovação, mas ficou incompleto. Reiterava o tema de que a reforma doutrinária iniciada por Lutero precisava ser consumada por uma nova reforma da vida. Ressaltava a experiência religiosa pessoal, especial-mente o arrependimento (a experiência da própria indignidade diante de Deus e

Figura 2 - Philip Jacob SpenerFonte: Armazém da Filosofia e Teologia (2011, on-line)².

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da necessidade da graça) e a santificação (experiência do crescimento pessoal na santidade). Os pietistas simplesmente acreditavam que Lutero tinha sido unilateral na ênfase dada aos aspectos objetivos da salvação e que os luteranos desprezaram ainda mais o lado subjetivo e interior da salvação. Entendiam que cabiam a eles completar e levar à consumação a Reforma Protestante iniciada por Lutero, res-saltando a obra graciosa de Deus no crente, que o transforma em nova criatura em Jesus Cristo. A mudança de vida, chamada conversão, precisa acontecer em algum momento ou a partir da idade do despertar da consciência e deve ser acom-panhada por um coração transformado e nova disposição pelas coisas de Deus.

O movimento pietista expandiu seu modo de vida para as igrejas, tendo influen-ciado o conde Nikolaus von Zinzendorf, líder da Igreja Morávia renovada. Os morávios, como vieram a ser chamados, levaram a preocupação pietista pela espiritu-alidade pessoal rigorosamente por todo o mundo. Isso foi relevante para a história da cristandade de fala inglesa, quando John Wesley se viu junto a um grupo dos morá-vios, durante sua viagem para a Geórgia, em 1735. Wesley foi tão marcado por essa experiência que a levou para a Inglaterra e passou a pregar esse estilo de vida cristã.

RAÍZES NA TRADIÇÃO METODISTA (SÉCULO XVIII)

Como vimos na seção anterior, John Wesley e o movimento metodista podem ser classificados como uma extensão do movimento pietista em solo inglês. De fato, historicamente falando, o metodismo foi muito influenciado pelo pietismo alemão. O metodismo trouxe de volta para Igreja a necessidade de uma experi-ência religiosa pessoal.

Apesar da possibilidade de influências como o puritanismo e o pietismo, a maioria dos autores considera que a origem básica do movimento pentecostal se encontra no metodismo wesleyano e, especificamente, na doutrina mais caracte-rística de John Wesley: a “inteira santificação” ou “perfeição cristã”, um conceito que ele também descrevia em termos de “a mente de Cristo”, “plena devoção a Deus” ou “amor a Deus e ao próximo”. Wesley via essa experiência como um alvo a ser buscado ao longo da vida cristã, embora tenha hesitado em concluir se era fundamentalmente um processo ou um evento instantâneo.

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A partir do momento em que as congrega-ções da Igreja Anglicana expulsaram John Wesley dos seus púlpitos, em 1738, tensões com a igreja oficial foram inevitáveis, levando finalmente a uma separação. A tendência que Wesley tinha para a organização e a disciplina provavelmente apressou a série de rupturas que deram ao chamado povo metodista suas várias denominações.

Em solo americano, o metodismo deixa-ria suas marcas. O século XVIII é considerado o ambiente propício para seu desenvol-vimento. O cenário religioso das colônias inglesas da América do Norte havia sido relativamente estável até meados do século XVIII. Com o passar do tempo, as influências do pietismo alemão, do puritanismo e do movimento metodista se somaram para produzir mudanças. Nas décadas de 1730 e 1740, a ocorrência do Primeiro Grande Despertamento trouxe revitalização às igrejas protestantes, mas, ao mesmo tempo, produziu um tipo diferente de cristianismo, mais emocional, mais independente das antigas estruturas e tradições, mais desejoso de novas formas de experimentar o sagrado.

Sob a influência de pregadores, como Charles G. Finney (1792-1875), houve um progressivo questionamento da teologia reformada tradicional, com seu enfoque na soberania de Deus e uma ênfase crescente na liberdade, iniciativa, capacidade de decisão e experiência pessoal, em sintonia com a nova cultura americana que então se consolidava. Entre 1824 e 1832, Finney estabeleceu as formas e os métodos modernos do reavivamento na América do Norte, dedi-cando-se nos quarenta anos seguintes de sua vida à construção de uma teologia do reavivamento e da vida cristã.

Desde então, o avivalismo, ou seja, atividades voltadas para a promoção de uma vida espiritual mais intensa e fervorosa, tornou-se uma característica permanente do cenário religioso norte-americano. Essa poderosa efervescên-cia espiritual também resultou no surgimento de novos movimentos religiosos, entre os quais destaca-se o pentecostalismo.

Figura 3 - Jonh WesleyFonte: Made From - History (2015, on-line)³.

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Portanto, podemos afirmar que, apesar de toda a sua especificidade, o pen-tecostalismo é fruto de desdobramentos doutrinários ocorridos durante quase um século no cenário protestante norte-americano. Nos Estados Unidos, no final do século XIX, havia diversos movimentos carismáticos, conhecidos como “holiness” e de reavivamento espiritual. Nesse período, já existiam igrejas pente-costais instaladas como Holiness, em 1895 e do Nazareno em 1899 e Associação de Igrejas Pentecostais. Tais movimentos surgiram no contexto de tensões e ques-tões sociais, como a questão racial, o êxodo rural, o inchaço urbano e o processo rápido de industrialização. Nesses movimentos, era comum a busca pela santi-dade e o Batismo com o Espírito Santo, com relatos de várias experiências.

PRIMÓRDIOS DO PENTECOSTALISMO MODERNO

Do ponto de vista cronológico da história, chegamos nas fontes diretas do movi-mento pentecostal moderno. Agora, veremos os eventos que são considerados, por muitos estudiosos, o ponto de partida para o que vemos hoje nas igrejas do mundo todo. Considere a necessidade de entendimento histórico desses eventos para a devida compreensão de como chegamos aonde estamos hoje.

CHARLES PARHAM E WILLIAM SEYMOUR: O CASO DA RUA AZUSA

Cabe lembrar que o termo “pentecostal” vem do movimento surgido nos Estados Unidos no início do século XX. Trata-se de um movimento de carismático evan-gélico, o qual usualmente encontrou suas raízes na ênfase da glossolalia (falar em línguas estranhas e desconhecidas), recebido por meio do batismo com o Espírito Santo. Como já vimos, essa crença está firmada no livro de Atos dos Apóstolos: quando reunidos, os apóstolos recebem o Espírito Santo prometido por Jesus e, cheios do Espírito Santo, começam a falar em outras línguas.

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Considera-se como “pentecostalismo moderno” o movimento iniciado em Topeka, Kansas, no ano de 1900, sob a liderança de Charles Parham (1873-1929), que havia sido, durante alguns anos, pastor metodista, embora em sua juventude tenha tentado estu-dar medicina antes de optar pelas atividades religiosas. Todavia, a sua inserção, nessa denominação religiosa, durou apenas cinco anos e ele abandonou a Igreja Metodista por causa de sua crença pessoal na cura divina. Foi Parham quem forneceu a doutrina pen-tecostal básica da “evidência inicial” do Batismo com o Espírito Santo, chamando-a de “terceira benção”. No ensinamento dos metodistas, a conversão era ensinada como a primeira bênção e a santificação, a segunda. Parham incentivou seus alunos a buscarem a experiência do batismo do Espírito Santo, acrescentando a terceira benção. Parham somente teve a expe-riência nos dias posteriores com o grupo de alunos.

Embora o falar em línguas tivesse aparecido no século XIX, tanto na Inglaterra quanto na América do Norte, nunca ninguém havia assumido a importância a ele atribuída pelos pentecostais posteriores, os primeiros a darem primazia doutrinária a essa prática. Embora os pentecostais reconheçam ocorrências esporádicas da glossolalia e outros fenômenos carismáticos ao longo de toda a era cristã (como vimos acima), ressaltam a importância do reavivamento na Rua Azusa, que ocorreu entre 1906 e 1909, em uma igreja episcopal metodista africana, abandonada no centro de Los Angeles, e que lançou o pentecostalismo como um movimento de alcance mundial. Os cultos na Rua Azusa eram diri-gidos por William Seymour, um pregador negro do movimento de santidade (Holiness) de Houston, Texas, e aluno de Parham.

Parham havia viajado para diversos lugares ensinando sobre a terceira ben-ção, chegando no Texas, em 1905, onde instalou uma escola bíblica. Nessa escola,

Figura 4 - Charles Fox Parham Fonte: Pentecostais verdadeiros (2013, on-line)4.

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Seymour passou a escutar, sentado numa cadeira do corredor, os ensinamen-tos de Parham e levou para Los Angeles. Seymour havia nascido em Centerville, Louisiana, em uma família de ex-escravos. Quando ele nasceu, 47% da popu-lação daquele estado era formada por ex-escravos. O ódio racial era intenso, e a Ku Klux Klan e outros grupos terroristas atuavam livremente naquela região. Seu pai, tão logo em meio a libertação dos escravos, alistou-se em um dos bata-lhões do exército que lutava contra os Confederados. Cinco anos após o final da Guerra Civil, o menino William nasceu e foi batizado na Igreja Católica. Somente na sua adolescência se tornaria batista. Com 25 anos de idade emigrou para Indianápolis (1895). Nessa época, tornou-se membro da Igreja Metodista Episcopal, uma congregação negra. Algum tempo depois, Seymour se mudou para Houston, depois de ter passado por Cincinnati entre 1902 e 1903, ali ele se uniu aos holiness, frequentando uma igreja pastoreada por uma mulher, que logo em seguida deixou Seymour como seu sucessor e foi trabalhar na casa de Charles Parham, como governanta.

Seymour viria a ser o maior expoente do movimento iniciado por Parham. Seymour foi convidado a pregar em Los Angeles, onde o batismo com o Espírito Santo teria intensa repercussão. Sem hesitar, aluga um velho armazém na Rua Azusa Street e inicia ali seu ministério. A liderança era formada por doze anciãos, compondo-se de brancos, negros e mulheres. O pentecos-talismo rapidamente se alastrou pelos Estados Unidos e pelo mundo. Os brancos que haviam recebido a ordenação na Igreja de Deus em Cristo (predominante-mente negra) saíram para fundar a Assembleia de Deus (quase exclu-sivamente branca), em 1914.

Figura 5 - William SeymourFonte: The Lakes Assembly ([2018], on-line)5.

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Portanto, Azusa Street se tornou, a partir de 1906, a “Jerusalém norte-ameri-cana”. Embora se dirigissem para essa cidade caravanas de cristãos, negros e bran-cos, indistintamente, todos estavam ansiosos por uma “experiência com o Espírito Santo”. Assim, nesses anos ini-ciais de Azusa Street, parecia que o poder do Espírito iria romper as barreiras de separação entre ricos e pobres, brancos e negros. O Espírito de Deus, assim acreditavam os pioneiros do pentecosta-lismo, agora administrado por um filho de ex-escravos, William Seymour, romperia com as diferenças entre negros e brancos. Porém, enquanto Seymour pregava o poder do Espírito, negros eram linchados em várias partes dos Estados Unidos. Não tarda-ria, portanto, a ressurgir o racismo de pentecostais brancos, já tipificado na prática racista-teológica de Charles Parham, que veio com mais força em 1914, quando em Hot Springs, Arkansas, surgem as Assembleias de Deus, reunindo cerca de seis mil membros espalhados pelos estados de Texas, Oklahoma, Alabama e Illinois.

Todavia, o movimento de Azusa Street foi marcado por divisões internas e conflitos doutrinários. Dentre as divisões da igreja de Azusa, ocorreu a saída do norte-americano branco William Durham (1873-1912), que se opôs a Seymour devido a questões teo-lógicas. Ele não concordava com a doutrina da terceira benção ensinada por Parham e reproduzida por Seymour. Durham propôs duas bênçãos, porém diferentes das duas bên-çãos metodistas, ele agrupou em uma só a conversão e santificação e a segunda ben-ção ficou sendo o batismo do Espírito Santo.

Figura 6 - A Missão de Fé Apostólica - Azusa StreetFonte: The Lakes Assembly ([2018], on-line)5.

Figura 7 - William DurhamFonte: Branham.it ([2018], on-line)6.

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É justamente do círculo de seguidores de William Durham que saíram Louis Francescon e a dupla de missionários Daniel Berg e Gunnar Vingren, fundadores das primeiras igrejas pentecostais no Brasil no início do século XX, respectiva-mente, a Congregação Cristã no Brasil (1910) e a Assembleia de Deus (1911). Aimee Semple McPherson, fundadora da Igreja do Evangelho Quadrangular, também foi do círculo de Durham.

O PENTECOSTALISMO NO BRASIL

Depois de uma longa jornada pelo mundo e a história do pentecostalismo, final-mente chegamos ao nosso país, o Brasil. Neste módulo veremos alguns detalhes históricos importantes para a formação das principais igrejas pentecostais em atuação no Brasil atualmente. Como era de se imaginar, o movimento pente-costal no país surgiu com a vinda de alguns missionários. Sem delongas, vamos aos detalhes dessa questão.

O PROTESTANTISMO BRASILEIRO E A INSERÇÃO DO PENTECOSTALISMO

A fim de compreendermos a inserção do pentecostalismo no Brasil, torna-se neces-sário descrever a história da chegada do protestantismo no país por intermédio das denominações cristãs egressas da Reforma Protestante, ocorridas na Europa em meados do século XVI, para assim compreendermos melhor este grupo chamado de “evangélicos”. Antônio Gouveia Mendonça, discorrendo sobre a reconstituição das terminologias classificatórias no estudo do pentecostalismo, afirma:

temos de recorrer à História, porque, se não o fizermos, correremos o ris-co de embaralhar mais ainda a terminologia corrente. Precisamos saber como chegamos até aqui e, então, tentarmos uma crítica consciente do status quaestionis do movimento pentecostal (MENDONÇA,1998, p. 73).

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O caminho para esse “mapeamento” do protestantismo traz consigo alguns desa-fios, pois este não é configurado como um grupo homogêneo, institucionalmente centralizado, antes constitui um leque organizacional, doutrinário e litúrgico extremamente matizado. Faz-se necessário, antes de continuarmos, entendermos, em primeiro lugar, o chamado campo protestante. Para tanto, vamos retomar, de uma maneira breve, um pouco da história da chegada e instalação do pro-testantismo no Brasil, para em seguida tratar da inserção do pentecostalismo.

Oriundos da Reforma Protestante do século XVI, os primeiros protestantes chegaram ao Brasil em 1555, juntamente com a expedição francesa comandada por Villegaignon. Os franceses tentaram instituir a França Antártica, na tenta-tiva de organizarem um lugar seguro para os calvinistas franceses, os huguenotes, realizarem seus cultos reformados. O primeiro culto protestante realizado no Brasil foi em 10 de março de 1557, dirigido por protestantes recém-chegados de Genebra, a pedido de Villegaignon. Em 1615, os franceses foram expulsos do Brasil e, em 1645, os holandeses, sob o governo de Maurício de Nassau, trouxe-ram pastores da Igreja Reformada Holandesa, que prestaram serviços religiosos no Nordeste brasileiro.

Com a vinda da Família Real, imigrantes protestantes começam a chegar ao Brasil, surgindo, assim, as primeiras capelas anglicanas, ainda que voltadas para os estrangeiros, sendo os cultos celebrados em inglês, restringindo o proselitismo aos brasileiros. Somente com a Constituição de 1824, a liberdade religiosa foi instituída. Apesar de a religião católica ser mantida como a religião do Estado, a

Huguenotes é uma designação depreciativa que os católicos franceses de-ram aos protestantes, especialmente aos calvinistas, nos séculos XVI e XVII. Os huguenotes eram perseguidos por causa das lutas políticas entre católi-cos e protestantes na França.

Fonte: o autor.

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Constituição reconheceu o Brasil como nação cristã nas suas mais diversas mani-festações. Várias ondas de imigração luterana, de origem alemã, instalaram-se no país, como em Nova Friburgo (1824), São Leopoldo (1825), entre outras cidades. Esse tipo de protestantismo, por meio do qual as igrejas luteranas e anglicanas se organizavam para assistenciar religiosamente os imigrantes, ficou conhecido no Brasil como “protestantismo de imigração”. Consolidado na Europa e trans-posto para os Estados Unidos da América, o protestantismo é redesenhado em sua forma organizacional, principalmente na América do Norte, de onde emer-gem as denominações. Organizações de várias igrejas que se juntam sob a mesma bandeira, possuindo a mesma visão doutrinária e litúrgica.

Um segundo tipo de protestantismo chamado “protestantismo de missão” ou “protestantismo de conversão” ocorre na tentativa de expansão do proseli-tismo protestante no Brasil. A primeira igreja protestante do protestantismo de missão foi a Igreja Metodista americana que em 1836 enviou seu missionário ao Rio de Janeiro, onde este organizou reuniões nas casas. Em 1855, o médico escocês Robert R. Kalley chegou ao Brasil, desenvolvendo atividades proseli-tistas em língua portuguesa, contando com a ajuda de alguns dos madeirenses convertidos durante seu trabalho na Ilha da Madeira. Em 1858, Kalley funda a primeira igreja evangélica de língua portuguesa em solo pátrio, na cidade do Rio de Janeiro. A Igreja ficou conhecida como Igreja Evangélica e seus membros conhecidos como evangélicos, termo este que perdura até hoje.

Outra igreja a enviar missionários foi a Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos. A chegada de seu primeiro missionário foi em 1859, havendo a funda-ção da igreja presbiteriana em 1862, também na cidade do Rio de Janeiro, e em São Paulo, 1m 1965, a segunda igreja presbiteriana. Os Batistas, outra denomi-nação, fundaram igreja no Brasil em 1881, em Salvador, com a chegada de seu primeiro missionário. As últimas denominações desse período do protestan-tismo a enviar seus representantes foi a Igreja Protestante Episcopal dos Estados Unidos, organizada no Brasil em 1889, no Rio Grande do Sul, e a Igreja Luterana norte-americana, em 1900, que primeiro organizou sua escola teológica em São Leopoldo, Rio Grande do Sul, para depois, em 1903, fundar sua Igreja Evangélica Luterana do Brasil.

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Durante todo o século XIX, esse protestantismo de missão se desenvolveu no Brasil por meio dos processos de imigração e do proselitismo, constituindo-se no que se chama de protestantismo histórico. Após a Proclamação da República e a Nova Constituição, a liberdade religiosa foi garantida, a separação de Igreja e Estado foi consolidada, inaugurando, assim, o pluralismo religioso no Brasil. Isso contribui, ainda que não de uma forma absoluta, para o declínio do mono-pólio religioso católico, que se vê agora envolvido na incômoda tarefa de disputar o campo religioso brasileiro até então monopolizado.

Ainda no século XIX, mesmo com o avanço do cientificismo, presencia-se uma retomada do ardor religioso, como já notamos na sessão anterior. Vários movi-mentos conhecidos como revivals acontecem nos Estados Unidos da América, influenciando a igreja protestante norte-americana. O movimento pentecostal surge de um desses reavivamentos ocorridos no Norte da América, influencia-dos principalmente pelos movimentos de santidade (holiness) que ocorriam nos países de língua inglesa, nos séculos XVIII e XIX.

O PENTECOSTALISMO EM SOLO BRASILEIRO: CENTENÁRIO DE MUDANÇAS

O pentecostalismo brasileiro completou recentemente seu centenário, fato que demonstra seu crescimento e transformações ao longo de um século. A fim de compreender suas transformações, alguns estudiosos sugeriram algumas classi-ficações gerais. Entre esses modelos ideais, a metáfora das três ondas, sugeridas por Paul Freston (1994), parece ser uma das mais pertinentes e abrangente, pois permite mapear as divisões do pentecostalismo por períodos.

De acordo com essa divisão, as igrejas Congregação Cristã do Brasil (1910) e Assembleia de Deus (1911), correspondem à primeira onda, cujo período abrange de 1910 a 1950. Também chamados de pentecostalismo “clássico”, estas igrejas se caracterizam, desde o início, pelo anticatolicismo, pela ênfase no dom de línguas (glossolalia) e pelos usos e costumes (estilo de vida que implica em uma rejeição ao “mundo”). Apesar de centenárias, ambas mantêm vivas alguns desses traços de identidade (ou pelo menos tentam manter). A CCB mantém,

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ainda, algumas de suas características iniciais, resistindo a participação na polí-tica partidária e outros bens do mundo moderno (inserção no mercado e no uso da mídia). Já a Assembleia de Deus, desde 1989 fragmentada em muitos minis-térios, mostra-se mais flexível diante das mudanças que estão se processando no movimento pentecostal ao seu redor e na sociedade (algumas, inclusive, têm sido mais flexíveis em relação aos usos e costumes tradicionais, como as vesti-mentas e o uso dos meios de comunicação).

A segunda onda teve início na década de 1950 com a chegada, em São Paulo, de dois missionários norte-americanos da International Church of The Foursquare Gospel. No Brasil, criaram a Cruzada Nacional de Evangelização e iniciaram, com grande êxito, o evangelismo baseado na cura divina, provocando a frag-mentação denominacional e acelerando a expansão do pentecostalismo no país. Logo fundaram a Igreja do Evangelho Quadrangular (1951, em São Paulo). No seu rastro, surgiram o Brasil para Cristo (1955, em São Paulo), Deus é Amor (1962, em São Paulo), Casa da Benção (1964, em Minas Gerais), entre outras de menor porte. A segunda onda foi caracterizada pela ênfase teológica na cura divina, pelo intenso uso do rádio (o que não era bem-visto pelos pentecostais da primeira onda) e pelo evangelismo itinerante, em tendas de lona.

Por sua vez, a terceira onda, tem início na década de 1970 e representa a ver-tente que mais cresceu nos últimos anos. A Igreja Universal do Reino de Deus (1977, no Rio de Janeiro), Internacional da Graça de Deus (1980, no Rio de Janeiro), Comunidade Sara Nossa Terra (1976, em Goiás), Renascer em Cristo (1986, em São Paulo) e Igreja Mundial do Poder de Deus (1998, em São Paulo) foram fundadas por pregadores brasileiros e constituem as principais igrejas cha-madas de “neopentecostais”.

Ricardo Mariano concorda com Freston na divisão das três ondas e explica o porquê do termo “neopentecostal” para classificar a terceira onda. Segundo Mariano (1999, p. 67):

O prefixo “neo” mostra-se apropriado para designá-la tanto por reme-ter à sua formação recente, quanto ao caráter inovador do neopente-costalismo. Embora recente entre nós, o termo “neopentecostal” foi cunhado há vários anos nos EUA. Lá, na década de 70, ele designou as dissidências pentecostais das igrejas protestantes, movimento que posteriormente foi designado de carismático (MARIANO, 1999, p. 67).

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Dentre os protestantes, foram os pentecostais e os neopentecostais, sem nenhuma dúvida, que mais cresceram. Os pesquisadores indicam que, na área metropo-litana do Rio de Janeiro, foram fundadas 710 igrejas entre 1990 e 1992, ou seja, cinco igrejas por semana, uma por dia útil, dentre elas a maioria de linha pente-costal. Segundo os dados do IBGE de 1991, os pentecostais pularam de 49% dos evangélicos para 65,1%; enquanto os protestantes históricos caíram para 35%. Devido ao seu rápido crescimento, transformação, dinamismo e fragmentação, o movimento pentecostal tornou a tarefa de classificação dos cientistas da religião cada vez mais complexa, fazendo a discussão acadêmica cada vez mais acirrada. Para se ter uma ideia da complexidade e do vertiginoso crescimento que acom-panha o pentecostalismo, vejamos alguns dados do Censo, realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2000, que mostram o cresci-mento do movimento pentecostal e neopentecostal no Brasil:Quadro 1 - Crescimento do movimento pentecostal e neopentecostal no Brasil

Assembleia de Deus 8,4 milhões

Congregação Cristã no Brasil 2,4 milhões

Igreja Universal do Reino de Deus 2,1 milhões

Outras igrejas pentecostais 1,8 milhão

Igreja do Evangelho Quadrangular 1,3 milhão

Igreja Pentecostal Deus é Amor 774,8 mil

Brasil para Cristo 1,0 milhão

Fonte: adaptado de IBGE (2000, on-line)7.

O pentecostalismo brasileiro teve como característica fundamental o intuito de levar a mensagem do evangelho a um mundo que considerava perdido, anun-ciando a restauração através da ação do Espírito Santo, o qual, nas palavras de Daniel Berg: Jesus, salva, cura, vai voltar e batiza com o Espírito Santo (PEREIRA, 2011, on-line)8. A militância pentecostal no Brasil foi composta basicamente de pregadores urbanos, em praças, ruas e calçadas. Nesse contato com a cultura brasileira, algumas de suas práticas, doutrinas e modelos organizacionais foram influenciados pela cultura religiosa popular, constituindo, desse modo, um pen-tecostalismo tipicamente brasileiro.

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BREVE HISTÓRICO DAS PRINCIPAIS IGREJAS PENTECOSTAIS E NEOPENTECOSTAIS NO BRASIL

Em nosso último módulo, veremos os detalhes sobre algumas das principais igre-jas pentecostais e neopentecostais no Brasil. O nosso objetivo é que o(a) aluno(a) tenha ao menos o conhecimento básico sobre a origem e forma dessas igrejas, e com isso possa desenvolver um senso crítico sobre cada uma delas. Caso o(a) aluno(a) não conheça essas igrejas, sugiro que faça pelo menos uma visita em cada uma delas para melhor aproveitamento do aprendizado. Seguramente será uma experiência significativa para o seu desenvolvimento acadêmico.

CONGREGAÇÃO CRISTÃ NO BRASIL

A Congregação Cristã no Brasil foi fundada por Louis Francescon (1866-1964), um italiano nascido em família católica na província de Udine, Itália. Ele migrou para Chicago, em 1890, convertendo-se, ainda jovem, ao protestantismo. Rapidamente, entrou em contato com as famílias italianas ali presentes e cunhou um termo chamado “Fé Valdenses”. A “Fé Valdenses” tinha alguns preceitos básicos, um deles é: a Bíblia, notadamente o Novo Testamento, contém todas as regras de vida. Dessa forma, as interpretações sobre os seus textos eram feitas de forma literal. Não há estudos direcionados, apenas o que “Deus revela”. Além disso, uma vez por ano se faz a celebração da Santa Ceia, realizada em conjunto. Esses pre-ceitos ainda hoje são realizados. Em março de 1892, Louis Francescon, junto a outros protestantes, fundou a Primeira Igreja Presbiteriana Italiana. Nessa oca-sião, Francescon se tornou diácono e, após alguns anos, ancião da nova igreja.

É vital que a igreja pentecostal se una em torno de uma teologia mínima, capaz de encontrar a todos sem distinção.

(Ricardo Bitun)

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HISTÓRIA DO PENTECOSTALISMO

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Depois de receber a experiência do batismo com o Espírito Santo, recebe a revelação para ir para a Argentina, chegando na América do Sul em 1909, vindo para o Brasil em 1910, onde fundou a Congregação Cristã.

Fundada a igreja pela primeira vez na cidade de São Paulo, já no segundo dia da sua estadia em terras brasileiras, Francescon encontra Vicenzo Pievani, outro italiano protestante e, junto a ele, pregava o evangelho em plena Praça da Sé, no centro de São Paulo. Como o trabalho na Sé não rendeu frutos, o mis-sionário deixou São Paulo com destino ao Paraná, chegou no dia 20 de abril do mesmo ano, estabeleceu o primeiro grupo de pentecostais no Brasil. No dia 20 de junho, retornou a São Paulo, onde passou a fazer novas pregações e, dessa vez, conseguiu alguns adeptos oriundos de outras igrejas. É desse grupo que surge a primeira “Congregação Cristã” no país. A partir de então, a igreja só cresceu, espalhando-se por onde havia colônias italianas.

ASSEMBLEIA DE DEUS

A Assembleia de Deus foi fundada em 1911 pelos missionários suecos Daniel Berg (1884-1963) e Gunnar Vingren (1879-1933), ambos egressos de igrejas batis-tas, após terem tido a experiência do batismo com o Espírito Santo. A princípio fundaram a igreja com o nome de Missão de Fé Apostólica, em Belém do Pará.

Os dois missionários se dirigiram para os Estados Unidos, onde tiveram contato com as experiências do movimento iniciado com Seymour. Após tal experimento e convivência com o trabalho evangelístico, sentiram de Deus a chamada para o ministério missionário. Em determinada ocasião, após uma fervorosa reunião de oração na casa do irmão Adolf Olldin, na cidade de South Bend, Estado de Indiana. E.U.A, anfitrião de Gunnar Vingren, foram comunica-dos da chamada missionária que Deus havia revelado ao dono da casa sobre os seus hóspedes, para uma localidade chamada Pará. Mesmo sem saberem onde seria esta localidade, foram para uma biblioteca e, após pesquisas em mapas, des-cobriram que Pará era um Estado brasileiro que tinha por capital Belém. Depois de confirmado o anseio de seus corações, tomaram a iniciativa de viajarem ao destino proposto, segundo a revelação sobrenatural concedida a seu irmão na fé.

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Dessa maneira, no dia 5 de novem-bro de 1910, partiram de New York em direção à Belém do Pará, che-gando naquela cidade na tarde do dia 19 de novembro de 1910, teve o primeiro contato com o Pastor Justus Nelson da igreja Metodista, pessoa com quem Gunnar Vingren já havia se encontrado, ainda nos E.U.A, em eventos evangelísticos, na cidade onde congregava. Depois do reen-contro, foram acompanhados até a casa pastoral da Igreja Batista, onde ficaram hospedados por alguns meses e passaram a se congregar com o grupo de evan-gélicos daquela denominação.

Na ocasião, a Igreja Batista em Belém estava sob direção interina do jovem evangelista Raimundo Nobre. Após a chegada dos estrangeiros na cidade e as suas agradáveis companhias na congregação, houve uma surpreendente cogi-tação da possibilidade de Gunnar Vingren, que já possuía experiência como pastor nos E.U.A, chegar a ser indicado para assumir a direção daquela igreja, pois o evangelista Raimundo Nobre não possuía experiência cumulativa e cre-dencial para assumir tal cargo de modo definitivo. Com o passar do tempo e a convivência, essas possibilidades antes levantadas foram abafadas pelo fenômeno do Batismo com o Espírito Santo de uma fiel da congregação por nome Celina Albuquerque, no dia nove de junho de 1911. Foi a primeira manifestação pente-costal no Pará, marcando o início de um grandioso movimento pentecostal que se desenrola até a atualidade. O novo comportamento dos fiéis diante do aviva-mento pentecostal teve por consequência a iniciativa, por parte da congregação e por meio de seu líder, de tentar deter o crescimento dessa nova maneira de adoração e culto, caracterizada por um barulho de louvor até então não expe-rimentado, muito menos aprovado pela igreja Batista, em Belém do Pará. No entanto, as reprovações por parte da congregação e a penalidade imposta pelo líder responsável pela igreja na ocasião, aos que aderiram ao novo modelo de culto, foi o estopim que determinou dissidência doutrinária e a origem da nova

Figura 8 - Daniel Berg e Gunnar VingrenFonte: Revista Ultimato (2011, on-line)9.

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denominação pentecostal que, no seu início, contou com apenas dezoito pes-soas expulsas de sua igreja de origem para se tornarem o cerne da “Missão da Fé Apostólica” que, em 1918, passou a se denominar de “Assembleia de Deus”.

IGREJA PENTECOSTAL DEUS É AMOR

A Igreja Pentecostal Deus é Amor (IPDA) foi fundada em 1962 por David Miranda, um ex-católico que se converteu aos 22 anos de idade ao pentecostalismo. A IPDA tem se expandido, apesar dos rígidos usos e costumes, tais como, aversão à polí-tica, à televisão, ao cinema e teatro, ao futebol e a outros esportes, condenando, dessa maneira, quase todas as formas de lazer usuais do ser humano numa socie-dade moderna. A práxis de David Miranda, baseada no seu evangelismo, está profundamente ancorada na pregação de curas divinas, no exorcismo, no prose-litismo e na sua extensa rede de programação de rádio, bem como nas atividades de sua gravadora, as quais levam o mesmo nome: “A Voz da Libertação”. Esse programa de rádio é transmitido para mais de 140 países. O missionário David Martins Miranda morreu aos 79 anos (1936-2015). David Martins Miranda era casado com Ereni Miranda e pai de quatro filhos: David, Débora, Leia e Raquel.

UNIVERSAL DO REINO DE DEUS

A Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) foi organizada no Rio de Janeiro, em 1977, por um pequeno grupo de pentecostais oriundos da Igreja de Nova Vida. Participaram de sua fundação Edir Macedo de Bezerra, um ex-católico e ex-umbandista, seu cunhado Romildo Ribeiro Soares e Roberto Augusto Lopes. O sucesso da igreja pode ser medido pelo número de templos abertos até 1995: 2014 no Brasil e 236 em 65 países, nos quais são atendidos cerca de quatro milhões de pessoas, que participam das atividades de cultos. A média mensal de inau-gurações naquele período foi de 9,32 novos templos por mês no país e 1,96 no exterior. Além disso, a IURD investiu em diversas áreas, comprando canais de TV, emissoras de rádio, jornais e revistas.

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A Igreja Universal do Reino de Deus é a maior representante da “terceira onda pentecostal”. Sua teologia é considerada como uma das propagadoras da chamada “teologia da prosperidade”. Essa mensagem da prosperidade é dividida em partes e passada para o público em cultos voltados, cada dia da semana, a um tema diferente. Esse universo é composto por um contingente de pessoas, cuja adesão à igreja varia em graus de intensidade entre frequentadores eventuais, fiéis, obreiros e pastores. Os frequentadores eventuais são convidados a partici-par de correntes de oração para a obtenção da graça. Muitos, assim, conhecem a libertação e firmam sua adesão à igreja. Os obreiros são fiéis que trabalham voluntariamente nos templos ajudando nos cultos e mantendo as igrejas limpas e arrumadas. Os pastores, rapazes cuja habilidade para a função é identificada no cotidiano da participação religiosa, recebem também uma formação na escola da própria instituição e são remunerados em sua atividade. Esses pastores seguem as orientações da hierarquia da IURD e raramente criam uma relação congre-gacional com a comunidade onde estão atuando, porque são periodicamente deslocados de uma igreja para outra, no Brasil e no exterior.

IGREJA INTERNACIONAL DA GRAÇA DE DEUS

A Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) foi fundada por Romildo Ribeiro Soares, conhecido por missionario R.R. Soares, no final da década de 70, logo após a sua saída da Igreja Universal do Reino de Deus. Soares afirma que, quando jovem, pretendia seguir a carreira de médico, no entanto Deus o inspirou a deci-dir pela pregação. Assim como as demais igrejas neopentecostais, a IIGD também investe nos meios de comunicação como um modo de pregar o evangelho e divul-gar suas atividades. Para levar o Evangelho a toda criatura, a IIGD recorreu ao uso da TV, do rádio e da internet. A IIGD foi a primeira instituição religiosa a veicular um programa de TV em horário nobre no Brasil. O programa “Show da Fé”, apresentado por Romildo Ribeiro Soares, vai ao ar desde 2003 na Rede Bandeirantes de Televisão. Além dos horários que compra de outras TVs, como Rede Bandeirantes, CNT e Rede TV, a instituição utiliza a Rede Internacional de Televisão (RIT), que possui uma programação voltada ao público evangélico.

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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

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IGREJA MUNDIAL DO PODER DE DEUS

A Igreja Mundial do Poder de Deus (IMPD) foi fundada em 1998 pelo Bispo Valdemiro Santiago, ex-Bispo da Igreja Universal do Reino de Deus. O início da IMPD lembra o início de duas outras igrejas pentecostais de segunda onda: o Brasil para Cristo e a Deus é Amor, pois ambas iniciaram suas atividades em galpões alugados. Ao voltar de Moçambique, país onde trabalhou por anos, fun-dando novos templos da Igreja Universal do Reino de Deus, Valdemiro entrou em choque com seus colegas e líderes, principalmente quando ousou confron-tar seu fundador e principal líder, Bispo Macedo.

A Igreja Mundial do Poder de Deus tem se destacado em apregoar uma solu-ção rápida e eficaz para atrair seus fiéis, as chamadas pela televisão revelam sua estratégia de mostrar sua eficácia: “A mão de Deus está aqui”. Apoia-se nos resulta-dos obtidos pela igreja, testemunhado pelos fiéis no dia a dia e não na elaboração lógica e racional da doutrina. Ainda sobre a cura divina, a Igreja Mundial do Poder de Deus trabalhou novamente temas presentes não só no imaginário pentecostal como também na cultura nacional, como por exemplo o mal, responsável pelos sofrimentos e dramas da existência humana. Junto a essa necessidade de estan-car o mal, surge a figura carismática de Bispo Valdemiro que não só identifica e explica as razões do sofrimento humano, como também o combate. Para tanto, utiliza-se da teologia neopentecostal, afastando-se gradativamente dos padrões pentecostais e, consequentemente, do protestantismo histórico reformado.

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Considerações Finais

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O pentecostalismo brasileiro, cuja breve história acabamos de estudar, ainda está em franco crescimento, conforme os dados dos últimos censos. Certamente, ao longo de mais de cem anos, muitas mudanças têm ocorrido e gerado uma diver-sidade de vertentes de denominações pentecostais. Ao verificarmos essa breve história, observamos um conjunto de mudanças, não apenas em suas dimensões teológicas e pastorais, mas também em suas dimensões políticas e sociais, ou seja, o pentecostalismo está inserido em contextos históricos nos quais mudan-ças e transformações são inevitáveis.

Por um lado, do ponto de vista de algumas denominações pentecostais mais tradicionais, essas mudanças têm significado uma espécie de “desvio” do seu modelo original, motivo pelo qual há um choque de gerações ou conflitos entre o tradicional e o moderno. Por outro lado, para outros, as novas tecnologias (novas mídias e redes sociais) não representam empecilhos para suas ativida-des, e sim vantagens para sua propagação.

O principal objetivo foi apresentar aos estudantes uma leitura não apenas teológica, mas histórica e social do pentecostalismo. Identificamos diferentes momentos da história e os principais elementos que caracterizam o pentecosta-lismo contemporâneo, investigando suas raízes.

Buscamos compreender o contexto histórico, o ambiente judeu, a partir do qual a Igreja cristã nasceu. Verificamos sua inauguração no evento do Pentecostes de Atos 2 e os desdobramentos do movimento carismático.

Portanto, um estudante desavisado pode se equivocar se imaginar que não houve lacunas históricas importantes entre a Igreja de Atos e os últimos cem anos de pentecostalismo. Seria ingênuo, no mínimo, imaginar que, nesse perí-odo de mais de 2000 mil anos, não aconteceram mudanças e transformações. O que teria acontecido com a Igreja nesse período e o que o pentecostalismo repre-senta? A história continua.

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1. De uma perspectiva neotestamentária e munido de seu significado, quando ocorreu o nascimento concreto da chamada ekklésia e em que a mesma se constitui?

2. Observe as citações abaixo:

I. Os partidários do montanismo chamavam a si mesmos de Nova Revelação e Nova Profecia, mas seus oponentes os chamavam de montanismo por cau-sa de seu fundador.

II. Segundo praticamente todos os intérpretes, um dos movimentos menos compreendidos da história é, sem dúvida, o pietismo alemão. Tratou-se de um movimento de renovação que pretendia completar a Reforma protes-tante iniciada por Martinho Lutero.

III. O principal argumento do pietismo era que a reforma luterana foi um ex-celente começo para um movimento de renovação, mas ficou incompleto.

IV. Entre 1724 e 1732, Finney estabeleceu as formas e os métodos antigos do reavivamento na América do Norte, dedicando-se. nos quarenta anos se-guintes de sua vida, na construção de uma teologia do reavivamento e da vida cristã.

Assinale a alternativa correta:

a) Apenas II e IV estão incorretas.

b) Apenas II e III estão corretas.

c) Apenas III está incorreta.

d) Apenas II, III e IV estão corretas.

e) Apenas IV está incorreta.

3. Assinale Verdadeiro (V) ou Falso (F)

( ) Foi Parham quem forneceu a doutrina pentecostal básica da “evidência inicial” do Batismo com o Espírito Santo, chamando-a de “terceira ben-ção”.

( ) Os cultos na Rua Azusa eram dirigidos por William Seymour, um prega-dor negro do movimento de piedade (Holiness) de Houston, Texas, e alu-no de Parham.

( ) O movimento de Azusa Street não foi marcado por divisões internas e conflitos doutrinários.

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Assinale a opção com a sequência CORRETA:

a) V, F, V.

b) F, V, V.

c) V, V, F.

d) V, F, F.

e) F, F, F.

4. De acordo com o conceito da expressão neopentecostal e observando o con-texto brasileiro, estudamos algumas das principais igrejas dessa ramificação chamada neopentecostal. Conforme o material apresentado, quais igrejas, das estudadas aqui, enquadram-se nessa categoria?

5. Observe as citações abaixo:

I. Congregação Cristã no Brasil: não há estudos direcionados, apenas o que “Deus revela”. Uma vez por ano se faz a celebração da Santa Ceia, realizada em conjunto.

II. Assembleia de Deus: batismo com o Espírito Santo de uma fiel da congrega-ção por nome Celina Almeida, no dia nove de junho de 1911. Foi a primeira manifestação pentecostal no Pará

III. Igreja Pentecostal Deus é amor: aversão à política, à televisão, ao cinema e teatro, ao futebol e outros esportes

IV. Igreja Universal do Reino de Deus: maior representante da “terceira onda pentecostal”.

V. Igreja Mundial do Poder de Deus: tem se destacado em apregoar uma solu-ção rápida e eficaz para atrair seus fiéis, as chamadas pela televisão revelam sua estratégia de mostrar sua eficácia: “A mão de Deus está aqui”

Assinale a alternativa correta:

a) Apenas I está incorreta.

b) Apenas II está incorreta.

c) Apenas III está incorreta

d) Apenas IV está incorreta.

e) Todas as alternativas estão corretas.

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CARISMA E CARÁTER NA IGREJA

Por William Lane

É possível que quando pensamos em uma igreja viva, é possível associarmos a uma igre-ja dinâmica, engajada, repleta de atividades, programações e oportunidades a todas as faixas etárias, que tenha uma liderança visionária, que mobilize e motive as pessoas. Por outro lado, pela influência de uma tradição carismática e pentecostal, muitas vezes se pensa numa igreja viva aquela em que os cultos são fervorosos, a palavra seja pregada com poder e haja manifestações especiais do Espírito Santo. Realmente, essas podem ser descrições de igreja viva, pelo menos no que se refere à sua organização, funciona-mento, atividades e culto.

Mas é nisso que se resume a ideia de igreja viva? Uma igreja genuína, autêntica e cheia de vida é a mesma coisa que uma organização dinâmica, eficaz e engajada? É possível identificar traços de uma igreja viva?

Os reformadores do século 16 e a teologia reformada até os dias de hoje falam de uma igreja verdadeira e a definem como igreja onde se prega a Palavra verdadeira, os Sacra-mentos são administrados fielmente e a disciplina é exercida com eficácia. À medida que o movimento reformado se estabelecia como movimento religioso e eclesiástico indepen-dente da igreja romana da época, e muitos outros movimentos de reforma iam surgindo, alguns defendendo uma ruptura mais radical com as práticas e formas da igreja medieval, foi preciso os reformadores estabelecer os parâmetros de uma verdadeira igreja.

Hoje, diante da multiplicação de igrejas, movimentos, comunidades e grupos religiosos cristãos evangélicos, muitos dos quais com grande projeção nas mídias, arrojo de ações e imagens, fortalecimento institucional, e outros indo na contramão dessas tendências, optando por informalidade e valorização das relações em vez das estruturas, é preciso refletir sobre a igreja viva.

Rick Warren (A igreja com propósito) e Christian Schwarz (O desenvolvimento natural da igreja) entendem que a igreja cresce naturalmente e se não está crescendo há algo de errado, por isso, todo pastor deve perguntar não “como fazer a igreja crescer?”, mas “o que está impedindo a igreja de crescer?”. Essa visão demonstra uma ideia de que a igreja é organismo vivo e se não cresce é porque ela está enferma. No entanto, revela também um conceito de crescimento principalmente numérico. Mas essa visão de crescimento foi desafiada muitos anos atrás por autores latino-americanos, dentre os quais Orlando Costas, que defendia um crescimento mais holístico da igreja pelas dimensões numéri-ca, orgânica, conceitual e diaconal. Desse modo, os sinais de uma igreja viva não podem ser constatados somente pelo crescimento numérico e pelo seu funcionamento.

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Na realidade, pelos conceitos atuais de crescimento e revitalização de igreja, um dos requisitos essenciais de uma igreja é sua visão, missão e uma liderança qualificada. No entanto, o conceito bíblico de igreja viva e saudável está mais na ação e evidência do Espírito Santo na vida das pessoas. Mas, mesmo quando se fala de ação e presença do Espírito Santo na igreja, nossas tradições eclesiásticas e doutrinárias divergem quanto ao modo de entender presença do Espírito.

A passagem de Atos 2.42-47 é frequentemente usada para ilustrar e fundamentar a igreja saudável. Os primeiros convertidos perseveravam na doutrina, partiam o pão, na reunião para comunhão, oração e adoração, na manifestação do poder pelos sinais e prodígios, na assistência aos necessitados por meio da partilha dos bens e do serviço diaconal, e cresciam em número.

Os ensinos de Paulo em Romanos, 1 Coríntios e Efésios sobre os dons espirituais são também usados para descrever uma igreja viva. Nessa igreja, cada membro exerce o seu dom ou ministério para a edificação do corpo. Mas como vemos na carta aos Coríntios, aquela igreja demonstrava a presença de diversos dons, porém, ela possuía também diversas fraquezas, problemas e divisões. Por isso, não é só a presença do carisma que revela a presença do Espírito e a essência de uma igreja viva. Paulo insiste muito na uni-dade e no discernimento do corpo.

Mas uma igreja viva não é só aquela que realiza o ministério por obra do Espírito Santo. É também a igreja cujos membros andam no Espírito e demonstram o fruto do Espírito em suas vidas. Se, assim como John Stott que sonha com uma igreja bíblica, adoradora, aco-lhedora, que sirva e que espera, eu puder sonhar e desejar uma igreja viva, eu gostaria de ver mais amor, alegria, paz, bondade, benignidade, longanimidade, fidelidade, mansidão e domínio próprio – o fruto do Espírito – na vida dos membros, nas estruturas, ações, pre-gações e ministérios da igreja. Uma igreja que equilibra o carisma com o caráter.

Fonte: Lane (2017, on-line)10.

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MATERIAL COMPLEMENTAR

História do Movimento Pentecostal no BrasilIsael de Araújo

Editora: CPADSinopse: começando com as mais antigas referências de manifestações pentecostais no país nos anos 1900, chegando ao grande crescimento dos pentecostais a partir dos anos 1970 e ao movimento das igrejas pentecostais nos anos 2000, pastor Isael de Araújo perfaz uma linha do tempo completa de registros fotográficos e históricos esclarecedores que lhe levarão a um novo nível de conhecimento histórico.

Wesley – Um coração transformado pode mudar o mundoAno: 2009Sinopse: o ano é 1732, um tempo de declínio espiritual na Inglaterra, país em que havia um grande abismo entre ricos e pobres. Com o objetivo de alcançar o Céu por meio de suas obras, um jovem sacerdote anglicano chamado John Wesley (Burgess Jenkins) dispensa todo o seu tempo visitando prisões, estudando a Bíblia e orando – tudo para escapar do fogo do inferno, o qual John acredita ser destino de todos. Sua autodisciplina rigorosa atrai a atenção do general Oglethorpe, que convida o jovem Wesley a servir como capelão da comunidade recém-estabelecida de Savannah, Geórgia. Então, com o sonho de evangelizar os povos nativos, John parte em um navio em direção à América, mas, durante a longa viagem, uma terrível tempestade quase afunda o navio, e Wesley vê sua fé abalada. No entanto, é por meio da amizade de um jovem missionário morávio que John finalmente encontra na “religião do coração” a manifestação da graça que ele sempre procurou.

Artigo “Gunnar Vingren e Daniel Berg: os pioneiros das Assembleias de Deus”, publicado na revista Ultimato, relata uma breve história dos pioneiros das Assembleias de Deus no Brasil. Link: <http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/331/gunnar-vingren-e-daniel-berg-os- pioneiros-das-assembleias-de-deus>.

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REFERÊNCIAS49

REFERÊNCIAS

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GABARITOGABARITO

1. No Pentecostes, e se constitui o núcleo do Corpo de Cristo.

2. A opção correta é a E.

3. A opção correta é a C.

4. Igreja Universal do Reino de Deus, Internacional da Graça de Deus, Comunidade Sara Nossa Terra, Renascer em Cristo e Igreja Mundial do Poder de Deus.

5. A opção correta é a E.

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UN

IDA

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Professor Dr. Ricardo Bitun

ANTROPOLOGIA BÍBLICA

Objetivos de Aprendizagem

■ Entender o que é Antropologia e seus principais conceitos.

■ Conhecer sobre a antropologia Bíblica.

■ Identificar, segundo uma perspectiva Bíblica, como podemos entender a natureza humana e as polêmicas sobre essa questão.

■ Compreender sobre o surgimento do pecado na humanidade e suas consequências para o Homem.

■ Reconhecer a ação redentora de Cristo.

Plano de Estudo

A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

■ Conceitos, definições e os ramos da Antropologia

■ O Homem, segundo a Bíblia

■ Elementos constitutivos da natureza humana

■ A queda e suas consequências

■ A Imagem e Semelhança restauradas

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Introdução

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INTRODUÇÃO

Estimado(a) aluno(a), nesta unidade, estudaremos o homem em uma perspec-tiva bíblica, pois entendemos que toda nossa vida, ações e atitudes devem estar fundamentadas na Palavra de Deus.

O tema é pertinente para nossos dias, pois da mesma forma que há uma supe-restimação do homem e de suas realizações, a vida humana também tem sido muito desprezada e reduzida em relação ao seu real significado. E tenho plena certeza de que esse paradoxo existencial que vivemos, hoje, fundamenta-se na falta de conhecimento ou no desprezo do homem em relação às verdades bíbli-cas, visto que só conheceremos melhor a nós mesmos se conhecermos melhor a Deus, pois somos feitos segundo sua imagem e semelhança.

Outra consideração que deve ser feita acerca da importância desta disci-plina são as várias mudanças que o conceito de “homem” sofreu no Ocidente. Podemos tomar como exemplo o conceito desenvolvido por Nicolau Copérnico, que mudou radicalmente a maneira como o homem via a terra e a si mesmo, pois, antes dele, concebia-se que a terra era o centro do universo, tudo girava em torno da Terra (geocentrismo).

Copérnico constatou que, na realidade, era a Terra que girava em torno do Sol (heliocentrismo) e, atualmente, constitui-se na teoria aceita pela comuni-dade científica e por todos, inclusive nós cristãos, mesmo que a ideia tenha sido condenada pela Igreja Católica no começo. Isso, certamente, alterou a visão que o homem passou a ter de si mesmo e do mundo que o cerca; o homem se viu como um ser muito pequeno em relação à grandeza do mundo e do universo.

Diversos outros eventos na história, aos poucos, moldaram a nossa forma de ver e entender o homem; a Antropologia, de fato, é um amplo campo de estudo. O nosso objetivo final é entender o homem, de acordo com o manual do pro-prietário, a saber a Bíblia.

Espero que aproveite este momento de estudo para também conhecer a si próprio, buscando esse conhecimento junto ao Senhor.

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CONCEITOS, DEFINIÇÕES E OS RAMOS DA ANTROPOLOGIA

Neste momento, serão apresentados alguns conceitos, definições e os ramos pelos quais a Antropologia moderna tem sido dividida, para um melhor conhe-cimento do homem, pois, segundo Abbagnano, a antropologia se configura em uma “‘exposição sistemática dos conhecimentos que se têm a respeito do homem” (ABBAGNANO, 2012, p. 74).

Sempre foi uma tarefa de grande complexidade entender o gênero humano, como ele se relaciona consigo mesmo, com o seu semelhante e com o mundo que o cerca, daí a importância de um conhecimento maior do que o ser humano tem de ter de si mesmo, ainda mais em um mundo atualmente complexo como o nosso. Por isso, a própria definição do que seria o ser humano, para a antropo-logia, não se constitui uma tarefa simples, mas, sim, num exercício que requer complexidade. Sobre esta complexidade Dortier (2010, p. 559) escreve:

Definir a antropologia não é tarefa fácil. O conteúdo de uma disciplina que propõe como projeto o estudo do “gênero humano” em geral pare-ce bastante vago. É preciso ter em mente que a antropologia nasce e se desenvolve no decorrer do século XIX, época marcada pela expansão colonial e pela demonstração de que o homem moderno é produto de uma longa história natural.

Conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo!

(Sócrates)

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Como fruto desta complexidade, a própria antropologia passou a ser dividida em várias ramificações, por isso, atualmente, a antropologia tem sido dividida em antropologia social e a antropologia cultural. A seguir, apresentamos resu-midamente essas ramificações.

■ Antropologia Social:

Esse ramo da antropologia estuda o homem e seu relacionamento com a socie-dade que o cerca, analisando porque os homens agem da maneira que agem na sociedade a qual pertencem. A antropologia social também investiga o impacto dos parentescos nos grupos sociais, pois o conceito de família e reprodução estão presentes em todas as culturas e sociedades, e também investigam as formas de poder e governo e em que se baseiam e como se perpetuam.

■ Antropologia Cultural:

Originada nos Estados Unidos, entre o século XIX e o século XX, a antropolo-gia foi fruto da etnologia associada à linguística, à arqueologia, à psicologia, à história e à sociologia. A Antropologia cultural, segundo Abbagnano (2012, p. 75), distingue-se: “por maior propensão ao estudo das culturas dos diversos gru-pos humanos, independente de seu grau de complexidade e de sua localização

O homem sempre foi objeto de estudo da antropologia, bem como a in-fluência que ele exerce e sofre sobre o meio que o cerca e como ele se re-laciona com estas alterações sofridas e exercidas por ele. Sobre isto Dortier afirma que

a antropologia é resultado das diferentes maneiras que os eruditos naturalistas ou os filósofos, e mais tarde os antropólogos profissio-nais, utilizaram para tentar responder [...] empregando para tanto métodos cada vez mais inspirados na observação direta. Quando a antropologia se torna disciplina de ensino, já possui suas ramifica-ções, seus objetos e métodos (DORTIER, 2010, p. 559).

Fonte: o autor.

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geográfica e cronológica” (ABBAGNANO, 2012, p. 75), rompendo com o para-digma de que a civilização ocidental seria o ponto determinante dos quais as demais civilizações poderiam ser avaliadas. A Antropologia, atualmente, tem sido dividida em três grupos expostos por Abbagnano: exibição, que segundo ele seria: “a Antropologia põe-se em relação numa aparente submissão. Para um antropólogo desse tipo contam sobretudo as culturas particulares, suas caracterís-ticas peculiares e não repetíveis, sua individualidade histórica” (ABBAGNANO, 2012, p.76), a segunda seria organização, ramo da antropologia que recorre a noções como forma e estrutura para entender o homem. Segundo Abbagnano, os antropólogos da organização:

Recorreram a noções como “forma” e “estrutura”, além de “organiza-ção” [...], mais que a noção de “significado”, “vivência” [...] Organi-zar a multiplicidade implica em primeiro lugar dispor de esquemas tipológicos e de classificação da realidade, ou então passar de uma multiplicidade indefinida e relutante para um tratamento científico, para uma multiplicidade ordenada e governável (ABBAGNANO, 2012, p. 76).

Para estes antropólogos, então, a multiplicidade é indispensável para o homem e seus relacionamentos. Finalmente, ainda dentro da Antropologia, temos os adeptos ao conceito antropológico da superação, para estes, segundo Abbagnano: “a suplantação do plano da vivência (a marcha para a abstração) e o abandono dos significados para o indígenas de carne e osso são as objeções que lhe foram impostas” (ABBAGNANO, 2012, p. 77).

Como qualquer ramo do conhecimento atualmente, a Antropologia e seus métodos de averiguação (trabalho de campo, escrita, distanciamento e as esco-lhas temáticas) têm passado por contestações, afirmando ser necessária uma única Antropologia, mas segundo Dortier:

Interpretativa e narrativa, outros defendem uma abordagem refle-xiva das práticas antropológicas. [...] Essa crise epistemológica [...] nos Estados Unidos [...] não atingiu em profundidade a antropolo-gia européia, que foi mais marcada por transformações de objeto que de método ou escrita. Entretanto, em relação à teoria, nota-se que sua orientação exclusivamente sociológica foi superada por abor-dagens oriundas da psicologia cognitiva, ou ainda pela psicanálise (DORTIER, 2010, p. 663).

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Neste primeiro capítulo, procuramos trazer de forma bem resumida em que se constitui a Antropologia, bem como seu objeto de estudo, suas ramificações e seus dilemas atuais.

Nos próximos capítulos, traremos um olhar antropológico não a partir do homem, mas a partir da Bíblia Sagrada.

O HOMEM, SEGUNDO A BÍBLIA

No primeiro capítulo, procuramos, de forma resumida, mencionar as definições e os ramos da moderna antropologia. Neste, por sua vez, procuraremos expor o conceito bíblico em relação ao homem, ou seja, tendo como ponto de partida a Bíblia e não o homem, como os conceitos humanistas expostos anteriormente.

A seguir veremos o homem à luz do Antigo Testamento e depois será anali-sado homem sob o prisma do Novo Testamento, na perspectiva de Jesus Cristo e dos apóstolos.

A antropologia humana exalta a teoria da evolução das espécies, por meio do acaso e da chamada “seleção natural”. Antropologia Bíblica fundamen-ta-se na Palavra de Deus, que afirma categoricamente: “No princípio criou Deus os céus e a terra [...]. “E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” (Gn 1: 1 26). Esse é o ponto de partida, diante do qual o cristão, que crê na revelação divina, jamais tergiversará diante dos argumentos humanos, materialistas, contrários à fé em Deus.

Fonte: GILBERTO, A. et al (2008, p. 249).

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■ Antigo Testamento

Várias são as palavras hebraicas usadas no vernáculo original para nomear o substantivo, por isso se faz necessário verificar o contexto em que está inserida a palavra homem, em Gênesis capítulo 1: 26 e 27 vemos:

Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.

Analisando os versículos acima, encontramos a palavra homem, após o verbo no plural façamos encontramos o substantivo masculino: (אדם ’adam aw-dawm’), essa palavra, provavelmente, tem sua raiz derivada de uma outra palavra, cujo significado seria aplicada ao vermelho da cor humana, esta palavra, neste texto se aplica ao fato do homem, segundo Leonard J. Coppes: “Esta palavra se liga com o fato de o homem ter sido feito a imagem de Deus, a coroa da criação” (COPPES, 2005, p. 13), comentando estes textos a Torá, escreve:

Façamos o homem – Antigamente, era costume entre os reis e grandes personalidades empregar o plural majestático ao falar de si mesmo [...] o Midrash, porém comenta que Deus se aconselhou com os anjos sobre a conveniência de criar o homem ou não [...] à nossa imagem. Maimô-nides (1135-1204), em sua obra O Guia dos Perplexos, distingue dois conceitos: Tsélem (Forma) e Demut (Semelhança), de Tôar (Aspecto) e Tavnit (Configuração). Tôar Tavnit significam a figura material, en-quanto Tsélem e Demut a forma espiritual. A Torá, ao indicar Tsélem e Demut, define o espírito e nos confronta com um dos princípios bá-sicos do judaísmo. Não se pode elevar a Deus por intermédio da ma-téria. Tôar e Tavnit (Isaías 44: 13), e sim por meio do espírito. Tsélem e Demut. Somente assim o homem pode aproximar-se de Deus [...] á sua imagem - Com a imagem criada por Deus para formar o homem, o que não significa a imagem própria de Deus, pois Deus não tem forma alguma, como está explicado no terceiro dos treze princípios da fé de Maimônides. “Em lo demut baguf, veeno guf ” (Ele não tem nenhuma forma, é incorpóreo) [...] à imagem de Deus- O homem foi criado com uma semelhança espiritual de Deus (MELAMED, 2001, p. 03).

Segundo este texto, os judeus consideram o homem semelhante a Deus, no sen-tido de ter uma vida espiritual, pois possui alguns atributos que foram doados por Deus ao homem. Para os cristãos, está implícito o conceito da Trindade, como afirma Hoekema, em sua obra Criados à Imagem de Deus:

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A primeira coisa que nos impressiona quando examinamos Gênesis 1: 26, é que o verbo principal está no plural: “[...] Façamos o homem”. Isso indica que a criação do homem distingue-se do restante da criação, vis-to que esta linguagem não é usada com relação a qualquer outra cria-tura. Muitos eruditos têm tentado explicar o emprego do plural aqui. Alguns chamam de “plural de majestade”, uma possibilidade bastante remota, visto que tal plural não é encontrado em nenhum outro lugar da Escritura. Outros sugeriram que, nesse texto, Deus está dirigindo-se aos anjos. Também esta interpretação deve ser rejeitada, visto que ja-mais se fala de Deus tomando conselho com os anjos, os quais – sendo eles mesmos criaturas – não podem criar o homem feito à semelhança de anjos. [...] Embora não possamos dizer que temos aqui um ensino claro a respeito da Trindade, aprendemos que Deus existe como uma “pluralidade”. O que, aqui, apenas se vislumbra, o Novo Testamento mais tarde desenvolve na doutrina da Trindade. Deve-se notar também que a criação do homem foi precedida por uma deliberação ou con-selho divino [...] Isso demonstra novamente a idéia da singularidade da criação do homem. Esse conselho divino não é mencionado com relação a nenhuma outra criatura (HOEKEMA, 2010, p. 24).

Como vimos acima, Hoekema destaca o quão importante o homem significa para o Senhor e com um posicionamento bem diferente da interpretação judaica do texto. O teólogo reforça o conceito escriturístico, pautado pela coerência her-menêutica cristã, enfatizando o conceito de uma revelação progressiva em que Deus vai se revelando de acordo com a capacidade que o homem tem de com-preender esta revelação, apontando sempre para o ápice da revelação que é Jesus Cristo (Jo 1: 14-18; Hb 1: 1: 1-4).

Analisando as palavras: imagem e semelhança, em Gênesis 1: 26-27, em seu comentário Derek Kidner afirma:

As palavras imagem e semelhança se reforçam mutuamente; não cons-ta “e” entre as frases, e a Escritura não as emprega como expressões tecnicamente distintas, como querem alguns teólogos. Segundo estes, a “imagem” é a indelével constituição do homem como ser racional e como ser moralmente responsável e a “semelhança” é aquela harmo-nia com a vontade de Deus perdida na queda. A distinção existe, mas não coincide com estes termos. Depois da queda, ainda se diz que o homem é segundo a imagem de Deus (Gn 9: 6) e a Sua semelhança (Tg 3: 9). Nem por isso, se requer dele que se refaça “segundo a ima-gem de Deus que o criou” (Cl 3: 10; Ef 4: 24). Ver também Gn 3: 5: 1-3 (KIDNER, 1985, p. 48).

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Davi nos ensina no Salmo que o Senhor nos fez um pouco menor do que Ele mesmo. Diz o Salmo 8: 5: “Fizeste-o, no entanto, por um pouco, menor do que Deus e de glória e de honra o coroou., embora esta palavra Deus no original seja a palavra (אלהים ’elohiym), que pode ser traduzida por “deuses”, “governan-tes” e “anjos”. Entendemos que aqui Davi está expressando a importância que o homem tem para Deus. Sobre essa posição do homem diante do Senhor, narrada no Salmo 8, Davidson, no seu O Novo Comentário da Bíblia, afirma:

A meditação sobre o propósito essencial da criação, como revelada des-de a criação, evidencia uma particularidade tripla que eleva o homem do desprezível a uma posição de espantosa eminência. Ele foi criado por Deus como “um pouco menos do que os anjos” (Almeida) ou “me-nor do que Deus” (SBB) (5). O hebraico é Elohim. Esta imagem divi-na transmitida ao homem é acompanhada por certo atributos, glória e honra que torna o homem superior a todas as outras criaturas. Além disso, o mundo e a sua forma de vida têm sido postos sob a autoridade do homem (DAVIDSON, 1987, p. 506).

Davidson, nesse mesmo comentário sobre o salmo, afirma: “Deve notar-se que o Novo Testamento amplia este Salmo e interpreta--o também cristologicamente, Hebreus 2:5-9 cita a versão dos setenta [...], referindo-se profeticamente a Jesus. 1 Cor. 15: 27 interpreta este mesmo versículo, acerca de Cristo de um modo análogo” (DAVID-SON, 1987, p. 506).

No entanto, voltando ao nosso assunto em tela, fica evidente a relevância do homem, pois ele se constitui, segundo esse salmo, à obra prima da criação divina, esse substantivo deve ser distinguido de ish (sexo masculino), homem (’enowsh), (homem fraco), geber (homem como um nobre), sobre a posição do homem (’adam) em relação a Deus. Acerca da passagem de Gênesis 1: 26-27, o Dicionário de Teologia do Antigo Testamento, afirma:

No início de Gênesis o homem é distinto do restante da criação pelas se-guintes razões: ele foi criado por deliberação divina especial e solene (Gn 1: 26); sua criação foi um ato imediato de Deus; foi criado segundo o pro-tótipo divino; foi criado em dois elementos divinos (Gn 2:7); foi colocado em posição de exaltação (Gn. 1: 28), O propósito para com ele era ainda de uma posição superior (no sentido de posição permanente e completa). Por esta razão, o homem [...] é a coroa da criação. [...] ele é vice-regente

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[...] ’adam conota o homem à imagem de Deus nos seguinte aspectos: alma ou espírito (indicando à simplicidade, a espiritualidade, a invisibilidade e a imortalidade essenciais do homem) capacidade ou faculdades físicas (o intelecto e a vontade juntamente com as suas funções), integridade intelec-tual e moral (conhecimento, justiça e santidade verdadeiros), corpo (como órgão apropriado da alma que compartilha de sua imortalidade e como meio pelo qual o homem exerce o seu domínio) e domínio sobre a criação inferior. (COPPES, 2005, p. 13)

Segundo Coppes, o homem criado por Deus desfrutava de uma posição ele-vada diante de Deus e da criação, ele era um vice-regente ou arquétipo. Francis Schaeffer, também afirma, sobre esta posição elevada que o homem desfrutava, por ser a imagem e semelhança de Deus:

O homem está separado como pessoa, da natureza, porque ele é feito à imagem de Deus. Quer dizer: ele tem personalidade, e como tal ele é único na criação, mas ele está unido a todas as outras criaturas como ser criado (SCHAEFFER, 2003, p. 37).

Entretanto, ao pecar, o homem cai dessa posição diante de Deus, tornando-se pecador, mortal (física e espiritual), escravizado, fragilizado pelo pecado e sujeito aos poderes malignos. E a imagem de Deus, nele, ficou corrompida e desfigurada, pois o pecado afetou todas as faculdades do homem (moral, física e espiritual). Sobre esta queda e seus resultados no homem, Schaeffer, em seu livro O Deus que Intervém, escreveu:

O homem é capaz de galgar as grandes alturas e afundar-se profunda-mente na crueldade na tragédia. [...] O que envolve uma queda histó-rico-espaço-temporal? Significa que havia um período antes da queda; que, caso você estivesse lá, poderia ter visto Adão antes de cair; e que, no momento em que ele se revoltou contra Deus fazendo uma escolha própria e livre em desobedecer ao mandamento de Deus, houve um tic no relógio. Tire os três primeiros capítulos de Gênesis e você não po-derá manter uma posição verdadeiramente cristã, nem dar as respostas que o cristianismo dá (SCHAEFFER, 1985, p. 99).

Este homem, segundo Schaeffer, na condição de pecador, vive agora cheio de inquietações, angústias, medos, violências, injustiças e sujeito à toda sorte de males, sejam eles físicos, éticos e/ou espirituais, situações essas muito bem expres-sas na frase acima.

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O patriarca Jó realça, também. essa situação em que o homem vive, des-crevendo-a de maneira bem clara e certamente bem atual, no capítulo 14: 1-5, de seu livro:

O homem, nascido de mulher, vive breve tempo, cheio de inquietação. 2 Nasce como a flor e murcha; foge como a sombra e não permanece; 3 e sobre tal homem abres os olhos e o fazes entrar em juízo contigo?4 Quem da imundícia poderá tirar coisa pura? Ninguém! 5 Visto que os seus dias estão contados, contigo está o número dos seus meses; tu ao homem puseste limites além dos quais não passará (BÍBLIA, 2005. Jó 14.1-5).

Estamos finalizando esta parte de nossa disciplina em que analisamos o homem na perspectiva do Antigo Testamento e que, a nível de constituição humana, não enfatiza a divisão da alma em corpo, alma e espírito, como os gregos faziam. Sobre essa diferença o Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, escreve:

O AT não conhece nada que corresponda à divisão grega do homem em duas ou três partes, que consistem em nous, psychē e sōma (mente alma e corpo). Os seguintes conceitos indicam, num esboço de compa-rações aproximadas, diferentes aspectos do homem, sempre visto como um todo (VORLĀNDER, 1989, p. 376).

Não havendo essa distinção na vida humana, também no Antigo Testamento o homem é retratado, como um homem criado por Deus, com amor e com a capacidade de amar também, sem as corrupções no amor, como vemos hoje. Também o homem foi criado por Deus, com o propósito de louvar e adorar a Deus, criado como imagem e semelhança de Deus, termos estes que são sinô-nimos, como declara Hoekema (2010, p. 25), em Criados à Imagem de Deus: “O texto hebraico, [...] deixa claro que essencialmente, não há diferença entre ambas: “conforme a nossa semelhança” é apenas uma maneira diferente de dizer “à nossa imagem”. Louis Berkhof (1990, p. 203) também segue o mesmo princípio de Hoekema, diz ele em Teologia Sistemática: “As palavras “imagem” e “semelhança” são empregadas como sinônimos e uma pela outra e, portanto, não se referem a duas coisas diferentes.” Renovato (2008, p. 254), teólogo pente-costal, também defende este princípio afirmando, em seu texto Antropologia: A Doutrina do Homem, extraído da obra Teologia Sistemática Pentecostal, citando esta frase de Berkhof afirma: “Essa idéia corrobora nosso entendimento, acentu-ando que, em Gênesis 1:16, são empregadas as duas palavras, mas no versículo

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27, somente a primeira delas.” Derek Kidner, em seu comentário sobre Gênesis, também concorda com os posicionamentos de Hoekema, Berkhof e Renovato afirmando, que os termos analisados aqui, se constituem neste caso em sinôni-mos, diz ele em seu comentário sobre o livro de Gênesis:

Segundo a Bíblia, o homem constitui uma unidade; a ação, o pensa-mento e o sentimento em unidade com todo o seu ser. Então, este ser vivente e não alguma destilação dele emanada, é expressão ou trans-crição do criador eterno e incorpóreo de uma criatura [...] Enquanto humanos, somos, por definição, à imagem de Deus. Mas a semelhança espiritual [...] só pode estar presente onde Deus e o homem estiverem em comunhão; daí a queda destruiu, e nossa redenção torna criá-la e a aperfeiçoa. (KIDNER, 1985, p. 48)

Nesta afirmação de Kidner, percebe-se duas implicações: a primeira que enfatiza a unidade e integralidade do homem, e a segunda é que podemos contemplar a posição que o homem desfrutava diante de Deus. Sobre esta importância na criação do homem por Deus, mais uma vez citaremos o Dicionário de Teologia do Novo Testamento:

“Em ambas as narrativas da criação [...], a criação do homem é o ponto culminante. Em Gn 1 ele é a coroa da criação, em 2 ele é o ponto central da criação. Sua humanidade reside na vida que lhe foi outorgada (2: 7b), em sua correspondência a Deus.” (VORLĀNDER, 1989, p. 376)

Mas com o pecado da desobediência, passou a ser mau em sua essência, e desta forma age segundo os instintos que o conduzem, pois o pecado corrompeu esta imagem de Deus nele, tornando-o agora transitório, e toda a sua natureza, pois o homem, não foi feito apenas do pó da terra, e agora por causa do pecado, o corpo deste homem retornará a terra. Convém informar também que o pecado não apenas afetou o homem em seu relacionamento com Deus, afetou todas as áreas de relacionamento humano (semelhantes, natureza e criação), mas louvado seja o Senhor, ele providenciou o nosso resgate, nossa redenção, nosso cordeiro que tirou o pecado e que morreu por nós antes da fundação do mundo e que através de Seu Filho, e de sua vida e obra, nos garante a vida eterna, prometendo já em Gênesis 3: 15, um varão que viria e esmagaria a cabeça da serpente e que a partir deste varão, viria outra descendência, nós o Seu povo, de sua exclusiva proprie-dade, diz Gênesis: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência

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e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”. e con-sumada esta obra em Apocalipse 13: 4-5; nossa redenção, e com estes versículos finalizamos esta parte de nossa pesquisa:

“A sua cauda arrastava a terça parte das estrelas do céu, as quais lançou para a terra; e o dragão se deteve em frente da mulher que estava para dar à luz, a fim de lhe devorar o filho quando nascesse. 5 Nasceu-lhe, pois, um filho varão, que há de reger todas as nações com cetro de ferro. E o seu filho foi arrebatado para Deus até ao seu trono. (BÍBLIA, 2005. Apocalipse 13.4-5)

Veremos abaixo o conceito do homem nas páginas do Novo Testamento.

■ Nos Evangelhos:

Vimos no Antigo Testamento que após a queda a imagem de Deus no homem ficou deformada pelo pecado, o Novo Testamento também enfatiza esta questão do pecado em textos, como por exemplo, em Romanos 7: 7-25, onde Paulo afirma que por mais que quisesse sempre teria que lutar para realizar o bem, eviden-ciando assim a realidade de que o homem necessita da redenção. Nos evangelhos, Jesus ao chamar-se de filho do homem (ανθρωπος anthropos) está se identifi-cando como ser humano expressando, desta forma, a sua verdadeira humanidade.

Segundo o Léxico Grego de Strong este substantivo masculino, homem, traz consigo os seguintes significados no Novo Testamento: “[...] um ser humano; 1) um ser humano, seja homem ou mulher; 1a) genericamente, inclui todos os indivíduos humanos; 1b) para distinguir humanos de seres de outra espé-cie; 1b1) de animais e plantas; 1b2) de Deus e Cristo; 1b3) dos anjos; 1c) com a noção adicionada de fraqueza, pela qual o homem é conduzido ao erro ou induzido a pecar; 1d) com a noção adjunta de desprezo ou piedade desde-nhosa; 1e) com referência as duas natureza do homem, corpo e alma; 1f ) com referência à dupla natureza do homem, o ser corrupto e o homem verdadei-ramente cristão, que se conforma à natureza de Deus; 1g) com referência ao sexo, um homem; 2) de forma indefinida, alguém, um homem, um indivíduo; 3) no plural, povo; 4) associada com outras palavras, ex. homem de negócios.

Fonte: Strong (2005).

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O Homem, Segundo a Bíblia

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Alguns fatores que são retratados como fundamentais nos evangelhos, e que des-taco aqui, se referem à obediência como fator decisivo nos evangelhos:

a) o homem como um ser criado por Deus, deve ao Seu Criador submissão (Mt 16:24) e submissão sem esperar nada em troca ou recompensa (Lc 17: 18);

b) da chamada universal feita por Cristo ao arrependimento, pois todos são identificados como pecadores (Mt 6: 12; Mc 1: 15; 5: 45; 9: 13; Lc 15: 7);

c) uma chamada à humildade, pois aos tais pertencem o Reino dos Céus (Mt 5: 3), bem como, um chamado a praticar as virtudes expressas nas bens aventuranças.

Finalmente Jesus afirma que veio a este mundo buscar e salvar o que se havia perdido (Lc 19: 10), veio também como a verdadeira luz que vinda ao mundo ilumina a todo o homem (Jo 1: 9) e também veio par destruir as todas as obras do Diabo (1 Jo 3: 8). Abaixo veremos o homem no conceito Paulino.

■ Paulo:

Paulo, como o grande sistematizador do novo Testamento, também vê o homem como pecador (Rm 3: 23), morto espiritualmente (Rm 6: 23; Ef 2: 1-2); rebelde e condenado (Rm 1: 21), sua incapacidade de fazer o bem (Rm 7: 18-19), somente Cristo pode remir o homem e torná-lo novo (2 Co 5: 17), pois ele é o segundo Adão (Rm 5: 9), tornando-o livre (Rm 8:3), comentando o papel de Cristo, como segundo Adão, J. D. Douglas, afirma:

Jesus Cristo é a verdadeira imagem de Deus (Cl 1: 15; 2 Co 4: 4) e assim sendo é o verdadeiro Homem (Jo 19: 5). Ele é tanto o indivíduo único como o representante inclusivo da raça humana, e Sua realização e vitó-ria significam liberdade e vida para toda a humanidade (Rm 5: 12-21). Ele cumpre a aliança mediante a qual Deus proporciona ao homem seu verdadeiro destino. Em Cristo, mediante a fé o homem percebe que é transformado na imagem de Deus (2 Co 3: 18) e pode esperam confian-temente plena conformidade com sua imagem (Rm 8: 29) por ocasião da manifestação final de Sua glória ( 1 Jo 3: 2). Ao “revestir-se” dessa imagem pela fé ele deve agora despir-se pelo “velho homem” (Ef. 4: 24; Cl 3: 9), que parece subentender outra renúncia da idéia de que a ima-gem de Deus pode ser reputada como algo inerente ao homem natural, embora até mesmo o homem natural deva ser considerado como ser criado à imagem de Deus. (DOUGLAS, 1988, p. 721)

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Como vimos acima, Paulo nos ensina que nossa velha natureza corrompida sem Cristo é morta em seus delitos e pecados sendo desta forma condenada, mas através de Cristo, o segundo Adão perfeito e sem pecado, somos resgatados e redimidos do estado de pecado e ao recebermos sua graça, Ele começa a ope-rar em nós através da ação de Seu Santo Espírito o processo de santificação, nos limpando e nos purificando, para uma viva esperança, processo esse que começa aqui na terra e que se consuma na glória, até termos formados em nós à ima-gem de Seu Filho, até a estatura do varão perfeito que é Cristo. Abaixo veremos antropologia bíblica na concepção do apóstolo João:

■ João

Em sua visão do homem, João o retrata como alguém dominado pelo mundo, mundo aqui não entendido como planeta, mas antes, como um sistema que é oposto a Deus e que é gerido pelo príncipe deste mundo e deus deste século (Jo 8: 41-47; Ef 2:1-3; Jo 1: 10; 2: 22; 5: 10; Ap 2: 2), Jesus ao vir ao mundo confronta o homem para uma tomada de posição, levando o homem a se posicionar em questão de escolher se deseja ou não nascer de novo, pois não consegue agradar a Deus e ao mundo, não se consegue amar a Deus e ao mundo, pois ambos exigem lealdade incondicional e total (Jo 3: 3; 8: 47; 1 Jo 4:5; Jo 5: 24; Jo 6: 44 6; 12: 32), para João, o homem só pode ser liberto através de Cristo, pois, Cristo é o caminho, a verdade e a vida e conhecendo o Filho, o homem passa a ter vida, conhecendo a Verdade que é o Filho, o homem é liberto por ela (Jo 8: 32, 36, comentando a antropologia na pers-pectiva do apóstolo João, Vorlānder afirma: “[...] o homem total é libertado mediante Jesus (Jo 8:31 e segs), e assim obtêm a vida (5: 24; 11: 25-26).” (VORLĀNDER, 1989, p.378)

Resumindo, vimos neste capítulo que tanto o Antigo Testamento quanto o Novo Testamento sustentam que o homem, foi criado à imagem de Deus e que esta imagem foi corrompida e deformada pelo pecado, sendo este pecado transmitido a nós por Adão, por ser ele o representante da raça humana, mas ao vir Cristo, o segundo Adão que não pecou e viveu uma vida de total obe-diência e de santidade plena diante de Deus, do homem, do mundo e também diante dos demônios, Ele, Cristo, venceu e assim o que não podíamos fazer,

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Ele fez por nós e, assim nos lavou, santificou e, assim nos tornou aceitáveis diante de Deus, fazendo-nos seus filhos, nós que o recebemos. (Jo 1:12-13).

No próximo capítulo de nosso estudo veremos a natureza constitutiva do homem, bem como os principais conceitos que a definem.

ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA NATUREZA HUMANA

No capítulo anterior vimos o homem na perspectiva bíblica contemplando tanto o Antigo quanto o Novo Testamento. Neste veremos o que constitui o homem, segundo a Palavra de Deus. Tal assunto sempre foi cercado por discussões aca-loradas e cada um a defende com viva paixão, embora possamos emitir nosso posicionamento pessoal, optamos em apenas expor os princípios e deixar você escolher a posição que julgar melhor. Abaixo, veremos os conceitos mais comuns que são abordados dentro da Antropologia Bíblica.

■ Tricotomia:

Influenciada pela visão grega do homem que o separa entre corpo (Soma), Alma (Psique) e Espírito (Pneuma). Para estes o corpo se constitui na parte material do ser humano, a alma se constitui na parte correspondente aos sentimentos,

“Que é o homem, que dele te lembres? E o filho do homem, que o visites?”

Fonte: Livro de Salmos 8.4 NVI

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volições e a racionalidade do ser, ou seja, a parte imaterial do ser humano, o espí-rito é o que o conecta com Deus, segundo este conceito, Revonato (2008, p. 271) explica: “O espírito é a parte imaterial do homem, que juntamente com a alma, forma “o homem interior”. Antes da queda estes três componentes funcionavam adequadamente, com o pecado o corpo sofreu a corrupção corporal (doenças, envelhecimento, dores e morte física), a alma sofreu a corrupção também, com toda a sorte de males (violência, crueldade, vícios, promiscuidade, guerras e todas as doenças da alma), o espírito, em conseqüência da queda, está morto, pois o homem por causa do pecado está afastado de Deus, morto em seus deli-tos e pecados. Os textos bíblicos que servem de fundamento para esta concepção encontram-se em Hebreus 4: 12 e 1 Tessalonicenses 5: 23, sobre a Tricotomia, Márcio Falcão escreve:

A concepção tricotômica do homem se tornou particularmente di-fundida entre os pais alexandrinos dos primeiros séculos da Igreja. Embora as formas variem um pouco, o tricotomismo é encontrado em Clemente de Alexandria, Orígenes e Gregório de Nissa. (FAL-CÃO, 2012, p. 430)

■ Dicotomia

Segundo o conceito dicotômico, o homem é constituído de duas partes dis-tintas, corpo e alma, não havendo distinção entre corpo e alma, formando os dois um único elemento. Este princípio foi amplamente difundido pelos pais latinos, mas segundo Berkhof, o princípio dicotômico fortaleceu-se com Agostinho: “Na igreja latina, os principais teólogos apoiavam, diversamente, a dupla divisão da natureza humana. Foi especialmente a psicologia de Agostinho que deu proeminência a este modo de ver. Durante a Idade Média, era objeto de crença comum. A Reforma não trouxe mudança alguma (BERKHOF, 1990, pp. 191-192)”, quanto a crença de que o homem é constituído de corpo e alma, sobre isto afirma Agostinho, conforme Boehner e Gilson (2012, p. 180): “[...] o homem se compõem de alma e corpo, graças a uma estreita união entre estes dois componentes, e que só o ser assim composto merece o nome de homem” (BOEHNER; GILSON, 2012). Abaixo veremos a visão mais atual e que tem ganhado mais adeptos.

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■ Integralista

Estes entendem e defendem que o homem seja constituído de alma e corpo e espírito, mas que o homem não pode ser separado em três ou em duas partes, pois ele se constitui num organismo e numa pessoa, embora Berkhof se posi-cione como um dicotomista ele afirma sobre a unidade da natureza humana:

“De um lado, a Bíblia nos ensina a ver a natureza do homem como uma unidade [...]. Cada ato do homem é visto como um ato do homem todo. Não é a alma, e, sim, o homem que peca; não é o corpo, e, sim, o homem que morre; e não é meramente a alma, e, sim, o homem, corpo e alma, que é redimido em Cristo.” (BERKHOF, 1990, p. 192).

Abaixo veremos os elementos (corpo, alma e espírito) que constituem o homem separadamente:

■ Alma humana

Na parte anterior de nosso estudo vimos as principais correntes (Tricotomia e Dicotomia), e suas concepções em relação, à natureza humana, aqui nesta seção veremos a alma, que é eterna e indestrutível e o corpo (perecível e mortal) e o espírito (também eterno).

A Palavra de Deus, em Gênesis 2:7, afirma que Deus formou o homem do pó da terra e soprou nele o seu fôlego de vida, passando daí o homem a ser alma vivente, analisando este versículo surge uma pergunta de grande relevância para a antropologia bíblica no que concerne a alma e os elementos que a compõem.

Em toda sua história o cristianismo sempre se deparou com a questão apre-sentada acima, e na busca de entender a complexidade que a envolve buscaram a partir da filosofia, seja ela platônica ou aristotélica explicar a complexidade do corpo, alma (hebraico: nefesh, grego: psiquê e a singularidade do nous (grego), abaixo apresentaremos algumas idéias que se desenvolveram na busca de uma explicação plausível no que tange a alma

■ Preexistencialismo:

Princípio que ensina que as almas humanas foram criadas antes do corpo e fica-vam armazenadas numa espécie de depósito sendo posteriormente liberadas para os corpos humanos no momento da concepção, tal princípio foi exposto

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por Orígenes, Scotus, para eles os pecados e as desigualdades da vida são decor-rência dos pecados cometidos numa existência anterior, tal teoria por si só é flagrantemente contrária aos princípios bíblicos, além de ter em sua essência ele-mentos pagãos que ensinam o dualismo filosófico (matéria má e espírito bom).

■ Traducionismo:

Segundo este princípio, as almas são reproduzidas pelos pais nos filhos no ato da concepção, seus defensores foram: Tertuliano, Gregório de Nissa e Agostinho e pelos luteranos, entre os calvinistas, poderíamos citar: Jonathan Edwards, A. H;. Strong e Shedd, sua base bíblica encontra-se no fato de que segundo eles, Deus soprou no homem o fôlego de vida e a partir do homem toda a espécie humana foi reprodu-zida e que todos os descendentes procedem de seus pais, sua dificuldade consiste em explicar, por exemplo, como o pecado de Adão não contaminou a alma de Cristo.

■ Criacionismo:

Segundo este conceito, cada alma é considerada como uma criação imediata de Deus, no ato da concepção, sendo unida ao corpo neste momento, pois, segundo eles: “[...] a alma não provém dos pais, mas é criada para cada indivíduo que vem ao mudo.” (CLARK, 1988, p. 176). Agostinho no fim de seus dias, segundo Boehner e Gilson, inclinou-e para este principio, dizem eles: “Agostinho per-maneceu indeciso quanto à origem da alma, embora se possa afirmar que por fim propendeu para o chamado criacionismo.” (BOEHNER; GILSON, 2012, p. 181), Calvino segundo Berkhof também se posicionava a favor desse princípio, afirma ele, comentando Gênesis 3: 16: “Tampouco é necessário lançar mão da antiga ficção de certos escritores, de que as almas derivadas dos nossos primei-ros pais.” (CALVINO, apud in: BERKHOF, 1990, p. 197).

■ Nous:

Embora, esta palavra possa ser traduzida por razão, intelecto, seu significado é bastante complexo, Platão a definia como aquilo: “[...] que confere limites, ordem e medida às coisas.” (ABBAGNANO, 2012, p. 655), para Gregório o nous humano era uma espécie de centelha divina no homem, pois isto o diferenciava dos demais seres vivos, sobre isto Boehner e Gilson escrevem:

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No diálogo com Macrina, Gregório procurar dar a prova da ressurrei-ção corporal do homem. Tal prova é possível na suposição de se poder verificar a presença de um “Nous” no corpo humano, do mesmo modo que se pode provar a presença de Deus no mundo. [...] a alma ou nous humano é inseparável do corpo por ela habitado e informado, ainda mesmo que ele se decomponha de seus elementos. (BOEHNER; GIL-SON, 2012, p. 97)

Como podemos ver nesta frase acima, Gregório sustentava o que os filósofos gregos entendiam sobre a mente, a razão, pensamento e intelecto e inteligência, pois para eles tais características foram concedidas divinamente para os homens, na Idade Média, Tomás de Aquino além de sustentar este princípio também dis-tinguia o pensamento e o intelecto dos sentimentos, pois para ele, o intelecto consistia num: “[...] certo conhecimento íntimo [...] o conhecimento sensível concerne às qualidades sensíveis externas; o conhecimento intelectivo penetra até a essência do ser” (ABBAGNANO, 2012, p. 656)

■ Corpo:

Durante muito tempo o corpo humano, foi considerado pecaminoso e mais vol-tadas às coisas da carne, uma heresia conhecida como gnosticismo ensinava este princípio o espírito era bom e a matéria (corpo) era mau, pois foi criado por um ser denominado demiurgo, uma espécie de semideus que falhou ao criar o homem, sobre o gnosticismo Walker escreve que esta corrente filosófica nasceu em um: “[...] mundo urbano no qual símbolos e textos judaicos estavam sendo arrastados em sincretismo com noções e temas filosóficos popularizados, retirados da reli-gião judaica.” (WALKER, 2006, p. 75.), sendo muito comum a prática da ascese, que segundo Abbagnano, seria a: “[...] mortificação da carne e a purgação dos vínculos com o corpo.” (ABBAGNANO, 2012, p. 94), mas com o passar do tempo o corpo foi adquirindo um conceito mais próximo do seu real significado bíblico, pois segundo o apóstolo Paulo, o corpo é Templo do Espírito Santo (1 Co 3: 16-17; 6: 19; 2 Co 6: 16) e após nossa ressurreição ou no arrebatamento teremos um corpo glorificado, livre da contaminação do pecado, incorruptível e santificado (1 Co 15: 58), contrá-rio deste corpo terreno, que é afetado e contaminado pelo pecado (Rm 6: 6 12-14) que é mortal (Rm 5:12), sujeito também à doenças, também ao envelhecimento e às doenças que desenvolvidas na alma afetam o corpo, tais como: ansiedade e depressão.

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Finalizando este nosso capítulo, pudemos analisar as partes que consti-tuem a natureza humana (Corpo e Alma) e as teorias que tentam entender a natureza humana (Tricotomia, Dicotomia e Integralista) e a origem da alma (Preexistencialismo, Traducionismo e Criacionismo) e finalmente vimos o Corpo e sua importância na Palavra de Deus.

No próximo capítulo veremos algumas concepções relacionadas à queda ocasionada pelo pecado e suas consequências na vida humana.

A QUEDA E SUAS CONSEQUÊNCIAS

No capítulo anterior vimos os elementos que compõem a natureza humana e as escolas de pensamentos que têm tentado entender a origem e suas partes constituintes, nesta etapa veremos a queda ocasionada pelo pecado e sua con-sequência na vida humana.Estudar este assunto do pecado e suas consequências sempre foi uma tarefa e tanto para o estudioso das Sagradas Escrituras, pois a Bíblia não nos fornece muitos detalhes sobre o assunto, tal fato deve-se ao fato de não termos definidos clara-mente a presença e origem do mal no mundo, e a responsabilidade humana e como isso se harmoniza com a soberania divina, sobre esta dificuldade de con-ciliação, McGrath afirma:

Um grande problema de relacionamento a doutrina de Deus concen-tra-se em torno da presença do mal no mundo. Como podemos conci-liar a presença do mal ou do sofrimento com a declaração cristã sobre a bondade de Deus que criou o mundo? (McGRATH, 2014, p. 344)

Tal dificuldade sempre se constitui num obstáculo a ser vencido, pelo estudioso das Escrituras.

Nesta primeira parte de nosso capítulo apresentaremos algumas escolas de pensamento e seus expositores que analisaram a queda e suas consequências na vida o homem.

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A Queda e suas Consequências

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■ Protestantismo Liberal:

Poderíamos definir o liberalismo teológico como:[...] o esforço por interpretar, reformular e explicar a fé cristã dentro de uma perspectiva iluminista. [...] A teologia liberal tem suas raízes finca-das sobre o desenvolvimento da Ciência Moderna e os pressupostos da Filosofia Moderna, os quais encontraram a sua síntese no Iluminismo. (COSTA, 2004, p. 285).

Stanley Gundry endossa as palavras de Hermisten Costa afirmando: “Segundo a definição mais ampla possível, o liberalismo religioso foi o esforço no sentido de reformular a fé cristã em harmonia com o iluminismo, e a partir das perspectivas do iluminismo.” (GUNDRY, 1983, p. 17), acreditando que a humanidade seria capaz de crescer e prosperar, fundamentada na estabilidade cultural que na época se reve-lava na Europa, sobre este período e sua influência sobre a fé e a religião, Alister McGrath, em seu livro: Fundamentos do Diálogo entre Ciência e Religião escreve:

O liberalismo inspirou-se na visão da humanidade capaz de ascender a novos patamares de progresso e prosperidade. A doutrina da evolução deu nova vitalidade a essa crença, nutrida que era pela forte evidência de estabilidade cultural na Europa ocidental da última parte do século XIX. A religião relacionava-se com as necessidades espirituais da humanidade moderna e dava orientação ética á sociedade (McGRATH, 2005, p.49)

Como se vê, nesta frase, o liberalismo teológico impulsionado por este excessivo otimismo humanista, cria que a fé e a teologia e as Escrituras Sagradas, princí-pios fundamentais tais como a Inspiração e Inerrância bíblica, passaram a serem reformuladas e analisadas, sob a luz deste conhecimento adquirido:

O protestantismo liberal clássico surgiu na metade do Século XIX, na Alemanha, em meio à crescente percepção de que a fé e a teologia cris-tãs necessitavam ambas ser revistas à luz do conhecimento moderno. (McGRATH, 2014, p. 138)

“Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?”

Fonte: Paulo aos Romanos 7: 24

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ANTROPOLOGIA BÍBLICA

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E a partir disso o Reino de Deus seria estabelecido na terra e, tudo que soasse diferente disso deveria ser descartado ou reinterpretado e considerado como um mito religioso.

Paul Tillich, um teólogo prussiano, considerado um dos grandes teólogos liberais e exilando-se nos Estados Unidos, pois fora perseguido pela Alemanha Nazista, analisando Gênesis entendeu que Adão, e a queda constituam-se em símbolos da humanidade e de sua perversidade, diz Tillich:

O símbolo da “Queda” é uma parte decisiva da tradição cristã. Embora seja associado com a história bíblica da “Queda de Adão”, seu sentido transcende o mito da Queda de Adão e adquire significado antropo-lógico universal. O literalismo bíblico prestou um nítido desserviço ao cristianismo em sua identificação da ênfase cristã sobre o símbo-lo da queda com a interpretação literalista de Gênesis. A teologia não necessita tomar o literalismo a sério, mas devemos perceber o quanto seu impacto prejudicou a tarefa apologética da igreja cristã. A teologia deve representar claramente e sem ambigüidade “a Queda” como um símbolo para a situação humana universal, e não como a história de um evento que aconteceu “há muito tempo atrás. (TILLICH, 1984, 266)

Hermisten Maia Pereira da Costa citando Paul Feinberg ao definir Inerrân-cia, afirma: A Inerrância é o ponto de vista de que, quando todos os fatos forem conhecidos, demonstrarão que a Bíblia, nos seus autógrafos originais, e corretamente interpretados, é inteiramente verdadeira, e nunca falsa, em tudo quanto afirma, quer no tocante à doutrina e à ética, quer no tocante às ciências sociais, físicas ou biológicas.” (COSTA, 2008, p.71)

Sobre a importância da inerrância, Hermisten Costa, afirma:

“[...] uma igreja que não aceita a inerrância plena das Escrituras terá seriíssimas dificuldades em sustentar uma doutrina bíblica coeren-te. Como poderemos manter de maneira honesta uma doutrina bíblica diante da possibilidade dessa mesma bíblia que ampara a nossa teologia conter erros?” (COSTA, 2008, p.77)

Fonte: COSTA, Hermisten M. P. A Inspiração E Inerrância Das Escrituras; Uma Perspectiva Reformada. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2008, p. 71 e 77.

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Como podemos ver nesta frase de Tillich, a queda não foi algo literal, não foi um fato ocorrido na história humana, mas se constitui num mito que representa a raça humana e suas tragédias, percebemos o quanto Tillich tenta harmonizar a fé cristã e seus dogmas, junto à ciência, visto que para ele, Adão, a queda, o pecado se constituíam em mitos, analisando a perspectiva teológica do libera-lismo nos Séculos XIX e XX, Tillich, escreve:

Ataca- se com mais furor a idéia de pecado original. É claro que havia a crítica justificável da maneira justificável da maneira supersticiosa e lite-ralista como essa doutrina era pregada em conexão com a estória do Pa-raíso. [...] O medo da morte, é na verdade, o medo do inferno. Por isso esse conceito foi abandonado. Desapareceu o seu sentido simbólico. Em conseqüência, também desapareceu o seu oposto, não só o símbolo mi-tológico do céu, mas também a idéia da graça. A ação da graça vem de fora das atividades autônomas do homem [...] . (TILLICH, 1986, p. 65).

Em relação ao papel de Cristo, na redenção humana, Tillich, entendia que se cons-tituía num mito o ensino de Cristo, como o segundo Adão, observe este princípio extraído de sua obra: Teologia Sistemática: “[...] interpretações teológicas do mito do paraíso que atribuem a Adão as perfeições de Cristo [...] (TILLICH, 1984, p. 618), para ele o mundo é regido pelo mal e encontra-se alienado de Deus, e o papel de Cristo é consiste em conquistar novamente este mundo mal simbolizado na Bíblia por poderes espirituais do mal, veja abaixo este princípio nesta frase:

O cristianismo afirma que Jesus é o Cristo. O termo “o Cristo” aponta, por marcado contraste, para a situação existencial do homem. Pois o Cristo, o Messias é aquele que deve trazer [...] a regeneração universal, a nova realidade. [...] Este mundo alienado é regido por estruturas de mal, simbolizadas como poderes demoníacos. Eles regem as almas in-dividuais, as nações, e até mesmo a natureza. Eles produzem ansiedade em todas as suas formas. É tarefa do Messias conquistá-los e estabelecer uma nova realidade, da qual os poderes demoníacos ou as estruturas de destruição sejam excluídos. (TILLICH, 1984, p. 264)

Analisando o ensino bíblico sobre o pecado e o perdão, ele afirma, entre outras coisas que perdão serve para acalmar uma consciência culpada:

Pecado é um ato privado de ferir alguém que facilmente perdoa. [...] A consciência da culpa não pode ser superada pela simples confirmação de que o homem é perdoado. O homem só pode crer no perdão se a justiça for mantida e a culpa confirmada. Deus deve permanecer Senhor e Juiz apesar do poder reunificador do seu amor (TILLICH, 1984, pp. 240-241)

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Sobre a liberdade humana, ele comenta que é uma característica somente das criaturas racionais, veja esta fase dele:

o homem é homem porque tem liberdade. [...] Liberdade não é a liber-dade de uma função (a “vontade”), mas do homem, isto é, daquele ser que não é uma coisa, mas um eu completo, uma pessoa racional. [...] A liberdade é experimentada com deliberação, decisão e responsabilida-de (TILLICH, 1984, 156-158).

Várias foram as consequências do liberalismo teológico. Em sua análise das Escrituras, ele reduziu a figura de Jesus a um mero homem agradável e generoso e não o filho de Deus, reduziu a Bíblia há um livro humano, cheio de mitos, o pecado não era visto como uma afronta a Deus, ou à sua von-tade, mas era visto como um mal social e a expiação de Cristo, reduziu-se à uma mera aceitação psicológica. Resumindo: o liberalismo teológico foi uma tentativa de se adequar a fé cristã e a Bíblia as normas científicas e ao racionalismo humano, sobre o liberalismo teológico, Gundry escreveu: “O evangelho do liberalismo foi rejeitado como sendo um evangelho sem ira, uma cruz sem julgamento, e uma ressurreição em que nenhum selo romano foi quebrado.” (GUNDRY, 1983, p. 36).

Como uma resposta ao liberalismo teológico, que reduziu a religião cristã há uma mera experiência religiosa interior de sentimentos e uma tentativa de harmonizar a fé cristã e a ciência, surgiu a Nova Ortodoxia que tentou restaurar o papel da fé, da Bíblia e de Cristo na teologia, mas como estamos escrevendo sobre a antropologia bíblica nos ateremos de forma resumida ao espaço conce-dido pela nova ortodoxia ao homem e sua natureza.

■ Nova Ortodoxia:

Como falamos acima, motivado pelo otimismo e pela crença no desenvolvimento científico, o liberalismo teológico fundamentado nesta conjunção de otimismo humanista mais razão, sofreu um duro golpe com a Primeira Guerra Mundial, a partir disso alguns teólogos como Reinhold Niebuhr (americano) desenvolveram um novo conceito em analisar a Bíblia, que ficou conhecido como nova ortodo-xia protestante, pois procurou responder à crise em que mergulhara o liberalismo

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teológico, ocasionado pelo conflito bélico mundial, outra questão que precisava ser revista, foi o fato de o liberalismo teológico ter transformado o cristianismo apenas numa filosofia de vida banindo o sobrenatural e os milagres de sua fé. Seu grande expoente foi Karl Barth (1886-1968), teólogo de origem reformada, considerado um dos maiores teólogos do Século XX, duas grandes obras sua influenciaram em muito a teologia protestante, seu comentário sobre a epístola de Paulo aos Romanos (1919) trouxe à luz o conceito de que Deus é o totalmente outro e que só pode ser conhecido a partir dele mesmo, sua Dogmática Cristã, Barth defende que a chave para se entender as Escrituras de Deus era a pessoa de Jesus Cristo, Jesus era para o teólogo a chave hermenêutica, sobre este con-ceito teológico, McGrath escreve:

[...] a teologia é uma disciplina que busca manter a fidelidade da pro-clamação feita pela igreja cristã, no que diz respeito a seu fundamento em Jesus Cristo, de acordo com o que tem sido revelado nas Escrituras (McGRATH, 2014, p. 145).

Em relação à Inspiração, Barth fez uma distinção entre Inspiração Verbal, que seria a Palavra de Deus e a Inspiração Literal, que deveria ser rejeitada, mas tem o seu valor, pois, aponta para Deus, daí criar-se o conceito de que a Bíblia con-tém a Palavra de Deus, para ele a crença nas Escrituras era uma questão de fé.

Em seus escritos percebe-se que para o teólogo suíço só podemos conhe-cer a nós mesmos se conhecermos Jesus Cristo, sobre este posicionamento, J. D. Douglas escreve:

Karl Barth, ao formular sua doutrina do homem, escolheu uma vereda diferente daquela seguida pela tradição da Igreja Não podemos conhe-cer o verdadeiro homem enquanto não o conhecermos em e através de Cristo; por conseguinte precisamos descobrir o homem é somente através daquilo que achamos que Jesus Cristo é no Evangelho. Não de-vemos tomar o pecado mais a sério do que a graça, pelo que devemos recusar-nos a considerar o que o homem não é mais aquele que foi feito por Deus. O pecado cria as condições sobre as quais Deus age, mas não altera a estrutura do ser do homem que quando olhamos para Jesus Cristo, em relação aos homens e à humanidade, não possamos ver dentro da vida humana relações análogas que demonstram uma forma básica de humanidade correspondente e semelhante à divina do homem (DOUGLAS, 1988, p. 722).

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Em sua cristologia Barth defende o pressuposto que Deus agiu e se revelou em Jesus Cristo, Jesus, para ele consistia na obra e palavra de Deus, vemos este prin-cípio em sua obra denominada: Introdução à Teologia Evangélica:

afirmamos tudo isto simplesmente em vista do fato de que o Deus do evangelho é o Deus que agiu e que se revelou em Jesus Cristo. Ele é obra e palavra de Deus. [...] Em sua pessoa aconteceu que Adão – e antes de todos e antes de tudo, o Adão piedoso, douto e sábio – foi revelado transgressor, foi desvendado em sua nudez, foi condenado e açoitado, crucificado e morto. No evento deste juízo [...] a tempestade desta ame-aça radical, a angústia da solidão, da dúvida, da provação; tudo isto o abalou de tal forma como nunca abalou homem algum, nem antes, nem depois dele (BARTH, 1981, pp. 90-91).

Outro teólogo alinhado com a nova ortodoxia, Emil Brunner (1889-1966), em seus escritos defendeu que a queda não afetou todas as faculdades humanas man-tendo assim traços da imagem de Deus nele, sobre o conceito do imago dei, J. D. Douglas escreve que Brunner:

[...] tem tentado usar o conceito do imago “formal” que consiste da presente estrutura do ser do homem, baseada sobre a lei. Isso não foi perdido por ocasião da queda, e é um ponto de contato para o Evange-lho. É um aspecto de uma natureza teológica unificada do homem que até mesmo em sua perversão revela traços da imagem de Deus (DOU-GLAS, 1988, p. 721).

Após vermos os conceitos teológicos liberais e os pressupostos barthianos em relação a Deus, Jesus, a Queda e a Bíblia veremos abaixo a posição conservadora em relação à queda e suas conseqüências no homem.

■ Posição Conservadora:

Segundo a Bíblia, o homem, bem como a humanidade é fruto da criação divina (Gn 1: 26,27; Sl 8: 2; At 17: 26-28), existimos porque Deus nos criou (Gn 5:1; Sl 139; Mt 19:4; Tg 3: 9; 1 Pe 4: 19), Deus nos fez seres físicos e espirituais, com capacidade para exercer o governo e o domínio sobre a terra, sobre este poder sobra à criação, Bruce Milne, em seu livro: Conheça a Verdade, escreve:

na criação, a humanidade foi investida por Deus de uma dignidade es-pecial, recebendo o governo do mundo sob o controle de Deus, sendo chamada para possuí-lo e sujeitá-lo, assim como para dominar sobre as demais criaturas [...]. Nossa decadência presente não deve cegar-nos para nossa exaltação e dignidade originais (MILNE, 1987, p. 93).

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Antes da queda o homem vivia em perfeito equilíbrio, com Deus, a natureza e consigo mesmo, sua estrutura física era sadia, havia uma pureza que foi conhecida como estado de inocência, não havia malícia, violência, morte, injustiças e escravidão.

Outra questão a se considerar é que neste estado de inocência o homem também possuía liberdade para não pecar (posso non pecare), sobre esta ques-tão Agostinho escreve:

Deus criou o homem também com o dom da liberdade e, embora des-conhecendo sua futura queda, era feliz, visto que percebia estar em suas mãos o não morrer e não se tornar infeliz. Se tivesse querido permane-cer neste estado de retidão e inocência fazendo bom uso de sua liber-dade, sem experimentar a morte e a desgraça, receberia a plenitude da felicidade igual à dos santos anjos, ou seja, jamais poderia cair e disso teria absoluta certeza (AGOSTINHO, 2014, p. 144).

Neste comentário de Agostinho fica evidente que a liberdade que o homem possuía era autônoma, mas não isenta de responsabilidades, dentre elas as con-sequências de seu pecado.

Embora você que está estudando conosco terá uma disciplina que tratará exclusivamente do tema: Harmatologia, ou a Doutrina Bíblica, necessário se faz aqui resumidamente definir pecado à luz da Bíblia e que se constitui na: “[...] violação daquilo que é exigido da nossa parte pela glória de Deus e, por con-seguinte em sua essência, é a contradição contra Deus” (DOUGLAS, 1988, p. 1235) e segundo Barth é a característica inerente de todo o ser humano, diz ele:

pecado é a característica inerente e o fundamento do homem segun-do o conhecemos. Nunca soubemos da existência de homens que não fossem pecadores. Pecado é poder, [...]; é o poder sob o qual está o ser humano neste mundo” (BARTH, 2009, 260).

E que têm um efeito unificador entre todos os homens, pois: “[...] todos peca-ram e carecem da glória de Deus” (Rm 3: 23).

Com a queda que se deu por uma atitude deliberada do homem em rebe-lar-se contra Deus, desobedecendo a uma ordem clara expressa em Gênesis 2: 16-17: “E o Senhor Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; por-que, no dia em que dela comeres, certamente morrerás.”, ao fazer isso o homem

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tornou-se pecador, pois, fez mal uso de seu poder de escolha, optando pela deso-bediência, sobre este mau uso de seu poder de decisão, G. E. Wright, escreveu:

o homem é pecador, pois fez mau uso da liberdade, visto que “a expres-são” normal de liberdade seria obediência e serviço. A liberdade é o dom de Deus ao homem para capacitá-lo a aceitar e realizar a tarefa que lhe foi divinamente atribuída. Não é, em si mesma, condição natural ou absoluta. É o fundamento da dignidade humana, a ele conferida para poder servir (WRIGHT, 1966, p. 17).

O homem automaticamente começou a perceber o resultado de sua ação, dores, medos, inseguranças, violência, um trabalho mais árduo e morte passaram a fazer parte da história humana Como conseqüência do pecado de Adão ocorreu a deformação ou corrupção do gênero humano, sobrevindo a morte espiritual e física (separação de Deus) e esta imagem de Deus, ficou completamente defor-mada, tornando-se apenas um resquício do que era antes da queda, sobre esta deformação Berkhof em sua obra: Teologia Sistemática, escreve: “O contágio do seu pecado espalhou-se imediatamente pelo homem todo, não ficando nenhuma parte de sua natureza isenta do pecado, mas contaminou todos os poderes e facul-dades do corpo e da alma.” (BERKHOF, 1990, pp. 226 – 227), tal pecado afetou totalmente Adão, sobre esta degeneração Calvino nos informa:

“Não há dúvida de que Adão, ao cair de sua dignidade, com sua aposta-sia se apartou de Deus, mas ainda que esta imagem de Deus não ficasse por completa desaparecida ou destruída, ela, corrompeu-se de tal ma-neira, que se tornou horrivelmente deformada.” (CALVINO, 1986, p. 118. Tradução Nossa)

Tal afirmação deforma esta imagem e semelhança de Deus, corrompendo nosso físico, bem como, todos os nossos valores éticos, e sociais. Douglas comentando este posicionamento de Calvino, escreve:

Calvino, [...] salientou o fato que o verdadeiro sentido da criação do homem deve ser encontrado naquilo que lhe foi dado em Cristo, e esse homem veio a ficar na imagem de Deus naquilo em que reflete a glória de Deus, em gratidão e em fé (DOUGLAS, 1988, p. 721).

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Lutero também entendia que a queda afetou o homem destruindo seu livre arbí-trio, sob isto, Douglas afirma:

por ocasião da Reforma, Lutero negou a distinção entre imago e simili-tudo. A queda afetou radicalmente a imago, destruiu o livre arbítrio do homem (no sentido de arbitriun, ainda que não no sentido de volun-tas), e corrompeu o ser do homem e seus aspectos mais importantes, fi-cando apenas uma minúscula relíquia de sua imagem original e relação para com Deus (DOUGLAS, 1988, p. 721).

Comentando sobre esta depravação total e o dano causado também no inte-lecto humano, Stott afirma em sua obra: Crer é Também Pensar: ”É verdade que a mente humana compartilha os efeitos devastadores da queda. A “depravação total” do homem significa que cada parte da humanidade dele foi de alguma forma corrompida, incluindo a mente, que a Escritura descreve como “obscure-cida” (STOTT, 2012, p. 31), O evangelista Charles Finney (1792-1875), embora aceitasse a Doutrina da Depravação, ocasionada pelo pecado, ele cria que o livre arbítrio do homem, não foi afetado pelo pecado, levando-o á afirmar:

mas o fato é que em todos os casos a pressuposição se tem fixado de forma profunda na mente como uma verdade primeira, que os homens são livres no sentido de serem naturalmente capazes de obedecer a Deus; esta pressuposição é uma condição necessária da afirmação de que o caráter moral pertence ao homem (FINNEY, 2015, p. 402).

Ainda comentando sobre o livre arbítrio e, sua relação com a depravação, Finney afirma:

a depravação moral é a depravação do livre-arbítrio, não dá faculdade em si, mas de sua livre ação. Ela consiste numa violação da lei moral. A depravação da vontade, como uma faculdade, é ou seria física, não depravação moral. Seria depravação de substância, não de escolha livre, responsável. A depravação moral é uma depravação de escolha. É uma escolha em desacordo com a lei moral, o direito moral. É sinônimo de pecado ou pecaminosidade. É depravação moral, porque consiste numa violação da lei moral e porque possui caráter moral (FINNEY, 2015, p. 320).

Como podemos perceber, Finney considerava a depravação, uma escolha deli-berada em pecar se constituindo, assim numa atitude pecaminosa.

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Outra conseqüência do pecado foi a questão da separação, resultando em outras separações, como bem observou Schaeffer:

quando o homem caiu, várias outras divisões aconteceram. A primeira e básica divisão é entre o homem revoltado e Deus. Todas as outras separações se originam desta. Estamos separados de Deus por nossa culpa – culpa moral e verdadeira. Portanto precisamos ser justificados com base na obra completa e substitutiva do Senhor Jesus Cristo. [...] Em segundo lugar, o homem foi separado de si mesmo. Isso causa os problemas psicológicos da vida. Em terceiro, o homem, foi separado dos outros homens, causando os problemas sociológicos da vida. Em quarto, o homem foi separado da natureza (SCHAEFFER, 1985, p. 152).

Segundo Schaeffer, o pecado ocasionou culpa moral e verdadeira e várias separa-ções aconteceram no homem, ele separou-se de Deus, de si mesmo e dos outros e da natureza.

A imputação dos pecados é outra conseqüência do pecado de Adão. Paulo em Romanos 5: 12: “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram.”, comentando sobre a imputação do pecado sobre toda raça humana, Agostinho, afirma, sobre este pecado cometido por Adão:

[...] como voluntariamente recusou a Deus, sofreu seu justo juízo, e toda a sua descendência seria condenada, já que havia participado sua culpa por estar como que nele encerrada. Todos os desta descendência, uma vez libertados pela graça de Deus, libertam-se também da condenação, à qual já estão como que acorrentados (AGOSTINHO, 2014, p. 114).

Comentando sobre esta representatividade João Calvino segue os mesmos pas-sos de Agostinho, escrevendo:

Consistindo, pois, a vida espiritual de Adão em estar unida com seu Criador, sua morte foi afastar-se dele. E não nos maravilhemos de que com seu afastamento de Deus ocorreu à ruína a toda a sua posteridade, pois com o pecado se perverteu toda a ordem da natureza, no céu e na terra (CALVINO, 1986, p. 165 – Tradução Nossa).

Como podemos ver tanto Agostinho, como João Calvino criam e ensinavam que pelo fato de Adão ser o cabeça de toda a raça humana consequentemente todo o seu pecado seria transferido para a raça humana, o que infelizmente ocorreu.

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Por isso, se fez necessário a vinda de Jesus, o Filho de Deus, pois somente Deus poderia perdoar os pecados humanos e somente um homem perfeito pode-ria satisfazer às exigências da justiça divina, somente um homem poderia levar sobre si todos os pecados humanos e suas consequências, como por exemplo, a morte espiritual (Ez 18: 4 20), comentando sobre o poder da morte sobre o homem no versículo 2 de Romanos 5, Barth afirma:

a morte é a lei suprema deste nosso mundo. [...]; é a característica da criação e da natureza; o antagonismo insolúvel e a qualidade insepará-vel de nossa vida; a aflição entre todas as aflições, o conteúdo e a soma-tória de todo o mal, o espanto e o enigma de nossa existência, o aviso permanente de que sobre as pessoas deste mundo e sobre o mundo dos homens pesa a ira de Deus (BARTH, 2009, p. 259).

Sendo assim, somente a morte de um homem e o derramamento de seu sangue inocente (Lv 17: 11-14; Ez 16:90); poderia quebrar a força da morte (1 Co 15: 54-55) e trazer a paz entre Deus e o homens (Ef 2: 14-18; 1 Pe 2: 10) e através de sua morte vicária na cruz, poderia nos resgatar da maldição da lei, fazendo-se ele maldição em nosso lugar (Gl 3: 13), e assim nos salvar completamente como ele fez na cruz (Jo 19: 28-30), consumando (τελεω teleo) a obra de nossa salva-ção, comentando este texto de João 19: 30, o Léxico Grego, afirma:

“Está consumado” Jo 19.30 Cristo satisfez a justiça de Deus pela mor-te por todos para pagar pelos pecados do eleito. Estes pecados nunca poderão ser punidos outra vez já que isto violaria a justiça de Deus. Os pecados podem ser punidos apenas uma vez, seja por um substituto ou por você mesmo (STRONG, 2005, H8679).

Sobre esta obra completa de Cristo que trará restauração e cura terminando com todas as separações entre os homens sendo culminado com o retorno físico de Jesus, Schaeefer escreve, estabelecendo seu Reino de Justiça, paz e alegria o Espírito Santo:

De acordo com os ensinamentos das Escrituras, a obra completa de Je-sus Cristo deve eventualmente trazer cura a cada uma dessas divisões; uma cura que será perfeita sob todos os aspectos quando Cristo vier novamente na História, no futuro (SCHAEFFER, 1984, p. 152).

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Finalizando esta etapa, pudemos aprender sobre as várias posições teológicas que abordam o pecado, a queda, e suas consequências, vimos o liberalismo teológico que em sua tentativa de harmonizar a fé e o cristianismo, acabou por esvaziá-lo de seu real significado, vimos à nova ortodoxia que embora tenha resgatado o papel e importância de Jesus na teologia e indiretamente tenha sido por causa dela que tenha nascido à teologia Bíblica, acabou também por reduzir a Bíblia, afirmando ser ela apenas um registro que contêm a Palavra de Deus e finalmente vimos à posição conservadora que fiel a Bíblia crê e sustenta os valores abso-lutos que estão presentes na Bíblia Sagrada, tais como Inspiração, Inerrância, Adão como homem físico, o pecado original e sua expulsão do Éden, a morte física e espiritual. John W. Wenhan resumiu muito bem a situação presente do homem ao afirmar:

Esta é a história do homem e do tratamento dado por Deus a ele. [...] O homem foi criado bom; por causa do pecado ele pôs a perder sua bondade e sua felicidade; Deus tem agido no sentido de restabelecer perfeição da natureza humana O pecado, junto com o sofrimento que o acompanha, é um mal terrível, sendo permitido temporariamente por um Deus sábio e amoroso, mas está para ser completamente vencido no Último Dia. (WENHAN, 1989, p. 48)

No último assunto de nosso estudo sobre a Antropologia Bíblica vamos nos dedi-car ao estudo da pessoa de Jesus Cristo, que vindo em carne, como o Segundo Adão pode redimir o homem de seu estado pecaminoso.

A IMAGEM E SEMELHANÇA RESTAURADAS

Na unidade anterior, analisamos a questão da queda e suas consequências,os mais variados posicionamentos de teólogos e suas escolas de pensamentos. Agora, veremos a graça de Deus revelada em Cristo e o seu papel neste processo desem-penhando a função de segundo Adão.

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A Imagem e Semelhança Restauradas

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Como vimos anteriormente, o homem e toda a sua descendência foi contami-nada pelo pecado, o pecado afetou toda natureza humana, por isso foi necessário que viesse da parte de Deus outro homem que pudesse resgatar o homem de seu estado pecaminoso, este homem que viria, teria que viver uma vida santa e irrepreensível cercado por um mundo espiritual e físico completamente hos-til e pecaminoso totalmente contrário a ele, bem diferente do primeiro Adão que estava cercado num mundo que ainda não havia sido contaminado pelo pecado. Ao olharmos a vida Jesus vemos o quanto ele se sacrificou para agra-dar ao pai, interessante que Jesus voluntariamente se ofereceu como oferta pelo nosso pecado, veja o que ele afirmou em João 10: 17-18:

“Por isso, o Pai me ama, porque eu dou a minha vida para a reassumir.

18 Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade para a entregar e também para reavê-la. Este manda-to recebi de meu Pai.” (João 10: 17-18)

Convém observar que a palavra autoridade: (εξουσια exousia), significa: “poder de escolher, liberdade de fazer como se quer” , significa que foi um ato deliberado de escolha de Jesus vir e morrer em nosso lugar, para satisfazer às exigências da lei e da vontade de Deus e de sua justiça, como Stott afirma em seu livro: A Cruz de Cristo: “A lei de Deus foi satisfeita pela obediência perfeita de Cristo durante a vida, e a justiça de Deus por meio de seu perfeito sacrifício pelo pecado, levando a sua penalidade na morte” (STOTT, 1992, p. 109), por isso que Emil Brunner, afirmou: “[...] a cruz de Cristo e o evento no qual Deus simultaneamente torna conhecida sua santidade e seu amor, em um único evento, de um modo absoluto.”

“Eu, porém, na justiça contemplarei a tua face; quando acordar, eu me satis-farei com a tua semelhança.”

Fonte: LIVRO DE SALMOS 17: 15. Bíblia Sagrada; Almeida Revista e Atualizada. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), 2005.

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(BRUNNER, apud in: STOTT, 1992, p.118), sobre a necessidade da encarnação Agostinho pergunta em seu texto: A Predestinação dos Santos:

Peço que me respondam: esta natureza humana, assumida pelo Verbo coeterno ao Pai, na unidade de Pessoa, como mereceu ser Filho unigê-nito de Deus? Algum merecimento precedeu esta união? O que fez an-tes, em que creu o que pediu para chegar a esta inefável superioridade? [...] O Filho único de Deus não nasceu do Espírito Santo e da Virgem Maria não pela concupiscência da carne, mas por uma singular graça de Deus? Houve qualquer possibilidade deste homem, pelo uso do li-vre-arbítrio, chegar a pecar no transcorrer do tempo? Não era livre sua vontade e tanto mais livre quanto mais impossível de que fosse domi-nado pelo pecado? Assim, pois, a natureza humana, portanto a nossa, recebeu nele estes dotes singularmente admiráveis e outros, se pode di-zer que são seus, sem que houvesse nenhum merecimento precedente. [...] Pela graça ele é o que é tão perfeito; por que é diferente a graça, se a natureza é comum a ele e a mim? Em Deus não há certamente acepção de pessoas (Cl 3:25). (AGOSTINHO, 2014, pp. 187-188)

Ao analisarmos, estas perguntas de Agostinho revelam a necessidade de Cristo ter vindo como o Segundo Adão, Paulo em 1 Co 15: 45-49, responde a estas per-guntas deste Pai da Igreja:

“Pois assim está escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito alma viven-te. O último Adão, porém, é espírito vivificante. 46 Mas não é primeiro o espiritual, e sim o natural; depois, o espiritual. 47 O primeiro homem, formado da terra, é terreno; o segundo homem é do céu. 48 Como foi o primeiro homem, o terreno, tais são também os demais homens terre-nos; e, como é o homem celestial, tais também os celestiais. 49 E, assim como trouxemos a imagem do que é terreno, devemos trazer também a imagem do celestial.” (1 Co 15: 45-49)

Por isso, ao analisarmos o Antigo Testamento, vemos que Cristo veio como Cordeiro (João 1: 19) e como Sumo Sacerdote (Hebreus 4: 14-16), pois aquilo que era impossível ao homem, visto que, este estava enfermo pela carne, isso fez o Pai enviando seu Filho em semelhança de carne pecaminosa, condenando assim o pecado na carne de Seu Filho, como está escrito em Romanos 8: 3:

“Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela car-ne, isso fez Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado” (Romanos 8: 3)

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A Imagem e Semelhança Restauradas

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Ao vencer o pecado (Rm 8:3), a Satanás (Mt 4; Lc 4; Co 1:15) e ao mundo (sistema: Mt 16: 23), Jesus nos dá a garantia de nos tornar novas criaturas (2 Co 5: 17), nos fazendo filhos de Deus (Jo 1: 12-13), pois nos resgatou para Deus: “Subiste às altu-ras, levaste cativo o cativeiro; recebeste homens por dádivas, até mesmo rebeldes, para que o Senhor Deus habite no meio deles.” (Sl 68:3), inserindo a nós órfãos em sua família, pois, o Senhor é o nosso Pai:” Pai dos órfãos e juiz das viúvas é Deus em sua santa morada. Deus faz que o solitário more em família; tira os cati-vos para a prosperidade; só os rebeldes habitam em terra estéril.” (Salmo 68: 5-6) e assim livres de nossos inimigos o adoremos sem temor (Lc 1: 71-74), revelando seu grande propósito de formar a imagem de Seu Filho em nós: “[...] meus filhos, por quem, de novo, sofro as dores de parto, até ser Cristo formado em vós” (Gl 4: 20), pois Ele é o nosso primogênito, nosso irmão mais velho (Rm 8: 29).

Neste processo de restaurar a imagem de Jesus em nós, o Espírito Santo desem-penha um papel fundamental, pois Ele é que nos inseriu no Reino de Deus, Ele é o santificador, pois nos batiza com seu fogo refinador, Ele é quem nos santi-fica, Ele é quem nos aperfeiçoa em nossa caminhada, até a glória, até à Sua Nova Jerusalém, Ele é quem nos vocaciona, ele é quem distribui os dons de Deus, para servirmos Sua Igreja, aos homens e ao mundo perdido e alienado de Deus, Ele é quem adestra nossas mãos para guerrearmos as guerras do Senhor, Ele é quem nos fortalece para vencermos as tentações, o diabo e nossa carne, Ele é quem nos batiza (revestimento de poder),para cumprirmos sua vontade e realizarmos sua obra. Embora nosso tema não seja eclesiologia, mas antropologia bíblica, não podemos deixar de pelos menos citar e te incentiva a estudar um pouco mais sobre a natureza da igreja, pois ela nesse processo de santificação desempenha um papel fundamental na vida do homem, pois fomos criados por Deus, para vivermos em comunidade, como escreveu: G. E. Wright:

Na presente geração estamos sofrendo de um individualismo que se tor-na selvagem. [...] Chegamos, mesmo, a interpretar a democracia como integrada por indivíduos que têm o direito de fazer o que quiserem sem nenhuma consideração ou impedimento. O ideal do Velho Testamento da comunidade da aliança deve nos lembrar que nenhum homem vive num vácuo; foi ele criado por Deus para a comunidade da aliança. Ele não pode viver para si mesmo; deve organizar sua vida segundo os di-reitos e deveres divinamente ordenados. (WRIGHT, 1966, p. 17)

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ANTROPOLOGIA BÍBLICA

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

IIU N I D A D E90

Segundo esta frase necessitamos da Igreja de Cristo, pois o homem sozinho corre o risco de achar que pode determinar sua vida a partir de seus pressupostos, pre-cisamos viver em comunidade e assim nos estimulamos mutuamente às boas obras e assim testemunharmos do perdão que recebemos em Cristo, sabendo que nosso Senhor a qualquer momento pode vir nos buscar, como diz o Hino: Cristo Vem Me Buscar, interpretado por Luís de Carvalho, hino que nos ensina sobre a obra de Cristo e a operação do Espírito Santo em nós:

Estrofe: Cristo vem me buscar, para o céu me levará, o cordeiro prome-tido voltará.

Coro: Oh! glória aleluia, maranata vem Jesus, sou liberto pelo, sangue dessa cruz, tenho o Consolador, sua glória e esplendor, sou liberto pelo, poder do Senhor.

Estrofe: Ele manda atento estar, vigiar e sempre orar, para o toque da trombeta escutar. Que alegria vou sentir (oh que gozo vou sentir), com os anjos a cantar, pois com Cristo para sempre vou morar.

Finalizando este nosso último capítulo, citarei as palavras extraídas do livro: O Enigma do Mal, de John W. Wenhan, por expressar bem este plano de redenção elaborado por Deus antes da fundação do mundo, realizado no tempo (Kairós) determinado por Deus (Gl 4:4) e aplicado em nossos corações pelo Espírito Santo (Jo 16: 8-11), diz ele:

A cena central deste drama revela a natureza tripessoal de Deus, cujo amor se manifesta quando o Deus Filho vem ao mundo na qualida-de de Segundo Adão. Assumindo a natureza humana, Jesus vem como mediador entre Deus e o homem, para ser o representante do homem diante de Deus, e para, sofrendo a morte em seu lugar, vencer o pecado e a morte para sempre. Tendo recebido poder por parte do Deus Espíri-to Santo, a igreja começa a proclamar a todas as nações o oferecimento de perdão de pecados e de vida eterna a todo aquele que se arrepender e depositar sua confiança no Redentor divino. A história se encerra com o novo céu e a nova terra, onde já não mais sorte, lágrimas, a tristeza e a dor se foram para sempre. (WENHAN, 1989, p. 47)

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Considerações Finais

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Abordando o homem na perspectiva bíblica, ou seja, analisando a antropo-logia, pelas lentes bíblica, procuramos analisar o homem dentro do Antigo e Novo Testamentos, observando o que Jesus, e os apóstolos afirmam sobre o homem, abordamos a natureza constitutiva do homem (Tricotomia, Dicotomia e Integralista) e os conceitos bíblicos e filosóficos que explicam a alma, espírito, nous e o corpo. Vimos como o pecado afetou o homem como um todo e também toda a sua posteridade, e o que Cristo e a graça de Deus fizeram em relação ao pecado e finalmente vimos à ação santificadora do Espírito Santo em nossas vidas.

Analisando a trajetória do homem desde Gênesis 3, até nossos dias, percebe-mos que homem moderno tem tentado em vão ser um ser autônomo em relação á Deus, Pannenberg, em seu livro Filosofia e Teologia, afirma que a compreensão e aceitação de Deus como um valor necessário não se faz mais necessário, pois Deus, foi reduzido há um mero conceito. Até mesmo em certos círculos, ditos cristãos, essa realidade, como reflexo da sociedade, também aparece. Basta obser-var o comportamento antropocêntrico desses grupos. A sociedade moderna está tão absorta nas demandas diárias e no estilo de vida do conforto tecnológico e do entretenimento que facilmente transformam as verdades universais em rela-tivos da consciência humana.

Deus que criou todas as coisas do nada, também é um Ser Pessoal que se revela às sua criatura formada à sua imagem e semelhança e que se revelou a este mundo perdido, na pessoa de Seu Filho, Jesus Cristo, a imagem e resplen-dor da glória de Deus, que veio a este mundo em carne e que padeceu, sob o poder de Pilatos, como afirma nosso Credo Apostólico elaborado nos primei-ros séculos de nossa era.

Na Antropologia Bíblica, podemos encontrar as respostas que tanto temos buscado desde que Adão pecou no Éden, pois somente em Deus, podemos real-mente nos conhecer a nós mesmos, ao mundo que nos cerca e ao Senhor que nos criou à sua imagem, bem como a sua semelhança.

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1. Entender o gênero humano e como ele se relaciona consigo mesmo, com seu semelhante e com o mundo que o cerca é uma tarefa de grande complexida-de; portanto, definir a antropologia não é uma tarefa fácil, e como fruto dessa complexidade o estudo antropológico passou a ser dividido. Com base nessas afirmações e no material estudado, quais são as duas principais ramifica-ções da antropologia apresentadas neste livro? Defina-as?

2. Observe as citações abaixo:

I. Francis Schaeffer afirmou que: “O homem está separado, como pessoa, da natureza porque ele é feito à imagem de Deus. Quer dizer ele tem persona-lidade, e como tal ele é mais um na criação, mas ele está unido a todas as outras criaturas como ser criado.”.

II. Hoekema afirma se referindo a Gn 1.26 “Embora possamos dizer que temos aqui um ensino claro a respeito da Trindade, aprendemos que Deus existe como uma “pluralidade”.

III. J. D. Douglas afirma “Jesus Cristo é a verdadeira imagem de Deus (Cl 1: 15; 2 Co 4: 4) e assim sendo é o verdadeiro Homem (Jo 19: 5).”

IV. Vorlānder afirma “[...] o homem total é libertado mediante Jesus (Jo 8:31 e segs), e assim não obtêm a vida (5: 24; 11: 25-26).”

Assinale a alternativa correta:

a) Apenas I e II estão corretas.

b) Apenas II e III estão corretas.

c) Apenas III está correta.

d) Apenas II, III e IV estão corretas.

e) Nenhuma das alternativas está correta.

3. Assinale Verdadeiro (V) ou Falso (F):

( ) Tricotomia: Influenciada pela visão grega do homem que separam o ho-mem entre corpo (Soma), Alma (Psique) e Espírito (Pneuma).

( ) Dicotomia: Segundo o conceito dicotômico, o homem é constituído de três partes distintas, corpo e alma.

( ) Integralista: Estes entendem e defendem que o homem seja constituído de alma e corpo e espírito, e que o homem não pode ser separado em três ou em duas partes.

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Assinale a opção com a sequência CORRETA:

a) V, F, V.

b) F, V, V.

c) V, V, F.

d) V, F, F.

e) F, F, F.

4. Quanto ao estudo da queda do homem, ou seja, do pecado e suas consequ-ências para a humanidade, simples. Um dos principais motivos para isso é que não temos claramente definido a presença e a origem do mal no mundo. É po-demos conciliar a presença do mal ou do sofrimento com a declaração cristão sobre a bondade de Deus que criou o mundo. Partindo desse ponto, muitos estudiosos das Escrituras têm labutado sobre essa questão. Estudamos três es-colas ou linhas de pensamento e suas afirmações. Quais são elas?

5. Observe as citações abaixo:

I. Agostinho afirmou que: “Em Deus não há certamente acepção de pessoas”.

II. Ao vencer o pecado (Rm 8:3), a Satanás (Mt 4; Lc 4; Co 1:15) e ao mundo (sis-tema: Mt 16: 23), Jesus nos dá a garantia de nos tornar novas criaturas (2 Co 5: 17), nos fazendo filhos de Deus (Jo 1: 12-13), pois nos resgatou para Deus.

III. G. E. Wright afirma “Na presente geração estamos sofrendo de um individu-alismo que se torna agradável”

IV. John W. Wenhan afirma “A cena central deste drama revela a natureza tripes-soal de Deus, cujo amor se manifesta quando o Deus Filho vem ao mundo na qualidade de Segundo Adão.”

Assinale a alternativa correta:

a) Apenas I e II estão corretas.

b) Apenas II e III estão corretas.

c) Apenas III está incorreta.

d) Apenas II, III e IV estão corretas.

e) Nenhuma das alternativas está correta.

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A ANTROPOLOGIA BRASILEIRA E A BANALIZAÇÃO DA VIDA: O INFANTICÍDIO INDÍGENA - A OMISSÃO DA INTELECTUALIDADE

O infanticídio indígena não é uma questão de cultura, mas de falta de informação. E se essa informação não chega nas aldeias, é a sociedade brasileira que está falhando e se omitindo na sua responsabilidade com os povos indígenas.

Pensando e lendo sobre o infanticídio indígena em várias fontes, entendi o seguinte: 1. a cultura é dinâmica; 2. a cultura não é determinante; 3. a cultura precisa somar elementos positivos na vida de um grupo ou sociedade; 4. a cultura expressa a identidade de um grupo social, ou seja, é um identificador de hábitos, costumes, relacionamentos, enfim.

Quando pessoas – antropólogos ou órgãos de um governo – determinam que não se pode interferir na prática do infanticídio indígena (por ser uma questão cultural, enten-dendo que os indígenas mesmos é têm que resolver essa questão), não estamos tratan-do de “respeito cultural”. Isso é banalização da vida, ou seja, omissão da intelectualidade e de órgãos oficiais.

Digo isso por quê? Não somos uma cultura superior aos indígenas; somos uma cultura que tem mais informação.

Se uma mãe indígena, assim como seus parentes, pudesse compreender que gêmeos não são uma aberração ou uma maldição (alguns grupos entendem que um é do bem e outro é um espírito do mal) ou se soubessem que existem tratamentos para seus filhos que nascem com alguma deformidade ou doença, não buscariam essa opção ao invés de matá-los?

Há um peso e trauma sobre os pais indígenas, assim como em toda a tribo que sofre quando eles têm que tomar essa decisão. Não gostariam eles de se sentirem aliviados por não precisar mais se utilizarem dessa prática? Casos de gêmeos ou de deformações não são questão de cultura, mas de genética. O respeito à cultura requer, então, infor-mação e esclarecimento por parte daqueles que detém o conhecimento científico. O respeito jamais justifica a omissão.

O infanticídio indígena não é uma questão de cultura, mas de falta de informação. Se essa informação não chega nas aldeias, é a sociedade brasileira que está falhando na sua responsabilidade com os povos indígenas.

A informação, assim como o conhecimento, quando tem por objetivo trazer melhores condições de vida a uma população, nunca “estraga” uma cultura, mas lhe dão possibili-dades de se aperfeiçoar.

Nós, na sociedade brasileira, estamos impedindo que o conhecimento chegue às tribos indígenas. Alegamos que estaríamos estragando ou alterando a cultura indígena. Isso, na verdade, é um sofisma para justificar omissão e falta de interesse.

Fonte: Santos ([2018], on-line)1.

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Material Complementar

MATERIAL COMPLEMENTAR

Fica a sugestão de site em que é possível encontrar um material bastante abrangente sobre missões de vários autores, porém a título de relação com o nosso tema, proponho a leitura desse artigo do Ronaldo Lidório.Disponível em: <http://moravios.org/os-padroes-etico-emico-e-emico-teologico/>. Acesso em: 29 jul. 2017

Brincando nos Campos do SenhorAno: 1991Sinopse: um casal de missionários e seu filho pequeno embrenham-se na selva amazônica brasileira para catequisar índios ainda arredios à noção de Deus. Martin Quarrier (Aidan Quinn) é sociólogo e termina sendo motivado pelas experiências de outro casal, os Huben. As intenções religiosas e a harmonia entre brancos e índios no local ficam instáveis devido à presença de Lewis Moon (Tom Berenger), um mercenário descendente dos índios americanos.

O Fator Melquisedeque: O Testemunho de Deus nas Culturas por Todo o MundoDon Richardson

Editora: Vida NovaSinopse: neste livro, Richardson conta mais de 25 histórias, que mostram como Deus plantou a semente do evangelho em cada cultura do mundo. Esta espécie de revelação geral de Deus é chamada pelo autor de ‘O Fator Melquisedeque’, em uma alusão ao nome do sacerdote a quem Abraão prestou homenagem no livro de Gênesis. ‘O Fator Melquisedeque’ é um livro que mudará a visão de muitos cristãos sobre os povos pagãos e a soberania de Deus.

Page 96: TEOLOGIA, HISTÓRIA E PRÁTICA PENTECOSTAL

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GABARITO

1. Antropologia Social, estuda o homem e seu relacionamento com a sociedade que o cerca. Antropologia Cultural, estudo das culturas dos diversos grupos hu-manos, independentemente de seu grau de complexidade e de sua localização geográfica ou cronológica.

2. A opção correta é a C.

3. A opção correta é a D.

4. Protestantismo Liberal, Nova Ortodoxia, Posição Conservadora.

5. A opção correta é a C.

GABARITO

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UN

IDA

DE III

Professor Dr. Ricardo Bitun

HAMARTIOLOGIA

Objetivos de Aprendizagem

■ Entender o pecado segundo o seu sentido etimológico e bíblico.

■ Analisar por meio de uma visão teológica a doutrina do pecado.

■ Compreender o que o pecado provocou para a criação e como a filosofia tenta entender essa questão.

■ Descobrir como a Bíblia evidencia o pecado e como os teólogos entenderam sua forma de transmissão.

■ Conhecer o papel de Cristo em relação ao pecado.

Plano de Estudo

A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

■ Origem e significado da palavra “pecado” em seu sentido bíblico

■ Considerações teológicas sobre a doutrina do pecado

■ Consequências do pecado e considerações filosóficas

■ Conceito bíblico sobre o pecado e as teorias sobre sua transmissão

■ Cristo e o pecado

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INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), nesta unidade, investigaremos um dos temas que mais confronta o ser humano desde os tempos antigos. Sempre houve por parte da humanidade uma tentativa clara de ostentar suas conquistas, vitórias, êxitos e sua perfeição, porém qualquer pessoa, por menos observadora que seja, poderá ver na história da humanidade que o mal ou a maldade permeia todos os meandros dessa história.

No entanto, olhando para o homem por uma perspectiva bíblica, podemos nomear melhor essa questão e não podemos deixar de abordar a questão do pecado na vida do homem e na história da humanidade, suas causas e consequ-ências (enfermidades, males sociais e morte) na vida do ser humano e da criação.

A Bíblia faz diversas afirmações a respeito do homem, no que se refere ao pecado. Ela afirma que o homem está morto em seus delitos e pecados (Ef. 2:1-2), que os nossos pecados fazem separação entre nós e nosso Deus (Is. 59:2), que o salário do pecado é a morte (Rm. 6:23) e que o pecado afetou toda a raça humana (Rm. 3:23), levando o homem à morte espiritual e física (Rm. 5:12; Gn. 2:17).

Em contrapartida, a Bíblia também indica o meio providenciado por Deus, para resolver essa questão, como declarado em Gênesis 3:15, sendo Cristo o segundo Adão que viria e resgataria o homem de seu estado de pecado, assu-mindo nosso lugar recebendo em si todo nosso pecado, dores, enfermidades e maldições, nos tornando aceitáveis diante de Deus.

Pensando nessa problemática proposta e na solução apresentada, caminhare-mos teologicamente sobre o tema. Mesmo sabendo que há questões importantes nas quais não há consenso entre os estudiosos, estudaremos os conceitos, as pos-síveis origens, as consequências práticas e teóricas, e finalmente a solução para a questão do Pecado no Universo.

Não desanime! O desafio é grande, o assunto é delicado, mas é possível avan-çar nos estudos. Ao término deste livro, você certamente entenderá a relação entre as unidades e a teologia pentecostal e sua prática.

Introdução

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ORIGEM E SIGNIFICADO DA PALAVRA PECADO EM SEU SENTIDO BÍBLICO

Veremos abaixo o conceito da palavra pecado no Antigo Testamento:

■ Velho Testamento:

Traduzida da palavra hebraica חטא chata’ e seus derivados, a palavra pecado, segundo o Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, significa: “falha, lapso, culpa, pecado, como desvio consciente do caminho certo” (BROWN; COENEN, 1989a, p. 485), diferentemente do conceito mais elaborado no Novo Testamento, principalmente pelo apóstolo Paulo, refletido em suas cartas. O Antigo Testamento deixa claro quais são as consequências do pecado refletidos na separação entre o homem e Deus e também da nação de Israel.

Segundo a Enciclopédia Digital da Bíblia Libronix, a palavra chata’ significa: (1) pecar, falhar, perder o rumo, errar, incorrer em culpa, perder o direito, purificar da impureza; 1a) (Qal): 1a1) errar; 1a2) pecar, errar o alvo ou o ca-minho do correto e do dever; 1a3) incorrer em culpa, sofrer penalidade pelo pecado, perder o direito; 1b) (Piel): 1b1) sofrer a perda; 1b2) fazer uma oferta pelo pecado; 1b3) purificar do pecado; 1b4) purificar da impureza; 1c) (Hifil): 1c1) errar a marca; 1c2) induzir ao pecado, fazer pecar; 1c3) trazer à culpa ou condenação ou punição; 1d) (Hitpael): 1d1) errar, perder-se, afastar do cami-nho; 1d2) purificar-se da impureza.” In: 1) pecar, falhar, perder o rumo, errar, incorrer em culpa, perder o direito, purificar da impureza (STRONG, 2011).

Fonte: o autor.

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No Antigo Testamento, Deus revelado na lei e nos profetas se constitui no cri-tério de avaliação entre aquilo que é correto ou incorreto Segundo Günter, no Antigo Testamento: “[...] não se fazia separação entre o pecado, a culpa e o cas-tigo, porque o pecado, em si mesmo, é uma alienação dEle e, assim, traz sobre si o dano e o castigo” (GÜNTHER, 1989, p. 485). Esta afirmação de Günther nos leva a entender que o pecado se constituía então na violação da aliança estabele-cida entre o Senhor e a nação de Israel que muitas vezes se desviava do Senhor, sendo por Ele castigado visando seu retorno para o Senhor. Este ato de quebrar a aliança fica evidente a princípio, por exemplo, em Gênesis 3 quando o homem rompe com o Senhor, desobedecendo a Deus, se desviando do caminho tra-çado pelo Senhor, por isso que um dos significados básicos desta palavra seria, segundo o Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, “[...] o de errar um alvo ou um caminho” (ARCHER JR, 2005, p. 450). Por esse motivo que na realidade o pecado também se constitui numa violação das leis do Senhor, um ato de infidelidade para com o Senhor. Outra questão que fica clara ao ana-lisarmos o pecado, segundo o Antigo Testamento, é o conceito do paralelismo no qual não há distinção entre o pecado do israelita e o da nação (Jz. 2: 1-16).

Mais uma consideração a se fazer é que o pecado, segundo o Antigo Testamento, atingiu toda a raça humana (Is. 1:4; Sl. 14:3; 53:3), tendo como con-sequência a morte do pecador (Gn. 3) e de todos os pecadores. Podemos perceber aqui que já está se formando o conceito do pecado original e o da representativi-dade federal de Adão como o pai da raça humana, algo plenamente desenvolvido no Novo Testamento. Sobre essa representatividade, João Calvino escreve:

consistindo, pois, a vida espiritual de Adão em estar unida com seu Criador, sua morte foi afastar-se dele. E não nos maravilhemos de que com seu afastamento de Deus ocorreu à ruína a toda a sua posteridade, pois com o pecado se perverteu toda a ordem da natureza, no céu e na terra (CALVINO, 1986a, p. 165, tradução nossa).

É por isso que a nação e os israelitas necessitavam da misericórdia divina sendo perdoados por intermédio de sacrifícios e ofertas, até que viesse o Servo Sofredor que, conforme Isaías, capítulo 53, levaria sobre si todo o pecado, morte e dores, perdoando as transgressões humanas e da nação, pois todo o povo judeu sabia que o pecado, antes de tudo, era a violação dos mandamentos divinos, daí a necessidade

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constante de sacrifícios até que, segundo Günter, viesse: “[...] a remoção completa do pecado no reino messiânico” (GÜNTER, 1989, p. 487) Veremos abaixo o con-ceito do pecado no Novo Testamento.

■ Novo Testamento:

Derivado do grego αμαρτια hamartia, esta palavra ocorre cerca de 170 vezes, em sua grande maioria nos escritos do Apóstolo Paulo. Ela carrega em si o signifi-cado de ser tudo aquilo que se opõe a Deus, ocasionalmente pode ser também entendida como poneros que significa depravação ou maligno, sendo entendida também como uma transgressão da lei de Deus, como afirmou o Apóstolo João: “Todo aquele que pratica o pecado também transgride a lei, porque o pecado é a transgressão da lei” (1 Jo 3.4).

Abaixo veremos o conceito na perspectiva do Senhor Jesus Cristo.

■ Jesus:

Jesus usou o termo no mesmo sentido que os escritores do Antigo Testamento a usaram. Para ele, o pecado consistia em uma transgressão contra a Lei ou contra o próximo. Contudo, no Sermão do Monte, ele vai muito mais além, afirmando que o pecado não se constituía apenas num ato praticado (Mt. 5:21-26; 27-32), mas, antes, fundamentava nos pensamentos e propósitos do coração (Mt. 15:19; Mc. 7:21) e na rejeição a ele ou as suas palavras (Jo. 8:24; 15:22),

Segundo Douglas, em O Novo Dicionário da Bíblia: “[...] hamartia, tais como: hamartẽma, parbasis, paraptõma, anomia, adikia. Existem distinções ex-pressas através desses termos; refletem eles os diferentes aspectos median-te os quais o pecado pode ser contemplado. O pecado é fracasso, é erro, é iniqüidade, é transgressão, é contravenção, é falta de lei, é injustiça. É um mal insolúvel” (DOUGLAS, 1998, p. 1234-1235).

Fonte: o autor.

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tornando-se, assim, a sua vinda e pessoa como critério de avaliação. Outro fato que convém salientar é que Jesus, diferentemente dos escribas, fariseus, sadu-ceus e mestres, mantinha contato e convívio com os publicanos, pecadores e os marginalizados pela sociedade de sua época, afirmando que veio para bus-car e salvar o que se havia perdido (Lc. 19:10), vindo para os pecadores e não para os justos (Mt. 9:13), isto é, indicava que aqueles que se consideravam jus-tos aos seus próprios olhos eram os pecadores, conforme afirma W. Gunther:

o discurso de Jesus aos fariseus [...], torna especialmente claro, que com a vinda de Jesus, altera-se completamente o critério para distinguir os jus-tos dos pecadores no que diz respeito ao judaísmo. Aqueles que, confor-me os padrões legalísticos judaicos eram considerados justo e religiosos, revelam-se especialmente pecaminosos diante de Deus, tendo em vista a sua justiça própria e a sua rejeição de Jesus (GUNTHER, 1989, p. 488)

Na citação acima, fica evidente que aqueles que confiavam em sua justiça pró-pria eram considerados por Jesus, aos olhos de Deus, os verdadeiros pecadores.

Outra questão abordada por Jesus, que podemos considerar fundamen-tal em relação ao pecado é o papel desempenhado por Ele no perdão de nossos pecados, substituindo, assim, o nosso lugar na esfera da condenação divina, conforme Mateus 26:28, cumprindo a justiça divina (Mt. 3:15), o justo (Jesus), morrendo pelos injustos (os homens). Mais tarde, os apóstolos fundamentariam sua pregação e ensino nessa implicação, como afirma Gunther: “Os apóstolos fundamentam tanto o batismo quanto o perdão dos pecados na morte e na res-surreição de Jesus” (GUNTHER, 1989, p. 488), conforme os seguintes textos bíblicos Jo. 20: 23 e At. 2:38; 5:31; 10:43.

Como falamos anteriormente, é nos escritos apostólicos, principalmente em Paulo, que encontraremos o conceito e o dogma do pecado mais fundamentado. Segue abaixo, o pecado na concepção do Apóstolo Paulo:

■ Paulo:

São nas epístolas paulinas que encontramos uma teologia mais elaborada a respeito do pecado, ao analisarmos, por exemplo, a carta aos Romanos do capí-tulo primeiro até o oitavo em que aborda o pecado em toda a esfera do homem (Rm. 1; 3:23; 6:23; 5), na criação (Rm 8: 18-25), nos ensinando que judeus e gentios aos olhos do Senhor estão debaixo do pecado.

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Nesses capítulos vemos, também, o papel desempenhado pela lei, servindo ela como uma espécie de instrutora que alerta o homem sobre o pecado, mas que se mostra insuficiente em questões relacionadas à salvação. Em Romanos 5: 12-21, aprendemos um princípio fundamental em relação ao pecado que her-damos de Adão, sustentado e defendido pelos reformadores do Século XVI. Em sua obra Teologia Sistemática, Berkhof afirma:

de acordo com Lutero, somos tidos por culpados por Deus, por causa do pecado herdado de Adão e que reside em nós. Calvino fala num tom semelhante. Ele sustenta que, desde que Adão, foi não somente o progenitor da raça humana, mas também a sua raiz, todos os seus descendentes nascem com natureza corrupta e que tanto a culpa do pecado de Adão como a própria corrupção inata deles são-lhes im-putada como pecado. O desenvolvimento da teologia federal trouxe a primeira plana à idéia de Adão como o representante da raça huma-na, e possibilitou uma distinção mais clara entre a transmissão da cul-pa e a corrupção do pecado de Adão (BERKHOF, 1990, p. 240-241).

No trecho acima, vemos que Adão por ser o pai, a raiz e a cabeça da raça humana imputou aos seus descendentes o pecado, a morte e a condenação. Cristo encar-nou-se como o segundo Adão, conforme Romanos 5: 15, para romper com este princípio da imputação do pecado, mediante sua vida, morte e ressurreição, levando sobre si nossos pecados (2 Co. 5:21; Rm 5:8) e a maldição da lei (Gl. 3:23). Em sua morte, Cristo reconcilia o homem com Deus (Rm. 3: 23-26). No batismo, segundo o apóstolo Paulo, o crente morre e ressuscita em Cristo para uma nova vida (Rm. 6: 4-8).

Dessa forma, podemos resumir, conforme o apóstolo Paulo, que o pecado é inerente ao ser humano e todos estão debaixo do pecado, pois todos proce-dem da raiz de Adão e ninguém consegue por si só abandonar ou deixar de pecar, sendo por isso servo do pecado e condenados por Deus. Entretanto, em Cristo o homem se torna livre do pecado, da lei e da morte, pois foi justifi-cado mediante a fé, desfrutando, assim, da paz com Deus, tornando-se servo de Cristo, e não mais do pecado.

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■ João:

Nos escritos do apóstolo João, o pecado se constitui na descrença de ser ele o filho de Deus (Jo. 1: 11; 7: 47-49; 9:49). Em suas epístolas, João prega que a falta de amor é considerada pecado (Jo. 3: 1-10). O cristão pode, por meio da confis-são de seus pecados, receber o perdão (I Jo. 1:9), pois Cristo se posiciona como o advogado ou o intermediário entre Deus e o homem (1 Jo. 2:1).

■ Tiago:

Para o apóstolo Tiago, o pecado se constitui na omissão em demonstrar a fé através das obras (Tg. 2: 14-26), em não viver de acordo com o conhecimento adquirido de Deus (Tg. 3:1). Para ele, o pecado também se encontra no cora-ção humano, pois é do coração que nascem as mazelas humanas (Tg. 4: 1-10). É por meio da oração e da confissão do pecado cometido contra outrem e contra Deus que o homem recebe o perdão de seus pecados (Tg. 5:16).

■ Pedro:

Nas cartas de Pedro, encontramos exortações e estímulos para que os discípulos permaneçam firmes na fé (1 Pe. 1: 3-10; 5:9), pois seu Senhor, nosso exemplo, sofreu, morreu e triunfou sobre a morte e voltará para buscar sua igreja (2 Pe. 3:1-13), meditando nas Escrituras e vivendo uma vida reta (2 Pe. 3: 14-18).

■ Hebreus:

Finalmente, para o autor de Hebreus, Jesus é o Sumo Sacerdote (Hb. 2:16-18) que se compadece de nós, que foi tentado em todas as áreas da vida humana, mas que não pecou (Hb. 4: 15), podendo, assim, socorrer aos homens (Hb. 7:25). Jesus, além de Sumo Sacerdote, é também o sacrifício perfeito e único que foi oferecido apenas uma vez, sendo suficiente e eficiente para perdoar todos os pecados (Hb. 9:14, 26-28), sendo a apostasia da fé o único pecado que sofrerá o juízo eterno. Sobre este pecado, afirma Günther: “Para Hebreus, no entanto, nada resta para a apostasia da fé, senão o julgamento eterno. É este o pecado que exclui a pessoa da possibilidade de voltar-se a arrepender-se (Hb. 6: 4 e seq)” (GÜNTHER, 1989, p. 490).

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Finalizando este estudo, em que discutimos sobre o pecado em uma perspectiva bíblica, analisaremos, a seguir, o pecado em uma perspectiva teológica.

CONSIDERAÇÕES TEOLÓGICAS SOBRE A DOUTRINA DO PECADO

No tópico anterior, vimos o pecado em sua perspectiva bíblica, analisando o conceito do pecado na perspectiva de Jesus Cristo, dos apóstolos e do Novo Testamento e finalizamos com uma definição do que entendemos ser pecado. Neste capítulo, assim como nos demais, abordaremos a doutrina do pecado na perspectiva teológica. Logo, veremos como a teologia aborda o pecado em sua origem e desenvolvimento e suas consequências.

■ A origem do Pecado no Universo:

Nesta fase de nosso estudo veremos, também, a origem do pecado tanto no uni-verso quanto na raça humana.

Ao analisarmos o pecado numa perspectiva bíblica, não podemos conside-rá-lo apenas utilizando a palavra hebraica Hattã’th e seus derivados ou a pa-lavra grega Hamartia e seus derivados, com distinções entre suas derivações. Pecado pode ser definido como erro, falta de fé, transgressão, iniquidade e injustiça. Todos estes termos com certeza são pecados, mas, sintetizando, podemos afirmar que pecado é tudo aquilo que segue em direção contrária a Deus. Ou conforme as palavras de J. D. Douglas, em O Novo Dicionário da Bíblia, o pecado se constitui na: “violação daquilo que é exigido da nossa parte pela glória de Deus e, por conseguinte em sua essência, é a contradi-ção contra Deus” (DOUGLAS, 1988, p. 1235).

Fonte: o autor.

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Considerações Teológicas Sobre a Doutrina do Pecado

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Ao lermos o Antigo Testamento não vemos de maneira clara um texto que nos mostre objetivamente a origem do pecado, pois não encontramos uma ontologia do pecado. Segundo Héring, para os judeus, “o que lhe era impor-tante não eram as origens do pecado, mas o que podia constatar em torno de si” (ALLMEN, 1972, p. 320), mas com certeza temos vários textos que nos mostram que o pecado já se encontrava no universo antes da criação do homem, como por exemplo, Isaías 14: 12-15, em que lemos:

como caíste do céu, ó estrela da manhã, filho da alva! Como foste lança-do por terra, tu que debilitavas as nações! 13 Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte; 14 subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo. 15 Contudo, serás precipitado para o reino dos mortos, no mais profundo do abismo (BÍBLIA, 2005, Isaías 14: 12-15).

No livro de Jó 38:7: “quando as estrelas da alva, juntas, alegremente cantavam, e rejubilavam todos os filhos de Deus?” , no livro do Profeta Ezequiel 28: 11-19:

11 Veio a mim a palavra do Senhor, dizendo: 12 Filho do homem levanta uma lamentação contra o rei de Tiro e dize-lhe: Assim diz o Senhor Deus: Tu és o sinete da perfeição, cheio de sabedoria e formosura. 13

Estavas no Éden, jardim de Deus; de todas as pedras preciosas te co-brias: o sárdio, o topázio, o diamante, o berilo, o ônix, o jaspe, a safira, o carbúnculo e a esmeralda; de ouro se te fizeram os engastes e os or-namentos; no dia em que foste criado, foram eles preparados. 14 Tu eras querubim da guarda ungido, e te estabeleci; permanecias no monte santo de Deus, no brilho das pedras andavas. 15 Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado até que se achou iniqüidade em ti. 16 Na multiplicação do teu comércio se encheu o teu interior de violência, e pecaste; pelo que te lançarei profanado, fora do monte de Deus e te farei perecer, ó querubim da guarda, em meio ao brilho das pedras. 17 Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, cor-rompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor; lancei-te por terra, diante dos reis te pus, para que te contemplem. 18 Pela multidão das tuas iniqüidades, pela injustiça do teu comércio, profanaste os teus santuários; eu, pois, fiz sair do meio de ti um fogo, que te consumiu, e te reduzi a cinzas sobre a terra, aos olhos de todos os que te contem-plam. 19 Todos os que te conhecem entre os povos estão espantados de ti; vens a ser objeto de espanto e jamais subsistirás (BÍBLIA, 2005, Ezequiel 28: 11-19).

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Estes textos não fazem alusão diretamente à criação do mal ou do próprio diabo. Antes disso, Isaías nos fala da queda da Babilônia e o de Ezequiel, nos narra uma lamenta-ção sobre o rei de Tiro e o de Jó nos fala de estrelas adorando a Deus. O cristianismo desde Orígenes (185 – 254). Um dos mais importantes pais da Igreja desenvolveu o princípio da alegoria bíblica, atribuindo a Deus a criação das hostes celestiais (Jó), bem como os textos que fazem alusão a origem de satanás e do mal no universo e também encontramos a causa da origem da rebeldia, soberba, arrogância, orgulho e vaidade, como a causa da origem do mal e do pecado nos textos de Isaías e Ezequiel.

■ Na Vida Humana

Gênesis 2:7 e Gênesis 1: 27 nos informam que Deus fez o homem do pó da terra (componentes orgânicos encontrados na terra) e lhe soprou o fôlego em suas narinas (alma) e os criou à sua imagem e semelhança (atributos morais e espiritu-alidade). Embora sejam palavras diferentes, tanto “imagem” quanto “semelhança”, aqui se constituem na mesma coisa, conforme afirma Anthony Hoekema, em seu livro Criados à Imagem de Deus: “O texto hebraico [...] deixa claro que, essencialmente, não há diferença entre ambas: “conforme a nossa semelhança” é apenas uma maneira diferente de dizer “à nossa imagem” (HOEKEMA, 2010, p. 25). Como se fosse uma espécie de representação de Deus, possuindo certas características que herdou do Criador, tais como: justiça moral, livre arbítrio, uma natureza santa e um espírito que mantinha comunhão com Deus. Segundo Elienai Cabral, um dos autores da obra Teologia Sistemática Pentecostal:

o homem, como imagem de Deus, foi dotado de atributo moral, isto é, de justiça original. Porém, essa justiça não era imutável; havia a possibi-lidade de pecado. Ele foi dotado de livre-arbítrio. O homem foi criado com uma natureza santa, voltada naturalmente para Deus e sua vonta-de (CABRAL, 2008, p. 306).

Nesse sentido, o homem é capacitado por Deus para reproduzir-se, para relacio-na-se com o Criador, com seus semelhantes, com a criação e com a autoridade de governar e administrar a terra, como uma espécie de mordomo teológico, princípio que pode ser definido como mandato cultural. Dessa maneira, deve-se glorificar a Deus. Porém, com a entrada do pecado, motivada pela incredulidade e desobediência, foram constituídos os pecadores, como afirmou João Calvino:

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quando a mulher foi enganada pela serpente e se apartou da fidelidade de à Palavra de Deus, claramente se entende que o motivo da queda foi a desobediência, como afirmou São Paulo dizendo que pela desobedi-ência de um homem muitos foram constituídos pecadores (Rm. 5: 19). Também há de notar que o primeiro homem se apartou da obediência de Deus, não somente por haver sido enganado com as mentiras de Satanás, mas sim, porque depreciando a verdade seguiu a mentira. De fato, quando não se leva em conta a Palavra de Deus se perde todo o temor, que se deve a Ele (CALVINO, 1986b, p. 164, tradução nossa).

Por isso, ao analisarmos o pensamento de Calvino acima citado, não podemos deixar de considerar que a morte, a maldição e a corrupção ou degeneração atingiram todas as faculdades humanas. Acerca disso, afirma Louis Berkhof: “O contágio do seu pecado espalhou-se imediatamente pelo homem todo, não ficando nenhuma parte de sua natureza isenta do pecado, mas contami-nou todos os poderes e faculdades do corpo e da alma” (BERKHOF, 1990, p. 226-227). Tal fato afetou por completo o primeiro homem, Adão. Acerca desta degeneração Calvino afirma:

não há dúvida de que Adão, ao cair de sua dignidade, com sua aposta-sia se apartou de Deus, mas ainda que esta imagem de Deus não ficas-se por completa desaparecida ou destruída, ela, corrompeu-se de tal maneira, que se tornou horrívelmente deformada (CALVINO, 1986a, p. 118, tradução nossa).

Esse discurso deturpa esta imagem e semelhança de Deus, corrompendo nosso físico e todos os nossos valores éticos e sociais. Sobre essa depravação total e o dano causado na mente humana, Stott acrescenta:

é verdade que a mente humana compartilha os efeitos devastadores da queda. A ‘depravação total’ do homem significa que cada parte da hu-manidade dele foi de alguma forma corrompida, incluindo a mente, que a Escritura descreve como ‘obscurecida’ (STOTT, 2012, p. 31).

Além de romper nossa comunhão com Deus, gerando morte espiritual, comen-tando sobre esta depravação pós queda, Charles Finney reintera:

a palavra sempre implica deterioração ou decadência de um es-tado anterior de perfeição moral ou física. A depravação sempre implica um distanciamento de um estado de integridade original ou da conformidade com as leis por parte do sujeito à depravação (FINNEY, 2015, p. 319).

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E por ser o pai e raiz de toda a raça humana, tal depravação foi derramada sobre toda a humanidade, assunto que trataremos a seguir, no próximo capítulo, sobre o tema das consequências do pecado.

CONSEQUÊNCIAS DO PECADO E CONSIDERAÇÕES FILOSÓFICAS

Após abordarmos o pecado e sua origem no universo e seus desdobramentos (queda e expulsão de Lúcifer, dos anjos rebelados do céu e os seus resultados na vida humana), veremos as consequências do pecado na raça humana.

■ Na Raça Humana:

Como vimos no capítulo anterior, o pecado não afetou apenas Adão, mas, por ele ser o pai e tronco da raça humana, o pecado foi imputado sobre toda a raça

A Bíblia deixa absolutamente claro que o pecado não começou no Éden, com a queda dos nossos primeiros pais. O pecado vai para além de Gn. 3. Deus havia criado as hostes angelicais, e todas as cousas que Deus fez eram boas quando vieram das mãos do seu Criador. 2 Pe. 2:4 diz que: Deus não poupou a anjos quando pecaram, antes, precipitando-os no in-ferno, os entregou a abismos de trevas, reservando-os para juízo. A que-da de anjos ocorreu quando legiões deles “abandonaram o seu estado original” (Jd. 6). O tempo exato dessa queda não se sabe, mas Jô. 8: 44 diz que o “diabo foi homicida desde o princípio”, e 1 Jo. 3:8 diz que ele vive “pecando desde o princípio”.

Fonte: Campos (2013, p. 149-150).

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Consequências do Pecado e Considerações Filosóficas

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humana. Podemos ver mentira e infidelidade, adultério, fornicação, prevarica-ção, guerras, injustiças, explorações, avareza e usura em toda a raça humana, o salmista Davi, no salmo 14:3 que todos se desviaram escreve no Salmo 51: 5, que foi gerado e concebido em pecado, no Salmo 143:2, que nenhum ser vivente é justo aos olhos do Senhor, no Antigo Testamento.

No Novo Testamento encontramos a universalidade do pecado em João 1:10-11, em que João afirma que o mundo não o quis conhecer ou receber a Jesus; João 3: 19 assevera que os homens amaram mais as trevas, porque suas obras eram más; em Romanos 1: 18-27, Paulo afirma que os homens não ren-deram glórias ou graças a Deus e passaram a adorarem a si mesmo recebendo sua justa recompensa; em Romanos 3:23; 6:23 há a afirmação de que todos pecaram e que o salário do pecado é a morte; em Romanos 5: 12-21, o após-tolo Paulo escreve que todos pecaram e, também, que o pecado de Adão foi imputado sobre toda a raça humana; e finalmente em Romanos 8: 20-22, Paulo escreve que toda a criação e a natureza gemem por causa do pecado humano.

Observamos extensão e o dano do pecado no homem, em sua descen-dência e na criação, nenhum ser vivente foi excluído ou poupado do pecado. A ação do pecado recaiu sobre todo o gênero humano e sobre toda a cria-ção que habita neste planeta. Agora, veremos os vários conceitos filosóficos, sociais e as várias correntes do pensamento cristão que explicam o pecado. Depois abordaremos o que entendemos ser o conceito mais próximo do que a Bíblia ensina sobre o pecado. E, por último, a grande estratégia do Senhor em nos libertar do pecado enviando Seu Filho amado, como nosso resgatador.

Vejamos o pecado dentro de algumas perspectivas filosóficas e sociais, de acordo com alguns pensadores ocidentais influenciados pelo secularismo cristão.

■ Teoria Dualista do Pecado

Essa teoria é fundamentada em princípios da filosofia grega e introduzida na igreja cristã em seus primórdios. Sustenta a existência do mal e do bem como forças antagônicas, considerando a alma boa e a matéria má. Segundo dua-listas, somente por meio da morte é que conseguiremos nos livrar do mal.

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■ Pecado como Privação

De acordo com o filósofo alemão Leibnitz (1646-1716), este mundo é o melhor que se tem, a existência do pecado é algo inevitável, porque o ser humano é limi-tado e essa limitação o levará a praticar o pecado. Essa teoria tende a minimizar a graça de Deus, pois o homem não conseguirá deixar de fazer o mal e também tende a desprezar o sentimento de culpa que o pecado causa nas pessoas.

■ Pecado como uma ilusão

Segundo esse princípio, o pecado existe por causa das limitações que o homem tem em relação a Deus, se o homem tivesse o conhecimento proveniente do pró-prio Deus, o pecado não existiria. Entretanto, essa teoria, que é defendida por Spinoza e também por Leibniz, não consegue explicar, por exemplo, os terríveis frutos do pecado na história da humanidade.

■ Pecado como falta de consciência de Deus, pelo fato do homem estar preso aos sentidos

Elaborado por Schleimarcher (1768-1834), considerado o pai do liberalismo teológico, esse princípio sustenta que o conhecimento do pecado depende do conhecimento que o homem tem de Deus, quando sua consciência se desperta em relação a Deus, imediatamente toma consciência de sua pecaminosidade. O pecado é uma imperfeição inerente, o pecado só existe na consciência do homem, o mal sempre esteve presente na existência humana, mesmo no estado de ino-cência, pois sua consciência não era suficiente forte para dominar a natureza sensitiva do homem. O problema dessa teoria é que acaba fazendo de Deus o autor do pecado, uma vez que foi Ele o criador da natureza sensorial do homem.

■ Pecado como fruto da ignorância do homem em relação ao Reino de Deus e da confiança em Deus

Princípio desenvolvido por Albrecht Ritschil (1822-1889), teólogo liberal alemão que entendia que o pecado só se compreende a partir da consciência cristã que o homem tem. Os homens que não conhecem a Deus, estão alheios a consciência cristã, não possuem o conhecimento do pecado e, por isso, não possuem a consciência do que seria pecado. No entanto, ao tomar consciência da obra de redentora de Deus,

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Consequências do Pecado e Considerações Filosóficas

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o homem descobre sua falta de confiança em Deus e recebe o perdão divino, pois a ignorância é perdoável. Este conceito se choca com o conceito bíblico de que o pecado é a transgressão da lei de Deus, tornando, assim, o homem condenado por Deus.

■ Pecado como egoísmo

Princípio que sustenta que o pecado reside no fato do homem colocar seu ego acima de Deus. Embora o egoísmo seja pecado, não podemos considerar o ego-ísmo como a essência do pecado, pois o pecado consiste na transgressão de Deus.

■ Pecado como fruto da evolução humana

Essa teoria defende que os pecados advêm dos instintos primitivos do homem, derivados dos animais inferiores, fazendo com que o homem cometa o mal. Essa teoria também acredita que só pode ser considerado pecado o que o homem faz após ser conscientizado da lei moral de Deus. Trata-se, no fundo, de uma tenta-tiva de explicar o pecado dentro de uma perspectiva evolucionista.

■ Pecado como opressão e injustiça sobre os pobres e marginalizados:

Pode-se afirmar, com certeza, que o pecado é injustiça e exploração social. Aliás, a própria Bíblia, em Gênesis 11, já nos ensinou sobre o pecado cometido por Ninrode ao escravizar e oprimir os homens. Depois no próprio Livro de Êxodo encontramos o Senhor libertando os seus filhos da tirania opressora dos egípcios. Ao lermos tam-bém os profetas maiores, como exemplo Isaías 58: 6-8, vemos que o Senhor exorta a Israel afirmando que Israel não oprima mais seus irmãos e que reparta seu pão com os famintos e marginalizados. Sem dúvidas não podemos esquecer que o Senhor exer-cerá seu juízo contra todos os opressores, pois, Ele é o Deus dos órfãos, das viúvas e dos estrangeiros, mas não podemos limitar o pecado apenas sobre este princípio, pois o pecado é muito mais profundo do que apenas as injustiças sociais. O pecado é, antes de tudo, uma rebelião e incredulidade em relação a Deus e Sua vontade!

Todas estas teorias são tentativas humanas de tentar entender e explicar o pecado à luz da razão humana, mas todas falham ao desprezar os princípios bíblicos, que ensinam que o pecado é caracterizado pelo abandono do Senhor, uma rejeição à Palavra do Senhor e insubmissão a Deus. A seguir, investigare-mos o conceito bíblico do pecado.

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CONCEITO BÍBLICO SOBRE O PECADO E AS TEORIAS SOBRE SUA TRANSMISSÃO

No capítulo, anterior vimos os vários conceitos apresentados por filósofos, sociólogos e teólogos que tentaram explicar o pecado fundamentado na filo-sofia e no iluminismo. Neste capítulo, será abordado o pecado na perspectiva bíblica e teológica.

■ Pecado como mal na perspectiva de Deus

Com certeza podemos entender, sim, que o pecado se constitui em algo mal, movido pelo mal e pelo coração maligno, mas precisamos considerar também que nem tudo que denominamos como algo mal, realmente seja algo mal em si mesmo. Tomo como exemplo, o tratamento do Senhor em nossas vidas que em muitas situações nos trazem sofrimento e dor, mas não podemos esquecer que essas situações visam desenvolver o caráter de Jesus e nos levar para uma vida maior de santidade e de amadurecimento, isto é, mesmo que no momento nos pareça algo mal, com certeza produzirá em nós frutos para uma vida eterna e um eterno peso de glória. Após definirmos, acima, o que entendemos como pro-cesso divino, veremos, abaixo, o mal aos olhos do Senhor.

Pecado na esfera bíblica é um mal moral, aliás, as próprias palavras hebraicas que foram traduzidas por pecado, em nossas versões, trazem consigo o sentido de ser um mal moral. Sobre isso Berkhof afirma: “Muitos nomes empregados na Escritura para designar o pecado indicam o seu teor moral” (BERKHOF, 1990. p. 233). Analisando o pecado, na perspectiva bíblica, e seus desdobramentos na vida humana, percebemos que não se trata de uma tragédia ou uma desgraça que se abateu na vida humana, mas, antes, constitui-se em uma ação deliberada e ativa do homem em desobedecer a Deus.

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Conceito Bíblico Sobre o Pecado e as Teorias Sobre sua Transmissão

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■ Pecado é uma verdade absoluta

Embora vivamos em dias que apregoam a bondade e as conquistas humanas e, socialmente, a palavra pecado pareça ofensiva, não podemos classificar o pecado como simplesmente um ato falho, defeito. O pecado, segundo a Bíblia, constitui--se em uma realidade na qual o ser humano não consegue se livrar.

■ O Pecado sempre está relacionado a uma atitude de rebeldia contra Deus e sua vontade

Pecado, segundo vemos na Bíblia e em nossas próprias vidas sempre esteve rela-cionado numa atitude de falta de conformidade em relação á vontade do Senhor expressa em Sua Palavra (Rm. 1: 32; 2: 12-14; 4:15).

■ Culpa e Corrupção Elementos do Pecado Original:

Como consequência do pecado, o ser humano passou a ser considerado culpado diante de Deus e entrou no estado de corrupção (teologicamente conhecido como Depravação Total). Não se trata, neste caso, de um sentimento de culpa, algo abstrato, que atua em nós quando pecamos, mas aqui, segundo Heber C. de Campos (2013, p. 166): “o estado no qual se merece a condenação ou no qual se sente merecer o castigo pela violação da lei ou de qualquer exigência moral”. Elienai Cabral, teólogo e escritor assembleiano, também participa do mesmo pensamento ao afirmar que

a culpa é o estado ou a condição delituosa de quem transgrediu a lei. A culpa toma forma de condenação pela desaprovação de Deus. Logo após Adão e Eva terem pecado, seus olhos foram abertos, ou seja, tive-ram consciência de suas culpas. “então foram abertos os olhos de am-bos, e conheceram que estavam nus (Gn. 3: 7). A culpa é a convicção na consciência, pela violação voluntária da lei de Deus. O transgressor é conscientizado pela consciência ou pela lei, que o seu ato exige expia-ção para que seja perdoado (CABRAL, 2008, p. 314).

Pelas frases acima, tanto de Heber C. Campos quanto Cabral, pode-se inferir uma dupla implicação, relacionada à culpa e à pena, uma seria a reatus culpae (réu de culpa) e a reatus poenae (réu de pena). Ao analisarmos, teologicamente, a expressão “réu de culpa”, entende-se que o ser humano por ter causado pecado é considerado na esfera divina um réu de culpa, ou seja, a culpa faz parte dele,

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por ser um pecador nato, por ter nascido em pecado; mesmo depois de per-doado e justiçado por Cristo e ser salvo pelos méritos de Cristo, ele continua um pecador diante do Senhor. Agora, falando sobre a reatus poenae (réu de pena), ela implica numa pena ou castigo que recai como consequência sobre o criminoso, este castigo pode ser pago pelo próprio réu ou por alguém que o substitui; nessa situação, a culpa se baseia em uma relação com a lei, isto nos traz a implicação de que um substituto pode assumir o lugar do culpado, levando sobre si a culpa que recaía sobre o penalizado. Sobre esse resgatador, Heber C. Campos, afirma:

é nesse sentido que Jesus levou as nossas culpas, isto é, pagando a pe-nalidade do réu. Nesse sentido, nunca mais seremos culpados, isto é merecedores do castigo, porque não mais temos dívidas com a lei. Se-remos santos e limpos, porque essa culpa pode ser removida pela satis-fação da justiça (CAMPOS, 2003, 166).

Por isso, podemos afirmar que, em Cristo todo o pecado pode ser perdoado, pois não existe pecado que Deus não possa perdoar, exceto a blasfêmia contra o Espírito Santo que consiste na rejeição a Jesus, uma vez que, fazendo assim, o homem rejeita o amor e atribui aos demônios tudo que Jesus fez. Sobre o papel de Jesus Cristo, nesta esfera de ação judicial, Cabral afirma:

veio Jesus Cristo, da parte de Deus; se fez carne e habitou entre nós (Jo. 1:14), assumindo a penalidade da lei, causada pela nossa culpa tor-nando-se o nosso substituto vicário, justificando o homem dos seus pecados (Rm. 4:24, 25; 5: 1,8). Adão cometeu o pecado e na qualidade de chefe federal da raça humana; por ele foi imputada a todos os seus descendentes a culpa do pecado. A bíblia enfatiza este ensino quando declara que a morte é o castigo do pecado, para todos os seus descen-dentes (Rm. 5: 12-19; Ef. 2:3; 1 Co. 15:22) (CABRAL, 2008, p. 317.)

Como vimos acima, de acordo com as frases tanto de Campos quanto de Cabral, podemos afirmar que, embora culpados diante de Deus, por causa de nossa natu-reza pecaminosa, Jesus Cristo nos absolveu no tribunal de Deus. Jesus Cristo, o santo filho de Deus, ao assumir nosso lugar, levou sobre si todos os nossos peca-dos, perdoando-nos. Louvado seja Deus por tão grande amor e salvação! Por isso, a Bíblia diz, em João 8: 36: “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (BÍBLIA, 2005). Além disso, o apóstolo Paulo afirmou, em Romanos 8:3:

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porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela car-ne, isso fez Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado (BÍBLIA, 2005).

Mais a frente, no versículo 34, outra gloriosa verdade: Quem os condenará? “É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós” (BÍBLIA, 2005).

Vimos como o pecado é visto por Deus e como o Juiz dos Juízes tratou o pecado em seu tribunal divino e como Ele, seu Filho amado, absolveu-nos neste tribunal. Agora, veremos a questão da imputação do pecado na vida do ser humano e algumas teorias que tentam explicar como se deu esta atribui-ção de responsabilidade.

Abordaremos, a partir daqui, alguns posicionamentos teológicos que tentam explicar como se deu essa transferência do pecado ou imputação, lembrando que este termo, segundo O Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, implica em “atribuir (a alguém a responsabilidade)” (FERREIRA, 1986, p. 926) do pecado na raça humana. Queremos enfatizar que estes princípios são frutos de interpreta-ções bíblicas e que, por isso, não podem ser recebidas como verdades absolutas, por mais próximas que sejam da fiel interpretação das Escrituras, pois somente as Escrituras Sagradas é que possuem esse caráter absoluto.

■ Pelágio

Pelágio, monge inglês do Século IV, entendia que o pecado era também a trans-gressão da lei, mas diferentemente de Agostinho, que enfatizava que o pecado afetou todas as faculdades (emoção, intelectual, físico, e a espiritualidade) huma-nas, Pelágio entendia que Deus criou o homem bom, e mesmo depois de pecar o homem continuaria com a capacidade de fazer o bem, podendo escolher livremente, fazê-lo ou não, ensinando que o livre arbítrio pode ser utilizado ple-namente, com o poder de praticar o bem ou o mal de acordo com sua vontade; para ele, o pecado consistia em atos de vontade. Outro ponto controverso de Pelágio é que o pecado não se transferiu de Adão para seus descendentes, não o pecado original; para ele, as crianças nascem puras, mas o meio em que vivem pode corrompê-la. Para ele, o homem recebeu de Deus, o poder de determinar o seu futuro. Pelágio também aceitava a universalidade do pecado, por causa

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dos fatos que o revelavam. As objeções que se fazem é que estes pressupostos negam; como exemplo, temos o fato de que o homem seja escravo do pecado, conforme Romanos 1:18-32, texto em que Paulo aponta a impotência do homem frente ao pecado, ou como Jesus afirmou que os judeus morreriam por causa de seus pecados, conforme João 8:21, 22, 34, 34. Outra objeção apresentada é que tudo aquilo que não esteja subordinado a uma escolha consciente está privado de qualquer qualidade moral; pela Bíblia, em textos como Jr. 17:9; Sl. 51:6, 10; Mt. 15:9, todas as escolhas humanas passam antes pelo crivo de sua consciência e finalmente todos nós temos uma predisposição para o pecado.

■ Arminius (1560-1609)

Arminius (ou Armínio) foi um teólogo que, embora aceitasse a imputação do pecado de Adão sobre a raça humana, como Lutero e Calvino, acreditava que todos os seres humanos encontravam-se: “[...] naturalmente destituídos da retidão original. Assim, toda a humanidade é incapaz, sem a ajuda divina, de obedecer perfeitamente a Deus ou de alcançar a vida humana” (FALCÃO, 2012, p. 409). Analisando esta frase sobre Armínio, percebemos que ele aceitava o pecado original de Adão, mas não aceitava o posicionamento de Agostinho da imputabi-lidade do pecado sobre a raça humana. Ele mesmo em uma de suas falas afirma:

é passível de discussão se Deus, poderia ficar irado por causa do peca-do original que foi nascido conosco, visto que, pareceu ser impingido sobre nós pelo próprio Deus, como uma punição pelo pecado atual que havia sido cometido por Adão e por nós (ARMINIO apud CAMPOS, 2013, p. 180-181).

■ Agostinho (350-430)

Considerado um dos maiores mestres de todos os tempos da Igreja Cristã, seus escritos, como exemplo Cidade de Deus, moldaram o pensamento da Igreja Cristã e da teologia ocidental sobre a imputação. Agostinho ensinava, com base em Romanos 5: 12-21, que por Adão ser o pai da raça humana, todos nós está-vamos representado nele, então, ao pecar, todos nós recebemos de seu pecado. Segundo Falcão: “Assim, o pecado de Adão foi atribuído a todos como algo ine-rente ao ser, possuidor de uma natureza destituída de amor a Deus e propensa para o mal” (FALCÃO, 2012, p. 409).

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Finalizando este nosso capítulo, podemos perceber o quanto a Palavra de Deus é profunda e como precisamos da iluminação do Espírito Santo e de Sua unção para compreendermos essa doutrina tão importante que trata da imputação do pecado sobre a raça humana. Gostaríamos de encerrar este capítulo citando a Confissão de Fé de Westminster, a qual expressa:

IV. Desta corrupção original pela qual ficamos totalmente indis-postos, adversos a todo o bem e inteiramente inclinados a todo o mal, é que procedem todas as transgressões atuais. V. Esta cor-rupção da natureza persiste, durante esta vida, naqueles que são regenerados; e, embora seja ela perdoada e mortificada por Cristo, todavia tanto ela, como seus impulsos, são real e propriamente pe-cado (CONFISSÃO, 1984, p. 14).

As Confissões são as declarações de fé de grupos pertencentes ao cristia-nismo. A confissão conhecida como Confissão de Fé de Westmisnter leva este nome porque foi elaborada na Abadia de Westminster, na cidade de Lon-dres, onde iniciou seus trabalhos em 1643 e os e os concluiu em 1649. o con-cílio: reuniu-se em uma das salas da Abadia de Westminster, na cidade de Londres, e ficou conhecido na história pelo nome de Assembleia de West-minster. Este concílio foi convocado pelo Parlamento Inglês para preparar uma nova base de doutrina e forma de culto, e era governo eclesiástico que devia servir para a Igreja do Estado, nos Três Reinos. Os teólogos mais erudi-tos daquele tempo tomaram parte nos trabalhos da Assembleia. A Confissão de Fé e os Catecismos foram discutidos ponto por ponto, aproveitando o que havia de melhor nas Confissões já formuladas. O resultado foi a organização de um sistema de doutrina cristã, baseado nas Escrituras e notável pela sua coerência em todas as suas partes.

Fonte: Confissão (1984, p. 05).

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CRISTO E O PECADO

Certamente, ao ler o texto até este ponto de nossa pesquisa, você percebeu que mencionamos Jesus como aquele que resolveu o nosso problema em relação ao nosso pecado, mas acredito ser necessário dedicar um capítulo para vermos o que a Bíblia diz em relação à obra de Jesus e sua ação contra o pecado. Abaixo serão citados alguns textos bíblicos que evidenciam isso.

Gênesis 3: 15 diz que após pecar, o Senhor já promete que viria o descendente que esmagaria a cabeça da serpente. Em Isaías 53:6, lemos que o Servo Sofredor (Jesus) seria ferido e traspassado por nossos pecados recaindo todo o nosso pecado sobre ele. O evangelista Mateus 1: 21 afirma que Jesus veio para salvar o seu povo de seus pecados. Mateus 18:11 diz que Jesus veio buscar e salvar o que se havia perdido. João 3: 16-17 revela que Deus amou o mundo de tal maneira que enviou seu filho para salvar e não para condenar o mundo. No evangelho de João 1: 29, lemos que Jesus é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Em Atos 3: 19, Pedro nos exorta a nos arrepender de nossos pecados. Pedro 4: 12 diz que não há salvação fora de Cristo. Em Romanos 3:25, Paulo nos diz que Cristo é a nosso meio de salvação. Em Romanos 5, ao longo de todo o capítulo, Paulo ensina que Cristo, como o Segundo Adão, nos redime de nossos pecados.

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Em 2 Coríntios 5:19, Paulo afirma que Deus estava em Cristo nos reconciliando com ele. Em Colossenses 2: 13-14, Paulo ensina que todos os nossos delitos foram perdoados por Deus, pois foram cancelados e removidos por Cristo. Em Hebreus 6: 19-20, o escritor nos afirma que Jesus Cristo é o nosso Sumo Sacerdote que nos possibilitou a entrada, junto a Deus. E, finalmente, vemos em Apocalipse 19:1-2 os anjos e os servos do Senhor bradando em louvor e adoração a Deus: “Depois destas coisas, ouvi no céu uma como grande voz de numerosa multidão, dizendo: Aleluia! A salvação, e a glória, e o poder são do nosso Deus, porquanto verdadeiros e justos são os seus juízos” (BÍBLIA, 2005).

Neste capítulo vimos que Cristo, nosso Resgatador, Salvador e Senhor, deu--nos a vida em lugar da morte espiritual que tínhamos, deu-nos vida eterna no lugar da condenação eterna que nos aguardava, deu o céu no lugar do Inferno que merecíamos. Por isso, o escritor de Hebreus registra em 2:13, na forma de uma pergunta: como poderemos escapar se negligenciarmos tão grande salva-ção? (BÍBLIA, 2005, Hb.2:3).

Na próxima e última parte de nosso estudo, vamos nos dedicar a tecer nossas considerações finais sobre o pecado, este tema tão pertinente que percebemos em toda a Bíblia!

Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados.

(Colossences 1:13-14).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Finalizamos os nossos estudos sobre a doutrina bíblica do pecado, que consiste em se opor a tudo aquilo que diz respeito a se opor a Deus e sua vontade, porém vamos relembrar alguns pontos importantes.

O pecado teve sua origem na eternidade, quando Lúcifer movido pelo orgu-lho, rebelou-se contra Deus e, com ele, arrastou muitos anjos que não guardaram seu estado original e foram expulsos da presença do Senhor, conforme a carta de Judas. Tal fato nos deixa perplexos, pois, como vimos, a Bíblia não nos for-nece uma ontologia (estudo) ou doutrina das causas e origens do pecado no universo, ela relata simplesmente o fato. Porém, sobre sua origem, na humani-dade, a Bíblia nos dá alguma luz.

Vimos também que várias foram as consequências do pecado, na vida do homem e até mesmo da natureza: morte espiritual, (Is 59:2; Rm 6: 23; Ef 2:1-2); enfermidade, dores, morte física (Gn 3:14-18); violência; condenação (Rm 5:1); réu de culpa; depravação total; imagem deformada; imputação do pecado (Rm 5:12); efeitos na natureza (Rm 8:18-22; Is 24:19; Is 29:6; Gn 3:17-18); separação eterna (2 Ts 1:9; Ap20:10).

Por fim, vimos que Cristo é nosso resgatador (Rm 5:16-18; 6:23). Em Cristo, a imagem desfigurada do homem é restaurada pela fé, até que cheguemos a esta-tura de varão perfeito (Ef 4.13).

Portanto, concluindo nosso estudo sobre a doutrina do pecado, vimos o pecado numa perspectiva bíblica e podemos afirmar que, pela fé em Cristo, todos nós fomos justificados, libertos da lei, do pecado e da morte, pois Cristo levou sobre si todo o nosso pecado e toda a ira de Deus que deveria vir sobre nós, sendo ele nosso Sumo Sacerdote que, segundo Hebreus 7: 25-26, vive a interce-der por nós, e agora, santificados nele, podemos viver para sua glória, sabendo que nada nesta terra, nem pecado, morte, perigo, espada, principados ou potesta-des poderá nos separar de seu amor, pois estamos em Cristo! Glória, pois, a Ele!

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1. No Antigo Testamento, o critério de avaliação entre o que é correto ou incorreto é Deus revelado na lei e nos profetas. Segundo Günter, há três elementos que o Antigo Testamento não fazia distinção. Baseado nessa afirmação entendemos que o pecado se constituía então na violação da aliança estabelecida entre o Senhor e a nação de Israel. Quais são esses três elementos ou expressões?

2. A palavra hamartia, do grego, ocorre cerca de 170 vezes no Novo Testamento, em sua grande maioria nos escritos paulinos. Vendo sua definição no dicioná-rio (léxico) temos diversos possíveis significados, porém essa palavra carrega em si um significado relevante, qual é esse significado?

3. Observe as citações abaixo:

I. João Calvino afirmou que: “Também há de notar que o primeiro homem se apartou da obediência de Deus, somente por haver sido enganado com as mentiras de Satanás”.

II. Stott afirma: “Não é verdade que a mente humana compartilha os efeitos devastadores da queda. A “depravação total” do homem significa que cada parte da humanidade dele foi de alguma forma corrompida”.

III. Charles Finney afirma “Jesus Cristo é a verdadeira imagem de Deus (A pala-vra sempre implica deterioração ou decadência de um estado anterior de perfeição moral ou física. A depravação sempre implica um distanciamento de um estado de integridade original ou da conformidade com as leis por parte do sujeito à depravação”.

IV. Louis Berkhof afirma “O contágio do seu pecado espalhou-se imediata-mente pelo homem todo, não ficando nenhuma parte de sua natureza isenta do pecado, mas contaminou todos os poderes e faculdades do corpo e da alma”.

Assinale a alternativa correta:

a) Apenas I e II estão corretas.

b) Apenas II e III estão corretas.

c) Apenas III está correta.

d) Apenas III e IV estão corretas.

e) Nenhuma das alternativas está correta.

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4. Cite as perspectivas filosóficas e sociais sobre o pecado, produzidas por pensa-dores ocidentais influenciados pelo secularismo cristão.

5. Qual dos itens não é referenciado na perspectiva bíblica teológica:

a) Pecado como mal na perspectiva de Deus.

b) Pecado é uma verdade absoluta.

c) O Pecado sempre está relacionado a uma atitude de rebeldia contra Deus e sua vontade.

d) Culpa e Corrupção Elementos do Pecado Original.

e) Pecado como fruto da ignorância do homem em relação ao Reino de Deus e da confiança em Deus.

6. Qual dos textos abaixo, não evidencia, claramente, a relação entre a obra de Jesus e sua ação contra o pecado, tendo como base os textos que investigamos até aqui?

a) Is 53.6.

b) Mt 1.21.

c) Mc 14.3.

d) Mt 18.11.

e) Jo 3.16-17.

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ESCRAVIDÃO DO PECADO

Por: Revista Ultimato

O pecado não somente separa; ele escraviza. Além de nos afastar de Deus, ele também nos mantém cativos. Consideraremos agora a “internalidade” do pecado. Mais do que uma atitude ou hábito visível, o pecado revela uma profunda e arraigada corrupção em nosso interior. Na verdade, os pecados que cometemos são manifestações exterio-res e visíveis de uma enfermidade interior e invisível, são os sintomas de uma doença moral. Jesus empregou a metáfora da árvore e seus frutos para explicá-lo. Ele disse que o tipo de fruto produzido pela árvore (uma figueira ou videira) e sua condição (boa ou má) dependem da natureza e da saúde da árvore. Da mesma forma, “a boca fala do que está cheio o coração”.

Essa declaração de Jesus contradiz muitos reformadores e revolucionários sociais moder-nos. Certamente a maneira como fomos educados, o ambiente em que fomos criados, o sistema político e econômico sob o qual vivemos exercem uma influência (boa ou má) so-bre nós. Além do mais, deveríamos lutar por justiça, liberdade e pelo bem-estar de todos os homens. Entretanto, Jesus não atribuiu a nenhuma dessas coisas os males da socie-dade humana, e sim à própria natureza, ou “coração”, do homem. Vejamos o que ele diz:

Porque de dentro, do coração dos homens é que procedem os maus de-sígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Ora, todos estes males vêm de dentro e contaminam o homem.(Marcos 7.21-23)

O Antigo Testamento já ensinava essa verdade. Como coloca Jeremias: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto, quem o conhece-rá?” A Bíblia está repleta de referências a essa infecção da natureza humana que cha-mamos de “pecado original”. Trata-se de uma tendência ou predisposição egoísta, que herdamos de nossos pais, e que está profundamente arraigada em nossa personalidade humana e se manifesta milhares de vezes, de maneira repulsiva. Paulo chamou-a de “carne”, e nos deixou uma lista de suas “obras”, ou consequências.

Ora, as obras da carne são conhecidas, e são: prostituição, impureza, lascí-via, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissen-sões, facções, invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas. (Gálatas 5.19-21)

Como o pecado é uma corrupção interna da natureza humana, ele nos mantém escravi-zados. Não são alguns atos ou hábitos que nos escravizam, mas sim a infecção maligna de onde eles procedem. Muitas vezes, no Novo Testamento, somos descritos como “es-cravos”. Podemos nos ofender com isso, mas é a pura verdade. Jesus provocou a indigna-ção de certos fariseus quando disse a eles: “Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”.

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Eles retrucaram: “Somos descendência de Abraão e jamais fomos escravos de alguém; como dizes tu: Sereis livres?” Jesus respondeu: “Em verdade, em verdade vos digo: Todo o que comete pecado é escravo do pecado”.

Por várias vezes, em suas epístolas, Paulo descreve a servidão humilhante imposta a nós pelo pecado:

Porque, outrora escravos do pecado… Entre os quais nós também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos. Pois nós também, outrora, éramos néscios, desobedientes, desgarrados, escravos de toda sorte de paixões e prazeres. (Romanos 6.17; Efésios 2.3; Tito 3.3)

Tiago nos dá um exemplo de nossa falta de autocontrole quando menciona a dificul-dade que temos em refrear a língua. Em um capítulo bastante conhecido, repleto de metáforas, ele diz que se alguém “não tropeça no falar, é perfeito varão, capaz de refrear também todo o seu corpo”. Ele destaca que “a língua, pequeno órgão, se gaba de gran-des coisas”. A sua influência se espalha como o fogo; ela é “mundo de iniquidade” e está carregada de “veneno mortífero”. Podemos domar todos os tipos de feras e pássaros, ele acrescenta, “a língua, porém, ninguém consegue domar”. (Tiago 3.1-12)

Sabemos disso muito bem. Todos nós temos ideais elevados, mas vontade fraca. Que-remos viver uma vida abnegada, mas estamos acorrentados ao nosso egoísmo. Embora possamos nos gabar de que somos livres, na realidade não somos outra coisa senão escravos. Devemos nos aproximar de Deus com lágrimas e dizer:

Não posso, Senhor, não há nada que eu possa fazer, nenhuma batalha em minha vida que eu possa realmente vencer. Mas agora venho lhe dizer o quanto eu lutei e falhei, em minha história tão humana de fraquezas e futi-lidades. (Studdert Kennedy)

Regras de conduta não resolvem o nosso problema; não podemos cumpri-las. Mesmo que Deus nos diga claramente para não fazer alguma coisa, continuaremos fazendo até o final dos tempos.

Sermões também não adiantam; o que nós precisamos é de um Salvador. Mudar nossa mente através da educação não é suficiente, precisamos de uma mudança de coração. O homem descobriu o segredo da força física e o poder da reação nuclear. Agora ele pre-cisa do poder espiritual para libertar-se de si mesmo e ajudá-lo a conquistar e controlar o seu eu; um poder que dê a ele um caráter moral à altura de suas conquistas científicas.

Fonte: Ultimato (2014, on-line)¹.

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Material Complementar

MATERIAL COMPLEMENTAR

O Enigma do MalJohn W. Wenham

Editora: Vida NovaSinopse: muitas pessoas acham difícil harmonizar a crença na bondade de Deus com a presença de tanto mal no mundo. Mesmo que recorram à ajuda da Bíblia, elas apontam para os problemas morais levantados não apenas pelo Antigo Testamento, mas também pelo Novo: por exemplo, guerras, doenças, fomes, salmos imprecatórios e terríveis quadros de inferno e tormento. Em vista destas coisas, como podemos afirmar que Deus é bom? O Enigma do Mal começou como uma tentativa do autor no sentido de responder a algumas destas difíceis questões morais sobre a Bíblia. No processo de escrevê-lo, ele alcançou uma compreensão mais profunda sobre o que significa a bondade de Deus, mesmo diante da presença do mal.

Ensaio Sobre a CegueiraAno: 2008Sinopse: uma inédita e inexplicável epidemia de cegueira atinge uma cidade. Chamada de “cegueira branca”, já que as pessoas atingidas apenas passam a ver uma superfície leitosa, a doença surge inicialmente em um homem no trânsito e, pouco a pouco, se espalha pelo país. À medida que os afetados são colocados em quarentena e os serviços oferecidos pelo Estado começam a falhar as pessoas passam a lutar por suas necessidades básicas, expondo seus instintos primários. Nesta situação a única pessoa que ainda consegue enxergar é a mulher de um médico (Julianne Moore), que juntamente com um grupo de internos tenta encontrar a humanidade perdida.Comentário: apesar de ter certas imagens chocantes, mostra a realidade da natureza pecaminosa do homem.

No vídeo “Pecado e Idolatria”, você terá acesso à uma breve análise sobre pecado, por D. A. Carson. Link: <https://www.youtube.com/watch?v=qqlJ6L6NA7s>.

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REFERÊNCIAS

ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2012.

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BERKHOF, L. Teologia Sistemática. Campinas: Luz Para o Caminho, 1990.

BÍBLIA. N. T. Epístola de Paulo aos Colossenses. In: BÍBLIA. Português. Bíblia Sagra-da: contendo o antigo e o novo testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida Revista e Atualizada. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), 2005.

BONHOEFFER, D. Tentação. São Leopoldo: Sinodal, 1983.

BROWN, C; COENEN, L. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamen-to. Volume: 3. São Paulo: Vida Nova, 1989a.

______. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. Volume 4. São Paulo: Vida Nova, 1989b.

CABRAL, E. et al. Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: Casa Publicado-ra das Assembleias de Deus, 2008.

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______. Institución de la Religión Cristiana. Livro: II. 1.5. Paises Bajos: Fundacion de Literatura Reformada, 1986b.

CAMPOS, H. C. Antropologia Bíblica. São Paulo: Universidade Presbiteriana Macke-nzie, 2013.

CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2017.

COSTA, H. M. P. João Calvino – 500 Anos. São Paulo: Cultura Cristã, 2009.

DOUGLAS, J. D. O Novo Dicionário da Bíblia. Volume: 2. São Paulo: Vida Nova, 1988.

FALCÃO, M. Curso de Teologia Básico. São Paulo: Rideel, 2012.

FERREIRA, A. B. H. O Novo Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa. Rio de Janei-ro: Nova Fronteira, 1986.

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HOEKEMA, A. Criados à Imagem de Deus. São Paulo: Cultura Cristã, 2010.

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SCHAEFFER, F. Poluição e a Morte do Homem. São Paulo: Cultura, 2003.

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REFERÊNCIA ONLINE

¹Em: <http://ultimato.com.br/sites/john-stott/2014/08/25/escravidao-do-pecado/>. Acesso em 25 fev. 2018.

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GABARITOGABARITO

1. Pecado, culpa e castigo, porque o pecado, em si mesmo, é uma alienação dEle e, assim, traz sobre si o dano e o castigo.

2. O de ser tudo aquilo que se opõe a Deus.

3. Opção correta é a D.

4. Teoria dualista do pecado; pecado como privação; pecado como ilusão; pecado como falta de consciência de Deus, pelo fato do homem estar preso aos senti-dos; pecado como fruto da ignorância do homem em relação ao Reino de Deus e da confiança em Deus; pecado como egoísmo; pecado como fruto da evolução humana; pecado como opressão e injustiça sobre os pobres e marginalizados.

5. Opção correta é a E.

6. Opção correta é a C.

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UN

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Professor Dr. Ricardo Bitun

SOTERIOLOGIA ARMINIANA

Objetivos de Aprendizagem

■ Definir as bases que dão significado à Soteriologia.

■ Apresentar as bases da Teologia Arminiana.

■ Conhecer as origens do movimento Arminiano.

■ Entender os artigos de fé da teologia arminiana.

■ Comparar os artigos arminianos (FACTS) com os artigos Calvinistas (TULIP).

Plano de Estudo

A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

■ Introdução a Soteriologia

■ Introdução a Teologia Arminiana

■ Remonstrância

■ Os 5 artigos do Arminianismo

■ FACTS e TULIP

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INTRODUÇÃO

Olá, caro(a) aluno(a). Estamos nos aproximando do final de nossos estudos, mais precisamente, já caminhamos por três unidades e agora seguimos para a quarta unidade, em que daremos continuidade às bases teológicas para entender o movimento pentecostal e entender como esse movimento pensa teologicamente.

Na criação da base sistemática para seu aprendizado, estudamos o homem na Unidade II; nos referimos, então, ao estudo da Antropologia Bíblica. O segundo fundamento sistemático que estudamos, na Unidade III, foi o evento da queda e suas consequências, tanto na vida humana quanto na criação; nos referimos, então, à Hamartiologia, ou ao estudo sistematizado do Pecado.

Completando esse ciclo, veremos, nesta Unidade, o plano de Deus para o resgate da criação, em especial do homem, que fora criado à sua imagem e seme-lhança; nos referimos então à Soteriologia.

A Soteriologia é a área da Teologia Sistemática que trata do estudo da sal-vação humana, entre outras palavras, a ação de Deus para resgatar o homem da morte eterna.

No decorrer da história e do desenvolvimento teológico, ocorreram diversas tentativas de entender e, por conseguinte, sistematizar o que a Bíblia revela sobre a ação de Deus no que tange ao resgate, regeneração ou salvação do homem. Porém, dentro da teologia protestante, existem duas correntes, que se sobres-saem às demais, e que, portanto, polarizam as pesquisas e os debates sobre o tema. Referimo-nos ao Arminianismo e ao Calvinismo, que, do ponto de vista soteriológico, conflitam entre si de forma fundamental.

Para apresentarmos a questão acima, passaremos por uma introdução aos conceitos e as premissas elementares, bem como entenderemos a visão Arminiana, que orienta nossos estudos e faremos uma comparação com a visão Calvinista para melhor apreensão do conteúdo.

Introdução

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SOTERIOLOGIA ARMINIANA

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INTRODUÇÃO À SOTERIOLOGIA

A palavra Soteriologia é formada a partir de dois termos gregos σωτήριος [Soterios], que significa “salvação” e λόγος [logos], que significa “palavra”, ou “princípio”.

Não é difícil constatar uma enorme variedade de religiões oferecendo cami-nhos possíveis de salvação. Alguns por méritos, outros por obras, outros até mesmo no próprio aperfeiçoamento pessoal. A oferta de salvação goza de uma criatividade incomparável. Porém, as Sagradas Escrituras são categóricas ao afirmar que a salvação é a obra de Deus em favor do homem e não o contrário.

Após a chamada “queda” do homem, conforme estudamos na Unidade III - Hamartiologia, Deus, por sua infinita misericórdia e bondade, planejou um Novo e vivo Caminho, com o intuito de trazer de volta aqueles que um dia se perde-ram em seus delitos e pecados (BÍBLIA, 1995, Hb 10.20).

Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie.

(Bíblia, Efésios 2:8,9)

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Introdução à Soteriologia

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O chamado “plano da salvação” se dá por intermédio de Jesus Cristo, plano, este, conhecido antes da fundação do mundo (BÍBLIA, 1995, 1Pe 1.20), na Plenitude dos Tempos, como as boas novas do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo (BÍBLIA, 1995, Gl 4.4; Ef 1.10; Rm 11.25; Jo 1.16).

O ponto principal, basilar e fundamental deste Plano da Salvação está na pes-soa de Jesus Cristo, o Salvador. Ele é o mediador da “nova aliança” (BÍBLIA, 1995, Hb 12.24; Hb 8.13; Jer 31.31; 2 Cor 3.6; Lc 22.20; Mc 14.24; 1 Cor 11.25; Hb 8.6). Somente Ele poderia ser o mediador entre um Deus Santo, ofendido pelo pecado e uma criatura sem esperança e destituída da glória de Deus (BÍBLIA, 1995, Jó 9.32-33).

Ele, Jesus, ao mesmo tempo que solidário da raça humana e participante ativo desta humanidade, aproximava-se da divindade como verdadeiro Deus, levando como sacerdote e mediador as mazelas humanas (BÍBLIA, 1995, Hb 10.21; Jo 1.1; Hb 2.14-17). Ele, o mediador, encarnou-se e veio buscar e salvar o perdido (BÍBLIA, 1995, Lc 19.10; Jo 1.14).

Uma abordagem mais profunda sobre a perspectiva de Jesus Cristo como mediador pode ser obtida por meio do estudo da chamada Cristologia, em que o aluno poderá se aprofundar no tema e entender as diversas vertentes con-cernentes à essa, que como já mencionamos, é uma questão fundamental do cristianismo e da história da humanidade.

Várias são as indicações deixadas ao longo do Antigo Testamento descre-vendo a Salvação, que viria por aquele (o Messias, o Ungido) que resgataria o homem de sua eterna perdição. A primeira indicação, ou como os teólogos pre-ferem chamar, a primeira profecia messiânica, está registrada em Gn 3.15: “Porei inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e o descendente dela; este lhe ferirá a cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar” (BÍBLIA, 1995).

Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: o homem Cristo Jesus.

(Bíblia, 1 Tim 2.5)

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SOTERIOLOGIA ARMINIANA

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

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Deus promete o descendente da mulher (BÍBLIA, 1995, Gl 3.16-19) que libertaria o homem das algemas do pecado. Os conceitos utilizados no Antigo Testamento ajudam a fortalecer a esperança viva do povo de Deus quanto à vinda do Salvador (o Messias).

Vejamos então algumas destas palavras que são usadas para se referir à ideia de salvação:

■ ga’al: remir, libertar, vingar (BÍBLIA, 1995, Lev 25.33).

■ chayah: vivificar, reavivar (BÍBLIA, 1995, Is 57.15).

■ padah: resgatar, redimir, livrar (BÍBLIA, 1995, 2 Sam 7.23).

■ kaphar: resgatar, expiar, reconciliar (BÍBLIA, 1995, 2 Sam 21.3).

■ teshu’ah: salvação, livramento (BÍBLIA, 1995, Sl 40.16).

■ natsal: salvar, resgatar (BÍBLIA, 1995, Dt 23.14).

■ yasha: salvar, ser libertado (BÍBLIA, 1995, Jz 13.5).

Dentre todas, destacamos as palavras natsal e yasha. Natsal com o sentido de salvação física, pessoal ou nacional ocorre 212 vezes, enquanto yasha ocorre 354 vezes, e tem Deus, o Salvador como aquele que dá início à ação, e o povo, seu povo aquele que recebe a ação.

Mais frequentemente, porém, tem Deus como sujeito e o povo de Deus como objeto. Ele livrou os seus de todos os tipos de aflição, inclusive de inimigos nacionais e pessoais [...] Por isso, Yahweh é ‘Salvador’ (Is 43.11-12), ‘meu salvador’(Sl 18.14) é ‘minha salvação’ (2 Sam 22.3; Sl 27.1) (HORTON, 1996, p. 336).

No Novo Testamento temos a palavra sozô (σωζω), salvar ou preservar. (BÍBLIA, 1995, Mt 8.25; At 27.20,31; Mt 9.22; Mc 10.52; Lc 17.19; Lc 8.36; Tg 5.15). Na maioria das situações, refere-se à salvação que Deus providenciou por intermé-dio de Cristo (BÍBLIA, 1995, 1 Cor 1.21; 1 Tim 1.15). A salvação mediante a fé: “Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus” (BÍBLIA, 1995, Ef 2:8).

Na literatura cristã, o termo soter (salvador) era designado somente a Deus (BÍBLIA, 1995, 1 Tim 1.11) e a Jesus Cristo, o Salvador (BÍBLIA, 1995, At 13.23;

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Introdução a Teologia Arminiana

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Fp 3.20). Para A. W. Pink, a salvação é quádrupla: “salvo da penalidade, do poder, da presença e, mais importante, do prazer de pecar”(PINK, 2014, p. 85).

Vários são os sentidos e significados da palavra salvação, dependendo do contexto em que ela se encontra nas Escrituras. Vejamos alguns destes possíveis sentidos narrados nas Escrituras.

Salvação Física: (BÍBLIA, 1995, 1 Sam 17.47; Ex 14.30; Dt 33.29; Sl 106.8; 1 Sam 14.6; 2 Cr 20.17; Jer 23.5-6). Livramento de Deus dado a Israel quando este atacado por outras nações. Concepção de que Israel era o povo salvo e guardado por Deus.

Salvação Espiritual: (BÍBLIA, 1995, Sl 51.14). O Senhor Deus salva por meio do arrependimento dos pecados e consequente perdão.

Salvação como Cura: (BÍBLIA, 1995, Jer 17.14). A salvação trazendo bem--estar emocional e físico.

Salvação Futura: (BÍBLIA, 1995, Is 45.22; Is 53.4-6; Is 49.6; Is 52.10). A salva-ção de Israel e de toda a humanidade viria num futuro próximo. O servo sofredor tomaria sobre si nossas enfermidades, seria luz para os gentios a fim de que todos vissem a salvação do nosso Deus.

Visto estes conceitos fundamentais, sigamos adiante a fim de detalharmos um pouco mais o plano proposto por Deus para a salvação do homem. Veremos dentro da teologia Arminiana a maneira como Deus enviou a Jesus para resgatar a humanidade.

INTRODUÇÃO A TEOLOGIA ARMINIANA

Uma vez que temos os conceitos necessários para seguirmos pelo estudo da Soteriologia, podemos avançar para a introdução sobre a teologia Arminiana, que poucos conhecem, porém muitos seguem, mesmo sem compreendê-la teologicamente.

Segundo o teólogo Pentecostal David Mesquiati de Oliveira, “teologicamente, os pentecostais se caracterizam pelo Arminianismo e defendem o livre-arbítrio. Creem na doutrina da Trindade, tendem a ser liberais na interpretação bíblica e, frequen-temente, são marcados pelo dispensacionalismo (MESQUIATI, 2011, p. 93-94).

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SOTERIOLOGIA ARMINIANA

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

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A maioria dos teólogos pentecostais aderem à teologia arminiana, especial-mente no que concerne à soteriologia. Jacó Armínio, nasceu em 10 de outubro de 1560, em Oudewater, Países Baixos, vindo a falecer em 19 de outubro de 1609, em Leida, Países Baixos. Armínio foi pastor, professor, teólogo e o grande siste-matizador daquilo que se convencionou chamar teologia arminiana. Armínio estudou em Leiden, Genebra, e em Basileia; após a conclusão de seus estudos pastoreou a Igreja Reformada de Amsterdam. Permaneceu nessa igreja de 1588 a 1609 juntamente com o professorado em Leiden de 1603 a 1609. Durante este período, Armínio escreve seus principais pensamentos.

Armínio goza de prestígio mesmo fora do arraial pentecostal, conforme escreve o teólogo calvinista Richard Muller:

Tiago ou, como ele é mais corretamente chamado, Jacó Armínio (1559-1609) é um dos doze ou mais teólogos na história da igreja cristã que deu uma direção duradoura à uma tradição teológica e que, como resultado, carimbou seu nome sobre um ponto de vista doutrinário ou confessional específico. Ainda é mais surpreendente, portanto, que Armínio tenha re-cebido pouca atenção positiva de estudiosos e ainda espera discussão defi-nitiva de seu sistema de pensamento (MULLER in MARIANO, 2015, p. 3).

Segundo Roger Olson, um dos mais importantes teólogos arminianos da atualidade:Armínio se tornou o primeiro pastor holandês da igreja reformada holandesa da maior cidade da Holanda, exatamente quando ela estava emergindo de seu passado medieval e irrompendo na Idade de Ouro. Era, notadamente, benquisto e respeitado, tanto como pastor como pregador, e rapidamente se tornou um dos homens mais influentes de toda a Holanda. Casou-se com a filha de um dos principais cidadãos de Amsterdã e entrou para o grupo dos privilegiados e poderosos. Nem sequer seus críticos ousaram acusá-lo de abusar de seu cargo pastoral ou de qualquer outra falha pessoal (OLSON, 2013, p. 472).

É importante acrescentar que o Arminianismo não tem uma doutrina específica que abarque todo o Cristianismo. Não existe uma doutrina arminiana especial das Escrituras, segundo Roger Olson:

os arminianos do coração, ou arminianos evangélicos, creem nas Escri-turas como dito acima e, em muitas doutrinas têm a mesma opinião que os calvinistas. Há arminianos por exemplo que creem na inerrância bí-blica e outros que não crêem da mesma maneira (OLSON, 2013, p. 48).

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Os arminianos clássicos, ou evangélicos crêem na inspiração sobrenatural da Bíblia e sua autoridade sobre todos os assuntos de fé e prática. Segundo Olson, não há uma eclesiologia ou escatologia arminiana distintiva e (...) refletem o mesmo espectro de interpretações que os outros cristãos (...) acreditam na Trindade, na divindade e humanidade de Jesus Cristo, na depra-vação da humanidade devido à Queda primitiva, na salvação pela graça por meio da fé, somente.

Assim, as doutrinas distintivas do Arminianismo e do Calvinismo passam pela questão da soberania de Deus sobre a história da salvação e a providência e predestinação. Duas doutrinas chaves, na qual os arminianos se separam dos calvinistas clássicos.

Armínio deixou uma robusta obra teológica acerca daquilo que compreendia ser o processo de salvação. Seus seguidores foram chamados de Remonstrantes, por conta de entregarem, em 1610, aos seus líderes, um documento inti-tulado Remonstrância. A partir de então, aqueles que seguiam as ideias de Armínio recebiam a alcunha de remonstrantes, enquanto os que se opunham de contraremonstrantes.

O documento da Remonstrância se baseia em cinco pontos principais liga-dos à salvação. Este documento contava com o apoio de 44 ministros e teólogos das Províncias Unidas.

Passados alguns anos após a morte de Armínio, o movimento se divide em dois grandes grupos: Arminianismo de coração e Arminianismo de cabeça. Os de coração são chamados também de Arminianismo verdadeiro, ou evangélico. Os arminianos de cabeça são os liberais, segundo Roger Olson, “o pentecosta-lismo brasileiro pertence ao grupo ligado aos evangélicos” (OLSON, 2013, p. 472).

O pelagianismo, teologia combatida pela Igreja Cristã, por volta do século V, entendia que o homem seria responsável pela sua própria salvação, não necessi-tando da graça divina para obter sua salvação. Enquanto o arianismo (Oriente) questionava à Divindade de Cristo, o pelagianismo se associava às questões liga-das à natureza do homem após a queda.

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Tanto uma teologia como outra foram rebatidas pela Igreja, sobretudo por Agostinho que se opunha radicalmente contra esta ideia de Pelágio. Para Agostinho, o pecado original de Adão foi herdado por toda a raça humana. O homem depois da queda (BÍBLIA, 2005, Gen 3) era escravo do pecado, e, por mais que tentasse, não poderia parar de pecar. Valendo a máxima: “O homem peca porque é pecador e não é pecador porque peca”.

Pelágio, conhecido também como Pelágio da Bretanha, serviu como monge no mosteiro de Bangor, no País de Gales. Até onde se sabe, ele não desejava criar uma nova doutrina, antes, ele desejava se opor ao que entendia ser um descuido moral e um espírito profano entre os cristãos.

Segundo Pelágio, o homem seria capaz, por esforço próprio, de obter exce-lência na vida de santidade. Por certo, seu asceticismo rigoroso impressionava aqueles que o seguiam. Ao contrário do que a Bíblia ensina em relação à graça de Deus derramada em nosso favor, bem como a graça como fruto de todo o bem, Pelágio conquanto reconhecesse estas verdades, compreendia que eram apenas meios externos para sobressaltar os esforços humanos.

Segundo esta doutrina, o homem nascia sem pecado, como Adão quando criado, completamente inocente. A queda de Adão afetou apenas a Adão e não à raça humana, esta não era capaz de transmitir o pecado por meio das gerações. Estes pensamentos foram largamente disseminados por Pelágio e Celéstio em

O arianismo foi uma visão cristológica sustentada pelos seguidores de Ário, presbítero cristão de Alexandria nos primeiros tempos da Igreja primitiva, que negava a existência da consubstancialidade entre Jesus e Deus Pai, que os igualasse, concebendo Cristo como um ser pré-existente e criado, embo-ra a primeira e mais excelsa de todas as criaturas, que encarnara em Jesus de Nazaré. Jesus então, seria subordinado a Deus Pai, sendo Ele (Jesus) não o próprio Deus em si e por si mesmo. Segundo Ário, só existe um Deus e Jesus é seu filho e não o próprio Deus. Ao mesmo tempo afirmava que Deus seria um grande eterno mistério, oculto em si mesmo, e que nenhuma criatura conseguiria revelá-lo, visto que Ele não pode revelar a si mesmo.

Fonte: Spinelli (2014, p. 629-644).

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Roma, Sicília, África e Palestina. Assim, o homem nascia “moralmente neutro”, sendo capaz, de salvar a si mesmo, sem qualquer influência divina. Se baseia na máxima “Se devo, então posso”, trazendo a ideia de que a capacidade se cons-titui o limite da obrigação. Durante a Reforma protestante, umas das questões controversas enfrentada pelos reformadores foi acerca da natureza humana e a extensão do pecado original.

Seguindo numa linha semelhante, existiu o grupo dos semipelagianos, que teve seu início com os ensinamentos de João Cassiano (433 d.C.). Os Massilianos, como eram chamados os seguidores de João Cassiano, buscaram conectar os ensinamentos do Pelagianismo (negavam o pecado original contradizendo a teologia Agostiniana de que o homem nasce em pecado).

Cassiano ensinava que o homem pode, por esforço e vontade pessoal buscar a Deus, sem, necessariamente, precisar da graça sobrenatural de Deus (os ensina-mentos de Cassiano foram condenados pelo Segundo Concílio de Orange em 529).

O Semipelagianismo foi repelido pelos reformadores (exceção dos racio-nalistas ou antitrinitarianos). Ainda hoje, alguns calvinistas adotaram a prática de se referir à toda teologia que não está de acordo com o Calvinismo rígido (TULIP) como semipelagiana.

Segundo o teólogo H. Orton Wiley, da Igreja do Nazareno, o Semipelagianismo, “sustentava que restou poder suficiente na vontade depravada para dar o pri-meiro passo em direção à salvação, mas não o suficiente para completá-la. Isso deve ser feito pela graça divina” (WILEY, 1941, p. 56).

REMONSTRÂNCIA

Como já estudamos, o teólogo holandês Jacó Armínio, nasce num contexto onde o domínio católico espanhol procura se estabelecer no cenário europeu. A Holanda, maior província dos chamados países baixos, conquistam sua liber-dade do domínio espanhol, estabelecendo sua igreja nacional protestante.

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Fundada em 1566, a igreja reformada de Amsterdã não se perfilou com nenhum ramo específico do protestantismo, nem o luteranismo e nem o calvi-nismo. Armínio se destacou em seus estudos tornando-se rapidamente um jovem candidato ao ministério, tendo seus estudos financiados pela igreja.

Em 1588, Armínio iniciou o ministério na igreja reformada de Amsterdã, aos 29 anos de idade. Segundo um de seus biógrafos: “Armínio se tornou o primeiro pastor holandês da igreja reformada holandesa da maior cidade da Holanda, exa-tamente quando ela estava emergindo de seu passado medieval e irrompendo na Idade de Ouro” (ARMÍNIO, 2015a, p. 50).

Armínio, torna-se um crítico da doutrina do supralapsarianismo (do latim lapsus: ‘queda’), vigente na Holanda. O supralapsarianismo defende que os decre-tos de Deus da eleição e da reprovação precederam o decreto da queda. Ou seja, o supralapsarianismo ordena os decretos divinos de tal maneira que o decreto de Deus, em relação à predestinação dos homens à salvação ou à reprovação, ante-cede seus decretos de criar os homens e de permitir sua queda.

Segundo Roger Olson, alguns, insistiam que o supralapsarianismo era a “única teologia protestante ortodoxa e que qualquer outra opinião significava, de alguma forma, uma acomodação à teologia católica romana e, portanto, era uma aliada em potencial da Espanha, inimiga política dos Países Baixos” (Olson, 2013, p. 39).

A discussão se acirra e na série de sermões sobre a Epístola de Paulo aos romanos, Armínio “nega abertamente não somente o supralapsarianismo, mas também a eleição incondicional e a graça irresistível” (Olson, 2013, p. 39).

Os calvinistas que se opunham a Armínio em Amsterdã o acusaram de here-sia junto aos seus superiores, estes examinam a questão e o inocentam. Francisco Gomaro, catedrático de teologia daquele período, acusa Armínio de ser sim-patizante secreto dos jesuítas – uma ordem, de sacerdotes católicos romanos, especialmente temida, que era chamada “tropa de choque da Contra-Reforma”. Gomaro acusa Armínio de socinianismo, que era uma negação da Trindade e de quase todas as demais doutrinas cristãs clássicas.

Até sua morte, Armínio foi criticado, acusado e respondeu a diversos pro-cessos por conta de sua doutrina. Um de seus amigos íntimos discursou em seu enterro dizendo: “Viveu na Holanda um homem que só não era conhecido por

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quem não o estimava suficientemente e só não o estimava quem não o conhe-cia suficientemente”.

Após a morte de Armínio, quarenta e seis ministros e leigos holandeses respeitados redigiram um documento chamado “Remonstrância” que resu-mia a rejeição, por Armínio e por eles mesmos, do calvinismo rígido em cinco pontos. Por conta deste documento, os arminianos ficaram conheci-dos como remonstrantes.

Os remonstrantes foram acusados de apoiar sigilosamente os jesuítas, a teo-logia católica romana e de serem simpatizantes dos espanhóis. Os remonstrantes foram considerados como hereges e traidores.

Em 1618, foi ordenada a prisão dos principais pensadores arminianos, até que fossem analisadas pelo sínodo de Dort. O príncipe Maurício de Nassau, estabele-ceu-se a favor dos teólogos calvinistas. Encerrado em janeiro de 1619, o Sínodo de Dort, contou com mais de cem delegados, inclusive alguns da Inglaterra, da Escócia, da França e da Suíça.

Apesar das defesas do Arminianismo, os líderes remonstrantes foram con-denados como hereges. Pelo menos duzentos foram depostos do ministério da igreja e do estado e cerca de oitenta foram exilados ou presos. O presbítero, esta-dista e filósofo Hugo Grotius (1583-1645), foi confinado em uma masmorra da qual posteriormente escapou.

As doutrinas calvinistas foram padronizadas para a igreja reformada holan-desa, tornando-se base do acrônimo TULIP. Cada cânon, conforme eram chamadas as doutrinas, baseava-se em um dos cinco pontos da “Remonstrância”. As coisas que os arminianos negavam, Dort canonizou como doutrina oficial, obrigatória para todos os crentes protestantes reformados.

Após a morte de Nassau, muitos exilados voltaram e organizaram a Fraternidade Remonstrante, que cresceu e formou a Igreja Reformada Remonstrante, que ainda existe. A doutrina arminiana influenciou tanto a Inglaterra como a América do Norte nos séculos XVII e XVIII.

Segundo Olson, João Wesley (1703-1791) se tornou o arminiano mais influente de todos os tempos. Seu movimento metodista adotou o Arminianismo como teologia oficial e, por meio dele, tornou-se parte da tendência prevalecente na vida protestante da Grã-Bretanha e da América do Norte.

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OS 5 ARTIGOS DO ARMINIANISMO

Por fim, veremos os cinco pontos escritos pelos remonstrantes, grupo de teólogos que com a morte de Armínio, passam a ser liderados por Johannes Uitenbogaard e Simon Episcopius. Em 1610, sob a liderança de Uitenbogaard, os agora chama-dos arminianos se reuniram e elaboraram uma representação (remonstrance - por isso são conhecidos até hoje como os remonstrantes), que, de alguma maneira, resumem a Teologia Arminiana, conhecida como FACTS.

Os cinco pontos, ou os cinco artigos da Remonstrância (1610), podem ser representados pelo acrônimo FACTS, formulados pelos alunos de Jacó Armínio. Em resposta a este documento, o Sínodo de Dort elaborou outro documento chamado “Os Cinco Pontos do Calvinismo”, conhecidos pelo acróstico TULIP. Vejamos então quais são os cinco artigos da Remonstrância (FACTS):

■ Freed by Grace (to Believe) – Livre pela graça (para crer).

■ Atonement for All – Expiação para Todos.

■ Conditional Election – Eleição Condicional.

■ Total Depravity – Depravação Total.

■ Security in Christ – Segurança em Cristo.

A seguir, analisaremos estes artigos em ordem lógica, ao invés da ordem inscrita (como vemos acima no acrônimo), a fim de termos uma melhor compreensão das etapas da salvação.

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Depravação Total (Artigo 3) – “Total Depravity”, ninguém tem livre arbítrio inato.

Síntese:

■ A humanidade fora criada à imagem de Deus, boa e direita, mas caiu de seu estado original sem pecado através de deliberada desobediência, dei-xando a humanidade em estado de pecado, separada de Deus, e debaixo da sentença de divina condenação.

■ Depravação total não significa que os seres humanos são tão maus quanto eles podem ser, mas que o pecado impacta cada parte do ser pessoal e que as pessoas agora têm uma natureza pecaminosa com uma inclinação natural para o pecado, fazendo cada ser humano ser fundamentalmente corrupto em seu coração.

■ Portanto, o ser humano não é capaz de pensar, ter vontade, nem fazer nada de bom em si mesmo, incluindo favor meritório para Deus, salvar--se a si mesmo do julgamento e condenação de Deus que fora reservada para vosso pecado, ou mesmo crer no Evangelho.

■ Se qualquer pessoa será salva, Deus deve tomar iniciativa.

Segundo Rom 3:9-24 (BÍBLIA, 2005):Pois quê? Somos nós mais excelentes? De maneira nenhuma, pois já dantes demonstramos que, tanto judeus como gregos, todos estão de-baixo do pecado; Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus.

Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só.

A sua garganta é um sepulcro aberto; Com as suas línguas tratam enga-nosamente; Peçonha de áspides está debaixo de seus lábios;

Cuja boca está cheia de maldição e amargura. Os seus pés são ligeiros para derramar sangue.

Em seus caminhos há destruição e miséria; E não conheceram o cami-nho da paz.

Não há temor de Deus diante de seus olhos. Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus.

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Por isso nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado. Mas agora se manifes-tou sem a lei a justiça de Deus, tendo o testemunho da lei e dos profetas; Isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos e sobre todos os que crêem; porque não há diferença. Porque todos pecaram e des-tituídos estão da glória de Deus; Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus.

Assim como no texto paulino, o Arminianismo ensina que o homem é totalmente depravado e que não pode, por si só, iniciar o processo de salvação. Segundo Mariano (2015), o que o Arminianismo defende, em termos práticos é que o homem não pode dar o primeiro passo para Deus. O primeiro passo no relacio-namento salvífico entre Deus e o homem é sempre dado por Deus.

Segundo Olson, Armínio entende que o homem, Em seu estado pecaminoso e caído, (...) não é capaz, de e por si mesmo, quer seja pensar, querer ou fazer o que é, de fato, bom: mas é necessário que seja regenerado e renovado em seu intelecto, afeições ou vontade e em todas as suas atribuições, por Deus em cristo através do Espírito Santo, para que seja capaz de corretamente compreender, estimar, con-siderar, desejar e realizar o que quer que seja verdadeiramente bom. Quando ele é feito um participante dessa regeneração ou renovação, eu considero que, uma vez que ele é liberto do pecado, ele é capaz de pen-sar, desejar, e fazer o que é bom, mas, entretanto, não sem a contínua ajuda da Graça Divina (OLSON, 2013, p. 53).

Como consequência do pensamento supracitado, o conceito de livre-arbítrio é colocado em questão. Para a teologia arminiana o homem após sua queda está totalmente depravado, significando que todas as áreas estão afetadas pelo veneno do pecado, incluindo o arbítrio. Sendo assim, os teólogos arminianos entendem que o homem, após a queda não possui livre-arbítrio. Ele, por si só, não busca a Deus (Rom 3), pois seu arbítrio está completamente cativo do pecado.

Livre-arbítrio, Segundo a teologia arminiana, é o que Adão e Eva tinham antes da queda. Todos os seus descendentes, em razão da queda, nascem em delitos e pecados, são escravos. O termo mais correto e específico, portanto, para se definir o arbítrio do homem natural é arbítrio escravo, um arbítrio que não é livre, mas que está escravizado pelo pecado.(...) é comum que uma pessoa utilize a palavra livre-arbítrio em um sentido e outra pessoa use a mesma palavra, mas em sentido diferente daquele. Cabe, aqui, portanto, deixar claro que a noção e entendimento

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de livre-arbítrio defendido pelos arminianos é o livre-arbítrio libertário(...) a habi-lidade de se poder escolher e de não se fazer algo. Essa ideia envolve a habilidade de se poder escolher entre pelo menos duas coisas, ou seja, entre poder resistir à graça de Deus e não resistir à graça de Deus. (Mariano, 2015, p. 26-27). Segundo Jerry Walls, professor e filósofo cristão, o livre-arbítrio libertário é que uma ação livre é aquela que não tem uma condição suficiente ou causa prévia para seu acon-tecimento; ela também defende que algumas ações humanas são, nesse sentido, livres. Defensores da liberdade libertária adotam essa visão por várias razões. Primeiro, a experiência comum de deliberação supõe que nossas escolhas não são determinadas. Quando deliberamos, nós não apenas ponderamos os vários fato-res envolvidos, mas também os pesamos. Isto é, decidimos quão importantes as diferentes considerações são quando comparadas e relacionadas umas às outras. Esses fatores não têm um peso pré-designado que todos devem aceitar. Parte da deliberação é peneirar esses fatores e decidir o quanto eles nos são importantes. Tudo isso presume que cabe a nós a forma com que decidiremos.

Somente com a intervenção divina o homem pode ter seu arbítrio liberto ou restaurado. Alguns arminianos compreendem que o arbítrio pode ser restaurado, como o arbítrio do casal quando no Éden, antes da rebelião. Segundo Olson,

a pessoa que recebe a plena intensidade da graça preveniente (ex. atra-vés da pregação da Palavra e a chamada interna correspondente de Deus) não mais está morta em delitos e pecados. Entretanto, tal pessoa ainda não está plenamente regenerada. A ponte entre a regeneração parcial pela graça preveniente e a plena regeneração pelo Espírito Santo é a conversão, que inclui arrependimento e fé. Estes são possibilitados pela graça divina, mas são livres respostas da parte do indivíduo (OL-SON, 2015, p. 46).

Corroborando com o pensamento supracitado, o apóstolo Paulo escreve aos Efésios, capítulo 2, versículos de 1 ao 3:

vocês estavam mortos em suas transgressões e pecados, nos quais cos-tumavam viver, quando seguiam a presente ordem deste mundo e o príncipe do poder do ar, o espírito que agora está atuando nos que vi-vem na desobediência. Anteriormente, todos nós também vivíamos entre eles, satisfazendo as vontades da nossa carne, seguindo os seus desejos e pensamentos. Como os outros, éramos por natureza merece-dores da ira (BÍBLIA, 2005).

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O homem está morto em seus delitos e pecados. Mortos espiritualmente, separa-dos e inimigos de Deus (BÍBLIA, 2005, Is 59.2). Porém, cabe ressaltar, que apesar da depravação total, o homem ainda possui traços da imagem e da semelhança de Deus.

Expiação para Todos, ou expiação ilimitada (Artigo 2) – “Atonement for All”, Cristo morreu por todos.

Síntese:

■ Deus amou o mundo e deseja que todas as pessoas sejam salvas e venham ao conhecimento da verdade. Ele morreu por todos e por cada um dos homens. Segundo a teologia arminiana esta expressão é utilizada para se fazer distinção entre o significado de “todos” entre os arminianos e o sig-nificado de “todos” entre os chamados calvinistas de “5 pontos”. Embora alguns calvinistas digam que Jesus morreu por todos, essa palavra “todos”, para muitos deles, refere-se a todos os tipos de pessoas, “de todas as línguas, tribos e nações, em todos os tempos”, mas não todas as pessoas dessas tri-bos, línguas ou nações, pois algumas dessas pessoas foram ignoradas por Deus. O discurso calvinista de que Jesus morreu por todos pode enganar e, até mesmo, confundir muitas pessoas, mas uma vez que esse conceito é entendido, as pessoas passam a entender que o “todos” calvinista é, na verdade, “alguns” (MARIANO, 2015, p. 29).

■ Portanto, Deus entregou Seu único Filho para morrer pelos pecados do mundo todo de modo a proporcionar perdão e salvação a todas as pessoas.

■ Enquanto Deus providenciou salvação para todas as pessoas pela morte substitutiva e sacrificial de Cristo para todos, os benefícios desta morte são recebidos pela graça mediante a fé e são eficazes apenas aos que creem.

Diferentemente da doutrina reformada que afirma que a extensão da expiação é limitada, assim como sua aplicação, os arminianos defendem a ideia da expia-ção ilimitada. Jesus morreu por todos os homens sem exceção. Talvez o texto mais significativo seja João 3.16 – “Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. “O contexto definitivo para avaliar qualquer bem da perspectiva cristã é a eternidade. Como pode alguém dizer, com toda seriedade, que bens temporais,

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não importa o quão generosos, são provas do amor de Deus se Ele escolhe negar a salvação, que é o que realmente importa (BÍBLIA, 2005, Mc 8.34 – 9.1)? Reflita por um momento na confiante esperança de Paulo, de que todos os sofrimentos deste mundo não podem ser comparados com a glória a ser revelada na eterni-dade para aqueles que crêem (BÍBLIA, 2005, Rom 8.18; 2 Cor 4.17-18).

Outros textos bíblicos também são utilizados para reforçar a doutrina da expiação ilimitada, tais como: Rom 5.5-19; Hb 9.28; Jo 1.29; 1 Tim 2.1-6; Tt 2.9; 1 Jo 4.8, entre outros (BIBLIA, 2005).

Vale ressaltar que a teologia arminiana não defende o universalismo como alguns acreditam. A eleição é condicional, ou seja, a pessoa carece de aceitar a Cristo após ser tocada pela graça preveniente.

Livre pela graça (para crer) (Artigo 3 e 4) – “Freed by Grace (to Believe)”, as pessoas podem resistir ao evangelho.

Síntese:

■ Uma das palavras-chave para a teologia arminiana é a chamada graça preveniente. Existem pelo menos dois entendimentos em relação à graça preveniente: a primeira dos arminianos clássicos e outra dos arminianos wesleyanos ou arminio-wesleyanos. Arminianismo clássico é o enten-dimento teológico da doutrina da salvação igual ou muito próximo ao entendimento do arminianismo por Jacó Armínio e por seus primeiros adeptos. Arminianismo wesleyano, é o entendimento do arminianismo conforme adotado e defendido por João Wesley e seus seguidores. É o entendimento teológico da doutrina da salvação que origina-se a partir do arminianismo clássico, o arminianismo de Armínio e seus primeiros segui-dores, mas que faz, segundo os armínio-wesleyanos, algumas mudanças ou aprimoramentos no sistema arminiano mais antigo, O arminianismo wesleyano também tem uma doutrina característica chamada de perfei-ção cristã (santificação) (MARIANO, 2015, p. 36).

■ Deus indo ao encontro do homem. Graça preveniente é a graça que vem antes, que antecede e prepara o caminho para salvação.

Segundo os pentecostais arminianos, o novo nascimento é totalmente pela graça, pois o pecador está morto (Ef 2.5,6). Assim como não pudemos ajudar em nada

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quando do nosso primeiro nascimento, muito menos em nosso segundo (novo) nascimento (GILBERTO, 2008, p. 333-378).

Graça preveniente é persuasiva, e não coercitiva; a ação por parte do Espírito para convencer o pecador não é uma coerção, e sim como uma persuasão (Jo 16.8-12). Ou seja, Deus não impõe, mas oferece a salvação (Mt 13.37). Todas as pessoas nascem moral e espiritualmente depravadas e incapazes de fazer qual-quer coisa boa ou digna aos olhos de Deus, sem uma infusão especial da graça divina para superar as inclinações do pecado original.

Algumas passagens reforçam os argumentos arminianos sobre a graça resis-tível, tais como:

Até quando vocês, inexperientes, irão contentar-se com a sua inexpe-riência? Vocês, zombadores, até quando terão prazer na zombaria? E vocês, tolos, até quando desprezarão o conhecimento? Se acatarem a minha repreensão, eu lhes darei um espírito de sabedoria e lhes revela-rei os meus pensamentos. Vocês, porém, rejeitaram o meu convite; nin-guém se importou quando estendi minha mão! Visto que desprezaram totalmente o meu conselho e não quiseram aceitar a minha repreensão, eu, de minha parte, vou rir-me da sua desgraça; zombarei quando o que temem se abater sobre vocês (BÍBLIA, 2005, Provérbios 1:22-26).

Israel, povo eleito de Deus, povo da aliança, “rejeitou” o convite do seu Senhor. Ninguém, diz o texto, se “importou” quando Deus estendeu a mão, antes o rejeitaram.

Quando Israel era menino, eu o amei, e do Egito chamei o meu filho. Mas, quanto mais eu o chamava, mais eles se afastavam de mim. Eles ofereceram sacrifícios aos baalins e queimaram incenso os ídolos escul-pidos. Mas fui eu quem ensinou Efraim a andar, tomando-o nos braços; mas eles não perceberam que fui eu quem os curou. Eu os conduzi com laços de bondade humana e de amor; tirei do seu pescoço o jugo e me inclinei para alimentá-los. “Acaso não voltarão ao Egito e a Assíria não os dominará porque eles se recusam a arrepender-se? A espada reluzirá em suas cidades, destruirá as trancas de suas portas e dará fim aos seus planos. O meu povo está decidido a desviar-se de mim. Embora sejam conclamados a servir ao Altíssimo, de modo algum o exaltam. “Como posso desistir de você, Efraim? Como posso entregar você nas mãos de outros, Israel? Como posso tratá-lo como tratei Admá? Como posso fa-zer com você o que fiz com Zeboim? O meu coração está enternecido, despertou-se toda a minha compaixão. Não executarei a minha ira im-petuosa, não tornarei a destruir Efraim. Pois sou Deus, e não homem, o Santo no meio de vocês. Não virei com ira (BÍBLIA, 2005, Oséias 11:1-9).

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Mais uma vez, Deus falando ao seu povo. Dizendo o quanto amava este povo, porém, quanto mais o chamava, mas os israelitas (seu povo) se afastava da sua presença. Segundo o texto acima, Israel, o povo do Senhor, “o meu povo está decidido a se afastar de mim”.

No Novo Testamento, encontramos uma das seitas judaicas, os fariseus, rejei-tando o propósito divino. Eles resistiram à graça de Deus, por meio do ministério de João. “Mas os fariseus e os peritos na lei rejeitaram o propósito de Deus para eles, não sendo batizados por João” (BÍBLIA, 2005, Lucas 7:30).

Para finalizarmos esta parte, vale a pena relembrar uma analogia usada por Jacó Armínio. Certo mendigo representava um pecador, enquanto Deus, uma pessoa que lhe ofereceria uma ajuda, uma moeda. Bastava estender a mão e o mendigo receberia a ajuda, caso contrário não a receberia. Para estender a mão o mendigo necessitaria da ajuda da graça, e de alguém que lhe desse a moeda (oferecida gratuitamente). Concluía Armínio, a ajuda não pode ser atribuída como uma ação meritória do mendigo, o mesmo vale para a fé.

Eleição Condicional (Artigo 1) – “Conditional Election”, Por meio da fé

Síntese:

■ Deus soberanamente decidiu escolher apenas aqueles que teriam fé em Seu Filho Unigênito Jesus Cristo, para salvação e sua eterna bênção.

■ Deus pré-conheceu da eternidade aqueles indivíduos que creriam em Cristo.

Entre os arminianos, há duas visões diferentes sobre a eleição condicionada à fé: Eleição Individual: A visão clássica na qual Deus individualmente escolheu

cada crente baseado em Seu pré-conhecimento da fé de cada um e então predes-tinou cada um à vida eterna (BÍBLIA, 2005, Rom 8.29; 1 Pe 1.2).

Para os remonstrantes “a eleição de determinadas pessoas é definitiva, a par-tir das considerações da sua fé em Jesus Cristo e da sua perseverança, mas nunca sem considerar a fé e a perseverança na verdadeira fé como condição prévia para sua eleição”. Armínio fazia distinção entre um cristão verdadeiro e eleito. O Verdadeiro pode apostatar, mas o eleito é aquela pessoa em seu estágio final de perseverança, logo, um eleito não perde sua salvação (MARIANO, 2015, p. 50).

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SOTERIOLOGIA ARMINIANA

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Eleição Corporativa: Eleição para salvação é primariamente para a Igreja como um povo e abraça indivíduos apenas numa união-em-fé com Cristo, O Escolhido, e como membros deste povo. Desde que a eleição individual deriva da eleição de Cristo e do povo corporativo de Deus, indivíduos tornam-se elei-tos quando creem e continuam eleitos apenas enquanto crerem.

A condição para a eleição é estar em Cristo, conforme Efésios 1.1-4 (BÍBLIA, 2005). Entende-se que a eleição é Cristocêntrica, Ele é o eleito e a eleição. Pela fé a pessoa permanece em Cristo (BÍBLIA, 2005, Ef 3.17; Col 2.12). A fé então é condicional para a permanência da pessoa em Cristo.

Mariano (2015, p. 50) aprofunda a questão perguntando: “Que tipo de rela-cionamento seria esse entre Deus e o homem em que a ação do homem não é, de maneira alguma, levada em conta?”. Ele mesmo se utiliza do erudito armi-niano Jack Cottrell para responder à questão:

é de principal importância o fato de que a decisão do homem de pecar seja um fator contingente ao qual Deus reagiu. Esta é a própria essência do cristianismo: porque o homem pecou, Deus proveu redenção. Vir-tualmente toda ação de Deus registrada na Bíblia após Gen 3.1 é uma resposta ao pecado humano. O pacto abraâmico, o estabelecimento de Israel, a encarnação de Jesus Cristo, a morte e a ressurreição de Cris-to, o estabelecimento da igreja, a própria igreja – tudo isso é parte da reação de deus ao pecado do homem. Conforme C.S.Lewis enfatizou, Deus não perdoaria pecados caso o homem não tivesse cometido pe-cados. Neste sentido, a ação divina é consequente sobre, condicionada por, informada por nosso comportamento (MARIANO, 2015, p. 54).

Segundo o autor, defender a eleição incondicional é, de maneira consistente e coerente, defender a reprovação incondicional e, claro, tanto a eleição quanto a reprovação incondicional novamente levantam dúvidas e suspeitas acerca do caráter amoroso e bondoso de Deus.

Quanto a este último ponto existem duas correntes arminianistas: os cha-mados arminianos de quatro pontos, que defendem a impossibilidade de um cristão verdadeiro perder sua salvação e aqueles que acreditam que um cristão verdadeiro pode perder sua salvação.

Os arminianos de quatro pontos entendem que a graça pode sim ser resis-tida, porém, somente num primeiro estágio, e depois de salvo, não existe a menor possibilidade do cristão verdadeiro perder sua salvação. Já os chamados

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Os 5 Artigos do Arminianismo

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arminianos de cinco pontos deixam a questão em aberto quanto a possibili-dade de perder ou não a salvação.

Segurança em Cristo (Artigo 5) – “Security in Christ”, é possível apostatar da fé e finalmente cair da graça.

Síntese:

■ Desde que a salvação vem mediante a fé em Cristo, a segurança da nossa salvação continua pela fé em Cristo.

■ Exatamente como o Santo Espírito nos capacita a crer em Cristo, igual-mente Ele nos capacita a continuar crendo em Cristo.

■ Deus protege nosso relacionamento de fé com Ele de qualquer força que irresistivelmente nos arrebate de Cristo ou de nossa fé, e Ele nos preserva em salvação enquanto confiarmos em Cristo.

■ Arminianos têm visões diferentes sobre se a Escritura ensina que crentes podem abandonar a fé em Cristo e então perecer, ou se Deus irresisti-velmente mantém os crentes de perderem sua fé e, portanto, entrar em eterna condenação (como descrentes).

Uma das grandes questões levantadas por arminianos é se a apostasia é ou não irreversível. Armínio defendeu a apostasia em algumas situações, como no caso de Davi e Bate-Seba ou no caso da negação de Pedro.

Abaixo citamos alguns dos principais textos que apontam para esta questão.Ora para aqueles que uma vez foram iluminados, provaram o dom ce-lestial, tornaram-se participantes do Espírito Santo, experimentaram a bondade da palavra de Deus e os poderes da era que há de vir, e caíram, é impossível que sejam reconduzidos ao arrependimento; pois para si mesmos estão crucificando de novo o Filho de Deus, sujeitando-o à desonra pública (BÍBLIA, 2005, Hebreus 6:4-6).

Primeiramente, percebe-se que o texto está tratando de um cristão pois foi ilumi-nada, provou do dom celestial, participou do Espírito e provou a boa palavra de Deus. Depois, o próprio texto afirma que é impossível que eles sejam recondu-zidos, que cheguem ao arrependimento. Outros textos ainda falam acerca deste assunto como Jo 10. 27-29 e Hb 10.26-29 (BÍBLIA, 2005).

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FACTS E TULIP

Vimos, no capítulo anterior, um breve resumo da teologia arminiana con-tida no acróstico FACTS. Veremos agora, a repercussão aos ensinamentos dos Remonstrantes.

Em resposta a este documento exposto acima, no dia 11 de novembro de 1617, o príncipe holandês, Maurício de Nassau ordenou que as igrejas se reunis-sem num Sínodo Nacional em 1 de novembro de 1618, a fim de tratar as questões religiosas surgidas entre arminianos e calvinistas.

O Sínodo ficou conhecido como Sínodo de Dort. Este Sínodo, elaborou os “Cinco pontos do Calvinismo”, conhecidos pelo acróstico TULIP, que significa:

■ Total Depravity – Depravação Total.

■ Unconditional Election – Eleição Incondicional.

■ Limited Atonement – Expiação Limitada.

■ Irresistible Grace – Graça Irresistível.

■ Perseverance of Saints – Perseverança dos Santos.

A seguir, trazemos um quadro comparativo com as principais ideias tanto da Teologia Reformada (TULIP) quanto da Teologia Arminiana (FACTS), a fim de que você possa conhecer as duas grandes correntes da teologia cristã.Quadro 1 - Teologia Arminiana x Teologia Reformada

ARMINIANISMO CALVINISMO

Deus elege ou reprova com base na fé ou incredulidade previstas

Deus escolheu dentre todos os seres huma-nos decaídos um grande número de peca-dores por graça pura, sem levar em conta qualquer mérito, obra ou fé prevista neles

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FACTS e TULIP

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ARMINIANISMO CALVINISMO

Cristo morreu por todos os homens e por cada um, embora somente os crentes sejam salvos

Jesus Cristo morreu na cruz para pagar o preço do resgate somente dos eleitos

O homem é tão depravado que a graça divina é necessária para a fé ou para qualquer boa ação

Todos os homens nascem totalmente depra-vados, incapazes de se salvar ou de escolher o bem em questões espirituais

Essa graça pode ser resistidaA Graça de Deus é irresistível para os eleitos, isto é, o Espírito Santo acaba convencendo e infundindo a fé salvadora neles

Se todos os que são verdadeira-mente regenerados certamente perseveram na fé é um ponto que necessita de maior investigação

Todos os eleitos vão perseverar na fé até o fim e chegar ao céu. Nenhum perderá a salvação

Fonte: adaptado de Vailatti (2015, p. 48, on-line)1.

Em suma, o Arminianismo, assim como o Calvinismo, defende a depravação total do homem, ou seja, após a rebelião humana no Éden (BÍBLIA, 2005, Gn 3) a humanidade em Adão cai, e, a partir de então nasce e vive em pecado. Ou seja, sem a ajuda de Deus o homem não pode salvar a si próprio.

Somente por meio da graça preveniente vinda de Deus, o homem pode ser livre, ter suas escamas espirituais retiradas, tendo a partir daí possibilidade para crêr ou não. Diferentemente da teologia reformada (graça irresistível) a graça de Deus para a teologia arminiana é resistível.

Para os arminianos a expiação é ilimitada, ou seja, Deus enviou Seu único filho, Jesus Cristo, para morrer por todos os homens (BÍBLIA, 2005, Jo 3.16), sem exceção e não apenas para os eleitos (eleição limitada). Esta eleição, segundo Armínio é condicional. A condição para que a pessoa seja eleita é crer, colocando sua vida e confiança na pessoa de Jesus.

A partir de então esta pessoa está salva, quer dizer, enquanto ela se manti-ver firme em Cristo, confiante e perseverante ela tem sua segurança em Cristo. Isto significa que existe a possibilidade de ela apostatar, deixar os caminhos do Senhor e rebelar-se contra Cristo, consequentemente perdendo sua salvação.

Espero que a descrição comparativa destas duas linhas teológicas tenha aju-dado você a compreender melhor o plano de salvação e a interpretação que cada uma delas discorre.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro(a) aluno(a), concluímos nossa unidade e espero que tenha apreciado o passeio por tópicos não comumente visitados e alguns bastante controversos.

Vamos relembrar rapidamente o que vimos: na primeira parte, entendemos um pouco do que é Soteriologia e estudamos o principal ponto da história do universo, a saber Jesus Cristo como mediador. Vimos as diversas formas de “sal-vação” tanto no Antigo quanto no Novo Testamento e, assim, preparamos uma base sólida para nos aprofundarmos nas diversas teorias soteriológicas.

Passamos, então, a estudar mais a fundo a teologia Arminiana, que fora tida como herege nos meandros da reforma protestante. Passamos rapidamente pelas formas mais antigas rechaçadas pelos concílios, falamos então do pelagianismo e do semipelagianismo, que foram combatidos por Agostinho.

Sobrevoamos o movimento da Remonstrância, oriundo dos seguidores de Armínio, e pudemos observar nos estudos dos artigos da Remonstrância, ou Arminianismo, como ficou posteriormente conhecido, que na verdade não houve nada de herético no movimento. Contudo, apresentamos, segundo os diversos estudiosos do assunto, as bases bíblicas que sustentaram e sustentam o Arminianismo Clássico.

Por fim, para solidificar seu conhecimento e entendimento, bem como lhe dar as necessárias bases para entender a contrapartida do Arminianismo, vimos uma tabela comparando os 5 artigos do Arminianismo com os 5 artigos do Calvinismo.

Certamente essa controvérsia não será resolvida nestas breves páginas, mas dentro do panorama da teologia pentecostal, é salutar que o aluno tenha entendido a importância e relevância da teologia arminiana para a fé e vida cristã pentecostal.

Espero que você tenha aproveitado essa jornada para refletir sobre a sua pró-pria condição de salvação, que, por fim, nos traz uma leve ideia da profundidade do amor de Cristo pela humanidade.

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1. Existem várias possibilidades e significados para a palavra salvação. Normal-mente dependendo do contexto em que se encontra nas Escrituras. Vimos di-versas formas da palavra, com significado similar. Dentro dessa perspectiva, cite os quatro exemplos explanados.

2. Segundo Mesquiati (2011), da perspectiva teológica, quanto a Soteriologia, assinale a alternativa que caracterizam os pentecostais:

a) Calvinistas.

b) Pelagianos.

c) Semipelagianos.

d) Arminianos.

e) Agosnitianos.

3. Após a morte de Jacó Armínio, quarenta e seis ministros e leigos holandeses respeitados redigiram um documento, que resume a rejeição, por Armínio e por eles mesmos do calvinismo rígido em cinco pontos. Qual o nome dado a esse documento? Como ficaram conhecidos os arminianos devido a esse documento?

4. Quanto aos artigos do Arminianismo, assinale a alternativa que demonstre qual não pertence ao documento em questão:

a) Depravação Total.

b) Eleição incondicional.

c) Expiação para todos.

d) Segurança em Cristo.

e) Livre pela Graça.

5. Quanto à questão da eleição, segundo Armínio é condicional. Descreva, de for-ma objetiva, qual a condição proposta por Armínio em sua teologia.

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SE CRISTO MORREU POR TODOS, PORQUE TODOS NÃO SÃO SALVOS?

A pergunta surge naturalmente: se Cristo morreu por todos, porque todos não são sal-vos? A resposta está no simples fato de que cada um deve crer que Cristo morreu por ele antes de poder participar dos benefícios de sua morte. Em João 8.24 Jesus disse: “Porque se não crerdes que eu sou, morrereis nos vossos pecados.” Lewis Sperry Chafer declara: “A condição indicada por Cristo, sobre a qual eles (os incrédulos) podem evitar morrer nos seus pecados, não se baseia no fato de ele não morrer a seu favor, mas sim em co-locarem nele a sua fé... o valor da morte de Cristo, por mais maravilhosa e completa que seja, não se aplica aos não regenerados até que venham a crer.” [Lewis Sperry Chafer, Systematic Theology (Teologia Sistemática), Dallas, TX: Dallas Seminary Press, 1947, v. III, p. 97] Esta questão de necessidade é uma aplicação pessoal, pela fé, da graça salvadora de Jesus Cristo, como ilustrado pelos detalhes da noite da páscoa. A família israelita de-veria matar um cordeiro e aspergir o sangue sobre as ombreiras e a verga das portas de suas casas e os moradores deveriam então permanecer nelas. Deus disse: “O sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes: quando eu vir o sangue, passarei por vós, e não haverá entre vós praga destruidora, quando eu ferir a terra do Egito” (Êx 12.13). Deus não olharia no quintal onde o cordeiro fora morto, mas nas portas de cada casa. Quando visse ali o sangue, o anjo da morte não pararia. Deve haver uma aplicação pessoal, pela fé, do sangue precioso que foi derramado por nós no Calvário.

William Evans resume o assunto admiravelmente quando diz:

“A expiação é suficiente para todos; ela é eficiente para aqueles que creem em Cristo. A expiação propriamente dita, à medida que coloca a base para o trato redentor de Deus com os homens, é ilimitada; a aplicação da expiação é limitada àqueles que creem ver-dadeiramente em Cristo. Ele é o salvador em potencial de todos os homens; mas efetiva-mente só dos crentes. ‘Ora, é para esse fim que labutamos e nos esforçamos sobremodo, porquanto temos posto a nossa esperança no Deus vivo, salvador de todos os homens, especialmente dos fiéis’ (1Tm 4.10).”

Fonte: Antunes (2016, on-line)2.

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Material Complementar

MATERIAL COMPLEMENTAR

A DiretoriaAno: 2008Sinopse: trata-se de um drama que expõe, de maneira simples e objetiva, aquilo que acontece no mais íntimo de uma pessoa. No filme, a alma é composta por seis integrantes: Mente, Memória, Emoção, Coração, Vontade e Consciência. Os interesses são diferentes, mas apenas uma votação unânime pode decidir que direção seguir. Quando um deles surge com uma pergunta que pode trazer consequências eternas para todos, o grupo se vê em uma situação de risco. Muitas coisas ainda estão ocultas, mas precisam vir a tona. As dores e os ressentimentos do passado começam a surgir. Por fim, ao enfrentar uma poderosa acusação, a autodefesa hipócrita é exposta e se opõe a decisão final dos demais. A Diretoria lhe mostrará como Deus fala a sua alma quando você medita a respeito da eternidade.

Indico este site muito interessante com diversos estudos e discussões a respeito da teologia Arminiana.Link: <http://deusamouomundo.com/>. Acesso em 24 de out. 2017.

Expiação IlimitadaCarlos Augusto Vailatti

Editora: Editora RelexãoSinopse: a crença segundo a qual Cristo morreu na cruz a fim de salvar toda a humanidade pecadora sob a condição da fé em Jesus – conhecida como “expiação ilimitada” ou “redenção universal” – é uma das doutrinas basilares da fé cristã e constitui o tema central deste livro. Tal doutrina foi claramente elaborada pelo Novo Testamento, apregoada pelos pais da igreja, ensinada pelo teólogo holandês Jacó Armínio, ecoada pelos seus seguidores, os remonstrantes, e, finalmente, herdade e propagada pelos arminianos clássicos e wesleyanos, bem como pela vasta maioria dos cristãos evangélicos de hoje. Tais fatos evidenciam, por si mesmos, a relevância da presente obra, bem como a tornam recomendável a sua leitura.

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REFERÊNCIAS

ARMÍNIO, Jacó. As Obras de Armínio. v. 1, Trad. Degmar Ribas, 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2015a.

______. As obras de Armínio. Vol 2. Trad Degmar Ribas, 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2015b.

______. As obras de Armínio. Vol 3. Trad Degmar Ribas, 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2015c.

BÍBLIA. Estudo Pentecostal. Traduzida em português por João Ferreira de Almei-da, com referências e algumas variantes. Revista e Corrigida. Flórida-EUA: CPAD/Life. 1995.

BÍBLIA. A. T. e N. T. In: BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada: contendo o antigo e o novo testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida Revista e Atualizada. Barueri: So-ciedade Bíblica do Brasil (SBB), 2005.

DUFFIELD, G. P.; CLEAVE, N. M. V. Fundamentos da Teologia Pentecostal. EPQ,1991.

GILBERTO, A. Teologia Sistemática Pentecostal. Curitiba: CPAD, 2 ed., 2008

HORTON, S. M. Teologia Sistemática. Uma perspectiva Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996.

MARIANO, W. O que é Teologia Arminiana? São Paulo: Reflexão, 2015.

MESQUIATI, D. de O. Pentecostalidade da missão latino-americana: uma nova refor-ma na igreja? Reflexus, v. 5, n. 6. Alemanha: Universitát Leucorea, Wittenberg, 2011. Disponível em: <http://revista.faculdadeunida.com.br/index.php/reflexus/article/viewFile/32/88>. Acesso em: 26 fev. 2018.

OLSON, R. Teologia Arminana-Mitos e Realidades. São Paulo: Reflexão, 2013.

PINK, A. W. A Obra do Espírito Santo na salvação. São Paulo: Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, 2014.

SPINELLI, S. New venture creation: Entrepreneurship for the 21st century. Boston: Irwin McGraw-Hill, 2014.

VAILATTI, C. A. Expiação Limitada. São Paulo: Reflexão, 2015.

WALLS, J. L. Qual o caminho das Assembleias de Deus. São Paulo: Reflexão, 2016.

WILEY, H. O. Christian Theology. Kansas: Beacon Hill, 1941.

REFERÊNCIAS ONLINE

1Em <http://solacristo.blogspot.com.br/p/videos.html>. Acesso em: 25 ago. 2017.2Em: <http://arquivopreterista.blogspot.in/2016/09/se-cristo-morreu-por-todos-por--que.html>. Acesso em: 28 out. 2017.

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GABARITO165

1. Salvação física, salvação espiritual, salvação como cura, salvação futura.

2. Opção correta é a D.

3. Remonstrância, remonstrantes.

4. Opção correta é a B.

5. A condição para que a pessoa seja eleita é crer, colocando sua vida e confiança na pessoa de Jesus.

GABARITO

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UN

IDA

DE V

Professor Dr. Ricardo Bitun

PRÁTICA PENTECOSTAL

Objetivos de Aprendizagem

■ Uma visão geral sobre culto nas escrituras e o culto pentecostal.

■ Conhecer as práticas litúrgicas, ou o que e como fazer no culto pentecostal.

■ Entender a visão sobre as duas principais ordenanças e outras práticas comuns na dinâmica pentecostal.

■ Como funcionam os cargos e hierarquias nas igrejas Pentecostais.

■ Entender alguns pontos relevantes sobre a prática diária da vida do crente pentecostal.

Plano de Estudo

A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

■ O culto pentecostal

■ Práticas litúrgicas

■ Santa Ceia, Batismo e outras práticas

■ Organização eclesiástica

■ Práxis pentecostal e vida

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INTRODUÇÃO

Olá, caro(a) aluno(a). Estamos na última unidade do nosso estudo. Falaremos, agora, sobre a prática pentecostal, que é multiforme variando de acordo com o entendimento daquele que está à frente do “trabalho”, ou seja do seu pastor presidente, ou do líder congregacional. Na maioria das igrejas, os pentecostais costumam chamar o seu serviço ministerial de “trabalho”, referindo-se tanto ao ministério interno propriamente dito, diáconos, evangelistas, obreiros etc., quanto ao ministério como um todo. Com o neopentecostalismo esta diversi-dade se acentua, pois cada liturgia deixa a marca personalizada de seu fundador.

É um desafio falar de uniformidade no pentecostalismo. Mesmo diante de tal realidade, daremos prioridade à observação dos aspectos mais elementares praticados nas igrejas pentecostais tradicionais, a saber, as Assembleias de Deus.

Além das práticas litúrgicas, discorreremos a respeito do papel de cada obreiro (fiel voluntário) na estrutura eclesiástica pentecostal, bem como acerca de seus desafios e necessidades para o exercício eficaz da vocação ministerial.

Procuramos valorizar outros elementos que compõem a vivência pentecos-tal, por exemplo, as ordenanças: Batismo e Santa Ceia, que são celebradas com bastante entusiasmo e fervor nos cultos, com louvor e gratidão, de modo que cada culto tem a sua própria peculiaridade dentro do movimento pentecostal.

Em suma, nosso objetivo nesta unidade é oferecer uma visão panorâmica acerca da dinâmica vivenciada nas igrejas pentecostais, sabendo, contudo, da impossibi-lidade de descrever todas as ações relacionadas ao movimento pentecostal.

Assim, esperamos que você tenha uma boa e rica visão da liturgia e práticas pentecostais, a fim de compreender melhor este universo tão amplo e heterogê-neo, porém uniforme em sua essência.

Introdução

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O CULTO PENTECOSTAL

Ao estudarmos as Escrituras Sagradas, é possível identificarmos alguns termos que nos ajudam na definição e orientação do que vem a ser um culto agradá-vel a Deus, são eles:

a) ‘abida – (Heb) trabalho, ritual, adoração. Encontramos esta palavra no livro de Esdras quando se referem ao trabalho feito na reconstrução do templo em Jerusalém (Ed 4.24; 5.8; 6.7),e nas atividades dos sacerdotes e levitas (em associação com o ritual e a adoração espiritual) Ed 6.18; Ex 3.12; Dt 6.13; 11.13; Sl 100.2.

b) Latreia – (Sub. Gr.) trabalho ou serviço assalariado. Posteriormente uti-lizado na prática cristã de cultuar, ou seja, prestar um serviço a Deus, adorá-lo (Mt 4.10; Rm 12.1).

c) Proskunein – (gr) No AT significava “curvar-se”, tanto para homenagear homens importantes e autoridades (Gn 27.29; 37.7-10; I Sm 25.23), como para adorar a Deus (Gn 24.52; 2 Cr 7.3; Sl 95.6). No NT denota exclusi-vamente a adoração que se dirige a Deus (At 10.15-26; Ap 19.10; 22.8-9).

d) Leitourgia – (gr) serviço público. Utilizado na Antiga Grécia, para desig-nar função administrativa num órgão governamental.

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O Culto Pentecostal

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Seguindo na leitura, verificamos que pelo menos três passagens neotestamentá-rias norteiam a noção de culto, como em Mt 8.20: “Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles”.

Com essa afirmação, identificamos a acessibilidade livre e generosa do Senhor Jesus, que se permite ser encontrado pela comunidade cristã onde e quando quiser, além da comunidade reunida em seu nome ser o sinal por excelência da presença de Deus entre nós.

Reproduzindo as palavras do apóstolo na instituição da Ceia, Paulo oferece-nos mais um aspecto da fundamentação bíblica para o culto cristão: Deus quer que sua comunidade se encontre com ele. Para possibilitar tal desejo, um rito foi instaurado.

E, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemen-te também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim. (BÍBLIA, 1995, 1 Co 11.24, 25).

No livro de Atos dos Apóstolos (2.42-47) é descrito de uma maneira sucinta a vida da igreja na cidade de Jerusalém, onde se observa o destaque dado tanto ao ajuntamento dos cristãos quanto ao partir do pão, indicando que a celebra-ção da Ceia era um ato cúltico bastante frequente.

Para Germano (2011, s.p),o culto seria um lugar onde Deus age para dar sua vida ao ser humano e para conduzir o ser humano a participar dessa vida. Haveria certa inte-ração entre Deus e o homem, onde o primeiro comunicaria seu próprio ser ao ser humano, tendo por parte do segundo uma atitude responsiva. Entre o homem e Deus estaria Jesus Cristo, a auto-revelação do Pai e aquele por quem o Pai recebe nossas emoções, palavras e ações.

Desde sua origem, por conseguinte, a liturgia tem uma forte conotação com o serviço que os súditos devem prestar ao rei. O termo passou, com o tem-po, a designar o culto público e oficial da Igreja Cristã. Hoje, é definido como a forma pela qual um ato de adoração é conduzido.

Fonte: Germano (2008).

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PRÁTICA PENTECOSTAL

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Visto num primeiro momento os fundamentos do culto cristão, passemos agora a considerar o culto pentecostal. As liturgias do culto nas igrejas pentecostais são bastante flexíveis e diversas, dependendo muito da finalidade e do tema do culto. Os cultos mais comuns encontrados nas igrejas pentecostais são: o culto de oração, o culto de doutrina, o culto de Santa Ceia, o culto de ordenação de obreiros e o culto de ações de graças.

Um fenômeno recente em algumas igrejas pentecostais são as chamadas “campanhas”, culto em que o fiel se compromete a estar por um número deter-minado de dias orando e jejuando por determinado objetivo. Geralmente são sete dias, podendo ser sete segundas-feiras, ou terça, etc. onde o fiel buscará “sua bênção” ao final da campanha.

Esta prática é muito comum no neopentecostalismo (movimento iniciado no Brasil em 1977 com a inauguração da Igreja Universal do Reino de Deus) e que aos poucos já pode ser encontrado em boa parte das igrejas pentecostais.

Resumidamente poderíamos descrever a liturgia do culto pentecostal da seguinte maneira:

■ O dirigente do culto, ou um obreiro previamente designado, abre o culto, geralmente fazendo a leitura de um salmo e uma oração;

■ Entoa-se um ou dois cânticos do hinário oficial (no caso das Assembleias de Deus o hinário oficial é a Harpa Cristã). Na maioria das igrejas pen-tecostais a igreja utiliza além da Harpa Cristã músicas de outras igrejas, realizando uma mescla entre o hinário e músicas de grupos gospeis de outras igrejas.

■ Em continuidade às músicas e hinos, grupos, corais e solistas se apresen-tam à igreja louvando a Deus;

■ Logo após, faz-se a leitura bíblica seguida de uma oração;

■ Mais uma vez um cântico é entoado, enquanto se recolhem os dízimos e as ofertas que os fiéis trouxeram;

■ Ministração da Palavra de Deus, seguida por um apelo e/ou uma oração;

■ Avisos Gerais e possíveis agradecimentos;

■ Oração e bênção apostólica.

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O Culto Pentecostal

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Lembrando que a liturgia acima descrita nem sempre segue de uma maneira rígida esta ordem. Existem muitas variações dependendo da igreja, do líder, da região, ou do espaço onde o culto é celebrado. Sendo assim, não existe uma homogeneidade na forma pentecostal de cultuar.

Cabe ressaltar que a principal característica do culto pentecostal é a liberdade que se dá à manifestação dos dons espirituais, especialmente o dom de línguas estranhas e de profecia. Permite-se nos cultos pentecostais expressões espontâ-neas da comunidade em geral.

Percebe-se que esta “liberdade” tem produzido, segundo os teólogos e pastores pentecostais muita meninice no meio da igreja e na ordem do culto. Descrevemos abaixo a fala de um dos pastores da Assembleia de Deus sobre o assunto em que se percebe claramente a preocupação com esses possíveis “desvios” em relação aos cultos.

Segundo o teólogo pentecostal Zibordi (2008, p. 34), são sete as caracterís-ticas do culto verdadeiramente pentecostal:

1. O propósito principal da manifestação multiforme do Espírito em um culto coletivo é a edificação do povo de Deus (1Co 14.4,5,12). Risos intermináveis e supostas quedas de poder edificam em quê?

2. A faculdade do intelecto não deve ser desprezada no culto em que o Espírito Santo age (1 Co 14.15,20). Ninguém genuinamente usado pelo Espírito Santo deixa de raciocinar normalmente, em um culto coletivo a Deus. Isso, claro, segundo a Palavra do Senhor.

3. Um culto a Deus não deve levar os incrédulos a pensarem que os crentes estão loucos (1 Co 14.23). O que pensam os não-crentes que assistem a “cultos” nos quais pessoas caem ao chão, rindo sem parar, rosnando, latindo, mugindo, rugindo, uivando e rolando umas sobre as outras?

4. O culto coletivo a Deus deve ter ordem e decência; tudo deve ocorrer a seu tempo: louvor, exposição da Palavra, manifestações do Espírito (1 Co 14.26-28,40). Um culto que não tem ordem nem decência é dirigido pelo Espírito?

5. No culto genuinamente pentecostal deve haver julgamento, discer-nimento, a fim de se evitar falsificações (1 Co 2.15; 14.29; 1 Jo 4.1).

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PRÁTICA PENTECOSTAL

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6. Haja vista o espírito do profeta estar sujeito ao próprio profeta, é inad-missível que aconteçam manifestações consideradas do Espírito San-to em que pessoas fiquem fora de si (1 Co 14.32). O Deus que se ma-nifesta no culto coletivo não é Deus de confusão, senão de paz (v. 33). Quando um “pregador” derruba pessoas carentes de uma bênção ou os seus supostos opositores com golpes de seu “paletó mágico”, além da confusão que se instala no “culto”, tal atitude não é nada pacifica-dora. E quem recebe a glória, indutivamente, é o próprio show-man.

7. Se alguém cuida ser profeta ou espiritual, deve reconhecer os manda-mentos do Senhor (1 Co 14.37). O leitor está disposto a submeter-se aos mandamentos do Senhor? Ou é um daqueles que, irresponsavel-mente, dizem: “Não podemos pôr Deus em uma caixinha. Ele sem-pre faz coisa nova”. Para que serve a Bíblia, para nada? Não é ela a nossa fonte máxima de autoridade? Perderam as Escrituras a prima-zia? Não são elas a nossa regra de fé, de prática e de vida? Gálatas 1.8 perdeu a validade? Não nos enganemos. O verdadeiro avivamento só ocorre quando há submissão à Palavra de Deus e ao Deus da Palavra.

PRÁTICAS LITÚRGICAS

As práticas litúrgicas de uma igreja aparecem como características importantes para sua compreensão enquanto comunidade. É através destas que temos a possi-bilidade de compreender melhor a sua forma de crer no Sagrado. Sobre a seriedade de guiar o povo de Deus a uma verdadeira adoração, Trask (2000, p. 583) faz a seguinte lembrança aos responsáveis:

como líderes, temos a responsabilidade de guiar as pessoas para Deus, mas – e isto é o mais importante – temos de conscientizar-nos de que estamos pessoalmente diante da presença do Senhor e ser exemplos para as nossas famílias e para aqueles que servimos.

Diante do exposto, faz-se necessário destacar alguns elementos presentes na liturgia eclesiológica pentecostal. Daremos ênfase no texto à questão das práticas litúrgicas que estão mais associadas aos cultos pentecostais mais tradicionais. Ter a clareza do que representa a adoração é uma marca importante para todo líder cristão. Com isso, elencamos a seguir os elementos mais importantes presenciados na prática pentecostal:

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a) O coletivo em oração

A oração tem papel central no culto pentecostal. Diferentemente de algumas igrejas cristãs, o ato de orar no culto se dá em sua maioria de forma coletiva. O culto pentecostal é marcado pela participação efetiva dos membros. A oração coletiva se expressa em vários momentos do culto, acentuando assim a identifi-cação com o fervor espiritual na adoração:

temos que acreditar que a oração move a mão de Deus. [...]. É o meio que Deus escolheu para liberar seu poder no mundo. Os que se juntam para orar dever ser lembrados disso para que orem com fé (MAROC-CO, 2000, p. 629, apud TRASK, 2000).

Os crentes manifestam seus pedidos específicos. Pois, a ação coletiva da igreja é também um canal para o clamor por dons espirituais, assim, no culto pente-costal, o falar em línguas (glossolalia) aparece como um sinal da intensidade da manifestação do Espírito Santo através da vida dos fiéis. O fervor na ora-ção, segundo a tradição pentecostal, é marca de uma igreja que mantém sua comunhão com Cristo.

Quando os crentes oram juntos, estão partilhando de uma mesma convic-ção, e assim, a oração coletiva é vista como eficaz. Por meio da oração coletiva os crentes também desenvolvem a comunhão de uns para com os outros.

A igreja que ora fervorosamente é compreendida como uma igreja forte, fir-mada na Palavra de Deus. A oração coletiva corrobora para a concordância entre os fiéis, e então, um canal para a unção derramada pelo Espírito à sua igreja.

b) Hinologia

A música cristã deve ser trabalhada a fim de preparar a Palavra de Deus que será ministrada pelo pregador. Na prática pentecostal, os cultos são iniciados nor-malmente com os hinos da Harpa Cristã. Faz parte da tradição pentecostal o apreço pelos hinos tradicionais. A Harpa Cristã se constitui como um patrimô-nio da hinologia pentecostal.

Na prática pentecostal, enfatiza-se o cantar coletivo, como a um só corpo, a fim de que a unidade da igreja seja realizada plenamente. Todos os crentes devem aprender que o ato da adoração deve acontecer com singeleza, sabendo que a comunidade não está em um teatro, tão pouco um lugar para disputas. Assim:

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é importante para os que participam e estão comprometidos com o mi-nistério da música se envolverem com os outros ministérios da igreja. A liderança da música também deve ser liderança espiritual. Quando ter-mina a porção musical de um culto, os envolvidos não devem considerar ter concluído seu trabalho (FERRIN, 2000, p. 627 apud TRASK, 2000).

Para tanto, a liderança da música precisa ser uma liderança espiritual. O preparo espiritual precisa estar ligado aos demais cuidados dos encarregados de conduzir os fiéis ao pleno louvor. A música é também um instrumento de Deus na igreja para proclamação do Evangelho de Cristo. Vejamos o que diz Ferrin:

tudo o que o ministro da música, o regente do coral ou o líder de ado-ração fazem deve preparar os corações da congregação para receberem a Palavra de Deus (FERRIN, 2000, p. 622 apud TRASK, 2000).

Dentro da hinologia pentecostal, há também espaço para os chamados “hinos avulsos”, os quais podem variar entre composições mais antigas ou atuais, porém, com a mesma essência, a saber, o respaldo bíblico.

A música tem um espaço importante para liturgia pentecostal e deve ser encarada com cuidado e dedicação. Por isso, tal como os demais ministé-rios desenvolvidos na igreja, os responsáveis devem fazer tudo para glória de Deus. Conforme Ferrin:

o músico ou o líder de adoração deve considerar os momentos da pre-paração musical, da mesma forma que um pastor considera os mo-mentos da preparação de sua mensagem (FERRIN, 2000, p. 625 apud TRASK, 2000, p. 583).

Algumas igrejas dispõem de conjuntos, corais, orquestras e grupos de música que acompanham o momento de louvor. Os cânticos são sempre embasados nas Sagradas Escrituras, visando sempre a plena adoração a Deus. Através das letras é possível encontrar a cosmovisão da comunidade, bem como de sua confessionalidade cristã.

c) A leitura bíblica

A leitura bíblica no culto é um ato solene. Através desta, os fiéis têm a oportu-nidade conjuntamente de manifestar sua gratidão a Deus por sua palavra. O apreço pela Palavra de Deus distribuída entre todos é claramente uma herança da Reforma Protestante. Conforme descreve Fajardo:

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todos devem estar com suas bíblias abertas no local indicado e acompa-nhar a leitura. (...). Na maior parte dos Ministérios a leitura é participa-tiva: o obreiro que está ao microfone lê o primeiro versículo, o povo em uníssono o segundo e assim por diante (FAJARDO, 2017, p. 273,274).

Na prática do culto pentecostal, a leitura bíblica costuma vir após o cântico dos hinos. Os crentes devem acompanhar a leitura proposta pelo responsável pela liturgia do culto, assim, a leitura bíblica ocupa papel central na prática pente-costal. Acontece, linhas gerais, no início do culto, no ato do ofertório e também no momento da pregação da palavra.

Vale ressaltar que a leitura bíblica pode ocorrer também em outras ocasiões do culto, seja num testemunho ou nas oportunidades avulsas. É papel do pastor incentivar os membros de toda a igreja para o aprendizado da leitura. Os cren-tes mais capazes devem auxiliar os irmãos com mais dificuldades.

Durante a leitura das Sagradas Escrituras, é recomendado que se tenha o máximo de silêncio e respeito, assim como na maioria das igrejas pentecos-tais, a leitura do texto bíblico acontece com os crentes levantados, isso, como um gesto de reverência.

d) Testemunho

O testemunho tem papel importante na vivência pentecostal. Para fazê-lo publicamente na igreja, em momento de culto, o indivíduo não precisa ocu-par cargo em sua igreja local. A peculiaridade dos testemunhos está aplicada à realidade de que todos os integrantes do corpo de Cristo têm direito a mani-festar da sua fé diante de todos.

Os motivos para manifestar o testemunho são variados. Há aqueles que dese-jam contar sua trajetória de conversão, outros partilham da alegria com curas e livramentos, mas o certo é que o testemunho é visto como elemento importante para o fortalecimento da fé coletiva.

e) Dízimos e ofertas

O momento das contribuições de dízimo (10% das finanças) e ofertas é parte fundamental no culto. É através desses recursos que a igreja consegue a sua manutenção, assim como tem a possibilidade de honrar com seus demais com-promissos financeiros.

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O momento do ofertório é acompanhado de leitura bíblica (geralmente Ml 3.10 e 2Co 8.1-12), oração e louvor, sempre incentivado como uma ação volun-tária do fiel. Com isso, na prática pentecostal, contribuir financeiramente com a igreja é também uma maneira de investir no reino de Deus e também uma tentativa de manifestar gratidão a Deus em razão de seu cuidado permanente, jamais como uma forma de troca. Sobre o ofertório:

todo culto público tem um momento reservado ao recolhimento de contribuições financeiras. Há dois tipos de contribuições: a “oferta” de caráter voluntário e sem valor pré-determinado e o “dízimo”, que consiste na doação de dez por cento do salário ou renda do fiel para a manutenção da igreja (FAJARDO, 2017, p. 285).

O ministro deve explicar a importância desta ação como parte do culto. Contudo, deve ter o cuidado para não constranger os fiéis. A igreja tem uma responsabi-lidade pública com a sociedade em que se encontra instalada. Para isso, todos devem ser o mais transparentes possível, com ordem e decência.

f) Mensagem e pregação

A mensagem pentecostal é fundamentada na Bíblia Sagrada. É característica das comunidades pentecostais que a mensagem seja pregada de forma eloquente e dinâmica. Durante o momento da ministração, os fiéis devem ter reverência e respeito diante das Sagradas Escrituras.

A pregação é o ápice da liturgia. É comum ouvir o dirigente dizer ao apresentar o pregador: “agora chegamos ao momento mais importante do culto”. Tal importância liga-se ao destaque que a Bíblia tem para as igrejas de herança protestante (FAJARDO, 2017, p. 288).

O pregador pentecostal deve estar cheio do Espírito Santo, a fim de cumprir seu propósito como instrumento de Deus. O pregador pentecostal deve saber que pregar a Palavra de Deus vai além de emocionar seu público, assim, é necessá-rio compreender que aquele que fala em nome de Deus deve ser ungido por Ele. Falando sobre a prática da pregação pentecostal, Ernest Moen nos diz:

as palavras do pregador são divinamente inspiradas, fáceis de entender, poderosas no contexto. Têm o poder de atirar flechas que atinge em cheio o coração do pecador até que este se dobre em agonia, clamando pelo perdão divino. Isso é pregação pentecostal! (MOEN, 2000, p. 639 apud TRASK, 2000).

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O pregador também é um servo de Deus. Para servir com qualidade, todos pre-cisam de preparo. O ministro pentecostal deve unir seu preparo com a pregação com uma vida de Santidade. A pregação pentecostal busca tratar dos temas mais importantes da fé cristã, com aplicação na realidade da vida dos crentes.

A pregação é uma ferramenta de Deus para anúncio de Sua Palavra. Assim, tal como o exercício de outros ministérios, não visa a glorificação do homem que prega, mas do Deus vivo que é pregado.

O pastor pentecostal está acentuadamente cônscio da necessidade hu-mana, tendo o Espírito Santo mostrado onde ir nas Escrituras para re-solver os problemas humanos profundamente encravados. A pregação pentecostal é, muitas vezes, aconselhamento em massa (MOEN, 2000, p. 643 apud TRASK, 2000).

Os crentes têm liberdade para glorificar e celebrar a Deus sem qualquer impe-dimento durante o culto, desde que cada ação seja a partir da liberdade do Espírito Santo em agir diante da igreja. É necessário dar tempo ao ministro, uma vez que se compreende que a centralidade da palavra é um elemento fun-damental para a vida cristã.

O preparo é fundamental para o exercício da pregação eficaz. O ministro da Palavra de Deus deve buscar continuamente o aperfeiçoamento espiritual para que possa falar em nome de Deus de forma íntegra. Há muitos prega-dores que negligenciam as práticas que antecedem ao púlpito, acerca disso Lednicky salientou:

sermões poderosos e eficazes são mandatos de todo aquele que entrega a Palavra de Deus. Mas tais sermões não aparecem misteriosamente do nada. Nem mesmo a aptidão pessoal garante pregação dinâmica. Grandes pregadores da Bíblia estão comprometidos com o princípio fundamental de que só a Palavra de Deus é a base para tudo o que diz respeito ao nascimento espiritual, desenvolvimento e vida em Cristo (LEDNICKY, 2000, p. 594 apud TRASK, 2000).

Na prática da pregação pentecostal existem muitas formas de exercê-la. A prin-cipal é a pregação temática, em que um tema levantado pelo pregador é exposto através de versículos tirados de lugares diferentes das Escrituras. A mensagem deve iluminar, informar, assim como deve confrontar os crentes para que estes tenham o desejo de vivenciar o Evangelho de forma encarnada.

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Há sermões para ocasiões especiais, como velórios, aniversários, casamen-tos, além de outros momentos que fazem parte da vida da igreja. As pregações de ordem temática são as mais recorrentes. O ministro escolhe um tema, e a partir do texto bíblico, discorre acerca do assunto durante todo o sermão.

O sermão evangelístico está sempre na agenda pentecostal, entendendo que a principal missão da igreja é a proclamação do amor de Cristo aos pecadores. Diante do exposto, podemos afirmar a mensagem pentecostal visa falar das coi-sas eternas. Assim, exige um preparo contínuo dos arautos do Rei:

a preparação do sermão não é tarefa de algumas horas por semana. É o compromisso de uma vida inteira. O homem chamado por Deus e ungido pelo Espírito não tem maior privilégio ou responsabilidade do que pro-clamar a verdade eterna (LEDNICKY, 2000, p. 599 apud TRASK, 2000).

Para isso, aqueles que são responsáveis pela pregação pentecostal devem fazê-la cheios do Espírito Santo, com temor e tremor, sabendo que o preparo também é uma oportunidade de aprender mais sobre Deus e uma forma especial de ser-vir à noiva de Cristo.

g) Momento do apelo

O momento do apelo é parte de suma importância para o culto pentecostal. Entende-se que a igreja é uma agência de salvação, promotora da pregação do evangelho genuíno, assim, os crentes intercedem diante de Deus pela salva-ção dos pecadores.

Quando alguém toma a decisão de aceitar a Cristo como Salvador, numa ati-tude voluntária, há sempre na igreja um sentimento de festa e alegria. Por isso, é importante que no ato do apelo, tanto o ministro, como a igreja, estão todos atentos a importância deste momento tão especial.

h) A apresentação de visitantes

A apresentação de visitantes, tal como nas mais variadas igrejas tradicionais, também está presente na prática eclesiológica pentecostal. É importante que aquele que visita a comunidade, seja crente ou não, se sinta acolhido pela igreja.

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Para isso, na maior parte das igrejas pentecostais costumam-se cantar hinos e corinhos que retratam bem essa receptividade, de modo que todos se sentem mais à vontade, tanto para permanecer comungando ou para retornar mais vezes à comunidade. Conforme Fajardo:

é prática generalizada pedir para que todos aqueles que não membros da igreja local estejam de pé para receberem a saudação do auditório, se consiste no uníssono “Sejam bem-vindos em nome de Jesus”. [...] Além da saudação coletiva, pode-se cantar também um corinho de boas-vin-das (FAJARDO, 2017, p. 283).

É tarefa de toda a igreja receber os visitantes como o próprio Cristo o faria. A igreja é um local de acolhimento. Para tanto, o pastor deve preparar os mem-bros para o exercício de acolher e integrar novas pessoas no Corpo de Cristo. A expansão do reino de Deus se dá através de irmãos que foram acolhidos pri-meiramente pelo próprio Deus em seu amor implacável.

i) Cultos ao ar livre

Os cultos ao ar livre costumam acontecer em regiões em que ainda não pos-suem uma congregação. É uma forma peculiar de evangelismo e é também uma característica fundamental do movimento pentecostal. Tais cultos também acon-tecem como celebração de ações de graça, a exemplo, reuniões festivas nas casas de fiéis, bem como em praças públicas, conforme Fajardo:

os cultos ao ar livre são reuniões públicas normalmente realizadas em praças ou outros locais de grande movimento em que um grupo de crentes prega, canta e convida aos transeuntes para participar das reu-niões da igreja, ou mesmo para que aceitem a Jesus ali mesmo, na praça (FAJARDO, 2017, p. 292).

Há também as chamadas “cruzadas”, mas que se caracterizam como evange-lismos mais arrojados. Os cultos realizados fora do templo carregam a mesma essência, a saber, a centralidade da Bíblia, louvor a Deus e proclamação de sal-vação aos pecadores.

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SANTA CEIA, BATISMO E OUTRAS PRÁTICAS

Diferentemente das igrejas reformadas que entendem o Batismo e a Santa Ceia como sacramentos, as igrejas pentecostais, assim como as igrejas batistas, enten-dem como Ordenanças.

Segundo a Doutrina das Assembleias de Deus, tanto o batismo como a Santa Ceia são ordenanças porque “são práticas religiosas ordenadas e estabelecidas pelo próprio Jesus”.

O cumprimento destas ordenanças espirituais pelo fiel traz em sua mente e coração a lembrança do sacrifício de Jesus Cristo realizado na cruz e tudo aquilo que Jesus Cristo realizou em seu coração.

a) O Batismo em Água

A forma como o batismo é realizado pelos pentecostais difere de grande parte das igrejas chamadas históricas. Enquanto alguns grupos históricos batizam por asper-são, a doutrina pentecostal ensina que o batismo deve ser realizado por imersão.

A doutrina pentecostal baseia-se principalmente no escrito de Marcos, capítulo 16, verso 16 que afirma: “Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado” (BÍBLIA, 1995). Todos aqueles, sem exce-ção que se arrependerem e crerem em Jesus Cristo como único e suficiente Salvador e Senhor são batizados.

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Santa Ceia, Batismo e Outras Práticas

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Simbolicamente o batismo mostra de maneira visível, algo que aconteceu no interior do indivíduo. O fiel quando submerso na água, demonstra que aquele antigo homem/mulher foi enterrado, morreu com Cristo. E, quando tirado das águas simbolicamente, revela que um novo homem/mulher ressuscitou com Cristo para uma nova vida com Ele (Mt 28.19; Mc 16.16;At 10.47-48 e Rm 6.4).

Tendo falado a respeito da noção de batismo na prática pentecostal, é plausí-vel observarmos a peculiaridade do culto pentecostal para celebrar tal momento. No movimento pentecostal, fazer festa é sempre um motivo de muita alegria para o povo. Assim, o batismo é visto como um momento singular da igreja em marcha. Segundo Fajardo:

é prática comum dos diferentes ministérios, ao menos nas regiões metropolitanas, realizar a celebração nos templos sedes, reunindo assim os batizandos de todas as congregações em um só ato (FA-JARDO, 2017, p. 299).

Além de uma forma de celebração, o culto de batismo se manifesta também como uma maneira de quantificar o crescimento da igreja. Assim, os cren-tes em Cristo são contagiados pela alegria diante da renovação da igreja em vista de seus novos membros, portanto, um motivo de festa e muita alegria para o povo de Deus.

b) A Ceia do Senhor

A Ceia do Senhor, representada pelo pão e pelo vinho (suco de uva), é um memo-rial do sofrimento e da morte de Cristo (1 Cor 11.26). Quando o cristão participa da Santa Ceia, comendo do pão e bebendo do cálice, ele está trazendo à memó-ria o sofrimento e a morte de Jesus Cristo.

Ele deve estar ciente não só de sua salvação, como também ciente de que através dela ele foi justificado diante de Deus, compartilhando da natureza divina da vida eterna através de Nosso Senhor Jesus Cristo (2 Pe 1.4).

Durante a celebração da Santa Ceia o cristão enche seu coração de espe-rança, pois segundo o apóstolo Paulo, “todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha” (BÍBLIA, 1995, 1 Cor 11:26), ou seja, ao tomarmos a Santa Ceia anunciamos a morte do Senhor e sua volta.

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Assim, a Santa Ceia possui um caráter temporal tríplice: Celebramos a Santa ceia hoje, pelo que Ele fez no passado por nós. Olhamos para o seu sacrifício vicário, seu amor incondicional, e aguardamos para um futuro bem próximo a sua volta. Na Santa Ceia, passado, presente e futuro se encontram para celebrar a vida que Deus o Pai nos deu graciosamente no Filho e é vivida em toda sua plenitude no Espírito Santo.

Segundo as doutrinas básicas da Assembleia de Deus:O batismo em água e a ceia não são simples costumes religiosos. Ambos incorporam a mensagem central da fé cristã. O batismo em ;água é um evento que só acontece uma vez na vida do novo convertido anunciando publicamente que ele agora é filho de Deus identificado com Cristo em Sua morte e ressurreição. A Ceia é uma lembrança periódica (geralmente todos os meses) para os crentes a respeito da salvação gratuita através do sofrimento, morte e ressur-reição de Jesus Cristo. Ambas ordenanças têm o seu foco direcio-nado para as verdades centrais do cristianismo. (ARAUJO, 2008, p. 11).

Tal como no culto de batismo, o culto de Ceia é visto também como um momento singular da práxis eclesiológica das igrejas pentecostais. Diante da compreensão do que representa tal fato, os fiéis se alegram, cantam, choram. O culto de Ceia costuma ser um culto bem frequentado. Vejamos o exemplo das Assembleias de Deus:

nas ADs o culto de Santa Ceia diferencia-se do público por ser realiza-do a portas fechadas, indicando-se que se trata de uma reunião voltada apenas para os membros da igreja. (...). Na celebração os membros ba-tizados devem participar do pão e do vinho que simbolizam o corpo e o sangue de Cristo (FAJARDO, 2017, p. 300).

Consoante ao exposto, participar do culto da Ceia é uma forma de manutenção da vida cristã. Na prática pentecostal, a ordenança da Ceia tem papel fundamen-tal na vida da igreja.

c) O Círculo de Oração

A oração é uma necessidade vital para o crente. Nos círculos pentecostais mais tradicionais há um elemento de grande importância para a vida da igreja:

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o círculo de oração. Os fiéis sempre têm um testemunho a contar acerca de alguma experiência vivida relacionada ao círculo oração. A presença maior no círculo de oração é de mulheres. Conforme Fajardo (2017):

o conjunto feminino costuma se reunir semanalmente no período da tarde (no meio de semana) para o culto de oração próprio, eis o porquê do nome “círculo de oração”. [...]. O culto do CO é totalmente dirigido pelas mulheres que nele pregam, oram e testemunham [...] (FAJARDO, 2017, p. 330 e 331).

O grupo de mulheres que oram (círculo de oração) são braço forte na prática diá-ria da igreja. Por isso, o círculo de oração se constitui como uma herança muito importante das raízes do movimento pentecostal. Uma igreja que tem uma prá-tica intensa de oração é uma igreja forte.

d) Escola Bíblica Dominical

A Escola Bíblica Dominical tem espaço importante na prática pentecostal, prin-cipalmente para as Assembleias de Deus. As reuniões de EBD (Escola Bíblica Dominical) proporcionam aos fiéis a oportunidade de crescimento e amadu-recimento da fé. A educação é um elemento fundamental para a vida humana.

É possível notar o seu valor no decorrer de toda a Bíblia Sagrada e tam-bém ao longo da história da igreja cristã. Vamos tomar como base o modelo das Assembleias de Deus. Segundo Fajardo (2017):

as Escolas Bíblicas Dominicais (EBDs) são mais uma herança protes-tante das ADs. Esta atividade, que é diferente do formato litúrgico do culto público, é uma das reuniões fundamentais das igrejas protestan-tes históricas, embora não seja encontrada com muita frequência nos demais ramos do pentecostalismo brasileiro (FAJARDO, 2017, p. 180).

É na EBD que os membros da igreja têm a possibilidade de tirar dúvidas e inte-ragir com seus irmãos e mestres. Esta costuma acontecer a partir da divisão de classes com membros distribuídos de acordo com sua idade e gênero (por gênero, normalmente ocorre divisões das classes de senhores e senhoras, as demais clas-ses são, de costume, mescladas.) Embora os professores não sejam obrigados a terem formação teológica para lecionar, as EBDs têm como suporte revistas pro-duzidas pela CPAD (Casa Publicadora das Assembleias de Deus).

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PRÁTICA PENTECOSTAL

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Nas igrejas pentecostais mais tradicionais, os professores não possuem auto-nomia para escolher os temas das aulas, isto é, seguem o conteúdo estabelecido de forma oficial pela própria denominação.

uma característica das EBDs é que seus professores não precisam ser necessariamente obreiros para que possuam ministrar aulas. [...]. No entanto, ainda que a EBD seja um ambiente em que a par-ticipação dos leigos é garantida, esta participação é mediada pelo material didático utilizado como texto referência das aulas em todo o país (FAJARDO, 2017, p.181).

Há lugares que o tema da lição é abordado livremente pela igreja local. Vale res-saltar ainda que as classes costumam receber nomes relacionados à Bíblia e as aulas duram em torno de uma hora.

e) A Prática do Evangelismo

Uma das atividades mais notórias do povo pentecostal é a sede por evangelismo. Faz parte da agenda do crente pentecostal o desejo de espalhar a mensagem de Cristo para os necessitados. Tal tarefa precisa ser incentivada pelos líderes espi-rituais da igreja:

ao mobilizar os crentes para a obra, temos de seguir o plano da igreja do Novo Testamento: “E perseverando unânimes todos os dias no templo e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de cora-ção, louvando a Deus e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar” (At 2. 46,47). Uma igreja do Novo Testamento é aquela cujo os membros são fortalecidos, edificados, treinados e depois enviados para cumprir o pro-pósito de Deus para suas vidas (LANE, 2000, p. 294 apud TRASK, 2000).

Os pentecostais são incansáveis evangelizadores. Contudo, a prática da evange-lização exige também um grande preparo. O crente que manuseia a Bíblia deve estar apto a ensinar e exortar a todos que encontrarem. Deve tratar as pessoas com amor e cuidado, sempre levando o pretenso fiel à direção de Cristo por meio da Palavra de Deus.

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ORGANIZAÇÃO ECLESIÁSTICA

Nesta unidade analisaremos exclusivamente o modelo “assembleiano”, contudo carece ao aluno saber que existem diversos modelos ou formas de organização eclesiástica. Muitas igrejas, inclusive as independentes, observam práticas mis-tas e ou derivadas das Assembleias de Deus, e de outras diretrizes. Optamos por seguir com modelo da Assembléia de Deus por representar boa parte da cristan-dade pentecostal no Brasil, visto a abrangência dessa instituição, e naturalmente por não termos espaço suficiente para tratar de todos os demais modelos.

A organização eclesiástica pentecostal segue os padrões de um sistema de hierarquia. Aquele que almeja os cargos de maior importância precisa aceitar a realidade de que o início de sua carreira ministerial se dá a partir de etapas a serem cumpridas.

As etapas estão diretamente ligadas aos cargos ocupados pelo indivíduo. Aqueles que recebem algum cargo na igreja passam a fazer parte do grupo de obreiros. Muito embora transpareça-se uma ideia de verticalização dos cargos, todos são percebidos como igualmente importantes. Veremos a seguir como cada estágio é percebido na prática eclesiológica pentecostal.

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Todas as funções desenvolvidas no Corpo de Cristo requerem de qualquer indivíduo que almeja o exercício de sua vocação uma profunda responsabili-dade diante de Deus.

Antes de destacarmos os cargos que costumam ser ocupados, em linhas gerais, na prática pentecostal, se faz necessário elencar algumas qualificações para o exer-cício ministerial na igreja de Cristo. Os líderes espirituais da igreja devem ser:

■ Irrepreensível (I Tm 3.2)

■ Marido de uma mulher (I Tm 3.2)

■ Vigilante (I Tm 3.2)

■ Sóbrio (I Tm 3.2/ Tt 1.8)

■ Honesto (I Tm 3.2)

■ Hospitaleiro (I Tm 3.2/ Tt 1.9)

■ Apto para ensinar (I Tm 3.2 / Tt 1.9)

■ Não dado ao vinho (I Tm 3.3/ Tt 1.7)

■ Não dado a soberba (Tm 1.7)

■ Não irado (Tt 1.7)

■ Não agressivo (Tt 1.7)

■ Não incerto ( I Tm 3.3)

■ Deve ser moderado (I Tm 3.3)

■ Não ganancioso (I Tm 3.3)

■ Deve ter domínio do lar (I Tm 3.4)

■ Deve ter bom testemunho da sociedade (I Tm 3.7)

■ Dever ser bondoso (Tt 1.8)

■ Deve ser justo (Tt 1.8)

■ Deve ter vida santificada (Tt 1.8)

■ Não deve ser inexperiente (I Tm 3.6)

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Em suma, seguindo os princípios bíblicos, a prática eclesiológica pentecostal compreende que a integridade é um atributo essencial para o exercício do minis-tério. Os obreiros devem realizar suas funções de forma irrepreensível, de modo que alcancem o pleno respeito da comunidade em que servem.

Diante do exposto, vejamos a seguir algumas funções exercidas na vida e desenvolvimento da práxis pentecostal:

a) Cooperador

O papel de cooperador representa o primeiro estágio da carreira ministerial no ambiente pentecostal. É seu papel auxiliar nas necessidades de sua igreja local, não estando ligado necessariamente a igreja sede.

O cargo de cooperador (também chamado de “auxiliar” em alguns Ministérios) é a porta de entrada para o ministério pentecostal e pode ser considerado uma espécie de “estágio probatório” para o diacona-to, já que na prática o cooperador desempenhará as mesmas funções do diácono (embora o último tenha a primazia em todas elas) (FA-JARDO, 2017, p. 306).

Assim, tal exercício não exige necessariamente o rito de consagração. Em boa parte das igrejas pentecostais, o cooperador exerce as funções pertencentes ao serviço diaconal.

b) Diácono

Tal como entre as tradições protestantes, na eclesiologia pentecostal o diácono exerce uma função de manutenção da igreja. O termo “diácono”, do grego diako-nos, é atribuído a alguém que é designado para servir o Corpo de Cristo. É dele a responsabilidade de tomar os devidos cuidados de assessoria física da igreja, assim como de lidar com a ordem do culto.

Os diáconos trabalham na recepção, cuida da portaria, colhe as ofertas alça-das, além também de fazer o serviço de distribuição da Santa Ceia.

Os diáconos não costumam dirigir cultos ou ministração da palavra, contudo, não estão impedidos de fazê-lo. Em suma, o diácono deve ser um facilitador na comunidade. Aqueles que são separados ao diaconato, em linhas gerais, alme-jam o presbiterato.

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c) Presbítero

O presbítero é responsável por atividades semelhantes àquelas pertencentes a evangelistas e pastores. Além de passar a ocupar o púlpito, o presbítero estará apto a cuidar de congregações, ensino bíblico, bem como passará a participar das tomadas de decisões na igreja.

O termo “presbítero” está associado a pessoa do “Bispo”, episkopos no grego. Este designava o ofício de supervisão. Assim, é papel do presbítero supervisio-nar o Corpo de Cristo. Segundo Dresselhaus (2000): “Um corpo ministerial de presbíteros (...), fornece direção global para a igreja em todos os assuntos”. (DRESSELHAUS 2000, p. 299 apud TRASK, 2000).

Diferentemente do diácono, o presbítero, na prática pentecostal, está apito para celebrar a Santa Ceia, ungir os enfermos, assim como o ato de impetrar a bênção apostólica. Em linhas gerais, cabe ao presbítero o auxílio direto ao pastor e atuação direta na administração da igreja. Seguindo o modelo assembleiano, Fajardo (2017) nos diz:

a partir do presbitério o obreiro tem lugar cativo no púlpito e passa a desenvolver atividades relacionadas à administração dos sacramen-tos, além da pregação e direção dos cultos (FAJARDO, 2017, p. 308).

É papel do presbítero exercer seu ofício com integridade e dedicação. Os pres-bíteros que aspiram o ministério pastoral de forma oficial, são ordenados a evangelistas em consequência. Papel que falaremos a seguir.

d) Evangelista

Na lida pentecostal, o evangelista é o responsável pela divulgação da men-sagem do Evangelho nos ambientes a parte da igreja. O evangelista tem a sublime tarefa de apresentar-se como um anunciante das boas-novas. Acerca do papel de evangelista:

a posição do evangelista é servir de ponte entre os ministérios profético e pastoral da igreja. Hoje em dia o evangelista desempenha importan-te papel no arrependimento e avivamento (DAVIS, 2000, p. 316 apud TRASK, 2000).

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Na maioria das igrejas pentecostais, o evangelista é chamado de pastor, contudo, em espera da consagração ao pastorado, porém, já passa a ser considerado como um ministro do Evangelho, o qual tal como os demais obreiros precisa encarar uma grande responsabilidade. Para Davis:

o dom ministerial de evangelista tem imensurável influência espiritual na igreja. [...]. O dom de evangelista é decisivo para a continuação da vitalidade na igreja (DAVIS, 2000, p. 315 apud TRASK, 2000).

A ordenação para o cargo de evangelista é também percebida como um está-gio acima da função do presbítero, em termos de funções, uma vez que este está habilitado a realizar batismos, bem como a celebrar casamentos.

O evangelista precisa definir suas prioridades. Sua atividade na igreja requer um propósito firme e definido de sua tarefa. Além do amadurecimento, o evange-lista deve honrar sua posição através de atitudes que glorifiquem a Deus. Dentre as prioridades necessárias para a função de evangelista, destacamos:

■ Vida com Deus e disciplina espiritual.

■ Preparo e aperfeiçoamento bíblico.

■ Deve zelar por sua família.

■ Deve cuidar da sua aptidão física.

■ Deve, assim como os demais obreiros, se manter atualizado.

■ Deve zelar por suas finanças.

É papel do evangelista procurar ser produtivo para o reino de Deus, deve viver com o propósito de servir a Cristo integralmente, a fim de que sua participação na igreja seja efetiva e lembrada como um legado de preservação do caráter de um bom obreiro.

e) Pastor

O pastor é aquele que assume o papel de maior responsabilidade na prática da igreja, uma vez que este deve liderar todos os demais obreiros em ser-viço da comunidade.

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Cabe ao pastor a tarefa de cuidar do rebanho de forma integral. Grande parte das igrejas pentecostais costumam assalariar seus pastores, contudo, vale ressaltar que em muitas igrejas o serviço pastoral acontece como uma ação voluntária. Para exercer o pastorado, é preciso ter uma vida devocional equilibrada e exemplar:

O pastor, como aquele que se espera que ministre aos outros, deve em primeiro lugar e antes de mais nada ser ministrado por Deus. A vida devocional particular do ministro, o tempo gasto com Deus, determi-nará a verdadeira altura e profundidade de seu ministério. (WELK, 2000, p. 28 apud TRASK, 2000)

Dentre as muitas atividades exercidas na lida pastoral, aquele que assume tal posto precisa estar habilitado para enfrentar os mais diversos conflitos que envolvam a vida de seu rebanho. Assim, o aconselhamento bíblico pastoral é uma prática necessária para a comunidade.

O pastor precisa de preparo contínuo para lidar com os conflitos e situações adversas que acontecem entre o rebanho. O ato de aconselhar exige do ministro um cuidado que vai além da saúde mental do aconselhando.

É preciso que o direcionamento dado pelo pastor seja respaldado na Bíblia Sagrada. A saúde espiritual dos crentes deve ser prioridade para a atividade do aconselhamento pastoral.

Auxiliar as pessoas para o crescimento pessoal é uma atividade pastoral que requer a todo tempo a ação do Espírito Santo unida a Palavra de Deus, enten-dendo que as pessoas só conseguirão satisfação plena na vida quando estiverem com um relacionamento aprofundamento com o Criador.

É papel do pastor ajudar as ovelhas no alívio das dores e marcas da vida. Existem questões difíceis que permeiam a sociedade atual, tais como:

■ Problemas relacionados a fé;

■ Problemas de ordem sexual;

■ Depressão;

■ Crises de ansiedade;

■ Problemas com a criação dos filhos;

■ Problemas com drogas;

■ Problemas conjugais.

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É tarefa do ministro valorizar o necessitado como alguém que carrega a imagem de Deus, contudo, a confrontação precisa ser realizada. Quando uma pessoa procura o pastor para um aconselhamento, é porque esta se encontra carente de ajuda. Sabemos que compartilhar problemas internos requer de cada pessoa um enorme esvazia-mento. O pastor precisa de sensibilidade e preparo para não constranger sua ovelha.

Aconselhar biblicamente é levar a ovelha ao conhecimento da verdade, ainda que contrarie as suas opiniões mais rígidas. Na prática pentecostal, hon-rar a Cristo é uma tarefa primaz.

Contudo, o ministro precisa deixar o fiel consciente de sua responsabilidade a partir de então. Assim, aquele que recebe o aconselhamento deve procurar seguir as orientações corretas. O pastor não pode se sentir infeliz quando as ove-lhas não assumem seus aconselhamentos:

é de responsabilidade do ministro dizer ao indivíduo a verdade bíblica, mas é da responsabilidade do indivíduo agir e fazer a coisa certa. Se um aconselhando resolve não seguir o conselho bíblico, o ministro não está em posição de ajudar muito além do que já foi aconselhado (GOO-DALL, 2000, p. 567 apud TRASK, 2000).

É comum encontrar os pastores auxiliando casais em brigas conjugais, em momento de velórios, festas de casamento, cultos de formatura, além de muitas outras questões que surgem no dia a dia da prática eclesiológica. Diferentemente das denominações históricas, para a ordenação pastoral, o indivíduo não carece necessariamente da formação teológica. Prioriza-se a busca por dons espirituais.

Para aconselhar com a mente, coração e poder do Espírito Santo, o pas-tor tem de andar no Espírito. (...). As Escrituras são claras ao ensinar que o pastor deve ser altamente disciplinado no corpo, mente, expres-são emocional, relacionamentos interpessoais e no cultivo de uma vida interior rica (LICHI, 2000, p. 571 apud TRASK, 2000).

[...] mas a única coisa que eu desejei foi ser apenas um pastor, que prega de forma responsável a Palavra de Deus John Stott.

(John Stott)

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Entretanto, o ministro tem o discernimento de que a atividade pastoral compre-ende um preparo diário. O pastor pentecostal que deseja desenvolver a prática do aconselhamento precisa se apropriar de alguns fundamentos essenciais:

■ Deve ser um servo de Cristo dedicado à prática da oração.

■ Deve desenvolver um profundo relacionamento com a Palavra de Deus.

■ Deve perseverar para manter um cuidado profundo com sua saúde mental.

■ Deve ser cheio do Espírito Santo.

■ Deve ter maturidade pessoal e de vida cristã.

O gabinete pastoral é um lugar importante para a vida do ministro. É o local em que o pastor realiza atividades importantes. Assim, o gabinete pastoral deve ser um espaço de devoção e disciplina.

O gabinete de estudos do pastor é um que determinará seu destino. Todo pastor enfrenta o desafio de reconhecer que necessidades devem ser satisfeitas, para depois descobrir como tratar delas. É no gabinete pastoral que planejamentos estratégicos são delineados, e o curso do ministério, traçado (WILSON, 2000, p. 76 apud TRASK, 2000).

O pastor que deseja alimentar bem seu rebanho precisa de preparo bíblico, com isso, seu espaço na igreja deve ser também um lugar de refúgio e deleite espiri-tual. Para isso, se faz necessário destacar alguns fundamentos para um gabinete pastoral que ajudará o pastor no exercício de sua vocação:

■ Deve ser um lugar viável para o estudo.

■ Deve estar organizado de forma eficiente.

■ Deve ser um ambiente agradável para receber pessoas.

■ Deve ser um espaço com exímia organização.

■ Deve refletir um ambiente essencialmente cristão.

O pastor pentecostal, assim como os demais obreiros, deve ter um relacionamento íntimo com o Senhor, deve zelar pelo cuidado de sua família e pelo sagrado minis-tério com boa índole, deve estar apto para a pregação das Sagradas Escrituras, deve preparar a igreja para exercer seu caráter missional na sociedade vigente.

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Práxis Pentecostal e Vida

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PRÁXIS PENTECOSTAL E VIDA

A forma como a igreja compreende o mundo se manifesta também através da sua práxis. O cristão não pode desvincular sua cosmovisão ao se inserir no mundo, pois é agente de transformação da sociedade. Assim, a prática pentecostal visa refletir sobre os desafios encontrados na sociedade e procura transformar a mesma a partir dos princípios bíblicos.

Com isso, esta ação eclesial visa ir de encontro a realidade humana, tra-zendo dignidade e alívio para o sofrimento dos que estão ao seu redor. A práxis pentecostal deve ser vista como uma proposta de um fazer teológico para além dos muros da igreja, a saber, compreendendo um fazer hermenêu-tico aplicado a sua realidade:

Uma teologia que dê resposta a distintas problemáticas da realidade so-cial a partir de uma nova leitura das Sagradas Escrituras, no marco de uma hermenêutica do Espírito (OLIVEIRA; CAMPOS, 2016, p. 271).

O pensar teológico pentecostal tem como sujeito a própria comunidade. O objeto é a realidade presente de seus fiéis. Sendo assim, a teologia prática pentecostal se dá a partir da necessidade local, respondendo aos dilemas que envolvem a vida humana a partir da cosmovisão bíblica.

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PRÁTICA PENTECOSTAL

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Ela parte da vivência prática para a teórica, não da teórica para a prática. Tal realidade pressupõe uma mediação socioanalítica, com o objetivo de trazer res-postas que possam transformar o mundo.

O fazer hermenêutico acontece também a partir da realidade da igreja, sem-pre focando o reino de Deus. Com isso, compreende-se que a prática pentecostal visa uma ação atrelada à vida, e por isso, sugere uma ação dialética em que a teo-ria não pode estar dissociada da práxis diária:

a Teologia Prática Pentecostal será demandada a oferecer subsídios que ultrapassem a dimensão espiritual ou da fé dos que creem para alcan-çar as demais dimensões da existência humana e social e elaborar uma teologia cidadã integradora e humanizadora (OLIVEIRA; CAMPOS, 2016, p. 272).

A ação eclesial pentecostal tem seu dinamismo envolto a ação do Espírito Santo, assim, a igreja manifesta seus afetos a partir da experiência, da ação divina por meio da comunidade. A ação teológica pentecostal procura oferecer o preparo necessário para aqueles que creem exercerem uma função cidadã que seja indis-sociável com a sua vida em comunidade:

seu compromisso é o de alimentar uma eclesiologia dinamizada pelo Espírito em seus milhões de caminhos e modos de agir profético e transformador. Para isso precisa superar o recorrente desprezo a reali-dade social na teologia tradicional e elaborar uma teologia que contri-bua não só para o desenvolvimento e a maturidade da fé, mas também para o desenvolvimento da sociedade civil, promovendo a justiça, a paz e o amor fraterno- as bases do reino de Deus (OLIVEIRA; CAMPOS, 2016, p. 274).

A igreja é percebida como agente de transformação da sociedade, sendo assim, seus membros são atores sociais que devem, em nome de Cristo, corroborar para as ações que prezam pela dignidade da pessoa humana.

O compromisso da teologia prática pentecostal está em despertar um ethos eclesiológico que seja integral e abrangente. O envolvimento de toda a igreja é marca de uma igreja viva e vibrante.

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Considerações Finais

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro(a) aluno(a), chegamos ao término dessa nossa última unidade, espero que o conteúdo tenha sido desafiador e incentivador. A prática pentecostal é mui-tíssima rica em sua variedade. Assim, procuramos de forma sucinta, destacar os elementos mais importantes percebidos no dia a dia da igreja pentecostal. A variedade cultural apresentada no movimento pentecostal requer outros traba-lhos acerca do tema, sendo impossível enquadrá-lo em uma só visão.

Os líderes pentecostais, que desejam o exercício de um ministério eficaz, devem atualizar-se todo o tempo, entendendo a dinâmica da igreja em sua inser-ção histórica e seu contexto de origem. Os valores essenciais são imutáveis, mas as formas podem variar de lugar para lugar. Até mesmo aspectos culturais de cada região podem, até certo ponto, influenciar essas diversas formas.

Creio que tenhamos alcançado nosso objetivo, porém certamente não esgo-tamos o assunto. Relembrando que devido à grande variedade encontrada hoje, nos detivemos em muitos momentos a situação vivenciada mais especificamente nas igrejas Assembleia de Deus. Partindo desse ponto tivemos um breve vislum-bre sobre o que é efetivamente “culto” e como a igreja pentecostal o compreende.

Apesar de muitos pensarem que somente as igrejas históricas são litúrgicas, observamos e entendemos os diversos elementos litúrgicos que encontramos na Assembleia de Deus e sua organização, seus cargos e como são compreendidos, bem como falamos de dois atos litúrgicos que são, de fato, ordenanças, a saber o Batismo nas águas e a Santa Ceia

Por fim, falamos brevemente sobre a prática religiosa pentecostal e a neces-sidade de vivenciá-la no dia a dia.

Espero ter contribuído de alguma forma para o seu crescimento espiritual e ministerial.

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1. Dentre as diversas palavras que representam de alguma forma a expressão “culto”, uma delas se destaca no Novo Testamento por ter um caráter exclusivo e não secular no seu significado. Qual é essa palavra e o que identifica essa característica singular no texto neotestamentário?

2. Dentre as práticas litúrgicas apresentadas, a prática da “leitura bíblica” apresen-ta-se como relevante e traz em suas origens uma clara herança da Reforma Pro-testante. Segundo Fajardo (2017), como essa leitura é realizada na maior parte das igrejas pentecostais?

3. As Escolas Bíblicas Dominicais são mais uma herança protestante das Assem-bleias de Deus. Esta atividade, muito semelhante ao culto público, é uma das reuniões fundamentais das igrejas protestantes históricas. Esta afirmação está correta ou incorreta? Justifique.

4. Quanto à característica dos líderes espirituais, analise as assertivas em:

I. Irrepreensível; vigilante; sóbrio.

II. Não incerto; ganancioso; deve ter domínio do lar

III. Deve ser bondoso; ter vida santificada; pode ser inexperiente

IV. Marido de uma mulher; vigilante; Honesto; Hospitaleiro

Marque a alternativa correta:

a) I, II e III estão incorretas apenas.

b) I, II, III e IV estão incorretas apenas.

c) I e IV estão incorretas apenas.

d) II e III estão incorretas apenas.

5. O pensar teológico pentecostal tem como sujeito a própria comunidade. O objeto é a realidade presente de seus fiéis. Sendo assim, a teologia prática pentecostal se dá a partir da necessidade local, porém ignorando os dilemas da vida cotidiana uma vez que esta é efêmera e o esforço se dá nas questões espirituais, pois somos peregrinos. Essa afirmativa está correta ou incorreta? Justifique.

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DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DO CULTO CRISTÃO

O desenvolvimento histórico do culto cristão é descrito por Gonzalez (1980, vol. 1, p. 151 a 154), que nos informa do fato de que é através de uma série de documentos anti-gos preservados até hoje, que temos a possibilidade de saber como os antigos cristãos celebravam a comunhão. Algumas características comuns formaram parte de todas as reuniões de comunhão.

A comunhão era uma celebração. O gozo e a gratidão era uma característica presentes nos cultos. A comunhão era celebrada em meio de uma refeição, onde cada um trazia o que podia. Após compartilharem os alimentos, oravam pelo pão e pelo vinho. No princípio do século segundo, possivelmente em razão das perseguições e das calúnias que circulavam acerca das “festas de amor” dos cristãos, a comunhão passou a ser celebrada sem a refei-ção em comum. Tal fato não fez cessar o espírito de celebração das primeiras reuniões.

É ainda por esse tempo, que o culto de comunhão constava de duas partes. Na primei-ra liam-se e comentavam-se as Escrituras (culto homilético), faziam-se orações e canta-vam-se hinos. A segunda parte do culto começava geralmente com o ósculo (beijo de cumprimento) santos da paz. O pão e o vinho eram trazidos para frente e eram apresen-tados a quem presidia. Em seguida, era pronunciada pelo presidente uma oração sobre o pão e o vinho, na qual se recordavam os atos salvíficos de Deus e se invocava a ação do Espírito Santo sobre o pão o vinho. Depois se partia o pão, os presentes comungavam, e se despediam com a benção. A esses elementos comuns, em diversos lugares e circuns-tância, acrescentavam-se outros.

Nesta época, só podia participar do culto quem tivesse sido batizado. Os que vinham de outras congregações podiam participar livremente, sempre e quando estivessem bati-zados. Aos convertidos que ainda não tinha recebido o batismo, era concedido assistir à primeira parte do culto, que consistia das pregações e orações. Após esse momento, se retiravam antes da celebração da comunhão propriamente dita.

Desde muito cedo surgiu também o costume de celebrar a comunhão nos lugares onde estavam sepultados os fiéis já falecidos. Esta era a função das catacumbas. As catacumbas eram cemitérios e sua existência era conhecida pelas autoridades, pois não eram apenas os cristãos que tinham tais cemitérios subterrâneos. Mesmo que em algumas ocasiões os cristãos tinham utilizados algumas das catacumbas para se esconder dos perseguidores, a principal razão pela qual se reuniam nelas era que ali estavam enterrados os heróis da fé. Acreditava-se que a comunhão unia, não apenas os crentes vivos e mortos entre si, mas também ao Senhor Jesus Cristo, e aos seus antepassados na fé. No caso dos mártires, existia o costume de se reunir junto a suas tumbas no aniversário de sua morte para ce-lebrar a comunhão. Esta seria a origem da celebração das festas dos santos, que em geral se referiam, não aos seus natalícios, mas sim às datas de seus martírios.

A Igreja, como já observamos, se reunia principalmente nas casas. Com o crescimento das congregações, algumas casas foram dedicadas exclusivamente ao culto cristão. Assim,

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por exemplo, um dos mais antigos templos cristãos que se conserva, o de Dura-Europo, construído antes do ano 256, parece ter sido uma casa particular convertida em igreja.

A história da igreja teve como um dos seus grandes marcos a conversão de Constantino. No que se refere ao seu impacto sobre o culto cristão, continuaremos a citar Gonzalez (idem, vol. 2, p. 37 a 39), que nos informa que até a época de Constantino o culto cristão tinha sido relativamente simples. No princípio os cristãos se reuniam para adorar em casas particulares. Depois começaram a se reunir em cemitérios, como as catacumbas romanas. No século terceiro já havia lugares dedicados especificamente para o culto.

Após a conversão de Constantino o culto cristão começou a sentir a influência do pro-tocolo imperial. Foi introduzido o incenso, utilizado até então no culto ao imperador. Os ministros que oficiavam no culto começaram a usar vestimentas litúrgicas ricamente or-namentadas durante o mesmo, em sinal de respeito pelo que estava tendo lugar. Surge também o costume de iniciar-se o culto com uma procissão.

Em razão das comemorações dos aniversários da morte dos mártires celebrando a ceia no lugar onde ele estava enterrado, posteriormente foram construídas igrejas em mui-tos desses lugares. Sem demora as pessoas passaram a pensar que o culto teria significa-do especial se celebrado em uma dessas igrejas, por causa da presença das relíquias do mártir, ou seja, de parte do seu corpo ou objeto que lhe pertenceu. Os mártires come-çaram a ser desenterrados para colocar seu corpo – ou parte dele – sob o altar de várias das muitas igrejas que estavam sendo construídas. Simultaneamente, algumas pessoas começaram a afirmar que tinham recebido revelações de mártires, além de lhes atribuir poderes miraculosos. A veneração e a adoração aos santos nascem destas práticas.

As igrejas construídas no tempo de Constantino e dos seus sucessores, nada tinham em comum com a simplicidade dos primeiros espaços litúrgico. Constantino mandou construir em Constantinopla a igreja de Santa Irene, em honra à paz. Helena, sua mãe construiu na Terra Santa a igreja da Natividade e a do Monte das Oliveiras. Muitas outras foram construídas nas principais cidades do Império. Essa política foi seqüenciada pelos sucessores de Constantino. Seguindo a prática dos imperadores romanos, quase todos eles tentaram perpetuar sua memória construindo grandes obras, no caso aqui, igrejas suntuosas. Praticamente todas as igrejas construídas por Constantino e seus sucesso-res mais imediatos desapareceram. Documentos por escrito e restos arqueológicos nos restaram para formarmos uma idéia da planta comum destes templos. E como padrão estabelecido no século IV perdurou por muito tempo, outras igrejas posteriores, que existem até os dias de hoje, ilustram o estilo arquitetônico da época.

A forma típica das igrejas de então, porém, é chamada “basílica”, e já era usado para de-signar os grandes edifícios públicos e privados – que consistiam principalmente de um grande salão com duas ou mais filas de colunas. Uma vez que tais edifícios serviram de referência e modelo para a construção das igrejas nos séculos quarto e seguintes, estas receberam o nome de “basílicas”.

Fonte: Germano (2011, on-line)1.

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Material Complementar

MATERIAL COMPLEMENTAR

O site Pentecostalismo é de autoria de Gutierres Siqueira, bacharelando em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo; membro e professor de EBD na Assembléia de Deus de São Paulo-SP. O autor traz reflexões sobre o pentecostalismo e sua prática.Link: <https://pentecostalismo.wordpress.com/>.

RenúnciaAno: 2012Sinopse: o filme Renúncia é a primeira produção cristã do nordeste, ele foi gravado na cidade de Imperatriz, localizada no estado do Maranhão, através do apoio da Igreja Assembléia de Deus. Uma das cenas do longa metragem contou com a participação do 3º Grupamento de Bombeiros Militar do município. O filme conta a história de Nanda, uma jovem cristã que ao entrar na universidade conhece um mundo diferente, do álcool, das drogas, sexo e luxúria, distanciando-se da sua fé cristã. A partir daí a trama se desenrola de maneira a manter o telespectador ligado na tela e de forma a atentá-lo para a importância de uma vida pautada nos ensinamentos bíblicos, e de que nossas escolhas definem nosso futuro.

Surpreendido pelo Poder do EspíritoJack Deere

Editora: CPAD – Casa Publicadora das Assembleias de DeusSinopse: o Livro Surpreendido pelo Poder do Espírito relata as experiências do autor após assistir às conferências proferidas pelo Dr. John White. Jack Deere era professor de Antigo Testamento no Seminário Teológico de Dallas quando experimentou os dons pentecostais. O próprio autor narra que até assistir as conferências do Dr. John White ele “não estudara as Escrituras para descobrir realmente o que elas ensinam sobre curas e dons do Espírito Santo. Antes, procurava recolher mais razões porque Deus não mais fazia tais coisas”. O autor se aprofunda em sua experiência pentecostal, deixando o seminário de Dallas. O livro mostra o caminho de Jack Deere em direção à experiência com o Espírito Santo, sendo um bom livro para entender o chamado “mundo pentecostal”.

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REFERÊNCIAS

BÍBLIA. Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. Casa Publicadora das Assembleias de Deus: CPAD, 2009.

Sociedade Bíblica do Brasil. A Bíblia Sagrada- Harpa Cristã. Barueri, SP: Casa Pu-blicadora das Assembléias de Deus.

ARAÚJO, I. de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Barueri: CPAD, 2007.

BÍBLIA. Bíblia de Estudo Pentecostal. Bangu-RJ: Casa Publicadora das Assem-bléias de Deus - CPAD, 1995.

BÍBLIA. Bíblia de Estudo Pentecostal. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida, com referências e algumas variantes. Revista e Corrigida Edição de 1995. Flórida-EUA: CPAD/Life Publishers, 1995.

FAJARDO, M. Onde a luta se travar - Uma história das Assembléias de Deus no Brasil. Curitiba: Paulinas, 2017.

GERMANO, A.  Reflexões: Por uma prática cristã autêntica e transformadora. Recife-PE: Edição do autor, 2009.Disponível em: <http://www.altairgermano.net/2008/04/sublimidade-do-culto-cristo-01-subsdio.html>. Acesso em 13 de out. de 2017.

______. O GENUÍNO CULTO PENTECOSTAL. Subsídio para Lição Bíblica da CPAD - 2º Trimestre/2011.

Disponível em: <http://www.altairgermano.net/2011/05/o-genuino-culto-pente-costal-subsidio.html>. Acesso em: 10 out. 2017.

______. A Sublimidade do Culto Cristão (01)- Subsídio para lição bíblica. Dispo-nível em: <http://www.altairgermano.net/2008/04/sublimidade-do-culto-cristo--01-subsdio.html>. Acesso em: 10 out. 2017.

Nossas Doutrinas. As Assembléias de Deus. Bangu-RJ: Casa Publicadora das As-sembleias de Deus - CPAD, 2008

OLIVEIRA D. M. de; CAMPOS B. Teologia Prática Pentecostal: Particularidades, Perfil e Desafios no Século XXI, Estudos Teológicos São Leopoldo, v. 56, n. 2, p. 264-275 jul./dez. 2016.

TRASK. E. T. et al. Teologia e Práticas Pentecostais. Rio de Janeiro: CPAD, 2010.

WHITE, J. F. Introdução ao Culto Cristão. Tradução de Walter Schlupp. São Leo-poldo: Sinodal, 1997.

______. O culto pentecostal de acordo com 1 Coríntios 14. Disponível em: <https://cirozibordi.blogspot.com.br/2008/02/o-culto-pentecostal-de-acordo--com-1.html>. Acesso em: 10 out. 2017.

REFERÊNCIAS

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REFERÊNCIAS203

______. Escatologia — a doutrina das últimas coisas. In: GILBERTO, A. et al. Teolo-gia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2008.

WALLS, J. L. Qual o caminho das Assembleias de Deus. São Paulo: Reflexão, 2016.

ZIBORDI, C. S. Evangelhos que Paulo Jamais Pregaria. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2008.

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GABARITO

1. Proskunein. No NT denota exclusivamente a adoração que se dirige a Deus (At 10.15-26; Ap 19.10; 22.8-9).

2. Na maior parte dos Ministérios a leitura é participativa: o obreiro que está ao microfone lê o primeiro versículo, o povo em uníssono o segundo e assim por diante.

3. Incorreta, pois segundo Fajardo é diferente do formato litúrgico do culto público

4. Opção correta é a C.

5. Incorreta, pois a teologia prática pentecostal se dá a partir da necessidade local, respondendo aos dilemas que envolvem a vida humana a partir da cosmovisão bíblica. O fato de sermos peregrinos e da brevidade da vida não justificam o dis-trato das questões relacionadas a ela.

GABARITO

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CONCLUSÃO205

Procuramos resgatar neste livro um pouco da história, teologia e prática pentecos-tal. Claro que o aluno não encontrará toda a teologia sistemática ou bíblica compre-endida em seu âmbito maior, pois não se trata de um compêndio sistemático. Antes, pinçamos alguns pontos principais e diferencias da teologia pentecostal a fim de uma melhor compreensão daquilo que propõe esta teologia.

Algumas temáticas como a Harmatologia e a Soteriologia pentecostal, entendidas pelo seu grande pensador Jacob Arminius, possuem um forte acento na teologia pentecostal. Buscamos estuda-las de uma maneira ordenada, fundamentando-as nas Sagradas Escrituras.

Fizeram-se necessários neste livro algumas comparações respeitosas entre a Teolo-gia Pentecostal e a Teologia Calvinista, em especial nos cinco pontos elaborados por seus seguidores (TULIP E FACTS). Nosso intuito foi mostrar como cada uma elaborou seu pensamento acerca do pecado e da salvação. Em nenhum momento ajuizamos qualquer uma delas, ou qual seria melhor, ou até a “mais” bíblica, antes deixamos que você as estude, avalie e conscientemente professe sua confissão.

Por fim, esperamos que você ao completar seus estudos teológicos, não fique ape-nas nas infindáveis discussões teológicas, que apesar de necessárias, devem obriga-toriamente resultar numa prática cristã relevante. Por esta razão, é que terminamos este livro com o tema: Pratica Pentecostal, ou seja, após examinar todas as coisas, reter o que é bom, viver acima de tudo, de um modo digno do evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo (Fil 1.27).

Assim esperamos que Ele mesmo o ajude na compreensão de todas as coisas.

Nele,

Professor Ricardo Bitun

CONCLUSÃO

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ANOTAÇÕES

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ANOTAÇÕES207

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